Fotografia | Exposição “Bicicletas de Macau” patente em Castelo Branco

Regressado a Portugal há uns meses, o fotógrafo António Mil-Homens continua a mostrar Macau no país. O seu mais recente projecto é a exposição de fotografia “Bicicletas de Macau” que pode ser vista até 17 de Setembro na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco. A mostra poderá dar origem a um debate sobre mobilidade urbana

 

Antes de regressar definitivamente a Portugal, depois de décadas a viver em Macau, o fotógrafo António Mil-Homens guardou dezenas de fotografias na bagagem prontas a expor. Um dos conjuntos diz respeito às “Bicicletas de Macau”, nome que titula a sua mais recente mostra, patente na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco, Portugal, até ao dia 17 de Setembro.

As imagens mostram, assim, os raros sinais da mobilidade através da bicicleta nas ruas de Macau, tendo em conta as dificuldades de locomoção neste meio de transporte tendo em conta a poluição e o trânsito excessivo.

Ao HM, António Mil-Homens explicou as origens desta iniciativa. “Fazer esta exposição surgiu na sequência da colaboração que tenho mantido com o jornal ‘Regiões’ de Castelo Branco. Referi ao Fernando de Jesus Pires [fundador e director do jornal] que uma das exposições que tinha pronta a instalar em qualquer lado era esta, das bicicletas de Macau. Ele apresentou a ideia ao José Dias Pires, presidente da junta de freguesia de Castelo Branco, que ficou entusiasmado com a explicação do conceito da exposição.”

António Mil-Homens diz ter conseguido fazer o que sempre deseja para as suas exposições, ou seja, conciliar diversos formatos expositivos. Assim, além das fotografias coladas na parede, existem ainda aros com imagens dentro, a imitar as rodas das bicicletas, penduradas no espaço da exposição.

“Estou muito contente com o que consegui produzir em termos de instalação da exposição”, confessou o fotógrafo, que pretende expandir este projecto. “Ainda tenho a esperança de editar um livro, não apenas com as 35 fotografias de bicicletas que fazem parte desta exposição, mas com um total de 77. Esse projecto está em marcha e inclui ainda um texto meu e do José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus”, afirmou.

Relativamente ao texto introdutório de Sales Marques sobre esta mostra, este refere que as bicicletas captadas pela lente de Mil-Homens “espelham a identidade dos seus anónimos proprietários e utilizadores, e o meio em que se movimentam”. “Trazem algo do passado, parecem anacrónicas, estão estacionadas em passeios públicos da cidade antiga, ou temporariamente aprisionadas a postes de sinalização, sugerindo um modo de vida e um ambiente urbano circundante que só pode ser o de uma cidade com passado, onde as pedras das calçadas contam o tempo tomando o século por unidade”, escreveu ainda.

Tendo em conta que a cidade de Castelo Branco tem uma instituição de ensino superior – o Instituto Politécnico de Castelo Branco – a ideia é fazer ainda “uma apresentação em Setembro, para que possa haver um debate ou colóquio sobre mobilidade urbana e o uso da bicicleta como meio de transporte, uma vez que é nessa altura que muitos estudantes regressam a Castelo Branco”.

Imagens em movimento

“Bicicletas de Macau” vai ainda fazer um itinerário por outras cidades portuguesas, nomeadamente Coimbra, onde vai residir entre os meses de Janeiro e Fevereiro do próximo ano. Mil-Homens adiantou ainda que “já há contactos para a exposição ser apresentada também em Penamacor”.

O fotógrafo, que também se embrenha na poesia e pintura, pretende mostrar em Portugal todas as exposições e colecções que levou na bagagem. “No fundo, quero manter a ligação a Macau, sendo que mudei a minha base de trabalho.”

Debater o uso da bicicleta no espaço urbano é importante para António Mil-Homens, que em Macau sempre tentou deslocar-se desta forma, sem sucesso. No entanto, a esperança de que as autoridades venham a criar novas ciclovias e a introduzir mais viaturas eléctricas não morreu.

“Quer queiramos, quer não, o tráfego está cada vez mais intenso, tendo aumentado o nível de poluição, [pelo que é mais difícil andar de bicicleta em Macau]. Espero que a médio prazo isso vai sendo atenuado com a introdução de mais veículos e autocarros eléctricos”, rematou.

3 Ago 2023

“Minha Educação” | Conta Única inclui pedido de subsídios

A plataforma “Conta Única de Macau”, usada por residentes para tratar de uma série de serviços burocráticos online, passa a incluir, desde ontem, a secção “Minha Educação”, destinada à apresentação de pedidos de subsídios para este fim.

A secção tem 16 categorias, prevendo-se que, até final deste ano, sejam 23 os itens disponíveis para consulta e utilização na aplicação de telemóvel. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, e da Direcção dos Serviços de Administração Pública, a secção “Minha Educação” destina-se a pais, alunos, escolas e demais instituições de ensino, que podem efectuar pedidos de subsídios para a aquisição de material escolar ou bolsas de estudo, entre outros.

Podem ainda ser requeridas declarações ou consultar o registo individual do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo, entre outras acções.

3 Ago 2023

Jogo | Transacções suspeitas devem aumentar este ano

O Gabinete de Informação Financeira (GIF) crê que o número de relatórios de transacções suspeitas (RTS) deste ano se aproxime “do nível de 2019”, tendo em conta a recuperação gradual do volume de transacções no sector do jogo, adiantou ao portal GGRAsia.

O GIF adiantou ainda que, no primeiro semestre, os RTS ligados ao jogo estavam 44 por cento acima dos valores registados em igual período de 2019, sendo que, nos primeiros seis meses do ano, foram registadas 1.392 notificações ligadas aos casinos, representando 73,1 por cento do total.

Na resposta às questões colocadas pelo GGRAsia, o GIF adiantou que estes números se explicam pela “recuperação gradual do volume de transacções de jogo, bem como ao controlo mais eficaz” por parte de entidades dedicadas ao combate à lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo.

Relativamente a 2020, o número de RTS caiu para 1.215, quando em 2019 o total anual de transacções suspeitas foi de 1.913. Em 2021, o número de transacções aumentou 9,5 por cento em termos anuais, registando-se um total de 1.330 RTS, tendo caído para 1.177 no ano passado.

Por transacções suspeitas incluem-se conversão de fichas com actividades mínimas de jogo ou levantamentos de grandes quantias de dinheiro considerados irregulares, entre outras.

3 Ago 2023

Avenida Nordeste | Percurso pedonal até à Rua Central da Areia Preta

A travessia pedonal na Avenida do Nordeste, ainda em construção, terá início na zona dos prédios de habitação social da Avenida de Venceslau de Morais, ligando os cruzamentos ao longo da Avenida do Nordeste, até chegar à Rua Central da Areia Preta.

A informação foi avançada por Lam Wai Hou, director dos Serviços de Obras Públicas (DSOP), em resposta a uma interpelação escrita do deputado Lam Lon Wai.

A travessia, com 600 metros de comprimento, terá 12 pontos de acesso, um deles ao Parque Urbano da Areia Preta. Além disso, a travessia “terá uma extensão dentro do Parque que, conforme a concepção preliminar, será feita através de uma passagem coberta, sendo a construção feita em articulação com a obra de optimização das instalações do jardim, a cargo dos serviços municipais”.

As autoridades estão ainda a ponderar ligar esta travessia pedonal à estação ES2 da Linha Leste do Metro Ligeiro, situada perto da zona da Areia Preta.

3 Ago 2023

JMJ | Em Lisboa, jovens acreditam num catolicismo vivo em Macau

Foto principal da agência Lusa

Três jovens católicos de Macau que participam este ano na Jornada Mundial da Juventude defendem que praticar a religião no território tem as suas características próprias e acreditam que esta se vai manter, apesar da redução da comunidade portuguesa no território. Uma organização católica da Coreia do Sul está de olho na possibilidade de o evento decorrer no país no próximo ano

 

A fé vive-se de diferentes formas na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que termina no domingo em Lisboa, e estar na sala de cinema é uma delas. À porta dos Cinemas São Jorge, na avenida da Liberdade, vários jovens peregrinos de diferentes nacionalidades vão-se juntando para assistir às várias películas de teor católico que constam no cartaz em exibição.

Num dos intervalos, o HM conversou com três jovens que integram o grupo de língua portuguesa que representa a Diocese de Macau nas JMJ. Muitos vieram por vontade própria ou da família, mas todos dizem sair com a fé reforçada deste evento que tem juntado largas centenas de milhares de jovens na capital portuguesa só para estar perto do Papa Francisco. Todos mantêm viva a sua fé em Macau, apesar dos desafios diários.

“A prática da fé católica em Macau não vai desaparecer. Na paróquia onde estou, tentamos aprofundar [esse assunto] e realizar mais actividades, por isso acho que se vai manter [a prática da religião] entre as pessoas que estão agora a crescer com a fé. Não sei como vai ser em relação às pessoas mais velhas”, contou Carolina Figueiredo, que diz ter começado a ser católica praticante por sua iniciativa, há cerca de dois anos, embora a religião sempre tenha feito parte do seu dia-a-dia.

“Estou aqui pela experiência, para aprofundar a minha fé e encontrar novas pessoas, bem como fazer novas memórias. Espero levar comigo novas amizades e um melhor entendimento da fé”, adiantou.

Sobre o Papa Francisco, destaca o facto de este ter conseguido “cativar a atenção dos jovens por todos os assuntos que aborda e pela proximidade que tem” com as pessoas.

Salvador Rodrigues, de 14 anos, decidiu participar nas JMJ por ser “um evento internacional que move muitos jovens” e “uma maneira divertida e religiosa de passar férias”. “A comunidade internacional é diferente, mas todos praticam a mesma religião, e com [a presença] de diferentes culturas dá para conhecer novas pessoas. Isso é o mais importante destas jornadas”, disse.

Salvador acredita ser importante “preservar a fé” em Macau “mesmo que muitos católicos estejam a ir embora”. “Há que manter, pelo menos, as raízes da fé cristã, porque mostra a presença dos portugueses em Macau ao longo da história “, frisou.

De um modo geral, o jovem destaca a forma como o Papa Francisco tem comunicado com a comunidade internacional, “o que faz com que todos gostem dele”. “Isso é o mais importante, termos um Papa que dá o exemplo às pessoas na prática da fé cristã”.

No caso de Miguel Rezende, de 15 anos, a sua participação fez-se muito à conta de pressão familiar, mas a realidade que encontrou em Portugal confere-lhe um sentimento de gratidão pelo “empurrão”. “Vim por causa dos meus pais, fui quase obrigado a vir. A minha família disse-me que ia ser muito divertido, e como também vinham os meus amigos, acabei por vir. Estou satisfeito com a escolha dos meus pais, e minha também, está a ser incrível. Fomos muito bem tratados. Vai ser uma experiência que vou guardar para sempre.”

A família desejava que, com as JMJ, Miguel se pudesse “aproximar mais de Deus e conhecer novas pessoas, criar memórias”.

Hoje, o jovem assume que, quando reza, nunca se sente sozinho. “Comecei muito cedo por me ligar à religião, os meus avós levavam-me à missa já em criança e estou feliz com isso. É algo que me preenche e quando rezo sinto que não estou sozinho, como se tivesse uma companhia ao meu lado.”

Sobre a permanência do catolicismo em Macau, o jovem nota que há menos católicos, pois “muita gente saiu”. “Mas eu continuo a ir à missa e vejo lá muita gente, sempre”, frisou.

Coreia à espreita

À porta dos Cinemas São Jorge descansa um grupo de jovens da Coreia do Sul também aguardando pela exibição de um filme. Em conversa com o HM, o padre John Kisok Pak, director e assistente eclesiástico da ACN Internacional (Aid to the Church in Need), uma organização católica sul-coreana, fala da presença desta entidade em Lisboa, com um pequeno grupo de oito pessoas.

“É a primeira vez que estamos em Portugal e também neste evento. Fala-se que uma das edições das JMJ será na Coreia do Sul, e espero que finalmente possamos receber o evento. Estamos aqui para ver como corre e para experienciá-lo, porque no nosso país teremos de organizar uma série de actividades.”

Para o pároco, receber as JMJ no seu país significa chamar a atenção para a tensão militar que há muito divide Coreia do Sul e Coreia do Norte. “Estamos divididos com o norte e precisamos de paz. Não queremos guerra, nem um conflito nuclear. As JMJ podem ajudar a reflectir sobre essa questão.”

Em relação à prática da fé, John Kisok Pak confessa que ser católico num país de maioria budista é desafiante. “A nossa religião está, de facto, em minoria. Tentamos introduzi-la na população mais jovem, disseminar os seus valores.”

“Muitos jovens estão errados em relação a Deus e a presença neste evento pode permitir-lhes conviver de perto com o seu amor. Podem ainda ter mais contacto com a Europa e com jovens de países ocidentais”, conta John Kisok Pak quando questionado sobre a importância de estar em Lisboa num evento desta natureza.

Segundo o jornal Religion Digital, a edição de 2027 da JMJ deverá realizar-se na Coreia do Sul. O diário digital espanhol revelou que “no dia 6 de Agosto, durante o encerramento da JMJ em Lisboa, o Papa Francisco anunciará o local do próximo encontro de jovens católicos, previsto para 2027. E será a Coreia do Sul, especificamente a sua capital, Seul”.

A informação não está confirmada oficialmente, mas também ninguém a desmentiu até ao momento. O arcebispo de Seul, Peter Soon-Taick apresentou a candidatura para a organização da jornada e espera uma confirmação oficial do Vaticano. Para a JMJ de Lisboa deste ano, vieram 60 jovens peregrinos da Coreia do Sul que ficaram alojados em casas de famílias de Vila Nova de Famalicão.

O Papa Francisco chegou a Lisboa na quarta-feira, tendo sido recebido pelo Presidente da República e demais governantes. No primeiro dia das JMJ, terça-feira, o evento no Parque Eduardo VII, no coração da capital lisboeta, recebeu 240 mil peregrinos.

Chegado de cadeira de rodas, com um estado de saúde fragilizado, o Papa remeteu as primeiras palavras para algumas problemáticas que se vivem na Europa, lamentando as hesitações da “velha Europa”, incapaz de pôr um ponto final “ao descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios”.

3 Ago 2023

Che Che | Bar muda de localização ao fim de 15 anos

O bar Che Che, situado há 15 anos na Rua Tomás Vieira e um dos espaços de diversão nocturna mais conhecidos do território fora dos casinos, vai ter de sair da actual localização devido à não renovação do contrato de arrendamento. Gabriel Yung, gestor do espaço, anuncia a nova localização em Setembro, sendo que, para já, o negócio se mantém no Café Xina

São tempos de mudança. O bar Che Che, de portas abertas há 15 anos na Rua Tomás Vieira, primeiro sob gestão de Pedro Ascensão e depois de Gabriel Yung, vai ter de mudar de localização devido à não renovação do contrato de arrendamento, que chega ao fim em Novembro deste ano. A notícia foi avançada nas redes sociais pelo próprio Gabriel Yung que, ao HM, não quis dizer, para já, a nova localização do bar, que não será muito longe da actual.

“Passam sete anos desde que passei a gerir o Che Che, que abriu em 2008. Como a notícia [da não renovação do contrato] chegou tão rapidamente vamos mudar-nos primeiro para o Café Xina, mas não temos ainda [um espaço para] o novo bar”, adiantou, sendo que a nova morada só será divulgada em Setembro. Em finais de Outubro terá lugar uma festa de despedida do actual Che Che.

Gabriel Yung confessa que estes anos em que tem estado à frente do negócio têm sido “os mais difíceis da sua vida”, pois “é muito difícil manter um bar em Macau, mas tenho a sorte de vos ter a todos”, ou seja, os clientes mais fiéis e habituais.

As dificuldades prometem manter-se nos próximos meses. “Devido à situação económica e à mudança de gerações em Macau, gerir um bar é agora ainda mais difícil do que antes. A sociedade mudou e não podemos viver da mesma forma que antes, e manter um negócio implica ter ferramentas de como sobreviver nestas fases.”

Cooperar é preciso

A fim de responder aos novos desafios, Gabriel Yung confessa estar a ponderar promover “vários projectos de cooperação com diferentes grupos”, sendo que um deles é “uma loja de queijos, vinhos e bebidas espirituosas”. “Alguns projectos estão ainda em desenvolvimento e serão anunciados mais tarde. Gostaria de agradecer a todos os clientes que nos têm visitado, ficam boas memórias de todos eles”, adiantou.

Beber um copo no Che Che era um ritual para muitos dos residentes que, assim, podiam escapar às luzes dos casinos e a um ambiente de diversão nocturna mais associado ao jogo. O Che Che, além de servir bebidas num cenário intimista, com música ambiente, chegou a acolher pequenos concertos.

Fundado por Pedro Ascensão, já falecido, e antigo director do jardim de infância D. José da Costa Nunes, o bar passou para as mãos de Gabriel Yung que por lá passava a maior parte das noites numa luta contra o encerramento do negócio. Em 2018, em declarações ao HM, disse ser importante manter espaços desta natureza em Macau.

“Não há em Macau muitos sítios deste tipo, onde uma pessoa se possa sentar, conversar e beber um copo num ambiente que estimule a criatividade. Macau precisa deste tipo de sítios”, rematou.

3 Ago 2023

Turismo | Primeira metade do ano “satisfatória”, mas ainda há desafios

Seis meses depois da total reabertura de fronteiras, o panorama turístico parece risonho, com 11,64 milhões de turistas registados no primeiro semestre e 2,2 milhões apenas em Junho. Luís Herédia, da Associação de Hotéis de Macau, espera um segundo semestre ainda melhor, apesar da falta de mão-de-obra que ainda afecta o sector. O académico Glenn Mccartney alerta para a concorrência do outro lado da fronteira

 

De oito a oitenta. A conhecida expressão portuguesa parece assentar que nem uma luva no actual panorama turístico de Macau. Depois de muitos meses praticamente sem turistas e com as ruas vazias, o território parece ter voltado à azáfama habitual de turistas oriundos, sobretudo, da China, com autocarros cheios e receitas do jogo bastante animadoras.

Conhecidos os números seis meses depois da total abertura do território em contexto de covid, as perspectivas para o sector do turismo parecem animadoras: Nos primeiros seis meses do ano, Macau recebeu 11,64 milhões de turistas, sendo que, em Junho, a fasquia foi de 2,2 milhões. Por sua vez, a taxa de ocupação hoteleira da primeira metade do ano foi de 78 por cento.

Ao HM, Luís Herédia, presidente da Associação de Hotéis de Macau, entende que estes dados “são satisfatórios para um semestre imediato após a abertura às restrições”, tratando-se de “um novo período que estamos a entender”.

“Trabalhamos para atrair turistas, temos um produto que é procurado, mas é preciso responder às expectativas e, se possível, superá-las”, disse, adiantando que não basta ter as infra-estruturas suficientes, mas também recursos humanos e outro tipo de meios “capazes de fornecer serviços de alta qualidade”.

Nos meses imediatos à abertura do território, muitos hotéis não puderam operar a cem por cento devido à falta de empregados. Situação que melhorou, embora a situação esteja ainda “numa fase muito instável”. “Não só precisamos de recrutar mais trabalhadores ao exterior, como tem havido muita mobilidade nesta fase pós restrições. Tal obriga a uma gestão de recursos humanos muito exigente e a um esforço maior na formação e preparação de equipas”, disse ao HM Luís Herédia.

Ainda assim, o responsável prevê que o segundo semestre “deverá ser melhor e satisfaz-nos em termos de negócio”, embora se esperem meses “desafiantes e preocupantes na gestão”.

“Temos de ser competitivos como os melhores destinos turísticos, precisamos de maior estabilidade nos recursos humanos. Há ainda falta de trabalhadores, precisamos de equipas estáveis que garantam uma oferta de serviços de alta qualidade”, adiantou.

Concorrência do lado de lá

Glenn Mccartney, especialista em turismo e académico da Universidade de Macau, defende que há vários factores a ter em conta na hora de analisar os números registados nos primeiros seis meses do ano.

“É importante notar que a duração média da estadia [por visitante] se mantém em 1,3 dias, com uma divisão de cerca de 50/50 entre os visitantes que pernoitam e os que visitam Macau no mesmo dia”, sendo que em 2019, período pré-covid, “47 por cento dos visitantes pernoitaram e 53 por cento viajaram durante o dia”.

O académico recorda que “aumentar a duração da estadia dos visitantes de Macau tem sido um desafio histórico que remonta ao início da década de 2000”. Na fase actual, conseguir esse feito depende “do marketing e da promoção do destino”.

Contudo, Glenn Mccartney recorda que, do outro lado da fronteira, nomeadamente Zhuhai, há alojamento a preços mais acessíveis, além de que na cidade, e também em Hengqin, “a oferta hoteleira tem aumentado, disponibilizando mais opções aos visitantes de Macau, tendo em conta que 65 por cento das visitas [ao território], no primeiro semestre, são provenientes do Interior da China”.

Desta forma, “o desafio de Macau é ainda maior no que respeita ao incentivo a estadias mais longas na cidade”. Uma das possibilidades avançadas pelo académico passa por encontrar “uma forma de colaboração entre a Cotai Strip e Hengqin, bem como com agências de viagens, que poderá resultar em estadias mais longas e taxas de ocupação mais elevadas”.

Fronteiras mais acessíveis

Na análise ao desempenho do turismo do primeiro semestre, o académico da UM opta ainda por comparar os preços do alojamento e transportes, pois existe uma crescente acessibilidade dos postos fronteiriços.

Assim, “a questão de o visitante calcular o tempo gasto para ir e voltar de Macau para Zhuhai, ou Hong Kong, pode não ser uma questão-chave”, além de que existe a ponte HKZM e os ferries diários, o que significa que “os visitantes de Hong Kong, que representaram 30 por cento das visitas no primeiro trimestre, também podem ir a Macau durante o dia”.

O lugar do MICE

Apesar da oferta de alojamento de baixo custo nos últimos meses ter aumentado, Glenn Mccartney defende que Macau “precisa de mais alojamento do tipo económico”. Tal “não significa que o visitante gaste menos, mas sim que o turista tem mais para gastar e mais tempo para o fazer, no jogo e fora dele, seja em lojas, restaurantes, eventos e espectáculos, ou a oportunidade de passear pela cidade, gastando mais nos estabelecimentos comunitários locais”.

Ainda sobre a ocupação hoteleira, Glenn Mccartney entende que “as cidades [que acolhem] convenções e exposições podem ter estadias mais longas, uma vez que os viajantes em negócios podem ficar três ou quatro dias para uma conferência durante a semana, enquanto as viagens de lazer se concentram mais ao fim-de-semana”.

Desta forma, o sector MICE [Exposições, conferências e convenções” também tira partido da existência de mais alojamento económico, defendeu. Este sector pode ajudar “a superar o desafio turístico da sazonalidade, em que há uma ocupação mais baixa de segunda a quarta-feira e uma ocupação mais elevada ao fim-de-semana”. Assim, “Macau tem procurado aumentar o segmento dos visitantes [do sector] MICE, [tendo em conta o contexto] em que as taxas de ocupação hoteleira têm tendência a ser mais elevadas aos fins-de-semana e feriados, devido ao facto de os viajantes em lazer constituírem o principal segmento [no sector do turismo]”.

De destacar que, em Julho, Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST), disse esperar que o número de turistas chegue aos 24 milhões em termos anuais.

“Estamos a trabalhar para isso. E as férias do Verão, particularmente Agosto, é tradicionalmente a época alta do turismo de Macau, seguida por Dezembro. Portanto, na segunda metade do ano teremos muitos eventos, esperamos muito que possamos atingir esse número, e assim todos os sectores podem beneficiar”, indicou.

A responsável frisou ainda que “o número de visitantes do Interior da China a Macau recuperou 60 por cento do nível pré-epidémico e o de visitantes de Hong Kong voltou a 90 por cento, enquanto o mercado do exterior restaurou apenas por 20 por cento”, adiantou.

Helena de Senna Fernandes também classificou como “satisfatório” o desempenho do turismo nestes seis meses, que pode ter beneficiado de várias acções promocionais da DST no exterior, em países e regiões asiáticos, como Tailândia, Malásia, Indonésia, Singapura e Coreia do Sul. As autoridades têm também apostado no convite a operadores turísticos e influencers para chamar a atenção daquilo que melhor Macau tem para oferecer.

3 Ago 2023

Art Space | Félix Januário Vong apresenta recriações de obras de arte

A galeria Art Space, na vila da Taipa, acolhe a partir de hoje a exposição “O Primeiro Museu de Arte Contemporânea de Macau”, da autoria do jovem artista residente Félix Vong. A viver em Portugal, o artista fez uma espécie de apropriação de obras de artistas conhecidos para lhes dar uma roupagem nova, muito sua. Vong colaborou ainda com artistas portugueses

 

Na sua primeira exposição a título individual, Félix Vong aventurou-se em dar novas perspectivas e interpretações a obras de arte bem conhecidas de todos. Assim, em “O Primeiro Museu de Arte Contemporânea de Macau”, apresenta-se, por exemplo, com algum bom humor e originalidade, uma nova versão de um quadro de pop art, com “Explosions (after Roy Lichtenstein)”.

Ao HM, o artista revelou que desde o primeiro momento queria “apresentar algo que nunca tivesse sido apresentado ou que não tenha existido em Macau, algo específico para a cidade onde nasci e cresci”.

Isto porque, na visão do artista, “não existe um museu em Macau puramente dedicado à arte contemporânea, ao mesmo tempo que o estudo das artes visuais, no meio académico, é muito escasso”, daí a opção pelos estudos superiores em Lisboa.

Nesta mostra, o artista coloca questões como o que é um museu de arte ou aquilo que podemos entender como arte contemporânea, ou até aquilo que pode, ou não, ser considerado arte. “Pensei em ‘fingir’ tudo, porque acho que é uma boa ideia permitir que as pessoas recomecem a pensar na arte contemporânea e na nossa cultura e história, ou ainda na nossa identidade, existência e futuro”, frisou.

Félix Vong não se inspirou num artista em particular, pois assume inspirar-se também na sociedade, política, dinheiro, Internet, conflitos bélicos ou mesmo nos seres humanos, animais e religiões. Ou seja, todas as componentes da vida humana e da sua existência. Como inspirações podem ainda incluir-se o cinema, a física ou a astrologia, entre muitos outros, adiantou.

Para esta mostra, colaborou ainda com 12 artistas portugueses, nomeadamente Ana Pessoa, Diogo Costa, Eduardo Fonseca e Silva, Gil Ferrão, Hugo Teixeira, João Fonte Santa, Martîm, Pedro Gramaxo, Rafael Raposo Pires, Samuel Duarte & Rita Anuar, bem como Sara Mealha.

Todos eles colaboraram numa obra de arte que não foi criada por Félix Vong, mas da qual ele se considera artista integrante. “Este gesto visa questionar a autoria das obras de arte. É algo desafiante, porque precisas de muito estudo e visitas para escolher quem vais convidar, quem é a melhor pessoa para o projecto e que tipo de trabalho pode enquadrar-se. Há muita comunicação e energia [gastos] neste processo.”

Para descrever este processo colaborativo, Félix Vong cita uma frase de Gavin Turk, artista visual: “A minha arte é sempre a arte dos outros, mas gostaria de dizer que a inevitabilidade da arte contemporânea é que é sempre, e também, um auto-retrato.”

Assumir a cópia

Convidado a descrever as suas próprias peças, Félix Vong refere-se a elas como, simplesmente, “obras de arte”, defendendo que caberá ao público definir aquilo que vai ver. No entanto, não deixa de citar Salvador Dali, grande nome do surrealismo: “Aqueles que não querem imitar nada, produzem nada”.

João Ó, arquitecto e dirigente da galeria Art Space, revela que o convite para esta mostra foi feito há cerca de um ano, e que o artista “aceitou de forma reticente porque ainda estava a estudar”. “Disse-lhe então que o meu papel enquanto curador é para incentivar a mostrar o trabalho de artistas locais, e a ideia era dar coragem à realização da sua primeira exposição a nível local”, acrescentou.

Para o curador, esta mostra constitui um exemplo de como “um aluno europeu interpreta a história de arte”. “Ele pega em todos os artistas que estudou e viu da arte contemporânea europeia e ocidental. Na minha perspectiva, está a aprender copiando os outros, mas ele dá a volta ao projecto visual desta exposição, pois copia e assume que faz essa cópia, apresentando-a como se fosse uma obra de arte. Há um assumir da cópia de forma descarada, mas com uma nova interpretação e novas questões”, adiantou. Esta é uma apresentação “não convencional” de um artista que se considera conceptual, descreve João Ó. A exposição pode ser vista até ao dia 22 de Setembro.

2 Ago 2023

Jornada Mundial da Juventude | Diocese de Macau participa com dois grupos

Começaram ontem em Lisboa as Jornadas Mundiais da Juventude, evento anual que reúne jovens católicos e o Papa Francisco, que chega hoje ao país. A Diocese de Macau faz-se representar com dois grupos de jovens, de língua portuguesa e chinesa, num total de 69 pessoas

 

“Participar nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) é algo marcante na vida de um jovem católico”. A frase é do padre Daniel Ribeiro, radicado em Macau, responsável pelo grupo de 30 pessoas pertencentes ao grupo da comunidade católica em língua portuguesa que representa a Diocese de Macau nas JMJ que arrancaram ontem em Lisboa e que chegam ao fim no domingo, dia 6. A diocese faz-se também representar por um grupo de língua chinesa liderado por Tammy Chio.

O momento alto do dia de hoje é a chegada do Papa Francisco ao país, prevendo-se uma agenda cheia de actividades em toda a cidade de Lisboa e na zona do Parque Tejo, entre os concelhos de Lisboa e Loures, onde foi construído, nos últimos meses, um altar onde o Papa irá falar aos jovens católicos. Segundo a agenda do evento, o Papa permanecerá em solo luso até domingo.

Chegados a Portugal na passada terça-feira, o grupo coordenado por Daniel Ribeiro é composto por dois padres, um seminarista, um adulto e vários jovens de Macau, Portugal, dois da Guiné-Bissau e duas jovens da Venezuela e Argentina. Na sua maioria, “são catequistas ou pessoas que ajudam no coro das igrejas da Sé ou da Taipa”. Todos eles “residem em Macau e participam nas actividades da Igreja, à excepção da jovem da Argentina”, contou ao HM.

A primeira paragem do grupo foi na Diocese de Leiria-Fátima, com a realização de uma caminhada de peregrinação de cinco quilómetros até ao Santuário de Fátima. Aí, o grupo de Macau ficou em casas de famílias locais, em jeito de “preparação para o encontro com o Papa”.

Para o padre Daniel Ribeiro, as JMJ são importantes pela possibilidade de “ver jovens do mundo todo em oração com o desejo de aprofundar a vivência da fé, algo valioso”. Além disso, “Portugal é um país que trouxe a fé cristã e católica para Macau, pelo que [a presença da Diocese de Macau nas JMJ] é mais significativa. Os jovens estão muito animados. A JMJ é um momento em que todos percebem a importância da unidade na diversidade.”

O pároco já participou noutras edições das JMJ, nomeadamente em Madrid e no Rio de Janeiro. “Vivi momentos que marcaram para sempre a minha vida, que ganhou um significado mais profundo. A presença de Jesus vivo e próximo de cada um de nós é muito forte na JMJ”, contou.

Questionado sobre a importância da presença da Diocese de Macau no contexto das relações entre a China e o Vaticano, Daniel Ribeiro apenas referiu que “quando existe um diálogo verdadeiro e respeitoso, tudo fica mais fácil”. “Como padre e para os jovens de Macau, a nossa missão é rezar para que a paz possa reinar nas relações internacionais e no coração de cada pessoa”, frisou.

Encontro na fundação

O grupo de língua portuguesa reuniu, na última semana, com membros da direcção da Fundação Jorge Álvares. Citada por um comunicado, a presidente da entidade, Celeste Hagatong, adiantou que foi disponibilizado um “apoio financeiro para os casacos personalizados com a inscrição ‘JMJ Lisboa 2023 – Diocese de Macau’, usados pelos jovens durante o evento”.

Desta forma, a fundação “colabora na participação da juventude de Macau neste encontro entre jovens católicos de todo o mundo com a Sua Santidade o Papa Francisco, para celebrarem a fé, participarem em actividades religiosas e culturais e compartilharem experiências e valores comuns, que jamais esquecerão na sua vida”.

“Acesso ao mundo”

O HM conversou ainda com Tammy Chio, responsável pelo grupo que se exprime em cantonês e que inclui 39 pessoas que começou a sua jornada no Porto. A vice-directora da Comissão Diocesana da Juventude confessou que “depois de três anos de pandemia é a primeira vez que organizamos um grupo de grandes dimensões para participar num programa mundial ligado à nossa igreja”. “Este é um tempo para os jovens terem acesso ao mundo e conectar-se com pessoas que partilham a mesma fé. É um grande evento para os jovens e todos esperam encontrar-se com o Papa e desfrutar [da presença em Portugal]”, adiantou.

Em declarações ao Clarim, em Outubro de 2022, antes do arranque do evento e quando Macau vivia ainda sob as restrições impostas para combater a pandemia, com dificuldades em viajar, não era ainda certa a presença da Diocese de Macau em Lisboa. Ainda assim, Tammy Chio falou da importância dos jovens de Macau se prepararem para este evento de cariz mundial. “Se os jovens quiserem estar presentes, têm de se preparar. Têm de estudar, ter algo para partilhar com os jovens de todo o mundo com que se vão cruzar em Lisboa.”

Estar nas JMJ constitui “uma boa oportunidade para que os jovens e a nossa Igreja ‘local’ continuem a estudar e a aprender mais sobre a nossa fé”, acrescentou.

Uma questão polémica

Em Portugal, as JMJ têm estado envoltas em polémica por dois motivos: a descoberta de casos de abuso sexual de menores na Igreja portuguesa e os elevados montantes públicos que estão a ser investidos pelas câmaras municipais de Lisboa e Loures na construção de infra-estruturas e preparação de todo o evento, que promete parar a cidade.

Confrontado com o facto de as JMJ se realizarem no mesmo ano em que foram descobertos os casos de abuso sexual cometidos por padres, Daniel Ribeiro destaca que “os escândalos devem ser investigados com seriedade e a justiça deve ser feita”. “Portugal é um país de maioria católica, que tem uma fé viva e muito bonita. A JMJ será um grande presente para todos aqueles que participarem e de certa forma estiverem envolvidos. Os jovens, mais do que nunca, precisam de ambientes saudáveis e de valores para crescerem. A JMJ será uma bênção para os portugueses. Como brasileiro, posso dizer que até hoje colhemos os bons frutos do encontro de 2013”, adiantou.

Milhares de peregrinos

Dados avançados na passada segunda-feira pela organização das JMJ mostram que 78 mil peregrinos já se encontravam em Lisboa, divididos em 3.110 grupos. Desse total, 351 grupos, representando 10.700 peregrinos, fizeram a entrada nas paróquias das chamadas dioceses de acolhimento – Lisboa, Santarém e Setúbal. Segundo os últimos números divulgados pela organização da JMJ Lisboa 2023, estão inscritos mais de 313 mil peregrinos de todos os continentes.

A abertura oficial fez-se ontem com uma missa celebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, no Parque Eduardo VII.

As JMJ nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude. O primeiro encontro aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado, nos moldes actuais, por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).

A edição deste ano esteve inicialmente prevista para 2022, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19. O Papa Francisco foi a primeira pessoa a inscrever-se na JMJ Lisboa 2023, no dia 23 de Outubro de 2022, no Vaticano, após a celebração do Angelus.

O dinheiro gasto nas JMJ e os casos de abuso sexual têm levado a alguns protestos em Lisboa contra a realização do evento. Um dos exemplos foi o artista Bordallo II que invadiu o recinto, no Parque Tejo, e estendeu nas escadas do altar um tapete com notas de 500 euros estampadas, chamada de “passadeira da vergonha”. Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, publicou nas redes sociais um vídeo em jeito de resposta, onde surge a estender um pequeno tapete que dá as boas-vindas aos participantes.

Já o Bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, disse desdramatizar os protestos e viver bem com a liberdade de expressão. O responsável pediu “um voto de confiança de que [as JMJ] são uma coisa boa, positiva, importante para os jovens do mundo inteiro, para os jovens portugueses, e que as contas se fazem no fim”.

“Nós vivemos num Estado de Direito, vivemos num regime democrático que vai fazer 50 anos. Vivo bem, vivemos bem com aquilo que é a liberdade de expressão dos cidadãos. O que eu peço é que aconteçam [eventuais protestos] sempre no maior respeito uns pelos outros, quer quando seja a meu favor, quer quando seja contra”, disse Américo Aguiar à agência Lusa. Com Lusa

2 Ago 2023

Estudo | Só 10% dos universitários locais querem viver em Hengqin

Um estudo da Associação Geral de Estudantes Chong Wa conclui que apenas dez por cento dos jovens locais que frequentam o ensino superior desejam mudar-se para a Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin para viver e trabalhar. Mais de 60 por cento diz desconhecer as políticas elaboradas para a Ilha da Montanha

 

Só dez por cento dos estudantes universitários de Macau desejam mudar a sua residência e encontrar trabalho na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. É o que revela um inquérito realizado pela Associação Geral de Estudantes Chong Wa, que conclui ainda que 63 por cento dos inquiridos desconhecem as políticas criadas para aquela zona em matéria de fixação de negócios, moradores e recursos humanos.

O inquérito, cujos resultados foram divulgados no domingo, mostra também que cerca de 60 por cento dos entrevistados nunca visitaram, estudaram ou realizaram estágios em Hengqin, pelo que desconhecem o ambiente laboral, as perspectivas em matéria de emprego ou o nível salarial praticado pelas empresas aí estabelecidas.

Em termos concretos, 36 por cento dos jovens dizem não saber o montante dos salários pagos do outro lado da fronteira, enquanto cerca de 20 por cento entendem que a Zona não disponibiliza mais oportunidades de carreira.

Bairro sem procura

Relativamente ao projecto do Novo Bairro de Macau, construído em Hengqin, e cuja venda de casas arranca no próximo mês, o interesse dos mais jovens também não é muito elevado. Isto porque 23 por cento diz não ter certezas se quer, de facto, viver neste complexo de empreendimentos habitacionais, enquanto 33 por cento mostram alguma vontade de lá viver.

O inquérito realizou-se entre os dias 1 e 10 de Julho através de entrevistas a alunos do ensino superior de Macau, tendo sido validadas 405 respostas.

Segundo um comunicado da associação, o seu vice-presidente, Mio Man Lap, defende que as autoridades devem reforçar a divulgação de políticas e medidas destinadas à Zona de Cooperação através das redes sociais e meios de comunicação social. Além disso, o responsável entende que as autoridades podem disponibilizar mais ofertas de estágios e visitas para atrair a atenção dos jovens.

31 Jul 2023

TNR | Associação defende serviços de tradução em disputas laborais

O Sindicato Progressivo dos Trabalhadores Domésticos pede que o Governo providencie serviços de tradução para as línguas nativas dos trabalhadores não-residentes, pois em casos de disputas laborais a comunicação e o entendimento dos processos tornam-se complexos

 

Jassy Santos, presidente do Sindicato Progressivo dos Trabalhadores Domésticos em Macau, exige que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) disponibilize tradução não apenas para inglês, mas para as línguas nativas dos trabalhadores não-residentes (TNR) no território, tal como tagalo, indonésio ou vietnamita, entre outros idiomas. Segundo o jornal All About Macau, a responsável exige tradução para que a comunicação entre Governo, patronato e trabalhadores seja plena para que os direitos laborais sejam verdadeiramente respeitados.

A dirigente associativa pede também que sejam providenciados serviços de apoio jurídico. “A DSAL não dá apoio e a pandemia foi apenas um pretexto, pois mesmo antes não providenciava tradutores para os TNR”, acusou.

A dirigente deu o exemplo o caso de um amigo que uma vez acompanhou à DSAL num processo que acabaria por se arrastar por muito tempo até ser aprovado o pedido de tradução, que estava apenas disponível em português, chinês e inglês, sem a possibilidade de adaptação a outras línguas.

Cada trabalhador pode ainda levar um profissional para traduzir e interpretar, mas os processos de aprovação são morosos. “Os TNR não falam chinês nem português e apenas conseguem traduzir os documentos ou comunicar através de aplicações de telemóvel. Todos os casos são tratados assim”, disse.

O exemplo da limpeza

O caso recente da disputa laboral na empresa Serviços de Limpeza Tai Koo é também exemplificativo dos problemas decorrentes da falta de tradução. Em Junho, a empresa foi acusada em tribunal de não pagar as devidas indemnizações por despedimento de trabalhadores, bem como pagamentos relativos a subsídios de férias ou cumprimento de horas extraordinárias. Em tribunal havia de facto um tradutor para inglês, língua que nem sempre é compreendida pelos TNR.

“Se o Governo fornecesse tradução para tagalo [língua filipina], poderíamos compreender e explicar melhor as nossas opiniões”, disse Jassy Santos, que pede que seja introduzido em Macau o mesmo tipo de serviço já disponível em Hong Kong.

Na região vizinha “existe uma mentalidade mais aberta na hora de tratar deste tipo de processos, pois os TNR têm acesso aos serviços de que necessitam e podem ainda pedir apoios, mas em Macau é mais difícil”, adiantou.

31 Jul 2023

Moda | Fardas da nova escola Gerações criadas por Maria Gambina

Uma das mais conhecidas estilistas portuguesas é a autora das fardas da nova escola Gerações, que começa a operar no próximo ano lectivo. Maria Gambina, designer baseada no Porto, revelou ao HM ter-se inspirado nas velas dos juncos de madeira, na flor de lótus e no Farol da Guia para criar as fardas

 

Maria Gambina, uma das mais conhecidas designers de moda portuguesas, é a autora das fardas dos estudantes da nova escola Gerações, que começa a operar já no próximo ano lectivo. O HM conversou com a estilista sediada no Porto, cujo trabalho é estilisticamente marcado por linhas simples e contemporâneas.

“Estou muito feliz e surpreendida, pois o convite chegou directamente de Macau. Embora no meu percurso profissional sejam vários os projectos de design de fardamento, nunca trabalhei para uma entidade internacional”, contou.

Para fazer as fardas nas cores amarela, branca e vários tons de azul, a estilista portuguesa inspirou-se não apenas no próprio logótipo da escola, mas também nos elementos que fazem parte da história e cultura de Macau.

“O detalhe das nervuras nos calções de banho representa as linhas das velas dos juncos [antigos barcos de madeira]. O jacquard do bomber [modelo de casaco] em tricot foi inspirado na visualização minimizada (Zoom Out) do padrão de um azulejo português. O vestido de cerimónia é construído pela mistura de vários padrões, destaca-se a flor de lótus desabrochada, simbolizando a prosperidade eterna de Macau”, começou por destacar.

A bordadura amarela da torre do Farol da Guia revela-se nas partes brancas de peças como o blusão de fato de treino, a parka ou vestidos de menina, com duas riscas amarelas. Além disso, “os vivos de rolinho amarelo nos pólos, bem como o pesponto amarelo nas t-shirts de ginástica vão subindo pelas peças à medida que os alunos passam de ano de estudo”. Com esta técnica, a estilista quis representar na roupa “os objectivos, a evolução, o conhecimento e a sabedoria que os alunos vão adquirindo”. A presença do amarelo “simboliza a luz que ilumina, orienta e protege todo o percurso, assim como a luz de um farol”.

Destaque ainda para o padrão da saia do vestido, “organizado por imagens que nos remetem aos tradicionais azulejos azuis e brancos portugueses com elementos gráficos que são identificativos da ligação entre Portugal e Macau”, contou a estilista, que decidiu aplicar “bordados no bibe da pré-primária que contam, de forma didáctica e divertida, a história da chegada dos portugueses a Macau”.

Maria Gambina frisa o facto de o território ter sido, ao longo da sua história, “povoado por pescadores e camponeses, representados graficamente pelo bordado do peixe e pelo tão tradicional chapéu de bambu camponês”. Por sua vez, “o sol representa o calor e a harmonia do povo e o bordado de um livro aberto significa os Lusíadas, obra literária do nosso maior poeta”, além de que “reza a lenda que Camões terá escrito parte da sua epopeia em Macau”. “A ligação pelo mar está representada através da nau portuguesa e do junco Chinês”, acrescentou.

Qipao e outros elementos

Maria Gambina preocupou-se ainda em introduzir nas peças a “arte artesanal representativa da cultura portuguesa”. Assim sendo, criou “um cachecol e umas luvas feitas à mão, como a camisola poveira, obedecendo a técnicas ancestrais artesanais de tricot e bordados, respeitando, assim, as tradições, cultura e identidade da mesma, neste caso repescada do povo da Póvoa de Varzim, para lhe dar continuidade e para que esta arte passe além-fronteiras”.

Além disso, as fardas dos alunos, nomeadamente o blusão de fato de treino e a parka, incluem ainda elementos de design ligados ao Qipao, o tradicional vestido chinês, através “de um vivo gráfico”.

Acima de tudo, “a contemporaneidade dos uniformes, produzidos maioritariamente em materiais orgânicos e sustentáveis, reflectem a identidade gráfica do colégio com uma forte ligação à tradição e à história entre Portugal e Macau”, contou a estilista.

Roupas intemporais

Maria Gambina confessa que a sua marca se deixa notar nestas peças através de características como o grafismo, o lado lúdico e o detalhe. A estilista enfrentou o desafio de criar fardas para crianças e adolescentes que contenham “a intemporalidade do design, uma forte identidade, a qualidade e o conforto”, incluindo ainda “um lado mais lúdico e divertido” para que “a palavra ‘farda’ não se torne tão pesada”.

Desenhadas em Portugal, as peças estão a ser produzidas na China. “Tem sido um processo muito fácil, pois facilmente compreenderam as fichas técnicas das peças.”

Maria Gambina assume-se como uma estilista com uma marca e um negócio de pequena e média dimensão, pelo que a internacionalização, sobretudo para a China, nunca lhe passou pela cabeça. No entanto, diz estar “sempre aberta a novos desafios”. “A minha marca vive de peças de design exclusivo e únicas, pois tudo é cortado no meu atelier e algumas peças são produzidas no meu atelier ou com costureiras locais com quem tenho uma relação de muitos anos, quase familiar”, concluiu.

31 Jul 2023

Turismo comunitário | Candidaturas a apoios começam hoje

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) começa hoje a receber candidaturas para a concessão de apoio financeiro para dinamização do turismo comunitário nas secções “Viajar por Macau”, “Sabores de Macau”, onde se faz promoção gastronómica, e “Diversões na Orla Costeira”, que aposta no turismo marítimo.

As candidaturas decorrem até ao dia 11 de Setembro e visam apoiar associações locais no desenvolvimento de programas e actividades que consigam atrair turistas para os locais menos visitados do território, além de se promoverem “novas ideias” nesta área, a fim de “proporcionar experiências turísticas ricas e inovadoras”. A ideia é financiar actividades para o próximo ano.

A DST espera que os candidatos apresentem propostas no âmbito do conceito de “Turismo+”, que incluam “experiências de passeios costeiros, actividades de cultura gastronómica e vinhos, ou ainda projectos de extensão de eventos turísticos de marca”. Prevê-se que, no próximo ano, as actividades venham a atrair a participação de cerca de dois milhões de pessoas, estando envolvidos cerca de três mil estabelecimentos comerciais.

Relativamente a este ano, o programa de turismo comunitário atraiu entre Abril e Junho 480 mil visitantes, num total de 40 actividades, que visitaram 332 estabelecimentos comerciais dos bairros comunitários, “impulsionando o consumo”.

31 Jul 2023

UM e Universidade de Lisboa querem cooperar na área da medicina

A Universidade de Macau (UM) e a Universidade de Lisboa (UL) poderão cooperar na área da medicina. A ideia foi deixada pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que num encontro com o reitor da UL, Luís Ferreira, realizado na quarta-feira, disse esperar que as duas instituições possam “acelerar projectos no âmbito do acordo de cooperação na área da medicina”, já assinado.

Recorde-se que, numa entrevista concedida ao HM em 2019, Fausto Pinto, director da Faculdade de Medicina da UL, admitiu “interesse [da parte da UM] numa aproximação na área da medicina”.
“Temos contactos com a UM e sei que estão a desenvolver potenciais actividades na área da medicina com as quais teremos todo o gosto em participar”, disse na altura Fausto Pinto, que acrescentou que o projecto estava ainda “numa fase muito inicial”.

Ho Iat Seng reuniu com dirigentes da UL em Abril, durante a visita a Portugal. Neste novo encontro com Luís Ferreira, o Chefe do Executivo salientou que o território “possui uma base sólida e vantagem para o desenvolvimento sustentável do ensino de português, investigação científica e académica e formação de quadros qualificados na área do turismo”.

O governante adiantou ainda que, nos últimos anos, “as instituições de ensino superior de Macau e Portugal têm concretizado vários projectos de cooperação, que consolidam a parceria entre as partes nas áreas do ensino superior e tecnologia, criando oportunidades de desenvolvimento de alta qualidade”.

Grandes capacidades

Luís Ferreira salientou que a UL “possui uma das melhores capacidades em investigação científica do mundo na área da medicina, com laboratórios avançados e resultados de investigação científica de nível mundial”.

O reitor espera, assim, que as duas instituições de ensino “possam cooperar de forma prática na área da medicina, contribuindo para Macau em matéria de investigação científica, desenvolvimento académico e formação de quadros qualificados e melhorando a vida da população de Macau”. No encontro estiveram ainda presentes o reitor da UM, Song Yonghua, e o vice-reitor, Rui Martins.

28 Jul 2023

Cinema | “Beautiful Game”, de António Caetano de Faria, estreia em Portugal

Chama-se “Beautiful Game” e conta a história de uma família que toda a vida teve um restaurante na pacata vila de Coloane. Até que subitamente não consegue pagar as contas devido ao aumento da renda, enquanto o filho sonha ser futebolista. O filme de António Caetano de Faria teve ontem a sua estreia internacional no Festival de Cinema de Avanca

 

“Uma história de sacrifício e de amor, um drama familiar entre pais e filhos”. É desta forma que o realizador António Caetano de Faria, ligado à produtora local Locanda Filmes, descreve “Beautiful Game”, o seu filme que estreou ontem em Portugal no Festival de Cinema de Avanca, depois de uma apresentação na Cinemateca Paixão.

O filme revela a história de um casal, proprietário de um restaurante na vila de Coloane, que deseja deixar o negócio ao filho que, no entanto, só pensa em jogar futebol. A par disso, surgem problemas financeiros, dada a dificuldade em pagar as rendas do estabelecimento.

“Beautiful Game” é “uma história de desencontros entre ideais de uma geração mais nova com uma geração mais velha que queria deixar o legado do restaurante para o seu filho”, em que uma família “se vê envolvida num conflito de ideais e com problemas financeiros por resolver”.

No cartaz do filme surge a frase “Procura a luz, encontra o caminho”, em jeito de mensagem que enaltece a procura de um estilo de vida que escapa às expectativas familiares. “As gerações anteriores têm um espírito de sacrifício muito maior que o nosso, pela experiência de vida. Acho que esse espírito está muito incutido nessa geração que não procura fazer coisas novas ou fora da sua realidade. Há então esse choque geracional. Falamos de personagens que têm quase 50 anos, com um filho de 12 anos, e que têm um restaurante em Coloane. Praticamente nunca saíram dali, ou de Macau, querendo viver a sua vida simples”, adiantou o realizador.

Sem expectativas

O filme foi financiado parcialmente pelo Instituto Cultural (IC), tendo recebido outros apoios recolhidos pela produtora, entre os quais o apoio institucional de entidades como o Benfica de Macau e a Casa de Portugal em Macau. A pandemia obrigou António Caetano de Faria a alterar o argumento do filme, que deveria passar-se em Macau, China e Portugal. Assim, a história de “Beautiful Game” centra-se apenas no território.

António Caetano de Faria não traz consigo grandes expectativas sobre o acolhimento que o filme vai ter em Avanca. “Em primeiro lugar, faço filmes para mim e fico satisfeito com o filme que faço naquele determinado tempo. Mas depois ele ganha uma vida e fala por si próprio. A beleza do cinema reside no facto de haver várias interpretações sobre o mesmo filme, além de que eu não sou um realizador que gosta de festivais. Estes têm a sua necessidade e um circuito próprio, mas não sou o maior fã deles.”

O realizador prefere “fazer filmes, ter contacto com as pessoas, poder construir uma história, uma mensagem, descobrir algo em mim, a nível de sentimentos e emoções”. “Não é ir ao festival, mostrar o filme e falar sobre ele”, frisou.

“Beautiful Game” revela ainda o lado da memória e da história de Macau, temática muito presente no trabalho do cineasta. Além disso, muitas das personagens deste filme são interpretadas por não actores. “Gosto de dar oportunidade a pessoas que não têm tanta experiência no cinema. É isso que é agradável, pode provocar a sociedade e levar pessoas a fazer cinema. Para mim, isso é mais importante do que aparecer em dez festivais e nas revistas.”

António Caetano de Faria acredita que o cinema em Macau tem pernas para andar, conseguindo-se até alguns apoios de forma independente, embora seja sempre um processo complexo.

“Não dependemos apenas do Governo e dos subsídios para fazer cinema, até porque hoje em dia as coisas são mais fáceis, temos o digital e a vontade das pessoas, bem como alguma formação. É importante fazer e experimentar, não estar apenas à espera. Comecei com uma câmara a contar algumas histórias que me interessavam, embora o dinheiro ajude, sobretudo em ficção. É importante para se profissionalizar uma indústria.”

A saída de muitos profissionais de cinema portugueses de Macau nos últimos tempos não veio afectar a indústria local pois, segundo António Caetano de Faria, as colaborações do ponto de vista técnico são mantidas à distância.

28 Jul 2023

DSAL | Plano de formação subsidiada com menos candidatos

Há cada vez menos candidatos aos cursos de formação subsidiada da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais. Os dados mostram que, na primeira metade deste ano, o número de candidatos para o plano de formação subsidiada para o aumento de capacidades técnicas diminuiu 52 por cento

 

O posicionamento dos residentes em relação ao mercado de trabalho parece estar a mudar, ou pelo menos, em relação aos programas de formação profissional subsidiados pelo Governo. Segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), em resposta a interpelação escrita do deputado Lei Chan U, o primeiro semestre deste ano registou menos candidatos para os planos de formação subsidiada orientada para a empregabilidade e aumento de capacidades técnicas em comparação com o segundo semestre de 2022.

Assim, nos primeiros seis meses de 2023, houve 2600 candidatos ao subsídio para a melhoria de capacidades técnicas, uma quebra de 52 por cento, enquanto para o apoio financeiro destinado à empregabilidade registou 6900 candidaturas, menos 18 por cento. A DSAL aponta ainda que mais de 20.900 pessoas receberam subsídios do Governo ao abrigo destes planos, num montante aproximado de 124 milhões de patacas.

Wong Chi Hong, director da DSAL, considera que a evolução decrescente se deve à recuperação gradual da economia desde a reabertura de fronteiras. O responsável vincou que o organismo que dirige vai “acompanhar de perto a evolução do mercado de trabalho e avaliar a aplicação” do plano de formação subsidiada, mantendo “uma estreita ligação” com os sectores económicos e suas necessidades.

A ideia é continuar a “ajudar os residentes com necessidades de emprego, para que possam melhorar competências e aumentar a competitividade laboral através da formação profissional”.

Será adequado?

O responsável máximo da DSAL assegurou que será feito um inquérito aos beneficiários do apoio para “aperfeiçoar de forma contínua o programa, ajustando o conteúdo dos cursos em função das necessidades do desenvolvimento económico e social e das exigências das indústrias”.

Na sua interpelação, o deputado questionou, precisamente, a evolução em termos de candidaturas para estes programas de formação subsidiada desde a “flexibilização das medidas de prevenção da pandemia”. Lei Chan U quis ainda saber se foi realizado algum questionário sobre “a adequabilidade dos conteúdos dos cursos aos postos de trabalho dos residentes que participaram nas formações”, bem como a adaptação à política “1+4”, criada pelo Governo para diversificar a economia.

“Tendo em conta a melhoria progressiva da situação do emprego, quando vai a Administração rever e a avaliar os programas em causa?”, questionou o deputado.

28 Jul 2023

Arte Macau | Artistas portugueses em mostra no Armazém do Boi

O Consulado-geral de Portugal em Macau apresenta, entre 1 de Agosto e 11 de Outubro, no Armazém do Boi, a mostra “A Metafísica da Sorte e a Ciência do Azar”. Inserida na “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau”, a exposição exibe obras de grandes artistas portugueses da colecção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira

 

Trabalhos de grandes nomes da arte portuguesa contemporânea, podem ser vistos a partir da próxima terça-feira, até 11 de Outubro, no Armazém do Boi. A exposição, que reúne um total de 27 obras, intitula-se “A Metafísica da Sorte e a Ciência do Azar”, é promovida pelo Consulado-geral de Portugal e Macau e co-produzida pelo Instituto Português do Oriente (IPOR).

Com curadoria de Helena Mendes Pereira e Mafalda Santos, a mostra integra o cartaz da edição deste ano da “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau”, sendo também uma representação da colecção da Fundação Bienal de Arte de Cerveira (FBAC).

O Armazém do Boi vai exibir trabalhos de artistas de oito países e quatro continentes, de diferentes gerações, entre eles Ana Hatherly, Ana Maria Pintora, Ana Vidigal, Ana Wever, Ângelo de Sousa, Gerardo Burmester, Helena Almeida, Henrique Silva, Inez Wijnhorst, Jaime Isidoro, Jayme Reis, João Gonçalves, José Rodrigues, Jusa, Kyria Oliveira, Mafalda Santos, Manuel Baptista, Manuel Dias, Nuno Nunes-Ferreira, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Scoditti, Tales Frey, Tchelo, Tiago Estrada, Zadok Ben-David e Zulmiro de Carvalho.

“A Metafísica da Sorte e a Ciência do Azar” conta ainda com a colaboração da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira e do Turismo do Porto e Norte de Portugal. O IPOR descreve o evento como “um desafio colocado pelas autoridades da RAEM com uma participação portuguesa de elevada qualidade que permitirá, também, assinalar a realização da edição de 2024 da famosa Bienal de Cerveira”.

A Bienal Internacional de Arte de Macau deste ano conta com a curadoria de Qiu Zhijie e centra-se no tema “A Estatística da Fortuna”, visando explorar a correlação entre ciência e religião através da exibição de obras artísticas de mais de 200 artistas de 20 países e territórios, em 30 mostras espalhadas pela cidade.

Geração das artes

Falecida em 2018, Helena Almeida é um dos mais conhecidos nomes da arte contemporânea portuguesa feita no feminino. Nascida em Lisboa em 1934, estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e em 1967, ainda no período do Estado Novo, expôs pela primeira vez, a título individual, na Galeria Buchholz, na sua cidade.

Apostando desde cedo na arte conceptual, Helena Almeida levou a sua própria identidade e corpo para os trabalhos que criou, tendo explorado géneros artísticos como o desenho, a pintura, a escultura e a performance. Ainda assim, a fotografia acabou por ser central no seu trabalho. A sua constitui uma tomada de posição, chamando a atenção para o papel e o lugar da mulher.

Pedro Cabrita Reis, pintor e artista plástico, é outro dos nomes bem conhecidos da arte portuguesa, tendo exposto pela primeira vez, em nome individual, em 1981. Desde então, tem apostado numa obra complexa que explora uma série de estilos artísticos, que passam não apenas pela pintura, mas também pelo desenho, escultura ou instalação. A expressão artística de Pedro Cabrita Reis costuma materializar-se em obras de grande dimensão que retratam objectos do dia-a-dia inseridos em ambientes enigmáticos.

Natural de Lisboa, Pedro Cabrita Reis desenvolveu ainda diversos trabalhos de cenografia para teatro e intervenções, tendo sido responsável, por exemplo, pela decoração do “Frágil”, antigo bar lisboeta situado no Bairro Alto. O artista participou em exposições em todo o mundo, tendo sido distinguido em 2000 com o prémio de artes plásticas atribuído pela Associação Internacional de Críticos de Arte. De frisar que o trabalho de Pedro Cabrita Reis já integrou uma mostra colectiva em Xangai, em 2010, no Rockbund Art Museum.

Ana Vidigal, igualmente pintora e artista plástica, nascida na década de 1960, já expôs em Macau, em 1993, na Galeria de Exposições Temporárias do Leal Senado.

Formada em pintura, tal como grande parte dos artistas da sua geração, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1984, Ana Vidigal foi entre 1985 e 1987 bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Além dos trabalhos a título individual, Ana Vidigal tem-se dedicado a projectos públicos, como é o caso da execução dos painéis de azulejos para as estações do Metro de Lisboa de Alvalade e Alfornelos.

26 Jul 2023

Arte Macau | “Virtualmente Versalhes” no Lisboa Palace a partir de domingo

A nova exposição promovida pela Sociedade de Jogos de Macau, e inserida no cartaz da bienal “Arte Macau 2023”, pretende mostrar todos os recantos do mundialmente famoso Palácio de Versalhes, situado nos arredores de Paris. Com recurso à realidade virtual e projecções digitais, será possível visitar Versalhes a partir do Cotai

 

Conhecer de perto os recantos do Palácio de Versalhes sem sair de Macau torna-se uma realidade a partir deste domingo. Versalhes, que foi a casa dos reis de França durante séculos e perdura hoje como um monumento-símbolo do período do antigo regime, que vigorou até à Revolução Francesa, é conhecido pelo luxo dos seus interiores e pelos enormes jardins que acolhiam festas e passeios da realeza. Com “Virtualmente Versalhes, mostra inserida na iniciativa “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2023”, será possível ao público conhecer de perto este monumento com recurso à realidade virtual e projecções digitais de 360 graus.

A exposição coincide com o segundo aniversário da abertura do Grand Lisboa Palace e inclui ainda a realização de jogos interactivos com realidade aumentada, “espectáculos especiais, workshops criativos e experiências de compras e refeições”, aponta a SJM, em comunicado.

Esta é uma exposição “que se distingue das anteriores”, apresentando também uma galeria dedicada ao trabalho do falecido estilista Karl Lagerfeld, projectando imagens que ele captou do Palácio de Versalhes. Assim, “os visitantes terão a oportunidade de explorar a inspiração criativa do lendário designer, desfrutando de uma extraordinária viagem imersiva”, destaca ainda a operadora de jogo.

“Virtualmente Versalhes” pode ser vista até ao dia 15 de Outubro em várias zonas do empreendimento Grand Lisboa Palace, nomeadamente o primeiro piso e a loja de presentes, entre outros, sem esquecer o átrio do hotel Grand Lisboa, situado na península. O preço do bilhete para esta experiência visual e tecnológica é de 138 patacas.

O resort disponibiliza ainda para os hóspedes uma série de pacotes temáticos de restauração e entretenimento, como é o caso do menu especial “Chá do Palácio de Versalhes”, que pode ser consumido no “The Book Lounge”, zona de bar no hotel Karl Lagerfeld, no Grand Lisboa Palace.

Tesouros e surpresas

Por sua vez, entre domingo e 15 de Outubro, os artistas “Rabbids at Versailhes” vão levar os hóspedes a desfrutar de uma experiência de entretenimento com recurso à realidade aumentada no Jardim Secreto. Assim, “com os Rabbids como companhia, os hóspedes poderão procurar tesouros e descobrir surpresas, tendo uma experiência cultural divertida no jardim” com recurso a um código QR. Desta forma, entre os meses de Julho e Agosto o Grand Lisboa Palace, nos seus mais diversos recantos, “ganhará vida com desfiles, bailarinos, artistas, violinistas e quartetos de cordas” que levarão os hóspedes a embrenhar-se num “cativante Carnaval de rua”.

A Praia Grande de Konstantin

Além de trazer um pouco de Versalhes a Macau, a SJM apostou também nos artistas locais, convidando o reputado pintor Konstantin Bessmertny, radicado em Macau há várias décadas, para expor a pintura “Praia Grande I”, que retrata, na sua forma criativa mais característica, esta zona bem conhecida do centro de Macau.

Este quadro pode ser visto no Art Space, no Centro Cultural de Macau, entre esta sexta-feira e 29 de Outubro, inserindo-se na secção “Exposição por Convite de Artistas Locais” da bienal, onde participam mais cinco artistas de Macau, nomeadamente Ung Vai Meng, Lampo Leong, Chan Hin Io, Bunny Lai Sut Weng e Eric Fok Hoi Seng. Todos eles foram convidados a criar novas obras sobre o tema central da bienal deste ano, que é “A Estatística da Fortuna”.

Estes trabalhos apresentam, segundo uma nota oficial da bienal, “reflexões variadas”, focando-se “em como a ciência e a religião construíram em conjunto a civilização actual”. Há ainda artistas que desvendam, nos seus trabalhos criativos, “o próspero comércio” que sempre se fez entre a China e o Ocidente, existindo também obras que “questionam os riscos do desenvolvimento tecnológico devido ao actual excesso de confiança naquilo que é racional”, entre outros temas.

Além da SJM, este segmento da bienal é organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo, e restantes operadoras de jogo, como é o caso da Galaxy, Melco, Sands China e a Wynn.

25 Jul 2023

Coco Zhao, músico de jazz: “Quero ser um vocalista que também é um artista”

O concerto do passado mês de Fevereiro, no Centro Cultural de Macau, deu a Coco Zhao a possibilidade de contactar com muitos jovens fãs, o que o surpreendeu. Um dos músicos chineses de jazz mais reconhecidos internacionalmente assume-se como um amante da experimentação, estando a preparar um álbum que inclui poesia falada e diversas sonoridades. Coco Zhao fala também de como é ser homossexual na China

 

Esteve, este ano, no Centro Cultural de Macau. Como foi essa experiência?

Foi incrível, as equipas maravilhosas com que trabalhei foram muito profissionais, fizemos grandes arranjos para o palco, onde tudo estava perfeito. Isso dá-nos um sentimento de segurança para o concerto, porque nós, músicos, precisamos de ter tudo bem preparado em palco. O público foi incrível. Nunca tinha tido a experiência de ter tantos jovens a fazerem fila a pedir autógrafos e a tirar fotografias. Por norma, a música jazz, especialmente na Europa, é apreciada por gerações mais velhas, enquanto as gerações mais novas estão mais ligadas ao rap e hip-hop, ou o R&B. Por isso fiquei surpreendido por ver como os jovens se sentiram tocados pela nossa música, e perguntei-lhes se realmente tinham gostado. Disseram-me que sim, que nunca tinham tido este sentimento pela música jazz. É uma sensação incrível, maior do que receber palmas. É uma espécie de prémio sentir que a música jazz transmitiu alguma coisa.

É um dos cantores de jazz chineses mais reconhecidos internacionalmente. Como se sente relativamente a isso? Quando começou a sua carreira como cantor e compositor, alguma vez imaginou que a sua carreira chegasse a este ponto?

Não imaginei. Nunca pensei que um dia viesse a ser o cantor de jazz mais reconhecido na China, mas quando estava no conservatório sempre pensei em fazer algo diferente.

Que diferença queria trazer para a música?

No meu tempo a maior parte dos músicos ouvia música clássica ou antigas canções pop chinesas, na sua maioria de Taiwan e de Hong Kong. Aprendi muito com a música clássica, que, para mim, é a origem. Os meus pais são artistas e compositores de ópera, por isso cresci com uma grande base de elementos da cultura chinesa. Ouvi tudo isso quando era mais jovem, mas sempre quis fazer algo diferente, mais extemporâneo. Nesse tempo queria ouvir os Beatles, Michael Jackson, queria ir mesmo [por um caminho] mais internacional do que [fazer] apenas [música] chinesa. Quando cresci decidi que ia tentar fazer algo que combinasse todos esses elementos com a música chinesa. No tempo em que passei pelo conservatório comecei a aprender mais sobre o jazz. Conheci um amigo em Xangai que tocava guitarra e a partir daí comecei a descobrir uma porta para entrar no mundo da música jazz. Para mim o jazz é a conexão entre a música clássica e pop. Tem estrutura, harmonia, ritmo, tal como a música clássica, mas tem mais liberdade. O jazz proporciona também um espaço para incluir um conjunto de diversos elementos. Além da maior liberdade, é também um estilo musical onde posso incluir mais a minha personalidade. Ao mesmo tempo, o jazz ensinou-me uma grande coisa: como ser ouvinte.

Como assim?

A maior parte das vezes em que tocamos apenas queremos expressar algo. Uma vez ouvi esta pergunta: “Será que a música é feita para os ouvintes ou para os que tocam?”. A resposta foi: “Claro que a música é para quem a ouve, mas os músicos são os primeiros ouvintes”. Por isso o jazz inspira-me muita reflexão de como ouvir antes de falar, e isso é muito importante na música. Penso que os grandes músicos de jazz pensam da mesma forma.

É natural de Hunan, mas o seu nome está muito conectado com a cena musical de Xangai. Como descreve essa relação?

Quando comecei a aprender jazz tocava sobretudo o mais clássico, as músicas padrão, com nomes como Duke Ellington, Cole Porter, Miles Davis, Count Basie, todos os grandes mestres. A partir daí comecei a ouvir jazz francês, jazz português, com Maria João, e pensei que deveríamos ter jazz chinês também. Pensei que deveria ter um lugar onde pudesse incluir elementos da música chinesa, e nessa altura passei a focar-me muito na música que se fazia em Xangai entre os anos 20 e 30. Foi assim que comecei, mas também fiz outras coisas, como fazer o arranjo de músicas folk chinesas, mesmo ópera chinesa, e incluir tudo isso no meu repertório. As músicas de Xangai foram mesmo o meu primeiro elemento para juntar a música chinesa ao jazz. Isso deu-me muita inspiração e espaço como músico que estava a começar. Depois disso, quando comecei a explorar novas áreas, a compor as minhas músicas, estas já não tinham nada a ver com as músicas que se faziam em Xangai, mas fiquei agradecido por essas sonoridades. Para mim funcionou.

Nos anos 90 tocou com vários músicos e deu concertos, inclusivamente um onde esteve presente Bill Clinton, ex-presidente dos EUA. Gravou o seu primeiro álbum em 2006. Poder fazê-lo foi a prova de que era um verdadeiro compositor e músico?

Já estava nos meus planos tornar-me um músico profissional nesse percurso, mesmo antes do concerto onde esteve Bill Clinton. Já pensava ser um músico ou vocalista profissional. Diria que o lançamento do álbum foi a altura em que tive maior certeza de que queria mesmo ser um vocalista de jazz profissional.

Em 2010 foi para Nova Iorque com uma bolsa de estudos. O período que passou nos EUA foi importante para lhe dar uma nova dimensão ou visão do jazz?

Absolutamente, até porque o jazz nasceu na América, tem raízes no país, e queria encontrá-las. Fui para Nova Orleães durante duas semanas para penetrar mesmo nas raízes da música jazz. Percebi que as origens estão lá, mas o jazz está também está muito presente em Nova Iorque, não o tradicional, mas sim o contemporâneo. Não sou americano, mas sim chinês, sou algo diferente, e para mim Nova Iorque promove mais espaço para trazer novos elementos para o jazz. Isso dá-me mais inspiração e mais certeza de que posso tocar jazz da forma que eu quero. Em Nova Orleães é tudo mais tradicional, há uma certa maneira de tocar jazz, mas em Nova Iorque há diversas formas de o fazer, e todos podem trazer a sua personalidade, carisma e cultura para a música. Isso, para mim, é fascinante, a possibilidade de trazer algo diferente para a música enquanto arte. E às vezes nem é só música, pois o jazz pode-se misturar com outros formatos artísticos como a poesia ou o teatro, ou a arte performativa. Diria que Nova Iorque, em 2010, foi um grande ‘abrir de olhos’ para a minha carreira musical e vida pessoal.

É vocalista e compositor. Toca algum instrumento também?

Piano. Costumava tocar oboé, e toco um pouco de instrumentos chineses. Hoje em dia aposto em instrumentos mais electrónicos. O piano ajuda-me a registar as minhas ideias, mas o lado electrónico [da música] cria mais possibilidades, com efeitos de som, por exemplo. Estou a planear fazer performances artísticas onde apenas utilizo a minha voz e os meus aparelhos electrónicos. Não quero ser apenas um músico de jazz, mas um vocalista que é também um artista. A voz é o canal através do qual me posso expressar e o jazz é o meio para as minhas criações, mas não quero ficar apenas aí.

Está a trabalhar num projecto novo?

Sim. Estou a planear lançar agora um álbum de duetos, com um repertório, em que eu estou ao piano ou com a guitarra, no trompete, no baixo, como numa banda, criando algo mais intimista. O trabalho terá, maioritariamente, composições minhas e músicas em que estou com outros músicos. O estilo já não é apenas jazz, podendo ser electrónica ou música experimental. Gosto de escrever poesia e cada música terá uma poesia minha, e alguma será apenas lida.

Quando escreve poemas, que mensagens quer transmitir?

Normalmente escrevo sobre amor. Sou gay, e na minha geração as histórias do amor homossexual não eram bem aceites na China, e mesmo agora as pessoas continuam sem compreender. Há muita gente a escrever sobre amor e a escrever grandes poemas sobre esse tema, e não quero competir com eles. A maior parte das coisas que escrevo é sobre as minhas observações, sobre o meu próprio desenvolvimento [como pessoa] e também o desenvolvimento sobre as cidades, ou reflexões sobre mim próprio nesses lugares. Xangai é uma cidade com charme, mas só o é porque tem pessoas com charme a viver nela, por isso tento escrever sobre as pessoas nas cidades, e de como eu me reflicto em determinada cidade.

Falta ainda abertura na China para o universo LGBT a nível artístico, por exemplo?

A situação está melhor do que antes, há uma maior abertura, e maior aceitação da parte da sociedade, mas não por parte das autoridades. A sociedade não se importa com essa questão.

As famílias têm ainda um lado tradicional, não aceitando a homossexualidade?

A minha família aceitou-me muito bem. Mas tudo depende de quão tradicional é a família, ou de quanto pode cuidar. Acredito que se existe um verdadeiro amor dos pais, eles vão amar-te independentemente do que és. Também tive de assegurar aos meus pais que sou uma pessoa forte e capaz, porque a maior parte dos pais, quando não aceitam a homossexualidade, preocupam-se se não és bem aceite ou se vais sofrer de discriminação pela sociedade. Na China já ninguém quer ter filhos, há um envelhecimento da população e isso está a tornar-se um grande problema. O facto de não existirem filhos não são uma grande preocupação para os pais de homossexuais, mas estes preocupam-se que os seus filhos possam ser discriminados. Tive de assegurar aos meus pais que ninguém me pode diminuir por causa da minha sexualidade. Disse-lhes que posso contribuir para a sociedade e que eles não precisam de se preocupar.

25 Jul 2023

IAS | Organizada base de dados para língua gestual

O Instituto de Acção Social (IAS) está a desenvolver uma base de dados com os léxicos da língua gestual a fim de levar a cabo “uma padronização” da mesma, além de estar prevista a implementação de um plano de acção que irá incluir uma plataforma de base de dados lexical da língua portuguesa de acesso gratuito para os residentes de Macau.

Na resposta de Hon Wai, presidente do IAS, à interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang, lê-se ainda que a entidade irá, “juntamente com as instituições de pesquisa e associações das pessoas com deficiência auditiva, concretizar em Macau o plano de desenvolvimento, a fim de poder impulsionar o trabalho relativo ao ensino da língua gestual e sua interpretação”.

Quanto ao “Plano piloto financeiro para a aquisição de equipamentos auxiliares e equipamentos domésticos especiais para deficientes”, já prestou apoio a 55 pessoas, sendo que cerca de 60 por cento são pessoas com deficiência auditiva. O IAS acrescentou ainda, na mesma resposta, que “o número de equipamentos de auxílio [no âmbito do plano de apoio] atingiu mais de 80 unidades, sendo os aparelhos auditivos e as cadeiras de rodas eléctricas os mais solicitados”.

25 Jul 2023

Arte Macau | Mostra com curadoria de Alice Kok apresentada em setembro

“Sincronicidade – Topologia da mente” é o nome da exposição com curadoria de Alice Kok que integra a “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2023”. Apresentada em setembro junto ao mercado vermelho, a mostra junta trabalhos de Vincent Cheang, natural de Macau, e de Tan Bin, de Hangzhou, explorando os conceitos de realidade, sonhos e mente

 

Chama-se “Sincronicidade – Topologia da Mente” e é um dos projectos criativos locais seleccionados pelo Instituto Cultural (IC) para integrar a edição deste ano da “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau”. Com curadoria de Alice Kok, a mostra apresenta-se ao público no “All Around Space”, junto ao mercado vermelho, entre os dias 30 de Setembro e 26 de Novembro. Trata-se de uma fusão de trabalhos díspares do artista local Vincent Cheang e do artista de Hangzhou Tan Bin que, com o trabalho de curadoria, acabam por se juntar e complementar. Vincent Cheang apresenta uma série de desenhos em “Sinfonia da Destruição”, enquanto Tan Bin traz uma instalação móvel intitulada “A Caverna do Céu: Sonhos em Sonhos”.

Apresentam-se, nesta mostra, uma variedade de meios artísticos, incluindo o desenho, a escultura, instalações de vídeo móveis e imagens geradas por computador, integrando ainda espectáculos de som e música ao vivo de artistas de Macau e Hong Kong, bem como com workshops espirituais.

Uma vez que o tema central da bienal Arte Macau 2023 é “A Estatística da Fortuna”, Alice Kok desenvolveu uma exposição centrada nas ideias de sonho, realidade e consciência, com ligações ao mundo da espiritualidade e dos adivinhos.

“O meu projecto gira em torno das ideias de espiritualidade e de como se podem associar à ciência”, contou a curadora ao HM. “Construí, com a minha equipa e os dois artistas, esta ideia de sincronicidade, de topologia da mente.”

Tan Bin propõe, com as suas obras, “um estudo sobre a tipologia dos sonhos”, apresentando “uma instalação que se move, com uma espécie de comboio que contém uma câmara que vai fotografando dentro de uma escultura de montanhas e túneis [envolvidos] numa paisagem”.

Desenvolvem-se, assim, ideias em torno da dimensão e do espaço e de “como a matéria ou a substância vão mudando de forma”, que Alice Kok resolveu expandir “como um todo, além da tipologia dos sonhos e da própria mente”. Isto porque “num sonho estamos aqui, mas de repente podemos estar noutro lugar, então a dimensão do que vemos pode ser extrapolada em diferentes lugares, mas, ao mesmo tempo, tem origem na mesma fonte”.

Por sua vez, os desenhos de Vincent Cheang variam entre o figurativo e o abstracto, tendo sido criadas “uma espécie de figuras que não são verdadeiramente reconhecíveis, mas cuja textura apela ao imaginário dos aliens, mas é também às criaturas mitológicas mais tradicionais”. “Há uma combinação desta mitologia com a dimensão do sonho”, frisou Alice Kok.

Geometria secreta

Em termos espaciais os trabalhos dos dois artistas coexistem numa exposição desenhada mediante o conceito de geometria secreta, com o espaço a ser organizado “de forma sistemática e harmoniosa”. “A geometria [tem uma base] matemática e espiritual por detrás, porque podemos encontrar a geometria secreta tanto na arte como na arquitectura”, explicou a curadora, que dividiu a exposição em três grandes áreas, viradas para a realidade, sonhos e o centro da mente. Cria-se, assim, um percurso percorrido pelo público, uma “espécie de túnel” que começa com o trabalho de Vincent Cheang, ou seja, a zona da realidade, passando-se depois para a zona dos sonhos, no meio, com a instalação de Tan Bin. A área destinada à mente junta os trabalhos dos dois artistas “de uma forma relativamente abstracta”.

“Estas áreas mostram as diferentes dimensões dos trabalhos e o público poderá experienciar visualmente e fisicamente as imagens que são reveladas do interior. Apresenta-se uma nova forma de leitura de uma exposição, é como uma experiência”, disse Alice Kok.

Universo pinhole

“Sincronicidade – Topologia da mente” inclui ainda uma sala escura onde são projectadas imagens do mercado vermelha com recurso à técnica pinhole, onde apenas se utiliza a luz natural. “A ideia central da exposição é criar uma experiência visual, mas estimulando a mente quanto ao que pode acontecer num só espaço com obras de arte”, adiantou Alice Kok, que considera este um dos melhores projectos de curadoria que desenvolveu até à data.

Partindo do tema central da bienal, Alice Kok diz ter tentado combinar “o trabalho de todos os artistas, que não se conhecem e que têm uma grande diferença de idades, além de possuírem estilos artísticos completamente diferentes”, mas que acabam por se complementar.

“Para mim sincronicidade é isto, ter dois temas não relacionados entre si que, de repente, se unem para criar alguma conexão e um significado. Este é o meu trabalho principal como curadora, encontrar temas que não se relacionam propriamente entre si, não de forma óbvia, e que é algo maior do que simplesmente colocar dois trabalhos juntos de forma técnica.” É “algo mágico”, confidenciou.

24 Jul 2023

EUA-China | Visita de Kissinger a Pequim vista como um aproximar de relações

Tido como um “velho amigo” da China, Henry Kissinger, antigo secretário de Estado norte-americano, terminou recentemente a sua visita a Pequim onde foi recebido ao mais alto nível e deixou várias sugestões de paz e diálogo entre os EUA e a China. Académicos entendem que esta é uma viagem simbólica, e que Pequim recorre a Kissinger para enviar sinais de uma certa aproximação

Antigo secretário de Estado de Richard Nixon, Henry Kissinger é há muito conhecido como um “velho amigo” da China, país que já visitou inúmeras vezes. A sua mais recente estadia em Pequim, onde chegou a reunir com o Presidente Xi Jinping, “tem um imenso simbolismo”, isto numa altura em que as relações entre a China e os EUA acarretam algumas tensões.

“A China também está a jogar, utilizando um pouco a figura de Kissinger para dar um sinal aos EUA. Ele [Kissinger] é um líder histórico e também é respeitado pela própria elite política americana, sendo uma figura lendária da diplomacia americana que se aproximou muito da China”, defendeu ao HM Jorge Tavares da Silva, analista de assuntos chineses ligado à Universidade da Beira Interior, em Portugal.

Outrora uma influente figura política no panorama norte-americano, Kissinger é hoje “uma espécie de lobista pró-China”, pois “durante muitos anos ajudou empresas americanas a entrar na China”. O antigo secretário de Estado tornou-se, assim, “quase uma espécie de diplomata a defender a imagem do país”, acrescentou o académico.

Com esta visita, a China quer, no fundo, mostrar que “se predispõe a fazer uma aproximação aos EUA, uma vez que os americanos também fazem algum esforço para se aproximarem da China”. “Há tensões que não vão mudar, há a questão da tecnologia e do Mar do Sul da China, mas os EUA tentam agora uma certa aproximação, o que sucedeu com algumas visitas [John Kerry]. Tentam chamar a atenção para certas questões, como a questão climática, que pode avançar. É fundamental que os dois países não entrem numa escalada de tensão. Os EUA estão preocupados com isso, e Kissinger está a ser usado para a China dar um sinal de que o caminho certo é o do diálogo”, frisou o académico.

A jogada da Casa Branca

Tiago André Lopes, especialista em assuntos asiáticos e docente na Universidade Portucalense, defendeu ao HM que a visita de Kissinger não é mais do que uma “diplomacia de celebridade”, pois o antigo secretário de Estado “usou o seu estatuto académico-diplomático para encetar uma verdadeira operação de charme, sabendo que Xi Jinping é um fã confesso da política de Kissinger que terminou com o isolamento da RPC, que a alavancou para o Conselho de Segurança da ONU e que permitiu à China ter uma palavra dizer no sistema internacional”.

O académico entende que a visita é, também, uma “jogada diplomática da Casa Branca que sinaliza a sua vontade de ter uma cooperação mais estreita com Pequim, sem, contudo, se comprometer aberta e publicamente com os resultados da visita”.

Desta forma, os EUA pretenderam “relembrar a China que, no quadro da diplomacia triangular, o país, durante a Guerra Fria, era uma espécie de contra-peso ao jogo de influências travado entre a URSS e os EUA”. Assim, a Casa Branca “parece querer voltar à ideia do ‘Condomínio a Dois’, avançada no final da Guerra Fria, no qual a estrutura internacional seria bipolar, mas de matriz cooperante e não de matriz conflitual”.

Acima de tudo, a ida de Henry Kissinger à China não pode ser encarada como sendo apenas “um acaso de agendas”, acrescentou Tiago André Lopes. “Há muitas camadas de análise e intenção e não há inocência no ocorrido. Washington percebeu, no ano passado, que Pequim está com uma postura mais assertiva e até de cariz mais beligerante, pelo que importa tentar aliviar tensões e esclarecer mal-entendidos, antecipando desde já a previsível fúria de Pequim quando o candidato ao governo de Taiwan passar pela América Latina e se encontrar com representantes políticos dos EUA. A visita de Kissinger tenta instaurar uma nova fase de cooperação pragmática na Ásia Oriental, mas creio que Pequim tem menos interesse nessa cooperação neste momento”, adiantou.

Um homem “pragmático”

Jorge Tavares da Silva entende que Henry Kissinger foi, nos anos 70, um político “pragmático” na sua tentativa de encetar o diálogo bilateral numa altura em que a China comunista estava fechada ao mundo. Numa viagem secreta a partir do Paquistão, Kissinger vai a Pequim onde se reúne com o então primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, para discutir os pormenores da viagem. Em 1972, Richard Nixon aterrava em solo chinês para uma viagem que ficou para a história, que ficou conhecida como “A semana que mudou o mundo”.

“Foi ele iniciou negociações para o restabelecimento das relações bilaterais entre os países. O momento histórico era terrível, porque a China e a URSS estavam num período de tensão e os EUA aproveitaram esse momento para se aproximarem da China. O país tornou-se comunista em 1949 e nos EUA as autoridades questionavam como tinham perdido a China, o que foi um grande abalo para os interesses americanos no mundo. Durante muitos anos nunca se reconheceu a RPC”, descreveu Tavares da Silva.

Na década de 70 a China dava sinais de uma aproximação, mas “Kissinger foi o interlocutor máximo, encontrando-se com Zhou Enlai nessa viagem secreta”. Contudo, só em 1979 é que as relações diplomáticas entre os dois países seriam formalizadas, com Deng Xiaoping e Jimmy Carter no poder.

Na sua passagem pela China, Henry Kissinger deixou vários recados em prol do relacionamento bilateral EUA-China, apelando a que se “eliminem mal-entendidos e coexistam pacificamente [os dois países]”, disse, durante um encontro com o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu.

Segundo um comunicado emitido pelo ministério da Defesa chinês, Kissinger afirmou que, no mundo actual, coexistem desafios e oportunidades, e que Pequim e Washington devem “evitar a confrontação”. O veterano político norte-americano disse esperar que as duas potências façam o seu melhor para alcançar resultados positivos no desenvolvimento da relação bilateral, de forma a salvaguardar a paz e a estabilidade mundiais. “A história e os factos mostraram repetidamente que EUA e China não podem arcar com o custo de se tratarem como oponentes”, realçou.

A visita não anunciada de Kissinger coincidiu com a presença na China do enviado especial dos EUA para os Assuntos Climáticos, John Kerry, que também foi secretário de Estado, entre 2013 e 2017, durante parte do mandato presidencial de Barack Obama.

Na quarta-feira, Xi Jinping, Presidente chinês, destacou o significado da deslocação a Pequim de Kissinger, lembrando que ele fez recentemente 100 anos e já visitou a China por mais de 100 vezes. “Este resultado de ‘duzentos’ torna a visita significativa”, disse o também secretário-geral do Partido Comunista da China.

O Presidente chinês sublinhou que, há 52 anos, os dois países viviam um “momento crítico”, mas que graças à visão estratégica dos líderes da época, foi tomada a “decisão certa” de retomar a cooperação sino – norte-americana. Xi referiu-se ao veterano político norte-americano como um “velho amigo da China”.

Kissinger expressou a sua “honra por visitar novamente a China”, no mesmo local onde se encontrou, pela primeira vez, com os líderes chineses, em 1971, e sublinhou que a relação entre os dois países é “importante” para a “paz mundial e o progresso da sociedade humana”.

24 Jul 2023

Arte Macau | Exposição de Hsiao Chin para ver na próxima semana

O trabalho de Hsiao Chin, um dos nomes mais reputados do abstraccionismo na China, pode ser visto em Macau no MGM Cotai a partir da próxima sexta-feira, com curadoria de Calvin Hui. “Para o infinito e mais além: A arte de Hsiao Chin” revela um trabalho artístico ligado à tecnologia

 

Conhecido como uma das figuras mais importantes da arte abstracta chinesa na actualidade, Hsiao Chin estará representado, a partir da próxima sexta-feira, na exposição patente no MGM Cotai, intitulada “Para o infinito e mais além: A arte de Hsiao Chin”. Esta conta com curadoria de Calvin Hui e insere-se na iniciativa “Arte Macau: Bieanl Internacional de Arte de Macau 2023”, promovida pelo Instituto Cultural (IC) que percorre vários pontos da cidade com exposições e iniciativas culturais.

Segundo uma nota do MGM, esta mostra apresenta um “conceito revolucionário” que mistura arte com tecnologia e entretenimento, introduzindo as obras de arte de Hsiao Chin em oito zonas diferentes. Desta forma, “os visitantes poderão experimentar uma energia infinita e [ver de perto] o universo artístico de Hsiao Chin através das suas criações, capazes de inspirar gerações futuras”, criando uma atmosfera “para o infinito e mais além”, expressão que dá nome à mostra.

Considerado um dos mais importantes artistas chineses dos últimos anos, Hsiao Chin mostrou trabalhos inspirados “na cultura chinesa tradicional misturada com a filosofia chinesa, criando um estilo artístico único que difere da arte abstracta ocidental”.

Para a MGM, acolher esta exposição representa uma oportunidade de “criar, em Macau, uma plataforma de intercâmbio do turismo cultural”, além de desenvolver o conceito de “Turismo+”, proposto pelo Governo.

Além-fronteiras

Nascido na cidade de Xangai em 1935, é considerado pioneiro na arte moderna abstracta na China, estando as suas obras incluídas nas colecções dos principais museus de todo o mundo, nomeadamente o Museu de Arte Metropolitana de Nova Iorque, o Museu M+ de Hong Kong, a Galeria Nacional de Roma ou o Museu Song, em Pequim, entre outros.

Hsiao Chin embrenhou-se no estudo da cultura chinesa tradicional, bem como nas filosofias ocidentais, a partir de meados da década de 50, começando, aí, a explorar o abstraccionismo artístico a partir do conceito de “Espírito Oriental”, ou seja, a busca por uma espiritualidade oriental e uma expressão artística moderna.

Em 1955, Hsiao Chin criou o grupo artístico Ton Fan, o primeiro grupo de arte moderna chinesa do pós-guerra. No ano seguinte, o artista chinês começou a viajar pela América e Europa, tendo vivido durante várias décadas em Milão, Itália. Essas viagens revelaram-se fundamentais para a sua formação como artista. Por volta dos anos 60, Hsiao Chin começou a interessar-se por correntes taoístas, entre outras, inspirando-se nas ideias de Lao Tzu e Chuang Tzu.

21 Jul 2023

Ruby Hok Meng O, Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental: “A população preocupa-se com o ambiente”

Em pouco tempo, a Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental, criada em 2021, já chegou a escolas e grandes empresas promovendo a aposta na sustentabilidade e na redução do desperdício alimentar e do uso do plástico. Ruby Hok Meng O, fundadora e presidente da organização, considera que a sociedade de Macau está cada vez mais vocacionada para a protecção ambiental

 

Criou a Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental [Society of Food & Environmental Health] em 2021. Como analisa o trabalho desenvolvido até aqui?

Uma das principais razões que me levou a criar esta organização foi o facto de ver muitas pessoas com dificuldades em aderir a um estilo de vida que implique a redução da sua pegada de carbono ou com vontade de melhor proteger os recursos naturais. Juntando um grupo de amigos, e pessoas ligadas às áreas da restauração e segurança alimentar, podemos usar a alimentação como um meio para aumentar a consciência das pessoas, incluindo residentes, turistas e representantes de todo o sector turístico [de Macau], com destaque para as indústrias alimentar, de catering e de hotelaria. Todos nós temos um papel muito importante na mitigação das emissões de carbono, reduzindo o uso do plástico e tentando fazer com que Macau seja um destino turístico de baixo carbono, onde é servida comida saudável e onde são respeitados os recursos naturais. [É importante] ter uma indústria de catering mais consciente do que se passa em questões de segurança alimentar ou a poluição causada pelo plástico, tentando criar novos valores. Criámos então esta associação tendo a alimentação como foco e tentando promover uma boa conexão entre as pessoas e o ambiente.

Arrancaram em plena pandemia. Foi uma altura particularmente desafiante para começar um projecto que implica a criação de laços e contactos?

Estava tudo muito calmo e queria aproveitar essa oportunidade para estar mais tempo na minha cidade e com a minha comunidade, com pessoas apaixonadas pelas questões da sustentabilidade, tentando criar um projecto inspirador que tentasse compreender e transformar comportamentos no dia-a-dia, e eventualmente transformar a própria cultura [de relacionamento com o meio-ambiente]. Tentámos apostar na literacia sobre a alimentação, formação e workshops. Foi algo que criámos e que levámos a diferentes escolas secundárias, por exemplo a Pui Ching, Santa Rosa de Lima, Sagrado Coração, entre outras. Tentámos uma aproximação junto da indústria, dizendo-lhes que os alimentos não são apenas bens de consumo, e que cada vez existem mais pessoas a dedicarem-se à protecção dos recursos naturais e a tentar perceber o caminho do desperdício alimentar. Até à data, conduzimos cerca de seis ou sete workshops e debates em escolas do território. Sentimos que grande parte dos comportamentos [que implicam maior desperdício] devem-se ao facto de as pessoas não estarem conscientes do gasto em energia e recursos e de toda a pegada de carbono que está associada [à produção alimentar]. Apostamos em recursos educativos junto dos mais jovens, pois acreditamos que se conseguirmos dar poder à juventude teremos mais possibilidades de potenciar comportamentos sustentáveis no futuro. Espero que os mais jovens possam ganhar maior consciência sobre o que é, de facto, sustentável, quando chegar a altura de escolhorem os seus cursos ou projectos na Grande Baía ou em competições internacionais, por exemplo. Já poderão ter uma mentalidade que dá às questões da sustentabilidade a importância que merecem. De outra forma seremos como outras cidades e países. Até à data, a reacção [em relação ao nosso trabalho] tem sido bastante boa.

Observamos em Macau muitos comportamentos que são ainda ecologicamente pouco sustentáveis, como o facto de a fruta estar toda embalada em plástico nos supermercados, entre outras questões. Sente que há ainda um longo caminho a percorrer para mudar este panorama?

Isso não é inteiramente verdade. Nos últimos dois ou três anos temo-nos aproximado de diversos actores [na promoção de comportamentos sustentáveis]. Antes estava mais focada no meu trabalho ou nos meus amigos, mas esta plataforma permite uma conexão com pessoas e entidades com quem nunca tinha falado antes, e a percepção que recebo é que as pessoas de Macau se preocupam bastante com a protecção do meio ambiente e da sua comunidade. Sentimos alguma frustração quando vamos a Hong Kong ou mesmo a Hengqin e vemos coisas que não acontecem em Macau. Mas voltando à sua questão, a fim de que isso possa acontecer [uma mudança de paradigma], precisamos de uma sistematização do pensamento e cada actor deve ter um papel a desempenhar. Alguém tem de assumir essa iniciativa e em Macau penso que os resorts integrados estão a liderar esse processo, nomeadamente ao nível dos processos de reciclagem e da redução do desperdício alimentar, por exemplo. Assim que as grandes empresas ou organizações iniciarem esse processo, as coisas vão tornar-se mais acessíveis. Penso que é uma questão de tempo e definir quais são as prioridades a atingir e colocá-las na agenda da cidade.

Falou dos resorts integrados. Com os novos contratos de jogo, que reforçam a responsabilidade social corporativa, os casinos estão mais predispostos a apostar na área da sustentabilidade?

Penso que os operadores de jogo são de facto a força motriz neste campo. Falamos de empresas de grande dimensão que lidam com diversas jurisdições, que precisam de realizar relatórios de responsabilidade social e de sustentabilidade, que não se resumem a uma ou duas frases. Precisam de ter uma missão no seu interior, são avaliados por uma terceira parte em relação ao seu nível de sustentabilidade. O investimento é feito numa empresa sustentável, que respeita as pessoas, que é credível, que cresce em conjunto com a sociedade. Com essa ideia, todas as operadoras de jogo têm objectivos de sustentabilidades e metas de redução da pegada de carbono a atingir. O impacto climático [das suas operações] tem de ser reduzido. Todas estas questões se relacionam com as pequenas e médias empresas, numa partilha de valores. De outra forma não conseguem corresponder ao panorama internacional.

Acredita que o Governo deve alterar a estratégia e políticas relativamente às questões ambientais?

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental tem um plano a cinco anos de melhoria do ambiente da cidade, com ideias para a redução do consumo de energia, por exemplo, e programas educacionais. Sei que têm feito trabalho de consulta com diferentes associações. Penso que tudo depende dos recursos importantes, como, por exemplo, os custos associados a termos no território um centro de reciclagem ou a importarmos esse serviço. Macau tem um modelo de economia baseado no consumo, na medida em que importamos quase tudo para consumir, e geramos lixo. A estratégia está relacionada com a tal sistematização e mudança de pensamento. Isso pode ser uma responsabilidade do Governo, mas penso que é mais das pequenas e médias empresas e dos próprios consumidores e empresários. Penso que o consumidor tem muito poder nesse sentido: porque compramos tantas coisas online, por exemplo? Todos têm um papel a desempenhar, e todos apontam o dedo ao Governo, que não está a fazer isto ou aquilo. Mas devemos questionar-nos a nós próprios: sempre que sabemos que determinada embalagem não vai ser reciclada, ou que vai demorar muitos anos a sê-lo, porque a vamos comprar ou continuar a usar esse tipo de produto? Como cidade, devemos perguntar-nos a nós próprios o que podemos fazer? Reduzir a partir da fonte é de facto o mais importante e deve ser feito por cada indivíduo.

Relativamente ao despejo para o mar de água usada na refrigeração da central nuclear de Fukushima. O Instituto para os Assuntos Municipais pondera deixar de importar comida do Japão. Qual a sua posição?

Sim. Penso que, sem uma decisão, vamos todos sofrer passivamente. Esta questão é semelhante à da reciclagem: todos têm responsabilidade. O Governo assegura a transparência da importação e os requisitos de qualidade, mas as grandes empresas devem também testar os alimentos importados. Esta pode ser uma oportunidade para falarmos sobre a qualidade da alimentação e pensarmos na possibilidade de diversificar a nossa dieta, comendo alimentos orgânicos e locais, beneficiando o meio ambiente, sem gastarmos imenso dinheiro.

20 Jul 2023