Aniversário | Praça de Tiananmen, em Pequim, esteve hoje praticamente vazia

[dropcap]E[/dropcap]m Pequim, a Praça Tiananmen estava hoje praticamente vazia, no dia que marca os 31 anos do movimento estudantil esmagado pelo exército chinês. Contudo, vários polícias e veículos blindados faziam sentinela na vasta superfície da praça, escreve a Lusa.

A China reforçou o controlo sobre dissidentes numa altura em que activistas em Hong Kong e em outros locais procuram lembrar o 31.º aniversário do movimento. Em Macau o aniversário foi celebrado com uma vigília online, uma vez que o Corpo de Polícia de Segurança Pública recusou os pedidos para a realização da habitual vigília no Leal Senado ou de mini-vigílias, com um número máximo de cinco pessoas, em outros locais do território. O argumento usado foi o combate à pandemia da covid-19.

Em Hong Kong as autoridades também citaram a necessidade de distanciamento social devido ao surto da covid-19, para cancelarem, pela primeira vez, a vigília anual à luz de velas no Parque Vitória, apesar de a região ter permitido já a abertura de escolas, praias, bares e salões de beleza.

O movimento da Praça Tiananmen foi esmagado na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos. O número exacto de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as “Mães de Tiananmen”, associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.

O acontecimento continua a ser tabu na China. “Todos sabemos que o Executivo de Hong Kong e o Governo chinês realmente não querem ver as luzes das velas no Parque Vitória”, afirmou Wu’er Kaixi, um ex-líder estudantil que era o número 2 na lista de procurados pelo Governo chinês, após a repressão.

“Os comunistas chineses querem que todos esqueçamos o que aconteceu há 31 anos, mas é o próprio Governo chinês que lembra ao mundo inteiro que é o mesmo governo que há 31 anos suprimiu manifestantes pacíficos e, faz agora o mesmo em Hong Kong”, afirmou, em Taiwan, onde reside agora, citado pela agência The Associated Press.

As várias vigílias, virtuais ou não, estão a ser planeadas em outros locais, inclusive em Taiwan, a ilha onde o antigo governo nacionalista chinês se refugiou, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas, em 1949.

Taipé voltou a pedir este ano ao Governo chinês que reconheça o episódio passado há 31 anos. Em conferência de imprensa, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, considerou o apelo um “completo disparate”.

“Quanto ao distúrbio político que ocorreu no final dos anos 80, o Governo chinês chegou a uma conclusão clara: as grandes conquistas que alcançámos (…) demonstraram plenamente que o caminho de desenvolvimento escolhido pela China está completamente correto, em conformidade com as condições nacionais da China e conquistou o apoio sincero do povo chinês”, acrescentou.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, marcou o aniversário do massacre de Tiananmen com críticas à China através da rede social Twitter, por ter proibido a vigília, antes de se reunir em privado com um grupo de dissidentes chineses no Departamento de Estado.

A pequena comunidade dissidente da China voltou também a ser alvo de apertada vigilância por parte das autoridades. Muitos foram colocados em prisão domiciliar e as suas comunicações com o mundo exterior foram cortadas, segundo diferentes organizações de defesa dos Direitos Humanos.

A China libertou os últimos presos por participarem diretamente nas manifestações de Tiananmen, mas outros que procuraram marcar a data foram novamente presos. Entre estes está Huang Qi, fundador do site 64 Tianwang, que está a cumprir uma sentença de 12 anos por revelação de segredos de Estado.

4 Jun 2020

Deputados em Hong Kong interrompem debate sobre hino chinês com protesto por Tiananmen

[dropcap]A[/dropcap] sessão parlamentar do Conselho Legislativo de Hong Kong foi hoje interrompida, durante a discussão de um diploma controverso sobre o hino chinês, por protestos de alguns deputados, no dia em que se assinala o aniversário de Tiananmen.

Mostrando um cartaz com a frase “Um regime assassino fede durante dez mil anos”, o deputado Ray Chan derramou um líquido pungente que levava escondido numa lanterna chinesa, acabando por ser expulso da sessão, tal como outro deputado que o acompanhou. A sessão legislativa, entretanto retomada, coincide com o 31.º aniversário da repressão aos protestos pró-democracia na Praça Tiananmen, em Pequim.

Antes do início do debate, os legisladores do campo pró-democracia permaneceram em silêncio para assinalar o aniversário, com cartazes onde se podia ler a mensagem “Não se esqueçam do 4 de Junho, o coração do povo não vai morrer”.

A Polícia de Hong Kong proibiu a vigília em memória do massacre de Tiananmen, considerando que esta violaria as medidas de prevenção da covid-19, tal como aconteceu em Macau. Hong Kong e Macau são os únicos locais na China onde têm sido autorizadas manifestações sobre o massacre de Tiananmen, um acontecimento que continua a não ser reconhecido por Pequim.

Os deputados pró-democracia consideram que o projecto de lei actualmente em discussão no Conselho Legislativo, que visa criminalizar insultos ao hino nacional chinês, viola a liberdade de expressão.

A maioria pró-Pequim defende que a lei é necessária para que os cidadãos de Hong Kong demonstrem respeito pelo hino, a “Marcha dos Voluntários”. A ser aprovada, os culpados de abuso intencional enfrentariam até três anos de prisão e multas até 50 mil dólares de Hong Kong.

As pressões de Pequim para que Hong Kong aprove a lei do hino chinês começaram depois de adeptos de futebol de Hong Kong terem vaiado a “Marcha dos Voluntários” em jogos internacionais, em 2015.

Mais recentemente, durante os protestos anti-governamentais iniciados por uma proposta de lei que permitiria a extradição para a China, no ano passado, milhares de adeptos vaiaram o hino e viraram as costas, durante um jogo das eliminatórias do Campeonato do Mundo contra o Irão. A FIFA multou a Associação de Futebol de Hong Kong por causa do incidente.

Os opositores ao projecto de lei consideram-no como um sinal do reforço do controlo de Pequim sobre o território. A proposta surge num momento de tensão na cidade semi-autónoma, após a China ter aprovado, na semana passada, uma lei de segurança nacional que poderá limitar as liberdades em Hong Kong quando for promulgada no território.

4 Jun 2020

China pede a Londres que cesse imediatamente interferência em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] China apelou hoje ao Reino Unido que “cesse imediatamente toda a interferência” nos assuntos de Hong Kong, depois de Londres ter pedido ao Governo chinês que não imponha a lei de segurança nacional na região.

“Aconselhamos o lado britânico (…) a desistir da mentalidade da Guerra Fria, do estado de espírito colonialista, e que reconheça e respeite o facto de que Hong Kong foi devolvido à China”, apontou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian. Zhao avisou que, “caso contrário” o Reino Unido “nada fará a não ser dar um tiro no próprio pé”.

Para a Região Especial Administrativa de Hong Kong foi acordado um período de 50 anos, com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, após a transferência da soberania pelo Reino Unido para a China. O arranjo permite à antiga colónia britânica beneficiar de liberdades inexistentes na China continental, incluindo um sistema judicial independente e liberdade de expressão.

Face ao agravar de uma crise política no território, devido a meses consecutivos de protestos pró-democracia, a Assembleia Popular Nacional – o órgão máximo legislativo da China, onde mais de 70% dos deputados são membros do Partido Comunista Chinês -, aprovou na semana passada a lei de segurança nacional de Hong Kong.

O Reino Unido, os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá manifestaram publicamente as suas preocupações. O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, pediu na terça-feira a Pequim que abandone a lei.

“Ainda há tempo para a China refletir, afastar-se do precipício e respeitar a autonomia de Hong Kong e as suas próprias obrigações, bem como as obrigações internacionais que tem”, afirmou.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse na terça-feira que vai oferecer milhões de passaportes a cidadãos de Hong Kong e o possível acesso à cidadania britânica se Pequim implementar a lei.

3 Jun 2020

Reino Unido promete passaporte britânico a milhões de residentes em Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro do Reino Unido propôs na terça-feira atribuir a milhões de habitantes em Hong Kong o passaporte britânico, com possibilidade de aceder à cidadania, se a China não reconsiderar a lei da segurança imposta ao território.

“Muitas pessoas em Hong Kong receiam que o seu modo de vida – que a China se comprometeu a manter – esteja ameaçado” por esta lei, escreveu Johnson num artigo para o The Times of London e para o South China Morning Post.

“Se a China avançar e justificar estes receios, o reino Unido não pode, em boa consciência, encolher os ombros e seguir em frente; em vez disso, honraremos as nossas obrigações e forneceremos uma alternativa”, afirmou Johnson, nas primeiras declarações dirigidas aos habitantes de Hong Kong desde que a China aprovou a lei da segurança nacional.

Cerca de 350 mil pessoas em Hong Kong possuem actualmente um passaporte que permite o acesso sem visto ao Reino Unido, para uma estadia até seis meses, explicou o primeiro-ministro. Além destas, mais 2,5 milhões seriam elegíveis para requerer o documento, segundo Johnson.

Quando Hong Kong passou para a administração da China em 1997, após 150 anos como colónia britânica, os seus residentes não obtiveram o direito de viver no Reino Unido, o que poderia mudar com a proposta do primeiro-ministro britânico.

“Se a China impuser a sua Lei de Segurança Nacional, o Governo britânico alterará a sua legislação em matéria de imigração e permitirá a qualquer titular destes passaportes residentes em Hong Kong vir para o Reino Unido por um período renovável de 12 meses e obter outros direitos, incluindo o direito ao trabalho, o que os colocaria no caminho da cidadania”, escreveu o primeiro-ministro britânico.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, Dominic Raab, já tinha afirmado em 28 de maio que o país poderia alargar as condições de permanência no Reino Unido, de seis para 12 meses, para os cerca de 300 mil titulares de passaporte nacional britânico em Hong Kong, se a China não reconsiderasse o seu plano.

A lei de segurança nacional proposta pela China visa reforçar o controlo de Pequim sobre Hong Kong, numa tentativa de impedir o reacender de protestos violentos registados ao longo de vários meses no ano passado.

“Tenho dificuldade em perceber como é que a mais recente medida poderá aliviar as tensões em Hong Kong. Durante grande parte do ano passado, o território foi palco de grandes protestos, desencadeados por uma tentativa mal ponderada de aprovar uma lei que permitisse a extradição de Hong Kong para o continente”, recordou Johnson.

O primeiro-ministro britânico alertou ainda para o impacto económico da limitação de liberdades no território.

“A China tem mais interesse do que qualquer outra parte em preservar o sucesso de Hong Kong. Desde a transferência de soberania em 1997, a chave tem sido o precioso princípio de ‘um país, dois sistemas’, consagrado na Lei Básica de Hong Kong e sustentado pela Declaração Conjunta assinada pelo Reino Unido e pela China”, escreveu Boris Johnson.

A imposição da Lei da Segurança a Hong Kong “restringiria as suas liberdades e reduziria substancialmente a sua autonomia”, sublinhou o primeiro-ministro britânico.

A Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão máximo legislativo da China, aprovou em 28 de Maio a controversa proposta de lei de segurança nacional de Hong Kong.

O diploma, ainda não finalizado, proíbe “qualquer ato de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de estado, a organização de atividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.

Entre os sete artigos propostos por Pequim, está uma disposição para um mecanismo legal que permite ao Comité Permanente da APN articular legislação que vise prevenir e punir uma série de suposições, incluindo “subversão contra o poder do Estado”.

3 Jun 2020

AP | Partilha de mapa genético do vírus com a OMS foi retardada

A Associated Press dá conta de que as autoridades de saúde chinesas só divulgaram o genoma do novo coronavírus mais de uma semana depois de este ter sido descodificado por três laboratórios do país

 

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas atrasaram mais de uma semana a publicação do genoma do novo coronavírus, após vários laboratórios públicos o terem descodificado, privando a OMS de informação essencial para combater a pandemia, noticiou ontem a Associated Press (AP).

Uma investigação da agência de notícias norte-americana, baseada em documentos internos e dezenas de entrevistas, revela que, em Janeiro, enquanto a Organização Mundial da Saúde elogiava publicamente a China e a sua “resposta rápida” ao surto do novo coronavírus, os especialistas da agência das Nações Unidas para a saúde queixavam-se em privado da falta de informação partilhada por Pequim.

O controlo rígido exercido pelas autoridades chinesas sobre a informação e a concorrência no sistema de saúde público chinês foram os principais responsáveis pelo atraso, segundo a investigação da AP.

As autoridades de saúde só divulgaram o genoma depois de três laboratórios estatais o terem descodificado e após um desses laboratórios o ter publicado num portal de virologia, em 11 de Janeiro.

A China demorou pelo menos mais duas semanas a fornecer à OMS os detalhes necessários, de acordo com gravações de várias reuniões internas, realizadas pela agência de saúde da ONU em Janeiro passado, numa altura em que o surto podia ter sido drasticamente reduzido.

Embora a OMS continue a elogiar publicamente a China, as gravações obtidas pela AP revelam que o Governo chinês não compartilhou informações suficientes para avaliar os riscos do novo coronavírus, custando tempo valioso ao mundo.

“Estamos actualmente num ponto em que nos entregam informação 15 minutos antes de ser transmitida na CCTV”, disse Gauden Galea, principal autoridade da OMS na China, referindo-se à televisão estatal da China, durante uma reunião.

Às escuras

O Presidente dos EUA, Donald Trump, cortou os laços com a OMS, na sexta-feira passada, depois de criticar a agência por alegadamente estar em conluio com a China para esconder a gravidade da epidemia.

O Presidente chinês, Xi Jinping, disse que a China sempre forneceu informações à OMS e ao mundo “do modo mais oportuno”.

Embora a lei internacional obrigue os países a relatar informações à OMS que possam ter impacto na saúde pública mundial, a agência da ONU não possui poderes de execução, devendo antes contar com a cooperação dos Estados membros.

A AP revela que a OMS foi em grande parte mantida no escuro pelas autoridades chinesas, que forneceram apenas as informações mínimas necessárias.

A agência tentou retratar a China da melhor forma possível, provavelmente numa tentativa de convencer o país a fornecer mais detalhes sobre o surto.

As autoridades da OMS preocuparam-se em pressionar a China por mais informações sem ofenderem as autoridades ou prejudicarem os cientistas chineses.

Michael Ryan, chefe de emergências da OMS, disse que a melhor forma de “proteger a China” seria através de uma análise independente, porque, caso contrário, a propagação do vírus entre as pessoas seria posta em questão e “outros países tomariam decisões em conformidade”.

Desde o momento em que o vírus foi descodificado, em 2 de Janeiro, até a OMS declarar uma emergência global, em 30 de Janeiro passado, o surto cresceu entre 100 e 200 vezes, segundo dados do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças.

A OMS e as autoridades referidas pela AP recusaram-se a responder às questões feitas pela agência sem terem acesso às gravações ou transcrições das reuniões gravadas, que a AP não forneceu para proteger as suas fontes.

“A nossa liderança e equipa trabalharam dia e noite … para apoiar e compartilhar informações com todos os Estados membros”, disse a OMS numa declaração.

Atrasos fatais

Nos últimos meses, a China defendeu repetidamente as suas acções e muitos outros países – incluindo os Estados Unidos – responderam ao vírus com atrasos ainda mais longos de semanas e até meses.

No final de Dezembro, os médicos diagnosticaram uma nova doença misteriosa num grupo de pacientes e enviaram amostras para laboratórios comerciais.

Em 27 de Dezembro, uma empresa, a Vision Medicals, reuniu a maior parte do genoma de um novo vírus com semelhanças com a pneumonia atípica, ou SARS, que atingiu o país entre 2002 e 2003.
Eles alertaram as autoridades de Wuhan, que, dias depois, emitiram avisos internos alertando sobre uma pneumonia incomum.

Mas, quando se tratou de compartilhar o genoma com o mundo, a principal autoridade médica da China, a Comissão Nacional de Saúde, emitiu um aviso confidencial a proibir os laboratórios de publicar informação sobre o vírus sem autorização.

Os funcionários da Comissão disseram mais tarde que a ordem visou impedir qualquer libertação acidental do patógeno até então desconhecido e garantir resultados consistentes, dando a quatro laboratórios estatais o vírus para descodificação.

Em 5 de Janeiro, dois laboratórios do Governo sequenciaram o vírus, e outro laboratório em Xangai também o descodificou. O CDC chinês elevou o seu nível de emergência para o segundo nível mais alto, mas não tinha autoridade para alertar o público.

Casos suspeitos começaram a surgir na região. Na Tailândia, funcionários do aeroporto afastaram uma mulher que viajava de Wuhan com o nariz entupido, dor de garganta e febre.

Cientistas da Universidade de Chulalongkorn apuraram que ela estava infectada com um novo coronavírus, mas não possuíam uma sequência da China para confirmar.

As autoridades da OMS queixaram-se em reuniões internas de que a China atrasou o fornecimento de informações cruciais sobre o surto, apesar de cumprir tecnicamente com as suas obrigações sob o direito internacional.

Ryan, chefe de emergências da OMS, disse que estava na altura de “mudar de direcção” e pressionar por mais informações.

“O perigo é que, apesar das nossas boas intenções (…) haverá muitos dedos apontados à OMS se algo acontecer”, admitiu.

Em 20 de Janeiro, as autoridades chinesas alertaram que o vírus se transmitia entre pessoas.
A OMS enviou então uma pequena equipa dos seus escritórios na Ásia para Wuhan, a cidade chinesa de onde o vírus é originário.

O comité de emergência de especialistas independentes da OMS reuniu por duas vezes naquela semana e optou por não recomendar que se decretasse estado de emergência.

A preocupação da agência levou a uma viagem incomum a Pequim pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e pelos principais cientistas.

No final da viagem de Tedros, a OMS convocou outra reunião, declarando finalmente uma emergência global em 30 de Janeiro. Tedros agradeceu profundamente à China, recusando-se a mencionar qualquer frustração anterior da OMS.

“Deveríamos realmente expressar o nosso respeito e gratidão à China pelo que está a fazer”, disse. “Já fez coisas incríveis para limitar a transmissão do vírus para outros países”, assegurou.

3 Jun 2020

OMS | Estados Unidos acusados de serem “viciados” em abandonar organizações mundiais 

[dropcap]O[/dropcap] porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) chinês, Zhao Lijian, comentou ontem a saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), anunciada na última sexta-feira. “Os EUA tornaram-se viciados em abandonar grupos ou descartar-se de acordos”, disse, citado pela Reuters.

Zhao Lijian disse ainda que a saída dos EUA da OMS não é mais do que um sinal de unilateralismo e que a China vai apelar à comunidade internacional para a concessão de mais financiamento e apoio político aos trabalhos da OMS.

Desde que tomou posse como Presidente dos EUA, Donald Trump já abandonou o Conselho dos Direitos Humanos da ONU, a UNESCO, o acordo global sobre as alterações climáticas e o acordo nuclear com o Irão.

Na última assembleia-geral da OMS, Xi Jinping anunciou a concessão de dois mil milhões de dólares norte-americanos para ajudar as actividades da organização nos próximos dois anos tendo em conta o surgimento de uma nova pandemia. Na mesma altura, Trump acusou a OMS de ser uma “marioneta da China” e ameaçou parar de forma definitiva o financiamento norte-americano à organização. No sábado, a União Europeia pediu à Casa Branca para reconsiderar a decisão de sair da OMS.

2 Jun 2020

Hong Kong | Pequim promete responder a sanções impostas pelos EUA 

Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, disse ontem que os Estados Unidos devem abandonar a “mentalidade da Guerra Fria”, relativamente às ameaças de sanções comerciais e limitações da entrada de cidadãos chineses em solo americano

 

[dropcap]A[/dropcap] China prometeu ontem retaliar contra a decisão dos Estados Unidos de limitar a entrada de cidadãos chineses no seu território e impor sanções comerciais a Hong Kong.

“Qualquer declaração ou acção que prejudique os interesses da China terá um firme contra-ataque”, advertiu Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em conferência de imprensa. “A China pede aos Estados Unidos que corrijam imediatamente os seus erros e abandonem a mentalidade da Guerra Fria”, acrescentou.

Na sexta-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos vão interditar a entrada de cidadãos chineses que representam um “risco” para a segurança do país. A medida pode afectar estudantes chineses ligados a universidades vinculadas às forças armadas da China ou quadros do Partido Comunista Chinês.

Trump pediu ainda ao seu Governo que acabe com medidas comerciais preferenciais concedidas a Hong Kong, depois de Pequim ter aprovado uma controversa lei de segurança nacional para o território durante a realização da Assembleia Popular Nacional (APN).

O líder da Casa Branca pediu também aos seus funcionários que investiguem empresas chinesas listadas nas praças financeiras norte-americanas. Os Estados Unidos passaram nos últimos anos a definir a China como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que se traduziu já numa guerra comercial e tecnológica e várias disputas por influência no leste da Ásia.

A marinha norte-americana reforçou ainda as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.

Alívios e receios

Apesar da troca de palavras entre os dois países, o crescimento de 3.36 por cento do índice Hang Seng de Hong Kong, esta segunda-feira, deu algum conforto aos investidores, uma vez que pode representar que Trump não suspendeu ainda os privilégios comerciais concedidos a Hong Kong, escreveu a Reuters.

O crescimento do índice HSI de 3.36 por cento foi o maior desde 25 de Março. Numa nota, a Goldman Sachs defendeu que a China “gostaria de ver precisamente o que é que os EUA vão implementar antes de responder com novos ajustamentos de políticas ou com retaliações”.

No entanto, economistas ouvidos pelo South China Morning Post mostram-se receosos sobre as próximas tomadas de posição por parte de Donald Trump.

“Sem dúvida que isto não é algo positivo, mas ainda não temos detalhes”, disse John Marrett, analista sénior na Economist Intelligence Unit. “Não existem mais detalhes em aspectos como os vistos ou a imigração. Teremos de esperar para ver se morde mais do que ladra”, frisou.

Chen Zhiwu, director do Asia Global Institute da Universidade de Hong Kong, defendeu ao jornal que “a maior consequência é que a decisão dos EUA pode acelerar o declínio da importância para a China e para o mundo, bem como o declínio da economia chinesa”.

Caso Hong Kong deixe de ser uma zona privilegiada para o comércio entre a China e o Ocidente, o confronto entre os EUA e a China passará a ser mais directo, uma vez que Hong Kong corre o risco de se tornar em mais uma cidade chinesa. “O confronto vai ser directo a 100 por cento e literalmente cara a cara, em detrimento do desenvolvimento da China e que enfraquece a sua capacidade de crescimento, estabilidade ou qualquer outra coisa.”

2 Jun 2020

Polícia de Hong Kong proíbe vigília sobre massacre de Tiananmen

[dropcap]A[/dropcap] Polícia de Hong Kong proibiu hoje a vigília em memória do massacre de Tiananmen agendada para quarta-feira, considerando que esta violaria as medidas de prevenção da covid-19.

Numa carta de objeção enviada ao organizador do evento e ao vice-presidente da Aliança de Hong Kong para Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos da China, Richard Tsoi, as autoridades alegam a impossibilidade de a vigília de cumprir as medidas de distanciamento social.

Em Hong Kong, o Governo já tinha estendido as restrições até 4 de Junho, quarta-feira, precisamente quando é assinalada a data, proibindo a concentração de pessoas.

“As reuniões públicas agora são uma atividade de alto risco devido às multidões. A polícia acredita que o ato não apenas aumentará as hipóteses de os participantes contraírem o vírus, mas também ameaçará a vida e a saúde dos cidadãos, colocando assim a segurança pública está em risco “, indicou Richard Tsoi.

Apesar desta proibição, os organizadores da vigila apelam aos habitantes de Hong Kong para acenderem velas na cidade e manterem a distância de segurança.

Os organizadores do evento garantem que vão ao Victoria Park fazer um minuto de silêncio em memória do massacre de Tiananmen, um acontecimento que até hoje Pequim continua sem reconhecer.

No ano passado, cerca de 180.000 pessoas na antiga colónia britânica assinalaram a data e lembraram e vítimas do massacre.

Em Macau, a vigília também foi proibida e as autoridades alegaram as mesmas razões que o vizinho Hong Kong: prevenção da covid-19, apesar de o território não registar casos há cerca de dois meses.

Na semana passada, a Amnistia Internacional, em resposta enviada à agência Lusa, considerou “alarmante que o Governo de Macau tenha proibido pela primeira vez a vigília anual do aniversário de Tiananmen”.

A organização não-governamental (ONG), numa resposta assinada pelo vice-diretor regional para a região do Sudeste Asiático, sublinhou que a “polícia alegou preocupações com a saúde por causa da covid-19, apesar de não haver novos casos”. “O vírus não deve ser usado como desculpa para conter a liberdade de expressão e reunião”, denunciou.

Já a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou a China de, com estas decisões, “continuar a esconder-se atrás da covid-19 para conseguir a repressão pública”, em especial “em Hong Kong”.

O vice-director da HRW para a Ásia, Phil Robertson, afirmou à Lusa que “esta é uma forma de tentar travar os protestos” pró-democracia na antiga colónia britânica, pensando que o atual momento de combate à pandemia pode atenuar as reações da comunidade internacional “aos abusos da China ao nível dos direitos humanos”.

Hong Kong e Macau são os únicos locais na China onde têm sido autorizadas manifestações sobre o massacre de Tiananmen, um acontecimento que continua a não ser reconhecido por Pequim.

No antigo território britânico, a vigília atrai dezenas de milhar de pessoas, e no antigo território administrado por Portugal, algumas centenas.

1 Jun 2020

Covid-19 | Epidemia acelera entrada da China numa nova era

O surto da covid-19 veio acelerar o controlo individual no gigante asiático. O código de cores (verde, laranja ou vermelho) é agora necessário para aceder a vários espaços públicos por todo país, e na calha está um sistema de notas, de 1 a 100, para classificar o estilo de vida dos cidadãos

 

[dropcap]A[/dropcap] epidemia do novo coronavírus acelerou a entrada da China numa era pós-privacidade, com a criação de aplicações que registam a localização dos utilizadores e classificam cidadãos de acordo com o seu estilo de vida.

A cidade de Hangzhou, no leste do país, foi uma das primeiras na China a adoptar este tipo de sistema de detecção, que fornece um código verde, laranja ou vermelho, autorizando ou não o utilizador a aceder a restaurantes, transportes ou espaços públicos, e que entretanto se generalizou a todo o país.

A cidade, que é sede de algumas das maiores empresas do sector tecnológico no país, planeia agora criar uma aplicação que classifica os seus 10 milhões de cidadãos em tempo real, numa espécie de “nota para a saúde”, entre 0 e 100 pontos, segundo informação difundida pelos serviços de saúde locais.

A nota pode ser actualizada diariamente, dependendo das actividades de cada utilizador.
Por exemplo, beber um copo de ‘baijui’ – aguardente chinesa – pode resultar numa perda de 1,5 pontos, enquanto dormir sete horas por noite permite ganhar um. Cinco cigarros por dia descontam três pontos.

As autoridades não explicam como a aplicação determina o comportamento do utilizador e o que o governo faria com as informações registadas, avançando apenas que o sistema entrará em vigor no próximo mês.

A liderança em redes de quinta geração, reconhecimento facial, Inteligência Artificial ou ‘big data’ [análise de dados em massa] colocou a China na vanguarda da transformação digital, permitindo a criação de cidades inteligentes, sistemas de mobilidade compartilhada ou o desaparecimento do dinheiro físico.

Cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância foram, nos últimos anos, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais. Muitas estão dotadas de reconhecimento facial, que é cada vez mais complementado com a instalação nas ruas, bairros ou acesso a edifícios residenciais, de colectores de números internacionais do subscritor móvel (IMSI, na sigla em inglês) e os números de série electrónicos (ESM) dos telemóveis – cada dispositivo tem os seus próprios números -, permitindo associar o rosto ao telemóvel de quem vai passando.

“As pessoas passam e deixam uma sombra; o telefone passa e deixa um número. O sistema conecta os dois”, lê-se numa brochura de uma empresa chinesa que desenvolve aquele tipo de sistema de vigilância para esquadras de polícia locais.

Da conveniência

O dinheiro físico praticamente desapareceu no país, à medida que as carteiras digitais do Wechat ou Alipay se popularizam, permitindo fazer transferências ou compras através de um código QR atribuído a cada utilizador.

“Os serviços municipais de saúde devem aproveitar esta oportunidade (…) para alcançar totalmente os seus objectivos”, apontou um membro do comité de saúde da cidade, Sun Yongrong, no comunicado.

As aplicações desenvolvidas pelos gigantes da tecnologia Alibaba e Tencent ocupam já um lugar central na vida dos chineses, agora sujeitos a um sistema de “crédito social” que pode, por exemplo, proibir alguém de embarcar num avião ou fazer reservas num quarto de hotel, caso tenha dívidas ao fisco ou outras situações irregulares.

Com a epidemia, os dois gigantes da Internet criaram aplicações que registam informações pessoais, a localização do utilizador ou os meios de transporte que utilizaram. O uso destas aplicações é obrigatório para aceder a restaurantes, centros comerciais ou espaços públicos.

Em Pequim, por exemplo, é essencial que a aplicação dê verde para entrar em determinados edifícios de escritórios ou centros comerciais. Quem tenha viajado para fora da capital nas duas semanas anteriores passa a estar interdito.

Tom Van Dillen, gestor na capital chinesa da consultora Greenkern, explicou à agência Lusa a rápida implementação destas novas tecnologias no país asiático: “Quanto mais privacidade estás disposto a perder, mais conveniente a tua vida se torna”.

“O que realmente me impressiona é que, a necessidade por conveniência tornou-se uma parte tão elementar de como as pessoas entendem a liberdade, que estão dispostas a sacrificar a sua própria privacidade”, apontou.

O projecto para a criação de uma aplicação que classifica o estado de saúde do utilizador mereceu, no entanto, comentários negativos nas redes sociais do país.

“Por que carga de água é que os meus hábitos de fumar, beber ou dormir têm a ver com os outros”, questionou um internauta no Weibo, o equivalente chinês à rede social Twitter. “Não há mais privacidade”, lamentou.

1 Jun 2020

HK / Autonomia | Governo de Carrie Lam diz que não cede “às ameaças” de Trump

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Hong Kong assegurou no sábado que não vai ceder “às ameaças” do Presidente norte-americano, Donald Trump, relativamente ao fim de vantagens comerciais dadas à antiga colónia britânica face à China, estando a trabalhar num “plano de contingência”.

Em causa está o facto de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado que vai abolir as vantagens comerciais concedidas a Hong Kong após sua transferência do domínio britânico para chinês em 1997.

Em declarações prestadas à imprensa regional, o ministro da Segurança Local de Hong Kong, John Lee, afirmou que “os Estados Unidos não vão ganhar com as suas ameaças”. A decisão de Donald Trump traduz-se na revogação do estatuto especial de Hong Kong e surge como reação à nova legislação de segurança nacional aprovada por Pequim.

Porém, para John Lee, Hong Kong “está a fazer o que está correto” ao apoiar esta lei recentemente aprovada por Pequim para Hong Kong.

Também a ministra da Justiça Local, Teresa Cheng, se pronunciou sobre as declarações do Presidente norte-americano, afirmando que Donald Trump “não tem base jurídica” para executar a medida que anunciou.

Já o Secretário Financeiro de Hong Kong, Paul Chan, garantiu que “a cidade está preparada para enfrentar eventuais sanções”, estando o executivo de Hong Kong a trabalhar num “plano de contingência” caso os Estados Unidos lhes retire o estatuto especial.

Donald Trump avisou que começará a eliminar acordos que deram a Hong Kong um relacionamento com os EUA que faltava à China continental, incluindo isenções de controlos sobre determinadas exportações. Ainda não está claro qual o impacto da decisão sobre as empresas americanas que operam em Hong Kong ou sobre a posição da cidade como o principal centro financeiro da Ásia. Pequim também ainda não deu pormenores sobre quais medidas específicas serão adoptadas em resposta.

China considera “grosseira” decisão dos EUA

A China considerou ontem que a intenção dos Estados Unidos de acabar com privilégios comerciais de Hong Kong interfere “grosseiramente” com os assuntos internos chineses, estando “destinada ao fracasso”, disse o porta-voz do Partido Comunista Chinês.

“Este acto hegemónico de tentar interferir nos assuntos de Hong Kong e interferir grosseiramente nos assuntos internos da China não vai assustar o povo chinês e está destinado ao fracasso. Forçar a China a fazer concessões através de chantagem ou coação é ilusório. Só podem estar a sonhar acordados”, lê-se no editorial do jornal People’s Daily [Diário do Povo].

O mesmo editorial dá ainda conta que a China está preparada para fazer um “contra-ataque decidido” e o que acredita que acredita que a reacção americana terá “um fracasso vergonhoso”.

31 Mai 2020

Lei do Hino | Cartazes, insultos e plantas podres levam a expulsão de deputados

Três deputados foram ontem expulsos do Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong, no início do segundo dia de debates sobre a proposta de lei do hino chinês.
O presidente do Conselho Legislativo (LegCo), Andrew Leung, suspendeu a sessão poucos minutos depois do início, e expulsou o deputado Eddie Chu por ostentar um cartaz, no qual se lia, numa alusão à responsável da comissão parlamentar que enviou o diploma para votação: “Melhor presidente, Starry Lee”. A oposição tinha contestado a eleição de Lee para a comissão, por considerar que era ilegal.
Chu foi escoltado por seguranças para fora do parlamento, debaixo dos protestos de outros deputados, que tentaram impedir a expulsão. O deputado explicou aos jornalistas que o presidente do LegCo se opusera a um cartaz que dizia que Lee era uma “presidente ilegal”, no debate de quarta-feira, o que o levou a fazer um novo para chamar a Lee, de forma irónica, a “melhor presidente”.
“Na verdade, quisemos utilizar qualquer método para impedir que esta lei do hino nacional [chinês] fosse aprovada por esta legislatura, que é basicamente controlada pelo Partido Comunista Chinês”, disse. Este diploma “é apenas mais uma forma de exercer pressão sobre o povo de Hong Kong”, considerou Chu.
Depois de a sessão parlamentar ter recomeçado, um segundo deputado, Ray Chan, começou a gritar palavras de protesto, enquanto o presidente da assembleia legislativa justificava a decisão de expulsar Chu do debate. O incidente levou Leung a suspender novamente a sessão e a expulsar Chan.
Um terceiro incidente envolveu o deputado Ted Hui, que acabou expulso depois de pontapear uma garrafa de plástico em direcção ao estrado do presidente do LegCo. Mais tarde, Hui disse que garrafa continha uma planta podre, para que Leung cheirasse “o apodrecimento da civilização e do Estado de direito de Hong Kong”. O deputado acusou a China de pôr em causa o princípio “um país, dois sistemas”.
O incidente com Hui deu-se quando os deputados exigiam que o presidente do LegCo explicasse quais as regras que proíbem cartazes sarcásticos, tendo os parlamentares exibido também cartazes com a frase: “Melhor Presidente, Starry Lee”.

29 Mai 2020

Hong Kong | Londres oferece mais direitos a habitantes com passaporte britânico

[dropcap]O[/dropcap] governo britânico prometeu hoje oferecer a centenas de milhares de residentes de Hong Kong maiores direitos de residência no Reino Unido se a China não recuar com uma nova lei de segurança planeada para o território semi-autónomo.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, disse que cerca de 300.000 pessoas em Hong Kong que possuem passaporte nacional britânico enquanto residentes no estrangeiro poderão permanecer no Reino Unido por 12 meses, em vez dos seis atuais, se a China não reconsiderar o seu plano.

Raab disse que o tempo de permanência também seria extensível e forneceria “um caminho” para a cidadania do Reino Unido. Quando Hong Kong passou para a administração da China em 1997, após 150 anos como colónia britânica, os seus residentes não obtiveram o direito de viver no Reino Unido.

A lei de segurança nacional proposta pela China visa reforçar o controlo de Pequim sobre Hong Kong, numa tentativa de impedir o reacender de protestos violentos registados ao longo de vários meses no ano passado.

Raab e os ministros dos Negócios Estrangeiros dos EUA, Canadá e Austrália afirmaram em comunicado conjunto que a lei proposta “reduziria as liberdades da população de Hong Kong e, ao fazê-lo, desgastaria drasticamente a autonomia de Hong Kong e o sistema que a torna tão próspera”.

29 Mai 2020

APN | Li Keqiang garante não vai inundar a economia com estímulos

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que a China não vai “inundar” a economia com medidas de estímulo, mas que recorrerá antes a medidas “excepcionais” em momentos “especiais”.

Na conferência de imprensa que marca o encerramento da sessão plenária da Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão máximo legislativo da China, Li Keqiang afirmou ainda que o país vai alcançar “crescimento económico positivo” se conseguir garantir condições de emprego e de vida para os seus cidadãos e proteger os participantes no mercado.

Para o chefe do Governo chinês, propor estímulos excessivos apenas incentivaria a especulação.
“Sem água não podemos criar peixe, mas se houver muita água, alguém vai aproveitar para pescar num rio agitado. Temos que pensar seriamente sobre de onde vem o dinheiro e qual o seu destino”, apontou.

A China não fixou uma meta de crescimento económico para este ano, devido à “grande incerteza” provocada pela pandemia do novo coronavírus na economia e comércio mundiais.

Segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos, a China é um dos principais motores de crescimento da economia mundial, constituindo o principal mercado para vários tipos de matéria prima e produtos manufacturados.

Na abertura da sessão plenária da APN, na semana passada, entre as metas do país para 2020, o primeiro-ministro chinês considerou que garantir um desempenho económico estável é de “importância crucial” e pediu continuidade na execução de reformas e na abertura económica, visando estabilizar o emprego e o consumo.

“O nosso país enfrentará obstáculos cujo desenvolvimento é difícil de prever, devido à grande incerteza em relação à pandemia da covid-19 e ao ambiente na economia e comércio globais”, admitiu.

Li disse então que a China deve priorizar a estabilização do emprego e focar-se na batalha contra a pobreza, para alcançar a construção de “uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos”, a meta oficial do regime de erradicar a pobreza até 2021, quando o Partido Comunista Chinês celebra cem anos desde a sua fundação.

Garantir emprego

Li fixou como objectivo criar mais de nove milhões de empregos urbanos e alcançar uma taxa de desemprego de 6%, e apelou a uma prevenção e controlo eficazes dos grandes riscos financeiros e a uma redução adicional no consumo de energia por unidade do Produto Interno Bruto (PIB).

O PIB da China caiu 6,8 por cento, no primeiro trimestre do ano, a pior contração económica desde a década de 1970, devido às restritas medidas de prevenção de contágio da Covid-19, que incluiu o encerramento de fábricas, lojas e cidades inteiras.

Segundo o orçamento de Estado aprovado pelos quase 3.000 delegados da APN, o deficit no orçamento do Governo central vai aumentar em um bilião de yuan (128 mil milhões de euros), para ajudar a cumprir com as metas de criação de emprego.

Pequim concederá ainda aos governos locais dois biliões de yuan (255 mil milhões de euros) para evitar a perda de empregos, garantindo que as necessidades básicas públicas são atendidas e são dados apoios às empresas privadas para que possam sobreviver.

29 Mai 2020

HK / Autonomia | Economistas de Macau analisam ameaça norte-americana

Albano Martins: “Verborreia normal dos EUA”

[dropcap]E[/dropcap]stamos perante a verborreia normal dos EUA. O Congresso dos EUA decidiu, no ano passado, que todos os anos iria avaliar a situação de Hong Kong para verificar se continuaria a desfrutar do estatuto especial de comércio que mantém com os EUA. Qualquer que seja a decisão dos EUA, independentemente de a China promulgar, ou não, a lei de segurança nacional, vai afectar, de certeza absoluta, muito mais Hong Kong do que Pequim. O alvo deles está errado, porque vai bater em Hong Kong e nas suas empresas, e há empresas americanas de jogo em Macau, é preciso não esquecer.

Os EUA têm de perceber que Hong Kong tem, de facto, um elevado grau de autonomia como tem Macau, e que essa questão da lei de segurança nacional deve ser vista essencialmente pelos chineses de Hong Kong e da China. Claro que todos ficam preocupados se o primeiro sistema impuser regras a que as pessoas não estão habituadas no segundo sistema. Mas passar por cima e imediatamente dizer “nós somos os imperadores e vocês em Hong Kong vão passar a ter aumentos de tarifas e regras mais exigentes se quiserem investir nos EUA”, passando pelo possível congelamento de activos, chama-se imperialismo, que já não existe.

É preciso calma no meio disto tudo. Temos um país que faz diplomacia em tweets, quando essas coisas têm de ser resolvidas entre os EUA e Pequim. Hong Kong é China. A China tem de resolver isto de uma forma inteligente e uma forma que não é inteligente é a violência. Não podemos esquecer que o dólar de Hong Kong está indexado ao dólar americano e isso poderá afectar a estabilidade do sistema monetário, onde se inclui Macau. Essas situações devem ser vistas através da diplomacia e não através do Twitter.”

José Morgado: “Mais uma jogada dos EUA relativamente à China”

“Pelo que sei as declarações têm em conta tratados comerciais preferenciais entre os EUA e Hong Kong. Se é isso, tem a ver um pouco com as relações entre os EUA e Hong Kong, mas com a pandemia diria que esta situação está um bocado limitada. Obviamente que deixando Hong Kong de ter a preferência dos EUA, e sendo Hong Kong tradicionalmente um porto de passagem de produtos da China para os EUA, obviamente que tem sempre implicações. Essa uma situação [de possível aplicação de sanções] vai ter implicações a nível da moeda, mas sobretudo terá implicações comerciais.

Obviamente que os produtos vão ficar mais caros se deixar de haver o regime preferencial. Se ficam mais caros produz inflação e um reajustamento na procura. Estando o dólar de Hong Kong indexado ao dólar americano, e estando a pataca indexada ao dólar americano, indirectamente, acaba por ter repercussões. O que vejo nisto é a continuidade da política de guerra fria e vamos lá ver se um dia destes não se torna numa guerra quente, entre os EUA e a China. É mais uma jogada dos EUA relativamente à China e Hong Kong.”

José Luís Sales Marques: “Interesses americanos não devem gostar”

Penso que, para já, é evidente que é um pouco cedo para fazer declarações porque não sabemos as consequências que essa declaração vai ter. Pompeo comunicou a posição do Governo americano ao Congresso e penso que caberá depois ao Congresso analisar e avaliar a situação. É uma situação que não é positiva para Hong Kong nem para a RAEM, de certa medida, porque Hong Kong gozava de um certo estatuto especial perante os EUA, como membro da Organização Mundial do Comércio, e poderão existir consequências.

Já ouvi declarações de alguns responsáveis de Hong Kong no sentido de que quanto muito isso poderá ter algum efeito sobre as exportações de Hong Kong, embora essas exportações tenham um peso relativamente pequeno nas relações com os EUA. Portanto, essa é a primeira e única indicação que temos até agora.

Também é evidente que os interesses económicos e comerciais norte-americanos que, de uma maneira ou outra, estão ligados a Hong Kong não devem gostar dessa declaração, mas como esses interesses vão pesar na posição final do Governo norte-americano vamos ver.

Temos vindo a perceber que muitas vezes o actual Governo dos EUA tem outro tipo de preocupações, mais estratégicas, por um lado, e por outro mais imediatas, que pesam mais do que os interesses económicos e comerciais. Há um conjunto de variáveis cuja evolução está por determinar.

No caso de Macau haverá um reflexo do que acontecer em Hong Kong, na medida em que há empresas norte-americanas que funcionam em Macau e que têm fortes ligações em Hong Kong. Mas será sempre uma consequência de forma indirecta.”

29 Mai 2020

HK / Autonomia | Analistas minimizam efeitos da resolução norte-americana

[dropcap]E[/dropcap]conomistas, diplomatas e empresários tentam quantificar o efeito da decisão de Washington de considerar Hong Kong “não autónomo” da China e revogar o estatuto especial da região. Ex-funcionários da Casa Branca disseram que o cenário imediato mais provável é que o presidente Donald Trump aprove uma “variedade” de sanções, potencialmente para funcionários chineses e de Hong Kong, em resposta à lei de segurança nacional da China para Hong Kong.

No entanto, “outras opções estão certamente sobre a mesa”, disse um ex-alto funcionário do governo Trump. “Se Hong Kong perder o seu actual estatuto, poderá ficar vulnerável a tarifas da guerra comercial, controlo tecnológico de exportação, restrições de vistos e viagens e maior escrutínio do sector financeiro.”

“Acho que a importância de Hong Kong está a deteriorar-se e quando me reúno em Shenzhen e Guangzhou e ouço as discussões sobre a Grande Baía, é praticamente como se Hong Kong fosse insignificante”, disse Joerg Wuttke , presidente da Câmara de Comércio da União Europeia para a China em Pequim. “Trump não está interessado em nada além de si mesmo e em comparação com o que fez à Parceria Trans-Pacífico, com o ataque à Organização Mundial de Comércio ou com a retirada da Organização Mundial da Saúde, mudar o estatuto de Hong Kong é um algo pequeno para ele. É outra ferramenta na caixa e ele vai usá-la se for necessário”, comentou Wuttke.

“Se soubesse, estava em Guangzhou”

Um funcionário consular internacional afirmou que se soubesse o quão perturbador os últimos anos foram para os negócios, teria deixado Hong Kong e aberto uma filial do consulado em Guangzhou. “Nesse sentido, a lei de segurança nacional e a resposta dos EUA serão uma continuação do que vem acontecendo desde o ano passado”, disse.

A Câmara de Comércio Americana de Hong Kong disse em comunicado que a lei “pode comprometer as perspectivas futuras de negócios internacionais, principalmente se uma longa lista de detalhes não for especificada e esclarecida”. No entanto, a câmara recusou-se a comentar a resposta dos EUA.

“Se o estatuto comercial especial da cidade for revogado, Hong Kong perderá acesso a componentes tecnológicos americanos sensíveis, embora possua pouca produção de alta tecnologia em grande escala, porque a maioria dos produtos enviados através de Hong Kong é fabricada noutro lugar”, disseram vários especialistas em comércio.

Como membro independente da OMC, Hong Kong poderá entrar com um processo legal no órgão, com sede em Genebra, se Washington decidir que tarifas diretas adicionais são necessárias. “A relação de Hong Kong com a OMC é decidida pelos membros da OMC colectivamente, e não por um membro como os EUA. Assim, se os EUA revogassem seu estatuto separado e tratarem Hong Kong como parte da China estariam a violar as suas próprias obrigações na OMC e Hong Kong poderia processar os EUA – não que isso ajudasse, é claro ”, afirmou Henry Gao, professor de comércio na Singapore Management University.

Comércio directo é pequeno

Além disso, o comércio directo de Hong Kong com os EUA é relativamente pequeno, tendo exportado apenas 431 milhões de dólares para os EUA em Março, segundo dados americanos, e importado 2,4 mil milhões. “Noventa e nove por cento das exportações de Hong Kong para os EUA são reexportações de uma terceira economia – principalmente da China – e já são tributadas nos EUA com base na origem, não como mercadorias de Hong Kong”, escreveu o analista do Deutsche Bank Michael Spencer numa nota.

“Portanto, as exportações de Hong Kong para os EUA foram tão afectadas pelas taxas dos EUA sobre a China quanto as exportações da China. O aumento das taxas nos últimos 1% das exportações não terá praticamente nenhum impacto na economia de Hong Kong”, concluiu.

29 Mai 2020

Governo de Hong Kong diz que lei da segurança nacional só visa “minoria de criminosos”

[dropcap]A[/dropcap] chefe do Governo de Hong Kong aplaudiu a aprovação hoje em Pequim da lei de segurança nacional para o território e salientou que esta só visa uma “pequena minoria de criminosos”.

“A legislação a ser promulgada pela Região Administrativa Especial de Hong Kong para salvaguardar a segurança nacional visa impedir, coibir e sancionar uma minoria extremamente pequena de criminosos que ameaçam a segurança nacional, salvaguardando a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong e mantendo [o princípio de] ‘Um país, dois sistemas’, defendeu Carrie Lam, em comunicado.

A chefe do executivo da antiga colónia britânica sustentou ainda que a lei “não vai afectar os direitos e liberdades legítimos usufruídos pelos residentes de Hong Kong”.

A reação de Carrie Lam surge pouco depois de a Assembleia Popular Nacional (APN), que é o órgão máximo legislativo da China, ter aprovado hoje, a controversa proposta de lei de segurança nacional de Hong Kong.

A lei proíbe “qualquer acto de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de estado, a organização de actividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.

Entre os sete artigos propostos por Pequim, está uma disposição para um mecanismo legal que permite ao Comité Permanente da APN articular legislação que vise prevenir e punir uma série de suposições, incluindo “subversão contra o poder do Estado”.

A chefe do Governo de Hong Kong afirmou ainda que as autoridades de Macau vão “cooperar totalmente” com o Comité Permanente da APN para concluir o mais rapidamente possível o trabalho legislativo, assim como na adopção de mecanismos de fiscalização.

Na mesma nota, Carrie Lam sublinhou que a aprovação da lei prova a atenção do país para com Hong Kong, “parte inalienável da República Popular da China”.

“Proteger a soberania nacional, os interesses de segurança e desenvolvimento é um dever constitucional” de Hong Kong e que “preocupa todos os cidadãos”, acrescentou a governante.

Por fim, afirmou que o seu Executivo “vai aprimorar a aplicação da lei e a educação pública em relação à salvaguarda da segurança nacional e reportará regularmente” a Pequim.

Japão reage

O Governo do Japão pediu hoje que Pequim mantenha um sistema “livre e aberto” em Hong Kong, preocupado com a aprovação pela Assembleia Nacional Popular da China da polémica lei de segurança nacional na região administrativa especial.

O Executivo japonês, através de um comunicado, afirma “estar seriamente preocupado” com a decisão do poder legislativo de Pequim e pediu que o “desenvolvimento democrático e estável” de Hong Kong se mantenha sob o princípio de “Um País dois Sistemas”.

O Japão vai comunicar a posição ao executivo de Pequim e afirma que vai cooperar com outros países para responder à situação “de forma apropriada”.

28 Mai 2020

China recusa discutir Hong Kong em reunião do Conselho de Segurança da ONU

[dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos pediram uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a polémica lei de segurança que Pequim pretende impor a Hong Kong, mas a China recusou, disseram diplomatas.

Numa declaração, divulgada na quarta-feira, a missão dos EUA nas Nações Unidas considerou que as recentes acções das autoridades chinesas “minam fundamentalmente o elevado grau de autonomia e liberdades garantido para Hong Kong ao abrigo da Declaração Conjunta Sino-Britânica de 1984, que foi registada na ONU como um tratado juridicamente vinculativo”.

“Trata-se de um problema mundial urgente com implicações para a paz e a segurança internacionais”, de acordo com a nota, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP).

A missão norte-americana indicou que os Estados Unidos pediram uma videoconferência do Conselho de Segurança para discutir a questão, que já reacendeu novos protestos em Hong Kong nos últimos dias, mas que a China recusou.

Na nota, a missão norte-americana acusa ainda o Partido Comunista Chinês de falta de “transparência e responsabilização internacional pelas suas acções”.

A delegação chinesa respondeu quase imediatamente, através da rede social Twitter, defendendo que a reunião proposta não tem qualquer fundamento e que a lei de segurança nacional para Hong Kong é uma questão exclusivamente interna.

“Não tem nada a ver com o mandato do Conselho de Segurança”, afirmou a China, que instou os EUA a “pôr imediatamente termo à política de poder e às práticas de assédio”.

A missão norte-americana acusou ainda Pequim de tentar explorar a pandemia da covid-19 para “distrair o mundo” das acções em Hong Kong.

“Esta acção, associada ao encobrimento flagrante e à má gestão da crise do novo coronavírus por parte da China, às contínuas violações dos compromissos internacionais em matéria de direitos humanos e ao comportamento ilegal no Mar do Sul da China, deverá tornar evidente para todos que Pequim não está a comportar-se como um Estado-membro responsável da ONU”, destacou.

A troca de acusações é mais um episódio do conflito entre as duas potências, depois de, na quarta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, ter declarado que Hong Kong já não pode ser considerada autónoma em relação à China.

A notificação ao Congresso norte-americano poderá abrir caminho à retirada pelos Estados Unidos do estatuto comercial e financeiro preferencial de que a antiga colónia britânica beneficiava desde a transferência de soberania para a China, em 1997.

Na semana passada, a China anunciou que a Assembleia Popular Nacional (APN), órgão máximo legislativo da China, ia avançar com uma lei de segurança nacional para Hong Kong.

O anúncio de Pequim parece estar a reacender a ‘chama’ dos protestos, depois de meses de calma, muito por causa das medidas tomadas para conter a pandemia da covid-19, e num momento em que estão agendadas eleições para o parlamento de Hong Kong em setembro, após a ala pró-Pequim ter perdido as eleições locais em 17 dos 18 distritos.

O artigo 23 da Lei Básica, que serve de ‘constituição’ na região administrativa especial chinesa, prevê que Hong Kong seja dotada de uma lei que proíba “qualquer ato de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de Estado, a organização de atividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.

No entanto, o texto nunca foi aplicado, uma vez que a população do território o vê como uma ameaça aos direitos, como o das liberdades de expressão ou de imprensa, desconhecidos na China continental liderada pelo Partido Comunista.

A última vez que se tentou aplicar o artigo ocorreu em 2003 e fracassou, na sequência de grandes manifestações nas ruas de Hong Kong.

Na sexta-feira, a lei de segurança nacional foi apresentada na APN, em Pequim. No mesmo dia, em comunicado, a chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou estar pronta para “cooperar totalmente” com Pequim para fazer cumprir a lei de segurança nacional.

28 Mai 2020

Deputados pró-democracia expulsos do debate da lei do hino em Hong Kong

[dropcap]T[/dropcap]rês deputados pró-democracia foram hoje expulsos do Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong, no início do segundo dia de debates sobre a proposta de lei do hino chinês.

O presidente do Conselho Legislativo (LegCo), Andrew Leung, suspendeu a sessão poucos minutos depois do início, e expulsou o deputado Eddie Chu por ostentar um cartaz, no qual se lia, numa alusão à responsável da comissão parlamentar que enviou o polémico diploma para votação: “Melhor presidente, Starry Lee”. A oposição pró-democracia tinha contestado a eleição de Lee para a comissão, por considerar que era ilegal.

Chu foi escoltado por seguranças para fora do parlamento, debaixo dos protestos dos deputados pró-democracia, que tentaram impedir a expulsão.  O deputado explicou aos jornalistas que o presidente do LegCo se opusera a um cartaz que dizia que Lee era uma “presidente ilegal”, no debate de quarta-feira, o que o levou a fazer um novo para chamar a Lee, de forma irónica, a “melhor presidente”.

“Na verdade, quisemos utilizar qualquer método para impedir que esta lei do hino nacional [chinês] fosse aprovada por esta legislatura, que é basicamente controlada pelo Partido Comunista Chinês”, disse. Este diploma “é apenas mais uma forma de exercer pressão sobre o povo de Hong Kong”, considerou Chu.

Depois de a sessão parlamentar ter recomeçado, um segundo deputado pró-democracia, Ray Chan, começou a gritar palavras de protesto, enquanto o presidente da assembleia legislativa justificava a decisão de expulsar Chu do debate. O incidente levou Leung a suspender novamente a sessão e a expulsar Chan.

Um terceiro incidente envolveu o deputado Ted Hui, que acabou expulso depois de pontapear uma garrafa de plástico em direção ao estrado do presidente do LegCo.

Mais tarde, Hui disse que garrafa continha uma planta podre, para que Leung cheirasse “o apodrecimento da civilização e do Estado de direito de Hong Kong”. O deputado acusou a China de pôr em causa o princípio “um país, dois sistemas”, que garante um elevado grau de autonomia a Hong Kong durante um período de 50 anos, após a transferência de soberania do Reino Unido para a República Popular da China, em 1997.

O incidente com Hui deu-se quando os deputados exigiam que o presidente da LegCo explicasse quais as regras que proíbem cartazes sarcásticos, tendo os parlamentares exibido também cartazes com a frase: “Melhor Presidente, Starry Lee”.

O debate da chamada “lei do hino nacional”, uma proposta de lei que criminaliza insultos ao hino chinês, entrou no segundo dia. A proposta surge num momento de tensão na cidade semi-autónoma, após a China ter anunciado, na semana passada, a intenção de aprovar também uma lei de segurança nacional, que poderá limitar as liberdades em Hong Kong.

O anúncio de Pequim parece estar a reacender a ‘chama’ dos protestos, depois de meses de calma, muito por causa das medidas tomadas para conter a pandemia da covid-19, e num momento em que estão agendadas eleições para o parlamento de Hong Kong em Setembro, após a ala pró-Pequim ter perdido as eleições locais em 17 dos 18 distritos.

28 Mai 2020

APN aprova lei de segurança nacional em Hong Kong

A lei destina-se a punir “uma pequena minoria de criminosos”, disse Carrie Lam, que garantiu a continuação dos “direitos e liberdades legítimos usufruídos pelos residentes de Hong Kong”

 

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Popular Nacional (APN), órgão máximo legislativo da China, aprovou ontem, por uma maioria de 2.878 votos a favor, um contra e seis abstenções, a proposta de lei de segurança nacional de Hong Kong. O texto fica agora nas mãos de um comité jurídico da APN, que ficará encarregado de escrever uma versão final que deverá ser ratificada pelo Comité Permanente do órgão legislativo.

A lei proíbe “qualquer acto de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de estado, a organização de actividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.

Entre os sete artigos propostos por Pequim, está uma disposição para um mecanismo legal que permite ao Comité Permanente da APN articular legislação que vise prevenir e punir uma série de suposições, incluindo “subversão contra o poder do Estado”.

Para uma “pequena minoria de criminosos”

Entretanto, a chefe do Governo de Hong Kong aplaudiu a aprovação da lei e salientou que esta só visa uma “pequena minoria de criminosos”. “A legislação a ser promulgada pela Região Administrativa Especial de Hong Kong para salvaguardar a segurança nacional visa impedir, coibir e sancionar uma minoria extremamente pequena de criminosos que ameaçam a segurança nacional, salvaguardando a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong e mantendo o princípio ‘Um país, dois sistemas’, defendeu Carrie Lam, em comunicado.

A Chefe do Executivo sustentou ainda que a lei “não vai afectar os direitos e liberdades legítimos usufruídos pelos residentes de Hong Kong”. Lam afirmou ainda que as autoridades de Hong Kong vão “cooperar totalmente” com o Comité Permanente da APN para concluir o mais rapidamente possível o trabalho legislativo, assim como na adoção de mecanismos de fiscalização.

Na mesma nota, Carrie Lam sublinhou que a aprovação da lei prova a atenção do país para com Hong Kong, “parte inalienável da República Popular da China”. “Proteger a soberania nacional, os interesses de segurança e desenvolvimento é um dever constitucional” de Hong Kong e que “preocupa todos os cidadãos”, acrescentou a governante. Por fim, afirmou que o seu Executivo “vai aprimorar a aplicação da lei e a educação pública em relação à salvaguarda da segurança nacional e reportará regularmente” a Pequim.

Reacção americana

A forma como a lei foi promulgada levou Washington a anunciar que não tratará mais Hong Kong como tendo autonomia face a Pequim, o que poderá levar à retirada do estatuto de parceiro comercial especial e ao levantamento de tarifas e sanções.

A diplomacia chinesa em Hong Kong respondeu considerando “bárbara” a decisão dos Estados Unidos. “A decisão é a mais bárbara e a mais irracional”, refere um comunicado difundido ontem pelo Gabinete do representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na Região Administrativa Especial de Hong Kong.

O estatuto especial de Hong Kong permite ao território manter relações comerciais distintas com os Estados Unidos. As medidas que se mantêm em Hong Kong desde 1997 implicam uma política de vistos diferente, um regime fixo nas taxas de câmbio de divisas – entre o dólar de Hong Kong e dólar norte-americano – legislação e, sobretudo, um regime fiscal favorável para as empresas.

O tratamento de excepção tem permitido a Hong Kong manter-se como centro financeiro internacional, tal como Londres ou Nova Iorque, sendo a quarta praça financeira a nível global.

Se Washington optar pela mudança de postura podem ficar ameaçadas as ligações financeiras entre Pequim “e a economia livre”, disse à France Press, Robert Spalding, do Hudson Institute, Estados Unidos. Da mesma forma a Bloomberg News nota que as acções financeiras, as transações e as obrigações podem ser “postas em causa”.

Entretanto, o secretário de Estado adjunto para a Ásia Oriental, David Stilwell, disse aos jornalistas que o objectivo da Casa Branca é tentar “uma mudança de comportamento de Pequim” mas reconhece como “improvável” uma alteração de trajectória.

Neste quadro, as empresas norte-americanas em Hong Kong podem ser penalizadas pelas medidas dos Estados Unidos. De acordo com os dados do Congresso dos Estados Unidos mais de 300 companhias norte-americanas mantêm uma representação regional em Hong Kong. O território é também um ponto usado pelas empresas da República Popular da China no acesso a divisas estrangeiras, bancos internacionais e contactos com parceiros globais, apesar da ex-colónia britânica já não ser tão “crucial” como antes.

Em 2019, 12% das exportações chinesas tiveram como destino Hong Kong. Em 1992, as exportações da República Popular da China para a então colónia britânica chegaram a atingir os 45%.

‘Guerra Fria’ prejudica o mundo

Por seu lado, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que a alegada ‘Guerra Fria’ entre a China e os Estados Unidos “não beneficia nenhuma das partes” e “prejudicará o mundo todo”. Li admitiu que as relações entre os dois países enfrentam “novos problemas e desafios”, mas que Pequim e Washington mantêm “ampla comunicação” em áreas como a economia, o comércio, investimento ou cultura. “A relação superou ventos e chuvas, nas últimas décadas, e são realmente complexas”, admitiu.

“Precisamos de ter inteligência suficiente para ampliar os interesses comuns e controlar adequadamente as discrepâncias e os problemas”, apontou o primeiro-ministro chinês, na conferência de imprensa após o encerramento da sessão da APN.

Os Estados Unidos passaram nos últimos anos a definir a China como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que se traduziu já numa guerra comercial e tecnológica e várias disputas por influência no leste da Ásia.

A marinha norte-americana reforçou ainda as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.

28 Mai 2020

EUA consideram que Hong Kong deixou de ser autónomo da China

[dropcap]O[/dropcap] secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, notificou o Congresso de que a administração dirigida por Donald Trump já não considera Hong Kong autónomo da China continental.

A notificação abre caminho à retirada pelos Estados Unidos do estatuto comercial e financeiro preferencial de que a antiga colónia britânica beneficiava desde que foi transferida para a China, em 1997.

“Nenhuma pessoa razoável pode afirmar hoje que Hong Kong mantém um elevado grau de autonomia em relação à China”, afirmou Pompeo em comunicado.

“A decisão desastrosa de Pequim é simplesmente a mais recente de uma série de ações que comprometem fundamentalmente a autonomia e liberdade de Hong Kong e as próprias promessas da China à população de Hong Kong no quadro da Declaração Conjunta Sino-Britânica”, acrescentou o chefe da diplomacia norte-americana.

A posição de Mike Pompeo surge depois de, na semana passada, a China ter anunciado que a Assembleia Popular Nacional (APN), órgão máximo legislativo da China, vai avançar com uma lei de segurança nacional para Hong Kong.

A lei proíbe “qualquer ato de traição, separação, rebelião, subversão contra o Governo Popular Central, roubo de segredos de Estado, a organização de atividades em Hong Kong por parte de organizações políticas estrangeiras e o estabelecimento de laços com organizações políticas estrangeiras por parte de organizações políticas de Hong Kong”.

O artigo 23.º da Lei Básica, a miniconstituição de Hong Kong, estipula que seja o território a avançar com legislação nesse sentido, mas a iniciativa das autoridades enfrentou uma forte vaga de protestos da população, que teme uma redução das suas liberdades.

Com a iniciativa legislativa a ser assumida pela China, a lei daria a Pequim o poder para combater os protestos de Hong Kong, que são vistos como um desafio ao Partido Comunista Chinês e ao Presidente Xi Jinping.

28 Mai 2020

China | Economia continua a cair, mas dá sinais de recuperação

As principais empresas industriais chinesas tiveram quebras de 27,4 por cento nos primeiros quatro meses do ano, segundo dados oficiais. A perspectiva não é famosa, com os mercados que alimentam as exportações chinesas fechados. Porém, um inquérito da Standard Chartered Plc mostra que a confiança das pequenas empresas começa a dar sinais de retoma

 

[dropcap]A[/dropcap] economia chinesa continua a mostrar uma recuperação lenta face ao efeito devastador da pandemia do novo tipo de coronavírus, algo que se pode verificar pelos números recentemente divulgados. Segundo o Gabinete de Estatística da China, nos primeiros quatro meses de 2020 o lucro das maiores empresas chinesas caiu 27,4 por cento, uma quebra maior que as pequenas e médias empresas menos dependentes da procura externa.

Aliás, essa realidade é demonstrada pelo recente estudo feito pela Standard Chartered Plc, que as pequenas empresas apresentaram maior confiança no mês de Maio, desde que a pandemia paralisou o país, com o aumento da produção e do volume de vendas

A produção industrial chinesa cresceu em Abril, enquanto o consumo e as importações continuam a dar sinais de retracção. A forma como estes factores vão evoluir desempenhará um papel determinante na forma como a China irá recuperar economicamente, enquanto tiver o crescimento económico anexado às exportações.

“A produção continua a comandar a retoma, enquanto a procura doméstica ganha dinamismo”, afirmam os analistas da Standard Chartered, citados pela agência Bloomberg. “Enquanto a capacidade produtiva continua a aumentar, achamos que o trunfo da recuperação económica pode ser a procura interna. Se esta crescer pode levar a uma aceleração sustentada da produção”, afirmam os analistas, sem deixarem de vincar que a procura externa continua fraca, o que põe em causa qualquer desejo de expansão económica.

Fora de fronteiras, a procura dos produtos chineses que alimenta a grande máquina de manufactura do gigante asiático continua em modo de pausa. Por exemplo, na Coreia do Sul as exportações caíram mais de 20 por cento nos primeiros 20 dias de Maio, pelo segundo mês consecutivo, com as remessas vindas da China a registarem quebras de 1,7 por cento, comparado com o mesmo período homólogo do ano passado. Como Seul divulgou mais cedo os dados do comércio externo, as instituições financeiras estão a tomá-los como referência para uma avaliação ao comércio mundial.

Apesar disso, as exportações chinesas subiram surpreendentemente em Abril, algo que foi explicado com a remessa de produtos encomendados antes da pandemia, e que só no mês passado foram enviados devido à melhoria no controlo da covid-19.

As ordens de exportação de bens vendidos por pequenas empresas continuam a contrair, mas a um ritmo mais desacelerado, de acordo com o inquérito supracitado, o que levou à subida da confiança dos gestores de vendas inquiridos.

Davides e Golias

De acordo com os dados divulgados ontem pelo Gabinete de Estatísticas da China, os ganhos no período entre Janeiro e Abril ascenderam a cerca de 161 mil milhões de euros.

Em Abril, a redução foi de 4,3 por cento, em relação ao mesmo mês do ano anterior, enquanto em Março a queda homóloga foi de 34,9 por cento e, no conjunto dos meses de Janeiro e Fevereiro, de 38,3 por cento.

A queda nos lucros da indústria na China agravou-se, depois de ter recuado 6,3 por cento, em Dezembro passado, antes do início do surto do novo coronavírus. Em 2019, comparativamente ao ano anterior, os lucros da indústria chinesa desceram 3,3 por cento, na sequência de uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos.

Para este indicador, as estatísticas chinesas consideraram apenas empresas industriais com receitas anuais superiores a 20 milhões de yuan.

Entre os 41 sectores analisados pelas estatísticas, 36 sofreram uma redução nos lucros, entre os meses de Janeiro e Abril, enquanto os cinco restantes aumentaram os ganhos.

Os lucros das empresas estatais caíram 46 por cento, durante o mesmo período, enquanto nas empresas privadas recuaram 17,2 por cento.

Entre os principais afectados estão as indústrias do petróleo, carvão e outros combustíveis (-213,3 por cento), reparação de maquinaria e equipamentos (-66,7 por cento), produção automóvel (-52,1 por cento) e têxtil (-19,8 por cento).

No extremo oposto, as empresas dedicadas ao tabaco (+22,6 por cento), à indústria de alimentos agrícolas e processados (+20 por cento) ou de equipamentos eletrónicos (+15 por cento) aumentaram os lucros.

O técnico de estatística Zhu Hong disse que a China está a fazer esforços para “acelerar a produção e as vendas” e que “mais e mais empresas estão a melhorar a sua situação”.

O especialista observou que as empresas chinesas em alguns sectores determinantes, como o automóvel ou o electrónico, estão a fazer progressos “significativos”. “A produção continua a ser retomada e os efeitos das políticas de apoio já se fazem sentir”, afirmou.

No entanto, “a procura no mercado não recuperou completamente, o preço dos produtos industriais continua a cair, e a pressão sobre os custos continua alta”, de modo que “o Governo deve continuar a implementar políticas que ajudem as empresas e promovam a recuperação industrial”, acrescentou.

Porcos e diamantes

Os preços da carne suína na China continuaram em queda na semana passada, com a oferta superando a procura, mostram os dados oficiais divulgados ontem pela agência Xinhua.

De 18 a 22 de Maio, o índice de preços médios da carne suína em 16 regiões monitorizadas pelo Ministério da Agricultura e dos Assuntos Rurais ficou em 36,04 yuans por quilo, um declínio de 0,8 por cento em termos semanais.

A queda nos preços ocorreu da adopção de medidas pelo Governo Central com o objectivo de aumentar a oferta do produto, incluindo o recurso a reservas de carne de porco congelada e a expansão das importações.

Para atenuar o impacto da pandemia do novo tipo de coronavírus, Pequim aumentou o apoio financeiro, incluindo subsídios e empréstimos, aos principais distritos produtores de suínos para restaurar a produção e para salvar o sector.

A produção de carne suína deverá atingir 48 milhões de toneladas neste ano, 5 milhões a mais do que no ano passado, de acordo com um relatório da Academia Chinesa de Ciências Sociais.

O Banco Popular da China (BPC), injectou ontem no sistema bancário através de operações de recompra reversa (reverse repos) 120 mil milhões de yuans para manter a liquidez.

Um acordo de recompra reversa é um processo no qual o banco central compra valores dos bancos comerciais por licitação, com um acordo para vendê-los de volta no futuro.

O banco central da China prometeu no seu relatório de política monetária do primeiro trimestre que intensificará ajustes anti-cíclicos para apoiar a economia real, que vai apostar numa política monetária prudente mais flexível e apropriada e continuará a aprofundar as reformas da taxa de juros orientada para o mercado e sistema de formação cambial do yuan.

28 Mai 2020

Coreia do Sul regista 40 novos casos de covid-19 e autoridades atrasam regresso a escolas

A Coreia do Sul registou hoje 40 novos casos de coronavírus, o maior número diário em quase 50 dias, provocando preocupação entre as autoridades e adiando o retorno às aulas em centenas de escolas.

O principal especialista em doenças infeciosas da Coreia do Sul disse que o país poderá ter que repor as restrições de distanciamento social que diminuiu em abril, com as transmissões do novo coronavírus a subir na área metropolitana de Seul e em outros lugares nas últimas semanas.

Jeong Eun-kyeong, diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul, disse hoje durante uma reunião sobre o vírus que está a ficar cada vez mais difícil para os profissionais de saúde rastrear a disseminação da covid-19, o que coincidiu com o aumento da atividade pública em meio ao clima mais quente e o relaxamento no distanciamento social.

“Faremos o possível para rastrear contactos e implementar medidas preventivas, mas há um limite para esses esforços”, disse Jeong.

“É necessário maximizar o distanciamento social nas áreas em que o vírus está a circular e forçar as pessoas a evitar instalações públicas e outros espaços lotados”, declarou ainda.

O rastreamento e a realização de testes ativos haviam estabilizado o surto do país desde o pico de março, o que permitiu às autoridades flexibilizar as diretrizes de distanciamento social.

Entretanto, um aumento constante de casos na área de capital, nas últimas semanas, levantou preocupações, à medida que as autoridades prosseguem com a reabertura gradual das escolas.

Os alunos de parte do ensino médio voltaram às escolas na semana passada. Estava previsto para hoje o retorno de mais de dois milhões de alunos ensino básico, pré-escolar, creches e parte do secundário.

O Ministério da Educação disse que a volta dos alunos foram adiadas em 561 escolas em todo o país devido a preocupações com vírus, incluindo 111 escolas em Seul.

A Coreia do Sul confirmou um total de 11.265 casos de coronavírus, incluindo 269 mortes.

Todos os novos casos, com exceção de quatro, estão na área metropolitana de Seul, densamente povoada, onde as autoridades têm lutado para conter as transmissões ligadas a casas noturnas, bares de karaoke e um armazém de comércio eletrónico. Três casos foram relacionados a chegadas internacionais.

As autoridades de saúde disseram que estão a testar 3.600 funcionários da gigante local de comércio eletrónico Coupang, depois de descobrirem dezenas de infeções do novo coronavírus vinculadas a trabalhadores no armazém da empresa perto de Seul.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 350 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Cerca de 2,2 milhões de doentes foram considerados curados.

27 Mai 2020

Polícia de Hong Kong detém manifestantes e lança gás lacrimogéneo

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 15 pessoas foram hoje detidas pela polícia de Hong Kong, que lançou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes, um dia antes do debate da polémica proposta de lei do hino. De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP) no local, o incidente deu-se em Central, quando a polícia tentava dispersar uma centena de manifestantes.

Dois adolescentes foram detidos na posse de bombas incendiárias de fabrico caseiro, noticiou a imprensa local. O Governo de Hong Kong indicou em comunicado que os manifestantes bloquearam algumas ruas, “com a intenção de paralisar o trânsito”, enquanto na internet se multiplicaram os apelos de ativistas pró-democracia para continuar os protestos frente ao Conselho Legislativo.

O debate sobre a chamada “lei do hino nacional”, uma proposta de lei que criminaliza insultos ao hino chinês, surge num momento de tensão na cidade semiautónoma, após a China ter anunciado, na semana passada, a intenção de aprovar também uma lei de defesa da segurança nacional, que poderá limitar as liberdades em Hong Kong.

Esta lei de segurança, que visa proibir a “traição, secessão, sedição (e) subversão”, é um dos destaques da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), o parlamento chinês, a decorrer em Pequim.

O documento agora apresentado surgiu após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia.

O artigo 23 da Lei Básica prevê que Hong Kong seja dotada de uma lei que proíba a “traição, secessão, sedição e subversão”. No entanto, o texto, na prática, nunca foi aplicado, uma vez que a população do território o vê como uma ameaça aos direitos, como o das liberdades de expressão ou de imprensa, desconhecidos na China continental liderada pelo Partido Comunista.

A última vez que se tentou aplicar o artigo ocorreu em 2003 e fracassou, na sequência de grandes manifestações nas ruas de Hong Kong.

Na sexta-feira, a lei de segurança nacional foi apresentada na APN, em Pequim. No mesmo dia, em comunicado, a chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou estar pronta para “cooperar totalmente” com Pequim para fazer cumprir a lei de segurança nacional.

27 Mai 2020

Covid-19 | Japão decide levantar alerta sanitário em todo o país

[dropcap]O[/dropcap] Governo do Japão decidiu hoje levantar o estado de alerta sanitário em Tóquio e quatro regiões do país, as últimas em que se mantinham as medidas instauradas para combater a pandemia da covid-19.

O levantamento do estado de alerta, aconselhado por um grupo de especialistas que presta apoio ao Governo, deverá ser formalmente aprovado pelo Executivo nipónico ainda hoje, informou o ministro da Revitalização Económica japonês, Yasutoshi Nishimura, também responsável pelo grupo de trabalho que coordena a luta contra o novo coronavírus.

Decretado há cerca de um mês, o alerta sanitário permanecia em vigor apenas em Tóquio, nas três províncias vizinhas (Chiba, Kanagawa e Saitama) e na de Hokkaido, a norte.

Desde o início da epidemia, o Japão registou mais de 820 mortes e cerca de 16.550 casos de infecção, de acordo com dados divulgados pela Universidade norte-americana Johns Hopkins.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 343 mil mortos e infetou mais de 5,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de dois milhões de doentes foram considerados curados.

25 Mai 2020