João Santos Filipe Manchete SociedadeSands | Miriam Adelson vende acções para comprar equipa da NBA A viúva de Sheldon Adelson vai vender 2 mil milhões de dólares americanos em acções do grupo Las Vegas Sands Corp, para comprar os Dallas Mavericks, por 3,5 mil milhões de dólares, ao empresário Mark Cuban Miriam Adelson, a maior accionista do grupo Las Vegas Sands Corp, vai vender 2 mil milhões de dólares americanos em acções da empresa, para adquirir a equipa de basquetebol Dallas Mavericks. A informação sobre a principal accionista do grupo que controla a concessionária Sands China foi revelada ontem. A confirmação chegou depois, através de um comunicado da Las Vegas Sands Corp à bolsa norte-americana, em que foi indicado que o dinheiro arrecadado com a venda das acções pela empresária “vai ser utilizado para comprar uma participação maioritária numa equipa desportiva profissional”. Desde a morte de Sheldon Adelson, em 2021, com quem Miriam era casada, que a empresária e os familiares herdaram cerca de 57 por cento das acções da maior empresa de casinos do mundo, com operações em Macau e Singapura. Ontem, no fecho da sessão da Bolsa Norte Americana, o grupo Las Vegas Sands estava avaliado em 20 mil milhões de dólares. Com a operação anunciada, cerca de 4,6 por cento das acções da empresária ficam disponíveis no mercado. Após a conclusão da venda, a participação de Miriam Adelson e dos familiares ficará reduzida a 51,3 por cento. Este valor também tem em conta uma outra operação, de diluição de 0,5 por cento do valor das acções. Com o comunicado emitido ontem, foi também anunciado que o próprio grupo Las Vegas Sands vai comprar cerca de 250 milhões de dólares das acções vendidas por Miriam Adelson. Após as notícias, as acções do grupo na bolsa americana registaram uma quebra de quatro por cento. Negócio de conhecidos Miriam Adelson vai comprar ao empresário Mark Cuban a participação nos Dallas Mavericks, uma das equipas mais conhecidas da National Basketball Association (NBA). Segundo a AP, o negócio vai levar algumas semanas a ser finalizado, mas o investimento da família Adelson será na ordem dos 3,5 mil milhões de dólares. Apesar da aquisição de uma participação maioritária, Mark Cuban deve continuar a ser o responsável pela gestão da equipa de basquetebol. Anteriormente o empresário mais conhecido fora dos EUA pela participação no programa televisivo “Shark Tank” havia declarado a intenção de fazer uma parceria com a Las Vegas Sands e construir um novo pavilhão para os Mavs, que incluiria um casino. A intenção esbarrou no facto de o Estado do Texas não ter legalizado o jogo. Para a Miriam Adelson, a aquisição significa a entrada no mundo do desporto, um sector ao qual a família Adelson não tem ligações conhecidas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeÓbito | Sheldon Adelson, o homem que revolucionou o jogo de Macau na liberalização Viu o que mais ninguém conseguia ver, e exportou para Macau o modelo de negócio de Las Vegas, com o conceito de casino-resort e novas formas de financiamento e de gestão do jogo. Sheldon Adelson morreu esta terça-feira aos 87 anos, vítima de doença prolongada, e é tido como um visionário que mudou para sempre a forma de jogar no território Até o Sands ser inaugurado na península de Macau, em 2004, um casino era apenas isso: um espaço de jogo fechado, onde o único intuito era tentar fazer milhões. Com a entrada da Sands China no mercado e com a inauguração do empreendimento Sands, tudo mudou. Pela primeira vez, um turista não ia ao casino apenas jogar, ia também ver o que por lá se passava fora das salas de jogo. O fundador do império de casinos Las Vegas Sands e principal financiador do Partido Republicano, nos Estados Unidos, Sheldon Adelson, era filho de imigrantes judeus, criado com dois irmãos numa quinta de Boston. Com o jogo tornar-se-ia num dos homens mais ricos do mundo, uma vez que, em 2018, a revista Forbes classificou-o como o 15.º homem mais rico dos Estados Unidos, com uma fortuna estimada em 28,8 mil milhões de euros. “Se fizermos as coisas de forma diferente, o sucesso segue-nos como uma sombra”, afirmou em 2014, durante uma conferência para a indústria de jogos, em Las Vegas. A Sands China reagiu, em comunicado, ao falecimento do seu grande mentor. “Adelson representava a verdadeira definição de pioneiro, empresário e filantropo. Nunca esqueceremos as suas contribuições para o desenvolvimento de Macau, que remontam à sua corajosa visão de criar a faixa do Cotai”, pode ler-se. Em Macau Sheldon Adelson foi uma figura central na liberalização do jogo. Foi ele que introduziu o conceito de casino-resort e que olhou para o Cotai com outros olhos. Com a inauguração do Venetian, em 2007, Macau passava a ter uma Veneza em ponto pequeno e um factor diferenciador para o turismo chinês. A importância de Adelson em Macau é tanta que é comparado, por vários analistas, a Stanley Ho, desaparecido em Maio do ano passado. “Pouco menos de um ano depois de Stanley Ho, morreu outro visionário”, afirmou à Lusa o advogado Pedro Cortés. “Macau deve muito daquilo em que se transformou ao senhor Sheldon Adelson, que recebeu em dobro aquilo que deu à região. Morreu um dos grandes nomes da indústria que, a par de Steve Wynn, ajudou a mudar a face de Macau depois de 2002”, reforçou. Também o advogado Óscar Madureira, ouvido pelo HM, traça um perfil semelhante. “[Sheldon Adelson] teve a importância, depois da liberalização do jogo, que o Stanley Ho teve numa outra fase. Apostou numa zona que não era importante [o Cotai]. Reconheceu ali o local onde iria nascer o jogo e criou o primeiro resort integrado de Macau. Foi lá criada a primeira arena, trouxe os espectáculos de boxe, o Cirque du Soleil.” Para Fernando Vitória, ex-assessor da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), o magnata “modificou o panorama do jogo em duas áreas”. “Importou a visão que tinha dos casinos para Macau de uma forma quase literal, introduziu duas ideias interessantes e que fizeram com que Macau tenha dado um salto qualitativo e quantitativo em relação à qualidade do jogo e à forma como ele era apresentado ao público. Teve a noção do casino-resort. A segunda grande ideia que ele trouxe foi uma gestão aberta e moderna dos casinos, que incluía uma certa inovação no financiamento dos casinos. Isso provocou um choque em Macau.” Fernando Vitória recorda “que os funcionários da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) ficaram extremamente curiosos sobre a forma como ele conseguia obter tanto financiamento e tão rápido, e como entrou imediatamente na bolsa de valores de Hong Kong. Foi um factor de arrasto para os outros casinos, até para a própria SJM”. Ousadia e inovação Óscar Madureira considera que a Sands China “é, de longe, a melhor operadora de Macau”, por ter “as propriedades mais diferentes, que oferecem um produto mais diversificado, o que tem uma oferta no ramo do entretenimento, das convenções, da própria experiência de compras”. Tal deve-se à ousadia e inovação de Sheldon Adelson, que soube “arrastar uma nova classe de empresários de jogo para o Cotai”, destaca Fernando Vitória. Aquando da liberalização, “ficámos surpreendidos pela forma como ele se apresentou, era o homem capaz de transformar o Cotai”, recorda o ex-assessor da DICJ. “O Cotai não estava planeado para casinos, e pensava-se que Macau já tinha muitos casinos e que aquela seria mais uma zona de diversificação da economia. Como aquilo não andava, ele propôs avançar com um casino ali, e todos diziam que seria um investimento suicida. E depois apareceu a Venetian e todas as outras concessionárias correram para o Cotai.” Outra inovação de Sheldon Adelson foi a aposta na Cotai Water Jet, que trouxe novas carreiras de barcos entre Macau e Hong Kong. “Na altura era uma coisa impensável porque havia o monopólio do Stanley Ho, e, no entanto, Sheldon Adelson atirou-se para a frente e conseguiu. A meu ver foi a grande personagem que se atreveu, teve uma ousadia extraordinária, de ver como Macau, apesar de pequeno, conseguiu ser uma outra Las Vegas”, destaca Fernando Vitória. “Fácil de lidar” Manuel das Neves, ex-director da DICJ, privou de perto com Sheldon Adelson quando este chegou ao mercado de Macau. Recorda-se de “uma das figuras mais importantes na era da pós-liberalização”, alguém que “expunha as suas ideias de forma vigorosa, uma pessoa fácil de lidar, tal como os outros magnatas de jogo”. A inovação de Adelson contrastou com as ideias das autoridades de Macau, mas depressa o impasse se resolveu. “Adaptámo-nos e sabíamos que as coisas iam ser diferentes. Nos primeiros tempos houve alguns pequenos desentendimentos, mas foram facilmente ultrapassados. Eles [Governo de Macau] não estavam habituados à forma de Las Vegas, onde há uma diferente fiscalização, com auditorias periódicas, enquanto aqui em Macau temos inspectores nos casinos. Mas eles adaptaram-se e nós também.” Depois da inauguração do Sands e do Venetian, a operadora construiu ainda o hotel Four Seasons e o The Plaza Macau, seguindo-se, também no Cotai, o Sands Cotai Central e o The Parisian Macao. Apesar de Sheldon Adelson ter iniciado a construir a sua riqueza nos Estado Unidos, foi através dos investimentos em Macau que a sua fortuna explodiu. Os casinos em Macau geraram 63 por cento da receita da empresa, de 13,7 mil milhões de dólares, seguidos de Singapura, que representaram 22 por cento da receita do ano passado, e só depois os dos Estados Unidos. “A verdade é que ganhou mais em Macau do que em Las Vegas desde 1988 quando adquiriu o Sands por 184 milhões de dólares”, defendeu Pedro Cortés. Apesar da sua morte, Glenn McCartney, professor na área do turismo da Universidade de Macau, defendeu que o legado de Sheldon Adelson vai continuar em Macau até porque está para breve a inauguração de mais um resort integrado do grupo, o Londoner, que representou um investimento total de 2,2 mil milhões de dólares. “Mesmo após a conclusão das propriedades, Adelson permaneceu inabalável no seu desejo de continuar a investir em Macau. Os nossos corações pesam perante a oportunidade perdida de desfrutar do seu carisma, encanto e orgulho na abertura do The Londoner, mas consola-nos saber que o seu espírito estará certamente presente na revelação da última manifestação da sua visão arrojada, uma visão reforçada pela sua confiança resoluta em Macau e na sua população”, frisou a Sands China. Governo manifesta pesar O Governo manifestou esta terça-feira pesar pela morte do magnata norte-americano dos casinos, Sheldon Adelson, lembrando que ajudou a tornar o território na capital mundial do jogo. “O Sr. Sheldon Adelson promoveu o desenvolvimento da companhia em Macau. O Governo da RAEM manifesta o seu pesar pelo falecimento do Sr. Sheldon Adelson e apresenta à família as sentidas condolências”, acrescentou a nota. Lado político Fervoroso apoiante do Partido Republicano e grande financiador da campanha de Donald Trump para as presidenciais norte-americanas, Sheldon Adelson deixa também um legado na política, além do seu lado empresarial. Contundente, mas reservado, Adelson era descrito como um chefe político antiquado e destacava-se da maioria dos judeus norte-americanos, que são, há décadas, apoiantes tradicionais do Partido Democrata. Financiou várias campanhas políticas dos republicanos, chegando a ser considerado como o “pilar financeiro do Partido Republicano” e, nos últimos anos de vida, estabeleceu vários recordes de contribuições individuais. Adelson era um defensor ferrenho do Presidente Donald Trump e do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reagiu à morte de Sheldon Adelson, garantindo que “será para sempre lembrado” pelo seu trabalho de fortalecimento das relações entre os EUA e Israel.
João Santos Filipe Manchete SociedadeSheldon Adelson, criador da Macau Strip, morreu aos 87 anos Sheldon Adelson, histórico proprietário da empresa Las Vegas Sands, representada em Macau pela operadora Sands China, morreu na segunda-feira à noite, hora dos Estados Unidos, com 87 anos. A notícia foi avançada ontem à noite, através de um comunicado da empresa, que aponta complicações no tratamento de um linfoma como a causa do óbito. Nascido em 1933, Sheldon Adelson iniciou-se no empreendedorismo com 12 anos de idade, quando montou em Boston um negócio para a venda de jornais. No entanto, foi em 1988 que o norte-americano enveredou pelo negócio que viria a ser o seu principal caminho para o sucesso, com a compra do Hotel e Casino Sands, em Las Vegas. Na cidade americana, Adelson foi responsável em 1989 pelo conceito inovador que juntou ao negócio dos casinos o sector das exposições, que permitia que os quartos mantivessem elevados níveis de ocupação, mesmo durante os dias da semana. A influência do empresário não se ficou pelos EUA, e Sheldon era o principal proprietário da Sands China, a primeira concessionária de fora a entrar em Macau com a liberalização do mercado do jogo. E a entrada foi feita com estrondo. Além da troca de farpas com Stanley Ho, proprietário da rival Sociedade de Jogos de Macau, a abertura do primeiro casino da Sands, com o nome da empresa, em Maio de 2004, ficou marcada por uma multidão extensa e muito entusiasta que fez a porta de entrada ceder. No entanto, o principal momento para a empresa terá chegado mesmo em 2007, com a abertura do casino The Venetian, no Cotai, o maior edifício com a maior área do mundo à data da construção. Foi também devido aos investimentos feitos no Cotai, onde a empresa conta ainda com o The Parisian e vai abrir brevemente de forma oficial o The Londoner, que Sheldon Adelson se apelidava como o homem que tinha tido a visão de construir a Cotai Strip. A informação mereceu uma reacção do Executivo de Macau: “O Governo da RAEM recebeu um aviso da Sands China sobre a morte ocorrida hoje [ontem] de Sheldon Gary Adelson, fundador, presidente e gerente da empresa. O senhor Adelson conduziu e desenvolveu a Sands China em Macau. O Governo expressa as suas condolências à família”, constou num comunicado publicado ontem em chinês. Defensor da causa israelita À margem dos negócios, a vida de Sheldon Adelson ficou ainda marcada pela ligação a Israel, local onde a mulher, Miriam Adelson, nasceu. Descendente de um pai com ascendência judaica, o milionário nunca poupou esforços em prol da agenda do país do Médio Oriente, local onde, segundo a empresa, vai decorrer o funeral. A defesa de Israel foi igualmente um dos motivos apontado pelo milionário para se tornar apoiante do Partido Republicano. Adelson foi um dos principais financiadores do GOP, mesmo quando este apresentou como candidato às presidenciais Donald Trump. Outra das áreas em que Sheldon se destacou, foi a filantropia, nomeadamente no combate às drogas. Uma causa para a qual Sheldon perdeu o filho adoptivo Mitchell. Sheldon Adelson deixa a mulher, quatro filhos e um império com casinos nos Estados Unidos, Macau e Singapura, além de uma fortuna avaliada em 33,5 mil milhões de dólares norte-americanos.
João Luz Manchete SociedadeJogo | Sheldon Adelson pode colocar à venda casinos do Nevada Num negócio que pode chegar aos 6 mil milhões de dólares, a Las Vegas Sands pode estar perto de abandonar a mítica capital de Nevada para se focar no mercado asiático. Las Vegas já representava apenas 15 por cento das receitas do grupo, o que pode justificar a venda. Analistas ouvidos pelo HM encaram a saída de Las Vegas como o reconhecimento da importância de Macau e da potencialidade do mercado asiático para o futuro do grupo [dropcap]A[/dropcap]lém dos clarões de luzes que iluminam o Strip, imagens mais emblemáticas de Las Vegas incluem os cartazes que anunciam a saída da cidade nascida no deserto do Nevada. Esse sinal pode indicar o caminho do grupo Las Vegas Sands Corp., que segundo uma notícia avançada ontem pela agência Bloomberg, pode estar a abandonar a capital do Nevada. Um representante da Las Vegas Sands confirmou à Bloomberg que o grupo estaria na fase inicial da discussão sobre a possível venda, mas que nada estaria finalizado. Dessa forma, o império de Sheldon Adelson teria como foco o mercado asiático, com a venda dos activos que detém na capital do Nevada, nomeadamente o Venetian Resort Las Vegas, o Palazzo e o Sands Expo Convention Center, que estão todas num local muito apetecível no mundo do jogo: o Strip. As fontes da agência noticiosa adiantam que no total, a alienação deste património pode resultar na entrada de mais de 6 mil milhões de dólares nos cofres do grupo liderado por um dos homens mais ricos do mundo – estima-se que a fortuna de Adelson seja de cerca de 29,7 mil milhões de dólares. Albano Martins não adianta, peremptoriamente, uma explicação para a possível saída do mercado norte-americano, por estarem demasiadas variáveis em jogo. “Negócios de bilionários ou multibilionários são sempre difíceis de perceber. Neste caso, um dos problemas é perceber se o mercado de Las Vegas já deu o que tinha a dar, ou se a decisão de sair foi tomada por questões de natureza política”, analisa Albano Martins. O economista destaca o envolvimento de Adelson com Donald Trump como um factor negativo na região onde o grupo tem a larga maioria dos seus interesses financeiros. Importa recordar que Adelson, além de ser um histórico doador de fundos para políticos do partido republicano norte-americano, foi amplamente generoso com a campanha que terminou com Trump na Casa Branca e, mais recentemente voltou a contribuir para o financiamento da corrida eleitoral do Presidente para mais quatro anos na Casa Branca. O analista Ben Lee, em declarações à Bloomberg, aponta ao “insignificante crescimento do mercado norte-americano” como uma oportunidade para o grupo se “despachar das propriedades nos Estados Unidos”, também “porque representam 15 por cento das receitas, mas 80 por cento fardo regulamentar que o grupo suporta”. Futuro a Oriente A retoma económica na Ásia, com o aumento das receitas, foi um dos resultados operacionais que animou o terceiro trimestre do grupo, facto reconhecido por Adelson no relatório divulgado pelo grupo. “Os resultados do terceiro trimestre não são representativos da actual trajectória da operação, dado que a emissão de vistos só foi retomada em todas as províncias da China quase no final de Setembro. Desde então, as fases iniciais da recuperação têm sido muito encorajadoras”, afirmou Sheldon Adelson. “Na ‘semana dourada’ de Outubro, assistimos a uma significativa recuperação em diferentes segmentos das nossas operações em Macau”, acrescentou o responsável. A Marina Bay Sands, em Singapura, também conseguiu resultados animadores para o grupo Em princípio, a venda dos activos em Las Vegas não deve ser movida por falta de liquidez. É a leitura que Albano Martins faz da “jogada” do magnata norte-americano, apesar de não descartar totalmente a hipótese. “A Ásia é a área de crescimento económico neste século, apesar da covid-19, portanto, é natural que queiram aumentar a influência aqui”, comenta. Neste aspecto, importa recordar que, no início do ano, a Sands desistiu da construção de um casino no Japão devido a condições descritas como “desfavoráveis” à fixação no mercado nipónico. O encaixe financeiro da venda dos activos em Las Vegas poderia servir para financiar outros projectos, como por exemplo a construção de um edifício em Nova Iorque, algo que Sheldon Adelson já comentou em diversas ocasiões. Reacção em cadeia Entretanto, desde segunda-feira até ontem, depois da notícia da Bloomberg, as acções do grupo dispararam em flecha na bolsa de Nova Iorque, com uma valorização máxima de 12 por cento, que se fixou em 3,1 por cento no fecho do mercado. A dimensão financeira pode ser outra das dimensões da estratégia da Sands. “Não me chocaria, absolutamente nada, se houvesse um reposicionamento das acções e dos activos que estão na bolsa de valores de Nova Iorque”, perspectivou o advogado especialista em jogo, Carlos Lobo. O jurista refere que, num contexto financeiro em que se tornou comum as empresas lançarem ofertas públicas iniciais, algo que a Sands China não pode fazer por já estar cotada na bolsa de Hong Kong, encara como possível o “reposicionamento financeiro” do grupo para mercados onde opera. A realidade das receitas residuais do grupo em Las Vegas agigantou-se com a crise trazida pela pandemia, incluindo no negócio das convenções. Sem haver uma ideia de quem poderá ser o eventual comprador dos casinos da Las Vegas Sands, uma coisa é certa: há mais de meio século que o local onde está situado o Venetian faz parte do imaginário da cidade. O icónico Sands Hotel and Casino teve entre proprietários gangsters famosos e figuras da cultura pop norte-americana, como Meyer Lansky e Frank Sinatra. Foi também paradeiro habitual de figuras como Dean Martin, Jerry Lewis, Sammy Davis Jr e Howard Hughes, o último proprietário antes de Sheldon Adelson. Concessões no horizonte Para Carlos Lobo, a venda dos activos do grupo nos Estados Unidos é reveladora do posicionamento da Sands. “É o reconhecimento e a demonstração que Macau tem um peso enorme no grupo”, comenta. Quanto à venda das propriedades em Las Vegas, o jurista entende que este é o momento apropriado para vender os activos no Nevada “e focar as operações na Ásia, tem lógica, É um acto declaradamente estratégico no sentido de dizer ‘Macau e Singapura é que importam, é onde está o crescimento futuro. Portanto, vamos é para lá’. Obviamente, é uma aposta no mercado da China e no crescimento desse mercado.” Outra leitura que se pode depreender da saída da Sands de Las Vegas é o optimismo do grupo na revalidação da concessão de jogo em Macau. Albano Martins acha que só se um grupo “chatear” muito a China perderá a licença para explorar o jogo em Macau. “É muito complicado separar zonas de jogo que ficam para o Governo, é muito difícil tecnicamente de operar. Só iria gerar confusão no mercado. Não acredito que consigam dar a volta a isso a tempo de esta nova concessão. O economista alarga a sua previsão até 2049, até quando as actuais concessionárias devem manter licenças para operar. No ano passado, os casinos de Macau geraram 63 por cento das receitas do grupo, com Singapura a ocupar o segundo lugar com 22 por cento dos ganhos da Sands. As receitas da Sands China caíram 92,1 por cento para 167 milhões de dólares no terceiro trimestre deste ano, comparativamente a igual período de 2019. Os prejuízos líquidos foram de 562 milhões de dólares, quando no terceiro trimestre do ano passado os casinos em Macau da operadora registaram resultados líquidos de 454 milhões de dólares. Já as perdas em termos de EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) atingiram os 233 milhões de dólares, comparativamente aos 755 milhões de dólares registados no período homólogo de 2019, de acordo com os resultados financeiros da companhia Las Vegas Sands, comunicados à bolsa de valores de Hong Kong.
Hoje Macau SociedadeSands China | Sheldon Adelson reeleito como director executivo [dropcap]S[/dropcap]heldon Gary Adelson foi reeleito como Diretor Executivo da Sands China Ltd, com cerca de 94 por cento dos votos a favor. A informação é apresentada nos resultados da Assembleia Geral anual de 2020, divulgados pela empresa. Da reunião, resultou ainda a aprovação sem oposição das mudanças ao contrato de Wilfred Wong. Recorde-se que tinha sido proposto o alargamento do seu mandato, por três a quatro anos, com efeitos a partir de 21 de Fevereiro de 2020. Foi acordado atribuir um mandato geral aos directores para recomprarem acções, sem exceder 10 por cento do número total de acções emitidas na altura da resolução. À data da Assembleia Geral, o número de acções emitidas era superior a oito mil milhões. As decisões que geraram menos concordância centraram-se nas acções, como a atribuição de um mandato geral aos directores para distribuir, emitir e negociar acções adicionais que não excedam 20 por cento do número total de acções emitidas à data da resolução, que contou com mais de 18 por cento de votos contra. A prorrogação do mandato dos directores para distribuição, emissão e negociação com acções adicionais contou com um volume de oposição semelhante.
Hoje Macau SociedadeCovid-19 | Sands China com prejuízos de 166 milhões de dólares no 1.º trimestre [dropcap]A[/dropcap] operadora de jogo Sands China anunciou prejuízos de 166 milhões de dólares no primeiro trimestre devido ao impacto causado pela pandemia da covid-19. “Nunca vi nada parecido nos meus mais de setenta anos de negócios”, afirmou o fundador, presidente e director-executivo da Las Vegas Sands, Sheldon G. Adelson, a empresa norte-americana que detém a maioria do capital da Sands China. Em comunicado, o grupo informou ainda que nos primeiros três meses do ano viu as suas receitas líquidas caírem 65%, em comparação com o período homólogo de 2019. Nos primeiros três meses do ano Macau viveu uma situação impar na sua história: em Janeiro, mês em que se celebra o ano novo lunar, altura em que por norma se registam os maiores ganhos nos casino, o surto levou a China a suspender os vistos para Macau, uma medida que ainda está em vigor. Em Fevereiro, o Governo de Macau mandou encerrar os casinos do território por duas semanas. Nos dois primeiros meses do ano entraram no território 3.006.859 visitantes, menos 56,9%, face ao período homólogo do ano transato. Em Fevereiro essa queda foi de 95,6%. Na mesma nota, o grupo informou que o seu gigante complexo Venetian, maior casino e o sétimo maior edifício do mundo em área útil, registou receitas de jogo de apenas 251 milhões de dólares no primeiro trimestre, em comparação com 740 milhões de dólares nos três primeiros meses de 2019. “Não sabemos quanto tempo esta pandemia vai durar, mas estamos confiantes de que os gastos com viagens e turismo em cada um de nossos mercados e no mundo acabarão por recuperar”, disse Sheldon G. Adelson, referindo-se às propriedades que a empresa tem nos Estados Unidos, Macau e Singapura. Sobre Macau, o magnata norte-americano de 86 anos afirmou que “agora não é a altura de para ou desacelerar o investimento” de 2,2 mil milhões de dólares na construção dos complexo Londoner Macau e The Grand Suites no Four Seasons. “Continuo firme na minha convicção de que Macau tem a oportunidade de se tornar um dos maiores destinos de turismo de negócios e lazer no mundo e de ser a capital asiática de MICE (Encontros, Incentivos, Conferências e Feiras). Na sexta-feira, o conselho de administração da Sands China decidiu não recomendar a distribuição de lucros do exercício de 2019 pelos acionistas, devido ao impacto económico da covid-19. “Embora tenhamos suspendido o nosso programa de dividendos, continuamos confiantes de que a eventual recuperação de gastos com viagens e turismo e a força do nosso modelo de negócios nos permitirá oferecer crescimento e retorno de capital aos acionistas no futuro”, afirmou hoje Sheldon G. Adelson, citado no comunicado.
João Luz SociedadeSheldon Adelson arrecadou 2,2 mil milhões de dólares em sete dias [dropcap]O[/dropcap] homem forte da Las Vegas Sands Corp., Sheldon Adelson, teve uma semana bilionária, arrecadando cerca de 2,2 mil milhões de dólares em sete dias graças aos substanciais lucros em Macau, mas, principalmente, devido aos ganhos bolsistas. A cotação da Las Vegas Sands subiu 8,8 por cento na primeira semana de Abril. Adelson, que é dono de mais de metade do império da Sands, vale agora 38,1 mil milhões de dólares, de acordo com a revista Forbes. Este valor coloca-o como a 23º homem mais rico do mundo e representa uma subida de 6,3 mil milhões de dólares desde o início de 2019. Depois de dois anos com taxas de crescimento na casa dos dois dígitos até ao ano passado, as receitas do jogo em Macau caíram empurradas pela desaceleração da economia chinesa. Contudo, Março foi um mês em cheio para a Sands, com resultados que se reflectiram no aumento da fortuna de Sheldon Adelson. Quando o magnata decidiu construir resorts em Macau, segundo o próprio, os seus competidores, em particular em Las Vegas, mostraram-se cépticos. “Todos na indústria do jogo acharam que foi a ideia mais parva de sempre”, conta Adelson à Forbes. “Os que mostraram cepticismo dariam agora um braço para ter um pedaço de terra lá [Macau]. Eu tenho um armazém cheio de braços, incluindo alguns esquerdos também”, ironiza o magnata. Grande folia Também o valor das acções da Wynn Resorts teve uma subida meteórica com uma valorização de 18,8 por cento, empurrando a fortuna de Elaine Wynn para 2,3 mil milhões de dólares, depois do incremento de cerca de 200 milhões de dólares. Quase 75 por cento dos 6,72 mil milhões de dólares de lucro da Wynn Resorts foi apurado pelas operações em Macau. Importa recordar que Elaine Wynn se tornou na maior accionista da Wynn Resorts depois do seu ex-marido Steve ter vendido a sua participação e abandonado o cargo de CEO depois de alegações de conduta sexual imprópria.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Sheldon Adelson luta contra cancro [dropcap]O[/dropcap]presidente da Sands China, Sheldon Adelson, está a lutar contra o cancro. De acordo com uma notícia da Bloomberg, o advogado do milionário norte-americano, James Jimmerson, disse a um tribunal do Nevada que o seu cliente está afastado do escritório desde Dezembro, por estar receber tratamentos devido a um cancro. Por esse motivo Adelson não testemunhou num caso contra a empresa-mãe da operadora, a Las Vegas Sands. Mais tarde, a informação foi confirmada aos órgãos de comunicação social: “O Sr. Adelson ainda está a lidar com os efeitos secundários da medicação que está a tomar como tratamento a um Linfoma não-Hodgkin”, afirmou num comunicado à imprensa. “Estes efeitos secundários não lhe permitem viajar e manter um horário normal no escritório. Mas não o impede de cumprir as suas obrigações como presidente e CEO da empresa”, acrescentou sobre Sheldon Adelson, que tem 85 anos. O processo em causa opõe a Las Vegas Sands a Richard Suen, consultor que reclama o pagamento de um serviço por alegadamente ter sido fundamental para que a concessionária obtivesse uma licença em Macau.
Hoje Macau InternacionalDonald Trump atribui medalha a mulher de Sheldon Adelson [dropcap]D[/dropcap]onald Trump, presidente dos Estados Unidos, vai atribuir, na próxima sexta-feira, a Medalha Presidencial da Liberdade a Miriam Adelson, mulher do CEO e presidente da Las Vegas Sands, Sheldon Adelson, noticiou hoje o jornal Político. Sheldon Adelson, que em Macau possui, através da Sands China, os empreendimentos de jogo Sands e Sands Cotai Central, é conhecido por ser um dos grandes financiadores das campanhas do partido republicano. Na terça-feira, no âmbito das eleições intercalares para o Congresso norte-americano, Sheldon Adelson esteve presente numa festa na residência oficial da Casa Branca. O Político escreve que Miriam Adelson vai receber a medalha juntamente com outros “seis indivíduos distintos”, sendo esta entregue a pessoas que “realizaram contribuições meritórias tendo em conta a segurança e os interesses nacionais dos Estados Unidos, em prol da paz mundial e cultura, incluindo outros esforços públicos e privados”, aponta um comunicado oficial da Casa Branca. Aos olhos do Governo norte-americano, Miriam Adelson é considerada “uma filantropa e humanitarista” bem como “um membro comprometido para com a comunidade judaico-americana”. Os Adelson são apontados como os principais financiadores do partido republicano, tendo contribuído com mais de 113 milhões de dólares nas eleições intercalares deste ano. O casal também doou, em Julho, 25 milhões de dólares para o Fundo de Liderança do Senado, três milhões em Julho e Setembro para a Associação de Governadores Republicanos e cerca de 40 milhões de dólares entre Maio e Setembro para o Fundo de Liderança do Congresso. Craig Holman, lobista na área dos assuntos governamentais ligado ao think tank Public Citizen, disse ao Político que a medalha em questão “sempre foi atribuída com base em serviços”. “Trump olha para as questões governamentais como um negócio em prol do seu auto-enriquecimento, então não surpreende o facto de ter sido atribuída uma medalha a Adelson com base em quem lhe dá mais dinheiro”, frisou Holman.
João Santos Filipe SociedadeJogo | Las Vegas Sands regista resultado recorde devido a Macau e Singapura O grupo norte-americano presente no território apresentou ontem os resultados do primeiro trimestre do ano. Sheldon Adelson tem razões para estar satisfeito com o recorde alcançado de 1,46 mil milhões de dólares norte-americanos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] operadora Las Vegas Sands, companhia-mãe da Sands China, atingiu um novo recorde com lucros de 1,46 mil milhões de dólares norte-americanos, nos primeiros três meses do ano. Os resultados apresentados são quase o triplo dos ganhos no primeiro trimestre do ano passado, quando o grupo tinha tido um lucro de 481 milhões de dólares. Estes números são justificados com os desempenhos nos mercados de Macau, Singapura e ainda um benefício fiscal nos Estados Unidos no valor de 557 milhões. Este último factor deve-se à reforma fiscal introduzida no final do ano passado pela administração do presidente Donald Trump. Com estes dados em cima da mesa, o presidente do grupo, Sheldon G. Adelson, não perdeu a oportunidade para se auto-elogiar: “A letra G. no meu nome quer dizer Gary mas também quer dizer crescimento [Growth, em inglês], o que fica demonstrado por todos os nossos desempenhos nos diferentes mercados”, afirmou o magnata. “Este trimestre constitui um novo recorde para nós e estou muito feliz por conseguirmos gerar resultados tão excepcionais em cada um dos mercados em que estamos presentes”, acrescentou. Em relação à empresa Sands China, que opera os casinos Venetian, Parisian, entre outros, em Macau, os lucros cresceram 59 por cento, para 557 milhões de dólares norte-americanos, quando no período homólogo do ano passado tinham sido de 350 milhões. Três visitas por dia Na conferência em que divulgou os resultados da empresa, Sheldon Adelson apresentou igualmente outros números. Nomeadamente, afirmou que, em média, cada visitante que vêm a Macau visita os casinos e centros comerciais da Sands China três vezes. “Os nosso portfólio de empreendimentos turísticos receberam 23,8 milhões de visitas, enquanto o total de turistas em Macau foi de 8,5 milhões. Isto significa que recebemos quase três visitas de cada turista”, explicou. De acordo com os dados avançados, os hotéis tiveram uma taxa de ocupação de 94 por cento, enquanto que o crescimento no mercado de massas, um dos mais lucrativos, cresceu 35 por cento. Já as vendas do retalho cresceram à velocidade de 33 por cento. Ainda em relação aos turistas, Sheldon Adelson sublinhou o facto de ter havido um crescimento de 18 por cento no primeiro trimestre de turistas chineses vindos de fora da província de Cantão. Na mesma conversa, o presidente do grupo voltou a mostrar interesse no mercado brasileiro, assim como na Coreia do Sul. Em relação ao projecto em Macau, conhecido como Londrino, Sheldon disse que as obras estão a decorrer a um bom ritmo.
João Santos Filipe SociedadeAtracções inglesas vão inspirar renovação de Sands Cotai Central [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] concessionária Sands China vai transformar o Sands Cotai Central num hotel inspirado em Londres, que vai ter como nome Londoner, ou seja Londrino, em português. A revelação foi feita na madrugada de ontem, com a apresentação dos resultados das empresa durante o terceiro trimestre. A empresa desvendou um plano para investir 1,1 mil milhões de dólares norte-americanos na renovação de alguns dos espaços que controla em Macau, nos próximos três anos. Desse valor, cerca de 700 milhões vão ser utilizados na criação do Londoner. A concessionária aposta em desenvolver mais um hotel inspirado em cidades europeias, depois de já ter construído o Venetian e o Parisian, à imagem de Veneza e Paris. “Com três hotéis icónicos inspirados em destinos turísticos europeus vamos reforçar o nosso serviços aos clientes e a capacidade de promoção ao nível de marketing. Acreditamos que desta forma nos vamos posicionar para crescer mais depressa do que o mercado em Macau”, afirmou Sheldon Adelson, presidente da empresa. Entre o investimento de 1,1 milhões consta igualmente um plano para expandir o Hotel Four Seasons com a criação de mais 295 quartos de hotel, numa torre separada. Esta operação terá um custo aproximado de 250 milhões de dólares. Segundo as informações avançadas na apresentação dos resultados por Sheldon Adelson, as obras vão começar no segundo trimestre do próximo ano e vão durar entre um ano e meio e dois anos para serem finalizadas. Lucros a subir Em relação aos lucros no terceiro trimestre do ano, a Sands China, empresa detém a licença de jogo para Macau, viu os lucros crescerem 24,4 por cento para os 403 milhões de dólares-norte americanos. Um valor que tinha sido de 324 milhões no mesmo período do ano passado. No comunicado de ontem à Bolsa de Hong Kong, Sheldon Adelson definiu o trimestre entre Julho e Setembro deste ano como o melhor desde 2014. O magnata do jogo de 84 anos explicou igualmente que face ao ano passado número de visitantes aos hotéis e casinos da operadora cresceu 26 por cento.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemAnálise | Indústria norte-americana do jogo com pouca influência na política local A presença da Wynn e da Sands China na indústria do jogo trouxe para Macau dois gigantes norte-americanos: Sheldon Adelson e Steve Wynn. Os dois magnatas têm uma enorme influência na política norte-americana e um pouco por onde estabelecem negócios. Por cá, passam despercebidos e não se metem no sufrágio que vai eleger o próximo elenco da Assembleia Legislativa. O HM falou com alguns analistas que desvendaram este discreto fenómeno [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições em Macau estão longe de estar inundadas com dinheiro de Super Pac, de anúncios televisivos milionários, grupos de lobbies a trabalhar com legisladores e outras emanações políticas norte-americanas. A curta duração da campanha eleitoral, em comparação com os quase três anos de angariação de dinheiro que os políticos norte-americanos têm de fazer para terem uma chance de eleição, mudam a forma como os grupos de interesse se podem aproximar dos centros de poder. Ainda assim, vista a composição da Assembleia Legislativa (AL), não falta representação de indústrias como a construção, imobiliário e, claro está, o jogo. Sheldon Adelson No entanto, os dois magnatas que têm uma influência tremenda em tudo o que são corridas eleitorais americanas, não apenas à Casa Branca, parecem afastados da eleição do próximo domingo. Uma das razões para tal acontecer passa pela própria legislação eleitoral que exige uma posição de neutralidade às concessionárias de jogo no que toca à qualquer vestígio de influência nas eleições. Isso não impede que tenham assento parlamentar figuras ligadas ao sector, tal como Angela Leong. “Não podem apoiar nenhum candidato, nem podem financiar directamente ninguém em específico. Se olharmos para Angela Leong, ou Melinda Chan, que estão ligadas à indústria dos casinos, reparamos que são candidatas que estão separadas do sector durante as eleições”, comenta o académico Larry So. Entre as pessoas com mais preponderância na política norte-americana oriundas do Estado do Nevada, onde fica Las Vegas, Adelson e Wynn surgem como duas figuras incontornáveis. Na campanha que viria a conduzir Donald Trump para a Casa Branca, Sheldon Adelson fez doações de mais de 82,5 milhões de dólares para candidatos republicanos e 40 mil dólares para democratas. O magnata e CEO da Sands já havia doado mais de 150 milhões de dólares na campanha que resultou na reeleição de Barack Obama. Estas são as somas que se conhecem, que foram declaradas à Comissão Federal de Eleições. Porém, existem formas de doar dinheiro anonimamente, através dos chamados Super Pac, que escapam a este controlo. Por cá, esta influência directa nos processos de eleição/nomeação não existe. Nem de forma sub-reptícia, de acordo com Larry So. “Não acredito que, mesmo de uma forma indirecta, apoiem candidaturas, não de uma forma tipicamente norte-americana, não compram candidatos ou influenciam as eleições”. Viragem histórica Steve Wynn Mas que não se pense que os interesses de quem financia o Super Pac e grupos de lobby fica pela predilecção de candidatos. Sheldon Adelson doou cerca de 20 milhões de dólares para um Super Pac, próximo do líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, que resultou numa iniciativa legislativa que, efectivamente, iria banir o jogo online. Uma medida que o magnata do jogo há muito perseguia. As contribuições em dinheiro tornaram-se públicas no dia 20 de Setembro do ano passado; no dia 21 a legislação foi proposta ao Senado. Em Macau, este grau de interferência não se sente. Larry So entende que existe igualmente uma barreira cultural e de política internacional, ou seja, “as relações com norte-americanos podem levantar suspeitas”. O analista explica que os líderes do sector norte-americano do jogo em Macau podem ter alguém em mente, mas que esta proximidade não pode ser estrategicamente visível. A aproximação dos interesses norte-americanos ao poder local teria de implicar “uma abordagem mais diplomática”. O apoio directo a uma lista seria um óbvio erro para máquinas empresariais que estão habituadas a estar perto dos centros decisórios. “Eles preferem usar as suas práticas normais, sendo assim mais fácil tentar influenciar políticos que já estão no poder”, comenta Larry So. Numa outra perspectiva, Arnaldo Gonçalves entende que as operadoras de jogo não têm qualquer relação com a ida às urnas. “As eleições são para eleger representantes das comunidades locais, as operadoras são meros operadores económicos como os outros”, comenta. O académico considera que um comportamento deste género seria “uma intromissão nas questões internas da RAEM”, uma interferência que não se regista noutros sectores da sociedade. Aliás, no contexto do sufrágio que se avizinha, Arnaldo Gonçalves entende que “estas eleições marcam uma viragem na história, têm uma natureza completamente diferente das anteriores, são mais abertas, ligadas a grupos funcionais e a interesses da própria comunidade, não tanto como no passado, mais ligadas a casinos e a associações mais tradicionais”. O académico considera que Macau está a atravessar um período em que, “do ponto de vista político, há mais riqueza”. Pouca utilidade Arnaldo Gonçalves. Foto: Gonçalo Lobo Pinheiro Outra das questões que pode ser determinante para a não interferência dos grupos norte-americanos nas eleições que se avizinham é a proximidade da data de fim das actuais concessões. “Os empresários dos casinos não são estúpidos, estamos a alguns anos da revisão das licenças de jogo e esse comportamento seria um tiro no pé”, comenta Arnaldo Gonçalves. O académico acresce que tal estratégia representaria uma má aposta, uma perda de dinheiro e oportunidade. Na opinião de Arnaldo Gonçalves, a própria candidatura de Angela Leong, directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau, acontece do ponto de vista individual. O académico encara este tipo de candidaturas numa perspectiva da importância social de uma figura de relevo na sociedade que toma um papel de preponderância na esfera política. “Acho que vamos ver esta tendência no futuro. Por exemplo, nas eleições europeias, sobretudo as locais, temos pessoas importantes da comunidade a apresentar candidaturas independentes sem ligação a partidos”, comenta. Esta é uma tendência que Arnaldo Gonçalves encara que possa vir a ser cada vez mais frequente. As diferenças entre a política norte-americana, ou mesmo ocidental, e a de Macau são consideráveis no que à orgânica diz respeito. Como tal, a influência sobre o órgão legislativo pode não ser o alvo mais apetecível de interesses especiais. Aliás, já nas eleições de 2013 Adelson e Wynn se mantiveram afastados das eleições para a AL. Benjamin Wang, director do Centro Pedagógico e Científico da Área do Jogo, levanta a questão de que o verdadeiro poder não se encontra na AL. O académico é da opinião de que exercer influência no órgão legislativo não é uma estratégia eficaz. “Nestas eleições, apenas 14 deputados são eleitos directamente pelos cidadãos e, de qualquer forma, os legisladores não são a melhor via para fazer uma aproximação ao poder, porque não têm grande influência para a indústria”, teoriza o académico. Benjamim Wang não vê na AL o alvo mais apetecível para este tipo de sector. “Não acho que os legisladores sejam os melhores agentes para afectar o Governo, aliás, o sector tem muitos canais para passar a sua mensagem, tais como meios de comunicação social para moldarem a opinião pública”, explica. O investigador entende que para estabelecer um contacto mais directo seria mais útil uma aproximação à liderança da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, à Direcção dos Serviços de Finanças, a representantes do Governo mais elevados, incluindo o próprio Chefe do Executivo.
Hoje Macau SociedadeInvestigação | “Sanção penal” à Sands sobre práticas corruptas em Macau A Las Vegas Sands acordou pagar 6,96 milhões de dólares para pôr termo a uma investigação sobre supostas práticas corruptas à luz da lei norte-americana. Em causa estava uma antiga relação com um consultor em Macau e na China [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om o acordo – em que Las Vegas Sands aceita pagar 6,96 milhões de dólares como “sanção penal” –, a empresa do magnata Shledon Adelson coloca termo a uma investigação, que dura há mais de cinco anos, sobre se violou a lei federal sobre práticas de corrupção no estrangeiro (FCPA, na sigla em inglês) ao pagar a um consultor para a ajudar a fazer negócios em Macau e na China, indica um comunicado divulgado no final da semana passada pelo Departamento de Justiça norte-americano. A lei proíbe empresas com sede nos Estados Unidos e os seus executivos de efectuarem pagamentos a membros de governos estrangeiros para tentar influenciar, conseguir ou manter negócios. Este acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos segue-se a um outro relacionado, alcançado em Abril, em que a empresa aceitou pagar uma multa de nove milhões de dólares para encerrar uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, de acordo com a qual alguns pagamentos ao consultor não foram devidamente autorizados ou documentados. A empresa não foi acusada por crime, nem admitiu a culpa em nenhum dos casos. No comunicado, citado pelo portal especializado em jogo GGRAsia, o Departamento de Justiça norte-americano afirma que determinados executivos da Las Vegas Sands “consciente e deliberadamente falham em aplicar um sistema de controlos internos de contabilidade”. Esses mecanismos seriam necessários para garantir a legitimidade dos pagamentos ao consultor de negócios “que ajudou a Sands a promover a sua marca em Macau e na República Popular da China, e impedir a falsa inscrição desses pagamentos nos seus livros de registos”, indicou ainda o Departamento de Justiça. A investigação, levada a cabo pela divisão criminal do Departamento de Justiça, indica que, entre 2006 e 2009, a Las Vegas Sands – através das suas subsidiárias em Macau e na China – transferiu aproximadamente 60 milhões de dólares para um consultor com o objectivo de promover o seu negócio e marcas. A Las Vegas Sands admitiu ter pagado cerca de 5,8 milhões de dólares ao consultor “sem qualquer objectivo de negócios legítimo discernível” entre 2006 e 2009, de acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. “Apesar das advertências do seu pessoal financeiro e de um auditor externo”, a Las Vegas Sands terá continuado a fazer pagamentos ao consultor de negócios, descrito na investigação do Departamento de Justiça norte-americano como uma pessoa baseada no interior da China, que se apresentava como “um antigo membro do Governo da República Popular da China”, e publicitava as suas ligações políticas com membros do Governo chinês como “a sua principal qualificação” para facultar assistência. Tudo resolvido Ron Reese, porta-voz da Sands, citado pela agência AP, saudou o desfecho do processo: “A empresa congratula-se com o facto de a sua cooperação e compromisso para com o cumprimento [da lei] de longo prazo terem sido reconhecidos no alcance desta resolução”, e que “todos os inquéritos relacionados com estes assuntos estejam agora completamente resolvidos”. O Departamento de Justiça afirmou que a Las Vegas Sands “cooperou totalmente com a investigação”, e destacou a adopção de extensas medidas correctivas, acrescentando que a empresa ou as suas subsidiárias já não empregam nenhum dos indivíduos implicados no caso. As investigações do Departamento de Justiça e da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos foram anunciadas ao mesmo tempo, em 2011, e resultaram dos mesmos alegados actos no quadro dos esforços da empresa para se transformar num dos principais ‘players’ em Macau, que se tornou numa mina de ouro para as operadoras norte-americanas que aproveitaram a liberalização do sector.
Joana Freitas Manchete SociedadeSands | Tribunal diz que operadora foi apoiada por Pequim para obter licença [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m tribunal norte-americano confirmou ontem que a Las Vegas Sands teve ajuda para conseguir obter uma licença de jogo em Macau. A notícia foi avançada pela Reuters e pela imprensa norte-americana. O caso arrasta-se há mais de uma década e foi accionado por Richard Suen, empresário de Hong Kong que acusava a empresa de lhe dever uma compensação por ter tido um papel importante na obtenção de uma licença de jogo no território. Suen garantia ter arranjado reuniões e encontros entre a Las Vegas Sands e oficiais do Governo Central para que tal acontecesse. A decisão, dada a conhecer esta quinta-feira nos EUA, chega depois de, em Março, o tribunal ter indicado que não havia provas suficientes que provassem o papel de Suen. Na altura, o Tribunal Superior do Nevada deu razão a um recurso interposto por Sheldon Adelson, rejeitando a possibilidade de se admitir que Richard Suen e a uma empresa que este parcialmente detém, a Round Square Co., poderiam, de facto, ter intervido. Mas a justiça americana não descartava que a Las Vegas Sands tivesse beneficiado da ajuda de Suen. “Haveria apenas uma ‘relação ténue’ entre o valor da ajuda e os benefícios que a companhia realmente obteve na operação em Macau”, frisava o tribunal na análise do recurso, que queria “derrubar o veredicto”, ou então passar a indemnização de centenas de milhões para apenas um milhão de dólares. À terceira foi de vez Foi em 2004 que o empresário de Hong Kong decidiu interpor uma acção contra a Las Vegas Sands em tribunal. Suen acusava o líder da Sands de não ter cumprido a promessa de lhe pagar uma compensação pela sua alegada “intervenção junto das autoridades de Pequim e do Chefe do Executivo de Macau [Edmund Ho]”. Agora, e depois de ter perdido duas vezes, o empresário de Hong Kong vê ser-lhe dada razão. “Chegámos à conclusão que a Round Square apresentou provas substanciais de que facilitar reuniões com Pequim beneficiou a Las Vegas Sands”, frisou o tribunal, citado pela Reuters. Ficou ainda marcada uma nova audiência para determinar quanto é que a operadora tem de pagar a Suen. A estimativa é de que seja 70 milhões de dólares. A ajuda de Suen baseia-se em tradução de documentos e a preparação de um relatório sobre a empresa para ser entregue directamente a Qian Qichen, o antigo vice-primeiro-ministro chinês. Mas não só. “Suen também usou os seus contactos para chegar a importantes figuras do Governo de Pequim, para que Adelson tivesse permissão de aterrar o seu avião em Pequim e pudesse ir aos encontros com os oficiais”, pode ler-se no documento do tribunal, citado pela Reuters. Com Adelson estaria William Weidner, ex-director-executivo de operações e presidente da operadora, que frisou também em tribunal que a ajuda de Suen foi valiosa “porque ajudou a perceber como funcionavam os governos chinês e de Macau e deu à empresa a oportunidade de parecer útil com a candidatura da China para ser a anfitriã dos Olímpicos de 2008”. O HM tentou obter uma reacção da Sands China e do Governo local, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Já advogados da Las Vegas Sands disseram em comunicado que o Governo de Macau tomou a decisão de forma independente, contrariando a tese de Suen que dizia mesmo que o Governo Central “violou a Lei Básica de Macau” para assegurar que a Sands tivesse a licença. A China manifestou-se em 2013 contra o processo, dizendo que a obtenção de licenças de jogo foi sempre feita “dentro da lei” e que era “um assunto interno de Macau”, onde Pequim não entrou.
Joana Freitas Manchete PolíticaEUA/Presidenciais | Sheldon Adelson vai doar “cem milhões ou mais” a Trump O magnata da Sands disse publicamente estar disposto a contribuir com mais dinheiro para eleger Donald Trump do que aquele que doou em qualquer outra campanha. E a ajuda não se fica por mais de cem milhões de dólares: Sheldon Adelson diz que este é o homem que os EUA precisam, mesmo que “não se concorde” com algumas coisas que ele diz [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s EUA precisam de alguém “forte” na liderança e esse alguém é Donald Trump. É a opinião bem vincada de Sheldon Adelson, o magnata dos casinos da Sands, com casinos em Macau, que justifica assim a doação de mais de cem milhões de dólares que poderá atribuir àquele que é um dos candidatos mais polémicos da corrida presidencial norte-americana. Em 2012, Sheldon Adelson tornou-se o maior dador republicano de sempre, depois de doar entre 98 e 150 milhões de dólares americanos aos candidatos do partido que apoia. Mas este montante incluiu a corrida ao congresso e à presidência. Agora, o magnata está disposto a bater um novo recorde: mais de cem milhões de dólares apenas para Trump e a sua candidatura presidencial, como reportou o New York Times a semana passada. E Sheldon Adelson explica, ele próprio, porquê. “[Entre tantos candidatos], um ganhou a corrida e agora os Republicanos têm de se juntar de forma a garantir que ele vença na etapa seguinte. Enquanto as primárias ainda têm algumas eleições importantes pela frente, está claro que Donald Trump será o Republicano nomeado para presidente”, começou por escrever numa coluna de opinião no jornal Washington Post. “Eu apoio publicamente Trump para a presidência e recomendo fortemente os meus colegas Republicanos – especialmente os oficiais eleitos através do Partido Republicano, os leais ao Partido e aqueles que fornecem um importante apoio financeiro – a fazerem o mesmo.” A opinião de Adelson continua, considerando “assustador” a alternativa à presidência se não Trump. Num longo parágrafo onde critica Barack Obama – o homem que “conseguiu atingir os seus objectivos em muitos assuntos, ainda que estes não fossem os objectivos dos EUA” -, Adelson diz que é preciso colocar na Casa Branca alguém com um “R” (de Republicano) atrás. Esta é, assegura, a única forma de melhorar a situação. E essa oportunidade “ainda existe”. “Sinto realmente que alguém com nível de experiência como CEO está suficientemente bem treinado para o trabalho de presidente. Isso é exactamente o que temos com Trump: ele é um candidato com experiência como CEO, moldado pelo compromisso e risco de utilizar o seu próprio dinheiro em vez do do público. Ele é um CEO com uma história de sucesso, que exemplifica o espírito de auto-determinação americano, compromisso para uma causa e boa gestão de negócios.” Sheldon Adelson não menciona, por exemplo, as mais de duas dezenas de negócios montados por Donald Trump que não foram, de todo, “bem geridos”. Notícias correntes na imprensa norte-americana mostram esses casos – aliás motivo de chacota nos mais populares programas de comédia na televisão. São os bifes de Trump (um ano em funcionamento), o Trump Game (igual ao Monopólio, mas versão Trump, menos de um ano em produção), um restaurante (três meses), um motor de busca de viagens (um ano), água Trump Ice (menos de um ano), uma revista que durou dois anos e até uma universidade que acabou processada por diversos alunos porque, durante os seis anos em que funcionou, nunca conseguiu cursos acreditados. [quote_box_left]Menos de 0,01% é o valor do apoio de Adelson a Trump quando comparado com o valor das receitas totais do ano passado da Sands, já que só a Sands China obteve lucros líquidos de 1,45 mil milhões de dólares em 2015[/quote_box_left] Comer no prato que cuspiu Apesar de alguns problemas nos negócios, a verdade é que Donald Trump foi sempre, de acordo com ele próprio e com média norte-americanos, “auto-financiado” na sua corrida à Casa Branca. Até porque “ele conseguiu alienar muitos dos seus doadores” devido a comentários menos próprios, como realça a imprensa dos EUA. “Para começar a ter mais recursos [financeiros], Trump terá de ser mais activo em conseguir conquistar doadores que isolou durante as primárias”, escreve a CNN. “Charles e David Koch (dois dos maiores apoiantes das presidenciais) não parecem querer apoiar Trump. Charles Koch, em particular, foi publicamente crítico sobre a forma de candidatura de Trump durante as primárias.” Esses comentários não passam sequer pela forma como Donald Trump fala das mulheres, ou da contínua ideia de construir um muro que separe o México do país. Os comentários foram dirigidos precisamente às figuras que agora poderão apoiar o candidato. “Trump foi claro durante a campanha, criticando os oponentes que esperam os ‘super PACS’ e dizendo que eles estavam a ser comprados por doadores ricos”, relembra o Wall Street Journal, referindo-se aos comités organizados para receber somas de dinheiro ilimitadas de empresas, indivíduos e uniões sem contribuírem directamente com o Partido ou os candidatos. Trump dizia mesmo que o poder da sua campanha centrava-se no facto de ser “auto-financiado” e que isso acontecia porque as contribuições “têm um efeito de corrupção nos oficiais do governo”. Palavras que justificava com o facto de ser “um dos maiores doadores ricos a fazer essa compra”, como relembra o site MSNBC. Nem Sheldon Adelson escapou. Quando o magnata apoiou Marco Rubio, Donal Trump não foi meigo. “Ele está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta”, escrevia o candidato em Novembro do ano passado, acrescentando no início deste ano que “os americanos não têm de se preocupar com esses ricos a dizer ao Trump o que fazer, porque ele não quer – e não recebe – o dinheiro deles”. Apesar da retórica, a ira contra os ‘super PACS’ parece ter amainado, tal como a contra os “doadores ricos”: Donald Trump vai ser apoiado em “cem milhões de dólares ou mais” por Sheldon Adelson e a contribuição deverá ser feita precisamente através de ‘super PACS’. A reacção de Trump quando confrontado pelos jornalistas? “Eu sei que as pessoas gostam de mim e formam um super PAC, mas eu não tenho nada a ver com isso. Vamos ser o que acontece”, disse à NBC News. O dinheiro, escrevem analistas citados pela imprensa americana, é agora um ponto vital na corrida de Trump. É que, para combater Hillary Clinton na corrida geral à Casa Branca, Donald Trump deverá precisar de “700 milhões a mil milhões de dólares”. Trump tem neste momento cerca de 11 milhões de votos, precisando de cerca de 50 a 60 milhões para vencer. As eleições são em Setembro. [quote_box_right]“Ele [Sheldon Adelson] está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta” – Donald Trump, em Novembro de 2015[/quote_box_right] Jogo, ódio a Obama e Israel – Que interesses estão por trás dos apoios? [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]encontro entre Adelson e Trump de onde surgiu a notícia do apoio aconteceu há duas semanas em Manhattan. Desde então, o magnata do jogo tem insistido na necessidade de se juntarem a ele todos os republicanos possíveis, que ainda estão de pé atrás com Trump. “Apesar de ter sido o neto de um mineiro e filho de um taxista, tenho muito experiência em ser parte de quase meia centena de diferentes negócios nos meus mais de 70 anos de carreira. (…) Ganhei o direito de falar sobre liderança e sucesso. Podem não gostar do estilo de Trump, ou daquilo que ele diz no Twitter, mas este país precisa de uma liderança executiva forte hoje em dia, mais do que em qualquer outro período na sua história”, escreveu Adelson na opinião publicada no Washington Post. Mas, que interesses estão por trás do apoio a Trump? Primeiro, o “ódio” que Sheldon Adelson já manifestou contra Obama e a visão de que Hillary poderá ser a sua substituta mais parecida. “Se os Republicanos não se juntarem no apoio a Trump, Obama vai, basicamente, ter algo que a Constituição não permite – um terceiro mandato em nome de Hillary Clinton. Passei algum tempo a falar com Donald Trump. Se concordo com ele em todos os pontos? Não. Mas é natural que nenhum americano concorde com o seu candidato preferido em todos os assuntos”, defendia Adelson na semana passada. Outra das razões pode ser o interesse de Trump nos casinos. Como recorda a NewsWeek, Adelson é conhecido por apoiar políticos que poderão ajudar nos seus negócios de jogo, ainda que os casinos não pareçam ser o ponto forte do candidato à presidência. Trump declarou falência de três propriedades em Atlantic City: primeiro o casino Trump Taj Mahal, em 1991, depois de um ano em operação. Depois, em 2004, foi a vez do Trump Marina e o Trump Plaza. Depois disto, a Trump Hotels e Casino Resorts decidiu mudar para Trump Entertainment Resorts. Quatro anos depois, também esta empresa faliu. E depois há a questão de Israel. Um dos cavalos de batalha de Adelson, judeu, a segurança de Israel é uma das maiores preocupações do magnata e parece ser, agora, também a de Trump, que Adelson considera ser “bom para Israel”. Mas a situação é confusa. “Durante toda a corrida vimos reviravoltas que não eram suposto acontecer. Uma das maiores razões de Adelson para apoiar Trump é o grande apoio a Israel, ainda que Trump tenha feito comentários no passado que deveriam fazer os zionistas preocupar-se com tal presidência. Mas também já vimos as ideias de Trump mudar em diferentes eventos públicos”, frisou Myles Hoenig, activista e analista político, em declarações à Press TV. Unidos por muros Trump chegou a fazer comentários contrários sobre a questão Israel-Palestina, mas a última declaração pública é favorável à ideia de Sheldon Adelson. E mais uma vez, Trump usa-se a si próprio como exemplo. “Acontece que eu tenho um genro e uma filha que são judeus ok? E dois netos que são judeus.” Para Hoenig, a liderança republicana sempre foi muito pró-Israel, mas também os democratas o têm sido, como refere, frisando que Hillary Clinton até é a candidata que mais apoia o país e que é activa nas suas acções para tal. Mas, para o activista, a dúvida não existe: por que razão Adelson apoia Trump? “Não é só para promover a conversa sobre Israel, mas para mostrar a oposição a todos os aspectos levantados por Obama nestes últimos oito anos. Obama é visto como uma oposição a Israel nas decisões que toma, mas ele apoiou o país em tudo o que fez e até cobriu crimes israelitas contra o povo palestiniano”, diz o analista, assegurando que, seja como for, a política dos EUA face a Israel não deverá mudar. Uma das coisas que os dois milionários parecem ter certamente em comum é a ideia de construir um muro: Trump tem um planeado para o México. Adelson sugeriu construir “um grande, maior do que já existe”, para manter os palestinianos fora de Israel. Wynn amigo de Hillary Clinton? Dentro da política é habitualmente conhecido o papel de Sheldon Adelson como um dos grandes doadores, mas Steve Wynn também pondera apoiar alguém. Ainda que o nome do empresário do jogo, dono do Wynn em Macau e com um novo complexo a nascer no Cotai, não seja tão sonante nos meandros da candidatura, duas coisas são bem conhecidas: Steve Wynn “desaprova Barack Obama”, ao ponto de o comparar ao ex-presidente Richard Nixon, envolto num escândalo de escutas. Mas, ao contrário de Adelson (ver texto principal), o facto de Wynn não gostar de Obama pode não o impedir de apoiar Hillary Clinton, candidata pelos Democratas. Wynn assegura ter tido um “jantar charmoso com Clinton”, ainda que social e “não político” e que não descurava a eventualidade de apoiar a candidata, numa entrevista ao canal de televisão PBS. Do conhecimento público é também que Wynn não está nos melhores termos com Adelson ou Trump. Muito por causa dos negócios de casinos, já que o candidato republicano foi considerado, em tempos, provável competição de Wynn em Atlantic City. Quem apoia quem? Hillary Clinton: apoiada por Ben Affleck, Christina Aguilera, Tony Bennett, Drew Barrymore, Bon Jovi, Mary J. Blige, George Clooney, Bryan Cranston, Leo Dicaprio, Ellen Degeneres, Cher, Jesse Eisenberg, Morgan Freeman, Lady Gaga, Robert De Niro, Richard Gere, Tom Hanks, Ben Harper, Elton John, Beyoncé, Katy Perry Donald Trump: apoiado por Hulk Hogan, Sarah Pallin, Stephen Baldwin, Azealia Banks, Kid Rock, Dennis Rodman, Mike Tyson Bernie Sanders: Rosario Dawson, Danny De Vito, Mark Ruffalo, Danny Glover, Spike Lee, Seth MacFarlane, Michael Moore, Susan Sarandon, Red Hot Chilly Peppers,
Joana Freitas SociedadeSands | Richard Suen perde em tribunal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Tribunal Superior do Nevada deu razão a um recurso interposto por Sheldon Adelson, que venceu agora contra Richard Suen, empresário de Hong Kong que acusava o magnata de não lhe ter pago a compensação pela ajuda prestada para que a Sands pudesse adquirir a licença de jogo em Macau. Suen acusava o líder da Sands de não ter cumprido uma alegada promessa – a de lhe pagar uma compensação pela sua alegada “intervenção junto das autoridades de Pequim e do Chefe do Executivo de Macau [Edmund Ho]” – e ainda conseguiu vencer, em 2013, um processo em tribunal. Mas, de acordo com a agência Reuters, o Tribunal Superior do Nevada considerou, na sexta-feira, “não haver provas suficientes” para dar razão a Richard Suen e a uma empresa que este parcialmente detém, a Round Square Co. O tribunal resolveu, então, negar a decisão anterior que indicava que o magnata da Sands tinha de pagar cem milhões de dólares ao empresário de Hong Kong. Ainda que o tribunal dê como provada a ajuda de Suen a Adelson. “O Tribunal Superior do Nevada considerou que, apesar da Las Vegas Sands ter beneficiado da ajuda de Suen, haveria apenas uma ‘relação ténue’ entre o valor da ajuda e os benefícios que a companhia realmente obteve na operação em Macau”, frisa a Reuters, que acrescenta que a Las Vegas Sands tinha procurado, com o recurso, “derrubar o veredicto”, ou então passar a indemnização para apenas um milhão de dólares. Richard Suen interpôs a acção judicial contra Sheldon Adelson em 2004 e esta é a segunda vez que o tribunal dá razão ao magnata do jogo em casos contra Suen. O advogado do empresário de Hong Kong negou à Reuters qualquer comentário do caso. Já a Las Vegas Sands diz que a decisão do tribunal “confirma a posição da empresa de que Suen não conseguiu apresentar provas substanciais de qualquer dano [contra si]”. A China manifestou-se em 2013 contra o processo, dizendo que a obtenção de licenças de jogo foi sempre feita “dentro da lei” e que era “um assunto interno de Macau”, onde Pequim não entrou.