A miudagem do telemóvel

Miúdo de 10 anos de idade: “Pai, se não me compras um novo telemóvel, não vou à escola!”. A situação dos nossos jovens infantis e adolescentes é incompreensível. A mudança no mundo repercute-se no dia a dia de Portugal. Os miúdos querem isto e aquilo sem compreender que na maioria dos casos os pais não têm dinheiro para as suas reivindicações. Os miúdos veem na escola uma minoria que usa sapatilhas de marca, um telemóvel topo de gama e uma mochila das mais caras e todos querem produtos iguais.

Já aconteceu que um miúdo de 11 anos não gostou do iogurte que a mãe comprou e atirou-o contra a cara da mãe. Um outro, com 12 anos, foi à garagem furar o pneu da bicicleta do pai por este não lhe ter comprado a bicla que desejava. Um outro, chegou à sala de aula e disse à professora que ela devia ser lésbica porque só dava beijos às meninas. Tivemos conhecimento que um outro miúdo pediu ao avô 20 euros e como o velhote disse que não tinha, o miúdo atirou a bengala do avô para o recipiente do lixo municipal. Um outro, chegou com os pais a um hotel e queria ver televisão quando já eram horas de dormir.

Os pais desligaram o televisor e o miúdo foi à casa de banho buscar um copo de vidro e partiu o televisor. Mas, estamos a entrar em que tipo de sociedade, em que nos interrogamos sobre o futuro para estes jovens. Os pais e avós queixam-se que a culpa é dos computadores, quando os aparelhos foram oferecidos pelos avós ou pais. Que as redes sociais estão a estupidificar os jovens que passam horas ao telemóvel ou ao computador. Mas, os pais é que têm de controlar a actividade dos filhos e educá-los sob as regras mínimas a cumprir. Há dias, um amigo lamentou-se que o seu filho andava a enlouquecê-lo porque no carro não quis colocar o cinto de segurança. Ao ser obrigado pelo pai atirou com o telemóvel contra o monitor do GPS do veículo e partiu o telemóvel e o visor digital. Os casos são intermináveis e diversos.

A miudagem senta-se num café com os pais e está todo o tempo agarrada ao telemóvel. Culpa deles? Não, os seus pais não deviam permitir. Dizem até que se contrariarem os filhos estes fogem, sabe-se lá para onde. A educação de menores hoje em dia está realmente a degradar-se. A maioria dos pais trabalha o dia inteiro e muitos quando chegam a casa já os filhos dormem ou estão há horas agarrados ao computador. Depois, temos o reverso da medalha. Cada vez mais aumenta o número de crianças abusadas sexualmente por pedófilos que através da internet usam todos os subterfúgios para virarem a cabeça dos menores.

Por seu turno, a juventude adolescente está a preocupar as diferentes comunidades. Os jovens entre os 13 e 16 anos estão a ter um comportamento surpreendente pela negativa. Querem sair à noite, bebem cerveja ou shots, fumam cannabis, embriagam-se, chamam um carro da Uber e são violadas, se se trata de uma jovem. As casas de banho das discotecas servem para o sexo. Os gangues instalados introduzem drogas nas bebidas das jovens para posteriormente as poderem violar.

Assistimos recentemente a um caso trágico em Braga. Um jovem do ensino secundário, no interior do clube da Associação Académica da Universidade do Minho, onde era permitido entrar todo e qualquer indivíduo, deu-se conta que uns estranhos, não portugueses, estavam a introduzir drogas nas bebidas das raparigas. Dirigiu-se ao segurança e chamou-lhe à atenção do que estava a acontecer.

O segurança do bar em vez de proteger de imediato o jovem denunciante, mantendo-o no interior do bar ou no gabinete da gerência, cometeu o “crime” de atirar com o jovem juntamente com os membros do gangue para o exterior do bar. E a Polícia Judiciária investiga se o segurança comunicou aos membros do gangue o que o jovem denunciante tinha acabado de lhe transmitir. Resultado: fria, cobarde e violentissimamente, os membros do gangue esfaquearam acto contínuo o jovem português até à morte. Ao que chegámos.

Uma coisa é o que assistimos durante anos e anos: desavenças, discussões e pancadaria a murro e pontapé. Outra, absolutamente incompreensível, são os jovens a matarem-se por uma razão qualquer, seja por ciúme ou por tentativa de drogar o semelhante para fins abusivos.

Aquele bar estudantil era algo inqualificável, e nunca poderia ter sido autorizada a sua funcionalidade. Estava situado num beco e como podem verificar na fotografia que publicamos, o bar tinha grades em todas as janelas e sem saída de emergência. Em caso de incêndio tinham morrido dezenas de jovens no interior do bar. E é neste Portugal, com factos deste género, que a juventude actual se diverte. O crime entre os jovens aumenta. As cenas de violência pululam por todos os bairros. Obviamente que a polícia não pode estar em todo o lado, mas voltamos à mesma tecla: os pais de hoje não pensam que o futuro dos seus filhos com este comportamento irá ser um desastre social? Infelizmente, já existem casos em que um filho mata o pai porque este não lhe deu dinheiro para comprar uma nova droga, a K9, que já está a matar dezenas de jovens.

As autoridades governamentais têm forçosamente que olhar a sério para o problema da juventude e tomar certas medidas rigorosas, entre as quais, a proibição na entrada de bares e discotecas nocturnos a menores de 18 anos.

29 Abr 2025

Adelina Moura, docente e formadora: “O telemóvel é como um canivete suíço”

Formada na área das tecnologias educativas, Adelina Moura irá conduzir palestras para pais, alunos e professores sobre o uso de tecnologias digitais nas salas de aula, no âmbito do festival “Letras&Companhia” do Instituto Português do Oriente. A professora entende que proibir o telemóvel nas escolas não é solução

 

Quais os desafios sentidos por professores com a introdução das tecnologias na sala de aula? O telemóvel pode, de facto, ser um complemento à aprendizagem?

Sim. Venho dizendo isso desde 2005. O telemóvel pode ser uma excelente ferramenta de aprendizagem, um meio para motivar os alunos e para que enriqueçam a sua aprendizagem. Temos aqui uma espécie de canivete suíço, um equipamento poderosíssimo nas mãos dos alunos e há uma falha da escola, porque não se trabalha e ajuda os alunos a potenciar esse equipamento que têm. O que acontece é que os alunos aprendem da pior maneira, de uma forma desestruturada, por tentativa-erro. Há uma lacuna, pois os alunos não são alertados para o potencial positivo de utilização do telemóvel. Encaram o telemóvel como uso do tempo livre, gastando tempo nas redes sociais e a fazer “scrolling”, e o tempo consome-se. É essencial que os professores sejam utilizadores, nas suas práticas, do telemóvel, quer para a preparação de aulas e outros projectos, para saber preparar os alunos. Considero que a escola perdeu várias etapas de preparação e sensibilização dos alunos para a utilização destes equipamentos que levam para as aulas e com os quais as escolas não gastaram nenhum dinheiro. Com a proibição de levar o telemóvel para a sala de aula não avançamos nada nesse sentido.

No período da pandemia, por exemplo, o uso das tecnologias, com o ensino à distância, foi bastante potenciado.

Mas durante a pandemia também queimámos algumas etapas em relação ao uso do digital pelos professores, porque antes da pandemia muitos professores não acreditavam e nem usavam. Achavam que era uma moda e não viam grande utilidade no uso dos telemóveis e outras tecnologias. Com a pandemia a utilização desses equipamentos provou que, sem eles, a situação do ensino teria sido muito pior. Nestes anos de pandemia, os professores ficaram mais conscientes das tecnologias que já existem e que estão disponíveis para qualquer um. Com acesso à internet no telemóvel, algo que existe desde 2007 com o lançamento do primeiro Iphone, potencia-se o sistema E-learning e depois passamos para o “mobile learning”, em que é possível aprender em qualquer lugar e qualquer hora com os dispositivos móveis. É esta realidade que vemos um pouco afastada da escola.

E depois da pandemia, como tem sido?

Julgo que vamos dar mais alguns passos em relação à literacia digital. Com a inteligência artificial (IA), parece que estamos como na fase em que criei o meu primeiro website, em 1999, ou o email, em 1995. Estamos no início. Mas são já 30 anos de tecnologia em que houve muitas mudanças, e a tecnologia vai de facto avançando e se no imediato não percebermos o que temos disponível, nós e alunos, ajudamos a criar um fosso que já aconteceu no passado em relação ao digital. Face à IA, se não olharmos para trás e não percebermos o que não foi feito e devia ter sido ao nível da escola, estamos a perder tempo. Só daqui a uns anos as pessoas vão ficar alerta à IA, e a lacuna vai aumentando. Daí ser muito importante apostar agora, já nesta fase inicial, na formação de professores, alunos e famílias.

Há muita ignorância dos pais, afastamento dessa realidade?

Temos pais que são deste século. Ou seja, nasceram com a existência dos computadores, Internet, viram o aparecimento do smartphone. Mas quando estudaram, a escola não falava do potencial do digital. Então, esses antigos alunos, vieram para a sociedade e não trouxeram essa sensibilidade para o digital, para educar os filhos. Nós, professores, quando damos formação no digital, estamos a fazer um bem à sociedade porque também estamos a preparar estes jovens para o futuro, pois vão ser pais e devem ter essa consciência para educar os filhos. Na escola não preparamos apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida pessoal e familiar. Daí a formação de professores ser essencial. O convite que recebi do IPOR parece-me uma excelente visão holística de tudo, porque a escola inclui diversos actores, de ligação com a sociedade.

Como a IA deve ser introduzida na sala de aula?

Assistimos actualmente a mudanças nos motores de busca, de facto. Temos motores de busca criados de raiz para a era da IA, por exemplo. A melhor maneira de introduzir a IA na sala de aula é perguntar aos alunos o fazem e como a utilizam, e já recorrem a essa ferramenta. No início do ano lectivo peço sempre aos alunos para responderem a um questionário sobre as suas rotinas digitais, e aí fico a saber mais ou menos as suas práticas. Em 2023, quando saiu o ChatGPT, introduzi a IA nas minhas aulas, e percebi que os alunos estavam a usar essa ferramenta para enganar os professores. Os alunos têm de perceber que, ao usar a IA, estão a cair numa certa armadilha, porque não estão a aprender. É a lei do menor esforço, igual à fase em que surgiu a Internet, em que os alunos seleccionavam, copiavam e enviavam para o professor. Temos agora o problema de as respostas estarem em português do Brasil, por exemplo, e vejo logo que foi usada a IA. Temos, portanto, de desmontar na cabeça dos alunos esta actuação e enfrentá-los. Digo-lhes que estão a ser desonestos intelectualmente e que não leram a resposta obtida pela IA, por exemplo. Sinto, desde 2023, que os alunos, nas respostas a esse questionário que faço, dizem ter receio de usar o ChatGPT porque têm medo de ser apanhados pelos professores. Ou seja, parece terem ganho alguma consciência.

Vai dar estas palestras num contexto educacional diferente, na Ásia, em que o uso do telemóvel pode ser mais precoce. Como vai lidar com essas diferenças, ou entende que os problemas do uso da tecnologia na sala de aula são transversais?

É uma questão transversal. Temos de nos questionar se o uso de determinado equipamento e ferramenta nos vai tornar mais sábios? A mim parece-me que não, pois podemos ter o equipamento, mas o uso que fazemos dele varia muito. Digo aos meus alunos que eles deveriam ter vergonha, porque têm um acesso muito mais fácil aos conteúdos do que no meu tempo, em que tínhamos verdadeiramente de fazer pesquisa e ler em formato físico. Digo-lhes que, com esta tecnologia, deviam todos ter nota 20, e que estão a desperdiçar recursos, sendo desonestos intelectualmente, porque assinam trabalhos que não são deles e não leem, sequer, o que entregam. Um dos trabalhos que temos com os alunos é ensiná-los a fazer referências bibliográficas, referir as fontes. Mas eu sou optimista por natureza, e espero que daqui a uma década os alunos do ensino secundário que sejam pais e mães consigam lidar com estes problemas das redes sociais e aumento de fraudes com os seus filhos. É essa “escola de pais” que a escola pode ajudar a criar. Estamos num momento sem retorno do digital, e proibir é a situação mais cómoda, mas não é a melhor para enfrentar a realidade. Temos de usar as palavras certas para alertar. Temos nesse tempo de alertas e de consciências, de incentivo ao espírito crítico dos nossos alunos, que é pouco actualmente.

 

Formar quem ensina

Adelina Moura irá ministrar um workshop para professores do território no sábado, com a sessão “Literacia Digital – Promoção de Interacções Positivas em Linha”, dirigida a professores e agentes do ensino infantil, primário e secundário. A sessão decorre na sede do IPOR, entre as 10h e as 13h.

No mesmo dia, mas à tarde, a sessão será dirigida para pais e filhos. Licenciada em Ensino do Português e Francês, mestre em Supervisão Pedagógica do Ensino do Português e doutorada em Ciências da Educação, na especialidade de Tecnologia Educativa, Adelina Moura tem vindo a desenvolver investigação na área do Mobile Learning, com várias publicações em Portugal e no estrangeiro.

É docente do ensino básico e secundário, tutora de cursos de formação à distância do Instituto de Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e formadora da formação contínua de professores, em didácticas específicas (Português e Francês) e tecnologia educativa. Na quarta-feira, a partir das 18h30, Adelina Moura, Nuno Gomes e Min Yang vão debater “A Inteligência Artificial na Educação”.

7 Abr 2025

Telemóveis | Multas para uso nas passadeiras contestadas

Os deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa não compreendem a proposta do Governo de aplicar uma multa aos peões que atravessem a passadeira ao telemóvel.

De acordo com o relato feito da reunião de ontem por Ella Lei, existe alguma apreensão face ao facto de um comportamento ser punido, mas outros semelhantes não estarem sujeitos a qualquer multa. No encontro com representantes do Governo, os deputados perguntaram o motivo de se punir a utilização do telemóvel, mas não se punir uma pessoa que atravesse a passadeira a ler uma revista ou um jornal.

O artigo da Lei do Trânsito Rodoviário em que parece que o Governo está a tentar atirar culpas para os peões pela condução imprudente dos condutores continua assim a causar polémica, e os deputados esperam mais explicações. Fora da discussão de ontem, ficou o artigo da lei em que o Governo permite que no século XXI os táxis possam circular sem cintos de segurança nos lugares de trás.

26 Nov 2024

Telemóveis | SmarTone deixa de providenciar serviços

A SmarTone decidiu deixar de providenciar o serviço de telecomunicações móveis, renunciando, assim, à sua licença de operação da rede 4G, não renovando também a actual licença de 3G. Segundo uma nota publicada pela empresa no website, a decisão de “cessão da prestação de serviços de comunicações móveis em Macau” foi feita “após uma análise comercial exaustiva”, sendo que foi estabelecido um acordo com a CTM para que os clientes passem para esta operadora.

Assim, os clientes que ainda têm contratos de telecomunicações móveis com a SmarTone foram ontem notificados via SMS sobre “as disposições relevantes, incluindo a data de substituição do cartão SIM e outros pormenores”. Os cartões SIM serão substituídos entre hoje e o dia 31 de Outubro.

Na mesma nota, a SmarTone “agradece sinceramente aos seus clientes pelo seu apoio e confiança constantes”, sendo que, num comunicado difundido pelo Governo, a empresa ter-se-á comprometido a “tratar os trabalhadores e respectivos contratos de trabalho de acordo com a Lei das Relações de Trabalho, coordenando [a situação] com a CTM para proporcionar oportunidades de emprego aos actuais trabalhadores”.

O mesmo comunicado refere também que a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações “acompanhará de perto e supervisionará todo o processo de transição para garantir uma conclusão bem-sucedida”.

22 Ago 2024

Tecnologia | Pedida atenção a pais para abuso de telemóvel dos filhos

Os deputados discutiram ontem, durante mais de uma hora, o uso de telemóveis por crianças e os potenciais riscos de ficarem viciados. Face às insistentes questões sobre o assunto, Elsie Ao Ieong U pediu mais envolvimento dos pais na educação das crianças

 

Uma boa comunicação e a realização de várias actividades ao ar-livre. Foram estes os principais caminhos indicados pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, para os pais que pretendem que as crianças passem menos tempo à frente do telemóvel. A receita prescrita pela governante foi apontada também como uma forma de remediar o vício na utilização dos dispositivos electrónicos.

“Entre pais e filhos é preciso existir uma boa comunicação, e os pais também têm de encontrar um método para os filhos interiorizarem que nem sempre devem utilizar os telemóveis”, respondeu a secretária, face a uma questão do deputado Leong Sun Iok. “Mas os pais não devem apenas recorrer às proibições de utilização. principalmente quando estão com jovens de 11 a 16 anos, devem antes encontrar alternativas. Devemos recorrer a outras formas de comunicação, fazer mais companhia aos mais novos e realizar actividades extracurriculares para que os jovens utilizem menos os telemóveis”, acrescentou.

O tema do vício de crianças em novas tecnologias esteve ontem a ser discutido pelos deputados, numa reunião para interpelações aos membros do Governo.

Apesar do pedido, a deputada Song Pek Kei alertou que muitas famílias não têm tempo para estar com as crianças, principalmente os funcionários públicos, que realizam demasiadas horas extra. “Há muitos trabalhadores da Função Pública que não têm tempo para estar com as crianças, porque muitos trabalham horas extra. Também há trabalhadores por turnos, eles querem acompanhar os filhos, mas face a esta pressão não têm tempo nenhum, e assim entregam filhos ao sistema de educação”, vincou Song.

Na resposta, Elsie Ao Ieong U considerou que as famílias podem fazer mais sacrifícios, se quiserem passar tempo com as crianças.

Filtros de conteúdos

Houve também deputados a propor que as aplicações que filtram os conteúdos que podem ser acedidos pelos jovens, ou seja, de controlo parental, sejam disponibilizadas gratuitamente.

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura reconheceu a mais-valia destas aplicações de controlo dos conteúdos e vincou que muitas dessas plataformas estão actualmente disponíveis de forma gratuita. Ainda assim, a governante admitiu a necessidade de fazer uma maior promoção das formas de utilização destas ferramentas, entre os pais.

“Os meus colegas sabem bem como utilizar estes serviços gratuitos nos telemóveis. […] Mas, há pais que não sabem utilizar estes serviços, por isso vou pedir à DSEDJ e às operadoras das telecomunicações para fazerem folhetos e panfletos a ensinar os pais a definir restrições nos telemóveis, para que as crianças não acedam às páginas electrónicas não apropriadas”, reconheceu a secretária.

11 Jun 2024

Direito a desligar (I)

Recentemente, algumas estações de televisão de Hong Kong debateram o ‘direito a desligar’ (ROD sigla em inglês) nos seus programas. O ROD significa o direito dos trabalhadores a recusarem responder a mensagens electrónicas dos seus empregadores fora das horas de serviço. Este direito garante a separação completa entre o trabalho e a vida pessoal e evita que a fronteira entre os dois fique indefinida devido à interferência de mensagens electrónicas fora do horário de serviço.

Nos últimos anos, o debate sobre o ROD tem-se intensificado, especialmente porque muitas empresas implementaram o tele-trabalho durante a pandemia. Trabalhar a partir de casa requer o recurso às comunicações electrónicas. Agora, a pandemia está gradualmente a desaparecer, mas a prática das comunicações electrónicas mantem-se. Por conseguinte, os trabalhadores vêem-se confrontados com ‘o trabalho extra invisível’. O “trabalho extra invisível ” aumenta as horas de serviço. Se o empregador não pagar este tempo de trabalho extra, está basicamente a explorar o assalariado. Além disso, quando os trabalhadores não conseguem separar o trabalho da vida pessoal, passam a sofrer de stress adicional o que tem efeitos negativos quer a nível físico como a nível emocional, bem como nas relações inter-pessoais.

Recentemente, algumas notícias publicadas em Macau assinalavam que a China continental está a considerar incluir o ROD na sua legislação laboral.

O artigo 13 da Lei das Relações de Trabalho de Macau estipula que os empregadores devem ter sistemas de informação e registo das horas de trabalho dos seus funcionários. O artigo 20 estipula que o contrato de trabalho tem de incluir o tempo de deslocação e o horário normal de trabalho do funcionário; o artigo 33 estipula que o horário normal de trabalho não pode exceder as 8 horas diárias e as 48 horas semanais. O artigo 36 estipula que o empregador tem de ter o consentimento do funcionário se quiser que ele faça horas extraordinárias.

Embora estes artigos não afirmem explicitamente que os empregados têm o ROD, quando as pessoas estão a responder a mensagens electrónicas fora do seu horário de trabalho, estão a fazer horas extraordinárias. Se o empregador não obteve o consentimento do trabalhador nesse sentido, este tem o direito de se recusar a responder. Daqui se depreende que os trabalhadores têm o ROD desde que não tenham aceitado fazer horas extraordinárias.

Hong Kong ainda não implementou o ROD e os trabalhadores ainda têm de lidar com o problema das comunicações electrónicas fora das horas de serviço. Uma organização de Hong Kong conduziu um inquérito em 2018 e apurou que 93.5 por cento dos questionados afirmaram ter recebido mensagens electrónicas fora do horário de trabalho. Cerca de 80 por cento afirmavam sentir-se incomodados, cerca de 60 por cento afirmavam que isso teve um impacto negativo na sua vida privada e cerca de 90 por cento concordaram que o ROD devia ser implementado para proteger o direito dos trabalhadores “ao sossego”’.

A França implementou o ROD em 2017, uma resposta legal ao impacto das tecnologias avançadas na saúde física e mental dos trabalhadores.

A lei francesa indica que deve haver negociações colectivas entre empregadores e empregados sobre esta matéria. Na ausência de uma negociação colectiva, os empregadores devem estabelecer directrizes e têm o dever de lembrar os trabalhadores do seu “direito a desligar”. A lei também estipula que os empregadores que não estabelecem directrizes não serão punidos, mas em caso de conflitos laborais, o tribunal irá considerar se a empresa estabeleceu ou não essas directrizes.

A Austrália está a preparar-se para legislar de forma a conferir o “direito a desligar” aos trabalhadores e garantir que não ficarão sujeitos a “contactos poucos razoáveis” fora das horas de serviço. O âmbito de aplicação da nova lei destina-se a regular os contactos de serviço com os empregados fora do horário de trabalho. Os factores abaixo indicados devem ser considerados para determinar se um contacto é ou não razoável.

(1) Natureza e urgência do motivo do contacto,

(2) Método de contacto (por exemplo, as chamadas telefónicas podem ser mais intrusivas do que os e-mails),

(3) O horário normal do funcionário e se é ou não pago pelas horas adicionais fora do local de trabalho,

(4) Responsabilidade e posição dos colaboradores na empresa,

(5) Situação pessoal do trabalhador. “Por exemplo, pode ser razoável uma empresa esperar que os gestores de topo respondam a e-mails urgentes após o horário de trabalho, mas a mesma situação não se aplica necessariamente aos executivos juniores.”

A nova legislação australiana centra-se no contacto fora do horário de trabalho. O âmbito de aplicação da legislação não se limita às mensagens de trabalho electrónicas. Espera-se que a nova legislação reduza o número de contactos desnecessários entre empresas e trabalhadores após o horário do trabalho e que reforce a protecção do direito dos trabalhadores ao descanso.

Continuaremos esta análise na próxima semana.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

16 Abr 2024

Tecnologia | Instituto brasileiro e universidade de Taiwan estudam 6G

A Universidade Nacional Yang Ming Chiao Tuang (NYCU), de Taiwan, anunciou a assinatura de um acordo com o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) do Brasil para desenvolver tecnologia móvel de sexta geração (6G).

Num comunicado divulgado na terça-feira, a NYCU revelou que o acordo pretende apostar no desenvolvimento de tecnologia em ‘open source’, ou código aberto, que qualquer pessoa poderia usar e modificar. A cooperação com o Inatel vai envolver um grupo de cerca de 20 investigadores da NYCU, que irá também analisar o possível impacto do 6G em questões éticas e no desenvolvimento da sociedade.

As redes 6G vão ser “importantes” para suportar novos tipos de comunicação, nomeadamente pelo tacto ou por holograma, Internet para a indústria 5.0, a Internet dos objectos e comunicações entre veículos autónomos, disse em 2021 Manuel Ricardo, coordenador do cluster de redes de sistemas inteligentes do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.

A 12 de Outubro, a fabricante de telecomunicações finlandesa Nokia anunciou que irá liderar a segunda fase do projecto europeu Hexa-X, lançado em 2020 para impulsionar a liderança europeia no desenvolvimento do 6G.

Esta nova fase, denominada Heza-X-II e financiada novamente pela Comissão Europeia, tem como objectivo a criação de uma plataforma pré-padronizada que sirva de base para o futuro ‘standard’ da tecnologia 6G. O NYCU sublinha que o acordo com o Inatel, sediado em Santa Rita do Sapucaí, no sul do estado de Minas Gerais, é fruto de uma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan.

26 Out 2022