Rota das Letras | João Miguel Barros lança “Incidental Moments” este domingo

“Cada vez uso menos a máquina fotográfica”

 

João Miguel Barros, advogado, fotógrafo e curador, lança este domingo um novo livro de fotografia. “Incidental Moments” não se trata de uma retrospectiva, mas acarreta consigo “a ideia de viagem”, de um percurso na imagem que tem sido traçado ao longo dos anos e que já conta com vários episódios na edição de livros, exposições e projectos de curadoria. O lançamento decorre domingo, a partir das 16h30, na Casa Garden, no âmbito do festival literário Rota das Letras

 

Porquê esta viagem interior e como se expressa através da fotografia?

Este é um livro de imagens, sem um único texto de suporte, que permite leituras diversas. Mas é difícil que, sem uma explicação, se consiga identificar o meu propósito quando fiz o alinhamento deste livro. O livro tem implícita a ideia da viagem, que significa chegar de um lado e partir para outro. Nesse sentido, comecei com o tríptico que foi a base da minha primeira exposição individual na Creative Macau, e um dos capítulos da Photo Metragens que esteve no Museu Berardo em Lisboa. Esse é o ponto de partida do livro. Segue-se a viagem propriamente dita e várias fotografias que a identificam. Depois disso o livro tem imagens de vários pontos de chegada.

Faz, com esta obra, uma retrospectiva da sua carreira como fotógrafo e curador, ou é uma viagem sobre os lugares onde já esteve?

Não é, de modo algum, uma retrospectiva. Feita a viagem, o livro tem vários pontos de chegada. As imagens que estão na obra são lugares visitados que achei interessante juntar e que fazem parte de uma certa peregrinação. São fotografias que fui tirando nos últimos anos, desenquadradas de um projecto específico e que, por isso, não tinham publicação prevista em livro. Mas eram fotografias de que gostava. Cada vez uso menos a máquina fotográfica. Só pego nela quando tenho um fim preciso, um projecto em que esteja a trabalhar. Mas às vezes vou tirando fotografias, sem fim específico, que guardo.

Porquê o nome “Incidental Moments”? E que momentos são estes?

No final do ano passado, estava a passar em revista essas imagens dispersas, alguns bons snapshots, e ocorreu-me a ideia de os juntar num livro despretensioso. O problema é que as ideias “despretensiosas” que tenho rapidamente começam a ganhar graus de exigência superiores. E o livro começou a ganhar uma forma e um rigor muito apurados na selecção das imagens e na produção. São “incidental moments” porque, apesar de haver uma narrativa implícita, esta é fragmentada, construída a partida de momentos dispersos no tempo e registados em diversos lugares. O livro tem também outra particularidade, pois dentro dele existem várias pequenas narrativas, expostas em cinco páginas duplas. São histórias dentro da história.

O que é que esta obra nos transmite de si e do seu trabalho como fotógrafo que outras publicações ainda não o fizeram?

Esta obra é um parêntesis no tipo de trabalhos que eu tenho vindo a produzir e que teve maior expressão nos doze números da Zine Photo [revista de fotografia]. “Incidental Moments” é um projecto mais introspectivo, contemplativo da natureza, do meio ambiente, da paisagem, dos detalhes. Senti necessidade de fazer esta incursão apaziguadora, a meio de um projecto muito forte e polémico que estou a acabar e que espero conseguir editar no Verão, sobre o touro bravo.

Pode revelar alguma coisa sobre esse novo projecto?

Ainda não quero revelar muito. Mas é um projecto de fôlego que tem duas partes distintas. Uma é sobre o touro em liberdade, a vida na ganadaria, os cavalos, os pastos. A outra foca-se no touro e nas touradas, mas mais na perspectiva dos detalhes e das pessoas que vivem nesse meio. Este projecto demorou-me quase um ano a fazer, com muitos dias no campo a fotografar e diversas idas aos bastidores do mundo taurino. Sei que o assunto é polémico e tenho consciência de que são imagens fortes. Mas a imagética do touro bravo é incontornável e não adianta esconder a cabeça na areia: esta é uma realidade que existe em Portugal, e está muito enraizada na cultura popular. Por isso, nada como enfrentá-la.

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