Fogo na Madeira, Albuquerque a banhos

Escrevo estas linhas no passado sábado quando já arderam mais de cinco mil hectares de floresta na ilha da Madeira ao longo de 10 dias. A Madeira não é um bailinho. A Madeira não é fogo de artifício. A Madeira não é uma offshore. A Madeira não é um porto de cruzeiros internacionais.

A Madeira não é o reinado de um partido político há cinquenta anos. A Madeira não é um cortejo carnavalesco, no qual se gastam milhões de euros. A Madeira é um território nacional com uma cordilheira florestal considerada património mundial. A Madeira é uma região autónoma que recebe milhões de euros do continente. A Madeira está a arder e o vento tem premiado as populações não virando as chamas para cima de dezenas de casas e da Central Hidroeléctrica.

Quando o incêndio teve início o seu presidente do Governo Regional estava a banhos no Porto Santo, a gozar férias imerecidas e afirmou: “Está tudo tranquilo e debaixo de controlo”. Miguel Albuquerque não tem seriedade política para governar a Madeira nem competência. Há décadas que os especialistas afirmam que é necessária uma organização e gestão da floresta e nada tem sido feito. O fogo continua a consumir o património natural e a assustar as populações que não dormem há uma semana. Miguel Albuquerque só quando lhe disseram que a situação era muito grave é que despiu o fato de banho e deslocou-se até junto dos incompetentes responsáveis pela Proteção Civil da região. Miguel Albuquerque desde que governa nunca se apercebeu que tinha de exigir ao governo central, pelo menos, que a Madeira tivesse cinco helicópteros e um avião Canadair.

O crime natural está à vista e um dos melhores especialistas em ciência de florestas afirmou na televisão que “Miguel Albuquerque é um inculto sobre a defesa do ambiente e das suas populações. O maior problema não é o que ele diz ao sublinhar que o fogo não provocou mortos, feridos nem destruiu casas. O presidente do Governo da Madeira não faz a mínima ideia do que pode vir a acontecer às populações da ilha porque com as serras sem vegetação, quando chegar o Inverno, as grandes chuvadas não serão contidas e vão provocar grandes e possíveis inundações catastróficas”. Esta, é a grande verdade relativamente a um homem que preferiu as praias de Porto Santo em vez de se sentar no seu gabinete a solicitar ao Governo do continente, logo no início do fogo, dois aviões Canadair e mais helicópteros. E não pode vir com a desculpa de que esses meios aéreos faziam falta ao continente em caso da existência de fogos florestais. E porquê? Porque no caso de o continente vir a ser alvo de algum incêndio florestal grave requisitavam-se de imediato a Espanha dois Canadair, tal como aconteceu agora que o fogo na Madeira começou a transmitir preocupações trágicas.

O fogo na Madeira está há 10 dias sem controlo e a situação tem agora melhorado devido à acção dos Canadair espanhóis. Contudo, nenhum responsável madeirense apresenta quaisquer perspectivas de quando o fogo estará extinto.

Até a nível europeu o incêndio na Madeira já foi abordado e a presidente da Comissão Europeia mostrou a sua perplexidade e preocupação com um incêndio de tão grandes proporções. Os moradores não cessam de indicar os culpados e a irresponsabilidade do Governo Regional ao longo dos anos no que concerne à gestão da floresta com algumas árvores classificadas e únicas, que nem daqui a duas décadas voltarão a existir nas cordilheiras madeirenses. No continente são vários os políticos que já manifestaram muitas críticas à ministra da Administração Interna e aos governantes madeirenses, propondo mesmo uma audição parlamentar para a obtenção de responsabilidades na ineficácia do combate a tragédia tão grave.

Um outro facto, que tem chocado os portugueses, é o comportamento do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa que se desloca a todo o lado para as mais díspares ninharias eventuais, também preferiu estar no Algarve como peixe a gozar a água quentinha da praia, em vez de se deslocar de imediato à Madeira e demonstrar a sua solidariedade ao povo madeirense e observar in loco que o fogo já podia ter ceifado dezenas de vidas. Como diz o povo, Marcelo fala, fala, mas não convence… Para que a sua imagem fique ainda mais degradada acabou por dizer aos jornalistas que irá à Madeira quando o fogo terminar. Isto, quando ninguém sabe quando terminará o incêndio. Ai, Portugal, Portugal…

P.S. – No momento em que terminámos de escrever esta crónica, o fogo piorou no local Ponta do Sol, deixando os moradores em pânico porque as residências estavam em perigo de ser atingidas.

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