Rota das Letras | João Miguel Barros lança “Incidental Moments” este domingo

“Cada vez uso menos a máquina fotográfica”

 

João Miguel Barros, advogado, fotógrafo e curador, lança este domingo um novo livro de fotografia. “Incidental Moments” não se trata de uma retrospectiva, mas acarreta consigo “a ideia de viagem”, de um percurso na imagem que tem sido traçado ao longo dos anos e que já conta com vários episódios na edição de livros, exposições e projectos de curadoria. O lançamento decorre domingo, a partir das 16h30, na Casa Garden, no âmbito do festival literário Rota das Letras

 

Porquê esta viagem interior e como se expressa através da fotografia?

Este é um livro de imagens, sem um único texto de suporte, que permite leituras diversas. Mas é difícil que, sem uma explicação, se consiga identificar o meu propósito quando fiz o alinhamento deste livro. O livro tem implícita a ideia da viagem, que significa chegar de um lado e partir para outro. Nesse sentido, comecei com o tríptico que foi a base da minha primeira exposição individual na Creative Macau, e um dos capítulos da Photo Metragens que esteve no Museu Berardo em Lisboa. Esse é o ponto de partida do livro. Segue-se a viagem propriamente dita e várias fotografias que a identificam. Depois disso o livro tem imagens de vários pontos de chegada.

Faz, com esta obra, uma retrospectiva da sua carreira como fotógrafo e curador, ou é uma viagem sobre os lugares onde já esteve?

Não é, de modo algum, uma retrospectiva. Feita a viagem, o livro tem vários pontos de chegada. As imagens que estão na obra são lugares visitados que achei interessante juntar e que fazem parte de uma certa peregrinação. São fotografias que fui tirando nos últimos anos, desenquadradas de um projecto específico e que, por isso, não tinham publicação prevista em livro. Mas eram fotografias de que gostava. Cada vez uso menos a máquina fotográfica. Só pego nela quando tenho um fim preciso, um projecto em que esteja a trabalhar. Mas às vezes vou tirando fotografias, sem fim específico, que guardo.

Porquê o nome “Incidental Moments”? E que momentos são estes?

No final do ano passado, estava a passar em revista essas imagens dispersas, alguns bons snapshots, e ocorreu-me a ideia de os juntar num livro despretensioso. O problema é que as ideias “despretensiosas” que tenho rapidamente começam a ganhar graus de exigência superiores. E o livro começou a ganhar uma forma e um rigor muito apurados na selecção das imagens e na produção. São “incidental moments” porque, apesar de haver uma narrativa implícita, esta é fragmentada, construída a partida de momentos dispersos no tempo e registados em diversos lugares. O livro tem também outra particularidade, pois dentro dele existem várias pequenas narrativas, expostas em cinco páginas duplas. São histórias dentro da história.

O que é que esta obra nos transmite de si e do seu trabalho como fotógrafo que outras publicações ainda não o fizeram?

Esta obra é um parêntesis no tipo de trabalhos que eu tenho vindo a produzir e que teve maior expressão nos doze números da Zine Photo [revista de fotografia]. “Incidental Moments” é um projecto mais introspectivo, contemplativo da natureza, do meio ambiente, da paisagem, dos detalhes. Senti necessidade de fazer esta incursão apaziguadora, a meio de um projecto muito forte e polémico que estou a acabar e que espero conseguir editar no Verão, sobre o touro bravo.

Pode revelar alguma coisa sobre esse novo projecto?

Ainda não quero revelar muito. Mas é um projecto de fôlego que tem duas partes distintas. Uma é sobre o touro em liberdade, a vida na ganadaria, os cavalos, os pastos. A outra foca-se no touro e nas touradas, mas mais na perspectiva dos detalhes e das pessoas que vivem nesse meio. Este projecto demorou-me quase um ano a fazer, com muitos dias no campo a fotografar e diversas idas aos bastidores do mundo taurino. Sei que o assunto é polémico e tenho consciência de que são imagens fortes. Mas a imagética do touro bravo é incontornável e não adianta esconder a cabeça na areia: esta é uma realidade que existe em Portugal, e está muito enraizada na cultura popular. Por isso, nada como enfrentá-la.

15 Mar 2024

Exposição | “MIxed”, com artistas de Macau, apresentada em Foshan

É inaugurada amanhã em Foshan uma exposição que reúne 10 artistas de Macau, como Alexandre Marreiros, Sara Augusto e Francisco Ricarte, na galeria “ArtOn Space”. A mostra conta com curadoria de João Miguel Barros e iiOn Ho e nasce de uma parceria com a galeria Ochre Space, em Lisboa

 

Alexandre Marreiros, Alan Ieon, Elói Scarva, Francisco Ricarte, Hugo Teixeira, João Palla Martins, Tang Kuok Hou, Rusty Fox, Sara Augusto e Stefan Nunes. São estes os nomes dos fotógrafos e artistas que vão expor, a partir de amanhã, na nova galeria de arte em Foshan virada para a fotografia e artes visuais: a ArtOn Space.

Intitulada “Mixed”, a mostra conta com curadoria de João Miguel Barros, advogado, fotógrafo e fundador da galeria de fotografia Ochre Space, em Lisboa, com a qual a ArtOn Space estabeleceu uma parceria em termos de curadoria de projectos. A curadoria está também a cargo de iiOn Ho, responsável pela galeria na cidade chinesa.

Segundo disse João Miguel Barros ao HM, foi feita uma proposta a iiOn Ho quanto à possibilidade “de seleccionar alguns trabalhos de artistas de Macau, preferencialmente no âmbito [da sua colaboração] com a associação Halftone”, que edita regularmente uma revista de fotografia no território.

Assim, a associação, criada em Macau ganha, com “MIxed”, a sua “primeira internacionalização”, a partir de “um projecto multifacetado e diversificado, com trabalhos autónomos e independentes (daí o nome da exposição), mas que assentam na ideia da construção e da humanidade”, frisou João Miguel Barros.

A mostra estende-se ainda a outros espaços associados à ArtOn Space, nomeadamente a 272 Gallery by Stream, Sensing Bookstore, SOS perfume e The Calling Hill.

Um ponto de partida

João Miguel Barros cita o texto de apresentação da exposição para explicar que “MIxed” não constitui “um ponto de chegada, mas antes um ponto de partida”. O público poderá ver imagens como “Cinderella Going Home” ou “Out, No Photo”, de Alexandre Marreiros, ou “Senhora das Castanhas”, de Stefan Nunes.

Assim, “além de outros projectos que a ArtOn Space tem em carteira, relacionados com a normal actividade da galeria, esta exposição lança as bases para um projecto mais vasto e ambicioso, que é a dinamização de um evento de larga escala relacionado com a fotografia na cidade de Foshan”, adiantou.

Trata-se de um projecto que “está a dar os primeiros passos junto das entidades governamentais”, centrando-se, numa primeira fase, no espaço da galeria, rematou o curador, tendo a Ochre Space como parceiro internacional. De destacar que a ArtOn Space está situada numa das zonas mais tradicionais da cidade de Foshan.

20 Out 2023

“Wisdom”, exposição de João Miguel Barros, inaugurada amanhã em Lisboa

É já amanhã que a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa recebe uma exposição de fotografia de João Miguel Barros, intitulada “Wisdom”, e que nasce de fotografias feitas em Accra, capital do Gana, já publicadas, expostas e premiadas, nomeadamente no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau, em Julho de 2019 e na revista “Zine”, um projecto editorial fotográfico pessoal com 12 edições.

Ao HM, João Miguel Barros, que também é advogado e que se formou nesta faculdade, disse que a mostra tem “um especial significado”, precisamente por poder voltar à escola onde fez ingressou em Direito em 1976. O lado especial deste projecto verifica-se também no facto de a exposição ocupar “todo o edifício principal da entrada, com 22 fotografias em telas de grandes dimensões, sobre um tema que tem a ver com educação”.

As imagens de “Wisdom”, diz João Miguel Barros, “confrontam a precariedade do ensino numa escola em Accra, no Gana, com o privilégio que é estudar numa escola de ensino superior, moderna e bem apetrechada”.

A mostra faz-se acompanhar de um catálogo, disponibilizado apenas online e preparado pela curadora da revista “Photo London”, Helen Ho. Esta descreve “Wisdom” como um “corpo de trabalho estimulante que pode ser visto como um comentário social visual”, tratando-se de “fotografias que nos convidam a entrar num mundo completamente desconhecido, porém, apesar do caos aparente e das condições de pobreza, vê-se luz e esperança”.

Ensinar numa antiga mansão

As imagens, que podem ser vistas até 8 de Dezembro, retratam a realidade da escola “Wisdom Preparatory Academy”, situada em Adedenkpo, na cidade velha de Accra, no Gana, e fundada em 1986.

Segundo João Miguel Barros, a escola ocupa um prédio antigo, danificado, que foi “uma importante mansão”. “No início destinava-se a suportar a actividade de crianças com apetência para o futebol. No entanto, em 1992, a escola foi autorizada a entrar no sistema de ensino nacional e passou a receber turmas que vão do pré-primário ao ensino médio.”

O fotógrafo revela ainda que em frente ao edifício existe “um grande pátio rodeado de casas informais onde as famílias criam os seus filhos pequenos”, e que aí, ao final da tarde, costuma treinar “um grupo de pugilistas que dedicam o seu sonho a um dia serem grandes campeões”. “Foi por causa de um deles, Emmanuel Danso, que vi combater em Macau, que decidi ir a Accra”, recordou.

11 Out 2023

João Miguel Barros, advogado: “O que pode fazer a diferença é nossa a experiência e competência”

Chegou ao território no final dos anos 80 e ainda encontrou o Estatuto Orgânico em vigor. João Miguel Barros diz que a Lei Básica é o “documento estruturante de princípios fundamentais na sociedade”, que define liberdades e direitos e que portugueses e expatriados devem respeitar o sistema vigente. O causídico defende que o português é apenas “tolerado” nos tribunais e que os advogados portugueses “são uma espécie em vias de extinção”

 

Olhando hoje, depois de 30 anos da promulgação da Lei Básica, considera que a miniconstituição respeita os trâmites da Declaração Conjunta e os interesses de Portugal e da China?

É muito importante que exista um documento estruturante de princípios fundamentais na sociedade de Macau e que defina direitos e liberdades dos residentes. A garantia de autonomia do território por 50 anos é outro dos compromissos fundamentais que a Lei Básica assume com relevo para Macau. No contexto político da República Popular da China, provavelmente teria sido difícil ir mais longe do que se foi. Em todo o caso, é importante que se diga uma coisa: a visão de um português é totalmente diferente da visão de um chinês sobre este assunto. Até mesmo na lógica dos “interesses”. Por “interesses” entenda-se a disponibilidade e vontade de intervenção cívica nos assuntos da cidade ou da governação. Há uns anos que cheguei à conclusão que não me cabe ter especial “interesse” neste processo. Macau é chinês. A dinâmica política de Macau evoluiu muito depressa no sentido do primeiro sistema. O discurso de “Um País, Dois Sistemas”, brilhantemente criado por Deng Xiaoping, é agora meramente político e operacional. Não é substancial. O Chefe do Executivo que melhor encarnou esse princípio foi o Dr. Edmundo Ho, por quem tenho admiração. O actual Chefe do Executivo [Ho Iat Seng] teve a má fortuna de começar as suas funções com a pandemia, mas o seu mandato coincide com a fase de uma maior afirmação nacionalista do Presidente Xi Jinping, que tem pautado a sua governação por uma carga ideológica acentuada. Daí que não seja de estranhar que o discurso do actual Chefe seja o discurso típico de um homem do primeiro sistema. A prová-lo está este simples facto: ele não diz que Macau deve ser governado pelas suas gentes, mas que deve ser governado por patriotas. Não tenho nada contra. Mas esta diferença faz toda a diferença. É por isso que eu digo que no meio de tudo isto nós, portugueses, ou seja, nós expatriados, ainda que residentes permanentes, não fazemos parte dos mesmos “interesses”. A nossa participação cívica ou política é irrelevante ou residual. A nossa palavra conta muito pouco ou não conta nada. Se quisermos estar em Macau devemos respeitar as leis e cumprir os princípios vigentes na sociedade. O que pode contribuir e fazer a nossa diferença na sociedade é a experiência e a nossa competência profissional. Só isso.

Entende que a Lei Básica tem contribuído para a manutenção de um sistema social, político e judicial próprios de Macau?

A Lei Básica, atendendo ao contexto a que me referi, é um bom documento de síntese. Ou seja, quando falo no contexto estou a assumir o óbvio: que Macau não está organizado como uma sociedade democrática, onde vigora um claro princípio da separação de poderes. Nem tal seria possível por pertencer à República Popular da China. O problema é o modo como se interpreta, na prática, esse conjunto de direitos fundamentais. Isto é válido para Macau como para as sociedades democráticas: muitas vezes a questão não está nas leis, mas no modo como elas são interpretadas e aplicadas. Mas não posso deixar de reconhecer que em Macau a situação é mais complicada porque os mecanismos de ‘checks and balances’ [monitorizações e equilíbrios] estão mais afunilados, e desde logo por ausência de uma opinião pública mobilizável.

Alguns artigos da Lei Básica foram legislados muito depois da sua implementação, nomeadamente no que diz respeito à Lei Sindical. Esta tem sido uma lacuna das autoridades locais, o atraso em relação a algumas leis?

Macau tem tido um ritmo de desenvolvimento económico muito acelerado com imensas frentes e diversas prioridades. E estando toda a dinâmica política e legislativa centrada no Chefe do Executivo e no Governo, que apesar de tudo é pequeno, é normal que não seja possível fazer tudo ao mesmo tempo. São opções políticas.

A Lei Básica determina a igualdade entre residentes, mas temos hoje uma interpretação à letra desse termo, afastando-se os não-residentes de muitas políticas do Governo, apesar de constituírem uma grande parte da população. É uma lacuna da miniconstituição ou de quem a interpreta, contribuindo para desigualdades sociais?

Macau não é propriamente um bom exemplo em termos de igualitarismo social. Provavelmente o maior problema é a consciência da escassez da terra e o conservadorismo orçamental que impede que muitos não-residentes possam aspirar a ter outro estatuto, o que equivaleria a terem outros direitos e uma outra vinculação para o futuro. Vivemos numa sociedade muito liberal em termos económicos, no sentido de exploração económica da mão-de-obra exterior (não-residente), mas muito conservadora, no sentido de protecção dos residentes de Macau.

A Lei Básica determina que o português é língua oficial e pode ser utilizado na justiça. Como comenta a evolução do uso do idioma nos tribunais, nos últimos anos?

O português é apenas uma língua tolerada e utilizada em sentido único nos tribunais. E a situação tem vindo a piorar com o passar dos anos. Só não é uma língua em vias de extinção, em especial na primeira instância, porque há advogados portugueses que escrevem e falam em português. Mas de volta são sempre respondidos em chinês. Dá-se até a situação incompreensível de os juízes, que para serem juízes têm de saber falar português, se dirigirem em chinês aos advogados portugueses quando não há outros interlocutores de língua chinesa na sala de audiência. Já aconteceu comigo. O que eu sinto é que os juízes, de um modo geral, não respeitam o português com o argumento de que o chinês também é língua oficial.

Como olha para a evolução do Direito de Macau e da própria comunidade de advogados portugueses?

O Direito é um organismo vivo e precisa de se ajustar à evolução da sociedade. É normal que assim seja. Macau tem vindo a sofrer grandes transformações que precisam de ajustamentos legislativos e normativos. É importante que a matriz portuguesa se mantenha no sistema jurídico pela riqueza da sua doutrina e jurisprudência e pelo legado que os juristas e professores das universidades portuguesas deixaram no ensino do Direito em Macau. Mas é fundamental que esse sistema seja assimilado e transformado no sistema jurídico da RAEM, sem complexos. Ao fim destes anos todos penso que foi isso que aconteceu ao Direito de Macau, e a prova é que nos tribunais superiores continua-se a citar jurisprudência portuguesa. Quanto aos advogados portugueses: nós somos uma espécie em via de extinção. Os mais velhos, como eu, estão na idade da reforma. Os mais novos farão parcerias com advogados chineses e das duas uma: ou aprendem chinês fluente e continuam, ou passam para um lugar secundário. Ou, então, assumem um outro papel: são advogados encartados, mas na prática, funcionam como intermediários de negócios.

A Lei Básica sofreu algumas alterações, nomeadamente nos anexos, aquando da revisão das leis eleitorais para a Assembleia Legislativa e Chefe do Executivo. Entende que a miniconstituição deverá manter-se sem mais mudanças até 2049?

Não lhe sei responder. Por princípio as leis estruturantes não devem andar a sofrer alterações.

30 Mar 2023

MAM | “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo YiiMa, chega a Macau

Depois do périplo feito pela Europa, nomeadamente em Lisboa e na Bienal de Arte de Veneza, a exposição dos artistas Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que integram o colectivo “YiiMa”, chega a Macau pela primeira vez, sendo inaugurada esta sexta-feira. Ung Vai Meng diz-se feliz pelo facto de as obras de “Alegoria dos Sonhos”, com curadoria de João Miguel Barros, serem expostas no território que lhes deu vida

 

A mostra “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo “YiiMa”, composto pelos artistas Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural (IC), e Chan Hin Io, chega esta sexta-feira à sua terra de origem, depois de ter sido exibida no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, com o nome “(Des) Construção”, e de ter representado Macau na 59.ª Bienal de Arte de Veneza, já com o nome de “Alegoria dos Sonhos”.

A exposição de fotografia, escultura, instalação e até arte performativa, estará patente na Galeria do Tap Seac até ao dia 21 de Maio, proporcionando ao público local a oportunidade de ver, pela primeira vez, uma mostra reconhecida internacionalmente.

Ao HM, Ung Vai Meng falou da “felicidade” sentida pelo colectivo “pela devolução das obras à nossa cidade natal, para as podermos exibir aos cidadãos e amigos locais”. Afinal de contas, “essas obras foram todas criadas neste pequeno território”, adiantou.

Fazendo o balanço das duas exposições, Ung Vai Meng frisou que “o público respondeu muito bem, tendo estado particularmente interessado nas cenas da vida em Macau, já que as obras mostram as culturas chinesa e ocidental”.

Além disso, o antigo dirigente cultural, que actualmente se dedica à arte a tempo inteiro, referiu uma análise feita por uma crítica norte-americana, que se referiu a “A Alegoria dos Sonhos” como “uma das dez obras que valia a pena ver na Bienal de Veneza”.

Parque a caminho

Convidado a comentar as políticas culturais após o regresso à normalidade, no contexto da pandemia, Ung Vai Meng diz acreditar que “o Governo poderá pensar em novas estratégias do ponto de vista cultural, exigindo às concessionárias de jogo que seja dado um maior apoio e feito um maior investimento em empreendimentos culturais.”

Ung Vai Meng acredita também que será possível uma maior cooperação com artistas e entidades culturais estrangeiras para que Macau venha a acolher mais eventos de cariz internacional.

Quanto ao colectivo YiiMa, poderão surgir novos projectos. “A fim de aumentar o interesse dos residentes de Macau pela arte pública, o nosso colectivo está a estudar a viabilidade do projecto ‘Parque Temporário de Esculturas de Macau’, mas estamos ainda na fase de concepção.”

Palavra de curador

Ao HM, João Miguel Barros, curador, recorda um processo de adaptação entre a mostra de Lisboa e aquela que foi exibida em Veneza. “Quando discuti com os artistas a nossa candidatura à Bienal de Veneza, havia uma ideia estruturada para a ‘Alegoria dos Sonhos’ e que incluía várias componentes, desde a fotografia, a instalação e a vídeo arte. Mas sabíamos que se ganhássemos a representação de Macau teríamos de ajustar muito essa ideia devido às limitações do espaço disponível em Veneza. A mostra da galeria do Tap Seac acaba por ser a que permite uma aproximação mais fiel à ideia original.”

O curador acrescenta que, graças à “generosidade dos meios que o IC colocou à disposição dos artistas”, foi permitido “delimitar os espaços dos diversos ‘sonhos’ dando a conhecer o conteúdo que o YiiMa produziu para ser mostrado em Veneza, com o sucesso que lhe foi reconhecido. Nessa perspectiva os visitantes de Macau são uns privilegiados ao visitarem esta exposição do YiiMa”, rematou.

Na mostra patente em Lisboa, no então Museu Colecção Berardo, já encerrado, mostraram-se imagens com os próprios artistas transformados em anjos e a representação de lugares icónicos de Macau que foram mudando ao longo do tempo, como casas de matriz chinesa, estruturas de bambu, templos budistas no meio da cidade. Em todas as obras se faz um exercício de reflexão sobre a Macau do passado e do presente e as constantes mudanças urbanísticas que têm ocorrido ao longo do tempo.

15 Mar 2023

Justiça | Defesa de Li Canfeng diz que a acusação não tem provas

No segundo dia de alegações finais, a defesa de Li Canfeng argumentou que faltam provas na acusação do Ministério Público. Também o defensor de Jaime Carion, João Miguel Barros, acusa o MP de violar a lei por imputar nas alegações finais um novo crime ao ex-director, impedido a produção de prova ou contraditório

 

O julgamento do caso das Obras Públicas, que entre os arguidos Li Canfeng Jaime Carion, e os empresários Sio Tak Hong, William Kuan e Ng Lap Seng, está na recta final.

O Tribunal Judicial de Base foi ontem palco do segundo dia de alegações finais, com destaque para a intervenção da defesa de Li Canfeng, que apontou a falta de provas apresentadas pelo Ministério Público (MP) para acusar o ex-director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). A mesma tese foi defendida por advogados de outros arguidos, com todos a negaram o envolvimento em qualquer actividade ilegal.

Um dos casos em abordados ontem, foi o processo de junção de dois lotes de terreno na Taipa, junto à Avenida Dr. Sun Yat Sen, que no final de 2017 acabou por ser vendida pela empresa de William Kuan a um grupo do Interior a adquirir a concessão por um preço recorde à altura (627,1 mil dólares de Hong Kong por metro quadrado).

A tese do MP é que a junção destes lotes, que acabaram por ser bastante rentáveis para o empresário que também é arguido, resultaram de um favor de Li Canfeng.

A advogada de Lau Pou Fong, que era secretária da empresa de William Kuan, alegou que os testemunhos recolhidos em tribunal a pessoal técnico da DSSOPT não apontam para uma realidade em que Li Canfeng tenha pressionado funcionários para aprovar a junção dos terrenos.

Raimundo atento

Na quarta-feira, o MP argumentou que Li Canfeng terá “tinha aproveitado a desculpa da tradução do documento e assim pedido para entregar um novo parecer ao Executivo”, acabando por fazer alterações “secretas” no conteúdo do parecer, segundo o Ponto Final. A tese da acusação incide sobre o uso da tradução como ferramenta para enganar Chui Sai On e Raimundo do Rosário, que teriam assinado e aprovado a junção dos terrenos por engano, por pensarem que o novo documento seria apenas a mesma versão traduzida.

Segundo o jornal Ou Mun, a defesa da secretária de William Kuan alegou que a tese do MP contraria, por exemplo, o testemunho da chefe do Departamento Jurídico da DSSOPT que salienta a seriedade de Raimundo do Rosário e que seria impossível enganar o secretário e o Chefe do Executivo a aprovar um acto com o qual discordavam.

A defesa de Jaime Carion apresentou também ontem as suas alegações finais. O advogado João Miguel Barros acusou o MP de violar a lei ao acrescentar ao rol de acusações que recaem sobre Jaime Carion um novo crime já na fase de alegações finais, impossibilitando desta forma a produção de prova e negando o direito ao contraditório por parte da defesa, indicou ontem o Canal Macau da TDM.

O crime em questão é o enriquecimento injustificado, razão pela qual a acusação pediu a apreensão de mais de 40 imóveis de que são proprietários o ex-director das Obras Públicas e familiares.

24 Fev 2023

Obras Públicas | João Miguel Barros impedido de fazer perguntas e ameaçado

A juíza Lou Ieng Ha considerou que o advogado desrespeitou o Tribunal e o Ministério Público quando tentou provar através dos investigadores do CCAC que Jaime Carion não praticou o crime de associação criminosa

 

A juíza Lou Ieng Ha ameaçou João Miguel Barros com proibição de fazer mais perguntas a testemunhas até ao fim do julgamento, depois de o advogado tentar provar que o seu cliente não tinha cometido o crime de associação criminosa. Segundo a TDM-Canal Macau, a magistrada considerou que ao questionar os investigadores do Comissariado Contra a Corrupção, o advogado desrespeitou o tribunal e a acusação do Ministério Público (MP).

O mais recente episódio em julgamentos com a participação de Lou Ieng Ha aconteceu na quinta-feira, quando João Miguel Barros tentou questionar uma investigadora do CCAC sobre a acusação de associação criminosa.

A pergunta coloca em causa a acusação do MP. Durante as investigações aos ex-directores das Obras Públicas, o CCAC considerou não existirem provas para fundamentar uma acusação pelo crime de associação criminosa. Apesar das conclusões, o MP decidiu avançar com a acusação contra 18 dos 21 arguidos pelo crime de sociedade secreta em concurso com associação criminosa.

Nas sessões anteriores o assunto tinha causado polémica, porque a presidente do colectivo de juízes não quer que os investigadores do CCAC respondam a perguntas sobre o crime da associação criminosa. Lou Ieng Ha está ao lado do MP, no entendimento que os investigadores não têm de se pronunciar sobre a acusação do MP, principalmente no que diz respeito ao crime de associação criminosa.

Contra a inocência

Na quinta-feira, João Miguel Barros insistiu com a pergunta junto de uma das investigadoras do CCAC e foi ameaçado que seria proibido de fazer mais perguntas até ao final do julgamento.

Segundo a TDM-Canal Macau, Lou Ieng Ha avisou o defensor de Jaime Carion contra a tentativa de “passar a imagem de que não existe o crime de associação criminosa” e acusou-o de “desrespeitar o tribunal e o Ministério Público.”

A magistrada ameaçou ainda o advogado de ser proibido de fazer mais perguntas sobre o crime de associação criminosa. Na prática, esta ameaça significa que o causídico está impedido de defender o seu cliente junto das testemunhas que também foram arroladas pela defesa.

A acusação do crime de associação criminosa é uma das mais relevantes para o Ministério Público, uma vez que acarreta penas de prisão que podem ultrapassar os 10 anos.

Prática pouco habitual

Não é a primeira vez que Lou Ieng Ha ameaça advogados em tribunal, por não pretender que se pronunciem ou indiquem aspectos com os quais não concorda. Situação semelhante aconteceu em Setembro do ano passado, durante o julgamento do caso Suncity, que terminou com a condenação de Alvin Chau a 18 anos de prisão.

Na altura, o advogado Pedro Leal tentava argumentar contra a admissão como prova de depoimentos de arguidos recolhidos pela polícia na fase de investigação. Lou Ieng Ha não gostou e disparou: “O tribunal já tomou uma decisão. Estou a avisá-lo pela última vez, se voltar a mostrar oposição outra vez [como hoje] vou bani-lo de falar neste julgamento a partir de agora”, ameaçou.

Motivo para queixa

O HM ouviu um jurista sobre a situação decorrida em pleno julgamento, para tentar perceber se há enquadramento legal que permita ameaçar os advogados com a proibição de inquirir testemunhas até ao final de um julgamento.

O jurista, que pediu para permanecer anónimo, considerou que a situação é “um abuso de poder”. “Claro que não é normal e é um abuso de poder. Se tais declarações ficaram gravadas podem ser alvo de procedimento disciplinar se for extraída certidão das mesmas a requerimento dos interessados”, foi explicado, ao HM. “Ou então no requerimento formulado mencionar tais factos para solicitar a extracção de certidão. Se houve recusa, há sempre a possibilidade de participação directa ao conselho [dos Magistrados Judiciais]”, foi acrescentado.

Em Setembro do ano passado, o HM contactou o Conselho dos Magistrados Judiciais para perceber quantas queixas tinham sido apresentadas contra a juíza Lou Ieng Ha. Contudo, o conselho presidido por Sam Hou Fai recusou responder, por considerar que a informação é confidencial.

13 Fev 2023

Zine Photo | Penúltimo número com homenagem a um avião

O número 11 da Zine Photo, publicação de fotografia de autoria de João Miguel Barros, faz uma homenagem ao Pipeta Saratoga, um pequeno avião de apenas seis lugares propriedade de um amigo. O curador, fotógrafo e advogado pretende abrir a Ochre Space, uma galeria de fotografia em Lisboa, na Primavera do próximo ano

 

Está quase a fechar-se o capítulo da Zine Photo, um projecto editorial de fotografia com apenas 12 números lançado pelo fotógrafo, curador e advogado João Miguel Barros. A 11ª edição acaba de sair e tem como título “Saratoga”, sendo uma homenagem ao avião Pipeta Saratoga, que era de um amigo de João Miguel Barros.

“Este número tem como foco uma situação muito concreta. Tenho um amigo que tinha um avião, com um único motor e apenas seis lugares, que estava em Tires [zona de Sintra]. Ele convidou-me algumas vezes para dar uns passeios. Ele tinha o avião há várias décadas e todos os fins-de-semana tratava dele com grande zelo e carinho.”

“O meu amigo é médico, mas também piloto, e andava de avião aos fins-de-semana. Era quase como um filho para ele”, lembrou o autor do projecto.

De máquina fotográfica em punho, João Miguel Barros fez a última viagem no Pipeta Saratoga antes de este ser vendido, devido à partida do seu proprietário foi para Itália. “Esta zine acaba por ser um tributo a isso. As fotos têm como base o avião propriamente dito e essas duas viagens. Tentei, acima de tudo, levar para a história o meu olhar. Penso que as pessoas já identificam o meu tipo de fotografia como sendo um pouco diferente. Quis fugir ao lado turístico de uma pessoa que vai andar de avião e faz fotografias. Gosto das imagens e acho que acabou por ser um número bem conseguido”, adiantou ao HM.

Todas as Zine Photo contém dentro de si “histórias muito simples”, que “não têm nada de transcendente ou de revelador”. “Esta revista é quase uma homenagem a um filho que se vai embora. Para mim também foi uma experiência interessante, pois embora esteja habituado a andar de avião, sempre andei em aviões comerciais, com outro tipo de segurança. Às vezes sentimos uma certa fragilidade do que é a nossa vida quando andamos num avião daqueles.”

Depois das revistas, os livros

João Miguel Barros não quer ficar por aqui no que diz respeito à fotografia e aos projectos artísticos. Em Dezembro, sairá a 12ª edição da Zine e depois o autor pondera começar a editar livros de fotografia “com histórias mais consistentes e desenvolvidas”. Ao mesmo tempo, a Ochre Space, uma galeria de fotografia, livraria e espaço de investigação, situada em Lisboa, deverá abrir portas na Primavera do próximo ano.

“É muito difícil, e às vezes as pessoas não compreendem o esforço que é preciso fazer para conjugar várias dimensões e facetas no mundo da fotografia. Além de ter o lado artístico, como produtor artístico e fazendo fotografia, faço curadoria do trabalho de outras pessoas.”

Com tantas facetas profissionais dentro de si, João Miguel Barros confessa sentir, por vezes, um certo conflito interior, por “tentar fazer muita coisa com papéis tão distintos”.

“Continuo a achar que tenho pouco tempo para o muito que quero fazer e tenho uma ambição enorme para valorizar a fotografia. Não quero abdicar de nenhuma destas componentes”, rematou.

13 Out 2022

Fotografia | Lançado décimo número da revista Zine Photo

Acaba de sair a edição número 10 da publicação Zine Photo, projecto fotográfico de João Miguel Barros. Intitulada “Timeless”, esta edição inclui “três pequenas histórias visuais: uma sobre a simbologia da fé, outra sobre uma fábrica artesanal de peles e uma terceira sobre um monte alentejano em ruínas”, aponta uma nota de imprensa.

As imagens são a preto e branco, característica que tem pautado o trabalho de João Miguel Barros. Esta publicação pode ser adquirida através do site https://www.zine.photo/home/ ou na Livraria Portuguesa, tendo um custo de 180 patacas.   A mesma nota dá conta que a edição número 2 da revista está esgotada e que há outras edições prestes a esgotarem também.

Sendo uma edição da galeria Ochre Space, projecto que João Miguel Barros possui em Lisboa, a Zine Photo deixa de ser publicada este ano, quando atingir a 12.ª edição. As edições são limitadas a 300 exemplares cada.

3 Mai 2022

Creative Macau | Exposição colectiva de fotografia começa quinta-feira

“Seeing the light in black and white” é o nome da exposição que será inaugurada na quinta-feira na Creative Macau. João Miguel Barros e Francisco Ricarte são os fotógrafos portugueses entre um colectivo que integra Rusty Fox, Tang Kuok Hou, Jason Lei e Ieong Man Pan

 

A fotografia a preto e branco, com os seus contrastes muito próprios, é o foco principal da nova exposição que a Creative Macau inaugura na quinta-feira, e que estará patente até 19 de Fevereiro. “Seeing the light in black and white” [Vendo a luz a preto e branco] conta com trabalhos de nomes locais que já são bem conhecidos do mundo da fotografia, tal como João Miguel Barros, Francisco Ricarte e Rusty Fox, num total de seis.

Ao HM, Francisco Ricarte disse que apresenta na exposição um conjunto de cinco fotografias tiradas em Shenzhen em finais de 2019. “Foram todas tiradas no mesmo local, a um edifício de arquitectura moderna que me fascinou do ponto de vista do seu conteúdo e da relação estabelecida com o interior, exterior e zonas de sombra”, contou.

O fotógrafo e arquitecto optou por “um preto e branco intenso”, onde as colunas do edifício sobressaem num forte jogo de sombras. “Há fotos em que praticamente está tudo negro e apenas se vê uma parte do edifício. As suas colunas, a branco, contrastam com a envolvência de tons mais escuros e carregados.”

Com estas imagens, Francisco Ricarte tentou demonstrar “como é a visão e a interpretação do ponto de vista da fotografia a preto e branco”, bem como “mostrar que é possível novas abordagens e ter uma visão interpretativa da luz quando ela não é directa”.

Fotografar com estas tonalidades, ao invés da cor, “é extremamente desafiante e uma questão de sobrevalorização de determinados contrastes cromáticos”, frisou.

“A cor está ausente e articula-se muito bem com determinados tipos de sentimentos e emoções”, adiantou Francisco Ricarte, que faz fotografia apenas nos tempos livres, mas que tem integrado várias exposições no território com os seus trabalhos.

Uma viagem de comboio

No caso de João Miguel Barros, que por norma privilegia a fotografia a preto e branco no seu trabalho, o público poderá ver imagens que integram a última edição do seu projecto Zine Photo, com o tema “Pendolino”, e que abordam “uma viagem de comboio feita entre as cidades de Lisboa e Porto, com regresso a Lisboa”. Nesse dia, João Miguel Barros capturou “um dia chuvoso e uma paisagem difusa”.

Estas são imagens impressas em película fotográfica e colocadas numa caixa de luz. A opção “permite evidenciar os rastos de chuva nos vidros da janela do comboio, acentuando o dramatismo que pretendi captar com este trabalho”, contou o fotógrafo e advogado.

A participação nesta mostra colectiva da Creative Macau é, para João Miguel Barros, como regressar às origens, ao lugar onde fez a sua primeira exposição individual, depois de muitos anos a trabalhar na advocacia.
“Desde então já tanta coisa aconteceu, e continua a acontecer, quer na produção autoral, quer na curatorial, quer até na editorial. E só passaram cinco anos!”, referiu.

A Creative Macau descreve que o trabalho dos seis fotógrafos pretendeu dar respostas à verdadeira essência da captura de imagens, e se há ou não verdade numa era em que a fotografia é bastante modificada com as novas tecnologias. Actualmente, as tonalidades e as cores do mundo que nos rodeia podem assumir novas perspectivas.

“Estes seis fotógrafos apresentam a arte da fotografia com o seu estilo muito próprio. Eles criaram algo novo e original, ao manipular a natureza da imagem ou não, para ‘mostrar a verdade’”.

10 Jan 2022

Ochre Space | João Miguel Barros aposta numa galeria de fotografia em Lisboa

Ainda sem data oficial de abertura, a Ochre Space, nome da galeria de fotografia fundada por João Miguel Barros na zona da Ajuda em Lisboa, começa a receber os primeiros eventos no próximo ano. A Ochre Space é composta por dois pisos cheios de imagens e livros e um lugar destinado à interacção entre fotógrafos de várias gerações

 

Radicado em Macau desde 1987, o advogado João Miguel Barros tem investido cada vez mais na fotografia com inúmeros projectos pessoais e curadorias de exposições. O seu mais recente projecto, que vai abrir portas na zona da Ajuda, em Lisboa, é a Ochre Space, uma galeria de fotografia contemporânea que quer estabelecer uma ponte com a Ásia, mas, acima de tudo, tornar-se num ponto de interacção entre novos e experientes fotógrafos e com todos os amantes da imagem.

O HM visitou este espaço composto por dois pisos que deverá ter uma livraria, um café e uma agenda de actividades com exposições e workshops. No entanto, nada está ainda definido. “Não vou abrir portas para já, talvez no Verão do ano que vem. Na parte de cima, que será pública, quero ter um ciclo de exposições regular, de conversas, de workshops. Quero criar uma dinâmica em torno da fotografia e da vídeo arte”, confessou João Miguel Barros ao HM.

Abrir uma nova galeria em Lisboa era uma tarefa primordial, por ser a terra natal do advogado e fotógrafo. A capital portuguesa “tem uma grande ligação a todos os centros europeus, está perto de uma vida cultural muito intensa”.

“Por outro lado, não vou ficar em Macau para sempre. Com a idade que tenho, gostava de ter um sítio que fosse mais acessível, e Lisboa é a minha terra. Macau foi uma terra que me acolheu”, disse.

A Ochre Space não será apenas “uma delegação de Macau ou da China”, apostando “numa relação identitária com a Ásia em termos de projectos”.

O trabalho do fotógrafo chinês Lu Nan, que já expôs em Portugal e que tem um intenso projecto fotográfico sobre doença mental na China, poderá ser a primeira mostra da Ochre Space. “Ele é uma pessoa pela qual eu tenho um enorme respeito”, confessou João Miguel Barros, que mantém uma amizade próxima com Lu Nan.

Um projecto pessoal

Há muito que João Miguel Barros queria fazer um projecto ligado à fotografia contemporânea chinesa. A juntar a esta vontade, começou a coleccionar, nos últimos cinco anos, centenas de livros de fotografia, essencialmente de fotógrafos asiáticos, mas não só. Nas grandes estantes, no andar de baixo, também cabem nomes como Sebastião Salgado, Josef Koudelka ou Cartier-Bresson.

“Tinha este sonho de ter os livros todos juntos, porque acho que uma biblioteca não pode estar desmembrada, é como um corpo humano. Este espaço dá-me uma alegria infinita. Nesta biblioteca há uma componente asiática muito forte.”

Assumindo já ter uma lista de nomes para exporem na Ochre Space, João Miguel Barros revela ter, neste ponto, uma enorme liberdade. “Vou trazer pessoas com as quais tenho uma identificação pessoal ou artística, porque este é um projecto pessoal. Não tenho interferências.”

A estadia de longos anos em Macau tem permitido a João Miguel Barros vários contactos com fotógrafos e galerias chinesas. A Ochre Space pode ser, neste sentido, mais um centro de ligação entre Portugal e a Ásia, a par das instituições que, em Lisboa, desempenham esse papel numa acepção mais institucional.

“Pode ser esse centro pelos livros que vamos ter à venda e pelas exposições. Queria muito fazer um intercâmbio de pessoas para trazer aqui. No futuro teremos uma videowall [parede com projecção de vídeo], pelo que a ideia é apresentar trabalhos em papel e fazer projecções de obras mais completas”, rematou.

30 Dez 2021

Casa Garden | Exposição de fotografia contemporânea a partir de sexta-feira 

João Miguel Barros é o curador de “Narrativas a Oriente”, uma exposição inteiramente dedicada à fotografia contemporânea que é também um balão de ensaio sobre os projectos desenvolvidos por fotógrafos locais. A mostra está patente na Casa Garden, da Fundação Oriente, até finais de Janeiro

 

Alguns dos nomes mais conhecidos do panorama local da fotografia, vão estar presentes na nova mostra que a Casa Garden, sede da Fundação Oriente (FO) no território, acolhe a partir desta sexta-feira. João Miguel Barros faz a curadoria de “Narrativas a Oriente” e, segundo disse ao HM, a ideia é que, com esta mostra, se possa ver o que de mais importante se faz na área da fotografia em Macau.

“O grande tema é a diversidade cultural dos projectos. Estabeleci um critério alargado, muito eclético, porque não podemos ser autoritários no gosto. Era importante dar liberdade às pessoas e isto funcionou também como um teste, para saber que tipo de projectos é que um conjunto de artistas de Macau estava a desenvolver.”

António Mil-Homens é um dos fotógrafos que participa neste projecto, apresentando uma série de auto-retratos criados quando esteve internado. “São 12 imagens trabalhadas com photoshop para lhes retirar a crueza da realidade e do estado físico do trabalho. Essa é a essência do trabalho”, contou.

Depois de muitos anos a trabalhar em fotografia, esta é a primeira vez que António Mil-Homens aposta no auto-retrato desta forma. “Fi-lo há cerca de 30 anos, para a apresentação de uma exposição em Lisboa. Mas digamos que esta é a primeira vez que me exponho, e logo com 12 retratos.”

Gonçalo Lobo Pinheiro, fotojornalista, é outro dos nomes presentes em “Narrativas a Oriente”. “Participo com duas fotografias e uma prosa poética. Posso dizer que foi um grande desafio pois não sou artista, sou fotojornalista, e a minha visão da fotografia não é conceptual. Por isso tive de me abstrair um pouco do meu rumo normal para tentar fazer algo diferente”, apontou.

Além disso, “Narrativas a Oriente” conta ainda com nomes de fotógrafos ou de pessoas que trabalham com fotografia, como Alice Kok, Jason Lei, José Drummond ou Chan Hin Io, entre outros. Estão também incluídas imagens do projecto YiiMa, de Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que estiveram expostas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em 2019.

Aposta ganha

Este projecto nasceu da iniciativa de João Miguel Barros após o encerramento súbito da mostra do World Press Photo, que todos os anos acontecia na Casa Garden. “Percebeu-se que esta exposição não tinha mais futuro em Macau e falei com a Ana Paula Cleto [delegada da FO] para se aproveitar o mês de Outubro para se fazer algo relacionado com a fotografia contemporânea.”

A ideia inicial era apostar numa bienal de fotografia contemporânea em Macau na FO, em alternância com a bienal de mulheres artistas, com base em temáticas como “o problema da identidade e memória”, aproveitando também o “espaço político entre a China e os países de língua portuguesa”. A pandemia obrigou a ajustes no projecto, que levaram à criação desta exposição.

Esta “tem o mérito de juntar as pessoas, mas não é propriamente igual em termos de qualidade”, assegura João Miguel Barros. “Nem isso seria expectável com 20 propostas de pessoas muito diferentes. Temos fotógrafos profissionais, há um caso ou outro em que é visível as raízes de trabalho mais comercial que se misturou com algumas divagações artísticas, mas foi algo que resultou muito bem.”

Para o fotógrafo e advogado, que já fez diversos trabalhos de curadoria, a temática da fotografia contemporânea “está pouco explorada” no território. “Faltava uma exposição com esta dimensão, apenas de fotografia. Não tenho memória de ter visto uma em Macau. Este projecto é inovador no sentido em que apresenta apenas fotografia.”

“Narrativas a Oriente” será também um livro, com design de Henrique Silva, também conhecido como Bibito. “A ideia deste livro é estruturante dos meus projectos, e que vem na lógica da fotografia japonesa, pois privilegio mais a edição do que a exposição. O que fica na memória é o registo”, disse o curador.

Para João Miguel Barros, criar esta mostra é também uma forma de responder a um desígnio que, na sua visão, o Fórum Macau deveria reforçar: o da dinamização cultural entre a China e os países de língua portuguesa.

“Há muitos anos que penso que o facto de o Fórum [Macau] estar aqui, e de a China ter criado este espaço político, criou condições únicas para se desenvolverem projectos. Esse espaço político diminui um risco de instabilidade, é consolidado. Culturalmente era importante desenvolver projectos culturais que abrangessem os países todos à volta do Fórum. A FO podia ser um bom incubador”, sugeriu.

15 Dez 2021

Bienal de Veneza | A memória do colectivo YIIMA em representação de Macau

Depois de uma bem-sucedida exposição no Museu Berardo, em Lisboa, o trabalho do colectivo YIIMA, composto pelos artistas Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, vai representar Macau na Bienal de Veneza 2022. A curadoria está a cargo de João Miguel Barros que tentou transportar as memórias captadas pelo colectivo em sonhos

 

A notícia surpreendeu João Miguel Barros, fotógrafo e advogado, mas deixou-o sobretudo satisfeito pelo enorme reconhecimento que contém. O trabalho do colectivo YIIMA, de Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, exposto em Lisboa em 2019, vai representar Macau na Bienal de Veneza de 2022, mas desta vez com o nome de “A Alegoria dos Sonhos”.

Esta foi a forma que o seu curador, João Miguel Barros, encontrou para ajustar um trabalho que captou as memórias sócio-culturais de Macau e que tem agora de responder à temática da Bienal, “The Milk of Dreams”.

As obras do colectivo YIIMA, constituídas essencialmente por fotografias, em que Ung Vai Meng e Chan Hin Io encarnam a figura de anjos, estiveram expostas, pela primeira vez, no Museu Berardo, mas a adaptação foi agora essencial.

“Quisemos construir uma história que tivesse correspondência com a realidade”, contou João Miguel Barros ao HM. “O trabalho deles ajusta-se muito a este projecto do sonho, porque há sempre dois anjos nas cenas que produzem uma memória e um tempo que querem registar. Com esta alegoria quisemos construir uma ponte entre Macau e Veneza, em que Macau é o ponto de partida e Veneza o ponto de chegada.”

Neste universo comunicacional, o ponto de partida é a “vivência cultural dos lugares e das pessoas, as memórias”, enquanto que a chegada é feita através de um sonho. Veneza passa então “a ser o testemunho de toda esta carga de memória e do património”.

O desafio, segundo João Miguel Barros, passa agora pela instalação e montagem, sujeitos a restrições de espaço, uma vez que no local arrendado pelo Governo de Macau não é possível usar as paredes.

“Além das fotografias em grandes dimensões vamos ter uma estátua grande que vai ter de ser instalada num pedestal, num pátio da casa que foi destinada a Macau. Vamos ter também elementos multimédia e levar vários objectos típicos das famílias chinesas para uma sala, como se fosse um bazar, e que surgem nas fotografias”, explicou o curador. Este bazar vai, na sua perspectiva, “suscitar uma enorme curiosidade” junto do público.

Preservar identidade

O projecto foi um dos 24 que se apresentaram a concurso para a representação da RAEM na Bienal de Veneza e João Miguel Barros considera que “ser um português na equipa que representa Macau é um elemento importante em termos de multiculturalidade que temos de evidenciar” no território.

Para alguém que quer desenvolver ainda mais a carreira como fotógrafo e curador, trata-se de um “desafio muito estimulante no futuro”. Mas João Miguel Barros considera que tanto Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural, como Chan Hin Io mereciam este reconhecimento.

“O trabalho de ambos é de extrema importância e precisa de ser reconhecido em Macau de uma outra forma. É muito sério e muito importante na perspectiva artística, porque tem a fotografia performance, muito planeada pelos dois, com um cenário representado numa performance que dá origem à fotografia final.”

Mas mais do que esta componente, o curador destaca o facto de, com este projecto, se reunirem memórias de Macau que vão aos poucos desaparecendo com o desenvolvimento inevitável do território.

“Há outras componentes que têm de ser avaliadas, mais sociológicas e históricas, na defesa do património cultural material e imaterial. Há muitos anos que ambos fazem um registo apurado e documental, através da fotografia, das enormes e profundas transformações que Macau vai sofrendo ao nível das tradições e dos lugares”, rematou.

28 Set 2021

Curador português João Miguel Barros representa Macau em Veneza

O curador português João Miguel Barros e os artistas de Macau Ung Vai Meng e Chan Hin Io vão representar o território na 59.ª Bienal Internacional de Arte de Veneza 2022, anunciou o Instituto Cultural (IC).

João Miguel Barros nasceu em 1958, em Lisboa. Advogado, é também um curador independente na área da fotografia contemporânea, com trabalho realizado em várias exposições de fotografia em Portugal.

Ung Vai Meng, artista que obteve o doutoramento em Belas Artes pela Academia de Arte da China, participou em vários projetos de arte contemporânea de grande escala em Lisboa e Singapura.

Já Chan Hin Io, é fotógrafo e conta no currículo com diversas exposições individuais em Macau e Portugal.

A proposta de exposição recorre a vários suportes como fotografia, escultura, videoarte, arte performativa” e “dilui as fronteiras entre o sonho e a realidade”, revelando “a abundância, densidade e vivacidade dos recantos de Macau, apresentando a sua memória coletiva e a situação atual”, segundo o júri.

A “Alegoria dos Sonhos” vai ao encontro do tema da 59.ª Bienal, “The Milk of Dreams”, ao conseguir reunir “profundas preocupações humanistas e reflexões sobre o espaço de vivência” e “ao entrelaçar uma visão panorâmica com um olhar pormenorizado”, até porque “a obra eleita disseca a história singular e a miscigenação cultural de Macau”, pode ler-se na nota que justifica a seleção.

O júri analisou 24 propostas de 60 curadores e artistas locais. A “Bienal Internacional de Arte de Veneza” foi criada em 1985 e esta é a sétima vez que Macau participa no evento.

27 Set 2021

Bienal | Quatro fotografias compõem “A Alegoria da Globalização”, de João Miguel Barros

“A Alegoria da Globalização” é o nome do projecto fotográfico de João Miguel Barros seleccionado pelo Instituto Cultural para integrar a “Arte Macau: Bienal Internacional de Macau”, que começa em Agosto. O trabalho feito em Macau, composto por quatro imagens, onde o fogo simboliza um mundo em mudança

 

João Miguel Barros, advogado que tem feito carreira na área da fotografia, é um dos 12 nomes participantes na “Arte Macau: Bienal Internacional de Macau”, com o projecto “A Alegoria da Globalização”, que estará patente em Agosto no Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino.

Ao HM, o fotógrafo falou um pouco deste projecto, composto “por imagens novas que fiz muito recentemente”, e que são “de uma simplicidade atroz”, mostrando “o pavio de quatro velas e um movimento de chamas”.

As fotografias de grande dimensão, que ocupam um espaço de três por 2,5 metros, têm o fogo, importante elemento da cultura chinesa, como símbolo da globalização que vivemos. “Precisava de uma representação alegórica relacionada com a globalização. Esta consegue-se representar através de fotografias documentais, mas não através de uma alegoria. O fogo tem uma força que normalmente é parada pela acção humana, e o vento, outra força muito poderosa, faz com que as chamas tenham representações diferentes. É este movimento que simboliza o avanço e o recuo, e a globalização simbolizada pelas chamas das velas.”

Na rota internacional

João Miguel Barros assume que reconhecimento do IC o “responsabiliza”, lamentando, no entanto, que a fotografia nem sempre esteja ao mesmo nível das outras expressões artísticas. “Continuo a pensar que a fotografia está sempre numa escala inferior, porque é sempre difícil competir com trabalhos de escultura ou pintura, até pelo facto de estas serem sempre peças únicas e a fotografia poder ser reproduzida.”

Quanto à bienal, é um evento importante “para internacionalizar a arte em Macau”, defende o fotógrafo. “É importante internacionalizar Macau como um centro de arte e cultura, porque as indústrias criativas, no modelo em que funciona, não estão a potenciar a criação cultural. Temos pequenas exposições, mas não há uma dinâmica cultural em termos de projecção dos artistas. Às vezes, as coisas são todas muito locais, resumem-se a umas inaugurações e mais ninguém vê.”

Neste sentido, João Miguel Barros entende que “era importante que o Governo investisse na promoção destas iniciativas a nível internacional, nomeadamente apoiando a publicação de artigos promocionais em revistas internacionais”.

O projecto fotográfico e os restantes trabalhos seleccionados vão integrar a exposição “Trabalhos Seleccionados de Artistas Locais”. Estão incluídos nomes como “Corpo da Mãe”, de Cheong I Kuan; “Paraíso” de Fok Hoi Seng; “Pássaro Perdido”, de Ho Weng Chi; “Distraído e desorganizado”, de Ieong Man Pan; “League of journeyers to the east”, de Konstantin Bessmertny; “Não é da minha conta” de Kun Wang Tou; “Isolamento‧Separação”, de Leong Lam Po, “Paisagem da China, N.º 2021” de Mak Kuong Weng; “Foi um ano pesado”, de Sit Ka Kit; “Evolução” de Wong Soi Lon e “Génesis em 700 ecrãs desconhecido_/_”, de Wong Weng Io.

29 Jun 2021

Fotografias de João Miguel Barros conquistam prémio do Instituto Cultural

“Brumas de Macau”, um conjunto de quatro imagens já publicadas na revista “Zine Photo 4” venceram a categoria “Prémio de Obras Especiais” do concurso promovido pelo Instituto Cultural (IC), ligado à “Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau”. Além deste grupo de imagens, foi também seleccionado pelo IC um outro conjunto de quatro imagens, intitulado “Akuapen”, mas que acabou por não conquistar qualquer prémio.

João Miguel Barros disse ao HM que participou nesta iniciativa “sem grandes expectativas”, por considerar que “a fotografia ainda não está suficientemente valorizada como uma categoria artística em exposições genericamente designadas de ‘Artes Visuais’”.

Com um “pequeno valor monetário”, o prémio é valorizado pelo advogado e fotógrafo “porque se trata de um reconhecimento de terceiras pessoas do trabalho que vou fazendo como criador”. “Tem sido essa a minha postura em relação a todos os prémios que tenho recebido ao longo destes últimos três ou quatro anos, de maior e assumida produção artística”.

Nesta categoria de “Prémios de Obras Especiais” foram também escolhidos trabalhos como “Fora do Mundo”, de Lam Sio Hong, ou “Paisagens Diminuídas”, de Kun Wang Tou, entre outros.

Os prémios foram entregues na última quinta-feira, tendo sido distinguidos pelo IC um total de 79 dos 300 projectos apresentados a concurso. Estes cobrem “uma ampla variedade de meios de expressão artística, que vão da pintura, fotografia, gravura, cerâmica, escultura, instalação, vídeo ou criações em interdisciplinaridade”. Algo que mostra “a diversidade e a criatividade do meio artístico local”.

Até Junho

A obra “Animus”, de Lo Hio Ieong, arrecadou o Grande Prémio do Júri, enquanto que “Impressões”, de Sit Ka Kit conquistou o “Prémio Jovem Artista”. “Animus” foi também um dos dez vencedores do “Prémio para Obras Excepcionais”, incluindo o trabalho “SEM TÍTULO #03”, de Ricardo Filipe dos Santos Meireles, entre outros.

A “Exposição Colectiva de Artes Visuais de Macau” pode ser vista até ao dia 13 de Junho no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1 e no Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino.

Segundo o IC, o objectivo desta mostra é revelar ao grande público o trabalho desenvolvido por artistas locais tendo vindo, nos últimos anos, a promover “a criação de artes visuais locais e a identificação de talentos”. Para o IC, esta mostra tornou-se “num evento cultural icónico no sector das artes visuais e numa plataforma para os artistas de Macau mostrarem o seu talento e criatividade”.

4 Mai 2021

Fotografia | João Miguel Barros lança novo livro e planeia abrir uma galeria em Lisboa

É o primeiro fotógrafo português com trabalho na Photo London Academy Publication sobre o seu trabalho. “João Miguel Barros – A Photo London Academy Publication” é o nome do livro baseado nesta monografia e o lançamento acontece na Livraria Portuguesa na próxima terça-feira, dia 23. João Miguel Barros refere que este “é um momento cuja importância vai além dos prémios” que já ganhou. Na calha está a abertura da galeria de fotografia contemporânea Ochre Space

 

Há quatro anos João Miguel Barros, advogado, realizava a sua primeira exposição individual de fotografia no espaço Creative Macau. Mal sabia que estava lançado o primeiro passo para uma carreira alternativa à advocacia. As suas fotografias já foram premiadas em vários concursos internacionais, mas um novo reconhecimento chegou recentemente, com a publicação de uma monografia pela Photo London Academy sobre o seu trabalho.

É o primeiro fotógrafo português a ver o seu trabalho distinguido por esta entidade, o que levou João Miguel Barros a transformar esta monografia em livro. “João Miguel Barros – A Photo London Academy Publication” será lançado na próxima terça-feira, dia 23, na Livraria Portuguesa. No mesmo evento, intitulado “Prestação de contas”, será também inaugurada uma exposição com imagens do autor.

“Este é um momento cuja importância vai além dos prémios que ganhei nos últimos anos”, confessou ao HM. “O convite que me foi feito no ano passado para o meu trabalho ser incluído nas monografias da Photo London deixou-me surpreso, porque não conhecia a curadora deste projecto editorial, nem ninguém que especialmente me recomendasse. Soube depois que o meu trabalho foi reconhecido pela exposição que fiz no Museu Berardo, em Lisboa.”

O fotógrafo destaca o facto de a Photo London estar “num patamar muito elevado”, além de ter “uma enorme credibilidade no mercado da arte e fotografia em especial”. “É um sinal de reconhecimento que tenho de valorizar. Não posso esconder que é algo que me deixa orgulhoso e me responsabiliza ainda mais”, adiantou.

Lúcia Lemos, directora da Creative Macau, estará presente no lançamento do livro para assinalar a primeira exposição de João Miguel Barros. “Na altura disse, numa entrevista, que tinha dez anos para fazer coisas que pudessem ser significativas na fotografia. Dez anos não é muito tempo mas para mim, que comecei muito tarde, todo o tempo conta. Têm sido quatro anos de grande actividade, não só na criação mas também na curadoria. Levei a Portugal já quatro artistas chineses e um austríaco.”

Neste período, o fotógrafo assume ter vindo a construir “uma reputação, um caminho”. “Fico contente por perceber que muito do meu trabalho é já reconhecido, pelas temáticas e pelas características que tenho dado às fotografias, assentes num preto e branco bastante contrastado”, referiu.

Os novos projectos

João Miguel Barros tem novas ideias na manga. Uma delas é a exposição sobre o trabalho de Daido Moriyama, outra é a abertura de uma galeria de fotografia em Lisboa, adiada devido à pandemia.

“Comprei um espaço em Lisboa, junto ao Palácio da Ajuda, a que chamei Ochre Space, e onde pretendo instalar um pequeno centro de fotografia contemporânea. Esse espaço terá várias vertentes que se complementam: uma galeria de arte, uma livraria e uma editora especializadas em fotografia.”

A par disto será lançada a “Ochre Editions”, que terá o papel principal de publicar as imagens de Barros e de outros fotógrafos, tal como já acontece com a publicação Zine Photo. “Um dos projectos é o de estabelecer uma ligação privilegiada entre a criação e produção artística portuguesa e a asiática, em especial da China e do Japão, que são áreas geográficas que vou começando a conhecer. O projecto Ochre Space será a minha âncora institucional para tudo o que quero fazer”, concluiu.

A galeria Ochre Space será “um desafio enorme”, por se tratar não apenas de uma base para a produção artística e cultural mas também “uma aposta para criar uma marca que seja significativa no reconhecimento da fotografia como expressão artística e que possa servir de plataforma de afirmação de jovens artistas e de divulgação em Portugal de outros já consagrados”.

Mesmo com todas estas iniciativas, João Miguel Barros não esquece o trabalho fotográfico que começou no Gana. “Quero concluir a minha série Ghana Stories, que ocupou já 4 dos 5 números publicados da Zine Photo. E terminar o projecto do boxe com o Emmanuel Danso.”

19 Fev 2021

Fotografia | Dois portugueses distinguidos em Tóquio

Dois fotógrafos portugueses residentes de Macau foram distinguidos no Prémio Internacional de Fotografia de Tóquio. João Miguel Barros recebeu dois prémios (prata), foi ontem divulgado. O português garantiu, além de duas menções honrosas com o projecto “Jamestown”, dois prémios ‘silver’ (prata) com o trabalho “Akuapem”, em outras tantas categorias: Editorial/Desporto e Editorial/Ensaio Fotográfico.

“O meu trabalho voltou a ser distinguido este ano”, salientou João Miguel Barros, cujo trabalho “Akuapem” retrata “o Festival tradicional de Odwira (…) celebrado em Akuapem, Gana, integrando múltiplas atividades culturais, religiosas e tradicionais (…) entre elas, o boxe”, com o trabalho a incluir “dois conjuntos de imagens de vários combates que decorrem nessa ocasião numa praça pública cheia de gente”. Outro português, Gonçalo Lobo Pinheiro, obteve também duas menções honrosas pela reportagem fotográfica sobre lares de idosos em Macau durante a pandemia de covid-19.

4 Fev 2021

Fotografia | Quarta edição da revista Zine Photo dedicada aos lugares de Macau 

A última edição da revista Zine Photo, um projecto fotográfico de João Miguel Barros, foca-se totalmente em Macau. Sempre a preto e branco, é uma revista “mais focada nos lugares, ainda que não esquecendo as pessoas”. O território poderá voltar a ser objecto de uma nova edição a sair no próximo ano, diz o criador do projecto

 

[dropcap]O[/dropcap] quarto número da revista de fotografia Zine Photo, projecto de João Miguel Barros, sai no mês que vem e é inteiramente dedicada a uma Macau a preto e branco e aos seus lugares peculiares. Este é o número que se chama apenas “Macao” e que se aponta menos para as pessoas.

“Independentemente do lado estético da fotografia, há o seu conteúdo. E é aí que esta Zine Photo pode ser diferente das anteriores, que eram mais emocionais, que tinham a possibilidade de suscitar uma adesão mais rápida devido ao lado essencialmente humano que transmitem. A Zine Photo #04 é mais agreste, mais focado em lugares, ainda que não esquecendo as pessoas. As pessoas comuns, e não as glamorosas das páginas cor de rosa, que são aquelas que têm um potencial de riqueza nas histórias que podem contar”, contou João Miguel Barros ao HM.

A nova edição da Zine Photo é sobre uma Macau “que não é o mundo da perfeição, porque a realidade não se ajusta apenas com leis, regulamentos e disciplina”. Há, também, “um lado diferente, que é exótico para quem aqui chega pela primeira vez mas para quem, como eu, já aqui vive há algumas décadas, fere por vezes o olhar. E, para o bem ou para o mal, a minha ‘elaboração mental’ força-me a tentar conseguir imagens fortes daquilo que tenho perante mim”, conta o fotógrafo e curador.

João Miguel Barros reconhece que a utilização do preto e branco “dramatiza”, mas essa constitui “uma forma de arte e de estar na fotografia”. “Foi uma estética que adoptei. Mas para ser coerente e rigoroso tenho de me esforçar por olhar com os meus olhos e não com os olhos dos outros. E nem sempre é fácil esse exercício tal a força dos media, das redes sociais e da globalização, que teimam em impor o ‘belo’, o bonitinho”, frisou.

A quarta edição da Zine Photo é “uma aproximação a um trabalho maior sobre Macau que, neste momento, já tem umas dezenas de imagens seleccionadas”. João Miguel Barros teme que este “não seja um trabalho consensual”, citando Ansel Adams: “There are always two people in every picture: the photographer and the viewer.” Isto porque “não há unanimidades na avaliação de uma imagem, por muito impactante que seja”.

Para realizar esta edição, João Miguel Barros inspirou-se em dois projectos recentes nos quais esteve envolvido, um deles como curador, como é o caso da exposição YiiMa, com trabalhos de Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, e que esteve patente no Museu Berardo, em Lisboa, com trabalhos “que mostram Macau de uma forma única e inigualável”. A exposição do fotógrafo austríaco Andreas Bitesnich, “Deeper Shades”, que incide sobre cidades, foi outro dos impulsos que ajudou a dar corpo ao projecto.

Outra a caminho

O lançamento do projecto Zine Photo previa quatro edições este ano, mas a iniciativa não se fica por aqui. “O trabalho mais fácil sobre Macau está quase feito, apenas precisa de ir sendo actualizado. O trabalho mais difícil é aquele que me motiva a continuar e a não dar por terminado este projecto sobre Macau, que deverá merecer a publicação de uma outra Zine sobre a cidade e as suas gentes daqui a um ano, ou talvez na altura da edição do Festival Literário de Macau de 2022”, confessou João Miguel Barros.

O fotógrafo, que é também advogado, assume que “o trabalho mais difícil é entrar na intimidade das pessoas, daquelas que vivem na penumbra, que sofrem e que não são tocadas pelas luzes do deslumbramento que a cidade provoca e promove, com os seus casinos e luxos vários”.

A Zine Photo é, também, um reflexo desse outro lado. “A vida em Macau rola muito para além dessa máquina de vender ilusões. E é a esse ‘outro lado’ que me seduz e atrai, ao qual eu quero tentar chegar. Só então poderei dar como terminado o meu projecto sobre esta cidade que me acolheu há mais de trinta anos”, rematou.

Esta edição chega “em tempos de pandemia e muitas incertezas”, sempre “com trabalhos próprios, como se fossem fascículos de um trabalho maior”. João Miguel Barros confessa que sempre tem resistido a fotografar Macau “numa perspectiva mais sistemática e tendo como objectivo a publicação”.

Uma posição que mudou nos últimos anos. “Decidi avançar com essa ideia, quebrando o bloqueio que sempre tive de não conseguir olhar de forma descomprometida, curiosa, mas também crítica, para o que me rodeia.”

Para o fotógrafo, “as rotinas castram a imaginação”, pois “passar todos os dias pelos mesmos lugares banaliza o olhar”. É daí, defende, que surge a influência das “imagens bonitas que servem para promover o turismo que nos enchem a imaginação e os sonhos”. “A pergunta que surge é de imediato: mas Macau é isto?”, questiona. A nova edição da Zine Photo diz-nos que não.

24 Set 2020

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros distinguidos nos Paris Photo Awards

Os trabalhos fotográficos de Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros foram distinguidos na edição deste ano dos Paris Photo Awards. O projecto “Jamestown”, feito no Gana, deu a João Miguel Barros o primeiro prémio de ouro na categoria “Press/Other”. A covid-19 em Macau e os protestos em Hong Kong deram a Gonçalo Lobo Pinheiro duas menções honrosas

 

[dropcap]O[/dropcap]s fotógrafos portugueses Gonçalo Lobo Pinheiro e João Miguel Barros, radicados em Macau, viram o seu trabalho distinguido nos Paris Photo Awards (PX3). Os resultados da edição deste ano dos prémios foram ontem publicados.

No caso de João Miguel Barros, o projecto “Jamestwon”, fotografado em Acra, capital do Gana, venceu o primeiro prémio de ouro na categoria de “Press/Other (non-professional)”. Trata-se de um projecto fotográfico feito em Jamestwon, nome de um bairro de Acra onde a pesca é ainda um modo de vida e de sobrevivência para muitas famílias.

Numa nota publicada no website dos prémios PX3, lê-se que “o lugar, construído sob um aglomerado de centenas de moradas que formam um informal bairro de lata, é um microcosmos de vida onde apenas se entra com as pessoas certas”. “As imagens seleccionadas focam-se na actividade destes pescadores durante a época baixa, uma pausa importante para eles tomarem conta das ferramentas necessárias para o seu trabalho”, acrescenta a mesma nota.

O trabalho de João Miguel Barros foi ainda distinguido com quatro menções honrosas, uma delas atribuída ao projecto “Akuapem”, também feito no Gana. Todos os anos, no mês de Setembro, acontece o tradicional festival Odwira em Akuapem, no Gana. No website do PX3 lê-se que é um festival que abarca “múltiplas actividades culturais, religiosas e tradicionais”, onde o boxe também se destaca.

“Este projecto inclui dois grupos de imagens de várias lutas ocorridas junto a uma praça cheia de pessoas. O primeiro consiste em imagens que foram recicladas e transformadas numa narrativa abstracta que revela os movimentos e dinâmicas da luta. O segundo grupo ilustra de forma perceptível alguns detalhes das pessoas que viram e que vibraram com as diversas lutas”, lê-se.

Os PX3 distinguiram também o projecto “Buddhism faith” (categoria Press/Travel/Tourism), sobre templos em Macau, “Net” (categoria Press/Sports) e “Monk” (categoria Press / Travel /Tourism).

Numa nota enviada às redacções, João Miguel Barros destaca o facto de esta ser a primeira vez que recebe o primeiro prémio de ouro. “Não é a primeira vez que o meu trabalho foi reconhecido no PX3. Em 2018 foi atribuído o segundo lugar de bronze na categoria “Press/Sport” (Non-Profissional) ao projecto “Blood, Sweat & Tears”, relacionado com o projecto do boxe centrado na figura do Emmanuel Danso. Em 2019 foi atribuído outro segundo lugar de bronze, na categoria Portrait /Children Non-profissional, à fotografia que faz a capa da Zine.Photo #03. Chama-se “Child’s Dream”. Este ano, enfim, um ‘Gold’, com ‘Jamestown’”.

Covid-19 e Hong Kong

Gonçalo Lobo Pinheiro, fotojornalista radicado em Macau, viu o seu projecto ligado aos cuidados prestados à terceira idade em tempos de covid-19 obter uma menção honrosa na categoria Press/Feature Story. As imagens foram capturadas no lar da Santa Casa da Misericórdia de Macau.

A reportagem fotográfica dos protestos de Hong Kong de 2019 também foi distinguida na categoria Press / General News. “Esta história foi feita no dia 1 de Outubro, Dia Nacional da República Popular da China. Em Hong Kong este dia tornou-se num dos mais violentos e os protestos começaram a espalhar-se por todo o território. Há uma Hong Kong antes e depois deste dia. Este foi o dia em que “os manifestantes confundiram a polícia, entraram em centros comerciais e barricaram-se em universidades”. “O problema de Hong Kong não tem fim à vista”, acrescenta a nota publicada no website do PX3.

Ao HM, Gonçalo Lobo Pinheiro declarou que “as menções honrosas no PX3 são muito importantes, pois trata-se de um concurso com alguma notoriedade, tanto na vertente amadora como na profissional, que é naquela que concorro”.

“O facto de os prémios terem incidido em duas reportagens de dois principais eventos mundiais dos últimos dois anos – uma sobre os protestos de Hong Kong e outra sobre a Covid-19 -, deixa-me ainda mais satisfeito. É a terceira vez que sou agraciado nestes prémios (2017, 2018 e agora)”, acrescentou o fotojornalista, que trabalhou no HM, onde foi jornalista e editor.

“O caminho faz-se caminhando e continuo a percorrer o meu caminho sem prejudicar ninguém. Desejo as maiores felicidades a todos os vencedores, em especial ao Rui Caria, Luís Godinho, Alexandre Manuel Viegas e João Miguel Barros, pela amizade. Obrigado ao júri do PX3 por ver qualidade no meu trabalho”, rematou.

10 Set 2020

Fotografia | João Miguel Barros lança publicação periódica com o seu trabalho

A influência japonesa sobre a persistência da memória publicada levou o fotógrafo embarcar no projecto Zine.Photo. A apresentação da zine de João Miguel Barros está agendada para esta terça-feira, na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap]O[/dropcap] fotógrafo e advogado João Miguel Barros vai lançar uma publicação periódica designada Zine.Photo, com o objectivo de mostrar os seus trabalhos. O evento está agendado para as 18h30, na Fundação Rui Cunha, e a publicação inspira-se nas zines, ou seja revistas feitas por fãs em casa. Os dois primeiros números focam as obras desenvolvidas pelo fotógrafo durante algumas várias viagens ao Gana, que denomina de Gana Stories.

“As zines são publicações mais precárias e muitas vezes feitas em condições menos favoráveis, como, por exemplo, com o recurso para a impressão a fotocopiadoras que as pessoas têm em casa”, começou por explicar João Miguel Barros, ao HM. “Com inspiração nesta vertente do trabalho mais artesanal e de autor decidi começar a publicar uma zine com histórias, imagens e trabalhos meus”, complementou.

A Zine.Photo vai ser publicada a cada quatro meses com uma tiragem de 300 exemplares, mas ao contrário do contexto original, que apostava muitas vezes em papel de fotocopiadora, a qualidade desta zine está muito distante do modelo tradicional. “Pensei neste conceito que fica a meio caminho de ser um livro, uma vez que a qualidade de impressão é excelente e a revista tem um acabamento quase artesanal, por contraste à produção industrial. A revista é cosida com máquina com ponto curto e há todo um cuidado muito apurado desde a fase do design à impressão da revista”, revelou o fotógrafo. “Além das histórias contadas na zine, houve a intenção de fazer com que seja um produto muito apetecível em si, que até pode ser entendido como coleccionável”, esclareceu.

O primeiro número da Zine.Photo ficou pronto em Janeiro, mas a pandemia da covid-19 levou a que o lançamento oficial fosse adiado. Por esse motivo, na terça-feira a ocasião vai servir para apresentar os dois números iniciais. O primeiro tem como tema “histórias a preto e branco” e o segundo “Jamestown”, nome de uma zona piscatória na cidade de Accra, no Gana.

Favela à beira-mar

O volume sobre a zona piscatória ganesa acaba por ser o resultado não só dos contactos de João Miguel Barros no país africano, mas também da insistência e vontade de visitar a zona, como o próprio reconhece.

“Na primeira vez que visitei o Gana não entrei em Jamestown por não sentir que fosse seguro até porque era barrado em cada esquina”, contou. “Estamos a falar de um lugar de difícil acesso. À segunda vez [em Setembro do ano passado] consegui entrar porque estava bem acompanhado”, reconheceu.

Nos últimos anos, o advogado esteve cerca de quatro vezes no Gana para fotografar, e acabou envolvido num projecto pessoal para renovação de uma escola. Foram esses contactos que acabaram por permitir a entrada em Jamestown, onde encontrou uma favela piscatória.

“Jamestown começou como uma vila piscatória que foi crescendo a partir do mar até se tornar numa espécie de favela. Mas além de um certo aspecto, não tem nada a ver com o Brasil”, considera. “A minha visita foi muito interessante porque estive em Jamestown numa altura de recolha dos barcos, ou seja quando não vão para o mar o que fez com que houvesse dezenas de embarcações atracadas. Um aspecto muito engraçado é que têm sempre bandeiras de várias nacionalidades nos mastros. Algumas até têm bandeiras dos clubes de futebol brasileiros”, partilhou.

Influências japonesas

Se a dedicação à fotografia levou João Miguel Barros ao Gana, a verdade é que a grande influência no seu trabalho e para a zine mora no Japão. Foram as influências nipónicas que levaram o também advogado a optar por publicar as fotografias, em vez de apresentar o seu trabalho numa exposição.

“Quem começa a investir muito na produção de imagens como forma de contar histórias, como é o meu caso, tem sempre de fazer uma opção: ou conta as histórias em exposições ou publica-as em livro”, afirmou.

“Como sou mais influenciado pelo que é feito no Japão, por via de alguma reflexão sobre os trabalhos de alguns fotógrafos japoneses, escolhi publicar. Os artistas nipónicos costumam publicar mais do que expor, devido a um certo conceito de que a publicação tem uma maior durabilidade em termos de memória em comparação com as exposições”, justificou.

Entre a fotografia nipónica, João Miguel Barros aponta o fotógrafo Daido Moriyama, que também só capta imagens a preto e branco, e a revista Provoke como as principais influências. “Daido Moriyama é uma referência mundial para muita gente que faz fotografia de rua. A sua fotografia, assim como a revista Provoke, da qual só se publicaram três números, acabou por ter um grande impacto no Japão”, contou. “Houve uma quebra com um estilo de fotografia mais certinha e tradicional, que se fazia anos 50 e 60, e começaram a aparecer fotografias tremidas, violentas, algumas mais eróticas, numa lógica de estética muito diferente do que se fazia até essa altura”, explicou.

A apresentação na Fundação Rui Cunha da Zine.Photo está marcada para esta terça-feira, às 18h30, e vai servir igualmente para lançar a revista Stare, ligada a Mica Costa-Grande. Os lançamentos vão ser o ponto de partida para uma conversa de fotografia entre os dois, que vai ter como moderador Ricardo Pinto.

18 Mai 2020

Macau e o futuro

Por João Miguel Barros, advogado

 

[dropcap]1.[/dropcap] 20 anos depois da transição não é necessário ser-se profeta para se perceber que estamos a meio do caminho para a integração efectiva de Macau na China. Aliás, o projecto da Grande Baía é, em si mesmo, um pretexto excelente de atenuação de diferenças a justificar que, cumpridos os 50 anos de período de transição, se entre na fase da tranquilidade institucional e política.

“Amar Macau, amar a Pátria” é um slogan válido em 2019, como o será em 2049. Mas é um slogan com variantes equivalentes: ”Amar Guangdong, amar a Pátria”. Ou “Amar Hubei, amar a Pátria”, ou “Amar Fujian, amar a Pátria”. E assim sucessivamente para as 22 províncias chinesas e as 5 regiões autónomas.

 

2. Não é preciso ser-se profeta para se perceber que a partir de 2049 Macau deixará de ser uma região administrativa autónoma e será, quanto muito, uma região autónoma. Livre de compromissos assumidos pelo tratado assinado com Portugal, a China não deixará de cumprir em pleno o seu desígnio de unificação de todas as “unidades” chinesas. Sobrará, talvez, Taiwan, mas essas são contas que não cabem nesta breve e simplificada reflexão.

“Um país, dois sistemas” é a fórmula mágica que tem servido para tudo.
Serviu inteligentemente para a abertura económica da China nos idos anos 70 do século passado. Serviu depois para dar o mote às negociações sobre a transição política de Macau e Hong Kong. Serve actualmente para mostrar a boa fé chinesa em relação ao futuro das duas cidades. E servirá para alimentar a alma dos cegos!

Dúvidas não há sobre o sentido de “Um país”. Mas o sistema de pesos e contrapesos em relação aos “dois sistemas” é de medida variável, e é ajustável às conjunturas económicas e políticas do momento.
Esse sentido único de integração plena é natural, inquestionável e legítimo.

3. Os regimes autocráticos, geridos por partido único, exercem o poder de forma efectiva a partir das decisões políticas e judiciais, tendo como pressuposto garantir três princípios fundamentais: ordem, autoridade e hierarquia.

Quem olhar com cuidado para a evolução do discurso político e para a praxis político/administrativa de Macau verá que o sentido é o de aproximação aos valores tradicionais de Pequim. Aliás, por alguma razão o homem forte da governação tem sido, pelo menos até agora, o Secretário da Segurança, que até decide, sem escrutínio nem justificação pública, quem entra, ou não, em Macau. E é da sua área que tem saído o grosso dos diplomas legislativos que garantem a ordem e o controlo da sociedade, restabelecendo o caos social e a criminalidade que existia nos últimos anos da governação portuguesa (qualificação feita pelo Secretário da Segurança em entrevista recente).

Por outro lado, quem estudar com cuidado e detalhe a jurisprudência dos tribunais de Macau perceberá que há um núcleo duro de decisões que nunca contraria o sistema, e o sustenta. Aliás, se dúvidas houvesse sobre essa praxis bastaria ler a entrevista ao Presidente no Tribunal de Última Instância publicada no Diário do Povo (citado em Hoje Macau, de 16.12.2019) quando afirma que “a função dos tribunais é manter a estabilidade social”. Note-se que não é aplicar a lei, mesmo que ela contrarie a “ordem, ou a autoridade, ou a hierarquia”! O que importa, vinque-se, é “manter a estabilidade social”, fazendo a necessária interpretação da lei que garanta os princípios de funcionamento do sistema.

As declarações do Presidente do Tribunal de Última Instância são perigosas e incompatíveis com os princípios de total independência do sistema judicial, tal como os configuramos à luz da matriz portuguesa adoptada. Mas nós estamos em Macau, num processo paulatino de absorção dos valores e princípios da China e, portanto, sobre essa matéria, só tem ilusões quem não quiser ver!
Mais uma vez, e sem pinga de ironia: tudo isto é normal e legítimo, até necessário, na lógica do processo de integração plena na mãe pátria chinesa.

4. Nós portugueses (quer na seja na variante de expatriados, quer seja na variante macaense, dos nascidos na terra) não temos de esperar privilégios no futuro que Macau está a construir. Provavelmente não se percebe, até, porque é que eles teriam de existir.

As regras são cada vez mais claras e os sinais evidente. Sim, acreditar no futuro, só que ele não será construído no respeito efectivo pelas diferenças das comunidades, nem no respeito pelo passado português.

E a famosa “identidade de Macau” é um conceito que tenderá a esbater-se com o tempo até passar a uma ideia a ser incluída, quanto muito, apenas nos manuais de História.

A Comunidade Macaense está em declínio acentuado e tenderá a perder o sentimento de pertença a uma terra que já não reconhece como sendo a sua. E em 2049 as novas gerações de macaenses terão laços efectivos e emocionais a outras realidades socioculturais, perdendo os seus traços identitários.

A língua portuguesa será, por sua vez, uma espécie em vias de extinção e um ornamento na toponímia de Macau.
Olhemos, mais uma vez, a realidade dos tribunais (em 2019) e as afirmações do Presidente do TSI, segundo a mesma notícia de jornal: “Sam Hou Fai tem tido como prioridade o domínio da língua chinesa nas decisões dos tribunais. Na entrevista, elogiou os resultados alcançados. Segundo o juiz, desde 1999 os tribunais têm feito o esforço para que o chinês seja a língua oficial da justiça e que por isso mais de 70 por cento das decisões são nessa língua”.

Não vai ser preciso esperar muito para que essa percentagem aumente significativamente: basta saírem do sistema os juízes portugueses. São eles que, provavelmente, ainda garantem os 30% de decisões em língua portuguesa. Isto porque mesmo mantendo-se em actividade advogados portugueses não falantes da língua chinesa, esses já quase nada contam para a ponderação da utilização da língua portuguesa nos tribunais!

5. A especificidade do sistema jurídico de Macau não está garantida para o futuro, por mais juras que se façam e artigos da Lei Básica que se invoquem.

A Grande Baia tenderá a uniformizar procedimentos, mesmo judiciários. E Macau, como bom aluno que é e sempre será, é o parceiro ideal para provar que essa integração é possível. Basicamente por uma razão: porque a matriz do direito existente é a continental, assente na codificação das leis, a mesma da China, e muito diferente da estrutura legal de Hong Kong, assente no precedente judiciário.

É evidente e inquestionável que existe uma diferença enorme entre a praxis judiciária de Macau e a da China. E isso acontece porque a cultura das profissões judiciárias é (ainda) estruturalmente diferente. Mas o tempo irá fazendo o seu caminho e os extremos tenderão a aproximar-se. E o pragmatismo chinês conseguirá encontrar, com segurança, um ponto de equilíbrio nesse processo de absorção do sistema judiciário de Macau pelo sistema dominante na Grande Baía.

6. Tudo somado, não é preciso ser-se profeta, e muito menos da desgraça, para se perceber que o caminho está traçado há muito e que a sua execução se mede por uma unidade tempo que não é igual à dos ocidentais. É uma inevitabilidade. Talvez uma virtude. Mas seguramente um caminho normal e positivo para a China que conseguirá alcançar, depois de cumprido com o rigor possível o processo de transição, o legítimo desígnio de “Um país, um sistema”.

20 Dez 2019

Museu Berardo | Lisboa recebe exposição de Ung Vai Meng e Chan Hin Io

Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io decidiram formar o colectivo YIIMA, que se dedica a captar lugares e memórias de Macau que deixaram de existir pela força do desenvolvimento económico e dos novos tempos. A exposição é inaugurada a 6 de Novembro no Museu Berardo, em Lisboa, e conta com a curadoria de João Miguel Barros

 
[dropcap]S[/dropcap]ão 40 obras expostas em cinco salas do Museu Berardo, em Lisboa, que revelam aquilo que Macau ainda agora deixou de ser. Guilherme Ung Vai Meng, artista conceituado em Macau, conhecido sobretudo pelo desenho, ex-presidente do Instituto Cultural, juntou-se a Chan Hin Io, que trabalha sobretudo em fotografia documental, e decidiram fundar o colectivo YIIMA.
Este colectivo mostrou, recorrendo à fotografia, vídeo ou instalação, os lugares históricos de Macau que as novas gerações vão deixar de poder ver de perto. João Miguel Barros, ele próprio fotógrafo e curador desta mostra, resolveu dar-lhe o nome de “(Des)Construção da Memória”, por ela não “registar a memória de um tempo linear e cronológico”.
“Não é, tão-pouco, o desfilar de uma memória construída a partir de factos sistematizados, que permita revisitar a história de modo estruturado ou científico. É, antes, uma forma de os artistas olharem livremente o passado, confortavelmente instalados no presente”, escreveu o curador sobre a exposição.
Ao HM, João Miguel Barros revelou que foi a amizade com Guilherme Ung Vai Meng que o fez conhecer de perto estas obras. “São trabalhos que incidem numa recolha de situações de Macau mas trabalhadas numa perspectiva artística.”
“A grande preocupação dos dois tem a ver com o património e a memória de Macau, a identidade cultural e o desaparecimento de muitos elementos culturais e urbanísticos do território. Quando perceberam as grandes transformações a que Macau tem estado sujeito, os dois artistas foram fazendo um registo desses lugares para que não se perdessem, fazendo uma base de dados de todos os elementos que estavam nesses locais”, acrescentou o curador.
O “antes e depois” destes lugares não ficou registado apenas em fotografia documental, mas através da realização de performances artísticas ou vídeos. A “(Des)Construção da Memória” apresenta “uma mistura completamente diferente, com uma particularidade”, aponta o curador.
“Em todas as fotografias tanto Ung Vai Meng como Chan Hi Io surgem vestidos de anjo como sendo protagonistas do momento. Estas fotografias são o resultado de uma preparação muito intensa. Vamos também ter os desenhos feitos por Ung Vai Meng antes das fotografias terem sido tiradas”, frisou o curador.

Celebrar Macau e China

Esta mostra visa comemorar não apenas os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, mas também os 40 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre China e Portugal.
Para João Miguel Barros, “há aqui uma forte carga simbólica”, além de considerar esta exposição importante porque “recupera memórias de Macau”. “Se não fosse este trabalho que os dois autores têm vindo a fazer, estavam perdidas”, assegura João Miguel Barros, que destaca também o facto de se tratar de um “trabalho inédito”.
A exposição “(Des)Construção da Memória” está estruturada em cinco partes: “Memória”, “Ritualismo”, “Leveza”, “Cerimónia” e “Paraíso”. De acordo com o prefácio escrito por Ung Vai Meng e Chan Hin Io, constante no catálogo da exposição, as imagens que fazem parte da secção “Memória” são “delicadas e historicamente mais sensíveis”, incluindo “cenas da realidade social e de reconstrução de acontecimentos passados de Macau”.
Em “Ritualismo” existe um “espaço de memória constituído por fotografias que têm como denominador comum estruturas de bambu”. Nesta parte da exposição, uma grande escultura de bambu que representa a síntese entre o túmulo octogonal existente no Mosteiro da Batalha e o estilo típico do pavilhão chinês.
Na secção “Leveza” apresenta-se um vídeo realizado numa sala secreta da cidade antiga de Macau. Em “Cerimónia”, apresentam-se “imagens registadas num espaço anteriormente utilizado pela indústria e pelo comércio marítimo, e que agora se encontra esquecido e abandonado”.
Finalmente, “Paraíso” constitui “o núcleo mais relevante desta exposição”, por conter obras que “retratam o mundo original de pessoas comuns e que foram pensadas com um propósito especial, uma vez que o interior de cada um dos espaços seleccionados está repleto de símbolos e objectos existentes no concreto tempo em que a acção foi registada”.
No final da sala de exposições, está exposto um gigantesco trabalho realizado no antigo Tribunal Judicial de Macau, para que os visitantes possam pensar e debater questões como “pátria espiritual”, “libertação” e “vazio”, apontam os artistas.

24 Out 2019

Museu Berardo | Lisboa recebe exposição de Ung Vai Meng e Chan Hin Io

Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io decidiram formar o colectivo YIIMA, que se dedica a captar lugares e memórias de Macau que deixaram de existir pela força do desenvolvimento económico e dos novos tempos. A exposição é inaugurada a 6 de Novembro no Museu Berardo, em Lisboa, e conta com a curadoria de João Miguel Barros

 

[dropcap]S[/dropcap]ão 40 obras expostas em cinco salas do Museu Berardo, em Lisboa, que revelam aquilo que Macau ainda agora deixou de ser. Guilherme Ung Vai Meng, artista conceituado em Macau, conhecido sobretudo pelo desenho, ex-presidente do Instituto Cultural, juntou-se a Chan Hin Io, que trabalha sobretudo em fotografia documental, e decidiram fundar o colectivo YIIMA.

Este colectivo mostrou, recorrendo à fotografia, vídeo ou instalação, os lugares históricos de Macau que as novas gerações vão deixar de poder ver de perto. João Miguel Barros, ele próprio fotógrafo e curador desta mostra, resolveu dar-lhe o nome de “(Des)Construção da Memória”, por ela não “registar a memória de um tempo linear e cronológico”.

“Não é, tão-pouco, o desfilar de uma memória construída a partir de factos sistematizados, que permita revisitar a história de modo estruturado ou científico. É, antes, uma forma de os artistas olharem livremente o passado, confortavelmente instalados no presente”, escreveu o curador sobre a exposição.

Ao HM, João Miguel Barros revelou que foi a amizade com Guilherme Ung Vai Meng que o fez conhecer de perto estas obras. “São trabalhos que incidem numa recolha de situações de Macau mas trabalhadas numa perspectiva artística.”

“A grande preocupação dos dois tem a ver com o património e a memória de Macau, a identidade cultural e o desaparecimento de muitos elementos culturais e urbanísticos do território. Quando perceberam as grandes transformações a que Macau tem estado sujeito, os dois artistas foram fazendo um registo desses lugares para que não se perdessem, fazendo uma base de dados de todos os elementos que estavam nesses locais”, acrescentou o curador.

O “antes e depois” destes lugares não ficou registado apenas em fotografia documental, mas através da realização de performances artísticas ou vídeos. A “(Des)Construção da Memória” apresenta “uma mistura completamente diferente, com uma particularidade”, aponta o curador.

“Em todas as fotografias tanto Ung Vai Meng como Chan Hi Io surgem vestidos de anjo como sendo protagonistas do momento. Estas fotografias são o resultado de uma preparação muito intensa. Vamos também ter os desenhos feitos por Ung Vai Meng antes das fotografias terem sido tiradas”, frisou o curador.

Celebrar Macau e China

Esta mostra visa comemorar não apenas os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, mas também os 40 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre China e Portugal.

Para João Miguel Barros, “há aqui uma forte carga simbólica”, além de considerar esta exposição importante porque “recupera memórias de Macau”. “Se não fosse este trabalho que os dois autores têm vindo a fazer, estavam perdidas”, assegura João Miguel Barros, que destaca também o facto de se tratar de um “trabalho inédito”.

A exposição “(Des)Construção da Memória” está estruturada em cinco partes: “Memória”, “Ritualismo”, “Leveza”, “Cerimónia” e “Paraíso”. De acordo com o prefácio escrito por Ung Vai Meng e Chan Hin Io, constante no catálogo da exposição, as imagens que fazem parte da secção “Memória” são “delicadas e historicamente mais sensíveis”, incluindo “cenas da realidade social e de reconstrução de acontecimentos passados de Macau”.

Em “Ritualismo” existe um “espaço de memória constituído por fotografias que têm como denominador comum estruturas de bambu”. Nesta parte da exposição, uma grande escultura de bambu que representa a síntese entre o túmulo octogonal existente no Mosteiro da Batalha e o estilo típico do pavilhão chinês.

Na secção “Leveza” apresenta-se um vídeo realizado numa sala secreta da cidade antiga de Macau. Em “Cerimónia”, apresentam-se “imagens registadas num espaço anteriormente utilizado pela indústria e pelo comércio marítimo, e que agora se encontra esquecido e abandonado”.

Finalmente, “Paraíso” constitui “o núcleo mais relevante desta exposição”, por conter obras que “retratam o mundo original de pessoas comuns e que foram pensadas com um propósito especial, uma vez que o interior de cada um dos espaços seleccionados está repleto de símbolos e objectos existentes no concreto tempo em que a acção foi registada”.

No final da sala de exposições, está exposto um gigantesco trabalho realizado no antigo Tribunal Judicial de Macau, para que os visitantes possam pensar e debater questões como “pátria espiritual”, “libertação” e “vazio”, apontam os artistas.

24 Out 2019