Reciclagem | Associação continua com dificuldades e pondera nova greve

Já fizeram greve, mas de nada adiantou. A Associação que representa o sector da reciclagem em Macau diz que não houve qualquer mudança no apoio, ou falta dele, concedido às empresas e afirma que, sem ajuda do Governo, nada pode ser feito. Uma nova greve é possível, mas a esperança já não é muita

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau diz que continua a ter muitas dificuldades no trabalho que desempenha. Depois de uma manifestação que levou à greve e a encontros com o Governo, a Associação que representa o sector diz que não houve qualquer mudança e assegura que há empresas que podem mesmo fechar as portas, caso o Executivo não intervenha.
Chan Man Lin, presidente da Associação, afirmou ao HM que já reuniu “muitas vezes” com a Direcção dos Serviços de Solo, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) para expressar pedidos de ajuda. Chan diz, no entanto, que ainda está à espera de reacção do Governo.
“Ainda não respondeu ao nosso pedido para arrendamento de terrenos para fazermos separação e decomposição de lixo”, exemplifica.
Foi em Setembro que a Associação realizou uma greve no sector da reciclagem. Durante uma semana, as empresas que se ocupam do pouco material reciclado em Macau acusaram o Governo de nada fazer para ajudar. A ideia era chamar a atenção para um sector que consideram “básico” e que, dizem, está a passar por muitas dificuldades.
“Mais de cem lojas da Associação têm-se dedicado a trabalhos de reciclagem e reprodução de materiais ecológicos durante dezenas de anos, tratando todos os dias centenas de toneladas de resíduos abandonados por residentes de Macau, que podem ser reciclados. Ao longo dos anos, nós (já somos da segunda ou terceira geração) temos trabalhado duramente pela protecção ambiental de Macau. No entanto, a indústria de Jogo teve um desenvolvimento dramático e os sítios arrendados e lotes vazios para o funcionamento desse sector já foram recuperados para construir edifícios altos. As rendas, as despesas de transporte e o salário pago aos funcionários aumentaram várias vezes, causando muitas dificuldades”, explicavam na altura, numa carta, onde acrescentavam que o Fundo para a Protecção Ambiental e de Conservação Energética já atribuiu mais de cem milhões de patacas de apoio, mas o sector de reciclagem já pediu muitas vezes o apoio do Governo nos últimos anos e “nem uma pataca ou um espaço oferecido pelo Executivo” conseguiu.

E se?

Ontem, o presidente da Associação admitiu estar a pensar fazer uma nova demonstração, ou greve, ainda que assuma que não tem muita esperança que isso venha a resultar. “Somos de grupos vulneráveis, muitos dos nossos membros estão desesperados e querem manifestar-se pelas solicitações. Mas já o fizemos e o Governo não ajudou, pelo que alguns até pensam em deixar o sector. O tempo não espera por nós”, afirmou.
Chan Man Lin considera que, depois da transferência de soberania de Macau, o desenvolvimento da cidade foi demasiado rápido, sendo que são cada vez mais os visitantes e cada vez menos os terrenos, algo que veio dificultar o trabalho de reciclagem.
“Os terrenos que arrendámos para colocar os materiais foram recuperados pelos proprietários para os construtores lá fazerem prédios, o que podemos fazer?”, frisou, acrescentando que as rendas altas, os salários dos funcionários e a “desvalorização face aos materiais reciclados” na RAEM são outros factores que dificultam o trabalho.
Actualmente, explicou Chan Man Lin, os trabalhos diários do sector de reciclagem dependem da autorização para colocar os materiais em ponte-cais antigas, em alguns locais das colinas e em terrenos privados perto de Ká Ho e da Praia de Hac Sá, ainda arrendados pelo sector. No entanto, este enfrenta o risco de ter de sair a qualquer hora, caso os terrenos passem a ser desenvolvidos.
Questionado sobre o que as associações e os cidadãos de Macau podem fazer para apoiar os trabalhos de reciclagem, além do Governo, Chan Man Lin considera “difícil” que algo possa ser feito sem ter de se recorrer ao Executivo. “Espaços é o mais importante para colocar os resíduos, mas não pode ser muito próximo de locais de habitação, que pode prejudicar os residentes”.
Como o HM avançou em Outubro do ano passado, o Governo apresentou a ideia de conceder empréstimos a baixos juros para ajudar o sector na aquisição de máquinas e material. No entanto, a Associação de Confraternização de Reciclagem de Materiais Ecológicos de Macau mostrou-se contra e considera a acção inútil.
Em Setembro 150 entidades onde trabalham mais de 1100 pessoas aderiram à greve.

17 Fev 2016

Cinema | Macau recebe Festival Internacional com Marco Mueller e Elvis Mitchell

Pode custar cerca de 80 milhões de patacas e pretende levar Macau para o grupo dos grandes festivais de cinema. Deverá acontecer em Dezembro deste ano entre o Centro de Ciência e o Galaxy. À frente, dois nomes de peso – Marco Mueller e Elvis Mitchell – e um programa que prevê 45 filmes, galas, prémios e muitas estrelas internacionais

[dropcap]M[/dropcap]acau vai albergar de 8 a 14 de Dezembro o seu “primeiro” Festival Internacional de Cinema, já baptizado como International Film Festival Macao (IFFM). A notícia é avançada por vários meios internacionais especializados e foi confirmada ao HM pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), ainda que não tenha havido qualquer anúncio oficial.

Com um orçamento estimado em cerca de 80 milhões de patacas, valor considerado suficiente para que a organização possa transportar e albergar as delegações dos filmes e os principais média da Ásia, a maior parte da factura vai ser paga pelo Governo de Macau e o remanescente suportado por patrocinadores.

Nesta edição inaugural do IFFM, o foco vai ser para o cinema comercial com diversos géneros em presença. Está também prevista competição, galas e uma mostra temática. O Centro de Ciência de Macau constituirá o centro nervoso do evento, que se alargará para o Galaxy, onde as exibições para o mercado serão efectuadas.

A data escolhida (8-14 Dezembro) surge como aposta numa transição lógica a partir da Convenção CineAsia, que acontece na semana anterior – de 6 a 8 – em Hong Kong,

À frente do certame estará Marco Mueller, que já dirigiu festivais como os de Veneza, Locarno e Roma, e foi consultor artístico do Festival de Cinema de Pequim e do Festival Silk Road. Mueller terá o apoio de Elvis Mitchell, apresentador do programa de rádio “The Treatment”, leitor visitante de Harvard e crítico de cinema que ficará responsável pela selecção de títulos no mercado norte-americano.

A chegada de Mueller a Macau acontece depois deste ter trabalhado com os festivais de Pequim e Silk Road, e terá a ver com as restrições governamentais implementadas na China aos eventos competitivos, o que não acontece em Macau.

Os últimos a saber

A notícia chegou claramente mais depressa aos meios internacionais do que mesmo a Macau, já que os departamentos do Governo contactados pelo HM ou não sabiam do evento, ou sabem mas não estão prontos a anunciar. Todavia, as nossas fontes garantem que o evento cairá sob a alçada da Direcção dos Serviços de Turismo. Contactados estes serviços, foi-nos apenas autorizado a dizer que “os Serviços de Turismo estão a preparar a organização”, não confirmando em que papel, nem o orçamento, e prometendo uma divulgação com maior detalhe durante o próximo mês de Março.

Contactado o Instituto Cultural, cuja assessoria de imprensa não tinha conhecimento de qualquer envolvimento do organismo no festival, quisemos apurar a hipotética constituição de uma Comissão de Cinema ou de um Sistema de Incentivos Financeiros – algo também anunciado pela imprensa internacional (ver caixa). Contudo, até ao fecho desta edição, não nos foi possível qualquer tipo de comentário.

No fecho da edição, a Macau Films & Television Production and Culture Association enviou um comunicado, onde confirma o convite a Marco Mueller, as datas do Festival e uma conferência de imprensa para meados de Março.

Comissão de Cinema e apoio financeiro em estudo?

Segundo a revista Variety é ainda divulgado, sem referir fontes, que este evento enquadra-se na política do Governo de Macau de desenvolvimento da indústria do cinema, estando ainda previstas a constituição de um comissão de Cinema e da criação de um Sistema de Incentivos Financeiros para a indústria. Recorde-se que há uns anos surgiu em Macau um festival intitulado “Macau Internacional Film Festival (MIFF)”, numa organização que suscitou muita celeuma por entre a comunidade local do sector e muitas as interrogações sobre a apropriação da designação para um festival que segundo os seus críticos não tinha estatuto para isso, sendo que foi ainda questionado o apoio do Governo à iniciativa.

17 Fev 2016

Referendo | Jason Chao acusa Governo de “empatar” investigação

Jason Chao, um dos promotores do chamado ‘referendo civil’ em 2014, afirma que o Executivo poderá estar a “empatar” o processo de investigação para que as informações não sejam tornadas públicas, por forma a evitar uma situação de “humilhação”. Um novo ‘referendo’ pode voltar a acontecer em 2019

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de um ano e meio depois das cinco detenções que mancharam a realização daquilo que foi conhecido como o primeiro ‘referendo civil’ em Macau, por ocasião das eleições para o Chefe do Executivo, ainda não há qualquer novidade sobre o processo judicial. Para Jason Chao, um dos mentores do ‘referendo’ através da Sociedade Aberta de Macau, o Governo está “deliberadamente” a “empatar” a investigação.
“Já passou um ano e meio, quase dois anos, e a investigação tem vindo a demorar mais tempo do que o período que consta no Código do Processo Penal. Especulo que o Governo tenha, deliberadamente, parado a investigação para evitar que as informações se tornem públicas. Atrasando o processo, eles podem evitar passar por uma humilhação”, disse Jason Chao ao HM, defendendo que existem “três cenários possíveis” para o caso.
“Se o Ministério Público (MP) decidir abrir o processo, vou deixar o caso ir a tribunal sem ter de passar pelo Juízo de Instrução Criminal. Tudo será tornado público e aí haverá, pela primeira vez na história, provas de abuso de poder por parte do Governo”, considerou o actual vice-presidente da Associação Novo Macau (ANM). “Se o MP desistir do processo, isso irá transmitir a mensagem de que a Polícia Judiciária, PSP e Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) estavam errados”, disse Jason Chao, referindo-se à segunda possibilidade.
“Se o MP deliberadamente atrasar o caso e empatar o processo, tudo se mantém em segredo de justiça e não posso discutir as informações em público”, acrescentou ainda. Para Jason Chao, “o Governo sabe que as duas primeiras possibilidades não são boas, no que diz respeito à possibilidade de partilha de informação junto do público”.

Sim ao segundo referendo

Apesar da investigação sobre o primeiro ‘referendo’ ainda estar a decorrer, Jason Chao confirma que poderá ser realizada uma actividade semelhante quando Macau voltar a ter eleições para o Chefe do Executivo, em 2019.
“Sim, é uma possibilidade. É quase certo que vamos continuar em Macau e, se não estivermos presos em 2019, ou se pudermos trabalhar de forma livre, vamos organizá-lo”, disse Jason Chao.
O ‘referendo’ de 2014 foi organizado também pela Macau Consciência e Juventude Dinâmica de Macau. Jason Chao e Scott Chiang, actual presidente da ANM, foram presos, juntamente com três voluntários, acusados de violarem a Lei de Protecção dos Dados Pessoais.
Questionado sobre a ausência da Sociedade Aberta de Macau da esfera pública, Jason Chao garantiu que esta Associação funciona apenas como apoio legal.
“Diria que, depois de Setembro de 2014, as visões dos jovens tornaram-se dominantes na direcção da ANM, então pudemos regressar às nossas posições e levar de novo as nossas ideias à ANM, por isso vemos um declínio das actividades da Sociedade Aberta de Macau. Esta poderá ser usada como uma entidade de apoio, em termos legais, mas neste momento não precisamos disso”, rematou.
Recentemente, Au Kam San, histórico fundador da ANM e pertencente a uma geração mais velha do campo pró-democrata, deixou a Associação por não se identificar mais com as suas ideias e valores.

16 Fev 2016

Jetstar | Questões políticas apontadas para suspensão de voos para Vietname

Macau não voa mais para o Vietname, pelo menos até 26 de Março. Hong Kong também tem grande parte dos seus voos suspensos. A Jetstar alega “questões de calendarizações”, mas especialistas em aviação não têm dúvidas: são questões políticas entre a China e o Vietname

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma visita ao site da companhia aérea australiana Jetstar faz-nos perceber que todos os voos de Macau para o Vietname foram suspensos. A tentativa para falar com a assistente online também não nos leva a bom porto. A confirmar está também o comunicado da operadora à CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau, que indica que os voos para a cidade de Da Nang e Ho Chi Minh foram suspensos. O período de suspensão varia de acordo com a cidade, visto que para Da Nang o período sem voos começa a 22 de Fevereiro e termina a 26 de Março, e para Ho Chin Minh começa hoje, terminando no mesmo período. Numa pesquisa maior percebe-se que algumas cidades chinesas e a região vizinha de Hong Kong também estão com voos suspensos.
“Recebemos esta tarde [segunda-feira] o comunicado da companhia a explicar que ia suspender os voos de Macau para Da Nang de 22 de Fevereiro a 26 de Março por questões de calendarização”, explicou António Barros, director da CAM, ao HM. Menos de uma hora, depois o responsável explicou que recebeu um novo comunicado a indicar que também os voos para a cidade de Ho Chin Minh seriam suspensos a partir do dia de hoje. Questionado sobre as possíveis causas, António Barros indicou não saber mais nada do que a própria explicação da companhia.

Questões antigas

A suspensão acontece depois do Ministério das Relações Exteriores de Hanói, em Janeiro passado, ter anunciado o seu descontentamento quanto à posição da plataforma de exploração de petróleo, a HYSY 981, por parte das autoridades chinesas, supostamente instalada entre a costa vietnamita e a ilha chinesa de Hainão.
Também já em 2014 esta mesma plataforma foi o centro de um momento de tensão entre os países, levando a vários conflitos e protestos em que cinco pessoas perderam a vida. Na altura, várias indústrias e propriedades chinesas, e de outras nacionalidades, sofreram vários danos devido às manifestações. Na altura, em resposta, a China acabou por retirar a plataforma. Também nesse ano, a Jetstar suspendeu os voos para Hanói alegando falta de segurança.
Em Janeiro deste ano, o Vietname acusava ainda a China de “ameaçar a segurança dos voos civis neste mar, ao realizar voos de teste não anunciados para uma ilha artificial que Pequim construiu numa área reivindicada pelas duas nações”, conforme noticiaram vários meios de comunicação internacionais.

Politiquices

Ao HM, trabalhadores da área da aviação explicaram que “toda esta situação é muito estranha e está com certeza relacionada com questões políticas”. Preferindo manter o anonimato, os dois especialistas do sector apontam que “aquela zona sempre foi muito complicada”.
São várias as hipóteses que poderiam justificar a suspensão. Custos extra no período em causa, possivelmente relacionados com as flutuações do petróleo, ou algum problema técnico detectado – sendo o prazo de suspensão o de arranjo estipulado pelas autoridades de aviação.
“Há sempre a hipótese de uma das entidades reguladoras aeronáuticas de um dos países ter descoberto alguma não conformidade durante uma auditoria ou algo do género e dar esse prazo para a respectiva correcção com o cancelamento dos voos até estar sanado”, indicou um dos trabalhadores. Certo é, apontam, que “por ser nesta zona e com estes dois países específicos o motivo político será mais plausível”. “Podem estar a fazê-lo só para tentar obter algo do outro lado”, apontou um dos trabalhadores ao HM.
Ainda assim, o facto de ser uma suspensão provisória e envolvendo apenas regiões ou cidades chinesas torna as coisas “muito claras”. Facto é que “não será do interesse [da operadora] que se torne público a suspensão da linha aérea neste caso para o Vietname, porque atrás da suspensão vem o motivo que poderá ser político, económico ou técnico através da entidade de aviação reguladora responsável nesta situação”.
No entanto, nada obriga a companhia a justificar a suspensão das rotas. Estranho é também a autoridade local não saber de nada, ainda que para os analistas não seja assim tão novo. “Especificamente na China, em que o espaço aéreo é controlado pelos militares, isso tudo é possível”, apontou.
Os utentes com viagens marcadas para o período de suspensão foram informados via email e serão reembolsados, conforme garantiu a operadora. À Rádio Macau, a Autoridade de Aviação Civil (AACM) afirmou ter apenas sido informada da suspensão por um telefonema da representação da companhia aérea em Macau, não tendo sido recebida qualquer “notificação oficial” da transportadora. A AACM disse ainda que a informação que recebeu não faz referência ao período da suspensão, nem quanto aos motivos.

16 Fev 2016

Construção do Centro de Doenças vai a concurso público

O Centro de Doenças Infecciosas poderá custar mais de 600 milhões de patacas mas ainda não se sabe qual é a empresa que o vai construir. Pereira Coutinho pediu a intervenção do CCAC alegando possível troca de influências, mas o Governo garantiu que vai haver concurso público para a construção

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]abe-se que estará pronto em 2019, que as obras deverão começar no terceiro trimestre deste ano e que foi o gabinete de Eddie Wong quem o projectou. Mas não se sabe ainda quem vai ser a empresa responsável pela construção do Centro de Doenças Infecciosas ao lado do hospital Conde de São Januário. José Pereira Coutinho, deputado, pediu na segunda-feira uma investigação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ao que, alega, possam ser “troca de influências” para a construção do Centro – mas o Executivo veio ontem esclarecer que “vai haver concurso público” para a obra e que não há razão para pensar que o plano surgiu de repente.
“Desde 2003 que os SS deram início ao planeamento da ampliação do edifício. A fase preliminar, da sua concepção, foi estudada com peritos da Organização Mundial da Saúde, do Japão, da Singapura, de Hong Kong, da China continental, entre outras entidades que concluíram pela sua viabilização. A concepção da construção começou em 2005 e foi concluída em 2008, contudo pelo facto do edifício ultrapassar o limite da altura de salvaguarda do património cultural, foi necessário efectuar uma nova concepção o que levou ao adiamento da ampliação”, começa por indicar o organismo.
Apesar de dizer, num comunicado de Janeiro, que “a firma de construção” se encontra a elaborar os documentos para o concurso público, um porta-voz dos SS explicou ao HM que o problema é de tradução – será a firma que concebe o projecto e não a construtora. Resposta semelhante tem o GDI: “ainda não há empresa construtora e vai ser aberto concurso público”. Ainda assim, já há uma perspectiva sobre o orçamento da obra: “mais de 603 milhões de patacas”.

Gatos escaldados

O pedido de Pereira Coutinho vem no seguimento da decisão de entregar, sem concurso público, a concepção da obra ao arquitecto Eddie Wong, que foi alvo de críticas também da parte de Au Kam San. Isto porque, em 2005, a concepção do projecto para a empreitada de alargamento deste Centro foi entregue ao seu Gabinete de Arquitectura – pelo montante de 55 milhões de patacas, o arquitecto teria de fazer o projecto para o Centro, para o Edifício Administrativo, Edifício Residencial Hospitalar e Edifício da Fase I do Centro Hospitalar Conde de São Januário. A celebração do contrato foi autorizada pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho, mas acabou reduzida no que ao Centro dizia respeito, porque não teve em conta as quotas altimétricas permitidas por lei em frente ao Farol da Guia. Segundo outro despacho, o montante global desceu para 32 milhões de patacas.
No entanto, Eddie Wong, que é membro do Conselho Executivo e deputado de Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, ficou na mesma responsável pela nova concepção. O HM tentou perceber qual o pagamento para o novo projecto, mas não foi possível receber resposta até ao fecho desta edição.

Nos conformes

Num comunicado enviado ontem, e em resposta às acusações, os SS asseguram que não há qualquer precipitação até porque foi em 2003 que Chui Sai On, então Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, sugeriu esta construção.
“Há mais de dez anos que os SS começaram o planeamento do edifício e a concepção da planta encontra-se na fase final. Após esta conclusão serão iniciados os procedimentos de concurso público da obra e da ampliação. A decisão da ampliação do edifício das doenças transmissíveis não é precipitada.”
Da mesma forma, o organismo diz que a escolha do local – que tem levantado polémica – é a ideal. “Durante o transporte de pessoas com doenças transmissíveis, a contaminação e disseminação do vírus é muito fácil sendo, por isso, necessário proceder rapidamente ao tratamento de casos suspeitos ou confirmados em isolamento. De acordo com as recomendações da OMS, os doentes devem ser rapidamente colocados em enfermarias de isolamento. Em caso de surto prevê-se que a maior parte de casos ocorram ao São Januário, daí que a localização do edifício tenha sido definida para estar anexo ao [hospital].”

16 Fev 2016

Terrorismo | Human Rights diz ser difícil avaliar extensão na China

Serão hoje Macau e Hong Kong alvos mais fáceis para um ataque terrorista, com ligações ao continente? Maya Wang, representante da Human Rights Watch em Hong Kong, diz que é difícil avaliar a extensão do terrorismo na China devido à falta de informações independentes. Para Jiang Jianwei, Hong Kong será um alvo em primeiro lugar, por se tratar de um centro financeiro na Ásia

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Janeiro Steve Vickers, consultor e ex-director do Gabinete de Inteligência Criminal da Polícia de Hong Kong, temeu o pior: Macau poderá ser um alvo fácil do terrorismo. “Macau apresenta determinadas características em termos de jogo, de investimento norte-americano, em termos do envolvimento de algumas personalidades judaicas famosas na gestão ou propriedade de casinos, em termos de publicidade no caso de um incidente e do facto de se realizar em solo chinês. Por todas estas razões, Macau apresenta-se como um alvo mais do que qualquer outro território na região”, disse, citado pela imprensa local. Também em Janeiro, as autoridades chinesas alertavam para a possibilidade de aumento de ataques terroristas, com uma possível ligação à região de Xinjiang, onde vive uma minoria étnica muçulmana.
Mas poderão esses laços estender-se ao sul da China e às duas regiões administrativas especiais? Maya Wang, porta-voz da ONG Human Rights Watch, disse ao HM que é difícil avaliar a ocorrência de um ataque nos territórios, já que as informações vindas da China sobre o assunto são poucas e pouco claras.
“É muito difícil avaliar a verdadeira ameaça do terrorismo na China, porque o Governo chinês não permite que jornalistas ou organizações não-governamentais possam ir a Xinjiang ver de perto a situação e fazer uma investigação independente. Pode haver terrorismo na China, mas o Governo chinês misturou o terrorismo com expressões e demonstrações religiosas. Então qualquer expressão que seja feita, seja falarem a sua língua ou outra, é alvo de acusações pelas autoridades”, explicou Maya Wang.

Ali ao lado

Jiang Jianwei, director do Instituto de Assuntos Públicos e Globais da Universidade de Macau (UM), diz que há maior possibilidade de um ataque terroristas ocorrer em Hong Kong.
“Esse risco existe sempre, apesar de, provavelmente, se acontecer, Hong Kong ser um alvo maior, porque é um centro financeiro e está sob mais pressão e atenção por parte do mundo. Os terroristas conseguem atingir os seus alvos e tanto Macau como Hong Kong são territórios com abertura e as pessoas podem ter um acesso mais facilitado a estes territórios”, disse ao HM. “Estamos numa zona onde quase nunca ocorreram ataques terroristas e, por isso, as pessoas podem não conseguir identificar os alertas. A China tem vindo a tornar-se um alvo de ataques terroristas nos últimos anos e houve uma extensão dos interesses no estrangeiro. Também há terroristas internos vindos de minorias étnicas, como é o caso de Xinjiang e estão ligados a ataques terroristas na Turquia, por exemplo. Também de outras regiões da China”, apontou o académico.

Direitos Humanos?

Recentemente a Human Rights Watch publicou um relatório onde fala da China como sendo um dos países onde a repressão contra a sociedade civil tem aumentado. E a repressão contra os chineses muçulmanos de Xinjiang surge no topo das preocupações.
“Estamos preocupados com o facto de existir uma mistura de liberdade religiosa e de expressão com terrorismo nas minorias éticas. Temos o problema de não sabermos a extensão do terrorismo na China, então suspeitamos que existam falsas acusações de pessoas que apenas expressam a sua religião”, disse Maya Wang ao HM. “Não sabemos com precisão onde estão [os terroristas], porque o Governo controla de forma restrita os média em Xinjiang e não há informação independente divulgada desta região nem há advogados independentes que tenham acesso a estes suspeitos. Não sabemos muito mais do que aquilo que vem nos órgãos de comunicação oficiais”, acrescentou a responsável.
Para Jiang Jianwei, não se deve misturar o combate ao terrorismo com a questão dos direitos humanos.
“Não posso discordar disso, porque de facto a informação providenciada pelo Governo chinês nem sempre pode ser confirmada por entidades independentes. Mas alguns ataques terroristas são demasiado óbvios, como os que aconteceram em Cantão ou Pequim. É um facto que ataques terroristas em Xinjiang têm vindo a ocorrer com frequência e isto tem uma ligação com o terrorismo no resto do mundo”, disse o docente da UM. “O terrorismo em Xinjiang faz parte do que acontece em todo o mundo e espero que a questão dos direitos humanos não seja usada para dar cobertura aos ataques terroristas. Penso que não deveríamos usar duplos padrões para julgar se é ou não um ataque terrorista: se acontecer no Reino Unido, é terrorismo, mas se acontecer na China as pessoas vão dizer que é uma questão de direitos humanos. Não me parece justo”, rematou.

China | Crónica de uma repressão anunciada

Maya Wang, representante da Human Rights Watch em Hong Kong, garante que a repressão na sociedade chinesa está na pior fase desde os acontecimentos de Tiananmen. “Diria que a actual situação é provavelmente das piores desde os movimentos ocorridos em 1989, no sentido em que depois de 1989 houve obviamente repressão mas também houve uma abertura com a utilização da internet, em 2000, e com o desenvolvimento da própria sociedade e a formação de advogados. A situação de repressão que a China vive neste momento é talvez a pior desde meados dos anos 90”, explicou.
“Desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder, em 2013, que estabeleceu de forma intensiva a repressão junto da sociedade civil, com especial foco na internet, meios de comunicação social, activistas de direitos humanos e ONG. Essa repressão inclui não apenas a prisão de membros da sociedade civil mas também aqueles que estão próximas de ONG. O seu Governo propôs a aprovação de uma série de leis em nome da segurança do Estado”, acrescentou Maya Wang, que garante que essa repressão não acontece apenas por receio de um ataque terrorista de maior dimensão no país.
“A repressão é mais um desejo de garantir que o partido comunista vai manter-se no poder, e em primeiro lugar tem razões políticas, face ao descontentamento social e abrandamento da economia e o desejo dos chineses de terem um Governo mais transparente. São, na maioria, factores internos que determinam a repressão que tem sido feita junto da sociedade civil. Mas não podemos negar as preocupações relativamente ao terrorismo. Nos últimos anos o Governo chinês, desde o 11 de Setembro, tem vindo a preocupar-se com o terrorismo e com a minoria de Xinjiang”, rematou a responsável.

16 Fev 2016

Jorge Sales Marques, presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa

Médico pediatra com experiência em Portugal e em Macau, Jorge Sales Marques decidiu abraçar o desafio de liderar os destinos da Associação de Médicos de Língua Portuguesa depois das polémicas que marcaram a direcção de Rui Furtado. Sem falar do passado, mostra-se confiante em relação à futura Academia de Medicina e defende maiores salários para a classe

Liderou uma única lista candidata à Associação de Médicos de Língua Portuguesa (AMLP). Por que decidiu dar este passo?
É importante continuar com a Associação porque os objectivos estão bem definidos. Era uma pena deixarmos de ter uma associação de médicos portugueses em Macau. Tentámos encontrar uma lista única no sentido de conseguirmos uma lista de consenso para trabalharmos em conjunto para a medicina portuguesa em Macau continuar a ter o seu nome e a fazer parte da história de Macau, já que há dezenas de anos que existem médicos portugueses em Macau. Em conjunto com uma equipa forte e uma direcção coesa procuramos contribuir para uma melhor qualidade da medicina não só portuguesa como da medicina Oriental, nomeadamente ao nível da parte científica, tratamento e diagnóstico.

Tem havido uma divisão na Associação. Acredita que vai alcançar um maior consenso?
O nosso projecto é de futuro e em relação ao passado faz parte da história. Temos de aprender com as coisas boas e más. O que aconteceu no passado já foi muito falado mas apenas queremos avançar com o projecto desta direcção para fazermos muito e melhor para a medicina em Macau e melhorar o atendimento dos utentes.

Recentemente foi denunciado um alegado desvio de dinheiros públicos por parte da Associação. Quer comentar? A Associação goza neste momento de uma boa saúde financeira?
Em relação a esse ponto não vou comentar, foi uma declaração de um colega e aliás meu amigo (José Gabriel Lima). Não tenho nada contra ninguém e trabalhei com todos eles no passado. Apenas quero pensar no futuro e esta equipa foi mesmo construída no sentido de melhorar tudo o que podemos melhorar nesta área. O objectivo é que haja consenso e trabalhar no sentido de melhorar a medicina portuguesa. Temos de a preservar porque faz parte da história.

Que projectos pensa desenvolver?
A Associação com a minha direcção tem apenas uma semana e neste momento estamos numa fase de transição em termos de documentos. Depois faremos contactos no sentido de continuar o trabalho que está feito com associações de Macau e países de Língua Portuguesa. Queremos trabalhar em vários pontos importantes. Queremos ter uma sede própria para trabalhar, porque neste momento a Associação não tem uma sede e era importante ter para estabilizar. Queremos adquirir fundos de apoio para avançar com o nosso programa e para avançar na área da investigação. Vamos tentar fazer umas jornadas anuais em que certamente farão parte médicos portugueses, chineses e de outros países. Também temos vontade de promover actividades sociais e culturais. Temos de aumentar a colaboração com outros países, de Língua Portuguesa e associações de Hong Kong e Taiwan, ou China. Queremos estreitar ainda mais as relações com os SS, porque achamos que a nossa experiência de Portugal é importante. Os médicos portugueses em Macau têm qualidade e também os médicos chineses e, em conjunto, podemos fazer um trabalho melhor para o bem da saúde em Macau.

Vão pedir fundos ao Governo para a sede?
A curto prazo vamos pedir apoio, certamente que esperamos que isso aconteça para podermos trabalhar em prol da população. Estou convencido de que vamos ter a sede porque esta Associação é coesa e forte e empenhada para trabalhar com todas as pessoas.

Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, tem-se mostrado optimista em relação ao avanço do sistema de saúde. Que análise faz do seu trabalho?
Faço parte de várias equipas do hospital e posso dizer que tem havido um esforço enorme da parte dos SS e do Secretário no sentido de melhorar a qualidade da saúde em Macau e também a qualidade do atendimento dos utentes ao nível do diagnóstico e tratamento. Não tenho a menor dúvida de que isso vai acontecer porque o Secretário está empenhado em que isto aconteça. jorge sales marques

Alexis Tam também defendeu que os médicos em Macau deviam ganhar mais. Isso pode afectar o recrutamento de médicos portugueses?
Não é fácil sair de Portugal, mas se houver um ordenado mais vantajoso claro que será uma mais valia. Se tiverem boas condições de habitação e mais apoio dos SS, com um ordenado interessante, semelhante ao do que os médicos de Hong Kong usufruem, poderá ser uma mais valia para os médicos portugueses que se queiram aventurar a Oriente.

Mas também defende que os médicos em Macau poderiam ganhar mais?

Quem sou eu para dizer o contrário àquilo que o Secretário disse? As cidades limítrofes, como Hong Kong ou até na China, são cidades com ordenados bastante bons e superiores aos de Macau. É importante para a vinda de novos médicos portugueses, é importante haver uma renovação dos médicos e que venham médicos com qualidade e de várias especialidades onde exista maior carência. É importante com todos esses dados conseguirmos bons salários.

A credibilidade do hospital Conde de São Januário tem sido afectada e a população acredita que os médicos vindos do interior da China não têm qualidade. É possível melhorar esse aspecto?
A área da saúde é sempre muito difícil, sobretudo para satisfazer os utentes. Enquanto houver hospitais públicos e privados vão sempre existir reclamações. Neste momento tudo está a ser feito para melhorar a qualidade dos médicos chineses e também portugueses. Fala-se na criação da Academia de Medicina e não tenho a menor dúvida de que será uma mais valia para Macau, porque irá ser feita uma melhor selecção dos médicos e serão dadas mais respostas para a parte do tratamento.

Macau terá capacidade para formar médicos?

Posso dizer, porque faço parte do grupo que está a preparar a academia, e penso que iremos ter uma academia bem preparada e com médicos de qualidade, para trabalhar tanto no público e no privado. Tudo está a ser feito para que a curto prazo isso aconteça. Neste momento o objectivo é que seja feito até ao final do ano, vamos ver se será possível, depende de outros factores. Posso dizer que o projecto está no bom caminho.

Considera que se tem investido demasiado no privado e menos no sector público?
Desde há muito tempo que é normal em Macau investir no sector público e privado. Se investem mais num ou outro, é uma decisão política. Do ponto de vista pessoal penso que o investimento está a ser feito no hospital público para melhorar a qualidade. Não tenho a menor dúvida de que irão tentar reduzir essa diferença, porque é importante que haja uma hospital público com qualidade. Se houver um hospital público com mais qualidade, também o privado vai melhorar. Temos de ter mais capacidade de resposta em todas as áreas e claro que será um incentivo para o hospital privado. Vai haver sempre competição, mas isso é importante: quando uma pessoa corre sozinha, ganha sempre.

O hospital das Ilhas tem obrigatoriamente de ser inaugurado até ser finalizado o mandato de Chui Sai On?
O hospital vai melhorar o sistema de saúde, mas se irá estar pronto ou não… penso que toda a gente que está empenhada no projecto quer que ele seja inaugurado a tempo. Ninguém pode adivinhar o futuro mas certamente terão uma vontade de construir dentro do prazo previsto. É uma incógnita mas isso acontece em qualquer parte do mundo. Atendendo a que em Macau não existem problemas económicos, penso que será possível.

Houve desleixo político no passado que fez com que o projecto não avançasse?
Não podemos falar de desleixo, são coisas normais dentro de um Governo. Sei que há vontade de que isto seja concluído num curto espaço de tempo.

15 Fev 2016

ATFPM | Pereira Coutinho candidata-se para novo mandato

José Pereira Coutinho volta a candidatar-se para mais um mandato como presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública. O regresso do projecto de Lei Sindical é um dos pontos fortes da candidatura

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) volta a ir a votos em Março e, para já, José Pereira Coutinho lidera a única lista candidata. Em comunicado, o também deputado à Assembleia Legislativa (AL) afirma que a apresentação do projecto de Lei Sindical é um dos objectivos a cumprir para este ano.
“Através dos nossos representantes na AL vamos continuar a insistir para que a Lei Sindical seja uma realidade em Macau. O nosso representante vai mais uma vez apresentar o projecto de Lei Sindical no sentido de, por um lado, dar cumprimento ao artigo 27 da Lei Básica e das convenções internacionais de trabalho”, pode ler-se.
José Pereira Coutinho confirmou ao HM que estão a ser feitos alguns acertos ao conteúdo do projecto de lei, pelo que a sua apresentação no hemiciclo será feita um pouco mais tarde do que estava inicialmente previsto.
“Caso a AL vote favoravelmente este nosso projecto de lei a RAEM estará dotada dos mínimos mecanismos de protecção dos direitos fundamentais dos trabalhos para que sejam efectivamente implementadas e aplicadas no mercado de trabalho, com objectivo de uma melhor harmonia e justiça social no quadro de uma relação jurídica laboral”, apontou o também deputado.

Nomes de sempre

A lista, que também conta com Rita Santos como presidente da Mesa da Assembleia-Geral e com Maria Madalena Leong à frente do Conselho Fiscal, traça um balanço positivo da presença política no hemiciclo.
“Com o apoio generalizado dos nossos associados foi possível eleger dois deputados eleitos pela via directa, um facto inédito nos anais históricos da Associação.”
Do rol de nomes, fazem ainda parte Leong Veng Chai, deputado, e o conselheiro Armando de Jesus, na vice-presidência, e Luís Correia Gageiro, da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, como secretário-geral.
Além da Lei Sindical, a lista encabeçada por Pereira Coutinho promete “continuar a alertar todos os anos o Governo para proceder à actualização salarial de acordo com a inflação, o que normalmente afecta o pessoal da linha da frente com baixos rendimentos”.
Pereira Coutinho garante vai liderar uma lista que continua a “manter uma postura independente, abrangente e solidária no apoio aos trabalhadores e idosos”.
A ATFPM vai a votos a 12 de Março, sendo que a duração do novo mandato é de quatro anos. Desde 2000 que Pereira Coutinho se mantém na presidência da Associação.

Conselheiros e Governo português falam sobre magistrados

Na qualidade de membros do Conselho das Comunidades Portuguesas, Rita Santos e Pereira Coutinho vão ter nas próximas semanas encontros com responsáveis do novo Governo Português. De acordo com os dois responsáveis, que já tinham anteriormente garantido que iriam abordar a situação, a ideia é fazer com que Portugal continue a permitir permanência de magistrados portugueses em Macau. “Um dos objectivos é sensibilizar o actual Governo de Portugal no sentido de permitir a continuidade dos portugueses a trabalhar em Macau, nomeadamente os que estão a gozar o direito de licença especial. Os que estão na magistratura, nos serviços públicos, os médicos, de modo a que possam continuar a prestar serviço ao Governo e à população de Macau”, defende Rita Santos à Rádio Macau. Segundo Rita Santos, estão a ser desenvolvidas diligências no sentido de garantir um encontro com o primeiro-ministro António Costa. Recorde-se que Portugal, como avançou o HM, está a pedir o regresso de todos os magistrados portugueses no território.

15 Fev 2016

Zika | Vírus vai ter legislação. Mosquito “comum” em Macau

A Lei de Prevenção, Controlo e Tratamento de Doenças Transmissíveis vai ser revista para que o vírus Zika possa estar abrangido. Governo diz que o mosquito Aedes, que transmite a doença, é muito comum no território

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois da ocorrência do primeiro caso de infecção pelo vírus do Zika na China, o Governo de Macau decidiu avançar para a legislação de combate ao vírus, ao entregar na Assembleia Legislativa (AL) uma proposta de revisão da Lei de Prevenção, Controlo e Tratamento de Doenças Transmissíveis. O diploma, implementado em 2004, não previa os casos de infecção com o Zika, nem os modos de actuação.
Na nota justificativa analisada pelo HM, o Governo afirma que “o mosquito do género Aedes, que transmite o vírus Zika, é muito comum na RAEM”, pelo que existe risco de importação e propagação da doença na região. O isolamento é, por isso, uma das medidas mais fortes.
“Tendo em consideração a transmissibilidade da doença e a possibilidade desta ser transmitida entre pessoas de fontes contaminadas, verifica-se a necessidade de os doentes afectados pelo vírus Zika se sujeitarem a um eventual isolamento e/ou afastamento temporário”, aponta a nota justificativa.
O Executivo explica que a doença pode ter consequências graves, “especialmente para as mulheres grávidas” e diz que, por isso, a confirmação atempada e a aplicação “das devidas medidas de prevenção e controlo são essenciais para o controlo de uma eventual ocorrência futura da epidemia”.
A lei irá adoptar o nome de “doença pelo vírus Zika” com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), estando prevista a adopção de um código específico “até que um outro código uniformizado a nível internacional venha a ser utilizado”.
Os primeiros casos de infecção com o vírus Zika começaram a surgir em Novembro do ano passado. O Governo lembra que “foram também registados casos esporádicos de infecção da doença após viagens ao exterior em países do Sudeste Asiático como a Tailândia, Camboja, Indonésia e a Índia. Nos últimos dias foi notificado um caso de infecção pelo vírus Zika importado da Tailândia para Taiwan”, lê-se ainda.
De frisar que a OMS veio a declarar o conjunto de casos de microcefalia e doenças do sistema nervoso recentemente verificados no Brasil como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, como refere a nota justificativa do Governo.
Oriundo de Jiangxi, homem infectado com o Zika no continente terá viajado da Venezuela, estando actualmente em recuperação no hospital. Até ao momento existem no Brasil cerca de 1,5 milhões de doentes infectados com o Zika, seguindo-se a Colômbia com mais de 22 mil casos.

15 Fev 2016

Património | Pedida revisão de sistema de administração de templos

Recebem doações e são responsáveis diariamente pelos templos, mas nem isso faz evitar acidentes e intervenção do Governo em caso de incidentes. Um membro do Conselho do Património Cultural vem pedir que se mude a forma de gerir o património

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]am Fat Ian, membro do Conselho do Património Cultural, sugere a implementação de um sistema de responsabilidade para os proprietários de imóveis classificados, de forma a que seja garantida protecção. O pedido chega depois de um incêndio ter danificado o Templo de A-Má, com Lam a pedir também a revisão do sistema de doação nos templos.
Lam Fat Ian diz que o fogo que danificou uma parede antiga no Templo da deusa, na Barra, mostra que, apesar de o Instituto Cultural ter a sua quota parte de responsabilidade na fiscalização, é a própria administração do templo quem tem de intervir em casos de necessidade. Os templos são geridos por associações e, diz, o Governo deve rever completamente esse sistema, já que estas associações recebem doações para manter os locais.
Lam Fat Ian diz ser não só necessário um sistema de responsabilização para quem faz a administração diária dos templos, mas também um maior aperto ao nível financeiro.
“Como cada templo tem um administrador geral, este funcionário deveria participar em cursos de formação sobre técnica administrativa, sistema de segurança dentro templo, etc”, exemplificou, acrescentando que “o Governo deve rever o sistema de doação dos templos, porque neste momento a doação dos visitantes é recebida pelas associações, mas a despesa de reparação vai ser paga pelo Governo, logo erário público”.
Lam Fat Ian acha que é o tempo de rever completamente o sistema de doação, até porque no caso do Templo de A-Má da Barra vai mesmo ser o Executivo a prosseguir com o pagamento das obras de reparação, que vão demorar um ano.
O membro do Conselho do Património diz ainda que deveria haver punições no caso dos templos que são classificados não serem bem mantidos pelos proprietários.

Depois dos estragos

Num comunicado à imprensa, o Instituto Cultural avisa que Guilherme Ung Vai Meng, presidente, e a Chefe do Departamento do Património Cultural, Leong Wai Man, se reuniram mais uma vez com a Associação do Templo de A-Má, pedindo que esta cumpra rigorosamente as orientações para a segurança contra incêndios nos templos de Macau para evitar casos semelhantes.
A avaliação inicial ao incêndio mostrou que as estruturas principais do pavilhão não sofreram danos graves, incluindo vigas principais, paredes e telhado, entre outras partes, mas os artigos de madeira colocados no interior do pavilhão, como o altar, mesa para incenso e painel em madeira, entre outros, ficaram “danificados gravemente”. O item mais valioso, a estátua da deusa, ainda tem “condições para ser recuperada”.
O IC prevê que a obra de restauro da estrutura do pavilhão principal esteja concluída dentro de dois ou três meses, mas para a recuperação do Templo original vai ser necessário “pelo menos um ano”. O incêndio deveu-se a um curto circuito.

15 Fev 2016

Pintura | “Ma-Boa Lis-Cau”, de Charles Chauderlot, inaugura dia 23

São retratos com algum humor, detalhados, produtos do confronto entre as duas cidades das sete colinas, onde o espectador é impelido a confundir-se apesar das evidências. São as pinturas de Charles Chauderlot que trazem Macau e Lisboa à Creative Macau na quinta-feira

[dropcap style=’circle’]“[/dropcap]São diferentes mas parecem-se”, garante Charles Chaderlot a propósito de Macau e Lisboa. É isto, aliás, que o pintor vai tentar provar na sua próxima exposição de desenhos e litografias na Creative Macau: a visão do artista ao combinar as duas.
“Gosto do sabor especial dos tabacos no meu cachimbo, da mistura dos diferentes tabacos”, garante Chauderlot para ilustrar o espírito desta exposição que, significativamente, intitulou “Ma-Boa Lis-Cau”.
Segundo o pintor, “Macau e Lisboa têm muitos aspectos diferentes como a sua a história e a própria localização. Mas também têm muitas semelhanças, como a cancela chinesa, as igrejas, as pequenas lojas, etc.” Nesta descoberta, Chauderlot retrata diversas cenas das duas cidades, na visão composta delineia entre Macau e Lisboa. chauderlot
Das ruas de Madrid aos recantos inacessíveis da Cidade Proibida, num percurso de pintura ocidental e chinesa com passagens por Lisboa e Macau, onde vive desde 2006, Charles Chauderlot tem um longo percurso na pintura. Nasceu em Madrid, em 1952, no seio de uma família franco-espanhola com uma árvore genealógica cheia de reconhecidos escultores, pintores, arquitectos e gente das Artes.
Começou a pintar aos 11 anos, em Bordéus, com um professor de Belas Artes, até que em 1996 vem pela primeira vez à China e em 1997 muda-se para Pequim onde acaba a pintar em zonas restritas da Cidade Proibida, numa época em que estudava as técnicas de pintura chinesa e desenvolvia capacidades para explorar a pintura a preto e branco.
Em 2006, muda-se para Macau, onde continua a pintar. Um percurso que o levou a expor um pouco por todo o mundo e a participar em várias feiras de arte. Em 2011 o IACM organiza-lhe uma exposição de dois meses e publica um importante catálogo da sua obra. Em 2013, no Museu do Oriente, em Lisboa, Chauderlot também viu a sua obra exposta por cinco meses no contexto das celebrações dos 500 Anos das Relações entre Portugal e a China.
Agora, a sua mais recente exposição inaugura no próximo dia 23 pelas 18h30 na Creative Macau, sendo a entrada gratuita. A organização promete uma tarde de refrescos e animação intermitente. Os trabalhos de Charles Chauderot estarão disponíveis ao público todos os dias, de segunda a sábado, entre as 14h00 e as 19h00 até ao dia 19 de Março.

15 Fev 2016

Chang Kam Pui, director de associação ambiental: “Governo está desligado do sector da reciclagem”

A participação numa conferência da ONU sobre mudanças climáticas trouxe novas ideias a Chang Kam Pui de como promover a protecção ambiental em Macau. Mas o director da Associação de Protecção Ambiental e Gestão de Macau não tem dúvidas: o Governo não tem planeamento, tecnologia, nem consciência para resolver o problema e nem sequer ajuda o sector que ainda se vai dedicando à temática

A vossa Associação, juntamente com outra, participou na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Paris no fim do ano passado. Como foi a experiência?  
Ganhámos muito. Quando acabou a conferência e voltámos para Macau, percebemos que Macau, é de facto, pequeno. Não só ao nível da área territorial, mas também ao nível da tecnologia para a protecção ambiental. Noutros países e regiões, as técnicas são desenvolvidas, os métodos e o planeamento utilizados são pioneiros, a educação cívica vai no caminho da sustentabilidade. Só assim se pode avançar para um desenvolvimento ao nível da protecção ambiental. No estrangeiro, é tudo muito avançado, não se faz apenas a promoção da protecção ambiental como em Macau, mas faz-se essa protecção, no âmbito da tecnologia, da economia e dos negócios.

Participou como representante de Macau? Como é que esse trabalho foi conseguido?
Participámos pela primeira vez. Fomos nós próprios a entregar documentos para ingressar na conferência e depois fomos convidados a participar, após uma avaliação. Macau foi uma das regiões que participou como organização observadora. 
 
Quais as principais diferenças que sente entre o que viu na conferência e Macau?

O que vi é que os trabalhos de protecção ambiental de Macau ficam muito atrás de outras organizações internacionais, tanto ao nível do pensamento, como na prática. Vamos a ver e o nosso território é definido como um Centro Mundial de Turismo e Lazer e uma cidade apropriada para viver. Mas será esta definição correcta? Não será demasiado? Sem contar com os países mais distantes, estamos em competição com outros países asiáticos como Taiwan e Japão. Macau não avança na protecção ambiental.

O que poderia fazer o Governo?

Os conhecimentos que adquiri [na conferência] versam sobretudo sobre o uso da energia solar, soluções para [acabar com] a poluição do ar, poluição visual e das águas. Mas a tecnologia utilizada ultrapassa a actual capacidade de Macau – isto a juntar à falta de terrenos, faz com que Macau não consiga avançar para essas resoluções, mesmo que haja profissionais estrangeiros e especialistas em protecção ambiental em Macau. Por exemplo, a energia solar precisa de grandes espaços para se colocarem os painéis solares, algo que não se coaduna com a realidade de Macau. Mas o que é mais de salientar é a educação cívica e a cooperação interdepartamental, porque na conferência observámos que todos os  departamentos dos governos estrangeiros estão bem coordenados: no Japão, por exemplo, as crianças aprendem como proteger o ambiente desde o jardim-de-infância. Um exemplo muito simples é o de colocar caixotes de reciclagem de lixo dentro das escolas, sobretudo nas cantinas, e os próprios professores ensinam directamente como se faz a separação do lixo. Outro exemplo é que os professores pedem aos alunos para trazerem os próprios sacos para festas escolares, para levarem as prendas. Assim, eleva-se a consciência da população, formando-se hábitos de protecção  ambiental.  Tem que se perceber que a protecção ambiental não é algo obrigatório, mas depende da auto-disciplina das pessoas. E é isso que o Governo de Macau precisa de ter como referência para melhorar o ambiente e os trabalhos com ele relacionados.

Como avalia o actual planeamento da protecção ambiental de Macau?

Foi publicado há pouco tempo o Relatório da Situação do Ambiente de 2014 e vi que, na parte sobre a gestão da protecção ambiental, o Governo defende que vai promover a educação, mas fala apenas nos números de actividades de promoção, de participantes… são meramente belas palavras. De forma geral, não existe um planeamento real e completo e é mesmo preciso avançar com esses detalhes no futuro. Como? Primeiro, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) deve coordenar-se com a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) para incluir a disciplina de protecção ambiental nas escolas, porque até agora não existe nem nas escolas primárias, nem secundárias, nem sequer nas universidades. Quem quiser trabalhar na área de protecção ambiental tem de estudar em Hong Kong, Taiwan, Estados Unidos, Canadá ou Singapura, porque Macau não tem um curso específico. Posso dizer que não existe uma base [para a protecção ambiental] em Macau, o que faz com a promoção de protecção ambiental exista, mas sem dar a colher frutos.
 
Esse relatório mostra que a qualidade do ar tem uma tendência de melhoria, comparado com o de 2012 a 2013. A qualidade do ar melhorou realmente ou são, como diz, apenas números?
Os dados são apenas para referência, a melhoria da qualidade de ar depende do que sentimos como cidadãos. Acredito que a maioria da população considera que o ar em Macau é pior agora. A principal fonte de poluição são os gases dos automóveis e, se não se resolver esta questão, a qualidade do ar do território nunca vai melhorar. O Governo tem promovido o uso de carros electrónicos, o que é positivo, mas como existe o problema do trânsito, quanto mais carros pior a situação, porque quando há engarrafamento os gases emitidos pelos automóveis parados são mais poluentes. Neste âmbito, quais são as medidas urgentes da DSPA para resolver essa poluição? Queremos saber. Ao que sei, os gases de automóveis são mais poluentes quando os combustíveis são de má qualidade ou não são usados de forma apropriada. Será que o Governo pode regular melhor o uso de combustíveis, promovendo os de melhor qualidade, pelo menos para diminuir a poluição? É que isso depende da implementação de políticas do Governo.

No ano passado, o sector da reciclagem de Macau manifestou-se contra a falta de apoio do Governo. Qual é a sua opinião face a isto?

Quanto à indústria de protecção ambiental, actualmente em Macau existem apenas micro empresas que reciclam os materiais. Não existe Lei de Protecção Ambiental que as suporte e, mesmo que o Governo implemente instruções, regras ou decretos-lei, não adianta. Em Taiwan, por exemplo, a indústria é completa: a lei regula que as pessoas façam a separação do lixo em casa e depois coloquem nos caixotes de lixo públicos correspondentes, fazendo com que o lixo já esteja separado quando a empresa o vai recolher. As associações começaram a reciclar os papéis e garrafas plásticas para que sejam feitos produtos novamente. Olhando para Macau, as empresas não têm confiança para avançar com trabalhos, porque parece que não temos um verdadeiro sector de reciclagem. O Governo ainda não conseguiu criar um ambiente para a sobrevivência dessas micro empresas. Recentemente, começou a pensar em classificar o sector de protecção ambiental como uma indústria, o que é uma boa notícia, mas até ao momento não houve nenhuma mudança.

Como é que o Governo poderia apoiar esta indústria?

É preciso haver cooperação entre o sector e o Governo, que actualmente estão desligados [um do outro]. O Governo deve criar regras para o sector da reciclagem, compreender como as empresas reciclam materiais… é preciso comunicação. Além disso, poderia aproveitar-se terrenos na Ilha da Montanha, onde Macau arrenda dez quilómetros quadrados, para promover a diversificação desta indústria. Acredito que um a dois quilómetros quadrados especificamente para a protecção ambiental já é suficiente: poderia, por exemplo, haver uma base de formação onde os residentes de Macau poderiam ser formados como especialistas nesta área, onde se poderiam desenvolver produtos reciclados, que pudessem suportar o sector em Macau. Claro que é preciso aceitação e planeamento do Governo. Caso contrário, vai manter-se sempre na fase actual, sem espaço para avançar.

O Governo está a realizar agora uma consulta pública sobre o uso dos sacos de plástico e a proposta sugere o pagamento obrigatório de uma pataca por cada saco. Concorda?
A proposta é positiva, mas a eficácia é incerta. Essa medida foi implementada em Taiwan há muitos anos e falhou porque as lojas de lembranças continuavam a dar sacos gratuitos. Será que o dinheiro pode resolver o problema do lixo? Não me parece. Seja uma ou cinco patacas, os turistas não se importam de pagar quando compram muitas coisas, sobretudo nas lojas de marca e de luxo. Já para os cidadãos, prevejo que a eficácia seja maior entre os idosos, que se importam com poupar dinheiro. O que considero mais importante é o Governo mostrar que confia realmente na protecção ambiental, do que estar a propor esta medida. Sabemos quantos sacos de plástico os organismos públicos utilizaram? Porque é que não se mostra primeiro à população a meta de diminuição no uso de sacos de plástico na Função Pública e depois se sugere aos cidadãos seguirem a mesma medida? O pagamento é apenas um alerta, mas a mudança da situação depende da auto-disciplina de cada um.

12 Fev 2016

Deputada Ella Lei volta a pedir debate sobre cláusulas compensatórias em contratos

É a segunda vez: a deputada Ella Lei quer que o Governo vá ao hemiciclo responder sobre por que não inclui nos contratos públicos cláusulas que permitam indemnizações e sanções. É que o dinheiro continua a sair dos cofres públicos, sem que o Executivo intervenha

A Assembleia Legislativa (AL) aceitou um pedido de debate sobre a inclusão de cláusulas penais compensatórias nos contratos de obras públicas. Apresentada pela deputada Ella Lei, a proposta versa sobre um assunto que tem sido defendido por outros membros do hemiciclo e que visa responsabilizar as empresas quando houver falhas nas obras públicas.
Numa nota justificativa que acompanha o pedido, assinado apenas pela deputada da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), pode ler-se que “o Governo deve incluir as cláusulas penais compensatórias nos contratos de obras públicas, com vista a impulsionar o cumprimento rigoroso dos contratos, por parte dos empreiteiros, nomeadamente quanto aos prazos de conclusão das obras, evitando assim os sucessivos atrasos e excessos de despesas daí recorrentes”.
A deputada relembra que a inclusão destas cláusulas – que iriam fazer com que as empresas tivessem de pagar indemnizações ao Governo em caso de atrasos ou problemas – “é legalmente permitida pela legislação vigente”, sendo que estas foram mesmo propostas pelo Comissariado de Auditoria (CA). Ella Lei evoca, aliás, o CA para lembrar que, actualmente, sem estas cláusulas nos contratos não há muito que o Executivo possa fazer.
“Devido à insuficiência de fiscalização e à falta de mecanismos eficazes de indemnização e sanção, o Gabinete para as Infra-Estruturas de Transportes (GIT) nada pôde fazer, mesmo perante os graves atrasos registados nas obras do metro ligeiro e a falta de entusiasmo dos empreiteiros em envidar esforços para recuperar tempo.”
O metro ligeiro é um dos exemplos mais utilizados pelos interessados na implementação destas medidas, uma vez que ultrapassou não só o orçamento, como o período de construção. Só que em nenhum contrato do metro o Governo incluiu estas cláusulas.

Errar duas vezes

Ella Lei relembra que a “sociedade se mostra a favor” destas cláusulas e critica o Executivo pela inércia demonstrada. “O Governo afirmou repetidamente que ia proceder ao estudo sobre a viabilidade da inclusão e que, para o efeito, alguns governantes até se dirigiram a Hong Kong para troca de experiências. Em Novembro, o Chefe do Executivo disse que estavam em curso negociações e estudos, mas até ao momento ainda não respondeu.”
Da mesma forma, também o GIT fala em estudos, o que fará com que as cláusulas penais compensatórias “não vão ser incluídas no novo concurso para a obra do parque de materiais e da oficina do metro”, obra que motivou justamente os apontamentos do CA e que levou o Governo a tribunal contra a empresa.
Ella Lei volta à carga com o pedido de debate que, em Janeiro de 2015, foi chumbado devido à promessa de estudos do Governo. A deputada pede novamente que os deputados aprovem o debate, para que o Executivo tenha de ir dar explicações à AL. Até porque, diz, “vai haver grandes obras públicas sucessivamente” e “atendendo à imperfeição dos actuais mecanismos de fiscalização, são enormes os gastos de dinheiro público”.
“Assim não nos conseguimos livrar do beco sem saída dos atrasos, excessos de despesa e má qualidade das obras.”
O pedido de debate foi agora traduzido para Português, tendo sido entregue a 26 de Janeiro. Resta agora subir a plenário e esperar pela votação dos deputados.

12 Fev 2016

Novo “ciclo” justifica aumento de capital da Macau Investimento e Desenvolvimento

A injecção de capital na Macau Investimento e Desenvolvimento, S.A. deveu-se à entrada numa fase mais madura do projecto. É a justificação da Direcção dos Serviços de Economia (DSE) ao HM, que questionou o organismo sobre o aumento em 86% do valor inicial da empresa criada em 2011 e que tem como accionistas a RAEM, com 94%, o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (3%) e o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (3%).
Em Janeiro, o HM avançou que a sociedade comercial, que é uma sociedade anónima, passa assim a ter um capital social de quase três mil milhões de patacas, proveniente do erário público. Em resposta ao HM, a DSE explica o motivo.
“O Parque Industrial estava na fase de desenvolvimento e investimento e, concretamente, já entrou num ciclo mais aprofundado [devido] ao desenvolvimento de projectos. Para o  desenvolvimento de longo prazo de projectos, o Parque Industrial tem a necessidade de explorar as suas actividades [consoante] a necessidade do capital social”, começa por dizer a DSE. “Em simultâneo, para a necessidade de desenvolvimento de projectos e de capital social relativa à exploração de actividades em Zhongshan, a Macau Investimento e Desenvolvimento, S.A. procedeu ao aumento do capital social para concretizar os [objectivos] supra-referidos.”
A empresa foi criada precisamente para “promover o desenvolvimento sustentável e os negócios no exterior de Macau”, realizando “projectos de investimento” e para ficar responsável pela exploração e gestão da área da Ilha da Montanha e dos projectos a desenvolver conjuntamente entre a RAEM e a região vizinha.
A DSE relembra que esta Sociedade e a Zhuhai Da Hengqin Investment Co. Limited constituíram, em conjunto, a Guangdong-Macau Traditional Chinese Medicine Technology Industrial Park Development Co., Ltd., como uma entidade para ter a finalidade de funcionar e explorar as actividades relativas ao Parque Industrial.
A autorização de injecção de capital foi promulgada no ano passado, só tendo sido tornada pública em Boletim Oficial em Janeiro. O capital social é de 2,97 mil milhões de patacas, dividido e representado por 296.800 acções ordinárias, com o valor nominal de dez mil patacas cada uma, totalmente subscritas e realizadas em dinheiro.

12 Fev 2016

Terapeutas | Macau sem pedidos do exterior por “falta de interesse”

O Instituto de Acção Social já deu luz verde para a importação de terapeutas estrangeiros, mas até ao momento nenhum pedido foi feito. Associações dizem que condições de recrutamento não são as ideais

O assunto foi debatido, o Governo autorizou, mas o interesse parece ser pouco. Há um ano o Instituto de Acção Social (IAS) deu luz verde para a importação de terapeutas para pessoas com necessidades educativas especiais, mas numa resposta enviada ao HM a entidade confirma que, até ao momento, nenhum pedido foi feito para a introdução de terapeutas não residentes.
Associações contactadas pelo HM explicam o motivo provável: as circunstâncias de recrutamento são pouco atractivas, tanto ao nível do salário, como das próprias condições apresentadas.
Sandra Lio, secretária-geral da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau, explicou que a entidade já publicou anúncios em Hong Kong e Taiwan, mas as respostas têm sido poucas.
“Os terapeutas do interior da China não correspondem às qualificações porque a sua formação diz respeito a trabalhadores na área da reabilitação e essa credenciação não é aceite em Macau. As condições dos terapeutas de Hong Kong são diferentes das de Macau e podem não ter vontade de trabalhar cá. Em Taiwan os salários são muito melhores e podem receber a mesma remuneração e desenvolvimento na carreira na sua terra natal, pelo que não há grandes razões para que optem por trabalhar em Macau. Até porque a habitação pode constituir uma grande carga”, disse Sandra Lio ao HM.
Também Nerissa Lau, presidente da Associação de Surdos de Macau, explicou que são poucos os terapeutas de Hong Kong que querem trabalhar em Macau, sobretudo devido aos baixos salários. O idioma é um factor atractivo, mas a Associação garante que só pode tentar convidar terapeutas de Taiwan.
A responsável frisou ainda que os procedimentos administrativos para recrutar terapeutas no exterior “são complicados” porque envolvem não só o IAS como os Serviços de Saúde (SS) e o Gabinete de Recursos Humanos (GRH). Nerissa Lau espera, assim, que o Governo facilite o processo para que se possa resolver a falta de mão-de-obra na área.

Luta por profissionais

Sandra Lio explicou que a sua associação tem tentado há meio ano recrutar mais terapeutas, mas não consegue, também devido às dificuldades em competir com as condições da Função Pública. Não só não arranjam recursos humanos, como os perdem.
“Quando o Governo abre concursos de ingresso para recrutar terapeutas todos se candidatam, incluindo os da nossa Associação. Estamos carentes de mão-de-obra e os nossos serviços estão suspensos”, apontou.
Para Sandra Lio, o trabalho de terapeuta está numa situação passiva, porque nenhuma instituição do ensino superior criou cursos nesta área. A responsável acredita que só uma aposta na formação local pode resolver as carências de recursos humanos.
Na resposta ao HM, o IAS reiterou que vai fazer uma avaliação contínua sobre os recursos humanos nesta área e que só vai permitir a importação de terapeutas para colmatar lacunas, por forma a não afectar o emprego dos locais e as suas condições de trabalho. O IAS prometeu manter a cooperação com as associações, mas não avançou novas medidas para responder à ausência de candidaturas.

12 Fev 2016

Novo Banco Ásia | Lucros dobram mas “continuam a ser baixos”

José Morgado, presidente da Comissão Executiva do Novo Banco Ásia, garante que a instituição bancária poderia ter tido um melhor desempenho, apesar de ter registado lucros em 2015 de 4,7 milhões, o dobro face a 2014

Os resultados financeiros do Novo Banco Ásia relativos a 2015 foram ontem publicados em Boletim Oficial (BO) e mostram que a instituição bancária, uma subsidiária do Novo Banco em Portugal, registou lucros de 4,7 milhões de patacas, o dobro face a 2014. Apesar disso, os números revelam estabilidade e não um crescimento de maior dimensão como seria desejável, explicou ao HM José Morgado, presidente da Comissão Executiva do Novo Banco Ásia.
“Os resultados continuam a ser baixos, se compararmos com anos anteriores. Obviamente que dobraram o ano passado e isso é sinónimo de estabilidade, mas o potencial na Ásia é bastante maior e estamos a pensar que, de facto, podemos fazer ainda melhor”, disse José Morgado.
A curto prazo, o Novo Banco Ásia pretende manter a estabilidade que tem demonstrado. “Queremos manter a mesma linha de acção até que haja uma melhor definição relativamente àquilo que o Banco pretende fazer.”
Numa altura em que o processo de venda do Novo Banco continua por concluir, o Banco de Portugal escolheu o Deutsche Bank para ser o assessor financeiro deste processo. José Morgado não sabe se este impasse poderá ou não influenciar os planos do Novo Banco Ásia.
“Obviamente que as coisas estão ligadas, mas são um pouco complementares. Nós somos uma subsidiária do Banco em Portugal, nem sequer somos uma sucursal”, apontou.

Venda poderá acontecer

O presidente da Comissão Executiva da instituição bancária referiu ainda que “existem fortes possibilidades do Novo Banco Ásia ser vendido”. “Aparentemente a entidade supervisora europeia está a colocar como hipótese a venda, para que haja um esforço menor de capital numa altura em que o Novo Banco também está num processo de venda. Pelo que tenho lido, vai nesse sentido”, apontou José Morgado ao HM.
“O projecto na China é sempre interessante e, pelo que sei, a actual administração do Novo Banco queria manter esta situação porque a considerava estratégica. Continuo a achar que o projecto asiático tem muito potencial e tanto no passado como no presente existem alguns interessados na aquisição do Novo Banco, por isso pode ser que o processo evolua”, rematou.
Segundo o jornal Diário Económico, os principais bancos de Espanha, como é o caso do Santander, serão os principais interessados no segundo processo de aquisição do Novo Banco, incluindo o Banco Português de Investimento (BPI) e o seu accionista espanhol CaixaBank. O grupo chinês Fosun e a Apollo, gestora de fundos americana, e que já tinham participado na primeira tentativa de venda, poderão também estar na corrida para adquirir o Novo Banco.

12 Fev 2016

Hong Kong | Rixa em Mong Kok associada a movimento “Scholarism”

Começou por ser uma operação policial contra vendedores ambulantes de comida, mas acabou em violentos confrontos entre a população e a polícia, aos quais nem os jornalistas escaparam. A revolta ocorrida na zona de Mong Kok começa a ter contornos políticos, com a prisão de um membro do “Scholarism”

Na noite de terça para quarta-feira viveram-se momentos de terror nas ruas da zona de Mong Kok, em Hong Kong, num violento protesto como não se via desde 2014, ano em que o movimento Occupy Central ocupou o distrito financeiro da região vizinha. Os desacatos começaram com uma operação policial contra vendedores ambulantes, mas depressa grupos de pessoas manifestaram-se de forma violenta, cujos actos culminaram em 90 polícias feridos e dezenas de pessoas detidas, número que poderá aumentar, segundo o Executivo da região vizinha.
A operação da polícia desencadeou protestos entre os comerciantes e frequentadores da zona de Kowloon que, segundo a polícia, acabaram por lançar pedras, contentores e garrafas às forças de segurança. A polícia respondeu com gás pimenta e disparos de aviso.
O subcomandante da polícia de Hong Kong Crusade Yau Siu-kei disse ao jornal South China Morning Post que é provável que o protesto contra a polícia estivesse preparado e organizado porque, assegurou, os manifestantes tinham carros para transportar escudos, capacetes e luvas, entre outros objectos. A polícia já deteve mais de 60 pessoas, acusadas de ataque às forças de segurança, resistência à detenção, alteração da ordem pública e de obstaculizarem o trabalho policial. Os desacatos na rua duraram mais de dez horas, sendo que ontem a policia de Hong Kong ainda patrulhava o local.

“Scholarism” envolvido

Ontem os confrontos em Mong Kok começaram a estar associados ao movimento “Scholarism”, já que, segundo o jornal South China Morning Post, Derek Lam Shun-in foi preso. Derek Lam Shun-in pertenceu ao movimento Occupy Central e é membro do Scholarism, tendo sido apanhado pela polícia no Aeroporto Internacional de Hong Kong na manhã de ontem, acusado de ter incitado a rixa. Derek Lam Shun-in estaria a viajar para Taiwan para se juntar à família, sendo que os familiares terão regressado a Hong Kong assim que souberam da sua detenção.
Um comunicado publicado pelo “Scholarism” já veio negar esta acusação, dizendo que Derek Lam Shun-in estava em Mong Kok apenas para comprar comida aos vendedores ambulantes. “Ele deixou Mong Kok às 2h15 horas da manhã de terça-feira e não atacou nenhum política ou fez algo violento”, aponta o comunicado, que fala de uma detenção feita sem autorização judicial.
“Estamos profundamente indignados com o facto da polícia prender de forma indiscriminada um estudante, algo que significa um ataque aos direitos da pessoa e à sua liberdade de expressão. Até este momento o advogado não conseguiu contactar Derek de nenhuma forma. Pedimos à polícia que dê declarações sobre a situação do Derek e que autorize a sua libertação imediatamente. Nós, sem medo, vamos usar toda a nossa força para lutar nesta batalha ao lado do nosso membro Derek Lam”, lê-se no comunicado divulgado no Facebook.
Ao HM, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM), acredita que podem existir ligações não directas ao “Scholarism” ou Occupy Central. “Podem existir elementos políticos por detrás do movimento. Não compreendo totalmente toda a situação, mas penso que a política será um dos motivos por detrás do que aconteceu”, disse Scott Chiang, que falou da possibilidade de “um número de pessoas terem recusado utilizar os canais normais para expressar a sua insatisfação e tomaram acções para mostrar ao Governo a sua posição política”.
“Podem ter tomado mais acções pró-activas ou diria violentas…em chinês chamamos de “locais” pró-activos, este tipo de pessoas convenceram-se que o pacifismo já não lhes serve desde o Occupy Central, e perceberam que talvez o facto de terem sido pacíficos fez com que o movimento tenha falhado. Penso que um grupo de pessoas se convenceu que deviam ser mais violentos ao lidar com o Governo, por isso vimos mais jovens a aderir à revolta, pareciam bem preparados. Não diria que já estavam organizados, mas sabiam o que estavam a fazer”, disse o presidente da ANM ao HM.
O South China Morning Post avançou ainda que depois da prisão de Derek Lam foi preso outro homem na zona de Sham Shui Po, sendo que a polícia terá descoberto cinco walkie-talkies em casa do suspeito.
Para além do “Scholarism”, o grupo “Hong Kong Indigenous” estará envolvido no caso, já que o seu líder, Edward Leung Tin-kei, referiu na sua página do Facebook ter sido preso acusado de estar ligado aos acontecimentos de Mong Kok. Edward Leung escreveu ainda que a polícia terá forçado a entrada em casa de outros alegados suspeitos, o que terá resultado na prisão de mais 20 pessoas.

CY Leung rejeita violência

Entretanto, o Chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, já veio condenar os actos de violência, falando dos carros da polícia e de privados que ficaram danificados, para além dos agentes das forças de segurança que foram alancados com diversos objectos mesmo depois de já estarem caídos no chão e feridos.
“Penso que as pessoas poderão ver por si próprias nas imagens da televisão a seriedade da situação. O Governo condena com firmeza estes actos violentos”, afirmou.
Para Scott Chiang, CY Leung vai utilizar este episódio para garantir uma reeleição ao cargo de Chefe do Executivo, em 2017. “CY Leung usou este incidente para ter mais apoio, para que possa ter uma reeleição assegurada” defendeu o presidente da ANM.
Para o académico Larry So, o que aconteceu em Mong Kok não foi apenas por uma questão política. “Não se pode falar de um movimento puramente ideológico, diria que não foi um movimento político quando se transformou numa revolta, sem nenhuma ideia ou objectivo político por detrás disso. Numa primeira fase parecia planeado e organizado, mas não havia uma extensão. Uma mob deste género é irracional é um movimento colectivo”, defendeu.
Para o futuro, Larry So acredita que “mais acontecimentos deste género podem ocorrer, este tipo de descontentamento pode voltar a aparecer junto da sociedade. Se Hong Kong consegue suportar isso? Sim, mas terão de pagar um preço”, rematou. Scott Chiang acredita que “a situação se vai tornar mais polarizada”, frisou.

11 Fev 2016

Templo de A-Má danificado por incêndio

Batiam as cinco e meia da madrugada quando Macau acordou com o sirene dos bombeiros. Uma parte de um pavilhão do Templo de A-Ma, local que acolheu nos últimos dias milhares de pessoas nas tradições do Ano Novo Chinês, ardeu devido, apontam as autoridades, a um curto-circuito. Sem feridos, indica o canal chinês de Rádio Macau, ainda não há dados da dimensão dos estragos.
Em visita ao espaço, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, considera que o “Templo de A-Ma é um património de Macau muito importante” e é “lamentável” que algo como isto tenha acontecido. “O Governo de Macau vai ajudar na reparação do que foi danificado. A Administração está preocupada e atenta à protecção do seu património”, defendeu, indicando que o Instituto Cultural (IC) já tinha alertado, no final do Janeiro, para o cuidado necessário relativamente à queima de incensos.

Inspecção recente

Também em visita, o presidente do IC, Guilherme Ung Vai Meng, explicou à rádio Macau, que a última inspecção ao espaço foi feita no final de Janeiro. “No dia 28, o Instituto Cultural e o Corpo de Bombeiros realizaram uma acção de prevenção de incêndios em todos os templos. O Templo de A-Ma foi o primeiro em que fizemos a inspecção. Na sequência da investigação preliminar do Corpo de Bombeiros, não é muito provável que o fogo esteja relacionado com a queima de incenso e velas. Temos de esperar pelo relatório oficial para saber a verdadeira causa do incêndio. Como estamos a falar de património mundial da UNESCO, lamentamos muito. Vamos informar a Administração Nacional do Património Cultural da China e fazer um relatório para ser enviado”, afirmou, indicando que um relatório sobre o incidente será entregue à Administração Nacional do Património Cultural da China.

11 Fev 2016

Carlos Monjardino: “Tem havido pressão da China” no sector do Jogo

Numa entrevista concedida ao jornal português Público, o presidente da Fundação Oriente diz que hoje “a tendência é para controlar” o sector do Jogo e que Macau é um caso perdido para Portugal “há muito tempo”

O presidente da Fundação Oriente (FO), Carlos Monjardino, disse numa entrevista ao jornal Público que a China tem vindo a tentar controlar o sector do Jogo por forma a reduzir o número de ilegalidades cometidas.
“Em Macau tem havido mais condescendência, mas hoje a tendência é para controlar, tem havido pressão da China que já se notou, pois as receitas do jogo baixaram. Havia quem ganhasse dinheiro ilícito na China e depois vinha a Macau limpar o dinheiro, e isto deixou de se fazer porque essas pessoas foram identificadas em Macau e devidamente repatriadas. Isto baixou brutalmente, em especial as ordens nas chamadas mesas VIP. Mas Macau rapidamente se adaptou convertendo-se para o pequeno e médio jogador sem aqueles problemas. Hoje há cada vez mais gente a jogar, mas com apostas mais baixas. É uma tradição chinesa, que vai ter a competição dos russos que estão a apostar no negócio”, disse ao diário de língua portuguesa.
Referindo que o futuro papel da FO passa sobretudo pela acção cultural, Carlos Monjardino defendeu que Macau é um caso perdido para Portugal “há muito tempo”. “Não há hoje em dia, e falo da Fundação, condições para actuarmos na vida de Macau, sobretudo social, mas também cultural. Na parte cultural levamos a componente portuguesa e trazemos a chinesa. Mas ao nível social, que é um sector particularmente sensível, Macau não necessita de nós e tem aliás mais meios para o fazer”, apontou.
“A Fundação é que tem um papel menos importante na componente social, porque foi assumido pelo governo de Macau. E percebe-se: está mais próximo da população”, defendeu Monjardino, dando o exemplo do Programa de Comparticipação Pecuniária.
“Há episódios caricatos: sou residente não permanente de Macau e, nessa condição, tenho direito a receber um cheque todos os anos, como, aliás, toda a população. Os residentes recebem mais do que os residentes não permanentes. Mesmo assim, recebo 400 euros (4800 patacas) por ano. As autoridades de Macau levam este apoio a sério”, frisou.

A transparência

Monjardino, que nas últimas presidenciais foi membro da comissão política do candidato Sampaio da Nóvoa, falou ainda sobre o facto de não ter sido candidato à presidência da República em 2006 e apontou que o seu percurso em Macau poderia ter contribuído de forma negativa para a campanha.
“Haveria sempre quem falasse no assunto. Mas o meu (percurso), ao contrário de outras figuras que por lá passaram, foi relativamente transparente. Embora, tenha percebido rapidamente que ia ter problemas em Portugal, pois fui relativamente duro em opor-me aos favores aos partidos políticos portugueses. Tomei decisões bastante duras relativamente a quem andou por lá e os partidos não me perdoaram”, disse.
Sobre a Escola Portuguesa de Macau (EPM), que já não é apoiada directamente pela FO, Monjardino lembrou que a escola “é muito válida em termos de promoção da língua portuguesa e pedagógicos, mas em termos de gestão financeira é complicado”.
Sobre o seu futuro à frente da FO, Carlos Monjardino apenas disse que “não é insubstituível”. “Tenho vindo a delegar poder em gente muito capaz e chego à conclusão, com prazer, que não sou insubstituível. Tenho a noção que hoje não tenho as mesmas capacidades de antes”, rematou.

11 Fev 2016

Lançada primeira pedra de empreendimento turístico de David Chow em Cabo Verde

Já arrancaram as obras do empreendimento turístico que David Chow vai construir em Cabo Verde. No seu discurso, o empresário frisou o facto de uma empresa de Macau estar a fomentar as relações com o mundo lusófono

Está lançada a primeira pedra do projecto turístico integrado do Ilhéu de Santa Maria e Gamboa, empreendimento da Macau Legend Development, do empresário local David Chow. Em Cabo Verde, a comitiva fez-se acompanhar não só por membros do Governo cabo-verdiano mas também de Macau, tendo David Chow destacado a importância do seu investimento para o fomento das relações com o mundo lusófono.
“Julgo ser justo realçar que é louvável o facto de uma empresa de Macau poder aproveitar-se do seu papel e, servindo de plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa, poder desenvolver as suas actividades no estrangeiro”, disse o empresário, que referiu ainda a estratégia da China de “Uma Faixa, Uma Rota”.
“Esta iniciativa acaba por confirmar a tão importante posição de Macau como uma das cidades que fazem parte da Rota da Seda Marítima, e que poderá, eventualmente, apoiar as Pequenas e Médias Empresas (PME) de Macau a concretizarem o seu desenvolvimento e cooperação no estrangeiro”, realçou.
Com uma licença de jogo exclusiva por um período de dez anos, a Macau Legend Development investiu cerca de 2,15 milhões de dólares de Hong Kong num projecto que terá casino, restauração, hotéis e outras áreas de entretenimento, estando prevista a sua conclusão daqui a três anos. Para David Chow, “o presente projecto tem condições para uma maior expansão, daí que estamos a contar com o necessário e permanente apoio por parte do Governo cabo-verdiano”.
O empresário, que em Macau detém os espaços Landmark e Doca dos Pescadores, referiu que o projecto nas ilhas de Santa Maria e Gamboa “servirá de exemplo de que as gentes de Macau sabem utilizar as vantagens e a experiência adquirida para promover as suas actividades no exterior, concretizando-se, assim, a tão almejada política de internacionalização”.

Subir de nível

Citado pela agência Lusa, o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, garantiu que o turismo no país vai ser um sector em grande desenvolvimento. “Este é um projecto que vai permitir que o nosso turismo atinja outros patamares. Com outros hotéis em que estão em construção teremos condições de gerar milhares de postos de trabalho nos próximos anos, alavancar mais o desenvolvimento do turismo e conseguir o desenvolvimento de outros sectores como os agro-negócios e a economia marítima”, sustentou.
Referindo que neste momento o país recebe anualmente cerca de 600 mil turistas, José Maria Neves disse que os vários empreendimentos turísticos em construção vão fazer com que o país chegue a um a dois milhões de turistas nos próximos anos. “Este projecto é mais uma pedra fundamental para a construção e transformação de Cabo Verde”, referiu José Maria Neves.
Em Agosto do ano passado, cerca de 40 elementos do movimento cabo-verdiano “Korrenti di Activista” acamparam no ilhéu de Santa Maria em protesto contra a construção do completo, considerando que irá servir sobretudo para trazer ao país “lavagem de capitais, prostituição e turismo sexual”. Na semana passada, o ex-bastonário da Ordem dos Arquitectos (OAC) cabo-verdianos, Cipriano Fernandes, pediu, através de uma petição, a intervenção da Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o projecto, por considerar que não respeita todos os requisitos legais e que o mesmo deveria ser aberto ao escrutínio público.

11 Fev 2016

Au Kam San, deputado e ex-membro da Associação Novo Macau

Au Kam San fechou a porta. Cansado – e menos tolerante que Ng Kuok Cheong – o deputado abandona o projecto que criou há 20 anos. Agora é tempo de virar a página e apostar noutras áreas, cívicas, aponta. O tempo de deputado poderá também estar a terminar, sendo que chegou a hora de se dedicar à família

Esta semana anunciou a sua saída da Associação Novo Macau (ANM). Já apontou as razões aquando o anúncio, mas não nega que esta decisão representa uma vontade de há muito tempo?
Não acho que a minha saída da ANM deva ser notícia. Acontece que a associação é um grupo que não vai ao encontro daquilo em que acredito e quero. Não é adequado para mim, e por isso sai.

Quais são os pontos de discórdia entre o deputado e a ANM que o levaram à saída?
É normal que a nova liderança, por ser tão jovem, tenha ideias diferentes. É normal. Não quero criticar o trabalho que eles desenvolvem, mas não concordo com as suas ideias. É perfeitamente natural que tenha existido esta mudança, mas por mim, não quero continuar a seguir esta ‘regra do jogo’.

Esta nova liderança que, como diz, é tão jovem tem as bases e o conhecimento político que se pretendia quando a ANM foi criada?
Não posso julgar, não quero dizer que eles estão errados ou certos. Para mim não é certo. Não sei qual será o caminho, o novo rumo da associação. Há 20 anos, quando criei a Novo Macau as pessoas também acharam que as ideias eram muito novas e ambiciosas e agora, o talvez estas ideias sejam vistas como conservadoras para os jovens. Há claramente um mudança no comportamento.

Acha que o deputado Ng Kuok Cheong também vai sair da ANM?
É preciso ver que o Ng Kuok Cheong é mais paciente e tolerante que eu. (risos) Eu sou mais agitado e mais impaciente. Não posso falar pelo Ng Kuok, nem saber o que é que ele vai fazer, mas acredito que ele assuma a postura do “os jovens são mais revolucionários, vamos ter paciência”. Ele é assim, eu não. TA11

Voltando aos jovens e à política. A sociedade jovem de Macau está mais atenta ao mundo político? Tem espírito critico?
Existem duas questões importantes. A primeira é a análise do caso de Hong Kong. Depois da transição daquela região para a China, as condições de vida da população piorou em alguns aspectos. Isto fez com que a sociedade, e principalmente os jovens, começassem a lutar por aquilo a que já tiveram direito e deixaram de ter. Assim se justifica os movimentos dos jovens na política, a sua participação é bem maior, o ambiente é diferente. Os jovens sentem-se prejudicados e isso leva-os a sair à rua. O mesmo não aconteceu com Macau. Com a transição passámos de aldeia para grande cidade internacional e a oferta e as condições de vida para os jovens melhoraram muito. Ganharam coisas que não tinham, claro que isto os fez considerar não ser importante a vida na política. Porque o Governo resolve e dá.

Relativamente ao assédio sexual. Apresentou um projecto para legislar que acabou por ser chumbado na generalidade. O maior argumento foi a intenção do Governo em alterar o Código Civil, estando para isso a decorrer uma consulta pública. Acha que é algo que vai acontecer no imediato? Como olha para este chumbo dos deputados?
Lamento imenso que o projecto tenha sido chumbado. Acho que a consulta pública é algo que poderá durar muito mais tempo daquilo que é suposto. Este é um assunto que merece a nossa atenção no imediato. Não podemos esperar, sem saber quanto esperar. Considero que devemos legislar o assédio sexual primeiro e só depois entrar em outros pormenores. A consulta pública do Governo é muito extensa, tem muitos detalhes, abrange outras problemáticas. Isto vai dar muito trabalho, um processo que pode demorar muito tempo. Enquanto isso o assédio sexual não está legislado. Isto é um erro.

Sobre a habitação pública, Au Kam San defendeu que o Governo “favorece o sector imobiliário” através do regime – de sorteio – de atribuição dos imóveis. Acredita que um regime de pontuação seria mais transparente?
Na habitação pública a questão dos solteiros levanta muitas dúvidas. Este tipo de candidatos não sabe quando é que pode ter as suas casas, e sem oferta suficiente os candidatos são obrigados a comprar os imóveis ao privado. Isto está claramente a oferecer o sector do imobiliário. Há um benefício. Concordo com o capitalismo, mas neste caso, em que o mercado do imobiliário não está saudável considero ser necessário implementar um regime transparente, claro, como o regime de pontuação. É preciso um ajustamento do Governo no que se refere ao mercado do imobiliário.

A polémica questão dos terrenos e das suas concessões. Para si a Lei de Terras está errada? Foi aprovada “à pressa”?
Para mim a Lei de Terras não é errada. As falhas que têm não colocam em causa o seu objectivo. Só existem pequenas coisas que podem ser melhoradas. Antes desta nova lei ser aprovada a questão dos 25 anos de aproveitamento já existia, portanto não é uma falha da nova lei. Para mim, a culpa desta grande polémica como é o caso do Pearl Horizon é das concessionárias. Eles sim erraram quando de forma liberada não informaram os compradores da situação em que as construções estavam. Enganaram. As concessionárias enganaram os compradores. Além disso, as agências imobiliárias e os advogados – aquando as assinaturas dos contratos – deviam, e devem, avisar os investidores em que situação se encontra a construção. Para que os compradores fiquem alertados. TA08

Mas também o deputado já apresentou algumas críticas ao Governo…
Sim, tenho, mas também não posso negar que o Governo tem uma postura de abertura quando publica todas as informações possíveis nos sites. O que considero errado é a apreciação dos documentos, ou seja, o Governo diz muitas vezes que pelos processos estarem em tribunal não pode falar, eu acho que pode e devia falar. A decisão do tribunal não está directamente ligada com o caso, ou seja, não afecta mais ou menos se o Governo explicar detalhadamente cada caso. Nos casos como o Pearl Horizon, o Secretário para dos Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse, esta semana na Assembleia Legislativa que não pode avançar mais informações. Eu acho que pode e devia. Já chega do “não vamos comentar”.

Pediu ainda esta semana, para o Governo avançar com um estudo sobre o desenvolvimento da economia e a sua diversidade. O Governo não se mostrou convencido..acha que o vai fazer?
O Governo quer criar condições para diversificar a economia, estamos muito presos ao sector do Jogo. Isso não é bom. Acho que devemos apostar, mas saber no que apostar, e por isso é preciso estudar, fazer um estudo sobre quais os sectores em que o Governo devia apostar para atingir a diversidade. Fiz a pergunta ao Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esta semana. Mas não acredito que o Governo faça este estudo, ele diz que está a tentar apostar e é a sua preocupação. Mas não acho que o estudo faça parte dos seus planos.

O grupo criado por si, Iniciativa para o Desenvolvimento da Comunidade de Macau, nasceu sem cunho à política. Agora, que tem mais tempo para se dedicar a esta associação, ganhará ela uma função mais política?
Não, a associação continuará sem estar ligada à política. Não terá essa função política. O que ela vai promover é a sociedade civil. Terá um trabalho de mais atenção aos assuntos comunitários, às necessidades das pessoas, da sociedade. Agora poderei dedicar-me mais ao trabalho desta associação e ao trabalho também do escritório como deputado, mas são coisas que não se misturam. É importante saber que eu criei esta associação ainda envolvido na ANM. A verdade é que esta última estava a dedicar-se profunda e quase exclusivamente a questões políticas, era tudo nesta área. Achei que estava em falta a área cívica. Por isso é que esta associação foi criada, para colmatar essa lacuna.

E agora, o futuro?
Agora vou-me dedicar mais ao atendimento no escritório de deputado.

Candidatar-se-á nas próximas eleições para a AL?
Pode ser que sim, mas também pode ser que não. (risos). A questão é que estou num momento de conflito interno. Há 20 anos candidatei-me pelo lado pró-democrata, ainda era jovem. Agora no próximo ano, faço 60 anos, estou seriamente a pensar muito na minha família. Já não sou o jovem que era. Talvez esteja na altura de passar mais tempo com a minha família. Tanto eu como o Ng Kuok Cheong estamos numa situação decisiva. Por exemplo, não sei se o Ng Kuok Cheong se vai candidatar, talvez se os jovens assumirem uma candidatura ele se mantenha apenas como orientador nos bastidores, sem se candidatar. Não sei, tenho de pensar.

10 Fev 2016

Habitação | Aproveitar o “obsoleto” pode ser solução, diz especialista

Mais habitação, mais prédios nos novos aterros, um novo tipo de habitação, são inúmeros os pedidos que cheguam ao Governo. Famílias em longas filas de espera, jovens que não conseguem suportar os preços de um empréstimo para habitação. A solução poderá passar, aponta arquitecto, no reaproveitamento dos bairros antigo, com forte acesso ao crédito

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] habitação reina quando Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas se desloca à Assembleia Legislativa (AL). Mesmo sem ir, já se perdeu a conta ao número de interpelações sobre habitação, e a necessidade da mesma, apresentadas pelos deputados. É inegável a problemática e a preocupação da sociedade para com o assunto.
É pedido ao Governo mais habitação, mais lotes e edifícios que acolham famílias, jovens ou não, que tanto esperam pelo seu espaço. “Antes de pensarmos em construir mais, porque não pensamos em gerir o que temos?”, assim começou por defender Mário Duque, arquitecto, em declarações ao HM.
“Muita da habitação social existente assenta em standards de fogos que hoje a população de Macau poderá considerar demasiado exíguos, mas que são perfeitamente ajustados para jovens ou para jovens casais, que mais tarde poderão optar por outras habitações por alteração dos seus recursos ou agregado familiar. Tal habitação só precisa de ser reciclada em vez de ser simplesmente declarada obsoleta tal como aconteceu com o Bairro Fai Chi Kei, que lamentavelmente foi demolido apenas por essas razões”, apontou o arquitecto.
“Há coisa obsoletas que podem ser reutilizadas sem ser necessário o envio de esforços em coisas novas, deixando as obsoletas sem solução”, apontou, sublinhando que dentro do parque imobiliário existente em Macau, “há forma” de reciclar o que existem “em função de novas necessidades”. Característica de grandes metrópoles, como por exemplo Nova Iorque.

Mudar o rumo

Em termos práticos, uma das soluções da questão da habitação poderá passar por aproveitar prédio antigos e, também. por criar condições bancárias para que os interessados em imóveis reaproveitados tenham acesso a crédito, não de 50% como acontece actualmente, mas de 100%, como se de um imóvel novo se tratasse.
“Com dispositivos é possível haver uma regulação entre estas entidades privadas [bancos] e as iniciativas públicas, encontrando produtos financeiros que sirvam aquilo que evita que o Governo tenha de fazer mais habitação pública para determinado estrato social ou grupo etário”, defendeu. São estas possíveis mudanças que com uma “ligeira regulação governamental é possível aferir”, defendeu.
A “revitalização e ocupação” dos bairros antigos – mesmo com as suas condições de construção – iria ser uma iniciativa que poderia beneficiar Macau e o interesse da população jovem. Muitas destas habitações, construídas nos anos 50 e 60 “têm melhores condições que muitas das que foram construídas depois”.

Realidade local

As soluções do arquitecto abrangeriam tanto a habitação pública como social. No entanto, quanto há questão da habitação dos jovens há um ponto importante a ter em conta. “Associado ao modo dos jovens habitar, prendem-se muitas questões relacionadas com desenvolvimento humano”, apontou. O arquitecto explica, ao HM, que é também preciso ter em conta a “realidade local”. Há, explica, muitas famílias em que os pais, apesar de serem proprietários de vários imóveis, preferem manter os filhos em casa e arrendar os seus imóveis com rendas elevadas. Os jovens de Macau vivem para “além da inconsciência”, mantendo-se em casa dos pais durante muito mais tempo. Culturalmente, aponta, os pais preferem que os filhos fiquem mais tempo em casa. É a “cultura local” que é preciso ter “muito em conta”, rematou.

10 Fev 2016

Hélder Beja, sub-director do Rota das Letras: “Vamos ter Bocage neste festival”

Com mais autores de língua inglesa, a quinta edição do festival Rota das Letras mostra que a internacionalização é o caminho a seguir, bem como o reconhecimento aos clássicos autores chineses e portugueses. Hélder Beja garantiu que, a par de Camilo Pessanha, também Bocage será recordado

[dropcap]U[/drocpap]ma ideia pensada desde o inicio transforma-se cada vez mais em realidade. A quinta edição do festival literário Rota das Letras começa também a pensar nos autores ingleses vindos de vários lugares do mundo e com diversos tipos de escrita. Jane Camens, da Austrália, Bengt Ohlsson da Suécia e Jordi Punti de Espanha são alguns dos nomes que provam isso mesmo. Pelo meio, Macau vai receber dois poetas filipinos, Ângelo R. Lacuesta e Mookie Katigbak Lacuesta, por forma a responder a uma das maiores comunidades aqui residentes.

Ao HM, Hélder Beja, sub-director e programador do festival Rota das Letras, fala de um encontro que se irá pautar ainda mais pela diversidade de palavras e de ideias. “Ao fim de duas edições começámos a perceber que era o que fazia sentido, avançar para um modelo que fosse ao encontro dos autores de língua chinesa e portuguesa, mas que se estende a outras nacionalidades”, disse em entrevista.

“Queremos posicionar o festival como sendo verdadeiramente internacional, para conseguirmos estar a par de outros festivais e fazer parcerias. A ideia de responder a outras comunidades existe, mas não é a dominante. Queremos trazer autores de outras proveniências e tornar o festival cada vez mais rico”, apontou Hélder Beja.

Para fazer esta edição, a direcção do festival decidiu desafiar Rui Zink e Lolita Hu, autores convidados de anteriores edições, para serem “padrinhos” e escolherem alguns escritores. Foi Rui Zink, por exemplo, que propôs o nome de Bengt Ohlsson.

“Vamos abrir a discussão a outras nacionalidades e a outras literaturas, que também são bastante ricas. Na Europa do Norte são mais conhecidos pelos trillers, por exemplo, e isso pode ser um processo importante para Macau”, garantiu Hélder Beja.

Parcerias a caminho

Se no início caminhava sozinho para construir um evento que une várias culturas, hoje o Rota das Letras é cada vez mais contactado por outras entidades do meio literário para parcerias e participação de escritores. Foi o que aconteceu com Jordi Punti e Owen Martell, por exemplo. “É uma coisa que nos vem acontecendo cada vez mais, e são solicitações que não implicam investimento da parte do festival. Com diferentes nuances conseguimos encontrar uma forma inteligente de internacionalizar o festival, sem queimar muitos recursos”, explicou o sub-director do evento.
Do lado luso, o destaque vai para Matilde Campilho, a jovem autora que foi a que mais livros vendeu no Festival Literário do Paraty, no Brasil. Nascida em Lisboa, Matilde viveu no Rio de Janeiro e os seus poemas ousam misturar palavras em inglês com o português de Portugal e do Brasil.

“Antes de ela ter o brilharete em Paraty já tínhamos pensado nela. Quando as notícias do Paraty saíram, tomámos uma decisão. Há uma nova geração de poetas da qual ela é apenas uma das representantes, mas acho que faz sentido. Ela é a grande estreia da literatura dos últimos anos”, confessou Hélder Beja.

Apostar nos clássicos

A quinta edição do Rota das Letras vai recordar Camilo Pessanha, autor intimamente ligado a Macau, com a presença de Paulo Franchetti, Daniel Pires e Pedro Barreiros, académicos que estudaram os poemas de Pessanha. Mas a ideia é lembrar também o poeta português Bocage.

“Bocage esteve em Macau e estamos a preparar alguma coisa, que vamos avançar em breve. Vai haver Bocage neste festival”, garantiu Hélder Beja.

Lembrar os clássicos será uma nova aposta do Rota das Letras. “Não pensamos em fazê-lo todos os anos, mas quando houver um motivo muito óbvio iremos fazê-lo. O festival tem de ter esse papel, mas temos de trazer para o presente autores que estiveram em Macau ou que têm uma relação com Macau, e que estão um pouco caídos no esquecimento. Vamos fazer esse trabalho para o Pessanha e Bocage, por exemplo, mas também para outros autores de língua chinesa”, disse o sub-director.

Luís de Camões, autor também ligado a Macau, será também recordado com o espectáculo de António Fonseca, que fará um monólogo com os poemas de Os Lusíadas. “O festival volta às artes de palco, o ano passado não teve em português, este ano vai ter com um monólogo. É notável poder ver um homem que decorou os Lusíadas todo. Acho que vai ser um momento bonito deste festival”, considerou.

O regresso ao Fado

Depois dos concertos de Camané e Aldina Duarte, a direcção do Rota das Letras sentiu que tinha de regressar ao tradicional Fado, com a presença de Cristina Branco. “Tínhamos de voltar ao Fado, e em cinco edições vamos ter três com Fado. O maior desafio é inovar, mas também diversificar. Do lado chinês tivemos uma movida mais jovem o ano passado, mas para o ano podemos trazer de novo um rapper ou um cantor de intervenção, por exemplo”, referiu.

Prestes a estabelecer uma parceria com o Festival Literário Internacional de Hong Kong, o Rota das Letras cada vez mais atravessa fronteiras, mas ainda não atingiu a desejada maturidade. “Ainda há muito para fazer, acho que o festival caminha para a maturidade, mas ainda não chegou lá. O festival precisa de uma estrutura que acompanhe o festival ao longo do ano, ainda mais profissionalizada”, rematou Hélder Beja.

10 Fev 2016

José Tavares, presidente do ID: “Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos”

O Instituto do Desporto está a entrar numa nova fase. Herdou actividades e estruturas do IACM e a organização do Grande Prémio de Macau e está decidido na aposta na alta competição. Uma conversa onde o presidente do organismo, José Tavares, pede mais iniciativa aos privados, chama os casinos à responsabilidade e sonha com o desfile olímpico

Como está o desporto de Macau?
Completamente diferente. Estamos na terceira fase de desenvolvimento.

Que fases são essas?
A primeira foi o longo percurso desde a fundação em 1987 para internacionalizar as associações locais. A segunda, os jogos e o investimento na formação de pessoal e construção de instalações. A terceira é esta: o pós-jogos, o legado. Com a nova rede de instalações pudemos dar acesso ao público pela primeira vez e não apenas a associações como antes.

Como se consubstancia esta terceira fase?
Elevar o Desporto Para Todos, completamente esquecido na fase jogos e trabalhar a sério o desporto de alta competição. No fundo, encetámos uma política de desenvolvimento desportivo e de sensibilização do público para a prática desportiva e o prazer de assistir a provas. Algo que falhou no período dos jogos. No futuro, se quisermos ter sucesso em organizações desportivas, temos de ter público.

O Instituto adquiriu recentemente novas competências. Que significado têm?
Representam uma oportunidade para reestruturar, para evoluir. Tínhamos três departamentos: financeiro, desenvolvimento desportivo e instalações, hoje temos cinco. Adicionámos o Centro de Formação para atletas e o Departamento de Grandes Eventos que engloba o Grande Prémio e os outros eventos que já organizamos. De resto, herdámos do IACM várias piscinas e quintais desportivos, o Fórum de Macau e o desporto de lazer.

O que significa esta reestruturação?
O desenvolvimento de atletas de elite e maior atenção ao Desporto Para Todos que são desenvolvidos em paralelo para alargarmos a base de recrutamento.

E qual é o papel do departamento de desenvolvimento desportivo?
Passa a dar mais importância ao dia a dia das associações, aos campeonatos locais e ao desenvolvimento do Desporto Para Todos.

E o de alta competição?
Passa pela formação de atletas, que já está em operação, e o centro de estágio que será fundamental neste enquadramento.

Para quando podemos esperar esse centro?
(sorri) Vão ter de perguntar às Obras Públicas. A obra pode demorar uns três anos mas o projecto já está para aprovação na DSSOPT há outros três. Aguardamos…

Onde é que vai ficar localizado e como vai ser?
O centro vai ficar perto do Dome e terá acomodação para 350 atletas. Vai ter dormitórios, quartos privados para treinadores, cantina e o centro de medicina desportiva passará também para lá.

Qual foi a base de estudo para a sua concepção?

Foi entre o ID e a Universidade de Pequim, que é um dos grandes centros de treinos na China. Mas também fomos a Singapura e a Hong Kong recolher informações. Depois ajustámos à nossa dimensão.

Qual o principal objectivo do Centro?
Um dos objectivos fundamentais é a formação específica para atletas de elite com condições para chegarem ao topo das competições internacionais.

E que modalidades serão privilegiadas?

Numa primeira fase wushu, karaté e taekwondo pelos bons resultados. Depois as outras modalidades e quem pretender um programa de treino intensivo, além do treino das selecções e a oportunidade de trazer atletas de nível internacional para estagiar e assim aumentar o nosso nível.

Qual a necessidade de prover alojamento para os atletas locais?
Há muitos vícios. Não levam a prática a sério, não levam a vida que um atleta deve levar e nós queremos adaptá-los a um ambiente de treino sistemático, com alimentação regrada e hábitos de treino.

O Grande Prémio de Macau está agora nas vossas mãos. Sentem-se preparados?
Temos uma “pool” de recursos humanos do mais especializado que há; os que vieram do antigo gabinete do Grande Prémio e os que já cá estão e que beneficiaram do tal processo de formação que levou aos jogos. Tenho a certeza que o 63º Grande Prémio vai ser um grande sucesso.

E a imprensa? Há várias queixas do tratamento no Grande Prémio…
Já tomei nota. Vocês vão ver as diferenças. Eu sei que as instalações são insuficientes mas o tratamento vai ser diferente. De facto, o assunto estava maltratado. Logo a começar pela alimentação. Quem ali trabalha o dia todo precisa de outro de tipo de apoio. De resto, estamos receptivos a sugestões.

A integração no Comité Olímpico Internacional é um assunto encerrado?
Não. Tem de ser trabalhado constantemente mas em “low profile”. O antigo presidente fechou-nos a porta mas esperamos que este tenha outra visão das coisas. Parece mais aberto do que o anterior pelo que não devemos perder a esperança. Em que termos, vamos estudar. Membros efectivos ou não, é pouco importante. O que queremos é participar nas provas. Ainda acredito no dia em que vamos ver os nossos atletas na marcha Olímpica.

E quanto à organização de grandes provas internacionais como os Jogos de 2005? Há planos nesse sentido?
Tudo é possível. Mas não há planos. Como sabem, há menos eventos desse género. Os Jogos da Ásia Oriental desapareceram e depois que sobra? Para os Jogos Asiáticos não temos estrutura, nem vamos ter. Para fazer o mesmo não vale a pena. Tem de ser algo com mais impacto. Estamos atentos a eventos que Macau nunca tenha organizado.

De que tipo?

Provas de modalidade única. Um campeonato de atletismo, provas em recinto coberto como voleibol, basquetebol… temos tantos pavilhões.

Há planos?

Não há planos. Da nossa parte, claro que não há planos. As associações têm de desenvolver os processos de candidatura, não nós. O ID apoia mas as associações têm de ter a iniciativa. As pessoas ainda estão no processo do ID ter de fazer tudo… mas hoje em dia não é assim. Nós não nos podemos substituir às associações.

Há falta de iniciativa das associações?
Numas sim, noutras não. Mas temos de ser claros: qual é a associação de Macau com capacidade para organizar um mundial? Nenhuma, ou muito poucas.

De Futsal?…
Pode ser, já organizámos o asiático mas depois a associação não pegou mais no assunto. Também lancei a proposta ao Venetian, a ideia de organizar um Troféu Mundial por convites…

E o que aconteceu?

Ninguém acreditou no projecto. Podia ser a nossa versão do Rugby 7. Um evento destes no Venetian? Durante três dias?… Ia ser uma festa.

Porque não se faz no Dome?
Pode ser mas alguém tem de ter a iniciativa, não nós. As pessoas têm de mudar a cassete. O Instituto tem mais que fazer. Primeiro devemos salvaguardar os interesses locais: promover o desporto para todos e a saúde pública que antes não fazíamos. Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos. Os tempos mudaram, a política mudou. Podemos incentivar a associação e já o fizemos. Falámos varias vezes com vários responsáveis do Venetian e ninguém quis saber… Isto é um evento caro e não pode ser sempre o Estado a pagar tudo.

Mas os casinos dizem que já pagam os impostos…
Não é bem assim. Está no contrato. Para além dos 40% eles sabem que têm de promover a diversificação do entretenimento. E vai ser um assunto a ter em conta para a renovação dos contratos. Por isso, no caso do Venetian, eles não param de fazer eventos. Mas depois sai boxe… Eu até percebo… tem impacto em Las Vegas mas para nós pouco diz. Eles têm de fazer um “branding” para Macau. Têm um pavilhão de 15 mil lugares… maior do que o Dome.

Por falar em Dome, podemos chamá-lo de elefante branco?
Não. Está a ser usado. Há muitas modalidades a treinar lá.

Mas não é uma instalação cara demais para treinos?
Quando se construiu pensou-se na festa, não no futuro. Bem pensado e tinha características de multiusos mas não foi o caso. Tivemos de o adaptar para treinos, temos bancadas que só atrapalham… mas é muito importante para Macau como para acolher as celebrações da passagem de soberania a cada cinco anos.

Quanto custa manter o Dome por mês?
Cerca de um milhão.

Não é dinheiro a mais para festas e treinos?
A manutenção de instalações é sempre cara. No caso, a festa de cerimónia de passagem de soberania necessita de um mês de preparação. Quanto custaria alugar o Venetian durante esse período? Macau precisa de um lugar para estes eventos sem pedir favores a ninguém. Além disso, não são apenas treinos, também é utilizado pelo público.

E a pista de gelo?
Está arrumada. Não serve. Foi uma má ideia. A humidade gerada ia dando cabo da estrutura e tivemos de parar. Para além disso, imagine, cá fora estão 40 graus e a pista tem de estar a menos cinco. Só para baixar a temperatura do espaço era um consumo de energia absolutamente incomportável.

Como avalia o legado de Manuel Silvério?
Foi um dos pioneiros na criação do ID e liderou o desenvolvimento desportivo até chegar a presidente. Trouxe os jogos da Ásia Oriental e preparou-nos. Deu um grande contributo até aos jogos. Mas depois as coisas seguiram noutro sentido por causa do vazio que referi na área do Desporto Para Todos.

Com o Grande Prémio surgem também a os subsídios dos pilotos locais. Existem queixas sobre a ponderação de resultados, argumentando que valorizar o GP em 60% por contrabalanço com as provas internacionais é demais. Qual a sua posição?
Primeiro ponto: os pilotos têm de perceber que a prova mais importante tem de ser a de Macau. O subsídio vem de Macau. A carreira internacional é uma actividade profissional…

Mas o piloto pode ter azar…
É um subsídio. Tem normas. Foi discutido pelas partes envolvidas na decisão. Os pilotos têm de demonstrar que são bons nesta prova. Nós somos o único governo no mundo a apoiar pilotos. Até acho que estamos a dar demais. Um piloto leva um milhão, dois… e os outros? Há atletas que suam todos os dias e não levam tanto. O desporto automóvel é um luxo e eles têm de perceber que não são a prioridade. Podemos discutir os 60% e passar a 50 mas uma coisa é certa: o GP de Macau vai ter de continuar a contar mais do que as outras provas.

Há cada vez mais interessada na prática de Skate. Onde estão as rampas dos Asiáticos Indoor?
Não sei. Nalgum armazém, mas também não teríamos um espaço para as montar. De facto, há para aí uma dúzia de pessoas que estão interessadas e vieram falar connosco. Dissemos-lhes para montarem uma associação mas nunca mais apareceram, não querem assumir. Têm de ser os privados a regulamentar a actividade, não somos nós. Estamos dispostos a apoiar mas tem de haver iniciativa.

E quanto à ginástica. A China tem das melhores atletas do mundo. Também se diz termos equipamento arrumado algures.
Não é bem assim. Foi adquirido para a inauguração do fórum e foi sendo utilizado em diversas ocasiões, mas hoje está desactualizado.

Há planos para desenvolver a ginástica ?
Há cerca de três anos, o deputado Si Ka Lon, que está à frente da Associação de Ginástica, veio falar connosco pois queria dar um grande impulso à modalidade. Achámos muito bem – mas atenção porque quem dá a formação básica, à ginástica infantil, somos nós – e dissemos que poderíamos continuar a assegurar a base mas o resto teriam de ser eles. Concordou. Nessa altura ainda tínhamos a esperança de contarmos com pavilhão de Mong Há – não veio a acontecer por razões que são públicas – e propusemos-lhes que arranjassem um espaço. Disse-nos que ia tentar um num edifício industrial e nunca mais apareceu.

E o ID apoiava o aluguer do espaço?
Claro que sim. Comprometemo-nos a pagar o aluguer.

Para que vai servir o Fórum?
Este ano herdámo-lo com alugueres já marcados até Novembro. Depois vai servir para dar condições mais dignas às competições de andebol, voleibol e basquetebol que têm falta de espaços.

Os clubes de futebol queixam-se de falta de condições, do mau estado dos campos, sugerem a substituição dos relvados por sintéticos. Qual a vossa posição?
Estamos a propor à Universidade de Macau a criação de um novo relvado sintético e a negociar o relvado que eles já detêm mas, no caso deste, parece-me que só nos vão dar durante algumas horas porque também precisam dele.

E substituir os relvados por sintéticos?
Não. Como dirigente desportivo não posso defender isso. Temos de os preservar. Se quisermos ter aqui um jogo a sério com equipas internacionais temos de ter relvados. Criar novos relvados artificiais, isso sim, estamos a tentar.

Há clubes que entendem não se justificar tantas divisões no futebol. Faz sentido reduzir?
Um certo sentido. Já houve redução há uns 15 anos atrás. Mas se cortarmos a 3ª divisão estamos a marginalizar a maioria dos jogadores. Se calhar até são os que vão ver os jogos.

Porque é que as equipas de futebol de 11 têm de participar na bolinha para acederem ao futebol de 11?
Isso vai ter de perguntar à associação.

E fará sentido integrar campeonatos de Macau nos da China?
Seria um erro político. Os nossos campeonatos são reconhecidos pelas organizações internacionais, portanto não faz sentido deixarmos os nossos campeonatos para participarmos nos dos outros.

Que legado gostava de deixar no desporto de Macau?
Estruturas de apoio aos atletas. O primeiro programa que lancei foi o de apoio aos atletas de elite e de formação para os profissionais reformados para que eles possam dedicar-se ao desporto com um plano de retirada. Neste, inclui-se formação académica integral com pagamento de propinas (100 mil patacas) para além da manutenção do subsídio mais alto como atleta profissional enquanto durar o período de formação académica.

Qual o seu desejo para o desporto de Macau ?

Que os nossos atletas tenham as mesmas condições que os lá de fora. O plano de apoio para os prémios, por exemplo, mudou. Foi elevado para o dobro, mudámos o escalonamento e equipáramos os prémios entre paralímpicos e os outros. Outra novidade é que os atletas medalhados podem nomear não apenas o seu treinador, que já recebia, mas também os da formação que os ajudaram na sua evolução.

As pessoas de Macau gostam de desporto?
Gostam mas há falta de espírito de sacrifício. Eu vejo os atletas de Hong Kong com sucesso porque dão tudo, porque se sacrificam, mas os nossos, às vezes, desistem a meio. É o ambiente da terra, o facilitismo.

4 Fev 2016