CCCM | Livro “As Leis da Guerra”, de Sun Bin, lançado em Lisboa

Com a chancela da editora Grão-Falar, fundada por Carlos Morais José, acaba de ser lançado no mercado português a obra “As Leis da Guerra”, de Sun Bin, livro de estratégia militar com uma ligação à cultura e pensamento chinês que esteve desaparecido durante cerca de 1400 anos. A obra, disponível agora em português, conta com tradução e notas de Rui Cascais

 

Depois de uma edição da Livros do Meio realizada em Macau, em 2020, eis que “As Leis da Guerra”, de Sun Bin, um clássico em matéria de estratégia militar, ainda hoje bastante estudado, volta a ser editado, desta vez com o cunho da Grão-Falar, no mercado editorial português.

O lançado deste livro, com tradução e notas de Rui Cascais, tal como a primeira edição da Livros do Meio, foi apresentada na última quinta-feira, em Lisboa, no âmbito do programa das Conferências da Primavera do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

Importa frisar que “As Leis da Guerra” esteve desaparecido durante 1400 anos. Só havia conhecimento da existência desta obra devido às inúmeras citações que foram aparecendo noutros escritos. Foi através de uma escavação arqueológica realizada em 1972, na província de Shandong, que o livro “Sun Bin Bing Fa”, tradução de “As Leis da Guerra de Sun Bin” foi encontrado.

Na quinta-feira, Luís Bernardino, coronel do exército português já na reserva, e docente da Universidade Autónoma de Lisboa, falou da importância que a obra ainda hoje tem nos estudos de defesa e estratégia militar. Esta obra “merece uma referência especial ao nos proporcionar um conhecimento e uma aproximação ao relativamente pouco conhecido mundo chinês”, além de constituir “uma visão histórica sobre a forma de combater e fazer a guerra”.

A descoberta dos escritos de Sun Bin proporcionou ao mundo “o acesso à sua argumentação e à forma como concebeu a estratégia e táctica para derrubar os seus inimigos, associando a estratégia militar aos valores culturais e sociais” chineses.

Desta forma, para Luís Bernardino “esta obra não é apenas um livro, um escrito histórico ou apenas a descrição de uma época específica na história da China”, mas representa “a guerra vista na sua dimensão de alianças, de luta pelo poder e de constantes mudanças sociais entre os reinos combatentes que lutavam pelo chamado ‘Império do Meio'”.

“Esta obra é um relato histórico da transformação de reinos e impérios visto pela generalidade estratégico-militar de Sun Bin que, felizmente, está disponível agora na língua portuguesa”, adiantou.

Ambiente bélico

Sun Bin viveu num período conturbado da história do império chinês, em que os diversos reinos lutavam constantemente entre si. Conforme se descreve na introdução da obra, “Sun Bin tivera a oportunidade não apenas de ‘ouvir falar’, mas de testemunhar abundantemente os horrores da guerra, já que o seu reino de Qi era regularmente invadido pelos estados vizinhos, num permanente clima de violência e incerteza”.

Tal como descreveu Luís Bernardino, este era um tempo em que “vários reinos se confrontavam e combatiam, motivados pelas ambições pessoais, soberanas e pelos clãs” que habitavam no território. A guerra era, assim, uma “actividade omnipresente, tendo sido, precisamente, neste ambiente bélico que Sun Bin cresceu e viria a morrer como estratega militar”.

O autor de “As Leis da Guerra” pertenceu “a uma elite combatente que permitiu desenvolver evidentes qualidades militares e pessoais que, associados a uma vasta sabedoria e inteligência prática, e assente numa onda de valores morais, forjaram a identidade própria e marcante que sobressai dos seus escritos”.

Tal como recordou Luís Bernardino, “nestes tempos a alta nobreza chinesa rodeava-se dos seus melhores estrategas militares a fim de pensar a guerra e estabelecer normas e princípios de defesa, dirigindo ofensivamente os exércitos de modo a dirigir e a atacar o inimigo”. A ideia era sempre “a vitória da batalha e a defesa da integridade do reino, aquilo a que hoje chamamos da defesa da soberania”.

Desta forma, o livro remete para ideias e conceitos em torno do “terreno enquanto tesouro”, a importância da preparação da “vantagem estratégica”, “a verdadeira natureza do exército” ou ainda a importância de “elevar e manter a moral” das tropas no campo de batalha.

Não se esquecem os pensamentos sobre “as qualidades e virtudes do comandante” ou ainda as suas “fraquezas fatais e erros”, ou as disposições sobe “as posições de invasor e defensor”. Destaque ainda para uma das frases icónicas de Sun Bin: “A guerra não é algo que se deva desfrutar e a vitória não é algo de que se deve lucrar.”

18 Mar 2024

Automobilismo | André Couto ganha na Malásia as 12 Horas de Sepang

Dificilmente a temporada desportiva poderia ter começado melhor para André Couto. O piloto do território venceu a classe GTC nas 12 Horas de Sepang, a “clássica” de resistência do continente asiático, que teve lugar no Circuito Internacional de Sepang, na Malásia.

O piloto português aceitou um convite de última hora da Madness Racing Team – inscrita como D1 Racing Team – para conduzir um Lamborghini Super Trofeo EVO2 na prova de resistência malaia, fazendo equipa com os pilotos chineses Hong Shijie, Chen Fang Ping e He Xinyang. Rapidamente, André Couto assumiu a liderança da formação de Hong Kong, ajudando-a a colocar o carro de fabrico italiano no topo da tabela de tempos da categoria GTC durante a sessão de qualificação de sexta-feira.

Pelas 10h00 da manhã de sábado, os dezassete GT3, GTC e TCR, todos eles pertencentes a equipas da região Ásia-Pacifico, fizeram-se ao asfalto muito quente da antiga pista de Fórmula 1 da Malásia para meio dia de ritmo elevado numa das mais duras corridas de resistência de velocidade nesta parte do globo. A liderança na classe só esteve em causa pontualmente no início da corrida, quando na abordagem para a primeira curva André Couto não conseguiu evitar um ligeiro toque num Audi R8 LMS GT3 que travou demasiado cedo.

Recuperada a primeira posição, o Lamborghini Super Trofeo EVO2 nº710 nunca mais foi importunado pela concorrência, com a equipa a ver a bandeira de xadrez com duas voltas de avanço sobre os mais directos adversários e no oitavo lugar da classificação geral.

“É uma excelente sensação dar início à temporada com uma vitória”, disse André Couto no “flash interview” da corrida. “Parabéns aos meus colegas de equipa, especialmente os que estavam a fazer a sua primeira corrida de sempre (n.d.r: Chen e He) e terminaram no pódio, o que é fantástico. Estamos todos muito felizes e agradecidos à equipa”.

A preparar o futuro

Depois de ter competido pela Dongfeng Honda Racing Team em algumas provas do TCR China na época passada, incluindo no Grande Prémio de Macau, André Couto tem estado ocupado com as suas actividades de “Driver Coach”, mas também de pilotos de testes. O piloto da RAEM tem participado nos testes de desenvolvimento de pneus de uma marca chinesa para uma disciplina de monolugares, onde tem vindo a usar a sua experiência adquirida em mais de uma dezena de anos a trabalhar ao mais alto nível no automobilismo japonês.

Apesar de ainda não ter um programa desportivo confirmado para este ano, André Couto mostra-se confiante que esta corrida lhe possa abrir portas no universo das corridas da Lamborghini. Recorde-se que esta não foi a primeira ligação de André Couto à marca de Sant’Agata Bolognese, tendo o piloto de Macau participado com um Huracán GT3 no campeonato japonês Super GT de 2019, onde foi oitavo classificado da categoria GT300, no Asian Le Mans Series 2019/2020 e competido ainda com um carro igual na Taça do Mundo FIA de GT do Grande Prémio de Macau em 2016.

18 Mar 2024

Sichuan | Incêndio florestal obriga à retirada de 3.400 pessoas

A China activou um mecanismo de emergência para tentar controlar um incêndio florestal que obrigou à retirada de quase 3.400 pessoas, disseram ontem as autoridades da província de Sichuan, no centro do país.

O departamento de gestão de emergências de Sichuan disse que as chamas foram detectadas na tarde de sábado na aldeia de Baizi, condado de Yajiang, na prefeitura tibetana de Garze. Até ao momento, não há registo de qualquer vítima e os bombeiros continuam a trabalhar para tentar extinguir o incêndio, que provocou o encerramento de várias estradas locais.

Um total de 3.396 pessoas foram retiradas de 11 povoações, disseram as autoridades, porque os ventos fortes ajudaram as chamas a espalharem-se rapidamente por várias cadeias montanhosas da região. De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, cerca de mil operacionais e sete helicópteros foram mobilizados ontem para combater o incêndio.

A província vizinha de Yunnan enviou ainda 750 soldados para fornecer apoio adicional. Vários moradores da zona garantiram à Xinhua que o incêndio não era visível a partir do centro administrativo do condado de Yajiang e que os serviços de água, electricidade e telecomunicações não foram afectados.

A Comissão Nacional de Prevenção de Desastres e o Ministério de Gestão de Emergências tinham alertado há algumas semanas que a China poderia enfrentar este mês catástrofes naturais com possíveis inundações, descidas de temperatura, tempestades de areia e incêndios florestais.

18 Mar 2024

Pequim | João Lourenço defende soberania da Ucrânia e Estado da Palestina

O Presidente angolano apelou na sexta-feira ao respeito pela soberania da Ucrânia e à criação do Estado da Palestina, visando o fim definitivo dos dois conflitos, num encontro com o homólogo chinês, Xi Jinping. “É imperioso que se ponha fim à guerra na Ucrânia”, afirmou João Lourenço, durante um encontro com Xi, no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim.

O conflito com a Rússia “deve terminar necessariamente à volta de uma mesa de conversações, para se alcançar a paz definitiva e garantir a soberania nacional da Ucrânia”, acrescentou. Na segunda visita oficial à China desde que foi eleito, João Lourenço defendeu a libertação dos reféns israelitas e o fim imediato da ofensiva militar israelita, que descreveu como desproporcional contra a população da Faixa de Gaza.

O governante apelou ainda ao fim dos colonatos e ao fim definitivo do conflito israelo-palestiniano com a criação de um Estado da Palestina que seja internacionalmente reconhecido. “É a única solução definitiva para trazer a liberdade e dignidade ao povo palestiniano e garantir realmente a segurança de Israel e dos povos daquela conturbada região”, vincou.

Assegurando que Luanda e Pequim “comungam os mesmos valores” em matéria de política externa, incluindo os princípios da não-agressão e respeito pela soberania dos Estados, o líder angolano apontou para a “necessidade urgente” de executar “reformas profundas” na ONU.

“Os últimos acontecimentos na arena internacional vieram confirmar a necessidade urgente de se fazerem profundas reformas no sistema das Nações Unidas, nas instituições financeiras como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, mas sobretudo no Conselho de Segurança, por se terem demonstrado ao longo do tempo desactualizadas do contexto do mundo de hoje, passados que são quase 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial”, afirmou.

O chefe de Estado angolano apontou para o “mau momento” que África atravessa, à medida que a emergência do terrorismo coabita com “mudanças inconstitucionais” em vários países do continente.

“As guerras na Europa e no Médio Oriente fizeram praticamente esquecer o conflito no Sudão, um país à beira de uma crise humanitária sem precedentes, com elevado número de baixas humanas que pode aumentar com a fome e doenças, deslocados internos, refugiados e grande destruição de infra-estruturas”, apontou.

Visita cinco estrelas

O líder angolano defendeu que o papel da China deve sempre ser tido em consideração na configuração de uma nova ordem mundial e apontou para a aprovação de uma declaração conjunta que reflecte a convergência entre os dois países. “Saímos da China muito satisfeitos com a abertura e compreensão que encontrámos e que nos impele a estarmos cada vez mais próximos na defesa dos princípios e interesses comuns”, disse Lourenço.

O programa da visita do Presidente angolano incluiu ainda a participação num fórum de negócios sobre o investimento em Angola, e encontros de trabalho com empresários chineses que já operam no país africano ou o pretendem fazer no futuro. No último dia da visita, João Lourenço deslocou-se à província de Shandong, para contactos com os sectores têxtil, farmacêutica e agrícola.

Exemplos de Macau e HK

O Presidente de Angola, João Lourenço, defendeu na passada sexta-feira a resolução pacífica da questão de Taiwan e garantiu o respeito pelo princípio ‘Uma só China’, durante um encontro com o homólogo chinês, Xi Jinping. “Angola defende o princípio ‘Uma só China’ e Taiwan como parte integrante do território chinês”, afirmou o chefe de Estado angolano, durante o encontro com Xi, no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim. João Lourenço defendeu uma solução por meios pacíficos da questão de Taiwan, “a exemplo do que aconteceu com Hong Kong e Macau”. Tal como a antiga colónia britânica Hong Kong em 1997, a administração de Macau passou em 1999 de Portugal para a China, graças a um acordo entre os dois países. “Não há razões para se pensar de forma diferente depois desses dois casos de grande sucesso da diplomacia chinesa”, observou João Lourenço.

Indústria: Ministro angolano destaca papel da China

O ministro da Indústria e Comércio de Angola, Rui Miguens de Oliveira, afirmou na passada sexta-feira em Pequim que a colaboração com a China tem sido “crucial” para a industrialização do país, enfatizando o sector das infra-estruturas.

Citado pela agência de notícias oficial Xinhua, o ministro angolano destacou a participação das empresas chinesas e o apoio financeiro de Pequim na recuperação inicial das infraestruturas destruídas durante a guerra civil no país africano, incluindo pontes, estradas, linhas de transmissão de energia e sistemas de abastecimento de água.

“Tudo isto são infra-estruturas necessárias para o desenvolvimento económico e social geral, mas particularmente essenciais para a nossa indústria”, observou. Rui Miguens referiu que, após a recuperação das infra-estruturas, Angola assistiu a investimentos de empresas privadas chinesas em vários sectores industriais. “O facto é que, neste momento, os maiores investidores privados em Angola são provavelmente os chineses. Eles são o melhor exemplo de Angola, onde é possível investir, criar empregos, estabelecer indústrias e permitir que os empresários obtenham lucros de forma honesta”, disse.

18 Mar 2024

A Elegância Clássica da Família de Wang Chen

Sikong Tu (837-908) o poeta da dinastia Tang falou da natureza fugídia, intangivel, daquilo que «é natural» (ziran) com palavras que seriam acolhidas pelos estudiosos da pintura como uma maneira de descrever a mais alta categoria do seu labor, aquela mais dificilmente atingível e que se afasta sempre, como a linha do horizonte: «Curve-se e aí está;/ Não se procure à direita e à esquerda,/ Todos os caminhos para ela se afastam./ Mas com um toque, aí está a Primavera!/ Como quem depara com flores a desabrochar,/ Como quem contempla a chegada do novo ano,/ De facto não a agarrarei/ Forçada, desaparecerá».

Mas interrogar-se diante do espectáculo sublime das mutações da natureza, contemplando lugares particulares em que mais facilmente se sente um arrebatamento dos sentidos, era o mais grato dever dos poetas. Como fez Li Bai admirando a Cascata do monte Lu; «Será o Rio de prata (a Via Láctea) deslizando das nove direcções do céu?» Pintores literatos seguiriam esse olhar do vate, tornando a Montanha Lu, perto da cidade de Jiujiang na Província de Jiangxi, que era já um jardim literário desde o século V, num persistente motivo das suas pinturas em busca desse toque que tornava manifesto esse quase imperceptível fluxo do que «é natural», o ziran.

Alguns, nessa demanda projectada sobre o Monte Lu, foram célebres no seu tempo como Shen Zhou (1427-1509) autor do rolo vertical feito a tinta e cor sobre papel (193,8 x 98,1 cm) no Museu do Palácio Nacional, em Taipé. Outros, terão recebido esse olhar como uma herança de seus maiores, como Wang Chen (1720-97) que representou o Monte Lu (rolo vertical, tinta sobre papel, 132 x 63,5 cm, vendido na Sotheby’s) da forma que o poeta Sikong Tu descreveu como a «elegância clássica» (dianya), «calma como pétalas caindo e modesta como despretensiosas flores do campo».

Wang Chen vinha de uma distinta família de que fizeram parte Wang Shimin (1592-1680) e o neto dele Wang Yuanqi (1642-1715), que era seu avô. Além desse legado, ele mostrou uma disponibilidade para ser interpelado por outros como se observa no rolo horizontal Estúdio para escutar a chuva (tinta e cor sobre papel, 122 x 40,5 cm, no The Walters Museum), nome do jardim do coleccionador Zha Ying, que conta com contributos de eminentes personalidades do tempo, como Pi Yuan e Sun Xiangyan.

Numa das folhas do álbum Paisagens do natural, poesia e arte (tinta sobre papel, 41,7 x 33,5, cm, na Colecção do Instituto de Arte de Minneapolis) lembrou o poeta da cascata do monte Lu: «Uma manhã entrei no mar procurando Li Bai. Buscando em vão entre pinturas de meros mortais pelo Imortal da tinta.» E noutra página recordou outra relação entre avô e neto: «Usei o método do pincel de Shuming (Wang Meng) para pintar no estilo do velho Songxue (Zhao Mengfu). Há uma semelhança porque eles são da mesma família.”

18 Mar 2024

App anti-burla para WeChat da PJ deve ser lançada no próximo mês

Até ao final do próximo mês o Governo vai lançar uma mini-aplicação para instalar no WeChat, que tem como objectivo alertar os residentes para a possibilidade de estarem a ser vítimas de burla. O anúncio foi feito através do portal do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, na sexta-feira.

“A Polícia Judiciária desenvolveu oportunamente um miniprograma anti-burla adequado à situação real de Macau, e está continuadamente a fazer testes e melhoramentos, prevendo-se que o programa seja oficialmente lançado em Abril deste ano”, foi comunicado.

Nos últimos anos, a PJ tem realizado várias acções de consciencialização dos residentes para as burlas cometidas através da Internet, quer seja através da promessa de investimentos falsos com lucros avultados, ou com os burlões a fazerem-se passar pelas polícias do Interior, convencendo as vítimas a transferirem grandes quantias de dinheiro para as suas contas.

Apesar dos esforços, o número de casos registados não pára de subir, como acontece a nível mundial. Segundo a DW, a tendência global deve-se à actuação de várias redes criminosas instaladas no Myanmar, com ligações a tríades chinesas e em Macau.

Sempre a subir

Segundo os números oficiais, em Janeiro deste ano foram registados 42 casos de burla telefónica, 77 casos de burla cibernética e 35 casos de burla informática relacionada com cartões de crédito. “Estes números são todos superiores à média mensal do ano transacto”, foi explicado. “Denota-se, portanto, que a tendência de proliferação deste crime continua, o que demonstra que o sentido de prevenção de burlas de uma parte do público continua a ser insuficiente”, concluíram as autoridades.

No comunicado, a PJ defendeu igualmente que a luta contra este tipo de criminalidade depende de uma maior informação da população, sendo esse um dos objectivos da aplicação para o WeChat. “A prevenção é, desde sempre, a chave do combate à burla. Se as pessoas conseguirem identificar oportunamente as contas fantoche dos burlões, ou puderem obter e partilhar com facilidade as informações anti-burla mais recentes, podem certamente contribuir para evitar a ocorrência de burlas.”

18 Mar 2024

Turismo | Japão é o destino de eleição de residentes durante a Páscoa

Japão, Coreia do Sul e Taiwan são os destinos mais procurados pelos residentes para passar as férias da Páscoa. A atracção pela época das flores de cerejeira, sakura em japonês, e a diferença cambial são factores que explicam a popularidade dos destinos nipónicos

 

Japão, Coreia do Sul e Taiwan são os destinos turísticos de eleição dos residentes de Macau durante a época da Páscoa. As tendências mais recentes foram reveladas pelo jornal Ou Mun, que ouviu várias agências de viagem.

Segundo as declarações da gestora da agência New Sintra Tours, Cheong, a grande popularidade do Japão nesta altura deve-se ao facto de ser a época em que as flores de cerejeira, conhecidas como sakura, desabrocham. À atracção natural do Japão junta-se ainda o facto da diferença cambial entre iene e pataca ajudar a mitigar os custos da deslocação.

Face a estas condições, Cheong admitiu que a venda de pacotes de viagens aumentou entre de 20 a 30 por cento em termos anuais. Apesar do aumento, a gestora afirmou sentir que os residentes têm menos vontade de viajar, em comparação com o ano passado, quando as pessoas procuravam sair do território, depois de anos de restrições fronteiriças.

Os dados da agência apontam também para a tendência de aumento das viagens em família. No caso das viagens individuais, a gestora explicou que os clientes tendem a escolher outras alturas do ano, quando os bilhetes de avião e os preços dos hotéis são mais baratos. Cheong reconheceu ainda que a venda de excursões para Coreia do Sul e Taiwan também aumentaram entre 20 a 30 por cento.

Por seu turno, a gestora da EGL Tours em Macau, Iong Ut Iong, apontou que a venda de viagens está num nível “ideal”, apesar de ainda não ter recuperado para níveis anteriores à pandemia. A agência de viagens registou igualmente uma subida das vendas de 20 e 30 por cento em termos anuais.

Aproveitar as oportunidades

Ao jornal Ou Mun, também houve residentes a admitirem que uma das grandes vantagens de ir ao Japão ou Coreia do Sul nesta altura é a diferença cambial, apesar de os preços serem caros.

Uma residente, de apelido Chan, indicou que planeia viajar à Coreia do Sul na Páscoa, cerca de meio mês. Como principais dificuldades apontou os preços dos voos com partida de Macau, assim como a hotelaria. Chan exemplificou que os voos para a Coreia do Sul estão a 3.500 patacas, e que as dormidas ficam a cerca de 1.000 patacas por noite.

Outra residente, de apelido Wu, revelou ao jornal Ou Mun que planeava visitar Taiwan. No entanto, lamentou o facto de os preços serem mais caros do que no Interior. Segundo as contas apresentadas, os bilhetes de avião custam a cerca de 4.000 patacas, com dormida e comida a viagem não fica a menos de 8.000 patacas. Para Wu, este preço é excessivo, uma vez que se escolher viajar durante a época baixa para o Japão ou Coreia do Norte paga o mesmo.

18 Mar 2024

IAS | Aumentado apoio para pessoal de instituições sociais

O Instituto de Acção Social (IAS) anunciou o aumento de três por cento do apoio para despesas com o pessoal dos equipamentos sociais subsidiados. A medida que foi divulgada na sexta-feira, produz efeitos desde Janeiro deste ano, tem custo acrescido de 40 milhões de patacas e potencial para abranger cerca de 4.800 trabalhadores.

“O IAS espera que os equipamentos sociais possam utilizar o apoio financeiro para aumentar a remuneração dos seus trabalhadores para melhor consolidar as equipas, com vista a proporcionar serviços sociais estáveis e de alta eficácia”, foi indicado. “O IAS irá continuar a prestar atenção à situação de funcionamento dos equipamentos sociais subsidiados para assegurar o desenvolvimento estável dos serviços sociais”, acrescentado.

Após o anúncio, Paul Pun, secretário-geral da Cáritas Macau, destacou a importância da medida, numa altura em que o ambiente económico no território é difícil. Pun considerou igualmente que o aumento é o reconhecimento do trabalho feito por estas pessoas ao longo dos anos, em que o apoio esteve congelado.

Por sua vez, Leong Sun Iok, deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), elogiou o aumento, mas defendeu ser necessário que os funcionários não subsidiados também gozem do aumento de salário.

18 Mar 2024

Trabalho | Integração de doentes mentais enfrenta preconceitos

A necessidade de descanso e de cumprir a medicação leva a que as portas no mercado de trabalho não se abram a portadores de deficiência mental e doentes psiquiátricos, mesmo que as autoridades ofereçam benefícios a quem contrata

Reportagem da jornalista Catarina Domingues, da agência Lusa 

 

A líder de uma associação de reabilitação de Macau, que abriu um restaurante vocacional de comida portuguesa, disse à Lusa que a integração no mercado laboral de doentes mentais em recuperação ainda enfrenta oposição dos empregadores. Quando o “Cantinho Luso” abriu portas em 2020 no Fai Chi Kei, não havia neste bairro outros restaurantes a oferecer cozinha portuguesa ou macaense, culinária de fusão com base na gastronomia portuguesa.

O projecto da Associação de Reabilitação Fu Hong veio acabar com esse vazio, numa área onde a comunidade estrangeira é uma minoria, com apenas 22 imigrantes portugueses entre os mais de 28 mil residentes, de acordo com os censos de 2021. “Eu sou macaense, portuguesa, e nesta zona não existe nenhum restaurante com essa especialidade”, diz à Lusa a presidente da associação, Fátima dos Santos Ferreira.

O trabalho de pessoas com doença mental neste restaurante, integrado num centro de formação profissional, é uma das etapas no processo de recuperação. Para alguns, a ideia é transitarem para o mercado de trabalho.

Foi atrás do balcão do “Cantinho Luso” que Ma Ka Ian se iniciou nas lides de barista. Fala à Lusa de máscara, porque é assim que se sente mais à vontade. “Tenho um horário organizado (…) aprendemos novas competências e podemos descansar quando nos sentimos cansados, não somos forçados a trabalhar”, refere.

A necessidade de descanso e de cumprir a medicação leva a que as portas do mundo lá fora se mantenham muitas vezes fechadas. Fátima dos Santos Ferreira admite que a integração noutros restaurantes de Macau ainda não se concretizou.

“Estão ainda sujeitos a medicação e há alturas que precisam de descansar, parar, porque a medicação dá um certo sono, e os patrões lá fora não compreendem porquê, dizem que são preguiçosos”, lamenta, notando que em outras áreas de formação deste centro, como na lavandaria, já houve casos de sucesso.

Muito para cortar

Tiago Lei, cliente, aplaude o conceito, que classifica de “uma raridade”, e a decoração, “com um estilo português”, que alia elementos de Macau a galos de Barcelos, azulejos e caravelas.

“Aqui ajudam-se pessoas que estão numa situação de limite a criarem produtos, para que possam adquirir competências e juntar-se à comunidade para trabalhar”, diz, referindo-se a outras vertentes do centro, que, além do restaurante e da lavandaria, inclui ainda um negócio de impressão e outro de produtos alimentares.

Da cozinha sai, entretanto, uma travessa de pastéis de bacalhau e dois pratos macaenses, a capela, uma espécie de bolo de carne assada, e a galinha portuguesa, um guisado com caril e coco.

Ju Man Cheng, acompanhado pela Fu Hong há uma década com diagnóstico de esquizofrenia, é um dos cozinheiros. Nunca pensou trabalhar com sabores portugueses: “Foi muito difícil no início, não estava habituado. Nunca tinha trabalhado numa cozinha antes, pensei em desistir, mas com o tempo fui melhorando”. Com “muitas coisas para cortar”, diz, “não sobra tempo para pensar muito”.

Para a formação nesta cozinha, Fátima dos Santos Ferreira conta com ajuda de amigos e profissionais, nomeadamente do Instituto de Formação Turística. O bacalhau assado foi ensinado por Andy Lam, responsável pela cozinha ocidental do Hotel Grand Lisboa. As sobremesas são receita de um especialista de outra empresa ligada aos casinos, a MGM.

“Vêm cá ensinar, e não vem só uma vez, vêm depois ver, porque a sobremesa é deles e querem que se mantenha com qualidade”, conta a responsável. Uma das exigências do Governo local feita às operadoras de jogo na atribuição das concessões é que tenham uma intervenção social no território.

Fundada em 2003, a Fu Hong presta serviços a pessoas com deficiência intelectual e doença mental em reabilitação, servindo cerca de mil utentes através de 12 unidades. “Entre Abril e Maio” prevê-se a abertura de um centro para pessoas autistas, de acordo com a presidente.

18 Mar 2024

Conta Única | Lançado serviço de renovação do BIR permanente

A Direcção dos Serviços de Identificação (DSI) lançou na sexta-feira “o serviço online de renovação do BIR permanente na Conta Única de Macau, concretizando o objectivo de “obter o documento numa só deslocação”. A novidade na aplicação para telemóvel surge após a disponibilização de sete Centros de Serviços de Auto-Atendimento de 24 horas que permitem tratar e levantar documentos.

A funcionalidade está disponível a titulares do BIR permanente da RAEM, que tenham completado 18 anos de idade aquando da última emissão do documento, e cujo BIR esteja “caducado ou a caducar dentro de 6 meses”. Para renovar o documento, basta aceder à funcionalidade “Renovação do BIR Permanente” e usar uma fotografia tirada no último ano guardada nas “minhas fotografias” da Conta Única.

O passo seguinte é efectuar o reconhecimento facial para confirmar a identidade e fazer o pagamento online. Na altura do levantamento num balcão da DSI, são recolhidas impressões digitais e medida a altura do requerente, se tiver menos de 25 anos aquando da última renovação.

18 Mar 2024

Vistos | Embaixador de Portugal na China não entende exclusão

As autoridades portuguesas não acreditam em “discriminação negativa”, mas querem uma justificação do Governo de Pequim para a exclusão de Portugal da lista de países que podem entrar na China sem fazer visto

 

O embaixador de Portugal na China, Paulo Nascimento, afirmou “não entender” os fundamentos que levaram o Governo de Pequim a deixar Portugal de fora da lista de países a quem é concedida isenção de visto. A medida poderia beneficiar vários portugueses residentes em Macau, permitindo, por exemplo, a circulação mais facilitada entre a RAEM, a Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin e a Grande Baía.

Em declarações à agência Lusa, o embaixador português em Pequim, Paulo Nascimento, disse “não entender” o critério que levou as autoridades chinesas a excluir Portugal.

O diplomata lembrou que a China está no direito de decidir a sua política de vistos de forma autónoma, mas admitiu que vai pedir uma consulta específica sobre esta decisão às autoridades do país.

“Não acredito que haja aqui discriminação negativa, no sentido de dizer que a China está a fazer isso para sinalizar alguma coisa a Portugal, não acho que seja esse o caso”, afirmou. “Mas não consigo entender o critério”, acrescentou.

Actualmente, os cidadãos chineses que pretendam entrar em Portugal precisam de visto, como acontece com os cidadãos portugueses que pretendem entrar na China, aspecto em que vigora a reciprocidade entre os dois países.

No entanto, nos últimos meses, a China abdicou da reciprocidade e passou a permitir a entrada de nacionais de outros países da Europa, sem visto, desde que a visitas tenham duração de 15 dias e sejam justificadas com comércio ou turismo. Os países abrangidos da Europa são: Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo.

Muitos abertos

Questionado pela Lusa, o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês defendeu que a China “sempre se mostrou aberta à expansão dos intercâmbios interpessoais com os países estrangeiros” e que está disposta a reforçar a comunicação com Lisboa para “aumentar a facilidade dos intercâmbios interpessoais bilaterais”. Numa resposta por escrito, o ministério não deu mais detalhes ou uma explicação para aquela decisão.

Por sua vez, presidente do grupo empresarial PorCham, João Pedro Pereira, disse à Lusa acreditar que a política de isenção de vistos incluirá Portugal num futuro próximo. “A informação que temos é que a tramitação processual desta questão vai também incluir Portugal”, disse o líder do grupo com sede no sul da China, acrescentando que a “verificar-se, a inclusão será uma medida muito positiva para as empresas e empresários portugueses”.

Segundo a agência Lusa, a adopção pela China de uma política de isenção de vistos para nacionais de diversos países, que inclui também Malásia ou Singapura, decorre após uma quebra de 80 por cento no investimento estrangeiro directo no país, em 2023, face a 2022, e a uma redução de 60 por cento do número de visitantes no ano passado, face a 2019, o último ano antes da pandemia da covid-19.

18 Mar 2024

DSEDJ | Jornadas de educação nacionalista em 2025

A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) planeia “realizar, no ano lectivo de 2024/2025, as ‘Jornadas da educação do amor pela Pátria e por Macau’, destinadas aos alunos do 1.º ano do ensino secundário geral, que incluirão visitas à cidade de Zhuhai ou à Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”.

O plano foi revelado pelo director da DSEDJ, Kong Chi Meng, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang.

O objectivo da iniciativa será aumentar os conhecimentos dos alunos sobre o desenvolvimento nacional e de Macau e surge em “articulação com a implementação da ‘Lei da educação patriótica da República Popular da China’”, de forma a “promover, ainda mais, a inclusão de elementos da educação do amor pela Pátria e por Macau nos currículos escolares”.

Kong Chi Meng indicou também que a DSEDJ está “a elaborar, em cooperação com uma instituição profissional”, que não é identificada, materiais didácticos complementares sobre educação da segurança para o próximo ano lectivo. O intuito é “enriquecer, ainda mais, os recursos educativos relacionados com a educação do amor pela Pátria e por Macau, das escolas e das instituições de ensino superior”.

18 Mar 2024

MNE | Comissário realça apoio de Pequim a Macau e Hong Kong

O Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros organizou na sexta-feira uma palestra sobre as “Duas Sessões”. O comissário Liu Xianfa fez um resumo das metas e trabalhos do Governo Central para 2024 perante uma plateia de delegados do Fórum Macau, representantes de câmaras de comércio e da comunicação social e o cônsul-geral de Portugal

 

O Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) na RAEM organizou na sexta-feira uma palestra de análise e interpretação do espírito dos trabalhos das “Duas Sessões” para delegados dos países do Fórum Macau, representantes de câmaras de comércio estabelecidas em Macau e da comunicação social de língua portuguesa e inglesa.

Durante a palestra, o comissário Liu Xianfa fez um resumo das metas atingidas pelo Governo Central em 2023 e os objectivos para 2024, além de discorrer sobre a composição e orgânica funcional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e da Assembleia Popular Nacional.

Sobre Macau, Liu Xianfa reiterou que o Governo Central “irá continuar a implementar com precisão e firmeza o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, ‘Hong Kong administrado pela gente de Hong Kong’, ‘Macau administrado pela gente de Macau’ e alto grau de autonomia, persistir na administração de Hong Kong e Macau conforme a lei, bem como, implementar os princípios ‘Hong Kong governado por patriotas’ e ‘Macau governado por patriotas’”.

Além disso, o comissário sublinhou que o Governo Central irá continuar a apoiar o crescimento das economias de Hong Kong e Macau, melhorar a qualidade de vida das suas populações, promovendo a participação no desenvolvimento da Grande Baía usando as características distintivas das diferentes regiões. Liu Xianfa apontou que cumprir estes desígnios irá garantir a boa integração de Hong Kong e Macau no desenvolvimento da China, mantendo prosperidade e estabilidade a longa-prazo.

Melhor é impossível

Depois de salientar a diversidade de opiniões e contributos para os trabalhos de governação no ano passado, assim como nas “Duas Sessões”, Liu Xianfa fez um apanhado das estatísticas económicas, referentes ao ano transacto, apresentadas em Pequim. O crescimento do Produto Interno Bruto chinês de 5,2 por cento em 2023 foi um dos pontos destacados no apanhado do ano anterior, assim como a indicação que no ano passado foram criados 12,4 milhões de empregos nas zonas urbanas, com a taxa de desemprego nestas regiões a ficar-se também pelos 5,2 por cento.

O comissário atribuiu as “conquistas de 2023” a Xi Jinping, que “segurou o leme definindo a rota do país”, à “orientação sólida do pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era”, à “forte liderança do Partido Comunista Chinês, com o camarada Xi Jinping no seu núcleo” e “aos esforços concertados do todo o partido, as Forças Armadas e ao povo chinês de todos os grupos étnicos”.

18 Mar 2024

CCCM | Antigo embaixador na China destaca actualidade do confucionismo

José Manuel Duarte de Jesus, investigador e antigo embaixador português em Pequim, destacou, no Centro Científico e Cultural de Macau, vários exemplos da actualidade do pensamento de Confúcio e a sua constante presença nos discursos políticos de Xi Jinping. O confucionismo “sempre constituiu um dos pilares do pensamento e da cultura chinesa”

 

Filósofo conhecido em todo o mundo, nascido na China, Confúcio criou, há cerca de dois mil anos, por volta do século V a.c., o chamado confucionismo, corrente de pensamento ainda hoje presente na sociedade, cultura e sistema político chinês. O debate em torno da modernidade desta forma de pensar a postura do homem e o seu lugar na sociedade decorreu na última quarta-feira, em Lisboa, no âmbito das Conferências da Primavera promovidas pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). Coube ao investigador e antigo embaixador de Portugal em Pequim, José Manuel Duarte de Jesus, apresentar “A actualidade do pensamento de Confúcio”, tendo este começado por destacar que o confucionismo está hoje muito presente no discurso político do actual Presidente chinês, Xi Jinping.

Existe, assim, “actualidade no pensamento [confuciano] independentemente de o mesmo ter, obviamente, existido num contexto histórico totalmente diverso”.

“Diria que é neste quadro da actualidade do confucionismo que vemos, por exemplo, Xi Jinping, depois da sua tomada de posse, ir à terra natal de Confúcio prestar-lhe homenagem, além de ter estado presente nas comemorações oficiais do seu aniversário. Temos ainda as diversas citações de Xi Jinping em muitas intervenções públicas. Posso dizer que em todos os discursos que tenho lido de Xi Jinping, é raro ver citações de Karl Marx, mas as citações de Confúcio são permanentes”, destacou o antigo diplomata.

José Manuel Duarte de Jesus lembrou mesmo o discurso de Xi proferido a 23 de Outubro de 2014, sobre a ideia de acelerar a construção do Estado de Direito socialista, em que o Presidente refere “as ideias de Confúcio sobre os homens e relativas ao que deve ser uma boa governação”.

A 18 de Janeiro de 2017, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Xi Jinping citou também a frase de Confúcio, presente nos seus “Analectos”, que remete para a seguinte ideia: “Trata e julga os outros como gostavas que te fizessem a ti, não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Trata-se da referência a uma sociedade harmoniosa, “a construção de uma nova sociedade compartilhada no futuro”, exemplificou Duarte de Jesus.

Um lado racional

Apesar do lado actual do confucionismo, a verdade é que esta corrente de pensamento “sempre constituiu um dos pilares do pensamento e da cultura chinesa”, representando um lado “racionalista e pragmático” no que diz respeito às visões do que deve ser um Estado, um Governo, um cidadão e o relacionamento entre culturas e etnias.

O antigo embaixador destacou que “Confúcio não faz parte de um mito, é uma figura histórica concreta”, tendo trabalhado na Administração chinesa e ensinado aos outros o seu pensamento, recorrendo também a discípulos, à semelhança de outras figuras históricas como Jesus ou Sócrates.

Há vários princípios em torno do confucionismo, e um deles é a “ideia de que a sociedade mundial é uma família”, ou de que “o civil é mais importante do que o religioso”.

“Diria que a principal virtude que Confúcio defendeu foi a humanidade, a ideia de humanismo”, destacou José Manuel Duarte de Jesus, que não esqueceu o conceito de Li, “que poderíamos definir como regulamento, protocolo”, e que “está na base da ideia de um Estado de Direito, constitucional”, onde se dá a primazia à constituição no funcionamento e organização de um país.

Está depois muito presente, no confucionismo, a ideia de “reciprocidade”, tratando-se de “um elemento fundamental em todas as teorias modernas de relações internacionais”.

Considerando que o pensamento de Confúcio tem um lado de “flexibilidade”, é a importância que é dada aos mais velhos, “ao mesmo tempo que se dá atenção ao moderno”. “Penso que Confúcio, exprime, de resto, a ideia de se conhecer o presente para se saber o que será o futuro, e entender o passado para se conhecer o presente”, disse ainda o antigo diplomata que recordou uma conversa que teve com uma senhora chinesa aquando da sua vivência em Pequim. Nesse diálogo, a senhora recordou a ideia confuciana de que “pelo menos quatro gerações de uma família devem sentar-se à mesma mesa, para que os mais novos aprendam com os mais velhos e os mais velhos aprendam com os mais novos”.

Não é religião

Ao contrário do que podem dar a entender as manifestações populares relativamente a Confúcio, com a construção de templos em toda a China, a verdade é que José Manuel Duarte de Jesus não considera o confucionismo como sendo uma religião, mas sim uma filosofia ou corrente de pensamento. Este destacou, na sua apresentação, o “racionalismo [de Confúcio] face à religiosidade do seu pensamento”.

“Confúcio não se pode definir como ateu, mas como agnóstico, pois manteve uma postura mais agnóstica face às divindades. Há, evidentemente, formas populares [de representação], mas que não têm nada a ver com o confucionismo. A mesma coisa acontece com o taoísmo, que com frequência se considera uma religião. Não é. É uma filosofia com laivos de misticismo e metafísica.”

O responsável defendeu, neste sentido, que o “confucionismo é, essencialmente, um pensamento racionalista e, na ligação com os antepassados, não se pode considerar que tenha matéria religiosa”. “Considero que Confúcio foi um pensador laicista e fundamentalmente agnóstico. Os seus discípulos foram, depois, quase ateístas”, frisou.

Se o pensamento de Confúcio é hoje actual e está bastante presente no discurso político, a verdade é que nem sempre foi assim, tendo sido praticamente banido do país entre finais do século XIX e inícios do século XX, no chamado período da “Nova Cultura”, e mesmo no período do maoísmo e da Revolução Cultural, já nos anos 60 e 70. Contudo, “Confúcio ganhou um novo fôlego na época actual, e particularmente com Xi Jinping.”

Confúcio “não esteve ligado a nenhuma religião” e foi “fundamentalmente um político, cuja principal ambição foi a convivência pacífica entre homens e Estados, sendo esse o objectivo do confucionismo”.

Outro dos pontos do pensamento confucionista é a ideia de que o homem deve subir na vida e na carreira através do mérito e do estudo e não por pertencer a boas famílias ou por conhecimentos próximos. “Confúcio sempre foi um militante contra a nobreza de sangue, sendo a favor da nobreza [de carácter] com ligação à instrução”, tendo distinguido entre o “homem de pouco” e o “homem nobre”.

“No decurso da história da cultura da sociedade chinesa, assistimos à importância do estudo nas categorias obtidas nas academias confucionistas e da determinação das categorias sociais na Administração imperial. Sabemos que era mediante os graus obtidos nas academias que os chineses obtinham maiores ou menores graus no mandarinato. Pode, assim, afirmar-se, que o confucionismo sempre apontou para uma sociedade epistémica, em que as categorias sociais não se definem pela riqueza ou nobreza de sangue, mas pela instrução”, concluiu.

18 Mar 2024

O Ocidente está a perder a guerra?

“Much of our planet is dominated by tyrants, and even in the most liberal countries many citizens suffer from poverty, violence and oppression. But at least we know what we need to do in order to overcome these problems: give people more liberty. We need to protect human rights, to grant everybody the vote, to establish free markets, and to let individuals, ideas and goods move throughout the world as easily as possible.”
21 Lessons For The 21st Century
Yuval Noah Harari

 

Trata-se de uma questão complexa e multifacetada que tem implicações de grande alcance para a política, segurança e equilíbrio de poderes globais. Ao longo da história, o Ocidente tem sido uma força dominante na definição dos acontecimentos mundiais, mas as tendências recentes sugerem uma mudança na dinâmica do poder que levanta questões sobre o futuro da influência ocidental. O Ocidente, muitas vezes referido como os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), é desde há muito uma força dominante nos assuntos mundiais. Desde a era colonial até à Guerra Fria, as potências ocidentais têm desempenhado um papel central na definição da política, da economia e da segurança internacional.

Durante o período colonial, as potências europeias estabeleceram impérios em todo o mundo, explorando recursos e exercendo controlo sobre vastos territórios. Este legado imperial lançou as bases para o domínio ocidental na era moderna, uma vez que os países europeus ganharam influência económica, militar e política à escala global. A Revolução Industrial do século XIX solidificou ainda mais o poder ocidental, uma vez que países como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha se tornaram potências económicas e militares. As duas guerras mundiais reformularam a ordem internacional e reforçaram o domínio das potências ocidentais. Os Estados Unidos emergiram como uma superpotência após a II Guerra Mundial, liderando o Ocidente na luta contra o comunismo durante a Guerra Fria.

O colapso da União Soviética em 1991 parecia solidificar a hegemonia ocidental, com os Estados Unidos como líder incontestado do mundo livre. No entanto, a era pós-Guerra Fria trouxe novos desafios ao Ocidente, uma vez que potências emergentes como a China, a Rússia e a Índia se ergueram para desafiar o domínio ocidental. A globalização, os avanços tecnológicos e as mudanças na dinâmica geopolítica têm vindo a minar a posição do Ocidente como líder inquestionável da comunidade internacional. Esta situação tem levado muitos observadores a questionar se o Ocidente está a perder a guerra pela influência global no século XXI. Vários acontecimentos importantes moldaram a actual narrativa sobre o declínio do Ocidente.

A crise financeira mundial de 2008 expôs as vulnerabilidades das economias ocidentais e pôs em evidência o crescente poder económico dos mercados emergentes. A ascensão de movimentos populistas nos países ocidentais, o Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, reflectiu uma insatisfação crescente com as elites e instituições políticas tradicionais. As guerras no Iraque e no Afeganistão sublinharam os limites do poder militar ocidental e os desafios da construção de nações em regiões complexas e voláteis.

As revoltas da primavera Árabe no Médio Oriente e no Norte de África puseram em evidência a fragilidade dos regimes apoiados pelo Ocidente e os limites da influência ocidental na região.

A crise dos refugiados na Europa tem vindo a afectar a unidade do Ocidente e a expor as divisões entre os países europeus quanto à forma de lidar com o afluxo de migrantes. A ascensão de líderes autoritários como Vladimir Putin, na Rússia, pôs em causa os valores ocidentais da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito. O ressurgimento do nacionalismo, do proteccionismo e do sentimento anti-globalização nos países ocidentais suscitou preocupações quanto ao futuro da ordem internacional liberal que o Ocidente tem defendido desde a II Guerra Mundial. Várias personalidades desempenharam um papel importante na definição da mensagem do declínio do Ocidente como Barack Obama, enquanto primeiro Presidente afro-americano dos Estados Unidos, que procurou restaurar a imagem da América no estrangeiro e reafirmar a liderança americana no mundo.

No entanto, a sua administração enfrentou desafios no Médio Oriente, na Rússia e na Ásia que puseram em evidência os limites do poder americano. Angela Merkel, enquanto Chanceler da Alemanha, emergiu como uma líder fundamental na Europa durante as crises dos refugiados e da dívida da zona euro. A sua abordagem pragmática da governação e o seu compromisso com os valores democráticos liberais contrastaram com a ascensão de líderes populistas noutros países ocidentais. No entanto, a sua decisão de abrir as fronteiras da Alemanha aos refugiados provocou uma reacção negativa dos partidos de direita e dos grupos anti-imigração.

Emmanuel Macron, enquanto Presidente de França, posicionou-se como um defensor da democracia liberal e da unidade europeia. Os seus esforços para reformar a União Europeia e reforçar a cooperação entre os países ocidentais têm enfrentado a resistência das forças nacionalistas e dos movimentos eurocépticos. A visão de Macron de uma Europa mais integrada e coesa tem sido testada por desafios actuais como o Brexit e a ascensão de partidos populistas, em quem 32 por cento dos eleitores votaram até 2023, e desses, metade votou em países da extrema-direita (mesmo acontecerá a 10 de Março em Portugal onde segundo as sondagens o “Chega” leva já 16 por cento de intenções de voto). A percepção do declínio do Ocidente tem tido implicações de grande alcance para a política, segurança e equilíbrio de poderes a nível mundial. Na esfera económica, a ascensão da China como grande potência económica tem desafiado o domínio ocidental no comércio, no investimento e na tecnologia.

As empresas chinesas como a Huawei, a Alibaba e a Tencent emergiram como líderes mundiais nas telecomunicações, no comércio electrónico e na inteligência artificial, constituindo uma ameaça competitiva para as empresas ocidentais. No domínio militar, a Rússia tem exercido a sua influência na Europa Oriental, no Médio Oriente e no Árctico, desafiando as garantias de segurança da OTAN e minando a unidade ocidental. A interferência russa nas eleições americanas de 2016, os ciberataques e as campanhas de desinformação suscitaram preocupações quanto à vulnerabilidade das democracias ocidentais à influência estrangeira. O comportamento assertivo da China no Mar do Sul da China, em África e na América Latina levantou questões sobre o futuro das alianças de segurança lideradas pelos Estados Unidos na região da Ásia-Pacífico.

Na arena diplomática, a percepção do declínio do Ocidente tem vindo a afectar as relações transatlânticas e a enfraquecer a solidariedade ocidental em questões fundamentais como as alterações climáticas, a proliferação nuclear e os direitos humanos. A política externa “America First” da administração Trump alienou os aliados tradicionais na Europa, Ásia e América Latina, lançando dúvidas sobre a durabilidade das alianças ocidentais e a credibilidade da liderança ocidental. No domínio cultural, a ascensão do populismo, do nacionalismo e da xenofobia nos países ocidentais pôs em causa os valores da tolerância, da diversidade e da inclusão que têm sido fundamentais para a identidade ocidental. O sentimento anti-imigrante, os crimes de ódio e a polarização política corroeram a coesão social e alimentaram a agitação social em países como a Alemanha, a França e os Estados Unidos.

A ascensão de grupos extremistas como o ISIS, a Al-Qaeda e as organizações de supremacia branca constituiu uma ameaça à segurança das sociedades ocidentais e testou a resiliência das instituições ocidentais. Diversas personalidades influentes contribuíram para o campo da percepção do declínio do Ocidente. Thomas Piketty, um economista francês, escreveu extensivamente sobre a desigualdade de rendimentos, a concentração de riqueza e a mobilidade social nos países ocidentais. O seu livro “Capital in the Twenty-First Century” desencadeou um debate global sobre a desigualdade económica e o papel do governo na resolução das disparidades sociais. Yuval Noah Harari, um historiador israelita, explorou o impacto da tecnologia, da inteligência artificial e da biotecnologia na sociedade humana nos seus livros “Sapiens: A Brief History of Humankind “, “Homo Deus” e “21 Lessons For The 21st Century”.

As ideias de Harari sobre o futuro do trabalho, da guerra e do poder desafiaram a sabedoria convencional e suscitaram debates sobre as implicações do avanço tecnológico para o Ocidente e o resto do mundo. Greta Thunberg, uma ativista ambiental sueca, tem mobilizado jovens de todo o mundo para exigir acções em matéria de alterações climáticas e sustentabilidade ambiental. O seu movimento “Fridays for Future” inspirou milhões de jovens a saírem à rua e a apelarem à acção dos governos para resolver a crise climática. Os discursos de Thunberg nas Nações Unidas, em Davos e noutros fóruns internacionais chamaram a atenção para a urgência do desafio climático e para a necessidade de uma acção colectiva para proteger o planeta.

A percepção do declínio do Ocidente é uma questão complexa e contestada que tem suscitado debates entre decisores políticos, académicos e cidadãos. Alguns defendem que o Ocidente está a perder a guerra pela influência global devido à ascensão de potências como a China, a Rússia e a Índia, que desafiam a hegemonia ocidental em termos económicos, militares e diplomáticos. Outros defendem que os valores ocidentais da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito são duradouros e podem resistir às pressões externas de regimes autoritários e movimentos populistas. O aumento do nacionalismo, do proteccionismo e do sentimento anti-globalização nos países ocidentais levantou questões sobre o futuro da ordem internacional liberal que o Ocidente tem defendido desde a II Guerra Mundial.

A erosão da confiança nas instituições, o declínio da coesão social e a polarização do discurso político enfraqueceram as democracias ocidentais e expuseram as vulnerabilidades à manipulação e interferência externas. A pandemia da COVID-19, a guerra da Ucrânia e na Faixa de Gaza pôs ainda mais em evidência a fragilidade dos governos e sociedades ocidentais e a necessidade de uma acção colectiva para enfrentar os desafios globais.

Olhando para o futuro do Ocidente e o seu papel no mundo dependerão da forma como os países ocidentais responderem às pressões internas e externas, se adaptarem à evolução da dinâmica geopolítica e defenderem os seus valores de democracia, direitos humanos e Estado de direito. O reforço das alianças, a promoção da inovação económica, a resolução das desigualdades sociais e o investimento na educação e nas infra-estruturas serão fundamentais para revitalizar o poder e a influência do Ocidente no século XXI. O Ocidente pode estar a perder a guerra pela influência global, mas não é demasiado tarde para inverter a maré e criar um mundo mais inclusivo, sustentável e pacífico para as gerações futuras.

16 Mar 2024

Macau e o turismo de massas

“Mass tourism is a complex and multifaceted phenomenon that has significant implications for society, the environment, and the global economy.”

Mass Tourism in a Small World – David Harrison and Richard Sharpley

O turismo de massas tornou-se uma indústria predominante no mundo moderno, com milhões de pessoas a viajar todos os anos para diferentes destinos em busca de lazer, descontracção e experiências culturais. Embora o turismo de massas traga benefícios económicos a muitos países e comunidades locais, também tem uma série de efeitos nocivos para o ambiente, as culturas locais e as estruturas sociais. O turismo de massas, tal como o conhecemos actualmente, tem as suas raízes na revolução industrial dos séculos XVIII e XIX. A revolução industrial trouxe mudanças significativas nos transportes, tornando mais fácil e mais económico para as pessoas viajarem longas distâncias.

Os navios a vapor e os caminhos-de-ferro tornaram possível aos cidadãos comuns explorar novos locais e conhecer culturas diferentes, o que levou ao aparecimento da indústria do turismo. Um dos principais acontecimentos que moldaram o desenvolvimento do turismo de massas foi a invenção do pacote turístico em meados do século XIX. Thomas Cook, um empresário britânico, é frequentemente considerado o responsável pela organização do primeiro pacote turístico em 1841, levando um grupo de pessoas numa viagem de comboio de Leicester a Loughborough. Este facto marcou o início do turismo organizado, tendo Cook expandido mais tarde o seu negócio para oferecer viagens ao estrangeiro. Outro acontecimento importante na história do turismo de massas foi a introdução das viagens aéreas em massa em meados do século XX.

O desenvolvimento das companhias aéreas comerciais e o aumento do rendimento disponível conduziram a um aumento nas viagens internacionais, com mais pessoas do que nunca a poderem visitar destinos longínquos. Este período assistiu ao aparecimento de agências de viagens e de operadores turísticos, que responderam à procura crescente de experiências de viagem. Para além de Thomas Cook, houve várias personalidades importantes que desempenharam um papel significativo no desenvolvimento do turismo de massas. Um desses indivíduos é Jost Krippendorf, um sociólogo alemão conhecido pelo seu trabalho sobre os impactos sociais do turismo.

A investigação de Krippendorf destacou os efeitos negativos do turismo nas comunidades locais, incluindo a deslocação social, a mercantilização cultural e a degradação ambiental. Outra figura influente no domínio do turismo de massas é Rachel Carson, uma bióloga marinha e conservacionista americana. O livro inovador de Carson, “Silent Spring”, publicado em 1962, chamou a atenção para os efeitos nocivos dos pesticidas no ambiente e salientou a necessidade de práticas de turismo sustentável. O seu trabalho ajudou a aumentar a sensibilização para o impacto das actividades humanas no mundo natural e inspirou uma geração de activistas ambientais. O crescimento do turismo de massas teve uma série de efeitos na sociedade, tanto positivos como negativos. Do lado positivo, o turismo de massas trouxe benefícios económicos a muitos países, criando empregos, gerando receitas e dinamizando as economias locais.

O turismo também ajudou a preservar o património cultural e as tradições, uma vez que as comunidades locais dependem frequentemente do turismo para obterem rendimentos e apoio. No entanto, os impactos negativos do turismo de massas não podem ser ignorados. Um dos principais problemas associados ao turismo de massas é o excesso de turismo, em que os destinos populares ficam sobrelotados e sobrecarregados de visitantes. O excesso de turismo pode levar à degradação ambiental, à erosão cultural e a tensões sociais, uma vez que os habitantes locais podem sentir-se marginalizados ou deslocados pelo afluxo de turistas. Além disso, o turismo de massas pode ter efeitos negativos no ambiente natural, incluindo a poluição, a destruição de habitats e a perturbação da vida selvagem.

As actividades turísticas, como caminhadas, mergulho e observação da vida selvagem, podem exercer pressão sobre ecossistemas frágeis e contribuir para o declínio da biodiversidade. Em destinos turísticos populares, o desenvolvimento de infra-estruturas e os projectos de construção em grande escala podem prejudicar ainda mais o ambiente e perturbar as paisagens naturais. Existem várias perspectivas sobre o tema do turismo de massas, com algumas pessoas a defenderem que é prejudicial e outras a afirmarem que é benéfico. Os defensores do turismo de massas apontam frequentemente para os benefícios económicos que o turismo traz, como a criação de emprego, a geração de receitas e o desenvolvimento de infra-estruturas. Argumentam que o turismo pode ajudar a aliviar a pobreza, promover o intercâmbio cultural e fomentar a compreensão entre diferentes sociedades.

Por outro lado, os críticos do turismo de massas manifestam preocupações quanto aos seus impactos negativos no ambiente, nas culturas locais e nas estruturas sociais. Argumentam que o turismo pode levar à degradação ambiental, à mercantilização cultural e à erosão dos modos de vida tradicionais. Em muitos casos, o desenvolvimento do turismo tem sido impulsionado por motivos de lucro, com pouca consideração pelas consequências a longo prazo para as comunidades e os ecossistemas. O turismo de massas é de facto prejudicial, pois tem uma série de efeitos negativos na sociedade, no ambiente e nas comunidades locais. A procura do lucro e do crescimento económico tem sido frequentemente feita à custa da sustentabilidade ambiental, da equidade social e da preservação cultural.

O excesso de turismo em destinos populares conduziu a uma série de problemas, incluindo a poluição, o congestionamento e a perda de autenticidade. Para resolver estas questões, é essencial adoptar uma abordagem mais sustentável do turismo que equilibre o desenvolvimento económico com a protecção do ambiente e a responsabilidade social. Tal pode implicar a limitação do número de visitantes em zonas sensíveis, o investimento em infra-estruturas ecológicas, a promoção de práticas de viagem responsáveis e a participação das comunidades locais na tomada de decisões em matéria de turismo. Os diversos sectores da sociedade devem trabalhar em conjunto para encontrar soluções para os desafios do turismo de massas, podendo garantir que as gerações futuras possam continuar a usufruir dos benefícios das viagens sem causar danos ao mundo que nos rodeia.

O futuro do turismo de massas será moldado pelas mudanças nas preferências dos consumidores, pelos avanços tecnológicos e pelas tendências globais. À medida que os viajantes se tornam cada vez mais conscientes do seu impacto no ambiente e nas comunidades locais, há uma procura crescente de opções de turismo sustentável e responsável. Esta tendência é susceptível de impulsionar o desenvolvimento de alojamentos ecológicos, programas de compensação de carbono e experiências baseadas na natureza que dão prioridade à conservação e à preservação cultural. Além disso, os avanços na tecnologia, como a realidade virtual e a inteligência artificial, estão a abrir novas possibilidades para a indústria do turismo. Visitas virtuais, experiências imersivas e recomendações personalizadas estão a mudar a forma como as pessoas planeiam e vivenciam as suas viagens, tornando estas mais acessíveis e envolventes para um público mais vasto.

O aumento do nomadismo digital e do trabalho remoto também está a esbater as fronteiras entre viagens e trabalho, à medida que mais pessoas procuram combinar lazer e produtividade em locais exóticos. O turismo de massas em Macau tem sido um tema de controvérsia nos últimos anos, com muitos a defenderem que os seus impactos negativos superam os benefícios. Macau tem uma longa história de turismo, que remonta à colonização portuguesa da região no século XVI. A cidade tornou-se rapidamente um destino popular para comerciantes e viajantes devido à sua localização estratégica no delta do rio das Pérolas. No século XIX, Macau registou um “boom” turístico, tornando-se conhecida como o “Monte Carlo do Oriente”, com os seus casinos e hotéis de luxo a atraírem visitantes de todo o mundo.

Um dos principais acontecimentos que marcaram o turismo em Macau foi a transferência da cidade de Portugal para a China em 20 de Dezembro de 1999. Este acontecimento marcou uma nova era para Macau, que se tornou uma Região Administrativa Especial da China com o seu próprio sistema político e económico. A transferência de soberania também abriu novas oportunidades para o turismo em Macau, uma vez que os visitantes chineses passaram a ter um acesso mais fácil à cidade. Outro acontecimento importante que teve impacto no turismo em Macau foi a legalização do jogo no início da década de 2000. Este facto levou a um aumento da construção de novos casinos e resorts, transformando Macau num importante centro de jogo na Ásia.

O afluxo de turistas, em particular da China continental, impulsionou uma rápida expansão da indústria do turismo em Macau. Várias personalidades desempenharam um papel importante na formação da indústria do turismo em Macau. Uma delas foi Stanley Ho, o fundador da SJM Holdings, uma das maiores empresas de jogo de Macau. Ho desempenhou um papel essencial na transformação de Macau num destino de jogo e na atracção de turistas de todo o mundo. Embora o turismo de massas tenha trazido benefícios económicos a Macau, também teve vários impactos negativos na cidade. Um dos principais problemas é a pressão que o turismo de massas tem exercido sobre as infra-estruturas e os recursos da cidade. O afluxo de turistas provocou a sobrelotação, o congestionamento do tráfego quer automóvel, quer pedonal inimaginável (com ruas cortadas, turistas controlados nas áreas de acesso a monumentos classificados pela UNESCO como as ruínas de S. Paulo e muitos outros locais) e à degradação ambiental em Macau. Macau não se deve tornar numa segunda Veneza ou Barcelona.

Outro impacto negativo do turismo de massas em Macau é a deslocação dos residentes locais conduzindo à desigualdade social e à perda do património cultural da cidade. A Directora da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau tem-se concentrado na diversificação da oferta turística da cidade, promovendo o turismo cultural e patrimonial para além do jogo. Os seus esforços têm ajudado a atrair um leque mais diversificado de visitantes a Macau, mas não é o suficiente tendo de ser formuladas políticas públicas intersectoriais entre o turismo, protecção do ambiente e desenvolvimento social. É preciso mais zonas verdes e menos cimento.

Há várias perspectivas diferentes sobre a questão do turismo de massas em Macau. Alguns defendem que o turismo de massas é necessário para o crescimento e desenvolvimento económico da cidade, trazendo as receitas necessárias e criando emprego. Outros defendem que o turismo de massas tem conduzido a um desenvolvimento excessivo e à degradação ambiental, prejudicando o património cultural e a qualidade de vida da cidade. Uma das perspectivas é a dos residentes locais, que têm suportado o peso dos impactos negativos do turismo de massas em Macau. A construção de novos empreendimentos que são destinados aos turistas, de quase nada parecem beneficiar os residentes, bem como a comunidade local. Este facto tem o efeito de poder provocar ressentimentos entre os residentes, que se sentem marginalizados na sua própria cidade.

O lado positivo do turismo de massas trouxe prosperidade económica à cidade, criando empregos e estimulando o crescimento da indústria do turismo. O afluxo de turistas levou também a melhorias nas infra-estruturas e equipamentos, tornando Macau um destino mais atractivo para os visitantes. No entanto, o turismo de massas em Macau tem também aspectos negativos. A cidade tornou-se demasiado dependente do turismo como principal fonte de rendimento, o que a torna vulnerável às flutuações da economia mundial. A preocupação em satisfazer as necessidades dos turistas também levou a uma perda de identidade cultural e de património em Macau. Olhando para o futuro, existem vários potenciais desenvolvimentos futuros relacionados com o turismo de massas em Macau.

Uma tendência possível é uma mudança para práticas de turismo mais sustentáveis e responsáveis, à medida que a cidade procura equilibrar o crescimento económico com a protecção ambiental e a preservação cultural. Isto poderá implicar a promoção de formas alternativas de turismo, como o ecoturismo e o turismo patrimonial, mais que o turismo de saúde muito difícil de implementar, para diversificar a base de visitantes da cidade. Outro desenvolvimento potencial é a expansão contínua da indústria do turismo em Macau, com novos hotéis, resorts e locais de entretenimento a serem desenvolvidos para satisfazer a procura crescente, não esquecendo que as infra-estruturas turísticas devem servir também os residentes locais. Esta situação poderá agravar ainda mais os problemas de sobrelotação e degradação ambiental na cidade, a menos que sejam tomadas medidas para gerir o impacto do turismo de massas.

A diversificação das actividades económicas é urgente e não confundível com a abertura de apenas estabelecimentos de comidas e bebidas, venda de frutas e legumes e bugigangas, para farmácias e agências imobiliárias que têm uma grande quota-parte de responsabilidade pela especulação imobiliária em crescimento, após a acalmia da política zero. Será impossível existir desenvolvimento económico sustentável sem algum dirigismo governamental a menos que se queira cair no capitalismo selvagem e do mercado livre anárquico que Milton Friedman e Rose Friedman descrevem no “Free to Choose: A Personal Statement”, que Hong Kong tão bem conhece e com os graves prejuízos que daí advêm.

16 Mar 2024

O prelado D. Paulo José Tavares e a «Grande Revolução Cultural Proletária» de Macau

Moisés Silva Fernandes*

O lançamento da obra D. Paulo José Tavares: O Bispo-Diplomata teve lugar em janeiro de 2023, em Rabo de Peixe, terra natal de D. Paulo José Tavares, na ilha de São Miguel (Açores), por ocasião da comemoração do centésimo terceiro aniversário de nascimento.

Esta monografia constitui uma autêntica biografia de Paulo José Tavares, desde a sua infância até à idade adulta, repleta de fotografias e de testemunhos de familiares e amigos. É recordado ser ele o mais velho de oito filhos, considerado desde cedo «muito bom aluno» (p. 17), sendo o padre Guilherme Américo quem, nas palavras da irmã, «sugeriu a minha mãe que colocasse o Paulo no seminário da ilha Terceira» (Ibidem). Todavia, o Paulo era um «camponês» e o seu «pai queria o Paulo para o ajudar no trabalho da agricultura» (Ibidem). Entretanto, um padre açoriano, que estava nos Estados Unidos da América, acabou por subsidiar os estudos de Paulo José Tavares no Seminário de Angra (Ibidem), que frequentou entre setembro de 1931 e junho de 1941. A hierarquia da Igreja local, nomeada- mente, o bispo de Angra, D. Guilherme da Cunha, percebeu a sua capacidade intelec- tual e enviou-o para Roma, para estudar Direito Canónico na Pontifícia Universidade Gregoriana. Aqui fez a licenciatura e, posteriormente, o doutoramento, que terminou em 1945. Em Roma, notabilizaram-se as suas capacidades de diplomata e é encaminhado para a Pontifícia Academia Eclesiástica, que forma os sacerdotes destinados ao serviço diplomático da Santa Sé nas diversas nunciaturas apostólicas (embaixadas) ou na Secretaria de Estado. Em 1947, Paulo José Tavares entra na Secretaria de Estado da Santa Sé, onde permanece até 1961.

Em agosto de 1959, o Papa João XXIII pede «a ajuda do tradutor português da Secretaria de Estado, Mons. Paulo José Tavares» (pp. 57 e 58), acerca da terceira parte do segredo de Fátima, decidindo não o publicar. A partir deste encontro, o Papa vai tê-lo perto de si para qualquer necessidade no âmbito da Igreja colonial portuguesa. E essa oportunidade surge aquando da eleição do bispo de Macau, pois o anterior bispo de Macau, D. Poli- carpo da Costa Vaz, é transferido para a Diocese da Guarda, em julho de 1960. O nome do conselheiro da Nunciatura Apostólica, monsenhor Paulo José Tavares, começa a ser considerado pelo Estado da Santa Sé como uma valia, pela sua proximidade. Primeiramente, é funcionário da Secretaria de Estado da Santa Sé, chegando ao cargo de conselheiro da Nunciatura Apostólica. Posteriormente, orientará as instruções específicas para que na Diocese de Macau sejam preteridos os padres ultraconservadores portugueses, e favorecidos os padres chineses autóctones e os outros padres ocidentais. Ações estas, conformes com a nova narrativa e prática do Vaticano, que considerava o Estado

«colonial» português uma representação do passado, bloqueadora das relações que a Santa Sé pretendia estabelecer com os padres chineses, em Macau.

Após a nomeação pelo Papa João XXIII no dia 24 de agosto de 1961, foi consagrado pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Amleto Giovanni Cicognani, pelo arcebispo Angelo Dell’Acqua, o substituto da Secretaria de Estado, e pelo bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio, a 21 de setembro de 1961, com 41 anos de idade.

Antes de partir para Portugal, o Papa, em audiência, recorda-lhe as orientações exclusivas da Santa Sé para a Diocese de Macau. Partiu para Lisboa e, depois, para a ilha de São Miguel, onde se despediu da família, seguindo para Macau.

Chega a Macau a 27 de dezembro de 1961, trazendo o seu irmão, padre Dr. Manuel Alfredo Tavares, um excelente especialista em latim, e seu secretário particular. Nos primeiros anos recorreu aos vigários-gerais e aos governadores do Bispado sendo, neste caso, todos padres portugueses.

Entretanto, começou por eliminar as côngruas e as diferenças nos salários entre os padres portugueses e os chineses, uma luta com mais de quatro séculos, e logo depois a dizer as missas em português, cantonense e inglês, sob a orientação do Concílio do Vaticano II (1962-1965).

Em 1966, início da «Grande Revolução Cultural Proletária» na China continental, D. Paulo José Tavares nomeou o padre chinês de Macau, António André Ngan Im-ieoc (严俨若, Yan Yanruo), primeiro vigário-geral e depois governador do Bispado, sendo a primeira vez que tal acontecia em quatro séculos de Igreja Católica em Macau. Isto levou os ultraconservadores padres portugueses a denunciarem o caso à Nunciatura Apostólica em Portugal e à Secretaria de Estado da Santa Sé, sem qualquer efeito. Durante o último semestre do ano de 1967, o prelado de Macau foi acusado pela elite chinesa de Macau de estar ao serviço da China continental, e pela frágil administração portuguesa de ter posições diametralmente opostas aos maoístas. D. Paulo José Tavares não concordou com as exigências da Associação Geral de Estudantes Chineses de Macau (agecm), um grupúsculo maoísta, e publicou no bissemanário O Clarim, órgão da Diocese de Macau, e na revista quinzenal Religião e Pátria, o artigo «Esclarecimento sobre o Colégio de São José, em Macau», o que motivou a suspensão temporária de ambas as publicações, pelo governador de Macau, o brigadeiro Nobre de Carvalho. A sua saúde começou a declinar em junho de 1969, facto noticiado pel’O Clarim. Após várias passagens pelos hospitais de Macau, de Hong Kong, de Roma, de Ponta Delgada, e até mesmo dos Estados Unidos e do Canadá, veio a falecer no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, no dia 12 de junho de 1973. Foi sepultado no dia 15 de junho, no cemitério de Rabo de Peixe, numa cerimónia presidida pelo bispo de Angra, D. Manuel Afonso de Carvalho.

Existem três razões cruciais que justificam a importância das nomeações de Paulo José Tavares. Primeira: durante os catorze anos que passou na Secretaria de Estado da Santa Sé, foi subindo de adido até conselheiro da Nunciatura Apostólica, o que mostra como cada dicastério da Igreja tem de defender os seus membros quando assumem lugares-chave como bispos, arcebispos ou cardeais. Segunda: tanto o Papa João XXIII como o Papa Paulo VI deram, mais de uma vez, instruções específicas à Diocese de Macau para mudar as directivas, caso contrário seria integrada na Diocese de Hong Kong. Terceira: quando o prelado D. Paulo José Tavares, conhecedor do desfecho da sua doença, indicou uma terna (três nomes possíveis para seu sucessor), esta era idêntica à do encarregado de Negócios da Nunciatura Apostólica da Santa Sé em Taipé, na Formosa/ Taiwan, Francesco Colasuonno (高樂天, Gao Letian), e incluía em primeiro lugar dois padres chineses e um terceiro, português, o padre Arquimínio Rodrigues da Costa. Por acção da imprensa comunista de Macau, que rejeitava duramente um prelado chinês, e pela concordância da precária administração portuguesa de Macau, o padre Arquimínio Rodrigues da Costa foi o novo bispo de Macau, mesmo em oposição à Santa Sé.

Esta obra ajuda a estabelecer, pelos testemunhos recolhidos e pela documentação exposta, o percurso de vida deste homem essencial para o estudo da presença da Igreja Católica em Macau, como uma das instituições relevantes, durante este período.

*Investigador no Instituto Confúcio e professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

15 Mar 2024

Japão | AIEA diz que descargas de Fukushima para o Pacífico são seguras

O chefe da agência da ONU para o nuclear observou ontem o processo de descarga para o Oceano Pacífico das águas contaminadas da central nuclear japonesa de Fukushima e referiu-se a um “começo encorajador”.

Em visita ao Japão, iniciada na terça-feira, o director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, observou as águas residuais radioactivas a serem misturadas com quantidades massivas de água do mar e examinou a estação onde se processa esta operação.

As descargas motivaram a oposição de comunidades de pescadores e de países vizinhos, incluindo a China, que proibiram todas as importações de peixe e marisco após o início do processo proveniente da central nuclear Fukushima Daiichi (no nordeste do Japão), danificada por um violento sismo e ‘tsunami’ em 2011.

A viagem de Grossi ao nordeste japonês ocorre no segundo dos três dias da visita ao país asiático, marcada por reuniões com membros do Governo nipónico e da Tokyo Electric Power Company (TEPCO), a empresa gestora da central.

Durante esta deslocação, que também incluiu encontros com pescadores e estudantes locais, Grossi analisou o canal de saída da água, ligada a um tubo subterrâneo que a transporta até à zona de saída no Oceano Pacífico, a um quilómetro da costa, e explicou o processo de diluição prévia com água do mar.

“Ao supervisionar esta operação e fornecendo informação sobre a mesma, asseguramos, como afirmámos desde o início, que a AIEA estará presente até que a última gota seja dispersa de forma segura no oceano”, disse Grossi num vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter). “A segurança nuclear está em primeiro lugar. A AIEA está aqui e vamos acompanhar de forma contínua esta operação”, acrescentou.

Conversas nucleares

Antes da deslocação às instalações da central nuclear de Fukushima, o director-geral da AIEA manteve um encontro na localidade de Iwaki com associações e grupos de pescadores da região, que contestam o processo utilizado devido ao impacto no sector das pescas e nos respectivos produtos.

Em resposta, Grossi assegurou que a AIEA “monitoriza de forma independente a descarga de água da central, analisando a água, os peixes e os sedimentos”. “Até agora, os resultados mostram que o trítio [isótopo radioativo de hidrogénio] está muito abaixo dos limites. A transparência, a precisão e o diálogo serão fundamentais durante todo o processo”, acrescentou.

Grossi também manteve uma conversa com estudantes da região de Fukushima, durante a qual sublinhou a importância do organismo que dirige para as gerações futuras. “As vossas perguntas sobre a descarga de água e outras questões de energia nuclear enfatizam o valor do compromisso da AIEA”, assinalou.

A TEPCO está a descarregar no Oceano Pacífico mais de 1,32 milhões de toneladas de água contaminada de radioisótopos, após ser processada para lhe retirar a maioria desse material altamente radioactivo e diluída em água marinha, um processo que irá prolongar-se por várias décadas.

O Governo japonês, a operadora da central e o regulador nuclear japonês optaram pela descarga no oceano como a melhor forma de solucionar o problema do armazenamento provisório do líquido no interior das instalações nucleares, e após rejeitarem outras alternativas devido à sua complexidade técnica ou custos mais elevados.

Esta opção originou críticas de países vizinhos, em particular da China, apesar de estar a ser supervisionada pela AIEA, que considera o plano japonês ajustado aos padrões de segurança do setor e assegura que estas descargas “graduais e controladas” terão um impacto radiológico “insignificante” em pessoas e no meio ambiente.

15 Mar 2024

Triunvirato

Acabamos de sair de uma situação deveras tocante no que diz respeito ao bipolarismo triunfal das conquistas sociais. Estávamos numa grande plataforma cujos equilibrios tornaram tediosas as Nações, frouxas as batalhas e ausente a memória. Vivia-se, no entanto, muito bem em terreno neutro, enriquecendo classes da maneira mais empate e empobrecendo outras até ao extermínio, mas a alvorada era assim, depois do lendário sistema único que deslocou como jogo de xadrez a peça preguiçosa para o sistema binário.

Ele há muito que vinha dando sinais de grave entorpecimento em nossos regimes democráticos, com uma tónica distraidamente tolerante para com as franjas “não-alinhadas” e a vida corria como um grande esgoto a céu aberto pelo dinheiro transbordante entre estes binários que em tempo de transsexualidade implementada tinham até dificuldade (num impasse situacionista) de escalar a complexa armadilha em que já estavam metidos. Nestas coisas recordamos outras e convidamos a frágil memória dos povos a ponderar.

Como Roma passou do período republicano para o Império Romano, só os deuses sabem e nós analisamos os factos: o Primeiro Triunvirato, tal como o nome indica, foi formado por três líderes, e marcado por perseguições políticas de tal ordem que mataram Júlio César – era ele, Pompeu, e Licínio Crasso. O Senado romano estava enraivecido e outras coisas se passaram divididas pelos três que levaram a um período ditatorial. Mesmo que os deuses amem os números ímpares na velha expressão “numero deus impare gaudit” o Triunvirato só chegou a segundo numa associação política com poderes excepcionais onde dois deles nutriam ferozes antipatias, outro fora exilado, e uma guerra fatal se deu entre as duas partes beligerantes. Um morreu, restava então ao vitorioso governar.

Estamos muito distantes de tudo isto, é um facto, mas não creio que as proporções do litígio se extingam articuladas apenas por uma masmorra de sombras pacificadoras. Para além do mais, povos altamente romanizados recriam no subsolo dos seus instintos grandes componentes miméticas, e é de esperar turbulência nos ciclos de governação que se aproximam pois que estamos num instante em que a memória tanto vai para a frente como vai para trás, e onde a fúria esquecida vem reclamar o seu lugar entre uma espécie que se imolou para evoluir, onde vai ainda ser preciso não deixar nada para trás em forma de quisto, paranoia ou complexidade.

O nosso sul tão benevolente virou a direcção, mas também muitos nazis que fugiram de Berlim Ocidental foram os mais importantes representantes de uma Berlim da R.D.A. Sabemos que não há concessos para quem vive no limite, que pode ser da paciência, do esquecimento, ou da superstição enfática de que além Tejo pode ser muito longe. E a Europa onde estamos metidos e muito justamente a jusante pertencemos, é agora um atoleiro em rota de colisão com movimentos relembrados desde as suas jovens nacionalidades, e que tais povos não serenam senão por grandes combates.

Vamos esperar um Messianismo austero? Não. As coisas podem-nos parecer as mesmas mas elas no fundo já evoluíram para patamares bem mais progressistas, mas o incómodo dos que se degradam pode ser uma arma letal, que nem reis, nem czares, estiveram preparados para deles se defenderem. Vamos para um Triunvirato e, a menos que as partes dissonantes se entendam na perspectiva do bem comum, uma guerra civil pode explodir nas barbas nos nossos insones outrora representantes. Nós acordamos sempre da pior maneira, aliás, o sono e a sua problemática é uma das epidemias do momento em que vivemos. É confrangedor, mas devemos tentar perceber a natureza humana no seio de um país também ele amordaçado por coisas tão inermes e sombrias que quase fazem desfalecer os cinquenta anos do 25 de Abril.

Estou plenamente à vontade para escrever este artigo, votei na C.D.U, não porque seja comunista ou o seu contrário, mas pela razão que tal monumento da identidade nacional dos últimos cem anos não deve acabar assim neste baile de espectros. Por outro lado, foram as pessoas mais bonitas que conheci. Não sei quem sejam hoje, talvez nem interesse, mas os de ontem foram raízes que a nossa essência não pode esquecer e quase rasantes a esse princípio prodigioso de um certo cristianismo original. Estamos sitiados! Mas a vida é assim e prosseguirá tão tecnologicamente monumental, quanto nós desfeitos pela última bruma que o Futuro já não nos concede. Entretanto, e subitamente, tornámo-nos este Terceiro Triunvirato sem grandeza nem memória.

15 Mar 2024

UM | Apresentada edição anotada d’Os Lusíadas

Foi ontem apresentada, na Universidade de Macau (UM), a edição anotada d’Os Lusíadas, do poeta português Luís de Camões, a fim de comemorar os 500 anos do seu nascimento. Segundo um comunicado da UM, esta edição inclui ainda aquela que é considerada a primeira biografia do poeta, da autoria de Pedro de Mariz. Recorde-se que esta versão anotada que agora é reeditada foi adquirida recentemente pela UM, que apenas tinha uma versão de 2003.

Citado por um comunicado, Rui Martins, vice-reitor da UM, disse que “a aquisição deste precioso livro raro irá engrandecer ainda mais a coleção da biblioteca da UM”, além de constituir “um valioso recurso de investigação” e uma “mais-valia para o intercâmbio académico e cultural entre a UM, outras instituições de ensino superior e as comunidades chinesa e portuguesa”.

Luís de Camões é considerado uma das figuras mais importantes da literatura portuguesa e aclamado como uma voz importante no mundo da literatura épica. A obra retrata os feitos do navegador português Vasco da Gama na abertura do caminho marítimo para a Índia e exalta o corajoso espírito pioneiro da nação portuguesa na época dos Descobrimentos.

A cerimónia de lançamento contou ainda com a presença de dois académicos portugueses, José Francisco Rodrigues e Helena Carvalhão Buescu, que orientaram dois seminários. Helena Carvalhão Buescu “referiu que Luís de Camões é o maior nome da literatura portuguesa”, tendo sugerido a criação de um Centro de Estudos Camonianos na UM.

15 Mar 2024

Livro com textos sobre obras clássicas chinesas lançado em Lisboa

Foi lançado esta quarta-feira, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, o livro “Textos Clássicos sobre Pintura Chinesa – Séculos VI-XVIII”, com selecção, tradução e notas de Paulo Maia e Carmo, colaborador do HM. A edição, com a chancela da Grão-Falar, pretende revelar ao público português alguns dos principais textos sobre pintura escritos pelos próprios pintores. Desta forma, podem ser lidos textos de Xie He, Yao Zui, Jing Hao, Guo Xi, Zhang Yanyuan, Zhang Geng, Shitao, Shen Hao e Wang Yuanqi.

Paulo Maia e Carmo, especialista em pintura chinesa, explicou que o trabalho de tradução destes textos se baseou em traduções já feitas do chinês para o inglês e francês, dado Portugal não ter ainda um grande “corpus crítico” sobre esta área. “Textos Clássicos sobre Pintura Chinesa” transpõe para a língua portuguesa os escritos clássicos de artistas chineses do período clássico que sempre se preocuparam em descrever o seu trabalho na tela.

Trata-se de “textos feitos por pintores”, que desde o início “tiveram a preocupação de dizer o que estavam a fazer, não apenas pintando, mas pensando sobre o que faziam, o que é algo extraordinário”. “Os pintores fizeram [essa reflexão] desde o século VI, essencialmente no período da dinastia Tang, mais com retratos. A partir do século X começam-se a pintar mais montanhas e paisagens”, frisou.

“Tendo em conta a diferença tão grande que há entre a nossa tradição e a chinesa, acrescentei neste livro bastantes notas, não trazendo só o texto. Considerei importante ter explicações sobre várias coisas que nós não conhecemos, que não são tão comuns nas nossas conversas sobre pintura”, disse ainda o tradutor.

Escrever com o pincel

Paulo Maia e Carmo destacou também, na apresentação, o facto de a pintura clássica chinesa “falar sobre tudo”. “A cultura está toda ali, desde a história ou filosofia, e a pintura constitui, de facto, uma maneira interessante de entrar na cultura chinesa.”

As diferenças face à pintura ocidental começam logo pelo uso do pincel. “A pintura chinesa é de facto muito diferente, e isso tem a ver com o uso do pincel. Começa pela ideia de que o pincel serve para escrever e para pintar, e o chinês, nesta tradição dos pintores literários, diz que vai escrever uma pintura. A ligação entre a pintura e a escrita é muito próxima. A partir do século X, o pintor escreve, pinta e faz ainda um poema por cima desse espaço. É um poema que joga com a pintura, é uma relação de complemento ao que está pintado.”

Carlos Morais José, director do HM e fundador da Grão-Falar, destacou que a edição de livros em português sobre a cultura chinesa é fundamental “para a defesa da nossa língua, para que não seja necessário recorrermos a outros idiomas para termos acesso a grandes textos”.

Importa alimentar, com estas edições, “o fascínio que é conhecermos outras culturas que não a nossa e com elas aprendermos e encantarmos”. “Este é um livro fundamental para compreendermos a estética oriental, chinesa, e aprendermos o foi escrito ao longo dos anos pelos teóricos chineses”, rematou o editor.

15 Mar 2024

Rota das Letras | João Miguel Barros lança “Incidental Moments” este domingo

“Cada vez uso menos a máquina fotográfica”

 

João Miguel Barros, advogado, fotógrafo e curador, lança este domingo um novo livro de fotografia. “Incidental Moments” não se trata de uma retrospectiva, mas acarreta consigo “a ideia de viagem”, de um percurso na imagem que tem sido traçado ao longo dos anos e que já conta com vários episódios na edição de livros, exposições e projectos de curadoria. O lançamento decorre domingo, a partir das 16h30, na Casa Garden, no âmbito do festival literário Rota das Letras

 

Porquê esta viagem interior e como se expressa através da fotografia?

Este é um livro de imagens, sem um único texto de suporte, que permite leituras diversas. Mas é difícil que, sem uma explicação, se consiga identificar o meu propósito quando fiz o alinhamento deste livro. O livro tem implícita a ideia da viagem, que significa chegar de um lado e partir para outro. Nesse sentido, comecei com o tríptico que foi a base da minha primeira exposição individual na Creative Macau, e um dos capítulos da Photo Metragens que esteve no Museu Berardo em Lisboa. Esse é o ponto de partida do livro. Segue-se a viagem propriamente dita e várias fotografias que a identificam. Depois disso o livro tem imagens de vários pontos de chegada.

Faz, com esta obra, uma retrospectiva da sua carreira como fotógrafo e curador, ou é uma viagem sobre os lugares onde já esteve?

Não é, de modo algum, uma retrospectiva. Feita a viagem, o livro tem vários pontos de chegada. As imagens que estão na obra são lugares visitados que achei interessante juntar e que fazem parte de uma certa peregrinação. São fotografias que fui tirando nos últimos anos, desenquadradas de um projecto específico e que, por isso, não tinham publicação prevista em livro. Mas eram fotografias de que gostava. Cada vez uso menos a máquina fotográfica. Só pego nela quando tenho um fim preciso, um projecto em que esteja a trabalhar. Mas às vezes vou tirando fotografias, sem fim específico, que guardo.

Porquê o nome “Incidental Moments”? E que momentos são estes?

No final do ano passado, estava a passar em revista essas imagens dispersas, alguns bons snapshots, e ocorreu-me a ideia de os juntar num livro despretensioso. O problema é que as ideias “despretensiosas” que tenho rapidamente começam a ganhar graus de exigência superiores. E o livro começou a ganhar uma forma e um rigor muito apurados na selecção das imagens e na produção. São “incidental moments” porque, apesar de haver uma narrativa implícita, esta é fragmentada, construída a partida de momentos dispersos no tempo e registados em diversos lugares. O livro tem também outra particularidade, pois dentro dele existem várias pequenas narrativas, expostas em cinco páginas duplas. São histórias dentro da história.

O que é que esta obra nos transmite de si e do seu trabalho como fotógrafo que outras publicações ainda não o fizeram?

Esta obra é um parêntesis no tipo de trabalhos que eu tenho vindo a produzir e que teve maior expressão nos doze números da Zine Photo [revista de fotografia]. “Incidental Moments” é um projecto mais introspectivo, contemplativo da natureza, do meio ambiente, da paisagem, dos detalhes. Senti necessidade de fazer esta incursão apaziguadora, a meio de um projecto muito forte e polémico que estou a acabar e que espero conseguir editar no Verão, sobre o touro bravo.

Pode revelar alguma coisa sobre esse novo projecto?

Ainda não quero revelar muito. Mas é um projecto de fôlego que tem duas partes distintas. Uma é sobre o touro em liberdade, a vida na ganadaria, os cavalos, os pastos. A outra foca-se no touro e nas touradas, mas mais na perspectiva dos detalhes e das pessoas que vivem nesse meio. Este projecto demorou-me quase um ano a fazer, com muitos dias no campo a fotografar e diversas idas aos bastidores do mundo taurino. Sei que o assunto é polémico e tenho consciência de que são imagens fortes. Mas a imagética do touro bravo é incontornável e não adianta esconder a cabeça na areia: esta é uma realidade que existe em Portugal, e está muito enraizada na cultura popular. Por isso, nada como enfrentá-la.

15 Mar 2024

GP | Provas de apuramento de pilotos locais serão em Hunan

A Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) publicou no passado fim de semana o regulamento técnico e desportivo do campeonato de carros de Turismo de Macau, cuja designação oficial, em inglês, será Macao Touring Car Series (MTCS) – Macau Roadsport Challenge

 

Os concorrentes do território e das regiões vizinhas vão este ano trocar de palco, deixando o Circuito Internacional de Guangdong, nos arredores da cidade de Zhaoqing, para rumarem ao mais moderno Circuito Internacional de Zhuzhou. Serão duas as jornadas planeadas para o traçado localizado na Província de Hunan, sendo que a primeira será disputada de 10 a 12 de Maio e a segunda de 5 a 7 de Julho.

O MTCS vai manter praticamente o mesmo regulamento técnico introduzido, com sucesso, na temporada passada. Sendo assim, a competição irá aceitar os Toyota GR86 (ZN8) e os Subaru BRZ (ZD8) que no passado mês de Novembro vimos em acção no Circuito da Guia. Cada uma das duas provas será composta por uma sessão de treinos livre de 30 minutos, uma sessão de treinos de qualificação de 30 minutos e duas corridas, cada uma com a duração de 15 voltas ou 30 minutos.

A taxa de inscrição para estas duas provas será de 15 mil renmimbi, e não patacas, e o sorteio de centralinas antes do início de cada evento irá manter-se, uma medida vista com bons olhos para travar qualquer iniciativa de ganhar vantagem via desenvolvimento da electrónica. A obrigatoriedade de usar um fornecedor de pneus apontado pela organização é talvez a grande novidade para 2024. Se até aqui a escolha das “borrachas” era livre, este ano a escolha da organização recaiu nos pneus Sailun PC01. A marca chinesa originária de Qingdao não tem tradição no desporto motorizado, para além de algumas incursões na modalidade de Drift, mas esta será uma das primeiras iniciativas da Sailun para se afirmar no automobilismo.

Visto para o GP

O programa da 71.ª edição do Grande Prémio de Macau ainda não foi apresentado, mas haverá certamente menos vagas para os pilotos das corridas locais, devido ao facto do evento regressar ao seu formato original de um fim de semana só. Em 2023, os pilotos da competição bi-marca local puderam correr no Circuito da Guia na Corrida Macau Roadsport Challenge, no primeiro fim de semana, e no Desafio do 70.º Grande Prémio de Macau, no segundo fim de semana.

Este ano, é previsível que só se realize uma corrida com os apurados das corridas de Zhuzhou, o que aumentará a importância e a dificuldade destes dois eventos para os pilotos do território. Segundo o regulamento desportivo: “A classificação das duas provas e os pontos da série serão enviados à Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau para que esta avalie se os melhores pilotos serão convidados a participar no 71.º Grande Prémio de Macau”.

É obrigatório para cada inscrito a participação nas duas provas, com o mesmo piloto e no mesmo carro. Uma vez efectuada a inscrição e aceite, o piloto não pode mudar de viatura, excepto por um motivo aceite pelos Comissários Desportivos. Por outro lado, todo e qualquer “concorrente só pode participar no 71.º Grande Prémio de Macau com a mesma inscrição no Macao Touring Car Series (MTCS), com o mesmo piloto no mesmo carro”, não havendo possibilidade de transferências de lugares e de viaturas.

O regulamento desportivo também é claro ao permitir a participação de pilotos, com licença internacional, de todas as proveniências, não limitando assim estas duas provas de apuramento aos pilotos da RAEM, Hong Kong e Interior da China.

15 Mar 2024

TikTok | Casa Branca espera Senado ‘luz verde’ do Senado

A presidência norte-americana acredita que o Senado dará ‘luz verde’ ao projecto de lei que pode levar à proibição da aplicação TikTok no país, depois de a iniciativa ter sido aprovada na Câmara dos Representantes.

“Estamos felizes por ver que este projecto de lei está a avançar. Esperamos que o Senado (câmara alta do Congresso) tome medidas rapidamente”, frisou Karine Jean-Pierre, porta-voz do executivo liderado por Joe Biden, durante uma conversa com jornalistas a bordo do avião presidencial.

O projecto foi aprovado na Câmara dos Representantes (câmara baixa) por 352 votos a favor e 65 contra – dos quais 15 votos foram republicanos e 50 democratas – e segue agora para votação no Senado. Se for aprovado na câmara alta do Congresso norte-americano, o projecto será ratificado pelo Presidente.

A rede social já alertou para o impacto que a eventual proibição da aplicação nos Estados Unidos terá nos milhões de utilizadores e na economia do país, nomeadamente em sete milhões de pequenas empresas.

Já o Governo chinês denunciou esta quarta-feira a repressão contra a aplicação de vídeos curtos nos Estados Unidos, considerando que é um tiro de intimidação, que acabará por “sair pela culatra”.

15 Mar 2024