Biblioteca Central | Técnico do IC acusa Governo de não aceitar críticas

O julgamento do técnico do Instituto Cultural que sugeriu que o desenho da nova Biblioteca Central terá sido plagiado de um polo de edifícios culturais de Shenzhen está perto do fim. Nas alegações finais, o advogado de defesa argumentou que o cliente não divulgou segredos do projecto, uma vez que as informações estão disponíveis online

 

 

Decorreu na sexta-feira, no Tribunal Judicial de Base, a sessão de julgamento dedicada às alegações finais do processo em que um técnico do Instituto Cultural (IC) foi acusado de revelação de segredo e ofensa a pessoa colectiva que exerce autoridade pública.

O caso começou com a publicação no jornal All About Macau de uma carta anónima que criticava a escolha do projecto vencedor do concurso para a concepção e construção da Biblioteca Central, que será erigida a partir do Hotel Estoril, na Praça do Tap Seac.

O advogado do técnico do IC, e ex-deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, Chan Wa Keong negou que o seu cliente tenha divulgado material sujeito a segredo, incluindo o orçamento para o projecto. Aliás, o advogado indicou mesmo ter dúvidas se o conteúdo do artigo publicado no All About Macau estaria sujeito a segredo.

Na sessão de sexta-feira, foi também lido o testemunho de Ron Lam, submetido por escrito. Segundo o jornal Ou Mun, o deputado arrolado à lista de testemunhas pela defesa afirmou que o artigo do All About Macau continha informação divulgada pelo próprio Governo e que pode ser consultada online. Com base na sua experiência pessoal, Ron Lam concluiu que o artigo teria resultado de uma análise feita por um especialista com formação em arquitectura.

 

Questão de intenção

Um dos pontos chaves da diferença entre defesa e acusação prende-se com a intencionalidade de difundir informações confidenciais que deveriam ficar num grupo restrito de pessoas.

Chan Wa Keong apontou que a acusação deu a entender que apenas três técnicos teriam conhecimento dos detalhes do projecto da nova Biblioteca Central. Porém, o advogado afirmou que esse seria uma ideia falsa, uma vez que o arguido terá partilhado informações sobre o projecto em oito grupos de conversação online diferentes, com cerca de 20 pessoas, sem que nenhuma chefia lhe tivesse chamado à atenção.

Em relação ao crime de ofensa a pessoa colectiva que exerce autoridade pública, a defesa argumentou que o artigo publicado no All About Macau tem um óbvio objectivo de contribuir com críticas feitas de boa-fé.

Em conclusão, face às várias questões duvidosas que considera estarem no cerne do processo judicial, Chan Wa Keong pediu ao tribunal para absolver o seu cliente fazendo valer o princípio in dubio pro reo, que estipula que em caso de dúvida a absolvição deve prevalecer.

Em 2021, o jornal All About Macau publicou um artigo anónimo em que são levantadas dúvidas sobre a escolha da equipa holandesa Mecanoo para o projecto da nova Biblioteca Central. O autor traçou semelhanças entre o desenho para o edifício que será construído ao lado da Praça do Tap Seac e o Museu Biblioteca Longhua e o Centro Cultural Cívico Futian, em Shenzhen.

O processo conhecerá desfecho no dia 19 de Outubro com a leitura da sentença.

19 Set 2023

Redes sociais | Dirigente de associação pede censura de críticas ao Governo

O presidente da Associação para o Desenvolvimento da Indústria Financeira e de Tecnologia da Grande Baía, Un Ieng Long, defendeu que as declarações nas redes sociais a acusar o Governo de despesismo e de tomar decisões com base em jogos de bastidores são “falsas”, pelo que devem ser censuradas e os responsáveis punidos criminalmente.

Numa opinião reflectida à Lótus TV, o também coordenador de ligação comunitária, um órgão de informadores do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), apontou que estes crimes de difamação devem ser prevenidos e combatidos na origem, e que a censura rápida dos comentários nas redes sociais pode impedir impactos negativos para a imagem do Governo. Un Ieng Long também indicou que é necessário aplicar multas aos censurados e aumentar as molduras penais para este tipo de crimes, como efeito dissuasor.

Un Ieng Long justificou que as declarações de despesismo e cedência a jogos de bastidores são falsas, porque “todas as obras e planos do Governo são aprovadas por comissões para efeito, o que também acontece com os orçamentos” do Executivo. O residente indicou também que os mecanismos de supervisão internos são complementados pela fiscalização dos deputados da Assembleia Legislativa e pelos governantes, pelo que “não existem jogos de bastidores” em Macau.

Após as declarações, o artigo da Lótus TV acabou removido do site da estação, sem que tivesse sido apresentada qualquer justificação.

24 Jul 2023

World Press Photo | Casa de Portugal justifica encerramento com um “problema de gestão interna”

[dropcap]A[/dropcap] exposição World Press Photo, que decorria na Casa Garden, foi encerrada antecipadamente numa decisão que poderá estar relacionada com a exibição de fotografias das manifestações de Hong Kong. A notícia foi revelada ontem pela Rádio Macau, onde se avança que a mostra deixou de estar disponível no passado fim-de-semana, depois de ter inaugurado a 25 de Setembro.

Segundo a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, o encerramento prendeu-se com um “problema de gestão interna”. A responsável recusou prestar mais esclarecimentos à emissora, limitando-se a dizer que a exposição World Press Photo “está encerrada desde o fim-de-semana”, quando o encerramento apenas deveria acontecer a 18 de Outubro.

Ao HM, Amélia António manteve a explicação, e recusou associar o encerramento com o facto de as fotografias poderem ser consideradas material sensível para as autoridades centrais e locais. “Do nosso lado não tem nada a ver com isso. Como já disse, o encerramento deveu-se a problemas de gestão interna. Se são materiais sensíveis, se as pessoas gostam ou não das imagens, isso é uma questão que nos ultrapassa. Não tem nada a ver connosco”, esclareceu.

Recentemente, devido ao corte nos apoios às associações locais por parte do Governo, a Casa de Portugal já havia anunciado que ia deixar de promover esta exposição nos próximos anos. Amélia António recusou que essa decisão tenha sido influenciada por este problema interno, que diz não discutir em público. “Eu já tinha dito que este era o último ano que íamos trazer esta exposição a Macau, porque era evidente que havendo diminuição dos subsídios tínhamos que escolher reduzir os eventos. A escolha passou por abdicar dos que não estão directamente ligados à nossa cultura. Era um assunto que já estava decidido [antes das questões internas]”, adiantou.

Sem pressão

No mesmo sentido, o HM tentou obter uma posição sobre o encerramento antecipado junto de Marika Cukrowski, curadora do World Press Photo, que prometeu uma tomada de posição para mais tarde.

A organização do evento que está a cargo da Casa de Portugal tem contado com o patrocínio do Governo local, através da Fundação Macau. À Rádio Macau, Wu Zhiliang, presidente da fundação, recusou ter havido qualquer pressão para que o encerramento fosse antecipado. “Da nossa parte não houve nada”, afirmou Wu Zhiliang.

As fotografias sobre as manifestações em Hong Kong encontravam-se em exibição na Casa Garden porque tinham sido distinguidas nas principais categorias do concurso anual da Fundação World Press Photo.

7 Out 2020

Média | Repórteres de três jornais americanos banidos da China, Macau e Hong Kong

O Governo Central deu ordem de expulsão a correspondentes do The New York Times, Washington Post e Wall Street Journal. Os jornalistas ficam impedidos de viver e trabalhar na China, mas também em Macau e Hong Kong, apesar de as leis básicas garantirem liberdade de imprensa. Associações de jornalistas das duas regiões lamentam a decisão de Pequim e pedem clarificações aos Executivos locais que tranquilizem os jornalistas

 

[dropcap]T[/dropcap]êm duas semanas para empacotar tudo e sair. Este é, trocada por miúdos, o resultado da decisão de Pequim sobre o futuro próximo dos correspondentes na China das publicações norte-americanas, The New York (NYT) Times, Wall Street Journal e Washington Post (WAPO), que têm de devolver as credenciais de imprensa, o que equivale à sua expulsão, no prazo de duas semanas, segundo anunciou o Governo Central.

Enquanto a agenda noticiosa está inundada pela pandemia que varre o mundo, os correspondentes das três publicações não só vão ser forçados a abandonar a China, como também ficam impedidos de viver ou trabalhar em Macau e Hong Kong.

Além da medida extrema, Pequim rotulou repórteres de outras cinco publicações como funcionários de Governos estrangeiros e as publicações Voice of America, The Times, The Journal, The Post e a revista Time como agências controladas pela Casa Branca.

Importa lembrar o contexto dos últimos quatro anos, em que Donald Trump apelida a maioria dos órgãos de comunicação social, incluindo o NYT e WAPO, como inimigos do povo e disseminadores de notícias falsas contra a sua administração e pessoa.

A posição de Pequim surge como retaliação face à medida aprovada pelo Governo norte-americano em Fevereiro que declarou várias agências noticiosas estatais como agências controlados por Pequim. As publicações em questão são a Xinhua, China Global Television Network (CGTN), China Radio International e o China Daily.

A decisão implica que os profissionais das publicações chinesas se registem no Departamento de Estado dos Estados Unidos, um requisito que se aplica também a funcionários de embaixadas e representações consulares. Assim sendo, os meios citados vão ter direito, no total, a 100 vistos de trabalho, traduzindo-se na expulsão de facto de cerca de 60 jornalistas. Washington justificou a decisão com a crescente vigilância, assédio e intimidação a jornalistas norte-americanos e outros estrangeiros que trabalham na China pelas autoridades locais.

Apenas algumas horas depois do anúncio da Casa Branca, Pequim expulsou três jornalistas do Wall Street Journal, uma decisão justificada por um artigo de opinião.

Temos pena

Além de lamentar a inclusão de Macau e Hong Kong na decisão do Governo Central, a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) apelou ontem em comunicado “à clarificação relativamente à actividade de jornalistas e órgãos de comunicação social não locais por forma a tranquilizar os profissionais e assegurar o pleno respeito pela liberdade de imprensa.”

A associação recorda que o disposto na Lei Básica de Macau não se aplica apenas a jornalistas e órgãos locais, “mas também dos jornalistas não locais e dos órgãos de ‘empresas jornalísticas, editoriais e noticiosas sediadas no exterior’, tal como está previsto no artigo 9 da Lei de Imprensa”.

O impacto das tensões entre Estados Unidos e China no livre exercício do jornalismo é outra das preocupações manifestadas pela AIPIM, que deixa críticas às duas potências. “Lamentamos quer esta decisão anunciada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China face aos jornalistas norte-americanos quer as medidas anteriormente tomadas pelas autoridades dos Estados Unidos relativamente a jornalistas e órgãos de comunicação social chineses”.

O Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC, na sigla em inglês) revelou que, pelo menos, 13 jornalistas vão ser expulsos, distribuídos pelo The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post.

Trata-se de longe da maior expulsão de jornalistas estrangeiros da China nas últimas décadas. “Não há vencedores no uso de jornalistas como peões diplomáticos pelas duas maiores potências mundiais”, apontou o FCCC. Nos últimos seis anos, a China expulsou nove jornalistas estrangeiros, segundo o FCCC.

Pingue-pongue

A decisão chinesa reflecte a crescente hostilidade entre Washington e Pequim, que inclui já uma prolongada guerra comercial e tecnológica ou disputas em torno do acesso ao Mar do Sul da China.

Em editorial, a imprensa estatal chinesa virou o bico ao prego e culpou os Estados Unidos pela decisão do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “O impacto da decisão dos EUA não se limitará à imprensa, mas criará efeitos gerais negativos e novas incertezas no relacionamento”, avisou o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês.

“Estas medidas são completamente necessárias e são recíprocas. A China é obrigada a responder à opressão irracional que as organizações de média chinesa sentem nos Estados Unidos. São medidas legítimas e justificadas em todos os sentidos”, pode-se ler num comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A designada perseguição aos média chineses foi vista por Pequim como uma agressão típica da mentalidade e ideologia da Guerra Fria. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, contestou a comparação entre as acções dos EUA e da China, apontando que os jornalistas chineses em Washington desfrutam de liberdades de imprensa que não existem na China. “Identificámo-los como trabalhando em missões estrangeiras ao abrigo da lei norte-americana. São coisas diferentes. E lamento a decisão da China de reduzir ainda mais a capacidade do mundo de obter informação livre, em tempos particularmente difíceis”, disse, numa alusão clara aos desafios trazidos pela pandemia.

Questões editoriais

O trio de publicações agora afectadas noticiaram matérias politicamente sensíveis na visão do Governo Central, incluindo sobre alguns temas que são autênticos tabus para o Partido Comunista Chinês. Um exemplo óbvio é a cobertura, e mediatismo resultante, da situação em Xinjiang, com reportagens que se afastam da mensagem oficial de que os campos onde as autoridades detêm a minoria muçulmana uigure se destinavam à reeducação e aio combate ao extremismo.

Importa também salientar que as mesmas publicações publicaram incontáveis reportagens, no mínimo, comprometedoras para os sucessivos governos norte-americanos.

No início do mês, o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China já havia manifestado receios de que Pequim expulsasse mais jornalistas estrangeiros, depois de terem sido concedidos vistos de apenas um mês a dois repórteres. Pelo menos 12 correspondentes receberam credenciais válidas apenas por seis meses, ou menos, mais do dobro dos vistos de curta duração atribuídos no passado. Tipicamente, estes vistos são emitidos com a duração de um ano.

“As autoridades chinesas estão a usar os vistos como armas contra a imprensa estrangeira como nunca antes, no seguimento do declínio das condições para trabalhar”, referiu um jornalista, sem revelar a sua identidade, citado pelo South China Morning Post.

19 Mar 2020

O Filme do filme

[dropcap]A[/dropcap]o longo da quarta edição do Festival Internacional de Cinema e Entrega de Prémios de Macau (IFFAM) foram muitas as referências ao calvário que é o longo e rigoroso processo de censura a que são sujeitas as obras cinematográficas produzidas na China.

“A City Called Macau”, filme realizado pela chinesa Li Shaolong, galardoada internacionalmente por diversas ocasiões (inclusivamente com um Urso de Ouro em Berlim), é um desses exemplos de filme, que nunca chegou a ser o que era suposto à partida. Por causa “do juízo rigoroso em não mostrar nenhum aspecto que pudesse promover a indústria do jogo”, “A City Called Macau”, um filme que aborda precisamente a indústria do jogo em Macau, chegou às salas de cinema desmembrado, com cenas cortadas e num momento que não permitiu a sua participação nos grandes festivais de cinema do ano passado.

Mas também Juliette Binoche falou do assunto e deu talvez uma opinião importante sobre o tema. Quando questionada se estaria disposta a enfrentar a censura chinesa caso venha a trabalhar no país, a actriz fancesa que esteve de passagem por Macau, disse que “há muitas formas de ser livre” e que, estando “solidária com os artistas que não se podem exprimir livremente”, é preciso encontrar, apesar dos limites, um caminho (interior, pelo menos) que permita a cada um levar “a arte o mais longe possível”. Talvez o ideal não exista, mas talvez o ideal seja uma boa pista para querer fazer mais e não permitir quaisquer constrangimentos de partida. Allez!

13 Dez 2019

Media | Quase um quarto dos órgãos estrangeiros acreditados banidos da rede chinesa

[dropcap]U[/dropcap]ma análise do Clube de Correspondentes Estrangeiros na China concluiu que a censura do regime chinês bloqueia o acesso a quase um quarto das versões ‘online’ de órgãos noticiosos estrangeiros acreditados no país.
Entre os 215 órgãos de comunicação estrangeiros com correspondentes na China, 23 por cento estão inacessíveis para internautas chineses, ilustrando a dimensão da censura na Internet chinesa, num sistema conhecido como Grande Muralha Cibernética da China.
A mesma fonte detalha que, entre as organizações que publicam conteúdo em inglês, a língua estrangeira mais falada na China, a proporção sobe para 31 por cento.
“As autoridades chinesas referem frequentemente o seu compromisso com a abertura e a cooperação no ciberespaço, mas a censura da Internet da China bloqueia uma lista crescente de fontes globais de notícias”, aponta em comunicado o Clube de Correspondentes Estrangeiros.
Em simultâneo, Pequim, que há muito se queixa que a empresa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, tem investido milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

Por outro lado

A agência noticiosa Xinhua, o jornal oficial em língua inglesa China Daily ou a televisão estatal CGTN contam já com centenas de delegações além-fronteiras e têm agressivamente procurado parcerias no exterior, visando publicar conteúdo aprovado pela Propaganda do Partido Comunista Chinês, sob o selo de órgãos de comunicação independentes.
“A China está a tentar transformar o ambiente da informação global com injecções maciças de dinheiro: financiar publicações, coberturas jornalísticas e mensagens positivas”, descreve Louisa Lim, pesquisadora e professora na Universidade de Melbourne, à agência Lusa.
Desde 2017, o China Daily gastou quase 16 milhões de dólares para publicar suplementos em jornais norte-americanos, segundo dados reportados ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros, que exige que entidades que representam os interesses de outros países divulguem as suas finanças.
The New York Times ou Wall Street Journal são alguns dos órgãos que publicam suplementos do China Daily, mas cujas versões electrónicas estão bloqueadas no país asiático.

23 Out 2019

Media | Quase um quarto dos órgãos estrangeiros acreditados banidos da rede chinesa

[dropcap]U[/dropcap]ma análise do Clube de Correspondentes Estrangeiros na China concluiu que a censura do regime chinês bloqueia o acesso a quase um quarto das versões ‘online’ de órgãos noticiosos estrangeiros acreditados no país.

Entre os 215 órgãos de comunicação estrangeiros com correspondentes na China, 23 por cento estão inacessíveis para internautas chineses, ilustrando a dimensão da censura na Internet chinesa, num sistema conhecido como Grande Muralha Cibernética da China.

A mesma fonte detalha que, entre as organizações que publicam conteúdo em inglês, a língua estrangeira mais falada na China, a proporção sobe para 31 por cento.

“As autoridades chinesas referem frequentemente o seu compromisso com a abertura e a cooperação no ciberespaço, mas a censura da Internet da China bloqueia uma lista crescente de fontes globais de notícias”, aponta em comunicado o Clube de Correspondentes Estrangeiros.

Em simultâneo, Pequim, que há muito se queixa que a empresa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, tem investido milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

Por outro lado

A agência noticiosa Xinhua, o jornal oficial em língua inglesa China Daily ou a televisão estatal CGTN contam já com centenas de delegações além-fronteiras e têm agressivamente procurado parcerias no exterior, visando publicar conteúdo aprovado pela Propaganda do Partido Comunista Chinês, sob o selo de órgãos de comunicação independentes.

“A China está a tentar transformar o ambiente da informação global com injecções maciças de dinheiro: financiar publicações, coberturas jornalísticas e mensagens positivas”, descreve Louisa Lim, pesquisadora e professora na Universidade de Melbourne, à agência Lusa.

Desde 2017, o China Daily gastou quase 16 milhões de dólares para publicar suplementos em jornais norte-americanos, segundo dados reportados ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros, que exige que entidades que representam os interesses de outros países divulguem as suas finanças.

The New York Times ou Wall Street Journal são alguns dos órgãos que publicam suplementos do China Daily, mas cujas versões electrónicas estão bloqueadas no país asiático.

23 Out 2019

Também há censura no sexo

[dropcap]A[/dropcap] censura dos órgãos genitais bem que podia ser um problema do passado. Um pé é sempre um pé. Mas os genitais podem ser outra coisa qualquer? Formas de calão como passarinha, rata ou pipi existem por alguma razão. Censuramo-nos e coramos ao som de palavras simples como vulva ou pénis. A censura não precisa de ser regulada pelo sistema. Os poderes de censura também são individuais.

Gostamos de criar significados alternativos ao que nos é menos conveniente encarar, aquilo que julgamos prejudicial às nossas sociedades. O sexo à luz da tradição judaico-cristã é uma realidade dolorosa. Somos obrigados a reinventar o sexo com formas mais infantilizadas e simplistas para poder aceitá-lo. Tudo começa com o mito das abelhas, ou das cegonhas, ou de outro qualquer animal que parece estar envolvido na narrativa do sexo. A educação sexual mais progressiva é contra este fabular. Mascarar o sexo com a narrativa da abelha é evitar a naturalidade e a normalidade do prazer. Como se o sexo fosse um acto de violência que tenha que ser apagado para evitar a revolução das massas. Uma vulva é uma vulva, um pénis é um pénis e devemos usar essa linguagem desde cedo – são só os nomes cientificamente correctos. Há uma objectividade associada à simplicidade da nossa fisionomia. As múltiplas camadas de significado só ofuscam práticas de auto-consciência corporal e de sexualidade informada. A censura previne isso mesmo: conhecimento.

Claro que estamos cheios de narrativas, e até a simplicidade da nossa fisionomia vem de uma narrativa. Mas a narrativa não é ameaçadora, é só informativa. A forma como encaramos e entendemos factos não produzem consequências óbvias. Não falar abertamente sobre sexo não faz com que as pessoas não o tenham. O sexo vai continuar existir, mas menos informado. Este é o medo infundado que, por exemplo, justifica a resistência de alguns pais em aceitar educação sexual nas escolas. A censura funciona como um obstáculo a conversas honestas – somente – contribuindo para o triunfo do medo. Claro que o corpo feminino é mais passível à censura, porque o entendem como explicitamente sexual. Ao ponto de se sugerir censurar os mamilos femininos com mamilos masculinos. A segurança assexual de mamilos masculinos certamente consegue esconder a sensualidade dos femininos. Aliás, um rapaz chinês com um problema endócrino raro viu crescer-lhe uma mama. A foto que foi publicada desta situação peculiar censura o mamilo esquerdo (o que agora tem um aspecto mais feminino), mas deixa o masculino.

Os paradoxos do sexo e do género levam a isto.

Estas são representações que devemos (temos que) transformar. Não serve a ninguém continuarmos a censurar a linguagem de vulvas e de pénis, muito menos das imagens dos mamilos femininos (ou até pêlos púbicos, outro clássico) quando as consequências apontam para uma narrativa deficiente do sexo. As situações mais flagrantes mostram mulheres adultas que não sabem onde ficam a entrada da vagina, da uretra ou o clitóris porque não se fala sobre elas. Não sabermos do nosso corpo é tramado. Não entendermos as histórias que levaram a padrões duplos também não nos capacita para os destruir. Como se ficássemos para sempre cegos com uma perspectiva da história que afinal podia ser múltipla. Como a história de nações que, perante factos, são capazes de escondê-los como um gato escondido de rabo de fora, julgando a censura inevitável, como se fosse a obra da nossa natureza instintiva de protecção. Mas é só uma estratégia – uma escolha.

5 Jun 2019

Propaganda de Pequim alastra-se além-fronteiras face à crise na imprensa livre

Por João Pimenta, da agência Lusa

 

[dropcap]D[/dropcap]urante meio ano, o jornalista brasileiro Thiago Copetti viveu num condomínio de luxo, em Pequim, e viajou pela China, cortesia do Partido Comunista (PCC), que está a investir milhões para alterar narrativas sobre o país.

“Eles precisam que alguém fale por eles, e somos nós, que estamos aqui, a fazê-lo”, explica à agência Lusa o repórter do Jornal do Comércio, com sede no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Outros sessenta jornalistas, oriundos da América Latina, Ásia e África, participaram, em 2018, no mesmo programa, organizado pela agência noticiosa chinesa Xinhua, cujo presidente, Cai Mingzhao, é membro do Comité Central do PCC.

Também os jornais oficiais Diário do Povo e China Daily ou a Rádio Internacional da China (CRI, na sigla em inglês), têm promovido visitas do género, que, nos últimos anos, trouxeram ao país asiático milhares de jornalistas estrangeiros.

Trata-se de parte de uma estratégia mais ampla, cujo presidente da CRI, Wang Gengnian, compara a “sair para o oceano com um barco emprestado”.

Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, tem investido milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

A Xinhua ou a televisão estatal CGTN contam já com centenas de delegações além-fronteiras e têm agressivamente procurado parcerias no exterior, visando publicar conteúdo aprovado pela Propaganda do PCC, sob o selo de órgãos de comunicação independentes.

“A China está a tentar transformar o ambiente da informação global com injecções maciças de dinheiro: financiar publicações, coberturas jornalísticas e mensagens positivas”, descreve Louisa Lim, pesquisadora e professora na Universidade de Melbourne, à Lusa.

Esta investida foi oficialmente lançada em 2009, após protestos pró-independência do Tibete e em defesa dos Direitos Humanos terem acompanhado a passagem da Tocha Olímpica, em várias cidades do mundo, nas vésperas dos Jogos Olímpicos em Pequim.

Numa era em que a internet destruiu o modelo de negócio da imprensa tradicional, o regime chinês anunciou um investimento equivalente a 5,8 mil milhões de euros, visando reforçar a presença global dos seus órgãos de comunicação.

“Os grupos de comunicação estrangeiros dão as boas-vindas ao dinheiro chinês”, nota Lim, acrescentando que, “enquanto na China a imprensa é cada vez mais controlada, Pequim procura explorar as vulnerabilidades da imprensa livre além-fronteiras”.

Desde 2017, o China Daily gastou quase 16 milhões de dólares para publicar suplementos em jornais norte-americanos, segundo dados reportados ao abrigo da Lei de Registo de Agentes Estrangeiros, que exige que entidades que representam os interesses de outros países divulguem as suas finanças.

New York Times ou Wall Street Journal são alguns dos órgãos que publicam suplementos do China Daily, mas cujas versões electrónicas estão bloqueadas no país asiático. Em Portugal, a CRI assegura uma emissão diária através da Rádio Iris FM, sediada nos arredores de Lisboa.

Já em África, a mensagem chinesa chega também via filmes ou telenovelas, difundidos pela StarTimes, empresa de telecomunicações chinesa que apoiou dezenas de países africanos na transição de televisão analógica para digital, garantido o acesso das casas do continente a conteúdo audiovisual chinês.

Em Moçambique, o grupo estabeleceu a StarTimes Media, uma ‘joint-venture’ com a Focus 21, empresa controlada pela família do ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza.

Lily Meng, vice-diretora-geral do departamento de média do grupo, que faz a dobragem de conteúdos audiovisuais para português, inglês, francês, ou línguas regionais como suaíli ou iorubá, explica à Lusa que os objetivos da StarTimes passam por “divulgar a cultura chinesa” enquanto assegura um modelo de negócio sustentável.

Mas Dani Madrid-Morales, um pós-doutorado pela City University, de Hong Kong, que fez pesquisa sobre o grupo, considera que este “tem uma enorme componente ideológica”. “Os conteúdos seleccionados mostram uma China urbana, próspera, não controversa”, diz.

No programa em que Thiago Copetti participa, a selecção dos jornais e repórteres passa pela Xinhua e pela embaixada chinesa. “A Xinhua seleciona os veículos, o veículo escolhe o repórter, que depois tem que ser aprovado pela embaixada”, conta.

Copetti considera que os esforços chineses estão a produzir resultados. “Dentro da imprensa brasileira está a começar a tendência de se pegar na matéria das agências dos EUA ou Europa e fazer o contraponto com o que a Xinhua escreve”, nota. “Há pessoas da Xinhua que visitam os jornais para divulgar o trabalho da agência”, diz. “A Xinhua está a penetrar nos nossos jornais”.

10 Fev 2019

Bing | Motor de busca volta a estar acessível na China

[dropcap]O[/dropcap] motor de busca Bing, detido pela Microsoft, voltou sexta-feira a funcionar na China, depois de ter estado bloqueado, na quinta-feira.

“Confirmamos que o Bing esteve inacessível na China, mas que o serviço já foi restaurado”, afirmou um porta-voz da Microsoft, citado pela imprensa norte-americana.

Na quinta-feira, uma tentativa de abrir o Bing, a partir de um servidor na China continental, dava o resultado “A ligação expirou”, à semelhança do que acontece com outros portais bloqueados pelas autoridades chinesas, como o motor de busca da Google.

A interrupção temporária ilustra as dificuldades que as empresas estrangeiras enfrentam ao operar num sector altamente controlado.

O país com mais internautas no mundo (cerca de 700 milhões) é também um dos Estados que mais censuram o conteúdo ‘online’. Facebook, Twitter ou WhatsApp estão bloqueados, mas o país tem as suas próprias redes sociais – o Wechat ou o Weibo -, que contam com centenas de milhões de utilizadores.

As autoridades chinesas não revelaram qual o motivo que levou a bloquear o Bing, e mais tarde desbloquear, ou se, no futuro, aquele motor de busca continuará acessível no país.

O presidente da Microsoft, Brad Smith, que participa no Fórum Económico Mundial, em Davos, admitiu na quinta-feira que há “momentos de divergência” com as autoridades chinesas.

“Há momentos em que há negociações difíceis com o Governo chinês; ainda estamos a tentar descobrir o que é que se passou”, disse.

Pequim argumenta que a “criação de uma Internet limpa e justa” e a noção de “soberania do ciber-espaço” são essenciais para a estabilidade política e segurança nacional.

28 Jan 2019

AL | Nove deputados censuraram comportamento de Sulu Sou no último plenário

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]nome do mais jovem deputado de Macau nunca foi directamente identificado pelos seus pares, mas ainda assim foi alvo de ira dos deputados mais alinhados com a posição do Executivo. As críticas foram motivadas pela postura de Sulu Sou no plenário anterior, em que foi aprovada a criação do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), o órgão municipal sem poder político que inicia funções a 1 Janeiro.
Ma Chi Seng foi o primeiro a intervir: “No plenário de 30 de Julho, um deputado não respeitou, durante o seu uso da palavra no período de antes da ordem do dia, nem o Regimento da Assembleia Legislativa nem os colegas, o que merece a minha censura”. “Os comentários errados e o comportamento inadequado naquele dia provocaram um impacto negativo no bom funcionamento da AL”, afirmou o deputado nomeado, contestando os argumentos invocados contra o futuro órgão municipal. “Fizemos o que é correcto, mas fomos acusados de ‘matar a democracia municipal’ e isto é uma distorção da realidade”, lamentou Ma Chi Seng, apontando que “é impossível pôr em prática a democracia” com base em ‘slogans’, ignorando “os factos jurídicos”.
Ma Chi Seng qualificou ainda o comportamento de Sulu Sou como “indevido” por “não respeitar as opiniões da maioria dos colegas da AL, os resultados do esforço da Comissão em causa nem os governantes e outro pessoal presentes na reunião”.
Além dos termos para descrever a proposta de lei, tal como ‘lixo’” e das palavras “de carácter crítico e ameaçador”, o deputado condenou também a postura de Sulu Sou, afirmando que “gritar, ser mal-humorado e atirar coisas e abandonar a sala também são comportamentos que não respeitam o Regimento”. “Como deputado, deve servir de modelo e cumprir a lei e não introduzir na AL, a bel-prazer, modelos de brigas de rua”, atirou.
Radicalismo à solta
Lao Chi Ngai e Pang Chuan, igualmente nomeados, também arrasaram a atitude do jovem pró-democrata: “Lamentavelmente, um deputado, provavelmente sob a influência nociva do populismo, não concordou com os resultados da apreciação de uma proposta de lei que, entretanto, tinha conseguido o apoio da maioria (…) e optou por recorrer, em nome da democracia, a formas radicais, gritando muito até ficar rouco”.
A forma de agir de Sulu Sou, que “não parou de gritar ‘slogans’” mesmo após ter expirado o tempo para usar da palavra, equivale à de um “mau perdedor”, apontaram Lao Chi Ngai e Pang Chuan. “A sua tentativa de introduzir a má cultura parlamentar dos territórios vizinhos ou a cultura de manifestação no nosso hemiciclo põe em causa a solenidade”, sublinhou a dupla, sustentando que tal “não só provoca desrespeito”, como “não se adequa à essência parlamentar” de Macau. “Este comportamento distorcido deve ser alvo de censura e não se pode deixar que continue a acontecer no nosso hemiciclo”, defenderam.
Wu Chou Kit e Chan Wa Keong engrossaram o rol de críticas, classificando de “lamentável” a adopção de “expressões e citações indevidas, que não correspondem à verdade”. Iau Teng Pio e Fong Ka Chio afinaram pelo mesmo diapasão, contestando a afirmação de que “o nível da democracia de Macau retrocedeu”, numa intervenção conjunta dedicada igualmente a “esclarecer” factos históricos.
“Comparando com o passado, quando só os portugueses podiam participar na vida política e não havia canal de comunicação entre as duas comunidades, qual é mais democrático?”, questionaram. “Pedimos que corrijam os pontos de vista e comportamentos errados, provocadores de conflitos entre as comunidades, repondo a verdade histórica e evitando distorções, por forma a construir uma sociedade harmoniosa”.
A dupla de nomeados pelo Chefe do Executivo também atacou o vocabulário usado por Sulu Sou, considerando que o jovem pró-democrata não só desrespeitou os outros deputados, como o sistema representativo democrático, o que “também pode constituir uma violação do disposto no Regimento sobre os deveres dos deputados”.

Palhaçada na sagrada casa

Ao coro dos sete nomeados juntaram-se ainda Kou Hoi In e Ip Sio Kai, eleitos por sufrágio indirecto. “Aqueles que defendem essa teoria de reversão da democracia devem fazer uma auto-reflexão, não devem exagerar apenas para conseguir popularidade junto do público, fazendo afirmações irresponsáveis que contrariam gravemente os factos históricos”, apontaram, defendendo que, ao longo dos tempos, “os deputados que realmente querem servir a população têm trabalhado em silêncio, participando e apresentando opiniões construtivas”.
“Os deputados que querem mesmo aperfeiçoar as propostas de lei vão, com certeza, participar na sua apreciação nas comissões e apresentar as suas opiniões, portanto, não vão aguardar até à votação em plenário para, precipitadamente e face aos frutos do trabalho de vários meses das comissões, requerer que tudo volte a ser reapreciado. Afinal, quais são os assuntos de grande relevância que estão em causa? Nem o próprio interessado conseguiu esclarecer, portanto, é mesmo uma palhaçada e um abuso das regras”, afirmaram os deputados, numa intervenção conjunta.
“Na sagrada Casa Parlamentar, todas as intervenções e requerimentos devem ser prudentes e responsáveis, mas lamentavelmente parece que um deputado é demasiado brincalhão, aliás, só para se mostrar, abusando mesmo dos seus poderes, usou este hemiciclo como um teatro ou até obrigou toda a Assembleia a colaborar no seu ridículo espectáculo, afectando gravemente a eficiência desta Assembleia”, criticaram.
Kou Hoi In e Ip Sio Kai falaram ainda do conceito de democracia que, na sua perspectiva, “não é gritar nem barafustar”. Além disso, acusaram, o deputado “não respeitou, de todo, nem obedeceu à opinião da maioria e ao resultado da votação, pois entende que só ele é que está correcto e não consegue aceitar outras opiniões” e, “obviamente, usa a democracia para encobrir as suas ideias absolutistas”.
“O núcleo da democracia é respeitar os outros. Não pode falar de democracia quem é arrogante, intransigente, presunçoso, abusa do seu poder, não respeita as regras e não reúne qualidades para ser democrata. E chamar a si a pertença a um partido democrático é o maior insulto para a democracia”, afirmaram. “É de salientar que não se pode querer apenas o poder e ignorar o dever”, remata

8 Ago 2018

Hong Kong | Pequim contra evento de imprensa, ex-governador fala em censura

 

 

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma mensagem enviada à agência noticiosa France-Presse (AFP, o último governador da antiga colónia britânica afirmou: “Não há motivo para censurar as pessoas só porque não gostamos do que elas têm a dizer”.
Andy Chan, líder do Partido Nacional, em campanha pela independência da região administrativa especial de Hong Kong, foi convidado a discursar no histórico clube de imprensa, que regularmente convida personalidades para realizarem conferências abertas a membros e órgãos de comunicação. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu ao FCC para cancelar o evento, indicou a AFP.
Este pedido, o primeiro deste tipo desde 1997, data da transferência de soberania do Reino Unido para a China, surge numa altura em que Pequim continua a reforçar o domínio sobre a antiga colónia que, ao abrigo da lei básica local, goza de liberdade de expressão e poder judicial independente.

Espalhar falácias

A liberdade de expressão é “um dos pilares de uma sociedade aberta que vive no Estado de Direito” e era garantida pelo acordo sino-britânico, lembrou Patten.
“Sempre me opus à ideia de defender a independência de Hong Kong”, disse, embora sempre tenha apoiado “as liberdades locais e a autonomia ao mesmo tempo.” “Não é justo que Pequim se envolva em questões que deviam ser decididas por Hong Kong”, acrescentou.
Num comunicado divulgado na sexta-feira, o Ministério advertiu que se “opõe a qualquer força externa que forneça aos elementos da ‘independência de Hong Kong’ uma plataforma para espalhar falácias”.
Em 17 Julho passado, o Governo de Hong Kong iniciou um processo para ilegalizar o Partido Nacional, fundado em Março de 2016, por considerar estar em perigo a segurança nacional. Na altura, um investigador da organização não-governamental Amnistia Internacional Patrick Poon considerou que a tentativa de banir aquele partido “soa o alarme sobre o que o Governo tentará restringir de uma próxima vez em nome da segurança nacional”.

7 Ago 2018

China elimina milhares de vídeos e música online e investiga conteúdo pró-fascista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades chinesas eliminaram milhares de arquivos de vídeo e música online e estão a investigar obras “que promovem o fascismo e o militarismo”, informou o Ministério da Cultura e Turismo na quinta-feira, em comunicado.

O ministério removeu 4.664 produtos musicais online, mais de cem mil vídeos e 4.300 comentários de utilizadores por “infrações” genéricas e ordenou a 18 plataformas de música online a realização de “inspeções” ao seu conteúdo para que se autocensurem.

A mesma entidade ordenou às autoridades culturais do município de Pequim, bem como às das províncias de Zhejiang e Guangzhou para investigarem casos de “obras musicais online que glorifiquem o fascismo e o militarismo”.

A campanha chinesa visa “regular a ordem comercial do mercado de cultura online e investigar aqueles produtos culturais online que contêm conteúdo vulgar”.

Nesta última ação foram eliminados conteúdos de alguns dos fornecedores mais populares do país, como QQ Music, ou as páginas Douyin e Kuaishou que permitem aos utilizadores carregar e partilhar vídeos.

Por outro lado, 11 empresas de banda desenhada online retiraram da internet 977 obras e 167 histórias. Alguns meios de comunicação estatais já tinham acusado algumas dessas empresas de divulgarem “imagens sexualmente sugestivas” e até mesmo “conteúdo incestuoso”, de acordo com o jornal China Daily.

O ministério acrescentou que vai reforçar a supervisão sobre os operadores para os obrigar a tomarem “medidas fortes” contra o conteúdo pornográfico, vulgar, violento e pouco ético, assim como contra todos aqueles que incitem ao crime.

Na semana passada, a China tinha lançado uma campanha contra 19 aplicações de vídeo, incluindo Bilibili e Miaopai, populares entre os adolescentes, que acusou de difundir conteúdo “obsceno, violento ou pornográfico”, bem como de “promoverem informação distorcida”.

A ação resultou no encerramento definitivo de três aplicações e a retirada da Bilibili por um mês da loja de aplicativos Android.

A campanha é liderada pela Administração do Ciberespaço da China que tem desde quarta-feira um novo responsável, Zhuang Rongwen.

5 Ago 2018

China | Censura tenta controlar narrativa sobre guerra comercial

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] censura chinesa está a tentar controlar a narrativa sobre a guerra comercial com Washington, através de uma lista enviada à imprensa doméstica sobre o que pode ou não escrever, revelou um jornal de Hong Kong.

O jornal South China Morning Post (SCMP), que cita quatro jornalistas chineses não identificados, diz que as autoridades pediram à imprensa que seja “extremamente cuidadosa” para não relacionar a guerra comercial com a queda nas praças financeiras chinesas, a desvalorização do yuan ou o abrandamento da economia, visando evitar o pânico.

No espaço de um mês, a bolsa de Xangai caiu já mais de 9 por cento, enquanto o yuan, a moeda chinesa, tem desvalorizando continuamente, reflectindo o nervosismo dos investidores, face às disputas comerciais entre Pequim e Washington. “Quando reportamos uma queda na bolsa ou a desvalorização do yuan não podemos escrever ‘guerra comercial’ na manchete”, contou ao SCMP um dos jornalistas. Outro jornalista contou que “diferentes organizações terão margens distintas na cobertura”.

A imprensa estatal com maior posicionamento político está autorizada a publicar notícias e editoriais sobre a guerra comercial, enquanto a imprensa local e portais electrónicos podem apenas republicar conteúdo dos órgãos oficiais, e sem dar muita relevância ao tema.

É também proibido publicar uma tradução imediata de afirmações do Presidente norte-americano, Donald Trump, no Twitter, rede social que está bloqueada na China.

17 Jul 2018

Festival Rota das Letras | Uma baixa, uma derrota

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cancelamento da vinda de três escritores ao Rota das Letras, por ser considerada uma presença “inoportuna”, foi imposto ao director do festival através de um “conselho” oriundo do Gabinete de Ligação, que alvitrava a hipótese de lhes ser recusada a entrada na RAEM. Quer o Secretário Alexis Tam (responsável pela área da Cultura), quer o Secretário Wong Sio Chak, afirmaram desconhecer o assunto. Este último falou mesmo de um “rumor”.

Certo é que os escritores não vêm e estamos perante um precedente perigoso e inexplicável. Ou seja: desde quando é que o princípio “Macau governado pelas gentes” caiu em desuso e o Gabinete de Ligação explica aos serviços de imigração quem deve ou não deve entrar na região? Quem governa realmente Macau? E a não ser o Executivo de Chui Sai On, deveremos ouvir o Gabinete de Ligação ou o Ministério dos Negócios Estrangeiros? Quem podemos responsabilizar por decisões como esta que, infelizmente, mancha a imagem de Macau no exterior e desassossega intelectuais e criativos aqui na terra?

Na verdade, e poderá ser coincidência, no seu último discurso referente à RAEM, o primeiro-ministro Li Keqiang insistiu no princípio Um país, Dois Sistemas mas ter-se-á esquecido de invocar, como sempre tinha feito, a garantia de que Macau seria governado pelos seus residentes e não por Pequim. Será que algo mudou e não nos disseram nada?

Ontem, em pleno segundo dia de programação, o ambiente no Rota das Letras era pesado e, obviamente, o tema geral das conversas passava pelo cancelamento da vinda dos escritores. Uma sombra vergava o ânimo das pessoas e muitas questões sobre o futuro dos nossos quotidianos em Macau, inevitavelmente, foram colocadas. A própria existência do Rota das Letras, um dos mais significativos eventos culturais da RAEM, perante esta baixa, foi questionada e posta em causa. E todos já saímos derrotados: a organização do evento, o público, os escritores, o Governo, o Gabinete de Ligação, a população da RAEM e, sobretudo, a imagem internacional da cidade.

Que Macau é este e com que linhas nos cosemos? A Lei Básica é para cumprir ou vai ser alterada? O segundo sistema só existe no plano económico a partir de agora? E o que fazem Chui Sai On e os secretários, que poder realmente detêm? Se as mudanças constitucionais em Pequim já bastavam para causar apreensão, a actual situação em Macau também apresenta contornos inéditos e, porque estamos perante repressão, preocupantes.

Precisamos de saber: até quando continuará a liberdade a passar por aqui?

12 Mar 2018

A grande purga

[dropcap]N[/dropcap]ão disseram muito, à chegada. Mostraram-nos a identificação e perguntaram-nos pela exposição temporária. Com um nó na garganta, porque não os esperávamos e porque da presença deles nunca resultava nada de bom, conduzi-os até à ala onde eram ultimados os preparativos da exposição. “Estejam à vontade”, disse-lhes, “obrigado, estamos sempre”, respondeu um deles.

Os vídeos não lhes mereceram especial atenção. O mais velho, no entanto, deteve-se num quadro. “Confirma-me que isto faz parte da exposição?”, dirigiu-se-me. “Sim”, respondi, “é um dos trabalhos constantes do catálogo. “Bem, já vi o suficiente”, adiantou. “Fechem tudo”. “Como”? Respondi, incrédulo. “Esta exposição foi devidamente autorizada pelo Ministério da Arte e da Moral, como consta do documento afixado à entrada do museu. Enviámos fotografias de todas as peças que pretendemos exibir e nenhuma foi alvo de objecção, tenho a certeza de que”. “Fechem tudo”, interrompeu-me, “fechem tudo agora mesmo”.

Aparentemente, havia sido uma notícia numa revista de celebridades que espoletara o encerramento coercivo da exposição. Um rapaz alegava que certa vez tinha ficado sozinho com o artista e que este comentara o seu aspecto físico. O artista, claro está, era o autor das peças que nos preparávamos expor. Uma notícia destas podia passar perfeitamente despercebida ou propagar-se pelas redes sociais como lume em pasto seco. É fácil perceber o que acontecera. Replicada vezes sem conta ao longo do dia, a notícia obrigou o Ministério a tomar uma posição que aplacasse a fúria justiceira que ameaçava repercutir-se negativamente na imagem do governo.

Fecharam a exposição, queimaram as peças apreendidas e encerraram-nos o museu durante seis longas semanas, nas quais tivemos que fazer vários pedidos de desculpa públicos e demonstrar “o mais sério e sincero arrependimento respectivo aos factos que motivaram o castigo aplicado”. Demos diversas entrevistas através das quais aferimos a avaliação que as redes sociais faziam da nossa sinceridade. Se desconfiassem da honestidade da nossa contrição, poderiam nunca mais autorizar a reabertura do museu. Felizmente, o nosso advogado era muito competente na gestão de processos públicos desta natureza. Para além da preparação que nos ministrou antes de cada entrevista, ainda nos deu uns comprimidos – de que nunca ouvira falar – que nos fazia parecer imbuídos de pena como se tivéssemos acabado de enterrar o nosso melhor amigo. “A molécula da tristeza”, segredava-nos, enquanto tomávamos os comprimidos.

Felizmente, a pena foi a menor possível. O museu, apesar das perdas consideráveis que uma publicidade desta natureza acarreta, sobreviveu. O mesmo não se pode dizer do autor das peças que originaram o castigo a que fomos sujeitos. Depois de semanas de bullying público – queimaram-lhe o carro, envenenaram-lhe o cão, grafitaram-lhe as paredes – o homem acorreu à polícia para pedir ajuda. Após consultarem o processo, disseram-lhe que nada podiam fazer: o Ministério da Arte e da Moral tinha ascendente hierárquico sobre o Ministério do Interior, que tutelava a polícia.

Um dia, ao sair do supermercado, deu conta de que o filho chorava compulsivamente. “Eles disseram-me que te iam esfolar vivo à minha frente, pai”. Irado, virou-se para trás e gritou indiscriminadamente para as pessoas que se acotovelavam junto das caixas registadoras. Alguém terá testemunhado ter ouvido um insulto de género. Era dos poucos casos do processo penal que dispensavam provas ou testemunhos. Foi condenado a dois anos de prisão mas não chegou a cumpri-los. Suicidou-se passados seis meses e várias surras recebidas.

5 Fev 2018

Escondam o Courbet, eles vêm aí

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]gora são os quadros. Não aqueles capazes de causar controvérsia e que, de modo mais ou menos feliz, fazem luz sobre as contradições da contemporaneidade. São obras perfeitamente integradas no cânone da história da arte ocidental e, por vezes, tão discretas e inofensivas que sobre elas recai unicamente a atenção dos especialistas. À partida, não há muito para dizer sobre Egon Schiele que já não tenha sido dito. E, ainda assim, consegue ser notícia, por razões que lhe são alheias e que configuram um quadro de puritanismo revisitado a que Schiele teria provavelmente respondido com muito mais ousadia do que aquela que a censura lhe descobre agora.

Reformulemos: não é de censura em sentido canónico de que se trata; não é um programa de estado ou sancionado por uma autoridade central com o intuito mais ou menos explícito de moldar a sociedade em função de um determinado programa político. É uma coisa muito mais anónima, volátil e caprichosa, disseminada em grande parte pelas redes sociais, posta em prática por activistas de sofá e ratificado por uma ou mais minorias que reclamam dores próprias ou alheias como pretexto e fundamento para a tomada de uma posição moral. E tudo se resume a isto: o mundo ideal é um lugar de onde toda a possibilidade de afectação negativa deve ser eliminada. O disparate desta tese pode ser visto de dois ângulos distintos. Em primeiro lugar, se pensarmos num mundo como uma imensa sala de estar cuja climatização depende das definições escolhidas para o ar condicionado, é fácil percebermos que será não somente impossível regular todos os parâmetros de forma a satisfazer toda a gente como a constante afinação milimétrica exige da sociedade a imposição de uma vigilância neurótica. Por outra parte, a tese referida parte do pressuposto ingenuamente epicurista segundo o qual tudo quanto é desagradável ou inquietante é moralmente condenável e pernicioso. Uma das características mais interessantes de uma obra de arte, a de ser desafiante e perturbadora, deixa de ser uma vantagem para a compreensão deste ou de outro tempo e desta ou de outras culturas para passar a ser uma obsolescência agressora que reduz a obra de arte a um insulto sem mérito. Não é difícil imaginar no que se transformariam os museus acaso a curadoria das exposições fosse entregue aos activistas da higiene.

Esta posição moral, de que os subscritores garantem o carácter justo, é tudo menos justa e tudo menos moral. É uma posição acrítica, sem qualquer fundamento teórico e absolutamente infantil. Rege-se pelo princípio da máxima subjectividade em duplo sentido: qualquer pessoa que se sinta afectada negativamente por qualquer coisa pode e deve exigir que a fonte desse desconforto seja eliminada ou escondida. Não visa uma ideia de uma sociedade mais equilibrada e madura – pois tal exige esforço e sacrifício – nem propõe qualquer alternativa que não seja a abolição – pois tal exige pensamento. Propõe banir coisas e, a reboque de tudo quanto as sociedades civilizadas lograram obter em termos de ganhos sociais – a abolição da escravatura, o sufrágio universal, o reconhecimento constitucional dos direitos de todos os cidadãos – o seu fim último, mesmo que o desconheça, é o de deitar fora o bebé com a água do banho. Veste progresso mas tresanda a retrocesso. Diz-se da liberdade mas age como o mais empedernido fascista.

Por isso quando surgem notícias como a censura dos cartazes publicitários da exposição de Egon Schiele pela empresa de transportes públicos londrinos ou o mais recente caso de petição asinina – relativa a um quadro de Balthus (Thérèse Révant) – exigindo a remoção de uma obra constante da exposição permanente do MET, apetece perguntar para que serviram guerras mundiais e cadafalsos quando o monstro, na verdade, aprendeu a caminhar incólume mesmo no meio de nós.

11 Dez 2017

Instituições forçadas a escolher entre dinheiro e censura

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m caso de censura na China envolvendo a editora da universidade britânica de Cambridge despertou o alarme para o risco da extensão do totalitarismo político de Pequim além-fronteiras, face ao seu crescente peso económico.

Na semana passada, a editora Cambridge University Press (CUP) cumpriu com um pedido da Administração Estatal da Rádio, Cinema e Televisão da China e bloqueou 300 artigos da versão electrónica da publicação The China Quarterly no país.

Os artigos censurados abordam assuntos sensíveis para o regime chinês, como o massacre na praça Tiananmen, em 1989, a Revolução Cultural (1966-76) e a questão do Tibete.

Para justificar a decisão, a CUP citou o receio partilhado por muitas empresas: ver o seu acesso ao vasto mercado chinês ser fechado, a menos que cumprisse com as exigências do regime.

Não seria uma novidade. O motor de busca Google, por exemplo, está bloqueado na China desde 2010, quando acusou Pequim de espiar o correio electrónico no Gmail de dissidentes e rejeitou compactuar com a censura do regime.

Um dos casos mais badalados dos últimos anos envolvendo a censura chinesa além-fronteiras ocorreu em Portugal, durante uma conferência que reuniu centenas de sinólogos na Universidade do Minho.

Páginas do programa contendo informação sobre a Fundação Chiang Ching-kuo, uma organização académica de Taiwan que promove o estudo do chinês, foram arrancadas, a mando da diretora-geral do Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa.

O episódio passou-se em Braga, mas as autoridades chinesas justificaram a sua atitude com a necessidade de cumprir com as “regulações chinesas”.

O acto foi publicamente condenado pela Associação Europeia de Estudos Chineses, como uma “interferência totalmente inaceitável”. O Wall Street Journal descreveu-o como “violência contra a liberdade académica”.

Sinal de alerta

No caso que envolveu o China Quarterly, a publicação voltou a colocar os artigos ‘online’ esta semana, face aos protestos de vários académicos.

Mas Jonathan Sullivan, um dos membros do comité executivo da publicação e autor de um dos artigos censurados, afirmou que o incidente deve servir de alerta.

“Temos prestado pouca atenção à forma como devemos lidar com esta nova tentativa [da China] de importar as normas da cultura política chinesa para salas de aulas ocidentais cheias de alunos chineses, ou como manter os valores académicos face a tentativas de censurar o nosso trabalho”, escreveu Sullivan.

Na Feira Internacional do Livro de Pequim, cuja edição deste ano decorre esta semana, a autocensura há muito que é prática corrente.

Citado pela agência France-Presse, o director da Mosaic8, uma editora de livros para ensino, lembra que cabe ao Governo autorizar a venda dos livros na China.

“Por isso, é do interesse das editoras não publicar nada que irrite as autoridades”, afirmou Lowe.

Em editorial, um jornal do PCC colocou a questão da seguinte forma: “Se as instituições ocidentais pensam que o mercado da Internet chinesa é tão importante que não o podem perder, têm de respeitar a lei chinesa e adaptar-se aos costumes locais”.

No caso da CUP, “não é verdade que ‘qualquer pessoa pode ter a sua opinião’, lembrou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. “Trata-se de um jogo de poder. Só o tempo dirá quem está certo”, acrescentou.

28 Ago 2017

Cambridge | Petição contra censura no portal da Universidade

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ários académicos assinaram uma petição para a universidade britânica de Cambridge repor mais de 300 artigos politicamente sensíveis, removidos do seu ‘site’ oficial na China a pedido das autoridades chinesas.

A Cambridge University Press (CUP) afirmou na sexta-feira que cumpriu com um pedido para bloquear alguns artigos da versão electrónica da publicação “The China Quarterly”, na China.

Os artigos censurados tocam em assuntos sensíveis para o regime chinês, como o massacre na praça Tiananmen, em 1989, a Revolução Cultura (1966-76) e a questão do Tibete.

Desde que o Presidente chinês, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013, as autoridades têm aumentado a repressão sobre possíveis fontes de oposição ao Partido Comunista Chinês, incluindo advogados que trabalham em casos sensíveis, organizações não-governamentais e igrejas.

Académicos dizem que as universidades têm também sido submetidas a um crescente controlo ideológico, incluindo acompanhamento frequente nas salas de aula.

Christopher Balding, professor associado de economia na Peking University HSBC Business School, na cidade de Shenzhen, disse ter lançado o abaixo-assinado, como forma de colocar pressão não só sobre a CUP, mas também universidades e académicos que interagem com a China, e para que as instituições se revoltem contra a censura oficial.

A petição apela à CUP para que recuse acatar com a censura do Governo chinês e afirma que académicos e universidades têm o direito de boicotar a instituição e as suas publicações, caso cedam às exigências das autoridades.

O texto que acompanha o abaixo-assinado escreve que os académicos acreditam no intercâmbio livre e aberto de ideias e informação e que é “perturbador que a China esteja a tentar exportar a sua censura em assuntos que não se encaixam na sua narrativa preferida”.

Na segunda-feira, mais de 200 pessoas tinha assinado a petição.

Servir a lei

Em editorial, o jornal oficial Global Times escreveu que a China bloqueia alguma informação em ‘sites’ estrangeiros, considerada prejudicial para a sociedade chinesa, e que a CUP tem que cumprir com a lei chinesa se quer estabelecer um servidor na China.

Se as instituições ocidentais “pensam que o mercado da Internet chinesa é tão importante e que não o podem perder, têm que respeitar a lei chinesa e adaptar-se aos costumes locais”, escreveu o Global Times.

22 Ago 2017

Apple retira da loja na China aplicações que contornam censura da internet

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] norte-americana Apple retirou da loja na China aplicações com VPN (Virtual Proxy Network), mecanismo que permite aceder à internet através de um servidor localizado no estrangeiro e é usado no país para contornar a censura oficial.

‘Sites’ como o Facebook, Youtube e Google ou ferramentas como o Dropbox e o WeTransfer estão bloqueados na China. As versões electrónicas de órgãos de comunicação como o The New York Times ou o Economist também estão censuradas.

A VPN cria ligações criptografadas entre computadores e pode ser usada para abrir portais bloqueados pela censura do regime comunista.

Desde Janeiro, Pequim exige que as empresas que fornecem este serviço obtenham licenças do Governo.

“Fomos convidados [pelas autoridades chinesas] a remover alguns aplicativos de VPN que não cumprem as novas regras”, admitiu no domingo a Apple, num comunicado citado pela agência noticiosa France Presse (AFP).

“Estas aplicações estão disponíveis em todos os outros mercados onde são permitidas”, acrescentou a empresa.

Dois fornecedores, a Express VPN e a Star VPN, disseram este fim-de-semana terem sido informados pela Apple de que os seus produtos deixaram de estar disponíveis na China.

Em comunicado, a Express VPN classificou a medida de “surpreendente e lamentável”.

“Estamos decepcionados com esta decisão, que é a medida mais drástica que o Governo chinês tomou até agora para bloquear o uso da VPN. E estamos incomodados por ver a Apple a ajudar a China nos esforços para censurar”, acrescentou.

Na rede de mensagens instantâneas Twitter, a Star VPN escreveu: “Este é um precedente muito perigoso, que pode levar a decisões semelhantes em países como os Emirados Árabes Unidos, e outros onde os governos controlam a internet”.

Espaço soberano

A China é o segundo maior mercado do mundo da Apple, a seguir ao dos Estados Unidos.

A nação mais populosa do mundo, com 1.375 milhões de habitantes, tem o maior número de utilizadores de internet do planeta.

Porém, um relatório da unidade de investigação norte-americana Freedom House coloca o país como o que mais censura a rede, entre 65 nações estudadas, abaixo do Irão e da Síria.

A medida reflecte a visão do Presidente chinês, Xi Jinping, de “soberania do espaço cibernético” ou o direito de Pequim em limitar a actividade ‘online’ dos cidadãos, com o argumento de que o controlo é uma questão de segurança nacional.

1 Ago 2017

Internet | China aumenta censura e quer impedir uso de VPN

As redes sociais desempenham hoje um papel fundamental na modernização e reforma na China. Mas o governo insiste em manter um controlo apertado da internet. Nos últimos meses a censura tem apertado, o que pode colocar em risco o próprio desenvolvimento do país. O próximo passo é proibir o VPN.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o longo deste ano, a censura da internet têm aumentado na China. Se, por um lado, o país assume que quer dar saltos gigantescos em termos de modernização digital; por outro, parece temer as consequências políticas da evolução tecnológica.

É sabido que muitos portais estrangeiros estão proibidos na China. Facebook, Youtube, Google, etc., ficam do outro lado da chamada “Great Firewall of China”. Por isso, muitos internautas chineses e estrangeiros residentes têm usado a chamada VPN (Virtual Proxy Network), um mecanismo que permite aceder à Internet através de um servidor localizado além-fronteiras. O VPN permite aceder a esses portais proibidos, o que se tem revelado muito útil, sobretudo para as empresas estrangeiras com filiais no País do Meio. O sistema cria ligações criptografadas entre computadores e pode ser usado para abrir portais bloqueados pela censura chinesa.

Mas agora a China quer impedir o uso de VPN. Numa carta enviada a clientes corporativos, citada pela agência Associated Press, o maior fornecedor de acesso à Internet do país diz que o uso de VPN será apenas permitido para ligar à sede da empresa no estrangeiro.

Medo atrás de medo

A carta enviada pela China Telecom Ltd. diz que os utilizadores de VPN vão ser impedidos de aceder a portais fora da China. Portais como o Facebook, Youtube e Google ou ferramentas como o Dropbox e o WeTransfer estão bloqueados na China. As versões electrónicas de órgãos de comunicação como o The New York Times ou o Economist também estão censurados.

A carta repete um anúncio feito em Janeiro de que apenas VPN autorizadas pelas autoridades chinesas serão permitidas. A mensagem suscitou receios de possível fuga de segredos comerciais ou informação, entre empresas que questionam a fiabilidade dos serviços encriptados chineses e a possibilidade de as autoridades acederem às suas mensagens. Os reguladores anunciaram em Janeiro uma campanha para erradicar o uso de VPN usadas para contornar a censura do regime.

A medida reflete a visão do Presidente chinês, Xi Jinping, de “soberania do espaço cibernético” ou o direito de Pequim em limitar a actividade dos seus cidadãos ‘online’. O controlo sobre a informação é especialmente sensível este ano, já que no outono vai decorrer o congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o mais importante acontecimento da agenda política chinesa, que se realiza de cinco em cinco anos.

Esta semana, o regulador municipal de Pequim para a Internet anunciou que pediu aos operadores de portais, incluindo o Baidu e a Tencent, para que removem material que “distorça a história da China e do Partido” e “promovam valores anormais”.

Pequim tem repetidamente pressionado empresas estrangeiras para que disponibilizem tecnologia, conhecimento encriptado e outros segredos comerciais, em troca de acesso ao seu mercado. As empresas a operar na China apontam o controlo da Internet como um dos maiores obstáculos às suas operações no país.

Empreendedor sofre

Mas não são apenas os estrangeiros que sofrem com o recrudescimento da censura. Os próprios negócios dos cidadãos chineses estão a ser gravemente afectados, sobretudo os novos negócios, as startups, que dequem o presidente Xi tanto fala. A verdade é que este recente movimento do governo para suprimir conteúdos na internet tem preocupado uma diversa comunidade de cineastas, blogueiros, membros dos media e educadores, que temem que os seus portais possam ser fechados por causa do controlo mais rígido do governo.

Em Junho, os reguladores fecharam portais de celebridades, restringiram quais tipos de vídeos as pessoas podem publicar e suspenderam os serviços online de streaming -– tudo isso sob alegações de conteúdo impróprio.

Uma associação do sector fez circular uma nova regulamentação de efeito imediato determinando que pelo menos dois “auditores” terão que analisar todo conteúdo audiovisual publicado online para garantir que esses conteúdos sejam fiéis aos “principais valores socialistas”. Tópicos considerados inapropriados incluem vício em drogas e homossexualidade, disse a Associação de Serviços de Transmissão Online da China, afiliada ao governo e que representa mais de 600 membros.

“De acordo com estas regras de censura, nada vai passar, o que vai exaurir a criação audiovisual artística”, escreveu Li Yinhe, uma académica que estuda sexualidade na Academia Chinesa de Ciências Sociais, mantida pelo governo. Sob as novas regras do governo, obras como a ópera “Cármen”, de Georges Bizet, e “Otelo”, de Shakespeare, tecnicamente teriam que ser banidas por mostrarem prostituição e exibirem cenas explícitas de afecto, disse.

As regras, que afectam gigantes das redes sociais como Weibo, bem como pequenas plataformas que têm florescido no movimentado espaço criativo online da China, representam as mais recentes medidas para endurecer a fiscalização na internet, antes do Congresso do Partido Comunista no segundo semestre, quando o presidente Xi Jinping deve consolidar seu poder.

“Costumávamos descrever a constante regulação conta-gotas como a fervura de um sapo em água morna. Agora está a escaldar com água a ferver”, disse à Reuters Wang Xiaoxiao, um agente de talentos que representa diversos actores que conquistaram fama na internet.

A internet é o melhor instrumento de domínio inventado pelo Homem

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o contrário do que muitos ocidentais pensam, a internet na China não é, aparentemente, muito diferente de qualquer outro país. Vamos ali encontrar gente mal disposta, revoltada, crítica, pouco disposta a mostrar-se compassiva ou harmoniosa. Isto é o que revela um estudo, feito pela Universidade de Harvard, divulgado pelo jornal inglês The Guardian. A ideia de que a internet chinesa é constituída por um conjunto de gente tímida e sem face visível é, segundo o estudo, ridícula.

A investigação também revelou que a maior parte dos conteúdos censurados, além do habitual Falun Gong, pornografia e democracia, prendem-se com publicações que incitem ao activismo, mesmo que este seja a favor do governo. Gente na rua, manifestações, concentrações espontâneas, não. O governo não permite esse tipo de publicação, ainda que defenda os seus pontos de vista.

Por outro lado, a internet é extremamente útil ao Governo Central porque, por não possuir os feedbacks proporcionados por uma situação de liberdade democrática, é através da rede que vai tomando o pulso ao país, nomeadamente nas regiões mais longínquas. A internet tornou-se assim numa espécie de sistema de aviso prévio que permite ao governo agir antes que uma situação desagradável ocorra. Por exemplo, se surgem publicações sobre a corrupção num município, o governo central pode agir antes que o desagrado se torne demasiado público e provoque agitação social.

Além disso, fala-se do “exército de 50 cêntimos”, um grupo de dois milhões de pessoas, cuja ocupação é colocar publicações na internet, a 50 cêntimos cada uma. E, se no princípio estes actores da net respondiam ao críticos do governo, hoje mudaram de táctica: criam outros assuntos que desviam a atenção dos internautas para outras áreas. Isto para além de continuamente louvarem o Partido Comunista e o modo como conduz a China.

Economia digital cresce quase 20%

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] economia digital da China cresceu 18,9%, em 2016, para 22,6 biliões de yuans, ultrapassando o ritmo de crescimento do conjunto da economia, indica um estudo do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação chinês. A economia digital compôs 30,3% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, no ano passado, de acordo com o mesmo estudo, apontando que se for considerado o impacto indireto, o contributo ascende a 69,9%. Este sector inclui modelos de negócio como o comércio electrónico, computação em nuvem ou pagamentos via carteiras digitais, que têm na China uma difusão ímpar a nível mundial. O crescimento da economia digital, em 2016, supera o ritmo de crescimento da economia chinesa, de 6,9%. O estudo estima que o sector alcance os 32 biliões de yuans, em 2020, e que em 2030 componha metade do PIB do país.

21 Jul 2017

WhatsApp regista interrupções

 

A aplicação de mensagens instantâneas tem registado, desde terça-feira, interrupções no serviço na China, suscitando receios de que possa ser parcialmente bloqueado no país, à semelhança de várias outras ferramentas ‘online’ estrangeiras.

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante grande parte de terça-feira, o WhatsApp esteve inacessível na China, a menos que os utilizadores recorressem a uma VPN (Virtual Proxy Network), mecanismo que permite aceder à Internet através de um servidor localizado fora do país. Muitos dos utilizadores na China daquele serviço de mensagens instantâneas, que é detido pelo Facebook, são estrangeiros a residir no país, que têm assim uma alternativa ao WeChat, o serviço chinês mais utilizado no país, mas que está sujeito ao controlo e censura impostos pelas autoridades locais.

As interrupções no serviço do WhatsApp surgem num período politicamente sensível para a China. No outono, vai decorrer o congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o mais importante acontecimento da agenda política chinesa, que se realiza de cinco em cinco anos. Na semana passada, o activista chinês e prémio Nobel da Paz de 2010 Liu Xiaobo morreu enquanto cumpria uma pena de prisão de 11 anos por subversão contra o poder do Estado.

Um estudo divulgado esta semana pela Universidade de Toronto mostra como a censura chinesa conseguiu bloquear, em tempo real, imagens de homenagens a Liu, em conversas privadas no ‘Wechat’, ilustrando a sofisticação do sistema de reconhecimento de imagens do aparelho de censura do regime. Na noite de terça-feira, já era possível enviar mensagens através do ‘WhatsApp’ na China, mas não partilhar imagens.

Um pesquisador chinês, conhecido pelo pseudónimo Charlie Smith, considerou que as autoridades optaram por bloquear todas as mensagens não escritas, precisamente porque não conseguiam fazer uma censura selectiva, como no ‘WeChat’, que pertence ao gigante chinês da internet Tencent. Como o conteúdo do WhatsApp é encriptado, “eles optaram por fazer uma censura bruta de todas as mensagens não escritas”, afirmou Smith, citado pela agência Associated Press (AP).

“Não seria de surpreender que tudo no WhatsApp fosse bloqueado, forçando os utilizadores na China a usar serviços não encriptados, censurados e monitorados, como o WeChat”, acrescentou.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse na terça-feira não ter qualquer informação sobre o que se passou com o WhatsApp.

Com 1,2 mil milhões de utilizadores, o WhatsApp é um dos serviços de mensagens instantâneas mais usado no mundo. É detido pelo Facebook, que está bloqueado na China desde 2009. A plataforma digital de distribuição de vídeos Youtube, a rede de mensagens instantâneas Twitter ou o motor de busca Google também estão bloqueados na China, com Pequim a argumentar que redes sociais a operar fora do seu controlo constituem uma ameaça para a segurança nacional.

As autoridades têm também prestado crescente atenção a aplicações que utilizam mensagens encriptadas. Depois de Pequim ter lançado uma campanha contra ativistas e advogados dos Direitos Humanos no país, em 2015, o Diário do Povo, jornal oficial do PCC, apontou a aplicação ‘Telegram’ como a plataforma onde os advogados coordenavam as suas atividades. Em tribunal, os advogados foram também forçados a confessar como usavam aplicações de mensagem encriptadas para comunicar livremente com colaboradores estrangeiros. O Telegram foi, entretanto, bloqueado no país, e muitos dissidentes chineses optam agora por utilizar o WhatsApp.

20 Jul 2017

Ursinho Pooh censurado na China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desenho infantil ursinho Pooh foi censurado na China, segundo a agência France Presse. O motivo? Memes comparando o presidente Xi Jinping com o personagem amado por tantas crianças. O ursinho tem aparecido no lugar do governante chinês na internet desde 2013, principalmente na rede social Weibo. Em entrevista ao Financial Times, Qiao Mu, professor assistente de comunicação na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, afirmou: “Historicamente, duas coisas não são permitidas: organização política e ação política. Mas este ano um terceiro foi adicionado à lista: falar sobre o presidente.” A primeira brincadeira envolvendo Xi Jinping com Pooh foi uma comparação de uma imagem do governante com o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A publicação colocava lado a lado a imagem de Pooh e seu colega Tigre numa posição semelhante à dos dois presidentes. A outra brincadeira veio tempos depois, quando os internautas compararam Xi Jinping e o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe aos personagens momento Pooh e outro amigo.

19 Jul 2017

Libertem os mamilos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]erá que é assim tão simples, libertar os mamilos? Eu diria que não é fácil. Há qualquer coisa de especialmente escandaloso, chocante e perverso no mamilo, feminino, claro!  Não que esta seja a minha opinião mamária (muito pelo contrário), mas o meu contacto diário dá-me a entender que esta é a opinião geral. Tópicos como sutiãs, aleitamento ou cancro da mama revelam os macaquinhos conceptuais e a constante censura da aréola mamária.

Às raparigas/mulheres desde muito tenra idade que lhes são incutidos sutiãs, um obrigatório rito de passagem assim que as picadas de mosquito começam a ganhar uma forma melhor ajeitada. E assim continuamos, usamos sutiãs atrás de sutiãs, e umas aprendem, melhor ou pior, a lidar  com o desconforto dos arames e dos enchimentos. As dificuldades são eternas, entre encontrar o tamanho absolutamente perfeito para a felicidade das nossas mamas, a decidir qual o formato desejado para o nosso peito. Dificuldades que existem desde a clássica obsessão pelo espartilho – a problematização do peito feminino não é de agora.

Há quem se liberte da ditadura do sutiã porque até a ciência já provou ser mais saudável assim fazê-lo. Libertem a mama e o mamilo! Mas haverão consequências. Basta nos aventurarmos a ir para a rua com as meninas a baloiçarem livremente em contacto directo com a nossa t-shirt que vamos ser alvo de olhares – e quiçá de comentários. Nem parece que foi há muito tempo (nos anos 60 e 70) que parecia muito mais normal deixar as mamas livres de armação. Desde então que o pudor se intensificou, em vez de ter diminuído. E sejamos claros, não é a mama em si que incomoda – porque somos bombardeados por imagens de decotes generosíssimos – mas a existência do mamilo. A protuberância, o alto, o espevitado, o relevo, qualquer mera lembrança de que os mamilos existem no corpo da mulher e de repente tudo se torna muito mais provocatório.

Esta teimosia em perceber os mamilos femininos como uma arma de provocação sexual infalível dificulta a conversa acerca de outros tópicos bastante normais, como por exemplo, falar do cancro da mama ou lidar com o aleitamento. Chegou ao ponto de anúncios de sensibilização pela prevenção do cancro da mama terem que utilizar mamas masculinas para mostrar como é que a apalpação é feita. Como as mamas femininas (detentoras de mamilos) são censuráveis pelos meios de comunicação, tiveram que pegar num homem de algum peso, com alguma gordura mamária, para ensinar como é que se pode prevenir o cancro da mama (que apesar de haver alguma incidência nos homens, tem maior incidência nas mulheres).

O aleitamento, então, nem se fala. Há depoimentos de mulheres a amamentar os seus filhos em público e que foram criticadas por terem-no feito, a ponto de serem expulsas fora de um avião! Irónico, não é? O mundo força e reforça que o leite materno é o melhor suplemento para o crescimento de uma criança saudável e depois? Tem se ser feito à porta fechada ou devidamente tapadas. Ai delas se tiverem um mamilo à solta em público!

Os mamilos são assim, muito úteis e grandes proporcionadores de prazer, mas censurados até ao tutano quando… os homens também têm um par e ninguém os chateia por terem-nos ou não à mostra. Até lá sofremos os dilemas de querer andar confortavelmente livres sem sutiã, ou mostrar um ou outro mamilo a nosso bel-prazer.

23 Mai 2017