Lusofonia | Semana Cultural decorre de 14 a 22 de Outubro

Concertos no anfiteatro Casas-Museu da Taipa e a participação, pela primeira vez, na Exposição de Produtos e Serviços de Língua Portuguesa e na Feira Internacional de Macau. Eis as novidades da 9ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 150 artistas vão participar entre 14 e 22 de Outubro na nona Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, que volta a juntar teatro, gastronomia, arte contemporânea, dança e música de vários continentes.

Esta é uma iniciativa que se realiza em Macau desde 2008. Pela primeira vez, os artistas convidados participam também na Exposição de Produtos e Serviços de Língua Portuguesa (PLPEX) e na Feira Internacional de Macau (MIF).

O cartaz deste ano inclui concertos no Largo do Senado, no coração de Macau, de grupos e artistas de Portugal (Diogo Piçarra), Cabo Verde (Trio Hélio Batalha, Sílvia Medina e Ellah Barbosa), Angola (Yola Semedo), Timor-Leste (Solution Band), Goa, Damão e Diu (True Blue), Moçambique (Os Kassimbos), Brasil (Rastapé), Guiné-Bissau (Klim Mota), São Tomé e Príncipe (Haylton Dias) e China (Grupo de Música e Dança da Província de Guagxi).

Além de subirem ao palco no Largo do Senado, os artistas vão actuar no Festival da Lusofonia, a decorrer entre 19 e 22 de Outubro nas Casas-Museu da Taipa.

Teatro de regresso

Além da música, a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa de Macau volta a ter uma mostra de teatro de países e territórios lusófonos pelo quarto ano consecutivo.

A mostra de teatro integra quatro companhias de países lusófonos, incluindo Portugal, e uma de Macau.

Assim, entre 14 e 19 de Outubro, o grupo local Hiu Kok Theatre marca presença com a peça “O cuco da noite escura”, o Grupo de Teatro Girassol (Moçambique) leva ao palco “Nkatikuloni (A outra)”, a companhia Nómada – Art & Public Space vai representar “Solange, uma conversa de cabeleireiro”, o grupo Nós Por Cá (São Tomé e Príncipe) leva à cena “Feitiçaria”, e a Arte Naroman (Timor-Leste) apresenta “Nahe Biti”.

Esta semana cultural integra ainda uma vertente de exposições de arte contemporânea de artistas de Moçambique (Pekiwa, escultura), São Tomé e Príncipe (Guilherme Vaz de Carvalho, pintura) e Macau (Filipe Dores, artes plásticas) e uma exposição de animação do artista plástico e cineasta brasileiro Alê Abreu relacionada com o seu filme “O Menino e o Mundo”, que também será exibido em Macau.

As exposições vão decorrer entre 14 de Outubro e 12 de Novembro, no edifício do antigo tribunal, na Galeria de Exposições da Avenida da Praia, na Casa de Nostalgia da Avenida da Praia e na residência do cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

A mostra de artesanato poderá ser vista na Feira do Carmo e a mostra de gastronomia “Sabores do Mundo” decorrerá num restaurante da Torre de Macau e também no espaço onde vai decorrer o Festival da Lusofonia.

Este ano estão convidados ‘chefs’ de cozinha de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Goa, Damão e Diu e Macau.

A Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa é organizada pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), sendo co-organizadores o Instituto Cultural de Macau e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais da cidade. Conta ainda com a colaboração das associações das comunidades lusófonas que existem em Macau.

Orçamento de milhões

A nona edição da Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa tem um orçamento semelhante ao do ano passado, na ordem de 8,8 milhões de patacas, disse, na apresentação à imprensa, Echo Chan, secretária-geral adjunta do Secretariado Permanente do Fórum Macau.

Eco Chan disse que as actividades desta semana cultural articulam-se com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” promovida pelo Governo central e destacou a importância de “reforçar o intercâmbio cultural” entre os países e territórios participantes.

“Espero que através desta semana cultural possam mostrar a sua cultura”, acrescentou.

5 Out 2017

Photo Macau | Evento vai decorrer em Março de 2018

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 60 galerias internacionais de arte e fotografia vão participar na primeira edição da feira Photo Macau, que vai decorrer entre 25 e 28 de Março do próximo ano, anunciou a organização.

“No coração da cena artística e cultural da Ásia, que está a crescer rapidamente, a nossa feira de fotografia de arte contemporânea reunirá talentos asiáticos e de outras paragens para promover e celebrar a fotografia e a arte em vídeo, que estão rapidamente a ganhar reconhecimento na região”, afirmou, em comunicado, a directora executiva da feira, Cecilia Ho.

A responsável destacou que a Photo Macau vai decorrer num local “com uma tradição chinesa e portuguesa única”, afirmando que a feira de arte “é dedicada à fotografia artística e às imagens em movimento, apresentando arte visual, digital e impressa numa das economias asiáticas em maior crescimento”.

Segundo a organização, a cargo da Red Balloon, o certame vai “destacar um país diferente a cada ano, celebrando a fotografia e as imagens em movimento dessa nação, e a sua contribuição para o mundo das artes”.

“Nesta primeira edição, a atenção recai sobre Istambul, com a curadoria de Nina Öger, colecionadora, patrona das artes e especialista em arte turca”.

5 Out 2017

Cultura | Festival da América Latina arranca esta sexta-feira

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xposições, gastronomia, cinema. São vários os ingredientes que compõem a edição desta ano do Festival da América Latina, que começa na sexta-feira e termina a 5 de Novembro. A organização está a cargo da Associação para a Promoção do Intercâmbio entre a região Ásia-Pacífico e América Latina (MAPEAL, na sigla inglesa).

O evento começa com a inauguração de uma exposição intitulada “Arquitectura latino-americana”, que estará patente na Torre de Macau até ao dia 15 deste mês. O mesmo evento poderá ser visto, de 15 de Outubro até 1 de Novembro, na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST).

Segue-se, no Sábado, dia 7, uma mostra de cozinha do Chile no restaurante Tromba Rija, localizado no rés-do-chão da Torre de Macau. Haverá também uma demonstração da gastronomia natural do Peru, no mesmo local, no dia 10 de Outubro.

Na segunda-feira, dia 9 de Outubro, arranca a exibição de filmes oriundos de países latino-americanos, como é o caso do Brasil, Equador ou Argentina. Até ao dia 31 de Outubro, as películas poderão ser vistas em locais distintos, como é o caso da MUST ou da Fundação Rui Cunha.

A partir de terça-feira, 10 de Outubro, haverá também lugar à realização de seminários destinados a abordar a cultura de cada país da América do Sul. Os representantes consulares de países como Cuba, Brasil ou Peru em Macau e Hong Kong vão ser os principais oradores destes encontros, que terão lugar na MUST e na Universidade de Macau.

Na área da fotografia, a Torre de Macau vai também acolher uma exposição intitulada “A memória do Peru: 1890-1950”, que estará disponível para a visita do público até ao dia 22 de Outubro.

A agenda do Festival da América Latina dará ainda destaque à realização da Semana de Gastronomia do Chile, de 7 a 12 de Outubro, sem esquecer as semanas da gastronomia do Equador e Argentina. Estas iniciativas terão lugar nos restaurantes Tromba Rija e Café 360º, ambos localizados na Torre de Macau. O programa completo está disponível em https://www.latinamericanfestival.org

5 Out 2017

Armazém do Boi abre portas em 2018

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já a partir do dia 1 de Outubro, domingo, que o espaço cultural Armazém do Boi estará fechado ao público, “a fim de melhorar as suas condições em prol das suas operações futuras”, anuncia o Instituto Cultural (IC) em comunicado. O IC prevê que o Armazém do Boi volte a funcionar na segunda metade de 2018.

Vão ser feitos “trabalhos de reparação em todo o Armazém, incluindo a reparação de todo o telhado, paredes externas e internas e sua impermeabilização, trabalhos de drenagem e a substituição e recuperação do chão, janelas e portas”.

Quanto ao concurso público, o IC deseja que “todas as associações artísticas locais interessadas em promover as artes visuais e o desenvolvimento das artes comunitárias” possam submeter as suas propostas para a utilização do espaço.

A ideia é que se possa criar “um novo método cooperativo para encorajar a participação e actividade das associações civis, a fim de revelar a diversidade do panorama artístico de Macau”.

Outras paragens

Localizado na Avenida do Almirante Lacerda, o antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino e Canil Municipal de Macau foi classificado em 2017 como edifício de interesse arquitectónico. O edifício do antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino foi construído em 1912 e reconstruído em 1924, sendo composto por dois edifícios paralelos com a tipologia de grandes armazéns, um dos quais (actualmente conhecido por Armazém do Boi) passou a ser usado como espaço expositivo em 2003 e passou a estar sob a égide do IC em 2016.

No ano passado, durante uma vistoria ao edifício, foram detectados alguns riscos de segurança causados pelo envelhecimento e degradação do mesmo, explica o IC.

A associação que actualmente está no Armazém do Boi teve de sair, mas segundo explicou a sua responsável, Gigi Lee, ao HM, a ideia é continuarem o trabalho que têm vindo a desenvolver.

“Saímos das instalações e vamos trabalhar com as pessoas ou trazemos a comunidade para integrar as nossas actividades. É um trabalho muito interessante e que merece ter continuidade.”

29 Set 2017

Música | FIMM dá espaço aos jovens do território com “Bravo Macau!”

Um dos primeiros destaques do arranque do Festival Internacional de Música de Macau é a promoção de jovens talentos locais na área da música clássica. No sábado arranca a primeira de duas edições do “Bravo Macau!” onde o palco será dado às novas esperanças da cidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s ideias por detrás do programa “Bravo Macau!” é dar a conhecer o desenvolvimento da música clássica local e mostrar o talento dos jovens que dão os primeiros passos no mundo musical. O primeiro concerto do 31º Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) no âmbito deste ciclo de concertos acontece amanhã, às 20h, no Teatro Dom Pedro V.

A violinista Lo Cheng Io, a pianista Suiong Wong, a harpista Leong Cheok Wun e o violoncelista Ho Chun sobem ao palco da histórica sala para interpretar composições de Brahms, Saint-Saens e Schubert.

Lo Cheng Io é uma adolescente de 16 anos apaixonada pelo violino desde os seis anos de idade. Quanto completou 13 anos ganhou o primeiro prémio na Competição de Jovens Músicos de Macau e em 2014 arrebatou o prémio do Departamento de Assunto Culturais. Com um futuro promissor pela frente, Lo Cheng Io fez-se ao mundo e foi estudar para a Escola de Música de Manhattan onde aprofundou a técnica de violino sob orientação do Professor Nicholas Mann.

Outra das estrelas que actua amanhã é Suing Wong, uma pianista que tem um mestrado em performance de piano da New York University. Actualmente, Suing Wong é professora de música no Estado do Vermont e faz frequentemente tournées de concertos de piano.

Segundo acto

No domingo realiza-se outro concerto do “Bravo Macau!”, com a subida ao palco do Teatro Dom Pedro V, às 20h, da harpista Leong Cheok Wun e do violoncelista Ho Chun, que apresentam os seus dotes musicais numa noite dedicada às cordas.

Os jovens vão atacar obras compostas por Bach, Ravel, Takemitsu, Glass, Schumann, Dvorak e Prokofiev.

Leong Cheok Wun é harpista da Orquestra Sinfónica de Guangzhou e professora de harpa no Conservatório de Macau e figura entre o naipe de talentos locais que beneficia do Programa de Concessão de Subsídios para Estudos Artísticos e Culturais do Instituto Cultural.

Ho Chun é um dos membros da Orquestra da Universidade de Música e Artes Performativas de Gratz e participou em digressões com a Orquestra de Macau e a Orquestra Chinesa de Macau a Portugal e outros países da Europa como músico convidado. Ganhou numerosos prémios no Concurso para Jovens Músicos de Macau e no Concurso de Violoncelo China Egeu, tendo ainda vencido o Prémio Lótus da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude de Macau.

29 Set 2017

Pintura | Ip Son Hou expõe no Centro UNESCO de Macau

A exposição de pintura “Flor e Pássaro, Montanha e Água”, de Ip Son Hou, é inaugurada amanhã na Sala de Exposições do Centro UNESCO de Macau. A mostra de trabalhos do artista local integra o ciclo “Projecto de Promoção de Artistas de Macau” e estará patente até 11 de Outubro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] natureza tem sido, desde tempos imemoriais, uma das primordiais fontes de inspiração para as mais variadas expressões artísticas. Ip Son Hou não é uma excepção a esta regra. Nesse sentido, a Sala de Exposições do Centro UNESCO de Macau recebe a partir de amanhã a exposição “Flor e Pássaro, Montanha e Água”, do artista local. A inauguração está marcada para o final da tarde, às 18h30, hora em que o público pode passear pelas 65 obras seleccionadas pelo pintor. A cerimónia marca o início da exposição que estará patente até 11 de Outubro, e que será palco do lançamento de uma publicação com o mesmo título da mostra.

As obras exibidas têm como cenário ambientes montanhosos e aquáticos que representam o percurso artístico do autor nos últimos anos e são também atmosferas estéticas conducente com os traços de Ip Son Hou.

O pintor local é o tipo de criador que busca recorrentemente inspiração em contextos de paisagens naturais, tendo ultimamente encontrado nas representações de flores e pássaros uma forma de se expressar. Um percurso que faz sentido, tendo em conta que Ip Son Hou tem ao longo da sua carreira como artista revelado uma propensão para pintar obras onde a vida ocupa o papel principal.

Discípulo e mestres

Ip Son Hou nasceu em Cantão há 60 anos e é um nome recorrente em mostras de pintura locais, daí não seja de estranhar que tenha sido seleccionado para a Exposição Colectiva dos Aristas de Macau. Em 1996 foi um dos protagonistas de uma mostra itinerante que percorreu várias cidades de Taiwan. Em 2013 esteve em destaque na Exposição Individual de Pintura de Flores e Pássaros na Galeria do Restaurante Plaza.

Ip Son Hou começou a sua formação em pintura com tenra idade. Aprendeu a fazer esboços com o Professor Chen Yinghen, uma técnica fundadora para o que se seguiria. Prosseguiu os estudos de expressão plástica sob a batuta do Professor Liu Renyi com quem aprendeu técnicas de pintura chinesa de flores, enquanto que as representações de pássaros foi um conhecimento que adquiriu com os professores Cai Jingxiang e Guan Haoquan.

O artista tinha o hábito de pintar flores nos parques de Guangzhou quando vivia na capital da província de Guangdong. Quando se mudou para Macau começou a trabalhar como técnico de desenho artístico em fábricas de móveis, uma ocupação que mantém há uma década.

Actualmente é membro da Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau e da Associação de Sinetes de Macau, secretário-geral da Associação de Arte a

Tinta de Macau bem como presidente da direcção da Associação de Caligrafia de Deleite (Macau). Uma acumulação de cargos que não lhe rouba tempo suficiente para continuar a deixar-se encantar com cenários naturais e a pintar o que vê.

28 Set 2017

Albergue SCM | “Lanternas do Coelhinho” voltam a marcar Celebração da Lua

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]bre ao público no dia 4 de Outubro um clássico do Albergue SCM: a Exposição “Lanternas do Coelhinho” – Uma Exposição de Carlos Marreiros e Amigos, um evento que já vai na 13ª edição.

A inauguração será acompanhada pela festa de Celebração da Lua que decorre entre as 18:30h e as 21:30h, onde vão ser servidas comidas e bebidas, e distribuídas caixas de oferendas (reservadas às primeiras 300 pessoas). O evento será musicado por um concerto de música chinesa, assim como com a actuação da Tuna Macaense a fechar a festa. Haverá ainda demonstração de caligrafia chinesa, distribuição de lanternas do coelhinho e balões a crianças e jogos de enigmas para entreter os participantes.

A exposição insere-se na celebração do 68º aniversário da República Popular da China e este ano reúne lanternas criadas por 26 artistas e designers de várias partes do mundo. Além disso, serão ainda expostos trabalhos de estudantes do “Workshop de Lanternas Criativas de Macau”.

O Festival de Meio-Outono tem origem na veneração aos Deuses da Montanha, que era feita findas as colheitas, um dos momentos chave da mitologia chinesa. A festividade ganhou popularidade durante das dinastias Ming e Qing, tornando-se um dos momentos de celebração incontornáveis na cultura do Interior da China.

A exposição estará patente ao público de 4 de Outubro a 6 de Dezembro de 2017, na galeria A2 do Albergue SCM.

27 Set 2017

Concerto | FIMM traz a Macau jovens estrelas da música mundial

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cartaz deste ano do Festival Internacional de Música de Macau está repleto de jovens talentos. Entre eles destaque para o pianista russo Lukas Geniusas, para a cantora norte-americana Jazzmeia Horn e para o artesão do vibrafone El Fog. O HM apresenta-lhe as propostas mais frescas do festival que arranca esta sexta-feira

As revoluções musicais foram, quase sempre, protagonizadas por sangue novo que rompe com velhos conceitos. O Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) tem no seu cartaz uma panóplia de jovens valores dos mais variados quadrantes musicais.

Além do programa “Bravo Macao!” que tem como objectivo ser uma rampa de lançamento para os novatos talentos locais, destaque para o espectáculo de Masayoshi Fujita, o japonês sedeado em Berlim que em palco dá pelo nome de El Fog. Este é um dos destaques mais contemporâneos num cartaz pontuado pela música clássica. O músico experimental sobe ao palco do Antigo Tribunal no dia 13 de Outubro, para uma performance que leva o espectador numa viagem subtil a um mundo íntimo do vibrafone.

Com uma gama de influências que vão do jazz à electrónica, El Fog é dono de um som evocativo e onírico para ouvir, preferencialmente, de olhos fechados.

Num registo mais clássico, Lukas Geniusas apresenta o seu virtuosismo ao piano no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) no dia 27 de Outubro. O música russo/lituano irá interpretar um repertório com composições de Chopin, Ravel e Prokofiev.

Oriundo de uma família de músicos, Lukas Geniusas começou a estudar piano aos cinco anos, impulsionado pela sua avó, uma professora do Conservatório de Moscovo.

Voz de poder

Num registo totalmente diferente, o cartaz do FIMM oferece ao público uma prenda de inestimável valor: a voz de veludo de Jazzmeia Horn, cantora norte-americana de jazz.

Com apenas um disco na bagagem editado este ano, “A Social Call”, Jazzmeia Horn tem granjeado os elogios da crítica que vêm na cantora uma sucessora de  Betty Carter, Sarah Vaughan e Nancy Wilson.

A jovem de apenas 26 anos é daqueles fenómenos de tem no palco o seu habitat natural. Dotada de uma voz com grande amplitude, a cantora promete deliciar os melómanos no dia 29 de Outubro num concerto ao vivo na Fortaleza do Monte.

Dois dias antes, a norte-americana dará um workshop na Fundação Rui Cunha onde os apreciadores do jazz cantado podem experimentar a prática da improvisação, assim como outras técnicas de interacção entre instrumentos e voz.

27 Set 2017

Evandro Teixeira, fotojornalista: “Os políticos no Brasil são vergonhosos”

Evandro Teixeira esteve onde poucos conseguiram. Subiu nos palanques, fotografou a ditadura militar e captou o exacto momento em que um jovem cai no chão para morrer logo a seguir. A sua lente registou a febre do futebol no Maracanã, a pobreza das favelas, as visitas oficiais. São 81 anos de vida, 50 anos de carreira. Chegou a ser preso, mas nunca pensou em desistir: afinal de contas, o único fotojornalista que fotografou o corpo de Pablo Neruda numa maca de hospital sempre trabalhou por paixão. Até amanhã as suas imagens estão no Clube Militar, na exposição “Introspecção”, uma iniciativa da Associação de Fotografia Digital de Macau

[dropcap]A[/dropcap]ntes de falarmos das histórias por detrás das imagens, perguntava-lhe como surgiu a oportunidade de fazer esta exposição aqui em Macau.
Veja bem: o ano passado estive na China três vezes, onde fiz algumas exposições. E conheci o curador desta exposição numa dessas viagens. Aí ele perguntou-me se eu gostaria de fazer a exposição aqui em Macau. Foi muito curioso e gratificante estar aqui para ver a exposição porque em 1995 estive aqui, acompanhando a comitiva presidencial de Fernando Henrique Cardoso. Mudou muita coisa, mudou radicalmente.

Quase tudo.
Sim. Eu viajo muito, já expus no mundo inteiro – França, Alemanha, Suiça, sei lá mais onde. Tenho dez livros publicados sobre fotografia, todos esgotados. Trabalhei durante 47 anos no maior jornal do país [Jornal do Brasil], que fechou em 2010. E aí parei. O que faço hoje é dar palestras no Brasil e fora também, e faço workshops. Continuo a fotografar muito.

O ponto mais alto desta exposição serão as imagens que captou durante o período da Ditadura Militar. Como foi fotografar quando havia censura no país?
O Jornal do Brasil teve uma actuação muito grande durante o período da ditadura. Sempre fiz tudo por prazer, e como era contra a ditadura, a minha maneira de brigar com os militares era fotografando. Subir no palanque para fotografar. O Jornal do Brasil foi contra a ditadura e pagou caro por isso. Chegou a fechar. Há uma foto ali, e por causa dela eu fui preso. O jornal era muito inteligente e fazia frases irónicas. E o Governo não gostava. Muitos foram presos, caçados, intelectuais, muitos mortos. Com uma das fotos, no dia seguinte o Presidente me mandou chamar para estar presente no palácio. E aí ele me disse “como ousa publicar uma merda destas na primeira página, e o Presidente tão pequeno ficou lá atrás?”. E eu ri, pedi desculpa e disse que era uma questão de edição. E ele me respondeu “edição é a filha da p…” e me mandou prender. Quando os jornalistas não eram pegos na rua, e quando se publicava algo que os militares não gostavam, acontecia isso.

Desse período tem também uma foto rara de uma marcha que foi feita em 1978.
Estava ao lado do Vladimir Palmeira [político brasileiro] fotografando, e quando vi aquela faixa [que dizia “Abaixo a ditadura – poder ao povo], cliquei. No jornal seleccionamos aquela foto para a primeira página, mas havia dois militares censores lá. Eles perceberam e não deixaram publicar essa, só a que não tinha a faixa. Alguns anos mais tarde publiquei a foto num livro e a designer desse livro se descobriu na foto e o marido, que estava no meio da multidão. Aí começaram a descobrir muita gente, e aí tivemos a ideia de fazer um livro com todas essas pessoas. Quarenta anos depois publicámos as histórias de cem pessoas que estiveram nesse local, e fotografei-as como se tivessem olhando para o Vladimir Palmeira. Esse livro esgotou.

Os abusos da ditadura militar no Brasil © Evandro Teixeira

Acredita que muitos se esqueceram da ditadura? É preciso lembrar a história novamente?
Na verdade a memória do povo brasileiro é muito curta. Hoje em dia faço muita palestra e sempre fotografei no contexto da história. Mostro imagens do Vietname, da Ditadura Militar e também do golpe do Chile, onde também fotografei muito. Fotografei o chileno Pablo Neruda, também fiz um livro sobre Neruda, intercalado com os seus poemas. Nas palestras que dou há muitos estudantes, e isso é bom porque hoje em dia, nas universidades, o período da Ditadura Militar está muito esquecido. Um pouco de propósito da parte do Governo e também das universidades.

Como vê o Brasil dos dias de hoje, depois do impeachment a Dilma Rousseff?
Na verdade a situação do país está tão caótica que as pessoas voltam a falar de ditadura para dar o baixa. Essas pessoas que berram e que cantam isso não viveram essa época da ditadura militar, quando todo o mundo foi massacrado, artistas presos, o Chico Buarque, o Caetano Veloso, músicas censuradas, pessoas mortas. Mas também falam isso porque os políticos são tão corruptos e safados que deixaram chegar o país a este estado. Todo o mundo rouba, mas não tanto como fizeram agora no Rio de Janeiro. Lá está uma loucura, funcionários públicos sem receber. As forças federais foram enviadas pelo Presidente para tentar conter a violência nas favelas.

Esperava encontrar a mesma realidade que fotografou nas favelas, nos anos 60, tantos anos depois? Tinha esperança que algo mudasse?
Houve abandono e não houve um governo para tentar. Todo o mundo foi abandonado. Isso também não justifica o que está acontecendo. A revolta nos presídios, Rio Grande do Norte, Pernambuco, com matanças, é um absurdo. Isso não pode acontecer. Os políticos no Brasil são vergonhosos, e fico pensando: agora vamos ter eleições em 2018. Vamos votar em quem? Não temos um líder.

Não há confiança.
Acompanhei o Lula com o Jornal do Brasil e antes não falava com ele, tinha horror dele. Aí quando ele ganhou as eleições, em 2003, viajei com ele por todo o Brasil, de ônibus. Passei a adorá-lo, amá-lo, porque o que ele dizia parecia que ia mudar o mundo. Ele é bom nisso [aponta para a garganta]. O primeiro Governo dele foi muito bom, e a coisa depois chegou no que chegou. Ele não era aquilo que pregava. O pai do ex-governador do Rio de Janeiro, é Sérgio Cabral, escritor, é meu contemporâneo. Uma figura maravilhosa e começámos na mesma época. Vi o Serginho nascer, e agora o governo do Rio não tem dinheiro nem para pagar a polícia.

Teve momentos em que sentiu medo, quis desistir?
Pelo contrário. Estou com 81 anos, e fisicamente não tenho mais a sua força. Mas de cabeça e memória continuo bem. Não vou pensar em desistir. Em nenhum tipo de cobertura minha disse: “não vai ser possível”. Sempre fiz tudo para conseguir. Houve situações que me diziam “não vai entrar aqui”. Mas eu entrava. O Pablo Neruda, por exemplo. Todos os jornalistas naquela época ficavam no Hotel Carreira, no Chile. E nós estávamos no terraço e tínhamos de cumprir o recolher obrigatório. O Pinochet, o chefe do golpe, não recebia jornalistas. E queríamos achar o Pablo Neruda, que era o conselheiro do Presidente e a pessoa mais importante do país. Soubemos que estava preso. Uma informante minha me disse o hospital onde ele estava, mal tratado. Cheguei lá e o director do hospital não me deixou entrar porque não gostava de jornalistas. Disse-lhe que era amigo dele mas não era nada, era só conversa jogada fora. Quando liguei depois, às dez da noite, ele já estava morto. No dia seguinte o hospital estava cheio de gente, tinha a câmara Leica escondida aqui debaixo do casaco, filmes no bolso. Não tinha como entrar, mas fiquei lá. Passou uma hora, uma das portas abriu por acaso e eu entrei. Quando entro, está o poeta morto na maca. Fotografei primeiro, depois falei com a esposa dele. No dia seguinte fomos para o cemitério, a bandeira do Chile estava no caixão. Pinochet convocou a imprensa, achou que todos iam largar e correr para ele. Eu fiquei lá. Foi emocionante ver todo o mundo no cemitério. Foi lindo. Foi talvez o momento mais dramático e importante da minha vida. Depois de vários anos se soube que ele foi morto alvejado pelos militares. E fui agora ao Chile prestar depoimento, contei o que estou contando agora pra você.

Que Brasil lhe falta fotografar?
Tudo. O Brasil é muito grande, o mundo é muito grande. Toda a viagem onde vou, fotografo. Aqui também fotografei. Outro dia viajei para o Ceará, vi uma menina na rua vestida de bailarina, e disse para o meu amigo: “pára o carro”. Fotografei. Me perguntaram se tinha levado a menina para aquele lugar, mas aconteceu assim.

26 Set 2017

Língua | IPOR promove programa de leitura em português

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente começa hoje uma série de sessões de leitura com a contadora de histórias Cristina Taquelim em várias escolas de Macau, abarcando um universo de cerca de 500 crianças. O programa pretende dinamizar a leitura em língua portuguesa durante a semana que agora começa.

As sessões realizam-se na Escola Luso-Chinesa da Flora, Escola Zheng Guanying, infantário D. José́ da Costa Nunes, Escola Portuguesa de Macau, Oficinas de Língua Portuguesa para Crianças e Jovens do IPOR e o Curso Geral do próprio instituto.

Na quinta-feira, pelas 19h, no Café Oriente do IPOR a escritora conduz uma sessão aberta de narração de histórias dirigida ao público em geral.

Cristina Taquelim é coordenadora de vários programas de promoção e mediação de leitura, integra a equipa de especialistas do Projecto Casa da Leitura da Fundação Gulbenkian e é fundadora da Associação de Contadores de Histórias.

Além disso, é autora de vários livros de literatura infanto-juvenil, como “Na minha casa somos sete”, editado em Portugal e “Malaquias”, “Uma casa na Lua” e “Corrupio” editados no Brasil.

25 Set 2017

Instituto Cultural | Revelado inventário do património cultural intangível de Macau

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m misto de crenças espirituais e manifestações culturais preenchem o inventário do património cultural intangível que o Instituto Cultural (IC) pretende identificar, reconhecer e salvaguardar, cumprindo o estabelecido na Lei de Salvaguarda do Património Cultural.

A lista de expressões culturais intimamente ligadas ao território inclui 15 manifestações. São elas a Ópera Yueju (Ópera Cantonense), a preparação do chá de ervas, a escultura de imagens sagradas em madeira, o Naamyam Cantonense (Canções narrativas), a música de ritual taoista, o Festival do Dragão Embriagado e a crença e os costumes ligados à adoração a A-Ma.

A estes manifestações culturais, este ano o IC decidiu juntar a crença e os costumes de Na Tcha, o teatro em patuá, a gastronomia macaense, a crença e os costumes de Tou Tei, a crença e os costumes de Chu Tai Sin, a arte dos andaimes de bambu, a procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e a procissão de Nossa Senhora de Fátima.

O objectivo da actualização do inventário, anunciado na sexta-feira pelo IC, tem em vista a continuidade do levantamento do património de forma a ser inscrito na Lista do Património Cultural Intangível.

25 Set 2017

Exposição | Hong Kong celebra a obra de Fang Zhaoling

Começa esta semana no Club Jockey de Hong Kong uma série de eventos dedicados à expressão artística no feminino como forma de comemorar a vida e obra de Fang Zhaoling. Além da exposição da pintora chinesa, haverá lugar para a projecção de um filme sobre a vida da performer sérvia Marina Abramovic

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ang Zhaoling foi uma testemunha dos vários tumultos e comoções que atravessaram século XX. Desde cedo começou a desenvolver a sua paixão pela caligrafia e pintura com uma intensidade que a haveria de a catapultar para o panteão das artistas chinesas de maior relevo do século passado.

Fang Zhaoling viria a tornar-se numa mestre de caligrafia e pintura chinesa, atravessando fases tradicionais, modernas e contemporâneas.

Esta semana começou um ciclo de eventos que celebram a sua obra e vida. “Painting Her Way: The Ink Art of Fang Zhaoling”, é a exposição que abre ao público na próxima quarta-feira, no Asia Society Hong Kong Center, e que estará patente ao público até dia 31 de Dezembro.

A pintora, filha de um general do Kuomintang que lutou contra as invasões japonesas, viria a perder o pai ainda em terna idade depois deste ter sido assassinado pelos próprios nacionalistas chineses. Durante a década de 1930 é enviada para Manchester para estudar pintura, mas vê-se forçada a interromper a formação devido a uma guerra mundial que se lhe atravessa no caminho. Retorna a uma devastada Hong Kong onde prossegue a sua formação e inicia uma carreira incontornável no mundo da pintura chinesa.

Com uma vida repleta de dramas sociais e pessoais, Fang Zhaoling é um símbolo de perseverança e sucesso face a tremendas adversidades. Como tal, inspira um pequeno ciclo de eventos dedicados a mulheres fortes que encontraram na arte uma forma de luta.

Avó da performance

A inauguração da exposição de Fang Zhaoling começa com uma palestra marcada para quarta-feira às 19h, no Asia Society Hong Kong Center em Admiralty, conduzido pelos curadores da exposição Julia Andrews e Kuiyi Shen. Ambos especialistas em História de Arte, vão apresentar ao público a evolução do estilo pessoal da pintora no contexto chinês e internacional. 

Outro destaque será a apresentação do filme documental “Marina Abramovic: The Artist is Present”, de Matthew Akers e Jeff Dupre. O filme sobre a vida e obra da performer sérvia é exibido no dia 9 de Outubro, pelas 19h, no Asia Society Hong Kong Center.

Marina Abramovic é uma provocadora, uma artista destemida, fascinante e que não tem receios de forçar as barreiras das artes performativas há quase cinquenta anos.

A artista ficou conhecida por explorar a relação entre performer e público, levando essa relação aos limites físicos e psicológicos. A expressão artística de Marina Abramovic, conhecida como a avó das artes performativas, centra-se no confronto com a audiência e na partilha de sofrimento e do desconforto provocado pelo esticar dos limites do corpo humano.

O documentário que será apresentado no dia 9 de Outubro leva os espectador através do mundo de Marina, enquanto se prepara para um dos momentos mais importantes da sua vida artística: a grande retrospectiva da sua obra no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). Além de ser um momento importante na carreira de qualquer artista, a retrospectiva da sérvia serviu para procurar a resposta para uma questão que os seus mais ferozes críticos lhe colocavam há décadas: “porque é que isto é arte?”.

A exibição do filme será precedido por uma palestra com a artista Wen Yau que participou na retrospectiva da artista no MoMa.

Marina Abramovic é um dos nomes mais sonantes do avant-garde e experimentalismo performativo. Uma pioneira e uma revolucionária.

25 Set 2017

Cinema | Inscrições para curso da BIF termina amanhã

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]ermina amanhã o prazo para a inscrição no concurso que vai escolher 18 talentos locais para participarem num curso preparado pela academia de cinema BIF International Film. A iniciativa vai decorrer ao longo do Festival Internacional de Cinema de Macau e é organizada numa parceria entre a BIF International Film Academy e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau.

Para participar, os candidatos têm de entregar uma ficha com currículo, onde devem destacar a experiência na área, assim como as principais aptidões. Depois, o júri vai seleccionar os 18 vencedores, sendo a participação está limitada a pessoas com experiência com idades entre os 18 e 28 anos.

Ao longo dos nove dias do programa oferecido pela BIF, os alunos vão ter de produzir duas curtas, com a ajuda de profissionais. Os enredos e os preparativos da pré-produção vão ser feitos antes do curso. Um dos grandes desafios para os participantes é adequarem a produção ao orçamento disponibilizado, que os organizadores definem como “pequeno”, embora não esclareçam o montante.

Entre os 18 participantes, seis vão ser escolhidos do programa que foi realizado no ano passado. A decisão sobre os vencedores vai ser tomada entre sábado e 29 de Outubro e os contemplados vão ser informados a 30 de Setembro.

O curso começa a 1 de Novembro e termina no dia 9. Porém, a 7 de Outubro há um dia de preparação, que visa explicar aos contemplados o que precisam de fazer ao nível da pré-produção das curtas.

21 Set 2017

Concertos | Festival Internacional de Música de Macau arranca a 29 de Setembro

Está à porta o início do maior evento musical do ano em Macau. O Festival Internacional de Música de Macau abre em grande com uma performance operática da obra de Umberto Giordano “Andrea Chénier”. A música vai tomar conta da cidade até ao final de Outubro e o HM mostra-lhe alguns concertos a não perder

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma história de amor durante a Revolução Francesa é o pano de fundo para o espectáculo que abre o 31º Festival Internacional de Música de Macau (FIMM). No dia 29 de Setembro, o palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) recebe a ópera “Andrea Chénier”, uma obra escrita pelo compositor italiano Umberto Giordano e produzida pelo Teatro Regio Torino. O espectáculo, que se repete no dia 1 de Outubro, conta uma apaixonada história de amor cheia de idealismo e espírito de sacrifício que tem como pano de fundo a Revolução Francesa. Repleta de explosões dramáticas, “Andrea Chénier” centra-se em torno de um poeta imbuído de espírito patriótico que se enamora pela filha de uma condessa. À medida que os tumultos avançam, a aristocrata é condenada à guilhotina e o poeta decide seguir a amada no fatídico destino a que havia sido sentenciada.

O concerto insere-se na celebração dos 150 anos do nascimento de Umberto Giordano, o compositor romântico que marcou o mundo da ópera da segunda metade do século XIX. O programa do festival vai proporcionar ao público visitas aos bastidores do espectáculo.

Outro dos destaques do cartaz do FIMM é o concerto da The Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, que ocorre também no grande auditório do CCM no dia 20 de Outubro. A prestigiada orquestra traz a Macau a música do imortal Ludwig van Beethoven, por ocasião do 190º aniversário da morte do compositor alemão. A The Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, sob a direcção do maestro Paavo Järvi, vai interpretar a dramática “Abertura de As Criaturas de Prometeu”, a clássica “Sinfonia n.º 1” e a  “Sinfonia n.º 3”.

Música na cidade

Parte do cartaz do FIMM vai transbordar para a cidade, com espectáculos ao ar livre. Um dos exemplos disso é a interpretação de “Orfeu e Eurídice” pela Ópera de Israel, que se realiza na Fortaleza do Monte nos dias 21 e 22 de Outubro às 20h. Esta versão operática de Christoph Wilibald Gluck, do século XVIII, é uma das mais conceituadas, desta feita apresentada de uma forma vanguardista em termos de guarda-roupa e abordagem conceptual. A interpretação da Ópera de Israel rompe com os cânones clássicos das tragédias baseadas na mitologia grega.

No dia 26 de Outubro, a Fortaleza do Monte será tomada pelo poder das vozes do Soweto Gospel Choir. O famoso grupo sul-africano apresenta ao público de Macau um concerto vibrante e exuberante, que junta ao canto a dança e o ritmo das percussões africanas. O coro de gospel que celebra 15 anos tem como temas das suas interpretações o elogio da liberdade, algo que lhes valeu dois grammys e um emmy. O grupo que nasceu da explosão de popularidade da Igreja Cristã Zionista na África do Sul tem como influências notórias na sua sonoridade a música de Bob Marley e a forma como a espiritualidade e a música confluem numa só expressão africana.

Para fechar em grande, o FIMM propõe mais uma noite dedicada a Beethoven. No dia 30 de Outubro, pelas 20h, sobe ao palco do CCM a Filarmónica de Viena para deslumbrar a plateia com a 7ª Sinfonia do compositor alemão. O concerto será conduzido pelo jovem maestro Andris Nelsons e irá percorrer também as composições de Wagner para encerrar com chave de ouro a edição deste ano do FIMM.

21 Set 2017

Cinema | Produção local na Mongólia Interior

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] produção local “Our Seventeen” foi exibida na 26.ª edição do Festival de Cinema Galo Dourado e Cem Flores. O evento que tem lugar anualmente em Hohhot, capital da Região Autónoma da Mongólia Interior, seleccionou a película de Emily Chan para integrar a secção dedicada às produções de Macau e Hong Kong.

“Our Seventeen”, é um filme sobre histórias de Macau que conta as lutas internas dos jovens entre o anseio pela idade adulta e o medo de lá chegar. O filme é também uma carta de amor dirigida à juventude. De acordo com o comunicado enviado à imprensa, a produção local “promoveu a cultura cinematográfica de Macau junto dos espectadores e do público mongol, sendo alvo de reacções encorajadoras”.

A exibição contou com a presença de vários convidados de relevo como Yin Xiao, Vice-Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês de Hohhot da Região Autónoma da Mongólia Interior, Li Xuejian, Presidente da China Film Association e Crucindo Hung Cho Sing, Presidente da Federation of Motion Film Producers of Hong Kong.

Da delegação de Macau presente no Festival do Cinema fizeram parte Chong Siu Pang, representante do Instituto Cultural e os membros do elenco de “Our Seventeen”, Sean Pang e Kylamary.

O “Festival de Cinema Galo Dourado e Cem Flores” é um dos quatro principais festivais de cinema da China, constituindo o mais antigo evento de atribuição de prémios cinematográficos do país.

20 Set 2017

Jornalismo da Lusofonia | Trabalhos a concurso analisados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] júri da primeira edição do prémio de jornalismo da Lusofonia, organizado pelo Clube Português de Imprensa (CPI) e Jornal Tribuna de Macau (JTM), já começou a analisar os trabalhos candidatos, subordinados ao tema Macau.

O vencedor vai receber o prémio anual, no valor de cem mil patacas, numa cerimónia marcada para 1 de Novembro, em Macau. Ainda de acordo com o regulamento, a entrega da distinção realiza-se alternadamente no território e em Lisboa.

Presidido por Dinis de Abreu, em representação do CPI, o júri integra ainda os jornalistas José Rocha Diniz, fundador e administrador do JTM, José Carlos de Vasconcelos, director do Jornal de Letras, Artes e Ideias, Carlos Magno, pela Fundação Jorge Álvares e por José António Silva Pires, também do CPI.

O prazo de candidatura ao prémio terminou na sexta-feira e registou-se “uma significativa afluência de trabalhos”, disse a organização, sem precisar um número.

O prémio de jornalismo da Lusofonia destina-se a jornalistas e à imprensa de língua portuguesa de todo o mundo, “em suporte papel ou digital”, de acordo com o regulamento.

Este prémio “surge no quadro do desejado aprofundamento de todos os aspectos ligados à Língua Portuguesa, com relevo para a singularidade do posicionamento de Macau no seu papel de Plataforma de ligação entre países de Língua Oficial Portuguesa”, referiu a organização.

O CPI e o JTM, que este ano assinala o 35.º aniversário, contam com o patrocínio da Fundação Jorge Álvares, que promove a continuidade do diálogo intercultural entre Portugal e Macau.

20 Set 2017

Fotografia | World Press Photo regressa à Casa Garden no final do mês

Chegam no final do mês à Casa Garden os trabalhos vencedores da 60.ª edição do mais prestigiado concurso de fotojornalismo do mundo. Este ano Hong Kong não aderiu à mostra pelo que se esperam mais visitantes no território. Entretanto, a parceria com a extensão local foi prolongada por mais três anos e vai contar com um orçamento maior

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]em início no próximo dia 20 mais uma mostra dos vencedores da edição deste ano do Word Press Photo (WPP). O local escolhido para a exposição continua a ser a Casa Garden por ser, “o mais adequado”, diz Diana Soeiro ao HM. A representante da Casa de Portugal espera ainda um aumento de visitantes. A razão, aponta, tem que ver com o facto de os trabalhos não passarem por Hong Kong. “Esperamos mais de 2000 visitantes, valor superior ao das edições anteriores”, conta.

A Casa de Portugal é ainda responsável pela renovação da extensão da exposição de fotojornalismo por mais três anos e vai ter também um aumento no orçamento que passará para as 18 000 patacas anuais.

Apesar de em Macau o trabalho fotojornalístico não ser considerado com rigor, não é motivo para que as melhores imagens internacionais na área não passem pelo território. O WPP acaba por ser, diz Diana Soeiro, “um bocadinho uma janela para o que se passa lá fora”, sem esquecer que, existem no território vários fotógrafos, “e muita gente com sensibilidade para a imagem”.

Por outro lado, a exposição quer ir mais além e está concebida para atingir um público cada vez mais alargado. “Como temos legendas em Português, Inglês e Chinês, conseguimos chegar a mais pessoas”, diz a responsável.

De qualquer forma, a representante da Casa de Portugal considera ainda que o próprio fotojornalismo poderá estar em crise. A culpa, afirma, é do mediatismo e da facilidade com que hoje em dia se conseguem capturar momentos. “Os telemóveis vieram facilitar essa parte, basta chegar a um evento, tirar umas fotos e o trabalho está feito. Não são precisos grandes equipamentos nem nenhum profissional”. É para contrariar esta tendência que o trabalho da WPP é cada vez mais pertinente: “Uma Fundação como a World Press Photo, com as respectivas exposições espalhadas pelo mundo inteiro, contrariam esta tendência lembrando-nos da importância do fotojornalismo”, remata Diana Soeiro.

Este ano participaram na disputa mais de cinco mil fotógrafos de 125 países, e foram submetidas a apreciação do júri mais de 80 mil imagens.

Homicídio por Alepo

Sem ornamentos, Mevlüt Mert Altintas está de arma em punho. Não se ouve a voz, mas gritava por Alepo. Ao seu lado um corpo. O embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, tinha acabado de ser assassinado enquanto fazia o discurso de abertura de uma exposição de fotógrafos do seu país, na Galeria de Arte Contemporânea de Ancara. “An Assassination in Turkey” é o nome da imagem vencedora, registada pela lente do fotojornalista da Associated Press, o turco Burhan Ozbilici. Antes de ser abatido, Altintas, que fazia parte do dispositivo de segurança do diplomata feriu mais três pessoas.

“A imagem choca, como chocam quase sempre as imagens vencedoras. É meio hollywoodesca”, diz Diana Soeiro. A força, principalmente na tragédia, é uma tónica em muitas das fotografias do WPP. Pode agradar ou desagradar, mas é impossível ficar indiferente. “Pessoalmente custa-me a exposição de um corpo ali e o gesto triunfante do assassino mas infelizmente foi o que aconteceu e é mais um confronto duro como a realidade a que a World Press Photo já nos habituou”, aponta a responsável pela organização.

A China volta a estar em destaque. Desta feita na categoria do quotidiano em que Tiejun Wang arrecada o segundo prémio. A fotografia Sweat Makes Champions mostra, a preto e branco, quatro meninas estáticas, de nódoas negras nas pernas. Treinam para ser as melhores.

20 Set 2017

Emmy’s | Distopias e actualidade lideram estatuetas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] histórico ‘talkshow’ Saturday Night Live, o drama familiar “Big Little Lies” e “The Handmaid’s Tale”, dominaram os prémios Emmy, que distinguem as produções televisivas norte-americanas.

A 69.º edição da entrega dos prémios decorreu numa cerimónia em Los Angeles em que a política e o Presidente Trump foram as “estrelas” convidadas.

“The Handmaid’s Tale”, baseada na adaptação de um romance homónimo de Margaret Atwood sobre uma América nas mãos de uma seita totalitária, venceu a melhor série dramática e dominou a noite dos prémios de televisão com um total de cinco Emmys.

A série que retrata a violência contra as mulheres ganhou também o prémio para melhor actriz de série dramática (Elisabeth Moss), melhor actriz secundária em série dramática (Ann Dowd), melhor realizador de série dramática (Reed Morano, segunda mulher na história que ganha nessa categoria) e melhor guião de série dramática (Bruce Miller).

A mini-série “Big Little Lies”, sobre as mães de família, os seus filhos e os seus dramas na Califórnia, venceu noutras cinco categorias, com os prémios de melhor mini-série, melhor realizador (Jean-Marc Vallée), melhor actriz de mini-série (Nicole Kidman), e melhores actores secundários em mini-série (Alexander Skarsgard e Laura Dern).

Comédia apreciada

O histórico ‘talkshow’ Saturday Night Live (SNL) foi outro dos vencedores da noite, com nove troféus, incluindo cinco de carácter técnico.

Saturday Night Live, que este ano se destacou pela crítica ao Presidente norte-americano e à sua administração, criado pelo produtor Lorne Michaels, em 1975, soma perto de 830 emissões e, até à data, tinha conquistado um total de 45 Emmys.

O programa de humor, que conta com 42 temporadas consecutivas, na cadeia NBC, estava nomeado em 22 categorias, a par da série “Westworld”, e a meio da cerimónia já tinha conquistado quatro estatuetas, incluindo uma para Alec Baldwin e outra para Kate McKinnon, pela sua imitação da ex-candidata presidencial, Hillary Clinton.

O sucesso de SNL na 69.ª edição dos Emmy foi além das estatuetas conquistadas.

“Sabíamos que a maior estrela de televisão do ano passado foi Donald Trump. E Alec Baldwin”, certamente, ironizou o apresentador da noite, Stephen Colbert, em referência ao actor que personifica Trump no Saturday Night Live (SNL).

“Finalmente, Sr. Presidente, aqui está o seu Emmy”, disse Alec Baldwin ao receber o galardão, numa referência ao show “The Apprentice”, um ‘reality show’ que foi apresentado por Donald Trump e em que executivos competem por um cargo em uma das empresas do multibilionário.

Baldwin acrescentou que depois de ter tido três filhos em três anos, a sua mulher não deu à luz no ano passado, um ano em que a sua interpretação do papel do Presidente dos Estados Unidos impulsionou as audiências do SNL para um nível recorde.

“Quando alguém usa uma peruca cor de laranja (como a cor do cabelo de Donald Trump), isso funciona como um contraceptivo”, afirmou.

O antigo porta-voz da Casa Branca Sean Spicer, que cessou funções em Julho, fez uma aparição surpresa nos prémios Emmy, sob o olhar divertido de Melissa McCarthy, que ‘veste a personagem’ no SNL.

Alec Baldwin já tinha, alás, na conferência de imprensa saudado Spicer pela arrojada entrada na cerimónia dos Emmy.

“Já fiz alguns trabalhos que vocês não devem respeitar ou admirar (…) Temos isso em comum”, disse.

19 Set 2017

Literatura | “Morri”, de Antønio Falcão, reapresentado na Livraria Portuguesa

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]orreu e ressuscitou. A mais recente obra de Antønio Falcão, MORRI, será reapresentada ao público de Macau na próxima quinta-feira, dia 21 de Setembro, pelas 18h30 na Livraria Portuguesa. O evento irá contar com a leitura das histórias que compõem o livro pelas vozes de alguns residentes de Macau. Entre o leque de leitores figuram Ana Dias, Carlos Morais José, Carlos Picassinos, Fülöp Oszkár, Miguel de Senna Fernandes, Selma Branco, Victoria Man, entre outros.

O livro de Antønio Falcão foi escrito entre 2004 e 2017 e reúne mais de 60 textos de material diverso, grande parte publicado no formato de crónica no jornal Hoje Macau durante esse período.

MORRI é uma colectânea de contos, ensaios, pequenas peças dramáticas e correspondências várias. O livro aborda também a história de Macau, antiga e contemporânea, tentando delinear novas perspectivas para a sua complexa compreensão, totalmente fora da habitual zona de conforto. Nele podem-se reconhecer factos do conhecimento público, personagens reais de outros regimes que se debatem com seres puramente ficcionados, como se tudo decorresse numa trama cinematográfica.

MORRI foi publicado pela editora COD de Macau, no âmbito das celebrações do 150.º aniversário de Camilo Pessanha. Nesta mesma ocasião o autor apresentou também a exposição de fotografia “Kleptokronos”.

19 Set 2017

Exposições | Pan Gongkai estreia-se numa mostra de pintura em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] pintura chinesa tem vários nomes de peso que a transportam para a arte contemporânea de relevo mundial. Pan Gongkai é um deles. A primeira exposição do artista em Hong Kong abre no dia 25 de Novembro na Kwai Fung Hin Art Gallery. Um evento que merece destaque no calendário das artes dos próximos meses

Entre 25 de Novembro e 24 de Janeiro de 2018, Hong Kong recebe pela primeira vez uma exposição de Pan Gongkai, um artista de renome internacional que pegou na veia mais tradicional da pintura chinesa e a revestiu de contornos contemporâneos.

A mostra estará patente ao público na Kwai Fung Hin Art Gallery, que é composta por um total de 30 peças criadas ao longo de três anos. Um dos destaques da exposição é um quadro com seis metros de largura que pertence a uma série de trabalhos de tinta da China em papel em consonância com uma instalação de vídeo.

Pan Gongkai é um nome de vulto incontornável da pintura chinesa. Nascido em 1947, como David Bowie, o artista foi criado num ambiente intimamente artístico.

O seu pai, Pan Tianshou, foi um dos mais relevantes mestre da pintura a tinta da China do século XX. Depois de uma educação onde aprendeu a domar a técnica da tinta da China na Academia de Belas-Artes de Zhejiang, o pintor acabaria por chegar a presidente da Academia Central de Belas-Artes de Pequim entre 2001 e 2015. Já antes havia liderado a Academia de Belas-Artes de Hangzhou.

Um dos educadores de artes mais prestigiado na academia do Interior da China, Pan Gongkai é um nome que extravasa em muito as barreiras da cultura chinesa para patamares internacionais.

Mais além

Pan Gongkai, apesar de estar intimamente enraizado na expressão artística chinesa tradicional, em particular pelo uso da tinta da China, é um entusiasta dos estudos comparados entre a arte chinesa e ocidental. Esta confluência de referências díspares espelha-se na estética do pintor e académico, que rompe as barreiras conceptuais das belas-artes da China.

Nos início dos anos 1980, Pan Gongkai argumentou que as artes chinesas e ocidentais eram sistematicamente complementares e que poderiam coexistir e influenciar-se mutuamente. Segundo o pintor, ambas as expressões artísticas são compatíveis e representam duas formas diferentes de perseguir a derradeira visão estética. Esta perspectiva teórica tem atraído atenção de académicos tanto no Interior da China assim como pelo mundo fora. Dessa forma, não é de estranhar que Pan Gongkai tenha reunido o consenso de várias áreas artísticas, da pintura, teoria artística, arte contemporânea, arquitectura e design.

As obras de larga escala do pintor são, normalmente, intensas em termos de impacto visual, reveladoras da elegância e da subtileza típicas da tradicional expressão em tinta da China. Ao mesmo tempo, a mestria técnica que exibe nas pinceladas demonstram uma estética contemporânea única, bom gosto e tensão dramática.

A juntar à criatividade e mestria em termos de pintura, Pan Gongkai também se exprime através de instalações e novos media de forma a explorar as potencialidades de transformação que pretende que a tradicional tinta da China atinja no contexto da cultura contemporânea.

Os trabalhos do artista chinês têm sido exibidos com grande frequência, ultimamente, no Museu Suzhou, no Museu de Artes de São Diego, no Museu de Artes de Frye em Seattle e no Today Art Museum de Pequim.

Em 2011, Pan Gongkai participou na 54º Bienal de Veneza com uma instalação intitulada “Melting”, tendo chegado a um patamar de apreciação mundial.

Com a leveza de pincelada que caracteriza a pintura chinesa, Pan Gongkai transcende conceitos artísticos definidos chegando a um patamar global em termos de expressão estética. Profundamente conduzido por temáticas metafóricas e ideias simbólicas, as pinceladas do artistas chinês conseguem transmitir poder, emoções fortes e uma amplitude conceptual que extravasa fronteiras artísticas.

Definitivamente, uma exposição a não perder.

19 Set 2017

Gulbenkian de Paris regista história da emigração cultural e artística

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian está a fazer entrevistas filmadas a artistas e figuras da cultura portuguesa que viveram em Paris, como Eduardo Lourenço, Graça Morais e Sérgio Godinho, entre muitos outros.

O projecto chama-se “Artistas Portugueses em Paris – Uma História Oral” e o primeiro filme foi publicado há dias na página Internet da delegação da Gulbenkian em França, com uma entrevista de uma hora e vinte minutos ao ensaísta Eduardo Lourenço.

O objectivo é preservar a memória das personalidades artísticas que passaram por França, sobretudo pela capital, disse à Lusa o diretor da Gulbenkian de Paris, Miguel Magalhães.

“O projecto ‘Artistas Portugueses em Paris – Uma História Oral’ nasceu da necessidade de preservarmos a memória de algumas gerações de artistas e figuras da cultura portuguesa que foram passando por Paris nos últimos 50, 60 anos. Há um conjunto de figuras tutelares da cultura portuguesa que passaram por França, alguns começam a deixar-nos”, explicou.

Miguel Magalhães destacou que, além de Eduardo Lourenço – “provavelmente a pessoa mais habilitada para falar sobre a relação de Portugal e França” e que foi “ele próprio um português em França durante cerca de 60 anos” –, já estão terminadas entrevistas ao músico Sérgio Godinho, aos artistas plásticos José de Guimarães e Graça Morais, e ao escritor e político António Coimbra Martins, que foi fundador do Centro Cultural Português em Paris em 1965 e embaixador na capital francesa.

Há, ainda, “uma planificação intensa nos próximos tempos de entrevistas com várias outras figuras”, a começar pelo pintor Manuel Cargaleiro, o músico José Mário Branco e o artista Jorge Martins, entre “tantas outras figuras da arte e da cultura portuguesa em França e em Paris”.

“Não tem um limite, a verdade é essa. O conjunto de pessoas, de figuras importantes da cultura portuguesa que foram passando por França nas últimas décadas é de tal forma impressionante que não começámos este projecto com o fim em vista”, continuou o director da delegação, não excluindo a possibilidade de as entrevistas filmadas virem a ser transformadas em livro, mais tarde.

As conversas assentam na formação de cada personalidade, nas suas motivações para emigrar, na sua vida em França – nomeadamente as dificuldades, as conquistas e as ligações com o meio artístico francês e português – assim como as relações entre Portugal e França.

As razões da viagem

Os artistas convidados têm aderido ao projecto “de forma muito calorosa”, em entrevistas conduzidas, até agora, pelo artista e investigador António Contador e por Luísa Braz de Oliveira, especialista em cultura portuguesa e antiga colaboradora de Eduardo Lourenço e de António Coimbra Martins.

“Julgo que todos os entrevistados perceberam a importância da preservação desta memória, destes testemunhos. Estamos a falar de diferentes gerações, de diferentes motivações. Estamos a falar com pessoas que fugiram à ditadura, estamos a falar com outras que vieram cá porque eram bolseiros na Fundação Gulbenkian, outros que vieram porque estavam de passagem”, continuou Miguel Magalhães, sem esquecer os que escolheram Paris por causa da “vida artística estimulante”.

O responsável sublinhou também que este “não é um projecto científico, é verdadeiramente um projecto de preservação da memória” que pretende servir, no futuro, para as pesquisas de investigadores, estudantes e pessoas interessadas pela cultura portuguesa em França.

Ainda que se trate “de um testemunho oral”, Miguel Magalhães defendeu que “a história da emigração portuguesa em França, em geral, tem sido investigada”, mas “a história da emigração cultural e artística está provavelmente um pouco menos feita”, pelo que o projecto da Gulbenkian de Paris é como “uma investigação especializada” dentro da emigração portuguesa.

Na apresentação do projecto, no ‘site’ da instituição, pode ler-se que “a cidade de Paris ocupa um lugar proeminente como destino para artistas, músicos e homens de letras portugueses ao longo dos tempos”, nomeadamente, “André de Gouveia no século XVI, Eça de Queiroz no século XIX, Amadeo de Souza Cardoso, Almada Negreiros, Vieira da Silva, Lourdes de Castro, Manuel Cargaleiro, Sérgio Godinho e tantos outros”.

“Esta lista poderia continuar indefinidamente, tal é o número de personalidades da cultura portuguesa que viveram e trabalharam por esta cidade ao longo de décadas. Paris foi porto de abrigo, cidade de exílio, mas também de aprendizagem e de liberdade – política, de pensamento, liberdade criativa – para gerações sucessivas de jovens portugueses”, conclui o texto.

18 Set 2017

Cinema | Thomas Lim quer colocar “Sea of Mirrors” no Festival Internacional de Macau

Começou a ser gravado em Abril, deverá estar concluído em Dezembro. “Sea of Mirrors”, a nova película de Thomas Lim, poderá ser um dos filmes presentes no Festival Internacional de Cinema de Macau

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]homas Lim, cineasta de Singapura a residir actualmente em Los Angeles, tem vindo a ter contactos e reuniões com organizadores do Festival Internacional de Cinema de Macau para que o seu mais recente filme, “Sea of Mirrors”, possa fazer parte das películas a concurso.

Em entrevista ao HM, o cineasta quis deixar claro que o filme só deverá estar concluído no próximo mês de Dezembro. Ainda assim, Thomas Lim quer fazer esta tentativa para mostrar uma película sobre Macau no território onde ela foi filmada.

“Tenho vindo a ter reuniões com os organizadores do festival e disseram-me que gostariam de ver um excerto do filme, ainda que a edição de vídeo e imagem não esteja concluída”, contou Thomas Lim, que deverá entregar as primeiras imagens já em Outubro.

“Faltam ainda três fases para concluir o filme, relacionadas com a edição de imagem, som e banda sonora, mas espero conseguir fazer isso. Como cineasta de Macau seria importante ter o meu filme neste festival.”

“É um festival local e seria para este filme um bom começo”, acrescentou o realizador. Contudo, Thomas Lim não quer criar falsas expectativas ou, sequer, apresentar uma película incompleta aos organizadores da segunda edição do evento.

“Não quero acelerar o processo de produção do filme. Vou tentar o meu melhor, mas não quero apresentar algo incompleto. Não quero dar uma má primeira impressão. Gostaria de lançar o meu filme no mercado no próximo ano, em meados do ano novo chinês, por isso seria óptimo mostrar agora o meu filme”, adiantou Thomas Lim.

ROBYN BECK/AFP/Getty Images)

Mais experiência

Thomas Lim passou recentemente por Macau, para onde viaja com alguma frequência. O território faz parte do seu imaginário como cineasta e é a ele que Lim recorre sempre que quer fazer um filme.

“Roulette City”, a sua primeira longa-metragem, teve o jogo como pano de fundo. Mas com “Sea of Mirrors” o cineasta de Singapura quis fazer diferente e contar outras histórias. Toda a película foi filmada com um iPhone. Mas entre os dois filmes há mais diferenças.

“Ambos foram filmados em Macau, mas sinto que, desta vez, aprendi mais. À medida que o tempo passa vamos aprendendo mais e mais, e aprendi muito a fazer o ‘Roulette City’.”

Com “Sea of Mirrors”, Thomas Lim conta que teve mais recursos e percebeu melhor as estratégias do que queria fazer. “Filmar com um iPhone foi uma das estratégias que decidi adoptar, trabalhar com antigos colaboradores foi outra. Quando fiz o ‘Roulette City’ não tinha muitos colaboradores a trabalhar comigo, foi o meu primeiro filme.”

A história de “Sea Of Mirrors” é sobre um ex-actriz japonesa que viaja para Macau na esperança de encontrar um investidor que pague um novo filme por ela protagonizado, mas nem tudo corre como esperado.

“O meu segundo filme continua a ser sobre Macau e o que acontece aqui. Gosto de usar Macau como a personagem principal dos meus filmes, e espero poder contar histórias que só tenham Macau dentro delas”, frisou.

Se no seu primeiro filme Thomas Lim deu destaque às interpretações, porque antes de ser cineasta foi actor, desta vez, em “Sea Of Mirrors”, a atenção foi transposta para a parte da realização.

Cineasta vs orador

No dia em que Thomas Lim conversou com o HM, esteve na Universidade de Macau a dar uma palestra para alunos. Algo que o cineasta afirma gostar de fazer, mas que não está no topo das suas preferências.

“Em primeiro lugar, gosto de fazer filmes. Porque, no final de contas, todas estas conferências que dou, estes eventos onde vou, acontecem porque faço filmes. E o filme tem de ser bom, então essa é a minha prioridade. A seguir, começo a pensar em como fazer um novo filme que também seja bom.”

Thomas Lim gosta de contar as suas experiências como cineasta, uma oportunidade que não teve quando começou no mundo do cinema.

“Não me considero um professor de cinema, apenas dou umas palestras nas universidades. E dá-me muita satisfação poder partilhar as minhas ideias junto dos jovens, porque quando comecei não tinha muitas pessoas que me inspirassem”, contou.

Em Singapura, Thomas Lim sentiu falta de referências. “Lá não temos figuras que nos inspirem no mundo das artes ou do desporto, por exemplo. Temos talvez figuras que nos inspirem no meio político, empresários. Não sabia, quando era jovem, que podia fazer isto. Não creio ser ainda bem sucedido, mas espero poder inspirar alguém com aquilo que faço.”

Macau e o jogo

Apesar de ter feito um filme que tinha os casinos como tema principal, Thomas Lim considera importante filmar outros fragmentos de Macau, contar outras histórias. Mas assume: filmar os casinos garante sempre a atenção da indústria estrangeira.

“Não foi deliberado não fazer, desta vez, um filme sobre o sector do jogo. Não temos de usar sempre o jogo como protagonista de um filme, mas podemos tirar partido disso, porque se a história tiver o jogo como pano de fundo vai atrair sempre mais a atenção do mercado internacional. Se fizermos um filme apenas sobre Coloane, vai ser difícil à comunidade internacional estabelecer um ponto de ligação, em termos de atenção”, rematou.

18 Set 2017

Hong Kong | The Prodigy juntam-se ao cartaz deste ano do Clockenflap

Esta semana conheceram-se mais alguns nomes de peso para o Festival Clockenflap, de onde se destacam os britânicos The Prodigy. A banda de punk electrónico actua sábado, no festival que decorre entre 17 e 19 de Novembro. Além dos The Prodigy juntaram-se ao cartaz os Young Fathers, Temples, Pond e SKREAM

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem ainda não viu The Prodigy ao vivo tem uma lacuna que precisa de colmatar o mais rapidamente possível. Para quem está em Macau, ou Hong Kong, o cartaz do Clockenflap possibilitará essa experiência.

A banda britânica, que lançou o seu primeiro disco, “Experience”, há exactamente 25 anos, revolucionou o mundo da música de dança ao juntar agressividade à cena das raves. Com seis discos na carreira, os The Prodigy juntam-se aos Massive Attack e a Feist para formar o trio de cabeça de cartaz do festival que festeja o seu décimo aniversário, que ocorre no Central Harbourfront entre 17 e 19 de Novembro.

A carreira da banda britânica tem entre os seus melhores momentos os discos “Music for the Jilted Generation”, onde despontam os intemporais hinos de agressão “No Good”, “Voodoo People” e “Poison”.

O grupo sustentado pela genialidade do produtor, e mais discreto membro da banda, Liam Howlett atingiu um público mais alargado em 1997 com o disco “Fat of The Land”, que tem músicas que rodaram em pistas do mundo inteiro como “Smack My Bitch Up”, “Firestarter” e “Breathe”.

No mesmo dia em que os The Prodigy sobem ao palco, há outra banda que merece destaque: os Tinariwen. Um grupo oriundo do norte do Mali. Além disso, os mais saudosistas vão poder dançar ao som da banda de covers The Bootleg Beatles.

Psicadélicos

Na lista das bandas que foram anunciadas esta semana ao cartaz do Clockenflap, houve uma acréscimo do novo rock psicadélico que surgiu nos últimos anos. Neste capítulo, os Pond, banda australiana que partilha alguns membros com os Tame Impala, são um dos grupos mais aguardados do festival. Com uma discografia extensa, que conta com sete discos em quase oito anos, os Pond fazem uma belíssima ponte entre o rock psicadélico e a pop. Os australianos de Perth sobem ao palco no domingo, dia 19.

Outra banda com sonoridades de rock psicadélico anunciada esta semana são os britânicos Temples. Com dois discos na bagagem, o grupo inglês apresentará ao público de Hong Kong o seu mais recente álbum, “Volcano”, igualmente no domingo, um dia que será encerrado pelos históricos de Bristol Massive Attack.

Além destas bandas, juntaram-se ao cartaz do Clockenflap o grupo de hip-hop Young Fathers, a banda de pop japonesa Wednesday Campanella.

O DJ SKREAM regressa ao cartaz do Clockenflap depois de ter incendiado a pista na edição de 2014. De seu nome Oliver Jones, o londrino é um dos nomes cimeiros da cena dubstep mundial. Com raízes sonoras firmadas em terras de tecno e house, SKREAM é um dos melhores actos da actualidade de electrónica ao vivo.

Os bilhetes para o festival encontram-se já à venda, por agora, a preços mais acessíveis. Ainda assim, quem quiser ir aos três dias de festival terá de desembolsar 1620 dólares de Hong Kong. Os bilhetes para sexta-feira custam 890 dólares, enquanto os de sábado e domingo custam 960 dólares de Hong Kong.

17 Set 2017

Man Booker Prize | Paul Auster, Ali Smith e George Saunders entre os finalistas

Os escritores Paul Auster, Emily Fridlund, Mohsin Hamid, Fiona Mozley, George Saunders e Ali Smith são os seis finalistas do Prémio Man Booker. No próximo mês, é distinguida a melhor obra de ficção do ano escrita em língua inglesa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] anúncio foi feito ontem e a lista inclui “4 3 2 1”, de Paul Auster (ver texto nestas páginas), “History of Wolves”, de Emily Fridlund, “Exit West”, de Mohsin Hamid, “Elmet”, de Fiona Mozley, “Lincoln no Bardo”, de George Saunders, e “Outono”, de Ali Smith. Entre as obras finalistas, estão publicados em Portugal os livros de Paul Auster, Ali Smith e George Saunders.

Nesta edição do Man Booker prize, ficaram para trás “Days Without End”, de Sebastian Barry, “Solar Bones”, de Mike McCormack, “Reservoir 13”, de Jon McGregor, “O Ministério da Felicidade Suprema”, de Arundhati Roy, “Home Fire”, de Kamila Shamsie, “Swing Time”, de Zadie Smith, e “A Estrada Subterrânea”, por Colson Whitehead.

O júri do prémio Man Booker deste ano é presidido por Lola Young, antiga professora de Estudos Culturais da Universidade de Middlesex e responsável cultural da Autoridade da Grande Londres.

Entre os membros do júri encontram-se ainda as escritoras Lila Azam Zanganeh e Sarah Hall, bem como o artista Tom Phillips e o presidente da Real Sociedade Literária britânica, Colin Thubron.

Os membros do júri consideraram que os romances, cada um à sua maneira, desafiam e alteram suavemente os preconceitos – sobre a natureza do amor, sobre a experiência do tempo, sobre questões de identidade e até mesmo a morte.

A lista dos finalistas, que apresenta três mulheres e três homens, abrange uma ampla gama de assuntos, desde a luta de uma família que tenta manter a sua auto-suficiência na Inglaterra rural, até uma história de amor entre dois refugiados que tentam fugir de uma cidade sem nome, na agonia de guerra civil.

No quarto ano em que o prémio foi aberto a escritores de qualquer nacionalidade, a lista é composta por dois escritores britânicos, um britânico-paquistanês e três americanos.

Livros do desafio

“Com seis livros únicos e audazes que colectivamente pressionam as fronteiras da convenção, a lista curta deste ano reconhece autores estabelecidos e introduz novas vozes na cena literária. Jocosos, sinceros, inquietantes, ferozes: aqui está um conjunto de romances de tradição, mas também radicais e contemporâneos. O alcance emocional, cultural, político e intelectual destes livros é notável, e as formas como desafiam o nosso pensamento são um testemunho do poder da literatura”, considerou Lola Young.

Ali Smith faz parte da lista do Booker pela quarta vez, enquanto Fiona Mozley figura como a mais jovem autora da lista, com 29 anos, e uma das duas estreantes na corrida ao prémio, juntamente como Emily Fridlund, de 38 anos.

Os outros dois autores americanos são Paul Auster e George Saunders, o primeiro, de 70 anos, com o romance mais longo da lista, que lhe levou três anos e meio, trabalhando seis dias e meio por semana, a ser escrito, enquanto George Saunders, contista, se estreia com o seu primeiro romance.

O prémio Man Booker, no valor de 50 mil libras, distingue anualmente um livro de ficção escrito em inglês e publicado no Reino Unido no ano do galardão, independentemente da nacionalidade do autor. O vencedor vai ser anunciado no dia 17 de Outubro.

Em 2016, o Prémio Man Booker foi atribuído ao norte-americano Paul Beatty, com o romance “O Vendido” (“The Sellout”).

 

Quatro caminhos para um só homem no novo livro de Auster

O autor Paul Auster afirmou que a sua obra mais recente, “4 3 2 1”, resulta da combinação de circunstâncias inesperadas com o material genético, pré-existente, que compõe todos os seres humanos.

Paul Auster considerou, num encontro com jornalistas no âmbito do Festival Internacional de Cultura, que o romance procura responder à pergunta “E se…?”, delineando quatro caminhos distintos para um mesmo personagem, Archie Ferguson: “Em inglês há o termo ‘nature nurture’, que surge [da combinação] do ser natural e genético, com a maneira como se é educado ou o ambiente em que se cresce”, realidades que “estão interligadas e são impossíveis de separar”.

Este foi o mote fornecido pelo escritor norte-americano, de 70 anos, para abordar as questões feitas acerca do processo de escrita do romance, precedido por um hiato de sete anos, em que “a frequência com que algo inesperado acontece” foi, à semelhança de outras das suas obras, o dilema “que sempre o preocupou”.

Na opinião de Auster, o princípio de que diferentes circunstâncias conduzem, necessariamente, a pessoas de personalidades distintas, revela a importância de “dar espaço ao inesperado para viver a vida com algum tipo de coerência”. Como tal, aquilo a que gosta de chamar “os mecanismos da realidade” difere das crenças “no destino, na fé e na intervenção divina”, concepções nas quais o romancista recusa acreditar.

Ao escrever “4 3 2 1”, nomeado como candidato ao prémio Booker deste ano, Auster quer provar que “o estranho faz parte da normalidade” e que, no papel de arquitecto das suas narrativas, este “não manipula as personagens”, optando por “lhes dar vida” para depois “as seguir, sem as guiar” a um caminho concreto.

No decorrer da conversa, Auster frisou que “não escolheu tornar-se um escritor”, sendo que foi a profissão que o escolheu a ele: “Não se trata de uma opção. (…) Ser um artista de qualquer tipo é como apanhar uma doença da qual nunca se recupera. [Ser escritor] é uma obrigação.”

Na óptica de Auster, “o papel [social] da escrita mantém-se o mesmo há 500 anos”, algo que se complementa com o processo de leitura, “uma experiência muito íntima” que se faz individualmente. Posteriormente, ressalva que ler histórias “é uma forma excelente de confrontar medos ou ansiedades em relação ao mundo, de modo seguro”.

 

Auster avisa que Donald Trump está “apenas no início”

O escritor Paul Auster afirmou, de passagem por Portugal, que o mundo “entrou numa nova era” com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas que “ainda não é possível fazer arte” baseada no Governo que este constituiu.

Num encontro com jornalistas, no âmbito do Festival Internacional de Cultura com o propósito de debater os temas suscitados pela sua nova obra, “4 3 2 1”, Auster debruçou-se sobre o panorama político do seu país de origem, voltando a tecer críticas a Trump, uma figura que classifica como um indivíduo “furioso, irracional, instável e narcisista: um perigo que se alimenta da atenção” que o mundo lhe dá.

O autor afirmou que Trump “está apenas no início”, o que impede reflexões artísticas exactas. Na óptica do escritor, primeiro cabe “aos jornalistas apurarem a verdade de tudo o que se passa agora”, partindo do princípio que o “bom jornalismo” é o “trabalho mais importante para o bem-estar do mundo”.

Auster adianta que a mesma profissão está “sob ataque”, colocando em risco “a fé das pessoas na verdade”, numa fase em que nunca os jornalistas foram tão necessários, numa discussão dentro do contexto da narrativa quadripartida do romance mais recente, em que uma das quatro versões do protagonista, Archie Ferguson, toma a decisão de enveredar pelo universo jornalístico.

O escritor, vencedor de múltiplos prémios literários, receia que Trump continue “a persuadir as pessoas de que as mentiras [que conta sejam] verdade”, já que o 45.º Chefe de Estado norte-americano utiliza “as mesmas tácticas que os Nazis nos anos 1930 e 1940”, tornando-se “uma pessoa perigosa para governar o país mais poderoso do mundo”.

Um país à parte

Apesar de todos os tumultos sociais que acontecem, diariamente, Auster insiste que a inspiração para as narrativas de ficção não parte do mundo exterior, mas antes “do inconsciente”, que depois se mistura com os factores sociais “de um país construído por imigrantes”, no qual Nova Iorque funciona como um antídoto contra a crescente divisão visível nos Estados Unidos.

“Nova Iorque é encarada como a cidade representante do ideal norte-americano, [sendo que] 40 por cento dos seus habitantes nasceram noutros países [mas], às vezes, acho que a cidade devia abandonar os Estados Unidos e transformar-se num estado separado, porque o resto do país não percebe [o que o local simboliza]”, disse.

Questionado mais directamente quanto às falhas do Partido Democrata, de acordo com Auster “tudo se alinhou perfeitamente” a favor do magnata, reduzindo as hipóteses de Hillary Clinton, que perdeu votos devido “a um país misógino”.

O romancista “queria que Hillary percorresse o país da mesma forma que Martin Luther King [aquando do Movimento dos Direitos Cívicos]”, contrastando com o método de Trump, ao escolher “incitar o pior da natureza humana”, com “30 a 35 por cento do país a adorar aquilo que ele faz”. Estas são as razões que levam Paul Auster a concluir que “uma grande percentagem do eleitorado americano jamais votaria” em Hillary Clinton.

Portugal foi o sétimo país europeu por que passou, no espaço de um mês, para promover “4 3 2 1”, algo que levou o autor a verificar que as mudanças e a “nova era” de que fala se tratam de “um fenómeno global” que coloca a Europa e os Estados Unidos em posições similares, seja devido aos resultados do Brexit [referendo que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia], ou devido à vitória de Donald Trump.

14 Set 2017