Filipa Araújo Manchete SociedadeTráfico humano | Números de casos caiu em 2014 O número de casos de tráfico humano caiu, em 2014, de forma vertiginosa. De 35 casos no ano de 2013, foram registados quatro no ano passado. Menos formações, mais fiscalizações e apoios às vítimas é o que o Governo mostra à ONU [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de casos de tráfico humano registado em 2014 baixou vertiginosamente quando comparado com o período homólogo de 2013. Dados entregues pelo Governo à Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que durante o ano passado a autoridades policiais locais levaram a cabo cinco investigações mas apenas quatro foram classificados pelo Ministério Público (MP) como casos de tráfico humanos. Os mesmos dados indicam que, deste bolo, dois casos foram arquivados e os restantes dois estão pendentes. Durante o ano de 2013, tinham sido registados 35 casos de tráfico humano, dos quais 25 foram arquivados, sete estão pendentes e apenas três acusados. Dos quatro casos detectados, em 2014, todas as vítimas eram do sexo feminino e naturais da China continental. Três das vítimas tinham mais de 18 anos, enquanto uma era ainda menor. Apoios e apostas No mesmo documento, o Governo explica que tem apostado de forma contínua na formação e fiscalização, para prevenir os possíveis casos. Durante o ano passado decorreram 1388 formações, seminários e palestras, que contaram com a participação de pessoas ligadas à área, como polícias, juristas, pessoal médico e assistentes sociais. Macau diz-se preparado e equipado para fornecer o apoio necessário às vítimas. No documento, a Administração indica que o Instituto de Acção Social (IAS) fornece acomodação em abrigos ou instituições, exames médicos, assistência financeira, entre outros apoios. É ainda atribuído à vítima, dependendo do seu caso, apoio em termos jurídicos e escolta policial no envio da vítima para o seu país de origem, garante o Executivo. Desde a entrada em vigor da Lei de Combate ao Crime de Tráfico Humano, em 2008, o Governo já atribuiu acomodação a 115 vítimas, sendo que 101 voltaram para os seus países. Sem acordo Macau continua a não ter, contudo, acordos de cooperação com outros países, para além da Mongólia. Ainda assim, o Governo admite manter um contacto muito próximo com o Governo Central de troca de experiências e reforço de medidas de fiscalização de fronteiras. Relativamente ao turismo sexual infantil, o Governo garante que a polícia tem aumentando de forma gradual fiscalizações nas zonas de mais turismo e nas periferias dos casinos na zona do Cotai, incluindo o aumento do número de inspecções a pensões ilegais para que se possa diminuir a capacidade de acções fora da lei. Não foram detectados casos, afirma peremptório o Executivo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaGoverno vai extinguir seis serviços públicos A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, prometeu extinguir seis serviços públicos e garantiu que ninguém vai ser despedido no âmbito da reestruturação. Quanto aos órgãos municipais, só deverão ser criados em 2017 [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o primeiro dia do debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) na área da Administração e Justiça, poucas medidas foram anunciadas por Sónia Chan ao nível da tão falada reforma administrativa ou jurídica. Perante as várias questões dos deputados sobre a matéria, a Secretária garantiu que seis serviços públicos vão ser extintos nos próximos anos. “Na primeira fase (de reforma administrativa), que incluem 15 serviços, vamos extinguir seis serviços públicos. O trabalho de reestruturação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vai ser realizado já em Janeiro de 2016”, disse a Secretária, que recusou ainda a proposta apresentada pelo deputado Si Ka Lon, quanto à fusão dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES). “Em relação à reestruturação do IACM, abrange oito regulamentos administrativos, enquanto que na fusão da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) e Serviços de Reforma Jurídica e de Direito Internacional (DSRJDI) estão em causa seis diplomas. No próximo ano temos planos para continuar com a reestruturação do IACM, e alguns serviços das obras públicas vão passar para outros serviços”, adiantou a Secretária. Sónia Chan garantiu que neste processo nenhum trabalhador vai ser despedido. “Se houver uma fusão de serviços e houver trabalhadores a mais, podem ser transferidos para outros serviços e achamos que não temos que despedir funcionários públicos. Podemos fazer uma mobilidade horizontal”, frisou. Municipais só em 2017 Sónia Chan apresentou datas para o arranque de muitas consultas públicas sobre alterações a muitos diplomas, mas poucas medidas concretas apresentou. Quanto à criação de órgãos municipais, medida já anunciada nas LAG do ano passado, só deverá ser realidade daqui a dois anos. “Os trabalhos para a criação de órgãos municipais vão ser desenvolvidos em simultâneo (com a reforma administrativa). Não temos ainda uma solução definitiva, e só em finais de 2016 é que teremos uma solução preliminar. Só em 2017 é que poderemos criar esses órgãos”, adiantou ontem no hemiciclo. No debate foram vários os deputados que lembraram a Secretária de que há muito que ouvem promessas de mudanças nas actuais estruturas da Função Pública, sem resultados. “A reforma administrativa tem sido lançada há muitos anos sem sucessos evidentes. A sua execução depende dos serviços públicos, por isso há uma desadequação das normas”, referiu Chan Hong. Já Ella Lei considerou “flagrante” a “desactualização de leis”. “Há muitos problemas que o Governo tem de enfrentar no domínio jurídico. O Governo definiu muito trabalho, mas o que consta no plano legislativo do passado ainda não está concretizado e isso preocupa a população. As exigências são cada vez maiores, em relação aos trabalhos administrativos”, rematou. Conselhos Consultivos | um homem, sete cargos Sónia Chan garantiu ainda que os 46 conselhos consultivos vão ser todos reestruturados, sendo que cada membro não pode ultrapassar seis anos num cargo, nem acumular mais do que três cargos. Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), disse que há um membro que acumula sete cargos neste tipo de órgãos. “Temos 572 membros. Destes, 459 desempenham funções em apenas um organismo. Os que acumulam dois cargos são 81. Já vinte e duas pessoas acumulam três cargos, seis desempenham quatro cargos, há uma pessoa que desempenha cinco, duas pessoas que têm seis cargos, e ainda uma pessoa que tem funções em sete organismos consultivos”, adiantou. Nova lei dos táxis só para o ano A Secretária para a Administração e Justiça garantiu que o processo de revisão do regulamento dos táxis só ficará concluído para o próximo ano. “Faltam três propostas de lei para ser apresentadas, e quanto ao regulamento dos táxis, ainda não é possível apresentar à AL, uma vez que a vertente do investimento e a natureza das licenças ainda estão a ser estudados pelos serviços. Os restantes dois diplomas vamos apresentar à AL este ano.” Reacções | Primeiro dia de Sónia Chan não convenceu Três deputados do hemiciclo consideram que o primeiro dia de debate na área da Administração e Justiça ficou um aquém do esperado. “Foi um debate que me surpreendeu, a começar por alguns deputados, que mostraram não estar bem preparados. As respostas da Secretária foram vagas, sem ideias concretas sobre aquilo que deve fazer, e o mais importante é não sabermos o que ela pensa sobre o futuro da Administração pública. Quase não se falou sobre como podemos elevar a qualidade dos serviços públicos”, disse ao HM o deputado José Pereira Coutinho. Já Au Kam San dá nota média ao debate, considerando que a Secretária Sónia Chan preparou bem as informações, mas não avançou nada de novo. Au Kam San mostrou-se insatisfeito com a ausência de explicações sobre a implementação do sufrágio universal. “É difícil para a Secretária responder abrangendo todos os aspectos das perguntas, porque os meus colegas só fizeram perguntas, não debateram. A Secretária não se concentrou em debater políticas”, frisou. Para Si Ka Lon, o limite de tempo de intervenção para cada deputado, o elevado número de questões e a repetição de temas fez com que as respostas não tenham sido mais trabalhadas. “Há muitas questões que os cidadãos querem saber, e tentei ajustar ao máximo o número de perguntas, se calhar a Secretária não conseguiu responder a tudo. Houve muitas respostas onde Sónia Chan apenas disse que ia estudar ou melhorar as políticas, mas faltou indicar ideias, calendários e quais os processos para atingir os objectivos”, explicou o número dois de Chan Meng Kam no hemiciclo. “As Linhas de Acção Governativa (LAG) abordam sempre as políticas de uma forma geral, sobretudo na área da Justiça. Se as propostas de lei não corresponderem à realidade, podemos não conseguir executá-las no futuro”, acrescentou Si Ka Lon. O deputado Ho Ion Sang lembrou que foram apresentados calendários para consultas públicas, mas o plano legislativo para 2016 só contempla oito diplomas, os quais não estão ligados à vida da população. “A Secretária podia fazer melhor e explicar de forma mais clara o mecanismo de coordenação centralizada de leis de forma concreta à AL.” Ho Ion sang lembrou ainda a parte do debate sobre a formação dos funcionários públicos. “Foi discutida a questão dos regulamentos revogados que os serviços públicos continuaram a utilizar, e isso só mostra como é necessário consolidar os conhecimentos dos funcionários públicos. A Secretária falou em planos de formação, vamos ver se consegue fazer o que disse”, concluiu.
Rui Flores VozesRefugiado me confesso [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sentimento antimuçulmano está a crescer na Europa. Essa é uma das consequências imediatas dos atentados de 13 de Novembro, em Paris. Outra é a de que os refugiados não são mais bem-vindos na Europa. Esta tornou-se bem visível algumas horas depois dos acontecimentos que ceifaram a vida a 130 pessoas na capital francesa, quando o novo governo polaco anunciou que iria suspender de imediato a sua quota-parte de acolhimento de refugiados. A narrativa que está a ser construída é a de que pelo menos um dos autores dos atentados de Paris terá passado pela Grécia integrado no fluxo de refugiados que estão em marcha desde a Síria até à Europa. É difícil fugir à tentação de escrever que a narrativa procura criar as condições para que o silogismo ponha termo à entrada de mais refugiados no continente europeu: todos os refugiados são terroristas, logo não mais refugiados na Europa. A vida é injusta. Todos o sabemos. Mas esta generalização, como tantas outras generalizações, tem em si um mal enorme. As percepções têm um poder imenso. Formamo-las ao longo dos anos em relação a todos os outros que fogem à norma. Uma norma à qual nos fomos habituando e transmitindo aos nossos filhos, que nos marca de uma forma indelével, e que está por detrás de todos os comentários que fazemos e que determina o que somos e como vimos os outros. Mesmo que nos esforcemos por ignorar as percepções, elas estão sempre presentes no nosso dia-a-dia. O candidato a refugiado não é uma pessoa que está em condições de escolher o quer que seja. O refugiado é alguém que perdeu todas as possibilidades de ser. Esgotaram-se-lhe as hipóteses. Deixou de ter opções. É alguém que está confrontado com apenas uma saída: morrer ou fugir. Quando o caminho se afunila desta maneira ninguém pode ser acusado de estar a tomar más decisões. Para muitos, para uma imensa maioria, esta é a sua verdade. A sua história. É evidente que os custos que acarreta a longa viagem da Síria ou do Afeganistão até à Europa não podem ser suportados por todas as famílias. São famílias remediadas as que se metem à aventura até ao continente europeu e que conseguem pagar todos os subornos e as tarifas de transporte, de barco, de comboio, de carros, aos contrabandistas de gente. Os que se aproveitam da miséria humana hão-de subsistir sempre, tanto mais que o negócio é rentável e sem qualquer tipo de onerosidade associada a prémios de seguro nem a reclamações em caso de má prestação do serviço. Até porque nos casos das viagens pelo Mediterrâneo, não poucas vezes o que tem acontecido é a “mercadoria” acabar no fundo do mar, sem possibilidade de ser intentada qualquer tipo de acção judicial. O silogismo é perigoso porque nos faz esquecer o que efectivamente sofrem estas pessoas. É claro que haverá radicais islâmicos entre os refugiados que chegam à Europa. A probabilidade é grande que, entre as mais de 800 mil pessoas que já se meteram a caminho do continente europeu desde o início deste ano, haja vários potenciais terroristas à espera de um sinal para atacarem. Mas a argumentação de que se deve ter muito medo pois os candidatos a refugiados que chegam à Europa são acima de tudo homens jovens já não colhe. Na verdade, segundo os números mais recentes daqueles que já foram registados – os outros não poderão, naturalmente, ser contabilizados –, 73 por cento dos refugiados e migrantes são do sexo masculino e 81 por cento têm menos do que 35 anos. Os seus países de origem têm uma pirâmide etária bastante jovem. E culturalmente não há abertura para que as mulheres de vinte e poucos anos saiam de casa dos pais nem tão pouco para que as mais novas viajem sozinhas. Essa é uma dimensão da igualdade de género que está por alcançar. Em muitos casos, as mulheres ficam para trás. O homem vai à frente, desbravando caminho, na esperança de um dia poder construir as condições para que o resto da família se lhe junte, em segurança. É por isso que são sobretudo homens aqueles que chegam à Europa originários, na sua grande maioria, de países de fé muçulmana. A realidade é demasiadas vezes muito difícil de retratar. E de ser credível. Quando as estórias que ouvimos nos são tão distantes, custa-nos muito acreditar nelas. Como se escutássemos um conto fantástico. A União Europeia tomou a decisão no final da semana passada de reforçar os controlos das fronteiras externas da Europa, obrigando os europeus ao mesmo tipo de escrutínio a que têm estado sujeitos os cidadãos de países terceiros. Até ao final do ano vai ser estabelecida uma lista de passageiros de viagens aéreas no interior da Europa à qual terão acesso todos os Estados-membros, de forma a que se possa controlar com mais eficácia os movimentos de eventuais suspeitos de redes terroristas. Ainda bem. É preciso que continuemos a estar ao lado da política de abertura aos refugiados por todos os que, justificadamente, merecem ser acolhidos na Europa, no final da mais longa viagem da sua vida, fugindo de uma morte certa.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesTao-Confúcio [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ecentemente tenho ciberneticamente explorado sobre a sexologia taoísta que levou a uma pertinente preocupação das influências para o sexo que se faz na China. Se no mundo ocidental temos a igreja e as revistas cor-de-rosa a insistir em certos entendimentos sexuais, muitos deles que se caracterizam pela sua castração e repressão; da China histórica, encontramos muito provavelmente as influências do Taoismo e do Confucionismo (e por enquando ficar-me-ei por estas duas correntes, mas mais reflexões sobre a sexualidade oriental/chinesa estará por vir). Taoismo: Além das referências ao yin e o yang (阴阳), a importancia do qi (气) e ainda do jing (精), o taoísmo sexual, não surpreendentemente, foi descrito muito centrado na perspectiva masculina. Sexo em si era uma prática de potencial espiritual onde ‘se une a energia’ (合气) com vantagens grandiosíssimas para o homem, que se acreditava desenvolver muito boa saúde pela prática e, com muita dedicação, atingir a imortalidade. Acreditava-se que o sexo estabelecia o tão desejado equilíbrio que se procurava na natureza e que o yin e o yang ilustrava, sugerindo uma possível abordagem naturalista que nunca se popularizou. A verdade é que acreditava-se que o sémen continha altos teores de jing (精) e que a sua perda teria consequências para a sua saúde. Por isso: sexo sim, mas sem ejaculação. As práticas desenvolvidas trouxeram, por isso, dicas úteis para não perder o seu sémen e jing (精) em sexo que era necessário, mas não o pacote total. As mulheres eram vistas como um receptáculo sexual, um ‘caldeirão’ necessário para o desenvolvimento fetal e por isso até certo ponto eram respeitadas e deveriam ser estimuladas e agradadas porque só assim é que a energia gerada seria benéfica para o homem e para o seu desejo de imortalidade. Contudo, apesar de se sentir como uma obrigação médica agradar o yin (o lado feminino) para a sua energia ser terapeuticamente aproveitada, as mulheres continuavam a ser usadas como objectos. Confucionismo: Provavelmente a corrente filosófica mais influente na China, pouco ou nada disse sobre sexo. Confúcio não se debruçou por aí além pelo tema e tudo indicava que usaria pessoalmente a actividade sexual heterossexual de forma muito prática, desde que, contudo, não interferisse na sua vida social. O pior veio depois, quando Neo-Confucionistas, a partir da dinastia Sung, trouxeram uma reinterpretação dos ensinamentos do sábio e sugeriram uma teoria repressiva do sexo, que teóricos acreditam ser a base para o entendimento sexual na China dos últimos 1000 anos. Antes da intervenção dos neo-confucionistas, historiadores acreditam que as relações sexuais eram vistas com maior liberalismo e naturalidade porque as descrições de vidas amorosas, casamentos, divórcios, e tipos de relacionamentos heterossexuais e homossexuais não mostravam desaprovação nem condenação. Se esta visão continuou na base da vida privada chinesa, temos pouca certeza, porque os discursos pós-Sung mostram uma contínua repressão que poderiam ter mais forma em certas classes sociais e/ou nos documentos históricos a que temos acesso hoje. O que vale são as descrições literárias, as representações artísticas que ainda mostravam alguma criatividade sexual e que nos fica no imaginário de tantas taradices que julgamos chinesas. As descrições da antiga sexualidade chinesa, especialmente a Taoista, têm sido alvo de bastante análise pelos grupos que desejam elevar a sua sexualidade a uma experiência espiritual (tal como era descrita, na união das energias) e por isso tem aumentado de popularidade em círculos ocidentais interessados em Tantra. A filosofia sexual chinesa tem sido por isso reinterpretada à luz de uma maior igualdade de géneros e na possibilidade de estender a actividade sexual ao máximo, com tantos exercícios de controlo ejaculatório que existem. Consigo imaginar que não é da mesma forma que se influencia a sexualidade chinesa actual. Certas crenças ainda se perpetuam sobre como não é saudável desperdiçar o suco sexual, insistida pela medicina tradicional chinesa. Afectando, por exemplo, a forma como a masturbação é vivida na China. Se é herança dos neo-confucionistas ou não, também se denota a ditadura do silêncio sobre as coisas do sexo e alguma relutância em retirá-las da privacidade do quarto. Como em muitos outros contextos é simplesmente pouco falada. Mas e a globalização, o socialismo de características chinesas ou a agora política do filho ‘duplo’? NOTAS 1. Usei caracteres simplificados para ilustrar variados conceitos porque foi assim que aprendi, teria escolhido os tradicionais pela minha ligação a Macau, mas não seria fiel ao meu conhecimento da língua chinesa. 2. Muitas das informações aqui apresentadas basearam-se em Ng, M. L. & Lau, M. P. (1990) Sexual Attitudes in the Chinese. Archives of Sexual Behavior, 19 (4), 373-388 que oferece uma maior reflexão das práticas e das suas influências e que será do interesse de quem deseja aprofundar o tema.
Flora Fong PolíticaTerrenos | Chan Meng Kam quer saber planos do Governo para terra já recuperada [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Chan Meng Kam quer que o Governo faça saber os seus planos sobre o que está a pensar fazer com os terrenos até agora recuperados. Isto porque o deputado teme que os mesmos voltem a ser ocupados de forma ilegal, como já aconteceu. Numa interpelação escrita, Chan Meng Kam frisou que desde 2009 que existe um mecanismo de acção composto por oito serviços públicos – entre os quais a PSP, os Bombeiros e a Direcção dos Serviços para Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) – para tratar da ocupação ilegal de terrenos. Chan Meng Kam recorda ainda: até Maio deste ano, 57 lotes que pertencem ao Governo já foram recuperados, perfazendo uma área total de 235 mil metros quadrados. Mas, mesmo que os espaços tenham sido recuperados há já vários meses, ainda não foi publicada qualquer novidade sobre o destino a dar-lhes, excluindo serem para construção de habitação, estradas e jardins. “O Governo afirmou no ano passado que os terrenos desocupados vão ser aproveitados de forma apropriada ou ficarão em modo de reserva. Mas será que o Executivo pode publicar mais detalhes sobre o destino dos lotes com uma área de 235 mil metros quadrados?”, questionou. Chan Meng Kam espera que o Executivo priorize a criação de mais habitação pública caso se verifiquem condições favoráveis para o efeito em terrenos recuperados. Além disso, o deputado mostra-se preocupado com a eventualidade dos lotes recuperados virem a ser ocupados de forma ilegal novamente. Assim, questionou o Governo sobre se o modelo de fiscalização existente consegue evitar isso mesmo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaSecretária afasta aumento de deputados e reforma política Angela Leong propôs a criação de mais lugares indirectos no hemiciclo para os sectores do Jogo e restauração. Levou uma nega. Sónia Chan fica-se nos 33 deputados e recusa, “por causa da economia”, de falar de reforma política [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]processo de revisão da lei eleitoral para a Assembleia Legislativa (AL) não vai contemplar um aumento dos deputados eleitos pela via indirecta. A garantia foi dada ontem pela Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan. “Quanto ao sufrágio indirecto e ao número de assentos, não iremos mudar os anexos I e II da Lei Básica. Não vamos introduzir qualquer alteração ao número de assentos do sufrágio indirecto”, disse a Secretária em resposta a uma proposta apresentada pela deputada Angela Leong. A também administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) pediu mais assentos por esta via em representação dos sectores do Jogo e da restauração. “Sobre as eleições indirectas, podem ser aumentados assentos para os sectores da restauração e do Jogo?”, questionou. Sónia Chan prometeu o arranque da consulta pública sobre a revisão da lei eleitoral da AL e para a eleição do Chefe do Executivo no primeiro trimestre de 2016, mas Angela Leong disse temer que o processo não esteja concluído a tempo das eleições legislativas, em 2017. “Tenho receio quanto à existência de zonas cinzentas nas leis eleitorais e se o trabalho vai ser feito a tempo. O Governo também tem de regulamentar as zonas cinzentas contidas na lei sobre a divulgação de informação através da internet”, defendeu. Reforma política de lado O deputado Au Kam San levou novamente a questão do sufrágio universal para o debate. “A Secretária fala que vai ser iniciado o processo de revisão das leis eleitorais, e sabemos que ninguém se opõe à democratização, que tem de ser feita de forma gradual. Quando propõe o estudo sobre a lei eleitoral, vai considerar a componente da democracia no processo? Há o voto por sufrágio universal e devemos caminhar nesse sentido. Em 2012, quando foi revista a lei, aumentaram-se apenas alguns assentos (100) na comissão eleitoral que elege o Chefe do Executivo”, lembrou. Contudo, Sónia Chan optou por silenciar a questão, referindo que esta não é uma boa altura para avançar para a reforma política, por a economia de Macau estar num mau momento. “Quanto ao desenvolvimento democrático, acho que não vai trazer um desenvolvimento estável. Em 2012 introduzimos alterações, que são as básicas”, referiu. O deputado pró-democrata rejeitou os argumentos da Secretária. “Na verdade o Governo Central falou sobre vários princípios, um deles em prol da estabilidade política e isso não vai afectar a estabilidade do território. Em 2012 foi feito um trabalho mas não houve nenhum aditamento em termos democráticos e em cada mandato deve-se registar avanços. Não é por causa da estabilidade que vamos deixar de lado o progresso. Macau desenvolveu-se economicamente mas o sistema político deve evoluir de acordo com a economia e surgiram vários problemas que já não se coadunam com o sistema político”, concluiu. Terceira entidade a avaliar funcionários A avaliação do funcionamento dos serviços públicos por uma terceira entidade independente deverá estar definido em finais deste ano. “O estudo está praticamente concluído e em finais deste ano todo o mecanismo venha a ser definido. Pretendemos aperfeiçoar o sistema com uma maior cientificidade, e quando estabelecermos esse mecanismo temos de ter em conta as diferentes naturezas dos serviços”, explicou a Secretária Sónia Chan. Sónia Chan promete estudar Juízo de arrendamento O deputado Au Kam San propôs a criação de um Juízo de arrendamento no sistema judicial, à semelhança do que foi feito com os Juízos Laboral e de Família e Menores, no Tribunal Judicial de Base (TJB). “Em relação às partes comuns dos edifícios, é uma legislação que tem origem nos processos judiciais e nas demoras. No futuro, quando for revista a Lei de Bases da Organização Judiciária, será possível criar um Juízo especializado em conflitos de arrendamento? Quando ocorrerem conflitos em casos de arrendamento, com senhorios ou com os condomínios, estes podem ser tratados só num Juízo, porque não basta ter apenas uma legislação. Isso irá contribuir para facilitar a resolução desses conflitos”, disse o deputado. Sónia Chan prometeu estudar a medida. Notários públicos | Concurso em 2016 O Governo vai abrir no próximo ano um concurso público para a contratação de mais notários públicos. “No próximo ano vamos recrutar mais notários públicos, porque há mais de 10 anos que não fazemos nenhum concurso público e notamos falta de pessoal, por forma a resolver as necessidades”, disse a Secretária Sónia Chan.
Leonor Sá Machado PolíticaPatrimónio | CE passa Conselho do Património para Alexis Tam [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]Alexis Tam quem passa a liderar o secretariado do Conselho do Património Cultural, criado para resolver assuntos ligados à conservação da herança histórica de Macau. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura fica assim responsável por tomar decisões sobre aplicações financeiras, por nomear membros do colectivo que lidera a discussão de propostas de concurso e aprovar e assinar, em nome do Governo, a minuta do contrato a celebrar com empresas. O anúncio, publicado em Boletim Oficial, determina ainda que Alexis Tam será responsável por aprovar os cadernos de encargos do Conselho. Nas suas mãos estarão quantias entre os nove e os 30 milhões de patacas, que o Secretário deverá mexer de acordo com a situação. Assim, “em matéria de gestão dos recursos financeiros e patrimoniais”, o Secretário tem até 30 milhões de patacas para despender na abertura de concursos para a realização de obras e adquirir bens e serviços. Outros 18 milhões ficam reservados para a colocação em prática dessas mesmas obras. Finalmente, o mesmo despacho determina que nove milhões de patacas estão disponíveis para a aprovação de projectos de obras ou aquisição de bens ou serviços que não tenham de passar pelo processo de concurso público. O CPC foi criado para lidar com os trâmites que advieram da entrada em vigor da Lei de Salvaguarda do Património. Um dos assuntos mais discutido nas reuniões do Conselho deste ano foi a celebração do 10º aniversário do Centro Histórico de Macau como património internacional.
Leonor Sá Machado SociedadeJogo | Está melhor do que acções demonstram, garante Grant Bowie O director-executivo da MGM desvaloriza a flutuação de acções na Bolsa de Valores e diz que, não só a operadora que dirige, mas todas são fortes [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente da MGM China assegurou há dois dias que os casinos locais estão em melhor forma do que aparentam as acções. Os valores da empresa na Bolsa têm descido significativamente desde há 18 meses e a flutuação dos valores nas passadas semanas tem provocado uma onda de preocupação na classe dos analistas e correctores, que prevêem já um futuro menos risonho para a indústria do território, mas Bowie mostra-se tranquilo. “Se todos os nossos negócios [da MGM] valem mais do que actualmente as nossas acções? Sem dúvida”, disse, numa entrevista exclusiva à revista asiática World Gaming Group (WGG). O presidente do grupo acrescentou ainda que todas as empresas pertencentes à MGM “são extremamente fortes” e mostrou-se confiante na prosperidade da operadora. “As nossas acções cresceram de forma acelerada devido ao elevado nível de liquidez de especulação, mas o pêndulo anda de um lado para o outro e estamos também a sofrer com a outra face da moeda”, continuou. Esta descida generalizada na bolsa fez com que alguns accionistas vissem uma queda até 75% quando comparando com os recordes alcançados há dois anos. Na mesma entrevista, Bowie mostra-se confiante de que as acções voltem a ver valores elevados uma vez que o mercado do Jogo estabilize. “É óbvio que gostávamos de ver as nossas acções atingir os níveis de outros tempos, mas a dificuldade está no facto do valor do negócio não representar necessariamente o valor das acções. O último representa a percepção global de confiança e, para nós, o desafio tem sido ultrapassar o embate que a confiança levou. Isto porque não parece existir uma estrutura clara que dite se somos parte do futuro de Macau ou do seu passado”, concluiu Grant Bowie na conversa com a revista. O CEO deixa, contudo, uma mensagem clara: “A minha opinião é que somos parte do futuro, sem qualquer sombra de dúvida”. Uma piscina atulhada De acordo com a WGG, Bowie acredita que as acções vão voltar ao normal depois dos mercados voltarem a confiar na indústria do Jogo e de quando “tiverem a noção daquilo que o futuro traz”. Houve ainda espaço para Bowie lançar algumas críticas à mentalidade local, afirmando que há demasiadas caras e ouvidos virados para uma percentagem diminuta de mercados. “Penso que recentemente foram 32 os analistas que se focaram apenas em seis bolsas de valores, o que mostra uma concentração brutal de analistas num mercado relativamente pequeno”, disse. O presidente da MGM defende que os comentários dos analistas não deviam focar-se apenas em Macau e diz acreditar que, embora a MGM seja ainda “uma história de sucesso”, o número de analistas tem aumentado devido à sede de diferentes perspectivas. “Somos a história de sucesso e vamos ser sempre, mas há agora uma sobre-análise porque toda a gente está a tentar criar a sua própria perspectiva”, criticou. Alguns, acrescenta, são mais “precisos” do que outros e os “mais temperamentais” são, diz, mais ponderados. Já os mais jovens são mais impulsivos e “dizem o que querem”. “Penso que chegará a vez de cada um de nós para ajudarmos a repor a confiança no mercado. Uma vez feito, as acções voltarão ao normal porque as operadoras em Macau são todas fundamentalmente fortes”, colmatou Bowie.
Joana Freitas BrevesArquelogia | Governo continua escavações em Coloane Neolítico, Idade do Bronze, dinastia Qing. Vestígios e respectivas escavações arqueológicas que o Governo vai continuar na Rua do Estaleiro, em Coloane, depois de ter sido aconselhado nesse sentido pelos “especialistas” da área. De acordo com um comunicado, é preciso estudar os materiais encontrados e o próprio local de forma mais aprofundada. “Os especialistas consideraram que segundo os estudos prévios sobre a distribuição dos achados arqueológicos, se deve escolher uma área apropriada para se proceder a uma escavação mais detalhada, de forma a esclarecer a cronologia das camadas culturais”, pode ler-se num comunicado do Instituto Cultural (IC). Na Rua do Estaleiro foram encontrados, em 2014, vestígios e monumentos de quatro períodos diferentes: o final do Neolítico, final da idade do Bronze e da segunda metade da Dinastia Qing. Foi nesse ano que o IC lançou o projecto arqueológico do local, tendo convidado especialistas em Arqueologia, Geologia e Ambiente de Hong Kong e do interior da China. Esta terceira fase das escavações vai acontecer “na parte noroeste do parque de estacionamento da zona e na área do campo de basquetebol”. Está prevista a sua conclusão no primeiro trimestre de 2016 e tem início marcado para hoje. O parque e o campo vão ser encerrados ao público.
Joana Freitas BrevesMetro | Dá cá mais 50 milhões A assistência técnica para a primeira fase de “Programas de Emergência do Parque de Materiais e Oficinas do Metro Ligeiro” vai custar aos cofres do Governo um total de 54 milhões de patacas. Os serviços ficam a cargo da MTR Corporation Limited, que recebe o valor atribuído em duas fases, uma primeira este ano de quase dez milhões de patacas e a segunda em 2016 de 44,2 milhões. A autorização à celebração do contrato foi publicada ontem em Boletim Oficial, onde fica ainda a saber-se que a fiscalização da empreitada de construção da 1.ª Fase do Centro Modal de Transportes da Estrada Governador Albano de Oliveira da Taipa, a cargo da PAL Ásia Consultores, vai custar cerca de quatro milhões de patacas.
Filipa Araújo BrevesPresos | Jovens adultos em maioria Do total dos 1232 presos do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM) cerca de 57% corresponde à faixa etária dos 21 aos 40 anos. Dados do Governo entregues à Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que actualmente existem 354 jovens, entre os 21 e os 30 anos de idade, presos, dos quais 294 são homens e 60 mulheres. Dentro deste grupo 385 foram condenados e 69 estão em prisão preventiva. No grupo dos 31 aos 40 anos, são 56 mulheres e 296 homens, dos quais 277 cumprem pena e 75 aguardam decisão. Muito próxima está também a percentagem de reclusos entre os 41 e 50 anos de idade, fixando-se nos 27,3%, dos quais 269 são do sexo masculino e 68 do feminino. A percentagem mais pequena reside na faixa etária entre os 71 e 80 anos com apenas um recluso do sexo masculino.
Filipa Araújo EventosMercearia Portuguesa | Um brinde a “quatro anos de aprendizagem” São enlatados, doces, brinquedos, jóias e tantas coisas mais que contam a história de Portugal, das suas gentes e tradições. A Mercearia Portuguesa faz quatro anos e quer festejar com quem acompanhou o seu percurso [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Mercearia Portuguesa faz quatro anos e Margarida Vila-Nova, gerente do espaço, não podia estar mais contente com o percurso e crescimento de um lugar em que até as paredes cheiram a Portugal. Para celebrar isso mesmo, a Mercearia organiza uma actividade este sábado. “Para mim, sobretudo, estes quatro anos foram anos de aprendizagem, porque quase que conheci o meu país através da Mercearia Portuguesa”, partilha com o HM. Com cada embarque de mercadoria, cada viagem, cada chegada de novos produtos e conversas com fornecedores chegam novas histórias, marcas de uma cultura tão diversificada como é a portuguesa. “Fiquei mais nacionalista desde que vim para Macau. A minha relação com Portugal cresceu e enriqueceu ao longo deste quatro anos. Estou em permanente contacto com os produtores de artesanato, desde a cestaria à filigrana, à olaria, também à parte de gastronomia. Tenho estado muito próxima das conservas”, relembrou. Margarida Vila-Nova não esconde o orgulho de trabalhar com marcas portuguesas em Macau e diz que o saldo tem sido “muito positivo”. Um brinde a nós Para celebrar a data e não deixar passar o momento em branco, a Mercearia Portuguesa organiza, já este sábado, um encontro com todos aqueles que de alguma forma passaram pelo percurso desta loja. Entre as 17h00 e as 19h00 do próximo dia 28, as portas estarão abertas a quem quiser brindar. “É uma forma de brindarmos com todos aqueles que nos acompanharam ao longo destes últimos quatro anos, dos mais cépticos aos mais fiéis, dos mais desconfiados aos mais assíduos. Estes projectos fazem-se sempre em conjunto”, convida. Em cima da mesa irão estar as novidades para o Natal, acabadas de chegar, nomeadamente as amêndoas caramelizadas. Está também, em parceria com a PALATIUM, organizada uma prova de vinhos portugueses. “Já tínhamos esta ideia mas fomos adiando. Será uma forma de assinalar o nosso aniversário, com um leque variado de vinhos, entre os brancos, tintos, da Madeira, do Porto”, rematou, deixando em aberto a possibilidade de dar início a uma nova etapa de negócio: a prova de vinhos.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasEthos, Pathos, Logos – Da monstruosidade [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]esta hora, em que tento pôr ordem nas palavras, noite já feita, inúmeras traças esvoaçam por aqui. Olho-as com o olhar desumanizado ou simplesmente alheado – e uma palmada rápida e seca seria suficiente – de quem encontra ali a pequena metáfora caseira, vinda ao encontro de outras perplexidades. Porque elas têm que se alimentar, as traças, não as preocupações. Mas eu não gosto. Mais esse olhar, do que o de qualquer respeito pela sua essência, até mesmo em termos cromossomáticos, tão próxima da minha. E tudo o que a natureza produz é natural. Já a razão é a coisa mais artificial que há. A ética, a moral, a estética, a filosofia, a religião, a costura, a geometria, a arte, a linguagem, o estado, a comunicação. Construções. É aí que se situa toda a monstruosidade e não ali. A natureza, à luz de muitas elaborações normativas, também produz monstros, aberrações, raridades ou anomalias. Mas também estas, fruto dos mesmos mecanismos, os do crescimento, da oxidação, da morte celular, da recombinação de genes, de sinapses que dão o impulso químico ou elétrico certo. Ou errado. Nem sempre se sabe qual seria o impulso certo. Em que se fazem ou desfazem pensamentos, registos da memória, funções, sensações. Do descontrole sei lá de que momento da pré-disposição genética. São fugas à norma, e essas expressões com que as designam, limitadas a critérios nada rigorosos, pouco além, por vezes, de uma dimensão estatística. Ou uma motivação vinda da clausura em padrões de segurança e normalidade, de que muitos necessitam na sua definição de si por oposição aos outros. Uma oposição bélica. Todas as fugas provocam instabilidade no outro porque abalam as suas frágeis seguranças. O que é diferente parece contestar aquilo de que é diferente. E aquilo de que é diferente, reage com agressividade fulminante da auto-preservação de normalidade, como se esta fosse minada. E é. Mas de dentro e não de fora. O espelho que muitas vezes não sabe que é. No corpo do que é natural, nascem disparates da natureza, ou lirismos ou violências em vários graus. Mesmo aí, onde, para lá de determinados limites se define o território da doença, há fronteiras por definir. Entra-se no domínio da construção, do que é normal e do que é tratável, do que a sociedade, o estado reconhece, e do que não. Mas, se também de corpo se trata, mais ainda do domínio equívoco das ideias, emoções, pulsões, da construção de si enquanto ser no mundo e ser para a morte. E para a vida. Entretanto. E aí, então se situa o pântano maior em que se afundam ou batalham as grandes dúvidas sobre as fronteiras. As da doença e da sanidade. As da diferença e da normalidade. Da legitimidade ou da criminalidade. Em que se debatem uns e outros, curiosamente. Onde a criminalidade se define a partir do mal causado ao outro. Tal como a doença é por definição o território do sofrimento em si. Em última análise sofre-se da existência total e sem tréguas, nas suas agressões e vazios. E a cura é radical para alguns. A desistência desesperada ou lúcida, sem o céu como limite para o espírito. Mas as profundezas da terra, com os seus vermes a concluir a obra no corpo. E a identidade. O corpo como lugar da identidade, também. O ser como construção e os seus contornos de inevitabilidade. E os direitos do Homem. Voltando ao que é natural e ao que é desenhado. A questão maior, com redutos intransponíveis. Os do sentir. Mesmo esses pontualmente redesenháveis, mas não sempre. Os de ser. Para além de toda a vontade construída, de todas as estruturas tradicionais e sociais. O território do pensar, quantas vezes fora dos padrões e diabolizado mesmo que inócuo. O delito de pensar ou de acreditar, como crime a punir. O da liberdade de ter direitos. O delito de ser, só porque diferente. O corpo-delito. A alma a olhar o corpo. Poderia estar a pensar nas grandes questões dos direitos humanos, naqueles aspectos políticos que geram grandes tragédias. A guerra. Todas as guerras, todos os tipos de guerra, as violações de direitos, as grandes questões políticas. Bens e territórios. Mas é do espaço do privado que quero falar, o pequeno grande drama que é o desrespeito pela identidade. O monstruoso e arrogante violentar o direito básico à individualidade, à especificidade do ser. Sem crime. Sem ofensa ao outro. Usar critérios de gosto para qualificar a identidade. Usar a moral, a tradição. Arquitecturas com paredes de vidro. Por detrás está visível aquele que faz o juízo. A qualificar-se em cada valor que proclama. A maior das enormidades de mau gosto do universo é a sua própria natureza de fenómeno com princípio e a inevitabilidade de um fim. Assim, ainda maior o dramatismo de haver sido criada uma espécie cuja razão a confronta com a noção do seu próprio fim. Fim do indivíduo e eventualmente da própria espécie. E com a noção de que contribui ela própria para a possibilidade de extinção. Para a mente humana, talvez a maior fonte de consternação, essa. Muitas horas de existência dedicadas, embora com a marca de inevitabilidade, à tentativa de encontrar sentido ou fórmula de conforto. Ou então é essa paisagem que Rilke lhe viu. Em que, só assim, podemos apreciar no seu esplendor máximo a vida, e nela o amor. Ainda da noção de naturalidade, ou não. Tão natural um bicho-da-seda, macio, branco, com ou sem riscas desenhadas a negro, que laboriosamente constrói o casulo em que se esconde para um dia dele fugir, já com asas para voar, como um ser humano cuja identidade não se reconhece no corpo sexuado com que nasceu. E a transforma. E ao corpo. O exemplo da pérola. Um dos mais belos tumores da natureza, um acto de pânico de um ser vivo. Destituído de intenção estética. Age por medo. Dor. A sua produção de nácar é doméstica, é para tornar a sua casa confortável. Quando invadido na sua intimidade por organismos parasitas ou dejectos nocivos, isola o invasor agressivo com camadas desse nácar, a madrepérola. Quando produz uma esfera perfeita vêm os critérios humanos dizer da perfeição geométrica, da beleza e do valor comercial. Hoje também os órgãos humanos, mesmo de humanos vivos, têm valor comercial e são objecto de venda, de oferta, de roubo. No último caso dizemos ser crime. E é. Hediondo como outros. À luz da ética que nós próprios criámos. Mas mesmo os moluscos têm sistema nervoso, e, mesmo sendo este muito simples, acontece terem estruturas sensoriais, visuais, tácteis, de equilíbrio. Outras. Na dor, também o ser humano, como a ostra, produz coisas belas. Ou não produz. Ou não são belas. Nada é belo simplesmente por inerência de um estatuto, de uma espécie, de uma raça, de um género. Ou pela naturalidade com que o é. Só por si. Podemos usar critérios que nos levam a achar que um tigre é um animal lindo, enquanto um crocodilo ou um pterodáctilo, não o é. Mas serão de outra natureza do gosto, ou do afecto. Pintainhos e filhotes de mamífero inspiram uma ternura intensa a muitos. Tantos outros bichos causam repugnâncias várias, culturais ou traumáticas. E o patinho feio, que afinal era um cisne. Estava fora do contexto naquele rancho de outros filhotes. Conchita Wurst, com os seus cabelos estonteantes, barba e vestido de lamé. Um modelo estético estranho. A pensar. Mas só isso. Estranho porque invulgar. Menos belo cada detalhe só porque num conjunto inesperado, ou não, é a questão que se me coloca. Mas por cima dessa, a de que não prejudica ninguém. E mais acima ainda, um valor que ligado ao anterior eu venero. A coragem. Eventualmente da solidão. Será menos bela, belo, do que Cronos comendo os seus filhos, o de Goya? Também me pergunto se este é um belo quadro. Ou terrífico. O que, para lá do sentido, não importa afinal. Como se uns fossem mais naturais do que outros. Os bichos. Os cânones. Como a natureza humana, a homossexualidade humana, a transexualidade humana. A partir de que grau de idoneidade ou legitimidade é que se está protegido pela ética – já que a moral é essa parente pobre, conceito adulterado da tradução do grego de ethos – da agressão do outro, é uma coisa que me faz pensar. Para muitos, do humano para cima. O humano como início da escala de valores a proteger, mas acima dele ainda Deus, que a muitos confunde ligeiramente na sua fórmula egocêntrica. Para outros a escala começa um pouco mais abaixo incluindo os animais domésticos, domesticados. Os animais amigos do homem. Para outros os mamíferos em geral, porque detêm um olhar quase humano. Alguns, e alguns mais do que alguns humanos. Para outros, o reino animal em geral, desprezando o mundo vegetal. Para outros ainda, os seres vivos em geral. Para estes é um dilema de vida, conviver no respeito absoluto e coerente com esse princípio, o mais respeitável de todos. É o que eu sinto. Não é o que pratico e mesmo assim o meu inferno é vasto. Culpada pela minha natureza de elemento privilegiado nesta cadeia alimentar. A cidadania, como valor de responsabilidade dá trabalho. E cadeias alimentares entre elementos da mesma espécie, a nossa. Quem engole quem. Quem mata, quem anula, quem destrói quem. Quem se defende de fantasmas, ferindo pessoas. Quem cataloga pessoas. Quem, pela sobrevivência do seu ego e da sua identidade gera a ilusão de moinhos de vento e activamente lança as suas flechas mortíferas. Deixámos historicamente para trás tanto preconceito, tanta caça às bruxas, tanta ignorância, tanta descriminação, se pensamos no sítio do mundo onde temos a sorte de viver como novos- ricos. Deixámos? Tenho pensado tanto na questão da monstruosidade. Sobretudo aquela que se gera a partir da diabolização deslocada do verdadeiro foco. Porque ela existe. Que tantos dias me entra pelos olhos adentro. Mas quanto às grandes expressões desta, a minha impotência é enorme e sobra dela uma agonia indefinida de asco e revolta. Mas é também, e aí mais ao nível do meu pequeno mundo, a questão das pequeninas, ínfimas monstruosidades, que me perturba, porque estão, cotovelo com cotovelo, mesmo ali. E por vezes as pessoas mentem. É assim muitas vezes. Tem que ser. As pessoas encerram-se em quartos escuros em cantos remotos fora da féerie das luzes. Sobem ao sótão de si mesmas e escondem-se. Escondem-se, mas por vezes querem ser encontradas e deixam pistas laboriosas. Labirínticas. Pistas a dizer, não quero que me vejam, vem daí se tens verdadeiro interesse, mas que estão ali com um sinal. Talvez esteja certo assim. E ele, esse aluno menor ainda, pouco mais que criança, como tive outros, que se prepara para que ao longo da vida, muitos pensem e digam, e lhe digam de maneiras indirectas ou por lapso e desadequação de linguagem que a monstruosidade está do lado dele. Falo sobre isto porque não é secreto. É meio secreto. Ele já começou a luta. Mas ele, que mentiu no primeiro momento, apesar da coragem imensa que constitui dizer voluntariamente a uma desconhecida que não se identifica com nenhum género, e que intuí recobrir uma coragem maior que ainda não teve, anseia por ser entendido. Sobretudo aceite. Porque talvez pense por defeito, que nunca se há- de entender a sua questão. Já vi tantas vezes isto. Naquele cadinho em que mergulho todos os dias. E com um mau fim, tantas vezes. Injusto. Porque há um silêncio, uma reserva do lado de lá e do lado do outro. Uma ausência de caminhos que não envoltos em clandestinidade, sofrimento, marginalidade, sofrimento, ignorância. Dor. Dor de ser. E dor dos outros. Porque são esses que doem mais. E depois há as questões legais. Moral e direito são controlados socialmente e entregues a muito atraso inexplicável. Insensibilidade, ignorância. E dói-me ver-me envolvida nesse complexo vórtice, sério, importante, que é demasiado confuso da forma em que ele, ela o vê. De ética, moral, direito, direitos, e colocada num ponto muito definido que é o da discriminação. Porque uso um pronome e não outro e o olho nos olhos no acaso do meu olhar pela turma a quem me dirijo. Porque acho ridículo o nome que ele quer que use para lhe falar. Logo um nome de deus….Um deus que simboliza transformação, é certo…E porque me rebelo de o ver incluir-me por defeito nos seus alvos de luta, quando o que lhe quero ensinar, é, para começar, que nenhum género é melhor ou pior. Que a identidade dele, em curso é íntima e deve ter um reflexo consistente legalmente. E é por isso que deve lutar. Não pela rejeição de uma fórmula para que não me dá alternativas por agora. Um discurso difícil. As pessoas têm o direito de se transformar, física e psiquicamente. Por efeito da vontade de verdade de identificação. De mudar. De mudar de nome. A inoculação de vírus na forma benéfica de vacinas, a reconstrução de uma perna esfacelada num acidente, a colocação de seios de silicone, um transplante, ou a mudança dos órgãos genitais não são vistos com a mesma forma de legitimidade. E nas causas, nas razões de ser está sempre a saúde. Queremos morrer saudáveis, belos, jovens para lá do possível. E da mente. Como tentativa de anulação do sofrimento. Implantar uns seios que são aquele paradigma de feminilidade que sempre se sonhou quando o corpo se definiu noutra direcção, recortar as pálpebras que descaem com a idade. Artificial…O que é que em nós não o é, para além dos sentimentos ou dos sentidos que compulsivamente nos transmitem sensações tão definidas por vezes? Quando mesmo esses enganam. Perseguir paradigmas quando a noção de liberdade se instala. Paradigmas de identificação. Somos únicos, por mais que irrelevantes, na única possibilidade de existência que uma vida sem fervor metafísico, ou religioso, nos reserva. Porque não reelaborar o género nas suas especificidades estéticas, sexuais e existenciais. Mas nestas questões que têm também a ver com o amor ou com o desejo puro e simples, puro e duro, não se sabe sempre se a resolução do corpo é o ponto de partida ou o ponto de chegada. É quem se é, ou aquilo que se sente por alguém que é o outro, e ponto de chegada de um valor. Eu tenho uma noção estranhamente imprecisa da minha identidade de género. Sempre tive. Tenho a sorte de me sentir confortável na minha pele, no meu corpo específico e feminino e na tradição em que cresci. Mas sei que me sentiria muito parecida com o que sou, num corpo de homem. Parece-me. Talvez porque nunca se sobrepõe a tudo o resto que me define, essa, para mim pequena questão do género. Mas, noutro corpo eu seria gay. Disso não tenho dúvida. Mas só atendendo a tudo o que senti até hoje. Serei portanto, eventualmente um homem, gay, que nasceu num corpo de mulher mas não se importa com isso. Ou uma mulher, heterossexual, que poderia ter caído por acaso do destino, num corpo de homem. E se quisesse afinal ser vista pelo olhar de um homem, como mulher, sujeitar-me- ia àquelas duras terapias hormonais e psicológicas, e a complexas cirurgias para surgir, como um cisne do patinho feio, mulher plena. Com um bilhete de identidade a dizer-me do sexo masculino. Há no entanto complicações maiores, outras recombinações e outras possibilidades de identidade entre um corpo e um intelecto. Onde toda esta realidade emperra é nos preceitos legais. Lentos, amórficos, alheados do muito que se sabe da natureza humana. Cruéis e ignorantes. Apoiados pela opinião pública, cada vez mais visível e opiniosa, a dedicar fel e vinagre a estes assuntos à falta de maiores preocupações humanas. Mas as questões de orientação sexual, que para mim são da natureza privada e um direito inalienável ao respeito, são também aquelas em que as pessoas tendem a defender, começando por se resguardar definindo-se de acordo com a norma. Tenho sorte, portanto. As questões que a ética deveria proteger da moral e das insuficiências do direito, camadas sucessivas de elaboração. São as questões da identidade. E do direito à identidade. Todos nós as temos. E das monstruosidades. Aí também posso dizer que todos nós as temos. Sei de que falo quando falo de mim. Também. E aprender os pequenos troços a percorrer de cada vez para conquistar a liberdade. Uma escola é um cadinho. Tantos e tão diferentes, por serem muitos ao longo dos anos é possível vê-los em perspectiva. Senão uns, outros. Não é assim tão diferente. Há um padrão. Gosto de lhes ensinar a solidão. A solidão mas não a clandestinidade, a fuga. O silêncio e a solidão. A terem a coragem de não se esconder. A falar de si a reflectir em si. Nos outros, mas não como elemento repressivo. A transportar a sua própria gaiola. E a sair dela sempre que for preciso. Diz Schopenhauer que quem não sabe apreciar a solidão, também não sabe apreciar a liberdade. Qualquer coisa como isto. E é aí que quero chegar. À alma desse meu aluno, aluna, ou o que quer que se encontre válido na língua portuguesa para me dirigir a ele. Estar só, se necessário. Contra o olhar dos outros. Contra os outros, só se necessário. Com a mesma falta de preconceitos de sempre, excepto o de que legalmente ele tem um nome e um género, e este último é uma referência de reconhecimento discutível e que o não obrigaria a vestir-se de acordo com este, o que tornaria inútil como elemento constante no documento de identificação. E que olhando para ele por agora, reconheço os paradigmas estéticos comuns ao género que ele repudia. Esta é uma história no seu início. Para mim – ainda temos muito a conversar. Para ele vem seguramente dos confins da infância em dor e sofrimento solitário. Com os seus monstros por companhia. Mas mais ainda com os monstros dos outros. A preparar-se estes para, nas suas, lhe apontar monstruosidades e outros mimos.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaQuestionada atribuição de medalhas de honra pelo Chefe do Executivo As críticas ao mau desempenho dos ex-Secretários Florinda Chan, Francis Tam e Cheong Kuok Vá ou o recente caso de corrupção eleitoral ligado a Chan Meng Kam poderão levantar dúvidas junto da população [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]lorinda Chan, Francis Tam e Cheong Kuok Vá. Todos eles foram Secretários no Governo durante 15 anos e deixaram as tutelas há pouco mais de um ano, com inúmeras críticas e manifestações para trás. No entanto, são eles os novos distinguidos com medalhas de honra pelo Chefe do Executivo. Figuras da política local contactadas pelo HM acreditam que essa atribuição pode levantar dúvidas junto da sociedade. “[Os ex-Secretários] deveriam ter feito um melhor trabalho, não completaram o seu trabalho e agora vão ganhar uma medalha. Não me parece que seja uma boa prática. Terminaram [recentemente] o seu mandato e o Chefe do Executivo vai atribuir uma medalha… diria que o Governo não deveria fazer isso”, considerou o politólogo Larry So. Já Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), não encontra grandes problemas nesta atribuição, mas lembra que a sociedade pode questionar esta decisão de Chui Sai On. “Acho que não há problema em conceder as medalhas aos antigos Secretários, não é por terem sido Secretários que não devem receber as medalhas. Mas penso que as pessoas vão questionar sobre se deveriam ou não receber as medalhas. Isso pode ser discutível”, considerou a docente e ex-candidata às eleições legislativas. Miguel de Senna Fernandes, advogado, lembra que a decisão cabe sempre a Chui Sai On. “Na perspectiva do Chefe do Executivo foram Secretários que, apesar da chuva de críticas de que foram alvo, não se coibiram de fazer [da melhor maneira] possível o trabalho que lhes foi incumbido. Se calhar as políticas ou as orientações que seguiram podem ser criticáveis, mas a medalha em si é uma prerrogativa”, disse ao HM. “As consequências [da decisão], ele melhor saberá enfrentá-las. A doutora Florinda Chan, que esteve 15 anos à frente da pasta da Administração e Justiça, foi alvo de processos, de críticas, de tudo… Esteve numa área que era particularmente sensível, numa altura em que a RAEM se estava a consolidar e aí se calhar houve fissuras. Se ela fez bem ou mal, a história melhor o dirá. O certo é que como julgo conhecer a doutora Florinda Chan, julgo que ela fez o melhor que pôde fazer. Eu fico muito contente, apesar de uma certa crítica da opinião pública em relação aos seus feitos”, referiu. Não é a altura certa Chan Meng Kam, membro do Conselho Executivo e deputado à Assembleia Legislativa (AL), foi outro dos distinguidos pelo Chefe do Executivo, isto apesar do seu nome ter estado envolvido num caso de corrupção eleitoral este ano, ainda que o deputado não tenha sido formalmente acusado. Para Larry So, esta não é a altura certa para atribuir a medalha. “Ele é membro do Conselho Executivo e tem feito contribuições para a comunidade. O seu nome esteve ligado ao caso de corrupção eleitoral, mas não chegou a ser formalmente acusado. Ele tem sido membro do hemiciclo e do Conselho Executivo, não deveríamos esperar até que termine o seu termo no Conselho Executivo? Aí seria uma boa altura para dar uma medalha”, defendeu. Agnes Lam considera que a sua distinção pode levantar dúvidas no seio da sociedade. “Isso também é questionável, penso que não é a altura certa para atribuir uma medalha a Chan Meng Kam. Ele tem contribuído para a sociedade, tem uma associação que faz muitas coisas pela população. Mas o caso de corrupção eleitoral pode levantar questões. O Governo poderia pensar melhor sobre qual a altura certa para atribuir medalhas a uma pessoa em particular”, apontou. Larry So lança ainda as farpas à medalha atribuída à empresa Nam Kwong, ligada, entre muitas outras áreas, ao mercado abastecedor, em regime de monopólio. “A empresa Nam Kwong tem vários negócios e sabemos que a maior parte desses negócios são monopólios. Por exemplo, no mercado abastecedor os preços continuam a subir e a subir. Porque é que atribuímos a medalha? Pelo aumento dos preços? Acima de tudo, é uma empresa que está a fazer negócios há muito tempo e não vejo porque devem receber a medalha”, acusou. Apesar da decisão de atribuir medalhas depender apenas do Chefe do Executivo, Agnes Lam acredita que queria importante criar um mecanismo que permita uma melhor avaliação desta decisão política. “Seria bom se houvesse um mecanismo para o Governo analisar quais as pessoas a nomear para as medalhas e para terem acesso às opiniões do público. O Governo só precisa de avaliar de forma mais cuidadosa o sistema de atribuição de medalhas, porque isso pode gerar outras interpretações. O Governo tem de estar mais atento quanto a isso.” Miguel de Senna Fernandes congratula macaenses Miguel de Senna Fernandes, também presidente da Associação dos Macaenses (ADM), dá os parabéns aos restantes macaenses medalhados, como Proença Branco, ex-comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, e Rita Santos, ex-coordenadora-adjunta do Fórum Macau. “Fiquei muito contente com a medalha atribuída ao Proença Branco, que foi uma pessoa que soube sempre estar no sítio onde esteve, com a devida descrição. A área da Segurança também foi bastante sensível, na altura da afirmação da RAEM, mas Proença Branco fez aquilo que tinha de fazer. Sempre revelou capacidades de liderança. Já Rita Santos teve o seu papel importantíssimo na afirmação do Fórum Macau”, defendeu.
Boi Luxo h | Artes, Letras e IdeiasAs longas metragens de Jean Eustache, La Maman et la Putain e Mes Petites Amoureuses [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]a Maman et la Putain traz sobretudo a lembrança de uma era que passou, o início do nosso tempo, um em que as mulheres já se não deixam seduzir pelos soldados, um tempo em que o uniforme militar perdeu o seu charme para se ver substituído pelo prestígio do homem de sucesso, os seus carros e o seu emprego fixo. Quando o nosso herói, Alexandre, no início do filme, pede emprestado um carro a uma vizinha esta diz-lhe, aproximadamente, que o carro não tem o pisca do lado esquerdo e que, para contornar esta falha, inventou um pequeno truque – evitar virar à esquerda. É aí que o filme de Eustache nos convence. Um homem de sucesso não conduziria um carro sem indicador de mudança de direcção, acho eu. Alexandre não tem direcção e esse é o seu segredo e o seu charme. O que em La Maman et la Putain causa uma nostalgia paralisante é o modo como é usado o tempo. Como pode aquele que era o tempo do ócio e da largueza ter-se transformado, hoje, num tempo dedicado todo ele à utilidade? Este filme não precisava, além disso, de ter 3 horas para se explicar, mas, no fim, percebemos que a ele se poderiam generosamente juntar mais 3 horas e meia porque esta história, autorizada já longe dos primeiros entusiasmos da nouvelle vague, faz parte de uma fase de confirmação, de uma fase em que se perdeu a necessidade de anunciar um cinema novo com estridência e em que se pode permitir uma auto satisfação. Os temas, longamente debatidos, são os do costume, o amor, o ciúme e a frequência da cidade, neste caso, como em tantos outros filmes da época, Paris, e, sobretudo, a necessidade imperiosa da liberdade. Aqui a liberdade é a do amor e a do usufruto do ócio. A imagem é a dos cafés, a dos cigarros constantes, da música e das referências ao cinema e, mais escassamente, ao sistema político. O que mais perturba é a incontornável instalação do tempo burguês, a instalação do tempo comercial e o tópico da pressão social em direcção ao conformismo – que levou à ditadura actual dos produtos gourmet, do design, da correcção política e do desporto. Por isso este filme teria de ser longo e extremamente palratório, para lembrar como a conversa e os cigarros são essenciais à felicidade. Num dos seus primeiros filmes curtos, Le Père Noël a les yeux bleus, um dos personagens fala de um outro referindo-se-lhe nestes termos: não me consigo lembrar dele senão com um cigarro na ponta dos lábios. Hoje ele serve para percebermos que nos roubaram o tempo. Não é, como se poderia esperar, mais um filme francês de conversa, mas não é fácil de isolar de onde é que vem a sedução que o envolve. Jean Eustache realizou, para lá de várias curtas metragens, apenas duas longas, La Maman et la Putain e Mes Petites Amoureuses, respectivamente em 1973 e 1974. Não viveu muitos anos, escolheu suicidar-se com um tiro. Não conheço muitos cineastas que se tenham suicidado com um tiro. Talvez o cinema não seja uma actividade muito séria. O mes petites amoureuses, Que je vous hais! Plaquez de fouffes douloureuses Vos tétons laids! (Rimbaud) Mes Petites Amoureuses é menos urbano e menos cool. Não tem jovens de cachecol e o centro das atenções não é um jovem urbano, intelectual e irritante mas um pré-adolescente de cidade de província, acólito de igreja e de ideias fortes. Pode ser uma história autobiográfica de Eustache mas se não o for sê-lo-á de muitos outros jovens pré-adolescentes de cidade de província. Seja como for, uma infância na província, com os seus odores fortes e uma imobilidade húmida, marca mais que a juventude na grande cidade. É emblema da sua cruel intenção o início irónico do filme, uma canção: (. . .) douce France, cher pays de mon enfance (. . .) mon village (. . .) où les enfants de mon âge/on partagé mon bonheur/oui je t’aime . . . douce France. Será tudo menos doce esta França estática, monótona e triste e é difícil, dado o título do filme, não pensar na infância difícil e cheia de peculiares agressividades do autor do poema que o informa, Rimbaud. Quando o pobre rapaz é obrigado a deixar a avó e a escola para ir viver com a mãe e um espanhol de semblante duro e sofredor com quem mantém uma relação ainda meio escondida da sociedade local, dá-se o começo do incómodo (a mãe distante) e do fascínio que algumas mulheres lhe causam. O crescimento de Daniel far-se-á de silêncios e de faltas de oportunidade, estas inevitáveis a partir da altura em que a mãe o retira da escola para o pôr a trabalhar. Se o protagonista de La Maman et la Putain praticamente não se cala durante todo o filme, em redor do jovem Daniel permanece um silêncio que o distingue dos que o rodeiam. A sentença a que não poderá fugir é declarada por um amigo (Maurice Pialat) do mecânico de motas para onde a mãe o envia para trabalhar: nunca serás mais que um pobre diabo como nós. Em Mes Petites Amoureuses (muito mais do que em La Maman et la Putain) há uma imensa capacidade de nos dar a ver os perigos que o futuro nos pode reservar, uma imensa capacidade de nos dar a ver como se instala em torno de um jovem talentoso, apodrecenta, uma inevitável desilusão.
Flora Fong EventosNovo Macau | Exibição de filmes sobre assuntos internacionais [dropcap style=’cirle’]S[/dropcap]eis curtas-metragens e um documentário vão poder ser vistos este fim-de-semana na sede da Associação Novo Macau (ANM), com temas sobre direitos humanos e movimentos civis contra a violência. Pela primeira vez, a ANM convoca os cidadãos a tomar atenção aos assuntos sociais de outra forma que não a convencional manifestação ou conferência de imprensa. O documentário que vai ser exibido, “Everyday Rebellion”, é rodado por dois irmãos do Irão, Arash e Armam Riahi, que durante três anos filmaram os grandes movimentos de todo o mundo, tais como o “Occupy Wall Street”, a “Primavera Árabe”, o “Spanish Indignants” e o “Ukranian nude feminist activitism”, entre outros, mostrando a ideia de que “as pessoas têm redefinido a desobediência civil”. “The Game Must Go On” é uma das curta-metragens escolhidas pela ANM, que conta como quatro menores jogam futebol na rua porque não têm onde jogar mais, mas são repreendidos por vizinhas. Segue-se “Sprinkles 4-ever!”, um outro filme com temas sobre jovens. Nicky tem 12 anos e vive uma vida pobre, veste roupas em segunda mão e come diariamente do banco alimentar. Pode-se dizer que nunca é demais falar na guerra na Síria e isso é o que mostra a curta-metragem “The Lion and the Brave Mouse”. Uma criança de nove anos, Nora, passou quatro dias seguidos a fugir da sua casa, experimentando o horror da guerra. Gradualmente, conhece novos amigos em sítios desconhecidos, aprendendo a desenhar para mostrar as saudades que sente do seu país natal. As seis curta-metragens vão ser exibidas no dia 28 de Novembro, sábado, das 14h30 às 18h30 e o documentário vai ser exibido no dia 29, domingo, às 19h30. Duas sessões de discussão vão acontecer no final das exibições.
Leonor Sá Machado Manchete SociedadeAuto-silos | Mais parques de estacionamento atribuíram passes mensais ilegais Mais 11 parques de estacionamento infringiram a lei ao emitir passes mensais, entre elas a Companhia de Parques de Macau. Outros cinco estão a ser também investigados por outras irregularidades. As multas são elevadas, mas… este ano ninguém paga [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais 11 parques de estacionamento do território emitiram passes mensais de forma ilegal a 436 veículos. A esmagadora maioria – 416 – destinava-se ao estacionamento de carros ligeiros e outros 20 a motociclos. Os números foram revelados ontem pelo director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, depois de ter sido descoberto um caso semelhante com o parque do Jardim Comendador Ho Yin. A DSAT ordenou o pagamento de uma caução pelas empresas de gestão responsáveis, que pode ir das 20 mil às 250 mil patacas, mas o director adiantou que deverá “ser aplicada a multa mais elevada” como norma dissuasora. No processo estão envolvidas empresas locais, uma delas sendo a Companhia de Parques de Macau, detida por Frederico Ma e Ma Iao Lai. Familiares directos do falecido Ma Man Kei, o primeiro é presidente do Fundo de Ciência e Tecnologia; o segundo, é membro do Conselho Executivo. A investigação, afirmou o responsável, está a decorrer há já algum tempo, mas ainda não acabou. Embora tenha já sido anunciada a imposição de multas às empresas infractoras, o processo não vai arrancar este ano porque a DSAT está a “dar tempo às empresas para que notifiquem os proprietários”, esclareceu Lam Hin San. Os parques que se concluiu terem fornecido mais passes mensais do que o permitido por lei foram o auto-silo Pak Kong, o Pak Keng, o auto-silo Pak Vai, Pak Wai, Pak Lai, Pak Lek, Pak Lok, Pak Wau, o parque de estacionamento do Jardim do Iao Hon e, finalmente, o da ETAR. Outras irregularidades As irregularidades vão ter que ser resolvidas até final deste ano, de acordo com afirmações da DSAT ontem. Contudo, a emissão excessiva de passes mensais não foi a única ilegalidade detectada. No total, foram 16 os parques de estacionamento que infringiram o regulamento e, ainda que 11 deles digam respeito ao referido passe mensal, entre as restantes infracções estão a falta de dístico indentificador de portador de passe, o estacionamento abusivo – por vários dias e até meses consecutivos sem pagamento – e a não retirada da indicação de lugar reservado em espaço que são agora de acesso por bilhete normal. Questionado sobre o problema que é agora colocado aos arrendatários daqueles espaços de estacionamento, Lam Hin San respondeu apenas que “as empresas responsáveis terão que contactar os proprietários para os notificar e regularizar o assunto”. Desconhece-se assim se será criada outra alternativa para as pessoas que ficam agora sem um espaço para deixar o carro. Os lugares até agora ocupados de forma ilegal serão posteriormente entregues a residentes que já estão à procura. “A DSAT irá retomar os lugares reservados aos passes mensais para destiná-los aos lugares para bilhetes simples, para que haja lugar à desistência daqueles lugares”, confirmou o director. O mesmo responsável estima uma retoma, para já, de cerca de 180 lugares. Questionado pelos média sobre a entrada em funcionamento de um novo auto-silo no Fai Chi Kei, a DSAT disse esperar que este seja inaugurado “ainda em Dezembro”, cumprindo-se assim a promessa anteriormente feita pelo Governo de o abrir ao público durante o quatro trimestre de 2015.
Joana Freitas Desporto Grande Prémio de MacauCosta Antunes despede-se satisfeito e pede “boas ideias” para o futuro [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi “um grande sucesso” e as bases para o futuro estão lançadas. Foi assim que João Costa Antunes se despediu da coordenação do Grande Prémio de Macau, que deixa após mais de uma década. No primeiro ano em que Macau recebe a Taça do Mundo de GT, o engenheiro assegurou que há muito potencial para se continuar com um programa de excelência. “Acho que foi um grande sucesso. Iniciámos este ano um novo programa, que teve realmente um nível desportivo bastante elevado. Todas as entidades envolvidas, em particular a FIA que esteve todo o tempo presente na preparação e na implementação, vieram ter connosco no final para dizer que foi realmente um bom começo”, disse, enquanto assinalava que, agora, é só andar para a frente. “Estão criadas condições para que seja analisado o trabalho feito até aqui, a grande parte das pessoas que fizeram parte deste sucesso vão continuar nele e portanto diria que é preciso boas ideias, ser criativo e continuar com as coisas boas.” Após 42 anos de trabalho na Administração, Costa Antunes admite que a sua função no Grande Prémio deixa algumas marcas. “O Grande Prémio vai deixar saudades na medida em que é um projecto de grande dimensão a que dedicamos muito empenho e paixão. Mas na minha vida profissional, eu diria que há sempre um momento em que e difícil começar e depois é com alegria que vemos os nossos esforços e o trabalho de conjunto de uma equipa a dar frutos. É sempre uma transição.” O ex-coordenador da Comissão que organiza o maior evento desportivo do território foi açambarcado pelos funcionários e membros da equipa antes de falar com os jornalistas, para estes coleccionaram fotografias com o homem que, disseram ao HM, “deu muito a Macau”. O engenheiro foi aplaudido com entusiasmo nos corredores do edifício do GP, logo após a última corrida do dia – de F3 – que o responsável faz questão de realçar, pela importância que traz à RAEM. “A corrida de F3 é sempre muito especial e vai assegurar com certeza os futuros campeões do mundo de F1. Convém lembrar que, este ano, entre os 20 corredores no campeonato [de F1], 13 estiveram em Macau. É muito provável que, dentro dos 28 deste ano, alguns se singrem no futuro campeões do mundo.” Acidentes | Quatro pilotos hospitalizados mas estáveis O coordenador da Comissão organizadora do Grande Prémio, João Costa Antunes, disse ontem que quatro pilotos tiveram de ser hospitalizados devido a acidentes, mas o estado clínico é considerado estável. Francisco Mora, o português de 19 anos que corria na Corrida da Guia, ficou ferido, depois de um piloto de Hong Kong, que partiu duas costelas, e de dois pilotos das motas, que tiveram aparatosos acidentes. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, visitou no Hospital Conde de São Januário os pilotos e disse à equipa médica “para não poupar esforços” na ajuda prestada. Tam quis ainda conhecer o ponto de situação do tratamento, tendo dado indicações aos dirigentes do Hospital para “estudar cuidadosamente as formas de tratamento” , já que eles poderão ter de ficar hospitalizados depois do final do Grande Prémio.
Sérgio Fonseca DesportoTaça do Mundo GT – FIA | Maro Engel faz a festa. Mortara, penalizado, perde segundo lugar [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]aro Engel sagrou-se o primeiro vencedor da Taça do Mundo FIA de GT, vencendo pela segunda vez consecutiva a Taça GT Macau ao volante de um Mercedes-Benz AMG SLS GT3. Numa corrida renhida logo desde início e marcada por acidentes e momentos menos felizes para alguns pilotos – como o caso de André Couto e Renger Van der Zande (Holanda) – o piloto alemão partiu da pole-position, após ter vencido a Corrida de Qualificação de sábado, fruto de uma penalização de dez segundos dada ao vencedor da prova, Stephan Muecke. Engel largou que nem um foguete, enquanto o seu companheiro de equipa, van der Zande ultrapassava tanto Edoardo Mortara, como Muecke. Mais atrás, Kevin Estre travou tarde de mais para o Lisboa e o seu Mclaren entrou pela traseira do Aston Martin de Richard Lyons, resultando no abandono de ambos. Assim, na frente, Engel assumiu a dianteira da corrida e por lá manteve-se a seu bel-prazer, enquanto o seu companheiro de equipa fazia de tampão para o grupo perseguidor constituído por Muecke, Mortara e Réne Rast. A corrida, que vinha a ser uma procissão aborrecida, voltou a ter interesse quando à 12ª volta o Aston Martin de Muecke tocou em Zande, danificando a carroçaria do Mercedes do holandês, que acabou por cair de segundo para sexto. Quem beneficiou foi Mortara: o “Senhor Macau” consegue, então, ultrapassar também o Aston Martin, ascendendo à segunda posição da geral. Mas, duas horas depois do fim da corrida, Mortara foi penalizado em 20 segundos por o que foi visto como uma falsa partida – desce para sexto e promove Rast a segundo e Muecke a terceiro. Acidentes e azares Duas voltas depois o safety-car é chamado à pista para remover um Porsche 911 GT3 R acidentado no Paiol. Quando tudo parecia preparado para um final emocionante desta corrida de 18 voltas, a duas voltas do fim, e com o pelotão a seguir em marcha lenta atrás do carro de segurança, John Shen bateu sozinho nos pneus, o que gerou um toque em cadeia, onde também estiveram envolvidos André Couto, Philip Ma e Jacky Yeung, sendo que o Bentley deste último danificou a suspensão traseira de Couto. O piloto de Macau, que corria nos top 10, viu o seu carro bater contra as paredes do circuito da Guia, na sexta-feira. A equipa ainda conseguiu reparar o McLaren para, no sábado, o carro apresentar novos problemas. Couto voltou, por isso, à pista no domingo em último lugar, mas conseguia manter-se na 11º posição quando Yeung lhe bateu na traseira. Com a pista bloqueada, a direcção de corrida optou por terminar prematuramente a contenda sob bandeiras vermelhas, com Engel a celebrar mais uma vitória, seguido de Mortara e Rast. “Estou muito satisfeito por ser o primeiro vencedor desta corrida mas também estou orgulhoso da minha equipa. Vencer aqui hoje é fantástico, eu adoro este lugar e esta pista”, disse o alemão da Mercedes-Benz AMG. “É inacreditável. Estou tão, tão feliz. E tão, tão orgulhoso por ser o primeiro vencer”, frisou. O melhor tempo – 2m19s736ms (Stephan Mucke)
Joana Freitas Desporto Grande Prémio de MacauAndré Couto e Álvaro Parente “frustrados”, mas com boas recuperações Álvaro Parente (Foto de Kelsey Wilhelm)[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]em Álvaro Parente, nem André Couto tiveram hipóteses de dar mais nas vistas durante o fim-de-semana. Os McLaren 650S GT3 acusaram o “Balanço de Performance” muito desfavorável e, apesar da sua aerodinâmica aprumada, nunca foram capazes de rivalizar com os outros carros presentes em termos de velocidade de ponta. Mas os dois portugueses conseguiram boas recuperações, dentro das dificuldades técnicas. Parente de volta Parente, que se estreava na Taça do Mundo de GT, ainda mostrou ser o mais rápido no segundo sector do circuito, aquele que engloba a zona mais sinuosa do Circuito da Guia. O portuense – que começou em 9º na grelha de partida e que ainda conseguiu subir até ao sexto lugar – perdeu o sexto posto para Darryl O’Young no início da segunda metade da prova, caindo para sétimo. Mas, Parente estava resignado com o seu resultado. Até porque quando o assunto é técnico, não há muito a fazer. “Não temos velocidade de ponta suficiente. O balanço do fim-de-semana em geral é muita frustração. Em todas as rectas não estamos a lutar de igual para igual. Na zona das curvas e contra-curvas tivemos muito fortes, tivemos bem. Mas, pronto, chegámos à recta e deixamos lá tudo. Não temos hipótese.” O balanço “geral” pode ser de frustração, mas o piloto do Porto também se mostrou contente “por ter terminado a corrida” e “ter feito o melhor” que conseguiu. “Terminámos no sexto lugar, não foi horrível. Dentro do que temos em termos de carro, diria que foi bom. Gostei muito de vir aqui, esta pista é um desafio. Estou satisfeito com a corrida”, disse, frisando que a pista de Macau é difícil, mas voltar 11 anos depois é “uma mistura de sentimentos”. Uma coisa é certa, Parente assegura poder voltar: tudo depende da McLaren. “Se eles me chamarem outra vez, eu venho com todo o gosto e muito contente.” Couto em “casa” André Couto (Foto de Kelsey Wilhelm)Depois do violento acidente de sexta-feira, Couto foi obrigado a abandonar devido a um problema do acelerador na Corrida de Qualificação de sábado. Largando do fim da linha da grelha de partida para o “prato principal” do fim-de-semana, o único piloto de Macau nesta corrida fez o que lhe competia: recuperar o máximo de posições possíveis. Sem nunca ter encontrado um bom compromisso com o McLaren, Couto subiu nove lugares e foi o 11º classificado no final, num fim-de-semana que foi “difícil”. “Consegui chegar ao fim em 11º, não é o melhor. [Os problemas com o carro] fizeram com que tivesse só de procurar um resultado, ainda que nada de especial. Positivo sim, para quem saiu em 20º e ficou em 11º. Em termos de performance não. O carro até estava em boas condições, mas Macau é assim, sempre difícil. Para o ano há mais e o piloto não desiste. “Acho que volto. Macau é a nossa casa.”
Joana Freitas Desporto Grande Prémio de MacauCorrida da Guia reduzida a sete pilotos entre 30. Ávila incólume [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Corrida da Guia teve 30 participantes este fim-de-semana, mas só sete, incluindo o piloto de Macau Rodolfo Ávila, viram a bandeira de xadrez na segunda corrida. Dois carros foram eliminados por problemas técnicos logo nos treinos, três concorrentes não foram autorizados a participar, por não obterem o mínimo tempo para se qualificarem, e quinze carros estiveram envolvidos em acidentes nas duas corridas de dez voltas de ontem, ambas pontuáveis para os campeonatos TCR International e Asia Series. O inglês Rob Huff foi o mais rápido ao longo do fim-de-semana, cumprindo o objectivo de ganhar pela oitava vez no Circuito da Guia. Saindo do primeiro lugar para a primeira corrida, após ter obtido a pole-position nos treinos de qualificação de sábado, Huff apenas viu a sua liderança ameaçada nos primeiros metros da primeira corrida por Stefano Comini e Pepe Oriola que ensanduicharam o inglês. O suíço e o espanhol que estavam na luta pelo título do TCR internacional acabaram superados por Jordi Gene que foi o segundo classificado no final, à frente do suíço de origens italianas. O quarto lugar deixou Pepe Oriola sob pressão para a segunda corrida. Stefano Comini Ávila foi o 12º classificado, ele que perdeu algumas posições ao travar bruscamente para evitar o carro desamparado do compatriota Francisco Mora à saída da Curva do Mandarim após a largada. A partida para a segunda corrida do fim-de-semana, que segundo o regulamento da prova é aquela que conta como a “Corrida da Guia”, será um sucesso nas redes sociais nos próximos tempos. Os experientes Huff e Gené foram os responsáveis pelo aparatoso acidente da segunda corrida que deixou de fora mais de metade do pelotão. Para além de ambos terem desistido, Gené ainda partiu duas costelas e foi multado em mil dólares americanos por alegadamente ter causado o acidente. Apesar de só nove carros terem voltado à pista, os espectadores tiveram muito com que vibrar. Comini e Pepe Oriola discutiram taco-a-taco a luta pela vitória, tendo ambos os carros se tocado por diversas vezes. E a três voltas do término, Comini, sob pressão do Oriola, travou cedo e o espanhol não hesitou em empurrar o suíço. No entanto, os vários toques que o espanhol deu no seu adversário danificaram o radiador do SEAT vermelho que viria a abandonar, abrindo as portas para o título de Comini. Ávila (Foto de Kelsey Wilhelm) A desaceleração de Pepe Oriola, quando viu o seu motor a fumegar, surpreendeu também o seu irmão, Jordi Oriola, que seguia de muito de perto a luta quente entre líderes no terceiro posto. Jordi não evitou um choque na traseira do carro de Pepe e também desistiu. Apesar de duas corridas anónimas, Andrea Belicchi e Mikhail Grachev completaram o pódio. Quem passou quase incólume ao massacre desta corrida foi Ávila, cujo SEAT apenas ficou com o pára-choques dianteiro danificado, o que não afectou a performance do carro espanhol. O piloto luso da RAEM optou por uma estratégia cautelosa que se revelou acertada e que lhe valeu dois triunfos na TCR Asia Series, ajudando a equipa local Asia Racing Team a vencer o título de equipas. Ávila foi o 5º à geral na sua estreia na Corrida da Guia. O que disse… Ávila “Não é por ficar nos primeiros, não acabou quase ninguém. Mas também diverti-me na [corrida] de qualificação e depois levei tudo mais devagarinho. O objectivo era acabar e foi o que fizemos. Aquilo foi complicado, já se estava à espera [dos acidentes], até levantei o pé do acelerador para não ficar lá, mas tive sorte também. Isto é Macau, sabemos que é assim, mas para nós que corremos uma vez por ano aqui, não nos interessa estar no meio deles. O que interessa para nós é acabar. Temos de trabalhar, para pelo menos assegurar-mos alguma ajuda para o ano. Logo vemos se voltamos a Macau ou não, não sei se vale a pena voltar. Não gosto de correr assim.” Mora e Ho azarados O jovem português Francisco Mora foi uma boa surpresa este fim-de-semana, rodando sempre próximo dos dez primeiros. Contudo, a participação do piloto luso no domingo foi bastante curta, visto que foi o SEAT Léon da Target Competition com a bandeira de Portugal que causou o primeiro grande acidente da corrida. Mora entrou demasiado depressa na Curva do Mandarim, batendo forte nos muros de protecção, acabando a sua viatura imobilizada do outro lado da pista, para segundos mais tarde ser colhida pelo Honda de Kenneth Lau. Henry Ho, o outro piloto de Macau em prova, teve problemas de motor no seu Honda cor-de-rosa na primeira corrida, sendo depois uma das vítimas da carambola inicial da segunda corrida ao ser atingido por Samson Chan.
Joana Freitas Grande Prémio de Macau49º Grande Prémio de Motos | Estreias para Hickman, que destrona Rutter McGuiness quer fazer mais duas voltas na Guia (Foto de Kelsey Wilhelm)[dropcap styçe=’circle’]O[/dropcap]49º Grande Prémio de Motos voltou a ser uma caixinha de surpresas. Quando todos os prognósticos apontavam para o triunfo de um ex-vencedor na prova deste ano, o britânico Peter Hickman, na sua segunda vez em Macau, superou a concorrência, naquela que foi a primeira vitória de sempre de uma moto da BMW nas ruas do território. O piloto de 28 anos, que para o ano vai conduzir uma Kawasaki, levou a melhor sobre os mais experientes Martin Jessop e Michael Rutter, obtendo a primeira vitória da sua carreira em provas de estrada. Jessop partiu da pole-position mas à quarta volta viu-se passado pelo seu rival na Curva do Lisboa. Assim na frente, Hickman impôs um ritmo forte, cimentando uma vantagem confortável até ao final da prova. No final da prova Hickman disse estar a sentir algo “absolutamente fantástico”. “Esta é a minha segunda vez em Macau. Eu não corria em estrada há muito tempo. Todos nós sabíamos desde os treinos e qualificações que o Jessopp era muito forte, e o andamento que ele tinha comparado com todos os outros parecia demais, para ser honesto. Estava com pneus Dunlop e o Jessop e o Rutter com diferentes, por isso sabíamos que íamos ser fortes na segunda metade da corrida, o que veio a acontecer”. Rutter, que ao longo do fim-de-semana mostrou que está longe de estar acabado, falhou o objectivo de vencer pela oitava vez entre nós, mas levou a melhor a luta pelo terceiro posto sobre Gary Johnson, Ian Hutchinson e o par da Honda Racing John McGuinness e Conor Cummins, ficando em terceiro. Hutchinson chegou a rodar em terceiro, mas acabou por destruir os pneus, descendo para sexto. McGuiness e Johnson foram o quarto e quinto classificado, respectivamente, isto depois do veterano piloto da Honda ter ultrapassado o seu adversário, com uma manobra arriscada, na Curva D. Maria. O vencedor do ano passado, Stuart Easton, que este ano teve uma passagem muito discreta pela RAEM, desistiu com problemas técnicos na sua Yamaha a cinco voltas do fim. Ao contrário dos treinos acidentados, na tarde de sábado assistiram-se a 12 voltas sem grandes sobressaltos. Portugueses cumpriram (Foto de Kelsey Wilhelm)Os dois portugueses em prova não desapontaram e rodaram no fim-de-semana nas posições esperadas para o material que têm à disposição. André Pires, em Yamaha, terminou na 20ª posição, subindo três posições ao longo da prova. (Foto de Kelsey Wilhelm)“Não podemos comparar o nível dos da frente. Eles têm motos de fábrica, Superbikes. Nós viemos com a mota que habitualmente usamos no campeonato nacional”, frisou, “satisfeito”. Nuno Caetano, a contas com dores de uma recente operação a uma clavícula que ao longo da semana o impossibilitou de conseguir fazer várias voltas consecutivas, muito fez para chegar até à corrida. Na sua quinta visita à RAEM, a Kawasaki de Caetano parou ainda na primeira volta, pois o motociclista luso “não estava em condições” de continuar. Caetano reconheceu que foi “frustrante”, mas considerou que fez “mais do que aquilo que esperava”. Uma última nota para o 15º posto obtido pelo sul-africano Allann-Jon Venter, com uma Honda da CF Racing Team 32, equipa liderada pelo ex-piloto local João Fernandes. O que disse… McGuiness “Fui rápido no início, conheço a pista e a mota, mas os outros apanharam-me. Não estou muito desapontado, gostava de ficar no pódio, mas estou feliz por ter acabado. Sou velho já! Volto, esta vez foi a 18ª participação e quero fazer 20 e depois talvez reformar-me. Mas gosto de Macau, gosto das pessoas e do ambiente aqui e fiquei feliz da forma como conduzi. Agora é relaxar e beber uma cerveja” O que disse… Easton “Foi um ano duro para nós, nova mota que nunca conduzi e estive lesionado durante quatro meses, este é o meu regresso. Estava enferrujado, mas consegui chegar ao sexto. Estou um pouco desapontado, mas quero voltar e vencer”
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauCTM Taça de Carros de Turismo de Macau | Tetra de Poon [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]aul Poon e Samson Fung, dois veteranos das provas locais e amigos de longa data, levaram os dois Peugeot RCZ do Teamwork ao triunfo. Esta foi a quarta vitória do veterano piloto-empresário Poon, campeão da especialidade de Hong Kong, no Circuito da Guia. O piloto dominou os acontecimentos desta prova desde o primeiro dia, obtendo tempos que o permitiriam alinhar na Corrida da Guia. O ex-vencedor do defunto Troféu Hotel Fortuna, Chou Keng Kuan, foi o terceiro classificado e o melhor de Macau, beneficiando de um erro cometido por Andrew Lo a duas voltas para o fim. Três macaenses terminaram nos dez primeiros. Sem motor no seu Chevrolet para acompanhar os Peugeot nas rectas, Filipe Souza foi o quinto classificado, enquanto Célio Alves Dias foi oitavo e Jerónimo Badaraco nono, recuperando desde o 15º posto à partida. Ainda no que respeita aos nomes portugueses participantes, Eurico de Jesus ficou em 17º lugar e Rui Valente ficou em 18º, Álvaro Mourato no 20º posto e Hélder Rosa em 21º. A corrida foi marcada pelo violento acidente do Peugeot de Andy Yan. O campeão chinês de turismos vinha a rodar entre Poon e Fung quando bateu forte nos muros, o que obrigou a entrada do safety-car e uma ida do piloto de Hong Kong ao hospital, onde lhe foram diagnosticadas duas costelas partidas.
Joana Freitas Desporto Grande Prémio de MacauPilotos mais jovens têm entre 17 e 19 anos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]inda têm cara de adolescentes, mas são autênticos homens adultos com carros na mão. Os mais jovens pilotos do Grande Prémio correm na Fórmula 3 e contam apenas 17 anos. Naquela que foi a 62ª edição do maior evento desportivo do território, não se deixaram levar pela experiência nas corridas ou o posto da idade. Impressionaram quem se sentou nas bancadas e quem sentiu mais de perto a emoção do fim-de-semana. São os putos da Guia, que fazem o circuito de mais de seis quilómetros em pouco menos de dois minutos. São, entre outros tantos, Sérgio Sette Câmara, Callum Ilott e Charles Leclerc. “Quando tinha oito anos costumava ir à pista [de corridas] da minha cidade. Tive de experimentar. Depois, o meu pai comprou-me um kart e comecei aí”, conta-nos satisfeito Ilott. Nascido no mês em que acontece o Grande Prémio, em 1998, o jovem britânico esmerou-se naquela que foi a sua estreia no território. Desde que começou no kart oferecido pelo pai, não parou os treinos, todas as noites depois da escola – elemento que não vem à mente quando pensamos em pilotos que correm num GP como este, mas que é, como numa vida normal de adolescente, um elemento constante. “Gostava de dizer que a minha vida é correr, mas o meu pai – e a Red Bull (patrocinadora) querem que continue a ir à escola. Quando não estou a correr, estou na escola.” O caso é semelhante com Sérgio Sette Câmara. O brasileiro de 17 anos chegou a Macau pela primeira vez directamente de Belo Horizonte. Mas não sem antes por um 3o lugar no Zandervoort Masters of F3. Começou a correr “bem cedo”, quando tinha apenas seis anos. O kart foi também a via para um F3. “Comecei por brincadeira, como todos os pilotos. Depois, fomos começando a levar a coisa mais a sério, fiz algumas corridas de profissionais, comecei a correr na Europa e no ano passado fiz algumas corridas de F3. E agora Macau”, conta ao HM. Callum Ilott (Fotografia de Kelsey Wilhelm) O circuito da Guia “dá um pouco de medo”, principalmente nas primeiras voltas. “Assusta. Especialmente no primeiro treino… ‘não posso errar? Como assim?’”, conta, rindo. “Acostumei-me e consegui adaptar-me bem, acho.” Sette Câmara não tem uma vida adolescente “100% normal”, porque apesar de praticar um desporto com treinos “limitados” – já que não pode estar no carro todo o dia -, estar com amigos nem sempre é possível, ainda que o “ir à escola” tem de ser. “Gosto da minha vida, não é nada ruim. Gosto de correr.” Charles Leclerc é um ano mais velho que Ilott e Sette Câmara. Vem do local onde existe um dos circuitos mais famosos do mundo – Monte Carlo, no Mónaco – e ficou em 4º lugar no FIA Formula 3 Championship este ano. Estreou-se também em Macau, onde conseguiu subir ao segundo lugar do pódio. Para ele, não houve nada a temer. “O circuito não me assusta. Se tivermos medo, não conseguimos ser rápidos. Mas é uma pista espectacular, é muito raro ter uma pista de cidade como esta e o ambiente é espectacular”, atira o jovem, em conversa com o HM. Charles Leclerc (Fotografia de Kelsey Wilhelm) Ficámos a saber que corre desde os cinco anos, depois de, nesta idade, ter pregado uma peta ao pai: para não ir à escola disse sentir-se doente e acabou o dia a assistir a uma corrida com o pai e o melhor amigo dele. O pai do piloto Jules Bianchi, que tinha uma pista. “Eles ensinaram-me tudo sobre o que é correr e eu disse que queria fazer isto quando fosse mais velho. E daí, corri em karts e, agora, em F3.” A escola, os amigos e a Guia Na lista dos pilotos mais novos sobressaem os nomes de outros jovens. O canadiano Lance Stroll é um deles, bem como George Russell, ambos com 17 anos, e Andy Chang, que chegou aos 19 o mês passado. A família de Sette Câmara, diz-nos o piloto, é um dos seus mais fortes apoios, bem como o manager e a equipa restante. Se é difícil para a mãe e pai vê-lo a correr? “Eles já estão habituados” a que a sua vida seja atrás do volante. O brasileiro assegurou-nos que não se sente pressionado por estar a representar um país que venceu na Guia através de Ayrton Senna, mas a felicidade de correr aqui é um dos motivos que o faz querer regressar e vencer também. Sérgio Sette Câmara (Fotografia de Kelsey Wilhelm) O regresso ao Grande Prémio é desejo comum dos três jovens. Ilott, que se aventurou principalmente em campeonatos britânicos, chegou “bastante novo” aos internacionais e venceu a WSK Final Cup antes de por os pés na Guia, partilha o mesmo sentimento por Macau. E pelo rigor que o nosso circuito impõe. “Não tenho medo do circuito, mas ele choca. Quando corremos a primeira vez é chocante, é tão rápido e tão estreito em alguns sítios. E é tão longo. Parecemos destinados a fazer asneiras em algum ponto. Mas adoro”, diz-nos. A estreia na Guia foi prova de que conseguem fazer muito ao volante de um F3, apesar de juventude. A adrenalina com a corrida e até algumas experiências menos boas põe-lhes um sorriso na cara sempre que lhes perguntamos se vão voltar. “Com certeza.”