Comunidade macaense | Membros reuniram com Chefe do Executivo

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, realizou ontem o habitual almoço de confraternização com representantes da comunidade macaense. A distinção de Macau como Cidade Criativa da Gastronomia e a importância dos macaenses para o desenvolvimento do território foram dois pontos abordados

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ários representantes da comunidade macaense almoçaram ontem com o Chefe do Executivo tendo sido destacado o papel que os macaenses continuam a desempenhar na sociedade local.

Leonel Alves, advogado e ex-deputado, foi um dos presentes neste almoço que se realiza todos os anos e contou ao HM que foi enfatizada a importância que a comunidade continua a ter.

“Este tipo de eventos já é tradicional e constitui uma boa oportunidade de diálogo para aqueles que não tenham acesso fácil ao Chefe do Executivo, e é um gesto simpático, que revela que o Chefe do Executivo tem a devida atenção à nossa comunidade. É um gesto político relevante.”

O advogado referiu-se a este evento como um “gesto político de solidariedade e aceitação da nossa presença”. “Sabemos que Macau está em pleno desenvolvimento e num período de sedimentação do que está estabelecido na Lei Básica. A comunidade é parte integrante da sociedade civil de Macau e o nosso posicionamento é conhecido, bem como a nossa importância e contributo para a RAEM.”

Gastronomia à mesa

Outro dos assuntos abordados por Chui Sai On foi a distinção que Macau obteve como Cidade Criativa da Gastronomia, tendo o Chefe do Executivo pedido o apoio da comunidade na elaboração de uma base de dados sobre pratos macaenses, um trabalho que será desenvolvido pela Direcção dos Serviços de Turismo.

“[O Chefe do Executivo] falou do contributo dos macaenses para o desenvolvimento económico e social de Macau mas também para a ligação com os outros países do mundo. Foi referido que o ano passado Macau foi distinguida como Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO e [Chui Sai On] disse esperar que os macaenses possam contribuir dando a sua opinião sobre a recolha de informações sobre a comida macaense”, explicou Rita Santos, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas.

Rita Santos destacou a importância de criar esta base de dados. “O nosso objectivo sempre foi que a comida macaense pudesse ser classificada como património. Os macaenses fazem as suas receitas à sua maneira e é bom centralizar esses dados, para que possam passar de geração em geração.”

Rita Santos, que esteve no almoço com José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), explicou ainda que Chui Sai On prometeu “resolver alguns problemas dos funcionários públicos”.

António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, também destacou o passo importante dado para a preservação da comida macaense.

“O facto de Macau ter sido distinguida como Cidade Criativa da UNESCO muito se deve à gastronomia macaense, porque o que comemos aqui, em termos de pratos chineses, é o que existe nas regiões vizinhas. Vai projectar ainda mais a gastronomia macaense [no mundo]”, frisou.

António José de Freitas lembrou que, durante o almoço convívio, foi referido que a comunidade macaense “soube, ao longo dos tempos, enfrentar desafios na sociedade e no seu conjunto”.

31 Jan 2018

Kiang Wu | Mais 20% de utentes desde a semana passada

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde a semana passada, o consultório de serviços urgentes do Hospital Kiang Wu contabilizou diariamente entre os 370 e 500 doentes. Os valores representam um aumento de 10 até 20 por cento, declarou o responsável dos assuntos administrativos médicos do organismo, He Jing Quan, ao Jornal Ou Mun.

Em média, por dia, entram 430 doentes nos serviços pediátricos, o que representa um aumento de 20 por cento. Dos doentes que dão entrada nos serviços hospitalares, de 30 a 35 por cento queixam-se de problemas respiratórios Ainda assim, segundo o director do Hospital Kiang Wu, Ma Hok Cheung, com o aumento aparente da procura de vacina contra a gripe por parte dos cidadãos, o hospital enfrenta ainda uma situação de tensão. A causa, apontou à mesma fonte, tem que ver com o fornecimento das próprias vacinas.

O director referiu ainda que a maioria dos utentes vacinados é composta por empregadas domésticas e trabalhadores da origem continental que não recebem apoios do Governo neste processo. O responsável do hospital estima que tenha ainda 100 doses de vacina contra o vírus da gripe e afirmou que a encomenda de mais 300 doses já foi feita, sendo que espera receber o medicamento durante esta semana.

31 Jan 2018

Registados 13 milhões de hóspedes nos hotéis o ano passado 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s unidades hoteleiras de Macau receberam mais de 13.155 milhões de hóspedes em 2017, mais 9,6 por cento em relação a 2016, indicam dados oficiais divulgados ontem. Em 2017, a taxa de ocupação média atingiu 86,9 por cento, ou mais 3,6 pontos percentuais em termos anuais homólogos, segundo a Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

O número de visitantes que se hospedaram nos hotéis e pensões de Macau representou 71,8 por cento do total de turistas, uma percentagem ligeiramente inferior de 0,2 pontos percentuais, comparativamente a 2016. O período médio de permanência foi de 1,5 noites, mais 0,1 noites em relação a 2016. O número de hóspedes provenientes da Coreia do Sul (501.000) registou um aumento de 64,7 por cento, enquanto os da China continental (8.637.000) e de Taiwan (493.000) subiram de 13,5 por cento e 3,5 por cento, respectivamente.

Já o número de hóspedes de Hong Kong (1.609.000) desceu 9,6 por cento, indicou a DSEC. No final de Dezembro passado, o território contava 111 hotéis e pensões (mais quatro unidades em termos anuais), oferecendo 37 mil quartos (mais 2,3 por cento). Os hotéis de cinco estrelas disponibilizaram 22 mil quartos, ou 60,1 por cento do total, de acordo com a DSEC.

Macau recebeu, entre Janeiro e Dezembro, mais de 29,5 milhões de visitantes. O visitante refere-se a qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e excursionista (aquele que não pernoita). Em 2016, Macau registou 12 milhões de hóspedes, mais de metade da China, com a taxa de ocupação hoteleira a corresponder a 83,3 por cento.

31 Jan 2018

Tribunal | “Estranho de amarelo” condenado a pagar multa de seis mil patacas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem de meia idade, que habitualmente usava roupas amarelas ou vermelhas e que costumava protestar com um altifalante na zona do largo do Senado ou da avenida da Praia Grande foi condenado, por cúmulo jurídico, ao pagamento de uma multa de seis mil patacas pelos crimes de desobediência qualificada e crime de difamação agravada. O valor terá de ser pago nos próximos três meses, aponta um acórdão do Tribunal Judicial de Base (TJB).

Além disso, o homem, de nome Hoi Vong Chong, tem também de pagar duas mil patacas de indemnização a um chefe da polícia pelo facto de o ter acusado do “encobrimento de [uma] certa companhia de seguros, bem como de violação da lei, de abuso de poder e de privação do direito à manifestação dos cidadãos”. 

Contudo, o tribunal considerou que o arguido “não sabia qual a relação que existia entre o chefe de polícia e a companhia de seguros, nem tinha prova que demonstrasse o encobrimento da companhia de seguros pelo referido chefe de polícia”, não se tendo verificado “abuso de poder no acto praticado pelo chefe de polícia a 14 de Março de 2016”, aponta o acórdão.

Há vários anos que o arguido vinha realizando protestos nas zonas do Senado e da avenida da Praia Grande, envergando cartazes que acusavam um chefe da polícia de ter encoberto “uma certa companhia de seguros” e de ter privado “os cidadãos do seu direito à manifestação”.

Apesar do individuo estar há vários anos em protesto nos mesmos locais, este nunca tinha sido autorizado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. O homem chegou a ser avisado pelo chefe de polícia visado nos protestos, mas o aviso foi ignorado. Depois de ter sido levado à esquadra de polícia, o homem continuou a distribuir “aos transeuntes as cópias da comunicação e exibiu cartazes com slogan na manifestação”. O TJB considerou que “o arguido imputou publicitariamente à vítima, sem qualquer juízo fundado, o assunto em apreço que ofendeu a honra da vítima como chefe de polícia”.

31 Jan 2018

Lai Chi Vun | Deputado Wu Chou Kit quer estaleiros parcialmente preservados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s estaleiros de Lai Chi Vun devem ser preservados mas a zona deve também dar lugar a espaços de lazer. A ideia é defendida pelo deputado nomeado Wu Chou Kit. Em declarações ao jornal Ou Mun, Wu Chou Kit é claro: “que se preservem os melhores estaleiros para museu e que se utilizem os outros espaços para fins de lazer ao público”, referiu.

GCS

O também membro do Conselho do Planeamento Urbanístico entende que a questão que se coloca quanto àquela área em Coloane, é a de saber se a zona deve ser totalmente ou parcialmente mantida. Para Wu Chou Kit, toda a zona dos estaleiros deve ser aproveitada pela população, mas nem todas as infra-estruturas nesta zona devem ser preservadas. De acordo com o deputado, “é viável que se salvaguardem os estaleiros que estão com estruturas completas, dando-lhes trabalhos de consolidação para assegurar a sua estrutura, a fim de garantir a segurança pública especialmente nas alturas de mau tempo”.

Estaleiros familiares

Quanto ao uso dos estaleiros, Wu Chou Kit sugere que sejam transformados numa zona museológica para “dar a conhecer a história da indústria naval de Lai Chi Vun através de modelos, vídeos e desenhos animados”, acrescentando que podem existir outros espaços, onde os estaleiros sejam removidos, para fins de lazer. “Além de proteger a paisagem parcial original de Lai Chi Vun, disponibilizam-se mais espaços ao uso público”, aponta.

Wu Chou Kit sublinha que apesar da maioria das vozes na sociedade apontar que os vestígios de Lai Chi Vun merecerem ser protegidos, existem cidadãos que se opõem à salvaguarda dos estaleiros. O deputado recorda as opinições dde alguns moradores que se mostraram a favor da demilição das construções e defende que “todas as opinições devem ser respeitadas”. Na opinião do deputado, “todas as opiniões merecem ser respeitadas, sendo necessário proceder-se à sua classificação e deixar a sociedade decidir o futuro dos estaleiros”.

31 Jan 2018

Cibersegurança | PJ promete respeitar privacidade e mandados de busca

O director-substituto da Polícia Judiciária deixou bem claro que vão respeitar a privacidade quando da implementação da lei da cibersegurança e que nenhum mandado de busca será feito sem autorização dos juízes

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de várias queixas apresentadas quanto aos receios da violação da liberdade de expressão e da privacidade com a futura lei da cibersegurança, da parte de associações, eis que a Polícia Judiciária (PJ) veio ontem garantir que esses direitos serão respeitados.

Sit Ching Ming, director substituto da PJ, adiantou ainda que, no caso de ser realizada uma investigação a suspeitos de um crime, os mandados de busca não serão efectuados sem a autorização de um juiz.

“Temos de cumprir alguns requisitos para efectuar a fiscalização. Os tribunais é que autorizam a polícia a realizar este tipo de investigação e esta lei responde aos padrões europeus. Há um grau muito rigoroso para realizar este tipo de medidas e temos de contactar alguns meios judiciais. Se não houver indícios de crime essa investigação cessa”, apontou ontem Sit Ching Ming no encontro de ano novo chinês com os media.

Tendo adiantado que o Governo deseja “concretizar o mais brevemente possível a nova lei da cibersegurança”, o director substituto da PJ frisou que as autoridades, aquando da aplicação do ‘real name system’, “não podem ver o conteúdo das informações, só o seu fluxo”. “A lei incide apenas sobre alguns sectores ou organismos que têm a ver com a nossa vida quotidiana, como a água, luz ou bancos (sistemas informáticos)”, adiantou.

Associações como a Novo Macau, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau ou a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, entre outras, enviaram cartas ao secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, onde falaram dos receios quanto a eventuais violações da liberdade de expressão e de imprensa, bem como da necessidade de delimitar a acção da PJ nestas matérias. A preocupação incide sobre o facto da PJ passar a coordenar o futuro Centro de Alerta e Resposta de Incidentes de Cibersegurança, que lidará com os fluxos de informação.

Controlo nos cartões

A futura lei da cibersegurança, tendo em conta a actual proposta do Governo, deverá trazer consigo a obrigatoriedade de registo dos dados pessoais no acto de compra de um cartão pré-pago para telemóvel. Sit Ching Ming adiantou que a medida se reveste de eficácia no combate aos crimes de tráfico de droga e de burlas telefónicas.

“Em 2015 houve seis mil suspeitos [do crime de burla telefónica] que foram levados às nossas instalações. Muitas destas pessoas tinham mais do que um telemóvel e mil telemóveis operavam com cartão SIM. Será que isto faz sentido, uma vez que um cartão SIM pode ser mais caro do que um plano de contrato [com uma empresa de telecomunicações]?”, questionou o director substituto.

Dados da PJ referentes a 2016 e 2017 mostram que 70% dessas seis mil pessoas que foram inquiridas pelas autoridades policiais “estavam a usar cartões SIM porque queriam escapar à investigação”, frisou Sit Ching Ming.

“Estamos muito preocupados com a situação, porque estas pessoas podem comprar muitos cartões sim antes da lei [da cibersegurança] entrar em vigor”, adiantou.

Sit Ching Ming falou mesmo de uma experiência pessoal que teve no Brunei, país onde se deslocou em trabalho. “Em 2008 e 2009, no Brunei, um país muito pequeno com uma área semelhante a Macau, quando comprei um cartão SIM exigiram-me o preenchimento dos meus dados pessoais num formulário, o nome da minha esposa e filhos, em que hotel estava hospedado e o meu bilhete de avião. Será que é um encargo para os cidadãos? Acho que não.”

O director substituto da PJ acredita que, nos casos de tráfico de droga, os cartões SIM são bastante utilizados para as transacções. “Quando não existe o real name system poderemos encontrar dificuldades na investigação e isso pode aumentar o risco da ocorrência de crimes. Quanto aos casos de droga, algumas das associações criminosas usam cartões SIM para actuar. Se não exigirmos o registo do dados pessoais na compra dos cartões a situação vai ficar muito complicada.”

De resto, os casos de burla telefónica continuam a preocupar os profissionais da PJ. O ano passado registaram-se 146 inquéritos de burla telefónica, um aumento de 5,6 vezes face aos 26 casos registados em 2016. Mais de 86 por cento das vítimas de burla telefónica assumem ter sofrido perdas financeiras superiores a 40 milhões de patacas.

 

PJ quer criar unidade de prevenção ao terrorismo

A PJ anunciou ontem que pretende criar, “dentro de um ano, um serviço especializado contra o terrorismo, com vista à profissionalização e especialização do trabalho”. O objectivo é “prevenir e enfrentar eventuais ameaças de segurança com especificações mais exigentes”.

 

Casos de fogo posto aumentaram o dobro

No que diz respeito a outro tipo de ocorrências, a PJ registou, o ano passado, o dobro dos casos de fogo posto, muitos deles por “negligência”, adiantou Sit Ching Ming. Mais de 60 por cento dos casos tiveram origem em pontas de cigarro mal apagadas. Quanto à criminalidade grave manteve-se baixa, mas registaram três homicídios. Em relação aos casos dos fiscais de táxis que foram agredidos, a PJ está neste momento a realizar uma investigação.

31 Jan 2018

DSEJ reitera aposta no sistema de ensino especial

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) respondeu a uma interpelação escrita de Sulu Sou onde reiterou a aposta do Executivo no sistema de ensino especial. Um dos aspectos de destaque da resposta à interpelação do pró-democrata prende-se com a adequação do volume de professores ao número de alunos.

Como tal, o documento assinado pela directora dos Serviços de Educação e Juventude, Leong Lai, salienta que “a DSEJ efectua, continuamente, uma análise à taxa de natalidade e às alterações no número de alunos e, em conformidade, define o tamanho das turmas e as necessidades em termos de corpo docente”.

Os serviços educativos especificaram que no ano lectivo 2017/2018, 49 unidades escolares ministraram educação inclusiva, abrangendo um número superior a 600 turmas e mais de 1800 vagas escolares destinadas a alunos de educação inclusiva.

No que diz respeito ao corpo docente do ensino especial, a DSEJ adianta que até “Novembro de 2017, 1264 pessoas concluíram o curso de certificado de educação inclusiva, entre as quais, 853 leccionaram nas escolas que ministram educação inclusiva”. Em paralelo, 221 pessoas concluíram o curso de formação para os professores de recursos, deste universo 177 deram aulas nas escolas que disponibilizam este tipo de educação inclusiva.

Em termos de formação, a direcção liderada por Leong Lai menciona o curso de mestrado em educação, da Universidade de São José, que compreende uma área de especialização em Educação Especial e Inclusiva. Além disso, as licenciaturas em ciências da educação da Universidade de Macau e Universidade de São José têm disciplinas que incidem sobre a área da educação especial e inclusiva. Para além destas instituições, a resposta à interpelação destaca a licenciatura em ensino de educação física, que tem uma disciplina intitulada “Desporto para Pessoas Portadoras de Deficiência”.

31 Jan 2018

Incêndio nos Ocean Gardens | Marido de Sónia Chan nega fuga às responsabilidades

Tam Peng Tong revelou, em entrevista ao HM, que só ficou a saber da situação de necessidade do casal português através dos jornais. Para o chefe do Gabinete do Procurador, o computador de grandes dimensões da marca Apple na casa queimada e o facto da filha do casal português estudar em Inglaterra indiciavam outra situação. Com base no relatório dos bombeiros, recusa a responsabilidade pelo incêndio, admite simpatia pela situação do casal e equaciona ajudá-los

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, e o chefe do Gabinete do Procurador da RAEM, Tam Peng Tong, são os proprietários da casa arrendada por um casal de portugueses que ardeu no dia 10 de Janeiro.

Em entrevista ao HM, Tam Peng Tong revelou que desconhecia as dificuldades atravessadas pelo casal até ao caso ter saído nos jornais, afirma que se encontrou com o casal português na manhã do incêndio e pondera apoiar a família Pereira, apesar de sublinhar que relatório do Corpo dos Bombeiros e a análise de um perito contratado pela empresa responsável pela gestão do condomínio terem concluído que o incêndio teve origem no sobreaquecimento de um router para a internet.

“Não se deu o caso do locador ter ignorado ou omitido incêndio e a sua responsabilidade”. Foi desta forma que Tam Peng Tong começou a entrevista, em que abordou o caso, com o HM.

“Eu não conhecia bem a situação financeira dos locatários. Depois do incêndio fui à casa [ardida] e verifiquei que existia um computador da marca Apple com um ecrã muito grande. Também a filha dos locatários está a estudar em Inglaterra. Por isso, não posso dizer que conhecesse muito bem a situação financeira dos locatários”, esclareceu em relação à campanha de donativos. Questionado sobre se tinha encontrado com casal português nessa altura, Tam afirmou que “sim”.

Segundo as palavras do marido de Sónia Chan, o conhecimento para a situação de Helena e Luís Pereira só foi obtido através dos jornais, na segunda-feira. Foi também nesse dia que o proprietário da fracção recebeu uma carta do casal para entrarem em contacto directo, a que acedeu.

“Só ontem [segunda-feira] é que recebi a carta dos locatários. Também foi ontem [segunda-feira] que vi as notícias [nos jornais] e fiquei estupefacto porque eu não percebo como é que o caso se desenvolveu desta maneira”, explicou.

Tam negou que alguma vez tivesse tentado evitar as suas responsabilidades como proprietário. Ontem, inclusive, deslocou-se com o casal português ao Corpo de Bombeiros para que as causas do incêndio fossem analisada novamente.

Bombeiros negam versão da tomada

No final, os bombeiros voltaram a afirmar que as conclusões apontam para o router, situado num armário junto à televisão, e não para uma das tomadas da casa, como Helena Pereira defendeu, em declarações à imprensa. Ainda no encontro de ontem, segundo o senhorio, o casal Pereira colocou a hipótese do incêndio ter começado numa das entradas para o sinal da antena da televisão, junto à tomada, onde estava situado um ar-condicionado. Porém, a conclusão dos bombeiros iliba o proprietário de responsabilidade sobre o incêndio.

“Não faço ideia porque é que os arrendatários disseram que o locador omitiu a sua responsabilidade e não interveio neste caso”, declarou. “Nós temos simpatia com as necessidades dos locatários. Caso seja necessário podemos prestar o nosso apoio. Mas é de salientar que este [apoio financeiro ao casal] não é uma responsabilidade [como senhorios] nem qualquer tipo de indemnização”, frisou.

A versão dos bombeiros contada por Tam, bate certo com a versão oficial que tinha sido avançada, ao HM, por um porta-voz da corporação, no domingo à noite.

Tam pagou as primeiras reparações

Além do relatório dos bombeiros, Tam Peng Tong disse, ao HM, que a empresa responsável pelo condomínio também contratou um engenheiro para fazer uma perícia sobre a causa do incêndio. “Foi contratado um engenheiro pela companhia de gestão daquele edifício para examinar a segurança dos circuitos de toda a casa. Os circuitos daquela casa estão seguros e funcionam bem, não há avarias”, afirmou.

“O engenheiro disse que a ficha da tomada não está completamente queimada. Depois de ter isolado aquela tomada, todas as outras tomadas funcionaram bem. A tomada não foi a causa, mas por causa do incêndio também ficou queimada”, frisou.

Apesar de ter sido acusado de não ter prestado apoio ao casal, o marido de Sónia Chan defende-se e esclarece que enviou pessoas ao local para garantir a segurança, após o incêndio.

“Para garantir a segurança das pessoas enviei um engenheiro e outros trabalhadores para removerem o ar-condicionado que se situava em cima do lugar onde ocorreu o incêndio. Fui eu que paguei as despesas de um engenheiro para fazer a inspecção e também do isolamento da tomada, mais as despesas da remoção do ar-condicionado”, contrapôs.

Tam Peng Tong mostrou-se disponível para clarificar a situação ao HM, depois de ter sido contactado por este jornal, ontem, às 15h00. No entanto, no domingo à noite, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, tinha recusado comentar o assunto, quando foi contactada pelo HM através do seu gabinete: “são questões de foro privado”, foi a justificação avançada por um assessor.

O HM entrou em contacto com Helena Pereira para obter um contraditório às declarações de Tam Peng Tong, por volta das 19h50, mas a inquilina recusou fazer qualquer comentário nem quis esclarecer as versões contraditórias.

Posse da casa remonta a 2016

Segundo o registo predial a que o HM teve acesso, o apartamento no edifício Cattleya está na posse de Tam Peng Tong e Sónia Chan desde Outubro de 2016. Na altura em que foi comprada a casa, o casal português já viva na mesma, através de um contrato de arrendamento, que continuou em vigor, apesar da troca de proprietários.

Ao HM, Tam Peng Tong garantiu que todas as formalidades face ao contrato foram respeitas e que o mesmo foi registado junto dos Serviços de Finanças. O chefe do Gabinete do Procurador informou ainda que à excepção do ar-condicionado, a casa foi arrendada sem mais nenhum equipamento eléctrico.


Origem do fogo em tomada não implica responsabilidade do senhorio

Mesmo que, como defende o casal Pereira, a origem do incêndio estivesse na tomada eléctrica, não seria garantido que Sónia Chan e o marido tinham de accionar o seguro e assumir a responsabilidade pelos danos do incêndio.

Segundo uma fonte conhecedora do Direito local, que preferiu permanecer anónima, para haver culpado é preciso provar que “a instalação era deficiente”. Por outro lado, se a tomada era deficiente e o inquilino nada disse atempadamente torna-se “mais difícil perceber de quem é a responsabilidade pela situação e quem deverá suportar os prejuízos”.

A mesma fonte deixa um aviso às pessoas que arrendam casas “O inquilino deve fazer um uso prudente do locado, daquilo que lhe é confiado. Uma coisa é o desgaste normal decorrente do uso, de uma utilização prudente e razoável, outra são os danos resultantes da incúria, do desleixo, da falta de limpeza/manutenção do esquentador, das ligações do gás, do exaustor (susceptível de provocar incêndios) ou da falta de cuidado daquilo que foi confiado pelo senhorio ao inquilino”, sublinhou. “Se houver problemas no locado, o inquilino tem obrigação de comunicá-los para que se sobrevier um problema o senhorio tenha sido avisado e seja chamado a assumir as suas responsabilidades”, recordou.

Casa de Portugal não verificou contas do casal

Até ao fim-de-semana a campanha de recolha de fundos para o casal Pereira organizada pela Casa de Portugal amealhou cerca de 50 mil patacas. A informação foi avançada, ontem, por Amélia António, presidente da instituição, ao HM. A advogada confirmou ainda que a campanha foi iniciada sem ter havido uma análise às contas de Luís e Helena Pereira, apesar de viverem há cerca de 25 anos em Macau, a mulher do casal ser funcionária no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, e, segundo Tam Peng Tong, a filha estudar no exterior.

“Foram pessoas próximas deles que nos contactaram a relatar que a situação do casal era bastante complicada. Quando falei com eles, confirmaram que economicamente não tinham margem para esta situação”, afirmou a presidente da Casa de Portugal. “Alguma vez íamos fazer uma investigação às pessoas? Há provas do incêndio, estão em casa dos amigos porque não têm outro sítio enquanto esperam que as coisas se resolva”, justificou.

Amélia António admitiu também que estava ciente que a secretária para a Administração e Justiça era uma das proprietárias da casa, mas defendeu a decisão de não se revelar a identidade: “Não quisemos fazer uma guerra política”, justificou.

31 Jan 2018

Grande Baía | Guandong prepara inovação tecnológica conjunta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Guandong está a elaborar uma proposta de acção para inovação tecnológica para a zona da Grande Baía e conta com a colaboração de Hong Kong e de Macau.

De acordo com o Jornal Ou Mun, o plano é para estar pronto até meio do ano. O chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia de Guangdong, Wang Rui Jun, afirmou, à margem da primeira reunião da Assembleia Popular Nacional ao nível provincial, que Macau pode aproveitar para expor as suas necessidades neste sector e receber formação e apoio a políticas para melhorar as suas condições.

De acordo com a mesma fonte, a diferença fundamental entre a proposta de acção para inovação tecnológica na zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e as outras políticas é que esta proposta contem questões reveladas pelo próprio pessoal na área de ciência, que vão além do domínio das autoridades.

Wang Rui Jun frisou ainda que a proposta é totalmente baseada nas necessidades encontradas na cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau. O responsável salientou ainda que os laboratórios da província de Guangdong estão abertos aos jovens na área de ciênciaoriundos das duas regiões administrativas especiais com o intuito de atrair mais cientistas e investigadores a estudar em Guangdong.

30 Jan 2018

Pearl Horizon | Polytex condenada a devolver dinheiro

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi conhecido ontem o veredicto do primeiro processo judicial entre proprietários e a Polytex, no qual o Tribunal Judicial de Base condenou a empresa promotora do “Pearl Horizon” à devolução da quantia paga como contrato-promessa de compra de uma fracção.

De acordo com o comunicado do gabinete do presidente do Tribunal de Última Instância, “o Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base admitiu várias acções declarativas com processo ordinário intentadas por proprietários que tinham prometido comprar fracções autónomas no prédio a construir “Pearl Horizon” contra o promotor do empreendimento”.

Com base na decisão judicial, a Polytex terá de pagar um valor ligeiramente acima das duas milhões de patacas, além dos juros de mora na sequência do termo do contrato-promessa declarado pelo tribunal.

Em questão esteve um contrato assinado em Novembro de 2012 e que previa a entrega da fracção após 1200 dias a contar da conclusão da construção da cobertura do primeiro andar.

A decisão do Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base, menciona que se aguarda a decisão final da acção judicial em que a Polytex impugna a decisão do Chefe de Executivo que declarou a caducidade da concessão do terreno.

No sequência de toda a incerteza que envolve o caso, a decisão do tribunal fundou-se no princípio da boa fé que terá sido excedido “por se exigir ao promitente comprador que continue vinculado a uma promessa sem ter a certeza de que esta venha a acontecer”.

30 Jan 2018

Trânsito | Moradores da Areia Preta preocupados com abertura da ponte HMZ

Os moradores da zona da Pérola Oriental, situada na Areia Preta, mostraram preocupação face à expectativa do aumento do trânsito com a abertura da ponte em Y. A inquietação dos residentes foi manifestada no fórum de ontem da Associação Aliança do Povo Instituição de Macau

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ace à abertura eminente da ponte Hong Kong–Macau-Zhuhai (HMZ), o Governo anunciou a construção de uma via entre a zona A dos novos aterros com o objectivo de ligar a ilha artificial Zhuhai – Macau e a zona da Pérola Oriental, na Areia Preta. Esta foi a principal preocupação dos moradores expressa ontem no fórum da Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, que temem que o trânsito na zona se torne impossível.

Cheang Ka Hou, vogal do Conselho Consultivo do Trânsito, comentou à margem do fórum que acredita que a abertura da ponte entre as três regiões vai trazer maior circulação de pessoas à zona da Pérola Oriental, que actualmente já é problemática. Como tal, Cheang Ka Hou espera que o Governo actue e avance com medidas de resolução para o futuro que se avizinha.

O representante dos moradores da Pérola Oriental, Lao Wai Kit, queixou-se que actualmente os veículos têm dificuldades em circular nas estradas sobretudo no período entre as 8h e 8h30 e entre as 15h às 18h.

Outras entradas

O excesso de trânsito foi o maior foco de preocupação dos moradores da zona, que pediram resolução célere do Executivo.

Durante o fórum foi ainda sugerido que se faça um melhor aproveitamento da capacidade de outros postos fronteiriços de Macau, de forma a reduzir a pressão da circulação de visitantes na fronteira das Portas do Cerco. “Em primeiro lugar, espero que a circulação de visitantes seja atenuada através da fronteira de Hengqin e que o novo acesso Guangdong-Macau reduza a pressão do trânsito na rede rodoviária à volta das Portas do Cerco”, referiu Cheang Ka Hou.

Lei Leong Wong, presidente da Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, mostrou-se solidário com as preocupações dos convidados e criticou o Executivo pela ausência de membros do Governo convidados para o fórum. O dirigente associativo entende que a presença de representantes do Governo seria útil para recolher opiniões dos cidadãos e esclarecer os mesmos.

No que diz respeito às questões do trânsito levantadas pelos moradores da Pérola Oriental, Lei Leong Wong entende que o metro ligeiro deve ser planeado com eficácia e que os transpores na zona A dos novos aterros venha retirar alguma pressão ao trânsito da Pérola Oriental.

30 Jan 2018

Demolição | DSPA atenta a possíveis resíduos de amianto em estaleiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) emitiu ontem um comunicado onde afirma estar atento a um possível caso de proliferação de amianto e outros resíduos numa demolição ilegal na avenida Padre Tomás Pereira, na Taipa.

“A DSPA está muito atenta ao caso de suspeita de amianto e poeiras produzidas pelas obras de demolição realizadas num lote” na referida morada. A DSPA foi notificada do caso e enviou pessoal ao local, tendo “ordenado a cessação imediata das obras porque concluiu-se que a licença de obra para a mesma não havia sido solicitada”. Este trabalho de fiscalização foi feito pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes.

“A DSPA vai continuar a acompanhar a fiscalização das obras posteriores e destacar pessoal para a inspecção em conjunto com os serviços competentes, bem como continua a monitorizar o estado atmosférico, mantendo contacto com as escolas e residentes das proximidades, de modo a fornecer as últimas notícias do acompanhamento.”

30 Jan 2018

Acção social | Pedida alteração do modelo de financiamento de associações

A deputada Chan Hong pede que o Executivo reveja o modelo de financiamento das associações de cariz social que foi adoptado em 2015. Chan Hong considera que uma grande parte das despesas que estas associações têm ainda não está incluída no plano implementado

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]han Hong, deputada à Assembleia Legislativa (AL), lança um alerta sobre o actual modelo de financiamento das associações privadas que providenciam serviços na área social. Numa interpelação oral, a deputada exige mudanças no plano de subsídios implementado em 2015.

“Atendendo às transformações do ambiente social e do mercado laboral, e ao aumento contínuo dos custos operacionais, o Governo deve estudar e rever o novo regime de financiamento implementado há dois anos, elevar as garantias do pessoal e a qualidade dos serviços das associações cívicas de serviço social e reforçar o respectivo desenvolvimento. Vai fazê-lo?”, questionou.

Chan Hong fala de uma segunda fase do apoio financeiro que deveria incluir mais despesas actualmente suportadas pelas associações deste sector, sem que, no entanto, tenha havido alterações desde 2015.

“Quando as instituições sociais concretizaram este novo regime [de apoios financeiros] detectaram muitas insuficiências. No início referiu-se a parte da contabilidade, as regalias do pessoal, as acções de formação, as rendas das instalações de prestação de serviços e as despesas de administração seriam incluídas na segunda fase de apoio financeiro, só que até ao momento não há nenhuma notícia sobre isso.”

Salários congelados

A deputada frisa ainda a difícil situação vivida pelas associações do sector privado, que não conseguem aumentar os ordenados dos funcionários, o que faz com que estes optem por trabalhar na Função Pública.

“Com o novo regime de apoio financeiro implementado em 2015, o âmbito de financiamento foi alargado, mas, na realidade, o salário dos trabalhadores da área dos serviços sociais não sofreu um aumento nem uma actualização. Basicamente, nos últimos dois anos, tem-se vivido uma situação de ‘congelamento’, e as instituições sociais cívicas dificilmente conseguem reter talentos profissionais.”

Chan Hong diz mesmo que o Governo compete de forma desigual com estas associações. “O Governo tem vindo a competir com as instituições sociais cívicas na procura de talentos, o que não é benéfico para elevar a qualidade dos serviços sociais. Quanto ao futuro rumo de desenvolvimento dos serviços sociais de Macau, o Governo dispõe de uma nova política? Que papel desempenham as instituições cívicas e o Governo na área dos serviços sociais?”, inquiriu a deputada.

Chan Hong lembra também que, apesar de ter sido criado um novo modelo de financiamento, tal não se traduziu num aumento de recursos humanos nestas associações.

“Nos últimos anos, o Governo arrancou com novas modalidades de serviços sociais e os serviços aumentaram, sem, no entanto, se ter registado um aumento do número de profissionais desta área. Quanto ao futuro rumo de desenvolvimento dos serviços sociais de Macau, o Governo dispõe de uma nova política? Que papel desempenham as instituições cívicas e o Governo na área dos serviços sociais?”, apontou.

30 Jan 2018

DSPA diz querer apostar nos veículos eléctricos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo está a promover um plano de curto, médio e longo prazo para a introdução de eco veículos em Macau. A informação é dada pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental em resposta às preocupações do deputado Leong Sun Iok.

Para provar a afirmação, a DSAT avança com números. “Existem em Macau, 26 parques de estacionamento públicos que disponibilizam no total, 121 lugares de carregamento para veículos e motocicletas eléctricos”, lê-se no documento.

Quanto à instalação deste tipo de equipamentos em instalações privadas, o Governo aponta a sua viabilidade para meio do ano. A justificação prende-se com a entrada em vigor do regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio, “que irá facilitar a instalação de equipamentos de carregamento elétrico em edifícios privados”, explica a DSPA.

De acordo com o organismo, trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio da Direcção para os Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT).

Entretanto os estudos continuam, desta feita com a colaboração do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético, acerca das normas e instalação de equipamentos para os edifícios recém construídos.

Eléctricos, mas para os outros

Já nos serviços públicos os veículos eléctricos parecem estar esquecidos. A atenção vai antes para os chamados eco-veículos com emissões reduzidas de gazes tóxicos. São um total, a uso da administração, de 713 veículos.

Em 2016 o Governo teve dois autocarros eléctricos em circulação durante o período de 30 dias para. O objectivo era recolher opiniões de modo a pensar na viabilidade de se implementar este tipo de transportes em Macau. Ainda sem resposta relativamente este tipo de transporte, a DSAT considera antes a quantidade de veículos de transporte público que circulam com emissões reduzidas de gazes e afirma que “60 por cento dos autocarros públicos “satisfazem as normas Euro IV, ou superior” .

Paralelamente a DSAT garante estar a apoiar a introdução de veículos de energia ecológica pelas concessionárias de jogo.

As vantagens do uso de autocarros eléctricos já eram defendidas em 2016 por quem trabalhava no projecto piloto. De acordo com o engenheiro Wong Hongwei, que estava encarregue da supervisão dos autocarros em experimentação, “os veículos a diesel, depois de circularem três mil a cinco mil quilómetros, já precisam de trocar o óleo de motor e outras pequenas peças”, dizia.

“Os nossos autocarros eléctricos que já andaram cerca de seis mil quilómetros, ainda não têm essa necessidade. Ainda não trocámos nada”, acrescentava, sendo que “basta estarem a carregar durante uma hora que chega para fazer o percurso diário”, garantia Wong Hongwei.
Por cada percurso completo, o autocarro eléctrico E02 gasta “quatro por cento de electricidade, naquilo que se calcula serem 17 quilómetros”.

30 Jan 2018

Morte de criança levou 4 mil pessoas aos centros de saúde

No dia seguinte à morte de uma criança devido a gripe, 4 mil pessoas apressaram-se a ir aos centros de saúde para serem vacinadas. Das 14 mil doses disponíveis, restam cinco mil. A partir de hoje a vacinação passa a ser feita por marcação

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] morte de uma criança de quatro anos por complicações relacionadas com gripe originou uma corrida aos centros de saúde e, na sexta-feira, cerca de 4.000 pessoas apresentaram-se para levar a vacina. Um número 10 vezes superior ao normal, que levou o Governo a tomar medidas e a tornar as consultas para vacinação por marcação.

A nova situação foi apresentada ontem, durante uma conferência de imprensa no Centro Hospitalar Conde São Januário, que contou com a presença de Lei Chin Ion, director do Serviços de Saúde de Macau.

“No dia 26 de Janeiro [após a morte da criança], 4.000 utentes deslocaram-se aos centros de saúde para levarem a vacinação. Nos dias anteriores, a média diária de utentes era de 400. Houve um aumento de dez vezes no número de utentes por dia, uma situação que coloca em causa o funcionamento dos centros de saúde”, disse Lei Chin Ion.

“Vamos alterar a nossa estratégia e as pessoas vão passar a precisar de fazer marcações prévias para a vacinação. As pessoas com menos de cinco anos vão ter prioridade no acesso às vacinas, assim como as pessoas com doenças crónicas e idosas. Queremos garantir que os grupos de risco têm prioridade”, frisou.

A vacinação é grátis para os residentes de Macau, todos os estudantes no território, assim como para não-residentes que trabalhem em lares de idosos. Os restantes não-residentes têm de pagar entre 50 e 80 patacas pela vacina, mais custos relacionados com a consulta.

Por outro lado, o director dos Serviços de Saúde reconheceu que nos próximos dias, devido à descida das temperaturas, que pode haver um aumento no número de casos de gripe, em queda desde 21 de Janeiro, e apelou à prevenção.

Quanto às doses de vacinas disponíveis, estão agora em stock cerca de 5 mil, quando na quinta-feira havia 14 mil doses disponíveis. No entanto, Lei Chin Ion garante que já estão fechados contratos com os fornecedores e que 40 mil doses vão chegar a Macau nos próximos dias.

 

Novas medidas nas escolas

Também o funcionamento das escolas vai sofrer alterações. O chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos Serviços de Saúde, Lam Chong, explicou que em certas condições em que sejam detectados casos de gripe, as aulas vão ser suspensas.

Nos casos em que se registe morte de um aluno ou uma criança for internada com recurso a ventilação e a taxa de vacinação na turma em causa for inferior a 50 por cento, as aulas são suspensas durante sete dias. O mesmo acontece se nesta situação 30 por cento dos alunos do mesmo ano escolar apresentarem os sintomas de gripe.

Quando houver morte ou internamento em estado crítico de dois alunos até então saudáveis no espaço de 15 dias, também as aulas vão ser suspensas durante sete dias.

Segundo os dados apresentados, 48 por cento dos alunos com menos de 5 anos estão vacinados, número que sobe para 75 por cento nas escolas do ensino primário e que é de 60 por cento no ensino secundário.

 

Recusa de vacinas

Todos os anos, em Macau, são registados entre 10 e 20 casos de pais que recusam ter as crianças vacinadas de acordo com o programa de vacinação gratuito. No entanto, Lei Chin Ion alertou a população para a importância da vacinação e para o facto das pessoas que não estão vacinadas poderem ser impedidas de se inscreverem nas escolas ou serem aceites em certos postos de trabalho.

 

 

Irmã da vítima de 4 anos recuperada

A irmã da vítima de quatro anos que faleceu na quinta-feira devido a complicações relacionadas com gripe está a recuperar e teve, ontem, alta hospitalar. A irmã de dois anos da vítima chegou a apresentar pneumonia, mas a sua condição melhorou, o que fez com que pudesse ser enviada para casa.

 

Alexis Tam visitou Centro de Saúde

O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, visitaram ontem de manhã o Centro de Saúde da Areia Preta. Segundo o director dos SSM os utentes da Areia Preta elogiaram a capacidade de resposta do Governo perante a gripe. Por sua vez, Lei Chin Ion, na conferência de imprensa à tarde, admitiu estar na fase final de recuperação de uma gripe e comprometeu-se a ir levar a vacina quando estiver totalmente bom.

29 Jan 2018

Casal português necessita de 200 mil patacas para recuperar casa

Um casal português sofreu um incêndio dentro da sua casa, localizada nos Ocean Gardens, provocado por uma tomada que começou a arder. O senhorio não se responsabiliza pelos estragos e o casal não tem possibilidade de custear as 200 mil patacas necessárias. Já há uma campanha de recolha de fundos

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Casa de Portugal em Macau (CPM) lançou uma campanha de recolha de fundos para apoiar um casal português que sofreu um incêndio dentro da sua própria casa, provocado por uma tomada eléctrica que começou a arder. São necessárias 200 mil patacas para reparar um apartamento e recuperar mobílias e electrodomésticos, valor que o senhorio não quer suportar. A viver em casa de amigos, o casal não tem capacidade financeira para pagar as despesas ou alugar um outro apartamento.

O incêndio aconteceu na madrugada do dia 10 de Janeiro, sendo que o apartamento está localizado no edifício Cattleya, nos Ocean Gardens, Taipa. O casal, juntamente com a sua filha, acabaram por ser resgatados pelos bombeiros. Segundo um comunicado, “a família ficou retida à volta da janela do quarto do casal sem possibilidade de escapar ao fogo e fumos tóxicos provocados pelo derretimento de plásticos e demais aparelhos electrónicos até serem resgatados pelos bombeiros”.

Helena Pereira contou ao HM que nenhum alarme de incêndio foi activado no edifício, o que levanta a questão da falta de segurança. “É grave que um apartamento esteja a arder e que o alarme do prédio não toque. Houve vizinhos que acordaram com o fumo na casa deles e que saíram, e houve outros que não acordaram. No corredor de acesso aos apartamentos há três detectores de fogo e nenhum deles foi activado.”

Helena contou que esta não é a primeira vez que sofre um incidente deste género. “Já tive este problema num outro apartamento no mesmo edifício, onde vivi 12 anos, e aconteceu-me exactamente o mesmo, em que as tomadas começarem a arder. Foi durante o dia, estávamos em casa e sentimos o cheiro, e não houve nada. Um vizinho também lhe aconteceu o mesmo”, relatou.

Na madrugada do passado dia 10, um vizinho do casal “ainda subiu as escadas de incêndio para agir, mas o fumo era tão espesso que um agente policial já no local o desiludiu”.

Apesar da família estar, neste momento, bem de saúde, um dos animais domésticos acabou por perder a vida em consequência do incêndio. “A família encontra-se bem de saúde e a recuperar da odisseia. Contudo uma das três gatas de estimação, a que se encontrava na divisão que ardeu, faleceu sábado, no veterinário, vítima das complicações causadas pelos fumos tóxicos do incêndio que lhe destruíram os pulmões.”

Senhorio não paga

A campanha entretanto lançada com a ajuda de amigos através da CPM visa suportar as despesas que o casal tem agora de pagar, uma vez que o senhorio não quer accionar o seguro e assumir responsabilidades.

“A família depara-se agora com o rescaldo do incêndio sem meios financeiros para fazer face às despesas que se somam: todos os têxteis, roupas, calçado, lençóis almofadas, colchões estão contaminados e inutilizáveis pelos fumos tóxicos, cinzas e fuligem, nem todas as mobílias serão recuperáveis, todos os produtos alimentares e variadíssimos electrodomésticos estão inutilizáveis, além da reparação da fracção.”

Helena Pereira disse ao HM que todos os contactos até agora feitos junto do senhorio, no sentido deste pagar as contas, revelaram-se infrutíferas. “O que nos foi comunicado através da representante do senhorio foi que ele não assume qualquer responsabilidade e não paga qualquer despesa. Quando foi feita a limpeza foi necessário tirar os restos dos ares condicionados e as equipas de limpeza não podiam fazer isso. A agente disse que ia tratar do assunto, mas depois a conta foi-nos enviada.”

As despesas relativas à primeira acção de limpeza foram pagas pela Congregação Anglicana em Macau, mas é preciso bastante mais. “Estamos um bocado assustados, porque não temos casa e o mais importante é termos acesso a bens essenciais e ver a situação resolvida. Ainda não temos a resposta do senhorio.”

Helena Pereira assume desde já que não tenciona levar o caso a tribunal, mas alerta que a lei não é clara no que diz respeito ao apuramento de responsabilidades neste tipo de situações.

“Temos de provar que não temos culpa do acidente, mas à partida a lei não é clara quanto à causa dos danos, porque não houve intenção nem negligência, foi um acidente com o sistema eléctrico da casa. Estamos à espera que o senhorio se responsabilize”, rematou.

A campanha já está a decorrer e os fundos podem ser transferidos para a conta 9014444997 do Banco Nacional Ultramarino.

29 Jan 2018

Saúde | Quatro anos depois persistem os problemas no hospital público

Quando tomou posse como secretário, em 2014, Alexis Tam deu um ano a Lei Chin Ion para melhorar os Serviços de Saúde ou seria afastado do cargo. Quatro anos depois, deputados e médicos asseguram que persistem muitas falhas no serviço público de saúde e que Lei Chin Ion já passou o seu prazo de validade

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem que esperou 30 horas por uma cirurgia no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). Uma menina de quatro anos que morreu por complicações advindas de uma pneumonia, depois de ter ido duas vezes às urgências do hospital privado Kiang Wu com gripe. Foram dois casos polémicos numa só semana obrigaram os responsáveis dos Serviços de Saúde (SS) a realizar duas conferências de imprensa.

Há quatro anos Alexis Tam tomava posse como secretário para os Assuntos Sociais e Cultura e prometeu revolucionar os serviços que passava a ter sob sua tutela. Um deles era a Saúde, tendo dado o prazo de um ano a Lei Chin Ion para melhorar os SS. Caso contrário… seria demitido.

Mas Lei Chin Ion permaneceu no cargo e apenas se verificou a nomeação de um novo director do CHCSJ, Kuok Cheong U. Especialistas e deputados com quem o HM falou consideram que, quatro anos depois, Lei Chin Ion continua a não ser a pessoa indicada para estar no cargo de director dos SS. Além de continuarem a existir questões estruturais.

“O problema dos SS é um problema de fundo”, começa por dizer o médico Rui Furtado, que actualmente trabalha no sector privado mas que durante muitos anos esteve no serviço público. Mais do que um problema administrativo, é um problema político, considera, e que tem vários tentáculos.

A deficiência nos serviços prestados pelo CHCSJ é natural e inevitável dadas as circunstâncias. “Este hospital está dimensionado para 1992, altura em que foi aberto, já foi aumentado nalgumas áreas, mas não chega, até porque já se passaram mais de 20 anos e as coisas não estão dimensionadas para as necessidades”, explica o médico.

Por outro lado, o argumento utilizado quando se fala em melhoria de serviços, uma das ideias apontadas de imediato pelo Governo, prende-se com o prometido hospital das ilhas. Uma promessa que ainda não viu a luz do dia e que, entretanto, atulha de serviços o hospital público.

“Há ainda o problema da construção de um hospital que desde o projecto até estar pronto, em condições normais, pode demorar cerca de dez anos. Neste caso, e tanto quanto sei, já é falado há 10 anos e ainda nem tem um projecto feito”, refere Rui Furtado.

Deputados pedem saída

O deputado José Pereira Coutinho, que tem marcado uma posição clara quanto ao descontentamento perante a gestão dos SS, aponta o dedo directamente ao director, Lei Chin Ion: “As melhorias que se têm registado no sector da saúde têm sido algumas, mas não são devidas ao director, mas sim ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam”, afirma.

Para o deputado, “Lei Chin Ion é o entrave para o bom funcionamento dos SS de Macau. Mantenho a minha posição dos últimos dez anos, em que tenho sido bastante crítico quanto a gestão interna do hospital e dos serviços. Tudo o que está a acontecer tem a ver com a falta de uma gestão capaz de conduzir a serviços eficientes e de qualidade e o secretário podia contratar pessoas qualificadas para gerir o funcionamento interno dos serviços hospitalares e da saúde”.

As vítimas são os utentes e os trabalhadores num sistema que não tem gestão, considera. “Não é pelos trabalhadores, que estão sempre disponíveis e dentro das suas possibilidades têm uma óptima prestação. Não é por eles que o serviço falha, mas sim por má direcção e gestão interna o que faz com que as barreiras e entraves resultem em serviços sem qualidade para os utentes”, aponta.

Ao deputado têm chegado todo o tipo de queixas, tanto de funcionários dos SS como de utentes. “Os funcionários estão sobrecarregados de trabalho. Quando um director diz que um hospital deve funcionar como se fosse dois dá uma sobrecarga de trabalho a todo o pessoal, desde enfermeiros a médicos e outro tipo de funcionários. Dos utentes, as críticas também chovem, relacionadas com as horas de espera e com má qualidade dos serviços”, reafirma.

Coutinho é claro: “Já há muito tempo que este director devia sair de funções. Mas como Lei Chin Ion é protegido do Chefe do Executivo consegue manter-se, apesar das muitas criticas que lhe são dirigidas”.

Um serviço muito popular mas sem qualidade são as palavras do deputado Ng Kuok Cheong para definir os SS. “Macau como região devia ter um serviço de excelência e isso não acontece. Não há uma experiência real em Macau no sector da saúde. Hong Kong é reconhecido pela qualidade dos seus profissionais, mas Macau não consegue garantir um serviço de alta qualidade”, explica.

O deputado pró-democrata também não se mostra confiante na gestão actual. “Penso que qualquer pessoa pode ser treinada para ser um bom gestor dos SS e que nesse sentido outras pessoas poderiam ser melhores do que o actual director. Cabe ao Governo tratar disso”, remata.

Público quando dá jeito

Sem dimensão nem pessoal para dar resposta a uma maior população, o CHCSJ poderia, na opinião de Rui Furtado, contar mais com a colaboração do hospital Kiang Wu. “Os protocolos estão feitos, mas a parceria parece ser dúbia e ineficaz. Há ainda a falta de cooperação entre os Hospitais do Governo e o hospital Kiang Wu”, diz o médico, alertando que seria uma forma de resolver ou minimizar os problemas existentes.

“Mas também não são parceiros porque as políticas são diferentes para aquilo que é um hospital do Governo e o que é um hospital particular”, explica. De acordo com Rui Furtado, quando se fala de Kiang Wu é visível que o seu papel enquanto instituição particular é usado apenas para uns aspectos. “Quando é para receber subsídios é uma instituição oficial, quando é para tratar doentes, é particular”, afirma Rui Furtado.

No entanto, uma cooperação entre as duas instituições poderia ser uma espécie de remendo, pelo menos até que o hospital das ilhas seja construído. “Apesar de não ser uma solução a ter em conta a longo prazo, seria uma forma, de enquanto se espera pelo hospital das ilhas, os problemas de sobrecarga no CHCSJ poderem ser atenuados”, aponta.

A falta de médicos

A acrescer à situação está a falta de médicos. Apesar da notícia de que os SS iriam contratar 21 especialistas vindos de Portugal, Rui Furtado permanece céptico quanto a esta iniciativa. “Não sei se vem alguém de Portugal”, refere. A causa, aponta, está na falta de condições dadas pelo Governo para que os profissionais portugueses optem por vir trabalhar para Macau, até porque são alvo de cada vez mais interesse por parte de outros países, até na Europa.

“As condições não me parecem aliciantes porque neste momento em Portugal se está a pagar muito bem e na Europa também. Além disso, tanto os médicos como os enfermeiros têm uma procura grande por parte de vários países”, explica.

Trata-se de um assunto que não é de fácil resolução. “Um especialista em medicina é uma pessoa com mais de 40 anos, com família, filhos em idade escolar e com casa. Deslocar uma pessoa destas para 10 mil quilómetros de distância não é assim tão fácil, mesmo pagando bem porque a pessoa tem a sua vida já estabelecida”, diz o ex-presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa.

Não sendo um problema sem solução, é, no entanto, uma questão que vai exigir uma boa gestão e políticas capazes de incentivar outros especialistas, talvez mesmo oriundos de outros lados que não Portugal.

“Não há nada sem solução, mas estamos a falar de uma solução difícil neste caso. Estamos a falar em Portugal mas podíamos ir buscar médicos há China onde há excelentes especialistas”, sugere. “É preciso é convencê-los a vir para cá, e é com certeza mais fácil trazer um especialista da China ou de Hong Kong do que um de Portugal”, aponta Rui Furtado.

Faltam blocos e anestesistas

Fernando Gomes, médico do CHCSJ e presidente da Associação de Médicos dos Serviços de Saúde, os problemas associados aos SS não são tão graves quanto parecem, nem são exclusivos de Macau, não apontando a culpa exclusivamente a Lei Chin Ion. “Acho que os SS aqui, em Portugal ou nos Estados Unidos terão sempre problemas. É uma coisa dinâmica”, diz ao HM.

Apesar disso, Fernando Gomes não esquece a falta de médicos e de condições no CHCSJ. “Faltam anestesistas e faltam blocos operatórios. Mesmo que exista mais um bloco operatório não há anestesistas”, aponta.

Ainda assim, os SS têm condições, assegura. “O sistema não tem falta de condições tem sim falta de melhores condições”, defende Fernando Gomes, até porque “há muitas pessoas que morrem no hospital independentemente do número de médicos que existam”.

O problema das listas e das horas de espera por tratamentos também poderia ser atenuado com a contratação de mais pessoal, mas não se trata, mais uma vez de um problema de gestão, considera o profissional de saúde.

“Sim, podia ser atenuado com mais profissionais, mas isso também é uma questão sazonal. Agora estamos numa época pelo mundo fora em que gripe veio agora agravar a situação e isso acontece em todo o mundo”, justifica. “Mesmo um serviço com qualidade, nesta época apanha com as doenças sazonais e por mais pessoas que contratemos não há gente suficiente”, sublinha.

29 Jan 2018

Câmara de Comércio Luso-Chinesa conheceu nova ponte

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m grupo de 30 pessoas da delegação de Macau da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) visitou a nova ponte Guangdong-Hong Kong-Macau, com o objectivo de “compreender melhor as oportunidades decorrentes do desenvolvimento da região e a integração da região do Delta do Rio das Pérolas”.

A visita decorreu no passado dia 24 e o grupo foi recebido por Wei Dongqing, secretário-adjunto do Comité Central e Director Executivo da Autoridade da nova ponte. Segundo um comunicado, Kevin Thompson, presidente da Câmara de Comércio Europeia de Macau, disse que os benefícios da nova ponte não são apenas de ordem fiscal.

“Ao reduzir os tempos de viagem, as oportunidades até então invisíveis, podem incluir trabalhar com empresas e empresários europeus, relocalizar negócios, e descobrir um turismo cultural transfronteiriço inovador, e oportunidades de lazer orientadas pela experiência”, lê-se.

Já Leong Wa Kun, presidente da Delegação de Macau da CCILC, acredita plenamente que a nova ponte “se tornará um importante centro de transporte que ligará as zonas leste e ocidental da Grande Baía e reduzirá significativamente o tempo de deslocação entre as principais cidades da região, o que promoverá o desenvolvimento industrial na região, fortalecerá a mobilidade de talentos entre Hong Kong, Zhuhai e Macau, ajudará a atrair investidores estrangeiros e, assim, aumentará a competitividade económica global da região do Delta do Rio das Pérolas”.

29 Jan 2018

Wong Kit Cheng quer quatro actualizações diárias sobre a qualidade do ar

A deputada Wong Kit Cheng quer que os Serviços Meteorológicos e Geofísicos façam quatro actualizações diárias sobre a qualidade do ar, ou seja, que dupliquem as actualizações actuais. A deputada entende que os serviços são pouco ágeis a alertar a população em dias de elevada concentração de poluentes no ar

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng diz ter recebido comentários de vários residentes que questionam a precisão das informações publicadas na página dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) acerca da qualidade do ar.

Em particular a situação verificada na semana passada, quando no portal dos serviços se mantinha o nível moderado de qualidade do ar, enquanto a medição em tempo real, a um click de distância, mostrava que a qualidade do ar era má.

A deputada, também presidente da Associação da Construção Conjunta de Um Bom Lar, sublinha num comunicado que a previsão de qualidade do ar tem um papel muito importante no alerta a idosos, crianças e portadores de doenças respiratórias. Como tal, Wong Kit Cheng considera importante garantir a precisão e a eficiência da publicação destas informações e aumentar a sua frequência para quatro actualizações diárias.

No comunicado, a deputada menciona a aquisição de um aparelho de monitorização da poluição atmosférica, contudo deixa o alerta para o facto do equipamento nunca ter sido utilizado e estar actualmente em manutenção. Facto que deixa a deputada preocupada acerca da precisão e eficiência do controlo da qualidade do ar.

Outra das dúvidas de Wong Kit Cheng prende-se com a localização dos equipamentos de monitorização da qualidade do ar. Neste aspecto, a deputada lamenta que, apesar do Executivo ter avançado a possibilidade de aumentar, ou até instalar de novo as estações de monitorização da qualidade do ar, não houve posterior seguimento para esta intenção.

 

Causa e efeito

Além do aumento de duas vezes por dia para quatro da actualizações do sistema de previsão de qualidade do ar, Wong Kit Cheng pede que o Executivo mantenha comunicação com as instituições de serviços sociais, escolas e lares, de forma a reduzir o impacto da poluição na saúde pública.

Na semana passada, Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde (SS), disse que não existem grandes probabilidades de doença devido à exposição a ar com elevada concentração de poluentes. “Não podemos confirmar se a poluição vai ou não afectar o estado de saúde destas pessoas, porque não há uma relação directa. Não acho que a poluição cause uma doença imediata…”, comentou Lei Chin Ion.

O director dos SS referia-se ao aumento de admissões de doentes com dificuldades respiratórios na rede hospitalar durante os dias de poluição elevada.

Porém, a comunidade científica, em especial a médica, discorda de Lei Chin Ion. Em 2014, a Organização Mundial de Saúde estimava que em 2012 morreram sete milhões de pessoas, um oitavo de todas as mortes nesse ano, devido à exposição a poluição atmosférica.

Em 2008 foi publicado um estudo científico de uma investigadora do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, que mostrou correlações estatisticamente significativas que traduzem um efeito imediato entre os poluentes atmosféricos, os parâmetros meteorológicos e a morbilidade humana. O estudo da académica Marta Sendão demonstra igualmente o aumento no número de admissões aos serviços de urgência associada ao aumento dos níveis dos parâmetros ambientais (incluindo poluição atmosférica) em Lisboa.

Este é apenas um dos inúmeros estudos que demonstraram a relação entre o aumento dos poluentes atmosféricos e as admissões hospitalares relacionadas com problemas respiratórios.

Em relação às patologias, no ano passado o HM falou com o pneumologista Alvis Lo, que referiu que doentes cardiovasculares e portadores de doenças respiratórias podem sentir o agravamento dos sintomas das suas doenças em períodos de fraca qualidade do ar.

29 Jan 2018

Hospital nega adiamento de operação mas admite ajustamento de período

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Centro Hospitalar Conde de São Januário negou que tenha existido um adiamento da data da operação do residente que denunciou ter estado mais de 30 horas à espera de uma intervenção a uma perna partida. No entanto a unidade hospitalar admite que houve um ajustamento no “período para a intervenção cirúrgica do paciente”.

De acordo com o título do comunicado em que foi visada a denuncia do residente de 50 anos, relatada ontem pelo HM, o “CHCSJ não adiou a data de operação cirúrgica”.

Contudo, no comunicado percebe-se que pelo menos a hora da intervenção teve de ser alterada: “o bloco operatório previsto para a operação foi necessário para socorrer um outro doente que estava em estado clínico considerado crítico, uma situação urgente, pelo que o período para a intervenção cirúrgica do paciente em questão teve necessariamente de ser ajustado”, é explicado.

A versão dos SSM confirma a informação avançado por Fernando Nunes, que admitiu não poder ser operado imediatamente, devido à medicação que toma para o coração: “Nestes casos os pacientes estão sujeitos a medicamentos anticoagulantes que podem aumentar o risco de, durante uma cirurgia, ocorrer uma hemorragia. Os pacientes, nestas condições, com fracturas e que necessitem de uma intervenção cirúrgica, necessitam de suspender a medicação anticoagulante durante cinco dias.  Este prazo terminou terça-feira, 23 de Janeiro”, é clarificado.

Sobre o facto do doente, que foi operado ontem à tarde, sofrer de hiperglicemia, os SSM explicam que a nutrição foi “garantida médico, tendo sido suplementarmente sido prescrita medicação adequada como tratamento de apoio”.

26 Jan 2018

Bombeiros | Tufão trouxe experiência e um aumento das ocorrências

A passagem do tufão Hato fez com que o número de ocorrências registado pelo Corpo de Bombeiros fosse o mais alto desde 2013. Já os incêndios baixaram e de acordo com o comandante a causa está as campanhas de prevenção

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram 47 936 as ocorrências tratadas pelo Corpo de Bombeiros (CB) no ano de 2017, mais 2158 do que no ano anterior e o número mais elevado desde 2013. A causa é clara e de acordo com o comandante, Leong Iok Sam, teve que ver com as necessidades de intervenção provocadas pela passagem do tufão Hato no território a 23 de Agosto. “O tufão afectou muito Macau e trouxe muitos desafios ao corpo de bombeiros”, referiu o responsável no encontro de ontem com os jornalistas.

Por outro lado, o Hato também trouxe “muita experiência”. Depois da tempestade e com as faltas registadas, o CB fez uma revisão imediata dos trabalhos feitos e desenvolveu um plano de acção de acordo com as directrizes emitidas pela secretaria da segurança.

De modo a minimizar os danos na possível passagem de mais um tufão com as dimensão do Hato, o CB criou mais 15 linhas de emergência e está em melhoria dos vários aspectos ligados à comunicação.

A falta de recursos também foi evidente e, de acordo com o comandante do CP, “antes do inicio da próxima temporada de tufões, vão ser adquiridas 116 serras eléctricas, 69 bombas para escoamento de água, 11 geradores para garantir o fornecimento de luz eléctrica se necessário e sete equipamentos salva-vidas”, esclareceu Leong Iok Sam.

As saídas de ambulância aumentaram 25,9 por cento em 2017 se comparadas com o ano anterior. Registaram-se 55 576 saídas de ambulância, mais 11252 do que em 2016. O comandante aproveitou o encontro de ontem aproveitou para alertar para o uso abusivo das ambulâncias, sendo que garantiu que as medidas de divulgação acerca da matéria já estarão a ter efeitos. O objectivo, referiu é “elevar a consciência para um uso racional deste serviço”.

Mais serviços especiais

Os serviços de salvamento aumentaram em 70 casos. Em 2016 registaram-se 1 461 serviços, enquanto no ano passado foi um total de 1 531 e as operações especiais subiram de 4 584 para 5 758, um aumento de 25,61 por cento relativamente a 2016. Nos serviços especiais estão inseridos a remoção de objectos caídos, a limpeza de chão, o tratamento do vazamento de gás, tratamento de substâncias perigosas e de queda de árvores. “Depois da análise, foi verificado que o aumento foi provocado peça remoção de objectos caídos e pelo tratamento da queda de árvores durante a passagem de tufões”, justifica o comandante do CB.

Incêndios em queda

A diminuir esteve o número de incêndios com uma redução de 3,72 por cento em relação a 2016, menos 40. De acordo com Leong Iok Sam, os números reflectem o resultado das acções de prevenção que a entidade tem vindo a realizar. “Na sua maioria tiveram que ver com comida nos fogões”, justificou o comandante, sendo que, no geral, os incêndios são devidos a “negligência humana”.

A instalação de esquentadores por pessoal não habilitado tem trazido consequências. Segundo os bombeiros deram entrada no hospital, em 2017, 11 pessoas com problemas de intoxicação relacionada com a respitação de gás, e este ano já são quatro os casos de internamento devido ao mau funcionamento destes aparelhos domésticos.

Com a abertura da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, os Bombeiros já estão preparar os seus trabalhos. “Já estamos a preparar tarefas, e na ilha artificial onde assenta a ponte, vamos ter um posto com 75 bombeiros”, rematou o responsável.

26 Jan 2018

Sands China | Lucros crescem quase 50 por cento no último trimestre

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] operadora Sands China teve um crescimento de 49,1 por cento homólogo nos lucros no último trimestre do ano passado, atingido o valor de 519 milhões de dólares norte americanos. No mesmo período de 2016, o lucro do braço chinês da Las Vegas Sands tinha sido de 348 milhões de dólares. A informação foi avançada ontem, em comunicado, pela empresa.

Em relação aos resultados para todo o ano de 2017, a empresa registou um lucro 1,6 mil milhões de dólares norte-americanos, o que representa um crescimento de 31,1 por cento face aos 1,2 mil milhões, em 2016.

“Sentimos que estamos a regressar a 2014 e ao período anterior [à crise das receitas]. Estou muito entusiasmado com o crescimento que estamos a registar em Macau”, afirmou Sheldon Adelson, presidente da Sands.

Sheldon Adelson adiantou ainda que a concessionária “tem crescido mais rapidamente do que o Mercado de massas, tanto no terceiro trimester como em todo o ano de 2017”. “Vamos continuar a fazer investimentos significativos em Macau, porque temos um acordo de longa data e inabalável [com o território]”, acrescentou.

Big Ben e Buckingham

Afirmando estar confiante em relação aos futuros projectos, Sheldon Adelson anunciou ainda que o Londoner, actual Sands Cotai Central, “vai ter mais hóspedes do que o Venetian e o Parisian juntos”, além de estabelecer sinergias com estes dois empreendimentos do Cotai, da mesma operadora de jogo. No que diz respeito ao alojamento, Sheldon Adelson adiantou que “teremos cerca de 13 mil quartos de hotel interligados”.

“Imaginem se isto fosse em Las Vegas ou em qualquer outra localização. Em nenhum outro lugar do mundo podemos ter uma propriedade com quartos a diferentes preços e tamanhos, ou mesmo casinos de grande, média ou pequena dimensão. Há uma mistura de gostos que chega a todos aqueles que querem ter diferentes experiências”, frisou.

Sheldon Adelson apontou que os empreendimentos da Sands China vão constituir um espaço icónico no Cotai, com uma réplica da torre do Big Ben e do Palácio de Buckingham.

“A parte de for vai ser como o Big Ben e o edifício do Parlamento [britânico]. Vamos ter a torre e a ponte representadas algures, com cabines telefónicas, que vão ser usadas como caixas multibanco.”

“Vamos ter autocarros de dois andares e muitos guardas com chapéus à semelhança dos que existem no Palácio de Buckingham. Talvez tenhamos alguns cavalos (…).”, concluiu.

26 Jan 2018

Menina morre após ter sido mandada para casa duas vezes no Kiang Wu

Uma criança de quatro morreu ontem devido a complicações criadas por uma gripe. Antes de ser internada, a menina tinha ido ao Hospital Kiang Wu duas vezes, sendo enviada para casa. O Governo e a unidade hospitalar garantem que todos os procedimentos da Organização Mundial de Saúde foram cumpridos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma criança com quatro anos morreu ontem no Hospital Kiang Wu, onde estava em estado crítico desde terça-feira, devido a uma falha renal, originada por complicações causadas por gripe. Apesar da menina ter sido levada ao hospital por duas vezes, antes de ser internada, o governo e a direcção da unidade hospitalar garantem que todos os procedimentos da Organização Mundial de Saúde foram seguidos neste caso.

A criança de quatro anos e três meses, que não tinha sido vacinada contra a gripe sazonal, foi pela primeira vez ao hospital a 19 de Janeiro, com febre e tosse. Nessa altura, fez um teste rápido de despistagem de gripe, que deu negativo, e foi enviada para casa, para descansar e tomar medicação.

Um dia depois, na terça-feira, regressou, com sintomas semelhantes, ou seja com tosse e febre. Nesta segunda visita ao Kiang Wu não lhe foi feito o teste de despistagem da gripe. Porém os médicos reforçaram a medicação da criança e enviaram-na novamente para casa.

“O médico que viu a menina registou os sintomas de febre e tosse, que são frequentes nas crianças. Mas as gripes precisam de tempo para se curarem. Foi prestada toda a atenção necessária pelos médicos, que aumentaram e ajustaram a medicação na segunda consulta” afirmou Li Peng Bin, vice-director do Departamento de Administração Médica do Hospital Kiang Wu, em conferência de imprensa, sobre o facto da menina não ter sido logo internada.

Em relação a não ter sido feito um teste de despistagem de gripe na segunda visita, a explicação foi dada por Kuok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário: “Os procedimentos seguidos respeitaram as orientações da Organização Mundial de Saúde. A despistagem também tem limitações, não é 100 por cento eficaz, nem é a despistagem que define o tipo de tratamento a adoptar. É por isso que a OMS não obriga a que seja feita nas suas orientações”, clarificou.

Urgência e morte

Já na terça-feira a vítima foi internada, após ter dado entrada no hospital durante a tarde, com febre baixa e aceleramentos cardíacos. Nesse dia foram feitas análises e um raio-X que mostraram a existência de uma pneumonia, através de uma infecção por pneumococo, e gripe do tipo H3N2. Esta infecção fez com que o estado da criança se agravasse, com o surgimento de vómitos, tosse sangrenta e sinais de hemorragia digestiva, acabando por ser levada para a Unidade dos Cuidados Intensivos, onde foi ligada a um ventilador mecânico.

Na madrugada do dia seguinte, e apesar dos tratamentos com Tamiflu, por volta das três da manhã, a criança desmaiou e alguns órgãos começaram a falhar. Ontem, por volta das 13h00, a vítima acabaria mesmo por morrer devido a uma falha renal associada ao síndrome de hemolítico-urémica. Na origem deste síndrome, que se caracteriza por insuficiência renal, destruição de glóbulos vermelhos e plaquetas, esteve a pneumonia que infectou a vítima devido à gripe.

Também a irmã da vítima, de dois anos, foi diagnosticada com pneumonia, mas está a ser acompanhada pelo Hospital Kiang Wu. A sua condição é estável. À família da vítima foi prestado apoio psicológico, por parte do governo.


Apelo à vacinação

Lam Chong, chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doença Serviços de Saúde, apelou ontem aos pais para que vacinem as crianças. Durante a conferência de imprensa de ontem, o responsável revelou que 30 por cento das crianças nos jardins-de-infância e escolas primárias não tinham sido vacinadas e pediu aos pais para vacinem tão depressa quanto possível os seus filhos.

26 Jan 2018

Exclusivo: De Joana a Jo-B, a história em curso do primeiro transexual masculino de Macau

Ao longo da vida ocultou os vestígios de feminidade que as cirurgias plásticas têm extinguido passo a passo. Aguentou e recuperou com rapidez das operações, feito que lhe valeu a alcunha de Super-homem entre o pessoal da clínica tailandesa onde removeu os seios, útero e ovários. Hoje em dia, Jo-B De Souza está a um passo de completar a metamorfose e tornar-se um homem. O HM conta-lhe a jornada de coragem, sofrimento e amor de uma pessoa determinada a viver a sua identidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] caminho do bar, Jo-B De Souza caminha com virilidade para dar e vender. Cabelo penteado para trás com gel e rapado dos lados, ombros largos, braços que denotam frequência regular no ginásio e um sorriso malandro. Lança um “hey, man!” e cumprimenta com um aperto de mão vigoroso.

Quem não o conhece nunca imaginaria que Jo-B De Souza nasceu Joana um dia antes do início do Verão de 1988, e é esse nome que ainda figura no seu Bilhete de Identidade de Residente. Algo que vai tentar alterar num futuro próximo e que será um dos passos na caminhada para se tornar um homem. Ao longo dos últimos dois anos, a sua vida tem sido um corrupio de entradas e saídas de uma clínica na Tailândia onde removeu os seios, útero e ovários. É também em Pattaya que é acompanhado na terapia hormonal por uma equipa clínica chefiada por um médico norte-americano.

À entrada de 2018, resta-lhe uma última cirurgia: A faloplastia – a construção do órgão sexual masculino – uma etapa que terá de adiar devido às anestesias gerais que tomou recentemente. Será o fim da metamorfose que se iniciou quando era demasiado novo para sequer ter noção do que estava a acontecer.

“Cresci a pensar que era um rapaz, desde pequenino, praticamente bebé. Quando a minha mãe estava grávida fez dois testes que indicaram que teria um filho”, conta. A família estava preparada para receber um rapaz em casa, previsão que se reflectia na decoração do quarto e nas roupas que os pais compraram para o novo membro da família.

Este pequeno detalhe familiar tornar-se-ia premonitório da pessoa que Jo-Bo viria a ser, uma pessoa com uma feminidade rarefeita. Aliás, tão rarefeita que praticamente não teve menstruação, apenas uma vez por ano, ou de dois em dois anos. Esta particularidade biológica deu-lhe descanso quanto a um trauma muito frequente entre maria-rapazes: a necessidade de terem de conviver e esconder todos os meses a menstruação.

Verdes anos

Olhando para trás, Jo-B De Souza recorda-se de achar que era um menino. Porém, o embate com a realidade do género com que nasceu deu-se cedo, entre os três e os quatro anos, durante os tempos de jardim de infância. O episódio deu-se quando estava na casa de banho com o seu melhor amigo e lhe perguntou porque é que ele estava de pé em vez de estar sentado. O amigo respondeu que era por ser um menino e ela uma menina.

A dureza da verdade desencadeou um autêntico drama infantil, que mais de vinte cinco anos depois estampa um sorriso na cara de Jo-B. “Corri para casa a chorar e fui contar tudo aos meus pais. Foi aí que percebi que era uma rapariga e senti que era o fim do mundo. Lembro-me de ter chorado muito”, recorda.

A história de Jo-B De Souza é recorrente no dia-a-dia de Graça Santos, Psiquiatra e Terapeuta Sexual, coordenadora da Unidade de Reconstrução Génito-Urinária e Sexual (URGUS) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. “São pessoas que, na grande maioria dos casos, desde a infância manifestam preferência pelo papel e expressão do género do outro sexo, que no caso de FtM (abreviatura para female to male), será uma menina “Maria-rapaz”, explica Graça Santos.

“Ao olhar a sua infância a própria pessoa e os familiares relatam-nos uma preferência por brincar com rapazes, jogar à bola, ser mais activa fisicamente, recusar ou manifestar desagrado por usar vestidos ou adereços de menina”, conta a coordenadora da URGUS.

Seguindo os seus desígnios, Jo-B De Souza continuou a vestir calções e t-shirts até ingressar no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, uma escola feminina onde a farda era obrigatória. Aí descobriu que não estava sozinha e que havia outras marias-rapaz, “talvez entre 12 a 15”. Nesse período, com cerca de 6 ou 7 anos, via-se obrigada a usar um vestido, facto que conseguiu contornar através da prática desportiva. “Adorava jogar basquetebol. Então, foquei-me no desporto e não me importava como as pessoas me viam porque debaixo do vestido usava os calções de basquetebol”, conta.

Jo-B De Souza sente-se um sortudo devido ao apoio incondicional que teve da família desde cedo. “O meu pai é o meu grande suporte, a minha mãe uma cuidadora incansável, a minha irmã e o seu namorado têm estado sempre disponíveis para me ouvir, a minha namorada é quem dá mais força”, conta.

Era dos descobrimentos

A adolescência quando chega molda aquilo que será a nossa personalidade, quem somos, a partir da revolução hormonal. Esta fase, que pode ser um purgatório de crescimento, tem uma outra dimensão em pessoas como Jo-B De Souza.

À medida que foi crescendo procurou ser cada vez mais masculino, um salto evolutivo que foi recebido de forma distinta pelos seus pais. Enquanto o pai lhe deu sempre total apoio e lhe fez as vontades, a mãe tentava convencê-lo a usar roupas femininas ou a deixar crescer o cabelo. “Se ela me perguntava se eu achava um vestido bonito eu dizia que sim, que era muito bonito mas nela”, recorda com humor.

Apesar das ténues tentativas maternas para que fosse uma menina durante a infância e início de adolescência, Jo-B nunca se sentiu reprimido pela família. Muito pelo contrário, a relação que tem com os pais assenta em fortes pilares de respeito, aceitação e amor. “O meu pai costuma dizer coisas do género: vou agora para o escritório, o meu filho dá-me boleia e a minha mãe costumava dizer quer tinha duas filhas, mas agora diz que tem um casal”, exemplifica.

Por volta dos 13/14 anos, Jo-B De Souza atravessava um período de descoberta. Não apenas em termos de revelação sexual, mas também de conhecimento que haveria de lhe abrir as portas para a metamorfose que o esperava.

“Já na altura dizia às pessoas que iria mudar de sexo, sem ainda saber se isso era possível”, recorda deixando claro que nunca gostou de não cumprir com a sua palavra, ou de perder face em relação a aspirações partilhadas socialmente. A realidade entrou-lhe pelos olhos adentro numa pesquisa online em que descobriu que afinal havia quem mudasse fisicamente de sexo.

Começou a seguir bloggers que relatavam as várias etapas da transformação que haveria de iniciar uma década mais tarde. “Comecei a seguir um blogger, via as fotos e as mudanças na pessoa, ouvia também a forma como a sua voz mudava e comecei a ficar cada vez mais intrigado”, relembra.

Foi também nessa altura que começaram as primeiras experiências sexuais e a rebeldia adolescente materializada em múltiplos piercings e tatuagens. “Todos queriam pertencer ao nosso grupo porque nos estávamos nas tintas. No fim das aulas, ainda com uniforme, íamos fumar e beber cerveja e como era muito popular era fácil ter parceiras”, conta.

Jo-B De Souza explica que beneficiou de dois factores: ter uns pais compreensivos e o facto de “Macau ser mais aberto a lésbicas e marias-rapaz, por ser uma cidade que se habituou a isso, mais do que a gays”. Mesmo em termos de transexuais, entende que é mais facilmente aceite uma mulher transformar-se em homem do que o inverso.

Este é um fenómeno que não é estranho para Anthony Lam, presidente da Associação Arco-Íris de Macau. “Acho que a explicação pode estar no facto da sociedade de Macau ser muito patriarcal daí ser mais fácil aceitar uma mulher que se transforme num homem”, teoriza.

Fora do lugar

Em 2016, a Associação Arco-Íris de Macau fez um inquérito sobre a incongruência entre o sexo atribuído à nascença e a identidade de género, para o qual foram ouvidas 715 pessoas locais. O resultado revelou que 41,54 por cento dos inquiridos demonstravam alguns níveis de inconsistência entre o sexo biológico e a identidade de género.

Apesar dos números serem consideráveis estão longe de representar a parcela demográfica que leva até às últimas consequências a incongruência de género que vivem. Neste aspecto, a experiência de Anthony Lam diz-lhe que os transexuais são pessoas que “ficam mais no seu ciclo e que se sentem mais confortáveis na sua bolha social, em vez de se revelarem ao público”. Principalmente, no que toca a transexuais que fazem a transição de homem para mulher. “Macau não é uma cidade suficientemente progressiva, não é acolhedora para a comunidade LGBT”, explica o presidente da Associação Arco-Íris de Macau.

Em termos de aceitação social, Jo-B De Souza não tem dúvidas de que tem sorte por estar no lado mais facilmente aceitável da transexualidade em Macau, onde a sociedade aceita melhor a transformação para o lado masculino.

Porém, o residente de Macau entende que não existe uma comunidade de pessoas que se encontrem numa situação similar à sua, circunstância que explica com a fluidez entre maria-rapazes, que podem oscilar entre períodos másculos para depois regressarem a um vivência totalmente feminina.

“Há pessoas que são atraídas pelo mesmo sexo, mas que estão felizes com a forma como nasceram, é aí que eu não me encaixo, porque não é a minha preferência sexual que está em causa, ou seja, a pertencer a algum grupo pertenceria a algo completamente diferente e que em Macau é muito pequeno”.

Esta falta de pertença a um ciclo social dominado pela preferência sexual, ou género, não é algo que aflija Jo-B De Souza, ainda para mais no momento em que se prepara para dar o último passo, o que agudiza a falta de identificação com qualquer categoria da comunidade LGBT. “Agora estou no meio, estou perdido”, diz antes de soltar uma gargalhada sonora.

Primeiras etapas

Ao longo da adolescência, Jo-B De Souza continuou a ter casos com mulheres. Porém, havia algo dentro de si que o distinguia de todo o universo lésbico. “Há mulheres que só querem estar com outras mulheres, a mim o que me preocupa é não estar no papel de mulher”, conta.

Apesar de ainda estar preso ao sexo com que nasceu, Jo-B De Souza considera-se e comporta-se como um macho alfa, ao ponto de não se sentir cómodo em mostrar as partes íntimas durante relações, a menos que seja com alguém com quem tem uma relação longa e de profunda confiança. “Quando estou com uma mulher, fora do contexto de namoro, não me sinto confortável sem roupa à frente delas, nem permito que me toquem abaixo da cintura”, explica.

Após algumas relações longas e experimentação, Jo-B De Souza teve de encarar a transição que se impunha e que desde sempre germinava dentro de si. Em 2016 começou a aplicar um gel com hormonas masculinas e iniciou o processo da sua reconstrução física.

“Andei a procrastinar a mudança de sexo. Primeiro não tinha dinheiro, mas depois comecei a ter medo de dar o próximo passo, andava sempre a adiar, dizia sempre para mim que seria amanhã, que ainda era jovem, que era muito cedo”, confessa.

Outra das hesitações de Jo-B De Souza era o receio em revelar aos pais que queria embarcar numa viagem biológica sem retorno, mesmo sabendo que os seus pais são pessoas bastante abertas. Não era uma questão de falta de confiança, mas da dificuldade em contar que se quer fazer algo tão drástico.

“Eles têm feito um excelente trabalho em fazer-me feliz e a ideia de lhes dizer que havia algo tão grande reprimido dentro de mim, ao longo de todos estes anos, é muito triste”, explica.

Apesar de não ser segredo para quem era próximo de Jo-B De Souza, a efectiva mudança de sexo era algo que parecia distante, mas inevitável.

Mas o seu corpo era um empecilho com o qual tem sido obrigado a viver todos os dias da sua vida. “Impediu-me de fazer muitas coisas, adoro nadar e não posso, gosto de ir à praia e não quero ter de vestir biquínis, gosto de jogar basquete mas não conseguia devido ao peso do peito, também não podia comprar a roupa que queria”, enumera.

Salto em frente

Jo-B De Souza virou a página da sua identidade de género numa altura que decidiu encerrar um capítulo amoroso com uma pessoa que entrava e saía da sua vida há algum tempo.

Cansado da falta de eficácia do gel com testosterona e posta de parte a hipótese de congelar óvulos para uma futura maternidade, decidiu dar os passos que a cirurgia reconstrutiva lhe permitem dar.

Em todas as etapas médicas, Jo-B De Souza recorreu sempre a uma clínica na Tailândia e passou a ser seguido por um médico norte-americano que opera em Pattaya. É de salientar que em Macau não existem este tipo de serviços médicos. Aliás, solicitados pelo HM, os Serviços de Saúde locais não responderam se existe algum plano de no futuro virem a providenciar serviços cirúrgicos, ou mesmo de substituição hormonal.

Assim sendo, em Maio do ano passado, Jo-B De Souza removeu os seios na clínica que o vinha seguindo. “Passei a poder vestir o que me apetece, sem sentir que tenho um segredo a esconder. Agora quando vou ao ginásio já não vou para o balneário feminino, estou no balneário dos homens e ninguém sequer duvida, desde que tenha uma toalha à cintura”, conta.

A partir de Outubro de 2016 começou a injectar testosterona, um processo que se iniciou com umas análises que revelaram uma quantidade anormalmente grande de hormonas masculinas. Desde então, recebe todos os trimestres uma encomenda de injecções.

Como nunca teve uma relação confortável com agulhas, tirando as que tatuam, Jo-B De Souza recorreu a alguém em quem sabia que podia confiar, a sua irmã, um dos seus principais pilares de apoio, sem esquecer o cunhado.

“Há dias que é doloroso e outros dias em que não há sensação”, conta acrescentando que as injecções passaram a ser um ritual que tem de cumprir a cada três dias. “Comecei com 0.2 mg e agora tomo 0.35 mg. Isto vai ser para sempre, mas não com esta frequência”.

Começou assim o processo de modificação total das hormonas, antes do adeus final à produção de estrogénio que viria em Novembro último, altura em que removeu o útero e os ovários. Esta fase significaria o armistício de uma guerra hormonal que durara a sua vida inteira.

Super-homem

Antes de começar com as injecções, Jo-B De Souza teve de fazer análises. “Quando fiz o meu primeiro teste ao sangue na clínica o médico perguntou-me se já tinha feito algum tratamento hormonal porque, normalmente, os níveis de testosterona de uma mulher vão até 30, mas eu tinha 61”, conta. Níveis que não são surpreendentes face à fisionomia de Jo-B De Souza, que sempre teve, por exemplo, ombros largos e dedos grossos.

Desde a primeira intervenção, em que removeu os seios, o residente de Macau ganhou uma reputação de homem de ferro entre os pessoal médico e de enfermagem na clínica tailandesa que o tem acompanhado.

“No hospital deram-me a alcunha de Super-homem”, conta bem humorado. A remoção do peito, mastectomia, é um procedimento doloroso que implica o reajuste do torso. Como tal, após a cirurgia os pacientes podem ter de ficar duas semanas imobilizados numa cama de hospital.

“No dia seguinte à operação, acordei e não senti dor e como precisava de ir à casa de banho e não havia ninguém por perto, levantei-me e fui à casa de banho. Ainda não tinha decorrido 24 horas desde que tinha saído do bloco operatório. Os médicos ficaram alarmados mas eu acalmei-os e disse-lhes que não sentia dor, que estava tudo bem”, recorda.

A partir desse momento, começou a circular entre o pessoal da clínica e pacientes a alcunha “Super-homem”, uma alcunha que se foi disseminando das empregadas de limpeza, enfermeiras, até ao pessoal médico.

A reputação aprofundou-se quando chegou a altura de remover órgãos. Em Novembro, Jo-B De Souza deu entrada na clínica da Pattaya para fazer uma histerectomia e ovariectomia, o que trocado por miúdos significa a remoção do útero e ovários.

Mais uma vez, o natural de Macau tinha pela frente uma recuperação lenta, dolorosa, que implicaria cerca de duas semanas de cama. Ainda assim, no dia seguinte à cirurgia resolveu pôr-se de pé, ao lado da cama, tranquilamente a ver televisão. Sem grande disposição para ficar deitado, Jo-B De Souza, após exame médico, teve alta e regressou a Macau, encurtando o período de convalescença na cama da clínica de duas semanas para dois dias. A forma como o seu corpo recuperou de uma intervenção que não é definitivamente pêra doce em termos médicos surpreendeu o médico e aumentou a sua reputação de super-herói.

Durante estes complicados processos, Jo-B De Souza contou com o apoio incondicional da sua namorada e de uma nova família que conheceu na Tailândia a partir de um amigo que fez na clínica.

Mesmo durante os períodos de curta convalescença, o natural de Macau teve sempre uma rede de apoio que não o largou, desde a família e a namorada à distância, passando pela família do amigo tailandês que o acompanhou nos momentos mais frágeis. Ficaram tão próximos que Jo-B passou a visitá-los regularmente à Tailândia.

Homem novo

Com a remoção do útero e ovários, Jo-B De Souza deixou de produzir estrogénio. Juntando a esse facto as injecções de testosterona, pode-se dizer que em termos hormonais é um homem, algo que lhe dá uma vantagem de perspectiva que poucas pessoas alguma vez irão experimentar.

“Como fui exposto a ambos os mundos, nunca imaginava que as emoções de uma mulher são assim tão doidas, porque as considerava normais”, conta. Hoje em dia, Jo-B De Souza sente-se nas nuvens, “high” como diz em inglês, e congratula-se porque nada o chateia como antes. “Saí dessa montanha russa emocional, estou focado e não fico tão facilmente agitado ou irritado com as coisas”, revela.

O residente de Macau sempre entendeu que as suas emoções representavam dois extremos pendulares que eram, em simultâneo, a maior fraqueza e a maior força. Até à remoção de parte do sistema reprodutor feminino, a sensibilidade, a empatia e mesmo a atribuição de significado a coisas triviais para os outros foram motivos para altos e baixos de ânimo.

Neste momento, vive uma espécie de segunda puberdade enquanto as hormonas masculinas tomam conta do seu corpo. No seu rosto começa a despontar uma mais que bem-vinda barba e a voz torna-se mais funda. Aliás, este é um dos detalhes que o faz recuar em sentimentalismo.

Jo-B De Souza sempre gostou de cantar, nesse aspecto a perda da sua antiga voz é algo que o emociona, principalmente quando ouve antigas gravações que fez. Porém, já se aventura com a voz masculina, enquanto a intensidade de interpretação se mantem.

“Acho que vou apreciar estas mudanças, que são de médio longo-prazo, não chegam de repente. Agora vou fazer a viagem de um rapaz dos 12 anos aos 18 anos. Existe essa margem, um homem não se faz assim de repente e eu quero saborear esse longo período”.

Última fronteira

Depois de duas anestesias gerais em menos de um ano, Jo-B De Souza não pode voltar tão cedo ao bloco operatório. Porém, no horizonte falta um passo, a faloplastia, ou seja, a construção do órgão sexual masculino.

Esta cirurgia, a derradeira, pressupõe algum planeamento pois requer uma recuperação mais lenta e complicada, mesmo para um Super-homem. A faloplastia implicará muitas horas de fisioterapia e de recuperação muscular.

Outra questão na mente de Jo-B De Souza é de natureza monetária. Além do preço da cirurgia, o residente de Macau quer amealhar dinheiro para estar confortável por um período de tempo, que se prevê largo, durante o qual não poderá trabalhar.

“Preciso de saber como será a recuperação mas não estou com pressa, desde que esteja bem de saúde estou óptimo”, explica com simplicidade.

Além da mudança física, Jo-B De Souza vai tentar alterar o seu género juntos da Direcção dos Serviços de Identificação. “As leis em Macau não regulam estas situações, mas acho que encontrei uma lacuna. Ao que parece, desde que um médico escreva uma carta a dizer que o corpo da pessoa é 75 a 80 por cento daquele sexo, eles têm de adequar essa realidade com o género que está no BIR”, conta. Aliás, Jo-B De Souza apronta-se para fazer a análise de sangue que servirá de argumento para a oficialização junto dos serviços públicos da pessoa que existe além da identidade no papel.

Essa será a derradeira fase da metamorfose de Jo-B De Souza, o momento em que lhe será restituído algo que nunca teve, mas que sempre sentiu. Será, também, um passo que lhe trará esclarecimento, mesmo dentro de uma comunidade LGBT com a qual nunca se identificou completamente. “Não julgo as pessoas gays, nem lésbicas, mas não quero ser uma delas. Só quero ser normal, não quero casamento gay, quero um casamento normal, heterossexual”, comenta Jo-B De Souza, que simplesmente repudia que o tratem como mulher.

Apesar de conhecer um residente local que fez a transição de masculino para feminino, igualmente operado na Tailândia, Jo-B não conhece ninguém que tenha feito o percurso pioneiro que se prepara para completar.

Com a determinação e força que o caracterizam, Jo-B De Souza está perto de finalizar um caminho nunca antes trilhado por ninguém em Macau. Entre dois tragos num cigarro, diz com leveza: “Vou fazer todas as etapas porque se começo algo tenho de ir até ao fim”.


A perspectiva clínica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] transtorno da identidade de género ainda é considerado umapatologia pelo Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Facto que irá mudar na próxima revisão do documento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Está em curso “a despatologização dos transgéneros, a autodeterminação e as identidades de género não binárias e flutuantes, que são noções e conceitos que desafiam as ideias milenarmente instituídas na sociedade”, explica Graça Santos, psiquiatra e coordenadora da URGUS (Unidade de Reconstrução Génito-Urinária e Sexual) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A coordenadora da unidade que providencia em Coimbra hormonoterapia, assim como histerectomia, ovariectomia e faloplastia, considera que estes casos têm, normalmente, uma elevada dose de sofrimento implícito. “Muitas vezes isolam-se dos seus pares e não adquirem as necessárias competências de socialização, têm dificuldade em ter relações de amizade, namoro etc”, explica a psiquiatra. Os constrangimentos físicos e psicológicos pode valer a “perda de experiências como a prática desportiva, ir à praia, nadar e situações em que o corpo se desnuda”.

Se à falta de apoio se juntar a discriminação e o bullying, os jovens transgéneros podem mesmo a sofrer “episódios depressivos, ansiedade elevada, ideação suicida, tentativas de suicídio e auto-mutilações”.

Após uma primeira fase de avaliação em consulta em sexologia (psiquiatra ou

psicólogo) é feito o diagnóstico de Disforia de Género. No caso do indivíduo o desejar (o mais comum é desejarem-no) o utente deve ser acompanhado na especialidade de endocrinologia para iniciar tratamento hormonal de feminização ou masculinização.

“Estas alterações são vividas com agrado, muitas vezes com euforia, embora a

terapêutica hormonal também possa induzir alguma instabilidade emocional. As

modificações são muito bem-vindas e permitem que a pessoa transexual possa

afirmar-se socialmente como sendo do género que pretende ser e não daquele que lhe foi atribuído à nascença. Esta conformidade entre corpo e identidade traz sentimentos de bem-estar e uma perspectiva positiva do futuro. Agora podem ser o que sempre sentiram que eram”, explica a coordenadora do URGUS.

Quem embarca neste processo no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, tem uma equipa multidisciplinar ao seu serviço, que inclui clínicos de psicologia, psiquiatria, endocrinologia, urologia, ginecologia, cirurgia plástica, terapeuta da voz e assistente social.

26 Jan 2018