Estudo | Comida portuguesa é mais-valia do território

Uma cidade que culturalmente é igual ao Interior, mas que se destaca pela arquitectura portuguesa, num estilo exótico. É desta forma que o território é apresentado num estudo publicado revista científica International Journal of Social Sciences and Public Administration.

A comida portuguesa, como complemento da gastronomia chinesa, é uma das grandes vantagens de Macau no âmbito do turismo familiar. A conclusão faz parte de um estudo com o título “Análise à Possibilidade das Viagens em Família se tornarem num Turismo Complementar à Grande Indústria do Jogo”, publicado na revista científica International Journal of Social Sciences and Public Administration.

O estudo é elaborado por Feng Haoxuan, académico da Universidade de Macau e Ciência e Tecnologia (MUST, em inglês), e tenta apontar as formas como o turismo virado para as famílias pode servir para complementar o turismo de jogo.

“A vantagem de escolher Macau para uma viagem em família, com pais e filhos, passa por Macau ter muita comida, não só chinesa, mas também portuguesa. E há muitos pontos de interesse turístico, que são muito icónicos e que valem muito a pena visitar”, pode ler-se no documento elaborado por Feng Haoxuan, académico da Universidade de Macau e Ciência e Tecnologia

Ainda no que diz respeito às características ligadas à cultura portuguesa, Feng indica que o território é um misto do ambiente cultural do Interior com a arquitectura portuguesa. “A mistura da cultural chinesa e ocidental, não só faz com que haja uma atmosfera cultural como a do Interior da China, mas a arquitectura portuguesa resulta num estilo exótico”, acrescentou.

 

Ambiente seguro

Sobre as outras vantagens do turismo local, Feng Haoxuan indicou os “muitos hotéis”, principalmente de cinco estrelas e “bem conhecidos”, assim como a dimensão “reduzida” do território, que faz com que “as atracções estejam muito próximas” e tornem as deslocações “convenientes para viajar”.

Em relação a este aspecto, o académico indica que no caso do turismo dos idosos, existe tendência para se cansarem menos do que em outros destinos, porque tudo é mais próximo.

A estas vantagens junta-se ainda o ambiente seguro: “A segurança pública em Macau é boa. Em Macau, a segurança das crianças e dos idosos está garantida, e as famílias podem estar mais tranquilas”, é argumentado.

No que diz respeito às desvantagens, o autor indica que “são muitas”. “É melhor dizer que os transportes em Macau não são tão convenientes como no Interior ou em outros locais. Os táxis são muito mais caros do que no Interior, e Macau não tem metro, apenas autocarros”, foi explicado “Se uma família quiser sair em conjunto, há uma pressão muito grande no trânsito, o que também afecta a vida dos residentes locais”, apontou.

Se, por um lado, o jogo é o pilar da economia, por outro, é também um grande desafio para o turismo local, no que diz respeito ao turismo familiar. O autor justifica que existência de tantos casinos faz com que nem sempre o ambiente seja o mais indicado para os mais novos. “No final de contas, o jogo é um passatempo mau”, vinca.

28 Fev 2024

Gastronomia | Nova temporada de programa de Joana Barrios gravada em Macau

Joana Barrios, chef portuguesa que apresenta em Portugal o programa de culinária “O da Joana” ou “À la Barrios”, no canal 24 Kitchen, encontra-se em Macau a fazer gravações para a nova temporada do programa. Joana já passou pelo restaurante de sopas de fitas Cheong Kei, na Rua da Felicidade, ou nos espaços de restauração do Grand Lisboa Palace, no Cotai

 

A diversidade gastronómica e cultural de Macau terá levado a chef portuguesa e actriz Joana Barrios a enveredar-se nos meandros dos restaurantes do território, onde está desde a semana passada em gravações para a nova temporada do programa “À la Barrios”, que será transmitida no canal de televisão por cabo 24 Kitchen.

A novidade foi anunciada na conta de Instagram de Joana Barrios, bem como na conta oficial do 24 Kitchen. “Em breve vai ser tudo mais divertido e colorido na nova temporada do À La Barrios! A Joana Barrios foi até Macau para se inspirar. Curiosos? Acompanhem todas as novidades aqui”, podia ler-se há uns dias.

Na sua conta, Joana, natural do Alentejo e que, nos últimos tempos, tem-se tornado mais conhecida do grande público devido à sua presença na televisão a cozinhar, tem levantado a ponta do véu relativamente ao lado da gastronomia local que poderá aparecer nos ecrãs portugueses.

Joana Barrios já esteve nos espaços de restauração do Grand Lisboa Palace a experimentar iguarias mais sofisticadas, mas não ignorou a típica comida chinesa local, tendo passado pelo restaurante de sopa de fitas Cheong Kei, situado na Rua da Felicidade, uma das mais tradicionais e turísticas de Macau.

“Estou a tentar não fazer overposting nem dar cabo de tudo com spoilers.
Acabámos de gravar aqui, na casa da tradicional sopa de fita Cheong Kei, na Rua da Felicidade, e tenho muitas coisas para dizer, especialmente numa altura em que em Lisboa se sucedem aberturas de restaurantes de caldos com massa (porque noodles e ramen são coisas diferentes), é extraordinário enfiar na boca um ninho de longas fitas irregulares de uma massa que não está escrita”, descreveu a apresentadora.

No Instagram, Joana Barrios acrescentou que, nesse estabelecimento, “os noodles são ainda feitos de modo artesanal seguindo a receita familiar e utilizando os mesmos utensílios desde a abertura”. “Da massa dos noodles também se fazem outras delícias como os ‘Won Ton’ de camarão que podem ser fritos acompanhados com molho ‘doçura’ ou cozidos servidos num caldo”, escreveu ainda.

O pombo e as memórias

Joana Barrios considerou “tokenizada e formal” a experiência com a comida servida no Cotai, pois um prato de pombo levou-a às memórias de infância ou adolescência, enquanto “a visita ao pequeno restaurante da família Lao, na Rua da Felicidade, deu cabo de mim”.

A equipa de filmagens está a ser acompanhada por um tradutor, embora, no que diz respeito à cozinha, Joana Barrios descreva que, para sensações e gostos proporcionados pela comida, “não foi necessária tradução”, pois “a comoção é um sentimento universal”.

O HM contactou a apresentadora do programa no sentido de saber mais detalhes a propósito deste projecto e da nova temporada do “À la Barrios”, mas até ao fecho desta edição não foi obtida resposta.

“À la Barrios” já deu origem a um livro de receitas lançado em Portugal em Novembro de 2022, mas Joana Barrios já conhece os meandros do mundo editorial em livros de cozinha, tendo lançado “Sopeira”, “O da Joana” ou “Palato Rico, Palato Pobre”. Antes de ter o seu próprio programa de televisão, começou a cozinhar no “Programa da Cristina”, anteriormente transmitido na SIC.

Joana Barrios é actriz formada pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, tendo ainda uma pós-graduação em Crítica de Cinema e Música Pop. Começou a trabalhar com a companhia Teatro Praga em 2008, mas depois passou para o mundo da televisão com o programa “Armário”, uma série de documentários sobre moda transmitida na RTP2.

Em 2021, começou a ser uma das apresentadoras do 24 Kitchen, a par de nomes como Jamie Oliver, Henrique Sá Pessoa ou Filipa Gomes, com o programa “O da Joana”.

31 Jan 2024

Guiné Equatorial pela primeira vez em mostra gastronómica lusófona de Macau

A Guiné Equatorial está presente pela primeira vez na Mostra Gastronómica Lusófona da Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, apresentada ontem no restaurante Tromba Rija de Macau com a presença de seis chefs.

Marcial Mangue nunca pensou que a Guiné Equatorial se pudesse reconhecer nos sabores de outros territórios da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Até chegar a Macau, onde, em conjunto com chefs de Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, está a participar na mostra gastronómica da 15.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa (PLP), que começa amanhã, e termina a 25 de Outubro, no restaurante Tromba Rija. “Diria que não haveria ingredientes semelhantes, mas partilhámos ingredientes, como a mandioca e o óleo de palma”, disse aos jornalistas, durante uma apresentação culinária.

Especialista em pratos tradicionais da África Central, coube ao jovem chef inaugurar a primeira presença da Guiné Equatorial na mostra gastronómica em Macau – o país aderiu oficialmente em 2014 à CPLP e apenas no ano passado foi aprovado como membro do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP (Fórum Macau), responsável pela organização da Semana Cultural.

Sobre a cozinha equato-guineense, estranha para os pares dos países presentes, Marcial Mangue salientou que “tudo é natural” e que “todos os ingredientes se vão buscar à terra directamente para a panela”. Entre os pratos apresentados ontem, Mangue optou por homenagear “várias culturas”: a pepesup, sopa de peixe picante originária “de uma parte costeira do país”, e o bambucha, guisado do grupo étnico Fang, “que habita a floresta”.

Para a chef Cláudia Neves, de Cabo Verde, o contacto com a Guiné Equatorial é uma “descoberta de novos sabores” e que vai resultar em “mais bagagem”. Há pontos em comum, sublinhou: “Ele utiliza o milho, a nossa gastronomia é à base do milho, utilizou o marisco que é o búzio, nós também temos, a mandioca, a batata doce”, notou, salientando que “talvez o que muda é a forma de confeccionar e os condimentos”.

Afectos no prato

Sobre o evento que reúne culinárias do universo lusófono, a docente da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde quer trazer para cima da mesa a cultura e as raízes do arquipélago “através da gastronomia, da cachupa, do modje de São Nicolau, da djagacida, um prato típico da Ilha do Fogo”.

Além da língua, acrescentou, os seis países representados nesta mostra ligam-se “pelos temperos, raízes e produtos”. “Depois é uma ligação afectiva e a comida é a melhor forma de afecto”. Afectos confecionados com ingredientes que chegaram, em parte, de avião com esta especialista em pratos crioulos: “A sopa [de peixe e atum], em Cabo Verde, fazemos com cabeça de atum, mas aqui como não havia, trouxe lata de atum, porque tem um tempero diferente, porque o nosso atum é de água salgada, então é diferente, mas na cozinha temos que reinventar, temos de saber reaproveitar e reutilizar”.

Já Caco Marinho, do Brasil, quer servir comida “o mais fresca possível”. Depois de ter encerrado dois restaurantes durante a pandemia da covid-19, o chef e empresário da Baía é hoje presidente do Instituto Ori, que “tem o alimento como transformador sócio ambiental”. “Trabalho directamente com agricultores e agricultoras, pescadores artesanais. Esses são os ingredientes que me interessam, não me interessa super processados, não me interessa comida sem alma”, explicou.

Marinho, que serviu durante a apresentação de ontem, entre outros pratos, moqueca de camarão acompanhada de farofa de dendê e molho lambão, resumiu o encontro em Macau das seis culinárias como uma “cozinha alegre, colorida, de temperos e pimentas”.

“O sentimento, apesar da distância geográfica, é de irmandade, é como se tivéssemos irmãos em outro lugar com ligações de afecto, de memórias, de aromas, que apesar da distância geográfica são parecidos”, disse. Para o curador do evento e actual chef do Tromba Rija de Macau, houve surpresas nestas culinárias com “500 anos de história”. “Não conhecia a malanga”, declarou aos jornalistas Telmo Gongó, referindo-se a uma raiz cultivada sobretudo na América do Sul.

“As pessoas que visitam o restaurante conseguem perceber que a cozinha portuguesa não é só de Portugal e Macau, mas podem perceber que a cozinha portuguesa, dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], a de Macau, veio de fusão por barco. Em Macau, temos especiarias da Índia, de África, e tudo o que está aqui demonstrado são os países por onde o barco passava antes de aqui chegar e que trazia as especiarias para Macau”, concluiu.

18 Out 2023

Gastronomia | José Avillez quer mostrar cozinha contemporânea nacional

“Estou muito feliz com a abertura, foi um parto difícil por causa da covid-19”, comentou ontem José Avillez à Lusa, notando que o restaurante, localizado no hotel The Karl Lagerfeld Macau, no Grand Lisboa Palace, “está preparado há bastante tempo”.
Macau, à semelhança do Interior da China, adoptou a política ‘covid zero’, impondo, ao longo de três anos, rigorosas restrições fronteiriças.
Avillez, que esteve duas vezes no território para preparar o projecto, embarcou na aventura “um bocadinho à descoberta” e com a intenção de “tentar mostrar em mais um lugar a cozinha contemporânea portuguesa”, embora admita que, “aos poucos, poderá ter uma influência mais local”.
“Mas eu preciso de ir mais vezes [a Macau] para entender melhor a cozinha macaense que, de alguma maneira, está quase desaparecida ou vê-se em cada vez menos sítios, mas também algumas influências da cozinha cantonense”, apontou, revelando que vai regressar à região em Junho.
Avillez é “o parceiro perfeito para o Mesa, que se esforça por promover Macau como uma Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO”, escreveu ontem num comunicado à imprensa o Grand Lisboa Palace, propriedade da Sociedade de Jogos de Macau, notando ainda que o interior do restaurante, projectado pelo designer Karl Lagerfeld, apresenta “uma mistura arrojada de design contemporâneo e inspiração oriental”.

Gostos pelo mundo
Ontem, também o restaurante Tasca by José Avillez, no Dubai, renovou a estrela Michelin conquistada no ano passado.
A Michelin divulgou, numa cerimónia, os restaurantes distinguidos na edição de 2023 do Guia Dubai, entre os quais o Tasca by José Avillez, que manteve uma estrela Michelin (‘cozinha de grande nível, compensa parar’).
Inaugurado em 2019 no hotel Mandarin Oriental Jumeira, o Tasca é o primeiro restaurante fora de Portugal de José Avillez e foi, no ano passado, um dos nove distinguidos com uma estrela na primeira edição do Guia Michelin no Dubai.
Além da distinção no Dubai, José Avillez tem, na edição de 2023 do Guia Espanha e Portugal, duas estrelas no Belcanto (Lisboa) e uma no Encanto (Lisboa), que foi o primeiro restaurante vegetariano distinguido pela Michelin na Península Ibérica.

26 Mai 2023

Gastronomia | SoSabi, o único espaço que serve comida indo-portuguesa em Macau

Chama-se SoSabi e é um espaço de restauração da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos que serve comida indiana e, ao mesmo tempo, portuguesa, dos territórios de Goa, Damão e Diu. Este é o único espaço em Macau que, actualmente, serve estes pratos com um sabor único

 

O SoSabi, espaço da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos, é o único local de Macau a confeccionar pratos da culinária indo-portuguesa “que só se encontram em casa de amigos”, disse o promotor da iniciativa. Sarapatel, xacuti de frango, balchão de porco ou caril de camarão. Referências da identidade culinária de Goa, Damão e Diu que, em Macau, já não existem só em almoços de família, mas agora também no espaço público.

A iniciativa é de Elias Colaço, natural de Damão, que explorou até Fevereiro um quiosque no largo do Lilau, entre a colina da Penha e a Barra, com petiscos portugueses e daquelas regiões indianas, mas que “esteve encerrado por causa da pandemia” da covid-19.

“Fui convidado por um dos parceiros do projecto da associação de divulgação da gastronomia africana para juntar a gastronomia de origem do antigo Estado Português da Índia, Goa Damão e Diu. Claro que aceitei de imediato”, disse à Lusa. Na rua Formosa, no centro histórico de Macau, Colaço apresenta pratos “desconhecidos da generalidade das pessoas”, mas confia que “os chineses são curiosos e atentos à novidade”.

“É, efectivamente, o único local em Macau onde se pode comer comida de origem de Goa, Damão e Diu. Não sendo culinária indiana, os restaurantes indianos em Macau não a confeccionam”, apontou.

Novas experiências

Mas este é também lugar para novas explorações na cozinha. Elias Colaço fez “numa de brincadeira” uma francesinha “com toque de Goa”, em que substituiu a linguiça por chouriço da região. Os pratos são, na maioria, preparados fora e, no caso da francesinha, “tem o suporte de um chefe de cozinha do norte de Portugal”.

“Não mexi no molho que sei ser factor importante na francesinha e, como não quero desvirtuar a mesma, o molho segue os critérios observados pelo chefe (…). Para já, está aprovada pelo mesmo e [atraiu] a curiosidade da Confraria da Francesinha de Macau que já marcou um jantar”, disse.

O SoSabi – termo crioulo utilizado em vários contextos, que pode traduzir um estado de “alegria, satisfação, festa” ou significar “tudo saboroso” – abriu em Fevereiro de 2022, com o objectivo de divulgar a gastronomia africana, “tão apreciada”, mas “sem nenhum espaço de divulgação” em Macau, contou Elias Colaço, um dos quatro elementos à frente do projecto.

Cachupa de Cabo Verde, Caldo de Mancarra da Guiné-Bissau, Moamba de Angola e Matapa de Moçambique são algumas das iguarias disponíveis no espaço da Associação para a Promoção Gastronómica de Países Africanos, que esteve encerrado vários meses durante à pandemia e reabriu apenas em Março, “já com nova equipa e a inclusão da gastronomia de Goa, Damão e Diu”.

Para a pequena comunidade indo-portuguesa a residir em Macau, este novo projecto, lançado em Fevereiro, é uma “luz ao fundo do túnel”, reagiu à Lusa o presidente do Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu.

“Infelizmente nunca tivemos, que eu saiba, em Macau, um restaurante goês. Os próprios goeses conviviam entre eles e hoje era na casa de um, amanhã na casa de outro, e cada um confecionava as suas iguarias e compartilhava os poucos momentos de um sítio próprio, digno de uma casa goesa. E tem sido assim em Macau nos últimos 50 anos”, frisou Vicente Pereira Coutinho, que espera agora que a população local possa “aderir e experimentar as iguarias” do SoSabi.

A comunidade de Goa, Damão e Diu a residir em Macau é composta por cerca de 80 a 90 elementos, admite o responsável, notando que a presença na região também se foi diluindo ao longo dos tempos com os membros a casarem localmente.

Por volta dos anos 50 do século passado, “já existiria em Macau uma comunidade goesa, damanense e diuense”, sendo que “desde a chamada liberação de Goa”, houve “muitos mais goeses” a mudarem-se para o território.

“Nos anos 1970-1980 foi um período muito grosso. Aliás, até 1969 havia missões ultramarinas em que o pessoal de Goa vinha a Macau, fazia cá compras, como malas de cânfora. Muita unidade fabril de Macau exportava para colónias portuguesas”, lembrou.

7 Mai 2023

Gastronomia | Programa sobre Macau com 240 milhões de visionamentos

No passado dia 28 de Janeiro estreou no canal CCTV-2 o programa de gastronomia, cultura e turismo “Viagem de duas vias em Macau”, que “gerou aumento de 81 por cento da taxa de audiência na CCTV-2 e mais de 240 milhões visionamentos do tema no Weibo”, indicou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST).

O programa que mostra as especificidades de Macau é transmitido na televisão nacional ao abrigo do acordo firmado entre o Governo de Macau e o China Media Group. A DST indicou que o número de telespectadores jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos aumentou 191 por cento.

Além do canal financeiro CCTV-2, foram divulgadas informações sobre o programa através do serviço noticioso principal da CCTV-1, do bloco Notícias da China da CCTV-4, e blocos noticiosos da CCTV-13 News, da CCTV News, Central Video, bem como dos canais do China Media Group nas redes sociais Weibo, Wechat, Douyin, Kuaishou, difundindo também informações através dos seus serviços radiofónicos da voz da China, da voz da economia, da voz do Estreito de Taiwan, da voz da Grande Baía, da voz de Hong Kong, da rádio global e da voz de Shenzhou.

5 Fev 2023

Simbolismo na gastronomia chinesa

A Gastronomia com características chinesas não se resume a uma arte em que os ingredientes são misturados com mais ou menos ciência, é muito mais do que isso, já que “as características chinesas” indicam uma filosofia que apresenta os valores essenciais da cultura chinesa, os princípios por que os chineses se regem e as ideias-matriz deste povo tão sui generis, que alia com grande sabedoria filosofia à língua e esta, por sua vez, aos ingredientes de modo a fornecer uma orientação existencial gastronómica que comanda em termos teóricos e práticos a vida e a saúde dos chineses, já que quem come bem, quer dizer, com atenção ao valor simbólico da culinária, poderá usufruir de uma vida longa e muito salutar. Haverá melhor filosofia do que esta: caminhar pela vida corretamente sem tropeçar a cada passo nas doenças que a falta de saber gastronómico pode atrair?

A proposta aqui deixada é se pesquise o simbolismo gastronómico em algumas das principais festividades chinesas.

Aniversário da Humanidade: homofonias linguísticas

De acordo com a tradição chinesa, os seres humanos, além de gozarem o seu segundo aniversário à nascença, possuem um aniversário a mais, no sétimo dia do Ano Novo Chinês , no qual comem alface não cozinhada e peixe cru, sobretudo carpa, assentando as razões mais essenciais numa filosofia da linguagem simbólica, já que o caracter para fresco ou cru é shēng (生), que também significa “vida” e “crescimento”, por isso “ comer vegetais frescos e peixe cru simboliza uma vida longa e próspera.” (Tan, 1997: 9). Além disso, um dos nomes para alface em chinês é shēngcài (生菜), que significa “vegetal cru” e por jogo homófono “vida e riqueza”. Há ainda a considerar que peixe, em chinês yú (鱼/魚) , é homófono de yú (余/餘) de “excesso”, que vem sempre a propósito e rima com prosperidade.

O simbolismo-gastronómico da Festividade do Ano Novo Chinês.

No Ano Novo chinês Xīnnián (新年), a principal festividade dos chineses, também conhecida pela Festividade da Primavera (春节/莭Chūnjié), celebra-se o início de um novo tempo, repleto de esperança e oportunidades para todos, bem como a reunião familiar. O novo de tempo “com tudo de bom e a correr às mil maravilhas” (万/萬事如意Wànshì rúyì) deverá ser devidamente aproveitado e preparado por um conjunto de gestos rituais, que incluem naturalmente a gastronomia, viabilizadora da união familiar em torno de uma mesa tão redonda (e unida) como alguns dos principais petiscos a servir. Na Véspera do Ano Novo, correspondente à Consoada cristã, dá-se o grande encontro familiar , denominado a Reunião do Ano (团年, Tuán nián), em que por tradição até os ancestrais participam, sendo-lhes reservado um lugar à mesa, ofertando-lhes a comida da sua preferência, toalhas para limpar o rosto e cigarros (Pires, 2018: 164/166). E se na refeição da véspera do ano novo se pode comer tudo, já no primeiro dia do ano é dada preferência a uma ementa vegetariana, porque é considerado muito pouco auspicioso entrar o ano a matar animais.

Contudo, esta tradição tem vindo a ser esquecida, sendo substituída em muitas famílias por um encontro num restaurante para um variado iam-chá (饮茶, yǐn chá ), que numa tradução literal significa “beber chá”, mas na realidade é uma refeição não tanto com pratos mas com petiscos muito variados.

É através da comida que se presta homenagem aos antepassados e aos deuses durante a Festividade do Ano Novo Lunar, há, no entanto, algumas diferenças nas homenagens. Enquanto aos antepassados se oferece sempre comida temperada, e no menu não pode estar ausente o arroz, já os deuses são agraciados com o mesmo género de comida, à excepção do arroz, representante do sustento e da abastança, e sem temperos. Serão então cinco espécies de comida, cinco taças de vinho e cinco e de chá a figurar entre as dádivas. Porém, para as divindades devem constar 10 pauzinhos no altar.

Além disso, o chefe de família agradece no altar ou tabuleta ancestral a proteção dos antepassados, presenteando-os com cinco chávenas de vinho de arroz, que podem ser substituídas por uísque ou conhaque, cinco chávenas de chá e cinco pares de pauzinhos, já que o cinco simboliza a organização cósmica e, portanto, fornecendo a ordem dos elementos em todas as direções.

O jantar da Consoada chinesa deve ser abundante, de forma a permitir sobras, que ao transitarem de um ano para o seguinte simbolizam a riqueza material e o excesso que foi transportado para o novo tempo. O que não pode faltar à ceia de Ano Novo é o peixe cru yúshēng (鱼生): “o peixe é comido para longa vida e abundante riqueza.” (Tan, 1997: 21).

A fim de se compreender o que traz a sorte à mesa chinesa, é preciso nunca perder de vista o sentido e o simbolismo das palavras e respetivos tons. Assim, por razões de fortuna linguística não devem faltar a uma mesa de Ano Novo auspiciosa os seguintes ingredientes: ostras, que em Cantonense se pronunciam ho see (蚝/蠔) , figurando desta forma uma “ocasião propícia”; algas (发/發菜, fàcài), que nos evocam a ideia de prosperar ou, até mais literalmente, de “crescer a riqueza”.

Não podem estar ausentes do banquete festivo cogumelos (冬菇, dōnggū) , a representar a realização dos desejos de Este a Oeste; tâmaras ou jujubas (红枣/紅棗, hóngzǎo), que devido a cor vermelha (红/紅, hóng) simbolizar prosperidade e (枣/棗, zǎo) ser fruta homófona de “manhã cedo”, (早, zǎo), nos remetem para o sentido de “a prosperidade vem cedo”, caso se prefira, “está a chegar”; ou sementes de lótus, (莲/蓮子, liánzǐ), que também por um jogo homófono com lián (连/連), significando este caractere” ligação” ou “sucessão”, prometem descendência ou continuação da família. A rematar o desfile alegórico de acepipes encontramos o bolo de Ano Novo (年糕, niángāo), cuja homofonia perfeita com “alto” (高, gāo) de desperta nos convivas a vontade de ascender socialmente e ter melhor status no ano que está a entrar, sem perder de vista a união familiar, uma vez que o bolo é redondo, de modo a apelar ao sentido de família e à amizade eterna, dada a sua massa aglutinadora, além de a uma vida doce, como requer o açúcar que o constitui.

A um outro nível simbólico não linguístico e mais intuitivo e directo, por assentar na figuração dos elementos comestíveis, marcam presença o arroz (米, mǐ), a representar a riqueza devida à proliferação dos grãos, e a massa (面条/麵條, miàntiáo), simbolizando, pelo seu comprimento, a longevidade.

A compor o cenário culinário há ainda uma travessa redonda ,dividida octogonalmente, que devido à sua forma física nos remete para o número oito (八, bā), cujo simbolismo linguístico, por homofonia imperfeita, evoca “crescer” ou “prosperar” (发/發, fà). Nada na travessa figura ao acaso, já que está recheada de ingredientes propícios, como sejam os bolos (糕, gāo) , a apelar à elevação social; certos frutos secos como as tâmaras (枣/棗子, zǎozǐ), onde a boa sorte também pode chegar mais cedo na forma de filhos (早子, zǎozǐ); ou ainda sementes de melão, simbolizando descendência (瓜子兒, Guāzǐ er), mais pela sua forma física, já que são muitas e douradas, estando implícito o sentido de que a progenitura é a verdadeira riqueza.

Ao longo de toda a festividade os amendoins também se encontram em lugar de destaque, porque representam a saúde, sendo, em sentido literal “as flores da vida” (花生, huāshēng) e, por extensão de sentido a partir da observação, “o fruto que cresce da terra” (长/長生果, Chángshēng guǒ) , expressão que pode ser traduzida por “o fruto da longevidade”.

Há um outro nível de simbolismo associado aos elementos comestíveis que conjuga forma, sabor, cor e linguagem. Importantes frutos não apenas se comem como também cumprem funções decorativas essenciais, já que ao serem espalhados pelas casas ou figurarem à entrada das moradias e até de estabelecimentos comerciais, chamam a fortuna. Ora pensemos nos peixes vermelhos, nos peixes dourados ou nas laranjas. Estas últimas em Cantonense são gam (柑) , criando a possibilidade de estabelecer uma relação homófona com ouro, que também se diz gam (金) , cujo som é, de novo, homófono de doce gam (甘). Logo, as laranjas pela cor, sabor, formato e língua transportam consigo a promessa de uma vida doce e rica.

Em situação quase idêntica está a tangerina, cuja nota dissonante se encontra na língua, já que o caractere para tangerina é kat (橘) , que em Cantonense estabelece homofonia com “sorte”, ou seja, kat (吉)

Recorde-se que na religião popular ou tradicional se multiplicam as oferendas comestíveis a divindades. É até usual pedir proteção não apenas entregando os cinco frutos no altar das oferendas, mas indo um pouco mais longe pela altura do 23º dia do 12º mês lunar chinês, quando é suposto o Deus da Cozinha (灶君, Zào Jūn), que reside na cozinha das famílias chinesas, ir apresentar o relatório anual das atividades familiares à suprema divindade do panteão chinês, o Imperador de Jade Yùhuáng Dàdì (玉皇大帝). Nessa data, é o melaço ou os doces glutinosos que figuram em lugar de destaque, com os quais se unta a boca dele ou se procede a imersão do retrato da divindade em vinho para que o relatório entregue pelo emissário vá para o Céu o mais condescendente possível, a fim de que: “Chou Kuan não fizesse um relatório ‘amargo’ ao imperador celestial ”(Jorge, Cecília. 2005: 87).

Rituais culinários na Festividade das Lanternas

A Festividade do Ano Novo Lunar encerra com uma outra festa, a das Lanternas no 15º dia, com a primeira lua cheia do ano. O sinólogo macaense Luís Gonzaga Gomes (1907-1976) em Festividades Chinesas (1953), afirma ser provável que a Festa das Lanternas tenha surgido com culto do Imperador Wudi (武帝 Wǚdì, 140-86 a.C) da dinastia Han à divindade da Primeira Causa (太乙神 Tàiyǐshén). Desta forma, a colocação de lanternas vermelhas acesas e ramos de abeto nas portas teriam como objetivo atrair a prosperidade através das luzes e a longevidade pelos ramos. (Gomes, 1953: 183) Refere, ainda, que o Imperador da dinastia Tang Ruizong (唐睿宗 Táng Ruìzōng, 662-710) terá mandado decorar uma frondosa árvore de mais de 36 metros de altura com 50.000 lanternas, com as mais variadas formas, esta possuía um aspeto “tão feérico que ficou sendo conhecida na história com o nome de árvore igniscente” (Gomes, 1953: 184).

Nesta festividade à primeira lua cheia, Yuan Xiao (元宵) , que de tão redonda, simboliza na perfeição a união familiar, o amor e o casamento, não podem faltar as doces bolinhas de arroz glutinoso recheadas em caldo, as tang yuan (汤圆/湯圓, tāngyuán ), cuja doçura pegajosa representa a união familiar eterna, reforçada pelo simbolismo das lanternas, cada qual contando por um membro da família e, portanto, significando a felicidade e a longevidade. Dantes, em certas províncias, caso as famílias desejassem mais filhos “pendurariam lanternas extra” (Tan, 1997:36).

A festividade de Outono, a do Bolo Lunar

No 15º dia do 8º mês lunar, recorda-nos Leonel Barros, celebra-se a Festividade de Outono, Tchong Tchau Tchit (中秋节, Zhōngqiū jié ), o equinócio ligado ao final das colheitas, a abrir uma ascendência do período Yin (阴, yīn), em que o princípio feminino comanda apelando ao repouso da terra. A festividade calha em dia de lua cheia. Diz-nos Barros “A Lua redonda simboliza, portanto, além da feminilidade, a união da família, razão pela qual os familiares mais afastados regressam ao lar para celebrarem a festividade em conjunto” ( 2003:66).

À semelhança do que sucede durante a Festividade das Lanternas, que também tem como protagonista principal a Lua, encontramos lanternas espalhadas pelos parques e nas mãos de adultos e crianças de vários formatos e materiais, repletas de simbolismo, onde por exemplo, as lagostas representam a felicidade e a fortuna, entre aves, coelhos e borboletas pujantes de sentidos figurativos. E se na festividade das lanternas encontramos umas bolinhas de arroz glutinoso, muito redondas, mergulhadas em calda, na Festividade do Outono somos contemplados com magníficos bolos lunares, também eles redondos para representarem a lua e a união familiar e até um pouco mais, já que como nos lembra Leonel Barros eles serviram para durante a dinastia Mongol libertar o povo dos invasores mongóis, que a título de emissários do Imperador praticavam todo o tipo de desmandos nas casas chinesas. Assim no 15º dia da 8ª lua foi colocada uma mensagem dentro de cada bolo apelando à revolta popular. “todos os homens válidos deviam comparecer na praça pública” (2003:70).

O que de facto aconteceu foi através de um bolo, cujo primeiro sentido era o da união familiar, os chineses se viram livres dos invasores mongóis, libertando a China do jugo estrangeiro. Quanto ao bolo, o principal protagonista desta festividade , também é chamado em Macau, “bolo bate-pau”, sendo distribuído por amigos e vizinhos e não apenas aos familiares. Segundo a descrição de Gonzaga Gomes, os bolos possuem uma farinha de cor acinzentada como a lua, sendo recheados com toucinho e presunto; com massa de feijão; com pevides, frutos secos, tais como pinhões e amêndoas, cascas de tangerina e açúcar ou com sementes de lótus (1953: 231). São ainda constituídos por uma gostosa gema de pato ao centro simbolizando a lua.

Em muitos se pode ler “Coelho Lunar” ou “Rã Lunar”, aludindo à fuga da Terra da que viria a ser conhecida por Divindade da Lua, Sèong Ngó (嫦娥 Cháng´é ), após ter ingerido a pílula da imortalidade, conhecida por “Droga das Fadas”, Sin Iéok(仙药/薬 Xiān yào) sem aguardar pelo seu consorte, o Divino Archeiro, Hâu-Ngâi (后羿, Hòu Yì).

Como punição de não ter esperado pelo marido para partilhar o elixir voou para a Lua foi transformada pelos deuses em rã de três pernas. Já o marido, saudoso, voou para o Sol, onde construiu um palácio. Eles são os vetustos representantes das forças primordiais, masculina e feminina. Vivem separados, mas encontram-se sempre, de acordo com a versão de Gonzaga Gomes no 15º dia da 8ª lua, razão pela qual a Lua então irradia brilho e felicidade.

Também a almejada imortalidade, é concedida através da ingestão de uma pílula fabricada pelo Coelho de Jade num almofariz com o seu pilão, esta é ainda conhecida pelo nome de “Elixir de Jade”, em termos ocidentais, a “pedra filosofal”, que cura todos os males, sendo feita com sumo de limão, miolos de rã e casca de Cássia, árvore doadora da imortalidade. (Gomes, 1953: 243) Por tradição, montava-se um altar ao ar livre, um hino à unidade familiar, onde figuravam cinco pratos com frutos esféricos em homenagem à lua, tais como maçãs, pêssegos, uvas, toranjas, melões e romãs, cujas grainhas representavam grande descendência e prosperidade, bem como treze bolos lunares a constituírem o ano lunar “o completo ciclo da felicidade.” (Gomes, 1953: 236).

Filosofia culinária

Diz-nos António Pedro Pires em Festividade do Ano Novo Lunar “A preocupação, quase obsessão pela comida, é um padrão da cultura do povo chinês.” (2018:279). Assim sendo devemos entender a própria culinária como uma linguagem que traz consigo as suas mensagens a decifrar pelos convivas. Pires chama-nos a atenção a dificuldade de muitos ocidentais em compreenderem esta postura cultural, dizendo que nada de especial sucedeu nas refeições chinesas para que foram convidados “aquelas iguarias, partilhadas eram a própria mensagem, isso é algo muito claro para um chinês” (Pires, 2018: 281).

A comida indica, em termos sociológicos o status do anfitrião, quanto mais cara e rara, como por exemplo, ninhos de andorinha, barbatana de tubarão, lagosta, etc., tanto mais importante é aquele que convida e o que se quer celebrar no encontro com o convidado. Porém, a comida é um instrumento de comunicação a vários níveis. Através dela comunicamos com a família, com os membros da sociedade humana, bem como com os todos os outros da sociedade divina, antepassados e deuses. Chang afirma “uma das melhores formas de chegar ao coração de uma cultura é através do estômago” (1977:4) Sabe-se, por exemplo que em Macau, na culinária macaense, predomina, à imagem e semelhança da sociedade, uma gastronomia de fusão, que foi elevada em 2017 a património imaterial da humanidade, tendo o Território sido distinguido com o honorífico título de cidade criativa no ramo da gastronomia.

Voltando à filosofia da culinária chinesa, não podemos esquecer o chá, que acompanha todas as festividades e refeições chinesas, sendo a bebida nacional da China, porque “desperta, revigora, reconforta e trata algumas doenças” (Pires, 2018: 316/7), ou seja, cumpre funções sociais imprescindíveis em termos de saúde pública já que concede, saúde , vida, longevidade. O chá traz associadas duas figuras de grande relevo na cultura chinesa, uma, um imperador mítico, Shen Nong (神农, 2737 a.C), patriarca da agricultura e da medicina, terá descoberto o chá por acaso, enquanto descansava, quando umas folhas caíram numa panela de água a ferver, esta foi ingerida e pouco depois reconhecida a sua fragrância e importância para combater o efeito de certas ervas venenosas que ele havia engolido nas suas experiências médicas. À lista de ilustres inventores do chá, junta-se o monge Bodhidarma, o introdutor do Budismo Chan na China no século VI. Também ele recorreu ao chá para não se deixar adormecer nas suas práticas meditativas. Mais, a própria planta do chá neste mito terá tido origem nas pálpebras cortadas do monge que ao cabo de nove anos de meditação se deixou dormir. Quando acordou, para se punir arrancou as pálpebras que, lançadas à terra, terão proporcionado esta planta tão revigorante.

Neste espaço não houve a intenção de apresentar exaustivamente todas as festividades, mas apenas colher exemplos nas principais, a fim de que fossem fornecidas as pistas para decifrar valores essenciais do “coração-mente” da gastronomia com características chinesa.

A filosofia existencial, assinalada pela culinária, marca como linhas orientadoras deste modo de pensar a união familiar, simbolizada pela forma redonda dos bolos, à qual se alia uma complexa filosofia da linguagem assente no simbolismo do caractere para bolo, onde vamos encontrar a aspiração à elevação social e à prosperidade, bem como à riqueza presente nos caracteres para legumes, algas e arroz; ou, ainda, à longevidade trazida quer pela forma de alimentos como a massa, quer pelas sementes que, mais uma vez entram no jogo linguístico para nos recordar a importância dos filhos, ou melhor da descendência. A esta orientação gastronómica não poderiam faltar os princípios orientadores da sorte e da paz, presentes em frutos, como vimos na laranja, ou, como só agora vemos, na maçã (苹/蘋,píng), que nos proporciona a paz (平, píng) , por homofonia perfeita, ou a longevidade nos pêssegos, tudo isto regado com muito chá que dá saúde e longa vida, sendo favorável ainda ao escrutínio analítico e à meditação como os mitos e o caractere indicam.

Referências Bibliográficas

Alves, Ana Cristina. 2022. Cultura Chinesa, Uma Perspetiva Ocidental. Coimbra: Almedina, Centro Científico e Cultural de Macau
Barros, Leonel. 2003. Templos, lendas e Rituais – Macau. Macau: Associação Promotora da Instrução dos Macaenses.
Gomes G., Luís. 1953. Festividades Chinesas. Macau: Notícias de Macau.
Jorge, Cecília. 2005. 諸神靈•Deuses e Divindades •Gods and Deities. Macau: 郵政局•Direcção dos Serviços de Correios•Macao Post.
Pires, António Pedro. 2018. Festividade do Ano Novo Lunar em Macau. Macau: Instituto Cultural do Governo da R.A.E de Macau
Tan Huai Peng. 1997. Chinese Festivals. Ilustrações Leong Kum Chuen. Singapura, Kuala Lumpur e Hong Kong: Federal Publications.

5 Jan 2023

Casa-Museu da Taipa com restaurantes e cultura portuguesa

O Instituto Cultural abriu um concurso público de adjudicação da Casa de Recepções, uma das Casas-Museu da Taipa, para um restaurante que promova a cultura portuguesa e produtos “gourmet macaenses”. O despacho assinado pela presidente do IC materializa uma velha promessa de Alexis Tam

 

 

“Vamos montar um restaurante português, cafés e mais esplanadas naquela zona. Arranjar alguns [artistas] portugueses para tocarem. Vai ser interessante”, afirmou Alexis Tam no dia 9 de Novembro de 2015, citado pelo HM há exactamente sete anos. A intenção do à altura secretário para os Assuntos Sociais e Cultura era dinamizar as Casas-Museu da Taipa.

Sete anos depois, a intenção de Alexis Tam é materializada num despacho assinado pela presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man, que abre o concurso público para a adjudicação da Casa de Recepções, no coração da zona que recebe anualmente o Festival da Lusofonia, em frente ao auditório onde é montado o palco principal do evento.

A intenção do Governo é abrir um “restaurante que promova a cultura portuguesa com características próprias de Macau e que possua elementos do património cultural intangível de Macau, através de fornecimento de alimentos e bebidas gourmet macaenses”.

O IC pretende a abertura de um espaço que se conjugue “com o ambiente envolvente das Casas da Taipa e que seja utilizado também para vendas, exposições, actividades experimentais, workshops.”

 

Plano de pormenor

Em relação aos detalhes do “negócio”, o concurso público estabelece que a adjudicação será feita através de um contrato de arrendamento com a duração de quatro anos, sendo que a renda base ainda não está definida.

Os interessados têm até ao dia 30 de Dezembro para entregar as propostas e pagar uma caução provisória no valor de 20.000 patacas “mediante depósito em numerário ou através de garantia bancária legal a favor do Instituto Cultural”, assim como uma caução definitiva no valor de 40.000 patacas.

Quanto aos critérios de avaliação das propostas, o despacho estipula que a renda vale 40 por cento, o plano de negócio terá um peso de 35 por cento, projecto de planeamento do interior 10 por cento e a experiência do concorrente 15 por cento.

Os requisitos do concurso público estabelecem ainda que os “concorrentes devem estar inscritos na Direcção dos Serviços de Finanças e na Conservatória dos Registos Comercial e de Bens Móveis da RAEM”. No caso de o concorrente ser um “empresário em nome individual, deve ser residente na RAEM, e no caso de sociedades comerciais, o respectivo capital social deve ser detido numa percentagem superior a 50 por cento por residentes da RAEM”. O IC afasta a admissão de consórcios ao concurso público em questão.

O Governo vai organizar uma visita ao local para potenciais interessados no concurso na próxima terça-feira, dia 15 de Novembro. Para participar, é preciso fazer inscrição no Instituto Cultural até ao final do horário de expediente do dia anterior à visita.

10 Nov 2022

Gastronomia | Dos dumplings às carpas, as iguarias de Zhaoqing são tesouros a descobrir

Além das paisagens naturais e da história milenar, Zhaoqing é conhecido regionalmente pelas peculiaridades com que prenda o bom garfo que se preze. Petiscos de rua, como os guozheng, carpas e pequenos camarões de água doce e as aromáticas sementes de zhaoshi tornam a mesa da cidade num destino de aguçar o apetite

 

Fazer o melhor com o que há. Um lema aproximado do “desenrascanço” português, que fez da gastronomia portuguesa, e mediterrânea, um fenómeno de intuitivo equilíbrio nutritivo e criatividade. Zhaoqing é uma cidade que pega nessa máxima, potenciando à mesa o que a natureza lhe oferece, e que não é pouco.

Apesar dos planos políticos a 15 anos implementados pelas autoridades, que levaram ao crescimento das indústrias têxtil, alimentação, mobiliário, materiais de construção, produtos metálicos e equipamentos para casa, a aposta na agricultura que explora de forma ecológica produtos típicos da região tem dado frutos económicos.

O resultado prova-se à mesa, atracção que capta muitos turistas chineses à cidade dos Sete Penhascos da Estrela, uma das atracções mais conhecidas da cidade mais a ocidente da Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau.

A cultura gastronómica de Zhaoqing é o resultado de um processo natural, que o Governo local aproveitou com políticas de apoio ao trabalho e à subsistência do segmento da população mais carenciada economicamente. Mesmo durante a pandemia, o sector da produção agrícola registou crescimentos trimestrais na ordem dos 7 por cento para valores perto de 4 mil milhões de yuan, enquanto a indústria pesqueira cresceu 17 por cento em 2020, ganhos trimestrais a pouco menos de 2,5 mil milhões de yuan.

Além de dar emprego a quase 90 mil dos cidadãos mais pobres da prefeitura, o sector agrícola tem sido um dos focos de atenção a nível político, com a aposta do Governo local na promoção activa dos produtos típicos de Zhaoqing em canais de comércio online e em feiras de negócios.

Um snack de peso

O mais conhecido petisco de Zhaoqing é a versão local dos tradicionais bolinhos de arroz glutinoso Guozheng, como é chamado na região, iguaria que atrai muitos turistas. O petisco pode ser mais ou menos substancial, conforme o apetite, com os dumplings a chegar a atingir 1 quilograma de peso.

Os recheios incluem 10 ingredientes como carne de porco, camarão seco, cogumelos, ostras secas e ovo salgado. O recheio é coberto por arroz glutinoso e embrulhado em folhas vegetais num formato piramidal e, de seguida, cozido durante, pelo menos, oito horas até os ingredientes formarem uma massa homogénea.

Este tipo de bolinhos de arroz marca presença habitual um pouco por toda a China durante as celebrações do Festival do Barco do Dragão em Maio. Porém, em Zhaoqing o guozheng é uma das oferendas familiares durante o Ano Novo Lunar, mas os bolinhos são vendidos na cidade, e em lojas online, durante o ano todo.

Espinhas e carne

Outro dos ex-libris da gastronomia de Zhaoqing é a carpa Gaoyao Maixi, um peixe oleoso de água doce cultivado na região de uma forma bastante original. O processo de cultivo da carpa está intimamente ligado à produção de arroz, que é cultivado durante a Primavera. Após a colheita do arroz em Maio, as cabeças de arroz são deixadas no campo e cobertas de água, formando uma espécie de tanque. É neste ambiente natural e rico nutritivamente, repleto de minerais e livre de poluição, que a carpa Gaoyao Maixi é cultivada.

A carpa de Zhaoqing foi historicamente apreciada pela realeza chinesa, com particular destaque para a predilecção da Imperatriz Dowager Cixi (1835-1908) da dinastia Qing (1644 a 1911), que consta ter sido uma fã incondicional do peixe.

Existem várias formas para cozinhar esta carpa, mas os locais elegeram o tofu, carne de porco e um pouco de sal são os principais ingredientes que acompanham a carpa num guisado.

No capítulo da carne, a cabra da montanha Qiaotou é outras das especificidades de Zhaoqin e um dos produtos de destaque do condado de Huaiji. Os habitantes da zona montanhosa criam há séculos esta espécie de cabra, retirando o melhor do bem proporcionado corpo do animal. A carne da cabra de Qiaotou tem côr vermelha, é macia e tem um elevado valor nutritivo, e foi reconhecida com a entrada, em 2015, para o “Guangdong Famous, Special and New Agricultural Products Catalogue”.

O reino vegetal

Um dos locais a visitar em Zhaoqing é a montanha Dinghu, um paraíso natural onde não faltam quedas-de-água e um cenário natural que convida à contemplação e o descanso. O shangsu é um dos trunfos gastronómicos do distrito, sendo categorizado como “a mais alta qualidade de prato de legumes da montanha Dinghu”.

Segundo o folclore local, o prato de vegetais foi idealizado há vários séculos por um velho monge do templo budista Qingyun, outro dos pontos de interesse da zona montanhosa. O shangsu resulta do somatório de fungos brancos, vários tipos diferentes de cogumelos, rebentos de bambu e um mistura de vários vegetais regados por água de nascente.

Finalmente, destaque para a zhao shi, a semente de uma espécie de lírios que podem ser encontrados nos lagos e lagoas de Zhaoqing. Reza a lenda que a semente da flor começou a ser usada por um sacerdote taoista para tratar maleitas que afectavam os mais novos. Além das valias medicinais, a semente oleosa é um dos ingredientes essenciais de uma sopa tradicional, que também leva carne de porco. A zhao shi é também muito procurada por ter alegadamente propriedades anti-envelhecimento.

23 Abr 2022

Quatro filmes de ficar com água na boca

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

Os chineses acreditam que é importante equilibrar o yin e o yang no nosso corpo, e esse equilíbrio pode ser alcançado se ingerirmos os alimentos certos. Os alimentos yang podem ser doces, picantes e acres e têm cores quentes como vermelho e o laranja. Muitas das vezes, crescem no solo em ambiente seco. São disso exemplo a batata, a papaia, a malagueta e a carne de borrego. Ao contrário, os alimentos yin são mais amargos e salgados e geralmente têm um maior grau de humidade, costumam ser verdes ou de cores frias. Estes alimentos por norma crescem em ambiente húmido. Entre os alimentos yin podemos encontrar o pepino, o tofu, o lótus e os legumes verdes. Para além disso, a forma como se cozinha pode ser mais yin ou mais yang. Fritar e assar é considerado yang, ao passo que cozer em água ou vapor é tido como yin. Esta antiga escola de pensamento é conhecida como Taoísmo, na qual a Medicina Tradicional Chinesa é em grande parte inspirada.

Quer seja um gourmet ou um fã da cozinha chinesa, pode celebrar as artes culinárias e familiarizar-se com a filosofia chinesa através destes filmes maravilhosos. Está na hora de trocar as pipocas por alguns saborosos dumplings e noodles!

Eat Drink Man Woman (1994)

O Chef Chu, pai de três filhas, cozinha-lhes todos os domingos banquetes deliciosos. Enquanto estão à mesa, discutem as mudanças ocorridas nas suas vidas, a que assistiremos ao longo do filme. A cena de abertura é espantosa, consiste em sequências de preparação dos alimentos, filmadas em grandes planos. Por oposição à facilidade e ao talento com que o Chefe confecciona refeições deliciosas, o realizador analisa o isolamento emocional dos protagonistas, revelando a verdadeira intenção do filme.

Rice Rhapsody (2004)

O Chefe sino-americano Martin Yan interpreta Kim Chui, dono de um restaurante que enfrenta algumas dificuldades e não consegue competir com o congénere de maior sucesso, de que é proprietária Jen, a personagem principal do filme, famosa por confeccionar o melhor arroz de galinha Hainanese da zona. Entre os dois chefes começa a crescer uma grande rivalidade quando Kim Chui cria um prato semelhante, o arroz de pato Hainanese, que se torna rapidamente muito popular na cidade. O filme atinge o auge durante um concurso gastronómico onde se procura eleger o melhor prato tradicional de Singapura. Mas um outro sub-enredo atravessa o filme, centra-se na luta travada por Jen para aceitar o facto de os seus três filhos serem gay.

The Chinese Feast (1995)

As competições gastronómicas são um tema recorrente em The Chinese Feast. Quando Au, dono de um restaurante, é abordado pelo representante de uma empresa que quer transformar todos os restaurantes chineses num monopólio, faz-lhe frente e propõe-lhe um desafio; confeccionar o impressionante Banquete Imperial Manchu ou perder o restaurante. Decide então reunir uma equipa de Chefes de topo, na qual se inclui o Master Chefe Kit, que precisa de trabalhar com a mulher para ressuscitar o seu amor pela culinária. As cenas na cozinha são incrivelmente inspiradoras e só nos apetece começar a cozinhar imediatamente.

The God of Cookery (1996)

Nesta comédia cantonesa, o célebre Chefe conhecido como ‘Deus da Culinária’ é o reflexo da moderna indústria da gastronomia. Depois de ter sido expulso por fraude, e impedido de cozinhar, Chow ingressa secretamente numa escola de culinária para aprender a dominar esta arte. Depois regressa a Hong Kong pronto para se vingar dos seus rivais e voltar a ganhar o direito ao epíteto ‘Deus da Culinária’.

Citações famosas sobre comida para guardar na memória:
🌸 Para os governantes, o povo é o paraíso; para o povo, o paraíso é a comida
🌸 Governar um grande país é como cozinhar um peixe pequeno – se for muito manuseado vai estragar-se.
🌸 A forma com que cortas a carne reflecte a forma como que vives.
🌸 Em terra nascem três tipos de criaturas. Algumas têm asas e voam. Outras têm pelo e correm. Outras ainda movem os lábios e falam. Todas elas precisam de comer e de beber para sobreviver.
🌸 Falar não cozinha o arroz.

 

{{ Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram seleccionadas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.}

JULIE OYANG Writer | Artist | Namer of clouds
www.julieoyang.com | Instagram: _o_writes

22 Abr 2022

Cinema | FRC apresenta filme japonês “Tampopo”

Na próxima terça-feira, às 18h30, será apresentado o segundo filme do ciclo “Gastronomia e Cinema”. Trata-se da produção japonesa “Tampopo”, de Jûzô Itami, uma “elegante” comédia em que a arte culinária constitui um fio condutor entre diversas narrativas.

A história principal gira à volta de dois amigos: um camionista e o seu companheiro que um dia, ao pararem num restaurante, são confrontados uma das suas piores experiências degustativas após provarem um intragável Ramen (sopa de macarrão), feito pela proprietária, Tampopo (Nobuko Miyamoto).

Tampopo é uma simpática viúva, que perante o seu falhanço culinário, pede-lhes ajuda para melhorar o seu método de confecção. É então que começa um verdadeiro périplo por vários restaurantes, pesquisando, investigando e descobrindo segredos com vista à confecção do Ramen perfeito.

Paralelamente à saga de Tampopo e seus amigos, são apresentadas outras pequenas narrativas, as quais se desenrolam sempre à volta da alimentação e seus rituais, com especial destaque para a relação sensorial entre as pessoas e a comida, salientando a importância da gastronomia na cultura e sociedade japonesas.

Antes de ser exibido, o filme terá ainda uma pequena apresentação por Dennis Tou Kuok Keong, Chef do restaurante de Ramen Sio Seng Hin, na Taipa.

13 Abr 2022

Gastronomia | Macau volta a ter apenas um restaurante entre os 50 melhores da Ásia

Pelo segundo ano consecutivo, Macau tem apenas um restaurante entre os 50 melhores asiáticos, numa lista liderada por estabelecimentos japoneses, de acordo com a classificação “Os 50 Melhores Restaurantes da Ásia”, anunciada ontem.

À semelhança do ano passado, o “Wing Lei Palace”, localizado no hotel-casino Wynn Palace, na ilha da Taipa, foi o único restaurante de Macau presente no ‘ranking’, alcançando a 47.ª posição, numa subida de três lugares em relação à edição anterior. Já há dois anos, o “Sichuan Moon”, também naquele casino da operadora Wynn, juntava-se à lista.

“Dirigido pelo chefe Tam Kwok Fung, uma das principais autoridades da cozinha requintada cantonesa, o ‘Wing Lei Palace’ é um estudo de temperos, pureza e sabores”, notou a organização da 10.ª edição dos prémios, numa cerimónia ‘online’, acompanhada com eventos em Macau, Tóquio e Banguecoque.

Na lista alargada aos cem melhores restaurantes asiáticos encontram-se outros três estabelecimentos da região administrativa especial: “Golden Flower” (84.º), no Wynn Macau; “Jade Dragon” (89.º), no Hotel Parisian; e o “The Eight” (97.º), no hotel-casino Grand Lisboa.

Entre as regiões e países asiáticos, o Japão foi o vencedor desta edição, com 11 restaurantes entre os 50 melhores do continente, seguindo-se a Tailândia, com nove, Singapura, com sete, e Hong Kong, com seis.

“Den”, em Tóquio, no Japão, ficou na primeira posição, destronando o vencedor do ano passado, “The Chairman”, de Hong Kong, que nesta edição de 2022 passou para quinto lugar.

A lista dos 50 melhores restaurantes da Ásia foi lançada pela primeira vez em 2013 “para celebrar a gastronomia na região e fornecer aos clientes de todo o mundo informações locais e recomendações culinárias”, segundo uma apresentação que se pode ler no portal da organização do evento.

30 Mar 2022

Gastronomia | Macau volta a receber cerimónia dos “50 melhores restaurantes da Ásia”

O território vai receber, pela terceira vez, os prémios “50 melhores restaurantes da Ásia”, numa cerimónia online realizada dia 29 onde serão anunciados os nomes dos vencedores da edição deste ano. Além da cerimónia dos prémios, vários eventos vão decorrer em simultâneo e presencialmente em Banguecoque e em Tóquio.

No fórum de gastronomia, as “50 melhores conversas”, sob o título “Espaço para pensar”, vão levar vários chefes de cozinha e profissionais do ramo a debater as características únicas da cozinha asiática e novas ideias para o desenvolvimento sustentável da indústria culinária, indicou, em comunicado, a Wynn Resorts que, tal como em 2018 e 2019, acolhe os prémios.

No ano passado, numa lista liderada pelo “The Chairman”, de Hong Kong, apenas um restaurante de Macau, o “Wing Lei Palace”, situado no casino Wynn Palace, obteve o 50.º lugar, depois de ter figurado em 22.º na classificação de 2020, a qual incluía também o “Sichuan Moon” (23.º), também naquele casino da operadora Wynn.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, juntando-se às cidades chinesas de Chengdu e Shunde.

A lista dos 50 melhores restaurantes asiáticos é votada por um comité de 300 membros, incluindo especialistas de restauração, escritores especializados em gastronomia, ‘chefs’ e donos de restaurantes de toda a região asiática. Lançada em 2013, esta é uma adaptação regional da lista dos “50 melhores restaurantes do mundo”, publicada pela Restaurant Magazine, da empresa William Reed Business Media, desde 2002.

6 Mar 2022

Gastronomia | Cozinha portuguesa chega a Guangdong com parceria luso-turca

É mais um caso de sucesso da comida portuguesa em terras chinesas. O chef português Dário Silva uniu-se a um empresário turco e juntos querem criar uma cadeia de restaurantes portugueses aqui ao lado

 

[dropcap]U[/dropcap]m gestor portuense, um ‘chef’ lisboeta e um empresário turco uniram-se para criar uma cadeia de restaurantes portugueses na província chinesa de Guangdong, numa aposta inédita no crescente cosmopolitismo da emergente classe média local.

“Guangdong é a melhor província para fazer negócios: há dinheiro, há cultura de consumo e as pessoas têm a mente mais aberta do que em outras partes da China”, descreve à agência Lusa Dário Silva, natural do Porto e radicado no país asiático há dez anos.

O projecto arrancou este mês com a abertura de um restaurante piloto, o Lusitano, num clube exclusivo de Foshan, centro industrial adjacente a Cantão, a capital de Guangdong.

Propriedade do grupo de luxo e entretenimento New World, que tem sede em Hong Kong, o Foshan Golf Club cobra uma anuidade de 200 mil yuan pela filiação e tem mais de 500 membros, sobretudo empresários, executivos e oficiais do Exército.

O complexo inclui um campo de golfe e um outro restaurante, que serve comida cantonesa, mas onde os vinhos são todos importados de Portugal, incluindo produtores do Douro ao Alentejo. No corredor que dá acesso ao edifício principal, revestido a mármore e circundado por jardins, surgem quadros de cidades e paisagens portuguesas.

“Acho que faz sentido explorar este mercado”, explica à Lusa o ‘chef’ de cozinha, Fábio Pombo, que trabalhou dois anos no Casa Lisboa, restaurante português em Hong Kong antes de rumar ao continente chinês.

“A China abre toda uma nova porta”, diz. “Há dez anos seria mais complicado: as pessoas viajavam menos, tinham menos contacto com o exterior. Agora que o poder económico é mais repartido e a classe média mais forte, já viajam e começam a perceber diferentes tipos de cozinha e a apurar os gostos”, observa.

Pratos do dia

Além de Bacalhau, o Lusitano serve arroz de caranguejo, arroz de pato e outros pratos típicos.
Ao contrário dos restaurantes chineses, as mesas aqui são quadradas. Pratos, copos e talheres são ‘Made in Portugal’. Painéis de azulejo cobrem as paredes até meia altura. Música portuguesa completa o ambiente.

O ‘chef’ avisa, no entanto, que o sabor vai ser adaptado ao paladar local. “Não são todos os pratos que entram aqui: têm que ser um bocado mais gourmet, mas não em demasia, porque a cozinha portuguesa não é ‘super’ gourmet, é de um estilo caseiro”, explica. “Mas temos que ter uma imagem que lhes permita tirar a fotografia para mostrar aos amigos”, aponta.

Encontrar os ingredientes certos, até o arroz, é um desafio para quem cozinha comida portuguesa na China.
“Há tantos tipos de arroz, mas o ‘chef’ precisa de um tipo específico”, conta o empresário turco Bahadur Tokayev, nascido no Reino Unido, e que se apaixonou pela cultura e cozinha portuguesas após uma visita a Portugal com Dário Silva.

“A boa comida é uma forma fácil de aproximar as pessoas”, explica. “Com um prato podes fazer com que alguém se apaixone por uma cultura”.

Para já, o grupo conseguiu encontrar um fornecedor de bacalhau seco e salgado – na China, apenas a importação de bacalhau fresco é permitida – através de um centro de processamento da Riberalves no nordeste do país. “É o mesmo bacalhau que vai para Portugal”, realça Dário.

O grupo vai abrir este mês um segundo restaurante, em Cantão, e, até ao final do ano, conta abrir um terceiro, na mesma cidade. A partir daí serão franchisados. “É a forma correcta, do meu ponto de vista, de desenvolver o mercado para os produtos portugueses na China”, aponta o gestor.

22 Jan 2020

Gastronomia | Cozinha portuguesa chega a Guangdong com parceria luso-turca

É mais um caso de sucesso da comida portuguesa em terras chinesas. O chef português Dário Silva uniu-se a um empresário turco e juntos querem criar uma cadeia de restaurantes portugueses aqui ao lado

 
[dropcap]U[/dropcap]m gestor portuense, um ‘chef’ lisboeta e um empresário turco uniram-se para criar uma cadeia de restaurantes portugueses na província chinesa de Guangdong, numa aposta inédita no crescente cosmopolitismo da emergente classe média local.
“Guangdong é a melhor província para fazer negócios: há dinheiro, há cultura de consumo e as pessoas têm a mente mais aberta do que em outras partes da China”, descreve à agência Lusa Dário Silva, natural do Porto e radicado no país asiático há dez anos.
O projecto arrancou este mês com a abertura de um restaurante piloto, o Lusitano, num clube exclusivo de Foshan, centro industrial adjacente a Cantão, a capital de Guangdong.
Propriedade do grupo de luxo e entretenimento New World, que tem sede em Hong Kong, o Foshan Golf Club cobra uma anuidade de 200 mil yuan pela filiação e tem mais de 500 membros, sobretudo empresários, executivos e oficiais do Exército.
O complexo inclui um campo de golfe e um outro restaurante, que serve comida cantonesa, mas onde os vinhos são todos importados de Portugal, incluindo produtores do Douro ao Alentejo. No corredor que dá acesso ao edifício principal, revestido a mármore e circundado por jardins, surgem quadros de cidades e paisagens portuguesas.
“Acho que faz sentido explorar este mercado”, explica à Lusa o ‘chef’ de cozinha, Fábio Pombo, que trabalhou dois anos no Casa Lisboa, restaurante português em Hong Kong antes de rumar ao continente chinês.
“A China abre toda uma nova porta”, diz. “Há dez anos seria mais complicado: as pessoas viajavam menos, tinham menos contacto com o exterior. Agora que o poder económico é mais repartido e a classe média mais forte, já viajam e começam a perceber diferentes tipos de cozinha e a apurar os gostos”, observa.

Pratos do dia

Além de Bacalhau, o Lusitano serve arroz de caranguejo, arroz de pato e outros pratos típicos.
Ao contrário dos restaurantes chineses, as mesas aqui são quadradas. Pratos, copos e talheres são ‘Made in Portugal’. Painéis de azulejo cobrem as paredes até meia altura. Música portuguesa completa o ambiente.
O ‘chef’ avisa, no entanto, que o sabor vai ser adaptado ao paladar local. “Não são todos os pratos que entram aqui: têm que ser um bocado mais gourmet, mas não em demasia, porque a cozinha portuguesa não é ‘super’ gourmet, é de um estilo caseiro”, explica. “Mas temos que ter uma imagem que lhes permita tirar a fotografia para mostrar aos amigos”, aponta.
Encontrar os ingredientes certos, até o arroz, é um desafio para quem cozinha comida portuguesa na China.
“Há tantos tipos de arroz, mas o ‘chef’ precisa de um tipo específico”, conta o empresário turco Bahadur Tokayev, nascido no Reino Unido, e que se apaixonou pela cultura e cozinha portuguesas após uma visita a Portugal com Dário Silva.
“A boa comida é uma forma fácil de aproximar as pessoas”, explica. “Com um prato podes fazer com que alguém se apaixone por uma cultura”.
Para já, o grupo conseguiu encontrar um fornecedor de bacalhau seco e salgado – na China, apenas a importação de bacalhau fresco é permitida – através de um centro de processamento da Riberalves no nordeste do país. “É o mesmo bacalhau que vai para Portugal”, realça Dário.
O grupo vai abrir este mês um segundo restaurante, em Cantão, e, até ao final do ano, conta abrir um terceiro, na mesma cidade. A partir daí serão franchisados. “É a forma correcta, do meu ponto de vista, de desenvolver o mercado para os produtos portugueses na China”, aponta o gestor.

22 Jan 2020

Lusodescendente leva sabores de Portugal ao centro da China

João Pimenta, da agência Lusa

 

[dropcap]F[/dropcap]ilho de portugueses emigrados na Alemanha, o ‘chef’ Mário Vieira viveu em 18 países, antes de se instalar numa das mais vibrantes cidades da China, onde serve pratos tradicionais portugueses num resort de luxo.

“Os chineses gostam muito de marisco e de bacalhau”, diz à agência Lusa o lusodescendente, radicado há 12 anos em Changsha, cidade com cerca de oito milhões de habitantes e capital da província de Hunan.

“Também faço feijoada, cozido à portuguesa, trouxas de ovos ou pão-de-ló”, enumera. Outro prato que “sai bem” é o frango piri-piri: “Às vezes são duas da manhã e estou na piscina a fazer frango no churrasco”.

Mário Vieira nasceu na Alemanha há 50 anos, filho de um casal de Alcobaça, distrito de Leiria. Trabalha na cozinha há três décadas, com passagens por Grécia, Itália, Rússia, Egipto, Tailândia ou Vietname.

Em 2007, uma firma alemã encarregou-o de uma visita de prospecção à China, para estudar a abertura de um restaurante. “Fui do Norte ao Sul da China e quando cheguei a Changsha, com base na informação que obtive sobre os planos de desenvolvimento da cidade, decidi ficar”, recorda.

Não se enganou: Nos últimos dez anos, o PIB (Produto Interno Bruto) de Changsha cresceu 460%, o ritmo mais alto entre todas as cidades da China, segundo dados oficiais, reflectindo a estratégia de Pequim de descentralizar a riqueza concentrada no litoral.

Capital da dinastia Han, há mais de dois mil anos, a cidade conservou poucos traços desse passado: dezenas de arranha-céus erguem-se hoje nas margens do rio Xiang, onde, quando Mário chegou, “não existia nada”.

“Aqui, numa semana, muita coisa muda. Não sei o que se vai passar nos próximos cinco anos”, descreve o lusodescendente, acrescentando que se identifica com a dinâmica local. “Não há um dia igual”, diz. A cidade é também sede da Hunan Broadcasting System, a segunda maior cadeia televisiva da China, a seguir à estatal CCTV, e produtora de alguns dos mais populares programas de televisão do país e da Mango TV, plataforma ‘online’ com cerca de 50 milhões de usuários diários e programação original.

Milhares de jovens chineses acorrem todos os anos a Changsha na esperança de integrarem a crescente indústria de entretenimento do país, alimentando uma vibrante vida nocturna, com discotecas, bares de ‘karaoke’ e restaurantes cheios até de madrugada, durante toda a semana.
“O chinês de Changsha gosta muito de sair”, retrata Mário. “Esta cidade não para, durante 24 horas”.

Em 2014, Mário casou-se com uma chinesa, com quem, entretanto, teve um filho. A ligação à gastronomia vem do pai, que era também ‘chef’ de cozinha e tinha um hotel e um restaurante na cidade alemã de Dusseldorf.

O pai queria que estudasse medicina ou que fosse para padre, mas Mário sempre quis ser chefe, “apesar dos sacrifícios” que a profissão exige. “Tens que ter tempo para toda a gente, menos para ti”, aponta. “Os ‘chefs’ são como os palhaços: têm que fazer rir as pessoas, estejas cansado ou com problemas, tens que estar sempre pronto”, descreve.

De Portugal, que já não visita há quatro anos, diz gostar sobretudo da tranquilidade do norte: “Lisboa é muito interessante, mas eu prefiro o sossego”. E sente saudades da costa, apesar das vastas praias do Oceano Pacífico. “Não há cheiro igual ao do oceano Atlântico”, diz.

15 Jul 2019

Lusofonia | Semana Gastronómica de Moçambique “pode ser a última”

[dropcap]M[/dropcap]oçambique volta a promover, entre amanhã e dia 29 deste mês, a sua cultura gastronómica em Macau, num evento organizado há mais de dez anos para “celebrar a independência” do país africano, disse à Lusa a organizadora. Apesar da Semana Gastronómica ser “muito bem recebida todos os anos”, a organização teme que esta seja a última edição, tendo em conta as “dificuldades logísticas” e os apoios, que “nem sempre são suficientes”.

“Temos encontrado cada vez mais dificuldades, mas este ano foi pior (…) O problema é arranjar um espaço que nos dê condições para organizar esta semana, tudo o que o evento exige. Pedimos apoios, mas às vezes não são suficientes”, indicou à Lusa a directora da Associação dos Amigos de Moçambique, Helena Brandão. “Pode ser a última edição”, lamentou.

Desde 2007 que a Semana Gastronómica de Moçambique traça o mesmo objectivo: pôr a comunidade de Macau em contacto com os “sabores, as danças e as músicas” tradicionais moçambicanas, na mesma altura em que se “celebra a independência”, apontou Helena Brandão.

Moçambique comemora a 25 de Junho o 44.º aniversário como país livre e soberano, independência conquistada em 1975 após cinco séculos de domínio português.

“[Todos os anos] convidamos um ‘chef’ moçambicano que prepara, durante uma semana, num restaurante de Macau, pratos típicos de Moçambique”, explicou Helena Brandão. Este ano, a Associação de Amigos de Moçambique convidou a ‘chef’ Orlanda Barbosa, que trará ao Varandas Restaurante & Bar “alguns condimentos e produtos” moçambicanos que não estão disponíveis no território.

21 Jun 2019

Macau aposta na gastronomia para provar que há mais vida para além do jogo

[dropcap]A[/dropcap] gastronomia é uma das apostas da capital mundial do jogo para diversificar a indústria do turismo, disse à Lusa a directora dos Serviços de Turismo de Macau, à margem de uma iniciativa que reuniu ‘chefs’ internacionais no território.

Na véspera de se ‘apagar’ o Festival de Luzes e a menos de dois meses após o Festival de Gastronomia, uma série de demonstrações públicas em Macau de mais de 30 ‘chefs’ de mais de 20 Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) traduz a estratégia do território em mostrar aos turistas que há mais vida para além do jogo, segundo Helena da Senna Fernandes.

A aposta parece estar ganha e a organização admite repetir a iniciativa, adiantou a responsável, embora seja necessária “uma avaliação por parte de todos os parceiros”, ressalvou.

“O tempo está a ajudar e há muita adesão da população local. (…) O alvo é atrair mais turistas para ficarem mais tempo em Macau, e não só nos casinos, daí esta aposta na cultura, no nosso legado gastronómico, e em aproveitar constantemente todas as oportunidades”, salientou, junto ao ‘palco’ onde decorriam as demonstrações culinárias, ladeado por dois ecrãs gigantes a partir dos quais o público seguia a confecção dos pratos.

Desde 2017, quando Macau entrou para a UNESCO na área da Gastronomia, “que esta aposta se tornou muito importante, não só porque temos essa obrigação, mas porque também queremos ajudar a cidade a crescer de forma sustentável”, acrescentou a directora dos Serviços de Turismo do território.

“Temos que avaliar o sucesso do evento com os nossos parceiros, mas julgo que temos toda a possibilidade de repetir a iniciativa”, concluiu Senna Fernandes, reiterando a ideia de que “a gastronomia é um ponto forte de Macau”.

Junto a um dos emblemáticos lagos artificiais que serve de cartão de visita de Macau, no espaço Anim’Arte Nam Van, alguns cozinheiros, num momento pós-demonstração pública dos seus pratos, conversam com o público.

Um ‘chef’ turco passeia-se com um tacho e dá a provar a iguaria confeccionada que só tinha sido possível apreciar no ecrã para a esmagadora maioria das pessoas.

O ‘chef’ brasileiro David Bolhões Vieira França veio de Paraty para fazer a sua estreia na China e em Macau. Na sua bagagem, fez questão de trazer boa parte dos ingredientes, à excepção do peixe.

Na viagem de quase 18 mil quilómetros, o ‘chef’ trouxe farinha de mandioca para fazer a farofa, camarão, banana, coentros selvagens, pimenta dedo-de-moça e palmito, que tanto serve para colorir a comida como para tingir roupas de vermelho, sendo ainda usada pelos indígenas para pintarem o rosto.

“O convite foi irrecusável”, disse à Lusa, explicando que esta oportunidade para interagir com outros ‘chefs’ e com o público é sempre importante.

Por outro lado, frisou, “Paraty tem uma cozinha de muitas influências, que vão desde o pescador à cozinha indígena”, e “Macau tem esta componente de fusão, tendo pertencido a Portugal durante tanto tempo que é muito interessante”, argumentou, apesar do pouco tempo no território ainda não lhe ter permitido significativas experiências gastronómicas.

As demonstrações dos ‘chefs’ é um dos destaques do “Fórum Internacional de Gastronomia”, que começou sábado e chega hoje ao fim.

Além da região administrativa especial chinesa, estão também representadas no evento cidades do interior da China, Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Turquia, Espanha, Noruega, Suécia, Itália, Colômbia, México, Brasil, Panamá e Estados Unidos.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, tornando-se na terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar tal feito.

Após o reconhecimento, foi lançado no início de 2018 o “Ano da Gastronomia de Macau”, uma iniciativa inserida num plano a quatro anos para “forjar uma Cidade Criativa” à boleia da designação recém-atribuída.

Realizado pela primeira vez em 2016, quando Macau preparava a candidatura à Rede de Cidades Criativas de Gastronomia da UNESCO, o Fórum Internacional de Gastronomia pretende ser “uma plataforma de relevo para intercâmbio e exploração de iniciativas de colaboração entre Macau, outras Cidades Criativas de Gastronomia, profissionais e académicos do ramo”.

21 Jan 2019

‘Chefs’ de cidades criativas da UNESCO juntos em demonstração culinária em Macau

[dropcap]M[/dropcap]acau vai acolher, no próximo fim de semana, uma demonstração culinária ao ar livre protagonizada por mais de 30 ‘chefs’ de 20 cidades criativas da UNESCO, anunciou hoje o Instituto Cultural (IC).

O evento é um dos destaques do “Fórum Internacional de Gastronomia”, que se realiza no território entre os dias 19 e 21 de Janeiro, dando a conhecer ao público “as novas gerações de artes culinárias das diferentes geografias”, indicou o IC em comunicado. Enquanto anfitrião, Macau irá realizar cinco demonstrações culinárias, conduzidas por três ‘chefs’ locais.

Além de Macau também estarão representadas no evento cidades do interior da China, Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Turquia, Espanha, Noruega, Suécia, Itália, Colômbia, México, Brasil, Panamá e Estados Unidos. As demonstrações têm lugar no próximo sábado e domingo, no espaço Anim’Arte Nam Van.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, tornando-se na terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar tal feito.

Após o reconhecimento, foi lançado no início de 2018 o “Ano da Gastronomia de Macau”, uma iniciativa inserida num plano a quatro anos para “forjar uma Cidade Criativa” à boleia da designação recém-atribuída.

Realizado pela primeira vez em 2016, quando Macau preparava a candidatura à Rede de Cidades Criativas de Gastronomia da UNESCO, o Fórum Internacional de Gastronomia pretende ser “uma plataforma de relevo para intercâmbio e exploração de iniciativas de colaboração entre Macau, outras Cidades Criativas de Gastronomia, profissionais e académicos do ramo”.

14 Jan 2019

Estudo | Bifana preferida por visitantes com menos de 35 anos

Uma investigação da Universidade Cidade de Macau coloca o pastel de nata português e o pastel de ovo no segundo e terceiro lugares do pódio das preferências de visitantes com menos de 35 anos. Contudo, é apontada a falta de bebidas e sobremesas com características unicamente de Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] bifana é a especialidade gastronómica local que mais encanta os turistas com menos de 35 anos. A seguir segue-se o pastel de nata português e depois o pastel de ovo. Esta é a conclusão de um estudo com o título “Compreender as preferências gastronómicas das Gerações Y e Z: O caso de Macau em 2018, no Ano das Gastronomia” publicado em Setembro, na Revista de Turismo e Hospitalidade, de autoria dos académicos Irini Lai, Perry Ip, Grace Chan e Yuen Cheong Ho, da Universidade Cidade de Macau.

“Ao nível da gastronomia, o item mais popular foi a bifana e a principal razão para a escolha deve-se com o facto da maior parte dos pequenos restaurantes, cafés ou até espaços gourmet disponibilizarem a bifana, devido à sua popularidade”, pode ler-se nas conclusões.

“Mesmo assim, a forma de cozinhar a bifana varia de estabelecimento para estabelecimento, é possível encontrar locais onde é frita, noutros é grelhada, há também espaços que adicionam as suas características, através de produtos como cebolas brancas ou roxas ou molho de tomate”, é acrescentado.

Nos 500 inquéritos realizados a pessoas com menos de 35 anos, ou seja nascidas depois de 1981, 120 colocaram a bifana no topo das preferências. Depois seguiu-se o pastel de nata português, com 114 preferências. Entre o pastel de nata português, a pastelaria Lord Stow, com origem britânica, foi a favorita dos inquiridos. Finalmente, o pastel de ovo conquistou a preferência de 74 inquiridos.

No que diz respeito aos motivos, os autores sublinham que em grande parte se deve também a dois factores: o fácil acesso e os custos acessíveis. Por outro lado, o estudo concluiu que muitas vezes os visitantes já vêm predispostos a experimentar este tipo de comida, devido à partilha de experiências de amigos.

Sobremesas sem originalidade

No que diz respeito às bebidas e sobremesas locais, o estudo aponta a falta de produtos com características locais, à excepção da bebinca. Assim, os principais produtos têm influências principalmente de Taiwan e da Tailândia, como chá com leite ou a água de coco, nas bebidas, ou a sopa de feijão vermelho e o durião, nas sobremesas.

“Observámos que as bebidas ou sobremesas populares carecem de características locais que as tornem autênticas, ao mesmo tempo que há várias sobremesas e bebidas com influências de Taiwan e Tailândia”, é defendido. “Não há bebidas ou sobremesas vistas como obrigatórias no território que seja oferecidas apenas em Macau”, é observado.

Num patamar diferente, e segundo os autores do estudo, os restaurentes gourmet estão longe de alcançar a popularidade desejada, entre os visitantes com menos de 35 anos. Mas mais do que os preços cobrados, os autores referem a necessidade de promover mais os pratos e serviços prestados, principalmente através das redes sociais.

10 Out 2018

Entrevista | Carlos Braz Lopes, criador de “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”

Tudo começou por ser uma brincadeira. Mas quis o destino que uma tentativa gorada para reproduzir outra iguaria se transformasse em “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”. O seu criador, Carlos Braz Lopes, está em Macau para dar a provar este bolo, hoje, no Clube Militar às 18h30

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]omo apareceu o “Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”?
Tive um restaurante em Lisboa de cozinha tradicional portuguesa. Estávamos no ano de 1987, quando o panorama era muito diferente do que é hoje em dia. Nessa altura, resolvi fazer uma viagem entre Londres e Paris para ver o que por ali se andava a fazer com a intenção de vir a introduzir alguma coisa na oferta desse restaurante. Quando resolvemos escolher as sobremesas, além do tradicional leite creme, tínhamos de ter, como acontecia em todos os restaurantes, uma sobremesa de chocolate. Lembrei-me que tinha comido uma coisa em Paris que me chamou a atenção pela textura: era um bolo de chocolate com merengue e mousse. Aliás, basicamente, é esta conjugação que fazia a diferença deste bolo para os outros. Achei que era interessante. Não tenho formação em pastelaria mas sempre fui curioso, desde os tempos da faculdade onde estudei gestão. Mas como sou um bocadinho pretensioso, achei que chegava a Lisboa e ia conseguir fazer aquele bolo. É evidente que nunca consegui fazer igual. Masdei a provar a vários amigos o que fiz e eles acharam que estava bom. Acabei por fazer o bolo para servir no restaurante. Na altura, só se chamava bolo de chocolate.

Como se transformou no melhor do mundo?
As pessoas começaram a perguntar por esta sobremesa e a pedir para guardar uma fatia caso estivesse disponível. O bolo começou a ser um sucesso porque era realmente diferente. Mais tarde, abri uma loja que se chamava “Cozinhomania” onde se vendiam utensílios e se faziam cursos de cozinha. Como já tinha uma cozinha lá instalada, comecei a fazer o bolo. As pessoas entravam na loja e perguntavam porque é que cheirava a chocolate. Eu respondia que estava a fazer um bolo. As pessoas perguntavam se o bolo era bom e eu respondia que era o melhor do mundo. Foi assim que apareceu o melhor bolo de chocolate do mundo, que, no fundo, era apenas uma brincadeira. As encomendas começaram a surgir e a aumentar e pensei que tinha ali um negócio “sem saber ler nem escrever”. Na altura, já tinha uma pequena equipa para me ajudar a confeccionar, mas não era ainda o meu negócio permanente.

FOTO: Sofia Mota

Como justifica o sucesso?
Há aqui vários factores. As pessoas que queriam fazer encomendas tinham de telefonar 48h antes para garantir o bolo. Não era um serviço fácil mesmo para o cliente. Acabei criar uma imagem à volta do bolo que dava a sensação de que era uma coisa difícil de conseguir e de que era um produto feito, personalizadamente, para aquele dia e para aquele cliente, o que acabou por lhe dar uma certa mitologia. O negócio nasceu completamente impensado mas depois acabou por funcionar a meu favor, desde o nome ao processo de aquisição. Mais tarde, verifiquei que o nome foi aquilo que me dizem ser “um golpe de marketing extraordinário”. Qualquer loja do mundo que abra com este nome chama sempre alguém a entrar, por estar irritado com o nome, por achar graça ou para testar. Já lá vão 16 anos desde que abri oficialmente “O melhor Bolo de Chocolate do Mundo”. Tive sorte.

Tenho a sorte de ter visto negócios que me despertaram a atenção e que na altura não existiam em Portugal. Às vezes, acho que as pessoas saem do país à procura de novas oportunidades de negócio e quando regressam acabam por fazer coisas que já existem. Isto não quer dizer que não tenham sucesso, mas a luta é mais difícil. No meu caso, apareci como pioneiro na loja de produtos e cursos de cozinha. Tanto este negócio como “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”, por serem novidade, fizeram com que depois a cobertura dos media também mostrasse interesse por eles, o que ajudou muito.

Actualmente, é um produto espalhado por todo o mundo.
Sim, já estamos no Brasil, em Espanha, na Austrália, em Angola e, talvez, estejamos no Kuwait em breve.

Podemos dizer que o gosto pelo chocolate é universal?
Sim, o gosto por chocolate é universal. Por exemplo, a Ásia já conhece há muito tempo a pastelaria que se faz na Europa. Aqui não se usa tanto açúcar, mas mesmo assim, num período de Natal em que vendi pontualmente para o Japão, este bolo foi um sucesso. Quem vive na Ásia também já viaja muito mais e começa a provar sabores que não se conheciam tanto. Um exemplo disso é que grande parte dos países asiáticos já têm pastelarias francesas.

21 Set 2018

Guia Michelin | Festival de “street food” regressa no final do mês

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]festival de “street food” do Guia Michelin regressa a Macau no final deste mês, pelo segundo ano consecutivo, com “criações exclusivas” de alguns dos maiores nomes da comida de rua asiática, anunciou ontem a organização. Entre 29 de Setembro e 2 de Outubro, o Gourmet Walk do Studio City volta a oferecer criações ao estilo “street food”, preparadas por chefes distinguidos ou recomendados pelo Guia Michelin. Desde “a popular comida de rua taiwanesa”, à ‘bem amada’ cozinha tailandesa, sem esquecer os “cantoneses clássicos de Macau”, o festival de quatro dias é uma pequena viagem “pelos ricos, diversos e emocionantes sabores dos diferentes cantos da Ásia”, escreve a organização. O Guia Michelin destaca a presença da “Hong Kong Soya Sauce Chicken”, a primeira e uma das duas únicas bancas de rua prestigiada com uma estrela.

14 Set 2018

Gastronomia | Henrique Sá Pessoa traz “Chiado” a Macau

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]restaurante Chiado de Macau, uma parceria entre a Sands Cotai Central e o ‘chef’ Henrique Sá Pessoa, deverá abrir até Outubro, disse à agência Lusa o português, que quer fazer do espaço a maior referência da cozinha lusa no território. “Se tudo correr bem deverá ser inaugurado em Setembro, Outubro”, adiantou à Lusa o proprietário do restaurante Alma, premiado com uma estrela Michelin, que se lança em Macau no seu primeiro projecto internacional.

A ideia passa por criar “um restaurante que consiga respeitar a herança” lusa no território e “afirmar-se em Macau como a maior referência da cozinha portuguesa”, que “às vezes é tão mal representada lá fora”, critica o ‘chef’.
Henrique Sá Pessoa explica que o conceito do novo espaço em Macau pretende“representar o moderno da cozinha portuguesa actual”. O restaurante, que terá sala com uma capacidade máxima de cerca de 100 lugares, “não será um restaurante demasiado elaborado, mas também não vai ser tradicional”, garantindo “um serviço elegante e cuidado”.

O ‘chef’ português, que abriu recentemente mais um espaço, o segundo Tapisco, agora no Porto, depois do Atelier, Alma e Cais da Pedra, todos em Lisboa, diz que um dos desafios passa agora por gerir todos os projectos. “É para isso que serve uma equipa, é por isso que está em Macau desde Abril uma pessoa de confiança a trabalhar no projecto”, argumenta.

O restaurante “pode ter ‘nuances’ que introduzam a cozinha asiática, como o gengibre, erva príncipe ou lima, mas será decididamente 100 por cento português”, assegura. O leitão, o bacalhau e o atum “são apenas alguns dos exemplos de alguns dos clássicos” que vão servir de inspiração ao novo restaurante: “na prática, vamos ter um ‘best of’ dos meus pratos”, revela o ‘chef’.

3 Set 2018