Função Pública | Mudaram as regras de recrutamento

SAFP vão analisar as competências gerais dos candidatos. Depois haverá outra avaliação por departamentos. Para Coutinho, isto é aumento de burocracia

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi anunciado esta quarta-feira no Conselho Executivo a proposta que vai alterar a formar como se recruta na Função Pública. Segundo a agência Lusa, a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) vai avaliar as aptidões gerais de cada candidato, podendo, depois, os candidatos aprovados submeter-se a uma segunda etapa, de aferição de “competências funcionais”, efectuada por departamentos específicos, para vagas existentes no momento.
Questionado sobre as novas regras, o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), José Pereira Coutinho, falou do aumento de burocracia.
“Há que verificar se, em primeiro lugar, há um processo mais célere na contratação dos trabalhadores. No passado, com o recrutamento central organizado pelos SAFP, para contratar um mero condutor, levava cerca de dois anos e o processo era muito moroso. Agora estão a dividir as coisas para que o recrutamento continue a ser dos SAFP, mas quem vai ver as qualificações das pessoas são os próprios departamentos. Penso que isto é mais burocracia, muita gente a pegar no mesmo processo. Mais valia que o recrutamento fosse entregue directamente aos serviços. É muita burocracia e não vejo que haja um sistema mais justo de contratação e mais célere”, disse ao HM.
Coutinho considera que o recrutamento centralizado “mostrou ser um falhanço”. “Com os SAFP metidos na contratação, quando deveriam estar alheios, vão demorar mais tempo. Se for o próprio departamento a resolver o caso demora menos tempo a contratar uma pessoa”, concluiu. O HM tentou contactar mais dirigentes de associações mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

10 Jun 2016

10 Junho | Governo português quer reforçar trabalhadores nos consulados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, referiu, na sua habitual mensagem por ocasião do 10 de Junho, que o Governo português quer continuar a resolver a falta de recursos humanos nos diversos consulados espalhados pelo mundo, sendo que o consulado em Macau não é excepção.
“Outra das preocupações políticas é a reparação gradual das insuficiências mais críticas, designadamente em recursos humanos, da rede consular. O novo Sistema de Gestão Consular (eSGC) vai permitir uma maior simplificação e modernização dos serviços prestados aos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro e um melhor e mais eficiente funcionamento da rede diplomática e consular”, pode ler-se no comunicado.
Lembrando que o Instituto Camões tem duas redes de ensino do português no estrangeiro, com existência em 17 países e com mais de 68 mil alunos e 815 professores, José Luís Carneiro destacou ainda o papel do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). “No plano institucional deve fazer-se especial menção ao CCP e ao seu insubstituível papel de representação e consulta.” No último Congresso do Partido Socialista (PS), Tiago Pereira, coordenador-geral da secção do partido em Macau, pediu o fim do CCP.
José Luís Carneiro referiu ainda que os objectivos do Executivo português são a aposta na “promoção da participação eleitoral dos emigrantes através de um trabalho que visa garantir a melhoria dos processos de recenseamento e das condições de exercício do direito de voto”.

10 Jun 2016

IPOR | CESL-Ásia continua a ser um dos associados

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] CESL-Ásia mantém-se, afinal, como um dos associados do Instituto Português do Oriente (IPOR). O HM confirmou esta informação junto do próprio director do IPOR, João Laurentino Neves, que referiu que a empresa “se mantém como um dos associados e não formalizou a sua saída”. “Não lhe posso dizer se vai ou não sair, é uma decisão do próprio associado”, disse ainda Laurentino Neves. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, referiu não ter informações sobre o assunto.
O director do IPOR confirmou que a única saída de facto concretizada foi a do Banco Espírito Santo (BES, actual Novo Banco). O HM questionou o IPOR depois de ver que, um ano depois de noticiar a saída destes dois associados, os logótipos das empresas se mantém no website da entidade de ensino do português.
Em Maio de 2015 o HM questionou António Trindade sobre o assunto, o qual se justificou com a saída da Somague do quadro accionista da CESL-Ásia. “Tínhamos uma pequena participação no IPOR, que foi correspondendo a uma indicação do então sócio maioritário da CESL-Ásia, a Somague, a quem tinha sido pedida a participação no IPOR. A CESL-ÁSIA deixou de ter raízes no IPOR em Portugal e o papel no IPOR deixou de fazer sentido”, disse o CEO na altura. João Laurentino Neves não confirmou quando é que o lugar deixado vago pelo antigo BES vai ser ocupado.

10 Jun 2016

Pearl Horizon | Polytec perdeu em tribunal contra Governo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Grupo Polytec perdeu uma das suas muitas batalhas judiciais ao ver recusado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI) o pedido de suspensão da eficácia da declaração de caducidade do terreno onde iria ser construído o edifício Pearl Horizon. Já em Fevereiro o Tribunal Administrativo tinha rejeitado o primeiro pedido da Polytec quanto à possibilidade de se estender o prazo da concessão do terreno por mais cinco anos.
Numa conferência de imprensa organizada para reagir ao caso, os proprietários prometeram não baixar os braços. Kou Meng Pok, presidente da União dos Proprietários do Pearl Horizon, disse ao HM que a Polytec tem mais quatro processos em tribunal e que este é apenas um “pequeno caso”, sendo que a concessão do terreno ainda não está totalmente perdida.
O responsável considera “irracional” o facto dos proprietários, que investiram o dinheiro nos imóveis, terem de ir a tribunal para conseguir reaver o terreno, afirmando que o Governo “fugiu à responsabilidade”, por considerar que este é um conflito no sector privado. “Todos os lesados do Pearl Horizon, incluindo eu, estamos muito ansiosos, porque a Polytec perde sempre os casos em tribunal e nós podemos sujeitar-nos a não receber nada. O que podemos fazer?”, questionou.

Pensados mais protestos

A união dos proprietários planeia voltar a manifestar-se junto ao Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. Kou Meng Pok defende que os últimos protestos não alteraram a situação, mas espera que Pequim dê mais atenção ao caso.
Kou Meng Pok referiu ainda que há vários proprietários que querem pôr a Polytec em tribunal por considerar que a empresa enganou os proprietários, já que o Governo deixou a construção avançar num terreno cuja concessão ia chegar ao fim, sendo que nada foi explicado a quem investiu.
“Já lemos os contratos e não sabemos como podemos acusar a Polytec, e o Governo também não nos deu qualquer apoio jurídico. A Polytec não vai fazer nada até ter mais resultados”, revelou. Os proprietários ainda mantém a esperança de que a Polytec ganhe os restantes processos em tribunal e possa terminar a construção do edifício, na zona da Areia Preta.

10 Jun 2016

Japão protesta aproximação de navio de guerra chinês às Senkaku

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo japonês apresentou ontem um protesto formal junto do Executivo de Pequim após a aproximação de uma fragata da marinha chinesa às disputadas ilhas Senkaku, a primeira incursão do tipo.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros nipónico, Akitaka Saiki, convocou o embaixador chinês em Tóquio, Cheng Yonghua, ao qual apresentou o protesto e transmitiu a sua preocupação relativamente à aproximação do navio de águas territoriais que o Japão considera suas, informou a diplomacia japonesa.
O diplomata Cheng Yonghua defendeu, por seu lado, que a navegação do barco é totalmente justificável dado que Pequim sustenta que as ilhas Senkaku – chamadas de Diaoyu pela China e administradas de facto por Tóquio – são parte do seu território, explicaram fontes próximas do assunto à agência Kyodo.
O contratorpedeiro japonês Setogiri confirmou que na madrugada de ontem uma fragata da marinha chinesa penetrou em águas contíguas aos ilhotes e permaneceu na zona durante quase três horas sem chegar a entrar em águas que o Japão considera suas.
Navios da guarda costeira chinesa navegaram no passado com frequência pela zona, mas esta é a primeira vez que uma incursão envolve um barco militar.
O Ministério da Defesa japonês também informou ontem que foi detectada a presença de três navios militares russos numa área contígua às Senkaku precisamente no momento em que o barco chinês navegava na zona.
A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das Senkaku/Diaoyu tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês.
O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.

10 Jun 2016

Taiwan | Investidores pedem ao Governo concessões a Pequim

Os investidores de Taiwan com interesses na China querem que a nova presidente, Tsai Ing-wen, recupere o Consenso de 1992 para eliminar obstáculos nas relações com Pequim e permitir-lhes fazer negócios à vontade. Tsai Ing-wen respondeu garantindo que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s investidores taiwaneses na China instaram a nova Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a eliminar qualquer tipo de obstáculo nos laços com Pequim e a encarar com seriedade as relações comerciais com a segunda economia mundial.
Numa reunião realizada na quarta-feira, o presidente da Associação de Empresas Taiwanesas Investidoras na China, Kuo Shan-hui, pediu ao Governo concessões a Pequim.
Kuo pediu que o Governo da Formosa aceite o “Consenso de 1992” – que constituiu a base do intercâmbio entre os dois lados do Estreito durante os mandatos do Presidente Ma Ying-jeou (2000-2008) e que foi abandonado por Tsai Ing-wen.
“Sem o reconhecimento do Consenso de 1992 haverá grandes obstáculos para qualquer esforço em impulsionar novos intercâmbios entre Taiwan e a China”, disse Kuo.
Este consenso é a fórmula pela qual ambas as partes aceitam o princípio de que há uma só China, embora o significado desse conceito seja diferente para cada uma delas.
O empresário pediu ao Governo para impulsionar a ratificação de um acordo comercial no domínio dos serviços assinado em 2013, mas bloqueado pelo parlamento, e que complete as negociações do acordo de comércio de bens com a China.

“Relações robustas” a caminho

Tsai, líder do independentista Partido Democrata Progressista (PDP), bloqueou desde 2013 a ratificação do acordo de serviços com a China e advertiu que não apoiará nenhum acordo com o regime comunista até ser aprovada pelo parlamento uma lei de supervisão dos referidos tratados.
Os laços institucionais com a China encontram-se bloqueados desde a ascensão de Tsai, apesar de a nova Presidente ter prometido, no discurso de posse, em Maio, manter o ‘status quo’ nos laços com a China e uma administração não independentista, o que Pequim entende ser insuficiente.
Em resposta aos pedidos dos empresários, Tsai disse que o Governo está comprometido em ajudar as empresas taiwanesas na China a enfrentar os desafios atuais, mas que também promove a transferência das mesmas para Taiwan e a sua expansão no plano da internacionalização.
A Presidente de Taiwan acrescentou que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China, procurando a estabilidade e a paz no Estreito.

Há mais mercados

Taiwan tem vindo a acumular recursos para ajudar os seus empresários a desenvolverem os mercados do sudeste da Ásia e Índia, no que designa de “nova política rumo ao Sul”, a qual não pretende competir com os investimentos da China mas antes complementá-los.
Há mais de 70 mil empresas taiwanesas com operações na China, onde a ilha tem investidos 133.700 milhões de dólares, segundo dados do investimento acumulado de 1991 até 2013. O valor pode ser substancialmente maior se forem tidos em conta os investimentos feitos a partir de terceiros países.
A China tem pressionado Tsai a aceitar que a ilha é parte do país com medidas como a redução do número de turistas chineses, um eventual bloqueio do envio de estudantes para a ilha, a diminuição das compras de produtos agro-pecuários e um cerco diplomático internacional.

10 Jun 2016

Japão | China expressa preocupações sobre derramamento nuclear

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China está muito preocupada com as consequências do acidente nuclear ocorrido em 2011 em Fukushima e pediu que o governo japonês tome medidas de acompanhamento oportunas, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying.
A China espera que o Japão tome medidas efectivas para proporcionar informações oportunas, completas e precisas à comunidade internacional e proteja o ambiente oceânico, disse Hua em conferência de imprensa.
A operadora da central, a Tokyo Electric Power Co., admitiu pela primeira vez na última segunda-feira que a sua insistência em descrever a tragédia como “dano de um reactor nuclear” nos últimos cinco anos havia “escondido a verdade”.
O radioquímico marinho Ken Buesseler do Instituto Oceanográfico Woods Hole dos Estados Unidos disse que as consequências do acidente nuclear de Fukushima foram sem precedentes pois mais de 80% das substâncias radioactivas derramadas escoaram para o mar.
A porta-voz chinesa disse que seu país espera que o Japão mantenha um alto sentido de responsabilidade para seu próprio povo, os povos dos países vizinhos e a comunidade internacional, acrescentando que a China deseja se comunicar com as partes envolvidas, incluindo a República da Coreia.
A China também pediu que a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) reforce o monitoramento e a avaliação da água radioactiva, disse Hua.
Após um terramoto seguido de tsunami em 2011, o Ministério das Relações Exteriores chinês advertiu sua população que seja prudente sobre viagens às áreas do desastre, segundo a porta-voz, dizendo que a advertência continua vigente.

10 Jun 2016

Hong Kong | Lancôme reabre lojas após protestos

Com medo dos protestos, fecharam-se a sete chaves na quarta mas ontem reabriram. Tudo por causa do cancelamento de um concerto de Denise Ho por, dizem, “motivos de segurança”. Denise acha que foi pelas suas convicções politicas. O Global Times, que iniciou a polémica ao criticar o evento, rejubilou por a Lancôme levar em consideração o público da China continental

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] empresa de cosméticos Lancôme reabriu ontem as suas lojas em Hong Kong, após ter fechado portas na véspera devido a protestos por a marca ter cancelado um concerto da cantora local, crítica da China, Denise Ho.
Segundo o South China Morning Post, Denise Ho instou na sua página no Facebook toda a gente a erguer-se contra o que chamou de “terror branco que se tem vindo a espalhar” pela sociedade e a lutar pela liberdade de expressão.
Na terça-feira, a cantora pediu explicações à marca francesa por a Lancôme, que pertence ao grupo L’Orèal, lhe ter cancelado um concerto, alegadamente devido às suas convicções políticas.
Na quarta-feira, devido à marcação de protestos, as lojas e pontos de venda da marca estiveram fechados em Hong Kong, assim como os escritórios da L’Orèal.
Entretanto, foi lançada uma petição na Internet para apelar ao boicote dos produtos Lancôme.
O concerto promocional de Denise Ho, agendado para dia 19, foi cancelado após reacções negativas nas redes sociais da China continental ao apoio da artista ao Tibete e a movimentos pró-democracia como o Occupy Central (de Hong Kong).
Em comunicado, a cantora considerou a situação “extremamente lamentável”, indicando estar a ser castigada por defender os seus direitos e afirmar as suas convicções.
No domingo, a Lancôme disse que o evento tinha sido cancelado devido a “possíveis motivos de segurança”.
O balcão de venda da marca no maior centro comercial de Times Square, em Hong Kong, foi encerrado, assim como o centro de beleza que a marca possui no mesmo edifício, depois de se saber que tinha sido convocado um protesto nas imediações.
O organizadores do protesto, todavia, avisaram que poderão promover outras iniciativas se não houver resposta da marca.
“O objectivo deste protesto é mostrar ao mundo que devemos manter-nos juntos e, através do boicote [aos seus produtos], mostrar à Lancôme e à L’Orèal que não se podem focar apenas no mercado chinês”, afirmou Avery Ng, da Liga dos Sociais-Democratas, um dos 12 grupos que participaram nos protestos na tarde de quarta-feira.

Agitação na rede

Entretanto, foi também lançada uma petição na internet para apelar ao boicote dos produtos da Lancôme que já reuniu mais de 4.000 assinaturas.
A reacção dos internautas chineses surgiu em resposta a uma publicação do jornal de Pequim Global Times, no microblogue Weibo. O jornal questionou o evento, acusando a empresa de cooperar com “veneno de Hong Kong” e “veneno do Tibete”, ou seja, com uma apoiante da autonomia de Hong Kong e do Tibete.
Alguns internautas chineses começaram, então, a apelar a um boicote à Lancôme. Após o anúncio do cancelamento do concerto, surgiram novas ameaças de boicote, desta feita do ‘outro lado da barricada’.
O Global Times reagiu à notícia, dizendo que a marca francesa revelou “sabedoria” ao cancelar o concerto. Para o jornal, “os motivos são óbvios”: “Aparentemente, a Lancôme tomou mais em consideração os sentimentos do público da China continental, porque a China representa um mercado muito maior do que Hong Kong”. “Como empresa, deve procurar ganhos comerciais, uma sabedoria que deve revelar em situações complexas”, escreveu

10 Jun 2016

Margarida Moz: “Não há festival que não queira ter um filme português”

Margarida Moz, antropóloga que viveu a adolescência em Macau, é directora da Portugal Film, a agência “filha” do Indie Lisboa que traz, este fim-de-semana, à Cinemateca Paixão uma mostra do que melhor se faz no cinema Português

[dropcap]C[/dropcap]omo nasceu a Portugal Film? Uma filha do Indie Lisboa?
A Portugal Film é, de facto, uma filha do Indie. A Associação Indie Lisboa inicialmente só realizava o festival. O que acontecia é que também era uma montra para alguns realizadores independentes ou algumas produções próprias. Os filmes eram vistos no festival mas, ao longo do ano, não continuavam em nenhum circuito Internacional. Por outro lado também vinham ao festival muitos programadores estrangeiros que viam alguns filmes nacionais e que acabavam por os levar para outras paragens. A determinada altura o Nuno Sena e a Ana Isabel Strindberg, decidiram criar esta agência de modo a poder dar continuidade à carreira de filmes que passam no Indie.

Uma forma de dar a conhecer o cinema português ao mundo e de trazer o mundo ao que se faz em Portugal?
Sim. Nós além de promovermos e levarmos os nosso filmes aos festivais de cinema internacionais temos também dentro do Indie Lisboa a rubrica “Lisbon Sreenings” em que trazemos programadores, indústria e jornalistas estrangeiros. É uma maratona de três dias de projecções com os filmes que achamos mais interessantes. Por exemplo, este ano mostrámos uma curta que não participava no festival por ainda estar em pós produção. Os programadores vêm assim os filmes em Abril que poderão estar prontos atempadamente para a sua programação. Por outro lado os realizadores sabendo de antemão que o filme suscitou interesse tendem a apressar o fim dos memos. No ano passado mostrámos a “Balada de um Batráquio” por exemplo, e o programador de Roterdão ficou logo interessado. Berlim também mostrou interesse e como foi o primeiro a aceitar o filme esteve na Berlinale onde ganhou o Leão de Ouro.

A agência tem alguns veteranos do cinema português mas também já apresenta um bom número de jovens cineastas. Apostam efectivamente nos novos talentos portugueses?
Não há duvida de que realizadores como Pedro Costa, Manuel de Oliveira, João Botelho, João Nicolau, etc, as pessoas já conhecem. Por outro lado as pessoas têm a ideia feita de que o cinema português é muito pausado e contemplativo. Mas a verdade é que estes jovens realizadores são todos muito diferentes entre eles e chamaram outra vez a atenção para o que se faz em Portugal. Neste momento não há festival nenhum que não queira ter um filme português ou ver alguns. Também temos uma ligação à Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa onde vamos ver os trabalhos finais dos alunos e em que começamos a ter conhecimento destes novos realizadores. Aliás neste aspecto a Leonor Teles destacou-se de imediato pela forma como fazia os filmes.

Vem aí uma lufada de ar fresco no cinema português?
Nós vemos muitos filmes e nem sempre há uma identidade nos realizadores. Por vezes vemos filmes muito bem feitos mas que não têm frescura ou ousadia. Falta risco. Depois há aqueles que se destacam. Por vezes são filmes com mais fragilidades a nível de realização mas que já têm a identidade de quem o faz.

Têm levado trabalhos a festivais icónicos como Roterdão, Berlim, Clermont-Ferrand. O que se segue?
Em Cannes já tivemos este ano dois filmes na semana da crítica. O “Ascensão”, do Pedro Peralta, e o “Campo de Víboras”, da Cristèle Alves Meira. Agora queremos Locarno e Veneza.

Quais as maiores dificuldades que têm sentido?
Começamos agora a sentir algumas. Por um lado, elevámos a fasquia de tal maneira que todos os realizadores têm uma grande expectativa em relação à agência. É como que se: se nos derem o agenciamento do filme, já é garantia de que vai circular. Por outro, continuamos a ter esta postura que pode parecer arrogante, mas que não o é, em que recusamos muitos dos filmes que nos propõem. Não podemos ter um catálogo com centenas de filmes e desde o início que estabelecemos um limite máximo de curtas e longas a agenciar anualmente. Se queremos acompanhar com proximidade realizadores e filmes, é humanamente impossível ser feito por três pessoas. A Portugal Film funciona comigo e com a Ana Isabel Strindberg a tempo inteiro e o Gonçalo Mata e o Rui Mendes que alternadamente vão fazendo outras coisas como as inscrições etc.

Passou a adolescência em Macau e está de regresso em visita. Reconhece a RAEM?
Mudou tudo. Já fui dar um passeio e perco-me. Há uma familiaridade que não muda como estes cheiros ou a quantidade de gente. Não é que goste mas não me são estranhos. Vivi aqui numa idade muito importante, dos 10 aos 18, uma idade muito marcante.

O que espera da mostra cá?

Começámos a pensar no que trazer ainda no ano passado. A “Balada de um Batráquio” não era para vir mas acabámos por trazer pela premiação em Hong Kong. “Os olhos de André” também estiveram no mesmo festival e também acabou por vir dada a aceitação. Por outro lado, também é um filme que aborda a família que acho que é um tema universal. Aliás vamos ter três filmes que de alguma forma abordam este tema. Ainda temos “A toca do lobo” sobre o avô da Catarina Mourão, o “Gipsofilia” sobre a avó da Margarida Leitão. Eu também sou antropóloga de formação e trabalhei na área da família e do parentesco. São-me temas muito próximos também.

Como é que a antropóloga foi parar ao cinema?

Casualmente. Sempre estive na área de género, família e sexualidade. Fiz uma tese de mestrado em que trabalhava como voluntária na Associação Gay e Lésbica de Lisboa. A actividade da associação com maior apoio da câmara era o festival de cinema que aliás foi dos primeiro se não o primeiro em Lisboa, o Queer. Curiosamente agora estamos no mesmo edifício. A câmara de Lisboa aluga a preço simbólico vários espaços para a área do cinema e estamos lá todos, o Doc Lisboa, o Indie, a Monstra, a Academia de Cinema, etc. Mas continuo ligada à Antropologia, ainda dou aulas na escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

Essa proximidade entre as várias entidades tem sido benéfica?
Sim, muito. Se recebemos por exemplo filmes do Indie que não são seleccionados passamos àqueles que achamos mais apropriados.

Do cinema que se faz em Macau, qual a sua opinião?
Conheço muito pouco . Recebemos, há tempos, um filme de cá que esteve praticamente a ser seleccionado. Muito interessante. Mas era muito longo e não havia na programação espaço suficiente. Depois há o Ivo Ferreira ou a Leonor Noivo que são muito bons.

E do que se faz na Ásia?
Aí sim há mais acesso. Os filmes apesar de ainda serem muito locais já têm uma grande representação em festivais europeus. Taiwan, Hong Kong e mesmo Macau ao lado da Coreia do Sul ou do Japão já têm representações. O cinema asiático já tem uma forte presença nos mercados.

10 Jun 2016

Portugal existe desde o século V

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] remoto nome poético das Curvas (Cale) do Rio ligadas ao porto, de onde provém o Condado Portucalense, criado sem independência em 1097, coloca-nos em questão o existir já no século V, na margem esquerda do Rio Douro, uma vila cujos romanos davam o nome de Cale, sendo esta conhecida desde então pelo nome de Portugal. No actual concelho de Gaia, confrontando com Mafamude e Coimbrões, tem a povoação de Portugal a sua História associada à representação da formação de um território, feito por conquistas, povoamento e conversões. De povoação, a território elasticamente expandido desde o Rio Douro até Coimbra, qual respiração tinha Portugal no Mosteiro de Crestuma o seu centro de poder de condado no início do século X, então integrado no reino de Leão (910-1037). A Galiza estava dividida em diversos condados, sendo um deles o Condado de Portucale, o único situado para Sul do Rio Douro. Pouco mais de um século faltava para como país aparecer Portugal.

Aprendemos na escola que a palavra Portugal vem da junção de Porto Cale, de onde foi formado o Condado Portucalense. Para a palavra , todos sabemos significar local de costa onde as embarcações se abrigam e dá passagem para terra; já para , o dicionário refere vir do latim canale, que significa rego de água. No entanto, no tempo de Jesus, Estrabão, que percorreu a Península Ibérica nos primeiros anos da era de Cristo, mencionava Cale, assim chamada pela sinuosidade de curva, porque as curvas dos rios costumavam assim chamar-se na linguagem dos lugares.

Também por essa altura, segundo Plínio, no século I os túrdulos encontravam-se na cale do Rio Douro e fala deles como estando ainda espalhados por todo o litoral Atlântico, do Douro ao Anas (Guadiana), sendo da sua autoria a estruturação viária pelo litoral, que atravessa o território de Norte a Sul e perdura há dois mil anos. Estrebão refere-se a eles como os túrdulos antigos (turduli veteres), com escrita própria e leis registadas em verso, eram descendentes dos tartéssios.

Império Romano na Península

“Em tempos remotíssimos, o rio Douro, pela sua margem esquerda, limitava a antiga Lusitânia; e nas eminências presentemente denominadas Serra do Pilar e Castelo, existiram castros em épocas passadas. Com efeito, no antigo monte da Meijoeira – a actual Serra do Pilar – foram achadas moedas gregas do século III a.n.E. e comprovam, que, em tão importante cerro, existiu um castro helénico. Mais a poente, no sítio denominado Castelo, também existiu um Castro, onde, mais tarde, os romanos levantaram uma fortaleza e, consequentemente, fundaram uma povoação a que deram o nome de CALE. Esta povoação foi-se tornando muito florescente, não só por estar próxima à foz dum rio importante, como também pela pequena enseada, que lhe servia de porto.

Calçada romana

Quando estes povos construíram a estrada de Lisboa para o norte, com terminus em Braga, o porto de CALE, ficou a constituir o ponto obrigatório da passagem dos viandantes que, do sul, pretendessem seguir para as terras Minho-Galaicas; e aos que, destas, desejavam ir para as terras situadas entre os rios Douro e Tejo.

Naqueles tempos, na margem direita, e fronteira a Cale não havia nenhuma povoação, consoante se prova com o Itinerário de Antonino (livro elaborado no século II)”. Estava a Península Ibérica dividida em três províncias separadas: Lusitânia (a Oeste), Baética (a Sul), Tarracones (no Leste e Norte). O actual território de Portugal correspondia a uma boa parte da província romana de Lusitânia, nos territórios entre Douro e Minho e governada desde Eremita Augusta, agora Mérida em Espanha, e alguns dos territórios da Boetica habitados pelos celtibérios. Os Romanos dominaram a Península Ibérica até ao século V da era cristã, altura da sua decadência, coincidente com a chegada dos Bárbaros a invadir as terras Ocidentais.

No século V, o Bispo Idácio de Aquae Flaviae (Chaves) na sua Crónica falava do porto de Calem e dizia que Braga era a cidade mais ao Sul do reino da Galécia, que terminava no Douro. Reino criado no século III, era dividido pelo Rio Minho, tendo a Norte os lucenses e a Sul, os bracarenses. Os restantes dois reinos da Península Ibérica eram a Bética, a Leste do Guadiana (Anas) e a Lusitânia, do Douro ao Guadiana.

Da Resenha Histórica de CALE Vila de Portugal e Castelo de Gaia, na separata de Comunidades Portuguesas de 1970, onde não aparece o autor, diz-se, “O mesmo Idacio (c.395-468), quanto à povoação de CALE, mencionou-a, como o Castro chamado Portucale. Pela primeira vez, entre os mais antigos documentos, aparece o nome de Portucale, dado por este cronista, à povoação de Cale.

Idacio, que viu Cale, antepôs-lhe, ao designá-la, o substantivo porto, alatinando para portu, bem certamente pelo facto de, naquele tempo, o porto de Cale ser muitíssimo conhecido.

Na margem direita e fronteira a Portugal, continuava a ausência de qualquer burgo ou povoação, porquanto, se existisse, não deixaria de ser referida por este cronista, consoante o fez sobre Castrum Novum, que verificou existir no cerro de Penaventosa, do Porto.

Visigodos e o Reino das Astúrias

Os visigodos, vindos das margens do Danúbio e do Mar Negro, atravessaram a Europa e chegaram à Península Ibérica em 412. Como tropas federadas ao serviço de Roma vieram para expulsar os alanos, suevos e vândalos, que tinham acabado de ocupar a Península Ibérica. Após dominar toda a Espanha, este povo germânico pela força das armas em 476 tomou Roma, acabando com o Império Romano do Ocidente, tendo promulgado a “Lex Romana Visigo-thorum” em 506. “Em Lugo, no ano de 568, realizou-se um concílio, que determinou quais as igrejas que ficavam a pertencerem à Sé de Coimbra: «a Sé Conimbricense tenha a mesma Coimbra, Eminio, Selio, Roma, Antuana e Portugal – o Castelo antigo dos romanos>, segundo Pinho Leal. Por este documento, comprova-se que a povoação de CALE, ou Portugal, estava sujeita, eclesiasticamente, à Sé de Coimbra, a qual, jamais, superintendeu em igrejas além da margem esquerda do Douro”, Resenha Histórica de CALE.

Entre 568 e 586, o rei visigodo Leovigildo expulsou os funcionários imperiais e procurou unificar a Península. Foi o fim do Império Romano na Península Ibérica.

Mas no início do século VII, o reino Visigodo (410-711) entrou em crise, com rebeliões a Norte, nas Astúrias e com os bascos, encontrando-se o Sul sob domínio bizantino.

Batalha de Guadalete (31 de Julho de 711)

Em 711, acabou a guerra civil no reino visigodo, já que, com a chegada à Ibéria do exército muçulmano comandado por Tariq ibn Ziyad, numa só batalha deu-se a decapitação do reino visigodo. Pelágio, um príncipe godo, refugiou-se nas montanhas das Astúrias, e resistindo daí com um grupo de cristãos lutou entre 718 a 725 contra os maometanos. Refere Bernardo Vasconcelos e Sousa: “Tradicionalmente, a vitória dos cristãos sobre os muçulmanos na Batalha de Covadonga, no ano de 722, foi considerada como o início da chamada Reconquista, isto é, do processo militar pelo qual os cristãos recuperaram os territórios ocupados pelos seguidores do Islão. Mas mais do que um decisivo confronto bélico já no contexto de uma reconquista, Covadonga foi um recontro entre tropas muçulmanas que haviam penetrado na região montanhosa da Cantábria e uma força constituída por naturais daquela zona que reagiram para defenderem a sua autonomia, sob o comando de Pelágio, um membro da nobreza goda. A apropriação ideológica desta vitória, feita bastante mais tarde pelos clérigos asturianos, acabaria por conferir à batalha a importância de um facto transcendente, associado ao que se considerava ser a missão da monarquia asturiana, de libertação e de salvação de uma Hispânia que tombara perante os inimigos da fé cristã”. E nos três séculos seguintes a progressão dos Cristãos concentrados nas Astúrias reduziu o território dos Mouros, com isto surgiu os reinos de Oviedo, Leão, Galiza e Castela que ocuparam os territórios da antiga Lusitânia.

Portugal no Reino das Astúrias

O porto de Calem no século V foi referido pelo Bispo Idácio de Aquae Flaviae (Chaves), que diz ser Braga a cidade mais a Sul do reino da Galécia, que terminava no Douro. Rio, obstáculo de difícil atravessar, era por isso de fronteira. A localização desse porto gera assim controvérsia, pois sem haver ainda na margem direita, o que viria a ser a cidade do Porto, pugna a margem esquerda do Rio Douro e próximo da foz, o lado de Gaia, o povoado mais antigo dessas cales, Portugal.

Em 711 o último rei visigodo, Rodrigo (Roderico 710-711), tentou repelir a invasão muçulmana mas foi derrotado. Avançaram estes para Córdoba e Toledo, a capital visigoda, cercaram Mérida, que caiu em Junho de 713 e na Primavera seguinte, um exército muçulmano comandado por Musa ibn Nusair marchou para Saragoça, León e Astorga e dois anos depois caía Évora, Santarém e Coimbra. Em 716, após cinco anos, os muçulmanos tinham conquistado e ocupado toda a Península Ibérica, ficando sob domínio cristão apenas as Astúrias no Nordeste, na região montanhosa da Cantábria.

O Reino de Astúrias (718-910) teve como primeiro chefe Pelágio (718-737), um nobre visigodo que em 725 e após a batalha de Covadonga, fundou esse pequeno reino. O terceiro rei das Astúrias, Afonso I (739-759), o Católico, reconquistou terras até ao Douro. Sucedeu-lhe Fruela I (757-768) que valorizou as terras galegas, mas a região para Sul do Rio Minho até ao Douro ficou esquecida e entregue a si própria. De salientar como refere Matoso, “que a expansão asturiana para a Galiza não foi, de modo algum, um movimento pacífico e que os chefes galegos que dominavam a região aceitaram com dificuldade a nova ordem política”.

“No século oitavo vieram os árabes dominar uma grande parte da península ibérica; e, da sua permanência nas terras da antiga CALE ou Portugal, há a citar-se os nomes de Mafamude (freguesia), Almeára e Aldariça, povoações das freguesias de Canidelo e Santa Marinha e perto do oceano Atlântico, estabeleceram uma almenára – hoje lugar de Almeára – onde, de noite, acendiam fogueiras para guia das embarcações”, segundo José Matoso.

Quanto à povoação Portugal, os maometanos também não substituíram a sua antiga designação, apesar de nela residirem as autoridades que superintendiam no governo das terras sob a sua jurisdição. A vila de Portugal estava separada a Poente da vila de Mafamude e daí pelo monte abaixo, desde o termo Norte de Coimbrões (de fundação anterior à romana) até Gaia. Quanto ao nome de Mafamude é de origem árabe e supõe-se advir dos finais do século VIII, quando Afonso II realizou “uma expedição que chegou até Lisboa em 798 e acolheu no seu reino o caudilho Mahamud, natural de Mérida, que se tinha revoltado contra o emir. Há quem pense que ele se fixou em Mafamude,” da História de Portugal coordenada por José Matoso.

É com o Rei Afonso II (793-842), o Casto, que começou verdadeiramente a luta com o Islão, ocorrendo o assalto a Lisboa com a ajuda dos francos. O reino das Astúrias, com o seu centro político mais importante em Oviedo, valoriza as terras entre Douro e Minho, iniciando os asturianos “a actividade repovoadora na bacia do Douro, então uma espécie de no que respeitava ao controlo por parte de cristãos ou de muçulmanos”, segundo Bernardo Vasconcelos e Sousa. Mas com o Rei Ramiro (842-850) de novo, as terras entre Douro e Minho são esquecidas, ficando entregues aos chefes locais.

Ordonho I (850-866) fez a Galiza prosperar, havendo pela primeira vez uma efectiva incursão ao que virá a ser território português, “durante o qual se repovoou a cidade de Tui, antiga sede episcopal, com jurisdição até ao rio Lima. Aqui, os representantes régios tinham não só de tentar impor a sua autoridade, mas também de reprimir novos ataques normandos, a que acresciam agora, no litoral, os roubos e destruição de piratas sarracenos, mencionados pela primeira vez por esta época”, José Matoso.

Segundo Vasconcelos e Sousa, “No reinado de Afonso III (866-910, o Magno), os cristãos chegaram à linha do Rio Douro, sendo um dos mais importantes marcos desse avanço a tomada e o povoamento de Portucale, em 868, por Vímara Peres. Com centro em Portucale, junto à foz do Rio Douro, viria a constituir-se, a partir de finais do século IX, uma entidade político-administrativa cuja área se estendeu de sul do Rio Minho até à chamada Terra de Santa Maria, já a Sul do Douro”.

10 Jun 2016

Mapa. Ideia – mundo

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]téreo e vivo – uma questão mais de geometria. Vive aqui. Aqui onde quem, aquilo a não dizer. Aqui onde. E se fôr dentro ou fora, sólido, substancial ou imaterial. Vive. Aqui. Posso dizer. E disse. Um dia que viria. A brincar. Em cada passo que dou e deu. Dentro do espaço que é e foi habitado e passou a ser. Em cada pegada e impressão talvez escondida por aí em cantos que a vassoura do tempo corre. Mas não sabe e não varre. Contida na possibilidade material. Talvez da memória. Sólida. Visível. Talvez da visão imaterial. Vive. Aqui. Aqui onde, pergunto mas sei que aqui é entre camadas. Quem, o quê. De umas para outras e de novo. Camadas de ser. Como vestes de frio e calor. Coladas ao corpo ou em cima da cama. Espalhadas pelo chão. Camadas derramadas da vida e da pressa. Misturadas e. Por momentos. Talvez carinhosas. Esquecidas ou dispensadas na pressa de um minuto a seguir e a voltar atrás. Às mesmas e outras. Num dia bem noutro menos. Gostar e não gostar. Uns dias das pernas curtas, outros das sombras no rosto. Mas isso sou eu. E as roupas que caminham de curtas para largas e de volta a pesadas ou friorentas. Ou leves e florais ou opacas e aprisionantes. Correntes secretas. Ao negro ou a cores. A reserva… E os saltos. Não, os saltos têm que voar. Mais perto do rosto. Para mais perto do rosto. Dos olhos. E de repente lembrei-me daquela sensação de orelhas de elefante. Sim. Como guia. Como gesto, como rédea. Como ternura simétrica. As ternuras são-no raramente. Mas esta. Como os pés. Ponteiros de um relógio. Dez para as duas. Quatro da manhã. Os meus, meia-noite. Mas dez para as duas é uma hora terrível. Noventa quilos de massa visível sem peso, do dia anterior, ou cento e vinte para a frente e para trás. Um limbo. O que interessa é o peso. O peso e voar.
E depois voar. Em círculos levemente tontos e aleatórios deixando pedras e grãos de poeira para as margens e retornar ao ar. Territórios. E desses o mais real. Onde se vive. Voar em círculos tentando não entontecer. Embriagar. Voar fora do etéreo agarrado às coisas como se fosse. Voar sem registo e sem mapa. Âncora a puxar para cima a vertigem invertida. O puro prazer de voar. Como os pássaros ou então os insectos. Nos seus desígnios estranhos, insondáveis. Sim, sem se saber. Mas ainda assim. Não são metáforas, não existem de outra forma. Como dizer? Espirais e hélices que a mente escreve. E descreve, sem outra maneira de dizer. Densas e cheias de forma, sem acção nem tempo verbal.
A simetria, ser estranhamente incisiva. E a ideia leve. A geometria. Atirada assim à erosão do elemento aéreo. Depuradamente só. Levemente triste ou justa. Levemente leve e exacta. Essencial. De essência. Ou talvez também de necessidade.
O vôo durante. E como a palavra, o que dura. Que o tempo, o tempo não existe em estado puro. Estratégia, alvo, decisão. Golpe. Nada disso é o tempo bom. Só de asa. Numa aragem imprevisível. O que deixa simplesmente viver. Dizia, voar.
Ideia nem sempre sonho. Nem sempre. Talvez porta. Janela-mundo. Talvez palavra. Aquela palavra. A palavra talvez. Aquela.Talvez sonho. Sonho, talvez.
A lembrar Henry James. Aquela novela e há muito tempo… num arrepio de frio súbito. A esquecer de novo.
Voar. Portanto. Voar numa ideia que vive aqui. Imprecisa, indefinida, cuidadosa. Voar na ideia em que vive aqui. Em que vivo aqui. Voar na ideia de quem de quê não dizer. Mas que vive. Vive aqui. Aqui onde quem não vou dizer. E eu. Também. E se sem querer não quereria. Querendo, quero.
Às vezes o que é e a complexidade da vida, resume-se a quinze centímetros de distância, ou mesmo cinco ou dez centímetros de letras enfileiradas, com laços que as enlaçam e tornam para sempre – palavras para sempre. Que existem e formulam destino para sempre. Ou não. Mas que existem em si para sempre. No tempo ou no lugar certo ou errado. E entre a indefinição, a indecisão e o medo, e a generosidade o risco. O erro. A dúvida de dois caminhos. Uma emoção forte. Um receio, uma fragilidade súbita. A diferença entre ser e não ser de um gesto definitivo. Como qualquer gesto que inflecte num sentido qualquer e tudo o que não foi passa a não ter sido nunca nem sabido. O que nunca foi. Aquela fotografia de muitos anos para sempre ali solta no álbum. Desde o dia em que lhe vi o outro lado. Um mistério que o rosto da frente não explica. Nunca mais vai poder explicar. Às vezes aqui, sobre a mesa. O verso, na verdade. Um esboço de dedicatória nunca terminada. E o que falta saber, a quem. E ter sido entregue. E não foi. Ou foi mas inacabada, desnecessária. Ou esquecida. Ou um gesto arrependido de o ser. Uma ideia que ficou suspensa para sempre. Misteriosamente inacabada e inconsequente. Uma carta de nada. Uma ideia quase. Que alguém não viu viver. Perdida no tempo de que já não há a memória, a possibilidade da avalanche de uma memória que volta. Que não tem onde voltar. Ou de onde voltar. Não há aquela caneta de tinta azul, nem a mão. E contudo, a ser acabada aquela frase, muito seria nada e sem vestígios de possibilidade de nada. Perante isso o que me existe é tudo. Ou o que era para ser. No quadro pintado de um destino, como em tinta invisível.
Uma montanha com as suas vertentes, o pulo e o passo, um cristal com os seus ângulos, as fracturas preferenciais, a refracção a dissecar a luz, uma moeda com as suas faces. Jano. Etérea, indefinida. Em descontinuidade. Uma ideia. Há uma imagem temível. Um rio. E um obstáculo que lhe modela uma curva. Um meandro. E a erosão própria na zona de embate do caudal. E a acumulação de detritos do lado oposto. A modelar as margens. E a curva a apertar. Até que dois pontos se toquem. O início e o fim. E um dia, um caudal reforçado em fúria num inverno mais forte, ou distraidamente, esquece a curva e salta em frente. Para sempre. E da curva resta uma lua de água, uma forma de ferradura, um braço morto, isolada do rio para sempre. A vê-lo passar. A pensar que “curva de rio” é sinónimo em gíria do Brasil, de pessoa difícil, obstáculo. Bar mal frequentado. Problema. Ideia difícil, talvez.
Dou passos no centro de outras e aquela, sempre. Também. Como uma cor de luz que embrulha tudo o resto. E há a habituação do olhar. Que a anula por vezes. E as coisas tornam à sua cor própria como se afinal existisse intrínseca à matéria. Por detrás daquela luz que tudo modela a si.
Olho em volta e é a casa. Por todos os lados menos um. E também por aí. E por toda a casa. A casa que habito e é uma segunda pele debaixo da roupa. Do frio, do calor. Do desconsolo de ser assim, só. Olho e há uma luz quente, já. Para além do corpo e para além da casa, da cidade. Andando para trás, também da roupa, do corpo, ou mais aquém ainda. E é aí que vive. Para dentro de todas as casas, as roupas e todas as camadas de sentir de ser, de sentir e de querer. É aí. Que vive. Dorme. Acorda. Rapidamente se instala no dia novo. Às vezes com as roupas da véspera. Mais enxovalhadas de uma noite a pairar mais ou menos densa. Ou inexistente e ponte rápida entre uma e outro. Dia, momento. De acordar. Com tudo à beira da cama ou o rosto na almofada. Distante acordar. Muito perto de ser longe nos meus sapatos à beira da cama. E depois volta de rosto fresco e de ponto em branco. Conheço o que vive comigo. Todos os dias. Que me tira o sono e me faz suar palavras pela noite fora. Que esqueço pela manhã. Aquelas. Mas sei que as conheço e voltam com máscaras diferentes mas as mesmas. Vozes. Conheço as minhas.
Estranha forma de vida – adoro Amália – de sensações feitas e relembradas, desatadas do corpo, memória, inquietação, anseio, desejo. Uma angústia imprecisa, com outro nome. De forma desenhada. E de ideias gente sem matéria a que se prender. Aqui, pela casa. Em mim. O corpo da ideia. Olho de relance sempre. Um rasgo de olhar, só, para ver de novo. Talvez eu tenha visto a fera. Mas a fera não me viu a mim.

10 Jun 2016

Diário (secreto) de Pequim (1977-1983) Parte I

António Graça de Abreu

Pequim, 8 de Setembro de 1977

Alegria, emoção ao chegar à China.
O aeroporto pequeno numa manhã de sol, o grande retrato de Mao Zedong, a garganta presa.
O acolhimento afectuoso, fraterno dos camaradas chineses, futuros companheiros de trabalho.
O primeiro contacto com Pequim. Camponeses, carroças, casas pobres. As árvores bordejando a estrada, a vegetação repousante, as gentes que não conheço.
A primeira decepção, a habitação que me destinaram, um apartamento feio, esquisito, mal mobilado. Vai ser preciso mudar esta casa. Estranha sensação do estranho.
A primeira saída até ao centro da cidade. Pequim plana, avenidas largas, milhares e milhares de bicicletas, poucos automóveis sempre a buzinar. Trânsito desorganizado mas que funciona, reina uma grande ordem nesta desordem. Ainda hortas e terras cultivadas, os campos entram por dentro da cidade. Sempre muita gente. Transparece uma ideia de pobreza, não de miséria.
A Praça Tian’anmen, a da Paz Celestial, enorme, vazia, majestosa. Amanhã faz um ano que morreu Mao Zedong. Cortejos com milhares de pessoas vêm depositar coroas de flores de papel nas tribunas da Praça, junto ao monumento dos Mártires da Revolução porque haverá cerimónias oficiais comemorativas do primeiro aniversário da morte de Mao.
Ao fim da tarde, ainda uma visita e algumas compras na Loja da Amizade. Creio ser um dos grandes armazéns de Pequim, destina-se a estrangeiros e tem montanhas de coisas bonitas e baratas.
Ao jantar, neste hotel que tal como a loja também se chama “da Amizade” e é uma Babilónia de línguas e gentes de todo o mundo, conversa com um velho casal brasileiro, a Raquel Cossoy e o Amarílio Vasconcelos, já com muitos anos de Pequim, e outro casal colombiano, todos refugiados políticos.
Cansaço, um dia pleno.

Pequim, 9 de Setembro de 1977

Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras, agora o meu local de trabalho. Um edifício pesado, tipo caixote com seis andares, espartano, uma espécie de convento marxista-leninista-maoísta. Mas funcional. Os companheiros de trabalho que vão fazer as traduções que depois corrigirei e a quem vou ensinar mais português, todos risonhos, simpáticos falando razoavelmente a língua de Camões. A camarada Bai Yuhua e o camarada Fu Ligang, dois dos mais competentes tradutores, estudaram português em Macau.
Na cave das Edições, cerimónia fúnebre muito simples em honra de Mao Zedong. Tudo a preto e branco, as cores do luto, mas com aparência de missa comunista. O retrato do revolucionário, as pessoas a curvarem-se diante da figura do falecido timoneiro, muitas coroas de flores de papel, dois discursos longos de que não entendi uma palavra.
De tarde, visita ao Palácio de Verão. Um estupendo conjunto de construções no estilo tradicional chinês, não muito antigo — parece que é tudo dos séculos XVIII e
sobretudo XIX – junto a um belo lago, com pavilhões, torreões, pagodes e, ao fundo, as montanhas a oeste da cidade.
Hei-de voltar muitas vezes ao Palácio de Verão, não fica longe do Hotel da Amizade, talvez uns cinco quilómetros, e hoje vi apenas de relance, com os olhos. Eu quero conhecer, quero começar a meter a China dentro de mim.

Pequim, 14 de Setembro de 1977

O presidente Mao Zedong repousa no mausoléu que acabou de ser inaugurado, a sul da praça Tiananmen.
Fui ver o corpo do defunto que mais contribuiu para mudar a face da China.
Grupos compactos de pessoas organizadas por entidades de trabalho, filas silenciosas de soldados, os rostos parados, compungidos, aguardavam a vez de entrar na construção de mármore, rectangular, nem bonita, nem feia onde jaz Mao.
Juntei-me à fila ininterrupta que avançava num lento ritmo fúnebre. Lá dentro, na vasta antecâmara, uma grande estátua também de mármore de Mao Zedong, sentado, branco, irradiando a altivez e segurança do melhor período da sua vida. Logo depois o salão com o sarcófago de cristal e Mao coberto pela bandeira comunista, e ele, velho, encarquilhado, uma cara que parece de cera.
À minha frente, o peruano Guillermo Delly que pertence a uns estranhos grupos maoístas lá da sua pátria, agora também acabado de chegar à China e que trabalha comigo nas Edições de Pequim — ele no semanário Beijing Zhoubao北京周报, o que dá Pekin Informe na língua de Cervantes –, pois o Guillermo levantou o braço e, de punho fechado, saudou Mao Zedong.
Em 1970, já no ocaso dos dias mas ainda todo-poderoso, o grande líder confessou numa entrevista a Edgar Snow que entre as multidões imensas que gritavam Mao Zhuqi Wansui! 毛主席万岁ou seja “Viva o Presidente Mao”, um terço das pessoas eram sinceras, outro terço fazia o que via os outros fazer e o último terço era hipócrita. Em qual destes grupos entrará Guillermo Delly? E eu, que não fui capaz de erguer o punho, nem nunca gritei “Viva o Presidente Mao”?

Dazhai, 16 de Setembro de 1977

A primeira viagem pelos atalhos imensos deste antiquíssimo Império do Meio, rumo a Dazhai 大寨 , a aldeia modelo da agricultura chinesa encravada nas montanhas da província de Shanxi, a uns mil e tal quilómetros de Pequim.
Ontem à noite, a estação ferroviária da cidade. Gente por todo o lado, acocorada, dormitando no chão, correndo para os comboios com a filharada às costas, carregando quanta cangalhada pode. Estes chineses vêm a Pequim e aqui compram tudo o que não existe nas suas aldeias, perdidas no mundo. Carregam volumes descomunais, com os objectos mais inesperados e espalhafatosos que enchem tudo quanto é saco ou oscilam na extremidade de varas de bambus num equilíbrio certo sobre ombros calejados.
O comboio pintado de verde-escuro com uma tira amarela, sólido, confortável, pelo menos para mim e para mais uns tantos privilegiados. A viagem foi paga pelas Edições de Pequim a meia dúzia de estrangeiros que lá trabalham. Eu sou um deles e tenho direito a ruanwoche軟臥車, ou seja as couchettes “carruagem cama fofa”. Aprendi hoje que existem mais três tipos de carruagens, a yingwoche硬臥車, ou seja, “carruagem cama dura” com sessenta beliches separados por tabiques, mais o “banco fofo”, almofadado e o “banco duro”, de pau, onde viaja a maioria dos chineses. Com o comboio em andamento, passei de carruagem para carruagem, para comprovar como se viaja de comboio na China.
A minha carruagem tem apenas trinta e seis lugares distribuídos por doze compartimentos. As camas estão limpas, há toalhas, um candeeiro com abat-jour, sempre uma grande garrafa-termos com água quente e chá. E música chinesa.
Por companheiro – somos apenas dois no compartimento – tenho um sudanês enorme, perto de dois metros de altura, de nome Ahmed Kehir, com feições de quase branco e pele negra. Pertence ao Partido Comunista do Sudão, vive exilado na China há doze anos, disseram-me ser um intelectual e poeta, trabalha na Beijing Zhoubao, edição em árabe e deve o bom tratamento ao facto de, há não sei quantos anos atrás, ter aparecido numa fotografia, divulgada por toda a China, ao lado de Mao Zedong, numa pretensa amena conversa com o grande timoneiro.
O comboio partiu rigorosamente à hora marcada, deslizando nos carris com uma suavidade impressionante. A carruagem tem os interiores em madeira, é clara e bonita. Num dos extremos funciona um fogão a carvão de pedra, para aquecer água.
A conversa, em mau inglês, com o sudanês. A situação política em Portugal, África. Pois.
Quase a adormecer, chega um chinês para dormir no nosso quartinho rolante. Mudaram-no de carruagem, é um quadro do Partido Comunista. Terá uns sessenta anos, como cartão de visita diz-nos num inglês de trapos ter lutado na guerra contra a invasão japonesa, nas montanhas das províncias de Hebei e Shanxi.
Depois, o sono confortável. (continua)

10 Jun 2016

Memórias de um povo

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]esde os incidentes da Praça Tiananmen, ocorridos a de 4 Junho de 1989, a data é sempre assinalada em Macau com a celebração de diversas homenagens. O Governo chinês tem um ponto de vista sobre este episódio, mas o povo tem rejeitado essa opinião. Para sarar as feridas e seguir em frente, em união, serão necessários alguns esforços e muito bom-senso.
O enquadramento de qualquer incidente em termos históricos é moldado social, política e culturalmente, e não só. Quando estes casos acontecem nenhuma das partes envolvidas pode escapar às responsabilidades. A compreensão da História da China moderna ajudará a determinar as causas das tragédias e a encontrar maneiras de evoluir. Este espírito de compreensão e de vontade de evolução deve estar presente nas homenagens prestadas em memória das vítimas. Mas debrucemo-nos sobre os principais acontecimentos que marcaram as últimas décadas e que fazem parte da nossa memória colectiva.
A China venceu a Segunda Guerra Sino-Japonesa em 1945, no entanto o povo chinês não viria a desfrutar de paz por muito tempo. Seguiu-se um período de quatro anos de guerra civil, entre o Partido Comunista e o Partido Nacionalista. Os Comunistas venceram e tomaram a China e os Nacionalistas retiraram-se para Taiwan. Hoje em dia já não se ouvem nas ruas de Taiwan gritos pela independência nem ataques à China continental e, não nos esqueçamos, a crise de 1958 terminou sem terem sido necessários acordos de cessar fogo ou conversações de paz. Mas Taiwan continua fiel ao lema “não à unificação, não à independência e não ao uso da força”. A China continua à procura de formas de resolver a questão de Taiwan, mas o que é importante reter é que tudo o que se passou na China, em Taiwan, em Hong Kong e em Macau serve para lembrar que, enquanto as pessoas permanecerem “adormecidas”, as tragédias podem voltar a acontecer.
O 28 de Fevereiro de 1947 em Taiwan, o Movimento Anti-direitista na China em 1957, A Revolução Cultural na China em 1966, o Motim 1-2-3 em Macau em 1966, as revoltas esquerdistas de Hong Kong em 1967 e o incidente de 4 de Junho de 1989, foram acontecimentos separados no tempo, mas politicamente relacionados.

Embora o Dr. Sun Yat-sen tenha afirmado que a política diz respeito a todos, constatamos que quem abraça esta carreira acaba por defender interesses de grupo ou, simplesmente, interesses individuais e esquece muitas vezes o bem comum. Se todos tivessem deposto as armas e virado costas aos conflitos, a China não se teria envolvido numa guerra civil e as dissidências que opuseram o Governo chinês ao povo não teriam terminado em derramamento de sangue. A História não pode ser dissimulada e servir como instrumento de ajuste de contas. A expressão “não podemos esquecer o passado, pois serve de lição para o futuro” sublinha a necessidade de olharmos para o que se fez de errado, aprendermos a perdoar e procurarmos o entendimento e a reconciliação.
Procurar a vingança pelos incidentes de 4 de Junho pode ser um acto político, mas não vai adiantar de nada às vítimas que nesse dia perderam a vida. Em 2016 celebra-se o 50º aniversário da Revolução Cultural e do Motim1-2-3 de Macau. Em vez de procurar retaliações, a China e Macau deverão analisar as causas destes acontecimentos e tentar evitar futuros conflitos e rupturas sociais.
“Não devemos deixar que o ódio habite as nossas mentes, é necessário substitui-lo por amor”, terá dito Jesus Cristo quando foi crucificado, e é também o significado do perdão na doutrina de Confúcio. Este é o caminho que a Humanidade deve seguir, com estas palavras sempre presentes no coração.

10 Jun 2016

Ariel Tang, designer: “Saí para encontrar o que gosto”

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arece que quem trabalha na área da arte e design não tem um caminho fácil. Não basta gostar, também é preciso ganhar dinheiro. Mas Ariel Tang rompeu com um estilo de vida estável, deixou o seu trabalho e dedica-se hoje à área do design. “Sempre gostei de desenhar e comecei a contactar com o mundo das artes desde a escola. Os professores deram-me essa oportunidade. Entre o sétimo e o décimo segundo ano eu e uns colegas fizemos os boletins de turma, os professores sabiam que eu gostava de fazer isso”, contou ao HM.
Em 2007 chegou a altura de escolher um curso superior e Ariel Tang considerou que as indústrias culturais e criativas ainda não eram muito desenvolvidas e poucas pessoas estudavam design. Então resolveu escolher o curso de gestão empresarial, respondendo às expectativas da família para garantir um bom emprego no futuro.
Contudo, a formação não trouxe grande satisfação à jovem. “Depois de acabar a licenciatura, trabalhei em várias empresas, o último emprego que tive foi num banco. A remuneração era relativamente boa, a vida estava tão estável que eu só pensei em fazer o que gosto mais”, apontou.
Em 2014, Ariel conseguiu a oportunidade de estar presente na Feira de Arte na Praça de Tap Seac sem pagar a concessão do espaço e então começou a vender as suas obras. São postais, calendários, capas para telemóveis ou estátuas de madeira cujo design é totalmente feito por Ariel, sempre com os gatos como inspiração.
“Tenho gatos em casa e sempre quis desenhá-los, penso que devem haver outras pessoas que gostem de animais. O resultado foi bom e vendi os meus trabalhos rapidamente”, lembrou.

Criar e gerir

Depois de várias participações na feira, Ariel criou a “Little DoDo NaNa”, uma página na rede social Facebook para desenvolver os seus próprios produtos. “Para além de saber desenhar, entendo que também é preciso saber como gerir a venda dos produtos. Combinando com os meus conhecimentos em marketing, surgiu-me a ideia de desenvolver os gatos como uma personagem e uma marca. Espero que no futuro alguém queira usar esta marca em outros produtos.”
Mesmo sendo bem sucedida no mundo das artes, Ariel continuou o seu trabalho no banco. Até que no final do ano passado tomou uma decisão. “O meu chefe no banco queria que eu aprendesse coisas novas mas disse que eu não estava muito entusiasmada. Sabia isso porque nunca gostei da área. Depois da segunda participação na desisti do trabalho e comecei a estudar design.”
Ariel teve sorte: conseguiu entrar na licenciatura em design gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) com uma bolsa de estudos. Já nessa altura a família estava preocupada com o facto da jovem poder vir a ficar sem rendimentos.
Hoje em dia a jovem artista continua a trabalhar como freelancer. Faz design de interiores e trabalhos de design gráfico como, por exemplo, cartões de contactos para vários negócios e pessoas. A jovem vende alguns produtos em lojas e num website com alguma projecção lá fora. Para ela, esses pequenos trabalhos e colaborações fazem com que ela consiga manter alguma estabilidade financeira. Quando acabar a licenciatura, Ariel pretende tornar-se numa verdadeira designer, com mais profissionalismo.
Depois da mudança de rumo, Ariel não se arrepende da decisão de estudar gestão empresarial, porque acabou por se revelar útil no seu actual negócio. Na feira do Tap Seac conheceu amigos e pessoas da área das artes, mas lamenta o grande número de desistências.
“Há pessoas que não olham para a arte de forma série e acham que não têm um elevado salário, por comparação à maioria das pessoas. São poucos os que têm vontade de se dedicar apenas a esta área porque estão mais preocupadas com o dinheiro. Isso é uma realidade em Macau”, notou.
Ariel considera-se ela própria um exemplo muito raro porque nem todos conseguem fazer o que ela fez: mudar de vida. Para ela, o que importa é ganhar dinheiro com o que se gosta, sem dar importância ao que os outros dizem.

10 Jun 2016

Tailândia | Primeiro país da Ásia a erradicar transmissão de VIH de mãe para filho

A Tailândia fez jus à fama dos seus serviços de saúde erradicando a passagem do vírus VIH de mãe para filho. Além disso, os esforços concertados no país levaram também à redução do número de mulheres infectadas: passou de 15 mil casos em 2000 para 1.900 em 2014 – uma descida de 87%

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Tailândia tornou-se no primeiro país da região da Ásia-Pacífico a erradicar a transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e a sífilis de mãe para filho, informou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A OMS também reconheceu o país asiático como o primeiro com um grande número de afectados que consegue o que a organização qualificou como um “feito extraordinário” e “um passo crucial para reduzir a epidemia do VIH”.
“A Tailândia mostrou ao mundo que o VIH pode ser derrotado”, disse o director regional para o sudeste da Ásia da OMS, Poonam Khetrapal Singh, em comunicado.
Aproximadamente 21 mil crianças nascem anualmente com VIH na região da Ásia-Pacífico, onde existem cerca de 200 mil menores afectados.
Segundo a OMS, mulheres infectadas com o VIH têm entre 15 e 45 por cento de probabilidade de transmitir o vírus aos seus filhos durante a gravidez, parto ou durante a amamentação, mas o risco diminui para 1% se durante estes períodos lhes forem administrados anti-retrovirais.
De acordo com o Ministério da Saúde da Tailândia, 98% das mulheres com VIH tem acesso a anti-retrovirais e a transmissão do vírus de mãe para filho foi reduzida a menos de 2%.
As autoridades tailandesas estimam que em 2000 aproximadamente mil crianças tenham sido infectadas com VIH, número que diminuiu cerca de 90% em 2015, até aos 85 casos em todo o país, onde um universo de 450 mil vivia com este vírus em 2014.
Além de conter a transmissão do VIH entre mãe e filho, a Tailândia também conseguiu reduzir o número de mulheres infectadas: passou de 15 mil casos em 2000 para 1.900 em 2014 – uma descida de 87%. A OMS destacou que o sistema de saúde pública da Tailândia garante o acesso universal aos cuidados médicos e que o mesmo cobre o tratamento de VIH, tanto para tailandeses como para a população imigrante.
“A Tailândia deu a volta à epidemia e transformou a vida de milhares de mulheres e crianças afectadas pelo VIH”, disse o director do programa da ONU contra a sida, Michel Sidibé, no mesmo comunicado. “O progresso da Tailândia mostra o que se pode alcançar quando a ciência e a medicina são apoiadas com um significativo compromisso político”, acrescentou.
A OMS fez o reconhecimento antes de a ONU reunir ontem representantes de todo o mundo para tentar acelerar a luta contra a sida e de modo a que se atinja o objectivo de erradicar a epidemia antes de 2030. Essa meta – fixada em 2015 nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável adoptados pela ONU – chega depois de se ter conseguido, nos últimos anos, conter e reduzir a propagação da sida em todo o mundo.

10 Jun 2016

AL | A agenda dos deputados a dois meses do fim do ano legislativo

A dois meses do fim de mais uma sessão legislativa no hemiciclo, os deputados confessaram ao HM quais os pontos da sua agenda: protecção infantil, renovação urbana, lei do erro médico e protecção dos animais são alguns dos problemas levantados

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uais as áreas que continuam a gerar dúvidas aos deputados a dois meses do fim de mais uma sessão legislativa? Os deputados com quem o HM falou pretendem avançar mais na lei da protecção dos animais, actualmente a ser discutida na especialidade, sem esquecer a problemática do fim do fumo nos casinos e ainda a atribuição de subsídios por parte da Fundação Macau (FM).
Após a aprovação da Lei de Violência Doméstica, a deputada Melinda Chan considera que é necessário continuar a lutar por maior protecção das crianças, defendendo que a sociedade continua a ignorar essa questão.
“A legislação de protecção das crianças deve ser melhorada. Refiro-me ao caso de um homem vietnamita que tentou raptar uma criança de dois anos. Preocupo-me com isso e acho que a ocorrência de um caso já é demais. As punições devem aumentar, tal como acontece na China.”
Melinda Chan disse ainda que a lei não é rigorosa o suficiente. “Mesmo que as autoridades tenham detido o imigrante ilegal ele precisa de aguardar julgamento, sendo que durante esse período pode cometer um novo crime. As leis devem ser alteradas e o Governo tem de resolver este problema.”
A deputada Kwan Tsui Hang, que tem em mãos várias leis como presidente da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), está preocupada com a necessidade de aprovação de várias leis antes do fim do ano legislativo. Com a conclusão da discussão sobre o diploma da administração de condomínios e regime de execução e congelamento de bens, a Comissão aguarda ainda a versão final por parte do Executivo.
Kwan Tsui Hang diz ter a sua atenção centrada na questão do Metro Ligeiro e na concessão dos terrenos, esperando que o novo Estatuto dos Notários Privados possa ficar concluído ainda nesta sessão legislativa.

Emprego e economia

Ella Lei continua focada na necessidade de reforçar o acesso ao emprego dos trabalhadores locais, dando atenção ao ajustamento da economia. “Quero ajudar ao aumento da competitividade dos residentes e é necessário que participem em planos de formação. O Governo precisa de exigir mais às operadoras de Jogo para que cooperem nesses planos”, disse.
Depois da fusão do Gabinete de Recursos Humanos com os Serviços para os Assuntos Laborais, Ella Lei quer saber como vai ser garantida a qualidade do serviço e o controlo do recrutamento de não residentes.
A representante da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) preocupa-se também com a proibição total de tabaco nos casinos, tendo mostrado a sua opinião, ainda que não faça parte da comissão que discute o diploma.
“Preocupo-me se a intenção inicial do Governo, de proibir na totalidade o fumo, vai ser cumprida. A maioria dos membros da comissão quer manter salas de fumo, mas não concordo”, disse.

Aterros e educação

A nova lei do ensino superior, o processo de construção dos novos aterros e a renovação urbana merecem a atenção do deputado Si Ka Lon. “Há urgência na renovação urbana porque há prédios antigos em má qualidade, mas a lei não teve um avanço, sobre questões de propriedade. O Conselho Consultivo da Renovação Urbana está criado mas preocupo-me que muito do trabalho só possa ser concluído daqui a dez anos.”
Si Ka Lon deseja ainda que sejam dadas mais informações ao público sobre o processo dos novos aterros e como vai ser utilizado o espaço subterrâneo no futuro.

Ainda Jinan

O deputado Au Kam San continua a estar preocupado com a concessão de 100 milhões de renmimbi por parte da Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan, na China, alertando para a existência de um problema estrutural na Fundação Macau. “Está cheia de dinheiro e atribui subsídios e doações sem uma exigência rigorosa. O Governo poderia dividir uma parte deste dinheiro para quem mais precisa, como para o Fundo de Segurança Social.”
O deputado pró-democrata teme que a Lei do Erro Médico e a Lei da Protecção dos Animais acabem por ficar pelo caminho. “Espero que a 1ª Comissão possa acabar a lei dos animais nesta sessão legislativa, caso contrário corre o risco de ser abandonada. Temo que a análise da Lei do Erro Médico não seja sequer concluída na próxima sessão. O Governo deve esforçar-se mais”, rematou.

8 Jun 2016

Barcos do Dragão | Modalidade serve para reforçar laços de união na sociedade

Não é um desporto qualquer. Também não é uma corrida de barcos. São valores de união, companheirismo, sacrifício e trabalho de equipa. Desportistas e treinadores contam o que os move nas tão aclamadas Regatas dos Barcos-Dragão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s lendas são muitas, mas a que ouvimos vem da boca de Peter Tang, membro executivo da Associação Geral de Remo de Macau-China. “O grande poeta e ministro do rei de Chu foi destituído e exilado. Com a vergonha matou-se nas água do rio Miluo. As pessoas, que tanto gostavam dele começaram a bater em tambores para que os peixes não comessem o corpo do poeta, depois lançaram-se à agua com os barcos para alimentar os peixes com arroz enrolado em algas. Assim o corpo preservava-se”, explica, com ar de pouco convencido.
Há outra lendas, continua, que indicam que os barcos entraram no rio para tentar salvar o poeta e por isso se rema com tanto empenho. Há ainda, quem, atentamente a ouvir a história, intervenha e diga “o poeta era apaixonado pelo rei, era um amor impossível”.
No fundo não se sabe a origem, mas o quinto dia do quinto mês, de acordo com o calendário lunar chinês, é altura de comemorar o Festival dos Barcos-Dragão. Macau começou as sua regatas sem qualquer apoio, de forma voluntária, mas agora conta com o apoio do Governo. “Cada equipa tem direito a 10 mil patacas com a inscrição”, começa por explicar Peter Tang.
O Instituto do Desporto (ID) confirma, na sua página de internet, que “em Macau a actividade dos barcos-dragão era inicialmente organizada de forma voluntária por organizações não governamentais e não se realizava todos os anos de forma consecutiva”.
“Desde 1979, esta actividade passou a ser promovida de forma anual como uma regata internacional de barcos-dragão, para a qual equipas de diferentes países têm sido convidadas a participar neste que é um evento desportivo tradicional em Macau”, pode ainda ler-se.
Desde o estabelecimento da RAEM que a Regata Internacional de Barcos-Dragão de Macau é organizada em conjunto pelo ID e pela Associação de Barcos-Dragão de Macau, China.
“Não só os barcos-dragão a remos se tornaram num evento festivo muito popular durante o Festival de Barcos-Dragão de Macau, como também as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão de Macau se tornaram num evento desportivo muito importante. O nível da competição tornou-se cada vez maior, contando cada vez com mais participantes, atraindo milhares de atletas chineses e estrangeiros que se reúnem todos os anos em Macau para participar neste grande evento. Desde 2001 que as categorias de homens e senhoras da Universidade Internacional de Estudantes de Barcos-Dragão passou a ser integrada na competição”, explica ainda o Governo.
No passado, as corridas foram realizadas quer na Baía da Praia Grande quer no Lago Sai Van. No entanto, desde a inauguração do Centro Náutico da Praia Grande, que este passou a ser um local ideal para a realização desta competição.

Lágrimas e suor

Estamos junto ao lago. Um lugar que sempre se apresenta calmo está cheio de vida. De um lado barcos pendurados. “Estes aqui são os mais pequenos, levam 12 pessoas, cinco para o lado direito, outros cinco a remar no lado esquerdo. Numa ponta a pessoa que bate no tambor e ao fundo a pessoa que guia, está ao leme”, continua a explicação enquanto percorremos o armazém provisório que acolhe todo o material.
O espaço está ainda carregado de máquina de musculação. Ao perceber as questões que nos surgiam, Peter Tang prontamente se explica. “Os atletas precisam de estar em forma, precisam de se preparar para a corrida. É preciso muita preparação física”, aponta.
De facto, logo à saída do armazém está um grupo de “mais ou menos 40 pessoas”, a ser fiel estão 44 atletas e um treinador. “Os barcos grandes levam 22 pessoas cada, dez para cada lado e os dois nas pontas. Não há equipas mistas, não aqui em Macau. Há equipas femininas e masculinas, até por uma questão de força física”, continua, enquanto nos encaminha para o local dos treinos.
Ao fundo ouvem-se gritos de incentivo e o rufar dos tambores. Ao pé de nós chega uma equipa feminina, representam o Galaxy, o ar é de satisfeitas, até porque o treino para a última corrida, já na próxima quinta-feira, correu muito bem.
Surgem felizes mas cansadas. “Isto exige muito de nós. Desta vez começamos os treinos só em Fevereiro, mas treinamos três a cinco vezes por semana. Temos de estar em forma”, partilha Wings, atleta.
Não é o primeiro ano que participa, e se a sorte o ditar também não será o último. “Nós ficamos muito mais unidas, para além do trabalho temos isto. Não é uma questão de ganhar, é de trabalho de equipa, de ajuda mútua, de exigir mais de nós, da nossa força”, conta-nos.

Somos um só

“Aqui não há classes sociais. Somos todos iguais. Não somos mais ou menos ricos que uns, não há pessoa pobres, nem há pessoas ricas. Não é esse o espírito das regatas”, interrompe Peter Tang.
Wings e as restantes membros da equipa não podiam estar mais de acordo. “Gostamos muito de estar aqui, gostamos de participar. Divertimo-nos muito”, acrescenta a atleta.
No fundo, não interessa ganhar ou perder. “Neste momento somos todos uma grande família”, frisa ainda o presidente da associação. Este é um festival espiritual de valores morais, embora o prémio final seja bem aliciante, é que a equipa vencedora, das 168 participantes – das quais 146 de Macau -, vai levar para casa 10 mil dólares americanos.

Água sagrada

“Mas não é pelo dinheiro”, apressa-se em esclarecer Peter Tang. Pelo menos para a cultura chinesa, sendo que na próxima quinta-feira irão estar em concurso equipa da Filipinas, Tailândia, São Francisco, Malásia, Hong Kong, entre outras.
As equipas, continua, nem sequer estão preocupada com o budget. “O subsídio dá para as despesas”, explica, frisando “participa-se por amor e não pelo dinheiro”.
Junto à água não se pode deixar de notar nos paus de incenso a queimar. “É para dar boa sorte”, adianta-se em explicações, acrescentando “que há a crença de que qualquer água que receba os barcos-dragão fica abençoada e vai trazer boa sorte a quem é molhado por ela”. Há quem até mergulhe, recorda, mas bastam alguns pingos para a sorte bater à nossa porta.
Francis ri ao ouvir a explicação da “água sagrada”. É membro da equipa que representa o empreendimento Macau Tower, da empresa Shun Tak. “Isto faz parte do programa adoptado pela empresa de actividades para os seus funcionários. Há três anos que criámos uma equipa e participamos. É óptimo, divertimo-nos imenso, mas só entra quem quer muito participar, quem se entrega muito à equipa”, conta. Não espera ganhar, espera divertir-se e sair “com os laços reforçados com os seus colegas de trabalho”.
Vincent participa nas corridas “há mais de dez anos”. Foi convidado para fazer uma equipa e agora “que já está velho” só a treina. “O mais importante é eles perceberem que uns sem os outros nada são. E isso só se consegue com muito empenho, muito espírito de equipa”, conta.

Tradição antiga

Os barcos são todos muito idênticos. “Esta quinta-feira só correm os grandes, os pequenos foram nas edições passadas”, reforça Peter Tang. Quando questionado sobre quem construía os barcos, o presidente da associação recorda um artesão “muito antigo” de Macau, que infelizmente “já não faz nenhum”. “O negócio era fraco aqui, porque agora os barcos já não são de madeira, são fibra. Vem tudo de fora”, conta.
Peter Tang mostra-se orgulho do trabalho realizado. “Este é um dos festivais mais importantes. São meses de empenho dos atletas, é muito suor, muita dedicação para uma sociedade que vibra com isto. É a nossa tradição, é amor à nossa cultura”, remata.

8 Jun 2016

Casos urgentes de condomínios não precisam de aprovação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s reparações mais urgentes a serem efectuadas em edifícios não vão necessitar da aprovação de dois terços dos membros do condomínio. É o que consta no Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio, que foi ontem analisado pelos deputados da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL).
“Os casos considerados indispensáveis, como infiltrações, não terão de ser sujeitos à aprovação da assembleia-geral do condomínio, porque não há possibilidade de esperar pela decisão final, dado ser um caso urgente. O responsável das Obras Públicas explicou que qualquer condómino pode apresentar o pedido de reparação urgente por sua iniciativa, porque se for vitima de problema quer resolver o problema”, disse o deputado Chan Chak Mo, que preside à comissão.

Da mediação

Chan Chak Mo referiu ainda que o Instituto da Habitação (IH) poderá ser chamado a analisar o caso. “Há sempre conflitos, porque a vítima pode achar que sim (que é urgente a reparação) e os outros acharem que não, e pode sempre ser pedido o apoio do IH para verificar a situação. A vítima pode achar que é uma infiltração na fachada e outros acharem que é provocada pela sua própria casa”, explicou.
Quanto às obras a realizar nas partes comuns do edifício, como os terraços ou as fachadas, os moradores que não concordarem poderão não pagar as despesas. “Aí há que ter a aprovação de dois terços do condomínio, mas se os condóminos acharem que essas obras têm uma natureza voluptária e não concordarem com elas, e se o tribunal lhes der razão, o restante um terço das pessoas que não concordam podem não pagar. A pessoa pode no futuro pagar a sua quota parte para usufruir dessas inovações”, disse Chan Chak Mo. Um dos exemplos que pode ser dado é a construção de uma piscina no terraço de um edifício.

8 Jun 2016

Petição | Investidores em Zhuhai queixam-se ao Chefe do Executivo

Residentes entregaram ontem uma petição a Chui Sai On para que o Governo lhes dê ajuda no caso de compra de habitações em Zhuhai. Cerca de 200 famílias queixam-se de terem comprado casas num condomínio que não corresponde às expectativas

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arecia difícil resistir a tal projecto imobiliário. Um condomínio em Zhuhai, intitulado Hills Beyond Sea, prometia uma floresta privativa, um “clube privado luxuoso” e serviços de administração semelhantes aos de um hotel. Cerca de 200 famílias de Macau investiram os seus recursos para comprar apartamentos na cidade vizinha entre 2012 e 2013, mas em 2014, quando o edifício ficou pronto, perceberam que faltavam a maior parte das infra-estruturas e acessos, sendo que será construído um jardim infantil privado que não estava previsto.
Ontem os mesmos investidores dirigiram-se à sede do Governo para entregar uma petição a Chui Sai On, Chefe do Executivo, pedindo ajuda para “defender os interesses legítimos”, alegando estar em “completo desespero”.
O deputado José Pereira Coutinho esteve presente na entrega da petição. “São valores astronómicos. As famílias não encontraram aquilo que constava nas brochuras do projecto. As estruturas que haviam sido planeadas e mostradas não correspondem à realidade. Não se sabe o que se passa mas o promotor imobiliário (Fomento Predial Fanyue SA) fez outros negócios com as partes do terreno que deviam fazer parte dessas moradias. Estas perderam o seu valor face à ausência de estruturas de floresta privada e condomínio privado. O que era para ser uma coisa de luxo deixou de ser”, disse Coutinho aos jornalistas.
Do Executivo Coutinho espera uma acção que proteja os direitos dos consumidores. “O Governo de Macau tem reuniões semestrais e anuais com a zona de Zhuhai e Cantão em que participam dezenas de representantes dos serviços públicos. É nestas reuniões que se debatem assuntos de muito interesse, tendo em consideração que cada vez mais as pessoas de Macau e do interior da China estão mais próximas e há sobretudo uma maior ligação na área da habitação, já que as pessoas têm cada vez menos capacidade para comprar uma fracção e adquirem mais fracções na República Popular da China (RPC). Há que encontrar mecanismos da protecção dos direitos dos consumidores, o Governo deve introduzir estes mecanismos na aquisição de bens e serviços.”

Desde 2014

Assim que perceberam que tinham comprado gato por lebre os moradores não pararam. Na carta que entregaram ao Chefe do Executivo é referido que a partir de Agosto de 2015 foram feitos contactos com o promotor imobiliário, a Comissão do Partido Comunista Chinês (PCC) de Zhuhai e vários serviços públicos da cidade chinesa, sendo que “o promotor imobiliário recusou sempre abordar a questão e atendeu-nos com uma atitude muito negativa”.
Coutinho aponta: “Foram contactados quatro ou cinco entidades do município de Tau Mun sem que tenham conseguido qualquer justificação para as razões das mudanças estruturantes do edifício”, concluiu.

8 Jun 2016

Governo diz-se em posição passiva face a rendas de escritórios

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) disse que nada pode fazer em relação aos valores dos arrendamentos dos escritórios para os serviços públicos, porque existem sistemáticas trocas de proprietários. O Governo prevê a criação de um complexo perto do Terminal do Pac On para o grupo de forças de segurança, ainda assim, diz, não pode estar em constante alteração dos seus departamentos públicos.
Iong Kong Leong, director da DSF, indicou, numa resposta a uma interpelação do deputado Chan Meng Kam, que apesar dos aumentos das rendas, o Governo prefere ficar nas mesmas instalações por questões de facilidade logística. Há departamentos, diz, que não querem estar sempre a mudar as suas instalações, pois isso traz várias desvantagens à população. Por tudo isto, o Governo está de “mãos atadas”.
Chan Meng Kam argumentou, na sua interpelação, que as despesas de renda da instalações onde estão alojados os serviços públicos devem ser incluídas nas despesas orçamentadas. Só assim, diz, a população terá a noção real da despesas de cada departamento. A DSF diz concordar com a sugestão e o Governo já está a estudar essa hipótese, garante. O departamento acrescentou ainda que actualmente 17 secções públicas estão em escritórios arrendados em edifícios privados, mas que a maioria dos departamentos funciona em prédios públicos.

Mais complexos

Sobre as instalações administrativas governamentais, a DSF referiu que o Governo vai recuperar o terreno O1, situado ao lado do Terminal Pac On, para construir um complexo governamental. O espaço terá multifunções, servindo de escritórios e armazéns. Além disso, o Executivo vai ainda construir outro prédio para o sector da segurança, no terrenos E1 dos Novos Aterros. “Será publicada a informação com a área e calendário de trabalhos o mais depressa possível”, garantiu o director.
As reacções surgem depois de Chan Meng Kam apontar o dedo ao Governo na aplicação do erário público. O deputado considera que são feitos demasiados gastos nos arrendamentos, por isso, é preferível que o Governo construa escritórios para não mais ter de pagar rendas.

8 Jun 2016

Jogo | Deputado fala de “risco” de não haver TNR como croupiers

O deputado Cheang Chi Keong considera que se os residentes continuarem a ocupar exclusivamente o cargo de croupier nos casinos tal vai gerar consequências negativas na economia. Ella Lei não quer alterações e o Governo também não

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]esde 2005 que os residentes são os únicos que podem ocupar o cargo de croupier nos casinos. Contudo, o deputado indirecto à Assembleia Legislativa (AL) Cheang Chi Keong considera que a actual política deveria ser alterada.
Em declarações ao jornal Ou Mun, Cheang Chi Keong alertou para o facto de, se todos os residentes continuarem a ser croupiers, tal vai gerar um impacto negativo na economia. O deputado apelou ao Governo e à própria sociedade para ponderar uma alteração e permitir a contratação de trabalhadores não residentes (TNR), devido à quebra consecutiva das receitas dos casinos nos últimos 24 meses.
O deputado citou dados que mostram que até finais de 2014 as seis operadoras tinham 95 mil trabalhadores, incluindo 72 mil locais. No âmbito do Jogo, existiam 53 mil trabalhadores, sendo que apenas dois mil são TNR. Nas áreas do entretenimento existem 41 mil trabalhadores nas operadoras, mas apenas 21 mil são locais. Referindo-se aos trabalhadores, Cheang Chi Keong, disse que pôr “todos no mesmo saco” não deverá acarretar riscos.
Cheang Chi Keong sugere mesmo uma proporção na introdução de TNR na ordem dos 20 a 30%. “Todos podem pensar (que a introdução dos TNR) é também uma protecção para os trabalhadores locais. Caso uma operadora de Jogo decida cortar 5% na mão-de-obra, milhares de croupiers locais podem sofrer com as demissões”, apontou. O deputado considerou ainda que a introdução de TNR pode gerar maior competitividade e maior promoção na carreira para os locais.
Um comunicado oficial ontem emitido revela que o Governo pretende manter a política tal como está. “O Governo sublinha novamente que irá manter a medida actual de importação de trabalhadores não residentes para os cargos de croupier dos casinos locais.”

Voz contra

Contactada pelo HM, a deputada indirecta Ella Lei disse que esta não é a melhor altura para uma alteração ao sistema, sendo que esta deputada sempre defendeu o emprego dos locais no hemiciclo.
“Quando houver mil vagas e mais de mil residentes queiram assumir as suas posições, deve-se contratar primeiro os locais. Isso está claro na lei. A introdução de TNR é apenas para os sectores nos quais os residentes não querem trabalhar. Se um sector já tem mão-de-obra local suficiente, mas pede a saída de uma parte dos trabalhadores locais, e caso seja definida uma proporção para a entrada de TNR, isso poderá contrariar a lei”, apontou.
A deputada, que representa a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), lembrou que há sectores que excluem os residentes, por já existir um grande número de TNR. “Não é a altura para alterar a medida”, defendeu.

8 Jun 2016

Mong-Há | Deputado questiona ausência de pólo cultural

Depois da inauguração do espaço “Anim’Arte Nam Van”, o deputado Si Ka Lon critica a falta de novidades em relação ao anunciado pólo cultural de Mong-Há, onde se situam as vivendas na Avenida Coronel Mesquita

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon defendeu ao jornal Ou Mun que o Governo deve prestar mais atenção ao desenvolvimento cultural e artístico da zona de Mong-Há, uma semana após a inauguração da zona de lazer junto ao lago Nam Van, intitulada “Anim’Arte Nam Van”. Em declarações ao jornal Ou Mun, o deputado lembrou que o projecto pensado para a zona de Mong-Há continua por desenvolver, apesar de ter sido prometido nas Linhas de Acção Governativa (LAG).
Por se tratar de uma zona que abrange a Avenida Coronel Mesquita e as tradicionais vivendas de traço colonial, o deputado Si Ka Lon considera que os departamentos públicos devem reforçar a sua cooperação e diminuir as burocracias, para que se possa avançar com o aproveitamento destas casas. Si Ka Lon disse ainda que não houve avanços quanto a esta promessa e que o projecto poderá demorar anos até que seja concretizado.
Ao mesmo jornal de língua chinesa falou Lam Fat Iam, presidente da Associação da História Oral de Macau, que defendeu que a zona de Mong-Há possui muitos recursos turísticos, apelando ao Governo a que não discuta a questão apenas no papel.
Lam Fat Iam referiu que o Governo precisa de apostar em mais mão-de-obra para tratar de toda a documentação histórica relacionada com a zona de Mong-Há, defendendo que, sem esse acervo documental, a transformação em pólo cultural não será um projecto perfeito.

No papel

Em Outubro do ano passado, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse existirem planos para reaproveitar os recursos turísticos e culturais na zona de Mong-Há, as quais incluíam as 12 moradias tradicionais. A ideia seria criar uma nova zona de turismo com uma forte ligação à cultura.
A ideia contida nas LAG fazia referência à realização de um “planeamento geral sobre o conjunto das vivendas situadas no cruzamento entre a Avenida do Coronel Mesquita, a Estrada do Coelho do Amaral e a Rua Francisco Xavier Pereira”. Estará a ser pensada a criação da Casa Memorial de Xian Xing Hai, para que a zona possa albergar um museu para atrair turistas. Alexis Tam prometeu um prazo de dois a três anos para a reutilização destas vivendas, com a inclusão do templo, do Forte de Mong-Há e do espaço artístico Armazém do Boi. O Secretário da tutela prometeu novas informações sobre a área até finais do ano passado, mas, meses depois, nada de novo foi avançado.

8 Jun 2016

Hotel Estoril | Siza Vieira aceita recuo do Governo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] arquitecto português Álvaro Siza Vieira diz “naturalmente” aceitar a decisão do Governo de Macau de realizar um concurso público para a reconversão do antigo Hotel Estoril, apesar de o projecto ter sido encomendado ao Prémio Pritzker.
“Tomei conhecimento da decisão em organizar um concurso para o projecto respectivo, decisão que naturalmente aceitei, comunicando-o ao excelentíssimo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura”, disse o arquitecto, em resposta escrita à Agência Lusa. Na sexta-feira, o Secretário Alexis Tam anunciou que por uma “questão política”, o projecto do hotel deixaria de ser entregue por ajuste directo a Siza Vieira, já que muitos arquitectos locais manifestaram interesse em participar, o que só seria possível com um concurso público.
Questionado, ainda na sexta-feira, sobre se já tinha informado o arquitecto português, o governante respondeu que “muito por alto, informalmente”, indicando que Siza será convidado a participar no concurso. “Vai ser convidado, em vez de ser adjudicação directa. [O ajuste directo está] de acordo com a legislação. Só que isso foi a ideia do ano passado. Hoje em dia, a situação é diferente porque muitos arquitectos querem concorrer. No fim, é uma questão política”, afirmou Alexis Tam, citado pela Rádio Macau e pelo canal em português da TDM.

8 Jun 2016

Lai Chi Vun | Arquitecto quer preservação de toda a área

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] arquitecto André Chak Keong Lui disse ao Jornal do Cidadão que o Governo deve preservar todas as casas e estaleiros da povoação de Lai Chi Vun, em Coloane, já que, caso seja mantida apenas uma parte, o valor histórico e cultural da zona vai perder-se.
André Chak Keong Lui falou do exemplo da Avenida Almeida Ribeiro, em que todos os edifícios são mantidos, referindo que a povoação de Lai Chi Vun deve ser classificada e que devem ser conhecidos os detalhes do futuro planeamento.
O responsável considera que é fácil resolver os problemas de reparação e do risco de queda que actualmente afectam a maior parte dos estaleiros. “As casas podem ser transformadas em museu sem que sejam destruídas, como foi feito com a Casa do Mandarim, que também chegou a ser considerado um edifício em risco de queda, mas que foi reparado pelo Instituto Cultural. A melhor maneira para resolver o problema é manter a estrutura original e uma transferência da utilização desses espaços”, sugeriu.
Actualmente os dez estaleiros estão em risco iminente de ruína e o Governo já referiu que não deseja prolongar a sua licença de ocupação, estando neste momento fechados por uma questão de segurança, referiu ontem o Governo num comunicado. Houve suspeitas de que o Governo estaria a tentar recuperar os terrenos para a alçada da Administração, mas a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) já disse que não vai recuperar os terrenos onde estão os estaleiros.

Sem consenso

Ao canal chinês da Rádio Macau, o presidente do IC, Ung Vai Meng, disse que o organismo já apresentou uma sugestão para a recuperação dos estaleiros de Lai Chi Vun mas que ainda não foi atingido consenso com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), sendo que isso levou a que não tenham sido publicadas mais informações sobre o projecto.
Li Canfeng, director da DSSOPT, confirmou que o Governo ainda não tomou uma decisão final sobre a zona e que ainda está a estudar a questão com outros departamentos. Li Canfeng referiu que, para já, a segurança dos estaleiros é a prioridade.

8 Jun 2016