André Namora Ai Portugal VozesPaís maravilhoso Portugal é um país maravilhoso. Alguns dizem o contrário. Que os portugueses estão nas ruas da amargura. Que existem dois milhões ao nível da pobreza e que a classe média está a passar pela maior crise económico-financeira de sempre. A classe média? Não consigo compreender como é que a classe média se queixa em qualquer situação, que não consegue pagar a prestação da casa, mas não prescinde de carro para o marido e outro para a mulher, que os preços dos produtos essenciais estão cada vez mais caros e que já não vão jantar fora. Pois é, mas essa mesma classe média o que nos demonstra é que vive num país maravilhoso que por ter este ano o mês de Abril com calor e praia decide ter 10 dias de férias, do pé para a mão. 10 dias de férias? É verdade, no passado sábado iniciaram um ripanço formidável com uma ponte até amanhã que é o feriado do 25 de Abril, depois metem quarta, quinta e sexta como dias de férias, vem mais um sábado e domingo e segunda-feira seguinte é feriado novamente por ser o dia 1º de Maio. 10 dias em beleza, partindo para o Algarve ou para as margens do Douro, onde o turismo rural em quintas aprazíveis lhe proporciona 10 dias sem trabalho em plena altura do ano em que não é costume haver férias para ninguém. Quando encontramos alguém que tem um emprego razoável e que pertence à chamada classe média, logo ouvimos que a vida está mal, que isto em Portugal está impossível de se sobreviver e a lamentação não tem fim. Esquecem-se daqueles que vivem com uma reforma de 200 ou 300 euros, esquecem-se dos sem-abrigo, esquecem-se dos jovens estudantes que deixam as universidades por não poderem pagar as propinas, esquecem-se dos que vivem em bairros da lata, esquecem-se das mulheres que trabalham nas limpezas e que começam às sete da manhã e correm escritórios e casas de famílias até às oito da noite, esquecem-se daqueles que já têm de escolher entre comprar carne ou peixe e medicamentos, esquecem-se dos que estão há um ano a aguardar por uma cirurgia, esquecem-se dos que nas urgências dos hospitais esperam 20 horas para ser atendidos, esquecem-se das mulheres grávidas que têm de andar numa ambulância cerca de 100 quilómetros para ter um filho. Enfim, a chamada classe média tem de andar mais caladinha porque em Portugal há quem sofra profundamente e que até passe fome. Em Portugal, a vida está difícil, isso não tem discussão, mas felizardos não faltam. O que tem chocado a maioria são as greves constantes de professores, trabalhadores dos transportes públicos, oficiais de justiça, enfermeiros e outras profissões que têm sido alvo da incompreensão governamental, que soube colocar na TAP mais de 3 mil milhões de euros – dinheiro do povo – e depois aumentam os reformados miseravelmente, governo que não chega a acordo com os trabalhadores que protestam por melhores salários. Neste país, ultimamente, têm acontecido factos que entristecem e que deixam as pessoas perturbadas. Referimo-nos aos abusos sexuais dos padres da Igreja Católica e de doutos professores que nas universidades não podem ver uma aluna bonita, de seios grandes que não a convidem logo para jantar ou que façam chantagem no sentido se as estudantes não condescendem ao abuso sexual, o seu ano lectivo será a reprovação. Na semana passada, ficámos desolados com a notícia que atingiu o professor doutor Boaventura Sousa Santos acusado de abuso sexual a várias alunas, algumas que até se pronunciaram na televisão. Boaventura, um homem que sempre se pronunciou como grande democrata, defendendo a moralidade, a solidariedade e a igualdade. Amanhã, festeja-se o dia 25 de Abril, data histórica em que um grupo de militares levou a cabo um golpe de Estado e terminou com a ditadura que subjugou e matou vários antifascistas. No entanto, esse mesmo 25 de Abril em 2023 é comemorado na praia e a maioria dos jovens nem sabe o que se passou no chamado dia da liberdade, mas, que infelizmente, liberdade de vária ordem tem havido muito pouca ao longo de 50 anos em determinados actos da vida, nomeadamente na comunicação social, onde criaram uma lei de imprensa que é uma autêntica limitação da liberdade expressão. Já não falando de um caso passado com um familiar meu, comunista, e que à semelhança de tantos cidadãos, tem o seu telefone debaixo de escuta há mais de cinco anos. Sobre o 25 de Abril muito teríamos a escrever, mas todos sabemos que Portugal tem tido personalidades políticas de grande gabarito, honestidade e solidariedade e outras, especialmente nos governos, que só se preocuparam em exercer a corrupção, o compadrio e a desonestidade. É assim, é o país maravilhoso que temos.
André Namora Ai Portugal VozesGoverno de polémicas Portugal tem sido governado por uma maioria absoluta do Partido Socialista. O povo votou cheio de esperança de que muito iria mudar na estrutura do Estado. O povo pensou que essa maioria absoluta política teria entre mãos todas as formas de valorizar a credibilidade política. Uma política que deveria ser praticada por dirigentes governamentais competentes e sérios. O povo admitiu que o actual primeiro-ministro, António Costa, tinha todo o poder de modificar uma situação degradada no tecido social nacional. No entanto, temos estado perante as mais diversas polémicas derivadas de casos e “casinhos” que só têm colocado o panorama político em discussões, divergências, ilegalidades e críticas, algumas do próprio Presidente da República. A situação governamental tem sido de uma tristeza atroz e desde que a ministra da Saúde, Marta Temido, se demitiu, de madrugada, sem que ninguém tivesse sabido as verdadeiras razões da sua saída do Governo, nunca mais pararam os factos que têm levado ao descrédito do Governo. As últimas sondagens apresentam um empate técnico entre o PSD e o PS. Não foi o PSD que subiu, já que tem sido um partido com uma prática absolutamente negativa. O que tem acontecido é que o povo está a perder a confiança num Governo socialista que apenas vai deixando andar a governação ao “Deus dará”. As demissões no Governo têm-se sucedido. O caso mais vergonhoso prendeu-se com o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado Hugo Mendes. Demitiram-se os dois por falta de seriedade. O ex-ministro Santos – no caso da TAP, onde a CEO francesa entrou em litígio com a administradora Alexandra Reis e que levou ao seu despedimento com uma indemnização de 500 mil euros, afirmou primeiramente que nada sabia e que tudo era tratado com a TAP pelo seu secretário de Estado. Mais tarde, veio a público confirmar que o seu secretário de Estado lhe tinha dado conhecimento do andamento litigioso na administração da TAP. No Partido Socialista nota-se que existem as mais diversas facções, o PS de António Costa, o PS de Pedro Nuno Santos, o PS de Fernando Medina, o PS de Carlos César, o PS de Francisco Assis e a divisão é de tal gravidade que na semana passada o grupo parlamentar do PS, sem conhecimento do seu secretário-geral António Costa, promoveu uma reunião secreta com a CEO da TAP a fim de preparar as perguntas e respostas que a CEO da TAP deveria pronunciar na existente Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso TAP. Sobre este propósito, as audiências na referida Comissão de Inquérito, foram um escândalo quando os inquiridos, nomeadamente, a CEO da TAP, Alexandra Reis e o ex-presidente do Conselho de Administração da TAP, Manuel Beja, anunciaram o contrário uns dos outros e chegou-se à pouca vergonha de ficarmos a saber que o Governo interferia na gestão da TAP e que inclusivamente os comunicados emanados pela TAP eram redigidos pela tutela governamental. A comissão de Inquérito tem sido um “buraco” difícil de poder ser tapado porque até um dos deputados socialistas, Carlos Pereira, que mais atacava os inquiridos, acabou por se demitir da Comissão de Inquérito, por suspeição de irregularidades e fraudes financeiras. A TAP tem estado na berlinda depois de os portugueses terem injectado na empresa 3,2 mil milhões de euros. Ora, este cenário na TAP onde têm ocorrido os mais variados casos de discussão, nomeadamente, a pretensão de adquirir uma nova frota automóvel, de despedir milhares de trabalhadores, de se ter privatizado a empresa o que veio a demonstrar ter sido um fiasco e o Governo de seguida ter nacionalizado a empresa, para agora querer novamente privatizar. As polémicas sucedem-se. A CEO da TAP foi demitida em directo na televisão pelo novo ministro das Infraestruturas, João Galamba, o qual nunca devia ter entrado para o Governo devido à sua total incompetência política. Polémicas que chegam ao ponto de se saber que a mulher de João Galamba trabalha no Ministério das Finanças como coordenadora de um departamento e cujo contrato não foi publicado em Diário da República como a lei nacional assim o exige, mas, entretanto, possivelmente por vergonha já pediu a demissão. Algumas das polémicas têm trazido a lume trapalhadas e cambalachos que quase diariamente a imprensa dá à estampa. Outra das grandes polémicas é a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. Parece que andam a brincar aos aeroportos. Agora, já foram considerados nove locais para a construção do novo aeroporto de Lisboa, incluindo Monte Real e Santarém, que em nada se podem comparar com a estrutura já existente em Beja. O primeiro-ministro anunciou aos jornalistas que até ao fim do ano nada deve estar decidido, porque a pressa é má companheira. O que não é boa companhia é a inércia governamental que está a deixar o povo em polvorosa e a desacreditar, cada vez mais, na maioria absoluta socialista. A inflacção desceu um pouco, mas os preços dos bens essenciais continuam a subir. As famílias pobres já não aguentam a sobrevivência triste e degradada que lhes caiu em sorte. Os portugueses desanimam constantemente, basta referir que pagam o passe para os transportes públicos e estes estão assiduamente em greve, verificando-se que milhares de trabalhadores não conseguem chegar ao local de trabalho. Polémica atrás de polémica, veio a lume a possibilidade da dissolução da Assembleia da República, mas o Presidente Marcelo logo respondeu que isso não está no seu horizonte porque a oposição não tem condições alternativas ao novo Governo. De imediato, o líder do PSD, Luís Montenegro, veio contrariar o Presidente dizendo que o PSD está preparado para governar já hoje. Um líder social-democrata sem qualquer credibilidade e que está à frente de um partido, que além de exercer uma oposição péssima, ainda tem mais facções internas que o Partido Socialista. No meio disto tudo, as sondagens indicam que os neofascistas do Chega continuam a ter cada vez mais apoiantes. Um caso grave para a democracia que não está a ser entendido pelo Governo, quando não se preocupa em governar alterando muitas das estruturas nacionais, nomeadamente, a ferrovia e o fim das portagens nas autoestradas. As polémicas têm sido de tal gravidade que até proporcionaram ao ex-Presidente da República, Cavaco Silva, dar-se ao desplante de comentar a má prática governamental e afirmar que Portugal está a degradar-se. Neste particular, estamos perante um político que devia estar calado, à semelhança de Ramalho Eanes, com a agravante de nos lembrarmos o mal que Cavaco Silva fez aos portugueses nos mais diversos parâmetros da governação enquanto ocupou 10 anos o cargo de Chefe do Executivo. Uma coisa é certa: as polémicas não vão terminar.
André Namora Ai Portugal VozesA habitação é uma barraca Na semana passada a discussão política em Portugal teve como tema a habitação. Passaram anos e anos em que os governos pouco se preocuparam com os pobres que habitaram centenas de bairros de barracas. A habitação ainda é uma barraca. Milhares de portugueses e imigrantes vivem em condições imensamente precárias em autênticos bairros da lata. Vivem da forma que podem. Com muito calor, frio intenso ou chuvas para o interior das barracas. Visitámos recentemente um bairro social onde a degradação das casas é o ponto forte, junto do aeroporto de Lisboa, o bairro da Quinta do Mocho, onde a maioria dos habitantes é oriunda de São Tomé e Príncipe. Acreditem que aquela gente pobre conseguiu construir com restos de madeiras um “restaurante” onde em parte alguma comi melhor peixe grelhado na brasa. Uma delícia que esgota os lugares existentes todos os sábados e domingos. O braseiro de carvão, com uma grelha artesanal de ferro, ao ar livre, faz com que um cozinheiro exímio apresente o tal peixe grelhado inigualável. Uma construção que apresentamos aqui a sua imagem e que todos vós dirão que não é um restaurante. No entanto, toda aquela gente pensa no dia em que as autoridades camarárias chegam e trazem ordens de demolição. Tal como o referido “restaurante” existem milhares de casas em perigo de serem demolidas. Contudo, tivemos o primeiro-ministro, António Costa, acompanhado dos ministros das Finanças e da Habitação, a anunciar o projecto do Governo que titulou de Mais Habitação. Caiu o Carmo e a Trindade nas hostes da oposição. Foi a discordância total quando o Governo anunciou que as regras no licenciamento e no investimento de novas casas iriam mudar radicalmente. O Governo pretende essencialmente que as casas que estejam vazias sejam arrendadas a famílias necessitadas, que não sejam concedidas mais licenças para o chamado ‘alojamento local’ e que as famílias mais pobres terão um subsídio de apoio ao arrendamento. Especialmente em Lisboa e no Porto existem milhares de casas e terrenos devolutos e os proprietários nunca se preocuparam em alterar a situação. A verdade, é que já é tarde que se veja a habitação e a sua obrigatoriedade constitucional como uma solução para os jovens e idosos que não conseguem ter uma casa. No âmbito do programa Mais Habitação, o Conselho de Ministros aprovou duas propostas de Lei a submeter à Assembleia da República e um decreto lei que visa promover o investimento em arrendamento acessível, reforçar a confiança no mercado de arrendamento e mobilizar património disponível para o afectar à habitação. A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, sublinhou que a primeira linha de intervenção é estimular novos projectos privados de arrendamento acessível, o que será feito através da cedência de terrenos ou edifícios devolutos do Estado, complementado com uma linha de financiamento bonificado, com previsibilidade das rendas, assentes no programa de rendas acessíveis, e com incentivos fiscais. Tudo isto é muito lindo e seria bom para os mais pobres que os projectos avançassem o mais rápido possível. Mas, como é possível ter boas intenções se em pleno bairro de Alvalade foi construído um prédio de grande dimensão pertencente à edilidade, que está pronto há mais de um ano e que foi anunciado que se destinava a rendas acessíveis. O prédio está vazio e a Câmara de Lisboa informou-nos que as fracções já tinham destinatários desde que se iniciaram as obras dos alicerces. A ministra referiu que a segunda intervenção seria o reforço do sector cooperativo, através da cedência de terrenos e edifícios do Estado, com financiamento bonificado, tendo o Estado como parte desses projectos. Mas, como poderá essa intenção avançar se o Estado nunca contabilizou o número de imóveis devolutos pertencentes ao Estado? O Governo nem sabe quantos imóveis devolutos existem. Uma terceira medida anunciada pela ministra tem a ver com o apoio ao arrendamento. É fácil de politicamente anunciar medidas que mais parecem de propaganda, porque centenas de cidadãos já manifestaram às autoridades que vivem com imensa dificuldade e com três e quatro meses de renda por pagar e não tiveram qualquer resposta? O Governo anunciou o combate à especulação na venda e no arrendamento. Combate de que forma se as imobiliárias fazem o que bem entendem e os preços das casas estão cada vez mais caros? O Governo pode estar cheio de boas intenções, mas como poderá mudar o paradigma nacional onde pululam os bairros de lata? Todas as medidas podem ser da maior importância e de enorme benefício para as populações, mas lendo com atenção o que o primeiro-ministro anunciou e que tem de passar pelo parlamento e pela aprovação do Presidente da República, concluímos que o tempo em aprovar os projectos, terminar as obras e cumprir a nova regulação não acontece em menos de cinco a 10 anos. Porque não começar pela construção imediata de residências para estudantes e de bairros sociais com a dignidade eclética possuindo centros de saúde, correios, parques infantis e jardins para os idosos jogarem às cartas? A habitação, ou a falta dela, é um mal nacional e se os governantes não actuarem com rapidez e eficiência ficaremos na mesma com uma habitação que é uma barraca.
André Namora Ai Portugal VozesEnxame de TVDE tem tráfico humano O que é TVDE? É o Transporte Individual e Remunerado de Passageiros em Veículos Descaracterizados a partir de Plataforma Electrónica. Em Portugal qualquer dia não existem táxis porque o enxame de TVDE é infindável. As plataformas principais que se instalaram no nosso país são a Uber, Bolt, Cabify e Taxify. Apresentamos hoje aos queridos leitores de Macau um dos casos mais graves existentes na sociedade portuguesa, especialmente em Lisboa. Para se poder ser motorista de um veículo TVDE tem de se possuir a carta de condução portuguesa há, pelo menos, três anos, realizar um curso totalmente em português e efectuar um exame final escrito em português. Acontece que os veículos TVDE de há uns meses a esta parte começaram a ser conduzidos por indivíduos do Paquistão, Bangladesh, Nepal e outros países, chegados a Portugal há dias ou há semanas, e de imediato começaram a guiar os TVDE. Como é isso possível? Não sabem falar português, a maioria fala mal o inglês, não têm carta de condução portuguesa, muito menos há três anos como exige a lei para ser-se motorista dos TVDE, não realizaram qualquer curso para obterem a licença de conduzir TVDE e muito menos conhecem a capital lisboeta, mesmo usando o GPS. Há veículos TVDE que chegam a ser conduzidos por 10 indivíduos numa semana, mudando a fotografia da licença TVDE que pertence a um indivíduo estrangeiro que obteve a referida licença para conduzir TVDE. As nossas fontes confirmaram que estamos perante diferentes mafias pertencentes aos referidos países que exercem tráfico humano desses motoristas TVDE que já são às centenas e que chegam a Portugal todos os meses. O crime de tráfico humano está à vista de todos. Estes “motoristas” de TVDE não recebem qualquer salário nos primeiros meses para que fique pago à mafia correspondente a sua vinda para Portugal. Esses motoristas têm causado a maior diversidade de problemas aos clientes das plataformas. O que esperam as autoridades portuguesas para terminar com esta situação assombrosa e perigosa? O que esperam a Uber, Bolt, Cadify e Taxify para terminarem imediatamente que estes indivíduos sem carta de condução portuguesa e sem licenciamento TVDE? Impõe-se uma tomada de posição imediata, porque os veículos TVDE estão a efectuar serviço durante a noite e as queixas de incompetência, abuso e inoperância sucedem-se todas as semanas. Outros, mal chegam a Portugal, começam a conduzir motos e trotinetas realizando o serviço de entregas ao domicílio oriundas dos mais diversos restaurantes, nomeadamente, de pizas e hamburgueres. Até hoje, nenhum órgão de comunicação social português abordou este assunto de gravidade extrema e de lucros incalculáveis para os gangues que controlam toda esta actividade exercida pelos novos imigrantes.
André Namora Ai Portugal VozesEnfermeiros “chico-espertos” dão tiro no pé Os enfermeiros em Portugal são das profissões mais nobres e sacrificadas. Trabalham nos hospitais do Estado realizando horas extraordinárias sem receber um euro a mais, com salários miseráveis, tendo, no entanto, a sua profissão garantida e alguns têm-se pronunciado que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi a sua escolha de paixão e de perfeito serviço ao povo português. Os enfermeiros estão divididos em sindicado e numa Ordem que tem feito muito pouco em benefício dos soldados da enfermagem. Contudo, ao longo dos anos temos assistido à proliferação da construção de hospitais privados como os da CUF, da Luz e dos Lusíadas. E logo os enfermeiros “chico-espertos” decidiram abandonar o SNS e ingressaram nos quadros dos hospitais privados porque admitiam que as condições de trabalho eram indubitavelmente melhores. E não falamos dos enfermeiros que optaram em emigrar e hoje trabalham em Inglaterra e em outros países, tendo apenas como positivo o maior pecúlio recebido, mas sempre cheios de saudades do seu país. Quanto aos enfermeiros que optaram pelos hospitais privados, assistimos na semana passada a uma surpresa inesperada: ao protesto dos enfermeiros que trabalham nos estabelecimentos hospitalares privados e chegaram ao ponto de nos deixar de boca aberta quando anunciaram uma greve, porque querem aumento de salários e melhores condições de trabalho. Ops! Greve? Sem mais, uma greve. Uma verdade dura e pura que demonstra que nos hospitais privados nem tudo são rosas e, afinal, muitos já estão arrependidos de ter deixado o SNS. Um exemplo: num dos hospitais privados um grupo de enfermeiros quando marcaram férias para Agosto próximo, foram logo informados que escolhessem outro mês do ano para descansar. A greve dos enfermeiros nos hospitais privados não tem pés nem cabeça. Foram esses profissionais grevistas que escolheram deixar o serviço público porque queriam mais dinheiro. Viram agora que o paraíso hospitalar não está na privada hospitalar e a maioria do povinho riu-se da referida greve. Os enfermeiros que abandonaram o SNS ficaram a saber que o capitalismo apenas visa o lucro e nada tem a ver com a defesa dos interesses dos pobres e, muito menos, com todos os que esperam horas, dias e meses para ter uma consulta no SNS. Será bom que reconsiderem e que decidam bem se vale a pena continuar ao serviço dos grupos poderosos que apenas se servem da Saúde para ganhar muito dinheiro e deixem de dar tiros nos pés… Na semana passada, Portugal assistiu a um caso inédito que não se via desde 25 de Abril de 1974 quando os militares se revoltaram contra a hierarquia do regime. No Funchal, capital da Ilha da Madeira, estava aportado o navio de guerra “Mondego”. A dada altura, o comandante do navio recebeu indicações secretas que teria de realizar uma missão para controlar uma embarcação russa que navegava em águas portuguesas e que poderia estar em acção de espionagem. Quando o comandante do navio ordenou aos seus homens a partida para a missão confidencial, eis que, 13 militares do “Mondego” negaram-se a cumprir a ordem de comando alegando que o navio não estava em condições materiais para seguir para o mar. Esses tripulantes cometeram de imediato três infracções graves. Não obedeceram à hierarquia de comando, algo sagrado nas Forças Armadas, e deixaram a imagem de Portugal junto dos países da NATO que alguma coisa iria mal no reino das Forças Armadas portuguesas e o mais grave, terem anunciado publicamente nas redes sociais o que se estava a passar no interior do navio. A missão não foi realizada. Gravíssimo. O chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Gouveia e Melo, deslocou-se imediatamente ao Funchal e foi falar com os tripulantes do navio e comunicar-lhes a gravidade do sucedido. Os 13 militares estão hoje já a serem ouvidos em Lisboa pela Polícia Judiciária Militar e podem passar para o foro judicial criminal e apanhar anos de prisão. Gouveia e Melo sublinhou muito bem que a disciplina militar se não existir, então, não existem Forças Armadas. O caso foi imensamente criticado pelo país fora e a maioria dos portugueses pede um castigo severo para os indisciplinados. Na verdade, não tem havido verbas suficientes por parte do Governo para as muitas lacunas que existem nos três ramos das Forças Armadas e muitas das unidades móveis no Exército, Força Aérea e Marinha não tem cumprido a sua missão devidamente por falta de manutenção nessas mesmas unidades. Todavia, uma coisa é a insuficiência de verbas, outra é a indisciplina e a insubordinação de militares. Para que se riam do que vai acontecendo por este Portugal, termino informando-vos que a empresa Transtejo, que possui a frota das embarcações que fazem a travessia do rio Tejo, comprou 10 navios eléctricos, para defesa do meio ambiente, mas os navios não poderão funcionar porque o orçamento não incluiu cerca de 15 milhões de euros para a compra das baterias para os navios eléctricos…
André Namora Ai Portugal VozesA TAP voa baixinho Um comandante da aviação comercial disse-me um dia que o mais perigoso no voo de uma aeronave era quando a mesma voava baixo, porque ao mínimo poço de ar podia acontecer a tragédia. Tragédia é o que tem acontecido na companhia nacional TAP. Os diversos governos e os administradores da TAP têm-se servido da companhia aérea de bandeira nacional de uma forma que mais parece o jogo do monopólio. A TAP vende, compra, perde, ganha e faz bluff. A TAP já esteve à beira da falência e a dada altura passou a uma empresa público-privada. Entraram pelo gabinete da administração dois “cómicos”, o Barraqueiro e o Neeleman. Este último, antes de o Governo decidir-se pela nacionalização e acabar com esta dupla, decidiu vender os aviões boeing e comprar airbus, mas com uma facturação que lhe proporcionou cerca de 400 milhões de euros e com esse dinheiro pagou a sua propriedade no novo estatuto público-privado. A TAP dava para tudo, mas o prejuízo era constante. Quando o Governo decidiu nacionalizar a empresa tudo começou mal. Com a treta de que a companhia estava numa situação de bancarrota, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu comparsa das Finanças introduziram 3,2 mil milhões de euros na companhia, dinheiro dos portugueses, com a lamúria de que era dinheiro para recuperar a empresa e que esse dinheiro haveria de ser recuperado. Tudo balelas. O mesmo ministro com a tutela da TAP, que apenas em pequenino deve ter brincado com um aviãozinho, nomeou uma senhora francesa para CEO da TAP, como se não existisse em Portugal um cidadão competente para o cargo. Mesmo com a francesa Christine Ourmières-Widener a TAP continuou a voar baixinho. Como vogal da administração tinha uma amiga da esposa de Fernando Medina – ex-presidente da Câmara de Lisboa e actual ministro das Finanças – Alexandra Reis, a qual começou a discordar da CEO francesa. Bem, nem imaginam o que a partir daí tem dado que falar. Alexandra Reis sai da TAP para a Nav Portugal, empresa do mesmo ramo aeronáutico e da mesma tutela, recebendo uma escandalosa indemnização de meio milhão de euros. A mesma Alexandra Reis, assim que Fernando Medina tomou posse do cargo de ministro das Finanças, nomeou a amiga da sua esposa para secretária de Estado do Tesouro. Nem chegou a aquecer a cadeira do gabinete governamental. A bronca dos 500 mil euros de indemnização rebentou na comunicação social e Alexandra Reis pediu a demissão e agora um relatório da Inspecção Geral de Finanças indica que a indemnização de Alexandra Reis foi ilegal e que deve devolver o dinheiro ao Estado. No entretanto, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado, Hugo Mendes, meteram os pés pelas mãos e primeiro disseram que nada sabiam sobre Alexandra Reis na TAP, depois foi o secretário de Estado que anunciou ter recebido uma mensagem sobre o assunto e que nada disse ao ministro e por fim o ministro demitiu-se dizendo que, afinal, tinha tido conhecimento do sucedido. Uma vergonha, disse o povo e revoltou-se nos programas de rádio onde o público pode opinar. Mas, a TAP sempre a voar baixinho, ainda na semana passada esteve nas bocas do mundo. Agora, o Governo quer privatizar novamente a empresa e vendê-la totalmente. Há ministros que não concordam com a venda total do património. A Lufthansa parece ser a grande interessada e quase o único grupo de aviação com poder financeiro para se chegar à frente. E a telenovela TAP não irá terminar tão cedo. O Governo tem actualmente como ministro a tutelar a TAP, um fulano, João Galamba, que não tem nível intelectual e técnico para ser assessor de um secretário de Estado, quanto mais, ministro das Infraestruturas. O homem não sabe o que faz nem o que diz. Os jornalistas perguntaram-lhe sobre se era verdade que a CEO francesa tinha sido demitida. O ministro respondeu que a senhora sairia da TAP dentro de dias e nomeou o presidente da SATA, dos Açores, para CEO da TAP. Tudo muito em cima do joelho e sem pensar que a senhora francesa não se chama Alexandra Reis porque já anunciou que vai para tribunal entendendo que o despedimento é sem justa causa. E pelas contas feitas por um fiscalista meu amigo, a senhora Christine irá receber mais de dois milhões de euros como indemnização. Isto é a TAP que já despediu mais de dois mil trabalhadores e tem administradores e directores a ganhar salários estrondosos e inimagináveis. É a TAP que deixa passageiros sem receber o dinheiro dos bilhetes quando cancela voos. É a TAP que tem mais aeronaves estacionadas do que a voar. É a TAP que vê pilotos-comandantes constantemente a saírem para outras companhias aéreas. É a TAP que agora irá ter uma nova administração bem paga e sem saber por quanto tempo. Na Comissão Europeia sempre que aparece por Bruxelas um ministro português logo lhe perguntam o que se passa na TAP. É uma vergonha. Voar baixinho é realmente a parte mais perigosa do voo…
André Namora Ai Portugal VozesOs padres abusadores continuam na maior Em conversa com um amigo que não via há mais de vinte anos veio à baila o caso que tem dado muito que falar sobre os abusos sexuais de menores por parte de membros da Igreja Católica. Qual não foi a minha surpresa quando o meu interlocutor me transmitiu que tinha sido uma das vítimas que foi prestar declarações à comissão independente que investigou os abusos sexuais, uma comissão constituída por personalidades de grande prestígio e seriedade que elaborou um relatório que deixou o país em estado de choque. Essa comissão concluiu que mais de quatro mil menores teriam sido abusados nos últimos tempos, um número que pode ser muito maior. A mesma comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de mais de 100 sacerdotes abusadores e que ainda se encontram no activo. O meu amigo transmitiu-me que tinha entrado para os escuteiros aos oito anos de idade e que aos 10 anos foi aliciado para a casa paroquial do padre que coordenava o seu grupo de escuteiros. No interior da casa o padre ofereceu-lhe um chocolate e começou a dizer-lhe que era um rapaz dos mais bonitos que tinha visto e começou a fazer-lhe festas na cara quando se sentaram no sofá. De seguida o sacerdote tirou o seu pénis para fora e obrigou o miúdo a dar-lhe beijos no pénis. Despiu a criança e depois penetrou com o pénis no ânus da criança. Com mais aliciamentos e prendas levou o menor mais vezes para casa e o crime de maior relutância era a obrigação do menor lhe fazer sexo oral. Esta criança era o meu amigo que tinha ido à comissão declarar tudo o que lhe tinha acontecido e informou que o sacerdote vive numa casa de repouso em Fátima. Naturalmente, que estive perante um homem traumatizado, infeliz e chocado. Um choque psicológico devido aos últimos acontecimentos que vieram a lume na semana passada. Os membros da Conferência Episcopal chamaram os jornalistas para se pronunciarem sobre a matéria que resultou do relatório da comissão independente. Numa Igreja que andou durante anos a esconder os abusos sexuais, a mudar de paróquia os abusadores e a não tomar qualquer posição que os levasse à barra do tribunal, veio agora dizer, com todo o desplante, que apenas se trata de uma lista com nomes de abusadores, que não existem provas cabais desses abusos, isto, quando as vítimas pormenorizaram tudo o que se passou. O presidente da Conferência Episcopal ainda, sem qualquer vergonha, acrescentou que o poder eclesiástico não irá indemnizar qualquer vítima com valores pecuniários, ao contrário do que fez a igreja na Austrália, no Canadá, nos EUA e na Alemanha, onde as vítimas receberam o dinheiro que foi decidido merecerem. A Igreja portuguesa não vai, enquanto instituição, pagar qualquer indemnização às vítimas de abusos sexuais praticados por clérigos. A decisão foi comunicada na passada sexta-feira por D. José Ornelas, presidente da referida Conferência Episcopal. E disse mais: que os clérigos abusadores continuarão no activo, quando, no mínimo deveriam ser expulsos do seio da Igreja. Os crimes foram imensos e de todo o género, foram abusados rapazes, meninas e até mulheres adultas que inclusivamente compravam automóveis aos padres depois de terem relações sexuais com os clérigos. No interior dos seminários o escândalo foi mais pecaminoso, onde muitos seminaristas abandonaram os estabelecimentos depois de serem obrigados a actos sexuais com os seus superiores. Pelos vistos, nada disto para a Conferência Episcopal foi importante num tempo em que o próprio Papa Francisco luta contra todos os pedófilos no seio da Igreja. José Manuel Pureza, assumido católico é um dos mais de 130 subscritores de uma carta enviada ao organismo presidido pelo bispo José Ornelas, que exige mudanças no comportamento da Igreja e avisa que é preciso ir além dos pedidos de perdão e dos memoriais que querem construir na Jornada Mundial da Juventude, a decorrer em Agosto próximo em Lisboa. O professor universitário e antigo deputado do Bloco de Esquerda defende ainda que os bispos devem equacionar o cenário de indemnizar as vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, cujos testemunhos foram revelados pela comissão independente. “É absolutamente necessário que a resposta dada pela hierarquia católica não seja minimalista. Tem de ser uma resposta de plena determinação e com todas as consequências que é necessário tirar daquele relatório trágico”, disse Pureza, continuando: “Se ficarmos apenas por um pedido de perdão genérico e que não seja um pedido de perdão directamente e pessoalmente a cada uma das vítimas que esteja diante de nós, valerá alguma coisa, mas muito pouco”. A hierarquia católica ainda não viu, ou não quer ver, que se trata de uma verdadeira tragédia para a sua Igreja. Basta referir um exemplo: as pessoas estão tão magoadas, que em plena Quaresma, as sessões que levam à reza do terço, deixaram de ter o número de fiéis habitual. Numa paróquia lisboeta estiveram na semana passada a rezar o terço apenas três fiéis e o número de católicos que tem assistido à missa dominical reduziu para metade. As feridas às vítimas são irreparáveis e se os sacerdotes abusadores não forem expulsos da Igreja e levados à barra do tribunal, estamos certos que o número de católicos praticantes irá diminuir significativamente.
André Namora Ai Portugal VozesO fim dos vistos gold O primeiro-ministro, António Costa, anunciou uma espécie de revolução sobre a miserável habitação em Portugal, cujos parâmetros urbanísticos vão demorar uma década a “construir”. Entre as muitas medidas que elencou para que a habitação possa ter o mínimo de eficiência e benefício para o povo mais pobre e melhoria no urbanismo português, encontra-se o fim dos chamados vistos gold que proporcionaram investimentos de milhões de euros a ingleses, holandeses, brasileiros e chineses. Adquirir uma casa em Lisboa que custasse mais de meio milhão de euros dava direito a ser-se residente de Portugal e em alguns casos levaram muitos investidores a obter a nacionalidade portuguesa. Sobre este assunto existem opiniões absolutamente contrárias. Há quem lamente esta decisão governamental e há muita gente que lamenta que se corte a possibilidade de Portugal ganhar muito dinheiro vindo do estrangeiro. No entanto, o primeiro-ministro adiantou que os vistos gold se vão manter para quem desejar residir para sempre em Portugal. António Costa justificou a medida de uma forma um tanto incompreensível quando afirmou que era para “combater a especulação imobiliária”. No seu entender o preço das casas subiu de uma forma exagerada devido ao interesse dos estrangeiros comprarem imóveis por 500 ou mais de milhares de euros. Agora acabam as novas licenças para os vistos gold e as que existem terão uma renovação limitada. Nos vistos já concedidos a sua renovação será feita se se tratar de investimentos imobiliários para habitação própria e permanente ou para descendentes. Outro critério para manter a licença, será quando a casa for para o mercado de arrendamento. O actual Executivo restringiu já de forma significativa o investimento em imobiliário através deste regime desde Janeiro do ano passado e passou a ser possível usá-lo apenas para a aquisição de habitações localizadas fora dos grandes centros urbanos. Basicamente, agora a compra de casas apenas é elegível para efeitos de obtenção de visto de residência no caso destas se situarem nos territórios do interior do país ou nos Açores e Madeira, ficando de fora Lisboa e Porto. E é neste particular que entram os discordantes das medidas. Por exemplo, no triângulo Lisboa, Cascais, Sintra chegou a comprar-se imóveis e quintas que atingiam mais de 10 milhões de euros. No Parque das Nações, em Lisboa, foram adquiridos por chineses as casas mais caras que ali existiam. Os que contrariam esta decisão do Governo adiantam que o terreno a seguir ao Parque das Nações, sob a ponte Vasco da Gama, onde se vai realizar, com a presença do Papa Francisco, as Jornadas Mundiais da Juventude, dará lugar certamente à continuação urbana do Parque das Nações com imóveis que apenas cidadãos com muito dinheiro poderão comprar. Para que tenhamos uma ideia da perda financeira representada no futuro, basta recordar que o critério de transferências de capitais levou à atribuição de 920 vistos num montante de 712 milhões de euros. Ora, isto não foi dinheiro importante que entrou nos cofres do Estado? Acima de tudo queremos ver quem é que vai investir na construção de casas no meio do pinhal onde podem ficar em perigo na época dos fogos, quando em Portugal existem 723 mil casas desocupadas. O preço exagerado dos imóveis em Lisboa e Porto nada teve a ver com os estrangeiros que investiram para a obtenção do vistos gold, mas sim resultante da ganância e rivalidade financeira entre as demasiadas imobiliárias que se instalaram em Portugal. O Governo para combater a crise na habitação anunciou 10 medidas num pacote que já iniciou a polémica em vários quadrantes, como na Associação dos Proprietários que contestam a medida de serem arrendadas compulsivamente as casas que estejam desabitadas e a mesma associação afirma que a medida é inconstitucional. O pacote inclui: o Estado quer subarrendar casas de privados e assegurar três rendas que estejam em falta; o Governo impõe limites às rendas de novos contratos; uma taxa autónoma de IRS sobre as rendas vai baixar de 28 por cento para 25 por cento; o Estado vai pagar parte do aumento de juros em empréstimos até 200 mil euros; haverá uma oferta de taxa fixa no crédito à habitação; serão proibidas novas licenças de alojamento local; os proprietários que vendam casas ao Estado ficam isentos de mais-valias; os licenciamentos municipais serão simplificados e os terrenos e imóveis de comércio e serviços vão poder servir para habitação. Verdadeiramente um pacote bonito e arrebatador. Para quando? Para daqui a 10 anos? E a medida dos imóveis de comércio poderem servir para habitação dará lugar a beliches para enfiar 20 imigrantes em cada divisão? Foram medidas anunciadas quando nem sabemos onde estão a ser investidos os milhões de euros que a Europa tem dado a Portugal. Tenhamos esperança que se construam vários bairros sociais com escola, creche, centro de saúde, parque infantil e jardim. Isso sim, seria melhorar a vivência de um povo pobre. Mas, afinal o importante é acabar com os vistos gold…
André Namora Ai Portugal VozesQuem trabalha? Portugal está a viver um dos momentos sociais mais conturbados dos últimos anos. As paralisações profissionais prosseguem de uma forma contínua, diversificada e, em alguns casos, absurda. Os professores não dão aulas há semanas e mais de 100 mil manifestaram-se em Lisboa, no sábado, os agricultores pegaram em trezentos tractores e foram em marcha lenta pela estrada fora protestando que a ministra da Agricultura é uma incompetente e que desejam a sua demissão, os oficiais de justiça vieram para a rua protestar contra a falta de meios para trabalhar e os tribunais estão cada vez mais inoperacionais, os comboios resolveram parar e os restantes trabalhadores pobres que se lixem e que faltem ao trabalho. Um caso chocante passou-se num Centro de Saúde de Lisboa. Uma senhora acabada de ter alta hospitalar após uma cirurgia a um pulmão, passados dois dias teria obrigatoriamente de mudar o penso. Ao chegar ao Centro de Saúde, uma funcionária rude e malcriada da recepção disse-lhe que podia ir-se embora que os enfermeiros estavam em greve. A funcionária nem se dignou em perguntar a um enfermeiro se poderia abrir uma excepção para um caso urgente. A senhora que foi operada, é pobre, que fez o sacrifício de pagar um táxi e deslocar-se com a ajuda de uma amiga para ser tratada teve de voltar para casa e com indicações de ir ao Centro de Saúde no dia seguinte. Estamos autenticamente num mundo cão. As greves sucedem-se, ora, nos transportes marítimos Lisboa/Barreiro, ora, no Metropolitano de Lisboa, sem que os sindicatos se convençam que os seus direitos terminam quando começam os direitos do povinho. Milhares de trabalhadores têm ficado sem possibilidade de ir trabalhar devido à onda constante de greves nas mais diversas profissões. Numa estação ferroviária da linha de Lisboa-Sintra ouvimos um cidadão a perguntar: “Mas quem é que trabalha neste país?”, referindo-se ao número exagerado de greves e manifestações que têm decorrido em Portugal. Não está em causa o direito à greve, mas sim o bom senso de quem dirige o sindicalismo. Há casos em que alguns sindicatos não estão preocupados em negociações. O que lhes interessa é “mostrar serviço”… Portugal não pode continuar com o descontentamento do povo cada vez maior. Pelas ruas apenas ouvimos insultos aos políticos dos mais diversos partidos, aos membros do Governo, aos deputados. Isto, é perigoso porque as instituições populistas cativam cada vez mais os descontentes e, um dia, não se admirem de a dita democracia – que segundo o The Economist está na cauda da Europa – ficar em perigo e o país ser governado por um grupo organizado neo-fascista. O Governo tem uma maioria absoluta e em vez de construir obra que se veja com os milhões de euros vindos da Europa, tem-se perdido em questiúnculas internas, demissões de ministros e secretários de Estado, directoras disto e daquilo que rescindem da função. Não pode ser. António Costa tem de colocar um travão no obsceno e entrar na realidade da situação social que está a ficar cada vez mais degradada. Os pobres já optam entre o medicamento ou a comida. É chocante ver cada vez mais sem-abrigo a dormir na rua. E ainda por cima as autoridades brincam com o fogo. Assistimos na semana passada à tragédia do terramoto no sul da Turquia e no norte da Síria. Milhares de mortos e outros tantos desaparecidos. Pois, toda a gente sabe que Lisboa é uma das zonas mais inconstantes no aspecto sísmico e os especialistas já afirmaram na televisão que podemos ter algo de semelhante ao que aconteceu na Turquia e Síria. Pois, ainda não houve um governante sequer que se lembrasse de mandar efectuar um levantamento de quantos pavilhões desportivos temos em Portugal e nesse sentido mandar comprar nas diversas fábricas de colchões alguns milhares que ficassem guardados para o caso de nos acontecer uma tragédia. No mínimo, já teríamos colchões preparados para que os desalojados dos prédios que ruíssem pudessem dormir com algum aconchego. Nem isto passa pela cabeça de quem diz que trabalha para bem do povo. Afinal, neste país, quem é que trabalha?
André Namora Ai Portugal VozesOs pais andam a arder Portugal está a viver momentos muito caóticos no que respeita à situação dos pais. Os seus filhos não têm aulas há muitos dias porque os professores andam em guerra com o Governo e realizam greves distritais por todo o país e manifestações de protesto com milhares de presenças. Os pais têm razão quanto à sua desorientação mental. Os professores têm mais que razão porque há décadas que não são respeitados, não sobem na carreira, têm salários vergonhosos, não têm condições materiais nas escolas, fazem horas extraordinárias que não lhes são pagas. Os professores resolveram gritar basta! E irem para a rua na companhia dos filhos. Os professores são, ao fim e ao cabo, os educadores dos homens de amanhã, dedicam-se desmesuradamente à função e ainda levam trabalhos para casa para prepararem a lição do dia seguinte. Há professores que há mais de 20 anos que nem sobem na carreira nem veem o seu pecúlio aumentar. Antes pelo contrário. Tal como a população portuguesa a inflação veio estragar ainda mais a situação precária das famílias. Tudo está mais caro e neste aspecto nota-se um oportunismo ignóbil. Há comerciantes que se aproveitaram do “tudo está mais caro”, para aumentar preços em produtos que já tinha há dois e três anos em armazém. Os professores têm-se manifestado em gigantescas acções de protesto e as reivindicações são imensas, especialmente a defesa da escola pública. As negociações que os diversos dirigentes de diferentes sindicatos, especialmente a Fenprof, têm mantido com o ministro da Educação tem sido uma montanha que pariu um rato. Nada avança de concreto. Incrivelmente, o Governo até decretou serviços mínimos nas escolas e ameaçou com requisição civil caso não fossem cumpridos esses serviços mínimos, algo que vai frontalmente contra o direito à greve. O líder da Fenprof, Mário Nogueira, já anunciou que a questão só pode ter uma solução, que é a participação nas negociações do primeiro-ministro António Costa. Não se vislumbra uma solução razoável que leve os professores a parar com a onda de greves. E aqui, é que entra o sofrimento dos pais dos alunos. Mães que deixam de poder ir trabalhar para ficarem com as crianças em casa. Pais que levam as crianças diariamente à escola no sentido de confirmarem se haverá aulas. Debalde. Voltam para trás, têm de entregar os filhos aos avós, quando estes existem, e chegam atrasados ao trabalho. São semanas com os alunos sem aulas. Alguns pais já se pronunciaram afirmando que o ano lectivo está perdido. Os pais andam com a mente a arder numa situação desesperada em que alguns deles, já nem sabem como viver. Obviamente, que todo este fogo de protesto professoral e de alunos sem aulas resulta em algo muito grave. A criançada e os adolescentes aumentaram o seu tempo de permanência nos telemóveis, computadores e tablets. E segundo uma nossa fonte da Polícia Judiciária, a criminalidade tem aumentado assustadoramente devido os indivíduos, alguns organizados em gangues informáticos. Que têm tentado ludibriado as meninas que se encostam num banco de jardim ou no seu quarto privado em casa. Os contactos sucedem-se, as mensagens mentirosas e tentadoras subiram em catadupa e os jovens têm sido ludibriados das mais diversas formas, desde o assédio sexual ao roubo de dinheiro que os bandidos sacam aos jovens através do MBWay. Na semana passada a Polícia Judiciária descobriu um caso tristíssimo e relacionado com o que referimos. Uma jovem de 14 anos, na altura, manteve mensagens com um indivíduo de 48 anos e, mais tarde, o fulano foi a Leiria raptar a jovem que estava desaparecida há oito meses e que fechada numa casa em Évora, manteve um relacionamento íntimo com o indivíduo. Casos destes sucedem-se e alguns mais graves. Há pais que gostam muito de inserir nas redes sociais fotografias dos seus filhos menores, sem terem a mínima ideia que existem mafias que passam o tempo a procurar imagens de meninas ou meninos que sejam bonitos, a fim de descobrir a morada ou a escola dessas crianças, as quais vêm a ser raptadas. O povinho não faz a mínima ideia de quantos casos acontecem por ano de crianças que desaparecem e que depois são vendidas para adopção, ou violadas ou ainda levadas para um continente diferente. Os pais têm de tomar medidas radicais, têm de controlar com quem os filhos estão a falar no computador até à meia-noite, até às duas horas ou quatro da madrugada fechados no seu quarto. No dia seguinte a criança ou adolescente vai para a escola cheio de sono e dorme nas aulas. O professor não pode tomar qualquer posição contra os dorminhocos antes que seja alvo de violência. O ensino, a educação dos menores está nas ruas da amargura e estes professores em protesto, encontram-se essencialmente preocupados com a futura geração que está a ser alvo de incompetência ou teimosia política, dos grupos de criminosos e de algum desleixo de certos pais.
André Namora Ai Portugal VozesDe repente, a corrupção Kung Hei Fat Choi a todos os amigos leitores neste novo ano do Coelho. No regresso ao vosso contacto, venho dizer-vos que em Portugal a maioria do povo anda baralhada. De repente, de um momento para o outro, mais mês, menos mês, a Polícia Judiciária (PJ) parece que foi fundada em 2022. De repente, a corrupção é o tema generalizado nos média e nas conversas de café. De repente, começámos a ouvir que um grande número de autarcas, e não só, era suspeito em factos ilegais e repletos de corrupção. Primeiramente, salientando o que se tem passado apenas recentemente, veio a lume que o secretário de Estado-Adjunto do primeiro ministro tinha feito desaparecer da Câmara Municipal de Caminha a quantia de 300 mil euros para uma obra que até hoje não existe. Obviamente, demitiu-se. Da investigação nada se sabe. Mais tarde, a PJ começa a descobrir actos de corrupção nas mais diversas edilidades. Em Espinho, o escândalo é enorme, porque esteve muitos anos no cargo de presidente da edilidade um senhor do PSD, íntimo amigo de Luís Montenegro, líder dos social-democratas, que passou da Câmara de Espinho para deputado da Assembleia da República e onde era o vice-presidente da bancada parlamentar laranja. O senhor também já renunciou aos cargos. Mas, a PJ sobre Espinho, deteve o actual presidente socialista da Câmara e outros altos funcionários por suspeita de corrupção, começando o presidente edil por ser acusado de ter recebido 50 mil euros para facilitar uma obra de um empresário amigo, igualmente amigo de Luís Montenegro, que por sinal, corre à boca cheia em Espinho que é proprietário de um prédio com piscina no terraço. Este mesmo Montenegro, que nem tem capacidade para ser secretário de Estado e já anda a pedir eleições antecipadas e a pronunciar-se como possível novo primeiro-ministro. Parece que estamos a baralhar num jogo de cartas, mas não. A PJ ainda na semana passada invadiu as instalações da edilidade de Setúbal, presidida por um socialista, suspeitando de corrupção e de outros actos ilícitos como ajustes directos em obras na cidade setubalense e cuja investigação inclui também a antecessora edil comunista que esteve à frente da edilidade setubalense durante vários anos. E logo no dia seguinte, calhou a vez à autarquia de Mesão Frio, onde a PJ recolheu diversos documentos que podem prejudicar gravemente o autarca presidente. No entanto, o mais vergonhoso destas investigações que, de repente, a PJ tem levado a efeito, passou-se na Câmara Municipal de Lisboa, a maior do país. Já estão mais de 10 crimes em investigação. Já se acusa o arquitecto Manuel Salgado que enquanto braço-direito do ex-presidente Fernando Medina, teria cometido erros ou ilegalidades gravíssimas. Afinal, existe mesmo um baralho de cartas porque já alguns políticos da extrema-direita, – especialmente o radical André Ventura que realizou neste fim de semana mais uma auto Convenção para se manter como líder do Chega – pretendem a demissão de Fernando Medina de ministro das Finanças, quando a PJ nunca fez uma pergunta sequer a Medina sobre os actos de corrupção na edilidade lisboeta e já avançam com a possibilidade de um novo Governo. O povinho já está farto de ouvir falar todos os dias em cambalachos. Um dos factos que tem dado que falar, foram as obras no Hospital Militar de Lisboa e cujos custos derraparam para cerca de três milhões de euros e que já levou à acusação de civis e militares. O próprio ex-ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, foi acusado pelos extremistas de direita de ter mentido no Parlamento dizendo que não tinha conhecimento dos custos extraordinários e agora vem-se a saber que o actual ministro dos Negócios Estrangeiros sabia de tudo. Este ministro, não tem qualquer vergonha em ser sócio de uma imobiliária e em simultâneo governante do país. Já houve quem ironizasse dizendo que a venda dos imóveis da empresa do ministro é para financiar o armamento a enviar para a Ucrânia… só não entendemos uma coisa: se Putin é um bandido e se temos de enviar material bélico para combater a Rússia, porque é que Portugal ainda não cortou relações diplomáticas com a Rússia?… Mas, por nos referirmos à edilidade da capital, o baralho de carta resvalou, na passada quinta-feira, para a estrutura que a Câmara de Lisboa está a construir junto ao rio Tejo para a visita do Papa Francisco que virá em Agosto próximo presidir à Jornada Mundial da Juventude, e onde irão estar presentes mais de um milhão de jovens. A celeuma que deu lugar em todos os noticiários e que até já meteu ao barulho o Presidente da República, prende-se com os custos do altar-palco, na ordem de mais de quatro milhões de euros, onde irá sentar-se o Papa. A discussão também se tem situado nas estruturas várias que a edilidade de Lisboa pretende construir em vários locais da capital. O que se dá a entender ao povinho é que os exageros dos custos se prendem com a possível corrupção e com ajustes directos que estão a ser realizados. De certo modo, a discussão é quase absurda e chega a um ponto que enoja. O patriarca de Lisboa veio dizer que transmitiu todos os custos do evento a Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente respondeu que nunca teve conhecimento dos gastos totais para o encontro da juventude. O representante do Governo nas obras em causa, o célebre ex-vereador da Câmara de Lisboa por razões tristes, foi para a televisão afirmar que o palco tinha um custo exagerado e que o presidente da Câmara, Carlos Moedas, estava a gasta dinheiro dos contribuintes de uma forma inacreditável. O que Sá Fernandes não soube dizer aos espectadores foi que aquele enorme espaço onde se vai realizar o evento, irá servir no futuro para os mais diversos espectáculos, e quem não nos diz que será a continuação urbana do presente Parque das Nações que nasceu do lixo no tempo em que se realizou a Expo-98. A corrupção existe em todo o país e nos mais diversos departamentos estatais com ligações a empresas de construção civil. Portugal é um dos países onde menos se combate a corrupção generalizada, mas, felizmente, a PJ parece ter adquirido outros meios humanos e materiais que a tem levado a uma actividade surpreendente e à detenção dos mais diversos indivíduos “importantes” deste país. Bem, vale mais tarde do que nunca.
André Namora Ai Portugal VozesPortugal do nosso descontentamento Os portugueses vivem momentos perturbados. Estabilidade e confiança no governo de maioria absoluta não existe. Todas as semanas assistimos a casos que fazem perder a credibilidade de quem nos governa. Na semana passada a Polícia Judiciária chegou à terra natal de Luís Montenegro e deteve o presidente socialista da Câmara Municipal de Espinho e mais três funcionários superiores. São suspeitos de corrupção e de outros factos ilegais. O presidente edil, Miguel Reis, estava no cargo há pouco mais de um ano e após a detenção pediu logo a exoneração do cargo. A corrupção em Espinho é apontada já há muitos anos, desde que Pinto Moreira, social-democrato, era presidente da edilidade e que após o mandato foi para a vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e que na passada quinta-feira renunciou ao cargo. Como sabemos o povo tem votado em maioria no PSD e no PS e por essa razão sente-se ludibriado e desolado. Não passa uma semana sem casos que enchem as páginas dos jornais. Casos de ilegalidade, de falta de ética republicana e de falta de moral. Uma fonte do Ministério Público transmitiu-nos que não existem meios para investigar o número de autarcas de quem desconfiam ser suspeitos da maior corrupção no país. A interligação entre empresários da construção civil e presidentes das Câmaras Municipais é íntima e conflui em negociatas escandalosas onde se mudam os planos directores municipais para dar lugar a empreendimentos de milhões de euros, indo algum dinheiro parar aos bolsos dos autarcas. Assim, o país perde a confiança total em quem administra este país. O caso de Espinho é um pequeno exemplo de que a função que obrigatoriamente deveria ser séria e em benefício de quem paga os impostos redonda em actos contra a lei. A seriedade nas diversas regiões do país não impera e todo o povo sabe que a vida quotidiana se torna cada vez mais difícil. O poder de compra dos cidadãos tem diminuído e já temos cerca de quatro milhões de portugueses no limite da pobreza, muitos que passaram a viver à custa de familiares e amigos. Para vos dar um exemplo, um português com uma reforma de 300 euros pretendeu que a Segurança Social lhe passasse uma declaração para que pudesse dirigir-se à companhia de electricidade e obter uma tarifa social de consumo energético. A declaração foi-lhe negada porque foi-lhe transmitido que as reformas foram aumentadas. Que balela mais incrível quando o aumento que os reformados tiveram situaram-se em uns míseros euros. O primeiro-ministro vai ao Parlamento e não responde concretamente às perguntas dos deputados. O Presidente da República é confrontado com os casos ilegais de governantes e escusa-se afirmando que aguarda as decisões do Governo. Quais decisões? Simplesmente factos graves como destituir a administração da TAP depois de uma sua administradora sair da empresa e ter recebido uma indemnização de 500 mil euros, quando a TAP se encontra em reestruturação tendo já despedido cerca de três mil trabalhadores e depois de ter recebido do governo ima injecção financeira de mais de três mil milhões de euros, dinheiro do povo. Os deputados quiseram também saber o que faria o Governo no caso da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, que deixou o Governo e ia trabalhar para uma empresa que tutelou e a quem entregou mais de cinco milhões de euros. Ia trabalhar, mas depois das críticas de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa desistiu de ingressar na dita empresa. É que a lei é bem clara, qualquer governante só pode ir trabalhar para uma instituição que tenha tutelado após três anos. A falta de legalidade e de ética moral desta governante bradou aos céus e os portugueses não aguentam mais, assistindo a casos de corrupção e ilegalidade atrás uns dos outros. Na rua as manifestações de desagrado e protesto seguem-se diariamente. Na semana passada estiveram a reivindicar os sus direitos os trabalhadores da banca e os professores continuam em greve e milhões de alunos sem aulas e os seus pais desesperados sem poder ir trabalhar para ficarem em casa com os filhos. Há estudantes que não têm aulas de português quase há um ano, já não referindo que o estudo do épico Camões foi retirado do ensino. Para os amigos leitores de Macau aconselho a que se deixem estar, porque não irão encontrar o mesmo país quando decidiram ir trabalhar para Macau. Contudo, há uma referência positiva que se impõe: os 50 anos de existência do semanário Expresso, um jornal que teve o seu início no tempo da ditadura, mas que sempre lutou pela liberdade de expressão. Esta, é uma homenagem merecida a quantos passaram pelas páginas do Expresso. Como sabem, muitos jornais fecharam as suas portas pelas mais diferentes razões, mas manter um jornal 50 anos com qualidade e um jornalismo de referência é obra. A todos os jornalistas que lutaram pela referida liberdade deixamos os nossos maiores encómios.
André Namora Ai Portugal VozesPortugal é um paraíso Há alguns anos passei por Vinhais. Era uma localidade pobre com cerca de quatro mil habitantes, no distrito de Bragança e uma sub-região do Alto de Trás-os-Montes. Sede de município com 35 freguesias. Pouco ou nada tinha que atraísse o visitante. A dada altura foi para presidente da edilidade o socialista Américo Afonso Pereira e um amigo que residia em Vinhais foi-me informando que a terra estava a ter um desenvolvimento surpreendente e as obras estavam a aparecer como cogumelos. É uma região marcada por lameiros (prados permanentes), com grandes extensões de carvalhos negros, soutos de castanheiros e searas de trigo e essencialmente centeio, sendo o maior produtor nacional de castanhas. No território existe uma particularidade que vale a pena realçar: rochas de xisto que os arqueólogos indicam ter uma idade de mais de 400 milhões de anos. Com o decorrer dos anos sob a batuta do edil socialista Afonso Pereira casado com a secretária de Estado da Agricultura que tomou posse na semana passada. E aqui é que começa o espanto: o casal tem várias contas bancárias conjuntas e o marido está acusado pelo Ministério Público de corrupção e de não ter declarado ao fisco centenas de milhares de euros. Segundo as autoridades judiciais que pedem o julgamento do autarca, acusando-o entre outros factos de informar alguns amigos de terrenos que ele próprio iria oficializar na Câmara como locais para habitação, logo, os amigos adquiriam esses extensos terrenos. Resultou que a investigação judicial concluiu que o casal recebia anualmente muito mais dinheiro nas suas contas bancárias do que o pecúlio indicado às Finanças e cujas contas bancárias já foram arrestadas. A bronca está lançada. É mais um caso no Governo português onde já 10 dos seus membros saíram empurrados pelas costas em face de casos que bradaram aos céus, incluindo um ministro que sem dar satisfação a ninguém anunciou que seriam construídos dois novos aeroportos, no Montijo e Alcochete, e que o de Lisboa seria completamente remodelado e melhorado. Desta vez, a semana terminou com a vergonha de uma secretária de Estado que acabara de tomar posse estar metida em cambalachos quando foi funcionária da Câmara de Vinhais com o marido em presidente da autarquia. E já se pede a demissão da ministra da Agricultura. Mas, neste país só reina a corrupção? Claro que não. Há gente séria, competente, dedicada. Essas pessoas não as vimos a ser convidadas para governar seriamente o país. Como é que pode ser possível que o primeiro-ministro escolha uma pessoa para governante quando antecipadamente lhe chamam a atenção da possibilidade de existir investigação e até acusação de actos ilegais que comportam essa escolha? Porquê é que tem de ser uma secretária de Estado para a Agricultura uma cidadã que juntamente com o seu marido está debaixo do foro judicial? O povo começa a não tolerar que assiduamente os políticos se dediquem ao que não é legal. A políticos que passam de uma fracção de um prédio para uma vivenda de luxo com piscina em Cascais ou em Sintra. O povo está farto de políticos que saem de um cargo bem remunerado e repleto de mordomias e que entram de seguida em outra função que um salário escandaloso, como salários mensais na ordem dos 30 mil euros, com carro conduzido por um motorista. O povo está farto de deputados que ao deixarem o parlamento ficam a receber vitaliciamente uma reforma choruda. O povo está farto de ouvir o Presidente da República a mandar recados para o Governo sem agir com as competências que lhe estão destinadas, nomeadamente a promoção de eleições antecipadas, porque o Governo não governa. Portugal está a passar uma crise grave. Os pobres estão cada vez mais pobres. Os funcionários públicos e os trabalhadores das empresas privadas voltaram ao hábito de levar para o local de trabalho as suas lancheiras com o almoço. A própria classe média está a sentir a inflação galopante que já a priva de ir jantar fora ou passar o fim de semana num turismo rural. Isso acabou. Os cidadãos estão a perder o poder de compra e vão ao supermercado olhar primeiramente para os preços e só depois é que escolhem os poucos produtos para consumir. Um exemplo simples: tenho um vizinho que é engenheiro. Todas as semanas comprava uma garrafa de vinho e mensalmente uma de whisky. O referido engenheiro transmitiu-me que já não compra qualquer tipo de bebida alcoólica porque o orçamento familiar não chega para desvarios. Desvarios? Beber uma garrafinha de vinho por semana passou a ser um desvario? É um exemplo realista e simples da situação em que nos encontramos. Tal como o grande número de pessoas que está a vender os seus automóveis por não conseguir pagar o combustível e a manutenção dos veículos. Portugal está a receber milhares de milhões de euros da União Europeia e ninguém vê qualquer progresso e onde é que esse dinheiro é empregue. Os hospitais estão a atender os doentes nas urgências ao fim de 13 horas. E não se constroem mais estabelecimentos hospitalares, não se evita que os médicos e enfermeiros emigrem ou que abandonem o Serviço Nacional de Saúde e optem pelos hospitais privados. As estradas do interior do país vão-se degradando e em parte alguma aparecem os operários para as reparar as mesmas. As greves sucedem-se semanalmente e no ensino há alunos que chegam a não ter aulas durante uma ou duas semanas porque os professores entraram em greve, ou reformaram-se ou ainda, foram para o estrangeiro. Assim não dá, não é viver, não existe esperança de melhores dias. Dois milhões de portugueses estão no limite da pobreza vivendo em más condições habitacionais sem se construir um bairro social. Portugal é óptimo, sabem para quem? Para os estrangeiros que vêm gozar o bom clima ou adquirir uma casa para viver depois de se reformarem na Dinamarca, Holanda, Alemanha ou outo país qualquer. Para esses europeus, Portugal é um paraíso.
André Namora Ai Portugal VozesAno novo, vida nova: falso Ano novo, vida nova é absolutamente falso nos dias em que vivemos em Portugal. Antes de mais quero desejar aos meus leitores de Macau um ano de 2023 muito melhor e sem os problemas caóticos que têm vivido há mais de dois anos em função das decisões governamentais recentes sobre as restrições da Covid. O sofrimento da sociedade macaense está a piorar quando se esperava que melhorasse em função dos sacrifícios que tem feito. Chegou a Portugal a notícia que Macau vive dias de grande dificuldade com o número de infectados a aumentar assustadoramente e com os hospitais sobrelotados. E por que razão afirmo que em Portugal tudo está na mesma ou pior? Também os casos de Covid têm aumentado e o número de mortes até parece ser escondido porque não temos números concretos e sabemos que morrem pessoas todos os dias. Contudo, o novo ano não vai trazer vida nova porque os casos de escândalos no seio da administração têm-se sucedido em catadupa. Esta semana, ainda os portugueses estão revoltados com o último caso que tem dado a maior discussão e interrogação. Uma senhora administradora da TAP, Alexandra Reis, deixou a TAP, por incompatibilidade gestora com a presidente da empresa pública ou porque decidiu aceitar um outro convite. Uma passagem profissional quase absurda, porque passou da TAP para outra empresa pública do mesmo ramo, a NAV. Ao deixar a TAP recebeu 500 mil euros. Mas como é isto possível, se os portugueses introduziram 3,2 mil milhões de euros na reestruturação da TAP? Então, o ministro da tutela da TAP, Pedro Nuno dos Santos, não tinha de assinar a autorização de uma indemnização de meio milhão de euros a uma funcionária que deixa a TAP? E como é que o mesmo ministro, bem como o seu colega das Finanças vieram pedir satisfações à TAP sobre o sucedido? Pior ainda é que passados uns meses, a mesma senhora foi nomeada pelo Presidente da República, por proposta do Governo, para secretária de Estado do Tesouro, cuja tutela é precisamente o ministro das Finanças, Fernando Medina. Ninguém consegue compreender um imbróglio desta natureza e naturalmente que revolta qualquer português, especialmente os dois milhões de cidadão que vivem abaixo da pobreza. Uma pobreza tão extrema que o primeiro-ministro, António Costa, decidiu na semana passada “oferecer” 240 euros a cada um que estivesse no âmbito das maiores dificuldades vivenciais. Obviamente, que sempre é o mexilhão que se trama, e para salvaguardar os ministros, a engenheira Alexandra Reis viu-se obrigada a pedir a demissão do Governo, tal como seria natural o ministro Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado, Hugo Mendes também se demitiram para vergonha do primeiro-ministro que não convence ninguém que igualmente não sabia de nada. Um imbróglio enorme que já levou políticos a pedir ao Presidente da República que dissolva o Parlamento. Portugal vive momentos de tristeza, passou um Natal sem sorrir, com as pessoas a chorar sentadas nas estações ferroviárias sem comboios para poderem reunir-se com os familiares para a tradicional consoada. Uma vergonha sensibilizante aquilo que foi decidido pelos trabalhadores da CP, realizarem uma greve no Natal deixando os seus conterrâneos sem poderem abraçar quem há muito não viam e que é natural acontecer na época festiva natalícia. Portugal não está a ser bem administrado de forma a proporcionar alegrias ao seu povo. Os banqueiros e ex-ministros corruptos continuam em liberdade e sem se sentarem nos bancos dos réus. Os pedófilos e os agressores que matam as suas mulheres ficam a rir-se numa qualquer prisão preventiva a aguardar que um julgamento lhes dê uma sentença quase irrisória. As promessas de um novo aeroporto para Lisboa aguardam que uma comissão termine um relatório que indique “apenas” onde deverá ser o lugar destinado ao novo aeroporto, quando existe no território um aeroporto em Beja que se fosse alvo de poucos melhoramentos serviria perfeitamente Lisboa. Basta lembrarmo-nos que em Londres levamos mais de uma hora entre o aeroporto e o centro da capital inglesa. E o de Banguecoque está a quanto tempo da cidade em autocarro de luxo? Afinal, o que pensa o povo? Que simplesmente somos governados por indivíduos que só pensam nos negócios que podem obter com a construção de raiz de um aeroporto, de uma nova via ferroviária ou de mais uma ponte sobre o rio Tejo entre Lisboa e a margem sul. Todo este problema vai levar anos a resolver e a termos um novo aeroporto que sirva Lisboa. O meu vizinho disse-me no Natal passado quando me veio dar as boas festas, que neste desiderato, Portugal tem é a sorte de ter a Senhora de Fátima com os seus milagres constantes em não deixar cair um avião em plena capital lisboeta matando centenas de pessoas. Só para termos um exemplo, já ninguém fala no tal fulano que foi presidente da Câmara de Caminha e que gastou mais de 300 mil euros para uma obra que nunca se realizou e que foi parar a braço-direito do primeiro-ministro. Logicamente que se demitiu, mas onde está a sentença de um prevaricador desta natureza e que ainda foi premiado com um cargo de secretário de Estado-adjunto do chefe do Executivo. Tudo isto, é Ano Novo e vida velha. Tudo isto é triste, como canta o nosso fado.
André Namora Ai Portugal VozesPresidentes na prisão Há mais de 40 anos que os portugueses do norte, centro e sul reivindicam obras nas suas terras que evitem as inundações. A semana passada em Portugal foi atípica, é certo. Choveu como nunca. Mas… há sempre um mas- As chuvadas de imediato inundaram terras, estradas, ruas, caminhos de ferro e aeroportos. Uma dor imensa ver na televisão tantos portugueses em perigo de vida e desalojados de suas casas ficando apenas com a roupa que tinham no corpo. Os bombeiros não tiveram mãos a medir com 72 horas sem dormir. Em Braga, Coimbra, Portalegre, Campo Maior, Avis, várias cidades do Algarve e a grande zona de Lisboa. Bem, sobre esta nem temos palavras. Loures, Algés, Alcântara, Oeiras e Cascais ficaram intransitáveis e com os responsáveis da Protecção Civil a apelar para que ninguém saísse de casa. Os comerciantes ficaram sem nada, com os electrodomésticos todos estragados, com as fracções cheias de água e lama até ao tecto. Mulheres de 90 anos, crianças de quatro anos, jovens solidários ficavam abismados e em pânico com a força da água que corria pelas ribeiras e inundava, todas as margens, tivessem ou não casas, lojas, armazéns, oficinas ou fábricas. O prejuízo monetário é incalculável e um membro do Governo veio para a televisão dizer que haverá apoios quando se souber o quantitativo desses prejuízos. Em Janeiro, Abril ou em Outubro de 2023? Uma tristeza, este Portugal. Os autarcas, especialmente os presidentes das edilidades, há décadas que sabem que a prioridade seria o saneamento básico e as drenagens a construir para que as águas das intempéries pudessem fluir sem matar pessoas e animais ou prejudicar quem vive do comércio, e não só. Era imperioso que os presidentes da Câmara de Lisboa, por exemplo, tivessem mandado construir uma tubagem subterrânea desde Monsanto até ao rio Tejo. Mas isto, há décadas. Lisboa, capital do turismo, ficou num estado inimaginável com os túneis do Marquês de Pombal, o tal “Oscar” de Pedro Santana Lopes, os do Campo Grande e da Avenida João XXI/Areeiro completamente inundados de água e intransitáveis causando o caos no movimento rodoviário. Mas que obras foram estas? Que engenheiros, que técnicos que não souberam construir o indispensável escoamento das águas em caso de chuvas intensas? Uma vergonha para toda essa gente em quem os portugueses ingenuamente ainda vão eleger com o seu voto. Em Campo Maior a dor foi profunda. As casas ficaram completamente inundadas, as ruas repletas de lama e o povo sem qualquer dos seus haveres. Em Coimbra o mesmo caos e quantos presidentes da edilidade coimbrã já passaram pelo gabinete dos responsáveis e nada fizeram para que o povo não sofresse só porque cai uma carga de água. Os autarcas não se podem desculpar com as mudanças climáticas. Isso é uma treta. O clima está a mudar em todo o mundo. A título de vergonha é-nos impossível contabilizar as rotundas desnecessárias que foram construídas por todo o país. Vergonhosamente, apenas na marginal Lisboa-Cascais, de Caxias a Cascais existe uma dezena de rotundas, algumas que só prejudicam o escoamento rodoviário. Vamos a Viseu, a Braga, a Évora, a Coimbra, a Portalegre, a Beja, a Faro e só vemos rotundas por todo o lado e algumas com uns mamarrachos no centro, a que chamam “monumentos”. Portugal não pode continuar a ser governado por gente incompetente, por gente que se introduziu nos partidos políticos para arranjar um bom “tacho”. Nos últimos tempos, os escândalos de corrupção a atingirem gente importante desse tipo tem sido aos magotes. A Polícia Judiciária já não tem carros para todas as operações de investigação e de detenção. A corrupção no seio das Câmaras Municipais é global e ninguém consegue licenciar seja o que for sem entregar um envelope por baixo da mesa. É um Portugal corrupto e incompetente. As cheias da semana passada mostraram bem como as edilidades tem gente a mais e desnecessária. E o povo é que paga. Os pobres continuam cheios de fome e já sem poder comprar carne ou peixe. E no fim, o que vimos? Os desgraçados dos prejudicados pelas cheias a limpar as casas, os restaurantes, as lojas, com uma mangueira na mão, dia e noite, a retirar a lama das suas ruas, a trabalhar sem descanso, porque brigadas de socorro social não existem. Valha-nos o sacrifício árduo dos soldados da paz voluntários que sem cessar um minuto acorreram a todo o lado para salvar vidas e ajudar a diminuir a calamidade. Quando perguntei a um comandante de uma corporação de bombeiros, exausto e desolado sobre o que aconteceu, respondeu-me simplesmente: “Os presidentes das Câmaras de há muitos anos deviam era estar presos”. Ai, Portugal, Portugal, que tristeza!
André Namora Ai Portugal Vozes808242424 Mas o que é que este tipo quer dizer com o título de 808242424? É um número importantíssimo num país como Portugal onde quase toda a gente só sabe dizer mal dos serviços, departamentos e instituições. Por vezes, por causa de um ou de outro, pagam todos. Mas não pode ser assim. 808242424 é o número dos Serviços de Urgência de Saúde, mais conhecidos pelo S24. Uma grande parte das pessoas que frequenta os cafés e que fala alto, ouve-se assiduamente a criticar o S24: que não respondem; que não sabem nada de saúde; que não aconselham os doentes; que não se preocupam com as queixas apresentadas; etc, etc. Nada mais falso. Temos de dizer a verdade e ainda bem que existem jornais. Na semana passada senti-me muito mal. Ia pela rua fora e comecei a ficar sem forças e com a sensação de que iria desmaiar. Abençoado banco camarário que estava instalado ali por perto onde me sentei de imediato e, meio tonto, não sabia o que fazer porque mal tinha forças para pegar no telemóvel. Felizmente, tinha o número 808242424 na minha lista telefónica e liguei. Em menos de cinco segundos atenderam-me a chamada e uma senhora identificou-se como enfermeira. Iniciou uma conversa essencialmente fazendo-me as mais variadas perguntas: se tinha dores fortes na cabeça, se tinha dores no peito, nas costas ou no pescoço; se sentia alguma parte do corpo dormente; se sentia febre; se tinha tonturas; se tinha vontade de vomitar… até que eu a informei que os únicos sintomas eram a falta de forças em todo o corpo e informei a senhora enfermeira de que era diabético e que poderia ter havido uma subida ou descida brusca da glicose. Ela perguntou-me se eu avistava alguma farmácia e por sorte a uns 100 metros existia uma. A senhora enfermeira disse-me para tentar andar muito devagar até à farmácia, sentar-me assim que chegasse, que pedisse água e que bebesse muita e que me fizessem o teste aos diabetes. De seguida adiantou-me que após a glicemia voltasse a ligar-lhe para informar se os diabetes estavam altos ou baixos. E assim, lá consegui chegar à farmácia onde me trataram com uma amabilidade extrema e constataram que eu tinha tido um grande e brusco abaixamento da glicose, ou seja, do açúcar no sangue, o que me aconteceu pela primeira vez. O farmacêutico transmitiu-me para continuar sentado e esperar que os dados da glicemia estabilizassem. Telefonei novamente, como me tinham pedido, para o S24 e transmiti à senhora enfermeira o resultado dos testes. Voltou a fazer-me várias perguntas e devido à falta de forças a senhora não ficou lá muito convencida que se tratasse apenas de um problema diabético. Aconselhou-me, se pudesse andar, que apanhasse um táxi para casa e que continuasse a beber água. E acrescentou que à noite iria ligar-me para saber o meu estado de saúde. Ligou à noite e no dia seguinte de manhã. A preocupação e o profissionalismo foi de tal ordem, que se eu estivesse pior o S24 chamava de imediato o INEM para uma ambulância levar-me ao hospital. Seriedade, acima de tudo. Tudo isto que vos descrevi mostra bem como se fala tanto sem se ter conhecimento da realidade ou apenas com o intuito de denegrir as instituições, muitas vezes por motivação política. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) funciona bem, com profissionalismo, com bons médicos, bons enfermeiros. Não se pode dizer mal constantemente do que está bem. O Estado gasta milhões de euros na comparticipação dos medicamentos, nos salários dos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. A gestão dos hospitais tem um custo astronómico. Naturalmente, que o país tem lacunas na Saúde. Que o Serviço Nacional de Saúde merecia mais investimento do que aquele que tem sido proporcionado, que há falta de clínicos, que muitos enfermeiros emigram devido ao salário baixo. Todos sabemos isso, mas não se pode criticar constantemente o SNS de que presta um mau serviço aos utentes. É a falta de meios financeiros que resulta nas urgências hospitalares cheias de doentes, em macas nos corredores e mais de 20 horas de espera para se ser visto por um médico. O investimento governamental na Saúde tem de aumentar substancialmente e não permitir, por exemplo, que um médico que pertença aos quadros públicos, esteja em serviço no hospital público da parte da manhã e à tarde trabalhe no seu consultório ou num hospital ou numa clínica privados. De qualquer das formas que fique bem explícito que no SNS há grandes profissionais e atenciosos, amáveis e preocupados com os pacientes. Os nossos parabéns ao 808242424.
André Namora Ai Portugal VozesOs amigos não podem ser para as ocasiões Em todo o mundo existem amigos, apesar de alguns conhecidos afirmarem-se, hipocritamente, como amigos. Portugal não foge à regra e penso que toda a gente tem amigos, refiro-me aos verdadeiros, naturalmente. O que não me passava pela cabeça é ter lido uma estatística onde se informa que em Portugal 80 por cento dos amigos zangam-se. Ui, é muito. Pensei que as zangas radicais entre amigos englobassem um número diminuto. Isto, fez-me lembrar uma história verdadeira de dois amigos que conheci em Leiria e que me chocou profundamente pelo seu teor de injustiça. Eram dois jovens que frequentaram a mesma escola primária e o liceu. Um deles era filho de empresário abastado com várias casas e quintas. Os dois passavam o tempo sempre juntos. Mas, o outro era pobre, muito pobre. A sua mãe dedicava-se à limpeza de lojas e o pai era ajudante de carvoeiro. O amigo rico levava o pobre a todo o lado, dava-lhe roupas e quando a sua empregada vinha cheia de produtos do supermercado tirava logo umas quantas iguarias para oferecer ao pobre. Cresceram e fizeram o serviço militar juntos, sendo até mobilizados para as colónias, no entanto, para territórios diferentes. Quando regressaram a amizade parecia ter aumentado e o rico continuava a ajudar a família do pobre com produtos de vária ordem. Nunca deu dinheiro ao amigo pobre. O rico tinha uma máxima que ninguém acreditava, dizia ele que o seu pai lhe tinha ensinado que nunca emprestasse dinheiro a ninguém porque perdia o dinheiro e o amigo. Ora, isso não é verdade porque conheço dezenas de amigos que tendo uma vida folgada emprestam dinheiro ao seu amigo em dificuldades vivenciais, e o mais desprotegido paga a dívida, após o que ficam muito mais amigos. Portanto, o amigo rico, diga-se em abono da verdade, era muito altivo, um pouco peneirento, arrogante e gostava de mostrar que era rico frequentando os melhores restaurantes de Lisboa quando visitava a capital, pois tinha adquirido uma vivenda na linha de Cascais, mas gorjetas aos empregados não era com ele. Como amigo do pobre tinha um grande defeito: convidava o pobre para almoçar para os tais repastos luxuosos, mas o pobre começou a desconfiar ao fim de mais de 40 anos de relação amistosa, que o seu amigo rico convidava-o para mostrar aos outros convivas que era um benemérito e que ao fim e ao cabo o que estava a fazer era a dar uma esmola ao amigo pobre, que entretanto, se tinha reformado com uma pensão de apenas 300 euros. Num belo dia, o amigo rico no seu carro luxuoso dos mais caros do mercado ia tendo um desastre fatal para ambos. O rico ia a guiar completamente embriagado e o pobre ao seu lado conseguiu puxar o volante de modo a que o carro não embatesse de frente num camião. A gravidade da embriaguez era tanta que o acidente mortal já podia ter acontecido por diversas vezes. Só para que tenham uma ideia o amigo rico bebia uns seis whyskis após a refeição onde já tinha bebido uma garrafa de vinho. O amigo pobre contactou com a mulher do amigo rico e com os filhos dando conhecimento do que se andava a passar e a propor que devido à sua riqueza o melhor seria que o pai passasse a ir para todos os repastos com um motorista privado. A mulher achou uma boa proposta, mas não tinha voto em nenhuma matéria lá em casa. Um dos filhos, que sempre se armou em mandão e vaidoso das suas motos de topo de gama e dos seus carros desportivos chegou a casa dos pais e contou a proposta do amigo pobre. Foi o fim do mundo. A discussão foi grande. O filho vaidoso aldrabou os familiares dizendo que possivelmente o amigo pobre é que embriagava o pai e que o mais natural seria ele vir a dar uma sova no amigo pobre por andar a levar o pai para maus caminhos que podiam acabar em acidente rodoviário mortal. O pai, o tal amigo rico, no dia seguinte, logo pelas oito da manhã telefonou ao pobre e deu-lhe uma descasca de caixão à cova. Insultou-o de tudo, disse-lhe que não lhe admitia que o pobre se metesse na vida dele criando um mal-estar no seio familiar que até poderia levar ao seu divórcio e ao fim da relação com os filhos. Coitado do pobre, lavado em lágrimas após o telefonema ficou atónito a pensar no sucedido e decidiu que a sua grande e profunda amizade de décadas pelo rico teria terminado. E nunca mais telefonou ao rico, nem aceitou mais nenhuma “esmola” do rico. Este, passados dois anos, cheio de remorsos, tentou fazer as pazes e pedir desculpa ao pobre convidando-o para almoçar. A resposta foi negativa e afirmou ao seu ex-amigo rico que a sua pobreza ao longo da vida sempre teve dignidade e seriedade. Pela minha parte, sempre gostei dos pobres com dignidade. São amigos verdadeiros.
André Namora Ai Portugal VozesA bola mundial rola sem direitos Obviamente, que hoje teria de vos falar do Mundial do Catar. Pelas mais diversas razões. A primeira de todas é a loucura que se viveu aqui por Portugal com o primeiro jogo da selecção nacional contra o Gana. O país parou. Os miúdos não foram às explicações, às aulas extras de desporto, aos cursos de ténis e muito menos aos treinos nas escolinhas de futebol. Até na Assembleia da República os trabalhos do plenário foram suspensos para os deputados verem os golos de Portugal. Por acaso, o Ronaldo bateu mais um recorde na sua carreira fabulosa. Antes do apito inicial, Cristiano Ronaldo fazia parte de um lote restrito de cinco jogadores que tinham conseguido marcar, pelo menos, um golo em quatro Mundiais. Mas na passada quinta-feira, com o golo apontado ao Gana, o capitão da selecção nacional superou Pelé, Uwe Seeler, Miroslav Klose e Lionel Messi e tornou-se no único a conseguir colocar a bola dentro da baliza em cinco Campeonatos do Mundo. De bola, percebo pouco apesar de ter jogado futebol em miúdo, mas dá para vos dizer que o Mundial mobiliza todos os povos e o nosso Ronaldo continua a ser a maior atracção. Na madrugada de esta noite, em Macau, pelas três horas, lá vai acontecer mais uma emoção para todos os que vão assistir ao Uruguai-Portugal. Pela minha parte, a bola rolou de outra forma. Comecei a ser logo na juventude molestado pela PIDE, polícia política da ditadura, senti o que era não poder escrever o que me apetecia e sobre liberdade, quando estava na conversa com uns quatro amigos junto à esquina de um prédio, logo éramos enfiados numa carrinha. Onde quero chegar é aos tão badalados direitos humanos que durante toda a semana passada em tudo o que era comunicação social e Parlamento não se parou de ouvir cada um a defender a sua “camisola”. Vamos lá a ser sérios e a voltarmos atrás uns anos quando a FIFA decidiu “vender” o Mundial ao Catar. A corrupção foi enorme e atingiu as mais variadas personalidades europeias e americanas. O Catar é um dos países mais ricos do mundo, se não o mais rico, e na luta gerada há muitas décadas com os Emirados Árabes Unidos e com a Arábia Saudita, o Catar quis mostrar por todas as formas que seria capaz de organizar um evento do mais alto nível mundial. E nessa altura, todo o mundo sabia que no Catar os direitos humanos não existiam, que as mulheres eram, e são, umas escravas sem direito a nada, nem a opinar, quanto mais a fumar um cigarrito. Este Mundial de 2022 foi entregue a um reino que só tem dinheiro e ditadura e ninguém, ou muito poucos se pronunciaram ou manifestaram nas ruas das capitais mundiais contra a entrega do Mundial ao Catar. Os ditadores fizeram o que quiseram durante 12 anos. Construíram uma cidade extravagante, deslumbrante, luxuosa e onde introduziram os estádios para a disputa do Mundial. Estádios, que é bom lembrar, são simplesmente cemitérios. Na sua construção, os escravos da Coreia do Norte, da India, do Nepal, do Paquistão e até de Portugal, morreram aos milhares. Até se deram ao luxo de edificar um estádio, aquele onde jogou Portugal contra o Gana, constituído totalmente por contentores marítimos e que será completamente desmantelado no final do Mundial. Os direitos humanos no Catar, ao fim e ao cabo, têm que se lhe diga. Naturalmente, que temos de criticar aquela ditadura e todo um procedimento que até proibiu beber cerveja nos estádios e que não admitiu braçadeiras dos capitães das equipas com o símbolo dos homossexuais. A discussão em Portugal, neste aspecto, foi horrível. Uns, diziam que o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro não deviam deslocar-se ao Catar em protesto contra a falta de direitos humanos. Outros, concordavam com a presença das mais altas figuras do Estado no Catar, simplesmente para dar apoio à selecção. Esta discussão oiço-a há décadas. Os direitos humanos são respeitados onde? Por mim, tenho a ideia de que onde existe uma polícia de choque já não podemos dizer que esse país cumpre os direitos humanos. Se se escreve um pouco além da inventada lei de imprensa, logo o tribunal trata da saúde ao escritor. E isso, não é incumprimento dos direitos humanos? Por África fora, pelos vários Estados americanos, pela Alemanha ou Noruega, pela Indonésia ou Filipinas, pelo Japão ou China, pela Austrália podemos afirmar perentoriamente que os direitos humanos são cumpridos? Claro que não, todos o sabemos que na maioria do planeta, incluindo a Amazónia, não são cumpridos os direitos humanos. Mas, na semana passada em Portugal deu-se o ridículo de dar a entender que só o Catar era uma ditadura. A bola está a rolar e todo o mundo está diante de um televisor a ver os jogos de futebol que emocionam e que dão alegria a milhões de pessoas. A única coisa que podemos afirmar, e que é incontestável, é que a bola mundial rola sem direitos…
André Namora Ai Portugal VozesQuando um livro faz política Todos os políticos, personalidades em cargos de topo, juízes e jornalistas sabem o que é o segredo de Estado e o que são as regras de ética e responsabilidade relativamente ao que deve ficar no segredo dos deuses. Na semana passada aconteceu em Portugal um facto triste, abusador e profundamente político. O antigo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, lançou um livro sobre a sua década à frente de uma instituição essencialmente técnica e de índole económica. O livro tem dado que falar pelas piores razões. Já lemos a obra e nas suas páginas podemos encontrar assuntos de enorme gravidade e de suma importância do que foi a governação de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal, assuntos esses muito mais sensíveis que uma mera saída da engenheira Isabel dos Santos da administração do Banco BIC. Na cerimónia do lançamento do livro, à qual Francisco Assis estava indicado para apresentar e rejeitou, apareceu Marques Mendes a proferir umas baboseiras absolutamente despropositadas. O acto em si foi transformado num comício político de cor alaranjada. O que fazia ali na primeira fila o ex-Presidente Cavaco Silva, o ex-Presidente Ramalho Eanes, o ex-primeiro-ministro Passos Coelho, o líder do PSD Luís Montenegro e uma panóplia de figurantes afectos ao PSD? O livro foi comentado em todos os canais de televisão e rádio, pela simples razão de se salientar que Carlos Costa desmascarou o primeiro-ministro António Costa. O ex-governador do Banco de Portugal anunciou que António Costa o pressionou por telefone e por mensagem privada referindo que seria conveniente não pressionar a saída de Isabel dos Santos do banco que dirigia por ser filha de um Presidente de um país amigo. Carlos Costa se foi pressionado, devia demitir-se de imediato. Obviamente, que António Costa já participou aos jornalistas que decidiu mandatar um advogado a fim de mover uma acção judicial contra o autor do livro. Mas, neste país já vale tudo? Então, onde está o segredo de Estado devido às personalidades da governação e da administração? Um assunto de Estado de conteúdo secreto é colocado à estampa para que um país inteiro fique a pensar que um primeiro-ministro é um vendido a terceiros? Onde está a ética e a responsabilidade de manter no segredo dos deuses determinadas matérias da soberania de um país? O que aconteceria se todos os jornalistas se pusessem a publicar livros com todos os assuntos graves e confidenciais que sempre acharam inconveniente e ético não publicar? O que seria se os muitos assessores ou chefes de gabinetes ministeriais publicassem em livro os segredos das matérias abordadas durante as suas altas funções? O que seria se as secretárias dos ministros ou ex-ministros e dos ex-Presidentes da República viessem a público com obras literárias onde se ficava a saber tudo de menos legal que teriam praticado? O que seria se um ex-secretário-adjunto que exerceu funções em Macau viesse a público contar-nos as peripécias e negociatas de um qualquer ex-Governador? O que seria se algum jornalista viesse escrever num livro todas as ligações que Ramalho Eanes teve com Macau e como Macau esteve ligado à sua candidatura presidencial e ao partido político que fundou? Nunca aconteceu e pensamos que não irá acontecer, pela simples razão que ainda há pessoas que sabem respeitar a dignidade e o bom nome de quem tem governado, mal ou bem, este país. Não vale tudo quando se tratam de problemas institucionais. Não vale fazer política baixa e aproveitar-se um lançamento de um livro, mais técnico que outra coisa, para fazer política contra quem está sentado em S. Bento. António Costa deve ter pensado que devia ter aceitado o conselho que os seus assessores, na altura, lhe disseram para não manter Carlos Costa como governador do banco central português. Era do conhecimento geral, e agora viu-se, que o senhor estava mais ao serviço dos “tubarões” do PSD do que em missão patriótica. Para nós, a estupefacção foi total. Então, Marques Mendes e Passos Coelho, potenciais candidatos a Presidente da República apoiados pelo PSD vão a correr para um lançamento de um livro onde se iria rebaixar a figura política do actual primeiro-ministro? A que propósito, se não apenas com o intuito de promoção e de ajuda à propaganda laranja contra o actual chefe do Executivo. Não somos socialistas, mas não aceitamos que se venha tornar público conversas privadas do mais alto nível sobre factos graves que aconteceram em Portugal. Normalmente, é ao fim de muitos anos, décadas ou séculos que se constituem os parâmetros da História e se divulga o que se passou nas altas esferas palacianas. O gesto de Carlos Costa foi imensamente feio. Tem o direito à sua liberdade de expressão, mas também tem a responsabilidade de se obrigar ao silêncio do que foi secreto e privado durante a sua governação do Banco de Portugal. Excepção aos simpatizantes do PSD, todos os portugueses criticaram a atitude de Carlos Costa que ficará na História como o tal governador do banco central que traiu quem o manteve anos e anos nas grandes mordomias de um cargo como o de governador do Banco de Portugal.
André Namora Ai Portugal VozesO bobo da festa Nem imaginam o que foi a semana passada na política portuguesa. Está tudo doido. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa começou logo a semana a bater no Governo sobre os tais PRR, mais conhecidos como “bazuca”, porque não estava a ser gasto o dinheiro que a Europa nos ofereceu. Depois, assistiu-se a um chorrilho de notícias todos os dias e a toda a hora por causa do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, por ser suspeito de corrupção e negócios ilícitos quando foi presidente da Câmara de Caminha. Em primeiro lugar, a culpa é toda de António Costa. O líder do PS conhece o lisboeta Miguel Alves desde a Juventude Socialista e colocou-o como seu assessor quando foi ministro da Administração Interna e presidente da Câmara de Lisboa. Seguidamente enviou-o para presidir à edilidade de Caminha. Para Caminha, porquê? Miguel Alves era um socialista de peso e sempre na capital. Pois, foi para Caminha e o Ministério Público já está a gastar centenas de horas com a investigação a vários comportamentos alegadamente ilícitos de Miguel Alves incluindo ter pago a um empresário que mal conhecia a verba de 300 mil euros para a construção de uma obra que passados dois anos ainda está no papel ou na gaveta da secretária do actual presidente da Câmara de Caminha. Bem, Miguel Alves foi durante toda a semana o grande “bobo da festa”. Não houve um comentador de televisão que não dissesse que o caso era muito grave e que o primeiro-ministro tinha de demitir o seu amigo que tinha levado para S. Bento apenas há menos de dois meses, com a agravante do cargo que Alves foi ocupar já nem existir há muito. O primeiro-ministro andava de cabeça perdida, não respondia a pergunta alguma dos jornalistas, até que deve ter dito ao seu homem de mão para se demitir. E assim, Miguel Alves pede a demissão e como não deve ter praticado nenhum crime afirmou que sai de “consciência tranquila”… Esta maioria absoluta governamental tem usado e abusado da falta de bom senso. Os casos que têm levado o povinho a ficar desolado têm sido seguidos uns dos outros. Primeiro, foi a ministra da Saúde, Marta Temido, que se demitiu de madrugada por já não saber o que fazer na Saúde. Depois pediu-se a demissão do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, porque seria sócio de uma empresa cuja incompatibilidade era grave e ilegal exercendo o cargo governamental. Afinal, a montanha pariu um rato porque Nuno Santos tinha apenas um por cento na empresa de seu pai e já tinha passado a sua quota. Entretanto, já tinham exigido a saída do Governo da ministra da Ciência e Tecnologia, Elvira Fortunato, acusada de eventual conflito de interesses porque o seu marido, também professor e investigador, entrou como parceiro, através da Universidade Nova de Lisboa. A ministra acabou por explicar tudo e dizer que não existia nada de eticamente reprovável. Sobre estes assuntos, António Costa nem uma palavra. Mas, os cambalachos políticos não ficariam sem conversa semanal e tema de protesto por parte da oposição, porque o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, não poderia exercer o cargo visto ser proprietário, como médico, de uma empresa ligada à saúde. O burburinho televisivo demorou uns dias e logo o ministro veio dizer que já não era sócio da dita empresa ou que já a tinha encerrado. Todavia, o mais risível foi o folhetim do “bobo da festa” Miguel Alves. Pelos vistos, foi para Caminha e as negociatas não pararam. Passou a arguido, mas isso não impedia que continuasse no cargo, mas de um dia para o outro foi acusado pelo Ministério Público em outro caso diferente. Pronto, ponto final à presença do amigo de António Costa em S. Bento, onde usufruía das maiores mordomias, incluindo um BMW topo de gama com motorista. A sua demissão era o mais lógico e antes que queimasse os sapatos ao primeiro-ministro apresentou a sua saída do cargo de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, cargo que nunca ninguém chegou a saber para o que iria servir… O compêndio das críticas aos membros do Governo ainda acabaria com a inclusão na “festa” da ministra Mariana Vieira da Silva, cuja competência deixa muito a desejar, e que foi contratar por mais de 4.000 euros um miúdo de 21 anos que acabou agora o curso, sem mestrado, e foi logo para seu assessor. Mas o recente licenciado será algum génio? Foi o melhor do curso? Tem alguma experiência de administração pública? Percebe alguma coisa de gabinetes ministeriais? Isto, quase não se acredita e anda o país a assistir a este regabofe sem sentido, quando há milhares de portugueses a viver na miséria sem verem dias melhores na sequência de uma boa governação. Termino esta crónica com uma homenagem: a Jerónimo de Sousa, que durante muitos anos liderou o Partido Comunista com dignidade e dedicação exemplares.
André Namora Ai Portugal VozesCom oito anos a traficar droga Na década de 1990 visitei Macau e fui apresentado a um homem muito especial. Era o pastor Juvenal Clemente que estava a realizar uma obra exemplar. Pedia ajuda ao governo, a empresas e a personalidades destacadas da sociedade macaense. O senhor pastor tinha ficado chocado quando se apercebeu que Macau tinha um número exagerado de toxicodependentes muito jovens e alguns encontravam-se praticamente perdidos para a vida. Edificou uma estrutura de apoio a esses jovens e recuperou dezenas deles que deixaram a dependência das drogas e arranjou-lhes emprego. A sua obra foi reconhecida pela comunidade macaense e hoje não faço ideia o que será feito deste homem bom que apenas se preocupava com o bem dos seus semelhantes, especialmente os jovens. Vem isto a propósito, de Portugal precisar de vários Juvenais Clementes. O tráfico de droga tem aumentado em Portugal, incluindo os Açores e a Madeira, com os gangues de traficantes a usarem os métodos mais sofisticados, incluindo os barcos à vela que de vez em quando a Polícia Judiciária ou a GNR anunciam ter desmantelado e apreendido alguns desses traficantes. No aeroporto de Lisboa, muitos funcionários que trabalham na recolha das bagagens dos aviões recebem fortunas do crime organizado para facilitarem a entrada em Portugal de carregamentos incalculáveis das mais diferentes drogas, especialmente cocaína e heroína. O negócio é mundial. O tráfico inicia-se na Colômbia, Venezuela ou Brasil e destina-se fundamentalmente a Espanha, França e Inglaterra, servindo Portugal como entreposto. Há anos, tivemos conhecimento que os grupos nazis da Ucrânia eram os que mais adquiriam os vários tipos de droga. A cocaína está enraizada nas classes mais abastadas portuguesas e há políticos que não podem passar sem o seu consumo. Um porteiro de uma discoteca de Lisboa comprou um Porsche e ao experimentar o carro no Autódromo do Estoril perguntámos-lhe de quem era a “bomba” ao que nos respondeu ser seu. A nossa admiração, por ser um simples porteiro de discoteca, levou-o a desabafar que tinha feito uma grande fortuna simplesmente a vender drogas aos clientes da discoteca e a políticos e advogados que pagavam bom dinheiro para que nunca lhes faltasse o consumo dos estupefacientes. Para o caso não interessa, porque não somos polícia, mas o tal porteiro adiantou-nos vários nomes de gente importante que era sua clientela. Lamentavelmente a venda de drogas tem aumentado em Portugal e os jovens do ensino secundário e universitário chegam a roubar as pratas e joias que os seus pais têm em casa para poderem com a venda desses valores matar o vício da dependência da droga. Casos de filhos a bater nas mães por não lhes darem dinheiro é notícia assídua. Na semana passada veio a público uma notícia chocante e que ultrapassa os limites deste assunto que estamos a abordar: miúdos de oito anos de idade são vendedores de droga e traficam os estupefacientes nas mochilas da escola. Miúdos com oito anos a traficar droga, anúncio grave do ministro da Administração Interna. Mas, como é isto possível? Se um ministro tem conhecimento que uma criança é traficante está consequentemente a passar um atestado de incompetência às forças de segurança que chefia. Então, o que faz a Polícia de Segurança Pública? E a Guarda Nacional Republicana? Duas instituições que de vez em quando convocam os jornalistas para anunciarem que apanharam um carregamento de droga. Afinal, o que investigam? Quem trafica? E foram essas instituições que descobriram que crianças traficam droga e informaram o ministro? Ou o ministro soube por outras vias? E não é anunciado como foi descoberto esta situação chocante de crianças a traficar. E o que acontece a um miúdo de oito anos quando é apanhado a traficar droga? Com oito anos apenas é enviado para uma instituição de recuperação? Não creio. Para essas instituições que deveriam recuperar os jovens mas no seu interior é onde se consome mais droga entre os internados. Algo está muito errado neste país, onde uma criança que devia estar na escola, ter pais que controlassem a sua educação e o que se depreende de um caso destes é que estas crianças andam por este país à deriva, podem nem ter pais, podem ter sido abandonados ou fugido de casa. Mas, alguém está a aproveitar-se dessas crianças para traficarem. E a notícia devia ser o anúncio da prisão de indivíduos que exploram crianças para o tráfico de droga. E quem é esse “alguém”? Serão criminosos de redes organizadas? O ministro não anunciou a prisão dessa possível gente que abusa dos miúdos. Limitou-se a deixar-nos de boca aberta dizendo que crianças de oito anos estão a traficar estupefacientes. Algo está errado e é muito grave, quando sabemos que há agentes policiais que já nem entram em determinados bairros ditos sociais, quando esses agentes não têm seguro de risco de vida, quando a segurança é cada vez menor e o crime, segundo as estatísticas, tem vindo a aumentar de ano para ano. Por favor, senhores governantes da Administração Interna e da Segurança Social, façam algo de profundo e eficiente no sentido de nunca mais virmos a ter conhecimento que andam crianças a traficar droga… Que dor, ai, Portugal, Portugal…
André Namora VozesO realizador de sonhos Carlos Melancia, antigo governador de Macau, deixou-nos. No universo continuará a edificar obras fantásticas tal como fez na Terra. Fomos colegas de curso de engenharia e conheci bem Carlos Melancia. Um homem dedicado a tudo o que fazia, já não falando da família. Um dia, Mário Soares convidou-o para governador de Macau e quando fomos jantar para nos despedirmos disse-me que a tarefa não iria ser fácil porque o tinham elucidado sobre a realidade do território, onde quem mandava eram os chineses de Pequim. Acrescentou-me que se o território era chinês e a administração nossa, era natural que não fosse contrariar o que os chineses pretendessem desde que os portugueses que lá viviam não fossem prejudicados. Partiu, escreveu-me e disse-me que o trabalho não era fácil. Que o presidente da Assembleia Legislativa era simpatizante do CDS e que todos os que não fossem socialistas, como ele, estavam sempre a atirar-lhe à cara o militantismo socialista e que o objectivo deveria sacar o mais possível de dinheiro para a metrópole e especialmente para o Parido Socialista. Fiquei desolado pelo seu sofrimento e aguardei que se deslocasse a Lisboa para conversarmos melhor sobre tão nobre missão de se ser governador de Macau. Carlos Melancia veio a Lisboa para dar conta ao Presidente da República, Mário Soares, de como as coisas estavam a correr em Macau. Naturalmente, que fomos jantar e das 20:30 às 02:00 horas só falámos de Macau. Explicou-me que o vice-almirante Almeida e Costa, ex-governador, tinha muita razão em querer dar andamento a projectos importantíssimos e necessários para o desenvolvimento do território. Era preciso modificar as estruturas básicas: a electricidade, a água, o saneamento básico, os telefones, um aeroporto, um porto e as necessárias instituições para o apoio social. Fiquei banzado com tanta necessidade orgânica e material que Macau não possuía. Perguntei a Melancia se ele sentia forças e apoio local para avançar com os projectos. Respondeu-me que tudo faria para que Macau fosse um território digno e que Portugal saísse um dia de Macau deixando uma obra memorável. A verdade é que a pouco e pouco fui sabendo que as ideias do meu colega engenheiro estavam a dar frutos e que ele estava a revolucionar as inexistentes estruturas e que a população de Macau tanto ambicionava. A companhia de electricidade foi imensamente renovada e o serviço da empresa até ao presente tem recebido os maiores encómios. A companhia dos telefones passou a servir a população de uma forma nunca vista e quando chegou a era dos telemóveis e da internet Carlos Melancia já tinha edificado a estrutura para um bom serviço generalizado. Foi construída uma ETAR de nível mundial. A companhia das águas viu a assinatura de um acordo com os franceses, se não estou em erro, e Macau passou a ter nas torneiras água de qualidade. Melancia tinha-me salientado que o aeroporto era fundamental para que as exportações de Macau triplicassem e as ligações aéreas com Portugal e o mundo fosse uma realidade. Na conversa que mantivemos em Lisboa, Carlos Melancia referiu que se tinha comprometido com empresas norte-americanas que lhe garantiram a construção do aeroporto. Eis o ponto final de Carlos Melancia, o maior empreendedor de Macau. No interior do Partido Socialista existia um lóbi que já tinha acordado que o aeroporto seria construído por empresas alemãs. Quando esse lóbi transmitiu a Melancia que deveria aceitar a negociação com os alemães, eis que o governado rejeitou de imediato a pretensão e respondeu que tinha um compromisso com norte-americanos. O lóbi era tenebroso e fortíssimo e logo imaginaram uma forma de destruir Melancia. No hotel Garcia da Horta que Melancia veio a construir em Castelo de Vide com o apoio financeiro de uma personalidade residente em Macau, depois de se ter demitido de governador contou-me que sempre foi sério, que tinha a certeza que era o ex-governador que menos dinheiro tinha trazido de Macau. Que o fax enviado para o jornal Independente tinha sido uma cabala bem montada para o destituir do cargo. Acrescentou-me que Mário Soares cortou relações com a maioria dos membros desse lóbi que enviaram o fax dizendo que o governador Melancia tinha sido um corrupto e recebido uma ninharia de 50 mil contos. Em Lisboa, soube que os chineses se riram da verba que tinha sido indicada no tal fax. Realmente, uma ninharia para a observância de muitos chineses milionários de Macau que sabiam quanto dinheiro tinham recebido outros ex-governadores. Carlos Melancia foi enxovalhado injustamente perante as sociedades macaense e portuguesa. Ficou sempre com o cutelo no pescoço como tendo sido um governador imensamente corrupto. Nada mais falso. É do conhecimento de muitos políticos que Melancia era um homem sério, engenheiro de excelência e realizador dos seus sonhos. Contaram-me inclusivamente que Carlos Melancia recebeu no Palácio do Governo um grupo de aventureiros que pretendiam realizar o trajecto, em jipe, entre Macau e Lisboa. E que foi Melancia que contactou com os administradores da marca de jipes UMM e que conseguiu três carros para que a expedição se realizasse como veio a acontecer e que no regresso desses aventureiros decidiu condecorá-los com a Medalha de Mérito Desportivo. Um homem destes não merecia o que lhe fizeram. Na hora da sua morte senti-me obrigado, como seu amigo, a escrever estas linhas esclarecedoras de uma verdade escondida e deturpada.
André Namora Ai Portugal VozesA sociedade está podre Todos nós, uns mais que outros, pensamos na velhice. Como vai ser, quem trata de nós, em que condições estaremos, o dinheiro será suficiente para pagar um lar decente, os familiares alegram-nos, são perguntas que fazemos porque estão incluídas na lei da vida. Na velhice há casos de bradar aos céus. No Japão, por exemplo, descobriram que o número de idosos com 100, 110 e 120 anos era uma realidade que aumentava anualmente. Criaram brigadas de inspecção e descobriram no interior das casas muitos cadáveres. Os familiares mantiveram durante anos as pessoas mortas para receberem durante todo esse tempo a reforma correspondente de quem já tinha falecido. Em Portugal, têm-se registados casos macabros, tal como um filho que manteve a mãe dentro de uma arca frigorífica durante cinco anos e esteve a receber a reforma choruda da progenitora. Na semana passada, tive conhecimento de um caso muito triste que já dei conhecimento a um jornalista e que já iniciou a investigação para publicar no seu jornal. Imaginem que uma senhora residente em Lisboa, com 101 anos, acamada, deixou de receber a pensão há seis meses. Sem nenhum familiar, o seu vizinho de cima foi visitá-la e a senhora contou que tinha deixado de receber a pensão da Caixa Geral de Aposentações (CGA). O vizinho estranhou e indignado dirigiu-se à CGA onde lhe disseram que a senhora já tinha morrido, mas mandaram-no esperar um pouco. O funcionário que o atendeu chamou-o passado algum tempo e transmitiu que a pensão tem sido sempre paga a outra pessoa, mas não quis facilitar o nome dessa pessoa. O senhor disse que iria levar a senhora numa ambulância à CGA para que vissem que a senhora estava viva. Negaram-lhe a pretensão. O vizinho da senhora deixou claro que o caso era grave e que ia comunicá-lo a alguém ligado à comunicação social. E assim, um jornalista está a investigar e a introduzir todas as questões relacionadas com a gravidade de uma cidadã de 101 anos, acamada, sem família e que não recebe pensão há seis meses. As amigas é que têm sido o seu sustento do pagamento da renda da casa, das contas de energia, água e luz. Contudo, a senhora tem apoio domiciliário de uma instituição que lhe leva a alimentação e que trata da sua higiene. Meus amigos leitores, mas afinal em que país vivemos em Portugal quando existem factos desta natureza que chocam qualquer cidadão. E como é que é possível que um departamento estatal como a CGA possa estar a pagar a pensão devida à idosa em causa a outra pessoa? É difícil compreender que existam fraudes no seio da administração pública que afectem pessoas que simplesmente aguardam pela morte e que deviam ter os seus dias com o mínimo de amparo e a receberem o que têm direito por lei. Estamos perante um caso do qual tivemos conhecimento casualmente. Mas existirão mais casos idênticos pelo país fora? Quem pode saber? Quem investiga? Qual a punição que deve ser dada a um filho, familiar ou empregada doméstica que “roube” a pensão que não lhe pertence? Não encontramos resposta. O que sabemos é que os idosos em Portugal são maltratados em muitos lares, que a sua permanência nos lares tem como contrapartida a entrega de toda a pensão ou reforma que recebem. A comunicação social tem divulgado casos desprezíveis, onde em certos lares os idosos são espancados, não lhes dão a alimentação suficiente nem a medicação recomendada pelo clínico que visita os idosos internados. A este propósito, um médico nosso amigo deixou de dar assistência a determinado lar por ter ficado chocado com a situação que encontrou nesse lar e as condições deploráveis em que se encontravam os idosos. Não podemos calar esta canalha que não respeita os nossos avós. Temos de procurar saber e divulgar o máximo de casos em que idosos estejam a sofrer. O fim da vida é o tempo das recordações, boas e más, o tempo em que o idoso mais precisa de amparo e de apoio psicológico para que esse final do caminho não seja de sofrimento. As autoridades governamentais tinham a obrigação de criar um departamento a nível nacional que se dedicasse exclusivamente à investigação da situação dos idosos. No interior do país há casos chocantes e que os próprios militares da GNR que percorrem os campos ficam chocados e dão conhecimento superior. No entanto, nem nos militares da GNR se pode confiar porque acaba de ser divulgada uma notícia que dois militares da GNR burlaram uma idosa de uma aldeia com a promessa de lhe comprar um andar no Porto para que ela estivesse perto do Instituto de Oncologia onde tem de receber tratamento. Esses dois militares ficaram com 150 mil euros da idosa. E não pode ser a GNR a executar esse trabalho de humanismo. Tem de ser criado o tal departamento que investigue e que apoie quem precisar por se encontrar no final da vida e que não pode sentir que o país lhe dedicou o abandono e o desprezo.
André Namora Ai Portugal VozesUm Presidente na berlinda Os abusos sexuais por parte de membros da Igreja Católica a menores, a mulheres e a adolescentes têm décadas. É um crime que envergonha todos os católicos e tem continuado a ser praticado até aos dias de hoje. O Papa Francisco revoltou-se com o conhecimento que foi tendo no que se passou em França, Espanha, Portugal, Timor-Leste, Austrália, Filipinas, Venezuela, Brasil e em tantos outros países, e resolveu tomar a decisão de ser radical contra a pedofilia ou o abuso sexual no seio dos prelados da sua Igreja e chegou a afirmar que bastava um acto abusivo sexual para que a imagem da Igreja ficasse manchada. Em Portugal tem sido um escândalo do mais vergonhoso que se possa imaginar tudo o que tem acontecido em sacristias de igrejas, em colégios privados dirigidos por sacerdotes, em seminários e até em escolas onde padres eram professores de Religião e Moral. Nos últimos tempos o assunto tem vindo à baila de uma forma chocante ao ponto de ter sido criada uma comissão coordenada por Pedro Strecht, um dos mais conceituados pedopsiquiatras, a fim de ouvir as vítimas desses abusos sexuais que decorreram ao longo dos anos praticados por membros da Igreja Católica. O próprio Cardeal Patriarca, Manuel Clemente, foi chamado ao Vaticano para que o Papa ouvisse de viva voz o que é que se tem passado em Portugal. Esperemos que tenha explicado ao chefe da Igreja que nos seminários os alunos têm sido abusados de todas as formas, que em colégios privados os padres exerciam a pedofilia como se bebessem um copo de água, que após aulas de catequese as crianças passavam aos gabinetes de padres para a prática do sexo oral, que nas sacristias muitos padres mantiveram relações sexuais com mulheres, que muitos padres não quiseram reconhecer os filhos que fizeram ou abandonaram o sacerdócio antes que as suas amantes os denunciassem e a lista dos abusos não tem fim. Ainda na semana passada, soubemos que o Ministério Público está a investigar o presidente da Conferência Episcopal, o bispo Ornelas, por ter alegadamente encoberto abusos sexuais de padres em Moçambique. O bispo do Porto teve o desplante de afirmar que o abuso sexual não era um crime público e de negar a acusação de uma mulher que no seu tempo de estudante se lhe dirigiu dizendo que um padre andava a abusar dela e de quem veio a ter um filho e o bispo acrescentou que não se lembrava de um caso ocorrido há poucos anos, quando, por exemplo, eu lembro-me de um amigo que foi abusado sexualmente há mais de 60 anos. As vítimas têm perdido o receio de represálias e a vergonha do que lhes sucedeu e têm-se dirigido à comissão de Pedro Strecht. Este, concedeu uma conferência de imprensa e anunciou que já tinha registado mais de 400 casos. Pois bem, a estupefação maior veio da parte de quem menos se esperava: do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou não ficar surpreendido com 400 vítimas. Caiu-lhe em cima o Carmo e a Trindade. O Presidente estava a ofender as vítimas dos abusos sexuais no seio sacerdotal católico. Os partidos políticos na Assembleia da República condenaram as palavras do Presidente e obrigaram-no a pedir desculpa às vítimas, o que veio a acontecer. Como é possível que Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de ser católico praticante, tenha querido defender a sua dama quando a mesma praticou crimes hediondos? Conhecíamos o pensamento político do Presidente Marcelo, o seu percurso como jornalista e director de várias publicações, a sua carreira política e a sua vasta experiência como constitucionalista e legislador, sabíamos do seu sucesso como professor universitário, a religião que praticava e as suas origens familiares. O que nunca nos passou pela cabeça é que o Presidente Marcelo, que anda a falar demais, viesse a público diminuir a importância de crimes tão horríveis, alegando que existem países mais pequenos que Portugal e com mais casos de abusos sexuais. Estaria a referir-se a Timor-Leste, onde o prelado Ximenes Belo abusou de menores desde a década de 1980 e que há dois anos foi sancionado pelo Papa e proibido de exercer a missão? O Presidente Marcelo tem andado na berlinda pelas piores razões e penso que manchou o seu mandato presidencial para todo o sempre, apesar das desculpas a que se viu obrigado a dirigir às vítimas de crápulas que se não conseguiram cumprir o celibato e que deviam, acto contínuo, abandonar a religião que propalavam.