Flora Fong BrevesZona de aterro de resíduos sofreu incêndio durante 11 horas Durante 11 horas, na madrugada de sábado, a zona de aterro de resíduos de construção, na Taipa, esteve a arder. A distância a fontes de água atrapalhou o trabalho dos Bombeiros, que só conseguiram apagar o fogo indo buscar água a três quilómetros de distância. Perante o cenário, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) não descarta a hipótese de instalar bocas de incêndio no local. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os bombeiros receberam a chamada da ocorrência às seis da manhã. O ponto mais alto da zona de aterro de resíduos de construção, a 25 metros, começou a arder, causando fumo que alertou as pessoas. No local estiveram 14 carros que se uniram e conseguiram através de oito mangueiras chegar à fonte de água mais próxima, sendo ainda necessária a ajuda dos trabalhadores dos Serviços de Abastecimento de Água de Macau. Depois de 11 horas, com a avenida bloqueada e toda a zona fechada, os bombeiros conseguiram dominar as chamas. Esta não foi a primeira vez que deflagrou um incêndio naquela zona de aterro, levando a que as autoridades já tivessem pedido a instalação de equipamentos preventivos no local. Confrontada sobre o assunto, a DSPA diz esperar que os serviços das Obras Públicas adicionem uma boca de incêndio quando construírem a estrada pública.
Hoje Macau Desporto MancheteI Liga | Benfica Tricampeão [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Benfica conquistou categoricamente o seu 35.º nacional de futebol, o primeiro ‘tri’ desde 1976/77, graças a 20 vitórias nas últimas 21 jornadas e à capacidade para aguentar a pressão, exercida de todas as formas, pelo rival Sporting. Com Rui Vitória no lugar de Jorge Jesus, que transitou para os ‘leões’, e uma mudança de paradigma, para uma clara aposta na formação, no Seixal, os ‘encarnados’ tiveram um começo de época muito complicado, criando desconfiança, mas deram uma resposta que ninguém, se calhar, pensava ser possível. Já foi há muito tempo, e a memória é curta, mas, após oito rondas, o Benfica era oitavo – com menos um jogo, que empataria -, a oito pontos do líder Sporting, que acabava de vencer na Luz por 3-0. Nessa altura, Jesus disse que “era fácil pôr o Rui Vitória deste ‘tamanhinho’ (muito pequeno, pelo forma como colocou os dedos). Estaria, certamente, longe de pensar que o treinador do Benfica ‘cresceria’ e faria ‘crescer’ a sua equipa, ao ponto de ser capaz de ir ‘roubar’ a liderança a Alvalade. Com Novembro a chegar ao fim, houve um momento de mudança, a entrada do jovem Renato Sanches no ‘onze’ (a titularidade chegou antes, na ‘Champions’, com o Astana) e a colocação de Pizzi no lado direito do ataque. Foi um detalhe que revolucionou o futebol dos ‘encarnados’, num plantel castigado por lesões (Nelson Semedo, Luisão, Lisandro López, Júlio César, Salvio, Fejsa e, às vezes, Gaitán), mas que teve o mérito de se reinventar. Foram muitos os momentos em que o treinador Rui Vitória ganhou as apostas que fez, algumas de risco: André Almeida, Lindelöf, Renato Sanches, Ederson, Carcela a espaços ou Raul Jiménez. Assalto ao leão Uma volta depois, de facto, tudo tinha mudado e, à 25.ª jornada, os ‘encarnados’ foram mesmo ‘assaltar’ a liderança ao reduto do Sporting. Um golo do grego Mitroglou, aos 20 minutos, selou o triunfo das ‘águias’, que, na frente, não mais perderam qualquer ponto, só parando no ‘35’. Nos derradeiros nove jogos, o Benfica teve, porém, de sofrer, e muito, nomeadamente para ganhar no Bessa (resolveu Jonas, aos 90+3 minutos) e em Coimbra e Vila do Conde, onde o mexicano Raúl Jiménez saltou do banco para marcar os golos da vitória, aos 85 e 73, respectivamente. A penúltima ronda, no reduto do Marítimo, também foi um teste imenso, com a expulsão de Renato Sanches ainda na primeira parte, com o resultado em ‘branco’, mas o Benfica foi ‘grande’ (2-0), para na última ronda, fazer o que, então, já parecia inevitável, bater o Nacional (4-1) e selar o título. O colectivo, a união do grupo, junto com o sempre poderoso ’12.º jogador’, os adeptos, foram determinantes na conquista do ceptro, selado sob o signo do ‘88’, um novo recorde de pontos e o melhor registo de golos desde 1990/91 (89 do Benfica, de Sven-Goran Eriksson, mas em 38 jornadas). Benfica Mundis – A festa global em tons de vermelho Macau Dezenas de benfiquistas encheram o bar RoadHouse no Cotai para assistir ao jogo que deu o tri-campeonato aos encarnados. Depois de alguma inquietação enquanto não chegavam os golos, a festa foi-se fazendo à medida do desenrolar do encontro, acabando em autêntica euforia com os adeptos encarnados a entoar cânticos de “Campeões, Nós Somos Campeões”! Moçambique A praça Robert Mugabe, na baixa de Maputo, vestiu-se novamente de vermelho na noite do 35.º título do Benfica, e fez, pelo terceiro ano consecutivo, do mais antigo líder africano um Marquês. Centenas de pessoas juntaram-se na praça repetindo os cânticos, glorificando o Benfica, que voltaram a passar persistentemente na televisão por cabo em Moçambique. “As nações são feitas assim, não escolhemos, nascemos nelas e esta é envolvência delas”, justifica Gilberto Mendes, 50 anos, um actor moçambicano que ajudou a compor a festa vermelha no centro de Maputo. “Benfica é o mundo inteiro”, declara Sarmento Fernandes. “Olha para aqui, é só olhar”, prossegue o hoteleiro moçambicano de 36 anos, apontando para a praça e avenidas adjacentes cheias. Cabo Verde Buzinões, batucada, gritos, cânticos, abraços, muita música e dança marcou a festa dos benfiquistas na cidade da Praia, em Cabo Verde, numa manifestação de orgulho pela conquista do tricampeonato nacional de futebol. Os sinais da festa benfiquista começaram a sentir-se mesmo antes do fim do jogo com o Nacional, com alguns buzinões, mas a animação ganhou mais força no final da partida após Luisão levantar a taça do 35º título de campeão do Benfica. Nas principais ruas e pontos de encontro da capital cabo-verdiana há crianças, jovens e adultos vestidos a rigor com o vermelho do Benfica, empunhando bandeiras e cachecóis, a pé ou dentro dos carros, entoando gritos, trocando beijos e abraços e vibrando ao som do funaná, género musical do país. Guiné-Bissau O Benfica deu a muitos guineenses uma razão para esquecer a crise política no país e festejar, com muitos gritos de vitória, cantigas improvisadas e abraços em vários locais de Bissau. “Hoje temos esta vitória para festejar. Estou muito, muito contente”, dizia em voz alta um adepto na sede do Sport Bissau e Benfica. Ali, como noutros pontos da capital, um ecrã de televisão juntou dezenas de adeptos até ao apito final da partida em Lisboa, a 3.000 quilómetros de distância, mas para os benfiquistas da Guiné era como se lá estivessem. “Foi difícil, mas conseguimos”, dizia um dos presentes por entre a gritaria, enquanto uma das poucas mulheres no local referia que tinha sido “Jorge Jesus quem deu mais vontade para conquistar o título”. A festa continuou à porta do Benfica de Bissau, onde os carros passavam a apitar e onde os adeptos se começaram a juntar em maior número. “O Benfica deu-me 35, o Benfica já me deu 35”, foi o refrão de uma música improvisada no local pelo benfiquistas que desvalorizaram a conquista na última jornada. Angola Algumas centenas de angolanos e portugueses festejaram, ao som do kuduro, num hotel de Luanda, o título de campeão nacional português do Benfica, esquecendo, por momentos, a crise que marca o dia-a-dia de Angola. “Neste momento não há crise nenhuma. O Benfica faz esquecer tudo, a crise e os problemas”, disse o apresentador da televisão angolana Pedro N’zagi, que foi o animador de serviço da festa na conhecida “Casa 70”, local de concentração dos benfiquistas em Luanda. Ao ritmo do kuduro e regada com muita Cuca, a cerveja angolana, a festa foi animada ainda pelos cânticos de apoio ao Benfica, repetidos a uma só voz por angolanos e portugueses. “Uma das coisas mais impressionantes é estar fora do país, fora de Portugal, fora da sede do clube e esta família estar aqui como se fosse ao estádio. Essa é a força do Benfica”, rematava Pedro N’Zagi, enquanto já lançava ao microfone da “Casa 70” o desafio: “Benfica dá-me o 36”. Numa ronda pela cidade de Luanda, em vários outros restaurantes era possível ver a festa de angolanos e portugueses, sobretudo no exterior, com todos equipados a rigor e entoando o cântico “Benfica campeão”. As Figuras Rui Vitória Treinador e Cavalheiro Rui Vitória foi a grande figura entre os 27 treinadores que exerceram na I Liga portuguesa de futebol em 2015/16, ao levar o Benfica ao ‘tri’, superando Jorge Jesus e até José Mourinho. Numa luta que se dividiu entre o campo e as conferências de imprensa, onde nunca respondeu aos insultos e desconsiderações do treinador do Sporting, Vitória começou na mó de baixo, mas recuperou e foi buscar a liderança precisamente a ‘casa’ de Jesus, numa 25.ª ronda que marcou o campeonato. Depois desse encontro, o Benfica venceu tudo e selou o ‘tri’, com um novo recorde de pontos (88), superando os 86 do FC Porto, de Mourinho, em 2002/2003. A sua conferência de imprensa, na hora da vitória, foi de uma dignidade exemplar. Jonas O Pistoleiro Implacável Jonas foi a grande figura da I Liga portuguesa de futebol no que respeita a golos, ao totalizar 32. O brasileiro, que a época passada perdeu ‘in-extremis’ o título de ‘rei’ dos marcadores, não deu hipóteses à concorrência, contribuindo decisivamente para os 88 do Benfica, o melhor registo colectivo desde a versão 1990/91 das ‘águias’, que, sob o comando de Eriksson, marcaram 89, em 38 jogos. O avançado logrou apenas um ‘hat-trick’, mas foi o ‘rei’ dos ‘bis’, com 10. Renato Sanches Revelação Explosiva Renato Sanches entrou para a equipa principal do Benfica por volta do Natal e a sua presença mudou o modo de jogar da equipa. Foi nítida, sobretudo nos primeiros jogos que disputou, a forma como levava a bola para a frente e demonstrava um vigor físico que lhe permitia disputar o esférico durante todo o tempo de jogo. O jovem médio teve assim um papel fundamental na conquista deste campeonato. De tal modo deu nas vistas que Carlo Ancelotti pediu ao Bayern Munique a sua contratação por 35 milhões de euros (+ 45 milhões por objectivos). “Tendo em conta a sua idade e a sua qualidade, Renato Sanches tinha propostas de vários clubes europeus, mais concretamente de Inglaterra. Uma das principais razões pelas quais ele decidiu vir para o Bayern Munique foi, não só o clube, mas também o nosso novo treinador [Ancelotti] e o facto de ele o querer contratar», afirmou Karl-Heinz Rummenigge, director do Bayern.à FCB.tv. Assistências O Outro Jogador O Benfica dominou de forma ‘esmagadora’ o campeonato das assistências na I Liga portuguesa de futebol, tendo marcado presença nos 10 jogos mais vistos da edição 2015/16. Os nove encontros com maior número de espectadores realizaram-se no Estádio da Luz, e, a fechar o ‘top 10’, os ‘encarnados’ também estiveram presentes, na maior enchente da época no Estádio José Alvalade. A casa das ‘águias’, cuja capacidade oficial é de 64.642 lugares, foi o palco que contou maior assistência (855.474, à média de 50.322 por jogo). Além de dominar em casa, o Benfica também foi o clube mais visto em quase todos os campos, sendo excepções as deslocações a Braga, Tondela e Setúbal. A recepção do Benfica ao Nacional, na última jornada, foi o jogo mais visto do campeonato, com 64.642 espectadores, registo que superou os 63.534 do Benfica-FC Porto da época passada. Paixão asiática Há adeptos apaixonados e depois há… Emma Runyun Zhang. A chinesa havia viajado de Los Angeles, nos EUA, onde reside, para Portugal em Fevereiro especialmente para dar os parabéns a Nico Gaitán (seu jogador preferido) pelo seu 28.º aniversário e agora esteve novamente Lisboa para ver o Benfica ser tricampeão.
Tomás Chio SociedadeContinua disputa sobre propriedade do Imperial Palace na Taipa [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]g Man Sun assegura que ainda detém o Hotel Imperial Palace (antigo New Century) e que a Empresa Hoteleira de Macau e uma empresa de Hong Kong estão a tentar influenciar o resultado de um processo em tribunal. O comunicado surge depois de dois outros, da Empresa Hoteleira de Macau e da Victory Success Holdings Limited de Hong Kong, onde a primeira declarava ter cedido a propriedade do Hotel na Taipa à segunda. Os comunicados surgem no jornal Ou Mun uns a seguir aos outros. Nos primeiros, datados de 12 de Maio, a Victory Sucess declarava ter a propriedade do Hotel desde 22 do Outubro de 2015. A empresa da região vizinha assegurava ter assinado um contrato com a Empresa Hoteleira Macau, que dizia, por sua vez, ter transferido a propriedade do Hotel transferiu como pagamento de dívidas. A Victory Sucess diz estar registada como proprietária do espaço desde o dia 27 do Outubro. Mas Ng Man Sun, conhecido também como Kai See Wai e Ng Wai, também publicou uma declaração no mesmo jornal assegurando que ainda tem a propriedade do Hotel, que o caso ainda está em fase de julgamento em tribunal e criticando a empresa Victory Success por esta querer, diz, “influenciar o julgamento do Tribunal”. O empresário foi detentor da Empresa Hoteleira de Macau desde 1996, anos antes de ter fundado o casino Greek Mithology dentro do hotel. Em 2012, depois de um conflito com a ex-namorada, Chen Mei Huan, o empresário – que foi atacado por seis homens dentro da propriedade – terá ficado sem quase nada, uma vez que uma transferência “temporária” indicava que a mulher detinha 80%. De acordo com o jornal Macau Business Daily, Ng Man Sun detém agora 24,8% da empresa detentora do casino dentro do hotel. O Suncity Group, de Alvin Chau, terá comprado 70% da propriedade em 2014. À espera de decisão Na declaração, o empresário revelou que o caso do Hotel está ainda em processo jurídico, depois de em 2013 o Tribunal de Primeira Instância ter dado ordem de arresto da propriedade, por dívidas. De acordo com Ng, que diz ter pedido ao tribunal a reentrega da propriedade, ainda não há decisão do tribunal. O empresário critica, por isso, a Victory Success e diz que tem o direito de utilizar este hotel em qualquer situação. O casino Greek Mythology está ainda fechado para o que serão “obras de manutenção”, como garantiu a Direcção de Jogos ao HM, sendo que ainda opera com a licença da Sociedade de Jogos de Macau.
Joana Freitas Manchete SociedadeFronteiras | Segundo plano de contingência até Setembro A possibilidade de uma avaria do sistema das fronteiras já tinha sido detectada no ano passado, mas a implementação de um segundo plano de contingência não chegou antes de serem terminados testes à sua capacidade. Este vai agora ser implementado até Setembro e pode haver mesmo um terceiro subsistema [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]té Setembro, Macau vai contar com um segundo sistema que controle as fronteiras, depois da avaria que levou milhares a ficar horas na fila para entrar e sair do território. De acordo com Wong Sio Chak, está até a ser estudada a implementação de um terceiro sistema, caso os dois anteriores falhem. “Para evitar situações semelhantes, no futuro, e assegurar a fluidez na passagem das fronteiras, está prevista a entrada em funcionamento do segundo subsistema de migração, entre os meses de Julho a Setembro, estando-se ainda a estudar a possibilidade de um terceiro subsistema”, frisou o Secretário para a Segurança, citado em comunicado. Wong Sio Chak voltou a assegurar que o plano de contingência foi activado de imediato, mas este, recorde-se, não foi eficaz, como admitiram as autoridades, sendo que o problema levou mais de duas horas a resolver-se em todas as fronteiras de Macau. “[Há] ainda espaço para melhorar todo o sistema de migração”, assumiu Wong Sio Chak. Para já, o segundo subsistema encontra-se em “fase de teste” e, depois de uma actualização do equipamento, este poderá entrar em funcionamento entre os meses de Julho e Setembro. Já necessário O subsistema irá funcionar em simultâneo com o sistema principal, com o objectivo de aliviar a sobrecarga deste. Caso o sistema principal falhe, o segundo subsistema continua a funcionar e há ainda a possibilidade da existência de um terceiro subsistema, que reforçará o sistema de passagem nas fronteiras, como garante o Executivo. Já no ano passado, garante Wong Sio Chak, “sentiu-se a urgência de se criar um segundo subsistema”. Mas este não chegou a tempo. “Antes da conclusão dos testes, registou-se a avaria do sistema [principal]”, frisou, admitindo que não existe calendarização para a criação do terceiro do subsistema por “motivos técnicos, pois será necessário mais tempo para estudos e avaliações”. O caso foi uma falha informática mas a avaria “não se tratou de um ataque”, como garante o Executivo. Relativamente à aplicação de sanções ao fornecedor do sistema, Wong Sio Chak disse apenas que vai pedir responsabilidades conforme as disposições no contrato. “Contudo, neste caso, o fornecedor cumpriu com as suas obrigações e responsabilidades previstas no contrato. Se houver necessidade de elaborar disposições contratuais mais rigorosas, será necessário satisfazer e respeitar os respectivos regulamentos comerciais”, sublinhou. Anunciadas infra-estruturas da nova fronteira O Governo Central já aprovou o projecto para o posto transfronteiriço da nova ponte Hong-Kong – Macau – Zhuhai, sendo que o complexo terá não apenas os balcões de confirmação dos documentos de viagem como uma estação do metro, um centro de transportes para barcos e uma zona comercial. A informação foi confirmada pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) ao deputado Ho Ion Sang. O complexo vai ainda ter dois parques de estacionamento, um de cada lado da fronteira.
Hoje Macau BrevesSom do cinema em palestra na Cinemateca Paixão O cinema é muito mais do que apenas a imagem, existindo muitos a defenderem que constitui mesmo 50% de qualquer filme. Por isso, dominar a técnica de produção e aplicação dos efeitos sonoros é essencial no processo de construção de um filme. Assim, se pretender entrar neste mundo aproveite a palestra intitulada “O Encanto dos Efeitos Sonoros Cinematográficos”, proferida por Phyllis Cheng Wing-Yuen, veterana do design sonoro e da mistura de som de Hong Kong. Vai acontecer na Cinemateca Paixão no próximo dia 21 de Maio, sábado, pelas 15h00. Nesta palestra, Phyllis vai abordar os efeitos sonoros em cinema desde a sua criação ao fluxo de trabalho requerido, apresentando vários exemplos. Phyllis Cheng possui uma vasta experiência no domínio do design acústico e da mistura de som no processo de pós-produção, tendo participado na produção do som dos filmes Full Strike, Angel Whispers, To The Fore, Insanity, As The Light Goes Out, The Four II, Out of Inferno, Little Cheung e Durian Durian, entre outros. Em 2012, ganhou o prémio Best ADR Recordist no âmbito dos Golden Reel Awards. Estão disponíveis apenas 60 lugares, pelo que se estiver interessado deve apressar-se com a inscrição que pode ser efectuada online gratuitamente no sítio do Instituto Cultural.
Manuel Nunes Eventos MancheteSofitel | Música electrónica “mas não comercial” esta sexta-feira Trazer novos sons electrónicos à cidade fora do circuito comercial é a ideia. Unir pessoas de culturas diversas através da paixão pela música e pela dança, a proposta. A primeira edição desta experiência acontece já esta sexta-feira sábado e conta, para além de vários dos afamados DJs locais, com a presença da portuguesa Sininho, do Porto, uma especialista na combinação de sons da Natureza com música electrónica [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]terraço do Sofitel volta à acção com a presença, esta sexta-feira, da DJ portuguesa Sininho, conhecida pela preferência pelo techno e electrónica. O evento, designado por “Contra Cultura – Volume I”, e organizado pelo colectivo local HI-TECH+TRIBE, o Sofitel, a TEK e o estúdio CAOBOX, pretende focar-se apenas no que a organização descreve como música electrónica “cool” e não comercial. Também previstos no elenco estão os DJs locais Kit Leong, Gordon, D’Mond e Hellium, numa festa para “todas as culturas e credos”, diz a organização, que terá ainda um menu de comida incluído. “Nesta pequena e diversa cidade, estamos sempre a tentar fazer algo de novo, à procura de denominadores comuns e a abraçar o desconhecido”, diz a Hi+Tech Tribe, que quer com “contracultura” unir pessoas através de ritmos de dança e a paixão pela música. Veterinária aos comandos Sininho, nome de “guerra” nas lides musicais, é a principal atracção da noite. Além de Dj, é veterinária de profissão e especializada em animais exóticos. Nascida no Porto, onde ainda vive, começou a carreira musical como pianista clássica. Devido ao seu curso em Ciências da Vida (Biologia) começou a procurar “entendimentos” entre a Natureza e o som. Daí que os sons naturais sejam característica do seu repertório. Como produtora de música electrónica, combinar o mundo natural com a música é, para Sininho, a receita para descobrir novos modelos e desenvolver algoritmos de som singulares. Este processo, que tem vindo a ser desenvolvido desde 2015, tem resultado em performances audiovisuais e no projecto “Kobayashi 2001” que explora a codificação ao vivo de som com visuais reactivos. “Contra Cultura – Volume I” acontece na próxima sexta-feira e tem um custo por pessoa de 150 patacas com direito a duas bebidas, sendo que os bilhetes são apenas adquiridos na porta.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesBananas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]governo chinês proibiu o acto de ‘eroticamente’ comer bananas em videos de live-stream. Como se definirá o erotismo, ou ausência dele, quando se come banana para o mundo online, ficará ao critério dos oficiais chineses. A especificidade legal vai à banana e não ao pepino, batata doce ou courgette, onde o desespero sexual talvez fosse mais óbvio. Comer bananas até soa mais inocente se compararmos com a simulação de falacio num pepino. Mas para além da regulamentação nas frutas que se podem comer, há restrições indumentárias. Não se podem usar mini-saias, decotes, ligas nem nada que possa revelar pele a mais. Tudo para manter uma conduta social (online) exemplar, para não destruir a ciber-ecologia chinesa que já é censurada ao tutano, e que agora o será ainda mais. Pessoal será necessário para controlar o conteúdo dos vídeos que são publicados pelas milhares de jovens chinesas que são seguidas por outros milhares de homens chineses. Esta tendência de acompanhar a vida online de jovens pelo seu dia-a-dia é justificada pela antiga política do filho único, que deixou jovens chineses na solidão por não encontrar companhia mais ‘real’. A indústria dos vídeos live-stream tem agradado as carteiras dos seus criadores e a das ‘entertainers’ (que já não podem comer bananas) que trabalham para eles. A procura por uma companhia, real ou virtual, é tanta, que a satisfação de acompanhar alguém a caminhar na rua, ou a beber um café através de um ecrã, é facilmente atingida. Os usuários deste tipo de serviço têm o hábito de gastar entre 500 a 800 yuan por semana a presentear as raparigas que os entretêm. Ramos de flores, bebidas e outras coisas, todas virtuais. As raparigas, que vêm a possibilidade de ganhar uns trocos fáceis ao exibirem-se numa webcam, ou a jogar uns jogos com os seus seguidores, têm agora que seguir as orientações do partido vermelho para promover a melhor comportamento. O facto de que a maioria das raparigas são menores de 18 anos e que expõem as suas vidas para todo o mundo (masculino e chinês) ver, parece que faz menos confusão ao pessoal que dita as regras. A dependência virtual para satisfazer necessidades pessoais e sociais faz menos impressão ainda. Porque as redes sociais são o futuro e a China está sem dúvida na vanguarda de todo o desenvolvimento tecnológico e social de como nos relacionamos com o mundo e com os outros. Com ou sem bananas. No entanto, fica no ar como é que as necessidades de afecto e de sexo poderão ser colmatadas quando ainda são vistas como falta de decoro. Posso não ser 100% a favor de se comerem bananas, mas também não sei se a restrição ao fruto trará educação. Educação gera educação, e a punição? Acaba-se por implicar com o sexo da forma mais bizarra, como se as bananas e as ligas fossem o perigo a ultrapassar por uma expressão saudável. Está-se a reprimir o quê, exactamente? Se o sexo é uma indústria multi-milionária e já se sabe disso, discursos sobre bananas soam a tentativas de mostrar que se está a fazer alguma coisa, mas só de fachada, para agradar os mais indignados. Mas pode só ser impressão minha. Como a imaginação alimenta a humanidade, certamente que outros objectos fálicos serão usados para substituir o tão temido fruto rico em potássio. E assim entre frutas, lingerie e censuras faz-se uma sexualidade, que se espera criativa, e muito virtual. A China que se prepare, porque o sexo está por aí e muitas mais restrições serão necessárias para limitar a sua naturalidade. O que foi feito: um activista manifestou-se à porta da Embaixada Chinesa no Reino Unido a comer uma banana, da forma mais sedutora possível, para reforçar a inocência da mesma. Certamente que foi uma manifestação vã, mas no mínimo caricata. Nunca uma banana será comida como dantes.
Hoje Macau BrevesDST em Cannes para “divulgar” a RAEM Intercâmbio, absorção de experiências, divulgação do Festival Internacional de Cinema são os objectivos da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) que, em conjunto com a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, participa no 69.° Festival de Cannes que se iniciou no passado dia 11 e termina a 22. A delegação, que não conta com a participação de cineastas ou produtores locais, está representada com um stand no Mercado do Filme (Marché du Film) para promover Macau como um local ideal para filmagens. O Mercado do Filme reúne milhares de profissionais da indústria de cinema de várias partes do mundo, como produtores, realizadores e outro agentes. Segundo a directora da DST, Helena de Senna Fernandes, pretende-se com esta iniciativa “elevar o nome de Macau nos circuitos internacionais de cinema”. Assim a DST, garante que vai “encetar um intercâmbio directo com a indústria internacional de cinema” e “divulgar as características únicas e o ambiente cultural de Macau como um local ideal para cinema”. Foi também já anunciada a presença da DST no Festival Internacional de Cinema de Xangai e no Festival Internacional de Cinema de Busan, “entre outros festivais de renome”, segundo a nota divulga à imprensa. O objectivo destas presenças, segundo a DST, passa por “intensificar as ligações de Macau com a indústria internacional de cinema, impulsionando o desenvolvimento da indústria turística de Macau e promovendo o turismo cultural, beneficiando o desenvolvimento sustentável da indústria turística de Macau no longo prazo”.
Flora Fong BrevesMembro do CPU fala de falta de justiça no Ramal dos Mouros Chan Tak Seng, presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, criticou o projecto aprovado na semana passada pelo Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) que inclui a construção de um edifício de 127 metros de altura na zona do Ramal dos Mouros. O também membro do CPU diz que a aprovação do projecto aconteceu “por obrigação” e “não é justa”. Ao Jornal do Cidadão, Chan Tak Seng revelou que votou contra o projecto na reunião da semana passada, mas foi um voto “obrigado” porque para o membro era necessário mais debate e mais relatórios que provem que aquela construção não irá afectar o tráfego e o ambiente. Para Chan a votação não foi feita de forma justa. “Era preciso que a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) respondesse às questões sobre a influência ambiental”, frisou, mostrando um sentimento de “violação”. “Não percebo porque é que a maioria dos membros votou a favor. Os membros do CPU não foram eleitos, a maioria é representante do Governo e do sector imobiliário, para mim a votação de projectos é apenas uma falsa democracia”, frisou, apelando ao Governo para não avançar com trabalhos que não reúnem o consenso dos residentes. O presidente da Aliança diz-se preocupado com os futuros projectos. Se este foi aprovado desta forma, outros podem sê-lo, defende, exemplificando com o projecto para o hotel de 90 metros na Doca dos Pescadores, do empresário David Chow.
Hoje Macau BrevesDST quer aproveitar rede ferroviária para atrair mais turistas As cidades de Nanning e Guilin, na província de Guangxi, foram os locais escolhidos para a promoção do uso da rede ferroviária para o aumento de turistas para Macau. A Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em conjunto com a Administração do Turismo de Zhongshan e o Gabinete para a Cultura, Desporto e Turismo do Município de Zhuhai organizaram, na semana passada, uma promoção turística entre as três cidades, cuja intenção é “expandir as fontes de visitantes ao longo da rede ferroviária de alta velocidade”, numa iniciativa no âmbito da temática “Xiangshan no passado, Zhongshan e Zhuhai e Macau hoje”, visando o reforço da cooperação regional. “Dada a conveniência em viajar trazida pela linha ferroviária de alta velocidade, as autoridades do turismo prosseguem com a realização de iniciativas promocionais conjuntas, para atrair visitantes das cidades ao longo da rede e das regiões vizinhas a visitarem os três locais, expandindo em conjunto a diversificação do mercado de visitantes”, indica um comunicado à imprensa da DST.
Hoje Macau BrevesInfecção colectiva de gripe em 31 crianças Foi uma sexta-feira negra para 31 crianças detectadas com infecção colectiva de gripe. Num comunicado à imprensa, os Serviços de Saúde (SS) indicam que se registaram casos de infecção colectiva na Escola da Ilha Verde, na Escola Keang Peng e na creche Missionária da Caridade. Ao todo estavam envolvidas 31 crianças, mas apenas duas precisaram de internamento. “Um dos alunos da Escola da Ilha Verde foi internado devido a bronquite, tendo já tido alta. Um outro aluno da mesma escola também foi internado por motivos de febre contínua e diarreia. O seu estado clínico é considerado estável”, pode ler-se no documento, que acrescenta que “alguns alunos infectos não tinham administrado a vacina contra a gripe sazonal”.
Hoje Macau BrevesCursos e escolas de formação profissional aumentam O Inquérito à Formação Profissional referente ao ano de 2015 mostra que houve o ano passado um total de 42 instituições de formação profissional, um aumento de 11 face a 2014. Quanto ao número de cursos, foram realizados pouco mais de 1500, mais 9% face a igual período. Também o número de formandos aumentou 6%, tendo-se registado mais de 55 mil alunos. Segundo dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o número de alunos diminuiu nas áreas do “turismo, jogos, convenções e exposições”, bem como na “hotelaria e restauração”, enquanto nas áreas da informática e saúde houve um aumento. A taxa de aprovação foi de 87%, um decréscimo de 1%.
Filipa Araújo Manchete PolíticaTabaco | AL acusada de não querer avançar com revisão à lei A revisão ao Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo está longe de acontecer. A opinião é de alguns deputados da Comissão que defendem que o Governo sofre muita “pressão” para a não proibição total do fumo. Ng Kuok Cheong defende mesmo que a revisão nunca vai acontecer porque Governo e membros da AL não querem que aconteça [dropcap dtyle=’circle’]E[/dropcap]m Julho de 2015, Chan Chak Mo, presidente da 2.ª da Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), disse precisar de um ano para ter pronto o parecer sobre o diploma que revê o Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo. Dez meses corridos e não parece que o prazo vá ser estabelecido. Chan Chak Mo justifica que o grupo de trabalho tem tratado “de outras propostas” sendo que esta revisão “ainda não foi prioritária”. No entanto, diz, está “agendada uma reunião já na próxima semana para discutir esta proposta”. Para o deputado Ng Kuok Cheong, também membro da Comissão que avalia a revisão à lei, não há dúvidas: poucos são aqueles que querem que esta “revisão vá para a frente”. Note-se que a principal alteração proposta é a proibição total de fumo nos casinos, incluindo nas salas construídas para esses efeitos. “A AL está a atrasar os trabalhos até levar a que a proposta caia. A verdade é que grande parte das pessoas não está de acordo com esta revisão. E caso ela não seja aprovada na próxima sessão legislativa, que é a última desta legislatura, então cai. Esta é a verdadeira intenção do Governo”, argumentou Ng Kuok Cheong. Para o deputado há uma movimento claro de “demora nos trabalhos”. “Como existe esta intenção de não a aprovar, os trabalhos são muito demorados”, explicou ao HM, adiantando que “há muitos deputados que estão preocupados com as possíveis consequências da revisão”, no que diz respeito “às receitas do Jogo”. Batata quente O membro do grupo acusa ainda os assessores e técnicos da AL de serem contra esta revisão, porque “são contra a proibição do fumo nas salas VIP” e por isso não trabalham de forma eficiente. “Está tudo a ser feito para que não seja aprovada [a revisão]. Os assessores e técnicos justificam que têm de estudar e demoram muito nas suas opiniões. Depois, quando as voltam a entregar ao Governo, argumentam que é preciso estudar mais”, explicou. Ng Kuok Cheong teme que o Governo “possa alterar a essência da lei e permitir as salas de fumo”. Mas, o cenário mais possível, para si, é a não aprovação da lei. “Eu gostava que fosse definido, mas não sei se vai acontecer, não acredito que os trabalhos terminem até ao final desta sessão, nem sequer da próxima”, rematou, defendendo que a única luz de trabalho e vontade surge dos Serviços de Saúde. “Só eles é que me parecem mais determinados nesta proibição”, apontou. Um não certo A concordar com a opinião está também o deputado Leong Veng Chai, que não acredita na aprovação da lei. “Apoio a proibição total, mas não acredito nela”, frisa. A verdade, diz, é que o Governo sofre de muita pressão das seis operadoras do Jogo. “A discussão vai continuar e não vai conseguir ultrapassar estas questões. A pressão ao Governo é muita, não acredito que seja aprovada”, explicou. O fim dos trabalhos nesta sessão são um cenário longe de acontecer para o deputado. “Nesta sessão não será com certeza, até porque as propostas relativas ao ensino superior e aos condomínios em análise são muito complicadas e vão ocupar o tempo que falta”, acrescentou. Mak Soi Kun, deputado também membro do grupo de trabalho, é mais optimista, mas também não acredita que seja discutida até ao fim desta sessão. “A Comissão tem em mãos agora propostas muito importantes, como o ensino superior. O próximo passo é o Governo analisar agora as opiniões que foram recolhidas sobre a revisão ao regime. Numa próxima reunião vamos decidir, mas não me parece que seja nesta sessão”, explicou.
Flora Fong Política“Agente provocador” | Advogados criticam sugestão do relatório de Jogo O relatório da revisão intercalar do Jogo defende a introdução na lei da figura do “agente provocador” para combater apostas ilícitas, mas especialistas estão contra a medida ou falam de dificuldades na implementação As autoridades já admitiram a dificuldade de acusar e condenar os autores de apostas ilegais nos casinos, mas a possibilidade de introduzir a figura do “agente provocador” no sistema jurídico do Jogo não parece agradar aos especialistas do sector. A sugestão faz parte do relatório intercalar do Jogo, apresentado esta quarta-feira. Anstun Mak Heng Ip, advogado, disse ao HM que a figura do “agente provocador” pode instigar a prática do crime. “Estes crimes podem não acontecer numa fase inicial, mas se os agentes provocadores incentivarem, as pessoas cometem esses crimes e podem ocorrer mais casos”, defendeu. O advogado considera que a ideia é “viável” e que pode de facto ajudar na investigação, mas traz desvantagens para aqueles que, à partida, não iriam cometer o crime. Anstun Mak Heng Ip defendeu que, para rever a legislação, é necessário o consenso social. A figura do “agente provocador” não é usada para combater outro tipo de crimes, sendo que o advogado teme que, na prática, não seja fácil concretizar a medida. Para Hugo Maia Bandeira, advogado, a possível alteração à lei penal – algo defendido no relatório – para incluir este agente no sector do Jogo não é “uma coisa habitual”. “Esta figura não é muito comum no Jogo. Normalmente nunca é usada”, explicou o advogado, adiantando ainda que em tribunal poderá ser sempre alegada a “vontade condicionada” do suspeito. À margem Já Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogo e de Entretenimento de Macau, diz que os actos ilegais devem ser combatidos, concordando com a figura do “agente provocador”. “Nós operamos as salas VIP de forma normal e não fazemos [apostas ilegais], portanto se o Governo tomar essa medida não nos vai afectar”, disse, acreditando que a introdução desta é uma questão “sensível” e que as leis têm uma limitação para isso. Kuok Chi Chong não quis comentar se o panorama das apostas ilegais é grave no sector. Base de dados bem vista Paulo Chan, director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), garantiu que está a ser estudada a criação de uma base de dados para as dívidas de Jogo, para além do reforço das empresas junket. Para o deputado Zheng Anting, a medida pode corrigir a imagem negativa do sector e aumentar a confiança dos clientes. Já Kuok Chi Chong garante que tem vindo a discutir o assunto com a DICJ, no sentido de se criar uma base de dados centralizada, defendendo uma regulamentação mais rigorosa para os que querem ser promotores de Jogo. O Gabinete de Dados Pessoais já explicou que a criação da base de dados depende da autorização dos envolvidos para a divulgação dos dados sobre concessões de crédito e as apostas realizadas. Kuok Chi Chong diz que se a base de dados vai apenas acumular informações de promotores e devedores não vai ser difícil de implementar. Apesar de tudo, ficou por explicar como vão ser cobradas as dívidas de Jogo não recuperadas junto dos devedores que vivem no interior da China. Isto porque no continente estas dívidas não são reconhecidas à luz da lei.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDroga | Registo Central com aumento de consumidores. Ice lidera Há mais 49 pessoas no Sistema de Registo Central de Toxicodependentes em Macau, incluindo mais 37 jovens. Autoridades alertam para a predominância do consumo de ice e para o aumento dos gastos com estupefacientes [dropcap dtyle=’circle’]A[/dropcap]primeira sessão plenária da Comissão de Luta contra a Droga serviu para as autoridades policiais revelarem um balanço positivo em termos do controlo do consumo e do tráfico de droga no território. Contudo, nem todos os dados mostram esse paradigma. As informações mais recentes do Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau mostram um aumento de consumidores. Em 2015 havia um total de 617 toxicodependentes, um aumento de 49 pessoas face a 2014. Numa faixa etária mais baixa estão 76 jovens, um aumento de 37 pessoas. Dados revelados pela Polícia Judiciária (PJ) mostram que o ice continua a ser a droga mais consumida no território, tendo passado de uma percentagem de 8,3% em 2009 para 31,1% em 2015. Os consumidores também gastam hoje mais dinheiro com os estupefacientes. Por mês cada toxicodependente gasta cerca de 6500 patacas, um aumento de 8,6% face a 2014. Preferências químicas A PJ confirmou que o “ice continua a ser a droga mais procurada, ultrapassou a heroína”, existindo ainda o consumo de ketamina e cocaína. Os responsáveis apontaram que a quebra no consumo de heroína se deve ao elevado preço desta droga no mercado. O ice é sobretudo consumido por menores de 21 anos, sendo que em segundo lugar as preferências de consumo incidem sobre a ketamina, cocaína e o MDMA. “Os jovens consomem droga porque esta é introduzida pelos amigos, sentem curiosidade ou não sabem dizer que não. Muitos também sentem demasiada pressão e querem que a droga ajude a diminuir essa pressão”, disse Io Kong Fai, responsável da PJ. Apesar da PJ afirmar que se conseguiu “um bom resultado no combate” à heroína, a verdade é que as declarações de Io Kong Fai dão a entender que muitos deles acabam por recorrer a este estupefaciente quando têm dinheiro. “O mercado da heroína está em diminuição e talvez possamos deduzir que os consumidores de heroína não têm capacidade para a comprar. A capacidade económica não é elevada e os traficantes também não querem traficar. Muitos consumidores quando não têm dinheiro vão ao tratamento da metadona e quando têm dinheiro tentam comprar de novo heroína”, explicou. Sempre a subir Em 2013 a PJ detectou 2,5 quilos de ice, número que passou para 6,6 quilos em 2015. Em cerca de cinco meses já foram detectados 1,8 quilos desta droga. “Não tivemos casos interceptados de trânsito de ice, que está a ocupar o primeiro lugar na lista de drogas e no futuro próximo vai ficar em primeiro lugar no mercado local e substituir a ketamina”, apontou Io Kong Fai. Cerca de 70% do consumo continua a ser feito em casa, na casa de amigos ou até em hotéis. Ainda assim, “o consumo de droga entre estudantes não é muito grave”, apontou o responsável da PJ. Io Kong Fai explicou ainda que o “tráfico de droga é cada vez mais notório em Macau”, por se tratar de um território “cada vez mais internacional”. Os casos ligados a Hong Kong “subiram em flecha” mas as autoridades admitem ter “um bom mecanismo de troca de informações, apesar do tráfico de droga se tornar cada vez mais transnacional e os modos de actuação serem mais inovadores”. Números podem ser maiores Em declarações à Rádio Macau, Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau, disse que “provavelmente o número (de consumidores) deverá ser maior”. “Mas isso é como tudo, só sabemos quando as pessoas vão pedir ajuda ou são apanhadas pela polícia. Aí são inseridas no registo central e ficamos a saber.” Augusto Nogueira relembrou ainda que vai ser inaugurado em Ká Ho, Coloane, em Junho ou Agosto, um novo centro de tratamento. “A capacidade de acolhimento será de 70 camas: 50 para homens, 20 para mulheres e dez para casos especiais. Depois iremos ajudar vários tipos de adições. Não só à droga, como também ao jogo ou ao álcool”, apontou.
Flora Fong PolíticaRelatório Jogo |Sociólogo diz que já existem conflitos entre locais e TNR O relatório da revisão intercalar do sector do Jogo revelou que a importação de um avultado número de trabalhadores não residentes (TNR) trouxe inconvenientes aos que são de Macau, algo que deu origem a conflitos do ponto de vista social e cultural. O relatório fala ainda de sentimentos de xenofobia que surgiram nos últimos anos. O sociólogo Larry So disse ao HM concordar com um cenário que não é novo, referindo que os locais têm receios de que a mão-de-obra importada venha roubar postos de trabalho. “Existem conflitos que já trouxeram mudanças ao nível da harmonia e causaram sentimentos nos locais que não gostam da vinda de pessoas de fora. Penso que o facto do relatório falar disto mostra que o Governo está seriamente a pensar enfrentar esta questão”, defendeu. Para Larry So, a queda das receitas do Jogo poderá ter levado as operadoras a recrutar menos TNR nos últimos dois anos, mas isso não resolveu a questão, dado que os TNR continuam a representar uma grande fatia da população. O sociólogo acredita que não podem existir abusos na importação de TNR, sobretudo por parte dos casinos e defende a introdução de uma proporção adequada de trabalhadores locais e do exterior como forma de diminuir os sentimentos negativos dos residentes. Larry So considera ainda importante que as operadoras de Jogo determinem o número de trabalhadores para o futuro, para que a actual formação responda a essas necessidades para que se possa diminuir a importação de trabalhadores.
Flora Fong PolíticaLei Eleitoral | Temida ausência de candidatos por diminuição de valor de campanha A proposta de revisão da Lei Eleitoral do Governo sugere uma diminuição do dinheiro para campanha de cinco para 4,5 milhões, mas há quem defenda que deve ser ainda menos, para um máximo de três milhões de patacas. Alguns representantes de associações, contudo, defendem que a redução dos orçamentos pode levar a uma diminuição de novos candidatos ao lugar de deputado. Segundo o jornal Ou Mun, Lao Cho Chon, da Associação da Nova Juventude Chinesa de Macau, disse que o valor é elevado e pode levar a um tráfico de influências junto dos eleitores. Lao Cho Chon pensa que um limite de três milhões já é suficiente para cobrir as despesas com a campanha eleitoral, sugerindo o estabelecimento de um limite de orçamento com base no número de eleitores. Caso haja 300 mil eleitores, três milhões de patacas serão suficientes, acredita. Já Ieong Po I, director da Associação de Ténis dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau, considera que os candidatos relativamente “ricos e poderosos” têm feito trabalhos para as próximas eleições, receando que a redução de despesas possa combater a chegada de novos candidatos. Quanto ao regime de responsabilidade penal das pessoas colectivas, Lei Wen Kong, presidente da Associação de Promoção Jurídica de Macau, sugeriu que a lei possa punir também as entidades sem personalidade jurídica. Lei Wen Kong pensa que os interesses das associações que apoiam os candidatos podem não ser iguais aos interesses de quem quer ser deputado, defendendo que o documento deve esclarecer as responsabilidades caso seja cometido um crime com base nos interesses dos rostos candidatos.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeInquérito LGBTI | Grau de discriminação é alto em Macau O segundo inquérito realizado pela Associação Arco-Íris mostra que a comunidade LBGTI continua a ser vítima de discriminação em Macau. Quase 60% dos inquiridos “concorda totalmente” com a inclusão dos casais do mesmo sexo na proposta de Lei da Violência Doméstica, até porque 7% diz ter passado por essa situação [dropcap dtyle=’circle’]M[/dropcap]ais de 52% de pessoas da comunidade LBGTI (lésbicas, bissexuais, gays, transexuais/transgénero e intersexo) dizem haver um “considerável” ou “muito elevado” grau de discriminação face à orientação sexual em Macau. Num inquérito considerado mais representativo da comunidade LGBT em relação a 2013, 800 pessoas participaram online, sendo que a média de idades se situou nos 24 anos. As respostas revelam ainda que cerca de 60 pessoas dos inquiridos já foi vítima de violência doméstica. Uma das 50 perguntas feitas visou saber o nível de felicidade da comunidade LGBT em Macau. E a verdade é que cerca de 60% dos inquiridos avaliou a sua felicidade abaixo de cinco pontos, numa escala de 1 a 10. O inquérito dá conta que mais de 26% disse ser “baixo” o nível de discriminação, mas a verdade é que o trabalho das instituições educacionais para combater a descriminação é considerado “muito inadequado” por 52,31% das pessoas, enquanto que 55,8% também acha “muito inadequado” o trabalho feito pelo Governo nesse sentido. Jason Chao prometeu avançar com mais dados sobre a discriminação, sobretudo em relação à sua origem já que, diz, “é um facto” que esta existe e é “elevada”. Violência que existe Os casos de violência doméstica registados no seio de casais LGBT são geralmente baixos, mas o segundo inquérito realizado pela Associação Arco-Íris mostra que a maioria dos participantes defende a inclusão dos casais do mesmo sexo na proposta de Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica. Pouco mais de 59%, ou seja, 422 pessoas, “concordam totalmente” com a inclusão, enquanto que 32,17%, 230 pessoas, “concordam” com a proposta, entretanto já negada pelo Governo. Um total de 6,43% optaram por não comentar o assunto. Ainda que mais de 90% dos que responderam afirmaram que nunca foram vítimas de violência doméstica, quase 7% admitiu ter passado por situações do género. “Mais membros da comunidade LGBT consideram fundamental a inclusão dos casais do mesmo sexo na Lei da Violência Doméstica”, disse Jason Chao, porta-voz da Associação. “Há três anos que mantemos o diálogo com o Governo e este sabe claramente qual é a nossa posição e a da ONU. A eliminação dos casais do mesmo sexo da proposta de lei foi deliberada e o principio da não descriminação não está a ser respeitado”, acrescentou. Mais trabalho precisa-se Jason Chao explicou que “muitos disseram que mais trabalho poderia ser feito com as instituições educativas”, já que “não há fundos pensados para apoiar a comunidade LGBT”. “A comunidade LGBT é um tema que tem sido bastante abordado e penso que tanto os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), como outros departamentos do Governo poderiam fazer um trabalho (de inclusão) nesse sentido”, acrescentou. Anthony Lam, presidente da Associação, prometeu avançar com um trabalho de cooperação com entidades e sobretudo com o Instituto Politécnico de Macau (IPM), por ter o curso de serviço social. O objectivo é fazer com que mais assistentes sociais tenham mais noções sobre os problemas da comunidade LGBT. Daqui a dois ou três anos a associação deverá lançar um novo inquérito. Para já, este será entregue ao Governo. Prevenção contra HIV deve melhorar Jason Chao admitiu que o nível de informação e prevenção do HIV no seio da comunidade LGBT “é muito fraco”. “A maioria das relações sexuais são escondidas, então há muitas informações que não conseguimos que sejam transmitidas. Já falamos com os Serviços de Saúde e estamos abertos a todos os tipos de cooperação. A orientação sexual não é um facto principal para o HIV mas sim o sexo desprotegido”, apontou. Taxa de suicídio mais baixa, mas nem tanto Em 2013, 20% dos participantes do primeiro inquérito confessaram ideias suicidas e este ano essa taxa baixou para cerca de 10%. Ainda assim, Jason Chao explica que não se pode falar de uma diminuição, já que este inquérito é mais representativo da comunidade e contou com mais participantes. “Havia menos respostas de gays em 2013 e agora há um maior equilíbrio, por isso temos uma taxa mais baixa”, disse o porta-voz, prometendo avançar com mais dados em breve.
Joana Freitas SociedadeGalgos | Mais duas dezenas a chegar. Lufthansa diz nada poder fazer [dropcap dtyle=’circle’]D[/dropcap]uas dezenas de galgos chegam hoje a Macau, vindos da Irlanda. O alerta foi dado pela ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais e pelo grupo “Stop the export of greyhounds to China”, criado no Facebook por activistas irlandeses. De acordo com a informação disponível nas redes sociais, os animais já estão em transporte, tendo sido retirados da pista de corridas Banteer, que terá sido a responsável pela venda dos outros nove animais que já chegaram ao território. “De acordo com os nossos parceiros irlandeses e confirmado por fontes de Hong Kong e pela Grey2k USA Worldwide, 24 novos galgos irlandeses chegarão a Macau esta sexta-feira, 13 de Maio”, pode ler-se num comunicado da ANIMA. Os animais chegam à ponte-cais 27, entre as 17h00 e as 17h30, mas todo o processo de exportação está a criar indignação na Irlanda, como é possível verificar nas redes sociais e em notícias da imprensa. Mas a má imagem não é só atribuída ao governo do país. “A exportação destes animais está [também] a prejudicar a imagem de Macau como uma cidade amigável e internacional de lazer e entretenimento. Má publicidade em todo o mundo enche as notícias dos média internacionais, como televisões, rádio e jornais, e nas redes sociais, destruindo todo o trabalho feito pelo nosso Governo nos últimos anos”, realça a ANIMA. Irlanda censurada O governo irlandês tem sido criticado recentemente pelo facto de estar a permitir a exportação de galgos para o Canídromo de Macau, depois da Austrália ter barrado a venda devido às más condições a que os animais estão sujeitos e que foram dadas a conhecer por diversos média, inclusive por uma cadeia de televisão australiana que filmou o espaço com uma câmara oculta. Mais de 30 cães serão abatidos mensalmente, ainda que jovens, por perderem nas corridas. A Irlanda chegou a proibir a importação, mas voltou a permiti-la, o que levou já a manifestações em frente ao Ministério da Agricultura do país. Outra manifestação está marcada para 2 de Junho. Os animais terão sido transportados até ao aeroporto numa carrinha sem ventilação, algo que é contra as regras de transporte de animais na Irlanda. “É mais um grupo de animais jovens saudáveis que vem para a morte”, indica a ANIMA. De 30 de Abril a 3 de Maio mais de 50 ferimentos em galgos foram reportados no site do Canídromo, desde patas partidas, a músculos e pernas inchados. A Irish Council Against Blood Sports indica que muitos deles, com infecções devido às más condições das jaulas, foram dados como curados e prontos a correr mesmo sem certificado de saúde. Resposta alemã Numa resposta ao HM, a companhia aérea Lufthansa diz que não pode evitar o transporte de galgos, por não ser da sua responsabilidade. A empresa, recorde-se foi alvo de uma petição para que pare o transporte de galgos para Macau, depois da Qantas o ter feito, bem como outras companhias aéreas. “Por favor dirija-se às autoridades responsáveis para mudarem a legislação que permite que este tipo de maus tratos aconteçam em Macau. Como empresa, não sabemos qual o propósito da viagem dos animais. A nossa maior preocupação é providenciar o tratamento mais adequado aos nossos passageiros animais, mas a legislação contra esse tipo de desportos tem de ser feita na esfera política e monitorizada pelas autoridades”, frisa a Lufthansa. A resposta é uma cópia do que tem vindo a ser dito em posts nas redes sociais, ainda que em nada responda à questão colocada pelo HM, se a operadora ponderava parar o transporte como todas as outras.
Filipa Araújo Entrevista MancheteLiliana Inverno: “IPOR é mais do que a sua oferta formativa” Depois de três anos, Liliana Inverno está de partida. Deixa o centro de língua portuguesa do IPOR com a sensação de dever cumprido. Instituto que é, aponta, muito mais do que números, turmas e alunos. Atrás da cortina existe muito trabalho e projectos [dropcap dtyle=’circle’]O[/dropcap]Instituto Português do Oriente (IPOR) publicou uma Manifestação de Interesse para as funções de Coordenador do Centro de Língua Portuguesa, lugar ocupado por si. De saída, qual o balanço que faz do trabalho realizado? Efectivamente, confirmei recentemente à Direcção a minha intenção de, cumpridos os três anos de contrato inicialmente previstos e atingidos os principais objectivos definidos para esse período, querer regressar à vida académica, em particular à investigação e à orientação de trabalhos académicos. Com a excepção de actividades pontuais de arbitragem científica e o acompanhamento de projectos já iniciados, esta foi uma dimensão da qual, por opção, me desliguei durante os últimos três anos, para poder centrar-me exclusivamente nos compromissos que com gosto assumi com a Direcção do IPOR em 2013. Não é possível assumir as duas funções? A minha avaliação é a de que, nem o meu método de trabalho, nem as regras das universidades – que impõem, por exemplo, que apenas doutorados com ligação a instituições universitárias possam orientar teses – nem o nível de exigência que hoje a diversidade de esferas de intervenção do CLP impõe permitem essa conciliação. É neste contexto que surge a Manifestação de Interesse. Gostaria que fosse possível conciliar as actuais funções, que me proporcionaram uma das mais ricas e desafiantes experiências profissionais até hoje, com uma carreira académica. Como olha o trabalho desenvolvido até aqui? Foram três anos de um trabalho colectivo muito exigente, mas acima de tudo, muito enriquecedor, de implementação da visão e estratégia que a actual Direcção, em boa hora, definiu para a acção do CLP e na qual Coordenação e corpo docente se empenharam por levar a bom porto. Creio que o conseguimos. Mas mais importante que o meu balanço, que sou parte interessada, é o balanço que a instituição faz desse trabalho. É, por isso, para mim motivo de grande satisfação que esse balanço também seja positivo, como de resto já o exprimiu publicamente o director da instituição, João Laurentino Neves. O Curso Geral do IPOR foi alvo de uma reestruturação curricular quando assumiu funções. Pode explicar esse processo e quais as metas atingidas? A reestruturação curricular de que foi objecto o Curso Geral do IPOR, em 2013, passando de um sistema de organização próprio por módulos para o sistema de organização por níveis definido no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), é a face mais visível de um processo que se estendeu a toda a oferta formativa da instituição e que visou o seu alinhamento com as orientações dos documentos de referência internacional para o ensino e certificação de línguas estrangeiras e do Português língua estrangeira, em particular. O objectivo foi atingido? Sim, esse objectivo, no essencial, está hoje cumprido, não só no Curso Geral, mas também no Curso de Crianças, nos cursos intensivos de iniciativa própria da instituição e nas formações para fins específicos solicitadas por instituições parceiras. Creio que conseguimos desenvolver um conjunto de ferramentas que oferecem a formandos e instituições parceiras uma garantia de elevada qualidade na formação e certificação disponibilizadas pelo IPOR: programas alinhados com os descritores do QECR para todas as formações, distinguindo entre programas globais, modulares, ponderados e parciais em função da natureza, público e objectivo de cada formação; instrumentos e critérios de avaliação de diferentes tipologias (colocação de nível, diagnóstico e avaliação de desempenho); exames próprios de certificação, reconhecidos pelas instituições oficiais de Macau, em consonância com a estrutura e objectivos dos exames do sistema de certificação CAPLE. Antes dessa reestruturação, este curso não conseguia atribuir ao alunos uma certificação que respeitava o conjunto de competências comunicativas definidas no QECR? Na análise que fizemos com a direcção, o que sentimos é que a organização modular não respondia às necessidades actuais e criava fragilidades que importava corrigir. O que fizemos foi precisamente assegurar que elas seriam reduzidas ao máximo, o que passava por adoptar o Quadro como referência quer para a elaboração dos programas, quer para a organização curricular das formações, quer para todas as certificações correspondentes. Qual a oferta que neste momento o IPOR tem para quem queira aprender a Língua Portuguesa? Embora o Curso Geral seja, de facto, o curso mais antigo e também aquele que reúne o maior número de alunos, a oferta formativa da instituição alargou-se de forma substancial nos últimos três anos, ajustando-se ao alargamento que igualmente se verificou ao nível das instituições com as quais o IPOR coopera actualmente. Para além do Curso Geral, o IPOR oferece ainda o Curso de Português Língua Não Materna para Crianças e Jovens (nível A1 a B1), cursos gerais intensivos de nível A1 e B1 e cursos intensivos de conversação. Para além deste núcleo central de formações, o IPOR desenha e coordena ainda um número crescente de formações, gerais e específicas, promovidas por mais de uma dezena de instituições parceiras, entre elas três instituições de ensino superior. Relativamente às cooperações, há pouco tempo a Liliana deslocou-se à Austrália. Em que consistem estes acordos? Porque são uma mais valia? A direcção do IPOR tem desenvolvido vários contactos no sentido de dar corpo a recomendações que têm vindo a ser formuladas em Assembleias Gerais pelos Associados da instituição, que, por norma, partilha com os diferentes coordenadores das unidades orgânicas da instituição. Entre essas recomendações figurava a de conferir uma vertente regional à acção do IPOR. Desses contactos resultou a orientação conferida ao CLP de preparar e orientar uma formação na Austrália, que me coube a mim executar. Quando iniciou funções disse que um dos objectivos era reforçar a “interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português enquanto língua estrangeira”. Conseguiu? O que se fez, ou está a fazer para que isto aconteça? O CLP participou, ao lado da direcção, no reforço, da interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português língua estrangeira. Fizemo-lo, antes de mais, ouvindo as necessidades dessas instituições e alargando em conformidade a nossa oferta formativa para fins específicos. Dessa abordagem resultou um aumento muito significativo do número de formações prestadas. Veja, só para 2016 temos já confirmadas cerca de 40 formações. Foram ainda criadas novas parcerias e reforçadas as existentes. Por exemplo? O recente desenvolvimento de um programa de iniciação à Língua Portuguesa, em regime intensivo, para os funcionários públicos, por via do renovado protocolo com os Serviços de Administração e Função Pública. Iniciámos também uma colaboração com o BNU, desenvolvendo um programa de formação linguística especificamente destinado aos seus trabalhadores. No Instituto de Formação Turística, para além das cinco disciplinas curriculares de Língua Portuguesa que já assegurávamos, passaremos brevemente a assegurar duas outras disciplinas curriculares e iniciámos este mês o primeiro de um conjunto de três cursos para a área do turismo, sendo que, em ambos os casos, a certificação será conjunta. Ou seja, pela primeira vez teremos uma certificação conjunta com uma instituição de ensino superior. O IPOR tem ganho ou perdido alunos? Qual é o crescimento dos dados relativamente às matrículas? Tenho sempre alguma dificuldade em compreender esta obsessão com os números porque não consigo deixar de sentir que a ela está subjacente a ideia de que o balanço a fazer sobre a intervenção do CLP deve assentar exclusivamente no aumento ou diminuição do número de alunos na sua oferta própria. É óbvio que este é um dado importante e, felizmente, os números têm-nos sido favoráveis. Mas como acabei de explicar, o contributo desta unidade orgânica do IPOR para o cumprimento da missão da instituição vai muito além daquilo que é a sua oferta formativa. Compreende, também, o desenvolvimento de projectos de formação dirigidos aos docentes do IPOR e de instituições do sistema educativo da RAEM e da região Ásia-Pacífico. É nesse contexto que surgem, por exemplo, as formações para docentes que temos desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo sobre a preparação de candidatos para a certificação CAPLE. Na esfera de acção do CLP recai também, em estreita articulação com a direcção, a supervisão de projectos editoriais de suporte às formações de PLE e de acções de promoção da língua portuguesa. O IPOR lançou já o Guia de Conversação Chinês-Português e tem em fase de conclusão três outros projectos editoriais de grande significado. Em 2015, foi realizado também um Encontro de Pontos de Rede na Ásia, para o qual contámos com a participação de leitores de sete países e o contributo de colegas de instituições de ensino superior locais. Tem-se feito muita coisa, mas como é que o IPOR se pode tornar atraente para novos e mais alunos? Creio que o IPOR já é atraente para quem, na RAEM, deseja aprender português. De qualquer forma, a capacidade de qualquer instituição depende sempre da sua capacidade de se manter atenta àquelas que são as expectativas e as motivações de quem as procura. No IPOR, uma dos mecanismos que encontrámos de manter essa atenção passa, por exemplo, pelo inquérito de avaliação pelos formandos de todas as formações que assegura. Quais os planos futuros para o IPOR? Há a possibilidade de se expandir em termos e infra-estruturas? Como compreenderá, não me pronunciarei sobre matérias que são da exclusiva competência da direcção do IPOR e da sua Assembleia Geral. O que posso dizer, é que foi para mim um privilégio ter tido a oportunidade fazer parte do presente desta Instituição. Quanto ao futuro, enquanto se mantiver a orientação estratégica seguida nos últimos quatro anos, estarei sempre disponível para dar os contributos que me sejam solicitados, ainda que à distância. Considera que é dada a devida importância à nossa língua na RAEM? As pessoas estão sensibilizadas para a oportunidade que têm em aprender esta língua? A língua é de todos os que a falam e o espaço que ocupa nas suas vidas depende muito daquela que é a sua motivação de base para exercer cidadania nesse espaço linguístico e cultural. Deu aulas em África, agora está na Ásia. Como é ensinar a mesma língua mas em culturas tão diferentes? O processo de aquisição e aprendizagem de uma língua, diz-nos toda a literatura disponível, é o mesmo em todos os continentes. O que muda é o estatuto que a língua assume em cada contexto – tipicamente língua segunda nos PALOP e língua estrangeira na Ásia – e, consequentemente, a relação que o aprende estabelece com ela. Sai com a sensação de dever cumprido? Sim, e a isso não é alheio, nem o apoio que sempre tive da direcção, nem o empenho com que sempre contei por parte do corpo docente do IPOR e pessoal administrativo. Mas saio, acima de tudo, com a absoluta convicção de que a viagem é a recompensa do caminho.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim pressiona Tóquio contra ideias de militarismo Aproveitando a vista de Obama a Hiroxima, a China aproveitou para dizer ao Japão para não pensar em militarismos de novo pois só trazem sofrimento. A visita do Presidente americano, entretanto, está a ser utilizada para retomar as ideias de desnuclearização global A China instou o Japão a não tomar o caminho do militarismo de novo, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros esta quarta-feira durante o seu comentário à visita que o presidente Barack Obama fará a Hiroxima. “Esperamos que, ao convidar outros líderes a visitarem Hiroxima, o Japão mostre ao mundo que nunca mais vai seguir pelo caminho do militarismo, facto este que infligiu forte sofrimento ao seu próprio povo, aos povos dos países vizinhos e ao resto do mundo” disse o porta-voz Lu Kang em conferência de imprensa. “As duas bombas atómicas que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroxima e Nagasaki antes do final da segunda Grande Guerra Mundial esmagaram as ilusões militaristas dos japoneses de uma vez por todas, causando enormes perdas humanas”, disse Lu. Os civis japoneses que sofreram com as bombas nucleares merecem toda a nossa simpatia, disse ainda. “Uma importante lição que a segunda Grande Guerra nos deu é que devemos usar a história como um espelho, prevenir que a tragédia da guerra aconteça novamente e fortalecer a ordem internacional do pós-guerra,” acrescentou Lu. Reavivar a desnuclearização A viagem a Hiroxima do presidente Barack Obama, é uma oportunidade para reavivar o debate sobre o desarmamento nuclear no mundo, disseram nesta quarta-feira as autoridades da cidade. Obama poderá perceber pessoalmente o impacto que o bombardeamento nuclear de 1945 teve sobre a cidade, explicaram aquelas fontes oficiais. A 27 de Maio, Obama ficará na História como o primeiro Presidente americano em exercício a visitar Hiroxima, anunciou na terça-feira a Casa Branca, salientando, todavia, que o objectivo não é apresentar desculpas por uma decisão tomada por Harry Truman há 71 anos. Obama, que viajará ao Japão para uma cimeira do G7, visitará o local onde ocorreu o primeiro bombardeamento nuclear da história acompanhado do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. “Espero que aqui, em Hiroxima, Obama proponha medidas concretas na direcção de um mundo sem armas nucleares”, declarou a presidente da câmara de Hiroxima, Kazumi Matsui. Aproximadamente 140.000 pessoas morreram devido à bomba nuclear lançada no dia 6 de Agosto de 1945 pelos Estados Unidos às 8h15 locais. Dezenas de milhares morreram pela explosão da bola de fogo e outras devido aos ferimentos e doenças provocados pelas radiações nas semanas, meses e anos posteriores.
Manuel Nunes EventosArmazém do Boi | Organizados Fórum e exposição sobre espaços de arte O Armazém do Boi vai organizar um fórum e uma exposição sobre a teoria da evolução e sobrevivência dos espaços artísticos. Este evento será o primeiro sobre o tema apresentado pelo Armazém do Boi e é participado por artistas e especialistas de Macau, Taiwan e Cantão. Assim, este programa de intercâmbio regional, encetado também pela Estação Huangbian de Cantão, vai contar com a presença de grupos artísticos representativos da Formosa para estudar como os espaços de arte e os grupos independentes se adaptam às mudanças sociais para conseguirem sobreviver. Para discutir o assunto, estarão também presentes representantes de artistas, que vão discutir a evolução dos espaços de arte independentes, numa sessão onde explicarão aos presentes como continuar a melhorar a sua performance e sobre forma de adaptação para sobreviverem. Explorar as ecologias artísticas de cada uma das regiões, discutir outros temas de interesse e a partilha de experiências e ideias é também um dos objectivos do evento. Segundo a organização, Macau, Guangzhou e Taiwan têm intercâmbios artísticos frequentes, apesar de cada uma destas regiões ter suas próprias tendências e processos de desenvolvimento artístico diferentes. Todavia, lê-se ainda no comunicado distribuído à imprensa, nos últimos dez anos o crescimento dos espaços de arte independentes nas três regiões tornou-se um tema da actualidade, ao que não serão alheias as políticas culturais oficiais e a demanda do público. Protagonistas Os oradores serão Frank Lei (Armazém do Boi), Li Xiaotian (Huangbian Station) e Lai Hsin-Lung (Hantoo Art Group). Participam ainda os artistas Bianca Lei, Noah Ng e Cora Si (Armazém do Boi), Catherine Chen, Chen Jialu, Zhongjian Du, Haibin Huang, Jingbin Liu e Zhiyong Li (Estação Huangbian – Cantão) e Lai Hsin-Lung, Yang Jen-Ming, Lu Hsien-Ming e Chang-Ling (Grupo Hantoo Art – Taiwan). “Teoria da Evolução dos Espaços Arte”, assim se chama o evento, é organizado pelo Armazém do Boi e patrocinado pelo Instituto Cultural e pela Fundação Macau e comissionado conjuntamente pela Estação Huangbian de Cantão e pelo Grupo Art Hantoo de Taiwan. A produção é de Gigi Lee, artista e curadora de Macau. O local da exposição é, naturalmente, o Armazém do Boi. Fórum e Exposição acontecem a 21 de Maio estando o início do fórum previsto para as 15h00 e a cerimónia de abertura da exposição para duas horas mais tarde, ficando depois patente ao público até ao dia de 10 Julho. A entrada é livre.
Hoje Macau Eventos MancheteRevolução Cultural | Meio século depois a memória ainda perdura Passaram 50 anos, mas as memórias ainda perduram e são descritas por um ex-“pequeno guarda vermelho” e por um jornalista que rumou até África. São Yao Jingmin e Li Changsen, dois tradutores da língua de Camões que têm em Macau a sua casa Reportagem de Diana do Mar, da Agência Lusa [dropcap dtyle=’circle’]Q[/dropcap]uando a Revolução Cultural começou, Yao Jingming tinha oito anos. Como milhares de crianças chinesas foi um “pequeno guarda vermelho”, enviado para o campo para aprender grandes lições de vida. “Ainda me lembro de quando era um ‘pequeno guarda vermelho’, das escolas paralisadas, de professores ‘derrubados’, humilhados com uma placa ao pescoço com o nome riscado e o crime cometido, como serem espiões e coisas do género”, contou Yao Jingming à agência Lusa, a propósito dos 50 anos do início da Grande Revolução Cultural. “Passaram-se coisas horríveis… Assistia com um olhar curioso e, como era pequenino, até achava interessante. Na minha mentalidade, Mao Zedong tinha sempre razão. Ainda não sabia distinguir o bem do mal”, relata. Yao Jingming nasceu em 1958 em Pequim. Após terminar a escola primária, foi “seleccionado” – eufemismo para obrigado – para estudar Espanhol numa escola ligada ao Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim. A primeira expressão que aprendeu na língua de Cervantes foi: “¡Viva el Presidente Mao!”. O Espanhol acabaria por ficar na gaveta e no final do ensino secundário, em plena adolescência, foi enviado com os colegas de turma para o campo, onde esteve cerca de um ano e meio para ser “reeducado” pelos “mestres”. Sorte no caos Foi só com o final da Revolução Cultural em 1976 e a restauração do sistema de exames nacionais para o acesso ao ensino superior, que Yao Jingming ingressou no então Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim, onde se licenciou em Língua Portuguesa e iniciou a sua vida profissional como tradutor. Mas, antes dele, em 1965, Li Changsen já tentava aprender a língua de Camões e teve a sorte de poder entrar na licenciatura de Português de uma universidade chinesa. “Uma rara oportunidade” para Li que nunca abandonou os estudos, mesmo quando um ano depois irrompeu o caos da Revolução. Entrou no Instituto da Radiodifusão de Pequim (actual Universidade de Comunicação da China). Com a chegada da Grande Revolução “toda a ordem pedagógica deixou de existir. Tudo dependia, de facto, de cada turma, da vontade dos alunos. Era a anarquia”, relembra. Metade dos 40 alunos das turmas de Português desistiu dos estudos para se dedicar ao movimento revolucionário, mas os outros decidiram não desperdiçar a oportunidade de terem conseguido entrar na universidade. “Por isso, apesar do caos em todo o país e também dentro do instituto, eu e outros continuámos”, conta Li, recordando as vezes que foi ao hotel da professora Rosália “só para aprender mais umas palavras, conversar, praticar a língua”, em conturbados tempos em que os materiais didácticos não passavam de uma miragem. Arroz da memória Seguindo directivas decretadas por Mao, quase todos os estudantes da escola secundária iam para o campo ou para as fábricas, como relembra Yao Jingmin. “Aprendemos coisas boas, mas também outras muito negativas. Permitiu conhecer a realidade do mundo rural e, depois, conhecer a humanidade dos camponeses”, conta Yao, considerando que até teve “sorte” porque foi mandado para uma comuna popular nos subúrbios de Pequim. “Havia duas camponesas experientes para nos guiar. Todos os dias levavam-nos para o campo para trabalhar no arrozal. Sei tudo sobre como cultivar! Mas foi muito duro”, lembra, descrevendo dias que começavam às cinco da manhã e a “enorme fome” no final da jornada: “Comíamos muito, sempre cereais, não havia muita carne”. “Tenho ainda uma impressão muito clara daquela experiência. Para mim foi positiva porque aprendi muita coisa que não se podia aprender na escola”, sublinha Yao, ainda com as mensagens, músicas e instruções da propaganda transmitidas pelos altifalantes da aldeia presentes na memória. Outros ensinamentos A Revolução Cultural paralisou todo o ensino na China. No caso dos cursos de Português, as novas admissões foram suspensas durante sete anos, até ser colocada em marcha uma nova política que veio facilitar a entrada de camponeses, operários e soldados e resgatou os “bem-comportados” que haviam sido enviados para o campo. Em 1969, “apesar de toda a turma ter sido transferida da cidade para o campo”, Li continuava a estudar, mas apenas de manhã, “porque à tarde ia para a lavoura”. Foram oito meses a aprender o “espírito revolucionário dos camponeses”, num templo antigo e abandonado transformado em sala de aula. No ano seguinte, foi “felizmente” escolhido para trabalhar na Rádio Pequim – hoje Rádio Internacional da China –, na secção de Língua Portuguesa, onde fez carreira durante mais de duas décadas, como intérprete/tradutor e jornalista. Outros continuaram a receber “reeducação ideológica”. Em 1973, ainda corria a Revolução Cultural, partiu para África, onde teve o primeiro contacto real com falantes de Português. Foi designado pelo Governo Central para trabalhar em dois centros de treino militar, na Tanzânia, para onde eram enviados guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola e da Frente de Libertação de Moçambique, trabalhando como intérprete durante quase dois anos. Já como jornalista teve um dos pontos altos da carreira em 1987, quando testemunhou a assinatura da Declaração Conjunta sino-portuguesa. Foi para Macau que foi destacado, de seguida, para colaborar no processo de transição. Nunca mais deixou o território. O caminho foi diferente para Yao, que no final da década de 1980 partiu para Portugal para trabalhar na Embaixada da China. O impacto foi “grande” para quem pouco sabia do mundo. Conheceu Eugénio de Andrade, o primeiro poeta que viria a traduzir para Chinês. Seguir-se-iam Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner. Depois de Lisboa, ainda regressou a Pequim mas por um curto período de tempo e no início dos anos 1990 mudou-se para cá, onde ainda vive. Já chega A Grande Revolução Cultural Proletária, que agitou a China entre Maio de 1966 até à morte de Mao Zedong dez anos depois, pretendeu purgar a China da “infiltração de elementos burgueses” nas estruturas do Governo e da sociedade. Por todo o país, os Guardas Vermelhos – grupos de adolescentes e jovens sempre acompanhados pelo “livro vermelho” com os ensinamentos de Mao – ocuparam todas as estruturas da sociedade para impor o novo modelo, enquanto milhões de estudantes e intelectuais foram enviados para os campos para “reeducação” pelo trabalho. Milhões de pessoas sofreram humilhação pública, prisão arbitrária, tortura, confiscação de bens. A tradição cultural milenar foi renegada, museus, monumentos e livros foram destruídos. Estimativas colocam em 750 mil mortos o resultado da violência da Revolução Cultural. Hoje, à distância de 50 anos, Yao não tem dúvidas de que as repercussões negativas da Revolução Cultural perduram. Foi um movimento que, “de certo modo, explorou ao máximo o mal da humanidade: pais que denunciavam filhos, homens que denunciavam as mulheres, tudo para se salvarem a si próprios de consequências muito graves, que podiam ser até a morte. A confiança acabou”. Yao Jingming ainda reflecte sobre momentos que viveu durante aquele tempo, a partir dos quais constrói poemas. “Acho que só percebi realmente as consequências negativas da Revolução Cultural, que foi um desastre, na universidade, com a leitura de escritores, também porque tinha o pensamento mais maduro e capacidade para distinguir as coisas”, afirma Yao, confessando não gostar de falar sobre o tema, embora lhe seja “tão familiar”. Yao Jingming não tem dúvidas em afirmar que “foi pior do que qualquer desastre natural, porque destruiu muitas coisas boas da tradição chinesa. Não só a nível material, mas também espiritual”. “A nossa moral, o nosso espírito de nação foram fortemente arruinados. Fez-se em nome da cultura, mas foi um movimento puramente político, com o objectivo de arruiná-la”, afirma. E a lição que fica é simples, é a de que “uma vez já chega. Não pode voltar a acontecer”. Gary Ngai, o tradutor de Mao Zedong De necessário a espião Quando deixou a Indonésia rumo à China, Gary Ngai Mei Cheong mudou para sempre a sua vida. O cargo de tradutor de Mao Zedong não o protegeu da Revolução Cultural e acabou enviado para o campo, acusado de ser “espião imperialista”. Nascido na Indonésia em 1932, Gary Ngai tornou-se o primeiro membro da sua família de seis gerações de chineses ultramarinos a partir para a China, onde nunca havia estado. Foi inserido num grupo de 80 alunos de escolas chinesas da Indonésia “escolhidos” para prosseguir estudos na China, o primeiro grupo de estudantes estrangeiros a chegar à nova China comunista. “Estávamos em Agosto de 1950, em pleno início da República Popular da China quando cheguei a Pequim”. O sentimento era o de que se vivia “uma época dourada” e que os líderes eram como Edgar Snow os descrevera na obra “Estrela Vermelha sobre a China”. Após um período de “doutrinação”, foi seleccionado para participar no programa da Reforma Agrária em curso, indo inicialmente para Cantão. “Fiquei surpreendido com a China que encontrei. Éramos apenas jovens estudantes e não sabíamos muito bem o que estava realmente a acontecer, mas havia um extremismo que ia contra a política de que Mao falava”, relata Gary Ngai, 83 anos, à Lusa. Depois de se graduar, em 1956, iniciou a carreira profissional no Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista da China (PCC). Algo de errado Inicialmente afecto à secção do sudeste asiático, foi depois transferido para a da Europa ocidental, em que uma das rotinas passava por traduzir jornais estrangeiros, do Holandês, Sueco, Inglês, Alemão e Italiano para dirigentes do partido. Esteve com Mao Zedong “poucas vezes, sobretudo quando líderes comunistas da Europa visitavam Pequim”, mas ficava “nervoso por estar muito perto”, porque “ele era, afinal, um líder”. Com Deng Xiaoping a relação foi diferente. “Traduzia para ele e para os filhos os filmes de ‘cowboys’ a preto e branco que adoravam. A relação era boa e a amizade continuou mesmo depois de Mao ter posto Deng de parte. Gary Ngai começou a perceber que “algo estava a ficar errado”, no início de 1959, quando lhe foi negada autorização para se juntar a uma delegação que iria partir para Suíça. “Soube mais tarde que fui discriminado por ser um chinês ultramarino. Foi um amigo meu que trabalhava no gabinete que fazia a selecção que me disse que só foram escolhidos os que não tinham qualquer tipo de relação com o estrangeiro”, recorda. Seguiu-se uma perseguição no trabalho, buscas em casa, interrogatórios durante dias a fio pela suspeita de “conluio com estrangeiros contra a China”, e violência física e psicológica por parte dos próprios colegas de trabalho que estavam do lado político oposto. Com a Revolução Cultural (1966-76) em marcha, Gary Ngai foi enviado para a província de Heilongjiang, perto da fronteira com a Rússia, notória pelos invernos rigorosos, com temperaturas que atingiam os 36 graus negativos, sendo transferido depois para Henan. No total foram aproximadamente quatro anos. “Éramos vistos como pessoas que deixaram de ser de confiança. Os chineses ultramarinos tinham conexões com o exterior e, por isso, consideravam-nos ‘espiões imperialistas’”, diz hoje Gary Ngai entre risos, à distância de 50 anos. Em 1972, com a histórica visita do Presidente dos Estados Unidos Richard Nixon à China, foi “chamado” a Pequim, voltando antes do que seria suposto, por causa da falta de especialistas em línguas estrangeiras. Em 1979, mudou-se para Macau, onde continua radicado até hoje.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasDeclínio do porto de Macau Como prova das boas relações existentes entre as autoridades portuguesas e chinesas, a visita a Macau do Comissário Imperial Lin Zexu acompanhado pelo Vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi), Deng Tingzhen, a 3 de Setembro de 1839 e também do Hopu de Cantão, chefe das alfândegas chinesas naquela província, de 5 a 8 de Setembro. Wu Zhiliang refere que “Na véspera da visita de Lin Zexu a Macau, corriam, por todo o lado, rumores de que as forças militares da China atacariam Macau para expulsar os ingleses. Aproveitando-se desta circunstância, Charles Elliot propôs ao Governo de Macau o auxílio militar britânico”, e , que Silveira Pinto delicadamente recusou. Dias antes, em finais de Agosto, os súbditos britânicos tinham saído da cidade, mas, após uma breve estadia em Hong Kong, regressaram a Macau a 23 de Janeiro de 1840, apesar de ser um acto nada conveniente para os portugueses, que não tinham força suficiente para não o permitir. Os ingleses, após serem expulsos de Cantão pelos chineses, nada tinham a perder e refugiados em Hong Kong, agora sem víveres, sentiam o cerco apertar-se e por isso, daí remeteram um novo pedido no dia 12 de Dezembro de 1839 ao Governador de Macau para poderem regressar a essa cidade e aí residirem. Não obtiveram tal permissão, pois Silveira Pinto não aceitou. Com Alfredo Gomes Dias seguimos, “as autoridades britânicas decidem então forçar a entrada no porto de Macau utilizando para o efeito a corveta Hyacinth, largada a partir da fragata Volage fundeada na rada de Macau. São os acontecimentos de 4 de Fevereiro” de 1840. Lembrava Março de 1839 em Cantão; “Entrando de imediato em acção, Lin começou a confiscar milhares de quilos da droga e de cachimbos de ópio, prendendo mais de 1600 chineses. Quanto aos estrangeiros, começou por tentar demovê-los, através de didácticas chamadas de atenção no capítulo da ética. Mas essa técnica persuasiva não resultou e Lin, furioso, decretou, em Março de 1839, um bloqueio completo à comunidade estrangeira em Guangzhou. O cerco só foi levantado quando Lin, que passou a viver num barco, para melhor vigiar os estrangeiros, obteve mais de 20 mil cestos de ópio, a totalidade da mercadoria que então se encontrava nas feitorias de Guangzhou. Em Abril, numa acção espectacular, todo esse ópio foi lançado ao rio da Pérola”, segundo Fernando Correia de Oliveira, no livro 500 Anos de Contactos Luso-Chineses editado em 1998: “O principal negociante inglês, William Jardine, fundador da casa comercial que ainda hoje existe em Hong Kong, foi de imediato a Londres pedir auxílio económico e militar. O parlamento inglês, sem declarar a guerra à China, aprovou o envio de uma esquadra de 16 navios para a zona de Guangzhou”. Forçar a entrada em Macau Segundo Marques Pereira, no Decreto de 5 de Janeiro de 1840, o Imperador Daoguang (1821-1850) proibira o comércio com a Inglaterra e a 8 de Janeiro, o comandante do navio de guerra inglês Volage anunciava para o dia 15 o bloqueio do porto de Cantão. A 23 de Janeiro “os ingleses desembarcaram em Macau passando a residir nesta cidade”, segundo Alfredo Dias. Ao fim de uma semana de estadia britânica em Macau, a 31 de Janeiro de 1840 o novo “Procurador José Vicente Jorge entrevista-se com o Tou-T’ói, pelas 15.30 horas, no Hopu de Macau. O Tou-T’ói veio com o fim de exigir a expulsão do capitão Elliot e dos ingleses residentes em Macau, apoiado com mil homens que, a pedido dos mandarins, ficaram retidos na Casa Branca, dizendo que tal tropa se destinava a proteger os portugueses. Ofereceu-se, porém, para prorrogar a publicação do edital dos Suntós dos dois Kuongs e de Cantão, que ordenava a ele, Tou-T’ói, que viesse, à testa da tropa, prender os ingleses, e ao ajudante-geral Kuam-Chon-Hiae que seguisse com mais mil homens para se juntarem aos mil de Tou-T’ói, a fim de promover o encerramento das alfândegas, a suspensão do comércio português e o isolamento de Macau, bem como a retirada de todos os chineses, dentro de cinco dias, pois a cidade seria invadida. O procurador não cedeu ante a intimidação do enviado chinês”, segundo Luís Gonzaga Gomes. Já Alfredo Dias refere que, a 1 de Fevereiro há a “Proclamação imperial onde se pretende sossegar as comunidades chinesas e estrangeiras em Macau afirmando que pretendiam apenas cercar e prender os ingleses”. Marques Pereira diz que no dia seguinte, o comissário imperial chinês, Lin, dirige de Cantão, pelo navio Thomas Coutts, uma carta à rainha de Inglaterra (Victória), criminando a insistência dos seus súbditos em trazerem ópio à China, e em espalharem entre a população essa droga nociva, a despeito das justas leis do império contra semelhante contrabando. Esta carta foi, pelo mesmo comissário, mandada publicar em todos os distritos do sul da China. A 4 de Fevereiro de 1840, segundo Montalto de Jesus, “Tendo começado as hostilidades, o barco Hyacinth forçou o caminho pelo Porto Interior de Macau. Isto provocou um veemente protesto do governador Silveira Pinto, que responsabilizou o governo inglês pelas consequências. Foi salientado que, mesmo sob a aparência de protecção, tal caminho não tinha sido seguido pelo contra-almirante Drury. O Capitão Smith acabou (no dia seguinte) por retirar o Hyacinth, na condição de serem tomadas medidas enérgicas para fazer retirar as tropas chinesas das proximidades da colónia”. O comércio do chá em Macau A 6 de Fevereiro de 1840, Lin Zexu foi nomeado Vice-Rei de Liangguang e no dia 11, “Edital publicado em Cantão mandando fechar o comércio em Macau e destruir a Cidade por as autoridades portuguesas permitirem aí a presença de Elliot”, e continuando com Alfredo Dias, a 19 de Fevereiro, “O procurador José Vicente Jorge responde às autoridades chinesas que exigiam a expulsão dos ingleses de Macau dizendo que a Cidade estava preparada para repelir qualquer ataque ou violência da parte dos Chineses”. Esta mudança de discurso do Procurador de Macau contrariava o que José Baptista de Miranda e Lima em Setembro de 1839 anunciara a Lin Zexu (1785-1850), a neutralidade de Macau na disputa entre a Inglaterra e a China. As palavras do novo Procurador, sem força para contrariar os ingleses, quebravam tal promessa e assim, terminava o período de paz e de comércio que a 29 de Setembro de 1839 o Governador Silveira Pinto referia num ofício ao governo de Lisboa, comunicando a abertura do comércio em Macau, fechado desde Março. Esse bom relacionamento comercial pode-se constatar na resposta dada a 27-12-1839 pelo Superintendente Geral da Alfândega de Cantão ao pedido feito pelo Procurador, permitindo o aumento da exportação de chá para Macau e ordenando ao mandarim de Hèong-Sán que consultasse o Hopu de Macau sobre a conveniência ou inconveniência da entrada dos navios vindos de Portugal, em Vampu (Huangpo); que não fosse permitido aos navios de Macau ficarem fora do porto de Cantão e que, quanto à gravação dos números nos barcos de Macau, continuasse a ser observado o que se encontra prescrito no respectivo regulamento”. Já como consequência das palavras de 19 de Fevereiro de 1840 do Procurador às autoridades chinesas, vemos na semana seguinte, a 26, “o Procurador do Senado, José Vicente Jorge, reclama(r) junto das autoridades chinesas contra a redução do fornecimento de chá, cuja exportação por navios portugueses era de 6000 picos líquidos, por ano”, segundo Gonzaga Gomes Não esquecer que, “Por meados do século XVIII, os comerciantes independentes de Macau foram contratados para fornecerem chá da China à EIC, em Madrasta, tal como acontecia com a VOC, em Batávia, à qual também forneciam o chá”, como lembra Leonor Seabra. Estas companhias (inglesa e holandesa) importavam o chá da China e, depois de preparado, vendiam-no para a Europa, sendo em Macau o chá apenas manufacturado e não cultivado, e era essa a principal indústria da cidade. Ressoam as palavras de Sir George Staunton no ano de 1797 pela defesa da estrangulação do pobre marinheiro inocente com o seguinte argumento: “Mas abstraindo de qualquer ideia de lucro, é sabido que um dos principais géneros trazidos da China, e que em nenhum outro país se pode encontrar, é hoje um objecto de necessidade para quase todas as classes da sociedade na Inglaterra. Em quanto pois se não puder ir buscar a outra parte chá de tão boa qualidade e por tão baixo preço como o da China, será forçoso trazê-lo de Cantão e não desprezar precaução alguma para o poder obter”. Subscrição para presentear o mandarim Mandado fechar o comércio em Macau no dia 11 de Fevereiro de 1840, pelo Edital do Comissário Imperial Lin Zexu publicado em Cantão, “Por abrigar senhoras e crianças inglesas em Macau, os portugueses foram afastados do comércio de Cantão”, segundo Montalto de Jesus. O comércio em Macau foi restabelecido a 9 de Março pelo Comissário Imperial Lin Zexu, como diz Wu Zhiliang e no dia 20 para Alfredo Dias, “Edital chinês abre o porto de Macau”. Ainda no Edital de 11 de Fevereiro de 1840, em nome do comissário imperial, um édito especial do mandarim de Chinsan ordenou, então, a prisão de Elliot, expressando considerável espanto pela sua tentativa arbitrária de excluir as embarcações americanas de Macau”, segundo Montalto de Jesus. Marques Pereira regista dos Archivos da Procuratura o dia 1 de Março de 1840, quando se fez a “subscrição promovida entre os macaenses a fim de presentearem o mandarim Pang, que se retirava para Cantão, depois de exercer nesta colónia o cargo de So-tam”. Alfredo Gomes Dias complementa, “Os macaístas quotizam-se para oferecerem um presente, em sinal de muito respeito e amizade, ao mandarim, que se retirara para Cantão depois de ter exercido o cargo de Tso-tang em Macau”. Luís Gonzaga Gomes refere para 3 de Março o “Edital do Tou-T’ói, declarando ter intercedido pela reabertura do comércio em Macau, que fora fechado, em consequência da guerra com os ingleses”. Muito mais tarde, já com o resultado definido da primeira Guerra do Ópio, faltava apenas saber por quanta prata, a 18-12-1841 “O Procurador do Senado, de apelido Carneiro, reclamou junto do Hopu Grande de Cantão contra o facto de os anistas (mercadores) de Cantão anteporem dificuldades à livre exportação do chá, tanto mais que os moradores de Macau, conformando com as ordens imperiais, deixaram de comerciar em ópio e pediu que fosse permitida a livre exportação do referido artigo, para esta cidade, sem embaraço algum. Encontrava-se o chá como um exclusivo chinês quando, após a I Guerra do Ópio (1839-1842), a pedido da Companhia da Índia Oriental o escocês Sr. Robert Fortune, do Chelsea Physic Garden, veio à China como botânico para estudar sobretudo os segredos da planta do chá. Aí regressou pela terceira vez em 1848 e clandestinamente entrou nas montanhas de Wuyi em Fujian e com a ajuda do seu criado chinês, fazendo-se passar por mandarim, visitou clandestinamente um dos locais de produção e manufactura do chá, que o esclareceu sobre a planta e as técnicas. Robert Fortune “enviou para a Índia umas vinte mil plantas de chá que arranjou na China Central, com toda a informação pormenorizada sobre tal indústria. Como por mágica da lâmpada de Aladino, uma grande fonte de riqueza foi assim transplantada da China para a Índia e o Ceilão, assim como para Java”, segundo Montalto de Jesus, que refere ter a sorte do chá da China ficado assim selada. E em 1866, já os ingleses importavam chá (4%) da Índia. Remata Alfredo Dias, “A partir de meados de 1840, conforme a guerra se afastava mais para norte também a importância política de Macau foi diminuindo. Deste modo, ao longo do tempo que durou o conflito, as autoridades do território aperceberam-se gradualmente de que a realidade política da região em que Macau se inseria estava a mudar radicalmente, a uma velocidade que lhes era difícil de acompanhar. As forças imperiais davam provas da sua incapacidade de se oporem aos desígnios britânicos e, por outro lado, os ingleses demonstravam toda a sua capacidade de iniciativa económica e política, consentânea com o seu estatuto de grande potência mundial”.