Exposição | Galerie Ora-Ora inaugura no espaço H Queen’s com livros gritantes

O contraste e a harmonia entre as artes plásticas e a literatura é o cerne da exposição colectiva “Screaming Books”, que inaugura o novo espaço da Galerie Ora-Ora no H Queen’s no próximo dia 1 de Março. Um dos trunfos da mostra é a luz natural que entra pelas janelas do 17º andar da galeria em Central Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] programa artístico da temporada 2018 de Hong Kong está a arrancar em grande estilo, em parte movido pelos vários festivais que animam a região, mas também com o surgimento de novos espaços para exposições e concertos.

Um prédio que promete ser um dos grandes pólos artísticos da Ásia é o H Queen’s, em Central, erigido para colmatar a lacuna da falta de espaço para a fixação de grandes galerias internacionais.

É nesse contexto que no próximo dia 1 de Março é inaugurado “Screaming Books”, uma exposição colectiva que reúne oito artistas chineses e locais que se foca no tema da literatura. Os artistas participantes da mostra são Halley Cheng, Hung Keung, Peng Jian, Pang Wei, Xiao Xu, Xu Lei, Zhang Yanzi e o icónico artista de caligrafia graffiti Tsang Tsou-Choi, o chamado “Rei de Kowloon”.

“Screaming Books”, a primeira exposição da galeria este ano e propõe-se a ilustrar a universalidade da arte e a sua aptidão para explorar expressividade indomável, emoções e significados. A mostra tem como objectivo demonstrar essas emanações do espírito humano através da influência da literatura ancestral e clássica da China e do Ocidente.

O título da exposição foi baseado num poster de Alexander Rodchenko, chamado “Books!”, onde estão juntos um escritor russo e a socialite Lilya Brik, tentando expressar a ideia de união entre artes plásticas e palavras.

A exposição que será inaugurada no 17º andar do H Queeen’s apela ao poder universal da imagem destilada por um grupo coerente de artistas através caligrafia contemporânea. As duas formas de expressão artísticas unem-se pela via da arte chinesa contemporânea e da influência que a literatura tem na criação dos vários artistas que colaboram na exposição.

Fora das páginas

“Arte e literatura não são forças em oposição, mas almas divididas que gritam uma pela outra. “Screaming Books” é uma exposição cuidadosamente curada que reúne artistas de renome para quem o legado literário é uma inspiração”. As palavras são de Henrietta Tsui-Leung, fundadora e dona da Galerie Ora-Ora.

Acerca da abertura do novo espaço em Central, a galerista adianta que “a exposição marca um significativo marco histórico na vida da galeria e reflecte uma visão de longo-prazo da promoção da caligrafia contemporânea entre o público de Hong Kong e o público internacional que visita a cidade”.

Por exemplo, Xu Lei e os seus estudantes Hao Liang e Xiao Xu trazem para a exposição a influência de Franz Kafka, assim como o realismo mágico do escritor Gabriel Garcia Marquez. Por outro lado, Peng Jian, Peng Wei e Zhang Yanzi encontraram inspiração na linguagem literária e no imaginário nostálgico, principalmente na correspondência de autores. Peng Wei pega nesta criação literária íntima e acrescentam-lhes imagem e compreensão.

A paisagem arquitectónica de uma biblioteca foi a inspiração visual usada por Peng Jian para a concepção da torre de livros que criou.

Hung Keung tem uma abordagem mais experimental e inovadora que procura materializar o poder dos livros para espalhar ideias. O artista local baseou-se nesta ideia para criar um conjunto de vídeos que exploram a natureza solitária da leitura e a aparente dicotomia psicológica com que o leitor se depara.

Monarca de Kowloon

Um dos destaques da exposição é Tsang Tsou Choi, o famoso artista de rua de Hong Kong, que tinha a reputação de desafiar a ordem social. Conhecido no mundo do grafitti como o Rei de Kowloon, Tsang aliava a arte urbana às ancestrais técnicas de caligrafia chinesa. Antes de morrer, há mais de 10 anos atrás, o artista desejou ter mais uma exposição.

Tsang Tsou Choi foi detido pela polícia de Hong Kong muitas vezes, na maioria das vezes saindo em liberdade com apenas um pequeno aviso e uma multa simbólica. Devido à sua notoriedade, e à fama de agitador, a família viria a deserdá-lo não sem antes levantar suspeitas acerca da sua sanidade mental. Além disso, a esposa deixou-o por não aguentar mais conviver com a obsessão artística do marido.

Esta mostra marca a sexta participação da Galerie Ora-Ora na Art Basel Hong Kong, que entra com duas outras exposições. “Leap to Light” é uma mostra colectiva que pretende demonstrar a força e a incerteza contida num salto.

A outra surpresa da galeria guardada para a Art Basel é a exposição a solo de Xiao Xu, patente ao público entre 26 de Março e 12 de Maio no espaço H Queen’s. Um dos mais proeminentes artistas contemporâneos chineses, Xiao Xu manobra a criatividade em espaços negros entre argumentos em esgrima, ou forças hostis que se confrontam. Desde cidades invertidas suspensas entre a gravidade e a ausência de peso, a brilhantes icebergs esculpidos em granito, o artista gosta de explorar o jogo de forças opostas nos seus trabalhos.

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