Xi Jinping quer exército a modernizar-se tecnologicamente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, instou as Forças Armadas do país a aproveitar o desenvolvimento tecnológico da China para modernizar o seu equipamento e integrar-se mais com o sector civil.

Segundo avançou ontem a imprensa oficial, o líder chinês fez estas declarações no domingo, ao reunir-se com delegados do exército na Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China.

O exército deve aproveitar os êxitos alcançados pela China na ciência e tecnologia para actualizar as suas armas e equipamento e os militares devem melhorar a sua formação e treino para incluir estas matérias e serem mais profissionais, afirmou.

Xi Jinping disse ainda que as tecnologias militares e civis estão cada vez mais conectadas.

O Presidente chinês pediu aos militares que façam pleno uso das tecnologias civis, visando a modernização do exército, e que facilitem a transferência das inovações de origem militar para as empresas para que possam ter uma utilidade mais prática.

Nesse sentido, o chefe de Estado chinês apelou à eliminação de barreiras institucionais e dos grupos de interesse que travam essa integração entre a sociedade e o exército.

Processo em curso

As Forças Armadas chinesas atravessam um processo de reforma, que arrancou há dois anos, e que visa modernizar a organização e reduzir o número de efectivos em 300.000, para dois milhões, até ao final deste ano.

Parte dessa remodelação inclui uma maior integração entre os sectores civil e militar, para a qual foi criada uma comissão específica em Janeiro, presidida por Xi.

A China vai aumentar em 7% os gastos com a Defesa este ano, para 151.000 milhões de dólares, o ritmo mais lento desde 1991, revelou o Governo na semana passada.

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse que as defesas aérea e marítima serão reforçadas, assim como os controlos fronteiriços, visando salvaguardar o interesse e segurança nacionais.

Segundo avança ontem o jornal de Hong Kong South China Morning Post, o exército chinês planeia quintuplicar o seu corpo de marinheiros, de 20.000 para 100.000 efectivos, para proteger os crescentes interesses do país além-fronteiras.

14 Mar 2017

Perspectiva | Reunião entre Donald Trump e Xi Jinping à vista

Os avanços e recuos nas relações entre Estados Unidos e China vão conhecer um novo episódio: o encontro, frente-a-frente, entre os dois líderes. Desde as primárias republicanas, Trump tem abalado a estabilidade diplomática entre as duas potências. Os líderes devem encontrar-se em Julho, à margem da cimeira do G20 de Hamburgo

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]isualize este número: 1,12 biliões de dólares. Damos uma ajuda, são 12 zeros. Esta é a soma no pano de fundo das relações sino-americanas. Trata-se da dúvida soberana norte-americana que Pequim detém, isto depois de vender grande parte desses títulos de dívida para fortalecer o yuan em tempo de desaceleração do crescimento económico. Os dados são da Secretaria do Tesouro, demonstrando que a China já não é a maior detentora de dívida americana, tendo sido ultrapassada pelo Japão.

Esta pedra no sapato de Washington é um dos factores que deve ser tido em conta com a chegada de Donald Trump à Casa Branca. O homem que quer renegociar tudo, para que a América volte a ser grande, não tem parado de falar na China desde as primárias republicanas, quase sempre de forma pouco diplomática e descuidada. Pois bem, avista-se um encontro com Xi Jinping à margem da próxima cimeira do G20, a realizar-se em Hamburgo no próximo mês de Julho, de acordo com fontes citadas pelo South China Morning Post.

Ao longo dos anos, Pequim tem financiado Washington com somas exorbitantes de dinheiro, naquilo que poderá ser o maior elefante na sala do mundo da economia política mundial. Usando outra analogia elefantina, quando Donald Trump entra na loja de porcelana da geopolítica, começa a partir a loiça toda. Nomeadamente, pondo em causa a política “uma só China”, no que diz respeito a Taiwan, mas também acusando Pequim de manipulação de moeda. Aliás, há dias, o magnata nova-iorquino rotulou os chineses de “campeões mundiais de manipulação cambial”, em declarações prestadas à Reuters. Esta alegação surge depois da Administração norte-americana ter tentando apaziguar as relações entre as duas maiores potenciais económicas mundiais. Em mais uma demonstração de incoerência, é de salientar que, escassas horas antes, o novo Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmara que a Casa Branca não tinha planos para rotular a China como um país que manipula moeda.

Frente-a-frente

Também na questão de Taiwan, Trump voltou atrás na aproximação à histórica pedra no sapato da diplomacia chinesa. Depois de colocar em causa a política “uma só China” múltiplas vezes, numa chamada com Xi Jinping, o Presidente norte-americano inverteu marcha e garantiu continuar a política seguida por Washington na questão formosina. Na sequência da chamada, o Presidente chinês terá dito que “os dois países estão totalmente aptos a tornarem-se bons parceiros”, de acordo com a agência Xinhua.

A maior constância de Donald Trump tem sido a inconstância. Nesse aspecto, torna-se urgente uma reunião entre os dois líderes, sem tweets incendiários pelo meio. “Pequim tem mantido contactos com a equipa de Trump sobre a possibilidade de uma reunião bilateral e Washington tem expressado opiniões semelhantes”, revela fonte citada pelo South China Morning Post.

No entanto, a incerteza é um dos traços da administração Trump, que tem revelado grande cepticismo, mesmo algum desdém, em relação a reuniões multinacionais. O isolacionismo tem sido uma imagem de marca da permanente campanha da nova Administração, profundamente marcada pela presença próxima de Steve Bannon.

O vice-presidente do Instituto de Relações Internacionais Chinesas, Yuan Peng, afirmou ao South China Morning Post que um encontro entre os líderes é essencial para mudar o tom e o rumo da relação entre Pequim e Washington. O analista disse mesmo “tratar-se de uma urgência para que os países possam trabalhar no futuro próximo”.

Do outro lado do espectro, James Woolsey, antigo director da CIA e ex-conselheiro de Trump em matérias de segurança nacional, aponta o mesmo caminho, dando a ideia de que quanto mais cedo a reunião acontecer, melhor. “A chave é não deixar a retórica azedar as relações entre os dois países, para se começar a trabalhar de imediato”, comentou ao matutino de Hong Kong. É de salientar que Woolsey se demitiu por discordar das declarações do Presidente acerca dos serviços secretos norte-americanos.

Visita a Washington

Trump tem reiterado a ideia de que nos negócios é importante a relação pessoal, o confronto cara a cara. Tal como no reino animal, quando dois machos alfa se encontram o embate pode resultar em cooperação ou sangue. Nesse sentido, Gal Luft, director do americano Instituto de Análise à Segurança Global, uma organização norte-americana, afirma que é fundamental os líderes “estabelecerem ligações pessoais, conhecerem-se”. O analista acrescenta que a “química pessoal que emergirá, ou não, poderá ditar a relação entre os dois países”.

A coincidir com o 45.º aniversário da histórica visita de Richard Nixon à China, que marcou a normalização das relações diplomáticas entre os dois países, Pequim enviou o seu diplomata n.º 1, Yang Jiechi, a Washington.

O conselheiro de Estado chinês estará hoje em reuniões com as contrapartes norte-americanas, diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Xinhua. De acordo com uma fonte ligada ao Partido Comunista Chinês (PCC), citada pela agência oficial, o assunto no topo da agenda será a discussão da altura para a primeira reunião entre os dois presidentes. Outro dos pontos na ordem de trabalhos será a situação na Coreia do Norte. Neste aspecto, as dúvidas também se mantêm, uma vez que o Presidente norte-americano repetiu, várias vezes, que usaria a questão de Taiwan para renegociar a posição chinesa em relação a Pyongyang.

No caso de Donald Trump seguir a via do isolacionismo e não comparecer em Hamburgo, uma hipótese bem possível para o encontro com Xi Jinping é a próxima reunião da APEC, a cimeira de Cooperação Económica da Ásia-Pacífico, a realizar-se no Vietname. Também é possível que a visita de Yang Jiechi resulte num encontro fora de reuniões multinacionais.

Aperto de mão

Para Xi Jinping, uma reunião com Donald Trump em Julho reveste-se de um significado especial, uma vez que o líder chinês tem razões para sentir alguma ansiedade em estabilizar as relações entre as duas potências antes da reunião do congresso do PCC, em Outono. A normalização das relações com Washington é um trunfo que o actual líder chinês, por certo, gostaria de levar para o encontro em Pequim que definirá a liderança chinesa.

Entretanto, já se especula sobre o que dirá nas entrelinhas o primeiro aperto de mão entre Trump e Xi Jinping. Depois do excesso de análise do cumprimento do magnata nova-iorquino ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e ao primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, já muito se especula sobre as conclusões a tirar na forma como Xi Jinping saudará Trump.

Apesar dos apertos de mão vigorosos do Presidente norte-americano, no plano geopolítico vingam as questões económicas, militares e diplomáticas. Neste capítulo, Pequim tem tido a tarefa ingrata de tentar chegar à comunicação com uma Administração que responde de forma inconsistente e errática em matérias demasiado sensíveis.

Para o vice-presidente do Instituto de Relações Internacionais Chinesas, Yuan Peng, a pior incerteza é não saber com quem contactar em Washington e como, atendendo a que Donald Trump tem demonstrado pouco interesse em usar os típicos canais diplomáticos. “E se acontece algo, uma urgência, quem contactamos?”, interroga-se Yuan Peng. A questão ganha outra dimensão com o uso descuidado de Donald Trump das redes sociais, onde não se coíbe de improvisar sobre matérias sensíveis sem qualquer apoio de consultores, nomeadamente, enquanto assiste a programas da Fox News.

Até a reunião se realizar, tudo pode acontecer, com o mundo em suspenso, aguardando as cenas dos próximos capítulos.

28 Fev 2017

China classifica como “muito boa” conversa entre Trump e Xi Jinping

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China classificou sexta-feira como “muito boa” a conversa entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e o seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, agradecendo a decisão de Washington de se comprometer com a política “Uma só China”.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, detalhou que ambos os mandatários falaram sobre comércio, investimento, infra-estruturas, ciência, tecnologia e cultura, sem avançar mais detalhes.

Após enviar na quinta-feira uma carta a Xi a desejar um bom Ano Novo Lunar, Trump falou por telefone com o líder chinês, tendo assegurado que respeitará a política “Uma só China”.

Aquele princípio é visto por Pequim como uma garantia de que Taiwan é parte do seu território e não uma entidade política soberana.

Depois de ser eleito, Donald Trump disse que iria reconsiderar aquele princípio, que Pequim impõe como a base nas relações diplomáticas com qualquer país, levando aos protestos da China.

O porta-voz chinês disse que os dois chefes de Estado esperam reunir-se “em breve”, sem detalhar a data desse encontro.

Antes de falar com o Presidente da China, Trump conversou com mais de dez líderes estrangeiros após tomar posse.

Lu Kang não precisou se Pequim pôs como condição que Trump reconhecesse o princípio “Uma só China” para que a chamada entre ambos se realizasse.

O porta-voz chinês rejeitou também confirmar se os dois líderes abordaram assuntos que motivam tensão entre ambos os países, como as disputas territoriais no Mar do Sul da China ou o sistema de mísseis THAAD, que os EUA vão instalar na Coreia do Sul.

“Os EUA estão plenamente conscientes da postura da China nesses assuntos”, afirmou Lu.

Outros detalhes

A agência oficial Xinhua difundiu mais detalhes do diálogo, destacando que Xi considerou que ambos os países “são totalmente capazes de se converterem em bons sócios”.

“A China reforçará a coordenação e a comunicação com os EUA em assuntos regionais e internacionais para salvaguardar conjuntamente a paz mundial e a estabilidade”, afirmou Xi, transmitindo a sua vontade de impulsionar uma cooperação “benéfica para ambas as partes”.

Segundo a Xinhua, Trump disse estar contente por poder falar com Xi por telefone e expressou a sua admiração pelo “histórico desenvolvimento” atingido pelo país asiático.

13 Fev 2017

Fórum | Xi Jinping em destaque em Davos

A extensa comitiva liderada pelo Presidente chinês marca em Davos uma posição de combate à crescente política proteccionista  dos Estados Unidos anunciada por Donald Trump e ao populismo que ameaça a estabilidade europeia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral do maior partido comunista do mundo, lidera esta semana uma delegação de cem funcionários e executivos no Fórum Económico Mundial de Davos, numa aparente resposta à tendência proteccionista que atinge as potências ocidentais.

A primeira participação de um Presidente chinês num evento que promove a globalização e o comércio livre surge numa altura em que movimentos populistas ganham forçam na Europa e Estados Unidos.

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas faz prever um aumento do proteccionismo nos EUA; a saída do Reino Unido da União Europeia e a ascensão de Marine Le Pen em França ameaçam o projecto europeu.

“A China insiste que a globalização é um processo irreversível, para nós e para o mundo”, afirmou à agência Lusa Cui Shoujun, director do centro de estudos para a América Latina da Universidade Renmin, em Pequim.

Os jornais chineses têm enaltecido o contributo de Xi para a estabilidade internacional, mas analistas rejeitam a possibilidade do líder chinês se referir directamente a Trump.

“Nesta altura, ele quererá esconder o jogo. Não faria sentido que se referisse a Trump”, disse Steve Tsang, director do SOAS China Institute in London, à Associated Press.

Francois Godement, especialista para a China do Conselho Europeu, lembrou à AP que os chineses são “extremamente cautelosos quando comentam a futura presidência” norte-americana.

“Por agora, penso que estão ocupados a observar e questionar-se o que virá a seguir”, afirmou Godement.

“Mas não tenho dúvidas de que ele (Xi) vai retratar a China como aberta, corporativista, estável, previsível e fiável em várias questões internacionais. Mesmo não se referindo à administração de Trump, tentará projectar um contraste”, disse.

Reunião alargada

Xi leva a Davos quatro ministros chineses. A Rússia estará também representada por dois vice-primeiros ministros e vários executivos.

Quando Davos se realizou pela primeira vez, em 1971, apenas participaram líderes europeus e norte-americanos.

Na segunda-feira, Klaus Schwab, fundador do fórum, frisou que este ano o evento “não é apenas uma reunião do ocidente”.

Um terço dos participantes é oriundo de países em desenvolvimento – incluindo as maiores delegações de sempre da China e Índia -, revelou Schwab.

A recente posição de Pequim a favor do comércio livre contrasta, no entanto, com a adopção de restrições no acesso ao seu mercado.

As empresas estrangeiras estão interditas de participar em vários sectores do mercado chinês ou são forçadas a fazer parcerias com empresas locais e transferir tecnologia chave.

Pequim usa também frequentemente o comércio como alavancagem em situações de disputa política, chegando mesmo a banir as importações de determinados produtos a partir de países com os quais atravessa períodos de maior tensão.

18 Jan 2017

Davos | Xi Jinping “aberto” a reunião com equipa de Trump

Pela primeira vez na história do Fórum Económico mundial de Davos caberá à presidência chinesa a abertura da sessão. O discurso de Xi Jinping deverá centrar-se na defesa da globalização e na rejeição do proteccionismo. Pequim mostra ainda disponibilidade para encontros bilaterais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, está “aberto” a encontrar-se com os representantes da equipa do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, que participam no Fórum Económico mundial de Davos, na próxima semana, avançou ontem o Governo chinês.

Xi vai participar pela primeira vez em Davos, como parte da sua visita de Estado, que se realiza na Suíça entre os dias 15 e 18 deste mês, e que, segundo avançou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Li Baodong, estará centrada na defesa da globalização e multilateralismo.

“Na medida em que a agenda o permitir, a parte chinesa está aberta a reuniões bilaterais”, disse Li numa conferência de imprensa em Pequim, questionado sobre um possível encontro de enviados de Trump, já que Anthony Scaramucci, membro executivo da equipa de transição, representará o Presidente eleito dos Estados Unidos no encontro suíço.

Li reconheceu que “discussões estão a decorrer” para essa hipotética reunião, mas não a deu como garantida.

Receitas chinesas

O responsável explicou também que a presença de Xi em Davos, onde no próximo dia 17 se tornará o primeiro Presidente chinês a fazer o discurso inaugural, tem como objectivo “demonstrar que a China é uma potência responsável”.

Segundo o vice-ministro, na sua intervenção Xi vai defender a globalização e o sistema vigente de comércio internacional e irá manifestar a sua rejeição ao proteccionismo, apresentará as receitas de Pequim para solucionar os problemas da economia global e explicará o seu plano para construir a Nova Rota da Seda.

Um dia depois, a 18 de Janeiro, o Presidente chinês vai visitar as Nações Unidas em Genebra, onde fará outro discurso centrado na promoção do multilateralismo e do papel da ONU nas relações internacionais.

Xi irá ainda encontrar-se com o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, a quem oferecerá o apoio da China.

12 Jan 2017

China | Comissão Central quer reforçar combate à corrupção

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina esteve reunida e chegou à conclusão de que é preciso continuar o combate a corrupção, com novos mecanismos de fiscalização e mais intensidade. A luta vai fazer-se também dentro da própria estrutura e o objectivo é chegar ao Outono com a casa mais limpa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão, ainda não chega. O organismo que luta contra a corrupção na China promete reforçar a acção durante este ano, para cortar pela raiz um mal de que sofre o Partido Comunista Chinês (PCC). A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina (CCIC) pretende assegurar “um ambiente político limpo” nos preparativos para o 19.o Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), uma reunião de extrema importância que acontece este ano. Vários membros do Comité Permanente do Politburo atingem a idade máxima este ano, pelo que o encontro é visto como sendo decisivo, uma vez que vai servir para escolher os futuros grandes políticos do país, com Xi Jinping a começar a preparar a sucessão.

Para o académico da Universidade de Macau Wang Jianwei, não é à toa que surge este anúncio de reforço da pressão na campanha anticorrupção no PCC. A causa é precisamente a reunião da estrutura partidária agendada para o Outono. “A motivação será atingir objectivos decisivos antes do congresso, de modo a que a direcção do Partido possa mostrar, perante o congresso, que a batalha contra a corrupção é algo a levar a sério”, observa o professor ao HM.

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina esteve reunida três dias, um plenário que terminou no passado domingo com um comunicado de que a Agência Xinhua deu conta. No documento, defende-se a ideia de aumentar a supervisão dentro do PCC, bem como tornar mais rígidos os procedimentos para a selecção e escolha de altos funcionários, de modo a garantir que o Governo Central e as estruturas locais são constituídas por pessoas que não alinham em esquemas de corrupção.

“A confiança não pode substituir o trabalho de supervisão”, indica o comunicado da comissão de disciplina, acrescentando que as várias agências responsáveis pela matéria devem ser também elas alvo de “autodisciplina” com outros métodos de fiscalização, incluindo inspecções feitas pelo Partido Comunista Chinês e pela sociedade.

O Presidente chinês e secretário-geral do PCC, Xi Jinping, falou durante o plenário da CCIC, que contou ainda com a presença do primeiro-ministro Li Keqiang e de figuras de relevo da política nacional como Zhang Dejiang, Yu Zhengsheng, Liu Yunshan, Wang Qishan e Zhang Gaoli.

A reunião serviu para analisar e aprovar regras de trabalho para os órgãos responsáveis pela disciplina. As normas vêm clarificar procedimentos sobre o modo como os casos devem ser geridos, nomeadamente no que toca à recolha e verificação de factos, à acusação, à inquirição, e ao destino do dinheiro e bens materiais envolvidos nos casos.

Um super-órgão e uma super-lei

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina anunciou ainda que vai criar uma comissão nacional de supervisão e contribuir para que haja uma lei de supervisão nacional, como parte dos esforços para reforçar o sistema estatal.

Há três locais onde já há um sistema de supervisão a funcionar de forma experimental: no município de Pequim, e nas províncias de Shanxi e Zhejiang. Este projecto-piloto vai permitir avaliar a criação de comissões locais de supervisão a três níveis – nas províncias, nos municípios e nos condados –, que deverão ser articuladas num sistema integrado que será “unificado, imperativo e eficiente”.

O novo sistema de supervisão vai absorver as funções das autoridades que neste momento desempenham a tarefa – as agências de prevenção da corrupção –, bem como os departamentos que fazem o tratamento dos subornos e outro tipo de crimes relacionados com a corrupção.

Citado pela Xinhua, Zhuang Deshui, um especialista da Universidade de Pequim, defende que o novo sistema nacional de supervisão será crucial para o rumo da luta contra a corrupção, sendo que se espera a divulgação de “mais medidas substanciais”.

Felicidade com a luta

Apesar do anúncio de novas medidas e de uma estrutura diferente de combate ao fenómeno, nas declarações mais recentes, proferidas na passada sexta-feira, Xi Jinping considerou que “a propagação da corrupção foi efectivamente controlada e a batalha chegou ao ritmo desejado”. Mas o líder político do país continua a apelar a um governação rigorosa do PCC, feita de forma “sistemática, criativa e efectiva”.

“O objectivo de assegurar que os funcionários não se atrevem a ser corruptos foi basicamente alcançado”, declarou o secretário-geral do PCC, que encontra uma “nova atmosfera a emergir da vida política partidária”.

A agência oficial de notícias dá conta de um estudo da Escola do Partido do Comité Central do PCC que indica que quase 93 por cento da população está satisfeita com as campanhas anticorrupção levadas a cabo no ano passado.

Em 2017, os esforços deverão ser no sentido de consolidar o que já foi feito, indica o comunicado da CCIC, reiterando que a corrupção praticada ao nível hierárquico mais baixo também deve ser tratada com seriedade. “Os casos típicos devem ser expostos e algumas confissões de funcionários corruptos devem ser tornadas públicas, para que sirva de aviso para outros”, entende a comissão.

“A liderança do Partido Comunista Chinês será enfraquecida se se isolar das pessoas. A maior conquista política do PCC advém da confiança cada vez maior do povo”, vinca-se no comunicado.

Wang Yukai, professor da Academia Chinesa da Governança, avisa que a população está sobretudo preocupada com a corrupção ao nível mais baixo, porque são os funcionários que têm contacto directo com os cidadãos que mais poderão prejudicar os seus interesses. Vai daí, é importante aumentar a fiscalização.

O académico aponta que, só entre Janeiro e Dezembro do ano passado, foram punidos por má conduta e corrupção 16.487 funcionários que trabalhavam nos programas relacionados com o combate à pobreza.

No comunicado, destaca-se igualmente a necessidade de assegurar uma selecção de líderes “limpos e capazes” para as comissões de inspecção da disciplina a todos os níveis.

Gao Bo, vice-presidente da equipa de disciplina da Academia das Ciências Sociais Chinesa, considera que o trabalho feito até agora consistiu em afastar funcionários corruptos, pelo que, daqui para a frente, a preocupação deverá ser encontrar as pessoas certas, com competência e elevados padrões morais.

De acordo com as contas do China Daily, mais de 7900 funcionários ligados ao combate à corrupção foram punidos desde 2012. Deste total, 17 foram investigados por terem recebido subornos.

Prioridade contínua

Para Wang Jianwei, professor da Universidade de Macau, as notícias que chegam agora vêm confirmar que “não há sinal que mostre redução, ou enfraquecimento, da campanha” de luta contra a corrupção iniciada logo após Xi Jinping ter chegado ao poder, no final de 2012.

“Muitas pessoas interrogam-se quando será o fim desta campanha, muitos previram que, como no passado, iria atenuar-se e ser substituída por outras prioridades, mas acho que a liderança do partido está a tentar garantir que a campanha anticorrupção é sempre uma prioridade”, nota.

O analista pensa ainda que o Partido Comunista Chinês deverá ter de “arranjar formas mais estruturantes de lutar e prevenir a corrupção porque, apesar da campanha severa, ainda se apanham oficiais corruptos, alguns ainda estavam a cometer crimes não obstante a pressão alta exercida pelo Estado”.

Todo o discurso da Comissão Central para a Inspecção da Disciplina assenta na ideia de que, no centro do PCC e da China, está Xi Jinping. Há vários analistas que não têm qualquer problema em afirmar que a grande empreitada do líder de Pequim tem, entre os objectivos principais, a necessidade de afastamento de opositores políticos e de pessoas incómodas ao sistema.

Wang Jianwei considera que a teoria da caça às bruxas tem sobretudo que ver com uma abordagem ocidental à questão. “É da sabedoria tradicional da imprensa ocidental que a campanha anticorrupção é sobre a luta pelo poder, dizendo que o Xi Jinping está a tentar consolidar o seu poder antes do congresso do Partido”, entende. “Não estou certo sobre esta teoria. Talvez haja alguns incidentes em que os oficiais que foram apanhados em casos de corrupção tenham visões políticas diferentes acerca do rumo que a China deve levar, existem algumas diferenças de opinião, mas mesmo que não se seja corrupto e se tenham opiniões diferentes, é difícil para o Estado justificar a purga desses oficiais”, diz.

“É difícil estabelecer uma ligação e dizer que isto serve só para a luta de poder. Não vejo um padrão claro para concluir que os oficiais detidos pertencem a uma facção do PCC e é por isso que estão a ser eliminados, porque são de diversas proveniências”, continua Wang Jianwei, recordando que a campanha contra a corrupção tem provocado também baixas junto das forças armadas.

O politólogo conclui dizendo que “a campanha anticorrupção é mais ampla do que a luta pelo poder, é mais sobre a reputação, a imagem, sobre o futuro do PCC no global, e não só sobre uma facção do Partido”.


Todos com Xi Jinping

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina aproveitou o plenário para fazer um apelo: é imperioso que haja união em torno de Xi Jinping, para que se mantenha a “solidariedade e unidade do Partido”. Em comunicado, reforça-se uma das grandes ideias deixadas no Sexto Plenário do PCC, realizado no último trimestre de 2016: a autoridade do Comité Central deve estar sustentada em Xi Jinping. É a única forma de “desenvolver o socialismo de características chinesas”. “Para governar com rigor o PCC, é necessário aumentar a disciplina na vida política intrapartidária e reforçar a supervisão” dentro da estrutura, indica o documento.

10 Jan 2017

Xi Jinping apela ao reforço do controlo ideológico nas universidades

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, apelou a um reforço do controlo ideológico exercido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) sobre as universidades, como parte de uma campanha contra a “influência estrangeira”, noticiou sexta-feira a imprensa oficial.

As instituições de ensino superior devem “seguir as regras do Partido Comunista Chinês e fortalecer e promover o socialismo com características chinesas”, afirmou Xi, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

Trata-se do mais recente esforço do PCC, partido único do poder na China, para impor a sua ideologia no ensino, indicando uma diminuição da liberdade académica e intelectual no país.

As universidades devem realizar “trabalho ideológico”, durante todo o processo de educação dos estudantes, disse Xi, apelando a mais aulas de teoria marxista.

As universidades chinesas estão “sob a liderança do PCC e são escolas do socialismo com características chinesas, o ensino superior deve ser guiado pelo marxismo”, acrescentou.

Desde que Xi ascendeu ao poder, em 2012, a China deteve centenas de advogados envolvidos em casos de direitos civis considerados sensíveis pelas autoridades, condenou dissidentes e restringiu os debates ‘online’.

Terreno de eleição

As universidades surgem como um importante “campo de batalha” no reforço do controlo exercido pelo partido.

Todos os alunos chineses do ensino superior têm já aulas obrigatórias de “educação política”, mas a imprensa estatal tem lamentado a perda de interesse na ideologia oficial.

No início deste ano, uma carta assinada por professores chineses, e difundida pela imprensa, apontou que os estudantes estão a ser submetidos a uma “lavagem celebrar com teorias ocidentais”, apelando a um reforço do ensino dos princípios marxistas.

O jornal oficial do PCC, o Diário do Povo, publicou sexta-feira na primeira página o discurso de Xi, junto com um comentário que apela aos membros do partido para “agarrarem” esta tarefa.

“Os professores são os engenheiros da alma da humanidade, e têm uma missão sagrada”, afirmou o Presidente chinês.

Em Novembro passado, a China aprovou uma lei de cibersegurança que proíbe os cibernautas de publicar informações susceptíveis de danificar a “honra nacional”, “prejudicar a ordem social e económica” ou destinadas a “derrubar o sistema socialista”.

12 Dez 2016

Pequim protesta após conversa de Trump com Presidente de Taiwan

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim avisou Donald Trump após a sua conversa telefónica com a Presidente de Taiwan, em sentido contrário ao do reconhecimento pelos Estados Unidos de uma “única China”.

“Protestámos solenemente junto da parte norte-americana envolvida. Só existe uma China e Taiwan é parte inalienável do território chinês”, informou sábado o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Segundo os analistas, o episódio ilustra a inexperiência do presidente eleito, mas não indica forçosamente uma mudança de linha.

Donald Trump falou na sexta-feira com Tsai Ing-wen, no primeiro contacto telefónico deste nível desde que Washington rompeu relações diplomáticas com Taipé, em 1979.

A equipa de transição de Trump informou, em comunicado, que os dois dirigentes “abordaram os estreitos vínculos económicos, políticos e de segurança existentes entre Taiwan e os Estados Unidos”.

“O Governo da República Popular da China é o único legítimo. Esta é a base política das relações sino-americanas”, insiste a declaração do ministério chinês. “Instamos a parte envolvida a respeitar este princípio”, adianta.

A Casa Branca apressou-se na sexta-feira a reafirmar o seu “forte compromisso” com uma única China. “Não há qualquer mudança na nossa política de longa data”, disse à agência France Presse Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

Face às críticas, Trump escreveu na rede de mensagens curtas Twitter: “A Presidente de Taiwan TELEFONOU-ME para me felicitar pela vitória nas presidenciais. Obrigado”.

Antes de acrescentar mais tarde: “Interessante o facto de os EUA venderem milhares de milhões de dólares de equipamento militar a Taiwan, mas eu não deveria aceitar um telefonema de felicitações.”

Imprensa ignora

A polémica chamada telefónica foi censurada pela imprensa chinesa, que preferiu sublinhar a visita a Pequim do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, “um velho amigo da China”.

O telefonema, na sexta-feira, entre o Presidente eleito dos EUA e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, não foi referido nos ‘sites’ da imprensa estatal chinesa e foi censurada na Internet.

Na plataforma de microblogues Weibo – equivalente à rede social Twitter – persistiam alguns comentários de cibernautas a um artigo de um jornal de Hong Kong que escapou à censura.

“Que China reconhece Trump? Que astúcia! Devemos parar este presidente empresário”, escreveu um cibernauta.

O ex-presidente democrata Jimmy Carter declarou formalmente Pequim como único governo da China em 1979, o que pôs fim às relações diplomáticas formais dos EUA com Taiwan, onde Washington fechou a sua embaixada no ano seguinte.

Os especialistas em política externa afirmam que a chamada poderia alterar as relações entre os Estados Unidos e a China, independentemente de como foi encaminhada.

A China considera a ilha de Taiwan uma província “rebelde” e parte do território sob sua soberania.

A imprensa oficial chinesa consagrou as manchetes de sábado ao encontro na sexta-feira entre Xi Jinping e o antigo diplomata norte-americano Henry Kissinger, de 93 anos, que foi o obreiro em 1972 da visita histórica do presidente norte-americano Nixon à China.

Kissinger passou a ser qualificado pelo regime comunista como “velho amigo da China”.

Kissinger encontrou-se com Donald Trump em Nova Iorque nas últimas semanas, para discutir temas como a China.

5 Dez 2016

Xi Jinping contra isolacionismo de Donald Trump

No fim de um périplo pela América Latina, o Presidente chinês promete continuar a impulsionar o livre comércio e alerta para os desafios da globalização

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] isolacionismo patente nos discursos de Donald Trump, Presidente eleito dos Estados Unidos, parece contrastar com a nova dinâmica da diplomacia chinesa, com Pequim a assumir agora a defesa do livre comércio e da globalização.

Na América Latina, uma região conhecida como o “quintal” dos EUA, o Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu esta semana “impulsionar a construção de uma área de livre comércio na Ásia Pacífico e uma economia mundial aberta”.

Xi terminou ontem um périplo por Equador, Peru e Chile. Em Lima, participou da cimeira dos líderes da APEC (Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico), que teve como um dos principais temas a criação de uma área de livre comércio para a região.

Durante a cimeira, Xi lembrou que a globalização é “uma faca de dois gumes”, questionada por “muitas vozes” e instou a comunidade internacional a abordar seriamente estes “desafios”.

No Equador, que atravessa uma recessão, o líder da China inaugurou a maior barragem hidroeléctrica do país, construída por uma firma chinesa e paga com parte dos quase oito mil milhões de dólares que Pequim emprestou ao país desde 2007.

Os maiores

A China tem acordos de livre comércio com Costa Rica, Chile e Peru e está a negociar novos acordos com o Uruguai e a Colômbia.

Em 2015, o país asiático ultrapassou os EUA como o principal investidor externo na América Latina.

O investimento directo chinês na região subiu no ano passado 67,1%, em termos homólogos, para 21,45 mil milhões de dólares, segundo dados do Ministério do Comércio da China.

A estratégia de Trump para a região inclui romper com o Tratado Norte-Americano de Comércio Livre (NAFTA) e abandonar o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), para além de construir um muro na fronteira com o México.

“A China insiste que a globalização é um processo irreversível, para nós e para o mundo”, diz à agência Lusa Cui Shoujun, director do centro de estudos para a América Latina da Universidade Renmin, em Pequim.

“Histórica, geográfica e até politicamente, a América Latina é vista como o quintal dos EUA”, nota. “Mas agora estamos numa era global”, acrescenta.

Face ao anúncio de que Trump vai retirar os EUA do TPP, vários países voltam-se para tratados alternativos, nomeadamente o Acordo Integral Económico Regional (RCEP).

Esta zona de livre comércio incluiria a China, os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Austrália, Coreia do Sul, Índia, Japão e Nova Zelândia.

Esta semana, um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou que Pequim espera que as conversações para a criação do RCEP “possam produzir resultados em breve”.

No ano passado, Xi anunciou que, até 2025, o comércio bilateral entre a China e a América Latina alcançará os 500.000 milhões de dólares, enquanto o investimento chinês na região atingirá os 250.000 milhões.

“A China pode ajudar a América Latina a internacionalizar a sua economia”, defende Cui Shoujun.

“Partilhamos das mesmas aspirações com os países da região, de que enquanto nação em desenvolvimento, não estamos devidamente representados no novo milénio”, acrescenta.

Em entrevista à Lusa, o novo embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Caramuru de Paiva, notou que a China “impõe-se naturalmente” e “força todo o mundo a adaptar-se a uma nova realidade”.

“Você precisa incorporar esta realidade e tentar extrair o melhor que puder”, disse, acrescentando: “Não adianta brigar com a realidade como ela é”.

25 Nov 2016

Pequim defende o direito de controlar o uso da Internet

Na abertura da III Conferência Mundial sobre a Internet, Xi Jinping apela à coordenação internacional para melhorar a segurança da rede e promover uma utilização mais justa do ciberespaço

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China defendeu ontem o direito de controlar e promover o uso “sensato” da rede, perante representantes de multinacionais da tecnologia, como a Microsoft, IBM ou Lenovo, durante a III Conferência Mundial sobre a Internet.

O evento, organizado pelo Governo chinês, arrancou ontem em Wuzhen, na costa leste chinesa, depois de as edições prévias terem suscitado críticas por serem organizadas num país onde o uso da Internet é restringido.

A censura imposta por Pequim no ciberespaço resulta no bloqueio de vários portais estrangeiros e alguns serviços de “gigantes” da Internet, como o Facebook, Twitter e Google.

Numa mensagem gravada em vídeo e difundida na abertura da conferência, o Presidente chinês, Xi Jinping, apela à comunidade internacional para que coordene esforços no sentido de melhorar a segurança no ciberespaço.

Xi disse ainda apoiar que cada país procure os seus modelos para um “desenvolvimento ordenado” da Internet.

“A China trabalhará com a comunidade internacional para assegurar o bem comum da humanidade, manter a soberania do espaço ‘online’, promover uma governação global da Internet mais justa e equitativa e um ciberespaço aberto, inclusivo e seguro”, afirmou.

O líder chinês insistiu na necessidade de alcançar “consensos” internacionais para aproveitar as oportunidades que a rede oferece e enfrentar os desafios.

“O desenvolvimento da Internet não tem fronteiras nacionais ou sectoriais. O uso, desenvolvimento e governação sensata da Internet apela à cooperação internacional e esforços conjuntos para construir uma comunidade de futuro comum no ciberespaço”, apontou.

Poder reforçado

Na semana passada, a Assembleia Nacional Popular (ANP) chinesa aprovou a lei de segurança na Internet, que reforça os poderes do Governo para aceder a informação, obter registos de mensagens e bloquear a difusão de dados que considera ilegais.

A normativa foi alvo de duras críticas por grupos de defesa dos Direitos Humanos ou de associações de empresários.

A lei representa “um recuo para a inovação no país e não contribuirá muito para aumentar a segurança”, comentou a Câmara do Comércio dos Estados Unidos da América na China.

Já a homólogo europeu advertiu para o “ambiente negativo e de incerteza” que se criou.

Multinacionais como a Microsoft, IBM, Qualcomm, Amazon ou Linkedin e as chinesas Lenovo, Alibaba, Baidu ou Tencent encontram-se entre os participantes da conferência de Wuzhen.

A Amnistia Internacional (AI) apelou a todos os grupos que enviem “uma mensagem clara ao Governo chinês de que não estão preparados para cumprir com os amplos abusos aos direitos de liberdade de expressão e de privacidade”.

“Os comentários de Xi evidenciam que a China está a tratar de redefinir o significado da Internet, que foi criada para conectar os cidadãos de todas as partes do mundo”, refere em comunicado.

Durante a reunião em Wuzhen, as empresas deverão exibir os seus últimos produtos nos sectores do comércio electrónico, transportes partilhados e processamento de grandes volumes de dados.

A China é o país com mais cibernautas do mundo, cerca de 710 milhões de usuários – mais de o dobro de há cinco anos – 92,5 por cento dos quais acedem à rede através de smartphones, segundo dados oficiais.

17 Nov 2016

Xi Jinping e Donald Trump vão “reunir em breve”

O Presidente norte-americano eleito e o Presidente chinês combinam para breve uma reunião para trocar opiniões. Em cima da mesa estarão temas de “interesse mútuo”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, e o futuro homólogo norte-americano, Donald Trump, concordaram ontem reunir-se “em breve” para discutir a relação entre os dois países, noticiou a televisão estatal CCTV.

Numa conversa por telefone, Xi e Trump “prometeram manter um contacto próximo, construir boas relações de trabalho e reunir em breve para uma troca de opiniões em assuntos de interesse mútuo”, referiu o canal.

Durante a campanha eleitoral, o país asiático foi um dos alvos preferidos do magnata nova-iorquino, que acusou a China de “manipulação da moeda”, ou “batotice” e ameaçou taxar os produtos chineses em 45%.

Trump chegou a chamar a China de “inimigo” e prometeu enfrentar um país que diz considerar os EUA “palermas”.

O presidente eleito sugeriu, no entanto, que não se quer envolver em disputas externas e recusou o Tratado Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um acordo que visa a criação da maior área de livre comércio do mundo e que a China vê como prejudicial aos seus interesses.

A CCTV cita Trump, que afirmou que “a China é um grande e importante país, cujo desenvolvimento surpreendeu o mundo”.

“Os EUA e a China podem beneficiar-se mutuamente”, disse.

O termo usado pela CCTV – “benefício mútuo” – é frequentemente utilizado pela diplomacia chinesa.

Mar de incógnitas

As posições contraditórias e ambíguas de Trump deixam dúvidas sobre a forma como lidará com a China, a segunda maior economia mundial e detentora de um poderoso aparelho militar.

Durante a administração de Barack Obama, Washington reforçou a presença militar e diplomática no leste asiático, levando Pequim a adoptar uma política assertiva, face ao que considera uma tentativa de conter a sua influência económica e geopolítica.

Mas Trump não propôs soluções para questões estratégicas que perturbam as relações, como as reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China, o programa nuclear da Coreia do Norte ou o futuro de Taiwan.

O vencedor das eleições norte-americanas indicou ainda que os EUA estão cansados de pagar pela defesa dos seus aliados, como o Japão e a Coreia do Sul, sugerindo que estes países deviam desenvolver as suas próprias armas nucleares.

Mark Williams, analista da consultora Capital Economics, sugeriu anteriormente numa nota que se os “EUA estiverem menos envolvidos na Ásia, Pequim terá a oportunidade de definir a integração política e económica da região nos seus próprios termos”.

Isso poderá incluir um acordo comercial que exclua os EUA, como o TPP excluiu a China.

Em andamento

Pequim já está em negociações para instituir a Parceria Económica Compreensiva Regional (RCEP, na sigla em inglês), uma área de comércio livre que inclui países do sudeste da Ásia, a China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

No total, abarcará mais de 3.000 milhões de pessoas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália afirmou mesmo na quinta-feira passada que, caso o TPP falhe, “o vácuo que seria criado deverá ser preenchido com o RCEP”.

Questionado sobre a ameaça de Trump vir a taxar os produtos chineses, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês lembrou na semana passada que o comércio bilateral entre os dois países aumentou 200 vezes nas últimas décadas, beneficiando ambos os lados.

“Qualquer chefe de Estado nos EUA que considera os interesses dos seu país e do seu povo irá fazer a escolha certa”, disse.

15 Nov 2016

Xi Jinping visita América Latina

O Presidente chinês estará, entre 17 e 23 deste mês, na América do Sul para dar um novo impulso às relações económicas. A viagem de Xi passa desta vez pelo Equador, Peru e Chile

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China quer elevar a cooperação económica com a América Latina para um novo patamar, durante o périplo que o Presidente chinês, Xi Jinping, iniciará pela região na próxima semana, e que inclui visitas a três países.

Entre os dias 17 e 23 de Novembro, Xi vai reunir com os seus homólogos do Equador, Peru e Chile, com quem assinará acordos de cooperação, sobretudo na área económica, visando reforçar os vínculos comerciais e de investimento.

“A relação bilateral está a ganhar novo impulso”, afirmou ontem Wang Chao, vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que a cooperação entre Pequim e a região “continuará a aprofundar-se”.

Trata-se da terceira visita de Xi Jinping à América Latina, desde ascendeu ao poder, em 2012, e será centrada nos países na costa do Oceano Pacífico, com os quais Pequim mantém uma importante relação económica e política.

“A China considera muito importante o desenvolvimento da cooperação económica e comercial com a América Latina e o Caribe”, assinalou Li Baodong, outro vice-ministro chinês.

Li destacou o potencial que existe para investir na “capacidade produtiva” da região, um térmico técnico para a indústria, numa altura em que a queda do preço das principais matérias-primas afecta os países da região.

Pequim importa sobretudo minérios e petróleo da América Latina.

Todos a ganhar

Nos últimos anos, os Governos dos países latino-americanos têm apelado a um investimento no tecido industrial e nas infra-estruturas, algo que convém à China, que procura internacionalizar as suas empresas.

“Ambas as partes são altamente complementares”, afirmou Wang.

Xi visitará primeiro o Equador, onde vai assinar acordos nas áreas de cooperação económica, cultura e judicial, revelou Wang, numa conferência de imprensa na sede do ministério dos Negócios Estrangeiros.

No Peru, além de participar na cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia Pacifico (APEC), entre os dias 19 e 20, o líder chinês realizará uma visita de Estado.

A China é o maior parceiro comercial do Peru e a primeira deslocação ao exterior do Presidente Pablo Kuczynski, após ser eleito em Julho passado, foi precisamente a Pequim.

Os acordos entre os dois países incluem os sectores da mineração, energia, infra-estruturas e financiamento.

No Chile, Xi vai reunir com a Presidente Michelle Bachelet, com quem assinará acordos nas áreas da economia, comércio e comunicações.

Estes acordos “darão um novo impulso” à relação bilateral, disse Wang.

A China tem acordos de livre comércio com o Peru e o Chile e durante o fórum da APEC, em Lima, os países vão discutir a criação de uma zona de Livre Comércio Ásia Pacífico (FTAAP, na sigla em inglês).

Wang Chao insistiu que Pequim vê “positivamente” a América Latina e o Caribe, apesar das recentes “dificuldades”, causadas pela queda dos preços das matérias-primas e fraca procura global.

As dificuldades “são temporais” e a região tem “um grande potencial de desenvolvimento. As perspectivas são boas”, disse.

11 Nov 2016

Xi Jinping condena “conspirações” dentro do PCC

Após ter sido declarado líder “central” do PCC, durante o sexto plenário do Partido, o Presidente chinês define o rumo para combater o nepotismo e as ambições políticas pessoais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, condenou na quarta-feira as “conspirações” dentro do Partido Comunista da China (PCC), afirmando que a corrupção e fraude nas votações prejudicam a governação e que é necessário maior controlo ideológico.

O comentário surge após Xi ter sido na semana passada declarado líder “central” do PCC, após uma reunião de quatro dias entre a elite do partido, que anunciou ainda uma reforma “das directrizes para a vida política” dos seus membros.

Após ascender ao poder, em 2012, Xi lançou uma campanha anti-corrupção, hoje considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista.

Na quarta-feira, o Diário do Povo, jornal oficial do PCC, publicou dois documentos em que detalha as decisões tomadas durante a reunião, acompanhados de um comentário de Xi.

“Existe um grupo de altos funcionários do partido, que dominados pela ambição política e sede de poder, recorrem à conspiração, trabalhando com pretensa dedicação, enquanto formam grupos, que visam interesses egoístas”, escreve Xi.

“O nepotismo e as fraudes nas votações perduram”, afirma o líder chinês, acrescentando que o “abuso de poder, a corrupção e as violações da disciplina e da lei têm aumentado”.

Ecologia política

Xi Jinping destaca ainda vários altos quadros do regime punidos por corrupção, incluindo o ex chefe da Segurança Zhou Yongkang, o mais alto líder da China condenado por este crime desde a fundação da República Popular, em 1949, e que a imprensa estatal acusou de conspirar para alterar a liderança do Partido.

O seu comportamento “expõe não só os seus sérios problemas com a corrupção, mas também expõe os seus sérios problemas políticos”, afirma Xi, também secretário-geral do PCC.

A campanha anti-corrupção lançada por Xi Jinping resultou já na punição de um milhão de membros do partido.

Os alvos incluíram oficiais menores, a que o líder chinês se refere como “moscas”, mas também mais de uma centena de “tigres” – altos quadros do partido, com a categoria de vice-ministro ou superior.

No braço político do exército, a Comissão Militar Central, que era considerada intocável até então, dois ex-vice-presidentes foram já investigados por corrupção.

A campanha terá também servido para alterar o funcionamento interno do partido.

“Como na ecologia natural, a ecologia política é também vulnerável à poluição”, escreveu Xi. “Uma vez que os problemas surgem, temos que pagar um alto preço para restaurar o seu estado original”.

As novas “regras de disciplina interna” do PCC declaram um controlo ideológico mais rigoroso, apelando aos membros do partido para se oporem a acções contrárias à liderança da organização.

“Nenhum membro do Partido deve fazer ou difundir afirmações contrárias à teoria, princípios, caminho, políticas e decisões” do PCC, refere o documento.

As medidas que visam reduzir a corrupção não incluem, porém, a instituição de regras de transparência, como a declaração de bens dos líderes do partido ou a supervisão da organização por um organismo independente.

4 Nov 2016

Sexto Plenário | PCC declara Xi Jinping líder “central”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista da China (PCC) declarou na quinta-feira o seu secretário-geral, Xi Jinping, líder “central” da organização, confirmando a sua ascensão como o mais forte Presidente que o país conheceu nas duas últimas décadas.

Num comunicado difundido pela imprensa oficial, a liderança apela a todos os membros do partido para que “se mantenham fortemente unidos em torno do Comité Central do PCC com o Camarada Xi Jinping no centro”.

O anúncio surge após uma reunião entre 400 altos quadros do PCC, que durou quatro dias e abordou as “regras da disciplina interna” na organização e “as directrizes para a vida política” dos seus membros.

Desde que ascendeu ao poder em 2012, Xi Jinping conseguiu acumular mais poder do que todos os Presidentes chineses desde Mao Zedong, o fundador da China comunista.

Em Dezembro do ano passado, os líderes locais adoptaram a referência a Xi como “líder central”, mas deixou de ser usada pouco depois, sugerindo que o Presidente chinês encontrou resistências na consolidação do seu poder.

Analistas ocidentais admitem já que Xi Jinping ficará no poder para além do período previsto de dez anos.

Para durar

A decisão do Comité Central de elevar Xi a “líder central” é “muito significativa”, afirmou à agência France Presse Willy Law, professor de ciência política na Universidade Chinesa de Hong Kong.

Na política chinesa, “o termo ‘central’ refere-se a um nível de autoridade individual sem restrições”, explicou.

“Uma liderança central pode durar para sempre”, disse, acrescentando: “Não existe ideia de mandato limitado ou idade para se retirar”.

A constituição chinesa define um limite de dois mandatos de cinco anos para o Presidente do país, mas não estabelece um limite para secretário-geral do PCC, o cargo mais importante na China.

Deng Xiaoping, o “arquitecto-chefe das reformas económicas” que abriram a China à economia de mercado, e que liderou o país durante os anos 1980 e 1990, era referido como o “centro” da liderança do partido.

O seu sucessor, Jiang Zemin (governou entre 1989 e 2002), era apenas designado como “centro” da terceira geração de líderes, enquanto Hu Jintao (2002 a 2012) nunca chegou a atingir aquele estatuto.

“Um líder central é necessário para a nação e para o partido”, apontou o Diário do Povo, jornal oficial do PCC, num editorial difundido após a reunião, que decorreu esta semana.

Xi “reflecte as aspirações comuns de todo o partido, todo o exército, todo o país e o seu povo”, disse.

O sexto plenário do Comité Central foi a última reunião de alto nível antes da liderança do partido ser remodelada no próximo ano.

Crime e castigo

Após ascender ao poder, Xi lançou uma campanha anti-corrupção, hoje considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista, e que resultou já na punição de um milhão de membros do partido.

Os alvos incluíram oficiais menores, a que Xi se refere como “moscas”, mas também mais de uma centena de “tigres” – altos quadros do partido, com a categoria de vice-ministro ou superior.

Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-diretor do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua.

No braço político do exército, a Comissão Militar Central (CMC), que era considerada intocável até então, dois ex-vice-presidentes foram investigados por corrupção.

O comunicado difundido na quinta-feira decreta “tolerância zero” para a má conduta entre os membros da organização.

O partido deve “construir com perseverança um sistema em que [os seus membros] não se atrevem a ser corruptos, não podem ser corruptos e nem pensam em corrupção”, afirma.

A mesma nota apela ao reforço do controlo interno no PCC, incluindo a conformidade ideológica e um sistema de vigilância mais rigoroso sobre os seus membros.

31 Out 2016

Maioria dos chineses quer Xi Jinping como “líder central”

Uma sondagem da Tribuna do Povo revela que as qualidades do secretário-geral devem levar a que este possa ganhar o estatuto de “líder central”, a exemplo de Mao Zedong. Alguns analistas ocidentais admitem já que o actual Presidente possa ficar no poder mais do que os dez anos previstos

[dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap] maioria dos chineses” deseja que o actual secretário-geral do Partido Comunista (PCC), Xi Jinping, seja um “líder central”, com o estatuto do antigo Presidente Mao Zedong, revelou uma sondagem publicada ontem na imprensa oficial.

As referências a um estilo de governação centrada no líder têm-se multiplicado, numa altura em que cerca de 400 altos quadros do PCC estão reunidos em Pequim para discutir o futuro da organização.

A referida sondagem, com uma amostra de 15.000 pessoas, foi difundida pela Tribuna do Povo, revista do grupo do Diário do Povo, o jornal oficial do partido.

O estudo revela que a “maioria” dos inquiridos concorda “que a ascensão de uma grande nação necessita de um líder forte e central”.

“As qualidades especiais do secretário-geral Xi Jinping, como líder de uma grande nação, conquistaram a aprovação da grande maioria dos inquiridos”, escreveu a revista.

Todos os sectores da sociedade “aguardam com enorme expectativa” a ascensão de Xi Jinping, acrescenta.

O artigo que acompanha os resultados da sondagem compara ainda Xi a Mao Zedong, o fundador da República Popular, e a Deng Xiaoping, o “arquitecto-chefe das reformas económicas” que abriram a China à economia de mercado.

“Foi o Presidente Mao que ergueu o povo [chinês], ou de outra forma andaríamos perdidos na escuridão”, refere, acrescentando que Deng converteu a China num país rico.

“Agora, a China deve fortalecer-se, o cidadão comum sabe disso. E para atingir esse objectivo devemos confiar no secretário Xi”, aponta.

Regras e virtudes

Formalmente, Xi Jinping acumula já mais poder do que todos os anteriores Presidentes chineses, desde o fim do “reinado” de Mao Zedong.

Cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970, o sistema de “liderança colectiva” parece ter sido também desmantelado desde que Xi chegou ao poder.

Analistas ocidentais admitem já que este poderá ficar no poder para além do período previsto de dez anos.

O sexto plenário do Comité Central, o último antes da liderança do partido ser remodelada no próximo ano, aborda as “regras da disciplina interna” no PCC e “as directrizes para a vida política” dos seus membros, segundo a agência oficial Xinhua.

Os inquiridos pelo Tribuna do Povo dizem admirar o pensamento estratégico de Xi, a coragem com que enfrenta os problemas e o seu “carisma pessoal”.

O enfraquecimento da “liderança central” pode “facilmente causar guerra civil, a invasão por inimigos estrangeiros e pôr o povo na miséria”, lê-se no artigo.

“Isto é uma dura lição que aprendemos com os 100 anos de sangue e lágrimas na recente história da China”, conclui, numa referência ao “século de humilhação”, um período que se refere à ocupação estrangeira e vai desde a primeira guerra do ópio (1839 – 1842) ao fim da ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

27 Out 2016

Jornal apela à execução “incondicional” das ordens de Xi Jinping

Enquanto decorre o sexto plenário do Comité Central,  a publicação do PCC envia uma mensagem de obediência ao líder, com referências a Mao Tse-Tung

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) apelou à execução “incondicional” das ordens do seu líder, exemplificando com a autoridade de Mao Tse-Tung, numa altura em que decorre uma reunião “decisiva” para o futuro da organização.

“O tique-taque [do telégrafo] era a voz do Presidente Mao e da liderança central do partido. Todos os membros do partido e do exército implementavam as decisões de Mao”, descreveu o Diário do Povo em editorial.

Mao Tse-Tung – o fundador da República Popular da China, em 1949 – governou a China durante 27 anos, até à sua morte em 9 de Setembro de 1976.

O jornal lembra que a unidade do PCC depende da obediência à sua liderança e diz que foi a falta desta que levou à queda da União Soviética há 25 anos.

Já a Revolução Cultural, uma radical campanha política de massas lançada por Mao em 1966, que visou purgar os “elementos burgueses” do PCC, foi também o resultado de uma “vida política anormal” no partido, refere.

Cerca de 400 altos quadros do regime comunista chinês estão reunidos esta semana num hotel, em Pequim, para discutir as “regras da disciplina interna” no PCC e “as directrizes para a vida política” dos seus membros.

O sexto plenário do Comité Central, o último antes da liderança do partido ser remodelada no próximo ano, deverá aprovar dois grupos de normas sobre a conduta dos membros do PCC, segundo a agência oficial Xinhua.

Afirmação e persistência

A retórica da imprensa chinesa poderá esconder o que especialistas consideram uma luta pelo domínio político da segunda maior economia mundial, à medida que o secretário-geral do PCC e Presidente da China, Xi Jinping, se afirma como o líder chinês mais forte das últimas décadas.

Formalmente, Xi acumula já mais poder do que todos os anteriores Presidentes chineses, desde o fim do “reinado” de Mao Zedong.

A sua campanha anti-corrupção, lançada em 2013, é considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista e resultou já na punição de um milhão de membros, segundo dados anunciados este fim de semana pelo órgão de Disciplina e Inspecção do PCC.

O partido único da China tem 88 milhões de membros.

Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua.

No braço político do exército, a Comissão Militar Central (CMC), que era considerada intocável até então, dois ex-vice-presidentes foram já investigados por corrupção: Guo Boxiong, que foi sentenciado com prisão perpétua, em Julho passado, e Xu Caihou, que faleceu devido a um cancro, no ano passado, antes de ser julgado.

Num editorial publicado em Maio passado, o Diário do Exército de Libertação Popular (ELP), as forças armadas chinesas, defendeu que a queda de Guo e Xu se deveu mais a “erros políticos” do que à sua “evidente corrupção”.

“O motivo chave (…) reside na violação da base da disciplina política do partido, mais do que os crimes de corrupção que cometeram, apesar de estes serem notórios e abomináveis”, indica

Xi Jinping descreve o partido como uma “arma mágica” para implementar as reformas necessárias à concretização do “Grande Rejuvenescimento” da nação chinesa, um conceito que frequentemente descreve como o “Sonho Chinês”.

26 Out 2016

6º Plenário do PCC | Analistas falam na consolidação do poder de Xi Jinping

Começou ontem em Pequim o encontro do movimento político com mais poder no mundo. O Sexto Plenário do Partido Comunista Chinês pode mudar a história do país, dizem os analistas. É que começa agora a luta pelos cargos mais importantes da estrutura

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão reuniões que acontecem no Hotel Jinxi, na capital chinesa, longe do olhar do público. Ao todo, participam quase 400 membros do Partido Comunista Chinês (PCC). Até à próxima quinta-feira, discutem mudanças em relação ao modo como o partido deverá ser gerido. O conclave, diz a Xinhua, “está focado nas questões da disciplina partidária”. A lacónica retórica oficial esconde o que está efectivamente em causa: jogam-se posições políticas e relações de força na segunda maior economia do mundo.

O Sexto Plenário, como o encontro é conhecido, acontece numa altura em que o PCC enfrenta mudanças significativas. Desde que assumiu os comandos do partido em 2012, o secretário-geral Xi Jinping tem tentado moldá-lo de acordo com os seus desígnios e tem controlado mais alavancas de poder do que qualquer outro líder desde Mao Zedong, escreve a France-Presse.

Depois, enquadra ainda a agência, a campanha de luta contra a corrupção dos últimos quatro anos alterou profundamente a composição do PCC, ao derrubar bastiões de poder que se julgava serem invencíveis – como o caso de Zhou Yongkang, antigo chefe da segurança –, e criando um receio generalizado por todo o país, que se traduz na dificuldade na tomada de decisões.

“Do ponto de vista histórico, é sempre uma reunião importante no PCC porque se definem ou clarificam-se políticas”, explica ao HM Arnaldo Gonçalves, especialista em relações internacionais. “Acontece, normalmente, a meio do mandato do secretário-geral e por isso é importante”, vinca, recordando que foi numa reunião deste género que foram definidas mudanças importantes na vida política da China, como “o encerramento da Revolução Cultural”.

O conclave que acontece por estes dias em Pequim “é importante porque estamos num período de transição”. A situação é, por ora, uma incógnita, mas como se sabe são sete membros [no Comité Permanente do Politburo] e há um grande falatório sobre a substituição daqueles que atingem os 70 anos – são cinco destes sete”, contextualiza Arnaldo Gonçalves.

O especialista faz alusão à “regra não escrita instituída por Deng Xiaoping, no pós-maoismo”, que determina que os dirigentes da primeira linha do PCC não devem ultrapassar o limite dos 70 anos, “porque é eternizarem-se no poder e é uma repetição da síndrome do Mao”. Até agora, a regra foi aceite por todas as lideranças, “mas não se sabe se vai ser alterada ou não”, continua o analista. “Este é um dos pontos importantes deste conclave.”

Uma vez que os políticos mais importantes do país estão no encontro de Pequim – “todo o poder central está lá” – e atendendo ao timing em que acontece, “é um tempo em que as pessoas que têm ambições de subir ao Politburo [ao grupo dos 25 membros] também se começam a posicionar”. Começa também “a corrida para o congresso do ano que vem, que vai ser um congresso decisivo em que se vai jogar quem vai ser o comité central, o comité permanente do Comité Central, e quem vai estar no futuro Governo da China, porque é provável que haja também mudanças a esse nível”.

Arnaldo Gonçalves sublinha, no entanto, que “há que esperar” – no final desta semana “Xi Jinping deve dar, nas entrelinhas, algumas directivas” do que será a vida política chinesa até ao próximo ano.

Um homem só

Xi Jinping descreveu o Partido como “a arma mágica” que pode ser usada para implementar reformas necessárias para atingir o objecto do “Grande Rejuvenescimento” da nação, uma ideia que diz, com frequência, ser o “sonho chinês”. Mas tem encontrado uma forte resistência nas tentativas de alteração do modo de funcionamento das empresas estatais, que controlam sectores estratégicos da economia e servem de apoio a políticos com importância na China.

“Estas reformas não foram a lado algum nos últimos três anos”, aponta à AFP Anthony Saich, especialista em política chinesa da Universidade de Harvard. “Claramente, Xi Jinping vê o PCC como o único motor para as reformas. Não acredita na sociedade ou no Estado como meios para levar por diante as reformas que deseja.”

No encontro de Pequim, acrescenta Saich, há um confronto entre “aqueles que são apoiados pelo secretário-geral e aqueles que são negativamente afectados pela campanha de luta contra a corrupção e pelas reformas que possam vir a ser feitas no sector empresarial detido pelo Estado”.

Para Xi Jinping, as melhorias ao nível da disciplina do partido são mais do que uma redução do mau comportamento dos elementos do PCC. “Tem sido muito ambicioso na conquista do poder, no modo como se apropria de poderes”, defende Willy Lam, académico da Universidade Chinesa de Hong Kong.

O analista considera que “a maior motivação” de quaisquer novas regras a serem aprovadas durante o plenário servirão para “consolidar a posição de Xi Jinping como grande líder”, destacando que várias medidas foram sendo introduzidas para garantir que os membros do Partido estão de acordo com a linha de pensamento de Xi Jinping, incluindo a “proibição de críticas sem fundamento”. “Só há uma pessoa no PCC que tem o direito a definir as regras políticas – chama-se Xi Jinping”, nota ainda.

Ao HM, Arnaldo Gonçalves recorda as dúvidas que tinha sobre o líder do Partido Comunista Chinês quando este passou a ser o homem mais importante da China, já lá vão quatro anos, até porque Xi “não abriu muito o jogo” na altura. O modo como tem desempenhado os cargos que ocupa – na liderança do Partido e como Presidente – levam o analista a considerar que “claramente é um homem de poder, com ambição de poder, com uma perspectiva para o exercer extremamente solitária, que não gosta muito das direcções colectivas – que foram a tradição desde Deng Xiaoping –, e prefere ser o tipo de Presidente com alguns adjuntos que o coadjuvam”. Para o analista, é importante ver “o que vai acontecer agora”.

O conclave acontece ainda numa fase em que aumenta a especulação em torno da possibilidade de Xi se manter no poder depois de 2022, altura em que deveria sair, por estarem cumpridos dois mandatos. Para o presidente do Mercator Institute for China Studies, Sebastian Heilmann, trata-se de uma possibilidade “extremamente arriscada, porque iria criar grandes fricções entre a elite política chinesa”.

Outro especialista ouvido pela AFP, Mao Shoulong, entende que o Sexto Plenário vai ser aproveitado como uma oportunidade de fortalecer a posição do secretário-geral na liderança e a base de poder”. Mao Shoulong repara também que a campanha contra a corrupção interferiu em áreas que não tinham sido afectadas.

Bondade ou jogo político

A eficácia da grande luta desencadeada por Xi Jinping é o tema de um editorial do jornal “Procura pela Verdade”, uma publicação importante do PCC. Na sexta-feira passada, na antecipação do Sexto Plenário, o jornal escrevia que a campanha contra a corrupção pode ter enfraquecido o partido que Xi pretende salvar, ao destacar a “universalidade e a gravidade da corrupção dentro do Partido Comunista Chinês”. Os castigos aplicados a milhares de membros e funcionários “enfraqueceram seriamente as fundações do Partido e a sua capacidade para governar”.

Há críticos do regime que entendem a campanha é uma forma interna de luta entre facções e, uma vez que não existem reformas sistémicas dentro da estrutura, não são eliminadas as causas da corrupção.

Arnaldo Gonçalves foca precisamente estas várias leituras em torno do principal cavalo de batalha de Xi Jinping. “Há quem diga que é importante a campanha anticorrupção para limpar o partido, para o dignificar, para o legitimar de novo, limpá-lo dos corruptos que a máquina tem criado”, diz. “Há quem diga que é um pretexto, como tem acontecido nalguns regimes mais ou menos musculados da Ásia, para aproveitar a campanha anticorrupção para se libertar de alguns adversários políticos, que foram adversários dele à medida que foi subindo no partido.”

Ressalvando que não tem “certezas destas avaliações”, o especialista sublinha que a composição do próximo Comité Central vai ser esclarecedora. “Perante este [Comité Central], acho que tem uma relação de grande respeito por Li Keqiang, que se irá manter, de certeza; por Wang Qishan, que é o homem da comissão de disciplina do Comité Central, uma área importante, e por Zhang Dejiang. Tem uma relação de respeito por estes três homens, os dois últimos mais velhos”, aponta, recordando que tanto Wang Qishan, como Zhang Dejiang deverão abandonar os cargos que detêm por atingirem a tal regra não escrita do limite de idade.

À AFP, e ainda sobre a questão da corrupção, Hu Xingdou, analista do Instituto de Tecnologia de Pequim, espera que da reunião de Pequim saiam novas regras para garantir a transparência de acção dos membros do Partido, dando o exemplo do registo de propriedades. “No passado, foram produzidas regulamentações que acabaram por não ser implementadas”, recorda. Desta vez, “espero que possa passar a haver a divulgação pública de bens”. Para o especialista, “só assim é que podem conquistar o respeito de toda a nação”.

25 Out 2016

Xi Jinping | “Ajustamentos dolorosos” para dinamizar economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o país está disposto a realizar “ajustamentos dolorosos” para solucionar os problemas da economia, a segunda maior do mundo, e a levar estas reformas “até ao fim”. O chefe do Estado chinês, que falava num encontro com empresários do G20 na cidade de Hangzhou, reconheceu que o modelo económico do seu país levado a cabo nos últimos anos “já não é sustentável” e defendeu a alteração dos motores de crescimento para fazer da China “um país inovador”. “Temos vontade de fazer ajustamentos dolorosos e de abordar os problemas que se criaram ao longo de muitos anos”, sublinhou, na véspera da cimeira do G20, que decorre até esta segunda-feira naquela cidade chinesa.
O Presidente assinalou que a economia chinesa se encontra num “novo ponto de partida” para transformar o seu crescimento, manifestando “confiança” para enfrentar esta transição, uma vez que “o medo de avançar é uma oportunidade perdida”. “As reformas são cruciais para manter uma taxa de crescimento média-alta”, assegurou o Presidente chinês.
Xi Jinping afirmou ainda que a economia chinesa pretende “integrar-se mais no mundo e abrir-se mais ao mundo” e anunciou que a China vai facilitar o acesso do investimento estrangeiro no seu território, acelerar as negociações de tratados de comércio livre com outros países e intensificar os seus esforços para tornar o yuan uma divisa internacional.

5 Set 2016

Xi Jinping reorganiza exército e prevê despedimento de milhares de efectivos 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Pequim está a reestruturar as forças armadas e vai reorganizar os seus 1,55 milhões de efectivos nas Forças Terrestres do Exército de Libertação Popular (ELP) com o objectivo de aliviar a estrutura militar e melhorar a capacidade de combate em guerras modernas. Com este plano vários milhares de efectivos serão afastados. Este era um assunto até agora, intocável, mas desde a subida ao poder de Xi, a reforma é mesmo para avançar.
Segundo avançou ontem o jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), o ELP, que conta com as maiores Forças Terrestres do mundo, irá transformar as suas 18 divisões actuais em “25 ou 30”. O plano deve incluir o despedimento de dezenas de milhares de efectivos, pelo que deverá encarar resistência dentro do ELP, refere o SCMP, que cita fontes próximas das Forças Armadas chinesas. Trata-se de mais um passo na reforma do Exército, anunciada no ano passado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, e que inclui a redução de 300.000 efectivos, entre outras medidas.

Mais eficaz

Xi Jiping que chefia também a Comissão Militar Central (CMC), o braço político do ELP, quer que a reforma esteja completa em 2020. Desta forma, o Executivo chinês espera eliminar, aos poucos a estrutura soviética do ELP, tornando-a mais ligeira, rápida e funcional, enquanto moderniza as forças navais e combate a endémica corrupção dentro do Exército. Considerada intocável até há pouco tempo, desde que Xi ascendeu ao poder, em 2013, dois ex vice-presidentes da CMC foram já investigados por corrupção: Guo Boxiong, que foi sentenciado com prisão perpétua, em Julho passado, e Xu Caihou, que faleceu devido a um cancro, no ano passado, antes de ser julgado.
A reforma ocorre numa altura em que a China se revela mais assertiva no Mar do Sul da China, onde mantém disputas territoriais com vários países vizinhos, e aumenta a influência militar em África e no Médio Oriente, após décadas em que adoptou uma política de “não interferência”.

25 Ago 2016

Xi Jingping condena declínio do fervor ideológico no PCC

No primeiro discurso feito num aniversário importante do partido, Xi Jingping apelou ao reavivar das tradições marxistas sob pena do “partido perder a sua alma e direcção”. O discurso surge quando o recrutamento de novos membros caiu para os valores mais baixos de sempre e aparenta um esforço para reinventar a legitimidade do Partido numa sociedade onde a população é cada vez mais próspera e exigente

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]um discurso feito na sexta-feira em Pequim, durante as comemorações do aniversário do Partido Comunista Chinês (PCC), o presidente Xi Jinping destacou a importância de preservar a legitimidade do órgão no poder.
Xi destacou a ortodoxia ideológica como vital para garantir a legitimidade do Partido Comunista no poder, marcando o 95º aniversário do órgão governante com um forte apelo à disciplina política.
“O relaxamento da fé idealista é a forma mais perigosa de relaxamento”, disse Xi na sexta-feira, durante uma reunião de dirigentes e membros do partido no Grande Salão do Povo, em Pequim. “O declínio de um partido político frequentemente começa com a perda ou a falta de fé idealista.”
No discurso, que foi televisionado para todo o país, Xi defendeu veementemente as raízes marxistas do partido e seu sucesso na condução do crescimento económico da China, mas disse que qualquer desleixo no fervor ideológico do órgão pode ameaçar sua permanência de quase sete décadas no poder.
“Virar as costas ou abandonar o marxismo significa que nosso partido perderia sua alma e direcção”, disse.
Desde que assumiu o poder, no final de 2012, Xi tem vindo a revigorar o Partido Comunista com uma disciplina inflexível e um senso de propósito nacionalista destinados a combater a corrupção e a atrofia burocrática, face ao receio da liderança de que estes dois males destruam a legitimidade moral do exercício do poder.
Os esforços tornaram-se mais prementes nos últimos 12 meses, em face da desaceleração económica chinesa, que abalou a confiança na liderança económica de Xi. Ao mesmo tempo, a política externa cada mais assertiva aguçou a resistência dos países vizinhos à China.
“O discurso de Xi foi uma celebração e um alerta”, diz Jude Blanchette, investigador em Pequim que está a escrever um livro sobre o legado de Mao Tsé-Tung. É “um lembrete de que a visão de Xi para a China não pode ser divorciada de um Partido Comunista forte, organizado e altamente disciplinado”.

Reaprender a cartilha

É comum os líderes chineses usarem discursos nos principais aniversário do partido — comemorados a cada cinco anos — para salientarem as suas prioridades políticas. Alguns analistas dizem que este primeiro discurso de Xi indica que a disciplina ideológica continua a ser uma prioridade, à medida que se aproxima um importante congresso do partido, em 2017.
A educação ideológica ganhou força nos meses anteriores ao aniversário do partido, com uma campanha que encorajou os membros a escreverem à mão a constituição do partido, que tem 15 mil caracteres, pagar as taxas de filiação no prazo e testar conhecimentos dos assuntos do partido. Só nesta semana, o partido lançou novas regras disciplinares para responsabilizar autoridades por negligência ou baixo desempenho.
“A ênfase na ideologia é puramente uma questão para fazer todos rezarem pela mesma cartilha”, diz Blanchette. “É bom para a coesão da organização.”
Alguns analistas dizem que as iniciativas de Xi representam uma aposta ambiciosa para reinventar as bases da legitimidade do Partido Comunista, com o objectivo de criar uma burocracia ágil e capaz de lidar com os desafios económicos do país e as exigências crescentes de uma população mais próspera.

Ressuscitar de fantasmas

No processo, Xi tem vindo a promover o moralismo tradicional confucionista e a combater as influências ocidentais, recorrendo a uma rigorosa campanha contra a corrupção para punir autoridades recalcitrantes. Também exortou membros, académicos e jornalistas a manifestarem fidelidade à liderança central.
De permeio com medidas disciplinares, o crescimento do número de membros do partido caiu para o ritmo mais lento em quase 30 anos, aumentando apenas 1,1% em 2015, para quase 89 milhões, segundo dados do partido.
Alguns membros do partido e cidadãos chineses temem que os métodos severos de Xi e invocações do discurso maoísta sejam sinais de um retorno a um governo mais ditatorial, à custa da tendência, hoje dominante no órgão, de uma liderança colectiva e consensual.
No discurso de sexta-feira, porém, Xi sinalizou que não haverá pausa nos métodos disciplinares, dizendo que a sobrevivência do partido está em jogo.
“Se não pudermos administrar o partido bem e governar o partido com rigidez”, disse, “então nosso partido vai acabar perdendo o direito de governar e, inevitavelmente, ser relegado à história”.

Não nos vergam

Em comentários que pareceram dirigidos aos seus adversários geopolíticos, como os Estados Unidos, Xi disse que a China “nem cria problemas, nem teme problemas” e que nunca “vai abrir mão dos seus principais interesses”.
A afirmação foi feita dias antes do tribunal internacional de Haia decidir sobre o caso de arbitragem aberto pelas Filipinas contra as reivindicações territoriais chinesas no Mar da China Meridional.
Recorde-se que as autoridades chinesas já afirmaram que o tribunal é ilegítimo e prometeram ignorar suas decisões. Os EUA instaram o governo chinês a aceitar o resultado da arbitragem.

Wall Street Journal

6 Jul 2016

Inspecções anti-corrupção chegam ao Gabinete de Ligação de Macau e Hong Kong

Tudo começou por um responsável do controlo interno do Gabinete e membro do Conselho de Estado ter, alegadamente, violado a disciplina ao incluir nas despesas de representação, o pagamento de uma refeição a amigos num hotel.
Esta é a 10.ª ronda de inspecções desde que Xi Jinping assumiu o poder mas a primeira no Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] agência anticorrupção chinesa vai, pela primeira vez, enviar inspectores para o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, segundo a imprensa local.
O anúncio foi feito na noite de quarta-feira pelo secretário da Comissão Central de Disciplina do Partido Comunista Chinês (PCC) – a agência anticorrupção chinesa –, Wang Qishan, que disse que as inspecções são um dos métodos mais eficazes no combate à corrupção, escreve o jornal South China Morning Post.
Esta é a primeira vez que as inspecções anticorrupção abrangem o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, refere o jornal, indicando que as mesmas abrangem organismos ligados à Assembleia Nacional Popular, incluindo as comissões da Lei Básica das duas regiões chinesas com administração especial, e outras 29 de nível ministerial do partido e órgãos governamentais.
“As inspecções são uma forma importante para realizar a supervisão interna do partido”, disse Wang Qishan.
Os inspectores devem estar em sintonia com o Presidente, Xi Jinping, e “examinar se as directrizes do partido e políticas têm sido verdadeiramente aplicadas numa tentativa de salvaguardar resolutamente a liderança central do partido”, acrescentou.
Esta é a 10.ª ronda de inspecções desde que Xi Jinping assumiu o poder no final de 2012. O objectivo é cobrir todos os órgãos do partido e do Governo central, bem como todas as províncias e empresas estatais, informou a agência anticorrupção.

Aconchegando o “cobertor”

Nesta ronda, além do gabinete de assuntos para Hong Kong e Macau, os inspectores serão igualmente enviados para os ministérios dos Negócios Estrangeiros, Finanças e Segurança Pública. Também serão destacados para as províncias de Tianjin, Jiangxi, Henan e Hubei, já alvo de inspecções anteriores.
O anúncio da nova ronda de inspecções surge semanas depois de um responsável chinês encarregado do controlo interno do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado ter alegadamente violado a disciplina por incluir, nas despesas de representação, o pagamento de uma refeição a amigos num hotel.
Este ano foi criado um novo cargo no seio do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado da China para supervisionar os trabalhos de inspecção de disciplina.
Li Qiufang, a primeira responsável a ocupar o cargo, disse em Março à imprensa em Hong Kong que o seu papel é assegurar que os esforços anticorrupção se estendem como um “cobertor”. Após ascender ao poder, Xi Jinping lançou uma ampla e persistente campanha anticorrupção que atingiu já mais de 130 responsáveis chineses com o estatuto de vice-ministro ou superior em todos os setores do regime, incluindo no exército. Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua. Xi Jinping qualificou o combate à corrupção como “uma questão de vida ou de morte para o Partido Comunista e a nação”.

24 Jun 2016

Xi Jinping destaca relação “muito madura” com Alemanha

A chanceler alemã Angela Merkel terminou ontem aquela que foi a sua nona visita à China. O reforço da cooperação económica esteve no centro da agenda com acordos assinados entre empresas das duas nações no valor de mais de 13.000 milhões de euros

[dropcap style=´circle´]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, afirmou que as relações do país com a Alemanha estão numa fase “muito madura”, durante um encontro com a chanceler Angela Merkel, noticiou ontem a imprensa oficial chinesa.
A reunião, na segunda-feira, à porta fechada, em Pequim, fez parte da visita oficial de Merkel ao país asiático iniciada no domingo e que se concluiu ontem com uma passagem por um parque industrial com investimento alemão na cidade de Shenyang, nordeste da China.
A responsável alemã reuniu-se também com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, com quem assistiu à assinatura de 24 acordos de cooperação, e participou num fórum empresarial, durante o qual empresas dos dois países subscreveram 96 contratos com um valor total de 13.200 milhões de euros.

Mercado e modernidade

Durante o encontro, Xi e Merkel frisaram as possibilidades de cooperação que oferecem as estratégias de modernização industrial de ambos os países, “Indústria 4.0” e “Made in China 2025”, destacou a imprensa local.
Xi referiu ainda a preocupação de Pequim em que a União Europeia cumpra com o protocolo de adesão do seu país à Organização Mundial do Comércio (OMC), que prevê o reconhecimento do estatuto de economia de mercado à China antes de Dezembro de 2016.
Segundo os jornais locais, Merkel reconheceu a importância da implementação daquele acordo.
Ambos abordaram ainda outras áreas de cooperação, nomeadamente no ensino, facilitação na concessão de vistos e na medicina tradicional chinesa.
Além disso, comprometeram-se a trabalhar conjuntamente para coordenar as cimeiras do G20, que este ano se realiza na cidade chinesa de Hangzhou e que a Alemanha acolherá em 2017. Esta visita de Merkel à China é a nona desde que foi eleita chanceler.
 

15 Jun 2016

Banco Asiático de Investimento terá 100 países membros

O Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII), a primeira instituição financeira internacional proposta pela China, vai alargar o número de países membros de 57 para cerca de 100, anunciou ontem o presidente Jin Liqun.
Em declarações ao jornal oficial China Daily, Jin disse que 30 países aguardam a adesão ao BAII e mais 20 indicaram já uma “intenção firme” de fazer parte da instituição.
Caso se concretize, o BAII ultrapassa assim o Banco Asiático de Desenvolvimento, criado pelo Japão em 1966, e que conta com 67 membros, 19 dos quais exteriores à região da Ásia-Pacífico.
Com uma participação de cerca de 13 milhões de dólares, Portugal é um dos 57 países fundadores do BAII, que no conjunto integra 14 países da União Europeia.
O Brasil é o nono maior accionista, com uma quota de 3.181 milhões de dólares e o único membro em todo continente americano.
Proposto pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, aquela entidade é vista como uma reacção do Governo chinês ao que considera o domínio norte-americano e europeu em instituições globais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Gigantes de fora

Entre as grandes economias do planeta, apenas Estados Unidos da América e Japão não fazem parte, mas Jin frisou que “a porta continua aberta”, acrescentando que as empresas daqueles países serão tratadas de forma “igual e justa”, destaca o China Daily.
Segundo o antigo vice-ministro das Finanças da China, o banco irá anunciar a primeira rodada de projectos de infra-estruturas este mês, e a segunda e terceira no final deste ano.
O BAII vai também estender o financiamento a países exteriores à Ásia com “fortes relações económicas” com o continente e, para além de infra-estruturas, irá também financiar projectos nos sectores educação, saúde e planeamento e gestão urbana.
Com sede em Pequim, o BAII tem um capital inicial de 100.000 milhões de dólares (30,34% pertence à China) e é assumido como o principal instrumento de financiamento da iniciativa chinesa “Uma Faixa e Uma Rota”, um gigante plano de infra-estruturas, que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

2 Jun 2016

Pequim “não permitirá deterioração da segurança na península coreana”

O Presidente chinês não quer ver a península coreana transformar-se num cenário de guerra e pede calma às partes. Mantém-se firme na implementação das sanções da ONU, quer ver a península desnuclearizada mas desconfia dos mísseis americanos. E volta a garantir que o Mar do Sul… é da China

O Presidente chinês, Xi Jinping, assegurou ontem que o seu país “não permitirá a deterioração da segurança na península coreana”, após as últimas provocações de Pyongyang, e instou todas as partes “a manter a calma”.
Xi, que falava durante a inauguração em Pequim do quinto fórum ministerial da Conferência para as Medidas de Interacção e Construção da Confiança na Ásia (CICA), apelou ainda a um “regresso à mesa de negociações”.
A China está “comprometida com a paz e a segurança na península coreana”, afirmou Xi, acrescentando que Pequim não permitirá que a região “mergulhe na guerra e no caos”.
A Coreia do Sul prevê que a Coreia do Norte faça o seu quinto teste nuclear nos próximos dias. Os anteriores ocorreram em 2006, 2009, 2013 e Janeiro de 2016.
Xi Jinping garantiu que a China implementou “plena e absolutamente” as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU contra a Coreia do Norte, após o teste nuclear de Janeiro, seguido de um ensaio encoberto de mísseis balísticos.
As sanções incluem a inspecção obrigatória dos carregamentos para o país, a restrição nas exportações de materiais, o embargo ao comércio de armas ligeiras e a proibição de venda de combustível aeroespacial.

Desconfiar dos americanos

A China é o aliado mais importante da Coreia do Norte e é responsável por 90% do comércio externo daquele país. Até há pouco tempo, as relações entre Pequim e Pyongyang eram descritas como “unha com carne”.
Xi afirmou que a China promoverá a desnuclearização da península “através do diálogo e das consultas”, enquanto Pequim se opõe a sanções unilaterais impostas pela Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão.
Outra preocupação da China diz respeito à instalação do sistema antimísseis norte-americano THAAD na península coreana, que acusa de ter como verdadeiro alvo o país.
Xi reiterou a sua “visão de segurança para a Ásia”, insistindo que os problemas da região “devem ser resolvidos entre os asiáticos”, numa crítica velada à interferência dos Estados Unidos da América, que nos últimos anos reforçaram a presença militar na região.

Mare Nostrum

O Presidente chinês referiu-se ainda às disputas territoriais que a China mantém com outros países no Mar do Sul da China, defendendo que “devem ser resolvidas através de negociações com os países envolvidos”.
Xi defendeu a postura da China, independentemente da decisão do Tribunal Internacional de Haia, que aceitou mediar o caso a pedido das Filipinas, que disputa a soberania de várias ilhas com o Continente.
Pequim reclama a soberania de quase todo o Mar do Sul da China. Nos últimos meses, construiu ilhas artificiais capazes de receber instalações militares em recifes disputados, total ou parcialmente, pelas Filipinas, Vietname, Taiwan, Malásia e Brunei.
Estabelecida em 1992, a CICA dedica-se à segurança regional e conta actualmente com 26 países membros da Ásia e sete Estados observadores, entre os quais os EUA e o Japão.

2 Mai 2016