Hoje Macau Manchete PolíticaGoverno | Possível revolução na equipa de Sam Hou Fai Ainda sem a apresentação do elenco que irá formar o próximo Governo, o semanário Plataforma avançou ontem a possibilidade de uma “revolução” tecnocrata na equipa de Sam Hou Fai, com Wong Sio Chak a ser o único secretário actual a permanecer, mas a passar para a pasta da Administração e Justiça O seminário Plataforma avançou ontem uma lista com possíveis candidatos aos mais altos cargos do Governo que será liderado por Sam Hou Fai. Entre os nomes avançados, destaque para a ausência de grandes empresários e membros de famílias tradicionais de Macau. Segundo o semanário, a grande estrela em ascensão poderá ser o actual secretário da Segurança, Wong Sio Chak, que poderá passar para a pasta da Administração e Justiça e subir a número dois do Executivo. Cargo que não pareceu ser auspicioso para o futuro político de André Cheong que, segundo as previsões, poderá transitar para a liderança do Comissariado da Auditoria. O Plataforma refere que a possível passagem de Wong Sio Chak para a pasta da Administração e Justiça abre a porta para o Conselho Executivo e para substituir o Chefe do Executivo quando este se ausentar. A verificar-se o novo elenco, Wong Sio Chak será o único secretário do Governo de Ho Iat Seng a transitar para o próximo Executivo. Para o substituir na pasta da Segurança, foi avançado o nome de Chan Tsz King, o actual Comissário contra a Corrupção. Um nome que tem surgido repetidamente em várias previsões é O Lam, vice-presidente do Conselho de Administração do IAM e delegada de Macau no Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A neta de Ke Lin, antigo director do Hospital Kiang Wu, tem sido avançada como possível substituto de Elsie Ao Ieong U, na pasta dos Assuntos Sociais e Cultura. Porém, o Plataforma coloca O Lam como possível secretária para a Economia e Finanças. Livro dos nomes A mesma fonte indica o forte apoio que Sónia Chan tem entre as associações tradicionais, em especial a Associação Geral das Mulheres de Macau, e que poderia avançar para a Economia e Finanças. Porém, a ex-secretária para a Administração e Justiça do Governo de Chui Sai On não terá intenção de abandonar o cargo que ocupa actualmente na liderança da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos. Outra possibilidade apontada para o lugar, é a actual directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, direcção Um previsão que se mantém, é a saída do Governo de Raimundo do Rosário. Para o seu lugar à frente da secretaria para os Transportes e Obras Públicas, poderá avançar o actual director dos Serviços das Obras Públicas, Lam Wai Hou. Um dos protagonistas preteridos na lista avançada pelo Plataforma é André Cheong, indicado para liderar o Comissariado da Auditoria. Recorde-se que o actual secretário esteve cinco anos à frente do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), antes de pegar na pasta que tem liderado no Governo de Ho Iat Seng. Por último, é indicado o nome da magistrada que preside ao colectivo de juízes dos Tribunais de Primeira Instância, Lou Ieng Ha, para liderar o CCAC.
Hoje Macau Confeitaria Contos e histórias PolíticaFinanças | Orçamento aprovado na Assembleia Legislativa Os deputados aprovaram ontem na generalidade o orçamento da RAEM para o próximo ano, que prevê receitas de jogo de 240 mil milhões de patacas, um crescimento de 11 por cento face a este ano. O Governo prevê também para 2025 um saldo positivo do orçamento ordinário integrado num valor superior a 7,7 mil milhões de patacas, com receitas de quase 121,09 mil milhões de patacas e despesas de 113,384 mil milhões de patacas. Durante o debate, os deputados Leong Sun Iok e Ella Lei, ligados aos Operários, mostraram-se preocupados com a falta de aumentos na Função Pública. Na perspectiva de Ella Lei, estes aumentos são importantes, porque tendem a reflectir-se não só no sector público, mas também ao nível das empresas privadas, que acompanha o exemplo do Governo. Leong Sun Iok alertou para o facto de os bairros comunitários não estarem a beneficiar da recuperação da economia, pelo facto dos turistas terem novos hábitos de consumo. Esta foi uma preocupação também partilhada por Lo Choi In, que vincou que as PME estão a atravessar muitas dificuldades e que o Governo tem de oferecer respostas para o problema. Por sua vez, Leong Hong Sai, dos Moradores, pediu mais dinheiro para os professores, por considerar que precisam de melhores salários e protecção depois da reforma.
Hoje Macau Confeitaria Contos e histórias PolíticaDesemprego | Ma Io Fong alerta para “grave situação” dos jovens O deputado Ma Io Fong alertou ontem para o desemprego jovem, que diz ter atingido uma proporção de 28,8 por cento, entre o total da população desempregada. O assunto foi abordado ontem na Assembleia Legislativa, numa intervenção antes da ordem do dia. “Com a retoma económica, a situação do emprego melhorou […] No entanto, a situação de emprego dos jovens vai no sentido contrário. Segundo o inquérito ao emprego referente ao terceiro trimestre deste ano, a taxa de emprego só diminuiu nos grupos etários dos 16 aos 24 anos e dos 25 aos 34 anos; este último grupo apresentou a taxa de desemprego mais alta, 28,8 por cento”, alertou. “E 42,4 por cento da população desempregada têm habilitações académicas do ensino superior. Estes números demonstram a grave situação de emprego dos jovens”, sublinhou. Sem criticar directamente a falta de ineficácia do que afirmou terem sido as medidas lançadas pelo Governo para promover o emprego dos jovens, Ma Io Fong não deixou de destacar que “há quem entenda que faltam medidas complementares” e que “o apoio é insuficiente em termos da eficácia e duração”. O legislador da bancada da Associação das Mulheres alertou também para os impactos futuros: “Esta situação não é benéfica para o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade nem para a preparação dos quadros qualificados necessários à diversificação económica”, atirou.
João Santos Filipe PolíticaAL | Deputado apela à promoção do “orgulho étnico” nos jovens Ho Ion Sang apelou ao Governo que promova entre os mais jovens o “orgulho étnico” e o “reconhecimento da sua identidade nacional”. O deputado pediu também a organização de actividades que celebrem a vitória contra o Japão e o fascismo O deputado Ho Ion Sang pediu ontem ao Governo da RAEM que promova o orgulho étnico” entre os jovens de Macau e que insista no “reconhecimento da sua identidade nacional”. O apelo foi deixado durante uma intervenção antes da ordem do dia no plenário da Assembleia Legislativa, em que o deputado também defendeu uma nova revisão aos materiais sobre educação patriótica. Numa intervenção em que focou a necessidade de incutir sentimentos nacionalistas nos jovens, Ho Ion Sang, deputado dos Moradores, pediu que o Governo promova nas escolas grandes celebrações dos 80 anos do fim da guerra entre o Japão e a China. “No próximo ano, celebram-se os 80 anos da vitória na Guerra contra o Japão e também da vitória mundial contra o fascismo. Sugere-se que o Governo preste atenção e realize uma série de actividades para comemorar aquelas vitórias e estude a respectiva divulgação em diversas actividades juvenis”, pediu. Ho Ion Sang indicou também que as celebrações devem ter como objectivo “aumentar o conhecimento dos jovens sobre a história das guerras e o contributo dos seus heróis, incutindo nos jovens o reconhecimento da sua identidade nacional e o orgulho étnico”. Rever materiais escolar No âmbito da promoção do nacionalismo entre os mais jovens, Ho Ion Sang defende ainda a revisão dos manuais escolares e a adopção de outras formas de ensino, com recurso ao teatro e à música. “Rever, oportunamente, os manuais das disciplinas de educação cívica e de história, e inovar a educação patriótica, para integrar a cultura tradicional chinesa nas aulas, enriquecer e optimizar os recursos e apoios didácticos”, pediu. “Há que promover a variedade de micro-aulas e vídeos didácticos, e criar projectos artísticos de música, belas-artes, caligrafia, dança e teatro para promover o patriotismo, no sentido de orientar os jovens a conhecerem a longa história e a cultura esplêndida da nação chinesa, a defenderem-na e a transmitirem os seus genes”, vincou. “Sendo os jovens os futuros líderes do país e da RAEM, há que reforçar o sentido de identidade, de orgulho e de pertença deles em relação ao país, à nação e à civilização chinesa”, acrescentou. “Deve ser cultivado neles, desde pequenos, o espírito de amor pela pátria e por Macau, para desenvolverem um profundo sentimento patriótico”, frisou.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAntónio Branco, investigador da área da inteligência artificial: “Macau pode liderar” Docente da Universidade de Lisboa, e cientista da área da inteligência artificial e processamento de linguagem natural, António Branco está em Macau para o 9º Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Português como Língua Estrangeira na Ásia. O académico considera que Macau pode liderar no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial Quais os riscos e oportunidades do uso da Inteligência Artificial (IA) generativa no ensino de línguas? É sobejamente conhecido que as novas tecnologias trazem benefícios que anteriores tecnologias não conseguiam assegurar, mas sabe-se também que a introdução de novas tecnologias tem o potencial de aprofundar a desigualdade entre os seus utilizadores se tal efeito não for mitigado com contramedidas. A tecnologia da IA, e em concreto na sua aplicação ao ensino da língua, não é excepção. Tem o potencial de fazer avançar mais rápida e eficazmente a aprendizagem da língua, mas estudos recentes vêm mostrar que pode também levar os alunos a uma desvantagem, que é o facto de não conseguirem ultrapassar essas suas desvantagens se não existir a devida mediação pedagógica na exploração destas tecnologias. Desta forma, que medidas devem as escolas adoptar para melhor se adaptarem a este salto evolutivo? Guardadas as devidas distâncias, ainda assim pode ajudar a analogia com o que aconteceu há cerca de duas décadas atrás, com o advento das novas tecnologias digitais e da internet. Nessa altura, e desde então, uma medida das mais importantes tem sido dar formação aos professores para que melhor possam tirar partido da tecnologia. Com o recente advento da IA, um novo impulso de formação dos professores é imperativo. Além do trabalho como investigador, é também director-geral da PORTULAN CLARIN. De que se trata concretamente? É uma Infraestrutura de Investigação para a Ciência e Tecnologia da Linguagem e pertence ao Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Relevância Estratégica, sendo o nó nacional [em Portugal] da infra-estrutura internacional CLARIN ERIC. A sua missão é apoiar investigadores e inovadores, mas também professores e estudantes da língua cujas actividades dependem de resultados da Ciência e Tecnologia da Linguagem através da distribuição de recursos científicos, do fornecimento de apoio tecnológico, da prestação de consultoria e da disseminação científica. Os serviços de processamento da língua, por exemplo o conjugador ou os analisadores sintáticos, são disponibilizados gratuitamente e podem ser facilmente experimentados online na bancada da infraestrutura. Assim, fazem parte do portfólio de novos instrumentos de apoio ao ensino e aprendizagem da língua. Está em Macau para participar num colóquio focado no ensino de português como língua estrangeira. Poderia o território tornar-se numa zona experimental para o desenvolvimento deste tipo de plataformas digitais? Macau beneficia do efeito combinado da sua herança histórica que lhe confere a vantagem de ser um território que promove o multilinguismo, bem como da sua integração na área da Grande Baía, que o coloca no epicentro da inovação tecnológica. Mais do que uma zona experimental, Macau poderá liderar o desenvolvimento e a exploração da nova tecnologia de IA, e em muito particular a sua aplicação à tecnologia e processamento da linguagem natural. Acredita que livros e manuais escolares como hoje os conhecemos poderão desaparecer e dar lugar a e-books e conteúdos feitos por IA? Ou haverá espaço para complementaridade? O passado recente, de exposição a novas tecnologias disruptivas, ensina-nos que devemos ser prudentes a vaticinar a extinção de anteriores formas e práticas sociais e culturais. Por exemplo, o livro em papel foi declarado em extinção acelerada, mas afinal continua connosco com grande vitalidade, em complementaridade com outros tipos de suporte e canais de disseminação. Estou inclinado a pensar que o mesmo se vá passar relativamente aos benefícios da aplicação da IA no ensino. Acima de tudo, o que precisamos urgentemente neste momento é de desenvolver novas formas de mediação pedagógica que ajudem os alunos a tirar o melhor partido possível deste benefício. A IA, por si própria, tal como um navegador da web, não é uma ferramenta pedagógica, também em si mesmo uma chatbot não é um instrumento pedagógico, mas nas mãos e com a orientação dos professores pode certamente transformar-se num dos mais importantes meios de aprendizagem da língua. Há possibilidade de uma maior conexão dos modelos “Albertina” e “Gervásio” de linguagem IA generativa, sistema por si coordenado em Portugal, com as instituições de Macau e o seu sistema de ensino? A possibilidade de os modelos de linguagem de IA generativa desenvolvidos pelo nosso grupo de investigação, o “Albertina” e o “Gervásio”, poderem reflectir a realidade linguística e cultural de Macau encontra-se a ser trabalhada. Com o apoio de instituições de Macau, assim como do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa, há um corpus de texto de Macau que está a ser recolhido. Esse é um primeiro passo para se poder afinar os modelos. Muito gostaria que este encontro desta semana em Macau sobre o ensino da língua portuguesa na Ásia, possibilitasse encontrar mais parceiros para passos seguintes. Os modelos “Albertina” e “Gervásio” Se falarmos do desenvolvimento da IA em Portugal, o nome de António Branco surge nas últimas tendências e projectos. No caso da IA generativa, o cientista é coordenador dos modelos “Albertina” e “Gervásio” que integram o ecossistema dos grandes modelos de linguagem IA generativa. No caso dos modelos “Albertina”, que são codificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo “Albertina 1.5B”; enquanto que aos modelos “Gervásio”, descodificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo 7B. Segundo o website da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, António Branco considera que este ecossistema de modelos de linguagem IA generativa “é crucial para a tecnologia da língua portuguesa e esta expansão representa um passo da maior importância na preparação da língua portuguesa para a era da IA”. O cientista acrescentou ainda que “estas classes de modelos estão na base de toda a gama de aplicações de IA generativa, incluindo as mais mediáticas, como os chatbots ou os tradutores automáticos, e sendo maiores, estes novos modelos têm melhor desempenho”. Ainda segundo o mesmo portal, este ecossistema “é líder mundial em termos de grandes modelos de linguagem desenvolvidos especificamente para a língua portuguesa que são totalmente abertos e documentados”, sendo que o primeiro modelo Albertina foi disponibilizado em Maio do ano passado. Este foi “um marco histórico na preparação tecnológica da língua portuguesa para a era digital, ao ser o primeiro grande modelo de linguagem aberto desenvolvido especificamente para o português, para ambas as variantes”. António Branco irá falar hoje, a partir das 10h, de todo este universo na sessão inaugural do 9º Encontro, promovido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), e que decorre até amanhã no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. O investigador irá partilhar o auditório com João Laurentino Neves, ex-director do IPOR e actual director-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que irá discorrer sobre “Tecnologias da língua e língua de tecnologias – O IILP na era dos conteúdos e dos dados”.
Hoje Macau China / ÁsiaMinistros dos países do sudeste asiático reunidos no Laos Os chefes da defesa dos países do sudeste asiático iniciaram ontem uma reunião de dois dias no Laos, numa altura de tensões marítimas na região e de escalada da guerra na Ucrânia e no Médio Oriente. O encontro entre os ministros da Defesa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que inclui o Myanmar, Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Tailândia, Singapura e Vietname, deve contar com a presença dos seus homólogos norte-americanos e chineses Lloyd Austin e Dong Jun, respectivamente. As tensões no sudeste asiático, em particular a guerra civil no Myanmar, que se prolonga há mais de três anos, e as disputas territoriais no mar do Sul da China, entre Pequim e os países vizinhos, deverão estar no centro das discussões. A China, que reivindica a quase totalidade do mar do Sul da China, uma via estratégica para o comércio mundial, disputa territórios com países como a Malásia, o Brunei, o Vietname e as Filipinas, tendo-se registado nos últimos meses vários episódios de confrontos entre navios chineses e, sobretudo, filipinos. O mar do Sul da China é uma das questões que opõem a China aos Estados Unidos, que não têm reivindicações territoriais na região, mas têm um acordo de defesa mútua com as Filipinas e um interesse em defender a livre circulação nos mares estratégicos. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, participará no Laos na reunião prevista para hoje com os parceiros da ASEAN, depois de ter visitado a Austrália e as Filipinas, onde prometeu “apoio contínuo” à defesa do país insular. Austin enviou uma mensagem de tranquilidade antes do regresso à Casa Branca de Donald Trump, que exige maior autonomia aos países aliados em questões de segurança, o que suscitou preocupações na região, cuja defesa continua a depender largamente de Washington. O ministro da Defesa da China, Dong Jun, também é esperado no Laos e, segundo a imprensa indiana e japonesa, deverá encontrar-se com os seus homólogos Rajnath Singh e Nakatani Gen, num período de tensões territoriais históricas entre a China e os dois países. À margem das questões regionais, os conflitos na Ucrânia, em Gaza e no Líbano deverão dominar as reuniões e encontros bilaterais, numa altura de escalada. China e EUA mantêm também posições antagónicas nestas questões. Mundo em jogo O Presidente russo, Vladimir Putin, parceiro do líder chinês, Xi Jinping, aprovou na terça-feira uma doutrina nuclear que permite responder com armas nucleares a ataques convencionais que ameacem a soberania da Bielorrússia e da Rússia, que ainda não confirmou se vai enviar o seu ministro da Defesa, Andrei Belousov, ao Laos. A decisão surge depois de a imprensa internacional ter noticiado que os EUA autorizaram a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance para defender as suas posições na região russa de Kursk, onde Moscovo está a ser assistida por soldados da Coreia do Norte, no âmbito de uma aproximação entre Moscovo e Pyongyang. O exército israelita intensificou também nos últimos dias os seus ataques a Gaza e ao Líbano na sua guerra contra o Hamas e o Hezbollah. Enquanto a China apela a um cessar-fogo, defende a solução dos dois Estados e critica o apoio dos EUA a Israel como um exemplo da “duplicidade de critérios” do Ocidente, Washington espera que Pequim exerça mais pressão sobre o seu parceiro Irão, que está por trás do chamado “Eixo da Resistência”, que inclui o Hezbollah e o Hamas.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA sensibilidade trágica perdida dos Estados Unidos (I) “Americans have forgotten that historic tragedies on a global scale are real. They’ll soon get a reminder.” Hal Brands Os Estados Unidos deixaram de imaginar a catástrofe, no meio da introversão popular e da tranquilidade da classe dirigente. O declínio do pensamento estratégico foi substituído por teorias hiper-racionais. O moralismo da juventude e a cultura popular niilista em que tudo pode ser dito sobre os Estados Unidos nos últimos trinta anos, excepto que mantiveram uma abordagem estratégica equilibrada. Pode mesmo dizer-se que fizeram o contrário. De que outra forma pode-se definir a destruição da classe média (rejeitada com há sempre vencedores e vencidos), o envolvimento crónico em guerras intermináveis, a pretensão de ocidentalizar a China, a ilusão de antagonizar a Rússia sem pagar o preço, a extensão descuidada dos compromissos face a uma contracção consciente dos meios? Como foi possível negligenciar a tal ponto uma visão prudente e clarividente? E porque é que a América parece hoje paralisada? Concentramo-nos aqui num factor entre muitos, mas raramente observado. Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos deixaram de pensar em termos trágicos. De imaginar uma possível catástrofe. De prever as consequências mais devastadoras das suas acções e omissões. De agir com sentido de proporção. A sensibilidade trágica é uma caraterística essencial do pensamento estratégico. “A arte de governar não pode ser praticada na ausência de perspicácia literária”, escreveu Charles Hill, um mestre e veterano da diplomacia americana. A literatura e a tragédia fornecem lições cruciais sobre como manter uma comunidade saudável. Cultivam uma forma de sabedoria que é o oposto do cinismo, porque mantém unido o peso da força e da indignação perante a injustiça. Dão elasticidade mental para apreender as condições da história, fundidas na realidade e não em teorias abstractas. Alimentam o método geopolítico, com o seu confronto com as razões de cada um. Contam histórias que são também úteis à população, para compreender e legitimar os dilemas dos poderosos ou para os criticar responsavelmente. Estas lições não são agora ouvidas. Três gerações após a última guerra mundial, os americanos já não vivem a morte e a devastação em grande escala. A memória das catástrofes anteriores está a definhar. A classe intelectual e política tem dela apenas um conhecimento académico, formal e preciso, e também frio, sem humanidade e empatia. Qualidades que se obtêm através dos clássicos. Educação, no entanto, cada vez mais negligenciada nas universidades e na cultura popular. Uma condição comum nas suas premissas a muitos países ocidentais, mas única nas suas consequências. Porque, se não for corrigida, a ausência de sensibilidade trágica pode causar os cataclismos que a América já não consegue imaginar. A amnésia da tragédia suscitou um debate limitado mas influente na América. Segundo alguns, o problema é a população. Esta imagina o presente como eterno, dá por garantida a base geopolítica da sua prosperidade e tem relutância em sacrificar sangue e tesouros. Para outros, a falha é da classe dirigente. Aplicou de forma irresponsável a supremacia dos anos 1990-2000 e corroeu a solidez da República, as fontes de poder e a credibilidade, e por conseguinte a capacidade de dissuasão, dos Estados Unidos. Para os primeiros, o pecado original é o da negligência; a introversão. Para os segundos, o pecado original é o da arrogância; a extensão excessiva. O debate gira em torno de dois volumes recentes como “The Lessons of Tragedy: Statecraft and World Order” de Hal Brands e Charles Edel (2019) e “The Tragic Mind: Fear, Fate, and the Burden of Power” de Robert Kaplan (2023). Ambas obras são de íntimos do poder. Mas muito diferentes, não só pelas teses quase opostas que defendem. Kaplan, de 72 anos, é um famoso repórter de guerra dos Balcãs e do Médio Oriente, um apoiante irredutível da invasão do Iraque, um amante da geografia política (chama-lhe geopolítica) e autor de estudos para o Pentágono. Brands e Edel, ambos na casa dos 40 anos, sempre educados em Yale no altamente selectivo programa de grande estratégia do historiador John Gaddis, pertencem à nova geração de intelectuais. O primeiro, Hal Brands, titular da cátedra Henry Kissinger na Johns Hopkins e editor do texto de referência “The New Makers of Modern Strategy: From the Ancient World to the Digital Age”. O segundo, Robert Kaplan, reservista da Marinha e figura de proa do emblemático Centro Segurança Internacional e Estudos Estratégicos. Para ambos, uma passagem de dois anos pelos gabinetes de planeamento dos Departamentos de Defesa e de Estado, em meados da década de 2010. Para Brands e Edel, a tragédia é a catástrofe. A tragédia é o medo da catástrofe e a sua função é educar os cidadãos para os interesses estratégicos da comunidade. Para os gregos, escrevem, “o teatro e outras representações dramáticas eram educação pública. As tragédias serviam para admoestar e aterrorizar os cidadãos e para os inspirar. As elites acreditavam que Atenas só poderia ascender a grandes alturas se o público compreendesse o abismo em que se poderia afundar sem grande esforço, coesão e coragem”. A melhor definição deste papel estaria nas “Rãs” de Aristófanes. Por que razão admirar os poetas, pergunta Ésquilo a Eurípides; resposta é que “Para o juízo sábio, para o conselho correcto para que possamos converter os nossos concidadãos ao bem”. As virtudes da tragédia, estabelecem os autores, citando a “Retórica” de Aristóteles, residem na arte da persuasão, na prontidão para o sacrifício, ao aceitar a autoridade do Estado para preservar a ordem da desordem. Embora reconheçam que o teatro grego incutia lucidez e humildade no público, insistem no seu apelo à força e determinação comuns. Mesmo numa peça como “Os Persas”, em que Ésquilo faz com que o público se solidarize com a queda do inimigo, salientam a sugestão do autor de que a vitória de Atenas não foi mérito de heróis individuais, mas de uma comunidade unida capaz de evitar os erros de cálculo do adversário. Segundo Brands e Edel, a trágica perda de sensibilidade da América reside no fracasso da vontade popular de defender o império. Algo está quebrado nos Estados Unidos, pois os cidadãos já não querem pagar os custos inerentes ao papel de garante da ordem. Mas, ao fazê-lo, deitam tudo a perder, porque o “Número Um” não pode fazer menos sem induzir um colapso mais geral. A base deste afastamento remonta ao fim da Guerra Fria em que a população exige e obtém uma redução de algumas despesas do império para se concentrar na frente interna; entretanto, a classe intelectual e empresarial convence-se de que a globalização é a lei e o destino da humanidade, a natureza dos seres humanos está a mudar para melhor, a guerra é coisa de arquivos e o sistema internacional sustenta-se mesmo sem a América (John Ikenberry). (continua)
Hoje Macau EventosUSJ | Saúde e bem-estar dos mais jovens em debate A Universidade de São José (USJ) organiza entre amanhã e sábado a segunda edição do Simpósio Internacional sobre a Saúde e o Bem-Estar das Crianças e dos Jovens, que acolhe durante dois dias, no campus da Ilha Verde, um conjunto de académicos para falar de um tema actual. Segundo um comunicado da USJ, trata-se de um “simpósio interdisciplinar destinado a académicos, profissionais e decisores, com o objectivo de estabelecer ligações e dar contributos significativos para o conhecimento e a elaboração de políticas sobre a saúde e o bem-estar das crianças e dos jovens”. O evento é organizado pela USJ e por outras entidades académicas, nomeadamente o Observatório de Desenvolvimento Social de Macau da USJ, a Escola de Enfermagem Kiang Wu de Macau ou o Departamento de Serviço Social da Universidade Shue Yan de Hong Kong, entre outros. Irão, assim, ser discutidos temas como a saúde mental e pública, as políticas direccionadas para adolescentes e a relação com a família. A título de exemplo, serão apresentadas palestras como “Estilo Parental e Dependência Online da Criança na China: Efeito de mediação da intervenção parental”, por Chien-Chung Huang; ou ainda “Qualidade de vida dos jovens em Macau e Zhuhai: uma comparação”, por Johnston HC Wong. Já Yu Xiang, vai apresentar a palestra “Um modelo para promover o bem-estar dos adolescentes na área da Grande Baía: O caso da formação em Serviço Social”. Haverá também um debate sobre o ensino especial, nomeadamente com a apresentação de “Processamento temporal e leitura em crianças chinesas com dislexia”, por Xu Zhengye, da Universidade de Educação de Hong Kong; bem como “Desenvolvimento da juventude e questões de saúde mental em Taiwan”, por Chang Kou-Wei, da Universidade de NhuHua, em Taiwan.
Hoje Macau EventosHalftone | Lançada décima edição da revista de fotografia “Halftone Meet #10” foi lançada esta terça-feira e é mais uma edição da revista de fotografia que conta com trabalhos de fotógrafos profissionais e amadores, nomeadamente Jane Xu, Sara Augusto, Carmen Cerejo ou Nuno Calçada Bastos, entre outros. Esta é a oportunidade para folhear uma edição com estilos diversos de fotografia A Fundação Rui Cunha (FRC) acolheu esta terça-feira o lançamento da décima edição da revista “Halftone”, um projecto da Associação Halftone. Trata-se de uma edição com imagens de alguns dos membros da associação, nomeadamente Jane Xu, Sara Augusto, Carmen Cerejo, Nuno Calçada Bastos, Cassia Schutt e Hosoe Eikoh, a quem é prestada homenagem póstuma. Nesta edição, abrange-se um espectro fotográfico desde a fotografia documental até à expressão artística, a cores ou a preto-e-branco, em que “os trabalhos desafiam narrativas previsíveis, evocam respostas emocionais profundas e exploram as complexidades da experiência humana”, segundo a nota editorial da revista. De acordo com a organização, “a chegada à décima edição da nossa revista representa um marco significativo no nosso percurso nos últimos três anos”. “Esta conquista não só demonstra a nossa resiliência num cenário editorial desafiante, como também reflecte o nosso compromisso em promover a criatividade e o diálogo através da arte da fotografia”, acrescenta-se na mesma nota. A associação afirma ainda que foi construído “um espaço onde os artistas podem explorar e expressar as complexidades da experiência humana, promovendo um sentimento de pertença e compreensão partilhada”. Reflexão e partilha Dez edições depois, a Halftone, que nasceu com o objectivo de revelar a fotografia que se faz no território, em todos os géneros e por todo o tipo de profissionais parece ter atingido o seu propósito. Lançar dez revistas serve, para a associação, como motivo “para reflectir sobre os temas que apresentamos e as ligações que cultivamos”. “Olhando para trás, reconhecemos como estas narrativas ressoam com o nosso compromisso contínuo com o discurso social e a exploração cultural”, é acrescentado. Destaque para o facto de “Halftone Meet #10” servir ainda de homenagem a Hosoe Eikoh, recentemente falecido, lembrado pela “fotografia magistral [que] deixou uma marca indelével no mundo da arte”. “A capacidade de Eikoh de entretecer luz e sombra com uma grande profundidade emocional, convida os espectadores a envolverem-se com a condição humana de uma forma que ressoa para além das fronteiras culturais. O seu trabalho serve como uma memória comovente das narrativas tecidas em cada um dos projectos apresentados, reforçando a ideia de que, no seu âmago, toda a fotografia procura contar uma história”, remata a associação na mesma nota. Ainda sobre os autores das imagens, destaque para Sara Augusto, que além da dedicação à fotografia é professora universitária na Universidade Cidade de Macau. Sara Augusto é formada nas áreas das humanidades e literaturas em português, tendo sido docente no Instituto Português do Oriente. Além disso, fez o Curso Profissional de Fotografia, ministrado pelo Instituto Português de Fotografia no Porto, em 2016. Nuno Calçada Bastos, também residente em Macau, tem dedicado a sua carreira à fotografia e organização de eventos, assumindo também uma paixão pela fotografia de viagens, além do lado mais comercial que esta arte pode assumir.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Taxa de juro de referência mantém-se em 3,1% O Banco Popular da China anunciou ontem que vai manter a taxa de juro de referência em 3,1 por cento, após o corte de Outubro, indo ao encontro das expectativas dos analistas. Na actualização mensal, a instituição indicou que a taxa de juro de referência a um ano (LPR) permanecerá nesse nível pelo menos até daqui a um mês. Este indicador, estabelecido como referência para as taxas de juro em 2019, é utilizado para fixar o preço dos novos empréstimos – geralmente destinados às empresas – e dos empréstimos a taxa variável que estão a ser reembolsados. É calculado com base nas contribuições de preços de uma série de bancos – incluindo pequenos credores que tendem a ter custos de financiamento mais elevados e maior exposição a empréstimos não produtivos – e tem como objectivo reduzir os custos dos empréstimos e apoiar a “economia real”. Em Outubro, o banco central reduziu a LPR a um ano em 25 pontos base para 3,1 por cento. Esta foi a segunda redução em 2024, com os especialistas a sugerirem que o banco central estava a ser cauteloso face à divergência com outras grandes economias – onde as taxas tinham tido uma tendência de subida para conter a inflação – e à consequente pressão sobre a taxa de câmbio da moeda nacional, o yuan. Em Julho, o banco central tinha anunciado um corte de 10 pontos base para 3,35 por cento. O banco central também indicou ontem que a LPR a 5 anos ou mais – a referência para os empréstimos hipotecários – se manterá nos 3,6 por cento, depois de ter caído 15 pontos base em Outubro, também em linha com as expectativas dos analistas. Nas últimas semanas, Pequim anunciou uma série de medidas de estímulo, na sequência de uma descida das taxas de juro nos Estados Unidos, tendo o Presidente chinês, Xi Jinping, apelado a esforços redobrados para atingir o objectivo de crescimento económico de cerca de 5 por cento para este ano.
Hoje Macau China / ÁsiaHK | Pequim acusa magnata Jimmy Lai de ser “agente das forças anti-China” O magnata de Hong Kong, Jimmy Lai, é “um agente e um peão das forças anti – China”, acusou ontem Pequim, depois de o empresário testemunhar pela primeira vez na antiga colónia britânica, num julgamento por crimes contra a segurança nacional. O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lin Jian disse ontem em conferência de imprensa que “Hong Kong é uma sociedade regida pelo Estado de direito” e que “ninguém pode usar a bandeira da liberdade para se envolver em actividades ilegais e tentativas de escapar à lei”. Lin afirmou que o sistema judicial de Hong Kong “exerce o seu poder judicial de forma independente, em conformidade com a lei, com procedimentos justos e imparciais e com audiências abertas e transparentes”. “O Governo central chinês apoia firmemente a região administrativa de Hong Kong na protecção da segurança nacional”, acrescentou, manifestando “oposição” à “interferência de países individuais nos assuntos internos da China, desacreditando e minando o Estado de direito em Hong Kong”. O processo contra Lai, que já está a cumprir uma pena de mais de cinco anos sob a acusação de fraude por alegadas violações do contrato de arrendamento da sua empresa multimédia, foi retomado ontem em Hong Kong com o seu testemunho, após quase quatro anos de detenção. Lai, de 76 anos, um crítico do Partido Comunista Chinês (PCC), e as suas empresas enfrentam três acusações ao abrigo da rigorosa Lei de Segurança Nacional de Pequim em Hong Kong, incluindo alegada conivência com “forças estrangeiras” e sedição. As acusações estão relacionadas com alegados apelos a sanções internacionais contra a cidade e a China por parte do magnata, bem como com o seu papel “no incitamento ao ódio público” durante protestos maciços contra o governo de Hong Kong, em 2019.
Hoje Macau China / ÁsiaNuclear | Pequim apela à calma após Rússia rever doutrina A China apelou ontem à calma e à contenção, na sequência da assinatura pelo Presidente russo, Vladimir Putin, de um decreto que alarga as suas opções para a utilização de armas nucleares. “Nas actuais circunstâncias, todas as partes devem manter a calma e usar de contenção e trabalhar em conjunto através do diálogo e consultas para aliviar as tensões”, disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, em conferência de imprensa. “A posição da China, que encoraja todas as partes a desanuviar as tensões (…) e a empenhar-se numa resolução política da crise ucraniana, mantém-se inalterada”, acrescentou o porta-voz. No milésimo dia da sua ofensiva contra a Ucrânia, Vladimir Putin assinou na terça-feira um decreto que alarga o âmbito da utilização de armas nucleares, pouco depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com mísseis de longo alcance de fabrico norte-americano. Putin avisou, no final de Setembro, que qualquer ataque levado a cabo por um país não nuclear mas apoiado por uma potência com armas nucleares poderia ser considerado uma agressão “conjunta”, exigindo potencialmente o uso de armas nucleares. Na terça-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou a “escalada” russa na Ucrânia, apelando a Vladimir Putin para que “ouça a razão”. Macron pediu ao Presidente chinês, Xi Jinping, que faça valer “todo o seu peso” sobre Moscovo. “Pedi ao Presidente Xi Jinping que utilize toda a sua influência, a sua pressão e o seu poder de negociação para que o Presidente Putin ponha termo aos ataques”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaInteligência Artificial | Xi Jinping alerta para “riscos e desafios” Além dos benefícios da nova tecnologia, o Presidente chinês alerta para os perigos imprevisíveis que daí podem advir O Presidente chinês, Xi Jinping, destacou ontem os avanços da Inteligência Artificial (IA) e o seu “impacto transformador no mundo”, mas alertou para os “riscos e desafios imprevisíveis” desta tecnologia emergente. Numa intervenção por videoconferência na abertura da Conferência Mundial da Internet em Wuzhen, na província chinesa de Zhejiang, Xi apelou a um “ciberespaço inclusivo e seguro”, sublinhando a necessidade de cooperação internacional para enfrentar os desafios da era digital, segundo a televisão estatal CCTV. No seu discurso, Xi sublinhou que “o avanço das tecnologias de IA melhorou a capacidade dos humanos para mudar o mundo, mas também trouxe uma série de riscos e desafios imprevisíveis”. Reafirmou o compromisso de Pequim em trabalhar com outros países para “construir uma comunidade com futuro partilhado no ciberespaço”, uma fórmula que também defende para outras questões. O evento, organizado pela Administração do Ciberespaço da China, conta com a participação de líderes empresariais e delegações internacionais e centra-se em temas como a governação da IA e do ciberespaço ou a inovação digital. O vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, sublinhou durante a cerimónia que “a IA, juntamente com a Internet, os grandes volumes de dados (‘big data’) e a computação em nuvem, está a impulsionar o desenvolvimento económico e social, mas o fosso digital continua a aumentar e a questão da segurança no ciberespaço continua a ser preocupante”. Palco da tecnologia A cimeira, que inclui 24 fóruns e a participação de representantes de 53 países, aborda também a criação de um comité especial sobre IA e um programa de cooperação internacional entre grupos de reflexão. Estes esforços têm como objectivo promover um desenvolvimento digital mais inclusivo e responsável. Entre os participantes encontra-se Lei Jun, fundador do gigante tecnológico chinês Xiaomi, que participou na cerimónia de abertura. Num contexto de tensões tecnológicas entre a China e os Estados Unidos, o evento reflecte a estratégia de Pequim para consolidar o seu modelo de governação da Internet, caracterizado por um controlo estatal rigoroso e pela exclusão de plataformas estrangeiras. Apesar do seu carácter mais regional nos últimos anos, não atraindo figuras de destaque dos gigantes tecnológicos ocidentais, como Tim Cook, da Apple, e Sundar Pichai, da Google, presentes em edições anteriores, a cimeira continua a ser para a China um palco para impulsionar iniciativas internacionais na esfera digital. A China – onde milhares de portais, aplicações e redes sociais ocidentais, estão bloqueados – acolhe há 10 anos a conferência internacional sobre a Internet, que procura igualmente promover a cooperação internacional no ciberespaço.
Hoje Macau Via do MeioA última noite do Império I Por Luis Nestor Ribeiro (1) Introdução: Uma Macau Multicultural Viver e trabalhar como profissional num meio de comunicação social em Macau, especialmente nos anos que antecederam a transferência de administração para a China em 1999, foi uma experiência imersiva e transformadora. No coração desse território pequeno e vibrante, não fui apenas um mero observador, mas também um interveniente empenhado, em experienciar na primeira pessoa, uma das mais complexas fusões culturais do mundo. No Passado, Macau não foi uma simples colónia europeia em território chinês, foi primordialmente um lugar onde o Oriente e o Ocidente não apenas coexistiram, mas também se entrelaçaram: – num diálogo constante, às vezes harmonioso, outras vezes tenso, sempre fascinante. Desde os meus primeiros dias em Macau, fui atraído pela riqueza cultural que moldava a vida quotidiana da cidade. Nos becos e ruas estreitas, havia sinais da longa presença portuguesa, com suas igrejas barrocas e casas coloniais, enquanto os mercados fervilhavam com a energia dos vendedores chineses. O cheiro de chá acabado de preparar pairava no ar enquanto o som de sinos dos templos budistas ecoava ao longe. Essa singular fusão de culturas constituiu sempre a sua essência, e para entender a transferência de administração (2) que se aproximava, era necessário compreender primeiro o que fazia de Macau um lugar tão único. A Fusão de Culturas A história de Macau conheceu novos protagonistas no século XVI, quando os portugueses chegaram como navegadores e mercadores, transformando paulatinamente um pequeno lugar num importante entreposto comercial no sudeste asiático (3). Desde então, o território tornou-se num verdadeiro caldeirão de culturas. O impacto dessa colonização portuguesa nunca se limitou à política ou à economia; foi um processo que deixou marcas profundas nas tradições, na língua e no modo de vida dos seus habitantes. Passei a residir em Macau no início da década de 1980, por motivos profissionais. Ao deambular pelas ruas da cidade no papel privilegiado de voyeur (4) sem pressa, a quem fora permitido observar um grande laboratório multicultural em plena produção no Extremo Oriente, era impossível passar despercebida a ubíqua influência portuguesa: embora o ritmo da cidade fosse marcado pela vertiginosa actividade chinesa nas lojas e negócios, o ambiente do casario e suas elegantes fachadas coloniais convocava as emoções para um distante lugar mediterrânico. As calçadas com seus padrões ondulantes configurados por pedras alvinegras, conferiam às ruas uma beleza singular, ligando-as simbolicamente a Portugal, enquanto a serenidade das igrejas católicas contrastava com o misticismo fumegante dos templos chineses, como o Templo de A-Má, reverenciado pela comunidade chinesa local, em particular pelos pescadores e população flutuante, abrigada em sampanas e juncos no Porto Interior. Macau nessa época(5) não era mais do que um pequeno anão adormecido à sombra de um gigante. Com escassos portugueses, pouco passavam de mil os que tinham vindo directamente de Portugal. Na generalidade eram funcionários públicos, professores, advogados e alguns militares a prestar serviço nas forças de segurança. A língua portuguesa era falada por cerca de 15 mil pessoas, numa população que rondava os 450 mil habitantes, cuja língua veicular predominante era o cantonense. A maioria comprimia-se numa estreita faixa, a península de Macau, com cerca de 5,7 km2 no que constituía um recorde mundial para a mais alta densidade populacional. Em conjunto, o território de Macau(6), administrado por Portugal, incluía as ilhas de Taipa e Coloane, com uma área total aproximada 15,3 km². Macau era uma urbe envolta numa languidez entorpecida em contraciclo com a economia dos tigres asiáticos(7). Só existia uma ligação viária entre a península e as ilhas, assegurada pela elegante ponte Nobre de Carvalho, inaugurada em 1974. Apesar de possuir apenas duas estreitas vias de circulação, foi uma obra essencial para o desenvolvimento, facilitando o transporte de pessoas e mercadorias, impulsionando o crescimento urbano. O trânsito era caótico e pouco disciplinado. As viaturas podiam circular livremente pelo Largo do Senado, no coração da cidade. Tinham ainda a possibilidade de estacionar mesmo defronte do edifício do Leal Senado. O lixo amontoava-se nas ruelas e a sua recolha pelos serviços municipais não era eficiente. Ao longo da Rua da Praia Grande, na margem do rio, ainda existiam barracas de pescadores, em forma de palafita, com redes de pesca suspensas e puxadas através de um sistema de roldanas artesanais. No emaranhado de ruas, havia inúmeras tendinhas onde era confeccionada uma profusão de petiscos e comidas, – genuína street food antes de virar moda, – servida mesmo à frente do cliente. Aromas de arroz glutinoso, massa, peixe e carne, com legumes caldeados por molhos e temperos fumegantes que emprestavam ao ar um odor característico, estimulando o apetite dos fortuitos transeuntes. Um ambiente denso e carregado de fumo, não parava de cativar o forasteiro, dia e noite. Em redor dos casinos, era permanente a azáfama. A gastronomia reflectia esse carácter eclético de forma deliciosa. Nos restaurantes, a comida era uma celebração da diversidade cultural. Nas imensas visitas a casas de chá e restaurantes locais, provei variados pratos que misturavam ingredientes chineses e técnicas culinárias portuguesas. O minchi, um prato tradicional macaense de carne moída com batatas e ovo frito, temperado com molho de soja, era um exemplo perfeito dessa mistura, representando a cozinha do dia a dia dos macaenses. Outros pratos, como o caldo verde e o pastel de nata, conviviam lado a lado com receitas chinesas mais tradicionais, como o dim-sum e o pato laqueado. Além da comida, havia também a música, uma presença constante em Macau. Nas festas de rua e eventos culturais, ouvia-se o som do fado, cantado em português interpolado por árias de ópera de Pequim, mesclados ao ritmo das danças chinesas e dos tambores rituais das festividades, com destaque para o Ano Novo Lunar. E, claro, o patuá — a língua crioula única de Macau, que misturava português e cantonense, falada principalmente pelos mais idosos e hoje quase em extinção. Nesse tempo as comunicações intercontinentais eram complexas e de difícil acesso. Para um português residente em Macau o contacto regular com os familiares distantes constituía um quebra-cabeças. As redes telefónicas fixas só permitiam o acesso directo a chamadas locais. A tecnologia de suporte a ligações de longa distância pressupunha a utilização de comunicações via satélite. Para o efeito, era necessário proceder presencialmente à reserva de circuitos na sede dos Correios, para um determinado horário, sujeito a confirmação e na presença de um telefonista de serviço. Essa complexidade acentuava ainda mais a sensação de isolamento em relação ao resto do mundo. Eram também frequentes os apagões de energia eléctrica, em virtude de a central geradora de electricidade no território não ser auto-suficiente. Uma parte substancial da energia necessária era importada da China, revelando uma dependência de Macau, de forma a satisfazer os requisitos de consumo quotidiano, cuja tendência era de aumento gradual. A Identidade Macaense Com o tempo, fui percebendo que a identidade macaense era muito difícil de definir, pressupondo uma mescla de complexidade e fluidez. Os macaenses, descendendo primordialmente de portugueses e chineses, com o contributo genético ocasional de outros povos meridionais do continente asiático(8), eram fruto directo dessa fusão cultural. Uma comunidade híbrida que vivia entre dois mundos, com um pé na Europa e outro na Ásia. O que os unia não era uma etnia, mas uma cultura compartilhada — uma cultura que, nos últimos 450 anos, se tinha desenvolvido de forma autónoma, sob o olhar distante tanto de Portugal quanto da China. Numa observação muito superficial, para os portugueses, os macaenses eram vistos como diferentes, como “os orientais” — assumindo em muitos casos, a face visível da administração local – graças à faculdade que detinham, de poderem comunicar nos dois idiomas principais. Já os chineses nativos de Macau, viam muitas vezes os macaenses como “ocidentais”, portadores de valores e hábitos europeus. No entanto, os próprios macaenses não se reviam exactamente como europeus nem completamente como asiáticos. A sua identidade estava profundamente enraizada na singularidade de Macau, e muitos temiam que essa identidade fosse descaracterizada com a transferência de administração para o controlo chinês. Essa incerteza era palpável nas conversas frequentes que eu tinha no seio do meu círculo mais restrito de amigos. Alguns sentiam orgulho na dualidade da sua herança; outros receavam que o retorno de Macau à pátria chinesa pudesse significar uma perda de suas tradições e liberdades. Essa identidade complexa era, para muitos, algo que devia ser protegido com determinação. Notas 1-Author, Media Consultant, TV Director / Producer. Lived and worked in Macau for 25 years, between 1983 and 2008. 2-Neste artigo considero que a Cerimónia de Transferência de Poderes em 20 de dezembro de 1999 foi essencialmente isso – uma passagem de testemunho entre nações que se respeitavam e que souberam manter um entendimento cordial ao longo de mais de quatro séculos e meio, não obstante haver autores que a designam como ‘Transferência de Soberania’, em linha com o que se passou em Hong-Kong em 1997, entre a R.P.C. e a coroa inglesa. No caso específico de Macau, a soberania chinesa sobre o território já tinha sido formalmente reconhecida pelas autoridades portuguesas em 1979. Quando a República Popular da China e a República Portuguesa estabeleceram formalmente relações diplomáticas, o estatuto de Macau em termos de Direito Internacional foi finalmente esclarecido. Na altura, os dois países definiram na acta de conversações por meio de acordo confidencial que “Macau é território chinês sob administração portuguesa”, o que veio a ser confirmado na Constituição da República Portuguesa e no Estatuto Orgânico de Macau. 3-Sobre o estabelecimento dos portugueses em Macau as evidências documentais são pouco claras e por vezes revelam-se ambíguas. Não existe qualquer documento da época que comprove como os portugueses se instalaram no território do Sul da China. Resta acrescentar o facto, esse indiscutível, de os portugueses se terem fixado em Macau desde a segunda metade do século XVI e de ali terem permanecido ininterruptamente, com o acordo, ou pelo menos, a tolerância dos chineses. O seu estabelecimento gradual foi pacífico, não ocorrendo qualquer emprego de força, um acto de guerra que determinasse a sua anexação territorial, em contraste com o sucedeu em meados do séc. XIX com Hong-Kong 4- Inspirado pelo flâneur de Charles Baudelaire. 5-Início da década de oitenta do século passado 6-É oportuno recordar que durante o mandato do Governador Almeida e Costa (1981 a 1986) tiveram início os Grandes Empreendimentos, como o fecho da Baía da Praia Grande e os novos aterros do Porto Exterior (NAPE). Foi possível concretizar um entendimento pragmático com a nova liderança da nação chinesa que visava uma maior abertura ao exterior, criando as condições políticas adequadas para o arranque e concretização de alguns projectos importantes para a modernização do território, como a Estação de Televisão – TDM (1984), o porto de águas profundas em Ka Ho, Coloane (1992), o Terminal Marítimo do Porto Exterior (1993), a nova travessia para a Taipa através da Ponte da Amizade (1994) e a construção numa ilha artificial do novo Aeroporto Internacional (1995), tendo esta última obra levado 10 anos a realizar. Com o passar do tempo, a área de Macau aumentou significativamente devido aos sucessivos projectos de aterro, como a faixa de Cotai (Cotai Strip), que cobre o antigo istmo que ligava Taipa a Coloane e é ocupado actualmente pela maioria dos grandes casinos e resorts. 7-Grupo constituído por quatro economias do sudeste asiático, Hong-Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan, que registou um vertiginoso crescimento do PIB entre as décadas de 1970 e 1990. Durante esse período, essas quatro economias passaram por uma rápida industrialização, altas taxas de crescimento e melhorias significativas nos padrões de vida. Essa transformação é frequentemente designada por ‘Milagre Asiático’ 8-Com destaque para os antigos reinos e territórios do Sião (Tailândia), Pegu (Myanmar), Malaca (Malásia) Goa (Índia), Batávia (Indonésia) e Filipinas, entre outros.
Hoje Macau SociedadeTradução | UM e BFSU organizam Concurso de Tradução A Universidade de Macau (UM) e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (BFSU) realizam a 22 de Novembro o 3.º Concurso de Tradução Chinês-Português, anunciou na terça-feira a instituição de ensino de Macau. Além de “promover o intercâmbio no ensino da língua portuguesa entre as universidades” de Macau e do interior da China, o concurso quer “incentivar os estudantes” de português a “participarem na prática da tradução e descobrir talentos de qualidade” nesta área, de acordo com um comunicado da UM. Um total de 84 estudantes de 26 universidades dos dois lados da fronteira vão participar no evento, que teve a primeira edição em Outubro de 2019. Em 2022, 51 instituições de ensino superior ofereciam programas de língua portuguesa no interior da China, segundo uma compilação divulgada pelo académico da Universidade Politécnica de Macau Manuel Duarte João Pires nesse mesmo ano. No caso de Macau, são cinco universidades com programas de português.
Hoje Macau SociedadePJ | Sub-director afirma que jogo ilegal foi erradicado O sub-director da Polícia Judiciária, Sou Sio Keong, afirmou ontem que vários crimes relacionados com jogo estão actualmente em níveis mais baixos do que em 2019, com particular destaque para o crime organizado de exploração de jogo ilegal, que o responsável diz ter “basicamente desaparecido”. Em declarações à TDM – Rádio Macau, o sub-director da PJ, revelou que desde que entrou em vigor a lei que criminalizou a troca de dinheiro ilegal, no final de Outubro, até à passada sexta-feira, foram identificados 25 casos pelas autoridades, que resultaram na detenção de 38 pessoas. No total, estes casos levaram à apreensão de mais de 3 milhões de dólares de Hong Kong e fichas no valor de 1,1 milhões de dólares de Hong Kong. O responsável revelou também que o crime de burla com ingressos para espectáculos em Macau tem aumentado nos últimos meses e que está a ser equacionada a introdução de dados pessoais nos bilhetes para identificar o espectador e prevenir a revenda a preços inflacionados.
Hoje Macau Manchete SociedadeMacau Legend | Oposição de Cabo Verde quer esclarecimentos O partido liderado por Julião Varela defende que é necessário “clarificar o que acontecerá, tendo em conta os investimentos já realizados” pela empresa ligada a David Chow e Levo Chan O PAICV, maior partido da oposição cabo-verdiana, instou o Governo de Cabo Verde a esclarecer a reversão do projecto turístico da Macau Legend Development (MLD), apelando a um diálogo com a população e a autarquia da capital para encontrar alternativas. “Seguramente faltarão muitas outras informações”, afirmou o secretário-geral do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Julião Varela, considerando que o Governo anunciou, há meses, em Macau, que estava a procurar novos investidores para o empreendimento que incluía o ilhéu de Santa Maria. “Com a resolução do contrato, é evidente que todas as possibilidades de negociação foram esgotadas. Agora, importa clarificar o que acontecerá, tendo em conta os investimentos já realizados”, sustentou. Para o PAICV, “é necessário que haja um forte diálogo”, que deve envolver a Câmara Municipal da cidade da Praia e os cidadãos na procura por soluções. Em resposta aos pedidos de esclarecimento, o Governo cabo-verdiano reconheceu ir analisar alternativas ao empreendimento turístico e de jogo da Macau Legend, que prometia mudar a face da capital, Praia, um dia depois de terminar os contratos, justificando-se com incumprimento dos investidores. “O Governo estará a analisar soluções alternativas para o referido Projeto de Requalificação da Gamboa e do Ilhéu de Santa Maria”, lê-se num comunicado. De “boa-fé” Na mesma nota, o Governo referiu ter agido “de boa-fé”, ao enviar “várias cartas à MLD, dando-lhe inúmeras oportunidades de retoma das obras, paradas há cerca de três anos, para negociar a venda das acções ou a cedência da sua posição contratual a um potencial interessado”, acrescentou. O desfecho acabou por ser “a resolução das convenções de estabelecimentos e dos contratos delas derivados, com a reversão dos bens”, publicados na segunda-feira, em Boletim Oficial da República. “Até à presente data, foram efectivamente concretizados um edifício com oito pisos”, que permanece vazio, “e uma ponte de ligação ao Ilhéu de Santa Maria”, numa zona da marginal da Praia que tem permanecido vedada. Na segunda-feira, o Governo cabo-verdiano declarou que a MLD violou “de forma flagrante e reiterada” as obrigações num investimento turístico e de jogo, na Praia, ao justificar a sua resolução e reversão, publicadas na segunda-feira. Assinado em 2015, o acordo com David Chow previa um investimento de 250 milhões de euros, cuja primeira pedra foi lançada em 2016. O plano envolvia a construção de uma estância turística com uma área de 152.700 metros quadrados, marina, hotel com casino – estrutura construída, mas que continua vazia e fechada – e várias instalações para restaurantes e bares. Em Setembro deste ano, durante audiência prévia, a MLD negou qualquer culpa no processo, atribuindo os atrasos à pandemia da covid-19, argumento rejeitado pelo Governo.
João Luz SociedadeEconomia | Volume de negócios a retalho caiu 17% até Setembro Nos primeiros três trimestres do ano, o volume de negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho caiu 16,9 por cento, fixando-se em 53,48 mil milhões de patacas, o equivalente a 95 por cento do resultado obtido no mesmo período de 2019. Os sectores mais afectadas pela crise nos primeiros nove meses do ano foram os negócios de relógios e joalharia, artigos de couro e artigos de comunicação, que registaram quebras anuais de 26,6, 24,4 e 24,3 por cento, respectivamente. Por outro lado, a venda de automóveis aumentou 14,4 por cento nos primeiros três trimestres do ano. A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) acrescenta que “eliminados os factores que influenciam os preços”, o volume de vendas do comércio a retalho caiu 21,2 por cento nos primeiros três trimestres deste ano, face ao mesmo período de 2023. Segundo dados divulgados ontem pela DSEC, no terceiro trimestre deste ano, os negócios do comércio a retalho cifraram-se em 16,59 mil milhões de patacas, o que representou um aumento de 2,5 por cento face ao trimestre anterior, mas uma quebra anual de 15,5 por cento. Os negócios de relojoaria e joalharia registaram a maior quebra anual no terceiro trimestre, com uma descida de 30,9 por cento, seguidos dos negócios dos artigos de couro, que desceram 26,5 por cento, seguidos dos produtos cosméticos e higiene, cujo volume de negócio caiu 23,7 por cento em termos anuais. Em relação à expectativa para o último trimestre do ano, 43,5 por cento dos responsáveis por estabelecimentos do comércio a retalho estimam que o volume de negócios continue a diminuir, enquanto 39,5 por cento antecipa estabilização.
João Luz Manchete SociedadeHengqin / Metro | Linha quase concluída e Centro Modal abre amanhã A linha de Hengqin do Metro Ligeiro deve abrir ainda este ano, ligando a Estação do Lótus ao posto fronteiriço da Ilha da Montanha. Amanhã, abre o centro modal de transportes no posto de Hengqin, com uma zona para tomada e largada de passageiros para autocarros de hotéis e casinos e praça de táxis Os últimos detalhes para a abertura da linha do Metro Ligeiro que vai ligar Macau a Hengqin estão a ser ultimados. Está previsto que a linha comece a funcionar antes do fim do ano, de acordo informação divulgada ontem pela Sociedade do Metro Ligeiro de Macau. A obra foi adjudicada à empresa estatal Nam Kwong União Comercial e Industrial, por cerca de 3,4 mil milhões de patacas. Num comunicado divulgado ontem, a empresa afirma que a linha proporcionará aos cidadãos ou turistas que se desloquem ao Posto Fronteiriço de Hengqin uma “opção de viagem confortável e rápida, facilitará a circulação de pessoas e o intercâmbio económico e dará um novo impulso à integração de Macau no desenvolvimento da Grande Baía”. O projecto, que arrancou em Abril de 2021, liga a Estação do Lótus da Linha da Taipa à Ilha da Montanha, através do Canal de Shizimen. A linha que liga as duas estações tem um comprimento de 2,2 quilómetros, dos quais 900 metros são em túnel subaquático. A estação de Hengqin está situada no piso subterrâneo do posto fronteiriço para a Ilha da Montanha. Pela estrada fora As direcções dos serviços para os Assuntos de Tráfego e de Obras Públicas anunciaram ontem a conclusão da obra de remodelação da plataforma do centro modal de transportes do 2.º andar do lado de Macau do Posto Fronteiriço de Hengqin e a abertura ao público a partir de amanhã às 10h. A entrada em funcionamento da plataforma irá acrescentar uma zona de tomada e largada de passageiros para automóveis ligeiros e autocarros de hotéis e casinos, e uma praça de táxis. Foi também criada uma zona para autocarros transfronteiriços. A obra de remodelação do centro modal foi adjudicada à Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau) por cerca de 194,5 milhões de patacas, mas somados os custos com controlo de qualidade, fiscalização, elaboração e apreciação do projecto e obras de demolição a factura ultrapassa os 214 milhões de patacas. A plataforma será servida directamente pelas carreiras especiais do 25B (25BS), 50, 102X, 701X, carreira nocturna 6, e pelos autocarros com paragens na periferia da (15, 21A, 25, 26, 26A, carreira nocturna 3).
Hoje Macau PolíticaFinanças | Menos 12 funcionários no fim de Setembro Apesar de ser uma das apostas do Governo no âmbito da estratégia da diversificação da economia, as finanças empregaram menos gente no final de Setembro do que no período homólogo. Os dados foram revelados ontem pela Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC) no âmbito da publicação dos “resultados do inquérito às necessidades de mão-de-obra e às remunerações referentes ao 3.º trimestre de 2024” das actividades financeiras. Segundo os números oficiais, no fim do terceiro trimestre havia 8.554 trabalhadores a tempo inteiro no sector, uma redução de 12 trabalhadores face ao terceiro trimestre de 2023. A maior parte dos funcionários do sector trabalhava em bancos, um total de 7.258, ainda assim menos 23 do que no período homólogo. Os serviços de intermediação financeira empregavam 265 trabalhadores, uma redução de 9 pessoas face ao período homólogo. No pólo oposto, as seguradoras contrataram mais 10 pessoas a tempo inteiro, o que faz com que empreguem 811 trabalhadores. Em termos da remuneração média, em Setembro de 2024, os trabalhadores registaram um aumento de 4,4 por cento, para um salário médio de 31.820 patacas por mês. No fim do terceiro trimestre, havia 208 vagas no sector das actividades financeiras, menos 280, em termos anuais, com a banca a necessitar de 152 trabalhadores e as seguradoras de 38 empregados.
Hoje Macau EventosIIM | Exposição de fotografia na próxima semana No próximo dia 27 de Novembro, a partir das 18:30 horas, vai ser inaugurada a exposição de fotografias “À descoberta de Macau e Hengqin”. A iniciativa parte do Instituto Internacional de Macau e é patrocinada pela Fundação Macau, sendo co-organizada por diversas entidades, uma delas a Associação de Fotografia Digital de Macau e a Associação dos Macaenses, entre outras. Segundo um comunicado, esta mostra “visa estimular o conhecimento da população, especialmente entre os mais jovens, sobre as riquezas patrimoniais e tradições que formam a cultura de Macau, incluindo as atracções da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. A iniciativa teve “uma participação significativa dos residentes de Macau e também de participantes do exterior”, com mais de 263 fotografias apresentadas a concurso. O júri foi constituído por Adelina Chou, do Instituto Internacional de Macau, Carlos Dias e Che Peng Ion, em representação da Associação de Fotografia Digital de Macau, Ng Chi Wai, da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, e Francisco Ricarte, da associação Halftone. Na categoria “Residentes de Macau” foi destacada a imagem de José Manuel da Costa Giga, Maria Ferreira Sin e Vong Hoi Veng; enquanto na categoria geral foram classificados Xing Gui Chao, Wong Chi Keung e CL-Chen. Cerca de uma dezena de imagens receberam ainda menções honrosas, sendo apresentado um prémio especial por um sócio da Associação de Fotografia Digital de Macau. A exposição, aberta ao público, terá lugar na sala de actividades do Jardim Cidade das Flores na Taipa até ao dia 8 de Dezembro.
João Santos Filipe Manchete PolíticaTabaco | Pedidas mais restrições para reduzir emissões de carbono O deputado dos Moradores, Leong Hong Sai, quer saber se o Executivo está preparado para avançar com a proibição de fumar dentro de todos os veículos, mesmo nos privados, e também nas ruas da cidade Leong Hong Sai apelou ao Governo que imponha mais restrições ao consumo do tabaco de forma a contribuir para o controlo das emissões de carbono. O pedido do deputado dos Moradores consta de uma interpelação escrita divulgada no portal da Assembleia Legislativa. “Os efeitos nocivos do tabaco no ambiente são enormes. Cerca de 600 milhões de árvores são abatidas todos os anos para fabricar cigarros, 22 milhões de toneladas de água são utilizadas para fabricar cigarros, e as emissões anuais de gases com efeito de estufa do tabaco são equivalentes a 84 milhões de toneladas de dióxido de carbono”, afirmou o legislador, que cita um artigo referente ao dia contra o tabagismo, publicado na plataforma de textos académicos China Science and Technology Network. Com base no artigo, Leong indica que o tabaco “não só agrava as alterações climáticas, como também aumenta o risco de alterações climáticas”. “A luta antitabaco é importante para a prevenção das doenças crónicas não transmissíveis e a protecção do ambiente global”, sublinha o membro da Assembleia Legislativa. O deputado pergunta assim ao Governo se o plano local para atingir a neutralidade das emissões de carbono tem uma vertente dedicada à redução das emissões através do tabaco. A neutralidade das emissões de carbono é alcançada quando os principais reservatórios de carbono absorvem mais carbono do que aquele que é liberdade. As principais reservas naturais de carbono são o solo, as florestas e os oceanos, e até hoje a tentativa de criar reservatórios artificias não se tem mostrado eficaz. Queixas do povo Na interpelação que apresenta dados referentes à escala global, e não tanto sobre Macau, Leong Hong Sai revela ainda que continua a receber queixas dos residentes devido ao fumo passivo, que tende a acontecer nas ruas ou perto das paragens de autocarros. Além disso, o deputado culpa indirectamente os turistas pelo aumento de pontas de cigarros espalhadas no chão, junto das zonas turísticas: “Com o aumento do número de turistas, é frequente encontrar pontas de cigarro espalhadas nas ruas das atracções turísticas. Como reforçar a publicidade da luta antitabaco e a aplicação da lei contra os turistas?”, questiona. O deputado pretende também que os condutores de veículos sejam proibidos de fumar: “Recebemos queixas de residentes sobre os condutores de veículos que fumam enquanto conduzem ou param nos sinais vermelhos, o que não só causa poluição atmosférica, como também espalha o fumo para a retaguarda quando o sinal verde é activado, causando incómodos e riscos de trânsito”, indicou. “Será que o Governo pode aproveitar a experiência das regiões vizinhas e alargar a proibição de fumar a todos os meios de transporte?”, interrogou. No documento consta ainda o pedido para ser implementada uma proibição de fumar nos passeios.
Hoje Macau PolíticaFórum Macau | Condenado por corrupção visitou a RAEM em 2022 Zhu Congjiu, vice-Governador da Província Popular de Zhejiang, foi ontem condenado a prisão perpétua por ter recebido mais de 100 milhões de renminbis em subornos. Foi esta a sentença proferida na terça-feira pelo Tribunal Popular Intermédio de Ganzhou na província de Jiangxi. De acordo com a informação do Diário do Povo, os crimes de corrupção foram cometidos entre 2002 e 2022, altura em que Zhu Congjiu desempenhou as funções como administrador da Bolsa de Xangai, director da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e vice-Governador da Província Popular de Zhejiang. Segundo o tribunal, Zhu utilizou as posições para ficar com dinheiro de diferentes instituições, facilitava os procedimentos para a entrada de algumas empresas na bolsa, ou garantia empréstimos preferenciais, a troco de subornos. O tribunal calculou o dinheiro recebido de forma indevida num valor superior a 105 milhões de renminbis. Enquanto vice-Governador da Província Popular de Zhejiang, Zhu Congjiu visitou o Fórum Macau, em Abril de 2022, no âmbito da Reunião Extraordinária Ministerial do Fórum de Macau. Na altura, Zhu destacou a importância das relações da China com os Países de Língua Portuguesa e a necessidade de aprofundar as relações económicas e culturais.
Hoje Macau Manchete PolíticaEconomia | Macau representa 90% do investimento português na China Quase todo o investimento directo português na China fica em Macau, de acordo com dados revelados pelo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Alexandre Leitão. O diplomata pede para se olhar além das fronteiras da RAEM Macau representa 90 por cento do investimento directo português na China, afirmou o cônsul-geral de Portugal na região, informou o portal Macau News Agency. Macau foi o 12.º destino do investimento directo no exterior português, recebendo quase 1,1 mil milhões de euros em 2023, enquanto o Interior da China recebeu 55 milhões de euros, indicou na segunda-feira Alexandre Leitão, num evento da delegação de Macau da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa no Club Lusitano, em Hong Kong. O investimento português foi realizado sobretudo em áreas como a farmacêutica, banca, finanças, seguros e produtos alimentares, acrescentou o diplomata. Na ocasião, o cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong reconheceu a importância deste investimento, embora tenha realçado a necessidade de Lisboa expandir a actividade comercial além da RAEM. “Macau é uma plataforma e base fundamentais, mas temos de olhar além das suas fronteiras”, afirmou, chamando ainda a atenção para o potencial do comércio através de Hong Kong. “O volume de comércio, quer em importações, quer em exportações, está actualmente muito aquém do que poderia ser”, referiu, citado pelo portal em língua inglesa. Evolução “bastante interessante” As relações comerciais luso-chinesas têm registado uma evolução “bastante interessante” ao longo dos últimos dez anos, disse, ainda no Club Lusitano, o director da Agência para o Investimento e Comércio Externo (AICEP) para Macau e Hong Kong. “Em 2013, as trocas comerciais atingiram dois mil milhões de euros e dez anos depois, em 2023, o total das trocas comerciais ascendeu a seis mil milhões de euros, o que faz da China o 10.º maior parceiro comercial de bens de Portugal”, referiu Bernardo Pinho. Quanto a Macau, o responsável referiu que as relações comerciais têm aumentado, com o comércio de mercadorias a crescer 15 por cento em 2023, em termos anuais, com mais de 400 empresas a exportar para a cidade, mas com níveis abaixo dos valores anteriores à pandemia de covid-19.