Andreia Sofia Silva EventosDocumentário | Universo de Ruby Yang em destaque na Cinemateca Paixão Arranca dia 19 um novo ciclo de cinema na Cinemateca Paixão, desta vez dedicado a Ruby Yang, cineasta de Hong Kong mais conhecida pelo género documentário e que ganhou mesmo um Óscar com “The Blood of YingZhou District”, tendo sido a primeira cineasta chinesa a consegui-lo Foi em 2006 que Ruby Yang, cineasta nascida em Hong Kong, se tornou na primeira chinesa da sua área a ganhar um Óscar. E consegui-o ao concorrer, na 79.ª edição de um dos eventos mais importantes da indústria do cinema, com um documentário que é um murro no estômago. “The Blood of Yingzhou District” retrata um ano na vida das crianças que vivem nas aldeias remotas da província de Anhui, na China, e que perderam os pais vítimas da Sida. O filme gira em torno do contraste entre as obrigações familiares tradicionais e o medo da doença. Produzido por Thomas Lennon, este documentário pode agora ser revisto na Cinemateca Paixão, no ciclo especialmente dedicado a Ruby Yang e que tem início no dia 19. Nesse dia, será feita a primeira exibição deste multipremiado documentário, que poderá ser visto também nos dias 27 e 30 deste mês. Até ao dia 8 de Maio, o público de Macau poderá ver um programa que conta com a curadoria da própria Ruby Yang, uma cineasta que tem abordado temáticas relacionadas com a pobreza em cidades chinesas, entre outros temas marcantes. “A Moment in Time”, documentário realizado em 2010, também consta no programa, tendo sido realizado em parceria com o seu marido, Lambert Yam, produtor. Na película, com uma hora de duração, poderão ser conhecidas as experiências de vida dos chineses emigrados na cidade norte-americana de São Francisco, que vivem na Chinatown. O documentário foi exibido nos canais públicos de televisão nos EUA e ganhou inúmeros prémios em festivais de cinema, nomeadamente no Festival do Documentário Chinês de Hong Kong. “A Moment in Time” foi ainda nomeado para a categoria de Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Pequim, em 2010, e Festival de TV de Sichuan, no mesmo ano. De frisar que este documentário será também exibido nos dias 19, 27 e 30 de Abril. Cineasta premiada Para os dias 23 e 27 de Abril, e para o dia 3 de Maio, estão agendados os documentários “Ritoma” e “In Search of Perfect Consonance”. “Ritoma”, realizado em 2018, conta a histórias dos nómadas do Tibete que descobriram uma nova paixão, o basquetebol. Ao mesmo tempo que lutam para manter a sua cultura e deixam para trás a sua vida, estas pessoas tentam abraçar laivos de modernidade. “In Search of Perfect Consonance”, datado de 2016, recua 22 anos para o período em que a história da diplomacia estava marcada pela intervenção chinesa na guerra do Vietname e quando as relações no estreito de Taiwan eram tensas. O foco deste documentário é a Asian Youth Orchestra [Orquestra Jovem Asiática], que tentou apelar à união das pessoas através da música. Este documentário obteve dois prémios, um deles em 2017 no Festival Internacional de Realizadores da Ásia-Pacífico e em 2018, no Festival Internacional de Cinema de Sedona. Relativamente ao documentário vencedor de um Óscar, o primeiro contacto que Ruby Yang teve com a realidade do HIV na China foi em 2003, quando, juntamente com Thomas F. Lennon, fundou o projecto Chang Ai Media, a fim de aumentar a consciência das populações sobre a doença. “The Blood of Yingzhou District” faz parte de uma trilogia de documentários focados sobre a realidade na China, complementado com “Tongzhi in Love” e “The Warriors of Qiugang”. Depois de ter vivido um longo período em São Francisco, Ruby Yang mudou-se para Pequim em 2004, residindo actualmente em Hong Kong. Em 2019, recebeu a distinção de “Artista do Ano em Cinema” nos Prémios de Desenvolvimento das Artes de Hong Kong. No programa da Cinemateca Paixão inclui-se ainda um debate sobre o género documentário via Zoom, agendado para o dia 7 de Maio, às 17h, que terá a própria Ruby Yang como moderadora e que conta com a participação de Rintu Thomas e Sushmit Ghosh, realizadores de “Writing with Fire”. As inscrições podem ser feitas através deste formulário: https://forms.gle/jm2GSinvU2VwYu1G7
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteMaria Fernanda Ilhéu, economista: “Não me surpreendia se a política de zero casos começasse a ser ajustada” Convidada a comentar os recentes projectos de integração regional, Maria Fernanda Ilhéu defende que, com a pandemia, Macau e HK podem sofrer maior impacto económico do que as outras cidades da Grande Baía. Sobre a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, lamenta que “não esteja a ter um impacto significativo na integração económica”. Já quanto à política de zero casos covid-19, a economista diz que é possível que a China venha a seguir outro caminho que tenha também em atenção a economia, como fizeram outros governos na Europa Que análise faz à evolução do projecto da Grande Baía desde que foi anunciado? É expressamente referido [nos planos anunciados pela China] que se espera que em 2035 a área da Grande Baía se torne num ecossistema económico, com um modo de desenvolvimento suportado pela inovação de competitividade internacional. A estratégia nacional do Governo chinês assenta em seis princípios básicos, como a orientação pela inovação e reforma, o desenvolvimento coordenado e o planeamento holístico, a prossecução de um desenvolvimento verde e conservação ecológica, a abertura e cooperação com um resultado win-win [ganhos mútuos], a partilha de benefícios do desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas e aderir ao princípio “Um País, Dois Sistemas” de acordo com a lei. Mas há ideias fundamentais por detrás destes princípios. Há dois pilares estruturantes. Um político, de integração de Hong Kong e Macau na província de Cantão, percebendo-se que na cidade de Guangzhou ficará a governação da coordenação regional do Delta do Rio das Pérolas. Há também o pilar económico, de diversificação e de complementaridade, em que as 9 + 2 cidades do Delta irão simultaneamente concorrer e cooperar, sendo que à partida cada um trará para o processo mais valias. Existe um encorajamento aos empresários para pensarem os negócios em termos regionais. Estamos a falar de um mercado doméstico de 71 milhões de pessoas com um poder de compra médio-alto dos mais elevados ao nível chinês e comparável ao poder de compra da classe média nos países do Sul da Europa. Mas esta região do Delta do Rio das Pérolas é também uma das mais abertas da China, com uma elevada proximidade e conectividade económica com os Países da ASEAN, que em conjunto têm cerca de 8,8 por cento da população mundial. Se fossem uma só entidade seriam a sexta economia do mundo e a terceira da Ásia. Mas estamos perante a evolução esperada? É difícil de dizer. O que vemos é que estão a cumprir-se os prazos para a criação das infra-estruturas físicas e legais. Podemos falar, por exemplo, da abertura do comboio de alta velocidade Guangzhou-Shenzhen-Hong Kong Express Link e da Ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau, ambos essenciais para as pessoas que trabalham nestas cidades, ou entre estas cidades. Não nos devemos esquecer que muitas empresas têm actividade em várias delas e que muitas pessoas trabalham numa cidade e vivem noutra, portanto a rápida mobilidade é muito importante. No entanto, podemos ter as infra-estruturas físicas de mobilidade, mas se não se puderem usar fácil e livremente, então o objectivo integração económica para que foram construídas, fica prejudicado. Em que sentido? Quando vivia em Macau e tinha de me deslocar a Hong Kong, considerava a viagem de jetfoil muito desconfortável e pensava que se tivéssemos uma ponte seria fantástico porque poderia deslocar-me no meu carro. Como economista, antecipava o grande boom económico que seria para Macau, porque muitas pessoas que trabalhavam em Hong Kong iriam preferir o estilo e qualidade de vida local. Para mim, a construção de uma ponte era o grande projecto. Agora temos uma ponte que liga Macau a Hong Kong, mas ali só podem circular transportes públicos e só algumas entidades têm direito a utilizar o carro nessa ponte, sendo que o jetfoil continua a ser a solução de transporte preferível para a maioria das deslocações individuais. Não vejo que [a ponte] esteja a ter um impacto de integração económica significativo. Ao nível das fronteiras também houve mudanças. Sim, temos também um novo posto fronteiriço em Macau, inaugurado em 2020, mas aguarda-se que o corredor permanente para a passagem de automóveis esteja concluído. Foi considerado pelo Executivo de Macau que este posto facilitará a expansão da actividade para Hengqin. Mas se nesse corredor rodoviário só poderem passar veículos com dupla matrícula de Macau e China, e se essas matrículas forem de difícil obtenção para a maioria dos cidadãos, então os efeitos também não serão espectaculares. Em termos do pilar de integração política foi dado um passo importante na criação do “Projecto Geral de Construção Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. Esta zona visa o desenvolvimento e diversificação da economia de Macau, que por limitação de espaço, tal como está, não consegue evoluir da perigosa dependência da indústria do jogo. Ou seja, há aqui uma mudança lenta. Estão a dar-se passos significativos no processo de integração de Macau na área da Grande Baía, mas é um processo feito a passo e passo, que poderá ser mais ou menos lento, conforme a forma como as infra-estruturas físicas e legais forem sendo impulsionadas pelas autoridades governamentais envolvidas, e se as populações locais as entenderem e aceitarem. A pandemia e a política de casos zero vai obrigar a um ajustamento dos objectivos económicos traçados para a Grande Baía? Antes da covid-19 a região estava a crescer muito e mais do que o resto da China. Visitei, em Dezembro de 2019, as cidades de Guangzhou, Dongguan, Foshan, Shenzhen, Zhuhai e Macau. Nestas duas últimas cidades tinha estado há poucos meses, mas as restantes já não as visitava há cerca de cinco anos. Fiquei impressionada com o crescimento e grande dinamismo que ali presenciei. A covid-19 teve um impacto na economia mundial e se atrasar a evolução deste projecto isso será normal. O plano é que este ano esteja formado o enquadramento para que esta área seja uma baía internacional de primeira classe, mas teremos de aguardar até Dezembro para saber se esta meta será cumprida ou não. Não será de estranhar que as economias de Hong Kong e Macau venham a sofrer economicamente mais que a economia das nove cidades que estão no continente. E porquê? Por um lado, porque as fronteiras entre Hong Kong e Macau, e de ambas com o continente, têm estado, nestes últimos dois anos, fechadas com frequência. Mas temos agora um outro factor altamente perturbador, a guerra na Ucrânia, que não deixará de ter efeitos disruptores na economia mundial e obviamente também na chinesa. Até que ponto este conflito vai ter impacto nos projectos chineses? Não podemos ainda prever como vai afectar os projectos “uma faixa, uma rota” na Eurásia ou o dinamismo da indústria e o comércio externo da China. Portanto, os objectivos económicos para a Grande Baía não ficarão imunes a esta dupla ameaça mundial que estamos a viver, a pandemia e a guerra. Mas, e quanto aos efeitos da política de casos zero? Até agora a China privilegiou sempre a saúde à economia, e é assim que encaro a política de zero casos covid-19. Mas, pragmaticamente, a China poderá que ter de seguir uma política que tenha também em atenção a economia, como fizeram muitos governos na Europa, nomeadamente em Portugal, que considero um caso de sucesso. Não ficarei surpreendida se a política de zero casos covid-19 começar a ser ajustada. Na Grande Baía cada cidade tem os seus objectivos definidos. Macau será a plataforma de ligação com os países de língua portuguesa, mas está a apostar também no desenvolvimento do sector financeiro. Acredita que a região vai conseguir cumprir com estes objetivos a curto prazo? A situação de Macau como plataforma de ligação com os países de língua portuguesa poderá ser grandemente melhorada a curto prazo, porque já existe muita experiência nesse processo e já percebemos que algumas políticas, e sobretudo algumas formas de implementação, podem ser melhoradas e ensaiadas. Em relação ao sector financeiro será mais difícil de concretizar a curto prazo. Não se cria um ecossistema financeiro confiável [tão rapidamente]. Como encara o projecto da Zona de Cooperação Aprofundada com Hengqin? Como a grande oportunidade para a economia de Macau crescer de uma forma diversificada. É também um teste à administração conjunta das autoridades de Macau e Guangdong de um espaço económico, dentro de um equilíbrio de políticas e práticas respeitando o princípio “Um País Dois Sistemas”.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaHong Kong | Artigo 23 é prioridade para John Lee em Hong Kong, mas não só O candidato ao cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, disse hoje que a legislação do artigo 23 da Lei Básica da RAEHK será a sua prioridade, mas não a única. Recorde-se que John Lee é, para já, o único candidato ao cargo ainda ocupado por Carrie Lam, que anunciou que não se recandidata. Segundo o canal de rádio e televisão RTHK, John Lee falou da importância de promulgar o artigo 23 como complemento à lei de segurança nacional de Pequim, já em vigor. Este disse ter o “dever constitucional” de o fazer, a fim de garantir que a região fique melhor preparada para “lidar com desafios futuros”. “Claro que a segurança nacional será uma área [prioritária], mas há outras, tal como a gestão de riscos, [a elaboração] de um plano de contingência, garantir que o nosso sistema fiscal seja capaz de enfrentar desafios e riscos. Então será feita uma análise às áreas com maior potencial de risco, a fim de garantir que estamos plenamente preparados para mitigar [os problemas] e agir bem caso sejamos atacados subitamente de diferentes áreas”, apontou. Recorde-se que a legislação do artigo 23 gerou protestos em Hong Kong, em 2003, sendo que o diploma nunca foi avante. Em 2020 a Assembleia Popular Nacional, em Pequim, aprovou para Hong Kong a lei de segurança nacional. Mesmo com este diploma, a Lei Básica de Hong Kong determina que o Conselho Legislativo (LegCo) local necessita legislar o artigo 23. Para John Lee, a estabilidade do território é um ponto fulcral. “Penso que será bom para todos [a legislação] para Hong Kong, porque qualquer aspecto que seja alvo de ataque e que não seja bem gerido claro que terá um efeito em outras áreas. Isto é feito em prol da estabilidade de Hong Kong. Sem isso, não vamos conseguir ter prosperidade.” Nomeações a caminho Na conferência de imprensa desta terça-feira John Lee revelou ainda ter visitado representantes de grupos políticos pró-Pequim na segunda-feira, onde disse que é necessário “levar a cabo uma melhor gestão de riscos para garantir a segurança e um ambiente estável em Hong Kong”, noticiou o canal RTHK. Tendo o apoio de Pequim, John Lee espera entregar até amanhã pelo menos 188 nomeações dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, pelo menos 15 dos cinco sectores representados neste órgão. Esta semana a equipa de campanha anunciou que já tinha nomeações suficientes, mas só amanhã será feita uma entrega formal dos documentos.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaEconomia | Li Keqiang faz apelo à estabilização do emprego O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse esta segunda-feira que é importante estabilizar o emprego na China e os preços. Segundo a agência Xinhua, Li Keqiang falou no âmbito de um simpósio sobre a economia na província de Jiangxi, ao qual presidiu. Falando da “forte resiliência” da economia chinesa perante as adversidades dos últimos tempos, Li Keqiang apelou à população “para se manter vigilante face a desafios inesperados e lidar com as pressões internas e externas”. Recorde-se que esta segunda-feira foram divulgados os dados da inflação no país, sendo que o índice de preços no consumidor (IPC), principal indicador da inflação na China, subiu 1,5 por cento em Março, em relação ao mesmo mês do ano passado. Já o índice de preços no produtor (IPP), que mede os preços nas vendas por grosso, cresceu 8,3 por cento. Em ambos os indicadores, o resultado é superior ao esperado pelos analistas, que tinham previsto um aumento de 1,2 por cento para os preços no consumidor, e de 7,9 por cento para as vendas por atacado. Li Keqiang destacou as medidas que as autoridades chinesas implementaram nos últimos tempos, nomeadamente na área dos impostos, como reembolso ou isenção de taxas, além dos apoios dados à economia real. Além disso, o Governo emitiu obrigações especiais e lançou projectos de construção que possam ajudar a dinamizar a economia e o emprego. O primeiro-ministro não esqueceu também a necessidade de reforçar a produção agrícola e a consolidação da estabilidade dos preços e do fornecimento de electricidade, carvão e outras energias. Para Li Keqiang, é fundamental lançar medidas de apoio para as entidades que enfrentem mais desafios, nomeadamente as pequenas e médias empresas, ou os negócios por conta própria.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Mostra em Mong-Há visa quebrar estereótipos de género “Forget The Frame” é o nome da exposição que a Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau apresenta no próximo dia 23, nas Vivendas de Mong-Há. O público poderá conhecer melhor o trabalho das artistas locais Celeste C. da Luz, Alice Ieong e Su Cheng A Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau [New Woman Development Association of Macao] está de regresso às exposições com a mostra que apresenta, no próximo dia 23 de Abril, nas Vivendas de Mong-Há, um novo espaço cultural criado a partir dos antigos alojamentos dos funcionários públicos. A mostra, que termina a 15 de Maio, intitula-se “Forget The Frame”, conta com curadoria de Carol Lei e Hannah Ieong e revela o trabalho de três jovens artistas de Macau, Celeste C. da Luz, Alice Ieong e Su Cheng. A exposição gira em torno das ideias da imaginação e de liberdade criativa, no sentido de que “quem cria este tipo de trabalhos pode quebrar quaisquer estereótipos de género que existem na sociedade, ao mesmo tempo que apresenta mensagens de uma perspectiva feminina”. Estas três artistas são, assim, convidadas a desenvolver trabalhos através de diferentes meios criativos, espelhando a sua imaginação através da arte e revelando a sua “criatividade única”. A ideia é que o público possa “ser encorajado a abandonar todas as limitações, sair da caixa e deixar-se inspirar pela possibilidade de liberdade”. Além da exposição em si, estão previstas uma série de actividades, incluindo uma zona interactiva intitulada “Breaking the Frames in Life” [Quebrar as molduras da vida], visitas guiadas ou workshops, que estão sujeitas a marcação prévia. A ideia, com estas iniciativas paralelas, é fazer com que os interessados compreendam a temática central do evento, bem como os artistas que nele participam e os trabalhos apresentados, para que se possa “desencadear uma reflexão sob diferentes perspectivas”. Papel feminino Recorde-se que esta associação, criada em 2017, tem vindo a chamar a atenção, através da arte, dos papéis diversificados que a mulher pode desempenhar na sociedade local, tentando quebrar estereótipos de género que ainda persistem. Esta exposição pretende abordar a ideia de que as mulheres, muitas vezes, “vivem dentro de estruturas que outras pessoas criam ou com base nas premissas adoptadas pela sociedade, tal como as expectativas criadas para as diferentes idades, ou segundo uma identidade social em particular ligada às ocupações, posições, interesses, talentos ou relacionamentos”. Além disso, nos tempos actuais, a mulher “desempenha um determinado papel como filha, mulher ou mãe que pode ser estereotipado”, sendo que “as pessoas assumem que vivem como deveriam viver” e não consoante os seus gostos pessoais, acrescenta a associação na mesma nota. A Associação para o Desenvolvimento das Novas Mulheres de Macau foi criada por “nove mulheres independentes e confiantes”, pretendo juntar mulheres de vários campos e de várias idades que vivam no território. “Encorajamos as mulheres a descobrirem os seus próprios valores e a aceitar novas coisas. Também pedimos que as mulheres quebrem as restrições pessoais e tradicionais e sejam pró-activas, além de desenvolverem os seus talentos”, acrescenta ainda a associação.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteGarcia Leandro, ex-presidente da Fundação Jorge Álvares: “Há ainda algumas pessoas com grande influência em Macau” Filha da transição, a Fundação Jorge Álvares vê sair, ao fim de seis anos, o general Garcia Leandro da presidência, embora se mantenha como curador. Em jeito de balanço, o antigo Governador de Macau diz deixar a entidade com mais património, apesar de persistir a necessidade de obtenção de receitas fixas Optou por sair ao fim de seis anos da presidência da Fundação Jorge Álvares (FJA), ou atingiu o limite de mandatos? Foi um processo normal. Sou curador desde o ano de 2000, e como administrador estive entre 2009 e 2016, e depois fiz o mandato [como presidente]. Vou fazer 82 anos e não tinha de estar mais. Fiz o meu melhor nestes anos todos e saí, naturalmente. Esta não é uma fundação pessoal, o presidente não é sempre o mesmo, e eu fiz os anos que entendi que tinha de fazer. É o final do meu mandato. Continua a desempenhar outras funções na Fundação? Continuo como curador. Olhando para trás, sente-se orgulhoso do trabalho realizado e que construiu outra imagem para a FJA? Quanto à imagem que eu dei, outros é que terão de tirar essa conclusão. Fiz o melhor possível. Nessas decisões que o último governador de Macau tomou, sobre a criação de três entidades, o CCCM para que houvesse em Portugal uma representação permanente do que foi a história, cultura e geografia de Macau e do Oriente, criou o IIM em Macau e a FJA, que tem um objectivo muito específico, que é dar apoio ao CCCM quando o Estado [português] não corresponde a isso. E é o que tem sido feito, porque quando o CCCM foi criado, havia o Governo de Macau, que construiu todas as instalações, em Lisboa. No final houve a transferência de administração e aí o último governador [Vasco Rocha Vieira], entregou aquelas instalações ao Estado português. Aí o CCCM ficou sob responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Seguimos com algumas dificuldades porque o Governo de Macau, inicialmente, fez um grande investimento ali, comprou aquele local e pagou as obras de restauração, e depois entregou ao Estado. Depois começaram a surgir dificuldades financeiras, quando foi a situação da Troika. Em 2009 e 2010 o apoio da FJA ao CCCM aumentou muito, de modo que a FJA é hoje considerado o maior mecenas. Tem dado anualmente cerca de 100 mil euros anuais [cerca de 1 milhão de patacas]. Sim, desde que sou presidente. Primeiro foi a Troika, depois a crise das moedas, depois a pandemia. Temos dado esse montante por ano para recuperar uma parte relacionada com a biblioteca e o centro de documentação, bem como o Museu. Foram feitos alguns ajustes financeiros pela FJA que vive de aplicações financeiras. Acredita que o actual modelo de gestão é viável a longo prazo ou são necessários ajustamentos? O modelo que foi encontrado no início, o investimento inicial, foi com dinheiro de Macau e algum dinheiro privado. Mas não ter receitas certas significa que estamos muito dependentes do resultado das aplicações financeiras. Encerramos estes seis anos com um superavit em relação ao património financeiro que tínhamos recebido, mas não deixa de ser algo feito com muito cuidado em relação às despesas. Foi feito um ajuste nos contratos já feitos. Uma das coisas importantes no perfil da senhora que me sucedeu, Maria Celeste Hagatong, é uma carreira muito ligada às finanças, à banca e agora é presidente da COSEC, uma empresa de seguros para as empresas exportadoras. Isso significa que tem uma grande ligação às finanças, bancas e a empresas portuguesas e chinesas, que talvez possa encontrar algum mecanismo com receitas certas [para a FJA]. E nós sentimos essa necessidade. No final destes 22 anos os resultados concretos sejam positivos com as actividades feitas, aumentamos o nosso património em termos de instalações e obras de arte, graças a uma propriedade e casa que passamos a ter em Alcainça, perto de Mafra, e o património não foi delapidado, pelo contrário. Temos pouco pessoal a trabalhar e a administração tem um pagamento simbólico. A aproximação da FJA à China é fundamental nos novos tempos que correm? Macau também caminha para a integração regional. Sim. Macau, tendo esta relação histórico-cultural com Portugal, não deixa de ser hoje parte integrante da China. Além de manter a relação com Macau, a cultura portuguesa [que lá existe] e as instituições, queremos ter relações directas com a China na área que, para nós, é a mais importante, que é a do ensino superior. A Fundação deve apostar noutras áreas além desta vertente pedagógica e de investigação? Temos uma área editorial. No ano passado publicámos um livro para os jovens, e foram oferecidos dez mil exemplares a todas as escolas do ensino secundário e ensino básico de Portugal e Macau, e também para os nossos embaixadores no Oriente. Trata-se de uma história que se chama “Nau do Trato”, um navio que nos séculos XVII e XVIII navegava entre Goa, Malaca, Macau e Japão. É um livro das professora Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães. Além disso, o embaixador de Portugal em Pequim criou um fundo para a tradução de obras de autores portugueses para chinês. Neste momento já há 11 obras traduzidas, a “Nau do Trato” também está a ser traduzida. No total serão 28 livros de autores portugueses traduzidos. Temos também as nossas obras de arte no Museu do CCCMacau. Não sendo grande, é um museu que alguns especialistas internacionais consideram de uma enorme qualidade, em termos de algumas peças. Mas não é um espaço muito visitado e conhecido. Há de facto uma necessidade [de maior visibilidade], e isso passa pela ajuda da FJA. São necessárias obras mas há uma máquina financeira e burocrática do Estado que tem atrasado algumas coisas. A FJA dá todo o apoio técnico que é necessário. Quais os grandes desafios da divulgação da cultura macaense em Portugal neste momento? É evidente que, deixando de haver uma presença com novo sangue português em Macau, embora permaneçam vários especialistas, e sem uma grande emigração para o território… mas mais importante do que o número de pessoas é a sua qualidade. Se virmos hoje há algumas pessoas que ainda têm uma grande influência em Macau. Claro que esse acompanhamento das instituições de origem portuguesa em Macau é feito e tem tido o nosso apoio. O próprio Governo da RAEM tem dado muito apoio a estas instituições. Mas Macau é parte da China, mas não deixa de ser um registo histórico e cultural que marca a diferença face a outra cidade chinesa, e até em relação a Hong Kong. A primeira diocese foi criada em Goa, a segunda em Coxim, a terceira em Malaca e a quarta foi em Macau. Portanto Macau é filha de Malaca e neta de Goa. Houve uma época em que nenhum estrangeiro ia à China sem ter de passar por Macau. E todas as dioceses que foram, aos poucos, criadas na China, Japão e Coreia, saíram de Macau. Portugal é um país que tem pretensões de amizade com a China. Repare que estive no país duas vazes, ainda como governador de Macau, sem que os dois países tivessem relações diplomáticas. Isso é um sinal importante. A primeira vez que estive, durante três semanas, foi numa chamada visita de amizade, com oito pessoas de Macau, em 1978. Além disso, Macau era um local de grande convivência, e os chineses têm uma grande preocupação com o ensino dos filhos. Havia todo o tipo de escolas em Macau, e todas estas pessoas se davam bem. Claro que, com uma minoria da população portuguesa, a nossa presença fez-se de uma maneira que não foi por imposição. Deixámos uma herança dourada no que diz respeito ao património histórico e cultural e de relacionamento entre dois países. Independentemente das nossas relações com países da Europa e da CPLP, e com ligações à relação Euro-Atlântica, esta relação com a China é muito específica, que só nós é que temos, melhor do que a relação que os ingleses têm com Hong Kong, e que devemos manter. Um delegado de Macau à APN falou da importância de preservar a comunidade macaense. É um sinal de Pequim não se vai esquecer dos macaenses no futuro? A etnia Han constitui mais de 90 por cento da população chinesa. E a comunidade macaense é mais do que uma etnia, é uma relação histórica, cultural e de riqueza que a China privilegia. A maneira como esse trabalho será feito é da responsabilidade das autoridades chinesas, mas sempre numa relação de contacto e consulta connosco. Macau está neste momento a seguir uma política de zero casos covid-19 e muitos portugueses estão a regressar. Acredita que está a ocorrer uma grande mudança na comunidade? Há uma mudança evidente e a nossa capacidade de intervenção é através da qualidade das instituições e das pessoas. E isso temos. Há muitos portugueses, macaenses ou portugueses de Macau que representam Portugal e que têm feito um grande esforço. Esse esforço tem sido acompanhado pelo Governo da RAEM com apoios permanentes. Nas visitas que fiz em 2011, 2018 e 2019, gostei de ver que as instituições portuguesas estão muito bem tratadas, e isso com o apoio do Governo local.
Andreia Sofia Silva EventosModa | Rita Sales Marques lança a dim sum basics, uma nova marca de roupa Formada em design gráfico, Rita Sales Marques decidiu apostar na criação da sua própria marca de roupa depois de sentir que faltavam no mercado peças básicas que se adaptassem a todas as idades e corpos. A dim sum basics acaba de ser lançada e já aceita encomendas de todo o mundo Sempre que pensa em Macau é o dim sum que lhe vem à memória. Esta refeição típica da comida cantonense acabou por dar o nome ao novo projecto de Rita Sales Marques, que decidiu criar a sua própria marca de roupa. A dim sum basics acaba de ser lançada nas redes sociais e já aceita encomendas de todo o mundo, mas a ideia é ir evoluindo aos poucos no objectivo de desenvolver peças confortáveis e básicas que sirvam a todo o tipo de pessoas. Formada em design gráfico pela Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, Portugal, Rita Sales Marques começou a desenvolver a marca há um ano e meio, mas a sua veia perfeccionista fez com que só agora esteja a lançar o projecto. “A dim sum basics surgiu com a ideia de criar básicos que satisfaçam as pessoas de todas as idades e géneros. A maior parte das nossas peças são unissexo e com um formato ‘oversize fit’ que faz com que se tornem confortáveis para qualquer tipo de corpo. Desta forma, temos uma maior variedade de pessoas interessadas [na nossa marca], porque às vezes o problema é mesmo esse [ter o mesmo tamanho que nem sempre serve com todas as marcas]. Queremos ter roupa que realmente sirva a todas as pessoas”, contou ao HM. Numa altura em que se debate a problemática de roupa barata produzida de forma pouco ecológica em fábricas onde as condições de trabalho nem sempre são as ideais, a dim sum basics quer, também aqui, marcar a diferença. “O nosso objectivo é fazer com que as pessoas não tenham de recorrer a lojas de ‘fast fashion’ para comprar peças básicas, que são as mais usadas no nosso dia-a-dia. Oferecemos produtos de qualidade, que duram uma vida e aguentam muitas lavagens. São peças que combinam o conforto e a prática.” A preocupação com o ambiente é também uma aposta de Rita Sales Marques, que não só selecciona o número de peças que vai produzir em cada colecção como só trabalha com materiais orgânicos. As roupas da marca são também produzidas em Portugal. “Considero super importante, neste tipo de projectos, o cuidado com o nosso planeta, e por isso escolhemos fazer as nossas peças em algodão 100 por cento orgânico”, adiantou a designer. Prato preferido Quem visitar o Instagram da marca pode ver peças básicas e desportivas em apenas três cores – preto, branco e cinza – mas Rita Sales Marques acredita que poderá criar uma segunda marca associada à dim sum basics que ofereça outro tipo de colecções que “possam agradar a um público mais específico”. Para já a marca funciona com encomendas em regime de pré-venda, sendo que Rita Sales Marques aceita pedidos de todo o mundo. Outra inovação da dim sum basics é a adaptação das peças a qualquer estação do ano. “A dim sum basics não trabalha com estações do ano porque acredito mesmo que a marca seja para todas as épocas e para todo o mundo. Dentro dessa lógica, temos sempre produtos que se enquadram em qualquer estação do ano. Neste primeiro lançamento temos calças mais grossas, com tecidos mais quentes, e calções e camisolas que encaixam num look de verão.” Rita Sales Marques sente-se macaense, mas não nasceu em Macau, território que visitou pela primeira vez apenas em 2013. No entanto, o amor a um território à qual tem ligações familiares ficou para sempre. “É um lugar muito especial para mim e, entretanto, já lá voltei várias vezes. O dim sum é a minha comida preferida desde pequenina. Se precisar de pensar em Macau, automaticamente penso em dim sum. É um nome inspirado nas minhas raízes. Não me englobo naquele tipo de pessoas que daria o seu próprio nome à marca e achei muito mais interessante arranjar algum elemento que me descrevesse, mas que não tivesse o meu nome.” Questionada sobre as suas inspirações para este projecto, Rita Sales Marques pensou de imediato em responder a uma necessidade da maior parte das pessoas na hora de vestir: o conforto. “A maior parte das vezes penso no que gostaria de ter ao nível de artigos básicos no meu armário e também naquilo que os meus amigos e pais gostam. Juntei essa necessidade que várias pessoas têm de ter roupas básicas e expus em peças de roupa que eu sentia que não tinha no meu armário”, confessou.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Proposta medicina tradicional para casos assintomáticos O Governo quer tratar doentes assintomáticos de covid-19 que estejam em lares, e não só, com recurso à medicina tradicional chinesa, estando definido o uso de dois medicamentos. Este tipo de medicina poderá ser usado como complemento à medicina ocidental aplicada nos casos diagnosticados em clínicas e hospitais A medicina tradicional chinesa (MTC) está nos planos do Governo para tratar de casos de covid-19 assintomáticos, sobretudo nos lares de idosos, mas não só. É o que consta no Plano de Resposta de Emergência para a situação epidémica da covid-19 em grande escala, divulgado no fim-de-semana. “Foi elaborado um programa de intervenção pela MTC para as pessoas de contacto próximo com casos infectados que se encontram em observação médica nos lares, a fim de efectuar o pré-tratamento”, pode ler-se. Além disso, quando forem detectados “casos em que o teste de ácido nucleico seja positivo e não haja sintomas”, as autoridades de saúde prometem basear-se no “Protocolo de Diagnóstico e Terapêutica para a Pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus (9.ª edição experimental)”. Está também prevista a utilização de dois tipos de medicamentos de MTC, com os nomes “Huoxiang Zhengqi Jiaonang” e “Lianhua Qingwen Jiaonang”, podendo ser administrados “medicamentos tradicionais chineses em líquido, de acordo com a condição física do doente”. Quanto aos “casos confirmados em clínica”, caberá à medicina ocidental “a gestão geral”, enquanto que a MTC irá ter um papel complementar no tratamento, “a fim de melhorar a eficácia clínica”. Ao longo do documento são feitas várias referências ao recurso ao tratamento por MTC, nomeadamente nos hotéis designados para quarentena. “Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) planeiam disponibilizar, nos hotéis, serviços de consulta por telefone ou por videoconferência e de MTC”, refere o Plano. As autoridades apontam também que, “no caso de um aumento contínuo de casos confirmados, recomenda-se que o Estado envie médicos de medicina tradicional chinesa para dar orientações e apoiar o tratamento”. O recurso à MTC surge porque esta “contribui significativamente para o controlo dos sintomas do novo coronavírus, reduz a incidência das pessoas de contacto próximo, a taxa de recaída, a taxa de ocorrência de casos com sintomas moderados e graves e a taxa de mortalidade”. Desta forma, as autoridades “planeiam introduzir o tratamento de MTC e organizar o sector da MTC para combater, em conjunto, a epidemia, prestando tratamento aos doentes infectados”. Apoio geral As linhas gerais do Plano de Emergência foram apresentadas no passado dia 18 de Março, prevendo-se a instalação de um hospital de campanha ao ar livre e de um centro de tratamento de doentes na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental (Dome). Serão também criados, entre outras medidas, postos de testagem móveis em toda a cidade e o maior recurso aos auto-testes. Segundo o Plano, terão chegado a Macau “no início” deste mês um total de 2,5 milhões de testes rápidos, sendo que 20 tipos de testes receberam autorização de importação. As autoridades determinam que, sempre que o número de pessoas em zonas de controlo for superior a 800, e quando os resultados dos testes ácido nucleico forem negativos nos três primeiros dias, poderão ser realizados testes rápidos nos restantes dias, à excepção dos dias 7 e 14, quando será feito o teste PCR. Outras medidas constantes no Plano, passam pelos pedidos de ajuda ao país. A China deverá intervir com os seus profissionais de saúde quando Macau atingir a fase 3 do surto, ou seja, com um número de infectados por dia igual ou superior a 1500 pessoas. Planeia-se pedir ajuda para manter as 13 estações de vacinação contra a covid-19 sob responsabilidade dos SSM, estando previsto o pedido de apoio para a instalação de laboratórios móveis, activado quando as amostras variarem entre as 25 e 55 mil. A China poderá ainda ajudar na activação dos laboratórios insufláveis, dentro de espaços, sempre que o número das amostras recolhidas seja mais de 55 mil.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaHong Kong | John Lee anuncia candidatura ao cargo de Chefe do Executivo John Lee, secretário para a Segurança de Hong Kong demissionário, anunciou oficialmente no sábado a candidatura ao cargo de Chefe do Executivo, sendo que já reúne o número de assinaturas necessário para se candidatar. Segundo o jornal South China Morning Post, foram reunidas 200 nomeações que cobrem os cinco sectores representados no Comité Eleitoral que elege o Chefe do Executivo da RAEHK, sendo que a equipa que está a trabalhar na campanha espera atingir a fasquia das 500 nomeações até ao dia 8 de Maio, data das eleições. O canal de rádio e televisão RTHK noticiou ontem que John Lee pode apresentar um estilo de governação virado para os resultados práticos. Tam Yiu-chung, principal responsável pela campanha eleitoral, adiantou ontem que John Lee procura novas formas de resolver os problemas mais graves da região, tentando “equilibrar regras e objectivos, especialmente em grandes matérias como os cuidados de saúde e a habitação”. “Por exemplo, a habitação… tem sido um problema desde há muito tempo e não o podemos enfrentar porque o processo de encontrar terrenos e a construção [de casas] é demorado. Podemos rever isto? Os procedimentos são formulados pela estrutura dos serviços públicos, não são leis intocáveis”, adiantou Tam, que garantiu que a legislação pode ser alterada após as eleições. Recorde-se que o mandato de Carrie Lam ficou marcado pelos protestos que abalaram a cidade em 2019, seguindo-se a aplicação da lei de segurança nacional e agora a pandemia. O analista Sonny Lo já disse à Lusa que a candidatura de John Lee, como figura saída da área da Segurança e força policial, representa uma “grande preocupação ao nível da segurança” por parte de Pequim. John Lee apresentou a sua demissão no passado dia 7. Concordâncias O canal RTHK noticiou ainda que os deputados do Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong, Jeffrey Lam e Starry Lee, concordam com as promessas políticas feitas por John Lee. “Espero que as restrições de entrada e saída de pessoas de Hong Kong possam ser relaxadas [em breve], porque estamos a perder ou a começar a perder talentos, novos e velhos. Estão a mudar-se para Singapura, o nosso maior competidor”, disse Jeffrey Lam, que foi eleito pelo sector dos negócios e profissionais. Para Lam, o candidato ao cargo de Chefe do Executivo é uma pessoa “analítica que presta atenção aos detalhes, e que está disposto a ouvir as visões do sector comercial”. Por sua vez, Starry Lee também chamou a atenção para a importância de captar e manter os talentos no território, além de defender a entrada de pessoas com várias visões políticas para o futuro Governo. Para a responsável, quanto mais pessoas das forças de segurança estiverem envolvidas na governação de Hong Kong mais fácil será a aplicação da lei de segurança nacional.
Andreia Sofia Silva EventosLiteratura | Três obras chinesas traduzidas para português e publicadas no Brasil “Bei Dao – Não acredito no eco dos trovões”, “Além da Montanha”, de Yao Feng, e “Contos de Fantasia Chineses”, de Pu Songling, são os novos projectos literários que Yao Jingming, poeta, tradutor e académico da Universidade de Macau, ajudou a desenvolver e que acabam ser editados no Brasil com a chancela da editora Moinhos Acabam de ser lançadas nas livrarias brasileiras três obras traduzidas, escritas e coordenadas por Yao Jingming em parceria com alunos de mestrado e doutoramento do curso de tradução português-chinês da Universidade de Macau (UM), incluindo colegas do departamento de português. A obra de Bei Dao ganha assim um novo destaque na língua de Camões com a obra “Bei Dao – Não acredito no eco dos trovões”. Os poemas foram traduzidos por Yao Jingming e Huang Lin, estudante de doutoramento da UM, tendo a revisão literária ficado a cargo de Manuela Carvalho e do escritor português José Luís Peixoto. A editora Moinhos lançou também o livro “Além da Montanha”, que reúne poemas de Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming na hora de escrever poesia. A mesma editora apresentou ainda a tradução de “Contos de Fantasia Chineses”, escritos por Pu Songling. Para a tradução de alguns contos desta obra colaboram Ana Cardoso, Zhang Mengyao, Chen Qu, Xiong Xueying e Lou Zhichang. Ao HM, Yao Jingming disse que estas publicações visam colmatar um vazio que existia no mercado. “Quisemos preencher uma lacuna que ainda existe em relação à tradução de obras literárias para português. [Bei Dao e Pu Songling] são dois grandes escritores e merecem ser traduzidos e divulgados em português”, acrescentou. Este trabalho parte de um projecto de investigação do próprio Yao Jingming, financiado pela UM, intitulado “Chinese Literature in Portuguese: Research, Translation and Anthology” [Literatura chinesa em português: Investigação, Tradução e Antologia]. “Ao longo do projecto contei com a colaboração dos meus estudantes de mestrado e de doutoramento. A maior parte da tradução foi assumida por eles, eu fiz a orientação. Depois entrámos em contacto com a editora [Moinhos], que aceitou a publicação.” “Contei com o apoio das minhas colegas, que trabalham na área da literatura e são portuguesas, e também com a revisão de José Luís Peixoto. De alguma forma conseguimos manter a qualidade da tradução”, disse Yao Jingming, que não esconde as dificuldades no processo. “É sempre difícil traduzir, sobretudo quando falamos de tradução de poesia. Temos de manter o poema original na língua de destino, mas há muitas diferenças entre o chinês e português em termos de símbolos, imagens e metáforas. Como podemos manter o que é poético na língua de chegada? Mas escrevo em português também e penso que, de alguma forma, isso ajuda”, frisou. Destaque na Folha As edições da Moinhos no Brasil mereceram destaque num dos jornais mais importantes do país, a Folha de São Paulo. “Literatura da China tem lacunas supridas no Brasil com livros fundamentais”, lê-se no título. A mesma notícia dá conta de que “a editora Moinhos está colocando nas prateleiras novos títulos de alguns dos mais relevantes escritores chineses contemporânea, colaborando para suprir uma lacuna crónica do mercado brasileiro”. Sobre a obra “Além da Montanha”, José Luís Peixoto escreve no prefácio que ao longo das páginas do livro se desenrola “uma língua que é, ao mesmo tempo, cotidiana e rara, que nos catapulta para muito longe num único verso, que nos desconcerta”. “É como se a poesia reclamasse uma língua própria para a construção do seu universo exclusivo. A poesia, como um território autónomo, como uma região administrativa especial, onde se cruzam referências históricas e culturais de um modo comparável ao que acontece em Macau, onde Yao Feng vive há mais de duas décadas”, escreve Peixoto, que frisa que, desde o Brasil, é agora possível “chegar a Macau e à China através da poesia, através do olhar deste importante autor”. Relativamente a Bei Dao, Yao Jingming destacou o facto de ser “um poeta altamente respeitado na China e vastamente conhecido a nível internacional”, embora ainda “pouco conhecido no mundo português”. Vítima do período da Revolução Cultural, Bei Dao acabou por se tornar “uma voz mais sonora e activa dos poetas da sua época”, tendo sido proibido de regressar à China em 1989 depois de ter viajado até Berlim para participar numa conferência. Regressado ao seu país em 2006, Bei Dao tem publicado várias obras de poesia e crónicas. Nascido no período da dinastia Qing, Pu Songling ficou conhecido como escritor de ficção, tendo editado “Liaozhai zhiyi”, em 1766, ou “Histórias estranhas do estúdio de Liaozhai”. No total, este autor escreveu 431 contos sobre o mundo da fantasia e do sobrenatural.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeServiços sociais | Profissionais queixam-se de falta de representatividade Falta de transparência e defesa de uma eleição dos vogais por todos os assistentes sociais. São duas das queixas apresentadas pelo sindicato dos assistentes sociais ao conselho profissional que representa o sector, e que inicia um segundo mandato em Outubro Os assistentes sociais queixam-se de falta de transparência e de problemas na nomeação dos seus representantes no Conselho Profissional dos Assistentes Sociais (CPAS), que inicia um segundo mandato em Outubro. Para tal, foi lançada uma petição online. Os problemas terão começado quando o CPAS terá organizado duas sessões de apresentação sobre o método de selecção dos candidatos a cinco vogais nos dias 16 e 27 de Março. A associação profissional afirma que não foi convidada e exige saber o conteúdo discutido nesses encontros. “Esses vogais vão supervisionar o nosso trabalho, mas não fomos convidados para as palestras e também não tivemos a oportunidade de escolher os nossos representantes para essas reuniões”, lê-se na petição. Na rede social Facebook, os responsáveis do sindicato apontam que as palestras organizadas pelo CPAS contaram apenas com 160 participantes, cerca de dez por cento do total de assistentes sociais que trabalham no território. Além disso, entre os dias 18 e 25 de Março, o CPAS lançou um inquérito online que teve apenas uma taxa de resposta, da parte dos assistentes sociais, na ordem dos 16,8 por cento. A associação profissional queixa-se também de falta de transparência na escolha dos vogais, alegando que o actual método não só não assegura a igualdade de acesso dos assistentes sociais na candidatura como cria barreiras no acesso à eleição. Como exemplo, é referido que os candidatos devem ser apoiados pela entidade onde trabalham, o que afasta a participação dos assistentes sociais que trabalham por conta própria ou que têm pouca experiência profissional. Este sistema afasta também os profissionais que não têm uma posição de topo na empresa, apesar de serem qualificados para estar no conselho profissional. O sindicato acrescenta ainda que os candidatos têm de declarar o seu horário, para provar que conseguem participar nos trabalhos do CPAS. Desta forma, alega o sindicato, apenas os profissionais que não trabalham na linha da frente podem candidatar-se aos cargos de vogal, uma vez que assumem posições superiores nas entidades para onde trabalham. Outra das críticas, prende-se com o facto de a lista de sugestões apresentada pelo CPAS, com um máximo de dez membros, ter de aguardar pela aprovação do Governo, que irá seleccionar cinco desses candidatos. Além disso, o processo de candidatura arranca um mês depois de ser anunciado. Para as eleições do segundo mandato do CPAS, o dia 6 de Maio é a última data para a apresentação de candidatos. Para o sindicato, os vogais devem ser eleitos por todos os assistentes sociais que trabalham no território, sendo que esta posição é defendida pelo sector desde 2012. Paul Pun promete agir A fim de apresentar estas posições, o sindicato reuniu, no passado dia 28 de Março, com Paul Pun, actual presidente do CPAS, que prometeu apresentar as queixas apresentadas aos restantes membros do Conselho. O HM tentou falar com Paul Pun, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto. Quem também alertou para esta situação, foi o ex-deputado Sulu Sou. Na rede social Facebook, escreveu que o ex-secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e o ex-presidente do Instituto de Acção Social, Iong Kong Io, prometeram que os vogais deste Conselho seriam eleitos por todos os assistentes sociais e que essa questão seria incluída no regime de qualificação profissional dos assistentes sociais. No entanto, apontou Sulu Sou, o Governo não concretizou essa promessa, tendo ficado apenas regulado que os cinco vogais seriam seleccionados pelo CPAS depois de ouvir as opiniões do sector.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteFórum Macau | A antevisão de uma reunião há muito esperada A reunião extraordinária ministerial do Fórum Macau vai acontecer finalmente no próximo domingo, depois de a pandemia ter atrasado um novo encontro para definir objectivos de actuação. Investigadores acreditam que vêm aí novas medidas de combate à pandemia, de fomento económico e de maior envolvimento nos projectos da Grande Baía e da Nova Rota da Seda Desde 2019 que o Fórum Macau trabalha sem novos objectivos definidos. A pandemia veio atrasar a realização da sexta conferência ministerial depois de ter sido definido um plano de acção para os anos de 2017 a 2019. Este domingo, dia 10, acontece finalmente uma reunião extraordinária ministerial (REM), exclusivamente online, e o HM procurou saber o que poderá estar em cima da mesa. Pedro Paulo dos Santos, investigador da Universidade Cidade de Macau (UCM), actualmente a trabalhar no doutoramento sobre o Fórum Macau, acredita que deverá ser apresentado “um plano mais curto do que os emitidos nas conferências anteriores”. “O título da reunião, ‘Um mundo sem pandemia, Um desenvolvimento comum’ indica que as medidas principais neste plano de acção serão na cooperação no combate à pandemia. Podemos esperar também medidas para estimular o crescimento económico entre os membros do Fórum e em reforçar Macau como a plataforma entre a China e os PLP.” No caso de Cátia Miriam Costa, investigadora e docente no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, lamenta que o encontro de domingo seja online, “o que, de facto, não facilita um diálogo mais próximo”. “O contexto internacional em que decorrerá é bastante diferente dos anteriores, dada a situação de guerra na Europa, e a tensão comercial entre os EUA e a China. Acresce a estes factores o facto de o próprio Secretariado do Fórum ter agora novos representantes nos diferentes cargos. Creio que dado este enquadramento, poderemos esperar que seja reforçado o papel económico do Fórum”, começou por dizer. A responsável frisou também que poderá ser alargado o âmbito das actividades do Fórum Macau, nomeadamente para um espectro mais cultural. “Espera-se igualmente que a China proponha aos países de língua portuguesa um maior envolvimento nos projectos da Grande Baía e da Nova Rota da Seda. A nova dinâmica, representada pelo novo Secretário-Geral, que se tem multiplicado em contactos com os representantes dos vários países de língua portuguesa aponta nesse sentido.” Segundo uma nota de imprensa, a REM de domingo “estabelecerá consensos para o desenvolvimento cada vez mais consistente do papel do mesmo enquanto mecanismo de cooperação multilateral para o desenvolvimento comum”. Será assinada uma “Declaração Conjunta” que vai reflectir “uma nova fase de trabalhos, em diversas áreas, nomeadamente, o combate à pandemia, a restauração do crescimento económico e o aperfeiçoamento do funcionamento de Macau enquanto plataforma de intercâmbio entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. A ideia é “elevar a cooperação nas áreas de economia, comércio, cultura e saúde entre o Interior da China, Macau e os Países de Língua Portuguesa, para um novo patamar”. Atraso, que efeitos? Questionada sobre o facto de este atraso poder ter condicionado, nos últimos anos, a actuação do Fórum Macau, Cátia Miriam Costa defende que houve “uma diminuição de algum entusiasmo por parte dos países de língua portuguesa que já estavam a retomar, em pleno, a sua actividade política internacional, e não havia uma previsão para este encontro”. “Esta situação pode explicar parcialmente a actividade de contacto directo com os vários estados-membros por parte do novo Secretário-Geral, de forma a reactivar uma certa proximidade a esta organização internacional que estava a perder dinâmica ao nível do contacto político. Relativamente à China, estou segura de que se manteve a trabalhar no tema e a avaliar as propostas que considerou mais adequadas para apresentar nesta Conferência Ministerial”, adiantou Cátia Miriam Costa. Pedro Paulo dos Santos acredita que as autoridades de Macau e da China têm continuado a trabalhar nos bastidores para manter o funcionamento do Fórum Macau de forma regular, bem como os serviços do foro comercial e económico que tem prestado. “O atraso no anúncio das datas deve-se apenas à situação da pandemia. A China tem, neste momento, em mãos uma crise de infecções que é, sem dúvida, a sua prioridade nesta conjuntura”, apontou. O investigador recorda que “havia grandes planos e mudanças em vista no Fórum para 2021 que infelizmente não se realizaram devido à pandemia”. No entanto, “todos os envolvidos mantiveram as suas funções e responsabilidades”, além de que, após a realização desta reunião e de “alguma normalidade pós-pandemia, iremos assistir a um Fórum mais activo e dinâmico”. Cenário internacional Desde 2019 que o mundo e a diplomacia têm sofrido várias crises de grande dimensão, primeiro com a pandemia e agora com o conflito na Ucrânia. Questionados sobre se a situação na Europa pode, de certa forma, ter impacto na realização deste encontro, ambos os analistas acreditam que os efeitos serão reduzidos. “A pandemia, em particular, tem tido um grande impacto em todas as organizações internacionais, e o Fórum Macau não é excepção. Quando temos representantes de várias nações que não podem viajar para conferências, reuniões ou eventos, obviamente que interfere com o dia a dia e com os objectivos traçados. O facto de a última conferência ter sido em 2016 obviamente que tem condicionado os trabalhos do Fórum.” Tal facto deverá também “condicionar o plano de acção que será emitido nesta reunião extraordinária”, frisou. Relativamente a outros conflitos internacionais, tal como na Ucrânia, Pedro Paulo dos Santos não acredita “que tenham um grande impacto nesta reunião ou no Fórum Macau em si”. Cátia Miriam Costa alerta para o facto de a conjuntura internacional “ser sempre muito relevante”. “O caso da existência de uma guerra na Europa e de uma competição comercial e até económica mais incisiva entre os EUA e a China não vão estar ausentes da conferência. Contudo, não me parece que o cenário de guerra seja determinante na negociação das áreas de cooperação a aprofundar. É preciso lembrar que apenas um país está mais envolvido nessa guerra, se bem que não seja de forma directa, que é Portugal”, concluiu. A 10 de Janeiro deste ano tomou posse o novo secretário-geral do secretariado permanente do Fórum Macau, Ji Xiazheng, anteriormente subdirector-geral do departamento de assuntos europeus do Ministério do Comércio da China, tendo sido responsável pelos assuntos económicos e comerciais entre a China e os Países europeus. Nos últimos meses, o diplomata tem tido diversos encontros com entidades públicas de Macau e os seus dirigentes, incluindo com Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Na reunião de Fevereiro, Ji Xianzheng mostrou disponibilidade para “continuar a reforçar o contacto e a cooperação com o consulado-geral, de modo a conjugar esforços no apoio à construção de Macau enquanto Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, aponta uma nota então publicada. Alguns dos objectivos traçados para o último triénio, passam por uma maior “conexão das indústrias e a cooperação da capacidade produtiva” entre a China e os países de língua portuguesa através do Fórum Macau. Segundo o último plano de acção aprovado, o Fórum Macau trabalhou no sentido de “estimular as empresas a construírem ou renovarem as zonas de cooperação económica e comercial nos referidos países, para além de promover a industrialização dos países de língua portuguesa da Ásia e África”. Para atingir este objectivo, o Fórum Macau propôs-se conceder empréstimos concessionais acima dos dois mil milhões de renminbis para os países de língua portuguesa a fim de “promover a conexão industrial e cooperação na capacidade produtiva”. Ainda em matéria de cooperação para o desenvolvimento, a China prometeu isentar os países de língua portuguesa presentes no Fórum das dívidas já vencidas provenientes de empréstimos sem juros no valor de 500 milhões de renminbis.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca | Filmes e exposição revelam estética do cineasta Wes Anderson A Cinemateca Paixão associou-se à Sociedade de Fotografia de Macau para celebrar a estética usada pelo cineasta americano Wes Anderson nos seus filmes. Além de uma exposição que estabelece uma relação com a arquitectura do centro histórico de Macau, estão previstas as exibições dos filmes “The Grand Budapest Hotel”, “The Darjeeling Limited” e “The Royal Tenenbaums” O próximo evento especial da Cinemateca Paixão é dedicado aos filmes do cineasta norte-americano e à sua exuberante estética muito especial, cheia de cor. Para isso, estão previstas até Junho exibições de filmes, nomeadamente o multipremiado “The Grand Budapest Hotel”, e uma exposição promovida em cooperação com a Sociedade de Fotografia de Macau. Esta mostra de fotografia visa criar uma ligação entre a estética dos filmes de Wesley Anderson com a arquitectura tão característica do centro histórico de Macau, onde os edifícios antigos, com uma mescla de elementos da arquitectura portuguesa e chinesa, contrastam com os edifícios mais comuns da cidade e proporcionam um ambiente especial. “Se olharmos atentamente para Macau e para a sua selva urbana, descobrimos que alguns edifícios apresentam uma estética clássica. No centro histórico de Macau, muitos edifícios apresentam elementos cromáticos também presentes nos filmes de Wes Anderson. A exposição convida a Sociedade de Fotografia de Macau a explorar a relação entre as cenas dos filmes de Wes Anderson com o cenário arquitectural [da cidade], revelando os seus estilos visuais”, pode ler-se. Relativamente aos filmes, destaque para a película “The Grand Budapest Hotel”, filme de 2014 cuja história decorre na década de 30, na Europa, na fictícia República de Zubrowka. Gustave H é “concierge” num luxuoso hotel situado no meio de uma montanha cheia de neve e trabalha ao lado de Zero Moustafa, um jovem paquete muito dedicado o seu trabalho. Quando Madame D., amiga e amante de Gustave H, morre, a tranquilidade que se vivia depressa se desvanece, culminando com o desaparecimento de uma pintura do período do Renascimento. Gustave H é acusado de homicídio e roubo, iniciando, com a ajuda de Zero Moustafa, uma longa luta para provar a sua inocência. Vencedor de quatro Óscares em 2015, além de ter recebido cinco nomeações, “The Grand Budapest Hotel” será exibido no próximo dia 23, bem como nos dias 8 e 15 de Maio. Outras fitas O cartaz inclui ainda o filme “The Royal Tenenbaums”, de 2001, exibido no próximo dia 16 e também nos dias 1 e 14 de Maio. A película conta a história de Royal Tenenbaum e da sua mulher, Etheline, que tiveram três filhos, considerados génios extraordinários, e que depois se separaram. Anos depois, num Inverno, a família volta a reunir-se de uma forma inesperada, sendo visível que a genialidade dos filhos se dissipou com o tempo, graças à ocorrência de inúmeros desastres e traições. O pai é tido como o grande culpado desta catástrofe familiar. Este filme obteve duas nomeações para a edição de 2002 dos Óscares, além de ter sido distinguido com o Urso de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Berlim, sem esquecer a distinção nos Globos de Ouro, no mesmo ano. A partir do dia 17 deste mês começa a ser exibido o filme “The Darjeeling Limited”, de 2007, repetindo-se a sua exibição nos dias 30 de Abril e 7 de Maio. A história, desta vez, centra-se em torno de três irmãos que viajam até à Índia, numa viagem que se pretende espiritual e de busca interior, após a morte do pai e desaparecimento da mãe. Depressa a viagem fica marcada por peripécias provocadas pela sua imaturidade e falta de confiança mútua. Esta é uma comédia de Wes Anderson filmada quase inteiramente na Índia, tendo sido usado um verdadeiro comboio para as filmagens. Mais uma vez apresenta-se uma película vibrante e cheia de cores, inspirada pelo filme “The River”, de Jean Renoir, datado de 1951. Outra inspiração para esta obra, foi Satyajit Ray, cineasta indiano, nascido na cidade de Calcutá, tido como um dos grandes realizadores indianos do século XX.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | A escrita de José Saramago vista pelos tradutores orientais A 16 de Novembro deste ano celebram-se os 100 anos do nascimento de José Saramago, o único Prémio Nobel da Literatura português. A Universidade de Macau assinala hoje a data com um webinar que junta os testemunhos de Maho Kinoshita e Wang Yuan, tradutores das palavras de Saramago para japonês e mandarim. Ao HM, recordam o momento em que se cruzaram com a escrita de Saramago e os desafios de traduzir a sua obra A primeira vez que Maho Kinoshita leu “Ensaio sobre a Cegueira”, livro de José Saramago publicado em 1996, ficou “impressionada e encantada”. Maho é a tradutora para japonês do único Prémio Nobel da Literatura português, nomeadamente do seu livro “A Viagem do Elefante”. Quando os seus olhos se debruçaram sobre o livro “Ensaio sobre a Cegueira”, que já deu origem a um filme, Maho sentiu “uma forte vontade de o traduzir”, confessou ao HM. “Nessa altura nenhum livro dele tinha sido traduzido para japonês. Ainda era jovem, nunca tinha feito nenhuma tradução, não tinha essa capacidade. Mas fiquei feliz quando vi publicada a versão japonesa em 2001”, contou ao HM. Maho Kinoshita é uma das oradoras do evento online que acontece hoje e que se intitula “Homenagem a José Saramago por ocasião do centenário do seu nascimento”. A palestra, que conta também com a participação de Wang Yuan, tradutor de Saramago para mandarim, é promovida pela Universidade de Macau, contando com os docentes Zhang Jianbo e Mário Pinharanda Nunes. Com “A Viagem do Elefante”, livro escrito quando Saramago já estava com estado de saúde frágil, Maho diz ter sentido muitas dificuldades na pele. “Uma vez que a língua japonesa tem uma gramática totalmente diferente da portuguesa, tive de recompor praticamente todas as frases longas. Tive também muita dificuldade em traduzir as inúmeras insinuações sobre a Bíblia ou a história e cultura da Europa, às quais os leitores japoneses não são familiares. Fiz várias notas de tradução para dar uma melhor explicação”, apontou. Além disso, obras como “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Caim”, onde o cristianismo é peça central, são mais difíceis de compreender por parte dos japoneses, confessou a tradutora. Obras “universais” Maho Kinoshita garante que, até há dois anos, José Saramago não era verdadeiramente conhecido e amado no Japão. Mas o livro “Ensaio sobre a Cegueira”, esgotado durante anos, foi reeditado nesse ano, o que coincidiu com a pandemia, um período em que muitos ficaram em casa. E aí a versão japonesa tornou-se num best-seller. “Finalmente os leitores japoneses descobriram Saramago. O facto de terem sido traduzidos dois livros dele para japonês em 2021, ‘As Intermitências da Morte’ e ‘A Viagem do Elefante’, mostra o crescente interesse dos japoneses.” Para falar da obra do Prémio Nobel e do que ela significa para si, Maho vai buscar uma frase de Ursula Le Guin, uma escritora americana que um dia escreveu que Saramago estava “além de nós”, e que o seu trabalho “pertence ao futuro”. “Eu diria o mesmo. Os livros nunca vão estar fora do tempo, são muito universais”, frisou a tradutora. Além de Saramago, Maho já traduziu outras obras de escritores portugueses e brasileiros, como é o caso de “A Espiã”, de Paulo Coelho, ou “Galveias”, de José Luís Peixoto. Sobre este último livro, foi a própria Maho que sugeriu a sua tradução à editora. Esta foi uma obra “querida” para si, por ser a primeira sugestão sua aceite. “José Luís Peixoto usa expressões muito lindas, mas ao mesmo tempo muito peculiares. Tive muitas dificuldades na tradução. Fiquei muito feliz quando o livro recebeu o prémio de melhor tradução no Japão em 2019”, acrescentou. A mestria e o fantástico Wang Yuan também teve o primeiro contacto com José Saramago através do livro “Ensaio sobre a Cegueira” em 2007, quando ainda era aluno do primeiro ano na Universidade de Pequim. O ainda caloiro também leu “Memorial do Convento”. “Não esperava encontrar o estilo de narrativa corrida de Saramago, mas o que mais me impressionou foi a mestria dele, de como entrelaça o real com o fantástico. Os elementos maravilhosos e sobrenaturais nos seus romances pareciam tão naturais que me davam reacções emotivas. É essa a sua capacidade mágica de captar os leitores que mais me faz falta”, adiantou ao HM. Wang Yuan é o autor das traduções para chinês de “Todos os Nomes” e “A Viagem do Elefante”. “O tema da viagem é algo que me encanta sempre, e senti uma grande alegria por poder traduzir este livro”, apontou. Como se traduz um autor cuja leitura é complexa em português para mandarim? “O maior desafio é manter o estilo singular da escrita de Saramago sem tornar a leitura intolerável para os leitores chineses, que não conhecem bem o seu estilo nem o pano de fundo histórico e social [da história].” “Como os livros de Saramago se baseiam muitas vezes da situação histórica, geográfica e cultural de Portugal, é essencial fazer muitas notas de rodapé. Acredito que, quando se lê uma boa tradução, não se deve sentir como se fosse escrita na língua-mãe do leitor. Isto porque uma certa dose de estranheza com a língua e o imaginário é o que distingue uma tradução. No entanto, atingir esse efeito requer muito esforço”, frisou Wang Yuan. O tradutor acredita que os leitores chineses “se identificam mais com as obras tardias do autor, que correspondem “à sua fase de [apresentar] preocupações mais universais”. Numa altura em que se celebra o centenário sobre a morte de Saramago, Wang Yuan diz admirar o facto de o Prémio Nobel da Literatura português “nunca se ter deixado de preocupar com a humanidade”. “Ele manteve-se fiel ao que acreditava, tanto na vida como na escrita. Numa entrevista dada à ‘The Paris Review’, Saramago disse que o mais precisávamos era de dizer ‘Não’. Esta atitude inconformista garante a actualidade das suas obras”, concluiu. Teatro, imagens e letras A fim de celebrar os 100 anos do nascimento de José Saramago, a fundação com o seu nome promove nos próximos meses um extenso programa que mistura letras, teatro e outros eventos culturais que acontecem em várias cidades de Portugal, mas não só. Destaque, por exemplo, para a exposição “Escritores da Jangada de Pedra”, que decorre em Lanzarote, Espanha, e que termina no próximo dia 11. Esta é uma exposição de fotografia de Daniel Mordiznski, com imagens de José Saramago e outros autores e autoras ibéricos. Também no próximo dia 11 decorre o evento “Conferências do Nobel”, na Câmara Municipal de Lisboa, com a presença do escritor Alberto Manguel, também director do Centro de Estudos de História da Leitura. Este será um ciclo de conferências que visam “debater temas de grande relevância sintonizados com a obra de Saramago”. Nos palcos, destaque para a estreia, a 10 de Junho, da peça “Ensaio sobre a Cegueira”, com encenação de Nuno Cardoso, no Teatro Nacional de São João, no Porto. A adaptação do romance com o mesmo nome de José Saramago é uma co-produção com a companhia Teatre Nacional de Catalunya, ficando em cartaz até ao dia 19 de Junho. As actividades de celebração do centenário do nascimento de Saramago decorrem até Novembro deste ano.
Andreia Sofia Silva EventosBanda desenhada | Desenhos do II Raid Macau-Lisboa em versão bilingue A viagem feita de jipe entre Macau e Lisboa, atravessando toda a URSS, em 1990, vai ser contada em banda desenhada. Joaquim Correia, um dos participantes da viagem e promotor do projecto, revela que esta é a primeira vez que uma aventura deste género é contada em banda desenhada A história louca história do II Raid Macau-Lisboa, feita em 1990, era para ser contada em livro, mas a pandemia fez atrasar o projecto. Desta forma, a aposta passa a ser feita na edição de uma banda desenhada, em português e chinês, que deverá ser lançada ainda este ano. “No livro estaria incluída uma banda desenhada, algo simples, com três ou quatro páginas, a contar a história do Raid. Mas resolvemos avançar para a edição de um álbum para contar a história completa do Raid em banda desenhada, com textos introdutórios. Temos metade da BD já pronta, com cerca de 20 vinhetas, e vamos avançar com o resto. Temos alguns apoios já certos”, contou Joaquim Correia ao HM. Com base na história contada por Joaquim Correia, Marco Fraga da Silva elaborou o guião da banda desenhada, sendo que as ilustrações são da autoria de Fil e Sofia Pereira. A BD é desenvolvida em parceria com a Associação Tentáculo. “A primeira parte da BD foi feita por dois autores, e a continuação será feita por artistas diferentes para haver várias versões da viagem. Terá também a perspectiva de termos levado, na viagem, muitos materiais, como livros relativos a Macau, e que distribuímos em várias bibliotecas nos sítios por onde passámos. É apresentada esta ponte entre o Oriente e Ocidente.” Além disso, as vinhetas farão também referência às filmagens realizadas durante a viagem, e transmitidas em canais de televisão portugueses, como a RTP2. O livro, que não tem ainda um título definido, terá 72 páginas e deverá ser lançado em Portugal nos próximos meses, estando também previsto a sua apresentação em Macau. “Mais de metade do livro está feito. Não apostámos numa versão em inglês porque ficava confuso, com as legendas. E justificava-se mais uma publicação em português e chinês”, adiantou Joaquim Correia. Nas palavras do promotor do projecto, “este álbum será um registo histórico pertinente que, através da banda desenhada, procurará aliciar miúdos e graúdos a conhecerem mais sobre um feito importante para o automobilismo português e mundial, uma aventura que ligou Macau a Lisboa em 50 dias”. Foi “uma viagem épica que permitiu a ligação entre Macau e Portugal por terra, atravessando vários países como a China e a antiga URSS e diversos países da Europa, mostrando que a união entre os povos é possível e desejável”. Projecto inédito Esta obra deverá ter uma apresentação especial no Festival Internacional de Banda Desenhada, o Amadora BD, que acontece entre os meses de Outubro e Novembro deste ano. Joaquim Correia não tem dúvidas de que esta será a primeira BD que relata uma viagem deste género, apesar de existirem muitas obras relacionadas com o automobilismo, nomeadamente de Michel Vaillant, entre outras. “Em Portugal foram editados dois volumes, ‘Os Portugas no Dakar’, por Luís Pinto Coelho e Elisabete Jacinto, mas são bandas desenhadas ligadas à condução. A nossa tem uma perspectiva histórica, da amizade entre os povos. Curiosamente passámos por sítios que agora estão em convulsão, nomeadamente a zona da Ucrânia. Por más razões, tornou-se um livro actual”, concluiu Joaquim Correia.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAnabela Santiago, académica: “Vão aparecer alternativas à política zero casos” Anabela Santiago, doutoranda pela Universidade de Aveiro e investigadora na área dos assuntos chineses, aponta que não é possível a China desconfinar da mesma forma que o Ocidente está a fazer, mas defende que poderão surgir “em breve” alternativas à política de zero casos covid-19. A académica aponta ainda que, com Xi Jinping, a propaganda chinesa passou a ter um maior foco na legitimidade do Partido Como tem evoluído a propaganda na China nos últimos anos? Encontramos grandes diferenças entre líderes, sobretudo desde que Xi Jinping subiu ao poder? A propaganda na China tem evoluído, tal como no resto do mundo, na forma como ela é veiculada e nos seus meios de suporte essencialmente. Refiro-me em concreto às plataformas digitais, às redes sociais mais populares da China como o Weibo ou o WeChat, por exemplo. Os meios de suporte dos mass media é que sofreram uma alteração devido à entrada na chamada era digital e aos milhões de utilizadores da Internet na RPC. A essência da propaganda, essa, também se foi moldando (embora mais lentamente) às mudanças ocorridas na sociedade chinesa, nomeadamente à melhoria da qualidade de vida da população em geral, o que acarretou um aumento exponencial da classe média chinesa e uma maior procura por fontes de informação. No que diz respeito aos sucessivos líderes e ao actual – Xi Jinping – a propaganda sempre serviu como um modo de difusão dos vários “motes” políticos adoptados ao longo das lideranças: o desenvolvimento com base na inovação científica, a criação de uma sociedade harmoniosa e mais recentemente o “sonho chinês”. Com Xi Jinping uma das principais diferenças é o retorno a um maior enfoque na legitimidade do PCC como via única para o progresso com um forte apelo ao nacionalismo e aos valores confuccionistas mais tradicionais. Até que ponto tem sido feita uma adaptação às redes sociais e à comunicação social por parte do aparelho de propaganda? Há uma maior capacidade de atracção das gerações mais jovens ao Partido? Tem havido uma adaptação à era digital no sentido de atrair mais população jovem. O Partido está consciente das mudanças ocorridas na sociedade e o facto de a população estar mais instruída e pedir mais informação levou a essa preocupação nos meios de comunicação social. Também a preocupação com a imagem internacional levou a propaganda a assumir um papel cada vez mais de instrumento de “nation branding”, quer a nível interno, com um forte apelo ao nacionalismo e ao “grande rejuvenescimento da nação chinesa”; quer a nível externo, com um esforço nítido de se afirmar como actor relevante e responsável na nova ordem internacional. Afirmou que a propaganda é uma ferramenta de soft power, sobretudo aplicada ao projecto da Rota da Seda da Saúde. Com o conflito na Ucrânia, acredita que a China terá de redefinir a sua estratégia de propaganda no que diz respeito à diplomacia, fomentando ainda mais a imagem de um actor mundial que não procura conflitos bélicos? Creio que a China irá manter esta ambiguidade de posicionamento em que tem estado até agora desde o início da invasão russa à Ucrânia. Isto porque apesar das diversas transformações geopolíticas ocorridas no mundo globalizado nas últimas décadas, a China mantém-se fiel em termos de política internacional aos princípios que resultaram da Conferência de Bandung, em particular, os da não-ingerência nos assuntos internos de outros Estados-nação, o respeito pelas soberanias nacionais e integridade territorial. Portanto, apesar da “amizade” que tem com a Rússia e da rejeição no que diz respeito à acção da NATO, a RPC não apoia a invasão da Ucrânia. Pode até perceber os motivos, mas não aprova os meios bélicos para atingir os objectivos que a Rússia pretende atingir. Julgo que a China, nesta matéria, não irá mudar a sua posição nem a mensagem que tem vindo a passar nos meios de comunicação relativamente a este assunto. A manutenção da política de casos zero de covid-19 no país e os impactos que esta está a ter na economia vai obrigar a um redesenhar da estratégia de propaganda a nível interno? Dada a dimensão da população chinesa e a densidade populacional, sobretudo nas cidades, não é possível aliviar as medidas na China do mesmo modo que tem sido feito no Ocidente. Os confinamentos em massa continuam a ser a solução a mais curto prazo para conter surtos. No entanto, e muito devido aos impactos económicos e sociais causados por estes confinamentos e quarentenas prolongadas, o Governo chinês já manifestou a sua preocupação na busca por um modelo de combate que seja mais “científico e específico”. A retórica da “saúde das pessoas em primeiro lugar” vai ser mantida nos próximos tempos, mas a divulgação de novas alternativas à política de zero casos covid-19 irá começar a aparecer em breve com base em evidência científica, dando, quiçá, origem a uma “política anti-covid com características chinesas”. Em relação ao conceito de Nation Branding, a China fá-lo de forma diferente face a outros países? A China tem sentido uma necessidade acrescida de desenvolver campanhas no sentido de promover a sua imagem externa, visto que a sua rápida ascensão económica e o seu peso crescente na esfera política internacional a colocam no centro de muitos debates, ora numa posição de poder em ascensão pacífico, ora como uma ameaça ao status quo e ao equilíbrio mundial. Em 2003, encetou uma grande campanha de marketing externo se assim se pode chamar com o mote da ascensão pacífica (“PRC’s peaceful rise”). Outra grande manifestação de ‘Nation Branding’ ocorreu em 2008, com a realização dos Jogos Olímpicos em Pequim, que amplamente contribuiu para difundir a imagem de uma nação próspera, mas também coordenada, harmoniosa, integradora e acolhedora. As estratégias de ‘Nation Branding’ são amplamente estudadas ao pormenor, mas não diferem assim tanto das estratégias usadas noutros países. O esforço de legitimação do Partido Comunista Chinês (PCC) poderá ser feito de outras formas, além da propaganda? O esforço de legitimação do PCC é um trabalho implícito em toda a acção económica, política e social do Partido. Os resultados falam por si, mas começam a haver cada vez mais gerações na China que não conheceram outra realidade a não ser esta da China moderna e próspera. Portanto, a necessidade de lhes transmitir que isso só foi possível graças a uma economia de mercado socialista com características chinesas em que o PCC foi sempre o eixo central das políticas levadas a cabo é essencial do ponto de vista dos altos dirigentes do PCC e, acima de tudo, do actual líder Xi Jinping. A propaganda estatal nisso tem um papel fundamental e continuará a tê-lo. Propaganda no CCCM Anabela Santiago foi uma das oradoras do ciclo de conferências de Primavera promovido pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). No passado dia 31 a doutoranda da Universidade de Aveiro deu a palestra intitulada “A dimensão externa das políticas públicas da China contemporânea: O papel da propaganda”, que deu origem a esta entrevista. O ciclo de conferências no CCCM acontece novamente entre os dias 18 e 23 deste mês, com um painel de conversas sobre a Ásia.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca | Cartaz com películas internacionais e uma grande estreia da China A par com o festival de curtas-metragens europeias, a Cinemateca Paixão apresenta já em Abril uma panóplia de filmes internacionais e chineses para todos os gostos. O público poderá ver títulos como “Whether the Wheather is Fine” ou “Magnetic Beats”, sem esquecer uma das grandes estreias do cinema chinês dos últimos tempos, “Are You Lonesome Tonight?”, o primeiro filme de Ship Wen A selecção da direcção da Cinemateca Paixão para o mês de Abril revela uma mescla de produções asiáticas e internacionais que promete dar resposta ao gosto de diferentes públicos. A par com o festival de curtas-metragens europeias, que decorre até 9 de Abril, os amantes do cinema poderão assistir a diferentes histórias na Travessa da Paixão. O primeiro filme desta selecção é exibido já este sábado e intitula-se “Whether the Weather is Fine”, de Carlo Francisco Manatad, uma co-produção entre Filipinas, França, Singapura, Indonésia, Alemanha e Qatar. O filme, realizado no ano passado, será exibido até ao dia 17 de Abril e conta uma história em torno do impacto da passagem do tufão Haiyan pelas Filipinas e a quase destruição da cidade costeira de Tacloban. No meio do caos e da destruição, Miguel, a sua mãe e a sua amiga Andrea tentam sair de barco em direcção a Manila, a capital do país, em busca de um futuro melhor. Os três estabelecem as suas prioridades de vida, mas os desafios que enfrentam vão levá-los em direcções diferentes. Este filme obteve, no ano passado, uma nomeação e um prémio no Festival de Cinema de Locarno, tendo ganho ainda o prémio de melhor filme asiático nos prémios Golden Horse. “Whether the Weather is Fine” foi também escolhido pelo público do Festival Internacional de Cinema de Pingyao como melhor filme. Da China chega-nos “Are You Lonesome Tonight?”, de Ship Wen, que tem a sua primeira exibição este domingo e depois nos dias 24 e 29 de Abril. Nomeado para um prémio na edição do ano passado do festival de Cannes, este é o primeiro filme de Ship Wen, um jovem realizador, e tido como uma das estreias mais fortes dos últimos tempos no panorama do cinema chinês. Entre os dias 13 e 26 de Abril será exibido “Magnetic Beats”, de Vincent Maël Cardona, uma co-produção francesa e alemã, também do ano passado. A história passa-se nos anos 80, numa Alemanha ainda dividida, onde um grupo de amigos opera uma estação de rádio pirata a partir da sua cidade natal, no campo. Philippe é o técnico de som e vive na sombra do seu irmão Jerome, que apresenta todo o carisma ao microfone, na colocação de músicas e apresentação de programas radiofónicos. As coisas mudam quando Philippe é chamado a cumprir o serviço militar, sendo obrigado a deixar a cidade de Berlim Ocidental. “Clara Sola” é o título do filme de Nathalie Álvarez Mesén que será exibido entre os dias 10 e 20 de Abril. Esta película conta a história de Clara, uma mulher de 40 anos que sente uma ligação especial com Deus. Ela ganha a vida como curandeira, sustentando a sua família e vivendo uma relação abusiva com a mãe. Até que, um dia, Clara se sente atraída pelo novo namorado da sua sobrinha, uma paixão que a leva a descobrir novos territórios um pouco fora da espiritualidade. “Un Monde”, de Laura Wandel, está agendado para os dias 12 a 22 de Abril, sendo esta uma produção belga. O filme conta a história de Nora, uma menina de sete anos, e do seu irmão Abel, que regressam à escola. Nora tenta proteger o seu irmão, que é vítima de bullying, mas este pede-lhe que fique em silêncio. É então que Nora tenta buscar o seu lugar entre o mundo das crianças e dos adultos. O filme “The Souvenir: Part II” será exibido já a partir de domingo, até ao dia 15 de Abril, uma película com a assinatura de Joanna Hogg. Este filme conta a história de Julie, que se vê livre de um amor que vivia com um homem manipulador e se foca na sua licenciatura em cinema. Esta não é mais do que um retrato de uma artista que mistura memória e fantasia. O filme ganhou três prémios na edição de 2021 do Festival de Cinema Independente do Reino Unido, tendo obtido também seis nomeações em várias categorias. “France”, de Bruno Dumont, é uma co-produção de França, Itália e Alemanha, e será exibida na Cinemateca Paixão entre os dias 14 e 28 de Abril. “France” conta a história de France de Meurs, uma jornalista de televisão que se confronta diariamente com a sua vida profissional frenética e a sua vida familiar. Tudo muda quando protagoniza um acidente de carro que deixa uma pessoa ferida. Arquitectura e companhia Ainda no conjunto das produções internacionais, destaque para “Aalto”, de Virpi Suutari, um filme da Finlândia que volta a ser exibido hoje, depois de uma primeira exibição no passado dia 27, e que pode ser visto até ao dia 6. Esta é uma película que conta a história da vida e trabalho de Alvar Aalto, uma figura carismática da arquitectura do século XX, nascido em Helsínquia. Mais do que mostrar o seu lado profissional, “Aalto” explora também a sua paixão pela mulher, Ano. “The Restless”, de Joachim Lafosse, conta uma história de amor entre Leila e Damien, que é bipolar e sente que, apesar de tudo, nunca vai conseguir oferecer a Leila o que ela deseja. O cartaz dos filmes em exibição na Cinemateca completa-se com “The Lost Prince”, de Michel Hazanavicius.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstudo | Salário e satisfação laboral determinantes na vontade de ficar ou mudar de emprego O nível salarial e a satisfação em relação ao emprego são os factores mais importantes na vontade de sair ou permanecer numa empresa, enquanto que a relação entre colegas não tem qualquer impacto. Um estudo desenvolvido por três académicos da Universidade de Macau, feito a partir de inquéritos a trabalhadores dos sectores do retalho e hotelaria no Cotai em pleno ano pandémico, conclui ser necessária uma estratégia para a retenção de trabalhadores qualificados Quais os factores que mais contribuíram para a vontade de mudar de emprego em pleno ano da pandemia por parte dos funcionários dos sectores do retalho e hotelaria em Macau? Esta foi a pergunta de partida para o estudo “O impacto da covid-19 nas intenções de rotatividade dos trabalhadores dos sectores do retalho e hotelaria”, da autoria dos académicos Glenn McCartney, Charlene Lai Chi In e José Soares de Albergaria Ferreira Pinto, da Universidade de Macau (UM). Com base em inquéritos online feitos a 301 trabalhadores dos resorts do Cotai conclui-se que “a carga de trabalho e o salário tiveram a maior influência na decisão de deixar ou ficar no sector”. Existe, por isso, “uma relação significativa entre a satisfação no trabalho e as variáveis carga de trabalho e salário, bem como o apoio por parte da empresa”. Já a relação entre colegas de trabalho, é um factor “que não tem influência” para a mudança ou permanência no trabalho. “É claro no nosso estudo de que a relação entre colegas não tem influência na satisfação laboral, [algo] revelado pela longa ausência do local de trabalho” em plena covid-19, é apontado. “Os inquiridos passaram um período prolongado de confinamento, tendo regressado recentemente ao trabalho dentro de um conjunto de regras de prevenção pandémica como o uso de máscara, a testagem à covid-19 e a apresentação do código de saúde”, aponta o estudo. Aquele que é, segundo os autores, um dos primeiros trabalhos académicos sobre a rotatividade dos trabalhadores nas áreas do retalho e hotelaria no período da pandemia foi feito entre os meses de Novembro e Dezembro de 2020, numa altura em que o sector do turismo se abria gradualmente aos turistas da China após longos meses de confinamento e de um período de encerramento dos casinos. Em relação ao perfil dos participantes, cerca de 80 por cento trabalha na indústria do retalho há, pelo menos, três anos, sendo que “a maior parte” está nesta área “há sete anos ou mais”. Cerca de metade, mantém o mesmo emprego há quatro anos ou mais. De entre 301 inquiridos, 60 por cento é do sexo feminino. A maior parte dos participantes, 73 por cento, tem entre 26 e 35 anos de idade. Em relação às habilitações académicas, 58 por cento possui apenas o ensino secundário. Os salários variam, apesar de a maioria ganhar menos de, aproximadamente, 30 mil patacas mensais. Este trabalho partiu da premissa de que, “durante o período massivo de licenças sem vencimento e desemprego, e a recente necessidade de novas contratações” era fundamental estudar a vontade dos trabalhadores em mudar de emprego ou de área. Desta forma, os investigadores formularam três hipóteses que sugeriam “o apoio da empresa, a carga de trabalho e salário e a relação entre colegas como tendo uma relação positiva com a satisfação em relação ao trabalho”. A importância de reter Mais do que compreender as intenções e percepções de uma amostra dos trabalhadores do Cotai em plena pandemia, este trabalho apresenta estratégias para que os sectores do retalho e hotelaria consigam reter os quadros qualificados e gerir melhor os recursos humanos num contexto de crise. “Com muitos dos empregados do sector do retalho em Macau a regressarem ao trabalho, este é um tempo oportuno para as chefias considerarem os fortes indicadores de que uma estratégia de recursos humanos se deve desenhar tendo em conta a satisfação laboral e as intenções de rotatividade.” Além disso, “os funcionários das lojas de retalho na strip do COTAI representam muitas marcas de luxo, sendo vital que estes profissionais talentosos e qualificados possam ficar retidos”. De entre as recomendações, é defendida a “importância da comunicação estratégica para as políticas de retenção de trabalhadores”, bem como a adopção de “acções de longo prazo em matéria de relação entre colegas, apoio da empresa e carga de trabalho e salário, a fim de construir uma maior resiliência da força laboral caso ocorra outra crise”. “Uma vez que, no nosso estudo, a satisfação laboral tem um impacto negativo nas intenções de rotatividade, deveria ser realizado um estudo abrangente em matéria de recursos humanos na área do retalho, na fase de recuperação do sector, face a questões não analisadas que podem providenciar uma grande satisfação laboral. Estas influências podem ser factores externos como um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, uma relação afectada pela relação entre colegas, carga de trabalho e salário e apoio da empresa”, é referido. Os autores falam também na importância de uma “estratégia de recursos humanos na área do retalho em termos de remuneração e carga de trabalho, tendo em conta factores como a organização dos turnos e as horas de trabalho, bem como os benefícios pagos aos trabalhadores e os incentivos aquando da recuperação da indústria”. Uma vez que a relação entre colegas de trabalho não é um factor determinante na busca de um novo emprego, aconselha-se o sector a “dar prioridade a programas de re-engajamento das interacções entre colegas de trabalho, a fim de implementar confiança e respeito”. Os desafios Apesar das sugestões, os autores reconhecem que “o aumento dos salários será algo desafiante tendo em conta o panorama económico e a quebra registada com a pandemia”. No período em que foram realizados os inquéritos, muitos trabalhadores ter-se-ão deparado com uma situação de desemprego, lay-off ou licença sem vencimento, além de ter sido anulada a possibilidade de serem pagos os habituais bónus salariais. Meses depois, “é plausível que, nesta fase da pandemia, muitos trabalhadores estejam a enfrentar dificuldades em pagar as despesas do dia-a-dia devido à redução dos salários”, refere o artigo. O desafio actual passa por “reter e aumentar o número de funcionários numa situação de contínua incerteza”, tendo em conta o panorama de crise económica. Os autores do estudo não deixam de fazer referência à saúde mental. “Muitos dos trabalhadores do sector do retalho passaram longos períodos de tempo isolados durante o período da pandemia. Apesar de não ser um factor investigado neste estudo, o bem-estar psicológico dos trabalhadores deveria ser considerado, mesmo que alguns estudos mostrem que este não constitui um antecedente para as intenções de rotatividade [no emprego].” Em termos gerais, “mantém-se o risco e a incerteza da covid-19, e existe a necessidade de análise de mais necessidades dos trabalhadores do sector da hotelaria e das suas intenções de deixar ou permanecer na empresa”. O documento esclarece ainda a necessidade de apostar na resposta dos empregados perante um maior número de incentivos atribuídos. “Os salários e incentivos, um facto importante na satisfação laboral, deveriam estar associados com uma resposta dos empregados, tal como o nível de vendas [por si realizadas]. A procura pelo trabalho ideal, a formação de trabalhadores, a promoção e perspectivas de carreira deveriam constituir a estratégia para a retenção de recursos humanos.” Apesar de este ser o primeiro estudo sobre as intenções de rotatividade dos trabalhadores em plena pandemia, a verdade é que esta matéria já tinha sido abordada. Os autores descrevem um estudo “feito nos casinos que conclui que a carga de trabalho é um factor para o burnout dos croupiers e, consequentemente, uma mudança de emprego”, tendo sido recomendada “uma alteração do horário de trabalho e uma clara comunicação por parte das chefias”. Relativamente a Hong Kong, outro estudo, realizado junto de empregados de hotel, conclui “que o pagamento foi o factor que mais contribuiu para a satisfação no trabalho”. “O estudo aponta que esta questão foi difícil de resolver tendo em conta o panorama económico, o congelamento de salários e os cortes salariais na indústria”, conclui-se.
Andreia Sofia Silva EventosFilosofia | Grupo de estudantes da USJ cria associação para debater pensamento Um grupo de estudantes de filosofia da Universidade de São José criou a Associação da Filosofia Chinesa e Ocidental com o objectivo de promover o debate sobre o pensamento e uma reflexão colectiva sobre matérias relacionadas com a existência. Hoje acontece o segundo evento, focado na obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche Aproximar a filosofia às pessoas comuns que não são dessa área é o objectivo da recém-criada Associação da Filosofia Chinesa e Oriental, fundada por um grupo de alunos do curso de filosofia da Universidade de São José (USJ). Hoje, vai ter lugar o segundo evento promovido pela associação, focado no pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche sobre a estética, espelhado na obra “A Origem da Tragédia”, lançada em 1872. O evento, intitulado “Nietzsche – Aesthetics” acontece entre as 18h30 e as 21h na avenida de Venceslau de Morais, 218A, e tem entrada livre. “No primeiro evento que realizámos focámo-nos no existencialismo, mas desta vez decidimos falar sobre Nietzsche, porque muitos dos seus pensamentos, sobretudo sobre a estética, têm influência nas pessoas no que diz respeito à criatividade”, disse Maggie Chiang, uma das promotoras do evento ao HM. Sobre “A Origem da Tragédia”, a responsável adiantou que o aparecimento deste livro “culminou no nascimento da estética moderna”, tendo tido “um profundo impacto na arte moderna, sobretudo no seu pensamento em relação ao conflito e à harmonia”. A associação, composta por alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento, visa “reunir a essência do pensamento chinês e ocidental e também promover a existência de uma diversidade de culturas, bem como a aplicação prática do pensamento filosófico”. Maggie Chiang defende que a filosofia não é uma área assim tão estranha às pessoas de Macau. “Acredito que a maior parte das pessoas tem interesse na filosofia, mas é-lhes difícil falar disso, ou expressar, se não pertencerem a um ambiente académico e profissional”. Para aproximar esta área às pessoas estão na calha eventos como sessões de cinema, a criação de um clube de leitura ou a realização de palestras de filosofia com professores. Época de reflexão Maggie Chiang não tem dúvidas de que esta é a altura ideal para o nascimento desta associação, uma vez que a sociedade enfrenta questões de saúde mental devido à pandemia. “Neste período de caos, muitas pessoas começaram a pensar sobre a vida e tentam reflectir sobre coisas em que acreditavam antes, sobre a sua veracidade. Em filosofia, uma das coisas mais importantes é olhar para a verdade. Penso que esta é a altura em que as pessoas começam a repensar nas suas vidas, é um bom período para termos esta associação.” Maggie Chiang tem outro emprego, encontrando-se neste momento a finalizar a sua tese. Assegura que nem sempre é fácil para quem procura a filosofia como uma hipótese de carreira. “Quem tem interesse em filosofia não pensa desta forma, se é uma área que nos pode proporcionar uma carreira ou dinheiro. Na maior parte das vezes o nosso interesse tem a ver com o conhecimento ou a verdade, e temos sempre muitas questões em mente. Pensamos em teorias, na existência humana, na felicidade, por exemplo. Mas quem vai para filosofia no sentido de ter uma carreira, não é o caminho mais certo. No entanto, penso que estudar filosofia pode ser uma vantagem para aplicar em qualquer emprego”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCaminho das hortas | Defendida preservação de árvores centenárias A associação Greenfriends Macau lançou uma petição em prol da preservação de dez árvores centenárias situadas na vila de Cheok Ka, na povoação de Caminho das Hortas, na Taipa. Instituto Cultural aguarda notificação dos serviços de obras públicas sobre o arranque das árvores e promete avaliar o caso Têm entre 120 e 150 anos de existência e estão situadas na vila de Cheok Ka, na povoação de Caminho das Hortas, na Taipa. O conjunto de dez árvores Mock Bodh é raro no mundo e a Direcção dos Serviços de Obras Públicas pretende removê-las para a realização de obras viárias. A associação Greenfriends Macau lançou há dias uma petição, que conta já com mais de duas mil assinaturas, em defesa da protecção das árvores, sugerindo que as obras se realizem em outras zonas da avenida de Guimarães. A petição adianta ainda que há muitos animais cuja sobrevivência depende destas árvores, como pássaros, insectos ou borboletas, além de que as suas raízes “estão integradas numa só, o que forma uma rede simbiótica que por si só forma um ecossistema”. Ao HM, Ling Tong, uma das responsáveis pela associação, adiantou que é importante preservar as memórias que este lugar acarreta. “São árvores antigas e vitais para o ecossistema do local. Não só dão sombra, mas também são importantes para várias espécies de animais. Além disso, é também importante a preservação destas árvores da perspectiva da história da comunidade. Trata-se de património, porque muitos moradores cresceram com estas árvores”. Até ao momento, “a maior parte dos signatários deixou algumas palavras que me deixaram comovida”. “Muitos moradores guardam memórias de infância daquelas árvores, outros culpam as autoridades e dizem que o Governo deveria ter outro plano ao invés de cortá-las. Defendem que deve haver um equilíbrio entre o desenvolvimento da zona e a preservação do ecossistema. Muita gente chegou mesmo a escrever poemas sobre as árvores.” A ideia é, após a recolha das assinaturas, entregá-las ao Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, adiantou Ling Tong. IC à espera À margem da apresentação do programa da edição deste ano do Festival de Artes de Macau, a presidente do Instituto Cultural (IC), Leong Wai Man, disse que ainda não receberam uma notificação oficial para a retirada das árvores. “Em colaboração com os proprietários e serviços das obras públicas vamos avaliar em conjunto a situação. Também precisamos de ouvir a posição do Instituto para os Assuntos Municipais. Em relação às árvores antigas temos uma lista de avaliação e classificação, e o nosso trabalho inclui a sua preservação. Outros serviços vão fazer uma avaliação também e podem solicitar a nossa opinião.” Questionada sobre o interesse público que está em causa para a retirada das árvores, a dirigente disse que tal “é objecto de avaliação dos serviços que propuseram” esta acção. “Precisamos ainda de esperar pela resposta dos outros serviços. Não há um procedimento fixo [para esta situação]”, frisou Leong Wai Man. A petição está disponível aqui: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe0SM_-Dr4tNxbLPFfXSFWRtjTFapg77dRfFsIyrL_W6_cChQ/viewform
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAntónio Caeiro, autor de “Os retornados de Xangai”: “Este livro é uma saga humana” A comunidade portuguesa em Xangai começou a formar-se em meados do século XIX e chegou a ser a segunda mais importante na cidade. Com o estalar do conflito entre comunistas e nacionalistas, muitas famílias foram para Macau, dando depois origem à diáspora macaense espalhada pelo mundo. O livro “Os retornados de Xangai – Histórias de portugueses do Oriente”, do jornalista e autor António Caeiro, conta as suas vidas Como chegou a este projecto de reunir os testemunhos daquele que é considerado o primeiro grupo de retornados para Portugal? Desde muito cedo, quando fui para a China, ouvi falar da existência de uma comunidade portuguesa em Xangai numerosa e completamente desconhecida do grande público. Além disso, havia a particularidade de se saber quando tinha começado e acabado, entre meados do século XIX até meados do século XX. Existiu num determinado local, à margem de diversos impérios, como o português, britânico ou chinês (Império do Meio), e que não só se estabeleceu durante várias gerações como foi durante muito tempo uma das principais comunidades estrangeiras de Xangai. Sabia-se muito pouco sobre isso e à medida que fui investigando, em arquivos e ouvindo pessoas… Falou com descendentes dessa comunidade também. Sim. Essa comunidade, maioritariamente de Macau, acabou por se dispersar pelo resto do mundo. Só uma pequena parte é que foi para Portugal, pois a maioria foi para o Brasil, Austrália, Canadá, EUA… achei que valia a pena conhecer mais figuras e histórias, e à medida que fui fazendo este trabalho mais surpreendente se revelou a história desta comunidade. Uma das histórias que o livro conta é a de Art Carneiro, músico e antepassado de Roberto Carneiro, presidente do conselho de administração da Escola Portuguesa de Macau. Há várias personagens absolutamente surpreendentes e deslumbrantes. O pai de Roberto Carneiro, com o nome artístico de Art Carneiro, é sem dúvida uma figura que atravessa todo o livro. Ele nasceu em 1904 e iniciou a carreira musical em Xangai. Mais tarde veio a ser um dos pioneiros do jazz em Portugal, participou na primeira jam session organizada em Lisboa, em 1948, cerca de um ano depois de ter regressado a Portugal. Art Carneiro tocou com uma das melhores orquestras dos anos 20 e 30 em Xangai, que tinha na altura centenas de salões de baile e cabarés. Tinha a vida nocturna mais animada de toda a Ásia, era também a capital do jazz. Era uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. Mas desde que o livro foi impresso que me cruzei com outras histórias e pormenores que, se soubesse, tinha incluído no livro, pois cada pessoa tem a sua história. Macau surge aqui como um território fundamental neste elo de ligação entre Portugal e a China. Sim, porque os portugueses estabeleceram-se em Macau no século XVI e quando se dá a Guerra do Ópio, em meados do século XIX, os ingleses vencem o conflito e uma das consequências foi a anexação de Hong Kong e a obrigatoriedade, exigida aos chineses, de abrir cinco portos ao comércio internacional. Um deles era Xangai. Quando os ingleses se estabeleceram aí, os primeiros estrangeiros a estabelecerem-se na cidade foram os portugueses de Macau que já lá estavam há várias gerações e conheciam bem a cultura local. Estavam ambientados, misturados e com um nível de instrução capazes de serem quadros das empresas que os ingleses e americanos estavam a fundar em Xangai. Macau era um território pequeno e com poucas oportunidades de trabalho, mas Xangai era uma economia em expansão. Praticamente não havia nenhuma família de Macau que não tivesse alguém em Xangai. Era uma comunidade importante… Chegaram a ser três mil portugueses. Nos anos 30, registados no Consulado [português em Xangai] estavam dois mil portugueses. A Guerra do Ópio é um episódio traumático na história da China, pois os chineses dizem que foi promovida pela Grã-Bretanha para desenvolver o seu comércio do ópio, que era proibido na China. A seguir, deu-se a tal abertura forçada dos portos chineses e a entrada em força dos estrangeiros e do capitalismo, do comércio internacional. Isso mudou muito a China e Xangai foi, de certa forma, o berço da modernização da China, e foi aí que apareceu o próprio Partido Comunista. Em todos esses portos havia portugueses. É curioso que as tipografias eram, em grande parte, dominadas por tipógrafos portugueses formados em Macau. Estes iam trabalhar para Hong Kong e depois iam para vários portos. Imprimiam jornais e toda a informação que era difundida nesse novo mundo marcado pelo comércio internacional. Esta comunidade passou por várias fases da história da China. Mas o grande motivo para o seu regresso foi o conflito entre nacionalistas e comunistas? Houve uma altura em que era a segunda comunidade de estrangeiros mais importante, a seguir aos ingleses, e que depois foram ultrapassados pelos japoneses. Depois houve uma grande vaga de emigração russa a seguir à revolução comunista na Rússia, em 1917, que passou a ser a segunda comunidade. O primeiro êxodo dá-se com a invasão japonesa, em 1937. Muitas famílias estrangeiras deixam Xangai, uma grande parte vai para Hong Kong onde tinha familiares e outra vai para Macau. Depois acabaram por regressar a Xangai. Finalizada a II Guerra, começa a guerra civil na China, e com a aproximação do exército comunista e tomada do poder pelo Partido Comunista, muitas empresas estrangeiras começaram a sair. Com isso desapareceram muitos dos postos de trabalho ocupados pelos portugueses. Graças ao trabalho de um grande investigador, Jorge Forjaz, consegue-se saber quem foi o último português a sair, já nos anos 60. Mas o livro refere que em 1953 terá saído a última família portuguesa de Xangai. Era uma família de apelido Collaço. Já havia muito poucas, a maioria foi para Macau, que se tornou num centro de refugiados, mas a maioria não ficou no território, tendo partido para outros sítios. Foi o início de uma nova diáspora. Para Portugal foram muito poucos porque não tinham muitas raízes. Veio a família de Roberto Carneiro, por exemplo. As casas de Macau espalhadas por esse mundo fora foram criadas por estas pessoas. Uma das características desta comunidade é que o regresso a Portugal não foi fácil, pois não havia essa ligação forte ao país e à língua. Todos contam que falavam inglês entre eles, e só os mais velhos é que falavam algum português. Havia uma ligação mítica a Portugal, muitos nunca tinham visitado o país, tinham apenas alguns familiares. Muitos falavam francês e algum chinês. Depois Xangai era muito cosmopolita e Portugal nos anos 40 era um país pobre e cinzento. Acima de tudo encaro este livro como uma saga humana, que envolveu portugueses, e isso toca-nos muito. Temos uma ideia de que existiu esta comunidade, mas quase todas as pessoas com quem falei me disseram que não faziam ideia da sua dimensão.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEstudo | Confucionismo não influencia docentes de português Professores de português como língua estrangeira não são influenciados no seu trabalho pelas ideias vindas do Confucionismo, além de que o próprio perfil do aluno chinês está a mudar, optando este por métodos de ensino mais virados para a comunicação. Estas são as conclusões de um estudo feito por João Paulo Pereira, da Universidade de São José As ideias oriundas de Confúcio, relativas ao respeito por uma figura de autoridade, não influenciaram os professores de português como língua estrangeira em Macau. Esta é uma das conclusões do estudo “Visões de Confúcio na aula de Português Língua Estrangeira em Macau: entre tradição e modernidade”, apresentado hoje por João Paulo Pereira, docente da Universidade de São José (USJ). “Os professores não são condicionados por estas representações, o que mostra que têm formação específica no ensino do português e seguem os métodos e abordagens mais actuais”, contou ao HM. As ideias pré-concebidas de que o aluno chinês é trabalhador, educado e obediente perante a figura de autoridade representada pelo docente “existem na mente de um ou outro professor”, mas não “ao ponto de influenciar as práticas pedagógicas”. João Paulo Pereira adianta ainda que, na cabeça da maioria dos professores entrevistados para este trabalho, existe a ideia de que os alunos preferem memorizar a matéria dada, mas nem sempre essa é a realidade. “Há uma adaptação do aluno chinês aos novos métodos e abordagens do ensino de língua estrangeira. Foi interessante verificar que os alunos não preferem actividades mecânicas ou controladas, mas sim as que favorecem o exercício da comunicação. Isto vai ao arrepio da ideia de que o aluno chinês não tem qualquer predisposição para intervir ou para se expor.” Gramática é importante O estudo foi feito com apenas 40 alunos e três professores da Escola Portuguesa de Macau, Instituto Português do Oriente e departamento de português da Universidade de Macau, tendo sido publicado em Dezembro do ano passado. Outra das conclusões apontadas por João Paulo Pereira, é que os alunos chineses que aprendem português “consideram importante estudar explicitamente a gramática, quando hoje em dia as abordagens comunicativas dizem que se deve estudar a gramática em contexto e não de forma explícita”. Desta forma, “este elemento deve ser tido em conta pelo professor de língua estrangeira”, apontou. O também investigador do Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa quis perceber a intrusão das ideias confucianas no ensino da língua em Macau após algumas leituras. “Segundo alguns autores, muitas destas representações que temos do aluno chinês têm a ver com o pensamento confuciano, em que está muito presente a figura da autoridade, que deve ser um modelo de virtude, íntegro, acima de qualquer suspeita. Isso é fundamental para que os súbditos o sigam naturalmente e daí a importância que o professor foi adquirindo na cultura chinesa. É alguém muito respeitado e visto como um modelo.” Em relação ao estudante chinês, “formou-se a ideia de que é alguém que segue cegamente o professor, não questionando e não criticando”. “Isto radica também num modelo tradicional de ensino, onde a memorização tem muita importância, com alguma rigidez, em que o professor é o centro e o aluno é alguém passivo que está a receber os ensinamentos”, frisou o autor do estudo. A conferência de apresentação deste trabalho acontece hoje às 19h no auditório Dom Bosco no campus da USJ, na Ilha Verde.
Andreia Sofia Silva EventosBABEL | Ciclo de conferências sobre património, memória e colonialismo arranca hoje Começa hoje um ciclo de conferências online que aborda a preservação de memórias sobre locais e objectos que foram deslocados dos lugares a que pertenciam. A iniciativa é organizada pela BABEL – Organização Cultural e dela vai nascer um arquivo digital com os objectos e histórias abordadas no projecto Entre hoje e domingo discutem-se, num formato totalmente online, questões como o património, memória e colonialismo através das histórias de “objectos” com “acentuado valor simbólico e patrimonial que, de forma violenta ou anti-ética, foram deslocados das suas comunidades originais e colocados em contextos e locais muito distintos”. Esta é a temática central do ciclo de conferências “SOS – Stolen Objects Stories”, onde serão partilhadas “perspectivas académicas e artísticas situadas na confluência entre imperialismo, colonialismo, de-colonialidade, património e práticas criativas de produção de conhecimento”. Desta forma, personalidades como Margarida Saraiva, co-fundadora da BABEL, Zuozhen Liu, Maria Paula Meneses ou Catarina Simão, entre outros, vão debater questões “além das fronteiras tradicionais” como a “colecção, instituição ou nação”, a fim de chegar “ao domínio de uma ética do ‘cuidar’ e ‘reparar’”. Pretende-se, assim, dar respostas a questões como “o cuidado com os objectos do museu para o respeito pelas pessoas”, ou ainda a necessidade de colocar “a preservação dos acervos e património museológicos [em prol] do bem-estar das comunidades, da natureza e do planeta”. Ao HM, Margarida Saraiva adiantou que o ciclo de conferências vai além do debate de objectos roubados em contextos coloniais ou de conflito, abordando também a forma como muitos vezes nós, enquanto seres individuais, nos vemos apropriados de forma ilegítima dos nossos dados pessoais, por exemplo. “Partimos de uma parte que todos entendem, quando falamos de objectos museológicos roubados, para depois acompanharmos essa problemática até à actualidade. Muitas vezes, numa situação de guerra, o património móvel fica muito vulnerável.” A ideia é descobrir “a quem pertencem os objectos”, sem que se faça “uma abordagem simplista do problema”. A BABEL tem trabalhado com mais de 15 investigadores. O resultado deste projecto poderá ser visto depois num arquivo que será totalmente digital, e estará disponível um mês após o ciclo de conferências. Dias de reflexão O evento de hoje é dedicado a “Histórias”, durante o qual Margarida Saraiva irá apresentar o projecto que deu origem ao ciclo de debates, o SOS. Trata-se de um “arquivo crítico” que foi fundado com base “num conjunto de questões urgentes”. O SOS foi desenvolvido em parceria com mais de uma dezena de investigadoras, artistas, historiadores, poetas ou músicos, de países como Uruguai ou Austrália, entre outros. A ideia por detrás do arquivo é “assinalar a interligação e a interdependência de pequenos lugares, espalhados pelo mundo, sem procurar oferecer uma visão global”. Segue-se a apresentação “Irá Deus ganhar? O caso da Múmia Budista”, conduzido por Zuozhen Liu, da Universidade de Ciências Sociais de Guangzhou. A académica irá contar a história de uma estátua com cerca de mil anos, conhecida como a estátua de Zhanggong-zushi, e que tem captado a atenção da comunidade internacional. Haverá ainda uma conversa sobre os “Objectos Roubados da China: Histórias e Biografias das colecções de Yuanmingyuan (‘Palácio de Verão’) nos museus britânico e francês”, levada a cabo por Louise Tythacott, da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. O debate remete para a retirada de objectos por ingleses e franceses em 1860, aquando da segunda Guerra do Ópio, bem como o vandalismo a que foram submetidos estes elementos do património histórico chinês. No sábado conversa-se sobre “Práticas”, com duas apresentações mais focadas na Ásia, como é o caso de Caroline Ha Thuc, escritora e curadora de Hong Kong, que irá falar sobre as práticas da pesquisa artística no sudeste asiático. Riksa Afiaty e Sita Magfira, artistas e curadoras independentes da Indonésia, também participam no debate, juntamente com Catarina Simão, que abordará a questão dos arquivos como campo de trabalho. Domingo será dedicado aos “Discursos”, numa sessão dedicada à preservação, do saque e da memória, com autores como Marian Pastor Roces, das Filipinas, Naman P. Ahuja, professor na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, e Maria Paula Meneses, da Universidade de Coimbra. O ciclo de conferência estará disponível, entre as 17h45 e as 18h30 em https://iftm.zoom.us/…/register/WN_yhQejPxOREOJDVl2d9JHOQ
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteAmbiente | China estabelece metas para energia movida a hidrogénio até 2035 O maior produtor de hidrogénio do mundo quer produzir, já em 2025, 200 mil toneladas de hidrogénio verde por ano. Na quarta-feira, a Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma e a Administração Nacional de Energia da China apresentou o plano para o desenvolvimento do sector energético baseado no hidrogénio até 2035 Um dos países que mais emite gases poluentes para a atmosfera e que há décadas se debate com problemas de poluição é também aquele que acaba de estabelecer novas metas sustentáveis até 2035. A Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma da China, bem como a Administração Nacional de Energia, apresentaram na quarta-feira um plano para o desenvolvimento do sector energético do país com maior recurso ao hidrogénio, uma fonte secundária de energia que é produzida com base numa fonte primária. Importa frisar que a China é o maior produtor de hidrogénio do mundo, com uma produção anual de 33 milhões de toneladas, mas fá-lo ainda, na sua maioria, através de métodos baseados em combustíveis fósseis. A Reuters escreve que 80 por cento da produção é feita desta forma. O hidrogénio pode ser produzido de várias maneiras, mas destacam-se duas. A reformação por vapor, que continua a ser mais usada, e através da qual o hidrogénio é obtido através do aquecimento de um combustível fóssil a altas temperaturas, principalmente o gás natural. O contacto com vapor de água provoca a separação das moléculas de hidrogénio, libertando também dióxido de carbono. Há ainda uma forma mais ecológica de produzir o hidrogénio, através da electrólise da água, e esta parece ser a grande aposta da China neste momento. Dependendo da fonte utilizada, o hidrogénio pode ser cinzento, azul ou verde, sendo que o verde é o único tipo produzido de forma neutra em termos climáticos, usando uma metodologia de produção que reduz emissões. “Em termos globais o hidrogénio tornou-se numa importante escolha estratégica para a maioria das economias desenvolvidas que procuram acelerar e melhorar a transformação do sector energético”, aponta a Xinhua. Segundo a agência noticiosa chinesa, o plano prevê que já daqui a dois anos o país possa ter “um plano relativamente completo da indústria de produção de energia com recurso ao hidrogénio”, através da melhoria significativa “da capacidade de inovação e com uma [maior] definição das tecnologias e dos processos de manufactura”. Em 2025, a China planeia produzir, por ano, entre 100 a 200 mil toneladas de energia com recurso ao hidrogénio, ao ponto de este se tornar “numa importante fonte de consumo energético”, reduzindo, desta forma, “as emissões de dióxido de carbono de dois milhões para um milhão de toneladas por ano”. Também neste ano se espera que cerca de 50 mil toneladas de hidrogénio verde por ano sejam usadas em veículos. Por sua vez, em 2030, a China espera “atingir um panorama industrial razoável e o uso generalizado da produção de hidrogénio a fim de disponibilizar uma base forte para os objectivos de redução do carbono”. Cinco anos depois, pretende-se que “a proporção do uso de hidrogénio produzido com energias renováveis e o seu consumo aumente de forma significativa, desempenhando um papel importante na transformação do país em prol de um consumo de energias verdes”. Além das metas traçadas, o plano reconhece ainda as actuais lacunas da produção de energia com recurso ao hidrogénio no país, tal como a existência de “múltiplos problemas como fracas capacidades de inovação, um baixo nível de equipamento técnico e uma base insuficiente para o desenvolvimento industrial”. Uma aposta local Citado pela agência Xinhua, Gan Yong, membro da Academia Chinesa de Engenharia, disse que, “obviamente, desenvolver o hidrogénio a partir da energia fóssil não é a direcção principal [do país]”, e que “o hidrogénio produzido a partir de energias renováveis irá torna-se um ponto importante no futuro”. Já a Aliança Chinesa para o Hidrogénio [The China Hydrogen Alliance] estimou que o mercado chinês de produção de hidrogénio poderá atingir 43 milhões de toneladas em 2030. A produção de hidrogénio verde vai aumentar de 1 por cento em 2019 para 10 por cento, e o mercado irá crescer cerca de 30 vezes. Actualmente, muitos governos locais na China estão a apostar no potencial deste mercado energético. Prova disso são as metas lançadas em Agosto do ano passado pelo departamento de economia e transformação tecnológica do Município de Pequim, que incluem o lançamento de cinco a oito empresas de energia movida a hidrogénio com influência internacional já no próximo ano. Relativamente a Xangai estão a ser traçados planos para o estabelecimento de 100 estações de hidrogénio e 10 mil veículos movidos a hidrogénio em 2023. Quanto à província de Guangdong, as autoridades propuseram “a introdução, em larga escala, de veículos movidos a hidrogénio e a aceleração da construção de estações de abastecimento de hidrogénio. É com esse propósito que está projectada a construção de 300 estações na zona do Delta do Rio das Pérolas”. Segundo a agência Reuters, quase todas as províncias e regiões na China incluíram o hidrogénio nos seus planos de desenvolvimento, além de que 120 projectos de produção de hidrogénio verde estão em andamento. Grandes empresas como a Sinopec, Baosteel and GCL também expandiram a produção de hidrogénio com recurso ao gás natural e energias renováveis, usando-o ainda em sectores como o transporte e na indústria siderúrgica. Uma transição necessária Citado pela Reuters, Wang Xiang, director-geral do departamento de alta tecnologia da NDRC, disse que “o desenvolvimento do hidrogénio é um importante passo para a transição energética e um grande apoio para o cumprimento, por parte da China, dos objectivos de redução das emissões de carbono”. Para o responsável, mesmo que a China ainda tenha a maior parte da sua produção de hidrogénio baseada em energias fósseis, existe “um enorme potencial” de mudança de paradigma, tendo em conta que o país tem a maior capacidade em termos de energias renováveis. “Muitos dos representantes da indústria de hidrogénio concordam que a capacidade de produção de hidrogénio verde é ainda muito conservadora”, adiantou Yuki Yu, fundador da consultora Chinese Clean Power Policy & Market Insights (Energy Iceberg). Esta aponta que, actualmente, a produção de hidrogénio verde no país não vai além das 27 toneladas por ano. Sobre o plano anunciado pelas autoridades chinesas, Yuki Yu defende que “é um sinal positivo” da mudança do mercado.