Académico estima que testes rápidos produziram 258 toneladas de resíduos

Cada teste rápido pesa cerca de 33 gramas, o que, multiplicando por uma população de cerca de 650 mil pessoas, vezes os seis dias em que já se realizaram este tipo de testes, dá um gasto de resíduos, sobretudo plástico, de cerca de 120 toneladas. Estas foram as contas feitas até ao dia 30 de Junho por David Gonçalves, académico da Universidade de São José (USJ) especialista em questões ambientais.

“Os cálculos são feitos muito por alto, tendo em conta o lixo produzido a partir dos testes rápidos. É uma pequena gota no total de lixo produzido por equipamento e desperdício associado ao combate à pandemia. As luvas, máscaras e batas também contribuem para muito mais toneladas de lixo do que os testes rápidos”, adiantou.

Segundo os cálculos do HM, hoje a população de Macau irá fazer o 12º teste rápido obrigatório, duplicando a matemática do académico para um assombroso resultado de 258 toneladas de resíduos, apenas com testes rápidos.

Annie Lao, activista para as questões ambientais, entende que a população deveria preocupar-se em reciclar este tipo de materiais, sobretudo as caixas de papel. “Se o Governo de Macau se preocupasse com as questões ambientais, deveria ter lançado um plano de reciclagem há mais tempo”, disse apenas.

Entrar na equação

David Gonçalves entende que, numa altura em que o número de casos de covid-19 continua a aumentar em Macau, as questões de saúde pública são bem mais importantes que as preocupações ambientais. No entanto, alerta para a necessidade das autoridades começarem a ter em conta os problemas ambientais como uma das consequências da pandemia.

“Não sei se o desperdício ambiental foi ou não tido em consideração nas decisões de gestão da pandemia, mas a meu ver deverá fazer parte da equação. Neste momento, este tipo de lixo é incinerado, como o resto do lixo em Macau, sendo as cinzas depositadas em aterro, o que contribui ainda mais para a poluição no território.”

Segundo David Gonçalves, “alguma parte [desse lixo] é mal gerida e acaba por, directamente, poluir o ambiente, nomeadamente os oceanos pela via fluvial”. “Basta ver o número de máscaras que aparecem nas praias”, concluiu.

7 Jul 2022

CCCM | Mais de 160 instrumentos musicais chineses expostos em Mafra 

Um total de 167 instrumentos musicais chineses, incluindo os que representam algumas etnias chinesas, vão estar expostos a partir de hoje na nova galeria do Real Edifício de Mafra, em Portugal. Énio Souza, musicólogo e um dos poucos especialistas em instrumentos musicais chineses em Portugal, fala da maior exposição de sempre do género realizada no país

 

A Câmara Municipal de Mafra, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e a Fundação Jorge Álvares inauguram hoje a “Exposição de Instrumentos Musicais Chineses” na nova galeria do Real Edifício de Mafra, por ocasião do terceiro aniversário da inscrição deste conjunto na Lista do Património Mundial da UNESCO.

O público poderá ver um total de 167 instrumentos musicais chineses, desde os mais clássicos aos mais representativos de algumas etnias que existem na China. A mostra, patente até ao dia 30 de Abril do próximo ano, nasce do acervo museológico do CCCM, em Lisboa, e contém peças originais utilizadas pela Orquestra Chinesa de Macau nas suas diversas actuações na Europa ao longo das décadas de 80 e 90 do século XX. Entre os instrumentos expostos incluem-se aerofones, cordofones friccionados, dedilhados e percutidos, bem como instrumentos de percussão em metal, em madeira e em pele.

Énio de Souza, um dos poucos especialistas em instrumentos musicais chineses em Portugal, ligado ao Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa, fala ao HM daquela que é, provavelmente, a maior exposição de sempre do género realizada no país.

“Acredito que seja a maior exposição de instrumentos musicais chineses alguma vez ocorrida em Portugal, com 167 instrumentos expostos. O acervo do CCCM tem, neste momento, uma das maiores colecções de instrumentos musicais chineses em Portugal, com um total de 215 tipos de instrumentos.”

Doação dos Países Baixos

Quando foi inaugurado, em 1999, o CCCM contava já com um acervo de 42 instrumentos musicais chineses. Mas em 2020 houve uma doação, da parte da European Foundation for Chinese Music Research, nos Países Baixos, de 187 instrumentos musicais chineses ao CCCM, bem como marionetas de sombra e de manipulação.

“A doação da Holanda resulta de uma colecção feita por etnomusicólogos na China. Grande parte dos instrumentos datam da segunda metade do século XX, alguns tipos são anteriores, do início do século”, contou Énio Souza. De frisar que o transporte e seguros dos instrumentos foram suportados pela Fundação Jorge Álvares.
Énio Souza começou a colaborar com o CCCM na divulgação dos instrumentos musicais chineses em 2002, ano em que foi criado um atelier para escolas e para o público em geral. Em 2019, reformou-se, mas a ligação a este mundo mantém-se.

Em Portugal, o musicólogo assegura que são raros os que se dedicam ao estudo deste tipo de instrumentos. “O estudo da música chinesa em termos académicos, quer no âmbito da musicologia, quer da etnomusicologia, é muito recente em Portugal. Não temos mais especialistas nessa área em Portugal, à excepção do esforço que tenho feito, desde 2012, para a divulgação dos instrumentos musicais chineses. Temos o Museu do Oriente com uma exposição sobre Ópera chinesa e há outras mostras que têm sido feitas, mas a nível académico o estudo é mesmo recente”, declarou.

7 Jul 2022

Qualidade do ar | Valores estão melhores, mas concentração de ozono aumenta

O Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2021, ontem divulgado, revela que “a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas tem vindo, constantemente, a melhorar”. Destaque para a quebra superior a 80 por cento do valor médio anual de concentração de dióxido de enxofre no ar. No entanto, valores de concentração de ozono registaram um aumento

 

Respira-se melhor na zona do Delta do Rio das Pérolas. Esta é a grande conclusão do Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2021, elaborado pelas autoridades de Macau, Hong Kong e Guangdong, e que foi ontem divulgado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental. Uma das conclusões é que “a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas tem vindo, constantemente, a melhorar”, sendo que os valores médios anuais de concentração de dióxido de enxofre (SO2), partículas inaláveis e dióxido de azoto (NO2), verificados em 2021, desceram 84, 45 e 40 por cento, respectivamente, em relação a 2006.

De frisar que a rede de monitorização do ar da região do Delta entrou em funcionamento em Novembro de 2005. A rede passou a contabilizar os dados das partículas de monóxido de carbono (CO) e partículas finas em Setembro de 2014. De frisar que, no ano passado, a concentração no ar destas partículas diminuiu entre 18 e 28 por cento, respectivamente, em termos médios anuais, por comparação ao ano de 2015.

O documento dá ainda conta do valor médio anual de concentração de ozono (O3), no ano passado, que aumentou 34 por cento relativamente ao ano de 2006. O relatório dá conta que, neste caso, “a poluição fotoquímica na região precisa ser melhorada”.

Estudo a caminho

Tendo em conta os níveis de concentração de ozono, as autoridades das três regiões do Delta do Rio das Pérolas estão a preparar um estudo conjunto, relativo aos anos de 2021 a 2024, intitulado “Poluição fotoquímica de O3 na área da Grande Baía e a caracterização da deslocação regional e inter-regional de O3”.

O objectivo da iniciativa é “estudar de forma aprofundada as origens dos precursores de O3 na Grande Baía, bem como o mecanismo de formação de O3 e as características do seu transporte regional e inter-regional”.

De acordo com o segundo “Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da Região Administrativa Especial de Macau (2021-2025)”, e com base ainda nas Linhas de Acção Governativa (LAG), o Governo afirma que tem vindo “a lançar uma série de medidas de redução de emissões para melhoria das fontes móveis e das fontes fixas de poluição atmosférica”.

Desta forma, o futuro poderá ditar uma optimização dos valores-limite de emissões de gases para a atmosfera dos veículos em circulação, além de se apostar no “abate de motociclos e ciclomotores obsoletos altamente poluidores”, entre outras medidas.

O Executivo mantém a aposta no uso de veículos eléctricos, além de controlar a importação de tintas arquitectónicas que contêm elevados níveis de compostos orgânicos voláteis (COVs), pretendendo-se, neste caso, “continuar a desenvolver estudos sobre a redução da emissão dos COVs”.

7 Jul 2022

Voluntariado | As experiências de quem ajuda no combate à pandemia

A entrega de comida e bens essenciais nas zonas vermelhas ou as rondas de testes em massas contam com a ajuda de voluntários, muitos deles funcionários públicos. O HM recolheu alguns relatos de quem deixou o serviço para, vestido a preceito, entregar comida a quem ficou fechado em casa ou para encaminhar pessoas para fazer o teste

 

Nas últimas semanas as acções de apoio à população que está confinada em casa devido aos surtos comunitários de covid-19, nas chamadas zonas vermelhas, têm contado com a participação de funcionários públicos, mas também de residentes que se inscrevem nas campanhas de voluntariado. É o caso de Luís Crespo, funcionário da Conservatória do Registo Predial, que há cerca de dois ou três meses se inscreveu numa acção de voluntariado que nunca pensou que viesse a realizar-se tão cedo. Antes de distribuir comida em alguns locais da cidade, Luís Crespo recebeu formação dos Serviços de Saúde (SSM) na zona da Ilha Verde, nomeadamente sobre os procedimentos a adoptar e como vestir o fato de protecção.

“Fui para as zonas vermelhas. Entregamos a comida para dois dias. Uma família de três pessoas recebe três sacos com carne, galinha ou costeleta de porco, e vegetais, como batatas ou cenouras. Não há falta de comida. No dia seguinte, à tarde, recebemos as encomendas feitas por amigos e familiares com coisas adicionais que as pessoas pedem. Pode-se entregar de tudo, menos coisas perecíveis. Há sítios onde deixam entregar álcool, outros não. Penso que também não era permitido entregar tabaco”, contou ao HM.

Luís Crespo denota que “há organização, até demais”, destacando que teve de esperar horas para realizar algumas acções. Além disso, “foi inconveniente o facto de termos de entrar pela garagem de um edifício, quando podíamos ter entrado pela porta principal”.

“Deixávamos as coisas à porta, sem nenhum contacto pessoal”, acrescentou o funcionário público, que relata situações mais difíceis com algumas pessoas isoladas “menos ordeiras” e que, por vezes, obrigam à intervenção das autoridades policiais.

“Na Torre 6 do Centro Internacional de Macau foi mais complicado, pois a maioria das pessoas que vive lá vem da China ou do Vietname. Andavam de um lado para o outro e havia imensa polícia para não os deixar sair. Mas pior de tudo foi na semana passada, quando estive no bairro do Iao Hon. Tive de apanhar o autocarro todos os dias e o edifício é muito velho, sujo, degradado. São sete andares sem elevador, com lixo por todo o lado. Eram também pessoas muito indisciplinadas e a polícia tinha de estar a controlar. Saíam de casa, faziam muitas perguntas, não usavam máscara.”

As acções de voluntariado em zonas confinadas implicam, muitas vezes, a entrega de comida onde os moradores vivem com más condições, sem cozinha ou sem alguns electrodomésticos. Em zonas, como o bairro do Iao Hon, “há casas sem cozinha, onde as pessoas vivem em beliches”. “São casas com menos de 40 metros quadrados onde vivem sete ou oito pessoas. Essa parte foi muito cansativa. Como não tinham cozinha, tínhamos de entregar comida já confeccionada e enlatados”, descreveu Luís Crespo.

Total amadorismo

Outra funcionária pública, que não quis ser identificada, fala de um cenário de desorganização e “amadorismo” na acção de voluntariado em que participou, também de entrega de comida em zonas vermelhas. “Falamos de prédios sem elevadores, degradados. É impossível ter pessoas para fazer todas estas acções, pelo que a ideia de voluntariado até é boa. Mas é espantoso que, ao fim de todo este tempo, as acções estejam tão mal organizadas. Estivemos quase três horas à espera para que aparecessem os bens que deveríamos entregar.”

Uma das razões para o atraso prende-se com a falta de uma base de dados feita previamente das pessoas confinadas e das suas necessidades. “Aqui retiro a responsabilidade do meu serviço, pois havia pessoal do Instituto para os Assuntos Municipais a ir a cada apartamento saber quantas pessoas viviam nas casas. E eu pergunto: as pessoas não são contactadas previamente para se saber quantas pessoas moram em cada casa? Decreta-se o confinamento das zonas e não há uma lista de contactos, tendo em conta que há uma série de rondas de testes a decorrer e temos de dar os nossos dados? Depois aconteceram enganos, porque havia, por exemplo, casas sem fogão ou forno.”

As acções de distribuição de comida são coordenadas pelo Instituto de Acção Social (IAS) em colaboração com outros serviços públicos. Outra das críticas feitas pela funcionária pública prende-se com a ausência de distanciamento social em muitas ocasiões.

“Os voluntários estavam todos juntos com as máscaras normais e luvas a preparar os sacos. Isso não faz sentido. Além disso, íamos todos juntos a subir as escadas do prédio para fazer a distribuição. Devíamos estar afastados e os sacos da comida é que deveriam circular.”

Em termos gerais, “as pessoas [em confinamento] estão desejosas de ter comida”, contou a funcionária. “Agradeciam-nos. Deixávamos os sacos nas portas, mas essa não foi uma instrução específica que nos deram, foi uma questão de bom senso. Depois de nos desinfectarmos, recebemos mais bens para distribuir, e isso foi feito por outra equipa para não termos de repetir o processo. Achei que não há uma organização ou um plano. Foi parecido com a situação do tufão Hato, quando recebemos a ajuda do exército. Penso que a esta altura do campeonato, não faz sentido”, acrescentou.

Obrigatório ou não?

O deputado José Pereira Coutinho acusou recentemente vários serviços públicos, nomeadamente a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), de obrigar funcionários a fazer voluntariado, sobretudo nos testes em massa. “A própria DSAL, que devia zelar pelos trabalhadores e os seus direitos, obriga-os a trabalhar como voluntários, sem o pagamento de horas extraordinárias”, avisou.

Luís Crespo relata, no entanto, que no seu serviço ninguém foi obrigado e que até são pagas as horas gastas na qualidade de voluntários. “No nosso caso ninguém foi obrigado. Tive uma colega que não se sentia bem e foi substituída. Duvido que isto acabe tão cedo, verifico todos os dias se tenho de ir fazer voluntariado novamente ou não. Sabemos no dia-a-dia se vamos ou não, estamos num grupo de WeChat e vamos comunicando. Eu já fui seis dias, os meus colegas têm ido sempre.”

A funcionária pública contactada pelo HM relata que o seu nome foi colocado numa lista. “Varia de serviço para serviço. No meu caso fui informada que estava colocada numa lista de voluntariado. Deram-me a opção de escolha, mas a forma como a situação me foi colocada foi assim, que estávamos numa lista de voluntariado.”

Ajudar nos testes

Nem só de funcionários públicos se faz o voluntariado que, por estes dias, tem ajudado as autoridades a lidar com as medidas adoptadas devido à pandemia. Uma residente, que também não quis dar o nome, deu o seu contributo no passado dia 21 de Junho no centro de testes da Universidade de São José na realização da primeira ronda dos testes em massa. “Vi o anúncio e decidi ir, quis ajudar. Ajudei pessoas com necessidades especiais a fazer o teste, incluindo grávidas ou idosos, por exemplo.”

Neste caso, não há falhas a apontar na estruturação dos serviços. “Se há coisas que as autoridades estão afinadas é na realização dos testes em massa, desde que não sejam medidas adoptadas em cima da hora, como aconteceu com os trabalhadores dos casinos. Notei que as coisas estavam bem organizadas. Havia pessoas a falar inglês connosco e tudo correu lindamente”, concluiu.

7 Jul 2022

Música | “A última dança em Goa”, de Joaquim Correia, editado em inglês 

Lançado em 2018, “A última dança em Goa – Música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa” traça o retrato da cultura da antiga colónia até 1961, ano em que Goa, Damão e Diu deixaram de estar sob administração portuguesa. O livro, editado recentemente em inglês, na Índia, traça um paralelismo entre o teatro tradicional de Goa e o teatro de Macau, em patuá

 

“Once Upon a Time in Goa: Music and Dance in a Charming Region and its Diaspora” é o nome da versão em inglês, recentemente editada na Índia, do livro que Joaquim Correia lançou em 2018 sobre a cultura de influência portuguesa que existiu em Goa, antiga colónia portuguesa, até 1961, e que se intitula “A última dança em Goa – Música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa”.

Joaquim Correia, advogado, professor e autor, traça aqui um “retrato de Goa antes da transição de poder para a Índia”, sobretudo em matéria de música de influência portuguesa. Não são esquecidos os goeses que, em Portugal, contribuem para a preservação desta cultura.

“Em Goa havia uma profusão de anúncios de música de influência portuguesa por todo o lado. Fiquei espantado com isso e resolvi escrever sobre a música de influência portuguesa em Goa até 1961. O livro em português foi editado em 2018, mas depois gerou muito interesse da parte de pessoas em Goa no sentido de editar uma versão em inglês, que saiu há cerca de dois meses.  Não se trata de uma segunda edição do livro porque fiz muitas mudanças, embora haja um paralelismo”, contou Joaquim Correia ao HM.

O leitor encontra, logo no primeiro capítulo, a descrição das várias bandas musicais que existiam na altura, bem como a história do aparecimento do rock em Goa. Surgem depois novos elementos sobre a cultura na diáspora, sem esquecer a influência do fado em Goa.

No prefácio, Edgar Valles, antigo presidente da Casa de Goa em Lisboa, destaca que a música sempre esteve muito presente na comunidade, fazendo parte “do dia-a-dia dos goeses”. “Se é verdade que a música tradicional indiana é apelativa a muitas famílias, especialmente para a comunidade Hindu, existe uma forte influência ocidental, especialmente da língua inglesa. O inglês é a língua falada em Goa, por isso a disseminação da música é algo natural. Mas persiste a influência portuguesa”, pode ler-se.

Semelhanças com patuá

“Once Upon a Time in Goa: Music and Dance in a Charming Region and its Diaspora” descreve ainda a semelhança que existe entre o teatro tradicional em Goa, conhecido pelos termos “Teatr” ou “Tiatr” e feito no dialecto Konkani, com o teatro feito em patuá, actualmente preservado graças ao grupo Dóci Papiaçam di Macau.

“Existem ligações porque ambos os teatros têm ligação à revista portuguesa, ambos são teatro de crítica social, têm uma linguagem crioula com influência portuguesa. O que é curioso é que esse teatro está, de novo, a ter muitos espectáculos”, disse Joaquim Correia.

Na obra, é descrito que “há muitas semelhanças com o teatro macaense em patuá”, que constitui “uma ligação emocional entre a comunidade macaense espalhada pelo mundo e Macau”.
Nalini Elvino de Souza, uma das colaboradoras do livro, actualmente a fazer um doutoramento na área da cultura goesa na Universidade de Aveiro, descreve que há cerca de dez palavras em Konkani que são muito semelhantes ao português e que apresentam também alguma semelhança ao patuá, tal como mez (mesa) ou vistid (vestido).

De frisar que Nalini Elvino de Souza faz, para este livro, um levantamento de todos os discos de 75 rotações de música tradicional goesa editados desde a década de 20 até 1961.

5 Jul 2022

Four Seasons | Autoridades fecham apenas primeiro piso de centro comercial 

Existem 40 casos de covid-19 associados ao primeiro andar do centro comercial do Four Seasons. As autoridades mandaram encerrar as lojas, mas mantêm o segundo piso a funcionar, por entenderem “que não há indício de contágio”. Grand Lisboa tem 13 casos positivos, mas encerramento não foi confirmado até ao fecho desta edição. No entanto, segundo a TDM, algumas zonas terão sido seladas

 

As autoridades decidiram encerrar as lojas do primeiro andar do centro comercial do empreendimento Four Seasons até domingo devido ao surgimento de 40 casos de covid-19. No entanto, o segundo andar vai permanecer aberto. “Achamos que há um risco elevado de contágio no primeiro piso. Já tínhamos pedido o encerramento das lojas, mas percebemos que algumas continuavam a funcionar. No segundo piso não há qualquer indício de contágio, pelo que não exigimos o encerramento”, disse Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus.

Em relação ao Grand Lisboa, há casos positivos num “grupo de 13 pessoas que trabalham em diferentes áreas” do casino e hotel. Um jornalista da TDM disse ter na sua posse vídeos que comprovam o encerramento do Grand Lisboa, mas Leong Iek Hou nada confirmou.

“Não vi esses vídeos e não sei como está a situação lá fora. Temos outros assuntos a serem decididos neste momento e se faço um anúncio aqui isso irá afectar os restantes trabalhos. Iremos anunciar mais tarde em nota de imprensa”, adiantou.

No entanto, segundo o canal chinês da TDM, o edifício foi mesmo selado, tendo sido bloqueadas as zonas de entrada e saída, bem como o parque de estacionamento e locais de passagem dos funcionários. No local estavam ainda funcionários a usar roupas de protecção.

Perto de mil

O território contava ontem com 941 casos positivos confirmados, sendo que o paciente mais novo tem apenas três meses. O bebé não tem febre e “alimenta-se bem, tendo uma situação de saúde estável”.

Situação diferente é a de um doente com 71 anos, com doença crónica e cujo estado de infecção evoluiu para pneumonia. “Neste momento o doente está ligado ao ventilador e não descartamos a possibilidade que a situação de saúde venha a piorar”, disse Leong Iek Hou.

Além disso, há 21 profissionais de saúde infectados, número que se mantém estável. Neste momento registam-se 800 pessoas de contacto próximo, assintomáticas ou com sintomas leves a cumprir quarentena em hotéis. Seis pessoas que testaram positivo já deixaram o isolamento ou tiveram alta.

Dos 941 casos, 559 são assintomáticos. Relativamente às nacionalidades, 766 casos são locais ou pessoas oriundas do interior da China, existindo 53 casos do Nepal, 57 das Filipinas, 17 do Myanmar e 11 da Indonésia, existindo ainda outras nacionalidades.

Uma vez que serão realizadas mais duas rondas de testes em massa nos próximos dias, as autoridades asseguram que só depois de analisados os resultados é que podem definir as próximas medidas a adoptar para travar a pandemia. “Prevemos que o número de infecções aumente com a realização da quarta ronda de testes. Temos de fazer uma avaliação e tomar decisões na quinta e sexta ronda de testes”, adiantou a responsável.

Mistério do paciente zero

Um mistério que permanece é a origem do surto. “Há que compreender que é difícil encontrar o paciente zero de entre tantos países e regiões. Fizemos a sequência dos genes e todos são da mesma fonte, com o paciente zero que começa a espalhar em toda a comunidade de Macau”, disse Leong Iek Hou.

Outra das novidades, prende-se com a obrigatoriedade dos trabalhadores das áreas da limpeza, segurança e gestão de condomínios terem de realizar um teste diário à covid-19 até sábado, por representarem “um maior risco de transmissão do vírus”.

“Este teste terá um intervalo de 24 horas que será contabilizado para a testagem em massa, pelo que os trabalhadores não precisam de repetir os dois testes. Apelamos a que os empregadores deixem que os trabalhadores façam os testes no horário de trabalho. Os nossos serviços estão a contactar os sectores para uma melhor coordenação e alguns postos vão prolongar os horários de funcionamento. Esta não é uma exigência para se apresentarem ao trabalho”, foi dito.

Quanto às grávidas em isolamento, caso entrem em trabalho de parto e necessitem de uma cesariana, esta será realizada no Centro Hospitalar Conde de São Januário. “Recebemos vários pedidos de consulta. No Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane não temos salas de operações. Se uma grávida necessitar de ter o seu filho, temos profissionais que assistirão ao parto no local, mas em caso de cesariana a grávida será enviada numa ambulância de pressão negativa para o São Januário”, disse Leong Iek Hou.

5 Jul 2022

Covid-19 | Testes frequentes não resultam com Ómicron, aponta epidemiologista 

Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e um dos principais rostos da análise da pandemia de covid-19 em Portugal, aponta que a realização de confinamentos e testes em massa frequentes não funcionam com a variante Ómicron, apontada como a mais comum nos casos registados em Macau. Os testes, defende, devem ser usados apenas como estratégia de diagnóstico e não de rastreio. Jorge Torgal partilha da mesma opinião

 

A vida dos residentes em Macau transformou-se num rodopio de marcação de testes PCR ou realização de auto-testes em casa desde que começou o mais recente surto de covid-19, a 19 de Junho, o mais grave desde o início da pandemia. As autoridades apostam na combinação de testes em massa à população e auto-testes para detectar casos de infecção, mas, ao HM, o epidemiologista português Manuel Carmo Gomes, um dos principais rostos na análise à situação pandémica em Portugal, critica esta abordagem dos Serviços de Saúde de Macau (SSM).

“Existem três estratégias possíveis para contrariar a propagação e a morbilidade causada [pelo novo coronavírus]: os confinamentos generalizados ou parciais, a testagem em massa frequente para fins de rastreio, acompanhada de medidas de isolamento dos casos confirmados, o rastreamento dos contactos dos casos e a testagem dos mesmos. Temos ainda a vacinação em massa com esquema primário, mais uma dose de reforço. A China parece estar a utilizar as duas primeiras opções”, descreveu.

No entanto, o especialista é peremptório: “as duas primeiras estratégias não funcionam com a variante Ómicron”, além de terem “custos sócio-económicos muito elevados, sobretudo a primeira [confinamentos]”. Testar e confinar “funcionaram com as primeiras variantes do vírus, ou, pelo menos, funcionaram suficientemente bem para interromper as cadeias de transmissão e manter uma política de zero covid”.

Manuel Carmo Gomes entende que a testagem deve ser usada de forma diferente, “não como rastreio, com testes indiscriminados para todos, mas sim como diagnóstico, apenas para identificar casos suspeitos em pessoas com sintomas ou contactos de casos”. Estas pessoas devem ficar isoladas por um período de tempo nunca superior a sete dias, “caso os sintomas desapareçam”. De frisar que, em Portugal, por exemplo, os isolamentos dos casos covid-19 se fazem no domicílio do doente, sendo que as autoridades reduziram o período de sete para cinco dias de isolamento.

O epidemiologista entende que a vacinação continua a ser a forma mais eficaz no combate à covid-19, alertando para o facto de a administração das três doses continuar “atrasada” em Macau, sobretudo junto da população mais idosa.

“Esta variante é ainda mais transmissível e, poucos meses após o último contacto com o antigénio (vacina ou infecção), consegue evadir aos anticorpos induzidos, quer por infeções anteriores, quer pela vacinação. Consequentemente, a generalidade dos países optou pela terceira estratégia, a da vacinação, acompanhada da tolerância à circulação do vírus e de grande enfoque na protecção dos grupos mais vulneráveis, como os idosos, imunocomprometidos ou doentes crónicos.”

Actualmente, afirma, “não é possível travar a circulação da Ómicron”, uma vez que “mesmo que se consiga travar durante algumas semanas, com medidas como a testagem frequente ou confinamentos, logo que as medidas são aliviadas, a Ómicron regressa em força”. “É uma batalha perdida à partida”, adiantou o especialista.

A “forte” realidade

A China, incluindo Macau e Hong Kong, parecem apostadas a manter-se nessa batalha. Manuel Carmo Gomes acredita, no entanto, que o país e as duas regiões administrativas especiais vão “inevitavelmente abandonar as duas primeiras estratégias em que, por enquanto, a insistem”.
“A realidade é demasiado forte para que as soluções fantasiosas prevaleçam muito tempo”, acrescentou.

O especialista aconselha critérios “mais inteligentes e eficazes” no combate à pandemia, tal como “adoptar medidas para conseguir administrar o esquema vacinal primário, de duas doses e mais uma de reforço, a pelo menos 90 por cento da população acima de 60 anos”. Deve ainda ser administrado um segundo reforço “antes do próximo Inverno”.

Usando ainda a testagem como forma de diagnóstico, será possível “tolerar a circulação do vírus, contribuindo para a imunidade natural das pessoas que não têm risco de doença grave”. Ao mesmo tempo, “controlam-se os casos graves de doença”.

A 30 de Junho foi anunciado que, dos novos casos de covid-19 registados no território, 19 por cento das pessoas não estavam vacinadas, enquanto que menos de metade tem as três doses. Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus, declarou que a taxa de vacinados continua a não ser “muito alta”.

“Dos 572 casos [registados a 30 de Junho], 109 não foram vacinados – uma taxa muito alta – 23 receberam a primeira dose, 216 receberam as duas doses e 224 pessoas as três doses. Através destes números podemos ver que a taxa de não vacinados é muito alta, comparando com a taxa de vacinação de 90 por cento em Macau”, acrescentou.

Foram já vacinadas 613.720 pessoas, sendo que 586.020 completaram duas ou mais doses, de um total de cerca de 680 mil habitantes. As autoridades têm feito apelos reiterados à população para que se vacine, sobretudo aos idosos – com uma taxa mais baixa de imunização – a quem foram oferecidos em Maio ‘vouchers’ até um valor máximo de 250 patacas como forma de incentivo.

Para esta semana, a população terá de testar novamente na quarta, quinta e sexta ronda de testes em massa, que terminam às 18h de sábado. Os bebés e as crianças nascidas após 1 de Julho de 2019 estão isentos desta medida.

Impossível erradicar o vírus

Para o epidemiologista Jorge Torgal, a política seguida pela China para lidar com a pandemia visa a erradicação total do vírus, mas “este objectivo é inatingível”, podendo “ser conseguido em determinadas áreas geográficas, mas apenas temporariamente”.

“Veja-se que após dois anos de confinamentos, a infecção reaparece sempre; mesmo na Austrália e na Nova Zelândia, países que pela sua geografia acreditaram que conseguiriam, fechando a sociedade ao exterior e tomando também fortes medidas de confinamento social, evitar a disseminação do vírus, não alcançam o seu objectivo.”

Para Jorge Torgal, o confinamento geral pode “evitar um acréscimo abrupto de casos que necessitem de hospitalização” em regiões com uma elevada densidade populacional, como é o caso de Macau. No entanto, com a existência de vacinas, que reduzem a mortalidade, “não se justificam medidas atentórias dos direitos constitucionais dos cidadãos, impedindo uma vida social normal”.

Neste sentido, tanto a realização sucessiva de testes, como de confinamentos, são “medidas sempre transitórias, pois novos surtos de infecção ocorrerão”. “A China continental é um bom exemplo”, disse Jorge Torgal.

Confronto antigo

Os comentários dos dois epidemiologistas estão em linha com as declarações da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Maio deste ano: a política de zero casos covid-19 não é sustentável do ponto de vista económico. Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da OMS, disse que hoje, dois anos depois do início da pandemia, “conhecemos melhor o vírus e temos melhores ferramentas, incluindo vacinas, por isso a gestão do vírus deve ser diferente do que o que foi feito no início da pandemia”, disse. O responsável acrescentou que o vírus mudou significativamente desde que foi identificado pela primeira vez, na cidade chinesa de Wuhan, no final de 2019.

Além disso, o director de emergências da OMS, Michael Ryan, disse que a agência reconhece que a China enfrenta uma situação difícil e elogiou as autoridades por manter o número de mortes num nível muito baixo. “Entendemos que a resposta inicial da China foi tentar suprimir as infecções ao máximo, mas essa estratégia não é sustentável e outros elementos precisam de ser amplificados”, apontou. Ryan acrescentou que os esforços de vacinação devem continuar e enfatizou que uma “estratégia apenas de supressão não é uma forma sustentável de sair da pandemia para nenhum país”.

A estratégia de zero casos covid-19 já levou ao confinamento inteiro de cidades, com Xangai a ser o caso mais grave e conhecido mundialmente, com a ocorrência de situações como falta de comida em muitas casas ou ausência de cuidados médicos. A China manteve-se sempre firme na sua posição.

“Esta estratégia garantiu a saúde de 1,4 mil milhões de pessoas e protegeu grupos vulneráveis. Tornou a China num dos países que melhor conseguiram conter a covid-19. Esperamos que as pessoas envolvidas possam ver as políticas antiepidémicas da China de forma objectiva e racional. Eles precisam de conhecer melhor os factos e parar de fazer comentários irresponsáveis”, explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian.

5 Jul 2022

Pandemia | Exigida maior transparência na comunicação com a população

Analistas ouvidos pelo HM criticam a forma como o Governo tem comunicado medidas e decisões relacionadas com a pandemia. Pouca transparência, decisões erradas e falta de responsabilização estão no topo das críticas, mas também o curto espaço de tempo entre o anúncio de novas medidas e a sua entrada em vigor

 

Medidas anunciadas de um dia para o outro ou ausências de dirigentes em conferências de imprensa, sem que haja possibilidade de dar resposta a acontecimentos concretos são algumas das situações que têm pautado a forma como o Governo comunica medidas e decisões relacionadas com o surto de covid-19.

A situação complicou-se quando foi decretada a obrigatoriedade de teste de ácido nucleico para os trabalhadores dos casinos e dos estaleiros de construção poderem trabalhar. Num dia em que acabou por ser içado sinal 1 de tempestade, e debaixo de uma chuva intensa, o caos gerou-se com grande concentração de pessoas. As autoridades acabariam por alterar a medida, exigindo apenas a realização de teste rápido.

Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde (SSM), não deu respostas sobre esse caso por não ter estado presente na conferência de imprensa, deixando as explicações sob responsabilidade da médica Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus, que recusou responsabilidades por ser “só uma médica”. Isto depois de Alvis Lo ter dito que as conferências de imprensa não são “um talk-show” e que servem apenas para anunciar medidas e não para dar respostas a casos concretos.

Na ocasião, Leong Iek Hou declarou que Alvis Lo estava “muito ocupado”. “O trabalho de controlo da pandemia é muito complexo e com muitas etapas. Todos os trabalhos precisam do senhor director, por isso, estou aqui hoje para vos responder”, adicionou.

Na conferência de imprensa de imprensa seguinte, o director dos SSM reapareceu, acompanhado da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, e o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong.

O analista política Larry So expressou ao HM o desejo que “o Governo seja mais transparente na tomada de decisões, para que desta forma as medidas possam ser mais efectivas”. “Nem sempre o director dos SSM aparece nas conferências de imprensa, a não ser que tenha de anunciar alguma nova medida. Tivemos o caso dos trabalhadores dos estaleiros e casinos e isso gerou alguma confusão. Parece que o Governo, em certa medida, não estava preparado para o que ia acontecer. Não prepararam o processo e terão acelerado a decisão.”

Larry So adiantou também que, nesta fase da pandemia, “uma série de medidas que são implementadas num curto espaço de tempo”, dando azo a interpretações erradas ou desadequadas.

“Há uma discrepância entre a decisão e a política, incluindo a parte da implementação. Em alguns casos, [como foi o caso da corrida dos trabalhadores aos testes, as autoridades] mostraram que simplesmente não estão preparadas”, frisou.

Recorde-se que outras medidas de anunciadas a poucas horas de entrarem em vigor mereceram críticas nas redes sociais, tais como os testes de ácido nucleico obrigatórios para os grupos-chave de trabalhadores de segurança e limpeza do sector de administração predial, anunciado na madrugada do dia para realizar os testes; assim como a necessidade de fotografar a caixa do teste rápido de antigénio na submissão do resultado na plataforma dos SSM, medida anunciada no próprio dia.

Casos lamentáveis

O deputado José Pereira Coutinho também condena a forma como o Governo comunica com a população as medidas de combate à pandemia. “Lamento que tenham sido restringidas as perguntas dos jornalistas a casos concretos sobre a pandemia. Acho lamentável e é uma forma de pressionar os jornalistas a formular certas perguntas. Se é para ser nesse formato mais vale no futuro o Gabinete de Comunicação Social publicar notas de imprensa aos jornalistas a fim de evitar a perda de tempo de assistir a conferências de imprensa em directo cada vez mais limitativas.”

O deputado fala do caso dos trabalhadores obrigados a fazer teste debaixo da chuva, que foi “um fiasco”. “As autoridades esquecem-se que, mesmo que a pessoa faça a marcação, tem de esperar muito tempo na fila. É a própria Administração que não respeita o horário escolhido pelas pessoas.”

“Numa situação em que era expectável que os jornalistas fizessem perguntas sobre esse fiasco não esteve o director [dos SSM], dois subdirectores ou a própria secretária [Elsie Ao Ieong U]. O Chefe do Executivo esteve em Hong Kong, mas isso não significa que outros dirigentes não possam dar a cara. É nos momentos mais difíceis que se devem assumir as responsabilidades pelos momentos que não correm tão bem. Uma jornalista perguntou directamente onde estava o director dos SSM e é incrível que não assumam a responsabilidade. Alguém tem de ser demitido do cargo”, apontou Pereira Coutinho.

O deputado fala ainda situações pouco coerentes na gestão da pandemia. “Avisam-se as pessoas para não se deslocarem para muito longe para realizar os testes. Mas depois dizem que não convém fazer testes onde há muitas pessoas, devendo ir a outro local fora da zona de residência. É um contra-senso.”

Coutinho não esquece a decisão das autoridades de colocarem pessoas que testem positivo à covid-19, e que não se conhecem, no mesmo quarto para a realização da quarentena. “Se não tivesse visto a conferência de imprensa não acreditava que estão a colocar um homem e uma mulher desconhecidos no mesmo quarto de hotel. Não se pode comparar os quartos de hotel, que estão fechados, com os quartos dos hospitais. Se a mulher for coagida ou violada e não tiver tempo de chamar alguém, quem tem autorização para salvar a vítima? Esta medida é uma estupidez.”

Em termos gerais, o deputado entende que Macau está num estado de “paranóia”. “As pessoas estão stressadas, há muitas doenças do foro psicológico e a economia está a afundar-se”, adiantou.

Uma “má imagem”

Para Jorge Fão, dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), a ausência de Alvis Lo na conferência de imprensa deu uma “má imagem à Administração”. “Houve uma enchente enorme para realizar o teste, as pessoas não estavam com máscara, empurravam-se. Criou-se uma situação mais perigosa em termos de contágio do que antes e, depois, o Governo acabou por dar o dito por não dito, e decretar a realização dos testes em casa. A comunicação tem sido muita, recebemos três a quatro mensagens por dia no telemóvel. Mas essas mensagens não chegam, porque quando se faz uma conferência de imprensa há que estar preparado para ser pressionado, porque os jornalistas não estão lá só para ouvir”, indicou o antigo deputado e dirigente associativo.

O número de casos de covid-19 tem vindo a crescer diariamente e foram inclusivamente registadas duas mortes ligadas a infecções desde o início da pandemia.

O Governo tem anunciado medidas de apoio económico para a população e empresas lidarem com os efeitos negativos da política de casos zero, mas Jorge Fão entende que, mais cedo ou mais tarde, os casinos vão ter de fechar portas. “Há a questão controversa dos casinos. O Governo não teve coragem de os encerrar, mas penso que vai ter de o fazer. Mesmo que os casinos estejam abertos agora não vão ter negócio praticamente nenhum por causa da exigência do teste para entrar.”

No domingo, a conferência de imprensa do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus contou com a presença de vários secretários, uma vez que foram anunciadas mais medidas de apoio económico. O modelo de comunicação do Governo foi um assunto abordado.

“Temos estado atentos às questões e entrado em comunicação com os serviços competentes. Todas as opiniões são ouvidas. Temos uma divisão de tarefas, e quando se trata de situações mais severas estamos sempre aqui presentes. Mas, se tiverem alguma necessidade de colocar as questões podem fazê-lo por diferentes meios”, adiantou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U.

Por sua vez, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, referiu que “todos os presentes representam o Governo, assim como o director [dos SSM] e outros colegas”. “Espero que transmitam melhor essas mensagens. Espero a vossa compreensão, a forma como interpretam as coisas é muito importante”, rematou.

4 Jul 2022

Literatura | “Olhar a China pelos livros” apresentado em Lisboa 

Jorge Tavares da Silva, académico e especialista em assuntos chineses, coordena a obra “Olhar a China pelos livros”, lançada recentemente no Centro Científico e Cultural de Macau. O livro contém textos de 18 autores que olham para a China a partir de livros escolhidos por si, disponibilizando ao leitor várias visões do país

 

“Olhar a China pelos livros” é o nome da mais recente obra coordenada por Jorge Tavares da Silva, professor universitário na área das relações internacionais e especialista em assuntos chineses que, desta vez, foi além do mundo académico para apresentar uma obra que traça a visão de 18 autores sobre a China.

Autores como Ana Cristina Alves, ex-docente na Universidade de Macau e coordenadora do serviço educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), Francisco José Leandro, académico da Universidade Cidade de Macau, António Graça de Abreu, autor e tradutor, e Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, entre outros, foram convidados a olhar para a China com base numa obra por si escolhida.

O livro, lançado recentemente no CCCM, em Lisboa, apresenta, por isso, várias “formas de olhar para a China”, contou Jorge Tavares da Silva ao HM. “Tudo isto partiu da minha curiosidade, pois a China pode ser vista de muitas maneiras, e até algumas erradas.”

Livros como “Riding the Iron Rooster”, de Paul Theroux, sobre viagens de comboio na China, ou “Terra Bendita”, de Pearl S. Buck, dão o mote a muitos dos textos desta obra.

“Dei a liberdade total na escolha das obras. Alguns livros são chineses, não estão sequer traduzidos para inglês ou português. Desta forma, o livro tem essa vantagem de dar a conhecer obras desconhecidas no ocidente”, contou Jorge Tavares da Silva.

Das viagens à literatura

“Olhar a China pelos livros” traz diversos temas, e não falta sequer a gastronomia macaense. “Há obras que foram no sentido das viagens, enquanto que outros autores olharam para a China através da poesia clássica. Há quem tenha ido aos autores tradicionais, às grandes obras da filosofia chinesa.”

“Terra Bendita”, de Pearl S. Buck, foi a escolha de Jorge Tavares da Silva, apresentando uma visão do mundo rural chinês que já não existe. “ A Pearl S. Buck foi a autora que me levou para a China. Estava habituado a um mundo eurocêntrico, muito centrado no indivíduo, mas deparei-me com lógicas colectivas e formas de estar na sociedade completamente distintas. Foi esse contraste que me atraiu, o pensar que há um mundo além do europeu, com uma civilização que tem um mundo antagónico”, recordou o coordenador da obra.

Acima de tudo, Jorge Tavares da Silva espera atrair um público vasto, incluindo estudantes chineses de português, para que possam compreender mais sobre o seu próprio país. “Esta é uma obra para o público em geral, não é académica, e tem uma leitura muito descontraída. Esta obra vai ter algum impacto no sentido de leitura e interesse”, rematou.

3 Jul 2022

HK | Xi Jinping pede que Macau continue a lutar pela recuperação económica

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, reuniu com o Presidente Xi Jinping em Hong Kong a propósito do aniversário da transferência de soberania da região vizinha. Os recados de Pequim incidiram sobre a necessidade de recuperação de uma economia em crise

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, pediu na quinta-feira ao Governo de Macau para que continue a “lutar pela recuperação económica”. O pedido dirigido ao Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, foi realizado em Hong Kong, onde ambos estiveram presentes para as celebrações do 25.º aniversário do regresso da antiga colónia britânica à soberania chinesa.

Numa reunião com o líder do Governo de Macau, Xi Jinping exortou as autoridades igualmente a aplicarem “esforços incessantes na prevenção e controlo das epidemias”, segundo um comunicado oficial. Ao mesmo tempo, pediu que o Governo avance “resolutamente com uma diversificação económica adequada” e que maximize “os esforços para manter a estabilidade social”.

Da resposta

Ho Iat Seng declarou que “continuará a promover, de forma eficaz, os diversos trabalhos”, além de persistir na manutenção de uma conjuntura satisfatória em Macau”. O encontro contou com a participação do director do Gabinete Geral do Partido Comunista do Comité Central da China, Ding Xuexiang e do vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado, Xia Baolong.

Ho Iat Seng viajou para Hong Kong na última quarta-feira para participar nas cerimónias oficiais do aniversário da transição da RAEHK, mas não cumpriu a quarentena obrigatória de dez dias num hotel designado exigida a todos os residentes. O Chefe do Executivo fez-se acompanhar por Hoi Lai Fong, chefe de gabinete, tendo ambos feito a viagem em circuito fechado, com a realização de um período de auto-gestão de saúde e testes.

“Para participar nesta actividade celebrativa tão significativa, a comitiva do Governo da RAEM cumpriu escrupulosamente as exigências de prevenção epidémica da RAEHK, tendo efectuado, com uma semana de antecedência, antes da partida, a monitorização de saúde e, diariamente, testes de antigénio e de ácido nucleico”, foi revelado. “Durante a estada em Hong Kong, procederá à gestão preventiva de circuito fechado e às devidas testagens”, apontaram ainda as autoridades. Com Lusa

3 Jul 2022

Quarentena | Mulher colocada em quarto com desconhecido

Uma mulher diagnosticada com covid-19 relatou ontem ter sido levada para o Hotel Sheraton e colocada num quarto, que, mais tarde, viria também a ser atribuído a um homem, também ele um caso positivo, que lhe era totalmente desconhecido.

Segundo o relato partilhado na página do Instagram “macausecret”, a mulher conta como foi surpreendida com a entrada do homem, no momento em que se preparava para tomar banho.

“Depois de chegar ao hotel, estava a preparar-me para tomar um banho quando, de repente, ouvi alguém a usar um cartão para abrir a porta do quarto. Abri a porta e perguntei o que se estava a passar. O homem disse-me que tinha sido colocado no mesmo quarto que eu. Como é que um homem e uma mulher que não se conhecem de lado nenhum podem ser colocados no mesmo quarto? Mesmo tratando-se de um hospital, nunca se faria isso”, pode ler-se na publicação.

Depois de a mulher ligar para a recepção e se ter recusado a ficar no mesmo quarto que o homem, o assunto acabaria por ser resolvido e os dois casos positivos colocados em quartos separados. No entanto, a recepcionista ainda insistiu para a mulher aceitar a situação, dado que “tudo tinha sido coordenado pelos Serviços de Saúde”.

Depois de Alvis Lo ter considerado a medida “razoável” para evitar infecções cruzadas, o caso foi abordado ontem na conferência de imprensa sobre a covid-19, com a médica Leong Iek Hou a frisar que os procedimentos estão a ser melhorados, mas que os residentes terão de aceitar ficar com estranhos, caso não haja espaço suficiente.

“O director dos Serviços de Saúde já tinha dito que é possível juntar duas, três ou quatro pessoas num quarto. É muito comum. Já abrimos uma nova torre do Sheraton [para quarentenas], temos mais quartos e, sempre que for possível, vamos tentar não juntar residentes com outras pessoas. No entanto, quando tivermos muitas pessoas a precisar de fazer observação médica, os residentes têm de aceitar ficar com outras pessoas”, disse.

1 Jul 2022

Funcionários do Consulado ganham tanto como empregados de limpeza em hotéis

Os problemas vividos pelo Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, nomeadamente baixos salários e falta de recursos humanos, foi um dos assuntos abordados na última reunião de Rita Santos, Presidente do Conselho Regional da Ásia e Oceânia do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas em Portugal, Paulo Cafôfo.

Ao HM, Rita Santos declarou que, no encontro, lembrou que “para o último concurso [de recrutamento] do Consulado, para um posto de trabalho na categoria de assistente técnico, a remuneração mensal oferecida era de apenas 1.139,82 euros [cerca de 9.674 patacas], o que, com a dedução de impostos, se traduz em cerca de 900 euros [7.644 patacas], correspondendo ao salário de um trabalhador de limpeza num hotel em Macau”.

Neste sentido, Rita Santos entende que “com um salário médio líquido de 900 euros, dificilmente um funcionário do Consulado consegue sobreviver condignamente, razão pela qual o assistente técnico contratado optou por aceitar outra oferta mais competitiva”.

A reunião com Paulo Cafôfo serviu também para discutir a questão da correcção cambial, de cinco por cento, para os salários dos funcionários do Consulado. Macau ficou, assim, “equiparado ao Interior da China”, apesar de ter uma economia autónoma do continente e um dos mais elevados Produto Interno Bruto per capita do mundo.

Paulo Cafôfo, assegurou Rita Santos, “respondeu que iria fazer uma revisão do factor da correcção cambial” por ter conhecimento de que, além de Macau, “outros países enfrentam este tipo de dificuldades devido à desvalorização da moeda local e do aumento dos preços dos bens essenciais”. Desta forma, “os salários dos funcionários de embaixadas e consulados não se coadunam com o custo de vida destes países”, admitiu o secretário de Estado.

Alunos de fora

Rita Santos e Paulo Cafôfo debateram também a situação na Escola Portuguesa de Macau (EPM). Após reunir com Manuel Machado, presidente da direcção da EPM, a conselheira transmitiu ao governante português o “aumento significativo de alunos nos últimos dois anos”, sendo que 57 por cento deles não têm a língua portuguesa como materna.

Além disso, “por falta de espaço nas instalações, a EPM teve que recusar, no ano lectivo transacto, a inscrição de mais de cem candidatos”.

“Embora o Governo da RAEM conceda um subsídio à EPM, considero que há necessidade de um reforço de verbas por parte do Governo de Portugal para que possam ser construídas mais salas de aulas, a fim de responder às solicitações dos pais que pretendem que os filhos aprendam português naquele estabelecimento de ensino”, frisou Rita Santos.

Os responsáveis discutiram também o regresso definitivo de muitas pessoas a Portugal, muitas devido às restrições pandémicos que persistem em Macau. Rita Santos alegou que, graças à redução do período de quarentena de 14 para dez dias, foi possível “desbloquear a contratação de oito professor para leccionar na EPM no próximo ano lectivo”.

Relativamente às dificuldades financeiras sentidas pelas associações de matriz portuguesa no território, Paulo Cafôfo garantiu “que está em curso um plano de simplificação de procedimentos para que todas as associações de matriz portuguesa possam concorrer a subsídios”.

Sobre a actual situação pandémica, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas “expressou o sentimento de solidariedade aos cidadãos de Macau, e em especial aos residentes portugueses”.

1 Jul 2022

Poesia | Deusa D’África lança “Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue”

Deusa D’África, escritora moçambicana que foi uma das convidadas do festival literário Rota das Letras, acaba de lançar um novo livro, com a chancela da Alcance Editores. “Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue” é hoje lançado na cidade de Xai-Xai

 

“Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue” é o título do quarto livro de poesia de Deusa
D´África, escritora moçambicana que já se embrenhou nas linhas do romance. O livro será lançado hoje na cidade de Xai Xai, em Moçambique, numa parceria entre a Alcance Editores e a Associação Cultural Xitende, de que Deusa D´África é coordenadora geral.

Este é um livro onde a poesia apresenta “uma influência da oralidade na constituição da linguagem poética e a recorrência da pertença local”, sendo este “um importantíssimo elemento de subversão canónica, fundamental para a inovação da literatura moçambicana, contestação e denúncia”, aponta a sinopse do livro.

Nascida em 1988, Deusa D´África tem, apesar da paixão pela escrita, formação na área dos números, possuindo um mestrado em contabilidade e auditoria. Além disso, é ainda professora na Universidade Pedagógica e na Universidade Politécnica. É também gestora financeira do projecto Global Fund – Malária.

Inspirada pela poesia de Noémia de Sousa, Deusa D´África começou a escrever poesia em 1999, sendo autora de diversas obras. Títulos como “A Voz das Minhas Entranhas” e “O Limpopo das Nossas Vidas” venceram o Concurso Literário Internacional Alpas do Brasil.

Muitos dos seus poemas encontram-se publicados no Jornal Notícias, O País, Pirâmide, Diário de Moçambique e Xitende. Deusa D’África viu alguns dos seus trabalhos editados no Brasil e outros traduzidos para sueco.

Um “golpe de azagaia”

A sinopse desta obra dá ainda conta de que “os versos Deusa d’Africa desautomatizam a linguagem e causam estranhamento”, sendo que a poetisa “vê uma função dialéctica com o poder de inaugurar [mas também] de destruir”.

“A sua actividade poética é revolucionária por natureza, exercício espiritual, um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Ciente deste poder regenerador da poesia, a lírica de Deusa d’África vaticina.

Outros teóricos, como Ezra Pound, prescrevem a necessidade do tratamento directo do tema como factor intrínseco ao bom poema. Também assim pode ser a lírica de Deusa, que relata casos como o ciclone Idai, em 2019”, lê-se no mesmo texto, assinado por Vanessa Riambau Pinheiro.

Os poemas da autora são tidos como um “golpe de azagaia”, enquanto que a escrita “desassossega, perturba, rouba a paz, tira-nos da letargia”.

“Cães à estrada e poetas à morgue” é dividida em três partes (Cães de papel/Cães à estrada e Poetas à morgue/ Respeito nas bancas do mercado grossista) e, ao longo de mais de cem poemas, “entretece uma poética-manifesto”.

Os versos expõem “males sociais, como a criminalidade, repressão, violência e miséria”, onde Deusa D´África aponta “as mazelas como problemas sociais de seu país, mas também rasura consonâncias metaforizadas entre a casa física e a entidade abstracta”.

1 Jul 2022

Alfredo Gomes Dias, historiador: “Macau manteve o seu caminho”

O livro “Macau entre Repúblicas”, da autoria do historiador Alfredo Gomes Dias, foi apresentado na segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa. A obra traça o panorama de um território embrenhado entre o republicanismo em Portugal e na China, de 1910 e 1911, e a forma como Macau conseguiu manter o seu estatuto

 

Como surgiu este projecto?

Este livro parte de um projecto de investigação mais vasto, uma vez que estudo a história de Macau desde 1987, sempre focado na história contemporânea, entre o século XIX e a primeira metade do século XX. Nos trabalhos de investigação que fui fazendo deparei-me com a coincidência das datas da implantação da I República em Portugal e da República na China. Como temos sempre a ideia de que não há coincidências na história, mas sempre algum significado, fui à procura do contexto que explicava como dois países geograficamente opostos tinham desenvolvido, em simultâneo, um processo que levou ao fim da Monarquia em Portugal, com a Dinastia de Bragança em 1910, e depois o fim da dinastia chinesa em 1911. É curioso pensar que estas duas dinastias tiveram uma duração semelhante, começando ambas no princípio do século XVII.

Que causas históricas realça para explicar essa coincidência?

Percebe-se que houve um movimento internacional de processos históricos em diferentes impérios que levam à sua decadência e à implantação de regimes republicanos, em Portugal, na China e na Turquia, por exemplo. É nesse processo de decadência que explicamos, em parte, a I Guerra Mundial. Tentei então explorar os significados mais profundos além da semelhança entre datas.

Qual o republicanismo com maior impacto em Macau? O movimento republicano chinês tinha maior expressão no território face ao português, dada a proximidade geográfica da China?

A proximidade geográfica tem um peso grande porque, ainda por cima no início do século XX, as proximidades geográficas não eram as mesmas que são hoje. Além disso, tínhamos as pontes sociais e políticas que existiam no território, nomeadamente da parte de uma certa elite com a China, que explica a influência posterior do republicanismo chinês em Macau. Temos depois de associar as questões do republicanismo chinês com as questões sociais e políticas que existiam na altura entre Portugal e a China, porque havia questões diplomáticas que estavam em aberto que levavam a movimentos sociais que, de alguma forma, se manifestavam em Cantão contra a presença portuguesa. O movimento republicano acaba também por sofrer com esta influência.

A nível internacional, a Revolução dos Jovens Turcos, por exemplo, foi um dos movimentos que inspiraram ambas as revoluções republicanas. Houve, assim, uma forte influência de movimentos que ocorriam na Europa.

Exactamente. No princípio do século XX assistimos a um processo quase em cadeia de decadência dos grandes impérios. Depois, a I Guerra Mundial faz desabá-los por completo. Por um lado, processos internos levaram à decadência de cada império, mas depois também a conjuntura internacional e a influência que leva a algum contágio entre territórios e que acabam por conduzir a tensões militares e diplomáticas que levam à I Guerra.

A China era um país mais aberto ao Ocidente em relação ao que viria a ser depois de 1949? Havia maior penetração dos ideais políticos ocidentais no início do século XX?

Isso depende um pouco dos contextos. Se pensarmos em Xangai, isso é absolutamente verdade. A cidade era cosmopolita e abriu-se completamente ao mundo, instalando-se depois a comunidade conhecida como os “portugueses de Xangai”. Nesta altura, a cidade recebe cerca de 40 nacionalidades diferentes, segundo o estudo que fiz, porque era, de facto, uma cidade completamente aberta ao mundo. O período republicano até à II Guerra Mundial é mais aberto, até pela presença de Sun Yat-sen e as relações diplomáticas que tinha com outros países. Este processo é limitado pela situação interna do país. A implantação da República leva a uma transformação do regime, mas depois o processo de instabilidade política, com os senhores da guerra e o conflito civil entre o partido do Kuomitang e o Partido Comunista Chinês, põe em causa qualquer processo de abertura ao Ocidente.

Como era Macau entre estes dois mundos? Foram nomeados governadores republicanos, como Carlos da Maia. As elites políticas debatiam ideias entre o mundo português e chinês?

Em toda a governação feita até 1974, não me parece que tenha havido grande influência de ideias políticas do republicanismo em Macau. A sua singularidade, e o que permitiu a sobrevivência ao longo de todos estes séculos, foi sempre construída por parte da Administração portuguesa percebendo que a vida no território tinha as suas particularidades e não permitia oscilações tendo em conta a mudança de regimes que ocorriam em Portugal. Isso é bastante visível entre meados do século XIX até à década de 70 [do século XX], pois não creio que as grandes mudanças políticas ocorridas em Portugal tivessem uma forte influência na forma de governar Macau. Até por força da necessidade de determinadas relações com a comunidade chinesa e a China que não era compatível com as infecções políticas de Portugal.

Que conclusões históricas tira deste trabalho de investigação?

É muito interessante perceber a forma como Portugal e China, em contextos geográficos diferentes, participaram num contexto político global que existiu nessa época. Macau, apesar dessas mudanças, manteve o seu caminho e a sua forma de estar que lhe garantiu a sobrevivência até 1999. No último estudo, feito com Joana Barroso Hortas, foi também interessante ver como a imprensa em Portugal tratou [o movimento republicano chinês] e como os republicanos portugueses foram lendo as notícias na China.

Quais as reacções mais comuns que encontraram?

Os republicanos portugueses acolhiam, muitas vezes com discursos com grande esperança, o movimento na China como se fosse o ecoar do republicanismo no mundo. Havia, por outro lado, análises mais cautelosas do que se estava a passar. Isso ensina-nos a perceber o que era o pensamento republicano em Portugal, olhando para acontecimentos internacionais. O estudo pode ser interessante nessa perspectiva, mesmo para quem pretende aprofundar conhecimentos sobre o republicanismo em Portugal e na imprensa. As notícias sobre a República na China, no momento em que ainda se estava a consolidar a República em Portugal, era uma forma de dar alento ao nascimento do republicanismo português.

Alguns dos ideais do republicanismo português passavam pelo sufrágio universal ou maior acesso da população à educação. Até que ponto havia semelhanças com os ideais republicanos na China?

Os ideias sociais estão lá, mas têm uma roupagem um pouco diferente. As situações sócio-políticas e económicas da China eram um pouco diferentes face a Portugal. Os costumes chineses foram profundamente alterados com a República e isso é interessante de ver no livro, porque tentamos ilustrar o estudo da imprensa com imagens e ilustrações dos jornais republicanos em Portugal, que revelam bem o esforço que a República chinesa estava a fazer no sentido de mudar os hábitos sociais. Os princípios defendidos por Sun Yat-sen levavam a uma ideia de romper com o regime político anterior mas também de construir, do ponto de vista social, uma China diferente, em prol da melhoria do bem-estar do povo chinês.

Falta estudar mais a influência de Sun Yat-sen em Macau?

Penso que sim, porque é uma figura com uma dimensão e relevância tal, que penso que haverá sempre deficiência em matéria de investigação. Mas em que medida temos fontes que nos permitam construir outras narrativas e perspectivas históricas sobre a presença de Sun Yat-sen, de forma a dar um novo contributo sobre a sua vida em Macau? Deveria haver um esforço grande em Macau no sentido de procurar essas fontes ou reinterpretar as que já existem.

30 Jun 2022

Pandemia | Plano de tratamento com medicina chinesa activado amanhã 

As autoridades vão activar o plano de tratamento de casos leves e assintomáticos de covid-19 com medicina tradicional chinesa a partir de amanhã. Macau conta agora com 533 casos positivos

 

A partir de amanhã, sexta-feira, será possível receber tratamento para a covid-19, com medicina tradicional chinesa (MTC), mas apenas para casos leves ou assintomáticos, e para quem esteja a cumprir o isolamento nos hotéis. A medida, que consta no Plano de Resposta de Emergência para a situação epidémica da covid-19 em grande escala, será sempre aplicada mediante autorização do doente, declarou Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM).

“Quem quiser aceitar a medicação chinesa [pode recorrer ao tratamento] pode ser atendido por médicos através de uma consulta online, que vão prescrever a medicação. Sempre colaborámos com os médicos do sector da MTC para o tratamento e divulgação de informações. Temos feito alguns trabalhos preparativos e será sempre implementado [o tratamento] com o consentimento das pessoas”, adiantou.

Ontem, Macau registava um total de 533 casos de covid-19, existindo apenas um caso grave que se encontra “em situação estável, após tratamento e medicação”.

Na conferência de imprensa de actualização da situação, que durou 1h30, Alvis Lo adiantou que “o aumento diário de casos tem a ver com vários factores, incluindo os resultados de testes rápidos e de PCR, o que significa que há um elo de ligação e contaminação na comunidade”.

Admitindo que os residentes “estão a colaborar bem” com as medidas, não há, para já, uma nova data para a realização de uma nova testagem em massa.

O director dos SSM voltou a apelar à vacinação dos idosos. “Diferentes regiões aplicam diferentes medidas. Não há medidas boas ou más a 100 por cento. Em Shenzhen, no último surto, as pessoas ficaram em casa durante duas semanas e fizeram nove testes. A aplicação de diferentes medidas terá diferentes efeitos, e tem a ver com a realidade de cada local. Tem de haver um equilíbrio entre diferentes situações”, frisou.

Entretanto, há mais uma ala do hotel Sheraton disponível para isolamento de casos positivos, disponibilizando duas mil camas no total.

Casos no lar

Relativamente à situação no lar gerido pela Obras das Mães, na zona da Praia do Manduco, e após ter sido detectado um caso positivo por parte de um funcionário, foram encontrados mais três casos, uma idosa de 94 anos com doença crónica, um enfermeiro e um cuidador. Tratam-se de “pessoas que não saíram de Macau ultimamente” e que testaram negativo aos testes PCR. Desde sábado, que o lar opera em regime de circuito fechado.

Neste momento “a situação é estável”, tendo já sido aplicadas as medidas de desinfecção e isolamento no lar. “O pessoal de gestão e os trabalhadores estão a cumprir os deveres para encarar este desafio. Na vida quotidiana dos idosos não há problemas especiais”, disse o responsável do Instituto de Acção Social.

Entretanto, seis trabalhadores dos SSM contraíram covid-19, onde se incluem um examinador de amostragem no posto de teste de ácido nucleico, dois trabalhadores de limpeza da empresa concessionárias que operam no Centro Hospitalar Conde de São Januário, uma enfermeira do Centro Clínico de Saúde Pública de Coloane, uma enfermeira de Serviço de Urgência e um auxiliar. Foram ainda classificados 32 funcionários como contactos próximos, estando em quarentena.

Alvis Lo assegurou que não houve contágios com origem no hospital público. “Estas pessoas foram infectadas fora do hospital, mas não o foram dentro do dormitório. Se [o contágio] tivesse sido dentro do hospital, isso iria causar um aumento significativo de casos.” De salientar que nem todos os profissionais de saúde trabalham em circuito fechado.

O director dos SSM prometeu ainda analisar a redução da quarentena de dez para sete dias, tendo em conta as medidas implementadas pela China. “Não excluímos o ajustamento do nosso período de quarentena para quem vem de Hong Kong e de Taiwan.”

Jornalistas avisados

Na conferência de imprensa de ontem, foram deixados vários recados aos jornalistas presentes. Um deles, prende-se com a ocorrência de “incidentes” aquando da cobertura noticiosa nas zonas vermelhas. “Os jornalistas, por motivo de protecção, devem afastar-se das zonas vermelhas e só podem fazer cobertura noticiosa com locais de menor risco. Penso que não vamos impedir a vossa cobertura e o CPSP também cria conveniências para o vosso trabalho.”

Alvis Lo declarou ainda que a conferência de imprensa é um local para anunciar medidas e não para responder a perguntas mais específicas. “De uma forma geral, sobre os casos, temos outros meios para responder, uma plataforma online para a consulta dos casos. Podem consultá-la. Na conferência de imprensa, o importante é dar a conhecer a todos mais informações gerais, queremos focar-nos mais na estratégia e nas medidas aplicadas.”

DICJ reúne com concessionárias

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) reuniu ontem com as seis concessionárias de jogo, numa altura em que os casinos continuam a operar com normalidade. Foram analisadas as medidas de controlo da pandemia e as acções de testagem dos trabalhadores do sector. Segundo uma nota de imprensa, as concessionárias vão suportar os custos dos testes, que podem ser feitos no local de trabalho ou nos restantes postos do território. Serão ainda distribuídas máscaras e testes rápidos para os trabalhadores.

30 Jun 2022

ANIMA | Zoe Tang eleita presidente da associação para os próximos dois anos

Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA após dois anos de mandato marcados por alguns conflitos internos. Sem conseguir reunir consensos, Billy Chan passou a testemunho a Zoe Tang, que fala da “pior situação” financeira de sempre da ANIMA devido à situação pandémica

 

“A ANIMA é a minha segunda casa”. É desta forma que Zoe Tang fala ao HM do novo compromisso que estabeleceu com a associação de defesa dos direitos dos animais que conseguiu manter o seu legado desde a saída de Albano Martins, hoje presidente honorário.

As eleições para os novos órgãos dirigentes da ANIMA decorreram no passado domingo e resultaram na eleição de Zoe Tang como presidente não executiva, assinalando a saída de Billy Chan do cargo.

“Trabalho na ANIMA há mais de dez anos e espero continuar a dinamizar o objectivo da criação da ANIMA, para que continuemos a providenciar serviços para os animais de rua com a mesma filosofia [do início do projecto]. Não apenas eu, mas os candidatos da lista que estão na minha equipa, sendo que alguns colegas trabalham também na ANIMA há muitos anos”, apontou.

Para já, a missão da lista eleita é desenvolver “campanhas específicas e actividades sociais ou culturais, com o compromisso de providenciar tratamentos adequados que preservem a dignidade dos animais abandonados”. Para os cães e gatos abandonados, a ANIMA quer continuar a disponibilizar serviços de veterinário.

Zoe Tang diz-se disposta a continuar o trabalho de muitos anos apesar dos desafios que a esperam. “Nas eleições de 2020/2021, assumi a posição de CEO e vice-presidente, o que não é um trabalho fácil. Por vezes, trabalhei mais de 20 horas diárias a tratar de assuntos relacionados com a ANIMA. Mas, felizmente, esse trabalho sempre teve o apoio da minha equipa”, assumiu.

A associação depara-se com severas dificuldades financeiras, à semelhança de outras associações de defesa dos direitos dos animais. Encontrar dinheiro para as actividades diárias continua a ser um dos grandes desafios.

“O apoio da nossa sociedade e o financiamento das operações, sobretudo para pagar comida para os animais, despesas médicas e manutenção do canil e gatil são os nossos grandes desafios. Com o desenvolvimento da pandemia, não apenas nós, mas todos os negócios enfrentam as mesmas difíceis questões.”

O financiamento dos casinos, grande apoio para muitas actividades de cariz social, também diminuiu. “As doações baixaram de 400 ou 300 mil patacas para apenas 80 mil patacas por casino e no ano passado nem todos os casinos fizeram donativos. Felizmente, recebemos 70 por cento das cinco milhões de patacas, ou seja, 3.5 milhões, da Fundação Macau (FM), há duas semanas, o que vai permitir pagar as nossas dívidas de Janeiro que são, aproximadamente, de 1.6 milhões de patacas. São despesas relacionadas com veterinários, salários de dois meses dos funcionários e fornecimento de comida para os animais.”

A ocorrência de um novo surto veio piorar a situação, já de si débil. “Os subsídios da FM de cinco milhões de patacas não são suficientes para a ANIMA se manter este ano. O nosso orçamento para 2022 é de cerca de 8.8 milhões de patacas. A nossa situação financeira nunca foi tão má, e estes três anos têm sido difíceis para todos nós porque não paramos de trabalhar para salvar animais.”

Zoe Tang recorda que, no início deste ano, chegou a ser anunciado que a ANIMA ia deixar de resgatar animais abandonados na rua devido a dificuldades financeiras, mas um mês depois retomaram o trabalho habitual. “Não temos escolha”, confessa.

Terreno à espera

Questionada sobre a concessão do terreno que a ANIMA ocupa na zona do Pac On, um dossier que se arrasta há muito tempo, a presidente não-executiva revela outra situação de difícil resolução. “Estamos à espera da concessão definitiva, mas temos uma área com cães que deve ser destruída antes que o processo avance. Temos nesse local cerca de 33 cães e, se não encontrarmos um sítio para a sua deslocação, ou se não pudermos pagar por um terceiro abrigo, o processo não irá para a frente. O Governo sabe disso”, frisou Zoe Tang.

Para os próximos meses, a ANIMA vai continuar a apostar nos mesmos mecanismos de recolha de fundos, de sócios ou adoptantes. A pandemia originou o cancelamento de muitas actividades.

“Acredito que a ANIMA vai ficar numa melhor situação depois da pandemia, mas agora enfrentamos uma situação muito séria. Apelamos a todas as pessoas que nos ajudem com os custos operacionais”, rematou.

A aposta de Zoe Tang à frente da associação passa, acima de tudo, por mais acções educativas de consciencialização sobre os direitos dos animais. Além disso, é esperada “uma solução que possa reduzir o número de cães e gatos abatidos pelo Canil Municipal”, tendo em conta que a ANIMA sempre trabalhou de perto com o Instituto para os Assuntos Municipais.

“Temos feito vistorias às casas dos candidatos que querem adoptar um animal do Canil Municipal, para garantir que a casa é segura o suficiente para receber um novo animal e para aconselhar o adoptante nos cuidados a ter. A adopção suave é uma das muitas soluções para as quais a ANIMA tem ajudado.”

Actualmente, a associação tem à sua guarda cerca de 400 cães e 300 gatos. “Estes números vão manter-se inalterados por muito tempo, pois a seguir a uma adopção há outro animal que precisa ser resgatado. Temos ainda mais de 500 cães e gatos abrangidos pelo Programa Especial de Protecção Animal. São animais que vivem fora do nosso abrigo, na rua ou em estaleiros, mas que estão sob responsabilidade de voluntários.” Mesmo recebendo comida e tratamentos, cabe à ANIMA financiar estes cuidados.

“Reformas eram necessárias”, diz Billy Chan

Ao fim de um mandato de dois anos, Billy Chan está de saída do cargo de presidente não executivo da ANIMA, sendo substituído por Zoe Tang, que até então liderava a comissão executiva da associação de defesa dos direitos dos animais. Ao HM, Billy Chan fala em alguns problemas internos. “Houve muitos acontecimentos e tempos desafiantes na ANIMA nos últimos dois anos. As reformas eram necessárias para manter a continuação do trabalho e permitir o desenvolvimento sustentável da associação.”

Além disso, “ocorreram conflitos entre membros da equipa”. “Diria que não fui bem-sucedido a convencer os membros da direcção mais seniores, incluindo Albano [Martins], destas mudanças. Disponibilizei-me como voluntário para a direcção, incluindo outros voluntários, mas não consegui um consenso. Não fui tido em conta para este novo mandato”, adiantou.

Ao HM, Albano Martins confirma a existência de problemas internos. “Propus Zoe Tang como presidente. O mandato terminou no final de 2021 e as coisas foram-se arrastando até às novas eleições. O Billy sairia porque era vice-presidente há muitos anos, mas fez questão de ser presidente. Poucas reuniões de direcção foram realizadas, havia uma comissão executiva para as decisões não serem bloqueadas.”

“Esperava que o Billy apresentasse uma lista de consenso, mas pelos vistos ele nem contactou os colegas. Nos últimos meses senti que havia uma espécie de atrito, porque o Billy Chan, que é não executivo, queria começar a interferir na vida da comissão executiva. É ainda meu dever fomentar o aparecimento de uma lista, mas as pessoas não queriam trabalhar com ele. Duas trabalhadoras que eram membros da comissão executiva pediram a demissão em Junho, porque as interferências dele levantaram muitos problemas e as pessoas não se sentiam confortáveis”, acrescentou.

FM dá 5 milhões

Mesmo que a Fundação Macau (FM) tenha atribuído um subsídio para este ano no valor de cinco milhões de patacas, a vida financeira da ANIMA continua a não ser fácil. “A tranche do ano passado, de 500 mil patacas, só foi entregue em Maio [deste ano], ou seja, muito tarde. A ANIMA foi acumulando muitas dívidas e as pessoas sentem muito stress. Uma lista única é importante, mas o Billy não fez contactos. Ele não está a par das questões da ANIMA, que são muito complexas.”

Sobre a continuação do trabalho com Zoe Tang, Albano Martins fala de uma “boa solução”, mas lamenta que “no final dos últimos meses [do mandato] houvesse tentativas de controlo da parte executiva por uma pessoa que não era da área executiva”.

A associação tem agora na direcção membros que são trabalhadores da ANIMA, o que permite garantir a fiscalização do trabalho feito pela restante equipa.

Questionado sobre a situação da ANIMA com o panorama de surto pandémico, Albano Martins mostra-se apreensivo. “A situação vai piorar. Se houver trabalhadores infectados, quem vai tomar conta dos animais? Pela política de zero casos do Governo, as pessoas são enviadas para casa. É o Instituto para os Assuntos Municipais que vai fazer esse trabalho? É preciso bom senso em tudo isto”, rematou.

30 Jun 2022

Covid-19 | Autoridades dizem que não proíbem actividades normais na rua

Mesmo sem confinamento geral, pessoas em Macau foram mandadas para casa, apesar de estarem sozinhas na rua. Leong Iek Hou assegura que a população não está proibida de sair, mas a ordem é mesmo para estar em casa. O território registava ontem à noite 414 casos positivos, com 37 novos casos registados. Crianças podem ficar de fora do próximo teste em massa. Os testes rápidos de antigénio obrigatórios continuam hoje e amanhã

 

As autoridades alegam que não proíbem ninguém de sair à rua e fazer a vida normal, mas a verdade é que há relatos de pessoas abordadas e ordenadas a regressar a casa ou usarem máscara. A questão foi colocada na conferência de imprensa de ontem, com o relato de situações como “idosos sozinhos a andar de bicicleta, ou sentados em banco, que são abordados para irem para casa e informados que é proibido estar na rua, ou não usar máscara”.

Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus, assegurou que “não existe este tipo de leis, ou uma ordem que obrigue as pessoas a usar máscara”.

“Não estamos a proibir nada à população. Mas o uso de máscara no exterior é importante, pois falamos de uma estirpe com alta transmissibilidade que pode invadir o aparelho respiratório inferior. Os sintomas e a lesão podem ser maiores do que a estirpe anterior do vírus. Pode originar situações clínicas graves, e por isso temos apelado ao uso da máscara. É necessária a redução de actividades fora de casa”, declarou.

Com base nos resultados da testagem em massa contabilizados até às 15h de ontem, o território contava com um total de 414 casos positivos, 37 destes detectados ontem, uma contagem diária inferior a segunda-feira quando foram identificados 57 casos. Porém, foram detectadas 21 amostras positivas na testagem massiva, que até à hora do fecho deste edição não estavam confirmados. Todos os casos continuam associados à estirpe Ómicron BA.5.1, associada à Ómicron.

Um dos casos encontrados é referente a um trabalhador de um lar de idosos na zona da Praia do Manduco que teve reacção positiva na amostragem, resultado que está ainda a ser analisado. “Encontramos uma amostra mista com um resultado positivo. Vamos convidar dez pessoas para fazer o teste de verificação. Como este caso envolve o trabalhador de um lar, vamos manter o contacto com o Instituto de Acção Social e testar todos os utentes”, adiantou Leong Iek Hou. Relativamente aos testes rápidos, até às 15h de ontem 651 mil pessoas tinham registado o resultado, com 41 “imagens que contém resultado positivo”, o que envolve 36 pessoas.

Crianças podem ficar de fora

As autoridades anunciaram ontem à noite que toda a população de Macau tem de, obrigatoriamente, fazer um teste rápido de antigénio para covid-19 hoje e amanhã.

Porém, caso haja uma nova ronda de testes em massa, crianças e bebés poderão ficar de fora, mas tudo vai depender dos resultados finais da mais recente testagem em massa, que terminou ontem. A informação foi ontem anunciada por Leong Iek Hou.

“[Quanto à testagem] de crianças mais pequenas e bebés vamos anunciar, caso tenhamos uma nova ronda de testes”, declarou. A informação surge depois de uma mãe ter publicado uma carta aberta no jornal Macau Daily Times a pedir que os mais pequenos fiquem de fora deste processo.

Os responsáveis do Centro de Coordenação foram ainda questionados sobre o facto de algumas funcionalidades do registo de dados para quem está em zonas amarelas estar apenas em chinês. “Com um elevado risco quisemos activar o nosso sistema o mais rapidamente possível para que as pessoas pudessem marcar o teste. Daí estar apenas em chinês. Mas a tradução será feita a curto prazo, podendo depois optar por inglês ou português”, disse Leong Iek Hou.

A responsável confirmou também que o hospital de campanha não está ainda activado e que o Dome é, neste momento, usado “para análise e triagem dos casos confirmados”.

IAM | Deitar lixo nas retretes pode espalhar o vírus

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) alertou ontem a população para não deitar comida nem lixo nos esgotos e nas retretes porque pode bloquear os canos e contribuir para espalhar o vírus da covid-19. “O IAM apela de forma veemente aos cidadãos para que não abandonem resíduos domésticos nos esgotos e, em particular para que não deitem lixo nas retretes, uma vez que estas são drenadas para os esgotos”, foi indicado.

“Alguns resíduos são grandes e fáceis de se emaranhar com outros e bloquear os esgotos internos dos edifícios e os esgotos públicos. Uma vez entupidos os esgotos, isso facilita a ocorrência de refluxo de águas residuais e o agravamento do risco de transmissão epidémica na comunidade”, foi acrescentado.

O apelo foi feito depois do IAM ter identificado várias situações em que foram deitadas toalhas e máscaras na sanita. “Recentemente, foi verificada a existência, nos esgotos públicos, de muitos resíduos domésticos, como toalhas e máscaras, o que não apenas afecta gravemente o funcionamento dos esgotos, mas também pode causar mais facilmente o refluxo de águas residuais, aumentando o risco de transmissão epidémica nos bairros comunitários”, foi justificado.

Zhuhai | Quem esteve em Macau não entra em espaços públicos

O Comando de prevenção e controlo da covid-19 de Zhuhai emitiu ontem um comunicado onde decreta que, entre as 17h de ontem e a meia-noite de quinta-feira, os indivíduos que tenham estado em Macau nos últimos 14 dias estão proibidos de entrar em espaços públicos. Na mesma nota é ainda revelado que todas as pessoas que pretendem frequentar esses espaços devem apresentar o resultado negativo de um teste de ácido nucleico emitido nas últimas 48 horas. Caso os responsáveis por controlar o acesso aos espaços públicos se deparem com indivíduos com códigos de saúde de cor amarela ou vermelha ou um historial de viagens em regiões de médio e alto risco, onde se inclui Macau, estes devem reportar a ocorrência, de imediato às autoridades competentes.

Centro | Recebidas 429 chamadas em menos de 24 horas

A linha aberta do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus recebeu 429 chamadas telefónicas, entre as 08h e as 16h de ontem, de acordo com a estatística oficial. Entre as 429 chamadas atendidas pelos Serviços de Saúde, 171 visaram a utilização do código de saúde, 103 sobre a realização de testes oficiais e rápidos, 96 referentes a pedidos de levantamento do código de saúde amarelo e vermelho, 12 sobre contacto ou cruzamento com o itinerário de caso confirmado, 7 sobre medidas de quarentena, entre outras. Uma das chamadas foi reencaminhada para o Corpo de Polícia de Segurança Pública e estava relacinada com dúvidas sobre medidas de migração para residentes de Macau.

Casinos | Teste obrigatório à entrada a partir de Julho

A apresentação de um teste de ácido nucleico com resultado negativo feito nas últimas 48 horas vai passar a ser obrigatório para clientes e funcionários dos casinos, a partir das 07h do dia 1 Julho. De acordo com um comunicado divulgado ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), à medida, é ainda acrescentada a obrigatoriedade de os funcionários dos casinos apresentarem, diariamente, antes de entrar ao serviço, um teste rápido de antigénio, demonstrando um resultado negativo para a covid-19. As orientações da DICJ ditam ainda que, tanto os custos dos testes de ácido nucleico como dos testes rápidos, são da responsabilidade das concessionárias.

29 Jun 2022

Comunidades Portuguesas | Associações em dificuldades pedem atenção a Portugal 

A Casa de Portugal em Macau e a Associação dos Macaenses relataram a Rita Santos as dificuldades financeiras e operacionais pelas quais estão a passar nesta fase da pandemia, alertando que é necessária maior atenção por parte das autoridades portuguesas

 

Rita Santos, na qualidade de Conselheira das Comunidades Portuguesas, reuniu dia 16 com representantes de associações de matriz portuguesa do território a fim de levar sugestões e ideias para a reunião anual do Conselho das Comunidades Portuguesas, que se realiza em Lisboa de 4 a 19 de Julho. Segundo uma nota de imprensa, associações como a Casa de Portugal em Macau (CPM), Associação dos Macaenses (ADM) e Associação dos Jovens Macaenses estiveram representadas.

Amélia António, presidente da CPM, “assinalou as dificuldades financeiras que atravessa a instituição devido a obstáculos burocráticos associados aos apoios de que a mesma depende, e que resultam do abrandamento da economia local”. A responsável disse ser “fundamental continuar a transmitir às autoridades responsáveis em Portugal a importância do apoio constitucional às actividades da CPM”.

Além disso, Amélia António “falou da necessidade de promover o intercâmbio entre instituições como forma de apoio às actividades da CPM”. O encontro serviu também para debater “a renovação dos contratos dos portugueses no território, a necessidade de aumentar a participação dos portugueses nas acções do Fórum Macau, permitindo, assim, promover a diversificação e a sustentabilidade das actividades económicas da RAEM e intensificar as relações entre China e Portugal”. Foi ainda discutida “a importância da definição de uma política cultural para Macau”.

Por sua vez, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse “comungar de algumas das preocupações expressas pela presidente da CPM, nomeadamente a notória dificuldade de Portugal interpretar as características de Macau e as especificidades dos portugueses de Macau”.

O presidente da ADM “enalteceu o esforço da comunidade macaense e os seus representantes na manutenção da identidade cultural de origem portuguesa”, além de ter sugerido a “promoção de um intercâmbio de conhecimentos e formação em áreas específicas de que o território poderia beneficiar da experiência portuguesa”.

Preservar a identidade

Dirigida por António Monteiro e Paula Carion, a Associação dos Jovens Macaenses apresentou a estratégia de acção para os próximos meses, tendo em conta que a nova direcção foi eleita há poucos meses. Um dos objectivos é “acentuar a preservação da identidade cultural de Macau”, considerando “fundamental a importância da ligação com os jovens da diáspora macaense, algo que poderá ser facilitar através do desenvolvimento de uma plataforma tecnológica para o efeito”.

A mesma associação disse na reunião com Rita Santos que é necessário “expandir as actividades para as áreas abrangentes dos interesses dos jovens da comunidade, tais como a economia, o desenvolvimento e a tecnologia, em complemento da sua componente cultural, no âmbito da actual estratégia do desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

28 Jun 2022

Saúde mental | Coutinho defende medidas preventivas 

O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre a necessidade de implementar “medidas eficazes que envolvam um maior envolvimento dos cuidados de saúde primários na prevenção e tratamento das perturbações depressivas e do humor”, tendo em conta o potencial aumento dos casos de depressão ou suicídio.

Além disso, o deputado entende ser necessário um maior investimento na área educativa, nomeadamente em prol da “capacitação do corpo docente e de funcionários das escolas para identificarem potenciais quadros de perturbação mental nos jovens”. Sobre os cuidadores informais, Coutinho entende ser necessário dispor de “medidas concretas e eficazes” para o acompanhamento psicológico destas pessoas, além de serem necessárias “equipas com especialistas para os profissionais de saúde”, a fim de prevenir casos de “burnout”. O deputado pede também a criação de uma linha de apoio psicológico destinada a “profissionais de saúde e demais trabalhadores essenciais”.

A interpelação dá conta que, nos últimos três anos, o território tem enfrentado uma série de confinamentos “que ninguém sabe quando acabam”, o que acaba por ter um efeito na saúde mental da população. O deputado alerta para o facto de a economia local “estar de rastos”, com as autoridades a gastarem as “reservas acumuladas” em apoios à população e empresas.

“Multiplicam-se os testes de despistagem, distribuem-se centenas de milhares de kits, aumenta o número de infectados e tudo isto provocou alterações profundas nos cidadãos na sua forma de pensar e de viver. Muitos cidadãos vivem com a angústia, tristeza, medo, incertezas, frustração, cansaço e desgaste individual”, rematou.

27 Jun 2022

AMCM | Investimentos de residentes no estrangeiro aumentam

Dados da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) revelam que os investimentos de residentes em títulos emitidos por entidades independentes estrangeiras têm aumentado gradualmente desde o primeiro ano da pandemia.

A 31 de Dezembro de 2021 os investimentos dos residentes foram de 1.098,1 mil milhões de patacas, mais 1,9 por cento face a 30 de Junho desse ano, enquanto que esse valor representou mais 7,2 por cento face ao final do ano de 2020.

Os investimentos que obtiveram um aumento maior, na ordem dos 12,4 por cento, foram os investimentos em títulos representativos de capital, incluindo fundos mútuos e investimentos em trusts, no valor total de 389,2 mil milhões de patacas em finais de 2020.

A Ásia surge em primeiro lugar nas escolhas dos residentes para investir, representando 54,3 por cento, seguindo-se as zonas do Atlântico Norte e Caraíbas, com 16,2 por cento. O investimento nos títulos emitidos por entidades no Interior da China (incluindo títulos listados em bolsas no exterior) continuou a ser predominante, representando 36,3 por cento da carteira de investimentos externos aplicados pelos residentes de Macau.

Entretanto, a quota da carteira de investimentos emitidos por Hong Kong diminuiu de 13,6 para 12,2%, tendo diminuído 3,6 por cento o valor de mercado (134,1 mil milhões de patacas). Quanto aos títulos emitidos por países integrantes do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”, excluindo a China, detidos por residentes, registaram um aumento do calor de mercado em 19 por cento face a finais de 2020, valendo 93,6 mil milhões de patacas. Estes títulos representam 8,5 por cento do total da carteira de investimentos de residentes no exterior.

27 Jun 2022

24 de Junho | Invasão dos holandeses em 1622 lembrada em Lisboa 

Mariana Pereira, antropóloga, e Rui Loureiro, historiador, foram os protagonistas de uma conferência, organizada pelo Centro Científico e Cultural de Macau, que lembrou os 400 anos do 24 de Junho de 1622, quando os holandeses tentaram invadir o território de Macau. A data continua viva na memória dos macaenses que lhe deram uma nova roupagem, assegura a antropóloga

 

“24 de Junho de 1622: História e Memória” é o nome da conferência que decorreu na última sexta-feira, em Lisboa, com o intuito de lembrar os 400 anos da invasão dos holandeses no território sob administração portuguesa. O evento, organizado pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), contou com a presença do historiador Rui Loureiro e a antropóloga Mariana Pereira, que está a fazer um doutoramento sobre as percepções da comunidade macaense residente em Portugal face a esta data histórica. De frisar que, no período da Administração portuguesa, 24 de Junho era um dia feriado.

Mariana Pereira começou a desenvolver o trabalho de investigação em 2019, partindo não só de conversas com membros da comunidade. Uma coisa é certa: a data está longe de estar esquecida ou ignorada. “Nós é que decidimos o que queremos que o 24 de Junho seja”, apontou.

“É difícil dizer se há ou não uma ameaça à celebração [desta data], porque tem havido uma nova história sobre o 24 de Junho, com novos públicos e contextos. O 24 de Junho tem hoje um formato mais aberto e plural. A sociedade civil está a criar um novo rumo, com base em elementos da tradição histórica. A diáspora macaense também faz isso nos locais onde vive”, apontou.

Mariana Pereira acredita que esta data vai continuar a ser celebrada. “O cerne de estar ligado a um acontecimento histórico de Macau está lá e vai continuar nos próximos tempos”, disse.

Da guerrilha

Entre 1580 e 1640 Portugal ficou sob domínio dos espanhóis, herdando os conflitos que o país vizinho tinha com outros impérios europeus. Foi o caso dos holandeses, que tentaram estabelecer-se na Ásia e criar rotas de comércio tal como os portugueses já faziam a partir de Goa. Até finais do século XVI os portugueses detinham o exclusivo do comércio pela Rota do Cabo, sendo que “todos os europeus iam a Lisboa comprar produtos”, recordou Rui Loureiro.

Além de falar da figura do rei Filipe II de Espanha, cujo reinado foi marcado pela tentativa expansionista dos holandeses, o historiador abordou também a importância do livro “Itinerario”, de Jan Huygen van Linschoten’s, que mais não era “uma descrição muito bem informada de toda a Ásia e dos negócios dos portugueses, e que apresentou a Ásia aos holandeses”. Traduzido para várias línguas, este livro mais não era do que um verdadeiro “roteiro das principais rotas comerciais informações obtidas em Goa” pelo autor, provavelmente na qualidade de espião.

Desta forma, os holandeses conseguem estabelecer-se no que hoje é conhecido como a ilha de Java, conseguindo uma rota directa para o Oriente. A China, lugar de porcelanas e sedas exóticas, era o grande atractivo.

“A China era o melhor mercado para vender especiarias. A partir de 1631 os holandeses tentaram instalar-se em Macau, sem sucesso. Depois de 1622 nunca mais tentaram, e como alternativa conseguiram estabelecer-se na ilha de Taiwan, mas não durante muito tempo.”

Rui Loureiro relatou então o que se passou no dia 24 de Junho, com a chegada dos holandeses a Macau. “A armada holandesa, composta por 13 navios e 800 homens, tinha informação de que Macau estaria quase desprotegida. No entanto, tiveram de enfrentar uma resistência quase desorganizada, pois muitos portugueses tinham experiência de anos de navegação e, com poucas espingardas e canhões, obtiveram uma vitória fulgurante sobre as forças holandesas que iam preparadas para uma guerra convencional, mas depararam-se afinal com uma guerra de guerrilha.”

A vitória sobre os holandeses levou à construção de mais fortificações em Macau, após uma negociação com Cantão. Imperava a necessidade de segurança e protecção. “Macau, na década seguinte, passou a ter uma série de fortalezas em sítios estratégicos e nunca mais houve tentativas de conquista por parte de outra potência.”

Rui Loureiro destaca os trabalhos de investigação de Charles Boxer ou Wu Zhiliang, entre outros, sobre o 24 de Junho de 1622. Mas aponta que “não tem havido investigação mais recente” acerca deste episódio histórico.

27 Jun 2022

EPM | Exames nacionais voltam a realizar-se a partir de hoje 

Após cancelar a realização dos exames nacionais de acesso ao ensino superior em Portugal, a direcção da Escola Portuguesa de Macau voltou atrás, com a autorização da DSEDJ, criando um regime excepcional para os finalistas que terminam o ensino secundário este ano. Os exames podem voltar a realizar-se a partir de hoje

 

A direcção da Escola Portuguesa de Macau (EPM) decidiu voltar atrás na decisão de suspender a realização dos exames nacionais de acesso ao ensino superior em Portugal no contexto do surto pandémico. O HM teve acesso ao comunicado emitido que dá conta que os exames, suspensos desde quinta-feira, podem voltar a ser realizados a partir de hoje.

A autorização para o regime excepcional para estes alunos, numa altura em que as escolas tiveram de cancelar todas as provas, partiu da própria Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ).

Para a realização dos exames é necessário apresentar um teste de ácido nucleico negativo realizado um dia antes da prova, sendo necessário chegar à EPM 45 minutos antes do exame para a realização de um auto-teste, fornecido pela escola. Os alunos devem usar máscara e apresentar o código de saúde de cor verde. Além disso, só poderão estar entre três a quatro alunos por sala.

Recorde-se que um grupo de pais apresentou uma carta aberta para que a direcção da EPM intercedesse junto da DSEDJ, e não apenas do Ministério da Educação em Portugal, a fim de assegurar que o grupo de alunos, que não vai além dos 20 estudantes, pudesse realizar os exames, tendo em conta que muitos já têm viagens marcadas com os pais para Portugal. Além disso, mesmo que os exames da primeira fase contassem como segunda fase, sem perda de contingente, o adiamento das datas iria fazer com que muitos estudantes não pudessem fazer melhoria de nota.

Final feliz

Os exames na EPM decorriam com normalidade até quinta-feira, mediante apresentação de teste rápido negativo, até que um despacho da DSEDJ travou o processo. À Lusa, Manuel Machado declarou que a decisão de realizar os exames deixou muitos pais mais descansados.

“Os pais legitimamente ficaram muito apreensivos, fizeram chegar essa apreensão aos serviços de Educação e foi possível, depois, junto das autoridades que mostraram a maior abertura, resolver o problema.”

“A alteração é boa para todos, para a comunidade em geral, mas especialmente para aqueles alunos e para aqueles encarregados de educação directamente envolvidos”, notou à Lusa o presidente da Associação de Pais da EPM, realçando que a não realização das provas nacionais “podia causar graves problemas no acesso ao ensino superior”.

Depois de comunicar com a direcção da escola, que deu conta da suspensão dos exames – contou Filipe Regêncio Figueiredo – a associação enviou um email à Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) pedindo que, através de um regime excepcional, fosse possível a realização das provas.

Apesar de a situação estar resolvida, na quinta-feira, cerca de uma dezena de alunos falharam a prova nacional de Economia. Esta é uma disciplina do 11.º ano, mas que “é necessária para o prosseguimento dos estudos em certos cursos” do ensino superior, explicou o presidente da direcção da EPM, referindo que os alunos poderão realizar o exame na segunda fase que, depois de contactadas as autoridades portuguesas, “vai valer como a primeira”. Com Lusa

27 Jun 2022

EPM | Exames nacionais cancelados. Pais pedem regime especial 

A Escola Portuguesa de Macau (EPM) cancelou ontem à tarde a realização dos exames nacionais para o acesso ao ensino superior em Portugal após ser divulgado um despacho da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) sobre a suspensão dos exames em todas as escolas. Em causa, está também a suspensão das provas de aferição do terceiro ciclo. Recorde-se que os exames vinham sendo realizados esta semana dentro da normalidade, bastando a apresentação de testes rápidos com resultado negativo.

A informação foi confirmada ao HM por Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM. “Sei que os exames estavam a ser feitos e decorreram até ontem [quarta-feira] com alguma normalidade. Hoje [ontem], com esta confusão toda, os directores de turma começaram a enviar mensagens aos pais, a seguir à hora de almoço, com a informação de que os exames seriam cancelados.”

O presidente da associação de pais já contactou com Manuel Machado, presidente da direcção da EPM, com quem não foi possível estabelecer contacto até ao fecho desta edição, que terá assegurado que nenhum aluno irá ficar prejudicado.

O Ministério da Educação português autorizou a que a segunda fase de exames seja equivalente à primeira, tal como ocorreu em 2020, no pico da pandemia. Para já, a proposta que está em cima da mesa é que os exames se possam realizar entre os dias 27 de Junho e 5 de Julho, nas disciplinas de Física e Química, Filosofia, Matemática e Desenho.

Pais protestam

Os encarregados de educação dos alunos finalistas não estão, contudo, satisfeitos com esta proposta. Cristina Ferreira é uma das signatárias de uma carta enviada à DSEDJ, através da associação de pais, e com o conhecimento do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong e da direcção da EPM, a exigir um regime especial para que os alunos abrangidos por esta decisão, que não são mais de 20, possam fazer os exames.

“A situação dos alunos do 12.º ano deverá merecer um tratamento especial. Sem prejuízo das medidas de segurança de saúde e de higiene que devem ser asseguradas, a realização dos exames nacionais deve ser mantida por forma a não prejudicar o futuro destes alunos”, lê-se na carta a que o HM teve acesso e que é assinada em conjunto com Rita Rebelo.

Cristina Ferreira explicou ainda que “a direcção da EPM deve negociar com a DSEDJ e não apenas com o Ministério da Educação. Há miúdos que já têm viagens marcadas para Portugal [nas datas propostas para os exames] e nada nos garante que a situação pandémica não vá piorar. Se cancelarem a nova fase de exames, os miúdos ficam impedidos de concorrer [à universidade]. Além disso, ficam sem possibilidade de fazer melhoria de nota”, disse ao HM.

A ideia é que possa ser garantido “um regime excepcional” por estar em causa um pequeno grupo de alunos, que podem fazer os exames em maiores instalações para assegurar as regras de saúde pública e segurança, adiantou Cristina Ferreira. Até ao fecho desta edição, a direcção da EPM não tinha reagido a esta carta.

24 Jun 2022

História | Alfredo Gomes Dias lança livro “Macau entre Repúblicas”

O Centro Científico e Cultural de Macau acolhe, na próxima segunda-feira, a apresentação do novo livro do académico Alfredo Gomes Dias, que se dedica ao estudo da história de Macau. “Macau entre Repúblicas” será apresentado pela historiadora Célia Reis

 

Alfredo Gomes Dias, académico do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) e autor de várias obras sobre a história de Macau, incluindo uma tese de doutoramento, está de regresso aos estudos sobre a história do território. “Macau entre Repúblicas” será lançado na próxima segunda-feira em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). A apresentação estará a cargo da historiadora Célia Reis, também autora de vários trabalhos sobre a história de Macau. Actualmente, Célia Reis é investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

O livro aborda o período em que Macau viveu entre duas revoluções, em dois lados do mundo: por um lado, a implementação da República em Portugal a 5 de Outubro de 1910, e a queda da Monarquia; e, por outro lado, o fim da China imperial e o início da República da China em 1911. Trata-se de um movimento onde se destacou a figura de Sun Yat-sen, que viveu em Macau.

A obra conta com prefácio de Luís Cunha e a colaboração de Vincent Ho. Juntamente com Joana Barroso Hortas, Alfredo Gomes Dias fez um estudo sobre a forma como a imprensa portuguesa olhou para a implantação da República na China, através da análise dos jornais daquele período.

Macaenses de Xangai

Alfredo Gomes Dias é, além de professor adjunto da Escola Superior de Educação do IPL, investigador do Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. Como académico, as suas áreas de interesse centram-se em migrações, história política, social e colonialismo.

Em 2012, defendeu a tese de doutoramento intitulada “A Diáspora Macaense. Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”.

Neste trabalho, analisou a emigração macaense entre os anos de 1840 e 1950, com destino a dois lugares principais: Hong Kong e Xangai. A I Guerra do Ópio, entre os anos de 1839 e 1842, “conduziu a profundas mudanças políticas, económicas e sociais em toda a Ásia Oriental e, em particular na China imperial”, tendo levado também a uma onda de emigração por parte da comunidade macaense. “A saída das principais casas de comércio teve um forte impacto social”, lê-se no resumo da tese. Xangai, uma cidade sofisticada e cosmopolita, acabou por se tornar no local de destino de muitos dos emigrantes macaenses que aí se voltaram a estabelecer como comerciantes, mas não só.

A investigação de Alfredo Gomes Dias, neste campo, analisa os “portugueses de Xangai”, ou seja, a comunidade que se formou com esse circuito migratório. Na cidade chinesa, acompanharam “o processo de formação, desenvolvimento e extinção das concessões estrangeiras, revelando estratégias que favoreceram a sua integração na sociedade que os acolheu, sem, todavia, perderem os laços com Macau, o seu território de origem”.

O rumo da história mudaria novamente em 1949, com a implantação da República Popular da China, precedida por uma guerra civil, o que levou a comunidade a sair e a espalhar-se pelo mundo.

Além deste trabalho, Alfredo Gomes Dias é também autor de obras como “Macau e a I Guerra do Ópio”, “Sob o signo da transição – Macau no século XIX” e ainda o livro que nasce da tese de doutoramento, “Diáspora Macaense: Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”.

24 Jun 2022