Cartas inéditas entre Saramago e Jorge Amado publicadas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] troca de correspondência entre José Saramago e Jorge Amado, durante cinco anos, regista uma “bela amizade”, nascida na velhice, e testemunha desabafos políticos, crises de saúde e anseios literários, entre os quais o Nobel por que ambos suspiravam.

A publicação inédita da troca epistolar que os dois escritores de língua portuguesa mantiveram regularmente, entre 1992 e 1997, acaba de chegar às livrarias, numa edição ilustrada com ‘fac-símiles’ e fotos raras, pela Companhia das Letras, intitulada “Com o mar por meio”.

A amizade entre os dois teve início quando “já iam maduros nos anos e na carreira literária”, o primeiro com 80 anos, e o segundo com menos dez anos, segundo a editora. O vínculo tardio, porém, não impediu que os escritores criassem fortes laços de amizade e fraternidade, que se estenderam às suas companheiras de vida, Zélia Gattai e Pilar del Río.

Uma dessas cartas, entre muitas outras, dá nota dessa relação, quando José Saramago escreve a Jorge Amado, em 1993, por ocasião do seu aniversário: “Esta mensagem vai em letra gorda para que não se perca nos azares da transmissão nem um só sinal da nossa amizade, deste carinho tão bonito que veio enriquecer de um sentimento fraterno uma relação nascida tarde, mas que, em lealdade e generosidade, pede meças à melhor que por aí se encontre”.

Este livro nasce de uma coincidência ocorrida quando a filha de Jorge Amado, Paloma, juntamente com a Fundação Casa Jorge Amado, estava a trabalhar as cartas trocadas com José Saramago – no âmbito da organização do acervo do pai, iniciada em 2015 – e, em troca de mensagens com Pilar del Río, tomou conhecimento de que a Fundação José Saramago planeava também fazer um livro.

A organização e selecção de cartas, feita por Paloma Jorge Amado e Ricardo Viel, da Fundação José Saramago, só foi possível por Jorge Amado ter sido um “homem muito disciplinado e organizado, qualidades exacerbadas pelos anos de militância comunista”, que, com “o advento das copiadoras”, passou a reproduzir as cartas enviadas, conta a filha do brasileiro, na introdução do livro.

São cartas, bilhetes, cartões, faxes e mensagens várias, enviados ao longo dos anos, com troca de ideias sobre questões, tanto da vida íntima, como da conjuntura contemporânea, social e política, sobre a qual partilhavam a mesma visão comunista.

Várias mensagens são reveladoras do afecto entre os dois casais, uma das quais assinada por José e Pilar, na qual se referem ao “manjar supremo que é a amizade”. A saúde e a velhice também são amiúde referidas, e Jorge Amado escreve, em 1995, esperar que o trabalho ocupe os seus “dias de velhice – velhice não é coisa que preste”.

As cartas reflectem também o anseio que os dois escritores partilhavam por receber prémios literários e a alegria que cada um deles sentia de saber que o outro o recebera. Em Julho de 1993, José Saramago escreve ao seu amigo, a propósito da atribuição do Prémio Camões a Rachel Queiroz, que não discute os méritos da premiada, mas não entende “como e porquê o júri ignora ostensivamente (quase apeteceria dizer: provocadoramente) a obra de Jorge Amado”.

No ano seguinte, Jorge Amado receberia então o prémio, e José Saramago escreveria “finalmente o Camões para quem tão esplendidamente tem servido a língua dele!”, acrescentando: “Será preciso dizer que nesta casa se sentiu como coisa nossa esse prémio?”. Mas a vez de Saramago chegou em 1995 e, em resposta às felicitações enviadas por Jorge Amado, o autor português confessou: “Em nenhum momento da vida, desde que o prémio existe, me passara pela cabeça que um dia poderiam dar-mo. Aí está ele, para alegria minha e dos meus amigos, e raiva de uns quantos ‘colegas’ que não querem admitir que eu existo…”.

Também o Nobel era tema frequente e José Saramago chega a partilhar, numa missiva para Jorge Amado, em 1994, o desejo de que o prémio lhes fosse atribuído em conjunto, ideia que o escritor brasileiro recebeu com regozijo, considerando-a “magnífica”, mas temendo que “os suecos da Academia” dividissem “o milhão entre Lobo Antunes e João Cabral”.

No entanto, os anos passavam e o prémio não chegava para nenhum deles, levando José Saramago, em 1997, a escrever, em desabafo, a Jorge Amado, que os membros da Academia não gostam da língua portuguesa e que “não têm metro que chegue para medir a estatura de um escritor chamado Jorge Amado”.

Nesse mesmo ano, a correspondência entre os dois cessou devido ao agravamento da saúde do coração e dos olhos de Jorge Amado, que foi perdendo a visão mais rapidamente do que se esperava, acabando por mergulhar numa profunda depressão, que o deixava dias inteiros deitado num cadeirão na sala, com os olhos fechados.

A 8 de Outubro de 1998, Zélia sentou-se a seu lado e deu-lhe a notícia de que o “seu amigo José Saramago vinha de ganhar o Prémio Nobel”, conta a filha. “Como num passe de mágica, um milagre luso-sueco, Jorge pulou do cadeirão, chamou Paloma, pediu que se sentasse no computador, que ele iria ditar uma nota”.

Foi a última carta. Brindou com champanhe, fez a festa com a mulher e a filha e “foi dormir contente”. “No dia seguinte, não quis mais abrir os olhos”.

29 Nov 2017

Filme português “Farpões Baldios” vence prémio no Japão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Farpões Baldios”, de Marta Mateus, que reflecte sobre ruralidade e trabalho, conquistou o Grande Prémio do Hiroshima International Film Festival, no Japão, anunciou ontem a Portugal Film – Agência Internacional de Cinema.

Primeira obra de Marta Mateus, o filme estreou-se na Quinzaine des Réalisateurs, no Festival de Cannes, em Maio deste ano, e venceu em Julho o Grande Prémio do Curtas Vila do Conde – International Film Festival.

De acordo com um comunicado da Portugal Film, o documentário foi distinguido no Japão por um júri composto pelos cineastas Rithy Pahn e Albert Serra, e por Kim Dong, presidente do Festival de Busan, na Coreia do Sul.

Realizada este ano, a obra tem também argumento e montagem de Marta Mateus, som de Olivier Blanc e Hugo Leitão, e é uma produção da C.R.I.M. Filmes – Joana Ferreira e Isabel Machado, em co-produção da OPTEC (Sociedade Óptica Técnica) – Abel Ribeiro Chaves, com distribuição da Portugal Film.

Na primeira pessoa

Os protagonistas do filme, resistentes de uma velha luta por melhores condições de trabalho, contam a sua história pessoal às gerações de hoje, nas suas próprias palavras.

Estreado em Portugal em Setembro, o filme “Farpões Baldios” também recebeu uma Menção Especial no Festival Cineuropa de Santiago de Compostela, em Espanha.

Até ao final do ano, será ainda exibido no Festival de Mar del Plata e no Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.

Em Julho, quando o filme venceu o Grande Prémio do 25.º Curtas Vila do Conde, no valor de 2.000 euros, o júri do festival sublinhou que o filme “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado”.

No filme participam Maria Clara Madeira, Gonçalo Prudêncio, Maria Catarina Sapata, José Codices, Francisco Barbeiro, Lúcia Canhoto, Mariana Nunes, Tatiana Prudêncio, João Neves, António Prudêncio, Rodrigo Rosas, Tobias Liliu, Joaquim Prudêncio, Augusto Frade, Paula Pelado, Maria Inácia Cunha e Tânia Ramos.

28 Nov 2017

This Is My City | Festival acontece em Shenzhen e Macau

Depois de dez anos, é tempo de alargar fronteiras. O This Is My City vai, este ano, ter lugar também em Shenzhen. A ideia é ter uma rede que se alargue ao Delta do Rio das Pérolas. O festival conta, como nas edições anteriores, com várias actividades e Paulo Furtado vem tocar ao vivo a banda sonora do filme que também estreia no território

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é só mais uma edição do This Is My City (TIMC), á a décima primeira e marca uma mudança de estratégia por parte da organização. “Dez anos significa que é uma altura de pensar o que fizemos nesta década e no que vamos fazer para a próxima” começou por explicar, ontem, Manuel Silva, um dos responsáveis pela iniciativa. O resultado é o alargamento do festival à região e este ano, o TIMC vai também ter lugar em Shenzhen, além de Macau.

O objectivo é fazer mais do que um festival. “O alargamento a Shenzhen é para provar que o festival quer ser mais do que isso e que se quer desenvolver enquanto rede, até porque os festivais morrem e as redes perduram”, explicou Manuel Silva.

O conceito também muda: não se tratando mais de uma só cidade, trata-se agora de “uma rede criativa intercidades, em que do local se passa ao regional.”

A ideia é partilhar culturas numa mesma região. A Shenzhen o TIMC vai levar a multiculturalidade do território e do outro lado vem a riqueza cultural associada ao Delta do Rio das Pérolas.

O TIMC nasceu em 2006 e “fechado o ciclo de dez anos de existência redesenha-se e dá agora os primeiros passos para integrar o Delta do Rio das pérolas numa rede criativa, promovendo a lusofonia na região”, lê-se na apresentação do evento.

Cinema imprevisto

Além da expansão geográfica o TIMC volta a trazer um conjunto de actividades distribuídas entre Macau e Shenzhen.

A presença de Paulo Furtado, mais conhecido por The Legendary Tiger Man, não é nova, mas vem agora ao território estrear o seu último trabalho cinematográfico “How to be nothing”. O filme não será uma mera projecção a ter lugar no próximo dia 16 de Dezembro, mas pretende ser uma mostra multifacetada. Paulo Furtado faz, ao vivo, a banda sonora e Pedro Maia, co- realizador da película, manipula as imagens enquanto são projectadas. A experiência promete, diz Manuel Silva, “ser única”. O evento tem lugar no espaço What´s Up na Calçada do Amparo.

O D2 Club também é palco do TIMC, nesta décima primeira edição com uma noite preenchida com os DJs campeões do mundo de scratch e turntablism, os portugueses Beatbombers. A dupla composta por Ride e Stereossauro, depois de tocar no Magma em Shenzhen, a 15 de Dezembro, vem ao território, para encerrar a festa no clube nocturno local.

Entretanto, e a representar o território, há concertos marcados da banda local Fase Lane e o saxofonista e clarinetista Paulo Pereira. Paulo Pereira vai ao What´s Up apresentar um projecto feito especialmente para o evento em que traz a união das tradições musicais ocidentais com a herança cultural oriental através do jazz.

Fronteiras no mapa

Mas o TIMC tem planos de aquecimento para o festival e para o efeito, já no próximo fim-de-semana, começa o projecto TIMC Pearl PAKmap. A ideia é “explorar abordagens interdisciplinares para mapear a percepção da paisagem e a relação entre as fronteiras do Rio Das Pérolas e a sua produção cultural”, diz a organização.

O projecto começa com a realização de dois workshops no Albergue SCM a 2 e 3 de Dezembro e conta com a colaboração de académicos internacionais. No primeiro dia, tem lugar a parte formativa que inclui sessões e discussões académicas e no segundo dia decorre a parte prática em que os participantes vão para o terreno e procuram mapear as fronteiras entre Macau e Zhuhai, a partir da Doca dos Pescadores. A 9 de Dezembro, e após o material recolhido, os participantes encontram-se na Universidade de São José para a fase de pós produção do material recolhido. O resultado: duas exposições, a 15 e 16 de Dezembro nas cidades que acolhem o TIMC. Depois, os trabalhos efectuados passam a integrar a plataforma pakmap.net que “funcionará como arquivo destas e de outras histórias ligadas às fronteiras do Delta do Rio das Pérolas”.

28 Nov 2017

Ilustração | “Imaginary Beings” em exposição na Taipa Village Art Space

São seres imaginados, habitantes de uma Macau desconhecida e vão estar em exposição a partir do próximo dia 6 na galeria Taipa Village Art Space. A mostra é da artista portuguesa Ana Aragão que se estreia no território

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]ão “monstros imaginados” os que saem das ilustrações de Ana Aragão. Não são seres com origem num espaço vazio, a inspiração é Macau, uma terra desconhecida para a artista. O desafio para produzir uma exposição tendo como referência apenas imagens do território foi do curador João Ó, responsável pelas exposições da galeria do Taipa Village Art Space.

A ideia está inserida no próprio plano anual de exposições daquele espaço, em que a última mostra do ano é sempre dedicada a um artista internacional, que não conheça o território. A razão apontou o curador João Ó ao HM, é para “que exista uma interpretação de um artista de fora sobre Macau. Uma visão nova.”

A escolha de Ana Aragão começou pelo contacto com o seu trabalho na internet. João Ó ficou, desde logo, interessado na forma como as ilustrações de Ana Aragão saiam do papel. “Achei interessante o grafismo e o desenho muito minucioso das cidades imaginárias que ela fazia”, refere. Para o curador, trata-se de “um trabalho refrescante pelo detalhe que se verifica em cada desenho, pela forma como transforma edifícios em objectos sem ter de estar comprometida com a realidade”.

Para a exposição no Village Art Space, Macau, a artista teve como referência alguma imagens do território. Com elas trabalhou “Imaginary Beings”, os seres que pensa habitarem Macau.

O título é inspirado na obra “The book of imaginary beings” de Jorge Luís Borges. De acordo com o curador, a obra literária teve uma forte influência no percurso de Ana Aragão. “Foi um forte fundamento para a procura da artista dos seus próprios seres, expandindo o sempre incompleto trabalho do mestre visionário”, diz João Ó, na apresentação do evento.

Em “Imaginary Beings” vão estar expostas 50 peças produzidas com caneta de tinta preta e aguarela.

Confronto com o real

Outro aspecto de interesse, refere João Ó, é a possibilidade que estas exposições de final de temporada dão aos artistas de se confrontarem, depois do trabalho feito, com a Macau real. Ana Aragão vem ao território para a abertura da exposição e “este é o momento em que vai confrontar os seres que imaginou, através de imagens soltas, com a realidade”. Para João Ó, a viagem de Ana Aragão ao oriente vai marcar um momento em que a artista vai ser motivada a produzir mais.

A ideia de trazer ao território um artista de fora e que não conheça Macau mas que trabalhe sobre o território tem um duplo objectivo. “Por um lado trata-se da visão de alguém sobre Macau, que nunca conheceu antes, e por outro, é uma oportunidade de abrir a exposição destes artista a coleccionadores de arte que vão ter também uma visão diferente do território”, diz João Ó.

Mas mais importante, aponta, é a oportunidade que este tipo de trabalho representa também para os locais. “Nós que estamos cá também queremos ver esta frescura, esta reinterpretação aos olhos de quem nunca aqui esteve”.

Da arquitectura ao desenho

Ana Aragão, arquitecta licenciada com distinção pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto FAUP (2009), dedica-se actualmente ao cruzamento entre arte e arquitectura através do seu universo gráfico.

Após uma incursão no meio académico enquanto bolseira no Doutoramento em Coimbra decide interromper a investigação científica para se dedicar em exclusivo ao desenho artístico. É a partir do universo da arquitectura que nasce o seu fascínio pela representação de cidades, imaginárias ou não. Prossegue a sua reflexão acerca da cidade e seus imaginários urbanos através da exploração gráfica dos seus atlas mentais. Intrigada com os mapas emocionais que nascem da experiência quotidiana entre habitante e espaço, as suas “anagrafias” intrincadas são um pretexto para lançar um olhar crítico sobre o território, as formas de construir, e sobretudo, os modos de habitar. Todas as suas obras nascem da articulação entre mão e pensamento, não recorrendo a meios digitais.

A dedicação de Ana Aragão ao desenho e pintura tem sido reconhecida nacional e internacionalmente, salientando-se a sua participação na Bienal de Veneza 2014 e de 2016, o destaque como capa da publicação chinesa “Casa”, a selecção pela Luerzer’s Archive – “200 Best Illustrators Worldwilde”. Destacam-se também colaborações e parcerias com marcas de referência como a Porto Barros (100 anos Porto Barros, Coleção Cidades Portuguesas), as Tapeçarias Ferreira de Sá (Tapeçaria Eudóxia), a Jofebar (Projecto FUTURE FRAMES), a Schmidt Light Metal, a Essência do Vinho, a Vista Alegre, entre outras.

Foi também convidada a desenvolver projectos específicos sobre algumas cidades portuguesas, nomeadamente Lisboa (Meo Out Jazz), Espinho (Cartografia (des)encontrada), Braga (Noite Branca), Aveiro (Lugares Múltiplos) e Guimarães (Casa da Memória). O Porto, cidade onde vive e trabalha, tem lugar de destaque em toda sua obra.

27 Nov 2017

Vitorino Nemésio | Obras completas publicadas em 2018

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma edição das obras completas do escritor Vitorino Nemésio, em 16 volumes, vai ser lançada a partir de 2018, numa iniciativa da editora Companhia das Ilhas, em parceria com a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, foi ontem anunciado. “Nos Açores, nunca estiveram disponíveis as obras do Vitorino Nemésio. Existe uma edição da Imprensa Nacional, com alguns anos, e há muitos títulos esgotados. Justificava-se plenamente esta edição”, declarou à agência Lusa o responsável pela editora Companhia das Ilhas, Carlos Alberto Machado.

O editor disse que as novas gerações de leitores desconhecem Nemésio, apesar de se “aludir muito ao seu nome” e de “qualquer açoriano saber que foi um escritor nascido na ilha Terceira”, mas “pouco mais”.

Vitorino Nemésio, cuja obra literária compreende, entre outros, o título “Mau Tempo no Canal”, considerado pela crítica literária um dos maiores romances portugueses do século XX, nasceu em 19 de Dezembro de 1901, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, e morreu em Lisboa, em 20 de Novembro de 1978.

Considerando que a falta de títulos no mercado desaconselha qualquer professor a incentivar os alunos a lerem o escritor, Carlos Alberto Machado considera que se está perante uma “grande falha”, que pode agora ser colmatada.

Esta edição “ultrapassa largamente a importância local, sendo de âmbito nacional, com particular importância nos Açores”, afirma o editor. A publicação compreende mais de quarenta obras distribuídas por dezasseis volumes, a publicar até 2011, devendo cada um ter pelo menos mil exemplares de tiragem.

Face à dimensão literária de Vitorino Nemésio, o editor defende que o Governo dos Açores, além dos apoios à edição, deveria promover a sua obra, de forma “profunda e alargada”, em todas as ilhas do arquipélago.

A direcção científica da publicação é assegurada pelo professor universitário Luiz Fagundes Duarte, contendo cada volume, além dos textos do autor, uma breve introdução a cargo de especialistas na obra de Nemésio, a par de um texto de síntese da sua vida e obra, de acordo com a editora.

“Vitorino Nemésio promoveu de várias maneiras os Açores. Não foi só um grande escritor. E, onde viveu (França, Brasil e continente), por largos períodos da sua vida, foi o maior promotor do arquipélago, da sua identidade específica e um grande defensor dos Açores como região autónoma, no sentido mais profundo do termo, que não apenas político”, disse o editor.

Considerado um dos grandes escritores portugueses do século XX, Nemésio recebeu, em 1965, o Prémio Nacional de Literatura e, em 1974, o Prémio Montaigne.

A sua obra compreende cerca de 40 títulos na área da fição, poesia, ensaio e crítica, a par da crónica, como “Festa Redonda” (1950), “Nem Toda a Noite a Vida” (1952), “O Pão e a Culpa” (1955), “O Verbo e a Morte” (1959), “O Cavalo Encantado” (1963), “Canto da Véspera” (1966) e “Sapateia Açoriana” (1976), além de “Mau Tempo no Canal” (1944).

A Vitorino Nemésio é atribuída a criação do termo “açorianidade”, num artigo sobre a condição histórica, geográfica, social e humana do açoriano, publicado em 1932.

Além do lançamento da obra do escritor de origem terceirense, a Companhia das Ilhas vai apresentar, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, a sua programação editorial para 2018 e 2019, que contempla escritores como Carlos Alberto Machado, Leonor Sampaio da Silva, Paula de Sousa Lima e Urbano Bettencourt.

27 Nov 2017

Armelle no espaço Creative Macau – As ironias do realismo

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]rancesa, criativa, residente em Macau há 25 anos. O aspecto é seco, os olhos são azuis, sombreados a negro. O olhar é penetrante. Aqui e ali vislumbra-se um olhar entre o divertido e o irónico. É a segunda exposição de Armelle Lainsecq, e não deixa de surpreender. Deu também para um reencontro com o marido, Jacques Lenantec, escultor.

Quando se observam as fotomontagens de Armelle Lainsecq, encontramo-nos inevitavelmente como que perante delírios que podem raiar a classificação de surrealistas mas não creio. São antes uma aguda observação da realidade e a sua interpretação pessoal da mesma, a sua própria verdade.

A artista produziu três séries chamadas “Macao Illusions”, “All in One” e “Dechronologies”.

Armelle Lainsecq interpela o que vê e sente e constrói um mundo desmascarado, onde todas as personas caem para que aquilo que supostamente escondem surja desnudado, qual circo urbano onde reina o condimento da ironia.

Armelle Lainsecq propõe assim três leituras, uma que me é naturalmente cara, a da cidade e a sua (dela) verdade presente – Macao Illusions – outra, a da apropriação e manipulação de pinturas de Rembrandt, Cézanne, Manet, Delacroix e outros, onde a exigência técnica está primorosamente patente em brilhantes reconstruções que parecem indagar com um “e se…” e que são da série “All in One” e ainda uma terceira, “Dechronologies” onde, com uma técnica de fotomanipulação, actualiza criativamente personagens de outros tempos.

Em todos os casos estamos perante alguém com uma capacidade analítica notável, e uma ironia incontestável, integrando uma família de artistas, como seu marido, o escultor Jacques Lenantec e Vincent, o filho que faz tatuagens.

Toda esta circulação pelos territórios do que existe exógenamente, mas sobretudo pela sua interpretação, requer um espaço onde se possa meditar e especular sobre estas áreas.

Daí a tão compreensível reclusão para a decantação entre a aparência do real e a realidade que apenas existe dentro de nós.

O retrato surgiu depois, e com ele naturezas mortas, galhos partidos, uma obssessão com o retrato da realidade, a mesma busca de perfeição residente nas suas fotomontagens.

E foi aí que nasceu a conversa, depois da inauguração da sua Exposição no Creative Center, a merecer uma visita por parte do público de Macau.

 

Há quanto tempo vive em Macau?

A.L.- Desde 1983 a 1992. Depois voltei a Paris e regressei em 2001 até agora. Um total de 25 anos.

Porquê Macau? E porquê a zona do Lilau?

A.L.: Macau em 1983 por motivos profissionais. Nessa altura, o meu marido estava à procura de fundições de bronze na Ásia. Um amigo francês convidou-nos para Macau, dizendo que Macau era um bom lugar para começar a procurar fundição de bronze na Ásia. Na verdade, não encontramos nenhuma fundição, mas apaixonámo-nos por Macau! O clima, a comida, o exotismo. E em 1983, criámos um atelier para lançar as esculturas de meu marido. O Lilau não é uma escolha. Por acaso, começamos a viver nesta área da colina de Penha.

Como relaciona a sua escolha de viver em Macau e numa área histórica e no Macau de hoje?

A.L.- Compramos um apartamento em 1990 na Rua de Lilau por um preço acessível, (risos). Em seguida, compramos um armazém felizmente no piso térreo em 2004, ainda a um preço acessível (mais risos). Ficámos então nesta zona que é silenciosa!

Considera-se uma pessoa irónica?

A.L.- Sim, completamente. Mas sempre com respeito. É mais um sentido de humor, na verdade. Mas também tenho uma grande capacidade de escárnio por mim mesma.

Como surge a série de “All in One”, Manet, Rembrandt, Cézanne e outros aparecem? Porquê?

A.L.- Entre a série “Macao Illusions” e o meu “All in One”, trabalhei em retratos de personalidades, que eu chamei de “Dechronologies”. Por exemplo, peguei no retrato de Luís XIV e, com photoshop, tentei ver como ele deveria ser hoje. Muito engraçado. Retratei assim cerca de 50 personalidades, gosto disso.

Enquanto procurava pinturas para essas “”Dechronologies”, comecei a conhecer muitos mestres e muitas pinturas. Naturalmente descobri o estilo dos mestres e vi que nesses grandes mestres, a sua pintura era por vezes “engraçada” e repetitiva. A ideia de fazer “All in One” veio dessa descoberta.

Lembro-me da sua primeira exposição no Creative de Macau. Até então, a Armelle só tinha colagens digitais. O que a fez passar para os retratos? A sua entrada no mundo do desenho representa uma afirmação interior?

A.L.- Depois de tirar fotografias de tantos artistas, achei que era fácil criticar ironicamente. O último pintor que eu tentei trabalhar foi Picasso com Guernica em “All in One”. Nunca terminei porque me assustei com essa pintura que achei feia. Naquele exacto momento decidi desenhar, para mostrar que não só era capaz de criticar. Desenho retratos, mas também gatos – gosto de gatos – e qualquer assunto que me inspire. Gosto das árvores quebradas após o tufão Hato ou, mais recentemente comida chinesa. Gosto de me concentrar nos detalhes.

Comecei a desenhar no primeiro de Janeiro de 2016, pelo menos, 10 a 12 horas por dia. Todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol, durante todo o ano. Apenas paro quando sou forçada a viajar.

Porquê a ironia sobre Picasso, Manet ou mesmo Rembrandt? O que está por detrás disso?

A.L.- Picasso: não tenho absolutamente nenhuma emoção quando vejo Guernica e todas as suas obras.

Manet: ha ha ha. Porquê uma mulher nua entre 2 homens vestidos tendo um almoço na relva? É uma situação absolutamente absurda.

Rembrandt: neste caso, nenhuma crítica. Apenas tive a ideia de colocar mulheres, em vez de homens, em torno do corpo morto por mera diversão.

… Mas eu tenho muito mais para lhe mostrar: Delacroix, Leonardo da Vinci, Ingres, Courbet, David, Bouguereau.

Aceita encomendas de retratos?

A.L.- Sim. Depois de desenhar cerca de cem retratos de graça e também para treino, eu comecei a aceitar comissões. Tive três no mês passado e tenho quatro novas encomendas para fazer. E algumas mais a caminho. É quando desenho retratos que abandono a ironia! Quero realmente que as pessoas fiquem satisfeitas e felizes com os seus retratos. Para mim todos os meus modelos são VIP, independentemente da idade. Gosto de encontrar os detalhes que revelam o charme ou a beleza de qualquer pessoa que eu desenhe.

Como vê a cena artística de Macau?

A.L.- (risos) Isso não me preocupa nem me importa. Não sou politicamente correcta nessa área, por isso prefiro estar calada.

Claro, há bons artistas em Macau. Descobri recentemente Filipe Dores, que tem muito talento.

Parece que é uma pessoa bastante retirada. Porquê?

A.L.- Nunca fui uma pessoa muito sociável. Tenho muito poucos amigos. Todos sabem que eu sou um pouco “selvagem”. Todos eles desempenharam um papel importante na minha vida, esta é a condição para obter a minha amizade para sempre. Excepto esses verdadeiros amigos, não sinto a necessidade de companhia, tirando a companhia dos meus gatos. Sim, sou retirada e gosto do som do silêncio, não do barulho da música. Sinto-me feliz na frente de um computador ou na frente de uma folha de papel.

Porque essa necessidade de tempo? Quer deixar um corpo de trabalho, uma obra?

A.L.- Comecei tarde a ter uma actividade artística a tempo inteiro. Tenho sido uma mulher-de-artista há décadas. Ser mulher-de-artista é um trabalho a tempo inteiro. Meu marido é escultor, e a escultura é uma arte muito complicada. Trabalhei muito com ele. Sei tudo sobre a escultura, do processo do barro até ao bronze. Mas, há 2 anos, por motivos profissionais e pessoais, decidi ter minha própria actividade em tempo integral. O problema é que comecei tarde, por isso o meu tempo é precioso. Estou em estado de emergência permanente para economizar o meu tempo. Talvez o meu tempo não tenha valor, mas para mim é precioso. Não, não quero deixar uma corpo obra para trás. Sou muito humilde e não tenho tal pretensão.

Considera-se uma artista? Isso é importante para si?

A.L.- Sim, considero-me uma artista. Sempre fui, indirectamente. Na minha maneira de pensar, ou a maneira de compartilhar a arte do meu marido por via de um elevado nível de colaboração. Hoje, se eu não desenhar ou “criar algo”, fico extremamente nervosa, cuidado, eu posso ser perigosa (risos)! Deixem-me desenhar, é a minha vez de pensar em mim!

Não, não é importante ser uma artista, excepto se se fôr um verdadeiro génio, e eu não sou. Todos somos artistas, em diferentes graus.

Tenho notado que os seus preços de venda são bastante acessíveis. Por que é que?

A.L.- Na verdade, eu quero ser acessível, como diz. Acessível às pessoas que não têm o hábito de comprar arte. Quando desenho um retrato, tenho que mostrar um resultado cem por cento de semelhante ao modelo. É o mesmo preço para o meu vizinho que vende “dim sum” no mercado e para uma pessoa muito rica. As pessoas simples sabem melhor o valor das coisas do que as pessoas ricas. Quero trabalhar para pessoas simples. Aqueles que sonham em ter o seu retrato e perceber que isso comigo é possível. O meu alvo são as pessoas. Tenho excelente relação com eles. Eles conhecem-me, eu falo com eles em cantonês (não com fluência, mas o suficiente). Eles gostam de mim e eu gosto de pessoas que gostam de mim. Quero desenhar prioritariamente para eles. Claro que um dia, aumentarei os meus preços, mas essa é a única coisa sobre a qual não tenho pressa. Respeito o valor do trabalho e o trabalho de um artista não tem, para mim, mais valor do que qualquer outro trabalho “normal”. Ei artistas, acalmem-se, vocês são apenas artistas!

25 Nov 2017

Festival da Luz de Macau arranca a 3 de Dezembro com o tema “Amor Macau”

A partir do próximo dia 3 de Dezembro e até ao final do ano Macau brilhará com mais intensidade. Começa o Festival da Luz que promete encher a cidade com projecções e jogos luminosos com produção cem por cento local. O evento custará 18 milhões de patacas, menos dois milhões que no ano passado

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]al como descrito no Génesis, em Dezembro haverá luz. A dirigente máxima da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, anunciou a abertura da terceira edição do Festival de Luz de Macau. O evento começa no próximo dia 3 de Dezembro e decorre até ao final de Dezembro, todos os dias entre as 19 e as 22 horas.

Este ano, a produção estará a cargo de mais de uma centena de produtores inteiramente locais, com eventos a decorrer um pouco por toda a cidade sob o tema “Amor Macau”. Helena de Senna Fernandes explicou que o tema do festival foi escolhido devido ao período complicado que Macau atravessou depois da passagem do tufão Hato. “Houve muito sofrimento, mas também solidariedade entre diversos sector de Macau”, explicou a directora da DST que acrescentou que o festival celebrará os laços de fraternidade e amor entre todos.

No menu deste ano estão espectáculos de vídeo mapping, instalações luminosas, jogos interactivos, exposições em que a luz será o ingrediente principal, concertos de bandas locais e cinema ao ar livre. Os custos desta edição do festival são de 18 milhões de patacas, menos dois milhões do que na edição do ano anterior.

As Ruínas de São Paulo foram o palco escolhido para a cerimónia de abertura, intitulada “Desejo Feito debaixo das Estrelas”, que decorre no dia 3 de Dezembro, às 18h45. O mesmo local acolhe mais dois espectáculos de video mapping, onde serão projectadas luzes que interagem com o relevo do monumento em alusão à confluência de culturas, religiões e etnias que marcam o território. Em “Amor Ilimitado” a narrativa passa pela viagem da frota portuguesa, ligando a Rota da Seda a Macau. No outro espectáculo, “Amor Interligado”, os espectadores embarcam num jogo interactivo que lhes possibilita a participação nas projecções de luz nas Ruínas de São Paulo.

Lago de Luz

O ponto central do festival acontece no Lago Nam Van, onde será instalado o “Labirinto das Flores”, que irá ter várias configurações. O labirinto é um velho sonho de James Chu, presidente da Associação de Designers de Macau e um dos artistas que participa na exposição que a Casa Garden acolhe no âmbito do festival. Na tenda do Lago Nam Van serão projectadas imagens em luz, sendo permitido ao público participar com frases e haverá uma paragem de autocarro em holograma. Haverá ainda música, dança e jogos para públicos de todas as idades.

A fachada da Igreja de Santo António será palco para “O Farol da Guia da Vida”, com uma projecção que pretende aliar histórias de amor e os marcos históricos da igreja. Na Igreja de São Lázaro será projectado o espectáculo visual “Misericórdia e Amor para Todos”, numa experiência que junta a música à profusão de luzes.

A luz do festival vai também inundar a Freguesia de São Lázaro e as imediações do Jardim de Luís de Camões, enquanto que na zona das Casas-Museus da Taipa será montado um palco para concertos de bandas locais.

Helena de Senna Fernandes estima que esta edição do Festival de Luz de Macau tenha mais visitantes, ultrapassando os 200 mil registados no ano passado. O optimismo da directora do DST é justificado por o festival ter mais locais e elementos. Ao mesmo tempo, a líder dos serviços de turismo conta com o maior reconhecimento que o evento tem na sua terceira edição. “O programa deste ano integra a história e a cultura da cidade e queremos torná-lo num evento de marca de Macau”, conta Helena de Senna Fernandes.

Em simultâneo, a responsável máxima pelo turismo acrescenta que o Festival de Luz de Macau também pode beneficiar dos múltiplos eventos que acontecem ao longo do mês. Mais precisamente, a Maratona Internacional de Macau, que ocorre no mesmo dia da abertura do evento, o Festival Internacional de Cinema, o Festival de Compras de Macau, o Desfile Internacional de Macau, o Aniversário da RAEM, assim como a quadra natalícia que se avizinha.

Jardim iluminado

A Casa Garden recebe a exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau”, que conta com a participação de José Drummond, João Ó e James Chu.

“Este trabalho é um pouco a continuação de preocupações anteriores, com linhas de infinito que traçam metáforas sobre a vida, o amor e existência. A minha peça maior será muito proeminente porque obriga as pessoas a uma circulação especial dentro dela”, conta José Drummond. A obra em questão tem como título “There Is a Light That Never Goes Out”, em alusão à música dos britânicos The Smiths. A experiência imersiva é composta por uma coreografia de luzes projectadas “numa espécie de corredor que as pessoas atravessam”, ao som da música dos The Smiths reinventada pelo artista, ao ponto de ser praticamente irreconhecível.

José Drummond participa com mais duas peças em néon vermelho que funcionam como um antagonismo escrito. “Each man kills the things he loves”, de Oscar Wilde e “Find what you love and let it kill you” do poeta norte-americano Charles Bukowski.

James Chu, outro dos artistas convidados a expor na Casa Garden, aventurou-se pela primeira vez numa experiência de projecção de vídeo. No entanto, o novo elemento será adicionado num contexto familiar, um quadro abstracto de nuvens coloridas. “Vou usar o vídeo para tentar projectar uma ideia que tenho na mente em cima da pintura. É a primeira vez que faço algo assim, ainda estou no processo criativo mas está a ser muito excitante”, conta o artista.

Apesar de não ter concluído o trabalho, e de confessar que ainda não está satisfeito com os resultados alcançados até agora, James Chu tem tempo até à abertura do Festival de Luz de Macau.

23 Nov 2017

Filmes de Pang Ho-Cheung em exibição esta semana na Cinemateca

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Festival Internacional de Cinema de Macau só começa em Dezembro, mas, entretanto, já se faz sentir no território. Exemplo disso é o ciclo que decorre na Cinemateca desde ontem, dedicado ao realizador Pang Ho-Cheung.

Depois de “Love Puff”, exibido ontem, amanhã é dia de apresentar “Isabella”.

O filme passa-se em Macau, na véspera da transferência de administração e conta a história de um polícia local, Shing, que está a atravessar um mau momento na vida e a ser investigado por crimes de corrupção. Para se animar, vai à procura de consolo feminino e conhece Yan, a filha que não sabia que tinha. Com o novo papel de pai, Shin tem agora de lidar com a relação homossexual de Yan e com os abusos que sofre por parte de um colega de trabalho. Resta saber se pai e filha se conseguem reconhecer como tal.

“Isabella” ganhou o Urso de Prata no 56.º Festival de Cinema de Berlim.

Sexta-feira é dia de “You shoot, I shoot”. O filme passa-se na vizinha Hong Kong. Numa cidade superpopulosa, em que o espaço, escasso, é palco de pequenas conquistas diárias e gerador de ódios e conflitos, os serviços de assassinato profissionais estão em boa maré de negócio. É o caso de Bart que investe o que ganha com as encomendas de morte no mercado imobiliário. No entanto a crise aparece, Bart começa a ter menos propostas de trabalho e as rendas do aluguer de casas também descem. Em Hong Kong, apenas as mulheres mais ricas começam a ter possibilidades de contratar assassinos. Bart dedica-se agora a este mercado.

Pang Ho-Cheung é um argumentista e realizador de Hong Kong que tem na carreira, não só múltiplas produções, como prémios internacionais e, este ano, é convidado para dirigir uma masterclass promovida pelo Festival de Cinema de Macau.

O ciclo conta com entrada livre e as projecções são às 15h30.

22 Nov 2017

Festival de Cinema | Já são conhecidos dez dos 11 filmes em competição

Dramas familiares, histórias reais e surrealismos de guerra são alguns dos temas que marcam a selecção de filmes em competição na 2ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. São na sua maioria filmes que marcam a estreia nas longas metragens dos seus realizadores. Todos de 2017, já passaram também pelos principais festivais de cinema internacionais e prometem marcar a diferença no evento local

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secção de competição da 2ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau abre as hostes, a 9 de Setembro, com a “história por contar” dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz, traz ao ecrã do pequeno auditório do Centro Cultural de Macau o drama dos bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980. Björn Borg, à conquista do quinto título mundial está exausto. Borg e John McEnroe confrontam-se no campo, mas nos balneários só são compreendidos por aquele que é o seu maior inimigo.

O dia continua com o filme galardoado pelo público na secção da crítica de Cannes deste ano. Trata-se de “Hunting Season” , a primeira longa metragem de Natalia Garagiola. A película conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm oportunidade de se reencontrar.

O sábado de competição fecha com o filme do alemão Jan Zabeil “Three Peaks”. A película trata de um drama familiar. Aeron vive com Lea e o seu filho de oito anos, Tristan, com quem não consegue construir uma relação. A esperança mora numas férias nas Dolomitas italianas. A ideia é que este tempo possa representar um ponto de partida para uma nova vida e uma nova vivência familiar. No entanto, e apesar dos esforços de Aaron, Tristan continua leal ao pai biológico. É num passeio entre os dois, dentro de mais uma tentativa de aproximação, que a situação começa a ganhar outro rumo, quando Aaron e Tristan, devido ao nevoeiro, se perdem um do outro.

Das minas à pastelaria

O dia seguinte começa com a projecção de “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin. Xin explora, em “Wrath of silence”, não só o drama de um pai que procura o filho desaparecido como o submundo ligado à corrupção da exploração mineira. Depois de saber que o filho não voltou a casa após dois dias no campo a guardar ovelhas, o mineiro Zhang Baomin decide voltar à aldeia para o procurar. As dificuldades são muitas. A população não se mostra com vontade de ajudar a encontrar a criança desaparecida e, sem desistir, Zhang acaba por se confrontar com os perigos e os negócios que determinam a exploração mineira.

O fim-de semana termina com “The Cakemaker”. Trata-se de uma produção israelita a cargo do realizador Ofir Raul Graizer. Em “The Cakemaker”, Thomas, um jovem padeiro alemão que gere uma pastelaria em Berlim, tem um caso com Oren, um homem casado de Israel que vai frequentemente à Alemanha em negócios. Quando Oren morre, vítima de um acidente em Israel, Thomas viaja para Jerusalém à procura de respostas. Sem dar a conhecer a natureza da relação que mantinha com Oren, Thomas começa a trabalhar para Anat, a viúva, e consegue com a perícia que traz de Berlim, revitalizar o negócio de biscoitos tradicionais. Mas, a relação entre Thomas e Anat não se fica por aqui. “The cakemaker é a primeira longa metragem de Ofir Raul Graizer, o realizador que trabalha entre a Alemanha e Israel e teve a sua estreia galardoada com o “Ecumenical Jury Award” no Karlovy Vary International Film Festival, na Répública Checa.

Tragédias entre a Índia e Inglaterra

A segunda-feira abre com uma adaptação de uma peça de Shakespeare a uma família de elite indiana. A protagonista é a viúva Tulsi Joshi que tem o filho prestes a casar com uma descendente da família Ahuja. Com a união, fica concretizada a associação de duas famílias de negócios. Mas o filho de Tulsi Joshi acaba por ser encontrado morto antes da cerimónia, e aparentemente a causa seria o suicídio. Tulsi não se conforma e dois anos mais tarde trata de se casar ela com um herdeiro da família Ahuja. O objectivo: ir à procura da verdade acerca da morte do filho e vingar-se a qualquer preço.

O filme é “The Hungry” e conta com a realização da realizadora natural de Cálcutá, Bornila Chatterjee. “The Hungry” é a segunda longa metragem de Chatterjee e teve a estreia destacada como apresentação especial no Toronto International Film Festival, em Setembro.

No mesmo dia, mas ao serão, vai ser exibido no grande ecrã “Beast” do britânico Michael Pearce. Moll Huntford é uma jovem de 27 que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra. Moll ainda está em casa dos pais e teve o crescimento marcado por uma mãe dominadora e uma educação sem liberdade, principalmente depois de ter sofrido um acidente na adolescência. Mas Moll apaixona-se por um estranho e misterioso individuo, Pascal. Quando a vida parece estar a mudar, é encontrado um corpo na ilha, a quarta vítima de um assassino em série, e Pascal é o principal suspeito. É mais uma vez uma primeira longa metragem do realizador, já com créditos ganhos nos BAFTA e que viu a sua estreia na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano.

Divórcios e surrealismos

O dia 12 de Dezembro traz à tela mais duas películas em competição. “Custody” de Xavier Legrand é um outro drama familiar vindo de França que trata, desta feita, da luta de uma mãe pela custódia do filho após o divórcio. O argumento é que a criança pode correr o risco de ser abusada pelo pai. Como em dramas do género, a criança vê-se numa luta que não é a dela e acaba por ser refém dos desentendimentos entre os pais. O realizador Xavier Legrand é conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, mas em “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro.

“Foxtrot” traz ao ecrã uma abordagem com toques de surrealismo. Michael e Dafna são um casal devastado pela tristeza causada pelas mortes na guerra dos seus familiares. Agora foi a vez do filho. No entanto, com Dafna sedada, Michael começa a duvidar da morte do filho. O filme é do israelita Samuel Maoz que aos 13 aos já filmava em 8mm. Aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para  a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, o prémio do júri no mesmo evento.

A secção de competição termina a apresentação a 13 de Dezembro com “My Pure Land” de Sarmad Masud. Tal como o filme que abre a secção, trata-se mais uma vez de uma película baseada em factos reais.

No Paquistão, Nazo juntamente com a mãe e uma irmã são forçadas a defender a sua casa depois da prisão do pai. Estas mulheres vêm-se cercadas por milícias, que a mando do tio, querem reaver as terras da família. Nazo não se rende.

22 Nov 2017

Exposição | Luzes da cidade regressam ao lago Nam Van

Fotografa as luzes de Macau, Taiwan e Hong Kong, e depois de uma pequena exposição no Café Terra, Tang Kuok Hou expõe no espaço criativo junto ao lago Nam Van até ao final de Dezembro. Uma oportunidade de trabalhar “com uma equipa profissional”, salienta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotógrafo Tang Kuok Hou, um dos fundadores da Associação de Arte e Cultura Comuna de Dialecto, volta a expor o seu trabalho, desta vez no café do Instituto de Formação Turística, junto ao lago Nam Van. As fotografias das luzes cintilantes do território, bem como das regiões de Taiwan e de Hong Kong, voltam a revelar-se ao público em “Fotossíntese”, depois de uma exposição no Café Terra.

As duas exposições são semelhantes mas, ao mesmo tempo, diferentes. “Esta exposição é sobre luzes artificiais e trata-se de um trabalho que comecei a expor há três anos. Desta vez combinei as luzes artificiais com o ambiente à volta, e as pessoas também”, contou ao HM.

“É ligeiramente diferente da anterior, porque no Café Terra expus imagens tiradas entre 2015 e 2016. Aqui já mostro imagens que tirei a partir desse ano. O público poderá encontrar alguma ligação entre as duas mostras”, acrescentou.

Tang Kuok Hou, que se licenciou em Sociologia na Universidade de Macau, revela que esta exposição permitiu-lhe relacionar a fotografia com a sua área de estudos.

“Agradeço imenso que tenha sido convidado para apresentar este projecto no espaço junto aos lagos Nam Van, onde pude combinar o meu projecto com os meus conhecimentos na área da sociologia. É uma experiência muito interessante poder participar com uma equipa profissional neste espaço.”

Assumindo que as pessoas não são o ponto fulcral do seu trabalho, Tang Kuok Hou confessou que, neste caso, fugiu um pouco à regra.

“As luzes revelam algo interessante, é como um espectáculo que se mostra às pessoas. Grande parte das minhas fotografias não contêm pessoas, mas acabamos por descobri-las na cidade. Essa é a grande ideia por detrás do meu projecto”, revelou.

Do artificialismo

Numa entrevista recente ao HM, o fotógrafo falou do poder do artificialismo urbano e da paisagem que não vem da mãe natureza.

“Os espaços artificiais são um dos principais indicadores de como vivemos na nossa sociedade e de como orientamos o desenvolvimento de uma geração futura. A questão dos espaços artificiais levanta também o problema de como preparamos as próximas gerações”, apontou.

Relativamente a Macau, Tang Kuok Hou defendeu que “existe um padrão entre paisagens artificiais e naturais”. “Não podemos estabelecer estas duas áreas como se fossem a preto e branco ou estanques e separadas, nem podemos pensar nesta dicotomia como uma divisão entre o que é bom e o que não é. Num espaço natural, por exemplo, não vamos encontrar forma de desenvolver uma sociedade”, considerou.

21 Nov 2017

Óbito | Morreu Malcolm Young, guitarrista e co-fundador dos AC/DC

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]alcolm Young, guitarrista e co-fundador do grupo de rock AC/DC, morreu sábado aos 64 anos, vítima de doença prolongada, anunciou a banda, fundada na Austrália em 1973, na sua página na Internet.

“Com profunda tristeza, anunciamos o falecimento de Malcolm Young”, lê-se na nota, que lembra que o guitarrista co-fundou a banda com o irmão Angus, salientando a “enorme dedicação e compromisso” que sempre mostrou com o grupo.

“Como guitarrista, compositor e visionário, foi um perfeccionista e um homem único. Sempre defendeu os seus pontos de vista e fez e disse exactamente o que quis. Tinha muito orgulho em tudo o que fez e a lealdade para com os fãs era inultrapassável”, acrescenta a nota dos AC/DC, escrita por pelo próprio Angus Young.

No comunicado, em que surge Malcolm numa fotografia sentado ao lado de um amplificador tendo ao colo a “sua” guitarra “Gibson Les Paul”, Angus refere que, como irmão, é-lhe “difícil expressar em palavras o que significou o irmão para a sua vida, “uma vez que a ligação entre ambos era “única e muito especial”.

“Deixa para trás um enorme legado que irá perdurar para sempre”, considerou Angus, que termina a nota com um simples “Malcolm, belo trabalho”.

Nascido na cidade escocesa de Glasgow, Malcolm e Angus criaram a banda em 1973, em Sidney, na Austrália.

20 Nov 2017

Lisboa | Livros do Oriente apresenta duas novas edições

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro volume de textos do sinólogo Manuel da Silva Mendes (1867-1931), que se fixou em Macau, no início do século XX, e “O Silêncio dos Céus”, de Fernando Sobral, que tem Macau por cenário, em 1851, são dois novos títulos dos Livros do Oriente, publicados a semana passada.

O livro “Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” reúne todos os textos sobre arte, filosofia e religião, cultura e tradições chinesas, do advogado e juiz português, e inclui três ensaios sobre o autor, de António Aresta, Amadeu Gonçalves e Tiago Quadros. Esta edição surge quando se assinalam os 150 anos do nascimento do intelectual, em Vila Nova de Famalicão, que viveu em Macau de 1901 a 1931.

“O Silêncio dos Céus”, de Fernando Sobral, decorre no contexto das guerras de ópio, centrando-se nas conspirações, paixões, relações de amizade e de ódio que rodeiam uma tentativa de independência de Macau.

“Manuel da Silva Mendes: Memória e Pensamento” é apresentado em Lisboa, esta segunda-feira, a partir das 17:30, pelo investigador António Aresta, na Delegação Económica e Comercial de Macau.

20 Nov 2017

Literatura | Escritor Sergio Ramírez vence Prémio Cervantes 2017

Sérgio Ramírez, ex-vice-presidente da Nicarágua, é o vencedor da edição deste ano do prémio Cervantes, o mais importante da literatura hispânica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor nicaraguense Sergio Ramírez venceu o Prémio Cervantes 2017, no valor de 125.000 euros, o mais importante galardão da literatura hispânica, anunciou ontem o ministro espanhol da Educação, Cultura e Desporto, Íñigo Méndez de Vigo.

Nascido em 1942, em Masatepe, a 50 quilómetros de Manágua, Sergio Ramírez venceu o Prémio Alfaguara de Romance com “Margarita, está lindo o mar”, em 1998, obra publicada em Portugal pela Difel, numa tradução de Helena Pitta.

Do autor está também publicado em Portugal “Tiveste Medo do Sangue?”, romance publicado pela Editorial Caminho, em 1989, numa tradução de Manuel Ruas.

Sergio Ramirez foi vice-presidente da Nicarágua no primeiro Governo sandinista (1979-1990).

A agência noticiosa espanhola, Efe, refere que, com a atribuição do prémio ao nicaraguense Sergio Ramírez, volta a cumprir o princípio, não escrito, de que o galardão é atribuído alternadamente entre um autor espanhol e um latino-americano.

No ano passado, o vencedor foi o espanhol Eduardo Mendoza, nascido em Barcelona, em 1943.

Entre títulos originais de Sergio Ramírez, disponíveis no mercado livreiro português, contam-se “La manzana de oro. Ensayos sobre literatura”, “Antologia personal. 50 anos de cuentos” e “Cuentos completos”, assim como os romances “Flores oscuras”, “La Fugitiva”, “El cielo llora por mi” e “Sara”, publicados pela Alfaguara espanhola.

Outras obras

Ramírez é também autor, entre outras obras, de “El viejo arte de mentir”, “Mil y una muertes”, “Sombras nada más”, “El reyno animal”, “Catalina y Catalina”, “Cuando todos hablamos” e “Adiós, muchachos”, relato da revolução sandinista da Nicarágua.

O Prémio Cervantes foi criado em 1975, pelo Ministério da Cultura de Espanha, com o intuito de reconhecer a carreira de um escritor que, com todo o seu trabalho, contribuiu para enriquecer o legado literário hispânico.

O poeta espanhol Jorge Guillén foi o primeiro distinguido, em 1976, seguindo-se o cubano Alejo Carpentier, os espanhóis Damaso Alonso e Gerardo Diego, o argentino Jorge Luis Borges e o uruguaio Juan Carlos Onetti.

Entre os distinguidos contam-se também Maria Zambrano, Octavio Paz, Rafael Alberti, Ana María Matute, Gonzalo Torrente Ballester, Ernesto Sábato, Carlos Fuentes, Juan Marsé e Juan Goytisolo.

20 Nov 2017

Restaurante Fado com novo menu marcado pelos paladares da quadra festiva

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] restaurante Fado, no Hotel Royal Macau, serve a quadra natalícia à mesa revestindo os sabores tradicionais da consoada e passagem de ano com o requinte que transforma uma refeição em algo mais do que isso. Sob a batuta do Chef Luís Américo, o novo menu do Fado transporta para Macau os paladares que preenchem a época que se avizinha.

“A ideia deste menu foi pegar nos ingredientes que são tradicionais da noite de natal e da  passagem de ano, esse foi o mote, percorrer aquelas iguarias que são habituais nesse período”, conta o Chef Renato Santos, co-autor do menu.

O banquete inicia-se com um pequeno iogurte de camarão, uma entrada fresca e suave para abrir as hostilidades. “A ideia do iogurte é jogar com as duas texturas, o creme e o tártaro, à qual se alia a alusão ao final do ano com o marisco”, descreve o Chef.

A segunda entrada é o polvo assado, servido com areia de cebola, chutney de pimentos assados e chicória. Começa o passeio de paladares pelos conceitos que preenchem uma típica mesa de noite natalícia. Apesar do creme de pimentos assados aludir ao tradicional polvo grelhado, a alface chicória confere à entrada a frescura e o equilíbrio necessário para contrabalançar o peso do polvo.

Rei Bacalhau

O primeiro prato da refeição, como não poderia deixar de ser tratando-se de um natal à portuguesa, é o bacalhau, reinterpretado pelos cozinheiros do Fado. Apesar do prato ter um twist moderno, tanto no paladar como na apresentação, reúne todos os elementos do tradicional bacalhau de consoada. O peixe vem acompanhado por hortaliças, com couve local, um cremoso puré de batata, cenoura e azeite.

De seguida é servido o carré de borrego e roupa velha de alheira. “Um conceito que  a cultura local não deve conhecer, mas que os portugueses compreendem bem”, explica Renato Santos. A ideia por detrás deste prato foi aliar a ideia da roupa velha com um típico prato nobre da noite de consoada.

Para terminar em beleza, o Fado propõe uma aletria com cardamomo, granola de frutos secos e gelado de uvas passas. “As pastas nascem aqui na Ásia e achámos que seria interessante fazer uma sobremesa que tivesse um bocadinho dessa influência asiática à qual juntámos o sorvete de uvas passas e uma granola com frutos secos, tudo o que tem a ver com o natal”, revela Renato Santos. A conjugação de todos os pratos é bastante equilibrada, trazendo para a mesa do Fado todo o requinte dos sabores tradicionais do Natal.

20 Nov 2017

Exposição | “Macau Bom Design” apresentada em Berlim

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC), em parceria com o Centro Cultural da China em Berlim e com a Associação dos Designers de Macau, inaugura hoje, em Berlim, Alemanha, a exposição “Macau Bom Design 2017”. Trata-se, segundo um comunicado do IC, de uma “extensão da exposição de Macau na Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau”, realizada o ano passado.

Segundo o IC, “a realização de exposições em diversos locais permite que o público de cada local possa aprofundar os seus conhecimentos sobre as artes visuais de Macau, impulsionando o desenvolvimento das diferentes formas de arte e promovendo o intercâmbio cultural entre diversos locais”.

A exposição “Macau Bom Design” inclui obras de design gráfico, animação e mapping em 3D, que “englobam principalmente elementos locais”, tais como “design de configuração e concepção de produtos de Macau, obras premiadas em edições anteriores da Bienal de Design de Macau, pinturas que retratam Macau da autoria do pintor britânico do séc. XIX, George Chinnery, e ainda espectáculos de mapping em 3D”.

A “Macau Bom Design 2017 – Exposição em Berlim” está patente de 18 a 30 de Novembro e apresenta “ao público alemão uma imagem humanística de Macau sob diferentes vertentes”.

 

 

17 Nov 2017

IC | Lançado livro das dinastias Ming e Qing sobre Matteo Ricci

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural lançou, em Xangai, um novo livro, intitulado “Documentos Chineses das dinastias Ming e Qing sobre Matteo Ricci”, da autoria de Tang Kaijian, docente da Universidade de Macau. A obra é fruto de uma parceria com a editora de clássicos chineses de Xangai.

Foi padre jesuíta, missionário na China, renascentista, cartógrafo. O homem que nasceu em Macerata, Itália, e que viria a falecer em Pequim, em 1610, deixou uma enorme obra que ainda hoje é alvo de estudos e de compilações. Na China, foi missionário durante o reinado da dinastia Ming, onde tinha o nome chinês de Li Madou, e onde foi o grande responsável pela introdução do catolicismo.

O Instituto Cultural (IC) acaba de publicar, com o apoio de uma editora de Xangai, mais um livro sobre o jesuíta, intitulado “Documentos Chineses das Dinastias Ming e Qing sobre Matteo Ricci”, da autoria de Tang Kaijian, docente da Universidade de Macau.

Segundo um comunicado no IC, trata-se de uma “colectânea de materiais históricos relativos aos estudos sobre Matteo Ricci provenientes de arquivos documentais das dinastias Ming e Qing”, estando dividido em seis partes, com “biografia, prefácio e posfácio, documentos públicos, artigos de opinião, poemas, cartas e artigos variados”.

O livro fala da vida de Matteo Ricci, relatando “acontecimentos concretos da sua vida na China”, além de apresentar “uma compilação do seu pensamento e repercussões e análise da sociedade chinesa”.

O conteúdo da obra inclui “mais de quatrocentos documentos de todo o tipo provenientes de bibliotecas de todo o mundo, de diferentes bases de dados e colecções privadas”. O livro “procura reunir materiais de Matteo Ricci já publicados e traduzidos do italiano e de outras línguas ocidentais com registos do missionário em língua chinesa, a fim de permitir uma compreensão mais clara e precisa de Matteo Ricci e da sua época”, explica o comunicado do IC.

Das dificuldades

Reunir e analisar a obra de Matteo Ricci não tem sido fácil nos últimos anos, como denota o IC.

“Uma dificuldade recorrente no passado era o facto de, por um lado, os académicos do ocidente não terem capacidade de compreender na totalidade e tirar pleno proveito dos materiais de Matteo Ricci escritos em língua chinesa.”

Além disso, “os académicos orientais deparavam-se com os mesmos obstáculos relativamente aos materiais do missionário redigidos em línguas ocidentais”.

Tang Kaijian, o autor da obra, dá aulas no departamento de história da UM, sendo também orientador dos cursos de doutoramento. Dedica-se ao estudo da história de Macau, debruçando-se também sobre a história do catolicismo na China.

O académico já publicou um total de 21 obras e recebeu mais de dez prémios na sua área nas regiões de Cantão, Gansu e Macau. “Graças ao seu notável contributo para o estudo da história e cultura francesas, em 2009 foi galardoado com o título de Chevalier de L’Ordre des Palmes Académiques, sendo o primeiro académico das regiões de Macau e Hong Kong a receber tal honra”, explica o IC.

17 Nov 2017

Festival de Gastronomia | Ausência da comida macaense e portuguesa

Macau transformou-se na Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia, mas a 17ª edição do Festival de Gastronomia continua a pecar pela falta de representatividade de restaurantes genuinamente portugueses e macaenses. Luís Machado, da Confraria da Gastronomia Macaense, diz que é “lamentável”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o Festival de Gastronomia há minchi, mas num espaço reservado a um restaurante de matriz chinesa que diz servir, entre outras receitas, pratos portugueses. Tem, inclusivamente, o símbolo da bandeira portuguesa no toldo, apesar do minchi ser um prato exclusivamente macaense.

Ao lado há lagosta viva e um sabor português aqui e ali, mas são poucos os restaurantes portugueses representados num dos eventos mais importantes de Macau. Quanto à gastronomia macaense, pura e simplesmente não existe. 

No festival, há espaço para que os sabores do sushi e outros pratos se mostrem ao público na “Vila Japonesa”. Há também lugar para a “Rua dos Restaurantes Chineses”, a “Rua da Gastronomia Asiática”, a “Rua da Gastronomia Europeia”, a “Rua dos Sabores Locais” e a “Rua dos Doces”. Há comida indiana, tailandesa, chinesa e coreana.

Luís Machado, presidente da Confraria da Gastronomia Macaense, diz “lamentar” a ausência da cozinha tipicamente macaense no ano em que o território foi reconhecido como Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia.

“O ano passado a Fundação Macau (FM) deu dez milhões de patacas. Estamos a falar de uma feira de gastronomia e não há sequer uma aproximação à gastronomia macaense, que é a mais antiga e que tem sido o motor de todas estas campanhas. É à custa da gastronomia macaense que o turismo de Macau tem feito estas campanhas, mas depois quando aparece uma feira destas nem há acesso às pessoas que fazem a comida macaense. É de lamentar. É muito triste”, disse ao HM.

Apesar do evento contar com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo e da FM, que o financia, a organização é privada, estando nas mãos da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, presidida pelo deputado e empresário Chan Chak Mo. Há também a colaboração da Associação de Operários Iam Sek Ip Kong Vui de Macau, da Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social de Macau, da Associação de Cozinha de Macau e da Associação de Empregados de Restaurantes e Padarias de Macau.

Luís Machado lança críticas ao alegado favorecimento que é dado a Chan Chak Mo. “O senhor Chan Chak Mo é que é o dono disto tudo, e o resto é paisagem. É Macau”, frisou.

Apesar de este ser o 17º ano em que o Festival de Gastronomia se realiza junto à Torre de Macau, a verdade é que a comida macaense nunca esteve devidamente representada, apesar de existirem alguns restaurantes tradicionais em Macau, como é o caso de O Litoral e A Lorcha.

“Há todo o tipo de gastronomia da Ásia, e a gastronomia macaense, que é a mais importante de todas nesta zona, que tem 500 anos de história, não tem sequer uma barraca. É assim há anos, não é de hoje. Nunca houve uma preocupação, e isto porque é uma entidade privada que organiza”, acrescentou Luís Machado.

Difícil entrada

Garantir a presença no Festival de Gastronomia não é fácil. Há um sorteio e uma lista de espera porque o lugar é apetecível ao negócio, ajuda a fazer publicidade à casa. A organização concede dez mil patacas a cada restaurante que participe, dinheiro que vem do patrocínio. Cada empresa tem que pagar 3.500 patacas para participar.

Luís Machado sabe de pessoas que “pediram para abrir um espaço e não conseguiram”. “[A organização] não deu sequer explicações”, adiantou.

Também Félix Dias, um dos oito sócios do restaurante King’s Lobster, confirma a dificuldade em obter um espaço na praça Sai Van e a ausência de uma representatividade da comida portuguesa e macaense.

“Este é o segundo ano em que participamos e acho que faltam muitos [restaurantes portugueses e macaenses]. Este ano tornámo-nos na cidade criativa da UNESCO na área da gastronomia, temos tanta cultura portuguesa e macaense, e não vejo muita presença no festival. Nós servimos comida ocidental e alguns pratos portugueses. Há o Pinochio, a Toca, e não há mais. Não sei se é porque os chineses gostam mais de comida portuguesa, não sei”, contou ao HM.

No espaço do King’s Lobster, o grande atractivo são as lagostas, vivas mesmo à frente do cliente, que pode depois ver a sua confecção. Na opinião de Félix Dias, foi esse o ponto diferenciador que os fez entrar no festival.

“Fizeram um sorteio. Somos o único restaurante que temos lagostas vivas e que as preparamos à frente do cliente. Já temos fama. Abrimos o restaurante em Janeiro deste ano, mas o ano passado já estávamos no festival. Funcionou como marketing.”

Fernando Sousa Marques, um nome habitual no Festival de Gastronomia é, este ano, o único com um restaurante cem por cento português a marcar presença – A Toca.

“Claro que há lá restaurantes com licença de comida portuguesa, mas não são portugueses cem por cento. Acho que poderia haver uma maior presença. Não é fácil. É muita gente a querer entrar, muitos restaurantes a querer participar e não chega para todos”, defendeu ao HM.

O empresário do sector da restauração recorda uma participação da Casa de Portugal em Macau (CPM) numa das edições do Festival de Gastronomia que saiu gorada.

“Todos os restaurantes que a CPM tivesse convidado teriam tido sucesso até hoje, mas não foi o caso. A única pessoa que se manteve estes anos todos fui eu. [A participação] corre bem em termos de publicidade para a casa, para o negócio e também para o nome de Portugal, que está presente.”

Fernando Sousa Marques não consegue, contudo, apontar o dedo à organização. “O festival tem sempre uma organização boa, com regras. Este ano mandaram fazer um seguro para o stand, o que não era feito nos outros anos. Tem melhorado todos os anos”, concluiu.

Mudar? É difícil

Luc, proprietário do Pho Vietnam Paris, participa este ano porque venceu um concurso o ano passado, graças às tradicionais sopas vietnamitas e aos rolos com camarão, contou ao HM. Apesar de ter tido o privilégio de ter um espaço no Festival de Gastronomia, Luc disse lamentar que não estejam mais restaurantes portugueses e macaenses representados.

O HM contactou Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, no sentido de perceber se é possível intervir na forma como são seleccionados os restaurantes participantes. Contudo, a responsável disse ser necessário analisar a questão.

“Todos os anos há sempre muitos restaurantes de Macau e de fora que querem participar. Neste momento a forma como é feita a gestão é fruto de uma experiência anterior, é uma tentativa para haver mais justiça para todos aqueles que se candidatam. É difícil para o Governo estar a condicionar. Outros podem reclamar. Tem de ser muito bem estudada (essa hipótese).”

Helena de Senna Fernandes referiu ainda desconhecer as razões concretas para a ausência da comida portuguesa e macaense.

“A associação abre a oportunidade para que os restaurantes de Macau possam aderir de livre vontade. Não sei se é porque não houve muitas candidaturas por parte dos restaurantes portugueses ou se é por outra razão. Não domino e não posso responder com certeza. Mas é sempre bom ter diferentes tipos de comida para que os nossos residentes e turistas possam experimentar”, adiantou.

O HM tentou falar com o deputado e empresário Chan Chak Mo, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

16 Nov 2017

Mike Goodridge, director artístico do FIIM: “Queremos contribuir para a cultura cinematográfica do território e solidificá-la”

Há cinco anos que estava à frente da Protagonist Pictures onde produziu filmes como “The Lobster”. Já participou na programação de vários festivais de cinema internacionais e é o rosto da direcção artística da segunda edição do festival local. Mike Goodridge está para ficar, e quer ajudar a levar o evento ao reconhecimento internacional

Estamos a cerca de um mês do início do festival. Qual é o ponto da situação?

Estamos bem. O programa está fechado e anunciado, sendo que temos ainda alguns filmes por revelar.

Pode dizer quais são?

Não, mas posso avançar que vamos ter a projecção de um filme do realizador francês e presidente do júri, Laurent Cantet. Nos próximos dias vamos divulgar toda a informação.

Na apresentação do programa referiu que um dos seus objectivos principais é conseguir chegar a um público alargado. Como é que o pretende fazer?

Não tenho uma resposta concreta mas sei que a organização tem estado a trabalhar de forma a ter uma abrangência, no que respeita ao público, o maior possível. Juntos conseguimos fazer o programa e agora temos realmente de encontrar uma audiência real e essa é a nossa maior missão nas próximas quatro semanas: a de conseguir espalhar a palavra. Isto inclui chegar a Macau, Hong Kong, Zhuhai, e aos estudantes universitários que estão nestas cidades que possam estra interessados em cinema e em ter acesso à indústria cinematográfica.

Acha que vão conseguir?

Espero que sim. Por exemplo, depois de apresentarmos o programa tivemos uma masterclass com o realizador de Hong Kong John Woo que estava cheia de pessoas que vieram de Hong Kong e mesmo do continente e que se mostraram muito entusiasmadas com a possibilidade de apreender com este profissional. Esta situação foi também importante para mim para perceber e testemunhar o gosto pelo cinema que aqui existe.

Que tipo de festival de cinema quer fazer? 

Bem, houve um festival internacional de música aqui há pouco tempo que teve casa cheia várias vezes. O que quero dizer com isto é que existe uma audiência que gosta de ver coisas com qualidade. A ideia é contribuir para a cultura cinematográfica do território e solidificá-la. Isto inclui também trabalhar nas produções locais. Há uma infra-estrutura no que respeita à produção de filmes locais ainda muito jovem e muito pequena. Cabe a este tipo de festival contribuir para que este aspecto seja desenvolvido. Os festivais de cinema podem ser muito úteis.

Quando pensamos em festivais como Cannes, Berlim ou Locarno, temos uma ideia já feita acerca do tipo de películas que vão ser destaque. Já há algum tipo de definição para este festival?

Está a falar de festivais que já contam com uma história bastante longa e Cannes pode ser considerado o maior e mais conceituado festival a nível mundial. Comparar o festival de Macau a esse tipo de eventos é muito injusto. Mas também acho que existem festivais recentes, como o caso do Dubai ou de Zurique, que têm tido sucesso no seu trabalho para serem reconhecidos como lugares significativos. Claro que demora alguns anos para que o mundo do cinema comece a confiar nos festivais que vão surgindo. Macau irá lá chegar dentro de algum tempo se continuar comprometido à autenticidade do seu conceito.

E qual é o conceito do festival de Macau? 

É o de mostrar bom cinema do mundo. Tal como Cannes, vamos abrir com um filme muito popular, o Paddington 2 que, por falar nisso, é também um filme brilhante. É um excelente filme de família. Cannes também o faz, Veneza também, todos os festivais acabam por exibir este tipo de filmes que  são muito bons e são uma forma de diversificar a programação. Depois temos a secção da competição que é mais desafiante. São dez filmes vindos de diferentes partes do mundo. São estruturalmente interessantes e audazes. Paddington 2 é um bom filme para a família enquanto que alguns dos filmes em competição não o são. Também são filmes escolhidos para secções diferentes do festival.

A escolha do Paddington foi um pouco surpreendente enquanto abertura do festival.

Sim, mas é um filme que se tem de ver. Integra aquilo que podemos chamar de filmes geniais e temos de pensar neles como pensamos no cinema antigo, ou como olhamos para as grandes produções da Disney ou da Pixar. O filme Shreck II esteve em competição em Cannes. Alguns destes filmes representam a perfeição pela forma como são feitos e penso que Paddington II é um deles. As críticas no Reino Unido são de cinco estrelas e é um filme muito bonito. A série pode ficar na história do cinema como um clássico e é essa a ideia de um festival de cinema, ter variedade no que respeita aos filmes que apresenta. Na secção Flying Dragons, por exemplo, temos seis géneros diferentes de filmes. Um deles, do Brasil é acerca de uma mulher lésbica que é um lobisomem, um outro sobre um vírus que afecta os pais e que os fazem querer matar os seus próprios filhos. Isto para dizer que são outros géneros mas que cinematograficamente são também muito interessantes. É isto que distingue a selecção de filmes deste festival, é o facto de cada um ter alguma coisa de especial e esse também é o desafio da escolha.

Como é que foi feita a selecção dos filmes que vamos ver?

Foi muito intensa. Nós vimos centenas de filmes. Temos de ter filmes muito bons. O mais interessante é sabermos que o que temos de fazer é escolher os melhores. É criar uma palete de diferentes tipos de películas em que algumas apelam a audiências mais alargadas e outras a audiências mais exclusivas. Vamos, por exemplo, ter o português “Fábrica de nada” que é um filme brilhante mas que não apela a todas as audiências. Temos de ter em conta diferentes públicos e todos os festivais de cinema têm de o fazer.

Começou por ser jornalista.

Fui jornalista e crítico durante 22 anos. Em 2012 acabei por estar  a dirigir a produtora Protagonist Pictures, em Londres. Foi um trabalho que me consumiu nos últimos cinco anos. Foi fascinante e acho que acabei por conseguir produzir alguns filmes muito bons como o “The Lobster” ou o “American Honey”. Quando esta oportunidade apareceu, a de dirigir o Festival de Macau, pensei que era uma oportunidade de vir para a Ásia, um continente que acho fascinante e também um meio de me ligar ao público directamente e pela primeira vez. Por outro lado, apesar de já ter participado na programação de vários festivais de cinema, este era o momento de ser eu a dirigir um artisticamente. Importante ainda, é o facto de se tratar de um festival que está de certa forma a nascer. Agora é tentar ver como é que Macau vai responder a esta edição.

Referiu que era fascinado pela Ásia. Porquê?

Sim, sinto-me dentro de uma aventura asiática. Penso que neste momento, todos os que estão associados à indústria cinematográfica estão atentos à China também. Nos últimos cinco anos, o mercado do cinema chinês emergiu e é agora maior do que o dos Estados unidos. O que a América tem que a China não tem ainda, é uma audiência global. Por exemplo, os Estados Unidos conseguem colocar um filme como o Starwars em cem países ao mesmo tempo a cada ano se quiserem, a China ainda não consegue fazer isso. A Índia tem um mercado enorme mas a China pode ser ainda maior. Esta região está cheia de energia e isso torna-a muito apelativa. Por outro lado há aqui também muito dinheiro para poder fazer filmes e há muita gente para ir ao cinema. É muito interessante agora poder fazer, de alguma, forma, parte deste mundo. Macau não é parte da China continental mas é um território interessante.

O facto de ser uma região administrativa especial pode ser uma vantagem?

Sim, com certeza. Há muito o discurso acerca dessa coisa de se ser uma ponte entre o oriente e o ocidente mas de facto isso seria o melhor que poderia acontecer no que respeita à indústria do cinema. Macau poder ser uma ponte legítima, mas de uma forma informal. Mas penso que isso vai demorar uns anos. E para isso a China tem de levar este festival a sério, bem como o resto do mundo. Por outro lado, Macau é um destino que pode ser desejado tanto por pessoas da China continental, como por ocidentais. Há um certo exotismo no território. Há o lado português que é intrigante e bonito e depois há esta loucura do jogo que também tem o seu glamour. Penso que é este o apelo de Macau. Se olharmos para outros festivais de cinema como Cannes ou o Sundance, acontecem em resorts de férias. Cannes não é mais do que uma pequena cidade de praia, o sundance é num resort de Inverno, nas montanhas. Tem de se tornar o locar atractivo e Macau já e atractivo, o que pode ser uma vantagem.

O que acha do cinema da China?

A China tem filmes independentes incríveis e tem realizadores incríveis. Não sei até que ponto é que estes filmes têm projecção dentro do país mas sei que fora, e concretamente em festivais internacionais, têm sido muito bem recebidos. Estou interessado também em saber como é que o público de Macau, tanto do lado chinês como do lado português, percebe o cinema chinês. Há um mercado gigantesco na China, mas como é que é aqui? Se for ao Galaxy o que vejo mais são os filmes de Hollywood.

Mas também temos a cinemateca.

Sim, e é fantástica. É um espaço tão bom que vai ser usado pelo festival para a projecção de filmes. A sala é óptima e pelo que tenho visto do trabalho que a direcção tem feito, têm tido uma programação muito consistente.

Quais são os filmes da sua vida? 

Gosto dos grandes clássicos. Gosto de Truffaut, do Fellini, e de uma data de filmes do Hitchcock. Depois gosto de tudo o que Ingmar Bergman fez.

Vai ficar?

(Risos). Estou para ficar. Assinei um contrato por dois anos e é isso que tenciono fazer e da melhor forma.

15 Nov 2017

Casa Garden | Seis filmes sobre o mundo lusófono

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já no próximo fim-de-semana, nos dias 18 e 19, que serão exibidos seis filmes dedicados ao mundo lusófono, inseridos no Lusophone Film Festival. No sábado terão lugar os filmes “Time to draw the line”, da Austrália e “Lusophony, the (r)Evolution”, produzido em Portugal. No domingo serão exibidos os filmes “I’m from over there” e “The boy and the world”, do Brasil; “Journey to Cape Verde”, de Portugal; e “Os pestinhas e o ladrão de brinquedos”, de Moçambique.

O evento está pensado para quem não fala português. Nasceu em Nairobi, Quénia, e partiu de “uma iniciativa de um moçambicano e de um português de ONGs internacionais (Nações Unidas)”. Esta é a segunda edição de uma proposta que “pretende servir de mostra do cinema dos países lusófonos, porque este tem pouca visibilidade, até mesmo nos próprios países de origem”.

Segundo um comunicado da Fundação Oriente (FO), que dá apoio ao evento, os filmes terão legendas em inglês e “pretendem construir pontes, dar a conhecer a variedade de mundos diferentes que existem dentro das comunidades que têm alguma ligação à língua portuguesa”.

Além do português, alguns filmes são falados em crioulo ou noutras línguas. A excepção vai apenas para o filme “Time to draw the line”, que foi escolhido por abordar “o problema das relações de Timor-Leste com a Austrália”, merecendo “destaque pela actualidade do assunto”.

A FO explica que, na terceira edição do Lusophone Film Festival, “espera-se poder dar alguma prioridade a Angola, São Tomé e Príncipe, Goa e Guiné-Bissau”.

14 Nov 2017

Gastronomia macaense | Historiador Fernando Sales Lopes lança novo livro

Fernando Sales Lopes lança hoje, pelas 18h30, na Academia Jao Tsung-I,   o livro “Os sabores das nossas memórias – a comida e a etnicidade macaense”, para falar de uma gastronomia que existe, sobretudo, pelas histórias que acarreta consigo. Até porque as memórias e a entidade macaense “continuarão enquanto houver macaenses”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m minchi não é apenas um prato de comida, é uma receita que condensa memórias, histórias de família passadas aos domingos, o cheiro que saía das cozinhas das mães e das avós. A cozinha macaense pode ser esporadicamente confeccionada nos dias de hoje, num ou outro restaurante, mas nem por isso deixa de ser recordada e lembrada.

É desta panóplia de recordações que fala o novo livro do historiador Fernando Sales Lopes, intitulado “Os sabores das nossas memórias – a comida e a etnicidade macaense”, lançado hoje.

“Independentemente desta comida ser consumida e conhecida a sua confecção, ela existe como uma referência muito próxima”, explicou Sales Lopes ao HM.

“É um traço estruturante, mítico, porque toda a gente se refere à comida macaense como uma coisa dos antepassados. É uma comida que traz junto dela o atestado de uma identidade própria. Independentemente de ser feita ou não”, acrescentou.

Fernando Sales Lopes recorda que antigamente a preparação da culinária macaense estava intimamente ligada à estrutura social do território, onde as mulheres macaenses, por norma, eram donas de casa e onde havia muitas empregadas. Havia, portanto, tempo para preparar uma gastronomia que não é acessível a todos.

“A comida macaense, pela sua composição e maneira de fazer, é uma comida que não é praticável há muito tempo. As pessoas comem-na no restaurante, porque em casa das pessoas ela não se faz.”

Hoje “a sociedade foi evoluindo, as mulheres começaram a trabalhar e deixaram de ter criadas, porque as casas são mais pequenas”. “Deixou de haver essa ligação física à comida macaense, e por isso é que o livro se chama “o sabor das nossas memórias”, acrescentou Fernando Sales Lopes.

Ainda assim, as memórias “ligadas à entidade [macaense] continuarão enquanto houver macaenses”, assegurou o historiador.

Academia dinâmica

A nova obra de Sales Lopes é também um trabalho de investigação, que inclui um inquérito realizado em 1999, aquando da realização do último encontro de macaenses antes da transferência de soberania.

“É um trabalho académico mas é uma coisa dinâmica, porque atravessa diversos caminhos. Analisa questões como a mulher criada, a mulher patroa, ou quais eram os hábitos alimentares dos macaenses. A comida e a leitura que se pode fazer da sociedade e dos equilíbrios sociais [da época], e a forma como a comida evoca vários momentos, de que uns viviam melhor do que outros. Tudo isso se pode perceber através deste trabalho.”

Apesar de estarmos perante uma obra onde o passado marca uma forte presença, Fernando Sales Lopes acredita que vai sempre existir cozinha macaense na sua forma física.

“A comunidade macaense sempre teve interrogações sobre o amanhã e as pessoas vão buscar traços como a comida ou a religião. Hoje há uma confraria, existem alguns restaurantes de comida macaense. Há muita gente nova em Macau e uma juventude mais dinâmica que quer ver essas ideias postas em prática, mas de uma maneira diferente”, apontou.

Para que a comida macaense saia dos livros e da memória colectiva para pertencer à realidade dos nossos dias, terá sempre de ser alterada, considerou o historiador.

“[Pode recriar-se essa memória] se houver vontade e possibilidade. Para ser servida nos restaurantes, a comida macaense tem de ser alterada, porque é um tipo de comida muito pesada, que as pessoas hoje em dia já não apreciam muito. O patuá perdeu-se, e é bom que a comida não se perca”, concluiu.

A apresentação tem lugar na Academia Jao Tsung-I, situada na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida. 

14 Nov 2017

Museu de Arte de Macau recebe Festival de Animação Experimental Cross-Straits

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Festival Experimental de Animação Cross-Straits, ou EXiM 2017, decorre no próximo fim-de-semana, de 17 a 19 de Novembro, no Auditório do Museu de Arte de Macau. O evento inclui três sessões de visionamento, sendo que a sessão inaugural acontece no próximo dia 17 de Novembro, sexta-feira, pelas 19h e é organizado pelo Armazém do Boi.

As manifestações de experimentalismo na área da animação normalmente transcendem a tradicional narrativa do vídeo e do filme para conceitos que extravasam os habitais cânones da criação cinematográfica.

Ao longo do tempo, este tipo de criações tornaram-se uma forma de criação artística com presença em exposições de arte contemporânea.

Os organizadores do evento convidaram três curadores com bastante traquejo no que toca à arte contemporânea e ao cinema experimental. A saber: Cao Kai do Interior da China, Phoebe Man de Hong Kong e Chang Jay de Taiwan. Os três curadores escolheram uma selecção de 34 trabalhos, aos quais se juntam mais quatro de artistas locais e que forma o cartaz do EXiM 2017.

Tendo em conta o surgimento nos últimos anos de uma grande profusão de meios electrónicos e digitais, inclusive no campo do software, os artistas viram as possibilidades em animação multiplicarem-se a um ritmo acelerado. Desta forma, não é de estranhar que o cinema de animação tenha sido escolhido como conceito condutor do EXiM 2017.

Da diversidade

A organização deste evento, de acordo com o comunicado do Armazém do Boi, é estimular a criação local de arte experimental neste ramo, de forma a manter Macau a par da cena internacional, rompendo com as amarras conceptuais que normalmente constrangem a expressão cinematográfica.

Por outro lado, a escolha destes três curadores visa imprimir no cartaz do festival uma multiplicidade de influências e visões artísticas diversas. Macau, Hong Kong, Interior da China e Taiwan têm fundos históricos distintos, com níveis de desenvolvimento e ideologias sociais diferentes. Todas estas envolvências inspiram a criação artística de formas variadas em cada região. Ou seja, o público não só pode assistir às criações cinematográficas, mas também ter um vislumbre das influências sociais das produções.

As sessões começam sempre às 19h e têm entrada livre.

13 Nov 2017

Segunda edição do Ciclo de Cinema Brasileiro arranca quarta-feira

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha recebe a partir de quarta-feira um festival dedicado à sétima arte produzida no Brasil. O II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau, que decorre até dia 21 de Novembro, arranca com o filme “Elis”, sobre a vida e carreira de Elis Regina.

O filme “Elis”, sobre a curta e intensa vida da cantora Elis Regina, vai abrir, na quarta-feira, o II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau, um evento promovido pela Associação Casa do Brasil. O ciclo é composto por cinco filmes que serão exibidos na Fundação Rui Cunha até dia 21.

“Elis” (2016) é a película que marca a estreia na realização de Hugo Prata e aborda a carreira e vida pessoal da cantora brasileira Elis Regina, que morreu em 1982, aos 36 anos.

“É um filme que conta como ela cresceu como cantora. Ela introduziu a Música Popular Brasileira (MPB), e depois teve o problema da droga que acabou com a sua vida”, disse à agência Lusa Jane Martins, presidente da Casa do Brasil em Macau. “O filme saiu do cinema há pouco tempo no Brasil e quem já gosta de MPB vai gostar muito”, acrescentou.

A obra chegou às salas portuguesas de cinema no dia 28 de Setembro. “Elis” venceu em oito categorias no Grande Prémio do Cinema Brasileiro de 2017: melhor actriz (Andréia Horta), montagem, fotografia, banda sonora original, maquilhagem, som, direcção de arte e figurino.

O ciclo de cinema vai também apresentar “O Outro Lado do Paraíso” (2014), de André Ristum, uma história que tem como pano de fundo os sonhos de um pré-adolescente “Nando” (Davi Galdeano) e a chegada dos militares ao poder em 1964.

Películas premiadas

“Nise, O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner, é outro dos filmes do cartaz, que ganhou “melhor filme” e “melhor actriz” (Glória Pires), no 28.º Festival de Tóquio, em 2015, além de outros prémios internacionais na América Latina, destacou Jane Martins. O filme conta a história da médica psiquiatra Nise da Silveira que questiona a violência no tratamento de pacientes diagnosticados com esquizofrenia, num hospital psiquiátrico no subúrbio carioca de Engenho de Dentro.

O cartaz do II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau inclui também “Que Horas Ela Volta?” (2015), de Anna Muylaert, que Jane Martins define como “um filme para a família”, sobre “a relação entre mãe e filha”, que “tem uma mensagem bonita, de que quanto mais perto você puder ficar dos filhos, melhor”.

“Que Horas Ela Volta?”, que estreou em Portugal no final de 2015, foi o candidato brasileiro a uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, no ano seguinte, ganhou o Prémio do Público no Festival de Berlim, e o Prémio Especial do Júri no Festival de Sundance. Deu ainda à protagonista, a actriz Regina Casé, vários prémios de interpretação, e contribuiu para a revisão das condições de trabalho dos trabalhadores domésticos, no Brasil, na altura da estreia.

A obra trata as relações, algumas vezes perversas, entre patrões e empregados, expondo o tratamento discriminatório de que são alvo, em termos de direitos. “Que horas ela volta?” conta a história de uma mulher, Val, que deixou a sua família para ir trabalhar como empregada doméstica para uma casa rica de São Paulo, perdendo o contacto diário com a sua família e a sua filha.

A obra põe em evidência as diferenças de tratamento das classes sociais, o comportamento servil a que a empregada se sujeita e o vazio relacional dos patrões com o filho, que Val acaba por ocupar, com o seu trabalho diário (o título inglês do filme é “The second mother”, ou seja a segunda mãe). Em 2015, a estreia do filme de Anna Muylaert contribuiu para o debate da revisão da Constituição brasileira, que só então reconheceu a igualdade de direitos dos empregados domésticos com os dos restantes trabalhadores.

Cine-palmo e meio

O ciclo de Cinema Brasileiro em Macau tem ainda uma sessão infantil, com “Uma Professora Muito Maluquinha” (2011), de André Alves Pinto e César Rodrigues. “É um filme divertido, sobre educação, baseado numa história dos anos 1940, em que uma professora inova na forma de ensino”, explicou a presidente da Casa do Brasil.

“É uma boa selecção. Quisemos trazer histórias diferentes para que as pessoas não sentissem que era tudo igual. Foram filmes que estiveram em cartaz muito tempo e foram muito elogiados”, disse.

O objectivo da associação Casa do Brasil em Macau é tornar o ciclo de cinema brasileiro um evento anual. “Queremos ver se conseguimos fazer todos os anos. É um evento bem-vindo e as pessoas gostam, principalmente por ser em português. E todos os filmes estão legendados em inglês, para quem não fala português”, afirmou.

13 Nov 2017

O concerto do “one-man band” Vurro promete arrasar amanhã o LMA

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mundo do rock alternativo passou por uma espécie de febre com vários exemplos de one-man bands, como o português The Legendary Tigerman, a encarnação a solo de Paulo Furtado, a alcançar posições de algum destaque e a chegar a um público alargado. Porém, há um nome que eleva a performance ao vivo para níveis estratosféricos de loucura e o público de Macau terá oportunidade para o ver em concerto no próximo sábado. O seu nome de guerra é Vurro, um espanhol que em palco se rodeia de teclados e que usa uma caveira de boi na cabeça, apetrecho que lhe dá jeito para dar umas marradas em pratos de bateria. O seu som é uma espécie de boogie, twist de difícil definição.

Vincent Cheang, o responsável do LMA, está curioso com o que sairá do espectáculo de Vurro, uma vez que “não é fácil de conceber, porque é um one-man band totalmente insano”. Aliás, este tipo de concerto de um multi-instrumentista é algo pioneiro no espaço da Coronel Mesquita, de acordo com Vincent Cheang.

Um dos desafios do concerto de amanhã será montar todo o aparato de palco que o músico espanhol precisa.

Rock viral

Vurro começou por fazer furor no Youtube com um vídeo (Boogie) em que improvisa uma música ostentando o seu anormal visual. Depois do vídeo se ter tornado viral, começaram a surgir propostas para concertos que o levariam a fazer a primeira tour mundial. Andou pelas Américas, Europa e agora o músico espanhol chega a Macau depois de vir do Vietname e antes de partir para o Japão. Esta é a sua primeira tour asiática, aliás, a primeira vez que viaja pela Ásia.

Depois de receber as notícias de que iria levar a sua enérgica performance mundo fora, o espanhol ficou assustado mas empolgado com as portas que, de repente, se abriam.

Com um repertório com temas originais com forte influência conceptual bovina, Vurro apresenta-se em palco com uma energia contagiante e propícia a danças demenciais.

Quando entra em cena, com a caveira de boi na cabeça, precisa de ajuda para subir ao palco, uma vez que o “capacete” lhe dificulta a visão. Aí entra num transe tocando, em frenesim, um repertório de músicas curtas e de ritmo acelerado. De acordo com uma entrevista dada à organização do festival vietnamita onde tocou, Vurro não pára a performance até que alguém lhe bata no ombro para avisar que o concerto está a chegar ao fim.

Um espectáculo que promete ficar na memória dos que se deslocarem no sábado ao LMA. As portas abrem às 22h.

10 Nov 2017

Camilo Pessanha | IPM com colóquio acerca do poeta

Um encontro que junta académicos para tratar Pessanha e a sua obra é a proposta do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa. Nas comemorações do quinto aniversário do centro, Carlos André aproveita para relembrar, de um ponto de vista científico os 150 anos do poeta

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] próxima semana tem o início marcado com a realização de um colóquio académico acerca da obra do poeta Camilo Pessanha. A iniciativa é do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e assinala dois aniversários: os 150 anos do nascimento do poeta e o quinto aniversário do CPCLP. “Todos os anos, temos o hábito de assinalar o aniversário do centro com uma iniciativa e este ano decidi que seria um colóquio acerca do poeta Camilo Pessanha”, referiu o director do centro, Carlos André, ao HM. 

Não é o primeiro conjunto de actividades dedicado ao trabalho do poeta, mas este, que tem lugar a 13 e 14 deste mês no IPM, é uma visão científica da obra que deixou. “Um poeta também tem de ser olhado cientificamente” começa por dizer Carlos André.

O resultado são dois dias que reúnem dez oradores. “É um colóquio que congrega pessoas, não apenas do IPM. Tivemos uma resposta muito positiva de uma professora da Universidade de São José, Vera Borges, e outra da professora da Universidade de Macau, Dora Nunes Gago.

Saber de fora

De Portugal vêm convidados oriundos de diferentes áreas.  “Há um professor de literatura, o Seabra Pereira que é, talvez, o que melhor conhecedor das obras dos autores relacionados com o simbolismo”, diz o director do centro. Cabe a Seabra Pereira o encerramento do evento com uma palestra  “Estética da sugestão e da tradição chinesa em Pessanha – um potencial esotérico”. Mas Carlos André não se ficou por aqui e avançou com o desafio a uma linguísta. Isabel Duarte vem da Universidade do Porto, para falar do papel da língua na obra de Camilo. “Nunca ninguém falou do Camilo Pessanha e do seu contributo para a língua e a sua linguagem é muito especial”, aponta Carlos André.

Celina Veiga de Oliveira é a académica convidada para a reflexão acerca da presença de Camilo Pessanha no território e Sara Augusto vai trazer uma apresentação “Espelho inútil: A missão impossível de Clepsidra”.

“Finalmente, vamos ainda contar com a participação de alguém que fez uma tese acerca do Camilo Pessanha”, diz o director do CPCL. Trata-se de Maria Antónia Jardim, que “numa perspectiva diferente” vai trazer “Camilo Pessanha: um educador épico-ético”.

Carlos André vai abrir o colóquio com uma apresentação que explora o sentimento de ausência na obra do Pessanha. Para o académico este é a primeira incursão na pesquisa de Camilo, sendo que ressalta o tema lhe é muito “caro”.

10 Nov 2017