Exposição | Vhils participa em mostra de arte urbana em Singapura

A legitimação da street art, que saiu da obscuridade ligada à delinquência para as galerias mais afamados do mundo da arte, será celebrada em Singapura. Alexandre Farto (Vhils) e André Saraiva (Mr. A) vão participar na “Art from the streets”, que mostra quatro décadas de arte urbana

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á algum tempo que o graffiti conseguiu granjear o reconhecimento do universo da crítica e das exposições artísticas, em particular no Ocidente. Saindo da clandestinidade e da criminalidade para um patamar estético de relevo é natural que na Ásia estas manifestações artísticas tenham vindo a ganhar alguma popularidade. Nesse sentido, os artistas Alexandre Farto (Vhils) e André Saraiva (Mr. A) estão entre os participantes da mostra “Art from the streets”, que passa em revista 40 anos de Arte Urbana e é inaugurada a 13 de Janeiro, em Singapura e estará em exibição até 3 de Junho.

A “Art from the streets” mostra “40 anos de Arte Urbana, desde os primeiros tempos de contracultura até à extraordinária ascensão como importante fenómeno na arte contemporânea”, através de trabalhos de “alguns dos maiores artistas urbanos do mundo”, lê-se no texto de apresentação da exposição.

Na lista de participantes da exposição estão nomes tão sonantes como o misterioso britânico Banksy, o norte-americano Shepard Fairey, conhecido como Obey e que no último verão pintou três murais em Lisboa no âmbito da exposição que teve patente na galeria Underdogs.

Entre os participantes estão os clássicos franceses da arte de rua JR, Blek le Rat e Invader e o francês de origem portuguesa André Saraiva, criador do mural com mais de 53 mil azulejos pintados à mão do Jardim Botto Machado, em Lisboa.

Com curadoria da francesa Magda Danysz, que tem galerias com o seu nome em Paris, Xangai e Londres, a exposição “reflecte a evolução da Arte Urbana, traçando as diversas técnicas usadas pelos artistas ao longo das décadas e mostrando como a tecnologia criou novos caminhos expressivos para os artistas”.

Patente de 13 de Janeiro a 3 de Junho, a mostra vai incluir “uma série de pinturas ao vivo e instalações criadas no local por nomes icónicos da área”.

Portugueses de rua

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com “graffiti”, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins. Captou a atenção a “escavar” muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional, e que já levou o artista a vários cantos do mundo.

Além de várias criações em Portugal, Alexandre Farto tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Brasil.

Em 2014, inaugurou a sua primeira grande exposição no Museu da Electricidade, em Lisboa: “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses.

Em 2015, o trabalho de Vhils tornou-se extraterrestre e chegou ao espaço, mais precisamente à Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

No ano passado, a arte de Alexandre Farto invadiu Macau com a exposição “Destroços”, patente no espaço das Oficinas Navais Nº 1 – Centro de Arte Contemporânea. Uma mostra que foi abruptamente interrompida pela destruição semeada pela passagem do tufão Hato por Macau. Uma calamidade que provocou prejuízos que não chegaram a ser divulgados.

Filho de portugueses, nascido na Suécia em 1971, André Saraiva começou fazer “graffiti” em 1985. Foi, porém, na década de 1990, que criou “Monsieur A” (Mr. A), uma personagem de cabeça redonda, olhos em X, com uns traços a fazerem de pernas e um sorriso rasgado, com a qual se tornaria conhecido e que espalhou em paredes de cidades de todo o mundo.

Seja em que parede for, a arte urbana está aí para ficar. Singapura será um centro desta corrente underground até Junho, com dois artistas de origem portuguesa no panteão dos mais representativos artistas que dominam as ruas.

8 Jan 2018

The Chameleons estreiam-se em Hong Kong no MusicZone@Emax

[dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]ais de 37 anos depois da fundação, os seminais The Chameleons tocam pela primeira vez para o público de Hong Kong. O concerto é hoje no MusicZone@Emax em Kowloon, com as portas abertas às 19h30. A primeira parte estará a cargo dos Sinister Left e dos Ambience Intelligent.

A histórica banda de Middleton, nos arredores de Manchester, é um dos marcos do post-punk do início dos anos 1980.

Com uma carreira discográfica curta, com apenas quatro álbuns de originais, os The Chameleons foram uma banda à margem das revoluções musicais nascidas em Manchester. Longe de terem alcançado a notoriedade dos Joy Division, The Smiths e The Fall, o grupo liderado pelo Mark Burgess manteve um culto underground que se foi cimentando com o tempo realçando a relevância em termos líricos e musicais dos seus discos.

Com um pé no rock psicadélicos, graças aos efeitos de guitarra e às letras escritas sob a influência de cogumelos alucinogénios, nascidas do génio do vocalista e baixista, Mak Burgess, os The Chameleons criaram um som que os separou das correntes que lhes foram contemporâneas. Algo que faz com que a sua música se mantenha actual, motivando tours que, inclusive, passaram por Portugal várias vezes.

Os The Chameleons têm o núcleo da sua discografia na década de 1980, onde lançaram três discos até 1986, hibernando de seguida para um hiato que duraria quase 15 anos. O disco final dos 80’s, intitulado “Strange Times” é um monumento musical de inestimável valor, carregado de hinos como “Mad Jack”, “Caution”, “Tears” e “Seriocity”, numa escolha muito difícil de fazer.

 

Primeiro acto

Antes do prato principal subir ao palco, o público que se deslocar a Kowloon será aquecido pelos Sinister Left e os Ambient Intelligence.

Os Sinister Left são uma banda local que combina ritmos hipnóticos e pesados com guitarras. O seu disco mais recente “Soot” recebeu alguma atenção por parte da crítica e imprensa da especialidade. O South China Morning Post escreveu que o álbum tem “um groove hipnótico e ameaçador, músicas complexas que fazem do disco um dos mais dinâmicos a sair da cena de Hong Kong nos últimos anos”.

Os Ambient Intelligence são um duo de música electrónica criado no final de 2016 e constituído por Alan Ip e Yanlo Chow. A banda é fortemente influenciada pelos sons de sintetizadores dos movimentos musicais do início dos anos 80, ou seja, apropriado para o início de uma noite que se prevê memorável. O som dos Ambiente Intelligence é experimental e as suas actuações são normalmente marcadas pelo improviso em palco onde tentam demonstrar a química entre humanos, máquinas e o meio ambiente.

Bons aperitivos antes da entrada em cena do acto principal, a estreia dos The Chameleons na zona do Delta do Rio das Pérolas.

5 Jan 2018

Gonçalo Lobo Pinheiro participa em exposição colectiva de fotografia em Londres

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou ontem na capital inglesa, mais propriamente na Brick Lane Gallery, a exposição colectiva “PHOTOGRAPHY NOW”, que conta com a participação do fotógrafo português Gonçalo Lobo Pinheiro, que está radicado em Macau. A selecção do português tem como pano de fundo o povo do Lago Tonle Sap, no Camboja. A exposição estará patente até ao dia 14 de Janeiro, na Brick Lane Gallery, em Shoreditch em Londres.

A selecção dos trabalhos para a mostra aconteceu um pouco por acaso. Numa pesquisa de internet o fotografo encontrou um anúncio da galeria londrina a pedir trabalhos para expor e respondeu com o link do seu site de fotografia. Por acaso, Gonçalo Lobo Pinheiro estava a tentar promover outro conjunto de fotografias, porém, o interesse dos galeristas incidiu sobre uma série de imagens a preto e branco que retratam o quotidiano do povo que habita no Lago Tonle Sap. “Disseram-me que estavam a fazer um contrabalanço com fotografias a cores e a preto e branco e escolheram este trabalho que ainda não tinha sido bem divulgado”, explica.

A série do Camboja conta com cerca de 35 fotografias. No entanto, como Gonçalo Lobo Pinheiro apenas tem por sua conta uma parede de três por três metros teve de fazer uma selecção criteriosa das imagens a enviar. “Seleccionei 15 fotografias e eles disseram-me que iam ver se eram expostas entre 10 e 15, com um algum jogo de curadoria à mistura”, conta o fotografo.

O propósito da série de fotografias é “mostrar a vida, o dia-a-dia daquelas populações que dependem daquele lago que, por acaso, é o maior da Ásia”, revela Gonçalo Lobo Pinheiro. O Lago Tonle Sap, que traduzido literalmente significa “grande lago”, tem uma extensão de quase 2.600 quilómetros quadrados, que se pode agigantar até perto dos 25 mil quilómetros quadrados durante a época das chuva. Em termos comparativos, estamos perante quase um quarto da área total de Portugal.

“As pessoas que ali vivem subsistem da pesca e da agricultura e pecuária nas margens”, conta o fotografo. No Tonle Sap a vida comunitária é aquática, os próprios centros sociais, como unidades de saúde, igrejas e templos, estão construídas na água do lago. Este burburinho comunitário reflectido nas águas foi o foco da lente de Gonçalo Lobo Pinheiro.

4 Jan 2018

Fundação Rui Cunha | Esculturas de Todi contam história de crescimento

São 14 peças que contam os “momentos” da vida de uma rapariga. A exposição é de Custódia Kong de Sousa que há oito anos deixou para segundo plano a engenharia civil para se dedicar à escultura. A segunda exposição individual da artista vai ser inaugurada no próximo dia 18 na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]omentos” é a exposição de esculturas de Custódia Kong de Sousa, mais conhecida por Todi que tem inauguração marcada para 18 de Janeiro, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30.

A segunda exposição individual da moçambicana que reside em Macau desde 1986 marca também uma experiência da artista na área das peças figurativas. “Usei a escultura para contar uma história, e por isso e chama momentos, porque descreve vários momentos da vida de uma pessoa”, começa por contar Todi ao HM. Por outro lado, Todi quis experimentar outras abordagens, “Nesta série optei mais pelo figurativo porque gosto de desafios e geralmente tento fazer qualquer coisa que seja novo, pelo menos para mim. Como também estava  a trabalhar à volta de uma história e de uma pessoa pareceu-me a melhor opção”, sublinha.

Crescimento natural

“Momentos” conta a história de uma rapariga, desde que nasce até que se torna mãe. Das 14 peças que integram a mostra quase todas foram feitas para esta história.

A exposição tem início com uma menina pequena, no colo da mãe, diz a artista. “A menina vai crescendo, uma etapa que é retratada por “Inocência””. Aos seis anos, sonha ser bailarina e na adolescência, descobre que gosta de dançar flamengo. “Nasce a peça à volta desta mudança e deste gosto. É um tema que me inspirou também e penso que é uma dança que representa muito a paixão, sentimento que também quis transmitir com esta peça”, continua Todi.

A vida continua a o amor aparece. “Alma gémea” é a peça que retrata esta fase, à que se segue, a “Noiva”. A exposição termina com a protagonista a ser mãe. “A última é a maternidade, quando ela própria se vai tornar mãe. Digamos que aqui quase que o ciclo recomeça”, refere a escultora.

Mas há ainda elementos que retratam, mais do que as fases da vida, estados emocionais. “Uma das peças é referente é a gratidão em relação à vida por tudo o que lhe trouxe e outra que se chama “dançando com o universo” retrata a harmonia que sente em relação ao que a rodeia, a tudo”.

Peças em movimento

Os materiais eleitos por Todi são a massa epoxie e o tecido endurecido. De acordo com a arista, a escolha é uma questão de preferência essencialmente pessoal. “Porque gosto de experimentar materiais novos e estes são pouco usuais na escultura. A massa epoxie é um material muito resistente e endurece ao ar num período de tempo curto, obrigando a uma forma diferente de abordagem do processo de execução. O tecido endurecido é um material que permite dar mais expressividade e movimento à peça”, refere. “Com ele tenho as linhas que quero e a dinâmica que procuro”, remata.

4 Jan 2018

Guida Maria (1950-2018): A bela diferente

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actriz portuguesa Guida Maria morreu ontem, aos 67 anos, vítima de cancro, revelou o encenador António Pires. “A actriz faleceu hoje de manhã, tranquilamente durante o sono, após ter sido vítima de doença prolongada”, referiu o encenador.

Nascida em Lisboa em 1950, Guida Maria fez cinema, ficção em televisão, mas sobretudo teatro, tendo participado em cerca de 40 peças, entre as quais “A mãe”, “Auto da geração humana”, “A casa de Bernarda Alba” e, possivelmente uma das mais conhecidas da carreira, “Os monólogos da vagina”.

Filha do actor Luís Cerqueira, Guida Maria estreou-se aos sete anos na peça “Fogo de Vista”, de Ramada Curto, aos dez anos entrou em “A sapateira prodigiosa”, da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, ao lado de Eunice Muñoz, e, aos 13, fez sucesso em “O milagre de Anne Sullivan”, encenada por Luís de Sttau Monteiro. Com vários anos de experiência de palco, Guida Maria estudou depois no Conservatório Nacional, ao mesmo tempo em que entrava noutras peças produzidas por Vasco Morgado.

Ainda antes do 25 de Abril de 1974, a actriz entrou em “A promessa”, uma adaptação de António de Macedo de uma peça de Bernardo Santareno, na qual protagonizou o primeiro nu integral do cinema português. O filme foi exibido em vários festivais, nomeadamente em Cannes.

Ainda na década de 1970 foi convidada a integrar o Teatro Nacional D. Maria II, onde permaneceu até aos anos 1990, tendo entrado em peças como “O leque de Lady Windermere”, “Maria Stuart”, “Slag” e “Sherley Valentine”, o primeiro de vários monólogos que protagonizou na carreira. Durante esse período no teatro nacional, Guida Maria fez uma pausa em 1980 e, com uma bolsa de estudos, entrou na American Academy of Dramatic Art, em Nova Iorque, e fez vários ‘workshops’ na Actors Studio.

Além de “Sherley Valentine”, Guida Maria ficou conhecida por outros monólogos como “Andy & Melissa” (2001), “Zelda” (2004), “Stôra Margarida” (2006) e “Sexo? Sim, mas com orgasmo” (2010). O maior sucesso de carreira, com vários meses em cena e reposições, terá sido a peça “Os monólogos da vagina”, de Eve Ensler.

A telenovela brasileira “O bem amado”, da TV Globo, a novela portuguesa “Passerelle”, as séries “Nico d’Obra” e “Riscos”, e os filmes “O barão de altamira”, de Artur Semedo, e “No dia dos meus anos”, de João Botelho, são outras produções em que participou. Em 2009 lançou uma autobiografia, “Guida Maria – Uma vida”.

3 Jan 2018

Fotografia | Exposição de Teresa Senna Fernandes mostra realidades de África

“Um Coração Dividido” é o nome da exposição de fotografia que vai ser inaugurada amanhã na Fundação Rui Cunha. A autora é Teresa Senna Fernandes que com apenas 17 anos já participou em duas acções de voluntariado em África. De São Tomé e Príncipe e da Guiné Bissau trouxe experiências e imagens que, espera, sejam capazes de sensibilizar quem as vê

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão cerca de 20 imagens a preto e branco que integram a exposição de Teresa Senna Fernandes com inauguração marcada para amanhã pelas 18h30 na Fundação Rui Cunha.

Com apenas 17 anos, a jovem que vive em Macau embarcou pela primeira vez para São Tomé em 2016. Ía fazer voluntariado junto de crianças que precisavam de ajuda. A experiência foi marcante e este ano repetida, desta feita rumo à Guiné, uma realidade “mais dura”. Das viagens trouxe a mudança e, para que as realidades por onde passou não sejam esquecidas, trouxe imagens que falam por si.

“As fotografias conseguem transmitir e simbolizar muito e são a única coisa que trouxe que pode mostrar um pouco do que vivi ”, começa por dizer ao HM.

À falta de palavras são as imagens que têm o poder de ajudar a partilhar outras realidades. “As palavras muitas vezes não são suficientes e a fotografia é capaz de dar uma noção mais aproximada daquelas vidas”, explica ao mesmo tempo que espera conseguir “sensibilizar as pessoas e incentivar cada um a ajudar, nem que seja com pouco”.

Mas, e acima de tudo, Teresa Senna Fernandes quer fazer perceber que o mundo não é só esta “bolha chamada Macau”. “O meu objectivo é mesmo alertar as pessoas para o facto de existir mundo além daquilo que conhecem. Aqui em Macau é tudo muito fácil. Aqui, tudo o que se deseja é realizável. Parece que as coisas nos caem aos pés. Espero que com esta mostra as pessoas possam perceber que há muitas situações que precisam de ser vistas e ouvidas para que mudem”, refere.

Foi esta necessidade de mostrar, não o que fez, mas outras realidades, que motivaram Teresa Senna Fernandes a fotografar.

Um mundo sem cor

As fotografias são a preto e branco, e nem podia ser de outra forma.

Mais do que um gosto pessoal, a opção de pela imagem monocromática teve que ver com o contraste que o formato permite. “O preto e branco realça muito mais as situações”, diz, sendo que “apesar de serem cores neutras, são cores que conseguem transmitir melhor o contraste: o contraste na própria imagem e entre mundos, aquele em que vivemos e aquele que ali está representado”, apontou a autora.

Por outro lado, considera, são tons que tornam a fotografia mais real, mais pesada o que vai de encontro ao peso que também ela sentiu quando confrontada com realidades marcadas pela ausência, dor ou sofrimento.

Mas, Teresa Senna Fernandes pretende com as imagens falar sobretudo de esperança e da capacidade que cada um tem ao seu alcance de poder fazer qualquer coisa, por muito pouco que seja, para ajudar quem mais precisa. “Se cada um fizer um bocadinho, as coisas podem ir indo ao sítio e pequenas coisas fazem a diferença”, diz.

A jovem fotógrafa tem em conta a sua própria experiência enquanto voluntária, “uma actividade que está ao acesso de quem quiser e uma experiência que, sem mudar o mundo, é capaz de mudar pelo menos um momento no mundo de alguém”. “Embora tenha feito pouco, sei que de alguma forma, fiz alguma diferença, nem que tenha sido somente naquele momento em que estava a tentar ajudar alguém, naquelas espaço, naquelas vidas”, recorda.

Coração grande

É esta ideia de dar do coração que está na base do nome da exposição. “Um Coração Dividido” é a capacidade de ajudar distribuída por muitos, por todos aqueles que precisam. “Quando se está perante uma realidade daquelas e em contacto com várias crianças naquele contexto, uma pessoa acaba por se sentir dividida. A intenção é fazer com que o nosso coração chegue a todos”, refere, emocionada.

Trata-se, para Teresa Senna Fernandes de “um gesto de generosidade”.

De acordo com a jovem fotógrafa foi também um tempo para aprender. “Fiz as mais bonitas aprendizagens: aprendi que podemos ser heróis sem capas, títulos ou talentos. Que temos o poder de, com simples toques de amor, que assim se torna mágico, tocar o coração do outro, ao fazer chegar-lhe o nosso. Sim, vi crianças a pedir os restos da nossa comida. E percebi que não há água potável. Vi crianças com os pés lastimáveis, porque descalças. Guardei o toque da minha mão fortemente agarrada pelas mãos delas. Senti o meu coração a partir de cada vez que uma criança me pedia algo que eu não podia dar.”, descreve na apresentação oficial do evento.

Além da pobreza há ainda outros momentos. Depois de São Tomé, foi para a Guiné onde conviveu com aquilo que chama de “tradições completamente censuráveis”. A fotógrafa dá exemplos: “o caso dos casamentos forçados, da prática da mutilação genital feminina e tráfico humano”, tudo situações com as quais esteve em contacto de perto e que fizeram com que toda a experiencia se tornasse “muito mais forte e pesada”. Foi com esse peso que veio, mas acima de tudo com uma “grande lição: a sorte que tenho em ser valorizada”.

Para Teresa Senna Fernandes cada uma destas viagens contribui para que a postura que tem perante a vida mude. “Nunca voltamos os mesmos depois do contacto que temos neste tipo de experiência”, afirma. “São crianças e jovens que têm, muitos deles, a mesma idade que eu e que sofrem em circunstâncias muito complicadas”.

3 Jan 2018

Fernando Sobral, autor de “O Silêncio dos Céus”: “A obesidade da riqueza traiu os portugueses”

No novo romance do jornalista Fernando Sobral, com a chancela da Livros do Oriente, um homem, Diogo Inácio, sonha com a independência de Macau em relação ao reino português, enquanto deambula pelas ruas húmidas em busca da vingança pela mulher portuguesa que o deixou. Por entre histórias de seitas e de homens perdidos, viciados em ópio, o livro é também o retrato da sociedade de Macau no século XIX

[dropcap]E[/dropcap]sta não é a primeira vez que se debruça sobre o Oriente. Porque decidiu voltar a escrever um romance passado nesta zona do mundo?
O Oriente é a minha estrela polar. Guia-me, há muito. E, talvez por isso, alguns dos meus livros têm a ver directamente com esse mundo, para mim fascinante. Foi o que sucedeu com “O Navio do Ópio”, com “O segredo do Hidroavião” e, agora, com este “O silêncio dos Céus”. Todos estes têm a ver com Macau, mas reflectem a relação dos portugueses com um império flutuante onde estiveram perto de se tornar deuses, como queria adivinhar Camões. Este fascínio tem a ver com o esquecimento a que Lisboa votou, por exemplo, Macau, mas não só. E que só nos derradeiros anos de administração portuguesa se tentou remediar à velocidade da luz. Mas os séculos, o cansaço da descoberta e a obesidade da riqueza acabaram por trair os portugueses. Perderam as ligações comerciais e culturais com este enorme mundo que vai das margens do Mediterrâneo até aos mares da China. E, sobretudo, desprezaram a curiosidade. O sonho de pertencer à Europa, criada para garantir a paz e que faz tudo depender da existência de uma moeda única, fez perder a noção do Atlântico e do Oriente. Esquecemos Macau. E nos meus livros pretendo, modestamente, lançar pontes para recuperarmos uma ligação memorial. Será uma pena não aproveitarmos este rico património para a nossa ficção. Por isso voltei, com este romance, a Macau. E espero voltar mais vezes.

O livro refere-se a um período específico da história de Macau. Porque decidiu abordar a época da Guerra do Ópio?
A Guerra do Ópio, a primeira, é apenas um pano de mundo. Para situar a decadência em que vivia Macau, sobretudo depois dos sonhos expansionistas, ligados ao comércio, do Ouvidor Miguel de Arriaga. Com a Guerra do Ópio acaba o tempo do império chinês, o centro do mundo, e estabelece-se o reinado britânico, fruto da Revolução Industrial e da lei da canhoneira. E Portugal, finalmente, percebe, na pele, que é apenas um império para consumo próprio. “O Silêncio dos Céus” nasce disso: face ao poder britânico, ao esquecimento de Lisboa, criei uma ficção onde se sonha com a independência de Macau. Mas que não é mais do que um canto do cisne de quem apenas quer sobreviver. Como sempre fizeram os portugueses na Ásia, na África ou nas Américas. Ou em Portugal.

As seitas representam, ainda hoje, uma temática misteriosa e fascinante?
As seitas, ou as tríades, são sempre uma fonte de mistério. Até porque nelas encontramos as sementes das sociedades secretas ocidentais. Mas as sociedades secretas chinesas trazem-nos também algo de épico, por causa das suas ligações políticas. E da sua presença constante em momentos determinantes da história chinesa.

Como foi o processo de pesquisa histórica para este livro?
Não foi muito diferente do que tenho seguido para outros livros cujo epicentro é Macau. Muita leitura de documentação histórica e a sua utilização num contexto ficcional. Neste caso até há menos utilização de muita memória, ao contrário do que sucedeu no caso de “O Segredo do Hidroavião”, passado após a II Guerra Mundial, e onde era preciso perceber bem os contornos do tráfico de ouro em Macau.

Um dos personagens, Diogo Inácio, deseja a independência de Macau em relação ao reino. Esta foi uma tomada de posição da sua parte, uma tentativa de imaginar uma nova versão dos acontecimentos?
A ideia da luta pela independência é completamente ficção. Situo-a como um sonho, quase leviano, no meio da cobiça das grandes potências pelo domínio do comércio com a China e onde Macau se arriscava a passar a ser irrelevante. Tem a ver com a necessidade de sobrevivência dos portugueses, como sempre, face a acontecimentos que não podem dominar. E onde se refugiam no destino, como acontece muitas vezes. Basta ver que a conspiração para a independência é tipicamente portuguesa: fala-se muito, mas no momento da verdade pouco se fez. E aquilo desmorona-se por falta de estratégia e de organização. É um sonho. Bonito. Mas só isso.

Ao ler o livro não deixei de notar que certas passagens sobre o comportamento da sociedade e da comunidade portuguesa da altura ainda se mantém actualmente. Concorda? O livro pretende ser esse retrato social de um território peculiar?
É impossível falar de Macau sem colocar um espelho defronte da sua face. E dos que aqui têm vivido. Falar de Macau é falar dos que ali vivem ou viveram. Dos seus sonhos, medos, pesadelos e, sobretudo, formas de sobrevivência.

Há muitas referências ao Confucionismo. Identifica-se com esta forma de pensamento?Considera que há ainda muitas histórias de Macau ainda por contar? Que projectos para romances tem, a seguir ao lançamento de “O Silêncio dos Céus”?
Macau está cheia de histórias por contar. Gostava de poder contar ainda algumas que tenho guardadas à espera de as poder escrever de forma ficcionada. Mas, para já, a seguir a “O Silêncio dos Céus”, estou a terminar um policial passado nos nossos dias em Lisboa, mas onde uma das personagens vem de Macau. Deve sair no primeiro semestre de 2018. Depois é muito provável que volte aos mistérios e maravilhas de Macau.

Como é que a literatura sobre Macau é encarada em Portugal? Há um distanciamento, passa despercebida ou, pelo contrário, há interesse e curiosidade?
Acho que há curiosidade. Mas também penso que na pobreza cultural que é hegemónica em Lisboa dá-se mais atenção a um escritor menor que vem dos Estados Unidos do que a quem escreve em, ou sobre, Macau (ou Goa, ou outra região oriental onde esteve a cultura portuguesa). Lisboa é uma aldeia onde vários Clubes do Bolinha vivem a sua pacata insignificância. E não têm curiosidade por nada que fuja à sua zona de influência. É aqui que acho que Macau poderia ser o centro de uma nova onda da literatura de língua portuguesa. Uma fonte de juventude, de rejuvenescimento. De liderança e de ruptura. Espero que possa ser.

29 Dez 2017

Bienal de Arquitectura | Escolhida equipa para representar Macau em Veneza

O território será representado na 16ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza com um projecto dos arquitectos Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San e com curadoria de Lam Manuel Lap Yan. O desenvolvimento de Macau nos últimos anos será peça central do projecto

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma equipa jovem, com uma média de idades de 30 anos, e que trabalha em Macau. Assim se pode falar dos nomes por detrás do projecto que vai representar Macau na 16ª Bienal de Arquitectura de Veneza, a realizar-se em Maio do próximo ano.

Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San são os arquitectos responsáveis pelo projecto, que tem a curadoria de Lam Manuel Lap Yan. A equipa foi escolhida por um júri composto por alguns arquitectos, um deles Carlos Marreiros, que analisou as diversas propostas a partir de Outubro. O Instituto Cultural e a Associação dos Arquitectos de Macau foram duas entidades envolvidas neste processo.

O tema deste ano da bienal é “Espaço Livre”, que engloba “imaginação, períodos e memórias de liberdade, pegando em ligações do passado, presente e futuro para unir o antigo com o moderno, tendo por base aspectos culturais que advém de tradições continuadas”.

Nesse sentido, a equipa vencedora decidiu materializar no projecto o desenvolvimento que o território vivenciou nos últimos anos.

Os arquitectos escolheram “propositadamente como elemento base do seu projecto a ‘carta de jogar’, um símbolo do rápido desenvolvimento económico de Macau”.

“Através de diferentes conjugações e formatos da ‘carta de jogar’ e de técnicas abstractas, revelam construções ricas em características locais e que estão numa relação próxima com os residentes, como mercados, jardins e escadarias, entre outros. No processo de exploração e reconstrução, é possível experienciar de novo o espaço local, reflectir sobre a relação harmoniosa que se estabelece entre pessoas e espaço, desafiar planos e os limites da autonomia e explorar um equilíbrio interactivo”, explica o comunicado.

Uma questão de maturidade

Os elementos do júri consideraram que o projecto apresentado pela equipa vencedora “faz uso de características da cidade de Macau e incorpora elementos com valor cultural, revelando uma imagem de Macau de forma perceptual e apresentando o tradicional de uma nova forma, tendo por isso bastante interesse e unicidade”.

Além disso, “a equipa vencedora mostrou-se merecedora de ser seleccionada por ter ainda revelado bastante maturidade a nível da linguagem e representação arquitectónicas bem como a capacidade de destacar as características culturais de Macau”, aponta o comunicado.

A Bienal de Arquitectura de Veneza realizou-se pela primeira vez em 1980 e é um dos eventos de arquitectura e dos círculos académicos mais influentes do mundo, constituindo uma plataforma importante de intercâmbio cultural e de arquitectura. Desde 2014 que o IC já organizou a participação por duas vezes de arquitectos locais a este grande evento.

28 Dez 2017

Instituto Internacional de Macau: Henrique d’Assumpção ganha Prémio Identidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s órgãos sociais do Instituto Internacional de Macau deliberaram atribuir o Prémio Identidade do ano de 2017 a Henrique d’Assumpção, mais conhecido por Quito entre os amigos, pela sua muito relevante contribuição para a preservação do património e da identidade macaense, disseminando a sua genealogia, história e cultura, no espaço cibernético, em Português e Inglês.

Natural de Macau, donde jovem partiu para prosseguir estudos na Austrália, “Quito” d’Assumpção desempenhou funções de relevo no Governo daquele País, com uma invejável folha de serviços e vários títulos e comendas honoríficas. Depois de se ter aposentado da vida académica como Professor Emérito da Universidade de South Australia, passou a dedicar-se de corpo e alma, nos últimos 20 anos, a criar um repositório permanente para a preservação de registos culturais e históricos dos macaenses e, apesar dos seus outros inúmeros compromissos profissionais e oficiais, conseguiu recolher e disponibilizar um grande acervo de dados.

Ampliando a documentação existente sobre a genealogia das famílias macaenses, enriquecendo-a com milhares de fotografias e variadas outras informações, coligindo mais de 200 receitas da culinária macaense, reunindo versos, um léxico e áudio do velho dialecto de Macau; logrou digitalizar esses elementos numa plataforma electrónica com documentação biográfica relativa a mais de 55.000 nomes, e preparou o desenvolvimento dessa base “indefinidamente para o futuro”, sem perseguir fins pessoais e num esforço digno dos maiores encómios.

O Prémio Identidade, instituído desde 2003, decidido por deliberação de todos os órgãos sociais do IIM, visa galardoar pessoas ou instituições que, de forma continuada, hajam contribuído para o reforço e valorização da identidade macaense. Entre os contemplados incluem figuras como o Monsenhor Manuel Teixeira, Henrique de Senna Fernandes, Arnaldo de Oliveira Sales, e instituições, tais como a Diocese de Macau, a Santa Casa da Misericórdia, a Universidade de Macau, a Escola Portuguesa de Macau e outros organismos, locais e do exterior, ligados à diáspora macaense.

28 Dez 2017

Birmânia: Livro desvenda presença portuguesa mais de 500 anos depois

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s antepassados chegaram entre 1510 e 1512. Hoje, não têm um nome português, nem sabem onde fica Portugal, mas dizem-se portugueses. Esta certeza está em histórias contadas oralmente desde que os exploradores portugueses aportaram à Birmânia. A história é contada no livro de James Myint Swe, “Cannon Soldiers of Burma”, cuja versão portuguesa vai ser lançada em Portugal e em Macau, no primeiro trimestre de 2018, pela Gradiva e a Macaulink, com o apoio do Instituto Internacional de Macau.

“É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas”, sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância, contou o autor à Lusa. “Não se sabe ao certo a dimensão destas populações… cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem”, acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona “parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes” e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa. “Para o Governo, erámos estrangeiros”, afirmou o autor, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e “esta relação com Portugal começa a perder-se”, alertou James Swe, a residir no Canadá desde 1976.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: “Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram”.

O objectivo deste livro, com primeira edição em inglês em 2014, era divulgar a história dos portugueses no país e, ao mesmo tempo, o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar, disse. “Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na atualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia”, sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou. “Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito”, afirmou sobre alguns dos longínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia. “Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam”, disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar.

Para James Swe, é “altura de reaproximar os dois países”, num momento em que a Birmânia precisa de consolidar a implantação do regime democrático, depois da vitória eleitoral da Liga Nacional para a Democracia (LND), em 2015. A Birmânia é uma terra rica e de oportunidades de negócios. “Os empresários portugueses podiam começar com pequenos negócios, como restaurantes, e depois expandir para outras áreas”, considerou James Swe, cujas pesquisas se estenderam por dez anos, entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal.

Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

27 Dez 2017

Macau em destaque em ciclo de cinema em Lisboa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]   ciclo “Cinema Macau, passado e presente” é o evento que pretende levar à tela da Fundação Oriente um conjunto de filmes acerca do território. O objectivo é “desvendar a pluralidade de olhares sobre Macau durante o século XX bem como após a transição para a administração do território pela China”, lê-se em comunicado enviado à comunicação social.

Neste ciclo, com a curadoria da jornalista e crítica de cinema Maria do Carmo Piçarra, são revelados filmes do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e do Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE).

Em sete sessões temáticas, entre 7 de Janeiro e 18 de Fevereiro, a programação começará por apresentar a percepção, durante o Estado Novo, de realizadores portugueses – tanto amadores (Antunes Amor) como profissionais que serviram a propaganda (Ricardo Malheiro) – sobre Macau, contrapondo imagens fixadas por cineastas estrangeiros ao serviço do regime, como Miguel Spiguel e Jean Leduc. A mostra inclui o olhar de Manuel Faria de Almeida, um dos fundadores do Novo Cinema português que, posteriormente, ajudou a criar a Televisão de Macau, sobre a antecipação das angústias dos residentes no território com a perspectiva da transição da soberania.

Os dias de hoje

Em contraponto a estas visões, apresenta-se a perspectiva contemporânea de jornalistas e das novas gerações de realizadores portugueses, que viveram ou visitaram (Guerra da Mata / João Pedro Rodrigues) ou vivem (Ivo Ferreira) no território, e o de uma realizadora sérvia (Nevena Desivojevic), que filmou, em Lisboa, a rememoração da vivência em Macau.

O ciclo integra ainda investigações filmadas, assinadas por jovens jornalistas portugueses (Filipa Queiroz e Hélder Beja), que relevam traços da presença portuguesa durante o século XX.

“Cinema Macau” fixa, finalmente, as inquietações, as aspirações e a sensibilidade da primeira geração de realizadores de Macau. Recorrendo a linguagens que vão do ensaio visual à animação, e usando sobretudo o formato da curta-metragem, os novos filmes feitos em Macau, entre outros, por Albert Chu, Leong Kin, Cobi Lou, Hong Heng Fai, Cheong Kin Man e Tracy Choi – de quem será apresentada também a longa-metragem “Irmãs” (Sisterhood) – reflectem as mudanças na paisagem, física e humana. De acordo com a organização, “aqui, os vestígios coloniais servem um certo onirismo e nostalgia, e evidenciam o paralelismo entre o crescimento da ilha e a multiplicação das imagens desta – e do mundo – numa sociedade de ecrãs”.

20 Dez 2017

José Drummond apresenta amor e a morte na Casa Garden

“There´s a light that never goes out” é a principal peça de José Drummond exposta na Casa Garden e traz ao público uma oportunidade de integrar a própria instalação. Tudo tendo por base a canção dos “The Smiths”  que dá nome à obra e reflecte o lado negro e romântico da existência

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m dos mais famosos temas da banda britânica “The Smiths” dá nome à principal peça que José Drummond apresenta na exposição patente desde quarta-feira, na Casa Garden. “There´s a light that never goes out” é uma das três peças do artista local e, para fazer jus ao nome, trata-se de uma instalação com “uma componente de som em que há uma espécie de adaptação à música dos smiths”, conta ao HM.

José Drummond é acima de tudo artista plástico mas não menospreza o poder e importância da música e dos sons. “A música tem esta grande vantagem, está em todo o lado, e não precisa exactamente de significado porque nos atinge de uma forma muito directa”, explica.

Para Drummond é difícil o desligar do som, mais até do que da imagem. “Os olhos são autónomas e podemos fechá-los, sem ajuda de nada, já os ouvidos são diferentes, não os podemos fechar sem pelo menos recorrer a ajuda das mãos”, diz. É por isso que Drummond considera que “o som nos atinge de maneira diferente, de uma forma mais intensa do que a visão”

Poderá tratar-se ainda de pureza. “A visão, se calhar, é muito mais intelectual e perde muitas vezes a questão do significado mas gosto de coisas que nos possam criar emoções sem que tenhamos forçosamente de dizer mais ou explicar mais, e a  música tem realmente este dom”, aponta ao HM.

Por outro lado, a escolha do tema em causa foi muito ponderada. Apreciador de poesia, “There´s a light thet never goes out” é, afirma, “um dos poemas mais belos daquela banda”. Mesmo dentro daquilo a que chama clichés, é mais um tema “com uma forte componente negra que remete sempre para a esperança”. “Há aqui uma sensação de esperança mas depois a letra em si é fala de morte e amor. Não há coisa mais bonita do que isso e é esta ambiguidade que me atrai muito”, conta.

 

Um híbrido maior

Tratando-se de uma instalação, José Drummond fala ainda da sua forte componente híbrida aplicável tanto à obra como ao artista. “O meu trabalho vive muito de híbridos, a começar pela minha própria condição: sou um português ocidental em Macau, que bebe influencias do sitio onde vive, ou seja, tudo o que sai de mim já é um produto híbrido que vive na fractura das duas culturas e que não é uma coisa oriental mas também quase que já não é ocidental, muitas vezes”, explica.

O mesmo se pode dizer da forma como José Drumund sente que trabalha a imagem, “em que a fotografia parece pintura mas não é”.

Nesta instalação há ainda uma espécie de diálogo que, para José Drummond “se expressa de uma forma muito teatral porque há uma coreografia, com a luz”.

Mas a contracena passa ainda pelo público em que “o visitante é corpo integral da peça e com a sua participação, a peça ganha outro sentido, ou seja, os protagonistas neste momento são as pessoas quando estiverem dentro da peça”, conta. O objectivo não é ter a concordância do público ou mesmo o agrado, até porque uma das tarefas dos artistas plásticos passa não só por tentarem inscrever as suas ideias naquilo que fazem como tentarem ter um debate com o público e mesmo acabarem por recusarem a sua obra”.

 

Fora da parede

É também esta mistura entre público, obra e artista que marca os tempos contemporâneos das mostras. Chegou a hora de sair da parede a arranjar novos suportes. “Uma das coisa mais importantes, especialmente nos dias de hoje, é que nós enquanto artistas consigamos ter propostas de exposições diferentes e que vão além dos quadros na parede. É necessário que consigamos criar outros espaços, outros mundos que não fiquem reduzidos à banalidade do quadro na parede”, refere.

“There Is a Light That Never Goes Out” integra a participação de Drummond na exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” que conta ainda com as participações dos trabalhos de João Ó e James Chu. José Drummond participa com mais duas peças em néon vermelho: “Each man kills the things he loves”, de Oscar Wilde e “Find what you love and let it kill you” do poeta norte-americano Charles Bukowski.

As peças integram a exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” integra o festival da luz que se comemora no território e traz ao publico peças de João Ó, James Chu e José Drummond.

20 Dez 2017

Exposição | O legado de José Maneiras, o arquitecto da primeira geração

Quando Manuel Vicente chega a Macau pela primeira vez, em 1962, José Maneiras acabava de se licenciar no Porto. Ambos foram os grandes responsáveis pela introdução da escola da arquitectura moderna do ocidente. A obra do homem que “não faz cedências ao comercialismo” e que, como tal, “é respeitado” será recordada em 2018 com uma exposição da Docomomo, intitulada “José Maneiras – Um Macaense Moderno”

 

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Maneiras, nascido em Macau em 1935, sabe que os seus colegas de profissão, ligados à associação Docomomo, vão recordar a sua obra em Março do próximo ano, com uma exposição, mas não quer falar sobre isso.

Se o autor não fala sobre si mesmo, convidamos outros colegas a falar de si. Hoje mais afastado dos grandes projectos e encomendas, o trabalho de José Maneiras permanece importante por marcar a introdução da arquitectura moderna europeia em Macau e por fazer parte de uma primeira geração de profissionais vindos de Portugal.

Maneiras licenciou-se em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e chegou a Macau em 1962, numa altura em que não havia arquitectos profissionais.

Sérgio Spencer, arquitecto ligado à Docomomo e um dos responsáveis pela exposição, disse ao HM que José Maneiras “é um dos principais actores daquilo que foi a modernização da cidade de Macau, com a introdução de um tipo de arquitectura.”

“Ele é um homem da terra que vai fazer os seus estudos em Portugal e ganha essa dimensão das visões modernas e contemporâneas que se tinham implementado na Europa e nos Estados Unidos”, acrescentou Spencer, que adianta que essas correntes que então se notavam nos edifícios do ocidente visavam, sobretudo, o funcionalismo.

“Ele fez muitos edifícios residenciais. O seu estilo de arquitectura está virado para o sentido funcionalista, pragmático, muito eficaz, na linha daquilo que era um dos princípios do movimento moderno: o de considerar um edifício como uma máquina”, frisou.

Numa altura em que a maioria dos projectos eram desenhados por engenheiros ou outros profissionais de construção civil, José Maneiras soube fazer “uma relação interessante” entre aquilo que aprendeu na faculdade e o que era a cultura local ao nível da construção.

“Ele tem um estilo muito próprio, mas soube integrar os princípios na prática local. Foi isso que nos moveu um bocado, tentar trazer esta exposição ao público”, referiu Sérgio Spencer.

Num artigo da autoria da académica Ana Vaz Milheiro, em parceria com Hugo Morais Coelho, é referido que Maneiras foi dos poucos arquitectos que ficou em Macau em 1966, após uma vaga de saída de arquitectos portugueses, tendo fundado o seu atelier no ano seguinte.

André Ritchie, arquitecto que também fez a sua formação superior no Porto, teve professores que foram colegas de José Maneiras. “Trata-se da primeira geração e foi um dos primeiros arquitectos que foram estudar para Portugal e que voltaram com o canudo na mão. Isto numa altura em que se ia para Portugal ainda de barco, e ainda hoje José Maneiras conta essa história. Como pessoa foi sempre uma espécie de ídolo.”

Menos exuberante que Manuel Vicente

Vindo de Goa, Manuel Vicente chegou a Macau em 1962, tendo vivido no território até 1966. O seu trabalho cruza-se com o de José Maneiras, mas jamais se diluem.

“Antes do Manuel Vicente foi José Maneiras que deu a Macau edifícios bonitos e que pensou a cidade”, recordou Carlos Marreiros. Apesar de terem feito “alguns planos em conjunto”, “o legado de ambos é diferente”.

“O Manuel Vicente era exuberante, tinha uma arquitectura bastante festiva, muito criativa. O José Maneiras é da escola do Porto, e era muito comedido, muito modernamente minimalista, tinha características dessa escola. A sua arquitectura era competente, funcional, bonita, mas não era muito festiva.”

Sérgio Spencer afirma que “numa fase muito inicial a obra de Manuel Vicente aproxima-se, de alguma maneira, da obra de José Maneiras”.

“Eram amigos, davam-se bastante bem um com o outro, e ainda hoje entendemos isso nas suas palavras, mas do ponto de vista da linguagem arquitectónica, a maneira como abordavam a arquitectura e a questão da construção, não creio que passasse muito da obra de um para o outro”, concluiu.

A degradação inevitável

Uma vez que José Maneiras começou a projectar a partir de meados dos anos 60, os seus edifícios têm hoje guardados as marcas do tempo, sem manutenção e com desgaste, à semelhança de outros exemplares da arquitectura modernista em Macau. Contudo, ainda têm o seu papel no tecido urbano.

Isso acabou por dificultar a escolha das obras para mostrar ao público nesta exposição, pois José Maneiras não tem um espólio organizado. Visitas realizadas e conversas com o arquitecto ajudaram a Docomomo em todo o processo.

“A maior parte das obras de José Maneiras estão muito destruídas. A arquitectura está um bocado delapidada, com gaiolas, e não tem a manutenção feita”, disse Sérgio Spencer.

Tanto Carlos Marreiros como André Ritchie falam do complexo de edifícios habitacionais em frente ao Clube Militar, escondidos com a grandiosidade do Grand Lisboa.

“Esse edifício merecia ser renovado porque é um exemplo do modernismo em Macau”, lembrou André Ritchie, que referiu também a maneira como José Maneiras incorporou a ventilação transversal nos seus edifícios.

“Não havia a abundância do ar condicionado que há hoje. Essa preocupação reflecte-se depois na fachada dos exteriores dos edifícios”, adiantou.

“Hoje é um edifício que está muito degradado e as pessoas nem reparam”, acrescentou Carlos Marreiros. “Com o que se construiu à volta deixou de ter leitura. É um edifício que conheço desde a minha juventude, tem um desenho contido mas com muita qualidade.”

Maneiras trabalhou ainda, a título de exemplo, no projecto de requalificação da praça do Tap Seac, ao lado de Marreiros e do engenheiro civil José Chui Sai Peng, tendo também coordenado a equipa projectista do reordenamento viário da rotunda Carlos de Assumpção.

Membro honorário da Ordem dos Arquitectos em Portugal, um dos fundadores da Associação dos Arquitectos de Macau, em 1987, José Maneiras teve também um papel político, tendo sido presidente da Câmara Municipal do Leal Senado, cargo que ocupou entre 1989 e 1993. Isso deu-lhe ferramentas para conhecer um outro lado do território.

“Maneiras é um profundo conhecedor da cidade. Não é uma pessoa que faça cedências ao comercialismo, e como tal é respeitado”, frisou Carlos Marreiros.

Carregando consigo inúmeras histórias da terra que o viu nascer, José Maneiras foi o responsável por transmitir a André Ritchie uma delas, no âmbito de um projecto recente em que ambos trabalharam.

“Tivemos de deslocar um monumento da diáspora macaense, na sequência de uma obra do Gabinete de Infra-estruturas. Esse monumento celebra a diáspora macaense e quando os macaenses saíam de Macau iam de barco, não de avião, tal como José Maneiras o fez, e saía-se da Barra. A última coisa que um macaense via era o Templo de A-Má”, contou o arquitecto.

O trabalho de uma vida de José Maneiras poderá ser visto em Março no pavilhão do jardim Lou Lim Ieok. Sérgio Spencer garantiu que o objectivo é mostrar a importância do seu trabalho a todos.

“Gostaríamos que não fosse [uma exposição] muito direccionada para arquitectos, que fosse uma coisa virada para o público e até para a comunidade chinesa. Batalhamos um pouco para ter um espaço expositivo que não fossem os sítios tradicionais das exposições onde só vão turistas e gente erudita. Estamos contentes por termos feito a exposição no pavilhão do Lou Lim Iok”, rematou.

19 Dez 2017

Prémios | Primeiro filme de realizadora italiana vence festival de cinema

Dos 11 filmes em competição, apenas seis saíram da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau premiados. A cerimónia decorreu ontem e o galardão para o melhor filme foi entregue à jovem realizadora Natalia Garagiola, com o filme “Hunting Seoson”. Os dramas familiares levaram a melhor no que respeita à angariação de estátuas, mas o juro fez questão de sublinhar a qualidade de todos os trabalhos cinematográficos seleccionados para competição

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] galardão para o melhor filme da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi para o drama familiar filmado na Patagónia, “Hunting Season”. A primeira longa metragem da jovem realizadora italiana, Natalia Garagiola conquistou o júri.

Para Natalia Garagiola, o facto de ter sido reconhecida em Macau pode vir a ter um papel de peso na sua carreira. Está neste momento a trabalhar no seu segundo filme, ainda sem nome mas que trata “da vida de uma médica que se debate entre o medo e a ciência e que pode vir a ter, com o reconhecimento, mais facilidade em ser financiado”, referiu aos jornalistas após a cerimónia de ontem de entrega de prémios”. A película vencedora conta a história de Nahuel que regressa a casa do pai, Ernesto, um respeitado caçador da Patagónia argentina. Nahuel é acolhido numa nova família que o despreza e está agora com um pai que o abandonou e não traz boas memórias do passado onde o filho se insere. É, no entanto, numa caçada que os dois, sozinhos na imensa Patagónia, têm oportunidade de se reencontrar. As filmagens, todas feitas em ambiente natural tiveram, as suas complicações, na sua maioria associadas às dificuldades em trabalhar com o frio que se fazia sentir, referiu a realizadora.

O filme em competição da China também foi destacado. “Wrath of silence” do realizador natural da Mongólia Interior, Yukun Xin arrecadou os prémios do júri e de melhor actor atribuído a Song Yang. Song Yang faz o papel de um pai mineiro que procura o filho desaparecido e acaba por se confrontar com o submundo ligado à corrupção da exploração mineira.

Sofia Margarida Mota

Prémios repetidos

Já o francês Xavier Legrand levou o prémio para o melhor realizador com “Custody”. A premiação não é uma novidade para Legrand que apesar de ser conhecido pelo seu trabalho de actor de teatro, com “Custody”, a sua primeira longa metragem, foi já galardoado com o prémio de melhor realizador no Festival de Veneza no passado mês de Setembro. O filme que trata dos dramas de uma criança filha de pais separados e que se vê como alvo de luta pela custódia. O papel interpretado por Thomas Goria, valeu ao jovem actor o prémio para o melhor actor jovem revelação da segunda edição do evento internacional.

“Beast” do britânico Michael Pearce, depois de ter créditos ganhos nos BAFTA ed estreado na secção “Plataforma” Toronto International Film Festival deste ano, leva também duas estatuetas para Inglaterra.

O filme que trata da história de Moll Huntford, uma jovem de 27 anos que vive na ilha de Jersey, ao largo da costa da Inglaterra e se apaixona por um suspeito de ser assassino em série, ganhou o prémio de melhor contribuição técnica e de melhor actriz. No que respeita à contribuição técnica, o sector premiado foi a fotografia de Benjamim Keacun, enquanto a actriz premiada foi Jessia Buckley.

O argumentista e realizador israelita Samuel Maoz ganhou o prémio de melhor argumento com o filme “Foxtrot”. Samuel Maoz aos 13 aos já filmava em 8mm e aos 18 anos contava com vários filmes feitos quando foi obrigado a integrar o exército e destacado para  a guerra no Líbano. O seu primeiro filme, “Lebannon” ganhou, em 2009 o Leão de Ouro em Veneza e “Foxtrot” arrecadou, este ano, também o prémio do júri no mesmo evento.

Já o público de Macau escolheu como vencedor do festival a história dos tenistas Björn Borg e Joe McEnroe. A produção sueca do realizador galardoado pela crítica em Cannes com o filme “Armadillo” em 2010, Janus Metz trouxe ao grande ecrã os bastidores do campeonato de Wimbledon de 1980.

É tudo bom

Uma selecção de filmes com muita qualidade, foi a afirmação do júri para descrever as 11 películas que estiveram em competição nesta segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau.

O cineasta francês que presidiu ao júri, Laurent Cantet, miostrou-se impressionado. “São filmes de realizadores muito novos e que já apresentam uma qualidade invulgar”, afirmou em conferência de imprensa após a entrega de prémios.

Já o escritor Lawrence Osborne manifestou um sentimento comum por parte do júri relativamente à escolha do filme vencedor. “Todos sentimos que “Hunting Season” trazia alguma coisa de particular, que estava muito bem construído e contava com interpretações incríveis por parte destes jovens actores”, referiu. Para o também membro do júri tratava-se de uma película que aborda de uma forma cuidadosa e original a relação entre um pai e um filho.

Apesar de mais de metade dos filmes em competição não arrecadar nenhum tipo de prémio, Cantet fez ainda questão de notar que “não foi por falta de qualidade”.

 

Udo Kier regressa como júri para o ano

O prémio de carreira foi dado ao actor que já conta com participação em mais de 200 filmes ao longo dos seus 50 anos de carreira. Udo Kier, não se mostrou surpreendido com o prémio mas sim, com a qualidade dos filmes a que assistiu no festival. Para o actor de “Blade”, “Armagedon” ou “Drácula”, “é bom estar num festival que salienta o talento de jovens realizadores e que aposta no cinema independente”, disse. Udo Kier adiantou ainda que para o ano vai regressar ao território e com funções definidas: vai integrar o júri da terceira edição do Festivalk Internacional de Cinema de Macau.

Festival vai ter novas secções

A próxima edição do Festival Internacional de Cinema vai ter novidades. Entre elas está a criação de uma secção dedicada ao cinema asiático e de países de língua portuguesa, A informação foi deixada pela directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, à margem da cerimónia de entrega de prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Já tive uma reunião com o director artístico Mike Goodridge, e com o nosso embaixador deste ano, o realizador Shekar Kapur, e já estamos a preparar as edições futuras. Há a possibilidade de criar uma secção para a Ásia e uma para os países de língua portuguesa”, referiu a responsável. Por outro lado, estão na agenda melhorias. “Vamos ainda tentar perceber os pontos fracos em que ainda temos de fazer melhorias mas ouvi muitos elogios a esta edição”, apontou Helena de Senna Fernandes. Este ano o festival teve algumas alterações relativamente à edição anterior e a aposta em filmes de jovens realizadores vai se manter. “Fizemos uma grande mudança em termos de regulamento para os filmes em competição e a partir deste ano só podem entrar na corrida filmes que sejam o primeiro ou segundo trabalho do realizador”, começou por dizer, sendo que considera que a resposta a esta mudança foi muito positiva. “Esta acção teve um bom feed back por parte da indústria porque somos um evento novo é bom ter esta associação com os jovens realizadores”, apontou Helena de Senna Fernandes.

 

Vencedores

Melhor Filme – “Hunting Season” de Natalia Garagiola

Melhor realizador – Xavier Legrand com “Custody”

Melhor Actriz – Jessia Buckley em “Beat”

Melhor Actor – Song Yang em “Wrath of silence”

Melhor Jovem Actor/Actriz – Thomas Goria em “Custody”

Melhor Argumento – Samuel Maoz com “Foxtrot”

Melhor contribuição Técnica – Benjamim Keacun com “Beast”

Prémio do Júri – “Wrath of silence” de Yukun Xin

Prémio do Público – Borg McEnroe de anus Metz

17 Dez 2017

Michelle Yeoh foi a actriz em foco no Festival Internacional de Cinema de Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actriz em foco da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau foi Michelle Yeoh, uma escolha estratégica da primeira Bond girl oriental que fez carreira com sucesso a ocidente e a oriente. Mestre de kung fu, Michelle Yeoh não se fica pela espetacularidade dos golpes personalizados que a tornaram famosa no cinema da região vizinha. A actriz orgulha-se da componente de representação que lhe tem sido reconhecida em filmes com “Memórias e uma gueixa”, “Crouching Tiger”, “Hidden Dragon” e “The Lady”, e mais recentemente, na série Startrek”.

Aos jornalistas Michelle Yeoh recordou a opção pelo cinema com uma forte componente física. “Quando comecei a fazer filmes, os que envolviam artes marciais e as comédias eram os mais populares nas salas de cinema. Pensei que não conseguia fazer comédia porque na altura o meu cantonês era muito mau e não lia chinê que, polo não conseguia ler guiões. Por isso pensei que o mais fácil para mim seria mesmo optar pelos filmes de artes marciais”.

Tratava-se de entrar num mundo essencialmente dominado por homens, mas Michelle Yeoh não se inibiu e optou por criar um estilo próprio. “Porque é que escolhi desenvolver os meus golpes? Porque podia. Não o fazemos só porque queremos, fazemos porque podemos. Comecei a treinar muito e como tinha um passado dedicado à dança o meu corpo era muito flexível”, começou por contar.

Por outro lado, a actriz considera que nos momentos de acção há que defender uma causa. “Tenho de ter uma razão pela qual lutar: Não é a mesma coisa uma mulher lutar para proteger um, filho, ou um amor, ou um inimigo do país, referiu. O estilo de luta vem também com a personagem”, referiu.

Em 1997 deu o pulo para Hollywood ao participar no filme do James Bond “Tomorrow nerver dies”. Este filme, assim como o “The Lady” marcam uma mudança no rumo de carreira em no reconhecimento enquanto actriz, pois deixou de ser apenas a “mestre de kung fu de Hong Kong”.

Uma actriz de causas

Na tela, Michelle Yeoh defende causas que têm essencialmente que ver com a igualdade de género. “Todos os papéis que fiz, são de alguma forma, inspirados em mulheres que conheço. Apesar de representar muitas mulheres diferentes, é como se fosse uma homenagem a todas elas, a todas as mulheres que lutam”, apontou.

“Não sou feminista, mas acredito em igualdade de oportunidades e que todos podemos contribuir para um planeta melhor”, referiu tendo em conta a participação activa que tem tido em diferentes organizações, nomeadamente ligadas à luta contra a pobreza. Mas, sublinhou, “cada um de nós pode fazer a sua parte no que respeita às mudanças climáticas, à pobreza e à violência”, rematou Michelle Yeoh.

17 Dez 2017

Laurent Cantet, cineasta e presidente do júri do IFFAM: “Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar”

Foi vencedor da Palma de Ouro, em Cannes em 2008, e nomeado para o melhor filme estrangeiro para os Óscares com “Entre Les Murs”. Laurent Cantet presidiu ao júri da segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. Aos jornalistas, o realizador falou do que mais importa quando vê um filme e da paixão que tem pelo cinema japonês e coreano

 

Está no festival enquanto presidente do júri. Que critérios tem quando está a avaliar um filme?

Penso que não temos elementos precisos. Somos cinco e entre os cinco elementos do júri se calhar não pensamos todos da mesma forma, mas penso que o primeiro elemento que temos em conta é a forma como o filme nos toca. Depois disso podemos discutir a qualidade da representação ou dos guiões. Mas o que é importante para mim, quando estou num júri deste género é o facto de não sabermos nada do que vamos ver aqui. Os filmes em competição são os primeiros ou segundos filmes de cada um dos realizadores. Entramos aqui completamente virgens no que respeita aos filmes que vemos. Entramos na sala e é uma descoberta, o que também é um momento muito bom.

O que nos pode dizer dos filmes em competição?

Estou impressionado com a diversidade dos filmes que tenho visto, de diferentes partes do mundo e de diferentes géneros. É uma selecção muito boa. Penso que todos os membros do júri estão muito felizes com o que vimos. Tem sido uma boa surpresa.

Lembra-se quando é que descobriu que queria ser um contador de histórias através do cinema?

Comecei pela fotografia e com ela descobri que queria fazer cada vez mais séries fotográficas. O objectivo era poder contar pequenas histórias. Paralelemente também gostava de escrever e escrevia contos que muitas vezes acompanhavam os conjuntos de imagens. Penso que isso me levou, mais tarde, a optar por fazer filmes. Mas o momento mais importante para mim foi ter sido aceite numa escola de cinema. Quando lá entrei não sabia nada do que era fazer um filme. Três anos depois tinha feito cinco filmes e trabalhado em muitos mais. Foi ali que, realmente tudo ficou decidido.

Como é que é o seu processo de fazer um filme? O que quer dizer?

Quando faço um filme tento descrever o mundo onde vivo. Tento descrever e situar a história num contexto e todos os filmes têm uma forma própria de serem feitos. Não penso que tenha um estilo. Adapto a minha forma de fazer cinema a cada história que quero contar. Talvez a particularidade dos meus filmes, e que se poderá encontrar em todos eles, tenha que ver com o facto de serem feitos com actores profissionais e não profissionais. Para mim é importante ouvir o que as pessoas têm a dizer acerca da sua própria vida, da vida real e tento dar um espaço onde as pessoas que normalmente não têm voz, possam expressar-se, falar de si, das suas histórias e realidades.

É a primeira vez em Macau. O que acha a cidade?

Acho incrível a forma como os dois universos, ocidental e oriental, coexistem no mesmo espaço. Podemos ir ao centro histórico e sentir isso através, por exemplo, da arquitectura. Mas ainda conheço muito pouco.

O que pensa do cinema que está a ser feito actualmente na Ásia?

Alguns dos meus realizadores preferidos são japoneses e coreanos. Infelizmente não conheço tanto do cinema chinês, mas no que respeita a cinema coreano e japonês temos muito acesso a ele em França, especialmente nos últimos dez anos. Actualmente, faz mesmo parte da cultura cinematográfica francesa e já não nos podemos alhear do cinema asiático.

O que mais gosta nos filmes do Japão e da Coreia?

Talvez a sua ligação com o contexto em que são feitos. Também mostram, de uma forma muito particular, as relações entre as pessoas. São relações muito muito diferentes da nossa forma de nos ligar-mos uns aos outros. Penso que no cinema tanto japonês como coreano, há um exotismo humano e das relações entre as pessoas que é muito especial.

Como vê a situação do cinema francês?

Penso que, como em todos os lados, temos dificuldades em fazer filmes. Há muitos realizadores e, mesmo que se consiga fazer um filme, temos dificuldade em lança-lo e distribui-lo. A coisa mais importante é, se calhar, manter a diversidade do cinema francês viva. Também é difícil vender os nossos filmes a outros países. Mas, ainda assim, a França produz cerca mais de 200 filmes por ano o que é muito bom.

17 Dez 2017

Concerto | Susanna Risberg sobe ao palco do LMA no próximo sábado

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sueca Susanna Risberg traz a suavidade do trio de guitarra jazz que lidera ao LMA. A jovem guitarrista tem corrido palcos do mundo inteiro e trabalhado com um considerável número de músicos, principalmente dentro das sonoridades jazz. O concerto é no sábado às 21h.

Costuma dizer-se que é de pequenino se torce o pepino. Susanna Risberg eleva esta máxima para um patamar musical digno de nota. Pouco tempo depois de receber a primeira guitarra, aos dez anos, a jovem sueca formou o seu primeiro trio de rock e blues influenciada pelo herói musical, Jimi Hendrix. Logo aí o talento que tinha era inegável, tendo chamado a atenção de críticos, aficionados da guitarra e promotores de concertos, actuando desde cedo em festivais e clubes de blues.

À medida que foi evoluindo, Susanna Risberg aprofundou a paixão pelo jazz e recebeu vários prémios musicais.

Hoje com 26 anos, é já um das figuras incontornáveis da guitarra jazz da Suécia, tendo colaborado com uma variedade de artistas como Marit Bergman, Henric de La Cour, Svante Thuresson, Nils Landgren, Miriam Bryant, Blue House Jazz Orchestra, entre outros.

Filha de dois músicos clássicos, Susanna cresceu rodeada por música, mas foi na guitarra eléctrica de Jimi Hendrix, e nos ritmos do jazz que descobriu a paixão musical. No leque de influência da sueca juntam-se nomes tão distintos como Tori Amos, Sonny Rollins, Mahavishnu Orchestra, Miles Davis e Pat Metheny.

Pela primeira vez em Macau, a guitarrista disse ao HM que está entusiasmada por cá tocar. Quanto ao concerto no LMA, Susanna Risberg garante que o público pode esperar por um “bem oleado trio de guitarra jazz com sonoridades modernas”. A banda que a acompanha irá tocar, essencialmente, temas originais da guitarrista, mas quando estão em palco a música leva sempre o trio “para lugares inesperados”.

Dedos virtuosos

“Quando improviso fico imune a distracções fora da música, é um sentimento incrível que não pode ser comparado com nada, como se estivesse, por instantes noutro mundo onde a realidade não interessa”, comenta a guitarrista. Este estado de graça é algo que Susanna Risberg alcança por vezes também a ouvir música.

A instrumentista sueca explica que a porta de entrada para o jazz aconteceu aos 13 anos quando ouviu o disco “Bright Size Life” de Pat Metheny e “Boss Guitar” e “So Much Guitar!”de Wes Montgomery. Nessa altura, Susanna ouvia estes discos diariamente, assim como tudo o que conseguia encontrar de Jimi Hendrix, claro.

Hoje em dia, os discos que mais ouve são “A Night at the Village Vanguard” de Sonny Rollins, “Allegresse” de Maria Schneider, “Speak Like a Child” de Herbie Hancock, entre outros.

Há dois anos, Susanna Risberg apaixonou-se pela guitarra da sua vida, uma Gibson 350-t, na qual tem tocado todos os dias desde que se conheceram. Porém, devido a problemas de bagagem, teve de deixar o instrumento em casa antes de embarcar na tour. “Sinto-me estranha sem a guitarra porque temos uma relação algo intensa”.

Com uma maturidade musical impressionante para a sua idade, e dois discos na bagagem, Susanna Risberg chega a Macau pronta para oferecer um banquete de guitarra aos amantes locais do jazz. O concerto tem início às 21h e promete ficar na memória dos que se deslocarem à Coronel Mesquita.

14 Dez 2017

Festival Internacional de Cinema de Macau – Nos bastidores da indústria

Tetsu Negami, Clockworx CO.Ltd, Japão: “Um festival profissional”

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a primeira vez que aqui está, qual é a sua primeira impressão? 

Estou com muito boa impressão e a minha intenção é encontrar projectos que me chamem a atenção. Se o conseguir, já é muito bom. Para ser honesto, e nesta fase, ainda não encontrei um projecto para financiar, dado os estágios muito iniciais em que se encontram, mas penso que vou acompanhar o seu desenvolvimento. Acho que no futuro somos capazes de investir e mesmo co-produzir.

O que acha da forma como este encontro da industria está a ser conduzido?

Todos os festivais têm de ter esta componente de mercado. Neste caso está feito de forma muito profissional e que pode vir a ter frutos. Estou surpreendido.

Para o ano, vai cá estar?

Sim.

Gilbert Lim, Sahamongkolfilm, Internationl Co Ltd., Tailândia: “No bom caminho”

É o responsável por uma das maiores produtoras e distribuidoras da Tailândia e é a segunda participação que tem neste festival. Quais as diferenças entre o ano passado e este ano?

Acho que este ano está muito melhor. Está tudo muito bem organizado. A localização é excelente. O maior problema que encontrei no ano passado, e por ser a primeira edição, teve que ver com a logística que falhou em alguns aspectos. Mas, ainda assim, enquanto primeiro festival foi bastante bom. Mas esta segunda edição está mesmo muito bem organizada.

Macau pode vir a ser um local importante enquanto plataforma na área da indústria do cinema?

Penso que é uma situação possível tendo em conta que Macau, de alguma forma, é um lugar que é uma espécie de cruzamento entre o ocidente e o oriente. Gostava muito que o Governo de cá contiuasse a apoiar este festival.

Como é que vê o futuro do festival?

Não se pode julgar um festival de cinema pelos primeiros dois ou três anos. Este tipo de eventos tem de continuar para que se possa ter uma ideia acerca da sua importância para o local onde é realizado. Mas, para já, este estará no bom caminho.

Para o ano, vai cá estar?

Sim.

 

Fred Tsui,  Media Asia film, Hong Kong: “Macau é mais do que casinos, é cultura”

O que é que Macau tem para mostrar, tendo em conta a realização de um festival de cinema em Hong Kong, e o mercado da região vizinha?

Em termos de natureza, os festivais têm todos a mesma. Depois é uma questão de localização e de tempo. Mas Macau tem aspectos únicos dos quais pode usufruir. Já toda a gente conhece Hong Kong. Mas, de Macau normalmente as pessoas apenas conhecem o território por causa dos casinos, sendo que na realidade, a RAEM é muito mais. O facto de ser um festival organizado pelos serviços de turismo também faz sentido porque o território tem muito a oferecer aos visitantes. Macau é mais do que casinos, é cultura e é preciso dizer isso às pessoas.

Quais as maiores diferenças que encontra entre a edição do ano passado e a deste ano?

Começa pelos hotéis onde estamos. No ano passado estávamos na Taipa e era muito longe. Este ano estamos muito bem, mesmo em frente do Centro Cultural onde tudo acontece. É tudo muito conveniente e está muito bem organizado. O próprio espaço é óptimo. Está tudo melhor este ano. E mesmo no que respeita aos projectos que estão a ser mostrados, são muito melhores. No ano passado fiquei com a sensação de que os projectos apresentados vieram por convite e, este ano, sente-se que houve uma selecção cuidadosa.

Para o ano, vai cá estar?

Sim, claro!

13 Dez 2017

Prémios | Já são conhecidos os projectos vencedores do “Project Market”

São 30 000 dólares americanos para dividir pelos três vencedores do “Project Market Award” do Festival Internacional de Cinema. Os galardoados foram conhecidos na segunda-feira e as participação portuguesas não conseguiram estatuetas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s prémios da segunda edição do Festival Internacional de Cinema já começam a ter destinatários. A noite de segunda-feira foi dedicada à entrega do galardão aos vencedores da secção dedicada ao mercado e indústria cinematográfica do evento.

Um total de 30 000 dólares americanos foi distribuído equitativamente por “Mihara” uma coprodução dos Estados Unidos e do Japão realizada por Jaqueline Castel, “The girl with no head, um projecto da Malásia realizado e produzido por Liew Seng Tat e Pete Teo, e “The last stage” de Liam O´Donnel, um filme que conta com a participação dos Estados Unidos, França e Indonésia.

Os filmes, ainda em fase inicial de produção, integram a secção do festival dedicada à apresentação de projectos à industria. Os candidatos foram seleccionados de acordo coma curadora de Todd Bown.

A secção dedicada à indústria contou, este ano, com a participação de 14 projectos que durante três dias foram meticulosamente apresentados e submetidos a comentários de alguns dos mais influentes representantes da produção e distribuição de filmes do mundo, sendo que o continente asiático se destacou.

Os projectos foram divididos em três categorias tendo em conta os objectivos de cada um. O “Project Market” apresentou o bloco dedica os prjevtos de filmes de género, filmes de autor e projectos que estavam à procura de parcerias internacionais.

Um momento de qualidade

Os portugueses Jerónimo Rocha e o residente de Macatu, Ivo Ferreira estiveram presentes em diferentes categorias. Jerónimo Rocha este a apresentar “Deadalus”, uma continuação da curta homónima que o realizador quer ver no grande ecrã. Da experiência no festival, Jerónimo Rocha destaca a qualidade que caracteriza este sector do festival e ao HM referiu que, independentemente dos resultados imediatos, “a experiência está a ser muito produtiva até porque permite aceder a diferentes formas de analisar o filme que queremos fazer e, como tal de o podermos melhorar”.

Já Ivo Ferreira trouxe “Projecto Global” à secção de autor. Apesar do projecto, para já, contar apenas com 20 páginas de guião escritas, Ivo Ferreira admite não estar no festival propriamente à procura de apoios, até porque se trata de um filme de Portugal, mas, quem sabe, conseguir interessados na sua distribuição”, apontou ao HM.

Por outro lado, o produtor de “Projecto Global” não deixou de destacar a qualidade do sector dedicado ao mercado. “Do que tenho visto, esta secção do festival está ao nível do melhor que se faz na Europa”, disse.

13 Dez 2017

‘Curta’ de realizador sueco vence melhor filme e melhor ficção em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Bitchboy” do realizador sueco Mans Berthas conquistou os prémios de melhor filme e de melhor ficção da oitava edição do festival Sound & Image Challenge de curtas-metragens, em Macua, indicou hoje a organização.

O melhor documentário foi para “Nobody Dies Here”, de Simon Panay (França), enquanto o trabalho do realizador Ishan Shukla (Índia) conquistou o prémio de melhor animação, de acordo com uma nota enviada à Lusa.

Na primeira edição do Sound & Image Challeng International a contar com a participação do festival de curtas-metragens de Vila do Conde, o realizador de Macau Chu Hio Tong conquistou o prémio Identidade Cultural de Macau com “Smell the smell”.

Também na categoria de animação, o cineasta Qichao Mao, da China, conquistou uma menção honrosa com “Revelation-The City of Haze, enquanto a escolha do público recaiu sobre “56” de Marco Huertas (Espanha).

Na categoria Volume, que distingue o melhor vídeo musical, o prémio foi para Choi Ian Sin, de Macau.

No festival competiram 44 curtas na secção “Shorts” e seis vídeos musicais competição internacional “Volume”

O festival, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus através do Creative Macau, arrancou com a sessão “Cinema Expandido”, uma colaboração do festival internacional de Curtas de Vila do Conde e curadoria de Miguel Dias.

13 Dez 2017

TIMC | Duo de música electrónica Faslane actua este sábado

Antony Sou e Matthew Ho, dos Faslane, acabam de lançar o primeiro disco da sua carreira. “War Broadcasting Service” está repleto de sonoridades da música electrónica que nos remetem para a guerra nos tempos modernos. No Sábado, os Faslane dão um concerto no âmbito do festival This is My City onde o vídeo também será protagonista

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] sala estava às escuras, à espera que os sons acontecessem. Subitamente um vídeo agitou as mentes de quem ali estava a ouvir o concerto de música electrónica que era mais do que isso. O vídeo, cheio de imagens que remetiam para uma nova guerra nuclear, continha uma mensagem. À medida que as imagens se sucediam, os sons iam acontecendo, quase agressivos, sem uma ordem.

Este foi um dos primeiros concertos que o duo electrónico Faslane, de Macau, deu no território, no Café Che Che. O álbum de estreia “War Broadcasting Service” volta a revelar-se ao público no próximo Sábado, num concerto a decorrer no espaço “What’s Up Pop Up” e inserido no festival This is My City (TIMC). Em Shenzen, China, o concerto tem lugar na sexta-feira.

“War Broadcasting Service” não é sobre a época em que o nuclear era uma ameaça real, mas sim sobre uma guerra dos tempos modernos, onde a tecnologia tem o poder de revolucionar.

“Vai ser um concerto de música electrónica com uma onda muito experimental. Neste projecto eu e o Mathew vamos passar sonoridades da música electrónica para criar uma atmosfera de um mundo moderno. Vamos ter uma performance de música e vídeo para o público”, contou Antony Sou ao HM.

O nome do álbum surgiu do momento em que os membros da banda ouviram uma transmissão radiofónica do período da II Guerra Mundial, que o Governo britânico transmitia aos seus cidadãos.

“As sonoridades que colocamos nas músicas estão associadas ao barulho e à distracção. Dá-nos a ideia de estarmos na guerra. Ouvi o programa que o Governo do Reino Unido costumava transmitir aos cidadãos durante a II Guerra Mundial e encontramos algumas semelhanças com aquilo que queríamos fazer”, acrescentou o músico.

O álbum, lançado em Julho, contém apenas três músicas e foi gravado em Macau. “Preparámos este álbum nos últimos dois anos e inclui gravações que eu e o meu parceiros gravámos. Escolhemos as que gostávamos mais. Uma das músicas vamos passar no concerto do TIMC e outras duas gravações são de concertos que demos no passado. Gostaríamos de apresentar o álbum como parte de uma performance em desenvolvimento”, adiantou Antony Sou.

O vídeo que será transmitido será semelhante ao que foi revelado ao público no concerto do Café Che Che. “A música que mostrámos aí era algo violenta, havia barulho e sons que distraíam. Era a nossa visão da música a entrar na realidade, de como as pessoas reagiam às máquinas. É a nossa visão de uma guerra no mundo moderno. Não tem de facto uma mensagem política, é uma visão nossa caso houvesse uma guerra nuclear nos dias de hoje”, explicou o músico.

Do piano para a electrónica

Antony Sou descobriu tarde a música electrónica, mas depressa percebeu que, com ela, podia criar novas sonoridades.

“Cresci a tocar instrumentos acústicos. Aprendi piano em criança e toquei até há cinco anos. Depois descobri a flexibilidade dos instrumentos electrónicos e como me permitem a experimentar sons, em vez de tocar canções mais convencionais.”

“A música electrónica ajuda-me a explorar algumas ideias, efeitos sonoros e como incorporar outros elementos na minha música. Comecei a achar fascinante a possibilidade de poder tocar outras coisas que não a guitarra ou o piano”, acrescentou.

Com meses de existência, a reacção do público ao “War Broadcasting Service” tem sido positiva.

“A reacção ao álbum tem vindo a crescer nos últimos tempos junto de pequenas comunidades. Depois de Agosto demos um concerto na Suíça, em Lausanne, num festival, e também tivemos um feedback positivo da parte dos organizadores do festival e do público.”

Sobre a participação no TIMC, Antony Sou revela-se optimista. “Estou feliz por ter a oportunidade de tocar neste festival e espero que nos dê mais exposição junto do público de Macau”, concluiu.

13 Dez 2017

Udo Kier, actor e vencedor do prémio de carreira: “Se não fosse actor seria jardineiro”

Independentemente do tipo de filme ou do papel, Udo Kier é uma cara conhecida do público. Com 50 anos de carreira e trabalhos feitos em todos os géneros cinematográficos, o carismático actor alemão está no território para receber o prémio de carreira do Festival Internacional de Cinema. Aos jornalistas, Kier falou com boa disposição de alguns dos filmes em que participou, da sua paixão pela jardinagem e da amizade que tem com Lars von Trier

 

É a segunda vez este ano que recebe um prémio de carreira. No ano passado também recebeu alguns. O que é que se está a passar?

Tenho 73 anos e é quando envelhecemos que as pessoas nos dão prémios. É agradável. Se tivesse 100 anos seria mais complicado porque não teria a energia que tenho agora para os receber.

Já participou em centenas de filmes.

É verdade. Já fiz filmes maravilhosos. Aliás já filmei com a filha do Charlie Chaplin e é espantoso porque é muito estranho tocá-la e perceber que estou a trabalhar com a filha do Charlie Chaplin. Continuo a trabalhar muito. Estive na China a trabalhar nuns estudios maravilhosos, a gravar “Iron Sky 3”. Foi muito interessante porque estivemos a trabalhar com actores chineses e o Andy Garcia era a única pessoa que falava inglês ali comigo.

O que achou da experiência no continente?

Os chineses têm uma grande tradição cultural na arte da representação, assim como os japoneses. Foi a minha primeira vez na China. Foi engraçado porque pensava que ía para uma pequena vila chamada Tsingtao e quando lá cheguei vi as construções e os arranha céus e perguntei quantas pessoas vivam ali. Disseram-me que cerca de 10 milhões. Fiquei muito espantado por saber que 10 milhões pode ser a população de uma pequena cidade da China. Foi também uma oportunidade de conhecer a cultura. Andei por lugares realmente mais pequenos e com muitas construções antigas. Gostei muito. Em Macau quero fazer o mesmo. Até agora ainda só vi casinos e espaços maravilhosos e dourados , com água fogo e Frank Sinatra. Mas quero ir às ruinas de São Paulo e sentir a história na minha mão.

Já trabalhou com realizadores como o Wim Wenders, Quentin Tarantino ou von Trier. Como é que é trabalhar com estes nomes?

Cresci na Alemanha. Tive a sorte de conhecer o Fassbinder quando tinha cerca de 16 anos. Depois fui para Inglaterra aprender inglês, Foi lá que fui convidado para a minha primeira participação num filme. Na altura, não queria muito ser actor, mas gostava da atenção que tinha quando as pessoas me encontravam num restaurante e diziam que me tinham visto na tela. Na Alemanha, existiam três grupos, o de Wenders, o de Herzog e o do Fassbinder. Eu estava no grupo do Fassbinder e não estava autorizado a trabalhar com os outros dois. Quando o Fassbinder morreu é que trabalhei tanto com o Wenders como com o Herzog. Mas o Lars é diferente. É um dos meus melhores amigos. Já trabalhamos juntos há 24 anos. Sei as datas porque sou o padrinho da sua filha e ela acabou de fazer 24 anos. Participei em todos os filmes do Lars von Trier e só não vou estar neste último. Mas o Lars já me ligou a dizer que o poster de promoção vai ter em destaque  “sem Udo Kier”. Eu acho óptimo, acabo por ser o centro do póster.

Representa normalmente as personagens estranhas e vilões. Gosta?

Claro que sim. Até porque eu sou um bom tipo. Eu salvo animais e sou jardineiro. Aliás, se não fosse actor seria, sem dúvida, jardineiro. Tenho uma casa linda na Califórnia e sou eu que planto e podo as árvores. Nem uso luvas porque a ideia é estar em contacto com a natureza. Também gosto de cozinhar, especialmente para amigos. Mas depois de fazer estas coisas durante um par de semanas começo a pensar que está na hora de fazer um filme. É assim que os filmes acontecem. Este ano e no ano passado fiz tantos filmes porque achei realmente que eram todos projectos muito bons. Não ando atrás deles. A coisa boa nisto é que a internet sabe mais de mim do que eu próprio. Já fiz mais de 200 filmes. Digo sempre que, desses 200, 100 são maus, 50 até podem ser apreciados se se estiver a beber um copo de bom vinho tinto, e 50 são bons. Quando podemos, como actores, dizer que fizemos 50 bons filmes, podemos sentirmo-nos muito bem. Trabalho com muito realizadores que nem conseguem fazer maus filmes. Gus Van Sant não consegue fazer um filme mau, Herzong também não. Podem fazer filmes que as pessoas não gostem, mas não são filmes maus. Eles sabem bem que andam a fazer. Também trabalho com realizadores que me esqueço do nome de propósito e faço filmes que nunca vejo.

Podemos encontrar o seu nome a representar todo o tipo de papéis em todo o tipo de filmes. Como é que selecciona os seus trabalhos?

Isso é mais uma coisa boa da internet. Quando me chega um guião é muito fácil ter informação adicional. Se for de um realizador que eu nunca tenha ouvido falar, vou ao IMBD e vejo logo que filmes fez e com quem. Tenho agora um filme em competição em Berlim de uma realizadora italiana em que isso aconteceu. Leio o guião, sei quem o fez. Depois leio apenas a minha parte do guião. Depois leio o guião sem a minha parte. Se decidir que o filme é bom sem mim e sem o meu papel não vejo razão para o fazer. Por vezes não é o tamanho ou o protagonismo do papel que fazemos, mas sim o seu interesse. Por exemplo, quando fiz o “Melancolia” com Lars von Trier, o Lars disse-me para improvisar uma cena em que tinha de pensar como seria entrar numa sala e não querer ver a Kirsten. Ficou toda a gente a olhar para mim e eu levantei a mão e disse que a poria em frente da cara. Acabei por fazer essa cena e quando o filme esteve em Cannes, aquele movimento de mão foi o gesto que ficou memorizado no público. O que fica por vezes são detalhes e o que importa para mim enquanto actor é perceber de que forma posso tornar algumas situações interessantes e mesmo únicas, o que se pode fazer com pequenos papéis. Enfim, gosto e ser actor. Um dia terei de parar. Sou uma pessoa muito realista e já tenho 73 anos. Penso que tenho mais sete bons anos pela frente até aos 80. Quando começamos a fazer filmes queremos filmar uma data deles ao mesmo tempo para experimentar tudo. Agora é muito diferente. Acho que já não represento, sou só eu, um texto e uma situação. Não tenho este tipo de sentimento forte que me in duza a ter de fazer alguma coisa. Nunca senti que queria trabalhar em especial com um realizador nem nunca me dirigi a nenhum para o fazer. Imaginem que chego perto do David Lynch e digo que quero trabalhar com ele e ele me responde “quem não quer”? iria sentir-me terrivelmente. (Risos). Os realizadores conhecem-me e se quiserem trabalhar comigo sabem como me encontrar.

A sua carreira ascendeu com isso mesmo. Com um encontro com Paul Morrissey.

Paul Morrissey descobriu-me. Estava a viajar de Roma para Munique e tinha um homem sentado ao meu lado, americano. Como todos os americanos perguntou-me logo o que é que eu fazia. Respondi que era actor e entreguei-lhe a minha foto de apresentação. Ele disse que era interessante e pediu-me o número, que escreveu na última página do passaporte. Até pensei que deveria ser importante para ele e acabei por lhe perguntar também o que fazia. Ele disse-me que era realizador, que trabalhava para Andy Warhol e que se chamava Paul Morrisey. Umas semanas depois recebi um telefonema dele a dizer que estava a fazer o Frankenstein e que tinha um pequeno papel para mim. Pensei que ele era maluco e que estava a brincar. Mas foi engraçado que pouco tempo depois ele veio a Munique para o lançamento de um filme e convidou-me para assistir a uma conferência de imprensa. Eu estava lá sentado num lugar qualquer e quando lhe perguntaram quem seria o Frankenstein ele apontou para mim e disse, Mr Kier. Toda a sala mudou. O mesmo acabou por acontecer com o filme seguinte, o Drácula. Estávamos a filmar o Frankenstein e no último dia estava naquelas festas do Warhol. Estava lá o Fellini, e uma data de gente, todos muito altos e com peitos muito grandes. E eu estava ali, como Dr. Frankenstein triste por ver terminados os meus 15 minutos de fama. Paul Morrissey apareceu e disse: “acho que vamos ter um drácula alemão”. Era eu, mas tinha de perder muito peso numa semana. Disse que não havia problema e não comi mais do que folhas verdes e água. Aliás, o drácula acaba por aparecer numa cadeira de rodas porque eu não tinha força para me levantar e ficar de pé. Com estes dois filmes acabei por ser abordado por toda a imprensa e aqueles papéis acabaram por se tornar clássicos. Dali passei para uma outra fase mas o Paul Morrisey foi muito importante para mim.

E como é que foi o encontro com von Trier?

Tinha visto o primeiro filme do Lars von Trier, “Element of crime” e queria mesmo conhecer a pessoa que tinha feito aquele filme. Consegui ter um encontro agendado. Estava à espera de alguém como o Kubrick ou o Fassbinder, que me aparecesse vestido de preto, a coçar-se todo e de mau humor. Apareceu-me um jovem que parecia um estudante. Era Lars von Trier. Conversámos e umas semanas depois ele ligou-me a dizer que estava a fazer “Medea” e queria que fizesse um dos protagonistas, o marido de Medea. Eu disse que não tinha aspecto de viking ou de rei. Ele respondeu-me para não fazer mais a barba nem lavar o cabelo, durante um mês e para depois ir ter com ele à Dinamarca para ser apresentado e “vendido” ao produtor. Foi o que fiz. Fiquei muito estranho e na viagem ía a cheirar muito mal. Mas acho que não há problema quando se cheira mal em classe executiva. Ninguém se importa e se calhar até pensam que é um novo perfume. Fiz este filme e acabei por participar em todos os filmes à excepção do mais recente.

Porque é que não está neste?

Penso que terão sido os produtores a dizer que não me queriam por estar em todos os filmes.

Lars von Trier é conhecido por não ser uma pessoa fácil. Da sua experiência, como é trabalhar com von Trier? 

Antes de mais, ele não gosta de actores. A sua deixa preferida para os actores é “não representem” e toda a gente quer trabalhar com ele. Por exemplo em “Dogville” todos ganhámos o mesmo ordenado, ou seja, quase nada, todos dormimos no mesmo quarto e comemos na mesma mesa, a equipa toda, desde o responsável pelo bengaleiro à Nicole Kidman. E todos estávamos felizes por estarmos a trabalhar com um excelente realizador. Ele não é uma pessoa difícil de todo. A Bjork não gosta dele, mas a verdade é que ganhou a Palma em Cannes com “Dancer in the dark” e que será a sua primeira e única. Noamy Watson teve a sua primeira nomeação para os óscares com um filme de Trier. Diria que von Trier é melhor a dirigir mulheres do que homens. Alguns realizadores conseguem transmitir o que querem melhor às mulheres.

Lamenta algum papel que tenha recusado? 

Não.

Quando é reconhecido na rua, qual é a personagem que mais lhe associam?

Na América é com Blade, o vampiro e a geração anterior era do drácula ou o Frankenstein. Na Europa é em Pet Dectetive.

Como é que aprendeu a representar?

Nunca estive numa escola de actores. Criei-me a mim mesmo. Observei pessoas e depois trabalhei com actores muito bons. Observava-os e tinha realizadores talentosos. Pode-se aprender a técnica, mas não o talento. Esse, ou se tem ou não se tem.

13 Dez 2017

Aniversário | Art For All Society nasceu há dez anos

Começam hoje as celebrações do décimo aniversário da associação Art For All Society, que visa promover o trabalho de vários artistas locais. A AFA já esteve em Pequim, fechou portas, e agora gostava de ter uma representação em Hong Kong. Alice Kok, presidente, e José Drummond, um dos fundadores, recordam o momento em que um grupo de pessoas se juntou para debater ideias sobre o panorama artístico local

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todas as casas que a AFA – Art for All Society já teve, aquela que estava junto às Ruínas de São Paulo foi a primeira. Um dia, artistas como Konstantin Bessmertny, José Drummond, Carlos Marreiros ou Alice Kok reuniram-se para discutir ideias que dariam origem a um novo movimento de revelação de novos artistas junto do público.

Dez anos depois, a AFA prepara-se para celebrar a sua curta existência com uma exposição, uma palestra e um documentário. A história de algo embrionário conta-se com frames, imagens, palavras.

“Hoje será a exposição do aniversário dos 10 anos e depois haverá uma palestra na quarta-feira. Na quinta-feira será transmitido um documentário sobre os artistas que nos têm acompanhado. O objectivo é olhar para aquilo que temos feito nos últimos dez anos, o que fizemos ou não fizemos, numa espécie de reflexão”, contou Alice Kok ao HM.

A palestra visa ser um espaço de debate sobre o estado actual do panorama artístico. “Convidámos outras galerias de arte ou gestores de espaços de arte para discutirmos os desafios e os problemas que enfrentamos quando tentamos manter associações de arte ou outros negócios em Macau”, explicou Alice Kok.

Já o documentário coloca os artistas a falarem do seu próprio trabalho. “É uma forma de olharmos para trás, para aquilo que temos vindo a fazer e deixar os artistas falar do seu trabalho em frente à câmara, para que o público possa compreender melhor o que é a profissão e o que significa ser artista”, contou a presidente da AFA.

A ausência de coleccionadores

Quando convidámos José Drummond a recordar o início de uma jornada, o artistas apenas disse que, no fundo, o tempo passa demasiado rápido sem darmos por isso.

“É a prova de que a vida passa muito rápido. Parece que foi ontem que estávamos todos numa sala ao pé das Ruínas de São Paulo, onde foi a primeira AFA, a debater ideias e a falar sobre as primeiras exposições. E já passaram dez anos e a AFA esteve em tantos espaços. A participação da AFA no meio artístico local continua a ser muito importante”, frisou.

Drummond considera que, quando a AFA nasceu, faltavam em Macau coleccionadores de arte, algo que não mudou com o passar dos anos.

“Há dez anos não havia tantos coleccionadores, mas isso não quer dizer que as coisas estejam melhores. Podem haver mais coleccionadores de arte não acho que, no geral, isso seja significativo, pois a vida encareceu muito mais. Os artistas que continuam a ambicionar viver do trabalho de artista plástico é quase impossível em Macau. A luta continua a ser muita nesse sentido.”

A luta pela estabilidade

Além da falta de coleccionadores que invistam em arte local, tem faltado o factor estabilidade.

“Quando fechámos a nossa galeria em Pequim decidimos concentrar-nos em Macau. Não conseguíamos estar lá pessoalmente e era difícil gerir uma galeria de arte à distância. Por isso ficamos no Macau Art Garden, no centro da cidade. Temos sido bem sucedidos, mas estamos no início, pois temos sido obrigados a mudar-nos a cada dois anos. Nos últimos dez anos mudámo-nos cerca de cinco vezes”, recordou Alice Kok.

Além de garantir a estabilidade no espaço Macau Art Garden, a presidente da AFA confessa que há o desejo de criar uma representação da associação em Hong Kong.

“Queremos garantir a nossa presença aqui de uma forma permanente. Para o futuro queremos primeiro garantir uma estabilidade e depois vamos procurar mostrar o trabalho dos nossos artistas lá fora. Gostaríamos de ir para Hong Kong, mas ainda não fomos à procura de nenhum espaço”, disse.

Dez anos depois, o pessimismo

Anos e anos de exposições depois, Alice Kok considera que continua a faltar uma educação das pessoas para aquilo que é arte.

“Precisamos de fazer mais em prol da educação artística, não só dos próprios artistas mas também do público. Vimos um grande progresso em termos de arte no espaço público, mas a maior parte das pessoas de Macau não sabem muito bem aquilo que está a ser feito. Queremos encorajar mais estudantes para que saibam mais sobre arte.”

José Drummond tem uma visão mais pessimista do mercado artístico. Não só os artistas não são arrojados como no passado como há uma visão mais comercial daquilo que está a ser feito.

“Já tive mais esperanças no futuro da arte de Macau do que tenho hoje em dia. Vejo que há uma direcção nitidamente comercial no seio dos nossos artistas e há uma grande confusão sobre aquilo que é arte. Quem recebe apoio mais directo são coisas que são tradicionais demais. Questiono-me muitas vezes se aquilo é arte contemporânea, porque aquilo já foi feito nos anos 50 do século XX. Se os artistas não tiverem coragem para romper com isso…”, lamentou.

Nem o modelo das feiras de arte em hotéis, como se tem visto muito nos últimos tempos, funciona, segundo o artista e designer.

“Apesar de ser interessante ter feiras de arte em hotéis, a verdade é que ainda não revelaram nada de novo. Será que é importante venderem meia dúzia de obras?”, questionou.

“Houve uma tendência para se comercializar demasiado o trabalho e este aparece muitas vezes como um trabalho decorativo. Nesse aspecto sinto que Macau regrediu um bocado. Muitas vezes os artistas não arriscam tanto como os da minha geração, em termos de ideias, de suporte. Há uma aderência ao suporte pictórico que é demasiado tradicional e não define em nada a arte contemporânea.”

Para José Drummond, na China já se inova mais. Lá, no continente, “os artistas contemporâneos trabalham em todos os media”. “Essa tendência [em Macau] teve a ver muito com as indústrias culturais, em que se quis vender, e com isso tem de se fazer pintura, e com um determinado tamanho. Acho isso muito perigoso, e não vejo pessoas a arriscar.”

Da ausência de auto-crítica

Além do panorama da subsídio-dependência, José Drummond lamenta que, dez anos depois, não haja historiadores de arte, curadores e críticos de arte independentes dos artistas.

“Não há história de arte, não há curadores, e estes são, na maior parte, os artistas, à excepção de uma ou outra pessoa que está no Museu de Arte de Macau. Como não temos estes factores de dinamismo e de auto-crítica, parece que nunca há espaço para vingar fora de portas.”

José Drummond frisa que os poucos casos de artistas que conseguem expor lá fora fazem-no porque alguém de fora de Macau reparou neles. “São curadores de Hong Kong ou da China que estão interessados. Esse input acontece de fora para dentro e não de dentro para fora, o que seria mais lógico. Há coisas que não estão a funcionar, não sei quais são as fórmulas, pois já foram tentadas várias e não funcionaram. Mas tem a ver com a pouca auto-crítica e não há pessoas a escrever. Criámos uma bolha sem identidade e isso é preocupante.”

12 Dez 2017

Fundação Oriente | Duas jornalistas partilham prémio de reportagem

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma reportagem escrita e outra televisiva ganharam o prémio Macau Reportagem, da Fundação Oriente, que distingue anualmente o melhor trabalho sobre Macau, nas vertentes cultural e socioeconómica, foi ontem anunciado.

Os cinco elementos do júri decidiram atribuir por unanimidade o prémio a Catarina Vaz, da Teledifusão de Macau (TDM), pela reportagem “O ar que respiramos”, e a Fátima Almeida, com o trabalho “Esquecidos num canto da cidade – um pátio à moda antiga onde chega a mocidade”, publicado no jornal Tribuna de Macau e feito com a colaboração de Viviana Chan, na tradução, também jornalista do diário.

“Ambos os trabalhos tratam temas de clara actualidade, no plano local. Ambos descrevem uma realidade de Macau com recurso a meios diferentes – televisivo e imprensa escrita – possuindo qualidade técnica e reflectindo um trabalho de investigação e elaboração cuidada”, considerou o júri.

O prémio, no valor cinquenta mil patacas, será dividido pelas duas premiadas e entregue a 11 de Janeiro próximo, na delegação da Fundação Oriente em Macau.

Catarina Vaz trabalhou 17 anos na RTP, em Lisboa, antes de entrar em 2014 na redacção portuguesa do Canal Macau, da TDM. Fátima Almeida escreveu para o Tribuna de Macau por mais de seis anos e actualmente dá aulas de português e inglês na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

Em 2017, concorreram ao prémio 11 jornalistas, com 13 trabalhos, divulgados em órgãos de comunicação social da Região Administrativa Especial e de Portugal.

A delegação da Fundação Oriente em Macau aceita, até final de Janeiro, candidaturas à nona edição do Prémio Macau Reportagem, aberto apenas a jornalistas actualmente residentes no território ou com percurso profissional mínimo de três anos de presença em Macau, independentemente da nacionalidade ou da língua de trabalho dos candidatos.

12 Dez 2017