Victoria Willing, filha da pintora Paula Rego: “É tão bom vir à China falar sobre a minha mãe”

Veio a Macau com a missão de representar Paula Rego, escolhida como “madrinha” da primeira bienal internacional de mulheres artistas. Em entrevista ao HM, Victoria Willing fala da mãe e da pintora, mas também da importância de as mulheres serem levadas a sério, nas artes e na vida

[dropcap]P[/dropcap]aula Rego foi escolhida como madrinha da primeira bienal internacional de mulheres. Como surgiu o convite? Qual o significado de que se reveste?
Não sei por que razão a escolheram. Foi a primeira vez que ouvimos esse termo aplicado a uma exposição de arte mas é, mais ou menos, como se fosse convidada de honra. Ela achou muito interessante por ser uma exposição só de mulheres, embora goste de ter a mistura de mulheres e homens.

Faz sentido actualmente uma bienal internacional dedicada exclusivamente ao sexo feminino?
Eu acho muito importante hoje em dia que haja uma certa discriminação positiva para levantar a representação das mulheres, especialmente para mostrar que, sejam homens ou mulheres, artistas são artistas. Isto é um grande exemplo da arte que, por acaso, é feita por mulheres. A minha mãe passou muitos anos a tentar entrar pelas portas das galerias para conseguir uma exposição. Ia com as fotografias das pinturas – nem um catálogo era – e as pessoas, como ela já contou muitas vezes, viravam o rosto para o lado e falavam com colegas ao mesmo tempo e diziam ‘não obrigada’. Ser mulher fez parte disso nesses tempos em Londres. Em Portugal ela já vendia, porque Portugal foi sempre muito mais aberto às artes plásticas do que os ingleses, que tinham muitas regras. Portanto, foi preciso muito até conseguir, porque quem entrava eram os grandes homens, como Francis Bacon ou o Lucian Freud. A arte é como tudo na vida: há a ideia de que os homens têm mais valor do que as mulheres, ao ponto de eles receberem mais do que elas, mesmo sendo contra a lei. É um crime. Neste momento, acho muito importante haver um palco que dá exposição às mulheres, mas talvez haja muitas mulheres a achar [a discriminação positiva] uma coisa muito má. Eu acho que faz sentido a discriminação positiva por causa do nível do trabalho. Não estamos a falar de algo como ‘vamos dar isto às mulherezinhas’ e depois elas podem ir embora, voltar para a cozinha outra vez, e os homens podem regressar. Isto não dá para ser assim, porque vê-se que o trabalho é sério e bom. Não estamos a falar de uma pinturazinha feita entre o jantar e as fraldas (risos).

Paula Rego vai estar representada por uma única pintura: “Nossa Senhora das Dores”, que integra a série baseada n’“A Relíquia” de Eça de Queiroz. Porquê este quadro?
Toda a gente me pergunta isso, mas não sei responder. Eu sabia que tinham escolhido este quadro para a exposição, mas não exactamente porquê. Suponho que existam várias razões, a começar por ser baseado no livro do Eça de Queiroz e, portanto, ser uma coisa portuguesa. Depois, porque é a história de uma pessoa que tenta encontrar uma coisa, que está em busca por algo e que, portanto, tem paralelo com os desafios das mulheres hoje em dia e com as tristezas da vida. Acho que as mulheres sofrem muito e [o quadro] mostra o sofrimento e também a solução. No sentido metafórico, podemos rezar. Demostra que há maneiras de resolver as tristezas, como o trabalho ou o amor. Por outro lado, [o “Nossa Senhora das Dores”] é o que [a galeria britânica] Marlborough Fine Art tinha para mandar numa altura em que os quadros estão a seguir para todo o lado, porque ela vai ter montes de exposições.

Ainda na semana passada, abriu uma mostra colectiva na Tate, em Londres, que Paula Rego também integra.
Sim. É ela com os homens, uau! Interessantemente, essa exposição, que reúne grandes do século XX e reserva uma sala só para a mãe [com cinco obras], tem uma última divisão que junta quatro artistas e que, por acaso, são todas mulheres. É um boa maneira de acabar a exposição, fecha com chave de ouro. Isto também é o futuro – faz tudo parte das mulheres serem levadas a sério, não só nas artes, em tudo.

Os quadros viajam mais do que a pintora. Paula Rego nunca esteve na China…
Nunca esteve nem nunca vai estar… Ela não pôde vir por causa da idade e também porque os médicos recomendam que não viaje devido ao problema do coração. Até quase não visita Portugal hoje em dia. Está mais frágil, mas está bem e tem a rotina dela: Trabalha quatro dias por semana e ainda vai ao estúdio e todos os sábados ao cinema. Ela está muito feliz por as pinturas poderem viajar o mundo e por estar representada numa exposição neste sítio que tem tantas ligações a Portugal e que, ao mesmo tempo, fica tão longe. Ela é muito aberta ao mundo e tem pena de não poder estar cá, mas também tem 83 anos, está cansada e não pode fazer tudo.

É a primeira vez que expõe na China?
Não. Ela no ano passado teve um quadro exposto em Xangai.

“‘A Dança’ [1988] foi o primeiro quadro que a minha mãe fez depois do meu pai morrer. É uma despedida. Fico muito emocionada quando vejo esse quadro.”
Quais são obras que mais gosta da sua mãe?
Eu gosto de algumas de que faço parte (risos). Gosto de “Dog Women” e muito de “Pillowman” que acho uma das obras grandes da minha mãe. Também d’ “Anjo” e d’ “A Dança”. “A Dança” [1988] foi o primeiro quadro que a minha mãe fez depois do meu pai morrer. É uma despedida. Fico muito emocionada quando vejo esse quadro.

Qual seria, na sua opinião, a melhor obra para introduzir um público a Paula Rego?
Diria “Anjo”, porque mostra uma pessoa fraca e forte, triste e cheia de vingança, humilde e zangada – tudo ao mesmo tempo. É cheio de contradições. E nem é só isso: tecnicamente aquela saia… Não sei como é que ela fez aquilo. Vê-se quase tudo em 3D. É incrível!

Como descreveria a sua mãe em poucas palavras?
Disciplinada, calorosa, gentil e muito teimosa. Gosta das coisas boas. Gosta de champanhe, por exemplo. O médico disse-lhe que pode beber um copo por dia, mas ela, às vezes, bebe dois. Adora os filhos e as netas mas ela não é uma pessoa de família. Aos homens não se perguntaria isso, não é? A vida dela é a arte. Sempre foi, desde os quatro anos. É uma grande artista. Às vezes, tem muito medo que não vá encontrar a história que está sempre à procura. Quando eu digo: ‘O que queres para o aniversário? Ela responde: ‘Quero ideias’. Eu pergunto: ‘Oh mãe, mas se não tiver ideias, queres um casaco?’

Os romances de Eça de Queiroz têm sido uma fonte de inspiração…
Sim, começou com “O Crime do Padre Amaro”, que tem a ver com a hipocrisia da igreja, e também há “O Primo Basílio”, por exemplo, que é fantástico, sobre uma mulher que se apaixona e que, inocente, não percebe como as mulheres são usadas. São boas histórias, fáceis de ler, com montes de personagens interessantes. A mãe é muito interessada por estas coisas e o Eça tem muitas dessas histórias. Ela continua a ler, está sempre a ler. Agora, está a ler [Émile] Zola. Antigamente, costumava fazer mais quadros só sobre situações da sua vida, representações com animais na pele de certas pessoas, inventar as suas próprias histórias, mas [cada vez mais] não inventa. Ela gosta de encontrar a história e ilustrá-la à sua maneira. Sempre foi, até certo ponto, uma ilustradora e sempre achou que as pessoas são um bocado snobes relativamente ilustração que ela considera uma arte muito importante.

Como é ser filha de Paula Rego? Tem algum impacto ou exerce influência na sua vida profissional, por exemplo?
Ninguém sabe que sou filha de Paula Rego. Não é o mesmo mundo, é completamente diferente. Aliás, não tenho o mesmo apelido. Tenho o do meu pai, que ninguém sabe que era pintor. Quando digo em Inglaterra que sou filha da Paula Rego ou dizem ‘uau, não acredito! Gosto tanto do trabalho dela’ ou nem sabem que ela é. Por exemplo, eu telefonei ao meu agente de teatro – estou com ele há dez anos – para lhe dizer que não ia estar lá esta semana, porque vinha representar a minha mãe e expliquei-lhe que ela é artista e que tem uma certa fama. Ele não sabia quem ela era. É um mundo diferente e nunca surgiu ocasião de dizer.

E como é estar a representar a sua mãe no outro lado do mundo?
É muito interessante. É tão bom ter a oportunidade de vir à China falar sobre a minha mãe. É fantástico. É a primeira vez, mais formalmente, que falo em nome da minha mãe. Como dizem os ingleses, hoje estou a usar outro chapéu. Tenho um chapéu diferente quando escrevo peças de teatro, outro quando vou fazer gravações de voz e quando não tenho trabalho nenhum e tenho que ir para um escritório a ganhar sete libras por hora também é outro chapéu. Vários chapéus.

Actualmente, escreve sobretudo peças de teatro?
Sim. Estou a tentar escrever uma, faço gravações de voz, de vez em quando, e fiz uma coisa para televisão há pouco tempo. Estive um ano a fazer uma peça chamada “The Curious Incident Of The Dog In The Night Time”, que deu no West End…. Foi bastante cansativo…

Nunca pensou ser pintora?
Não (risos). Acho que numa família dessas uma pessoa tem que ter talento. Consigo desenhar, mas não queria ser pintora. Não sou uma pessoa muito visual, sou mais de ouvido. Além disso, gosto de trabalhar com pessoas e, por isso, é que, às vezes, é difícil escrever as peças de teatro porque estou sozinha e prefiro estar em equipa. Eu também tinha que encontrar a minha coisa.

9 Mar 2018

Cecília Ho, artista e fundadora da PHOTO MACAU Art Fair: “Macau está perdido na arena internacional”

De 24 a 26 deste mês, Macau é o palco da primeira feira de arte dedicada à fotografia, a PHOTO MACAU | Art Fair,  criada pela artista nascida no território, Cecília Ho. Entre as obras expostas contam-se trabalhos de Horst P. Horst, Steiner e Marina Abramovic, e os rituais de Confúcio recriados por Jeffrey Shaw. A artista espera que o Governo crie condições que torne estes eventos mais viáveis para que as galerias internacionais não tenham obstáculos à mostra dos seus autores

[dropcap]O[/dropcap] que a levou a criar um evento como a PHOTO MACAU?
Porque não há muitas feiras de arte especializadas na área da fotografia. Há muitas feiras de arte de cariz internacional. A Art Basel de Hong Kong é um bom exemplo. Há cerca de 20 anos, Paris teve a primeira edição da Paris Photo e, com a sua continuidade, acabou por tornar-se um evento de renome e hoje é um dos acontecimentos de topo em termos de reconhecimento internacional. Tenho pensado nesta coisa de uma feira de artes dedicada à fotografia e lembrei-me que na Ásia não havia nenhum evento equivalente. Porque é que escolhi a fotografia? Nos últimos dez anos a China tem sido um dos maiores compradores, senão mesmo o primeiro, no mundo, quando falamos de arte no geral. Quando digo mercado de arte estou a incluir pintura, escultura, fotografia, vídeo, porcelana e antiguidades. A China é o comprador numero um a par dos Estados Unidos. Quando vamos para o mercado de nichos, em que só incluímos uma expressão artística, na fotografia o maior mercado é o americano, que representa cerca de 60 por cento, seguido de Inglaterra e França. A China, apesar de ser o primeiro no mercado de arte em geral, na fotografia está ainda muito aquém, representando apenas cerca de dois por cento.

Porque é que isso acontece?
Porque a fotografia ainda é muito mais popular na Europa e na América em comparação com a Ásia. Mas penso que isso pode mudar. Os chineses aprendem depressa e os agentes também. Pensei nisto e, já que nasci cá, apesar de ter deixado a RAEM há 25 anos, regressei há 18 meses para implementar este projecto. Sempre quis fazer alguma coisa pela minha terra. Olhei para isto e pensei neste conceito de mercado de arte aplicado à fotografia. Hong Kong tem o Art Basel, que inclui todos os tipos de arte, e Macau pode ter o seu papel como hub do mercado asiático especializado em fotografia. Alguém tinha de fazer alguma coisa e dar início a alguma coisa para que isto acontecesse. Pensei que seria a altura de contribuir. Falei com algumas pessoas que me deram muita inspiração e mudei-me para cá para fazer de Macau o centro da fotografia na Ásia.

Quais foram os maiores desafios para criar este evento em Macau, tendo em conta que é algo completamente nova aqui?
Foram muitos, mesmo muitos. Por exemplo no que respeita a impostos. Os expositores que trazem trabalhos para mostrar podem, normalmente, estar descansados porque o transporte de obras é livre de impostos em vários países asiáticos como na Coreia, no Japão, em Singapura, etc. Mesmo no Art Basel as galerias que vêm expor obras por alguns dias não precisam de se registar e pagar impostos. Mas isto não acontece em Macau. Mesmo que as galerias queiram trazer cá os seus autores e trabalhos fotográficos para participar neste evento, por três dias ou quatro dias, precisam de pagar impostos e se existirem vendas têm de pagar ainda mais. Não é que eu não queira que as pessoa não paguem impostos ao Governo mas pagar imposto neste caso significa que as galerias têm de vir primeiro a Macau, pagar o voo para fazer o registo da empresa antes de poderem estar elegíveis para o pagamento de impostos. Tudo isto não me está a ajudar. Quando os galeristas me perguntam como é o sistema fiscal em Macau neste respeito, depois de ouvirem a minha resposta dizem que nestas condições já não estão interessados. O Governo quer atrair para o território muitas convenções e exposições, mas sem um apoio noutros sentidos não é possível.

O discurso do Governo é, contudo, de promoção das indústrias culturais no território.
Eles não têm a noção da realidade para poderem avançar com a produção de legislação. Penso que precisamos de reformar e renovar muitas medidas especialmente ligadas aos impostos. As empresas não se vão deslocar a um território para se registarem num notário de Macau que nem sequer consegue saber se a assinatura é verdadeira se se tratar, por exemplo, de uma pessoa que vem da Alemanha. Macau está completamente perdido na arena internacional. O Governo, especialmente a secretaria da Economia e Finanças, tem de trabalhar muito mais. Ainda usam a lei dos portugueses antes de entrarem na união europeia. Estou com problemas graves. Gostaria de fazer alguma coisa mas o Governo permite que o sistema local continue desadaptado e cheio de falhas.

“O Governo, se impedir quem quer que seja de entrar, deve ter uma boa razão porque precisam de enfrentar a imprensa e o julgamento do mundo internacional.”

Existem muitas galerias que se recusam vir a Macau?
Tive muitas a dizerem que sim num momento inicial. Depois quando expliquei o sistema de tributação responderam que tinham muita pena mas que, desta forma, não podiam. Estou muito desiludida.

Além deste contratempo, como é que descreveria os trabalhos que vamos ver neste evento?
Temos algumas galerias de gabarito internacional. Estou também muito orgulhosa, pelo Photo Macau 2018 ser uma mostra do que pode vir a ser no futuro. Temos galerias da Alemanha, Coreia, Taiwan e França. Conseguimos juntar um projecto incrível. Além de ser de alta qualidade temos autores pioneiros nas suas áreas de trabalho. Por exemplo, a galeria Osage de Hong Kong, que vai mostrar algumas obras baseadas no conceito de imagens em movimento que são indescritíveis e que precisam ser vistas. Temos também um programa cultural e educacional muito forte. O objectivo é formar o espectador e os residentes. Vamos ter também três exposições de topo. Uma de Horst P. Horst que foi fotógrafo da Vogue dos anos trinta aos setenta. Tem imagens da Marilyn Monroe, Dali, Channel e Jacqueline Kennedy. Vai ser um evento maior em Macau. A sua última exposição foi na Rússia há quatro anos.

Vamos ainda apresentar inéditos: Vídeos dos anos setenta de Mike Steiner e da Marina Abramovic. Por causa dos direitos de autor, este trabalho não tem sido dado a conhecer. Lutei para ter este conjunto de vídeos e é o grande destaque desta primeira edição da Photo Macau. O terceiro destaque vai para uma instalação de vídeo do “Remaking the Confucian Rites” de Jeffrey Shaw. É uma instalação e um remake de uma cerimónia ritual confucionista em imagens sem palavras. Os rituais de Confúcio têm estado sempre retratados em palavras nos seus livros e aqui o artista faz uma abordagem diferente. Depois de dez anos de pesquisa com a Universidade Tsinghua, o artista reescreveu estes rituais em imagens, o que é muito interessante.

Como é que explica que Macau, tão perto de Guangzhou, Taipé e Hong Kong, não tenha infraestruturas culturais de relevo?
Macau tem um movimento burocrático e lento que desacelera o desenvolvimento que deveria de ter. Tem muito que ver com o próprio processo de decisão. Por exemplo, uma cidade tão rica como Macau não tem sequer o seu Moma, o seu museu para arte contemporânea. É incompreensível. Há artistas aqui que não são vistos e por isso não têm condições para poderem ser conhecidos no mundo. Não têm oportunidade de trocar conhecimentos com o resto do mundo. Agora voltei e vou usar todos os esforços, contactos e know how para tentar melhorar o panorama artístico local. Os artistas estão a trabalhar em silêncio, não têm um espaço para mostrar o seu trabalho internacionalmente. Macau está a fazer uma ponte para o campo internacional e espero que o projeto Photo Macau leve não só Macau ao mundo, mas que também traga o mundo a Macau. Assim, a arte local terá condições para se desenvolver. Espero que este evento também faça a diferença. Há 12 anos, sem a Art Basel, Hong Kong não seria o hub de arte asiática que é hoje. A Art Basel fez uma grande diferença na definição do mapa de Hong Kong no mundo a nível cultural e artístico. Macau ainda não tem nada e é preciso fazer alguma coisa. Espero que Macau me dê uma oportunidade e que o Governo me apoie na realização deste meu sonho de transformar Macau numa cidade de arte.

Porque é que escolhi Macau e não outro local?
Porque Macau é a minha cidade natal e tenho uma relação especial com este lugar. Macau é agora parte do projecto do continente da Grande Baía e está mesmo no centro desta Grande Baía. Entretanto, a ponte que liga o território a Zhuhai e Hong Kong vai começar a ter circulação. Geograficamente, Macau vai estar ligado a cidades muito importantes e temos de agarrar esta circunstância antes que seja demasiado tarde. É por isso que a primeira edição tem de estar no terreno este mês. Não é possível esperar. Não quero que outros tenham a mesma ideia e a ponham em prática.

“Sempre quis fazer alguma coisa pela minha terra.”

E a sua carreira enquanto artista?
Tenho me esforçado tanto para por de pé este projecto, e para que seja um sucesso, que ultimamente tive de colocar de lado a minha carreira como artista. Mas sinto muito a falta da minha vida de artista. Estou a caminho de realizar os meus dois sonhos. Um é que Macau seja uma cidade conhecida pela arte e especializada na área da fotografia e do vídeo. Depois é desenvolver a minha carreira.

Tem receio de que alguns artistas que convide possam não entrar em Macau?
Penso que o Governo, se impedir quem quer que seja de entrar, deve ter uma boa razão porque precisam de enfrentar a imprensa e o julgamento do mundo internacional. Uma das razões porque escolhi Macau é porque acredito que o território tem uma forma aberta de olhar a arte comparativamente, por exemplo, a qualquer outra cidade na China. Penso também que Macau não tem ainda censura sobre a arte.


• Website oficial da PHOTO MACAU | Art Fair
8 Mar 2018

Yang Yankang retrata o budismo tibetano em Lisboa

[dropcap style=’circle’] D [/dropcap] esde o passado dia 1 de Março que a Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa, acolhe a exposição de fotografia de Yang Yankang, intitulada “Espelhos de Alma”. A curadoria é do advogado e fotógrafo João Miguel Barros, que fala de uma obra que revela uma grande dimensão de religiosidade

 

Depois de ter levado o trabalho de Lu Nan a Portugal, João Miguel Barros voltou a apostar num outro fotógrafo chinês que, pela primeira vez, expõe em Lisboa e que promete mostrar aos portugueses as facetas do budismo tibetano. A exposição “Espelhos de Alma” estará patente até ao dia 4 de Maio na Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa.

Depois de ter levado o trabalho de Lu Nan a Portugal, João Miguel Barros voltou a apostar num outro fotógrafo chinês que, pela primeira vez, expõe em Lisboa e que promete mostrar aos portugueses as facetas do budismo tibetano. A exposição “Espelhos de Alma” estará patente até ao dia 4 de Maio na Galeria Fidelidade Chiado 8, em Lisboa.

A mostra reúne 40 fotografias a preto e branco, “ampliadas analogicamente e que estão centradas no budismo tibetano”, explicou João Miguel Barros ao HM.

As imagens “retratam diversos aspectos do quotidiano dos monges tibetanos, na sua fé e nos seus tempos livres. Mostram, ainda, aspectos vários de peregrinos nas suas viagens espirituais”. Na visão do curador, Yang Yankang “é um fotógrafo fantástico, com uma visão orientada para o culto e a fé”. “Refiro genericamente o culto, e não apenas na fé budista, porque ele tem um outro trabalho de grande fôlego centrado no Catolicismo na China, que espero ter a oportunidade de ajudar a divulgar”, acrescentou.

João Miguel Barros não tem dúvidas de que “a arte chinesa tem tido um crescendo de aceitação no ocidente, se bem que em Portugal, ao contrário de outros países europeus, não esteja nos lugares cimeiros de maior valorização”.

Abertura mútua

Em Portugal há ainda muitas ideias feitas em relação ao que é considerado arte chinesa. “Pensa-se quase sempre na porcelana ou nas pinturas a tinta da china, muita dela seguindo as mesmas técnicas e estruturas narrativas dos clássicos. Mas não é essa a que eu me refiro. Estou a pensar na arte contemporânea chinesa quer seja a pintura, a escultura, as instalações e, particularmente no que mais me interessa, a fotografia”, esclarece o curador e fotógrafo. “A arte contemporânea chinesa começou o seu processo de afirmação em décadas mais recentes, fruto da política de abertura das autoridades chinesas nos anos 70 do século passado, e que tem vindo a ter uma expressão enorme junto do público”, acrescenta.

No que diz respeito à fotografia contemporânea, “teve um nascimento mais tardio e não é ainda a forma de expressão artística mais significativa”.

João Miguel Barros garante que a mostra de Lu Nan “teve maior repercussão em Portugal, no sentido da sensibilização para a importância da fotografia chinesa”.

 

“O Espelho da Alma”

 

Uma conversa entre o artista Yang Yankang e o curador João Miguel Barros

 

Quando começou a fazer fotografia de forma continuada e profissional?

Comecei a entender fotografia através da revista “Fotografia Moderna”, em 1985, em Shenzhen, e tornei-me fotógrafo profissional em 1992.

 

Nos seus primeiros tempos como fotógrafo quais eram os objectivos que ambicionava concretizar? Eram já projectos relacionados com a fé e a religião?

Nessa altura queria apenas tirar as melhores fotografias; eu não tinha ambição nem objectivos a longo prazo. Através do sentimento e experiência adquiridos durante a minha jornada na fotografia, encontrei pessoas e motivos religiosos, que gradualmente fortaleceram a minha própria convicção. Ao obter alguns resultados, decidi concentrar-me em fotografar as 3 religiões principais. Utilizo a fotografia para interpretar a vida e o espírito de pessoas religiosas e, ao mesmo tempo, encontrar a minha própria fé.

 

Quem o influenciou nos seus primeiros trabalhos?

No início, fui influenciado por fotógrafos chineses como Hou Dengke, Hu Wugong, Pan Ke e outros grupos de Shaanxi. Com a abertura da fotografia na China, fui fortemente influenciado por fotógrafos de países estrangeiros, como Sebastião Salgado, Marc Riboud, Diane Arbus, Sally Mann.

 

E depois? Há algum nome que considere ser um mestre e que se tenha mantido ao longo dos anos como fonte importante de inspiração para o seu trabalho?

Nas minhas fotografias posteriores, considero Josef Koudelka e Sebastião Salgado os fotógrafos mestres, que continuam a ser fontes importantes de inspiração para o meu trabalho e que me conduziram para a maturidade e profissionalismo.

 

A sua opção é pela fotografia a preto e branco. Porquê?

A fotografia a preto e branco é uma maneira directa de ilustrar o tema, não estando sujeita à tentação de interferências das cores. As imagens a preto e branco são tradicionais, clássicas, mas cheias de encanto, mostrando a realidade do que está a ser capturado pela imagem.

 

Acha que a cor é menos rigorosa para os objectivos que pretende alcançar?

Sim, a imagem a cores não é capaz de expressar o meu tema religioso. Transformei as cores das objectivas numa emoção subjectiva e numa visão única. Utilizo a fotografia a preto e branco para alcançar os meus objectivos, para expressar com precisão os meus pensamentos.

 

Já registou o modo como as comunidades católicas expressaram a sua fé no interior da China. No trabalho que agora expõe em Lisboa, centra-se no Budismo e no Tibete. E o projecto que está neste momento a desenvolver é sobre as comunidades chinesas que professam a religião islâmica. Porquê essa opção?

Os Chineses não têm fé, não existe um conceito tradicional de crenças religiosas, as pessoas entendem a gratidão, o temor, não vão contra a moralidade. A fé permite que as pessoas conheçam o amor e o carinho. Depois de me confrontar com o catolicismo, budismo tibetano e o islamismo na China, fiquei profundamente tocado pela fé. Eu também me converti ao catolicismo e ao budismo tibetano, sou uma pessoa de duas religiões. Com fé, tenho a coragem de acreditar, mas também explorar profundamente e fotografar imagens íntimas. Capturá-los em fotografia é como capturar a minha própria vida religiosa. Isso toca-me a mim, como toca os outros.

 

É um homem religioso?

Sou uma pessoa de duas religiões. Qualquer crença é humana, cheia de amor. A nossa alma é como um copo, podemos enchê-lo com café, chá ou água. Afinal, trata-se de uma alma. Uma forte crença conduz a uma fé forte.

 

Qual é a sua fé? Em que é que acredita?

Já respondi a isso na pergunta anterior. Mas a fotografia também é a minha fé. Utilizo a fotografia para expressar a humanidade, para expressar amor, louvar a rectidão, louvar a bondade! E repreender a maldade.

 

O seu trabalho está centrado numa forte dose de espiritualidade. A espiritualidade e a fé são momentos individuais. Essa opção pode levar a pensar que se interessa menos, enquanto objecto do seu trabalho, pelas dinâmicas sociais e pelas relações materiais entre as pessoas. É uma opção deliberada?

As minhas fotografias focam-se mais na espiritualidade da vida religiosa; é uma forma de fotografia espiritual. Entre o material e o espiritual, eu escolheria o espiritual. É perigoso se as pessoas gananciosas não forem conduzidas espiritualmente no mundo material. O que é uma sociedade? Qual é a dinâmica social? Qualquer sociedade civilizada necessita de ter fé. A fé direcciona a alma para se aperfeiçoar. Quanto mais desenvolvida a sociedade e mais dinâmica é, mais precisamos do consolo e do calor da fé. Quando eu estava a fotografar a vida religiosa no Tibete, foi o brilho da tranquilidade e a calma que a sociedade chinesa necessita ver e sentir. Estas são as imagens poéticas que procuro.

As suas fotografias demonstram uma enorme relação entre a natureza, a fé e o sagrado. Qual é o seu método de trabalho para captar estes momentos de tanta intimidade?

Na importante relação entre a natureza e a fé religiosa, misturo-me na vida pessoal das pessoas religiosas com respeito e crença para registar e capturar os momentos. Fico com elas e aguardo pacientemente pelos melhores momentos. As pessoas religiosas têm um coração aberto, são muito gentis e amigáveis. Elas também precisam de espalhar a sua fé e fazer com que as pessoas entendam a sua vida religiosa, aproximando-se delas e senti-las. Isso torna a fé um elemento muito vívido e comovedor na natureza.

 

Qual a foi metodologia que utilizou para concretizar o projecto sobre o Budismo e o Tibete?

Coloco sangue, suor e lágrimas para capturar o Tibete. Num ano, eu passo 8 meses a tirar fotografias no Tibete. Mantive-me no Tibete durante dez anos. Utilizo filmes tradicionais e a máquina fotográfica Leica para trabalhar. Revelo e escolho as minhas próprias fotografias. Eu ando sozinho, escolho uma imagem entre milhares, e tento apresentar os melhores clássicos!

 

Quanto tempo demorou a concluir o projecto “The Reflections of Soul”?

Passei 80 meses em 10 anos para completar “Xin Xiang” (“O Espelho da Alma”).

 

Já agora, porque razão escolheu esse nome para o livro que publicou?

A tua aparência reflecte quem realmente és, “Xin Xiang” é o espelho da tua alma, capta-te a ti, e captura os outros. Uso o meu coração, os meus olhos, e para me completar e sentir-me realizado, trago riquezas espirituais valiosas para a sociedade e para as pessoas.

6 Mar 2018

Exposições e conferências com fim do ano em alta

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o quarto trimestre, o número de reuniões e conferências aumentou em termos anuais, tendo atingido 86.000 participantes (+23,8 por cento), em virtude do acréscimo de 34 por cento nos participantes dos eventos com 200 ou mais indivíduos (72.000). De acordo com os dados divulgados ontem pelo Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), realizaram-se 244 reuniões e conferências (-8, em termos homólogos). A duração média geral de reuniões e conferências foi de 1,6 dias, permanecendo no nível do trimestre homólogo de 2016. No trimestre de referência foram realizadas 18 exposições (+2, em termos anuais), em que participaram 591.000 visitantes (+45,8 por cento). Destaca-se que 16 exposições foram organizadas por entidades não governamentais, tendo atraído 459.000 visitantes (+31,0 por cento), enquanto duas exposições foram organizadas por entidades governamentais, tendo atraído 132.000 visitantes, com um crescimento acentuado de 140,7 por cento.

De acordo com informações recolhidas junto das entidades organizadoras das 18 exposições, no quarto trimestre as receitas e despesas das exposições cifraram-se em 76,73 milhões e 114 milhões de patacas, respectivamente. Refira-se que as receitas eram provenientes, principalmente, dos “subsídios concedidos pelo Governo e por outras instituições” (75,3 por cento do total), enquanto as despesas eram efectuadas essencialmente em “serviços de produção, construção e decoração” (27,1 por cento).

Em 2017, realizaram-se um total de 1.381 reuniões, conferências, exposições e eventos de incentivo (+105, em termos anuais), que tiveram 1.901.000 participantes e visitantes (+10,4 por cento, em termos homólogos).

De acordo com as informações recolhidas junto das entidades organizadoras das 51 exposições realizadas em 2017, as receitas cifraram-se em 184 milhões de patacas,

28 Fev 2018

João Miguel Barros, fotógrafo, sobre a sua exposição no Museu Berardo: “Para ser vista como quem lê um livro”

É inaugurada hoje, no Museu Berardo em Lisboa, a exposição de João Miguel Barros “Photo Metragens”. São 14 histórias traduzidas em imagens, palavras e vídeo dentro de um projecto que não se fica por aqui

[dropcap]O[/dropcap] que é que podemos ver em “Photo-Metragens”?
“Photo-Metragens” é uma exposição que é para ser vista como quem lê um livro de shortstories. É uma síntese adequada, penso eu, do que é este projecto que inclui imagem, palavras e vídeo. Trata-se, portanto, de uma exposição que inclui 127 imagens, a maioria em grandes formatos, em A0 e até maiores. A exposição está organizada a partir de 14 capítulos, com um número diversificado de imagens. Uma das particularidades é que cada capítulo inclui um texto ficcionado, de que é parte integrante. Finalmente, um desses capítulos tem também um vídeo de quase uma hora. Esta é a edição de 2018. Quer isto dizer que este projecto está pensado para ter continuidade no futuro. Tenho o propósito de fazer edições da “Photo-Metragens” a cada dois anos, com o mesmo formato e obviamente com estórias diferentes. Sempre com imagem e textos ficcionados, e provavelmente com uma componente maior de vídeo. Algumas das imagens, correspondendo sensivelmente a um/quarto do que será exposto no Museu Berardo, foram já mostradas na exposição que fiz em Fevereiro do ano passado na Creative Macau. Tudo o resto é material novo. Mas mesmo as fotografias que já foram exibidas, foram, entretanto repensadas, e muito apuradas. As imagens que vão ser mostradas em Lisboa são as versões finais e últimas do projecto e não serão repetidas.

Como é que surgiu a ideia de contar estas estórias?
Surgiu como resposta à ideia politicamente correcta de que as exposições têm de ter uma narrativa. Não é algo com que concorde em absoluto, mas resolvi não contrariar o “destino”… Eu ainda não tenho nenhum projecto temático devidamente estruturado e com dimensão que possa ser mostrado autonomamente. E o honroso convite do Museu Berardo colocou-me um desafio interior, que tive de resolver e que, confesso, demorou algum tempo a estruturar. No fundo, tudo se resumia a dar uma certa unidade conceptual a um projecto artístico assente na imagem, a que eu depois juntei a escrita, e que tivesse alguma “lógica”. O espaço do Museu, bastante generoso aliás, que foi destinado a esta exposição, acabou por ser inspirador do resultado final. E foi a partir daí que cheguei ao resultado da “exposição que se vê como quem lê um livro de short-stories”. Um livro de contos é um conjunto de estórias, com autonomia entre si e que versam temas por vezes muito diferentes. “Photo-Metragens” é um pouco isso. Cada capítulo inclui uma história independente. E penso que é essa diversidade que lhe dá a riqueza do conteúdo. Deixe-me ainda acrescentar o seguinte. Cada capítulo da exposição contém uma estória que pode ter potencial para ser desenvolvido autonomamente. E, depois, seguir um caminho independente. E, provavelmente, isso irá acontecer num futuro próximo em relação a uma dessas short-stories, que tem potencial para se transformar numa long-story. Vamos ver.

Como pensou a exposição e a relação concreta com o espaço?
Esta exposição foi pensada não só em função do espaço, como não podia deixar de ser, mas também na sua forma de representação. Quem a visitar não irá encontrar apenas imagens presas à parede. Por exemplo, o primeiro capítulo chama-se “Sentido Único” e é, em rigor, uma grande instalação de trinta imagens em formato A2, que estão colocadas no interior de uma moldura de mais de 4 metros de largura por quase três de altura, sendo que as ampliações estão presas em cabos de alumínio esticados de alto a baixo dessa moldura. A solução de imagens suspensas em cabos metálicos finos foi adoptada em mais dois capítulos da exposição. Por outro lado, houve um cuidado especial com a iluminação, que exigiu um estudo detalhado e soluções novas devido às qualidades do papel que utilizo, que é um papel profissional metalizado, mas que reflecte muito a luz. Este papel projecta as imagens de forma diferente do que é normal, mas cria dificuldades acrescidas em relação ao tipo de iluminação a adoptar.

Que tipo de histórias nos conta?
Encontram-se no conjunto temáticas muito diferenciadas, desde a paisagem ao boxe, ao trabalho nocturno e à sombra dos holofotes, às árvores (que é um tema que me fascina), e ao movimento corporal.

Pode dar um exemplo concreto?
O capítulo primeiro, “Sentido Único”, que referi, é composto por 30 imagens que são detalhes de um enorme viaduto em Xangai, que tem vários níveis de circulação. Quando se olha para o conjunto a sensação que se tem é a de se estar perante um puzzle confuso de detalhes. Ou seja, a percepção que transmite é justamente a oposta daquela que o título induz. Mas, na verdade, não há na vida sentidos únicos e há sempre a possibilidade de seguir por caminhos diferentes. Outro dos capítulos deu o título à exposição de Macau. Chama-se “Entre o Olhar e a Alucinação” e é composta por um tríptico com uma imagem quase lunar e, depois, a misteriosa silhueta de um cão a olhar para outro. Mas o capítulo que provavelmente poderá chamar mais atenção é o que retrata alguns momentos de um intenso combate de boxe a que assisti em Macau. São imagens fortes. Esse capítulo chama-se simplesmente Homenagem, mas, na verdade, era para se chamar “Homenagem a um Perdedor”, porque se centra num lutador negro do Gana, que perdeu o combate.

“Um olhar que possa registar todos os pormenores até à complexidade das coisas, que através de uma minuciosa observação e num exercício de natureza sensível ou intelectual permita que as imagens nos saibam devolver e suscitar afectos e memórias”. Pode comentar esta afirmação?
Todos nós vivemos uma vida intensa e complexa em termos visuais, emocionais e ocupacionais. Tudo nos solicita, tudo nos ocupa e, simultaneamente, tudo nos distrai. Quando se faz fotografia o nosso olhar é ajustado e muda por vezes radicalmente a forma de vermos o que nos rodeia. Olhamos em volta e muitas vezes o que ressalta é o ângulo que poderia dar um bom registo, o detalhe que serviria para fazer uma excelente fotografia e por aí adiante. Algumas das imagens da Photo-Metragens são de uma enorme simplicidade. Por vezes são registos de uma certa banalidade. E apenas isso. Mas podem ser, também, uma surpresa porque as nossas permanentes solicitações muitas vezes não nos deixam tempo para esse registar das coisas pequenas que, por vezes, são maiores do que podemos supor.

A exposição é com imagens a preto e branco. Por quê? 
Eu fiz uma opção, que posso dizer incondicional, pela fotografia a preto e branco. Estou convicto de que dificilmente irei alterar este caminho. E ao longo dos anos, depois de muitas exposições já visitadas, de idas regulares às feiras de fotografia, o meu olhar tem vindo a ser treinado, cada vez mais, tornando óbvia a opção pela fotografia a preto e branco. Não tenho nada contra a cor, como é óbvio. Há fotografias e trabalhos a cor fabulosos e que, provavelmente, sem essa opção da cor perderiam alguma coisa. Muitas delas têm justamente como objectivo o contraste que as cores permitem e o efeito emocional que podem transmitir. Mas esse não é o lado que me interessa. O meu problema com a cor na fotografia é que nos pode distrair tremendamente do objecto e da essência do objecto registado. É um outro registo, e que acaba por se sobrepor a tudo.

Faça a experiência. Entre num espaço com trabalhos expostos e olhe de forma genérica e abstracta. O que capta em primeiro lugar são as diferenças cromáticas do que tiver à frente, e não as formas retratadas. É, antes, a intensidade dos vermelhos, ou dos azuis, e de outras cores, o modo como essas cores se espalham e ocupam o espaço impresso. Só depois, num segundo momento, e quando se conseguir abstrair ou recompor desse choque cromático, é que consegue entrar na essência da imagem. Isto se a essência não for, obviamente, o tal choque cromático porque, nesse caso, fica por aí!

A minha opção pelo preto e branco é claramente uma opção pela substância e pela prevalência do conteúdo que normalmente só a fotografia a preto e branco permite.

Onde recolheu as imagens?
Foram escolhidas um pouco em vários sítios. Mas a maioria é da Ásia e de Portugal.

O que diria da mediatização/banalização da fotografia na actualidade?
A sua pergunta seria um bom pretexto para uma outra conversa, em especial se a questão da mediatização da imagem se associasse à manipulação da imagem ou, a um outro nível, se se pensasse nos diversos veículos que as sociedades contemporâneas têm para que a fotografia se projecte nesse espaço mediatizado. E para a conversa ter utilidade teríamos de distinguir vários níveis de questões sobre essa ideia de “mediatização da fotografia”. Mas essa não é o tema de hoje. O que agora me parece de evidenciar é que os meios de comunicação formais e informais vieram dar actualidade à fotografia, dando-lhe uma importância acrescida no contexto das sociedades contemporâneas. Nos últimos tempos tenho-me interrogado é sobre um outro fenómeno que decorre dessa mediatização: o modo como se tem valorizado a fotografia como objecto de arte com valor nos mercados de arte. A fotografia é actualmente um bem artístico relevante, graças a essa mediatização. Há obras que começam a atingir valores significativos, criando um mercado de investimento importante e com um potencial de crescimento muito grande. Mas há perversões. Porque essa mediatização valoriza no mercado o bom, mas, algumas vezes, o mau e muito mau. Como também permite que facilmente se possa esquecer o bom e o muito bom.


© João Miguel Barros

#04 Homenagem

Ainda menino usava panos enrolados nas mãos para bater em sacas cheias de farinha. Enrijava os músculos, ouvira dizer. Queria crescer com o corpo cheio, acima de tudo para chamar a atenção das miúdas mais engraçadas do bairro. Eram essas as suas rotinas de tempos livres, demasiado livres.

Mais velho, começou a usar o corpo em combates a sério. Alimentava-se da ânsia de esmagar o adversário, mostrar o seu lado feroz e implacável, mas já não o de alimentar o sonho de namorar com a mais bonita do bairro. Apenas bater. Para ganhar.

Ao mesmo tempo ia engrossando o corpo, sem tempo para reforçar a fluidez da mente. Sim, sabia bater. Era conhecido por bater forte, de forma implacável, até inteligente. Ganhava. Outras vezes perdia. Mas, a mais das vezes, ganhava.

Com o tempo, e sem tempo, passou a viver enclausurado nas cordas do ringue. Batendo. Levando. Chorando. Rangendo os dentes protegidos. E ocasionalmente sorrindo de raiva. Sim, sorrindo.

No seu último combate perdeu os sonhos da sua vida. Mas saiu inteiro, pelo seu pé, continuando a sorrir.

21 Fev 2018

Exposição | Galerie Ora-Ora inaugura no espaço H Queen’s com livros gritantes

O contraste e a harmonia entre as artes plásticas e a literatura é o cerne da exposição colectiva “Screaming Books”, que inaugura o novo espaço da Galerie Ora-Ora no H Queen’s no próximo dia 1 de Março. Um dos trunfos da mostra é a luz natural que entra pelas janelas do 17º andar da galeria em Central Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] programa artístico da temporada 2018 de Hong Kong está a arrancar em grande estilo, em parte movido pelos vários festivais que animam a região, mas também com o surgimento de novos espaços para exposições e concertos.

Um prédio que promete ser um dos grandes pólos artísticos da Ásia é o H Queen’s, em Central, erigido para colmatar a lacuna da falta de espaço para a fixação de grandes galerias internacionais.

É nesse contexto que no próximo dia 1 de Março é inaugurado “Screaming Books”, uma exposição colectiva que reúne oito artistas chineses e locais que se foca no tema da literatura. Os artistas participantes da mostra são Halley Cheng, Hung Keung, Peng Jian, Pang Wei, Xiao Xu, Xu Lei, Zhang Yanzi e o icónico artista de caligrafia graffiti Tsang Tsou-Choi, o chamado “Rei de Kowloon”.

“Screaming Books”, a primeira exposição da galeria este ano e propõe-se a ilustrar a universalidade da arte e a sua aptidão para explorar expressividade indomável, emoções e significados. A mostra tem como objectivo demonstrar essas emanações do espírito humano através da influência da literatura ancestral e clássica da China e do Ocidente.

O título da exposição foi baseado num poster de Alexander Rodchenko, chamado “Books!”, onde estão juntos um escritor russo e a socialite Lilya Brik, tentando expressar a ideia de união entre artes plásticas e palavras.

A exposição que será inaugurada no 17º andar do H Queeen’s apela ao poder universal da imagem destilada por um grupo coerente de artistas através caligrafia contemporânea. As duas formas de expressão artísticas unem-se pela via da arte chinesa contemporânea e da influência que a literatura tem na criação dos vários artistas que colaboram na exposição.

Fora das páginas

“Arte e literatura não são forças em oposição, mas almas divididas que gritam uma pela outra. “Screaming Books” é uma exposição cuidadosamente curada que reúne artistas de renome para quem o legado literário é uma inspiração”. As palavras são de Henrietta Tsui-Leung, fundadora e dona da Galerie Ora-Ora.

Acerca da abertura do novo espaço em Central, a galerista adianta que “a exposição marca um significativo marco histórico na vida da galeria e reflecte uma visão de longo-prazo da promoção da caligrafia contemporânea entre o público de Hong Kong e o público internacional que visita a cidade”.

Por exemplo, Xu Lei e os seus estudantes Hao Liang e Xiao Xu trazem para a exposição a influência de Franz Kafka, assim como o realismo mágico do escritor Gabriel Garcia Marquez. Por outro lado, Peng Jian, Peng Wei e Zhang Yanzi encontraram inspiração na linguagem literária e no imaginário nostálgico, principalmente na correspondência de autores. Peng Wei pega nesta criação literária íntima e acrescentam-lhes imagem e compreensão.

A paisagem arquitectónica de uma biblioteca foi a inspiração visual usada por Peng Jian para a concepção da torre de livros que criou.

Hung Keung tem uma abordagem mais experimental e inovadora que procura materializar o poder dos livros para espalhar ideias. O artista local baseou-se nesta ideia para criar um conjunto de vídeos que exploram a natureza solitária da leitura e a aparente dicotomia psicológica com que o leitor se depara.

Monarca de Kowloon

Um dos destaques da exposição é Tsang Tsou Choi, o famoso artista de rua de Hong Kong, que tinha a reputação de desafiar a ordem social. Conhecido no mundo do grafitti como o Rei de Kowloon, Tsang aliava a arte urbana às ancestrais técnicas de caligrafia chinesa. Antes de morrer, há mais de 10 anos atrás, o artista desejou ter mais uma exposição.

Tsang Tsou Choi foi detido pela polícia de Hong Kong muitas vezes, na maioria das vezes saindo em liberdade com apenas um pequeno aviso e uma multa simbólica. Devido à sua notoriedade, e à fama de agitador, a família viria a deserdá-lo não sem antes levantar suspeitas acerca da sua sanidade mental. Além disso, a esposa deixou-o por não aguentar mais conviver com a obsessão artística do marido.

Esta mostra marca a sexta participação da Galerie Ora-Ora na Art Basel Hong Kong, que entra com duas outras exposições. “Leap to Light” é uma mostra colectiva que pretende demonstrar a força e a incerteza contida num salto.

A outra surpresa da galeria guardada para a Art Basel é a exposição a solo de Xiao Xu, patente ao público entre 26 de Março e 12 de Maio no espaço H Queen’s. Um dos mais proeminentes artistas contemporâneos chineses, Xiao Xu manobra a criatividade em espaços negros entre argumentos em esgrima, ou forças hostis que se confrontam. Desde cidades invertidas suspensas entre a gravidade e a ausência de peso, a brilhantes icebergs esculpidos em granito, o artista gosta de explorar o jogo de forças opostas nos seus trabalhos.

6 Fev 2018

Exposição | Michaël Borremans em Hong Kong até 10 de Março

O pintor belga Michaël Borremans estreia-se a solo em Hong Kong, numa exposição que marca a inauguração da galeria de David Zwiner na região vizinha. A exposição intitulada “Fire from the Sun” segue a linha sombria do artista europeu e estará patente no edifício H Queen’s, em Central, até 10 de Março

[dropcap]A[/dropcap] última década artística asiática foi marcada por um êxodo de galerias internacionais para Hong Kong, iniciada com a abertura em 2009 da Ben Brown Fine Arts e que se foi intensificando com a aquisição da Art HK Fair pela Art Basel em 2011.

Esta semana abriu uma nova galeria internacional de renome, a Galeria de David Zwiner, que ficará no H Queen’s, o espaço em Central dedicado às belas artes. A inauguração contará com a exposição de estreia em Hong Kong do pintor Michaël Borremans. A mostra, intitulada “Fire from the Sun”, é composta por trabalhos de larga e reduzida escala onde figuram bebés em poses de brincadeira, mas com uma atmosfera visual que invoca mistério, perigo e insinuações de violência.

As crianças são apresentadas sozinhas, ou em grupo, num ambiente semelhante a um estúdio que elimina tempo e espaço, mas que apela a uma atmosfera teatral e artificial que têm condimentado o trabalho do artista belga.

As peças presentes nesta mostra são reminiscentes dos querubins presentes na pintura renascentista e podem ser vistos como alegorias da condição humana onde os pólos da inocência e da perfídia se cruzam.

“Fire from the Sun” não vive só da representação de bebés. Existem outros quadros na mostra que retratam elementos de maquinaria pintada de forma sinistra. Estas peças fazem um contraste que parece acrescentar um elemento científico à exposição.

Centro artístico

Não é novidade que as grandes casas de venda de arte se fixam, historicamente onde existe dinheiro, em redor dos grandes centros financeiros. Porém, Hong Kong tem um defeito estrutural que complica a aliança entre finança e arte: o imobiliário. Além de ser uma cidade com uma das mais altas densidades populacionais do mundo, os tectos baixos, as assolhadas minúsculas e as rendas altíssimas foram um dos entraves endémicos que impediram galeristas internacionais de se fixarem em Hong Kong. Uma realidade que se tem alterado significativamente nos últimos anos, transformando a região vizinha num dos grandes centros artísticos internacionais da Ásia.

É neste contexto que acontece a estreia de Michaël Borremans nas galerias da Queen’s Road. O artista belga tornou-se conhecido mundialmente devido à mestria técnica e à forma como apresenta temas que desafiam a interpretação com fortes cargas de complexidade psicológica que não foram feitas para ser descodificadas.

Situado algures entre o classicismo e a contemporaneidade, o pintor belga é um dos grandes valores das artes plásticas do início deste século.

“Fire from the Sun” está patente na H Queen’s, em Central até 10 de Março, afigurando-se como uma excelente aperitivo para a Art Basel 2018.

2 Fev 2018

Fundação Rui Cunha | Esculturas de Todi contam história de crescimento

São 14 peças que contam os “momentos” da vida de uma rapariga. A exposição é de Custódia Kong de Sousa que há oito anos deixou para segundo plano a engenharia civil para se dedicar à escultura. A segunda exposição individual da artista vai ser inaugurada no próximo dia 18 na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]omentos” é a exposição de esculturas de Custódia Kong de Sousa, mais conhecida por Todi que tem inauguração marcada para 18 de Janeiro, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30.

A segunda exposição individual da moçambicana que reside em Macau desde 1986 marca também uma experiência da artista na área das peças figurativas. “Usei a escultura para contar uma história, e por isso e chama momentos, porque descreve vários momentos da vida de uma pessoa”, começa por contar Todi ao HM. Por outro lado, Todi quis experimentar outras abordagens, “Nesta série optei mais pelo figurativo porque gosto de desafios e geralmente tento fazer qualquer coisa que seja novo, pelo menos para mim. Como também estava  a trabalhar à volta de uma história e de uma pessoa pareceu-me a melhor opção”, sublinha.

Crescimento natural

“Momentos” conta a história de uma rapariga, desde que nasce até que se torna mãe. Das 14 peças que integram a mostra quase todas foram feitas para esta história.

A exposição tem início com uma menina pequena, no colo da mãe, diz a artista. “A menina vai crescendo, uma etapa que é retratada por “Inocência””. Aos seis anos, sonha ser bailarina e na adolescência, descobre que gosta de dançar flamengo. “Nasce a peça à volta desta mudança e deste gosto. É um tema que me inspirou também e penso que é uma dança que representa muito a paixão, sentimento que também quis transmitir com esta peça”, continua Todi.

A vida continua a o amor aparece. “Alma gémea” é a peça que retrata esta fase, à que se segue, a “Noiva”. A exposição termina com a protagonista a ser mãe. “A última é a maternidade, quando ela própria se vai tornar mãe. Digamos que aqui quase que o ciclo recomeça”, refere a escultora.

Mas há ainda elementos que retratam, mais do que as fases da vida, estados emocionais. “Uma das peças é referente é a gratidão em relação à vida por tudo o que lhe trouxe e outra que se chama “dançando com o universo” retrata a harmonia que sente em relação ao que a rodeia, a tudo”.

Peças em movimento

Os materiais eleitos por Todi são a massa epoxie e o tecido endurecido. De acordo com a arista, a escolha é uma questão de preferência essencialmente pessoal. “Porque gosto de experimentar materiais novos e estes são pouco usuais na escultura. A massa epoxie é um material muito resistente e endurece ao ar num período de tempo curto, obrigando a uma forma diferente de abordagem do processo de execução. O tecido endurecido é um material que permite dar mais expressividade e movimento à peça”, refere. “Com ele tenho as linhas que quero e a dinâmica que procuro”, remata.

4 Jan 2018

Aniversário | Art For All Society nasceu há dez anos

Começam hoje as celebrações do décimo aniversário da associação Art For All Society, que visa promover o trabalho de vários artistas locais. A AFA já esteve em Pequim, fechou portas, e agora gostava de ter uma representação em Hong Kong. Alice Kok, presidente, e José Drummond, um dos fundadores, recordam o momento em que um grupo de pessoas se juntou para debater ideias sobre o panorama artístico local

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todas as casas que a AFA – Art for All Society já teve, aquela que estava junto às Ruínas de São Paulo foi a primeira. Um dia, artistas como Konstantin Bessmertny, José Drummond, Carlos Marreiros ou Alice Kok reuniram-se para discutir ideias que dariam origem a um novo movimento de revelação de novos artistas junto do público.

Dez anos depois, a AFA prepara-se para celebrar a sua curta existência com uma exposição, uma palestra e um documentário. A história de algo embrionário conta-se com frames, imagens, palavras.

“Hoje será a exposição do aniversário dos 10 anos e depois haverá uma palestra na quarta-feira. Na quinta-feira será transmitido um documentário sobre os artistas que nos têm acompanhado. O objectivo é olhar para aquilo que temos feito nos últimos dez anos, o que fizemos ou não fizemos, numa espécie de reflexão”, contou Alice Kok ao HM.

A palestra visa ser um espaço de debate sobre o estado actual do panorama artístico. “Convidámos outras galerias de arte ou gestores de espaços de arte para discutirmos os desafios e os problemas que enfrentamos quando tentamos manter associações de arte ou outros negócios em Macau”, explicou Alice Kok.

Já o documentário coloca os artistas a falarem do seu próprio trabalho. “É uma forma de olharmos para trás, para aquilo que temos vindo a fazer e deixar os artistas falar do seu trabalho em frente à câmara, para que o público possa compreender melhor o que é a profissão e o que significa ser artista”, contou a presidente da AFA.

A ausência de coleccionadores

Quando convidámos José Drummond a recordar o início de uma jornada, o artistas apenas disse que, no fundo, o tempo passa demasiado rápido sem darmos por isso.

“É a prova de que a vida passa muito rápido. Parece que foi ontem que estávamos todos numa sala ao pé das Ruínas de São Paulo, onde foi a primeira AFA, a debater ideias e a falar sobre as primeiras exposições. E já passaram dez anos e a AFA esteve em tantos espaços. A participação da AFA no meio artístico local continua a ser muito importante”, frisou.

Drummond considera que, quando a AFA nasceu, faltavam em Macau coleccionadores de arte, algo que não mudou com o passar dos anos.

“Há dez anos não havia tantos coleccionadores, mas isso não quer dizer que as coisas estejam melhores. Podem haver mais coleccionadores de arte não acho que, no geral, isso seja significativo, pois a vida encareceu muito mais. Os artistas que continuam a ambicionar viver do trabalho de artista plástico é quase impossível em Macau. A luta continua a ser muita nesse sentido.”

A luta pela estabilidade

Além da falta de coleccionadores que invistam em arte local, tem faltado o factor estabilidade.

“Quando fechámos a nossa galeria em Pequim decidimos concentrar-nos em Macau. Não conseguíamos estar lá pessoalmente e era difícil gerir uma galeria de arte à distância. Por isso ficamos no Macau Art Garden, no centro da cidade. Temos sido bem sucedidos, mas estamos no início, pois temos sido obrigados a mudar-nos a cada dois anos. Nos últimos dez anos mudámo-nos cerca de cinco vezes”, recordou Alice Kok.

Além de garantir a estabilidade no espaço Macau Art Garden, a presidente da AFA confessa que há o desejo de criar uma representação da associação em Hong Kong.

“Queremos garantir a nossa presença aqui de uma forma permanente. Para o futuro queremos primeiro garantir uma estabilidade e depois vamos procurar mostrar o trabalho dos nossos artistas lá fora. Gostaríamos de ir para Hong Kong, mas ainda não fomos à procura de nenhum espaço”, disse.

Dez anos depois, o pessimismo

Anos e anos de exposições depois, Alice Kok considera que continua a faltar uma educação das pessoas para aquilo que é arte.

“Precisamos de fazer mais em prol da educação artística, não só dos próprios artistas mas também do público. Vimos um grande progresso em termos de arte no espaço público, mas a maior parte das pessoas de Macau não sabem muito bem aquilo que está a ser feito. Queremos encorajar mais estudantes para que saibam mais sobre arte.”

José Drummond tem uma visão mais pessimista do mercado artístico. Não só os artistas não são arrojados como no passado como há uma visão mais comercial daquilo que está a ser feito.

“Já tive mais esperanças no futuro da arte de Macau do que tenho hoje em dia. Vejo que há uma direcção nitidamente comercial no seio dos nossos artistas e há uma grande confusão sobre aquilo que é arte. Quem recebe apoio mais directo são coisas que são tradicionais demais. Questiono-me muitas vezes se aquilo é arte contemporânea, porque aquilo já foi feito nos anos 50 do século XX. Se os artistas não tiverem coragem para romper com isso…”, lamentou.

Nem o modelo das feiras de arte em hotéis, como se tem visto muito nos últimos tempos, funciona, segundo o artista e designer.

“Apesar de ser interessante ter feiras de arte em hotéis, a verdade é que ainda não revelaram nada de novo. Será que é importante venderem meia dúzia de obras?”, questionou.

“Houve uma tendência para se comercializar demasiado o trabalho e este aparece muitas vezes como um trabalho decorativo. Nesse aspecto sinto que Macau regrediu um bocado. Muitas vezes os artistas não arriscam tanto como os da minha geração, em termos de ideias, de suporte. Há uma aderência ao suporte pictórico que é demasiado tradicional e não define em nada a arte contemporânea.”

Para José Drummond, na China já se inova mais. Lá, no continente, “os artistas contemporâneos trabalham em todos os media”. “Essa tendência [em Macau] teve a ver muito com as indústrias culturais, em que se quis vender, e com isso tem de se fazer pintura, e com um determinado tamanho. Acho isso muito perigoso, e não vejo pessoas a arriscar.”

Da ausência de auto-crítica

Além do panorama da subsídio-dependência, José Drummond lamenta que, dez anos depois, não haja historiadores de arte, curadores e críticos de arte independentes dos artistas.

“Não há história de arte, não há curadores, e estes são, na maior parte, os artistas, à excepção de uma ou outra pessoa que está no Museu de Arte de Macau. Como não temos estes factores de dinamismo e de auto-crítica, parece que nunca há espaço para vingar fora de portas.”

José Drummond frisa que os poucos casos de artistas que conseguem expor lá fora fazem-no porque alguém de fora de Macau reparou neles. “São curadores de Hong Kong ou da China que estão interessados. Esse input acontece de fora para dentro e não de dentro para fora, o que seria mais lógico. Há coisas que não estão a funcionar, não sei quais são as fórmulas, pois já foram tentadas várias e não funcionaram. Mas tem a ver com a pouca auto-crítica e não há pessoas a escrever. Criámos uma bolha sem identidade e isso é preocupante.”

12 Dez 2017

Salão de Artistas de Macau apresenta 33 obras originais

Denis Murell, Konstantin Bessmertny, José Drummond, Vítor Marreiros. Estes são alguns artistas que participam este ano no “Salão de Artistas”, uma mostra que é hoje inaugurada no Clube Militar. José Duarte, responsável pela associação que organiza a exposição, garante que esta é apenas uma mostra de pintores e artistas com diferentes idades e visões

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap] rinta e três obras originais que ilustram a diversidade e criatividade das artes visuais em Macau vão estar patentes no Clube Militar até ao próximo dia 6 de Janeiro.

O objectivo desta exposição é reunir “um conjunto amplo de artistas e suas obras que seja representativo da vitalidade e a criatividade da comunidade artística local”, indicou a APAC – Associação de Promoção de Actividades Culturais, que organizou este Salão de Artistas de Macau.

Ao HM, José Duarte, responsável pela associação, explicou que a ideia é mostrar um pouco do que se faz em Macau em termos de arte.

“São artistas de várias gerações, com várias abordagens de pintura e várias técnicas, é esse o objectivo desta exposição. A ideia é, no fim do ano, juntar artistas cujo elemento comum é o facto de serem de Macau e mostrar um pouco a diversidade e a vitalidade da pintura e do desenho em Macau.”

Artistas como Denis Murell, o consagrado Konstantin Bessmertny ou José Drummond, que também tem uma outra exposição patente na Livraria Portuguesa, intitulada “Ao meu coração um peso de ferro”, participam nesta iniciativa. Estão também incluídos nomes como o do designer Vítor Marreiros e Alexandre Marreiros, arquitecto e artista.

“Temos o Denis Murell, que este ano é o decano, e depois temos duas jovens nascidas em 1985. Não tem a pretensão de ser a mostra de toda a arte que se faz em Macau. São apenas 33 artistas com obras recentes”, adiantou José Duarte.

A “cada artista” foi pedido que escolhesse um único “trabalho recente e significativo” para integrar este Salão, que apresenta 33 artistas de renome e jovens artistas emergentes, com mais de 50 anos a separar os mais velhos dos mais jovens, acrescentou a APAC.

A exposição pretende também assinalar o 18.º aniversário do estabelecimento da RAEM, acrescentou a organização.

Esta mostra é a terceira da série anual intitulada “Pontes de Encontro”, promovida pelo Clube Militar de Macau, e que incluiu em Junho uma exposição de pintores portugueses, e em Outubro uma apresentação de 27 obras de nove pintores lusófonos.

11 Dez 2017

Ana Aragão, ilustradora: “Macau é uma fonte de inspiração riquíssima”

Está pela primeira vez em Macau para a abertura da exposiçãoo “Imaginary Beings” hoje na galeria do Taipa Old Village Art Space. Ana Aragão traz não seres imaginários e leva consigo ideias para a próxima mostra que vai ter como inspiração as particularidades do território

[dropcap]D[/dropcap]a arquitectura à ilustração. Como é que foi este caminho? 
Não foi um caminho planeado. Aconteceu por acaso. Sempre gostei de desenhar. Depois do curso de arquitectura ainda experimentei exercer a profissão e percebi que não era exactamente o sítio onde me sentia mais à vontade. Era demasiado abstracto estar sentada num computador um dia inteiro a olhar para um ecrã, ou mesmo ir às obras. A maior parte do trabalho do arquitecto é ser um gestor de recursos, de meios e de equipas. Percebi que isso, se calhar, não era talhado para mim e fiquei muito indecisa no final do curso. Tinha duas hipóteses: fazer um curso de ilustração ou um doutoramento em arquitectura. Por acaso optei pelo doutoramento e nas aulas comecei a desenhar mais. Acabei por fazer um blog com os meus desenhos e decidi cancelar tudo o que tinha que ver com arquitectura e a dedicar-me só à ilustração. Mas, claro que, no meu trabalho, existe sempre uma ponte com a arquitectura.

Estes trabalhos foram feitos para ser expostos em Macau. Há alguma relação com o território?
Mais ou menos. Esta exposição foi feita para vir para Macau e a relação com Macau não é evidente. Sabia que vinha aqui e o que mais me motivou foi poder unir as duas linhas de trabalho que tenho: uma a preto e branco com os desenhos detalhados, e o meu universo a cores. Nunca tinha conseguido conciliar estes dois mundos e achei que esta seria uma boa oportunidade de colocar a mim mesma esse desafio, o de conciliar estas duas vertentes. Como sei que há sempre um imaginário, talvez um bocadinho infantil, nas minhas ilustrações e que imaginei que seria bem aceite aqui em Macau, decidi explorar este imaginário em que uso estruturas como se fossem personificadas. Dei vida às estruturas que, se calhar, antes deste momento no meu percurso profissional, seriam mais abstractas. O trabalho foi a pensar que vinha para Macau, mas o conteúdo não foi literalmente baseado no território, embora saiba que Macau é uma fonte de inspiração riquíssima.

Porquê?
Os edifícios e as paisagens urbanas aqui têm muita informação o que me agrada muito e acaba por trazer muitas coisas novas ao meu trabalho.

Podemos esperar um novo projecto inspirado no que está a descobrir na RAEM?
Sim. Estou completamente apaixonada por estas formas de construir, esta apropriação do exterior através das gaiolas e das grades. Para mim é absolutamente fascinante. O engraçado é que, entretanto, fiz outros desenhos que estão no atelier e que não vieram para aqui porque estão guardados para outras altura, mas que já têm muito que ver com esta realidade. Acho que acabei por encontrar coisas aqui em que já tinha pensado antes. É uma grande coincidência. Sinto que, ao olhar para este edifícios, estou em casa. Apetece-me guardar as imagens e tudo o que vejo. Muitos destes edifícios que parecem muralhas gigantes e vertiginosas poderiam ser o começo de uma nova história e de um novo desenho.

O que mais vai trazer de novo?
A próxima ideia é utilizar uma técnica diferente. Até agora tenho trabalhado apenas com um registo linear. Comecei a fazer coisas com a caneta Bic que me vai permitir explorar a mancha. Penso que posso, com isso, fazer coisas mais realistas – estes de agora são mais fantásticos. Vão também ser desenhos muito maiores, o que me vai permitir adicionar ainda mais detalhes. A ideia é que a próxima colecção venha a Macau.

É a primeira vez que está em Macau. Já falou da casas antigas. E os casinos? Como é que os vê?
Acho que é sempre interessante e enriquecedor perceber como se vive de outra forma. Em Portugal não temos este tipo de ostentação que existe nos casinos e que é quase obscena. Esta relação com o dinheiro, que é tanto, é quase pornográfica no sentido em que revela tudo e acaba por não criar muito mistério. Ali, tudo é revelado, tudo brilha e fala. São espaços em que é constantemente de dia, não existe a noite, não existe a passagem do tempo, não existe a sujidade. É fascinante, sem duvida, mas parece que estamos num outro mundo dentro de outro. Penso que as casas aqui têm espaços mínimos e os casinos são imensos. Acaba por ser um contraste. Parece que estamos num filme em que, de repente, passamos de um cenário cheio de cheiros, de ruídos diferentes e com bastantes marcas do tempo para um mundo que nos tira todas as coordenadas espaciais e temporais relativamente ao exterior o que acaba por ser um choque  muito grande mas que também me agrada.

6 Dez 2017

Exposição | “From Where I Stand”, de Mónica Coteriano, inaugurada amanhã

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ónica Coteriano apresenta amanhã, na Casa Garden, o primeiro projecto da Associação Cultural 10 Marias. Trata-se de uma exposição de fotografias da sua autoria, todas elas tiradas com o Iphone e publicadas no Instagram. A autora das imagens de “From Where I Stand” não se assume como fotógrafa mas há muito que queria tornar esta ideia realidade.

A história da exposição que é inaugurada amanhã na Casa Garden, intitulada “From Where I Stand – Mobile Photography” começa no Brasil e retrata o processo criativo de uma mãe a viver as delícias da maternidade. Foram cinco anos a fotografar e outros três a desenvolver um conceito.

Mónica Coteriano deslumbrou-se com o Iphone, nomeadamente com a aplicação Instagram, e começou a retratar o dia-a-dia das suas filhas, da sua família e das viagens que realizaram.

Apesar de fascinada com o lado prático da publicação de imagens, Mónica Coteriano sempre desejou que as fotografias fossem, um dia, expostas numa galeria, num espaço físico.

“Comecei a descobrir uma série de grupos e desafios que existiam no Instagram e descobri também uma série de ferramentas para fazer a edição. Foi um mundo de possibilidades. Dediquei-me à fotografia com o telemóvel, e não sei fazer nada se não for com isso. Comecei a participar em alguns concursos.”

A artista acabaria por deixar o Brasil e vir para Macau, onde a produção fotográfica diminuiu. “Estava sempre a pensar na possibilidade de tornar isto físico, mas de uma forma que me satisfizesse. O ano passado, no final do ano, surgiu a possibilidade. A Ana Paula Cleto [delegada da Fundação Oriente] arrisca sempre em projectos que não conhece e abriu-me as portas”, contou.

Mónica Coteriano recorda que “o meu objecto na altura foram as minhas filhas, a minha família e as nossas viagens. Foram esses os meus objectos visuais porque estava mais perto deles e era o que fazia sentido.”

Cada um no seu lugar

A autora de “From Where I Stand – Mobile Photography” não tem receios em admitir que “as fotos são muito editadas, excessivamente, porque gosto de criar um imaginário qualquer com a fotografia que faço”.

Questionada sobre o espaço que os instagramers ocuparam no mundo da fotografia, por oposição aos fotógrafos profissionais, Mónica Coteriano garantiu que cada um tem o seu lugar sem que haja um conflito obrigatório. Pelo contrário, pode haver um debate.

“Não acho que roube espaço a ninguém. A tecnologia oferece-nos diferentes possibilidades e cada um agarra-as como as vê. Não me intitulo de nada, sou formada em dança, fui bailarina, e depois surgiram outros projectos como a música. Acho que há espaço para todos, não estou a tirar espaço a ninguém.”

“Esse debate é sempre interessante e discutir ideias é sempre muito interessante. É um objecto criativo e sinto necessidade de o expor. Não encaro isto como um desafio aos profissionais”, acrescentou a artista.

Quando tocou num Iphone pela primeira vez Mónica Coteriano estranhou, mas depois não mais largou as suas funcionalidades. O que mais a atraiu foi “a praticabilidade deste objecto tão próximo”.

“Num instante tiramos a fotografias e havia a vontade de começar a editar a fotografia e recriar um imaginário. E tudo isso com a mesma ferramenta, o Iphone, e poder publicar de imediato e ter o feedback. Era isso que me interessava. Acho fascinante este objecto.”

Projectos pensados

Apesar de este ser o primeiro projecto da Associação Cultural 10 Marias, criada o ano passado, há mais outro a caminho.

“Para o ano pretendemos trazer um grupo composto por Ana Borralho e João Galante, que têm um trabalho muito interessante em termos conceptuais. Isto porque uma das nossas premissas é trazer trabalhos que possibilitem os artistas locais, profissionais ou não, a trabalharem com profissionais que vêm de outros países.”

Em Macau, os artistas portugueses prometem trabalhar com artistas locais. “O conceito de trabalho da Ana e do João é exactamente este. Chegam ao local, e fazem um open call [para novos artistas]. Isso acaba por ser um postal da cidade, porque é feito com locais também”, concluiu Mónica Coteriano.

5 Dez 2017

Casa Garden | Exposição de Rafaela Silva inaugurada terça-feira

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]afaela Silva traz 20 obras pintadas em placas de cortiça com pigmentos naturais para mostrar uma África que conheceu em criança e que não mais a deixou. “Com África no Coração” é inaugurada na próxima terça-feira e conta com organização do Grupo Lusotropical de Macau e Humberto Évora.

Nasceu em Nova Lisboa, Angola, e não mais esqueceu os cheiros e a cultura tão próprios de África. Depois de ter exposto em Macau na iniciativa “Pó e Pedra”, em Janeiro, Rafaela Silva está de volta para uma exposição em nome próprio. “Com África no Coração” é inaugurada na próxima terça-feira na Casa Garden, da Fundação Oriente (FO). O evento vai contar com apresentação musical de Zé Gonçalo e Jandira Silva.

O Grupo Lusotropical de Macau e o médico Humberto Évora juntaram-se para que a pintora pudesse realizar um desejo seu. O público poderá ver 20 trabalhos que retratam as diversas vertentes de África, mas sempre com a pessoa humana como protagonista. Dois poemas de poetas angolanos acompanham a mostra.

“Estou muito agradecida a este grupo de amigos que se juntaram para que eu possa fazer uma festa bonita”, começou por contar ao HM. “Os trabalhos foram feitos de propósito para esta exposição. É sobre pigmentos naturais, quis trazer uma coisa inovadora.”

Rafaela Silva pintou em papel de aguarela e também em placas de cortiça trabalhada. “Além de fazer as coisas com muita paixão quero que cada um compreenda as coisas à sua maneira, porque eu gosto muito de retratar pessoas, sentimentos. Também trago alguns animais nestas obras. Mas essencialmente o que me interessa mesmo é trazer pigmentos não tóxicos e ir para a pintura mais simples.”

“Com África no Coração” será uma verdadeira “farra africana”, como a artista sempre quis. “É assim mesmo que eu quero que as pessoas se sintam: que vão lá, oiçam música e apreciem a diversidade que África nos pode dar.”

Isto porque os sons a que se habituou desde nova sempre fizeram parte das suas memórias. “Em Angola fazíamos muitas festas sempre e costumo dizer que fui criada ao som do batuque, porque desde pequena que participava nestas festas e quem lá esteve não consegue esquecer o pôr-do-sol e o cheiro da terra.”

Transpor fronteiras

Rafaela Silva trabalhou na área da aviação civil e após a reforma decidiu dedicar mais tempo à pintura. Os pigmentos naturais descobriu-os há cinco anos, num workshop realizado no Algarve, onde vive.

“Sempre gostei de desenhar e fazer caricaturas de pessoas, mas depois há cerca de 22 anos comecei a estudar desenho a sério. Durante 20 anos pintei sempre com óleo, recorrendo a técnicas mistas, como acrílico, colagens, gostava de fazer telas muito grandes. Há cinco anos foram-me apresentados os pigmentos naturais e fiquei fascinada. É a génese da pintura, foi como tudo começou, desde o paleolítico”, recordou.

Com a realização de uma nova exposição, Rafaela Silva assume que gostava de expandir a carreira e alargar horizontes.

“Conheço pouca gente que pinte com pigmentos naturais, porque são extremamente caros, são pesados e não são fáceis de pintar. Não sei se será por isso. Utilizam pigmentos naturais noutras técnicas, e como é uma coisa inovadora, gostaria [de transpor fronteiras].”

O lado oriental

Rafaela Silva assume estar sempre com novas ideias em mente, e antes de pintar sobre África andou com “uma grande paixão pela Ásia”. “Fiz várias exposições relacionadas com isso, em Lisboa por exemplo. Mas depois resolvi regressar às minhas origens. Sempre me fascinaram as pessoas, embora na Ásia sejam diferentes. Retratei-as a três dimensões, pessoas do Vietname, Tibete, China.”

O próximo passo será ir à procura de um papel para pintar que só se faz no Japão. “Quero ver se consigo arranjar um papel que existe no Japão, feito de materiais reciclados e que é feito só lá. Mas será a próxima fase.”

Na gaveta está também uma ideia de retratar a pessoa humana na sua ligação com a cidade. “Gosto muito do ser humano e tenho um projecto que será dentro do conceito urbano, as pessoas nas cidades. Quero retratar os sentimentos que as pessoas têm com as cidades”, concluiu.

A exposição estará patente na Casa Garden até ao dia 15 de Dezembro.

 

1 Dez 2017

Ilustração | “Imaginary Beings” em exposição na Taipa Village Art Space

São seres imaginados, habitantes de uma Macau desconhecida e vão estar em exposição a partir do próximo dia 6 na galeria Taipa Village Art Space. A mostra é da artista portuguesa Ana Aragão que se estreia no território

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]ão “monstros imaginados” os que saem das ilustrações de Ana Aragão. Não são seres com origem num espaço vazio, a inspiração é Macau, uma terra desconhecida para a artista. O desafio para produzir uma exposição tendo como referência apenas imagens do território foi do curador João Ó, responsável pelas exposições da galeria do Taipa Village Art Space.

A ideia está inserida no próprio plano anual de exposições daquele espaço, em que a última mostra do ano é sempre dedicada a um artista internacional, que não conheça o território. A razão apontou o curador João Ó ao HM, é para “que exista uma interpretação de um artista de fora sobre Macau. Uma visão nova.”

A escolha de Ana Aragão começou pelo contacto com o seu trabalho na internet. João Ó ficou, desde logo, interessado na forma como as ilustrações de Ana Aragão saiam do papel. “Achei interessante o grafismo e o desenho muito minucioso das cidades imaginárias que ela fazia”, refere. Para o curador, trata-se de “um trabalho refrescante pelo detalhe que se verifica em cada desenho, pela forma como transforma edifícios em objectos sem ter de estar comprometida com a realidade”.

Para a exposição no Village Art Space, Macau, a artista teve como referência alguma imagens do território. Com elas trabalhou “Imaginary Beings”, os seres que pensa habitarem Macau.

O título é inspirado na obra “The book of imaginary beings” de Jorge Luís Borges. De acordo com o curador, a obra literária teve uma forte influência no percurso de Ana Aragão. “Foi um forte fundamento para a procura da artista dos seus próprios seres, expandindo o sempre incompleto trabalho do mestre visionário”, diz João Ó, na apresentação do evento.

Em “Imaginary Beings” vão estar expostas 50 peças produzidas com caneta de tinta preta e aguarela.

Confronto com o real

Outro aspecto de interesse, refere João Ó, é a possibilidade que estas exposições de final de temporada dão aos artistas de se confrontarem, depois do trabalho feito, com a Macau real. Ana Aragão vem ao território para a abertura da exposição e “este é o momento em que vai confrontar os seres que imaginou, através de imagens soltas, com a realidade”. Para João Ó, a viagem de Ana Aragão ao oriente vai marcar um momento em que a artista vai ser motivada a produzir mais.

A ideia de trazer ao território um artista de fora e que não conheça Macau mas que trabalhe sobre o território tem um duplo objectivo. “Por um lado trata-se da visão de alguém sobre Macau, que nunca conheceu antes, e por outro, é uma oportunidade de abrir a exposição destes artista a coleccionadores de arte que vão ter também uma visão diferente do território”, diz João Ó.

Mas mais importante, aponta, é a oportunidade que este tipo de trabalho representa também para os locais. “Nós que estamos cá também queremos ver esta frescura, esta reinterpretação aos olhos de quem nunca aqui esteve”.

Da arquitectura ao desenho

Ana Aragão, arquitecta licenciada com distinção pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto FAUP (2009), dedica-se actualmente ao cruzamento entre arte e arquitectura através do seu universo gráfico.

Após uma incursão no meio académico enquanto bolseira no Doutoramento em Coimbra decide interromper a investigação científica para se dedicar em exclusivo ao desenho artístico. É a partir do universo da arquitectura que nasce o seu fascínio pela representação de cidades, imaginárias ou não. Prossegue a sua reflexão acerca da cidade e seus imaginários urbanos através da exploração gráfica dos seus atlas mentais. Intrigada com os mapas emocionais que nascem da experiência quotidiana entre habitante e espaço, as suas “anagrafias” intrincadas são um pretexto para lançar um olhar crítico sobre o território, as formas de construir, e sobretudo, os modos de habitar. Todas as suas obras nascem da articulação entre mão e pensamento, não recorrendo a meios digitais.

A dedicação de Ana Aragão ao desenho e pintura tem sido reconhecida nacional e internacionalmente, salientando-se a sua participação na Bienal de Veneza 2014 e de 2016, o destaque como capa da publicação chinesa “Casa”, a selecção pela Luerzer’s Archive – “200 Best Illustrators Worldwilde”. Destacam-se também colaborações e parcerias com marcas de referência como a Porto Barros (100 anos Porto Barros, Coleção Cidades Portuguesas), as Tapeçarias Ferreira de Sá (Tapeçaria Eudóxia), a Jofebar (Projecto FUTURE FRAMES), a Schmidt Light Metal, a Essência do Vinho, a Vista Alegre, entre outras.

Foi também convidada a desenvolver projectos específicos sobre algumas cidades portuguesas, nomeadamente Lisboa (Meo Out Jazz), Espinho (Cartografia (des)encontrada), Braga (Noite Branca), Aveiro (Lugares Múltiplos) e Guimarães (Casa da Memória). O Porto, cidade onde vive e trabalha, tem lugar de destaque em toda sua obra.

27 Nov 2017

Exposição | “Macau Bom Design” apresentada em Berlim

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC), em parceria com o Centro Cultural da China em Berlim e com a Associação dos Designers de Macau, inaugura hoje, em Berlim, Alemanha, a exposição “Macau Bom Design 2017”. Trata-se, segundo um comunicado do IC, de uma “extensão da exposição de Macau na Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau”, realizada o ano passado.

Segundo o IC, “a realização de exposições em diversos locais permite que o público de cada local possa aprofundar os seus conhecimentos sobre as artes visuais de Macau, impulsionando o desenvolvimento das diferentes formas de arte e promovendo o intercâmbio cultural entre diversos locais”.

A exposição “Macau Bom Design” inclui obras de design gráfico, animação e mapping em 3D, que “englobam principalmente elementos locais”, tais como “design de configuração e concepção de produtos de Macau, obras premiadas em edições anteriores da Bienal de Design de Macau, pinturas que retratam Macau da autoria do pintor britânico do séc. XIX, George Chinnery, e ainda espectáculos de mapping em 3D”.

A “Macau Bom Design 2017 – Exposição em Berlim” está patente de 18 a 30 de Novembro e apresenta “ao público alemão uma imagem humanística de Macau sob diferentes vertentes”.

 

 

17 Nov 2017

David Chow | Landmark vendido por 4,6 mil milhões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] empresário David Chow finalizou o acordo para vender o edifício Landmark, por 4,6 mil milhões de dólares de Hong Kong. Os termos do negócio foram comunicados, na sexta-feira, à bolsa de Hong Kong, pela empresa Macau Legend, detida por Chow, e envolve a transferência do espaço e da gestão do casino. As empresas compradoras são todas de Macau, sendo que a Dong Lap Hong Property Investment vai tornar-se a maior accionista, com uma participação de 58 por cento. Esta é a única empresa das envolvidas que não foi criada no dia anterior ao comunicado à bolsa. As restantes são a Tong Lap Tak Real Estate Limited, Tong Hong Wan Real Estate Limited e Tong Tak Cheng Real Estate Limited e foram todas constituídas a 9 de Novembro, em Macau. Os proprietários não são identificados. Como o negócio envolve a gestão do casino, está ainda pendente da aprovação da Sociedade de Jogos de Macau, detentora da licença com que o casino é operador, e da Direcção de Inspecção e Coordenação dos Jogos.

Tap Seac | Exposição deu início ao Grande Prémio

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma exposição de dois dias, na Praça do Tap Seac, deu início ao 64.º Grande Prémio de Macau, numa cerimónia que contou com a participação de motociclistas, como o português André Pires,  vencedor das últimas duas edições, Peter Hickman e Michael Rutter, recordista de vitórias na prova. Durante dois dias os moradores puderam ver de perto alguns dos carros e das motos que vão participar nas provas, assim como o Mercedes Dallara de Fórmula 3 com que António Félix da Costa venceu o Grande Prémio, pela segunda vez, no ano passado. A cerimónia de início do Grande Prémio contou ainda com a presença do secretário para a os Assuntos Socais e Cultura, Alexis Tam.

13 Nov 2017

UMEAL | Exposição junta medicina e arte no Albergue SCM

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]acau, medicina e criatividade” dá nome ao XI Congresso da União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL) que decorre amanhã nas instalações do Albergue SCM.

De acordo com o comunicado oficial, a iniciativa pretende “promover a actividade artística dos médicos de Macau, debater a importância da criatividade na actividade médico-científica e mostrar as capacidades literárias e artísticas de um grupo profissional que a sociedade esperava que fosse somente científica mas que busca na arte uma forma de realização pessoal”.

Para o efeito, a exposição que abre portas amanhã, é uma mostra variada e capaz de reflectir a “diversidade de pensares e modos de estar das várias comunidades existentes no território”. A ideia é ainda dar a conhecer “a pluralidade criativa dos homens e mulheres da Ciência”. Em exibição estarão trabalhos de médicos e enfermeiros artistas como é o caso de Arlinda Frota, Chow Kam Ching, Choi Weng Chi, Elizabeth Fernandes, Ip Chi Tat, Josefine Ho, Lei Chio Leong, Mui Lei Chui Ha e Wong Keong.

A UMEAL é uma entidade que congrega médicos escritores e artistas que falam a língua portuguesa. Foi fundada em 1992 e integra associações médicas de Portugal (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos – SOPEAM), do Brasil (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES) e de Moçambique (Associação Moçambicana de Escritores e Artistas Médicos – AMEAM).

31 Out 2017

Colóquio | IPM vai discutir Camilo Pessanha

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) vai organizar um colóquio sobre o poeta Camilo Pessanha nos dias 13 e 14 de Novembro, disse à Lusa fonte da organização. A conferência, a propósito dos 150 anos do nascimento de Pessanha, vai contar com 12 oradores: quatro de Portugal e oito de Macau. Um deles será José Carlos Seabra Pereira, especialista em simbolismo, corrente literária a que pertence o poeta. Segundo a mesma fonte, com excepção de Seabra Pereira, o colóquio contará com intervenções de “pessoas que não têm o hábito de se dedicar a Camilo Pessanha”, como será o caso do Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do IPM.

Nam Van | Energia para animar o lago

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s obras no sistema de energia eléctrica arrancam no fim deste mês no Anim’Arte NAM VAN. A intervenção abrange a escavação de valas para instalação de cabos e tubos, a substituição das tampas dos cabos eléctricos e a repavimentação de passeios. Durante o período da execução das obras, a “Feira de Artesanato do Lago Nam Van aos Fins-de-Semana” e os workshops programados são realizados conforme previsto. Os espaços expositivos da Galeria Junto ao Lago, a Loja Temática do “Mapa Cultural e Criativo de Macau” e o Smiling Workshop continuam a funcionar como habitualmente. Por sua vez, o IFT Café encerrará de 6 a 11 de Novembro.

 

26 Out 2017

Trilogia fotográfica de Lu Nan no Museu Berardo

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] inaugurada no próximo dia 10, no Museu Berardo, a exposição “Trilogia Fotografias [1989-2004] do fotógrafo chinês Lu Nan. A mostra conta com a curadoria de João Miguel Barros e traz a público parte do trabalho desenvolvido por Lu Nan durante um período de 15 anos.

“A obra de Lu Nan é a projecção moderna (também já datada no tempo) de uma trilogia clássica simbolicamente representada na Divina Comédia de Dante Alighieri”, lê-se na apresentação oficial da exposição, sendo que “cada uma das suas partes são, igualmente, projecções exemplares do que pode ser, na Terra, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso”.

No entanto, e de acordo com o curador, não se trata de um retrato de uma fantasia. As imagens recolhidas durante mais de uma década são “de um realismo cortante, “por vezes doloroso, que impressiona”, refere João Miguel Barros.

Tal como na trilogia dantesca, a mostra está dividida em três partes, correspondentes aos estágios da obra poética: a vida dos hospitais de doenças mentais, as comunidades católicas nas zonas rurais e mais recônditas da China e a que levou Lu Nan a acompanhar a vida quotidiana do Tibete.

De acordo com João Miguel Barros, “o inferno, o purgatório e o céu retratados no trabalho do fotógrafo de Pequim, “é a China de uma época talvez já diferente da actual, como bem poderia ser a realidade de muitos outros países e lugares por esse mundo fora”.

Do povo esquecido às quatro estações

As condições de vida dos doentes psiquiátricos da China constituem a primeira parte da trilogia de Lu Nan. De 1989 a 1990, o fotógrafo contactou com 14 mil doentes mentais em 38 hospitais, espalhados por 10 províncias e grandes cidades do China. As imagens constituem “O Povo Esquecido” é que é apresentada “de forma verdadeira e poderosa, as condições de vida de um estrato social esquecido”, refere o curador.

A viagem continua e encontra o purgatório “Na Estrada: a fé católica na China”. As imagens forem recolhidas entre 1992 a 1996 em que o fotógrafo visitou mais de 100 igrejas, O objectivo foi o de capturar a forma como o amor e a fé se concretizam na vida quotidiana dos crentes. “Mostra que a divindade interior está integrada na vida quotidiana e que, no fundo dos seus corações, é essa a verdadeira Igreja”, comenta João Miguel Barros.

“Quatro estações: o dia-a-dia dos camponeses tibetanos”, terceira e última parte da trilogia, foi produzida de 1996 a 2004. Como o nome indica, o trabalho “acompanha de perto o ciclo das estações, desde a sementeira, na Primavera, à ceifa, no Outono, desde a espera pela colheita, no Verão, até à sobrevivência, durante os meses agrestes do Inverno”.

Tal como as duas primeiras partes da trilogia, “Quatro estações” não se centra no que poderiam ser considerados os grandes acontecimentos da vida. É o quotidiano que interessa é a “vida quotidiana que proporciona uma forma básica de as pessoas aferirem o destino”.

9 Out 2017

Exposição | O vidro é a arte de Sunny Wang

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]té ao dia 19 de Novembro, quem passar pela Galeria de Exposições Temporárias do Instituto de Assuntos Cívicos e Municipais poderá ver “Fluxo”, uma mostra do trabalho de Sunny Wang. A artista tem o vidro como principal meio de expressão, dedicando-se há já vários anos ao ensino e a actividades criativas relacionadas com este material, explica o Instituto Cultural (IC).

A exposição é constituída por 20 instalações de vidro da artista, fortemente marcadas por elementos culturais orientais. O IC destaca a obra “As Pedras Poéticas”, uma instalação composta por 28 pedras negras de diferentes formas e tamanhos, feitas de vidro, inspiradas no poema budista “Dez Touros” e na fonologia chinesa. O padrão das 28 pedras, dispostas em quatro linhas com sete pedras cada, é análogo ao padrão de ritmos e tons na estrutura das quadras de sete caracteres.

O IC faz ainda referência a outra obra, “Ru” (如), composta por sete peças, uma série sobre o ciclo da semana, “exprimindo simbolicamente o fluxo da vida”. Ao mesmo tempo, a artista “aproveitou os sete tesouros do Budismo para representar as sete forças espirituais, nomeadamente a confiança, perseverança, sensatez, tranquilidade, consciência, concentração e sabedoria”.

Sunny Wang é professora assistente na Universidade Baptista de Hong Kong. Recebeu uma menção honrosa no âmbito da Exposição Internacional de Vidro Kanazawa, no Japão, e o primeiro prémio na Categoria de Material Único dos Golden Glass Awards, em Taiwan. A artista participou em exposições em vários países, tais como Austrália, Alemanha, França, Itália, Maldivas, Singapura, Coreia do Sul e Interior da China.

Acrobacia | Bilhetes para “Mulan” estão à venda

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] 68.º aniversário da implantação da República Popular da China vai ser assinalado em Macau com o espectáculo acrobático “Mulan”. A iniciativa resulta de uma aliança entre o Instituto Cultural (IC) e o Departamento de Cultura e Educação do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, com a co-organização do Instituto do Desporto.

O espectáculo está a cargo da Companhia de Artes Acrobáticas de Chongqing, que vai fazer duas apresentações, a 30 de Setembro e 1 de Outubro, pelas 20h, no Fórum de Macau. Os bilhetes foram colocados ontem à venda.

O IC explica, em nota de imprensa, que a Companhia de Artes Acrobáticas de Chongqing irá reinterpretar a célebre história de Hua Mulan “com os seus extraordinários actos acrobáticos, incutindo um novo vigor nas artes cénicas tradicionais através da fusão da acrobacia e de outras formas típicas de expressão artística chinesa, como dança, kung fu, teatro de sombras e mudança de rosto (‘bian lian’), etc.”.

A organização indica ainda que Mulan representa “a devoção da guerreira pelo seu pai, a lealdade ao país e o espírito destemido de um verdadeiro herói, permitindo ao público desfrutar de uma nova experiência de grande impacto visual que dá vida a cenas de guerra monumentais, através dos exigentes e vertiginosos actos acrobáticos da companhia”.

Os bilhetes custam entre 100 e 200 patacas.

Cabaret | Crazy Horse Paris chega a Macau

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ai estar pela primeira vez no território, de 1 a 12 de Novembro, o espectáculo de cabaret para adultos mais famoso do mundo. Pelas mãos da companhia Crazy Horse Paris, a apresentação é um “best of” de “Forever Crazy” e traz a Macau um “espectáculo erótico e cheio de glamour que inclui dança, música e muita sensualidade”, diz a organização a cargo do Sands China.

O evento tem lugar no Teatro Parisian, e acolhe em palco um elenco multicultural de dez bailarinas com formação clássica e “vestidas apenas pela iluminação do espaço”. De acordo com a nota enviada à comunicação social, “o efeito é tão incrível que é difícil determinar onde a pele acaba e as reflexões começam”.

A organização destaca a sofisticação da apresentação, em que ao clássico cabaret burlesco é acrescentado “um toque de modernidade e de humor”.

O público pode esperar “um caleidoscópio de beleza, graça, paixão e precisão em sapatos exclusivos desenhados por Christian Louboutin”. A música é marcada pelos sons do jazz alternado com composições electrónicas da actualidade.

O “Forever Crazy” foi criado em 1951 pela já lendária companhia de cabaret, como homenagem a Alain Bernardin, o fundador da Crazy Horse.

Os bilhetes vão ser disponibilizados a partir do dia 19 com valores entre as 180 e as 680 patacas.

Música no Coração | Produção procura talentos locais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lendário musical da Broadway “Música no Coração” está à procura de jovens locais para interpretarem os famosos filhos Von Trap. Os castings de selecção vão decorrer no território na próxima segunda-feira sendo que, diz a organização, “é uma oportunidade única para os jovens locais talentosos de representarem num espectáculo aclamado mundialmente e de trabalharem com uma equipa de renome”. Os interessados, entre os 6 e os 14 anos, devem proceder à inscrição prévia online através do site www.soundofmusicmacao.com. O espectáculo será representado no território no mês de Dezembro.

13 Set 2017

Gonsalo Oom, arquitecto: “Gosto da influência das igrejas no espaço urbano”

“Desenhos Expressionistas de Macau” é a exposição de Gonsalo Oom que mostra, a partir do dia 28, uma série de trabalhos acerca da paisagem do território. As obras vão estar na Creative Macau e trazem, na sua maioria, a interpretação do (também) arquitecto da expressão urbana da península

É a sua primeira exposição individual no território. O que é que vamos ver na Creative Macau?
A exposição chama-se “Desenhos Expressionistas de Macau” e tem que ver com a minha leitura e interpretação do território. São desenhos artísticos. Não são tão figurativos como os que faço em arquitectura, e deixam margem para uma interpretação. Sou arquitecto e normalmente temos de fazer desenhos sempre muito rigorosos, o que não acontece neste caso.

Da arquitectura ao desenho artístico. Como é que aconteceu esta passagem?
Comecei a desenhar para dar os trabalhos de presente aos meus amigos que casavam. Desenhava igrejas essencialmente. Têm que ver com arquitectura e era uma coisa de que gostava. Não tinha muito dinheiro e era um bom presente. Recordo que, na altura, tinha tanto trabalho acerca deste tipo de edifícios que quase que dava para fazer um roteiro das igrejas de Lisboa. Já na altura desenhava a carvão.

Esta exposição também é maioritariamente a carvão. 
Sim. O carvão tem algumas particularidades, um bocadinho como o que acontece nos materiais que se escolhem na pintura. Há desenhos em que, por exemplo, uso aquilo que pode ser visto como tinta-da-china, mas não o é. É tinta de cargas de caneta em que também é requerida uma técnica específica. Quando tiro a carga da caneta, a tinta começa a borrar e há que saber controlar esse borrão. É uma mancha que se vai trabalhando para se retratar o que se está a ver, mas de uma forma, digo, expressionista. Este trabalho também depende de uma série de factores, como a emoção. É tudo desenhado à vista. Não dá para estar em casa a ver fotografias. Mas há sempre algumas dificuldades quando se sai para desenhar à vista. Temos sempre de lidar com insectos, com o calor e mesmo com pessoas. Desenhei uma vez ali em frente à Escola Portuguesa e quando os alunos saíram e me viram a trabalhar não consegui fazer mais nada. O mesmo aconteceu nas Ruínas de São Paulo. Encontrei um sítio porreiro, mais discreto, mas as pessoas acabaram por me descobrir. Gosto mais de estar recatado. Não desisto, mas estas situações acabam por interferir no trabalho.

Macau é um lugar fotogénico?
Sim. Os contrastes que existem no território, apesar de nem sempre serem bons, resultam muito bem no desenho.

Que lugares escolheu para desenhar para esta mostra?
Lá está, vamos ter igrejas e outras situações urbanas.

Gosta especialmente de igrejas?
Gosto da influência das igrejas no espaço urbano. A igreja é um local de conforto e de calma. Agora são mais as lojas, em Macau. Uma pessoa entre numa loja e tem a oportunidade de se refrescar, mas acho que antigamente as pessoas também iriam para as igrejas com esse objectivo (risos). Gosto também, ao nível urbano, da influência dos casinos, da massa formada por eles. Desenhei umas coisas para umas paredes grandes, era uma sequência de painéis com a skyline de Macau vista da Taipa. Tenho alguns trabalhos assim, nesta mostra.

Enquanto arquitecto, como vê a alteração da paisagem local?
Acho óptimo. Quer dizer, não deixa de provocar alguma perturbação porque as coisas parecem não ter controlo e há situações muito fortes. Em termos de urbanismo há coisas que “chocam”. Chegar às Ruínas de São Paulo e ver o prédio que está atrás é muito estranho. É um edifício que acaba por estragar um elemento icónico do património. Vim pela primeira vez para Macau em 2006. Voltei para Portugal pouco depois e regressei em 2013 numa altura de muita construção, pelo que assisti a muita transformação que acabou por afectar a paisagem.

Já participou noutras exposições – e também na Creative Macau – com outro tipo de trabalhos. 
Sim. Já participei com objectos, principalmente com peças de mobiliário. Desenhar móveis é uma obsessão que tem que ver com a tridimensionalidade. Esta oportunidade foi uma sorte. Tenho um dos meus desenhos integrado na exposição que está a decorrer no mesmo local actualmente, e a responsável, Lúcia Lemos, constatou que tinha um espaço de um mês para preencher e acabou por me convidar. A minha primeira ideia até foi uma exposição com os trabalhos feitos pelas pessoas de Macau que desenham. Há muita gente a fazer isso e que depois não tem como mostrar o que faz. Achei que seria giro fazer uma coisa dessas. Será o próximo passo.

 Já alguma vez pensou em dedicar-se apenas à pintura e ao desenho?
Caso não tivesse trabalho como arquitecto, dedicava-me ao desenho a tempo inteiro. É uma coisa natural em mim, mas é preciso trabalho. Não é uma coisa que se possa dizer que as pessoas têm jeito. É preciso trabalhar muito também. O jeito não é o fundamental.

13 Set 2017

Camilo Pessanha, 150 anos | Antønio Falcão apresenta “Kleptokronos” e “Morri”, um livro de crónicas

“Se existir um deus, é o tempo”

Antønio Falcão é Ring Joid, mas podia ser outro qualquer. De regresso a Macau é também Pessanha e os muitos que vão habitando dentro de si. Está no território com a exposição “Kleptokronos”, que é inaugurada hoje e para apresentar o livro “Morri”, amanhã. É um dos artistas que integra as comemorações dos 150 anos de Camilo Pessanha do Edifício do Antigo Tribunal e vem mostrar a sua concepção de tempo

[dropcap]O[/dropcap] que é que vamos ter em “Kleptokronos”?
Quando recebi o convite comecei a pensar no que fazer. Não queria ir buscar imagens que já tinha nem recorrer a paisagens de Macau. Acabei por ter esta ideia, de jogar com o tempo da própria fotografia e tentar, trazer com a técnica, o tempo do Camilo Pessanha. “Kleptokronos” que dizer ladrão do tempo. Uso a técnica da fotografia em que a luz constrói a imagem durante o tempo necessário até ter uma imagem possível. A maioria das fotografias aqui presentes são feitas com várias exposições, e muitas delas, longas.

O próprio processo incorporou o conceito de tempo?
Sim. A exposição longa traz o tempo para trás e, tecnicamente, é um método em que o tempo se demora pela fotografia adentro.

Como é que isto se materializa na exposição?
A minha ideia era pegar neste tempo que se comemora do Camilo Pessanha e juntá-lo ao que também se passa agora, à contemporaneidade. Por exemplo, com a questão dos refugiados. Também se lançam ao mar e muitos acabam por naufragar.

Faz um paralelo com as situações da actualidade?
Sim, tenho uma imagem referente aos fogos que têm passado por Portugal e que se pode relacionar com o poema “Vida” do Pessanha. Fala disso, do lumaréu, de tudo a arder e das flores que deixam de existir. O arder, mais uma vez, também é referente à luz fotográfica que queima. Não foi pegar no poema e fazer uma imagem que se parecesse. Foi outra coisa.

Tem alguns auto-retratos.
Os auto-retratos têm que ver com outro processo. É um reencarnar-me como uma espécie de Camilo Pessanha de agora no sentido do delírio, da fuga, da própria erosão da pessoa que está fora, num sítio que não é dela mas que acaba por lhe pertencer. Isto passa também pela minha experiência por Macau. O que vivi e não vivi aqui. A ideia é tentar ser uma personagem, mais do que alguém que escreve ou que fotografa. É criar este embrulho para que tudo o que estou aqui a apresentar faça um certo sentido para que saia da realidade e traga outros elementos.

Vamos ter uma mistura de Camilo com Ring Joid, uma outra personagem sua?
Um pouco por aí. Mas sem rigor nenhum. O Ring Joid – e não interessa o nome porque foi quase aleatório – é o ideal de mim que não consigo representar na vida real. E por isso mantenho-o vivo artificialmente como complemento de uma vida com limites. Ele sou eu à solta.

Vai também lançar o livro “Morri”. Porquê o título?
Tem tudo que ver com a questão do tempo. Se existir um deus, é o tempo. É a única omnipresença que existe no mundo e da qual todos fazemos parte. “Morri” foi o título que me apareceu. Comecei a escrever, para o Hoje Macau, em 2004, numa altura da minha vida em que quase tinha uma necessidade da escrita para que pudesse continuar a viver ou a ficar perto do chão. Escrevia com outro nome, o de Ring Joid. Acabei por inventar essa personagem. Há sempre duas coisas a viver dentro de mim. É como se andasse com uma companhia. Um puxa para o desvio, para ir por outros caminhos mais longos e mais difíceis. Depois há as histórias ao longo do livro que têm esse carácter da morte. Aliás, o livro acaba com um pequeno texto em que sou eu dentro de um avião a cair, e relato os últimos momentos antes da sua queda. A morte. O livro têm alguns textos actuais também em que, mais uma vez, está presente o tempo. A introdução, em que relato uma situação de quando tinha três anos, representa tudo o que se passa agora. É uma situação biográfica em que tudo o que nós vivemos já vimos acontecer. É como se vivêssemos numa dimensão em que tudo está mais ou menos programado e que já vimos isso mas que não conseguimos perceber e agora, como o tempo se estendeu, tudo se descodificou. “Morri” fala também da história contemporânea de Macau. Os portugueses, as despedidas, as passagens, mas muitas vezes uma história idealizada. Por exemplo, os governadores que eram seres de uma dinastia superior, que passavam por um processo de estudo do oriente, da língua, da filosofia e quando chegavam integravam-se na vida do “outro” e eram admirados por toda a população. Eram textos escritos para um jornal na pressão semanal do fecho. Experiências de temas e de métodos de escrita. Coisas que via, cinema, música, noites. Sempre com o meu outro ser a testar as minhas capacidades, se conseguia realmente escrever alguma coisa. Uma escrita que parte de um trauma que se vai cosendo ao longo dos tempos. Vivemos num mundo isolado dentro deste território e era preciso soltar-me. E na escrita tudo é possível. Tudo existe. Não há freio.

E a fotografia? Qual a sua relação com ela agora?
A fotografia só funciona se de algum modo participar nela. Não pode ser apenas uma composição visual de elementos exteriores. Isso é uma espécie de malabarismo, tem de estar tudo no lugar para que as bolas não te caiam na cabeça. Eu fico à espera que elas caiam. E depois logo se vê.

O que acha das comemorações dos 150 anos do Pessanha e da sua representatividade para Macau?
O Camilo Pessanha é um dos poetas mais válidos da literatura portuguesa e também dos mais esquecidos. Já Fernando Pessoa o admirava mas depois houve este tempo todo em que parece que esteve adormecido. Em Macau, penso que nunca foi devidamente reconhecido e por isso é importante tanto a obra como a sua figura e a sua passagem pelo território. É preciso que resista para que as pessoas possam, algumas continuar a relembrar o homem e outras o puderem conhecer.

Viveu aqui 17 anos e está de regresso. Como está a viver a visita?
Não tenho bem a noção do tempo, quando olho para trás, passaram 17 anos em Macau, passaram seis desde que fui para Portugal. Está tudo compresso na cortina do engenho que capta imagens para dentro do nosso cérebro. Fui embora em 2011 e sempre que volto sinto como se me tivesse ido embora na semana passada. É sempre um sentir-me em casa. É bom e mau mas como estou sempre de partida, e não venho de armas e bagagens para ficar, também não desespero. É a sensação de estar num sítio inóspito.

Macau é inóspito?
Sim. O mundo é inóspito.

1 Set 2017

Exposição | Trabalhos locais inspirados no Circuito da Guia

São duas as exposições que marcam o primeiro aniversário da Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau. Os trabalhos são de artistas locais e pretendem sensibilizar a população para a importância do património

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] o primeiro aniversário da Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau (APDCGM) e a data vai ser comemorada com a realização de duas exposições acerca de “O Circuito da Guia como Património Mundial da UNESCO”. “Faz este ano um ano que fundámos a associação e vamos fazer uma pequena celebração com a realização de várias actividades”, disse o presidente da associação, José Estorninho, ao HM.

Para o efeito, a associação está a organizar duas exposições colectivas que contam com a participação de artistas locais. Para ter acesso às obras a organização fez o convite a várias entidades de modo a chegar ao maior número de possíveis interessados em expor no evento.

As áreas artísticas estão “praticamente todas abrangidas”, diz José Estorninho. “Temos pintura, escultura, fotografia e joalharia, por exemplo”, ilustra o responsável. O objectivo é também “não deixar ninguém de fora e dar oportunidade ao maior número de pessoas de expor o seu trabalho até porque nem todos têm a oportunidade de participar em exposições”, refere.

Lugar especial

Por outro lado, a associação pretende chamar a atenção para a questão do património, nomeadamente no Circuito da Guia. “A defesa do património local é fundamental e o Circuito da Guia do Grande Prémio é um local que precisa de atenção e preservação” completa José Estorninho. Com o envolvimento de artistas e da comunidade, a associação pretende ainda “apelar e sensibilizar as pessoas para esta causa”.

José Estorninho está satisfeito com os trabalhos que têm chegado à associação. “Já recebemos 21 obras, o que podemos considerar um número alargado de artistas a participarem”, afirma. Para o responsável, as obras que vão ser exibidas já representam “uma colecção bastante abrangente e simbólica” que reflecte diferentes manifestações artísticas locais.

A primeira exposição tem data de inauguração marcada para o próximo sábado, pelas 18h15, na Galeria do Edifício RITZ, no Largo do Senado. Dadas as limitações de espaço não estarão aqui expostos todos os trabalhos e a 16 do próximo mês é inaugurada a segunda exposição, agora sim, com todas as obras recebidas. O local é a Galeria de Acesso à Fortaleza do Monte.

A escolha de dois espaços é também estratégica. Para José Estorninho “estas duas mostras vão dar a possibilidade aos visitantes de conhecer dois espaços diferentes além da própria exposição”.

Depois das exposições está já agendada uma palestra no Ritz. O tema será “O Circuito da Guia e o seu Futuro”. “Vamos focar o tema tendo em conta o ponto de vista de profissionais em várias áreas úteis para a matéria”, explica o responsável. A palestra pode ainda dar origem a uma troca de opiniões, sendo que, afirma, “é a primeira palestra do género no território”.

23 Ago 2017

Concerto | Diiv ao vivo em Hong Kong daqui a um mês

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om dois discos aclamados pela crítica na bagagem aclamados, os norte-americanos Diiv tocam na região vizinha no dia 14 de Setembro. O concerto, que terá na primeira parte a banda local Phoon, realiza-se em Kowloon na sala Kitec

Os Diiv foram apelidados como a grande esperança do rock sujo que tem as suas raízes entre bandas históricas como os Nirvana ou os Sonic Youth. Mas o conjunto de Brooklyn vai mais além do que as suas visíveis influências, que não se esgotam nestas duas bandas, tendo conseguido demarcar a sua sonoridade e marca identitária. A banda é liderada, e confunde-se com o seu guitarrista/vocalista, Zachary Cole Smith, o principal compositor e mentor do grupo.

No ano passado editaram o segundo e muito aguardado disco, “Is the Is Are”, depois de um hiato de quatro anos após o lançamento do registo de estreia “Oshin”. Ambos os álbuns mereceram aplausos da crítica, que quase em uníssono pegaram não só na música da banda, mas também na imagem do seu vocalista. Cole Smith é considerado por uma parte da crítica que gosta de estabelecer paralelismos como o sucessor natural de Kurt Cobain. As comparações agravaram-se depois do músico ter sido apanhado pela polícia na posse de uma quantidade considerável de heroína. Cole Smith estava acompanhado pela namorada, a modelo/actriz/cantora Sky Ferreira, levando a óbvias equiparações com trágicos casais do rock como Kurt Cobain e Courtney Love, ou Sid Vicious e Nancy Spungen. Pareciam destinados a seguir a rota decadente dos seus predecessores. Além disso, o caso trouxe ainda sérias dúvidas se o novo disco iria mesmo sair.

Vento a abrir

Assim que chegaram aos escaparates com três singles publicados online, “Sometime”, “Human” e “Geist”, mereceram a atenção das melhores publicações dedicadas à música alternativa, como a Pitchfork ou a Stereogum. Aí deu-se um contratempo identitário com a banda de Zachary Cole Smith que ainda teve de mudar de nome, uma vez que Dive já estava tomado. Assim nasciam os Diiv, que começaram a agarrar algum público com o lançamento do single “Doused”, popularizado em Portugal por musicar uma campanha publicitária de uma conhecida empresa de telecomunicações.

“Doused” é uma música que espelha bem a sonoridade da banda norte-americana, com um baixo pulsante, muito ritmado e guitarras carregadas de delay sempre prestes a irromper em solos. Os Diiv são difíceis de catalogar, com diversas influentes dentro do espectro do rock alternativo, vão buscar inspiração ao psicadelismo e outras às paisagens sonoras mais típicas do shoegaze. O seu mais recente disco mostra alguma maturidade, remetendo o ouvinte para um imersão completa num somatório que traz o melhor das últimas quatro décadas de música movida a guitarras. Foi assim que chegamos a “Is the Is Are”, que mal saiu mereceu um lugar de destaque entre os melhores discos do ano passado.

Desde então, a banda tem andado em tour a promover o seu segundo registo, até que chega ao território vizinho no dia 14 de Setembro para um concerto na Music Zone @ E-Max do centro Kitec, que abre as portas ao público a partir das 20h.

A primeira parte estará a cargo da banda local Phoon. Com assumida inspiração indie rock, o grupo de Hong Kong inspirou-se nos ventos que assolam a região e partiu da tradução inglesa da palavra “tufão”.

Este concerto serve bem de aperitivo para o festival Clockenflap, para o qual os espectadores ainda terão de esperar até Novembro.

14 Ago 2017