João Santos Filipe Manchete PolíticaCaso Sulu Sou | Julgamento arrancou com arguidos a declararem-se inocentes O deputado suspenso Sulu Sou e o activista Scott Chiang negaram ontem ter cometido qualquer ilegalidade durante a manifestação contra o donativo da Fundação Macau e afirmam terem cumprido as ordens das autoridades. Negaram também a tese da acusação, que defende que o acto de atirar aviões de papel para o Palacete de Santa Sancha foi uma manifestação ilegal [dropcap style≠’circle’]À[/dropcap] terceira foi de vez. O julgamento do deputado Sulu Sou e do activista Scott Chiang pela prática de um crime de desobediência qualificada arrancou ontem, no Tribunal Judicial de Base. Em causa estão os acontecimentos da manifestação de 15 de Maio de 2016, contra o donativo da Fundação Macau à Universidade de Jinan, no valor de 100 milhões de yuan. No arranque da sessão, Scott Chiang, defendido por Pedro Leal, e Sulu Sou, que tem como advogado Jorge Menezes, negaram as acusações e disponibilizaram-se a prestar a sua versão dos acontecimentos. Contudo, ainda antes da declarações dos dois, ficou um aviso da juíza Cheong Weng Tong: “se os factos que constam nos autos forem verdade, aconselho que confessem, porque isso vai ser tido em conta. O silêncio também não prejudica os arguidos”, afirmou. Segundo a acusação do Ministério Público, representado pela magistrada Leong Mei Fun, os arguidos cometeram o acto de desobediência qualificada ao terminar a manifestação no Centro Náutico da Avenida Panorâmica de Nam Van, também conhecido como a tenda branca, quando estava planeado que o fim fosse na Praça da Assembleia Legislativa. O Centro Náutico era apenas um dos pontos de passagem. O MP acredita igualmente que o facto de alguns dos manifestantes terem tentado entregar uma petição no Palacete de Santa Sancha, já depois de ter terminado o evento, constituiu uma manifestação ilegal. Segundo a acusação, Scott Chiang e Sulu Sou lideraram o grupo de cerca de 50 pessoas, que não se retirou imediatamente da área, após os avisos da polícia, e que mais tarde se reduziu a 10 cidadãos, que atiraram aviões de papel para dentro da residência oficial do Chefe do Executivo. “Nego ter violado uma ordem das autoridades, ou ter instigado os cidadãos a praticarem qualquer acto desse género”, disse Sulu Sou, quando foi questionado pela juíza. “Sempre quis fazer tudo de forma legal e estava confiante de que não estava a violar a lei”, frisou, momentos mais à frente, quando questionado sobre a deslocação não planeada ao Palacete de Santa Sancha. Ida a Santa Sancha “A ideia de entregar a carta no Palacete surgiu já no Centro Náutico. Foi uma iniciativa individual, e optou-se por entregar a carta em Santa Sancha porque o Governo nunca respondeu às petições entregues na sede do Governo”, clarificou. Por sua vez, Scott Chiang defendeu que as pessoas que quiseram ir “em nome individual” ao Palacete nunca foram proibidas pelas autoridades. “Não concordo que não tenhamos obedecido às ordens, nem que tenhamos tido intenção de fazer alguma coisa [promover uma manifestação perto do Palacete de Santa Sancha]. Estivemos no local, mas a acusação diz que tínhamos intenção de instigar qualquer coisa e com isso não concordamos”, apontou. “Eu disse, no Centro Náutico, que ia entregar uma carta ao Palacete. Disse às pessoas que poderiam fazer o mesmo, se quisesse, mas que era uma opção deles. Nunca dirigi ninguém”, acrescentou. Fim no Centro Náutico Foi também da voz do anterior presidente da Novo Macau que chegou a explicação para o fim da manifestação no Centro Náutico, uma decisão que encurtou o percurso: “Calculámos que estavam cerca de três mil pessoas na manifestação. A praça ficava ao sol, enquanto a tenda tinha sombra, considerámos que era um local mais adequado”, justificou o activista. “Não marchámos até ao final do percurso porque estava em causa a saúde dos participante e entendemos que não havia perigo público se parássemos naquele lugar”, rematou. O tema foi também abordado pelo seu advogado, Pedro Leal. O causídico questionou se esta tinha sido a primeira vez que o fim de uma manifestação tinha sido encurtado em termos de percurso. “Já tinha acontecido em manifestações anteriores”, revelou Scott Chiang. Ainda de acordo com os arguidos, numa versão confirmada pelos seis agentes da PSP ouvidos ontem, Sulu Sou e Scott Chiang frisaram ao megafone, ainda no Centro Náutico, que a manifestação tenha chegado ao fim. Avisos sem efeito Um dos grandes argumentos da acusação é que foram necessários mais de dois avisos, em dois lugares diferentes, para que Sulu Sou e Scott Chiang deixassem as imediações do Palacete de Santa Sancha. Foi nesta altura, quando só restavam cerca de 10 protestantes, que foram atirados os aviões de papel. As autoridades e o Ministério Público consideram também que as situações, e o facto de alegadamente cerca de 50 manifestantes se terem deslocado a um cruzamento na zona, e mesmo os 10 manifestantes que foram atirar os aviões de papel para dentro de Santa Sancha, criaram grande embaraços ao trânsito local. “Eu avisei-os [aos cerca de 10 manifestantes] que tinham de ir embora, caso contrário cometiam um crime de desobediência qualificada. Foram três avisos. Mas eles ainda atiraram os aviões de papel e só depois é que dispersaram”, contou o agente com o apelido Lam, um dos principais responsáveis pela segurança, e testemunha no processo. “Considerei que por estarem naquela zona junto ao Palacete de Santa Sancha a discursar e a falar com jornalistas sobre o tópico da manifestação que isso violava a lei”, justificou Lam. O mesmo agente defendeu ainda que depois dos avisos que os arguidos demoraram “minutos” a dispersar. A defesa, com recurso ao vídeo transmitido, contestou as afirmações e apontou as suas contas, com base nas imagens: “Depois do aviso que o senhor agente deu, e que não foi o último, os arguidos demoraram entre 8 segundos e 32 segundos, de acordo com as imagens dos vídeos que constam no processo”, argumentou Pedro Leal. Apesar de acusarem Scott Chiang e Sulu Sou de atrasos a acatar as ordens, foi a opinião geral dos agentes ouvidos que ambos foram sempre cordiais e que acabaram por sair pelos próprios pés. O caso prossegue hoje, com audiência marcada para as 9h30, com três testemunhas de acusação. Devem também ser ouvidas todas as testemunhas arroladas pela defesa. O crime de obediência qualificada é punido com pena de prisão até dois anos ou 240 dias. No caso de Sulu Sou ser punido com pena de prisão igual ou superior a 30 dias, a Assembleia Legislativa pode votar a expulsão do deputado pró-democrata. “Póquer” Sulu Sou foi alvo de quatro processos de inquérito de investigação durante Setembro do ano passado, altura em que estava em campanha para as eleições legislativas. O facto foi revelado pelo deputado, quando questionado pela juíza se tinha antecedentes criminais: “Nunca respondi em juízo, nem fui julgado. Mas há quatro casos semelhantes a este de desobediência que estão em fase de inquérito. Todos esses processos ocorreram em Setembro do ano passado, na altura das eleições, mas ainda não recebi a acusação”, afirmou Sulu Sou, que até a este caso nunca foi condenado. “Esquecimento” Segundo a lei em vigor sobre as manifestações, a interrupção de uma manifestação ou reunião em Macau, mesmo nos casos em que não tenha sido comunicada, obriga as “autoridades policiais” a elaborarem um auto da ocorrência “com a descrição pormenorizada dos seus fundamentos”, que tem de ser entregue às pessoas identificadas como promotoras “no prazo de 12 horas a contar da interrupção”. Segundo o HM conseguiu apurar, tanto Sulu Sou como Scott Chiang ou a Novo Macau nunca receberam o auto do ocorrido a 15 de Maio de 2016. Também os agentes da polícia ouvidos ontem não conseguiram esclarecer se o auto tinha sido elaborado ou entregue aos promotores. O facto do auto não ter sido entregue coloca em xeque a tese de que as autoridades encararam os factos no primeiro momento como uma manifestação ilegal. Vídeos A alegada manifestação ilegal, que culminou com os membros da Novo Macau a atirarem aviões de papel, ficou registada pelos vídeos das autoridades. No entanto, na maioria das imagens junto ao Palácio de Santa Sancha a presença de agentes da polícia à paisana – identificáveis pelos auriculares e câmaras de filmar – e de jornalistas era em maior número do que os manifestantes. No entanto, um dos polícias no local, de apelido Lei, afirmou que estavam 50 manifestantes em certo local. Segundo o agente, se contassem também os jornalistas e polícias à paisana, o número subia para 70 ou 80. Entre as pessoas na sala, estavam vários jornalistas que surgiram nas imagens. Um dos agentes ouvidos em tribunal referiu que só do seu departamento estiveram presentes sete ou oito polícias à paisana. O agente não conseguiu precisar o número total de polícias à paisana presentes, por não ter conhecimento da acção de outros departamentos. Sem justificação A última testemunha ouvida ontem, um agente chamado Sebastião, foi o responsável pelo último relatório da acusação. No entanto, o polícia não foi capaz de explicar a razão de ter concluído que tinha sido cometido um crime de desobediência qualificada: “Como o primeiro relatório, o original, dizia que tinha havido uma reunião ilegal, eu fiz o relatório de acordo com esse documento e a investigação”, afirmou. “O inspector Lam fez um apelo para os manifestantes saírem do local, por isso achei que era uma manifestação ilegal”, apontou. Questionado por Jorge Menezes se tinha sido ele a fazer as conclusões ou se estas lhe tinham sido impostas, o polícia voltou a reiterar que tinha seguido o primeiro relatório elaborado e que não tinha estado no local. Chiang advertido Durante o julgamento, o activista Scott Chiang foi chamado por duas vezes à atenção pela juíza. A primeira deveu-se ao facto de Scott estar a tirar notas da sessão. A juíza mandou imediatamente parar a sessão e disse a Scott que não estava autorizado a tirar notas. Depois, Scott fez um pedido para tirar notas, que a juíza autorizou, depois de opinião favorável da magistrada. Minutos depois, Chiang, já depois de ter sido ouvido, estava a ler uns documentos e foi advertido imediatamente. Cheong Weng Tong explicou-lhe que como arguido não podia ler documentos, a não ser que fosse em voz alta e para todos ouvirem.
Hoje Macau China / ÁsiaCardeal de Hong Kong espera boas notícias este ano sobre relações Vaticano-China [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, disse este sábado, em Fátima, que espera boas notícias sobre as relações entre o Vaticano e Pequim este ano. Ao falar na conferência de imprensa da peregrinação internacional aniversário de 12 e 13 de maio, John Tong admitiu que “ainda este ano poderão ser anunciadas boas notícias”. Segundo o cardeal, há várias questões nas negociações entre Pequim e o Vaticano, sendo que a nomeação dos bispos locais é um dos pontos mais importantes. “Este é o ponto chave”, declarou o prelado, que destacou a devoção à Virgem de Fátima na China, onde o Centenário das Aparições foi celebrado em igrejas locais. Ainda assim, John Tong considerou que “a Igreja na China continua a viver atualmente numa situação atípica”, assinalando que o Governo privilegia a Igreja oficial, a Associação Patriótica, implementando medidas restritivas para a comunidade que segue as orientações do Vaticano. O cardeal admitiu, contudo, que a situação da Igreja na China “continua aberta a grandes possibilidades”, destacando a “grande coragem em muitas comunidades católicas na defesa da sua fé”. Já o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, considerou que se está “a viver um momento delicado e esperançoso no diálogo” entre a Santa Sé e a China, manifestando o desejo de “que possa abrir caminho ao reconhecimento da Igreja católica na China e que permita aos católicos chineses serem cidadãos plenamente católicos e plenamente chineses, porque é isso que está em questão no fundo”. “Queremos ter esta intenção presente nesta peregrinação”, afirmou António Marto, pedindo para que este diálogo “chegue a bom termo” e “seja frutífero a breve tempo”. Pequim e a Santa Sé estarão prestes a quebrar mais de meio século de antagonismo com a assinatura de um primeiro acordo sobre a nomeação dos bispos. Os dois Estados romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Em 12 de março, a China disse que está a trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações bilaterais, numa altura em que ambos os Estados estão prestes a assinar um acordo sobre a nomeação dos bispos, segundo observadores. “A nossa posição é clara, estamos contentes por trabalhar com o Vaticano para melhorar as relações”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, em conferência de imprensa. Já em 03 de abril, a China considerou que limitar o controlo do Vaticano na nomeação dos bispos não restringe a liberdade religiosa dos crentes chineses. O vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China Chen Zongron reafirmou a noção de que os grupos religiosos do país não podem ser controlados por “forças estrangeiras”. “A constituição chinesa afirma claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, referiu.
Hoje Macau China / ÁsiaCardeal de Hong Kong pede aos peregrinos em Fátima que tornem Cristo visível na sociedade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, pediu este domingo aos peregrinos em Fátima para que através do modo de viver e exemplo façam com que Cristo seja visível na sociedade. “Com o nosso modo de viver e o nosso exemplo devemos fazer com que Cristo seja visível hoje na nossa sociedade”, diz o cardeal na homilia que escreveu, mas lida pelo reitor do santuário, padre Carlos Cabecinhas, na missa final da peregrinação internacional aniversária ao Santuário de Fátima, a que assistem cerca de 300 mil fiéis. O bispo emérito de Hong Kong aponta o exemplo da Virgem para dizer que Maria ajudará a “levar Cristo ao mundo e o mundo a Cristo”, tornando as pessoas abertas e atentas “às necessidades dos outros” e a partilharem “o tesouro e a alegria” da fé. Segundo o cardeal, esta tarefa deve ser realizada a partir da Eucaristia, para acrescentar: “A nossa assembleia litúrgica é já testemunho vivo da presença de Cristo”. “Jesus, com o seu Espírito, forma em nós uma nova humanidade. Ele próprio nos impele na procura da liberdade, da dignidade, da justiça, da responsabilidade, ou melhor, fortalece o nosso próprio desejo de construir um mundo mais justo e mais unido”, afirma o prelado. Na missa, que está a ser concelebrada por 227 sacerdotes e 18 bispos, o cardeal John Tong refere-se depois à comunidade de crentes que, “consciente de ter recebido um mandato divino, plena de fervor missionário e de alegria pascal, torna-se no mundo testemunha da nova realidade da vida realizada em Cristo”. “Esta nova realidade manifesta-se nos pequenos gestos que realizamos nas nossas vidas quotidianas, nas realidades terrestres e nos nossos compromissos de cada dia que fazemos com o novo Espírito do Senhor. Acima de tudo, quando nos dedicamos à libertação espiritual e à promoção humana dos outros”, salienta. O cardeal John Tong menciona ainda o seu percurso pessoal, para destacar o impacto que teve “o exemplo dos serviços caritativos dos missionários estrangeiros quando, em criança, vivia em Cantão, logo depois do final da Segunda Guerra Mundial”. “O seu espírito missionário e caritativo suscitou em mim o desejo de os imitar, fizeram nascer em mim a vocação sacerdotal e decidi entrar para o seminário em Macau, pouco antes da minha família se refugiar em Hong Kong”, lê-se na homilia, na qual pediu também aos milhares de peregrinos que encheram o recinto de oração para que, ao regressarem à vida quotidiana, se comprometam a “partilhar a fé e o amor”. A peregrinação internacional aniversária, que hoje termina, um ano depois do Centenário das Aparições, da canonização de Francisco e Jacinta Marto e da visita do papa Francisco, tem como tema “Tempo de graça e misericórdia: dar graças pelo dom de Fátima”. Segundo informação do santuário, cerca de 37 mil peregrinos deslocaram-se a pé para Fátima para a peregrinação, número que superou as expetativas. Anunciaram-se ainda no santuário 148 grupos, com um total de nove mil peregrinos de 26 países. Numerosos santuários marianos na China lembram proteção da Virgem – cardeal de Hong Kong O cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, afirmou no Santuário de Fátima que “os numerosos santuários marianos na China ajudam a relembrar constantemente ao povo” a proteção da Virgem. “Na História da Igreja na China registam-se várias intervenções de Nossa Senhora. Por exemplo, em 1900, durante a perseguição dos Boxers, ocorreram duas aparições, uma em Pequim, onde a Virgem Maria apareceu acompanhada do arcanjo São Miguel e rodeada por uma multidão de anjos”, refere o cardeal na homilia que escreveu, mas lida pelo reitor do santuário, padre Carlos Cabecinhas, na missa que hoje encerra o primeiro dia da peregrinação internacional aniversária ao Santuário de Fátima. Concelebrada por 147 sacerdotes e 13 bispos, na eucaristia, após a procissão das velas, a que assistem o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, e a chefe de Estado da Cróacia, Kolinda Grabar-Kitarovic, o prelado aponta que “a segunda aparição ocorreu na cidade de Donglu, perto de Baoding, na província de Hebei, onde Maria apareceu no céu e, escutando as súplicas do povo, preservou a cidade da destruição”. “Uma aparição mais recente, pouco depois da perseguição da Revolução Cultural, ocorreu na Basílica de Sheshan, próximo de Xangai, quando, na primavera de 1980, os pescadores católicos lá voltaram encontraram as portas fechadas”, continua o bispo emérito, para acrescentar: “Forçando-as, entraram e ajoelharam-se na igreja vazia, enquanto rezavam e cantavam durante longas horas, Nossa Senhora apareceu diante deles”. O cardeal John Tong salienta depois que “a causa das piores desgraças humanas é o pecado” e que Maria “sempre mostrou ter uma forte preocupação pelos pecadores”, para sublinhar que “a presença do pecado, da dor e da morte no mundo persiste ainda”. Referindo-se à Mensagem de Fátima, lembra na homília que Maria “recomendou com insistência aos três videntes que rezassem e fizessem penitência pela conversão dos pecadores, pelo fim da guerra e pela paz no mundo, de forma a evitar tribulações para o mundo e perseguições para a Igreja”. Depois, John Tong recorda o exemplo dos videntes Francisco, Jacinta e Lúcia, os dois primeiros tornados santos há um ano em Fátima pelo papa Francisco, que aceitaram o convite da Virgem e “empenharam-se na oração, no sacrifício e no jejum”, para perguntar aos milhares de fiéis presentes no recinto de oração qual a sua decisão. O bispo emérito de Hong Kong dirige, ainda, uma palavra aos doentes, destacando que a Virgem “permanece junto de todos” para lhes “infundir coragem”. “A Mãe celeste está agora aqui connosco, está ao lado de todos vós, irmãos e irmãs doentes”, lê-se na homilia, na qual o cardeal pede aos fiéis para renovarem a confiança na intercessão e no cuidado da Virgem, e que é a esperança que deve sempre sustentar as pessoas “nas dificuldades e no sofrimento”.
Hoje Macau InternacionalIsrael | Dezenas de países boicotam inauguração de embaixada em Jerusalém [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ezenas de países, entre eles a maioria dos europeus, não assistiram ontem a uma cerimónia do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita para assinalar a inauguração hoje da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém. O evento conta com a presença do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e da delegação norte-americana enviada para a inauguração, que já chegou a Israel e inclui a filha do Presidente dos Estados Unidos Ivanka Trump e o seu marido e assessor presidencial, Jared Kushner. Está prevista a assistência de um milhar de pessoas e foram convidados 86 embaixadores e encarregados de negócios, 40 dos quais aceitaram, mas a maioria dos Estados europeus não estará presente por não concordar com a mudança da embaixada de Telavive para Jerusalém, que rompe o consenso da comunidade internacional. Entre os países que não estarão presentes encontra-se a Espanha, o Reino Unido, a França e Itália, embora tenham confirmado a sua presença os representantes da Roménia, Hungria, Áustria e República Checa, confirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado. O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a mudança da embaixada em Dezembro, quando reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, suscitando críticas da maioria da comunidade internacional e a ira dos palestinianos. Estes reivindicam Jerusalém oriental, ocupado em 1967 e posteriormente anexado por Israel, como a capital de um desejado Estado da Palestina.
Hoje Macau China / ÁsiaEstado Islâmico reivindica atentados a três igrejas na Indonésia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] movimento extremista Estado Islâmico reivindicou ontem a responsabilidade pelos ataques com bombistas suicidas, todos da mesma família, em três igrejas de Surabaya, na Indonésia, que provocaram, pelo menos, 11 mortos. “Três ataques ‘kamikazes'” fizeram mortos e feridos “entre os cristãos da cidade de Surabaya”, segundo a entidade que divulga a informação do grupo extremista, a agência Amaq. Segundo a polícia da Indonésia, os bombistas suicidas eram todos da mesma família e entre eles estavam crianças e adolescentes. O último balanço das autoridades apontam para 11 mortos e mais de 40 feridos em resultado dos ataques a três igrejas cristãs, durante a manhã, quando decorriam missas ou cultos. O responsável da polícia local Tito Karnavian, disse que a família esteve na Síria, país onde o movimento Estado Islâmico controlava vastas áreas, até há pouco tempo. Acrescentou que o pai fez explodir um carro bomba, dois filhos, de 18 e 16 anos, usaram uma mota num dos ataques, enquanto a mãe estava com duas crianças de 12 e nove anos na terceira igreja. As explosões registaram-se em Surabaya, a segunda maior cidade da Indonésia, com o primeiro ataque a ocorrer na igreja cristã de Santa Maria, onde morreram quatro pessoas, uma delas um bombista, disse aos jornalistas no local o porta-voz da polícia Frans Barung Mangera, acrescentando que entre os feridos estão dois agentes policiais. Seguiu-se o ataque à igreja protestante de Diponegoro, minutos depois, com a terceira situação a ocorrer na igreja de Pentecostes de Arjuro. Um polícia já tinha dito à agência AP que os explosivos eram transportados por, pelo menos, cinco bombistas suicidas, incluindo uma mulher que tinha duas crianças, uma situação igualmente descrita por uma testemunha que estava na igreja de Diponegoro. A associação da igreja da Indonésia, em Jacarta, já condenou os ataques e apelou às pessoas para aguardarem a investigação da polícia. Perigosa diversidade A Indonésia tem realizado alguma pressão desde que bombistas radicais da Al-Qaida mataram 202 pessoas em Bali, em 2002, e nos últimos anos o país enfrentou uma nova ameaça com o aumento da influência do movimento Estado Islâmico no Médio Oriente. A província de Java oriental é um dos palcos de ataques de movimentos extremistas islâmicos, já que a sua capital, Surabaya, é uma das cidades com maior diversidade religiosa naquele que é o mais populoso país muçulmano do mundo. Os ataques a alvos cristãos acontecem dias depois de as autoridades indonésias terem posto fim a uma crise de reféns num centro de detenção perto de Jacarta, uma acção reivindicada pelo movimento extremista Estado Islâmico. Os cristãos, muitos deles da etnia minoritária chinesa, representam cerca de 9 por cento da população da Indonésia, que atinge 260 milhões de habitantes, enquanto os muçulmanos são 88 por cento do total. O país fica em alerta máximo nas semanas que antecedem o Ramadão, que começa na terça-feira, já que é uma época escolhida pelos ‘jihadistas’ para realizar ataques.
João Luz VozesInimputável [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]evar é um fenómeno raro em Macau, ainda assim, não faltam flocos de neve no território. Frágeis, quebradiços e suspensos no ar. Sou um desses fenómenos que extravasa da meteorologia para o campo emotivo. Sou sensível como uma pluma, leve como o hélio, sou a soma de todas as sensibilidades num povo que se quer forte, implacável e talentoso. O meu núcleo é feito de delicadezas e nervos que concentram todas as susceptibilidades de uma personalidade que sofre de raquitismo. A última coisa que quero é sentir-me responsável pelo quer que seja, muito menos pelas minhas próprias acções ou palavras. Nunca ninguém me disse que a idade adulta implicaria este grau de responsabilização e que teria de dar a cara pelas minhas convicções, nunca me explicaram que a minha voz tinha como efeito secundário a exposição do meu corpo nu perante os olhares reprovadores da aldeia. Em privado, mostro-me interventivo, corajoso, ostento uma estoica frustração de quem não consegue fazer mais pelo bem-comum. Quando tenho oportunidade para fazer algo, fico com as orelhas quentes, sobe-me um rubor à cara e lembro-me das palavras proféticas da minha santa mãe: “filho, tu vê lá no que é que te metes”. A tacanhez tímida que me impede de participar na iluminação de um assunto é acompanhada por uma vociferante crítica de quem procura escalpelizar os problemas do quotidiano. Nas redes sociais sou um justiceiro, disparo teorias de conspiração e calúnias aberrantes aos quatro cibernéticos ventos. Nesse momento, atrás do aparente anonimato do verbo escrito, sem ouvir a minha própria voz, atiro ao ar todas as conjurações que me ocorrem. Depois disso, falo em surdina, de cabeça baixa, porque nunca se sabe quem pode ouvir e denunciar-me na paróquia. Tenho tanta inveja das facilidades que o Governo tem em esquivar-se a questões. Basta-lhes atirar um rol de clichés e está feito, nunca ninguém irá perguntar mais nada ou, se o fizer, reitera-se o vazio até à náusea. Quem ocupa a cadeira do poder, mesmo que esteja perante algo visivelmente ilegal, profere a ave-maria jurídica “no rigoroso respeito da lei” e segue para o bingo da absolvição. Mas eles funcionam noutro nível, os seus flocos de neve derretem de outra forma. Também camuflam debilidades com força bruta, mas têm as costas bem mais quentes que eu. A eles falta-lhes a rijeza da representatividade popular, o que lhes dá um temor de morte da população que governam. A mim, falta-me a representatividade pessoal, não sou o embaixador de mim, sou um ser perdido sem ligação a nada, a não ser os meus mais profundos receios. Se baixo a guarda e falo honestamente durante um curto período de tempo volto atrás, nego o que disse ou tento voltar atrás na minha exposição e rastejar de regresso ao lugar escuro onde se sinto seguro. Outra das minhas preocupações são as minhas pequenas coutadas. Acho sempre que tudo está mal nesta terra, ou na minha originária, ou na Lua. Mas com os meus interesses está sempre tudo bem e que ninguém ouse sequer iluminar o que se passa nos recantos das minhas predilecções, ou escrutinar as minhas coutadas. Tenho responsabilidades na minha associação, mas não me responsabilizo por nada. Tenho assento numa entidade de interesse público, mas o que se passa lá não é do interesse do público. A minha forma de resolver os problemas é fingir que eles não existem, é mantê-los fechados a marinar no mofo. Se algo acontecer, negarei a realidade com todas as forças até ela me rebentar na cara. Aí escondo-me atrás do “sem comentários”, da “altura inapropriada”, “do respeito pelos envolvidos”. Estes são os meus álibis argumentativos, tão vazios como os lugares-comuns dos que me governam. E agora é que estou a reparar que esta confissão está repleta de palavras comprometedoras, sinto-me exposto, a torrar ao sol como um condenado a trabalhos forçados. Retiro tudo o que disse, estas não são as minhas palavras, sinto-me profundamente agastado com a ignomínia do abuso das minhas posições depois de as ter proferido. Nunca disse nada, reservo-me ao direito de estar em silêncio, no meu canto, à espera do colo reparador da mamã. Não assumo responsabilidade por mim, mas tudo o que me rodeia é uma pouca vergonha e um escândalo de todo o tamanho. Olhem para ali, txiiii que vergonha. Fui.
João Santos Filipe DesportoLiga de Elite | Benfica de Macau e Chao Pak Kei empatam 2-2 No jogo entre os primeiros classificados, o C.P.K. conseguiu a igualdade e afastou as águias do sonho do campeonato perfeito só com vitórias. O golo do empate foi festejado pela equipa de Gilmar Tadeu como se de uma vitória se tratasse [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ao minuto 92 do encontro com o Chao Pak Kei que chegou ao fim o sonho do campeonato perfeito para o Benfica de Macau. Após uma partida equilibrada, as águias conseguiram superiorizar-se e aos 76 minutos venciam por 2-0. Contudo, a expulsão de Iuri Capelo relançou o encontro e permitiu aos comandados por Gilmar Tadeu alcançar mais tarde o empate por 2-2. Na sexta-feira, os encarnados entravam em campo no Estádio de Macau com a missão de bater o C.P.K. e dar um passo de gigante rumo ao quase certo pentacampeonato. Por sua vez, o Chao Pak Kei tinha como objectivo adiar ao máximo a conquista do título por parte das águias e impedir que a vantagem de sete pontos crescesse para dez. Apesar da primeira parte ter sido bastante equilibrada, com as duas equipas a praticar um futebol interessante, foram as águias a fazer a diferença. O primeiro golo surgiu aos 26 minutos, através de Edgar Teixeira. Após uma bola aérea a cerca de 30 metros da baliza do C.P.K., uma defessa carregou Carlos Leonel por trás, que caiu. O árbitro marcou prontamente falta, com livre directo para as águias. Apesar de alguma hesitação, a defensiva do C.P.K. fez uma barreira apenas com três homens. Na marcação, Edgar Teixeira rematou directo e fez o 1-0, aproveitando a falha do guarda-redes Lei Tin U. Passados 10 minutos, o Benfica dilatou a vantagem, com a concretização do segundo golo. Mais uma vez, Carlos Leonel ganha uma falta de costas para a baliza, desta feita a meio do meio-campo ofensivo. O árbitro apontou o castigo e, na marcação, Edgar Teixeira bombeia a bola para a área. É nesse momento que Carlos Leonel surge na área contrária, entre a defensiva do C.P.K., e cabeceia junto ao poste da baliza defendida por Lei Tin U, fazendo o 2-0. Expulsão e surpresa No segundo tempo, o encontro continuou equilibrado, com o C.P.K. mais ofensivo e à procura de voltar a entrar na partida. No entanto, o Benfica de Macau, apesar de permitir algumas oportunidades ao adversário, mostrava controlo dos acontecimentos. Com a intenção de mexer na equipa, Gilmar Tadeu apostou forte no ataque com a entrada de Ho Ka Seng, para o lugar de Lam Ka Seng, Kwok Siu Tin por Emanuel Líbano e Felipe Souza para substituir Danilo. As alterações acabaram por confirmar o pendor ofensivo que a formação necessitava. Finalmente, aos 76 minutos começou o fim do sonho do Benfica. Bruno Nogueira isola-se num contra-ataque rápido e só é parado, em falta, por Iuri Capelo, à entrada da área. Sem qualquer dúvida, o árbitro Robesh mostrou o vermelho ao extremo encarnado. Na marcação desse livre, surgiu o pontapé de canto em que Diego Patriota aproveitou, ao segundo poste, para desviar de peito para o 2-1. Apesar de ter feito três substituições a seguir ao golo com o objectivo de equilibrar a equipa, Bernardo Tavares não conseguiu evitar a igualdade. Já no período de descontos, o C.P.K. lançou um contra-ataque rápido na direita do ataque e Alexandre Matos cruza rasteiro para a área, onde surge, ao segundo poste, Ho Ka Seng a desviar para o 2-2. Um golo que foi festejado pelo C.P.K. como se de uma vitória se tratasse. Com este resultado a diferença de sete pontos entre as formações mantém-se, numa altura em que a Liga de Elite deve parar durante três semanas e restam apenas seis jornadas para o fim do campeonato. Lugar Equipa Pontos Jogos Vitórias Empates Derrotas Golos 1.º Benfica 34 12 11 1 0 59-8 2.º C.P.K. 27 12 8 3 1 77-11 3.º Sporting 25 12 8 1 3 34-11 4.º Ching Fung 24 12 7 3 2 27-12 5.º Ka I 21 12 6 3 3 44-18 7.º Monte Carlo 16 12 5 1 6 18-13 6.º Polícia 12 11 4 0 7 12-26 8.º Hang Sai 7 11 2 1 8 10-51 9.º Alfândega 3 12 1 0 11 4-54 10.º Lai Chi 1 12 0 1 11 5-77 Resultados da Jornada C.P.K. 2-2 Benfica de Macau Lai Chi 0-9 Ching Fung Ka I 5-0 Alfândega Sporting 3-0 Monte Carlo Hang Sai 0-0 Polícia* Jogo encontrava-se empatado à hora de fecho.
Hoje Macau DesportoFórmula 3 | Vitória histórica de Zhou Guanyu [dropcap style≠’circle’]Z[/dropcap]hou Guanyu entrou para a História do automobilismo ao tornar-se no primeiro chinês a vencer uma prova do Campeonato Europeu de Fórmula 3. O jovem de 18 anos da Prema Theodore foi o vencedor da primeira corrida do fim-de-semana no circuito de Pau, em França, que marcou igualmente o arranque do campeonato. “Ainda não acredito que me tornei no primeiro chinês a vencer uma corrida de Fórmula 3 e um evento da FIA. O caminho até este momento foi muito duro, mas toda a preparação que fizemos teve uma grande recompensa”, afirmou Zhou, em comunicado. “Hoje [Sábado] foi um dia histórico com o Zhou Guanyu a tornar-se no primeiro piloto chinês a vencer uma prova da Fórmula 3. Estamos incrivelmente orgulhosos por termos sido a equipa que ajudou o Zhou a conseguir esta vitória inesquecível”, declarou Teddy Yip Jr., filho do antigo parceiro de negócios de Stanley Ho na STDM.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasA serra [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s meus avós maternos moravam numa localidade com uma dúzia de casas, no algarve profundo, um sítio chamado Vale de Ebros (que sempre achei que se escrevia Vale de Zebros – porque era assim que o pronunciavam – até erguerem uma tabuleta à entrada). Não tinham electricidade, não tinham água canalizada, não tinham carro. De cada vez que lá ia, era como se regressasse a um passado de que só ouvira falar em livros de história. O meu avô, um homem muito magro, tremelico de mãos, tomou um comprimido pela primeira vez aos 73 anos. A minha avó, também ela magríssima, movia-se com uma velocidade surpreendente para a idade. Nunca conhecera ninguém tão duro e frio. A minha família mais próxima é toda ela muito emotiva, muito italiana. A minha avó, pelo contrário, era um rochedo. Quando a minha mãe, depois de uma série de mortes na família, lhe perguntou: “mas como é que mãe aguenta?”, ela respondeu: “filha, alguém tem de tomar conta desta gente”. Alguém tinha de tomar conta daquela gente. O algarve profundo é a antítese do litoral. Em paisagem e em costumes. O litoral é dos pescadores, a serra é dos agricultores e dos criadores cabras, ovelhas e galinhas. São, no fundo, dois algarves. O algarve do peixe e da pesca, das procissões da Senhora da Orada, do turismo em massa espelhando vidros e euros noite fora; e o algarve das viúvas perenemente de negro, das mulheres transportando pesados cântaros de água sobre a cabeça, o algarve das vendas – as tascas à beira da estrada onde se compra desde minis geladas a gel de duche. A minha avó ia comigo ao quarto e fazia-me a cama, amontando colchas sobre colchas para fazer face ao frio que até em Agosto se instalava assim que o sol se punha. Antes de apagar a lamparina, dizia “drome, filho”. E eu corrigia, invariavelmente: “dorme, avó, dorme”. “Sim, filho, a avó também vai dromir”. O meu avô perdeu a visão de um olho por causa das cataratas. Recusava ser operado. Quando lhe surgiram cataratas no olho que restava, decidiu-se pela operação. Passou o resto da vida a lamentar não ter feito a primeira. Quando o via regressar do pastoreio, gritava-lhe, à distância: “venda-me um borrego desses para o Natal”. Ele, que via muito mal, não me reconhecia. “Não estão para venda”, atirava. Quando percebia que era eu e que os tinha ido visitar, chorava. O meu avô chorava por tudo e por nada. A minha avó não chorava nunca. O campo de que me recordo era um lugar muito duro. As pessoas levantavam-se quando o sol raiava, todos os dias. Tratavam dos animais – bestas, como chamavam às mulas e cavalos; porcos, que engordavam para a matança e ovelhas e cabras; uma vaca ou outra, para leite; galinhas que acorriam à primeira pessoa que saia de casa de manhã, à espera da ração. Muitos homens e mulheres eram alcoólicos. Durante o dia, bebiam o péssimo vinho que eles próprios faziam. À noite, iam para a venda jogar cartas e beber minis. Um dos meus primos bebia uma grade e meia de minis todas as noites. Tinha os olhos mais azuis que já vi. Em bebé, diziam nunca ter visto uma criança tão linda. Teve poliomielite e ficou entrevado do lado direito do corpo. Pastoreava umas cabras que conduzia graças a uma funda. Tinha uma pontaria exímia. Morreu com trinta e seis anos, de cirrose hepática. As pessoas enlouqueciam facilmente. Acumulavam raiva de anos e anos de mal-entendidos e de zangas e, num dia pior, com uma enxada ou uma caçadeira, matavam o vizinho de sempre por um palmo de terra. Depois, entregavam-se. “Leve-me, seu guarda, dei cabo da vida desta família, leve-me.” O mal irrompia e submergia com a mesma facilidade. As pessoas desconfiavam umas das outras. Desconfiavam de quem chegava de fora com carros grandes com vidros eléctricos. Não acreditavam que o homem tivesse ido à lua. “Fazer o quê, filho?”, replicava o meu avô às minhas aspirações a ser astronauta. Passei muito tempo zangado com aquele sítio para onde os meus pais insistiam em levar-me no fim-de-semana, impedindo-me assim de andar de bicicleta ou de jogar à bola com amigos. Não queria ir, fazia birra, era sempre um drama. Percebo agora, muito mais tarde, que levo comigo esta serra para onde quer que vá. A sua aspereza, a sua aridez, a sua pouca paciência para com os fracos. Mas também a sua surpreendente generosidade, o cheiro a esteva e os nomes de algumas árvores. Nenhum dos meus avós está vivo. É a eles que dedico este pequeno texto.
Hoje Macau China / ÁsiaRegião | Pyongyang anuncia desmantelamento do complexo de testes nucleares [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte anunciou no fim-de-semana que está a tomar “medidas técnicas” para desmantelar o seu complexo de ensaios nucleares e que convidará jornalistas estrangeiros para uma cerimónia de lançamento do processo entre 23 e 25 de Maio. “Uma cerimónia de desmantelamento do complexo de ensaios atómicos está prevista para entre 23 e 25 de Maio, em função das condições meteorológicas”, indicou a agência estatal norte-coreana KCNA, citando um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros. O Ministério adianta que o desmantelamento incluirá a explosão dos túneis, o bloqueamento das entradas e a eliminação de todas as instalações de observação, centros de investigação e estruturas de unidade de guarda no terreno e também a “área circundante será completamente fechada”. Durante a histórica cimeira entre as duas Coreias, a 27 de Abril, o dirigente norte-coreano Kim Jong-un propôs a Seul encerrar em Maio o seu único complexo conhecido de ensaios nucleares, Punggye-ri, uma instalação secreta perto da fronteira com a China. Foi neste complexo subterrâneo que se realizaram os seis testes nucleares realizados por Pyongyang, o último dos quais em Setembro do ano passado. Os Estados Unidos declararam na sexta-feira estar “prontos” para ajudar a economia norte-coreana e dar “garantias” a Kim Jong-un se Pyongyang tomar “medidas corajosas” para uma “desnuclearização rápida” e “completa”. “Se a Coreia do Norte tomar medidas corajosas para uma desnuclearização rápida, os Estados Unidos estão prontos a trabalhar com a Coreia do Norte para a levar ao mesmo nível de prosperidade dos nossos amigos sul-coreanos”, declarou o secretário de Estado, Mike Pompeo, de regresso da Coreia do Norte onde se encontrou com o dirigente norte-coreano para preparar a cimeira com o Presidente Donald Trump.
Hoje Macau China / Ásia MancheteReportagem | A ascensão de Xi no século de afirmação da China Por João Pimenta, jornalista da agência Lusa [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]unto à entrada do Wujing Yiyuan, um dos maiores hospitais públicos de Pequim, uma faixa com oito metros de comprimento e dois de altura dita: “Ouçam as ordens do Partido Comunista, sigam o Presidente Xi” Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, Xi Jinping tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes da história recente do país, comparável ao fundador da República Popular, Mao Zedong. No mês passado, numa única sessão do legislativo chinês, Xi conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao executivo para supervisionar a aplicação das suas políticas e promover aliados a posições chave do regime. “É enorme; é histórico”, afirma à agência Lusa Xie Yanmei, analista de política chinesa do centro de investigação Gavekal, com sede em Hong Kong. “Requer grande margem de manobra e muito capital político”, diz. Xi Jinping anunciou já o início de uma “nova era” para a China, com dois objectivos: construir uma “sociedade moderadamente próspera”, até 2035, e depois firmar a posição do país como grande potência, até 2050. “Ele tem uma visão para o país e quer usar os meios institucionais para cumprir essa visão”, explica Xie Yanmei. Entre aqueles “meios institucionais”, destaca-se a criação da Comissão Nacional de Supervisão, que acumula poderes comparados aos do executivo, legislativo ou judicial, e abrange toda a função pública. Trata-se de uma “organização política e não de aplicação da lei”, que “pode ser potencialmente transformativa”, defende Xie. “A Comissão estará encarregue de garantir que as decisões do partido são rigorosamente implementadas”, através do envio de inspectores para as empresas estatais e diferentes organismos do Governo, afirma. Trata-se de uma forma de institucionalizar a mais ampla e persistente campanha anticorrupção na história da China comunista, lançada por Xi após ascender ao poder, e que puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC). Grandeza recuperada Além de combater a corrupção, a campanha tem tido como propósito reforçar o controlo ideológico e afastar rivais políticos, com as acusações a altos quadros do regime a incluírem frequentemente “excesso de ambição política” ou “conspiração”. David Kelly, director da unidade de investigação China Policy, de Pequim, defende, no entanto, que é no plano internacional que Xi quer deixar o seu “grande legado”. “A China vai trazer para o mundo moderno a sua sabedoria milenar e recuperar a grandeza de outrora. Vai oferecer ao mundo uma solução chinesa. E isto vai ser atribuído a Xi”, aponta o analista, sobre a nova narrativa do regime. A “solução chinesa” materializa-se na “Nova Rota da Seda”, um gigantesco plano de infraestruturas lançado por Xi e avaliado em 900 mil milhões de dólares, visando reactivar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático. A proposta chinesa surge numa altura em que os Estados Unidos de Donald Trump rasgam compromissos internacionais sobre o clima, comércio ou migração. “Xi projecta a imagem de um líder no comando, com uma visão estratégica de longo prazo e rodeado de uma equipa capaz”, afirma Xie Yanmei. “É um contraste nítido com a imagem agora projectada por Washington”, nota. Na faixa junto à entrada do Wujing Yiyuan, Xi Jinping está com as duas mãos juntas, palma contra palma, à altura do peito. Veste um uniforme militar verde-oliva. Atrás, a Grande Muralha, um dos símbolos mais expressivos da China, serpenteia por um vasto terreno montanhoso.
Hoje Macau EventosArtes Plásticas | Bienal de mulheres artistas com “espaço para crescer” A 1.ª bienal internacional de mulheres artistas de Macau, determinada a ocupar um lugar na história das artes plásticas na região, chega quase ao fim com “espaço para crescer”, disse à Lusa o organizador Carlos Marreiros [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ‘ArtFem Mulheres Artistas’ nasceu para preencher uma lacuna que existia em Macau: “A falta de grandes exposições de importância internacional”, explicou o presidente do Albergue SCM, co-organizador do evento, que chegou ontem ao fim. Para se destacar das “grandes bienais” das regiões vizinhas, Carlos Marreiros teve de avançar com uma ideia original: uma bienal dedicada inteiramente a mulheres artistas. “Tinha de ser uma coisa totalmente diferente e pareceu-nos que assim poderia ter um chamativo”, afirmou, destacando o objectivo central de “valorizar a mulher”. Embora projectada há 18 anos, a exposição foi organizada em apenas três meses. “Partimos com um orçamento pequeno e em muito pouco tempo fizemos uma bienal com a representação de 100 artistas e mais uma – Paula Rego”, realçou. A artista portuguesa de 83 anos foi a madrinha desta edição, que teve a presença da filha Victoria Willing, em representação da mãe. “Contamos com artistas de mais de 20 países dos cinco continentes. A lusofonia está toda representada – desde o Brasil a Timor, Macau, Angola, Moçambique”, o que contribuiu para “superar largamente as expectativas”, sublinhou. Não há ainda números oficiais dos visitantes do Museu de Arte de Macau, mas o também arquitecto disse que conseguiram “movimentar bastante gente”. A exposição patente no Albergue SCM, da artista portuguesa Raquel Gralheiro, recebeu em média 3.000 pessoas por mês. Questionado sobre a possibilidade de crescimento do evento, o presidente do Albergue SCM mostrou “um optimismo moderado”. “Estou com os pés bem assentes na terra. Temos de dar o salto, mas para isso precisamos de mais orçamento para apostar na publicidade internacional e conseguir trazer mais instalações”, enfatizou, lembrando que a projecção deste tipo de eventos depende de pessoas influentes da área da crítica internacional. Alargar horizontes A bienal pretende agora alargar horizontes, garante. “Em futuras edições pensamos estender a Cantão, no antigo Delta das Pérolas, agora integrado na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”. A iniciativa “Uma faixa, uma rota” não retrata só trocas económicas, também se trata de trocas culturais e artísticas. “Se puder contribuir para que haja um verdadeiro mercado de arte em Macau – que não há – a bienal também pode contribuir neste domínio”, sublinhou. “O mundo precisa de saber que Macau é fascinante e se preocupa com a valorização da mulher. Espero que isso continue, mas está muito nas mãos das instituições do Governo”, concluiu. Organizada pelo Albergue SCM e pelo Museu de Arte de Macau, a ArtFem Mulheres Artistas – a 1.ª bienal internacional de Macau – foi inaugurada a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, tendo estado patente ao público até ontem. A mostra juntou 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje, incluindo o quadro “Nossa Senhora das Dores” de Paula Rego.
Hoje Macau EventosLiteratura | Obras sobre Silva Mendes lançadas na próxima quinta-feira [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Clube Militar vai ser palco, na próxima quinta-feira, pelas 18h30, do lançamento de dois livros com a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM). As obras em questão são “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”, de Carlos Botão Alves e “Manuel da Silva Mendes”, de António Aresta, indicou o IIM em comunicado. As apresentações vão ser realizadas por Ana Cristina Dias, professora de língua e literatura da Universidade de Macau, José Rocha Diniz, administrador do Jornal Tribuna de Macau, Carlos Botão Alves, autor de um dos livros e professor do Instituto Politécnico de Macau, com a coordenação de Jorge Rangel, presidente do IIM.
Hoje Macau EventosMAM | “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França” inaugura no próximo dia 31 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM) vai acolher, a partir de 31 de Maio, a exposição “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França”. Trata-se da primeira mostra em Macau dedicada àquele que é um dos principais artistas do século XX. Na exposição, que figura como um dos destaques do XXIX Festival de Artes de Macau e do Le French May, vão ser exibidas obras que Marc Chagall (1887-1985) criou a partir dos anos 1950, altura em que se instalou no sul de França, após deixar a terra natal (actual Bielorrússia), até aos anos 1970. A mostra reúne uma selecção composta por pinturas, guaches, litografias, figurinos e tapeçarias que destacam a preeminência da luz e da cor das suas obras, indica um comunicado do Instituto Cultural (IC). A mostra, com entrada livre, vai ficar patente ao público entre 1 de Junho e 26 de Agosto, Com o objectivo de dar a conhecer ao público a carreira do pintor, o MAM organizou, na sexta-feira, um seminário especial intitulado “Marc Chagall e Seus Tempos”, conduzido por Gigi Lo, coordenadora da exposição e investigadora do MAM.
Diana do Mar Manchete SociedadeDroga | Consumo entre jovens com queda significativa em 2017 O universo de toxicodependentes referenciados em Macau diminuiu no ano passado, com a descida no consumo de droga a ser particularmente visível entre os jovens com menos de 21 anos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] consumo de droga entre os jovens diminuiu significativamente no ano passado. Pelo menos a avaliar pelo Sistema de Registo Central de Toxicodependentes do Instituto de Acção Social (IAS). Segundo dados facultados na sexta-feira, após a primeira reunião plenária da Comissão de Luta Contra a Droga, no ano passado, foram referenciados 462 toxicodependentes – menos 15,7 por cento relativamente a 2016. Do total, 21 eram menores de 21 anos, um número que reflecte uma queda de 38,2 por cento em termos anuais. Com efeito, a fim de “conhecer a situação mais recente do consumo de drogas entre jovens”, vão ser lançados dois inquéritos no segundo semestre, revelou a chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, Lei Lai Peng, em conferência de imprensa. O primeiro vai versar sobre o uso de drogas pelos jovens em idade escolar, devendo contar com uma amostra de 9.000 alunos, enquanto o segundo vai incidir sobre a relação dos jovens de rua com o abuso de estupefacientes. Segundo o IAS, caem no conceito de “jovens de rua” os indivíduos com idade igual ou inferior a 24 anos em situação de abandono escolar ou desemprego, mas também alguns que, apesar de frequentarem a escola regular ou cursos de formação de curta duração, andam a vaguear. Segundo a mesma responsável, estima-se que sejam “cerca de 250”. Esperam-se resultados de ambos os inquéritos pelo final do ano, de acordo com Lei Lai Peng. O número de toxicodependentes é calculado com base na declaração voluntária de quem solicita ajuda, junto das instituições oficiais ou organizações não governamentais, ou em dados da polícia ou dos tribunais. Embora esteja “abaixo da realidade”, como observou em entrevista recente ao HM, o presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), Augusto Nogueira entende que “Macau não é, de facto, um lugar com um elevado consumo de droga”. Em termos gerais, a metanfetamina manteve-se como a substância mais consumida em Macau, dado que o “ice” (como é vulgarmente conhecida) foi a droga escolhida por mais de um terço dos consumidores (35,1 por cento), seguindo-se a heroína e a ketamina, em segundo e terceiro lugar. De acordo com a chefe de Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, sete em cada dez toxicodependentes consomem na sua própria casa, na de amigos, ou em hotéis, o que revela que a prática “camuflada” do vício continua a existir. Idêntica manteve-se também a média mensal dos gastos com estupefacientes que foi na ordem das 7.834 patacas ao longo do ano passado. Tratamento versus prisão Segundo Cheang Io Tat, do mesmo departamento do IAS, entre 2009 e 2017, 854 pessoas escolheram receber tratamento em troca da suspensão da pena de prisão, como previsto na lei. No entanto, o IAS indicou não dispor de estatísticas que permitam determinar qual a percentagem que representam entre o universo dos que foram condenados por crimes relacionados com consumo de estupefacientes. Do total, 170 toxicodependentes, ou 20 por cento, reincidiram na sequência do tratamento voluntário que lhes permitiu ter a execução da pena de prisão suspensa, voltando a ser admitidos para reabilitação. Na perspectiva do IAS, trata-se de uma taxa de “sucesso” comparativamente ao panorama nas regiões vizinhas. O universo de reincidentes concentrou-se, sobretudo, na faixa etária entre os 30 e os 40 anos. Em 2017, ainda segundo dados do IAS, estavam a receber tratamento 160 pessoas, das quais 50 iniciaram o processo de reabilitação nesse ano, após terem sido condenadas a penas de prisão. Relativamente ao impacto da revisão da lei da droga – que agravou as penas de prisão para o consumo de um máximo de três meses para um ano de cadeia –, a chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS afirmou ser precoce fazer um balanço da execução do diploma que entrou em vigor desde 28 de Janeiro de 2017: “Ainda não temos dados que nos permitam verificar”. O IAS recebeu, no ano passado, 185 casos relacionados com droga, dos quais dez resultaram em condenações ao abrigo da nova lei. Estudada proibição de venda a álcool a menores A Comissão da Luta Contra a Droga esteve a analisar na reunião de sexta-feira a possibilidade de se proibir a venda de álcool a menores de idade. “Os membros concordaram que unanimemente é necessário reforçar a regulamentação”, afirmou a chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, indicando que “Macau é a única região [da zona] que não tem este tipo de legislação”. Questionada sobre se o Governo pretende apresentar, a curto prazo, uma proposta de lei para o efeito, Lei Lai Peng indicou ser preciso, em primeiro lugar, recolher informações e opiniões e estudos comparativos com as regiões vizinhas. Novas substâncias a aguardar listagem A Comissão de Luta Contra a Droga também se debruçou, na sexta-feira, sobre a aprovação de 12 tipos de substâncias sujeitas ao controlo internacional na 61.ª sessão da Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas. Actualmente, o grupo encontra-se a coordenar os trabalhos para acelerar o processo legislativo para que possa suceder o mesmo em Macau, “favorecendo a eficiência no acompanhamento do controlo das novas drogas”, indicou a chefe do Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, Lei Lai Peng.
Hoje Macau SociedadeLegionella | Serviços de Saúde relativizam descoberta de bactéria na fronteira de Gongbei [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde relativizaram o facto de ter sido detectada a bactéria da Legionella no sistema centralizado de ar condicionado do posto fronteiriço de Gongbei, em Zhuhai. Num comunicado, divulgado na sexta-feira, os Serviços de Saúde dizem que “estão atentos” e “dão relevância” ao caso, mas informam que “não receberam o relatório” por parte das entidades responsáveis, apelando aos residentes para que “não estejam preocupados”. Segundo o organismo, a bactéria da doença dos legionários tinha sido anteriormente detectada no posto fronteiriço, sem que tenha havido casos de infecção humana. As autoridades de saúde sublinham que existem no ambiente amplas fontes de propagação da Legionella, mas que, “mesmo assim, os casos de infecção são raros”. Segundo os Serviços de Saúde, o hospital público de Macau registou uma subida dos casos da doença dos legionários nos últimos anos, particularmente entre idosos e doentes crónicos, sem que nenhum se tenha revelado mortal.
Hoje Macau SociedadeSarampo | Detectado primeiro caso importado do ano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde confirmaram na sexta-feira ter detectado um caso de sarampo. A paciente é uma residente de Macau, de 47 anos, que terá contraído sarampo durante uma deslocação a Singapura e à Malásia. Com base no historial de viagem e no período de manifestação dos sintomas, os Serviços de Saúde consideram tratar-se de um caso importado de sarampo, o primeiro do ano. A paciente, que nasceu em Meizhou, na província de Guangdong, não sabe se foi vacinada. Segundo os Serviços de Saúde, na sexta-feira, já não apresentava febre e a erupção cutânea tinha começado a desaparecer. Macau obteve a acreditação da erradicação do sarampo da Organização Mundial da Saúde em 2014.
Diana do Mar Manchete SociedadeNg Lap Seng condenado a quatro anos de prisão em caso de corrupção envolvendo ONU O empresário de Macau Ng Lap Seng foi condenado a uma pena de quatro anos de prisão no caso de corrupção que envolveu altos quadros das Nações Unidas Com agências [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal Federal de Manhattan, em Nova Iorque, condenou na sexta-feira Ng Lap Seng a uma pena de quatro anos de prisão. O empresário de Macau, que foi considerado culpado em Julho pelas seis acusações que pendiam contra si, incluindo corrupção e branqueamento de capitais, arriscava dezenas de anos de cadeia. O tribunal deu como provado que, com cúmplices, Ng Lap Seng, de 69 anos, subornou, entre 2011 e 2015, dois diplomatas das Nações Unidas em troca de apoio à construção em Macau de um centro de conferências patrocinado pela ONU. Os diplomatas em causa foram John Ashe, que foi embaixador de Antígua e Barbuda na ONU durante 10 anos e que presidiu à 68.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU (2013-2014), e Francis Lorenzo, adjunto do embaixador da República Dominicana na ONU. Para facilitar o avanço do projecto, John Ashe – que morreu em 2016, antes de ser levado a julgamento, na sequência de um acidente enquanto fazia levantamento de pesos em casa – submeteu ao então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, um documento em que defendia a necessidade de construir o referido centro. Contudo, o denominado Centro Internacional de Conferências Permanente para a Cooperação Sul-Sul das Nações Unidas, que Ng Lap Seng pretendia construir utilizando a sua empresa, a San Kin Yip, nunca chegou a sair do papel. Além da pena efectiva de prisão, Ng Lap Seng foi condenado a pagar uma multa de um milhão de dólares e a restituir 1,5 milhões de dólares. Segundo a agência Reuters, o juiz negou ainda um pedido da defesa para que o empresário permaneça em prisão domiciliária, em que se encontra desde 2015, enquanto recorre da decisão, determinando que Ng Lap Seng tem que se entregar às autoridades no próximo mês de Julho. Ng Lap Seng era o único dos cinco acusados vivos que não reconheceu a culpa perante o tribunal. Dois cúmplices foram, entretanto, condenados a 20 meses e a sete meses de prisão, respectivamente, enquanto os outros dois, incluindo Francis Lorenzo, aguardam que seja determinada a pena. Principal acusado do caso, o magnata do imobiliário é descrito como bem conectado em termos políticos, tanto em Macau como na China, e referido por alegadas ligações às tríades. Ng Lap Seng foi membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, enquanto em Macau integrou a Comissão Preparatória da Região Administrativa Especial e o Conselho para o Desenvolvimento Económico, tendo pertencido ainda à comissão que elege o Chefe do Executivo. Foi ainda responsável, em 2001, a par do Governo, pelo lançamento da Feira Internacional de Macau, que ainda hoje decorre anualmente. Conhecidas são também as suas doações ao Partido Democrático dos Estados Unidos nos anos 1990 e à Administração de Bill Clinton. As ofertas foram noticiadas na imprensa norte-americana por suscitarem suspeitas de origem ilícita.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaNatalidade | Deputadas pedem apoios para crianças com necessidades especiais Mais apoios para os pais que têm filhos com necessidades especiais e medidas gerais de incentivo e auxílio à maternidade foram os pedidos de Agnes Lam e Wong Kit Cheng ao Executivo ontem, data em que que se assinalou o dia da Mãe em Macau [dropcap style≠’circle’]“H[/dropcap]á muita coisa para ser melhorada em Macau mas queremos, para já, focar-nos em medidas que são necessárias para as crianças com necessidades especiais e para apoio aos seus pais.” Quem o diz é a deputada Agnes Lam ao HM. No dia em que se assinalou o dia da mãe em Macau, Lam fez questão de sublinhar a efeméride com um pedido ao Executivo feito online. De acordo com a deputada, a situação em Macau é preocupante quando se fala das dificuldades enfrentadas por pais com filhos que precisam de apoios especiais. “Há casais com dois filhos que quando um deles é portador de deficiência e necessita de cuidados especiais o outro acaba por ser “negligenciado””, referiu Agnes Lam. A razão tem que ver com os custos financeiros das terapias em questão. “Numa família com crianças que precisam de terapia, o dinheiro não chega para tudo”, disse. Por outro lado, estes filhos exigem muito tempo e presença dos pais, uma situação que pode resultar no afastamento da mãe do mercado de trabalho, uma situação que tem como efeito secundário menos rendimentos a entrar no orçamento de casa, sublinhou a deputada. Segundo Lam, muitas destas famílias, quando tiveram as suas crianças, faziam parte da classe média, mas com os custos das terapias enfrentam agora muitas dificuldades económicas. O problema agrava-se quando há dois filhos com necessidades especiais, e “os pais têm de escolher um dos filhos e sacrificar o outro para ter ajuda, porque não têm dinheiro para pagar terapia dos dois”. A piorar a situação está a dificuldade em conseguir uma vaga numa creche que acolha crianças com necessidades especiais. “Na altura de entrarem para o ensino infantil, as crianças podem ficar um período muito longo, que pode demorar anos, à espera para conseguirem uma vaga”, referiu Agnes Lam. Estudo real Para melhorar as condições de vida das mães do território, o primeiro passo seria o aumento do tempo da licença de maternidade e de paternidade. A ideia foi deixada em comunicado por Wong Kit Cheng em que a deputada dá a conhecer os resultados de um inquérito levado a cabo pela Associação Geral das Mulheres de Macau. De acordo com a pesquisa, que envolveu a participação de 3300 residentes, cerca de 25 por cento dos inquiridos, quando questionados acerca do que poderia ser feito para promover a natalidade no território, responderam que era necessário um aumento do tempo das licenças de maternidade e de paternidade. No inquérito, 14 por cento dos inquiridos referiram, a necessidade de aumentar os serviços que prestam cuidados à maternidade durante 24 horas. Do universo de pessoas ouvidas, 11 por cento apontaram que o Governo deve intervir na prestação de cuidados a idosos, de modo a garantir mais tempo disponível às jovens mães para que estas não tenham que se preocupar com os seus ascendentes. A sugestão relativa à facilitação da contratação de empregadas domésticas teve concordância de 10 por cento dos inquiridos. De acordo com Wong Kit Cheng, tratam-se de medidas que, mais do que o aumento de subsídio de maternidade recentemente anunciado pelo Executivo, promovem a disponibilidade dos jovens locais para terem uma família. “No ano passado, o Governo para aliviar a pressão financeira sobre os pais aumentou o subsídio de natalidade para as 5000 patacas. Esta medida é válida, mas está longe de ser suficiente para diminuir o stress e aumentar a disponibilidade das mães”, apontou. Para Wong Kit Cheng, as medidas de apoio à maternidade ganham uma dimensão inegável face ao crescente aumento do número de idosos no território.
Hoje Macau PolíticaFunção Pública | Zheng Anting quer uniformizar informações [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Zheng Anting entregou uma interpelação ao Governo onde defende a criação de um mecanismo de uniformização das informações decorrentes de queixas feitas pelos cidadãos ou tratamento de casos por parte dos departamentos públicos. Na visão do deputado, a forma de funcionamento dos serviços públicos causam inconveniências aos cidadãos. O deputado deu como exemplo as queixas apresentadas por violação da lei do ruído, uma vez que a Polícia de Segurança Pública (PSP) podem emitir avisos, mas só a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) é que tem a competência para decidir se os infractores são ou não sujeitos a sanções. Mas nem sempre este organismo consegue tratar das queixas de forma atempada, o que tem levado a uma má implementação da lei do ruído. No que diz respeito às fiscalizações feitas nos restaurantes, quanto à emissão de fumos, o deputado alerta para a existência de critérios diferentes adoptados pela DSPA e Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), o que fazem com que os proprietários dos estabelecimentos fiquem confusos quanto às regras a adoptar e afirmem que as queixas não tenham o devido tratamento por parte das autoridades. Zheng Anting defende que os departamentos públicos passam muitas vezes as responsabilidades para os outros, o que afecta a eficiência do mecanismo de tratamento de queixas. Nesse sentido, é defendida a criação de uma plataforma uniformizada onde os residentes possam obter todas as informações de que necessitam, além de poderem apresentar as suas queixas, além de ser garantida a sua devida distribuição pelos serviços públicos competentes.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCaso Sulu Sou | Julgamento por desobediência qualificada arranca hoje Após um período de espera de quase cinco meses, o julgamento do deputado e do activista Scott Chiang começa esta manhã. Caso Sulu Sou seja punido com uma pena igual ou superior a 30 dias de prisão, a Assembleia Legislativa pode expulsar o deputado do hemiciclo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pós uma espera de quase cinco meses desde o último adiamento, o julgamento do deputado suspenso Sulu Sou e do activista Scott Chiang pela alegada prática de desobediência qualificada arranca esta manhã, no Tribunal Judicial de Base. A audiência está marcada para as 9h30 e o deputado da Novo Macau acredita que vai ser um julgamento íntegro. “Acreditamos que vai ser um julgamento justo. É tudo o que podemos dizer nesta fase”, afirmou Sulu Sou, ao HM Por sua vez, o activista Scott Chiang admitiu esperar que desta vez não haja mais nenhum adiamento: “Só espero que o julgamento possa finalmente começar, ao contrário do que aconteceu da últimos vez”, disse o membro da Novo Macau, ao HM. “Como é óbvio, não sabemos qual vai ser o veredicto, por isso só nos podemos preparar da melhor maneira, tentar recordar o melhor possível os acontecimentos e esperar que os tribunais tomem uma decisão justa”, acrescentou. Marcado para o início da manhã, o julgamento deverá prolongar-se ao longo do dia, com os arguidos e as principais testemunhas, entre polícias e manifestantes, a serem ouvidos pela juíza Cheong Weng Tong. O caso assume especial importância política para Macau, uma vez que se o deputado suspenso for condenado com uma pena igual ou superior a 30 dias de prisão poderá ver a Assembleia Legislativa votar a perda do seu mandato. Os factos que vão ser analisados por Cheong Weng Tong ocorreram a 15 de Maio de 2016, quando a Associação Novo Macau organizou um protesto contra o donativo de 100 milhões de yuan, por parte da Fundação Macau – capitalizada com dinheiro dos impostos sobre o jogo – à Universidade de Jinan. Em causa, para os demonstrantes, esteve o facto de Fernando Chui Sai On, Chefe Executivo, ser igualmente presidente do Conselho Geral de Curadores da Fundação Macau e vice-presidente da Conselho Geral da Universidade de Jinan. Contudo, Chui Sai On limitou-se a negar a existência de um conflito de interesse. De acordo com a versão da Polícia de Segurança Pública, na altura da manifestação, registou-se o crime de desobediência qualificada porque os demonstrantes pisaram o passeio junto ao centro comercial New Yao Hon, quando deviam ter seguido apenas pela estrada. Também cerca de 50 manifestantes pararam num cruzamento contra as indicações das autoridades e cerca de 10 pessoas estiveram junto ao Palácio do Chefe do Executivo a atirar aviões de papel. Apesar do número de envolvidos, apenas Sulu Sou e Scott Chiang vão a julgamento. Suspensão polémica Esta é a terceira data do julgamento, que inicialmente tinha sido agendado para 28 de Novembro. Na altura, a sessão foi adiada, uma vez que o deputado estava protegido pela imunidade política. Posteriormente, o julgamento foi agendado para 16 de Janeiro, após o membro da Assembleia Legislativa ter sido suspenso com 28 votos a favor e 4 contra dos restantes legisladores. Contudo, a defesa de Sulu Sou apontou falhas aos procedimentos internos da AL, colocou uma providência cautelar nos tribunais contra a suspensão, além de um recurso, e a sessão de 16 de Janeiro teve de ser adiada. Com a providência cautelar contra a suspensão rejeitada e o recurso no Tribunal de Última Instância, cuja decisão não deve ser conhecida antes de Agosto, o caso do alegado crime de desobediência qualificada pode agora ser retomado.
Sofia Margarida Mota PolíticaTrabalho | Ella Lei quer revisão do regime de ingresso de carreiras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s requisitos para ingresso nas carreira no Serviço de Estatísticas e Censos não mudam há 30 anos e é apenas necessário o nono ano de escolaridade para ingressar neste departamento da função pública. Esta evidência motivou uma queixa da deputada Ella Lei, que pede ao Executivo uma revisão rápida da legislação que regula o ingresso nas carreiras públicas. “Embora tenha existido uma revisão em 2009 e uma outra em 2011, alguns requisitos de qualificação académica ainda seguem as exigências de há trinta anos”, começa por dizer a deputada em interpelação escrita. O exemplo escolhido por Ella Lei é referente aos Serviços de Estatísticas e Censos em que os requisitos de entrada para investigadores se limitam ainda ao ensino secundário. Para a deputada, trata-se de uma situação que em nada corresponde aos parâmetros de exigência que Macau deve ter. “Com o desenvolvimento social e económico, ter o ensino médio como requisito de entrada não corresponde às exigências e complexidade das funções que dizem respeito ao trabalho estatístico”, afirma Ella Lei. A deputada acrescenta que, na prática, o departamento empregará pessoal com cursos superiores para atender às necessidades e desafios do trabalho do departamento o que resulta numa assimetria entre os requisitos pedidos e o salário oferecido. “Com uma equipa instável, o trabalho desenvolvido vai ser de menor qualidade”, aponta. Ella Lei espera que haja uma calendarização definida para a revisão legal nesta matéria e pede ainda ao Executivo que esclareça acerca do que pretende fazer para colmatar as falhas que se registam nos Serviços de Estatística e Censos.
Diana do Mar PolíticaFunção Pública | Mantém-se regra de período de férias ser no mínimo de 10 dias úteis A proposta de alteração ao Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM) mantém o princípio de que um dos períodos de gozo de férias não pode ser inferior a 10 dias úteis. Apesar de ter havido opiniões a defender flexibilidade durante consulta pública que o hemiciclo realizou, o Governo já fez saber que não vai mexer na regra [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) recebeu “muitas sugestões” durante a recolha de opiniões sobre a alteração ao ETAPM defendendo uma maior flexibilidade na regra que obriga os funcionários públicos a gozarem um mínimo de 10 dias úteis seguidos de férias, propondo nomeadamente que seja encurtado para cinco ou sete dias. No entanto, a norma vai permanecer inalterada. A informação foi facultada pelo presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL, que analisa o diploma em sede de especialidade, após a reunião de sexta-feira com membros do Governo. Vong Hin Fai indicou que metade das opiniões recebidas sobre o regime de férias debruçou-se sobre este aspecto, mas relativizou a questão. “Nove falaram sobre isso, mas algumas são anónimas. Será que as nove partiram da mesma pessoa? Não podemos saber”, referiu o deputado. Seja como for, nada vai mudar: “Segundo o Governo, o grande interesse é salvaguardar que o trabalhador possa descansar durante um período mínimo de tempo”, pelo que “esses dez dias úteis são uma necessidade básica” e, portanto, o Governo não vai alterar esse período”. Contudo, há um excepção, já que o diploma prevê agora que essa obrigatoriedade pode cair por “razões imperiosas e imprevisíveis decorrentes do funcionamento do serviço público”. Ou seja, esse período pode ser reduzido, mas apenas por iniciativa do Governo. Conveniência de serviço Situação idêntica sucede com o número máximo de dias de férias que podem ser transferidos para o ano seguinte. A proposta de lei mantém que o trabalhador pode transferir, a seu pedido, um máximo de 11 dias úteis, mas eleva dos actuais 11 para 33 os que podem passar para o ano seguinte por “conveniência de serviço”. Na perspectiva de Vong Hin Fai, a mexida visa proteger o “interesse público”. Outro ponto em foco foi o regime de disponibilidade. Embora o entendam necessário, os deputados advertiram que há que proteger o direito ao descanso dos funcionários públicos, pelo que instaram a uma “distribuição equitativa e razoável” na organização do trabalho. Em paralelo, “a Comissão pediu ao Governo para prestar atenção às remunerações do pessoal de direcção e chefia”, no sentido de verificar se “se coadunam com o volume de trabalho”, dado que “estão em permanente disponibilidade e trabalham foram do horário”. Isto porque o regime de disponibilidade (e respectivo subsídio) não se aplica ao pessoal de direcção e chefia, que é regulado por outro diploma. Os deputados debruçaram-se ainda sobre o regime de horário específico de trabalho, em cuja esfera caem, por exemplo, os funcionários do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais no matadouro, que entram ao serviço de madrugada, e que, à luz da proposta da lei, vão então passar a receber um subsídio. Embora o Governo tenha prestado “esclarecimentos detalhados”, a 3.ª Comissão Permanente da AL propôs a definição de um “enquadramento conceptual” do regime que só pode ser fixado por despacho do Chefe do Executivo. Outra norma que a comissão espera ver melhorada, por não coincidir com as explicações facultadas, é a da prestação de trabalho extraordinário. Segundo o articulado, está “sujeita a autorização prévia” e deve, “em caso de excepcional premência, ser determinada pelo superior hierárquico e confirmada pelo mesmo nos dois dias úteis imediatos”. Em causa está o conceito de “excepcional premência” que, “segundo o Governo, não é possível definir”, cabendo “a cada serviço decidir face às suas necessidades reais e de acordo com a situação em concreto”, explicou Vong Hin Fai. A 3.ª Comissão Permanente da AL, que já analisou metade dos artigos do diploma, volta a reunir-se hoje.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCosta Nunes | Caso de alegado abuso sexual chega à Assembleia Legislativa As suspeitas de abuso sexual no jardim de infância D. José da Costa Nunes já chegaram ao hemiciclo, com a entrega de uma interpelação escrita pelo deputado Lam Lon Wai. Pais, direcção e APIM reuniram na sexta-feira, e debateram medidas a adoptar na gestão da escola, nomeadamente no que diz respeito à definição clara das tarefas dos funcionários [dropcap dtyle≠’circle’]O[/dropcap] ex-funcionário do jardim de infância D. José da Costa Nunes suspeito de abuso sexual de três meninas, estará sujeito a apresentação periódica às autoridades, enquanto as investigações criminais prosseguirem. “Tendo em conta a gravidade do caso e a situação concreta do respectivo processo, o juiz de instrução criminal, sob a promoção do delegado do procurador, impôs ao arguido medidas de coacção, nomeadamente, a obrigação de apresentação periódica”, enquanto decorre a investigação do caso, de acordo com um comunicado divulgado no sábado. A Polícia Judiciária (PJ) recebeu três queixas e, após as declarações prestadas pelas alegadas vítimas e pelo suspeito, o caso foi encaminhado para o MP por “existirem provas suficientes”. Nos termos da lei penal, o crime de abuso sexual de crianças é punido com uma moldura penal de um a oito anos de prisão. Entretanto, o caso do Costa Nunes já chegou à Assembleia Legislativa (AL), nomeadamente pela mão do deputado Lam Lon Wai que entregou uma interpelação escrita ao Governo onde refere que a sociedade ficou chocada e que o caso será “doloroso”, caso se confirmem as práticas de abusos sexuais nas menores de três anos de idade. Lam Lon Wai, deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) eleito pela via indirecta pelo sector do trabalho, lembrou que a primeira denúncia feita pela mãe de uma menor foi feita há meio ano e que a direcção da escola não agiu imediatamente. Por essa razão, o deputado disse estar preocupado com os mecanismos em vigor, que podem não proteger de forma eficaz a segurança das crianças. O deputado considerou que, se o caso tivesse sido revelado mais cedo, poderiam ter-se reduzido os impactos junto das crianças e das suas famílias, além de que estas poderiam ter recebido apoios mais cedo. Na interpelação, Lam Lon Wai revelou também estar preocupado com casos de violência doméstica em que as vítimas são crianças, temendo que este tipo de casos não tenha a exposição necessária. O membro da AL alertou para a necessidade de se estabelecer um mecanismo que faça com que professores e assistentes sociais sejam responsabilizados jurídicamente caso não denunciem casos suspeitos de abuso sexual, para que haja uma resposta mais rápida. Escola clarifica tarefas Na sexta-feira, decorreu uma reunião entre pais, a direcção do infantário e os responsáveis da Associação de Promoção da Instrução dos Macaenses (APIM), onde foram discutidas as medidas mais prementes a adoptar nos próximos tempos. Um dos tópicos fulcrais da discussão prendeu-se com a necessidade de redefinição das tarefas de cada funcionário, disse ao HM Fátima Oliveira, presidente da Associação de Pais do Costa Nunes (APCN). “Essa será uma das óbvias e primordiais medidas a adoptar, a definição rigorosa das funções de cada funcionário e a adopção de directivas internas e protocolos para lidar com estas situações e outro tipo de casos venham a acontecer.” De acordo com a TDM, Ho Chan Nam, porta-voz da PJ, alertou para as funções extra que o servente terá desempenhado, quando tinha apenas como incumbências a limpeza do jardim de infância e a coordenação das refeições. “O suspeito tinha que limpar os alunos como parte das funções que desempenhava. Nesse âmbito, ele podia tocar nos órgãos genitais das meninas. Por isso, não podemos excluir a possibilidade de que o suspeito possa ter abusado das crianças quando não estava mais ninguém presente. No nosso entender, a escola carece de regras bem definidas no que diz respeito à forma como os funcionários devem proceder quando limpam os alunos.” Na reunião, e de acordo com Fátima Oliveira, ficou claro que qualquer funcionário podia, até aqui, ajudar no que fosse preciso, além das suas funções de base. “Havia, de facto, uma definição base, e os serventes e auxiliares não estariam nunca encarregues do trabalho de sala com as crianças, porque esse sempre coube à educadora. Havia, de facto, uma distinção básica do papel de cada um, não com o rigor que se pretende ou que será mais desejável. A ideia que passou é que haveria alguma flexibilidade caso houvesse necessidade, dependendo de sala para sala. O que ficou claro é que tem de haver mais rigor na definição de funções de cada pessoa dentro do jardim de infância.” De frisar que Goreti Lima, psicóloga da instituição, contou ao HM que o ex-servente chegou a brincar com as crianças. “Era um excelente funcionário e fazia mais do que aquilo que lhe era pedido. Era super simpático, envolvia-se em actividades com as crianças, brincava com elas quando não era essa a função dele, entrava mais cedo e saía mais tarde, era sempre prestável. Não levantava nenhuma suspeita pela conduta que levava e era próximo das educadoras.” Apesar da Direcção dos Serviços para a Educação e Juventude (DSEJ) já ter alertado para a possibilidade do jardim de infância poder vir a sofrer sanções, que podem passar pelo fecho da instituição, a verdade é que a sua vice-directora, Leong Vai Kei, pediu aos pais para terem calma e aguardarem a conclusão do relatório interno que a escola está a elaborar. “Sempre exigimos às escolas que sigam as leis e as directrizes em vigor. Somos todos humanos e poderemos não ser capazes de fazer face a todos os problemas com que nos deparamos, principalmente se ocorrerem em circunstâncias distintas. Da nossa parte, estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para dar resposta às falhas que ainda subsistem”, referiu a vice-directora da DSEJ. Entidade externa faz relatório Caberá a especialistas externos ao Costa Nunes a realização do relatório interno, que irá apurar a possível ocorrência de abusos desde 2015, data em que o funcionário começou a trabalhar como servente na escola. Serão também analisadas responsabilidades e eventuais consequências, tal como o despedimento da educadora de infância responsável pela turma onde ocorreram os abusos e da psicóloga da instituição. “Isso irá ser apurado no inquérito interno”, frisou Fátima Oliveira, que disse continuar a acreditar no Costa Nunes. “A APCN continua a achar que a escola deve continuar a funcionar. Houve alguns erros graves com consequências graves também, mas é preciso melhorar e implementar medidas para que não volte a acontecer. Espero que a escola continue a ser uma referência para o ensino em língua portuguesa. Como é óbvio vai ser afectada por esta situação, mas temos confiança de que vai recuperar e melhorar. Está a ser realizado um relatório interno e a DSEJ fará o seu trabalho.” Num comunicado, a DSEJ explica que “o relatório deve incluir ainda os pormenores do caso, situação de trabalho do pessoal envolvido, bem como as medidas de acompanhamento adoptadas pela escola”, além de que “a escola tem de indicar as medidas e aconselhamento futuros que pretende executar para melhorar a prevenção e a protecção dos alunos, a forma de gestão administrativa e de pessoal e a formação do seu pessoal”. Comunidade chinesa reage Em declarações à TDM, um pai de nacionalidade chinês, que não quis ser identificado, falou de uma quebra de confiança na instituição de ensino. “Sempre houve grande confiança entre a escola e os encarregados de educação, ao ponto dos pais todos os dias saudarem os contínuos e funcionários com um sorriso. Toda a gente está bastante desapontada com o que aconteceu.” Outros dirigentes educativos reagiram também, tal como Tai Chan Lam, director da escola Hoi Fai, que surge citado no Jornal do Cidadão. Este defendeu que a DSEJ não deve permitir que funcionários do sexo masculino colaborem na higiene de meninas, esperando que possa ser criado um mecanismo de denúncia obrigatória deste tipo de casos. Tai Chan Lam adiantou que na sua escola os funcionários do sexo masculino não tratam da higiene de alunas do sexo oposto, e que não compreende a forma como o jardim de infância Costa Nunes funciona nesse aspecto. Um outro encarregado de educação, de apelido Lei, falou no canal chinês da Rádio Macau da existência de um quarto caso de alegado abuso sexual (actualmente a PJ está a investigar apenas três casos). De acordo com o seu relato, uma das alunas do infantário chegou a casa e perguntou ao pai se podia tocar no seu pénis. Depois de terem questionado a filha, esta revelou que o funcionário do jardim de infância terá feito o mesmo pedido à menor, que terá cometido esse acto. Lei entende que alguns pais nunca denunciaram outros alegados abusos junto da PJ porque temiam as consequências para os seus filhos. Outro pai, de apelido Leong, também telefonou para o programa de rádio onde se queixou da postura da direcção do jardim de infância e da DSEJ, devido à falta de explicações e de apoios. Alguns pais também revelaram estar insatisfeitos porque, depois das queixas, o funcionário continuou a trabalhar na escola. De acordo com a imprensa chinesa, Lam, encarregada de educação, frisou que sempre confiou no jardim de infância, mas que depois deste caso acha difícil continuar a manter a mesma confiança na direcção. Outro pai disse que não ficou satisfeito com as explicações dadas pelo presidente da APIM, Miguel de Senna Fernandes, na reunião de sexta-feira, nem com o facto da educadora e da psicóloga não terem denunciado o primeiro caso, ocorrido em Outubro. Ontem não foi possível chegar à fala com Miguel de Senna Fernandes. Dois casos pela via do toque em dez anos A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) adiantou que, nos últimos dez anos, foram registados “dois casos que envolveram pessoas que tocaram em crianças de forma inapropriada”. Estes actos são punidos de acordo com o Estatuto das Instituições Educativas Particulares. Entretanto, o director da DSEJ, Lou Pak Sang, adiantou que está a ser estudada a revisão do mecanismo de gestão de crises nas escolas, para melhor responder a este tipo de casos, noticiou a imprensa chinesa.