Prémios | Já são conhecidos os projectos vencedores do “Project Market”

São 30 000 dólares americanos para dividir pelos três vencedores do “Project Market Award” do Festival Internacional de Cinema. Os galardoados foram conhecidos na segunda-feira e as participação portuguesas não conseguiram estatuetas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema já começam a ter destinatários. A noite de segunda-feira foi dedicada à entrega do galardão aos vencedores da secção dedicada ao mercado e indústria cinematográfica do evento.

Um total de 30 000 dólares americanos foi distribuído equitativamente por “Mihara” uma coprodução dos Estados Unidos e do Japão realizada por Jaqueline Castel, “The girl with no head, um projecto da Malásia realizado e produzido por Liew Seng Tat e Pete Teo, e “The last stage” de Liam O´Donnel, um filme que conta com a participação dos Estados Unidos, França e Indonésia.

Os filmes, ainda em fase inicial de produção, integram a secção do festival dedicada à apresentação de projectos à industria. Os candidatos foram seleccionados de acordo coma curadora de Todd Bown.

A secção dedicada à indústria contou, este ano, com a participação de 14 projectos que durante três dias foram meticulosamente apresentados e submetidos a comentários de alguns dos mais influentes representantes da produção e distribuição de filmes do mundo, sendo que o continente asiático se destacou.

Os projectos foram divididos em três categorias tendo em conta os objectivos de cada um. O “Project Market” apresentou o bloco dedica os prjevtos de filmes de género, filmes de autor e projectos que estavam à procura de parcerias internacionais.

Um momento de qualidade

Os portugueses Jerónimo Rocha e o residente de Macatu, Ivo Ferreira estiveram presentes em diferentes categorias. Jerónimo Rocha este a apresentar “Deadalus”, uma continuação da curta homónima que o realizador quer ver no grande ecrã. Da experiência no festival, Jerónimo Rocha destaca a qualidade que caracteriza este sector do festival e ao HM referiu que, independentemente dos resultados imediatos, “a experiência está a ser muito produtiva até porque permite aceder a diferentes formas de analisar o filme que queremos fazer e, como tal de o podermos melhorar”.

Já Ivo Ferreira trouxe “Projecto Global” à secção de autor. Apesar do projecto, para já, contar apenas com 20 páginas de guião escritas, Ivo Ferreira admite não estar no festival propriamente à procura de apoios, até porque se trata de um filme de Portugal, mas, quem sabe, conseguir interessados na sua distribuição”, apontou ao HM.

Por outro lado, o produtor de “Projecto Global” não deixou de destacar a qualidade do sector dedicado ao mercado. “Do que tenho visto, esta secção do festival está ao nível do melhor que se faz na Europa”, disse.

13 Dez 2017

‘Curta’ de realizador sueco vence melhor filme e melhor ficção em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Bitchboy” do realizador sueco Mans Berthas conquistou os prémios de melhor filme e de melhor ficção da oitava edição do festival Sound & Image Challenge de curtas-metragens, em Macua, indicou hoje a organização.

O melhor documentário foi para “Nobody Dies Here”, de Simon Panay (França), enquanto o trabalho do realizador Ishan Shukla (Índia) conquistou o prémio de melhor animação, de acordo com uma nota enviada à Lusa.

Na primeira edição do Sound & Image Challeng International a contar com a participação do festival de curtas-metragens de Vila do Conde, o realizador de Macau Chu Hio Tong conquistou o prémio Identidade Cultural de Macau com “Smell the smell”.

Também na categoria de animação, o cineasta Qichao Mao, da China, conquistou uma menção honrosa com “Revelation-The City of Haze, enquanto a escolha do público recaiu sobre “56” de Marco Huertas (Espanha).

Na categoria Volume, que distingue o melhor vídeo musical, o prémio foi para Choi Ian Sin, de Macau.

No festival competiram 44 curtas na secção “Shorts” e seis vídeos musicais competição internacional “Volume”

O festival, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus através do Creative Macau, arrancou com a sessão “Cinema Expandido”, uma colaboração do festival internacional de Curtas de Vila do Conde e curadoria de Miguel Dias.

13 Dez 2017

TIMC | Duo de música electrónica Faslane actua este sábado

Antony Sou e Matthew Ho, dos Faslane, acabam de lançar o primeiro disco da sua carreira. “War Broadcasting Service” está repleto de sonoridades da música electrónica que nos remetem para a guerra nos tempos modernos. No Sábado, os Faslane dão um concerto no âmbito do festival This is My City onde o vídeo também será protagonista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sala estava às escuras, à espera que os sons acontecessem. Subitamente um vídeo agitou as mentes de quem ali estava a ouvir o concerto de música electrónica que era mais do que isso. O vídeo, cheio de imagens que remetiam para uma nova guerra nuclear, continha uma mensagem. À medida que as imagens se sucediam, os sons iam acontecendo, quase agressivos, sem uma ordem.

Este foi um dos primeiros concertos que o duo electrónico Faslane, de Macau, deu no território, no Café Che Che. O álbum de estreia “War Broadcasting Service” volta a revelar-se ao público no próximo Sábado, num concerto a decorrer no espaço “What’s Up Pop Up” e inserido no festival This is My City (TIMC). Em Shenzen, China, o concerto tem lugar na sexta-feira.

“War Broadcasting Service” não é sobre a época em que o nuclear era uma ameaça real, mas sim sobre uma guerra dos tempos modernos, onde a tecnologia tem o poder de revolucionar.

“Vai ser um concerto de música electrónica com uma onda muito experimental. Neste projecto eu e o Mathew vamos passar sonoridades da música electrónica para criar uma atmosfera de um mundo moderno. Vamos ter uma performance de música e vídeo para o público”, contou Antony Sou ao HM.

O nome do álbum surgiu do momento em que os membros da banda ouviram uma transmissão radiofónica do período da II Guerra Mundial, que o Governo britânico transmitia aos seus cidadãos.

“As sonoridades que colocamos nas músicas estão associadas ao barulho e à distracção. Dá-nos a ideia de estarmos na guerra. Ouvi o programa que o Governo do Reino Unido costumava transmitir aos cidadãos durante a II Guerra Mundial e encontramos algumas semelhanças com aquilo que queríamos fazer”, acrescentou o músico.

O álbum, lançado em Julho, contém apenas três músicas e foi gravado em Macau. “Preparámos este álbum nos últimos dois anos e inclui gravações que eu e o meu parceiros gravámos. Escolhemos as que gostávamos mais. Uma das músicas vamos passar no concerto do TIMC e outras duas gravações são de concertos que demos no passado. Gostaríamos de apresentar o álbum como parte de uma performance em desenvolvimento”, adiantou Antony Sou.

O vídeo que será transmitido será semelhante ao que foi revelado ao público no concerto do Café Che Che. “A música que mostrámos aí era algo violenta, havia barulho e sons que distraíam. Era a nossa visão da música a entrar na realidade, de como as pessoas reagiam às máquinas. É a nossa visão de uma guerra no mundo moderno. Não tem de facto uma mensagem política, é uma visão nossa caso houvesse uma guerra nuclear nos dias de hoje”, explicou o músico.

Do piano para a electrónica

Antony Sou descobriu tarde a música electrónica, mas depressa percebeu que, com ela, podia criar novas sonoridades.

“Cresci a tocar instrumentos acústicos. Aprendi piano em criança e toquei até há cinco anos. Depois descobri a flexibilidade dos instrumentos electrónicos e como me permitem a experimentar sons, em vez de tocar canções mais convencionais.”

“A música electrónica ajuda-me a explorar algumas ideias, efeitos sonoros e como incorporar outros elementos na minha música. Comecei a achar fascinante a possibilidade de poder tocar outras coisas que não a guitarra ou o piano”, acrescentou.

Com meses de existência, a reacção do público ao “War Broadcasting Service” tem sido positiva.

“A reacção ao álbum tem vindo a crescer nos últimos tempos junto de pequenas comunidades. Depois de Agosto demos um concerto na Suíça, em Lausanne, num festival, e também tivemos um feedback positivo da parte dos organizadores do festival e do público.”

Sobre a participação no TIMC, Antony Sou revela-se optimista. “Estou feliz por ter a oportunidade de tocar neste festival e espero que nos dê mais exposição junto do público de Macau”, concluiu.

13 Dez 2017

Udo Kier, actor e vencedor do prémio de carreira: “Se não fosse actor seria jardineiro”

Independentemente do tipo de filme ou do papel, Udo Kier é uma cara conhecida do público. Com 50 anos de carreira e trabalhos feitos em todos os géneros cinematográficos, o carismático actor alemão está no território para receber o prémio de carreira do Festival Internacional de Cinema. Aos jornalistas, Kier falou com boa disposição de alguns dos filmes em que participou, da sua paixão pela jardinagem e da amizade que tem com Lars von Trier

 

É a segunda vez este ano que recebe um prémio de carreira. No ano passado também recebeu alguns. O que é que se está a passar?

Tenho 73 anos e é quando envelhecemos que as pessoas nos dão prémios. É agradável. Se tivesse 100 anos seria mais complicado porque não teria a energia que tenho agora para os receber.

Já participou em centenas de filmes.

É verdade. Já fiz filmes maravilhosos. Aliás já filmei com a filha do Charlie Chaplin e é espantoso porque é muito estranho tocá-la e perceber que estou a trabalhar com a filha do Charlie Chaplin. Continuo a trabalhar muito. Estive na China a trabalhar nuns estudios maravilhosos, a gravar “Iron Sky 3”. Foi muito interessante porque estivemos a trabalhar com actores chineses e o Andy Garcia era a única pessoa que falava inglês ali comigo.

O que achou da experiência no continente?

Os chineses têm uma grande tradição cultural na arte da representação, assim como os japoneses. Foi a minha primeira vez na China. Foi engraçado porque pensava que ía para uma pequena vila chamada Tsingtao e quando lá cheguei vi as construções e os arranha céus e perguntei quantas pessoas vivam ali. Disseram-me que cerca de 10 milhões. Fiquei muito espantado por saber que 10 milhões pode ser a população de uma pequena cidade da China. Foi também uma oportunidade de conhecer a cultura. Andei por lugares realmente mais pequenos e com muitas construções antigas. Gostei muito. Em Macau quero fazer o mesmo. Até agora ainda só vi casinos e espaços maravilhosos e dourados , com água fogo e Frank Sinatra. Mas quero ir às ruinas de São Paulo e sentir a história na minha mão.

Já trabalhou com realizadores como o Wim Wenders, Quentin Tarantino ou von Trier. Como é que é trabalhar com estes nomes?

Cresci na Alemanha. Tive a sorte de conhecer o Fassbinder quando tinha cerca de 16 anos. Depois fui para Inglaterra aprender inglês, Foi lá que fui convidado para a minha primeira participação num filme. Na altura, não queria muito ser actor, mas gostava da atenção que tinha quando as pessoas me encontravam num restaurante e diziam que me tinham visto na tela. Na Alemanha, existiam três grupos, o de Wenders, o de Herzog e o do Fassbinder. Eu estava no grupo do Fassbinder e não estava autorizado a trabalhar com os outros dois. Quando o Fassbinder morreu é que trabalhei tanto com o Wenders como com o Herzog. Mas o Lars é diferente. É um dos meus melhores amigos. Já trabalhamos juntos há 24 anos. Sei as datas porque sou o padrinho da sua filha e ela acabou de fazer 24 anos. Participei em todos os filmes do Lars von Trier e só não vou estar neste último. Mas o Lars já me ligou a dizer que o poster de promoção vai ter em destaque  “sem Udo Kier”. Eu acho óptimo, acabo por ser o centro do póster.

Representa normalmente as personagens estranhas e vilões. Gosta?

Claro que sim. Até porque eu sou um bom tipo. Eu salvo animais e sou jardineiro. Aliás, se não fosse actor seria, sem dúvida, jardineiro. Tenho uma casa linda na Califórnia e sou eu que planto e podo as árvores. Nem uso luvas porque a ideia é estar em contacto com a natureza. Também gosto de cozinhar, especialmente para amigos. Mas depois de fazer estas coisas durante um par de semanas começo a pensar que está na hora de fazer um filme. É assim que os filmes acontecem. Este ano e no ano passado fiz tantos filmes porque achei realmente que eram todos projectos muito bons. Não ando atrás deles. A coisa boa nisto é que a internet sabe mais de mim do que eu próprio. Já fiz mais de 200 filmes. Digo sempre que, desses 200, 100 são maus, 50 até podem ser apreciados se se estiver a beber um copo de bom vinho tinto, e 50 são bons. Quando podemos, como actores, dizer que fizemos 50 bons filmes, podemos sentirmo-nos muito bem. Trabalho com muito realizadores que nem conseguem fazer maus filmes. Gus Van Sant não consegue fazer um filme mau, Herzong também não. Podem fazer filmes que as pessoas não gostem, mas não são filmes maus. Eles sabem bem que andam a fazer. Também trabalho com realizadores que me esqueço do nome de propósito e faço filmes que nunca vejo.

Podemos encontrar o seu nome a representar todo o tipo de papéis em todo o tipo de filmes. Como é que selecciona os seus trabalhos?

Isso é mais uma coisa boa da internet. Quando me chega um guião é muito fácil ter informação adicional. Se for de um realizador que eu nunca tenha ouvido falar, vou ao IMBD e vejo logo que filmes fez e com quem. Tenho agora um filme em competição em Berlim de uma realizadora italiana em que isso aconteceu. Leio o guião, sei quem o fez. Depois leio apenas a minha parte do guião. Depois leio o guião sem a minha parte. Se decidir que o filme é bom sem mim e sem o meu papel não vejo razão para o fazer. Por vezes não é o tamanho ou o protagonismo do papel que fazemos, mas sim o seu interesse. Por exemplo, quando fiz o “Melancolia” com Lars von Trier, o Lars disse-me para improvisar uma cena em que tinha de pensar como seria entrar numa sala e não querer ver a Kirsten. Ficou toda a gente a olhar para mim e eu levantei a mão e disse que a poria em frente da cara. Acabei por fazer essa cena e quando o filme esteve em Cannes, aquele movimento de mão foi o gesto que ficou memorizado no público. O que fica por vezes são detalhes e o que importa para mim enquanto actor é perceber de que forma posso tornar algumas situações interessantes e mesmo únicas, o que se pode fazer com pequenos papéis. Enfim, gosto e ser actor. Um dia terei de parar. Sou uma pessoa muito realista e já tenho 73 anos. Penso que tenho mais sete bons anos pela frente até aos 80. Quando começamos a fazer filmes queremos filmar uma data deles ao mesmo tempo para experimentar tudo. Agora é muito diferente. Acho que já não represento, sou só eu, um texto e uma situação. Não tenho este tipo de sentimento forte que me in duza a ter de fazer alguma coisa. Nunca senti que queria trabalhar em especial com um realizador nem nunca me dirigi a nenhum para o fazer. Imaginem que chego perto do David Lynch e digo que quero trabalhar com ele e ele me responde “quem não quer”? iria sentir-me terrivelmente. (Risos). Os realizadores conhecem-me e se quiserem trabalhar comigo sabem como me encontrar.

A sua carreira ascendeu com isso mesmo. Com um encontro com Paul Morrissey.

Paul Morrissey descobriu-me. Estava a viajar de Roma para Munique e tinha um homem sentado ao meu lado, americano. Como todos os americanos perguntou-me logo o que é que eu fazia. Respondi que era actor e entreguei-lhe a minha foto de apresentação. Ele disse que era interessante e pediu-me o número, que escreveu na última página do passaporte. Até pensei que deveria ser importante para ele e acabei por lhe perguntar também o que fazia. Ele disse-me que era realizador, que trabalhava para Andy Warhol e que se chamava Paul Morrisey. Umas semanas depois recebi um telefonema dele a dizer que estava a fazer o Frankenstein e que tinha um pequeno papel para mim. Pensei que ele era maluco e que estava a brincar. Mas foi engraçado que pouco tempo depois ele veio a Munique para o lançamento de um filme e convidou-me para assistir a uma conferência de imprensa. Eu estava lá sentado num lugar qualquer e quando lhe perguntaram quem seria o Frankenstein ele apontou para mim e disse, Mr Kier. Toda a sala mudou. O mesmo acabou por acontecer com o filme seguinte, o Drácula. Estávamos a filmar o Frankenstein e no último dia estava naquelas festas do Warhol. Estava lá o Fellini, e uma data de gente, todos muito altos e com peitos muito grandes. E eu estava ali, como Dr. Frankenstein triste por ver terminados os meus 15 minutos de fama. Paul Morrissey apareceu e disse: “acho que vamos ter um drácula alemão”. Era eu, mas tinha de perder muito peso numa semana. Disse que não havia problema e não comi mais do que folhas verdes e água. Aliás, o drácula acaba por aparecer numa cadeira de rodas porque eu não tinha força para me levantar e ficar de pé. Com estes dois filmes acabei por ser abordado por toda a imprensa e aqueles papéis acabaram por se tornar clássicos. Dali passei para uma outra fase mas o Paul Morrisey foi muito importante para mim.

E como é que foi o encontro com von Trier?

Tinha visto o primeiro filme do Lars von Trier, “Element of crime” e queria mesmo conhecer a pessoa que tinha feito aquele filme. Consegui ter um encontro agendado. Estava à espera de alguém como o Kubrick ou o Fassbinder, que me aparecesse vestido de preto, a coçar-se todo e de mau humor. Apareceu-me um jovem que parecia um estudante. Era Lars von Trier. Conversámos e umas semanas depois ele ligou-me a dizer que estava a fazer “Medea” e queria que fizesse um dos protagonistas, o marido de Medea. Eu disse que não tinha aspecto de viking ou de rei. Ele respondeu-me para não fazer mais a barba nem lavar o cabelo, durante um mês e para depois ir ter com ele à Dinamarca para ser apresentado e “vendido” ao produtor. Foi o que fiz. Fiquei muito estranho e na viagem ía a cheirar muito mal. Mas acho que não há problema quando se cheira mal em classe executiva. Ninguém se importa e se calhar até pensam que é um novo perfume. Fiz este filme e acabei por participar em todos os filmes à excepção do mais recente.

Porque é que não está neste?

Penso que terão sido os produtores a dizer que não me queriam por estar em todos os filmes.

Lars von Trier é conhecido por não ser uma pessoa fácil. Da sua experiência, como é trabalhar com von Trier? 

Antes de mais, ele não gosta de actores. A sua deixa preferida para os actores é “não representem” e toda a gente quer trabalhar com ele. Por exemplo em “Dogville” todos ganhámos o mesmo ordenado, ou seja, quase nada, todos dormimos no mesmo quarto e comemos na mesma mesa, a equipa toda, desde o responsável pelo bengaleiro à Nicole Kidman. E todos estávamos felizes por estarmos a trabalhar com um excelente realizador. Ele não é uma pessoa difícil de todo. A Bjork não gosta dele, mas a verdade é que ganhou a Palma em Cannes com “Dancer in the dark” e que será a sua primeira e única. Noamy Watson teve a sua primeira nomeação para os óscares com um filme de Trier. Diria que von Trier é melhor a dirigir mulheres do que homens. Alguns realizadores conseguem transmitir o que querem melhor às mulheres.

Lamenta algum papel que tenha recusado? 

Não.

Quando é reconhecido na rua, qual é a personagem que mais lhe associam?

Na América é com Blade, o vampiro e a geração anterior era do drácula ou o Frankenstein. Na Europa é em Pet Dectetive.

Como é que aprendeu a representar?

Nunca estive numa escola de actores. Criei-me a mim mesmo. Observei pessoas e depois trabalhei com actores muito bons. Observava-os e tinha realizadores talentosos. Pode-se aprender a técnica, mas não o talento. Esse, ou se tem ou não se tem.

13 Dez 2017

Aniversário | Art For All Society nasceu há dez anos

Começam hoje as celebrações do décimo aniversário da associação Art For All Society, que visa promover o trabalho de vários artistas locais. A AFA já esteve em Pequim, fechou portas, e agora gostava de ter uma representação em Hong Kong. Alice Kok, presidente, e José Drummond, um dos fundadores, recordam o momento em que um grupo de pessoas se juntou para debater ideias sobre o panorama artístico local

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todas as casas que a AFA – Art for All Society já teve, aquela que estava junto às Ruínas de São Paulo foi a primeira. Um dia, artistas como Konstantin Bessmertny, José Drummond, Carlos Marreiros ou Alice Kok reuniram-se para discutir ideias que dariam origem a um novo movimento de revelação de novos artistas junto do público.

Dez anos depois, a AFA prepara-se para celebrar a sua curta existência com uma exposição, uma palestra e um documentário. A história de algo embrionário conta-se com frames, imagens, palavras.

“Hoje será a exposição do aniversário dos 10 anos e depois haverá uma palestra na quarta-feira. Na quinta-feira será transmitido um documentário sobre os artistas que nos têm acompanhado. O objectivo é olhar para aquilo que temos feito nos últimos dez anos, o que fizemos ou não fizemos, numa espécie de reflexão”, contou Alice Kok ao HM.

A palestra visa ser um espaço de debate sobre o estado actual do panorama artístico. “Convidámos outras galerias de arte ou gestores de espaços de arte para discutirmos os desafios e os problemas que enfrentamos quando tentamos manter associações de arte ou outros negócios em Macau”, explicou Alice Kok.

Já o documentário coloca os artistas a falarem do seu próprio trabalho. “É uma forma de olharmos para trás, para aquilo que temos vindo a fazer e deixar os artistas falar do seu trabalho em frente à câmara, para que o público possa compreender melhor o que é a profissão e o que significa ser artista”, contou a presidente da AFA.

A ausência de coleccionadores

Quando convidámos José Drummond a recordar o início de uma jornada, o artistas apenas disse que, no fundo, o tempo passa demasiado rápido sem darmos por isso.

“É a prova de que a vida passa muito rápido. Parece que foi ontem que estávamos todos numa sala ao pé das Ruínas de São Paulo, onde foi a primeira AFA, a debater ideias e a falar sobre as primeiras exposições. E já passaram dez anos e a AFA esteve em tantos espaços. A participação da AFA no meio artístico local continua a ser muito importante”, frisou.

Drummond considera que, quando a AFA nasceu, faltavam em Macau coleccionadores de arte, algo que não mudou com o passar dos anos.

“Há dez anos não havia tantos coleccionadores, mas isso não quer dizer que as coisas estejam melhores. Podem haver mais coleccionadores de arte não acho que, no geral, isso seja significativo, pois a vida encareceu muito mais. Os artistas que continuam a ambicionar viver do trabalho de artista plástico é quase impossível em Macau. A luta continua a ser muita nesse sentido.”

A luta pela estabilidade

Além da falta de coleccionadores que invistam em arte local, tem faltado o factor estabilidade.

“Quando fechámos a nossa galeria em Pequim decidimos concentrar-nos em Macau. Não conseguíamos estar lá pessoalmente e era difícil gerir uma galeria de arte à distância. Por isso ficamos no Macau Art Garden, no centro da cidade. Temos sido bem sucedidos, mas estamos no início, pois temos sido obrigados a mudar-nos a cada dois anos. Nos últimos dez anos mudámo-nos cerca de cinco vezes”, recordou Alice Kok.

Além de garantir a estabilidade no espaço Macau Art Garden, a presidente da AFA confessa que há o desejo de criar uma representação da associação em Hong Kong.

“Queremos garantir a nossa presença aqui de uma forma permanente. Para o futuro queremos primeiro garantir uma estabilidade e depois vamos procurar mostrar o trabalho dos nossos artistas lá fora. Gostaríamos de ir para Hong Kong, mas ainda não fomos à procura de nenhum espaço”, disse.

Dez anos depois, o pessimismo

Anos e anos de exposições depois, Alice Kok considera que continua a faltar uma educação das pessoas para aquilo que é arte.

“Precisamos de fazer mais em prol da educação artística, não só dos próprios artistas mas também do público. Vimos um grande progresso em termos de arte no espaço público, mas a maior parte das pessoas de Macau não sabem muito bem aquilo que está a ser feito. Queremos encorajar mais estudantes para que saibam mais sobre arte.”

José Drummond tem uma visão mais pessimista do mercado artístico. Não só os artistas não são arrojados como no passado como há uma visão mais comercial daquilo que está a ser feito.

“Já tive mais esperanças no futuro da arte de Macau do que tenho hoje em dia. Vejo que há uma direcção nitidamente comercial no seio dos nossos artistas e há uma grande confusão sobre aquilo que é arte. Quem recebe apoio mais directo são coisas que são tradicionais demais. Questiono-me muitas vezes se aquilo é arte contemporânea, porque aquilo já foi feito nos anos 50 do século XX. Se os artistas não tiverem coragem para romper com isso…”, lamentou.

Nem o modelo das feiras de arte em hotéis, como se tem visto muito nos últimos tempos, funciona, segundo o artista e designer.

“Apesar de ser interessante ter feiras de arte em hotéis, a verdade é que ainda não revelaram nada de novo. Será que é importante venderem meia dúzia de obras?”, questionou.

“Houve uma tendência para se comercializar demasiado o trabalho e este aparece muitas vezes como um trabalho decorativo. Nesse aspecto sinto que Macau regrediu um bocado. Muitas vezes os artistas não arriscam tanto como os da minha geração, em termos de ideias, de suporte. Há uma aderência ao suporte pictórico que é demasiado tradicional e não define em nada a arte contemporânea.”

Para José Drummond, na China já se inova mais. Lá, no continente, “os artistas contemporâneos trabalham em todos os media”. “Essa tendência [em Macau] teve a ver muito com as indústrias culturais, em que se quis vender, e com isso tem de se fazer pintura, e com um determinado tamanho. Acho isso muito perigoso, e não vejo pessoas a arriscar.”

Da ausência de auto-crítica

Além do panorama da subsídio-dependência, José Drummond lamenta que, dez anos depois, não haja historiadores de arte, curadores e críticos de arte independentes dos artistas.

“Não há história de arte, não há curadores, e estes são, na maior parte, os artistas, à excepção de uma ou outra pessoa que está no Museu de Arte de Macau. Como não temos estes factores de dinamismo e de auto-crítica, parece que nunca há espaço para vingar fora de portas.”

José Drummond frisa que os poucos casos de artistas que conseguem expor lá fora fazem-no porque alguém de fora de Macau reparou neles. “São curadores de Hong Kong ou da China que estão interessados. Esse input acontece de fora para dentro e não de dentro para fora, o que seria mais lógico. Há coisas que não estão a funcionar, não sei quais são as fórmulas, pois já foram tentadas várias e não funcionaram. Mas tem a ver com a pouca auto-crítica e não há pessoas a escrever. Criámos uma bolha sem identidade e isso é preocupante.”

12 Dez 2017

Fundação Oriente | Duas jornalistas partilham prémio de reportagem

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma reportagem escrita e outra televisiva ganharam o prémio Macau Reportagem, da Fundação Oriente, que distingue anualmente o melhor trabalho sobre Macau, nas vertentes cultural e socioeconómica, foi ontem anunciado.

Os cinco elementos do júri decidiram atribuir por unanimidade o prémio a Catarina Vaz, da Teledifusão de Macau (TDM), pela reportagem “O ar que respiramos”, e a Fátima Almeida, com o trabalho “Esquecidos num canto da cidade – um pátio à moda antiga onde chega a mocidade”, publicado no jornal Tribuna de Macau e feito com a colaboração de Viviana Chan, na tradução, também jornalista do diário.

“Ambos os trabalhos tratam temas de clara actualidade, no plano local. Ambos descrevem uma realidade de Macau com recurso a meios diferentes – televisivo e imprensa escrita – possuindo qualidade técnica e reflectindo um trabalho de investigação e elaboração cuidada”, considerou o júri.

O prémio, no valor cinquenta mil patacas, será dividido pelas duas premiadas e entregue a 11 de Janeiro próximo, na delegação da Fundação Oriente em Macau.

Catarina Vaz trabalhou 17 anos na RTP, em Lisboa, antes de entrar em 2014 na redacção portuguesa do Canal Macau, da TDM. Fátima Almeida escreveu para o Tribuna de Macau por mais de seis anos e actualmente dá aulas de português e inglês na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

Em 2017, concorreram ao prémio 11 jornalistas, com 13 trabalhos, divulgados em órgãos de comunicação social da Região Administrativa Especial e de Portugal.

A delegação da Fundação Oriente em Macau aceita, até final de Janeiro, candidaturas à nona edição do Prémio Macau Reportagem, aberto apenas a jornalistas actualmente residentes no território ou com percurso profissional mínimo de três anos de presença em Macau, independentemente da nacionalidade ou da língua de trabalho dos candidatos.

12 Dez 2017

Cinema local | Chan Ka Keong estreou a sua primeira longa

Macau pode vir a ter uma indústria de cinema e o Festival Internacional de Cinema pode ser uma grande ajuda. Mas, os realizadores locais têm muito que trabalhar. A opinião é de Chan Ka Keong que estreou no fim-de-semana a sua primeira longa metragem, “Passing rain”. Autocrítico e ciente das dificuldades, o realizador fala ao HM da inexperiência e de aspectos a mudar nas produções futuras

[dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]assing rain” é a primeira longa metragem de Chan Ka Keong, e fez a sua estreia no fim-de-semana na Torre de Macau enquanto parte do cartaz dedicado às apresentações especiais feitas por realizadores locais.

Para o realizador, “Passing rain” não é apenas um nome mas sim a própria essência do filme. “Não gosto de sol, e é por isso que chamei o filme de “Passing rain”, começa por contar ao HM. A ideia é ser uma metáfora da vida: “vem de repente, passa rápido. A vida e a chuva são assim. Aqueles que amamos e aqueles de que não gostamos também aparecem e desaparecem das nossas vidas, como no filme, como a chuva em Macau”, refere.

Filmagens congestionadas

Mas, apesar do financiamento do Instituto Cultural para a produção da película, as filmagens no território nem sempre são fáceis. O maior problema, aponta, tem que ver com as deslocações. “Até parece cómico por se tratar de um lugar tão pequeno, sendo suposto ser fácil e rápido andar de um lado para o outro. Mas não é. As estradas são muito estreitas pelo que tínhamos de estacionar a carrinha do material e descarregar para deixar o espaço disponível para filmar. Depois, sempre que tínhamos de mudar de lugar deparávamo-nos com o trânsito. Seria muito mais fácil fazer a maior parte dos trajectos a pé, mas com o material era impossível, explica o realizador.

Por outro lado, tratando-se da primeira longa metragem realizada por existiram outros aspectos que vieram trazer à tona melhorias que têm de ser tidas em conta no futuro. “Não tenho experiência em fazer histórias dramáticas e este filme é uma espécie de salada com vários ingredientes que se vão misturando e que precisava de um drama mais bem trabalhado”, diz.

Proximidade, precisa-se

Autocrítico, o realizador considera que “com a vertente dramática mais bem trabalhada, um filme torna-se mais apelativo para o público, sendo mais fácil entrar na própria história e nas emoções que lhe estão associadas”.

Apesar de satisfeito com “Passing rain”, Chan Ka Keong abre os olhos para os próximos filmes. “Neste filme, falhei ao colocar o público à distância. Não os coloco nas cenas ou em contacto com a emoções das personagens. O público apenas assiste”, aponta.

O próximo projecto já está a ser trabalhado e trata-se de uma produção de baixo custo “em que tudo acontece ao lado de uma cama, entre dois personagens e em que são desenvolvidas as filmagens dos pequenos detalhes da vida”.

Para o realizador o Festival Internacional tem um papel fundamental para a indústria local, sendo que é imperativo que os realizadores façam a sua parte. “Os realizadores de Macau têm de trabalhar cada vez com mais afinco  para que as próximas edições deste festival possam ter mais trabalhos locais em exibição e capazes de entrar em competição”, remata Chan.

11 Dez 2017

Maria Helena de Senna Fernandes: “Abrimos o festival com uma boa nota”

O Festival está em andamento. Depois da abertura, quais a primeiras impressões?

Estou muito orgulhosa. Temos muito orgulho que desta vez existam alguns filmes dentro do nosso programa que já têm boas expectativas para os Óscares. “Call me by your name” e “The shape of water” são alguns dos filmes que podem entrar nas corrida.

A abertura este ano foi feita com a projecção de um filme de caracter comercial. Como correu?

Abrimos o festival com o “Paddington 2” e para mim foi uma experiência muito diferente da que tivemos no ano passado. Em 2016 o filme de abertura era mais artístico, mas este ano dedicámos o primeiro dia à família.

Que mudanças podemos ter nesta edição e para o futuro?

Queremos ser um festival para o público em geral e foi bom ver que na cerimónia de abertura contámos com várias famílias que vieram acompanhadas das crianças. Penso que foi um sucesso. Abrimos o festival com uma boa nota.

Qual é agora a prioridade?

Acho que é importante cultivar, no público local, o gosto de ir ao cinema porque só assim podemos vir a ter uma indústria neste sector. Precisamos de pessoas a gostar de filmes para que possam ser feitos. Para nós, é importante que este festival seja internacional e para isso tem de ter as projecções, mas também a própria indústria. Este ano temos 14 projectos a procurar investidores. Enquanto membro do Governo, é importante ter esta oportunidade de acolher um festival que possa vir a motivar a nossa indústria.

 

Mike Goodridge – Director do Festival Internacional de Cinema de Macau
“Queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito”
Sofia Margarida Mota

 

O que tem a dizer do início do festival?

Acho que começámos muito bem. Com o filme de abertura, dada a escolha, tivemos a presença de muitas crianças no público o que foi muito interessante. Estamos lançados e agora a preocupação é ver a ligação dos filmes com o público.

Que expectativas tem agora?

As expectativas são boas. A avaliar pelo número de bilhetes vendidos no sistema, estamos mesmo muito entusiasmados por terem sido em grande quantidade. Agora resta saber se as pessoas vão mesmo ver os filmes. De qualquer forma, já deu para ver que há realmente interesse.

O que é preciso fazer, a partir de agora?

É um festival recente e vai ainda demorar alguns anos para habituar as pessoas à sua existência para que participem activamente nele. Não queremos ensinar ninguém, só queremos que as pessoas passem a ter o cinema como um hábito e que se tornem “agarradas” ao grande ecrã. As expectativas são muito boas. Agora que o festival está em andamento é ver como é que corre e acompanhar o evento.

11 Dez 2017

Lawrence Osborne, escritor e júri do IFFAM: “Macau é única”

O livro “The Ballad of a Small Player” passa-se em Macau e pode vir a ser adaptado para o grande ecrã. A obra é de Lawrence Osborne que está no território enquanto membro do júri do Festival Internacional de Cinema. Para o escritor britânico, Macau é um lugar único

[dropcap]É[/dropcap] a primeira vez que está a trabalhar com a área do cinema. Tenciona estar mais ligado à sétima arte?
Já fui muitas vezes convidado para escrever guiões e sempre disse que não. Conheço muitas pessoas do mundo do cinema e sempre achei que era um negócio muito complicado. Envolve muito tempo junto de um público e envolve muitas questões relacionadas com dinheiro, o que para mim são tudo complicações. Se se é um escritor, sentamo-nos no nosso quarto sozinhos, fechamos a porta e estamos assim todos os dias, e isso é óptimo. É a única coisa me interessa. Mas, de facto, este ano está muita coisa a mudar porque tenho vários livros que podem vir a ser adaptados e, com isso, tenho de estar envolvido com todos os problemas associados.

O que é que o fez mudar de ideias? 
Tenho cerca de seis livros publicados e dois para o serem. Já escrevi bastante e acho que vou tirar um ano de férias para fazer outras coisas e ver o que acontece. Por outro lado, também há muito dinheiro envolvido (risos) porque faz com que não tenha de me preocupar com essa parte durante uns tempos. Quando escrevemos livros andamos sempre falidos.

Qual o seu interesse pelo cinema? 
O cinema é um mundo muito interessante. Às vezes até gosto mais de cinema do que, propriamente, de literatura. Vejo muitos filmes. Mas o mais importante é a arte narrativa, que é sempre uma arte. Há sempre uma história. Pintura e música são diferentes. Elas existem numa outra dimensão. Mas as artes narrativas estão ligadas. Quando vejo um filme e enquanto escritor estou sempre tecnicamente interessado no que está a acontecer na história. O mesmo acontece ao ver os filmes deste festival. Estamos sempre a perguntar-nos o que vem a seguir na história e, na maioria das vezes em que conseguimos perceber isso, não nos sentimos bem. Pensamos que se o mesmo acontecer quando alguém está a ler as nossas histórias, elas perdem a imprevisibilidade, e, para nós escritores, isso significa que são fracas.

Já foi abordado acerca da possibilidade de adaptar o romance “The Ballad of a Small Player”, que acontece em Macau, para cinema?
É uma opção. Aliás, quando sair deste encontro com os jornalistas, vou ter a minha primeira reunião acerca de um guião desse livro. Mas ainda não pensei nessa história ainda como um filme. Já o escrevi há alguns anos, pelo que há coisas que não estão frescas na minha memória. Quando escrevi “The Ballad of a Small Player”, não tinha em mente qualquer adaptação para cinema. Era apenas literatura. Era um conto de fadas chinês. Por isso, fiquei surpreendido quando me apareceram com a possibilidade de ser adaptado. Se calhar vão me pedir para fazer o screenplay, e se calhar vou pensar nisso.

Com quem se vai reunir para o efeito?
Não posso ainda dizer ao certo com quem, mas posso avançar que uma das pessoas é o director do festival Mike Goodrige. Só o conheci uma vez em Londres onde o trabalho dele é muito reconhecido enquanto produtor e é uma pessoa com muito bom gosto também. Aliás, isso pode ser constatado pelos filmes que temos neste festival, que são óptimos. Por vezes, nos festivais de cinema, os filmes conseguem estar muito longe de serem bons, mas neste, a qualidade está muito alta. Acho que é uma situação muito gratificante para Macau: ter todos estes filmes de grande qualidade em competição e em exibição. Todos nós, membros do júri, estamos muito surpreendidos.

“The Ballad of a Small Player” é uma história que acontece em Macau e que trata da realidade do território. Como é que lhe ocorreu escrever este livro?
A forma como as histórias começam é muito interessante porque não acontece de uma forma, aparentemente, lógica. Há uma pequena passagem no livro em que a rapariga está a relembrar uma oferta que fez num templo, e essa imagem era uma situação por que passei no Tibete. Na altura estava a fazer uma viagem pela China, escrevia para a Vogue e andava acompanhado com dois fotógrafos e dois tradutores. Não sabia porque é que estava ali ao certo, mas acabámos por ir a este lugar assustador, no meio de uma grande floresta com vista para um rio enorme. Era um sitio deserto onde estava um mosteiro gigante com cerca de 30 monges. O meu condutor de carro era um tibetano e de repente parou, entrou no templo, e deixou um monte de notas. Eu achei tão estranho. Aquela imagem ficou comigo e não tendo qualquer conexão com Macau acabei por fazer uma adaptação no livro. Foi assim, por exemplo, que nasceu aquela personagem do livro.

Muitos dos livros que escreve são escritos depois de viver nos sítios onde a narrativa acontece. Isso também aconteceu com “The Ballad of a Small Player”?
Não. Normalmente vivo nos lugares mas não vou para nenhum sitio para fazer pesquisa para livros. O processo é o inverso. Detesto essa coisa de alguém pensar em fazer alguma coisa sobre um lugar e ir lá para pesquisar durante duas semanas. Isso é treta e não funciona. É preciso conhecer realmente um lugar e para isso é preciso lá viver, caso contrário, é falso. Não vivi em Macau mas passei muito tempo aqui em 2001, 2002, 2003 e 2004. Na altura trabalhava para o New York Times e escrevia sobre os medicamentos psiquiátricos na Ásia. Mandavam-me para a China, para o Bornéu, a Indonésia, a Papua Nova Guiné, etc. Acabava sempre por regressar ou a Hong Kong, ou a Bangkok, que funcionavam como uma espécie de base de trabalho. Muitas das viagens que fazia eram à selva e eram muito cansativas. No final, no regresso, acabava sempre por passar, pelo menos, um mês em Hong Kong, para descontrair. Acabei por me habituar a vir a Macau, porque tinha muita curiosidade. Quando percebi que era tão diferente de Hong Kong, comecei a preferir Macau a Hong Kong e a ficar cada vez mais tempo em Macau. Era uma ligação estranha a que sentia, mas foi completamente acidental. Adorava esta atmosfera que não é nem portuguesa, nem chinesa. Não se vê uma mistura óbvia, mas Macau é única. A segunda razão porque comecei a vir para Macau, teve que ver com o vinho porque também fui um dos críticos de vinho da Vogue e Stanley Ho tinha a maior colecção de vinhos que existia no Hotel Lisboa. São milhares de garrafas. Foi muito interessante para mim porque não conseguimos encontrar este tipo de colecções muito menos feitas por um chinês. Daí existirem cenas no livro que se passam no antigo Robuchon.

O jogo, nunca apareceu na sua vida?
Sim, apareceu mas mais tarde. Tudo acontece numa sucessão. Quando passamos muito tempo num sitio, como eu passava no Lisboa  a beber bastante vinho e sem conhecer ninguém, num lugar onde toda a gente circula à noite e a ver as pessoas a jogar, começa-se a jogar também. Jogava bacarat na sua forma mais fácil. Aliás acabei por achar que era uma coisa bastante terapêutica, principalmente quando perdia dinheiro.

Porquê?
A nossa relação com o dinheiro é muito baseada no adquirir e guardar o dinheiro. Passam-se vidas inteiras neuroticamente obcecadas com a ideia de guardar dinheiro, de não o gastar. Se formos a um casino frequentado por chineses, que também são muito obcecados pelo dinheiro, a situação é ainda mais particular porque é um lugar onde é muito fácil perdê-lo. Quando isso acontece é como se alguma coisa dentro de nós se partisse e rendemo-nos a isso. E isso é bom.

É a primeira vez que é membro de um júri?
Enquanto júri de cinema, sim. É muito mais divertido do que ser júri de livros. No mundo da literatura, se um membro de um júri gosta em especial de um livro detestam se um outro membro não gosta. Mas aqui é tudo mais objectivo. Discutimos os filmes que vemos ao jantar, de forma muito civilizada. Todos temos sensibilidades diferentes mas discutimos os filmes em todos os aspectos.

O que é que é um bom filme para si?
Penso que a história tem de ser visceral. Se se pensar muito, se se tratar de um filme muito intelectual, já perdeu alguma coisa. Penso qua a intensidade é o que mais conta. Acho que muitos dos escritores, actualmente, são demasiado intelectuais. Pensam demais, e isso é sempre um erro. Não funciona. Mas tenho de reforçar que ainda só vi filmes bons aqui, entre os sete que já visualizamos.

Considera mudar de carreira, da literatura para os filmes?
Não, é demasiado tarde para isso. Nós fazemos o que fazemos e já é muito difícil fazer uma coisa bem. Não é possível fazer duas coisas bem.

O que é um bom livro? 
Isso é mais complicado. Há muito poucos livros que são realmente bons. A literatura é tão diversa.

11 Dez 2017

Salão de Artistas de Macau apresenta 33 obras originais

Denis Murell, Konstantin Bessmertny, José Drummond, Vítor Marreiros. Estes são alguns artistas que participam este ano no “Salão de Artistas”, uma mostra que é hoje inaugurada no Clube Militar. José Duarte, responsável pela associação que organiza a exposição, garante que esta é apenas uma mostra de pintores e artistas com diferentes idades e visões

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap] rinta e três obras originais que ilustram a diversidade e criatividade das artes visuais em Macau vão estar patentes no Clube Militar até ao próximo dia 6 de Janeiro.

O objectivo desta exposição é reunir “um conjunto amplo de artistas e suas obras que seja representativo da vitalidade e a criatividade da comunidade artística local”, indicou a APAC – Associação de Promoção de Actividades Culturais, que organizou este Salão de Artistas de Macau.

Ao HM, José Duarte, responsável pela associação, explicou que a ideia é mostrar um pouco do que se faz em Macau em termos de arte.

“São artistas de várias gerações, com várias abordagens de pintura e várias técnicas, é esse o objectivo desta exposição. A ideia é, no fim do ano, juntar artistas cujo elemento comum é o facto de serem de Macau e mostrar um pouco a diversidade e a vitalidade da pintura e do desenho em Macau.”

Artistas como Denis Murell, o consagrado Konstantin Bessmertny ou José Drummond, que também tem uma outra exposição patente na Livraria Portuguesa, intitulada “Ao meu coração um peso de ferro”, participam nesta iniciativa. Estão também incluídos nomes como o do designer Vítor Marreiros e Alexandre Marreiros, arquitecto e artista.

“Temos o Denis Murell, que este ano é o decano, e depois temos duas jovens nascidas em 1985. Não tem a pretensão de ser a mostra de toda a arte que se faz em Macau. São apenas 33 artistas com obras recentes”, adiantou José Duarte.

A “cada artista” foi pedido que escolhesse um único “trabalho recente e significativo” para integrar este Salão, que apresenta 33 artistas de renome e jovens artistas emergentes, com mais de 50 anos a separar os mais velhos dos mais jovens, acrescentou a APAC.

A exposição pretende também assinalar o 18.º aniversário do estabelecimento da RAEM, acrescentou a organização.

Esta mostra é a terceira da série anual intitulada “Pontes de Encontro”, promovida pelo Clube Militar de Macau, e que incluiu em Junho uma exposição de pintores portugueses, e em Outubro uma apresentação de 27 obras de nove pintores lusófonos.

11 Dez 2017

IPM : Cinco novos prémios no concurso mundial de tradução chinês-português

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] atribuição de cinco menções honrosas a trabalhos que se distingam pela excelência são a novidade para a segunda edição do concurso mundial de tradução chinês-português, anunciou ontem o Instituto Politécnico de Macau (IPM). O objectivo de atribuir mais estes cinco prémios é encorajar “a participação de mais alunos” de todo o mundo e “não só de Macau, da China Interior, de Portugal e do Brasil”, como se verificou na primeira edição deste concurso, disse o presidente do IPM, Lei Heong Ieok.

“Queremos incentivar os alunos de todo o mundo, fortalecer e aumentar as suas capacidades e, através deste concurso, atrair mais equipas de outros países da Lusofonia”, sublinhou, numa referência aos países africanos de língua portuguesa.

O IPM “vai continuar a reforçar o ensino da língua portuguesa e manter a cooperação com Portugal”, disse Lei Heong Ieok, sublinhando o papel e a importância de Macau no ensino da língua portuguesa e na área da tradução chinês-português, fundamental na concretização da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

As equipas concorrentes, compostas por dois ou três alunos e um professor orientador, terão três meses para traduzir um texto de português para chinês, contendo mais de cinco mil frases e sem ultrapassar as dez mil.

De acordo com o regulamento do concurso, organizado pelo IPM e pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), no final de janeiro próximo terminam as inscrições e, a 01 de março os organizadores enviam o texto a traduzir para os concorrentes, que devem apresentar a 01 de junho o trabalho concluído. No final de julho são anunciados os vencedores do concurso.

O primeiro prémio é de 140 mil patacas, o segundo de 105 mil e o terceiro de 75 mil. Cada equipa que ganhar uma menção honrosa receberá 25 mil patacas. A organização vai atribuir um prémio especial para as equipas das instituições de ensino superior de Macau, de 68 mil patacas para o primeiro lugar e de 35 mil para o segundo.

A primeira edição do concurso contou com a participação de 48 equipas do interior da China, 27 de Macau, dez de Portugal e duas do Brasil.

7 Dez 2017

Concerto | Force Defender trazem o heavy metal de Shenzhen ao palco do LMA

Amanhã o LMA oferece uma noite de rock pesado aos aficionados do heavy metal e hard-core com o concerto dos Force Defender. A banda de Shenzhen faz parte de um movimento, relativamente recente, de grupos com sonoridades pesadas na cidade a norte de Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando se procura no Google “Heavy metal in Shenzhen” os resultados dão conta de acidentes por contaminação tungsténio e cobalto, resultado do crescimento rápido da cidade. Mas há mais do que contaminação ambiental a corroer a metrópole com cerca de 12 milhões de habitantes.

O heavy metal e o hard-core acrescentam dissidência ao panorama cultural da cidade imediatamente a norte de Hong Kong, para além do típico e delico-doce cantopop. Os Force Defender, uma das bandas de destaque no movimento alternativo pesado de Shenzhen, apresentam-se amanhã no palco do LMA para uma noite de rock pesado a partir das 21h.

O metal tem sido uma presença constante na subcultura dos últimos 50 anos do Ocidente. Porém, na China este tipo de música chegou tarde. “A cena heavy começou a estabelecer-se a sério em Shenzhen por volta do ano 2003, com bandas excelentes como os YiJiao e Zhaliewanou que tocavam frequentemente na cidade”, conta Cynric W, o vocalista dos Force Defender.

O cantor recorda que esse momento de explosão foi bastante importante para o desenvolvimento dos movimentos musicais independentes na cidade. “No entanto, a cultura de bandas atravessou uma fase de declínio por volta de 2010, com a comercialização dos espaços e cada vez menos espectáculos ao vivo”, contextualiza.

Situação que viria a alterar-se de novo por volta de 2013 com o influxo de concertos de bandas internacionais a apresentar a sua música ao vivo em Shenzhen. “Recomeçaram a surgir novas bandas locais de heavy metal e hard-core”, explica o vocalista dos Force Defender.

Vozes fortes

Apesar de terem surgido numa altura em que o panorama da música independente estava moribundo, os Force Defender persistiram e mantém-se no activo desde a sua data de formação em 2011. No ano em que começaram a tocar, o género musical em Shenzhen vivia um período negro, no mau sentido, mas a banda “defendeu a força da música” com toda a garra.

“Começámos por ser amigos, já nos conhecíamos uns aos outros há bastante tempo, pensámos que tínhamos algum talento musical e vontade de fazer algo especial”, revela Cynric W acerca do momento em que a banda começou a dar os primeiros passos.

Hoje em dia são uma referência num panorama em efervescência em Shenzhen em termos de metal e hard-core, apesar “da cena ser recente e de precisar de boa comunicação e mais público”.

Os Force Defender vão apresentar o seu disco de estreia “1118” em Macau no LMA. O título do álbum “é a data em que saiu, marca o dia de fim de uma Era e o início de um novo começo”, descodifica o baterista, Cyrus Chi Man Tse.

A sonoridade da banda é influenciada por aquilo que os membros ouvem em casa, como por exemplo Lionheart, Chimaira ,Dream Theater, Terror, Bullet For My Valentine e Madball.

As letras dos Force Defender não têm meias palavras, são fortes como os riffs de guitarra e a bateria pulsante. Em “USHL” o vocalista conta que nasceu numa família revolucionária que jamais será derrotada, que lutou na segunda grande guerra mundial e que marchou com o exército vermelho. O refrão é um grito onde Cynric W repete que é assim que o seu sangue flui, “unstoppable hardcore lineage”, sem hipóteses além de lutar sozinho.

Este tipo de mensagens fortes não se encontra apenas nas letras das músicas, mas também no seu site bandcamp, onde dizem lutar contra a “porcaria” que os rodeia. Cynric W descodifica essa mensagem ao explicar que os Force Defender lutar contra “a disputa, o confronto e o egoísmo da vida em Shenzhen”.

Apesar do carácter interventivo das letras, característico do rock mais pesado, a banda não teme represálias. “Tentamos constantemente levar positividade ao público, encorajar as pessoas a superarem-se, a darem a volta aos problemas que enfrentam e a acreditarem nelas mesmas, em vez de seguirem a via dos abusos e queixumes”, conta o vocalista.

Mesmo com a atitude de desafio à conformidade, Cynric W revela que “até ao momento não tiveram qualquer tipo de problema” com os poderes instituídos.

Amanhã sobem ao palco do LMA para continuar a defesa daquilo em que acreditam.

7 Dez 2017

Sound and Image | Festival de curtas começa hoje

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão 44 os filmes finalistas que vão estar em competição em mais uma edição do festival internacional de curtas do território. O Sound and Immage Challenge regressa a Macau com um cartaz cheio. O evento começa hoje e entre a sala do Teatro D. Pedro V e o cinema Alegria vão ser exibidas um total de 51 curtas metragens.

O festival tem início com a rúbrica “Cinema expandido”, uma colaboração com o evento de curtas de Vila do Conde. Com a curadoria de Miguel Dias, vão chegar a Macau os filmes “Os deserdados” de Laura Ferrés, “Verão Saturno” de Mónica Lima, e mais sete curtas vencedoras do evento do norte do país.

A edição deste ano do festival local segue com a exibição dos filmes seleccionados para competição sendo que conta com a presença de alguns dos realizadores.

Este ano, o evento contou com uma participação recorde de candidatos. Foram mais de 4000 os filmes que deram entrada nas categorias de ficção, animação e documentário. O Sound and Image tem ainda uma secção dedicada ao território. Trata-se da rubrica “Identidade cultural de Macau” que conta, de entre os finalistas, com quatro curtas subordinadas ao tema.

Da competição faz ainda parte, à semelhança da iniciativa em anos anteriores, o concurso de vide clipes. São seis os vídeos musicais que integram a rubrica “Volume” que tem como condição obrigatória de participação, ter como banda sonora o registo musical de um agrupamento de Macau.

O Festival Internacional de Curtas de Macau vai dar lugar a três master classes: duas a cargo do realizador e já vencedor do evento em 2015, o sueco Julien Dykmans, e outra pelas mãos do cineasta e argumentista chinês Zhang Zeming.

As sessões vão decorrer diariamente entre as 14h e as 22h, à excepção do dia 8 em que a mostra termina às 17h por ser o dia da cerimónia de entrega de prémios que ocorre às 19h no Teatro D. Pedro V. As entradas são livres.

6 Dez 2017

Ana Aragão, ilustradora: “Macau é uma fonte de inspiração riquíssima”

Está pela primeira vez em Macau para a abertura da exposiçãoo “Imaginary Beings” hoje na galeria do Taipa Old Village Art Space. Ana Aragão traz não seres imaginários e leva consigo ideias para a próxima mostra que vai ter como inspiração as particularidades do território

[dropcap]D[/dropcap]a arquitectura à ilustração. Como é que foi este caminho? 
Não foi um caminho planeado. Aconteceu por acaso. Sempre gostei de desenhar. Depois do curso de arquitectura ainda experimentei exercer a profissão e percebi que não era exactamente o sítio onde me sentia mais à vontade. Era demasiado abstracto estar sentada num computador um dia inteiro a olhar para um ecrã, ou mesmo ir às obras. A maior parte do trabalho do arquitecto é ser um gestor de recursos, de meios e de equipas. Percebi que isso, se calhar, não era talhado para mim e fiquei muito indecisa no final do curso. Tinha duas hipóteses: fazer um curso de ilustração ou um doutoramento em arquitectura. Por acaso optei pelo doutoramento e nas aulas comecei a desenhar mais. Acabei por fazer um blog com os meus desenhos e decidi cancelar tudo o que tinha que ver com arquitectura e a dedicar-me só à ilustração. Mas, claro que, no meu trabalho, existe sempre uma ponte com a arquitectura.

Estes trabalhos foram feitos para ser expostos em Macau. Há alguma relação com o território?
Mais ou menos. Esta exposição foi feita para vir para Macau e a relação com Macau não é evidente. Sabia que vinha aqui e o que mais me motivou foi poder unir as duas linhas de trabalho que tenho: uma a preto e branco com os desenhos detalhados, e o meu universo a cores. Nunca tinha conseguido conciliar estes dois mundos e achei que esta seria uma boa oportunidade de colocar a mim mesma esse desafio, o de conciliar estas duas vertentes. Como sei que há sempre um imaginário, talvez um bocadinho infantil, nas minhas ilustrações e que imaginei que seria bem aceite aqui em Macau, decidi explorar este imaginário em que uso estruturas como se fossem personificadas. Dei vida às estruturas que, se calhar, antes deste momento no meu percurso profissional, seriam mais abstractas. O trabalho foi a pensar que vinha para Macau, mas o conteúdo não foi literalmente baseado no território, embora saiba que Macau é uma fonte de inspiração riquíssima.

Porquê?
Os edifícios e as paisagens urbanas aqui têm muita informação o que me agrada muito e acaba por trazer muitas coisas novas ao meu trabalho.

Podemos esperar um novo projecto inspirado no que está a descobrir na RAEM?
Sim. Estou completamente apaixonada por estas formas de construir, esta apropriação do exterior através das gaiolas e das grades. Para mim é absolutamente fascinante. O engraçado é que, entretanto, fiz outros desenhos que estão no atelier e que não vieram para aqui porque estão guardados para outras altura, mas que já têm muito que ver com esta realidade. Acho que acabei por encontrar coisas aqui em que já tinha pensado antes. É uma grande coincidência. Sinto que, ao olhar para este edifícios, estou em casa. Apetece-me guardar as imagens e tudo o que vejo. Muitos destes edifícios que parecem muralhas gigantes e vertiginosas poderiam ser o começo de uma nova história e de um novo desenho.

O que mais vai trazer de novo?
A próxima ideia é utilizar uma técnica diferente. Até agora tenho trabalhado apenas com um registo linear. Comecei a fazer coisas com a caneta Bic que me vai permitir explorar a mancha. Penso que posso, com isso, fazer coisas mais realistas – estes de agora são mais fantásticos. Vão também ser desenhos muito maiores, o que me vai permitir adicionar ainda mais detalhes. A ideia é que a próxima colecção venha a Macau.

É a primeira vez que está em Macau. Já falou da casas antigas. E os casinos? Como é que os vê?
Acho que é sempre interessante e enriquecedor perceber como se vive de outra forma. Em Portugal não temos este tipo de ostentação que existe nos casinos e que é quase obscena. Esta relação com o dinheiro, que é tanto, é quase pornográfica no sentido em que revela tudo e acaba por não criar muito mistério. Ali, tudo é revelado, tudo brilha e fala. São espaços em que é constantemente de dia, não existe a noite, não existe a passagem do tempo, não existe a sujidade. É fascinante, sem duvida, mas parece que estamos num outro mundo dentro de outro. Penso que as casas aqui têm espaços mínimos e os casinos são imensos. Acaba por ser um contraste. Parece que estamos num filme em que, de repente, passamos de um cenário cheio de cheiros, de ruídos diferentes e com bastantes marcas do tempo para um mundo que nos tira todas as coordenadas espaciais e temporais relativamente ao exterior o que acaba por ser um choque  muito grande mas que também me agrada.

6 Dez 2017

Nova Iorque : Ópera Metropolitana suspende maestro James Levine

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Ópera Metropolitana de Nova Iorque suspendeu no domingo toda a colaboração com o maestro James Levine, alvo de denúncias de agressões sexuais. Em comunicado, o director-geral da ‘Met’ anunciou que James Levine vai sair do cartaz desta época e que um antigo procurador foi chamado para analisar as denúncias feitas contra o maestro. “Com base nestas novas informações, a ‘Met’ tomou a decisão de actuar a partir de agora, enquanto aguarda os resultados do inquérito”, declarou Peter Gelb. “É uma tragédia para todos cuja vida foi afetada”, acrescentou.

O antigo procurador do estado de Nova Iorque Robert J. Cleary foi encarregado pela direção da ‘Met’ de conduzir o inquérito. Cleary foi o responsável da acusação no caso de Ted Kaczynski, conhecido como “Unabomber”, que perpetrou vários atentados com pacotes armadilhados e foi condenado a prisão perpétua em 1998.

Em 2016, um relatório policial referia as denúncias de agressões sexuais, mas “James Levine afirmou que eram acusações totalmente falsas”, indicou o comunicado. A alegada vítima, que mantém o anonimato, disse à polícia de Illinois que os factos teriam começado em 1985, quando tinha 15 anos e o maestro 41, e continuado até 1993, de acordo com os jornais New York Post e The New York Times.

No final da época 2015-16, Levine reformou-se após uma carreira de 40 anos na ‘Met’, onde começou em 1971, dirigindo mais de 2.500 apresentações de quase 85 óperas diferentes. O maestro exercia ainda o cargo de director musical honorário da ‘Met’.

Desde que foi divulgado o caso do produtor de Hollywood Harvey Weinstein, em Outubro, vários escândalos relacionados com acusações de assédio, agressão sexual e até mesmo de violação foram denunciados em diversos países.

5 Dez 2017

Luís Miguel Cintra apresenta última parte da tetralogia “Um D.João Português”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] quarta e última parte da tetralogia “Um D. João Português” é apresentada “em meados deste mês”, em Guimarães, onde em Janeiro se estreia o espectáculo na sua versão integral, disse à Lusa o encenador Luís Miguel Cintra. A residência artística inicia-se prolonga-se até quinta-feira da próxima semana, abrangendo a apresentação, nos próximos dias 13 e 14, da quarta e última parte da peça, “Um D. João Português. A Escuridão ao Fim da Estrada”, na Black Box da Fábrica Asa, em Guimarães, com entrada livre.

O espectáculo, encenado por Luís Miguel Cintra, cruza uma tradução anónima de cordel com o texto original de Molière, “D. João”. Na versão portuguesa, do século XVIII, é o homem quem acaba por ser vencido pela mulher, que generosamente o perdoa e força o casamento.

Esta opção foi qualificada por Luís Miguel Cintra como “uma ironia”. Na versão portuguesa, “para não desagradar ao público, D. João não vai para o inferno, mas casa-se com D. Elvira e faz um banquete com os seus irmãos”. Segundo o encenador, este último acto desemboca numa cena de fantasmagoria com espectros e outros acontecimentos espectaculares, transformando o casamento da versão portuguesa, numa mascarada de “Halloween”.

O primeiro ato do projecto “Um D. João Português”, “Na estrada da vida”, teve lugar no Montijo, em Abril; o segundo – “O mar (e de rosas)” – foi em Setúbal, em Julho; Viseu acolheu a terceira parte, composta pelo terceiro e o quarto atos da peça, “As árvores (dos desgostos)”, em Setembro. Este é “um projecto muito especial, que é o contrário de um projeto pronto a consumir”, disse Cintra à agência Lusa, referindo que a ideia foi sempre “mostrar às pessoas como é feito”.

O projecto conta agora com um apoio da Direção-Geral das Artes, mas “depende muito do entusiasmo de quem participa”, disse Cintra, que acrescentou que foi uma opção sua fazer “com tanta gente”, esta peça, “pois podia fazer com muito menos gente”.

“A peça – explicou – é uma espécie de peregrinação de duas personagens com cenas avulsas que se vão confrontando com outras personagens, até à morte de D. João”.

Este quinto acto conta com a participação dos actores Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Joana Manaças, João Jacinto, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Luís Lima Barreto, Nídia Roque, Rita Durão e Sofia Marques.

Em Setembro, em vésperas da apresentação da terceira parte, em Viseu, Cintra tinha salientado à Lusa que o projeto surgiu “porque há muita noção de que o contacto entre público e espectáculos é muito superficial e está a tornar o teatro numa coisa muito sem importância na vida das pessoas, como se fosse um mero passatempo, coisa contra a qual lutei toda a vida”.

“Eu e pessoas da minha geração, sempre sonhámos com um teatro que estivesse implantado no centro da cidade, a falar do presente, com coisas que dissessem respeito à vida dos espectadores”, sustentou, em Setembro, Luís Miguel Cintra.

A partir de janeiro, depois da apresentação em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor, a versão integral do espectáculo será também apresentada no Montijo, em Setúbal e em Viseu, além de outras localidades, adiantou Luís Miguel Cintra à Lusa.

Luís Miguel Cintra afirmou que “vai ser engraçado” apresentar “as diferentes partes complementadas em sítios, com características diferentes uns dos outros”. “Vai implicar o refazer daquilo tudo e voltar a dar uma unidade àquilo tudo. Portanto, vai ser divertido”.

5 Dez 2017

Exposição | “From Where I Stand”, de Mónica Coteriano, inaugurada amanhã

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ónica Coteriano apresenta amanhã, na Casa Garden, o primeiro projecto da Associação Cultural 10 Marias. Trata-se de uma exposição de fotografias da sua autoria, todas elas tiradas com o Iphone e publicadas no Instagram. A autora das imagens de “From Where I Stand” não se assume como fotógrafa mas há muito que queria tornar esta ideia realidade.

A história da exposição que é inaugurada amanhã na Casa Garden, intitulada “From Where I Stand – Mobile Photography” começa no Brasil e retrata o processo criativo de uma mãe a viver as delícias da maternidade. Foram cinco anos a fotografar e outros três a desenvolver um conceito.

Mónica Coteriano deslumbrou-se com o Iphone, nomeadamente com a aplicação Instagram, e começou a retratar o dia-a-dia das suas filhas, da sua família e das viagens que realizaram.

Apesar de fascinada com o lado prático da publicação de imagens, Mónica Coteriano sempre desejou que as fotografias fossem, um dia, expostas numa galeria, num espaço físico.

“Comecei a descobrir uma série de grupos e desafios que existiam no Instagram e descobri também uma série de ferramentas para fazer a edição. Foi um mundo de possibilidades. Dediquei-me à fotografia com o telemóvel, e não sei fazer nada se não for com isso. Comecei a participar em alguns concursos.”

A artista acabaria por deixar o Brasil e vir para Macau, onde a produção fotográfica diminuiu. “Estava sempre a pensar na possibilidade de tornar isto físico, mas de uma forma que me satisfizesse. O ano passado, no final do ano, surgiu a possibilidade. A Ana Paula Cleto [delegada da Fundação Oriente] arrisca sempre em projectos que não conhece e abriu-me as portas”, contou.

Mónica Coteriano recorda que “o meu objecto na altura foram as minhas filhas, a minha família e as nossas viagens. Foram esses os meus objectos visuais porque estava mais perto deles e era o que fazia sentido.”

Cada um no seu lugar

A autora de “From Where I Stand – Mobile Photography” não tem receios em admitir que “as fotos são muito editadas, excessivamente, porque gosto de criar um imaginário qualquer com a fotografia que faço”.

Questionada sobre o espaço que os instagramers ocuparam no mundo da fotografia, por oposição aos fotógrafos profissionais, Mónica Coteriano garantiu que cada um tem o seu lugar sem que haja um conflito obrigatório. Pelo contrário, pode haver um debate.

“Não acho que roube espaço a ninguém. A tecnologia oferece-nos diferentes possibilidades e cada um agarra-as como as vê. Não me intitulo de nada, sou formada em dança, fui bailarina, e depois surgiram outros projectos como a música. Acho que há espaço para todos, não estou a tirar espaço a ninguém.”

“Esse debate é sempre interessante e discutir ideias é sempre muito interessante. É um objecto criativo e sinto necessidade de o expor. Não encaro isto como um desafio aos profissionais”, acrescentou a artista.

Quando tocou num Iphone pela primeira vez Mónica Coteriano estranhou, mas depois não mais largou as suas funcionalidades. O que mais a atraiu foi “a praticabilidade deste objecto tão próximo”.

“Num instante tiramos a fotografias e havia a vontade de começar a editar a fotografia e recriar um imaginário. E tudo isso com a mesma ferramenta, o Iphone, e poder publicar de imediato e ter o feedback. Era isso que me interessava. Acho fascinante este objecto.”

Projectos pensados

Apesar de este ser o primeiro projecto da Associação Cultural 10 Marias, criada o ano passado, há mais outro a caminho.

“Para o ano pretendemos trazer um grupo composto por Ana Borralho e João Galante, que têm um trabalho muito interessante em termos conceptuais. Isto porque uma das nossas premissas é trazer trabalhos que possibilitem os artistas locais, profissionais ou não, a trabalharem com profissionais que vêm de outros países.”

Em Macau, os artistas portugueses prometem trabalhar com artistas locais. “O conceito de trabalho da Ana e do João é exactamente este. Chegam ao local, e fazem um open call [para novos artistas]. Isso acaba por ser um postal da cidade, porque é feito com locais também”, concluiu Mónica Coteriano.

5 Dez 2017

Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés, morreu aos 61 anos

O funeral da figura icónica do rock português decorreu na sexta-feira no Mosteiro dos Jerónimos, com o presidente da República e o ministro da Cultura a destacarem o legado deixado por Zé Pedro. Os Xutos e Pontapés actuaram em Macau em 1989 e 2006

 

[dropcap style≠‘circle’]P[/dropcap]rimeiro ouviram-se os “Contentores” e depois foi um desfilar de grandes canções, que ficaram para sempre nos ouvidos dos portugueses. Assim começou o concerto dos Xutos e Pontapés em Macau, corria o ano de 1989 e ainda se ouvia música no Fórum, perto do Instituto Politécnico de Macau. O evento inseriu-se na iniciativa “Rock Macau”, promovida pelo Governo de Carlos Melancia.

A banda repetiria a passagem por Macau 17 anos depois, com o concerto que decorreu em 2006 junto ao Lago Nam Van, inserido no Festival Internacional de Música de Macau.

Na altura, o grupo referiu-se ao concerto como sendo uma “desfolhada de memórias”, muito diferente do espectáculo de 1989, ano em que, além do Fórum Macau, também actuaram no Estabelecimento Prisional.

“Entre o público só havia chineses e não batiam palmas. Estavam muito quietos. Acho que ouviram a música e a seguir foram para as celas. Não reagiram e ficámos sem saber se tinham gostado”, recordou Zé Pedro à agência Lusa, ao fazer o contraste com a excitação dos portugueses presentes no concerto integrado no Rock Macau.

Zé Pedro referiu ainda, em 2006, que “há menos portugueses a viver em Macau” e o sucesso do espectáculo “depende da atitude dos músicos em palco”.

Anos depois, a banda está de luto com o desaparecimento de Zé Pedro, guitarrista e autor de muitos sucessos dos Xutos e Pontapés. Falecido aos 61 anos, vítima de doença prolongada, o músico foi recordado no funeral que decorreu na sexta-feira, no Mosteiro dos Jerónimos.

Além da homenagem prestada pelas milhares de pessoas que decidiram aparecer no local, Zé Pedro foi também recordado pelos governantes portugueses.

Em comunicado, o ministro da cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, disse que o músico “contribuiu de forma decisiva e inovadora para o sucesso continuado de uma das mais prestigiadas bandas rock nacionais”.

Castro Mendes disse lamentar “profundamente a morte do músico Zé Pedro”, que “contribuiu de forma decisiva e inovadora para a história da música electrónica em Portugal e para o sucesso continuado de uma das mais prestigiadas bandas rock nacionais”.

“O seu entusiasmo, carisma e empatia deixaram uma marca indelével no panorama musical português, com músicas que acompanharam várias gerações, que o admiram com reconhecida ternura”, afirmou Castro Mendes.

“Dotado de um sentido musical notável, a música foi o seu sonho desde cedo e com ela conseguiu transformar o universo do rock português, a par da vida de muitos milhares de pessoas”, disse Castro Mendes, que traça o percurso do guitarrista “desde os ensaios na garagem de casa do seu avô, ainda adolescente, até aos dias de hoje, em grandes palcos portugueses e estrangeiros”.

Zé Pedro “teve uma vida intensa e uma brilhante carreira ao longo de quatro décadas”.

O músico, “que dizia ter sempre as mãos ocupadas com a guitarra, deixa-nos canções, como o ‘Ai a minha vida’, ‘À Minha Maneira’ ou ‘Contentores’, que inspiram também um retrato especial do país e de um certo modo de ser português”, remata o ministro da Cultura, que envia “sentidas condolências” à família.

 

As palavras de Marcelo

Também o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, classificou Zé Pedro como sendo um “guerreiro da alegria” e “da vontade de viver”.

“Era um guerreiro da alegria, da vontade de viver, de superar dificuldades, de nunca desistir. Chegou cedo demais o descanso deste guerreiro, que certamente não será esquecido por tantos e tantos amigos que deixou”, escreveu o chefe de Estado português numa mensagem publicada no website oficial.

Depois de manifestar o seu pesar a “toda a família e amigos do Zé Pedro”, lembrando que o músico “era assim afectuosamente tratado por todos os portugueses”, Marcelo recordou que “os seus primeiros passos na música coincidiram com o despertar do país para o movimento punk, tendo mais tarde fundado uma das maiores bandas de rock de Portugal, e sobretudo uma das que mais tempo sobreviveu e acompanhou várias gerações”.

Zé Pedro estava doente há vários meses, mas a situação foi sempre mantida de forma discreta pelo grupo, tendo só sido assumida publicamente em Novembro, a propósito do concerto de fim de digressão dos Xutos e Pontapés, no Coliseu de Lisboa.

José Pedro Amaro dos Santos Reis nasceu em Lisboa, em 14 de Setembro de 1956, numa família de sete irmãos, “com um pai militar, não autoritário, e uma mãe militante-dos-valores-familiares”, como recordou num dos capítulos da biografia “Não sou o único” (2007), escrita pela irmã, Helena Reis.

No final na década de 1970, Zé Pedro, com Zé Leonel e Paulo Borges, decidiu criar uma banda, baptizada Delirium Tremens. Passou depois a chamar-se Xutos e Pontapés, com a entrada de Kalú e de Tim para o lugar de Paulo Borges. O primeiro concerto realizou-se há 38 anos, em 13 de Janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa.

4 Dez 2017

Isolda Brasil lança primeiro romance em português

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] escritora Isolda Brasil, radicada em Macau, distinguida em 2015 com um prémio literário nos Estados Unidos, lança “O Último Sangue da Trindade”, o seu primeiro romance em português, com a chancela da Alfarroba. O livro “conta a história de várias gerações de uma família extremamente matriarcal”, habitante de uma ilha que, embora sem ser identificada, encontra “paralelismo com os Açores, acompanhando acontecimentos históricos do arquipélago ao longo do século XX, ainda que ‘en passant’, com muitos elementos de realismo mágico”, explicou a autora, em entrevista à agência Lusa.

A saga familiar, narrada por uma das bisnetas de Trindade (a quem se deve o título da obra), explora “um universo feminino em que os homens assumem um papel muito particular”, desvelando “mulheres que são sempre só mulheres ou mães que são sempre só mães a vida toda, sem nunca chegarem a ser mulheres”.

Embora seja madeirense, Isolda Brasil mudou-se muito cedo para os Açores, pelo que conhece bem a realidade com a qual encontra paralelismo a ilha que concebeu como palco para o desenrolar da história d’ “O Último Sangue da Trindade”. “Os Açores são conhecidos pelos fenómenos meteorológicos, pelo que os estados de humor ou os episódios marcantes que acontecem na vida das personagens têm um impacto muito grande no tempo”, explica a escritora, dando o exemplo de uma tempestade de granizo desencadeada por um desgosto amoroso. “Esta presença vincada do elemento mágico por toda a narrativa, em íntimo convívio com a história da família, e em sobreposição do real acaba por trazer um forte elemento místico à história”, salienta Isolda Brasil, advogada de profissão.

“O Último Sangue da Trindade” tem ainda a singularidade de não estar dividido por partes ou capítulos, tornando una, a “série de histórias intricadas” que dão vida ao romance de cerca de 500 páginas. “É um aspecto que perturba um pouco as pessoas, mas que é propositado”, porque “pretende-se transmitir a ideia ou a sensação de estares sentada a ouvir uma história oral a ser contada”, algo que a própria linguagem também vai sustentando, sublinha Isolda Brasil. “Quando um acontecimento acaba, há sempre um elemento de ligação para o seguinte – todas as histórias estão interligadas”, frisa a escritora de 39 anos.

Reconhece que ‘encaixar’ o romance num formato de “história corrida”, sem qualquer separador, foi “a parte mais difícil e a que mais trabalho deu”, mas considera que a escolha que fez, fruto da vontade de “fazer algo diferente”, acabou por conferir um “encadeamento distinto” à obra.

“O Último Sangue da Trindade” figura como o primeiro livro em português de Isolda Brasil que, em 2015, venceu, na categoria de romance, o prémio revelação de escritores independentes dos Estados Unidos The IndieReader Discovery Awards (IRDA, na sigla em inglês).

A obra premiada foi “The Wanton Life of My Friend Dave”, uma edição de autor que lançou em 2014 sob o pseudónimo de Tristan Wood, e que marcou a sua estreia no mundo da escrita ao qual gostava, confessa, de dedicar-se a tempo inteiro. “O que eu gosto realmente de fazer é escrever. A escrita é a minha paixão e era o que gostava de fazer da minha vida”, sublinha a autora d’“O Último Sangue da Trindade”, obra que terminou há dois anos, mas que apenas agora é dada à estampa.

Isolda Brasil começou por ‘pôr-se à prova’ no género literário do conto, com “Love Letters from Macau” a valer-lhe, em 2013, uma menção honrosa no concurso inserido no Rota das Letras, que seria depois publicado no segundo volume da colecção de contos do Festival Literário de Macau, que se realiza em três línguas (português, chinês e inglês).

“O Último Sangue da Trindade” vai estar disponível nos escaparates das livrarias nos próximos dias, sem que haja lugar a uma sessão de lançamento em Portugal devido à ausência da autora, embora não esteja descartada a hipótese de uma apresentação da obra em Macau, onde vive.

4 Dez 2017

Casa Garden | Exposição de Rafaela Silva inaugurada terça-feira

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]afaela Silva traz 20 obras pintadas em placas de cortiça com pigmentos naturais para mostrar uma África que conheceu em criança e que não mais a deixou. “Com África no Coração” é inaugurada na próxima terça-feira e conta com organização do Grupo Lusotropical de Macau e Humberto Évora.

Nasceu em Nova Lisboa, Angola, e não mais esqueceu os cheiros e a cultura tão próprios de África. Depois de ter exposto em Macau na iniciativa “Pó e Pedra”, em Janeiro, Rafaela Silva está de volta para uma exposição em nome próprio. “Com África no Coração” é inaugurada na próxima terça-feira na Casa Garden, da Fundação Oriente (FO). O evento vai contar com apresentação musical de Zé Gonçalo e Jandira Silva.

O Grupo Lusotropical de Macau e o médico Humberto Évora juntaram-se para que a pintora pudesse realizar um desejo seu. O público poderá ver 20 trabalhos que retratam as diversas vertentes de África, mas sempre com a pessoa humana como protagonista. Dois poemas de poetas angolanos acompanham a mostra.

“Estou muito agradecida a este grupo de amigos que se juntaram para que eu possa fazer uma festa bonita”, começou por contar ao HM. “Os trabalhos foram feitos de propósito para esta exposição. É sobre pigmentos naturais, quis trazer uma coisa inovadora.”

Rafaela Silva pintou em papel de aguarela e também em placas de cortiça trabalhada. “Além de fazer as coisas com muita paixão quero que cada um compreenda as coisas à sua maneira, porque eu gosto muito de retratar pessoas, sentimentos. Também trago alguns animais nestas obras. Mas essencialmente o que me interessa mesmo é trazer pigmentos não tóxicos e ir para a pintura mais simples.”

“Com África no Coração” será uma verdadeira “farra africana”, como a artista sempre quis. “É assim mesmo que eu quero que as pessoas se sintam: que vão lá, oiçam música e apreciem a diversidade que África nos pode dar.”

Isto porque os sons a que se habituou desde nova sempre fizeram parte das suas memórias. “Em Angola fazíamos muitas festas sempre e costumo dizer que fui criada ao som do batuque, porque desde pequena que participava nestas festas e quem lá esteve não consegue esquecer o pôr-do-sol e o cheiro da terra.”

Transpor fronteiras

Rafaela Silva trabalhou na área da aviação civil e após a reforma decidiu dedicar mais tempo à pintura. Os pigmentos naturais descobriu-os há cinco anos, num workshop realizado no Algarve, onde vive.

“Sempre gostei de desenhar e fazer caricaturas de pessoas, mas depois há cerca de 22 anos comecei a estudar desenho a sério. Durante 20 anos pintei sempre com óleo, recorrendo a técnicas mistas, como acrílico, colagens, gostava de fazer telas muito grandes. Há cinco anos foram-me apresentados os pigmentos naturais e fiquei fascinada. É a génese da pintura, foi como tudo começou, desde o paleolítico”, recordou.

Com a realização de uma nova exposição, Rafaela Silva assume que gostava de expandir a carreira e alargar horizontes.

“Conheço pouca gente que pinte com pigmentos naturais, porque são extremamente caros, são pesados e não são fáceis de pintar. Não sei se será por isso. Utilizam pigmentos naturais noutras técnicas, e como é uma coisa inovadora, gostaria [de transpor fronteiras].”

O lado oriental

Rafaela Silva assume estar sempre com novas ideias em mente, e antes de pintar sobre África andou com “uma grande paixão pela Ásia”. “Fiz várias exposições relacionadas com isso, em Lisboa por exemplo. Mas depois resolvi regressar às minhas origens. Sempre me fascinaram as pessoas, embora na Ásia sejam diferentes. Retratei-as a três dimensões, pessoas do Vietname, Tibete, China.”

O próximo passo será ir à procura de um papel para pintar que só se faz no Japão. “Quero ver se consigo arranjar um papel que existe no Japão, feito de materiais reciclados e que é feito só lá. Mas será a próxima fase.”

Na gaveta está também uma ideia de retratar a pessoa humana na sua ligação com a cidade. “Gosto muito do ser humano e tenho um projecto que será dentro do conceito urbano, as pessoas nas cidades. Quero retratar os sentimentos que as pessoas têm com as cidades”, concluiu.

A exposição estará patente na Casa Garden até ao dia 15 de Dezembro.

 

1 Dez 2017

Fernando Pessoa no Museu Rainha Sofia, em Madrid

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ernando Pessoa e os seus contemporâneos protagonizam a exposição “Pessoa. Toda a arte é uma forma de literatura”, que o Museu Nacional Rainha Sofia, em Madrid, vai inaugurar em Fevereiro, segundo o calendário publicado no seu sítio na internet.

Com curadoria de João Fernandes, subdirector do museu, e da historiadora de arte Ana Ara, a mostra vai buscar o título a um verso de Álvaro de Campos, “um dos heterónimos mais vanguardistas de Fernando Pessoa”, e reúne os nomes de Almada Negreiros, Amadeo de Souza Cardoso, Eduardo Viana, Sarah Afonso ou Júlio (Saul Dias), entre outros.

O objectivo da mostra, de acordo com o texto de apresentação do museu, é o de estabelecer uma perspectiva das principais correntes estéticas portuguesas das primeiras décadas do século XX, até 1935, ano da morte de Pessoa, e do modo como a obra do escritor foi determinante para a particularização das expressões portuguesas da época.

“Através da prolífica produção escrita dos seus mais de cem heterónimos, Pessoa criou uma vanguarda própria e converteu-se num intérprete de excepção da crise do sujeito moderno e das duas certezas, transpondo para a sua obra uma ideia múltipla do ‘outro'”, escreve o museu espanhol.

Os movimentos de vanguarda criados por Pessoa – “Paulismo”, a partir da abertura (“Pauis”) das “Impressões de Crepúsculo”, “Interseccionismo” ou “Sensacionismo” – são recordados pelo museu madrileno como elementos de uma estrutura que sustenta “a especificidade da modernidade portuguesa”.

“Esta exposição recorre a esses ‘ismos’ para articular um relato visual” do modernismo português, “reunindo uma seleção de obras de José de Almada Negreiros, Amadeo de Souza Cardoso, Eduardo Viana, Sarah Afonso ou Júlio, entre outros”, numa abordagem das principais correntes estéticas do século XX, até 1935.

“Estas correntes acusaram uma inevitável influência das tendências europeias dominantes, embora tenham tratado também de se distanciarem delas. Diferentes textos de Pessoa dão conta de um lugar específico para estes ‘ismos’ de sua colheita, assim como do seu carácter distintivo, no contexto europeu, com alusões explícitas, por exemplo, às diferenças entre o Futurismo e o Interseccionismo”, escreve o museu, na apresentação da mostra.

Ao mesmo tempo – prossegue o comunicado da instituição – várias obras seleccionadas refletem “um gosto pelo popular” e traduzem “a idiossincrasia portuguesa”, que aparecem “tanto no trabalho dos artistas portugueses que passaram por Paris”, caso de Amadeo de Souza Cardoso, como no trabalho de estrangeiros que passaram por Portugal, como Sonia e Robert Delaunay.

A mostra anunciada pelo museu de arte contemporânea da capital espanhola – que somou mais de 3,6 milhões de visitantes em 2016 – dedica também uma “especial atenção” às publicações desse período, como a pioneira Orpheu, Águia, K4 Quadrado Azul, Portugal Futurista ou Presença, nas quais apareceram textos de Pessoa, e que “funcionaram como caixa-de-ressonância dessas ideias de vanguarda, exercendo uma grande influência estética e ideológica no meio intelectual português, na primeira metade do século XX”.

A exposição “Pessoa. Toda a arte é uma forma de literatura” abre ao público a 7 de Fevereiro de 2018 e encerra a 7 de Maio. Deverá ser acompanhada por iniciativas paralelas, a anunciar pela Embaixada de Portugal, na capital espanhola.

30 Nov 2017

Albergue SCM | Mercado de Natal com mais animação e solidariedade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rtesanato, gastronomia, espírito natalício e o ambiente único do bairro de São Lázaro são alguns dos ingredientes para a concretização de um evento especial próprio da época: o Mercado de Natal.

Cerca de 15 expositores estarão presentes na 2ª edição do Mercado de Natal, apresentando os seus produtos personalizados, feitos à mão, em áreas bastante distintas, desde bijutaria, cerâmica, decoração, doçaria, entre outras, proporcionando, aos visitantes, ideias originais para prendas de natal. Para esta segunda edição que há maior qualidade no trabalho dos artesãos, “esperando por isso que esta iniciativa seja também uma forma de agraciar o esforço dos nossos artesãos em elevarem o seu nível de qualidade de ano para ano” realça Cátia Silva, manager do Bad Bad Maria, responsável pelo Mercado de Natal. “Os vendedores nossos parceiros têm vindo a preparar as suas criações para surpreender neste natal e não faltarão presentes para todos os gostos”, garante Cátia Silva.

Está prevista animação musical pela Banda da Escola Portuguesa de Macau; pintura de uma estrela de natal por meninos do 1º ciclo que depois será colocada numa árvore do mercado; apresentação de um espetáculo de dança pelo Grupo de Artes Performatvas ArtFusion e também workshops que tornarão este dia numa autêntica festa para toda a família

O evento assume, desde a sua génese, iniciativas de responsabilidade social, e este ano vai ser promovida a recolha de bens alimentares para doar a uma instituição de solidariedade social de Macau: Casa das Irmãs Missionárias da Caridade. “A época natalícia é um ótimo momento para apelar mais à solidariedade entre as pessoas”, justifica Cátia Silva.

Com mais novidades, animação e maior qualidade a organização do Mercado de Natal espera superar o marco dos 2000 visitantes da primeira edição nesta iniciativa organizada por Bad Bad Maria e que irá decorrer no sábado, 9 de Dezembro, das 11h às 18h. O apoio institucional é do Albergue SCM, em São Lázaro, Macau.

30 Nov 2017

Livro | Obra completa de Manuel da Silva Mendes com dois volumes em 2018

Os escritos de Manuel da Silva Mendes já conheceram várias edições desde os anos 40, mas nunca com esta envergadura. O projecto, coordenado por Rogério Beltrão Coelho, teve a colaboração de Amadeu Gonçalves, António Aresta e Tiago Quadros

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m jeito de celebração dos 150 anos do nascimento de Manuel da Silva Mendes, um dos grandes intelectuais portugueses de Macau, é reeditada a sua obra completa, estando prevista a publicação de mais dois volumes durante o próximo ano.

“Têm existido reedições de Silva Mendes, desde os anos quarenta, pela mão de Luís Gonzaga Gomes, seu antigo aluno e emérito historiador de Macau, também nos anos sessenta, oitenta e noventa se reeditou o autor”, contextualiza António Aresta, um dos colaboradores da reedição.

Essas edições tiveram uma tiragem reduzida e que ficou circunscrita a Macau, mas à medida que se multiplicam artigos e teses sobre Manual da Silva Mendes, “a ambição é torna-lo global e acessível ao estudo e à investigação”, projecta António Aresta.

O projecto teve a coordenação de Rogério Beltrão Coelho e colaboração de Amadeu Gonçalves, Tiago Quadros e António Aresta.

Manuel da Silva Mendes viveu em Macau entre 1901 e 1931, ano em que morreu. Um dos espaços que definiu o autor foi a sua casa, a Vila Primavera, situada no sopé da Colina da Guia. Tiago Quadros participa num dos volumes com um pequeno texto sobre a importância do local e “o que representa para alguém que veio de Portugal no início do século XX e que inicia um percurso de numa geografia distante, num sítio com referências culturais diferentes”.

Eclectismo total

Para Tiago Quadros, foi na Vila Primavera que o intelectual se tentou construir, ao mesmo tempo que edificava a casa cercada por vegetação num lugar ameno e longe das suas origens, estando, em simultâneo, “em Macau e afastado de Macau”. Essa casa viria a ser “o útero original onde a sua colecção de arte teve início”, explica Tiago Quadros.

A Vila Primavera era marcada pelo “eclectismo arquitectónico português com expressão neo-romântica muito ténue que dava a ideia de uma paisagem não real, quase como uma ideia de paraíso para ele próprio”.

A reedição da obra de Silva Mendes procura reunir todos os escritos do autor, alguns deles inéditos, em temas tão díspares como a filosofia, arte, política, religião, ética e educação.

“Temos a noção de que existe uma parcela quase perdida, que são os artigos não assinados, mas que saíram da sua pena. Essa constatação já tinha sido notada por Luís Gonzaga Gomes”, conta António Aresta.

Com uma forte consciência social e política, Manuel da Silva Mendes, como muitos pensadores do seu tempo, era um republicano e anarquista. Inclusive, defendeu na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra uma tese sobre o socialismo libertário, documento que se tornou de referência e que foi reeditado há poucos anos.

Com a chegada a Macau, um mundo filosófico abriu-se para o intelectual. “A sua adesão ao taoísmo filosófico entendo-a como natural porque o taoísmo filosófico parece assentar numa metafísica da perplexidade e num anarquismo espiritual”, teoriza António Aresta.

No Oriente, Manuel da Silva Mendes era a personificação da “arte de ser português em Macau, com alheamento da politiquice, mas não da política”, conta o académico. Um militante de uma governação justa e ética, ao mesmo tempo que estudava a pluridimensionalidade da cultura chinesa.

A marcar os 150 anos do seu aniversário é reeditada a sua obra completa, com alguns inéditos que nunca conheceram a edição em livro.

30 Nov 2017

Vhils inaugura exposição em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto, que assina Vhils, inaugura na quinta-feira em Hong Kong “Remains”, uma exposição composta por trabalhos novos desenvolvidos e inspirados naquele território.

Em “Remains”, que estará patente na galeria Over the Influence, Vhils irá apresentar “um novo conjunto de trabalhos, desenvolvidos e inspirados em Hong Kong”, de acordo com o texto de apresentação da mostra. A galeria refere que o trabalho do artista português “está há muito ligado ao contexto urbano e reflete e espelha a experiência humana de habitar uma megalópolis contemporânea”. “Remains” é inaugurada na quinta-feira ao final do dia e estará patente entre sexta-feira e 05 de janeiro.

Em maio, Vhils inaugurou a sua primeira exposição individual em Macau, “Debris”, nas Oficinas Navais de Macau, que deveria ter ficado patente até 05 de novembro. No entanto, em agosto teve que ser cancelada devido a danos nas peças e no local, causados pelo tufão Hato. A par da exposição, realizou naquele território uma série de murais. Em Junho, estreou-se a solo em Pequim, no Cafa Art Museum, com a exposição “Imprint”, constituída inteiramente por trabalhos novos, cerca de 70 retratos esculpidos em baixo relevo, que espelham “a reflexão contínua do artista sobre a relação entre as cidades contemporâneas e os seus habitantes”.

A sua primeira exposição individual em Hong Kong, “Debris”, foi inaugurada em Março do ano passado. Uma mostra que reflecte a cidade e a identidade de quem nela habita para ver e, sobretudo, “sentir”.

29 Nov 2017