Jornalista Paulo Moura vence Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] livro “Extremo Ocidental. Uma Viagem de Moto pela Costa Portuguesa, de Caminha a Monte Gordo”, de Paulo Moura, venceu por unanimidade o Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, foi hoje anunciado.

O Grande Prémio, no valor de 12.500 euros, é atribuído pela primeira vez, tendo sido instituído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), com o patrocínio da câmara de Braga.

“Um júri, coordenado por José Manuel Mendes, constituído por António Mega Ferreira, Guilherme d’Oliveira Martins e Helena Vasconcelos, atribuiu, por unanimidade, ao livro ‘Extremo Ocidental – Uma Viagem de Moto pela Costa Portuguesa, de Caminha a Monte Gordo’, de Paulo Moura”, afirma a APE, num curto comunicado hoje divulgado.

Justificando o prémio, em ata o júri escreveu: “’Extremo Ocidental’, de Paulo Moura, resulta pelas suas características singulares – a viagem como redescoberta do próprio país – e pela sobriedade encantatória da sua escrita”, cita a APE.

Segundo a Elsinore, editora que publicou a obra, esta “é uma coleção de achados de viagem”. “Formas de vida, sombras do passado, pequenas utopias redentoras”, que “pode ser lido como um guia das praias e dos caminhos, um diário de aventura, ou um ensaio sobre a identidade portuguesa”.

O livro, esclarece a editora, “é uma jornada de repórter”, numa “narrativa que inclui as estradas, as paisagens, as praias, as cidades, mas também as pessoas, as histórias”.

“Um casino numa aldeia, uma capela que desapareceu misteriosamente, a última noite de uma discoteca de praia, um parque de campismo proibido a campistas, uma comunidade de amor livre, um homem que vive sozinho numa ilha, um pescador que comunica com os peixes” são algumas das histórias contadas por Paulo Moura.

Paulo Moura é professor de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, e autor de nove livros, entre os quais a “Biografia de Otelo Saraiva de Carvalho” e “Passaporte para o Céu”, além de um décimo, que sairá em maio.

O autor nasceu no Porto, em 1959 e, durante 23 anos, foi jornalista no jornal Público.

Como jornalista recebeu vários prémios, entre os quais o Gazeta, o da Assistência Médica Internacional (AMI), do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), do Clube Português de Imprensa, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), entre outros.

Maria Ondina Braga (1932-2003), que dá nome ao galardão literário, nasceu em Braga, licenciou-se em Literatura Inglesa pela Royal Asiatic Society of Arts, e exerceu a carreira de professora em Angola e Macau, tendo sido também tradutora de autores como Herbert Marcuse, Graham Green e Bertrand Roussel, entre outros.

Como ficcionista estreou-se em 1965, com o livro de crónicas “Eu Vim para Ver a Terra”, tendo publicado cerca de 20 títulos, entre crónicas, romances, novelas e contos, designadamente “A China Fica ao Lado” (1968), “Estátua de Sal” (1969), “A Personagem” (1978) e “A Rosa de Jericó” (1982).

22 Mar 2018

Mundial 2018 | Gelson Martins fez corrida e Luís Neto primeiro treino

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]elson Martins, que foi poupado no primeiro treino da seleção portuguesa de futebol, subiu ontem ao relvado na Cidade do Futebol, mas fez apenas corrida nos minutos abertos à imprensa, numa sessão com Luís Neto.

O extremo do Sporting, que continua a ser gerido com precaução e depois de ter falhado o primeiro treino da seleção AA na Terça-feira, ontem fez apenas corrida nos primeiros minutos, acompanhado pelo fisioterapeuta António Gaspar.

Quem já participou no treino foi o central Luís Neto, chamado, tal como Mário Rui, à última hora, com os dois jogadores a substituírem na convocatória de Fernando Santos os defesas Rúben Dias e Fábio Coentrão, ambos lesionados.

Fora das opções ficou também William Carvalho, dispensado na Terça-feira do estágio, devido a uma lesão na coxa, mas que a equipa técnica portuguesa entendeu não substituir, ficando o grupo reduzido a 24 futebolistas.

Nos 15 minutos abertos à comunicação social, o grupo efectuou exercícios com bola, com Gelson à parte e com Fernando Santos a dividir os ‘escolhidos’ em dois grupos, um dos quais com os possíveis titulares no particular com o Egipto.

Com os guarda-redes longe dos restantes jogadores, Fernando Santos deixou de um lado Cédric, José Fonte, Rolando, Raphael Guerreiro, Rúben Neves, João Mário, João Moutinho, Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e André Silva, os ‘possíveis’ titulares.

Na Quinta-feira, a seleção tem programado novo treino, bem como a conferência do seleccionador Fernando Santos, antes de a equipa seguir viagem para a Suíça, às 14h30.

Portugal defronta o Egipto na Sexta-feira, em Zurique, e a Holanda três dias depois, em Genebra, naqueles que serão os últimos particulares antes de Fernando Santos divulgar os convocados para o Mundial2018.

A comitiva lusa parte para a Rússia a 9 Junho e estreia-se no Mundial 2018 no dia 15, frente à Espanha. Cinco dias depois, mede forças com Marrocos e a 25 com o Irão, de Carlos Queiroz, em encontros do Grupo B.

22 Mar 2018

Presidente da República angolano prevê relações aprofundadas com a China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de Estado angolano, João Lourenço, felicitou na Terça-feira Xi Jinping pela sua reeleição para o cargo, antevendo o aprofundamento das relações entre os dois países.

Numa mensagem de felicitações a que a Lusa teve ontem acesso, o Presidente angolano refere que a recondução de Xi Jinping é “uma inequívoca demonstração do amplo apoio de que beneficia por parte do povo chinês”, que lhe reconhece “todas as qualidades e virtudes necessárias à condução da Nação chinesa” e “para fazer face aos desafios que se colocam no caminho” do país.

João Lourenço acrescenta, na mensagem enviada a Xi Jinping, estar certo que as relações entre Angola e a República Popular da China, neste novo mandato, “vão continuar a aprofundar-se e na perspectiva de que se alarguem também para sectores que as tornem cada vez mais dinâmicas, em prol do progresso e do bem-estar dos nossos respectivos povos”.

O Governo angolano está a negociar a contratação de financiamentos externos de 1,556 biliões de kwanzas (6000 milhões de euros), dos quais mais de metade provenientes da China, segundo o Plano Anual de Endividamento (PAE) para 2018.

De acordo com o documento, a que a Lusa teve acesso, entre estes financiamentos, que estão “em fase de enquadramento”, 42 por cento desse valor, equivalente a 653 mil milhões de kwanzas (2.525 milhões de euros) será proveniente do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC).

O Governo angolano, segundo o PAE 2018, elaborado pelo Ministério das Finanças, prevê ainda contratar 9 por cento desse total – 140 mil milhões de kwanzas (540 milhões de euros) a contratar junto do Eximbank da China.

“Os financiamentos em fase de enquadramento serão maioritariamente alocados para os sectores da Energia e Águas, Construção e Defesa”, esclarece o documento.

Só o projeto do aproveitamento hidroeléctrico de Caculo Cabaça, no rio Kwanza e que será a maior barragem de Angola, a construir por empreiteiros chineses e financiado pelo ICBC, contará com desembolsos de 160 mil milhões de kwanzas (618 milhões de euros).

22 Mar 2018

Europa | Onze milhões de famílias em condições habitacionais graves

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]erca de onze milhões de famílias vivem em condições habitacionais graves na Europa, sem morada própria, hospedados em casa de alguém, a pernoitarem na rua ou em albergues, revelou ontem um estudo de organizações que trabalham com os sem-abrigo

“Em 220 milhões de famílias, perto de 11 milhões encontram-se em privação severa de habitação, ou seja, não têm residência própria, vivem na rua, num albergue, num hotel social ou estão alojados em casa de alguém”, refere o estudo da Fundação Abbé-Pierre (FAP) e da Federação Europeia das Organizações Nacionais que trabalham com os Sem-Abrigo (FEANTSA), publicado no jornal francês Le Monde.

“A definição de sem-abrigo pode não ser a mesma de um país para outro, mas em toda a Europa os aumentos [desta população] são enormes”, afirma Sarah Coupechoux, da Fundação Abbé-Pierre, ao jornal.

A Alemanha registou, entre 2014 e 2016, um aumento para mais do dobro (mais 150 por cento) da população sem-abrigo, assim como a Irlanda, que observou uma subida de 145 por cento entre 2014 e 2017.

Bruxelas registou uma quase duplicação do número de sem-abrigo entre 2008 e 2016, tendo Espanha constatado uma subida de 20,5 por cento entre 2014 e 2016 e a França 17 por cento, entre 2016 e 2017.

Entre todos os países europeus, apenas a Finlândia reduziu o número de sem-abrigo, tendo registado uma descida de 18 por cento entre 2009 e 2016.

22 Mar 2018

Da Rússia, com ardor

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]ivemos eleições na Rússia no passado fim-de-semana, e como seria de esperar, o actual presidente e oligarca Vladimir Putin obteve uma vitória esmagadora. O sufrágio não foi o que pode propriamente chamar de um hino à democracia, tendo ficado marcado por inúmeras irregularidades, desde a captura de imagens dos boletins de voto, até à oferta de bilhetes para concertos aos eleitores, entre outros episódios que dariam água pela barba aqui ao nosso CCAC, em Macau.

Diria mais: que os faria corar de vergonha. É indiscutível que o povo russo está do lado de Putin, o seu novo homem forte depois de José Estaline, o único que cumpriu um mandato (?) mais longo que o actual presidente. Se em termos de popularidade não há nada a apontar, o mesmo não se pode dizer quanto à sua legitimidade; os rivais do presidente russo dignos desse nome foram sistematicamente eliminados, e ora estão detidos, ora no exílio, ora mortos.

A consolidação do poder da parte de Vladimir Putin na Rússia, e igualmente de Xi Jinping na China colocam-nos perante um novo paradigma, ao que não é alheia a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, há um ano e meio. As maiores potências do planeta voltam-se para dentro, procurando fazer valer os seus interesses num contexto internacional problemático, agravado pela guerra na Síria e pela situação delicada na península coreana, tudo ameaças consideráveis à paz e à estabilidade mundial. Tudo isto certamente que preocupa os amantes da liberdade e da democracia, e levanta sérias reservas quanto ao futuro, cada vez mais incerto.

A democracia directa, ou o conceito de “uma pessoa, um voto”, não agrada a todos, e mesmo nesta última semana os seus detractores tiveram acontecimentos a que podem facilmente apontar o dedo. Em França o ex-presidente Nicholas Sarkozy foi detido no âmbito de uma investigação sobre o financiamento da sua campanha em 2017 – quem diria. Mesmo em Portugal, o maior partido da oposição foi notícia pelos piores motivos, quando o seu recém apontado secretário-geral foi obrigado a deixar o cargo depois de (embaraçosas) revelações a respeito do seu currículo, que continha uma série de inverdades (para ser simpático), bem como dúvidas quanto à sua morada fiscal (outra vez, hoje sinto-me especialmente generoso). Não surpreende portanto que se venha assistindo a uma onda de populismo, e ao recrudescimento da extrema-direita na Europa. É realmente pena.

Eu acredito na democracia. Ainda acredito. Não vou baixar a cabeça, e prefiro pensar que isto não passa de uma fase. A própria espécie humana, disucutivelmente com mais defeitos que virtude, nunca conviveu muito bem com a diversidade de opinião, não é de hoje, e depois de duas lamentáveis guerras no século passado, convenceu-se de que se calhar seria melhor procurar um equilíbrio, um consenso entre todos os seus intervenientes, colocando de lado as diferenças. Já se percebeu e vai-se percebendo que cada vez mais que esta é uma tarefa complicada. Precisamos da classe política, não há que negá-lo, e precisamos de puxar por ela também. É urgente uma geração de homens e mulheres que sirvam antes de se servirem, a bem fa humanidade. E quer na Rússia, quer na China, esta pretensão vai ficando adiada. Por enquanto, apenas, esperamos todos.

22 Mar 2018

Futebol | Campanha do Benfica de Macau na Taça AFC vista como exemplo para a modalidade

O treinador Joseph Tam e o fundador da Associação de Veteranos de Futebol de Macau, Francisco Manhão, acreditam que a performance dos encarnados é um grande incentivo para os atletas do território. No entanto, reconhecem as limitações inerentes a Macau

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] estreia do Benfica de Macau na fase de grupos da Taça Confederação de Futebol Asiática (AFC) e as duas vitórias alcançadas contra equipas de Taiwan e da Coreia do Norte estão a marcar a História do futebol local. Por isso, agora, o desejo entre os intervenientes da modalidade em Macau é que a tendência positiva não se fique pelas águias e se alastre a outras formações.

“Os resultados mostram que, apesar da nossa Liga de Elite não ser profissional, temos equipas capazes de competirem nos palcos asiáticos. Sabemos que a Taça AFC é a competição secundária do continente, uma espécie de Liga Europa, mas tem o seu valor e é aliciante para os atletas locais”, afirmou Joseph Tam, treinador local, ao HM.

“É um facto muito importante para encorajar a modalidade em Macau e motivar todos aqueles que gostam de futebol, sejam os clubes, fãs, a associação. O desempenho do Benfica de Macau, que merece todos os elogios, mostra que os clubes, se quiserem, podem competir fora de portas e com resultados importantes”, acrescentou.

Também Francisco Manhão, fundador e antigo presidente da Associação de Veteranos de Futebol de Macau, destacou o contributo que o Benfica de Macau está a dar para a modalidade com a participação na Taça AFC.

“É um dos pontos mais altos do futebol local, principalmente quando conseguem duas vitórias em dois jogos. Estão todos de parabéns, dirigentes, equipa técnica, jogadores. Têm feito um esforço muito meritório pelo bom nome do futebol de Macau”, disse Francisco Manhão, ao HM.

“O clube tem traçado um bom caminho e espero que as outras equipas consigam seguir o exemplo, que mostrem ambição de também participarem em outros voos”, sublinhou.

Causa e efeito

Na altura de avaliar as consequências para o futebol local, as expectativas são mais moderadas. Joseph Tam entende que os esforço de alguns atletas do Benfica mostra aos locais que não é preciso ser profissional para poder ter um percurso meritório.

“Actualmente é muito difícil para um jogador ser profissional em Macau. Mesmo no Benfica a maior parte dos jogadores não são profissionais. Porém, se trabalharem no duro e estiverem dispostos a fazer sacrifícios a nível profissional, social e familiar, podem conseguir jogar a um bom nível continental”, considerou.

“O exemplo do Benfica de Macau mostra que se o atletas se dedicarem e trabalharem no duro que podem ter voos bem significativos”, frisou.

Por sua vez, Francisco Manhão entende que a nível da estrutura do futebol de Macau há grandes desafios para os clubes.

“Esta campanha pode fazer com que três ou quatro equipas, como o Chao Pak Kei, Sporting de Macau ou Monte Carlo, tentem elevar o nível das equipas e procurem outro tipo de investimento. Mas temos de reconhecer que há uma limitação inerente, por exemplo, ninguém espera que a equipa da Polícia ou dos Serviços de Alfândega tenha essa capacidade”, justificou.

 

Galaxy junta-se a Benfica de Macau

A operadora de jogo Galaxy Entertainment tornou-se no mais recente patrocinador do Benfica de Macau. O anúncio foi feito pelo clube, através das redes sociais. Os montantes envolvidos não foram revelados e o contrato só é válido para as competições internas. Em declarações ao HM, o treinador Joseph Tam elogiou a parceria: “É importante a entrada de patrocínios porque permite atrair jogadores com maior qualidade, mesmo estrangeiros. Se a Liga de Elite tiver jogadores de grande nível, os locais vão evoluir com eles e todos ficamos a ganhar”, apontou.

22 Mar 2018

“Complexo de Trump”: Primeiro Caso

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]enho uma rotina matinal, abro a net, vou ao Google e digito: Trump notícias. Nunca me desilude, é um verdadeiro circo. Nunca fica nenhuma mulher barbuda por revelar.

E como o Trump é um génio e pelo meu lado nunca ganhei nenhum jogo de xadrez na vida, estudo todos os casos de hirsutismo (a doença que lhes faz crescer os pêlos ao triplo da velocidade), a ver se topo como ele acerta à primeira.

A semana passada fui assombrado por dois sinais hirsutos no seu olho vivo.

O primeiro. Disse Trump aos fuzileiros navais em San Diego: “O espaço sideral é um domínio de guerra, bem como a terra, o ar e o mar.” E continuou, “talvez precisemos de uma nova força a que chamaremos “Força Espacial” – fez um silêncio, após o qual comentou o que acabara de dizer – “… bem, eu não estava a falar a sério, mas esta é uma ideia fantástica!”.

Fala alguma vez a sério, o Donald? E quais são as unidades de peso que usa para as suas palavras, ou brinca consoante o vento? O espaço sideral é um domínio de guerra? Donde lhe chegam aquelas ideias sempre em madrepérola? Com que clareza detecta os indícios de guerra entre Júpiter e Urano, por exemplo? Os Stephen Hawkings deste mundo procuram sinais de vida inteligente no espaço, Trump já divisa rasto de lança-chamas entre os meteoros, o rebentamento de mísseis no focinho dos selenitas e o sulco dos submarinos nos anéis de Saturno. Os antigos falavam da “música das esferas” (os planetas) para contrapor a harmonia do mundo à disparatada propensão para a discórdia entre os homens e Trump vê cowboys na ponta dos telescópios a laçarem os chineses e os russos de um planeta tão vermelho como Marte.

Só encontro uma explicação. Ele entrou uma vez numa sala de cinema, em Philadelphia, ainda no primeiro episódio da Guerra das Estrelas e o seu clone foi resgatado pelos bombeiros de Hong-Kong vinte anos depois, perdido entre a “Força” e o “Buraco Negro” (os “pequenos lábios” e os “grandes lábios!) de Annie Jones, a hirsuta galáctica (cf. foto) – daí o cabelo ionizado que ele carrega. Provação mais grave do que andar perdido nos sonhos de Darth Vader. E agora só vê camuflados nas poeiras galácticas.

De qualquer dos modos, a notícia ajudou-me a deslindar um enigma. Havia guardado esta notícia, do ano passado:

«Uma tragédia chocou os moradores de Rubiataba, interior do Goiás (Brasil). Um adolescente de 16 anos morreu após se masturbar 42 vezes.

Segundo relatos, ele teria começado por volta da meia-noite, e masturbou-se toda a noite sem intervalo. Terminava uma e começava outra. A mãe do menino já desconfiava de sua compulsividade por praticar o acto: “Era de hora em hora”, contou a mãe do jovem.

No computador do adolescente foram encontrados cerca de 17 milhões de vídeos eróticos e de 600 milhões de fotos.»

É chocante este jovem não ter chegado pelo menos às cinquenta. Há metas que não se devem falhar. Teria lido que o Hércules desvirginou as 50 filhas de Téspio numa noite? Era esta façanha que ele queria imitar? É improvável. Já ninguém lê as mitologias gregas.

A sermos rigorosos, o seu feito é irrelevante se comparado com a cópula do gafanhoto, que dura 16 horas… E se ao menos tivesse sido previamente treinado para a ejaculação prematura teria sido tudo mais leve e o coração ficaria menos exposto. Mas as mães hoje não educam os filhos.

Por outro lado 600 000 000 de fotos é o suficiente para atapetar um pequeno país como a Suazilândia. Este detalhe impressionou-me.

Contudo, et voilá!, num acervo de 16 milhões de vídeos é impossível que não estivessem lá todos os filmes com a actriz Stormy Daniels, a diva porno que o Trump quer silenciar. A causa da morte é-me evidente: o ingénuo quis imitar a potência do presidente americano e impressionar a actriz.

Foi abatido pelo «complexo de Trump». Os seus espermatozóides entraram em guerra uns contra os outros e ejectaram-lhe o coração para o espaço sideral.

Foi o primeiro a querer imitar a virilidade titânica de Donald e a ser emulado no teatro de guerra onde se representa o Poder da Imitação.

Eis agora o segundo momento hirsuto, que me deixou de cara à banda: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gabou-se de ter inventado dados estatísticos sobre comércio numa conversa com o primeiro-ministro do Canadá.

Para ilustrar a mentira de que havia um desequilíbrio na balança comercial entre os EUA e o Canadá, Trump inventou uns números e depois gabou-se disso, de ter sido um espertalhão.

Desde Maquiavel que este tipo de manobra não será incomum na retórica política, às vezes inventa-se no fito de baratinar o outro. A novidade é que o manhoso a seguir se gabe, publicamente, e sobretudo se é o presidente da maior potência do mundo, o qual devia parecer, aos olhos de todos, não impoluto mas confiável.

A minha alma está burra – dizia a minha avó.

Este jogo é mais perigoso que o de sugerir batalhas galácticas num espaço sideral que ele nunca terá o prazer de sulcar, porque deita às favas qualquer moral política e vai induzir mil oportunistas sem escrúpulos, por todo o mundo, a imitá-lo.

O René Girard há cinco décadas que adverte sobre a imitação como mecanismo (inconfessadamente) privilegiado na pauta de produção de valores. Foi sempre subestimado, embora demonstrasse as suas teses em várias áreas, da análise literária aos estudos societárias. Creio que começa a ser urgente ouvi-lo (agora em mesa pé-de-galo) mais que não seja porque, como o sabia Nietzsche, quando nos falta uma tradição respeitável é preciso inventá-la: “dar-se modelos para saber o que buscar” – e nos últimos tempos rodeiam-nos ferozes felinos disfarçados por orelhas de lebre.

22 Mar 2018

Introito

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeça pelo fim este título qual chamada de atenção para qualquer início que se deseje entendível, na medida em que o mote define a primícia do vocábulo gerado para a contemplação de um rito. O FIM é uma “arrastadeira” de silogismos que compostos dão os categóricos, e que partindo de premissas várias tiram então conclusões derradeiras, começo então neste fim de tempo imprevisto que é o derrame gelado das Nações que pairam em meu redor.

Isto tudo porque o Ártico está ameno e a Europa gela. Por lá, a fina camada de gelo que se alastra pode inundar de receios este frio que, por ser tanto, já não guarda mais nada que a nossa estupefação. Não estávamos a aquecer? – Sim – aquecemos muito e esfriamos ainda mais. Por onde começar nesta deriva é assunto de monta e pode transformar os nossos simples cálculos em espantosas derrocadas, mas não sabemos onde começar a ler o Livro, que dizem ter a conclusão da parábola do Tempo e definidos os graus da mudança dele. Uma firme explicação científica seria mais tranquilizadora que todas as interpretações descodificadas da enciclopédia dos mistérios e essa, por temor ou educação formal, escusa-se a fornecer respostas.

Na nossa massa, feita de dias e muitas horas, giramos no imponderável das intempéries, somos reféns atmosféricos e pensamos desviar todas as rotas com a nossa opulenta permanência em terreiro tão impróprio como se fosse normal dilatar e encolher num só ano o que as marés não conseguem em ciclos de evolução, e de tal ordem nos aplicamos à causa, que saímos incólumes deste estado. Estamos acossados e não sabemos por onde começar, quando começamos parecemos findar, ao findar, temos ainda um receptáculo de imortalidade gerado pelo medo; por aqui, entre vozes e grandes demonstrações de “eficácia” para se influenciar a matéria cósmica, vamos deslizando suavemente para a completa e mais impressionante indefinição.

As leis mecânicas são poderosas e nada se pode fazer a um vasto corpo que firma agora a olhos vistos os seus reequilíbrios enquanto organismo vivo e complexo, habitamos a superfície, e mesmo assim, fundámos o mito da exclusividade e da pertença. O que nos resta de tudo o que temos é uma visão bastante interessante pois que na deriva de tal “embarcação” somos tidos – somos quem é tido – por mais que nos esforcemos na conquista. Creio chegado o momento de se encetar procuras por aí… no Espaço… no Universo. Pode ser que tenhamos de repor o sentido do Êxodo num momento em que as águas podem inundar os caminhos do velho Noé mas, ao invés de um esforço de investimento e de procura, fazemos coisas que estamos a ver não durarem o tempo de uma Alvorada. Permanecemos agrestes e agrários nos nossos postes de combate como se nada disto estivesse de facto a acontecer, como se as águas congeladas não tivessem dado o «Introito» da sua marcha, e, o tempo fosse agora mais um Quaternário tão longo que não o vamos ver. Mas, uma das leis da mecânica, chamada velocidade, arrebata esta época e o volume de tempo já se confunde com a quantidade da massa: somos renascidos por processos que nem nos damos conta e seria imprópria a surpresa.

Os elementos radicalizaram-se, nós estamos mais pluralistas do que nunca, dormita uma incompatibilidade que fere, não nos aguentamos de pé mais que uma corrida pelas cidades e marchamos cansados a trote da energia fóssil. – Somos fósseis – mas mutáveis. Comparados a toupeiras saímos na rota do círculo do sol e assim somos guiados, temos urgências e destinos a cumprir numa dimensão que sabemos passar em muito este estado de coisas que são afinal os nossos mais tirânicos guias. Creio que estamos atrasados face à grande trepidação e demasiado entretidos nas reformas daquilo que já devia ter sido anulado: fazemos como o judeu em espera na fila da morte, corrigindo um livro, pois que para ele, o último minuto de vida é ainda vida, e talvez que esta dádiva de sabedoria nos tivesse agora inundado as tarefas quase póstumas.

Gilgamesh virá reescrever a funda história…? Sempre no alto de uma montanha aguardava recomeçar, as montanhas têm destes seres que ainda hoje nos povoam os sonhos. A Barca de Caronte navega nas margens litorais… caminhamos com a mulher jovem e a petrificada, estamos inundados de saberes que são sempre novos quando enfrentados e estamos perto dos futuros náufragos. Podemos navegar em cápsulas por muitos dias, meses e até anos, até chegar a terra firme, e não soltaremos pombas, nem subiremos às altas montanhas para as libações. Os deuses partiram e não levaram ninguém a não ser a sua imortalidade, que desconhecemos, mas não tarda saberemos programar.

Antes de recomeçar a história pelo fim seria melhor ela continuar noutro lugar.

22 Mar 2018

Tragédia | 19 mortos e 21 feridos em acidente de autocarro nas Filipinas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m acidente de autocarro no centro das Filipinas causou ontem 19 mortos e 21 feridos, estando as causas a ser investigadas.

O autocarro despenhou-se num barranco, na madrugada de ontem, na localidade costeira de Sablayan, a oeste da ilha de Mindoro, cerca de 250 quilómetros a sul de Manila.

“Segundo as primeiras informações, o condutor perdeu o controlo do veículo”, explicou à agência espanhola Efe, por telefone, o responsável da polícia de Mindoro Ocidental, Ronie Estepa. Os cadáveres das 19 vítimas mortais serão entregues às famílias, enquanto os 21 feridos estão estáveis e fora de perigo de vida, indicou o responsável.

As autoridades abriram uma investigação para determinar se o acidente foi causado por um erro humano ou uma falha do autocarro. Em Dezembro passado, um outro acidente com um autocarro na mesma província causou a morte a duas pessoas e 38 feridos.

O mau estado do pavimento, a fraca sinalização de muitas estradas, a excessiva antiguidade da frota de autocarros ou a falta de cuidado com as normas de trânsito, entre outros factores, tornam relativamente frequentes este tipo de acidentes mortais nas Filipinas.

22 Mar 2018

Negociações | Pyongyang quer ponderação ao abordar Washington e Seul

A Coreia do Norte pediu ontem “prudência, auto-controlo e paciência”, na sua primeira posição pública sobre a aproximação à Coreia do Sul e aos Estados Unidos, apesar de acusar as forças conservadoras destes países de procurarem “estragar a atmosfera”

 

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma nota divulgada pela agência estatal norte-coreana KNCA, Pyongyang considera que se criou um ambiente de reconciliação com Seul e que há uma “demonstração de mudança” na sua relação com Washington, mas sem mencionar as históricas cimeiras entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e os presidentes sul-coreano e norte-americano, previstas para Abril e Maio, respectivamente.

“Gostaríamos de recordar que este é um momento em que todos devemos encarar a situação com prudência, autocontrolo e paciência”, acrescentou o país asiático.

Por outro lado, o regime norte-coreano condenou representantes dos Governos dos Estados Unidos e do Japão e a oposição conservadora de Seul por “distorcerem a verdade” sobre a actual aproximação, ao insistirem que tal foi possível graças à política de pressão e sanções internacionais sobre Pyongyang.

A Coreia do Norte assegurou, pelo contrário, que a melhoria das relações entre as duas Coreias, que tecnicamente continuam em guerra, não poderia ter sido alcançada sem “vontade para conseguir a paz” e as “medidas pró-activas” adoptadas pelo seu regime.

“A comunidade internacional felicitou-se pelos nossos esforços para conseguir a melhoria da relação Norte-Sul e a resolução pacífica da situação na península coreana”, afirmou, no mesmo comunicado.

O regime norte-coreano considera que os comentários daqueles que asseguram que as sanções encurralaram o país procuram “estragar a atmosfera” de aproximação “mesmo antes de os actores envolvidos terem tido tempo de estudar as intenções da sua contraparte e de estarem sentados na mesa da negociação”.

Cimeira à vista

Esta foi a primeira ocasião em que Pyongyang falou da aproximação, desde que no início deste mês foi anunciado que Kim Jong-un terá encontros com os presidentes da Coreia do Sul, Moon Jae-un, e dos Estados Unidos, Donald Trump, para falar sobre a possível desnuclearização do regime.

No entanto, estes dois encontros não foram confirmados pela propaganda oficial do regime norte-coreano.

A realizar-se, a cimeira de Abril será o primeiro encontro entre os líderes das duas Coreias em 11 anos, enquanto em Maio poderá realizar-se a primeira reunião da história entre os mandatários da Coreia do Norte e EUA.

Entretanto, o Presidente sul-coreano sugeriu ontem a possibilidade de as duas Coreias e os EUA realizarem uma cimeira trilateral, caso seja satisfatório o resultado dos encontros separados.

“Devemos resolver completamente os impedimentos para conseguir a desnuclearização e o estabelecimento da paz na península através das próximas negociações e das que virão depois”, considerou Moon.

22 Mar 2018

Tensão | Taiwan denuncia manobras militares chinesas perto do seu território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] porta-aviões chinês Liaoning entrou na Terça-feira em águas da Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan, disse ontem o ministro da Defesa da ilha, Yen Teh-fa, numa altura de renovadas tensões entre Pequim e Taipé.

Questionado no parlamento taiwanês sobre as movimentações da marinha chinesa, Yen disse que “está tudo sob controlo” e que serão tomadas as medidas necessárias para proteger a segurança nacional.

“O Exército segue de perto todos os exercícios militares da China”, assegurou o ministro.

O porta-aviões chinês entrou na Zona de Identificação da Defesa Aérea, no estreito de Taiwan, após participar em manobras militares no Mar do Sul da China. A manobra coincidiu com as ameaças do Presidente chinês, Xi Jinping, que afirmou no mesmo dia que a China está preparada para empreender uma “batalha sangrenta” contra os seus inimigos e que não permitirá tentativas separatistas.

Desde a ascensão ao poder, em Maio de 2016, da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, pró-independência, a China interrompeu todos os contactos oficiais e semioficiais com Taiwan, e passou a realizar exercícios militares próximos da ilha.

22 Mar 2018

Vigilância | Homem detido por gozar com a polícia num grupo de Wechat

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem foi detido na China por fazer piadas sobre a polícia num grupo do serviço de mensagens instantâneas chinês Wechat, segundo a imprensa local, ilustrando a crescente monitorização das autoridades chinesas sobre o ciberespaço.

O homem, identificado como Ding e de 39 anos, terá alterado partes de uma conhecida canção chinesa com insultos à polícia de trânsito local e partilhado com amigos através da aplicação chinesa Wechat. Ding foi mais tarde detido por um período indefinido, segundo a publicação chinesa sixth tone.

No ano passado, a Administração do Ciberespaço da China publicou novos regulamentos, que proíbem a difusão de rumores ou insultos nas redes sociais. O regulamento estipula também que as empresas do sector devem verificar as identidades reais dos membros em grupos de conversação no espaço ‘online’.

Várias pessoas foram, entretanto, detidas ou condenadas à prisão no país por comentários em grupos ou conversas privadas no Wechat, sob a acusação de “causar distúrbios” ou “usar ilegalmente informação e a Internet”.

Num dos casos mais conhecidos, um homem foi condenado a dois anos de prisão por “perturbar as ordens administrativas para a actividade religiosa”, depois de ter ensinado o Alcorão a amigos e familiares através do Wechat.

Aquela ‘app’ – equivalente chinês à aplicação para mensagens de texto e voz WhatsApp – atingiu em Fevereiro passado 1000 milhões de perfis de utilizador, enquanto o Weibo – semelhante à rede de mensagens instantâneas Twitter – tem cerca de 200 milhões.

A China censura redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram, ou o serviço de mensagens Whatsapp.

22 Mar 2018

Taiwan | Taipé reafirma independência face a ameaças de Xi Jinping

Taiwan reafirmou ontem a sua soberania e recusou as ameaças do Presidente chinês, Xi Jinping, que afirmou que a China está preparada para empreender uma “batalha sangrenta” contra os seus inimigos e que não permitirá tentativas separatistas

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m reacção ao discurso de Xi, no encerramento da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, em Pequim, o primeiro-ministro taiwanês, Lai Ching-te, reafirmou a soberania da ilha e recusou a exigência chinesa ao governo taiwanês, para que aceite que a ilha faz parte da China de forma a evitar um conflito.

“Se a China vê o Consenso de 1992 [Taiwan e China são parte de uma só China, com cada lado a manter a sua interpretação], como a única chave para o desenvolvimento dos laços entre os dois lados do estreito [de Taiwan], isso não será aceite por Taipé”, assegurou Lai, perante o parlamento.

O ministério taiwanês dos Negócios Estrangeiros afirmou ainda numa conferência de imprensa que Taiwan é um “país soberano e independente” e que não “baixará a guarda” face às intimidações vindas do exterior.

O Conselho de Assuntos da China Continental acusou Pequim de querer roubar da ilha os seus talentos, com políticas de incentivo para profissionais e empresas taiwanesas, que visam transferir capital, talento e tecnologia para o continente.

Xi Jinping assegurou que qualquer acção que vise dividir o país está condenada ao fracasso e prometeu salvaguardar a soberania e integridade territorial.

Braço de ferro

As relações entre Pequim e Taipé atravessam um período de renovada tensão, após a ascensão ao poder, em Maio de 2016, da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, pró-independência, e após Washington ter aprovado a Lei de Viagens a Taiwan, que autoriza a visita de altos funcionários norte-americanos à ilha.

Alex Wong, vice-secretário de Estado dos EUA encarregue da Ásia Oriental e Pacífico, encontra-se em Taiwan, e deve reunir-se em breve com Tsai.

Face à crescente intimidação diplomática e militar de Pequim, o chefe do Conselho Nacional de Segurança de Taiwan, Peng Sheng-chu, prevê uma deterioração dos laços e maior pressão por parte da China.

Peng assegurou recentemente no parlamento que “não descarta que a China tente arrebatar mais aliados diplomáticos à ilha” e que é também provável “o aumento de manobras militares chinesas próximo de Taiwan”.

22 Mar 2018

Literatura | “Reflexões de Mesquita” com versão em português e em chinês

É sobre uma destacada figura de Macau que Marco Lobo se debruça no segundo romance histórico: Vicente Nicolau de Mesquita. Na obra, originalmente publicada em inglês e agora vertida para português e chinês, Marco Lobo recupera um “herói acidental”, imaginando a dimensão humana que ficou de fora dos relatos da História

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]traído por personagens com defeitos e emocionalmente alteradas, Marco Lobo escolheu o ilustre militar e oficial macaense Vicente Nicolau de Mesquita (1818-1880) como figura central do seu romance histórico – o primeiro sobre Macau, terra dos seus antepassados. “Dado que o livro era sobre Macau, achei que devia ter como personagem principal um macaense. Além disso, ele é muito importante na história de Macau. É por causa dele que Macau é o que é hoje”, explica.

“Eu diria que ele foi um herói acidental, porque foi por causa da morte do seu chefe, o governador Ferreira do Amaral [assassinado em 1849], que ele liderou o ataque ao Forte de Baishaling [Passaleão]. Por causa desse sucesso – embora não imediatamente, mas pouco depois da sua morte [1880] – Macau foi entregue a Portugal como colónia [1887]. As coisas estão completamente relacionadas”, refere.

Marco Lobo, convidado do Festival Literário – Rota das Letras – contextualiza: “O livro começa em 1849 [data da batalha do Passaleão], mas os eventos já estavam a acontecer na mudança do século: A rainha D. Maria II, de Portugal, estava enfraquecida, a coroa era contestada e, em 1822, o Brasil declarou a independência. Toda a Europa estava também em revolução: os militares tinham sido profundamente derrotados e esmagados por Napoleão, os ingleses estavam altamente dependentes dos seus aliados. Ora, tudo isto, criou uma atmosfera em que Portugal queria reconquistar o seu estatuto, além de que Hong Kong tinha acabado de ficar sob domínio britânico [1842], pelo que Ferreira do Amaral viu a Inglaterra como modelo”.

Considerando que a chave estava em derrotar a China no campo de batalha, “o governador Ferreira do Amaral foi criando uma série de situações para antagonizar os chineses e propiciar um conflito, mas acabaria assassinado. Os chineses não queriam uma guerra, mas as humilhações foram suficientes para que um pequeno exército se reunisse para atacar Macau. Eis que surge Mesquita que lidera o assalto ao Forte do Passaleão [nas cercanias das Portas do Cerco] e que, por acidente, diria eu, acabou por vencer a batalha”, diz o autor.

Estava criado o mito de um herói romântico que o escritor, de certo modo, contesta. “Quando fiz pesquisa para o livro, tentei ser o mais factual possível, mas também conto a história como a vejo. Por exemplo, acredito nos relatos sobre a Batalha do Passaleão? Não, de todo. Não acredito que pouco mais de 30 homens os derrotaram num único acto fazendo com que os chineses fugissem como ratos”, sublinha Marco Lobo que explorou as razões que terão levado à vitória, como a superioridade tecnológica em termos de armas.

Se, por um lado, procura ser “historicamente preciso”, adequando-se à época, por outro, Marco Lobo toma liberdades na caracterização das personagens, explorando o lado humano de Mesquita que escapa à História. “Não há muito escrito sobre ele como homem, pelo que tive que o imaginar”, revela.

Depois do grande feito, Mesquita “esperava ser distinguido como herói. Era segundo tenente na altura e, tipicamente, passados dez anos recebe-se um distintivo militar, mas ele demorou tempo a consegui-lo, por isso, penso que ele não era muito especial. Depois, como o chefe tinha sido assassinado não havia ninguém para o promover, só subiu de posto mais de um ano depois [da batalha], quando chegou o novo governador, passando a primeiro tenente. Havia, logo aqui, feridas emocionais”, descreve Marco Lobo. “Ele queixou-se a vida toda de que era olhado com inferioridade, porque era macaense e não português e talvez haja alguma verdade nisso”.

A simbologia das estátuas

Mesquita ganhou uma estátua décadas depois da sua trágica morte (suicidou-se depois de matar a mulher e uma filha num ataque de loucura) após ter sido reabilitado. Inaugurada em 1940 no Leal Senado acabaria por ser derrubada durante os incidentes do “1,2,3”, ocorridos em Dezembro de 1966, a primeira vez que a Revolução Cultural galgou as fronteiras da China. “As estátuas são sempre símbolo de algo. Basta pensarmos no Iraque, onde o derrube da estátua de Saddam Hussein [em 2003] marcou simbolicamente o fim do regime. Neste sentido, a estátua do Coronel Mesquita era símbolo de algo muito poderoso, pelo menos o suficiente para os chineses o atacarem”, argumenta.

“Reflexões de Mesquita” foi publicado originalmente em 2017 em inglês, ganhando uma versão em chinês e em português com a chancela da Praia Grande Edições, que organiza o Festival Literário de Macau – Rota das Letras, depois do desafio lançado por Ricardo Pinto. “Achei bastante interessante. Nunca tinha pensado nisso antes”, sublinha Marco Lobo, reconhecendo o potencial estimulante da nova audiência.

“Ao escrever sobre a diáspora portuguesa nunca tive a certeza se a audiência ocidental seria o verdadeiro mercado. Tenho a certeza que muita gente nem sabe onde fica Macau. Nós temos uma boa ideia da diversidade cultural porque vivemos aqui. De muitas formas esta pode ser uma melhor audiência para o livro porque a história é conhecida em Macau e na China, embora eu não tenha a certeza sobre quão conhecida é, pelo menos entre os chineses”, observa. O livro foi escrito de “vários pontos de vista”, incluindo o de Mesquita, [e] não sou gentil com ninguém”, salienta.

“O tempo em que decorre a acção é, por um lado, a Macau bonita das pinturas de George Chinnery e, por outro, a do comércio do ópio e do tráfico de cules. É um cenário em que há luz e escuridão”, sintetiza o escritor.

Macau em livro

Marco Lobo tem um terceiro romance em preparação que, por acaso, também se cruza com Macau. Com data prevista de lançamento para o Outono, o novo livro – ainda sem título – aborda o governador que sucedeu a Ferreira do Amaral, Pedro Alexandrino da Cunha, que permaneceu apenas 38 dias no cargo. Terá morrido de cólera, mas na nova trama de Marco Lobo a história é diferente. “O livro gira em torno das circunstâncias da sua morte. Ele é só central para a história porque morre, dado que um dos personagens está envolvido na sua morte”, explica Marco Lobo que recuperou personagens ficcionadas do livro “Reflexões de Mesquita” para o novo romance. Outra parte desenrola-se na Califórnia, nos tempos da corrida pelo ouro. “Esse personagem chinês, tal como outros, vai tentar encontrar a sua fortuna na Califórnia que, em 1850, conquista o estatuto de Estado norte-americano.

Biografia do avô Pedro José Lobo em estudo

Marco Lobo é filho de Sir Roger Lobo e neto de Pedro José Lobo, uma figura incontornável do século XX em Macau. Escrever sobre o avô é “uma ideia sob consideração”. “Até estou sob um pouco de pressão para escrever por parte das algumas pessoas, mas vamos ver como corre”, diz, entre risos. Há uma condição prévia para avançar com o projecto, que seria uma biografia ao invés de um romance. “Teria que ter total liberdade para escrever tudo o que quero e isso é difícil, até porque tenho uma família enorme”, enfatiza Marco Lobo, que profissionalmente é professor universitário de Economia.

Além da diáspora portuguesa – o seu primeiro livro, “The Witch Hunter’s Amulet” debruça-se sobre Goa – Marco Lobo, de 63 anos, tem particular interesse pelos conflitos culturais que envolvem a raça e a religião, como fica patente no romance histórico “Reflexões de Mesquita”.

Nascido em Hong Kong, sempre teve uma ligação muito íntima com Macau, onde vinha frequentemente passar o Verão ou o Natal porque o avô morava no território. “Macau é-me muito familiar. Guardo memórias muito queridas e nostálgicas da antiga Macau”, sublinha Marco Lobo, que estudou em Inglaterra e nos Estados Unidos antes de partir para o Japão, onde se encontra radicado há décadas.

22 Mar 2018

Lai Chi Vun | Novo Macau defende protecção da zona dos estaleiros

A forma da antiga povoação, os estaleiros navais, o monte, a fauna e flora são as características que a associação pró-democrata entende que devem ser preservadas

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] povoado antigo, as infra-estruturas navais, o monte e a fauna e flora são os quatro elementos que a Associação Novo Macau considera que devem ser preservados em Lai Chi Vun. A tese foi defendida, ontem, numa conferência de imprensa que contou com a participação do vice-presidente Sulu Sou e Alin Lam, membro da associação.

“A Zona de Lai Chi Vun tem valor histórico para Macau, bem como as passagens dos montes e a água daquela zona. É um dos poucos vestígios de uma das indústrias navais com maior dimensão do Sul China”, afirmou a associação em comunicado.

“Por esta razão, a Novo Macau considera que o Executivo deve, no futuro, proteger os quatro elementos essenciais, que são a fauna e flora da zona de Lai Chi Vun, o conjunto dos estaleiros, incluindo a sua cultura e artes navais, a forma da antiga povoação e os montes existentes”, é acrescentado.

Por outro lado, a associação criticou, através de Sulu Sou, a situação em que se encontra toda a área, que considerou “insatisfatória”.

O deputado suspenso considerou ainda que a situação degradada dos estaleiros se deve à “falta de trabalhos de conservação por parte das autoridades”.

A consulta pública sobre a preservação dos estaleiros termina hoje. Em relação a este aspecto, Sulu Sou criticou o documento de consulta por considerar que é muito focado em dois ou três aspectos. Segundo o deputado, o documento foca em demasia a questão da segurança e se os estaleiros devem ser demolidos. Em contraste, considerou o pró-democrata, falha em focar os outros aspectos mais abrangentes.

Povoação de fora

Outro dos pontos criticados passa pelo facto do Governo não ter incluindo a zona a Leste da Estrada de Lai Chi Vun na área protegida, assim como os montes. “O Governo deveria ter feito tudo para que o monte ligado à povoação de Lai Chi Vun fosse integrado na futura zona de protecção”, lê-se no comunicado.

Na conferência esteve também Alin Lam, membro da associação que é arguido no processo relacionado com o Hotel Estoril, em conjunto com Scott Chiang. O activista recordou que já em 1986 as autoridades tinham desenvolvido um plano de protecção da Ilha de Coloane, em que a construção em altura em Lai Chi Vun não poderia ultrapassar os 11,6 metros.

Recorde-se que, recentemente, o Instituto Cultural, através da vice-presidente Deland Leong, admitiu que Lai Chi Vun poderia receber hotéis, além de um museu dedicado aos estaleiros.

22 Mar 2018

Macau espera 40 mil visitantes na Expo Internacional que se realiza em Abril

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, espera que a Expo Internacional de Turismo de Macau, que vai decorrer entre 27 e 29 de Abril, atraia 40 mil visitantes. A previsão encontra-se em linha com o aumento da própria feira, com capacidade para acolher mais de 500 ‘stands’. Até ontem, estava confirmada a presença de quase 300 entidades, oriundas de 36 países e territórios.

“Espero que com 10 por cento de aumento em termos de expositores, [ter] pelo menos mais 10 por cento em termos de visitantes. Estamos a apontar para mais ou menos 40 mil”, afirmou ontem Helena de Senna Fernandes. A pesar na influência estará também o facto de o evento ter sido antecipado de Julho para Abril para facilitar a promoção dos produtos turísticos para a época alta das férias de Verão, o que constitui “um benefício para todas as partes”. A partir de agora, vai ser sempre em Abril, o que oferece “mais possibilidades de fazer crescer o evento”, sublinhou ontem à margem da apresentação do programa.

Com um orçamento de 16 milhões de patacas, nove dos quais suportados pelo Governo, a Expo Internacional de Turismo de Macau tem cinco destaques, como a zona temática dedicada à gastronomia depois da inclusão de Macau na rede de Cidades Criativas da UNESCO e de 2018 ter sido, por conseguinte, designado o “Ano da Gastronomia de Macau”.

As indústrias criativas e culturais também vão estar em foco. “Porta da Arte” reúne expositores de lembranças artísticas relacionados com as indústrias culturais e criativas. “Este ano vamos continuar a promover mais a parte criativa e dar mais ênfase às PME [Pequenas e Médias Empresas] que, além de venderem os seus produtos, podem procurar parceiros da China ou de outros países”, afirmou Helena de Senna Fernandes.

Outros destaques – salientados durante a conferência organizada pela DST em conjunto com a Associação das Agências de Viagens – encontram-se em sintonia com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e com o projecto da “Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”. Em paralelo, a feira vai reservar um espaço a bolsas de contacto de turismo China-Portugal, mantendo como “objectivo futuro” criar uma zona dedicada a Portugal.

A Expo Internacional de Turismo, que vai ter lugar no Venetian, conta com a inscrição de 62 empresas de Macau, incluindo 19 agências de viagens, que vão ocupar 165 expositores dos 490 confirmados. Já a Grande Baía vai estar representada com, pelo menos, 11 expositores na feira, em que marcam presença praticamente todos os países de língua oficial portuguesa.

No ano passado, a Expo Internacional de Turismo de Macau, com 473 expositores, de 303 entidades de 45 países e territórios, fechou com 31 acordos de cooperação.

22 Mar 2018

Economia | Inflação fixou-se em 1,46 por cento em Fevereiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] taxa de inflação de Macau fixou-se em 1,46 por cento nos 12 meses terminados em Fevereiro, em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, indicam dados oficiais divulgados ontem.

Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), os principais aumentos foram registados nos índices de preços das secções da educação (+5,79 por cento) e da saúde (+4,64 por cento). Em Fevereiro, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou um aumento anual de 3,2 por cento, o maior em termos homólogos desde Março de 2016.

Tal ficou a dever-se ao Ano Novo Lunar (que, no ano passado, foi em Janeiro), com o crescimento a ser impulsionado principalmente pela subida dos preços das refeições adquiridas fora de casa e das excursões. Também pelo aumento nas rendas de casa, das tarifas dos parquímetros dos lugares de estacionamento público e dos preços do vestuário para senhora, de acordo com a DSEC. Em termos mensais, o IPC de Fevereiro cresceu 0,93 por cento. O IPC geral permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau.

22 Mar 2018

Governo autoriza construção de duas torres residenciais e passagem pedonal na Areia Preta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, assinou um despacho que revê a concessão de um terreno localizado na Rua dos Pescadores, zona da Areia Preta. De acordo com um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), o terreno irá servir para habitação e comércio, sendo a Companhia de Investimento e Desenvolvimento Predial Trust Art, Limitada a concessionária.

O despacho aponta para a futura “construção de um edifício, em regime de propriedade horizontal, constituído por um pódio com seis pisos, sobre o qual assentam duas torres com 13 pisos cada uma, destinado a habitação, comércio e estacionamento”. Haverá também lugar para uma área de estacionamento de veículos.

Além disso, o projecto inclui a construção de uma infra-estrutura pública. “Sobre [uma] parcela de terreno é constituída servidão pública, destinada à construção da passagem pedonal pública e instalação de respectivo equipamento, para o livre trânsito de pessoas e bens sem quaisquer restrições, não podendo ser objecto de qualquer tipo de ocupação, temporária ou definitiva”, pode ler-se no BO. Caberá ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a gestão desta infra-estrutura, bem como a sua manutenção e reparação.

A primeira vez que este terreno foi concessionado a esta empresa foi em 1993. Depois de duas revisões da concessão datadas de 1996 e 2004, a empresa veio agora entregar na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes uma proposta para o aproveitamento do mesmo.

A proposta foi apresentada a 15 de Janeiro de 2014, tendo “o respectivo projecto de alteração de arquitectura, por despacho do director destes serviços, de 16 de Junho de 2014, considerado passível de aprovação, condicionada ao cumprimento de alguns requisitos técnicos”. De acordo com o BO, a empresa pediu a modificação do aproveitamento do terreno novamente a 28 de Agosto do mesmo ano.

“Reunidos os documentos necessários à instrução do procedimento, a DSSOPT procedeu ao cálculo das contrapartidas devidas e elaborou a minuta do contrato de revisão da concessão que mereceu a concordância da concessionária, expressa em declaração apresentada em 5 de Dezembro de 2014”, lê-se ainda.

Anualmente, a concessionária terá de pagar 7,749 mil patacas, sendo que o reaproveitamento do terreno deverá ser feito no prazo de 36 meses.

22 Mar 2018

Trânsito | Wong Kit Cheng quer revisão da Lei do Trânsito Rodoviário

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aumento do número de acidentes registado entre Janeiro e Novembro do ano passado, face ao período homólogo, deverá ser solucionado com a revisão da Lei do Trânsito Rodoviário. A opinião é defendida por Wong Kit Cheng, deputada ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau, numa interpelação escrita enviada à Assembleia Legislativa.

“Os acidentes indicam que há uma necessidade de rever a actual lei para melhorar a situação do trânsito, assim como as campanhas de informação, as tecnologias utilizadas no ensino da condução e a construção das estradas”, afirma Wong Kit Cheng.

“Devido ao aumento dos acidentes, a Direcção Serviços para os Assuntos de Tráfego deve ponderar como pode melhorar a consciência dos condutores para o cumprimento das regras do trânsito, assim como o aumento da consciência dos peões. Também deve prestar mais atenção às condições das estradas e reduzir a ocorrência de sinistros”, é acrescentado.

Já este ano, devido a um aumento de quase 30 por cento nos acidentes causados pelas operadoras de autocarros públicos, Lam Hin San, director da DSAT, divulgou que foi feito um pedido às transportadoras para aumentarem a segurança. Em relação a este ponto, Wong Kit Cheng quer explicações sobre que medidas foram efectivamente pedidas às transportadoras.

22 Mar 2018

Educação | Governo vai aumentar subsídios para as escolas em nove por cento

As escolas da rede pública, ou que aderiram à escolaridade gratuita, vão poder receber entre 954,9 mil e 1,46 milhões de patacas por turma. O aumento é para acompanhar a inflação e a subida dos salários do professores

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s subsídios atribuídos pelo Governo para o ano lectivo de 2018/2019 vão registar um aumento de 9 por cento para os 3,6 mil milhões de patacas. A informação foi avançada ontem, após uma reunião do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior. O valor actual ronda as 3,3 mil milhões.

Com as alterações nos diversos subsídios, o montante entregue às escolas por turma vai crescer para um valor entre as 954,9 mil patacas e 1,46 milhões. Já o subsídio por pessoa vai variar entre as 19.140 e as 23.800 patacas.

“Os aumentos têm em conta as despesas correntes das escolas, como o aumento salarial dos professores e a própria taxa de inflação. É por isso que precisamos de aumentar os subsídios pagos às escolas”, disse Chiang Ka U, chefe substituta da Divisão de Apoios Sócio-Educativos da DSEJ.

“O aumento do investimento nas escolas vai ser feito em conformidade com os princípios de gestão prudente das finanças e da manutenção das despesas dentro dos limites das receitas. As receitas têm de ser suficientes para cobrir as despesas”, acrescentou a responsável.

Também na reunião, que contou com a participação do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, foi abordada a situação do projecto “Obras de Céu Azul”. Este plano tem como objectivo arranjar soluções para as escolas que funcionam no pódio dos edifícios.

“Esperamos transferir todas as 15 escolas que estão actualmente em pódios de edifícios. Três das escolas já foram mudadas e quatro já assinaram acordos para serem mudadas. Restam cerca de metade das escolas com quem ainda estamos em negociações”, explicou Wong Kin Mou, chefe do Departamento de Estudos e Recursos Educativos da DSEJ.

Ainda em relação a este projecto focado nas escolas, Wong justificou que o plano de implementação deve ser inferior aos 20 anos inicialmente considerados. “Em 2016, no início, o projecto tinha como objectivo num espaço de 15 a 20 anos resolver a situação das escolas em pódios de edifícios. Mas nessa altura ainda não sabíamos que íamos ter disponíveis para as escolas os terrenos do Canídromo. Com estes terrenos podemos baixar o número de anos necessários para finalizar o projecto”, justificou.

Turmas mais pequenas

A reunião de ontem, na DSEJ, serviu igualmente para fazer um balanço do programa de implementação de turmas reduzidas, ou seja, as que são constituídas por 25 a 35 alunos. O plano já está em vigor em 120 escolas do território.

Segundo o chefe do Departamento de Estudos e Recursos Educativos da DSEJ, a média de alunos por professor no ensino infantil é de 29,2 alunos por professor. No ensino primário o rácio é de 29,1 alunos por professor e no secundário de 26,8 estudantes por docente. Os dados são referentes às escolas na rede.

“A realidade das turmas de dimensão reduzida abrange 95 por cento das escolas”, frisou Wong, sobre as instituições que aderiram à rede da escolaridade obrigatória.

Em relação às escolas privadas, Chiang Ka U afirmou que as turmas não têm mais de 42 alunos, uma vez que esse é um dos critérios para receber os apoios do Governo.

22 Mar 2018

Lei Básica | Ideia defendida na APN considerada “bizarra” e “intimidatória”

Tam Yiu Chung, deputado à Assembleia Popular Nacional por Hong Kong, defendeu em Pequim que, caso os candidatos à AL e LegCo estejam contra o sistema de partido único na China, não poderão participar nas eleições por violarem a Constituição chinesa. O subdirector do Gabinete de Ligação apoiou. Analistas políticos dizem estarmos perante uma ideia “bizarra” e uma tentativa de intimidação

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s habituais encontros da Assembleia Popular Nacional (APN) terminaram e de Pequim chegaram vários recados para as duas regiões administrativas especiais. De acordo com o jornal Tribuna de Macau e Ponto Final, Tam Yiu Chung, deputado à APN por Hong Kong, defendeu que os candidatos às eleições legislativas de Macau e Hong Kong não deverão poder concorrer caso incluam nos seus programas que não apoiam o sistema de partido único em vigor no continente.

Na visão de Tam Yiu Chung, estará em causa uma violação da Constituição da República Popular da China. Confrontado com esta ideia, Chen Sixi, subdirector do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, disse estar de acordo com a mesma interpretação do membro da APN. De acordo com o Ponto Final, Chen Sixi disse que, tendo em conta a recente revisão da Constituição chinesa, os candidatos que apoiam um regime democrático na China não podem concorrer aos órgãos legislativos e devem perder o seu mandato.

Tam Yiu Chung, deputado à APN por Hong Kong. Foto: D.R.

Questionado sobre esta ideia, Arnaldo Gonçalves, especialista em ciência política e académico, disse estarmos perante uma sugestão “bizarra”. “Macau tem um sistema político de Direito e de liberdades fundamentais que é completamente diferente do sistema que existe na China. Como tal, não há parecença nenhuma com o sistema que existe no continente. As diferenças entre o primeiro e segundo sistemas estão claramente definidas na Lei Básica e apontam para uma clara autonomia do segundo sistema em relação ao primeiro.”

O académico defende mesmo que, se há insatisfação por parte de Pequim relativamente a este assunto, os dirigentes devem sentar-se à mesa e propor uma revisão da Lei Básica.

“Nunca se pôs na discussão da Lei Básica que Macau e Hong Kong aceitassem o regime do partido único. No que concerne ao funcionamento das duas regiões administrativas especiais, até 2049, no caso de Macau, há uma absoluta independência de funcionamento e de organização. Se as autoridades de Pequim estiverem desagradadas com a actual situação, o que têm a fazer é propor aos governos das duas regiões uma iniciativa político-jurídica de alteração da Lei Básica no sentido de introduzir esta interdição.”

Na visão de Eric Sautedé, também docente na área da ciência política, Tam Yiu Chung está a misturar noções. “Há uma diferença entre liberdade de expressão e o impedimento de um candidato colocar isso no seu programa político ou no seu juramento, com o argumento de que se deve manter a integridade ou a segurança nacionais. Não me parece que a declaração de Tam seja juridicamente vinculativa, mas visa criar medo e um certo nível de intimidação”, contou ao HM.

Foram feitas várias tentativas de contacto com actuais deputados da Assembleia Legislativa e ex-membros do hemiciclo, mas até ao fecho da edição não foi possível chegar à fala com nenhum deles.

“Falta de bom senso”

Antes de Chen Sixi apoiar a ideia do deputado de Hong Kong à APN, já tinha afirmado publicamente de que há “forças externas” a influenciar a sociedade civil de Macau, referindo-se a uma intromissão do movimento independentista de Hong Kong na RAEM.

Contudo, Arnaldo Gonçalves recorda que o Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau não tem poder político para alterar a autonomia que existe na RAEM e em Hong Kong.

“Não é o Gabinete de Ligação, que é um mero staff de apoio, como a secretaria geral de um chefe de gabinete, não tem mais poder do que isso [que vai alterar as coisas]. Quando o presidente chinês ou o primeiro-ministro querem dar instruções, chamam o Chefe do Executivo dos dois territórios a Pequim para lhes dar directamente instruções.”

O académico acrescentou também que o próprio Gabinete de Ligação já foi alvo da campanha anti-corrupção da China, nomeadamente com a suspensão do ex-director, Li Gang, de quaisquer funções do PCC, pelo período de um ano.

“Acho falta de bom senso, porque nesta campanha anti-corrupção, o Gabinete de Ligação de Macau e Hong Kong têm algumas situações que precisavam de ser clarificadas num passado recente. É absurdo e precipitado estar a tomar estas posições. Gostam de falar, mandar recados, mas em Macau temos de manter a serenidade e tenho a certeza que as pessoas mais esclarecidas em Macau, os que governam e estão nas instituições, não querem saber.”

22 Mar 2018

Filipinas | Macau quer apostar na cooperação judiciária em matéria penal

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma delegação de Macau, chefiada pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esteve recentemente nas Filipinas onde reuniu com membros do Governo. De acordo com um comunicado oficial, foi assinada, “após dois dias de negociação”, a Acta da Reunião entre a Delegação do Ministério da Justiça da República das Filipinas e a Delegação da RAEM.

Foi reconhecido “o reforço da cooperação judiciária e o combate em conjunto ao crime e às infracções estão de acordo com os interesses e necessidades de ambas as partes”. Representantes dos dois executivos concordaram também “na intensificação do intercâmbio e negociações no que respeita ao conteúdo concreto do Acordo sobre a Transferência de Pessoas Condenadas, do Acordo relativo ao Auxílio Judiciário em Matéria Penal e do Acordo relativo à Entrega de Infractores em Fuga, criando, para esse efeito, um mecanismo de comunicação”.

Este ano, uma delegação das Filipinas deverá visitar Macau “com o objectivo de realizar negociações sobre os acordos referidos”.

22 Mar 2018

Jockey Clube de Macau deve 150 milhões de patacas ao Governo

O secretário para a Economia e Finanças desconhece se o Executivo pode exigir juros de mora perante uma dívida que chegou a atingir a cifra de 200 milhões, em 2015. Apesar de já terem sido recuperados 50 milhões, Lionel Leong admitiu que não sabe se o valor vai ter de ser ajustado à inflação e pago com juros

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Jockey Clube de Macau tem um dívida de 150 milhões de patacas ao Governo, que vai ter de pagar num prazo de três anos. A garantia foi deixada, ontem, pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que veio a público explicar a polémica em torno das dívidas da concessionária.

O secretário, que assumiu o cargo em Dezembro de 2014, afirmou ainda que só em 2015 teve conhecimento do “problema” e que, desde essa altura, já recuperou 50 milhões patacas de uma dívida que chegou a atingir o valor de 200 milhões de patacas.

“Em 2015, descobri este problema e, desde então, temos exigido à empresa que pague a dívida. Actualmente, as dívidas ao Governo são de 150 milhões de patacas, mas antes eram de 200 milhões, quando detectámos o problema, em 2015”, disse Lionel Leong, ontem.

O montante em causa diz respeito ao imposto sobre o jogo, pagamentos ao Fundo de Pensões e prémios não reclamados, entre outros. Os atrasos foram autorizados pelo Governo, uma vez que desde 2002 que a empresa sempre apresentou perdas.

Apesar dos atrasos, o secretário para a Economia e Finanças não garante que o montante seja restituído com juros de mora.

“Se vai haver o pagamento de taxas de atraso, se vai ser tida em conta a inflação ou vão ser pagos juros de mora, ainda não sabemos. Temos de questionar a Direcção de Serviços de Finanças se existe base legal para recuperar o dinheiro”, admitiu. “Mas, claro, se eles não conseguirem pagar as dívidas no prazo de três anos a concessão vai ser anulada”, frisou.

Dívida conhecida

Apesar do problema, segundo as palavras do Lionel Leong, ter sido detectado em 2015, o mesmo não quer dizer que não fosse do conhecimento de Francis Tam, anterior secretário para a Economia e Finanças. Isto porque, como explicou Lionel Leong, ao longo dos anos foram sendo recebidas cartas da empresa, que é formalmente conhecida como Companhia de Corridas de Cavalos de Macau.

Ontem, o secretário explicou igualmente outros pormenores do contrato com a empresa. Entre 1997 e 2005, a empresa pagava uma renda anual ao Governo de 25 milhões de patacas. No entanto, as quebras dos lucros fizeram com que o contrato passasse a prever um pagamento mais reduzido de 15 milhões por ano.

“Na altura foi ponderada a diversidade do jogo e o facto do Jockey Clube de Macau contribuir para a oferta de pontos turísticos no território”, explicou Lionel Leong.

Quanto ao facto da concessão ter sido renovada, em Fevereiro, durante mais 24 anos e seis meses, o actual secretário para a Economia e Finanças recordou que a empresa está obrigada a investir 1,5 mil milhões patacas.

 

 

 

Lionel Leong responde Ho Iat Seng

Na corrida ao lugar de Chefe do Executivo, dois dos nomes mais falados têm sido os de Lionel Leong e Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa. Ontem, o actual secretário para a Economia e Finanças não quis deixar Ho sem resposta, após o presidente da AL ter criticado os secretários por se encontrarem com os ministros da China durante a Assembleia Popular Nacional. “Agradeço-lhe [a Ho Iat Seng] a atenção prestada. Mas como um dos titulares de alto cargo tenho de manter o diálogo e aprender e saber mais sobre situação nacional”, começou por dizer Lionel Leong. “Seguimos o Chefe do Executivo. Os contactos foram feitos através do Gabinete do Chefe do Executivo, que é quem comunica com os vários ministérios para organizar os encontros. Só a partir desse momento é que participamos nas reuniões”, acrescentou.

22 Mar 2018

Fórum Macau, 15 anos | Necessária aposta nas empresas e mais meios

Além do papel institucional que o Fórum Macau tem tido nos últimos 15 anos, há ainda muito a fazer como, por exemplo, aprofundar ligações com empresas e associações do sector e disponibilizar “mais meios”, defendeu Jorge Costa Oliveira. Um seminário fez a radiografia de um organismo que, anos depois da sua criação, ainda não coordena o fundo financeiro criado por Pequim e que só no próximo ano deverá ter uma sede própria

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Fórum Macau encarou-se a si próprio em dois seminários que contaram com a presença dos actuais e antigos dirigentes, incluindo o ex-Chefe do Executivo, Edmund Ho e do ex-secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, que se fez acompanhar de Echo Chan, secretária-geral adjunta do Fórum.

Jorge Costa Oliveira, ex-secretário de Estado da Internacionalização do Governo português e antigo membro do primeiro Executivo da RAEM (foi membro do extinto Gabinete para os Assuntos do Direito Internacional), recordou os tempos em que, na Administração portuguesa, o Fórum Macau era apenas uma ideia.

“Foi no período posterior à transição que houve a coragem de lançar o Fórum Macau. A ideia de Macau como plataforma para promover a ligação nas áreas económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa já existia, mas a verdade é que nenhuma ideia é interessante se não houver vontade de a concretizar. Na China houve essa vontade.”

Em 15 anos houve muitas acções de formação para quadros de Macau e dos países de língua portuguesa, nas mais diversas áreas, além da promoção de eventos empresariais. Pequim criou um fundo financeiro para grandes projectos de infra-estruturas, chamado de Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento que, anos depois, continua a ser gerido por Pequim.

A sede do Fundo deverá ser transferida para a RAEM, onde já trabalha uma equipa de profissionais oriunda do continente. Ainda assim, Xu Yingzhen, secretária-geral do Fórum Macau, continua a não ter certezas do número de projectos que estão por aprovar e quais os montantes envolvidos. Há, para já, apenas quatro projectos aprovados para receber o dinheiro do Fundo, localizados em Moçambique, Angola e dois no Brasil.

Vários anos depois da sua criação, o Fórum Macau continua a não ter um espaço próprio. O edifício, localizado próximo do lago Nam Van, está actualmente em construção e só deverá abrir portas no próximo ano.

À margem do evento, Xu Yinghzen disse aos jornalistas que o futuro passa por uma maior aproximação aos empresários, uma sugestão que foi, aliás, defendida por vários oradores presentes nos seminários.

A voz às empresas

“Foi afirmado que deve haver uma orientação dos trabalhos para o sector empresarial e que essa ligação se deve aprofundar ainda mais para que o Fórum ofereça serviços e para que o sector empresarial possa aproveitar mais informações e oportunidades de investimento. Isso coincide com o nosso propósito, pois o corpo principal é o sector empresarial. Temos de trabalhar mais para que o sector empresarial de cada país possa aproveitar mais o nosso Fórum”, adiantou.

Para dar uma melhor resposta aos anseios dos empresários no futuro, Xu Yingzhen promete mudanças. “Nos últimos anos, o secretariado investiu muitos esforços neste tipo de contactos com associações e firmamos alguns memorandos com associações locais e com o interior da China e todos os anos participámos em encontros empresariais. No futuro vamos investir mais esforços.”

A secretária-geral garantiu que o Fórum tem trabalhado em parceria com o Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento e com o Instituto de Promoção do Investimento e Comércio de Macau (IPIM), mas que é necessário fazer mais.

“Acho que trabalhamos algumas vezes para o mesmo propósito, que é o de fornecer mais serviços ao sector empresarial. Participamos em muitas actividades organizadas pelo IPIM e este também nos apoia em algumas actividades. Em relação ao Fundo, eles têm os seus próprios procedimentos de avaliação dos projectos e, nesse sentido, o Fórum nunca intervém. Somos um canal para que o Fundo se possa apresentar.”

Omoletes com mais ovos

Uma das vozes que defendeu uma maior aproximação ao sector empresarial foi Jorge Costa Oliveira, actualmente CEO da empresa de consultadoria JCO Consulting.

“Uma das áreas de grande potencial para o futuro do Fórum Macau é a cooperação ao nível das associações empresariais. O Fórum tem feito um trabalho notável de promoção da China e das suas oportunidades, a todos os níveis, dando a conhecer as oportunidades que existem nos PALOP junto dos empresários chineses. É uma tarefa difícil, porque, no resto do mundo, todos sabemos que existem grandes oportunidades na China, mas a verdade é que na China há grandes oportunidades dentro do país, à volta dele e agora na Rota da Seda.”

Contudo, “há muito trabalho a fazer ainda”, frisou. “O trabalho que o Fórum tem feito é, sobretudo, institucional. Há uma tentativa grande de envolver entidades e agências públicas a nível central, provincial e local. Mas o seu grande objectivo é contribuir para aumentar as relações comerciais entre a China e os PALOP. E a verdade é que quem importa, exporta e investe, são as empresas.”

Na prática, Jorge Costa Oliveira defendeu uma concentração da acção do Fórum Macau nas principais cidades dos países envolvidos nesta iniciativa do Governo Central. “Faz sentido haver uma concentração nas principais áreas metropolitanas e trabalhar com associações comerciais dessas áreas. Conhecer as oportunidades e sectores para que se deve olhar. O próximo salto qualitativo, que é importante que o Fórum faça, sem prejuízo do trabalho que já faz hoje, é uma maior proximidade em relação às associações empresariais, para poder chegar de forma mais directa ao mundo das empresas.”

Para Jorge Costa Oliveira, “ambição” é a palavra que interessa para os próximos anos. “Todos nós queremos um Fórum mais ambicioso e achamos importante que possa continuar a progredir, mas este tem de ter mais meios e não se podem pedir mais omoletes com os mesmos ovos”, frisou.

“Deve existir articulação entre o Fórum e as novas possibilidades que foram atribuídas a Macau, e estou a pensar na plataforma financeira, onde temos de trabalhar mais. Grande parte do capital que esteve disponível nas últimas décadas, de entidades públicas chinesas, vai diminuir e vão existir mais exigências em termos de análise de risco.”

Chegar a mais países

Chen Jian, ex-vice-ministro do comércio da China, defendeu que o Fórum Macau “tem de ser um mecanismo aberto”, tendo apontado a necessidade de chegar a “países terceiros”.

“Temos de ter inovação na nossa actuação e agir de acordo com as necessidades dos países. Podemos colocar todos os projectos nas instalações do Fórum, para que as pessoas saibam quais as situações actuais dos países, tal como o nosso novo membro, São Tomé e Príncipe. Se os projectos não forem divulgados atempadamente as pessoas não os vão conhecer”, frisou Chen Jian.

Henrique Horta Santos, representante da Guiné-Bissau no Comité de Estabilidade Financeira na União Monetária Oeste Africana, falou da necessidade de maior conhecimento entre países, em termos de panorama económico, cultura e idioma.

“Existem empresários chineses que não conhecem bem a realidade dos países. Sem pôr de parte os riscos envolventes, terá de haver uma campanha séria de sensibilização para que os países possam estar interessados. Tanto a Guiné-Bissau como a China e Macau têm interesse em aprofundar o conhecimento, porque o capital só vai onde se sabe que o risco é controlado. Não deixa de ser preocupante o desconhecimento, o factor língua e as realidades de cada país.”

 

Embaixador da Guiné-Bissau fala num maior empenho do Fórum

O embaixador da Guiné-Bissau em Pequim defendeu ontem “um maior empenho e envolvimento pleno de todos os países de língua portuguesa” no Fórum de Macau para reforçar a cooperação multilateral.

Malam Sambu intervinha na sessão de abertura do seminário do Fórum Macau, por ocasião do 15.º aniversário da sua criação e da plataforma entre Pequim e o bloco lusófono. “A pretendida cooperação multifacetada, em ambiente político-económico internacional complexo e com desafios de tão grande dimensão, impõe um maior empenho e envolvimento pleno de todos os países de língua portuguesa”, declarou.

O decano dos embaixadores lusófonos em Pequim referia-se à iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, a cooperação da capacidade produtiva e a construção da zona da Grande Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau.

Malam Sambu sublinhou a necessidade de “um maior nível de organização e operacionalização” dos países-membros – China e os oito países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

“Uma melhor coordenação futura” dos países-membros, com a “definição de objectivos e metas comuns” com o secretariado permanente do Fórum, é fundamental para aumentar a cooperação entre a China e o bloco lusófono, disse.

“A cooperação entre a China e os países de língua portuguesa atingiu já um patamar que pode ser considerado relevante, mas podemos antever a expressiva dimensão que poderá ter no futuro”, considerou.

No início da sessão, o secretário para a Economia e Finanças da Macau, Lionel Leong, afirmou que o Governo do território “vai continuar a apoiar os trabalhos do Fórum e a empenhar-se na cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”. “A cooperação e o intercâmbio económicos obtiveram resultados notáveis”, destacou o responsável, sobre o papel de Macau como plataforma entre a China os países lusófonos.

Na sua intervenção, o director do departamento para os assuntos de Taiwan, Hong Kong e Macau do Ministério do Comércio chinês, Sun Tong, sublinhou que “as trocas comerciais entre Pequim e o bloco lusófono aumentaram mais de dez vezes nos últimos 15 anos”. “A China insiste na cooperação internacional através da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e procura um novo padrão de abertura, ao mesmo tempo que pretende aprofundar a cooperação com os países de língua portuguesa em vários domínios”, afirmou.

 

São Tomé e Príncipe, um ano de adesão

Um dos novos passos dados pelo Fórum Macau foi a adesão de São Tomé e Príncipe, depois do corte de relações diplomáticas com Taiwan. Hélio Almeida, Governador do Banco Central e ex-ministro do Plano e Finança do país, defendeu que o Fórum Macau “está numa fase de consolidação”, sendo “importante trilhar novos caminhos”. “[Existe] a questão da imagem e credibilidade, a questão financeira e encontrar o que cada um dos membros do Fórum tem de melhor. No caso de São Tomé, é um país pequeno, temos de ver o que é possível fazer de diferente. E depois passa-se para uma expansão que é natural e incontornável.”

22 Mar 2018