Mais de 350 punidos por venda ilegal de vacinas na China

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de 350 funcionários chineses foram despromovidos ou afastados por negligência na sequência do desmantelamento de uma rede de venda ilegal de vacinas, no maior escândalo de saúde pública ocorrido na China nos últimos oito anos.
O caso envolve o armazenamento sem condições, transporte e venda ilegal de vacinas – muitas fora de prazo – avaliadas em 570 milhões de yuan, segundo a imprensa estatal.
Na sequência do desmantelamento daquela rede, que operava desde 2011 em 24 províncias e cidades, entre as quais Pequim, a polícia chinesa deteve já 202 pessoas e abriu 192 processos criminais.
Funcionários da Administração Estatal de Alimentação e Fármacos e da Comissão Nacional da Saúde e Planeamento Familiar chinês, assim como 17 autoridades locais “serão responsabilizados”, segundo uma decisão do Conselho de Estado chinês.
“A qualidade e segurança das vacinas estão relacionadas com a vida e saúde das pessoas, especialmente das crianças, sendo por isso uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada”, lê-se na decisão tomada após uma reunião presidida pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
O escândalo “expôs uma supervisão negligente das vacinas e a inércia de alguns funcionários”, acrescenta.

Farmacêuticas sob investigação

Entre as vacinas vendidas, destaca-se as contra a poliomielite, raiva, garrotilho, encefalite ou hepatite B.
Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, a polícia está a investigar 29 companhias farmacêuticas por alegado envolvimento.
O caso voltou a aumentar a preocupação entre a população chinesa para com a insegurança em vários sectores, como o alimentar.
Em 2008, a adulteração de leite infantil com melanina por 22 marcas locais resultou na morte de seis bebés e em 300 mil intoxicações.

15 Abr 2016

Pequim | Centro financeiro expande-se para o subsolo

O jornal Beijing Youth Daily apurou na reunião de oficiais do centro financeiro da capital chinesa, que teve lugar na quarta-feira passada, que um megaprojecto de cinco anos de duração está já em curso. O projecto em questão é um corredor subterrâneo de vários pisos, onde irão existir infra-estruturas dedicadas ao comércio, redes de transportes, acessos para pedestres e automóveis, parques de estacionamento, entre outros. A primeira fase da construção, nas imediações da região norte do centro financeiro, foi já concluída.
O corredor subterrâneo será o maior empreendimento no núcleo do centro financeiro da capital chinesa. Deverá ter uma extensão de 400 metros entre o norte e o sul, e 500 metros entre as extremidades este e oeste. No total serão construídos cinco pisos. A secção na região norte do centro financeiro, cujos trabalhos de construção foram já concluídos, perfaz apenas 5% da totalidade do projecto.
De acordo com o responsável do comité de gestão do centro financeiro, o primeiro piso será destinado ao trânsito de pedestres e à actividade comercial. Após darem entrada no local, as pessoas poderão percorrer a rua e visitar os vários edifícios ali presentes. Estará ainda prevista a inclusão de uma estação de metro nas imediações. O segundo piso deverá ter uma auto-estrada, um passeio pedonal, e um parque de estacionamento. O terceiro piso, para além de garagens, será dedicado a dispositivos de aquecimento e outro tipo de maquinarias eléctricas. O quarto e quinto pisos serão reservados para unidades de protecção civil e garagens.

Mais verdura

Para além deste empreendimento, o centro financeiro já começou a mover diligências no sentido de aumentar a área de arborização e da presença de plantas para uma área total de cinco hectares. A presença de elementos de decoração urbanística aquáticos deverá ser também mais proeminente na Praça Xiachen.

8 Abr 2016

Panama Papers | Jornal oficial do PCC diz que investigação tem propósitos políticos

Um jornal do Partido Comunista da China (PCC) classificou ontem a operação “Papéis do Panamá” como uma campanha de “desinformação”, em que Washington possui “particular influência”, e que tem como alvo líderes de países não ocidentais.
Dirigida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), aquela investigação abrange 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de actividade da firma de advogados panamiana Mossack Fonseca.
Especializada em esquemas de evasão fiscal e com uma carteira de clientes prestigiados, a Mossack Fonseca tem mais escritórios na China do que em qualquer outro país, segundo a sua página oficial na Internet, presente em oito cidades chinesas, incluindo Hong Kong.
De acordo com o ICIJ, pelo menos oito actuais ou antigos membros do Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, terão colocado os seus bens em empresas ‘offshore’.
O jornal britânico Guardian revela que uma pesquisa interna conduzida por aquela firma indica que a maior proporção de donos das suas empresas ‘offshore’ são provenientes da China continental, seguido por Hong Kong.
Sob a liderança do actual Presidente chinês, Xi Jinping, Pequim lançou uma persistente campanha anti-corrupção, enquanto reprimiu activistas e dissidentes que exigiam maior escrutínio sobre os titulares de cargos públicos.
Entre os familiares, ou pessoas próximos de altos responsáveis chineses envolvidos, figura Deng Jiagui o marido da irmã mais velha de Xi.
Em 2009 – quando Xi era membro do comité permanente do Politburo do PCC, mas não Presidente – Deng tornou-se o único accionista de duas empresas de fachada nas Ilhas Virgens britânicas, revelou o ICIJ.

Censura quase total

Sem nunca referir o envolvimento de líderes chineses, o Global Times jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, acusa os documentos analisados de terem “alvos políticos”.
Todavia, nos restantes órgãos de comunicação, ou nas redes sociais chinesas, as referências à operação são escassas, enquanto a transmissão de canais de televisão estrangeiros no país, como a estação britânica BBC, é interrompida de cada vez que o caso é mencionado.
Segundo um relatório difundido em 2011 pelo Banco central da China, funcionários chineses corruptos terão enviado um total de 120 mil milhões de dólares para contas no estrangeiro.
A Mossack Fonseca mantém escritórios nas cidades chineses de Xangai e Shenzhen, nas cidades portuárias de Qingdao e Dalian e nas cidades de Jinan, Hangzhou e Ningbo. Os documentos, inicialmente conseguidos pelo diário alemão Suddeutsche Zeitung no início do ano passado, foram em seguida divididos pelo ICIJ entre 370 jornalistas de mais de 70 países. A investigação desencadeou já crises políticas, em alguns países, e noutros, a promessa de processos judiciais.

6 Abr 2016

China | Preocupações com créditos imobiliários de alto risco

Para ocupar as cidades fantasma, as imobiliárias têm vindo a relaxar o crédito e a facilitar as aquisições o que, na opinião de especialistas, é uma prática arriscada que pode vir a dar maus resultados. Agora, o governo está a tentar por travões depois de ter deixado o mercado em roda livre

Segundo um artigo publicado esta segunda-feira no The Wall Street Journal (WSJ), as iniciativas da China para reduzir o excesso de imóveis desocupados estimulando o crédito imobiliário provocaram um problema ainda maior o que está a alarmar os reguladores: um surto de empréstimos de alto risco ao estilo das hipotecas “subprime”, que tiveram um papel central na crise financeira norte-americana. Geralmente, os compradores na China dão um terço do preço de um imóvel novo como entrada. Mas, segundo a reportagem do WSJ, um rápido crescimento no número de compradores assumindo empréstimos para dar entradas em imóveis está a levar as autoridades chinesas a restringir a prática. Serviços de crédito que captam dinheiro a investidores e depois o emprestam a juros mais altos concederam 924 milhões de yuan em financiamentos para entradas de compras de imóveis em Janeiro, mais que o triplo do volume de Julho do ano passado, segundo a Yingcan, uma consultoria de Xangai.
Para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios, o governo chinês começou a relaxar o crédito no final de 2014 e, relata o WSJ, um executivo sénior de um dos quatro maiores bancos estatais chineses diz que os empréstimos para pagar entradas de imóveis contribuíram directamente para uma alta recente nos preços dos imóveis em grandes cidades. “É uma prática arriscada que deve ser contida”, disse.

Comprem que é fácil

As autoridades chinesas estão a intervir e, em Março, o banco central e o Ministério da Habitação começaram a restringir empréstimos que encorajam compradores de imóveis com slogans de “sem entrada”.
Yang Jun, um auxiliar de escritório de 31 anos, assumiu um empréstimo juntamente com familiares e amigos para pagar a entrada de 30% de um apartamento de 1,5 milhão de yuan em Nanquim, mas ainda lhe faltaram 100 mil. Esse montante veio a ser coberto pela construtora que lhe ofereceu um empréstimo. “Isso ajudou-me a realizar meu sonho chinês” da casa própria, diz Yang. “Muitos jovens com eu ficariam fora do mercado sem a ajuda destes financiamentos.”, disse o jovem.
O governo chinês começou a relaxar o crédito no fim de 2014 para ajudar as cidades a ocupar seus apartamentos vazios — herança de um boom alimentado por dez anos de crescimento da população urbana e crédito barato. Mas, apesar da alta nos empréstimos para entradas e um acesso mais fácil às hipotecas para grupos como trabalhadores migrantes da zona rural, encontrar compradores tem sido uma tarefa difícil em alguns lugares. Em vez disso, o relaxamento do crédito e incentivos alimentaram uma corrida imobiliária nas grandes cidades.

6 Abr 2016

Presidente da Alemanha em visita de Estado à China

Sem papas na língua. Num discurso para estudantes universitários, Gauck criticou fortemente os regimes comunistas, advogou a liberdade académica e mostrou-se preocupado com as recentes as recentes restrições impostas à sociedade civil chinesa. Um tom que rompe com os habituais elogios às relações económicas dos Chefes de Estado que visitam a China

O Presidente da Alemanha, Joachim Gauck, condenou ontem o regime ilegítimo comunista na antiga Alemanha de leste e enalteceu a importância dos direitos humanos durante um discurso para estudantes universitários em Xangai, a “capital” económica da China.
Evocando episódios da história alemã e da sua vida na antiga Alemanha do leste, Gauck condenou aquela “ditadura”: “A maioria das pessoas não eram nem felizes, nem livres. Todo o sistema carecia legitimidade”, afirmou.
Desde 1949, o “papel dirigente” do Partido Comunista Chinês (PCC) é um “princípio cardial” da governança da China.
Durante a actual liderança do actual Presidente chinês, Xi Jinping, as autoridades reforçaram o controlo sob académicos, advogados e jornalistas, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
Referindo-se à antiga Alemanha do leste, Gauck disse que “não existiam eleições livres, igualitárias e com voto secreto”
“O resultado era uma falta de credibilidade, que acompanhava a desconfiança entre governadores e aqueles que eram governados”, acrescentou.
“Era um Estado que, como parte da união de países comunistas dependentes da União Soviética, silenciava o seu próprio povo, prendendo-o e humilhando aqueles que recusavam seguir a vontade dos seus líderes”, disse ainda.

Liberdades fundamentais

Os comentários de Gauck contrastam com as afirmações da maioria dos chefes de Estado que visitam a China e que preferem enaltecer publicamente a importância das relações comerciais com a segunda maior economia do mundo.
Gauck, que se reuniu no início desta semana com Xi Jinping, em Pequim, afirmou que a Alemanha estava “preocupada” com as recentes notícias que dão conta de maiores restrições impostas à sociedade civil chinesa.
“Uma sociedade civil activa e vibrante traduz-se sempre numa sociedade flexível e inovadora”, afirmou.
O Presidente da Alemanha disse ainda aos estudantes que a liberdade académica beneficia toda a sociedade.
“A universidade tem de ser um local de investigação e discussão livre e franca”, realçou, perante cerca de 100 estudantes e professores. “Esta liberdade é um bem precioso”, disse.
Gauck rejeitou ainda que a noção de direitos humanos que consta da Declaração Universal das Nações Unidas seja um “produto do ocidente”, como é frequentemente defendido pelos líderes chineses.

Direitos humanos? Uma banalidade

No mês passado, a China qualificou de “irresponsáveis” os comentários do responsável pelos direitos humanos da ONU Zeid Ra’ad Al Hussein, que apelou à libertação imediata de advogados defensores dos direitos humanos e activistas detidos por Pequim.
Zeid disse estar preocupado com a detenção de 250 advogados e activistas pelas autoridades chinesas desde Junho, na sequência de uma campanha repressiva sobre os dissidentes em todo o país.
Na segunda-feira, a edição em inglês do jornal oficial do PCC Global Times afirmou em editorial que a questão dos direitos humanos não seria uma prioridade da visita do Presidente alemão, mas antes uma “questão banal”.
“O ocidente deveria avaliar os direitos humanos na China com base em factos. O progresso que a China fez nos direitos à vida e desenvolvimento dos seus 1,3 mil milhões de habitantes merecem um aplauso”, defendeu o jornal.

24 Mar 2016

China | Emissões de CO2 com a maior queda a nível global

Publica o jornal oficial “Diário do Povo”, que as emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia na China diminuíram 1,5% em 2015, representando a maior queda em termos de volume na comparação com outros países, reportando declarações na quarta-feira à Xinhua do director-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol.
“A diminuição das emissões da China devem-se principalmente a uma redução no uso de carvão”, disse Birol em entrevista.
A reestruturação económica da China teve menos indústrias de uso intensivo de energia e os esforços do governo para descarbonizar a geração de energia reduziram o uso de carvão.
Em 2015, o carvão gerou menos de 70% da electricidade na China, 10 pontos percentuais a menos que em 2011. No mesmo período, as fontes com baixas emissões de carbono aumentaram de 19% a 28%. A energia eólica e a hidroeléctrica registaram o maior crescimento, segundo a AIE.

Emissões mundiais sem mudança

As emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia — a maior fonte de emissões de gás produtor do efeito estufa geradas pelo homem — permaneceram estáveis pelo segundo ano consecutivo, de acordo com análises de dados preliminares para 2015 divulgados pela AIE.
“As novas cifras confirmam as surpreendentes, mas bem-vindas, notícias do ano passado. Temos visto dois anos consecutivos em que as emissões de gás produtor do efeito estufa não estiveram a par com o crescimento económico”, disse Birol. “Há apenas alguns meses depois do histórico acordo COP21 em Paris, este já é outro impulso para a luta global contra a mudança climática”.
As emissões globais de dióxido de carbono chegaram a 32,1 mil milhões de toneladas em 2015,permanecendo estável desde 2013, disse AIE.
Em mais de 40 anos nos quais a AIE tem proporcionado informação sobre as emissões de CO2, apenas houve quatro períodos em que as emissões se mantiveram ou baixaram com relação ao ano anterior. Três desses — no início da década de 1980, em 1992 e em 2009 — estiveram associados com o enfraquecimento económica global.

Mais gás natural, mais nuclear

Entretanto, o recente travão nas emissões ocorre face à expansão da economia. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) global cresceu 3,4% em 2014 e 3,1% em 2015.
“É uma notícia muito boa que as emissões globais estejam estáveis. Vemos uma importante contribuição da China. Isso deve-se principalmente aos esforços do governo para impulsionar energias renováveis e outras tecnologias de energia limpa”, indicou Birol.
“O governo chinês tem desenhado e aplicado com sucesso as políticas”, afirmou.
“A estrutura energética da China será no futuro muito mais diversificada do que é agora. A principal energia na China tem sido o carvão e o petróleo nos últimos anos. Agora veremos menos carvão e mais energias renováveis, mais gás natural e mais energia nuclear”, disse.
“Espero ver que os objectivos da China indicados no novo Plano Quinquenal sejam cumpridos com sucesso. Também espero ver as emissões da China caírem sequencialmente”, declarou Birol.

18 Mar 2016

Pequim “não vacilará” na protecção da soberania territorial

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assegurou ontem que a China “não vacilará na determinação em defender a sua soberania e integridade territorial”, numa altura de crescente tensão em torno de disputas no Mar do Sul da China.
Pequim insiste que tem direitos históricos sobre a quase totalidade daquela área do Pacífico, onde disputa territórios reclamados também pelas Filipinas, Malásia, Taiwan, Vietname e Brunei.
E assegura que a instalação de unidades e equipamento militares nas ilhas que controla na região é uma resposta “à intrusão” norte-americana.
Em conferência de imprensa, Li Keqiang instou os países vizinhos e os EUA a esforçarem-se para “manter a estabilidade regional e a harmonia” na região e considerou “natural” que haja diferenças.
“Enquanto nos tratarmos com sinceridade e procurarmos soluções para as diferenças através de canais diplomáticos, a estabilidade regional será mantida”, afirmou.
No início do mês, a porta-voz da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo chinês, Fu Ying, acusou os EUA de militarizar o Mar do Sul da China.
“A maioria das embarcações e aviões militares que atravessam aquele território são dos Estados Unidos da América”, afirmou a antiga vice-ministra dos Negócios Estrangeiros.
Pequim está também preocupada com a possibilidade de Washington instalar o sistema antimísseis THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) na vizinha Coreia do Sul.
“O desenvolvimento é a nossa máxima prioridade, a China necessita de estabilidade nos países vizinhos e um ambiente pacífico para o seu desenvolvimento interno”, defendeu Li, perante centenas de jornalistas, no encerramento da sessão anual da ANP.

Algumas melhoras

Li vê ainda “sinais de melhoria” nas relações entre a China e o Japão, com quem mantém renovadas tensões em torno da soberania das ilhas Diaoyu, mas ressalvou que estas “ainda são frágeis e não estão plenamente estabilizadas”.
No entanto, o primeiro-ministro apostou no fortalecer das relações com Tóquio e a Coreia do Sul.
Em Novembro passado, os três países realizaram, em Seul, a primeira cimeira conjunta desde 2012, que se deverá repetir este ano na capital do Japão.
“Acredito que os três países podem ter uma forte cooperação no sector de manufactura avançada para desenvolver produtos de alta qualidade”, apontou.
O chefe do Governo defendeu ainda as relações com a Rússia, afirmando que os países “não cederão às pressões de terceiras partes, ou às alterações de circunstância na esfera internacional”. “A China mantém uma postura de não-alinhamento”, frisou.

17 Mar 2016

China | Plano quinquenal para crescimento anual de 6,5%

A Assembleia Nacional Popular (ANP) da China aprovou ontem o XIII plano quinquenal do país (2016-2020), que prevê um crescimento anual da economia de pelo menos 6,5%.
O plano quinquenal da China até 2020 é o primeiro desde a chegada do Presidente Xi Jinping ao poder e prevê que em 2020 o Produto Interno Bruto chinês (PIB) seja o dobro do de 2010.
Após quase duas semanas, o plenário da ANP, o órgão legislativo chinês, terminou ontem a sua reunião anual, dando luz verde ao documento.
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, afirmou, numa conferência de imprensa no final da votação, que vê “mais esperanças do que dificuldades” na economia da China e descartou a possibilidade de o país vir a sofrer uma “aterragem forçada”.
Li disse estar confiante em que a segunda economia mundial cumpra os objectivos estabelecidos para este ano e defendeu que a China está numa “boa posição” para evitar riscos financeiros.
Em 2015, a economia chinesa cresceu 6,9%, o ritmo mais baixo dos últimos 25 anos e aquém dos 7% que tinha estimado.
No mesmo período, o sector dos serviços representou pela primeira vez mais de metade do PIB, à frente da indústria e agricultura.
As perspectivas para este ano indicam um crescimento entre 6,5 e 7% do PIB, que a inflação se mantenha em torno dos 3% e a criação de 10 milhões de postos de trabalho urbanos (depois de em 2015 terem sido gerados 13,12 milhões).

Outras metas

O documento prevê que a população chinesa chegue aos 1.420 milhões de pessoas em 2020 (actualmente ronda os 1.280 milhões), que 60% vivam em áreas urbanas (hoje são 50%), que não haja ninguém abaixo do limiar da pobreza e que a esperança média de vida aumente em um ano.
Segundo o documento aprovado pela ANP, Pequim vai criar um fundo de 100 mil milhões de yuan para subsídios e compensações para trabalhadores que percam o emprego no âmbito do processo de reestruturação industrial.
O XIII plano quinquenal pretende modernizar a indústria da China e responder à excessiva capacidade de produção industrial em certos sectores.
Por outro lado, a China vai aumentar o tecto máximo do seu défice público para 3% do PIB, para dinamizar o crescimento económico.
O documento prevê que as linhas ferroviárias de alta velocidade tenham 30 mil quilómetros em 2020, face aos 19 mil actuais, e que unam 80% das grandes cidades do país.
Segundo o XII Plano Quinquenal, a China vai investir 800 mil milhões de yuan na sua rede ferroviária e 1,65 mil milhões de yaun nas estradas.
A China tem a maior rede de comboios de alta velocidade do mundo, seis vezes superior à de Espanha, a segunda mais extensa.

17 Mar 2016

China |Empresas estrangeiras proibidas de publicar na Internet

Uma normativa que entrou ontem em vigor na China proíbe as empresas estrangeiras de publicarem conteúdo na Internet chinesa, em mais um esforço de Pequim para controlar aquele que ainda é considerado o espaço mais livre do país.
O novo documento, designado “regulamento para a gestão dos serviços publicitários online”, obriga ainda as empresas chinesas com capitais estrangeiros a obterem a aprovação das autoridades antes de difundir conteúdos no espaço cibernético chinês.
A medida, abrangerá sobretudo as “indústrias criativas” de jogos, animação, banda desenhada e gravações de áudio ou vídeo, mas também livros, jornais e revistas, segundo o jornal oficial Global Times.
A regulamentação anterior, que data de 2002, permitia às empresas estrangeiras difundir conteúdo “criativo” directamente no espaço cibernético.
As alterações tinham sido já anunciadas, no ano passado, pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), o organismo ministerial chinês encarregue do planeamento económico, e o próprio Ministério do Comércio.

Valores socialistas

Os conteúdos online deverão, a partir de agora, “promover valores socialistas essenciais” e “transmitir princípios morais que sirvam para melhorar o país e promover o desenvolvimento económico”, detalha o Global Times.
“A proibição do investimento estrangeiro em serviços de publicação ‘online’ destina-se a proteger a segurança ideológica e cultural da nação”, disse àquele jornal Wang Sixin, professor na Universidade de Comunicação da China.
“Ajudará também a prevenir que a nossa cultura seja influenciada por culturas estrangeiras”, acrescentou.
Na quarta-feira, as contas oficiais do jornal do South China Morning Post nas principais redes sociais chinesas – Sina Weibo, Tencent Weibo e Wechat – foram encerradas.

Solo nacional

A população online da China atingiu os 688 milhões de pessoas em 2015, mas Pequim esforça-se para sufocar a liberdade criada pela internet através do “Grande Firewall da China”.
Aquele mecanismo censura sítios como o Facebook, Youtube e Google. Nos últimos anos, foi aperfeiçoado, bloqueando selectivamente páginas com termos “sensíveis” em vez de uma censura integral do site.
Desde que Xi subiu ao poder, em 2012, uma lei de segurança nacional que visa “a protecção da soberania do espaço cibernético” foi aprovada, enquanto as autoridades têm vindo a reforçar a monitorização da rede.
Em Fevereiro passado, ao discursar na Conferência Mundial sobre a Internet em Wuzhen (leste da China), o Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu que cada país deve controlar a sua própria Internet, uma vez que “liberdade e ordem” devem andar de mãos dadas na rede.

11 Mar 2016

Chen Xiwo, escritor: “Uma revolução política (na China) não pode ser evitada”

Polémico e irreverente, Chen Xiwo já viu obras suas proibidas na China, mas ainda assim não desiste de escrever sobre o sexo e o desejo. Convidado do Rota das Letras, Chen Xiwo acredita que o seu país vai acabar por sofrer uma inevitável revolução política

[dropcap]E[/dropcap]sta quarta-feira ao final da tarde Chen Xiwo sentou-se na sala do edifício do antigo tribunal e contou perante uma plateia cheia o seu embate com as autoridades chinesas que confiscaram e baniram dois dos seus livros. A conversa, no âmbito do Festival Literário Rota das Letras, foi sobre “The Book of Sins”, um dos livros banidos no continente, mas também incidiu sobre “I love my mum”, outra obra polémica e banida, pelo seu forte teor sexual.

À margem da sessão, o autor confessou ao HM que as autoridades do seu país não poderão evitar o descontentamento crescente da população. “Nos anos 80 o Governo tentou mudar a situação que vivíamos na altura, mas apenas fizeram uma revolução económica e não política. Mas uma revolução política não pode ser evitada. Acredito que num futuro próximo a China vai ter uma revolução contra o sistema político. As palavras dos cidadãos chineses não importam, apenas as palavras dos oficiais do Governo.”

Questionado sobre o lado imoral que a cidade do Jogo pode ter, sobretudo por ser algo muito amado pelos chineses, Chen Xiwo considerou que a moralidade, sendo muito abordada na China, não se verifica na prática.

“A moralidade na China é sempre algo contestado. É algo que sempre vimos retratado nos livros e na história chinesa, mas que nunca vemos mostrado na realidade. As pessoas não jogam apenas em Macau mas também jogam em diversas partes da China. Do que sei é que a maior parte das pessoas da China que vêm a Macau jogar são oficiais do Governo”, referiu.

Estranha literatura

Chen Xiwo vive actualmente na China onde é professor universitário, com um doutoramento em Literatura Comparada e Mundial. Os livros que mandou imprimir em Taiwan acabaram por ser confiscados pelas autoridades. “Apenas me disseram: não brinque connosco, não seja tão agressivo. Não argumente connosco porque esta é a nossa maneira de fazer as coisas. Fiquei furioso e perguntei em que lei se baseavam para banir o meu livro. Disseram-me que era pornográfico e obsceno”, contou Chen Xiwo na sessão do Festival.

Referindo que o teor sexual já faz parte do quotidiano dos chineses, o autor confessou ainda que “banir o sexo tem tudo a ver com política”. “Ser erótico e sexual é algo legítimo”, apontou. Ainda assim, Chen Xiwo garantiu ao HM que nunca vai deixar de escrever sobre esta temática.

“Uma mudança de tema é para mim impossível, porque a temática do sexo vai surgir no próximo livro. Mas ainda tenho de analisar que liberdade é que o meu editor me vai dar para publicar o meu próximo livro, por isso ainda estou a ponderar essa parte. Acho que a literatura é sempre sobre como podemos provocar o senso comum. O que é normal e aceite para mim não funciona, tenho sempre de fazer algo diferente”, disse Chen Xiwo na sessão do Festival, assumindo que nem todos compreendem as palavras que escreve.

“O meu trabalho é raro na literatura chinesa e não acho que tenha muitos fãs ou leitores que gostem dos meus livros, porque tenho uma escrita agressiva.”

Ainda assim, Chen Xiwo referiu que nunca pensou sair da China, apesar de já ter estudado no Japão. “Alguns amigos sugeriram que devia sair do país, mas penso que um escritor tem que estar na sua terra natal. Um escritor é como um político, mesmo que esteja na prisão tem de ficar no seu próprio país.”

No meio de um debate sobre censura na literatura, houve ainda umas palavras sobre política. “No Ocidente há democracia, por exemplo nos Estados Unidos escolhem o seu próprio presidente, mas na China somos impotentes”, rematou o autor.

11 Mar 2016

Empresa chinesa desiste de aquisição nos EUA por causa de escrutínio

Uma empresa chinesa do ramo tecnológico desistiu de um investimento multimilionário num fabricante de discos rígidos dos Estados Unidos da América devido ao escrutínio imposto por legisladores norte-americanos, noticiou ontem a imprensa estatal da China.
A Unisplendour Corp (UNIS) cancelou uma oferta de 3,8 mil milhões de dólares por aproximadamente 15% da Western Digital, uma empresa sediada no Estado da Califórnia.
A decisão surge após o anúncio de que a Comissão para os Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS, no acrónimo em inglês) iria rever o negócio.
Aquele grupo, que inclui responsáveis do Departamento da Defesa, Estado e Segurança Nacional, é responsável por analisar se os investimentos propostos por empresas estrangeiras colocam em causa a segurança dos EUA.
A notícia terá levado a empresa chinesa, subsidiária da estatal Tsinghua Unisplendour Group, a accionar uma cláusula que lhe permite desistir do negócio, segundo um comunicado emitido pela Western Digital.
A CFIUS tem aumentado o escrutínio sobre as empresas chinesas, acompanhando o crescente fluxo de investimento oriundo do “gigante asiático” nos últimos anos.
Em 2014, a China foi o maior país comprador estrangeiro de empresas norte-americanas pelo terceiro ano consecutivo, segundo dados oficiais.
Com este investimento, a Unisplendour passaria a ter um lugar na administração da Western Digital e tornar-se-ia o maior accionista da empresa, cuja área de negócio principal são discos rígidos e dispositivos de armazenamento.

Negócios aéreos

Na semana passada, o grupo chinês HNA – empresa matriz da companhia aérea Hainan Airlines e futuros accionistas da TAP – concordou em pagar 6.000 milhões de dólares pela distribuidora de tecnologia norte-americana Ingram Micro.
A Ingram Micro é responsável pela distribuição de produtos da Apple, Microsoft, IBM e Cisco, entre outras firmas do setor, e tem 200 mil clientes espalhados por cerca de 160 países, segundo o ‘site’ oficial.
Segundo um comunicado emitido em meados deste mês pelo HNA, o grupo compromete-se a realizar um empréstimo de 120 milhões de euros à companhia aérea brasileira Azul, destinado à compra de obrigações convertíveis da TAP a 10 anos.
A empresa assegurará assim 6,4% do direito de voto na TAP e 55% dos benefícios económicos, lê-se na mesma nota.
Além desse empréstimo, com maturidade de 181 dias e taxa de juros anual fixada em 14,25%, o HNA prevê mais um financiamento de 300 milhões de dólares à Azul, visando tornar-se accionista da empresa.
Desde que a China Three Gorges comprou 21,3% da EDP, em 2012, o montante do investimento chinês em Portugal já ultrapassou os 10.000 milhões de euros.

26 Fev 2016

Os primeiros católicos na China

No artigo da semana passada, “Os primeiros cristãos na China”, deixamos a História quando os cristãos nestorianos, referenciados na estela do século VIII enterrada pouco depois do Decreto de proibição das religiões de 845, se viram forçados a fugir para as estepes do Norte. Aí se juntaram a algumas tribos nómadas mongóis e por volta do ano mil converteram os Merquites e Keraítas ao cristianismo nestoriano.
Temujin pretendia no Kuriltai (Grande Conselho mongol) de 1196 ser designado Khan, mas só em 1206, após as lutas pela unificação das tribos das estepes do Norte, ficou como senhor da Mongólia, Genghis Khan, dando assim início ao Império Mongol. Em 1211 começou a invasão da China e conseguindo dois anos mais tarde atravessar a muralha, ocupou Beijing em 1215. Até ao final da sua vida conquistou o Norte da China e as cidades do Leste do Irão, Afeganistão, Uzbequistão e Sibéria, contando com um exército de apenas 129 mil homens. Antes de morrer, em 1227, pelos seus quatro filhos dividiu em Khanatos o imenso território já conquistado em todas as direcções a partir da Mongólia. Nos cinquenta anos seguintes, os mongóis conquistaram toda a China e o Norte do Vietname, o Afeganistão e parte do Paquistão, o Cáucaso, a Rússia, a Ucrânia, o Irão, o Iraque, a Síria e a Hungria.
Estava Batu Khan e as suas tropas em 1241 às portas de Viena, quando morreu o segundo Khan do Império Mongol, Ogodai (Gedei, com nome de Templo Tai Zong, 1229-1241), que promovera ataques contra a China do Norte, conquistando-a até Kaifeng, onde chegou em 1234 e para Leste, submeteu a Coreia. O seu sobrinho Batu Khan (filho de Juli ou Jochi, primogénito de Genghis Khan mas que falecera antes dele) conquistara os Búlgaros do Volga em 1236/7 e Kiev em 1240, seguindo-se a Polónia, a Hungria e Roménia, e quando estava às portas de Viena, Batu Khan sabendo da morte de Ogodai regressou à Mongólia, onde se ia fazer a escolha de um novo Khan. Para aí também se dirigiram emissários de todo o mundo, representantes do Império Romano do Oriente, da Igreja de Roma e dos Ortodoxos Russos, tendo encontrado na capital do Império Mongol, Karokurum, os nestorianos com uma tenda como igreja, ao lado da tenda imperial. Tal, muito se devia a Sorkaktani (Sorghaghtani Beki, 1198-1252), princesa da tribo nestoriana dos Keraítas (uma das tribos pertencentes à Confederação Mongol) e que era desde 1203 casada com Tului Khan (1192-1232), o mais novo dos quatro filhos de Genghis Khan e da sua principal esposa Borte. A nestoriana Sorkaktani foi mãe de Mongke, Kublai, Hugalu (Hulagu) e Arik Boke, que haveriam de ser, os três primeiros, grandes chefes mongóis. Segundo Miguel Urbano Rodrigues “De acordo com a lei mongol, não era ao primogénito que cabia o quinhão principal da herança paternal, mas ao mais jovem”… “Essa tradição, mantida pelos descendentes de Gengis Khan nas primeiras gerações, pesou muito no rumo do Império.”
O Papa Inocêncio IV em 5 de Março de 1245 designou como embaixador ao Khan dos mongóis o franciscano Frei Lourenço de Portugal, que tinha sido ministro provincial da Província de Santiago de Compostela. Mas este não pode ir pois estava como Penitenciário Apostólico em S. João de Latrão, onde passou dois anos como Legado Apostólico no Oriente, durante o conflito que se instalou entre Roma e Bizâncio e só regressou à Santa Sé em 1248. Por isso, o mesmo Papa pediu ajuda aos franciscanos e em 1245 enviou o italiano Giovanni del Carpine, acompanhado pelo boémio Estêvão e o polaco Bento à corte mongol. Aí chegaram a 22 de Julho de 1246, não havendo ainda Khan.

Nestorianos na corte mongol

Com a Pax Mongolorum entre os meados dos séculos XII e XIV, a unidade territorial que os mongóis conseguiram manter desde o Pacífico à fronteira Leste da Europa abriu de novo os caminhos terrestres da seda à proliferação de ideias e conhecimentos provenientes da China. Muitos viajantes, mercadores e religiosos (peregrinos, missionários ou refugiados) chegavam à China.
Como pastores nómadas guerreiros, os mongóis eram tolerantes para quem aceitava a sua soberania, mas impiedosos e bárbaros para quem se lhes opunha. Como nada sabiam sobre administração, comércio, agricultura e cultura, necessitaram de quem lhes tratasse dessas questões e assim, “os nestorianos gozaram da confiança dos soberanos e chefes mongóis, fossem ou não cristãos. O principal lugar-tenente de Hugalu, na Síria, por exemplo, o general Kitbuka, era um cristão nestoriano, o que terá reforçado a crença, tanto do Ocidente como do Oriente, que a campanha mongol era uma espécie de guerra santa contra o Islão, em simetria com as expedições francas”, como escreve António Carmo. Os mongóis eram sobretudo Animistas e por isso, a sua relação às religiões era tolerante, o que permitiu às igrejas nestoriana e católica expandirem-se pela Ásia até meados do século XIV.
A 24 de Agosto de 1246 foi eleito o Khan Guyuk, cinco anos após a morte do anterior khan, seu pai Ogodai, terceiro filho de Genghis Khan com Borte. “Simon de Saint Quentin relata assim o início do Kuriltai que elegeu Guyuk Khan como sucessor de Ogodai: ” Miguel Urbano Rodrigues. E com ele seguindo, “Pian del Carpine conta o que viu: .” O franciscano Giovanni Da Pian del Carpine (c.1182/85-1252), autor do mais antigo relato europeu sobre a Ásia e um dos primeiros discípulos de Francisco de Assis, trazia uma carta para o “Rei e povo tártaro”, pois pensava-se que a campanha mongol era contra o Islão e por isso, vinha negociar com o novo Khan. Mas o emissário não conseguiu nada. Para além de não enviar presentes, também não prestou homenagem, não se tendo prostrado perante o khan, já que só se prostrava perante Deus. Assim falhou a conversão do Khan e um ano depois, os franciscanos reentravam na Europa.
Sete anos mais tarde, em 1252, foi o Rei de França Luís IX quem enviou o frade franciscano flamengo Guilherme de Ruysbroeck (Rubrouk), com mais quatro companheiros à corte dos Khan, devido a rumores que aí havia cristãos. Chegaram no final do ano seguinte e junto à corte ficaram durante dois anos, tendo apenas baptizado cinco pessoas e convertido um padre nestoriano. Em Karokorum encontraram uma grande tolerância, havendo nestorianos, budistas e islamitas e durante a sua permanência realizou-se um debate sobre as diferentes religiões, presidido pelo próprio Khan Mongke. Os resultados dessa missão foram iguais aos da primeira.
Para fazer comércio entraram ao reino dos mongóis os irmãos Polo, Maffeo e Nicoolò, o pai de Marco Polo e encontraram-se com os nestorianos, assim como foram recebidos pelo Imperador Shi Zu (Kubilai), o fundador da dinastia Yuan, na sua nova capital, Dadu (até então Khanbaliq, cidade dos khan), actualmente Beijing. Kubilai Khan em 1269 nomeou-os embaixadores e partiram para em nome do Imperador da China pedirem ao Papa o envio de cem sábios. Este mandou apenas dois dominicanos, que nunca lá chegaram.

Arcebispo de Pequim

Em 1286, o Khan da Pérsia, Argun enviou a Roma o nestoriano Bispo Rabban Sauma (Bar Sauma, 1225-1294, que mais tarde recebeu o título de Vigário-Geral da China, conferido pelo Patriarca nestoriano de Bagdad, segundo António Carmo) a dizer que o Imperador mongol Kublai Khan, estava disposto a receber os católicos. O primeiro Papa franciscano, Nicolau IV, como Giovanni Moncorvino se encontrava em Roma escolheu-o, “enviando-o como Legado e Núncio da Santa Sé e cheio de presentes e revestido de toda a autoridade para tratar com o grande Khan. Partiu para a sua viagem em 1291, munido de cartas para o Khan Argun, para o grande Imperador Kublai Khan, para Kaidu, príncipe dos Tártaros, para o Rei da Arménia e para o Patriarca dos Jacobitas. Os seus companheiros eram o dominicano Nicolau de Pistoia e o comerciante Pedro de Lucalongo”, segundo refere o P. Manuel Teixeira.
Giovanni da Montecorvino (1246/7-1328/30), o primeiro missionário católico na China, nasceu em Itália e tornou-se franciscano em 1272. Encarregue pela Santa Sé para missionar no Oriente, começou na Pérsia e daí, “por mar para a Índia onde pregou por treze meses e baptizou umas cem pessoas. Aqui lhe morreu também o seu companheiro Nicolau. Viajando de Meliapor por mar, alcançou a China em 1294, vindo a saber então que Kublai Khan tinha morrido e Timurleng (1294-1307) sucedera no trono. Este, (o Imperador Cheng Zong) não abraçou o Cristianismo, contudo não pôs obstáculos ao zelo missionário que ali se estabeleceu e pôde pregar livremente o Evangelho.
A despeito da oposição dos nestorianos, Montecorvino depressa ganhou a confiança do Imperador e em 1299, oito anos depois de ter partido da Europa e seis após ter entrado na China, pôde construir uma igreja em Dadu (Grande Capital, hoje Beijing), tendo já a esta data baptizado seis mil cristãos. Em 1305 levantou uma segunda igreja mesmo em frente do palácio do Imperador, juntamente com oficinas e habitações para duzentas pessoas. Aqui reuniu cerca de cento e cinquenta rapazes, de sete a onze anos de idade, ensinou-lhes latim e o grego e estabeleceu as horas canónicas cantadas, como nos seus conventos da Europa, com grande gosto do Imperador, que se deleitava a ouvir as vozes melodiosas das crianças. Eram também estas crianças que faziam o ofício de acólitos, ajudando à missa”, como refere o Padre Manuel Teixeira.
Giovanni da Montecorvino “familiarizou-se com a língua nativa, podendo assim pregar e traduzir para chinês o Novo Testamento e os Salmos. As maiores dificuldades e os maiores obstáculos que encontrou na árdua empresa da evangelização da China vieram-lhe da parte dos nestorianos que então abundavam na China. Devido às calúnias que lhe levantaram os sectários do Nestorianismo, ele teve de passar por muitas humilhações e ignomínias e de comparecer como criminoso ante os tribunais. Mas, por último, pela confissão dum mesmo nestoriano, o Imperador reconheceu a falsidade das acusações e desterrou os acusadores. Deu-lhe até assento e poisada na Corte Imperial como Legado do Sumo Pontífice, com maiores honras que os restantes prelados das demais religiões”, P. Manuel Teixeira. Nos onze primeiros anos em que trabalhou sozinho, converteu seis mil pessoas e só em 1304 apareceu, para o ajudar, o alemão Arnoldo de Colónia.
O Papa Clemento V, altamente satisfeito com os sucessos do missionário, em 1307 enviou-lhe sete bispos franciscanos, mas apenas três chegaram, tendo estes consagrado em 1308 Giovani Montecorvino como Arcebispo de Pequim e Patriarca de todo o Oriente, pela bula Summus Archiepiscopus.
Em 1312, o Primaz de Pequim e de todo o Extremo Oriente recebia mais três novos prelados franciscanos e instituía novas dioceses, para além das já existentes, como a de Quanzhou. Depois de trinta e oito anos de vida apostólica na China, Giovanni Montecorvino, com 81 anos, morreu na sua sede Arquiepiscopal de Pequim em 1328.
Dez anos após a sua morte, o último dos soberanos da dinastia mongol Yuan, Shun Di, enviou ao Papa uma embaixada, pedindo a sua bênção e solicitando o envio de mais missionários e um outro legado pontifício. Apelo correspondido. O Papa Bento XII nomeou João de Marignoli legado pontifício e com ele seguiram mais vinte e dois padres, que chegaram em 1342 a Dadu, após uma viagem de quatro anos. Marignolli apercebendo-se que os tempos eram de borrasca, já que os mongóis nunca conseguiram conquistar a estima das populações que ocupavam, regressou à Europa em 1345. Então, o Papa Inocêncio VI ordenou ao superior dos franciscanos o envio de missionários para a China, sendo três bispos para a Sé de Dadu nomeados, mas nenhum aí chegou.
O Khan da Pérsia, Timur (1336-1405) em 1362 começou a perseguir os cristãos, o que levou à dispersão destas comunidades para a Índia do Sul. Quando o católico quarto bispo de Quanzhou, Giacomo da Firenze foi martirizado em 1363, encerrou-se mais um ciclo da evangelização cristã na China. Com a queda da dinastia Yuan em 1368 e a chegada dos sedentários chineses Han, que formaram a dinastia Ming, os cristãos saíram do país e voltaram para as terras do Norte.
Durante oitenta e oito anos, os franciscanos converteram mais de trinta mil chineses, maioritariamente de etnia mongol e como os católicos foram seus protegidos, a dinastia Ming expulsou-os e destruiu todos os vestígios do Cristianismo nestas paragens. Só duzentos anos depois, em 1583, o jesuíta Matteu Ricci conseguiu reestruturar a missão Católica na China, esquecido que estava aquele período de terror e em que a população chinesa Han se encontrava no nível mais baixo do escalão social mongol.

26 Fev 2016

Grupo accionista da TAP compra distribuidora mundial de tecnologia

[dropcap style=’circle’]O[dropcap] grupo chinês HNA – empresa matriz da companhia aérea Hainan Airlines e futuros accionistas da TAP – vão comprar a distribuidora de tecnologia norte-americana Ingram Micro, por 6.000 milhões de dólares.
A HNA pagará 38,90 dólares por cada acção do Ingram Micro – um valor 31% acima da cotação actual – segundo um comunicado emitido ontem pelo grupo listado em Nova Iorque.
“Com a ajuda do Ingram Micro, o HNA Group terá acesso a oportunidades de negócio em mercados emergentes, com altas taxas de crescimento e retornos”, reagiu, entretanto, o CEO da empresa chinesa, Adam Tan.19216P10T1
Segundo um comunicado emitido há dias pelo HNA, o grupo compromete-se a realizar um empréstimo de 120 milhões de euros à companhia aérea brasileira Azul, destinado à compra de obrigações convertíveis da TAP a 10 anos.
A empresa assegurará assim 6,4% do direito de voto na TAP e 55% dos benefícios económicos, lê-se na mesma nota.
Além desse empréstimo, com maturidade de 181 dias e taxa de juros anual fixada em 14,25%, o HNA prevê mais um financiamento de 300 milhões de dólares à Azul, visando tornar-se accionista da empresa.

Apostar lá fora

Pequim tem encorajado as empresas do país a investir além-fronteiras, como forma de assegurar matérias-primas e fontes confiáveis de retornos, face aos sinais de abrandamento na economia doméstica.
A estatal chinesa China National Chemical Corp. ofereceu este mês 43 mil milhões de dólares pela gigante suíça de pesticidas e sementes Syngenta, no que se poderá tornar na maior aquisição de sempre da China no exterior.
A Ingram Micro é responsável pela distribuição de produtos da Apple, Microsoft, IBM e Cisco, entre outras firmas do sector, e tem 200 mil clientes espalhados por cerca de 160 países, segundo o ‘site’ oficial.
A HNA compromete-se ainda a manter a sede da empresa no Estado norte-americano da Califórnia e os actuais membros da administração.

19 Fev 2016

ICBC | Pequim diz-se disposta a cooperar com Espanha

[dropca style=’circle’]A[/dropcap] China está disposta a colaborar com Espanha na investigação à sede do banco chinês ICBC em Madrid, por alegado branqueamento de capitais, e espera que as autoridades espanholas actuem de acordo com a lei.
“Estamos dispostos a manter a comunicação com o lado espanhol”, afirmou ontem um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei, numa conferência de imprensa em Pequim.
Hong apelou à justiça espanhola para tratar deste assunto “de acordo com a lei” e recordou que Pequim sempre urge as empresas chineses no exterior a cumprir estritamente com as leis chinesas e do país onde operam.

Operação serpente

A Guarda Civil espanhola deteve na quarta-feira cinco directores do banco estatal chinês ICBC em Madrid, todos de nacionalidade chinesa, e entre os quais consta o diretor-geral da sucursal.
Em causa está uma operação coordenada pela procuradoria anti-corrupção de Espanha e que a imprensa espanhola diz estar relacionada com a investigação Snake, contra a máfia chinesa na região madrilena de Cobo Calleja.
O banco é suspeito de operar uma estrutura criminal que se dedicava a transferir dinheiro para a China, obtido através de contrabando, fraude fiscal e exploração de mão-de-obra, “de maneira a que parecesse legal”.
Executivos e advogados do ICBC deslocaram-se entretanto a Madrid, para cooperar com as autoridades, informou ontem a instituição num comunicado citado pela imprensa chinesa.
A mesma nota acrescenta que o banco sempre cumpriu “com os princípios básicos de gestão e regulamentos contra a lavagem de dinheiro”.
O ICBC abriu portas na capital espanhola em 2011 e opera sob a tutela da central europeia, no Luxemburgo.
Está também presente em Lisboa há alguns anos, mas através de um escritório de representação, sendo conhecida a sua vontade de abrir uma sucursal no país a curto prazo.
Trata-se da maior instituição bancária do mundo em capitalização em bolsa e por depósitos.

19 Fev 2016

ONG | Número de presos políticos na China triplicou em três anos

O número de presos políticos na China quase triplicou desde que o Presidente Xi Jinping ascendeu ao poder, em 2012, segundo uma das Organizações Não Governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos mais activas no país.
No mesmo período, a China consolidou o seu papel no plano internacional, com iniciativas como o Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII) ou a nova Rota da Seda, nota a Chinese Human Rights Defenders (CHRD), num relatório ontem difundido.
A organização indica que as autoridades chinesas detiveram 22 activistas dos direitos humanos no ano passado por “crimes políticos”, acusados de incitar à subversão contra o poder do Estado, uma cifra igual à soma dos três anos anteriores (quatro em 2014, dez em 2013 e oito em 2012).
Em Janeiro passado, a CHRD confirmou 11 casos de detenção de cidadãos por “subversão”.
O número diz respeito unicamente aos acusados de crimes “políticos”, enquanto a cifra total de detenção de activistas de direitos humanos ascendeu a mais de 700 no ano passado, incluindo aqueles que passaram, no mínimo, cinco dias sob custódia.

Leque alargado

Sob o mandato de Xi, a repressão estendeu-se a grupos que anteriormente contavam com a aprovação do Governo, como feministas ou trabalhadores de ONG que defendem os grupos mais frágeis da sociedade, indica o relatório.
O documento acrescenta que no ano passado se registou um “ataque sem precedentes” contra advogados que trabalham em casos sensíveis.
Só em Julho, uma campanha resultou na detenção para interrogatório ou “desaparecimento” de mais de 300 advogados, entre os quais mais de vinte continuam nas mãos das autoridades, alguns acusados de subversão, o que na China pode resultar em penas até prisão perpétua.
Xi recorreu a nova legislação para justificar a redução de liberdades, como a lei de Segurança Nacional ou a emenda da Lei Criminal, nota a CHRD.
Um dos casos mais mediáticos envolveu a condenação a três anos de prisão de Pu Zhiqiang, activista e defensor dos direitos humanos, por “incitação ao ódio étnico” e “provocação de distúrbios” por comentários que publicou numa rede social.

17 Fev 2016

China | Regulamentos da OMC são cumpridos “fielmente”

Após as manifestações europeias em protesto contra a alegada prática de “dumping” pelas empresas chinesas, Pequim responde que tudo o que faz está de acordo com as normas da Organização Mundial do Comércio

A China assegurou ontem que “cumpre fielmente” com os regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC), face aos protestos em Bruxelas, que acusam Pequim de praticar concorrência desleal nas suas exportações de aço.
Representantes do sector na Europa saíram na segunda-feira às ruas em Bruxelas para protestar contra a prática de “dumping” – produção subsidiada que mantém o preço abaixo do custo de fabrico – pela China.
Os manifestantes apelaram ainda à União Europeia (UE) para que não conceda o estatuto de economia de mercado ao país asiático.
A China luta pelo reconhecimento de que a “economia de mercado socialista” – um modelo em que os sectores chave da economia permanecem estatais, mas geridos sobre uma base comercial – funciona em pleno, segundo as regras capitalistas.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hong Lei, assegurou, entretanto, que Pequim “cumpre fielmente” com as suas obrigações perante a OMC, mas que, por outro lado, também pode exercer os seus “direitos” como membro daquela instância reguladora.

Investigação em curso

Por seu lado, a Comissão Europeia anunciou que usará todos os instrumentos para defender a indústria na Europa.
Na passada sexta-feira, colocou em marcha investigações sobre três produtos siderúrgicos importados do país asiático, para determinar se foram introduzidos no mercado comunitário recorrendo a concorrência desleal.
Os produtos envolvidos são tubos, chapas grossas e produtos de aço planos laminados a quente, com origem na China.
Pequim anunciou no início deste mês planos de reduzir o excesso de produção na indústria do aço chinesa, ao longo dos próximos cinco anos, com um corte anual de entre 100 a 150 milhões de toneladas – 12,5% do total produzido pelo país.
O excesso de capacidade levou nos últimos anos à imposição de sanções comerciais à indústria siderúrgica chinesa por “dumping” em vários mercados de exportação.

17 Fev 2016

China | Mercado financeiro chinês à beira do colapso ?

Kyle Bass, que cometeu o “pecado” de apostar contra os fundos imobiliários de Wall Street alerta para os perigos do mercado financeiro chinês. Uma crise quatro vezes pior do que a americana, com perdas gigantescas no horizonte e a obrigatoriedade da China desvalorizar o yuan em pelo menos 30%, são algumas das revelações

Numa carta dirigida aos investidores, e à qual a Bloomberg teve acesso, Kyle Bass alerta para o facto de que se o sistema bancário chinês perder 10 por cento dos seus activos por via do crédito mal parado, verá desaparecer cerca de 3.5 biliões de dólares de capital. Isto significa que a segunda maior economia mundial poder ver-se obrigada a “imprimir mais de 10 biliões de yuan para recapitalizar a banca e pressionar a moeda para desvalorizar em pelo menos 30% em relação ao dólar”, garante o investidor
Bass, que ganhou uma fortuna ao apostar contra as hipotecas do mercado financeiro norte-americano em 2007, e retratado no recente filme “The Big Short”, tem-se mostrado um às na previsão de colapsos financeiros pois, para além da crise norte-americana previu, em 2010, a crise do mercado obrigacionista japonês. “Estamos a assistir à redefinição do maior macro desequilíbrio que o mundo alguma vez viu” garante Bass na referida carta, avisando ainda que “o crédito na China atingiu o limite de curto prazo e o sistema bancário vai conhecer um ciclo de perdas que terão implicações profundas no resto do mundo.” Bass reforça a ideia dizendo ainda que, “os problemas que a China enfrenta não têm precedentes. São tão grandes que o Governo chinês vai ter de se empenhar a fundo para rectificar os desequilíbrios. Investimentos de risco não é o lugar para se estar quando isto está a acontecer”, diz o investidor que nos últimos 18 meses tem vindo a libertar-se dos seus activos de maior risco, apesar de ter “85% do portefólio investido em produtos relacionados com a China”, como próprio garantiu.

Bomba Relógio

Para Bass, “o epicentro do problema é o sistema bancário chinês e as suas perdas em perspectiva.” Segundo as suas estimativas, “os activos bancários chineses aumentaram 10 vezes na última década, para mais de 34.5 biliões de dólares, e está impregnado de produtos de risco utilizados por instituições financeiras para fugirem aos regulamentos.” O crescimento da banca no país, que estima ter inchado mais de 600% nos últimos três anos — citando dados da UBS Group AG data — “é onde os primeiros problemas de crédito estão a surgir”, garante. Para além disso, “os produtos de gestão de fortunas que têm sido utilizados pelos bancos chineses para cobrirem as folhas de balanço emprestando e atraindo compradores com promessas de garantias e lucros que ultrapassam os depósitos bancários, começam a falhar”, assegura Bass, adiantando ainda que a utilização dos ‘trust beneficiary rights’ – direitos legais para garantir produtos financeiros – “são autênticas bombas relógio, pois são utilizadas pelos bancos para esconderem as suas perdas nos créditos mal parados”.

Padrão de desaceleração

O crescimento da economia chinesa, que se manteve na casa dos 10% durante quase 30 anos, tem vindo a desacelerar desde há cinco atingindo o seu ponto mais baixo em 25 anos em 2015, com uma taxa de 6.9%. Este ano, segundo uma sondagem efectuada pela Bloomberg junto de economistas, prevê-se que baixe ainda mais para os 6.5%. Este abrandamento fica a dever-se à mudança de perfil da economia chinesa que tem vindo a mutar de um padrão de manufactura e investimento para um perfil de serviços e consumo que, segundo os especialistas, não conseguiu ainda equilibrar com o antigo perfil económico do país.
Em Outubro Kyle Bass já tinha previsto que a China iria fazer face a uma contracção de crédito e uma iminente crise bancária na Ásia.

12 Fev 2016

Quatro mineiros resgatados após 36 dias no subsolo

O acidente que levou a que 29 mineiros ficassem presos no subsolo ocorreu durante o dia de Natal. Dos trabalhadores soterrados, 11 foram resgatados no dia seguinte, um faleceu, e 13 continuam desaparecidos

[dropstyle=’circle’]Q[/dropstyle]uatro mineiros que ficaram presos no subsolo durante 36 dias, na sequência do colapso de uma mina de gesso em Pingyi, na província de Shandong, no leste da China, foram resgatados, indicaram sexta-feira meios de comunicação estatais.
A operação para salvar os homens presos a mais de 200 metros de profundidade levou duas horas, tendo cada um sido transportado individualmente para a superfície numa cápsula estreita, segundo a emissora estatal CCTV.
Os homens, que não sofreram ferimentos graves, foram envoltos em cobertores, tiveram os olhos vendados, por causa da luz, e seguiram em ambulâncias.
Os quatro mineiros resgatados faziam parte de um grupo de 29 que ficaram presos no subsolo quando, a 25 de Dezembro, a mina em que trabalhavam desabou, tendo 11 sido resgatados no dia seguinte e um morrido, enquanto 13 continuam desaparecidos.
Identificados pela CCTV como sendo Hao Zhicheng, de 50 anos, Li Qiusheng, de 39 anos, Guan Qingji, de 58 anos, e Hua Mingxi, de 36 anos, os homens foram contactados no passado dia 8 pelas equipas de resgate, que lhes enviaram alimentos, roupas e lâmpadas por um túnel, mas as condições geológicas complicadas – com instabilidade estrutural e queda de pedras – tornaram o resgate difícil.
O proprietário da mina cometeu suicídio por afogamento no local logo após o colapso, que constitui o mais recente acidente mortal num país onde as regras de segurança são frequentemente desrespeitadas para cortar custos, com gestos de corrupção a permitirem que os patrões persigam o lucro à custa da segurança dos trabalhadores.
Quatro funcionários do partido que ocupavam cargos de responsabilidade em Pingyi, onde a mina está localizada, foram afastados dos seus postos na sequência do acidente.
As autoridades locais tinham ordenado à mina em causa que parasse a laboração em Outubro, por motivos de segurança, mas ela continuou a operar secretamente, segundo o jornal Beijing Times.
Os acidentes resultantes da negligência com a segurança industrial, que causaram largas centenas de mortes na China em 2015, incluem deslizamentos de terras, explosões químicas e derrocadas em minas de carvão.
De acordo com o Governo chinês, os acidentes fatais estão em declínio, mas alguns grupos de direitos humanos argumentam que os números reais são significativamente mais elevados do que os oficiais, pois muitas situações não são relatadas às autoridades.

1 Fev 2016

Comediante francês detido à chegada a Hong Kong

[dropcap=’circle’]O[/dropcap] controverso comediante francês Dieudonné M’bala M’bala, que tem sido condenado em França por comentários anti-semitas, foi ontem detido à chegada ao aeroporto de Hong Kong, cidade onde tinha espectáculos agendados.
O seu advogado, Sanjay Mirabeau, disse que Dieudonné ficou sete horas no aeroporto, depois de ter sido interceptado por agentes da imigração. A sua produtora, a Plume Productions, disse que ele poderia ser deportado.
Até à tarde de ontem não eram conhecidos os motivos pelos quais Dieudonné foi detido ou as razões pelas quais poderia vir a ser deportado.
O jornal South China Morning Post informou que o comediante foi detido na sequência de queixas apresentadas pelos consulados francês e israelita em antecipação aos seus espectáculos.
Os serviços de imigração de Hong Kong disseram que não faziam comentários sobre casos individuais.
No entanto, num comunicado em resposta a questões sobre o caso, o mesmo departamento disse que estava “comprometido em manter um controlo efectivo da imigração, negando a entrada de indesejáveis”.
Sanjay Mirabeau disse que não havia razões para o comediante ser detido.
“O seu novo espectáculo, ‘In Peace’, não tem nada contra a lei. Ele fala de plantas, de ecologia”, afirmou o advogado.
A sua produtora afirmou que Dieudonné M’bala M’bala disse que ele estava detido com os filhos no aeroporto.
“Ele deverá ser deportado nas próximas horas”, indicou a Plume Productions, em comunicado.

Em nome da ordem

O consulado francês confirmou que Dieudonné, de 49 anos, tinha sido detido por agentes da imigração à chegada ao aeroporto de Hong Kong.
“É uma questão de implementar as leis de imigração relevantes para as autoridades de Hong Kong”, disse um porta-voz do consulado à AFP.
O consulado acrescentou que não tinha pedido ao Governo de Hong Kong para evitar a entrada de Dieudonné na cidade.
Mas de acordo com fontes da polícia citadas pelo South China Morning Post, o consulado escreveu uma carta a manifestar preocupação sobre a visita do comediante, alertando que a mesma poderia desencadear “perturbações na ordem pública”.
A cidade de Hong Kong tem uma numerosa comunidade francesa, com mais de 120.000 franceses residentes registados no consulado.
Dieudonné é conhecido pela sua ‘quenelle’, o gesto que é visto como uma saudação nazi invertida, mas que ele insiste que é meramente anti-sistema.
O humorista tem tido alguns problemas com a justiça na Europa.
Um tribunal belga condenou-o a dois meses de prisão em Novembro por incitamento ao ódio por causa de alegados comentários racistas e anti-semitas que ele terá feito durante um espectáculo na Bélgica.

Mau currículo

No início do mês, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem proferiu uma sentença conta Dieudonné relativamente a outro caso, ao decidir que a liberdade de expressão não protege “actuações racistas e anti-semitas”.
Dieudonné estava a protestar contra uma multa aplicada por um tribunal francês em 2009 por convidar para o palco um indivíduo que nega a existência do Holocausto. Foi condenado a pagar 10.000 euros pelo que foi considerado pelo tribunal como “insultos racistas”.
Em Março, um tribunal francês também sentenciou Dieudonné a dois meses de pena suspensa e multou-o por apologia ao terrorismo, por alegadamente ter manifestado simpatia em relação aos ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judaico em Paris.
O comediante devia dar dois espectáculos ontem e hoje no Hong Kong’s Cyberport.

29 Jan 2016

K’ang-Hsi, imperador da China, revela segredo do sucesso da sua governação

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou ao poder muito novo e há quem diga que existiram vários sinais que previam a sua coroação e reinado. Quer dizer aos leitores de Macau algo sobre isto?
O meu nascimento foi tudo menos miraculoso – nada de extraordinário aconteceu enquanto cresci. Cheguei ao trono com oito anos. Nunca permiti que se falasse de influências sobrenaturais do género das que se encontram registadas nas Histórias: estrelas da sorte, nuvens auspiciosas, unicórnios e fénixes, a erva chih e outras bênçãos, ou queimar pérolas e jade em frente do palácio, ou livros celestes enviados para manifestar a vontade do Céu. Tudo isto não passam de palavras vãs e não posso ir tão longe nas minha presunção. Limito-me a viver cada dia de uma forma normal concentrando-me em governar bem.

É fácil, durante toda a vida, exercer constantemente o poder?
Dar e tirar a vida. São esses os poderes do imperador. Ele sabe que os erros dos funcionários administrativos em departamentos do governo podem ser rectificados mas que um criminoso que foi executado não pode ser ressuscitado. Assim como uma corda cortada não pode de novo ser unida. Sabe, também, que por vezes as pessoas têm de ser chamadas à moralidade através do exemplo de uma execução. Em 1683, depois da captura de Taiwan, discuti com os sábios da corte a imagem do 56º hexagrama do Livro das Mutações, “Fogo na Montanha”. A calma da montanha significa o cuidado que se deve por na imposição de penas; o fogo move-se rapidamente, queimando a erva, tal como os processos, que devem ser resolvidos com celeridade. A minha leitura é que um regente necessita ao mesmo tempo de clarividência e cuidado no castigar. A sua intenção deverá ser castigar de forma a evitar a necessidade de mais castigo.

Kangxi_Emperor2No seu tempo a corrupção era um problema. Quer falar-nos de alguns casos mais relevantes?
Hu Chien-ching era um subdirector do Tribunal de Adoração Sacrificial cuja família aterrorizava a sua região natal em Kiangsu, apoderando-se de terras, mulheres e filhas alheias e assassinando pessoas depois de as acusar falsamente de roubo. Quando finalmente um cidadão vulgar conseguiu demonstrar a sua culpa, o Governador considerou o caso longamente e o Conselho de Castigos recomendou que Hu fosse demitido e exilado por três anos. Eu, por outro lado, ordenei a sua execução, com o resto da família, na sua terra natal para que todos pudessem observar a minha visão de tal comportamento. O cabo Yambu foi condenado à morte por alta corrupção nos estaleiros navais; não só concordei com a pena como enviei o oficial da guarda Uge para supervisionar a decapitação, ordenando que todo o pessoal dos estaleiros, dos generais ao mais baixo soldado, se ajoelhasse em armadura completa e ouvisse o meu aviso de que o seu destino seria a execução se não pusessem fim à sua perfídia.

Mas a pena de morte… Hoje em dia há quem seja contra…
Em tempo de guerra deve haver execuções para castigar a cobardia ou a desobediência. A penal capital da morte lenta deve ser aplicada em casos de traição, tal como o Código Legal determina.

Está então à vontade quando envia um homem para a morte?
De entre as coisas que considero desagradáveis, nenhuma outra é pior do que dar o veredicto final sobre as sentenças de morte que me são enviadas para ratificação depois das sessões de Outono. Os relatórios de julgamento devem ser todos verificados pelos Secretários Superiores, no entanto, encontram-se ainda erros de caligrafia, ou mesmo passagens inteiras incorrectamente escritas. Isto é indesculpável quando se lida com a vida e a morte. Apesar de, naturalmente, me ser impossível examinar cada caso em pormenor, tenho, ainda assim, o hábito de ler as listas no palácio todos os anos, verificando o nome, registo e estatuto de cada homem condenado à morte e a razão por que lhe foi aplicada tal pena. Depois, verifico de novo a lista na sala de audiências com os Secretários Superiores e o seu pessoal, decidindo quais podem ser poupados.

Quando julga alguém, que princípios aplica?
É um bom princípio procurar sempre os aspectos bons de uma pessoa ignorando os maus. Quando se suspeita constantemente das pessoas estas acabam por suspeitar de nós.

Mesmo quando se trata de Chineses (han)?
Tentei ser imparcial entre Manchu e Chineses, não os separando nos julgamentos.

Mas confiava plenamente nos seus oficiais chineses?
Avisaram-me para não nomear o Almirante Shih Lang para liderar a campanha contra Taiwan por ter servido antes a Dinastia Ming e tambémo rebelde Coxinga e, logo, poder revoltar-se se lhe desse navios e tropas. Mas uma vez que os restantes almirantes Chineses asseguravam que Taiwan nunca seria tomada, chamei Shih Lang para uma audiência e disse-lhe pessoalmente: “Na corte dizem que te revoltarás quando chegares a Taiwan. É minha opinião que enquanto não fores enviado a Taiwan a ilha não será pacificada. Não te revoltarás, garanto-te.” Shih Lang capturou Taiwan num ápice e provou ser um oficial leal. Apesar de arrogante e desprovido de instrução, compensou esses defeitos pela prontidão e ferocidade das suas capacidades militares. Os seus dois filhos têm-me servido com distinção.

Qual a sua visão sobre a queda da dinastia Ming?
Passaram-se coisas absurdas durante os Ming: quando, no fim da dinastia, o Imperador Ch’ung-chen aprendeu a montar tinha dois homens para segurarem o freio, dois para os estribos e dois para o arreio de garupa – mesmo assim caiu mandando aplicar quarenta chicotadas ao cavalo e enviando-o para trabalhos forçados num posto militar. Do mesmo modo, quando uma pedra para ser usada na construção do palácio não passava na Porta Wu-men, Ch’ung-chen mandava aplicar-lhe sessenta chicotadas.

Alguma loucura… mas os seus ritos imperiais também exageram…
O imperador tem de suportar o elogio com que o cobrem e que enche os seus ouvidos e que não lhe é de melhor uso do que a chamada “medicina-restaurativa”. Essas banalidades evasivas asseguram o mesmo sustento que a pastelaria fina e rapidamente se tornam enjoativas.

A balofice, pelos vistos, não funciona consigo. E exageros intelectuais também não.
Se desejar, conhecer algo tem de o observar ou experimentar em pessoa. Se afirma conhecer algo com base em ouvir dizer, ou por o descobrir num livro, será motivo de riso para aqueles que realmente conhecem. Demasiadas pessoas afirmam conhecer as coisas quando, na verdade, nada sabem acerca delas. Desde a minha infância tenho procurado descobrir as coisas por mim mesmo em vez de fingir possuir conhecimento quando ignorante. Sempre que me encontrava com pessoas mais velhas inquiria acerca das suas experiências e recordava o que me diziam. Mantenha uma mente aberta e aprenderá coisas. Perderá as boas qualidades dos outros se apenas se concentrar nas suas próprias capacidades.

Para si, a experiência parece ser fundamental.
A nossa ideia de princípio deriva mais da experiência do que do estudo, embora devamos dedicar a mesma atenção a ambos. Afinal, muitas pessoas chamam antiguidades a velhos recipientes de porcelana mas se pensarmos em recipientes do ponto de vista do princípio sabemos que foram a dada altura feitos para ser usados. Apenas no presente nos parecem gastos e impróprios para deles bebermos e, por fim, acabamos por colocá-los nas nossas secretárias ou prateleiras, contemplando-os de quando em vez. Por outro lado, podemos alterar a função de um objecto e, portanto, alterar a sua natureza. Como fiz ao converter uma espada inoxidável que os Holandeses certa vez me ofereceram numa régua que mantinha sobre a minha secretária. Tal como o Jesuíta António Tomás observou, tratou-se de converter algo que transmitia medo em algo que proporcionava prazer. O raro pode tornar-se comum, como acontece com os leões e animais que os embaixadores estrangeiros gostam de nos oferecer e a que os meus filhos se acostumaram. Na guerra é a experiência da acção que conta. Os chamados Sete Clássicos Militares estão recheados de disparates sobre água e fogo, presságios e conselhos sobre o tempo, todos aleatórios e em contradição. Disse uma vez aos meus oficiais que quem seguisse estes livros nunca ganharia uma batalha.

Kangxi_EmperorFalou de um jesuíta. Vários frequentaram a sua corte. Aprendeu muito com eles, sobretudo na Matemática e Astronomia?
Apesar dos métodos Ocidentais serem diferentes dos nossos, podendo mesmo ser vistos como um seu melhoramento, há neles pouco de inovador. Os princípios da Matemática derivam todos do Livro das Mutações e os métodos Ocidentais são de origem Chinesa: a Álgebra – “A-erh-chu-pa-erh”– nasce de uma palavra Oriental.

Claro, tudo tem origem na China… Mas esses jesuítas tentavam conhecer a cultura chinesa.
Nenhum dos Ocidentais está realmente à vontade com a literatura chinesa – à excepção talvez do Jesuíta Bouvet, que leu muito e desenvolveu a capacidade de conduzir um estudo sério do Livro das Mutações. Muitas vezes não conseguimos impedir sorrir quando eles iniciam uma discussão. Como podem falar acerca “dos grandes princípios da China”? Por vezes, agem erroneamente por não estarem acostumados aos nossos hábitos, outras vezes são induzidos em erro por Chineses ignorantes – o enviado papal, de Tournon, usava caracteres mal escritos nos seus memorandos, empregava frases impróprias e assim em diante.

Estou a ver que ainda não esqueceu a Questão dos Ritos, na qual discordou com o Cardeal de Tournon.
Sobre a questão dos Ritos Chineses que podiam ser praticados pelos missionários Ocidentais, de Tournon recusou-se a falar, embora lhe tivesse enviado mensagens repetidamente. Concordei com a fórmula que os padres de Pequim estabeleceram em 1700: que Confúcio era honrado pelos Chineses como um mestre mas que o seu nome não era invocado em oração com o propósito de obter felicidade, promoções ou riqueza; que o culto dos antepassados era uma expressão de amor e recordação filial, cuja intenção não era obter protecção para o autor do culto e de que não havia a ideia de que ao erguer uma tábua ao antepassado a sua alma nela residia. Quando eram oferecidos sacrifícios aos Céus estes não eram endereçados ao céu azul, mas sim ao senhor e criador de todas as coisas. Se de Tournon não respondeu, o Bispo Maigrot fê-lo dizendo-me que o Céu é uma coisa material e não devia ser adorada e que se devia apenas invocar o nome de “Senhor do Céu” para mostrar a reverência apropriada. Maigrot não era somente ignorante da literatura Chinesa: não conseguia sequer reconhecer os mais simples caracteres chineses. No entanto, decidiu discutir a falsidade do sistema moral Chinês.

O Papa queria impor-lhe um representante, não é verdade?
Não compreendo o que quereis dizer com ‘um homem da confiança do Papa’. Na China, ao escolhermos pessoas não fazemos tais distinções. Alguns estão próximos do meu trono, outros a meia distância e outros mais longe. Mas a qual deles poderia confiar qualquer incumbência se houvesse a mais pequena falha da devida lealdade? Quem de entre vós se atreveria a enganar o Papa? A vossa religião proíbe-vos de mentir, aquele que mente ofende a Deus. O enviado respondeu: “Os missionários que aqui habitam são homens honestos, mas falta-lhes o conhecimento interno da Corte Papal. Muitos enviados de outros países convergem para Roma, sendo experientes em negociações e, por isso, preferíveis aos que aqui se encontram.” Então disse-lhe: “Se o Papa mandasse um homem de conduta impecável e dons espirituais tão excelentes quanto os dos Ocidentais que aqui estão agora, um homem que não interferisse com os outros ou os tentasse dominar, ele seria recebido com a mesma hospitalidade que os outros. Mas se dermos a um tal homem poder sobre os outros, como haveis solicitado, haverão muitas e sérias dificuldades. Encontrastes aqui Ocidentais que passaram quarenta anos connosco e, se mesmo esses ainda não têm um conhecimento perfeito dos assuntos imperiais, como poderia alguém tão recentemente transplantado do Ocidente fazer melhor? Ser-me-ia impossível dar-me com ele como me dou com estes. Precisaria de um intérprete, o que implica desconfiança e embaraço. Um tal homem nunca estaria livre de erro e, se fosse nomeado líder de todos, teria de suportar qualquer culpa incorrida pelos restantes e pagar o preço de acordo com os nossos costumes.”

A verdade é que Vossa Excelência nunca foi convertido ao catolicismo.
As suas palavras não eram diferentes dos mais tresloucados ou impróprios ensinamentos de Budistas e Taoístas, porque deveriam ser tratados de forma diferente?

Então se não acredita no Deus cristão, pelo menos acredita no destino?
O destino surge das nossas mentes e a nossa felicidade é procurada em nós mesmos. Daí serem feitas previsões a partir do curso dos planetas acerca do casamento e da fortuna, descendentes, carreira e o passar dos anos – no entanto, estas previsões não chegam muitas vezes a realizar-se na experiência posterior. E isto porque se não desempenharmos o nosso papel humano não poderemos compreender o caminho do Céu. Se o astrólogo diz que serás bem sucedido, poderás então dizer: “Estou destinado a sair-me bem e posso dispensar os estudos?” Se aquele afirma que enriquecerás, poderás sentar-te e aguardar a riqueza? Se te oferece uma vida livre de desgraça, poderás ser temerário? Ou ser debochado sem risco apenas por que diz que viverás muito e em saúde?

il_570xN.758050173_12idComo encara o seu reinado?
Estou a aproximar-me dos setenta e os meus filhos, netos e bisnetos são mais de 150. O país está relativamente em paz e o mundo está em paz. Mesmo que não tenhamos melhorado todas as maneiras e costumes e tornado toda a gente próspera e feliz, trabalhei com incessante diligência e intensa vigilância, nunca descansando, nunca ocioso. Durante décadas exauri todas as minhas forças, dia após dia. Como poderia tudo isso ser resumido numa frase de duas palavras como “trabalho árduo”?

Deixa uma extraordinária herança. Qual foi o seu segredo?
Todos os Antigos costumavam dizer que o Imperador se devia preocupar com princípios gerais mas que não devia lidar com pormenores. Não posso concordar com isto. O tratamento descuidado de um assunto pode trazer consequências nefastas ao mundo inteiro, um momento de distracção pode causar danos a todas as gerações futuras. A falta de atenção aos pormenores acabará por colocar em risco as nossas maiores virtudes. Por isso dedico sempre a maior atenção aos pormenores. Por exemplo, se negligenciar alguns assuntos hoje e os deixar por resolver, amanhã existirão mais assuntos para resolver.

Está portanto satisfeito com o seu desempenho?
Desfrutei a veneração do meu país e as riquezas do mundo. Não há objecto que não possua, nada que não tenha experimentado. Mas agora que atingi a velhice não consigo parar nem um momento. Por isso, considero o país como um sandália usada e todas as riquezas como lama e areia. Se morrer sem que tenha havido uma erupção de distúrbios, os meus desejos terão sido satisfeitos. Desejo que todos vós oficiais se recordem que fui o Filho do Céu portador da paz por mais de 50 anos e o que vos repeti, vez após vez, foi realmente sincero. Então, isso terá completado um fim digno da minha vida. Nada mais direi.

Na próxima segunda-feira, a Livros do Meio lança “Imperador da China – Autobiografia de K’ang-Hsi”, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. A apresentação da obra será feita por Carlos Morais José.

15 Jan 2016

Poluição | Alerta vermelho em Pequim deve-se a “mudança de postura” do Governo

Apesar de ter sido decretado o alerta vermelho de poluição na capital chinesa, a verdade é que quem lá vive diz que pouco ou nada mudou e que os níveis de poluição são iguais. O que mudou foi a postura do Governo Central face ao problema

[dropcap style=’circle’]“L[/dropcap]á fora está mesmo horrível, quase não dá para ver nada.” Foi desta forma que Zhou Xuefei descreveu ao HM o estado da poluição na cidade de Pequim, de onde é natural. Apesar de ter sido decretado o alerta vermelho pelas autoridades na noite de terça-feira, a verdade é que esta gestora de produtos numa empresa chinesa do ramo da internet teve que ir trabalhar.

“Não estou em casa porque mesmo que o Governo recomende que trabalhemos em casa, a empresa não nos disse nada. Quase ninguém aqui está a usar máscara, porque já estamos habituados a esta poluição”, contou Zhou Xuefei.

Esta foi a primeira vez que o Governo chinês emitiu o alerta vermelho sobre o mau estado do ambiente na capital, tendo sido suspensas as aulas nas escolas do ensino básico e médio, enquanto que as empresas foram aconselhadas a adoptar um “sistema de trabalho flexível”. Quanto à circulação automóvel, foi decretado que os carros irão circular alternadamente nos próximos três dias, de acordo com o último número da matrícula: um dia pares, noutro ímpares.

Ainda assim, os residentes com quem o HM falou afirmam que isso não significa que a poluição aumentou. A única coisa que se alterou foi a postura dos governantes face à questão, numa altura em que acontece também a cimeira sobre o ambiente em Paris.

“No ano passado já passámos por algo assim, só que o Governo não lançou o alerta vermelho. A poluição não está pior, mas o Governo começou a dar mais importância, ou pelo menos parece que dá”, referiu Zhou Xuefei.

Também João Pimenta, delegado da Agência Lusa em Pequim, fala de níveis de poluição “normais” para esta época. “O Inverno aqui é sempre cinzento, devido ao aquecimento central. O que não é normal é as autoridades terem colocado a cidade em alerta vermelho”, disse ao HM por e-mail. “A verdade é que até há pouco tempo quase ninguém usava máscara em Pequim. E era normal ver crianças a brincar ao ar livre nos dias de maior poluição. Mas sem dúvida que hoje existe maior consciencialização dos riscos e consequências”, acrescentou.

Sinais do alerta

Jacinta Jiang, também natural de Pequim, não teve de ir trabalhar porque encontra-se na fase final da sua licenciatura em Língua Portuguesa. Ficou em casa, ao contrário dos pais, que tiveram de enfrentar o intenso nevoeiro das ruas. “O meu irmão não foi à escola. Temos dois purificadores em casa, a poluição é muito grave”, disse.

Também esta estudante considera que o Governo está a dar mais atenção ao problema. “A poluição sempre existiu e não acontece só por causa da população, mas também por causa das fábricas. Mas o Governo chinês já presta mais atenção ao problema.”

João Pimenta antevê tempos difíceis caso os dirigentes chineses emitam mais alertas vermelhos. “A semana passada a densidade das partículas PM 2.5 – as mais finas e susceptíveis de se infiltrarem nos pulmões – situou-se entre os 450 e 600 microgramas por metro cúbico ao longo de três dias consecutivos, mas o nível de alerta não ultrapassou o laranja – o segundo mais alto. Hoje (ontem), o mesmo indicador ronda os 300 microgramas por metro cúbico. É estranho, e se passar a ser norma, acarretará um impacto significativo na vida dos locais”, disse.

Isto porque “o alerta vermelho inclui o encerramento de escolas e o condicionamento do trânsito, com os automóveis a circular alternadamente, de acordo com o último número da matrícula. Inclui também que os trabalhos sejam suspensos nas fábricas e estaleiros mais poluentes. Se for decretado o alerta vermelho de cada vez que os níveis de poluição atinjam o nível de hoje, isto corresponderá seguramente a mais de metade dos dias de Inverno”, frisou o jornalista.

Menos tolerância

Apesar da China ser um dos países participantes da Cimeira do Clima em Paris, a verdade é que o problema da poluição no continente é cada vez mais notório, embora as autoridades continuem, ao mesmo tempo, a querer escondê-lo. Uma publicação na rede social Facebook feita ontem pela agência noticiosa Xinhua, na página “China Xinhua News” é disso exemplo. Imagens de pessoas a usar máscara foram publicadas, com a seguinte legenda: “O nevoeiro está de volta! Várias máscaras começam a aparecer. Será importante manterem-se saudáveis e felizes ao usarem a vossa máscara preferida.”

Nas ruas, o sentimento popular é bem diferente. “A população tolera cada vez menos a poluição e eu acho que isso está relacionado com a informação que circula na internet e, particularmente, com o documentário ‘Under the Dome’, da ex-jornalista da CCTV Chai Jing, que foi viral na internet chinesa, apesar da censura”, contou João Pimenta.

“Temos de assumir responsabilidades, o Governo tem culpa, mas nós também temos”, defendeu Zhou Xuefei.
“Pequim é a capital da China e ainda é melhor do que as outras cidades e muitas pessoas querem trabalhar e viver aqui. Mas há limites para tudo e, se este limite for ultrapassado, o problema vai ser muito complicado”, concluiu Jacinta Jiang.

Macau imune

O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, Fung Soi Kun, garantiu que a situação de extrema poluição sentida em Pequim não vai ter consequências em Macau. “O alerta é para a parte central da China, à volta de Pequim e na província de Hunan. Macau está no sul da China, por isso o alerta sobre a poluição não vai afectar Macau. O tempo na parte central da China é diferente, mais do interior, e Macau é um território junto ao mar e temos um ambiente bastante diferente de Pequim. Macau não vai ser afectado pelo mesmo fenómeno. Desde 1999 até agora nunca se registou uma poluição tão concentrada como em Pequim”, disse ao HM.

9 Dez 2015

Presidente da China reúne-se com líderes africanos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, reúne-se a partir de sexta-feira com vários líderes de África, em Joanesburgo, numa altura em que o continente procura assegurar o investimento chinês, apesar do abrandamento na segunda maior economia mundial. Embora o investimento chinês em África tenha registado uma queda acentuada este ano, durante a cimeira de dois dias é esperado o anúncio de acordos para a construção de centrais eléctricas, infra-estruturas e projectos de desenvolvimento agrícola.
Entre Janeiro e Junho, o investimento directo estrangeiro em África, proveniente de Pequim, recuou 43%, para 1,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros), segundo dados do Ministério do Comércio da China. A China tornou-se em 2009 o principal parceiro comercial do continente africano, evidenciando o enorme “apetite” chinês por matérias-primas. O “gigante” asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Zhang Ming disse ontem que a transição económica na China, para um modelo de crescimento menos intensivo, poderá ser aproveitada pelos países africanos. “A cooperação China-África atingiu um ponto onde precisa de ser renovada e transformada”, disse, lembrando que a industrialização do continente se encontra num “estágio inicial”.
Antes de aterrar na África do Sul, Xi Jinping realizou uma breve visita de Estado ao Zimbabué, onde os projectos desenvolvidos por empresas chinesas ajudaram a dinamizar uma economia paralisada pela crise. Xi, que foi o primeiro líder chinês a visitar o país governado por Robert Mugabe, desde 1996, assinou vários acordos nas áreas infra-estruturas, finanças, cultura, e conservação da vida selvagem, destacou hoje a imprensa estatal chinesa.

Água | Empresas chinesas abastecem Angola

Entretanto, duas empresas chinesas foram escolhidas pelo Governo angolano para obras de abastecimento de água nas províncias do Cuanza Sul e Huambo no valor de 211 milhões de euros, segundo despachos presidenciais a que a Lusa teve acesso.
O primeiro destes despachos, de 25 de Novembro, refere-se à obra de reforça do sistema de abastecimento de água de Porto Amboim, na província do Cuanza Sul, no valor de 60 milhões de dólares (56,6 milhões de euros) a realizar pela filial angolana da CGC Overseas Construction. Outra filial de uma empresa chinesa, a Sinohydro Construction, vai realizar, de acordo com outros dois despachos presidências da mesma data, obras idênticas na província do Huambo.
Uma refere-se ao primeiro lote da segunda fase do projecto de abastecimento à cidade do Huambo, no valor de 72,4 milhões de dólares. A outra diz respeito ao segundo lote do mesmo projecto, a contratar igualmente pelo Ministério da Energia e Águas por 91,1 milhões de dólares.
O Governo angolano tem vindo a contratar nas últimas semanas várias empresas chinesas para obras em Angola com “enquadramento financeiro” nas Linhas de Crédito da China.
O novo empréstimo concedido pelo Governo da China a Angola, que se segue a linhas de apoio anteriores, prevê mais 6.000 milhões de dólares de financiamento a obras cuja execução estão programadas para 2016 e 2017, segundo informação anterior do Governo angolano.
Aludindo ao novo entendimento com a China, José Eduardo dos Santos disse em Julho tratar-se de um “novo capítulo” nas relações bilaterais, perspectivando alterações no modelo de negócio entre empresas chinesas e angolanas, dos sectores público e privado. Na altura, referiu que seria produzida em Angola “parte dos materiais que serão usados nas empreitadas de obras públicas levadas a cabo no quadro dos contratos celebrados com empresas chinesas”.

3 Dez 2015

Da China II

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se a Revolução Sexual Chinesa e nasceu das especificidades da revolução cultural, da política do filho único, da aberta do país ao mundo e da internet.

Durante a revolução cultural, Mao foi o impulsionador de uma ideologia em que homens e mulheres seriam acima de tudo camaradas, vestidos de igual, com o mesmo corte de cabelo, com as mesmas atitudes e contribuições ao regime. Sexo era uma prática feudal depravada que deveria ser suprimida. Assim foi: mas já não o é. Pelo menos para quem acaba de chegar à China e tenta perceber em que moldes a sexualidade se forma, cedo percebe que não é no total conservadorismo que se vive. Pequim neste momento tem mais sex-shops do que Nova Iorque, homens e mulheres igualmente, tentam adornar-se e embelezar-se com os milhares de tratamentos disponíveis, há espaços para saídas nocturnas de loucura e já se começam a ver gestos de afecto em praça pública. Tudo isto, muito provavelmente, faria Mao corar de vergonha, ou arder de raiva.

Como não seria de surpreender, a política do filho único teve consequências para a sexualidade chinesa. Ter-se-ia pensado que o sexo seria visto como um objecto de controlo do governo e, por isso, estivesse mais reprimido ou fosse ignorado mas, pelo contrário, as mulheres rapidamente perceberam que não eram, única e exclusivamente, máquinas parideiras. Assim o sexo redescobriu a sua potencialidade recreativa, que fez com que muitas vozes se expressassem na sua curiosidade por uma sexualidade ainda divertida. Foram as mulheres em especial que começaram esta revolução, que com a ajuda dos meios de comunicação que já conhecemos, puseram dúvidas, contaram as suas histórias e procuraram uma nova identidade sexual. A mais conhecida de todas é uma de pseudónimo Mu Zimei (木子美) que começou um blog onde partilhava as suas aventuras sexuais, com detalhes tórridos das suas posições favoritas e avaliações quantitativas da performance do parceiro.

[quote_box_left]Como alguém dizia, são tempos extremamente divertidos na China. (…) Em 2009 tentaram criar um parque temático sobre o sexo em Chongqing mas foi ordenada a sua demolição antes de sequer abrir. A ‘Love Land’. Já se passaram seis anos, porque não tentar a sua abertura outra vez?[/quote_box_left]

Mas se a política do filho único trouxe vantagens ao sexo em si, trouxe o que já sabemos sobre a actual morfologia da população chinesa. A preferência por um filho homem criou uma grande impossibilidade da totalidade da presente geração de homens encontrar uma parceira e constituir família. E porque a concorrência é muita, os homens vêem-se agora obrigados a preencher requisitos financeiros como, por exemplo, possuir o ninho para viver o amor pós-conjugal, i.e. ter casa própria (normalmente comprada pelos pais do noivo). Percebe-se agora que ter uma filha até nem é mau de todo. Isto empoderou muitíssimo as mulheres da forma como se vêem no mercado do trabalho e em outras áreas das suas vidas, e que agora lutam pelas suas carreiras, pela sua liberdade e pela sua sexualidade. As que fazem uso deste empoderamento são muitas vezes referidas de ‘Sheng Nv’ (剩女), ‘as mulheres deixadas de lado’. Normalmente são mulheres com mais de vinte e sete anos e que ainda não se casaram e que são erroneamente referidas como ‘as rejeitadas’. Quando, na verdade, trata-se de pessoas com uma educação superior, inteligência, ambição e grande potencialidade para o progresso a que a China deveria aspirar. Como se havia de esperar, os homens deixados para trás não possuem tão óbvia alcunha, nem ninguém os chateia muito com isso. Tal “escassez de mulheres” que têm sido a desculpa para a ‘legitimidade’ do desenvolvimento da indústria sexual, mais especificamente, na proliferação de bordéis e de consultórios de massagens com ‘final feliz’. Lugares ilegais e operados em grande secretismo que têm contribuído para a contaminação crescente de jovens mulheres e homens com o HIV. A China tem tido pouco cuidado com isso.

A revolução sexual chinesa foi e é inevitável. Há forças de muitos lados que puxam para um explodir da sexualidade que se viu reprimida. A abertura, apesar de imperfeita, tem sido incrível, mas falta-lhe muito na divulgação e na informação bem cuidada em prol da saúde de toda a população, mental, física e sexual. No entanto, têm havido passos nessa direcção, com a criação de uma associação de sexologia chinesa ou na organização de exposições sobre sexo ( a que já assisti pessoalmente, com barraquinhas com os mais variados produtos sexuais, com desfiles de roupa kinky e com muitas palestras sobre os mais variados temas).

Como alguém dizia, são tempos extremamente divertidos na China, é uma redescoberta sexual, claro, com restrições políticas, mas que parecem ter alguma flexibilidade na forma como são vividas. Em 2009 tentaram criar um parque temático sobre o sexo em Chongqing mas foi ordenada a sua demolição antes de sequer abrir. A ‘Love Land’. Já se passaram seis anos, porque não tentar a sua abertura outra vez?

1 Dez 2015

Tao-Confúcio

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ecentemente tenho ciberneticamente explorado sobre a sexologia taoísta que levou a uma pertinente preocupação das influências para o sexo que se faz na China. Se no mundo ocidental temos a igreja e as revistas cor-de-rosa a insistir em certos entendimentos sexuais, muitos deles que se caracterizam pela sua castração e repressão; da China histórica, encontramos muito provavelmente as influências do Taoismo e do Confucionismo (e por enquando ficar-me-ei por estas duas correntes, mas mais reflexões sobre a sexualidade oriental/chinesa estará por vir).

Taoismo: Além das referências ao yin e o yang (阴阳), a importancia do qi (气) e ainda do jing (精), o taoísmo sexual, não surpreendentemente, foi descrito muito centrado na perspectiva masculina. Sexo em si era uma prática de potencial espiritual onde ‘se une a energia’ (合气) com vantagens grandiosíssimas para o homem, que se acreditava desenvolver muito boa saúde pela prática e, com muita dedicação, atingir a imortalidade. Acreditava-se que o sexo estabelecia o tão desejado equilíbrio que se procurava na natureza e que o yin e o yang ilustrava, sugerindo uma possível abordagem naturalista que nunca se popularizou.

A verdade é que acreditava-se que o sémen continha altos teores de jing (精) e que a sua perda teria consequências para a sua saúde. Por isso: sexo sim, mas sem ejaculação. As práticas desenvolvidas trouxeram, por isso, dicas úteis para não perder o seu sémen e jing (精) em sexo que era necessário, mas não o pacote total.
As mulheres eram vistas como um receptáculo sexual, um ‘caldeirão’ necessário para o desenvolvimento fetal e por isso até certo ponto eram respeitadas e deveriam ser estimuladas e agradadas porque só assim é que a energia gerada seria benéfica para o homem e para o seu desejo de imortalidade. Contudo, apesar de se sentir como uma obrigação médica agradar o yin (o lado feminino) para a sua energia ser terapeuticamente aproveitada, as mulheres continuavam a ser usadas como objectos.

Confucionismo: Provavelmente a corrente filosófica mais influente na China, pouco ou nada disse sobre sexo. Confúcio não se debruçou por aí além pelo tema e tudo indicava que usaria pessoalmente a actividade sexual heterossexual de forma muito prática, desde que, contudo, não interferisse na sua vida social.

O pior veio depois, quando Neo-Confucionistas, a partir da dinastia Sung, trouxeram uma reinterpretação dos ensinamentos do sábio e sugeriram uma teoria repressiva do sexo, que teóricos acreditam ser a base para o entendimento sexual na China dos últimos 1000 anos. Antes da intervenção dos neo-confucionistas, historiadores acreditam que as relações sexuais eram vistas com maior liberalismo e naturalidade porque as descrições de vidas amorosas, casamentos, divórcios, e tipos de relacionamentos heterossexuais e homossexuais não mostravam desaprovação nem condenação.

Se esta visão continuou na base da vida privada chinesa, temos pouca certeza, porque os discursos pós-Sung mostram uma contínua repressão que poderiam ter mais forma em certas classes sociais e/ou nos documentos históricos a que temos acesso hoje. O que vale são as descrições literárias, as representações artísticas que ainda mostravam alguma criatividade sexual e que nos fica no imaginário de tantas taradices que julgamos chinesas.

As descrições da antiga sexualidade chinesa, especialmente a Taoista, têm sido alvo de bastante análise pelos grupos que desejam elevar a sua sexualidade a uma experiência espiritual (tal como era descrita, na união das energias) e por isso tem aumentado de popularidade em círculos ocidentais interessados em Tantra. A filosofia sexual chinesa tem sido por isso reinterpretada à luz de uma maior igualdade de géneros e na possibilidade de estender a actividade sexual ao máximo, com tantos exercícios de controlo ejaculatório que existem.

Consigo imaginar que não é da mesma forma que se influencia a sexualidade chinesa actual. Certas crenças ainda se perpetuam sobre como não é saudável desperdiçar o suco sexual, insistida pela medicina tradicional chinesa. Afectando, por exemplo, a forma como a masturbação é vivida na China. Se é herança dos neo-confucionistas ou não, também se denota a ditadura do silêncio sobre as coisas do sexo e alguma relutância em retirá-las da privacidade do quarto. Como em muitos outros contextos é simplesmente pouco falada. Mas e a globalização, o socialismo de características chinesas ou a agora política do filho ‘duplo’?

NOTAS
1. Usei caracteres simplificados para ilustrar variados conceitos porque foi assim que aprendi, teria escolhido os tradicionais pela minha ligação a Macau, mas não seria fiel ao meu conhecimento da língua chinesa. 2. Muitas das informações aqui apresentadas basearam-se em Ng, M. L. & Lau, M. P. (1990) Sexual Attitudes in the Chinese. Archives of Sexual Behavior, 19 (4), 373-388 que oferece uma maior reflexão das práticas e das suas influências e que será do interesse de quem deseja aprofundar o tema.

24 Nov 2015