Manuel Nunes EventosIC lança obra “Bibliografia da Literatura de Macau 1600-2014” [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] o segundo volume da “Colectânea do Museu de Literatura de Macau – Série História” e intitula-se “Uma Bibliografia da Literatura de Macau 1600-2014”. Foi apresentado no sábado passado com o apoio do Instituto Cultural (IC). A publicação de trabalhos ainda mais abrangentes e aprofundados sobre a literatura de Macau é o objectivo deste livro de Wong Kwok Keung, um autor com anos de experiência na recolha e investigação histórica que seleccionou para este trabalho uma bibliografia com mais de seis mil volumes relacionados com a literatura local. Através de análises de conteúdo, linguagem, editoras e outros factores e tendências das obras de literatura relacionadas com Macau, o autor procura apresentar o estado de desenvolvimento da literatura em língua chinesa, portuguesa e inglesa da cidade. O resultado é a criação de um “título essencial para o desenvolvimento da literatura local, por via da enumeração de valiosos materiais de referência e, naturalmente, proporcionar um valioso instrumento para investigadores na área”, indica o IC. Sempre activo Wong Kwok Keung assumiu funções na biblioteca da Universidade de Macau em 1987, assumindo actualmente o posto de bibliotecário-auxiliar da mesma. Desde 2005 é chefe do Centro de Publicações da instituição. A partir de 1990 tornou-se num activo participante de actividades sociais e começou a compilar uma lista de estudos e publicações relacionados com Macau, facultando uma importante base para estudos sobre a cidade. Nos últimos anos, publicou perto de cem artigos relacionados com publicações e materiais de investigação de Macau, focando-se sobretudo na história editorial, bibliografia documental e na história da biblioteca e arquivo de Macau e história da leitura e de Macau em relação ao Sudeste Asiático. “Uma Bibliografia da Literatura de Macau 1600-2014” encontra-se à venda ao preço de 150 patacas, estando disponível na Plaza Cultural, Livraria Seng Kwong, Livraria Portuguesa, Arquivo Histórico de Macau, Centro de Informações ao Público e no Centro Ecuménico Kun Iam.
Manuel Nunes EventosDSEJ | Festival Juvenil Internacional de Dança em Julho Dançar pelas ruas, à noite e de dia, em recinto coberto ou ar livre, para ver ou para participar com jovens de vários países do mundo. É a aposta deste festival que agora regressa a Macau. Quinze milhões de patacas é quanto vai custar o bailarico [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]riar uma plataforma para jovens amadores de dança, de diferentes países e regiões do mundo é o objectivo de mais uma edição do Festival Juvenil Internacional de Dança da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), além de pretender facultar a residentes e turistas a arte e a cultura de diferentes países e regiões. Assim, de 22 a 28 de Julho, o Festival volta a Macau, sendo de esperar que o ritmo contagie vários pontos da cidade. Criado em 1987, este festival juvenil realiza-se a cada dois anos e tem vindo a ganhar destaque no panorama dos eventos de Macau, através do qual as equipas de dança podem demonstrar as suas capacidades, bem como aprenderem as técnicas dos outros participantes. Desta forma, tornar Macau num ponto de encontro das diferentes culturas de dança é a grande aposta. A edição deste ano conta com um total de 27 equipas provenientes da Ásia, Oceânia e Europa. Destas, 15 vêm de fora, nomeadamente de países como Austrália, Grécia, Indonésia, Israel, Coreia do Sul, Letónia, Lituânia, Malásia, Nova Zelândia, Noruega, Rússia, Singapura, Eslováquia e Sri Lanka. Da China continental chega um grupo de Yunnan, contando-se ainda com equipas de Hong Kong e Taiwan. De Macau são dez as equipas que irão estar presentes. Vêm da Escola Hou Kong, da Associação Imprint Macau Dance, da Escola Kao Yip, do Grupo de Dança Juvenil – Conservatório de Macau, da Associação Internacional de Dança de Rua de Macau, da Escola dos Moradores de Macau, da Associação de Dança de Música Pop de Macau, da Escola Secundária Pui Ching, da Associação de Dançarinos Regina e da Universidade de Macau. Ruas afora Para além das actuações, está previsto um desfile, a realização de um workshop e de espectáculos de dança nocturna. A partir deste conjunto de eventos, a organização pretende que seja evidente “a integração das culturas chinesa e ocidental, demonstrando as características das indústrias culturais e criativas de Macau”. Ao longo do percurso do desfile e durante as exibições no exterior, os artistas irão interagir com os espectadores e todos são convidados a participar na festa. Segundo a organização, que a DSEJ partilha com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, o Instituto Cultural, a Direcção dos Serviços de Turismo, o Instituto do Desporto, o Instituto de Formação Turística e o Fórum de Educação da Ásia-Pequim, este evento irá ter um custo de 15 milhões de patacas. Os bilhetes de entrada para as exibições em recinto coberto serão distribuídos a partir das 16h00 do dia 19 de Julho em vários locais ao longo da cidade. Os professores de Macau, todavia, podem registar-se a partir de hoje, para a obtenção de bilhetes (máximo de dois por pessoa), que lhes darão acesso ao “Espaço dos Docentes”. Paralelamente, para que os jovens oriundos do exterior fiquem a conhecer melhor a cultura local, a organização vai fazer uma visita cultural por Macau. Programa 24 de Julho 17:30-19:30 Desfile Ruínas de S. Paulo, Rua da Palha, Rua de S. Domingos, Igreja de S. Domingos 20:00-21:30 Exibição “Dança Juvenil pela Paixão da Rota da Seda” Praça do Tap Seac 25 de Julho 10:00-12:00 Workshops de experimentação artística Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes 25 de Julho 19:30-21:00 Dança nocturna Anim’Arte NAM VAN 27 de Julho 19:30-21:00 Dança nocturna Anim’Arte NAM VAN 26 de Julho 20:00-22:00 Exibições no interior Pavilhão I do Fórum de Macau 28 de Julho 20:00-22:00 Exibições no interior Pavilhão I do Fórum de Macau
Manuel Nunes Desporto MancheteDesporto | Portugal é Campeão Europeu de Futebol e sétimo nos Europeus de Atletismo O verde e vermelho invadiu o mundo. Não foi só a torre do Eiffel porque, se em Paris Portugal se sagrou pela primeira vez campeão europeu de futebol, em Amsterdão o atletismo arrecadou 6 medalhas e, em Andorra, Rui Costa foi segundo na nona etapa do Tour. Nunca tal se “haverá” visto [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão será necessário relatar o filme do jogo épico que todos, ou quase todos, assistimos na madrugada de domingo. Valerá, quiçá, recordar algumas das frases proferidas após a conquista da equipa portuguesa em Paris. Honra aos derrotados seja feita, destaque para a reacção de Didier Deschamps, o treinador gaulês, que sempre primou pela elegância nas suas declarações em relação a Portugal. “A desilusão é o principal sentimento. Há coisas positivas, mas é difícil vê-las nesta altura. É muito duro, mas isto é futebol de alta competição”. Para além do desânimo natural, Deschamps disse ainda em relação à equipa portuguesa que “O vencedor merece sempre. Podem fazer as vossas análises, mas eu disse que não tinha chegado à final por acaso. Ficou em terceiro no grupo e é campeão da Europa. Não ganharam muitos jogos mas ganharam o mais importante. Não retiro nenhum mérito a Portugal. Há muita gente que vai tentar fazer comparações, e se calhar tiveram gerações com mais talento, mas não ganharam, e estes ganharam. Estão de parabéns. Não tenho nada a dizer para beliscar o mérito da equipa portuguesa.” Antoine Griezmann, o avançado francês com origens portuguesas, também estava desiludido apesar de levar como prémio de consolação o título de melhor marcador do Euro. Todavia, não teve pejo em destacar Ronaldo em relação à Bola de Ouro, um título que ambiciona, “O Cristiano ganhou as maiores competições, por isso acho que é isso, está feito”, disse. Euforia Lusitana Poucos esperariam que entrasse e muito menos que viesse a confirmar a fábula de Hans Christian Andersen, a história do “Patinho Feio” que afinal era um garboso cisne em desenvolvimento. Após uma experiência falhada em Inglaterra, no Swansea, Éder tinha conseguido este ano ficar em definitivo no Lille, de França, onde foi preponderante. Todavia, isso não chegou nem para lhe dar a titularidade na selecção, nem para conquistar o amor dos fãs. Diz-se, inclusive, que esse desamor terá mesmo provocado a necessidade de apoio psicológico antes do Campeonato da Europa. Mas, apesar de ter inscrito o seu nome a ouro na história do futebol português (nunca mais será esquecido), não esqueceu a humildade no meio das celebrações e até disse compreender a alcunha: “Patinho feio? Eu compreendo, as pessoas têm de falar, muitas vezes com razão, outras nem tanto”. Para além disso, em relação ao golo que deu o troféu, uma clara atitude de raiva e querer, Éder disse que “é um golo que sai do esforço de todos os portugueses, de todos os jogadores. Trabalhámos imenso, é sempre muito difícil, mas acreditámos sempre. O mister sempre disse que só saíamos daqui com a taça, que íamos ser campeões. É um golo de uma vida, muito merecido. Claro que não tenho noção da dimensão. Agora temos de desfrutar. Quero agradecer à Susana Torres, minha treinadora de alta performance que vocês deviam conhecer. Muita crença com os meus amigos, consegui fazer o que fiz no Lille e Fernando Santos e os meus companheiros acreditaram em mim.” Claro que não se pode esquecer o menino Sanches que deslumbrou meio mundo e conquistou o prémio para melhor jogador jovem do torneio. Orgulhoso, mas humilde também, até revelou que iria “autorizar” os seus amigos do ex-rival a festejar com ele: “Quero dizer aos meus amigos que hoje vão poder festejar comigo porque eles são quase todos sportinguistas”. Para além disso, considerou estar a viver um momento único “… é um sonho. Aos 18 anos ganhar um Campeonato da Europa… Espero ter mais anos como este, para mim vou guardar este ano no coração” E só falta o capitão que, como escreveu o diário inglês The Independent, “Transformou as lágrimas de tristeza em alegria.” “São momentos que não conseguimos controlar. Estava, de facto, muito emocionado, era algo que queria muito para o nosso país. Senti o apoio de todos os portugueses em Portugal e fora e aqui em Marcoussis, principalmente. Ganhei tudo a nível de clubes e individual, mas sempre disse que queria ganhar algo por Portugal. O nosso treinador merece, a nossa estrutura merece, ninguém acreditava. Obviamente, queria jogar mais, mas não consegui. Levei uma porrada e não consegui, senti o joelho a inchar, se continuasse podia piorar, ia correr um risco enorme”, disse Cristiano que ainda explicou a confiança que tinha em Éder “Foi feeling, não quero dizer que sou o rei da cocada preta ou bruxo, mas tive feeling que o Éder ia marcar. Fiz uma reza para ele, merece. Estou muito feliz por ele.” Palavras de capitão O papel de Ronaldo, ainda sem jogar, foi mesmo fundamental na coesão e motivação do grupo. As palavras ditas antes do prolongamento foram cruciais conforme divulga o jornal Mirror, de Inglaterra, através de Cédric Soares: “Ele deu-nos muita confiança e disse-nos: ‘Oiçam pessoal, tenho a certeza que vamos ganhar o Euro, por isso mantenham-se unidos e lutem por isso’. “Foi incrível”, disse ainda Cédric, “a equipa toda teve uma atitude fantástica e mostrou que, quando se luta como se fossemos apenas um, é-se muito mais forte”. E vai mais longe na análise de Ronaldo que qualifica de “fantástico. A sua atitude é inacreditável. Ao intervalo ajudou-me muito e aos meus colegas, teve sempre palavras de motivação. A equipa toda reagiu por isso foi muito, mas muito bom!” Imprensa Internacional A imprensa internacional engalanou-se com as cores portugueses classificando, de uma forma geral, a conquista de Portugal no Euro como “heróica” salientando o facto de ter sido conseguida sem o contributo de Cristiano Ronaldo. Aqui ficam alguns dos títulos: França France Football “Uma terrível desilusão” Le Monde “Portugal priva os ‘Bleus’ de uma vitória no seu Europeu” Espanha El Pais “Portugal consola Cristiano” Marca “Em nome de Cristiano” e “Assim é Éder, o novo herói de Portugal”. El Mundo “Portugal, campeão da Europa: a crueldade é bela” Mundo Deportivo “Heróico, mesmo sem Cristiano” As “Maracanazo em Saint-Denis” Inglaterra The Independent “As lágrimas de Ronaldo transformam-se em alegria com Portugal a bater a França e conquistar a glória europeia” The Guardian “Os ‘patinhos feios’ de Fernando Santos partem os corações franceses” The Sun “Quem precisa de Ronaldo? Éder, o flop de Swansea marca no prolongamento e atordoa a nação anfitriã” Mirror “Portugal choca a França com vitória 1-0 após Ronaldo sair lesionado” Estados Unidos CNN “Portugal coroado campeão europeu” Brasil O Globo “Portugal bate a França e vence a Eurocopa pela primeira vez” Alemanha Die Welt “Na sua noite mais amarga, ele levantou a taça” Argentina Olé “Rebentos de Cristiano” (“Flor de Cristianos”, no original) Hong Kong South China Morning Post “Treinador Santos inspira Portugal para uma derradeira vitória ‘feia’” Estatísticas no Euro Esta prova que continua a ser liderada na conquista de títulos pela Alemanha/RFA (1972, 1980 e 1996) e Espanha (1964, 2008 e 2012) gera toneladas de estatística. De entre essa miríade de dados, seleccionámos os que tocam às cores portugueses. Uns melhores, outros nem por isso. Mais presenças em fases a eliminar após ultrapassar a fase de grupos: 7 – Alemanha/RFA (1980, 1988, 1992, 1996, 2008, 2012 e 2016) e Portugal (1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016) Mais presenças sem nunca cair na fase de grupos: 7 – Portugal (1984, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016). Menos vitórias de um campeão (desde 1980): 3 – Dinamarca (1992) e Portugal (2016) Mais jogos sem vitórias de um campeão: 4 – Portugal (2016) Mais empates consecutivos: 4 – Portugal (um em 2012 e três em 2016) Menos golos numa final: 1 – Portugal-Grécia, 0-1 (2004), Alemanha-Espanha, 0-1 (2008) e Portugal-França, 1-0ap (2016) Jogador mais velho a sagrar-se campeão: 38 anos e 53 dias – Ricardo Carvalho, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016) Jogador mais novo a sagrar-se campeão: 18 anos e 327 dias – Renato Sanches, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016) Jogador mais novo a actuar numa final: 18 anos e 327 dias – Renato Sanches, Por (Portugal-França, 1-0ap, 2016). Corridas para a vitória Medalhas e títulos extra futebol Nem só de futebol vive a espécie e este fim de semana trouxe mais motivos de orgulho paras hostes lusitanas com resultados espectaculares no atletismo e, claro, o segundo lugar de Rui Costa numa difícil etapa do Tour… de França… nos Pirenéus. Em Amesterdão acabou este fim de semana outro campeonato europeu, o de atletismo. No final, as cores lusitanas terminaram num honroso 7º lugar à frente da… França ao conquistarem três medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze. O ouro foi para Sara Moreira, na meia maratona, Patrícia Mamona, no triplo salto, e para a equipa da meia maratona. A prata seguiu para Patrícia Félix na corrida dos 10,000 metros e o bronze para Tsanko Arnaudov no lançamento do peso e para Jessica Augusto na Meia Maratona. No triplo salto, com uma tirada final de 14,58 metros, Patrícia Mamona melhorou também o recorde nacional por seis centímetros e conquistou a quinta medalha de Portugal nestes Europeus, e a 34.ª desde sempre. Na estreia da meia-maratona em Europeus, Sara Moreira completou o percurso em 1:10.19 horas, enquanto Jéssica Augusto ficou com a medalha de bronze, ao fechar o pódio com mais 36 segundos. Na meia-maratona dos Europeus estreou-se igualmente a Taça da Europa da distância, para a qual contam os registos das três melhores de cada país, tendo Ana Dulce Félix fechado a equipa lusa no 12.º posto, dando o triunfo colectivo a Portugal. Nos 10,000 metros, Jéssica Augusto, que perto do final seguia na quarta posição, acabou por ultrapassar a turca Haydar e terminou, bem isolada, na terceira posição, com 1:10.55. Susana Costa ficou em quinto lugar com um salto de 14,34 metros, e novo recorde pessoal. No lançamento do peso, Tsanko Arnaudov conquistou a medalha de bronze tendo como o melhor arremesso a 20,59 metros. Em Andorra, o português Rui Costa (Lampre-Mérida) conseguiu o segundo lugar na nona etapa da Volta a França em bicicleta, mas promete mais. “Estou feliz e quero mais. Até Paris ainda temos muitas etapas e mais oportunidades. Vamos dar luta”, escreveu Rui Costa, no seu diário ‘online’. O corredor poveiro terminou a etapa rainha dos Pirenéus a 38 segundos do holandês Tom Dumoulin (Giant-Alpecin), vencedor da tirada, e admitiu que o segundo posto foi positivo. “Que dureza que foi esta etapa. Aquela subida final parecia interminável! Foi um dia super complicado, mas a vontade de vencer era maior. Um resultado que me anima. Não foi uma vitória, mas depois de tanto esforço e tantas tentativas que eu fiz, acho que foi uma boa recompensa”, frisou. Rui Costa subiu à 48.ª posição, a 42.27 minutos do britânico Chris Froome.
Manuel Nunes PolíticaAlexis Tam não dá assunto do Complexo da Taipa por encerrado [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] construção de habitação social no lugar onde está o edifício do Complexo Desportivo da Taipa ainda não está decidida. Foi o que garantiu Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, à margem da apresentação do “Encontro de Mestres de Wushu”, ontem. “O assunto não está encerrado”, disse o Secretário, explicando que “os serviços competentes estão a analisar o projecto.” Apesar de reafirmar que não à cabe à sua secretaria a construção de habitações sociais, cuja “responsabilidade é do Secretário das Obras Públicas”, o dirigente admitiu que também o Gabinete de Raimundo do Rosário está ciente do que se passa. “Falei com o Secretário Raimundo do Rosário e eles estão a par das preocupações.” A explicação surge na sequência do anúncio de demolição do edifício parte do Complexo Olímpico da Taipa, que gerou controvérsia entre os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico. Questionado sobre a sua posição, Alexis Tam disse não querer tomar uma posição clara, mesmo quando questionado se, como responsável do desporto de Macau, concordava com a substituição. Alexis Tam, num tom conciliatório, disse apenas “não se preocupem”, frisando ainda: “como não sou um profissional nesta área peço que se dirijam ao senhor Secretário para as Obras Públicas”. Não deixou, contudo, de dizer que a sua posição é que “temos de analisar bem o projecto.” Opiniões são livres Em relação à carta aberta do arquitecto Mário Duque publicada ontem neste jornal, onde este condenava a retirada do convite ao arquitecto Siza Vieira para a remodelação do Hotel Estoril, o Secretário começou por dizer que ainda não tinha conhecimento, mas foi adiantando que “as decisões nunca satisfazem todos”. Recorde-se que o convite ao arquitecto Siza Vieira foi formulado e depois retirado pois, disse na altura Alexis Tam, “hoje em dia, a situação é diferente porque muitos arquitectos querem concorrer. No fim, é uma questão política”. Pois é precisamente contra esta questão que Mário Duque se insurge alegando “a decisão da Assembleia Geral da União Internacional dos Arquitectos (UIA) de 1996, Barcelona, reiterada em Pequim, em 1999, em matéria de standards profissionais, entre outros, que: os arquitectos não devem tentar tomar o lugar de outro arquitecto numa tarefa profissional.” Em relação a isto Alexis Tam disse apenas que “estamos numa cidade democrática pelo que as pessoas podem falar e criticar e cada um tem a sua opinião. Mas, para mim, o que interessa é se a maior parte das pessoas concordam ou não. Porque não é para nós, é para a sociedade”.
Manuel Nunes DesportoWushu | Encontro internacional por toda a cidade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] evento de Wushu que decorre de 11 a 14 de Agosto vai cobrir todo o território e não apenas a Praça do Tap Seac. Macau vai servir de palco para o “Encontro de Mestres de Wushu”, um evento que vai espalhar a magia desta arte pelos quatro cantos da cidade com eventos a acontecerem tanto ao ar livre, como em recintos cobertos. No evento ontem apresentado à imprensa vão estar presentes vários especialistas de Wushu, nomeadamente Wu Guangyu, Wang Shiquan, Shi Yanzheng, do Templo Shaolin, Liu Suibin, Shi Yanjun e Lu Yijie. O orçamento de produção é de 20 milhões de patacas e a iniciativa vem recuperar a ideia de um outro encontro similar ocorrido em Macau nos anos 60 do século passado. A acção acontecerá em diferentes palcos, como a Praça do Tap Seac, o Pavilhão Polidesportivo do Tap Seac, o Largo do Senado, a Praça da Amizade e o Jardim de Iao Hon. Para além das exibições de Wushu tradicional, estão também previstas Danças do Dragão e do Leão, um Fórum de Wushu, uma exibição conjunta dos mestres da China e de outras partes do mundo e competições de Taolu. Outras actividades constantes do programa são ainda Sanda (versão de kickboxe chinesa) dos atletas da China e do estrangeiro, paradas e competições de Dança do Leão e do Dragão. Desporto e turismo Para Pun Weng Kun, presidente do Instituto do Desporto (ID), “o Wushu regista uma longa história de desenvolvimento em Macau e este evento é uma excelente oportunidade para combinar desporto com turismo”. Já o Presidente da Direcção da Associação Geral de Wushu de Macau, Chan Weng Kit de Noronha, refere que “com o forte apoio do Governo, tem-se permitido um forte desenvolvimento da modalidade em Macau, tornando-se numa das modalidades mais praticadas pelos cidadãos locais”. Ainda segundo o responsável associativo, “nos últimos anos, os atletas de Wushu de Macau conseguiram alcançar excelentes resultados em vários eventos desportivos de grande dimensão, ocupando uma posição relevante no desenvolvimento da modalidade a nível mundial”. A expectativa é agora a de criar um evento que permaneça no calendário de grandes eventos da RAEM, uma opção que o Secretário para os Assuntos sociais e Cultura, Alexis Tam, não enjeita. “Vamos ver como corre, analisar e depois decidiremos se, de facto, poderemos continuar.” De qualquer forma, o responsável governamental adiantou ainda que “muitas outras cidades gostariam de ter um evento como este”, que o Secretário considera “muito importante para a população” no sentido da “promoção do desporto, da criatividade e para a imagem de Macau no mundo”. A iniciativa é organizada em conjunto pelo Instituto do Desporto e a Associação Geral de Wushu de Macau, com a colaboração da Direcção dos Serviços de Turismo, do Instituto Cultural e do Fundo das Indústrias Culturais. A entrada para todos os eventos será livre.
Manuel Nunes China / Ásia MancheteHK | Mudança de atitude de CE pode ser passo para a “reeleição” A semana passada, o Chefe do Executivo de Hong Kong recusava falar em reforma política até às eleições. Esta semana disse que ter “um sufrágio universal o mais rapidamente possível é um desejo de cidadãos, governo da RAEHK e de Pequim”. A corrida eleitoral já começou, Pequim pediu-lhe a emenda, ou estará a desviar atenções quando este assunto estava na gaveta? As análises são diversas [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Por mais que quisesse retomar o processo de desenvolvimento político, não acho que vá ter tempo nos próximos 12 meses e não acho que temos o consenso necessário na sociedade (…). Sei que Pequim não vai rever a Lei Básica, não é realista recomeçar o processo.” Assim falava CY Leung, Chefe do Executivo de Hong Kong no final do mês passado. Em Abril do ano passado, antes da votação para o novo regime eleitoral que viria a falhar e a provocar as eleições intercalares que aí vêm em Setembro para o LegCo (hemiciclo), Leung dizia que “o lançamento de um processo de reforma eleitoral não é fácil. Se desta vez for rejeitada, uma nova ronda só acontecerá após vários anos.” Mas o discurso mudou. Na terça-feira passada, ao apresentar o relatório anual da actividade do governo, CY Leung disse que “eleger o líder de Hong Kong por sufrágio universal o mais rapidamente possível é um desejo comum dos cidadãos, bem como dos governos tanto da cidade como Central”. Estas declarações surgiram na sequência de outras efectuadas durante o fim-de- semana pela número dois do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que afirmou ter uma “esperança sincera” que a próxima administração possa colocar o processo em andamento de novo e que os cidadãos de Hong Kong possam escolher o seu líder num sistema “uma pessoa, um voto”. Confrontado com esta ideia, CY Leung considerou uma aspiração comum “dos Hongkongers, do governo e de Pequim”. Um homem, um voto daria ao Chefe do Executivo “maior legitimidade”, acrescentou. Quando nada o fazia prever e quando as atenções têm estado viradas para o caso dos livreiros, esta nova tomada de posição do líder da RAEHK vem trazer de novo para a ribalta a questão da reforma política do território vizinho. “Ele tem uma notória má reputação, portanto nem tudo o que ele diz pode ser levado a sério”, começa por dizer Jason Chao, da Associação Novo Macau. Uma opinião partilhada pelo analista político Eric Sautedé. “A realidade é que ninguém confia nele em Hong Kong, basta ver as sondagens. O nível de confiança no governo é muito baixo”, frisa, adiantando ainda que as declarações de Leung não são uma contradição no sentido literal da palavra, tendo em conta que a mudança de opinião é algo normal para o líder. “Ele diz uma coisa hoje e outra amanhã e depois as pessoas que peguem no quiserem. Age como não tendo qualquer direcção, portanto não me choca que se contradiga.” A questão terá a ver, isso sim, com as eleições que aí vêm. “Temos de olhar para o quadro geral”, diz Jason Chao, “a corrida para o novo Chefe do Executivo já começou. Portanto ele está a tentar ganhar suporte público.” Sautedé também não tem dúvidas sobre o assunto. “Está a tentar mostrar boa vontade porque, como desde 2014 as posições estão extremadas, mesmo conflituosas, está a tentar criar espaço de manobra, ou uma área cinzenta, paras próximas eleições”, diz o analista. “Basicamente é uma preparação para o debate para estar pronto para tudo”, acrescenta ainda Sautedé, explicando que “o lado pró-Pequim está muito mais dividido do que em Macau, como é o caso do DAB (Democratic Alliance for the Betterment and Progress of Hong Kong), um movimento muito próximo da população. Portanto, CY tem de servir estas clientelas. Naturalmente, existem outros grupos pró-Pequim que não querem saber e só fazem o que lhes mandam.” Recados de Pequim? Larry So, sociólogo e ex-docente de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau, tem uma visão diferente. Para o académico, “o Governo Central, ou o Gabinete de Ligação Hong Kong-Macau deu-lhe algum tipo de instruções para continuar a reforma política num futuro próximo mas, claro, dentro da linha deles”. A motivação de So tem a ver com uma necessidade de “acalmar a população” mas não acredita que a política “uma pessoa, um voto vá avante” a menos que “a eleição seja controlada e os candidatos restritos a um grupo. Não irão tão longe”, diz. Sautedé, por seu lado, tem dúvidas sobre a intervenção de Pequim, pois “é sempre um processo de negociação”, adicionando ainda que só se sabe que Pequim intervém quando existem fugas de informação das reuniões. “Por isso, estas acontecem cada vez mais em Shenzhen, ou noutros locais do continente, e à porta fechada. Praticamente já não ocorrem em Hong Kong porque havia sempre fugas de informação”, explica. Todavia, o analista concede que “o que pode estar a acontecer é Pequim começar a perceber que a linha dura não é a única possível e que não consegue resolver todos os problemas dessa forma. E Hong Kong já está suficientemente radicalizado.” Joshua Wong, líder do movimento “Scholarism” de Hong Kong, que estava em Pequim quando contactado pelo HM, tem uma visão diferente. Para o activista, “são dois tempos diferentes. Ele disse não haver tempo até às eleições mas isso não quer dizer que não apoie a reforma política depois”, pelo que não vê “qualquer tipo de contradição”, adiantando ainda em relação às declarações de Carrie Lam ser “algo para o próximo governo”. A verdade, para Jason Chao, é que não vale a pena falar de reforma política agora. “Não faz sentido. Está apenas a desviar as atenções das questões essenciais como o caso dos livreiros. O próximo Chefe do Executivo vai ser eleito segundo o velho sistema por isso é absurdo ele vir agora chamar o assunto.” No fundo, para Sautedé, “o facto de virem aí as eleições e a pressão do movimento indígena pode estar a fazer com que adopte uma posição mais próxima da Lei Básica que é ter um alto grau de autonomia para Hong Kong e Macau.” Macau passa ao largo A medida do impacto para Macau das posições de CY Leung parece, todavia, ser nula. Para Jason Chao, os governantes de Macau “até resistiram à ideia de um sufrágio falso como o proposto pela China para Hong Kong há dois anos, por isso não acredito que isto tenha qualquer impacto por aqui.” Recorde-se que, o “sufrágio falso” a que Chao se refere é, de facto, uma eleição “uma pessoa, um voto” mas apenas com um grupo restrito de três ou quatro candidatos aprovados por Pequim. Eric Sautedé vai mais longe na sua análise ao caso de Macau começando por comparar o tecido social local com o de Hong Kong. “A sociedade local, em termos de desenvolvimento, de modernidade, no sentido em que olha para política é diferente. Estamos num nível diferente. Não quer dizer que em Hong Kong não existam sectores tradicionais mas aqui é praticamente toda”, explica. “O debate de 2008, por exemplo, quando finalmente se passou o artigo 23, lembro-me de ouvir mentes liberais intelectuais de Macau dizerem que Hong Kong é muito mais um último recurso, uma rede de segurança para a mudança política em Macau”, conclui. Maioria de dois terços As eleições de Setembro afiguram-se, portanto, como cruciais para este processo porque a alteração do sistema existente requer o apoio de dois terços do Conselho Legislativo, o que significa que o governo precisa do apoio de vários pró-democratas, pelo menos. Também exigirá a aprovação do Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo. Para além disso, as eleições de Setembro parecem também ser fundamentais para Leung decidir se avança, ou não, para a candidatura a segundo mandato cujas eleições realizam-se em Março do próximo ano. Em declarações recentes ao South China Morning Post, disse que iria esperar até depois de Setembro para decidir. Após as declarações sobre a reforma política continuou a apresentar o relatório anual da actividade do governo, com 39 páginas – o último antes das eleições para Chefe do Executivo – notando-se ter colocado uma tónica forte no progresso e realizações do seu governo, mencionando a iniciativa comercial “Uma Faixa, Uma Rota” 17 vezes. A líder dos democratas, Emily Lau Wai-hing, disse, por seu lado, não ter ficado nada convencida com as garantias de Leung sobre reforma política, pois “ele nunca mostrou qualquer tipo de entusiasmo para a fazer avançar”. “Mas é melhor tarde do que nunca”, disse ainda, apesar de suspeitar que era apenas conversa para reeleição.
Manuel Nunes SociedadeMembros do Desporto discordam de demolição na Taipa [dropcap style=circle]P[/dropcap]un Weng Kun, actual presidente do Instituto do Desporto, parece aceitar a demolição de parte do Complexo Olímpico da Taipa como dado adquirido. O responsável afirmou esta semana que “propôs às Obras Públicas a manutenção de espaços desportivos nas futuras habitações sociais” que vão nascer no local, “tais como campos de badmington e de basquetebol”. Diz ainda o Presidente do ID que “espera por mais espaços destinados a uma vida saudável nas novas habitações” e aguarda pelos acordos com a Universidade de Macau para a utilização de espaços com finalidades desportivas. A posição diverge da linha do anterior presidente do ID e actual presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), José Tavares. “Estou fora do ID mas acho que o Governo deveria pensar um pouco mais no assunto. Se existir alternativa, faz mais sentido do que transformar aquele local em habitações sociais”, frisou ao HM. Tavares recorda ainda que já na altura, o ID assumiu a posição de que, se o caso fosse avante, os serviços de Habitação deveriam compensar com a entrega de uma parcela de terreno igual para a construção de instalações desportivas. “Foi sempre essa a nossa posição”, garantiu ainda. O mês passado, o Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) anunciou a decisão de demolir o edifício do Complexo Desportivo Olímpico na Taipa para a construção de habitação pública. O anúncio motivou uma reacção enérgica de um outro ex-Presidente do instituto, Manuel Silvério, com o envio de uma carta de repúdio ao Governo. Mas há mais pessoas contra. Comunidade contra “A zona não é adequada para habitação pública, ou seja, zonas de elevada densidade populacional como normalmente estas urbanizações são,” começa por dizer ao HM William Kwan, membro do Conselho do Desporto nomeado pelo Chefe do Executivo. “Esta zona foi planeada como desportiva, ou instalações sociais e desportivas e, caso este plano avance, a cidade vai ficar parecida com um local sem organização”, diz o conselheiro, entrevendo ainda a possibilidade de futuros “conflitos entre as associações desportivas e os moradores”. António Fernandes, Presidente da Associação Recreativa dos Deficientes de Macau também não ficou muito entusiasmado com a ideia. “Aquele sítio não é próprio para habitação social. Desde o início que é dedicado a ao desporto. Estar a desviá-lo para outros fins não faz muito sentido”. Além disso, o responsável pelos atletas paralímpicos de Macau refere que em Macau não há locais que cheguem para a prática desportiva e diz mesmo que, no caso da associação que gere, “dava jeito ter um espaço ali”. Fernandes adianta mesmo que “utilizar aquele edifício para albergar todas as modalidades é o que faria sentido.” Charles Lo, presidente do Comité Olímpico de Macau, joga mais à defesa dizendo que “como homem do desporto gostava de ver mais lugares para actividades desportivas”. Contudo, se o Governo tiver uma razão muito forte, “deve continuar com o plano”, frisa, admitindo ainda que “como não conhece as razões que levaram o Governo a tomar essa decisão, ainda não consegue tomar uma posição definitiva”. Recorde-se que o edifício em questão é o local onde funcionou a sede das comissões organizadoras dos Jogos da Ásia Oriental (2005), Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (2007) e Jogos da Lusofonia (2006). Em declarações ao HM, na passada sexta-feira, Manuel Silvério disse “não compreender a decisão”, congratulando-se, todavia, “por alguns conselheiros do CPU terem votado contra”.
Manuel Nunes Manchete SociedadeUber pede à DSSOPT “regulamento amigável” A Uber chegou ontem à DSSOPT em vários riquexós. O objectivo? A entrega do que a empresa diz serem emails de “milhares de residentes e turistas a apoiarem o serviço”. “Um regulamento amigável para os consumidores” é o que Trasy Lou Walsh, a directora-geral em Macau, pretende [dropcap style=circle]D[/dropcap]esde histórias de grávidas que, não fosse a Uber, teriam tido o filho em lugar menos próprio que o hospital, a gente que se insurge contra os “criminosos dos taxistas” e a “falta de justiça no território” para os colocar na ordem, até à incapacidade dos motoristas de táxi falarem Inglês. São estas e outras questões que a Uber diz poderem encontrar-se nos milhares de emails que a empresa assegura ter recebido de residentes e turistas (70% e 30% respectivamente). As cartas foram ontem entregues a Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, juntamente com o pedido de legalização da actividade. “Sei que o Secretário Rosário está muito ocupado com os desafios dos transportes, mas espero que tenha tempo para ler e responder a estas cartas”, disse Trasy Lou Walsh, directora-geral da Uber em Macau, após chegar às instalações da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) em vários riquexós, para “demonstrar” como os transportes têm evoluído. “Acreditamos que o melhor caminho é sermos construtivos”, disse Trasy numa crítica velada às multas que os condutores vão recebendo que, diz a responsável, “são baseadas em regulamentos ultrapassados”. A Uber pretende sentar-se à mesa com o Governo para eliminar o vazio legal e “elaborar um regulamento amigável para os utilizadores”, como referiu a responsável. Trasy Lou não indica, contudo, o que entende por regulamento amigável, respondendo apenas que “não ter os detalhes” consigo no momento. Multas e detenções Confrontada com as multas que têm vindo a ser impostas aos condutores, a directora da Uber não quis fazer comentários, mas um dos seus colegas de trabalho admitiu que sim, que estas têm vindo a acontecer. Sem especificar montantes, admitiu que alguns clientes também têm sido detidos temporariamente para identificação. O HM sabe, todavia, que as multas podem chegar às 30 mil patacas, verba que, segundo Jason (nome fictício), um condutor da Uber, admitiu ser posteriormente pago pela empresa. “O problema”, diz-nos, “é que mesmo que nos paguem as multas, ficar com o carro apreendido alguns dias é muito inconveniente”. Recorde-se que os condutores da Uber utilizam as suas próprias viaturas particulares. Altos e baixos A Uber chegou ao território em Outubro de 2015 e, após uma entrada de leão do Governo, levando mesmo Leong Heng Teng, porta-voz do Governo, a prometer “fazer de tudo para impedir, de forma séria, que estes veículos circulem”, recentemente parece ter sido aberta uma porta ao diálogo após interpelações de vários deputados da Assembleia Legislativa. Num relatório da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública sobre a situação dos táxis emitido no final de Maio passado, lia-se que “apesar deste tipo de transporte de passageiros não satisfazer as disposições da lei vigente, o certo é que obteve o reconhecimento dos cidadãos que o têm utilizado. Na opinião destes, a qualidade do serviço é muito melhor do que a dos táxis normais, o serviço é rápido e resolve, eficazmente, as necessidades ao nível das deslocações”.
Manuel Nunes SociedadeUM | Descoberto carboidrato que pode combater isquemias Matéria que poderá ajudar a promover a maturação de novos vasos sanguíneos, levando ao tratamento de doenças isquémicas, foi descoberta por equipa da UM [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma equipa de investigação da Universidade de Macau (UM) liderada por Wang Chunming, do Instituto de Ciências Médicas Chinesas (ICMS) e do Laboratório Chave Estatal de Investigação de Qualidade em Medicina Chinesa, descobriu uma molécula de carboidrato numa erva medicinal que pode ajudar a tratar a doenças isquémicas. A erva em questão, Eucommia ulmoides, está praticamente extinta no meio natural. A equipa de investigação começou por fazer uma pesquisa bibliográfica “intensa” e por analisar diversas matérias-primas antes de derivar com sucesso um polissacarídeo natural da erva Eucommia ulmoides, como explica a universidade num comunicado. As experiências em ratos de laboratório sugerem que esta molécula de hidrato de carbono pode combinar factores de crescimento para simular a angiogénese, ou seja, o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos. Investigações adicionais para este hidrato de carbono podem mesmo levar ao desenvolvimento de novas ferramentas para a cura de doenças que estreitam as artérias. Intitulado “Um Polissacarídeo de Origem Natural, Factor de Ligação de Crescimento para a Angiogénese Terapêutica”, este trabalho de pesquisa foi publicado na última edição da ACS Letras Macro, um importante jornal da American Chemical Society. O autor principal do artigo é Li Qiu, um estudante de doutoramento da UM. A equipa de investigação está agora a estudar a possibilidade de aplicação clínica. A isquemia é o termo médico que designa a presença de um fluxo de sangue e oxigénio inadequado a uma parte específica do organismo. Pode ocorrer em qualquer local, como o coração, cérebro, membros, intestinos, olhos e resulta, habitualmente, de um estreitamento ou bloqueio das artérias que alimentam a área afectada. A isquemia é uma condição grave que pode causar lesão dos tecidos, a perda de um membro e até a morte. As principais causas e factores de risco são a aterosclerose, o tabaco, a idade avançada, níveis elevados de colesterol, hipertensão arterial, diabetes, história familiar de doença cardiovascular, vida sedentária e obesidade. Quase extinta A Eucommia ulmoides é peça única da família Eucommiaceae de plantas angiospérmicas (plantas com flor). É uma pequena árvore, endémica no Sul da China, e cresce até aos 15 metros de altura. É também a única árvore produtora de borracha que se adapta a clima frios e temperados e as suas folhas permanecem verdes mesmo numa seca severa. Requer poucos cuidados mas encontra-se com muita raridade, excepto nalguns arboretos e jardins de conhecedores. Na China é usada desde há mais de dois mil anos para fins medicinais mas está, provavelmente, extinta na Natureza. Deve a sua existência e cultivo à casca, um ingrediente importante da medicina tradicional chinesa.
Manuel Nunes EventosCCM | “Senhor Satie de Papel” inaugura InspirARTE 2016 O primeiro dos espectáculos de Verão preparados pelo CCM começa já hoje. Vem da Polónia e é completamente dedicado aos bebés. Os pais são convidados a estarem calados e a deixarem as crianças usufruírem. No final, os mais pequenos saltam todos para o palco para uma sessão de brincadeira. A música é de Erik Satie, mas não só [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]eata Bablinska e Monika Kabacinska são as caras e as mentoras do Teatr Atofri, uma companhia com quase nove anos que chega da Polónia. A proposta é trabalhar para um público menor. Mesmo. A peça “Senhor Satie de Papel” é pensada e concebida para bebés até aos 24 meses e estreia hoje, no Centro Cultural de Macau (CCM). “Na Polónia, quando começámos, não existia nada disto no panorama teatral”, explica Beata, adiantando contudo que “este tipo de teatro para bebés já tem uma longa tradição com cerca de 40 anos na Europa, em países como a Alemanha, a Itália, a Áustria e a Dinamarca”. As artistas não pretendem ser educadoras, apesar de já o terem sido. “Éramos as duas educadoras, eu já ensinava dança, e resolvemos avançar com o projecto. Mas não procuramos passar mensagens com esta peça. Apenas que as crianças se divirtam”, diz Monika. Gostam muito de utilizar música porque “tem um impacto muito grande junto das crianças”, como garante Beata. Para este espectáculo escolheram, maioritariamente, música do compositor francês Erik Satie. “Escolhemos a música dele porque é simples e visual e isso inspirou-nos”, diz Beata. Para as artistas polacas, “o poder mágico da música pode iluminar a mente das crianças, marcando-as de forma positiva em muitos aspectos”. “Música, movimento e canto, é esta a nossa proposta”, complementa Monika, que confessa também que “após nove anos podemos dizer com segurança que cantar é algo muito próximo das crianças. Divertem-se imenso”. Mas nem só de Satie vive o espectáculo. “Também improvisamos ao piano”, diz Beata, admitindo que o fazem inspiradas na música de Satie com “composições muito curtas”. As duas recorrem ainda a outras fontes. “Os bebés vão ouvir música a que não estão habituados. Também usamos música popular polaca, barroca, renascentista e mesmo alguma música moderna composta hoje”, revela Monika. As cores utilizadas também alinham pelo princípio da simplicidade: “Não usamos muitas cores, apenas branco, amarelo, azul e vermelho. Um estilo Mondrian”, explica Monika. Pais mal comportados “Esperamos que levem com elas boas imagens artísticas e música. Queremos que as crianças abram a cabeça”, diz Monika, que garante que, para que as crianças consigam mesmo absorver a experiência, torna-se absolutamente essencial que os pais, ou os acompanhantes, dos bebés se refreiem de tentarem explicar às crianças o que estão a ver. “Os pais são o problema. Especialmente os avós”, explica Beata. Isto porque, continua, “têm o hábito de explicarem às crianças o que estão a ver. Na Polónia então é horrível”. A este propósito relatam-nos que uma vez em França o apresentador do espectáculo fez o aviso certo ao lembrar pais e avós (“normalmente os piores”, atalha Beata) que as crianças são estudantes profissionais pois sabem como aprender, já que apenas fazem isso. “Não precisam de lhes explicar o que estão a ver”, diz Beata, “deixem-nas sentir e concluir por elas próprias”. O prazer de destruir Passada quase uma década desde que começaram a fazer tournées pelo mundo, já contactaram crianças de diversas culturas. Mas reagirão todas da mesma forma? “Os chineses e os turcos são muito barulhentos, não faço ideia porquê”, diz Monika a rir, adiantando ainda ter notado que, apesar do banzé, “os chineses são muito focados. Falam a todo o momento mas focam-se no que estão a fazer”. Para além disso, não notam diferenças de maior e consideram que comum mesmo são os comentários que elas vão fazendo durante a peça. “Interrogam-se, debatem, apontam… o feedback é extremamente rápido”, diz Monika. O cenário e os adereços são todos feitos de papel. Um papel especial que trazem da Polónia, 50% pergaminho, explicam-nos, e as crianças vão ter oportunidade de destruir parte dele na cena final. Quando iniciaram a performance foram gravados alguns filmes com as crianças a rasgarem o papel e os resultados foram fabulosos. “É tão engraçado ver como elas se divertem a destruir o papel”, diz Beata. O espectáculo encerra com uma reunião de 15 minutos com as crianças onde elas são convidadas a irem para o palco brincar. A comunicação é basicamente gestual com algumas frases curtas e muito directas. “Também usamos algumas palavras de poesias muito conhecidas na Polónia e combinamo-las com outras ideias”, explica Monika. O espectáculo acontece hoje e amanhã pelas 17h00 e sábado e domingo, com sessões às 11h00, 15h00 e 17h00. A duração é de aproximadamente 45 minutos e o preço dos bilhetes é de 180 patacas para adultos e de 200 patacas para adultos acompanhados por crianças. O excêntrico Erik Satie foi um influente e excêntrico compositor francês que viveu na viragem do século XIX. Aclamado como “o pioneiro da música moderna em França”, Satie inseriu nas suas composições um som diferente, tendo até chegado a usar uma sirene e garrafas de leite quando compôs Parade, cujas partituras foram utilizadas num Ballet de Jean Cocteau coreografado por Leonide Massine e cenografia e figurinos de Pablo Picasso. A natureza humorística de Satie também transparece nos títulos que escolhia, como o da peça “Prelúdios Flácidos”.
Manuel Nunes Ócios & Negócios PessoasHandyman | Simon Lam, proprietário: “Sempre tive jeito para trabalhar com as mãos” Há quase meia dúzia de anos em Macau, este polaco educado em Inglaterra, percebeu, ao arranjar a sua própria casa que um estrangeiro deveria ver-se grego ao tentar fazer obras em casa e resolveu lançar um serviço de faz-tudo. Estava a certo porque o problema agora é tempo para atender a todas as solicitações [dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]xiste um Handyman II mas não sou eu”, começou por explicar Simon que não percebe a razão pois ele apareceu depois. Ainda assim, o negócio começou já há dois anos e meio. Nasceu na Polónia, viveu em Londres cerca de 12 anos e por motivos familiares acabou por vir para Macau há uns cinco anos.“Comecei por fazer renovações no nosso próprio apartamento”, explica. Casado com uma residente, ao voltar, como o pai da mulher tem várias propriedades, “deu-nos uma para vivermos num desse prédios antigos”, diz Simon, “mas estava num estado horrível e tivemos de refazer tudo”. O processo de renovação durou mais de um ano. “Empreguei várias equipas, tive de ir à procura de materiais da China, da Europa e no final conseguimos um lugar agradável”, recorda. Não foi fácil mas aprendeu muito no processo e, especialmente, “fiquei a perceber quão difícil será para um estrangeiro em Macau fazer alguma coisa do género”, diz, o que lhe deu a ideia para o negócio. “Achei que era um nicho que eu poderia preencher”, revela.“Descobrir os materiais, os especialistas locais que trabalham bem…” Nunca foi um profissional da área mas “sempre tive jeito para trabalhar com as mãos. Pintava as minhas paredes, arranjava o mobiliário, canos, enfim, sempre fiz de tudo um pouco, e desde há muito”, assegura. “Mas aqui é diferente da Europa”, afiança, “não existem aquelas grandes lojas com tudo o que uma pessoa precisa”, o que torna difícil o processo de fazer mesmo as coisa mais simples em casa. “Em Macau, como sabe, existem uma série de pequenas lojas que vendem um pouco disto ou daquilo nas nenhuma vende tudo. Em chinês chamam-lhe ‘wǔjīn diàn’ (‘loja dos cinco metais’, em cantonês “ng gam pou”). Aproveitámos a intervenção em mandarim para percebermos de onde vinha a habilidade. “Aprendi quando cheguei”, explica “comprei uns livros, li muito, repeti muitos caracteres e agora leio, escrevo no computador e falo” e não teve qualquer professor, garante, “foi tudo na base do esforço próprio”. Chegou mesmo a abrir uma escola de chinês mas não tinha alunos suficientes e acabou por desistir. Mão de obra, essa raridade Voltávamos ao negócio, pois Simon explicava que “para se encontrar algum material melhor temos de mandar vir de fora, via Taobao, se for da China, ou de outra forma qualquer”. “Nestas pequenas lojas de Macau os problemas para quem não sabe procurar é um drama”, relata Simon. “Os tamanhos, os nomes, o material certo… muita gente não faz sequer ideia do que pode arranjar no mercado”. A sofisticação dos acabamentos nos casinos acontece porque “importam tudo” mas “na área residencial as coisas estão muito atrasadas por falta de oferta de material de qualidade”, explica. Problemas nas reparações? “Vários”, confirma, “os canos que correm por fora, os quadros que não estão preparados para a potência dos modernos equipamentos domésticos”, mas o problema maior para Simon é a burocracia. “As grades nos prédios são ilegais. Mas tirá-las, pintá-las ou mesmo mudar as janelas é um problema. Os fiscais do Governo aparecem e depois mandam uma carta para pararmos com tudo e pedir uma licença de obra. O processo é um inferno e tenho de contratar um advogado para tratar disso”, explica. A falta de mão de obra, naturalmente, é outro dos problemas que o afligem regularmente. “Tenho um empregado fixo e depois vou buscar equipas que já conheço, os melhores. Eles têm o negócio deles, independente, mas fazemos muita coisa em conjunto” porque contratar não é fácil. “Não posso empregar filipinos porque é ilegal. Os chineses de qualidade estão na maioria a trabalhar para os casinos e, se estão cá fora, é porque não são grande coisa” diz Simon adiantando ainda que “o pessoal local prefere sentar-se num escritório a trabalhar nesta área mesmo ganhando três vezes mais. É uma questão de estilo…”, aventa. Barulho? A culpa é dos azulejos De resto, em termos do trabalho propriamente dito, não encontra muitas dificuldades: “não é ciência espacial, sabe? Há sempre uma solução desde que tenhamos os materiais certos, as ferramentas certas e as equipas certas”. O sonho é focar-se em propriedades comerciais em vez de residências. “Um projecto do princípio ao fim”, diz, “um espaço, um orçamento e deixarem-me trabalhar, é tudo o que desejo”, confessa. Então e o nicho? “Continuará porque é a base do negócio mas quero mesmo chegar às grandes obras, das que levam meses”, explica. No que respeita a preços considera-se competitivo. “Se for directo a um chinês, nós somos mais baratos mas mais caros que os filipinos ilegais, naturalmente” Uma mudança com uma camião cheio, incluindo desmontagem de mobília transporte e remontagem no outro local, custa 1,800 patacas e 1000 por cada camião extra. Mudar uma torneira pode custar 200 patacas e um cano em baixo do lavatório 350 patacas. Não podíamos terminar a conversa sem tentar perceber as origens do barulho constante dos berbequins que assola a cidade e a explicação de Simon é simples: “O problema são os azulejos, sabe? É a cultura local de construção. Toda a gente usa azulejos em tudo. Depois querem mudá-los e a única solução é rebentar com eles. Tudo para pouparem uns centímetros de espaço, claro, porque podiam cobri-los com vinil, madeira ou outra coisa qualquer. Mas preferem mudar de azulejos para outros azulejos”. Estava explicado.
Manuel Nunes SociedadeEspecial 24 de Junho | Inquérito a uma geração Colocámos oito questões a jovens macaenses sobre a sua própria comunidade 1. Ser Macaense. Ainda faz algum sentido? 2. Estar macaense. Tendência, cultura ou elitismo? 3. Quem terá sido a personagem mais significativa da cultura macaense? 4. O patuá serve para alguma coisa? 5. Daqui a 30 anos que língua falarão os macaenses? 6. Falar português é importante para a identidade macaense? 7. Que vantagens e desvantagens tem um macaense que vive na RAEM? 8. Gostava que o 24 de Junho fosse novamente feriado em Macau? SÉRGIO PEREZ 1- “Ser Macaense”. Cada um tem a sua ideia do que isso quer dizer. Para mim, respondo à tua pergunta com, isto: como pode deixar de fazer sentido? 2- o problema apenas se coloca quando a palavra “Macaense” exclui, e não inclui as pessoas que a sentem. Ser Maquista é diferente- é ser-se Macaense, mas também parte de uma comunidade com caracteristicas muito próprias. De nada tem a haver com elitismo, mas simplesmente com cultura, tradições, maneira de estar e de ser diferentes. Uma comunidade como outras que fazem parte desta palavra maior, o Macaense. Isto é obviamente uma opinião muito pessoal. 3- Por humildade e não conhecer o suficiente da história “Macaense”, não me sinto com capacidade de responder de forma justa a essa pergunta. Mas posso dizer que o Adé dos Santos Ferreira e o Henrique de Senna Fernandes foram personalidades que me influenciaram e que admiro verdadeiramente. Mas o padre Róh, com o seu tiro certeiro certamente terá sido mais importante, ou não estaríamos aqui a ter esta conversa! 4- Serve. Mas o Fernando Pessoa explica melhor num poema seu. 5- Se a Escola Portuguesa não apostar na lingua do dia-a-dia de Macau (cantonense), o Maquista provavelmente irá falar cantonense, e como segunda lingua, o mandarim, passando o português a pequenas palavras ou gramaticamente incorrecto, de forma cada vez mais reduzida, por enveredarem pelo ensino chinês. 6- Sim. Mas acima de tudo é importante assegurar o futuro na sua terra e igualdade de possibilidades no mercado de trabalho. O pragmatismo poderá pesar perante a identidade e parte da raiz cultural. 7- Se sentimos isto a nossa terra- digo isto sobre Macaenses e Maquistas, essa será sempre uma vantagem. É a nossa casa. Se estivermos a falar do Maquista, acima de tudo, é que nele vive a “alma” do intercâmbio de culturas, do passado e do presente. Vê a terra e a ama como tal, nas suas especificidades unicas, e sempre viveu entre os “dois mundos”. A principal desvantagem é quando a falta de sensibilidade de quem não sente, compreende ou ama Macau a destrói, e o Maquista sente e sofre com isso na alma. 8- O 24 de Junho era o dia da cidade porque simbolizava o dia em que os “Macaenses”- todas as comunidades locais, Maquistas, Portugueses, Chineses de Macau, etc, se uniram para afastar os invasores Holandeses. O seu desaparecimento como feriado foi uma ferida grande na alma da terra. ALEXANDRE MARREIROS 1. Sem dúvida que sim. 2. Identidade cultural. 3. Tenho grande admiração por Luiz Gonzaga Gomes. 4. Sim, mas não só o patuá. Acredito que todo o património linguístico tem que ser cultivado, desta maneira o patuá serviu, serve e servirá, pois com a transmissão de dialectos ou se preferirmos, os crioulos, transportam-se muitas características culturais, identidades muito particulares e costumes únicos. 5. Se partirmos do princípio que uma geração são 30 anos, acredito que se falará a língua portuguesa. 6. Falar “A língua de Camões” é parte irrefutável da identidade macaense. 7. As vantagens; a estabilidade social, política e económica. As desvantagens; os assustadores níveis de poluição e a falta de território para os seus habitantes. Actualmente a cidade do mundo com maior densidade populacional. 8. Sim. Não celebrar este dia é deixar que se desvaneçam mais de 400 anos de história, de identidade, de cultura e de boas heranças. Não só de Macau e Portugal, mas também da China. ANDRÉ RITCHIE FOTO: Gonçalo Lobo Pinheiro 1. E porque não? 2. De tudo um pouco, mas talvez “tendência” e “elitismo” tenham perdido sentido face à nova realidade pós-99. Cultura sempre – não temos outro peixe para vender. Mas não é pelo peixe, a cultura existe mesmo. 3. Aquele indivíduo humilde que ninguém sabe bem como se chama e de quem é filho, sem grandes posses nem formação académica, que todos os dias encontrou motivação para ir trabalhar pontualmente e competentemente. Não subiu na carreira, mas também nunca falhou, criou os seus filhos e cumpriu o seu dever na sociedade. Macau não é nada sem este indivíduo bem como todos os outros semelhantes que não têm nome e que são por isso esquecidos. Figuras históricas macaenses já todos as conhecemos, vou deixá-las para os outros inquiridos. 4. O patuá não serve para muita coisa. Para mim, essencialmente, serve para me lembrar das raízes familiares. 5. Em 2046 estaremos a poucos anos do término dos tais 50 anos. O macaense vai falar a(s) língua(s) que vai precisar de falar para sobreviver. Tudo bem, nada do outro mundo – o macaense sempre se safou bem. Todavia, quando chegarmos lá perto, novas vozes apocalípticas irão anunciar a morte da comunidade macaense. 6. É importante sim. Não é uma condição necessária – mas a experiência do ser Macaense torna-se muito mais rica quando se fala português. A mesma questão pode ser colocada relativamente ao chinês: falar chinês é importante para a identidade macaense? A resposta é a mesma. 7. Quero apenas referir uma grande vantagem: a capacidade natural de compreensão das diversas culturas, mentalidades e atitudes comportamentais que fazem parte do dia-a-dia das gentes de Macau e que não se limita ao simples domínio das línguas aqui faladas. Quanto às desvantagens, não sei o que dizer. Poderei ser mal interpretado se me atrever a afirmar que, verdadeiramente, elas não existem. Não serei a pessoa indicada: a questão das desvantagens deverá ser dirigida àqueles que têm a mania da perseguição e que gostam de ser vítimas. 8. Em tempos expliquei à minha assistente – uma jovem chinesa local esperta e competente – a história do ataque dos holandeses no dia de São João e o tiro de canhão do padre Ró. Soltou uma gargalhada e continuou a fazer o que estava a fazer, não demonstrando um mínimo de interesse. Pudera. Se não fosse português e me apercebesse da forma romanceada, ingénua e até folclórica como por vezes a nossa história é contada, a minha reacção não seria diferente. Se gostava que o 24 de Junho fosse novamente feriado? Encolho os ombros. O Dia da Cidade passou a ser, para mim, o 20 de Dezembro – e isto vindo de quem sempre celebrou o São João. LIZETTE DE SENNA FERNANDES 1. A nível internacional, nos últimos anos, Macau tem vindo a tornar-se num importante destino turístico e, provavelmente, faz hoje mais sentido do que antes. Apesar da base para a filiação étnica dos macaenses ter sido a utilização do português como linguagem de casa, ou por alianças com o padrão cultural português, sejam eles chineses cristãos convertidos ou não, a designação “Macaense” é hoje aplicada a todos aqueles que vivem e foram criados em Macau e, naturalmente, todos aqueles que de alguma forma foram aculturados com influencias chinesas e portuguesas. 2. Cultura: a ideia de “Macaense” é a de uma etnia baseada numa cultura. Tenha um indivíduo ascendência portuguesa, ou apenas algumas ligações ao padrão cultural português, ou foi criado em Macau. Todos partilhamos uma característica comum: sermos influenciados pelos portugueses e pelos chineses, de uma forma ou de outra. Os múltiplos grupos étnicos e a presença dinâmica do património edificado Chinês e Português lado a lado numa cidade tão pequena são tudo factores contributivos da nossa identidade como macaenses. Tendência: à medida que Macau cresce como destino turístico, mais e mais pessoas chamaram aos de Macau, “macaenses”. Elitismo: já não é reservado aos portugueses e macaenses. O sistema está aberto e praticamente qualquer pessoa pode juntar-se ou organizar um grupo de interesse. À medida que Macau atrais investimento estrangeiro e surgem novas oportunidades, qualquer um com esse interesse pode fazer parte de um grupo de elite. 3. Tem de ser o meu tio Henrique de Senna Fernandes. Por via da literatura e por via da paixão. Ele chamava a atenção para a identidade macaense e salientou de forma vívida a singularidade do nosso passado. Gosto particularmente do seu livro “Nam Van” pelos esboços que contém dos diferentes aspectos da identidade macaense. 4. Não acho que a questão é se serve ou não. Está bem documentado que o Patuá está a extinguir-se e, racionalmente, é uma língua que deve ser preservada. Historicamente, teve um papel muito importante em Macau, seja em meios sociais ou comerciais. Apesar de não existirem muitas pessoas a falá-lo, vale sempre a pena preservar os seus valores histórico e artístico. Não posso deixar de referir que o Miguel de Senna Fernandes e todos os que contribuem para os Doci Papiaçam Di Macau estão a fazer um excelente trabalho neste capítulo. 5. Devido à proximidade com Cantão e Hong Kong, acho que o cantonês vai continuar a ser o idioma predominante em Macau. Também penso que vamos ter cada vez mais pessoas a falarem inglês e mandarim. Todavia, também me parece que mais e mais pessoas apreenderão português, até porque há muitas escolas que têm vindo a incluir o ensino do português como disciplina curricular. 6. Tanto do ponto de vista tradicional como do contemporâneo, acerca do que é ser “Macaense”, acho que a partir do momento em que a pessoa incorpora a cultura portuguesa e a chinesa deve ser considerado macaense. Portanto, a resposta para esta pergunta é não. 7. Pessoalmente não noto nem vantagem, nem desvantagem por ser macaense. Mas é bom saber quem somos. 8. Acho que devíamos comemorar todas as vitórias de Macau, incluindo o 24 de Junho quando repelimos com sucesso os holandeses. ANTÓNIO VALE DA CONCEIÇÃO 1. Não entendo a pergunta. Fazer sentido ser-se Macaense? Ser-se Macaense não é uma escolha, julgo eu. Talvez assumirmo-nos como sendo de Macau seja a única escolha consciente que possamos fazer. Agora, rever sentido em se ser Macaense é tão abstracto como perguntar se se faz sentido sermos Goeses, ou sermos Insulares, ou sermos Transmontanos, ou até Portugueses. 2. De novo, não entendo o que isto quer dizer. Estar Macaense? Um tendência? Uma Cultura? Ou Elitismo? 3. Não creio que possamos nomear uma figura única que represente todos os Macaenses, ou aquilo a que chama de cultura Macaense. Tal a variedade de Macaenses e circunstâncias em que todos nos encontramos em Macau, que seria sempre uma ligeira homenagem elegermos apenas 1 figura para retratar um todo tão específico e ao mesmo tempo variado. Creio que podemos encontrar uma vasta eleição de pessoas que desafiaram os tempos e os modos que viveram em Macau e onde a memória deles permanece pelo bem que fizeram à cidade, pelo contributo intelectual, sociopolítico e cultural. 4. Não sei responder a esta pergunta. O Patuá como língua extinta, pela nomeação da sua qualidade como língua não parece ter qualquer qualidade prática. Mas se serve para alguma coisa? Porque não? O quão tem vindo a entreter os espectadores e o público de Macau através do Dóci Papiaçam parece trazer algum sentido. Parece ter alguma motivação cultural. Mas um espectáculo que aparentemente reúne tanta gente anualmente parece guardar alguma função dentro desta sociedade que conhece, ou se interessa, pelo Pátua. 5. Não sei. Tal como não sei que língua falarão os Portugueses daqui a 30 anos em Macau ou Portugal. Se Português, se Portunhol, se Português do Brasil, tal é a mutação da língua nos dias que correm. Não sei se interessa se quer perguntarmo-nos que língua falarão os Macaenses. Interessa mais saber que Macaenses serão? Que preocupações terão no seio da Sociedade. Que causas levantaram na cidade? Que finalidade terá todo o sistema da RAEM. Agora, se falarão menos Português do que agora, assim o seja. Não acredito que seja por motivação pessoal, por agenda, que o desinteresse pelo Português por parte dos Macaenses venha a ser a razão para se deixar de falar Português em Macau. Acredito é que as circunstâncias em que viveremos levarão a uma mutação de necessidades. E talvez o Português não venha a responder a necessidades desta sociedade. Ou talvez venha a ser chave. Certo é que vai de facto mudar. 6. Para a forma como me expresso Macaense, sim. Mas recuso-me a nomear qualquer critério que venha tentar definir o que é a identidade Macaense. E recuso, de igual forma, alguém que me impinja critérios que avaliem a minha raiz cultural. Como já disse, a variedade de Macaenses e as circunstâncias em que estas famílias desenvolveram a sua identidade em Macau fazem com que seja quase impossível nomearmos um Modelo de Macaense. E parece-me uma vontade muito efémera querer fazê-lo. Há valores acima da língua e do legado genético e cultural que são determinantes à identidade de um cidadão, de Macau e de um outro lugar do mundo. 7. Culturalmente, creio que a vantagem será vivermos circunstâncias desiguais a muitos lugares no mundo, onde o contacto com o Outro parece ser constante e histórico. É uma qualidade que assiste grandes metrópoles e que curiosamente em Macau, um lugar tão pequeno, proporciona-se a mesma experiência. As desvantagens? Não sei dizer. Creio que poderão existir alguns vícios muito enraizados na sociedade de Macau mas que não são exclusivos aos Macaenses (como minoria ou comunidade em Macau). É notório o favorecimento de condições do cidadão perante o governo por parte dos residentes locais face aos que cá estão com vistos de trabalho/Blue Card. Contudo, o esforço de integração e de aprendizagem terá de ser feito por ambas as partes. Ninguém está em vantagem quando não existe abertura ao Outro. 8. Não tenho opinião formulada sobre este assunto. MIGUEL KHAN 1. Para as pessoas que cresceram, viveram e vivem em Macau acho que faz todo o sentido. Não vejo sequer outra designação, a não ser que tenham outra nacionalidade e que não queiram ser tratados como tal. 2. Depende das raízes de cada pessoa q se considera macaense… Elitismo??? 3. Os meus Pais! 4. Serve para recordar o passado. 5. Cantonense. 6. Para alguns sim, mas para muitos outros não. 7. Vantagens – ter BIR; Desvantagens – demasiado dependentes do ar-condicionado 8. É sempre difícil recusar feriados…
Manuel Nunes MancheteEspecial 24 de Junho | Função Pública, um destino em crise para os macaenses A função pública foi, desde há muito, um destino quase invariável para a população macaense. Mas com as mudanças registadas nos últimos tempos quisemos saber se a “tradição” se mantém. Uns dizem que sim, outros que não. As dificuldades causadas pela falta de “chinês” são o principal motivo, mas também a cultura de gestão e a atracção dos hotéis [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rabalhar na função pública foi sempre um destino seguro, e comum, para as gentes da terra. A “malga de ferro”, assim chamarão alguns, ao invocarem o seu legado chinês para descreverem uma situação profissional estável e duradoura. Todavia, com as mudanças registadas nos últimos tempos, o HM quis saber se a tradição ainda se mantém. As opiniões dividem-se mas sente-se uma certa tendência para que a tradição deixe de ser o que era. “Antes era diferente”, começa por dizer Guiomar Pedruco, empresária. “O português ainda era muito usado na função pública, mas hoje não”, explica, aclarando que o seu ‘antes’ designa cerca de 20 anos atrás. A língua é mesmo um dilema para a população macaense que não domina o idioma chinês escrito, levando mesmo Guiomar a falar em discriminação. “Muitos não querem estar lá porque é tudo à base do chinês e eu sei que se sentem discriminados. O português é só para inglês ver”. Antonieta Lam, funcionária pública, compreende a situação mas diz que “depende do serviço”, aventando que “onde usem menos português é natural que sintam mais dificuldades em trabalhar”. Para além disso, Antonieta não acredita que tenha existido alteração na tradição pensando que os macaenses continuam a querer aderir à função pública. “Não mudou nada”, garante, adiantando, todavia, que “reparo que hoje em dia os macaenses não falam tanto português como antigamente. Os pais quiseram que estudassem inglês ou chinês. Os que estão na função pública falam pouco português.” Para além da língua, Guiomar descobre outra questão: feitio. “Os macaenses barafustam muito e os chineses não gostam de nós por causa disso”. Antonieta sabe do assunto mas acha que a cultura mudou. “Eram refilões, sim, mas hoje em dia já não. A transição já foi há muito tempo e os macaenses adaptaram-se à forma chinesa de trabalhar”, garante. A atracção hoteleira Quem parece estar a desviar os macaenses da função pública são os hotéis. “Hoje, os macaenses preferem hotéis e empresas privadas. Vão estudar para fora, só falam inglês e é para aí que vão”, diz Filomena, ex-funcionária pública e hoje a trabalhar para uma pequena empresa local. A opinião é corroborada por Filipe Senna Fernandes, empresário. “Muita gente tem optado pela hotelaria. Estudam na Austrália, na Suíça, voltam e trabalham para os hotéis.” Também ele trabalhou para função pública mas apenas “quatro anos e meio”, diz-nos. “Optei pelo turismo por achar ser o único departamento ligado aos mercados internacionais. O pensamento é diferente e a comunicação é essencialmente feita em inglês. Agora, talvez falem menos mas não tanto como outros departamentos”, explica Filipe que adianta ainda considerar que “os macaenses já não são assim tão tradicionais. São mais internacionais”, remata. Cultura nova, vida nova A mudança de cultura de gestão na função pública, todavia, parece exercer um peso determinante nos macaenses na altura da escolha. “Conheço muitos que ainda lá estão só para garantirem a reforma”, diz Filomena adiantando mesmo que “com os portugueses as coisas eram mais simples. Faz o teu trabalho, acaba e vai-te embora”, explica exemplificando: “Agora tem de se recuperar horas mesmo que se vá ao médico. Nem se pode ir tomar um café em paz. Antes as pessoas exageravam, iam e ficavam meia hora na conversa, mas agora também é demais. Controlam tudo”, desabafa Filomena mas não concluindo sem nos revelar que “eu e muitos outros não conseguimos trabalhar com chefes chineses. Eles não gostam de nós macaenses e são vingativos”. Nota: Tentámos falar com vários macaenses que trabalham na função pública mas foi muito difícil recolher testemunhos. As respostas foram, normalmente, “de trabalho não falo”, ou “nesse tipo de assunto não toco” condimentadas com uma momentânea “falta de tempo para comentar”.
Manuel Nunes Perfil PessoasGordon Yu, Organizador de festas e DJ: “Gentes de Macau precisam abrir a cabeça” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu em Macau, tem 35 anos e organiza festas ou trabalha como DJ desde há mais há mais de 16 anos. “Era uma loucura”, diz, “tinha uns 16 anos, era o tempo das ‘raves’ e havia muitas festas. Fiquei admirado com a música e a paixão por isto começou aí”, confessa Gordon, explicando ainda que “foi nessa altura que a música electrónica primeiro se fez sentir em Macau”. Foi há quase 20 anos e, na altura, “não havia dinheiro para os pratos e a misturadora”, diz Gordon. Com uns amigos juntaram algum e assim conseguiram comprar o primeiro conjunto de mistura. Aí surgiu o Kit Leong para os orientar. “Posso considerar o Kit o meu mestre. Ensinou-nos a misturar e a organizar festas”. Não é fácil organizar festas. A falta de espaços é o principal problema que Gordon encontra. Mas tenta. “Ando sempre à procura de um local que ninguém se tenha lembrado para organizar uma festa. Mas geralmente acabamos sempre no LMA ou no Kam Pek” Antes trabalhou na extinta Lótus (no Venetian) mas desde que o espaço encerrou tem agido por conta própria. A atracção pela música fez com que desistisse da escola cedo no final do secundário mas admite voltar a estudar um dia “Talvez venha a estudar para engenheiro de som ou algo assim”, confessa. Álbum para breve “A minha música preferida? Techno”, diz Gordon sem denotar a mínima dúvida. “Começou com o Derrick May, o lendário DJ do techno de Detroit”, explica. Mas para além de passar o que os outros produzem, Gordon dedicou-se recentemente a produzir um álbum de originais mas recorrendo a instrumentos antigos. “Queria instrumentos electrónicos a sério”. Encomendaram-nos e aguardam com alguma ansiedade. “Mandámos vir a Roland TR e o velhinho Mother 32 da Moog” diz, híper animado. “Estamos a preparar um ‘live set’ e esperamos editar um vinil também com 10 faixas.” O trabalho deve estar concluído ainda este ano mas lastima a falta de apoios. Todavia, desconhecia o programa do governo de apoio à produção de álbuns. “Concorri uma vez ao Fundo as Indústrias Culturais”, disse, “mas fiquei desmoralizado com o resultado.” “Disseram-nos que não era negócio”, explica. A ideia era montar um estúdio num prédio industrial para formação musical, gravação e com um espaço para apresentações ao vivo. “Tipo o “Boiler Room” da Mix Mag”, percebe? Mas isso para eles não era negócio.” Para Gordon não existe um verdadeiro interesse em apoiar os artistas locais. “A ideia que corre no meio artístico é que se não tiveres grandes contactos no governo nunca vais conseguir apoio nenhum”, lamenta. Por isso, não pensa concorrer a fundos. A solução é ir tentando por ele mesmo. Terra aborrecida, sem cultura “Qualquer dia, vou para Berlim”, desabafa Gordon quando começámos a falar da vida em Macau, “pois talvez lá consiga desenvolver-me”, diz. “Macau está para lá de aborrecido”, diz, atribuindo culpas à falta de cultura e à incapacidade dos locais em se aprimorarem. Em relação à falta de cultura, Gordon atribui grande parte da culpa ao Governo. “Apoiam pouco artistas como eu. Acham que música techno e electrónica é igual a drogas.” Propusemos imaginar-se no lugar de Chefe do Executivo. “Mais cultura e mais apoios para quem a pretende desenvolver”, diz sem hesitar. “Percebo que os casinos façam falta. Mas não deixava abrir tantos. Prejudica a cultura”. “Não temos entretenimento, não temos cultura. As pessoas vêm para aqui apenas para jogar”, lamenta. Mas a dificuldade é quando artistas internacionais lhe pedem para lhes mostrar sítios pitorescos que revelem a cultura local. “Já não sei que dizer”, desabafa, “digo-lhes que Macau é só casinos e pronto”, explica Gordon que resume dizendo que ,“não temos orgulho em mostrar a terra. A vida nocturna é atroz. Os bares, horríveis… até os karaokes, a maioria tem maus sistemas de som. As pessoas de Macau não pensam muito no que fazem.” Estávamos a entrar no cerne da questão. Mas a culpa seria apenas do Governo ou as pessoas também terão algo a ver com isso? “Não se preocupam em fazerem bem”, diz Gordon em relação aos locais. “Abrem negócios por ouvirem dizer que fazem dinheiro sem saberem o que estão a fazer. Passados uns meses já estão a passar o espaço”, indica. Para o DJ, “as pessoas deviam preocupar-se mais em estudar os assuntos.” “Temos internet, mas nem isso usam. Não há desculpa”, lamenta-se. “Precisam de abrir a cabeça e deixar de ser preguiçosas”, conclui. Nas chinesas não dá Voltávamos à ‘movida’ de Macau, ou à falta dela. Com tanta gente nova em Macau porque não existe um seguimento mais forte da cena underground? “Porque quando eu era novo não havia EDM. Era só música a sério”, diz. “Às vezes vêm uns miúdos às nossas festas mas acham aborrecido.” Será falta de promoção? Porque não levar as festas às escolas? “Só se for na Escola Portuguesa”, diz Gordon sem hesitar. Quisemos saber porquê. “Conheço bem as escolas chinesas. Tentei muitas vezes. Só querem os estudantes a estudarem mais. Não fazem festas. Com eles é mais jantares em restaurantes chiques ou alunos a cantarem modinhas locais. Só a Escola Portuguesa teria atitude para uma coisa dessas”, e prometeu ir mesmo reflectir sobre o assunto.
Manuel Nunes MancheteBrexit | Reino Unido na corda bamba. Fica ou sai da União Europeia? A Europa vai passar por algo nunca antes visto. Na quinta-feira, o Reino Unido vota a permanência e ninguém sabe o que pode acontecer em caso de saída. De terríveis consequências a um mar de rosas ouve-se de tudo. As sondagens, depois de mostrarem o Brexit a liderar várias semanas, mostram agora um empate após o recente assassínio de Jo Cox. O resumo das campanhas hoje poderá ser decisivo para o resultado final. Por estes lados, vigora o ‘tanto se me dá como se me deu’ [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a próxima quinta-feira, dia 23, os cidadãos britânicos vão decidir se sim, ou não, o Reino Unido (RU) fica na Europa. Nas últimas semanas, as sondagens têm mostrado uma clara tendência de saída. Todavia, o assassínio da deputada Jo Cox por um activista de extrema direita pode ter inclinado a balança a favor dos que pretendem ficar. Mas os resultados divergem. A Survation, com resultados publicados no diário inglês Daily Mail ontem, indica a inversão da tendência com 45% a favor da permanência e 42% contra. Outra sondagem, realizada pela YouGov para o Sunday Times, também publicada ontem, mostra 44% contra os 43% que preferem sair. Por outro lado, a decisão do jornal conservador Mail on Sunday ter instado os leitores a votarem “não” também pode vir a ter alguma influência na decisão final. Para já, o que parece mais certo é uma nação fracturada em relação à decisão a tomar na quinta-feira. A “poll of polls” do Financial Times indica mesmo um empate a 44% com 12% de indecisos. Ou seja, ninguém está muito certo do que vai acontecer na quinta-feira e, após os brutais erros das sondagens das legislativas de 2015, estes estudos arriscam-se a não servirem mesmo como mero indicador. Campanhas suspensas Para além do impacto imediato que terá gerado nos britânicos a morte de Jo Cox, a tragédia obrigou ainda à suspensão das duas campanhas pelo que, ao resumirem hoje, espera-se com ansiedade as tomadas de posição que poderão influenciar decisivamente os eleitores. Os partidários do “fica” têm receio que a suspensão possa diminuir-lhes o tempo útil para convencerem os eleitores, mas o silêncio dos apologistas do Brexit como Boris Johnson, Michael Gove e Nigel Farage pode sugerir um estado de nervos perante a situação. O lado do Brexit pode vir a ter mais dificuldade em prosseguir a política “anti-establishment” e o outro lado tentará rentabilizar a morte da deputada. União pouco pacífica Tudo começou a 20 de Fevereiro deste ano quando David Cameron marcou o dia 23 de Junho como data para o referendo, uma velha promessa para a ala eurocéptica do Partido Conservador. O anúncio dividiu logo as águas, com uns ministros a apoiarem uma solução e outros a apoiarem outra. Quiçá convencido que uma saída do Reino Unido nunca passaria num referendo, ele que é contra, Cameron rapidamente percebeu ter aberto a Caixa de Pandora, quando personagens como o Ministro da Justiça, Michael Gove, e o ainda presidente da Câmara de Londres, Boris Johnson, se colocaram ao lado dos partidários do Brexit. Mas a relação do Reino Unido com a Europa nunca foi um mar de rosas. Mesmo quando se alega que Winston Churchill imaginou uns “Estados Unidos da Europa” para consolidar muitos pensam que ele não imaginava o RU como parte dessa união. Doze anos antes da entrada do RU na Comunidade, o princípio britânico já era de retracção não tendo participado em qualquer das negociações anteriores, nomeadamente as que levaram à fundação da União Europeia do Carvão e do Aço em 1951 nem mesmo nas que levaram à formação da então Comunidade Económica Europeia (CEE), percursora da actual União. Formaram, isso sim, um contrapeso chamado Associação Europeia de Comércio Livre em 1960. Apenas durante a década de 60, ao passar por uma situação económica grave, o RU começou a dar passos no sentido da integração o que viria a acontecer em 1973, apesar de dois vetos do Presidente francês Charles de Gaulle. Realidade que surpreende Hoje, com a Inglaterra de novo a passar por uma situação económica difícil pede-se a saída. Mas não é novo só que antes mais de 67% votaram na permanência. Foi logo a seguir ao tratado de União, em 1975, que se realizou o primeiro referendo à Europa. Tal como então, em 2015, quando Cameron recuperou a promessa eleitoral do referendo para “calar” as alas mais radicais do partido, nada indicaria que o Brexit pudesse ganhar, mas o mundo mudou. O Partido Conservador, pedia o referendo para ter uma arma para combater o UKIP de Nigel Farage e as suas propostas proteccionistas motivadas pela imigração massiva de cidadãos do Leste da Europa. Os 13% conquistados nas ultimas eleições, a presença de um deputado na Câmara dos Comuns e a subida de três deputados no Parlamento Europeu em 1999 para os actuais 25 foram sinais de alerta. Cameron tinha poucas hipóteses de evitar o referendo. Mas a grande crise de refugiados do médio oriente, ainda não tinha acontecido e isso mudou tudo. A corrente onda internacional contra os poderes estabelecidos, que tem resultado numa grande desconfiança das populações ocidentais em relação aos que os governam, capitães de indústria e bancos, tem sido terreno fértil para a evolução dos que pretendem sair da União Europeia. Para além disso, questões como o orçamento da comunidade para o qual o RU é um contribuidor líquido com $12 mil milhões de dólares (mais do que recebeu) o que, apesar de representar de apenas 1% do PIB, é um dos assuntos que mais tem irritado os apoiantes do Brexit. Sair mudará tudo para melhor, é nisso que acreditam os separatistas como Boris Johnson, “Vai ser maravilhoso podermos negociar por nós próprios outra vez. Estávamos a ficar moles nos negócios”, disse Johnson em declarações à BBC. Para o ainda presidente da Câmara londrino a saída será melhor e os acordos comerciais serão todos repostos apesar de o RU fazer parte de cerca de 66 acordos de comércio via UE, agora postos em causa. “Há muito tempo para negociar acordos de comércio” garante Boris alegando ao período de dois anos entre a decisão e a saída de facto. Para ele, o “RU vai conseguir um estatuto especial com a União que lhe permita aceder ao mercado comum sem restrições”. Opinião diferente tem José Luís Sales Marques, economista e presidente do Instituto para os Estudos Europeus de Macau. “Existem receios (…) Por isso, vários dirigentes europeus já vieram dizer que, em caso de Brexit, o RU deve ser fortemente penalizado. Isto é, não haverá ‘soft landing’, pois isso poderia encorajar outros Estados membros”. Uma opinião de alguma forma partilhada por António Guterres que, em entrevista à CNN, disse que “O Reino Unido sozinho terá dificuldades em ter uma grande influência no que são os assuntos globais no mundo actual”. Para tentar conquistar os defensores do Brexit para o seu lado, David Cameron propôs um acordo especial com a União Europeia que, para os eurocépticos ficou aquém do esperado e “não vai resolver nada”, como disse Boris Johnson. Isto apesar de Cameron ter conseguido que a UE cedesse na possibilidade de o RU optar por não participar numa “união mais próxima” dando mais poderes aos parlamentos nacionais, questão fundamental para os secessionistas. Não conseguiu, porém, tudo o que pretendia noutras áreas como os benefícios de segurança social para populações migrantes outra das questões sensíveis neste balanço entre o “fica” e o “não fica”. Meio mundo contra O facto de grande parte das instituições mundiais odiadas por todos aqueles que se vêm a revoltar contra os poderes instituídos estarem contra o Brexit não tem ajudado muito a causa da permanência. Ainda esta semana o FMI lançou um alerta contra a saída do RU alertando para “um expectável abrandamento do crescimento económico e uma subida da taxa de desemprego nas ilhas britânicas nos próximos anos” mas, claro está, o relatório também concede que a lista dos ‘estragos’ apenas poderá ser finalizada quando os termos do acordo de secessão forem conhecidos. Ontem, segundo o diário japonês Nikkei, também os bancos centrais da Europa, dos Estados Unidos e do Japão começaram a discutir uma acção concertada de injecção de liquidez em dólares no mercado. Ou seja, poderão implementar um mecanismo de urgência para abastecer o mercado com dólares para evitar eventuais problemas no caso de os britânicos decidirem sair da União Europeia fazendo adivinhar uma possível agitação nos mercados. No caso chinês, já foram várias as vezes que Xi Jingping e outros responsáveis se manifestaram contra o Brexit. Mas, na opinião de alguns especialistas, isso poderá ter mais a ver com a manutenção da imagem do líder chinês, pois este tem apostado fortemente no mercado britânico e levado muitos investidores chineses para aquelas bandas. Como disse John Zai à BBC, o líder da Cocoon Networks, um grupo de venture capital com planos para investir em empresas tecnológicas na Europa, “os empresários chineses podem começar a achar que apostaram no cavalo errado.” Contudo, outros entendem que a China preferirá acordos com a UE a apenas com o RU, um mercado muito mais pequeno. Mas os investidores privados podem ter outras ideias. “Sinceramente, acho que livre dos regulamentos europeus, será mais atraente para os investidores chineses um Reino Unido fora do que dentro” diz William Cheung, professor da Faculdade de Finanças e Negócios da Universidade de Macau. “A ideia que tenho é existirem muitos investidores locais à espera da saída, pensando que a queda de preços que se seguirá será óptima para especular”, adianta ainda o académico especialista em Comportamentos de Negócios e Bolsa de Hong Kong, não esperando qualquer tipo de comoção no índice bolsita da RAEK, quer o RU fique, quer saia. Sales Marques também concorda com o princípio de que os negócios por este lados pouco irão sofrer mas não tem a mesma leitura face aos mercados financeiros. “Estão a ocorrer ajustamentos nos mercados e há muita incerteza mas o ambiente de negócios na RAEM não sofrerá grande impacto directo, com a excepção para os investimentos nos mercados financeiros e variações cambiais na libra e no Euro”, diz o economista. Dois anos para uma nova realidade Aconteça o que acontecer na próxima quinta-feira, passarão dois anos até que se perceba que Europa resultará de uma eventual saída do RU da união. Será aquele o tempo que demorará a negociar o novo estatuto britânico ditando novas relações comerciais e de negócios, estatutos de cidadãos, obtenção de vistos entre muitas outras possíveis mudanças, Os apoiantes do Brexit acreditam que vai ser um mar de rosas e vão conseguir um estatuto especial mas, mesmo que o “hard landing” não aconteça, poucos acreditam que qualquer acordo comercial venha a dispensar a livre circulação de pessoas, um dos pontos que mais irrita os apoiantes do Brexit. Imigrantes, a grande incógnita Segundo o grupo Migrantes Unidos, a população migrante portuguesa no RU praticamente dobrou nos últimos quatro anos devido à crise económica que atingiu Portugal, e só agora dá sinais de arrefecimento. De acordo com a organização, 30 mil portugueses chegam anualmente no Reino Unido desde 2011. “Calculamos em cerca de 300 mil, dos quais pelo menos 100 mil vivem em Londres. Desses, cerca de 120 mil chegaram nos últimos quatro anos”, afirma Paulo Costa, um dos responsáveis da organização, em declarações ao sítio “noticias em Português” baseado no RU. Para estes, a grande questão que se coloca é o que lhes vai acontecer quando terminar, se terminar, a política de livre circulação. Macau, onde grande parte dos residentes ostentam passaportes da UE, também poderá ser afectado. Nada acontecerá de um dia para o outro mas Sales Marques aconselha precaução: “devem estar atentos ao futuro, pensarem em planos B, mas não entrar em pânico. Muitos já são residentes do RU e quanto a estudantes, só os que usufruem de estatuto de comunitário quanto ao pagamento de propinas podem sofrer com um aumento das mesmas, no futuro”. Para o presidente do Macao Youth League das Nações Unidas (finalista da medicina na Universidade de Edimburgo), em declarações recentes ao Jornal Ou Mun, “a saída UE não vai implicar com descontos em propinas para os estudantes de Macau pois já as estão a pagar a preço internacional embora tenham passaporte de Portugal”. A maior diferença para o líder estudantil vai notar-se na “conveniência de solicitação de visto, no ranking das universidades britânicas porque influencia o intercâmbio de docentes”.
Manuel Nunes SociedadeCentral Nuclear de Taishan | Governo garante estar preparado para acidentes O Executivo trouxe os responsáveis da Central Nuclear a Taishan a Macau para descansar a população. Estes dizem ter gasto milhões em segurança e não vêem perigo. Wong Siu Chak garante que ,porque Macau está fora da zona considerada de exclusão de 20 km, não precisa de plano de evacuação apenas de descontaminação. E esse plano existe e envolve 40 entidades do território. Os contornos não são claros [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau disse na passada sexta-feira que a região está preparada para responder a um eventual acidente nas centrais nucleares chinesas, embora precise de novos equipamentos para medir os índices de radioactividade, tendo já ordenado a sua aquisição. Os esclarecimentos foram dados pelo Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, num encontro com jornalistas sobre a construção da central nuclear de Taishan, que tem gerado preocupação em Macau e Hong Kong, depois de meios de comunicação social terem noticiado que a unidade apresenta problemas que podem levar à ocorrência de acidentes. Wong Sio Chak insistiu em que Macau tem um plano de contingência em caso de acidente nuclear que foi revisto pela última vez em 2011 e que está disponível nas páginas oficias do Governo de Macau, mas apenas em chinês que, assegurou, será em breve traduzido e disponibilizado também em português. O HM foi à procura do plano em chinês mas apenas descobriu um enunciado onde se refere que “como Macau se situa 20 quilómetros fora da zona de exclusão definida pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) não tem planos de evacuação mas apenas de descontaminação para alimentos e importados dos lugares onde situados numa área de 100 quilómetros”. Apesar dos detalhes do plano não serem ainda conhecidos, o Secretário disse que vai de novo ser revisto, num processo que envolve mais de 40 entidades, mas garantiu que o documento tem como referência as directrizes internacionais no que toca à segurança nuclear. De primeiro nível Neste encontro com jornalistas estiveram responsáveis do consórcio que está a construir a central nuclear de Taishan e especialistas da China (do Ministério de Protecção Ambiental, da Agência Nacional de Energia e do Gabinete de Gestão de Emergência da Autoridade de Energia Nuclear). Todos garantiram a segurança da central, sublinhando que todo o processo de construção, inspecção, testes e avaliação segue os padrões internacionais, não tendo sido, até agora, detectado qualquer problema. Questionados sobre a mudança legislativa em França determinada por terem sido detectadas potenciais falhas nos reactores adquiridos para Taishan (fornecidos pela francesa AREVA) os responsáveis não foram explícitos na resposta. Ou seja, os reactores terão sido adquiridos antes das falhas terem sido notadas e, agora instalados, não podem ser submetidos a testes pois estes são destrutivos. Em contrapartida, disseram apenas que os reactores têm três coberturas de protecção e oito níveis de segurança com um recipiente especial concebido para o caso do núcleo derreter, garantindo terem investido “milhões de renminbis em segurança. A central de Taishan, é um projecto fruto de uma parceria sino-francesa – entre a China Guangdong NuclearPower (CGN) e a Électricité de France (EDF) –, pretende iniciar operações dos dois reactores no próximo ano. A 1 de Junho, a maior associação pró-democracia de Macau acusou o Governo de não ter noção do risco de um eventual problema na central e exigiu o anúncio de planos de contingência.
Manuel Nunes Manchete SociedadeLusofonia | Semana de Moçambique na RAEM está aí Moçambique está quase a celebrar a sua independência e assinala a data com uma semana de gastronomia para “promover um encontro povo a povo”, explica o cônsul do país na RAEM. Para já, são apenas 50 os moçambicanos em Macau mas o diplomata espera que no futuro mais possam vir [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]oçambique celebra a independência dia 25 mas as celebrações já começaram com a organização de uma semana gastronómica. Para Rafael Marques, cônsul geral do país no território, “as relações entre Moçambique e Macau são excelentes”. A presença no Fórum de Macau é vista como crucial para as relações bilaterais com a China mas também como uma oportunidade para impulsionar a cooperação com a própria RAEM. Segundo Rafael Marques, Moçambique tem beneficiado no âmbito dos diversos protocolos assinados, nomeadamente na área do turismo e da tributação fiscal evitando a taxação dupla. A participação de moçambicanos em diversos colóquios e acções de formação do Fórum de Macau é outro dos pontos que o cônsul de Moçambique considera relevantes. “Temos tido diversos bolseiros nas universidades de Macau e até cooperação na área da comunicação com o treino de quadros da televisão de Moçambique na TDM”. Na perspectiva do cônsul, também a China tem beneficiado desta aproximação especialmente no âmbito das trocas comerciais, “que têm sido substanciais”, com diversas empresas chinesas a investirem no país. “Há vantagens e benefícios mútuos”, garante o diplomata que desvaloriza a instabilidade política no país pois “não tem afectado o investimento estrangeiro” até porque “é localizada na zona centro e o governo está a trabalhar a todo gás para resolver pelo diálogo”. Mais moçambicanos Entre estudantes, trabalhadores e corpo diplomático existem apenas 50 moçambicanos registados no consulado. Um número que o cônsul não se importaria de ver aumentado até porque não têm tido dificuldades na obtenção de vistos. “Quanto mais moçambicanos mais experiência se colhe em Macau, especialmente na área do turismo que está bem desenvolvido”, explica Rafael Marques, adiantando mesmo que “é uma boa ideia virem para aqui mais moçambicanos para ganharem experiência com os locais”. A possível vinda de mais nacionais para o território será, então, um processo normal faltando “mais divulgação das oportunidades que Macau oferece”, ainda numa fase precoce pois, explica, “o consulado é recente”, mas, acredita, “com o tempo e a circulação de pessoas, mais ficarão a saber e poderão vir à procura de oportunidades”. Conquistar pelo estômago A semana de divulgação que agora começa vai ser essencialmente dedicada à gastronomia. “Trazer os sabores do país. Será um encontro povo a povo”, explica Rafael Marques que não vê com maus olhos a fundação de um restaurante moçambicano no território. “As perspectivas estão abertas e, se alguém quiser enveredar por esse caminho, terá todo o apoio do consulado e do governo moçambicano”, garante. No curto prazo, o cônsul espera “utilizar cada vez mais Macau como plataforma de cooperação com a China” e que mais empresas do território invistam em Moçambique.
Manuel Nunes DesportoVoleibol Feminino | Grande Prémio Mundial arranca Pela 19ª vez algumas das melhores equipas do mundo chegam a Macau para o Grande Prémio Mundial da FIVB. Mas, desta vez, existe o atractivo especial de estarmos em ano Olímpico. Ou seja, para as equipas este torneio servirá como rampa de lançamento para os Jogos esperando-se embates de primeiro nível, com o Brasil a procurar a terceira medalha de ouro consecutiva [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]as quatro equipas presentes na perna de Macau este ano, apenas a Bélgica não estará no Jogos Olímpicos. A equipa Brasileira, a grande vencedora do Grande Prémio Mundial da FIVB, oito vezes campeã, entre as quais três consecutivas, será a principal atracção logo seguida China, mas esta pelo facto de jogar em casa, pois apenas venceu uma única vez, em 2003. Além disso, o Brasil é também bicampeão Olímpico esperando-se que este ano, pelo facto de jogar em casa, consiga a terceira medalha de ouro consecutiva. Para o técnico Zé Roberto o Grand Prix, é mesmo ideal para dar ritmo a todas as jogadoras. “A ideia é ir mudando”, diz, adiantando ainda que “também teremos uma ideia de como estão as outras selecções, para encontrarmos os melhores caminhos para os Jogos Olímpicos”. Até à estreia Olímpica contra os Camarões, a 6 de Agosto, Zé Roberto espera estar com a selecção “a 100%”, tanto no aspecto físico como no ritmo de jogo das suas atletas. “O que preocupa sempre é o sistema defensivo. Essa relação bloqueio e defesa precisa de estar apurada, porque é o que faz a diferença numa equipa. Precisamos de volume de jogo.” Apelo asiático Desde a primeira edição realizada em 1993 até 2011, já aconteceram dezanove edições do Grande Prémio Mundial da FIVB, tendo as primeiras ocorrido na Ásia Oriental, o que se deve à existência, nesta zona do mundo, de um enorme mercado da modalidade com inúmeros espectadores, assim como patrocinadores que financiam o evento. Pouco a pouco, os torneios da fase preliminar começaram a realizar-se na Europa e no continente americano, tendo as grandes finais sido realizadas, em 2003, pela primeira vez em Itália. Em termos de estatuto, o Grande Prémio Mundial da FIVB não tem a importância dos três grandes torneios internacionais que se realizam de quatro em quatro anos (a Taça Mundial, o Campeonato Mundial e os Jogos Olímpicos). Oferece, porém, um prémio pecuniário muito mais volumoso do que os outros três. Sendo um torneio de natureza puramente comercial, o Grande Prémio Mundial decide a lista para a participação nas finais mediante os resultados dos torneios da fase preliminar realizados nas diferentes cidades. A equipa vendedora das finais obtém o título de campeã. Sendo assim, a equipa que conquista o ouro neste torneio normalmente não é considerada a campeã mundial. O Grande Prémio Mundial da FIVB contribui principalmente para a promoção do voleibol feminino à escala mundial. Macau organiza este evento desde 1994, excepto nos anos de 2003 e 2004. As finais também já por aqui passaram nos anos de 2001 e 2011.
Manuel Nunes Eventos MancheteAlexandre Marreiros expõe no MAM: “Uma leitura do tempo com T maiúsculo” Arquitecto, mas apaixonado por desenho e pelo trabalho manual desde pequeno, Alexandre Marreiros foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos brasileiros contemporâneos mas acabou apaixonado pelas favelas. Um lugar onde “as coisas vão-se aniquilando mas sempre com um final feliz”. O resultado é “um registo documental que acabou na pintura” [dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]omo arquitecto interessa-me a arquitectura que se desenvolve de uma forma vernacular. A casa, o lugar onde nós como humanos nos sentimos seguros”, começa por nos contar Alexandre Marreiros. Foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos contemporâneos brasileiros mas acabou, como ele diz “fulminado, de uma forma quase alérgica” pelas favelas. Um fenómeno urbano que descreve como “um manto bordado que cobria aquelas montanhas”. É também esta ligação quase natural do construído pelo homem com o disposto pela natureza que interessou Marreiros. “O Rio tem aquela topografia especial, montanhosa, e é admirável como pessoas sem know-how conseguiram adaptar-se ao local e o deixam falar por si, como a acção do homem se adapta ao que já lá estava”, diz Alexandre, confessando mesmo que “não conseguiria fazer um manifesto arquitectónico melhor”. Naturalmente, Alexandre não acha a melhor forma de vida mas considera que “à medida de que vai sendo construída a história bate sempre certo, há uma relação com o lugar. As coisas vão-se aniquilando mas há sempre um final feliz” Curioso por saber como tudo aquilo se desenvolvia passou grande parte dos seis meses que esteve no rio de Janeiro a deambular pelo Complexo do Alemão (o maior complexo de favelas do mundo) e na favela do Tabajaras. Indo às origens “Cnidosculos Quercifolius”, assim se designa a exposição, é o baptismo latim para – a planta favela, endémica do Brasil, que deu origem ao termo “favela” como fenómeno de habitação marginalizada, ilegal. Uma definição que, garante Marreiros, “deve-se a ao regresso dos soldados ao Rio de Janeiro após a Guerra dos Canudos, onde encontraram condições miseráveis de habitação na primeira favela do Brasil, o morro da Providência. Mas, para Alexandre, as favelas também “são cor e são luz”, que assim começa por explicar ao HM como chegou a este trabalho. O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arquitectura e que são transportadas para a pintura”, explica. O particular que forma o todo “Tento apresentar ao observador a ideia de espaço que começa com um registo de desenho e um registo fotográfico exaustivo e acabou, por minha necessidade, na pintura”, adianta Alexandre, porque só a pintura consegue “transportar o registo para uma composição de cor, de espaço, de vazio, de afastamento entre as coisas que também podem ser lidas como um todo”. A sua sensação da favela. Um local delimitado, onde em que o particular forma o todo. A fita cola colorida, que pode ser observada nalguns dos trabalhos, surge pelo interesse plástico que o material lhe suscitou e por lhe aportar a cor da favela. “Aparece de uma forma tosca porque ou faço as coisas muito certinhas ou muito toscas. Ando nessa procura”. Para Alexandre, “as favelas são como a construção de um quadro”. “Um lugar onde existe um espaço e um limite, em que as formas, as linhas e as manchas se vão adequando a esse limite”, explica. “A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia”. Ou seja, para Alexandre a arquitectura é “a história das coisas construídas, vividas, habitadas e que manifestam sempre a sua cultura”. Para o artista, “através da arquitectura podemos ler o nosso tempo. A favela não fazia sentido há 200 anos mas hoje é necessária. É uma leitura do tempo com T maiúsculo”. Transformação fulminante Macau não podia fugir da conversa e aproveitámos para saber como Alexandre Marreiros vê a cidade. A resposta não tardou. “É fulminante a forma como se transforma”. A falta de planeamento, todavia, é algo que o preocupa esperando que este venha a existir pelo menos nos novos aterros. “Ainda consigo ler muitas histórias nesta tradição de conquista de terras ao mar. Afastar tecido antigo do que se foi desenvolvendo menos bem. É uma cidade que ainda me conta histórias bonitas mas com alguns capítulos mais negros de permeio.” Mas também existem vislumbres do futuro que, para ele, será “uma massificação de descaracterização”, com alguma pena sua mas, como não acredita que a arquitectura seja intemporal, mas sim “muito efémera”, entende que a descaracterização que se adivinha será apenas uma marca do que foi este tempo de agora. “Não é mau nem bom, mas talvez outro tipo de estratégia fosse mais adequado”. Algo o anima, todavia, a recente abertura da faculdade arquitectura dá-lhe esperança. “Espero que. daqui a uns anos, (os novos arquitectos) possam ter uma opinião clara e, acima de tudo, competente da cidade.” A culpa é do desenho Nascido em 1984 em Cascais, Portugal, Alexandre Marreiros estudou artes no liceu, formou-se em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa, onde posteriormente obteve o grau de mestre. “O que me conduziu à arquitectura foi o desenho. Sempre gostei de desenhar. Fiz muitas cabanas , muitas árvores, muitos carrinhos de rolamentos. Tive um percurso de artes antes mas na altura de decidir optei pela arquitectura sem nunca me desligar muito das artes plásticas”. Exibiu em exposições colectivas em Lisboa, individualmente na Galeria GivLowe e na Casa Lusitana. Recentemente, participou como artista convidado no Festival Silêncio de Lisboa e no Festival Literário de Macau. Em 2015 recebeu uma menção honrosa da Ilustração Contemporânea Portuguesa. Vive e trabalha em Macau. A exposição inaugura hoje, pelas 18:30H no Museu de Arte de Macau.
Manuel Nunes MancheteGoverno não divulga plano de contingência em caso de acidente nuclear Após a polémica gerada pela central de Taishan, o Governo disse ter um plano de contingência em caso de acidente mas não explicou qual. O HM quis saber mais mas nada conseguiu. Jason Chao diz que o plano deveria até contemplar “uma nova localização para Macau”. Agnes Lam apela à “necessidade da população se sentir segura” e Wang Zhishi, especialista da UM, diz não acreditar em acidentes [dropcap style=´circle´]“A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) irá prestar estreita atenção à respectiva situação junto dos serviços competentes, e executar os devidos trabalhos para articular com o respectivo plano de contingência.” Foi assim que a DSPA respondeu às questões que o HM colocou relativamente ao nível de preocupação que a população da RAEM deve ter relativamente às cinco centrais nucleares que a rodeiam, com especial ênfase para a central de Taishan ainda em construção, e que tantos protestos tem levantado junto de alguns sectores da população, ou não estivesse a apenas 67 km do território. Do leque de perguntas formuladas pelo HM constava ainda o teor do plano de contingência. Para Agnes Lam, docente universitária e dirigente da Energia Cívica de Macau, é compreensível que “exista matéria militar sensível que não possa ser divulgada”. Todavia, para a académica “deveria existir um plano de evacuação e, pelo menos parte dele, deveria ser divulgado para que a população se sinta segura”. Na mesma linha, segue a Associação Novo Macau (ANM). “O Governo responde em meia dúzia de linhas não, é?, pergunta ao HM Jason Chao da ANM, “não é aceitável”. Mudar Macau de sítio Jason Chao vai ainda mais longe dizendo que o plano não só deveria ser público como “em face da construção de tantas centrais à volta de Macau, a população deveria conhecer um plano para a relocalização de Macau”. Chao justifica a sua posição com uma entrevista dada por Gorbachev. “Vinte anos após Chernobyl, Gorbachev disse que uns dois dias depois do acidente foi-lhe dito que as centrais nucleares eram tão seguras como ferver água na Praça Vermelha”, diz Jason, afirmando ainda que “para além do risco que as centrais nucleares representam, não temos confiança nas práticas do Governo comunista”. “Eles dizem-nos para estarmos tranquilos porque as centrais são geridas pelo Governo mas o Governo chinês é conhecido por esconder uma série de incidentes”, diz Jason. No caso de Taishan, grande parte da crítica de diversos especialistas relaciona-se com o facto de elementos principais da central terem sido fabricados na China. Para Chao, “existe falta de confiança nas fábricas chinesas.” Por isso mesmo, reforça que “devemos estar preparados para desastres nucleares e, particularmente no caso de Taishan, porque vai utilizar tecnologias novas e não provadas.” A única possibilidade É precisamente o facto de a central de Taishan utilizar tecnologias novas que descansa o professor Wang Zishi, da Universidade de Macau (UM), que nos foi indicado como, provavelmente, a voz mais autorizada neste tipo de assuntos em Macau. “Desastres como Fukushima e Chernobyl não são possíveis nesta zona”, diz o professor alegando que “não existe historial de tremores de terra nesta região”. Quanto a Chernobyl, diz Wang Zhishi, “a fábrica era muito antiga. Não acredito que isso possa acontecer em fábricas modernas como a de Taishan”. O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM diz mesmo que “a energia nuclear é mais limpa do que combustíveis fosseis”, alegando ser a única solução possível para “responder às necessidades de desenvolvimento económico na região”. Confrontado com a possibilidade de acidentes, Wang Zhishi, recusa-se a pensar nisso garantindo que “as fábricas foram construídas após estudos de impacto dos riscos”. Relativamente à necessidade do Governo divulgar um plano de emergência junto da população, praticamente a única pergunta que o HM lhe endereçou, o académico acabou por dizer que “não sei que plano Macau deve ter mas deve existir alguma forma de contingência”, dizendo ainda que “devemos fazer uma avaliação rigorosa para perceber os riscos”. Articular com Hong Kong Para Agnes Lam o plano, a existir, deveria mesmo incluir Hong Kong. “Os Governos de Macau e Hong Kong deveriam coordenar-se num plano de gestão de crises e prepararem exercícios de evacuação”, diz a académica. Para Scott Chiang, da ANM, o Governo devia ser claro para convencer população que tem, em primeiro lugar, capacidade para desenvolver trabalhos de descontaminação e, em segundo, competência para assegurar o abastecimento de comida, água e outros bens vitais que podem vir a ser afectados em caso de um acidente em Taishan”. No fundo, diz Chiang, “apenas queremos saber se existem planos que nos permitam continuar a viver as nossas vidas”. A DSPA voltou a ser inquirida pelo HM sobre o plano de contingência e continuamos à espera de uma resposta.
Manuel Nunes MancheteHenrique Nunes, treinador do Benfica de Macau: “Joga-se bom futebol para as condições que temos” Aos 61 anos, e depois de uma vida dedicada ao futebol com títulos pelo meio, Henrique Nunes estava decidido a encerrar a carreira quando chegou o convite do Benfica de Macau. Uma experiência gratificante mas frustrante, pois a “falta de condições de treino não deixam nem atletas nem treinadores evoluírem”. Caso contrário, há jogadores locais que até poderiam ambicionar ligas mais competitivas Várias vezes tem sido referido que a sua adaptação a Macau não foi fácil. Quer consubstanciar? Não foi e continua a não ser. Vamo-nos adaptando, mas continua a ser muito difícil. A grande dificuldade é a falta de espaços para treino, que é diária, e o facto de mesmo os que temos serem extremamente duros. Reconheço que é igual para todos mas é difícil conviver com esta realidade. Além disso, o facto de os atletas locais não terem o culto do treino também não ajuda. Para eles, o futebol é algo lúdico. Não estava habituado a isso uma vez que sempre treinei equipas profissionais. A falta de espaços é então o principal problema… Sim, naturalmente. Veja o nosso caso esta semana: temos um jogo na quinta-feira e terça e quarta não pudemos treinar. Se quisermos fazer alguma coisa temos de ir para a pista correr quando a nossa finalidade é jogar futebol. Estas dificuldades fazem com que o futebol em Macau não tenha uma evolução maior. Mas, já disse e volto a dizer: em Macau joga-se muito bom futebol para as condições de treino que as equipas têm. Que solução vê para isso? Macau tem pouco espaço mas poderia ser feito algo diferente? Sabemos que Macau tem problemas de espaço. Mas existem formas de contornar isso. A ideia do Desporto para Todos é muito boa mas, se realmente existe uma selecção de Macau e se se pretende evoluir a modalidade, deveria existir preferência de treino pelo menos para os dois principais escalões. Às vezes chegamos ao terreno do hóquei e estão lá seis ou sete amigos a tentarem acertar na barra… Se a ideia for fazer evoluir a modalidade em Macau deviam existir espaços garantidos para as equipas da primeira e da segunda divisões. Têm de marcar campos todos os dias, não é? Todos os dias e às 6 da manhã. Ainda assim, frequentemente chegamos a essa hora e os campos já estão marcados. Planear o microciclo semanal assim é muito difícil porque nem sabemos que tipo de campo vamos ter na semana seguinte. É uma anarquia. Comparando com equipas dos distritais em Portugal, lá quase todas têm mais de um campo para treinarem. Com relvados sintéticos, naturalmente. A relva sintética seria a solução para Macau? Acho que é a única solução. Especialmente se continuarmos a privilegiar o Desporto para Todos. Com a intensidade de utilização que existe actualmente, os relvados sintéticos de ultima geração iriam resolver muitos problemas e até darem mais horas às equipas para treinarem. Que tipo de reacções têm da associação de futebol? Reportamos isto à nossa direcção e eles comunicam à associação. Mas, pelo que me apercebo, a associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local. Pelo que vê dos jogadores que treina e observa nas outras equipas, acha que alguns, reunidas as condições de treino, poderiam ambicionar ligas mais competitivas? Acho que sim. Comparando com Portugal, onde treinei sempre, temos aqui jogadores com condições. Não para chegarem já à Primeira Liga mas claramente para a Segunda. E, com algum trabalho, penso que chegariam à Primeira com alguma facilidade. Mas também não há dúvida que os jogadores ao chegarem a Macau estagnam. Não pode haver evolução do futebol em Macau enquanto não existirem espaços para treinos diários. É frustrante, ou não? É muito. Os primeiros meses foram muito difíceis e pensámos várias vezes em irmo-nos embora. Tivemos foi a felicidade de apanhar um grupo de trabalho que está junto há muito e que nos ajudou a suprir as dificuldades. Hoje posso dizer não estar arrependido de ter ficado mas, mesmo do ponto de vista da evolução como treinadores, é muito frustrante. O exemplo do Tiago. Veio como treinador de guarda-redes. Mas como pode ele treiná-los num piso quase tão rijo como o mármore e com balizas de sete? É frustrante. Macau oferece muito poucas condições aos seus atletas. Existem equipas a mais em Macau? De forma global, não há dúvida nenhuma. Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte. Mesmo no caso da Liga Elite, um campeonato de 10 equipas, deveria privilegiar um play-off com as quatro primeiras. Que lhe passou pela cabeça quando recebeu o convite de Macau? Estou com 61 anos e já tinha assumido o final de carreira. Todavia, fiquei a pensar no assunto, falei com muitos amigos, alguns com negócios na região e todos me diziam para vir porque Macau era interessante e até seria uma forma de acabar bem a carreira. Pensei e achei que se as condições fossem agradáveis, porque não, e acabei por vir. Está mesmo decidido a encerrar a carreira, então? Sim, mais um ou dois anos e acabo. Não quer ser um Trapattoni, então? Não, até porque tenho quatro netinhas e elas ocupam-me muito tempo. Também comecei como jogador aos 14 anos, depois dei aulas de educação física, fui bancário mas quando subi o Feirense à I Divisão acabei por me dedicar como profissional. Mas já são muitos anos e esta profissão é muito desgastante. Mas já existe contrato para a próxima época, ou não? Tudo aponta que ficarei pelo menos mais um ano mas provavelmente será a minha ultima época. Não está tudo definido, já conversámos mas tudo indica que vou ficar mais um ano em Macau. Que é preciso para ser um bom treinador? Ora bem…. Gostava de ser melhor do que sou… Porque diz isso? Nestas coisas os momentos contam. Reconheço que quando apareci no futebol e subo o Feirense à I Liga se fosse hoje se calhar teria chegado a uma equipa maior. Hoje com grande facilidade um treinador que ainda não fez nada aparece na I liga com uma facilidade tremenda porque os empresários dominam muito o desporto mas eu nunca tive um. Caso contrário talvez tivesse tudo uma ascensão maior. Mas não é fundamental ter-se sido jogador para se ser um bom treinador mas é um dos princípios. Há espaço para todos claro, até porque hoje um em dia um treinador sozinho não consegue dar conta do recado. Mas acho importante ter-se vivido o desporto como atleta, a vivência do balneário, do jogo, dos treinadores que tivemos. E depois é o gosto, o trabalho e as ideias de cada um. E se depois lhe aparecer uma proposta de Portugal? Termina? Ainda pode vir a arranjar um empresário? (risos) Já não. Isto cansa um pouco… A sério? (risos) De facto, apesar da idade que tenho ainda me sinto com força para treinar. E sinto essa necessidade. Uma das grandes razões que me levou a vir para Macau foi estar parado há quase um ano. Estava farto do sedentarismo e tinha saudades. Há uma relação muito especial com o Feirense… Há. Mais de metade da minha carreira foi passada lá e como sou natural de Santa Maria da Feira, é o clube do meu coração e o clube que mais gosto de representar. Como atleta representei sempre o Feirense. Deixei de jogar com 28 anos porque tive de colocar uma prótese na anca. Depois comecei a treinar a formação, felizmente com algum sucesso, e fui convidado a assumir a primeira equipa, tinha eu 32 anos. Logo no primeiro ano subimos à Primeira Liga. Foi campeão quantas vezes? Pelo Gondomar, Arouca e Feirense, onde subi duas vezes, uma à Primeira e a outra à Segunda Liga. Qual o treinador com melhores ideias? O Guardiola. Para mim é o melhor. Foi um homem que trouxe uma ideia de jogo completamente diferente do que estávamos habituados e com grande sucesso. O Mourinho é mesmo um treinador defensivo? Fez grandes épocas e é um grande treinador, isso nem está em discussão, mas gostei essencialmente dele no Porto e nos primeiros anos no Chelsea quando as equipas dele jogavam muito à bola. Claro que foi campeão europeu no Inter mas estas suas equipas mais recentes não praticavam um bom futebol. Que se terá passado? O processo dele mudou? Os jogadores… Não faço ideia mas, por exemplo, não gostava nada do futebol que praticava o Inter. Era uma equipa muito defensiva que, dizem, devia-se à idade elevada dos jogadores. Mesmo no Real Madrid, existiam muitos bons jogadores mas nunca vi a equipa com um fio de jogo para chegar ao golo. Acho que era mais fruto da qualidade individual dos jogadores do que propriamente outra coisa. Para terminar o assunto Mourinho, foi uma boa aposta para o Manchester? Sim, ele é sempre uma boa aposta. Além disso, vai numa boa altura. O Manchester não tem ganho nada e o Mourinho tem a capacidade para colocar a equipa a ganhar. “Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte” Quais devem ser as primeiras coisas que um treinador deve fazer quando chega a um clube com as condições essenciais para trabalhar? O princípio é sempre formar o plantel de acordo com os objectivos da direcção mas, claro, tendo em conta os orçamentos e a sua respectiva adequação. Como se gere o processo quando um treinador diz que precisa de reforços para atingir objectivos? Como se gere isso com os jogadores que já lá estão? Não se sentem menorizados? Por isso é que se deve montar o plantel no princípio. A meio da época deve ter-se algum cuidado. Europeu. Como o está a ver? Mal. Não tenho visto muitos jogos por causa do adiantado da hora. Mas dos que vi ainda não vi grandes jogos. O melhor terá sido o do País de Gales. De início achava a Espanha e a Alemanha como favoritos mas depois de ter visto a Espanha fiquei um bocado na dúvida em relação a eles. Já da Alemanha gostei. E Portugal? Não estou tão optimista como o Fernando Santos mas acho que podemos fazer um bom campeonato. A equipa tem uma boa mescla de jogadores novos e outros mais experientes, todos com muita qualidade. Não está optimista então, porquê? Porque ao longo dos anos as nossas selecções chegam a esta fase e vão-se abaixo. Mas pode ser que a mudança de mentalidades que chegou aos clubes tenha agora também chegado à selecção. Mas não tenho grandes expectativas. Temos capacidade, mas… Porque há falta de pontas de lança no futebol português? Defeitos de formação, mentalidade dos treinadores, o quê? É pena termos tantos jogadores de qualidade no meio campo e não surgirem pontas de lança. Mas passa pela formação, pela necessidade de vocacionar atletas para jogarem naquela zona porque, por norma, toda a gente quer jogar no meio campo. Tem-se mais bola, os defesas não andam tão em cima… Por norma, quem gosta de jogar futebol e tem qualidade, quer ir para o meio campo. Têm de andar mais mas sentem-se mais à vontade. O Éder foi uma boa escolha para a selecção? Acho que sim. Estou com o Fernando Santos. Pode não ser o ponta de lança de sonho que todos desejamos mas é o melhor que temos disponível. “A associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local” O treinador que lhe causou mais problemas em jogo? Considerando equipas de nível equiparado, o Victor Oliveira. Só ele, por acaso, tem mais jogos na II Liga que eu. Ele parece não querer outra coisa… Ele é que está correcto. Assim, acaba por arranjar bons projectos para subir, exige o plantel que quer e ganha muito mais do que se estivesse na Primeira. Ele é pago na Segunda ao nível da Primeira. Então é o mais difícil, porquê? Porque monta equipas muito homogéneas. Não praticam um futebol exuberante mas são muito coesas. Não marcam muitos golos mas também não sofrem muitos. São equipas compactas, difíceis. E o Jesus? É assim tão bom como ele diz? (risos) Ele é um bom treinador. Gosto muito da forma como as equipas dele jogam mas no restante acho-o extremamente convencido. Por isso, acaba por não ser uma pessoa simpática no nosso meio. Há muitos de nós que não o vêem com bons olhos porque ele, para atingir os seus fins, se tiver que atropelar, atropela. E depois fala demais e acaba por dizer coisas que não deve. A sua melhor recordação do futebol Tive duas subidas à I Divisão com o Feirense. Uma como jogador, outra como treinador e esta foi, claramente, a que me deu mais gozo além de termos sido campeões nacionais da II Divisão.
Manuel Nunes PolíticaAssociação Novo Macau apresenta propostas para revisão da lei eleitoral A Associação Novo Macau pretende três coisas da revisão eleitoral: a abertura, ou fecho, das escolas a todas a candidaturas, mais meios para a Comissão dos Assuntos Eleitorais e a retoma da distribuição de folhetos informativos que o Governo fazia. Quanto à limitação da liberdade de expressão que António Katchi vê na proposta do Governo, mostram-se surpreendidos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Associação Novo Macau (ANM) apresentou ontem à imprensa os três pontos que consideram fundamentais para aprovarem a proposta de revisão à lei eleitoral. Todavia, e antes de mais nada, o presidente, Scott Chiang começou logo por afirmar a posição contrária da associação em relação aos “deputados indirectos e nomeados porque é mau para a democracia e não serve a população”. Para além deste ponto permanente, a questão principal são mesmo os meios que a Comissão para os Assuntos Eleitorais tem à disposição. “Fiquei chocado”, diz Jason Chao, vice-presidente da ANM, “pedi para verificarem as actividades de outros candidatos mas disseram-me não ter staff suficiente e pediram-me para escrever um relatório.” “Têm de ter meios”, reforça Scott Chiang, “é muito fácil fugir aos regulamentos em Macau”, explica. Daí que o registo das actividades de campanha não seja uma coisa necessariamente má pois, diz Scott, “se não houver lei ninguém põe lá todas. Isto é Macau…”, lamenta-se. Mais rigor A limitação das despesas de campanha é bem acolhida pela Novo Macau. Todavia, é onde se nota especialmente a falta de meios da Comissão. “Basta uma lista de despesas”, diz Chao, “se tudo bater certo aprovam. Mas não conferem se a lista corresponde às actividades realizadas”. Para a ANM todas as actividades de campanha deviam estar consideradas no relatório de custos e citam o caso de Hong Kong. “A partir do anúncio de candidatura, todas as actividades que beneficiem os candidatos são contabilizadas”, diz Scott, adiantado ainda que “em Macau oferecem-se viagens, jantares e outras actividades que nunca são contabilizadas”, e dá exemplos, “uma festa particular, se der uma oportunidade ao meu amigo para se promover eleitoralmente, isso é campanha ou não? Nas últimas eleições até casamentos foram usados para isso”, explica. Questionado sobre se esta limitação não pode ser virada contra os candidatos por armadilhas montadas pela oposição, Scott acha que “Macau é pequeno demais para que isso não se perceba” pelo que Scott Chiang alerta para a necessidade da “Comissão ter capacidade de classificar as actividades para fazer uma classificação correcta”. Mas até os apoiantes podem prejudicar organizando eventos por iniciativa própria, no que Scott volta a dar o exemplo de Hong Kong dizendo que, por lá, “os candidatos pedem aos amigos para não fazerem nada estúpido, para não organizarem nada que depois tenham de colocar nas contas”. Escolas para todos Abrir, ou fechar, as portas das escolas às actividades de campanha é outro dos pontos importantes para a ANM. Segundo Jason Chao, “algumas escolas, como tinham relações com candidatos fizeram sessões de esclarecimento e isso não é justo” e o Governo fez orelhas moucas, “escrevemos à comissão a pedir igualdade de oportunidades e nunca obtivemos resposta”. Como não lhes foi permitida a entradas nas escolas resolveram distribuir folhetos à porta de uma que consideram o caso mais grave, “a Escola Hou Kong é o caso mais infame pois teve candidatos a discursar e depois apresentou queixa contra nós porque distribuímos folhetos à porta”, diz Chao adiantando ainda que “o Governo não quer saber e não tem planos para remendar a situação”. Relativamente às universidades as públicas, Chao vai avisando que “são praticamente departamentos do Governo” e as privadas porque “recebem subsídios do Governo deviam dar oportunidades a todos os candidatos para exporem as suas ideias”. Direito à informação “Antes o governo produzia um folheto com todos os candidatos que enviava aos eleitores registados mas acabaram com isso por questões ambientais, dizem eles” comenta Scott Chiang em tom irónico. A última distribuição aconteceu há oito anos mas, agora, o Governo faz uma distribuição electrónica que a ANM considera “manifestamente insuficiente pois não chega a toda a gente”. “Sem este folheto”, argumentam, “todos os grupos estão a tentar chegar ao eleitorado e é isso que cria os desequilíbrios”. Contra “mordaças” Na passada sexta-feira, em declarações ao HM, o professor António Katchi foi cáustico na avaliação que fez da proposta de revisão da lei eleitoral. Para o académico, a proposta “é uma autêntica lei da mordaça” por não permitir que ninguém fale “a partir do momento que o Chefe do Executivo fixa a data das eleições e até ao início da campanha eleitoral”, além de “obrigar os candidatos a fornecer uma informação completa sobre todas as actividade de campanha e as pessoas só poderem falar em abono ou em critica de algum candidato se se tiverem registado como apoiantes”. “Seria mau se assim fosse”, diz Scott Chiang, afirmando que não deu por isso na leitura do documento. Relativamente à submissão de materiais de campanha, o responsável da ANM diz que “se se vier a transformar se em censura, teremos de ser contra”. Acerca do registo de pessoas, Scott não quer acreditar porque, se assim fosse, teriam de ser contra pois “o público em geral deve poder participar como bem lhe apetecer”, remata.
Manuel Nunes PolíticaTrânsito | Discussão para regulamento de capacetes concluída Está finalmente concluída a discussão da proposta para o Regulamento dos modelos de capacetes de protecção para condutores. A DSAT será a entidade responsável pela aprovação dos modelos, assim como será ela a definir as regras e procedimentos que devem ser respeitados [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Conselho do Executivo concluiu a discussão do projecto de regulamento para os modelos de capacetes de protecção para condutores e passageiros de ciclomotores e motociclos. Desde o anúncio da intenção até à elaboração deste regulamento que vai obrigar as lojas a vender capacetes que protejam, de forma garantida, a cabeça dos seus utilizadores, passaram quase dois anos. A “obrigatoriedade de uso de capacetes certificados” tinha sido estabelecida pelo Governo em 2014. Na altura, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) disse que estava “a ultimar” um regulamento administrativo para estipular os modelos de capacetes com padrões internacionais de segurança, mas nunca mais foram anunciadas novidades. A proposta, agora terminada, estabelece a competência desta mesma direcção na aprovação de modelos dos referidos capacetes, assim como a definição de regras e procedimentos conducentes à aprovação e as normas técnicas a que os capacetes devem obedecer. Assim, os capacetes de protecção devem respeitar qualquer uma das normas técnicas constantes do anexo ao regulamento administrativo, ter uma etiqueta para a identificação das normas técnicas adoptadas, colocada pelo fabricante, e não se podem encontrar danificados ou deformados. Caso o capacete possua viseira, deve satisfazer o disposto no nº 3 do artigo 65º da Lei nº 3/2007 (Lei do Trânsito Rodoviário). O projecto prevê ainda que, proferida a decisão de aprovação, a DSAT deve publicitar no prazo de três dias, nos seus locais de atendimento ao público e no sítio da internet, os modelos de capacetes de protecção aprovados, comunicando-os ao Corpo de Polícia de Segurança Pública. O projecto revoga também a taxa devida pela aprovação do capacete de protecção, no valor de 300 patacas. Linhas de acção Antes de entrar em vigor este regulamento, a DSAT tinha lançado em 2014 um documento de “orientações sobre capacetes e respectivo uso pelos condutores e passageiros de ciclomotores e motociclos”, com o objectivo, diz, “de lembrar os utilizadores sobre a importância do uso de capacetes”. Mas a realidade era outra e até levou a que Kenny Leong, realizador local conhecido pelos vídeos sarcásticos que faz sobre algumas políticas e medidas do Governo, tivesse produzido uma série de experiências em vídeo, utilizando cinco tipos de capacetes vendidos em Macau, sendo dois deles dos mais comummente utilizados no território. Resultado? Apenas dois – de valor mais elevado e não disponíveis em todas as lojas – conseguiram resistir aos impactos, ainda assim cansando possíveis danos ao seus utilizador. Actualmente, segundo a informação divulgada pelo Governo, existem cerca de 400 mil capacetes na RAEM e, no ano passado contavam-se quase 250 mil veículos, sendo que destes 52% eram de motociclos.
Manuel Nunes China / ÁsiaPequim garante redução da produção de aço Com agências Reduzir, sim, mas o Ministro das Finanças vai avisando que a economia planeada é história. Por isso, as reduções têm de se submeter ao mercado pois, argumenta, “mais de metade dos fabricantes de aço são privados”. Mas, pelo sim, pelo não, lançou uma campanha de verificação de consumos energéticos das unidades fabris. Quem gastar demais pode vir a fechar a porta [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China quer reduzir ainda mais o excesso de capacidade de produção na indústria do aço mas com base nas forças do mercado e não nas metas estabelecidas pelo governo, declarou o Ministro das Finanças, Lou Jiwei, na segunda-feira, no início do diálogo anual de alto nível entre a China e os Estados Unidos. A China dá grande importância ao corte da capacidade industrial excessiva e tomou medidas para eliminar 90 milhões de toneladas de capacidade de produção de aço, disse Lou em uma conferência de imprensa. No entanto, descartou a possibilidade do governo estabelecer uma meta quantitativa. “A China tem dito adeus à economia planificada, por isso o governo não pode ditar às indústrias nada a esse respeito. Mais de metade dos fabricantes de aço do país são privados”, indicou. Quem gasta demais, fecha Na sequência das tentativas de redução de capacidade, Lou Jiwei anunciou ainda o lançamento de uma investigação para recolher informação sobre o consumo de energia nas siderúrgicas do país. Segundo o jornal oficial Shanghai Daily, a campanha, promovida pelo Ministério da Indústria e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, encarregada da planificação económica do país, requer a supervisão dos governos locais e uma auto-avaliação das próprias empresas. Pequim exige a todos os governos e siderúrgicas que recolham dados sobre o consumo de energia das empresas até finais de Junho, para serem entregues antes do dia 10 de Julho. As empresas que apresentem níveis de consumo energético superiores ao permitido oficialmente para o sector deverão corrigir esse problema ao longo dos próximos seis meses, com a possibilidade de o prazo ser prorrogado por três meses. As firmas que não cumprirem com aquela meta serão encerradas, informa o jornal. A culpa foi da crise Lou Jiwei contestou ainda as críticas dos Estados Unidos da América e União Europeia ao excesso de capacidade de produção da China, afirmando que há “muito exagero” sobre este tema. Durante a oitava ronda do Diálogo Estratégico e Económico China – EUA, que decorreu até ontem, em Pequim, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, afirmou que aquele problema “tem o efeito de distorcer e danificar os mercados globais”. Lou recordou que boa parte do excesso de capacidade de produção na indústria pesada chinesa se deve ao plano de estímulo massivo lançado por Pequim após a crise financeira global, em 2008, quando o país se tornou no motor da economia mundial, representando mais de 50% do crescimento. “Nessa altura, o mundo aplaudiu a decisão da China e louvou o seu contributo para impulsionar o crescimento económico global”, assegurou, enquanto “agora, o mundo aponta para a China e diz que o excesso de capacidade é um obstáculo para o planeta, mas não dizem o mesmo quando a China contribui para o crescimento global”. O ministro assegurou ainda que Pequim “está a abordar com seriedade o problema do excesso de capacidade”, com uma redução da sua capacidade produtiva de aço a rondar os 90 milhões de toneladas anuais, em 2015, e planos semelhantes para os próximos exercícios. O 8º Diálogo Estratégico e Económico China-EUA é realizado num momento em que o excesso de capacidade de aço se tornou um importante desafio global. Os produtores de aço dos Estados Unidos recorrem cada vez mais a medidas comerciais e à protecção tarifária para superar um mercado desacelerado, uma prática a que se opõem fortemente os exportadores chineses.