Cinema | “Beautiful Game”, de António Caetano de Faria, estreia em Portugal

Chama-se “Beautiful Game” e conta a história de uma família que toda a vida teve um restaurante na pacata vila de Coloane. Até que subitamente não consegue pagar as contas devido ao aumento da renda, enquanto o filho sonha ser futebolista. O filme de António Caetano de Faria teve ontem a sua estreia internacional no Festival de Cinema de Avanca

 

“Uma história de sacrifício e de amor, um drama familiar entre pais e filhos”. É desta forma que o realizador António Caetano de Faria, ligado à produtora local Locanda Filmes, descreve “Beautiful Game”, o seu filme que estreou ontem em Portugal no Festival de Cinema de Avanca, depois de uma apresentação na Cinemateca Paixão.

O filme revela a história de um casal, proprietário de um restaurante na vila de Coloane, que deseja deixar o negócio ao filho que, no entanto, só pensa em jogar futebol. A par disso, surgem problemas financeiros, dada a dificuldade em pagar as rendas do estabelecimento.

“Beautiful Game” é “uma história de desencontros entre ideais de uma geração mais nova com uma geração mais velha que queria deixar o legado do restaurante para o seu filho”, em que uma família “se vê envolvida num conflito de ideais e com problemas financeiros por resolver”.

No cartaz do filme surge a frase “Procura a luz, encontra o caminho”, em jeito de mensagem que enaltece a procura de um estilo de vida que escapa às expectativas familiares. “As gerações anteriores têm um espírito de sacrifício muito maior que o nosso, pela experiência de vida. Acho que esse espírito está muito incutido nessa geração que não procura fazer coisas novas ou fora da sua realidade. Há então esse choque geracional. Falamos de personagens que têm quase 50 anos, com um filho de 12 anos, e que têm um restaurante em Coloane. Praticamente nunca saíram dali, ou de Macau, querendo viver a sua vida simples”, adiantou o realizador.

Sem expectativas

O filme foi financiado parcialmente pelo Instituto Cultural (IC), tendo recebido outros apoios recolhidos pela produtora, entre os quais o apoio institucional de entidades como o Benfica de Macau e a Casa de Portugal em Macau. A pandemia obrigou António Caetano de Faria a alterar o argumento do filme, que deveria passar-se em Macau, China e Portugal. Assim, a história de “Beautiful Game” centra-se apenas no território.

António Caetano de Faria não traz consigo grandes expectativas sobre o acolhimento que o filme vai ter em Avanca. “Em primeiro lugar, faço filmes para mim e fico satisfeito com o filme que faço naquele determinado tempo. Mas depois ele ganha uma vida e fala por si próprio. A beleza do cinema reside no facto de haver várias interpretações sobre o mesmo filme, além de que eu não sou um realizador que gosta de festivais. Estes têm a sua necessidade e um circuito próprio, mas não sou o maior fã deles.”

O realizador prefere “fazer filmes, ter contacto com as pessoas, poder construir uma história, uma mensagem, descobrir algo em mim, a nível de sentimentos e emoções”. “Não é ir ao festival, mostrar o filme e falar sobre ele”, frisou.

“Beautiful Game” revela ainda o lado da memória e da história de Macau, temática muito presente no trabalho do cineasta. Além disso, muitas das personagens deste filme são interpretadas por não actores. “Gosto de dar oportunidade a pessoas que não têm tanta experiência no cinema. É isso que é agradável, pode provocar a sociedade e levar pessoas a fazer cinema. Para mim, isso é mais importante do que aparecer em dez festivais e nas revistas.”

António Caetano de Faria acredita que o cinema em Macau tem pernas para andar, conseguindo-se até alguns apoios de forma independente, embora seja sempre um processo complexo.

“Não dependemos apenas do Governo e dos subsídios para fazer cinema, até porque hoje em dia as coisas são mais fáceis, temos o digital e a vontade das pessoas, bem como alguma formação. É importante fazer e experimentar, não estar apenas à espera. Comecei com uma câmara a contar algumas histórias que me interessavam, embora o dinheiro ajude, sobretudo em ficção. É importante para se profissionalizar uma indústria.”

A saída de muitos profissionais de cinema portugueses de Macau nos últimos tempos não veio afectar a indústria local pois, segundo António Caetano de Faria, as colaborações do ponto de vista técnico são mantidas à distância.

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