Cinemateca Paixão | IC adia encerramento e assume rédeas até nova concessão

A concessionária da Cinemateca Paixão e o Instituto Cultural estão em conversações para prolongar a actual gestão do espaço e adiar o seu encerramento no início de 2020. Mas, segundo a nova secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, a sala vai mesmo encerrar entre Junho e Agosto para obras de reparação

 

[dropcap]D[/dropcap]epois do anúncio que o encerramento da Cinemateca Paixão estaria relacionado com o facto de o contrato de arrendamento do espaço, entre o Instituto Cultural (IC) e a Associação Audiovisual Cut, não ter sido renovado a tempo, o IC emitiu um comunicado a afirmar que o local será submetido a um período de inspecção e manutenção que estará concluído “no terceiro quadrimestre de 2020”.

“Como o local possui apenas uma única sala para exibição de filmes, fazendo com que o sistema e o equipamento de projecção sejam muito utilizados, estão planeados trabalhos de inspecção e manutenção com o objectivo de melhorar a qualidade das exibições na Cinemateca (…) e garantir que o espaço oferece ao público, ainda melhores condições de exibição e ao nível das instalações, no futuro”, pode ler-se no comunicado.

Numa tentativa de adiar o encerramento do espaço no início do ano, e visto que o contrato de concessão, válido por três anos, termina no final de Dezembro, a concessionária da Cinemateca Paixão e o IC estão em conversações para prolongar a actual gestão do espaço, sendo o cenário mais provável, a assinatura de um novo contrato a título temporário, garantindo a continuidade do projecto até ser lançado novo concurso público.
“Estamos a discutir com o Instituto Cultural [a possibilidade de celebrar] um contrato de seis meses”, disse à Rádio Macau, Albert Chu, presidente da Associação Audio-visual Cut, que explora a Cinemateca desde a sua abertura em 2016. “O público quer uma casa de cinema que consegue exibir filmes diferentes”, acrescentou, reconhecendo que o prolongamento da concessão também se assume como uma boa notícia para a Cut.

No que diz respeito às obras de manutenção da Cinemateca Paixão, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, afirmou no primeiro dia em funções no cargo, que após visitar o local comprovou que as reparações são mesmo necessárias. “Já visitei a Cinemateca e vi que há infiltrações em algumas paredes. A sala de projecções precisa de reparações. O estado geral não é muito bom, pelo que os equipamentos facilmente ficam danificados”, explicou. Ao Ieong U confirmou também que o IC irá assinar um contrato de curto prazo com uma empresa operacional para garantir que a cinemateca esteja a funcionar no primeiro semestre do próximo ano, esperando que a entidade vencedora do concurso tenha em consideração “os respectivos requisitos operacionais”.

Segundo a secretária, para se proceder às respectivas reparações, está previsto que a Cinemateca encerre entre Junho e Agosto do próximo ano, devendo as obras arrancar antes disso, em Fevereiro, sem comprometer, no entanto, o funcionamento do espaço.

Em cima do joelho

Acusando o Governo de ter anunciado o destino da Cinemateca Paixão “no último minuto”, o deputado à Assembleia Legislativa Sulu Sou mostra-se crítico e interpelou o Executivo pedindo esclarecimentos acerca da demora do referido anúncio e uma revisão das práticas governativas que levaram a esta situação.

“O contrato de exploração da Cinemateca Paixão está prestes a acabar. Porque será que as autoridades esperaram até o sector cultural manifestar descontentamento para divulgar o destino da Cinemateca no último minuto? Será que vai ser realizada uma revisão dos maus hábitos de governação? Em relação aos concursos públicos do contrato, aos planeamentos de manutenção e reparação das instalações que afectam directamente o funcionamento da Cinemateca, que trabalhos e progressos relevantes foram feitos pelas autoridades nos últimos anos?”, questionou Sulu Sou

Na sua interpelação Sulu Sou espera ainda que o Governo possa avaliar a rentabilidade dos últimos três anos de funcionamento da Cinemateca, bem como divulgar quais os indicadores que serão tidos em conta em futuros concursos públicos e as políticas de promoção do desenvolvimento da indústria cinematográfica local.

30 Dez 2019

Cinemateca Paixão | IC adia encerramento e assume rédeas até nova concessão

A concessionária da Cinemateca Paixão e o Instituto Cultural estão em conversações para prolongar a actual gestão do espaço e adiar o seu encerramento no início de 2020. Mas, segundo a nova secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, a sala vai mesmo encerrar entre Junho e Agosto para obras de reparação

 
[dropcap]D[/dropcap]epois do anúncio que o encerramento da Cinemateca Paixão estaria relacionado com o facto de o contrato de arrendamento do espaço, entre o Instituto Cultural (IC) e a Associação Audiovisual Cut, não ter sido renovado a tempo, o IC emitiu um comunicado a afirmar que o local será submetido a um período de inspecção e manutenção que estará concluído “no terceiro quadrimestre de 2020”.
“Como o local possui apenas uma única sala para exibição de filmes, fazendo com que o sistema e o equipamento de projecção sejam muito utilizados, estão planeados trabalhos de inspecção e manutenção com o objectivo de melhorar a qualidade das exibições na Cinemateca (…) e garantir que o espaço oferece ao público, ainda melhores condições de exibição e ao nível das instalações, no futuro”, pode ler-se no comunicado.
Numa tentativa de adiar o encerramento do espaço no início do ano, e visto que o contrato de concessão, válido por três anos, termina no final de Dezembro, a concessionária da Cinemateca Paixão e o IC estão em conversações para prolongar a actual gestão do espaço, sendo o cenário mais provável, a assinatura de um novo contrato a título temporário, garantindo a continuidade do projecto até ser lançado novo concurso público.
“Estamos a discutir com o Instituto Cultural [a possibilidade de celebrar] um contrato de seis meses”, disse à Rádio Macau, Albert Chu, presidente da Associação Audio-visual Cut, que explora a Cinemateca desde a sua abertura em 2016. “O público quer uma casa de cinema que consegue exibir filmes diferentes”, acrescentou, reconhecendo que o prolongamento da concessão também se assume como uma boa notícia para a Cut.
No que diz respeito às obras de manutenção da Cinemateca Paixão, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, afirmou no primeiro dia em funções no cargo, que após visitar o local comprovou que as reparações são mesmo necessárias. “Já visitei a Cinemateca e vi que há infiltrações em algumas paredes. A sala de projecções precisa de reparações. O estado geral não é muito bom, pelo que os equipamentos facilmente ficam danificados”, explicou. Ao Ieong U confirmou também que o IC irá assinar um contrato de curto prazo com uma empresa operacional para garantir que a cinemateca esteja a funcionar no primeiro semestre do próximo ano, esperando que a entidade vencedora do concurso tenha em consideração “os respectivos requisitos operacionais”.
Segundo a secretária, para se proceder às respectivas reparações, está previsto que a Cinemateca encerre entre Junho e Agosto do próximo ano, devendo as obras arrancar antes disso, em Fevereiro, sem comprometer, no entanto, o funcionamento do espaço.

Em cima do joelho

Acusando o Governo de ter anunciado o destino da Cinemateca Paixão “no último minuto”, o deputado à Assembleia Legislativa Sulu Sou mostra-se crítico e interpelou o Executivo pedindo esclarecimentos acerca da demora do referido anúncio e uma revisão das práticas governativas que levaram a esta situação.
“O contrato de exploração da Cinemateca Paixão está prestes a acabar. Porque será que as autoridades esperaram até o sector cultural manifestar descontentamento para divulgar o destino da Cinemateca no último minuto? Será que vai ser realizada uma revisão dos maus hábitos de governação? Em relação aos concursos públicos do contrato, aos planeamentos de manutenção e reparação das instalações que afectam directamente o funcionamento da Cinemateca, que trabalhos e progressos relevantes foram feitos pelas autoridades nos últimos anos?”, questionou Sulu Sou
Na sua interpelação Sulu Sou espera ainda que o Governo possa avaliar a rentabilidade dos últimos três anos de funcionamento da Cinemateca, bem como divulgar quais os indicadores que serão tidos em conta em futuros concursos públicos e as políticas de promoção do desenvolvimento da indústria cinematográfica local.

30 Dez 2019

Casa de Portugal em Macau | Valorização da língua e da comunidade lusa vai manter-se

[dropcap]A[/dropcap] presidente da Casa de Portugal em Macau disse ontem que o investimento no português e nas relações com a comunidade portuguesa têm sido uma “preocupação sistemática” e que isso não deverá mudar com o novo Executivo da região.

Para Amélia António, isso seria “desvirtuar o valor que Macau tem” e o Presidente chinês, Xi Jinping, fez questão, na sua visita ao território por ocasião dos 20 anos da região administrativa especial, de “repetir sistematicamente as características especiais” do território que funciona como ponte sino-lusófona.

“Estão lá uns toques no discurso do Presidente a chamar a atenção que, sendo a cultura chinesa a dominante, é para manter as pontes”, afirmou, em declarações à Lusa à margem de uma receção comemorativa na Torre de Macau.

Xi Jinping sublinhou várias vezes o sucesso da aplicação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ com características próprias de Macau.

Amélia António considera que “é um recado para Hong Kong”, onde os últimos seis meses têm sido marcados por protestos antigovernamentais e contra a crescente interferência de Pequim, “mas não exclusivamente”.

“É também para certos sectores de Macau que só vêem um país, não vêem o segundo sistema, e esquecem-se que Macau é importante” pelo papel que exerce como plataforma ente a China e os países de língua portuguesa, considerou.

“Não estou particularmente preocupada” com a desvalorização do português, admitiu, apontando para o “enorme conhecimento do português e da comunidade portuguesa” entre as novas caras do executivo.

Grandes oportunidades

Também o secretário-geral adjunto do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), Rodrigo Brum, manifestou optimismo em relação ao reforço da cooperação sino-lusófona com o novo Governo.

Rodrigo Brum destacou que o projecto da Grande Baía, no qual “está prevista a ligação com os países de língua portuguesa”, é uma oportunidade que nem Macau nem o bloco lusófono podem desperdiçar ou descurar.

O projecto de Pequim da Grande Baía pretende criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda os 1,2 biliões de euros, semelhante ao PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.

O novo Governo de Macau, liderado por Ho Iat Seng, tomou ontem posse perante o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping (ver GP e página 5).

Trata-se do quinto Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), que celebrou ontem o seu 20.º aniversário, depois de em 20 de Dezembro de 1999 o território ter voltado à tutela da China, após mais de 400 anos de administração portuguesa.

21 Dez 2019

Casa de Portugal em Macau | Valorização da língua e da comunidade lusa vai manter-se

[dropcap]A[/dropcap] presidente da Casa de Portugal em Macau disse ontem que o investimento no português e nas relações com a comunidade portuguesa têm sido uma “preocupação sistemática” e que isso não deverá mudar com o novo Executivo da região.
Para Amélia António, isso seria “desvirtuar o valor que Macau tem” e o Presidente chinês, Xi Jinping, fez questão, na sua visita ao território por ocasião dos 20 anos da região administrativa especial, de “repetir sistematicamente as características especiais” do território que funciona como ponte sino-lusófona.
“Estão lá uns toques no discurso do Presidente a chamar a atenção que, sendo a cultura chinesa a dominante, é para manter as pontes”, afirmou, em declarações à Lusa à margem de uma receção comemorativa na Torre de Macau.
Xi Jinping sublinhou várias vezes o sucesso da aplicação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ com características próprias de Macau.
Amélia António considera que “é um recado para Hong Kong”, onde os últimos seis meses têm sido marcados por protestos antigovernamentais e contra a crescente interferência de Pequim, “mas não exclusivamente”.
“É também para certos sectores de Macau que só vêem um país, não vêem o segundo sistema, e esquecem-se que Macau é importante” pelo papel que exerce como plataforma ente a China e os países de língua portuguesa, considerou.
“Não estou particularmente preocupada” com a desvalorização do português, admitiu, apontando para o “enorme conhecimento do português e da comunidade portuguesa” entre as novas caras do executivo.

Grandes oportunidades

Também o secretário-geral adjunto do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), Rodrigo Brum, manifestou optimismo em relação ao reforço da cooperação sino-lusófona com o novo Governo.
Rodrigo Brum destacou que o projecto da Grande Baía, no qual “está prevista a ligação com os países de língua portuguesa”, é uma oportunidade que nem Macau nem o bloco lusófono podem desperdiçar ou descurar.
O projecto de Pequim da Grande Baía pretende criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda os 1,2 biliões de euros, semelhante ao PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.
O novo Governo de Macau, liderado por Ho Iat Seng, tomou ontem posse perante o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping (ver GP e página 5).
Trata-se do quinto Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), que celebrou ontem o seu 20.º aniversário, depois de em 20 de Dezembro de 1999 o território ter voltado à tutela da China, após mais de 400 anos de administração portuguesa.

21 Dez 2019

Macau/20 anos | ADN da gastronomia portuguesa em mãos filipinas

[dropcap]O[/dropcap] ADN da gastronomia portuguesa em Macau passa muito hoje por mãos filipinas: é assim também no Clube Militar que promove a cozinha lusa no “restaurante da saudade”, descreve um dos responsáveis da instituição prestes a comemorar 150 anos.

O legado gastronómico português, hoje na mão de cozinheiros filipinos no antigo território administrado por Portugal, é de fácil constatação. Da península de Macau à ilha da Taipa, passando por Coloane, em direcção à praia de Hac Sa, o cenário repete-se nas inúmeras cozinhas de restaurantes portugueses de Macau, onde se continua a promover do caldo verde aos rojões, das francesinhas ao bacalhau, do cozido ao toucinho do céu.

O festival dedicado à gastronomia e vinhos de Portugal, promovido pelo Clube Militar e que assinala o 20.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau, consegue a proeza de ‘apurar’ uma nova realidade: a equipa de cozinha, inteiramente filipina, se calhar já sabe confeccionar melhor os pratos portugueses do que aqueles da sua terra de origem, sublinha um dos convidados, José Júlio Vintém.

O que o mais surpreende o ‘chef’ que veio do Alentejo é a saudade, em Macau. “Isto é um festival de gastronomia (…) que revela o Portugal actual e de antigamente, através dos sabores”, sustenta.

“É engraçado ver que nós chegamos, dizemos que queremos um polvo à lagareiro em português e eles, que não falam uma palavra de português, e mal o inglês, percebem perfeitamente e executam a receita muito bem”, precisa, para acrescentar o que é igualmente interessante verificar após a formação: “Quando voltamos [a Macau] e vamos provar, eles às vezes até melhoraram bastante em termos de confeção a receita”.

Outro ‘chef’, Óscar Geadas, realça que a autenticidade portuguesa em Macau fica em boas mãos. Afinal, “a equipa dos colaboradores é toda [feita] de filipinos que há 20 anos estão a trabalhar nesta cozinha e vestem a camisa da cozinha portuguesa”, acrescenta.

O irmão, António, outro dos ‘chefs’ que veio dar, neste caso, mais sabor transmontano ao festival, enfatiza: “o facto de serem filipinos [ou] chineses a fazerem a cozinha é claramente secundário, o que é importante é realmente o sentimento com que a fazem, e o sentimento é claramente português”, elogia.

Do Algarve veio Noélia Jerónimo, para cozinhar e também para dar formação, outro dos objectivos do festival. “Eles [os filipinos] já sabem os nossos sabores, eles já são quase tão portugueses como nós (…), eles pensam como nós”, destaca a ‘chef’.

Bons profissionais

A filipina Evelyn Gocotano já trabalha há qualquer coisa como 24 anos no Clube Militar. As primeiras iguarias portuguesas que a ‘chef’ confeccionou foi o pudim abade de priscos, toucinho do céu e sericaia. Gosta da cozinha portuguesa “porque é orgânica (…) e pouco processada”, porque só necessita de “um pouco de tempero”, de um pouco de sal e algumas ervas.

Hoje partilha a cozinha e a sua vivência da comida portuguesa com o filho, Rae, que também ‘tempera’ os elogios sobre a gastronomia lusa com um sublinhado ao uso e abuso de “ervas e ingredientes frescos”. O que gosta mais de cozinhar? “O que é mais fácil de fazer: gambas fritas em alho e ameijoas”, responde.

Outro ‘chef’ filipino, Dani Soriano, entre fáceis elogios à gastronomia portuguesa, faz questão em enumerar alguns dos pratos que gosta de preparar: o tradicional arroz de pato, todas as receitas de bacalhau e o inevitável cozido à portuguesa.

“O ‘mercado da saudade’, ou o ‘restaurante da saudade, o Clube Militar faz-nos sentir como em Portugal”, procura resumir o membro da direção Manuel Geraldes, numa referência também ao próprio festival.

“Serve também para promover Macau porque diversifica oferta gastronómica”, não sendo, por isso, um acaso que diariamente sirvam dezenas de chineses, japoneses e coreanos, exemplifica, garantindo que o restaurante da instituição já conquistou “o estatuto de [oferecer] a comida portuguesa mais genuína e mais avançada”.

Por outro lado, cumpre outra missão. “Serve também, e é muito importante para nós, como escola. É uma referência e não tem nenhum português a trabalhar na cozinha. São todos filipinos. Eles aprendem muitíssimo bem, são excelentes profissionais”, elogia, no dia em que se assinala o 20.º aniversário de Macau, enquanto Região Administrativa Especial da China, depois de mais de 400 anos sob administração portuguesa.

21 Dez 2019

Macau/20 anos | ADN da gastronomia portuguesa em mãos filipinas

[dropcap]O[/dropcap] ADN da gastronomia portuguesa em Macau passa muito hoje por mãos filipinas: é assim também no Clube Militar que promove a cozinha lusa no “restaurante da saudade”, descreve um dos responsáveis da instituição prestes a comemorar 150 anos.
O legado gastronómico português, hoje na mão de cozinheiros filipinos no antigo território administrado por Portugal, é de fácil constatação. Da península de Macau à ilha da Taipa, passando por Coloane, em direcção à praia de Hac Sa, o cenário repete-se nas inúmeras cozinhas de restaurantes portugueses de Macau, onde se continua a promover do caldo verde aos rojões, das francesinhas ao bacalhau, do cozido ao toucinho do céu.
O festival dedicado à gastronomia e vinhos de Portugal, promovido pelo Clube Militar e que assinala o 20.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau, consegue a proeza de ‘apurar’ uma nova realidade: a equipa de cozinha, inteiramente filipina, se calhar já sabe confeccionar melhor os pratos portugueses do que aqueles da sua terra de origem, sublinha um dos convidados, José Júlio Vintém.
O que o mais surpreende o ‘chef’ que veio do Alentejo é a saudade, em Macau. “Isto é um festival de gastronomia (…) que revela o Portugal actual e de antigamente, através dos sabores”, sustenta.
“É engraçado ver que nós chegamos, dizemos que queremos um polvo à lagareiro em português e eles, que não falam uma palavra de português, e mal o inglês, percebem perfeitamente e executam a receita muito bem”, precisa, para acrescentar o que é igualmente interessante verificar após a formação: “Quando voltamos [a Macau] e vamos provar, eles às vezes até melhoraram bastante em termos de confeção a receita”.
Outro ‘chef’, Óscar Geadas, realça que a autenticidade portuguesa em Macau fica em boas mãos. Afinal, “a equipa dos colaboradores é toda [feita] de filipinos que há 20 anos estão a trabalhar nesta cozinha e vestem a camisa da cozinha portuguesa”, acrescenta.
O irmão, António, outro dos ‘chefs’ que veio dar, neste caso, mais sabor transmontano ao festival, enfatiza: “o facto de serem filipinos [ou] chineses a fazerem a cozinha é claramente secundário, o que é importante é realmente o sentimento com que a fazem, e o sentimento é claramente português”, elogia.
Do Algarve veio Noélia Jerónimo, para cozinhar e também para dar formação, outro dos objectivos do festival. “Eles [os filipinos] já sabem os nossos sabores, eles já são quase tão portugueses como nós (…), eles pensam como nós”, destaca a ‘chef’.

Bons profissionais

A filipina Evelyn Gocotano já trabalha há qualquer coisa como 24 anos no Clube Militar. As primeiras iguarias portuguesas que a ‘chef’ confeccionou foi o pudim abade de priscos, toucinho do céu e sericaia. Gosta da cozinha portuguesa “porque é orgânica (…) e pouco processada”, porque só necessita de “um pouco de tempero”, de um pouco de sal e algumas ervas.
Hoje partilha a cozinha e a sua vivência da comida portuguesa com o filho, Rae, que também ‘tempera’ os elogios sobre a gastronomia lusa com um sublinhado ao uso e abuso de “ervas e ingredientes frescos”. O que gosta mais de cozinhar? “O que é mais fácil de fazer: gambas fritas em alho e ameijoas”, responde.
Outro ‘chef’ filipino, Dani Soriano, entre fáceis elogios à gastronomia portuguesa, faz questão em enumerar alguns dos pratos que gosta de preparar: o tradicional arroz de pato, todas as receitas de bacalhau e o inevitável cozido à portuguesa.
“O ‘mercado da saudade’, ou o ‘restaurante da saudade, o Clube Militar faz-nos sentir como em Portugal”, procura resumir o membro da direção Manuel Geraldes, numa referência também ao próprio festival.
“Serve também para promover Macau porque diversifica oferta gastronómica”, não sendo, por isso, um acaso que diariamente sirvam dezenas de chineses, japoneses e coreanos, exemplifica, garantindo que o restaurante da instituição já conquistou “o estatuto de [oferecer] a comida portuguesa mais genuína e mais avançada”.
Por outro lado, cumpre outra missão. “Serve também, e é muito importante para nós, como escola. É uma referência e não tem nenhum português a trabalhar na cozinha. São todos filipinos. Eles aprendem muitíssimo bem, são excelentes profissionais”, elogia, no dia em que se assinala o 20.º aniversário de Macau, enquanto Região Administrativa Especial da China, depois de mais de 400 anos sob administração portuguesa.

21 Dez 2019

Jogo | Governo arrecada 104 mil milhões até Novembro

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau arrecadou até Novembro, cerca de 104,04 mil milhões de patacas em receitas provenientes dos impostos directos sobre o jogo. Em relação às receitas brutas totais dos casinos de Macau, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) citados pelo GGR Asia, o valor acumulado até Novembro, foi de 269,62 mil milhões de patacas, uma quebra de 2,4 por cento relativamente a 2018.

O valor referente aos impostos cobrados até Novembro está em linha com os números do ano passado, mas acima das previsões do Governo, fixadas em 98,2 mil milhões de patacas.

De acordo com a mesma fonte, os números publicados pela DSF mostraram que a soma dos impostos colectados até ao momento relativos à indústria do jogo correspondem a 105,9 por cento da quantia prevista pelo Governo para o ano inteiro. Os dados oficiais referem também que as receitas colectadas representavam já 85,8 por cento dos quase 121,20 mil milhões de patacas que o Governo recolheu até ao momento de todas as fontes.

De referir que a tributação aplicada pelo Governo às receitas brutas totais dos casinos de Macau é de 35 por cento, mas outras taxas fizeram com que essa percentagem subisse para 39 por cento.

21 Dez 2019

Jogo | Governo arrecada 104 mil milhões até Novembro

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau arrecadou até Novembro, cerca de 104,04 mil milhões de patacas em receitas provenientes dos impostos directos sobre o jogo. Em relação às receitas brutas totais dos casinos de Macau, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) citados pelo GGR Asia, o valor acumulado até Novembro, foi de 269,62 mil milhões de patacas, uma quebra de 2,4 por cento relativamente a 2018.
O valor referente aos impostos cobrados até Novembro está em linha com os números do ano passado, mas acima das previsões do Governo, fixadas em 98,2 mil milhões de patacas.
De acordo com a mesma fonte, os números publicados pela DSF mostraram que a soma dos impostos colectados até ao momento relativos à indústria do jogo correspondem a 105,9 por cento da quantia prevista pelo Governo para o ano inteiro. Os dados oficiais referem também que as receitas colectadas representavam já 85,8 por cento dos quase 121,20 mil milhões de patacas que o Governo recolheu até ao momento de todas as fontes.
De referir que a tributação aplicada pelo Governo às receitas brutas totais dos casinos de Macau é de 35 por cento, mas outras taxas fizeram com que essa percentagem subisse para 39 por cento.

21 Dez 2019

Hengqin | Inaugurado novo posto fronteiriço

Um novo posto fronteiriço entre Macau e o continente chinês abriu ontem em Hengqin, visando agilizar a circulação de pessoas, quando se celebram vinte anos desde a transferência da administração para a China

 

[dropcap]O[/dropcap] novo posto e os terrenos adjacentes, com uma área conjunta de 16.000 metros quadrados, ficam sob a jurisdição de Macau, segundo o Conselho de Estado chinês.

A Zona Piloto de Comércio Livre de Hengqin, que pertence à cidade de Zhuhai, já estava ligada a Macau por um posto fronteiriço aberto 24 horas por dia e um túnel de acesso ao novo ‘campus’ da Universidade de Macau, mas cujo terreno foi arrendado por Zhuhai à região.

A nova infra-estrutura permite que o fluxo entre o continente e a região, e vice-versa, se reduza a um só controlo fronteiriço, face aos actuais dois – saída e entrada -, ligados por uma viagem de autocarro.

As instalações têm capacidade para atender mais de 220.000 pessoas por dia, revelou à agência Lusa o director do comité administrativo local, Yang Chuan.

O Governo central encarregou Hengqin, que fica ao lado do Cotai de Macau, onde estão concentrados a maior parte dos casinos da região, de desenvolver atracções turísticas complementares ao jogo.

A região conta já com o maior oceanário do mundo, o Chimelong Ocean Kingdom, que integra um complexo com mais de 130 hectares e inclui salas de espectáculo e hotéis de luxo. Assimilando uma herança arquitectónica de Macau, a localidade construiu também calçadas portuguesas e uma praça manuelina, desenvolvida pelo magnata local David Chow.

Metro e meio

O novo porto servirá também para uma “futura conexão” entre o Metro Ligeiro de Macau e a ligação ferroviária de alta velocidade Hengqin – Cantão, a capital da província de Guangdong, segundo Yang Chuan.

“Desde o início que as nossas orientações são promover a cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau e, sobretudo, promover o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau”, apontou.

O objectivo é também facilitar a comuta para residentes de Macau que escolham viver em Hengqin, onde a habitação é mais barata do que em Macau. Vinte e seis autocarros partem já diariamente de Hengqin com destino ao centro de Macau.

21 Dez 2019

Hengqin | Inaugurado novo posto fronteiriço

Um novo posto fronteiriço entre Macau e o continente chinês abriu ontem em Hengqin, visando agilizar a circulação de pessoas, quando se celebram vinte anos desde a transferência da administração para a China

 
[dropcap]O[/dropcap] novo posto e os terrenos adjacentes, com uma área conjunta de 16.000 metros quadrados, ficam sob a jurisdição de Macau, segundo o Conselho de Estado chinês.
A Zona Piloto de Comércio Livre de Hengqin, que pertence à cidade de Zhuhai, já estava ligada a Macau por um posto fronteiriço aberto 24 horas por dia e um túnel de acesso ao novo ‘campus’ da Universidade de Macau, mas cujo terreno foi arrendado por Zhuhai à região.
A nova infra-estrutura permite que o fluxo entre o continente e a região, e vice-versa, se reduza a um só controlo fronteiriço, face aos actuais dois – saída e entrada -, ligados por uma viagem de autocarro.
As instalações têm capacidade para atender mais de 220.000 pessoas por dia, revelou à agência Lusa o director do comité administrativo local, Yang Chuan.
O Governo central encarregou Hengqin, que fica ao lado do Cotai de Macau, onde estão concentrados a maior parte dos casinos da região, de desenvolver atracções turísticas complementares ao jogo.
A região conta já com o maior oceanário do mundo, o Chimelong Ocean Kingdom, que integra um complexo com mais de 130 hectares e inclui salas de espectáculo e hotéis de luxo. Assimilando uma herança arquitectónica de Macau, a localidade construiu também calçadas portuguesas e uma praça manuelina, desenvolvida pelo magnata local David Chow.

Metro e meio

O novo porto servirá também para uma “futura conexão” entre o Metro Ligeiro de Macau e a ligação ferroviária de alta velocidade Hengqin – Cantão, a capital da província de Guangdong, segundo Yang Chuan.
“Desde o início que as nossas orientações são promover a cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau e, sobretudo, promover o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau”, apontou.
O objectivo é também facilitar a comuta para residentes de Macau que escolham viver em Hengqin, onde a habitação é mais barata do que em Macau. Vinte e seis autocarros partem já diariamente de Hengqin com destino ao centro de Macau.

21 Dez 2019

TSI, após exame psiquiátrico, reduz pena a homem que matou o pai

[dropcap]N[/dropcap]o ano passado, um indivíduo foi condenado a 16 anos de prisão por ter assassinado o pai após uma acesa discussão. Depois do julgamento em primeira instância, a defesa decidiu que havia justificação para recorrer para o Tribunal de Segunda Instância (TSI).

O tribunal superior entendeu que o arguido deveria ser sujeito a peritagem psiquiátrica, um dos motivos para o processo voltar a ser avaliado. De acordo com o jornal Ou Mun, a pena acabou por ser reduzida de 16 para cinco anos e meia de cadeia.

O arguido, de apelido Wong, tem 28 anos de idade, é residente de Macau e encontrava-se desempregado à altura do homicídio. Quanto à vítima, pai do arguido, tinha 55 anos de idade, também natural do território e desempregado.

Ainda no ano de 1995, o pai de Wong havia sido diagnosticado com uma doença do foro mental no Centro Hospitalar Conde de São Januário. O tratamento a que foi submetido implicou a prescrição de fármacos, algo que terá aliviado consideravelmente os sintomas do paciente, apesar da doença crónica.

Apesar das dificuldades, pai e filho conviveram juntos por um ano antes do crime.
De acordo com a informação fornecida pela Polícia Judiciária, na madrugada de 3 de Abril de 2018, altercações e conflitos físicos num apartamento na Rua da Tribuna levaram ao homicídio. Na sequência da disputa, alegadamente originada por problemas familiares, o filho apertou o pescoço ao pai até este desmaiar e depois esfaqueou-o na zona do pescoço provocando uma enorme hemorragia. O agressor ligou para a PSP e pediu ajuda, o ferido foi levado para o hospital onde morreu após ter recebido os primeiros socorros.

Durante a audiência de julgamento, o psicólogo responsável pela avaliação do estado mental do arguido afirmou que Wong pode assumir as responsabilidades pelo que tinha feito, mas pertence a uma área de grau baixo, dado que, durante o assassinato, estava num estado de perturbação grave. O perito concluiu que mesmo que tivesse capacidade para saber que estava a cometer um erro, a capacidade analítica ficou bastante reduzida devido a alucinações que sofreu durante o episódio.

O juiz declarou durante a leitura de sentença que, devido à confirmação de que o arguido sofre de doença mental, a pena seria reduzida para um terço da anunciada anteriormente, ou seja, para um pena de prisão com cinco anos e seis meses.

21 Dez 2019

Crime | Homem detido devido a burla no valor de 200 mil renminbi

Depois da promessa de um retorno de investimento avultado, na ordem dos 20 por cento, um comerciante chinês apercebeu-se, tarde demais, que havia sido burlado em 200 mil renminbi. O esquema levou à detenção de um dos suspeitos, enquanto o cúmplice ainda é procurado pelas autoridades. Num outro caso, dois amigos foram também burlados no valor de 1 milhão

 

[dropcap]Q[/dropcap]uando o negócio parece bom demais para ser verdade, a grande probabilidade é que não seja mesmo verdade. Esta máxima escapou à percepção de um comerciante chinês de 30 anos interessado em investir no sector do jogo cerca de 200 mil RMB. A quantia em que viria a ser burlado, depois de acreditar num investimento incerto que daria o incrível retorno de 20 por cento ao dia.

De acordo com as autoridades policiais, citadas pelo jornal Exmoo, em Novembro a vítima terá conhecido Gao, também comerciante, que teria contacto com um indivíduo envolvido na prática de troca de dinheiro nos casinos de Macau.

Depois de uma reunião de negócios, os comerciantes decidiram investir, uma resolução que haveria de os levar a atravessar a fronteira para Macau, acompanhados pelo indivíduo facilitador do negócio, com o intuito de abrir uma conta bancária. Nesse dia, a vítima levantou 200 mil RMB num terminal de ATM instalado numa loja de venda de telemóveis no NAPE, que o suspeito que se encontra a monte depositou numa conta de uma sala VIP de jogo, referindo que o ajudaria a aplicar o dinheiro.

Passados dois dias, e sem ouvir palavra dos dois homens que o haviam acompanhado a Macau, a vítima contactou as autoridades. Nessa altura, já o dinheiro havia desaparecido, assim como o suspeito que alegadamente fez a transferência.

Citada pela mesma fonte, a Polícia Judiciária revela que o dono da conta VIP, disse que o montante em causa foi transferido para os suspeitos. O promotor de jogo tornou-se testemunha da investigação, e o comerciante de apelido Gao foi acusado de crime de burla em valor elevado e transferido para o Ministério Público. De acordo com a lei, se o prejuízo patrimonial resultante da burla for de valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.

Marcha de um milhão

Um residente foi transferido para o Ministério Público por suspeita de ter cometido crime de burla em valor elevado, um milhão de RMB, que terá vitimado dois indivíduos oriundos do Continente, segundo notícia avançada pelo canal chinês da Rádio Macau. De acordo com Polícia Judiciária, o suspeito foi detido no dia 14 de Dezembro num casino, e o dinheiro em causa já foi gasto no jogo, apesar de o suspeito e as duas vítimas manterem uma amizade com mais de uma década.

Segundo as autoridades, o suspeito, que passou a ter residência não permanente depois de casar com uma residente local, contou aos seus amigos que investia no sector do jogo. Uma história que se repete, sempre com o mesmo resultado. Desta vez, o valor da burla chegou à avultada soma de 1 milhão de RMB.

Na sequência da investigação, a PJ apurou que o suspeito tinha sido proibido de sair do Continente devido a problemas com a justiça, mas que haveria entrado em Macau ilegalmente.

21 Dez 2019

Crime | Homem detido devido a burla no valor de 200 mil renminbi

Depois da promessa de um retorno de investimento avultado, na ordem dos 20 por cento, um comerciante chinês apercebeu-se, tarde demais, que havia sido burlado em 200 mil renminbi. O esquema levou à detenção de um dos suspeitos, enquanto o cúmplice ainda é procurado pelas autoridades. Num outro caso, dois amigos foram também burlados no valor de 1 milhão

 
[dropcap]Q[/dropcap]uando o negócio parece bom demais para ser verdade, a grande probabilidade é que não seja mesmo verdade. Esta máxima escapou à percepção de um comerciante chinês de 30 anos interessado em investir no sector do jogo cerca de 200 mil RMB. A quantia em que viria a ser burlado, depois de acreditar num investimento incerto que daria o incrível retorno de 20 por cento ao dia.
De acordo com as autoridades policiais, citadas pelo jornal Exmoo, em Novembro a vítima terá conhecido Gao, também comerciante, que teria contacto com um indivíduo envolvido na prática de troca de dinheiro nos casinos de Macau.
Depois de uma reunião de negócios, os comerciantes decidiram investir, uma resolução que haveria de os levar a atravessar a fronteira para Macau, acompanhados pelo indivíduo facilitador do negócio, com o intuito de abrir uma conta bancária. Nesse dia, a vítima levantou 200 mil RMB num terminal de ATM instalado numa loja de venda de telemóveis no NAPE, que o suspeito que se encontra a monte depositou numa conta de uma sala VIP de jogo, referindo que o ajudaria a aplicar o dinheiro.
Passados dois dias, e sem ouvir palavra dos dois homens que o haviam acompanhado a Macau, a vítima contactou as autoridades. Nessa altura, já o dinheiro havia desaparecido, assim como o suspeito que alegadamente fez a transferência.
Citada pela mesma fonte, a Polícia Judiciária revela que o dono da conta VIP, disse que o montante em causa foi transferido para os suspeitos. O promotor de jogo tornou-se testemunha da investigação, e o comerciante de apelido Gao foi acusado de crime de burla em valor elevado e transferido para o Ministério Público. De acordo com a lei, se o prejuízo patrimonial resultante da burla for de valor elevado, o agente é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.

Marcha de um milhão

Um residente foi transferido para o Ministério Público por suspeita de ter cometido crime de burla em valor elevado, um milhão de RMB, que terá vitimado dois indivíduos oriundos do Continente, segundo notícia avançada pelo canal chinês da Rádio Macau. De acordo com Polícia Judiciária, o suspeito foi detido no dia 14 de Dezembro num casino, e o dinheiro em causa já foi gasto no jogo, apesar de o suspeito e as duas vítimas manterem uma amizade com mais de uma década.
Segundo as autoridades, o suspeito, que passou a ter residência não permanente depois de casar com uma residente local, contou aos seus amigos que investia no sector do jogo. Uma história que se repete, sempre com o mesmo resultado. Desta vez, o valor da burla chegou à avultada soma de 1 milhão de RMB.
Na sequência da investigação, a PJ apurou que o suspeito tinha sido proibido de sair do Continente devido a problemas com a justiça, mas que haveria entrado em Macau ilegalmente.

21 Dez 2019

Cinemateca Paixão fecha portas nos próximos dias 

Questões contratuais com o edifício na Travessa da Paixão terão ditado o fecho da Cinemateca, adiantaram realizadores ao HM. Albert Chu, presidente da Associação Audiovisual Cut, concessionária do espaço, confirma o encerramento, mas só fala depois do comunicado oficial do Instituto Cultural

 

[dropcap]A[/dropcap] Cinemateca Paixão vai fechar portas ainda este ano devido ao facto de o contrato de arrendamento do espaço, situado na Travessa da Paixão, não ter sido renovado a tempo. A informação foi confirmada ao HM pela realizadora Tracy Choi e por um outro realizador, que não quis ser identificado.

“Penso que o encerramento se deve ao facto de o Instituto Cultural (IC) não ter planeado bem a questão”, começou por dizer Tracy Choi. “Eles sabiam que o contrato iria terminar no final deste ano, mas demoraram a tomar uma decisão, o que não deu tempo para assinar um novo contrato”, acrescentou.

Albert Chu, director artístico da Cinemateca Paixão e presidente da Associação Audiovisual Cut, concessionária do espaço, confirmou ao HM o fecho da sala de cinema, mas recusou-se a prestar esclarecimentos adicionais.

“Há uma mudança e há uma razão formal que o IC vai apresentar em breve. É melhor para nós não fazermos  qualquer comentário antes dessa declaração”, apontou.

Público crescente

A Cinemateca Paixão abriu portas em 2017 e desde então que tem vindo a apresentar um cartaz repleto de ciclos de cinema especiais, dedicados a realizadores internacionais de renome como Pedro Almodôvar ou Reiner Werner Fassbinder, sem esquecer o destaque dado a realizadores asiáticos e locais. Tracy Choi relembra o facto de esta sala de cinema ter vindo a receber cada vez mais pessoas nos últimos três anos.

“Começámos a ter um público cada vez mais numeroso, com exibições todos os meses. E agora não há qualquer sala disponível onde possamos fazer isto. Espero que a Cinemateca Paixão possa abrir em breve porque já tinha todas as estruturas necessárias”, adiantou.

Outro realizador, ligado à Associação Audiovisual Cut, e que não quis ser identificado, disse ao HM que desde Novembro que havia um sinal de que as coisas não estavam bem.

“Comecei a questionar quais seriam os planos da Cinemateca para o novo ano, porque há sempre um avanço em relação à agenda para os meses seguintes. E percebi as caras de desapontamento da equipa. No início não responderam, porque não tinham a certeza de que iria ser assim. Mas agora estamos no final do ano e o que lhe posso dizer é que a razão oficial para o fecho por parte do IC é a renovação do local, o que é um motivo falso.”

Este realizador explicou ainda que “as pessoas que estão na liderança [do IC] não levaram a cabo os devidos procedimentos para continuar com a abertura do espaço”.

“O IC vai anunciar a renovação do espaço para manter este suspense, mas é temporário. Mas sabemos que não trabalham de forma muito rápida. Não me parece que seja o fim da Cinemateca, mas 2019 deve ser o fim da primeira edição do projecto. Acredito que não abra no espaço de um ano e meio”, concluiu. O HM contactou o IC sobre esta questão, mas até ao fecho da edição não foi possível obter uma resposta.

20 Dez 2019

Banco central | Limite diário de remessas para o continente aumenta

O banco central chinês anunciou ontem que vai aumentar o valor máximo da remessa diária por parte de residentes de Macau, para contas pessoais na China, de 50.000 yuan para 80.000 yuan. A Autoridade Monetária de Macau saudou a medida

 

[dropcap]É[/dropcap] oficial. O valor máximo das remessas diárias que um residente de Macau pode transferir para contas pessoais no Interior da China aumentou de 50 mil yuan para 80 mil yuan. Em comunicado, o Banco do Povo Chinês disse que a medida visa “atender melhor à necessidade dos residentes de Macau de ter liquidez em yuan ” e “tornar mais conveniente o comércio e outras trocas entre o continente e Macau”.

Na mesma nota, o banco central assegurou que vai continuar a apoiar a economia, comércio e o investimento em Macau denominados em yuan.

O aumento do tecto diário para a transferência de capital aplica-se apenas num sentido, de Macau para o continente chinês. No sentido inverso, a China impõe um limite anual de transferências para o exterior equivalente a 50.000 dólares.

O levantamento de dinheiro no estrangeiro por parte de titulares de cartões bancários emitidos na China está também limitado a 100 mil yuan por pessoa e por ano, independentemente do número de cartões e de contas.

Reacções esperadas

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) saudou as medidas anunciadas pelo banco central chinês. Em comunicado, a AMCM “entende que as mesmas podem apoiar o desenvolvimento das operações em yuan em Macau”.

Por outro lado, destacou que ficam criadas “condições sólidas e necessárias que permitem o estabelecimento da conexão e articulação entre os mercados financeiros localizados na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

Também no mercado bolsista a medida foi recebida de forma positiva, em especial pelos investidores nas acções das operadoras de resorts integrados. Por exemplo, a cotação das acções da Las Vegas Sands valorizaram 1,11 por cento, quanto a Wynn Resorts registou uma subida de quase 4 por cento. Os investidores com acções da Melco Resorts no portfolio tiveram também um bom dia com as acções do grupo a valorizarem 3,79 por cento.

Em 2018, o comércio entre o continente e Macau atingiu 3,16 mil milhões de dólares, quatro vezes mais do que em 1999, o ano da transição, segundo dados do ministério chinês do Comércio. Os investimentos no continente oriundos de Macau atingiram os 1,28 mil milhões de dólares, no ano passado.

20 Dez 2019

Banco central | Limite diário de remessas para o continente aumenta

O banco central chinês anunciou ontem que vai aumentar o valor máximo da remessa diária por parte de residentes de Macau, para contas pessoais na China, de 50.000 yuan para 80.000 yuan. A Autoridade Monetária de Macau saudou a medida

 
[dropcap]É[/dropcap] oficial. O valor máximo das remessas diárias que um residente de Macau pode transferir para contas pessoais no Interior da China aumentou de 50 mil yuan para 80 mil yuan. Em comunicado, o Banco do Povo Chinês disse que a medida visa “atender melhor à necessidade dos residentes de Macau de ter liquidez em yuan ” e “tornar mais conveniente o comércio e outras trocas entre o continente e Macau”.
Na mesma nota, o banco central assegurou que vai continuar a apoiar a economia, comércio e o investimento em Macau denominados em yuan.
O aumento do tecto diário para a transferência de capital aplica-se apenas num sentido, de Macau para o continente chinês. No sentido inverso, a China impõe um limite anual de transferências para o exterior equivalente a 50.000 dólares.
O levantamento de dinheiro no estrangeiro por parte de titulares de cartões bancários emitidos na China está também limitado a 100 mil yuan por pessoa e por ano, independentemente do número de cartões e de contas.

Reacções esperadas

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) saudou as medidas anunciadas pelo banco central chinês. Em comunicado, a AMCM “entende que as mesmas podem apoiar o desenvolvimento das operações em yuan em Macau”.
Por outro lado, destacou que ficam criadas “condições sólidas e necessárias que permitem o estabelecimento da conexão e articulação entre os mercados financeiros localizados na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.
Também no mercado bolsista a medida foi recebida de forma positiva, em especial pelos investidores nas acções das operadoras de resorts integrados. Por exemplo, a cotação das acções da Las Vegas Sands valorizaram 1,11 por cento, quanto a Wynn Resorts registou uma subida de quase 4 por cento. Os investidores com acções da Melco Resorts no portfolio tiveram também um bom dia com as acções do grupo a valorizarem 3,79 por cento.
Em 2018, o comércio entre o continente e Macau atingiu 3,16 mil milhões de dólares, quatro vezes mais do que em 1999, o ano da transição, segundo dados do ministério chinês do Comércio. Os investimentos no continente oriundos de Macau atingiram os 1,28 mil milhões de dólares, no ano passado.

20 Dez 2019

RAEM 20 anos | Jornais em língua portuguesa depois de 1999: Do medo à vitalidade

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês defendeu ontem que a sobrevivência dos jornais em língua portuguesa foi posta em causa antes da transição de Macau para a China, mas 20 anos depois está mais pujante.

“A realidade é substancialmente melhor, incomparavelmente melhor daquela que era projectada há 20 anos”, afirmou ontem à Lusa José Carlos Matias.

A decisão política após 1999 de apoiar financeiramente a imprensa em língua portuguesa e chinesa, a melhoria da situação económica, dinamizada através da indústria do jogo, e a decisão de Pequim de transformar Macau como plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, em 2003, são algumas das razões apontadas pelo presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) para a “boa saúde” dos jornais em língua portuguesa.

“Agora, a situação económica é muito mais pujante e os recursos são muito mais abundantes e isso faz com que os recursos do Governo estejam muito mais disponibilizados, por um lado, mas também os recursos das empresas” destinados à publicidade, sublinhou.

Pelo facto de Macau se ter tornado a plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, defendeu, “houve um ambiente que se foi cimentando, favorável ao apoio das actividades culturais, a actividades de ligação entre a China e os países de língua portuguesa através de Macau e, no fundo, a imprensa em língua portuguesa é parte dessa dinâmica”.

Quantidade vs qualidade

Um quadro actual bem diferente daquele traçado poucos dias antes da transição da administração do território de Portugal para a China: em Dezembro de 1999, em declarações à Lusa, os directores dos jornais temiam que o reduzido número de leitores lusófonos e a falta de publicidade seria uma ameaça à sobrevivência dos jornais de língua portuguesa em Macau.

Hoje, em Macau existem três jornais diários em língua portuguesa (“Ponto Final”, “Hoje Macau” e o “Jornal Tribuna de Macau”) e outros dois semanários (“Plataforma” e “O Clarim”). Este contingente aumenta ainda se contarmos com o canal de televisão em língua portuguesa, TDM, e a Rádio Macau TDM. No total, José Carlos Matias estima existirem cerca de 70 jornalistas portugueses no território.

Uma imprensa que “não vive do número de vendas” e, por isso, não “vive de uma questão de quantidade, mas sim de qualidade de leitores”, afirmou o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês.

As diferenças editoriais dos jornais em língua portuguesa também são visíveis para José Carlos Matias: “se olharmos para o tipo de informação que estava nos jornais no período do final dos anos 90 (…) a actualidade era muito dominada pela perspectiva portuguesa sobre a transição, isso era a grande história que estava a ser contada”.

“Hoje em dia, as redacções, e em traços gerais a agenda, passaram a ser mais jornais em português de Macau do que jornais portugueses de Macau”, analisou.

Apoios e obstáculos

As principais fontes de rendimento dos jornais em língua portuguesa vêm de apoios fixos por parte do Governo de Macau, mas também de anúncios judiciais, campanhas de publicidade oficiais e publicidade das empresas privadas como bancos e operadores de jogo, explicou José Carlos Matias.

Os apoios governamentais representam “estruturalmente uma situação de dependência”, mas o responsável ressalvou que “esse subsídio não representa uma fatia assim tão grande” do bolo das receitas dos jornais.

“Esse subsídio é importante, mas por si só não permite, de modo algum, o funcionamento de um jornal” e “na prática, em língua portuguesa, nos últimos 20 anos o que vimos foi uma imprensa com qualidade e com espírito independente”, defendeu.

Quanto às dificuldades que os jornalistas portugueses em língua portuguesa sentem no território, o presidente da AIPIM, apontou que o “acesso à informação nem sempre é fácil. É um acesso à informação que em vários casos é mediado por tradutores”.

O presidente da AIPIM deixou ainda críticas ao nível da administração onde “não existe uma cultura de transparência de prestação de informação célere e de uma forma aberta” como os jornalistas gostariam.

20 Dez 2019

RAEM 20 anos | Jornais em língua portuguesa depois de 1999: Do medo à vitalidade

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês defendeu ontem que a sobrevivência dos jornais em língua portuguesa foi posta em causa antes da transição de Macau para a China, mas 20 anos depois está mais pujante.
“A realidade é substancialmente melhor, incomparavelmente melhor daquela que era projectada há 20 anos”, afirmou ontem à Lusa José Carlos Matias.
A decisão política após 1999 de apoiar financeiramente a imprensa em língua portuguesa e chinesa, a melhoria da situação económica, dinamizada através da indústria do jogo, e a decisão de Pequim de transformar Macau como plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, em 2003, são algumas das razões apontadas pelo presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) para a “boa saúde” dos jornais em língua portuguesa.
“Agora, a situação económica é muito mais pujante e os recursos são muito mais abundantes e isso faz com que os recursos do Governo estejam muito mais disponibilizados, por um lado, mas também os recursos das empresas” destinados à publicidade, sublinhou.

Pelo facto de Macau se ter tornado a plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa, defendeu, “houve um ambiente que se foi cimentando, favorável ao apoio das actividades culturais, a actividades de ligação entre a China e os países de língua portuguesa através de Macau e, no fundo, a imprensa em língua portuguesa é parte dessa dinâmica”.

Quantidade vs qualidade

Um quadro actual bem diferente daquele traçado poucos dias antes da transição da administração do território de Portugal para a China: em Dezembro de 1999, em declarações à Lusa, os directores dos jornais temiam que o reduzido número de leitores lusófonos e a falta de publicidade seria uma ameaça à sobrevivência dos jornais de língua portuguesa em Macau.
Hoje, em Macau existem três jornais diários em língua portuguesa (“Ponto Final”, “Hoje Macau” e o “Jornal Tribuna de Macau”) e outros dois semanários (“Plataforma” e “O Clarim”). Este contingente aumenta ainda se contarmos com o canal de televisão em língua portuguesa, TDM, e a Rádio Macau TDM. No total, José Carlos Matias estima existirem cerca de 70 jornalistas portugueses no território.
Uma imprensa que “não vive do número de vendas” e, por isso, não “vive de uma questão de quantidade, mas sim de qualidade de leitores”, afirmou o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês.
As diferenças editoriais dos jornais em língua portuguesa também são visíveis para José Carlos Matias: “se olharmos para o tipo de informação que estava nos jornais no período do final dos anos 90 (…) a actualidade era muito dominada pela perspectiva portuguesa sobre a transição, isso era a grande história que estava a ser contada”.
“Hoje em dia, as redacções, e em traços gerais a agenda, passaram a ser mais jornais em português de Macau do que jornais portugueses de Macau”, analisou.

Apoios e obstáculos

As principais fontes de rendimento dos jornais em língua portuguesa vêm de apoios fixos por parte do Governo de Macau, mas também de anúncios judiciais, campanhas de publicidade oficiais e publicidade das empresas privadas como bancos e operadores de jogo, explicou José Carlos Matias.
Os apoios governamentais representam “estruturalmente uma situação de dependência”, mas o responsável ressalvou que “esse subsídio não representa uma fatia assim tão grande” do bolo das receitas dos jornais.
“Esse subsídio é importante, mas por si só não permite, de modo algum, o funcionamento de um jornal” e “na prática, em língua portuguesa, nos últimos 20 anos o que vimos foi uma imprensa com qualidade e com espírito independente”, defendeu.
Quanto às dificuldades que os jornalistas portugueses em língua portuguesa sentem no território, o presidente da AIPIM, apontou que o “acesso à informação nem sempre é fácil. É um acesso à informação que em vários casos é mediado por tradutores”.
O presidente da AIPIM deixou ainda críticas ao nível da administração onde “não existe uma cultura de transparência de prestação de informação célere e de uma forma aberta” como os jornalistas gostariam.

20 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Duarte Drumond Braga, académico: “Somos, sem dúvida, favorecidos”

Depois de seis anos no Brasil, Duarte Drumond Braga mudou-se para Macau, uma das cidades-chave na sua área de investigação. O académico, ao serviço da MUST, tenciona aprender mandarim e ficar por Macau, “um território que sempre foi chinês”, e que espera que no futuro tenha espaço para que os portugueses continuem a desempenhar um papel relevante

 

[dropcap]E[/dropcap]stá a viver em Macau há relativamente pouco tempo. O que o trouxe para o território?

Cheguei em Agosto para assumir um contrato numa universidade privada, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Passei por uma selecção prévia e aqui estou. Antes desta experiência, vivi no Brasil durante cinco anos, onde tive uma bolsa de investigação. Fiz doutoramento e mestrado em Portugal e depois saí para o Brasil em 2014. Desde então, não voltei a Portugal e vim directamente para aqui.

Na sua vida académica estudou as representações da Ásia na cultura e literatura portuguesa, algo que passa também por Macau. Ou seja, tinha uma visão académica de Macau. Houve algum conflito entre essa ideia e a realidade da cidade?

Já conhecia Macau de experiências anteriores. Já cá tinha estado duas vezes, uma delas fiquei durante três meses. Estar cá a morar dá outra noção das coisas, ainda para mais quando se trabalha para uma instituição mais chinesa. Assim sendo, tive de me habituar a alguns procedimentos e regras mais próprias de instituições chinesas. Mas nada que tenha representado qualquer tipo de problemas, foi apenas uma questão de hábito.

Tem, portanto, uma experiência diferente dos outros portugueses que ficam mais fechados na “bolha” portuguesa.

Não circulo apenas no meio português aqui em Macau. Aliás, acho que isso seria algo um pouco pobre. Atenção, frequento, como toda a gente, o meio português. Acho óptimo que exista. Mas, como vim do Brasil directamente para aqui, não me parece que seja um caso muito normal, não sei se há muitas pessoas com o mesmo percurso que eu. Antigamente, era comum encontrar em Macau pessoas que estavam cá há muito anos e que vinham das ex-colónias portuguesas em África. Eu vim do Brasil. A parte da vida de Macau que se reflecte nas grandes multidões, no aglomerado de prédios e no urbanismo descontrolado, são realidades para as quais já estava habituado no Brasil. Aquilo que realmente foi mais diferente para mim foi habituar-me à cultura chinesa e ao convívio com os chineses. Situações que também têm uma relação directa com a questão da comunicação, toda a gente passa por isso. Circulo muito aqui por Macau, gosto bastante de passear e de conhecer a cidade e, como tal, faço questão de tentar falar um pouco a língua. Aliás, no próximo semestre devo começar aulas de mandarim.

Encara Macau como uma cidade para viver no futuro.

Eu vejo-me a morar aqui, é um lugar onde gosto de estar, um lugar muito particular e interessante. Que, por vezes, pode ser um pouco claustrofóbico, como toda a gente sabe, mas que também é muito bem localizado na Ásia, algo que me permite deslocações com facilidade para qualquer lado. Também como trabalho com Portugal, com cultura e literatura portuguesa, e estou sempre a pensar nisso, não tenho uma necessidade muito forte de ir a Portugal várias vezes. Vivo bem sem essa necessidade muito forte. Pelo menos, para já. Vejo-me a morar aqui. Claro que é preciso reconhecer que Macau é um território chinês, é e sempre foi assim, sempre esteve mesmo antes de iniciar aquele período propriamente colonial, do Ferreira do Amaral e mais tarde regressou a ter uma administração apenas chinesa. Sempre houve uma negociação forte, sempre houve interesse de parte a parte para que estivéssemos aqui. Espero que a comunidade portuguesa possa continuar aqui, com as vantagens e até privilégios que temos em aqui estar. Nós somos, sem dúvida, dos estrangeiros mais favorecidos neste território chinês e acho que devemos estar gratos por isso. Quanto aos problemas mais falados, bem, há pessoas que falam do peso da vigilância, eu ainda não sinto muito isso. Mas, talvez, no futuro venha a sentir.

Como sente esta entidade de Macau aberta à confluência de culturas?

Macau deixa um pouco cada um para o seu lado. A questão do encontro de culturas é um encontro que também é um desencontro. Parece uma banalidade dizer isto, havia uma altura em que se falava no encontro de culturas, mas eu acho que é mais uma convivência, um estar lado a lado. Também há outras presenças e elementos interessantes na história de Macau que remetem para outras partes da Ásia. Por exemplo, como eu estudei Goa, interessam-me as relações de Macau com a Índia. Consigo ler algumas das referências, que são várias, a Goa no território. Macau leva-me também para outras partes da Ásia. Estamos a cerca de um raio de 6 horas de voo das principais capitais, centros económicos, financeiros e culturais da Ásia. Portanto, também quero tirar partido disso, sabendo que estamos sempre com o nosso pé, a nossa raiz, na cultura portuguesa. Como também já estou fora há algum tempo, meia dúzia de anos, isso torna-se mais claro e óbvio, mais à flor da pele esta condição do que é ser português fora de Portugal. Apesar de ter vivido sempre em lugares ligados a Portugal, sinto que essa condição ainda é mais forte, ou sente-se de outra forma.

Quais as perspectivas, enquanto português aqui em Macau, para o futuro, face à integração na Grande Baía e com 2049 no horizonte?

Em traços gerais, acho que é a realidade que está aí a vir, temos de lidar com o que aí vem de forma pragmática para saber como nos vamos colocar nesse futuro próximo que já está aí a chegar. Temos de lidar com ele como um dado adquirido. É assim que vai ser, sabemos que esse é o plano para o futuro. Espero que os portugueses possam ainda ter algum papel numa Macau já nessa situação e nesse contexto novo. Não sei qual possa ser, em que moldes será, mas espero que se concretize.

20 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Duarte Drumond Braga, académico: “Somos, sem dúvida, favorecidos”

Depois de seis anos no Brasil, Duarte Drumond Braga mudou-se para Macau, uma das cidades-chave na sua área de investigação. O académico, ao serviço da MUST, tenciona aprender mandarim e ficar por Macau, “um território que sempre foi chinês”, e que espera que no futuro tenha espaço para que os portugueses continuem a desempenhar um papel relevante

 
[dropcap]E[/dropcap]stá a viver em Macau há relativamente pouco tempo. O que o trouxe para o território?
Cheguei em Agosto para assumir um contrato numa universidade privada, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Passei por uma selecção prévia e aqui estou. Antes desta experiência, vivi no Brasil durante cinco anos, onde tive uma bolsa de investigação. Fiz doutoramento e mestrado em Portugal e depois saí para o Brasil em 2014. Desde então, não voltei a Portugal e vim directamente para aqui.
Na sua vida académica estudou as representações da Ásia na cultura e literatura portuguesa, algo que passa também por Macau. Ou seja, tinha uma visão académica de Macau. Houve algum conflito entre essa ideia e a realidade da cidade?
Já conhecia Macau de experiências anteriores. Já cá tinha estado duas vezes, uma delas fiquei durante três meses. Estar cá a morar dá outra noção das coisas, ainda para mais quando se trabalha para uma instituição mais chinesa. Assim sendo, tive de me habituar a alguns procedimentos e regras mais próprias de instituições chinesas. Mas nada que tenha representado qualquer tipo de problemas, foi apenas uma questão de hábito.
Tem, portanto, uma experiência diferente dos outros portugueses que ficam mais fechados na “bolha” portuguesa.
Não circulo apenas no meio português aqui em Macau. Aliás, acho que isso seria algo um pouco pobre. Atenção, frequento, como toda a gente, o meio português. Acho óptimo que exista. Mas, como vim do Brasil directamente para aqui, não me parece que seja um caso muito normal, não sei se há muitas pessoas com o mesmo percurso que eu. Antigamente, era comum encontrar em Macau pessoas que estavam cá há muito anos e que vinham das ex-colónias portuguesas em África. Eu vim do Brasil. A parte da vida de Macau que se reflecte nas grandes multidões, no aglomerado de prédios e no urbanismo descontrolado, são realidades para as quais já estava habituado no Brasil. Aquilo que realmente foi mais diferente para mim foi habituar-me à cultura chinesa e ao convívio com os chineses. Situações que também têm uma relação directa com a questão da comunicação, toda a gente passa por isso. Circulo muito aqui por Macau, gosto bastante de passear e de conhecer a cidade e, como tal, faço questão de tentar falar um pouco a língua. Aliás, no próximo semestre devo começar aulas de mandarim.
Encara Macau como uma cidade para viver no futuro.
Eu vejo-me a morar aqui, é um lugar onde gosto de estar, um lugar muito particular e interessante. Que, por vezes, pode ser um pouco claustrofóbico, como toda a gente sabe, mas que também é muito bem localizado na Ásia, algo que me permite deslocações com facilidade para qualquer lado. Também como trabalho com Portugal, com cultura e literatura portuguesa, e estou sempre a pensar nisso, não tenho uma necessidade muito forte de ir a Portugal várias vezes. Vivo bem sem essa necessidade muito forte. Pelo menos, para já. Vejo-me a morar aqui. Claro que é preciso reconhecer que Macau é um território chinês, é e sempre foi assim, sempre esteve mesmo antes de iniciar aquele período propriamente colonial, do Ferreira do Amaral e mais tarde regressou a ter uma administração apenas chinesa. Sempre houve uma negociação forte, sempre houve interesse de parte a parte para que estivéssemos aqui. Espero que a comunidade portuguesa possa continuar aqui, com as vantagens e até privilégios que temos em aqui estar. Nós somos, sem dúvida, dos estrangeiros mais favorecidos neste território chinês e acho que devemos estar gratos por isso. Quanto aos problemas mais falados, bem, há pessoas que falam do peso da vigilância, eu ainda não sinto muito isso. Mas, talvez, no futuro venha a sentir.
Como sente esta entidade de Macau aberta à confluência de culturas?
Macau deixa um pouco cada um para o seu lado. A questão do encontro de culturas é um encontro que também é um desencontro. Parece uma banalidade dizer isto, havia uma altura em que se falava no encontro de culturas, mas eu acho que é mais uma convivência, um estar lado a lado. Também há outras presenças e elementos interessantes na história de Macau que remetem para outras partes da Ásia. Por exemplo, como eu estudei Goa, interessam-me as relações de Macau com a Índia. Consigo ler algumas das referências, que são várias, a Goa no território. Macau leva-me também para outras partes da Ásia. Estamos a cerca de um raio de 6 horas de voo das principais capitais, centros económicos, financeiros e culturais da Ásia. Portanto, também quero tirar partido disso, sabendo que estamos sempre com o nosso pé, a nossa raiz, na cultura portuguesa. Como também já estou fora há algum tempo, meia dúzia de anos, isso torna-se mais claro e óbvio, mais à flor da pele esta condição do que é ser português fora de Portugal. Apesar de ter vivido sempre em lugares ligados a Portugal, sinto que essa condição ainda é mais forte, ou sente-se de outra forma.
Quais as perspectivas, enquanto português aqui em Macau, para o futuro, face à integração na Grande Baía e com 2049 no horizonte?
Em traços gerais, acho que é a realidade que está aí a vir, temos de lidar com o que aí vem de forma pragmática para saber como nos vamos colocar nesse futuro próximo que já está aí a chegar. Temos de lidar com ele como um dado adquirido. É assim que vai ser, sabemos que esse é o plano para o futuro. Espero que os portugueses possam ainda ter algum papel numa Macau já nessa situação e nesse contexto novo. Não sei qual possa ser, em que moldes será, mas espero que se concretize.

20 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Os grandes desafios para o novo Governo de Macau

[dropcap]M[/dropcap]acau inicia 2020 com um novo Governo que terá de estancar as perdas no jogo, a recessão económica e dotar efectivamente o território para a aventura da Grande Baía. Com o ano a acabar e depois de dois anos consecutivos de subida das receitas em mais de uma décima, as previsões apontam que a capital mundial do jogo, e único local na China onde os casinos são permitidos, registe perdas a rondar os 2,5%.

A diminuição do crescimento chinês, a guerra comercial travada entre China e Estados Unidos e a diminuição do investimento justificada pela incerteza do fim das licenças de jogo em 2022 contribuíram para que Macau registasse uma contração nos três primeiros trimestres do ano, entrando assim em recessão técnica.

A este quadro junta-se a recessão económica sentida no vizinho Hong Kong, um dos principais centros financeiros mundiais, provocados por mais de seis meses de protestos pró-democracia que desafiam diariamente Pequim e o Governo local.

É este o cenário que dá as boas-vindas ao novo executivo liderado por Ho Iat Seng, que toma possa no dia 20 de dezembro, o mesmo dia das celebrações dos 20 anos da passagem da administração do território de Portugal para a China.

Apesar destes números pouco animadores, Ho Iat Seng não vai receber ‘um presente envenenado’ do seu antecessor que esteve dez anos à frente do executivo, Chui Sai On: Macau tem significativas reservas orçamentais (suficientes para sustentar cerca de sete anos de despesa pública), uma taxa de desemprego de cerca de 1,8%, um PIB per capita de mais de 82.000 dólares (73.940 euros) em 2018, uma sociedade apolítica e genericamente satisfeita com estabilidade social, económica e segurança pública e, por isso, com um risco reduzido de ser contagiada com o ‘vírus pró-democracia’ da vizinha Hong Kong.

Licenças para jogar

Em relação ao jogo, a única indústria que faz mover a economia do território, Ho Iat Seng já se comprometeu a rever a legislação e a definir o número de licenças de concessão pós-2022, data em que terminam as actuais licenças (seis operadores exploram o jogo em Macau, três concessionárias e três subconcessionárias, metade chinesas e outra metade com maioria de capital norte-americano).

A obrigação de diversificar

Enquanto a indefinição sobre o futuro da indústria do jogo permanecer, a diversificação económica, um dos chavões dos anos recentes que na prática não saiu do papel, será uma figura importante na política do novo Governo.

O objectivo passa pela diversificação da estrutura industrial, apoiar as pequenas e médias empresas, melhorar a qualidade dos recursos humanos, fomentar indústrias de alta tecnologia e incentivar o regresso de talentos a Macau e reforçar a aposta do território como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa.

Para esta função, Ho nomeou um novo titular da pasta para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong.
Apesar de um dos objetivos passar por melhorar os indicadores das atividades não associadas ao jogo, Ho Iat Seng já assumiu a primazia aos ‘resorts’ integrados do território – apostando em gastronomia, entretenimento, festivais, conferências e exposições, de forma a tornar Macau num destino turístico mais alargado.

Uma tarefa que se avizinha difícil, já que o jogo representou em 2018 mais de 90% das receitas das concessionárias (37,44 mil milhões de euros) que controlam os ‘resorts’ integrados do território.

Baía da sorte

Para 2020, a Grande Baía deverá também ser uma das grandes apostas do elenco governativo para tomar as rédeas da diversificação económica. “Espero e acredito que o Executivo se unirá para liderar Macau e todos os sectores da sociedade a aproveitar as oportunidades trazidas pela construção da Grande Baía, visando acelerar o desenvolvimento diversificado de Macau”, afirmou o futuro líder do executivo, em Setembro, à saída de Pequim, depois ter sido nomeado chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.

O projecto da Grande Baía, apresentado oficialmente nos primeiros meses de 2019, pretende criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda 1,2 biliões de euros, semelhante ao PIB de Austrália, Indonésia ou México, países que integram o G20.

Em paralelo, a tónica do discurso do próximo líder do executivo tem-se centrado no combate à corrupção, “na edificação de um Governo transparente” e ainda na reforma da Administração Pública através da racionalização de quadros e da simplificação administrativa, reformas essas que deverão ser iniciadas a partir de abril de 2020, data do período espectável para que seja aprovado o Orçamento retificativo.

Segurança para que te quero

Por fim, o reforço da segurança, numa das cidades mais seguras do mundo, vai ter também um papel importante no novo Executivo, que mantém Wong Sio Chak como secretário para a Segurança.

Analistas apontam que Macau tem mostrado sinais de querer continuar a ser ‘o bom aluno’ do princípio “Um País, Dois Sistemas” e Ho Iat Seng já afirmou que não haverá qualquer desvio nas “linhas vermelhas” definidas por Pequim: desrespeito pela soberania nacional e pelos símbolos do país, pelo desafio à autoridade do Governo central e à lei fundamental do território.

As recentes proibições de entrada no território a políticos ligados ao movimento democrático em Hong Kong, a jornalistas e líderes da Câmara Americana de Comércio (Am Cham) de Hong Kong, a proibição de manifestações contra a brutalidade policial no território vizinho e a detenção de dois jovens que colavam cartazes de apoio aos protestos na ex-colónia britânica comprovam isso mesmo.

Para já, a partir do primeiro trimestre de 2020, mais 800 câmaras de videovigilância vão ser instaladas e será iniciado um teste com câmaras de videovigilância com reconhecimento facial.

20 Dez 2019

RAEM, 20 anos | Os grandes desafios para o novo Governo de Macau

[dropcap]M[/dropcap]acau inicia 2020 com um novo Governo que terá de estancar as perdas no jogo, a recessão económica e dotar efectivamente o território para a aventura da Grande Baía. Com o ano a acabar e depois de dois anos consecutivos de subida das receitas em mais de uma décima, as previsões apontam que a capital mundial do jogo, e único local na China onde os casinos são permitidos, registe perdas a rondar os 2,5%.
A diminuição do crescimento chinês, a guerra comercial travada entre China e Estados Unidos e a diminuição do investimento justificada pela incerteza do fim das licenças de jogo em 2022 contribuíram para que Macau registasse uma contração nos três primeiros trimestres do ano, entrando assim em recessão técnica.
A este quadro junta-se a recessão económica sentida no vizinho Hong Kong, um dos principais centros financeiros mundiais, provocados por mais de seis meses de protestos pró-democracia que desafiam diariamente Pequim e o Governo local.
É este o cenário que dá as boas-vindas ao novo executivo liderado por Ho Iat Seng, que toma possa no dia 20 de dezembro, o mesmo dia das celebrações dos 20 anos da passagem da administração do território de Portugal para a China.
Apesar destes números pouco animadores, Ho Iat Seng não vai receber ‘um presente envenenado’ do seu antecessor que esteve dez anos à frente do executivo, Chui Sai On: Macau tem significativas reservas orçamentais (suficientes para sustentar cerca de sete anos de despesa pública), uma taxa de desemprego de cerca de 1,8%, um PIB per capita de mais de 82.000 dólares (73.940 euros) em 2018, uma sociedade apolítica e genericamente satisfeita com estabilidade social, económica e segurança pública e, por isso, com um risco reduzido de ser contagiada com o ‘vírus pró-democracia’ da vizinha Hong Kong.

Licenças para jogar

Em relação ao jogo, a única indústria que faz mover a economia do território, Ho Iat Seng já se comprometeu a rever a legislação e a definir o número de licenças de concessão pós-2022, data em que terminam as actuais licenças (seis operadores exploram o jogo em Macau, três concessionárias e três subconcessionárias, metade chinesas e outra metade com maioria de capital norte-americano).

A obrigação de diversificar

Enquanto a indefinição sobre o futuro da indústria do jogo permanecer, a diversificação económica, um dos chavões dos anos recentes que na prática não saiu do papel, será uma figura importante na política do novo Governo.
O objectivo passa pela diversificação da estrutura industrial, apoiar as pequenas e médias empresas, melhorar a qualidade dos recursos humanos, fomentar indústrias de alta tecnologia e incentivar o regresso de talentos a Macau e reforçar a aposta do território como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa.
Para esta função, Ho nomeou um novo titular da pasta para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong.
Apesar de um dos objetivos passar por melhorar os indicadores das atividades não associadas ao jogo, Ho Iat Seng já assumiu a primazia aos ‘resorts’ integrados do território – apostando em gastronomia, entretenimento, festivais, conferências e exposições, de forma a tornar Macau num destino turístico mais alargado.
Uma tarefa que se avizinha difícil, já que o jogo representou em 2018 mais de 90% das receitas das concessionárias (37,44 mil milhões de euros) que controlam os ‘resorts’ integrados do território.

Baía da sorte

Para 2020, a Grande Baía deverá também ser uma das grandes apostas do elenco governativo para tomar as rédeas da diversificação económica. “Espero e acredito que o Executivo se unirá para liderar Macau e todos os sectores da sociedade a aproveitar as oportunidades trazidas pela construção da Grande Baía, visando acelerar o desenvolvimento diversificado de Macau”, afirmou o futuro líder do executivo, em Setembro, à saída de Pequim, depois ter sido nomeado chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Macau pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
O projecto da Grande Baía, apresentado oficialmente nos primeiros meses de 2019, pretende criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda 1,2 biliões de euros, semelhante ao PIB de Austrália, Indonésia ou México, países que integram o G20.
Em paralelo, a tónica do discurso do próximo líder do executivo tem-se centrado no combate à corrupção, “na edificação de um Governo transparente” e ainda na reforma da Administração Pública através da racionalização de quadros e da simplificação administrativa, reformas essas que deverão ser iniciadas a partir de abril de 2020, data do período espectável para que seja aprovado o Orçamento retificativo.

Segurança para que te quero

Por fim, o reforço da segurança, numa das cidades mais seguras do mundo, vai ter também um papel importante no novo Executivo, que mantém Wong Sio Chak como secretário para a Segurança.
Analistas apontam que Macau tem mostrado sinais de querer continuar a ser ‘o bom aluno’ do princípio “Um País, Dois Sistemas” e Ho Iat Seng já afirmou que não haverá qualquer desvio nas “linhas vermelhas” definidas por Pequim: desrespeito pela soberania nacional e pelos símbolos do país, pelo desafio à autoridade do Governo central e à lei fundamental do território.
As recentes proibições de entrada no território a políticos ligados ao movimento democrático em Hong Kong, a jornalistas e líderes da Câmara Americana de Comércio (Am Cham) de Hong Kong, a proibição de manifestações contra a brutalidade policial no território vizinho e a detenção de dois jovens que colavam cartazes de apoio aos protestos na ex-colónia britânica comprovam isso mesmo.
Para já, a partir do primeiro trimestre de 2020, mais 800 câmaras de videovigilância vão ser instaladas e será iniciado um teste com câmaras de videovigilância com reconhecimento facial.

20 Dez 2019

Visita de Xi Jinping | Jornalistas de Hong Kong impedidos de entrar em Macau. Associações reagem

As autoridades de Macau estão a recusar a entrada de jornalistas de Hong Kong e fizeram ontem o mesmo a activistas pró-democracia daquela região. A Associação Novo Macau pede que se respeite a liberdade de imprensa e o princípio “Um País, Dois Sistemas”

 

[dropcap]O[/dropcap] mais recente caso de recusa de entrada de jornalistas aconteceu ontem – dia em que o Presidente da China chegou a Macau – a um profissional da emissora pública RTHK. Já o operador de imagem pôde seguir viagem, após ter permitido o acesso das autoridades ao telemóvel e ao conteúdo das suas conversas nas redes sociais, adiantou a própria RTHK.

Este caso aconteceu após pelo menos duas outras situações que envolveram esta semana jornalistas do South China Morning Post e da Now TV News, bem como um profissional da Comercial Radio terem sido barrados em Macau, segundo as autoridades por existirem fortes sinais de que iriam envolver-se em actividades que poderiam perturbar a segurança e a ordem pública.

Na manhã de ontem, um grupo de manifestantes de Hong Kong, entre eles um conhecido activista pró-democracia, Leung Kwok-hun, foram proibidos de embarcar num ‘ferry’ para Macau, noticiou a agência de notícias Associated Press.

A recusa de entrada aconteceu depois de funcionários da companhia de transportes terem apresentado uma nota da polícia de Macau na qual se recusava a entrada por suspeitas de que iriam perturbar as cerimónias do 20.º aniversário da região Administrativa Especial de Macau (RAEM), marcadas pela presença do Presidente chinês, Xi Jinping.

Em Macau, um activista político e social que já foi candidato à Assembleia Legislativa (AL) acabou por ser detido na terça-feira, quando tentava passar a fronteira para entregar uma carta no Gabinete de Ligação de Pequim, dirigida ao Presidente chinês, na qual pedia a Xi Jinping que aceitasse as exigências dos manifestantes pró-democracia de Hong Kong, noticiou o jornal Ponto Final.

Já fora do Terminal Marítimo de Macau, depois das autoridades lhe terem apreendido a carta e outros bens pessoais, de acordo com a versão de Carl Ching, um homem terá embatido contra ele, acusando-o de ter partido um bule de chá que trazia num saco. O activista acabou detido, alegadamente, por “dano contra a propriedade”, pode ler-se no mesmo artigo.

Telemóvel inspeccionado

A Associação Novo Macau (ANM) condenou ontem ameaças aos jornalistas de Macau e pediu medidas ao Governo do território para proteger a liberdade de expressão e de imprensa.

“Há recentemente relatos de que vários jornalistas locais foram assediados, advertidos e ameaçados por fontes desconhecidas. Alguns jornalistas (…) de Hong Kong estão insensatamente proibidos de entrar em Macau” para fazerem a cobertura das cerimónias do 20.º aniversário da RAEM, presididas pelo Presidente chinês, Xi Jinping. Razão pela qual a associação “manifesta forte preocupação com os incidentes e condena qualquer acto contra a liberdade de imprensa”.

A ANM criticou ainda que a polícia também tenha “pedido aos jornalistas que voluntariamente desbloqueassem o telemóvel para inspecção”.

Para a associação, “a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são direitos humanos fundamentais, protegidos pelo artigo 27 da Lei Básica [de Macau], mesmo no âmbito do princípio ‘Um País, Dois Sistemas'”.

Por outro lado, sublinhou que “a liberdade de expressão e pensamento, para a qual a imprensa é o melhor instrumento, é um direito fundamental de todas as sociedades modernas”, sendo que “a lei também protege os direitos de acesso às fontes de informação, de publicação e disseminação de informações, bem como a independência dos jornalistas”.

“A NMA insta o governo da RAEM a tomar medidas para proteger a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa contra interferências e ameaças, para que a promessa de ‘Um País, Dois Sistemas’ e a nossa imagem internacional possa ser mantida”, pode ler-se no final do comunicado.

19 Dez 2019

Visita de Xi Jinping | Jornalistas de Hong Kong impedidos de entrar em Macau. Associações reagem

As autoridades de Macau estão a recusar a entrada de jornalistas de Hong Kong e fizeram ontem o mesmo a activistas pró-democracia daquela região. A Associação Novo Macau pede que se respeite a liberdade de imprensa e o princípio “Um País, Dois Sistemas”

 
[dropcap]O[/dropcap] mais recente caso de recusa de entrada de jornalistas aconteceu ontem – dia em que o Presidente da China chegou a Macau – a um profissional da emissora pública RTHK. Já o operador de imagem pôde seguir viagem, após ter permitido o acesso das autoridades ao telemóvel e ao conteúdo das suas conversas nas redes sociais, adiantou a própria RTHK.
Este caso aconteceu após pelo menos duas outras situações que envolveram esta semana jornalistas do South China Morning Post e da Now TV News, bem como um profissional da Comercial Radio terem sido barrados em Macau, segundo as autoridades por existirem fortes sinais de que iriam envolver-se em actividades que poderiam perturbar a segurança e a ordem pública.
Na manhã de ontem, um grupo de manifestantes de Hong Kong, entre eles um conhecido activista pró-democracia, Leung Kwok-hun, foram proibidos de embarcar num ‘ferry’ para Macau, noticiou a agência de notícias Associated Press.
A recusa de entrada aconteceu depois de funcionários da companhia de transportes terem apresentado uma nota da polícia de Macau na qual se recusava a entrada por suspeitas de que iriam perturbar as cerimónias do 20.º aniversário da região Administrativa Especial de Macau (RAEM), marcadas pela presença do Presidente chinês, Xi Jinping.
Em Macau, um activista político e social que já foi candidato à Assembleia Legislativa (AL) acabou por ser detido na terça-feira, quando tentava passar a fronteira para entregar uma carta no Gabinete de Ligação de Pequim, dirigida ao Presidente chinês, na qual pedia a Xi Jinping que aceitasse as exigências dos manifestantes pró-democracia de Hong Kong, noticiou o jornal Ponto Final.
Já fora do Terminal Marítimo de Macau, depois das autoridades lhe terem apreendido a carta e outros bens pessoais, de acordo com a versão de Carl Ching, um homem terá embatido contra ele, acusando-o de ter partido um bule de chá que trazia num saco. O activista acabou detido, alegadamente, por “dano contra a propriedade”, pode ler-se no mesmo artigo.

Telemóvel inspeccionado

A Associação Novo Macau (ANM) condenou ontem ameaças aos jornalistas de Macau e pediu medidas ao Governo do território para proteger a liberdade de expressão e de imprensa.
“Há recentemente relatos de que vários jornalistas locais foram assediados, advertidos e ameaçados por fontes desconhecidas. Alguns jornalistas (…) de Hong Kong estão insensatamente proibidos de entrar em Macau” para fazerem a cobertura das cerimónias do 20.º aniversário da RAEM, presididas pelo Presidente chinês, Xi Jinping. Razão pela qual a associação “manifesta forte preocupação com os incidentes e condena qualquer acto contra a liberdade de imprensa”.
A ANM criticou ainda que a polícia também tenha “pedido aos jornalistas que voluntariamente desbloqueassem o telemóvel para inspecção”.
Para a associação, “a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são direitos humanos fundamentais, protegidos pelo artigo 27 da Lei Básica [de Macau], mesmo no âmbito do princípio ‘Um País, Dois Sistemas'”.
Por outro lado, sublinhou que “a liberdade de expressão e pensamento, para a qual a imprensa é o melhor instrumento, é um direito fundamental de todas as sociedades modernas”, sendo que “a lei também protege os direitos de acesso às fontes de informação, de publicação e disseminação de informações, bem como a independência dos jornalistas”.
“A NMA insta o governo da RAEM a tomar medidas para proteger a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa contra interferências e ameaças, para que a promessa de ‘Um País, Dois Sistemas’ e a nossa imagem internacional possa ser mantida”, pode ler-se no final do comunicado.

19 Dez 2019