Hoje Macau China / ÁsiaChina reconhece que surto de peste suína nacional é “muito grave” [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês reconheceu hoje que o país vive uma situação “muito grave”, com surtos de peste suína em várias províncias, que resultaram já no abatimento de centenas de milhares de porcos infectados. “A situação da prevenção e controlo da peste suína africana é muito grave. O surto alastrou-se a 17 províncias e atingiu vastas áreas de criação de porcos, no interior do Sul da China”, afirma o ministério chinês da Agricultura e Assuntos Rurais, em comunicado hoje difundido. O documento, que é também assinado pelos ministérios dos Transportes e da Segurança Pública, aponta o transporte de animais entre províncias como a causa do alastrar da doença, e apela às autoridades locais que reforcem a supervisão. Serão estabelecidos postos de controlo para “inspeccionar de forma rigorosa” todos os veículos que transportam animais vivos, visando acabar com a “distribuição ilegal”. “Os departamentos de pecuária e veterinária devem reforçar a investigação e punições sobre actos ilegais, como transporte de porcos sem certificado de quarentena (…) e romper com a cadeia de tráfico ilegal”, afirma. A doença afecta porcos e javalis, mas não é transmissível aos seres humanos. No entanto, coloca em risco o mercado chinês, que produz anualmente 700 milhões de porcos. A carne daquele animal é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60% do total do consumo de proteína animal no país. Os surtos levaram já ao abatimento de “centenas de milhares” de porcos, segundo a imprensa chinesa.
Hoje Macau China / ÁsiaResponsável pela cibersegurança do Japão admite que não utiliza computador [dropcap]O[/dropcap] ministro japonês responsável pela cibersegurança do país admitiu não utilizar o computador na sua actividade profissional, uma afirmação que provocou risos entre os parlamentares da oposição. “Desde os 25 anos, sempre pedi aos meus secretários e assessores, por isso nunca utilizei um computador”, admitiu Yoshitaka Sakurada, na quarta-feira durante uma sessão parlamentar. Yoshitaka Sakurada, de 68 anos, é vice-chefe da unidade de estratégia de segurança de computadores do governo e também ministro dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que Tóquio está organizará em 2020. O ministro nipónico não foi capaz de responder a várias perguntas feitas pelos deputados sobre o uso de materiais tecnológicos na cibersegurança do país. “É incrível que alguém que nunca tenha tocado num computador seja responsável pela política de segurança de informação”, afirmou o deputado da oposição Masato Imai.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCheques pecuniários | 10 mil para residentes permanentes, 6 mil para não permanentes [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo anunciou esta tarde na Assembleia Legislativa (AL) que o programa de comparticipação pecuniária vai registar aumentos nos valores dos cheques. No próximo ano um residente permanente vai passar a ganhar 10 mil patacas do Governo ao invés das actuais nove mil, enquanto que um residente não permanente passa a ganhar seis mil patacas, face às actuais 5.400 patacas. Na prática, regista-se um maior aumento do montante para residentes permanentes, no valor de mil patacas, face ao aumento decidido para portadores de bilhete de identidade de residente não permanente, que é de apenas 600 patacas. A TDM Rádio Macau já tinha noticiado ontem a probabilidade de Chui Sai On anunciar um aumento dos cheques de comparticipação pecuniária, uma medida do Governo para apoiar financeiramente os residentes tendo em conta a inflação e os elevados valores dos imóveis.
João Santos Filipe Desporto Grande Prémio de Macau MancheteAcidentes nas motos marcam manhã do Grande Prémio [dropcap]A[/dropcap] primeira manhã da 65.ª edição do Grande Prémio de Macau ficou marcada pelos acidentes dos motociclistas Raul Torras e Andrew Dudgeon. O espanhol de 42 anos foi o segundo a cair, mas é o piloto que apresenta lesões mais graves. Torras perdeu o controlo da mota na Curva do Mandarim Oriental, embateu a grande velocidade contra as barreiras e sofreu uma hemorragia intracraniana. A organização não revelou a dimensão das lesões, o que não permite apurar se é o estado de saúde do piloto é muito grave. Contudo, o motociclista de 42 anos vai ficar em observação. No momento em que foi salvo pelas equipas no local, Raul Torras apresentou perdas de consciência momentânea e dores na clavícula direita. O acidente acabou por ser o mais aparatoso, não só devido ao embate, mas também pelo facto da mota ter ficado em chamas. Devido a este acidente, Torras já está fora do Grande Prémio. Por sua vez, Andrew Dudgeon caiu na primeira curva do circuito, durante momentos iniciais da sessão, quando rodava ao nível dos pilotos mais rápidos. O piloto de 30 anos, que está pelo quarto ano consecutivo em Macau, apresenta como lesões uma fractura da vértebra lombar L2 e teve de ser operado. A lesão não implica problemas de maior medula espinhal.
Hoje Macau DesportoSelecção portuguesa de futebol treina e viaja até Milão [dropcap]A[/dropcap] selecção portuguesa de futebol volta hoje a treinar na Cidade do Futebol, em Oeiras, e durante a tarde viaja até Milão, onde no sábado vai defrontar a Itália, em jogo da Liga das Nações. Portugal tem uma sessão agendada para as 10h30, a última em solo luso antes do duelo com os transalpinos, com os primeiros 15 minutos a serem abertos à comunicação social. Antes, às 10h00, um jogador ainda a designar irá falar aos jornalistas em conferência de imprensa, igualmente na Cidade do Futebol. Esta quarta-feira o seleccionador Fernando Santos teve todos os 24 jogadores convocados à sua disposição. Após o almoço, às 14h30, a comitiva lusa viaja até Milão, cidade que no sábado vai receber, em San Siro, o encontro da grupo 3 da Liga A da Liga das Nações. Portugal necessita apenas um empate para se qualificar para a ‘final four’ da competição, mas mesmo uma derrota em Milão poderá ser retificada três dias mais tarde, em 20 de Novembro, quando receber a lanterna-vermelha e já despromovida Polónia, em Guimarães.
Hoje Macau China / ÁsiaHuman Rights Watch apela a Hong Kong que retire acusações a líderes pró-democracia [dropcap]A[/dropcap] organização não-governamental Human Rights Watch apelou às autoridades de Hong Kong que suspendam as acusações sobre nove líderes das manifestações pró-democracia de 2014, do movimento apelidado de “guardas-chuva amarelos”, que vão a julgamento na próxima segunda-feira, dia 19. Para a organização de defesa dos direitos humanos a repressão do Governo e os processos subsequentes de acusações aos activistas, após as manifestações que ocorreram entre 28 de setembro e 15 de dezembro de 2014, violaram os direitos de reunião pacífica e as liberdades de associação e expressão garantidas pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), que se aplica em Hong Kong. “Essas nove pessoas não fizeram nada além de pressionar pacificamente o Governo de Hong Kong a cumprir a sua obrigação de entregar uma democracia genuína às pessoas no território”, disse a directora da Human Rights Watch (HRW) para a China, Sophie Richardson. “Esses processos levantam outras questões sobre as iniciativas das autoridades de Hong Kong para politizar os tribunais”, denunciou Sophie Richardson. Os réus são os co-fundadores do movimento “guardas-chuva amarelos” (Umbrella Movement) Benny Tai (professor da Faculdade de Direito da Universidade de Hong Kong), Chan Kin-man e Rev Chu Yiu-ming, os deputados Tanya Chan e Shiu Ka-chun, o activista político Raphael Wong, os ex-líderes estudantis Tommy Cheung e Eason Chung e o ex-deputado Lee Wing-tat. Os nove enfrentam várias acusações criminais, incluindo “incitação para cometer distúrbios públicos”, sendo que os três co-fundadores enfrentam uma acusação adicional de “conspiração para cometer distúrbios públicos” e podem ser condenados até sete anos de prisão. De acordo com a HRW, após as manifestações, cerca de 200 manifestantes foram acusados por terem participado nas manifestações e dezenas destes foram condenados a crimes como reunião ilegal, posse de arma ofensiva e agressão comum. Três líderes estudantis – Joshua Wong, Alex Chow e Nathan Law – também foram condenados em 2016 por reunião ilegal e incitamento à violência. Chow recebeu uma sentença de três semanas com uma suspensão de um ano, enquanto Wong e Law receberam ordens para realizarem serviço comunitário de 80 horas e 120 horas, respectivamente. Durante mais de dois meses, centenas de milhares de pessoas paralisaram quarteirões inteiros da cidade para exigir um verdadeiro sufrágio universal. Mas Pequim não recuou. Os manifestantes treparam pelas barreiras metálicas e entraram na Civic Square, uma praça situada num complexo governamental. Esta acção desencadeou manifestações mais importantes e dois dias mais tarde teria início o movimento pró-democracia, quando a polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que se protegeu com guarda-chuvas. “Desde o movimento “guardas-chuva amarelos”, os governos de Hong Kong e da China têm restringido cada vez mais as liberdades civis daqueles que estavam envolvidos nos protestos”, sublinhou a HRW. Recentemente, o cancelamento de eventos literários e artísticos e a recusa em permitir a entrada de um jornalista do Financial Times em Hong Kong reacenderam a preocupação com a liberdade de expressão naquele território administrado pela China.
Hoje Macau InternacionalAcordo do ‘Brexit’ é muito satisfatório e Portugal foi dos que mais batalharam, diz MNE português [dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que o rascunho do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia é “muito satisfatório” e afirmou que Portugal foi “daqueles que mais batalharam” para este resultado. “O acordo é bastante satisfatório do meu ponto de vista e, sobretudo, é muito satisfatório do ponto de vista dos interesses de Portugal”, declarou Augusto Santos Silva à agência Lusa e à Antena 1, à margem da 26.ª Cimeira Ibero-Americana, em Antigua, na Guatemala. Segundo o ministro, o rascunho do acordo alcançado “resolve de forma muitíssimo razoável a questão dos direitos dos cidadãos” e, por outro lado, “garante que os compromissos financeiros do Reino Unido são honrados pelo Reino Unido até ao fim deste quadro financeiro plurianual”. Além disso, é um acordo positivo porque “permite respeitar as indicações geográficas de origem” e porque evita “criar um problema na Irlanda do Norte”, considerou. “O facto de o Governo britânico ter endossado esse acordo é de bom augúrio para o que é preciso fazer agora. O Conselho Europeu tem de validar o acordo. O parlamento britânico tem de aprová-lo. A seguir, o Conselho e o Parlamento Europeu têm também de aprová-lo”, referiu. Augusto Santos Silva afirmou que “Portugal esteve do lado daqueles que mais batalharam para que houvesse acordo”. De seguida, há que fazer “um trabalho suplementar”, que consiste em “examinar com cuidado um texto que tem 586 páginas”, para que “os chefes de Estado e de Governo, quando reunirem, tenham toda a informação para poderem decidir”, acrescentou. O ministro salientou que, havendo acordo, é assegurado “um período de transição que vai até ao fim de 2020, em que, na prática, tudo continua como dantes, excepto a participação do Reino Unido nas decisões europeias”, que dá tempo para se preparar e negociar o futuro relacionamento entre as duas partes. “Livra-nos de ter de acudir em emergência, em contingência, a problemas muito práticos e muito difíceis que ocorreriam se no dia 30 de Março de 2019 o Reino Unido já não fizesse parte da União Europeia, já não se aplicando nenhuma das regras europeias e o Reino Unido estivesse fora automaticamente dos 750 tratados e acordos internacionais de que é parte enquanto membro da União Europeia”, apontou. Questionado se já não há forma de voltar atrás, o ministro dos Negócios Estrangeiros respondeu: “Eu sou um democrata e, portanto, não posso falar como se o parlamento britânico já tivesse tomado a sua decisão e como se o Parlamento Europeu já tivesse tomado a sua decisão”. “Agora, evidentemente que, do lado dos 27 [Estados-membros da União Europeia], para nós a negociação está concluída. Portanto, o Reino Unido agora faz os seus processos internos de aprovação de um acordo que do nosso ponto de vista está tecnicamente concluído”, completou.
Hoje Macau EventosGuia Michelin regressa a Macau em Dezembro para lançar 11.ª edição Hong Kong Macau [dropcap]O[/dropcap] lançamento da 11.ª edição do Guia Michelin Hong Kong Macau vai realizar-se a 11 de Dezembro, em Macau, anunciou a organização. Depois da edição de 2017, também apresentada em Macau, o guia vai mostrar “mais uma vez a força e a qualidade da cena culinária local”, de acordo com um comunicado. O Guia Michelin Hong Kong Macau foi lançado em 2009 e a edição passada atribuiu classificações a 18 dos 65 restaurantes referenciados em Macau. Em Hong Kong, o Guia incluiu 227 restaurantes. Na apresentação da edição de 2017, o director internacional dos Guias Michelin, Michael Ellis, manifestou a sua satisfação pela vitalidade da actividade culinária. “Dez anos após a primeira selecção para Hong Kong e Macau, estamos satisfeitos por verificar a vitalidade da actividade culinária: o número de restaurantes com estrelas triplicou”, disse. O responsável destacou a “identidade única de Macau, um cruzamento entre Ocidente e Oriente, especialmente reflectida na cozinha macaense”.
Hoje Macau EventosPrimeiro álbum de João Caetano “Rhythm & Fado” com estreia no London Jazz Festival [dropcap]O[/dropcap] primeiro álbum do percussionista e cantor João Caetano, “Rhythm & Fado”, uma “miscigenação do fado português com o jazz de Londres”, vai ser apresentado no London Jazz Festival, no próximo dia 21 de Novembro. “Há uma miscigenação do fado português com o jazz aqui de Londres, onde vivo e passo a maior parte do meu tempo, mas também há elementos da música chinesa, porque nasci em Macau e essas influências estão sempre retratadas na minha música”, afirmou à Lusa. O álbum de estreia, com “mais referências ao jazz e mais maduro”, explora diferentes dimensões musicais, com diversos instrumentos, e conta com a participação de músicos e guitarristas portugueses como Ângelo Freire, André Dias e Diogo Clemente. Os 13 temas, incluindo um fado original e arranjos de canções de Toquinho e Vinicius de Moraes, vão ser apresentados pela primeira vez na capital britânica, no London Jazz Festival, o verdadeiro “pontapé de saída”. Ao restante público, o músico vai dar a conhecer, a partir dessa data, apenas um tema por semana. Uma escolha, lembrou, que se prende com a “realidade da música hoje em dia” e com o “envolvimento das redes sociais”. “Este lançamento ‘online’ tem a ver com a realidade da música hoje em dia, que eu conheço e que estou envolvido também. Vou lançar o álbum em duas partes: a primeira parte até 2 de Janeiro e a segunda um pouco depois, ainda no primeiro trimestre de 2019”, disse. A vontade de apresentar o álbum em Portugal e em Macau, onde nasceu e cresceu, é enorme. Mas, sublinhou, “está a trabalhar para ser apresentado no mundo inteiro”. O projecto tem o apoio do Instituto Cultural de Macau, um apoio que o músico vê como “muito importante” para si e outros jovens do território, onde ainda não existe uma “indústria desenvolvida nesse aspeto”. “Já saí de Macau há anos, mas tenho fortes relações com Macau. É muito bom poder representar e dar a conhecer Macau noutras vertentes que não seja só o jogo”, disse. Com um percurso musical amplo e variado, João Caetano é percussionista há oito anos da banda de jazz britânica Incognito.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO Brasil retorna a 1964 ou talvez não “I went to a Quilombo (territory inhabited by Afro-Brazilian descendants of escaped slaves). The lightest Afro-descendant weighed seven arrobas (around 225 pounds). They do nothing. I think they don’t even serve to procreate. Over US$245 million is spent on them every year. … There will be not one centimeter for an Indigenous reserve or for a Quilombola.” Jair Bolsonaro [dropcap]O[/dropcap] Brasil elegeu o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, como presidente na segunda volta das eleições, realizadas a 28 de Outubro de 2018 que tinha por lema “Brasil Acima de Tudo e Deus Acima de Todos”. O “Trump do Brasil” que elogiou a ditadura e prometeu uma “limpeza” dos seus opositores políticos liderará a quarta maior democracia do mundo. A ascensão de movimentos e partidos de direita em todo o mundo deram um salto gigantesco e perigoso, quando Jair Bolsonaro venceu as eleições presidenciais. O presidente eleito era um deputado federal do Rio de Janeiro que anteriormente serviu como oficial do Exército, apoiante da ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, e que expressou múltiplas vezes o seu gosto por autoritários do passado e do presente, e que derrotou com 55,13 por cento dos votos, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que obteve 44,87 por cento dos votos. O presidente eleito e Haddad enfrentaram-se, por terem sido os dois candidatos mais votados na primeira volta das eleições realizada a 7 de Outubro de 2018, quando Bolsonaro ficou aquém da maioria, com 46,16 por cento dos votos. A sua vitória colocará o Brasil e a maior democracia da América do Sul, nas mãos de uma figura de extrema-direita que manifestou pouco apreço pela governança democrática e sempre procurou uma retórica violenta contra os brasileiros negros, pessoas LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros ou que questionam a sua identidade sexual), mulheres e povos indígenas. O presidente eleito foi esfaqueado durante um evento da campanha eleitoral, na cidade de Juiz de Fora, a 6 de Setembro de 2018, que lhe causou três perfurações no intestino delgado e uma lesão grave e extensa no intestino grosso, tendo sido submetido a duas intervenções cirúrgicas, e passou a maior parte dos últimos dois meses da campanha em um leito de hospital, devendo tomar posse a 1 de Janeiro de 2019, assumindo os destinos de um país sitiado e descontente. O Brasil nos últimos quatro anos, viveu uma profunda recessão económica, um aumento acentuado dos crimes violentos de que resultaram sessenta mil homicídios por ano, tantos ou mais que as mortes anuais da guerra na Síria e uma ampla investigação de corrupção política que envolveu centenas de políticos. O Brasil foi assaltado por perturbações e escândalos políticos desde as eleições de 2014, como a da ex-presidente Dilma Roussef, que foi destituída, a 31 de Agosto de 2016, pois o Senado aprovou o “impeachment” por 61 votos favoráveis e 20 contrários, tendo assumido a presidência o actual presidente Michel Temer, ex-vice-presidente, bem como do outro ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi preso a 18 de Abril de 2018 por corrupção. É de realçar que o actual presidente, Michel Temer, foi também ligado a um esquema de suborno político. O descontentamento resultante para com os partidos políticos que detêm a maior parte do poder e da influência no Estado, e especialmente o PT, de esquerda, corroeu a fé entre o eleitorado e abriu o caminho para um candidato como Jair Bolsonaro, que se apresentou como um libertador que poderia “salvar” o Brasil. Todavia, ao invés de parecer querer resolver os problemas do país, durante a campanha eleitoral continuou com as suas mais duras propostas e retórica, apesar de existir uma diminuta probabilidade de governar como um neofascista, mesmo tendo prometido “limpar” o Brasil dos seus oponentes à esquerda. O presidente eleito poderia em breve oferecer uma lição dura sobre como o fracasso da elite e o descontentamento político podem causar o colapso da democracia moderna. A directora de estudos latino-americanos da Universidade Johns Hopkins afirmou que era um ditador, o que é difícil de se tornar realidade, dado o sistema constitucional brasileiro o não permitir, apesar de na Câmara de Deputados ter trezentos deputados aliados e a maioria das matérias exige maioria simples para aprovação, ou seja metade dos deputados, mais um, devendo votar pelo menos duzentos e cinquenta e sete deputados de um total de quinhentos e treze deputados. A votação para as mesmas matérias exige a aprovação de quarenta e um senadores dos oitenta e um senadores que constituem o Senado, sendo que apesar da indefinição, a oposição mais firme é dos partidos de esquerda que somam dezassete senadores. As alterações à Constituição necessitam do apoio de três quintos das duas Câmaras, ou seja trezentos e oito votos na Câmara de Deputados e quarenta e nove votos no Senado. A ascensão de Jair Bolsonaro ao poder foi inspirada e modelada a partir da ascensão de líderes semelhantes na Europa e nos Estados Unidos, tendo usado a média social para dar uma reviravolta pelas fontes da média tradicional do Brasil, que denunciou como “notícias falsas”, mesmo quando a sua campanha e apoiantes usaram o “WhatsApp” e “Facebook” para espalhar rumores sem base e relatos sobre os seus oponentes. Jair Bolsonaro conduziu uma campanha nacionalista baseada na identidade que promoveu e prosperou a reacção racial e social, particularmente contra o PT e as populações mais marginalizadas do Brasil, tendo prometido parar de “mimar” os grupos como os LGBTQ e brasileiros negros e libertar o país de “ideologias estrangeiras”, por referência aos esquerdistas de qualquer cor, tipo e variedade. O presidente eleito beneficiou da sua posição como candidato mais forte para os brasileiros à procura de uma alternativa ao PT, que ocupou a presidência de 2003 a 2016 sob o comando de Lula e Dilma. O PT orientou a explosão económica do Brasil durante o mandato de Lula e o colapso durante os mandatos de Dilma. Os problemas económicos do país e as ligações do PT à corrupção, incluindo a condenação de 2017 de Lula por suborno, minaram a confiança na capacidade do PT de governar e inspirar forte oposição e o seu potencial retorno ao governo. Ainda assim, Lula liderou as pesquisas pré-eleitorais durante a maior parte de 2017, antes de ser proibido de concorrer devido à acusação de corrupção. Fernando Haddad, substituiu Lula como candidato presidencial pelo PT, tendo os partidos de centro-direita sido esmagados pelos seus próprios problemas de corrupção e envolvimento com a impopular coligação do governo de Michel Temer. O actual presidente e o centro-direita tentaram adoptar algumas das políticas da linha dura defendidas por Jair Bolsonaro sobre a violência que eram factores fundamentais na eleição. O presidente eleito obteve apoio de quase todo o espectro político e social do Brasil, dado a maioria dos brasileiros estarem cansados da corrupção e com medo da violência. Mas o seu apoio mais forte, veio de um crescente movimento evangélico conservador que compartilha a sua visão sobre as questões sociais e das elites financeiras e empresariais, ainda que alguns líderes religiosos sejam detentores de fortunas inexplicáveis. Tais apoios foram influenciados pela sua oposição às políticas económicas do PT e pelo suposto apoio de Bolsonaro à sua abordagem preferencial à economia de mercado. As elites financeiras e empresariais, no entanto, provavelmente não enfrentarão o resultado mais duro e previsível da vitória, como a maior violência política. O presidente eleito prometeu militarizar ainda mais a segurança pública e entregar à polícia, que é das mais mortais do mundo, “carta-branca” para matar supostos criminosos, à semelhança do presidente Rodrigo Duterte nas Filipinas no seu tresloucado combate ao consumo de drogas e narcotráfico. Tal poderá exacerbar uma guerra às drogas em que a esmagadora maioria das vítimas de homicídios e assassinatos cometidos pela polícia são jovens negros. Alguns activistas brasileiros consideraram a violência como um “genocídio negro”. A sua retórica contra as mulheres, as pessoas LGBTQ e as ameaças de reverter a sua protecção, também só poderão vir a piorar a situação desses grupos, em um país que sofre altos níveis de feminicídio e violência anti-gay. O presidente eleito denominou a era de ditadura militar do Brasil de “período glorioso”, e o seu companheiro de eleição e vice-presidente eleito é um general aposentado do Exército, que se recusou a rejeitar o possível retorno do regime militar. Jair Bolsonaro tem uma longa história de defesa da violência contra os seus adversários políticos, e nos dias que antecederam a eleição, afirmou que o país seria palco de uma “limpeza nunca antes vista no Brasil. ” Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral referiu que os defensores da esquerda, “podem sair ou ir para a cadeia” e no mesmo discurso, ameaçou aprisionar Fernando Haddad, encerrar organizações de direitos humanos, prender líderes de outros importantes movimentos esquerdistas e retirar fundos da Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do Brasil. Apesar das comparações com Trump, Bolsonaro, é mais parecido com o presidente filipino, Rodrigo Duterte, cuja expansão mortal da guerra às drogas no país, levou a cerca de vinte mil assassinatos extrajudiciais às mãos das autoridades. Mas apesar dos protestos generalizados de oposição nas últimas semanas que antecederam as eleições, Bolsonaro pode ter apoio para as suas políticas domésticas. O Brasil apresenta a maior tolerância ao conceito de autoritarismo e mais apoio à violência policial e estatal que a maioria dos seus vizinhos democráticos, e muitos dos eleitores continuam não convencidos ou indiferentes à retórica violenta e antidemocrática de Bolsonaro. O pequeno Partido Socialista Liberal, de direita, de Bolsonaro, ganhou cinquenta e dois deputados nas eleições, tendo elegido apenas um deputado nas eleições anteriores. Os seus aliados foram projectados para ganhar os principais governos e as eleições estaduais. As implicações da vitória de Bolsonaro estender-se-ão muito além das fronteiras brasileiras. As suas propostas para encerrar instituições ambientais e abrir a floresta amazónica destinando a interesses agrícolas e de mineração, poderão ter efeitos devastadores na luta global contra as alterações climáticas e devido ao tamanho e influência do país no mundo, a ascensão de um autoritário de direita poderá ser um sinal claro de que a democracia liberal está a enfrentar uma crise global em grande escala. O cientista político de Harvard, Steven Levitsky acerca da eleição de Bolsonaro afirma não aceitar a ideia de o Brasil sofrer uma erosão democrática e de se poder entrar em uma recessão democrática global. A acção governativa de Bolsonaro num Brasil em profunda crise ética, moral e fiscal e cujas grandes ideias se encontram no seu programa político, será musculado, dando à justiça e à segurança pública a maior autoridade possível, a bem da dignidade há muito perdida e que sirva de encorajamento no combate acirrado que vai reforçar contra a violência e a corrupção. Tal directriz é confirmada pelo do convite endereçado ao juiz Sérgio Moro, figura central da “Operação Lava Jato (OLJ)” que aceitou ser um super ministro, ocupando as áreas da justiça e da segurança pública e que pretende levar o modelo da OLJ onde para o combate ao crime, corrupção e privilégios que terão tolerância zero. A violência verbal intimidativa durante as eleições será posta de parte e a acção política seguirá as regras democráticas de defesa das leis e obediência à Constituição pelo que a politização das forças armadas e a militarização do governo, bem como uma revisão da constituição que atribua mais poderes presidenciais e permitam um autoritarismo com emprego de métodos ditatoriais, também não são possíveis pela fragmentação política no Congresso Nacional. O governo será liberal democrata, assente no liberalismo que reduz a inflação, baixa os juros, eleva a confiança e os investimentos, gera crescimento, emprego e oportunidades. A segurança, saúde e educação onde cinquenta e um milhões e seiscentos mil jovens dos catorze aos vinte e nove anos de idade não completaram o ensino médio, serão as prioridades. A economia de mercado é maior instrumento como fonte de rendimento, emprego, prosperidade e inclusão social. O novo governo herda um deficit primário elevado de cento e cinquenta e nove mil milhões de reais, sendo o deficit nominal para 2019, incluindo os juros de quatrocentos e oitenta e nove mil milhões de reais que representam 6,5 por cento do PIB, gastando anualmente um Plano Mashall, que reconstruiu a Europa após a II Guerra Mundial, bem como uma situação fiscal explosiva, baixo crescimento e elevado desemprego, sendo outras das prioridades inverter a situação pelo equilíbrio das contas públicas. É de crer que o presidente eleito irá durante o seu governo manter uma relação amistosa com os demais países, apesar do alinhamento com os Estados Unidos, poder alimentar as forças de direita e extrema-direita na região, principalmente na oposição à Venezuela e outros países com ideologias de esquerda. Todavia, deve proceder a uma maior abertura do comércio internacional. O investimento chinês sem ser predatório e a política de cooperação com a República Popular da China são demasiado importantes para o Brasil, e não é de acreditar em turbulência assinalável.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasO futuro de Speedy González e do gato Sylvester [dropcap]H[/dropcap]á pouco mais de um mês, o festival literário “Fólio” deu, mais uma vez, abertura ao Outono e à rentrée (não apenas literária). Podia ter sido outro o jogo e o terreno de jogo, mas este desejo de marcar o tempo e de o reiniciar é irresistível. O que nos faz saudar os recomeços é o mesmo que leva um gato com dezasseis anos a mamar no meu pulso, macerando a epiderme. Aquilo que advém tem sempre sinal (ou insídia) de coisa que permanece, ou que antes, de alguma maneira, já teria sido instilada ou mesmo experienciada. Para a mesa em que participei, redigi um texto que acabei por não ler. Nesse texto tentei predizer o que seria o “Fólio” daqui a 130 anos. Já se sabe que prever é sacudir inferências: um pouco como abrir a toalha na varanda para a livrar dos vestígios da refeição. O linho mais puro convida inevitavelmente ao desalinho. Daí que, no meu exercício oracular, eu tenha chegado a algumas conclusões que agora reato e reelaboro (com o devido colorau) e que dizem respeito à velocidade, à tecnologia e ainda ao que nos parece ser sempre um dado adquirido (incluindo aqui a nossa pegada simbólica). Juntando-as todas ao jeito de um trevo de muitas folhas, dir-se-ia que Speedy González se há-de transformar, um dia, no queijo que sempre perseguiu, mas sem deixar de ter no gato Sylvester uma referência segura. Comecemos pela velocidade evocando um filme de Marcel L´Herbier, A desumana (L´Inhumaine, 1924), que celebrou o tema através da sucessão de planos de um automóvel que ia originando mudanças de forma no rosto do condutor, na viatura e na paisagem. Uma explosão de design incorporada numa obra de arte (curiosamente, uma arte ainda à procura de si própria – o ‘film d´art’ dava então os primeiros passos). É um facto que todas as linguagens com que nos habituámos a viver nos últimos quatro milénios são de base analógica, das argilas do Gilgamesh a Marcel L´Herbier, e não estão preparadas para significar a aceleração virtual da vida que está em curso no planeta. Em 2148, o design já não explodirá, pois a explosão já terá encontrado uma morfologia adequada para serenamente respirar. É verdade: Speedy González e o queijo serão nessa altura um único ser, coisa híbrida e boa de se ver. Passemos à possibilidade de uma nova tecno-antropologia, coisa que não é novidade pois a ficção científica já imergiu, há muito, nesse tipo de mundos. O que hoje é um simples bypass será amanhã uma incorporação tecnológica em espaços da mente que nos permitirão fazer novas perguntas e permeabilizar o ser a novas realidades. O teletransporte e a corporeidade estarão de certeza no centro dessa operação. O chapéu largo de Speedy González tornar-se-á numa espécie de anel de saturno polvilhado de software açucarado. Continuemos o diagnóstico, dando agora atenção àquelas conformidades que parecem sempre adquiridas e ilusoriamente eternas: vai ser muito difícil explicar no Fólio do Outono de 2148 aquilo que aprendemos a designar por “ficção” e por “realidade” (nos mitos antigos, tal separação não existia). Deparar-nos-emos com a mesma dificuldade com que, hoje em dia, se tenta explicar o que era a “pneuma” para os estóicos (força vital que perpassa todos os corpos do cosmos, mantendo-os unificados e conferindo-lhe qualidades). Speedy González já nem se lembrará, daqui a 130 anos, do que eram dantes os resorts do México, quanto mais do rosto oval de Frida Kahlo quando – nem ela própria…o imaginaria – era um ícone da pop. Por fim, estou em crer que o chicote e o gancho que surgem esculpidos no túmulo de Tutankámon terão a sua sequência lógica no futuro. Será difícil o humano, mesmo inseminado pela destreza dos chips, desprender-se do seu cariz simbólico. E. Cassirer caracterizou o dado simbólico como algo singular e sensível que, sem deixar de ser o que é, adquire a força de apresentar à consciência imagens universalmente válidas. Esta transposição que nos permite ser e superarmo-nos ao mesmo tempo, prendendo a ilusão a uma possível consecução é parte íntima do humano. É por isso que o nosso olhar é reflexivo e projectivo, pois incorpora sempre o olhar do outro, o olhar do mundo que nos atiça, define e interpela. Podemos desejar esperando e podemos desejar reivindicando-o instantaneamente. De uma maneira ou de outra, enquanto existirem humanos, ‘eu’ serei sempre ‘eu’ no mundo. Isto é: não haverá Speedy González sem Pancho Vanilla e sobretudo sem o temível gato Sylvester de unhas de fora e sempre a rondar por perto.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasCarta ao artista Jeff Koons Meu caro amigo, [dropcap]o[/dropcap] filósofo polaco Laszek Kolakowski inicia assim o seu livro Horreur Méthaphysique: “um filósofo moderno que nunca se sentiu um charlatão demonstra uma tal ligeireza intelectual que a sua obra não merece a pena ser lida”. Como isto se aplica a um poeta pós-moderno! É o meu caso. Aquele que nunca se sentiu um charlatão é vítima de insuficiência ou de cinismo. Quem não me parece ter dúvidas é o amigo Jeff Koons, mas já lá iremos. Escreveu John Cage que imaginava facilmente um mundo sem arte. Aqui para nós, a coisa sempre me soou a bazófia: que lhe faltou para abandonar a arte e tornar-se mecânico de automóveis? Já o Claes Oldenburg – suponho que conheceu – dizia preferir uma loja de ferragens a um museu – e é mais entendível, aceitando a afirmação como sucedânea do que confidenciou Duchamp sobre a impossibilidade da arte superar a perfeição formal da hélice de avião. Todavia, e suponho que aqui não concordará comigo, o que se produziu a partir de tais configurações havia-se mostrado até hoje manifestamente chocho e roçava a irrelevância. A estetização do quotidiano condicionou a criatividade, conformou-a, à medida que o gosto médio se mostrou impositivo e a arte volveu “o espelho” que o Jeff se propôs refinar. Desta vez, chapeau, o Jeff Koons elevou a irrelevância a um supremo acto de tauromaquia de salon. Parabéns. É a terceira vez que uma peça sua, da série Banality, peças feitas a partir de fotos de publicidade, é acusada de plágio. A justiça deu razão a Franck Davidovici, o autor do anúncio publicitário da marca de roupa francesa Naf-naf. Cito o Diário de Notícias, para não me enganar: “o anúncio de Davidovici, intitulado Fait D’Hiver, mostrava um leitão, que era a mascote da marca Naf Naf, com um barril ao pescoço, muito parecido àquele que os cães São Bernardo usam nas suas ações de socorro na neve, ajudando uma jovem morena. A obra de Jeff Koons não é uma fotografia a preto e branco. É uma escultura colorida que também se chama Fait D’Hiver e que mostra uma mulher deitada na neve e a ser ajudada por um porco com um barril e uma coroa de flores ao pescoço. Ao lado estão dois pinguins”. O fulcro, a verdadeira essência da arte, mostrou-a o Jeff agora: a sua escultura foi leiloada em 2007 pela Christie’s de Nova Iorque por mais de quatro milhões de dólares e agora, o tribunal condenou-os, a si e ao Centro Pompidou, a pagar a Davidovici, em conjunto, a quantia de 148 mil euros. Realce-se que o juiz não ordenou que a obra de arte fosse confiscada, outro dos pedidos do publicitário, e que agora, dada a publicidade de que a sua peça beneficiou, ela vai ter um reforço de valor. Esta desproporção terá sido devidamente calculada pelo Koons, que fez aquela série para ser acusado de plágio. As esculturas eram o simulacro para favorecer o que importa: a operação financeira. Só lhe falta, meu amigo, realizar o acto de síntese, a sua obra magna – aquele haiku do samurai no acto da harakiri: reproduzir num friso escultural um leilão da Christie’s. Não sou invejoso, escrevo-lhe, saudando-lhe a inteligência, para lhe propor ser plagiado por si. É nesta intenção que aqui divulgo a minha fotografia O Banho da Musa Intermitente. A foto tecnicamente é mazita, mas o que importa é o teor, o teor, O TEOR (- peço-lhe, imagine esta frase dita pelo Brando). Saberá, meu caro Jeff, as culturas dividem-se entre as que querem conversar com os mortos e aquelas que querem conversar com os vivos. Uns querem aplainar o mundo, os outros aceitam as suas rugosidades. Eu, e imagino que o meu amigo também, bandeio para o lado dos que aceitam as rugosidades e entendo que o plágio possa ser apenas mais uma dobra da arte, quando o fito é outro. Nisto estou por si, por nós. Estou certo que o nosso trato lhe convém – encontramo-nos depois nas barras do tribunal. Verá que exporei o meu dorso a uma das suas bandarilhas. Não pense que só me move o interesse e por isso conto-lhe uma história. Passa-se em Nampula. Daniel conseguiu penhorar todos os seus mortos. Com uma pistola na cabeça do penhorista, que frequentava o mesmo culto que o seu, da igreja Zione. “Tanta cerimónia aos espíritos, tanta saudações aos antepassados”, censurava, Daniel, puxando o cão da pistola, “e agora não os aceita como penhor, para si valem menos que uma torradeira!” Só não o liquidou ali porque o penhorista, na aflição, antecipou o equivalente a quatro gerações de antepassados. Embora isso não o tivesse livrado da coronhada. Vê, meu caro Jeff Koons, andamos todos ao mesmo. Antes pensava, coitada da arte que é apenas combinatória, pois acosta rapidamente ao reino das quantidades, quando a vulcanologia e a formação dos vulcões nos ensinam que há estados que nascem por dentro, com mínima contribuição do exterior – e com um furor que pelo contrário vai, ele sim, mudar a paisagem exterior Contudo, agora que estou doente, começo a pensar com os tomates, com o coração e os pulmões. Não enxergo modo de pensar que não seja um inquilino do meu corpo (ainda que admita um por outro clandestino). E comecei a entender Parménides, para quem ser e pensar eram o mesmo, pois “raciocino” primeiro com a natural sintaxe do meu corpo o que depois as palavras traduzirão; daí que alinhe com Michel Barat quando ele aventa que a boa nova dos Evangelhos é anunciar não a imortalidade da alma, mas antes a ressurreição do corpo. O que aqui para nós, convém admitir: fica cara. O seu gesto esclareceu-me: há que aprender a arte dos toreros de salon. São esses quem, no fim, mais lucra. Impaciente pelo seu plágio, sem cerimónias, o seu António Cabrita
João Luz EventosNovo filme de Orson Welles disponível no Netflix Quase meio século depois de ser rodado, “The Other Side of the Wind” estreia em simultâneo nas salas de cinema e nas salas de quem tem Netflix. A derradeira película de Orson Welles é uma deslumbrante dissertação experimental que resgata a verdadeira essência do cinema [dropcap]“T[/dropcap]al como eu e Deus… quem será capaz de nos distinguir?”, atira John Huston para a câmara, enquanto interpreta o papel de Jake Hannaford no filme “The Other Side of the Wind”. Uma citação grandiosa ao estilo de Orson Welles, o realizador que 33 anos depois de ter morrido estreia a sua derradeira obra nas salas de cinema e numa plataforma inimaginável na altura da rodagem: o Netflix. Corria o ano de 1970, quando o actor e realizador Peter Bogdanovich atendeu o telefone para ouvir uma voz rouca perguntar-lhe que planos tinha para quinta-feira. Do outro lado da linha estava o autor de Citizen Kane com uma proposta irrecusável: Passar pelo estúdio, na tal quinta-feira, onde Orson Welles começava o seu derradeiro filme, uma produção que estimava apenas demorar algumas semanas a filmar. Cerca de 48 anos depois, “The Other Side of the Wind” foi exibido pela primeira vez no Telluride Film Festival, juntamente com dois documentários que retratam a tarefa hercúlea que foi acabar o obra de uma das maiores figuras da sétima arte. “É triste porque o Orson não está aqui para vê-lo, ou talvez esteja”, disse Bogdanovich aquando da estreia do filme. Caracterizado como uma das películas mais famosas que jamais seria exibida, a produção do filme esbarrou em inúmeros obstáculos. Em primeiro lugar a morte de Welles, seguido de inúmeras batalhas de direitos de autor e dificuldades para financiar o resto da produção. Entretanto, no meio de um mar de dificuldades, o influente produtor Frank Marshall decidiu pegar no projecto que se resumia a mais de 100 horas de material filmado. Durante décadas, as bobines esquecidas num armazém em Paris alimentaram lendas cinematográficas que apenas gigantes vultos, como Orson Welles, conseguem criar. Mosaico experimental Os brutos deixados por Welles são filmagens feitas em diversos formatos. Cores, preto e branco, 35 milímetros, 16 milímetros e Super 8, são os vários moldes que resultariam na heterogénea experiência visual que é “The Other Side of the Wind”. O filme recorda a faceta polarizadora de Orson Welles, que tradicionalmente teve o dom de dividir crítica e público quanto à apreciação das suas obras. John Hudson é o protagonista da obra, representando um realizador excêntrico que morre após a sua festa de aniversário. O personagem encerra as dicotomias do próprio Welles, oscilando entre a destruição e a criação como um pêndulo de engenho fílmico fora dos parâmetros da normalidade. O resultado é um filme com duas horas. O papel desempenhado por Hudson vive também dividido entre a egomania e a autocomiseração, atraindo a atenção de todos os que orbitam em seu redor com um carisma digno de Ernest Hemingway (aliás, o personagem intitula-se o Hemingway da cinema). “The Other Side of the Wind” é uma colagem das supostas filmagens de convidados da festa, presságio da cultura da câmara omnipresente dos dias de hoje, que segue o ritmo alucinado entre o bebop e o swing. O filme é uma corrida frenética, um sonho febril repleto de freaks e figuras que não pertencem ao mundo politicamente correcto que vivemos. O derradeiro filme de Orson Welles é uma obra para absorver, para experimentar, para ser vivida com todos os excessos que merece. Não é para ser compreendida ou explicada. A tempos demasiado caótica e sinuosa, a última obra de Welles é uma aventura experimental e um testemunho de uma época que passou. “The Other Side of the Wind” marca o fim da carreira de um dos maiores cineastas de sempre. Se o desfecho é agradável ou não, depende da percepção de cada um. Nas palavras do próprio Welles, “se queres um final feliz, isso depende onde paras a história”.
Sofia Margarida Mota SociedadeZheng Anting pede mais fiscalização a instalações de gás [dropcap]O[/dropcap] deputado Zheng Anting quer mais inspecções aos equipamentos e instalações de gás nos restaurantes. Em causa estão os recentes incêndios causados problemas com os equipamentos que funcionam a gás. Para o deputado, nem o Governo, nem as empresas fornecedoras de gás estão a cumprir o seu papel no que respeita à fiscalização nesta matéria. O tribuno denuncia situações em que os equipamentos eléctricos terão sido substituídos por equipamentos a gás sem que tenha sido dada qualquer informação às entidades competentes do Governo. Estas alterações acarretam aumento de riscos e precisam de ser acompanhadas por equipas do Executivo de modo a garantir o funcionamento seguro dos equipamentos. Para Zheng Anting são muitos os estabelecimentos que declaram ao Governo que estão a utilizar fogões eléctricos, mas, na realidade, usam fogões a gás. “Os acidentes que estas alterações podem causar podem trazer danos irreversíveis à vida e propriedade dos cidadãos”, aponta o tribuno. Por outro lado, os responsáveis pelas instalações de gás devem também ter nos seus deveres a obrigatoriedade de fazer inspecções regulares a este tipo de equipamentos de forma a garantir o seu bom funcionamento ao longo do tempo, sublinha o deputado em interpelação escrita.
Hoje Macau SociedadeNotários privados | 52 candidatos aprovados para 40 licenças disponíveis [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ) publicou ontem a lista de classificação final dos candidatos ao Curso de Formação de Notários Privados, cujo concurso foi aberto em Agosto, com vista à atribuição de 40 licenças de notário privado. No total, houve 121 candidatos, dos quais 52 foram aprovados. Os restantes 68 foram excluídos por terem desistido do curso, excedido o número de faltas, faltado a uma ou a ambas as fases da prova escrita, por terem desistido durante a prova escrita final ou por terem tido classificação inferior a 50 valores. Este foi o sexto curso desde a criação dos notários privados na década de 1990. Actualmente, de acordo com dados disponíveis no portal da DSAJ existem 53 advogados que exercem funções de notário privado, a maioria dos quais portugueses.
João Santos Filipe SociedadeCasinos | Aprovados 49 pedidos para instalação de novas salas de fumo Entre os 404 pedidos para instalação de salas de fumo, 49 já foram aprovados e vão entrar em funcionamento no próximo ano, quando entra em vigor a proibição de fumar nas zonas de jogo, incluindo nas salas VIP. Quem não tiver salas de fumo aprovadas pelo Governo, não pode permitir que se fume no interior dos espaços [dropcap]O[/dropcap] Governo aprovou até ontem 49 pedidos para a instalação de novas salas de fumo, de um total de 404 casinos. Os dados foram revelados, ontem, pelo director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, e pelo director do Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, Tang Chi Hou. Após a entrada em vigor das últimas alterações à lei do controlo do tabagismo, em 2018, ficou definido que a partir de 2019 seria proibido fumar nas áreas de jogo, incluindo salas VIP, a não ser que fossem criadas salas de fumo com determinadas características. Para que as salas fossem aprovadas a tempo do próximo ano, o Governo definiu que os pedidos da criação de salas tinham de ser feitos até 28 de Setembro. Os restantes pedidos terão de esperar mais tempo. “Estamos a apreciar os pedidos e já aprovámos um total de 49 salas para fumadores. Os outros pedidos ainda não têm toda a documentação necessária e vamos continuar a acompanhar estes casos. Se apresentarem todos os documentos, vamos conseguir aprová-los antes de 1 de Janeiro”, afirmou Lei Chin Ion, após uma visita liderada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, aos casinos Venetian e Studio City. Segundo a informação disponibilizada no final da visita, dos 47 casinos existentes no território, 20 não fizeram qualquer pedido de instalação das novas salas de fumo. No entanto, só a partir de 1 de Janeiro de 2019 é que estes espaços vão ser identificados. Sem críticas Na visita participou também o director do Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, Tang Chi Hou, que se comprometeu a reforçar a inspecção aos casinos, logo após a entrada em vigor das novas exigência. Actualmente os Serviços de Saúde têm 40 inspectores para controlar as infracções ao tabaco, mais 40 auxiliares, o que totaliza um total de 80 trabalhadores nesta áreas. Antes das alterações à lei do tabaco entrarem em vigor, Alexis Tam tinha mostrado vontade de banir por completo o fumo, para proteger os trabalhadores. Após uma negociação com as operadoras, acabou por ceder. Por esta razão, ontem negou que as entidades competentes pelos casinos possam apontar críticas às exigências em vigor: “Não foram impostas pelo Governo e são o resultado de uma negociação, por isso têm o apoio das duas partes”, disse Alexis Tam, após a visita ao Studio City. O secretário mostrou-se ainda agradecido às operadoras pela forma como têm encarado as exigências na instalação da sala de fumadores.
Hoje Macau SociedadeGestão de Crises | Helena de Senna Fernandes mantém liderança [dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes, viu-lhe ser renovada a designação, em regime de acumulação, como coordenadora do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT). Segundo o despacho do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, publicado ontem em Boletim Oficial, a renovação, pelo período de dois anos, produz efeitos a partir de 20 de Dezembro. O GGCT, criado há uma década, tem como missão “garantir uma intervenção imediata, operacional e eficaz em situações de crise ou emergência, resultantes da ocorrência de acidente grave, catástrofe ou calamidade, envolvendo residentes da RAEM, que se encontrem a viajar fora de Macau, bem como turistas que se encontrem na RAEM”.
Hoje Macau SociedadeGalgos | Yat Yuen pagou três milhões em despesas até Outubro [dropcap]O[/dropcap] presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), José Tavares, afirmou ontem que a Yat Yuen pagou aproximadamente três milhões de patacas relativas a despesas com o cuidado dos galgos, correspondentes ao período entre Julho e 6 de Outubro. Actualmente, permanecem no Canídromo 463 galgos, disse o mesmo responsável, em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau, apontando que a ANIMA vai continuar a dar seguimento ao processo de adopções.
Hoje Macau SociedadeFundação Rui Cunha | Doadas mais de 13 mil patacas à Caritas [dropcap]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha (FRC) realizou um leilão de obras que foram expostas na mostra “Art for Charity – Concurso de pintura do lado Nam Van” que resultou em receitas de 13.700 patacas, entregues ontem ao secretário-geral da Caritas, Paul Pun. A exposição marcou o sexto aniversário da FRC e contou com a participação de uma centena de artistas. As obras foram leiloadas por valores que variam entre 1,100 e 3,800 patacas, tendo a Fundação Oriente adquirido duas delas, no valor total de quatro mil patacas.
Hoje Macau PolíticaLei de Terras | CCAC chamado a estudar o assunto [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, vai solicitar ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) um estudo sobre a Lei de Terras, noticiou ontem a TDM-Rádio Macau. O diploma, em vigor há quatro anos, começou a gerar controvérsia depois de o Governo ter decidido avançar em força com a reversão de terrenos por falta de aproveitamento dentro do prazo estabelecido. O caso mais mediático foi o do terreno destinado ao empreendimento Pearl Horizon, que o Executivo decidiu recuperar em 2015 por o projecto residencial não ter sido edificado dentro.
Andreia Sofia Silva SociedadeSalas VIP | Junkets querem legalizar devolução de empréstimos na China O grupo Tak Chun e o grupo David, que operam salas VIP em casinos, exigem que o processo de devolução de empréstimos a devedores de jogo seja legalizado na China. Os dirigentes das empresas junket deixam de lado, para já, a hipótese de concorrer a uma licença de jogo [dropcap]O[/dropcap]s directores do grupo Tak Chun e do grupo David defenderam na feira de jogo “MGS Entertainment Show” a legalização do processo de devolução de empréstimos no interior da China em caso de incumprimento por parte dos jogadores, devido às dificuldades enfrentadas pelo sector VIP. De acordo com o jornal Ou Mun, Levo Chen, dirigente máximo do grupo Tak Chun, espera que o Governo apoie esta regulamentação, uma vez que, no passado, alguns operadores de salas VIP acabaram por falir por não conseguirem recuperar dívidas incobráveis. Wong Soi Ian, do grupo David, apontou que em Macau existe uma lei que regula o processo de devolução de empréstimos, mas que os procedimentos demoram muito tempo. Em alguns casos, devido ao elevado número de empréstimos por pagar, as empresas acabaram mesmo por fechar portas. Contudo, esse tipo de legislação não existe no interior da China, o que dificulta o processo. Questionados sobre a possibilidade de virem a concorrer a uma licença de jogo aquando da realização do concurso público, os empresários não deram certezas. “Para já não tenho a ideia de concorrer a uma licença de jogo”, frisou Levo Chun. Wong Soi Ian acrescentou que, “para já, as informações do Governo relativas às licença de jogo são poucas”. Dificuldades VIP Levo Chen frisou que, nos últimos tempos, o sector VIP tem enfrentado dificuldades, tais como a existência de custos elevados de manutenção do negócio e quebra nos lucros. Questionado sobre o futuro valor dos impostos sobre o jogo, o director do grupo Tak Chun defendeu que reduzir a percentagem do imposto poderia melhorar os serviços e fomentar o desenvolvimento saudável do sector. Wong Soi Ian adiantou que o Governo não tem apoiado o sector VIP que tem contribuído em grande parte para as elevadas receitas dos casinos, o que faz com que se registem cada vez mais dificuldades neste tipo de operação. A empresária defendeu que o Executivo deve avançar com um mecanismo que estabeleça uma articulação entre as receitas obtidas com os impostos e as dívidas de jogo incobráveis. Os dois empresários acrescentaram ainda que, caso as receitas do jogo não desçam nos próximos meses, pode registar-se uma estabilidade no sector VIP dos casinos.
Hoje Macau PolíticaPacto Internacional | Consulta pública até 15 de Dezembro [dropcap]C[/dropcap]omeça hoje uma consulta pública sobre a aplicação em Macau do Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC), que será entregue junto da Organização das Nações Unidas (ONU) em Maio de 2019. A referida consulta terá a duração de um mês. De acordo com um comunicado oficial, o Governo está a preparar o relatório que será submetido à ONU juntamente com os documentos relativos à China e Hong Kong. O relatório irá conter “as medidas que foram adoptadas pelo Governo para dar cumprimento às diversas disposições do PIDESC e às recomendações do respectivo Comité, bem como os progressos alcançados relativamente ao último relatório”. Esta análise do Executivo versa sobre o período compreendido entre 1 de Janeiro de 2014 e 31 de Dezembro deste ano.
Sofia Margarida Mota PolíticaAmbiente | Executivo comparticipa empresas de recolha e tratamento de resíduos [dropcap]O[/dropcap] Executivo vai comparticipar, até 50 por cento, despesas com a compra de veículos e equipamentos de empresas de recolha e tratamento e lixo. A informação foi divulgada ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo (CE), Leong Heng Teng. “O apoio financeiro a conceder à empresa que reúna as condições de concessão por cada pedido é, no máximo, o correspondente a 50 por cento do montante total” dos equipamentos e veículos adquiridos, disse Leong. O regulamento define também tectos máximos de comparticipação, sendo que o apoio financeiro prestado pelo Governo a cada empresa não pode “exceder o limite de 1,5 milhões de patacas”, acrescentou o porta-voz. De acordo com o mesmo responsável, e tendo em conta que existem actualmente 70 empresas ligadas ao sector de recolha e tratamento de lixo no território, o Executivo estima um gasto total de 16 milhões de patacas. A medida é necessária, não só para ajudar o sector que se debate com dificuldades financeiras, mas também porque “os transportes utilizados por estas empresas já estão muito gastos e velhos e as empresas pretendem introduzir veículos que respeitem mais o meio ambiente”, afirmou Leong Heng Teng.
Sofia Margarida Mota PolíticaRenovação urbana | Proprietários de prédios demolidos com indemnizações garantidas Independentemente do número de fracções que um proprietário possa perder devido a demolição, dentro do plano de renovação urbana, só se pode candidatar a uma fracção de alojamento temporário ou de compra para troca. As indemnizações por cada imóvel perdido são garantidas, mas os valores são desconhecidos e estão em fase de estudo [dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do regime jurídico de habitação para alojamento temporário e de habitação para troca no âmbito da renovação urbana garante a indemnização por todos os imóveis que venham a ser demolidos. A ideia foi deixada ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo (CE) Leong Heng Teng. O diploma vai regular as opções que serão dadas aos proprietários que vão ficar sem as suas casas na sequência de obras de renovação urbana e que, como tal, tenham de arrendar temporariamente ou comprar uma fracção habitacional, apontou ontem Leong. De acordo com Leong, esta proposta não tem como objectivo servir interesses de proprietários, mas salvaguardar as necessidades habitacionais dos residentes que temporária ou permanentemente vão ter de deixar as suas casas. Dados os recursos limitados do território, o diploma impõe restrições quanto ao número de candidaturas que podem ser apresentadas pelos proprietários para alojamento temporário e compra por troca. O diploma prevê que, independentemente do número de bens imóveis demolidos para satisfazer as exigências do plano de renovação urbana, o proprietário pode apenas candidatar-se ao arrendamento de uma fracção de alojamento temporário ou à compra de apenas uma fracção de habitação para troca. Já nos casos em que os bens imóveis perdidos sejam co-propriedade de duas ou mais pessoas, o número de habitações de alojamento temporário ou de casas para troca a que estas pessoas se podem candidatar será igual ao número dos respectivos bens demolidos, não podendo ultrapassar o número total de co-proprietários. No entanto, os proprietários vão ser indemnizados de acordo com o total das suas perdas, até porque “não faria sentido uma pessoa ter, por exemplo, três casas, ficar apenas com uma nova fracção e não ser indemnizada pela perda das outras duas”, disse Leong Heng Teng. A fórmula para avaliar o valor das indemnizações vai ser definido com a futura Lei da Renovação Urbana, acrescentou o porta-voz do CE, que está em fase de estudos. Casos especiais Os candidatos abrangidos pelo regime de expropriações por utilidade pública que venham a ter os seus imóveis demolidos são também considerados na presente proposta. Como tal, podem candidatar-se à compra de habitação para troca com o benefício de lhes serem atribuídas isenções ficais. Os promitentes compradores das fracções do Pearl Horizon também vão estar livres do pagamento do imposto de selo. A estes proprietários o regime permite a candidatura à compra de apenas uma fracção para troca, independentemente do número de fracções que tenham comprado. No que respeita ao preço de venda destas fracções a referência será o preço constante no contrato-promessa de compra e venda prévio.