Índia | Dalai-lama reafirma continuidade

O líder espiritual tibetano dalai-lama reafirmou ontem a continuidade da sua instituição, numa das declarações mais claras até à data sobre a intenção de garantir um sucessor, a seis dias do seu 90.º aniversário.

Perante centenas de fiéis e monges reunidos no templo principal de McLeod Ganj, no norte da Índia, o líder espiritual tibetano e Prémio Nobel da Paz comprometeu-se a “servir a humanidade” não apenas pessoalmente, mas através da entidade que representa, numa referência velada à continuidade da linhagem espiritual.

A declaração do líder tibetano ocorreu durante um Tenshug, uma elaborada cerimónia de oferenda de longa vida organizada este ano pela comunidade da província de Dhomey. Usando o tradicional chapéu amarelo cerimonial de Pandita, o Dalai Lama recebeu, durante cerca de duas horas, oferendas de uma longa procissão de devotos que rezavam pela sua longevidade.

Com 89 anos, o Dalai Lama vive exilado na Índia desde 1959, ano em que fugiu do Tibete após uma revolta falhada contra a ocupação chinesa. Desde então, lidera a administração tibetana no exílio, a partir da cidade indiana de Dharamshala, defendendo a autonomia do Tibete e a preservação da sua cultura.

1 Jul 2025

Fórum de Macau | António Lei substitui Casimiro Pinto

Entra hoje em funções o novo secretário-geral adjunto do secretariado permanente do Fórum de Macau por indicação da RAEM. Trata-se de António Lei Chi Wai e vai substituir o macaense Casimiro de Jesus Pinto.

Segundo uma nota de imprensa oficial, António Lei “assumiu vários cargos em diversos serviços governamentais e instituições públicas, tendo exercido funções de chefia e liderança em várias áreas, designadamente no Departamento Jurídico e de Fixação de Residência, no Centro de Apoio Empresarial de Macau e no Departamento de Promoção Económica e Comercial com os Mercados Lusófonos do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau.

Além disso, António Lei foi director da Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Actualmente, acumula as funções de administrador-delegado do Conselho de Administração e presidente da Comissão Executiva do Centro de Comércio Mundial Macau, S.A., bem como de presidente do Conselho Fiscal do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa de Sociedade Limitada.

“Possui profundo conhecimento dos mercados dos Países de Língua Portuguesa, do Interior da China e de Macau, dominando fluentemente as línguas chinesa e portuguesa”, descreve a mesma nota.

1 Jul 2025

Hong Kong promove em Portugal tecnologia na construção de habitação pública

O Governo de Hong Kong anunciou ontem que vai promover em Portugal o uso de tecnologia na construção de habitação pública. De acordo com um comunicado, as autoridades de Hong Kong vão organizar em Portugal, na quinta-feira, um almoço de negócios intitulado “Desvendando Novos Horizontes: Habitação Acessível e Oportunidades em Hong Kong e na Grande Baía”.

A Comissária para o Desenvolvimento da Grande Baía, Maisie Chan Kit Ling, vai fazer um discurso sobre “as enormes oportunidades de negócio” que o projecto regional oferece aos empresários portugueses.

No evento vai-se “partilhar as experiências de Hong Kong no aumento da quantidade, rapidez, eficiência e qualidade da construção de habitações públicas, através da adopção de diversas tecnologias inovadoras de construção rápida e robótica”. A secretária para a Habitação de Hong Kong, Winnie Ho Wing Yin, convidou mais de 20 representantes do sector da construção da região e da China continental para participarem no evento.

Estas empresas vão falar sobre tecnologias como os módulos pré-fabricados, a integração das instalações mecânicas, eléctricas e de canalização, e a utilização de robôs na construção civil. O evento poderá servir “para fortalecer as ligações entre os sectores de Hong Kong e Portugal e explorar oportunidades” de negócios, sublinha-se no comunicado.

Em curso

Tanto Maisie Chan como Winnie Ho irão ainda participar no 17.º International Forum on Urbanism, que irá decorrer entre 01 e 04 de Julho, no renovado Pavilhão de Portugal, que, depois das obras levadas a cabo pelo arquiteto Siza Vieira, foi transferido para a Universidade de Lisboa.

O programa político do novo Governo português, liderado por Luís Montenegro, prevê a construção de 59 mil casas públicas até 2030 e financiamento para mais habitação, incluindo parcerias público-privadas em imóveis do Estado devolutos.

Em 17 de Junho, o primeiro-ministro admitiu no parlamento que a anterior meta, construir 26 mil casas públicas até 2026, teve “uma execução difícil”, mas recusou ser “derrotista e pessimista”. “Eu acho que nós temos ainda capacidade para estimular a construção no sector público”, disse Montenegro, assinalando que “a taxa de execução está agora a aumentar”.

“Nós estamos com uma taxa de execução no universo destas 26 mil casas de 27 por cento e, segundo a informação que os municípios nos transmitiram até o final do mês de Junho, 13.429 habitações estarão prontas nesse programa”, indicou.

O primeiro-ministro considerou também que foi preciso ultrapassar “bloqueios administrativos e burocráticos” que atrasaram a construção de novas casas.

1 Jul 2025

TCR China | André Couto participou na prova de Zhejiang

No fim de semana transacto, André Couto teve um regresso inesperado ao campeonato TCR China, naquela que foi a sua primeira prova desta temporada. O piloto da RAEM mostrou que “quem sabe, nunca esquece”, apesar de ter tido uma passagem atribulada pelo Circuito Internacional de Zhejiang

O piloto português residente em Macau, que não competia desde Novembro do ano passado – altura em que disputou as finais mundiais do Lamborghini Super Trofeo, tendo conquistado o título na categoria PRO-AM do Lamborghini Super Trofeo Asia – recebeu um convite de última hora por parte da MacPro Racing Team para conduzir um dos Honda Civic FL5 TCR da equipa do território na terceira prova da época do campeonato chinês de TCR.

Sem qualquer treino prévio, André Couto voltou a sentar-se num carro que já conhecia, contando também com uma estrutura técnica que lhe era familiar. Em 2023, o piloto do território já tinha disputado algumas provas do TCR China com este conjunto, então ao serviço da equipa oficial Dongfeng Honda Racing Team, tendo mostrado andamento logo de início.

“Os treinos livres não correram mal, mas na qualificação um piloto menos atento bateu-me logo na minha primeira volta de saída para a pista. Acertou-me por trás e nem percebi porquê. Danificou-me a traseira, desalinhou a convergência e o carro ficou torto. Entretanto, não havia nada a fazer — tinha que fazer a qualificação na mesma. A barra estabilizadora da frente também cedeu. Só descobriram depois que estava partida”, explicou o experiente piloto ao HM. “Ainda assim, qualifiquei-me em quarto no Q1, a cinco décimos do primeiro, o que, com o carro nas condições em que estava, não foi nada mau. O carro tinha potencial.”

Na Q2, devido aos estragos, o carro japonês “ficou muito mais difícil de guiar” e Couto terminou em décimo. No entanto, isso acabou por ter um efeito positivo: “Com a inversão da grelha de partida, o décimo lugar da Q2 permitia-me arrancar em primeiro para a segunda corrida.”

A primeira corrida, disputada no sábado na pista localizada em Shaoxing, não correu tão bem quanto o piloto desejava, não conseguindo acompanhar os Link & Co oficiais, nem os melhores Honda e Hyundai. “Acabei em oitavo. O carro não estava tão bom como esperava e acabámos por descobrir que tinha um amortecedor danificado, ainda do acidente na qualificação, que foi trocado para a corrida de domingo.”

Domingo inglório

Na corrida de 20 voltas de domingo, André Couto tinha tudo para brilhar, já que partia da pole-position e o Honda parecia finalmente em condições de lutar pelos primeiros lugares. “Na volta de formação, o carro estava bom. Já não sentia nada estranho e eu estava optimista.”

A ideia era arrancar bem para se distanciar dos concorrentes mais rápidos nas primeiras voltas e, depois, gerir a corrida com pneus novos. No entanto, tudo se desfez rapidamente quando foi abalroado por Wu Yi Fan logo na travagem para a primeira curva.

“Era essa a minha missão, mas não consegui”, reconheceu o vencedor do Grande Prémio de Macau de 2000. “Ele bateu-me logo na primeira curva e o carro ficou logo danificado. Aliás, bateu-me duas vezes. Primeiro deu-me um toque por trás, ainda tentei controlar, mas depois falhou a travagem e não virou e bateu-me na frente. Ele podia ainda ter galgado o corrector, mas não o fez. Já depois da corrida, foi penalizado pelo colégio de comissários desportivos, mas isso não altera o facto de eu ter desistido”.

Com a direcção danificada do Honda, André Couto não teve outra opção senão abandonar. “Fiquei um bocado desiludido porque tinha esperanças de conseguir um bom resultado para a MacPro Racing Team que me tinha dado um bom carro. Íamos arrancar em primeiro… mas as corridas são assim.”

1 Jul 2025

Indústria | Actividade recua pelo terceiro mês consecutivo

A actividade no sector transformador da China recuou em Junho pelo terceiro mês consecutivo, embora a um ritmo menos acentuado, segundo dados ontem divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) do país asiático.

O índice de gestores de compras (PMI, na sigla em inglês), principal indicador do sector, fixou-se nos 49,7 pontos, acima dos 49,5 registados em Maio, em linha com as previsões da maioria dos analistas.

Um valor abaixo dos 50 pontos representa uma contração da atividade face ao mês anterior, enquanto valores acima assinalam crescimento.

Dos cinco subíndices que compõem o PMI da indústria transformadora, os relativos à produção, novas encomendas – indicador-chave da procura – e prazos de entrega mantiveram-se acima da linha de crescimento, ao contrário dos de inventários de matérias-primas e emprego, que continuaram em zona de contração.

O estatístico do GNE Zhao Qinghe destacou precisamente a recuperação “quer da produção, quer da procura”, com referência a sectores como o alimentar e de maquinaria especial, embora tenha sublinhado uma “atcividade de mercado insuficiente” noutras áreas, como minerais não metálicos ou fundição e laminação de metais ferrosos.

Num relatório, a consultora britânica Capital Economics observou que os dados de junho sugerem que a economia chinesa “voltou a ganhar algum ímpeto”. O subíndice das novas encomendas para exportação subiu de 47,5 para 47,7 pontos, o terceiro aumento mensal consecutivo, embora ainda em território negativo.

Este desempenho “reflecte provavelmente um aumento da procura dos Estados Unidos após a trégua comercial de 90 dias” iniciada entre os dois países em meados de Maio, apontou a analista Zichun Huang.

Huang alertou, no entanto, para as “pressões deflacionistas persistentes” na economia chinesa, com os preços de produção a acelerarem em junho, mas a manterem-se “em níveis baixos”. O GNE divulgou ainda o PMI dos sectores não manufactureiros – serviços e construção – que subiu de 50,3 em Maio para 50,5 pontos em Junho, superando as expectativas dos analistas.

1 Jul 2025

Partido Comunista Chinês ultrapassa os 100 milhões de membros

O Partido Comunista Chinês (PCC) ultrapassou no final de 2024 os 100 milhões de membros, segundo um relatório ontem divulgado, num contexto marcado por mais de uma década de campanha contra a corrupção entre os seus quadros.

O número de filiados ascende a 100,27 milhões – num país com cerca de 1.400 milhões de habitantes -, um aumento de 2,13 milhões face ao final de 2023, indicou o Departamento de Organização do Comité Central do PCC, por ocasião do 104.º aniversário da fundação do partido, que se assinala na terça-feira.

“A afiliação ao PCC tem aumentado de forma contínua, ao mesmo tempo que a sua estrutura continua a melhorar e as organizações de base – atualmente em 5,2 milhões – se reforçam”, refere o relatório, citado pela imprensa estatal.

O perfil educacional dos membros também tem evoluído: quase 57 por cento possuem formação universitária ou superior, revelou o documento.

O número de mulheres continua a crescer, totalizando 31 milhões de filiadas (30,9 por cento), e a idade média dos novos membros tem diminuído, com 83,7 por cento das adesões em 2024 a corresponderem a pessoas com 35 anos ou menos.

O relatório indica ainda que a proporção de membros oriundos de minorias étnicas se manteve nos 7,7 por cento registados no ano anterior.

O partido sublinhou que mantém o foco na supervisão interna e na autogovernação, aplicando “o espírito de reforma e padrões rigorosos”, e registou um aumento de 16,5 por cento no número de quadros que receberam formação específica em 2024.

Maior do mundo

Fundado na clandestinidade, o PCC é hoje considerado o maior partido do mundo e exerce uma influência transversal sobre a vida política, económica e social da China, com conteúdos patrióticos ligados à sua história a surgirem inclusivamente nos exames nacionais de acesso à universidade.

O secretário-geral do partido e Presidente da China, Xi Jinping, presidiu ontem a uma reunião do Politburo do Comité Central, na qual foram debatidas novas normas para “melhorar” o funcionamento dos organismos de deliberação, coordenação e tomada de decisão.

“Na reunião, foi sublinhada a importância de evitar o formalismo e a burocratização, com vista a alcançar resultados concretos”, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Estes princípios juntam-se aos reiterados apelos à austeridade por parte da liderança do partido, no âmbito da campanha anticorrupção lançada por Xi Jinping em 2012, que já resultou na condenação de dezenas de responsáveis por corrupção, incluindo antigos ministros e dirigentes de empresas e organismos estatais.

Em Janeiro, Xi voltou a pedir uma “vitória resoluta na dura e prolongada batalha contra a corrupção”, que classificou como “a maior ameaça” ao partido.

1 Jul 2025

Viagem | MNE chinês inicia périplo pela Europa para estreitar laços

Na sequência da guerra comercial lançada pela administração norte-americana, Wang Yi desloca-se a Bruxelas, Paris e Berlim, com o intuito de reforçar a cooperação entre a China e o velho continente

 

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, iniciou ontem uma digressão pela Europa, com o objectivo de transformar a relação entre a China e a União Europeia (UE) num pilar de “estabilidade”, face à pressão dos Estados Unidos.

Figura proeminente da diplomacia chinesa, Wang Yi, de 71 anos, tem prevista uma deslocação a Bruxelas, sede da UE, bem como a França e à Alemanha. A visita decorre numa altura em que a China procura estreitar laços com o continente europeu, perante a crescente tensão com os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, que reiteradamente classifica Pequim como rival estratégico.

Apesar da aproximação, persistem divergências entre Bruxelas e Pequim, nomeadamente no domínio económico: o défice comercial massivo da UE face à China (304 mil milhões de euros), a parceria entre Pequim e Moscovo apesar da guerra na Ucrânia, as tarifas adicionais europeias sobre veículos eléctricos chineses e as retaliações chinesas dirigidas ao conhaque francês.

“As relações sino-europeias enfrentam importantes oportunidades, num momento em que o mundo atravessa rápidas transformações históricas, com o crescimento inquietante do unilateralismo, protecionismo e comportamentos hegemónicos”, afirmou na sexta-feira o porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun, numa crítica implícita aos EUA e à guerra comercial.

Neste contexto, a China e a UE devem “preservar conjuntamente a paz e estabilidade globais, defender o multilateralismo e o livre comércio, salvaguardar as regras internacionais, a equidade e a justiça, e afirmar-se como forças estabilizadoras e construtivas num mundo turbulento”, acrescentou.

Encontros de alto nível

Em Bruxelas, Wang Yi deverá reunir-se com a nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, para um “diálogo estratégico de alto nível”, segundo as autoridades chinesas.

Na Alemanha, o ministro irá encontrar-se com o homólogo, Johann Wadephul, para abordar temas de diplomacia e segurança. Esta será a primeira visita de Wang Yi desde a formação de um novo governo conservador em Berlim, no passado mês de Maio. Em França, Wang reunirá com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot, que visitou a China em Março.

A guerra na Ucrânia deverá dominar parte das conversações. A China tem apelado a negociações de paz e ao respeito pela integridade territorial dos Estados – numa alusão à Ucrânia – mas evita condenar a Rússia e aprofundou os laços com Moscovo desde a invasão, em Fevereiro de 2022, nas áreas comercial, diplomática e militar.

Tal posição tem valido a Pequim críticas por parte dos europeus, que acusam a China de oferecer apoio económico essencial ao esforço de guerra russo.

As relações comerciais entre a China e a UE têm-se deteriorado nos últimos anos, com Bruxelas a denunciar práticas económicas desleais por parte de Pequim. A tensão intensificou-se no ano passado com a imposição pela UE de tarifas adicionais sobre carros eléctricos chineses. Em retaliação, a China visou o conhaque francês.

A Comissão Europeia decidiu, há duas semanas, excluir empresas chinesas de concursos públicos na área dos equipamentos médicos com valor superior a cinco milhões de euros, invocando restrições similares enfrentadas pelas firmas europeias na China. Pequim reagiu, acusando Bruxelas de aplicar um sistema de “dois pesos, duas medidas”.

Outro ponto de fricção, são as chamadas “terras raras”. Desde Abril, as autoridades chinesas exigem licenças para exportação destes metais estratégicos, usados em produtos como telemóveis ou baterias de carros eléctricos. A emissão destas autorizações tem sido, segundo a indústria automóvel europeia, limitada e lenta.

Em resposta, Pequim propôs em Junho à UE a criação de um “canal verde” que permita acesso prioritário às exportações de terras raras para o mercado europeu.

1 Jul 2025

O pensamento durandiano e o imaginário chinês

Chaoying Durand-Sun

Na preparação do colóquio do cinquentenário do CRI, reli mais demoradamente e com maior profundidade a obra seminal do fundador do CRI, Les Structures anthropologiques de l’Imaginaire_(SAI), e tive o prazer de encontrar, ou redescobrir, uma série de referências fascinantes e muito pertinentes, que confirmarão, reforçarão e completarão as ideias de correspondência recíproca, ou de conivência, entre o trabalho do antropólogo francês e a cultura e o imaginário chineses, que eu tinha identificado e desenvolvido nos meus dois artigos acima referidos. Eis alguns exemplos, fruto da minha feliz releitura:

No “Livro Segundo: O Regime Noturno da Imagem”, o que se lê num dos exercícios da “Parte Primeira: A Descida e a Taça”: “O espírito das profundezas é imperecível; chama-se a Fêmea Misteriosa…” (p. 225_) , um verso retirado do Dao de jing (Tao-Te-King), O Livro do Caminho e da Virtude de Lao-zi, um dos pais do taoísmo chinês! Um adágio tão judiciosamente escolhido e emparelhado com a profunda e misteriosa passagem do poeta romântico alemão Novalis, para apresentar, explicar e ilustrar toda a quintessência e mistério do Regime Noturno da Imagem.

Na mesma parte do livro acima referida, ao estudar os símbolos de inversão, em particular o esquema de duplicação por encravamento e o processo de “gulliverização” caro a Bachelard, depois de declarar que “na iconografia, esta duplicação gulliverizante parece-nos ser um dos traços caraterísticos das artes gráficas e plásticas da Ásia e da América”, G. Durand retoma os comentários de Claude L’Aquila sobre a “gulliverização” da imagem. Durand retoma as observações de Claude Lévi-Strauss sobre os motivos chineses do laço Tao (T’ao t’ieh), que se caracterizam não só pela duplicação simétrica, mas também pela transformação “ilógica” e pela duplicação do todo, ao mesmo tempo que o gulliveriza, e observa que o laço Tao “fornece um exemplo muito claro de gulliverização e de aninhamento através da duplicação de um tema” (p. 239).

Trata-se, de facto, de um motivo tradicional chinês que representa a cabeça de um animal lendário, feroz e devorador (dragão, tigre, etc.), que adorna os sinos Zhong ou os vasos de bronze com tripé Ding, tesouros da antiguidade chinesa. Além disso, a forma dos caracteres chineses Tao tie 饕餮 dão a imagem de monstros devoradores, glutões ou gulosos, e especialmente na parte superior, a chave hu 虎 : o tigre; na parte inferior, a chave shi 食 : alimento, comida, ou comer, ingerir, beber… evidenciam a ideia concreta de comer, engolir, devorar… e a mais abstrata de avareza, gula, cupidez insaciável… A este propósito, notamos que uma máscara estilizada de motivos da gravata Tao aparece na contracapa do livro de A. Ghiglione sobre a visão no imaginário chinês e o pensamento da China antiga, e não creio que tenha sido escolhida por acaso.

9 Noutra passagem, um pouco mais adiante, ao estudar as cores no Regime Noturno da Imagem, o autor do SAI menciona numa nota: “Soustelle nota a importância das cores entre todos os povos que têm uma representação sintética do mundo, isto é, organizada como pontos cardeais em torno de um centro (chineses, pueblos, astecas, maias, etc.).” (p. 250) É verdade que no imaginário chinês dos Cinco Pontos Cardeais (Wu-fang 五方) – ao contrário do Ocidente, que tem quatro – o Centro está associado à Terra e à cor amarela, aspeto chave do simbolismo direcional chinês, que tive oportunidade de desenvolver na minha comunicação “A Peregrinação ao Ocidente (Xi you-ji) e os Cinco Pontos Cardeais Chineses”, no colóquio de Grenoble, em 2004, sobre o imaginário dos pontos cardeais, porque toda a cosmologia chinesa herdada do Yi-jing assenta numa base quinquenal constituída por Cinco Agentes ou Elementos (Wu-xing 五行): Metal, Madeira, Água, Fogo e Terra (金木水火土), que também deram origem a toda uma série de correspondências simbólicas essenciais à cultura chinesa: as Cinco Virtudes Fundamentais, as Cinco Relações Imutáveis, as Cinco Estações, os Cinco Órgãos dos Sentidos, as Cinco Vísceras, os Cinco Sabores, etc.

10 Algumas páginas mais à frente (p. 255), ao desenvolver o simbolismo da melodia nocturna, G. Durand comenta com M. Granet: “Estes devaneios sobre a ‘fusão’ melódica que se encontram em Jean Paul como em Brentano não são alheios à conceção tradicional chinesa da música; pode dizer-se que nos antigos chineses como nos poetas românticos, o som musical é vivido como fusão, comunhão do macrocosmo e do microcosmo […]”. Uma tal comparação de ideias ou reflexões de culturas muito distantes teria agradado a Qian Zhong-shu, que foi o próprio exemplo de abertura à universalidade das culturas (Hommes, bêtes et démons, Introduction, p. 11-12), e cujo estilo e verve são tão próximos dos de G. Durand…

Algumas páginas mais à frente (p. 260), na sua análise do arquétipo da feminilidade em todas as culturas humanas, da “Mãe-Mar” da tradição chilena e peruana à “Mãe-Terra” dos antigos Incas, da Grande Deusa Aquática dos Índios à mestra aquática melusina e morganiana da tradição ocidental moderna…Para completar o quadro universal, evoca também a Stella maris chinesa Shing-Moo (Xing-mu) e o espanto dos jesuítas que evangelizavam a China quando se aperceberam que estes termos eram exatamente os mesmos que os utilizados na liturgia cristã: “lua espiritual”, “estrela do mar”, “rainha do oceano”…

Exemplos como estes, reveladores do profundo interesse do autor pelas referências chinesas, abundam no SAI, para não falar de outras obras do autor, pois só na “Primeira Parte: A Descida e a Taça” do “Livro Segundo: O Regime Noturno da Imagem”, podemos ainda citar a alusão à prática de dar à luz no chão muito difundida na China (p. 262), ao ritual sepulcral dos antigos chineses de tapar os sete orifícios do cadáver, ritual esse que supostamente proporcionaria paz e imortalidade ao defunto (p. 270), à procura da intimidade do microcosmos para praticar a involução, entre os seguidores do Caminho ou do Buda (p. 278), e ao simbolismo do barco e da navegação marítima, tema recorrente na pintura tradicional chinesa (p. 286)… Todas estas descobertas e redescobertas conduzem a uma reflexão ou a uma evidência desta cumplicidade intelectual ou espiritual entre culturas diferentes, tão cara ao antropólogo francês e a um estudioso comparativo chinês chamado Qian Zhong-shu, pois é o tema preferido do eminente académico chinês do século XXI, cuja obra não é senão uma ilustração deslumbrante da fraternidade universal das culturas. “Os homens sempre pensaram igualmente bem”, disse Cl. Este acordo, um acordo tácito, entre o pensamento durandiano e o imaginário chinês é para mim um verdadeiro estímulo para enriquecer as minhas reflexões sobre estes dois temas que me são caros. Ao mesmo tempo, esta busca ou investigação confirma o aspecto, ou o acento, nocturno, místico e sintético do pensamento chinês e do imaginário chinês, que tenho tentado evidenciar nas minhas investigações sobre o imaginário chinês e comparado, ao longo dos últimos vinte e cinco anos…

De facto, ao reler G. Durand, não posso deixar de pensar em Qian Zhong-shu, tão semelhantes são o seu espírito e o seu estilo, e as suas infinitas ressonâncias espirituais (Shen-yun神韵)! Qian é uma das maiores figuras literárias chinesas do século XXe tive a honra de traduzir para francês, para a coleção “Connaissance de l’Orient” da Gallimard, uma das suas colectâneas, Ren shou gui (Homens, feras e demónios), composta por quatro contos simultaneamente divertidos e mordazes, repletos de reflexões filosóficas e de referências religiosas e literárias. Nascido em 1910, filho de um professor de literatura clássica chinesa, Qian estudou em Oxford e na Sorbonne nos anos 30. De regresso à China, tornou-se curador-chefe da Secção de Livros Estrangeiros da Biblioteca Nacional da China, depois professor de inglês na prestigiada Universidade Qing-hua de Pequim, diretor de investigação da Secção de Literatura Clássica Chinesa do Instituto de Investigação da Literatura Chinesa e, de 1982 até à sua morte em 1998, vice-presidente da Academia de Ciências Sociais da República Popular da China.

Estudioso da literatura, filósofo, sociólogo e antropólogo, e conhecedor da cultura chinesa e ocidental, Qian Zhong-shu, cujo nome próprio Zhong-shu significa Amante de Livros, destacou-se em quase todos os géneros: poesia, caligrafia, romances, crítica literária… e, sobretudo, o sumário de comentários Guan-zhui-bian, O Bambu e o Ponche, verdadeiro monumento da crítica literária chinesa e o auge da literatura comparada na China e no estrangeiro, caracterizado por uma gigantesca erudição no domínio da referência. Nos cinco volumes de ensaios – mais de 1800 páginas, escritas em chinês clássico -, Qian procedeu a um estudo meticuloso e aprofundado de todos os grandes temas (o homem, a natureza, a alma, a religião, o poder, o belo, o bom, o verdadeiro, a mudança, a imaginação, a tradução…) de dezenas de grandes obras canónicas chinesas: o Zhou yi, O Livro das Mutações, o Zuo Zhuan, Comentários do Mestre Zuo, o Shi ji – As Memórias Históricas de Si-ma Qian, os Discursos de Confúcio, as “prosas” de Lao-zi, Zhuang-zi, Lie-zi, Mo-zi, o Shi jing, O Clássico das Odes, o Chu ci, Elegias de Chu, o Huai nan zi… que abrange literatura, história, filosofia, psicologia, estética, linguística e filologia, citando mais de dez mil obras e milhares de escritores, poetas, filósofos e historiadores – cada estudioso é um Littré! – tanto chineses como estrangeiros (Platão, Aristóteles, Shakespeare, Hume, Gombrich, Pascal, Descartes, Boileau, La Fontaine, Rousseau, Hugo, Musset, Baudelaire, Bergson, Valéry…), Proust, Bachelard, Hegel, Kant, Leibniz, Goethe, Novalis, Cícero, Dante, Cervantes, ou Spinoza, Marx, Cassirer, Weber, Freud, Foucault, Strauss, Barthes, Jung, Lacan…). Se encontramos tanto em Qian como em Durand esta abertura à universalidade das culturas e este génio de assimilação, que é uma caraterística essencial da mentalidade chinesa – e também da japonesa – e que o Ocidente talvez tenha experimentado no auge do Renascimento no século XVII, com Erasmo, Guillaume Postel, Rabelais, Montaigne…, encontramos também em Qian como em Durand o mesmo espírito de síntese, a mesma erudição, a mesma acuidade intelectual. Os dois pensadores, que se conheciam e se admiravam mutuamente, destacaram brilhantemente, como que de comum acordo, a “fraternidade das culturas”.

O pensamento durandiano ilumina o imaginário chinês

Na preparação desta comemoração, tive também o prazer de reler a obra da minha amiga Anna Ghiglione, filósofa e professora de filosofia chinesa e de chinês clássico na Universidade de Montreal. A investigação de A. Ghiglione e a minha são totalmente convergentes e complementares. Para ela, como mostram as suas duas obras principais, o objetivo é estudar de perto, com precisão e raciocínio sequencial, a abstração no pensamento chinês antigo ou a visão no imaginário e na filosofia da China antiga. No primeiro livro dedicado à abstração no pensamento chinês antigo, os seus estudos afastam-se do orientalismo gregário e tradicional, destacando outros aspectos (esquecidos, negligenciados ou desprezados…) da cultura chinesa: a busca do conhecimento (correto), a lógica e a racionalidade, com base na tradição escriturística do período clássico (antes da fundação do Império em 221 a.C.), as reflexões de Dignes (o grande filósofo chinês) e as reflexões do filósofo chinês.C.), e mostra com clareza, rigor e humor os caminhos percorridos pelo pensamento abstrato na China. Na segunda monografia, a autora debruça-se ainda mais especificamente sobre a visão, examinando questões como: A civilização chinesa era “visual”? Qual o papel que os pensadores chineses da época clássica (durante o período conhecido como primavera e outono e os Reinos Combatentes) atribuíam à visão na sua compreensão da realidade? A autora analisa a visão e o olho (literalmente, como órgão do corpo, e figurativamente, como metáfora da mente e da sua atividade pensante) nos clássicos chineses de tradições tão diversas como o confucionismo, o taoísmo, o maoísmo (Mo-zi) e o legismo, bem como nas artes divinatórias e na mitologia. Analisa também a constelação de imagens linguísticas – cara a G. Durand – que giram em torno da visão, nomeadamente da luz e da escuridão, do espelho, do reflexo, da sombra e da claridade, com base numa riqueza de provas textuais – um método caro a Qian Zhong-shu. Esta abordagem original e audaciosa, inteiramente durandiana, permite-lhe concluir que, contrariamente a certas ideias preconcebidas, a China não era “cega” no sentido em que os seus mestres intelectuais atribuíam um papel significativo à visão na procura da sabedoria e no desenvolvimento da sensibilidade humana.

15 A este respeito, estamos totalmente de acordo com a análise de A. Ghiglione das atitudes “positivistas” de certos académicos chineses, de Confúcio a Lu Xun, passando pelos legalistas do período dos Reinos Combatentes e do período da Revolução Chinesa. A análise de Ghiglione das atitudes “positivistas” de certos académicos chineses, de Confúcio a Lu Xun, incluindo os legalistas dos Reinos Combatentes e o primeiro imperador da China, Qin Shi huang, os neo-confucionistas dos Song, Ming e Qing, e os “neo-confucionistas” modernos como Liang Shu-min, Feng You-lan, Qian Mu e Mu Zong-san: Liang Shu-min, Feng You-lan, Qian Mu, Mu Zong-san… Por outro lado, é de notar que, apesar das suspeitas e hostilidades dos confucionistas e dos legalistas, a corrente mágico-religiosa de inspiração taoísta nunca deixou de existir; apenas se disfarça, multiplicando as suas metamorfoses para melhor existir e se fazer ouvir, e continua a ser uma das fontes essenciais do imaginário e do pensamento chineses. O próprio Mao Ze-dong (Mao Tse-Toung), na sua célebre carta a Chen Yi sobre a poesia, declara que, para escrever poesia, é absolutamente necessário recorrer ao pensamento figurativo (Xingxiang siwei 形象思维) e, portanto, ao imaginário, à imaginação. E sabemos que Mao foi alimentado pelos clássicos confucionistas e taoístas, bem como pelos marxistas e leninistas, e que era um grande amante da poesia, da literatura e da filosofia. Ghiglione conhece-os bem e cita-os na sua obra.

16Também sensível às artes chinesas do pincel – a caligrafia e a pintura a tinta, que datam de há mais de 3000 anos e resistem ao desafio da modernidade – A. Ghiglione tentou reavivar o pensamento tradicional chinês através das artes visuais. Segundo a sua descrição, a sua iniciativa consiste em “adotar uma abordagem visual e prática do pensamento chinês” e visa tornar acessível o pensamento dos mestres do pensamento tradicional chinês através de modos de transmissão complementares à filologia (especialmente a análise de textos) e à apresentação de dados históricos – os dois pilares da sinologia tradicional – em particular através da exploração e produção de imagens materiais (pinturas de paisagens, figuras, etc.). Segundo ela, “o suporte não verbal das imagens permite-nos, para além da caligrafia, abordar os conteúdos textuais, nomeadamente para ultrapassar as dificuldades linguísticas”. Pondo em prática a famosa distinção feita pelo linguista Roman Jakobson entre três tipos de tradução: interlinguística, intralinguística e intersemiótica, e tendo em conta o aspeto pictórico da expressão escrita nos clássicos chineses e a dimensão incontornável da escrita chinesa, uma vez que os mestres do pensamento da antiguidade chinesa e os seus compiladores tecem o discurso filosófico através de imagens linguísticas, figuras de sentido e de estilo (metáforas, alegorias, analogias, mitos, parábolas, etc.)), e recorrendo à teoria do semitismo das imagens desenvolvida por G. Durand. Durand nos anos 60, no SAI, organizou duas exposições, uma, “Regards contemporains autour de la pensée chinoise ancienne”, no bairro dos artistas de Pequim, o Feng-tai, no Centre d’Échanges Culturels du Pont Marco-Polo, no verão de 2013, na qual tive a honra e o prazer de participar, e a outra, “La Chine des Sages en images”, na Universidade de Montreal, no Carrefour des Arts et des Sciences, na primavera de 2014. Como ela sabiamente salienta, “convém sublinhar que as pinturas, gravuras e fotografias dos pergaminhos que produzimos não são simples ilustrações de fragmentos de pensamento: a sua polissemia poética multiplica os caminhos da reflexão abstrata, soldando um elo dinâmico de troca entre figuração e concetualização. De facto, é impossível pensar sem imagens. Os antigos mestres chineses compreenderam claramente esta tendência geral da natureza humana para combinar o registo verbal (a língua, a fala e a escrita) com o imaginário (a produção de imagens linguísticas ou materiais)”.

17 Tendo como objeto comum a cultura e o imaginário chineses e na mesma linha do pensamento durandiano, a minha investigação é mais vasta, mais geral e mais sintética do que a do sinólogo da Universidade de Montréal.

18 Embora não tenha tido a sorte de viver os primeiros anos ardentes e apaixonantes do CRI, tive o grande privilégio de poder beneficiar, uns vinte anos mais tarde, de numerosos encontros importantes organizados pelo CRI de Grenoble e de realizar os meus “doze trabalhos” no seio dos CRI de França e de outros países. De facto, no final dos anos 80 e início dos anos 90, fui introduzido no estudo do imaginário pelo meu orientador de tese, o Professor Claude-Gilbert Dubois, e pelo LAPRIL de que era diretor, durante a preparação da minha tese na Universidade de Bordéus III.

Intitulada Esquisse d’une mythologie rabelaisienne: essai de classification (Esboço de uma mitologia rabelaisiana: tentativa de classificação), esta tese tem por objetivo classificar as imagens rabelaisianas em torno de mitos (pacotes, enxames, constelações, etc.) simultaneamente fundamentais e universais: gigantes, peregrinações, batalhas, etc, Inspira-se já nas teorias da Nova Crítica, nomeadamente as do estruturalismo de Cl. Lévi-Strauss e as do “estruturalismo figurativo” de G. Bachelard, M. Eliade e G. Durand, com tímidas mas tenazes tentativas de abordagem comparativa com o imaginário chinês. Este estudo taxonómico do imaginário rabelaisiano à luz do pensamento durandiano permitiu-me, em primeiro lugar, formar uma ideia mais precisa e aprofundada do ambivalente e complexo Renascimento europeu, uma época simultaneamente “diurna” e “nocturna”, com as suas primaveras e os seus outonos, a sua grandeza e a sua decadência, e, em segundo lugar, para me colocar mais firmemente no caminho do conhecimento das minhas “duas culturas-mãe”, apoiando-me na mitocrítica e na mitanálise, esses novos humanismos que já não se contentam em fechar-se nas estruturas e constelações do Ocidente (grego, latim, hebraico…), mas querem estar “abertos” a outras culturas.), mas estão abertos a um comparatismo “aberto”.

Após a defesa da minha tese (1991), prossegui a minha investigação de pós-doutoramento na Universidade de Genebra para preparar um diploma de especialização sobre o Renascimento, sob a direção de um professor do século XVI, M. Jeanneret, e de um professor de história da arte, J. Wirth. As duas dissertações que escrevi para o diploma foram sobre “Le problème de la langue unique et les rhétoriques de Rabelais” (“O problema da língua única e a retórica de Rabelais”) e “Le thème de la Fuite en Égypte dans la peinture flamande du xviesiècle” (“O tema da Fuga para o Egito na pintura flamenga do século XVII”). No primeiro ensaio sobre a língua rabelaisiana, procurei mostrar, com base na grande obra de Cl.G. Dubois, a mitocrítica durandiana e os estudos poéticos e retóricos de M. Jeanneret, a procura rabelaisiana da veracidade do discurso e da eficácia “bernardina” da palavra, que constitui, de facto, uma das caraterísticas da reflexão linguística e retórica ao longo do século XVII, a que chamei a “Redimensão de Babel”.

Este artigo será publicado em parte com modificações e ampliações sob o título “Rédimer Babel, une Pentecôte rabelaisienne?” em Études sur l’Imaginaire. Mélanges offerts à Claude-Gilbert Dubois, editado por G. Peylet e publicado por L’Harmattan em 2001. O segundo ensaio, sobre o tema da Fuga para o Egito, é uma espécie de “variação” da minha investigação, que pretende ser ao mesmo tempo seiziémiste e comparatiste, ligando diferentes artes, literárias e visuais.

Inspirado nas grandes reflexões de Jakob Boehme sobre o Egito e na mito-análise durandiana, procurei identificar e estudar três “mitos” da Fuga do Egito e do Repouso no Egito na pintura flamenga dos séculos xv a XVII: privilégio da paisagem, integração de toda a cena da Fuga e do Repouso numa vasta paisagem em contraste com o encolhimento italiano; ênfase no tema da alimentação: as tâmaras e o milagre da palmeira, o milagre da primavera, o milagre dos campos de trigo; a “emoção” da queda dos Ídolos, especialmente em Broederlam, Jean Colombe, Gérard David e Patinir.

Este estudo mostra que a pintura flamenga na Flandres borgonhesa, nos séculos XIX e XIX, e depois na herança imperial dos Negritos, no século XVII, viu surgir uma infinidade de obras que se tornarão os alicerces da pintura ocidental, e que o “motivo” da “Fuga” e do “Repouso no Egito” fornecem as orientações pictóricas e simbólicas essenciais: a submersão dos temas religiosos na opulência das paisagens, a ênfase muito católica colocada no simbolismo “alimentar” da terra de refúgio egípcia e, finalmente, a oposição polémica (e quanto mais polémica se tornaria com a vaga de iconoclastia calvinista de meadosdo século XVII) entre o “verdadeiro” sacrifício de Cristo Alimento Divino, Panis angelorum, e os falsos sacrifícios aos ídolos “pagãos”… Este artigo será publicado no nosso livro em coautoria com G. Durand, Mythe, thèmes et variations, sob o título “Héliopolis-sur-Meuse, le thème de la Fuite en Égypte dans la peinture flamande du xviesiècle”.

(continua)

1 Jul 2025

MICE | Governo e CPSP organizam palestra

Na passada quinta-feira, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) realizaram uma palestra sobre a contratação e gestão de pessoal para o sector de convenções e exposições (MICE) de Macau.

A palestra, que reuniu mais de 120 representados do sector, serviu para esclarecer “dúvidas e aprofundar conhecimentos sobre as normas legais aplicáveis à contratação de pessoal e os aspectos a observar durante os eventos de convenções e exposições”.

Um dos pontos fulcrais prendeu-se com as exigências legais da contratação de trabalhadores não-residentes (TNR), assim como a proibição de trabalho ilegal. A palestra foi organizada cerca de duas semanas depois da polémica sobre a situação legal de dezenas de trabalhadores na zona de merchandising de um concerto de G-Dragon, que originou uma operação conjunta da DSAL e CPSP.

Estiveram presentes na palestra representantes do IPIM, da DSAL e do CPSP, operadores do sector de convenções e exposições de Macau, assim como participantes de resorts integrados, entidades organizadoras e montadoras de convenções e exposições, agências de viagens e empresas de serviços de relações públicas.

1 Jul 2025

Emprego | Macau com mais 3.000 TNR em 12 meses

Nos últimos 12 meses, o número de trabalhadores não-residentes registou um aumento de 3 mil, segundo os dados revelados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP)

 

As empresas e famílias de Macau contrataram mais de três mil trabalhadores não residentes nos últimos 12 meses, foi ontem divulgado.

De acordo com dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), no final de Maio, Macau tinha 183.783 trabalhadores sem estatuto de residente, mais 3.006 do que no mesmo mês de 2024. A mão-de-obra vinda do exterior, incluindo da China continental, atingiu em Maio o valor mais elevado desde Junho de 2020, no início da pandemia de covid-19.

Desde o pico máximo de 196.538, atingido no final de 2019, antes da pandemia, e até Janeiro de 2023, a cidade perdeu quase 45 mil não-residentes, que correspondiam a 11,3 por cento da população activa.

Em Janeiro de 2023, quando foi decretado o fim da política ‘zero covid’, que esteve em vigor em Macau e na China continental durante quase mais de três anos, Macau tinha menos de 152 mil migrantes, o número mais baixo desde Abril de 2014.

As estatísticas, divulgadas pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, revelam que, desde o fim da política ‘zero covid’, o número de trabalhadores não-residentes aumentou em 31.905. O sector da hotelaria e da restauração foi o que mais contratou nos últimos 12 meses, ganhando 3.379 trabalhadores não-residentes, seguido do dos empregados domésticos (mais 1.553).

A área da hotelaria e a restauração tinha sido precisamente a mais atingida pela perda de mão-de-obra durante a pandemia, tendo despedido mais de 17.600 funcionários não-residentes desde Dezembro de 2019.

Visitantes em alta

A cidade recebeu, em 2024, 34,9 milhões de visitantes, mais 23,8 por cento do que no ano anterior, mas ainda longe do recorde, 39,4 milhões, fixado em 2019, antes da pandemia. Já os estabelecimentos hoteleiros, acolheram mais de 14,4 milhões de hóspedes, um novo recorde histórico.

A crise económica criada pela pandemia levou a taxa de desemprego a atingir 4 por cento no terceiro trimestre de 2022, o valor mais alto desde 2006. Apesar da subida do número de trabalhadores não-residentes, a taxa de desemprego manteve-se em 1,9 por cento no período entre Fevereiro e Abril.

Ainda assim, vários deputados pediram ao Governo que obrigue as seis concessionárias de jogo a despedir parte da mão-de-obra vinda do exterior, para garantir o emprego dos 5.600 trabalhadores locais que trabalham nos 11 casinos-satélite que irão encerrar até ao final de 2025.

Três das seis concessionárias – SJM, Galaxy e Melco – comunicaram às autoridades em 9 de Junho, que vão terminar até 31 de Dezembro a exploração dos 11 ‘casinos-satélite’ existentes no território. Os ‘casinos-satélite’ são geridos por outras empresas, sendo uma herança da administração portuguesa, que já existia antes da liberalização do jogo, em 2002.

1 Jul 2025

Ambiente | DSAMA limpa lixo trazido pelas marés e chuvadas

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) indicou ontem que devido às chuvas intensas e à época das cheias nas zonas a montante, uma grande quantidade de lixo foi arrastada para as zonas costeiras de Macau. As autoridades estimam que a situação se mantenha por mais algum tempo e apelou à população para ter cuidado em visitas às praias.

A DSAMA salientou que o lixo que tem flutuado nas águas de Macau nos últimos dias é principalmente constituído por ramos de plantas e lixo doméstico, e que decorrem trabalhos de limpeza, tanto nas praias como no mar. Para o efeito, a DSAMA contratou uma empresa de limpeza para reforçar os recursos humanos na operação.

Porém, adverte que devido às condições meteorológicas, à direcção do vento, às correntes oceânicas e a factores geográficos, prevê-se que o lixo continue a flutuar nas águas de Macau e a dar à costa ao longo da semana. Também os trabalhos de limpeza vão continuar.

Resíduos | Ambientalista defende tratamento e reciclagem

O Governo da RAEM deveria seguir o exemplo de Hong Kong no tratamento de materiais inertes e resíduos de construção, para fazer aterros, ou reciclar e reutilizar estes materiais como agregados de construção civil para fazer cimento ou tijolos.

A sugestão foi apresentada ontem pelo o vice-presidente da Associação de Indústria da Construção de Protecção Ambiental de Macau, Chan Kuai Son, em declarações ao programa matinal Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. A conversa, em que também participou o presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, Leong Chong In, teve como mote o acordo de cooperação para a gestão e disposição de resíduos de demolições e construção, que irá permitir à RAEM enviar resíduos para tratamento na China.

Leong Chong In mostrou-se satisfeito com o acordo e defendeu a criação de um aterro para resíduos de construção nas áreas marítimas de Macau, uma vez que os aterros disponíveis estão na lotação máxima.

30 Jun 2025

IAM | Mantida proibição de produtos importados de Fukushima

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) irá manter a proibição de importação de produtos oriundos da região de Fukushima, no Japão, no contexto da descarga de águas residuais, a fim de “garantir a segurança alimentar e a saúde dos cidadãos”.

Desta forma, continua a ser proibido importar produtos alimentares frescos e vivos, produtos alimentares de origem animal, sal marinho e algas marinhas, incluindo vegetais, frutas, leite e lacticínios, produtos aquáticos e derivados, carnes e derivados ou ovos de aves provenientes de 10 prefeituras do Japão, nomeadamente Fukushima, Chiba, Tochigi, Ibaraki, Gunma, Miyagi, Niigata, Nagano, Saitama e Metrópole de Tóquio.

O anúncio surge depois da Administração Geral da Alfândega da China ter publicado no domingo uma nota sobre a “retoma condicional da importação de produtos aquáticos de algumas regiões do Japão”, restabelecendo, “sob certas condições, a importação de alguns produtos aquáticos de origem japonesa, com excepção de produtos aquáticos de 10 prefeituras, incluindo Fukushima”.

O IAM diz que até ao dia 22 deste mês foram analisadas cerca de 193 mil amostras de alimentos japoneses importados, tendo sido recolhidas cerca de 3700 amostras para testes de radionuclídeos, sem que fosse detectada qualquer anomalia.

30 Jun 2025

História | Defendido monumento para lembrar guerra com Japão

Lin Guangzhi, director do Instituto para a Investigação Social e Cultural da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, defendeu que deveria ser criado em Macau um monumento em memória dos mártires da guerra com o Japão, tendo em conta a passagem, em 2025, dos 80 anos do aniversário da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e da Guerra Mundial Antifascista, nos anos da II Guerra Mundial.

A construção deste monumento iria servir para a “população relembrar ou conhecer as histórias de Macau durante a guerra”. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Li Guangzhi lembrou que, apesar de o território não ter sido ocupado pelos japoneses, os compatriotas também participaram na resistência ao lado da pátria, demonstrando o espírito de amor à pátria e a Macau.

Além de defender a construção do monumento, o académico pede também o estabelecimento de um Centro de Investigação da História da Guerra Anti-japonesa de Macau, com vista a contar histórias positivas sobre estes anos de conflito e de combate aos japoneses, bem como os contributos que foram feitos.

30 Jun 2025

Índia | Alegada violação em grupo de estudante universitária reacende alarmes

A alegada violação colectiva de uma estudante numa universidade de Calcutá reacendeu sexta-feira os alarmes sobre a violência sexual na Índia, um fenómeno persistente que volta a gerar tensões políticas e sociais no país.

Segundo a agência local indiana ANI, uma estudante denunciou ter sido agredida na terça-feira passada dentro do ‘campus’ universitário na cidade do leste do país, tendo a polícia detido três pessoas relacionadas com o caso, pedindo ainda para prosseguir com a investigação.

A Comissão Nacional para as Mulheres (NCW, em inglês) da Índia tomou conhecimento do caso e solicitou um relatório urgente às autoridades. O caso desencadeou uma disputa política entre o partido no Governo, o nacionalista hindu Bharatiya Janata Party (BJP), e o partido regional no poder All India Trinamool Congress (AITC), da oposição.

O BJP, de Narendra Modi, acusou o governo estadual de inação, enquanto o AITC, num comunicado, defendeu a ação policial e renovou o apelo para implementar a lei anti-violação “Aparajita”, bloqueada, segundo afirmam, pelo executivo central, e que visa acelerar os processos judiciais por crimes sexuais e endurecer as penas.

Pequenos grupos de mulheres e activistas reuniram-se em frente ao ‘campus’ da universidade para exigir justiça e maior protecção para as mulheres, num contexto marcado por uma crescente preocupação com a segurança nos espaços educacionais e de trabalho.

Esta denúncia coincide com a descoberta, também na sexta-feira, do corpo enterrado de uma mulher no estado de Haryana, no norte do país, supostamente violada e assassinada pelo sogro em Abril, segundo o canal indiano NDTV, noutro caso de violência sexual brutal no país.

Ambos os episódios são conhecidos quase um ano após o assassínio de uma médica num hospital de Calcutá, um crime que desencadeou uma onda de indignação nacional e voltou a colocar em causa a resposta do sistema judicial aos casos de violência de género no país mais populoso do mundo.

30 Jun 2025

Hong Kong | Liga dos Sociais-Democratas anuncia dissolução

A Liga dos Sociais-Democratas (LSD), um dos últimos partidos da oposição que restam em Hong Kong, anunciou a sua dissolução na sexta-feira. O partido foi fundado em 2006 e foi considerado a facção radical do movimento pró-democracia de Hong Kong. Era conhecido pelas suas campanhas de rua, frequentemente lideradas pelo activista agora preso Leung Kwok-hung.

“O próximo ano marcará o 20.º aniversário da Liga dos Sociais-Democratas. No entanto, não sobreviveremos até esse dia e anunciaremos a nossa dissolução”, informou o partido numa mensagem aos jornalistas.

O movimento sempre lutou por mais democracia em Hong Kong e defendeu causas que afectam os seus cidadãos, criticando a desigualdade social e económica numa cidade com uma das maiores disparidades de riqueza do mundo. No seu auge, o partido ocupou três lugares no Conselho Legislativo de Hong Kong. O seu declínio começou quando Pequim impôs uma lei de segurança nacional a Hong Kong em 2020, após enormes protestos no ano anterior.

A China e o governo de Hong Kong alegaram que a lei era necessária para conter a agitação política. Membro do Conselho Legislativo de Hong Kong de 2004 a 2017, o líder da Liga Social-Democrata, Leung Kwok-hung, foi detido pela primeira vez em 2021.

Juntamente com outros 44 activistas pró-democracia, foi condenado no ano passado a seis anos e nove meses de prisão, por colocar em risco a segurança nacional, desencadeando uma onda de protestos internacionais.

O partido tem realizado pequenos protestos nos últimos anos, muitas vezes sob forte vigilância policial. Quatro membros do movimento, incluindo o seu actual líder, Chan Po-ying, foram multados em Junho por usarem roupas pretas e angariar dinheiro “sem autorização” em campanhas de rua.

30 Jun 2025

Espanhol cultiva chá no Minho e traz comida portuguesa para Pequim

Reportagem de João Pimenta da agência Lusa

Ao fim de quase três décadas radicado na China, o chefe de cozinha e empresário espanhol Carlos Miranda decidiu tentar “algo diferente”: cultivar chá no norte de Portugal e trazer cozinha portuguesa para Pequim.

“É preciso inovar”, afirmou à agência Lusa o empresário, durante uma pausa no restaurante português Calma, que inaugurou este ano na capital chinesa.

Sentado numa sala anexa ao estabelecimento, Carlos Miranda prepara chá verde, sobre uma mesa tradicional chinesa. “O chá sempre me fascinou”, disse. “Nunca bebi café”, acrescentou.

No canto da mesa está pousado um livro de receitas – A Cozinha de Macau de Casa do Meu Avô – publicado em 1992, por Graça Pacheco Jorge. Descendente de uma família estabelecida no território desde o século XVII, o autor foi figura central na divulgação da cozinha macaense.

Também Carlos Miranda tem ligação a Portugal de origem familiar, através de uma tia-avó portuguesa. “A minha família é de Zamora, no interior norte de Espanha, mas tenho familiares em Lisboa”, contou.

Com cerca de 200 metros quadrados e lugar para 40 pessoas, o restaurante português fica no coração da zona diplomática de Pequim, a norte de Sanlitun, uma das zonas mais movimentadas e cosmopolitas da capital chinesa. O menu inclui: Bacalhau à Brás, Polvo à Lagareiro, Arroz de Cabidela, Arroz de Marisco ou Arroz de Pato. “O arroz é um atractivo para os chineses”, justificou.

Por outro lado

No sentido inverso, Miranda levou para o norte de Portugal chá, bebida com origem na China há milhares de anos. “Queria fazer algo ligado à agricultura ecológica”, descreveu.

O projecto agrícola começou há cerca de um ano, na região do Minho, num terreno próximo do Parque Nacional da Peneda-Gerês. “A ideia era plantar no parque, mas como é Reserva Ecológica Nacional tornou-se impossível. Fiquei pelas encostas”, disse o empresário, enaltecendo as condições locais de humidade, altitude e solo.

“O norte de Portugal é húmido, tem rios limpos e, na última análise, foi o país europeu onde, num estudo recente, o chá revelou melhor concentração de antioxidantes”, descreveu.

As primeiras folhas vão demorar: “só ao fim de quatro ou cinco anos é que se pode começar a colher com qualidade”.

A plantação foi pensada para um mercado de nicho, focado em produto biológico e de proximidade. “Não faz sentido competir com a China ou a Índia. Vamos fazer chá ‘gourmet’, com garantia de zero pesticidas, para consumidores exigentes”, afirmou.

Apesar de nunca ter trabalhado directamente na indústria do chá, Carlos Miranda é um entusiasta. “Bebo chá todos os dias”, confessou. Enquanto espera pela primeira colheita no Minho, Carlos Miranda serve já do outro lado do mundo vinhos do Douro e do Dão. “Temos de fazer coisas diferentes, não ficar sempre pelo mesmo”, realçou.

Com história

Na China, o espanhol construiu ao longo de 27 anos uma carreira na restauração, com vários estabelecimentos que se tornaram referência entre a comunidade de expatriados no país.

“Sou cozinheiro de formação. Trabalhei no Porto e em Lisboa, nos anos 90, e depois vim para a China. Tive restaurantes em Pequim, Liaoning, Dalian e Xiamen, quando ainda não havia comida ocidental nessas cidades”, contou.

O Calma funciona com uma equipa que conhece bem o percurso de Miranda: “O chefe de cozinha chinês está comigo há 20 anos”. Entre os clientes estão estudantes chineses de língua portuguesa e diplomatas e profissionais chineses que viveram nos países lusófonos: “conheci já aqui pessoas muito interessantes”.

O projecto agrícola obriga-o agora a passar mais tempo em Portugal. “O chá exige cuidados. Em Janeiro vamos construir uma pequena fábrica para processar o produto”. Até lá, rega-se e espera-se. “É um processo lento, mas é isso que o torna interessante”, conclui.

30 Jun 2025

“Arte Macau” | Projecto de Ung Vai Meng é finalista para a Bienal

Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural, faz a curadoria de um dos seis projectos finalistas para participar na próxima edição da “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2025”. Trata-se de “Duração Genética” e, caso vença, pode ir à Bienal de Veneza

 

Já estão escolhidos os seis projectos artísticos finalistas para a participação na Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2025, nomeadamente na categoria “Projecto de Curadoria Local”. Um desses projectos tem, precisamente, curadoria do antigo presidente do Instituto Cultural (IC), entidade que promove esta iniciativa: Guilherme Ung Vai Meng.

Chama-se “Duração Genética”, seguindo-se outros cinco finalistas, nomeadamente “Atrás do Jardim Oriental”, com curadoria de Cheong WengLam; “Mar de Línguas: Programa de Pesquisa Linguística de Macau”, que tem como curadores He Yan Jun e Zhang Ke; “Uma Posição Enunciável para Mulheres”, com curadoria de Cheong Cheng Wa e Wang Jing; “Sob a Península de Wetware”, de Daisy Di Wang e Wong Mei Teng; e, finalmente, “Torre de Jacone”, com curadoria de Feng Yan e Ng Sio Ieng. No total, há 35 artistas envolvidos em todos estes projectos.

Espécie de diálogo

Segundo uma nota do IC, os seis projectos finalistas “exploram a relação do diálogo entre a memória histórica de Macau e a globalização, abrangendo um vasto leque de aspectos como genes culturais, paisagens linguísticas, narrativas das mulheres, bem como tecnologia e ecologia”.

O tema deste ano da “Arte Macau” será “Olá, o que fazes aqui?”, tendo o júri referido que “as propostas deste ano [a concurso] são de boa qualidade, com métodos curatoriais experimentais e perspicazes, correspondendo plenamente ao tema da Bienal”.

Destaque ainda para o facto de os seis finalistas ganharem passaporte de acesso para a selecção preliminar da representação da RAEM na Bienal de Arte de Veneza.

Segundo a mesma nota, “os curadores ou grupos curatoriais das propostas de exposição seleccionadas passam a estar directamente qualificados para a selecção preliminar da 61.ª Exposição Internacional de Arte ‘La Biennale diVenezia’ – Evento Colateral de Macau, China”. Depois deste acesso à fase preliminar, o IC “irá criar outro júri para seleccionar uma proposta de exposição para representar Macau no evento em Itália”.

A realização da Bienal de Arte de Macau tem por objectivos “proporcionar uma plataforma de intercâmbio aberta e diversificada, incentivar a criação de arte contemporânea em Macau, cultivar talentos de curadoria locais e mostrar as realizações da criação artística em Macau”.

Para esta edição, foram recebidas 34 propostas a concurso na categoria “Projecto de Curadoria Local”. O júri é composto por Feng Boyi, Curador Principal da Bienal; Wang Xiaosong, DirectorExecutivo do Museu de Arte Contemporânea de Suzhou; Song Dong, conceituado artista contemporâneo; Marcel Feil, Curador Independente Holandês, e Van Pou Lon, Chefe da Divisão de Desenvolvimento das Artes Visuais do Instituto Cultural (IC),

A Arte Macau 2025 irá ter várias áreas com exposições e eventos, nomeadamente a “Exposição Principal”, “Exposição de Arte Pública”, “Pavilhão da Cidade”, “Exposição Especial” e “Projecto de Curadoria Local”, onde se irá integrar o projectovencedor do grupo de seis finalistas. Destaque ainda para a secção “Exposição Colateral”.

30 Jun 2025

Shenzhou-20 | Astronautas chineses completam segunda caminhada espacial

Os astronautas da missão chinesa Shenzhou-20 realizaram na quinta-feira a sua segunda actividade fora da estação espacial Tiangong, informou sexta-feira a Agência de Voo Espacial Tripulado da China.

Chen Dong e Chen Zhongrui saíram para o exterior a partir do módulo central da estação, onde permaneceram cerca de seis horas e meia, enquanto o terceiro membro da tripulação Wang Jie colaborou a partir do interior.

A operação contou com o apoio do braço robótico da Tiangong e da equipa de controlo terrestre, indicou a mesma fonte. A missão Shenzhou-20 foi lançada em Abril a partir da base de Jiuquan, no noroeste da China, e a tripulação permanecerá em órbita durante aproximadamente seis meses.

Durante esse período, os três astronautas vão conduzir experiências científicas, testes técnicos e novas actividades extra veiculares. A estação espacial Tiangong orbita a cerca de 400 quilómetros da Terra e foi concebida para operar durante, pelo menos, uma década.

Com o previsto fim da Estação Espacial Internacional, liderada pelos Estados Unidos e da qual a China foi excluída, a Tiangong poderá tornar-se brevemente na única estação espacial em funcionamento.

A China investiu fortemente no programa espacial nos últimos anos, tendo já conseguido aterrar a sonda Chang’e 4 no lado oculto da Lua – uma estreia mundial – e enviar uma missão a Marte, tornando-se o terceiro país, depois dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, a conseguir aterrar no planeta vermelho.

O país asiático planeia ainda construir, em colaboração com a Rússia e outros parceiros, uma base científica no polo sul da Lua.

30 Jun 2025

EUA / China | Confirmado acordo comercial entre os dois países

Os EUA e a China parecem ter finalmente alcançado um consenso sobre as trocas comerciais entre as duas nações. O acordo foi firmado após as negociações em Londres

 

A China e os Estados Unidos chegaram a acordo sobre os termos do pacto assinado na última ronda de negociações, realizada em Londres, anunciou sexta-feira o Ministério do Comércio da China, após meses de uma guerra tarifária.

“Após as negociações em Londres, as equipas chinesa e norte-americana mantiveram uma comunicação próxima. Recentemente, com a aprovação, ambas as partes confirmaram os detalhes do acordo”, afirmou sexta-feira um porta-voz no portal oficial do Ministério do Comércio chinês.

“Assinámos com a China ontem [quinta-feira], certo? Acabámos de assinar com a China”, disse, anteriormente, o Presidente norte-americano, Donald Trump, durante um evento na Casa Branca, não fornecendo mais detalhes sobre o acordo.

Segundo o documento divulgado pelo Ministério do Comércio chinês, “a China analisará e aprovará os pedidos de exportação de bens controlados que cumpram as condições previstas na lei”, numa aparente referência às terras raras, minerais essenciais para sectores como a defesa e o automóvel, cuja produção é controlada pela China, que impôs restrições à sua venda ao estrangeiro no início de Abril.

Em troca, o Departamento do Comércio norte-americano afirmou que “os Estados Unidos cancelarão uma série de medidas restritivas adoptadas contra a China”, sem fornecer detalhes.

“Espera-se que os Estados Unidos e a China encontrem um compromisso e cumpram o importante consenso e as exigências alcançadas pelos chefes de Estado em 05 de Junho”, sublinhou o comunicado, referindo-se à conversa telefónica entre os Presidentes dos Estados Unidos e da China, Donald Trump e Xi Jinping, que desbloqueou a situação e permitiu que os representantes comerciais de ambas as potências se reunissem em Londres.

Acordo em Londres

A China confirma assim as declarações de Trump, que revelou que os Estados Unidos tinham assinado o acordo com a China na véspera.

Em meados de Junho, após dois dias de negociações na capital britânica, o líder republicano indicou que o acordo incluía uma tarifa norte-americana de 55 por cento sobre os produtos chineses e uma tarifa de 10 por cento sobre os produtos norte-americanos para a China.

O acordo de Londres previa o estabelecimento de uma estrutura para implementar o “consenso” alcançado por Xi e Trump na referida conversa telefónica, embora ainda estivesse pendente da aprovação final de ambos os líderes para a sua assinatura.

Esta ronda de negociações procurou aliviar as tensões entre as duas potências, depois de se terem acusado mutuamente de violar um acordo assinado em Genebra, na Suíça, em Maio. Este acordo havia dado início a uma trégua comercial de 90 dias, segundo a qual a China reduziria as suas tarifas sobre os produtos norte-americanos de 125 por cento para 10 por cento, enquanto os EUA reduziriam as tarifas sobre os produtos chineses de 145 por cento para 30 por cento.

A China alegou, na altura, que os EUA violaram a trégua ao restringir a exportação de ‘chips’ de inteligência artificial (IA), suspender as vendas de ‘software’ para o design de semicondutores e ameaçar revogar os vistos de estudantes chineses. Washington acreditava que Pequim não estava a honrar o pacto devido às restrições anteriormente referidas à exportação de terras raras.

A escalar

Após o seu regresso à Casa Branca, Trump intensificou a guerra comercial que já tinha iniciado em 2018, lançando uma escalada tarifária contra a China que resultou, na prática, numa espécie de embargo comercial entre as duas maiores potências económicas do mundo. Os EUA chegaram a impor tarifas até 145 por cento à China, que respondeu com tarifas de 125 por cento sobre os produtos norte-americanos.

O Presidente norte-americano afirmou sexta-feira também que os Estados Unidos estão “a receber grandes ofertas” de outros governos e sugeriu que o próximo país com o qual se pode chegar a um acordo é a Índia. “Temos um a caminho, talvez com a Índia, um acordo muito grande”, observou Trump.

30 Jun 2025

Turismo | DST promoveu Macau em Hong Kong no fim-de-semana

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) fez uma acção de promoção em Hong Kong, no sábado e domingo, para atrair turistas da região vizinha. Nos dois dias, foram organizadas duas zonas de exibição com espectáculos de palco e jogos interactivos, no átrio do primeiro andar do centro comercial East Point City que contou com a presença de várias caras conhecidas do entretenimento de Hong Kong.

O evento de abertura foi conduzido pela actriz e apresentadora de televisão e rádio Kitty Yuen, e contou com a participação dos cantores Jeremy Lee e Stanley Yau, membros do grupo MIRROR e artistas de cantopop Windy Zhan. Os atletas de ténis de mesa, Ng Wing Nam e Lee Ho Ching também participaram na apresentação. Os membros da popular banda MIRROR “partilharam sugestões para explorar Macau, destacando pontos fotogénicos imperdíveis e recomendações gastronómicas”.

Além de ter actuado ao vico, Windy Zhan fez uma apresentação sobre “as vibrantes actividades artísticas e culturais de Macau”, enquanto os atletas de ténis de mesa destacaram os “eventos desportivos de classe mundial que Macau acolhe”.

Na campanha, foram também promovidos os recursos turísticos de Hengqin, permitindo que os residentes de Hong Kong conheçam a nova forma de viagem com itinerários “multi-destinos”.

30 Jun 2025

DST | Quatro cidades brasileiras participam em festival de gastronomia

Quatro cidades brasileiras, Florianópolis, Belém, Paraty e Belo Horizonte, vão participar na Festa Internacional da Cidades de Gastronomia, em Macau, entre 11 e 20 de Julho. O evento, que irá reunir 56 cidades de 21 países, irá decorrer na Doca dos Pescadores

 

No Brasil existem “apenas quatro cidades” reconhecidas como Cidades Criativas em Gastronomia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) e “todas elas vão estar aqui”, sublinhou a directora dos Serviços de Turismo (DST).

Numa conferência de imprensa, Maria Helena de Senna Fernandes, disse que “o evento reunirá 34 das 56 Cidades Criativas da UNESCO em Gastronomia oriundas de 21 países distribuídos por seis continentes”. A dirigente lamentou que a cidade de Santa Maria da Feira, em Portugal, tenha decidido não se juntar ao festival.

As cidades participantes irão enviar ‘chefs’ para realizar demonstrações culinárias para o público na Praça do Coliseu Romano e no Legend Boulevard da Doca dos Pescadores.

A edição deste ano vai ter como tema “Especiarias e Ervas Aromáticas” e irá centrar-se no papel das especiarias e ervas aromáticas como ingredientes essenciais nas culinárias de todo o mundo.

“Haverá mais de 100 bancas, das quais 25 do Interior da China (incluindo de Chengdu, Shunde, Yangzhou, Huai’an e Chaozhou), nove da Ásia (incluindo de Phuket, da Tailândia; Hatay, da Turquia; Buraidah, da Arábia Saudita, e Iloilo, das Filipinas) e 52 de Macau com gastronomia local”, disse a DST.

Unidos pelo paladar

Além disso, as palestras do Fórum Internacional de Gastronomia realizar-se-ão no dia 14, sob o tema “O Sabor da Vida: Conexões Culinárias de Macau”. O evento tem um orçamento de 27,8 milhões de patacas. A RAEM é reconhecida como Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO desde 2017.

Na altura, a organização sublinhou a “experiência importante” que Macau tem na realização de eventos de grande escala relacionados com a gastronomia, como “o Festival de Gastronomia de Macau; um evento marcante que reúne chefes locais e internacionais e as principais partes interessadas do sector de toda a Ásia e Europa”.

“Outros festivais importantes são o Festival da Lusofonia, que promove e troca conhecimentos culturais entre os países e regiões de língua portuguesa, e o Festival de Cozinha e Cultura de Myanmar e do Sudeste Asiático”, referiu a UNESCO.

30 Jun 2025

Finanças | Citibank deixa de operar em Macau

A sucursal do Citibank de Macau vai encerrar as portas a partir de amanhã. A informação foi divulgada pela sucursal do banco na sexta-feira. Apesar deste encerramento, o banco diz que vai seguir as leis em vigor e a servir os clientes a partir de Hong Kong.

“O Citigroup continuará a prestar serviços aos clientes de Macau a partir de Hong Kong sempre que possível, de acordo com as leis e regulamentos de Macau”, pode ler-se no comunicado.

De acordo com a AMCM, citada pelo Canal Macau, o pedido formal do Citibank para deixar a RAEM foi feito em 2023, tendo sido nomeados administradores para garantirem a liquidação completa de dívidas em aberto. A AMCM assegura também que foram adoptadas medidas para que o encerramento não cause prejuízos aos clientes.

30 Jun 2025

PJ | Negado envolvimento de Space Oil em caso de detenção

A Polícia Judiciária (PJ) confirmou que a droga envolvida num caso de detenção na quinta-feira não é, afinal, “Space Oil”, sendo que os testes realizados deram falso positivo para a substância de etomidato, a base desta nova droga. A detenção de um homem, descrita inicialmente como a primeira em Macau envolvendo “Space Oil”, ocorreu por suspeita de tráfico, sendo o homem de nacionalidade vietnamita.

Um novo comunicado da PJ, veio agora dizer que o resultado de testes rápidos efectuados a estupefacientes não constituem uma referência para a classificação final do tipo de droga envolvida, sendo que, depois de realizada a prova material por parte do Departamento de Ciências Forenses, ficou concluído, em relatório, que o resultado do primeiro teste rápido deu um falso positivo à presença do etomidato.

A PJ diz estar agora a comunicar com as entidades envolvidas sobre a discrepância de resultados, tendo pedido desculpas publicamente pela falsa informação divulgada e referindo que continua a investigar os casos de forma científica, bem como actuar de forma justa no futuro.

30 Jun 2025

PME | Pedidas medidas para levar clientes aos bairros

A deputada Wong Kit Cheng pretende que o Governo explique o que vai fazer para que as Pequenas e Médias Empresas (PME) obtenham mais clientes com as diferentes políticas como a transformação de Macau numa cidade gastronómica, do desporto e das artes e espectáculo, de forma a diversificar a economia. A questão faz parte de uma interpelação oral, que vai ser lida numa sessão, a agendar, da Assembleia Legislativa.

De acordo com a deputada, apesar de várias actividades, como concertos, eventos desportivos e festivas de gastronomia, a economia dos bairros residenciais não está a beneficiar dessas iniciativas, o que faz com que as PME se encontrem em dificuldades.

Além disso, avisa a deputada, existe o risco de que as actividades demasiado homogéneas fiquem sem capacidade para mobilizar visitantes, o que vai contribuir para agravar o problema. “Há opiniões na comunidade de que, embora vários bairros organizem periodicamente actividades como espectáculos ou bazares culturais, todas são muito homogéneas, pelo que não aproveitam o património histórico e cultural das comunidades em que se situam”, descreve. “Uma vez terminadas as actividades, o fluxo de pessoas nestes bairros diminui, sem que haja uma ligação efectiva com a comunidade e os comerciantes. Isto mostra que ainda há muito espaço para melhorar a revitalização da economia”, acrescentou.

Face a este cenário, a deputada pretende que o Governo explique que medidas vai implementar para que os bairros continuem a ser atractivos, mesmo depois dos eventos, e o comércio local possa beneficiar das novas políticas.

30 Jun 2025