Índia concluiu ontem legislativas com mais de 100 milhões de eleitores chamados às urnas

[dropcap]M[/dropcap]ais de 100 milhões de eleitores votaram ontem, em oito regiões da Índia, na sétima e derradeira fase das eleições legislativas, que tiveram início em 11 de Abril, com o primeiro-ministro Narendra Modi como recandidato a novo mandato.

As urnas abriram às 07:00 locais em quase 113 mil escolas e, na primeira hora e meia, registaram uma participação de 10,2% de votantes, liderada pelo remoto Estado de Jharkhand, no leste do país, com 15% de participação, segundo dados da Comissão Eleitoral da Índia (ECI, na sigla em inglês), citada pela agência noticiosa Efe.

Nesta última fase eleitoral serão eleitos 59 dos 543 lugares na Assembleia do Povo (Lok Sabha), do parlamento indiano, escolhidos em várias regiões da metade norte do país, incluindo diversos distritos do estado de Uttar Pradesh, o mais populoso com quase 200 milhões de habitantes.

O primeiro-ministro Narendra Modi, do partido Bharatiya Janata (BJP), apontado como o candidato favorito, concorre por Benares, a sagrada cidade hindu de Uttar Pradesh.

Numa mensagem na sua conta no Twitter, o governante apelou a uma participação recorde nesta última fase eleitoral, notando que cada voto “irá moldar a trajetória de desenvolvimento da Índia nos próximos anos”.

O líder nacionalista hindu acordou hoje numa gruta no estado de Uttarakhand, no norte do país, onde passou a noite a meditar, envergando um manto laranja.

Há mais de dois mil partidos registados na Índia e entre os principais que concorrem neste sufrágio, além do BJP, no poder, está o Congresso Nacional Indiano (conhecido como Partido do Congresso), liderado por Rahul Gandhi.

A votação de ontem também decorre no distrito eleitoral de Modi, Varanasi, uma cidade sagrada hindu onde foi eleito em 2014 com uma margem impressionante de mais de 200.000 votos.

Na capital de Bengala Ocidental, Calcutá, os eleitores fizeram fila à porta das assembleias de voto desde o início da manhã para evitar o calor escaldante, perante a vigilância das autoridades, para evitar eventuais episódios de violência.

A minoria muçulmana, que representa cerca de 14% dos 1,3 mil milhões de habitantes da Índia, criticou Modi pela sua agenda nacionalista hindu. Em Varanasi, os leitores também acorreram cedo às assembleias de voto, como Ramesh Kumar Singh, um dos primeiros a votar, que se mostrou surpreendido “ao ver o entusiasmo entre os eleitores”.

“Houve longas filas de pessoas esperando pacientemente para votar, o que é um bom sinal para a democracia”, afirmou, citado pela Efe. A contagem de votos está agendada para 23 de maio.

Com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, 29 Estados e sete territórios, a maior democracia do mundo conclui hoje um processo para o qual foram activadas um milhão de assembleias eleitorais, 100.000 a mais do que nas eleições de 2014.

O número de eleitores também tem crescido ao longo dos últimos cinco anos, passando de 814 milhões para 900 milhões, o que representa a inclusão de 86 milhões de jovens que puderam votar pela primeira vez, de acordo com a ECI.

20 Mai 2019

Conflito | Paquistão entrega à Índia piloto capturado e libertado num “gesto de paz”

[dropcap]O[/dropcap] Paquistão entregou sexta-feira à Índia um piloto de um caça capturado na semana passada em Caxemira e libertado num “gesto de paz” de Islamabad em relação a Nova Deli, segundo imagens transmitidas em directo pela televisão.

O tenente-coronel Abhinandan Varthaman, capturado na quarta-feira quando o seu avião foi abatido durante confrontos aéreos na região de Caxemira, disputada pelos dois vizinhos, atravessou a fronteira no posto fronteiriço de Wagah, situado entre as grandes cidades de Lahore (Paquistão) e Amritsar (Índia).

Centenas de pessoas esperaram por Varthaman durante todo o dia do lado indiano da fronteira, agitando bandeiras e cantando ‘slogans’.

A libertação do que se tornou um herói para os seus conterrâneos foi anunciada na quinta-feira pelo primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, que a apresentou como “um gesto de paz” em relação à Índia, após o perigoso confronto esta semana entre os “dois irmãos” inimigos do Sul da Ásia.

Pela primeira vez desde há décadas, aviões de combate dos dois países entraram em confronto e realizaram incursões em território inimigo, suscitando a preocupação da comunidade internacional e fazendo com que se multiplicassem os apelos à contenção.

Da escalada

Os acontecimentos na região disputada precipitaram-se depois de as forças armadas indianas indicarem na terça-feira que tinham realizado um ataque aéreo contra um campo de treino do grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JeM). Este reivindicou um atentado suicida na Caxemira indiana, que matou pelo menos 40 paramilitares indianos a 14 de Fevereiro.

Islamabad denunciou imediatamente uma “agressão inoportuna” e prometeu responder “na hora e local” que escolhesse.

As forças armadas paquistanesas afirmaram posteriormente terem abatido dois aviões indianos no espaço aéreo do Paquistão e detido dois pilotos indianos.

Nova Deli anunciou por seu turno ter abatido um avião paquistanês em Caxemira e ter perdido “um Mig-21”, cujo piloto foi então dado com “desaparecido em combate”.

4 Mar 2019

Índia anuncia que também abateu um avião paquistanês

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Índia anunciou ontem que derrubou um avião paquistanês durante um confronto aéreo em que um dos seus aviões foi abatido pelo Paquistão.

No dia posterior a uma operação apresentada por Nova Deli como um “ataque preventivo” contra um campo de treino no Paquistão, a força aérea paquistanesa “visou instalações militares” na Caxemira indiana, declarou Raveesh Kumar, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia numa conferência de imprensa.

Kumar referiu que as “tentativas do Paquistão fracassaram”.

No confronto, segundo o porta-voz, “um avião de combate da força aérea do Paquistão foi abatido por um Mig-21 Bison da força aérea da Índia”.

“O avião paquistanês foi visto por tropas de terra a cair no lado paquistanês. Neste confronto, infelizmente, perdemos um MiG-21. O piloto desse caça desapareceu em combate. O Paquistão afirma que o tem detido”, afirmou, acrescentando que esta última informação estava a ser verificada.

O exército indiano assegurou, na terça-feira, ter liderado um ataque contra um campo de treino no Paquistão do grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JEM), muito activo na luta armada contra a Nova Deli, no Vale do Srinagar, dizendo ter matado “um grande número” de combatentes.

Islamabad denunciou imediatamente essa “agressão prematura” e prometeu responder aos ataques.

 

Ao ataque

Na manhã de ontem, o Paquistão anunciou que havia realizado “ataques” à Caxemira contra alvos “não militares”. O exército paquistanês alegou ter derrubado dois aviões indianos no seu espaço aéreo e ter detido um piloto indiano.

Um dos aviões teria caído na Caxemira indiana e o outro na Caxemira paquistanesa”, indicou o general Asif Ghafoor, na rede social twitter.

Uma rebelião separatista mortífera destabiliza a Caxemira indiana desde 1989.

A Índia acusa o Paquistão de apoiar de forma dissimulada as infiltrações na sua parte do território e a própria revolta armada, o que Islamabad sempre negou.

Na terça-feira, pelo menos seis pessoas foram mortas durante confrontos entre militares indianos e paquistaneses, perto da linha de demarcação das partes da Caxemira sob controlo da Índia e do Paquistão, no setor controlado por este, em Nakyal, de acordo com as autoridades paquistanesas.

28 Fev 2019

Conflito | Índia confirma ataque aéreo na Caxemira paquistanesa

[dropcap]A[/dropcap]utoridades indianas confirmaram ter lançado ontem um ataque aéreo na Caxemira paquistanesa e matado “um grande número” de militantes do grupo islâmico JeM, em resposta ao atentado-suicida, na semana passada, que abateu 42 pessoas na Caxemira indiana.

O secretário do Exterior, Vijay Gokhale, afirmou que a Índia atingiu “o maior campo de treinos” do JeM na região de Balakot, confirmando assim a escalada de tensão entre os dois países vizinhos

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, recebeu ontem de manhã o Comité do Gabinete de Segurança e à saída da reunião o ministro de Recursos Humanos, Prakash Javadekar, declarou que “este foi um passo necessário da Força Aérea e que todo o país apoia as forças armadas”.

Horas antes, o Exército do Paquistão já tinha afirmado que caças indianos entraram no território paquistanês e lançaram explosivos, sem causar vítimas mortais, “depois de uma resposta eficaz da Força Aérea do Paquistão”, combatentes indianos lançaram explosivos e fugiram, escreveu o porta-voz do Exército, Asif Ghafoor, no Twitter.

Na mesma publicação, o porta-voz partilhou fotografias que mostram uma cratera e restos do que aparenta ser uma bomba.

Segundo Asif Ghafoor, não foram registadas quaisquer vítimas nem danos, durante a operação indiana na área de Balakot, na província de Khyber Pakhtunkhwa, um território fora da região disputada da Caxemira.

Rebelião em curso

Na semana passada, 42 pessoas morreram num atentado suicida que ocorreu na Caxemira indiana, tornando-se o mais mortífero ataque desde 2002.

Reivindicado pelo grupo islâmico JeM, o atentado-suicida foi perpetrado com uma carrinha carregada de explosivos detonada perto de uma coluna de 78 veículos transportando cerca de 2.500 membros da Central Reserve Police Force (CRPF), uma força paramilitar.

A região de Caxemira é reivindicada tanto pela Índia como pelo Paquistão desde o fim da colonização britânica, em 1947.

O total das forças indianas na parte controlada por Nova Deli é estimado em cerca de 500.000 efectivos.

Uma rebelião separatista mortífera destabiliza a Caxemira indiana desde 1989.

A Índia acusa o Paquistão de apoiar de forma dissimulada as infiltrações na sua parte do território e a própria revolta armada, o que Islamabad sempre negou.

China pede contenção

A China pediu ontem ao seu aliado Paquistão e à Índia que demonstrem moderação, após o bombardeamento de Nova Deli a um “campo de treino” islâmico num território controlado por Islamabad. “Esperamos que a Índia e o Paquistão tenham contenção e ajam de maneira a estabilizar a situação na região e melhorem as suas relações, e não o contrário”, disse à imprensa o porta-voz da diplomacia chinesa, Lu Kang. Para Pequim, “a luta contra o terrorismo é uma questão global e um desafio global que requer a cooperação de diferentes Estados”. “Condições favoráveis devem estar em vigor para fomentar a cooperação internacional”, disse Lu. A China é o principal aliado do Paquistão e tem uma relação difícil com a Índia. Os exércitos dos dois países viveram um período de tensões no Verão de 2017, nos Himalaias.

27 Fev 2019

Entrevista | Joshua Ehrlich, académico da Universidade de Macau

A descoberta de três cartas num arquivo em Londres trouxe ao de cima a ligação umbilical entre a academia, as elites intelectuais e o poder político no contexto do império britânico na Índia. O achado foi feito por Joshua Ehrlich, professor assistente do Departamento de História da Universidade de Macau

[dropcap]O[/dropcap] que o levou a fazer esta investigação e como encontrou estas três cartas?

Foi algo que surgiu na sequência da apresentação da minha tese de doutoramento. No ano passado, quando estava a rever as notas, reparei numa referência meio escondida a estas cartas de alguém que era bastante conhecido por historiadores que se debruçam sobre o século XVIII. William Jones, uma figura de prestígio, é-lhe frequentemente atribuída a descoberta de ligações entre algumas línguas, como sânscrito e idiomas persas e línguas europeias que pareciam muito diferentes. Mas como ele era um linguista muito qualificado, apercebeu-se destas ligações. Portanto, é uma figura bastante estudada. Encontrei correspondência dele com alguém que não foi muito estudado por historiadores e que tem uma reputação muito diferente, alguém corrupto, que adaptava os resultados de estudos académicos aos seus objectivos que passavam por atingir riqueza e poder. Duas pessoas bem diferentes, no contexto do século XVIII, a usar o império britânico na Índia para fins diferentes. Um com objectivos académicos, de potenciar o conhecimento humano e mostrar como os povos estão ligados em sítios diferentes. O outro a tentar tirar partido da sua situação em termos políticos. Mas mantinham correspondência, eram amigos e colaboraram em muitos projectos políticos e intelectuais. Conhecia um pouco deste contexto. Há um historial de publicação das cartas de William Jones e algumas apareceram, entretanto. Como tal, peguei na oportunidade de publicar estas cartas que acho que podem contribuir para alterar um pouco a forma como se vê este período histórico.

Para além do trabalho académico, que feitos históricos destaca na figura de William Jones?

Ele viveu e trabalhou como juiz no Supremo Tribunal de Calcutá e expôs a Europa às civilizações antigas indianas. Ainda hoje é considerado como alguém muito tolerante e aberto para o seu tempo. O meu trabalho tenta mostrar como a Companhia das Índias, no geral, sempre arranjava formas de agradar a académicos. Esta gentileza também era uma manifestação política porque tentava melhorar a imagem, porque durante este período, a Companhia das Índias tinha a reputação manchada por violência, desvios de dinheiros e corrupção, entre outras coisas menos positivas.

Que conclusões retira destas três cartas sobre o estado do império britânico na Índia durante este período?

A conclusão mais óbvia é que o mundo académico e a política estavam bastante ligados nesta altura. Por exemplo, havia claros benefícios políticos, tanto em Inglaterra como na Índia, para as elites britânicas e indianas e as classes políticas em serem mecenas de académicos. O facto de o Governador poder usar as suas ligações para ajudar William Jones, um académico apostado no trabalho de investigação, dava uma boa imagem da sua administração e de ele próprio, num momento em que havia muitos distúrbios. Era algo positivo que podia destacar na sua administração. Isso é revelador. Uma citação numa carta de Jones para o Governador (John Macpherson) refere que este era um estadista académico. Macpherson e os seus aliados repetiram muitas vezes esta citação, inclusivamente ficou gravado na sua lápide. Além de ser importante para a concepção que tinha de si próprio, também mostrava que não era um político corrupto que as pessoas pensavam que era. Academia e política eram mundos interligados, havia uma política do conhecimento.

A ideia predominante era que estes dois vultos vinham de mundos distintos?

Acho que, hoje em dia, essa é a ideia geral. O facto de pensarmos destas duas pessoas de formas tão distintas, sem interacção ou objectivos e vidas diferentes. Mas, de facto, estavam em interacção constante. Isso é relevante. Estas ligações entre figuras europeias e intelectuais indianos são muito importantes. Mas também as conexões com asiáticos. Numa das cartas foi transcrito um poema a elogiar o Governador Macpherson, escrito por um poeta indiano em indo-persa. Jones enviou o poema ao Governador na esperança de que ele patrocinasse esse poeta.

A determinada altura, as semelhanças entre os dois salta à vista nos documentos que encontrou…

Diria que tinham alguns objectivos partilhados. Ambos eram homens do Iluminismo, partilhavam a ideia de que através do comércio, além da troca material, existe o comércio intelectual entre pessoas diferentes, e que isso levava à paz, prosperidade e ao progresso em partes diferentes do mundo. Era uma ideia muito utópica, mas tinha significado para quem era académico. É importante dizer que, apesar da reputação de corrupto, Macpherson veio de um dos centros do Iluminismo na Escócia. O seu tutor foi um dos filósofos mais ilustres do iluminismo escocês, Adam Ferguson. Ele conhecia esta gente toda e tinha amigos neste círculo, enquanto era estudante. Continuaram a trocar correspondência quando foi para a Índia. Este era um grupo que o Governador tentava impressionar, os intelectuais iluministas escoceses. Jones compreendia este tipo de pessoas e também se correspondia com elas. Portanto, partilhavam a visão de um mundo de comércio pacífico entre pessoas, levando à compreensão entre povos que viviam muito afastados um do outro. Era nisso que resultava o casamento entre academia e mecenato. Esse é o pano de fundo revelado pelas cartas, não só com impacto no lado académico, mas também no político. Nesta altura, a Companhia das Índias estava a mudar dramaticamente. Ao longo da história do império na Índia, deu-se a mudança no equilíbrio entre os papéis políticos e económicos, eventualmente o comércio reduz-se e torna-se num império territorial que já não se interessa tanto pela troca comercial. Mas, nesta altura, ainda havia equilíbrio. Estas duas figuras estavam do lado do comércio, mais que do lado expansionista que queria tornar a presença da Inglaterra na Índia num império territorial.

Qual a influência da relação entre estas duas personalidades e a estratégia que Londres tinha para a Índia?

Como as comunicações entre Londres e Calcutá eram muito lentas, podiam demorar um ano a enviar ordens e respostas, seis meses para cada lado, como se podem tomar decisões? Londres só podia dar orientações gerais, mudar algumas pessoas, mas muito tinha de ser feito em Calcutá. Nesta altura, Macpherson não tinha muito apoio em Londres. Não era a primeira escolha para ser Governador, estava simplesmente no conselho quando o anterior Governador se demitiu, portanto, assumiu o cargo temporariamente. Ele era o próximo na hierarquia. Foi um quadro temporário, só lá ficou um ano. Portanto, estava desesperado para tornar o cargo permanente. Queria mesmo mais apoio de Londres e estava a fazer tudo o que podia para o conseguir. Parte disso, foi o anúncio desta visão pacífica e filosófica da sua administração. Anunciar estes planos ambiciosos era também uma forma de ganhar nome. Não correu bem. Londres quis substitui-lo muito rapidamente. As pessoas que regressavam a Inglaterra com uma má impressão do Governador também não ajudavam, além das cartas escritas pelos seus rivais.

Durante este período, que outros exemplos de corrupção na Índia destaca?

Corrupção e a percepção da corrupção são elementos chave para a compreensão dos debates da política do império britânico. Parte disso é a distância entre Londres e os territórios e a falta de informação sobre o que se passava por lá. A ideia de enviar pessoas de grande reputação torna-se um imperativo, especialmente quando a opinião pública em Inglaterra desvia o interesse para o que se passa no império. O exemplo mais famoso no contexto indiano parte do Governador anterior a Macpherson, Warren Hastings, que esteve no poder 10 anos. É lembrado por ter aprendido línguas indianas, pelo brilhantismo administrativo. É visto, hoje em dia, como uma figura complexa e interessante. Quando regressou a Inglaterra foi julgado em tribunal e destituído pelo Parlamento. A corrupção na Índia ocupou o centro do mediatismo na política britânica durante 10 anos. Havia a preocupação sobre o retorno de corruptos que vinham da Índia, essa preocupação esfumou-se dez anos depois.

Regressando a William Jones, é entendido que estaria a passar conceitos diferentes da cultura ocidental à sociedade indiana.

Teve alguma interacção com académicos oriundos das elites indianas e estudou sânscrito tradicional, além disso estava também ligado às elites académicas islâmicas, através dos estudos persas. É verdade que através destas interacções, podemos adivinhar que ele estava a trazer para a sua órbita muitos intelectuais indianos e deve ter mudado a percepção dessas pessoas sobre os estrangeiros britânicos.

De onde veio o seu interesse para estudar a Índia no contexto do império britânico?

Enquanto, estudante estava muito interessado no Iluminismo e no Iluminismo escocês. Li muito sobre o assunto e encontrei pontes entre estas personagens e intelectuais britânicos e europeus e a ligação às expansões imperiais. Sempre me interessei pela junção destes dois mundos, academia e política imperial.

26 Fev 2019

Índia | Tribunal ordena fim dos ataques contra pessoas de Caxemira

O ataque da semana passada que matou 41 paramilitares provocou uma onda de violência indiscriminada contra os nativos de Caxemira

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Supremo Tribunal da Índia ordenou sexta-feira às autoridades do Estado que parem com ameaças, agressões e boicotes sociais a milhares de pessoas, numa aparente retaliação pela morte de 41 paramilitares num atentado na semana passada, na Caxemira indiana.

Segundo a agência de notícias Associated Press, o Supremo Tribunal actuou numa petição apresentada pelos advogados Colin Gansalves e Tariq Adeeb que relataram que estudantes da Caxemira ficaram retidos em várias cidades e vilas para escapar da violência da multidão após o ataque de 14 de Fevereiro.

O ministro do Interior da Índia, Rajnath Singh, prometeu sexta-feira tomar medidas para garantir protecção e segurança.

Também a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Índia referiu que procurou informações de Estados conflituosos sobre os maus-tratos a pessoas da Caxemira.

“Este tipo de violência do povo contra os seus concidadãos não pode ser aceite numa sociedade civilizada”, salientou.

Yasin Khan, empresário da Caxemira e líder do sindicato dos trabalhadores, explicou que pelo menos 600 estudantes e mais de 100 empresários regressaram às suas casas na Caxemira de várias partes do país, após ataques e ameaças de grupos principalmente hindus.

 

Zona quente

O gabinete das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos expressou na terça-feira a sua preocupação com o aumento das tensões entre o Paquistão e a Índia após um ataque que matou 41 paramilitares na Caxemira indiana.

“Esperamos que o aumento das tensões entre os dois países vizinhos, equipados com armas nucleares, não signifique uma subida da insegurança na região”, assinalou Rupert Colville, porta-voz do gabinete, em conferência de imprensa, em Genebra, na Suíça.

No mesmo dia, a Índia pediu uma “acção credível e visível” do Paquistão contra os responsáveis pelo atentado suicida.

Em comunicado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia solicitou que o “Paquistão pare de enganar a comunidade internacional e tome acções credíveis e visíveis contra os responsáveis pelo ataque terrorista em Pulwama”.

Por seu turno, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, mostrou-se disposto a cooperar com a Índia após o ataque, mas prometeu “ripostar” caso o seu país seja atacado.

“O Paquistão vai ripostar” no caso de ser atacado, afirmou Khan durante um discurso na televisão, pedindo que Nova Deli forneça “evidências” do envolvimento paquistanês no ataque que exacerbou as tensões indo-paquistanesas nos últimos dias.

Estas declarações foram feitas no momento em que o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu “fazer pagar” um preço alto aos responsáveis pelo atentado suicida, que provocou uma onda de revolta em toda a Índia e provocou apelos de vingança.

Este ataque, o mais mortífero desde o início da insurgência separatista contra Nova Deli em 1989, foi reivindicado pelo grupo islâmico Jaish-e-Mohammed (JeM), baseado no Paquistão.

A região de Caxemira é reivindicada tanto pela Índia como pelo Paquistão desde o fim da colonização britânica, em 1947.

25 Fev 2019

Milhares de pessoas protestam depois de assassínio de político na Índia

[dropcap]V[/dropcap]ários milhares de manifestantes marcharam ontem em Bengala Ocidental, no leste da Índia, carregando o corpo de um político local cujo assassínio foi o primeiro ato de violência antes das eleições parlamentares marcadas para a primavera.

Satyajit Biswas, de 38 anos, membro do partido Congresso Trinamool (TMC, sigla em inglês), formação regional no poder no estado, foi morto na noite de sábado por um atirador não identificado.

O TMC culpou o seu principal rival, o Partido Bharatiya Janata (BJP, sigla em inglês), do primeiro-ministro Narendra Modi, que negou qualquer envolvimento no caso, referindo ainda uma divergência interna no seio do TMC.

“Suspeitamos de motivação política para este assassínio”, disse Anuj Sharma, vice-chefe de polícia de Bengala Ocidental. Segundo o vice-chefe de polícia, duas pessoas já foram presas, mas não especificou a qual partido pertenciam.

No distrito de Nadia (cerca de 120 quilómetros de Calcutá), os manifestantes levaram o corpo do deputado assassinado do hospital até à sua aldeia de origem. O TMC e BJP disputaram cargos políticos em Nadia, situada na fronteira com o Bangladesh, durante as eleições locais no ano passado, resultando em dezenas de mortes durante a campanha eleitoral.

No poder desde 2014, o primeiro-ministro Narendra Modi deve anunciar a convocação de eleições legislativas nacionais para, provavelmente, Abril. Em Bengala Ocidental, os assassínios políticos têm sido comuns nas últimas campanhas eleitorais.

Assassínios políticos são generalizados em todo o país. As estatísticas oficiais contaram mais de 100 em 2016, um número muito inferior à realidade, segundo alguns analistas políticos.

Kerala (sul), Uttar Pradesh (norte) e Bihar (nordeste) são os estados mais afectados por esse fenómeno, segundo as estatísticas do Governo.

11 Fev 2019

Câmara baixa da Índia vota projecto de lei que exclui refugiados muçulmanos

[dropcap]A[/dropcap] câmara baixa do parlamento da Índia aprovou ontem um projecto de lei que permite atribuir a cidadania a refugiados de diversas comunidades religiosas à excepção dos muçulmanos, provocando novas manifestações de protesto no nordeste do país.

A legislação, que ainda deve ser aprovada pela câmara alta do parlamento, envolve milhões de pessoas que nas últimas décadas fugiram do Bangladesh, do Paquistão e do Afeganistão, onde o islão é predominante, para se instalarem nas regiões do norte da Índia.

Se for aprovada a lei, tornar-se-ão indianos os membros de várias comunidades religiosas, como os hindus, os cristãos e os sikhs, originários daqueles três países que tenham vivido pelo menos seis anos na Índia, sendo explicitamente excluídos os muçulmanos.

A votação do projecto de lei desencadeou um segundo dia de protestos no estado de Assam, no nordeste do país, que nas últimas décadas acolheu milhões de refugiados dos países vizinhos.

Os manifestantes opõem-se não à exclusão dos muçulmanos da legislação, mas ao facto de texto permitir a atribuição da cidadania a migrantes, que acusam de ficarem com o trabalho das populações locais.

Assam, território montanhoso conhecido pelas suas plantações de chá e com 33 milhões de habitantes, é palco há décadas de tensões entre grupos étnicos e tribais locais e os migrantes.

Durante as manifestações de ontem, militantes da Organização dos Estudantes do Nordeste (NESO) saquearam instalações do Partido Bharatiya Janata (do primeiro-ministro Narendra Modi) no estado de Assam.

9 Jan 2019

Índia | Kerala em greve contra a entrada de mulheres em templo

[dropcap]V[/dropcap] árias localidades do estado de Kerala, no sul da Índia, estavam ontem em greve para protestar contra a entrada de duas mulheres no templo hindu de Sabarimala, prosseguindo as manifestações de quarta-feira que já causaram um morto. Na madrugada de quarta-feira, duas mulheres com menos de 50 anos entraram pela primeira vez naquele santuário, escoltadas por vários polícias, depois do Supremo Tribunal anular, em Outubro, a proibição de entrada imposta às mulheres entre os dez e os 50 anos.

Tradicionalistas hindus manifestaram-se imediatamente contra a entrada das mulheres em idade fértil no templo hindu, levando a polícia indiana a utilizar gás lacrimogéneo, granadas atordoadoras e canhões de água para deter os manifestantes.

De acordo com a agência de notícias Efe, que cita uma fonte policial que pediu para não ser identificada, as manifestações violentas em pelo menos três distritos do estado de Kerala causaram já a morte de um militante do partido nacionalista hindu BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi.

Em conferência de imprensa, o chefe do governo de Kerala, Pinarayi Vijayan, afirmou que os protestantes já destruíram sete veículos da polícia, 79 autocarros e atacaram 39 membros das forças de segurança e de órgãos de comunicação social, principalmente mulheres.

“Há muita violência em todo o estado”, lamentou Pinarayi Vijayan, defendendo que o governo tem a responsabilidade de implementar a decisão histórica do Supremo Tribunal.

A maioria dos templos hindus não autoriza a entrada de mulheres durante o período menstrual, mas Sabarimala era um dos raros a proibir a sua entrada entre a puberdade e a menopausa.

4 Jan 2019

Abuso sexual e violações de freiras por padres católicos na Índia têm décadas, escreve AP

[dropcap]U[/dropcap]ma investigação da agência de notícias Associated Press denuncia hoje uma série de abusos sexuais e violações cometidos sobre freiras na Índia durante décadas por padres que contaram com o silêncio cúmplice da hierarquia católica.

Quase duas dúzias de freiras e ex-freiras queixam-se de repetidas violações e de uma hierarquia católica que pouco fez para as proteger, ao mesmo tempo que detalham frequentes situações de assédio sexual, existindo ainda relatos de sacerdotes que afirmam terem tido conhecimento directo deste tipo de incidentes.

Ainda assim, o problema é encoberto por uma cultura do silêncio. Muitas freiras acreditam que o abuso é comum e que a maioria das ‘irmãs’ pode pelo menos dizer que se defendeu já dos avanços sexuais de um padre, enquanto algumas dizem ter a convicção de que os episódios são raros.

Quase ninguém discute o assunto abertamente e a maioria só fala na condição de não serem identificadas.

No verão, uma freira trouxe o assunto para a discussão pública. Depois de repetidas acusações contra responsáveis da Igreja que não obtiveram resposta, a freira de 44 anos apresentou uma queixa na polícia contra o bispo que supervisiona a sua ordem, acusando-o de a ter violado 13 vezes em dois anos. Um grupo de freiras lançou mesmo um protesto público para exigir a prisão do bispo.

O protesto dividiu a comunidade católica da Índia. O acusador e as freiras que a apoiaram foram isoladas das outras ‘irmãs’, muitas das quais defendem o bispo.

“Algumas pessoas estão a acusar-nos de trabalhar contra a Igreja”, disse uma freira, Josephine Villoonnickal. “Elas dizem: ‘Você está a adorar Satanás’. Mas precisamos defender a verdade”, defendeu.

As queixas de algumas freiras têm décadas, como a de uma ‘irmã’ que ensinava numa escola católica no início dos anos 90, em Nova Deli, a capital.

Uma noite, um padre de 60 anos foi para uma festa na vizinhança. Voltou tarde e bateu à porta do quarto onde se encontrava. A freira diz que o sacerdote cheirava a álcool e que tentou forçar a entrada, agarrando-a e tentando beijá-la, embora esta tivesse conseguido empurrá-lo e fechar a porta.

A freira queixou-se à sua madre superiora e escreveu anonimamente aos responsáveis da Igreja. O padre acabou por ser transferido, mas não houve qualquer sanção pública nem lugar a avisos às outras freiras.

O arcebispo Kuriakose Bharanikulangara diz que o abuso é “esporádico: Uma vez aqui, uma vez ali”. Embora “muitas pessoas não queiram falar”, acrescentou.

Já as violações, garante uma outra freira, aconteceram num pequeno convento na zona rural de Kerala, onde as irmãs do Lar da Missão São Francisco passam os dias em oração ou a cuidar de idosos.

O violador, disse, era o homem mais influente naquela parte do mundo: o bispo Franco Mulakkal. Mulakkal era o patrono oficial de sua comunidade, os Missionários de Jesus, exercendo enorme influência sobre os seus orçamentos e atribuições de trabalho.

De acordo com uma carta que a freira escreveu aos responsáveis da Igreja, ele violou-a. O bispo nega veementemente as alegações, acusando a irmã de o tentar chantagear para conseguir um trabalho melhor.

“Estou a passar por uma dolorosa agonia”, disse o clérigo, que foi detido durante três semanas e posteriormente libertado sob fiança em Outubro. Muitos em Kerala veem Mulakkal como um mártir, e uma série apoiantes visitaram-no na cadeia.

Autoridades católicas pouco falaram sobre o caso, com a Conferência dos Bispos Católicos da Índia a divulgar uma nota alegando não ter jurisdição sobre os bispos, de forma individual, e que a investigação e o processo judicial deviam seguir o seu trâmite.

“O silêncio”, segundo aquele órgão, “não deve, de forma alguma, ser interpretado como uma tomada de partido a favor de uma das duas partes”.

2 Jan 2019

Sujata Bhatt

[dropcap]S[/dropcap]ujata Bhatt (1956) é uma poeta indiana que descobri em Nova Deli. Atarantado, esbracejando no escuro com o meu parco inglês, fossei uma tarde nas estantes das livrarias e, sem uma referência confiável de antemão, confiei no faro e apostei em quatro poetas, de quem comprei vários livros: a Sujata, o Vikram Seth, o Aga Shahid Ali e a Eunice Moraes .

Tive sorte, são todos extraordinários, e, entretanto, Vikram e Sujata tornaram-se figuras cimeiras da literatura internacional. A Sujata é aquela a que mais regresso e mais vontade me dá de “transcriar”, como diria o Herberto Helder.


UDAYLEE

Apenas papel e madeira são imunes
ao toque de uma mulher menstruada.
Então, eles construíram este quarto
para nós, ao lado do estábulo.
Aqui, estamos autorizadas a escrever
cartas, a ler, e este recolhimento dá azo
a que se cauterizem as nossas cicatrizes de cozinha.

À noite, não posso deixar as estrelas sozinhas.
E quando não consigo dormir, desato a marchar
ou sonho que marcho, neste quarto minúsculo,
de minha estreita rede para a estante
aboletada de jornais, empoeirados,
e de búzios castanhos brilhantes e uma concha,
que fazem de pisa-papéis.
Quando não consigo dormir, pego na concha
e encosto-a à orelha
só para ouvir a torrente do meu sangue,
o latejar de uma canção, o rufar
lento, dentro da minha cabeça, dos quadris.
Esta dor é o meu sangue a fluir contra,
apressando-se contra alguma coisa –
as ancas nodosas do meu sangue,
é assim que me lembro: punhados de algas rasgadas
levantavam-se com a espuma,
subiam. Em seguida, caindo, caindo na areia
abafavam os ovos de tartaruga recém-postos.

AS VOZES

Primeiro, o som de um animal
que tu nunca imaginaste.

Depois: o restolhar do insecto, o mutismo do peixe.

E então as vozes tornam-se berrantes.

A voz de um anjo falecido recentemente.
A voz de uma criança que recusa
terminantemente tornar-se um anjo com asas.

A voz dos tamarindos.
A voz da cor azul.
A voz da cor verde.
A voz dos vermes.
A voz das rosas brancas.
A voz das folhas arrancadas pelas cabras.
A voz da cobra da mina.
A voz da placenta.
A voz do couro cabeludo de uma caveira
cujo cabelo cai atrás do vidro
num museu.

Costumava pensar que eram
só uma voz.
Costumava esperar
pacientemente que uma voz regressasse
e começasse o seu ditado.

Estava enganada.

Não consigo acabar de contá-las desde agora.
Não consigo deixar
de escrever tudo o que tem para dizer.

A voz do fantasma que deseja
morrer de novo, mas desta vez
num quarto brilhante com flores fragrantes
e diferentes parentes.
A voz de um lago congelado.
A voz do nevoeiro.
A voz do ar enquanto neva.
A voz da rapariga
que continua a ver unicórnios
e fala com os anjos que conhece pelos nomes.
A voz da seiva dos pinheiros.

E então as vozes tornam-se berrantes.

Às vezes ouço-as
Rindo da minha confusão.

E cada uma das vozes insiste
E cada uma das vozes sabe
que isto é a verdade mesmo.

E cada voz diz: segue-me
segue-me e eu levo-te …

CIÚMES

Vou para a cama e então aquele homem
senta-se no quarto ao lado e continua
rindo, dos seus próprios escritos.
E então eu bato na porta
e digo, ‘agora Jim,
pára de escrever ou pára de rir!
Nora Joyce

Uma mulher come o seu coração exposto
e a janela de perto de sua cama é muito pequena
e não vai fechar
correctamente — o seu coração tem um gosto
doce, muito, é um muito agradável despiste para a amargura –
mas a lua quer lá saber
de qualquer maneira a lua parou
há muito de ajudá-la.

A ópera acabou
e uma multidão de passos lépidos,
tantos saltos altos, tamborila
rente à sua janela.

Não há estrelas esta noite.
Somente nuvens que se movem
muito rapidamente para a porem tonta.

Ela vai fechar os olhos
mas não vai dormir
vai continuar a comer o seu coração
exposto a noite toda –

e de manhã há-de pensar numa maneira
de encaixar a janela.

O ESCRITOR

A melhor história, é claro,
é aquela que não podes escrever,
a que não vais escrever.
Eis algo que só pode viver
no teu coração,
não no papel.

O papel é seco, liso.
Onde está a terra
para as raízes, e como faço para levantar aí
árvores inteiras, a imensidão da floresta
chegada do coração do espírito –
transumância no papel,
sem perturbar as aves?

E o que dizer da montanha
em que esta floresta cresce?
Das cataratas
tecendo rios,
rios com multidões de árvores
acotovelando cada uma a do seu lado
para lançar um relance
ao peixe.

Abaixo do peixe
flutuam nuvens.
Aqui, o céu ondula,
encrespa no rio os trovões.
Como se movem as coisas no papel?

Agora observa a maneira
como os tigres andam
e rasgam o papel.

SHÉRDI*

E deste modo aprendi
a comer cana-de-açúcar em Sanosra:
rasga-se com os dentes
a espessa bainha da folha
depois, às dentadas, arranco as tiras
do branco coração fibroso
— e raspo, chupo intensamente com os dentes,
aspiro até me aflorar na língua o caldo.

Manhãs de Janeiro,
o agricultor corta a tenra cana verde
e vem depositá-la à nossa porta.
Às tardes, logo que vemos que os anciãos cochilam,
esgueiramo-nos com as longas e leves varas.
O sol aquece-nos, os cães bocejam,
os nossos dentes crescem vigorosos
e deixam os nossos queixos dormentes,
por tantas horas a sugar o russ, o caldo
que gruda na mão.

Por isso esta noite
quando me dizes que use os meus dentes
para chupar com força, intensamente,
vem-me do teu cabelo o cheiro
a cana de açúcar
e imagino como gostarias de ser
shérdi shérdi ali nos campos
ali os longos talos se mexem
abrindo sendas à nossa frente.
*cana-de-açucar

OLHAR FIXO

E há aquele momento
em que a criança humana
fixa
a cria de macaco,
que olha para trás –
inocência partilhada
inocência no espaço
onde o jovem primata
não está em cativeiro.

Raia aí a pureza
orbita uma transparência
neste olhar fixo
que dura muito tempo…
olhos de água
olhos de céu
tem ainda tempo a alma de cair
porque o macaco
tem de aprender o medo –
e ao humano
cabe igualmente aprender o temor
e amenizar a arrogância.

Testemunhando tudo
agora
podem-se contar os cílios,
contem-se os caracóis
na relva,
enquanto se espera
que os olhos pisquem
ou para ver quem
primeiro desviará o olhar para longe.
Ainda o macaco não olha
o humano da mesma maneira
que olharia para as folhas
ou para os seus próprios irmãos.

E o humano fixa
o macaco adivinhando-o
um ser totalmente diferente de si mesmo.
E, contudo, é tanta a boa vontade
brilha uma tal curiosidade
nos seus semblantes.

Gostaria de escorregar para dentro
daquele olhar fixo, saber
o que a criança pensa
o que o macaquito ajuiza
naquele exato momento.

Esclareço que o garoto
está naquela idade
em que começa a usar o poder
das palavras
embora ainda sem a distância
dos alfabetos, de abstrações.
À menção de pão
ele pede
uma fatia, com manteiga e mel –
imediatamente.
Menciona-se o gato
e ele apressa-se a correr
para despertá-la.
Uma palavra
é a própria coisa.
A linguagem é simplesmente
uma música necessária
de repente conectada
ao batimento cardíaco da criança.

Enquanto o macaquito
cresce num âmbito diferente,
olha uma árvore, um arbusto,
a criança humana
e pensa …
Sabe-se lá o quê!?
O que continua a relampejar
é esse momento
de enlace:
as duas cabeças recém-formadas
equilibradas em tão frágeis pescoços
inclinando-se uma para a outro,
a cara do macaco
e a cara do garoto,
absorvendo cada uma a outra
com uma magnífica gentileza …

6 Dez 2018

ONG pede à Índia que abandone buscas por norte-americano morto por indígenas

[dropcap]U[/dropcap]m grupo de defesa dos direitos humanos pediu às autoridades indianas que abandonem os esforços para recuperar o corpo de um norte-americano que terá sido morto por indígenas numa ilha onde apenas é permitida a presença a locais.

A organização não-governamental (ONG) Survival International, que trabalha para proteger os povos indígenas, alertou em comunicado na segunda-feira que os habitantes locais podem ser expostos a doenças mortais se os elementos das equipas de resgate pisarem na ilha Sentinela do Norte, onde John Allen Chau foi morto no início deste mês.

As notas que Chau deixou para trás revelaram que o missionário queria levar o cristianismo aos indígenas.
Equipas das autoridades indianas viajaram por várias vezes nos últimos dias perto daquela ilha remota, mas ainda não procederam a qualquer desembarque.

Os estudiosos acreditam que os indígenas são descendentes de africanos que migraram para aquela área há cerca de 50 mil anos.

Os indígenas terão matado o turista norte-americano que se arriscou a chegar a uma ilha indiana remota no arquipélago de Andamão e Nicobar, no Oceano Índico, cujo acesso é proibido para proteger o povo que a habita, disse fonte policial.

“O turista é cidadão norte-americano e foi visto pela última vez no passado dia 16 de Novembro pelos pescadores que o acompanharam até à ilha Sentinela do Norte”, explicou Jatin Narwal, porta-voz da Polícia de Andamã, na baía de Bengala.

As autoridades desconhecem até agora de que forma o turista morreu, ainda que segundo a imprensa local a vítima tenha morrido pelo impacto de flechas, pouco depois de ter posto os pés na ilha.

Ao longe

Frequentemente descrita como a tribo mais isolada do planeta, os habitantes da ilha Sentinela do Norte vivem num regime de autossuficiência. O Governo indiano proíbe a aproximação a menos de cinco quilómetros da ilha.

Segundo a Survival International, os indígenas que habitam a ilha há 55.000 anos mataram em 2006 dois pescadores que se aproximavam da costa.

A população indígena das ilhas Andamã conta com 28.077 indivíduos, segundo dados da Comissão Nacional Para as Tribos (NCST).

As ilhas Andamão e Nicobar, situadas a cerca de mil quilómetros do território da Índia, eram pouco visitadas até à época colonial, permitindo que as tribos mantivessem intacta a sua forma de vida.

28 Nov 2018

Índia | Indígenas matam turista que acedeu ilegalmente à sua ilha

[dropcap]I[/dropcap]ndígenas mataram um turista norte-americano que se arriscou a chegar a uma ilha indiana remota no arquipélago de Andamão e Nicobar, no Oceano Índico, com acesso proibido para proteger o povo que a habita, disse fonte policial.

“O turista é cidadão norte-americano e foi visto pela última vez no passado dia 16 de Novembro pelos pescadores que o acompanharam até à ilha Sentinela do Norte”, explicou Jatin Narwal, porta-voz da Polícia de Andamã, na baía de Bengala.

Os pescadores que o levaram anunciaram o ocorrido a um “amigo local”, que por sua vez alertou as autoridades, acrescentou a fonte.

A polícia local procedeu então a uma investigação que determinou que John Chau, 27 anos, morreu assassinado pelos indígenas.

As autoridades desconhecem até agora de que forma o turista morreu, ainda que segundo a imprensa local a vítima tenha morrido pelo impacto de flechas, pouco depois de ter posto os pés na ilha.
Frequentemente descritos como a tribo mais isolada do planeta, os habitantes da ilha Sentinela do Norte vivem em autarcia nessa ilha.

O governo indiano proíbe a aproximação a menos de cinco quilómetros da ilha.

“A ilha de Sentinela do Norte é uma área proibida, a entrada nessa ilha está restringida pela regulação para a Protecção das Tribos Aborígenes, ninguém tem permissão de lá ir”, disse o porta-voz da polícia.
Segundo a organização não-governamental ‘Survival International’, em 2006, os indígenas que habitam a ilha há 55.000 anos mataram dois pescadores que se aproximavam da costa.

22 Nov 2018

Livro | Poluição na Índia mata mais do que o terrorismo

[dropcap]O[/dropcap]especialista em políticas climáticas Siddharth Singh, que acaba de publicar o livro “The Great Smog of Índia”, adverte que a poluição do ar é um “assassino silencioso” que mata mais pessoas do que o terrorismo no seu país.

“Mais pessoas morrem da poluição do ar do que do terrorismo ou de todas as guerras entre a Índia e o Paquistão juntas”, explicou o escritor em entrevista à agência espanhola Efe em Nova Deli, cuja camada de poluição no ar que ali se regista é confundida com um denso nevoeiro.

Singh culpa o desdém com que a questão é encarada pelas autoridades, já que não são confrontadas com mortes “espetaculares”, agravando principalmente doenças preexistentes ou provocando outras mais tarde.
Além disso, os ‘media’, os centros de pesquisa e os políticos colocam o foco da poluição na capital, mas a verdade é que “a qualidade do ar nas aldeias do norte da Índia é similar ou às vezes muito pior do que a das cidades”, defendeu.

“Embora as emissões industriais ‘per capita’ sejam muito baixas em comparação com a Europa e a base industrial da Índia também seja baixa em comparação com muitos países, a crise da poluição do ar na Índia é pior”, afirmou Singh, atribuindo esse resultado ao uso de tecnologias ineficientes.

9 Nov 2018

Indianos querem mais casinos e fazer de Goa “Macau da Índia”

[dropcap]O[/dropcap] analista de jogo Grant Govertsen disse que o Governo indiano quer mais casinos em Goa e já pediu aos operadores para começarem a construir ‘resorts integrados’ em Macau, para a tornar no “próximo Macau”.

Num evento promovido pela Associação Comercial Britânica em Macau (BBAM, na sigla inglesa), o director Executivo da Union Gaming afirmou que o Governo indiano “pediu aos casinos para começarem a construir ‘resorts integrados’ em Goa” para fazer de Goa “Macau da Índia”.

Grant Govertsen apontou para o grande potencial de jogo da Índia e que está subvalorizado: “Os jogos de casinos ainda estão embrionários [na Índia], representam apenas 200 milhões de dólares, apesar de terem uma população de 1,3 mil milhões de pessoas”.

Os casinos em Goa estão geralmente localizados em barcos fluviais e os que estão em terra não são para já apelativos para os milionários indianos, sublinhou o analista. “O Governo não quer mais barcos fluviais e quer que os casinos se desloquem para terra”, afirmou o director executivo da Union Gaming.

Na opinião do analista, os operadores de jogo que não entraram em Macau, quando o jogo foi liberalizado no início do milénio, “não querem perder o barco” de Goa e querem apostar naquele que poderá ser o “próximo Macau”. “O desenvolvimento do jogo na Ásia esmaga o resto do mundo”, apontou o analista.

Riscos asiáticos

O Japão, Coreia, Vietname, Tailândia, Camboja, Laos, Myanmar e Filipinas, são na opinião de Grant Govertsen as principais ameaças ao monopólio do jogo em Macau. “O Japão representa a maior oportunidade para qualquer operador de jogo”, apontou Govertsen. “Vai haver um risco real para Macau”, mas só depois 2025, a data prevista para o arranque dos casinos no Japão.

O parlamento nipónico aprovou em Julho uma lei que permite a abertura de três casinos e várias operadores de Macau já demonstraram interesse garantir uma licença no Japão. “O relacionamento especial entre o Japão e os EUA pode ajudar os operadores norte-americanos”, como a MGM Resorts.

Das seis operadoras em Macau, a Las Vegas Sands, a Wynn e MGM têm a maioria de capital norte-americano. “Acreditamos que a Las Vegas Sands, MGM (…) e a Melco Resorts estão entre os operadores de casinos com maior probabilidade de obter uma licença no Japão”, disse à Lusa, em julho, a analista da Bloomberg, especialista no jogo na Ásia, Margaret Huang.

Nesse mesmo mês em resposta a agência Lusa, a operadora de jogo em Macau Galaxy Entertainment Group demonstrou todo o interesse em conseguir uma das três vagas existentes.

A aposta no Japão acontece no momento em que as licenças de jogo em Macau terminam entre 2020 e 2022. Até à data não é conhecido um calendário para a revisão das licenças, nem é claro se será mantido o modelo de concessões e sub concessões.

“Tenho dificuldade em acreditar que vá haver alguma mudança [nas concessões] com o actual Governo”, afirmou Govertsen.

“Os investidores estão muito focados nas concessões e claro que estão a pensar que a guerra comercial entre os EUA e a China pode não ser bom para os operadores norte-americanos” e por essa razão, o analista da Union Gaming acredita que receios as autoridades de Macau só vão tomar uma decisão em relação às concessões “daqui a sete ou mais anos”.

4 Nov 2018

Índia | Pelo menos 60 mortos em atropelamento ferroviário

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 60 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas ao serem atropeladas por um comboio, na sexta-feira, no norte da Índia, quando estavam a assistir a um festival religioso, anunciaram as autoridades.

As vítimas estavam a ver o fogo de artifício durante um festival religioso, tendo-se amontoado em cima da linha de caminho de ferro nos arredores de Amritsar, quando foram colhidas pelo comboio em grande velocidade.

As pessoas não se aperceberam da chegada do comboio e foram atropeladas, não tendo a composição parado após o acidente.

“Estou extremamente triste com o acidente de comboio em Amritsar. A tragédia é devastadora. As minhas profundas condolências às famílias daqueles que perderam seus entes queridos”, disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na rede social Twitter.

Já o líder da região de Punjab, Amarinder Singh, também recorreu às redes sociais para anunciar uma compensação de 500.000 rupias (cerca de 6.000 euros) para as famílias dos mortos e que os cuidados médicos dos feridos vão ser gratuitos.

Em Novembro de 2016, num dos piores acidentes da última década, 146 pessoas morreram quando um comboio descarrilou no norte da Índia e, em 2010, outras 145 morreram num acidente semelhante no leste do país.

A rede ferroviária indiana, com 65 mil quilómetros de rota, é a quarta mais longa do mundo, atrás dos Estados Unidos, Rússia e China, e tem 1,3 milhões de funcionários e 12.500 comboios, que transportam diariamente cerca de 23 milhões de passageiros.

22 Out 2018

Sentença histórica | Supremo Tribunal descriminaliza o adultério na Índia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Supremo Tribunal indiano despenalizou ontem o adultério na Índia, ao declarar inconstitucional uma lei do Código Penal com quase 160 anos que permitia ao marido decidir se as relações sexuais da mulher com outro homem eram crime.

Um colectivo de cinco juízes, liderado pelo presidente do Supremo, Dipak Misra, declarou inconstitucional o artigo 497 do Código Penal, que previa penas de até cinco anos de prisão por adultério não consentido pelo marido.

“Qualquer disposição que trate a mulher em desigualdade não é constitucional”, disse o juiz Misra, que redigiu o seu veredicto em colaboração com outro dos juízes do colectivo, enquanto os outros três magistrados pronunciaram sentenças individuais em que concordaram com a inconstitucionalidade do artigo.

“Chegou o momento de dizer que o marido não é dono da sua esposa. A soberania legal de um sexo sobre o outro sexo está errada”, afirmou o presidente do Supremo, que insistiu na arbitrariedade do artigo.

Misra acrescentou ainda, contrariando aqueles que defendiam esta lei como protectora da indissolubilidade do matrimónio, que “o adultério poderá não ser a causa de um casamento infeliz, mas sim o resultado”.

Últimos actos

A decisão do Supremo Tribunal surge depois de, numa outra sentença histórica, o mesmo órgão judicial ter declarado este mês inconstitucional outro artigo da época vitoriana em que se puniam as relações homossexuais.

Segundo a Associated Press, as recentes decisões de Misra, num país profundamente conservador, foram tomadas numa altura em que o juiz se prepara para se retirar do cargo no próximo mês.

A lei contra o adultério enquadrava-se numa sociedade indiana que continua predominantemente patriarcal, em que existe uma clara preferência pelos filhos varões, que perpetuam a linhagem, cuidam dos pais na velhice e lhes asseguram rendimentos.

A isso somam-se os dispendiosos – e ilegais – dotes que as mulheres devem pagar no casamento.

1 Out 2018

Índia | Supremo Tribunal descriminaliza homossexualidade

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Supremo Tribunal da União Indiana aboliu ontem a lei contra a homossexualidade, punida com dez anos de prisão tal como determinava a legislação da época colonial britânica. A decisão do tribunal foi consequência de uma petição subscrita por cinco pessoas que declararam viver em sobressalto pelo medo de serem presas e perseguidas pela polícia. Já em 2009 o Tribunal de Nova Deli se tinha pronunciado sobre a inconstitucionalidade da secção 337 da lei, que indicava que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo iam contra a “ordem natural”. Na altura, a decisão final foi adiada depois de o Supremo Tribunal ter considerado que as emendas à lei deviam ser discutidas no Parlamento. O Governo acabou por determinar que a decisão final sobre a extinção da lei era da competência do Supremo Tribunal que acabou agora por abolir a legislação que datava da época colonial britânica.

7 Set 2018

Monções | Mais de 1.200 mortos no subcontinente indiano

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]monção custou a vida a mais de 1.200 pessoas este ano no subcontinente indiano, que regista uma época de chuvas de Junho a Setembro, segundo os dados oficiais recolhidos pela AFP.
A Índia e os seus 1,25 mil milhões de habitantes são os mais atingidos, com mais de 1.000 mortes registadas em cinco estados. As inundações afectaram especialmente Kerala, na ponta sudeste do país e provocaram o desalojamento de centenas de milhar de pessoas. No ano passado, a monção matou 667 pessoas na Índia.
O Nepal contabilizou 87 mortes no seu território, segundo os números do Governo, entre os quais uma mulher e oito crianças atingidas por um deslizamento de terras numa aldeia isolada.
No oceano Índico, as chuvas torrenciais mataram 24 pessoas e fizeram 175.000 sem-abrigo no Sri Lanka. Este balanço está em clara baixa face aos 224 mortos registados nas inundações do ano anterior na ilha. Para evitar um novo balaço igualmente trágico, as autoridades organizaram desta vez a evacuação preventiva de 750.000 pessoas residentes em zonas de risco.
No Bangladesh, pelo menos 29 pessoas encontraram a morte em inundações e derrocadas de terra.

28 Ago 2018

Índia | Incêndio em prédio provoca quatro mortos e 22 feridos

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m incêndio deflagrou ontem no 12.º andar de um prédio residencial em Bombaim, capital financeira e de entretenimento da Índia, matando quatro pessoas e ferindo outras 22, incluindo dois bombeiros, segundo as autoridades locais. Dezenas de pessoas foram resgatadas do prédio de 17 andares Crystal Tower, segundo um oficial do corpo de bombeiros.

A causa do incêndio nesta área comercial de Parel, em Bombaim, em está sob investigação.

As chamas e o fumo espalharam-se rapidamente, deixando presos alguns moradores numa escadaria, disse aos jornalistas o chefe dos serviços de bombeiros, P.S. Rahangdale. Rahangdale disse que pediu à polícia que o prédio fosse encerrado e o seu dono detido, porque os equipamentos de combate a incêndios, incluindo aspersores e acoplamentos de mangueiras, funcionavam com problemas.

Avinash Supe, responsável pelo Hospital KME, disse que 24 pessoas foram levadas para o hospital, quatro das quais já sem vida. Outras 20 pessoas estavam a ser tratadas por inalação de fumo e queimaduras, mas em condição estável, disse Avinash Supe.

Dois bombeiros também ficaram feridos enquanto combatiam o incêndio, disse um oficial da corporação.

Os incêndios são comuns na Índia, onde leis de construção e segurança são muitas vezes desrespeitadas por construtores e moradores. Em Dezembro, um incêndio de madrugada num restaurante em Bombaim matou 15 pessoas.

23 Ago 2018

Mais de um milhão de deslocados devido a inundações no sul da Índia

 

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de um milhão de pessoas foram colocadas em campos de deslocados em Kerala na sequência da violenta monção que já causou mais de 400 mortos, anunciaram ontem as autoridades do sul da Índia. “O número de pessoas nos campos humanitários agora é de 1.028.000”, distribuídos por mais de 3.000 centros, disse à Agência France Presse Subhash T.V., porta-voz do governo local.
Na segunda-feira, foram descobertos seis corpos, elevando o número de mortos para 410 desde o início da monção, uma das mais graves em 100 anos naquele estado do sul da Índia.
Em Chengannur, uma das cidades mais afectadas, a água ainda está com 60 centímetros de altura, continuando a bloquear muitas estradas. A chuva continua a cair na região, mas em menor quantidade.
Segundo o exército indiano no terreno, vários milhares de pessoas ainda estão em casas inundadas na cidade.
De acordo com um oficial que não quis ser identificado, a maioria dessas pessoas não deseja ser resgatada, mas apenas receber comida e beber água.
De acordo com Shashi Tharoor, deputado parlamentar de Kerala e ex-funcionário da ONU, as chuvas causaram a destruição de 50 mil casas.
Milhares de soldados do Exército, da Marinha e da Força Aérea foram mobilizados para resgatar aqueles que estão isolados pelas águas.
A contaminação de fontes de água potável e as más condições de higiene fazem as autoridades temerem o surgimento de doenças e já há equipas de saúde no terreno a monitorizar a situação, esclareceram as autoridades.
Os danos causados pelas inundações estão estimados, até ao momento, em cerca de 2,6 mil milhões de euros. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, já prometeu que vão ser disponibilizados cerca de 61 milhões de euros para ajudar a colmatar as consequências das cheias.
O estado de Kerala, procurado pelos turistas devido às praias rodeadas de palmeiras e às plantações de chá, é afectado anualmente por fortes chuvas na época das monções.

22 Ago 2018

Índia | Pelo menos 357 mortos após inundações em Kerala

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m novo balanço das autoridades indianas aponta para pelo menos 357 mortos na sequência das inundações que atingiram Kerala, na Índia, as mais graves em 100 anos naquele estado do sul do país. As chuvas torrenciais têm-se abatido desde o final de Maio em Kerala, provocando deslizamentos de terra e inundações repentinas. “Desde 29 de Maio, dia em que as chuvas de monção começaram em Kerala, (…) um total de 357 pessoas perderam as suas vidas”, incluindo 33 nas últimas 24 horas, informou em comunicado o serviço de informações daquele estado. O balanço anterior apontava para 324 vítimas mortais. Cerca de 350 mil pessoas tiveram que se refugiar em três mil centros de apoio. Milhares de soldados do Exército, da Marinha e da Força Aérea foram mobilizados para resgatar aqueles que estão isolados pelas águas. O estado de Kerala, procurado pelos turistas devido às praias rodeadas de palmeiras e às plantações de chá, é afectado anualmente por fortes chuvas na época das monções.

20 Ago 2018

Índia | Monções causam 37 mortos e 37 mil desalojados

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos 37 pessoas morreram e 37 mil ficaram desalojadas no estado indiano de Kerala (sudoeste da Índia) devido a inundações repentinas e deslizamentos de terras causados pelas monções que atingem a região desde quarta-feira.
O estado, apreciado pelos turistas pelas suas praias com palmeiras e plantações de chá, recebe fortes chuvadas todos os anos durante a estação das monções, mas a precipitação tem sido particularmente forte este ano. Os residentes deslocados “foram levados para 350 centros de acolhimento em todo o estado”, indicou um coordenador regional citado pela agência France-Presse (AFP).
O exército foi requisitado para missões de resgate depois de dois dias de chuvas fortes terem forçado as autoridades a abrir as comportas de 27 reservatórios para escoar o excesso de água. Num dos casos, a represa não era aberta há 26 anos.
“O nosso estado enfrenta uma devastação sem precedentes”, escreveu, no Twitter, o responsável do Executivo de Kerala, Pinarayi Vijayan. “Perderam-se várias vidas. Centenas de casas foram totalmente destruídas”, lamentou, ao mesmo tempo que saudou o trabalho das equipas de socorro, que vieram de todo o país.
Mais de um milhão de turistas visitaram Kerala no ano passado, segundo estatísticas oficiais.
Os desastres meteorológicos são comuns no sul da Ásia na época mais intensa das monções, em Julho e Agosto, quando muitas vezes deixam centenas de mortos e milhões afectados na região. Em Agosto de 2017, cerca de 700 pessoas morreram no norte da Índia devido a incidentes relacionados com as fortes chuvas, sendo mais afectados os estados de Bihar e Uttar Pradesh.

13 Ago 2018

População da Índia irá ultrapassar a da China em 2022, diz Banco Mundial

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] população da Índia deverá ultrapassar a da China, actualmente o país mais populoso do mundo, no ano de 2022, de acordo com novos dados divulgados pelo Banco Mundial.

“A China, com 1,4 mil milhões de habitantes é o país mais populoso do mundo em 2017. No entanto, a Índia, segundo país mais populoso, com 1,3 mil milhões de pessoas, deverá superar a população da China até 2022”, revela dados do Banco Mundial, disponíveis no portal da instituição sobre saúde, nutrição e população mundial, através de gráficos e tabelas que apresentam previsões até 2050.

Em 2022, as previsões indicam que a população da Índia será de 1.411.415.000 enquanto a China terá 1.404.652.000 habitantes.

Segundo os dados, a taxa de fertilidade da China diminuiu drasticamente desde a década de 1970.

Os dados também indicam que, embora o México e o Japão tenham população semelhante (129 milhões e 127 milhões, respetivamente) em 2017, as estruturas etárias desses países parecem muito diferentes.

As pirâmides populacionais dos dois países mostram que a população do México é muito mais jovem do que a do Japão. O México tem mais jovens e o Japão tem mais idosos.

A população com mais de 65 anos aumentou rapidamente desde os anos 90 no Japão. No entanto, a população com mais de 65 anos no México deverá exceder 10 milhões em 2020 e aumentar de forma constante. Estima-se que as diferenças na população com idades entre 65 anos ou mais entre o Japão e o México diminuam até 2050.

No que toca à saúde, o estudo refere, por exemplo, que as mulheres são mais vulneráveis ao VIH do que os homens, especialmente na África Subsaariana. Em 20 países da África Subsaariana, mais de 60% da população afetada pelo VIH são mulheres.

Em outras regiões, menos da metade da população afetada pelo HIV são mulheres (sul da Ásia: 33%, América Latina e Médio Oriente: 38%). Segundo o Programa das Nações Unidas para o Combate ao VIH/Sida (UNAIDS), fatores estruturais, comportamentais e biológicos estão a aumentar o risco de infeção pelo VIH entre as mulheres.

Os dados indicam que há mudanças na causa da morte em países de baixo rendimento nos últimos 16 anos.

Em países de alto rendimento, a maioria das mortes é causada por doenças não transmissíveis, como doenças cardíacas e AVC, enquanto a maioria das mortes em países de baixo rendimento é causada por doenças transmissíveis.

Na Zâmbia, Quénia, Malauí, Níger e Botsuana, com a maior proporção de causas de morte por doenças transmissíveis, mais de 78% das mortes foram causadas por doenças transmissíveis em 2000.

No entanto, a proporção de causas de morte por doenças não transmissíveis aumentou nestes países em 2016. No Botswana, por exemplo, a percentagem de mortes causadas por doenças transmissíveis tem vindo a diminuir rapidamente, enquanto a proporção de mortes por doenças não transmissíveis aumentou entre 2000 e 2016.

5 Ago 2018