Acordo entre EUA e Coreia do Norte refere desnuclearização e troca de restos mortais de prisioneiros

Palavras de optimismo e elogios entre Donald Trump e Kim Jong-un marcaram o fim da cimeira histórica entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. O acordo assinado aborda o fim progressivo do programa nuclear da Coreia do Norte e a troca de restos mortais de prisioneiros de guerra entre os dois países.

 

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]omeram um lauto almoço (ver caixa) e ambos saíram satisfeitos de um encontro histórico. Terminou ontem a cimeira entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, que decorreu em Singapura e, à saída, Donald Trump até garantiu que o encontro se poderá repetir nos próximos tempos.

“Vamos encontrar-nos novamente, vamos encontrar-nos muitas vezes”, disse aos jornalistas, de acordo com a agência Associated France-Press (AFP). “Fizemos grandes progressos, foi melhor do que esperávamos”, disse ainda.

Antes do encontro, as palavras trocadas pelos dois líderes, também revelaram um caminho diplomático a percorrer em prol da paz. “É uma honra reunir consigo e sei que vamos resolver o nosso grande problema, o nosso grande dilema, que até este ponto não foi possível resolver. Trabalhando juntos, vamos resolver o assunto”, disse Donald Trump.

Também Kim Jong-un falou em harmonia para o futuro. “Trabalhando em estreita harmonia consigo, senhor presidente, com desafios, estou disposto a fazer este grande trabalho.”

 

Desnuclearização e restos mortais

Palavras amistosas à parte, da cimeira saiu um acordo que aborda não só a possibilidade de desnuclearização da Coreia do Norte. De acordo com a AFP, que fotografou o documento, o texto não menciona a exigência norte-americana de “desnuclearização completa e irreversível” – a fórmula que significa o abandono completo do armamento e a aceitação de missões de inspecção –, mas reafirma o compromisso anterior, mais vago.

“As pessoas ficarão muito admiradas e muito contentes e nós vamos tratar de um problema muito perigoso para o mundo”, disse Trump, admitindo estar “muito orgulhoso com o que aconteceu hoje”. O presidente norte-americano disse que tinha criado “uma ligação muito especial” com Kim e que a relação com a Coreia do Norte iria ser muito diferente daqui em diante.

“Decidimos deixar o passado para trás. O mundo assistirá a uma grande mudança. Gostaria de expressar a minha gratidão ao presidente Trump por fazer este encontro acontecer”, afirmou Kim Jong-un na altura em que o documento foi assinado. Trump disse que iria “sem dúvidas” convidar Kim Jong-un para visitar a Casa Branca.

Por outro lado, no mesmo texto, os Estados Unidos “garantem a segurança da Coreia do Norte”. “O presidente Trump compromete-se a fornecer as garantias de segurança” à Coreia do Norte, indica a primeira informação sobre o documento conjunto.

“Paz e prosperidade”

O documento refere também o estabelecimento de novas relações entre os dois países no sentido “da paz e da prosperidade” e a troca de restos mortais de prisioneiros e informações sobre soldados desaparecidos em combate durante a Guerra da Coreia, que ocorreu entre 1950 e 1953. Os corpos de mais de 7.800 militares norte-americanos continuam por localizar desde o final do conflito.

Numa conferência de imprensa promovida já depois da saída de Kim Jong-un de Singapura, Donald Trump referiu-se ao líder norte coreano como sendo alguém “muito inteligente” que iria colocar os pontos do acordo em prática.

Ontem o editorial do jornal norte-coreano Rodong referia que o país “vai procurar, através do diálogo, a normalização das relações” com um país (sem identificar qual), sempre que essa nação “respeitar a autonomia” norte-coreana.

 

 

China quer fim das sanções

A China, o principal aliado da Coreia do Norte, reagiu aos resultados da cimeira, falando de uma “nova história”. “A China apoia, porque é aquilo que temos esperado”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang. Geng lembrou o contributo da China para a resolução da questão norte-coreana, nomeadamente a proposta de “dupla suspensão”: o fim das manobras militares dos EUA e da Coreia do Sul na península coreana e, ao mesmo tempo, a paragem dos testes com armamento nuclear por parte da Coreia do Norte. “A proposta de suspensão por suspensão é a correcta e foi concretizada”, afirmou Geng, lembrando que Pequim “tem vindo a apelar aos dois lados para que mantenham o diálogo diplomático”. O porta-voz lembrou ainda a importância de os EUA “levarem seriamente e atenderem as preocupações com a segurança da Coreia do Norte”. “A outra parte deve também tomar medidas construtivas”, afirmou.

Além disto, a China sugeriu ontem que o Conselho de Segurança da ONU suspenda as sanções contra a Coreia do Norte, face às actuais iniciativas diplomáticas de Pyongyang, após a cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un. “As sanções não são uma finalidade em si”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, em conferência de imprensa. “Acreditamos que o Conselho de Segurança deve fazer esforços para apoiar as atuais iniciativas diplomáticas”, acrescentou.

No ano passado, o Conselho de Segurança aprovou de forma unânime a aplicação de sanções contra o regime de Kim Jong-un, face aos seus sucessivos testes atómicos, proibindo as exportações norte-coreanas de carvão, ferro, chumbo, têxteis e marisco. A China teve ainda de reduzir o fornecimento de petróleo e produtos petrolíferos refinados a Pyongyang.

 

 

Japão espera comportamento “responsável”

“Esperamos que a Coreia do Norte se comporte como um país responsável na comunidade internacional” a partir de agora, disse o porta-voz do executivo japonês numa conferência de imprensa. O responsável escusou-se a avaliar o resultado da cimeira até Trump telefonar ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, nas próximas horas para o informar, mas enfatizou “a liderança e o esforço do presidente Trump para tornar realidade [a reunião]”. Entretanto, o Japão lançou ontem um satélite destinado a vigiar as instalações militares da Coreia do Norte e conseguir imagens de áreas afectadas por desastres naturais, informou a Agência de exploração Aeroespecial do Japão (JAXA). O satélite do tipo radar foi lançado num foguete H-2ª do centro espacial Tanegashima, na província de Kagoshima (sudoeste), informou a Jaxa em comunicado. “O foguete voou como planeado e o satélite de colheita de dados foi devidamente separado.”

 

 

A ONU e a questão humanitária

O secretário-geral da ONU, António Guterres, estava confiante, na segunda-feira, de que a cimeira entre os líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte permitirá avanços no sentido da paz e da desnuclearização da península coreana. “O mundo está a seguir de perto o que se vai passar dentro de horas em Singapura.” Guterres elogiou o “valor” dos dois líderes e disse esperar que eles possam “quebrar o perigoso ciclo que tanta preocupação causou o ano passado”. O objectivo, sublinhou, deve continuar a ser “a paz e a desnuclearização verificável”. Perante as potenciais dificuldades, Guterres assegurou que a ONU está pronta para apoiar o processo “de qualquer modo, incluindo a verificação, se for solicitado pelas partes-chave”. “Eles são os protagonistas”, insistiu, realçando que as Nações Unidas apenas oferecem a sua ajuda e que o seu único objectivo é o êxito das negociações. Guterres pediu, por outro lado, para que se preste atenção à situação humanitária na Coreia do Norte e recordou que a ONU está a tentar obter 111 milhões de dólares para dar resposta às necessidades imediatas de seis milhões de pessoas.

 

Seul diz que acordo “põe termo à Guerra Fria”

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, saudou o acordo de Singapura entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte como um “acontecimento histórico que põe termo à Guerra Fria”. Moon Jae-in disse ainda que está preparado para iniciar uma nova etapa nas relações com a Coreia do Norte e que Pyongyang se comprometeu com a desnuclearização completa do seu arsenal. O chefe de Estado sul-coreano homenageou Kim e Trump pela sua “coragem e determinação”, considerando que cabe agora às duas Coreias virarem a página de um “passado sombrio, feito de guerra e confrontos”.

 

 

Calma em Pyongyang

A AFP, uma das poucas agências internacionais com delegação em Pyongyang, descreveu a capital norte-coreana, durante o decurso da cimeira entre Trump e Kim, como a “calma no centro da tempestade”. “Com poucas fontes de informação, além da imprensa estatal, rumores e passa-a-palavra, a maioria dos norte-coreanos está às cegas sobre o histórico evento, que potencialmente transformará as suas vidas”, descreve Eric Talmadge, correspondente da agência.

 

 

Bimi e costeletas de vitela

Costelas de vitela com verduras e molho de vinho ou “oiseon”, um prato típico coreano a base de pepino e carne, foram alguns dos pratos degustados nesta terça-feira por Donald Trump e Kim Jong-un durante a histórica cimeira. Pratos que homenageiam a comida americana e norte-coreana, bem como Singapura, a sede do encontro, foram os protagonistas do almoço entre os dois líderes e suas respectivas delegações. No começo, Trump e Kim experimentaram um cocktail de camarões com salada de abacate e um kerabu, um prato típico malaio de arroz com manga, lima e polvo fresco; ou o conhecido “oiseon”, um pepino cozido recheado de carne bastante popular na Coreia do Norte. Como prato principal, os líderes comeram costelas de vitela com batata gratinada e bimi, um vegetal que surgiu no Japão como um híbrido entre os brócolos e um tipo de couve oriental. O outro prato principal foi o zhao, um arroz frito do estilo Yangzhou (leste da China), igualmente homenageado pela comida de Singapura. Como sobremesa, Trump, Kim e o restante de suas delegações comeram sorvete de baunilha e torta de chocolate.

 

Ivanka deixa os chineses perplexos

Os chineses tentavam encontrar nesta terça-feira a origem de um suposto provérbio da sua cultura que Ivanka Trump, filha do presidente Donald Trump, publicou no Twitter poucas horas antes da reunião do seu pai com o líder norte-coreano Kim Jong Un. “O céptico não tem que interromper o que actua – Provérbio chinês”, escreveu no twitter Ivanka Trump na segunda-feira à noite. Esta referência deixou os internautas chineses perplexos e muitos tentaram encontrar a origem do suposto provérbio. “O nosso chefe de redacção não encontra de que provérbio se trata. Ajuda!”, pediu a conta oficial da Sina, a empresa que administra o Weibo. Em milhares de mensagens, os utilizadores do Weibo discutiram sobre a possível origem do provérbio e alguns criticavam directamente a filha de Trump. “Leu em um biscoito da sorte do Panda Express”, afirmou um internauta, em referência aos biscoitos de uma conhecida rede de comida chinesa nos Estados Unidos. Ivanka Trump é muito popular na China, sobretudo depois de publicar um vídeo de sua filha de seis anos recitando um poema em mandarim.

12 Jun 2018

Cimeira EUA/Coreia do Norte: Trump confiante e Kim destaca superação de obstáculos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s equipas do presidente dos Estados Unidos e do líder norte-coreano iniciaram uma reunião alargada, após um primeiro encontro de cerca 40 minutos entre os dois líderes, sem conselheiros e apenas com os tradutores.

À chegada à sala onde o encontro está a decorrer, Trump mostrou-se confiante de que ele e Kim Jong-un vão “resolver um grande problema, um grande dilema”.

No início da histórica cimeira em Singapura, o Presidente dos Estados Unidos disse “não ter dúvidas” de que iria ter um “ótimo relacionamento” com o líder norte-coreano.

“Antigos preconceitos e velhos hábitos têm sido obstáculos, mas superámos todos para nos encontrarmos aqui hoje”, disse por sua vez vez Kim Jong-un.

A cimeira histórica entre o Presidente dos Estados Unidos e o líder da Coreia do Norte teve início hoje, em Singapura, com um histórico aperto de mão entre Donald Trump Kim Jong-un.

Este é o primeiro encontro entre os líderes dos dois países depois de quase 70 anos de confrontos políticos no seguimento da Guerra da Coreia e de 25 anos de tensão sobre o programa nuclear de Pyongyang.

Este encontro histórico ocorre depois de, em 2017, as tensões terem atingido níveis inéditos desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53), face aos sucessivos testes nucleares de Pyongyang e à retórica beligerante de Washington.

A cimeira começou pouco depois das 09:00 de terça-feira (02:00 em Lisboa), num hotel em Singapura, e resulta de uma corrida contra o tempo – com uma frenética atividade diplomática em Washington, Singapura, Pyongyang e na fronteira entre as duas Coreias -, em que houve anúncios, ameaças, cancelamentos e retratações surpreendentes.

12 Jun 2018

Secretas | “Ataque acústico” levam EUA a retirar funcionários da China

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s Estados Unidos retiraram vários funcionários governamentais de Cantão, sul da China, depois de testes médicos terem revelado sintomas semelhantes aos causados pelos “ataques acústicos” em Cuba, no ano passado, informou o Departamento de Estado.

A porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, revelou que “várias pessoas” foram levadas para os EUA, para além de uma outra que anteriormente registou sintomas semelhantes. Os funcionários foram retirados juntamente com as famílias depois de um segundo caso de um funcionário do consulado em Cantão ter sentido dor de cabeça, sonolência e náuseas, levando Washington a enviar uma equipa médica para realizar análises.

A China reafirmou ontem que “não encontrou causas ou pistas” sobre possíveis ataques a diplomatas dos EUA no país. “Há pouco, num outro caso de um diplomata norte-americano, a China realizou investigações e informou os EUA de que não encontramos sequer pistas” de que se trata de um ataque deliberado, afirmou ontem a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, em conferência de imprensa.

Alerta sonoro

No primeiro caso, ocorrido no mês passado, um alerta de saúde emitido pela embaixada norte-americana em Pequim revelava que “um funcionário do Governo dos EUA reportou recentemente sensações subtis e vagas, mas anormais, de ruído e pressão”. Hua disse que o segundo alegado caso não foi sequer oficialmente notificado à diplomacia chinesa. “Se há realmente algum problema, esperamos que os EUA possam comunicá-lo directamente, para que a China adopte uma atitude responsável e investigue”, acrescentou.

O Departamento de Estado comparou estes casos com os ocorridos, no ano passado, com 24 diplomatas norte-americanos e respectivos familiares estacionados em Cuba, que experimentaram misteriosos “ataques acústicos”, que provocaram sintomas como perda auditiva, náuseas, tonturas, dor facial, dor abdominal, problemas cognitivos e danos cerebrais.

No caso de Cuba, a imprensa norte-americana escreveu mais tarde que o FBI não conseguiu determinar a causa dos sintomas, apesar das acusações de Washington.

Funcionários do Departamento de Estado insistiram, no entanto, que as pistas apontavam todas para um ataque coordenado.

8 Jun 2018

Trump defende “direito absoluto” de se perdoar a si próprio

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, declarou ontem que tem o “direito absoluto” de se perdoar a si próprio, mas acrescentou que não fez “nada de mal”, numa referência à investigação federal em curso sobre um alegado conluio com a Rússia. “Como foi assinalado por numerosos académicos no activo, tenho o direito absoluto de perdoar-me a mim mesmo, mas porque deveria fazê-lo se não fiz nada de mal?”, afirmou Trump em mensagem na sua conta do ‘Twitter’. “Entretanto”, acrescentou, “a interminável caça às bruxas, liderada por 13 democratas muito enfadonhos e com numerosos conflitos (e outros) prossegue à medida que nos aproximamos das eleições de metade do mandato”.
As declarações de Trump ocorrem após as declarações no domingo, de Rudy Giuliani, ex-presidente da câmara de Nova Iorque e advogado de Trump, quando considerou que a Constituição permite a possibilidade de “auto indulto”, apesar de precisar que o Presidente não tem a intenção de o praticar.
O chefe da Casa Branca tem insistentemente questionado o trabalho do procurador especial Robert Mueller III, que desde há um ano investiga a alegada ingerência do Kremlin nas eleições para a Casa Branca de 2016 e os possíveis vínculos entre a campanha republicana e funcionários russos.
Mueller foi designado procurador especial após Trump ter despedido em Maio de 2017 James Comey do cargo de director do FBI.
Por diversas ocasiões o Presidente exigiu que Mueller “interrompa” a investigação sobre o alegado envolvimento russo nas presidenciais de 2016, definida como uma “caça às bruxas”, e citou o suposto custo da investigação – avaliado em 20 milhões de dólares (17 milhões de euros) – como um dos motivos para a sua suspensão, abrindo uma nova frente de ataque às iniciativas judiciais dirigidas contra o seu círculo mais próximo.
A equipa de juristas de Trump está a deixar claro que vai combater qualquer esforço para obrigar o Presidente a testemunhar perante um grande júri. Ainda no domingo, Giuliani revelou um dos muitos argumentos incluídos numa carta enviada em Janeiro a Mueller pelos advogados de Trump, em que se sublinha que um Presidente não pode comparecer perante um grande júri no âmbito da suposta interferência estrangeira nas eleições presidenciais de Novembro de 2016.
Trump também insinuou no domingo que Robert Mueller passa documentos confidenciais para a imprensa, repetindo que a investigação não tem fundamento.

5 Jun 2018

General de Pyongyang prepara rara deslocação aos Estados Unidos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m destacado general da Coreia do Norte deve fazer uma visita aos Estados Unidos, noticiou ontem a agência de notícias sul-coreana Yonhap, sublinhando que se trata de uma deslocação pouco habitual.

O general Kim Yong chol chegou ontem ao aeroporto de Pequim onde efectua uma escala antes da chegada aos Estados Unidos, que deve acontecer hoje, acrescenta a agência de notícias que cita fontes diplomáticas.

O oficial da Coreia do Norte tem na agenda um encontro com responsáveis da República Popular da China, num contexto de alterações diplomáticas no sentido da aproximação entre Pyongyang e Seul e no quadro da provável cimeira entre o líder norte-coreano Kim Jong-un e o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, prevista para o dia 12 de Junho em Singapura.

No domingo, uma equipa de diplomatas dos Estados Unidos chefiada pelo embaixador dos Estados Unidos nas Filipinas encontrou-se com responsáveis norte-coreanos em Panmunjom, na Zona Desmilitarizada (Paralelo 38) que separa as duas Coreias.

Entretanto, o Departamento de Estado norte-americano anunciou que uma outra delegação está prestes a deslocar-se a Singapura tendo como missão os preparativos logísticos da cimeira.

A confirmar-se, a visita do general norte-coreano aos Estados Unidos vai ser a primeira deslocação de um alto oficial militar norte-coreano desde o ano 2000, altura em que o vice-marechal Jo Myong rok se encontrou com o então presidente norte-americano Bill Clinton em Washington. Veterano da Guerra da Coreia (1950-1953) o vice-marechal foi até à morte, em 2010, uma das figuras mais fortes do regime da Coreia do Norte.

O general Kim Yong chol é igualmente apontado como um militar próximo do líder Kim Jong-un e participou nos primeiros contactos diplomáticos que aliviaram a tensão entre o norte e o sul, no passado mês de Janeiro.

O oficial assistiu também aos Jogos Olímpicos de Inverno de Peyongchang, na Coreia do Sul, em que esteve presente Ivanka Trump, filha do chefe de Estado norte-americano e acompanhou o líder norte-coreano nas duas recentes deslocações a Pequim. O general que é considerado homólogo de Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano é também vice-presidente do Comité Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte.

Kim Yong chol é igualmente uma figura controversa na Coreia do Sul devido ao alegado envolvimento na preparação do ataque, negado por Pyongyang, contra a corveta Cheonan, da Coreia do Sul, e que provocou a morte a 46 marinheiros, em 2010.

30 Mai 2018

Seul confirma encontro entre EUA e Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano afirmou ontem estarem a decorrer conversações entre representantes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, em Panmunjom, na fronteira entre as duas Coreias. A reunião tem o objectivo de preparar a cimeira entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Para além da localização, o Ministério sul-coreano não forneceu mais detalhes sobre as conversações, de acordo com a nota enviada à imprensa.

No domingo, o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, disse que Washington e Pyongyang iam começar em breve conversações ao mais alto nível para acertar agendas e outros preparativos para a cimeira, prevista a 12 de Junho, em Singapura. Na passada quinta-feira, Trump tinha anunciado não estarem reunidas as condições para a concretização da histórica cimeira, mas em menos de 24 horas admitiu a realização do encontro. Também este domingo, Donald Trump informou que uma equipa dos norte-americana estava na Coreia do Norte a negociar com representantes norte-coreanos a cimeira entre os dois líderes.

Através da rede social Twitter, Trump sublinhou que a Coreia do Norte “tem um brilhante potencial e que será um dia uma nação de grande pujança económica e financeira”.

O Departamento de Estado norte-americano já informara, no início de domingo, que uma equipa negocial se encontrava em Panmunjom, localidade na zona desmilitarizada e fronteira entre as duas Coreias. No entanto, a confirmação veio do próprio Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que corroborou que uma delegação norte-americana foi a Pyongyang para preparar a cimeira histórica com o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Trump afirmou no Twitter que “a delegação norte-americana chegou à Coreia do Norte para os preparativos da cimeira” de 12 de Junho, em Singapura, cancelada pelo chefe de Estado norte-americano na quinta-feira.

“Kim Jong-un estará de acordo comigo. Isso vai acontecer”, escreveu Donald Trump, que, no sábado, tinha afirmado que as negociações sobre a cimeira com o líder norte-coreano estão “a correr bem”. “Há muita gente a trabalhar nisso e está a avançar. Estamos a apontar para 12 de Junho em Singapura e isso não mudou”, afirmou Donald Trump aos jornalistas presentes na recepção ao preso norte-americano libertado pela Venezuela, Joshua Holt.

29 Mai 2018

Mar do Sul da China | Pequim critica entrada de navios dos Estados Unidos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês mostrou “grande insatisfação” e “firme oposição” perante a entrada de navios de guerra norte-americanos em águas territoriais das ilhas Paracel (Xisha, para os chineses), no mar do Sul da China.

“A China apela aos Estados Unidos para que interrompam imediatamente este tipo de operações provocadoras que violam a soberania da China e ameaçam a sua segurança”, afirmou Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, num comunicado difundido no domingo à noite.

O Ministério afirmou que os navios entraram em águas territoriais da China sem a autorização de Pequim, pelo que as autoridades chinesas expulsaram as embarcações.

As ilhas Paracel, cuja soberania é reclamada também pelo Vietname e por Taiwan, são “território inerente” da China desde 1996, afirmou Lu. O porta-voz afirmou que a China tomará todas as medidas necessárias para defender a sua soberania e segurança nacional.

“Os EUA enviaram uma vez mais navios para entrar em águas territoriais da China, nas ilhas Paracel, sem autorização, o que viola a lei chinesa e também importantes leis internacionais”, afirmou.

Pequim reclama a quase totalidade do mar do Sul da China, apesar dos protestos dos países vizinhos.

29 Mai 2018

Coreias | Presidente dos EUA cancela cimeira com Kim Jong-un

O Presidente norte-americano, Donald Trump, cancelou ontem a cimeira com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prevista para 12 de Junho em Singapura, invocando uma “raiva tremenda e hostilidade aberta” da Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma carta dirigida a Kim Jong-un, Trump informa que o encontro não terá lugar. “Estava muito ansioso por me encontrar lá consigo. Infelizmente, tendo em conta a raiva tremenda e hostilidade aberta demonstrada na sua declaração mais recente, considero ser inapropriado, neste momento, realizar este encontro, há muito planeado”, diz o Presidente dos EUA, na missiva.

O cancelamento da cimeira acontece depois dos Estados Unidos e Coreia Sul terem realizado exercícios militares na península e das declarações do vice-presidente norte-americano. Aliás, uma alta responsável da diplomacia norte-coreana classificou também ontem de “idiotas e estúpidos” os comentários do vice-Presidente norte-americano e avisou que a Coreia do Norte poderia reconsiderar a cimeira planeada com o Presidente Donald Trump.

“Não posso esconder a minha surpresa perante as observações idiotas e estúpidas vindas da boca do vice-Presidente norte-americano”, salientou a vice-ministra norte-coreana dos Negócios Estrangeiros, Cheo Son-hui, em declarações citadas pela agência de notícias oficial do país, a KCNA.

A governante norte-coreana referia-se a uma entrevista ao vice-presidente norte-americano, Mike Pence, no canal de televisão Fox News, na segunda-feira, e na qual este afirmava que o processo de desnuclearização da Coreia do Norte podia seguir o modelo da Líbia, que terminou com a morte de Muammar Kadhafi, após este ter renunciado ao projecto de construir a bomba atómica.

Cheo Son-hui questionou ainda se valeria a pena realizar a cimeira com Donald Trump se estas declarações reflectem a posição de Washington. “Não iremos nem implorar aos Estados Unidos por diálogo, nem ter o trabalho de os convencer, se não quiserem sentar-se connosco”, acrescentou, de acordo com a KCNA.

A vice-ministra norte-coreana qualificou ainda a entrevista de “imprudente”, prevenindo que Pyongyang não irá sentar-se à mesa das negociações sob ameaça.

Voos cancelados

A Coreia do Sul e os Estados Unidos terminaram ontem, um dia antes do previsto, os exercícios militares aéreos que decorriam perto da fronteira norte-coreana, disse à agência de notícias EFE um porta-voz do Ministério da defesa sul-coreano. “O exercício Max Thunder fica concluído hoje [sexta-feira] como estava previsto, mas a manobras de voo terminaram ontem e os pilotos só participarão hoje numa sessão informativa”, adiantou a mesma fonte.

O porta-voz não quis adiantar os motivos pelos quais os exercícios de voo iriam terminar antes da data programada, mas nos últimos dias a operação Max Thunder levou o regime da Coreia do Norte a congelar o diálogo com Seul.

Na passada semana, Pyongyan mudou drasticamente o tom utilizado nos últimos meses com Seul e Washington, considerando que os exercícios se tratavam de um ensaio para invadir o seu território e que a utilização “de activos estratégicos norte-americanos” nestas manobras – numa referência aos bombardeiros B-52 – contrariavam o que havia sido expresso na declaração conjunta firmada entre os líderes das duas Coreias a 27 de Abril.

O próprio Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, considerou durante a sua última viagem à capital norte-americana, esta semana, que o fim dos ‘jogos de guerra’ contribuiria para que fossem retomados os contactos entre os dois países.

Mais de 100 aeronaves participaram nos exercícios, incluindo caças furtivos F-22.

 

25 Mai 2018

Impostos | China contra “abuso” de Washington da lei de segurança nacional

A China opôs-se ontem a que os Estados Unidos “abusem da cláusula da segurança nacional”, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter sugerido um aumento dos impostos sobre veículos importados com aquele argumento

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]quela decisão “prejudicará o sistema de comércio multilateral e perturbará a ordem do comércio internacional”, afirmou Gao Feng, porta-voz do ministério chinês do Comércio, numa conferência de imprensa, em Pequim. “Seguiremos de perto o desenvolvimento da investigação nos EUA e faremos uma revisão sobre o possível impacto”, acrescentou o porta-voz, insistindo que Pequim velará pelos seus interesses e direitos legítimos.

A reacção chinesa surge depois de Trump aludir a motivos de segurança nacional para justificar novos impostos, como fez anteriormente, quando subiu as taxas alfandegárias sobre o aço e alumínio importados.

A possibilidade de Washington subir os impostos sobre veículos importados surge dois dias depois de a China anunciar um corte nas taxas alfandegárias para veículos importados, de 25 por cento para 15 por cento, e para 6 por cento, nos componentes automóveis.

Os dois países têm estado em negociações, ao longo do último mês, para evitar uma guerra comercial, depois de Trump ter ameaçado subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA. O Presidente norte-americano, Donald Trump, exige a Pequim uma redução do défice dos EUA em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020, visando cumprir com uma das suas principais promessas eleitorais.

Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos.

Na próxima semana, o secretário norte-americano do Comércio, Wilbur Ross, deve visitar Pequim para continuar as negociações. “A China dá boas-vindas a que os EUA enviem uma delegação de alto nível (…) e espera que, através dos esforços conjuntos de ambos os países, se promova a colaboração económica e comercial entre ambas as partes e se obtenham resultados positivos”, disse Gao.

Numa declaração conjunta, difundida no domingo passado, ao fim de dois dias de conversações, em Washington, Pequim concordou em “aumentar significativamente” as suas compras de produtos agrícolas e recursos energéticos norte-americanos. O documento não prevê, no entanto, que a China pare de subsidiar indústrias chave e garanta uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual das empresas norte-americanas, as principais fontes de tensões entre os dois lados.

Pelas contas de Washington, no ano passado, a China registou um excedente de 375,2 mil milhões de dólares – quase o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) português – no comércio com os EUA.

25 Mai 2018

Diplomacia | Washington emite alerta após lesão de funcionário

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] embaixada norte-americana na China emitiu ontem um alerta depois de um funcionário do seu Governo ter sofrido uma lesão cerebral, com sintomas semelhantes aos sofridos por diplomatas dos Estados Unidos em Cuba, que mais tarde adoeceram.

As autoridades norte-americanas e chinesas estão actualmente a investigar o caso do funcionário, que trabalhava em Cantão, sul do país, onde os EUA têm um consulado, e que foi diagnosticado com lesão cerebral traumática leve, segundo Jinnie Lee, porta-voz da embaixada. O alerta de saúde foi enviado via correio electrónico para cidadãos norte-americanos residentes na China.

A embaixada diz desconhecer o motivo dos sintomas, ou se há outros casos no país.

No ano passado, os Estados Unidos anunciaram que 24 diplomatas e respectivos familiares estacionados em Cuba experimentaram misteriosos “ataques acústicos”, que provocaram sintomas como perda auditiva, náuseas, tonturas, dor facial, dor abdominal, problemas cognitivos e danos cerebrais. Também o Canadá reportou dez pessoas com sintomas semelhantes.

“Não podemos relacionar (o incidente na China) com o que aconteceu em Havana, mas estamos a estudar todas as possibilidades”, disse um representante da embaixada dos EUA, que pediu anonimato, aos jornalistas em Pequim.

24 Mai 2018

Secretário do Tesouro dos EUA satisfeito com acordo comercial

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, mostrou-se satisfeito sobre os progressos nas negociações comerciais com a China, mas não afastou o recurso a novas tarifas se não for cumprido o acordado.

“Creio que fizemos progressos muito significativos”, afirmou Mnuchin em declarações ao canal televisivo de informação financeira CNBC, dois dias após representantes de Washington e de Pequim terem anunciado o final das conversações.

De acordo com o comunicado oficial, os dois países chegaram a um consenso para reduzir o défice comercial norte-americano com a China e as autoridades de Pequim comprometeram-se a aumentar “significativamente” a compra de bens e serviços aos Estados Unidos. Não foram avançados números concretos, apesar de os Estados Unidos terem solicitado que a China reduza em 200 mil milhões de dólares o excedente comercial que tem com os Estados Unidos.

Depois do acordo, os Estados Unidos anunciaram que suspendem provisoriamente a imposição de novas taxas à importação de produtos chineses. “Agora depende de nós assegurarmos que o podemos implementar”, afirmou Mnuchin ao resumir o que foi negociado com a China.

Possível retorno

O secretário do Tesouro não afastou, no entanto, que se recorra a novas taxas aduaneiras se as autoridades chinesas não cumprirem “o acordo com um quadro muito completo” que foi definido nas negociações que decorreram em Washington na semana passada. “Se as coisas não resultarem e não conseguirmos o que queremos, o Presidente pode sempre voltar a impor tarifas”, adiantou.

A administração de Donald Trump tinha ameaçado impor tarifas no valor de 150 mil milhões de dólares a centenas de produtos chineses para equilibrar a balança comercial entre os dois países.

O acordo alcançado, acrescentou Mnuchin, abre caminho às empresas dos dois países para desenvolverem os seus próprios negócios. Nesse sentido, o responsável dos Estados Unidos disse que as empresas de energia norte-americanas podem chegar a acordo com as chinesas para vender produtos num valor entre 40 mil e 50 mil milhões de dólares.

23 Mai 2018

Coreia do Sul e EUA vão continuar esforços para realizar cimeira

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s presidentes da Coreia do Sul e dos Estados Unidos acordaram ontem continuar com os esforços para realizar a histórica cimeira com a Coreia do Norte, depois de o regime de Pyongyang ter ameaçado cancelar o encontro. Segundo um comunicado da presidência de Seul, os presidentes Moon Jae-in e Donald Trump conversaram ao telefone, durante 25 minutos, para analisarem os últimos desenvolvimentos da Coreia do Norte em relação à cimeira prevista para 12 de Junho, em Singapura. Moon e Trump concordaram em continuar a trabalhar em estreita colaboração para garantir que o encontro se realize e seja um êxito, adiantou a mesma fonte.
A 15.ª conversa telefónica entre Moon e Trump aconteceu depois de o regime de Pyongyang ter ameaçado cancelar o histórico encontro entre os líderes norte-coreano e norte-americano, por causa das exigências unilaterais de Washington em relação ao programa de desnuclearização da Península da Coreia.
O chefe do Executivo de Seul estará em Washington nesta semana para se reunir com Trump e “fazer a ponte”, a três semanas daquela que, se acontecer, será a primeira cimeira entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
Na quarta-feira, Pyongyang cancelou uma reunião de alto nível com Seul, argumentando que a Coreia do Sul e os Estados Unidos estavam a realizar manobras conjuntas que parecem um ensaio para invadir o território norte-coreano, apesar de terem recebido autorização e visto das autoridades norte-coreanas. Horas mais tarde, o regime de Kim Jong-un assegurou que também a cimeira com Trump estava em perigo face às pressões dos Estados Unidos em torno do modelo de desnuclearização que querem impor à Coreia do Norte, baseado no que foi usado na Líbia.
Até agora cordial e construtiva, a postura do regime de Pyongyang deu uma reviravolta, face à qual a Coreia do Sul, que tem sido o grande artífice da anunciada cimeira, decidiu apostar na mediação para garantir a realização do encontro.

21 Mai 2018

Comércio | China e EUA renunciam a guerra comercial entre os dois países

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] China e os Estados Unidos decidiram renunciar a qualquer guerra comercial e à imposição de novas taxas entre os dois países, afirmou ontem o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, citado pela agência de notícias Xinhua.

“As duas partes chegaram a um consenso, não participarão numa guerra comercial e não aumentarão as respectivas taxas”, adiantou o governante, que liderou a delegação chinesa que se encontrou com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, em Washington.
Entretanto, foi noticiado no sábado que Washington e Pequim concordaram em reduzir “significativamente” o défice comercial dos Estados Unidos, de acordo com um comunicado conjunto após negociações na capital dos Estados Unidos. “Houve um consenso em tomar medidas para reduzir significativamente o défice americano no comércio de mercadorias com a China”, escrevem os dois lados sem, no entanto, fornecer números.
A Casa Branca exige uma redução de cerca de 170 milhões de euros do seu défice com o gigante asiático. No ano passado, os Estados Unidos registaram um défice de cerca de 318 milhões de euros com Pequim.

Oferta e procura
“A fim de atender à crescente procura pelo consumo chinês e à necessidade de desenvolvimento económico de alta qualidade, a China aumentará significativamente as suas compras de bens e serviços dos Estados Unidos, o que apoiará o crescimento e o emprego dos Estados Unidos”, continua o texto difundido pela Casa Branca. Os negociadores americanos e chineses concordaram ainda avançar com um “aumento significativo” nas exportações dos EUA nos sectores agrícola e de energia. “Os Estados Unidos enviarão uma equipa à China para trabalhar nos detalhes” de um acordo, anunciaram, sugerindo que a delegação chinesa, chegada no início da semana, já deixou Washington.
Os dois países, com fortes laços comerciais e financeiros, iniciaram algumas semanas de negociações delicadas para tentarem encontrar uma solução para a sua disputa comercial após meses de tensões, medidas e ameaças de retaliação comercial de ambos os lados, com o receio de uma guerra comercial com consequências imprevisíveis.
Uma delegação liderada pelo secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, visitou Pequim há duas semanas. Em seguida, uma delegação chinesa, liderada pelo vice-primeiro-ministro Liu He, amigo íntimo do presidente chinês, havia continuado esta semana as negociações, desta vez na capital federal.
As negociações foram realizadas apenas alguns dias antes do final de um período de consultas sobre novas sanções dos EUA sobre as importações chinesas.

21 Mai 2018

Pequim promete defender interesses em negociações com EUA

A China afirmou ontem não querer um aumento das tensões com os Estados Unidos na questão comercial, quando se preparam o reinício das negociações em Washington, mas sublinhou estar pronta a defender os seus interesses

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s comentários de Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, surgem depois de o Presidente norte-americano ter afirmado que “não recuou” nas negociações com a China. Gao Feng disse esperar que os EUA adoptem “acções concretas” para resolver o caso da gigante de telecomunicações chinesa ZTE, que na semana passada afirmou que suspendeu operações, depois de Washington ter proibido a empresa de comprar componentes norte-americanos, por ter violado o embargo imposto ao Irão e à Coreia do Norte.

O secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o vice-primeiro-ministro chinês Liu He estão a liderar as negociações em Washington, que terminam hoje, com o objectivo de travar uma possível guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.

“Nós não queremos um aumento das disputas comerciais entre a China e os EUA”, afirmou Gao, em conferência de imprensa, em Pequim. “Mas, claro, estamos preparados para todas as possibilidades”.

Trump ameaça subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA, como forma de punir Pequim por forçar empresas norte-americanas a transferirem tecnologia em troca de acesso ao mercado chinês. Em resposta, a China ameaçou subir os impostos sobre uma lista de produtos que valeram 50.000 milhões de dólares nas exportações norte-americanas para o país.

 

Chips e soja

A decisão do Departamento de Comércio dos EUA de negar encomendas à ZTE, no mês passado, levou a empresa a interromper as suas operações, que dependem de tecnologia norte-americana, como microchips e o sistema operacional Android. No início desta semana, Trump afirmou que quer encontrar uma solução para manter a firma chinesa a funcionar.

Segundo a imprensa norte-americana, os dois países negociaram uma troca: a isenção da ZTE, responsável pelo desenvolvimento da infra-estrutura 5G na China e fabricante de ‘smartphones’, por um recuo de Pequim em subir as taxas alfandegárias sobre produtos agrícolas norte-americanos.

“Vamos defender os nossos interesses resolutamente e não negociaremos os nossos interesses fundamentais”, afirmou Gao, questionado sobre aquela informação.

Na quarta-feira, Trump afirmou, numa mensagem na rede Twitter, que “nada se passou ainda com a ZTE, visto que pertence a um acordo comercial mais alargado”.

18 Mai 2018

Economia | Empresários “apavorados” face a possível guerra comercial

[dropcap style=’circle’] E [/dropcap] mpresários chineses estão “apavorados e indignados” perante uma possível guerra comercial entre Washington e Pequim, que ameaça indústrias inteiras nos dois países, testemunham exportadores radicados na China, na véspera de nova ronda de negociações.
“Existem fábricas com 300 funcionários que provavelmente vão parar”, contou Ricardo Geri, cofundador da Plan Ahead, empresa com sede em Pequim que exporta pedra artificial à base de quartzo para os Estados Unidos. Para cumprir uma das principais promessas eleitorais, o Presidente norte-americano, Donald Trump, exigiu à China uma redução do crónico défice comercial dos EUA com o país em “pelo menos” 200.000 milhões de dólares, até 2020.
Trump quer ainda taxas alfandegárias chinesas equivalentes às praticadas pelos EUA e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos. Caso estas exigências não sejam satisfeitas, o chefe da Casa Branca ameaçou subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA.
“Há uma certa indignação entre os empresários chineses, que investiram muito dinheiro para aumentar a produção”, admitiu Geri, natural do estado brasileiro de Rio Grande do Sul e radicado em Pequim há cinco anos. No caso particular dos produtos de quartzo, “a China fornece 70 por cento do mercado norte-americano” e, nos últimos anos, “fábricas que tinham duas linhas de produção, passaram a ter quatro, seis ou até nove”, beneficiando da recuperação do sector da construção nos EUA e taxas alfandegárias inferiores a 2 por cento, contou o empresário.
No entanto, aproveitando a crescente tensão entre Washington e Pequim, o fabricante líder norte-americano de produtos de quartzo, o Cambria Co., apresentou ao Departamento de Comércio dos EUA uma petição para subir as taxas sobre as importações oriundas da China para 455 por cento, acusando os produtores chineses de receberem subsídios ilegais e prática de ‘dumping’, venda abaixo do custo de produção.

Cenário de risco
Em Setembro, Washington irá decidir a taxa preliminar e, em Julho do próximo ano, sairá a taxa final, com os produtos importados entre aquele período a serem taxados retroactivamente.
“Criou-se um cenário de alto risco, que parará praticamente todas as importações”, afirmou Ricardo Geri.
Pedro Ribeiro, empresário português radicado em Cantão, no sul da China, e que também exporta para os EUA, lembrou que as disputas comerciais poderão afectar também os exportadores norte-americanos de produtos alimentares.
“A China tem muito a perder nesta guerra”, refere Pedro Ribeiro. O empresário refere ainda que não acredita que o que “os EUA anunciaram entre em efeito na totalidade”. “Esta é apenas a forma como o Trump negoceia”, concluiu.
Porém, a China advertiu ontem que vai manter a posição na próxima ronda de negociações com os Estados Unidos, que visa encontrar uma solução para as crescentes disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
“A posição chinesa é muito clara: opomo-nos ao unilateralismo e ao proteccionismo comercial. Os EUA devem retirar as suas ameaças”, disse Gao Feng, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Na véspera de uma delegação chinesa, chefiada pelo vice-primeiro-ministro Liu He, retomar as negociações com o secretário de Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, em Washington, Gao advertiu: “A posição chinesa não mudou e não mudará”. O porta-voz disse esperar que a nova ronda de negociações permita que a China e EUA “avancem, em conjunto, no desenvolvimento da cooperação económica e comercial e que alcance benefícios mútuos para os povos de ambos os países e do mundo”.
A viagem de Liu a Washington segue-se a uma primeira ronda de conversações, realizada na semana passada, em Pequim, entre uma delegação norte-americana chefiada por Mnuchin, e da qual não resultaram acordos concretos.

11 Mai 2018

Coreia do Norte | Seul espera que Pyongyang liberte três norte-americanos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte deverá libertar ontem três cidadãos norte-americanos, durante a visita a Pyongyang do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, anunciou um responsável da Presidência sul-coreana, citado pela agência noticiosa Yonhap.

Pompeo chegou a Pyongyang para discutir os preparativos da cimeira entre o dirigente norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre o arsenal nuclear da Coreia do Norte.

A data e o local do encontro histórico não foram ainda oficialmente anunciados, mas um diário sul-coreano citando fontes diplomáticas norte-americanas noticiou que a cimeira se realizará em Singapura, em “meados de Junho”. Mas a questão dos três cidadãos norte-americanos presos na Coreia do Norte é sensível para os Estados Unidos, e Trump deu a entender na semana passada que o desfecho do caso estava próximo.

De acordo com algumas fontes, eles foram deslocados antecipando uma possível libertação. “Esperamos que ele (Pompeo) leve de volta os presos”, declarou o responsável da Casa Azul, a Presidência sul-coreana, citado pela Yonhap.

Kim Dong-Chul, um empresário e pastor norte-americano de cerca de 60 anos, foi condenado em Abril de 2016, na Coreia do Norte, a dez anos de trabalhos forçados, após ter sido detido no ano anterior por subversão e espionagem.

Kim Hak-Song e Kim Sang-Duk, também conhecido como Tony Kim, ambos norte-americanos, trabalhavam para a Universidade de Ciências e Tecnologia de Pyongyang (USTP) quando foram detidos, no ano passado, por “actos hostis”.

Seis cidadãos sul-coreanos estão igualmente detidos na Coreia do Norte e Seul está a exercer pressão para obter a sua libertação.

 

10 Mai 2018

Nuclear/Irão: Presidente do Irão diz que país mantém-se no acordo se os seus interesses forem respeitados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente iraniano, Hassan Rohani, anunciou ontem que o Irão “vai manter-se” no acordo nuclear de 2015 após a retirada dos Estados Unidos, caso os seus interesses sejam garantidos, e tomará decisões posteriores em caso contrário.

“Devemos ser pacientes para ver como os outros países reagem”, disse Rohani num discurso, numa alusão às restantes potências que assinaram o acordo nuclear, e sugerindo que pretende discutir com europeus, russos e chineses.

O Presidente Donald Trump anunciou hoje que os Estados Unidos abandonam o acordo nuclear assinado entre o Irão e o grupo dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha.

O acordo foi concluído em julho de 2015 entre o Irão e o grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, Rússia, China, França e Reino Unido – e a Alemanha) e visa, em troca de um levantamento progressivo das sanções internacionais, assegurar que o Irão não desenvolve armas nucleares.

Conseguido depois de 21 meses de duras negociações, o acordo foi assinado, por parte dos Estados Unidos, pelo antecessor de Trump, Barack Obama.

9 Mai 2018

Taiwan | Pequim desvaloriza críticas dos EUA

Pequim desvalorizou ontem as críticas de Washington, que classificou como “absurdo orwelliano” as exigências chinesas de que as companhias aéreas estrangeiras não se refiram a Taiwan como um país, por respeito à soberania da China

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que “independentemente do que os Estados Unidos dizem, isso nunca mudará o facto objectivo de que existe apenas uma só China, e que as regiões de Hong Kong, Macau e Taiwan são parte inalienável do território chinês”. “As empresas estrangeiras a operar na China devem respeitar a soberania e integridade territorial da China, cumprir a lei chinesa e respeitar os sentimentos do povo chinês”, afirmou em comunicado Geng Shuang, porta-voz do ministério.

Companhias aéreas norte-americanas e a empresa têxtil espanhola Zara foram forçadas a pedir desculpa à China por se referirem a Taiwan como um país nos seus portais electrónicos ou em publicidade.

Este fim-de-semana, a Casa Branca condenou os esforços chineses em controlar a forma como as companhias aéreas norte-americanas se referem a Taiwan, Hong Kong e Macau. O Governo norte-americano classificou a postura chinesa como “absurdo orwelliano”. Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, afirmou em comunicado que o Presidente norte-americano, Donald Trump, vai “apoiar os americanos que resistem aos esforços do Partido Comunista Chinês em impor as suas noções de politicamente correcto às empresas e cidadãos norte-americanos”.

No ar

Segundo a Casa Branca, a Administração de Aviação Civil da China pediu uma alteração, nas referências a Taiwan, a 36 companhias aéreas estrangeiras.

“Trata-se de um absurdo orwelliano e parte de uma tendência crescente do Partido Comunista Chinês de impor as suas visões políticas aos cidadãos e às empresas americanos”, afirmou Sanders.

A porta-voz disse que a Administração de Donald Trump apelou à China para que “pare de ameaçar e coagir as companhias aéreas e cidadãos norte-americanos”.

O comunicado da Casa Branca surge depois de uma delegação norte-americana, liderada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, ter regressado de Pequim, onde na semana passada reuniu com as autoridades chinesas para encontrar uma solução para as crescentes disputas comerciais entre as duas potências. Também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, falou este fim-de-semana por telefone com Yang Jiechi, membro do Politburo do PCC, que “afirmou a importância de uma relação bilateral construtiva e orientada para resultados”.

8 Mai 2018

Comércio | “Grandes diferenças” no prevalecem entre Pequim e Washington

[dropcap style=’circle’] P [/dropcap] equim e Washington acordaram estabelecer um mecanismo que permita lidar com as crescentes disputas comerciais, mas reconheceram que prevalecem “grandes diferenças” entre os dois países, noticiou a agência oficial chinesa.

A agência noticiosa oficial Xinhua, que cita o ministério chinês do Comércio, afirma que os dois lados abordaram um aumento das exportações norte-americanas para a China, comércio de serviços, protecção de propriedade intelectual e como resolver as disputas em torno da implementação de taxas alfandegárias.

Os dois lados “chegaram a um consenso em algumas matérias”, refere a agência, sem avançar com mais detalhes.

Também o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, deu um sinal positivo sobre as negociações com as autoridades chinesas, que decorreram em Pequim. “As conversas estão a correr bem”, disse, num breve comentário aos jornalistas.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, quer reduzir em 100.000 milhões de dólares o deficit na balança comercial com a China e exige que Pequim garanta às empresas norte-americanas uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual. A sua administração ameaçou subir as taxas alfandegárias sobre um total de 150.000 milhões de dólares em exportações chinesas para o país, incluindo produtos do sector da aeronáutica, tecnologias de informação e comunicação ou robótica.

Em retaliação, Pequim ameaçou subir as taxas alfandegárias sobre uma lista de produtos norte-americanos, cujas exportações para a China se fixaram, no ano passado, no mesmo valor.

 

 

 

Expectativas vs realidade

Continua a não ser claro se as negociações desta semana vão levar as autoridades de ambos os países a anular aquelas medidas, que perturbaram as praças financeiras em todo o mundo, temendo uma guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.

Analistas consideram ser difícil China e EUA chegarem a um consenso, tendo em conta a forte incompatibilidade entre as estratégias de ambos para o sector tecnológico, no qual Pequim ambiciona competir com Washington.

O jornal oficial China Daily lembra que é normal que existam diferenças entre os EUA e a China em torno de questões comerciais, mas que os recentes “ataques mostram o quão acesas se tornaram as disputas e o quão difícil será para os dois lados ficarem satisfeitos”. Um acordo é apenas possível se os “dois lados tiveram expectativas realistas”, acrescentou o jornal.

Na raiz desta disputa está o plano de Pequim, designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos sectores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

A China fabrica 90 por cento dos telemóveis e 80 por cento dos computadores do mundo, mas depende de tecnologia e componentes oriundos dos EUA, Europa e Japão, que ficam com a maior margem de lucro.

Washington queixa-se de que as autoridades chinesas estão a subsidiar empresas locais e a protegê-las da concorrência, enquanto forçam firmas estrangeiras a partilhar tecnologia com potenciais futuros rivais chineses, em troca de acesso ao mercado do país.

A delegação norte-americana incluiu ainda o secretário do Comércio, Wilbur Ross, o representante comercial da Casa Branca, Robert Lighthizer, e o assessor económico máximo de Trump, Larry Kudlow.

Do lado chinês, as discussões foram lideradas pelo vice-primeiro-ministro Liu He, principal encarregado da política económica e financeira do país asiático e visto como próximo do Presidente da China, Xi Jinping.

7 Mai 2018

Economia | EUA vão enviar delegação à China para discutir conflito comercial

Donald Trump fala no balanço do comércio externo entre Estados Unidos e China como uma enorme injustiça económica desde as primárias republicanas. Depois de eleito, Trump aumentou tarifas às importações de alguns produtos chineses, manobra que levou a uma conflito comercial. Agora surge a altura de pacificar um conflito que tem destabilizado os mercados financeiros

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Casa Branca vai enviar nos próximos dias à China uma delegação ministerial, chefiada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para “chegar a um acordo” no comércio. “Penso que temos uma possibilidade muito grande de chegar a acordo”, disse o presidente norte-americano, Donald Trump, na terça-feira, ao receber o seu homólogo francês, Emmanuel Macron.
Trump acrescentou que o presidente chinês, Xi Jinping, que qualifica como “um dos seus amigos”, afirmou, “há quatro dias, que a China ia abrir-se”, deplorando: “De momento, ela não está aberta. Fazem comércio connosco, mas nós não fazemos com eles”.
O Governo norte-americano impôs tarifas aduaneiras suplementares sobre as importações de aço e alumínio provenientes da China, entre outras.

Sentar à mesa

Descontente com a dimensão do défice comercial dos EUA com a China e as práticas comerciais chinesas, que classificou como “desleais”, Trump ameaçou reforçar aquela medida com novas tarifas sobre importações chinesas, no montante de 41 mil milhões de euros.
“É por isto que vai uma delegação” a Pequim, “a pedido da China […] nos próximos dias”, indicou, acrescentando que seria liderada por Mnuchin. Esta vai ser a primeira viagem do secretário do Tesouro à China, enquanto os seus três antecessores se deslocaram a Pequim nos primeiros meses de exercício do cargo.
No domingo, o Ministério do Comércio chinês reagiu com satisfação à viagem. “A China recebeu bem a informação segundo a qual a parte norte-americana deseja deslocar-se a Pequim para realizar consultas sobre as questões económicas e comerciais”, segundo o comunicado que emitiu.

26 Abr 2018

Diplomacia | Pequim refuta críticas dos Estados Unidos sobre direitos humanos

A China qualificou como parcial um recente relatório sobre direitos humanos divulgado pelos Estados Unidos e disse que o objectivo de interferir nos assuntos internos da China está “condenado ao fracasso”

[dropcap style =’circle’]P[/dropcap]equim contestou oficialmente o relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América. Fê-lo através do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lu Kang, que falou à comunicação social na habitual e diária conferência de imprensa.

Os comentários do porta-voz foram feitos em referencia ao relatório global dos direitos humanos 2017 publicado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, um documento que critica intensamente os direitos humanos na China. “Os Estados Unidos divulgam esse relatório ano após ano e apontam o dedo para os outros países. A maioria dos membros da comunidade internacional está insatisfeita com isso”, disse Lu. De acordo com o Ministério das Relações Externas da China, o relatório deste ano, como sempre, ignora factos e é extremamente parcial.

“A China informou claramente aos Estados Unidos que seu intento de interferir nos assuntos internos da China e dificultar o desenvolvimento da China foi em vão no passado e que não terá êxito no futuro”, disse Lu.

“O Governo chinês dá grande importância à protecção e impulso dos direitos humanos, e obteve progresso histórico em tal campo. O povo chinês é o que pode dizê-lo melhor”, assinalou.

“A China é a favor de negociações e intercâmbios entre países na área dos direitos humanos com base na igualdade e a confiança mútua”, disse o porta-voz do Governo chinês. Lu Kang explicou ainda que “a maioria dos países, incluindo a China, se opõem à politização do assunto dos direitos humanos”.

Relatório minoritário

O documento emitido pela Casa Branca não destaca, pela negativa, apenas Pequim. “Os Governos de China, Rússia, Irão e Coreia do Norte violam todos os dias os direitos humanos daqueles que estão dentro das suas fronteiras e, como resultado, gera-se instabilidade”, escreveu o secretário de Estado norte-americano John Sullivan, no prefácio do documento anual.

Porém, no que à China diz respeito, o relatório refere que as piores violações de que “foi responsável o Governo” incluíram-se as “execuções sem o devido processo prévio”, “desaparecimentos forçados”, torturas, “detenções arbitrárias” e ilegais, e restrições às “liberdades de expressão, imprensa, reunião, associação, religião e movimento”.

25 Abr 2018

Macau contesta relatório “irresponsável” do Departamento de Estado norte-americano

Restrições às liberdade de imprensa e académica, a incapacidade dos residentes mudarem o seu Governo e o tráfico humano figuram como os principais problemas apontados pelos Estados Unidos a Macau no domínio dos direitos humanos. A RAEM rejeita os “irresponsáveis comentários” de Washington

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Departamento de Estado norte-americano publicou, na sexta-feira, o mais recente relatório sobre os direitos humanos no mundo, apontando a Macau as restrições à liberdade de imprensa e académica, as limitações na capacidade dos cidadãos mudarem o seu Governo e o tráfico humano como as “principais questões” de direitos humanos no ano passado. O Executivo de Fernando Chui Sai On contesta o teor do documento.

O relatório “tece comentários irresponsáveis sobre a RAEM, o qual representa um assunto interno da China”, pelo que o Executivo “manifesta a sua forte oposição”, diz um comunicado divulgado pelo Gabinete do Porta-voz. “Os amplos direitos e liberdades, gozados pela população da RAEM, são plenamente garantidos, nos termos da Constituição e da Lei Básica”, refere a mesma nota oficial, sublinhando que “trata-se de uma realidade testemunhada por todas as pessoas sem preconceitos”.

Washington tem, no entanto, uma perspectiva diferente, sustentando que, apesar das liberdades de expressão, incluindo a de imprensa, estarem consagradas na lei, “o Governo procurou ocasionalmente restringir esses direitos”.

 

A autocensura

A prática de autocensura pelos ‘media’ volta a estar em foco, com o Departamento de Estado norte-americano a apontar que tal sucede, “em parte, porque o Governo subsidia fortemente os principais jornais que, em assuntos politicamente sensíveis, tendem a seguir de perto a política do Governo da República Popular da China”. Neste âmbito, Washington recorda que a Associação dos Jornalistas de Macau declarou que pelo menos cinco editores de órgãos de comunicação locais receberam mensagens dos seus superiores instruindo-os a fazer uma cobertura noticiosa “mais positiva” sobre o tufão Hato, menos focada na responsabilidade do Governo, especialmente dos titulares de altos cargos. Outro dos pontos de destaque é a nota de protesto da Associação de Imprensa Portuguesa e Inglesa de Macau relativamente ao pedido da Comissão de Assuntos Eleitorais para que um jornal (o semanário Plataforma) removesse uma entrevista publicada com um candidato à Assembleia Legislativa do seu ‘site’.

“Os ‘media’ locais expressaram uma ampla gama de pontos de vista, mas o Governo deu passos para restringir uma cobertura noticiosa desfavorável”, sintetizou o Departamento de Estado norte-americano. Washington faz referência ao caso de quatro jornalistas de Hong Kong que foram proibidos de entrar em Macau para fazer a cobertura do pós-tufão, citando ainda o relatório da Federação Internacional de Jornalistas que condenou a decisão do Governo de interditar a entrada a 15 jornalistas de Hong Kong, dos quais alguns pretendiam cobrir as eleições para a Assembleia Legislativa em Setembro. Também é referida a detenção de duas pessoas por terem alegadamente disseminado informações falsas durante a passagem do tufão Hato.

Em paralelo, o documento sinaliza que académicos têm reportado autocensura e que, “muitas vezes, foram impedidos de estudar ou falar sobre tópicos controversos relacionados com a China”, mencionando relatos anteriores de que foram advertidos a não se pronunciarem em eventos politicamente sensíveis ou em nome de determinadas organizações políticas.

No plano da liberdade de reunião e de associação, o Departamento de Estado diz que, regra geral, o Governo respeita estes direitos, embora note “esforços para desencorajar a participação em manifestações pacíficas”. “Activistas alegam que as autoridades estão a fazer um esforço concertado para usar tanto a intimidação como processos-crime”, refere o documento, mencionando o caso de Sulu Sou, cujo mandato de deputado foi suspenso após ter sido acusado de desobediência qualificada durante um protesto pacífico contra o Chefe do Executivo. Sobre a liberdade de movimentos, o Departamento de Estado lembra que vários políticos e activistas de Hong Kong foram proibidos de entrar sob o argumento de que representavam uma ameaça à segurança interna.

O Departamento de Estado refere ainda as limitações à participação política, face à ausência de sufrágio universal na escolha do líder do Governo, que é eleito por um colégio composto por 400 membros. Já no que diz respeito às eleições para a Assembleia Legislativa, realizadas em Setembro, Washington observa que, em termos gerais, foram “livres e justas”, embora notando que “as rigorosas regras relativas à campanha limitaram a capacidade de novos candidatos se apresentarem à corrida”. Sobre a participação política, volta a recuperar o caso de Sulu Sou, sublinhando que críticos do Governo alegam que a acusação e suspensão do mandato do jovem deputado foram “politicamente motivadas”.

 

Crianças e migrantes vulneráveis

Washington aponta ainda que “as crianças e os migrantes são vulneráveis à prostituição e ao trabalho forçado” e que, embora “o Governo tenha investigado casos, não houve qualquer condenação” no ano passado. Segundo o relatório, entre Julho de 2016 e Junho de 2017, os inspectores da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) descobriram dois casos de violação à lei que proíbe o trabalho infantil que resultaram em multas de 40 mil patacas. Já sobre os trabalhadores não residentes, Washington reitera serem frequentes as queixas de discriminação no local de trabalho e ao nível dos vencimentos.

No capítulo dos direitos dos trabalhadores, o destaque vai para as desigualdades salariais entre homens e mulheres, com o Departamento de Estado a assinalar que continuam a existir, embora o fosso tenha diminuído de 2500 patacas em 2011 para 1700 patacas em 2016.

No tocante ao tráfico humano, o Departamento de Estado remete para o seu relatório especialmente dedicado ao tema, que teve a mais recente edição em Junho, em que Macau caiu para a lista de vigilância.

Apesar das críticas, o documento saúda a atitude do Governo relativamente a investigações por parte de organizações locais ou internacionais, sustentando que “operam sem restrições”, “investigando e publicando as suas descobertas relativamente a casos de direitos humanos” e que, “na maioria das vezes, as autoridades cooperam e reagem de forma apropriada às suas opiniões”.

23 Abr 2018

Geopolítica | Um novo tipo de “Guerra Fria” com Estados Unidos, Rússia e China

Os Estados Unidos estão a impor o regresso a um novo género de Guerra Fria por considerarem a Rússia e a China como adversários, e actuam como elemento que valida as actuais ambições de Moscovo, alertam investigadores em temas geopolíticos

[dropcap style≠‘circle’]”E[/dropcap]stamos a regressar a uma nova Guerra Fria, pelo facto de os Estados Unidos encararem agora Rússia e China como adversários, e não como nações pouco amistosas, mas não necessariamente hostis”, considerou Michael Klare, professor de Estudos de segurança e paz no Hampshire College em Amherst, Massachusetts, Estados Unidos, em declarações à agência Lusa.

Na sua análise, o académico sublinha que desde o final da Guerra Fria, no início da década de 1990, até recentemente, os presidentes norte-americanos ambicionavam “integrar a Rússia na ordem liberal internacional”, mas a Casa Branca, após a eleição de Donald Trump em 2016, deixou de acreditar que Rússia e China possam integrar essa ordem.

“A actual liderança dos EUA não acredita que a Rússia e a China possam integrar essa ordem, antes considera que estão empenhados em desmantelá-la. Por isso, acredita que os dois países devem ser isolados e delimitados”, sublinha o académico, autor de diversas publicações, onde se inclui The Race for What’s Left: The Global Scramble for the World’s Last Resources” (2012).

Este género de pensamento, especifica o investigador, já justificava a estratégia de contenção prosseguida pelas potências ocidentais face à URSS no decurso da Guerra fria “original”.

Na Rússia, e em particular após a subida ao poder de Vladimir Putin em 2000, o país também registou uma evolução na sua abordagem geoestratégica, e diversos analistas têm considerado o reconhecimento, pela maioria dos países ocidentais e aliados, da independência do Kosovo em 2008 à revelia das instâncias internacionais, como o elemento que conduziu a Rússia a alterar as suas políticas sobre integridade territorial e intangibilidade das fronteiras dos Estados na sua esfera de influência.

Sozinhos em Moscovo

Em artigo recente publicado na revista Russia in Global Affairs, Vladislav Surkov, conselheiro do Presidente Vladimir Putin e muito influente nos corredores do Kremlin, considerou que a Rússia abandonou as aspirações seculares de integração no ocidente, e regressa a uma nova era de “solidão geopolítica”.

“O lugar que o ocidente tem ocupado na política externa da Rússia pós-soviética é simultaneamente o de barómetro da ambição russa de ser reconhecida como uma grande potência e de elemento constitutivo da identidade russa, mesmo que por oposição directa, como parece ser o actual cenário”, assinalou em declarações à Lusa, Licínia Simão, professora de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Investigadora do Centro de Estudos Sociais.

“Mais do que a União Europeia [UE] ou as suas principais potências, são os Estados Unidos que têm actuado como o elemento que valida as ambições de Moscovo ser um interlocutor necessário à resolução das grandes questões da política internacional”, sustentou. Na perspectiva da investigadora, o “caminho épico da Rússia rumo ao ocidente”, que agora parece comprometido, teria expressão numa ambicionada parceria, mas que não passaria pela integração do grande país euro-asiático nas instituições ocidentais, como a UE ou NATO.

“Este caminho rumo ao ocidente era pautado pelo reconhecimento formal de Moscovo como o parceiro mais significativo da superpotência Estados Unidos na resolução dos problemas internacionais, em jeito de concerto das grandes potências, ainda que articulado no quadro de organizações multilaterais como a ONU e o seu Conselho de Segurança”, prosseguiu a académica.

A intenção de a Rússia se preparar para actuar de forma mais isolada no contexto internacional constituirá, no actual cenário, a “validação de uma estratégia em vigor há algum tempo, na medida em que ela tem efectivamente sido marginalizada pelos seus parceiros ocidentais e tem procurado sempre avançar os seus interesses particulares”, indicou ainda.

No entanto, para Licínia Simão, o impacto desta abordagem nos ‘dossiês’ em que a Rússia é efectivamente um parceiro negocial não é claro, especialmente no actual contexto da política norte-americana e europeia. “Mas será, sem dúvida, um momento de reapreciação das prioridades russas e uma oportunidade de reforçar as tendências autoritárias, conservadoras e nacionalistas do país, com importantes impactos negativos na sociedade russa e potencialmente na estabilidade regional, como é já visível na Ucrânia.”

Em clima de “nova “Guerra fria”, o sentimento de “cerco” ocidental, não será apenas perceptível na Rússia, mas também pela China, e contido na mais recente revisão estratégica do Pentágono (NPR) que assinala a entrada dos EUA numa nova era de “competição de grande potência” com Moscovo e Pequim, e que esta competição está a assumir uma forma militar, precisou ainda Michael Klare.

O académico norte-americano recordou que o NPR também assinala, “sem fornecer qualquer prova”, que a Rússia encara a utilização inicial de armas nucleares num qualquer futuro conflito com a NATO, devendo deste modo os EUA munirem-se de um vasto espectro de armas nucleares para dissuadir essa utilização, e se necessário responder em conformidade.

“O resultado poderá ser uma escalada da corrida às armas nucleares e um maior risco de utilização de armas nucleares em situação de combate”, alertou.

“E enquanto os Estados Unidos e aliados continuarem a instalar as suas forças ao longo do perímetro da Rússia e China, podemos esperar que estes países respondam através do reforço das suas próprias forças e procurarem contrariar a estratégia de cerco norte-americana. Esta situação aumentará o risco de confrontação e de escalada em todos os pontos onde forças dos dois lados se encontrem numa situação de proximidade, incluindo na Europa”.

23 Abr 2018

Analistas vêm com optimismo possível acordo na península coreana

Os preparativos já estão a ser feitos. No próximo dia 27 pode ter início um acordo histórico entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul que pode trazer a paz à península depois de mais de 60 anos de relações tensas. Mas, para que seja bem sucedido, há que ter em conta o papel da China e dos Estados Unidos. Analistas consideram que se trata do momento certo e que todos têm a ganhar com negociações de paz

 

 

[dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]stá a ser preparado o trajecto na fronteira entre as Coreias que será percorrido pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no próximo dia 27. Se Kim o fizer, está dado o primeiro passo, desde a assinatura do Acordo de Armistício Coreano em 1953, para um entendimento na península. Desde então, nenhum líder norte-coreano atravessou a Linha de Demarcação Militar.

O caminho tem como destino um encontro com o seu homólogo da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para se dar início a negociações para o processo de desnuclearização da Coeria do Norte. Além disso, a reunião abre portas a uma nova relação entre aqueles dois países.

Ao mesmo tempo, está já agendada uma reunião entre o líder norte coreano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mais um acontecimento sem precedentes na soberania dos “grandes líderes”. Este encontro continua sem data concreta, mas tudo indica que terá lugar entre Maio e Junho em local ainda por definir.

Segundo o New York Times, não se pode falar de acordo entre as Coreias sem falar dos países a que estão ligadas. Neste caso, a China e os Estados Unidos, até porque assim está previsto no Armistício de 53. No entanto, o encontro da próxima semana é já um avanço para o entendimento, considera o especialista em relações internacionais, Arnaldo Gonçalves.

“O interesse é das duas Coreias, e o interesse é que aprofundem os entendimentos ou o conhecimento das posições de cada uma”, começa por dizer ao HM. A reunião da semana que vem “é uma forma de quebrar o gelo e perceber o que se pode fazer”. Por outro lado, “as duas Coreias têm, objectivamente, do ponto de vista legal, um conflito de 60 anos. Tecnicamente tem de ser resolvido e não tem de ser com capitulação, pode haver uma alternativa”, aponta.

Wang Jianwei, especialista em relações internacionais da Universidade de Macau também vê com bons olhos o início das negociações. “Neste momento, parece que as Coreias vão chegar a um acordo para haver reconciliação. Talvez haja mesmo um acordo de paz, que depois poderia ser apoiado pelos EUA e China”, disse ao HM.

De acordo com o académico, tudo indica que o entendimento pode ir a bom porto, aliás, um dos indicadores optimistas é a relativa restrição das críticas por parte de Pyongyang a Washington, dos últimos tempos, depois de terem sido lançadas ameaças exterminadoras.

 

 

Dos peões aos reis

Falar das Coreias e do seu entendimento só pode ter efeito se se tiver em consideração os países que apoiam cada uma delas. Estados Unidos e China são centrais e com a reunião anunciada entre Trump e Kim, está aberto o caminho para que a península asiática possa efectivar um tratado.

“Isto é uma plataforma, como se fosse um xadrez. O regime da Coreia do Sul é aliado dos Estados Unidos, têm um tratado de defesa e assistência mútua. Por isso não pode, do ponto de vista do tratado, avançar com qualquer posição sem consultar os americanos ou mantê-los informados”, aponta Gonçalves.

Para já, parece que os indicadores são positivos, até porque se está a assistir a uma acção sem precedentes. “Trump surpreendeu todo o mundo, como costuma fazer, e decidiu anunciar que tem interesse em finalmente promover negociações entre os Estados Unidos e o regime da Coreia do Norte”, explica o especialista.

No entanto, falar da Coreia do Norte e dos Estados Unidos não dá certezas de sucesso das negociações, por muito optimismo que a situação suscite.

De acordo com Arnaldo Gonçalves, “não nos podemos esquecer que estamos perante actores internacionais que são imprevisíveis”, refere ao HM. Não se tratam de líderes em que pode antever comportamentos. “São impulsivos, egocêntricos, megalómanos, têm uma visão da política muito pessoal. Podem entrar na sala de reunião com uma disposição e mudarem rapidamente, ao ponto de abandonarem as negociações, porque alguém teve um comentário mais intempestivo”, explica.

No entanto, se o encontro ocorrer é bom sinal, até porque é um primeiro contacto entre o Ocidente e o regime de Kim Jong-un.

 

Ordens na sombra

No que respeita ao papel da China, Wang Jianwei considera que tem tido uma influência aparentemente mais discreta, o que não invalida o seu papel decisor em todo o processo. Exemplo disso foi o encontro recente em Pequim entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o norte coreano Kim Jong-un. “A China quer manter a iniciativa no destino da Coreia do Norte. Não é difícil de acreditar que estão a actuar por trás do palco, colocando pressão na Coreia do Norte. No passado, mesmo quando a ONU impunha sanções à Coreia do Norte, a China continuava a deixar a porta aberta para eles sobreviverem”, aponta.

No entanto, há quem defenda que Pequim tem ficado marginalizada porque é um assunto, por um lado entre as Coreias, e por outro entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.

Mas, para o académico, “a China assumiu um papel fundamental para que a Coreia do Norte estivesse disposta a falar com os Estados Unidos através do apoio da China às sanções aprovadas no seio da ONU à Coreia do Norte, que os deixaram sem alternativas económicas”.

Para Arnaldo Gonçalves, a China “será sempre um actor central nestas negociações”. Em causa está a dependência da Coreia do Norte da ajuda que tem tido do seu aliado. “Se a China não vir com boa vontade as negociações, não haverá avanços porque o regime na Coreia do Norte é absolutamente dependente do regime chinês, em termos de conselheiros militares, económicos, assistência alimentar, transportes e comunicação”, explica.

 

Quid pro quo

Apesar da “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos, os analistas consideram esse factor em nada interferirá nas negociações entre as Coreias.

“Não creio que a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos tenha um impacto adverso para os diálogos entre as Coreias, e entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, refere Wang.

Porém, há ainda questões de reciprocidade a ter em conta. De acordo com Wang, “um bom resultado das reuniões também depende da sinceridade dos EUA e se têm incentivos suficientes para oferecer. Não acredito que a Coreia do Norte vai estar disposta para abdicar das armas nucleares e da segurança do regime, se não houver ofertas suficientes em cima da mesa”, refere. O académico considera que é possível que as pessoas tenham subestimado Kim Jong-un. A razão, aponta, tem que ver com o facto se ter achado que o responsável norte-coreano nunca ia abdicar das armas nucleares. “Ele até poderá ser mais inteligente e razoável do que se espera”, remata.

As negociações diplomáticas não são gratuitas, aponta Arnaldo Gonçalves.  “Se a China sentir que os Estados Unidos não estão a ser justos nas relações comerciais, pode sempre interferir e não apoiar as negociações”. Mas, destaca, “Pequim considera que a eliminação do armamento nuclear nas Coreias é do seu interesse nacional”.

Apesar dos atritos comerciais entre Trump e Xi nas últimas semanas, para Gonçalves “felizmente, existem boas relações entre os presidentes da China e dos EUA”.

 

O momento é agora

De acordo com os analistas, o momento para avançar para o acordo entre as Coreias chegou. “Tanto a Coreia do Norte como os Estados Unidos chegaram à conclusão que estão esgotados os outros meios para ultrapassar as dificuldades nas relações bilaterais”, explica Wang Jianwei.

No que respeita à Pyongyang, depois dos vários testes nucleares que o país levou a cabo, Kim terá concluído que o país está prevenido contra invasões e por isso não há necessidade de continuar nessa trajectória. Além disso, o líder norte-coreano também saberá que se o fizer se arrisca a motivar uma guerra com os norte-americanos, refere.

Por seu lado, nos Estados Unidos, apesar das opiniões se dividirem entre a intervenção militar e as negociações, a solução diplomática para ser a mais viável. “Há pessoas em Washington que preferiam utilizar a força militar. Mas os riscos da operação são demasiado elevados, por isso ninguém quer ter o ónus dessa decisão. As consequências de uma guerra entre os Estado Unidos e a Coreia do Norte seriam imprevisíveis”, diz Wang. “Por isso, Washington aproveitou a oportunidade e estendeu o ramo de oliveira à Coreia do Norte”, aponta o académico.

Entretanto, a China já se mostrou a favor das negociações. De acordo com o New York Times, o porta voz do Ministro dos negócios estrangeiros chinês, Hua Chunying, referiu que “a atitude da China é de abertura e apoio a qualquer solução pacífica para resolver os conflitos da península Coreana”.

20 Abr 2018