Vingança servida sem saúde

Antes de abordarmos assuntos sérios deixo-vos o risível. Como nas últimas sondagens para as próximas eleições europeias o partido Chega anda muito por baixo e como a sua estratégia foi sempre a da vitimização, desta vez, tentou que na opinião pública algo pegasse que lhe pudesse dar votos. Vai daí, arranjou um homem com alguma perturbação mental que apareceu com uma mochila junto à sede do Chega, em Lisboa, a dizer que tinha uma bomba e que queria matar André Ventura. A polícia fechou algumas artérias, evacuou edifícios contíguos e as televisões não pararam de informar o sucedido. A polícia apanhou o homem e tirou-lhe a mochila que não tinha nada de explosivo. O homem foi para uma unidade hospitalar e a “bomba” não rebentou…

Na semana passada em Portugal a política foi essencialmente feia. O Governo resolveu servir um tipo de vingança bem fria na substituição de personalidades de grande prestígio e competência. Sempre foi natural que numa mudança do governo se substituam nos Ministérios vários directores, secretárias e assessores, por outros quadros da confiança política do novo Executivo. Agora, de um momento para o outro, sem qualquer justificação e até com alguma rudeza, demitir cargos técnicos ou de gestão em instituições de solidariedade social é que não há compreensão.

FERNANDO ARAÚJO, A COMPETÊNCIA EM PESSOA, FOI MALTRATADO

Fernando Araújo é um professor médico de grande competência que foi escolhido pelo governo de António Costa para Director-Adjunto do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Essencialmente para levar a efeito uma reforma na Saúde que terminasse com a crise no sector, com urgências hospitalares a encerrar e várias especialidades fora de serviço, em alguns casos com as futuras mães sem saber onde ter o parto. Fernando Araújo estava a realizar um trabalho de excelência, louvado por médicos, enfermeiros e gestores hospitalares. Mas, no Hospital de Santa Maria estava uma gestora anti-socialista e que não concordou com as decisões de Fernando Araújo. Essa gestora alegou que não conseguia levar a efeito a sua missão e demitiu-se. Pois, essa gestora é precisamente a actual ministra da Saúde e a primeira coisa que fez foi vingar-se, provocando a repulsa e ira de Fernando Araújo quando lhe pediu um relatório sobre o que é que tinha feito no cargo. Obviamente que o Director-Adjunto do SNS percebeu de imediato que a nova ministra estava a querer a sua saída do cargo e abandonou as funções. As críticas à ministra foram generalizadas e muitos comentadores chegaram a salientar que além da vingança da ministra, era com perplexidade que se compreendia como é que uma gestora que não era capaz de estar à frente de um hospital, agora já tinha competência para ser a “chefe” de todos os hospitais do país. Maior perplexidade quando a ministra acaba de nomear para o cargo de Fernando Araújo um indivíduo gestor que foi condenado, há quatro anos, pelo banco central de Moçambique a uma pena de inibição de três anos de exercer cargos sociais e funções de gestão em instituições de crédito e sociedades financeiras, devido a uma situação de “conflito de interesses” durante a sua passagem pela administração do banco.

ANA JORGE – FOI MESMO SANEAMENTO POLÍTICO

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa anda há mais de uma década com provedores que em nada mostraram competência e a instituição de solidariedade, que vive à base dos milhões de euros dos jogos de sorte e azar, tem vindo a ter prejuízos incalculáveis. O provedor anterior a Ana Jorge, da confiança socialista, chegou ao absurdo de realizar uma negociata com o Brasil onde os jogos da Santa Casa seriam uma realidade naquele país e, afinal, veio-se a descobrir que o parceiro brasileiro nem sequer contabilidade tem e deixou de enviar os dividendos contratuais para Portugal. Uma vergonha e algo a merecer uma investigação muito profunda por parte do Ministério Público.

E é neste ambiente de descalabro, que entra para provedora a médica prestigiada, a antiga ministra da Saúde, a antiga colaboradora da mesma Santa Casa, Ana Jorge. A senhora iniciou de imediato um trabalho de redução de despesas e de auditoria ao passado para que o “barco” não fosse ao fundo. Conseguiu endireitar as contas e estava e realizar reformas fundamentais para a sobrevivência e melhoria da Santa Casa. Eis que, muda o governo e a nova ministra do Trabalho e da Segurança Social, sem estudar o que se passou e o que Ana Jorge realizou, sem chamar Ana Jorge para uma reunião de trabalho, antes pelo contrário, chamou-a para lhe perguntar quantos funcionários iria despedir. Ana Jorge respondeu que nenhum. Aí, a ministra perguntou a Ana Jorge se pedia a demissão, ao que a ex-ministra lhe respondeu negativamente. No dia seguinte, Ana Jorge estava despedida num claro acto de saneamento político. Pior, a ministra foi buscar para o lugar de Ana Jorge um militar médico, que tem andado em missões militares e que em nada têm a ver com a gestão de uma casa de solidariedade.

Entretanto, também a competentíssima presidente do Instituto de Segurança Social, Ana Margarida Vasques, pediu a demissão em solidariedade com Fernando Araújo e alegando que o Executivo demonstrou falta de confiança na sequência da questão da retenção do IRS nas pensões.

Enfim, tudo isto é política, tudo isto é muito feio. E o mais triste é que assistimos a uma governação que não governa, mas que apenas sabe anunciar medidas futuras como propaganda eleitoral para o próximo dia 9 de Junho.

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