Literatura | Inéditos de E. M. Melo e Castro expostos em Brasília

Brasília, a capital brasileira, recebe a partir de amanhã e até 16 de Dezembro, a exposição “Poesia Experimental Portuguesa”, que reúne obras datadas de 1960 até à actualidade, com inéditos do poeta E.M. Melo e Castro

[dropcap]A[/dropcap]presentada pela primeira vez ao público brasileiro, a colectânea, composta por cerca de 80 trabalhos de 18 artistas portugueses, percorre uma trajectória de seis décadas de produção poética em diferentes formatos e suportes: impressões, pinturas, caligrafias, fotografias, objetos, áudios e vídeos.

A Caixa Cultural Brasília será o local que irá acolher a exposição, que conta com curadoria de Bruna Callegari e Omar Khouri.

À agência Lusa, Bruna Callegari explicou como se deu o processo de escolha e recolha do material para dar forma a esta exibição.

“A recolha foi feita em Portugal, em duas viagens, onde percorremos as cidades do Porto, Lisboa e Coimbra, encontrando esses autores ou então os seus familiares, pois muitos deles já faleceram. (…) É um material bastante rico, bastante panorâmico dessa poética experimental, e que revela, justamente, a versatilidade de suportes e formatos a que esses poetas recorreram para realizar as suas criações”, disse a curadora da mostra.

A Poesia Experimental Portuguesa surgiu na década de 1960, desafiando métodos e convenções pré-definidas na cena artística da época. Reconhecida em outros países como concreta, visual, espacial ou ‘intersemiótica’, autodenominou-se, em Portugal, Poesia Experimental com o lançamento, em 1964, de uma revista com o mesmo nome.
Apesar da exposição estar programada, inicialmente, apenas para Brasília, Bruna Callegari assegura que existe o interesse de tornar a exibição itinerante em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro porque, segundo a curadora brasileira, o intercâmbio cultural que deriva desta apresentação faz todo o sentido para o Brasil. “A motivação [de montar esta exposição] foi a de dar a conhecer, de fazer esse intercâmbio cultural e mostrar ao público brasileiro um pouco dessa poesia que é tão inteligente, tão engenhosa, enfim, uma poesia bastante instigante”, explicou.

Na exposição, destacam-se obras de artistas como E. M. de Melo e Castro, Ana Hatherly, António Aragão, Salette Tavares, Silvestre Pestana, António Barros, Fernando Aguiar e Emerenciano, entre outros.

Ernesto Manuel de Melo e Castro, pioneiro da poesia experimental em Portugal, é um dos artistas portugueses mais acarinhados pelo público brasileiro, e que marcará presença nesta mostra, com a exibição de trabalhos inéditos. Aos 86 anos, e a viver na cidade de São Paulo, Melo e Castro contou à Lusa o que o move dentro da poesia experimental.

“A poesia experimental não é uma escola, não é um clube de poetas, não é um grupo de geração, até porque há poetas muito mais novos do que eu (…). O que caracteriza a atitude experimental na poesia é a problematização da invenção (…). Vamos perguntar ‘porquê?’ e ‘como?’ e propor respostas também, mais do que dar respostas definitivas”, explicou o poeta português, nascido na Covilhã.

Letras de vanguarda

Para a exposição em Brasília, Ernesto de Melo e Castro trará à luz dos visitantes, trabalhos nunca antes exibidos, feitos através do computador, numa exploração da tecnologia a favor da poesia. “Para esta exposição, dei trabalhos feitos em computador com imagens fractais, originais, que nunca foram vistas e que eu imprimi de propósito. Já as tinha criado porque não tenho uma atitude pragmática, no sentido de escrever ou criar com uma finalidade. Estou num movimento sempre constante de criação e de pesquisa de novos meios, principalmente os tecnológicos” afirmou o artista, que foi também um dos pioneiros da engenharia têxtil em Portugal, nas décadas de 1950/1960. “Os fractais oferecem um campo que não tem fim, são imagens realmente extraordinárias, criadas com algoritmos matemáticos e que resultam em imagens com uma beleza estética fora do comum”, explicou Melo e Castro, acrescentando: “Tenho aqui umas 400 ou 500 imagens fractais que fiz em toda a minha vida, e escolhi entre dez ou 12 [para esta exposição]”.

Licenciado em engenharia têxtil, mas com um percurso de vida sempre ligado à Literatura – o que inclui um Doutoramento em Letras pela Universidade de São Paulo – Melo e Castro não esconde a forte ligação que tem com o Brasil, país onde vive há mais de 20 anos.

“A minha relação com os poetas concretos e experimentais brasileiros foi sempre uma relação de amor. Isso não há dúvida. Sinto-me muito bem no Brasil, sinto-me optimamente. As minhas relações não são só com o Brasil, mas o Brasil é privilegiado, é o meu melhor amigo. Posso eu dizer isso. E esta exposição, que me foi proposta por dois amigos aqui do Brasil, é um presente magnífico que é dado a todos os portugueses”, disse.

Com o Brasil a atravessar um atípico período eleitoral, Ernesto de Melo e Castro mostrou-se preocupado e entristecido pela situação que o país atravessa, mas apela à luta dos brasileiros. “Acho que o Brasil está a passar por um momento dramático e, de facto, há que lutar pela liberdade, pela inteligência, pela dignidade humana que, neste momento, está muito fragilizada. Esta é a minha opinião, mas eu não posso realmente intervir no movimento político porque eu não sou brasileiro. Eu sou português, vivo aqui, e devo muito ao Brasil. E é com grande pena que vejo o Brasil caminhar por caminhos menos sólidos, sob o ponto de vista político”, lamentou o poeta.

16 Out 2018

Livro de poemas inéditos para fado de Vasco Graça Moura é apresentado em Lisboa

[dropcap]A[/dropcap] obra com poemas inéditos “A Puxar ao Sentimento”, de Vasco Graça Moura, falecido há quatro anos, é apresentada hoje, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.

A obra é composta de poemas inéditos para fado, género musical pelo qual o poeta tinha apreço, tendo sido cantado entre outros, por Mísia, Maria Ana Bobone e Ana Sofia Varela.

A cerimónia conta com a atuação da fadista Katia Guerreiro, que, de Graça Moura, entre vários poemas, gravou “Até ao Fim”, musicado por Mário Pacheco.

“A Puxar ao Sentimento”, com a chancela da Quetzal, é apresentado pelo musicólogo Rui Vieira Nery, autor de “Para uma História do Fado…”.

Com a publicação deste livro, a editora pretende perpetuar a memória de “uma das grandes vozes da poesia e da literatura do nosso tempo” e, ao mesmo tempo, homenagear o fado, contribuindo para “abrir (ainda mais) as suas portas”.

“Marcados pelo seu génio melancólico e pleno de ironia”, sublinha a Wuetzal.

Vasco Graça Moura foi um autor de vasta obra poética, ensaística e de ficção, bem como tradutor, designadamente das “Rimas”, de Francesco Petrarca, “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, “Os Sonetos de Shakespeare”, ou as “Elegias de Duíno e Os Sonetos a Orfeu”, de Rainer Maria Rilke.

Vasco Graça Moura recebeu, entre outros, os prémios Pessoa, em 1995, P.E.N. Clube de Poesia, em 1993, e os Grandes Prémios de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE), em 1998, e o de Romance e Novela APE, em 2004. Em 2007 recebeu o Prémio Vergílio Ferreira e o Prémio de Poesia Max Jacob Étranger.

Vasco Graça Moura foi deputado ao Parlamento Europeu pelo PSD, de 1999 a 2009, e esteve à frente do CCB de 2012 a 2014, entre outras funções públicas como as de administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1979-1989), presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995).

O Estado português, entre outras condecorações, agraciou-o com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada, em janeiro de 2014, cerca de três meses antes de morrer, aos 72 anos.

O livro de poesia “Modo Mudando” marcou a sua estreia editorial em 1963. Na ficção estreou-se em 1987 com o romance “Quatro Últimas Canções”, sete anos depois de publicar o seu primeiro ensaio, “Luís de Camões: Alguns Desafios”.

Regressou a Camões, um dos poetas que admirava, em 2014, com a publicação do seu último ensaio, “Retratos de Camões”.

15 Out 2018

António Borges Coelho defende museu da Expansão Portuguesa dos séculos XV e XVI

[dropcap]O[/dropcap] historiador português António Borges Coelho, numa entrevista à agência Lusa, defendeu a criação de um museu dedicado à Expansão Portuguesa, por ter sido “foi um período fantástico na História da Humanidade”, de que “não temos de ter vergonha”.

Sobre o projeto de um museu dedicado à Expansão Portuguesa nos séculos XV e XVI, António Borges Coelho disse: “É um absurdo esta polémica. O passado é o passado. A primeira grande globalização é uma coisa fantástica para qualquer povo. Não temos que ter vergonha, e mesmo os povos que foram oprimidos, não foram só oprimidos. [Afonso de] Albuquerque [1453-1515] dizia que não podia tirar a cabeça do navio, pois corria risco de ficar sem ela”.

“Houve uma guerra comercial na Índia pelo domínio do comércio das especiarias, designadamente a pimenta. E foram os portugueses que ganharam essa guerra”, esclareceu.

Borges Coelho enfatizou: “É preciso uma coragem brutal para [fazer] uma viagem de navio, de mais de meio ano, nas condições técnicas [da época], [enfrentar] as tempestades, as doenças no mar – quase metade das pessoas ficava no caminho. Não brinquem comigo!”

“Na verdade, foi um período fantástico na História da Humanidade, exatamente como ela é. Não podemos dizer que não houve bandidos – houve montanhas [deles]. O Albuquerque foi um homem terrível, mas foi também um homem de génio, que abriu uma rota efetiva na História da Humanidade, ele o [Vasco da] Gama e companhia”.

O historiador, autor da obra “Questionar a História” (1983), defendeu “um museu com tudo lá e não só o retrato do herói com as flores em baixo, mas que refira os vários povos”.

“Se lermos as ‘Décadas da Ásia’, não estão lá só os feitos dos portugueses, estão também os dos outros povos, e estão os costumes e a geografia. Os próprios povos aprenderam algumas coisas com aquilo que os portugueses fizeram naquela época”.

Neste processo de expansão, Borges Coelho aponta o infante D. Henrique como “uma personagem importantíssima”, com um “papel que ninguém lhe pode tirar”, tendo sido o obreiro da bula que permitiu a expansão portuguesa, e quem equipou os barcos e congregou os homens.

15 Out 2018

Fotografia | Projecto de Nuno Cera revela os paradoxos da paisagem local

Termina hoje a primeira residência artística promovida pela associação cultural Babel que levou o artista visual Nuno Cera a trabalhar e viver durante um mês em Macau. Da experiência por cá vivida, em termos conceptuais, o artista destaca o confronto entre o novo e o velho e o choque identitário em que a cidade vive

[dropcap]N[/dropcap]uno Cera, que já esteve no território na altura da transferência de administração, passou um mês em Macau a explorar a cidade através da captura de imagens. A oportunidade surgiu na sequência da primeira residência artística promovida pela Associação Cultural Babel, apoiada pela Fundação Oriente, e permitiu ao artista trabalhar e viver durante um mês no território.

A estadia revelou-se com um interesse acrescido, visto poder testemunhar com este regresso, as mudanças “drásticas” que se deram a nível de paisagem e urbanismo. “Estive há 18 anos em Macau, durante a transferência de administração, por isso tenho a possibilidade de fazer uma comparação em que registo uma cidade que se transformou totalmente com os novos territórios ou com toda uma zona do Cotai que na altura não existia”, começou por contar ao HM. Aliás, é o crescimento da urbe que tem pautado muitos dos projectos a que o artista se dedica.

Dentro do trabalho que tem vindo a desenvolver, intitulado “Futureland”, Nuno Cera fotografou Istambul, Cairo, Dubai, Los Angeles, Cidade do México, Xangai, Hong Kong, Jacarta e Mumbai.

Do trabalho realizado em Macau, Nuno Cera destaca o confronto entre os diferentes tempos das construções que ocupam o território, sendo que as fotografias que tem feito “abordam em particular esta questão em que o novo e o velho estão ao mesmo tempo muito próximos e muito distantes”, explicou.

A exploração da urbe está presente no trabalho de Nuno Cera desde o tempo em que viveu na Amadora. “Sendo um subúrbio de Lisboa, em que se sente a periferia e o suburbano”, o afastamento do que está central levou o artista “ao encontro das coisas que estão à margem”.

Foi também nessa altura que se começou a interessar por arquitectura, nomeadamente “do que transmite e das sensações que lhe estão associadas”.

Relativamente ao que sentiu em Macau, Nuno Cera destaca “uma certa decadência que implica o conceito de passagem do tempo, de sujidade e que tem um valor que por vezes pode ser bastante estético e romântico”.
Por outro lado, é um território que possibilita uma experiência “quase distópica, não real que transmite a sensação de uma identidade que não é muito óbvia””.

O poder do artificial

Os edifícios dos casinos não passaram indiferentes ao olhar do artista que inaugurou o programa de residência da Babel. “Não podia deixar de destacar toda aquela artificialidade, todo o capitalismo e esta atracção pelo consumismo que me interessa em especial até pela contraposição com outros locais que existem no território”, refere o artista.

O resultado deste trabalho vai ser dado a conhecer através de uma exposição que se realiza em Maio do próximo ano. Na mostra vai estar patente a convivência entre os diferentes “mundos que habitam a cidade e a relação entre a natureza e o urbano na sua dualidade e contraste”.

Do trabalho que desenvolveu pela região, constou ainda a deslocação a Hong Kong e a Cantão o que enriqueceu os interesses e resultados. “Foram locais onde tive experiências urbanas muito intensas, foi muito interessante ver como Cantão está a crescer e a desenvolver-se e como a sociedade se relaciona com isso”.

Em Hong Kong, a circulação de pessoas foi um dos aspectos que mais impressionou a lente de Nuno Cera, nomeadamente pela necessidade de vários tipos de passagens para se chegar aos locais numa cidade vertical em que se anda muito em plataformas.

Da experiência que tem no trabalho sobre cidades, Nuno Cera revelou a tendência dos centros urbanos se tornarem cada vez mais parecidos entre si. “Obviamente que há aspectos que identificam cada um dos locais, mas há cada vez mais muita coisa muito parecida, como se fosse uma espécie de globalização da urbe”.

Apesar da curiosidade pela vertente humana que as cidades integram, as pessoas ficam de fora das imagens de Nuno Cera. “Tenho sempre um certo pudor em fotografar pessoas directamente. Acho que vou contra a sua privacidade”, esclareceu.

O projecto que se debruça sobre o território vai, em princípio, chamar-se “Blured City” – cidade desfocada “mas pode ainda mudar”, apontou. O título, para já provisório, faz sentido para o artista uma vez que “Macau é uma cidade desfocada porque tem duas identidades que estão em confronto e em que se perde um pouco de uma identidade original”.

15 Out 2018

Filósofo José Gil diz que “Tudo o que resulta das velhas verdades falhou”

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om um elogio ao inconsciente na formação do conhecimento, o filósofo e ensaísta José Gil defende que é nesse inconsciente e no caos que ele provoca que podem estar as novas soluções para os antigos problemas atuais.

“Tudo o que resulta das velhas verdades falhou”, disse o filósofo, numa sessão na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, onde apresentou o seu livro mais recente, “Caos e Ritmo”.

Num final de tarde de meteorologia incerta, o ensaísta e filósofo dissertou sobre o caos como origem das certezas, a partir dos fragmentos de ideias que “possam entrar numa continuidade consistente”.

“Se olharmos para a Arte, para a Cultura, para a Ciência, para os princípios morais, encontramos constantemente fragmentos, a que nos referimos como um caos”, explica José Gil, dizendo que é nesse caos fragmentado que devemos procurar as explicações para o que nos rodeia, rejeitando muita da lógica que até agora considerámos válida.

“Temos de conseguir unir o que é heterogéneo”, acrescenta o pensador, numa evidente referência às atuais questões da inclusão e dos riscos da manipulação. “As ‘fake news’ são um aspeto não completado do estilhaçamento do real”, diz José Gil.

José Gil fala ritmadamente, com argumentos que se percebe terem nascido de reflexões construídas com a avidez de quem gosta de interrogar tudo, pensar tudo.

Mas afinal, o que é pensar?

A questão é central no livro “Caos e Ritmo”, mas o problema dilui-se rapidamente em mil fragmentos de temas que se acumulam nas 504 páginas recentemente editadas pela Relógio d’Água, num livro em acabamento de capa mole.

E essas duras dúvidas foram repetidas de diferentes maneiras, como se esmiuçadas de diferentes perspetivas, na sessão na Escola das Artes, da Universidade Católica do Porto.

A conversa decorreu num palco improvisado ao lado de um auditório que se chama Ilídio Pinho, o nome do empresário de Vale de Cambra que fez fortuna com embalagens metálicas, na base de uma Fundação com várias iniciativas de mecenato, uma questão que Gil também questiona, sem o abordar diretamente, mas deixando o tema pairar, quando fala da questão da sustentabilidade do ato de pensar, na era da ‘cultura negócio’.

Mas o que move José Gil é mais a compreensão de como o caos pode criar ritmo, e o ritmo, por sua vez, a ordem, onde, no final, tudo se sustenta.

José Gil é um ensaísta português, nascido em Moçambique em 1939, com formação matemática antes de transitar para a filosofia, onde tem praticado a sua imensa curiosidade, derramada em diversos livros, que atravessam décadas com reconhecido prestígio.

O semanário francês Le Nouvel Observateur colocou-o na lista dos 25 pensadores mais influentes do planeta, no mesmo ano em que recebeu o Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio (2005). José Gil foi também distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira (2012), da Universidade de Évora.

Nenhuma destas distinções parece afetar no seu discurso, que apenas formalmente se afigura distanciado do mundo real em que assenta o seu conhecimento, mas que, na verdade, constantemente regressa a esse real.

Como quando, na sua reflexão, hoje, na Escola das Artes, José Gil remeteu para exemplos da atualidade: da atualidade que nos interpela, mas também da atualidade que nos aliena dessa mesma realidade, por discursos que intermedeiam a nossa compreensão do que se passa à nossa volta.

Também por isso a linguagem é tão importante: porque ela corporiza o pensamento e revela o inconsciente.

“Porque é necessário que se explique à criança a sua enfermidade e a sua diferença relativamente às crianças normais? Porque só assim ela poderá adquirir uma imagem inconsciente do corpo sã”, escreve José Gil logo nas páginas iniciais de “Caos e Ritmo”.

A liberdade da palavra é um dos pilares essenciais do pensamento de José Gil, nesta obra, como na sessão no Porto, onde fala dessa linguagem como arma privilegiada para combater as ameaças totalitárias, fundadas na negação da heterogeneidade, aí considerada uma representação de um caos incompreendido e indesejado.

Essa linguagem, por vezes, remete para um nível de compreensão da realidade que colide com a lógica tradicional, o que ajuda a explicar por que na área da psiquiatria são os chamados “feiticeiros” aqueles que mais eficácia podem conseguir na cura, sendo esses “feiticeiros” exatamente os psiquiatras que desafiam o pensamento tradicional sobre o funcionamento da mente humana, explicou José Gil na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto.

A “magia” dos “feiticeiros” ‘cozinha-se’ ao nível do inconsciente, diz o pensador, remetendo para essa arquitetura de soluções não-lógicas que se desenvolvem inesperadamente nas mais diferentes áreas, seja na Medicina, na Matemática ou na Filosofia.

A verdade é que José Gil acredita que tudo tem regras – seja um bailado, um poema, um algoritmo, ou uma posição de ioga – mas essas regras nem sempre são conscientes.

E é nessa ordem das coisas que a razão, a razão pura Kantiana (a tese de Mestrado de José Gil foi sobre Kant), procura ocultar aquilo que pode ser uma explicação para o sentido da vida, se existisse um sentido da vida (o tema pairou no debate, mas nunca lá aterrou).

Mas não será a ameaça de uma catástrofe planetária a negação dessa ordem? Ou pelo menos, da sua afirmação pela razão ordenada pelo ritmo?

“A ameaça está aí…”, foi a única resposta que o pensador deixou, na sessão do Porto, olhando a plateia, como se a interpelasse para mil outras perguntas, fragmentadas.

14 Out 2018

Família de Prince pede a Trump que deixe de usar a música do cantor nos comícios

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] família de Prince pediu ao Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, que deixe de usar a música do cantor, falecido em 2016, durante os seus comícios, como tem ocorrido por várias vezes.

“Os herdeiros de Prince nunca deram a sua autorização ao Presidente Trump ou à Casa Branca para utilizar as canções de Prince e pedem que parem imediatamente qualquer utilização”, escreveu na rede social Twitter Omarr Baker, meio-irmão de Prince Rogers Nelson, de seu verdadeiro nome.

Solicitado pela France-Press a comentar, a comissão de campanha de Trump não respondeu.

Vários meios de comunicação norte-americanos avançaram que a equipa de campanha de Trump teria usado a canção emblemática de Prince ‘Purple Rain’ em vários comícios.

Este é o mais recente caso de uma longa lista de artistas cujos herdeiros, ou eles próprios, solicitaram a Trump que não utilize a sua música durante os seus comícios.

Rolling Stones, Adele, Neil Young, R.E.M., Aerosmith ou Queen, bem como os herdeiros de George Harrison, denunciaram o uso das suas obras durante as reuniões republicanas.

14 Out 2018

Vencedor do Prémio LeYa de Literatura é conhecido na próxima semana com júri renovado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vencedor do Prémio LeYa de Literatura, o maior galardão para uma obra inédita escrita em língua portuguesa, no valor monetário de 100 mil euros, com a edição pelo grupo editorial, é anunciado no próxima quarta-feira.

O júri da edição deste ano do prémio, a 10.ª, revela alterações, com as saídas do escritor angolano Pepetela e dos professores e críticos brasileiros José Castelo e Rita Chaves, que são rendidos pela escritora angolana Ana Paula Tavares, a jornalista e crítica literária portuguesa Isabel Lucas e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck, segundo comunicado do grupo LeYa, enviado à agência Lusa.

“No seu décimo aniversário, o Prémio LeYa apresenta este ano novidades no seu júri. Perante a saída do escritor angolano Pepetela e dos professores e críticos brasileiros José Castelo e Rita Chaves – os quais, desde já, homenageamos pela excelente colaboração de muitos anos com o prémio -, passam este ano a fazer parte do júri do Prémio LeYa a escritora e poeta angolana Ana Paula Tavares, a jornalista e crítica literária portuguesa Isabel Lucas e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck”.

O escritor Manuel Alegre mantém a presidência do júri, do qual continuam a fazer parte Lourenço do Rosário, professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo, José Carlos Seabra Pereira, professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra, e o escritor e poeta Nuno Júdice.

Segundo a mesma fonte, o júri “vai reunir-se na sede da LeYa, em Alfragide, no concelho da Amadora, nos arredores de Lisboa, nas próximas terça e quarta-feira, “estando o anúncio da decisão quanto ao romance vencedor agendado para as 12:00 da próxima quarta-feira, no mesmo local”.

Ao galardão candidataram-se este ano, 348 originais provenientes de 13 países, segundo a mesma fonte, adiantando que a maioria provém de Portugal e Brasil, porém realçou que chegaram “obras de países tão diversos como Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China ou até mesmo da Islândia”.

No ano passado, o vencedor foi o romance “Os Loucos da Rua Mazur”, de João Pinto Coelho.

O galardão foi atribuído pela primeira vez em 2008, ao brasileiro Murilo Carvalho, pelo romance “O Rastro do Jaguar”, e por duas vezes não foi atribuído – em 2010 e em 2016 -, dada a qualidade dos originais a concurso, segundo justificou então o júri.

“O Olho de Hertzog”, de João Paulo Borges Coelho, venceu o prémio em 2009, “O Teu Rosto Será o Ultimo”, de João Ricardo Pedro, em 2011, “Debaixo de Algum Céu”, de Nuno Camarneiro, foi o vencedor em 2012, ao qual se sucedeu “Uma Outra Voz”, de Gabriela Ruivo Trindade, em 2013. Em 2014 venceu o romance “O Meu Irmão”, de Afonso Reis Cabral, e, em 2015, “O Coro dos Defuntos”, de António Tavares.

14 Out 2018

Robin Moyer, fotojornalista: “World Press Photo é um acontecimento importante”

O número de fotojornalistas é o mesmo hoje e há 30 anos. A ideia é deixada por Website oficial de Robin Moyer, o fotojornalista americano, radicado em Hong Kong, que vai estar à frente da conversa que tem lugar amanhã pelas 17h, no âmbito da exposição World Press Photo 2018

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar da massificação da imagem, nomeadamente nas plataformas online, o fotojornalismo de qualidade continua a ter um espaço de destaque, defende Robin Moyer para quem o concurso da World Press Photo ainda é garantia disso mesmo.

“Penso que o World Press Photo é um acontecimento importante até porque existe um júri conhecedor e de confiança”, começa por dizer ao HM. Trata-se de uma iniciativa que mantém a premiação de imagens que traduzem a realidade. “ Ainda são fotografias verdadeiras dentro do universo do fotojornalismo, são reais”, acrescenta.

São estas fotografias que demarcam as imagens dos fotógrafos profissionais das muitas que invadem actualmente os meios de comunicação, defende.

Prova disso é o número de fotojornalistas profissionais que existem actualmente e que não é ser muito diferente dos que existiam há 25 ou 30 anos “, refere. A explicação é simples: “O facto de toda a gente ter uma câmara não significa que seja um fotojornalista”.

Sediado em Hong Kong, Moyer foi já distinguido com vários prémios por trabalhos na Ásia e no Médio Oriente, incluindo o World Press Photo Premier Award e Robert Capa Gold Citation do Overseas Press Club de Nova Iorque, ambos pelo trabalho publicado na revista Time sobre a guerra no Líbano (1982).

Ser fiel

Para Moyer, o fotojornalismo tem que ver apenas com a captura fiel da realidade, coisa que não é conseguida por muita gente. “É preciso transmitir o que acontece sem que se recorra a manipulação da imagem”. A subjectividade do fotojornalista reside apenas na decisão que faz ao escolher o que decide abranger através da sua câmara, explica.

Sem subterfúgios, Robin Moyer considera que as fotografias aparecem no mundo em que vive, sendo que as questões técnicas acontecem de forma espontânea. “Não penso nas imagens de uma forma consciente, acho que só ando com os olhos bem abertos e se há alguma coisa que me faz olhar para ela duas vezes, então tiro uma fotografia”

Cenas de guerra

Foi num cenário de guerra, no Líbano, que fotografou a imagem premiada em 1882  com o World Press Photo Premier Award e com o Robert Capa Gold Citation do Overseas Press Club de Nova Iorque.

As situações de conflito têm pautado a seu carreira sendo que “o mais importante é que os elementos das equipas que partilham estes contextos olhem uns pelos outros”, refere.

Por outro lado, são cenários que acabam por alhear o fotógrafo, durante o seu trabalho, do contexto em que se encontra. “É como se estivéssemos a viver uma situação irreal enquanto fotografamos e que deixa de o ser se paramos de o fazer”, aponta.

A defender, ilusoriamente, o profissional da realidade está a câmara que funciona como um escudo subjectivo mas muito eficiente. “A câmara demarca uma espécie de campo de protecção e quando se está por destrás dela, de alguma forma e estupidamente, sentimo-nos protegidos e, mal deixamos a largamos, ficamos a descoberto e é aí que não temos mais nada a não ser a realidade da situação”, confessa.

Uma vida de imagens

Robin Moyer começou a sua carreira como operador de câmara no Vietnam dentro enquanto trabalhava para a UPITN/ITV em 1970.

De 1973 a 1975, viajou por todo o sul dos Estados Unidos em missão para a Comissão Regional dos Apalaches. Em 1974 fundou a escola  PhotoWorks no Glen Echo National Park.

Entre 1978 e 1998, Moyer trabalhou para a Time, tendo imagens destacadas acerca dos refugiados do Camboja e do Afeganistão. Liderou ainda equipas de fotógrafos responsáveis pelo registo  da revolta Filipina em 1986, das Olimpíadas de Seul em 1988 de Tian An Men em 1989.

É ainda responsável por retratos de personalidades como Lee Kwan Yew, Mahathir Mohamed, Aung San Suu Kyi, Fidel Ramos, Corazón Aquino, Stan Shen (fundador da ACER), Li Ka-shing. Kim Dae Jung, Kim Young Sam, Zhao Ziyang e Deng Xiaoping.

Das publicações para que trabalhou destaca-se a Life, Fortune, People, Newsweek, The Far Eastern Economic Review, Paris Match, The London Sunday Times Magazine, Smithsonian Magazine, New York Magazine, Elle, e Vanity Fair.

12 Out 2018

Brasil/Eleições | Congresso de José Saramago fez apelo à defesa da democracia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pelos para salvar a democracia no Brasil marcaram esta quarta-feira, em Coimbra, o encerramento do congresso internacional sobre José Saramago, em que a viúva do escritor assinou um documento contra a ascensão da extrema-direita no maior país lusófono.

“Há que salvar a democracia no Brasil. Não se pode chegar a uma ditadura fascista votando”, na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, no dia 28, entre Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal, extrema-direita) e Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores, esquerda), disse Pilar del Río à agência Lusa, no final dos trabalhos.

A presidente da Fundação José Saramago assinou um texto que circulou entre os congressistas, muitos deles oriundos do Brasil, intitulado “Em defesa da democracia”, após ter proferido um discurso de encerramento em que questionou a atual situação política na pátria do escritor Jorge Amado e do cantor Chico Buarque, com uma referência política que mereceu o aplauso dos presentes.

“Temos uma experiência terrível com Hitler”, que nos anos 30 do século XX chegou ao poder na Alemanha através de eleições, alertou depois, em declarações à Lusa.

Para Pilar del Río, “não se trata de votar em A ou B”, mas antes de prevenir as consequências futuras de um eventual sufrágio popular, nas urnas, de políticas de intolerância que negam a democracia e discriminam as minorias.

“Antes de nos arrependermos no futuro, sejamos ativos agora, não o permitamos”, preconizou a viúva do autor de “Levantado do Chão”, que há 20 anos foi distinguido pela Academia Sueca com o Prémio Nobel da Literatura.

No documento sobre as eleições no Brasil, os congressistas manifestam-se “profundamente preocupados com o que está acontecendo no Brasil” em torno do processo eleitoral.

“Estão em jogo valores e conquistas de uma civilização ocidental que o Brasil abraçou ao longo de séculos. Democracia, tolerância, direitos humanos, cultura da paz, sempre!”, proclamam.

José Saramago, recordou Pilar del Río, “tinha raiva de que neste momento há meios para evitar a desgraça, as agruras, a pobreza e não estamos a usar os mecanismos que temos para o bem comum” – um pouco por todo o mundo – “e isso indignava-o profundamente”.

“Trata-se de levantar a cabeça, dizer que somos humanos, que não somos seres descartáveis, e eleger o nosso futuro democraticamente”, defendeu.

Na segunda volta das eleições no Brasil, no dia 28, “há que votar bem, há que votar contra isso”, tendo em conta que na sociedade “há pobres, mulheres, diferentes e emigrantes” que precisam de solidariedade e da proteção dos poderes públicos.

Pilar del Río destacou, por outro lado, a presença das personagens femininas na obra literária de Saramago.

As mulheres “são as personagens fundamentais e fortes da obra saramaguiana”, as quais “não se acomodam às circunstâncias”, acrescentou.

Elas “têm valores e com esses valores vão para a vida, independentemente do que está na moda”, afirmou a antiga jornalista.

A primeira volta das eleições no Brasil foi vencida por Jair Bolsonaro, com 46% dos votos, enquanto o seu opositor Fernando Haddad ficou em segundo lugar, com 29,3%.

Organizado pela Universidade de Coimbra, em colaboração com a Fundação José Saramago e outras entidades, o congresso “José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel” decorreu em Coimbra, entre segunda-feira e hoje, tendo a abertura dos trabalhos contado com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes.

12 Out 2018

Organização do Festival da Lusofonia de Macau espera cerca 25 mil participantes

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização do Festival da Lusofonia de Macau espera acolher cerca 25 mil participantes, entre 19 e 21 de outubro, informou o Instituto Cultural (IC).

“O evento o ano passado durou 4 dias e teve cerca de 25.000 participantes. Este ano, o evento terá a duração de 3 dias e são esperadas 25.000 pessoas”, apontou o IC, numa nota enviada à lusa.

As autoridades de Macau destacaram a longevidade e o sucesso deste festival: “a primeira edição do Festival da Lusofonia realizou-se em 1998, integrada no programa de atividades que celebra o Dia Nacional de Portugal, a 10 de Junho, em homenagem aos residentes da comunidade de língua portuguesa residentes em Macau pela sua contribuição para o desenvolvimento do território”.

Para o IC este festival “ganhou uma tal popularidade” que já é um dos maiores eventos culturais no território que “contribuiu para a promoção do turismo local e internacional”, devido ao “programa diversificado de atividades, nomeadamente a cultura de cada comunidade residente em Macau, como a gastronomia, música e dança e jogos para todas as idades”.

A partir do dia 19 de outubro, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Macau vão ter expositores com artesanato e petiscos e bebidas típicas junto às Casas-Museu da Taipa.

Em resposta à Lusa, a Casa de Portugal destacou que este ano o espaço luso “vai contar com a presença do artesão Arlindo Moura, da Rota da Filigrana, que concilia esta arte com a cortiça”, enfatizando para a importância desta festa no território “para todos os membros das diversas comunidades lusófonas”.

Já a Casa do Brasil em Macau aposta no artista brasileiro Fábio Panone Lopes, que trabalha com grafite, para transformar o espaço canarinho numa favela.

“Ele vai pintar uma mini favela, que é uma realidade brasileira, para nós mostrarmos que não há só coisas más nas favelas, também há muita coisa boa”, explicou à Lusa a presidente da Casa do Brasil, Jade Martins.

A associação guineense escolheu como tema a pesca tradicional daquele país. “Dá-nos a oportunidade de mostrámos a nossa cultura e a forma como as famílias vivem”, apontou a presidente da Associação dos Guineenses, Naturais e Amigos da Guiné-Bissau em Macau, Grazia Lopes.

Por outro lado, a associação de Timor-Leste vai apostar na promoção turística do país, especialmente “as praias paradisíacas do ilhéu de Jaco”, porque Timor-Leste, “não é só Díli”, disse a vice-presidente da Associação de Amizade Macau-Timor.

A presidente da Associação Amizade Macau-Cabo Verde, Ada Sousa, apontou que este ano o país irá dar ênfase às danças tradicionais do país.

Por fim, o presidente Associação Angola-Macau, Alexandre Correia da Silva, preferiu destacar o facto do evento “ser muito importante para a comunidade de Macau” e que no ‘stand’ do país vão estar algumas informações sobre Angola.

O Festival da Lusofonia articula-se com a semana cultural da China e países lusófonos, que está a decorrer desde segunda-feira, com a participação de mais de 130 artistas com concertos no Largo do Senado, no coração de Macau, e na Doca dos Pescadores de grupos de Portugal (D.A.M.A), Cabo Verde (Grace Évora e Banda), Angola (Paulo Flores), Timor-Leste (Black Jesuz), Moçambique (Moza Band), Brasil (Banda Circulô), Guiné-Bissau (Rui Sangara), São Tomé e Príncipe (Alex Dinho) e China (Grupo Artístico Folclórico de Songjiang).

11 Out 2018

Taylor Swift é a grande vencedora dos American Music Awards e apela ao voto nos EUA

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]aylor Swift foi a grande vencedora dos American Music Awards (AMA), na noite de terça-feira, no Microsoft Theater, em Los Angeles, com quatro galardões, incluindo artista do ano, assim como a latina Camila Cabello, que arrecadou outras quatro distinções.

No discurso de agradecimento dos prémios, a cantora norte-americana – que, além de artista do ano, recebeu ainda o de digressão do ano, melhor álbum Pop/Rock e melhor artista feminina Pop/Rock – reforçou o apelo aos americanos para que votassem nas eleições intercalares de novembro, dois dias depois de, na rede social Instagram, ter declarado que vai votar pelo Partido Democrata.

“Só quero mencionar que este prémio [artista do ano] e todos e cada um dos prémios entregues esta noite foram votados pelo povo. E sabem que mais é que o povo vai votar? (…). As eleições intercalares de 06 de novembro. Saiam e votem”, disse Taylor Swift, em Los Angeles.

A estrela pop fez referência às próximas eleições nos EUA, nas quais os democratas esperam recuperar o terreno perdido contra os republicanos e o atual presidente, Donald Trump.

Swift tem chamado a atenção da comunicação social nos últimos dias, depois de ter quebrado o seu silêncio político e escrito uma longa mensagem na rede social Instagram, na qual tem 112 milhões de seguidores, em que garante que votará em candidatos democratas.

Desde segunda-feira, de acordo com a plataforma vote.org, os centros de recenseamento têm registado números recorde de inscrições, sobretudo em eleitores entre os 18 e os 29 anos. Dos 240 mil novos registos de outubro, em vésperas de fecho do recenseamento, 102 mil são posteriores ao apelo de Taylor Swift, segundo esta associação.

A outra grande vencedora da noite dos American Music Awards foi a cubano-americana Camila Cabello, que venceu nas categorias de nova artista do ano, melhor colaboração, melhor vídeo e melhor canção Pop/Rock (estas últimas três categorias para o tema “Havana”).

“Não posso acreditar que ganhei este”, disse a jovem cantora ao receber o prémio de nova artista do ano.

Cabello, que afirmou estar “sem palavras”, agradeceu aos seus pais, presentes na cerimónia, e aos seus seguidores.

Por seu turno, a também latina Cardi B, uma das favoritas aos AMA com oito nomeações, ganhou três prémios: melhor artista de rap/Hip-Hop, melhor rap, por “Bodak Yellow” e melhor música de soul/R&B, por “Finesse” com Bruno Mars.

A rapper foi, além disso, uma das estrelas da noite com uma interpretação muito latina e espetacular de sua música “I Like It”, com o colombiano J Balvin e o porto-riquenho Bad Bunny.

Pior sorte teve o canadiano Drake, que também tinha oito nomeações, mas acabou por sair da gala de mãos vazias.

A 46ª edição da AMAs, que teve Tracee Ellis Ross como mestre de cerimónias, começou com Taylor Swift interpretando ao vivo “I Did Something Bad”.

Frente ao microfone, também desfilaram, além de Cardi B e Camila Cabello, outros artistas como Mariah Carey, Jennifer Lopez, Shawn Mendes, Twenty One Pilots, Dua Lipa, Ciara ou Carrie Underwood.

O grupo norte-americano Panic! At the Disco prestou homenagem à banda inglesa Queen, com a famosa música “Bohemian Rhapsody”.

No entanto, o momento mais emocionante dos AMA foi o tributo à estrela da ‘soul’ Aretha Franklin, que morreu em agosto, aos 76 anos, no qual se juntaram as vozes de cantoras como Gladys Knight, Ledisi e CeCe Winans.

As nomeações para os American Music Awards baseiam-se nas vendas recordes de álbuns e músicas digitais, transmissões de rádio e ‘streaming’ (transmissão ‘online’) medidos pela Billboard e os seus parceiros Nielsen Music e Next Big Sound. Em contrapartida, os vencedores são escolhidos pelos fãs, com os seus votos.

11 Out 2018

Academia Angolana de Letras contra ratificação do Acordo Ortográfico

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Academia Angolana de Letras (AAL) pediu ao Governo que não ratifique o Acordo Ortográfico (AO), perante os “vários constrangimentos identificados” no documento, que necessita de uma revisão.

A decisão foi apresentada pelo reitor da Universidade Independente de Angola e membro da AAL Filipe Zau, numa conferência de imprensa em que, pela primeira vez, a academia, criada oficialmente em setembro de 2016 e que conta com 43 membros, tomou uma posição pública sobre o Acordo Ortográfico, apresentado em 1990.

“Recomendamos a todos os Estados [membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP] e ao Estado angolano, que é necessário retificar para que se possa ratificar”, disse à agência Lusa Filipe Zau.

Segundo o docente, a academia, que tem como patrono e ocupante da “cadeira número um” o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, decidiu tomar posição após auscultar os membros.

“Não estamos contra o Acordo Ortográfico em sim, estamos contra este acordo”, sublinhou.

No comunicado, a AAL apresenta um conjunto de razões para justificar a tomada de posição, destacando que, no âmbito dos pressupostos do Acordo Ortográfico de 1990, existe “um número elevado de exceções à regra” que, acrescenta-se, “não concorre para a unificação da grafia do idioma [português], não facilita a alfabetização e nem converge para a sua promoção e difusão” em Angola.

Por outro lado, a AAL lembra que o acordo “diverge, em determinados casos”, de normas da Organização Internacional para a Padronização (ISSO) sobre o conceito ligado à ortografia, além de “não refletir” os princípios da UNESCO nem os da Academia Africana de Letras (ACALAN) sobre a “cooperação linguístico-cultural com vista à promoção do conhecimento enciclopédico e de paz”.

“Face aos constrangimentos identificados e o facto de não ser possível a verificação científica dos postulados de todas as bases do AO, fator determinante para a garantia da sua utilização adequada, a AAL é desfavorável à ratificação por parte do Estado angolano”, lê-se no documento.

A AAL sublinha que, tendo em conta a contribuição de étimos de Línguas Bantu na edificação do Português, o AO não considera a importância das línguas nacionais angolanas como fator de identidade nacional.

“A escrita de vocábulos, cujo étimos provenham de línguas bantu, deve ser feita em conformidade com as normas da ortografia dessas línguas, mesmo quando o texto está escrito em português”, defende a AAL, entidade presidida pelo escritor Boaventura Cardoso e que tem Pepetela como presidente da Mesa da Assembleia Geral.

A academia, sublinha-se no documento, constatou a necessidade de o AO ter de ser objeto de “ampla discussão” entre os vários Estados membros da CPLP, considerando “indispensável” que se estabeleça um “período determinado para a análise, discussão e concertação de ideias” à volta do assunto.

“Tem de se encontrar um denominador comum que permita harmonizar a aplicação do AO de 1990 em todo o espaço comunitário”, refere a AAL, recomendando “maior investimento” dos Estados num “ensino de qualidade”, quem em português, quer nas línguas nacionais, “como contribuição para a preservação” dos vários idiomas.

Na conferência de imprensa, o presidente da AAL, Boaventura Cardoso, lembrou que, em Angola, a língua portuguesa é a oficial e é falada “mais ou menos em todo o país”, tendo-se tornado “materna” para grande parte dos angolanos, uma vez que 65% da população utiliza-a na comunicação diária, tal como revelou o último censo populacional de 2016.

Para Boaventura Cardoso, muitos dos problemas que se levantam e que constituem erros passam sobretudo pela ausência do AO de 1990 dos sons pré-nasais, duplos plurais e de respeito pelos radicais das palavras que emigram das línguas nacionais para o português.

“Impõe-se, pois, rever esta situação e, no nosso caso particular, rever a questão da escrita da toponímia angolana, reassumindo os ‘k’, ‘y’ e ‘w’ na grafia da Língua Portuguesa”, sublinhou, exemplificando ainda com dois exemplos de sons pré-nasais.

“Ngola ou Gola. No primeiro caso, Ngola, trata-se do título do titular máximo do poder no contexto da língua nacional kimbundu. Sem o som pré-nasal, significa a parte superior de uma peça de vestuário. O mesmo se passa com Mfumu e Fumo: Mfumu significa ?chefe’ nas várias hierarquias. Fumo significa o que de tal termo se conhece na Língua Portuguesa”., exemplificou.

Para Boaventura Cardoso, o AO de 1990 “trouxe mais problemas do que resolveu”: “trouxe o iminente risco de uma deriva arriscada que pode levar à desvirtualização da Língua Portuguesa”.

Dos nove países da CPLP, apenas quatro Estados ratificaram o acordo: Cabo Verde, Brasil, São Tomé e Príncipe e Portugal.

11 Out 2018

World Press Photo 2018 | Macau recebe fotojornalista Robin Moyer

Robin Moyer

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotojornalista Robin Moyer, vencedor de vários prémios, vai realizar no sábado, em Macau, uma palestra no âmbito da exposição World Press Photo 2018. Organizado pela Associação de Imprensa Portuguesa e Inglesa de Macau (AIPIM) e pela Casa de Portugal, “Prazos- Uma conversa de Robin Moyer”, está marcada para a Fundação Oriente-Casa Garden de Macau.

Sedeado em Hong Kong, Robin Moyer foi já distinguido com vários prémios por trabalhos na Ásia e no Médio Oriente, incluindo o World Press Photo Premier Award e Robert Capa Gold Citation do Overseas Press Club de Nova Iorque, ambos pelo trabalho publicado na revista Time sobre a guerra no Líbano (1982).

A exposição World Press Photo 2018, com 161 fotografias captadas por 42 fotógrafos de 22 países, está patente ao público na Casa Garden pelo 11.º ano consecutivo e até 21 de Outubro.

11 Out 2018

Clube Militar | Mostra celebra “diversidade e equilíbrio” do mundo lusófono

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já a partir de sexta-feira que o Clube Militar acolhe uma exposição de pintura que celebra a “diversidade e o equilíbrio” de artistas, técnicas e temas do mundo lusófono, disse à Lusa um dos curadores da mostra.

“Aquilo que procuramos fazer todos os anos é trazer [a Macau] um conjunto diversificado, uma colectiva com um artista de cada país [de língua portuguesa]”, explicou José Isaac Duarte, responsável pela curadoria a par de Lina Ramadas.

Ao todo, são nove os artistas representados na exposição, cada um com três trabalhos originais: Dila Moniz (Angola), Graça Tirelli (Brasil), Hélder Cardoso (Cabo Verde), Hipólito Ismael Djata (Guiné-Bissau), Lio Man Cheong (Macau), Graça Costa (Moçambique), Alfredo Luz (Portugal), Kwame Sousa(São Tomé e Príncipe) e Gelly Neves (Timor-Leste).

“Procuramos encontrar obras significativas do trabalho daqueles artistas, artistas diferentes todos os anos, neste contexto de diversidade de modo a que a exposição seja diversificada e equilibrada”, apontou José Duarte.

Integrada na série anual “Pontes de Encontro”, a exposição de pintura lusófona vai estar patente entre 12 de Outubro e 4 de Novembro no Clube Militar de Macau.

11 Out 2018

Teatrau | História sobre Lai Chi Vun sobe ao palco este domingo

Começou esta terça-feira a Mostra de Teatro dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Instituto Português do Oriente e que, na sua quinta edição, exibe o trabalho de companhias teatrais de Macau, Brasil, Cabo Verde, Angola e Guiné-Bissau. “O nosso estaleiro naval ‘Victory’” volta a subir ao palco este domingo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo teatral Dream Theater Association apresenta no edifício do antigo tribunal este domingo a peça “O nosso estaleiro naval ‘Victory’”, espectáculo integrado na quinta edição da Mostra de Teatro dos Países de Língua Portuguesa – Teatrau.

Trata-se de uma peça produzida em Macau e que conta um pedaço da história da construção naval do território. A personagem central é o senhor Tam, que “cresceu como aprendiz de um mestre de construção naval para continuar o negócio da família, mas o seu sonho fica quase todo destruído por um incêndio”, revela a sinopse.

“Depois de 50 anos de luta e de muito trabalho, o senhor Tam tinha todas as técnicas de construção naval gravadas na sua cabeça, assim como a habilidade nas suas mãos. Contudo, a indústria naval tinha acabado”, lê-se também na sinopse, numa clara referência ao fim da produção dos estaleiros de Lai Chi Vun, povoação perto de Coloane.

Esta peça pretende, no entanto, ter expressividade fora dos palcos. “O nosso estaleiro ‘Victory’ será apresentado em diferentes locais de Macau e um mini-estaleiro será exposto no local de apresentação, para que o público possa conhecer o mundo da construção naval.”

A Dream Theater Association dedica-se ao teatro desde os anos 90 em Macau, tendo sido oficialmente registada como associação em 2008. A peça desta companhia teatral será apresentada domingo às 14h00, juntamente com “A mulher é sagrada”, do grupo Os Cérebros de Quelele, da Guiné-Bissau, e “A última viagem do príncipe perfeito”, do grupo Elinga-Teatro, de Angola.

No sábado, também a partir das 15h00, apresenta-se no espaço “black box” do edifício do antigo tribunal a peça “Menos Um”, da companhia Fladu Fla, de Cabo Verde, bem como “Tempo Pr’a Dizer”, do Núcleo Experimental em Movimento – NEM, oriundo do Brasil. Além disso, repete-se o espectáculo da companhia teatral da Guiné-Bissau. Todas as peças têm entrada gratuita.

Em crescimento

O Teatrau é uma iniciativa cultural inserida na Semana Cultura da China e dos Países de Língua Portuguesa, que este ano celebra a décima edição. A organização está a cargo do Instituto Português do Oriente (IPOR), apesar da realização do evento ser coordenada com o Instituto Cultural e os delegados do Fórum Macau.

Patrícia Ribeiro, vogal da direcção do IPOR, explicou ao HM que o cartaz da quinta edição do Teatrau pauta-se, sobretudo, pela diversidade. “As peças variam muito em termos de temáticas. Algumas são companhias estabelecidas há muitos anos, outras são mais recentes. Vamos ter níveis diferentes de experiência em palco e também em termos do espectáculo em si. Uns são mais alternativos, outros mais tradicionais.”

Em termos de número de espectadores, Patrícia Ribeiro tem notado um aumento nos últimos cinco anos. “Temos registado um crescimento em termos de público nos últimos anos. Esta é a quinta edição e todos os anos verificamos que as pessoas já estão à espera do Teatrau e já o procuram.”

Há também um lado mais comunitário desta iniciativa, de ligação a associações locais, escolas e universidades. “O Teatrau não são apenas as apresentações ao público, mas há também alguns workshops, visitas a escolas e a universidades com as companhias. Há uma interacção com crianças e jovens adultos para poderem falar um pouco o português fora da sala de aula e conhecerem os países onde se fala português.”

Para a responsável do IPOR, esta conexão ajuda a uma maior “dinamização do interesse pelo teatro”. “Vamos ter uma iniciativa em conjunto com o grupo de teatro da Escola Portuguesa de Macau, um workshop. Também fazemos regularmente algo com a ArtFusion, que sempre se mostrou receptiva a receber companhias de teatro. Temos ainda outros workshops de expressão e dança. Por vezes juntamo-nos apenas para falar da cultura de cada país.”

O Teatrau resulta também numa partilha de experiências entre companhias de teatro que, depois de passarem por Macau, estabelecem outros contactos, explicou Patrícia Ribeiro.

“Procuramos sempre fazer um encontro entre companhias para elas se poderem conhecer umas às outras, e tem sido interessante ver que há contactos que dão frutos no futuro. Destes encontros do Teatrau já houve uma companhia de Macau que foi ao Brasil apresentar uma peça, a companhia de Moçambique já foi a Portugal. Já houve uma troca de experiências, que é a essência desta mostra de teatro.”

11 Out 2018

Quatro textos inéditos do jovem Gabriel García Márquez foram agora divulgados

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uatro textos inéditos de Gabriel García Márquez, escritos durante a sua juventude, pouco depois de ter escapado do “Bogotazo” e regressado à sua terra natal, foram agora revelados pelo Banco da República em Bogotá.

Corria o ano de 1948, quando o jovem Gabriel García Márquez regressou à região do Caribe colombiano, onde são ambientadas muitas das suas histórias, e começou a construir a sua lenda, com histórias que por vezes passavam despercebidas e que agora são tão cobiçadas quanto as quatro inéditas que foram encontradas.

Ao todo, são 66 folhas escritas pelo Nobel da Literatura colombiano, pouco depois de fugir de Bogotá, e que incluem quatro textos originais publicados e quatro inéditos: dois relatos e dois contos.

O primeiro dos relatos faz parte de uma coleção que Gabriel García Márquez publicou no diário “El Heraldo”, denominado “os relatos de um viajante imaginário”, que na época não viu a luz do dia, que consiste no “seu primeiro esforço por construir uma série, uma narração mais extensa”, explicou à Efe o investigador do Banco da República Sergio Sarmiento.

Os restantes são dois contos e um último relato que “parece fazer parte de uma série mais ampla ou de um conto”, mas do qual só sobreviveu “o fragmento final”, todos eles escritos pouco depois da chegada de Gabo ao Caribe, impressionado pelo horror do “Bogotazo”, os protestos que se seguiram ao assassinato do líder liberal e candidato a presidente Jorge Eliécer Gaitán, a 09 de abril de 1948, no centro de Bogotá.

“O meu irmão e eu fomos para as ruas depois de três dias de confinamento. Era uma visão terrível. A cidade estava reduzida a escombros, nublada e turva pela chuva constante que havia humedecido os fogos, mas atrasado a recuperação”, escreveu Gabo no seu livro de memórias, “Viver para contá-la”.

Os incêndios eram apenas o rescaldo da violência na capital colombiana depois do assassinato de Gaitán, um crime que marcou a história da Colômbia no século XX e a vida de um García Márquez que já tinha tido em Bogotá o seu primeiro encontro com Literatura.

Já mais calmo, começou a trabalhar como jornalista e lançou a sua carreira literária no Caribe, mas ainda com a lembrança recente do incêndio que se espalhou pela Colômbia.

“Este período é interessante porque, nesta altura, Gabo já havia publicado três contos em “El Espectador”, que foram escritos na capital, mas daí em diante, as primeiras publicações das suas histórias vão acontecer já na costa Atlântica e é quando se vincula como jornalista pela primeira vez “, acrescenta Sarmiento.

Estes textos, agora adquiridos, “são da sua época de jornalista, mas também são possivelmente os mais antigos que se conservam, e representam uma amostra do primeiro período de Gabo, tanto no conto quanto no jornalismo”, acrescenta.

Todos eles foram adquiridos por um estudioso da obra de García Márquez, que tentava conhecer melhor o primeiro impulso criativo do escritor.

Os textos em causa passaram para as mãos da família de Gabo, por altura da sua morte, que finalmente os ofereceu ao Banco da República (emissor), que tem uma rede de bibliotecas e museus no país.

Este organismo restaurou-os e vai colocá-los à disposição dos colombianos na Biblioteca Luis Ángel Arango, em Bogotá.

Entre os relatos inéditos está um intitulado “O afogado que nos trazia caracóis”, que não está completo e no qual aparece uma personagem chamada “Ursula” uma reminiscência de Ursula Iguarán de “Cem Anos de Solidão”, o que prova que já então começava a ter esse romance na cabeça.

A outra história, a que os investigadores do Banco da República chamaram “Odor antigo”, constitui para Sarmiento uma experiência “com a influência de (Ernest) Hemingway”, que começou a infiltrar-se na sua obra e a subir até ao seu altar pessoal.

Aquele que faz parte da saga maior é intitulado “As barras de hortelã” e permite ao leitor aproximar-se da terra natal de Gabo, Aracataca, com “uma visão muito jovem”, construída a partir da visita de um viajante.

O quarto, que até agora não tem nome e é o que mais passou despercebido, narra o que acontece numa cidade durante um eclipse.

Todos estes documentos representam “um olhar excecional do início de Gabo” e permitem aos leitores conhecer “o período de aprendizagem dos seus primeiros anos” do escritor colombiano, diz Sarmiento.

E tudo, depois de ter chegado pela primeira vez a Cartagena, abandonando a sua carreira de advogado, ver as muralhas da cidade a partir da camioneta onde seguia e assistir ao “condutor saltar para fora do veículo e exclamar contundente: La Heroica!” (nome emblemático pelo qual é conhecida a Cartagena de Índias).

“O chuvisco e a névoa que persistiam em Bogotá (…) tinham cheiro de pólvora e de corpos podres”, lembra o Nobel, sobre a sua partida, em “Viver para contá-la”.

10 Out 2018

Exposição | Gansu recebe Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois da passagem pelo Museu de Arte Minsheng de Pequim, a Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau 2018 está agora em patente no Centro Internacional de Convenções e Exposições de Dunhuang, na província de Gansu, onde estará aberta ao público até dia 15 de Outubro.

A mostra que congrega as estéticas das duas regiões administrativas especiais entra este ano na 6ª edição. De acordo com um comunicado do Instituto Cultural, a bienal “tornou-se uma importante plataforma de desenvolvimento conjunto e promoção da cooperação e intercâmbio de artes visuais entre o Interior da China, Macau e Hong Kong”.

A mostra de este ano tem como tema central “Toque Urbano”, um conceito que explora criações dentro do âmbito da arquitectura, design de espaço, arte pública e criação de arte individual.

O espaço expositivo de Macau é dedicado ao tema “Transcendendo a Cidade”, uma noção que se dedica à exploração e “interacção entre as pessoas, a relação entre o Homem e a cidade, as memórias e as experiências que daí advêm assim como a evolução da cidade em conjunto com o seu desenvolvimento”.

Participam na exposição seis jovens artistas de Macau, incluindo Ng Man Wai, Lai Sio Kit, Wong Ka Long, Wong Weng Io, Cheong Cheng Wa e Fok Hoi Seng, com obras das mais variadas formas, entre elas pintura, gravura, gravação vídeo e instalação de luzes, exibindo efeitos visuais ricos com uma combinação inovadora de média e design. A mostra estará ainda patente no Museu de Arte de Zhejiang, em Hangzhou, de 30 de Outubro a 11 de Novembro.

10 Out 2018

Tradução francesa de Valério Romão dá prémio de Arles a Elisabeth Monteiro Rodrigues

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] tradutora Elisabeth Monteiro Rodrigues venceu o Grande Prémio de Tradução da Cidade de Arles, pela versão francesa do livro de contos “Da família”, do português Valério Romão, anunciou ontem a associação francesa Atlas, para a promoção da tradução literária. Com chancela da editora portuguesa Abysmo, “Da família”, de Valério Romão, agora distinguido com o Grande Prémio de Tradução da Cidade de Arles 2018, foi editado este ano em França, pelas edições Michel Chandeigne.

Elisabeth Monteiro Rodrigues é também tradutora de Mia Couto e de Teolinda Gersão, entre outros autores de língua portuguesa, em França, de acordo com o comunicado da Associação para a Promoção da Tradução Literária (Atlas).

O júri do prémio considerou “excelente” o trabalho de tradução de “De la famille”, sublinhando que “restitui o nervosismo da escrita de Valério Romão, a sua audácia formal, as suas passagens improvisadas da voz narrativa as vozes relatadas…”

Elisabeth Monteiro Rodrigues, segundo o júri, “consegue, igualmente, transmitir com talento a amplitude da frase do autor, seguindo o seu ritmo, a sua música e sua fluência”.

A entrega do prémio está marcada para 9 de Novembro, na associação du Méja, por ocasião do 35.º encontro sobre tradução literária em Arles.

Desde 1995, o Grande Prémio de Tradução Cidade de Arles recompensa a tradução para francês de uma obra de ficção contemporânea que se tenha evidenciado pela qualidade e pelas dificuldades que soube ultrapassar. O prémio tem um montante de 3.500 euros, com o patrocínio do município de Arles.

Dez anos de traduções

Nascida em Portugal, em 1973, Elisabeth Monteiro Rodrigues foi viver para França aos quatro anos. Licenciada em História do Médio Oriente, começou depois a interessar-se pela literatura sobre o continente africano, Antilhas e Caribe. Colaboradora da revista Africulturas, de 1999 a 2004, foi também uma das responsáveis da Librairie Portugaise & Brésilienne, em Paris, até 2015. Há dez anos que traduz autores de língua portuguesa como Mia Couto, Teolinda Gersão, João Ricardo Pedro e Susana Moreira Marques.

10 Out 2018

Saramago, 20 anos de Nobel | O autor difícil que os alunos chineses continuam a procurar

Celebraram-se esta segunda-feira os 20 anos da atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago, falecido em 2010. Em Macau a sua obra continua bem presente nos currículos de quem estuda português nas universidades e, na Livraria Portuguesa, é um dos escritores lusos mais vendidos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s temas dos livros são fracturantes e polémicos, a pontuação, na maioria das vezes, não existe, mas isso não fez esmorecer o fascínio e interesse que os leitores continuam a ter na obra de José Saramago, único escritor português agraciado com o prémio Nobel da Literatura. Foi há 20 anos que Saramago o recebeu da Academia Sueca, tendo-se tornado um autor ainda mais lido e traduzido em todo o mundo, incluindo na China.

Em Macau, José Saramago continua a ser um autor muito presente nos currículos dos que aprendem tradução e interpretação da língua portuguesa na Universidade de Macau (UM) e Instituto Politécnico de Macau (IPM). Apesar de nem todos os alunos escolherem a área da literatura, deparam-se com textos de Saramago durante a licenciatura.

“É um dos grandes escritores portugueses e acho que os alunos de português têm de conhecer e ler este autor”, disse ao HM Yao Jingming, director do departamento de português da UM. “A obra dele faz parte das leituras dos nossos alunos, sobretudo os livros que são mais fáceis de ler, como o ‘Ensaio sobre a Cegueira’, por exemplo. Também damos alguns excertos de outros livros para os alunos lerem”, acrescentou.

Em o “Ensaio sobre Cegueira”, Saramago questiona o actual sistema eleitoral dos países democráticos, quando a população de um território vota em branco, na sua maioria, não elegendo qualquer candidato político. O tema não é acessível a quem é nativo de chinês, sem esquecer a questão da pontuação.

“Para os nossos alunos, sobretudo os de literatura, [Saramago] é ainda um escritor um bocado difícil de ler e de compreender, mas é importante que tenham uma noção da sua escrita. Ele continua a ser lido na China e as suas obras continuam a ser traduzidas para chinês.”

Yao Jingming, ele próprio tradutor de poesia e habituado à linguagem complexa dos poetas portugueses, assegura que o Nobel português “fala sobre outro pensamento e realidade, como a religião, e com uma outra mentalidade”. “Era comunista, sempre mostrou ter uma atitude muito própria, e para o compreender é necessário conhecer a sua história e até a história de Portugal”, frisou.

No caso do IPM, os alunos estudam os escritos de Saramago no terceiro ano da licenciatura, adiantou Han Lili, directora da Escola de Línguas e Tradução do IPM. “Fazemos uma abordagem geral em que são seleccionados alguns ensaios do autor, com pequenos textos. Já há algumas obras traduzidas para chinês, como é o caso do ‘Memorial do Convento’ e o ‘Ano da Morte de Ricardo Reis’. Os alunos são motivados a ler estes livros desde o segundo ano para que tenham uma aproximação das obras na sua língua mãe.”

Uma questão de gramática

O facto dos alunos do IPM lerem primeiro em chinês e depois em português reveste-se numa tentativa de aproximação à escrita de Saramago. “Não corresponde às normas gramaticais tradicionais e temos de abordar este aspecto, para que os alunos compreendam que determinadas formas de escrever do autor são uma opção pessoal e não uma forma comum de escrever em português.”

Han Lili assegura que o gosto pelas obras do Nobel é genuíno. “Há alunos que gostam mesmo do autor. Recordo-me de uma aluna da Universidade de Pequim a quem recomendei Saramago e que depois acabou por fazer, em Macau, o mestrado e doutoramento sobre o autor, além de que já traduziu duas obras dele para chinês.”

Se na UM há um projecto de investigação a decorrer, no IPM não há nenhum aluno a debruçar-se sobre a obra de Saramago. “Ao nível da licenciatura não temos nenhum projecto de tradução, é um autor que exige um nível de proficiência mais elevado. Pode ser uma boa opção para mestrados e doutoramentos.”

Boas vendas

Na Livraria Portuguesa nota-se bem o fascínio que os livros de José Saramago. De acordo com Filipa Didier, responsável pelo espaço, é um dos autores mais procurados. “Neste momento temos livros em português, inglês e chinês. É um dos autores que mais vende. Não temos muitos turistas a comprar, mas sim mais membros da comunidade portuguesa e estudantes de português, sobretudo os que vêm da China e fazem cá os cursos de Verão”, assegurou.

Para Filipa Didier, Saramago “é um autor de referência e muitos procuram-no por indicação dos professores, e também ouviram falar dele por causa do prémio Nobel”.

“Os títulos em inglês têm uma procura relativa, sendo que, dos sete títulos que temos, o mais procurado é a tradução do ‘Ensaio sobre a Cegueira’. Este sucesso está ligado ao facto de ter sido feito um filme sobre o livro”, frisou Filipa Didier, que acrescenta: “20 anos depois do Nobel, o sucesso de Saramago está longe de se esgotar”.

Este sucesso ao nível das vendas deixou Joaquim Coelho Ramos, director do Instituto Português do Oriente (IPOR), surpreendido. “Parece que há muita procura pela obra de Saramago e vai ao ponto de, quando a livraria não consegue dar resposta com o material que tem cá, encomenda a pedido das próprias pessoas. Os títulos da primeira fase são muito procurados, quando ele trouxe novas visões estruturais à produção literária, e é isso que mantém o interesse e a actualidade”, rematou.

10 Out 2018

Diário inédito de Saramago revela “a loucura” de receber o Nobel, diz Pilar Del Río

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] viúva de José Saramago, Pilar del Río, disse que o último volume dos diários do escritor, ontem apresentado, revela a sua vida em 1998 e a “loucura” de receber o Prémio Nobel de Literatura.
“É a vida no ano de 1998 até 08 de outubro [data em que Saramago foi anunciado como vencedor do Prémio Nobel de Literatura], o dia como hoje [em que se comemoram 20 anos], um caderno onde ficam referenciadas viagens, conferências, encontros, preocupações, ansiedade e, a partir de 08 de outubro, a loucura do Nobel”, disse aos jornalistas Pilar del Río.

A acompanhar o lançamento do “Último Caderno de Lanzarote” no congresso, em Coimbra, que celebra os 20 anos de atribuição do Nobel da Literatura, a Porto Editora apresentou o livro “Um País Levantado em Alegria”, de Ricardo Viel, que relata “detalhes e surpresas” de como Saramago e o país viveram aquele dia, anunciou a organização.

“É um livro que explica como viveu Portugal e como Portugal cresceu naquele dia com a notícia do Nobel”, adiantou a também presidente da Fundação José Saramago.

Questionada sobre o que significava Coimbra para Saramago, Pilar del Río recordou que foi nesta cidade que o companheiro soube da morte de José Cardoso Pires – o autor de “O Delfim”, “Alexandra Alpha”, “Balada da Praia dos Cães” -, em outubro de 1998, poucos dias depois de receber o Nobel.

“Neste dia e neste momento, para mim, Coimbra chama-se José Cardoso Pires (…) Hoje Coimbra lembra-me José Cardoso Pires”, frisou Pilar del Río.

A viúva do escritor lembrou ainda que José Saramago recebeu um doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade de Coimbra (em 11 de julho de 2004), proposto pela Faculdade de Letras, e que teve o ensaísta Eduardo Lourenço como padrinho do doutorando.

9 Out 2018

Filme sobre poeta Camilo Pessanha exibido na extensão de Macau do DocLisboa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Pé San Ié – O Poeta de Macau”, inspirado na vida e obra do poeta Camilo Pessanha, vai ser exibido na extensão de Macau do Festival Internacional de Cinema DocLisboa.
Depois da primeira exibição no DocLisboa, prevista para 19 de outubro, o filme faz a sua estreia asiática a 05 de novembro, na Cinemateca Paixão, na extensão do festival português dedicado ao documentário, que é organizada em Macau pelo Instituto Português do Oriente.

Trata-se de um projeto da realizadora Rosa Coutinho Cabral e da produtora Maria Paula Monteiro, rodado inteiramente em Macau, em 2017, e finalizado este ano.

A mesma dupla é a responsável pelo documentário “Camilo Pessanha – 150 anos”, que será exibido em Macau no auditório Dr. Stanley Ho, sustentado pelo depoimento de investigadores, biógrafos e historiadores, na sua maioria ilustres figuras de Macau.

Segundo a produtora, nesse documentário surgem as várias dimensões do homem e não só do poeta, revelando-o como jurista eminente, republicano, maçom, professor, sinólogo, colecionador, tradutor e falante de chinês, oscilando sempre entre dois eixos: o mundo a Ocidente, onde nasceu, e a Oriente, onde viria a morrer.

9 Out 2018

“Viagem Oriental” a partir de hoje no Jardim de Lou Lim Iok

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição fotográfica “Viagem Oriental”, organizada pela realizadora de origem goesa Nalini Elvino de Sousa, regressa a Macau pelas mãos da Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa.

A mostra, que abre hoje ao público, tem inauguração oficial marcada para o próximo dia 14, no Pavilhão Chun Chou Tong do Jardim de Lou Lim Iok, e fica patente até ao dia 18.

Para a exposição foram seleccionadas 20 fotografias do livro homónimo, apresentado em 2016 na Escola Portuguesa de Macau, que faz um levantamento de peças decorativas e de colecção oriundas de Macau e que ainda hoje habitam as casas senhoriais goesas. “Estes objectos ajudam a divulgar a herança dos séculos de intenso intercâmbio cultural e comercial entre as duas regiões e a exposição serve de mote a uma palestra com Nalini Elvino de Sousa”, refere a organização em comunicado.

A conversa sobre as ligações entre Goa e Macau, sobre o que uniu as duas regiões e as novas pontes que poderão ser criadas, decorre dia 14, data escolhida também para a inauguração da exposição fotográfica. A cerimónia oficial está marcada para as 16 horas, enquanto a tertúlia decorre entre as 17 e as 19 horas.

Recordações distantes

O livro, e consequente exposição, tiveram origem numa competição de fotografia, através da qual se seguiram os vestígios já ténues dos vasos de porcelana, dos potes azuis, das figuras chinesas, dos serviços de chá guardados nas prateleiras dos enormes armários, normalmente com um lugar de destaque nas casas senhoriais de Goa. As imagens que vão estar expostas em Macau foram tiradas dentro dessas casas, cujos proprietários aceitaram abrir as suas portas ao concurso fotográfico.

Ainda no âmbito da vinda de Nalini Elvino de Sousa até Macau, será organizado um workshop de dança “Vauraddi Xetkamti”, na qual se utilizam cascas de coco como instrumento ritmico. Esta dança está intimamente ligada aos kunbis, gente que se dedica ao trabalho agrícola, cultivando várzeas e subindo coqueiros. A iniciativa vai ter lugar nos dias 17 e 18 de Outubro, no exterior do  Pavilhão Chun Chou Tong do Jardim de Lou Lim Iok, às 17.45h e desdobra-se em duas sessões de 60 minutos cada para um máximo de 20 participantes por aula.

De origem goesa, Nalini Elvino de Sousa nasceu em Lisboa e mudou para Goa onde vive há 19 anos. Realizou, apresentou e produziu mais de 100 documentários para a série “Contacto Goa” que foram transmitidos na RTPi e RTP Africa. É, actualmente, responsável pelo programa “Hora dos Portugueses” na Índia, transmitido na RTPi e RTP1. Produz ainda curtas-metragens e outros documentários através da sua produtora Lotus Film & TV Production.

Nalini Sousa dirige igualmente a ONG Communicare Trust que ensina a comunicar em diversas línguas, incluindo a portuguesa, e organiza eventos relacionados.

9 Out 2018

Fotografia | Nuno Cera é o primeiro convidado da residência artística da Babel

A primeira edição do programa de residência artística promovido pela associação Babel tem o fotógrafo Nuno Cera como primeiro convidado. O resultado da estadia do artista em Macau, que tem duração de um mês, será apresentado em Maio de 2019

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uno Cera, fotógrafo e artista visual, é o primeiro convidado da Babel para o novo programa de residências artísticas, uma iniciativa da associação cultural Babel que dá os primeiros passos e pretende ter periodicidade anual.

A ideia é trazer um artista de fora para viver e trabalhar durante um mês em Macau com o intuito de apresentar o fruto desse trabalho em exposição, explica Margarida Saraiva, curadora do projecto e responsável pela Babel.

“No seu conjunto, o programa de residências criará uma memória visual, literária e contemporânea da cidade de Macau, produzindo novo conhecimento a partir de uma diversidade de olhares”, acrescenta.

De acordo com a responsável, a residência tem como objectivo promover o intercâmbio internacional e explorar práticas artísticas e curatoriais experimentais, fundadas na investigação transdisciplinar. O projecto funciona por convite porque “para alguns artistas faz muita diferença o espaço em relação ao qual a obra se desenvolve, enquanto para outros nem tanto”, refere a curadora.

Como o programa tem a finalidade de potenciar novos olhares sobre Macau, “não faz sentido que venham para um projecto com estas características artistas que não usufruam da influência do espaço onde se encontram”, sublinha Margarida Saraiva.

Outro dos detalhes fundamentais nesta iniciativa é o facto destes olhares terem de ser externos ao território, ou seja, “a forma como artistas do mundo inteiro olham para a nossa cidade e de que forma ela pode influenciar a sua obra”, explica.

Mas os desígnios do programa não se ficam por aqui. De acordo com Margarida Saraiva, é fundamental que da iniciativa resultem pesquisas que “façam sentido para o território, para que fique o registo de uma memória segundo uma perspectiva externa”, aponta.

A cidade como alvo

Nesta primeira edição, Nuno Cera foi o convidado a integrar a residência artística, que decorre desde 15 de Setembro e se estende até ao próximo dia 15. “É um artista que trabalhou dentro de uma investigação à escala global acerca do desenvolvimento das cidades”, conta a curadora.

O trabalho de Cera aborda questões espaciais, a arquitectura e situações urbanas, “através de formas ficcionais, poéticas e documentais”.

Dentro deste período de tempo, o artista desloca-se ainda a Cantão e Hong Kong e, ao longo da viagem, dará continuidade a uma investigação que é já longa no seu percurso e em que “explora a terra e o mar, o interior e o exterior, a paisagem e a construção, o cheio e o vazio, o espaço e o tempo, a arquitectura e a música”, aponta a curadora.

Dentro do trabalho que tem vindo a desenvolver, intitulado “Futureland”, Nuno Cera fotografou Istambul, Cairo, Dubai, Los Angeles, Cidade do México, Xangai, Hong Kong, Jacarta e Mumbai. De acordo com Margarida Saraiva, o fotógrafo costuma debruçar-se “sobre a forma como a cidade se desenvolve e expande”. “Estamos a falar de megalópolis e por isso achámos que poderia ter interesse juntar a estas cidades mais uma visão, desta feita sobre Macau, e por esta via colocar o território em diálogo com outras cidades do mundo”, reitera.

A exposição dos trabalhos realizados por Nuno Cera em Macau vão ser expostos na Casa Garden a partir de 2 de Maio do próximo ano. Da mostra vão ainda constar outras obras do fotógrafo, uma vez que a ideia não é apenas mostrar o trabalho que fez no território, mas também o realizado previamente em outras cidades do mundo dentro do projecto “Futureland”.

O artista

Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para integrar uma residência artística na Kunstlerhaus em 2000, em Berlim, Nuno Cera publicou em 2002, com o arquitecto Diogo Seixas Lopes, o livro “Cimêncio”, um levantamento de paisagens suburbanas. Foi nomeado para o prémio Besphoto 2004 e participou numa residência artística em Nova Iorque, em 2006. Em 2007 e 2008 realizou o vídeo Sans, Souci e o projecto Futureland, uma investigação artística sobre 10 metrópoles com o apoio da Dgartes – Ministério da Cultura de Portugal. Em 2012 foi seleccionado na XX edição da Bolsa Fundación Botin, Santander, com o projecto The Symphony of the Unknown. Nuno Cera integrou ainda a residência artística na International Artist Residency Récollets, em Paris, no ano de 2013, além de ter fotografado para os Guias de Arquitectura Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura. Este ano, participou na representação Portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza.

Entre as suas exposições individuais mais recentes destacam-se: “Dark Forces / V”, “Poesia Mineral – Eduardo Souto de Moura”, “A Pressão da Luz – Álvaro Siza”, “Vestiges du Réel”, “Tour d´Horizon | Amadeo de Souza-Cardoso”, e “Symphony of the Unknown”.

9 Out 2018

Ministro da Cultura realça sentido ético da existência em Saramago

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, evocou hoje José Saramago em Coimbra e realçou que o Nobel da Literatura português “nunca perdeu o sentido ético” da existência humana.

O autor de “Memorial do Convento”, na sua opinião, “nunca deixou cair esta profunda exigência moral de justiça”.

Distinguido há 20 anos com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago é “uma figura de escritor que se impõe por essa exigência ética que atravessa toda a sua obra”, sublinhou.

Luís Filipe Castro Mendes intervinha na abertura do congresso internacional “José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel”, promovido pela Universidade de Coimbra (UC), que decorre até quarta-feira no Convento de São Francisco, na margem esquerda do rio Mondego.

José Saramago “é um escritor que trabalha profundamente a sua escrita”, afirmou o ministro da Cultura, para frisar que o escritor possui “uma obra escrita trabalhada com suor”.

8 Out 2018