Gaza | Amnistia Internacional garante provas de genocídio

A Amnistia Internacional (AI) denunciou ontem ter encontrado provas suficientes para concluir que Israel cometeu e continua a cometer genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza e condenou os ataques do Hamas, em Outubro de 2023.

Numa investigação que levou ao relatório “Sente-se Como Se Fosse Sub-Humano: O Genocídio de Israel contra os Palestinianos em Gaza”, a AI documenta como, durante a ofensiva militar após os ataques do movimento islamita palestiniano em território israelita, “Israel desencadeou o inferno e a destruição contra os palestinianos de forma descarada, contínua e com total impunidade”.

“O relatório da Amnistia Internacional demonstra que Israel levou a cabo actos proibidos pela Convenção sobre o Genocídio, com a intenção específica de destruir os palestinianos em Gaza. Estes actos incluem assassínios, actos com a intenção de causar lesões corporais ou mentais graves e infligir deliberadamente aos palestinianos em Gaza condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física”, afirma a Amnistia, que apresentou as conclusões da investigação numa conferência de imprensa na sede do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.

Segundo Agnès Callamard, secretária-geral da organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Londres, mês após mês, “Israel tem tratado os palestinianos em Gaza como um grupo sub-humano indigno dos direitos humanos e de dignidade, demonstrando a sua intenção de os destruir fisicamente”.

“As nossas conclusões condenatórias devem servir de alerta para a comunidade internacional. Isto é genocídio. Tem de acabar já. Os Estados que continuam a transferir armas para Israel devem saber que estão a violar a sua obrigação de prevenir o genocídio e correm o risco de se tornarem cúmplices do genocídio”, defendeu a AI, que anunciou para breve um relatório sobre os crimes perpetrados pelo Hamas e por outros grupos armados durante o ataque a Israel.

“Todos os Estados com influência sobre Israel, como os principais fornecedores de armas – Estados Unidos e a Alemanha, mas também mais Estados-Membros da União Europeia, o Reino Unido e outros – devem agir para pôr termo às atrocidades cometidas por Israel contra os palestinianos em Gaza”, prosseguiu Callamard, citada no relatório.

“A nossa investigação revela que, durante meses, Israel persistiu em cometer actos genocidas, plenamente consciente dos danos irreparáveis que estava a infligir aos palestinianos. Continuou a fazê-lo, desafiando os inúmeros avisos sobre a situação humanitária catastrófica e as decisões juridicamente vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que ordenavam a Israel que tomasse medidas para permitir a prestação de assistência humanitária aos civis em Gaza”, frisou Callamard.

Por outro lado, indicou a secretária-geral da AI, “Israel tem argumentado repetidamente que as suas acções em Gaza são legais e podem ser justificadas pelo seu objectivo militar de erradicar o Hamas”.
Mas, salientou, “a intenção genocida pode coexistir com objectivos militares e não tem de ser a única intenção de Israel”.

Sem precedentes

No relatório é referido que os crimes e atrocidades cometidos a 07 de Outubro de 2023 pelo Hamas e outros grupos armados contra israelitas e vítimas de outras nacionalidades, incluindo assassínios em massa deliberados e tomada de reféns, “nunca podem justificar o genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza”.

A Amnistia refere que as acções de Israel na retaliação aos ataques do Hamas tiveram uma escala e magnitude “sem precedentes”, numa “ofensiva brutal” que, segundo a organização, matou cerca de 42.000 palestinianos, incluindo mais de 13.300 crianças, e feriu mais de 97.000, até 07 de Outubro de 2024.

6 Dez 2024

Parlamento sul-coreano vota moção de destituição do Presidente do país no sábado

O parlamento da Coreia do Sul vai votar uma moção de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol no sábado, noticiou ontem a agência de notícias pública sul-coreana Yonhap. “O voto da moção de destituição do Presidente Yoon vai decorrer cerca das 19 horas de sábado”, declarou um deputado da oposição Jo Seoung-lae, citado pela Yonhap.

Entretanto, a polícia sul-coreana anunciou a abertura de um inquérito por “rebelião” contra Yoon, na sequência da imposição da lei marcial no país, suspensa horas mais tarde.

“O caso está em curso”, declarou o chefe de investigações da polícia, Woo Kong-suu, aos deputados. A última intervenção pública de Yoon ocorreu ao início da manhã de quarta-feira, quando suspendeu a lei marcial.

Na terça-feira à noite, Yoon comunicou ao país a imposição da lei marcial para “erradicar as forças a favor da Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional” das actividades “anti-estatais”, tendo acusado o principal bloco da oposição, o Partido Democrático (PD).

Poucas horas depois, o Presidente suspendeu a lei marcial, depois de a Assembleia Nacional ter revogado a decisão, numa sessão plenária extraordinária convocada numa altura em que milhares protestavam nas ruas de Seul.

Poder menor

Na quarta-feira, seis partidos da oposição na Coreia do Sul apresentaram uma moção para a destituição de Yoon. O PD e cinco outros partidos iniciaram assim o processo parlamentar que poderá levar ao afastamento do Presidente sul-coreano, cujo Partido do Poder Popular (PPD) governa em minoria.

O chefe da bancada parlamentar do PPD garantiu já que todos os 108 deputados do partido vão rejeitar a moção apresentada pela oposição para destituir o chefe de Estado. Ainda assim, o líder do PPP exigiu que Yoon Suk-yeol abandone a formação política.

Sete em 10 cidadãos apoiam moção

Sete em cada dez sul-coreanos apoiam a moção parlamentar de destituição do Presidente Yoon Suk-yeol, apresentada pela oposição, depois de o dirigente ter decretado lei marcial, indica ontem uma sondagem do Realmeter.

De acordo com a sondagem, 73,6 por cento da população sul-coreana apoia o processo parlamentar que poderá levar à suspensão do exercício do poder de Yoon, que, na terça-feira declarou a lei marcial para proteger a “ordem constitucional” contra actividades “anti-estatais” e “forças a favor da Coreia do Norte”.

A lei marcial foi revogada no parlamento cerca de seis horas depois de ser anunciada. Em contrapartida, 24 por cento dos cidadãos rejeitam a moção, apresentada na quarta-feira por seis grupos parlamentares – incluindo o principal partido da oposição, o liberal Partido Democrático (PD) de Lee Jae-myung – que anularam o estado de emergência de Yoon e agora contra-atacaram, dando início ao processo de destituição do Presidente.

Questionados sobre se as acções do Yoon podiam “constituir traição”, 70 por cento dos inquiridos responderam afirmativamente, contra 25 por cento que têm uma opinião contrária. A sondagem, com uma margem de erro de aproximadamente 4,4 por cento e um nível de confiança de 95 por cento, inquiriu 504 pessoas com mais de 18 anos.

Os promotores da moção argumentaram que Yoon violou a Constituição e outras leis com a declaração de lei marcial.

6 Dez 2024

Acidente | Treze desaparecidos em derrocada em construção de ferrovia

Pelo menos 13 trabalhadores foram dados como desaparecidos, depois de o solo ter abatido num estaleiro de uma obra ferroviária em Shenzhen, no sul da China, anunciaram ontem as autoridades locais. O solo “cedeu subitamente” sob um troço da linha Shenzhen-Jiangmen na quarta-feira à noite, indicou, em comunicado, o Gabinete de Gestão de Emergências do Distrito de Bao’an.

Até ao momento não foram encontradas vítimas, mas as buscas continuam. As autoridades também retiraram os residentes das zonas circundantes, acrescentou, na mesma nota. Foi iniciada uma investigação para determinar a causa da derrocada.

Fotografias e vídeos partilhados nas redes sociais mostram uma grande cavidade no solo, rodeada de materiais de construção derrubados. As principais autoestradas perto do local foram fechadas ontem de manhã para facilitar as operações de resgate, disseram as autoridades locais.

A construção do troço que liga Shenzhen a Jiangmen, na província de Guangdong, arrancou em 2022. O desmoronamento do solo nos estaleiros de construção ocorre quando o terreno já não consegue suportar o peso das estruturas e acontece frequentemente em zonas densamente povoadas, em terrenos frágeis ou durante projetos de grande escala.

A instabilidade geológica, as técnicas de escavação inadequadas ou o incumprimento das normas de segurança são as principais causas.

6 Dez 2024

Pequim anuncia sanções contra 13 empresas norte-americanas por venderem armas a Taiwan

A China anunciou ontem um novo conjunto de sanções contra 13 empresas norte-americanas, por venderem armas a Taiwan, advertindo que a “independência” da ilha é “incompatível” com a paz entre os dois lados do Estreito.

Numa conferência de imprensa, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, declarou que as repetidas vendas de armas a Taiwan pelos Estados Unidos constituem “uma grave violação do princípio de ‘Uma só China’” e uma “séria interferência nos assuntos internos” do país asiático.

Lin Jian instou Washington a “honrar os seus compromissos de não apoiar a independência de Taiwan” e “deixar imediatamente de armar” a ilha.

De acordo com um comunicado publicado pela diplomacia chinesa, as 13 empresas afectadas incluem entidades envolvidas no fabrico de veículos aéreos não tripulados, inteligência artificial ou comunicação militar.

As empresas são a Teledyne Brown Engineering, BRINC Drones, Rapid Flight, Red Six Solutions, Shield AI, SYNEXXUS, Firestorm Labs, Kratos Unmanned Aerial Systems, HavocAI, Neros Technologies, Cyberlux Corporation, Domo Tactical Communications e Group W.

Os activos destas empresas na China vão ser congelados e os indivíduos e organizações chinesas vão ser proibidos de cooperar com elas. As medidas afectam também os quadros superiores destas instituições, que ficaram igualmente sujeitos ao congelamento de bens na China e à recusa de vistos de entrada desde ontem.

Déjà vu

Em Outubro passado, a China já tinha sancionado três empresas de defesa norte-americanas, também por fornecerem armas a Taiwan. Esta nova vaga de sanções foi anunciada no mesmo dia em que o líder de Taiwan, William Lai, fez uma escala no território norte-americano de Guam, no âmbito da sua digressão pelo Pacífico Sul.

A questão de Taiwan é um dos principais pontos de fricção entre Pequim e Washington, uma vez que os Estados Unidos são o principal fornecedor de armas a Taipé.

6 Dez 2024

Comércio | Retirada de estatuto de Pequim abalaria alicerces

O embaixador da China nos Estados Unidos afirmou ontem que a eventual revogação do estatuto de nação favorecida, a nível comercial, do país por Washington “abalaria as bases” do comércio mundial.

Num discurso proferido na Câmara Geral de Comércio da China, em Chicago, Xie Feng afirmou que “qualquer tentativa de pôr termo” à designação da China como nação com “relações comerciais normais permanentes (PNTR) espezinharia as regras económicas e comerciais internacionais e abalaria os próprios alicerces do sistema comercial global”.

As observações de Xie referem-se a um projecto de lei apresentado em Novembro pelo congressista republicano John Moolenaar para retirar aquele estatuto, de que China beneficia desde 2000, para “deixar de permitir que o Partido Comunista Chinês se aproveite dos Estados Unidos”, afirmando que as relações comerciais “corroeram” a indústria transformadora norte-americana e transferiram postos de trabalho para o “principal adversário”.

O embaixador chinês afirmou que o estatuto PNTR “não é um favor unilateral dos Estados Unidos, mas uma obrigação de todos os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC)”.

A “dissociação” das cadeias de abastecimento da China equivaleria a “dar um tiro no pé” para os EUA, apontou o diplomata, acrescentando que a guerra comercial “tornou-se numa ‘espada de Dâmocles’ que paira sobre as empresas norte-americanas”. “Transformar as taxas alfandegárias numa arma não é uma panaceia e pode facilmente provocar um círculo vicioso de retaliação”, alertou o emissário chinês.

Xie apelou para “uma nova visão” nas relações entre Pequim e Washington: “O que devemos escolher: ser amigos de 1,4 mil milhões de pessoas ou estar um contra o outro? A resposta é óbvia. Nesta encruzilhada, não podemos voltar atrás ou dar um passo em frente e dois passos atrás”.

Laços em jogo

O regresso à Casa Branca do republicano Donald Trump, que lançou a guerra comercial contra a China, em 2018, no primeiro mandato, ameaça agravar as fricções entre os dois países. A China beneficia do estatuto de economia em desenvolvimento, o que garante tratamento preferencial.

Em causa estão benefícios em tratados internacionais em vigor, que visam apoiar os países mais pobres. As nações em desenvolvimento estão, por exemplo, sujeitas a menos restrições na luta contra as alterações climáticas e as exportações para os países ricos beneficiam de taxas aduaneiras baixas.

Ao abrigo do estatuto de país em desenvolvimento, a China continua, também, a obter empréstimos com taxas preferenciais de organizações internacionais, como o Banco Mundial.

6 Dez 2024

Febre de dengue | Registado mais um caso importado

Os Serviços de Saúde (SS) registaram, esta quarta-feira, mais um caso importado de febre de dengue, sendo este o 38.º caso importado registado em Macau. Trata-se de uma mulher de 30 anos, residente, moradora do edifício Praia Park, bloco 10, na zona de Seac Pai Van, em Coloane.

Entre os dias 23 e 25 de Novembro, a mulher deslocou-se às regiões de Zhongshan e Foshan com a família para visitar familiares, tendo começado a sentir os primeiros sintomas no dia 29, nomeadamente febre, dores musculares ou nas articulações, entre outras.

Regressada a Macau, a mulher deslocou-se ao Hospital Kiang Wu para tratamento médico, nos dias 2 e 4 de Dezembro, tendo sido diagnosticada com febre da dengue apenas esta quarta-feira. Os SS denotam que o seu estado de saúde “é considerado estável”, e que os familiares com quem vive não apresentam sintomas de doença.

Os SS detectaram também, na quarta-feira, um caso colectivo de gastroenterite numa turma da creche da Escola Kao Yip, na Rua Nova da Ilha Verde, tratando-se de cinco crianças que apresentaram, no dia 30 de Novembro, sintomas como vómitos e diarreia, tendo sido submetidos a tratamento médico. Três crianças foram internadas, sendo o estado clínico “considerado estável”. Os restantes doentes não sofreram de doenças graves ou outras complicações graves. Foi excluída a possibilidade de gastroenterite alimentar em conformidade com as horas de refeições de pacientes. “De acordo com as horas de ocorrência da doença, os sintomas, o período de incubação, é provável que o agente patogénico esteja relacionado com uma infecção viral”, descrevem os SS.

6 Dez 2024

Burlas | Registados mais casos com falsos agentes

Há mais casos de burla realizados por falsos agentes das Forças de Segurança de Macau (FSM). Segundo uma nota divulgada ontem pela Polícia Judiciária (PJ), foram recebidas “informações de várias empresas de Macau, de diversos sectores” sobre o facto de vários “indivíduos nas redes sociais se fazerem passar por agentes das FSM”.

A burla é feita através do envio de mensagens nas redes sociais em que se pede às vítimas cotações de produtos. “Mais tarde é pedido aos comerciantes que encomendem produtos específicos a determinados fornecedores, tais como coroas de flores, vinho tinto ou colchões. Antes de procederem à encomenda, o burlão envia uma captura de ecrã falsa sobre a remessa bancária, alegando ter efectudo o pagamento integral da mercadoria, levando o comerciante a avançar com o pagamento ao falso fornecedor.”

Porém, a PJ relata que alguns dos “comerciantes envolvidos reconheceram a tempo estarem perante uma situação de burla e evitaram ser enganados”, sendo que este esquema foi utilizado “em meados de Novembro, tendo causado prejuízos a várias lojas”. A mesma nota dá conta que “todos os sectores estão vulneráveis a esta prática de burla”.

6 Dez 2024

Macau Legend | Governo cabo-verdiano acusado de “acto ofensivo”

A Macau Legend acusou o Governo cabo-verdiano de “acto ofensivo” por ter extinto, sem avisar, contratos e concessões do empreendimento de jogo e turismo previsto para a capital, Praia, que nunca chegou a concluir.

O empreendimento de milhões de euros, anunciado há dez anos, deixou parte da marginal da cidade entaipada, bloqueando o que era antes a Praia da Gamboa, com um hotel-casino de oito andares que permanece vazio.

O Governo diz que agiu para resolver a situação, mas a empresa contesta. “Estes actos administrativos de resolução de contratos e reversão dos bens para o Estado foram decretados sem que a Macau Legend Development (MLD) tivesse sido previamente notificada de qualquer decisão do procedimento administrativo em curso”, lê-se num comunicado publicado pela empresa no semanário Expresso das Ilhas.

“A MLD lançará, de imediato, mão dos meios legais ao seu dispor para defesa dos seus direitos e confia que, enquanto as razões relativas a estes contratos não forem dirimidas, o Estado de Cabo Verde não praticará mais nenhum acto ofensivo dos seus direitos, enquanto investidora”, acrescentou.

No âmbito do processo administrativo, a promotora diz que tem mantido o Governo a par de “negociações com investidores interessados” no empreendimento, pedindo “a definição dos elementos essenciais” para proteger “os interesses públicos de Cabo Verde”.

A empresa queixa-se de o Governo ter ignorado os pedidos e de só a ter notificado da decisão de extinguir tudo e reverter os bens, por correio electrónico, um dia depois da publicação em Boletim Oficial.

6 Dez 2024

Português | Macau em grupo de reflexão sobre a língua

Representantes de vários países falantes de português estão reunidos, pela primeira vez, numa sessão de dois dias que termina hoje, na Praia, Cabo Verde, para articular temas como a definição de novas palavras ou estratégias de ensino, entre outros.

O Grupo Multilateral de Reflexão é uma ideia do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e pretende “promover uma gestão mais multilateral” do Português, juntando entidades com um papel “na definição de políticas públicas para o uso, a promoção e difusão da língua portuguesa”, foi anunciado em comunicado.

O IILP faz parte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e neste encontro vão participar representantes de cinco Estados-membros: Cabo Verde, Angola, Brasil, Portugal e Timor-Leste, a par de uma delegação da Região Administrativa Especial de Macau, pela primeira vez envolvida a este nível em acções do IILP.

A agenda prevê a partilha de informação sobre “o panorama do ensino do português em cada país” e análise de “possíveis mecanismos de articulação e de definição de critérios comuns” em matérias como “os processos de renovação do léxico”, ou seja, do conjunto de palavras da língua.

6 Dez 2024

Idosos | IAS estende base de dados a outras instituições

O Instituto de Acção Social (IAS) assegura que a base de dados sobre idosos que vivem sozinhos está a ser alargada a fim de abranger mais instituições de cariz social, lê-se na resposta a uma interpelação escrita do deputado Lam Lon Wai.

Assim, o IAS promete “optimizar os métodos de recolha de dados” da “Base de Dados dos Utentes dos Serviços para Idosos Isolados e Famílias com Casais de Idosos”, estando “a expandir gradualmente a cobertura para outras instituições de serviço social”.

Além disso, o IAS irá continuar a desenvolver o projecto “Happy Elderly Home – Projecto Piloto de Serviços de Apoio aos Cidadãos Seniores Isolados”, que numa primeira fase irá funcionar na Residência do Governo para Idosos como teste. Depois, “os serviços serão expandidos para outras zonas de Macau”, além de que, no próximo ano e através deste projecto piloto, será criado “um serviço destinado à detecção dos idosos ocultos, por forma a identificar proactivamente esses idosos na comunidade”. “As informações dos utentes dos dois serviços acima mencionados serão registadas na base de dados, no intuito de alargar ainda mais a cobertura da mesma”, lê-se na mesma resposta.

6 Dez 2024

Função pública | Deputado alerta para presença de portugueses e macaenses

O deputado Leong Sun Iok defendeu, segundo a TDM Rádio Macau, que o novo estatuto dos funcionários públicos deve ter em conta a existência de trabalhadores portugueses e macaenses, visto que as alterações prevêem a obrigatoriedade de prestação de juramento, respeito pelas decisões da Assembleia Popular Nacional e proibição de contactos com figuras ou entidades consideradas “anti-China”.

Para o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários, a proposta de lei inclui “conceitos pouco específicos” no tocante aos deveres dos trabalhadores em matéria de segurança nacional. Enquanto isso, Pang Kung Hou, presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Origem Chinesa, disse que o juramento não é a parte mais importante da revisão do Estatuto.

“Todos aceitamos muito bem esta alteração na questão do juramento. Fidelidade à República Popular da China e à RAEM é essencial. Acho que é mais importante a parte de optimização do mecanismo de fiscalização de faltas devido a doença. Defendo que deve ser mais flexível”, rematou.

6 Dez 2024

TUI | Song Man Lei toma hoje posse como presidente

Song Man Lei toma hoje posse no cargo de Presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), por um período de três anos que começou a contar na passada segunda-feira, numa cerimónia que está marcada para as 15h30 na sala de audiência n.º 1 do Edifício dos Tribunais de Segunda e Última Instâncias.

A magistrada toma assim oficialmente o lugar do Chefe do Executivo eleito, Sam Hou Fai, chegando ao topo da hierarquia judicial da RAEM, atingindo mais um marco depois de, em 2012, ter sido a primeira mulher a ser nomeada para o TUI.

Em 1996, foi também a primeira mulher a exercer o cargo de delegada do Procurador do Ministério Público. Nascida em 1966, Song Man Lei completou a licenciatura e mestrado em Direito na Universidade de Pequim, tendo frequentado posteriormente um curso de língua portuguesa na Universidade de Coimbra. Este ano, foi a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo, que organizou a selecção de Sam Hou Fai como líder do próximo Governo.

6 Dez 2024

Oposição apresenta moção de destituição do Presidente da Coreia do Sul

Seis partidos da oposição na Coreia do Sul apresentaram ontem uma moção para a destituição do Presidente Yoon Suk-yeol, depois de este ter visto revogada a lei marcial que decretou na véspera. O Partido Democrático (PD) e cinco outros partidos iniciaram assim o processo parlamentar que poderá levar à suspensão do poder do Presidente sul-coreano, cujo partido governa em minoria.

Na terça-feira à noite, Yoon comunicou ao país a imposição da lei marcial para “erradicar as forças a favor da Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional” das actividades “anti-estatais”, tendo acusado o principal bloco da oposição, o Partido Democrático (PD).

Poucas horas depois, o Presidente suspendeu a lei marcial, depois de o parlamento da Coreia do Sul, a Assembleia Nacional, ter revogado a decisão, numa sessão plenária extraordinária convocada numa altura em que milhares protestavam nas ruas de Seul.

A apresentação da moção de destituição foi anunciada à comunicação social na Assembleia Nacional pelos 192 deputados dos seis partidos. Os promotores indicaram que tencionam votar a proposta na sexta-feira ou no sábado, dentro do prazo legal de 72 horas para a tramitação deste tipo de iniciativas, uma vez apresentadas.

Para que a proposta seja aprovada, será necessário o apoio de pelo menos 200 dos 300 lugares que compõem o parlamento da Coreia do Sul. O PD e outras forças tinham obtido 190 votos na véspera para revogar a lei marcial, o que significa que só precisariam de mais dez votos para afastar Yoon.

Cerco de críticas

O Partido do Poder Popular, do próprio Yoon, criticou a decisão de aplicar a lei marcial, com o líder do partido, Han Dong-hoon, a prometer trabalhar para “acabar com ela juntamente com o povo”, tendo alguns dos seus deputados votado a favor da revogação.

Se a moção for aprovada, Yoon Suk-yeol será destituído das funções até que o Tribunal Constitucional delibere, durante um período máximo de 180 dias, sobre uma eventual violação da Constituição.

Ministro demite-se

O ministro da Defesa sul-coreano, Kim Yong-hyun, pediu ontem desculpa ao país e apresentou a demissão após a tentativa falhada do Presidente Yoon Suk-yeol de impor a lei marcial. “Peço desculpa por ter causado confusão e preocupação ao público relativamente à lei marcial”, afirmou Kim num comunicado, segundo a agência sul-coreana Yonhap.

“Assumo a responsabilidade por todos os assuntos relacionados com a lei marcial e apresentei a minha demissão ao Presidente”, anunciou, também citado pela agência francesa AFP. Kim ilibou os soldados que desempenharam funções relacionadas com a lei marcial, referindo que estavam a cumprir as suas ordens como ministro da Defesa.

Milhares na rua

Milhares de manifestantes a manifestaram-se ontem no centro de Seul exigindo a destituição do Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, cuja tentativa de impor a lei marcial na noite de terça-feira mergulhou o país no caos político. Segurando cartazes com frases como “Yoon Suk-yeol deve-se demitir”, os manifestantes marcharam pela avenida principal da capital coreana em direcção ao parlamento para se encontrarem com outro protesto organizado pelos partidos da oposição, disseram os jornalistas da agência de notícias AFP.

Os sul-coreanos saíram às ruas para demonstrar a sua insatisfação com o Yoon Suk-yeol, cuja tentativa de impor a lei marcial no país, na terça-feira, chocou os cidadãos desta jovem democracia. Ao longo do dia, as ruas da capital Seul foram atravessadas por pequenos grupos de manifestantes e polícias, enquanto os sindicatos convocavam uma greve geral e a oposição exigia a demissão do presidente, acusando-o de rebelião.

5 Dez 2024

Mar do Sul | Novo confronto com embarcações filipinas

As Filipinas afirmaram ontem que a guarda costeira chinesa utilizou canhões de água e embateu contra um navio no mar do Sul da China, enquanto Pequim disse que se limitou a “exercer controlo”.

Pequim disse que os navios chineses apenas “exerceram controlo (…) em conformidade com a lei”. “No dia 4 de Dezembro, vários navios filipinos, incluindo navios da Guarda Costeira, tentaram entrar nas águas territoriais chinesas em torno da ilha de Huangyan”, declarou Liu Dejun, porta-voz da Guarda Costeira chinesa, utilizando o nome chinês do recife de Scarborough.

Os navios filipinos “aproximaram-se perigosamente das patrulhas regulares da Guarda Costeira chinesa”, acrescentou. Na quinta-feira passada, o Exército chinês anunciou que ia enviar uma patrulha para perto do recife de Scarborough para “defender firmemente” a soberania, num contexto de tensões bilaterais recorrentes.

Um vídeo publicado pelo Grupo de Trabalho Nacional de Manila para o Mar do Sul da China mostra uma embarcação da Guarda Costeira chinesa a embater contra um barco do Gabinete de Pescas e Recursos Aquáticos, uma agência governamental filipina.

A embarcação chinesa “disparou um canhão de água contra o BRP Datu Pagbuaya [nome do navio], apontando directamente para as antenas de navegação”, afirmou, em comunicado, o porta-voz da Guarda Costeira das Filipinas para o mar do Sul da China, comodoro Jay Tarriela.

A guarda costeira “embateu intencionalmente” contra o navio filipino, antes de disparar uma segunda salva de canhões de água, acrescentou Tarriela. Situado numa zona rica em recursos piscatórios, o recife é reivindicado pela China, que assumiu o controlo em 2012, e pelas Filipinas.

5 Dez 2024

Justiça | Pequim quer juízes focados na resolução de conflitos

Os últimos ataques sangrentos no país levaram um responsável político a apelar à maior consciencialização da justiça na resolução dos conflitos para evitar a escalada de casos e manter a estabilidade social

 

A justiça chinesa deve prestar mais atenção à resolução de conflitos, em vez de se limitar a encerrar casos, afirmou ontem um responsável judicial do país, após uma série de ataques indiscriminados que fizeram dezenas de mortos.

Wang Chengguo, secretário da Comissão de Assuntos Políticos e Jurídicos da província de Zhejiang, escreveu no Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, que o sistema judicial chinês deve concentrar-se na manutenção da estabilidade social como a “principal tarefa”.

A China enfrenta “um número crescente de factores incertos e imprevisíveis”, e a aplicação da lei e o trabalho judicial servem para “alcançar a justiça em casos individuais, reparar relações sociais e fazer avançar a governação social”, afirmou.

Se os funcionários se concentrarem nos procedimentos judiciais e tiverem como único objectivo encerrar rapidamente os casos, ignorando a justiça individual, ou se aplicarem as leis de forma mecânica, para simplificar os casos sem resolver problemas reais, poderão “intensificar os conflitos entre as partes envolvidas”, escreveu Wang.

Apelou para a resolução dos problemas e ao reforço da governação “na raiz” para evitar “a escalada de vários riscos sociais”. O comentário surgiu depois de uma série de assassínios em massa.

Série de desastres

A 11 de Novembro, um homem conduziu deliberadamente contra uma multidão de pessoas que faziam exercício em Zhuhai, na província de Guangdong, vizinha de Macau, causando 35 mortos e 43 feridos. A 16 de Novembro, numa escola profissional em Wuxi, na província de Jiangsu, um antigo estudante matou oito pessoas e feriu 17 num ataque com faca.

Três dias depois, um homem atropelou um grupo de pais e filhos à porta de uma escola primária em Changde, na província central de Hunan. A polícia local informou que várias crianças ficaram feridas e necessitaram de tratamento hospitalar, mas não se registaram mortes.

A polícia local indicou que o suspeito do ataque em Zhuhai, um homem de 62 anos, estava descontente com as decisões do tribunal relativas à divisão dos bens no âmbito do divórcio.

Wang afirmou que, para promover a harmonia social no trabalho judicial, devem existir leis e regulamentos, bem como um mecanismo de resolução de conflitos para incentivar a comunicação entre as partes e procurar um compromisso que satisfaça todos os envolvidos.

O responsável pediu aos voluntários das comunidades residenciais para participarem na resolução de conflitos e apelou para a utilização de grandes volumes de dados e de outras medidas técnicas para promover a eficiência.

Os funcionários devem melhorar as capacidades e “actuar como uma ponte de comunicação” para equilibrar os interesses de todas as partes e resolver os problemas de forma criativa, escreveu.

No mês passado, o Ministério da Justiça da China organizou uma reunião para discutir medidas específicas para a resolução de conflitos e pediu aos funcionários locais para que analisassem “questões matrimoniais, relações de vizinhança, heranças, disputas de propriedade e de terras e salários em atraso”, numa tentativa de “eliminar os problemas pela raiz”.

5 Dez 2024

O jardim do Oriente em Zhenzhou (Zhenzhou Dongyuan ji)

Por Ouyang Liu*

Zhenzhou situa-se na confluência de vários rios do sudeste e controla o transporte no Grande Rio (Yangzi), no Huai, nos dois rios Zhe e no Jinghu. O Secretário Shi Zhengchen e o Censor Xu Zichun estão aí colocados, tendo como assistente o Censor Ma Zhongtu. Os três homens, satisfeitos com as suas boas relações, passaram os seus tempos livres a transformar um local militar abandonado no Jardim Oriental que visitam todos os dias.

Neste outono, na oitava lua, Zichun veio em missão à capital. Trazia consigo um quadro que tinha feito do seu jardim, que me mostrou, dizendo: “Este jardim cobre uma superfície de cem mu (6,5 hectares). Um rio corta-o à frente, um lago de água pura irriga-o a oeste e um terraço alto ergue-se a norte. No terraço, temos um quiosque que se esgueira pelas nuvens para contemplar o céu longínquo; na margem do lago, um pavilhão aéreo onde nos podemos debruçar sobre a água límpida; no rio, um barco com dossel pintado para passear. No centro, abrimos um espaço onde construímos um salão para receber e tratar os nossos amigos, com um campo atrás para atirar setas. Onde antes havia um campo de silvas afogado numa névoa cinzenta e fria, a frescura dos lótus e da macer, o perfume das orquídeas e da angélica alternam com as sombras misturadas das belas árvores alinhadas ao lado destas flores requintadas. Onde antes havia um terreno baldio de muros em ruínas e valas alagadas, os telhados altos suportados por longas vigas reflectem a sua imagem na água iluminada pelo sol, dançando, mergulhando e subindo; a descontração e a calma ecoam os sons da distância e atraem um vento curativo. Onde outrora os gritos das doninhas e de outros animais selvagens se erguiam na escuridão das tempestades, os habitantes da cidade, homens e mulheres, passeiam em dias de sol ou de festa ao som de canções e de música.

“Não nos poupámos a esforços. Mas o que vêem neste quadro dá apenas uma ideia ténue deste jardim. Quando subimos ao terraço para contemplar o rio e as montanhas próximas ou distantes, quando nos divertimos no rio seguindo os voos e os mergulhos dos peixes e das aves, a sedução do que anima à nossa volta, a alegria de contemplar a paisagem são sentimentos que só o caminhante conhece. Tudo o que a pintura não consegue representar, já não sou capaz de exprimir por palavras. Talvez pudesse escrever algumas palavras sobre o nosso jardim”.

E acrescentou: “Zhenzhou é uma encruzilhada por onde passam viajantes dos quatro cantos do império; convidamo-los a partilhar os nossos prazeres, porque havemos de ser os únicos a desfrutá-los? O lago e o terraço são cada vez mais elegantes, as flores e as árvores são cada vez mais abundantes. Não passa um dia sem que haja visitantes de todo o lado. Não seria de partir o coração para nós os três se tivéssemos de deixar este sítio? E se não escrevermos sobre o nosso jardim, quem saberá mais tarde que é obra de nós os três? As grandes qualidades destes três homens permitiram-lhes trabalhar em conjunto e ser úteis nos seus empregos. Eles sabem o que é preciso fazer. Asseguram a prosperidade da Corte e da população do país, onde não se ouvem queixas, e só então relaxam, partilhando os seus prazeres com a boa gente de todo o império. Tudo isto é admirável e merece ser relatado.”

Trad. Miguel Lenoir

*Ouyang Xiu (1007-1072) foi um “funcionário letrado” exemplar, tão respeitado pela sua carreira (embora duas vezes desonrado) como pela sua obra literária, tão preocupado com o bem público como com o lazer refinado da reforma. O ideal de harmonia que apaga o conflito pode ser visto no jardim não muito longe de Nanjing, que ele provavelmente nunca viu.

5 Dez 2024

Junto à lagoa (Chishang pian xu)

Por Bai Juyi

A forma do terreno, a água e a vegetação contribuem para que a parte sudeste de Luoyang 1 seja a mais bela da cidade, e o bairro mais bonito é o de Caminho des Socques, cujo canto noroeste é o mais belo. A primeira casa, junto à muralha a norte do portão oeste, é o local onde o velho Bai Letian se reformou. Tem uma superfície de dezassete mu2, dos quais um terço é ocupado pela habitação, um quinto pela água e um nono pelos bambus, com um lago, ilhas, pontes e caminhos. Quando Letian se tornou seu senhor, disse para si próprio, no meio da sua alegria: “Eu tenho um jardim com um lago, mas não se pode sobreviver lá sem um abastecimento de cereais.” Por isso, construiu um celeiro a leste do lago. Depois disse para si próprio: “Tenho discípulos, mas não tenho livros para ensinar”. E construiu uma biblioteca a norte da lagoa. Depois disse para si próprio: “Tenho visitas e amigos, mas não tenho cítara nem vinho para os entreter”. E construiu um quiosque a oeste da lagoa para tocar a cítara e servir os jarros.

Quando Letian deixou o seu cargo de prefeito de Hangzhou, trouxe para Luoyang uma pedra do monte Tianzhu e dois guindastes de Huating. Foi nessa altura que construiu a ponte recta do lado oeste do lago e o passadiço à sua volta.Quando deixou o cargo de prefeito de Suzhou3 , trouxe uma pedra do Lago Taihu, lótus brancos, dois chifres de macer e um barco verde. Em seguida, construiu a ponte em arco no centro do lago que liga as três ilhas.

Quando deixou o seu cargo de Vice-Ministro da Justiça, regressou a casa com cinco mil alqueires de cereais, uma carroça cheia de livros e dez pequenos músicos. Antes disso, Chen Xiaoshan, de Yingchuan, tinha-lhe dado uma receita para destilar um vinho delicioso; Cui Huishu, de Boling, tinha-lhe dado uma cítara com um som muito puro; Jiang Fa, de Shu, tinha-lhe ensinado a melodia etérea Pensamento de outono; Yang Zhen, de Hongnong, tinha-lhe dado três pedras de granito polido e uniforme onde se sentar ou deitar. No verão do terceiro ano da era Dahe (829), Letian foi nomeado Conselheiro do Príncipe Herdeiro; este cargo, sem responsabilidades, permitia-lhe ficar em Luoyang e descansar junto ao lago.

Tudo o que adquiri durante as três funções importantes que exerci, tudo o que estes quatro amigos me deram, todas estas coisas preciosas caíram nas mãos do meu eu inepto, como se fossem para o fundo do lago.

Quer a água seja enrugada pelo vento na primavera ou reflicta a lua no outono, quer de manhã exale o perfume dos lótus que se abrem, quer à noite os grous estalem sob o orvalho puro, acaricio as pedras de Yang, bebo o vinho de Chen, pego na cítara de Cui para tocar a ária de Jiang, tão tomado de felicidade que esqueço tudo o resto. Bêbado, largo a cítara e peço aos pequenos músicos para irem ao coreto da ilha do meio tocar a ária O vestido arco-íris; a melodia flutua, levada pelo vento, ora concentrada, ora dispersa, e sobe e desce entre os bambus envoltos em névoa e a água enluarada. A canção ainda não tinha acabado quando Bai Letian, felizmente embriagado, adormece numa pedra. E quando um dia acordou, improvisou algo que rimava e não rimava, que Agui, o seu sobrinho, transcreveu com o seu pincel. Quando viu este grande pedaço de escrita, chamou-lhe À beira da lagoa :

Uma casa de dez mu, um jardim de cinco, um lago, mil bambus. Não digam que é pequena, longe de tudo. É suficiente para dormir e descansar. Há várias salas, um quiosque, uma ponte, um barco, livros, vinho, comida, canções e uma cítara. E, no meio, um velho de barbas brancas que sabe apreciar o que tem sem procurar algo melhor lá fora, como um pássaro que escolhe galhos para o seu ninho, como uma rã no fundo de um poço que desconhece o vasto mar. Grous maravilhosos, pedras raras, lótus brancos, tudo o que amo está ali diante dos meus olhos. Por vezes, levanto a minha chávena ou recito um poema. A minha mulher e os meus filhos alegram-se, os galos e os cães estão calmos. Sinto-me tão bem, é aqui que quero envelhecer!

Trad. Miguel Lenoir

1. Anteriormente conhecida como a capital “oriental”, a capital Tang era Chang’an (Xian). As cidades estavam divididas em bairros rectangulares separados por muralhas.

2. O mu, que tem variado ao longo dos tempos, equivale a cerca de um décimo quinto de um hectare. Dezassete mu são, portanto, pouco mais de um hectare.

3. Suzhou continua a ser famosa pelos seus jardins. As pedras do lago Taihu, situado nas proximidades, eram as mais procuradas em todo o lado.

5 Dez 2024

Literatura | Maria Teresa Horta na lista da BBC das 100 mulheres mais influentes

A escritora portuguesa Maria Teresa Horta foi incluída numa lista elaborada pela estação pública britânica BBC de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, que inclui artistas, activistas, advogadas ou cientistas.

A escritora e jornalista portuguesa é descrita como “uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados” destacando as “Novas Cartas Portuguesas”, escrito em co-autoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.

O livro no qual as autoras denunciavam as opressões a que as mulheres eram sujeitas, no contexto da ditadura, da violência fascista, da guerra colonial, da emigração e da pobreza que dominava o país, foi banido e censurado pelo regime.

A proibição daquela obra pelo governo autoritário no ano da publicação, em 1972, e o julgamento do processo conhecido por “Três Marias”, por alegada ofensa à moral pública, segundo os padrões da censura, “fez manchetes e inspirou protestos em todo o mundo”, escreve a BBC.

O impacto internacional da obra deu-se logo pouco depois da sua divulgação em França pela escritora Simone de Beauvoir, e pelo conhecimento público do processo de que as “Três Marias” estavam a ser alvo, com a cobertura do julgamento feita por meios de comunicação internacionais (entre os quais Le Monde, Time, The New York Times, Nouvel Observateur e televisões norte-americanas), manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal no estrangeiro e a defesa pública da obra e das autoras por várias personalidades internacionais, como Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch e Delphine Seyrig.

Estas acções fizeram com que o caso fosse votado, em Junho de 1973, numa conferência da National Organization for Women (NOW), em Boston, como a primeira causa feminista internacional.

O caso foi simbólico na queda do regime pela Revolução de 25 de Abril de 1974, a qual celebrou este ano o 50.º aniversário, recorda a BBC.

A lista “BBC 100 Women” deste ano inclui nomes de pessoas mais conhecidas, como a actriz norte-americana Sharon Stone, a artista britânica Tracey Emin, a sobrevivente do caso de violação em França Gisèle Pelicot e a iraquiana Nadia Murad, vencedora do Prémio Nobel da Paz.

As brasileiras Lourdes Barreto, activista pelos direitos das prostitutas, e a ginasta Rebeca Andrade e a bióloga Silvana Santos também estão na lista, que teve em conta a imparcialidade e a representação regional.

Percurso de peso

Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube, militante activa nos movimentos de emancipação feminina, jornalista do jornal A Capital e dirigente da revista Mulheres.

Como escritora, estreou-se no campo da poesia em 1960, mas construiu um percurso literário composto também por romance e conto. Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.

5 Dez 2024

Nova edição de Festival Internacional da Creative até terça-feira

Decorre até à próxima terça-feira, 10, a nova edição do Festival Internacional de Curtas-metragens de Macau, um evento organizado pela Creative Macau e que mostra o que de melhor se faz no género curta, documentário ou animação a nível mundial. Mais uma vez, as sessões decorrem no Teatro Capitol, bem no centro da cidade.

Destaque para a sessão de hoje que começa às 14h com a secção “Shorts Fiction”, com a exibição de “Son”, de Saman Hosseinpuor, da Suíça e Irão, e “Spiritum”, do México, do realizador Adolfo Margullis. Da China chegam-nos as produções “One More Chance”, de Wu Hanmo; “Growing Pains”, de Shengwen Ruan; ou ainda “Where Does the Bird Fly”, de Dorji Gyaltsen.

Destaque ainda para a secção deste festival dedicada às produções cinematográficas da Grande Baía. Hoje exibe-se “Wena”, inserida na secção “Expanded Cinema – Greater Bay Area – Fiction”, da autoria de Natalie Kung, de Hong Kong.

De Macau apresentam-se, nestes dias, películas como “A Long Journey to Farewell”, de Chen Meng Hang Yangpei; “One Night Legends”, de Jenny Wan; “Change”, de Sherwin Hng ou ainda “Finding You Ying in…What is it?”, da aclamada realizadora local Tracy Choi e Xu Wei.

Em nome de Portugal

Esta sexta-feira será a vez de exibir uma película portuguesa. “O Estado de Alma”, de Sara Naves, é uma curta-metragem de animação que conta a história de Alma, uma menina que “acorda todos os dias com uma nova condição, sofrendo as mais variadas transformações físicas que reflectem os seus sentimentos de inadequação e a impedem de seguir uma rotina diária normal”. Neste filme, Alma sente-se, a cada dia que passa, “gradualmente mais só e afastada de todos”.

Ainda nas curtas de ficção apresenta-se “Sonido: Ivans & Tobis”, de Diogo Baldaia; ou ainda “As Gaivotas Cortam o Céu”, de Mariana Bártolo e Guillermo García López.

Destaque também para a realização de algumas masterclasses, nomeadamente no sábado. Uma delas, que começa às 17h, intitula-se “Narrative Odyssey: A Journey Through Storytelling Mediums” e conta com Soumitra Ranade como oradora. Às 19h é a vez de Lúcia Lemos, ex-directora da Creative Macau, fazer um balanço dos filmes de ficção mais poderosos que passaram pelo festival entre os anos de 2015 e 2023.

Na segunda-feira, serão ainda exibidos mais documentários a partir das 14h, nomeadamente “Chri$stine”, de Christine Seow, de Singapura; ou “O que nos espera”, de Chico Bahia e Bruxo Xavier, do Brasil. O festival encerra com uma gala de atribuição de prémios e concertos a partir das 17h30.

A organização sublinhou que recebeu “um número final impressionante de 5.836 candidaturas de mais de 130 países de regiões”.

Na edição de 2023, a primeira com a presença de realizadores estrangeiros após a pandemia de covid-19, o festival tinha recebido 4.051 trabalhos para a selecção oficial, sendo que a lista de finalistas incluiu obras oriundas de 51 países. O vencedor do festival pode receber um prémio de até 20 mil patacas.

A audiência poderá votar nos favoritos nas categorias de Ficção, Documentário e Animação, podendo participar também na escolha do Melhor Filme do Público.

“O cinema é um entretenimento para narrar acontecimentos, documentários, comédia e histórias. Este é particularmente o caso das tecnologias actuais que servem para proporcionar um pódio para os cineastas transportarem as suas histórias para o público”, afirmou a directora do festival, Margarida Cheung Vieira.

O evento vai ainda acolher três masterclasses ministradas por profissionais e cineastas sobre como “chamar a atenção em festivais de cinema, explorar personagens para actores e transformar a inspiração em material cinematográfico cativante”, indicou a organização.

Lançado em 2010, o Festival Internacional de Curtas Metragens de Macau apresenta produções independentes de reduzido orçamento.

5 Dez 2024

Turistas | Previstos números acima dos 33 milhões

Cheng Wai Tong, subdirector dos Serviços de Turismo, declarou que Macau pode receber mais turistas até ao final do ano do que os 33 milhões de visitantes esperados.

Segundo a TDM Rádio Macau, o responsável falou na possibilidade de Macau receber 34 milhões, tratando-se de um número importante no pós-pandemia, tendo em conta que, em 2019, o território recebeu 39,4 milhões de turistas.

Cheng Wai Tong declarou que “ainda não há dados sobre as reservas hoteleiras relativas às férias de Natal”, mas disse que “os dados são optimistas” quanto às metas para os números de turistas. Para o subdirector da DST, os meses de Agosto e Dezembro são os que mais turistas geram, daí que as expectativas para este ano possam ser 1 milhão de visitantes acima dos 33 milhões de visitantes inicialmente previstos.

5 Dez 2024

Burla | Detido por dar a penhorar relógio falso

Um cidadão chinês foi detido na terça-feira no Posto Fronteiriço de Hengqin suspeito de burlar uma mulher em 100 mil dólares de Hong Kong ao emprestar-lhe, para penhora, um falso relógio de luxo.

Segundo o jornal Ou Mun, no passado dia 16 de Novembro os dois intervenientes conheceram-se num casino. No dia seguinte, o homem pediu à mulher 50 mil dólares de Hong Kong para apostar.

Depois de perder o dinheiro ao jogo, entregou um relógio à mulher com o intuito de que esta o penhorasse, alegando que valia 100 mil dólares de Hong Kong. A partir daqui homem ficou incontactável, enquanto a mulher foi a uma casa de penhores onde foi informada que o relógio não valeria mais do que algumas centenas de dólares de Hong Kong. Sentindo-se defraudada, a mulher denunciou então o caso às autoridades. O caso já está no Ministério Público, sendo que o homem é suspeito da prática do crime de burla de valor elevado.

5 Dez 2024

Escarlatina | Lançado alerta face a aumento do número de casos

Os Serviços de Saúde de Macau emitiram ontem um comunicado onde dão conta que “a situação da escarlatina está mais activa”, fazendo um apelo a encarregados de educação, creches e escolas para “estarem alerta”. Nos últimos dias, e conforme os dados de monitorização de doenças infecciosas de declaração obrigatória, “o número de casos declarados [de escarlatina] subiu de cinco na primeira semana de Outubro para 22 casos detectados na semana passada”.

Para os SS, “este é o número mais alto registado em comparação com Outubro, dando uma média de dez casos por semana”, e também maior face ao período homólogo do ano passado.

Até terça-feira desta semana, foram registados 1.654 casos de escarlatina no território, sendo que 93 por cento dos casos ocorreu em crianças com idades compreendidas entre 1 e 9 anos de idade. Os SS esclarecem ainda que “54 casos necessitaram de internamento hospitalar, tendo tido alta após recuperação”, não tendo sido registados casos graves ou mortais.

Este ano foram registados, até ao momento, dois casos colectivos de escarlatina. A escarlatina é uma doença respiratória aguda transmissível causada pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes).

5 Dez 2024

DSEDT | Mais de 30 empresas locais certificadas

Já existem 33 empresas locais certificadas pela Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), certificação essa atribuída no contexto do “Programa de Certificação de Empresas Tecnológicas”, criado no ano passado.

Segundo uma nota, tratam-se de empresas nos ramos das tecnologias de informação, inteligência intelectual e medicina tradicional chinesa, empregando 1.300 trabalhadores com receitais anuais de cerca de 3 mil milhões de patacas.

Uma das novidades passa pela inclusão de empresas com ligação a Hengqin a este programa de certificação, sendo que o Governo está a lançar “medidas complementares de apoio específico, incluindo plano de apoio financeiro, bolsas de contacto e articulação com as políticas e medidas do Interior da China, no sentido de fomentar o crescimento das respectivas empresas”. Em 2021, por exemplo, foi criado o plano de actualização digital destinada às PME que apoiou mais de 1.600 empresas.

5 Dez 2024

IPIM | Macau na Exposição Alimentar Ásia-Pacífico

Macau vai ter um pavilhão próprio na Exposição Alimentar Ásia-Pacífico (Asia Pacific Food Expo” que decorre em Singapura entre amanhã e segunda-feira.

Segundo o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), este organismo, em parceria com a Associação Industrial de Macau, organiza um grupo de 24 pequenas e médias empresas (PME) para exibirem mais de 250 produtos “Made in Macau”, bem como as “marcas de Macau”.

A feira, a ter lugar no Centro de Convenções e Exposições de Singapura, terá um total de 300 mil comerciantes profissionais e visitantes de todo o mundo, sendo organizada pela Singapore Food Manufacturers Association. O IPIM explica que o Pavilhão de Macau nesta feira estará dividido em três zonas, com stands de empresas, stands de promoção da Plataforma Sino-Lusófona e das convenções e exposições de natureza económica e comercial de Macau e Hengqin, entre outros serviços e políticas, além de incluir elementos dos países de língua portuguesa.

5 Dez 2024