Carta entregue ao CCAC denuncia irregularidades de Mi Jian

Uma carta entregue ao CCAC por funcionários da Direcção de Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional acusa o responsável do organismo, Mi Jian, de uma série de irregularidades. Contratação de familiares, pesquisas encomendadas a conhecidos, gasto privado de fundos públicos e mesmo fumar onde é proibido são algumas das queixas apresentadas

 

 

[dropcap]O[/dropcap] director da Direcção de Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, (DSEPDR) Mi Jian foi alvo de denúncia ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). A missiva entregue por funcionários do organismo apela a uma investigação a Mi Jian.

Na carta dirigida ao CCAC, assinada por funcionários da DSEPDR, as acusações a Mi Jian têm início com a denúncia de contratações à margem do sistema de recrutamento central com o objectivo de beneficiar estudantes de doutoramento e familiares, de acordo com a informação divulgada no sábado pelo canal noticioso All About Macau. Segundo a mesma fonte, Mi Jian terá promovido vários recrutamentos dentro de “um pequeno círculo”. Algumas destas contratações foram para cargos de direcção.

De acordo com os funcionários da DSEPDR, as opções do dirigente são retaliações contra trabalhadores locais, salientando ainda que o director procedeu à suspensão de dois cargos de chefia para dar lugar a profissionais oriundos do continente.

Em causa estão os cargos de Director de Pesquisa de Políticas e de Director do Departamento de Publicidade e Promoção. Os trabalhadores acrescentam ainda que não estão contra a contratação de não residentes, mas não admitem que esta seja feita sem mérito, como alegam ser o caso. Para estes funcionários, muitos dos cargos da DSEPDR estão a ser desempenhados por “alunos de doutoramento incapazes”.

Outro dedo apontado ao responsável está relacionado com o seu comportamento em relação ao Chefe do Executivo, Chui Sai On, e a outros governantes e titulares de altos cargos na estrutura da administração do território. Os funcionários afirmam que Mi Jian tem “duas caras” e que “à frente” dos governantes demonstra respeito e “por detrás” os ridiculariza, chamando-os de “estúpidos”.

 

Dinheiro mal contado

 

Além destes comportamentos inadequados, o director é ainda acusado de fazer uso dos dinheiros públicos para usufruto privado. Em causa está o subsídio de 20 mil patacas que recebe para alugar casa em Macau, gasto num apartamento de luxo, quando é proprietário de um outro apartamento em Zhuhai.

Por outro lado, Mi Jian terá também encomendado estudos a “amigos” para o organismo com a adjudicação de pesquisas a “pessoas do continente que não sabem nada de Macau”. Como tal, “os resultados adquiridos estão afastados da situação real do território”, aponta a missiva. Segundo os funcionários, trata-se de “um grande desperdício de fundos públicos”.

Outros aspectos como a realização de viagens a França e ao Dubai sem qualquer objectivo profissional são também denunciados.

O desrespeito pela lei de controlo e prevenção do tabagismo é outro ponto de destaque. Mi Jian é acusado de fumar em locais proibidos, nomeadamente no seu gabinete. Os funcionários referem que já fizeram queixa aos Serviços de Saúde, sem tenha sido prestada qualquer resposta. Para os trabalhadores, trata-se não só de desrespeito pela legislação, como pelos funcionários porque o fumo de tabaco se espalha aos vários compartimentos da DSEPDR.

Recorde-se que o antigo chefe do Gabinete de Estudo das Políticas do Governo é o primeiro director da nova Direcção de Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional desde Setembro do ano passado, altura em que foi nomeado para o cargo por Chui Sai On.

O CCAC confirmou a recepção da missiva e garantiu que vai dar seguimento ao caso de acordo com os procedimentos habituais.

1 Jul 2019

Castigo leve da FIFA não esconde divisão no futebol de Macau

A punição do organismo que tutela o futebol é vista como leve pelo sector. Porém, o processo e a decisão da Associação de Futebol de Macau de não participar no encontro com o Sri Lanka deixou feridas profundas. Entre os clubes contactados pelo HM, não houve um único que defendesse a forma de actuar da AFM

 

 

[dropcap]O[/dropcap] facto de Macau ter recusado jogar diante do Sri Lanka, em partida de Qualificação para o Mundial de 2022, no Qatar, levou a FIFA, entidade que tutela a modalidade, a impor uma multa de 10 mil francos suíços, equivalente a 82,5 mil patacas. A falta de comparência foi justificada com motivos de segurança e a FIFA não terá ignorado por completo essas razões, uma vez que a Associação de Futebol de Macau (AFM) foi punida com a pena mínima.

No entanto, os argumentos da AFM também não convenceram a FIFA quanto a uma possível repetição do jogo. A selecção de Macau foi punida à luz do artigo 56 do Código de Conduta, que define a multa mínima de 10 mil francos suíços. Este artigo prevê, em conjunto com o artigo 38B, que um jogo, que não se realize por falta de comparência, se devidamente justificada, pode ser repetido. A punição foi ainda tomada tendo em conta o artigo 5 dos regulamentos para o Mundial. Porém, a FIFA não ficou convencida com a argumentação da associação liderada por Chong Coc Veng e impôs uma derrota por 3-0 a Macau.

Com esta decisão, o Sri Lanka segue para a fase de grupos de apuramento da AFC para o Mundial. Já a selecção de Macau fica de fora da eliminatória, mas também não sofre outras punições, nem fica impedida de participar em competições futuras, assim como os clubes.

 

Segurança em primeiro

Para o presidente da Associação de Futebol de Veteranos, Francisco Manhão, o veredicto da AFC foi correcto, mas a FIFA teria decidido de outra forma, caso estivesse em causa uma selecção com mais importância do que Macau. “Penso que qualquer vida humana é mais importante do que um jogo de futebol. Se o Governo apresenta como justificação a existência de riscos para a segurança, que tem por base a decisão do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo [GGCT], que emitiu um alerta, eu aceito”, afirmou Manhão. “Gostava de saber quais são as garantias de segurança que a FIFA dá para que o jogo se realize no Sri Lanka. Não sei. Acha que a protecção dos militares é suficiente para garantir que não há ataques?”, questionou, em declarações ao HM. “Se o pedido para levar o jogo para campo neutro fosse de outra selecção mais forte, como Brasil, Inglaterra ou Alemanha, a decisão tinha sido outra”, acrescentou.

Também o treinador Rui Cardoso admite que a AFM tomou a decisão certa, quando coloca o cenário de ser o seu filho, David Fong, que é elegível para a selecção de Macau, a fazer a deslocação. “Estou do lado da AFM pelas questões de segurança. Se eu fosse o treinador do grupo e houvesse riscos, era o primeiro a defender que não se devia ir”, deixa claro. “Se o meu filho estivesse na comitiva, eu pensaria duas vezes. Como familiar, iria ser uma deslocação muito complicada”, reconheceu.

 

Futebol em cacos

Segundo o capitão da selecção, a decisão da FIFA acabou por ser mais leve do que o esperado e positiva, no sentido em que permite a selecção e aos clubes continuarem a participar nas competições internacionais. “Sabíamos que a decisão ia sempre passar por uma derrota. Há regras e as consequências que existem são estas”, disse Nicholas Torrão ao HM. “Mas dentro do mal que poderia acontecer, a penalização foi ligeira. Felizmente, foi assim para o futebol de Macau, porque não afecta as selecções nem os clubes. Os erros pagam-se caro, mas tivemos sorte desta vez”, frisou.

Contudo, o jogador alerta que o ambiente entre a associação, clubes e jogadores está longe de ser o indicado e que quem fica a perder é a modalidade. Por outro lado, Nicholas Torrão acredita que poderá regressar à selecção, assim como outros atletas, desde que haja um pedido de desculpas da AFM. “Vamos ter de falar muito [sobre o regresso]. Acho que a associação tem um pedido de desculpas a fazer aos jogadores. E também há muitos jogadores que têm de pedir desculpa ao futebol de Macau, porque as acções de protesto [jogo Ka I-Hang Sai] não foram dignas do que queremos mostrar”, opinou. “Há muita discussão por fazer para poder encontrar um rumo certo para todos”, considerou.

Ainda sobre a carta assinada por vários atletas que se mostraram indisponíveis para representar a selecção da Flor do Lótus, Nicholas Torrão disse que foi um instrumento de pressão à AFM e que alguns atletas vão regressar e outros vão optar por cumprir o assinado.

 

 

Imagem prejudicada

Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento do futebol, mesmo para a selecção, que em Março de 2020 deverá participar na Taça da Solidariedade, Nicholas Torrão diz que a AFM tem de começar a ouvir e a articular-se com os clubes. Na última edição da prova, a equipa de Macau foi finalista derrotada.

Mas se o capitão da selecção acha fundamental haver maior entendimento entre associação e clubes, o caminho não parece fácil. Do lado dos clubes são muitas as críticas, não só à forma como o organismo liderado por Chong Coc Veng tomou esta decisão, mas também como ignora os próprios clubes associados.

Para o presidente do Monte Carlo, Firmino Mendonça, o castigo, mesmo que seja considerado leve, não deixa de ser o sinal de que o trabalho não foi bem feito. “Acho que a Associação de Futebol de Macau tem de ponderar fazer um trabalho melhor, não pode deixar tudo para a última hora”, começou por dizer Firmino Mendonça, ao HM. “Se a associação se tivesse preparado bem, logo quando houve o incidente, poderia ter resolvido o problema que agora temos. A associação deve ter a noção de que está a prejudicar Macau.”, defendeu.

O líder dos canarinhos acusa ainda a AFM de não saber dialogar com os clubes e jogadores. “O diálogo é muito importante entre a associação, os jogadores e os clubes e poderia ter resolvido estas questões. Primeiro, faltou transparência. Segundo, houve falta de diálogo para lidar com os handicaps”, apontou.

 

Falta de explicações

Já o director técnico do Benfica de Macau, Duarte Alves, espera que a AFM mostre as comunicações com a FIFA, AFC e Sri Lanka e os documentos relacionados com as seguradoras. O responsável sublinha também que a decisão, mesmo que leve face ao que poderia ser, não deixa de ser uma sanção. “A decisão é um castigo da FIFA. […] Estamos à espera da transparência prometida pela AFM, durante a conferência de imprensa. Até lá, só podemos assumir que não foi feito o máximo possível para que o jogo fosse feito noutro lugar”, afirmou Duarte Alves.

O responsável espera ainda que seja divulgada a documentação sobre as comunicações com as seguradoras, porque as informações recolhidas pelo clube indicam que seria possível segurar a viagem. “A informação que temos, e que procurámos sozinhos em seguradoras, era que havia seguradoras que poderiam arranjar seguro para este tipo de viagens. Por isso, queremos ver o que a AFM tem para mostrar”, indicou.

O Benfica de Macau tem experiência em deslocações internacionais, uma vez que participou na temporada de 2018 na Taça da AFC e realizou duas deslocações à Coreia do Norte e Taiwan.

Por outro lado, Duarte Alves questionou o critério da segurança, quando o mesmo é desvalorizado internamente. “Há dinheiro para pagar a multa e diz-se que é pela segurança dos jogadores. Mas depois não se coloca uma ambulância no estádio”, opinou. “Nesse caso, se acontecer alguma coisa a nível de segurança não há problema, porque dizem que não há fundos. É uma dualidade de critérios”, atirou.

 

Decisão esperada

Por sua vez, o Sporting Clube de Macau, através de José Reis, um dos dirigentes, mostrou-se feliz com a decisão, por permitir que clubes e jogadores possam continuar a competir.

“A decisão foi a esperada. Por muitos apelos que tenha havido, a FIFA fez aquilo que tinha de fazer. Violaram os regulamentos e a violação implica uma punição”, começou por dizer José Reis ao HM. “Também fico feliz pelo castigo pequeno, porque não acho que um castigo pesado fosse mudar o que quer que fosse para o futebol de Macau. Não acho que uma multa pesada, uma exclusão durante 10 anos, fosse forçar os órgãos dirigentes da associação a perceberem que era altura de mudarem de atitude ou saírem”, sustentou.

Para o dirigente, o caso mostra que os órgãos dirigentes da AFM estão agarrados ao poder, independentemente de fazerem um bom ou mau trabalho. “Estão agarrados e não querem sair de lá. Este foi um exemplo. Isto foi muito mau, mas pelos vistos teria de haver uma hecatombe gigantesca. Nem consigo imaginar algo muito pior, para eles perceberem que têm de sair”, opinou.

Por outro lado, José Reis apontou ainda que este tipo de situações afectam tremendamente o trabalho dos clubes, em aspectos como os patrocínios. “Quando vamos falar com as pessoas para termos apoio e investir no futebol, estas situações fazem com que não tenhamos o mínimo de credibilidade. As pessoas lêem os jornais e as notícias e sabem em que estado está o futebol”, explicou. “As pessoas que ligam ao futebol estão revoltadas, basta ver o que se passa nas redes sociais, entre as comunidades portuguesa e chinesa”, justificou.

Confrontado com a penalização, ontem, Pun Weng Kun, presidente do ID recusou a ideia de o dinheiro para pagar a multa vir dos cofres públicos. Pun afirmou ainda acreditar que a AFM tem capacidade para lidar com os problemas existentes na modalidade. Por outro lado, o presidente do ID referiu a necessidade da AFM melhorar a comunicação com os outros agentes do futebol, devido ao encontro entre Ka I e Hang Sai, que terminou com 39 golos, como forma de protesto.

No dia seguinte à divulgação do castigo, o HM entrou em contacto com a AFM, através dos canais disponíveis para a comunicação, mas não foi possível estabelecer a comunicação.

 

 

Liga alternativa?

Face à forma como a AFM tem lidado com os clubes, o cenário de haver uma liga independente formada por algumas equipas não é de todo afastado. Para Benfica de Macau e Sporting de Macau, o cenário não deve ser rejeitado, e até poderá ser visto como a melhor alternativa para o futebol de Macau. Já o Monte Carlo afasta o cenário, porque não acredita que se concretize sem a AFM. Porém, Firmino Mendonça concorda que a AFM está a falhar face ao esforço dos clubes para promover o futebol.

1 Jul 2019

Semanário Plataforma lança três novas marcas em dia de aniversário

[dropcap]O[/dropcap] semanário Plataforma de Macau vai lançar três novos projectos, quando cumpre cinco anos, que assinala hoje e sábado com uma conferência, disse ontem à Lusa o administrador.

As três novas marcas – Plataforma Grande Baía, Plataforma Azul e Plataforma de Sabores – são lançadas numa altura em que o projecto pretende multiplicar parcerias e estar presente em cada vez mais territórios, explicou Paulo Rego.

“Esta conferência assinala o crescimento para a produção de eventos, conjugando-se com o crescimento da diversificação da marca”, que tem reforçado a produção digital e multimédia, disse.

Sobre a Plataforma Grande Baía – que entretanto já tem um suplemento quinzenal – Paulo Rego adiantou que o objectivo é fazer ‘roadshows’ e conferências em Macau, no espaço lusófono e na região da Grande Baía, que Pequim quer transformar numa metrópole mundial. “Não é possível hoje pensar em Macau do ponto de vista da comunicação, do ponto de vista do desenvolvimento de modelos económicos e do ponto de vista do ‘network’, sem olhar para a Grande Baía”, o “centro do desenvolvimento de Macau neste momento”, sustentou.

Por outro lado, a Plataforma Azul traduz a “extensão do projecto para a sua responsabilidade social”, debatendo a sustentabilidade, as novas oportunidades de negócio e a “questão de a lusofonia ser também ela uma rota marítima”.

E porque, no seu entender, a promoção de relações económicas, comerciais e políticas “tem de ter substrato cultural”, a Plataforma de Sabores nasce para “abordar o eixo das trocas culturais a partir da gastronomia”, indicou. “Macau tem uma culinária muito particular, a gastronomia macaense é Património Imaterial da Humanidade, a portuguesa é famosa no mundo inteiro, a brasileira, angolana, a moçambicana…”, sustentou o responsável.

28 Jun 2019

Macau multado pela FIFA e fora da qualificação para o Mundial 2022

[dropcap]M[/dropcap]acau foi ontem multado pelo Comité Disciplinar da FIFA em cerca de nove mil euros, por falhar o jogo da segunda mão da qualificação asiática para o Mundial 2022, agendado para 11 de Junho. A FIFA atribuiu uma derrota a Macau por 3 – 0, no jogo agendado para Colombo, referente à segunda mão da primeira pré-eliminatória do apuramento asiático, e multou a federação de Macau.

Na nota ontem publicada na sua página oficial, o Comité Disciplinar da FIFA considera a Federação de Futebol de Macau responsável pela quebra dos artigos 5 e 56 dos regulamentos. O artigo 5 dos regulamentos para Mundiais diz respeito a desistências, jogos não realizados ou abandonados, e o 56 aplica-se ao regulamento disciplinar em jogos não disputados ou abandonados.

A situação teve ainda como consequência o apuramento do Sri Lanka, e quando Macau tinha vencido a primeira mão por 1-0, para a fase seguinte na qualificação asiática.

Na última quinta-feira, em 20 de Junho, o deputado Sulu Sou pediu à FIFA, em carta enviada ao presidente Gianni Infantino, o reagendamento do segundo jogo.

Também Nicholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória.

“Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento.

A falta de comparência da selecção de Macau em Colombo aconteceu depois de a Associação de Futebol de Macau (AFM) ter bloqueado a viagem dos jogadores à capital do Sri Lanka, alegando “razões de segurança”.

A decisão da AFM foi conhecida no dia 8 e reiterada no dia 9 de Junho, apesar da desilusão generalizada dos jogadores, que chegaram a assumir total responsabilidade pela própria segurança na deslocação ao Sri Lanka.

28 Jun 2019

Muros e estradas

[dropcap]F[/dropcap]oi dos compromissos maiores estabelecidos com o seu eleitorado, o de construir um muro magnífico e inultrapassável que separasse definitivamente os fantásticos Estados Unidos do pobre México. Que os mexicanos pagariam por essa gigantesca e formidável obra da engenharia moderna foi outro compromisso assumido pelo que viria a ser eleito Presidente dos EUA, determinando em devolver ao país uma suposta grandiosidade perdida, devidamente protegido de nefastas influências estrangeiras, na economia ou na demografia.

Um pouco por todo o mundo se ergueram vozes indignadas e não poucas vezes se referiram dois aspectos particularmente reveladores de hipocrisias várias nesta discussão: são mais de 60 milhões as pessoas indocumentadas a viver actualmente nos Estados Unidos, fornecendo uma mão-de-obra barata e de escassos direitos que alimenta grande parte da economia nacional; e, na realidade, o muro não é invenção nova – já lá estava, em grande parte da fronteira, e também durante a presidência de Obama aumentou a sua extensão.

Não tendo afinal o dito muro crescido drasticamente durante o actual mandato presidencial, cresceram as acusações de violações de direitos humanos de migrantes, bárbaros actos de separação de famílias e isolamento de crianças ou até criação sistemática de campos de concentração – tem sido mesmo este o termo usado para definir centros de detenção de migrantes, em discussões nas mais altas instituições do estado – onde se acumulam milhares de pessoas que procuram na parte mais rica da América o sonho de liberdade e a ambição de riqueza que foram alimentando.

Apesar de mais discreta, não é muito diferente a situação na Europa: também chegam do sul milhares de pessoas, a fugir da guerra e da pobreza e à procura de sonhos e ambições. Têm muros ocasionais e redes de arame farpado, é verdade, mas há um todo um mar que estabelece mais subtil fronteira onde em tempos houve espaço para cruzamento e contato de antigas civilizações – de fenícios, gregos, egípcios, romanos ou árabes. Hoje há desemprego, escassa confiança na economia e alta desconfiança nos seres humanos, a alimentar ódios e xenofobias.

Não basta nestes dias tenebrosos ter o Mediterrâneo como vala comum de migrantes em fuga desesperada: chegam notícias de diligentes autoridades a perseguir quem ajuda quem se afoga nas outrora plácidas águas que separam o Sul da Europa do Norte de África: chamam-lhe “auxílio à imigração ilegal” e querem bani-los das águas mediterrânicas. Não são só os governantes neo-fascistas que se instalaram em Itália: são em geral as políticas de imigração da União Europeia, que fazem do Mediterrâneo o mesmo muro que se quer reforçar na América. Num e noutro lado do Atlântico alimenta-se a divisão entre os pobres e os ricos do Sul e do Norte, supostamente à procura de uma grandiosidade perdida na história. Não chegará por essa via, certamente.

Há caminhos na história das civilizações que reabrem na contemporaneidade, no entanto. É o caso da chamada Rota da Seda, recuperada pelo governo chinês para promover um massivo programa de investimentos em infraestruturas e empresas da Ásia, África e Europa. Em tempos de competição e desconfiança generalizadas, os poderes europeus e americanos denunciam a ameaça da expansão chinesa e os perigos decorrentes do aumento da sua influência económica, cultural e política no resto do mundo.

Sendo previsível essa consequência, está longe de constituir originalidade histórica. Foi semelhante a expansão da influência dos Estados Unidos sobre a Europa e o Japão com o plano Marshall, que financiou massivamente a reconstrução económica e demográfica que se seguiu à II Guerra Mundial. Com mútuo benefício, diga-se em abono da verdade: os EUA assumiram-se como a grande potência mundial, enquanto a generalidade dos países europeus (e também o Japão) beneficiaram de um longo período de crescimento económico, que duraria até quase ao final do século XX – e que também se traduz numa evidente hegemonia política e militar. Também vem desse período do pós-Guerra o acesso cada vez mais global a formas de expressão cultural com origem nos EUA e hoje altamente massificadas, como os blues, o jazz, o rock ou o cinema de Hollywood.

Nem Europa nem Estados Unidos têm hoje qualquer iniciativa semelhante a um plano massivo de investimentos no apoio ao desenvolvimento: são mais os gastos em financiamento de organizações para-militares e bombardeamentos regulares em larga escala (sobretudo – mas não só – no Médio Oriente) do que os investimentos na riqueza e no desenvolvimento dos países de África ou do sul da América. Quem tem essa iniciativa é a China, que não gasta em guerras a riqueza que vem acumulando. Não é impossível, apesar de todos os maus exemplos, reabrir velhos caminhos da paz e da cooperação económica – mesmo que, já se sabe, os benefícios sejam desiguais e quem promove o investimento acabe por vir a reforçar a sua posição hegemónica, como demonstram os exemplos históricos.

28 Jun 2019

Uma noite como as outras

[dropcap]N[/dropcap]o reverso do estafado aforismo “uma imagem vale 1000 palavras” pode entender-se que uma imagem será capaz de inspirar e desencadear 1000 palavras.

Atente-se no instantâneo anexo. É cativante como captura os presentes no seu normal, ou seja, na atitude que deles se popularizou. Ella Fitzgerald, à esquerda, provavelmente a pessoa mais bem-educado do mundo, era de uma timidez compulsiva e tinha pavor a entrevistas com medo de cometer gaffe ou simplismo. Só se sentia livre e no seu elemento debaixo dos holofotes e diante de um microfone – ei-la aqui muito compostinha. Segue-se Georgiana Henry, sua prima e dama de companhia, solicitamente virada para ela embora atenta às circunstâncias. Depois está o saxofonista Illinois Jacquet, menos conhecido conquanto fosse uma personalidade nas entrelinhas do jazz, não apenas pelo seu talento musical como pelo seu activismo, a mostrar um módico de compostura e atenção. Por fim o extrovertido e jocoso Dizzy Gillespie exibe uns à-vontades de perna traçada e uma expressão que, vendo bem, dá uns ares de insolente.

Repare-se no vestido de tafetá e na estola de raposa de Fitzgerald, atavio que a indumentária dos companheiros não contraria. Presume-se, então, que vêm do palco ou estarão prestes a subir a ele.

Não é hiperbólico afirmar que por esta altura a celebridade de Dizzy e Ella seria planetária. Pelo menos nas capitais europeias a intelligentzia autóctone idolatrava-os como grandes artistas, apesar de ser restrita a sua aceitação pelos públicos domésticos. De qualquer modo em 1955 as autoridades civis de Houston, onde agora os vemos, ainda os tinham na conta de uns pretos saídos da casca e armados em vedetas.

Observando melhor o cenário, o banco corrido, o chão de pedra fria, a parede crua e, sobretudo, as grades nas janelas, depressa se percebe que o grupo não assenta em camarim ou bastidores – está no calabouço de uma esquadra.

O produtor Norman Granz chegara a Houston com esta troupe em mais uma digressão do seu afamado e esplêndido Jazz at the Philharmonic. Cidade rica, os magnatas que nela punham e dispunham tinham bem atada e subserviente a polícia, famigerada pelo seu intrépido segregacionismo.

Granz fazia ponto de honra que nos seus concertos não houvesse discriminação racial, quer em palco, quer na plateia. De modo que exigiu não se venderem bilhetes senão no dia do concerto, assim evitando compras em bloco, e mandou retirar as tabuletas que designavam os sectores da sala de “white” e “negro.”

A vingança não se fez esperar. Ia terminando a actuação de Gene Krupa quando uns chapas à paisana irromperam de revólver em punho no camarim de Ella, sossegada a comer uma fatia de tarte enquanto Jacquet e Gillespie entretinham a espera jogando aos dados. Granz correu a interpor-se entre os agentes e a casa de banho, não fossem eles plantar alguma droga para dar mais substância à rusga, no que viu o cano de uma arma ser-lhe encostado à barriga. “Dispara se és capaz” rosnou – mas o chui não foi. Isto vai tudo de cana por jogo ilegal, bradou o chefe da brigada, ao que Granz lhe retorquiu que subisse ele ao proscénio para anunciar aos 3.000 pagantes que o concerto estava cancelado.

Com receio de um motim – de espectadores maioritariamente brancos… – os polícias resolveram que os flagrados iriam à esquadra para lhes ser levantado auto mas regressariam a tempo da segunda parte. À chegada esperavam-nos uma bateria de repórteres evidenciando a premeditação da emboscada. Um deles teve o despautério de pedir um autógrafo a Ella Fitzgerald que choramingava – na foto fica agora evidente a sua tensão. Gillespie porém, insurrecto como sempre, ao ser-lhe pedida identificação declarou chamar-se Louis Armstrong.

O Houston Post publicou a reportagem no dia seguinte. À fotografia juntou com toque de ignóbil condescendência o comentário: “a senhora mais bem vestida que alguma vez apareceu numa esquadra de Houston.”

Norman Granz teve de esportular $2000 para que o processo se arquivasse, mas o despautério acabou por sair barato. A ocorrência deu escândalo nacional e nunca mais em Houston se realizaram concertos segregados.

28 Jun 2019

Um elogio ao chinês

[dropcap]A[/dropcap] minha suposta profissão é a de escritor. Digo suposta porque encarar a escrita seriamente corresponde, em última análise, a não alimentar qualquer importância quanto as consequências pragmáticas que dela advêm, nomeadamente (mas não só), a indispensável componente financeira. Escrever não dá dinheiro. Reformulo:

é muito improvável que se consiga viver de royalties, especialmente se nos restringirmos ao anémico mercado português e se considerarmos unicamente a escrita literária – que é sempre mais fácil de definir pelos exemplos daquilo que não o é. Haverá quem o consiga, mas contam-se certamente pelos dedos da mão.

Preferia que assim não o fosse e que pudéssemos quase todos quantos escolhemos escrever viver da escrita. Mais a mais, a escrita exige tempo, respiração, leitura, muita leitura. Não se coaduna facilmente – embora quase sempre tenha de o fazer – com a exigência de uma profissão ocupando oito horas diárias. Por tudo quanto ouvi e vi desde sempre, nunca achei que me seria possível viver da escrita. Escrevo porque quero. A cada um o seu veneno.

Uma das parcas vantagens da escrita é ser-se traduzido e com isso poder ir a sítios a que de outro modo só se iria em documentários. E uma coisa que tenho verificado um pouco por toda a parte nas cidades da Europa onde me tem calhado estar (sobretudo França e Alemanha), logo no aeroporto, é a omnipresença da língua chinesa. Não só nas sinaléticas onde antes pontuava somente o inglês, mas em anúncios de todo o tipo, de ofertas disto e daquilo a incentivos vários ao tax refund e restantes modalidades de captação da divisa turística. É assim em Paris, em Frankfurt ou em Lisboa. Presumo que também o seja na maior parte das cidades em que o chinês-versão-turista vem largar uns cobres. Há coisa de vinte anos apenas – talvez menos – a quase totalidade dos turistas do extremo oriente a visitar a europa eram os Japoneses, afamados por comprarem artigos por prateleira e pela obsessão praticamente patológica que nutriam de documentarem fotograficamente a sua presença. As suas férias, dir-se-ia, começavam de facto quando, regressados ao Japão, abriam o álbum de fotos pela primeira vez para os seus convidados.

Por motivos felizmente alheios ao turismo, ando a (tentar) aprender chinês. Do ponto de vista gramatical e sintáctico, não é uma língua difícil. Infelizmente, tudo o resto o é. É uma língua tonal, coisa com a qual não estamos habituados a ter contacto (o mandarim tem quarto tons, o cantonês tem seis, fazendo com o primeiro contacto com o cantonês lembre uma multidão de pessoas a tentarem cantar dentro de um autocarro circulando numa estrada pejada de lombas). A escrita é ideográfica, pelo que a dificuldade não é ser-se incapaz de perceber o que se lê – como, por exemplo, para mim, o dinamarquês – mas o próprio acto de ler. Há de facto uma razão para a nossa expressão idiomática “isso para mim é chinês”.

Mas é uma língua fascinante. Para começar, não tem nem existe “sim” ou “não” em chinês. A concordância ou discordância faz-se verbalmente – afirmando ou negando o verbo da frase na qual vem expressa a pergunta, regra geral. Os verbos não flexionam em tempo, pessoa, número, etc. Parece-me, eu que tenho o chinês ainda apenas pelos tornozelos, uma língua de legos: as palavras encaixam umas nas outras sem deformação, quadradinhas, prontas a serem usadas de formas inteiramente diferentes e com outros sentidos noutras frases. Legos talvez não seja a melhor imagem. Tetris, que aos legos não se perde.

Tivesse eu nascido a tempo de começar agora a aprender uma língua estrangeira na escola, ia aprender chinês (isto partindo do princípio de que os nossos governantes dão alguma importância à língua da (brevemente) maior economia do mundo, falada por mil milhões de pessoas, e a instituem, nem que facultativamente, nos currículos escolares). Porque o inglês se aprende por contágio, na internet, e as restantes línguas europeias por paixão ou no erasmus – e estes, por vezes, coincidem em tempo e espaço.

28 Jun 2019

G20 | Holofotes apontados a Trump e Xi no 1.º aniversário da guerra comercial

O encontro bilateral entre os líderes da China e Estados Unidos marcará a cimeira do G20, numa altura em que se cumpre um ano desde o início de disputas comerciais que ameaçam a economia mundial

 

[dropcap]X[/dropcap]i Jinping e Donald Trump vão reunir em Osaka, no Japão, para tentar pôr fim à guerra comercial, num momento de impasse, após as negociações terem sido subitamente interrompidas, em Maio passado, quando após 11 rondas de diálogo o Presidente norte-americano subiu as taxas sobre cerca de 200.000 milhões de produtos importados da China.

Washington acusou então Pequim de retroceder em compromissos anteriormente alcançados, enquanto a China acusou a delegação norte-americana de não respeitar a soberania e a dignidade do país e de fazer exigências inaceitáveis.

Desde o Verão passado, os Governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados um do outro.

Esta semana, o vice-ministro do Comércio chinês, Wang Shouwen, recordou que a China exige “respeito mútuo” e pelas regras da Organização Mundial do Comércio, nas negociações com Washington. “O compromisso deve ser dos dois lados”, realçou.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, garantiu que um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos está “90 por cento concluído”. “A mensagem que queremos ouvir é que eles querem voltar à mesa e continuar a negociar, porque acho que há um bom resultado para a economia chinesa e a economia dos EUA, com um comércio equilibrado e a continuar a construir esse relacionamento”, afirmou, citado pela imprensa norte-americana.

Conquistar o futuro

Em causa estão os planos de Pequim para o sector tecnológico, que visam transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideraram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

Washington impôs já taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões.

Trump colocou ainda a gigante chinesa das telecomunicações Huawei na “lista negra”, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, ‘software’ e outros componentes, sem a aprovação do Governo. Pequim ameaçou suspender a exportação para os EUA de terras raras, os minerais essenciais para o fabrico de produtos electrónicos.

Para durar

Analistas prevêem que, apesar da possibilidade de um acordo, a rivalidade entre a China e os Estados Unidos será duradoura, numa altura em que Xi legitima o seu novo estatuto como Presidente vitalício com a projecção do país além-fronteiras.

Xi anunciou já o início de uma “nova era” e reforçou o poder interno ao abolir o limite de mandatos para o seu cargo, com o objectivo final de firmar a posição da China como grande potência, até meados deste século.

Washington passou a considerar o país asiático como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que ameaça bipolarizar o cenário internacional.

Yu Yongding, economista-chefe da Academia Chinesa de Ciências Sociais, uma influente unidade de investigação próxima do Governo chinês, lembrou ontem que a rivalidade terminará apenas quando um novo equilíbrio for alcançado. “Eu talvez não veja o dia [em que essa rivalidade termine], pois já tenho 70 anos”, afirmou Yu, citado pela imprensa chinesa.

À guerra comercial poderá seguir-se uma “guerra de investimentos”, uma “guerra financeira” ou uma “guerra cambial”, e até mesmo “medidas de guerra quase quente”, como embargo de petróleo e o congelamento de activos chineses, previu Yu.

A marinha norte-americana tem reforçado as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.

Referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns entre funcionários chineses e norte-americanos. “Podemos certamente pensar em várias frentes de batalha: no comércio, informática, defesa (Mar do Sul da China) ou tecnologia (5G). Mas isto é uma guerra entre uma superpotência mundial em declínio (os EUA) e uma em ascensão (a China)”, considerou Timothy Ash, estrategista na BlueBay, empresa gestora de activos.

28 Jun 2019

Panda Bonds | Portugal paga 0,62% após cobertura de risco cambial

O ministro das Finanças português afirmou que a taxa da emissão de dívida em moeda chinesa, as ‘Panda Bonds’, que Portugal realizou em 30 de Maio, é de 0,62 por cento a três anos após aplicada a cobertura de risco

 

[dropcap]A[/dropcap] taxa equivalente, e depois de devidamente protegida com ‘swaps’ do risco cambial, é de 0,62 por cento a três anos, o que compara mal com a taxa a que a República se financia a três anos, é verdade”, afirmou na quarta-feira Mário Centeno, sobre a emissão de ‘Panda Bonds’ de Portugal, ao falar na audição regimental da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA) no parlamento.

Em 30 de Maio, Portugal colocou dois mil milhões de renmimbi em ‘Panda Bonds’ a três anos, naquela que foi a primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu.

Segundo um comunicado divulgado no ‘site’ do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09 por cento.

O ministro das Finanças admitiu, no parlamento, que os 0,62 por cento correspondem a “um esforço muito grande da República Portuguesa”, sublinhando que “o prémio que está a ser pago é exactamente” aquele, “para diversificar as suas fontes de financiamento”. Mário Centeno admitiu que “se calhar [a decisão] é hoje mais questionável do ponto de vista estritamente financeiro do que quando foi tomada”, porque se trata de “um processo muito longo” e actualmente as taxas dos títulos de dívida de Portugal estão muito mais baixas no mercado.

O ministro referiu também que a operação foi “pequena do ponto de vista da dimensão”, mas foi “um sinal muito positivo da necessidade de diversificar os custos de financiamento”.

Cobrir riscos

Em declarações à Lusa, Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, explicou que, “a taxa relevante da operação são os 0,62 por cento porque analisando os ‘cash-flows’ finais em euros, entre entradas e saídas, Portugal irá pagar o equivalente a 0,62 por cento em euros”.

O economista adiantou que, “de uma forma sensata e como faz normalmente nos casos em que incorre em risco cambial, o IGCP recorreu a instrumentos derivados de cobertura de risco”, que reflectem o diferencial de taxas de juro entre o euro e o yuan de uma forma inversa à da tomada do financiamento. “De facto, Portugal paga uma taxa de juro mais alta na emissão em yuan, mas é beneficiado ao cobrir o risco cambial da operação, mitigando a maior parte dessa diferença.

Portanto, a cobertura cambial compensou grande parte do diferencial de taxas de juro entre as duas moedas, o que acontece pelas tecnicidades do processo de cobertura”, adiantou Filipe Garcia.

Dito de outra forma, segundo o economista, “ao cobrir o risco, o IGCP também faz baixar a taxa de juro ‘implícita’ final a pagar”.

Filipe Garcia admitiu também, à Lusa, que o custo final em euros foi mais alto do que um financiamento que fosse realizado nos mercados mais habituais. “Mas parece-me que a operação teve objectivos de cariz político e simbólico, deixando o ângulo financeiro para um segundo plano, até pelo montante da emissão”, frisou, acrescentando que “é uma forma abrir uma porta para diversificar fontes de financiamento e sinaliza ao mercado que Portugal tem flexibilidade nesta matéria”.

A presidente do IGCP, Cristina Casalinho, disse, na semana anterior à operação, que a emissão de ‘Panda Bonds’ surgiu como “uma oportunidade” para Portugal continuar a alargar a base de investidores e adiantou que a operação demorou dois anos a ser negociada.

28 Jun 2019

Renascimento italiano | Seminário marca últimos dias de exposição no MAM

“Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” é o nome da exposição que tem estado patente no Museu de Arte de Macau e que chega ao fim este domingo. Margarida Saraiva, curadora da mostra, explica a essência dos desenhos com foco na figura humana, sem esquecer o movimento do corpo, a luz e as sombras que dele emanavam

 

[dropcap]A[/dropcap] exposição “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” chega ao fim este domingo, mas, antes disso, o Museu de Arte de Macau (MAM) organiza um seminário, este sábado às 16h, que explica precisamente a origem da mostra. A apresentação estará a cargo de Margarida Saraiva, curadora, que vai “explorar aos primeiros estágios de elaboração e planeamento até o papel do curador em projectos itinerantes”.

Além disso, Margarida Saraiva “apresentará as obras de arte seleccionadas exclusivamente para a exposição em Macau e os conceitos do renascimento italiano que inspiraram tanto o design gráfico, quanto o de galeria”. Serão ainda feitas duas visitas guiadas em cantonense, no sábado e no domingo.

Ao HM, a curadora traça um retrato das imagens patentes no MAM desde o passado dia 18, e que tem como principal objecto a figura humana.

“A arte da renascença italiana foi dominada pelo desejo de representar com precisão a figura humana. O objectivo era envolver o espectador na narrativa apresentada na pintura e, para alcançar esse objectivo, as figuras tinham que ser naturalistas e expressivas”, adiantou a curadora.

Desta forma, “a prática artística dos jovens que ambicionavam tornar-se grandes artistas concentrou-se progressivamente no desenho à vista do corpo masculino”.

As descobertas arqueológicas acabaram por influenciar o trabalho destes artistas que começaram a “desenhar a partir das estátuas originais ou de gessos, procurando alcançar a musculatura característica da arte clássica”. Nesse período, eram também realizados “estudos mais detalhados de certas partes do corpo, como a cabeça de amigos ou colegas de várias idades, que mais tarde podiam ser usados para representar santos, personagens mitológicas ou heróis clássicos em obras acabadas”.

Nem sempre o corpo humano era retratado tal como ele era. Nesse aspecto, Margarida Saraiva dá como exemplo as imagens com a assinatura de Leonardo Da Vinci, com retratos mais exagerados ou extravagantes, nas quais “uma compreensão profunda da forma humana constitui um trampolim para uma exploração mais criativa da personagem e do seu carácter”.

A caricatura e a luz

Um dos exemplos do exagero de que fala Margarida Saraiva pode ser visto nas duas obras “Caricaturas de um homem e uma mulher idosos”, e que foram feitas entre os anos 1482 e 1499, pintadas com caneta e tinta castanha.

Neste período, Leonardo Da Vinci estava ao serviço do duque de Milão, sendo que as imagens em apreço “podem ter sido concebidas tanto como divertimentos para corte quanto como explorações da fisionomia, a partir da crença segundo a qual o personagem poderia ser interpretado através dos seus traços faciais”.

Margarida Saraiva acrescenta que “ao longo da vida, o artista explorou obsessivamente os contrastes entre o novo e o velho, a fealdade e a beleza, em esboços rápidos de perfis, frequentes nos seus cadernos de anotações: os seus anjos e rostos femininos incorporavam a beleza ideal, mas a essa perfeição Leonardo contrapunha os extremos do ‘grotesco’”.

A curadora diz ainda que “o humor das caricaturas vem em parte da apresentação incongruente dessas figuras exageradas no formato digno do perfil, associado aos retratos de imperadores e reis antigos, em medalhas e camafeus”.

Segue-se “Estudos para o Juízo Final”, de Michelangelo Buonarroti, que data do ano 1534, uma imagem pintada a giz preto. Este desenho foi “especialmente requisitado pelo MAM ao British Museum para a exposição” e estão ligados à “grande obra da maturidade de Michelangelo”, que é o “Juízo Final” da Capela Sistina, no Vaticano, diz Margarida Saraiva. A obra em causa “representa o momento final da história cristã, no qual Deus julga as almas humanas para admiti-las no céu ou condená-las ao inferno”.

Nesse sentido, “a imagem de Michelangelo é consolidada pelos contrastes dinâmicos das figuras, subindo e descendo, e neste desenho ele estuda figuras que se tornarão anjos no fresco final. O ambicioso esforço de detalhe das poses e a poderosa musculatura aumenta a intensidade dramática do tema”.

Além da presença acentuada do movimento, o jogo de luz e sombras também fez parte da visão artística do Renascimento Italiano. “Da mesma forma que a representação naturalista do mundo se tornou fulcral para artistas da Renascença, a compreensão adequada da luz também”, lembra Margarida Saraiva.

“Pelo uso eficaz de luz e sombra, numa combinação chamada em italiano chiaroscuro, um artista poderia chamar a atenção para partes específicas de uma cena, sugerir volume e solidez, e representar presenças sagradas através do brilho da luz divina. As gradações de luz serviam igualmente para criar, numa composição, a sensação de distância e perspectiva”, acrescenta.

Artistas como Leon Battista Alberti, entre outros, “levaram os seus estudos de luz mais longe”, uma vez que Alberti “escreveu exaustivamente sobre a base matemática da luz”, enquanto que Leonardo da Vinci “dedicou-se a compreender a ciência da luz e da visão”, ao estudar “a óptica, a anatomia do olho e a difusão da luz na atmosfera”.

Este trabalho acabaria por ter impacto no trabalho de artistas posteriores como é o caso de Ticiano, Raphael e Caravaggio, como se observa na obra “Estudos de uma jovem segurando um livro”.

28 Jun 2019

Emirados Árabes Unidos | Viagens passam a estar isentas de visto

[dropcap]O[/dropcap] Governo dos Emirados Árabes Unidos decidiu isentar os portadores de passaporte da RAEM de visto de entrada no país.

De acordo com um comunicado ontem divulgado, os titulares do passaporte passam a ter direito de permanência no país por um período máximo de 30 dias. Presentemente, existem 142 países e regiões que concedem isenção de visto ou visto à chegada aos titulares do passaporte da RAEM.

28 Jun 2019

ANIMA | Falta de trabalhadores residentes põe em risco animais do canil de Coloane

A escassez de pessoal que a ANIMA enfrenta, é agravada pelos limites à contratação de não residentes e à falta de locais que queiram ser tratadores. O entrave pode resultar na incapacidade de cuidar dos 33 cães que estão sob a tutela do IAM no canil de Coloane, e cujo cuidado é assegurado pela associação. Albano Martins teme que os cães acabem por ser abatidos

 

[dropcap]O[/dropcap]s 33 animais que estão sob a tutela do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) no canil de Coloane podem correr o risco de ser abatidos. Em causa estão as dificuldades da Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA, responsável por cuidar dos cães do canil, em contratar residentes para as funções de tratador. “A ANIMA assegura os cuidados prestados por um trabalhador pago totalmente pela associação e na folga semanal, este trabalhador tem de ser substituído por outro local”, explica o presidente da ANIMA, Albano Martins, ao HM.

A partir de Julho vão sair da ANIMA dois tratadores residentes que não podem ser substituídos por não residentes pelo que a associação corre o risco de não conseguir cumprir este serviço no canil de Coloane. “Aqueles animais estão lá há vários anos e são a única excepção à regra do IAM no abate de animais, esse é o grande drama”, acrescenta o responsável, preocupado com a fatal possibilidade caso a associação não consiga assegurar os cuidados dos cães do canil de Coloane.

Em causa está o facto de os trabalhadores não residentes só poderem estar afectos ao espaço da ANIMA, e “se ali não estiverem, violam a lei”. A associação vai perder dois trabalhadores residentes já no próximo mês de Julho e não tem como os substituir, porque não há candidatos para estas funções. “Quando pedimos estes funcionários à Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) eles dizem que não têm”, remata Albano Martins.

O HM tentou saber, junto do IAM, o destino dos animais no caso da ANIMA não poder assumir o seu cuidado, mas não obteve resposta até ao final da edição.

Problema abrangente

A falta de pessoal afecta não só o funcionamento do canil de Coloane, mas também pode colocar em causa o trabalho da própria ANIMA, devido ao limite de quotas impostas à contratação de trabalhadores não residentes. “Estamos constantemente a ter sangrias de pessoas locais”, queixa-se o presidente da associação referindo-se às saídas de quem parte em busca de outras oportunidades, até porque “a ANIMA não é uma multinacional e não pode dar condições como os casinos”. Ainda assim, a lei do trabalho obriga a associação a ter 20 trabalhadores locais para poder empregar 15 trabalhadores não especializados e um especializado que não seja residente.

A quota dos 20 locais foi atingida este mês, altura em que também terminava o prazo dado pela DSAL para que tal fosse efectuado, mas os problemas avizinham-se já para o próximo mês, altura em que vão sair dois tratadores e um administrativo. “Com a saída destes três vamos ficar com 17, sendo que já temos uma pessoa para o cargo administrativo”, refere. No entanto, a dificuldade mantém-se com a falta de tratadores para os cerca de 500 cães e 300 gatos que estão ao cuidado da ANIMA.

Multifunções

A alternativa passa muitas vezes por solicitar aos funcionários do secretariado que dispensam algum tempo para ajudar na lida com os animais, mas não é o suficiente. “Podem-nos ajudar nalgumas coisas, mas o cerne fundamental é haver alternativas”, sublinha Albano Martins.

Acresce ainda ao problema da reposição de folgas quando há feriados. Sem elementos que possa dispensar, os trabalhadores da ANIMA “acabam por levar mais tempo do que o que a lei obriga a usufruir destas folgas, porque não há ninguém para fazer o trabalho deles”, refere o responsável.

A única garantia de estabilidade reside no emprego de não residentes, que, no entanto, está sujeita à referida quota e às limitações do espaço de trabalho. “Os únicos trabalhadores que conseguimos manter são filipinos porque esses não têm o luxo de poder mudar de emprego de um dia para o outro e, como tal, não têm alternativas à ANIMA. Estas pessoas só podem mudar de emprego dentro da mesma categoria, ora não há em Macau sociedades protectoras a não ser a ANIMA. O resto não tem trabalhadores”

Neste momento, a ANIMA tem 36 trabalhadores: 16 não locais, um especializado e 15 não especializados e 20 trabalhadores locais. “Era suposto começarmos a campanha de fundos apenas em Julho, mas vamos ter que o começar ainda antes do final deste mês para conseguir o dinheiro necessário para o arranjo do ar condicionado”, apontou Albano Martins. A aposta vai ser feita junto dos casinos. “Esperamos que a Wynn Resorts mantenha o apoio que nos tem vindo a dar, na ordem do 1.3 milhões de patacas, que já dá para pagar o ar condicionado. Era bom que conseguíssemos arranjar dinheiro para garantir pelo menos mais um trimestre”, ou seja, pelo menos dois milhões de patacas.

28 Jun 2019

Patuá em declínio antes do Kristang, diz Joseph Santa Maria

[dropcap]U[/dropcap]m dos representantes da minoria luso-malaia afirmou ontem que a cultura e o crioulo de matriz portuguesa de Macau vão desintegrar-se “mais rápido do que o Bairro Português em Malaca”. “Em Macau já ninguém fala o Patuá”, disse Joseph Santa Maria, em declarações à Lusa, na cidade malaia conquistada pelos portugueses em 1511.

Derivado do crioulo de Malaca, o Kristang, o crioulo de base portuguesa de Macau, o Patuá, está classificado há quase uma década pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como “gravemente ameaçado”, o último patamar antes de uma língua se extinguir por completo.

“Nós perdemos Macau, no sentido em que Macau pertence à China, e penso que em Macau vai-se desintegrar aos poucos, sublinhou Joseph Santa Maria. Segundo o luso-malaio, apesar de o Bairro Português de Malaca ter menos apoios que Macau, as gentes que lá vivem “têm um orgulho enorme em ter um passado português”.

O Kristang surgiu há cerca de 500 anos, quando Afonso de Albuquerque desembarcou em Malaca, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que seria um importante entreposto comercial. Ameaçada de extinção, a língua emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai influências dos dialectos chinês e indiano.

28 Jun 2019

Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas visita Malaca e Macau

[dropcap]O[/dropcap] secretário de Estado das Comunidades Portuguesas chega amanhã a Malaca para participar na 2ª Conferência das Comunidades Portuguesas na Ásia, seguindo na segunda-feira para Macau. José Luís Carneiro, antes de chegar a Malaca para reunir com representantes das comunidades asiáticas descendentes de portugueses, irá à capital malaia, Kuala Lumpur, encontrar-se com o secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia, Muhammad Shahrul Ikram Yaakob.

“Portugal tem uma responsabilidade moral, têm de ter consciência destas bolsas de comunidades portuguesas que existem na Ásia”, disse hoje o organizador da segunda edição da Conferência, Joseph Santa Maria, em declarações à Lusa, na cidade conquistada pelos portugueses em 1511.

Depois da conferência, José Luís Carneiro desloca-se ao bairro português em Malaca e vai assistir à missa, à procissão e à bênção dos barcos de pesca, “no contexto da Festa de São Pedro em Malaca”, lê-se num comunicado divulgado pelo seu gabinete. O responsável português irá encontrar-se ainda com o ministro-chefe de Malaca, Adly Zahari.

28 Jun 2019

Estudo | Maioria dos residentes não quer viver nem trabalhar fora de Macau

Um estilo de vida que não se adequa. É este o principal motivo para que os residentes de Macau não queiram viver na Grande Baía. Esta é uma das conclusões de um estudo da UM, liderado pela investigadora e deputada Agnes Lam

 

[dropcap]A[/dropcap] maior parte dos residentes de Macau não tem vontade de trabalhar ou viver nas cidades da Grande Baía, de acordo com um estudo da Universidade de Macau, liderado pela académica e deputada Agnes Lam. No total foram inquiridos por telefone 557 residentes e os resultados foram divulgados ontem.

“A maioria dos inquiridos não tem vontade de trabalhar ou viver nas cidades do Interior da China que fazem parte da Grande Baía ou em Hong Kong. A principal justificação é o ‘estilo de vida inadequado’”, pode ler-se no comunicado emitido, ontem, pelo UM.

A informação revelada não mostra a percentagem de pessoas que se mostrou indisponível para emigrar para a Grande Baía. Contudo, o número de pessoas que admitem vontade de participar no projecto nacional foi de 37,9 por cento, ou seja 211 residentes. Este número permite inferir, e uma vez que não há dados sobre as pessoas que não responderam, que 346 pessoas, ou seja 62 por cento, não querem participar no projecto regional.

Entre as pessoas que preferem ficar em Macau, a principal razão, ou seja 76,4 por cento das respostas, apontaram para o estilo de vida inadequado. A segunda razão foi “a diferença de valores e cultura”, que correspondeu a 28,2 por cento das respostas, e “ausência de familiares ou redes sociais”, mencionada em 23,4 por cento das respostas.

Entre as pessoas que querem participar na Grande Baía, o principal aspecto sublinhado foram as perspectivas de uma carreira melhor do que a que teriam em Macau. A justificação foi utilizada em 61,2 por cento das respostas. Em segundo lugar a razão para participar no projecto de integração regional é o preço mais baixo do custo de vida, em 21 por cento das ocasiões, e o estilo de vida, em 20,8 por cento das resposta.

O estudo permitiu a elaboração de um perfil tipo das pessoas que estão disponíveis para trabalhar e viver do outro lado da fronteira. Segundo as conclusões, este tipo de pessoas são principalmente deputados, chefias de departamentos do Governo, líderes de associações, gestores de topo de empresas ou estudantes. No pólo oposto, as pessoas que não querem participar são operários, trabalhadores de serviços ou pensionistas.

Reformados querem ficar

Uma das políticas em que o Governo tem focado estudos é a abertura de lares em Cantão. No entanto, segundo este estudo, a maioria dos reformados e idosos recusam a ideia de serem colocados num lar na Grande Baía.

Entre os 557 inquiridos, 53,8 por cento disseram que não estão disponíveis para irem viver os últimos dias na Grande Baía, porque querem ficar em Macau. Também em relação a este aspecto, não foram reveladas grandes informações no comunicado da UM, mas é explicado que quanto maior qualificação têm as pessoas, maior é a disponibilidade para aceitarem a Grande Baía.

Mas se a maioria não quer viver nem trabalhar no outro lado da fronteira, o mesmo aconteceu no que diz respeito a aceitar que os cidadãos das cidades que integram a Grande Baía venham para Macau.

Os residentes locais mostram-se muito disponíveis para aceitar investimento e turistas, mas não para que os compatriotas se fixem na RAEM. Assim, 58,2 por cento dos inquiridos “não tem vontade” ou mostra-se “muito relutante” em receber imigrantes do Interior ou de Hong Kong. Já 21 por cento dizem estar “disponíveis” ou “muito disponíveis”. Em relação a receber mais trabalhadores não-residentes, 47,6 por cento dos inquiridos “não tem vontade” ou mostra-se “muito relutante” contra essa realidade. Já 29,3 por cento, diz-se “disponível” para aceitar trabalhadores e apenas 0,2 por cento diz estar “muito disponível”.

Ainda em relação à cobertura noticiosa sobre a Grande Baía, a investigação concluiu que os meios de comunicação tradicionais focam mais as posições e políticas do Governo. Já as pessoas nas redes sociais prestam mais atenção aos motivos do quotidiano, como o trânsito, infra-estruturas, ou a economia.

28 Jun 2019

Central Nuclear de Yangjiang | Registada anomalia sem consequências graves

[dropcap]O[/dropcap]correu esta quarta-feira uma anomalia na Central Nuclear de Yangjiang sem consequências graves. De acordo com um comunicado, “durante uma operação de manutenção de carácter isolado ao tanque de água da unidade 1 da referida central nuclear, ocorreu uma anomalia na bomba auxiliar de abastecimento de água, tendo o pessoal conseguido resolver de forma atempada a falha e a bomba auxiliar retomada ao seu funcionamento normal”.

O incidente foi classificado com o nível 0, o que significa que não houve problemas de segurança. Além disso, não afectou “o funcionamento seguro da central, a saúde do seu pessoal operacional, da população e do ambiente adjacente à referida central”. De frisar que esta central nuclear está localizada na província de Guangdong, a cerca de 160 quilómetros de Macau, tendo as autoridades feito uma visita ao local ontem para verificar a ocorrência.

28 Jun 2019

CEM | Anunciado plano de cortes de energia durante inundações

A segurança dos habitantes e do património, em época de tufões, levou a CEM a articular com o Governo e a protecção civil medidas de suspensão da energia eléctrica em diferentes zonas da cidade, sempre que o nível das águas suba acima do normal. A população vai ser informada com antecedência e há uma nova app de emergência

 

[dropcap]O[/dropcap] corte no fornecimento de energia às zonas baixas da cidade, em caso de aviso de tempestade e inundações, passou a ser considerado como medida de prevenção, e não apenas de recurso, para evitar a danificação dos cabos e equipamentos de alimentação energética, bem como garantir a segurança dos cidadãos nas áreas afectadas. Os habitantes vão ser notificados através dos canais já existentes, mas também através da nova versão da aplicação móvel “GeoGuide para emergências”, apresentada ontem, com novos interfaces e mais informação disponível.

O anúncio foi feito pela Companhia de Electricidade de Macau (CEM), ontem em conferência de imprensa, dedicada à “Preparação para a época de tufões” que está em curso. Segundo os responsáveis, os cortes energéticos irão acontecer em função da subida do nível das águas, nas zonas sujeitas a inundação, e de acordo com os tipos de alerta de tempestade “storm surge”, divulgados pela Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG).

A medida foi acordada com o Governo e a protecção civil, podendo os cidadãos prever e antecipar as suspensões de energia, em função dos 5 graus de alerta, a que correspondem níveis de altura das águas e zonas afectadas, que podem ser consultadas na página electrónica da CEM e na nova app. De acordo com esta informação, a população deverá seguir as instruções das autoridades e, caso seja necessário, evacuar as zonas habitacionais em risco para os locais de acolhimento seguro.

Segundo a previsão da SMG, este ano são esperados entre quatro a seis ciclones tropicais, que deverão concentrar-se num raio de 800 quilómetros de distância do território, podendo vir a ser içados os sinais de tufão forte. “Sob a influência do aquecimento global, as situações de clima extremo tornaram-se mais frequentes. Macau içou o sinal 10 de tufão por dois anos consecutivos, em 2017 e 2018”, tendo o nível da água do mar subido rapidamente, o que causou sérias inundações nas zonas baixas ao longo da costa de Macau, com interrupções de energia e danos consideráveis nas redes de fornecimento eléctrico.

“Com a aprendizagem das experiências dos fortes tufões “Hato” e “Mangkhut”, a CEM e os departamentos governamentais relevantes efectuaram uma revisão e discussão sobre a melhoria da resiliência das instalações de energia e estabeleceram medidas de melhoramento para as áreas baixas da cidade”, assinalou ontem Gabriel Chan, engenheiro da CEM.

Por esse motivo, “em situação de emergência, por forma a salvaguardar a segurança da população e das instalações de energia, e prevenir estragos permanentes por ocorrência de inundações, a CEM irá suspender o fornecimento de energia eléctrica nas zonas críticas”, até que as equipas de inspecção e reparação da empresa considerem seguro o seu restabelecimento, após o recuo das águas.

App e informação

A app “GeoGuide para emergências”, que já pode ser descarregada, foi desenvolvida pela Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro (DSCC) e originalmente lançada em Outubro de 2018. A nova versão 2.0, além de disponibilizar mapas de emergência online e offline, inclui ainda funções de previsão da extensão das áreas afectadas por tempestades, avisos sobre fenómenos meteorológicos severos e informações de monitorização do nível da água em tempo real. O utilizador pode contactar directamente com os canais de emergência através da aplicação, que é gratuita e está traduzida em 4 línguas: chinês tradicional e simplificado, inglês e português.

Entretanto, a CEM tem vindo a adoptar medidas de optimização da rede eléctrica, elevação de infra-estruturas de energia, inspecção e substituição de instalações antigas, colocação de barreiras anti-inundação em postos de transformação, além da realização de acções de divulgação, através de seminários, folhetos, vídeos educacionais (em 500 autocarros, 600 táxis e 35 supermercados), inserções nas facturas e informação através das redes de Wechat, Facebook e no website, segundo informaram os responsáveis.

28 Jun 2019

Violência doméstica | DSAJ esclarece que casos únicos podem constituir crime

[dropcap]L[/dropcap]iu Dexue, da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), esclareceu o deputado José Pereira Coutinho quanto ao tipo de casos que podem constituir o crime de violência doméstica, garantindo que actos únicos de violência também são tidos em conta pelas autoridades.

“A prática reiterada ou não dos actos não faz parte dos elementos constitutivos do crime de violência doméstica, o qual abrange não só ofensas reiteradas de reduzida intensidade, mas também ofensa de uma só vez que pode causar resultados consideravelmente graves. Por isso, ao avaliar se um acto constitui crime de violência doméstica, é necessário considerar globalmente as diversas circunstâncias do caso concreto.”

Em interpelação escrita, o deputado questionava se as autoridades iriam analisar melhor os factos que constituem crime de violência doméstica, além de pedir uma diferente interpretação da lei em vigor.

Na resposta, Liu Dexue esclareceu também o número de acções de formação que o Governo tem realizado neste âmbito. “Actualmente, a Polícia Judiciária tem vindo a proceder à abertura de inquéritos e processamento quanto às participações que envolvem o crime de violência doméstica. Entre 2016 e 2017 foi realizado um total de 88 palestras relacionadas com a lei da violência doméstica, que contaram com um total de 5.301 participações.”

28 Jun 2019

Hengqin | Empresa de ex-deputado passa a operar novo centro logístico

O ex-deputado à Assembleia Legislativa Dominic Sio é vice-presidente de uma empresa instalada na Ilha de Hengqin, no Parque Industrial de Cooperação Cantão-Macau. A inauguração do novo centro logístico, operacionalizado pela Dah Chong Hong Macau Limitada, aconteceu ontem

 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem inaugurado com pompa e circunstância o primeiro centro logístico a funcionar na Ilha de Hengqin, no Parque Industrial de Cooperação Cantão-Macau. O centro será operacionalizado pela empresa Dah Chong Hong Macau Limitada, cujo vice-presidente é o ex-deputado à Assembleia Legislativa Dominic Sio Chi Wai.

O empresário referiu que “foi aprovada a função de armazém alfandegário para este centro logístico por parte da Administração Geral da Alfândega da China”, que terá como objectivo conservar produtos alimentares.

Uma das vantagens da localização apontada por Dominic Sio é o facto de “não ser exigida cobrança de imposto”, além de que “os produtos podem ser mantidos num ambiente que ajuda ao processamento de alimentos”. Foi também referida a importância da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, que irá permitir “um transporte mais eficaz”, frisou o empresário.

Dominic Sio adiantou que o novo centro logístico vai oferecer preços mais competitivos face aos que são praticados em Hong Kong e Macau, além de que o centro pode garantir a conservação de alimentos abaixo dos 40 graus celsius, o que permite a eliminação de bactérias detectadas no peixe, como é o caso do salmão.

Este projecto foi seleccionado em 2014 e foi um dos primeiros a ser escolhido para o Parque Industrial de Cooperação Guangdong-Macau, num investimento de quase 2.500 milhões de renminbi.

A companhia Dah Chong Hong Holdings Limited foi estabelecida em Hong Kong há mais de 70 anos, possuindo actualmente negócios e sucursais em várias cidades como Hong Kong, Macau, Zhuhai, Shenzhen, Guangzhou, Jiangmen, Xiamen e Xangai.

Em Macau, a empresa opera dois grandes centros logísticos na Zona Industrial Transfronteiriça de Coloane e da Ilha Verde, fornecendo serviços de armazenamento a diferentes temperaturas.

Além desta posição empresarial, Dominic Sio é também director da CESL-Ásia, empresa que opera na área da construção civil, entre outras.

Figuras de topo

Zhang Jijing, outro empresário presente na cerimónia de inauguração, garantiu que o centro logístico actuará como ponte com outras regiões da Grande Baía, visando abastecer Macau e Zhuhai com soluções ao nível do fornecimento e armazenamento de produtos, sem esquecer os serviços alfandegários.

No evento de ontem estiveram presentes elevadas figuras do meio político, como o Chefe do Executivo, Chui Sai On, o anterior e actual vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), Edmund Ho, bem como o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Fu Ziying, entre outras personalidades.

28 Jun 2019

Justiça | Chefe do Executivo reuniu com presidente de tribunal de Guangdong

[dropcap]C[/dropcap]hui Sai On recebeu ontem, na Sede do Governo, o presidente do Tribunal Popular de Nível Superior da Província de Guangdong, Gong Jiali, e trocou “impressões sobre a próxima fase da cooperação judiciária entre os dois territórios”, aponta um comunicado do gabinete do Chefe do Executivo. A visita visou ainda o “aprofundamento do intercâmbio e cooperação com os tribunais e sector judiciário locais” e partiu de um convite feito por Sam Hou Fai, presidente do Tribunal de Última Instância da RAEM.

Gong Jiali referiu que o Tribunal Popular de Nível Superior da Província de Guangdong “tem realizado frequentemente visitas mútuas e procedido a vários tipos de intercâmbio com os tribunais da RAEM, sendo que, no ano passado, alcançaram-se consensos no âmbito do reforço da cooperação judiciária a nível regional entre os dois territórios”.

Já Sam Hou Fai defendeu que o facto de se celebrar, este ano, os 20 anos da transferência de Macau para a China “é a ocasião adequada para se fazer uma retrospectiva e também uma previsão sobre a colaboração e intercâmbio entre os órgãos judiciais dos dois territórios, especificamente no que concerne à criação de uma plataforma de cooperação entre os órgãos judiciários no âmbito da Grande Baía”. Chui Sai On lembrou que “a construção da Grande Baía é actualmente o assunto de maior destaque, salientando, porém, que a iniciativa envolve três sistemas legais diferentes, o que torna necessário um estudo sobre formas de cooperação”.

28 Jun 2019

Há novos regulamentos para centrais eléctricas e terminais de combustíveis

O Conselho do Executivo apresentou dois regulamentos administrativos com o intuito de reduzir emissões de dióxido de enxofre, óxido de nitrogénio e partículas para a atmosfera

 

[dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo apresentou ontem dois regulamentos administrativos para controlar emissões de poluentes atmosféricos para centrais termoeléctricas e terminais de combustíveis. Os detalhes técnicos não foram revelados nem por Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, nem pelo subdirector da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Ip Kuong Lam.

Segundo a apresentação feita, tanto o regulamento para as centrais termoeléctricas como para os terminais de combustíveis têm como objectivo controlar a poluição na fonte e obrigar as entidades responsáveis pelas instalações a seguirem critérios mais rigorosos. Em ambos os casos a entidade em causa é a Companhia de Electricidade de Macau (CEM). Além de ficar obrigada a cumprir requisitos face às emissões mais “restritos”, de acordo com as palavras de Ip Kuong Lam, a empresa tem de apresentar relatórios à DSPA sobre as emissões a cada seis meses, no caso da central eléctrica de Ká-Hó, e a cada ano, em relação aos terminais de combustíveis, localizado na mesma zona.

“O Governo tem adoptado por várias medidas para controlar a emissão de vários poluentes. Estamos empenhados em garantir a qualidade do ar de Macau, assim como a salvaguarda da saúde da população”, afirmou Leong Heng Teng.

No caso de incumprimento, os infractores ficam sujeitos a multas que podem ir das 200 mil às 400 mil patacas. O regulamento que incide sobre os terminais de combustíveis entra em vigor a 29 de Junho, enquanto que o que vai regular emissões das centrais termoeléctricas entram em vigor um ano depois da data da publicação oficial.

Padrões do Interior

Para a elaboração das exigências foram adoptados padrões do Interior da China, que Ip Kuong Lam explicou serem mais completos do que os utilizados na Europa. “Os padrões do Interior da China são mais globais e a exigência é mais rigorosa. Por isso, exigimos que seja utilizado o padrão adoptado no Interior da China”, apontou. Só no caso da central da CEM foram usados padrões das regiões vizinhas, uma vez que a Central A funciona a diesel, é mais antiga, e mais poluente.

Ainda no que diz respeito às centrais, o subdirector da DSPA explicou que os cortes vão afectar as emissões de dióxido de enxofre, óxido de nitrogénio e de partículas. “Se concretizarmos estes padrões podemos reduzir anualmente de 24 por cento a 64 por cento das emissões”, acrescentou.

Em relação aos terminais, Ip apontou que existe uma fuga de 1,2 por cento nos vapores da gasolina que também se espera que seja reduzida.

Os regulamentos administrativos apresentados ontem fazem parte de um processo que remonta a 2014, quando foi feita uma consulta pública sobre estes aspectos, e visam colmatar lacunas legais na emissão de partículas.

Contudo, Ip recusou que se tivesse demorado demasiado tempo para elaborar estes regulamentos e explicou que além da consulta houve estudos, equilíbrio de interesses das diferentes partes, entre outros aspectos. “O nosso trabalho nunca esteve parado”, garantiu.

28 Jun 2019

Ricardo Araújo Pereira, humorista: “Somos o único animal que ri”

Ricardo Araújo Pereira está em Macau para apresentar “Uma conversa sobre assuntos”. O primeiro espectáculo está marcado para amanhã, às 20h, na Torre de Macau e o segundo para domingo, no Instituto Politécnico de Macau, às 18h. Num encontro com jornalistas, o humorista português falou da importância do riso, das concepções de comédia ao longo da história e da única coisa sobre a qual não consegue fazer piadas

[dropcap]Q[/dropcap]uais as expectativas para os espectáculos aqui em Macau?
Não tenho expectativas nenhumas. Esta é a minha maneira de viver, e é boa porque assim nunca temos grandes desilusões e temos só surpresas. A primeira surpresa foi o facto do primeiro espectáculo ter esgotado e depois as pessoas terem feito uma segunda sessão. Foi muito simpático.

De que assuntos vai falar?
Depende das pessoas, vai haver microfones na sala e as pessoas vão fazendo perguntas. É assim que este espectáculo funciona: as pessoas perguntam-me coisas e depois eu respondo. É bom que tenham coisas para perguntar. Venho de outro continente, venho com muita sabedoria acumulada e é muito importante que as pessoas tenham curiosidade para saber coisas sobre assuntos em geral. É a primeira vez que faço este espectáculo fora de Portugal. As pessoas perguntam tudo sobre o que lhes apetece e é mesmo isso. Perguntam sobre o meu trabalho, sobre o Benfica, sobre as minhas filhas, como sou em casa, o que lhes apetecer.

Com nasceu este espectáculo?
Há dois anos houve em Portugal aqueles grandes incêndios. Estava em casa a ver aquilo e pensei que gostava de fazer alguma coisa. O problema é que eu não sei fazer nada. Isso prejudica muito a minha capacidade para ajudar. Falei com a minha amiga e agente para saber se podíamos fazer uma série de espectáculos gratuitos nas zonas afectadas pelo fogo. Fizemos uns 14 e a receita revertia a favor das vítimas, dos bombeiros, etc.. Basicamente, sou eu a tentar responder a perguntas de pessoas. Às vezes dizendo coisas que já escrevi, fingindo que me estão a ocorrer na altura.

Tendo em conta que a realidade de Macau não é bem a mesma da realidade portuguesa, como se preparou para este espectáculo?
Sim, sim. Estudei muito sobre a actualidade de Macau, perguntem o que quiserem. (risos). Ainda bem que me avisou.

Sobre o assunto China, como vê a ascensão do país na economia internacional e a guerra comercial que decorre com os Estados Unidos?
Aqui, em relação a Macau, fico surpreendido por estar a decorrer um banho turco contínuo. A sensação que tenho é que para vir até aqui ao consulado, estive a comer o ar até aqui chegar para poder passar. Não sei como se aguenta este banho turco constante. Eu fico encharcado em suor ao fim de 30 segundos fora do hotel. Em relação à China e à guerra comercial, não tenho nada para dizer sobre o assunto, mas conheço. Mas não faço ideia. Tenho algum receio de que seja inútil competir numa guerra comercial com a China. Eles fazem coisas muito depressa e muito baratas e, portanto, é capaz de ser difícil. É um país muito grande, e não sei se o facto de o regime chinês ser este, digamos que com um défice democrático, ajuda economicamente porque é mais fácil manter pessoas com salários baixos e tal. Nessa medida, é interessante que o Trump esteja também a tentar instituir um sistema destes no Estados Unidos. Uma coisa assim mais pobre pode ser a resposta adequada. Sou a favor da democracia, está bem?

FOTO: Sofia Margarida Mota

Qual é o papel do humor na análise da actualidade?
O papel do humor é fazer rir as pessoas. E há muitas pessoas que me perguntam: só? Acho que quem pergunta isso, em primeiro lugar nunca tentou fazer rir ninguém, e em segundo não está exactamente a ver o que é que o riso é. O riso é uma coisa demasiado importante para que as pessoas digam: “só?”. Para mim, o “só” fazer rir é a mesma coisa que dizer que aquilo entre o D. Pedro e a Dª. Inês era “só” amor. Ou parece que houve ali uma coisa entre 1939 e 1945 mas foi “só” uma guerra. O riso é muito importante, e é fascinante que os seres humanos riam. Acho extraordinário. Somos bichos que sabem que vão morrer, convivemos diariamente com essa informação e, portanto, é muito bizarro que seres nestas condições achem graça a seja o que for, que riam. Imagine que um condenado à morte está na sua cela e depois vai a andar até à cadeira eléctrica, e nesse percurso vai a rir à gargalhada. Acharíamos isso bizarro, absurdo. No entanto, isto é capaz de ser um bom resumo condensado do que é a nossa vida. Nós sabemos perfeitamente que vamos a caminho da cadeira eléctrica. É ainda mais aflitivo porque o condenado sabe exactamente qual é o dia em que vai ser frito e nós não. Pode ser agora. O certo é que vamos a rir no caminho. Há um humorista norte americano chamado Jack Douglas que tem um livro, a sua autobiografia, que se chama “Aconteceu-me uma coisa engraçada a caminho da campa”. Basicamente, é isso. Fazer rir as pessoas é uma coisa que me parece nobre até. Fico muito satisfeito que o papel do humor seja apenas esse, fazer rir. Às vezes, as pessoas têm a ideia, para mim errada, de que o humor consegue fazer coisas. Que consegue derrubar governos ou impedir acontecimentos. No humor político especificamente, pensam que tem algum poder sobre a realidade, que é capaz de impedir que certas coisas aconteçam, que o mal aconteça e o bem prevaleça. Acho que a eleição de Donald Trump indica que isso não é verdade. O candidato mais violentamente satirizado da história foi eleito. Isso significa que os humoristas não têm assim tanto poder político e ainda bem. Ficaria bastante preocupado se o sistema, se a democracia funcionasse de forma em que as pessoas iam às urnas, votavam e eu dizia que tinha uma piada muito boa e ia derrubar isso. Acho que aquilo que o humor faz, e já é muito, é fazer rir as pessoas.

Como é que é isto de aplicar o humor à realidade, que por vezes não tem grande piada?
A questão é essa. É justamente porque a realidade não tem piada que é necessário o humor. Eu duvido que no paraíso, se existir, alguém ria. A minha avó dizia-me sempre que só me ria do mal. Mas do que é que rimos mais a não ser do mal? Molière escreveu comédias sobre misantropos, hipocondríacos, gente com a mania das grandezas. Comédias sobre pessoas boazinhas não existem. Uma pessoa muito boazinha só tem graça se for tão boazinha que acaba por ser prejudicada. Aí já tem graça. As pessoas riem-se do que é mau, do que é triste, e do que é errado. E o facto de nos conseguirmos rir disso é importante, faz com que nos elevemos acima de nós próprios de um certo ponto de vista. Ser capaz de rir da sua própria desgraça, é vantajoso, reduz peso às coisas. Essa operação de subtração de peso parece-me muito importante. Em 2016, na altura do europeu de futebol um filósofo português chamado Cristiano Ronaldo, proferiu umas palavras célebres no fim do jogo entre Portugal e a Polónia em que íamos a penáltis. Ele falou com o João Moutinho e disse assim: “anda bater o penálti, se perdermos que se lixe” – ele até usou um verbo mais expressivo. Acho que esta atitude é melhor para ganhar do que a atitude do temos mesmo que ganhar. Claro que podemos argumentar que o Cristiano Ronaldo está em posição de dizer “se perdermos que se lixe”, mas mortais como nós não se podem dar a esse luxo. Mas acho que a questão é ao contrário. De facto, ganhamos mais, mais vezes e mais facilmente com a atitude do “que se lixe” do que com a atitude do “temos mesmo que ganhar”. O que a comédia faz é dotar as pessoas de uma espécie de atitude do “que se lixe”. Acho muito saudável. O programa que tenho feito a noite na TVI é sobre isso, é sobre a Assembleia da República, é sobre as comissões de inquérito e sobre o Governo, e acho muito saudável que uma sociedade possa rir-se dos seus dirigentes porque também lhes retira peso a eles e porque encurta a distância.

Esta capacidade de rir e amenizar os problemas políticos não limita a acção no sentido das pessoas não se mexerem para mudar as coisas?
Esse é um dos muitíssimos paradoxos da comédia. O que é que a sátira política faz? Critica. Ou seja, aponta o alvo e destrói-o ou homenageia-o. Isso é interessante. Quando faço pouco do primeiro ministro, estou a atingir o primeiro ministro ou estou a suavizar o mal que eventualmente ele faz às pessoas, a fazer com que elas digam que já estão mais aliviadas e já não vão para a rua tentar mudar isto? Toda a sátira implica um interesse pelo objecto satirizado. A minha questão é: será que o que nós, humoristas, fazemos tem poder? Eu não sou ingénuo ao ponto de dizer que não tem poder nenhum. Qualquer coisa dita publicamente tem a sua repercussão. A minha questão é? Qual a dimensão dessa repercussão? Acho que é muito menos do que o que as pessoas julgam e mais uma vez acho que isso foi provado no caso do Donald Trump. Já tinha sido provado antes. Houve ali uma altura entre a primeira e segunda eleição do George Bush Júnior em que o Jon Stewart era o principal comentador político dos EUA. Toda a gente dizia que ele era o grande crítico do Bush. O Bill O’Reilly, de direita, convidou-o para o seu programa na FOX e disse-lhe: “o que é triste é que vais ter uma influência nestas eleições” e estava danado com isso. Depois aconteceram as eleições e o Bush teve mais dois milhões de votos do que tinha tido para o primeiro mandato. É possível que as coisas tenham algum poder, duvido que seja muito grande e nós não o conseguimos controlar. A comédia é muito mais termómetro do que termóstato. Mede a temperatura em determinada altura, não a regula.

Os países não democráticos não encaram bem a sátira política. Mesmo que não tenha força é temida. Acha que esse papel da comédia é diferente consoante o regime político?
Quando digo isto as pessoas questionam o facto de nos regimes ditatoriais o humor ser das primeiras coisas a ser reprimidas. A minha resposta é: porque eles estão enganados. Eu não concordo com os ditadores. Acho que eles não têm grande coisa a temer sobre isso. Este é mais um dos paradoxos da comédia. Dizem que uma rainha poderosa de Inglaterra – Isabel I – tinha um bobo e que quando o chamava dizia para fazer piadas mais azedas sobre ela porque quanto mais azedo ele fosse à frente dela, mais ela podia dizer que tinha poder para permitir isso. Quando uma pessoa teme aquele tipo de manifestação significa que o seu poder não é assim tão grande. De facto, esses governos reprimem a comédia mas não conseguem fazê-lo. A comédia continua clandestinamente a funcionar. No regime soviético, por exemplo, havia várias piadas muito conhecidas e que iam mudando de país para país. Houve pessoas condenadas à morte por isso.

Ainda hoje, os sinos tocam a rebate numa determinada localidade germânica no dia da morte de um padre que foi morto por ter contado a seguinte anedota: “um soldado alemão está moribundo na guerra e faz o último pedido. Queria que lhe dessem uma fotografia do Hitler e outra do Goebbels. Toda a gente ficou comovida com o patriotismo daquele homem que queria ser enterrado com uma fotografia daqueles dois. O soldado acabou por dizer que queria ir como Jesus Cristo, com um ladrão de cada lado. O padre contou esta piada e foi morto. Mas há mais. Há muitas pessoas condenadas à morte por dizerem piadas. As pessoas iam aos tribunais que as julgavam por causa destas anedotas, eram sentenciadas por um juiz e no fim da audiência, o juiz ia para as traseiras do tribunal, para um bar, e contava as piadas que tinha julgado às pessoas que lá estavam. Mas comédia não é agressão. Há uma tendência perigosa e cada vez maior para se achar que uma piada é uma agressão. O que faço não é bater. Posso explicar a diferença a quem tiver dúvidas. Eu primeiro bato e depois digo uma piada muito desagradável e, em princípio, a diferença fica imediatamente clara. Há várias perspectivas sobre a comédia. Há uma que durou muito tempo, dois milénios, entre Platão e Hobbes, que diz que nos rimos por causa da súbita consciência de que somos superiores àquilo de que estamos a rir. O Thomas Hobbes criou a expressão “glória súbita” em que achamos que somos superiores àquilo de que estamos a rir. É uma manifestação agressiva de superioridade. Depois começa a haver críticas a essa perspectiva.

Há um tipo chamado Francis Hutcheson que tem uma perspectiva curiosa sobre o riso em que questiona este sentimento de superioridade. Se é esse sentimento de superioridade que nos dá vontade de rir, porque não vamos todos passar o domingo numa enfermaria a rir à gargalhada dos desgraçados que lá estão? Após estas críticas, o Kant e o Schopenhauer formularam uma outra teoria: rimos da incongruência, ou seja, aquilo que nos dá vontade de rir é o facto de termos uma expectativa desfeita. Somos o único animal que ri, dizem eles, porque somos o único que é impressionado pela diferença de como as coisas deviam ser e como são na verdade. E depois o Freud veio a seguir e disse: não é bem isso. O riso tem a mesma função no ser humano do que aquela válvula tem na panela de pressão, serve para aliviar. Olhamos para as três teorias e pensamos que se calhar cada uma delas descreve uma parte do processo, mas todas juntas não conseguem descrever a totalidade do processo. Aliás, Freud, mais tarde reformulou aquilo que pensava e disse que é de facto uma questão de superioridade, mas é mais complicada do que o que parece porque é uma superioridade minha sobre mim próprio. O que o humor faz é uma superioridade paternal do super-ego sobre o ego.

Entretanto, o humor tem substituído a informação em muitos programas. Com vê esta situação?
Sobre a substituição, vemos um programa do John Oliver e pensamos: mas porque é que os jornais não disseram isto? Normalmente, a resposta é: porque há mais dinheiro para o entretenimento do que para o jornalismo. Porque os programas de comédia têm um orçamento maior do que uma redacção de jornal. Há uma série de questões relativamente à comunicação social. Em Portugal isso e óbvio. Os grupos de media estão todos a despedir as pessoas que ganham mais e que são os jornalistas mais experientes, e as redações ficam nas mãos de pessoas que ganham 500 euros e que são mais fáceis de controlar por causa disso. E não há grande dinheiro para fazer coisas. Não é só o jornalismo clássico. O Facebook e o Instagram são a vitória ideológica das revistas cor-de-rosa, e a sua derrota comercial. Neste momento, duvido que haja paparazzi em Lisboa. Não é preciso andar atrás da Rita Pereira para saber onde ela anda e o que está a fazer. Ela põe as fotografias no seu Instagram, voluntariamente, e mostra como a vida privada dela esta a decorrer.

Já disse em alturas anteriores que não põe limites aos outros. A si, impõe?
Imponho-me um limite. Se não tiver nada para fazer rir as pessoas, não digo nada. Assim de repente, se há algum tema que nunca tenha abordado? Sim, há. É um tema sobre o qual não tenho nada de engraçado para dizer. Quando uma criança morre, eu calo-me.

28 Jun 2019

Conflitos que opõem EUA à China e Irão vão continuar, diz analista russo

Pedro Caldeira Rodrigues, agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap]s EUA vão evitar a intensificação dos conflitos que os opõem à China e ao Irão mas as duas crises não serão resolvidas em breve, referiu à Lusa Andrey Kortunov, diretor de um instituto diplomático e académico em Moscovo.

“Não creio que a disputa comercial entre os EUA e a China possa ser totalmente resolvida, porque as posições dos dois lados estão muito distantes”, assinalou o director-geral do Conselho de Assuntos Internacionais russo (Russian International Affairs Council, RAIC).

“Os EUA pretendem que a China restruture a sua economia e fique privada das vantagens comparativas que possui, e os chineses argumentam que para cumprir as exigências norte-americanas teriam de efectuar transformações muito significativas, com os elevados riscos políticos daí decorrentes”, considerou.

O analista admite “um cessar-fogo, ou uma trégua” porque nenhuma das partes pretende, de momento, uma escalada de um conflito com consequências globais. “Todos sabemos que uma verdadeira guerra comercial EUA-China conduziria a uma recessão mundial, que seria generalizada, mas provavelmente e neste caso, afectaria em particular os Estados Unidos”, disse.

O calendário eleitoral nos EUA pode ser determinante para esta contenção, após o Presidente norte-americano ter anunciado planos para a reeleição em 2020. Mas que poderá intensificar-se caso Donald Trump seja reeleito para a Casa Branca.

“Assim, admito de momento uma espécie conflito de baixa intensidade, com alguns compromissos e concessões, mas o problema não deverá ser resolvido em breve”, adiantou.

Numa referência às crescentes tensões entre Washington e Teerão, Andrey Kortunov considera que os riscos são mais elevados. “A política dos EUA face ao Irão tem apenas ‘paus mas não tem cenouras’. Não incentiva a liderança iraniana à moderação, incluindo a nível regional. Pelo contrário, reforça os grupos mais anti-ocidentais e mais radicais em Teerão, o que julgo ser um claro erro”, indica o investigador, interveniente na Conferência anual do Conselho Europeu de relações internacionais (European Council on Foreign Relations, ECFR), que decorreu entre terça-feira e hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

“Trump não está motivado para desencadear uma guerra, primeiro porque sendo um homem de negócios, em termos gerais não gosta de guerras. Para ele é um mau negócio, anunciou que os EUA vão retirar da Síria, do Afeganistão… Iniciar uma nova guerra com o Irão, e com a aproximação da campanha eleitoral para a Presidência, não seria para Trump uma jogada sensata”, antecipou.

O custo de um envolvimento militar no Irão implicaria “botas norte-americanas no terreno e mortes norte-americanas”, ressalvou. No entanto admite no imediato outras opções, que Washington já promoveu na região do Médio Oriente.

“Os EUA não pretendem interferir, pelo menos em larga escala, mas poderão atingir o Irão com mísseis, como por exemplo Trump atingiu por duas vezes a Síria com mísseis de cruzeiro. Mas excluindo uma operação terrestre em larga escala liderada pelas Forças armadas norte-americanas”, considerou.

A eventualidade de um conflito entre o Irão e alguns dos aliados dos EUA na região, como Israel ou a Arábia Saudita, poderia alterar a situação, mas sem o envio imediato de tropas.

“Nesse caso, decerto que os Estados Unidos vão fornecer todo o apoio possível aos seus aliados, incluindo diversos fornecimentos, informações, conselheiros, o que seja necessário. Mas sem um envolvimento directo em larga escala”, acrescentou.

Na perspectiva de Teerão, sustentou, o objectivo actual consiste em continuar a utilizar o Acordo de Viena sobre o programa nuclear [assinado em 2015 com as principais potências mas entretanto rejeitado pelos EUA] para envolver os europeus. E não considera que o Irão tenha planos imediatos para desenvolver armas nucleares.

“No entanto, o Irão possui programas balísticos, algo de sério, e muito bem-sucedido. Mas o perigo para os EUA e seus aliados na região não está limitado ao facto de o Irão obter tecnologias mais sofisticadas de sistemas balísticos”, destacou.

Um cenário que envolve directamente Israel, o principal aliado dos norte-americanos na região.
“Em Israel considera-se que o problema reside no facto de estas tecnologias poderem terminar nas mãos do Hezbollah [a poderosa milícia xiita no Líbano]. E no caso de um novo surto de violência, o Hezbollah poderá atingir Israel com armamento muito mais preciso, e de forma muito mais significativa que anteriormente”, afirmou.

O director-geral do RAIC sustenta que as eventuais negociações em torno da redução do programa balístico iraniano também poderão ser contrariadas por Teerão, e motivadas pelo seu principal rival regional, a Arábia Saudita.

“Os iranianos vão responder para se olhar para a Arábia Saudita e a forma como avançaram rapidamente nas suas capacidades balísticas. E os sauditas estão a trabalhar nesta área não apenas com os Estados Unidos mas também com os chineses, existe essa percepção”, disse.

Perante um cenário muito volátil, o Irão vai continuar a argumentar que a limitação das tecnologias balísticas, deverá abranger toda a região. “E incluindo nos países que não são propriamente amigos do Irão”, concluiu.

27 Jun 2019

Reunião “secreta” na AL violou lei, mas Plenário “lavou mais branco”

[dropcap]A[/dropcap] Comissão de Regimento e Mandatos da Assembleia Legislativa (AL) actuou à margem da lei quando marcou uma reunião sem ter avisado os restantes deputados, a 7 de Novembro do ano passado.

Contudo, o presidente da comissão, Kou Hoi In, que defende que a comissão actuou dentro da legalidade, devido a um voto favorável do Plenário, não conseguiu apontar o artigo que permite a marcação das reuniões “secretas” e falou da “prática habitual de vários anos”. O caso aconteceu ontem e a certo momento Kou deu por terminada a conferência de imprensa.

Segundo o artigo 46.º do regimento da AL, a convocação das reuniões das comissões tem de ser dada a conhecer “aos restantes Deputados”, ou seja, aos que não fazem parte da comissão em questão. Mas, não foi isso que aconteceu no dia 7 de Novembro, quando a comissão se estava a debruçar sobre dois protestos de Sulu Sou, relacionados com a alteração à lei de reunião e manifestação.

Ontem, após uma reunião para debater se o encontro polémico tinha cumprido as regras, Kou Hoi In afirmou ter seguido o artigo 77 do regimento, que define duas coisas. Em primeiro lugar que “cada comissão pode elaborar o seu regimento”. Em segundo que na ausência de regimento interno que se aplica “por analogia, o Regimento da Assembleia Legislativa”.

O presidente da comissão foi o primeiro a admitir que não há regimento interno. Mas, no seu entender, os membros presentes na reunião votaram sobre o procedimento dos trabalhos e aceitaram que a reunião prosseguisse sem conhecimento dos restantes.

O presidente defendeu ainda que é habitual que não se informem os deputados que não pertencem às comissões sobre reuniões técnicas. Porém, e apesar de dizer que a reunião foi técnica, Kou reconheceu que logo nesse dia se discutiu parte da decisão e que houve consensos que serviram de base para a decisão final.

Questionado sobre o artigo que permite que na ausência de um regimento se tome esta medida, Kou Hoi In voltou a mencionar o artigo 77 e disse já ter havido um voto no Plenário, dos outros deputados, que confirmam esta leitura: “O nosso entendimento foi confirmado pelo Plenário”, afirmou Kou. Nessa sessão de 6 de Junho, apenas Sulu Sou, José Pereira Coutinho, Au Kam San e Ng Kuok Cheong se opuseram a esta leitura.

Kou foi ainda questionado se uma votação do Plenário está acima da lei e se pode contrariar as regras que se aplicam aos deputados: “Foi a decisão do Plenário. O nosso entendimento foi confirmado pelo Plenário”, reiterou.

Queixas de deputados

No final da conferência de imprensa, Sulu Sou falou com os jornalistas e considerou que a leitura é errada: “Não é aceitável que as tradições fiquem acima do que está escrito na lei”, justificou. O pró-democrata disse também que a conduta do presidente da comissão “mostra quem está interessado em obedecer e proteger a lei”.

Também José Pereira Coutinho contestou a leitura do presidente da comissão e revelou que a reunião tinha começado com uma assessora a dizer aos deputados que era fundamental que o conteúdo interno não fosse tornado público. “Para mim, não há reuniões confidenciais e secretas e não recebo nenhuma instrução ou indicações nesse sentido”, afirmou, no final, ao HM.

27 Jun 2019