Óbito | Morreu bailarino japonês Ushio Amagatsu

O bailarino e coreógrafo japonês Ushio Amagatsu, conhecido por ter popularizado internacionalmente a dança moderna japonesa “butô”, à frente da companhia Sankai Juku, morreu aos 74 anos, noticiaram no domingo meios de comunicação social japoneses. Segundo os ‘media’, que citam fontes familiares, o artista morreu de insuficiência cardíaca na segunda-feira e teve um funeral privado.

Nascido Masakazu Ueshima, em Yokosuka (a sul de Tóquio), em 1949, o bailarino fundou a companhia Sankai Juku em 1975. Com a sua companhia, Amagatsu tornou-se uma das principais figuras da segunda geração de “butô”, a “dança das trevas” nascida no Japão do pós-guerra, quando o país tentava recuperar da sua derrota na Segunda Guerra Mundial após os bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasaki.

Com formação em dança clássica e contemporânea, Amagatsu foi director, coreógrafo, designer e bailarino da companhia e definiu o seu estilo como “um diálogo com a gravidade”. A Sankai Juku estabeleceu a sua base de operações no Théâtre de la Villa, em Paris, em 1982, e desde então tem percorrido o mundo, actuando em cerca de cinquenta países e apresentando novas produções de dois em dois anos.

Entre os prémios que recebeu ao longo da carreira contam-se a condecoração com a Ordem de Chevalier des Arts et des Lettres de França, em 1992, e o prémio britânico Laurence Olivier para a melhor produção de dança, em 2002, por “Hibiki”. No seu país natal, o Ministério da Educação, Cultura e Ciência atribuiu-lhe o Prémio de Promoção da Arte Geijutsu Sensho 2004 pelas suas contribuições notáveis para a dança contemporânea. Amagatsu continuou a trabalhar como coreógrafo e director de companhia depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro da hipofaringe em 2017.

2 Abr 2024

Aaron Kwok traz “Amazing Dream” ao Studio City

Começou a residência de concertos de Aaron Kwok no Centro de Eventos do Studio City. Todos os sábados e domingos ao longo de mês de Julho, a estrela de Hong Kong subirá ao palco para apresentar o exuberante espectáculo “Aaron Kwok Amazing Dream Live on Stage in Macau 2023”, onde não faltam peixes tridimensionais, naves espaciais e robótica

 

A residência artística do multifacetado artista Aaron Kwok no Centro de Eventos do Studio City, no Cotai, arrancou no passado fim-de-semana. Até ao fim do mês, todos os sábados e domingos, o público será brindado com um espectáculo da série de concertos de residência da Melco, com a estrela de Hong Kong como figura principal.

Após quatro anos de interregno, o “Rei dos Palcos” regressa a Macau com o excesso cénico que caracteriza as suas actuações.

“Aaron Kwok Amazing Dream Live on Stage in Macau 2023” é uma exuberante produção, com o palco a sofrer diversas metamorfoses cénicas, criando efeitos visuais e atmosferas oníricas pensadas para deslumbrar os espectadores.

A Melco Resorts salienta o aspecto visual do espectáculo, centrado naturalmente em Kwok que surge vestido com um “traje pintado à mão, concebido pessoalmente por William Chang”, ao mesmo tempo que o palco é tomado por um hipnótico um efeito de iluminação caleidoscópico.

A Melco Resorts sublinha a complexidade tecnológica e a encenação do espectáculo, “que combina o virtual e a realidade, utilizando projecções de alta tecnologia com efeitos de iluminação tridimensionais”.

A acompanhar a performance de Aaron Kwok e a trupe de bailarinos foi montado um aparato de seis enormes ecrãs LCD transparentes que se combinam para formar uma nave especial em três dimensões, criando uma atmosfera surrealista de ficção científica. Em pano de fundo, os jogos de iluminação seguem a actuação musical de forma sincronizada, construindo um gigantesco castelo em movimento.

 

Bowie inadvertidamente

Sem referir especificamente Ziggy Stardust, um dos alter-ego de David Bowie que deu corpo um extraterrestre andrógeno, a Melco Resorts indica que Aaron Kwok transformou-se num “guerreiro espacial”.

“Tenho mantido uma longa relação com a Melco e desta vez unimos esforços para tornar a residência artística num conceito a explorar nos mercados asiáticos. Estou muito entusiasmado com a possibilidade de escrever um novo capítulo na minha carreira com este sonho maravilhoso”, afirmou Aaron Kwok, citado pela organização dos espectáculos.

O artista referiu ainda que a “criação de um gigantesco castelo móvel e os efeitos visuais que mistura a realidade e o mundo virtual foram aspectos que exigiram uma enorme preparação”. “Foi muito duro para mim e para a minha equipa, mas desde o início assumimos o compromisso de apresentar ao público a mais avançada e criativa produção de sempre, desde a lista de canções, passando pela coreografia e guarda-roupa”, acrescentou o artista.

5 Jul 2023

Xiao Ke: a história do grande país no corpo da pequena bailarina

O espetáculo de Xiao Ke, cujo título da obra é seu próprio nome, não pode ser definido de outra forma senão como uma performance autobiográfica. Sozinha, coloca-se de pé no centro do palco, próxima ao público que aguarda uma dança.

Ela efetivamente dançará, mas somente após ter dado início a narração de sua história. Sua dança vai, então, se colocando como intervalos que ilustram os acontecimentos descritos no curso de sua palestra testemunhal.

Numa espécie de lecture performance, ela nos dá uma aula sobre a dança chinesa contemporânea, que se manifesta a partir da experiência pessoal acumulada na memória de seu corpo. É uma ode ao corpo da bailarina como testemunho da história.

Sua silhueta escreve no ar, por meio de gestos, aquilo que ela verbaliza por palavras. Trata-se de um espetáculo com dramaturgia textual e direção cênica, em que a dança e o teatro se combinam, gerando uma experiência diferente e hiper pessoal em que as fronteiras da imaginação e da realidade se desarmam: vemos uma performer interpretando a si mesma. Portanto, não vemos uma atuação, mas uma ação de quem coloca o próprio corpo – a própria vida – em cena, para que a sagração do viver seja comungada pelo público. Por isso, é que não podemos dizer que assistimos a uma representação e, sim, a uma apresentação. Tampouco se trata de ficção, mas de documentação.

Esse modo de compor, do monólogo autobiográfico, reforça a noção de retrato proposta pelo coreógrafo francês Jérôme Bel, idealizador do projeto em que Xiao Ke se vê inserida. Usando a biografia como matéria dramatúrgica, Jérôme Bel desafia coreógrafos a dançarem suas próprias carreiras – a exemplo do que já havia feito com a francesa Véronique Doisneau, do Ballet da Ópera de Paris, com o artista tailandês Pichet Klunchun, especializado em dança tradicional siamesa, e com o também francês Cédric Andrieux, da Companhia de Dança Merce Cunningham.

Se apresentando de forma singela e radicalmente crua, Xiao Ke nos conta como a dança lhe tocou ainda na tenra infância, quando vivia com sua família numa vila militar, graças à carreira do pai. Nessa realidade em que os tempos de acordar, almoçar e descansar eram regidos coletivamente, na disciplina dos corpos, havia a presença das músicas, hinos e sinais que marcavam os ritos da caserna. Ela recorda a marcante memória de ter se apresentado aos 4 anos num enorme palco do batalhão, dançando sozinha num evento para soldados que mal podiam enxergá-la de tão pequenina. Enquanto vai nos contando essa memória, vamos ouvindo as músicas que compõem a paisagem sonora desse tempo histórico em que uma criança se desenvolve.

É na infância que ela passa a integrar um grupo de danças folclóricas e tradicionais de Yunnan, orientando para as danças étnicas chinesas. Nos contando sobre as viagens que fazia com esse grupo, recorda de uma apresentação realizada em Beijing no ano de 1989, estando próxima à praça Tiananmen. Sua biografia pessoal, portanto, toca a história da China – ou é tocada por ela?

Temos aqui a clara perspectiva do materialismo histórico estruturado como ciência: a sociedade é produzida por fatos objetivos que afetam a vida de quem participa dela. Conhecer a história é, portanto, fator determinante para que possamos conhecer a nossa própria vida, e para projetarmos um futuro melhor, tanto individual quanto coletivamente. Não há ser sem história. Do mesmo modo que não há indivíduo fora do tempo e do espaço que lhe deram origem. A existência só pode ser pensada socialmente.

Numa sociedade de múltiplas faces, Xiao Ke nos fala da importância do rosto como elemento cênico nas danças chinesas, nos dando exemplos de como diferentes expressões faciais podem sugerir diferentes emoções. Na dança, a face é um recurso. A face é nossa máscara mais imediata.

Xiao Ke também conta que aprendeu balé chinês, descrito por ela como uma mistura de ballet russo, ópera chinesa e artes marciais, nos dando novamente um excepcional exemplo do conjunto de suas técnicas, acumuladas em um corpo extremamente disciplinado. Olhando para o corpo diminuto de Xiao Ke, que vai, a partir dessas memórias, se acionando como uma versátil e plural máquina de guerra, somos facilmente conduzidos à pergunta dos deleuzianos: o que pode um corpo?

No período universitário Xiao tenta dar um tempo em relação à dança como ofício, dizendo ter se cansado da dança tradicional, partilhando o desejo de querer experimentar a possibilidade de mover-se livremente, algo que para ela se dá nas festas juvenis pelo encontro com a disco music e a break dance. Novos horizontes de uma cultura que passa a entrar em contato com outras. Ouvimos uma música pop chinesa – exemplo de disco music chinesa dessa época – que nesse momento é performada com humor por Xiao Ke.

No palco, apenas uma prancheta com anotações e uma garrafa de água – nos mesmos moldes mínimos de encenação proposto por Bel a Véronique Doisneau muitos anos antes. Mas não sentimos falta de mais nada. A vida, como potência que se realiza, é suficiente para ocupar todos os espaços.

Ela volta então à dança para experimentar novas formas. Que ela nos demonstra – agora sem som. A liberdade é silenciosa.

Descobre a Dança Moderna ocidental e pensa, aos 20 anos, em abrir sua própria escola. Seu estúdio fica popular, mas perde um apoio que tinha da universidade em razão de uma performance polêmica. Curiosamente, esse cancelamento oficial a torna cool e a insere num outro circuito artístico. Move-se para o underground. Busca trabalhar como jornalista, mas tem desilusões com essa carreira, acabando por arrumar um bom emprego na multinacional Johnson & Johnson que lhe paga o suficiente para poder, paralelamente, financiar sua carreira artística.

Mas o dinheiro nunca lhe parece o suficiente e ela parte para uma atuação em uma dança mais comercial, aprendendo gêneros de sapateado e danças ocidentais que aumentem sua empregabilidade nesse mercado de produtos e eventos publicitários. Prospera, então, como bailarina e coreógrafa comercial, alcançando os meios para sobreviver apenas da dança: finalmente ganha a vida dançando.

Com recursos que lhe permitem investir também em seus projetos de caráter mais artístico, e não comerciais, fala de sua parceria com o vídeo artista Zi Han e da experiência de criar um grupo experimental de teatro físico com artistas de diferentes vertentes e linguagens. Também divide connosco algo sobre seus relacionamentos amorosos, seus gatos e a intimidade de sua vida doméstica. Há frustrações e há alegrias. E tudo é tão tocante, porque, afinal, somos muito parecidos em nossas coreografias: a vida é uma repetição do nosso tempo.

O que parece ser significativamente bonito é que possamos habitar o mesmo tempo presente dessa artista, cuja vida orientou-se para a expressão de um sentimento que sempre a ultrapassa. Por mais que desejemos driblar a vida, somos e sempre seremos a expressão de nosso tempo e de nossa cultura. Vivemos a vida como testemunho da vida maior: passamos pela vida e a vida passa por nós.
Embora também seja certo que as grandes narrativas não existem sem as pequenas. Não há a grande história sem as micro-histórias. Não há nem a França, nem a China. O que há são pessoas francesas e chinesas, construindo a enorme teia dessas culturas. E por isso mesmo é que cada vida nos importa. Espelho multifacetado de nós mesmos, a composição de Xiao Ke, cujo retrato não é apenas de si mesma, mas de toda a Terra do Meio, nos importa muitíssimo.

24 Mai 2023

Cinema | Rollout Dance Film Festival arranca esta quinta-feira

Começa esta quinta-feira mais uma edição de um festival de cinema inteiramente dedicado a filmes em competição onde a dança é o tema principal. O Rollout Dance Film Festival traz uma secção sobre filmes em português, exibidos no próximo dia 8, no Cinema Alegria, além de uma selecção de películas sobre Macau

 

Criado em 2016, a nova edição do Rollout Dance Film Festival, com carácter bianual e inteiramente dedicado aos filmes sobre dança, começa esta quinta-feira apresentando dezenas de filmes de vários países, escolhidos a partir de uma competição de cariz internacional, com a inclusão de películas sobre Macau. Os 49 filmes que serão exibidos nesta quarta edição do festival foram seleccionados no ano passado, podendo o público contar com a exibição de 27 filmes finalistas a prémios e 22 filmes da selecção oficial. Depois de um evento inteiramente online que decorreu no passado dia 27, os amantes de cinema poderão agora desfrutar, até ao dia 12 de Fevereiro, da dança espelhada nas suas várias formas no grande ecrã.

Destaque para a exibição de dois filmes portugueses no próximo dia 8, quarta-feira, no Cinema Alegria, a partir das 19h30. “Body-Buildings”, de Henrique Pina, de 2021, é um deles, onde se revela uma mistura de dança, arquitectura e cinema, com diferentes identidades e conceitos. “Body-Buildings”, mostra seis coreografias de seis artistas de renome em Portugal, como é o caso de Tânia Carvalho, Vera Mantero, Victor Hugo Pontes, Jonas & Lander, Olga Roriz e Paulo Ribeiro, filmadas em seis localizações diferentes, onde a arquitectura marca uma forte presença.

A outra película lusa, “Isabella”, de Ricardo S. Mendes, de 2021, realizada entre Hong Kong e Taiwan e co-produzida por Tai Kwun e Hsingho Co., Ltd será apresentada mesma tarde. Este é um filme “sentimental” sobre dança com uma pitada de bom humor que revela pedaços do mundo do circo, contando com as participações dos artistas circenses Patrick Pun e Chien Hung Shu.

No dia 5 de Fevereiro serão exibidas duas rondas de filmes ligados a Macau, incluídos nas secções “Macau Dance Film Pulse I e II”, e que incluem 11 trabalhos. Destaque para títulos como “Planet X”, de Iris CCI e Wil Z, “Shapes of Aether”, uma co-produção de Macau e Áustria com a assinatura de Elias Benedikt Choi-Buttinger, o mesmo autor que traz o filme “Beyond The Broken Hoop 2.0”. É um filme de dança experimental “criado no meio da natureza sagrada das montanhas austríacas”, lê-se no programa do Rollout.

Desta forma, o filme convida “os espectadores a considerarem a relação entre os humanos e a natureza, explorando este tema através da linguagem física do movimento”. Em “Beyond The Broken Hoop 2.0”, os bailarinos movem-se em coreografias mescladas com o meio ambiente, “usando os corpos para comunicar e conectar-se com o ambiente à volta”.

Na selecção dos filmes sobre, e de Macau, destaque também para “Pátio da Claridade”, de Keng U Lao, Chloe Lao e Karen Hoi, onde o tradicional e histórico pátio habitacional de matriz chinesa, situado na zona do Porto Interior, serve de cenário. O público poderá ainda ver “Beyond the Edge”, da autoria de António Sanmarful e Alice Leão.

Documentários e afins

No Rollout Dance Film Festival há também lugar para o género documentário. Serão exibidos, já esta quinta-feira, na Casa Garden, às 20h30, “Stillness in the Wave”, uma produção de Hong Kong da autoria de Cheuk Cheung, onde se faz o retrato de uma das mais antigas companhias de dança de Hong Kong, já com 40 anos de existência. Será também exibido nesse dia “Dear Dancer”, uma produção oriunda da Suécia da autoria de Marcus Lindeen.

Esta é uma produção que remete para o período mais difícil da pandemia no país da Europa do Norte, quando teatros e companhias de dança tiveram de fechar portas. No entanto, a coreógrafa americana Deborah Hay decidiu que os seus bailarinos, ligados à companhia de dança Cullberg, iriam continuar o trabalho já feito num teatro vazio de Estocolmo. O documentário retrata esse processo de trabalho à distância, uma vez que Deborah Hay escreveu aos bailarinos, a partir da sua casa em Austin, Texas, uma proposta experimental para uma coreografia diferente.

Na quinta-feira, mas às 19h30, será tempo para ver as películas da secção “Dance to Remember, Dance to Heal”. Na sexta-feira, às 19h30 e também na Casa Garden, serão exibidas seis películas da China em “China Dance Film Pulse”, com títulos como “Shattered Ripples”, de Siye Tao, ou “Feng.Liu”, de Krono Cao. Às 20h30 o cartaz prossegue com a secção “Ageless, Timeless, Boundless”.

Sábado e domingo, ou seja, dias 4 e 5 de Fevereiro, poderão ser vistos os filmes finalistas da competição do Rollout.
O Cinema Alegria recebe, dia 9 de Fevereiro, um filme em foco, “A Body In Fukushima”, exibido às 19h30. “The Ferryman”, outro filme em foco, será exibido no dia seguinte, no mesmo horário e local. O festival termina dia 12 de Fevereiro.

31 Jan 2023

Dança | Associação Ieng Chi celebra 25 anos e apresenta novas actividades 

Fundada em 1998 por Lilian Ieng Chi Kuok, a Associação de Dança Ieng Chi celebra no próximo ano 25 anos de existência, mas já este ano existe um programa cheio de actividades com início marcado para o mês de Março. Chloe Lau, membro da direcção, assegura que o movimento da dança em Macau é cada vez mais profissional e capta a atenção de miúdos e graúdos

 

Antes da transferência de soberania de Macau para a China aprender dança era uma coisa algo rara e, sobretudo, quase exclusiva à dança chinesa. Mas anos depois, não só há cada vez mais coreógrafos e bailarinos a dedicarem-se totalmente a esta arte, como os jovens e as suas famílias fomentam a aprendizagem.

Em 2023, a Associação de Dança Ieng Chi, situada na avenida da Praia Grande, celebra os seus 25 anos de existência. Com mais de 800 alunos e membros, esta entidade foi fundada por Lilian Ieng Chi Kuok, também directora artística da associação. Ao HM, Chloe Lau, antiga aluna de Lilian e hoje membro da direcção, conta que o movimento da dança tem evoluído de forma positiva.

“Vemos claramente que o movimento da dança em Macau mudou muito nos últimos anos. Quando andava na escola primária a maior parte dos bailarinos começava com a dança chinesa, porque era a mais popular. As associações tinham menos oportunidade de apresentar outro tipo de espectáculos. Mas agora, sobretudo nos últimos cinco anos e antes da pandemia, surgiram muitos festivais e paradas com performances locais que revelaram esta energia para o público.”

Para Chloe, este ambiente “apelou à participação de muitas pessoas e surgiram cada vez mais associações de dança”. Além disso, “os jovens desenvolvem hoje, desde muito cedo, o seu interesse pela dança e os pais também dão muito apoio”. “O ambiente da dança é hoje mais vivo”, assegura.

Chloe Lau destaca também uma maior interacção com os ambientes da dança de cidades do exterior, sobretudo da China. “No caso da nossa associação, todos os anos convidamos estudantes de Pequim e de outras cidades para realizarem workshops. Há uma maior oportunidade de explorar novas coreografias.”

Quatro direcções

Para manter o espírito vivo dos seus 25 anos de existência, a Associação de Dança Ieng Chi pretende desenvolver metas de trabalho com base em quatro direcções, baseadas na vertente educacional e na criação experimental, pois “todos os anos temos as nossas produções com espectáculos no Centro Cultural de Macau ou actividades ao ar livre”, sendo esta “uma forma de a comunidade poder desfrutar destes eventos criados por nós”.

Além disso, a associação pretende fomentar ainda mais os programas de intercâmbio que já possui com países como Coreia do Sul ou Malásia.

“Queremos partilhar a nossa cultura e a vida de Macau com outras cidades, mas estamos ainda à procura de fomentar este plano mesmo com a pandemia”. Chloe Lau fala ainda de uma quarta direcção, focada no desenvolvimento de uma plataforma de criação com outros bailarinos e coreógrafos locais.

“Existimos em Macau há 25 anos e não queremos apenas produzir espectáculos mas também criar uma plataforma de ligação com jovens coreógrafos, para que estes possam desenvolver as suas ideias e criações. Todos os anos temos um projecto para o qual convidamos quatro ou cinco bailarinos para apresentar as suas coreografias, para que estes tenham a possibilidade de contactar o público.”

Agenda cheia

Depois de dois eventos em Janeiro, a Associação de Dança Ieng Chi prepara-se para apresentar, entre 5 e 20 de Março, o festival “Zito Heritage Stroll”, que irá decorrer na Casa Garden e que terá a apresentação de performances de rua e exposições. Entre os dias 23 e 24 de Abril, irá acontecer um espectáculo de dança multimédia intitulado “Falling, Falling, Marine Snow”, onde a importância da protecção dos oceanos será o tema principal.

Em Julho, como é habitual, a associação irá ainda co-organizar, em parceria com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, uma competição entre as escolas de dança do território.

11 Fev 2022

Dança | “O Ano Formidável” chega ao CCM em Março

O pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) irá receber, entre os dias 11 e 12 de Março, o espectáculo de dança intitulado “O Ano Formidável”, com a dupla de bailarinos Tracy Wong e Mao Wei. Este é um espectáculo criado no âmbito do plano de comissões do CCM, sendo que os bilhetes estão à venda desde ontem.

Este duo criativo de bailarinos promete subir ao palco e interpretar uma coreografia contemporânea “honesta, quase brutal, que explora visualmente a complexa aventura da maturação humana”, e que se mistura com uma “série de efeitos sonoros e visuais mesclados com música rock original”.

Este espectáculo “é apresentado com um cenário simples através de uma arguta combinação de adereços e iluminação que, de modo efectivo, cria a atmosfera”, descreve ainda o Instituto Cultural (IC).
Tracy Wong e Mao Wei já criaram “inúmeros trabalhos de vanguarda”, tal como “Prazo de Validade” ou “As Franjas Curiosas – Explosão da Caverna”, em colaboração com artistas de França e Bélgica. “O Ano Formidável” é uma produção totalmente criada em Macau e surge “como antecâmara de lançamento para os novos horizontes coreográficos desta dupla criativa”.

23 Jan 2022

Dança | Stella & Artists promove espectáculos de talentos locais

No próximo fim-de-semana, o Teatro da Caixa Preta no Edifício do Antigo Tribunal recebe três espectáculos de dança contemporânea promovidos pela companhia Stella & Artists. Segundo a mentora do projecto, Stella Ho, o objectivo passa por apostar na criatividade de novos dançarinos e coreógrafos locais, acostumados “apenas” a dançar

 

[dropcap]A[/dropcap] companhia de dança local Stella & Artists vai levar ao palco do Teatro da Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal, três espectáculos de dança contemporânea. As mostras, acontecem nos dias 12 e 13 de Setembro e são da responsabilidade de dançarinos e coreógrafos locais, assumindo-se como uma oportunidade para os novos talentos da área apresentarem criações inéditas e experimentais, desamarradas de estilos concretos.

Apelidada de “Macau CDE Springboard”, a iniciativa em que se enquadra a mostra local do próximo fim-de semana é, segundo a mentora e directora artística do projecto, Stella Ho, uma oportunidade “para os jovens dançarinos e coreógrafos locais poderem criar”.

“Penso que estas iniciativas são importantes porque há falta deste tipo de oportunidades. O objectivo principal passa por deixar os dançarinos criar, porque eles normalmente estão ‘apenas’ dedicados a dançar e têm muito para dizer. Por isso, esta é uma boa plataforma para os deixar criar algo por si próprios, em vez de apenas dançarem”, disse ao HM.

Para a edição deste ano da mostra local, a Stella & Artists convidou dois consultores criativos, Chan Yi En (Taiwan) e Daniel Yeung (Hong Kong), a quem foi atribuída a responsabilidade de orientar as criações dos dançarinos e coreógrafos participantes.

Ao todo, o público poderá assistir a oito criações de dança contemporânea com temas e estilos distintos, incluindo reflexões sobre o dia a dia, a sociedade e o contexto actual, numa mistura “onde a dança procura explorar os limites da música, de objectos ou dos próprios corpos”.

“Normalmente, as companhias de dança adoptam um estilo particular mas, neste caso, as criações vão debruçar-se sobre o que os artistas pensam sobre a sociedade de um ponto de vista muito experimental mas também, diria, mais ‘dançante’ do que é habitual na dança contemporânea”, sublinha Stella Ho.

As criações podem ser vistas ao longo das duas sessões previstas para sábado, às 15h30 e 20h00 e da sessão prevista para as 15h30 de domingo. Os bilhetes têm o custo de 120 patacas.

Contornar a pandemia

Devido à crise provocada pela covid-19, os dois consultores criativos envolvidos na iniciativa apenas puderam orientar os dançarinos e coreógrafos de Macau, através de vídeo-conferência e a partir de Taiwan e Hong Kong.

Além disso, dado que um dos coreógrafos participantes não conseguiu voltar para Macau, uma das criações será transmitida, em directo, para Taiwan, permitindo estabelecer comunicação directa com a audiência.

Recorde-se que em Janeiro, a Stella & Artists promoveu uma mostra internacional de dança contemporânea em Macau, integrada na iniciativa “Macau CDE Springboard”, que acontece anualmente em Macau desde 2013. Devido à pandemia, para já, apenas estão previstas no futuro mais duas mostras locais.

Sobre a iniciativa, Stella Ho, ressalva que é “um importante meio de mostrar o trabalho dos jovens dançarinos de Macau”, pois, nos últimos 10 anos, “este tipo de eventos de intercâmbio têm sido raros”.

7 Set 2020

CCM | Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo apresenta “Noético”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Centro Cultural de Macau apresenta “Noético”, um espectáculo apresentado pela Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo, “um dos grupos de dança contemporânea mais arrojados da Escandinávia”, de acordo com um comunicado do Instituto Cultural. O espectáculo tem lugar no palco do Grande Auditório, no dia 18 de Novembro. Concebido pelo coreógrafo Sidi Larbi Cherkaoui, “Noético” mistura moda, design e movimentos contemporâneos, “enquadrados num cenário minimalista, cultural e sonicamente eclético”, aponta a mesma fonte. A peça explora mente, corpo e espaço, onde 20 bailarinos aparecem trajados de preto e branco, com a assinatura da marca belga “Les Hommes” e expressam “um turbilhão de emoções manuseando formas em fibra de carbono imaginadas pelo conhecido escultor e cenógrafo britânico Antony Gormley”. A música é composta por Szymon Brzóska e “evolui gradualmente para uma mescla fantástica de passagens orquestrais, percussão e solos vocais interpretados pela cantora sueca Miriam Andersén”.

7 Set 2018

Dança | Sofitel com festa dedicada aos anos 50

“Grease Lightning Swing Dance” é a festa temática de celebração dos sons do jazz dos anos 50 devidamente acompanhados pelos passos de dança que caracterizam a época. O evento realiza-se no Sofitel, no próximo dia 22 de Setembro, e promete uma divertida viagem no tempo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]“Grease Lightning Swing Dance” é um “novo episódio de uma série de eventos que se centram na dança e na sua alegria”, começa por dizer Joana Soares, uma das organizadoras da iniciativa. O conceito é o de uma festa temática, dedicada ao som e à dança dos anos 40/50, quando o jazz e a alegria se confundiam nas pistas. O objectivo é levar aos residentes um estilo que não tem muita representação no território. “Decidimos fazer esta festa porque o swing dance é ainda relativamente novo em Macau e pensamos que é um estilo que acaba por ser do agrado de toda a gente por ser muito divertido”, acrescenta Joana Soares.

Para que a festa seja completa, a organização convida os participantes a vestirem-se a rigor. “Não é difícil, basta uma vista de olhos por qualquer filme dos anos cinquenta e a panóplia de outfits é variada e sempre apropriada”, conta. O estilo pode variar entre o mais fiel aos clássicos de época, até aos mais arrojados com toques do rock´n roll que emergia na mesma altura.

Aulas incluídas

Que não se inibam os que pensam que não sabem acompanhar a música com os passos de dança mais apropriados. A organização pensou em tudo e antes da festa vai decorrer uma aula em que pelo menos os movimentos básicos são assegurados para abrilhantar a pista. “A entrada que é de 200 patacas e inclui uma aula, e só depois começa a festa” , disse Joana Soares. A ideia é que quando a música tenha início, todos tenham o mínimo conhecimento para dançarem e, “acima de tudo, se divertirem”. Para ajudar à festa, o ingresso, que custa 200 patacas, dá aos participantes o direito a bebidas grátis.

Primeiros passos

O swing dance é um género que tem ganho popularidade crescente um pouco por todo o mundo. No continente não há cidade que não tenha os seus núcleos que se reúnem religiosamente quase todos os dias, e em Hong Kong as festas acontecem, pelo menos, três vezes por semana. Em Macau, este tipo de eventos é ainda um pouco desconhecido, ou pelo menos pouco promovido. Para Joana Soares, a razão é o desconhecimento. “Penso que há muito pouca gente a dançar este género e talvez ainda ninguém tenha tido a iniciativa de promover eventos deste tipo em que as pessoas também começam a aprender a dançar”, contou ao HM.

Por outro lado, “Macau é uma cidade muito pequena e com uma grande parte da população flutuante, que vai e vem, e talvez por isso não exista muito investimento neste tipo de iniciativas para que se tornem mais permanentes”, apontou a responsável.
Para Joana Soares, a escassez de eventos sociais de dança não se limita apenas ao Swing. “Não é muito comum existirem festas temáticas e é por isso que decidimos juntarmo-nos e tentar organizar esta alternativa de divertimento”, explicou.

A iniciativa partiu de um grupo de amigos que gosta de dar uns passos dança. Joana Soares quer, desta forma, cativar o público para festas temáticas em que a dança é rainha. A ideia não é aplicada apenas ao swing dance, mas a outros estilos como a salsa.

A responsável espera que esta seja a primeira de várias festas e, apesar de ainda não existirem em Macau aulas de swing, que “através do seu ensino integrado em eventos, as pessoas se comecem a interessar mais”.

O facto de este ser um estilo com cada vez mais adeptos por todo o lado deve-se, por um lado, à simplicidade dos passos, “que não são muito complicados” e fáceis de aprender. Por outro lado, é muito divertido e fluído, por se tratar de “uma dança feliz que dá vontade de mexer para acompanhar a música”, aponta a organizadora.

7 Set 2018

Ensino | Directora de infantário despedida após dança do varão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades da cidade de Shenzhen anunciaram ontem a demissão da directora de um infantário local após esta ter incluído a dança do varão na festa de início do ano lectivo. “O objectivo era ensinar às crianças um novo tipo de dança”, explicou Lai Rong, a responsável pelo infantário Xinshahui, citada pela imprensa local.

Vídeos e fotografias registados pelos pais, e que se tornaram virais na Internet chinesa, mostram uma mulher de calções pretos, blusa decotada e salto alto a fazer acrobacias num varão, para uma plateia composta por crianças. “As crianças são muito simples, não terão tido pensamentos complexos sobre o espectáculo”, garantiu Lai. “Eles apenas acham fantástico que alguém consiga fazer aqueles movimentos”, disse.

As cerimónias do início do ano lectivo na China são normalmente solenes e incluem o hastear da bandeira nacional da República Popular da China, ao som do hino do país. Neste caso, a bandeira chinesa foi hasteada no próprio varão. Segundo relatos dos pais, em Julho passado, a mesma escola recebeu dez dias de “actividades militares”, que incluíram exibições de metralhadoras e morteiros à entrada do estabelecimento.

6 Set 2018

Festival “Connections” | Ioga, música e dança ao ar livre a 12 de Maio

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] reservatório de Ká-Hó, em Coloane, vai acolher, no próximo dia 12 de Maio, o “Connections”. Apresentado como o primeiro festival ao ar livre a juntar ioga, música e dança em Macau, o evento promete um arranque “épico”

 

A ideia surgiu de uma conversa espontânea entre amigas. “Estávamos a falar sobre a necessidade de haver eventos ao ar livre, fora do contexto urbano, que é uma tendência dos últimos anos, mas algo invulgar em Macau”, começa por explicar Rita Gonçalves, uma das mentoras da iniciativa. Das palavras passaram aos actos e, com ajuda de parceiros, nasceu o “Connections”, um festival ao ar livre que vai combinar uma série de actividades, como ioga, música e dança. Os interessados devem reservar o dia 12 de Maio na agenda, uma vez que o evento promete ser “épico” e conquistar um lugar regular no calendário de Macau.

“Este tipo de eventos e festivais ao ar livre tem-se desenvolvido cada vez mais”, aponta, dando o exemplo do “Boom” ou do “Andanças” em Portugal e, na Ásia, do “Wonderfruit” (Tailândia) ou do “Bali Spirit” (Indonésia). “Estes eventos são muito giros e especiais, de contacto com a natureza e também com o nosso interior, em que se quebram barreiras, como os papéis sociais, e todas essas coisas que nos restringem no dia-a-dia”, enfatiza Rita Gonçalves ao HM.

“Todo o contexto criado permite, depois dos primeiros dez minutos da vergonha, que as pessoas se soltem”, constituindo “uma grande fonte de alegria e liberdade”, complementa a presidente da Associação Yoga Loft.

O “Connections”, a ter lugar no reservatório de Ká-Hó, vai realizar-se a 12 de Maio. O festival, que decorre das 11h às 22h, vai ter música o dia inteiro, estando previsto um concerto ao vivo da banda “Concrete Lotus” e a actuação de DJs. A ideia da organização é proporcionar “um ambiente descontraído, com som ambiente”.

Neste cenário, “vai também haver ioga – um mais fácil e calmo e outro mais mexido e puxado”, explica Rita Gonçalves. “Há muito tempo que amigos alunos me pedem para eu fazer aulas com música. Só que, para mim, o ioga é um trabalho mais sério”, mas com “um ambiente festivo e ao ar livre vai ser engraçado explorar o contexto da música”, sublinha a também instrutora.

O programa do festival inclui ainda dança, com ‘workshops’ orientados por pessoas de Macau e do estrangeiro. “Vai ser uma dança muito exploratória, em que a ideia é brincar com um tema lançado pelo facilitador”. Em paralelo, há também actividades para crianças, como jogos, pinturas de rosto ou espectáculos de marionetas. Dado que o “Connections” vai decorrer durante todo o dia, o serviço de ‘catering’ da “Blissful Carrot” disponibilizará refeições no local, devendo o menu ser divulgado em breve.

Na preparação do “Connections” encontram-se envolvidas entre 50 a 60 pessoas, estando a organização à procura de mais voluntários para o evento. O ingresso custa 120 patacas para ajudar nos gastos, sendo que quem reservar com antecedência paga menos 20 patacas. Aliás, a organização recomenda-o para evitar que muita gente acabe por se concentrar à entrada. “É pedido um donativo porque vamos ter custos associados ao processo logístico, nomeadamente da montagem das sombras”, indica Rita Gonçalves. As crianças têm entrada gratuita.

 

Festa amiga do ambiente

A pensar no ambiente, a organização do “Connections” também pretende que haja o menor lixo possível. “Aconselhamos as pessoas a trazerem copos ou cantis para as suas próprias bebidas, por exemplo, e a reservarem a refeição de modo a que ‘Blissful Carrot’ saiba de antemão os pedidos para que também não haja desperdícios alimentares”, realça.

“Este é um evento que quero que as pessoas venham porque se sentem naturalmente atraídas pela experiência, portanto, a informação há de ir parar a elas. Vou deixar decorrer de uma forma orgânica. Embora pareça um pouco arrogante, a ideia é que as pessoas ouçam falar pelos interesses que já têm”, sublinha Rita Gonçalves que, até ao momento, lançou apenas o evento no Facebook.

Embora o festival ainda não tenha estreado, Rita Gonçalves não esconde o desejo de ver o “Connections” conquistar um lugar anual no calendário cultural de Macau.

 

 

19 Abr 2018

Entrevista | Jeff Hessney, produtor da companhia de dança Raiz di Polon 

[dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap] Serpente” é a coreografia que vai estar esta noite no palco do Teatro D. Pedro V. A companhia Raiz di Polon vem de Cabo Verde a convite da Associação da divulgação da Cultura cabo-verdiana e traz uma peça que explora as relações vividas dentro de um triângulo amoroso. Para o produtor Jeff Hessney, trata-se de um tema universal compreendido por todos. O espectáculo tem início às 20h e conta com entrada livre

A Raiz de Polon é conhecida por tratar várias temáticas. No entanto, é a primeira vez que pegam na questão do ciúme para a traduzir em movimento. Porquê?

Esta peça foi feita, ao contrário das outras nossas produções, a pedido do Festival Internacional de Teatro em Língua Portuguesa que acontece todos os anos no Rio de Janeiro. Já tínhamos participado nesse festival duas vezes e no ano passado era inteiramente dedicado à obra de Nelson Rodrigues pelo que todos os espectáculos tinham de ter um trabalho baseado em peças daquele autor. A directora do festival, Tânia Pires, achou que seria interessante fazer uma adaptação para a dança de uma peça de teatro. Acabámos por montar “A Serpente”, toda ela original e acompanhada com música cabo-verdiana, em menos de três semanas. O ciúme faz parte de toda a criação cénica e dos escritos do Nelson Rodrigues, mas podemos dizer que se trata de um tema universal. Por outro lado as semelhanças culturais entre o Brasil e Cabo Verde também facilitaram esta adaptação que foi ainda um desafio muito interessante: transpor o ciúme expresso no texto para a corporalidade e para a dança.

Estamos num território com poucas semelhanças culturais com Cabo Verde. Como é que vê a receptividade do vosso trabalho aqui?

A primeira vez que estivemos em Macau foi há 11 anos. Na China em geral, a recepção tem sido muito boa, mesmo em lugares que não têm a marca lusófona que Macau tem.

Esta recepção positiva pode estar ligada à universalidade da própria linguagem, a dança?

Sim, penso que sim. O ciúme é universal mas também temos cuidado na forma como o abordamos. O que é interessante numa peça como esta – que não tem texto – é a forma como tratamos os nossos temas através da dança e dos movimentos típicos de Cabo Verde. Este aspecto faz com que as pessoas, não só reconheçam a temática comum à humanidade, como acabem por ter a atenção captada pelas particularidades do movimento de corpo característico de Cabo Verde e pela música que acompanha as coreografias.

Do vosso repertório fazem também parte coreografias com temas mais sociais como a migração ou as questões de género. Há uma aposta em abordar temas que ponham o público a pensar em determinados temas?

Não fazemos peças para passar uma mensagem. Penso que isso seria subestimar a capacidade do público, o que também não funciona. Mas, ainda assim, claro que tratamos esses temas de uma forma que pode ou não dizer algo mais às pessoas que estão a assistir. A nossa peça mais viajada, a “Duas sem Três”, é precisamente um dueto com duas das bailarinas da companhia, e que trata os temas da mulher e da emigração. A emigração é incontornável em Cabo Verde. É um país que tem mais pessoas a viver fora do país do que dentro. Todos os cabo-verdianos, sem excepção, têm algum parente próximo que vive no estrangeiro. É um tema omnipresente em todas as formas artísticas cabo-verdianas e na dança também acaba por estar presente. Numa outra coreografia, também de Mano Preto, que se chama “CV Matrix 25” não se trata necessariamente a questão da emigração, mas toda a apresentação retrata o imaginário de um cabo-verdiano que foi para Lisboa como emigrante, trabalhou na construção civil, tinha vivido durante décadas em Portugal e todo o seu imaginário era Cabo Verde. Esta peça foi baseada numa pessoa que o Mano Preto conhecia pessoalmente e toda a corografia é isso: o imaginário de um homem que vivia em Lisboa mas que na sua cabeça e no coração nunca tinha saído do seu país. Estes temas são tratados, não de uma forma pedagógica mas sim com uma abordagem mais sentimental.

1 Nov 2017

Companhia argentina no palco do CCM em Dezembro

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se “Deseos” e é o nome do espectáculo que vem directamente da Argentina para Macau, pela mão da companhia Estampas Porteñas, e que sobe ao palco nos dias 26 e 27 de Dezembro.

Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), o espectáculo, que terá lugar no Centro Cultural de Macau, terá “um sólido elenco de bailarinos, músicos e um cantor a adornar uma sequência coreográfica de canções românticas e fatalistas, mesclando projecções interactivas com uma paleta de temas, alguns dos quais remontam aos anos 30”.

A história passa-se entre uma aldeia rural e Buenos Aires, capital argentina. “A trama desta peça de dança e teatro leva-nos numa viagem pelo tempo, das tradições folclóricas do Malambo gaúcho (cowboy sul-americano) à música de Astor Piazzolla.

“A acção é desencadeada quando Margot, a protagonista, decide mudar-se para a grande cidade, deixando tudo para trás. Pleno de paixão, ciúme e dança ardente, Deseos é uma produção de técnica primorosa e emocionante que nos leva através das inúmeras expressões do tango, demonstrando uma multiplicidade de passos e estilos”, explica o IC.

Por todo o mundo

A Estampas Porteñas foi fundada em 1997 por Carolina Soler, uma premiada directora artística cuja carreira se iniciou no ballet clássico. Desde então, a companhia tem actuado pelo mundo inteiro tendo subido aos palcos em mais de 20 países pelos cinco continentes.

Além dos dois dias de espectáculo, vão ser promovidas “diversas actividades, incluindo um workshop ministrado por bailarinos da Estampas Porteñas, concebido para desvendar alguns dos passos e técnicas aos entusiastas da dança”. No dia da estreia irá decorrer “uma tertúlia pré-espectáculo”.

Os bilhetes estarão à venda a partir de 29 de Outubro, disponíveis a vários preços (entre 150 e 300 patacas) e descontos nas bilheteiras do CCM e aos balcões da Rede Bilheteira de Macau.

26 Out 2017

CCM | Espectáculo para os mais pequenos até domingo

“Puzzle” é a coreografia que está de hoje a domingo no Centro Cultural de Macau, dirigida a bebés e crianças até aos quatro anos de idade. A ideia, mais do que um espectáculo, é ser um espaço familiar e de comunicação, em que os mais pequenos têm contacto com a arte

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se “Puzzle” e é um espectáculo que junta dança, formas, cores e música, tudo concebido para um público até aos quatro anos de idade. Até domingo, no Centro Cultural de Macau (CCM), a peça chega pelas mãos da companhia lituana Dansema. O objectivo, afirma Birute Baneviciute, coreógrafa da Dansema, é a comunicação entre os elementos do espectáculo e as crianças.

A escolha de um público não muito comum e com características específicas tem que ver com os desafios que acarreta. “Esta é uma idade crucial no desenvolvimento da criança e, mais especificamente, na experiência com a arte que, neste espectáculo, se direcciona à dança”, explica a coreógrafa.

O objectivo é criar um espaço em que as crianças possam desfrutar do movimento e do conhecimento do mundo, através desse movimento e da forma como se vai organizando no espaço.

À dança juntam-se outros elementos: “Trabalhamos com cores, formas, e claro, com música”, diz Birute Baneviciute.

“Puzzle” é acompanhado por peças musicais feitas especificamente para este tipo de público, por Rasa Dikciene. A compositora tem formação em percepção infantil e conhecimento para desenvolver um conjunto de sons e de músicas mais adaptadas a esta faixa etária. “Utilizamos mais sons agudos do que graves, por exemplo, porque, nestas idades, as crianças são sensíveis a este tipo de diferenciação”, explica.

Aos bailarinos cabe ainda a improvisação e interactividade. “Com um público tão especial e que tem plena liberdade para invadir o palco, nenhuma criança fica sem resposta dos artistas”, diz a coreógrafa. É também por esta razão que os lugares destinados ao público são poucos.

Por outro lado, explica, os pais têm de cumprir com algumas instruções: dar liberdade absoluta às crianças. “O espaço é para os mais pequenos e não faz sentido, nestas idades, limitar as crianças no falar ou no fazer barulho. Aqui, podem e devem fazer tudo o que quiserem para que usufruam da experiência. É um espaço em que podem começar a explorar livremente e em que têm espaço e tempo para interagir com os próprios elementos de ‘Puzzle’”, aponta a responsável artística.

Crianças iguais

Apesar de o espectáculo ser até aos quatro anos de idade e abranger níveis diferentes de cognição e percepção do mundo, as crianças apresentam muitas semelhanças nestas fases. “Até aos três anos reagem, na sua maioria, com movimento e é muito fácil perceber a sua resposta mal começam a balouçar ou a bater o pé”, conta Birute Baneviciute.

Por outro lado, estas reacções podem ser consideradas universais. “Os mais pequenos não têm noção daquilo a que se chama de regras, hábitos ou tradições culturais e, como tal, não estão muito ligadas àquilo a que se poderia chamar de cultura.”

De acordo com Birute Baneviciute, nestas idades, são seres essencialmente sociais e que apenas reagem ao que se passa à sua volta. “Este é um aspecto comum a todos, no mundo inteiro”.

“Talvez se pusermos uma criança em frente a um telemóvel, as reacções variassem de acordo com a cultura ou país”, diz. Mas, em “Puzzle”, o público é colocado em contacto com elementos naturais, “por exemplo, uma bola que se mexe em que a tendência é ir buscá-la, e isso é universal e natural”, refere.

“O que existe naquele momento somos nós, as formas, a música, o movimento e as crianças”, aponta a coreógrafa.

Um público necessário

A escolha de uma audiência tão especial tem que ver, afirma Birute Baneviciute, com a sua formação em coreografia e posterior carreira enquanto professora de dança de alunos a partir do ano de idade. “Comecei a perceber que os espectáculos para os bebés, por exemplo, não eram tidos em conta e que as pessoas começavam normalmente a dar alguma educação artística aos filhos a partir dos três anos”, recorda. A razão é compreensível: “Já conseguem falar, já conseguem parecer espertos o suficiente para entender as coisas”.

Mas, para a coreógrafa, o entendimento do mundo acontece desde o nascimento. Trata-se de um entendimento diferente e de uma forma diferente de pensar. “Uma criança de seis meses consegue perceber o que fazemos, à sua maneira. Entre procurar alimento da mãe e virar o olhar para nós, está a comunicar”, diz.

“Se saltarmos este período etário que vai do zero aos dois anos de idade, é muito difícil desenvolver um interesse pelas artes mais tarde”, diz da sua experiência e conhecimento. Para Birute Baneviciute, este é um período crucial para despertar o gosto pela área artística.

“Puzzle” pretende ainda ser um espaço que marca a diferença. O lugar em que decorre é distinto dos espaços comuns do dia-a-dia e é uma forma ainda de motivar os pais a participarem até porque, comenta a directora artística, “uma criança de seis meses não vai sozinha ao teatro”. “É muito importante também que as famílias se juntem e venham”, refere.

Prova disso é o encontro que, muitas vezes, artistas e pais têm após o espectáculo. “A resposta ao que fazemos é, por vezes, tão simples como uma demonstração de satisfação por terem tido um espaço familiar fora de casa, um espaço artístico comum”, remata.

3 Ago 2017

FAM | Companhia de Bill T. Jones pela primeira vez em Macau

O 29.º Festival das Artes de Macau começa hoje. O palco do Centro Cultural de Macau vai acolher a companhia Bill T. Jones/Arnie Zane numa coreografia dupla. Promete-se uma noite de música e movimento a abrir mais uma edição do evento

 

[dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]lay and Play” é o espectáculo que marca a abertura da edição deste ano do Festival da Artes de Macau (FAM). É com o espectáculo de estreia que, pela primeira vez, a companhia nova-iorquina Bill T. Jones/Arnie Zane pisa um palco do território.

O espectáculo vai mostrar ao público, num mesmo serão, duas peças em que os compositores escolhidos foram Ravel e Schubert.

À semelhança do que é habitual nos trabalhos da companhia nova-iorquina, trata-se de uma coreografia em que a música é interpretada ao vivo e os instrumentistas são convidados locais. Neste caso, sobe ao palco um quarteto com músicos da Orquestra de Macau. A ideia é trocar sinergias com as pessoas dos locais por onde os espectáculos vão passando.

“Play and Play” foi escolhido por ser um título capaz de dar às peças uma interpretação mais abrangente, “uma espécie de guarda-chuva que abarca vários trabalhos que fizemos a pensar no seu acompanhamento ao vivo com música de câmara”, explicou ontem a directora artística associada, Janet Wong.

Os bailarinos da Bill T. Jones/Arnie Zane vão dançar a peça de Maurice Ravel, “Quarteto de Cordas em Fá Maior”, sendo que o espectáculo de dança tem como nome “Paisagem ou Retrato”.

“O tema é composto por quatro movimentos com dinâmicas, sentimentos cores e vida própria, e a coreografia é o seu acompanhamento e interlocutor”, apontou a responsável.

O conceito do espectáculo é, de uma forma geral, a capacidade do repensar um trabalho feito. “Por detrás do ‘Play and Play’ há o conceito de ter alguma coisa, fazer alguma coisa com isso e depois fazer algo de novo mais uma vez”, referiu. Para conseguir alcançar o objectivo, a companhia foi à procura de material que já tinha produzido, sujeitou-o a uma nova análise e fez uma nova contextualização.

Schubert e John Cage

A história da segunda peça, “Story”, que conta com a música de Schubert, saiu de uma outra feita muito antes, tendo sido refeita com base na inspiração de um trabalho de John Cage. A dança, a forma de contar a história, a iluminação e os próprios adereços foram todos feitos de raiz.

“Quando decidimos fazer esta coreografia, que inicialmente se chamava ‘Story/Time’, decidimos tirar a parte do tempo e ir buscar o material de dança que tínhamos usado na peça inspirada pelo John Cage. Há material com mais de 37 anos e que fazia parte do nosso repertório, antes mesmo da companhia existir. [Esse repertório] inclui alguns duetos que acabaram por tornar Bill T. Jones e Arnie Zane famosos”, disse Janet Wong.

Dentro da história, o público pode encontrar quase um flash retrospectivo do trabalho da Bill T. Jones/Arnie Zane, com a introdução de peças mais antigas e de outras acabadas de preparar.

No entanto, e de acordo com a responsável artística, o que é feito ao nível da dança, neste espectáculo, não é o mais importante. Trata-se acima de tudo de um diálogo com a música que sustenta a parte do movimento.

Na primeira noite de espectáculo, “Play and Play” promete proporcionar um serão mais “tradicional” que inclui um concerto para que as pessoas tenham um momento de descanso e para que possam, também, olhar para o “vocabulário do movimento, para a composição, para a forma e para as pequenas sintaxes que entram e saem do próprio movimento”, sublinhou.

Um espectáculo diferente

O segundo espectáculo da companhia tem lugar a 1 de Maio. “A Letter to My Mathew” é, de acordo com a também bailarina, um espectáculo muito diferente do da abertura. “É muito mais desafiante. Estávamos no processo de produção de uma trilogia em que a segunda parte era sobre o sobrinho de Bill T. Jones”, conta.

Do trabalho resultou uma peça em que os bailarinos assumiam várias funções, entre elas, a de actores. “Era uma coreografia com texto e que ia além da dança”. No entanto, quando convidada a ir a Paris em 2015, a companhia teria de apresentar uma coreografia sem palavras. “Apercebemo-nos que não podíamos fazer esta parte da trilogia e decidimos usar o material que estava dentro desta peça, tirar-lhe o texto e voltar a olhar para ela sob um outro ângulo.” As palavras deram lugar à expressão musical: “Fomos também à procura de música mais pop e mesmo do hip hop como vocabulário ao movimento”, esclareceu Janet Wong.

Se, por um lado, é uma peça mais desafiante, por outro, e muito devido à música que a acompanha, a directora artística pensa que é um espectáculo mais acessível, principalmente a um público mais jovem.

É também uma referência ao trabalho homónimo de James Baldwin publicado no New Yorker, numa altura em que os direitos humanos, as questões raciais e a violência policial eram assuntos quentes, apontou.

1 Mai 2017

DSEJ | Festival Juvenil Internacional de Dança em Julho

Dançar pelas ruas, à noite e de dia, em recinto coberto ou ar livre, para ver ou para participar com jovens de vários países do mundo. É a aposta deste festival que agora regressa a Macau. Quinze milhões de patacas é quanto vai custar o bailarico

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]riar uma plataforma para jovens amadores de dança, de diferentes países e regiões do mundo é o objectivo de mais uma edição do Festival Juvenil Internacional de Dança da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), além de pretender facultar a residentes e turistas a arte e a cultura de diferentes países e regiões. Assim, de 22 a 28 de Julho, o Festival volta a Macau, sendo de esperar que o ritmo contagie vários pontos da cidade.
Criado em 1987, este festival juvenil realiza-se a cada dois anos e tem vindo a ganhar destaque no panorama dos eventos de Macau, através do qual as equipas de dança podem demonstrar as suas capacidades, bem como aprenderem as técnicas dos outros participantes. Desta forma, tornar Macau num ponto de encontro das diferentes culturas de dança é a grande aposta.
A edição deste ano conta com um total de 27 equipas provenientes da Ásia, Oceânia e Europa. Destas, 15 vêm de fora, nomeadamente de países como Austrália, Grécia, Indonésia, Israel, Coreia do Sul, Letónia, Lituânia, Malásia, Nova Zelândia, Noruega, Rússia, Singapura, Eslováquia e Sri Lanka. Da China continental chega um grupo de Yunnan, contando-se ainda com equipas de Hong Kong e Taiwan. De Macau são dez as equipas que irão estar presentes. Vêm da Escola Hou Kong, da Associação Imprint Macau Dance, da Escola Kao Yip, do Grupo de Dança Juvenil – Conservatório de Macau, da Associação Internacional de Dança de Rua de Macau, da Escola dos Moradores de Macau, da Associação de Dança de Música Pop de Macau, da Escola Secundária Pui Ching, da Associação de Dançarinos Regina e da Universidade de Macau.

Ruas afora

Para além das actuações, está previsto um desfile, a realização de um workshop e de espectáculos de dança nocturna. A partir deste conjunto de eventos, a organização pretende que seja evidente “a integração das culturas chinesa e ocidental, demonstrando as características das indústrias culturais e criativas de Macau”.
Ao longo do percurso do desfile e durante as exibições no exterior, os artistas irão interagir com os espectadores e todos são convidados a participar na festa. Segundo a organização, que a DSEJ partilha com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, o Instituto Cultural, a Direcção dos Serviços de Turismo, o Instituto do Desporto, o Instituto de Formação Turística e o Fórum de Educação da Ásia-Pequim, este evento irá ter um custo de 15 milhões de patacas.
Os bilhetes de entrada para as exibições em recinto coberto serão distribuídos a partir das 16h00 do dia 19 de Julho em vários locais ao longo da cidade. Os professores de Macau, todavia, podem registar-se a partir de hoje, para a obtenção de bilhetes (máximo de dois por pessoa), que lhes darão acesso ao “Espaço dos Docentes”. Paralelamente, para que os jovens oriundos do exterior fiquem a conhecer melhor a cultura local, a organização vai fazer uma visita cultural por Macau.

Programa

24 de Julho

17:30-19:30
Desfile
Ruínas de S. Paulo, Rua da Palha, Rua de S. Domingos, Igreja de S. Domingos

20:00-21:30
Exibição
“Dança Juvenil pela Paixão da Rota da Seda”
Praça do Tap Seac

25 de Julho
10:00-12:00
Workshops de experimentação artística
Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes

25 de Julho
19:30-21:00
Dança nocturna
Anim’Arte NAM VAN

27 de Julho
19:30-21:00
Dança nocturna
Anim’Arte NAM VAN

26 de Julho
20:00-22:00
Exibições no interior
Pavilhão I do Fórum de Macau

28 de Julho
20:00-22:00
Exibições no interior
Pavilhão I do Fórum de Macau

13 Jul 2016

IC apresenta programa do Festival de Artes

Com o “tempo” por tema e um apelo à imaginação, o festival deste ano traz-nos mais de 100 eventos onde se inclui Shakespeare para todos os gostos, o melhor de Tang Xianzu e até dança no gelo. De Portugal, vem Manuela Azevedo a cantar num campo de ténis, de Macau Álvaro Barbosa e José Alberto Gomes propõem música electrónica sobre imagens da Antárctica e os Dóci Papiaçam voltam à carga por entre aromas de chá

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]evar à audiência as culturas chinesa e ocidental, continua ser objectivo do IC vincando a ideia com o assinalar dos 400 anos da morte de dois nomes de relevo da literatura mundial: William Shakespeare e Tang Xianzu. “Sonho de Uma Noite de Verão”, do dramaturgo britânico, vai mesmo ter honras de abertura num espectáculo produzido pela Shakespeare Theatre Company dos Estados Unidos, voltando os textos do mestre inglês aos palcos para encerrar o FAM com uma adaptação da tragédia “Macbeth”, encenada pela companhia sul-africana Third World Bunfight, que traz uma visão do mundo na paisagem pós-colonial de África e as relações históricas e contemporâneas entre a África e o Ocidente; Tang Xianzu, o grande dramaturgo da dinastia Ming também será evocado e com duas das suas obras: excertos de “O Pavilhão das Peónias”, pela Trupe de Ópera Yue Zhejiang Xiaobaihua e a tragédia romântica Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura, interpretada pelo reconhecido actor de ópera cantonense de Macau Chu Chan Wa entre outros talentos locais. A Midsummer's Night Dream, Free-for-All

Shakespeare para todos

Para além das peças enunciadas, Shakespeare estará ainda presente neste festival com a proposta local da Godot Art Association e encenação de Philip Chan, onde três artistas (Chang Wei Tek, Ieong Pan e Sam Choy) irão interpretar, numa noite, os escritos de Shakespeare com abordagens tão diferentes como canto, representação, fala, esgrima, malabarismo e magia em linguagem do dia-a-dia, com ênfase à interacção e colaboração dos espectadores. O Teatro Laitum, de Espanha, traz uma proposta diferente que a organização apresenta como “um espectáculo difícil de explicar, mas muito divertido de interpretar!” Encenado por Toti Toronell, a proposta é a de uma acção de rua intitulada Micro-Shakespeare, produzida para o Royal National Theatre de Londres, que se propõe condensar as obras de Shakespeare em cinco peças de oito minutos.  O espectador atrás da caixa de teatro irá receber instruções através do auricular e movimentar os objectos de acordo com as instruções, sem saber a razão daquilo que ele/ela faz nem aquilo que ele/ela está a fazer.   

Electrónica e um sonho de Chá

Para além de outras actuações de artistas locais, destacam-se o espectáculo “Viagem à Última Fronteira” de Álvaro Barbosa e José Alberto Gomes com Hong Seng no piano solo e a Hong Kong New Music Ensemble. Uma produção realizada a partir de uma expedição de dez dias ao continente antárctico num antigo barco oceanográfico dos anos 70 efectuada por Barbosa e o desenhador de instrumentos musicais, Victor Gama pelas ilhas da Península Antárctica onde coligiram gravações áudio e vídeo. O espectáculo apresenta peças musicais que incluem composições electrónicas originais de Gama tocadas em instrumentos por ele desenhados e num dispositivo de som interactivo (Carrilhão de Vento Radial) inventado por Barbosa. Poder-se-ão ainda ouvir sons gravados na Península Antárctica, transportando o público para a majestosa natureza daquele território.
“O mundo maravilhoso com que temos sonhado desapareceu para sempre, devido à transição, à mudança e ao desenvolvimento da sociedade moderna. Se esta história for sobre a Macau do passado que já não existe, como é que vamos enfrentar e lidar com um futuro imprevisível?” Esta é a proposta dos Dóci Papiaçám que voltam com mais uma peça em patuá de Miguel Senna Fernandes.

Mais gelo e música num campo de ténis

Todos conhecemos Manuela Azevedo como a voz dos Clã mas desta vez ela traz uma proposta inovadora num espectáculo criado pela própria com Hélder Gonçalves e Victor Hugo Pontes.
O espectáculo chama-se “Coppia” e pretende dar início a uma viagem na qual a dança e a música jogam num campo de ténis. O termo evoca parelha, dupla, casal, par remetendo para a ideia de casal amoroso, pois tem a mesma origem de “cópula”, e a associação gráfica evidente com a palavra portuguesa “cópia” e os seus significados – réplica, reflexo, repetição. A ideia é a de explorar todas estas possibilidades com temas David Byrne, Sérgio Godinho, Gilberto Gil, Sonny & Cher, Clã entre outros.
Dança também é o que nos trazem os Le Patin Libre, do Canadá, mas sobre o gelo. Um espectáculo para o Ringue junto ao Camões sugestivamente intitulado “Deslizar”, que o jornal britânico The Guardian considera “um puro ímpeto corporal de liberação e espaço.” Sob a direcção técnica de Alexandre Hamel 
e Pascale Jodoin como co-encenador, cinco patinadores combinam a virtuosidade da patinagem artística com a atitude da dança de rua e a sofisticação do espectáculo contemporâneo. Este programa de 45 minutos foi especialmente criado para esta que é a primeira tournée asiática do grupo e consiste de uma compilação dos mais aclamados espectáculos criados pela companhia ao longo dos últimos dez anos.

De Beckett ao Japão

O monólogo “A Última Gravação de Krapp”, a aclamada obra de Samuel Beckett, encenado e interpretado pelo reconhecido dramaturgo e encenador de renome mundial Robert Wilson é outra das apostas do festival a par com uma peça desempenhada por actores com deficiências cognitivas que nos é trazida pelo Disabled Theater de Jérôme Bel e o Teatro HORA, da Suíça, e que pretende revelar como aqueles, apesar das suas insuficiências, são capazes de questionar a sociedade actual bem como os modos de vida de diferentes pessoas. Do Japão chega o coreógrafo Tao Ye que lidera Teatro TAO Dance nos bailados abstractos 6&7 que exploram o potencial do corpo humano e ainda o bailado Obsessão, da autoria dos coreógrafos japoneses Saburo Teshigawara e Rihoko Sato, que pretende demonstrar como uma obsessão interna pode dilacerar o consciente.

Menos papel, mais recintos

O orçamento deste ano levou um corte em relação ao do ano passado, de 29 para 27 milhões de patacas, mas que Ieong Chi Kin, Chefe do Departamento de Artes e Espectáculo do IC, garante ter sido por via, sobretudo, de uma poupança em materiais impressos passando este ano a organização a apostar mais na promoção online. Ung Vai Meng, presidente do Instituto, reforçou que o corte não terá impacto na qualidade do programa e aproveitou ainda para dizer que a proposta do IC é mesmo a de “levar a cultura a toda a cidade, transfigurando cada canto num ponto de ligação cultural”. O mesmo responsável adiantou ainda que, “sendo este o primeiro festival depois do processo de reestruturação existem agora mais instalações disponíveis e a preocupação do IC em ter espectáculos diversificados para toda a gente”. Ung Vai Meng referiu ainda a disponibilidade do governo em colaborar com entidades privadas para que “aconteçam mais coisas na cidade”. A audiência prevista para o evento estima o IC será na ordem das 13,000 pessoas.
O Festival tem lugar entre os dias 30 de Abril e 29 de Maio e os bilhetes estão disponíveis a partir das 10:00 horas do dia 13 de Março.

4 Mar 2016

Professora de dança apresenta novo estilo em Macau com aula aberta

Vem decidida a espalhar um bicho, “um bicho bom”, como diz. Chama-se Lindy Hop. Ou Swing. Ou Swing Jazz. Nasceu na “loucura” dos anos 20, quando as pessoas pensavam que as guerras tinham acabado para sempre. É uma febre na Ásia, especialmente na Coreia, e em Hong Kong já existe uma comunidade forte, mas em Macau não. Sara Castro, professora, pretende mudar isso. Já a partir deste sábado

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]escobriu a prática do Lindy Hop há cerca de dois anos, mas “desde miúda” que tem um fascínio pela época, pela música, pelos filmes da época, a dança, o glamour. Um dia, “depois de ter ido a umas festas de Swing, em Lisboa e no Porto, Sara Castro percebeu “que havia muita gente a dançar bem” e resolveu aprender, como confessa ao HM. Uma experiência que se veio a revelar intensa ao ponto de Sara já a considerar um modo de vida. E transformadora porque, como a própria admite, “o Lindy Hop faz as pessoas felizes”.
“Praticamente vejo a minha vida como antes e depois do Lindy Hop. É completamente diferente, sinto-me cada vez mais feliz.”

Ânimo e conexão para todos

“Um dos meus melhores amigos, um inglês de quase 80 anos, é também um dos melhores dançarinos que conheço”, assegura Sara Castro para explicar que esta dança é mesmo para todos, sendo que a professora tem até alunos das mais variadas idades. “É muito divertido”, reflecte, adiantando que o Swing pode ser “lento, rápido, mais ou menos sexy, mas é sempre divertido, as pessoas brincam muito”. saracastro 2
É desta necessária cumplicidade que sai o que Sara Castro considera como o elemento mais importante deste tipo de dança: “a conexão”, revela, “as pessoas dançam em pares e trocam entre eles e têm de estabelecer um elo de ligação forte”, o que, para Sara, muda as pessoas. “É uma escola de sociabilidade”, diz, adiantando que mesmo do ponto de vista técnico, “nesta dança trabalha-se muito essa ligação, porque o par tem de conectar muito.”

Enamorada por Macau

Sara Castro está há apenas cinco meses em Macau, mas nunca lhe foi um lugar completamente estranho por via das conversas do irmão (Joaquim Magalhães de Castro). Um dia, decidiu vir ver a terra com os próprios olhos, porque, como confessa, segue muito mais aquilo que sente do que aquilo que pensa.
“Estava muito feliz em Portugal, mas senti que precisava de uma experiência nova, fora de portas e foi a altura.”
O convite da Associação Macau no Coração, que cedeu o espaço para a actividade de sábado, veio a calhar e proporcionou-lhe a oportunidade de se dedicar à sua paixão. Mas Macau requer um processo de adaptação que, admite, “tem tido as dificuldades próprias de se vir para um lado novo com outra cultura e onde não se conhece ninguém”. Sara confessa que está enamorada e a adorar a experiência. Para o futuro, tem alguns planos ligados à produção de outros projectos artísticos, apesar de não gostar muito do longo, nem sequer do médio prazo. “Gosto de planear mês a mês”, diz-nos bem humorada. saracastro 5
Para já, o seu grande foco é o de “lançar o bicho do Lindy Hop em Macau”, explica. Já tem pessoas interessadas e espera vir a ter mais depois desta primeira aula. Espera também conseguir convencer algumas escolas a anexarem classes extracurriculares de Swing que, garante, seriam óptimas “para aumentar os níveis de sociabilidade e bem estar geral das crianças”, ou não tenha sido ela professora durante grande parte da sua vida do 1º ciclo e de Expressões Artísticas (das artes plásticas à dança) para adultos e crianças.

Apresentar o Lindy

Para o próximo sábado, Sara Castro apresenta uma dança que já é comum na região vizinha e que a professora quer, então, ver em Macau. O que se prepara é “um convite aberto à cidade”, diz Sara, para as pessoas experimentarem as delícias do Lindy Hop e aumentar o número de praticantes. swing poster
“Já tenho alguns alunos mas gostava que fossemos muitos mais”, diz a professora.
A sessão propriamente dita, começará com uma aula aberta para que as pessoas se apercebam dos movimentos básicos e continuará para um momento mais social onde, explica Sara, “as pessoas podem beber um copo, um snack, confraternizarem e aplicarem os movimentos aprendidos na aula”.
De resto, a professora sente-se confiante que, tal como noutros países asiáticos, o Lindy Hop também pegue de estaca por aqui, dando até o exemplo de Hong Kong onde “existe há cerca de dez anos e tem vindo a crescer muito”.
A demonstração vai acontecer no próximo sábado, dia 20, no espaço da Associação Macau no Coração, entre as 19h00 e as 21h30. A Associação fica na rua 4 do Bairro do Iao Hon, nº 50, Edif. Industrial Iao Seng, bloco 1 – 4º B. A entrada é livre.

19 Fev 2016

Venetian | Tap Dogs enchem casa e falam do percurso do primeiro grupo inteiramente americano

Chegaram a Macau para uma semana de espectáculos, naquela que foi a sua primeira vez num território que alguns apelidam de “Havai” e outros de “pequena Las Vegas”. Os Tap Dogs são um grupo de dançarinos, homens, que enchem o palco com movimentos de sapateado durante uns longos 80 minutos. Na sala do Venetian, onde actuaram até domingo, falaram sobre o percurso do grupo, pela primeira formado apenas por americanos

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]um espectáculo de dança, mas mais do que isso. É também uma espécie de teatro. E uma espécie de espectáculo de rock. O show dos Tap Dogs conseguiu encher a plateia do Teatro do Venetian, durante uma semana de espectáculos que durou até ao passado domingo. Chris Erk, o “capitão” que comanda o estaleiro de obras onde dançam os Tap Dogs, fala de uma experiência única na China, onde o grupo fez uma tour que terminou aqui no território.
“Na China parece que guardam as reacções para os grandes momentos. Focavam-se no espectáculo imediatamente depois a haver um grande clímax, que fazia as pessoas reagir. Também houve lugares em que andavam crianças a correr de um lado para o outro e havia barulho na sala, mas tudo foi uma experiência nova. Ajudou-nos muito a ver quais os momentos do show que as pessoas mais gostam”, começa por contar ao HM Chris Erk, o mais velho dos Tap Dogs – tem 34 anos e faz do espectáculo a sua casa há mais de uma década. “O espectáculo está feito para que vá sendo cada vez mais fascinante à medida que avança”, explica ainda. tap dogs
Isso mesmo ficou comprovado depois da primeira actuação: cá fora eram muitas as críticas positivas a um espectáculo que fica marcado por um cenário de estaleiro de obras e muita, muita variedade. Desde sapateado em estruturas de metal suspensas, a dança onde a água é o principal elemento e até sapateado de cabeça para baixo, o espectáculo engloba só homens, cada um com um talento especial.
“O do Anthony [Russo] é o de aparecer e fazer as senhoras ficarem malucas”, brinca Chris, referindo-se ao segundo no comando dos Tap Dogs.
Além de Chris e Anthony, fazem ainda parte do espectáculo Richie Miller, Justin Myles (o mal comportado), Aaron Burr (para quem a dança é sinónimo de funk), Jacob Stonebraker (o “miúdo”, mais novo do grupo) e Kurt Csolak e Philip Russo, os duplos que “sabem todas as posições dos colegas”, no caso de precisarem de entrar em acção por causa de acidentes.
“Pela primeira vez”, todos os que fazem parte do show são americanos – uma alteração ao grupo original que começou com o coreógrafo australiano Dein Perry e que sempre contou com dançarinos do país dos cangurus.
“O criador do show trabalhava em metalurgia, mas também tinha aulas de dança e sapateado. Eventualmente, percebeu que gostava mais de trabalhar em teatro do que no que fazia e, então, criou o seu próprio espectáculo”, explica ao HM Chris Erk. “Daí que, tanto o cenário, como o próprio show tem uma vibe de trabalho árduo, onde trabalhamos como cães, daí o nome.”
E, de facto, tudo é pensado ao pormenor. Até as botas utilizadas são de uma marca famosa na Austrália de calçado de trabalho, a Blundstone.

Dança como vida

Com membros com idades que vão dos 22 aos 34 anos, a equipa dos Tap Dogs é composta por dançarinos formados em diferentes estilos de dança. O ballet, contudo, é um denominador comum. Tal como a tenra idade com que começaram a dar os primeiros passos na dança.
“Desde os dois ou três anos que faço sapateado, mas o meu background é ballet e jazz. É o caso de muitos de nós”, começa por nos dizer Justin. “Isso reflecte na coreografia, ajuda-nos no equilíbrio. Se não tivéssemos esse background caíamos de cara no chão.” TAP DOGS
Richie nem sequer queria dançar. Era mais virado para o desporto, até que foi “arrastado para a dança”, como nos conta. “Via a minha irmã nas aulas de dança e, quando ela saía, eu dizia-lhe ‘fizeste mal aquele movimento’ e mostrava como se fazia”, diz-nos, a rir. “O que aprendemos nas aulas de dança é utilizado no show, mas sempre que subimos ao palco aprendemos mais e mais. As coisas mudam e progridem.”
Todos têm o seu caminho individual, algo que agrada a Chris, devido à diversidade que isso traz ao palco. Além da dança, artes marciais, natação, ski e outros desportos mais radicais são também parte do processo. Há também músicos, como é o caso de Justin Myles e Anthony Russo.

Macau de prazeres

A confiança mútua, bem como a amizade, são as bases para um espectáculo que começou em 1995 e já viu mais de uma centena de dançarinos diferentes fazer quase a mesma coreografia. Todos sabem montar e desmontar o cenário, algo que é, aliás, feito durante o próprio show e todos se dão “como irmãos”. Mas, apesar do sexo masculino estar maioritariamente presente há duas jovens mulheres, que dão música aos Tap Dogs. Literalmente.
Noriko Terada e Nerida Wu são as duas bateristas e multi-instrumentalistas que acompanham os “cães” e que, em Macau, se sentiram “muito bem” e que tudo foi muito divertido. E o mesmo dizem os outros.
“Macau é lindo, é como uma pequena Las Vegas”, atira um dos Tap Dogs. “É selvagem”, ri outro. “Faz-me lembrar o Havai, por causa de ser uma ilha no meio de tanta outra coisa.”
Durante mais de uma semana alojados no território, os Tap Dogs tiveram tempo para passear e ver espectáculos. “Acho que tem um equilíbrio muito bom entre os resorts mais modernos e o que é mais antigo, como a vila da Taipa”, conta-nos Chris. “É refrescante: se quisermos relaxar na piscina, podemos. Mas se quisermos sair e misturar-nos com a cultura local, também o podemos fazer.”
Para Jacob é tudo ainda mais novo: nunca tinha entrado num casino. E o mais novo do grupo quase que não o conseguia, já que acabou de fazer 22 anos. Anthony adorou a “noite das mulheres do Bellini”, mas assegura – enquanto ri – que “só por causa da banda”.
Daqui, os Tap Dogs partiram “satisfeitos” e o mesmo diz quem viu o espectáculo do Venetian. “Foram fantásticos e ainda por cima são lindos de morrer”, disse, no final do show, Ana Isabel ao HM. A portuguesa não foi a única a comentar “o talento incrível e a rapidez” dos dançarinos. “Foi espectacular. Tudo está incrivelmente bem montado”, disse Alan, outro dos espectadores ao HM. “Espero que regressem.”

11 Nov 2015

Dança | Projecto Unitygate espalha actividades por Macau até fim de Novembro

O projecto Unitygate volta a Macau, desta vez acontecendo também em Taiwan, Hong Kong e Guangdong. Pelas mãos das coreógrafas Sandra Battaglia e Stella Ho, o projecto desdobra-se numa série de actividades como espectáculos, workshops e palestras sobre arte contemporânea

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]projecto Unitygate, que junta as académicas de dança portuguesa Amálgama e a local Stella & Friends, chega novamente ao território. Macau foi, juntamente com Guangdong, Hong Kong e Taiwan, o local escolhido para a realização da segunda fase deste projecto, dedicado a reforçar a ponte entre o Oriente e o Ocidente e que promove o intercâmbio cultural entre artistas e amantes da arte contemporânea. Como? Através da realização de palestras, cursos e workshops, actividades e espectáculos.
O Unitygate é maioritariamente dedicado à dança, uma vez que a organização é especialista no tema, mas foca também outras áreas culturais. A primeira fase do projecto teve lugar em Portugal, até 10 deste mês, e a próxima etapa começa a 6 de Novembro e encerra a 29 do mesmo mês. Algumas das actividades são pagas e os interessados deverão inscrever-se em programas que tenham lugares limitado. É o caso de palestras e workshops.

A dança que nos une

A Unitygate pretende promover trabalho “baseado na convergência das culturas através de um programa anual de intercâmbio artístico e cultural entre o Oriente e o Ocidente”, tendo como lema a unidade na diversidade.
“Os objectivos gerais são promover a criatividade, a troca de conhecimentos e competências no desenvolvimento artístico e pessoal, numa aprendizagem continua com e através da Arte”, aponta a organização no seu website oficial.
À conversa com a fundadora da companhia de dança Stella & Artists, de nome homónimo, é possível perceber que há uma troca de ganhos com este projecto.
“Enquanto colectivo, somos muito pequenos e, sinceramente, não com um nível tão avançado com outras companhias internacionais. Com esta parceria, o nosso objectivo é melhorar as nossas competências enquanto profissionais e elevar o grau do nosso trabalho”, conta Stella Ho.
Para Sandra Battaglia, a coreógrafa e fundadora da companhia Amálgama e deste projecto, a ideia passa muito por relembrar o mundo da ligação centenária que junta Portugal e Macau nos livros de História dos mais novos. Em comunicado, a organização prevê que o projecto chegue até aos EUA, à Suécia e à Índia já em 2016.

Programa pela Ásia

A edição deste ano conta com uma vinda a Macau para um ciclo de conferências, seguido de uma performance do espectáculo “Revival” num dos festivais de danças mais conhecidos do mundo, o Guangdong Dance Festival, mesmo aqui ao lado, a 10 de Novembro. Dia 13 o projecto volta ao território, com uma sessão de artes aberta de música, poesia e dança, das 19h00 às 21h00 na Fundação Rui Cunha. Tal como o HM já havia noticiado, às 16h00 e às 17h00 de dia 14, a Unitygate apresenta os espectáculos OUTSI(T)E nas Ruínas de S. Paulo, englobado no festival Fringe. No dia seguinte, o mesmo projecto estará no Leal Senado.
Os debates sobre arte, da Unitygate, acontecem no dia 17, das 19h às 21h00 no Albergue SCM. As conferências discussões sobre Teatro Físico, um show de vídeo dança e a inauguração da mostra Sinergia.
O resto do calendário reserva-se a Hong Kong e a Taiwan. O território vizinho vai acolher espectáculos de improviso de dança das 10h00 às 11h30 e das 13h00 às 15h00 de dia 19, no i-Dance HK, teatro Y-Space, em Kwai Chung. O teatro Kwai Tsing acolhe, às 20h00 dos dias 20 e 21, dois espectáculos distintos de improviso. O primeiro é o Land 60 e o segundo chama-se New Dance Platform. No dia 22, o Unitygate apresenta Dancing All Around, em Kam Tin, e Dance Under The Sky, dos Land 61. Ambas as performances acontecem no espaço i-Dance HK.
Esta iniciativa conta com o apoio de uma série de empresas e instituições, como são a Fundação Oriente, a Casa de Portugal, a Fundação Rui Cunha, entre várias outras.

28 Out 2015

Nina Dipla em Macau para workshops sobre Pina Bausch

[dropcap style=’cirle’]A[/dropcap] grega Nina Dipla vai estar em Macau a partir de hoje para workshops de dança que vão até à próxima sexta-feira. Na Fundação Rui Cunha (FRC) terá lugar a aula de dança “Seguindo Pina Bausch: Como dançamos?”, às 19h00 de sexta-feira, numa sessão gratuita e aberta ao público, que conta com a participação de Candy Kuok e Stella Ho. A Stella & Artists e o Teatro Aether também integram a organização.
Nina Dipla nasceu em Salónica, na Grécia, tendo sido membro, na década de 80, da Equipa Nacional de Ginástica Rítmica da Grécia, onde aprendeu ballet clássico. Foi aos 17 anos que assinou o seu primeiro contrato de performance com o Teatro Nacional de Salónica para mais tarde seguir para a Alemanha para estudar. Aí, frequentou a Universidade de Artes Folkwang, onde conheceu Pina Bausch, aclamada bailarina de origem alemã. Após conclusão do curso, em 1993, a artista participou no seu primeiro espectáculo de Bausch, o “The Rite of Spring”.

Caminho solitário

“Os contactos frequentes com reputados bailarinos  alemães, sobretudo com Pina Bausch, de quem foi assistente em 1999, inspiraram Nina Dipla a criar o seu próprio sistema educativo e seguir o caminho de ‘solo-dança’”, explica a FRC. Dipla tem feito uma série de digressões pela Ásia e pela Europa. “Apresentou-se em vários programas de dança e assumiu a direcção de performances, tendo cooperado com muitos directores notáveis, entre os quais  o famoso Tadashi Suzuki”, continua a organização.
Pina Bausch foi uma dançarina alemã nascida nos anos 40 e que faleceu em 2009, deixando presente um legado em teoria e história da dança. Entre as sequências mais marcantes está uma das mais recentes, na qual o realizador Pedro Almodôvar se inspirou para uma das sequências do seu filme ‘Habla con ella’. Pina Bausch tem uma biografia extensa, com uma série de peças de dança originais, actualmente desenvolvidas e que ganham vida em palcos por todo o mundo.

9 Set 2015

MCD homenageia Gian Luca Loddo com dança e teatro

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Centro de Design de Macau apresenta Loddo, um espectáculo de dança, teatro e música desenvolvido por artistas estrangeiros em regime voluntário, maioritariamente integrados no House of Dancing Water, no City Of Dreams (COD). O evento tem lugar às 21h00 de 2 de Setembro e serve para homenagear Gian Luca Loddo, artista do espectáculo do COD que faleceu. “Um grupo de artistas talentosos junta-se para celebrar a sua vida da melhor forma que conhecem: dando um espectáculo intimista e de alta qualidade solidário”, descreve a organização. O evento tem entrada gratuita, mas também uma componente de recolha de donativos aos Samaritanos, entidade não governamental que fornece apoio emocional aos mais necessitados.

27 Ago 2015

À distância de um tango

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]eis e vinte da tarde e finalmente aqui, como combinado. Um primeiro encontro, mesmo que seja apenas o deste ano, é sempre tocado daquela emoção que é uma mistura de nervosismo e ansiedade. Mesmo que seja o encontro romântico com o mar. Olho para o lado, onde poisei na areia o saco de praia e os sapatos de salto alto. E não consigo deixar de achar cómico, delicioso e um pouco simbólico. Eles vieram por falta de lembrança, na corrida de sempre antes de sair de casa, a antever os vários percursos que passam também por uma reunião e por fim, o mar. Vieram por engano, mas fazem todo sentido num primeiro encontro. E porque estou confinada por mais um ano, provavelmente, à impossibilidade daquilo que um certo novo-riquismo sofregamente consumista, instalado algures no nosso imaginário, designa por férias. Sair, viajar para longe. Ver coisas diferentes e invejáveis. Fugir à escala da existência quotidiana. Comprar coisas exóticas como prova de mundanidade. Um paradigma que só muito pontualmente, na verdade se cruza com o meu. Mas penso que saí de uma reunião de trabalho e estou quase sem transição, aqui. Frente ao mar. Com os pés numa areia clara e quente, e com a alma a desanuviar. E que aconteceu no espaço de um tango. Ouvido no caminho, se bem que repetidas vezes. Um – especial – que me enleva desde há meses. De Pugliese, só instrumental sem os fantasmas e os enganos de uma letra a contaminar a leitura dos sons. Este em particular, acabou por se tornar a partir de um momento qualquer, quase figurativo. Quase narrativo. E de tal forma o sentido que evoca, a paisagem que descreve e representa se impôs com rigor, que ficou para sempre o mesmo. O mesmo sentido, a mesma imagem quase fílmica e o mesmo tango. Ouvido obcessivamente. Mas não pode apanhar-me distraída. Preciso concentrar-me para ver. E é íntimo, o mais íntimo que pode ser na memória de um encontro de amor. Êxtase e lamento. Ficou.

Mas hoje, este encontro com o mar. Tão fácil. E longe da multidão imaginada, silencioso o auditório de areia, no local que escolhi. Só vozes dispersas e longínquas, e o som do vento, não forte, mas suavemente audível. A maré a começar a subir e aquelas nuvens muito ténues, muito fininhas como um véu espraiado em largos farrapos, interrompidos por todo aquele azul, que hoje são dois. Um entre elas e outro em redor. E pensei, antes de começar a esvaziar este meu saquinho de tormentos de hoje, como ossinhos de colecção, como tudo isto assim, e uma coisa de nada, é um privilégio. Que esquecemos de incluir nos paradigmas modernos de qualidade de vida. Porque é o vizinho da porta ao lado. Pequenos prazeres, à beira dos quais uma classe média, seja lá o que isso é, sempre esteve, mas sempre com os olhos postos lá mais adiante, num horizonte que viu fugir para parte incerta há uns tempos. Para não falar dos verdadeiramente pobres. E que, amargurada, frustrada relativamente a muitos sonhos que encarava como instalados no rol das possibilidades, não consegue por vezes desmontar e afinar pelas reais e restringidas possibilidades. Não. Não tenho nada a criticar aos sonhos dos outros, mesmo se forem megalómanos, frívolos por vezes e centrados em algum exibicionismo. O direito a ter opções é inalienável. Mas olho para este meu fim de tarde, e sinto-o como se de um luxo se tratasse. Porque vivo numa cidade alegremente espraiada ao lado de um grande rio e com uma costa de mar à distância de um tango.

E nesse novo-riquismo de que falava há também o inflacionamento dos sentidos. Do sentido lúdico, como somatório de todos os outros. O deslumbramento depois da contenção carente em que se viveu. Um certo novo-riquismo em que o pós 25 de Abril, e mais tarde a entrada na EU, nos precipitou, esperançosos e confiadamente, em paradigmas complexos. E um dia, na frustração.

E não se trata, de todo, de fazer a crítica da ambição ou o elogio da mediocridade. Sem transição, lembro-me daquele género muito particular do cinema português, sobretudo nos anos 40 e 50. Esse cinema conformado, quietinho e bem comportado, a funcionar perfeitamente de acordo com a política do Estado Novo, e sobretudo da “política do espírito”, curiosa expressão sinónima da censura. O retrato de um “bom povo”, expressão de má memória e tão cheia de significado. Porque muito compostinho. Os pobres muito honrados, alegres e infantis, sempre preocupados com pequenas coisas fúteis, porque das outras não se podia falar. Em que tudo acaba sempre a cantar. Naquelas vozes trinadinhas. O povo a cantar como rouxinol a propósito de tudo e de nada, feliz com a sua simplicidade e a sua ração diária de alpista. Sem outros problemas que os sentimentais. Aquelas comédias de bairro, com o António Silva e o Ribeirinho e Vasco Santana. E que eu adoro, claro. São encantadoras e fazem-nos rir ainda e sempre. Mas sem esquecer o que significavam à época em termos de falta de liberdade de outros vôos no cinema – que os houve, mas se diluíram – e de expressão, mesmo em termos artísticos. E o cinema é perigoso porque imita demasiado bem a vida.

Mas este era o cinema acarinhado e patrocinado pelo estado em função de géneros bem definidos, como por exemplo, nas palavras de António Ferro, director do S.N.I.: “quando se tratar de comédias amáveis ou até de bons costumes populares, mas não explorem o que há ainda de atrasado, de grosseiro, na vida das nossas ruas ou no porte de certas camadas sociais”.

Volto lá atrás ao momento em que me lembrei desta ideia de povo colorido e parcial. Não é o contentarmo-nos com as coisas pequenas que eventualmente temos ao nosso alcance, à falta de melhor, mas sim o isolar essas coisas do facto de, de momento não haver mais opções, e dar-lhes o valor absoluto que elas têm. É não remar contra a maré. Melhor dizendo, não remar a favor da infelicidade. Desta falta de horizontes um pouco acabrunhante, que nos amarfanha, por vezes demais. Que desgasta a energia para continuar a ter um olhar lúcido não só sobre a necessidade de se ser crítico e inconformado, sobre a validade de protestar e ter a noção do que falta em termos de opções, mas também sobre a forma como isso nos centra por vezes num desalento, em que sem darmos conta estamos a alimentar a auto-piedade. Ou então fruir e limpar a alma daquele tipo de mágoa alienante. Enquanto a angústia e as ondas vão e vêm, folga a alma e os sentidos.

Concentro-me de novo só no mar. Quando vem a onda. A subida agora nítida da maré. Há aqui um desafio neste meu olhar já mais apaziguado. Chega até mim ou não, antes que parta. É um pequeno braço de ferro. Não quero ceder à ansiedade recuando de imediato e mais uma vez. Já recuei a toalha uma vez porque ao chegar se estava ainda naquele breve romanço entre marés. E medi mal a distância de conforto.

E concentro-me depois no Céu. O azul do céu, em dois azuis, e o do mar que é esverdeado mais para cá. E o azul da minha alma in deep blue. E lembro-me que afinal, do azul, do que era para dizer, tudo ficou para dizer mais tarde. Noutras páginas. Mas ainda assim esteve sempre ali. Todo o tempo subliminarmente na minha disposição, e a ocupar todo o espaço e toda a consciência como um íman.
E disponho-me a voltar para casa, para tudo e para perscrutar mais tarde o efeito desta limpeza desintoxicante que já conheço de outras marés.

[quote_box_left]E lembro-me de que digo às vezes que a vida não está para saltos altos. Mas está. Às vezes. À distância de um tango[/quote_box_left]

Mesmo porque não vim para construir castelos de areia. Ou castelos na areia, como dantes e como, sobretudo na infância, quando eram reais, mais sólidos que os outros e como tal pela sua natureza, os que mais inevitavelmente se desfaziam na primeira onda. Mas é bom saber que podemos fazê-los e não que este é um país em que todos os projectos são de areia e vão pela água abaixo. Limpo os dedinhos destes pés que tanto me aturam e arrastam por aí, quantas vezes com a alma a puxar para trás. Tentando não ser demasiado exigente com a areia, por esquecer o prazer que foi hoje o primeiro contacto com ela, fina e quente, substituído pela contrariedade de a levar para casa. E calço os tais sapatos de salto alto, que vieram por engano.

Três páginas de letra miudinha e alguns cigarros depois, são já mais de oito horas. Volto ao carro, ao meu tango secreto e à marginal apinhada agora. Acrescento estas linhas sobre o volante, num semáforo, que abre e fecha sem desenvolvimentos, e enrolo um cigarro. É o elogio do pequenino do meu dia. Deixo a Riviera para trás, rumo a casa. Passada a curva do Mónaco, tiro os óculos porque me lembro de que vou com o sol nas costas. E, de súbito, como sempre, tudo à minha direita ficou ainda mais azul. Penso distraidamente se não deveria ser à minha esquerda, mas vou vagamente para leste…E lembro-me de que digo às vezes que a vida não está para saltos altos. Mas está. Às vezes. À distância de um tango.

12 Jul 2015