Isabel Lopes: “Acredito que a nossa língua, por si só, já está internacionalizada”

Isabel Lopes chegou ao Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa e vê no ensino do português em Macau um desafio imperdível. Confirma haver diferenças na aprendizagem da língua por chineses no mundo, sublinhando que há mais motivação na China do que na RAEM. O Acordo Ortográfico, defende, não é “o desastre”, mas também tem defeitos

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omo é que surgiu a oportunidade de vir para Macau integrar o Centro e dar formação de Português como língua estrangeira?
Convidaram-me para integrar a equipa do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa e aceitei imediatamente, por várias razões. Era, desde logo um desafio irrecusável por ser relevante e importante em termos profissionais. Há muito que estou ligado ao ensino do português como língua não-materna e linguista e tudo isto era um novo desafio, vivenciar um momento histórico, que é o que está a acontecer nesta altura na China, esta procura pelo português.

Em que medida considera essa procura importante, tanto para Macau como para Portugal?
A procura do português na China tem, naturalmente, uma razão funcional e instrumental de mercado, mas não vejo nisso um mal. Obviamente que tem consequências, quando levado a um extremo, mas o conhecimento de uma língua transforma-a a si própria numa expressão de cultura. Como linguista, entendo que a língua não se ensina na sua estrutura apenas, mas também enquanto cultura. Quem fala disto, fala de literatura e de tudo o resto que é expressão.

Mas na China, a questão da cultura fica um pouco aquém, já que não é possível experienciá-la…
Depois de conhecer uma série de instituições de ensino superior na China, de dar formação a professores de português [chineses] que estão na China, tenho vindo a destruir essa ideia, sobretudo porque eles querem também saber questões relacionadas com cultura e vivência do dia-a-dia, não só dos portugueses, mas também dos angolanos e dos brasileiros. Gostam e pedem que falemos de questões relacionadas com a literatura desses países lusófonos. A ideia que se passa não é tão certa como se pensa. Há uma procura pelo português que realmente acontece por razões meramente instrumentais e económicas, mas – e a história prova-o – ao aprender uma língua, nasce muitas vezes a motivação para saber e entender a cultura que lhe está associada. Os professores da China estão, neste momento, também a procurar esses conhecimentos.

Porque é que acha que isto acontece?
Pessoalmente, porque muitos dos professores tiveram uma formação em Portugal e neles há a vontade de conhecer outras culturas lusófonas e isso é nítido. Estivemos recentemente em Xangai e os professores de lá solicitaram-nos informações sobre o que se passa no Brasil, em Angola, até mesmo em termos linguísticos… É muito interessante ver como é que eles bebem essa informação.

Também foi professora de português como língua não-materna na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Quais são as grandes diferenças entre ensinar alunos com as mesmas características, em dois locais distintos?
É muito diferente e essa é uma das reflexões que mais tenho feito. De facto, ensinar português como língua estrangeira em Portugal cria-nos desafios muito diferentes daqueles que cria ensinar o mesmo aqui e na China, onde também há diferenças. Um aprendente de língua materna chinesa que esteja em Portugal está em contexto de imersão, o que não acontece com os alunos da China continental e no primeiro caso, há um ambiente e uma necessidade que não se verifica estando em Xangai ou Pequim, onde o contexto se resume ao tempo da sala de aula.

Considera que a aprendizagem em Macau ou na China é mais difícil do que em Portugal?
A minha experiência diz-me que há, por parte dos alunos, uma atitude diferente perante a língua estando na China ou em Portugal. Não tenho uma resposta final para a pergunta, porque estou cá há pouco tempo e tenho a experiência de Portugal, que era, confesso, cheia de estereótipos. Em Coimbra tive muitos alunos estrangeiros, nomeadamente chineses e revelavam-se diferentes, sobretudo por interagirem mais entre eles e não tanto com outros alunos. Aquele contexto de imersão que eu achava total, afinal não o era, mas sim parcial. A grande diferença é o contexto de imersão, mas a motivação que tenho visto nos alunos que aprendem no continente é notável. É incrível como é que alunos que estão fora do contexto de imersão, conseguem uma proficiência em português absolutamente extraordinária. 21815P2T1

Que papel desempenha a motivação no contexto da aprendizagem?
A motivação é fundamental na aprendizagem das línguas e há uma tradição de estudar na cultura chinesa, pelo que [estes alunos] conseguem saber a estrutura da língua portuguesa na ponta da língua. Acredito até que estes alunos [da China] conseguem atingir níveis mais satisfatórios até do que os que estudam em Macau. A ideia de arranjar um emprego está muito vincada na China e o curso de português em algumas universidades chinesas é mesmo considerado um “Curso de Ouro” por ser o passaporte para um “emprego de Ouro”.

Macau tem vantagens enquanto local de estudo face a cidades da China, por ser um local que junta as culturas portuguesa e chinesa?
Aqui temos um ambiente em que a televisão e os jornais são em português e a língua forma ícones e anda nas ruas, como o património edificado. Isto facilita uma apreensão mais global da língua e da cultura, mas o facto do Português não ser [no ensino secundário] uma língua obrigatória faz alguma diferença.

Há quem defenda que o português pode vir a ser internacionalizado como é o inglês ou como já foi o francês. Concorda?
Acredito que a nossa língua, por si só, já está internacionalizada, com 250 milhões de pessoas a falarem-na no mundo. Tem um capital histórico e simbólico associado em todos os continentes e tem vindo a promover um factor curioso: a China e quem trabalha com a língua portuguesa está a contribuir para essa internacionalização, até em termos do português em termos língua de Ciência. Num dos fóruns em que estivemos recentemente a qualidade das comunicações foi muito elevada e foram feitas em português e versavam sobre isso, por professores chineses de português. O que ali aconteceu foi a internacionalização da língua portuguesa enquanto língua de ciência.

Passou então de um patamar do quotidiano para a Academia…
Exactamente. Acho que a língua portuguesa vai ganhar muito com esta geração de professores chineses que falam em chinês, investigam e desenvolvem teses sobre o português. No nosso portal Ponto de Encontro, organizei uma bibliografia à medida que as coisas vão nascendo e crescendo. Neste momento, temos compiladas 201 referências bibliográficas, grande parte sendo estudos de professores chineses.

Considera que a longo prazo, o português poderá vir a ser uma das principais línguas da Ciência?
Acredito que tem essa capacidade, mas naturalmente o inglês tem, no seio da comunidade científica, tem muito mais expressão. É importante é perceber que também já se faz Ciência e investigação em português.

Chegou há pouco mais de um ano. Que diferenças nota entre o ambiente do Ensino de Portugal e de Macau?
Acredito que Macau está no bom caminho para se assumir – e talvez seja uma ideia arrojada – como terceira economia no sector do ensino superior. Ou seja, pode tornar-se, se o caminho que está a ser trilhado der efeitos, numa região de Educação de excelência. A própria Universidade de Macau e a sua dimensão permitem-no, o IPM tem tido um trabalho extraordinário no domínio da língua portuguesa, sem esquecer a abertura do novo curso de Relações Comerciais entre a China e os Países Lusófonos… O presidente do Centro [Lei Heong Iok] vaticinava em 1984, ainda como técnico superior da DSEJ, aquilo que está a acontecer, dizendo que o Português era preciso. Foi quase como uma profecia. Há é necessidade de criar uma estrutura para acolher esta procura do português, mas também de outras áreas. Diria é que o Português é uma marca de Macau, que pode permitir criar a tal plataforma que se quer. Existem aqui todas as condições para transformar Macau num centro de Ensino Superior de excelência. Julgo que a criação dessa plataforma tem mesmo pernas para andar, até porque de acordo com dados do GAES, há um aumento de 5% na procura de cursos em instituições de ensino superior locais. Isto mostra que é preciso investir no ensino em Macau, até porque faz sentido para a China.

Considera que há recursos humanos suficientes?
Penso que estão a ser adquiridos, com a vinda de vários professores e as formações. Aqui no Centro temos vários professores doutorados e, ao contratar pessoas de fora, está a fazer-se um investimento. É um caminho de crescimento que não se faz, claro, sem dores de crescimento, mas faz efectivamente parte da estratégia do Governo local e da China. Haverá coisas a melhorar, mas há uma vontade assumida de evoluir.

Que coisas podem melhorar?
O caminho está a ser seguido essencialmente para o ensino superior, mas se formos para o ensino secundário, é diferente. O ensino superior é um reflexo do secundário e os alunos que chegam ao ensino superior para aprender português sem terem tido bases antes, vêm, naturalmente, com um défice.

Faria sentido estender o ensino do português para o secundário?
Essa é uma questão para os dirigentes porque é mais política. Nós, enquanto professores e especialistas, podemos dizer que se houvesse escolarização em português, os alunos teriam muito mais facilidade em fazer um curso de ensino superior.

Tem formação e experiência em Linguística. Como é que vê a questão do Acordo Ortográfico e a sua expressão na aprendizagem do português?
Essa é uma questão quente. Tenho um livro publicado sobre isso, que não toma uma posição, mas explica as mudanças que aconteceu no Português Europeu. Confesso que não consigo ver o Acordo como “o desastre” de Vasco Graça Moura, mas também não sou uma pessoa que ache que tudo nele faz sentido. Tenho uma visão de linguista nesta questão: ninguém conseguiria hoje ler Camões nem Eça de Queirós nas suas versões originais. A língua é um organismo vivo e evolui na medida em que é usada, portanto há momentos em que é preciso não uniformizar, mas sim “pôr ordem na casa”. A evolução da língua mostra-nos que não é “um desastre” e sei que é uma questão polémica, mas gosto de dizer aos meus alunos, principalmente na China, que o Acordo trouxe benefícios. Ainda não conseguimos é ter abertura suficiente para os vermos, porque temos uma relação afectiva com a língua. Esta passa pelo lema de que “a língua que eu aprendi é que é boa”. Tudo o que venha perturbar esta relação é, de alguma forma, ferir a susceptibilidade. Há muita falsa informação, até porque muitas vezes surge, nos meios de comunicação portugueses, “facto” sem C, quando este não cai. Em todo o caso, acho que o Acordo tem várias virtualidades. Há quem diga que é uma questão política ou económica… Para mim é uma questão em que vale a pena pensar de forma desapaixonada. Caso contrário, caímos em extremos.

Em 2049, Macau passa a ser oficialmente parte da China, pelo que estamos ainda num período de transição. Acredita que nessa altura o português pode desaparecer?
Não, porque tem sido dito tanto pelo Governo Central como pelo local, que o português é uma condição complementar e essencial para Macau se assumir como plataforma. Se assim o é agora, vai continuar a ser daqui a uns anos. Há razões para acreditar, tendo em conta o investimento que tem sido feito, que a aposta no Português é para continuar e não acredito que este Centro, cuja ambição é crescer, não tenha uma missão para continuar a cumprir.

21 Ago 2015

Domésticas | Empregadas aceitam registo criminal com condições

Um registo criminal sobre as empregadas domésticas é o que pede a AGMM. Afastando a ideia de ‘lista negra’ a associação apela a um regime mais claro e com mais informações. Empregadas não se importam, mas a existir que seja também criado um para os patrões

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o início desta semana, a União de Empregadores dos Serviços Domésticos avançou com a notícia de um protesto – a acontecer no dia 30 do presente mês – contra as empregadas domésticas, que conta, segundo explicou a união em causa, com mais de mil inscrições. O mote são os alegados maus tratos de uma empregada doméstica, natural do Vietname, a um bebé de dois meses.
Aliado a este movimento, a Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM), segundo o jornal Tribuna, entregou um parecer à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), pedindo a criação de uma lista negra das profissionais, a divulgação do registo criminal das empregadas e ainda a diminuição da permissão de permanência das mesmas no território.
“É preciso esclarecer que não se trata de uma lista negra, não é isso. O que pedimos ao Governo é que as agências de trabalho tenham um registo criminal das empregadas, mais informações do que aquelas que têm agora, que achamos nós, são poucas”, começa por esclarecer ao HM, Wong Kit Cheng, presidente da AGMM.
Para a presidente o mais recente caso dos maus tratos ao bebé é só mais um exemplo. “Não é o único caso, já aconteceu mais vezes, por isso é que é importante perceber que tipo de empregada doméstica os empregadores estão a contratar”, explica, exemplificando “imagine que uma empregada comete um crime, bate, rouba, seja ele qual for, depois foge para o seu país e passados uns meses quer voltar a Macau, essas informações devem estar no seu registo, para que o empregador saiba que ela já cometeu crimes”.
A elaboração deve ser feita, diz Wong Kit Cheng, pela própria agência, mas o Governo têm de assumir um papel activo nesta questão. “É preciso que também os serviços de migração tenham acesso ao registo criminal das empregadas, mas mais do que isso é preciso que o Governo acelere todos os processos quanto aos regulamentos relativamente à contratação de empregadas doméstico”, adianta.
Segundo números avançados pela própria associação ao HM, neste momento Macau conta com mais de 20 mil empregadas domésticas que não estão em concordância com o regime em vigor. “Se são 20 mil empregadas isto quer dizer que são 20 mil famílias a serem prejudicadas pela falta de um bom regime”, defende.
Quando questionada sobre o protesto a realizar no final do mês, Wong Kit Cheng acredita que o mesmo servirá para pressionar o Executivo e fazer com que “ele trabalhe mais rápido”. Mas ainda assim esta não é a melhor forma. “Depois da reunião com a DSAL percebemos que o Governo está com vontade de trabalhar e melhorar esta questão. Acho que o protesto não é a melhor forma para expressar as opiniões”, diz.

Outros registos

Em declarações ao HM, Diana La, empregada doméstica, natural das Filipinas não se mostrou contra a criação de um registo criminal ou ao pedido de mais informações por parte das agências de trabalho. “Concordo, mas as situações devem ser muito bem explicadas e não ter registo criminal só porque o patrão acha que houve crime”, clarificou.
A empregada doméstica adianta que o registo deve “depender da gravidade dos casos”, se assim for, Diana concorda “que exista esta espécie de lista de informações”. Também Vivian Ui, empregada doméstica, concorda com a existência deste registo. “Não me importo nada que haja este registo, mas tudo depende da situação, depende do caso, se for um crime, claro que sim, agora se for um mal entendido não acho que deve ir para o registo”, defende.
Mas para atingir a “igualdade e a justiça de tratamento é necessário que também haja um registo do tipo de empregadores, se eles já tiveram problemas ou foram acusados de crimes por maus tratos às empregadas domésticas”, defende.
“Aqui em Macau são poucos casos que tenho ouvido, mas quando trabalhava em Hong Kong todos os dias ouviam histórias de empregadas domésticas a sofrerem de maus tratos. Maus pagamentos, más condições, violência, são muitos os casos que ouvi e tomei conhecimento”, relata Vivian Ui.
Também Chat Su, empregada há mais de 10 anos, construiu a sua vida em Macau e já ouviu algumas histórias de maus tratos às empregadas domésticas. “Não coisas muito violentas, mas maioritariamente é a falta de pagamento dos salários, ou até salários muito baixos. Também há aqueles patrões que não dão férias às empregadas, e nós queremos ver a nossa família, também queremos ir ao nosso país”, conta.
“Somos seres humanos, devemos ser tratados como tal e, sim, acho que deve haver um registo criminal, mas para empregadas e patrões, assim também para que eles aprendem a lição e nós, empregadas, sabermos se este ou aquele é um bom ou mau patrão”, termina Vivian.
Questionada sobre a criação de um registo também para os empregadores, a presidente da associação disse que não faria muito sentido.

21 Ago 2015

Toi San | Fendas na estrutura de prédio cada vez maiores

As rachas do edifício Peng Meng, localizado na Rua Central de Toi San, estão cada vez maiores e nem a STDM, proprietária, ou o Governo apresentam soluções. A Aliança do Povo da Instituição de Macau exige maior comunicação

[dropcap style’circle’]O[/dropcap] jornal Ou Mun noticia na sua edição de ontem o estado de degradação a que chegou um prédio da Rua Central de Toi San, propriedade da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) e onde residem 40 pessoas. As fendas começaram a surgir com as obras para a habitação pública do terreno ao lado, entretanto suspensas, mas não têm parado de crescer, aponta o diário chinês.
A película de protecção colocada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já saiu do lugar, tendo sido deslocados diversos cabos de electricidade. Um dos moradores, de apelido Cheang, contou ao Ou Mun que muitas vezes caem pedaços de cimento nos corredores. Mas até ao momento nem a STDM nem o Governo intervieram.
“A STDM já não cobra renda aos inquilinos e acredito que isso é para nós sairmos à vontade. Mas ganho muito pouco e não tenho capacidade para arrendar uma casa lá fora”, relata o morador.
Em Abril do ano passado, o HM visitou o edifício e pôde constatar o elevado grau de degradação do prédio. Ao falar com moradores, foi-nos dito que temiam ser expulsos pela STDM, para que a empresa pudesse desenvolver um empreendimento naquele lugar. Contudo, até ao momento, não voltaram a receber novas cartas.
A possibilidade de um despejo foi denunciada pelos moradores à Aliança do Povo de Instituição de Macau. Um ano depois, Chan Tak Seng, presidente, confirma uma pior situação no edifício Peng Meng e diz que a explicação da DSSOPT não convence. “Não pode dizer que as rachas são um problema estrutural do edifício”, disse ao HM.
A última visita que a associação fez ao edifício foi o ano passado, com a deputada Song Pek Kei, numa altura em que a Escola de Nossa Senhora de Fátima foi reconstruída. Os moradores sentiram o chão a tremer com as obras e sentiram medo. “Consegue-se colocar um tijolo dentro das rachas, por isso podemos imaginar o nível dos danos. Com as chuvas e o passar do tempo, acho que existe um certo perigo”, disse Chan Tak Seng.

Urgente resolver

Para o responsável, o Governo deve apresentar uma medida preventiva para o edifício, sendo que não deve demorar mais tempo com estudos feitos por especialistas. “A análise pode estar longe da realidade, porque podem ocorrer danos ou mortes se não se resolver o problema de forma activa. Não devemos ter uma atitude como o tratamento que foi dado no caso do Sin Fong Garden.”
Chan Tak Seng pede ainda que o Executivo comunique mais com a STDM para encontrar uma solução, mas não deve permitir que sejam apenas os moradores a falar com a empresa. “A resposta deles deve ser apenas que deixam sair as pessoas do edifício, mas isso não ajuda. O ângulo do Governo deve ser sempre proteger os interesses públicos.”
O HM tentou consultar a STDM para saber a situação e os planos para o edifício, mas não obteve uma resposta até ao fecho da edição.

21 Ago 2015

Tailândia | Residentes decidiram seguir viagem. Tailandeses em Macau temem impacto no turismo

Os dois residentes de Macau que pediram ajuda para sair de Banguecoque não o conseguiram fazer por dificuldades na marcação do voo. A Air Macau vai permitir ajustes nas viagens já compradas. Tailandeses em Macau temem impacto negativo no turismo

[dropcap style= ‘circle’]O[/dropcap] Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) confirmou ao HM que os dois residentes de Macau que pediram ajuda para sair de Banguecoque decidiram, afinal, continuar a sua viagem. Numa resposta escrita, o gabinete confirmou que “após contactado a companhia aérea sobre a possibilidade de anteciparem o regresso, foram informados pela mesma que não seria possível, uma vez que não existem vagas disponíveis no regresso. Os mesmos decidiram continuar a sua viagem, uma vez que estavam em segurança”.
“O GGCT relembrou aos dois residentes de Macau para terem em conta as devidas precauções de segurança de modo a salvaguardarem a sua segurança pessoal”, aponta o organismo, que garante que não voltou a receber pedidos de ajuda, apenas um total de 162 pedidos de informação.
Entretanto a Air Macau lançou ontem um comunicado onde dá conta do ajuste dos voos para os passageiros que compraram as viagens antes do dia 18, para voos a realizar até 31 de Outubro. Quem comprou bilhetes poderá alterar a data ou a rota até 30 de Novembro.

Vozes de naturais

Ao HM, três tailandeses a residir em Macau contaram o que sentiram quando souberam do incidente à distância. Alice, a viver no território há 34 anos, onde trabalha num restaurante, confessa ter chorado quando viu as notícias.
“Há sempre muitos turistas a visitar o templo (Erawan), porque é que isso aconteceu? O tempo foi destruído mas pode ser reparado, as pessoas que morreram é que já não podem voltar”, contou ao HM por telefone.
Quem também chorou foi Amanda Kathapitak, recém-licenciada. “Vi as notícias no Facebook quatro horas após o incidente. Cresci em Banguecoque e claro que fiquei chocada. Vi o vídeo e de imediato comecei a chorar. Liguei aos meus familiares e amigos mais próximos e sei que estão bem, mas o incidente foi tão inesperado que nunca pensei que pudesse acontecer na minha cidade natal”, disse ao HM.
Todos consideram que, mais do que as mortes e o clima de medo, o atentado trouxe, sobretudo, problemas ao turismo, principal actividade económica da Tailândia. “Não é algo bom para nós, tailandeses. Recebemos muitos turistas chineses, de Hong Kong e Macau e depois disto ouvi dizer que muitos residentes de Hong Kong estão mais cuidadosos em fazer viagens para a Tailândia. Isso é mau para o país”, disse Justin, ex-estudante da Universidade de São José.
“Não faço ideia se o país vai continuar a ser seguro. A explosão afectou muito as coisas e vai fazer com que os turistas tenham receio em visitá-lo”, considerou Alice.
Para já as autoridades tailandesas falam de dez pessoas que poderão estar implicadas no atentado, recusando associar o incidente ao terrorismo. “É improvável que seja o trabalho de um grupo terrorista internacional. Os cidadãos chineses não eram um alvo directo”, disse Winthai Suvaree, porta-voz da junta militar, citado pela Lusa.
“Há muitas razões que podem ter levado a isto. Estamos sob lei marcial e com um governo militar. A maioria das pessoas na Tailândia sentem-se reprimidas. Muitos dizem que pode ter sido alguém tailandês, mas também foi dito que o Governo não foi a razão”, considerou Amanda Kathapitak.
Justin não nega a possibilidade do ataque poder ter sido engendrado por chineses uigures, uma vez que a Tailândia deportou oito pessoas desta etnia chinesa muçulmana para a Turquia, em Julho. “Há muitas especulações, muitas que dizem que pode haver ligações ao Estado Islâmico, outros acham que os uigures querem vingar-se do Governo tailandês. O Governo e as pessoas estão a tentar o melhor para ajudar as vítimas locais e estrangeiras. Poderá ser alguém que quer destruir a nossa economia, ou alguém que quis que a sua voz fosse ouvida de forma violenta, o que é errado e tirou muitas vidas inocentes.”

21 Ago 2015

AL | Sessão legislativa terminou “morna” mas com maior comunicação com Governo

De forma geral os deputados classificam o trabalho da sessão legislativa que termina agora como “morno”. Sem grandes motivos para festejar, é o trabalho das comissões que mais merece destaque. Mais ainda há muito a fazer

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a véspera de Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL), fazer o balanço dos trabalhos levados a cabo na sessão legislativa que terminou a semana passada, o HM quis perceber o que acham os deputados que nela são agentes activos.
“A verdade é que nada de muito especial aconteceu”, começou por defender Au Kam San. Na visão do deputado, o trabalho levado a cabo pelas comissões é o que mais merece destaque. “Sobretudo a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas e a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas”, assinala.
O maior número de reuniões realizadas pelas comissões, assim como a frequência da presença dos membros do Governo nas mesmas permitiram que o trabalho fosse mais vezes discutido e avançasse de forma mais rápida. Da mesma opinião é o deputado Lau Veng Seng, que destaca o trabalho realizado na última sessão. “As comissões foram as que mais trabalharam durante esta sessão legislativa, e ainda conseguiram que o Governo marcasse presença durante grande parte das reuniões”, defende. Assim, diz, os deputados viram as suas dúvidas esclarecidas de formas mais rápida e, claro, directa. “Esta presença dos membros do Governo nas reuniões das comissões veio facilitar o trabalho. Acho que isto foi o de mais positivo que aconteceu”, remata.
Segundo Lau Veng Seng, o calendário de trabalho desta sessão legislativa foi bastante completou. “Houve muito trabalho”, diz. Mas houve também, mais vontade de trabalhar. “Talvez por serem novos Secretários, talvez pela mudança, os deputados assumiram um papel mais activo”, argumenta, frisando que também os representantes do Governo “assumiram e cumpriram as suas responsabilidades e deveres”.

À sombra da bananeira

José Pereira Coutinho não tem dúvidas: a sessão que agora termina foi “muito morna” e “há muito mais a fazer”. “Poderia ter sido feito muito mais”, começa por defender ao HM, assumindo a não surpresa comparativamente às sessões legislativas de anos passados.
A tomada de posse dos novos Secretários, não trouxe sangue novo nem garra no trabalho. “Não trouxe, porque de facto continuam por resolver questões de facto importantes e estruturantes da sociedade, tais como a habitação, a saúde, os transportes”, explicou.
No âmbito da administração pública, Pereira Coutinho diz: “continua tudo parado”. Agora, decorridos quase oito meses após a tomada de posse da nova governação, “os problemas continua e nada está resolvido”. “Continuam a não existir estudos dos problemas, continuam a não existir soluções para os problemas. Algo que se poderia resolver de forma fácil”, defende.
Para uma sessão legislativa de garra é, aos olhos do deputado, precisão uma “mudança de mentalidade por parte da mesa da AL”. Esta postura de “deixar passar o tempo” sem nada resolver não trará qualquer beneficio para Macau. “Não estamos a acompanhar as mudanças que o mundo vive hoje em dia, basta ver a AL de Hong Kong, de Taiwan, dos países europeus para perceber que é preciso introduzir mudanças de mentalidade e actuação para que isso possa contribuir directamente para o desenvolvimento da região. Não podemos estar à sombra da bananeira”, argumenta.

Temas quentes

Apesar das poucas soluções, Au Kam San salienta alguns temas de debate “importantes para a sociedade”. “Algumas leis e propostas que foram debatidas são importantes para a população, tais como, a violência doméstica, tabaco ou até a lei de protecção dos animais”, recorda, adiantando que a nova “equipa do Governo veio dar um ar fresco ao trabalho orientado pela AL”.
O deputado Ng Kuok Cheong apontou o chumbo, decidido pelo presidente da AL, do pedido de audição sobre os terrenos desocupados como o momento menos positivo. “Para mim esse foi o pior momento”, frisou. Uma maior participação da sociedade é, uma vez mais, um ponto defendido pelo deputado. “Seria muito melhor que a população pudesse participar nas reuniões das comissões, este registo de trabalho à porta não permite que haja transparência para a sociedade”, defendeu o deputado.
Para o balanço do presidente da AL, que acontece amanhã, Ng Kuok Cheong acredita que Ho Iat Seng não irá apresentar pontos negativos. “Acho que o presidente só vai falar coisas positivas e não apresentar falhas. Vai falar de trabalhos que foram feitos e não dos que ainda estão por fazer”, defendeu.
Ainda assim, o deputado frisa um momento “muito positivo”. “O chumbo [na especialidade] da cláusula do limite do tecto máximo de indemnizações do Regime de Contrato de Trabalho dos Serviços Públicos a pagar aos trabalhadores foi o que de mais especial aconteceu”, argumentou, frisando o “progresso que este chumbo veio mostrar”.
Para Gabriel Tong a tomada de posse dos novos Secretários e Directores trouxe de facto uma imagem diferente, mas “se isto é bom ou mau vai depender dos resultados do trabalho”, e para já, isso ainda não é possível de avaliação.
“É preciso mostrar trabalho, mostrar melhoramento das acções, é preciso fazer um mapa de avaliação do trabalho feito. Sei que os novos Secretários vão tomar decisões importantes, e parece-me que todos eles têm novas ideias e novas formas de trabalhar com os seus subordinados. Mas até agora ainda estamos à espera”, remata. Com Flora Fong

20 Ago 2015

Governo vai alterar Lei de Habitação Económica para resolver casas desocupadas

Alteração da lei, sanções para quem não cumpre, atrasos na construção, subsídio das tarifas dos autocarros e revitalização de bairros antigos foram alguns dos assuntos debatidos por Raimundo do Rosário, que pede ainda desculpa aos compradores da habitação pública da Ilha Verde

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, tornou ontem pública a vontade do Governo alterar a Lei da Habitação Económica para terminar com a problemática da não ocupação dos apartamentos atribuídos.
“Há um problema com a lei que, de facto, prevê que as habitações devem ter um carácter permanente e efectivo, mas não prevê nenhuma sanção para esta situação”, voltou a referir o Secretário, adiantando que “quando é atribuída outra finalidade ou quando o apartamento é subarrendado, estão previstas sanções, mas quando a fracção não é ocupada, não está prevista qualquer sanção”. Situação que o Secretário quer ver alterada.
Em declarações à Rádio Macau, depois de participar no programa Macau Talk, do canal chinês, Raimundo do Rosário afirmou que o Governo vai “alterar a lei da habitação económica”. “Entretanto, isso não significa que a gente não faça nada. O Instituto de Habitação tem um programa precisamente para acompanhar essas situações”, rematou.
Durante o programa Raimundo do Rosário aproveitou o momento para pedir desculpa aos proprietários da pré-venda da habitação pública da Ilha Verde, por não conseguir que a construção respeite o calendário previsto que era de estar pronta em 2016, adiada para uma data ainda a definir.
Para o representante do Governo existe, de forma clara, um “cultura” ou “hábito” de despreocupação dos construtores nas obras públicas, fazendo com que todos os processos demorem mais do que aquilo que deviam. Raimundo do Rosário garantiu ainda, que tudo irá fazer para acelerar os processos que dizem respeito à sua pasta.

Toi San no centro

A alteração do projecto de construção da habitação pública na Rua Central de Toi San está também em cima da mesa. Um comunicado do gabinete de comunicação social (GCS), indica que Raimundo do Rosário explicou que ao projecto original daquela habitação pública “inclui três andares subterrâneos, contudo poderá a passar ter apenas um ou mesmo nenhum, e, por essa razão, é necessário esperar pela alteração do projecto para que as obras de construção sejam reiniciadas”.
O Secretário adiantou ainda que “foi necessário suspender as obras devido ao impacto nos edifícios antigos vizinhos”, garantindo que “as autoridades estão a estudar a possibilidade de o projecto ser alterado, passando a ter apenas um andar subterrâneo ou mesmo sem algum, e por isso mesmo, a construção será efectuada após a respectiva alteração do projecto”.
Relativamente à construção de Mong Há, Raimundo do Rosário explicou que o “Governo está em negociações com o empreiteiro, seguindo-se com as obras depois de haver consenso entre as duas partes”.

Sobre tudo e nada

Durante o programa, muitos outros temas foram abordados, tais como a revitalização dos bairros antigos. O Secretário referiu que a ideia de reconstrução de bairros antigos visa apenas os edifícios de mais de 30 anos, algo que não diz respeito ao conceito de revitalização porque aqui estão também englobados os prédios com menos ou mais de 30 anos. Para isso, explicou, basta que os proprietários concordem com a sua reconstrução.
Um ouvinte aproveitou o momento para solicitar ao Secretário a diminuição, ou até o fim, do número de shuttle bus dos casinos e hotéis para alívio do trânsito. Raimundo do Rosário admitiu a existência de um problema de tráfego, mas esclareceu que as três companhias de autocarros de Macau transportam 530 mil passageiros por dia, e os shuttle buses transportam cerca de 100 mil passageiros, logo seria um problema ainda maior suspender este serviço.

Altos subsídios

Relativamente à tarifa dos autocarros praticada em Macau, um tema também referido por um ouvinte, o Secretário considerou o subsídio atribuído pelo Governo às companhias é alto, e pela dificuldade de distinguir turistas ou residentes será difícil não praticar os preços de forma igualitária.
“Houve uma pessoa que telefonou queixando-se de que não é razoável que o subsídio que o Governo dá aos residentes nos autocarros seja dado também aos turistas, aos não residentes”, contou o secretário à Rádio Macau. “De facto, é bom que se saiba que o bilhete de autocarro que cada um de nós paga é inferior a metade do valor real do bilhete, ou seja, o bilhete normal são duas patacas e o Governo paga mais de duas patacas por esse bilhete”, recordou. “Não é fácil, mas iremos ver este assunto. Como neste momento o subsídio é dado às operadoras de autocarros, também é difícil ao motorista do autocarro distinguir quem é residente de quem não é. Vamos ver esse problema”, concluiu.

20 Ago 2015

Atentando em Banguecoque | Dois residentes de Macau pedem ajuda para sair

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Gestão de Crises do Turismo de Macau anunciou ontem que dois residentes locais pediram apoio às autoridades para antecipar o regresso à Região após o atentado de segunda-feira na Tailândia. De acordo com uma nota oficial, através das companhias de telecomunicações foi possível identificar 942 dispositivos móveis com registo em Macau em ‘roaming’ na Tailândia, cujos titulares foram contactados por mensagem electrónica para envio de contactos de emergência em caso de necessidade. De acordo com as autoridades de Macau, que receberam as listas nominais dos hospitais da Tailândia, nenhum residente consta entre as vítimas da explosão. Entretanto a industria turística de Macau cancelou uma dezena de excursões para a Tailândia, decisão que afecta cerca de 250 pessoas e estará em vigor até domingo, 23 de Agosto.

Retrato-robô

Na segunda-feira, pelas 18:30 de Macau, uma bomba explodiu no templo Erawan que fica no coração da capital tailandesa, junto ao hotel de cinco estrelas Grand Hyatt Erawan, rodeado de vários outros hotéis e lojas que atraem milhares de visitantes diariamente. Entretanto a polícia tailandesa difundiu ontem o retrato-robô do principal suspeito do atentado, que foi filmado por câmaras de vigilância a deixar um saco no meio da multidão, em frente do santuário, alguns minutos antes da explosão. O porta-voz da polícia tailandesa, Prawut Thavornsiri, afirmou que o homem, não identificado, tem cabelo castanho e óculos escuros, podendo ser “estrangeiro ou tailandês”. Um mandado de captura vai ser emitido nas próximas horas, acrescentou.
Também ontem vários monges budistas lideraram orações para a reabertura do templo onde ocorreu o incidente, que já matou pelo menos 11 pessoas da China, Hong Kong, Singapura, Indonésia e Malásia. Mais de 100 pessoas ficaram feridas. Uma segunda explosão aconteceu no porto de Banguecoque, o qual, segundo as autoridades, poderá estar relacionada com a primeira. O Governo tailandês já associou o ataque a uma tentativa de bloquear a economia e o sector do turismo do país, sendo que motivos religiosos também poderão estar na origem do ataque.

20 Ago 2015

Galaxy com 66% de perdas nos lucros líquidos. Broadway lucrou 2 milhões em 35 dias

Em apenas 35 dias de funcionamento, o novo empreendimento da Galaxy Entertainment registou receitas na ordem dos 64 milhões de dólares, com lucros de 2 milhões, mesmo sem área VIP. No total, a operadora teve uma quebra nas receitas de 34% e de 66% nos lucros líquidos

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ados divulgados ontem pela operadora de jogo Galaxy Entertainment revelam que a operadora registou no primeiro semestre do ano uma quebra nas receitas de 34%, tendo sido um total de 25,4 mil milhões de dólares de Hong Kong, enquanto que os lucros EBITDA (antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foram de 4,2 mil milhões, uma quebra de 43% anuais. Quanto aos lucros líquidos, a queda foi de 66% até Junho, por comparação a 2014.
Apesar dos resultados, que não fogem à regra do que tem sido a tendência do mercado do jogo, a Galaxy destaca o sucesso da abertura do empreendimento Broadway Macau, no Cotai. Ao final de 35 dias de funcionamento, e sem ter ainda o segmento VIP, as receitas foram de 64 milhões de dólares de Hong Kong, enquanto que os lucros EBITDA se ficaram pelos dois milhões. Só no sector de jogo de massas as receitas foram de 37 milhões de dólares. A taxa de ocupação hoteleira deste empreendimento foi de 99%.

Desafio ganho

Lui Che Woo, presidente do Galaxy Entertainment Group, destacou os “incríveis resultados financeiros do primeiro semestre”, depois da “abertura dentro do calendário e do orçamento da fase 2 do Galaxy e do Broadway Macau”, e tendo em conta que “as condições do mercado em Macau mantém-se desafiantes”.
“O lançamento do Brodway Macau tem sido bem recebido e a maioria das comodidades do resort foram inauguradas dentro do tempo, sendo que as restantes áreas de jogo, retalho e comida e bebidas deverão ser inauguradas no final do ano”, escreve Lui Che Woo. “A contribuição (da Broadway Macau) traduziu-se na criação significativa de empregos e no apoio que tem dado às Pequenas e Médias Empresas (PME)”, acrescenta.
Na divulgação de resultados junto da bolsa de valores de Hong Kong, a operadora não deixou de referir algumas ideias quanto à revisão do Regime de Previsão e Controlo do Tabagismo. “Estamos satisfeitos por observar que o Governo de Macau deu sinais de alguma flexibilidade e mente aberta para a manutenção das salas de fumo. Permitir as salas de fumo poderia ser positivo para o mercado. As concessionárias de Jogo continuarão a trabalhar para alcançarem uma solução pragmática”, refere o comunicado.
Quanto ao futuro do sector do Jogo, a Galaxy mostra-se optimista. “Estamos satisfeitos por ver alguns indicadores de estabilização do mercado e de apoio do Governo, incluindo os sinais de flexibilidade em relação à manutenção das salas de fumo e na melhoria dos vistos individuais.”

20 Ago 2015

Tailândia | Governo da RAEM lamenta atentado e excursões são canceladas

Macau mostrou-se disponível para ajudar as autoridades tailandesas que se debatem com a explosão que assolou Banguecoque na passada segunda-feira. Wong Sio Chak pediu que os residentes em viagem tomassem precauções e as excursões já foram canceladas, pelo menos até domingo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s viagens de excursão de Macau para Banguecoque foram canceladas pelo menos até ao próximo domingo, devido ao mais recente ataque bombista que teve lugar em Banguecoque e que fez pelo menos 21 mortos. De acordo com a rádio Macau, o presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, Wu Keng Kuong referiu que se decidiu pelo cancelamento das viagens depois de um entendimento entre o sector do turismo e as companhias de aviação.
O Governo da RAEM apresentou ontem as condolências e lamentou profundamente o ataque que teve lugar num templo da capital tailandesa. Também em Hong Kong foi tomada a decisão de cancelar as viagens em excursão, política que será seguida até final do mês.
De acordo com o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) estão neste momento 400 residentes locais naquele país em 20 grupos de excursão. O Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak pediu aos cidadãos para “ajustarem oportunamente o itinerário” da sua viagem.

Suspeito à vista

O Governo da Tailândia diz já ter suspeitos do ataque, depois de ter reunido um grupo inteiramente dedicado à investigação. O Primeiro-Ministro tailandês, Prayuth Chan-ocha confirmou ontem a criação de uma “sala de guerra” com um grupo especializado de altos oficiais do Governo. A ideia é determinar e capturar os responsáveis do ataque bombista. Ontem, as autoridades tailandesas revelaram estar à procura de um jovem que surge numa gravação de vídeo. “Hoje há um suspeito, que aparece nas câmaras de videovigilância, mas não é muito claro (…) Estamos à procura dele”, disse Prayut Chan-O-Cha, líder da junta militar que governa o país. Prayut acrescentou que o Governo acredita que o jovem pertença a um “grupo anti-governo com sede no nordeste da Tailândia”. Foi o Ministro da Defesa tailandês, Prawit Wongsuwan que deixou a promessa, em declarações à Reuters, de capturar os autores. “Ainda não sabemos quem fez isto e porquê, não estamos certos que tenha fundamentos políticos, mas pretendiam ferir a nossa economia e vamos caçá-los”, garantiu.
A intenção de criar um departamento deste tipo já havia sido expressa pelo Governo há dois dias, mas só ontem foi confirmada a sua criação, no canal televisivo nacional. Este é já tido como um dos mais violentos ataques no país desde a subida ao poder da frente militar que actualmente governa o país. A explosão, que aconteceu dentro do Templo de Erawan, ainda não foi reclamada por nenhum indivíduo ou entidade. Para além dos mortos, estima-se que haja mais de 120 feridos, de entre os quais cidadãos tailandeses, da Indonésia, Singapura, mas maioritariamente de Taiwan e da China continental.

Ajuda de fora

O porta-voz do Governo norte-americano, John Kirby confirmou à Reuters que ainda não recebeu qualquer pedido de ajuda pelas autoridades da Tailândia. Já o Departamento de Estado dos EUA veio a público referir que “ainda é muito cedo” para ter a certeza que se trata de um ataque terrorista.
De acordo com um artigo de Oliver Holmes, publicado no The Guardian, este é um dos mais fatais ataques desde que a junta militar está no Governo. Para o Ministro da Defesa da Tailândia, “os autores [do primeiro ataque] pretendiam destruir a economia e o turismo, porque o incidente teve lugar no coração de um distrito turístico”. Numa notícia da Reuters, Marko Cunningham, um paramédico neozelandês presente depois do ataque, referiu que o local “se parecia com um mercado de carne”, tendo acrescentado que a explosão deixou visível uma cratera de dois metros de largura. O paramédico estava a ajudar no serviço de ambulâncias de Banguecoque. “Havia corpos por todo o lado e alguns estavam desfeitos, era horrível”, disse. [quote_box_right]“Ainda não sabemos quem fez isto e porquê, não estamos certos que tenha fundamentos políticos, mas pretendiam ferir a nossa economia e vamos caçá-los”, Prawit Wongsuwan, Ministro da Defesa tailandês[/quote_box_right]

É sabido que as autoridades tailandesas têm vindo a lutar contra uma força muçulmana em desenvolvimento numa zona mais a sul, predominantemente dominada por uma comunidade budista. No entanto, de acordo com a mesma agência, é raro detectar ataques deste género perpetrados por este grupo fora da sua zona de incidência. Também um general do exército tailandês referiu, momentos depois do ataque, que este “não condizia com as tácticas utilizadas” pelo grupo de rebeldes do sul. Os grupos separatistas muçulmanos actuam com intensidade nas três regiões mais a sul do país, tendo causado mais de 6500 feridos desde 2004, mas Banguecoque não costuma, de acordo com as autoridades, ser uma localidade afectada.

No entanto, de acordo com a Reuters, há uma série de outros problemas políticos menos visíveis na Tailândia. “Enquanto as suspeitas iniciais podem recair sobre os separatistas muçulmanos do sul, a verdade é que a Tailândia tem sido, desde há uma década, espaço de conflitos intensos e alguns até violentos de poder entre diferentes facções políticas em Banguecoque”. Um dos mais recentes incidentes teve lugar num centro comercial de luxo onde explodiram duas bombas, mas sem fazer estragos de maior. [quote_box_left]“Havia corpos por todo o lado e alguns estavam desfeitos, era horrível”, Marko Cunningham, paramédico neozelandês[/quote_box_left]
De acordo com as explicações da agência, o ataque tinha o objectivo de chamar a atenção para o facto do país estar sob Lei Marcial. Por outro lado, o correspondente de Defesa e Diplomacia da BBC, Jonathan Marcus fala da possibilidade do ataque estar relacionado com os Uigures, uma comunidade muçulmana minoritária da China. “Eles queixam-se de que o Governo Central os persegue por motivos religiosos e culturais”, explica Marcus. A justificação do jornalista para a possibilidade do ataque ser da autoria de Uigures reside no facto das baixas terem sido maioritariamente chinesas. No entanto, Marcus também faz a ponte entre a milícia tailandesa e grupo do Estado Islâmico. A Tailândia encontra-se sobre o poder do exército militar local desde Maio do ano passado, após uma série de protestos violentos antigovernamentais terem tido lugar.

Segundo atentado

Ontem teve lugar um segundo ataque com um engenho explosivo a ser atirado de uma ponte perto da estação de metro de Sathorn, na capital tailandesa, mas sem notícia de feridos. A bomba detonada ontem explodiu dentro de água, mas as operações de barco mantêm-se. As autoridades asseguram que se trata de um “mecanismo explosivo improvisado”, numa zona de passagem de excursões chinesas. De acordo com o Ministro dos Transportes, ACM Prajin, a bomba detonada ontem é semelhante à do primeiro atentado.

19 Ago 2015

Wong Kit Cheng comenta relatório do GEP

A deputada Wong Kit Cheng defende mais políticas demográficas de fomento à natalidade, aconselhando o Governo a melhorar os serviços de apoio à gravidez e crescimento das crianças, bem como a promover um equilíbrio de férias e regalias na área laboral

[dropcap style=’circle]D[/dropcap]epois do Gabinete de Estudos de Políticas (GEP) ter publicado no mês passado o Relatório do Estudo da Política Demográfica de Macau, eis que a deputada Wong Kit Cheng vem pedir ao Governo para criar novas medidas de apoio à natalidade.
Em declarações ao Jornal do Cidadão, a deputada da Assembleia Legislativa (AL) defende que o Governo não tem vindo a disponibilizar apoio económico suficiente às famílias, sendo que devia promover mais subsídios aos pais para cuidar dos filhos.
Para além disso, a deputada considera que deve ser criado um princípio de aconselhamento ao nascimento, mas que é fundamental equilibrar os conflitos existentes entre patrões e empregados, sobretudo ao nível de regalias e licenças. [quote_box_left]“No passado aconteceu que os exames pré-natais às grávidas não foram bem feitos, sendo que não há apoios suficientes para crianças com obstáculos na aprendizagem ou atrasos no desenvolvimento. A confiança dos pais para terem mais filhos acaba por ser influenciada”, Wong Kit Cheng, deputada[/quote_box_left]
A também vice-presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau revela ainda preocupações sobre o actual sistema de saúde público. “No passado aconteceu que os exames pré-natais às grávidas não foram bem feitos, sendo que não há apoios suficientes para crianças com obstáculos na aprendizagem ou atrasos no desenvolvimento. A confiança dos pais para terem mais filhos acaba por ser influenciada. Os actuais serviços de cuidados na gravidez ou no crescimento das crianças precisam de ser aperfeiçoados”, disse Wong Kit Cheng.

Diz quem sabe

As sugestões do relatório do GEP nesta matéria baseiam-se no “Estudo das Políticas Favoráveis à Família” elaborado pela Universidade de Macau. O documento defende que “deve-se promover activamente as políticas favoráveis à família, prolongar a licença de maternidade e introduzir a licença de paternidade”.
Para além disso, o GEP entende que “a baixa taxa de fecundidade em Macau deve-se não só ao modo de vida moderna das pessoas mas também devido às más condições de habitação e falta de espaço”. Ao nível do patronato, as empresas “de uma forma geral, carecem de medidas de assistência à família”, sendo que “o apoio em serviço prestado pelas empresas é inferior a 10%”, sendo que a Função Pública, “tem políticas e medidas mais favoráveis à família”.
“O apoio financeiro, como medida de incentivo ao aumento da taxa de fecundidade, é praticado em vários países. No futuro, devemos considerar a praticabilidade desta medida em Macau”, defendem ainda os autores do relatório.
No geral, “os residentes avaliam como insuficientes as medidas existentes na sociedade favoráveis à família, principalmente nas comunidades onde residem”, considerando “insuficientes vários serviços, como o transporte para creches, apoio escolar, actividades extra-curriculares, planeamento familiar, cuidados aos idosos e apoio psicológico”. O documento aponta ainda para o facto de não existirem leis que obriguem as empresas a dar melhores condições aos empregados para serem pais, sendo as actuais medidas “desanimadoras”.

19 Ago 2015

Condomínios | Governo quer assumir papel principal

O Governo quer assumir o papel de responsável pela resolução da problemática patente na gestão de condomínios. Um mecanismo de supervisão é o que o IH propõe, respondendo assim às perguntas de Melinda Chan

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] através de intervenção do próprio Governo que o Instituto de Habitação (IH) quer resolver o problema “um edifício, dois ou mais entidades de gestão”. A notícia foi avançada pelo director do IH, Ieong Kam Wa, quando respondia à interpelação escrita da deputada Melinda Chan, em Junho passado, sobre a revisão da proposta da consulta pública do Regime Jurídico da Administração das partes comuns do condomínio.
“Sugerimos introduzir um mecanismo de supervisão de convocação, ou seja, todas as reuniões sobre eleição, substituição e demissão dos membros das entidades de gestão de edifícios devem ser convocadas depois do IH emitir uma carta de aprovação, em paralelo, os registos das reuniões devem ser guardados no IH”, esclareceu o director. [quote_box_right]“Sugerimos introduzir um mecanismo de supervisão de convocação, ou seja, todas as reuniões sobre eleição, substituição e demissão dos membros das entidades de gestão de edifícios devem ser convocadas depois do IH emitir uma carta de aprovação”,Ieong Kam Wa, director do IH[/quote_box_right]

Na interpelação, Melinda Chan apontava que as consultas públicas sobre a revisão do regime começaram em 2013, mas até ao momento a proposta ainda não foi implementada. A deputada referiu também que existe o problema de “um prédio, duas comissões de condomínios”, o qual só pode ser resolvido através de tribunais, algo que o IH terá que resolver.

Autoridade em campo

Em resposta, o director do IH frisou que a revisão da proposta tem como objectivo principal resolver esse mesmo problema, através de intervenção do poder da autoridade do Governo.
Ieong Kam Wa referiu ainda que o IH já pediu à Universidade de Macau (UM) a elaboração da primeira versão de instruções sobre regulamentos de administração de condomínios, documento que, adianta, já está concluído. O director explicou que quando o regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio for aprovado em Assembleia Legislativa (AL), o IH poderá ajustar de forma ligeira essas instruções para corresponder a aplicação do regime jurídico.

19 Ago 2015

Governo quer baixar taxa de crescimento de veículos

O Conselho Consultivo do Trânsito reuniu ontem e o Executivo deixou a garantia de querer baixar a taxa anual de crescimento de veículos de 5% para 4%. Na calha estão mudanças no imposto de circulação e de importação, mas o director da DSAT não quis avançar pormenores

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau tem actualmente uma taxa de crescimento anual de 5% no número de veículos e não suportará mais esse valor, garantiu Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, num debate recente na Assembleia Legislativa (AL). Ontem, à margem da 2ª sessão ordinária do Conselho Consultivo do Trânsito, o Governo confirmou que quer diminuir essa taxa em 1%, para 4% de crescimento anual.
“Vamos continuar a optimizar o transporte público, mas no que diz respeito ao transporte privado vamos controlar o aumento de veículos privados para 4% por ano. Esta é a nossa meta. Creio que com o abate dos veículos antigos e com inspecções mais rigorosas conseguimos diminuir o número de veículos privados”, explicou Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).[quote_box_left]“No que diz respeito ao transporte privado vamos controlar o aumento de veículos privados para 4% por ano. Esta é a nossa meta”, Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego[/quote_box_left]
Para além disso, o Governo pretende aumentar os impostos de circulação de veículos e de importação, mas não avançou mais detalhes. “Estamos a fazer um estudo, quando chegar um tempo oportuno vamos avançar com a informação, porque isso também tem a ver com a revisão dos diplomas legais e não temos ainda uma ideia. Ainda estamos a discutir com outras entidades a possibilidade de aumentar o imposto de importação de veículos. Vamos tentar que antes de Janeiro do próximo ano já consigamos fazer uma revisão, mas não temos ainda uma resposta concreta”, adiantou Lam Hin San.

Haja saúde

Na calha estão também mudanças ao nível da inspecção de veículos. “Vamos fazer uma maior inspecção dos veículos motorizados já antigos para melhorar ainda mais a qualidade do ar. Os requisitos nas inspecções vão ser mais rigorosos”, garantiu o responsável.
Para travar o aumento do trânsito em Macau não basta, contudo, controlar o aumento de veículos privados. “A percentagem de uso dos transportes públicos é de 40% e esperamos que no futuro possamos aumentar a utilização do transporte público e melhorar o sistema pedonal”, disse o director da DSAT.
Raimundo do Rosário esteve disponível na reunião e mostrou-se aberto a responder a questões apenas relacionadas com o trânsito. Como o foco das questões se virou para os terrenos, o Secretário acabou por abandonar a zona de conferência sem adiantar mais detalhes sobre as futuras políticas do trânsito. [quote_box_right]“A percentagem de uso dos transportes públicos é de 40% e esperamos que no futuro possamos aumentar a utilização do transporte público e melhorar o sistema pedonal”, Lam Hin San[/quote_box_right]
Aos deputados da AL, Raimundo do Rosário caracterizou a questão do trânsito como sendo “complexa”. “Temos 240 mil veículos em 424 quilómetros (…) de facto, o trânsito é muito intenso e – tal como já referi – não sei se há em algum lado do mundo um perito que possa resolver este problema. Em Abril, já tinha dito que anualmente se verifica um aumento de cinco por cento e se continuarmos com esta subida no número de veículos não sei se o problema poderá ser resolvido. Por isso, o problema do trânsito em Macau é muito complexo. Está cada vez mais complicada a questão.”

Novos contratos de autocarros concluídos este ano

Por forma a aumentar o uso de transportes públicos em Macau, a DSAT continua a negociar com a Transmac e TCM a renovação dos contratos de concessão, por forma a melhorar o serviço. Sem adiantar detalhes do processo, Lam Hin San prometeu novidades ainda este ano. “Estamos a renovar os contratos, estamos a discutir os detalhes e um deles está na fase final de discussão. Nesta fase não é apropriado lançarmos mais informações. Serão lançadas informações muito em breve, ainda este ano, esse é o nosso objectivo.” A DSAT pretende reforçar a fiscalização das operadoras, mas não só. “O dinheiro é a parte mais difícil de discutir nestas questões. Queremos introduzir um novo modelo de contratos e queremos aumentar o nível do serviço e para que se utilize o erário público de forma razoável. As duas partes precisam de fazer ajustamentos e se calhar as exigências também vão ser diferentes, bem como a forma de cooperação”, rematou Lam Hin San.

19 Ago 2015

Ciberespaço | Criado programa para “diminuir dependência da internet”

[dropcap style=’circe’]“[/dropcap]Weconnect” é o tema do novo programa piloto criado pelo Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui, que conta com apoio do Instituto de Acção Social (IAS) para ajudar jovens viciados na internet a minorar esta dependência. A este grupo, o colectivo de trabalho chama de Jovens Anónimos.
Numa conferência de imprensa realizada ontem, a chefe do Gabinete, Hoi San Ieng e a assistente social Cabell Hoi apresentaram o programa. Também a chefe da Divisão de Infância e Juventude do Instituto de Acção Social, Lao Kit Im interveio, lembrando que o IAS realizou uma investigação, em 2010, sobre a situação dos jovens anónimos em Macau, sem esquecer uma outra sobre as razões que levam a esta dependência do mundo online, realizada em 2012. Os resultados mostram que os jovens que levam uma vida sedentária e são viciados na internet podem ver o desenvolvimento dos seus estados físicos e psicológico alterados. Também a carreira e o estudos podem ser fortemente afectados.

[quote_box_right]“Preferia jogar no computador e experienciei um ano inteiro sem sair de casa nem contactar com outras pessoas e outras vezes jogava durante dois dias seguidos sem dormir”, A Wa, jovem dependente da net[/quote_box_right]
“Para reforçar a atenção, prevenção e os serviços prestados aos jovens anónimos e viciados na internet, o IAS escolheu o Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui para realizar o programa piloto, com o objectivo de aumentar não só a sensibilização para uma vida saudável, como também para uma maior atenção ao comportamento dos filhos”, referiu Lao. A responsável disse ainda que o IAS vai fazer a avaliação e o acompanhamento do programa para obter dados importantes que servirão de referência.
A chefe do gabinete Hoi San Ieng citou dados dos inquéritos do IAS, mostrando existir cerca de 70 Jovens Anónimos entre 12 a 24 anos, mas os mesmos avançam que outros 1700 “podem ou têm potencial de vir a pertencer a este grupo”. Quanto à dependência da internet, os números revelam que 22,6% dos jovens já estão viciados nas redes sociais. Segundo uma investigação feita pelo mesmo Gabinete em Fevereiro passado, já existem cerca de 25 a 37 mil jovens com este tipo de vício. Conferência Internet
Cabell Hoi assegura: caso cinco ou mais questões tenham resposta positiva, há potencial de se ser viciado na internet. A assistente social acrescentou que o programa destina-se a jovens entre os 10 e os 24 anos que ficam sozinhos em casa e não participam nas actividades sociais nem mantêm comunicação com terceiros. É que, explica, este tipo de vício influencia a emoção, estudo e trabalho. Os serviços principais que o programa piloto presta incluem visitas às famílias de Jovens Anónimos, oferecendo aconselhamento tanto aos viciados como aos seus familiares. Além disso, os assistentes sociais vão, também através da internet, contactar os jovens como forma de intervir directamente no problema. O Facebook, Wechat e Whatsapp são três das plataformas escolhidas.

Exemplo verdadeiro

A Wa foi convidado pelo Gabinete para partilhar a sua história enquanto Jovem Anónimo. Tem 23 anos e é croupier, mas quando tinha 14 anos envolveu-se numa série de conflitos com os colegas e desde aí não quis mais fazer amigos nem sair de Macau. “Preferia jogar no computador e experienciei um ano inteiro sem sair de casa nem contactar com outras pessoas e outras vezes jogava durante dois dias seguidos sem dormir”, contou. A Wa não tinha boas relações familiares e a mãe queria que ele tratasse a sua dependência, mas o jovem não queria.
“Só quando os assistentes sociais do Gabinete Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui me contactaram é que participei em actividades no exterior e, passo a passo, fui jogando cada vez menos no computador e arranjei um trabalho. Acho que o aconselhamento dos pais é muito importante porque deram-me motivação para deixar o vício, não fugindo aos problemas através da internet”, rematou.

19 Ago 2015

Governo continua a não apresentar calendário para Lei Sindical

Depois do sexto chumbo da Lei Sindical na Assembleia Legislativa, o Governo continua a dizer que “está aberto” à legislação, sem avançar datas ou detalhes sobre o seu conteúdo. Dois académicos dizem que não só não há interesse como não é desejável uma lei vinda do Governo

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á dez anos que o projecto para implementar uma lei sindical em Macau é chumbado na Assembleia Legislativa (AL) e não se vislumbra, da parte do Executivo, a apresentação de um diploma a curto prazo. Numa resposta escrita enviada ao HM, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) confirma que “o Governo está aberto à criação de uma lei sindical”. Contudo, “tendo em conta que este projecto de lei engloba uma considerável complexidade e abrange aspectos muito amplos, deve existir um amplo consenso da sociedade que possibilite desencadear de forma ordenada o processo legislativo”. Para tal, o Executivo diz que “vai continuar a estar atento às opiniões dos diversos sectores da sociedade”.
O HM contactou os dois responsáveis que, até hoje, foram os únicos a apresentar os projectos de lei e confrontou-os com a falta de calendário do Governo. Jorge Fão, fundador da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) e ex-deputado directo, diz que “não se compreende”.
“Não tenho a mínima noção do que se está a passar e porque é que existem tantos receios em apresentar esse projecto. Se o Governo quiser tomar essa iniciativa sabe como fazê-lo, porque na China e em Hong Kong existe uma lei sindical”, disse ao HM. The silhouette of Chinese workers on a construction site in Beijing, China
Fão critica mesmo muitas das vozes que têm vindo a defender a existência da lei sindical e que, em 2005, chumbaram o seu projecto de lei colectivo, tal como Leonel Alves, que falou do assunto à Rádio Macau.
“A lei foi vergonhosamente chumbada, porque contava com o apoio dos meus conterrâneos. Houve ainda um conterrâneo meu que na altura chumbou o nosso projecto e agora veio dizer que há urgência em termos uma lei sindical, quando há uns anos atrás dizia que não era necessário. Não se compreende.”
Para José Pereira Coutinho, actual dirigente da ATFPM, e que ontem interpelou novamente o Governo sobre o assunto, a resposta da DSAL é sinónimo de que não só não se está a cumprir com o que diz a Lei Básica como “será necessário perceber de que modo vai o Governo proceder às auscultações da sociedade”.

Ir além da ATFPM

Quais as razões que estarão por detrás do vazio legal? Eric Sautedé, politólogo, diz ser “irracional” que Macau ainda não tenha a lei e diz que é preciso haver uma força associativa independente com mais poder.
“A razão básica pela qual não temos uma lei sindical é a falta de uma associação independente que seja grande o suficiente para mobilizar as pessoas e desafiar as organizações pró-governo que deveriam servir de sindicatos. Coutinho, através da ATFPM, apresentou (a lei), mas não é suficiente”, disse ao HM.
Sautedé lembra que “a maioria dos membros da Assembleia Legislativa (AL) são empresários”, mas frisa que as associações tradicionais pré-transferência de soberania deveriam ter o papel de sindicatos, mas na prática isso não acontece.
“Temos a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), que não representa mais os interesses da maioria dos trabalhadores, porque têm muitos membros, cerca de 80 mil membros. Mas não é um verdadeiro sindicato.” Quanto às associações do sector do Jogo, que lideraram muitos protestos, “ainda não têm força suficiente para, de facto, fazer uma mudança”.
Ella Lei, deputada indirecta que representa a FAOM no hemiciclo, não falou do papel da associação na defesa dos direitos laborais, referindo que ainda há falta de conhecimentos sobre a lei no seio dos deputados.
“Muitos suspeitam que as associações de trabalhadores poderão ficar com demasiado poder caso a lei seja aprovada, mas para mim isso não passa de um mal entendido”, explicou. A deputada acrescentou que tanto patrões como empregados não podem estar apenas dependentes da lei laboral mas também de acordos ou mecanismos de negociação para manter a comunicação entre as duas partes e proteger os trabalhadores que queiram participar em actividades sindicais.

Lei anti-sindical

Se Eric Sautedé acredita que o Governo não tem, por enquanto, interesse em legislar esta matéria, o jurista António Katchi diz que “o poder oligárquico em Macau – por via do Governo e da maioria dos deputados à AL – procurará adiar a introdução de uma lei sindical até não mais poder”.
“Não considero minimamente desejável uma lei sindical que parta de uma proposta apresentada por este Governo. Uma lei dessas seria mais uma lei anti-sindical do que uma lei sindical”, acrescentou.
Katchi defende que só uma “poderosa mobilização popular” poderá travar a oposição à lei sindical que poderá existir no seio da AL. “Essa mobilização pode assumir diversas formas, incluindo greves, que já hoje se devem considerar lícitas. Só a luta das classes trabalhadoras pode conduzir à aprovação de uma lei sindical digna desse nome.”
António Katchi não duvida de que a existência de sindicatos em Macau “pode também servir de ponto de passagem para o combate político” e para a formação de “partidos de classe”, que poderia constituir uma oposição ao actual sistema político.

18 Ago 2015

Deputada quer habitação pública à entrada da Taipa

A deputada Ella Lei questionou o Governo sobre a ausência de aproveitamento de um terreno localizado à entrada da Taipa, cuja concessão caducou em 2008. Nessa área, a deputada acredita que poderia ser construída mais habitação pública

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a década de 90 chegou a ser pensado para a construção de um parque temático com semelhanças ao Ocean Park de Hong Kong, o qual teria a designação de “Parque do Mundo Marítimo” e iria atrair mais de um milhão de visitantes por ano. Contudo, anos depois, o terreno situado na Estrada Marques Esparteiro, à entrada da Taipa, continua por aproveitar, sendo muitas vezes destinado à queima de panchões por altura do ano novo chinês. A concessão do terreno caducou em 2008.
Ella Lei defende, na sua interpelação escrita entregue ao Governo, que os residentes de Macau têm necessidades urgentes de mais habitação pública, defendendo que o terreno poderia ter esse fim. A deputada lembrou as recentes declarações do Governo quanto à falta de terrenos como argumento para não responder às necessidades da população.
“Segundo um anexo onde estão as plantas de concessão dos terrenos de Macau de 2008 na Lei de Terras e a proposta de revisão dos regulamentos preliminares, o prazo de arrendamento desse terreno expirou nesse ano. Há dúvidas se esse lote já está na lista dos terrenos desocupados ou se estão a ser levados a cabo processos de recuperação”, escreveu a deputada.

Urgente dar uso

Para Ella Lei, o Governo deveria tratar com prioridade os 18 terrenos que estão desocupados para resolver em tempo oportuno as dificuldades de habitação em Macau. A deputada pede ao Governo para tratar rapidamente dos processos referentes a esses lotes, incluindo os que dizem respeito a declarações de caducidade e recuperação. Ella Lei quer que o Executivo “implemente um calendário de trabalhos claro”, por forma a evitar mais demoras. A deputada lembrou que até ao momento nenhum desses terrenos foi recuperado, tendo mostrado dúvidas sobre o projecto do parque marítimo.
Já em 2009 o deputado Au Kam San havia questionado o Executivo sobre o projecto, por forma a saber se o terreno em causa pertencia à Universidade de Macau. Em nota oficial, o Governo garantiu que o espaço serviria para um parque temático que iria ligar a Taipa ao novo aterro na zona norte da Taipa. O terreno serviria “para conectar o trânsito, infra-estruturas e instalações públicas das duas áreas, aliviando a pressão sobre o trânsito”. Ficou a promessa de que “os organismos de transportes e obras públicas irão acompanhar os trabalhos ligados ao projecto”.

18 Ago 2015

Eleições AR | Coutinho tem acordo com partido “quase assinado”

Pereira Coutinho não revela qual o partido pelo qual se candidatará à AR, mas garante que o acordo já está “quase assinado”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] possibilidade do deputado José Pereira Coutinho ocupar um lugar na Assembleia da República portuguesa pode, de facto, ser uma realidade. Mantendo sempre em segredo o partido pelo qual poderá concorrer, o deputado confirma que a candidatura é uma certeza, estando por isso a eleição dependente do número de votos.
“Só irei tornar público o partido com o qual me vou candidatar depois das eleições para o Conselheiro das Comunidades Portuguesas, mas sim, estou em negociações e [o acordo] já está quase assinado”, confirmou ontem ao HM.
Nas eleições legislativas de 2011 do círculo fora da Europa, o Partido Social Democrata (PSD) elegeu dois deputados com 55,05% dos votos, ou seja, 8323 votos, num universo de 12 mil votantes, levando Carlos Páscoa e José Cesário à Assembleia da República. Num total de 120 mil eleitores registados, apenas 12 mil foram às urnas, sendo que destes mais de 4 mil residem no Brasil, tornando esse país a máquina mais forte deste círculo.
“Caso o número de eleitores não tivesse aumentado este ano, José Pereira Coutinho poderia de facto ser um forte concorrente”, explicou fonte interna do PSD ao HM.
Para as eleições legislativas que acontecem a 4 de Outubro, estão registados, no círculo fora da Europa, mais 61 mil eleitores do que em 2011, aumento que altera o número mínimo de votos necessários para a eleição de um deputado. “Se anteriormente o deputado Pereira Coutinho conseguisse quatro mil votos obteria o lugar, mas com o novo número de eleitores o cenário é diferente e tudo pode mudar. Não sabemos quantos vão votar”, defende.

Ser ou não ser

Partindo do princípio de uma candidatura real de Pereira Coutinho, o deputado “possivelmente precisará mais de cinco mil votos”, caso o partido que se mostrou mais forte nas ultimas eleições legislativas, o PSD, “perca poder com os seus candidatos”.Pereira Coutinho
Seguindo o método de Hondt, é impossível determinar para já o número de votos que dão a cadeira a Pereira Coutinho. Este modelo matemático é utilizado para converter votos em mandatos, aplicando-se a divisão sucessiva do número total de votos obtidos por cada candidatura pelos divisores e pela atribuição dos mandatos em disputa.  
“Mesmo que ele não consiga, é possível que com todo o trabalho que tem feito coloque Macau no cenário político, como a segunda maior máquina de votos fora do círculo da Europa”, acrescentou a mesma fonte.

Forte engenho

Apesar do PSD Macau ter negado qualquer convite feito ao deputado, Miguel Bailote, presidente da secção do PSD em Macau, considera que a candidatura de Pereira Coutinho “faz todo o sentido”, se essa é a sua ambição.
“Não sei [se ele vai conseguir atingir o número de votos suficientes], mas a estrutura da Associação do Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) e Pereira Coutinho têm demonstrado ao longo dos tempos que têm uma máquina eleitoral forte, portanto se ele for candidato, penso que poderá ter possibilidades de ser eleito”, defende o social democrata.
Goste-se ou não da possível candidatura, e do próprio deputado, diz Miguel Bailote, Pereira Coutinho “é uma pessoa que tem defendido os interesses de bastantes portugueses aqui [em Macau], portanto não estou a ver porque há-de ser uma má opção”.
Com tudo em aberto, José Pereira Coutinho tem até dia 24 de Agosto para apresentar a sua candidatura. Entretanto, vai aproveitando a sua estada em Portugal para ter encontros com figuras políticas. No passado sábado, a delegação do CCP marcou presença no encontro da coligação PSD-CDS no Pontal, na Quarteira. A delegação aproveitou o momento, explica num comunicado à imprensa, para propor ao primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, a “melhoria no atendimento aos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro bem como a simplificação dos procedimentos administrativos no âmbito do registo civil e do uso das tecnologias de informática.
Está ainda agendado, pela primeira vez, um encontro para dia 26 de Agosto, “uma reunião de trabalho com o vice-presidente, coordenador e porta-voz do PSD, Marco António Costa”.

18 Ago 2015

União dos Empregadores Domésticos em protesto

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de tornado público o caso de uma empregada doméstica vietnamita indiciada por maus tratos a um bebé de dois meses, a associação “União dos Empregadores Domésticos de Macau” vai realizar uma manifestação, na praça Tap Seac, no dia 30 de Agosto, contra esta classe trabalhadora.
O objectivo é claro: “convocar o Governo para o problema de maus tratos que envolvem as empregadas domésticas”, defende a associação. Foi através da página do Facebook, da própria associação, que foi emitido um comunicado recordando o caso do bebé do qual a empregada doméstica estava responsável. Segundo a investigação da Polícia Judiciária (PJ) tornada pública, existem provas de que a empregada abanou e bateu com a cabeça do bebé contra um objecto “pelo menos três vezes”.
“Sendo pais, quando tivemos conhecimento desta notícia de maus tratos, sentimos a dor de como se do nosso filho se tratasse. É absolutamente irritante. Como é que vamos suportar mais estes tipo de actos ilegais das empregadas domésticas nas nossas famílias?”, argumenta a associação.
Com isto, a união apela a que todos os residentes de Macau participem no seu protesto, que irá percorrer o caminho da praça do Tap Seac até à Sede do Governo. A associação quer ainda solicitar ao Governo que sejam elaboradas lei independentes para supervisionar as empregadas domésticas estrangeiras, acelerando ainda os procedimentos jurídicos para os crimes cometidos por esta classe trabalhadora.

Empregadores contra

Questionadas sobre a participação na manifestação, mães e empregadoras foram claras na sua posição: não vão participar num momento que dizem “injusto” para as empregadas domésticas.
“Como posso participar nessa manifestação? Compreendo o motivo, mas é um caso, que ainda não está confirmado, em mil. Tenho empregada há muito tempo e ela a única coisa que faz é tornar a minha vida mais fácil aqui em Macau. Já são vítimas de baixos salários, não concordo nada com esta manifestação”, argumentou Adriana Lucas ao HM.
Isabel Castro, mãe de uma criança de dois anos, tem empregada doméstica a cuidar da sua filha, defende que “utilizar este caso para generalizar, ou ir contra, as empregadas domésticas não é justo, nem sensato por não ser um acontecimento frequente em Macau, não é uma realidade que possa ser generalizada”.
“Sem colocar em causa a dor que esta família está a sentir, estamos perante uma alegada agressora, portanto até a justiça decidir, até existir uma decisão de um tribunal, não me sinto no direito de julgar a empregada”, começa por defender, sublinhando que em todas as profissões “há boas e más pessoas”, aplicando a qualquer área.
É importante, para esta progenitora, há de facto necessidade de haver “um recrutamento sério e mecanismos que façam com que os empregadores possam ter garantias de quem estão a empregar”, por estamos a falar de uma profissão que implicar colocar alguém, que é estranho, dentro da sua própria casa e a tomar conta dos seus filhos.
“Concordo que existam mecanismos, nomeadamente dentro das agências [de recrutamento] que possam dar garantias mínimas a quem contrata”, remata, sublinhando que infelizmente “já existe um sentimento muito complicado em relação aos trabalhadores que vêm de fora”. Este tipo de iniciativas, remata, podem avolumar o clima de tensão entre as partes envolvidas.

18 Ago 2015

Linha de Prevenção da Cáritas salva vidas há mais de 30 anos

Tem mais de 30 anos. Toca muitas vezes por dia e do outro lado da linha nada mais surge do que medo, angústia e desespero. Em anonimato, mais de 80 voluntários dão o seu tempo por aqueles que querem desistir. Paul Pun guiou-nos naquele que é o trabalho diário da equipa “Esperança na Vida”

[dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]ada telefonema que atendemos é uma vida que salvamos”. É desta forma que Paul Pun, Secretário-geral da Cáritas de Macau começa a nossa visita guiada a um dos projectos mais antigos: a linha de prevenção do suicídio, “Esperança na Vida”.
“Esta linha de apoio festeja agora 31 anos de existência. No início funcionava apenas durante 11 horas por dia. Tínhamos uma equipa de alguns voluntários e seis funcionários contratados. Quando tivemos pernas para crescer, fizemo-lo e agora somos 80 voluntários – só para a linha chinesa – com 10 funcionários contratados a funcionar 24 sob 24 horas. O ano passado lançámos a linha em inglês que conta com quatro voluntários, todos falam inglês e dois deles também falam português”, explica.
O local, esse, “é preferível manter em segredo”, assim como o nome de qualquer voluntário. “Isto funciona de forma mundial. Nenhum dos voluntários diz o seu nome, ou dá qualquer informação pessoal, cada um de nós é um número e é só por esse número que a pessoa que liga – no caso de ligar mais do que uma vez – poderá requerer a mesma pessoa”, esclarece, corrigindo-se, “quer dizer, há uma coisa que os voluntários podem dizer, mas apenas para orientação do nosso utente, que é o turno em que está a trabalhar”. Este sistema permite à pessoa que liga pedir para voltar a falar com o mesmo voluntário, estando ele já a par da sua história. 17815P2T1
“No ano passado a linha de prevenção em língua chinesa recebeu mais de 17 mil chamadas”, indica.
Do outro lado da linha está uma equipa pronta a perceber o problema, a conversar mas, principalmente, a ouvir. “Não é qualquer pessoa que pode ser voluntário para a linha de prevenção. Pensarmos que temos formação para isso, por sermos enfermeiros, assistentes sociais ou outros profissionais não nos torna aptos para prestar este tipo de trabalho de ajuda. Achar que queremos ajudar não é suficiente. Aqui não é o mesmo que ir a casa das pessoas, olhá-las frente a frente. Não. Todos os nossos voluntários receberam formação. Agora os novos, da linha de apoio em língua inglesa receberam formação com outros voluntários de Hong Kong. Aqui o que é preciso é saber ouvir, só isso: saber ouvir. É o mais importante”, relata.

Saídas de emergência

Ainda não existia a linha inglesa quando Jo Hin ligou para a única que funcionava, as discussões e os maus tratos que recebia da mãe tinham chegado ao limite e o suicídio era a única saída que a jovem de 17 anos conseguia ver. “Ligou-nos com muita infelicidade na voz. Estava cansada dos maus tratos, tinha decidido matar-se com uma tesoura. Sentia-se perdida, não sabia o que fazer”, relembra Paul Pun. Durante a conversa o voluntário percebeu que este era um dos casos em que a equipa de trabalho teria de ir ao encontro do utente. “A opção de irmos ao encontro das pessoas é sempre a última, só quando percebemos que só há essa solução, e, também, nunca são enviados voluntários, só os trabalhadores”, anota o Secretário-geral, indicando ainda que no ano passado, entre 17 mil pedidos de ajuda, foi necessário ir ao encontro de 41 casos.
Jo Hin contou ao voluntário que estava perto do antigo tribunal. “Como só há um não foi nada difícil descobrir e ir até lá”, relembra. Em pouco minutos a equipa estava junto da jovem que ao final de “uma hora de conversa” ficou mais calma. “Neste caso especifico, a jovem contou-nos todos os maus tratos que recebia da mãe, mas também nos falou da boa relação que tinha com a avó. Esse foi o nosso ponto chave. Falámos no desgosto que seria a avó perder a própria neta”, conta, sublinhando a necessidade de mostrar sempre o lado positivo que existe em cada situação.
“São pequenas frases ou até uma palavra que pode mudar o estado de espírito da pessoa e, claro, a sua decisão”, remata. O caso de Ip Fong, uma mulher na casa dos 40, é sinal disso mesmo. Ip sentia-se profundamente infeliz, durante muito tempo. “Nesta idade é comum termos um trabalho, família, ter dinheiro e algumas economias”, anota Paul Pun. A verdade é que Ip Fong tinha tudo isso, mas ainda assim tudo parecia muito vazio na sua vida. “Esta mulher sentia-se inútil, não se sentia integrada na sociedade, não sentia que era um membro importante para a comunidade, fosse qual fosse a sua função. Sentia-se invisível e por isso, não percebia porque tinha de continuar a viver”, recorda.
Uma vez mais, depois de um telefonema preocupante, conta, a equipa saiu à rua e decidiu combinar um encontro com a mulher antes desta tomar qualquer decisão. “Combinámos com ela na Igreja da Nossa Senhora do Carmo e ela lá estava”, relembra. A conversa durou “mais ou menos” uma hora e em todo o momento Ip esteve cabisbaixa. “Porque é que se olha também como um ser invisível?”, foi a pergunta feita pelo trabalhador que despertou a atenção da mulher. “Ainda hoje me emociono quando conto a história desta mulher. Foi automático, quando lhe fizemos aquela pergunta ela olhou para nós e percebeu. Percebeu a importância que cada um de nós tem no seu próprio bem-estar. Mesmo que a sociedade não a quisesse, mesmo que ela fosse invisível, porque terá ela de se olhar e ver como tal? Se ela mudar, a sociedade muda”, argumenta. Depois de alguns encontros, Ip Fong é agora uma mulher coesa e estruturada, membro da comunidade de Macau.

Maiores causas

Relacionar a indústria do Jogo ao número de tentativas de suicídio é um erro e quem o diz é o próprio Paul Pun. “Não, não é o Jogo a maior causa que leva as pessoas a ligarem para aqui, a verdade é que o motivo que mais faz tocar o telefone é o facto das pessoas se sentirem como parte separada da sociedade. Sentem que são inúteis, como se fossem invisíveis”, explica, indicando que este motivo é o mais apresentado na linha chinesa.
Relativamente à linha de língua inglesa, o Secretário-geral indica os problemas com a entidade patronal como o motivo mais apresentado. “Estamos a funcionar desde o dia 22 de Junho, num regime de quatro horas diárias [das 10 às 14 horas]. A primeira chamada que recebemos foi logo no dia 24 de Junho e temos recebido uma chamada por dia. De várias nacionalidades as pessoas queixam-se maioritariamente de problemas com a entidade patronal”, conta.
Jason Miry, natural das Filipinas, é uma das pessoas que já usufruiu da nova linha de prevenção da Cáritas. Jasom sofreu uma lesão nas costas que o impossibilita de trabalhar, mas isto não passa de uma desculpa para o patrão do filipino. “Ele ligou-nos muito perturbado com a situação, não aguentava mais. Tinha dores e era obrigado a trabalhar, caso não o fizesse era despedido”, explica Paul Pun, rematando que “há muitas situações que deixam as pessoas a pensar que não têm saída”.
Pouco mais de um mês depois da linha inglesa estar disponível, foram muitos os telefonemas recebidos. “Portugueses, filipinos e até indianos” são algumas das nacionalidades abrangidas, mas nem todos pensam no suicídio. “É preciso fazer essa separação. Muitas chamadas que recebemos são de pessoas que têm dúvidas sobre determinados assuntos, por exemplo sobre a homossexualidade. Querem conversar, apresentar as suas dúvidas, perceber o que devem pensar ou não. Nem todos os telefonemas se resumem a um ‘quero matar-me’. A linha inglesa está com uma média de um ou dois telefonemas por dias, naquelas quatro horas, mas apenas quatro telefonemas mostraram vontade de praticar o suicídio”, clarifica.

Números explosivos

Iong Si, um homem com mais de 50 anos, ligou para a linha de apoio em profundo desiquilíbrio. Estava desesperado e queria pôr termo à vida. Para isso, comprou uma garrafa de gás e estava numa loja, provocar uma explosão era a sua intenção. “Neste caso tivemos de ir no imediato, não era só a vida daquela pessoa que estava em causa, mas sim a segurança de terceiros. Tudo acabou bem, felizmente”, relembra. Mas nem sempre corre, e essa é uma verdade que a equipa não pode esquecer. “Nunca perdemos ninguém. Já encontrámos pessoas em situações de estados inconscientes ou quase”, indica.
Segundo os dados oficiais mais recentes dos Serviços de Saúde, que dizem respeito ao ano de 2013, a taxa global de suicídio em Macau correspondia a 11,5 por cada 110 mil habitantes, tendo o território registado 68 casos. Problemas de depressão, emocionais, financeiros, relacionados com o Jogo ou doença foram as principais razões apontadas como motivo de suicídio.
Há 30 anos a ouvir as pessoas, a linha de apoio vê o seu trabalho reforçado com o recente projecto Centro de Recursos de Educação para a Vida. Um espaço que vem prestar apoio a pessoas que pensam ou já tentaram o suicídio, oferecendo-lhes workshops, palestras e outras actividades.

*De forma a salvaguardar a identidade dos utentes, todos os nomes acima referidos são fictícios.

17 Ago 2015

Equipa de Chan Meng Kam diz que CCAC funciona como “escudo” do Governo

Chan Meng Kam aproveitou uma sessão de balanço dos trabalhos da AL para acusar o Governo de usar o CCAC como “escudo” para o problema desencadeado com a denúncia da antiga Fábrica de Panchões Iec Long. A equipa do deputado quer explicações

[dropcap=’style’]O[/dropcap] deputado Chan Meng Kam criticou o Governo, argumentando que este utiliza o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) como “escudo” para a explicação da permuta dos terrenos da antiga Fábrica de Panchões Iec Long. As acusações de Chan tiveram lugar durante uma conferência sobre o balanço dos trabalhos da segunda sessão da Assembleia Legislativa (AL) dos três deputados. Si Ka Lon apelou a uma revisão mais rápida do Regime da Habitação Social, enquanto Song Pek Kei pediu o cancelamento dos passes mensais dos auto-silos públicos.
Segundo o Jornal do Cidadão, os três deputados fizeram, no sábado passado, um balanço dos trabalhos da segunda sessão da AL deste ano. No total foram apresentadas 36 intervenções antes da ordem do dia, 119 interpelações escritas e sete orais. Houve ainda lugar para uma moção de debate e apresentação do projecto da Lei do Arrendamento juntamente com outros seis deputados. A equipa recebeu ainda pedidos de ajuda de 4860 residentes, um quarto destes envolvendo assuntos relacionados com habitação, dos quais 1194 casos precisam de ser acompanhados continuamente. O deputado Chan Meng Kam disse considerar que o Governo deve publicar activamente o contexto da permuta de terrenos, que envolve interesses públicos. Além disso, sugere que se repense se é necessário que todos estes casos vão parar às mãos do CCAC. “O Governo tem em falta 30 hectares para concluir os processos de permuta com os proprietários de terrenos, uma área que é equivalente à da zona C dos novos aterros. Esses assuntos de troca e concessão de terrenos feitos de forma pouco transparente fazem com que os residentes suspeitem da realização de acções à margem do conhecimento público. Caso assim não seja, as informações devem ser todas publicadas e o CCAC não deve actuar como ‘escudo’ do Governo”, explicou o deputado.

Parcialidades

O número um da equipa acusou novamente o CCAC de executar as suas actividades de investigação de forma selectiva e parcial, visando os dois funcionários da Aliança do Povo de Instituição de Macau, que foram condenados com pena de prisão no caso de corrupção das eleições da AL, em 2013. “Nós fomos eleitos pelos 26426 eleitores legais e o CCAC tem tido preconceitos relativamente a actos de promoção dos candidatos da AL. Nas eleições democratas, quem é que não ligou a pessoas a pedir votos? O [Barack] Obama também precisa e também o sei por via de outros deputados, em primeira mão”, começou Chan Meng Kam por lembrar. O deputado vai mais longe e acusa mesmo o CCAC de ter agentes à paisana no seio das eleições. “Suspeito que pessoal do CCAC tenha estado à paisana no caso das eleições e fiquei chateado com o ‘julgamento livre’ do Tribunal Judicial de Base (TJB), foi um combate político”, encerrou.

Outros apelos

Na mesma conferência de balanço, a deputada Song Pek Kei referiu que os três deputados também concordam com o cancelamento dos passes mensais dos parques de estacionamento público, de forma a que seja possível distribuir recursos de forma justa pela população. Também Si Ka Lon se juntou à festa, pedindo celeridade no processo dos regimes de Habitação Social e Habitação Económica. Si quer que o Executivo esclareça em que pé está a situação dos concorrentes excepcionais cuja participação foi permitida para a obtenção de uma habitação social. O deputado pede também o aperfeiçoamento do mecanismo de avaliação dos concorrentes e, através de uma participação com o IAS, uma avaliação dos níveis de urgência e perigo de cada um dos casos.
A equipa apontou ainda que o número de propostas do plano legislativo do Governo tem sido menor de ano para ano e que muitas propostas que consideram importantes ainda não foram entregues à AL. Exemplo disso, referem, é o Regime de Previdência Central Não Obrigatório, pelo que sugerem que o Governo implemente não só o actual plano legislativo anual, mas também um plano a cinco anos.

17 Ago 2015

Serviços de Saúde reagem a caso de médica chumbada

Depois de Alexis Tam ter prometido que vai resolver o chumbo da médica macaense, os SS reagem. Em causa nunca esteve o recrutamento da médica – tal como já se sabia – mas sim o reconhecimento da sua especialidade. Essa que continua a não ser suficiente…

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de se recusarem a prestar declarações, os Serviços de Saúde (SS) voltam atrás na sua decisão e apresentam a sua versão sobre o caso da médica chumbada no exame de reconhecimento da especialidade. “Até ao momento os Serviços de Saúde não expuseram a público nenhuma questão pelo facto da interessada, ter optado pela via judicial para resolver a situação”, começam por explicar as autoridades de saúde num esclarecimento enviado por e-mail ao HM.

Na resposta, os SS esclarecem que a médica em causa solicitou um pedido de reconhecimento da equivalência da especialidade médica – em Medicina Interna –, adiantando que nunca esteve em causa um processo “de recrutamento relativo a esta médica”, como a própria anteriormente confirmou ao HM.

Sem negar a necessidade de recrutar recursos humanos, os SS explicam que a aprovação do exame “não significa a admissão directa nos Serviços de Saúde”, indicando ainda que a mesma aprovação serve apenas para autorizar “o exercício da actividade médica na RAEM”.

Dos requisitos

Relativamente ao recrutamento, que os próprios SS assumem não estar em causa, as autoridades explicam que o processo para os profissionais de saúde residentes permanentes da RAEM para “exercício de funções públicas deve decorrer de acordo com os procedimentos concursais previstos na lei”, respeitando alguns requisitos, como por exemplo, ter pelo menos cinco anos de especialidade, exercidos como experiência profissional e não apenas académica. Requisito este que poderá ser contornado caso o processo de recrutamento decorra em regime de convite, informação anteriormente confirmada pelos próprios SS.

As ilegalidades no exame, apontadas pela médica na exposição enviada a Alexis Tam – resultando num processo jurídico contra os SS – continuam por esclarecer, assim como a justificação da avaliação, de 9,3 valores, a uma médica avaliada em 19,6 valores, pela Universidade de Coimbra.

Questionada pelo HM, a médica em causa confirma que até à data ainda não recebeu qualquer tentativa de contacto, nem pelo gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, nem pelos próprios SS.

17 Ago 2015

Coutinho quer ser candidato à Assembleia da República

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] conselheiro das comunidades portuguesas e deputado à Assembleia Legislativa de Macau, José Pereira Coutinho, disse ontem à agência Lusa que “apresentará uma candidatura” à Assembleia da República Portuguesa, mas recusa revelar o partido por onde concorre.
“A vontade não nos falta de poder trabalhar mais e da mesma forma como temos trabalhado em Macau, mas desta para todas as comunidades do resto do mundo porque, de facto, o que concluímos é que nos últimos 10 anos praticamente não foi visível do representante na Assembleia da República em nome das comunidades do resto do mundo e é isto que nos faz mover para que haja de facto mais felicidade, mais qualidade de vida para as comunidades portuguesas espalhadas pelo resto do mundo”, disse.Pereira Coutinhp
Apesar de ser conselheiro das comunidades, de já ter apresentado uma recandidatura e de ser deputado à Assembleia Legislativa de Macau, o órgão parlamentar da Região Administrativa Especial da China, Pereira Coutinho não vê dificuldades em conciliar os dois assentos parlamentares.
“Como sabe, o deputado à Assembleia da República não necessita de, fisicamente, estar presente em Lisboa, portanto há que percorrer as comunidades do resto do mundo para se inteirar dos pormenores, dos problemas, das ansiedades, das necessidades específicas de cada uma das comunidades espalhadas pelo resto do mundo e é isso que vamos fazer para que de facto estejamos bem representados na Assembleia da República”, garantiu.

Encontros na agenda

Pereira Coutinho, que chega esta semana a Lisboa tem previstos encontros com vários partidos e entidades governamentais, disse que o seu pensamento “é independente”, admitindo que “se tem dado bem” com os diversos governos e pode hoje “dialogar” com qualquer partido.
Ser deputado do território chinês e de Portugal pode, no entanto, levantar questões jurídicas em Portugal. De acordo com o estatuto dos deputados à Assembleia da República, apenas funcionários de Estados estrangeiros ou um deputado que em regime de acumulação patrocine um Estado estrangeiro está impedido de exercer o lugar.

17 Ago 2015

Melinda Chan, deputada da Assembleia Legislativa

Depois da ida de Chui Sai On ao hemiciclo, Melinda Chan destaca o facto de todos os deputados terem feito perguntas, sinal de que os ventos estão a mudar no órgão legislativo. A deputada directa diz que é difícil legislar para proibir os deputados de serem empresários e comenta a polémica na Doca dos Pescadores, do seu marido David Chow: “Governo deveria ser bastante claro”

Chui Sai On esteve esta quarta-feira na Assembleia Legislativa (AL). Que análise faz?
Recordo sobretudo o facto de 32 deputados – ou seja, toda a AL – terem pedido a palavra para fazer perguntas. Em seis anos como deputada foi a primeira vez que tal aconteceu. Isso significa que há muitas questões que o Governo ainda não resolveu e que todos os deputados, sejam directos, indirectos ou nomeados, querem ver como vão ser resolvidas e qual será a estratégia de futuro para Macau.

É também um sinal de que a AL está a mudar?
Sim, há uma mudança. Toda a sociedade sabe qual é o desempenho de todos os deputados. Mesmo os nomeados têm de fazer algo. A sociedade está mais preocupada quanto aos seus direitos e quer saber o que é que o Governo vai fazer. Por isso é que todos têm de fazer perguntas.

O Chefe do Executivo garantiu que não vai haver permutas nos terrenos dos novos aterros. Acredita que o Governo está a tentar ser mais transparente através das políticas dos novos aterros?
O Governo quer ser mais transparente e tem de o ser, por causa da pressão feita pelos deputados e pela própria sociedade. Melinda Chan

Esta sessão legislativa chegou ao fim e ficou marcada pelo caso de corrupção eleitoral com ligações aos deputados Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei. Acredita que este caso veio descredibilizar a AL?
Penso que o Governo e os juízes, quando tiverem acesso a todas as provas, vão tomar uma decisão. Quer sejam culpados ou não, acredito nos nossos juízes. Tudo está a ser feito segundo a lei e isso é algo que será bom para todos.
[quote_box_left]“Não podemos analisar toda a gente à lupa e dizer que todos os empresários são maus. Não podemos pôr todos ao mesmo nível.”[/quote_box_left]

Mas pensa que a nova Lei Eleitoral deveria ser mais rígida no combate à corrupção eleitoral?
A lei vai ser revista e tem de o ser, porque tem de especificar melhor o que os candidatos podem ou não fazer durante as campanhas. Isso poderia levar a um melhor planeamento das campanhas eleitorais. Por exemplo, na colocação dos posters em público, cada candidato só poderia pôr cem ou 200. Isso tornaria tudo mais claro e justo para todos. Muitas vezes não sabemos e há muitas zonas cinzentas [na lei]. Não podemos focar-nos na figura de Chan Meng Kam, mas temos de encarar isso como um caso no geral. Ninguém pode colocar pressão aos juízes, têm de ser independentes, tal como os tribunais. Todos procuram por justiça.

Que balanço faz do trabalho de Ho Iat Seng, presidente da AL, nesta sessão?
Penso que está a fazer um bom trabalho.

Ele rejeitou a proposta de debate feita pelos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, sobre a ausência de caducidade de 16 terrenos. Foi uma tentativa de fugir ao assunto?
Já temos uma Comissão (para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas), da qual eu faço parte [para isso]. Durante o mandato do Secretário Lau Si Io também pedimos mais informações sobre esses terrenos, mas nunca obtivemos informações muito claras sobre os nomes das empresas e a área, só nos deram o número de terrenos envolvidos. Mas o Secretário Raimundo do Rosário mostrou-se mais disponível a dar informações. Qualquer projecto ou caso que exista podemos discuti-lo na Comissão. A questão é: o caso teria uma melhor resolução se o discutíssemos num debate?
[quote_box_right]”Continuo a defender que cada projecto de grande envergadura tem de ter o aval da AL. O Governo tem de nos dar esse direito”[/quote_box_right]

Teria ou não?
Se os deputados pedem um debate estão a dar a entender que não fazemos um bom trabalho na Comissão. E não concordo com isso. Discutir esse assunto num debate significaria que não estamos a cumprir com o nosso dever ou que não estamos a fazer o suficiente.

Mas há muitos nomes envolvidos nesses terrenos, como os dos deputados Chan Chak Mo e Angela Leong, por exemplo, grandes empresas, como a Melco Crown, a Sociedade de Jogos de Macau. Não seria importante debater o assunto num plenário?
Não podemos analisar toda a gente à lupa e dizer que todos os empresários são maus. Não podemos pôr todos ao mesmo nível. Uns têm ligações a empresas ou dirigem as empresas. Mas uma coisa importante é não usar a posição de deputado para promover os seus negócios. Segundo a nossa lei, um deputado também pode ser empresário, mas se usarmos essas posição para fazer manobras debaixo da mesa para favorecer a empresa, isso é que não é aceitável. Em alguns países há restrições a esse nível, um membro do parlamento não pode ter negócios. Mas Macau é um território tão pequeno, as relações são muito próximas e é difícil mudar a lei.
Mas seria importante fazer isso?
Já temos algumas restrições se houver conflitos de interesses. Mas proibir um deputado de ser um empresário leva tempo e é algo muito difícil de implementar, porque Macau é de facto um pequeno território. Noutros países os deputados têm outras contrapartidas, talvez o salário seja maior, têm alojamento. Em Macau não temos isso e teríamos de mudar todo o sistema.

O Secretário Lionel Leong rejeitou a possibilidade da AL aprovar previamente cada projecto de obras público e o seu orçamento. É um erro?
O Secretário citou a Lei Básica, mas na altura em que esta foi feita ninguém poderia imaginar que Macau iria enfrentar derrapagens orçamentais, muitas vezes acima do dobro do orçamento inicial. Isso não é aceitável. Continuo a defender que cada projecto de grande envergadura tem de ter o aval da AL. O Governo tem de nos dar esse direito, caso contrário muitas pessoas vão continuar a queixar-se dos atrasos nas obras e das derrapagens constantes. Melinda Chan

O Governo pode perder a credibilidade se continuar com a mesma posição em relação aos projectos públicos?
Claro que as pessoas em Macau não vão aceitar. Muitas pessoas me pedem para dizer ao Governo para parar com o projecto do metro ligeiro, porque já se gastou muito dinheiro e vai causar transtorno. As pessoas não gostam mas já começámos o projecto. Muitos pedem que o metro ligeiro não seja construído na península, porque conhecem os problemas que existem na Taipa. O Governo continua a fazer as coisas de forma bastante lenta e qualquer decisão demora três a cinco anos a ser implementada. O novo Secretário para as Obras Públicas e Transportes tem experiência, não tenho dúvidas do seu profissionalismo. Ele está a resolver os velhos problemas, o metro ligeiro, os terrenos, as habitações. Mas vai conseguir fazê-lo.
[quote_box_left]“No Conselho (do Planeamento Urbanístico), não estão apenas profissionais do sector. Esse é outro problema de Macau, os conselhos só deviam ter pessoas do sector”[/quote_box_left]

Há uma grande discussão em torno do projecto na Doca dos Pescadores. Quer comentar? O património pode ficar em perigo?
Queria clarificar desde já que tenho um conflito de interesses com esta questão (Melinda Chan é esposa de David Chow, empresário que detém a Doca dos Pescadores). Ainda não disse nada publicamente porque há esse conflito de interesses. Mas posso dar a minha opinião. Se a lei permite construir um prédio com 90 metros, claro que qualquer empresa vai querer construir o mais alto possível. Uma empresa tem de prestar esclarecimentos aos seus accionistas. Mas esse é o lado da empresa. Se o projecto vai ou não ser aprovado, temos de ver o lado do Governo. Antes de 1999, o Governo português mostrava maior preocupação em relação ao património do que agora. Nessa altura a zona dos NAPE, onde estamos agora, era um aterro. O Governo português permitiu a construção de prédios com um máximo de 90 metros de altura. Isso significa que do ponto de vista dos portugueses essa altura não iria destruir a vista do Farol da Guia. Sei que o projecto que foi submetido para o Governo (pela Macau Legend Development) não tem mais de 90 metros. A empresa tem o direito a fazer isso. Penso que podemos continuar a ver o Farol da Guia, tudo depende da zona de onde se vê. Mesmo da zona do hotel Starworld já não é possível ver o Farol, porque já tudo mudou. Mas o Governo deveria ser mais claro, se se pode ou não construir com base na lei. Isso seria bom para as empresas, não apenas para esta (Macau Legend Development), para os empresários que querem investir. O Governo está a ouvir vozes diferentes, então temos de perguntar: quer ouvir os profissionais ou as outras pessoas? No Conselho (do Planeamento Urbanístico), não estão apenas profissionais do sector. Esse é outro problema de Macau, os conselhos só deviam ter pessoas do sector, pessoas que digam coisas profissionais. Agora o Governo não sabe, às vezes consulta o público, depois o CPU. O Governo deveria ser bastante claro, se as coisas são feitas com base na lei, nas opiniões do público ou dos profissionais.

Quais os grandes desafios para a próxima sessão legislativa?
Temos a Lei da Violência Doméstica, dos animais, e temos de avançar com a lei contra o assédio sexual. Muitas pessoas dizem que precisamos de ter esta lei para a protecção das mulheres. Penso que deveríamos ter uma lei avulsa para melhor proteger os seus direitos.

14 Ago 2015

Tabaco | Presos só poderão fumar três horas por semana

Com a revisão do Regime de Controlo e Prevenção do Tabagismo, o Estabelecimento Prisional de Macau vai deixar de ter celas para fumadores e os reclusos só poderão fumar no pátio, três horas por semana. Deputados temem protestos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]revisão do Regime de Controlo e Prevenção do Tabagismo não vai apenas trazer consequências para os jogadores dos casinos que fumam, mas também para os reclusos do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM). Na reunião de ontem da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), o director do EPM, Lee Kam Cheong, reuniu com deputados e ficou decidido que as 20 celas para fumadores vão acabar. Tal significa que os reclusos fumadores só poderão fazê-lo três horas por semana, período em que podem usar o pátio para actividades físicas.
“Actualmente não é permitido fumar na área administrativa, incluindo oficinas, cantinas e corredores. Cada recluso tem direito a três horas semanais para a prática de actividades ao ar livre. Nessa área não é permitido o fumo e, com a aprovação da proposta de lei, os presos deixarão de poder fumar nas celas e as zonas para a prática ao ar livre passarão a ser espaços para fumo. Os presos só poderão fumar três horas por semana”, explicou o deputado Chan Chak Mo, que preside à Comissão.

A maioria

Com um total de 1256 presos, o EPM tem uma população fumadora de 66%, sendo que 767 presos fumadores são do sexo masculino. Chan Chak Mo disse que, com o actual sistema, “o controlo [do fumo] é mais fácil e chegou a acontecer casos de fumadores que pediram para ser transferidos para as outras celas para deixarem o vício”. Também não foi registada qualquer situação de violação da lei.
O actual sistema do EPM prevê que, à chegada, o preso tenha de declarar se é ou não fumador e ser encaminhado para a cela consoante a sua opção. Chan Chak Mo garantiu que esse sistema era mais fácil para controlar possíveis violações à lei e Lee Kam Cheong terá garantido que as novas medidas não vão trazer pressões aos guardas prisionais.

Deputados temem protestos
No encontro, os deputados da 2.ª Comissão Permanente mostraram-se ainda preocupados com a possibilidade dos presos se poderem revoltar contra esta medida. “Houve membros da Comissão que disseram que fumar é um direito humano e uma forma de liberdade. Os membros preocuparam-se mais com o período de três horas por semana, se vai ou não afectar a emoção dos reclusos. Isso poderá gerar manifestações ou greves. É uma situação que pode ocorrer em resultado de qualquer desacato, há que controlar bem as emoções dos presos. A resposta que foi dada é que há assistentes sociais que podem prestar o devido apoio aos reclusos”, explicou Chan Chak Mo.
O director do EPM terá ainda prometido apoio mais específico ao nível da cessação tabágica. “De certeza que o Governo vai promover mais acções de divulgação. Há toda a espécie de serviços que vão ser prestados ao fim do vício no EPM, mas tudo depende da vontade do recluso em acabar com o vício”, rematou o deputado.

Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo

14 Ago 2015

Metro | Deputados assumem “surpresa” face a notícias de atraso nas obras

Os deputados da Comissão responsável pelas concessões públicas não poupam críticas ao Executivo sobre o metro ligeiro, dizendo que apesar de estarem sempre a pedir dados sobre o novo transporte, o Governo nunca cede informações

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Comissão para o Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas considera que o Governo tem de aperfeiçoar a divulgação de informações sobre o metro ligeiro e diz mesmo que os deputados que compõem a Comissão só souberam de algumas delas pelos jornais. No relatório final da Comissão liderada por Ho Ion Sang, entregue ontem no último dia da V sessão legislativa da AL, indica que o Executivo não abre o jogo face ao novo meio de transporte.
“As notícias sobre as obras do Parque de Materiais e Oficina davam a entender que aquelas estavam paradas, o que tinha resultado em grandes atrasos das obras de todo o projecto do metro, deixando os deputados surpreendidos”, pode ler-se no relatório, onde os deputados acrescentam que isto prova que existe margem para melhorias no que à divulgação de informações sobre o metro diz respeito. “Esta Comissão pretende que o Governo dê especial atenção ao direito à informação do público.”
Os deputados pedem que o Executivo apresente “periodicamente” o ponto da situação do metro e queixam-se mesmo de que o Governo não foi aberto a falar sobre o assunto, nomeadamente quanto ao orçamento diz respeito.
“A Comissão exigiu várias vezes ao Governo a disponibilização de dados sobre [as estimativas], mas este nunca deu uma resposta concreta.”
O relatório indica ainda que os deputados consideram que o facto do Governo não ter em sua posse todas as informações sobre o metro – incluindo orçamentos e prazos concretos – não vai permitir que o erário público seja “racionalmente utilizado”. Caracterizando as obras do metro “como um exemplo típico de prolongamento de prazos e derrapagens”, os membros da Comissão afirmam que a falta de informações os impede de discutirem o assunto com o Executivo e com a sociedade. E voltam a pedir esclarecimentos, em conjunto com mudanças mais significativas.
“O Governo tem necessariamente de rever as leis vigentes relativas às obras públicas (…). A Comissão deseja ainda saber quais foram as razões que levaram à suspensão das obras do Parque de Materiais e Oficina e de não se ter, ao fim de tanto tempo, resolvido o problema”, pode ler-se no relatório, que volta a pedir a inclusão de cláusulas penais compensatórias para que o Executivo possa ser indemnizado em caso de atrasos.

Tribunal não, despedimento sim

No relatório, os deputados da Comissão dão ainda a entender que não sabem ao certo quem é o responsável pelas obras do parque e da oficina onde ficarão as carruagens do metro ligeiro. “Solicitamos ao Governo que esclareça quem é que é responsável pelas obras da super-estrutura daquele parque”, escrevem, ao mesmo tempo que indicam que não concordam que o caso chegue à barra do tribunal. “A Comissão concorda que recorrer à via judicial não é a solução mais adequada, pois preocupa-se que o tempo gasto nos processos judiciais atrase a conclusão de todo o projecto, mas como este se reveste de interesse público, se as negociações entre o Governo e o empreiteiro não surtirem efeito há que adoptar imediatamente outras medidas, como por exemplo, exigir a ‘saída’ do empreiteiro.” Recorde-se que Raimundo do Rosário já disse que o caso poderá seguir para tribunal se não houver acordo com o consórcio das empresas responsáveis pelas obras – a Top Builders e a Mei Cheong -, a quem foi aplicada já uma multa de 12 milhões de patacas.

14 Ago 2015