Empregadas filipinas

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o passado dia 29 de Outubro o Departamento do Trabalho do Governo da RAEHK chegou a um acordo com vários países. Neste acordo ficou consagrado que, mediante a garantia de condições de segurança, os empregados domésticos imigrados, oriundos desses países, podem lavar a parte exterior das janelas das casas onde trabalham. Este acordo é válido para trabalhadores filipinos, tailandeses, vietnamitas, indonésios, etc.

Esta cláusula restritiva passará a estar inscrita no contrato de trabalho celebrado entre a entidade empregadora e o trabalhador. Os termos da cláusula foram elaborados pelo Governo da RAEHK e pelos diversos países que o assinaram.

Esta medida foi tomada devido a um acidente fatal, ocorrido a 9 de Agosto deste ano, no qual Rinalyn Dulluog, empregada doméstica filipina, perdeu a vida por ter caído na rua quando estava a lavar a parte exterior de uma janela. Em Hong Kong, entre 2010 e 2016, ocorreram mais oito acidentes semelhantes.

Vários empregados domésticos filipinos deixaram claro que vieram para Hong Kong para trabalhar e não para morrer.

Este sentimento é facilmente compreensível. Ninguém deseja morrer no posto de trabalho, por maior que seja a indemnização que os familiares venham a receber. Mas, efectivamente, a lavagem do exterior das janelas pode pôr a vida em perigo. Qualquer descuido pode resultar numa queda fatal.

O presente acordo envolve vários aspectos que gostaria agora de salientar.

Em primeiro lugar, as estatísticas demonstram que desde 2010 ocorreram nove acidentes deste género, e por isso esta cláusula passa a fazer parte dos contratos de trabalho do pessoal doméstico. O Governo da RAEHK implementou esta medida reflectindo a ideia da “importância da vida”. Cada pessoa é um ser único, seja rica ou pobre. A vida é um dom que não pode ser substituído. Nas sociedades actuais, com um nível de educação superior, a consciência da importância da vida humana é maior. Por isso, estas mortes acidentais geram grande polémica. As pessoas reclamam certamente por pesar, mas também porque desejam afirmar a “importância da vida”. Este acordo é aclamado pelos empregados domésticos filipinos, mas também pelos patrões de Hong Kong, que respeitem a importância da vida. A maior parte dos trabalhadores domésticos em Hong Kong são mulheres vindas das Filipinas. Muitas são casadas, nas deixam o seu País para virem para Hong Kong servir famílias locais e tomar conta de crianças e idosos. Mas as suas próprias famílias, filhos e pais ficam à guarda de outros familiares. Tudo isto revela o sacrifício que fazem para virem ocupar-se do bem-estar dos lares de Hong Kong.

Em segundo lugar, vamos ver que medidas estarão previstas para garantir a segurança nestas situações, que ao certo ainda não se sabe bem quais serão. Alguns artigos afirmam que existem dois requisitos que os patrões terão de assegurar.

A – As janelas terão de ter gradeamento exterior

B – Ao limpar a janela, a única parte do corpo do trabalhador que pode ficar de fora é o braço.

Serão estas alíneas suficientemente claras? Não sabemos ao certo. É necessário implementar estas medidas para, na prática, termos uma ideia da sua eficácia. No entanto, podemos ter a certeza que a segurança não passa só pela instalação de gradeamento. Será também dever do empregador assegurar que são funcionais. Ou seja, a grade deve estar em boas condições e ser suficientemente sólida de forma a impedir quedas. Se não o for, esta medida é inútil. Logo, é uma acção que requer manutenção.

Em terceiro lugar, já que esta cláusula foi elaborada pelo Governo da RAEHK e por outros países, espera-se que daí resulte prudência e justiça. Nem os patrões nem os empregados devem procurar lucrar com este contrato. Pelo que as querelas contratuais podem ser evitadas.

Em quarto e último lugar, assinale-se que este acordo apenas introduz uma clausula no contrato de trabalho, não acrescenta uma alínea à lei laboral. Este acordo abrange apenas os trabalhadores imigrantes e não os locais. No entanto abre uma porta aos empregados domésticos de Hong Kong para estabelecerem com os seus patrões as mesmas condições de segurança.

De forma geral esta acordo é bom, todos saem a ganhar, o Governo, os trabalhadores e os patrões.

Em Macau também existem muitas empregadas domésticas filipinas. Este caso pode levar a que, também aqui, sejam adoptadas medidas semelhantes que garantam a sua segurança.

22 Nov 2016

Sexualidade Ecológica

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e não andamos a pensar no perigo iminente das alterações climáticas, devíamos. Ainda há pessoal descrente que acha que as alterações climáticas são uma invenção chinesa. Os ‘indiferentes’ não fazem nada em relação a isso e andam a desrespeitar todas as recomendações mundiais. E finalmente temos os ambientalistas, mais ou menos radicais, com ideias que obrigam as pessoas a pensarem o planeta e a protegê-lo. Os ecossexuais, a sexualidade ecológica, o eco-sex faz parte deste último grupo.

Existem perto de 100.000 pessoas neste mundo que se auto-proclamam de ecossexuais. Alguns fazem desta categoria a real-definidora da sua identidade sexual e, sendo assim, preferem ter os seus orgasmos em interacção com os elementos do nosso querido planeta Terra. Um dos objectivos é mudar a metáfora da Mãe Terra para a Amante Terra. A explicação é de que se tratarmos a Terra como amante, faremos de tudo para não a trair, ofender ou magoar. A metáfora da Mãe Terra não é tão eficaz – como filhos achamo-nos no direito de fazer tudo o que nos apetecer, na esperança de que seremos sempre perdoados. Pois a Terra já não tem como nos perdoar, já não há grandes sistemas de regeneração que nos possam auxiliar. Por isso, se tratarmos a Terra como uma parceira romântica, espera-se que o cuidado seja maior. Nós como grandes poluentes e destruidores que somos, merecíamos ser ‘deixados’. Se a Terra tivesse juízo e se estivesse a ser acompanhada por uma terapeuta casal, já se tinha livrado de nós. Os humanos são nocivos. Os ecossexuais tentam quebrar este ciclo. Eles amam o planeta e os seus constituintes e tentam reparar o ódio que já lhe foi lançado – e um futuro cenário apocalíptico de inundações, secas e desastres ecológicos poderá ser evitado.

As grandes impulsionadoras deste movimento são Annie Sprinkle e Elizabeth Stephens que o têm divulgado com os mais variados tipos de eventos – e até escreveram um manifesto. Eco-sexualidade é identidade, comunidade, crença, estilo de vida, prática e activismo. Envolve muito amor, sem dúvida. Há abraços a árvores, massagens à Terra com os pés e conversas eróticas com as plantas. Há carícias a pedras, masturbação em cascatas e admiração das suas ‘curvas’. Estas duas artistas/activistas ainda organizam casamentos com a Terra, e nós podemos escolher com que elemento desejamos casar. Com o mar, com o ar ou com as estrelas, o importante é que seja para sempre ou, como elas dizem, ‘até que a eterna morte nos torne ainda mais próximos’.

Para os que ainda acham a ideia de fazer amor com a Terra um pouco esquisita, não esquecer que a questão ecológica deve ser incluída nas nossas preocupações sexuais e amorosas de qualquer forma. Tem que haver consciência do nosso possível impacto ambiental, até na cama. Por mais cuidadosos e ecologicamente preocupados que sejamos não nos podemos esquecer dos contraceptivos e dos nossos brinquedos sexuais que contribuem para a dependência de combustíveis fósseis. Há um livro todo dedicado a estas questões ‘Eco-sex’ onde são discutidas questões de como ser verdadeiramente verde na cama e na vida amorosa. Já pensaram como um preservativo é poluente? Como não se degrada com facilidade? Talvez da próxima vez não o atirem pela sanita abaixo para não poluir outros ecossistemas. Querem oferecer uma prendinha? Façam decisões ecológicas e pensem duas vezes antes de comprar aquele ramo de flores que foi tratado com pesticidas cancerígenos em países onde se aproveitam de mão-de-obra barata.

Tudo bem, fazer amor com o planeta é uma ideia difícil de conceber (para os curiosos – houve um encontro de ecossexuais em Sidney há bem pouco tempo) mas não se esqueçam que o amor – Respeito! – pelo ambiente natural que nos rodeia é absolutamente necessário. Vivemos tempos onde a biodiversidade está em risco e onde os nossos filhos irão assistir em primeira mão ao dizimar da magia natural que nos criou e nos protegeu. Os ecossexuais acreditam que todo este amor pode ser usado para salvar-nos das catástrofes que nos esperam. E tu? O que já fizeste hoje para amar um pouco mais a tua Terra?

22 Nov 2016

Presidente da República portuguesa felicitou pilotos do Grande Prémio de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s sucessos dos pilotos portugueses António Félix da Costa, na Taça do Mundo FIA de Fórmula 3, e de Tiago Monteiro, na Corrida da Guia, na 63ª edição do Grande Prémio de Macau não passaram ao lado em Portugal. Ontem, o Presidente da República felicitou os dois pilotos lusos.

“Foi com enorme satisfação que tomei conhecimento das vitórias dos pilotos Tiago Monteiro e António Félix da Costa no Grande Prémio de Macau”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, em nota publicada no portal da Presidência da República. “Neste circuito citadino e emblemático de Macau, e com enorme apoio da comunidade portuguesa e luso descendente, Tiago Monteiro tornou-se no primeiro português a ganhar a Corrida da Guia e que contou para o campeonato do mundo de WTCC, enquanto Félix da Costa, repetiu a vitória de 2012, vencendo a corrida de Fórmula 3, nesta que foi a 63ª edição do Grande Prémio de Macau”, acrescentou.  “Em meu nome pessoal e de todos os Portugueses felicito os pilotos Tiago Monteiro e António Félix da Costa por mais estas vitórias, que vêm consolidar a carreira de dois dos mais bem sucedidos pilotos portugueses, e que dão relevo a Portugal nos desportos motorizados”, concluiu Marcelo Rebelo de Sousa.

FPAK também gostou

A Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) também emitiu no final de domingo uma nota de imprensa, com as palavras do presidente da associação.

“Ver os nossos pilotos a conseguirem títulos mundiais e a levarem o nome de Portugal  aos quatro cantos do mundo é um enorme privilégio. Sabemos que temos alguns dos melhores pilotos do mundo e acreditamos que são estes sucessos  que nos vão fazer continuar a trabalhar para formar mais pilotos de nível internacional”, referiu Manuel de Mello Breyner, Presidente da Federação, que foi um dos convidados no 60º aniversário do evento.

Para além de Félix da Costa e de Monteiro, o responsável máximo da FPAK e ex-praticante referia-se também ao piloto algarvio Rui Águas, cujo o irmão Paulo é capitão na Air Macau, e que este fim-de-semana venceu o troféu de pilotos da categoria GTE-Am do Campeonato do Mundo FIA de Endurance (WEC).

22 Nov 2016

Birmânia | Pequim apela ao restauro da paz na fronteira

Os combates entre o exército e os guerrilheiros das minorias étnicas fizeram, domingo passado, oito mortos. Uma bomba caiu em território chinês

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China apelou à Birmânia para restaurar a paz na fronteira comum e evitar uma escalada no conflito entre as forças armadas e guerrilheiros, após uma bomba ter atingido território chinês.

As autoridades chinesas puseram em marcha um dispositivo de emergência e reforçaram o contingente policial junto à fronteira.

Pequim “espera que todas as partes implicadas participem no diálogo e consultas e façam esforços concretos para salvaguardar a paz”, afirmou um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, em comunicado difundido na noite de domingo.

Os combates entre as forças birmanesas e os guerrilheiros começaram na madrugada de domingo e o tiroteio podia ser escutado na cidade chinesa de Wanding, situada na fronteira.

Uma das bombas atingiu uma aldeia chinesa, sem causar vitimas.

Entretanto, um hospital chinês admitiu dois civis da Birmânia que ficaram feridos e em vários locais foram preparadas instalações para receber os refugiados do conflito.

Escreve ontem a imprensa estatal da Birmânia que pelo menos oito pessoas morreram no noroeste do país nos confrontos no domingo entre o exército e guerrilhas de três minorias étnicas.

Segundo o jornal Global New Light of Myanmar, os confrontos foram provocados por ataques a postos militares e da polícia por parte do Exército para a Independência Kachin, Exército de Libertação Nacional Ta’ang e milicianos da minoria kokang.

Um soldado, três polícias, um membro da milícia civil e três moradores morreram e 29 pessoas ficaram feridas, incluindo nove polícias, segundo o mesmo diário.

Na sequência da ofensiva, várias bombas caíram do lado chinês da fronteira, onde não foram registados feridos, segundo o jornal.

Acordo distante

O recrudescimento da violência representa mais um golpe nos esforços da líder de facto do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, para alcançar um acordo de paz com as guerrilhas.

O governo organizou em Agosto uma conferência de paz, que reuniu 18 das 21 guerrilhas do país e terminou com uma declaração de boas intenções, mas sem grandes acordos.

Os ta’ang e kokang não participaram no encontro, devido ao veto dos militares, ao contrário do que sucedeu com os kachin, que enviaram uma delegação. Os kachin, com cerca de 10.000 milicianos, enfrentam o exército desde 2011, após o fim de um cessar-fogo que durou 17 anos.

Esse diálogo não deteve, contudo, a ofensiva levada a cabo na zona pelo exército birmanês, ao qual a Constituição concede amplos poderes, incluindo os ministérios da Defesa, Interior e Fronteiras, e poder de veto no parlamento.

Uma maior autonomia é a principal reivindicação de quase todas as minorias étnicas da Birmânia, incluindo a chin, kachin, karen, kokang, kayah, mon, rakain, shan e wa, as quais representam mais de 30% dos 48 milhões de habitantes do país.

Em Maio de 2015, durante um conflito entre as tropas da Birmânia e guerrilheiros kokang, uma bomba atingiu também território chinês, causando a morte de cinco camponeses.

A Birmânia pediu desculpas e pagou compensações pelo incidente.

22 Nov 2016

Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Supremo Félix da Costa

Estava escrito nas estrelas que ontem iria ser o dia de Portugal no Grande Prémio de Macau. Quatro horas depois de Tiago Monteiro vencer a Corrida da Guia, António Félix da Costa triunfou com enorme classe na Taça do Mundo FIA de Fórmula 3

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] jovem de 25 anos de Cascais, que nem era suposto cá vir e conduziu um Dallara-VW sem um único patrocinador, numa clara aposta da equipa Carlin no talento do português, repetiu o feito de 2012 e juntou-se a Felix Rosenqvist e a Edoardo Mortara na galeria daqueles que venceram por duas vezes esta prova.

Apesar de só ter tido a oportunidade de efectuar dois dias de testes num Fórmula 3 antes de viajar até nós, Félix da Costa chegou a Macau confiante e bem disposto, sem qualquer pressão e com um espírito bem diferente daquele que em 2013 “só” lhe valeu o segundo lugar. Na quinta-feira o português fez a pole-position provisória para a Corrida de Qualificação, mas acabaria por perder a primeira posição nos treinos de sexta-feira para os britânicos George Russell e Callum Ilott.

No sábado, no arranque, ao lado do brasileiro Sérgio Sette Câmara, deixou para traz o poleman George Russell, subindo a segundo. Callum Ilott manteve o primeiro posto. No recomeço após o primeiro momento de Safety-Car, após 5 voltas decorridas, na primeira abordagem à Curva do Hotel Lisboa, Félix da Costa fez a manobra decisiva da corrida e ultrapassou o britânico Ilott, assumindo o primeiro posto.

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No domingo, na verdadeira corrida de 15 voltas que atribuía o título mundial da categoria de Fórmula 3, o piloto português não esteve tão bem no arranque e foi surpreendido por Ilott nos primeiros metros, mas o rookie inglês ficou à mercê de Da Costa e de Câmara. Na travagem para o Lisboa, com três carros lado-a-lado, o brasileiro, que estava por dentro, levou a melhor sobre o seus rivais. O português caiu para segundo e viu o seu companheiro de equipa fugir ligeiramente nas primeiras voltas. Mas o cenário mudou com a entrada do “Safety-Car” à quinta volta, para retirar o bólide danificado de Nikita Mazepin no Paiol.

No reinicio, Félix da Costa passou ao ataque e ultrapassou Câmara. Daí até ao final o piloto luso não mais descolou da liderança, nem mesmo depois de mais um período de “Safety-Car” que a três voltas do fim permitiu a Félix Rosenqvist, que tinha arrancado de sexto e vinha a subir lugares, suplantar Câmara. Lá na frente, Félix da Costa já preparava a festa que vinha a seguir.

Para gáudio dos muitos portugueses que estavam ontem no Circuito da Guia, “A Portuguesa” voltou a tocar e António em lágrimas no pódio comemorou um triunfo em todo merecido, sem antes ter brindado o público com uns donuts em pista!

A meio do pelotão, e sem dar nas vistas, o jovem piloto de Macau Andy Chang conseguiu um refulgente 12º lugar, apenas três lugares atrás de outro brasileiro, Pedro Piquet, filho de Nelson Piquet. O representante da RAEM veio sempre a melhorar a sua performance ao longo do fim-de-semana e partindo do 16º lugar, chegou mesmo a rodar à porta do “Top-12” com o Dallara-NBE da equipa inglesa T-Sport. O 12º lugar de Chang, que esta época só fez duas provas de Fórmula 3, é o seu melhor resultado no Grande Prémio de Macau.


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O que eles disseram…

1º António Félix da Costa – “O Tiago ganhou hoje de manhã, e eu meti na cabeça que também tinha que ganhar. Sou competitivo e não conseguia vir aqui sem ser para ganhar. Estar ali no pódio e ver o apoio dos portugueses, e com toda a gente a cantar o hino, foi emocionante. Hoje (a vitória) foi para a equipa. Agora quero voltar aqui a Macau, mas não de Fórmula 3, mas sim ali com os maduros, nos GT.”

2º Felix Rosenqvist – “Não foi um fim-de-semana fácil. Tivemos que trabalhar muito duro, ontem o carro não estava bom. Para hoje fizemos muitas mudanças e andamos muito melhor. Tirei vantagem nos reinícios após os Safety-Car para ganhar posições. Dei o meu melhor mas não chegou para vencer.”

3º Sérgio Sette Câmara – “Desde ontem à noite, depois de ter ficado em terceiro na Corrida de Qualificação, comecei a acreditar que podia ganhar Macau. Quando eu na primeira volta estava em primeiro, comecei a acreditar ainda mais mas depois veio o Safety-Car. Este ano nunca estive na primeira posição atrás do Safety-Car e não arranquei bem, e o António passou-me. Depois comecei a perder a minha traseira e o Félix conseguiu ultrapassar-me também.”

21 Nov 2016

Tiago Monteiro: “Tinha um ajuste de contas com Macau”

Tiago Monteiro era o homem mais feliz no paddock da Corrida da Guia. O piloto portuense de 40 anos venceu uma corrida que há anos sonhava em ganhar

[dropcap]Q[/dropcap]ual é o sentimento de seres o primeiro português a vencer a Corrida da Guia?
Muito feliz. Um alívio grande, pois esta corrida é muito difícil e muito tensa e por isso é que gostamos muito dela. Uma pessoa sabe que acorda todos os dias com uma sensação muito estranha. Hoje de manhã acordei um bocado nervoso. Não tinha muito a perder e não era o meu campeonato mas queremos sempre tentar tudo por tudo. Uma pessoa sabe que arrisca muito aqui e acho que isso tudo, no seu conjunto, faz com que seja uma corrida muito especial.

guia2016-1E como correram as duas corridas?
Saí na terceira posição e sabia que tinha de ter um bom arranque , e a primeira corrida também foi boa, apesar de ter sido o que foi. Não foi propriamente uma corrida, com tantas bandeiras vermelhas. A segunda corrida tive um excelente arranque e toda a gente sabe que isso é a chave e também é uma das minhas especialidades no WTCC. Correu bem aqui, apesar de não conhecer bem este carro e ainda assim safei-me bem. A partir do momento que se está na liderança. Uma pessoa nunca sabe o que é que vai acontecer, há muitas bandeiras amarelas e muitas vermelhas e é melhor está na frente do que estar a ter que recuperar. A partir daí era tentar manter o máximo possível. A corrida estava muito rápida, e não sabia bem se tinha capacidade de aguentar ou não. Tentei não cometer erros, não sabia se faltavam três ou quatro voltas, já sabia que iam ser menos do que o previsto. Enfim, foi um grande alívio.

Soube a vingança?
Há dois anos foi uma grande tristeza a três curvas do fim ter a direcção completamente bloqueada e por isso acho que agora foi uma pequena vingança. Tinha ainda um ajuste de contas com Macau. Foi fantástico! A vitória do António Félix da Costa na corrida de ontem também me deixou muito contente. Somos muito próximos e estou muito orgulhosa e agora ainda estou mais motivado para lhe dar força na partida.

Com tanto percalço na corrida, tiveste algum cuidado em especial?
Estava com medo que até a cancelassem. Seria uma grande frustração , mas poderia acontecer. Estava preocupado, por exemplo, com a temperatura dos pneus, que isto de aumentar e baixar a temperatura não resulta muito bem e não sabia bem como iriam funcionar. Tinha muitas preocupações. Foi uma corrida muito tensa, mas sabe melhor ainda.

21 Nov 2016

Hong Kong | Portugueses ponderam criação de associação

São jovens, com vidas organizadas e trabalhos sólidos. A comunidade portuguesa em Hong Kong é pequena, mas bem resolvida. O desemprego em Portugal contribuiu para um novo fluxo de emigração para a região vizinha. Procuram-se agora pontos de encontro

[dropcap style≠’circle’]Á[/dropcap]lvaro Monteiro está em Hong Kong há dois anos e meio e é um caso especial. Para começar, tem uma profissão que é, no mínimo, diferente: é treinador de esgrima. Depois, chegou à antiga colónia britânica através de Macau, o que não acontece com a maioria dos portugueses que, nos últimos anos, decidiram passar a viver aqui ao lado.

Desde que Hong Kong é Hong Kong que há portugueses na região. As primeiras – e mais expressivas – vagas de emigração tiveram como ponto de partida o outro lado do Delta, em alturas atribuladas da vida política e social de Macau. A comunidade teve importância, ficou para a história de um território que se transformou em metrópole. Hoje, ainda se vive de um certo passado, mas há uma nova comunidade a nascer dentro da comunidade. São os sub-30, como lhes chama o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

Pelas contas de Vítor Sereno, há cerca de 30 mil cidadãos com passaporte português na antiga colónia britânica. “Mas imagino que, entre a comunidade expatriada e a comunidade tradicional, andem à roda dos 5000.”

É no equilíbrio entre as duas comunidades que o cônsul-geral e o cônsul honorário, Ambrose So, desenvolvem o trabalho que fazem na região vizinha. Tenta-se a aproximação entre as duas comunidades: a tradicional, com sede sobretudo no centenário Club Lusitano, e a expatriada, espalhada um pouco por toda a cidade, sem um ponto de encontro concreto.

Destino de trabalho

Hong Kong apareceu na vida dos portugueses com quem o HM falou por motivos profissionais. Nem todos eles chegaram directamente de Lisboa, mas poucos são aqueles que fizeram as malas e aterraram com espírito de aventura.

Voltamos a Álvaro Monteiro, que tropeçou em Hong Kong por causa de Macau. O treinador de esgrima tem cá a viver um dos melhores amigos. “Fui visitá-lo, estive um mês por cá, vim visitar Hong Kong e surgiu uma proposta de trabalho nessa altura. Foi por acaso”, conta.

O acaso dura há mais de dois anos e é um acaso feliz: “Faço aquilo que sempre quis fazer e encontrei essa oportunidade aqui na Ásia. Na Europa, principalmente em Portugal, não é assim tão fácil viver da esgrima. Por cá, está a crescer de uma forma muito interessante – em Hong Kong, na China, em Singapura, no Japão. É um mercado que está a crescer”.

Marcos Melo Antunes viveu alguns meses em Macau há mais de uma década, mas passou por outros continentes antes de chegar a Hong Kong, onde está há já seis anos. A trabalhar numa multinacional, a região serve-lhe essencialmente de base. A empresa “precisava de reforçar a equipa na Ásia, estava em grande crescimento na China, no Japão e na Coreia, e utiliza Hong Kong como uma plataforma para lidar com esses países”, explica.

A experiência “tem sido boa”, porque “Hong Kong oferece várias coisas que uma grande cidade cosmopolita oferece”, destaca. “Tem sido uma experiência interessante e intensa. Hong Kong, a par de outras grandes cidades como Nova Iorque ou Londres, é uma cidade com grande actividade e pode chegar-se facilmente a vários países aqui à volta.”

Melo Antunes corresponde ao perfil mais comum dos portugueses que, nos últimos anos, se mudaram para Hong Kong. Quando pisou a região na qualidade de representante do Estado português, há quase quatro anos, Vítor Sereno encontrou “uma comunidade expatriada muito ligada às profissões liberais”.

“Houve um boom de emigração de Portugal pós-2010, 2011, muitos deles vieram para esta zona do mundo, adaptaram-se muito bem. Muitos deles estão na área da banca, do IT, na área financeira, nas grandes empresas multinacionais, e foi essa comunidade que eu vim encontrar”, descreve Vítor Sereno.

Há seis anos, quando Marcos Melo Antunes saiu da Europa, “havia um pequeno grupo de portugueses, jovens empreendedores, muita gente ligada ao trading”. Havia também “pessoas que tinham vindo à procura da sua sorte – porque tinham ouvido dizer que havia pouco desemprego –, tinham vindo à procura de novas oportunidades e encontraram-nas aqui”.

Não é “um grupo expressivo, mas são alguns”. Melo Antunes já viu pessoas a aterrar, outras a partir. “Algumas começam a chegar com o interesse das empresas chinesas na economia portuguesa, nas áreas da electricidade, dos transportes – há já portugueses ligados a essa área. Há também grupos portugueses, como a SONAE, que fizeram investimentos na China e que trouxeram pessoas para cá.”

Uns aqui, outros ali

Em termos de vida social, Marco Melo Antunes relaciona-se com expatriados de vários locais, sendo que alguns deles são de Portugal. Já Álvaro Monteiro, o treinador de esgrima, conta que, neste momento, não tem nenhum contacto com portugueses – o único que conhecia e que o ajudou a adaptar-se à cidade mudou-se para o Médio Oriente. O círculo de amigos faz-se com pessoas de outras nacionalidades.

Mathias Simão, osteopata, está em Hong Kong há cerca de dois anos. Chegou à cidade depois de um ano a viver na Malásia e, em termos profissionais, dificilmente podia estar melhor. “As pessoas em Hong Kong procuram a osteopatia. São das classes média-alta, alta, e estão preocupadas com tudo o que é a saúde e a forma física, pelo que estão bastante abertas à osteopatia.” A antiga colónia britânica tem ainda a vantagem de ter comunidades de língua inglesa, o que é importante para um profissional com um diploma do Reino Unido.

Simão explica que se dá com “pessoas das mais diferentes origens”, uma realidade à qual esteve sempre habituado, até porque nasceu em França. “Há relativamente poucos portugueses. Estou à espera de integrar o Club Lusitano, mas a comunidade portuguesa está bastante dispersa.”

É a pensar nesta realidade que Vítor Sereno gostaria que Hong Kong tivesse uma associação de portugueses, projecto que está já a ser pensado por Gonçalo Frey Ramos, o português deste texto com mais anos de casa: são quase 11 a residir na região.

O cônsul-geral recua no tempo para uma contextualização: o primeiro contacto com Hong Kong, à chegada, mostrou-lhe “uma comunidade muito tradicional, muito respeitada, muito assente no Club Lusitano, criado em 1866, foi o segundo gentlemen’s club de Hong Kong”. Associado ao clube, destaca, “existem várias figuras – como o Comendador Sales, Sir Roger Lobo – que fizeram muito pelo nome de Portugal em Hong Kong, antes e depois do handover em 1997”.

Acontece que a outra comunidade – a expatriada – “não se revê muito naqueles princípios”, explica. O Club Lusitano de que o osteopata Mathias Simão está à espera tem ainda critérios de admissão que o tornam pouco acessível. “A primeira vez que festejei o Dia Nacional, percebi que havia outro tipo de comunidade, uma comunidade expatriada muito mais nova. Há aqui uma espécie de outra comunidade dentro desta comunidade e tentei aproximá-las.”

Desejo de ano novo

Vítor Sereno acrescenta que, quase quatro anos depois e com uma mudança de direcção do Club Lusitano pelo meio, há hoje um maior contacto. Mas, ainda assim, faz falta um outro tipo de presença organizada.

“Para 2017, tenho o desejo que se constitua a associação dos portugueses em Hong Kong e que esta associação se coordene com o Club Lusitano, mantendo esse lado tradicional, essa âncora. Que esta comunidade tradicional – que tem as suas raízes no Club Lusitano e a quem Portugal muito deve – se mescle com esta nova comunidade, que aparece todos os meses, todos os dias, e que é constituída pelos sub-30, como lhes chamo”, aponta o diplomata.

O cônsul esteve há pouco tempo num almoço com esta nova geração. “Éramos cerca de 100, entre senhoras grávidas, bebés a chorar, miúdos pequenos, uma grande algazarra que contrasta um bocadinho com o formalismo que existe no Club Lusitano. É entre formalismo e informalismo que devemos conformar a nossa comunidade em Hong Kong”, defende.

Neste almoço esteve Gonçalo Frey Ramos, “o elemento agregador desta comunidade”, forma como Vítor Sereno descreve o jovem licenciado em Gestão, a trabalhar na área dos vinhos.

Frey Ramos decidiu mudar-se para Hong Kong há mais de uma década, depois de um ano a viver em Xangai, onde esteve ao abrigo do então programa Contacto. “Em 2008 conheci a minha mulher. Curiosamente não é de Hong Kong, é japonesa, e entretanto tivemos duas filhas – a Maria e a Elena”, relata. Completamente integrado, conhece muitos portugueses, em especial os que chegaram nos últimos anos.

“A comunidade portuguesa é muito diversa, há vários grupos de pessoas, mas que se relacionam todos bem”, diz o autor de uma página no Facebook destinada especialmente aos cidadãos portugueses residentes na região.

Gonçalo Frey Ramos está a trabalhar na ideia da criação da associação de portugueses. “Há muita gente que não se revê no Club Lusitano, uma instituição bastante antiga que foi fundada numa altura em que a comunidade portuguesa tinha muita força e era uma das mais importantes”, afirma. “Hoje em dia, faz sentido [criar uma associação], porque não há nenhum sítio que acabe por juntar todos os portugueses”, diz. “Existe a vontade de que haja um sítio onde se possam encontrar, que saibam que, se forem ali, estão lá portugueses. Para algumas pessoas, seria uma solução muito válida.”

Se tiver pernas para andar, a associação será constituída por elementos de uma comunidade muito bem resolvida. “Estão muito bem orientados. Normalmente, as empresas para onde vêm trabalhar oferecem bons contratos, a própria integração social deles e das famílias é feita a priori, não é feita a posteriori com recurso ao consulado, à última hora, ou ao consulado honorário”, explica o cônsul Vítor Sereno. Há um “vínculo histórico de seriedade e de competência” da comunidade portuguesa em Hong Kong que está para durar. Agora com a ajuda dos sub-30.

Macau da saudade

Fica a uma hora de viagem, mas não é um destino procurado com frequência pelos portugueses que vivem em Hong Kong. Macau serve, sobretudo, para matar saudades de casa.

“Desde que estou cá em Hong Kong tenho tido pouco contacto com Macau. Pensava que, vivendo aqui, ia ter uma relação mais próxima”, admite Marcos Melo Antunes, que residiu no território durante alguns meses há mais de uma década.

“A verdade é que as comunidades não se relacionam. Vou a Macau com amigos portugueses de quatro em quatro meses para uns jantares, vamos comer comida portuguesa. Tenho pessoas conhecidas em Macau mas que vejo muito raramente e os portugueses de Macau vêm a Hong Kong, mas não há uma relação muito forte entre os portugueses” das duas regiões.

Melo Antunes, que trabalha numa multinacional na antiga colónia britânica há seis anos, relata que “os portugueses que chegam a Hong Kong têm curiosidade, vão visitar Macau”. Mas, acrescenta, “esperava uma maior relação, uma relação que não vejo, não sinto, não está presente”.

Mathias Simão confirma a descrição de Marcos Melo Antunes: “Vou de vez em quando a Macau, uma vez de seis em seis meses, pela gastronomia portuguesa”. O osteopata confessa que, quando visitou o território pela primeira vez, ficou surpreendido com o facto de haver pouca gente a falar português. “Pelo que vejo aqui, Macau acaba por ser um destino, mas só de vez em quando, para comprar algo de Portugal ou para ir comer qualquer coisa. Não será um destino ao qual se vai com frequência.”

Já Álvaro Monteiro, que começou a vida em Hong Kong depois de um mês de férias em Macau, faz uma visita mensal ao território. “É um bocadinho de Portugal aqui na Ásia, sinto mesmo isso. Dá para falar a língua, o que, para mim, é espectacular, porque estou sempre a falar inglês. Dá para comer comida portuguesa e estar com amigos”, descreve o treinador de esgrima.

21 Nov 2016

Saúde | Lançado programa de rastreio do cancro colorrectal

É o segundo cancro que mais mata no território. Os Serviços de Saúde apostam no diagnóstico numa fase inicial. Os testes são gratuitos e vão ser feitos por entidades privadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau lançaram um programa de rastreio do cancro colorrectal, o segundo mais comum e mortal na região, que tem como destinatários os residentes com idades entre os 60 e os 69 anos.

Os Serviços de Saúde esperam que metade do universo de elegíveis (oito mil em 16 mil) adira ao programa que cobre as despesas com os exames.

O rastreio desenrola-se em duas fases: a primeira prevê um exame de sangue oculto nas fezes, ao qual seguir-se-á uma colonoscopia no caso de o resultado ser positivo, explicou o chefe do Centro de Protecção e Controlo de Doenças dos Serviços de Saúde, Lam Chong, em conferência de imprensa.

As colonoscopias não vão ser realizadas no Centro Hospitalar Conde de São Januário, mas em três unidades privadas chamadas a colaborar no programa de rastreio, de dois anos.

O Governo estima gastar, por ano, nove milhões de patacas – com base na adesão esperada de oito mil residentes –, uma verba a ser distribuída pelos três hospitais privados consoante o número de exames levados a cabo, de acordo com Lam Chong.

O médico-consultor do Serviço de Gastroenterologia, Ng Ka Kei, afirmou que o São Januário “não tem capacidade” ou “condições” para fazer mais exames, atendendo ao número de utentes que recebe naquela unidade.

Segundo o especialista, realizam-se no hospital público dez a 15 colonoscopias por dia (número que respeita apenas aos dias úteis e que exclui os casos urgentes).

De 1947 a 1956

O programa divide o período de inscrição dos destinatários em duas fases. Os nascidos nos anos ímpares (1947, 1949, 1951, 1953 e 1955) podem inscrever-se até 31 de Outubro de 2017, enquanto os dos anos pares (1948, 1950, 1952, 1954 e 1956) o poderão fazer a partir de 1 de Novembro do próximo ano e até 31 de Outubro de 2018.

O intervalo etário foi definido com base na média das idades de incidência (67,5 anos) em Macau.

Para serem elegíveis para o rastreio, além da idade, os residentes têm de cumprir requisitos como não terem realizado nenhuma colonoscopia nos últimos cinco anos, nem um exame de sangue oculto nas fezes nos últimos dois.

O cancro do colorrectal é o segundo mais comum em Macau, a seguir ao de traqueia, brônquio e pulmões.

Em 2014, pelos dados mais recentes dos Serviços de Saúde, foram registados 1598 novos casos de cancro em Macau, dos quais 253 de cancro colorrectal.

O cancro colorrectal figura também como o segundo mais mortal: 101 mortes em 2014, a seguir ao de traqueia, brônquio e pulmões, com 188.

Os Serviços de Saúde realizaram, no ano passado, o programa-piloto de rastreio deste tipo de cancro, abrindo mil vagas para a realização do exame de sangue oculto nas fezes: 995 residentes submeteram as amostras para o exame, que deu positivo em 107 casos, com 66 pessoas a precisarem de mais exames médicos. No final do procedimento, foram diagnosticados seis tumores malignos, três em fase avançada e outros tantos num estágio inicial.

21 Nov 2016

Emprego | Chui Sai On em Jinan fala de oportunidades em Macau

O Chefe do Executivo realizou uma visita oficial à Universidade de Jinan, protagonista de uma recente polémica graças à concessão pela Fundação Macau de cem milhões de remimbi. Num encontro com estudantes, Chui Sai On garantiu que Macau continua a ter oportunidades de emprego para os recém-licenciados

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hui Sai On voltou à universidade que, este ano, gerou um pedido para a sua saída do cargo por parte da Associação Novo Macau (ANM). Esquecido o episódio da concessão de cem milhões de remimbi à Universidade de Jinan, o Chefe do Executivo deslocou-se a Cantão para celebrar os 110 anos de existência da instituição de ensino superior que já formou muitos quadros de Macau.

Segundo um comunicado oficial, o Chefe do Executivo reuniu-se com alunos e antigos estudantes de Macau e garantiu que o pequeno território continua a ter oportunidades de emprego para aqueles que acabam de se licenciar. Chui Sai On terá citado as estatísticas mais recentes, que provam que “os estudantes com licenciaturas de Macau ou que regressaram ao território depois de concluírem o seu curso no exterior, registaram, nos últimos anos, uma elevada taxa de emprego”.

Para além disso, “para quem pretender continuar na área da investigação académica, o Chefe do Executivo lembrou que Macau tem hoje mais instituições de investigação do que antigamente, havendo mais oportunidades para a investigação ligada a assuntos académicos e sociais”.

No mesmo encontro, Chui Sai On adiantou ainda que os dois primeiros empregos após o curso são importantes, “pois representam oportunidades para os recém-licenciados absorverem experiências de trabalho e ficarem a conhecer o que não se aprende nas escolas”.

O Chefe do Executivo, que é vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan, falou mesmo da sua própria experiência de entrada no mercado de trabalho. “Terminada a sua licenciatura (Chui Sai On estudou Gestão de Sanidade Urbana na Universidade do Estado da Califórnia, Sacramento), também não realizou o seu sonho, pois a sua primeira preocupação era encontrar um emprego estável”, aponta o comunicado.

A crise na cultura

Os alunos terão pedido a Chui Sai On para comentar o panorama das indústrias culturais e criativas no território. O Chefe do Executivo falou de um panorama de “crise”, que exige apoios financeiros do Governo. “Embora esta indústria tenha potencial, também enfrenta crises. Por isso, numa primeira fase, necessita de apoio e de ajuda do Governo”, lê-se na nota. “O Governo tem apostado bastantes recursos, criando serviços competentes para apoiar o desenvolvimento deste sector, que tem grande potencial, com o objectivo dos quadros qualificados locais poderem contribuir com a sua capacidade e competência”, lê-se ainda.

O Chefe do Executivo comentou também qual o caminho para a concretização da diversificação económica de Macau. “O território está a caminhar para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas, da medicina chinesa tradicional, serviços de ponta, sistema financeiro com características próprias e convenções e exposições.”

Sobre o desenvolvimento de “novos meios de comunicação social”, Chui Sai On confirmou que “as autoridades necessitam de elaborar políticas para articular e impulsionar o desenvolvimento nesta área”.

O dinheiro concedido pela Fundação Macau (FM) terá servido para a construção de colégios residenciais para estudantes, bem como outras infra-estruturas. Em Maio deste ano a ANM pediu a demissão de Chui Sai On por este ser também presidente do conselho de curadores da FM. O Governo descartou sempre a existência de interesses por detrás dessa doação. “O Chefe do Executivo foi convidado para desempenhar as funções de vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan, não recebendo qualquer remuneração ou interesses, pelo que não existe tráfico de influências, tal como tem sido acusado”, indicou, à data, um comunicado do Executivo.

21 Nov 2016

Código Penal | Governo quer criminalizar assédio sexual na forma física 

A revisão do Código Penal em relação aos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexuais deverá mesmo criminalizar o assédio sexual, mas apenas com actos físicos. Prevê-se ainda a igualdade de género nos crimes de violação, bem como a criminalização da prostituição e pornografia com menores

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uase um ano depois de ter arrancado a consulta pública sobre o assunto, o Governo concluiu o relatório final sobre a revisão do Código Penal, relativa aos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexuais. A proposta do Governo visa a criminalização do assédio sexual, pretendendo “responsabilizar penalmente o agente que faça com que outra pessoa sofra ou realize, contra a sua vontade, consigo ou com outrem, contacto físico de natureza sexual”.

Apesar de propor uma pena de prisão de um ano ou multa até 120 dias, o crime será semi-público e nem todos os tipos de importunação sexual serão punidos. “Somos da opinião que não é adequado criminalizar todos os tipos de actos de importunação sexual, podendo haver uma diferenciação na respectiva forma de resolução, optando-se pela criminalização dos actos de importunação sexual que envolvam contacto físico”, pode ler-se.

Casos de igualdade

O Governo quer ainda acabar com o fim da diferenciação de género para os casos de violação, estando homem ou mulher em igualdade no caso de serem vítimas do crime. “Tendo como referência a tendência legislativa de vários países ou regiões, como a Alemanha, Itália ou Taiwan, constatou-se que as normas que estipulavam que só as mulheres podiam ser vítimas do crime de violação já foram substituídas. Ao consultar a revisão de 1998 feita ao Código Penal português, constatou-se que também aí já não se faz uma diferenciação de género quanto ao agente do crime de violação”, pode ler-se no relatório.

Contactado pelo HM, Anthony Lam, presidente da Associação Arco-Íris, que luta pelos direitos da comunidade LGBT, aplaudiu esta iniciativa. “Acreditamos que este é um passo em frente para eliminar os estereótipos relacionados com o género.”

Em relação à natureza do crime, os abusos sexuais continuam a ser um crime semi-público, a não ser que se tratem de violações cometidas contra vítimas que não tenham capacidade de resistência. Aí o crime será público.

Ainda nos crimes de violação, o Governo propõe que o sexo oral passe a constituir um acto de violação. Até então o Código Penal previa que apenas actos com penetração, como a cópula ou o coito anal, seriam violação. O Executivo teve em conta “o grau de danosidade que o coito oral constrangido causa à vítima”, bem como o “facto de a gravidade deste acto ser idêntica à da cópula ou do coito anal”.

O sexo oral passa assim a ser considerado crime de coacção sexual, podendo ser punido, tal como os restantes actos de violação com penetração, com penas de prisão que vão dos três aos 12 anos.

O Governo decidiu também considerar os actos de violação em grupo como sendo uma agravante do crime. “Concordamos que a violação em grupo possui um elevado grau de danosidade e um impacto físico e psicológico considerável na vítima, daí que a censura que recai sobre o agente deve também ser acrescida”, lê-se no documento divulgado.

Punido sexo com menores

A proposta cria ainda o crime de recurso a prostituição de menor, o qual visa as vítimas de prostituição com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos, “mediante pagamento ou contrapartida”. Este crime será público, prevendo-se penas de prisão de três a quatro anos, consoante a natureza do crime.

Já o crime de pornografia de menor visa todos aqueles com idades inferiores a 18 anos “independentemente da relação que possuam com o agente” desse mesmo crime. Quanto à produção ou distribuição de material pornográfico com menores, as penas de prisão vão de um a cinco anos, enquanto aqueles que tentem lucrar com este tipo de negócio poderão ver a sua pena agravada até oito anos. Quem comprar material pornográfico com menores pode incorrer numa pena de prisão de um ano ou uma multa de 120 dias. Este será um crime público.

O documento final da consulta pública revela ainda algumas mudanças ao nível do crime de lenocínio. Quem incitar ou facilitar a prostituição incorrerá no “crime de lenocínio qualificado”. É ainda proposta uma alteração da tipificação do crime de lenocínio”.

Em declarações à imprensa, Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, confirmou que a proposta de revisão chega esta semana à AL.

Ng Kuok Cheong aplaude decisão sobre assédio

Ng Kuok Cheong e Au Kam San foram autores de um projecto de lei semelhante ao que está prestes a chegar ao hemiciclo. Ng Kuok Cheong defendeu ao HM que “o mais importante é que esta proposta chegue à AL”. “É essencial preencher a lacuna do crime de assédio. Com o preenchimento dessas lacunas essenciais, os pormenores poderão ser melhorados passo a passo. É importante rever os vazios existentes no Código Penal.”

21 Nov 2016

Urbanismo | Projectos vão passar a estar online

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]i Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), confirmou à deputada Kwan Tsui Hang que “no futuro, findo o prazo de exposição dos planos urbanísticos, os respectivos projectos serão mantidos na página electrónica da DSSOPT, a fim de facilitar a consulta do público”. Na resposta a uma interpelação escrita da deputada confirma-se ainda que o Governo irá estudar novas formas de publicitar projectos urbanísticos.

“Actualmente, apesar de não dispor de outras formas de publicitação, nomeadamente através de emissão de nota de imprensa ou de aviso, a DSSOPT irá ponderar a adopção de outras formas de publicitação, de acordo com a situação”, adiantou Li Canfeng.

“Em conformidade com o disposto na Lei de Terras, em caso de dispensa do concurso público, as informações desta dispensa devem ser divulgadas ao público, através da página electrónica da DSSOPT. Em face do desenvolvimento da sociedade devem ser fixadas em outras formas de publicitação através do despacho do Chefe do Executivo, a publicar em Boletim Oficial”, rematou o director das Obras Públicas.

21 Nov 2016

CCAC | Dois funcionários públicos suspeitos de burla

ccac[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m casal que trabalha na Administração é acusado de ter enganado o Instituto de Habitação para conseguir comprar uma casa em Seac Pai Van. Os suspeitos não disseram que tinham um apartamento do outro lado da fronteira

O caso foi descoberto porque o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) recebeu uma denúncia. Os dois funcionários públicos em causa são casados: um trabalha no Gabinete do Procurador e o outro no Instituto de Habitação (IH), a entidade que trata precisamente dos processos de atribuição de fracções construídas pelo Governo.

De acordo com uma nota de imprensa do CCAC, os dois suspeitos são acusados de terem cometido os crimes de falsificação de documento e de burla de valor consideravelmente elevado, por terem omitido, durante o processo de candidatura a uma habitação económica, que detinham um apartamento em Zhuhai.

O casal é ainda acusado de ter prestado dolosamente falsas declarações na apresentação de declaração de bens patrimoniais e interesses, pelo que terá cometido o crime de falsas declarações, por inexactidão dos elementos fornecidos.

Os factos ocorreram em 2013. O CCAC indica que a aquisição da casa em Zhuhai tinha sido feita pouco tempo antes do processo de candidatura ao IH. “Tendo conseguido enganar o Instituto de Habitação e passar na questão da verificação do património, os cônjuges compraram finalmente uma fracção de habitação económica situada em Seac Pai Van no valor de mais de 600 mil patacas”, lê-se no comunicado.

No início deste ano, o comissariado recebeu uma denúncia sore o caso e pediu ao IH que verificasse, novamente, a candidatura em questão, tendo exigido aos dois funcionários públicos a apresentação de documentos comprovativos referentes a património no exterior.

“Por um lado, os dois suspeitos afirmaram fraudulentamente, na declaração apresentada ao pessoal do IH, que não tinham nenhum imóvel em Zhuhai e, por outro lado, venderam rapidamente o imóvel em Zhuhai e requereram posteriormente às autoridades competentes do registo predial [da cidade vizinha] um documento para comprovar que não possuíam nenhum imóvel para declarar ao IH”, acusa o CCAC.

Além disso, continua o organismo, o casal ocultou por duas vezes o apartamento em Zhuhai aquando da apresentação das declarações de bens patrimoniais e interesses em 2013 e em 2015. O caso já foi encaminhado para o Ministério Público.

Promessa de IH

Em reacção ao comunicado do CCAC, o Instituto de Habitação veio garantir que “está a prestar cuidada atenção” ao caso que envolve um dos seus trabalhadores e promete continuar a cooperar com a investigação.

“Simultaneamente, o IH irá instaurar um processo de averiguações em relação às eventuais ilegalidades ou infracções disciplinares cometidas por este trabalhador, não pactuando com qualquer ilegalidade ou infracção disciplinar. Sempre que existam informações e provas suficientes de que alguém obteve uma habitação económica através de meios ilegais, irá ser instaurado, de imediato, o respectivo processo de acompanhamento”, diz o instituto em nota à imprensa.

21 Nov 2016

Número de acidentes de trabalho supera vítimas na estrada

Em cinco anos os números referentes aos acidentes de trabalho revelaram ser maiores do que as vítimas por acidentes de viação. Tanto os acidentes como as vítimas mortais são em maior número

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de mortos em acidentes de trabalho nos últimos cinco anos em Macau supera o de vítimas nas estradas, apesar de a taxa de sinistralidade ser menor, de acordo com dados compilados pela agência Lusa. Entre 2011 e 2015 foram registados 75.700 acidentes de viação com 78 mortos contra 35.450 acidentes de trabalho que resultaram em 99 vítimas mortais.

No primeiro semestre do ano, ocorreram 7.425 acidentes de viação, mais do dobro relativamente aos 3.650 acidentes de trabalho, mas o número de vítimas mortais foi menor: quatro contra nove. Como principais causas dos acidentes de viação surgem o “excesso de velocidade” e a “não-cedência de passagem nas passadeiras e cruzamentos”, segundo os dados da PSP.

Macau – com uma área de pouco mais de 30 quilómetros quadrados, uma rede rodoviária estimada em 427 quilómetros e uma população de 647.700 pessoas no fim de 2015 – contava, no final de Setembro, com 249.013 veículos em circulação, dos quais mais de metade (52,3%) eram motociclos.

Algumas reservas

Os dados, compilados a partir das estatísticas da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Direcção dos Serviços de Assuntos Laborais (DSAL), indicam que, em média, por ano, entre 2011 e 2015, Macau registou 15 mortes nas estradas e 19 em acidentes laborais. De realçar, porém, que a DSAL faz uma ressalva relativamente às mortes causadas por acidentes de trabalho nos últimos anos por os casos estarem ainda “na fase de investigação”.

Assim, das 99 mortes registadas nos últimos cinco anos em acidentes laborais, a DSAL observa que 23 (11 em 2015; cinco em 2014 e sete em 2013) “podem eventualmente estar relacionadas com o estado de saúde das vítimas”, indicando que os dados serão revistos de acordo com as sentenças proferidas pelo tribunal.

O mesmo sucede no que diz respeito aos primeiros seis meses do ano, com a DSAL a indicar que o estado de saúde dos trabalhadores pode estar relacionado com sete das nove vítimas mortais contabilizadas. O número de feridos em acidentes de trabalho dos últimos cinco anos também ultrapassa o dos acidentes rodoviários. Entre 2011 e 2015 foram contabilizados 35.346 feridos em acidentes laborais, dos quais 283 ficaram permanentemente incapacitados de trabalhar, segundo dados da DSAL.

Já nas estradas foram registados 26.727 feridos, dos quais 1.240 precisaram de internamento hospitalar, de acordo com a PSP. Só no primeiro semestre do ano, os acidentes de trabalho provocaram 3.614 feridos, com quatro pessoas a ficarem incapacitadas permanentemente; enquanto os sinistros nas estradas fizeram 2.272 feridos, dos quais 96 careceram de internamento hospitalar. Ontem assinalou-se o Dia Mundial em Memória das Vítimas das Estradas.

21 Nov 2016

Vídeo | Festival experimental com edição dedicada a Portugal

O EXiM 2016 olha para Portugal. O evento selecciona, em cada edição, um país ou região para poder mostrar o que de melhor na área do vídeo por lá se faz. Este ano traz de Portugal o vídeo experimental, com destaque para o trabalho feito no feminino

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] “um festival diferente”, classifica José Drummond, um dos curadores, a par com Bianca Lei, de mais uma edição do festival dedicado ao vídeo experimental, o EXiM 2016.  “É um festival diferente no sentido em que não tem candidaturas e os filmes projectados são uma escolha. É ainda um evento que tem como alvo o que se faz a nível experimental, como indica o próprio nome”, explica ao HM.

Tem a direcção de Bianca Lei, que nesta edição divide com José Drummond a curadoria. “As projecções de Macau ficaram a cargo da Bianca Lei e eu com as de Portugal.”

Na origem da iniciativa está a ideia de que cada ano seja dedicado a um país que irá dividir a participação com Macau. Esta edição é dedicada a Portugal.

O critério de escolha das apresentações que vão acontecer no Armazém do Boi é essencialmente a diversidade. “Em vez de fazer três screenings semelhantes, a nossa aposta de imediato foi em ter uma sessão mais variada e ter uma maior diversidade de práticas, que pudesse, de alguma forma, fazer um bocadinho o panorama do que se tem feito nos últimos cinco ou dez anos com artistas realmente diferentes ou a trabalharem o vídeo de uma forma diferente”, explica José Drummond. A título de exemplo, o curador refere os trabalhos de Rui Calçada Bastos, José Carlos Teixeira, Bruno Campo e Carla Carreira e António Júlio Duarte.

O evento é marcado, após a sessão de abertura de sexta-feira que junta artistas locais e portugueses, por uma aposta no trabalho feito no feminino, com as projecções de Tatiana Macedo e de Mariana Viegas. A razão é, segundo o curador, a necessidade de dar mais espaço a que os trabalhos feitos por mulheres sejam apresentados. “Tenho insistido muito em que, de algum modo, a presença feminina se destaque, de modo a poder dar contextos associados a esse mundo que é particular”, explica.

José Drummond considera que “as mulheres têm de ter mais espaço”. “Ainda não é suficiente porque, além do modo e sensibilidade de abordagem das mulheres ser especial, essas coisas têm de começar a ter a mesma presença e balanço também no vídeo para podermos ser mais justos”, diz.

Ao falar das escolhas que fez, em particular para a edição de 2016 do EXiM, o curador explica “Mariana Viegas está a viver na Dinamarca e Tatiana Macedo tem estado numa residência em Berlim. Enquanto ponto de ligação é o facto de serem ambas artistas portuguesas que não estão no seu país”.

Além da mulher

As duas artistas partilham ainda o facto de terem trabalhado anteriormente em fotografia. Mas, no que respeita ao vídeo, apresentam abordagens nada semelhantes, apesar de nenhuma das duas se centrar na questão do género ou de assuntos relacionadas.

“São trabalhos diferentes e o que acho curioso é que, no trabalho delas, não há uma tentação do feminino no sentido em que as artistas não demonstram preocupações mais directamente ligadas ao mundo das mulheres: a maternidade, por exemplo. No caso destas autoras isso não acontece, sendo que a sensibilidade feminina está lá.” Para Drummond, “quando se vê um trabalho feito por uma mulher, percebe-se isso mesmo”.

Mariana Viegas, segundo Drummond, já na sua obra fotográfica mostra uma paixão muito intensa de contraste entre ruínas e seres vivos. “O trabalho dela estabelece essa relação entre um espaço em geral de ruínas e a continuação de uma outra qualquer existência. Sem que se note que seja forçado, há um olhar sobre a morte, sobre uma ideia qualquer de um apocalipse que, mesmo assim, deixará que continue a existência.” No entanto, “esta é uma leitura pessoal e feita no vazio”, salvaguarda o curador.

O trabalho da Tatiana Macedo aparece como um trabalho “muito interessante” que pega no título de uma canção do Leonard Cohen – “Seems So Long Ago, Nancy”. É um vídeo de 45 minutos, é uma visão, sobre um museu em especial, o Tate Gallery, e é feito a partir do olhar dos seguranças e funcionários do espaço.

“O protagonista não é o público ou as obras, mas sim as pessoas que trabalham no museu, aquelas pessoas que estão ali chateadas num canto, sentadas numa cadeira. É um trabalho com uma poética muito interessante na forma como aborda temas como o tédio e o vazio, é uma visão depurada do que é um museu a partir da perspectiva dessas pessoas.”

A experiência

As projecções encerram no serão de domingo com o trabalho de José Maçãs de Carvalho, que também faz a transição da fotografia para o vídeo, embora o trabalho que tem vido a desenvolver seja essencialmente marcado pelo carácter experimental. “Na fotografia de José Maçãs de Carvalho existe  sempre um lado conceptual muito forte, enquanto no vídeo há uma tentativa de experimentar caminhos que o vídeo proporciona.”

O autor tem várias pequenas peças em que apresenta coisas diferentes de como trabalhar este meio e, “ao longo da sua carreira, foi apontando caminhos diversos de como o fazer”.

Programa

EXiM 2016 Portugal and Macao Experimental Video Festival
Local: Armazém do Boi | 25, 26 e 27 de Novembro

Sexta-feira

19h – Artistas: Natercia Chang Sio Weng, Joein Leong, Ella Lei, Yves Etienne Sonolet, Ray Chu, Carla Cabanas, Nuno Cera

Sábado

16h  – Trabalhos de Tatiana Macedo e Mariana Viegas
19h – Trabalhos de Ray Sun Ruey Horng, Lei Cheok Mei, Ieong Kun Ieng , Suki Chan , Ivy Choeng , Fish Leong Ka Ian, Sam Kin Hang, Jack Yau, William Kwok, Napx, Leong Hou Un, Paula Lo, Natercia Chang Sio Weng e Ray Chu

Domingo

16h – Trabalhos de Nuno Cera, Bruno Ramos, José Carlos Teixeira, António Júlio Duarte, Carla Cabanas & Rui Calçada Bastos
19h – Trabalhos de José Maçãs de Carvalho

21 Nov 2016

China | Denunciadas cargas incompletas de petróleo de Angola

Quase 90% dos carregamentos de petróleo provenientes do poço angolano de Saturno que chegaram a Huangdao, norte da China, nos primeiros dez meses do ano tinham peso a menos, noticiou a imprensa local

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo o maior jornal da província de Shandong, o Qi Lu Wan Bao, 45 dos 51 carregamentos provenientes de Saturno traziam menos carga do que o acordado, estando a perda para os compradores estimada em 2,21 milhões de dólares.

No total, as encomendas oriundas daquele poço de águas ultra-profundas, situado no bloco 31, costa norte de Angola, apresentaram um défice de 7.690 toneladas, destaca o jornal, que cita a alfândega de Huangdao.

No caso em que os carregamentos apresentaram maior irregularidade, o valor em falta ascende a 0,5% do total.

A mesma fonte justifica o défice com a “densidade do petróleo acima do normal” e o “carregamento insuficiente no porto de carga”, estimando a perda para os compradores em 2,21 milhões de dólares.

Situada na província de Shandong, a ilha de Huangdao é sede de uma das principais refinarias do gigante estatal Sinopec no norte da China, e extremo de um dos oleodutos que fornece o nordeste chinês.

No pódio

Entre Janeiro e Outubro, Huangdao recebeu 3,6 milhões de toneladas de petróleo oriundos de Saturno, o que coloca o poço angolano entre o terceiro maior fornecedor, a seguir a Meery16, na Venezuela, e ESPO, na Rússia.

As autoridades recomendaram aos importadores chineses que, ao assinar o contrato de compra com o fornecedor angolano, devem identificar claramente o método de pesagem e realizar uma inspecção no porto de carga.

O bloco 31 tem o petróleo mais barato produzido em Angola e já rendeu em receitas para o Estado, entre Janeiro e Setembro, 57.104 milhões de kwanzas (321 milhões de euros), segundo dados do Ministério das Finanças de Angola.

É explorado por um consórcio que integra a BP (26,67% do capital), a Statoil (13,33%), a Sonangol Sinopec International (15%) e a estatal angolana Sonangol (45%), que é também operadora do bloco.

Em Julho passado, Angola ultrapassou a Arábia Saudita e a Rússia e tornou-se no principal fornecedor de petróleo da China, segundo dados das Alfândegas chinesas.

Em Agosto e Setembro, o país africano manteve aquela posição.

21 Nov 2016

China |Investimento directo no exterior aumentou 53,3%

Serviços e consumo são agora os sectores mais solicitados pelos chineses para aplicar capital. Os investimentos além-fronteiras chegaram a 162 países e regiões

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s empresas chinesas investiram 145,96 mil milhões de dólares no exterior, entre Janeiro e Outubro, um aumento de 53,3%, face ao mesmo período de 2015, consolidando a posição da China como investidor externo.

O valor supera o investimento directo estrangeiro na China, que nos primeiros dez meses do ano aumentou 4,2%, em termos homólogos, fixando-se nos 90.500 milhões de euros.

Os dados do Ministério do Comércio chinês detalham que, em Outubro, o investimento feito pela China além-fronteiras subiu 48,4%, face ao mesmo mês de 2015, para 11,74 mil milhões dólares.

Pequim tem encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurar matérias-primas e fontes confiáveis de retornos, face aos sinais de abrandamento na economia doméstica.

Os investimentos chineses chegaram a 162 países e regiões, tendo beneficiado sobretudo Hong Kong, os países do sudeste asiático e da União Europeia, Austrália, Estados Unidos da América, Rússia e Japão.

Os EUA registaram a maior subida, com o capital chinês no país a registar um aumento de 173,9%, nos primeiros dez meses do ano.

Mudança de rumo

A tendência do investimento chinês tem-se também alterado nos últimos anos, com crescente preponderância do sector dos serviços e do consumo.

Os números oficiais demonstram que, nos primeiros dez meses do ano, a maioria do montante de investimento chinês fora do país se dirigiu para os serviços comerciais, retalho e manufactura.

“Anteriormente dominado por grandes empresas estatais que procuravam ferro e cobre, o investimento chinês agora inclui conglomerados do sector privado que compram estúdios de cinema nos EUA e casas de moda na Europa, assim como empresas apoiadas pelo Estado a adquirir firmas no sector da tecnologia”, notou o banco HSBC em comunicado.

A China é a segunda economia mundial, a seguir aos EUA, e a maior potência comercial.

Nos últimos anos, Portugal tornou-se um dos principais destinos do investimento chinês na Europa, logo a seguir ao Reino Unido, Alemanha e França, num montante que já ultrapassou os 10.000 milhões de euros, segundo fontes portuguesas.

21 Nov 2016

O cinema em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mundo contemporâneo vive numa afirmação dupla, por vezes paradoxal, entre local e global.  O cinema mais localizado do que local é a indústria-arte do séc. XXI. Desde sempre viu a difusão internacional como o território de excelência sem esquecer  a dimensão doméstica, ou dito de outra forma, o reconhecimento afectivo por parte do público do país de origem.

A produção cinematográfica exige sempre técnicos, actores, realizadores e escritores especialistas de argumento nos países, ou locais, de produção. Mas exige também, por diferentes razões de decisores públicos, políticas próprias, pensamento institucional.

Arte moderna por excelência,  o cinema nasceu com a modernidade, seja enquanto meio de narração, seja enquanto território de experimentação, seja documental, ou cinema de publicidade, o cinema foi e é construtor de visões,  comportamentos, atitudes, de formas de olhar o eu e o outro.

Diz Deleuze, seguindo uma tradição que remonta a Ovídio nas “Metamorfoses”, que as imagens não são duplos das coisas mas as coisas em si mesmas. As imagens são propriamente as coisas do mundo, e se assim é, o cinema não é o nome de uma arte-indústria, “ é nome do mundo”

É certo que o mundo não precisa cinema, ( o cinema tem 122 anos, é recente na sociedade humana), mas o homem precisa, a construção de narrativas, é determinante e necessária na construção do mundo humano.

Macau, é actualmente um dos laboratórios de ensaio dos rápidos processos de mudança  social que são vividos na grande China inventora do mais novo regime de organização política do Estado, que se consagra na formulação “um país, dois sistemas”. Por razões de identidade que resultam da sua particular história, é plataforma escolhido pela RPC para o desenvolvimento das relações económicas, políticas e culturais com os países do mundo lusofonia.

Desde sempre Macau foi uma cidade porto, lugar de chegada, partida e abrigo, de duas zonas do mundo culturalmente diferenciados, a Europa e o Oriente. Em particular foi e é o lugar de excelência para encontro e conhecimento entre Portugal e a China. Esta característica é fundadora da identidade da cidade e continua relevante hoje, neste tempo de novas configurações das Dinâmicas Sociais Económicas e Geopolíticas.

Vem isto a propósito dos continuados ensaios que são visíveis na direcção da construção de instrumentos que visam posicionar Macau enquanto cidade criativa, em que o cinema tem necessariamente um lugar a desempenhar.

Também na actividade cinematográfica Macau pode desempenhar um lugar único em que Ocidente e Oriente se cruzam, misturam, recriam. O já próximo Festival Internacional de Cinema de Macau começa com alguma turbulência com o abandono do consagrado director Marco Muller, no entanto, é de prever que o Festival se afirme relevante no quadro competitivo dos Festivais Internacionais de Cinema classe A.

Contribuirá em muito para visibilidade internacional do território. Quanto ao seu impute no desenvolvimento da indústria cinematográfica em Macau terá também obviamente relevância, no entanto, olhando os quadros de apoio ao cinema actualmente desenhados, verifica-se a ausência de legislação pensada para a co-produção, seja com os países da Lusofonia ou de outras geografias. Os concursos públicos existentes têm a obrigatoriedade do estatuto difícil da residência na RAEM, se por um lado este fechamento parece não corresponder à especificidade de Macau enquanto lugar de encontro e abertura aos diferentes mundos do mundo, também não está de acordo com o que o desenvolvimento da indústria cinematográfica no modelo de produção independente precisa, instrumentos facilitadores à co-produção. A co-produção, e talvez importe referir que há várias possibilidades de regular no interesse do desenvolvimento do cinema no território esses mecanismos, é seguramente uma das formas que mais pode contribuir para o desenvolvimento da actividade cinematográfica no território. Paralelamente parece igualmente interessante e possível a criação de uma licenciatura, embrionária de uma futura escola de cinema, na Universidade de Macau. São medidas estruturantes que cabem a quem pensa as estratégias de desenvolvimento da cidade, neste tempo que, como afirmou Elia  Kazan em 1986, “os filmes são o diálogo do mundo de hoje”.

21 Nov 2016

Os custos por detrás da moda

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]enti vergonha quando ouvi falar do termo “terceiro mundo” apenas esta semana. Quanto o ouvi pela primeira vez, ainda pensei que se estaria a falar de um mundo fictício, oriundo de muitos filmes de ficção científica. Nunca aprendi sobre esses países de terceiro mundo ou sobre esse conceito na escola. Através de uma pesquisa rápida na internet fui percebendo como é composto o chamado terceiro mundo, com países que conhecem um menor desenvolvimento económico em vários continentes.

O interesse por este conceito surgiu-me através da visualização de um documentário lançado no ano passado, chamado “The True Cost” do realizador britânico Andrew Morgan. Este pretende chamar a atenção do público para o problema das más condições de trabalho de milhões de pessoas em todo o mundo, aquelas que estão nas fábricas de vestuário de grandes marcas. São habitantes da Índia, Sri Lanka ou Paquistão e produzem roupas com baixíssimos custos para as marcas, as quais são exportadas para os tais países de primeiro mundo, como os Estados Unidos, Canadá ou países europeus.

As más condições de trabalho destas pessoas podem ser exemplificadas com a tragédia de Bengala, em 2013, quando um edifício em risco de ruir acabou mesmo por colapsar. Lá dentro operavam várias fábricas têxteis ilegais, onde eram obrigados a trabalhar milhares de pessoas. Morreram mais de mil trabalhadores, os que ocupavam os lugares mais baixos nas cadeias de produção.

Este tipo de moda produzida em massa deveria servir para o usufruto de muitas pessoas que não são ricas e que não podem comprar alta costura. Deveria ser vantajosa para criar oportunidades de trabalho para os habitantes dos países menos desenvolvidos. Mas a realidade é que, para minimizar os custos de produção, os fabricantes ignoram os direitos humanos e pagam mal aos seus trabalhadores, não suportando as garantias a que têm direito, as horas de descanso, uma alimentação devida, um salário digno.

Sinto-me culpada porque as grandes marcas responsáveis por esse problema são aquelas que eu e a maioria das pessoas em Macau e no mundo procuram. Multinacionais como a Zara ou a H&M vendem roupas a preços bastante acessíveis mas à custa de actos cruéis. Os trabalhadores ganham, na maioria das vezes, menos de cem dólares americanos por mês (sensivelmente mil patacas). É o outro lado do mundo e o consumismo deste lado. Talvez sejamos cúmplices da dureza de vida dos trabalhadores dessas fábricas.

Macau e China são considerados ainda países ou regiões em desenvolvimento, apesar dos enormes avanços económicos. Muitos têm uma vida de luxo como nos países desenvolvidos, sobretudo a nova geração. Todos compram vestidos luxuosos, telemóveis de última geração e calças de ganga de 500 patacas ou mais. E ninguém se arrepende disso.

Quando compramos as roupas não vamos pensar “quem é que fez este casaco?”. Ou “será que este trabalhador foi mal tratado?”. Como poderemos saber se por detrás dos nossos tecidos estão sangue e lágrimas e, ainda assim, vesti-los diariamente? Isso surgiu com a última revolução da moda, um novo movimento global que pede uma maior transparência por parte da indústria de moda e de quem a faz.

Temos de pensar mais antes de comprarmos o nosso vestuário, temos de promover um trabalho mais sustentável nas fábricas. Agradecemos o facto de muitas marcas já prometeram melhorar as condições dos seus trabalhadores, mas só Deus saberá se isso é suficiente ou não para que estas pessoas tenham melhores vidas. Mais ninguém.

21 Nov 2016

O salto quântico (I)

“A great shift towards the East is taking place. This really is a case of back to the future: as Laza Kekic points out, by 2050 Asia will account for more than half the world economy, which is what its share was back in 1820 and for centuries before that. This will profoundly affect everything from the environment to the balance of military power and the centre of gravity of the global economy.”
“Megachange: The World in 2050” – D. Franklin and John Andrews

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] início do dia das eleições nos Estados Unidos foi marcado por dez baralhados inquéritos nacionais, em que oito davam a vitória a Hillary Clinton, um anunciava um empate e o último apostava na vitória de Donald Trump. No final da longa vigília, os embaraçados comentadores interrogavam-se de quem seriam os Secretários de Estado do candidato vencedor, quais seriam as grandes linhas de acção da sua futura gestão à frente dos destinos do país, de como seria a sua ligação com ambas as câmaras, após ter dado a vitória no Senado ao Partido Republicano, e como seria a sua relação dentro do mesmo partido, com a actual liderança que lhe virou as costas.

Tudo são interrogações no que respeita a Donald Trump, mesmo em áreas onde se supõe conhecer o seu pensamento, como o tema dos imigrantes e as alianças comerciais e militares. O candidato dado por todos como derrotado, em uma campanha política de poucos meses, transformou o cenário político e dos partidos do país, podendo influenciar ainda mais, as principais correntes de pensamento da sociedade americana, ao longo dos próximos quatro anos, se as constelações não conspirarem, para que sejam oito anos.

A partir de agora, existe uma nova forma de fazer política, outra maneira de compreender o funcionamento da democracia americana e do papel do país na cena global. Muitos serão os políticos que terão a tentação de seguir o seu exemplo e modelo. A campanha de Donald Trump, esteve ausente dos meios de comunicação tradicionais, e teve um orçamento muito menor que o do Partido Democrata. Teve como principal centro as redes sociais, o que talvez explique de certa forma, o impacto que conseguiu, e de algum modo tenha favorecido o facto de os meios de comunicação sociais tradicionais não terem observado com a agudeza necessária, o fenómeno Trump e o subestimaram.

Fica por ver se a nova etapa implica o abandono de toda a pretensão de injectar seriedade e transcendência ao debate político americano, com o consequente efeito que terá sobre as instituições, e sobre a essência do conceito actual de democracia. O Partido Republicano pode ficar sob controlo do novo mandatário, fragmentar-se, ficar nas mãos de um rival de Trump, ou rejuvenescer com contributos de novos dirigentes. As consequências do fenómeno são perceptíveis, em outras latitudes.

Muitos países europeus vêem o apogeu dos partidos de extrema-direita, que combatem os imigrantes, sem falar de todos os matizes do Brexit e da militância a favor do proteccionismo comercial e contra os tratados globais, e talvez seja esta a verdadeira tragédia, ou seja, o modo de entender a política de Trump, começa a ser uma parte normal da cena quotidiana. As consequências do Brexit, decidido pelos votantes ingleses, foi um severo choque para a União Europeia (UE).

A consagração presidencial de Donald Trump é a segunda violenta perturbação num curto período de tempo, uma verdadeira catástrofe como é denominada. A Alemanha é o único país com relevo, que resiste a um mundo que parece querer desabar. A unidade de acção transatlântica, que por mais de setenta e cinco anos foi a pedra angular da direcção do Ocidente, em todos os níveis, seja na defesa, comércio ou redução das alterações climáticas, parece estar a chegar ao fim.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi a salvaguarda Europeia contra o ameaçador expansionismo soviético, que parece renascer com o sonho imperial da Rússia liderado por Vladimir Putin. Se os Estados Unidos, como tem advertido Donald Trump, refugiar-se no isolacionismo mais extremo, estará muito em jogo, pois os europeus ficarão sós para conter a agressividade russa e os esforços realizados no Médio Oriente para acompanharem os Estados Unidos serão inúteis, bem como os mortos e as perdas sofridas no Iraque e no Afeganistão, sem esquecer o famoso tratado de livre comércio, entre ambos os lados do Atlântico.

Os europeus encontram-se preocupados como não acontecia há muitas décadas. A vitória incontestável de Donald Trump nas eleições americanas veio certificar que vivemos uma era de transformações profundas e cíclicas, tal como sempre aconteceu na história da humanidade. As dramáticas descobertas científicas interromperam as práticas empresariais ou novas ordens sociais, como a Reforma e a Revolução Industrial, e alteraram fundamentalmente a vida das pessoas.

Os tempos mais recentes, foram também palco de grandes mudanças. Os Estados Unidos, por exemplo, enfrentaram transformações substanciais na década de 1860 durante e após a Guerra Civil, e novamente na década de 1930, devido à Grande Depressão, e na década de 1960 com a promoção dos direitos civis, da libertação das mulheres e dos movimentos ambientais. Em um tempo relativamente curto, perturbações em larga escala alteraram a sociedade e a política e deixaram uma marca duradoura nessas eras.

Existiram flutuações significativas, em várias épocas, nas políticas públicas ou nas atitudes dos cidadãos associadas à mudança social, política ou económica. Por exemplo, após um período de turbulência social e religiosa, uma proibição americana sobre a produção e venda de álcool foi adoptada a nível nacional, em 1920 e permaneceu em vigor até 1933. Após as mulheres se começarem a organizar politicamente no final do século XIX, os países ocidentais adoptaram gradualmente o sufrágio feminino, incluindo os Estados Unidos em 1920, por meio de uma emenda constitucional. Se reflectirmos na mudança dos costumes culturais, em relação a períodos anteriores, existiu uma dramática decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, em 1973, que legalizou o aborto em todo o país, que Donald Trump pretende reverter, para além da famigerada construção do vergonhoso muro entre a América e o México, e a expulsão ou deportação de três milhões de ilegais. Nunca é fácil separar as causas das consequências de transformações em grande escala.

A mudança por vezes é caótica e multifacetada e, portanto, difícil de definir com precisão. É necessário observar por algum período de tempo, para analisar cuidadosamente o que está a mudar e quais as forças que estão a gerar as alterações mais substanciais. Todavia, através dos estudos de alguns casos, é possível esclarecer as grandes alterações que afectaram os assuntos globais e a política americana nas últimas décadas. A nível interno dos Estados Unidos, vemos profundas alterações na mudança de atitudes em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, tabagismo, legalização da maconha, desigualdade de rendimentos, terrorismo e segurança nas fronteiras.
A nível global, testemunhamos o surgimento e o colapso da “Primavera Árabe”, o ressurgimento do fanatismo religioso, a violência de actores não-estatais e as mudanças ao livre fluxo de pessoas, bens e serviços associados à globalização. O que acontece a nível mundial, por vezes, influencia a política interna dos países, ou vice-versa. O extremismo em um local pode provocar tensões em um lugar distante. Em uma era de comunicações globais e transmissão rápida de informações, eventos aparentemente pequenos podem repercutir em outros lugares, e tornarem-se um catalisador para mudanças dramáticas nos assuntos internos ou internacionais.

O termo “salto quântico”, emprestado dos físicos, passou a significar, popularmente, mudanças de grande escala que galgaram o conhecimento existente e introduziram novas formas de pensar. Os filósofos falam sobre “mudanças de paradigma” onde os modelos teóricos mudam drasticamente. Os biólogos referem-se a modelos de “equilíbrio pontuado”, nos quais há um tempo de grande mudança seguido por períodos de equilíbrio.

Os especialistas digitais enfatizam a “tecnologia disruptiva ou dominante no mercado” que desafia as velhas formas de produção e leva ao surgimento de empresas que tiram proveito, ou ajudam a criar novas realidades do mercado, ou melhor ligando o talento e a inovação que resulta em “startups” das indústrias culturais e criativas, que em muitos países abundam com êxito, e em outros não existem, perdendo tempo em filosofias e querelas sem consequência prática.

21 Nov 2016

“Os Resistentes – Retratos de Macau” #3

“Os Resistentes – Retratos de Macau” de António Caetano Faria • Locanda Films • 2014


Realizador e Editor: António Caetano Faria
Produtores: Tracy Choy e Eliz L. Ilum
Câmara e Cor: Gonçalo Ferreira
Som: Bruno Oliveira
Assistente de Câmara: Nuno Cortez-Pinto
Editor Assistente: Hélder Alhada Ricardo
Sonorização e Mistura de Som: Ellison Keong
Música: Orquestra Chinesa de Macau – “Capricho Macau” de Li Binyang
20 Nov 2016

Filipe Clemente de Souza: “O meu objectivo é chegar ao pódio”

 

Filipe Clemente Souza é bicampeão do AAMC Challenge, a categoria máxima do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCS, na sigla inglesa) e é um dos pilotos do território que almeja um lugar no pódio na Taça de Carros de Turismo de Macau – CTM. Souza ocupa o terceiro posto no campeonato TCR Asia Series que, integrado na Corrida da Guia, também pontua e chega ao fim em Macau.

 

Podia ter corrido na Corrida da Guia, onde é terceiro no TCR Asia, como na Taça CTM. Porque é que escolheu esta última?

A Corrida da Guia é uma prova a pensar nos concorrentes internacionais. A Taça CTM é mais pensada para pilotos como eu, pilotos locais. As hipóteses de conseguir um bom resultado à geral são muito maiores para mim na Taça CTM do que são na Corrida da Guia, onde as equipas e os pilotos do TCR International Series têm outros meios à disposição que nós, pilotos de Macau, não temos.

Paul Poon e a equipa Teamworks Motorsport têm dominado a Taça CTM e são novamente favoritos. Acha que tem alguma hipótese de lutar pelos lugares da frente?

Estou confiante que sim, que este ano o meu carro está mais forte. Fiz várias alterações no meu carro (Chevrolet Cruze 1.6T) para a corrida deste ano e está melhor ainda do que estava quando vencemos o AAMC Challenge no Circuito de Zhuhai. O carro agora tem um motor novo, mais potente, e o objectivo é terminar nos lugares do pódio.

Sempre foi um dos pilotos que se manifestou contra o actual regulamento 1.6T Produção que tem criado dificuldades à maioria dos pilotos da RAEM.

O regulamento 1.6T da Taça CTM foi introduzido com o intuito de não se gastar tanto dinheiro, mas não foi isso que aconteceu. Estamos a gastar mais do que antes. É um regulamento que não existe noutro lado do mundo. Não há ninguém mais a correr com este regulamento. Temos de ser nós, os pilotos, a gastar dinheiro para desenvolver os nossos carros. É preciso testar muito e isso custa muito dinheiro.

E qual dos dois gosta mais de conduzir? O Volkswagen Golf Gti TCR ou Chevrolet Cruze 1.6T?

É uma escolha difícil porque, apesar de serem ambos dois carros de turismo, são dois carros diferentes e ambos têm o seu lado bom. O Volkswagen é mais rápido, tem maior velocidade de ponta, mas quando se trata do prazer de controlar, o Chevrolet é um carro que dá muito mais gozo de conduzir.

18 Nov 2016

Félix da Costa conquistou a pole-position provisória para a Taça do Mundo FIA de Fórmula 3

Num dia muito luso no Grande Prémio de Macau, António Félix da Costa conquistou a pole-position provisória para a Taça do Mundo FIA de Fórmula 3.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pós ter sido o sétimo mais rápido no treino-livre da manhã, o piloto português foi o mais forte na qualificação, que teve quatro interrupções, batendo por duas décimas de segundo Callum Ilott e o super favorito Felix Rosenqvist, que procura a terceira vitória consecutiva na prova, mas que ontem se queixou do comportamento dos pneus.

Kenta Yamashita, o campeão japonês de F3, foi o quarto mais rápido, após ironicamente ter perdido uma roda no início da sessão. Por seu lado, Dani Juncadella, outro ex-vencedor, fez o quinto tempo, mas teve uma sessão atribulada, causando mesmo o acidente que ditou o fim prematuro da sessão, ao colidir nas barreiras de protecção da Curva dos Pescadores.

“Ainda estamos no início e muito pode acontecer num fim-de-semana de Grande Prémio de Macau, mas é sempre melhor começar à frente do que atrás”, disse Félix da Costa. “Rapidamente consegui rodar depressa, não estava muito contente com a minha sessão desta manhã, mas a equipa fez um grande trabalho em efectuar mudanças no carro e que funcionaram. Estou bastante satisfeito”, concluiu o piloto luso, que tripula um Dallara-VW da equipa inglesa Carlin. Sobre o que acontecerá daqui em diante, Félix da Costa diz que “a experiência conta muito em Macau, mas não há dúvidas que os jovens pilotos estão a andar muito e está mais difícil do que nunca”.

Esta está a ser a primeira edição da prova com pneus Pirelli, depois de 33 anos de reinado da Yokohama, mas por agora não houve felizmente qualquer problema. Os pilotos apenas assinalaram um maior desgaste das borrachas italianas, o que obrigou a FIA a autorizar o uso de cinco jogos novos de pneus para o fim-de-semana, em vez de três jogos e meio que eram usados no tempo do fabricante nipónico.

Hoje os concorrentes têm ainda uma sessão de treinos-livres pela manhã e uma segunda qualificação de tarde para determinar a grelha de partida para a corrida de qualificação de amanhã. Se hoje os aguaceiros marcarem presença em Macau, então a qualificação de hoje poderá ficar comprometida e os resultados da qualificação de ontem poderão acabar por prevalecer para delinear a grelha de partida de sábado.

 

18 Nov 2016

Justiça | Manuela António alerta para falta de transparência  

A falta de transparência na justiça é o problema maior do sector. A advogada Manuela António salienta a necessidade de um melhor entendimento entre advogados e magistrados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] maior problema da justiça local é a forma de relacionamento entre os seus intervenientes, nomeadamente entre magistrados e advogados. A constatação foi feita por Manuela António, à margem de uma conferência sobre a protecção de dados pessoais, iniciativa que assinala a comemoração dos 30 anos do escritório da advogada.

Para Manuela António, as relações no seio do sistema judicial passaram de “excelentes” a “distantes”, o que coloca questões no que respeita à transparência no sector.

“Quando comecei a advogar em Macau, as relações entre magistrados e advogados eram excelentes, de um grande respeito e reconhecimento recíprocos. Hoje as portas dos tribunais, e sobretudo dos magistrados, estão completamente fechadas para os advogados”, lamenta.

A advogada não compreende a distância dos magistrados relativamente aos causídicos, “porque os advogados têm uma experiência e uma cultura de um bom e respeitoso relacionamento com os magistrados e não é salutar o que se está a passar”. “É necessário definir uma estratégia clara ao nível da justiça e da forma como a querem tratar em Macau”, remata.

Ainda assim, Manuela António considera que os problemas de relacionamento entre as partes são mais um obstáculo na história do sector em Macau e que, como tem acontecido, poderá ser eficazmente resolvido.

A par da transparência, a advogada não deixa de mencionar outros problemas na área da justiça. “Há problemas de morosidade, de pouca independência, sobretudo relativamente à Administração”, explica, sem deixar de referir a escassez de recursos humanos que ameaça a prossecução da boa e rápida justiça.

Ho Chio Meng: Tempo para tudo

Manuela António acha surpreendente que “Ho Chio Meng tenha tido tempo, sem que ninguém à sua volta tenha dado conta, para cometer mais de 1500 crimes”. Relativamente ao facto de a defesa do ex-procurador ter visto ser recusada a confiança do processo, Manuela António considera que é mais um facto “lamentável”. “Não se compreende porque é que os tribunais podem ter o tempo que entendem para tomar as suas decisões, e que muitas vezes ultrapassa os prazos legais, e que a defesa tenha de cumprir os prazos e sem acesso ao exercício dos seus mais elementares direitos.” A situação, na perspectiva de Manuela António, reforça a desigualdade entre os agentes da justiça. “Todos têm prazos para praticar os seus actos. As partes, quando não os praticam dentro dos prazos, perdem o direito aos actos. Os magistrados não perdem o direito e praticam-no sem qualquer consequência”, explica.

GPDP: Não há datas para comissariado

A conferência de ontem, subordinada ao tema da protecção de dados pessoais, foi marcada pela ausência de agenda no que respeita a uma revisão do diploma actual e para a passagem do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) a comissariado. Acerca da legislação, Vasco Fong, director do GPDP, reitera que “ao fim de mais de dez anos da entrada em vigor do diploma em causa, há alguns aspectos que se revelam insuficientes em relação à realidade com a qual temos de lidar”. “Se tiverem reunidas as condições, não se afasta a possibilidade de se avançar com um projecto de revisão da lei”, diz. No entanto, não há planos concretos e tudo depende de várias condições, em que se incluem os recursos humanos do gabinete e da agenda legislativa”. O mesmo acontece com a passagem do gabinete a comissariado, em que “depende da agenda do Governo”. “O diploma está basicamente concluído e tudo depende do Governo. Posso dizer que o diploma está concluído.” Relativamente aos desafios no que respeita à protecção de dados, Vasco Fong considera que “são grandes” e que, “com o aperfeiçoamento e introdução de equipamentos mais sofisticados, a vida está mais facilitada, mas os seres humanos passam também a estar controlados por estes equipamentos”.

18 Nov 2016

Cerca de 130 alunos aprenderam mandarim em parceria com IPM

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á dez anos que a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) aposta na aprendizagem do mandarim, tendo já formado cerca de 130 estudantes portugueses. A licenciatura em Tradução e Interpretação Português-Chinês/Chinês-Português foi lançada com uma turma de seis alunos e em parceria com o Instituto Politécnico de Macau (IPM), referiu o coordenador do departamento de Línguas e Literaturas da ESECS, Luís Barbeiro.

Actualmente, o IPL conta tem como parceiros instituições de ensino superior de Macau, Pequim, Hainan, Jiangxi, e Sichuan. “Foi todo um mundo novo que se abriu. Numa altura em que a actividade tradicional da escola, que era no domínio da educação, entrou em regressão, esta acabou por ser uma via em que se passou a apostar e tornou-se numa das marcas fortes da formação da ESECS, até porque a ida dos alunos para Macau e Pequim é parte integrante do currículo”, explicou Luís Barbeiro. No ano lectivo 2016/17, a ESECS tem cerca de 130 alunos chineses a aprender português, provenientes das cinco universidades parceiras, bem como 102 estudantes portugueses a aprender chinês.

A estrutura da licenciatura de quatro anos prevê que no 2.º e no 3.º anos os alunos portugueses tenham aulas em Pequim e Macau, enquanto os alunos estrangeiros vão para o Politécnico de Leiria. No 1.º e no 2.º anos, o currículo incide na aprendizagem da língua. Já nos dois últimos anos os alunos aprendem técnicas de tradução e interpretação. O último semestre é constituído pelo estágio, introduzido em 2012. “Quisemos proporcionar a ligação ao mercado de trabalho e às saídas profissionais”, acrescentou o docente. Esta licenciatura foi uma consequência natural das ligações que existiam entre o IPL e o IPM e que já permitia o intercâmbio de alguns estudantes de forma isolada. Apesar de inicialmente a procura ser pouca, “manteve-se o curso”. Hoje, as vagas disponíveis são sempre preenchidas.

18 Nov 2016