Elisabela Larrea | Uma macaense confessa

 

Elisabela Larrea é uma jovem de Macau, filha de mãe macaense de sétima geração e de pai  basco. As deambulações do pai, jogador de Pelota Basca, fizeram com que nascesse em Milão. Elisabela escreve e fala cantonense, mandarim, inglês e português. Faz parte do Grupo de Ópera Chinesa Au Kuan Cheong, interessa-se por Naam Yam (som do sul), ópera chinesa  e patois de Macau e venera e respeita o seu sifu chinês. O grupo dramático chinês de que é membro tem planos de levar à cena uma peça adaptada de um conto do livro Cheong Sam de Deolinda da Conceição.

Do avô materno, Vicente Honório Gomes Eusébio, ouviu histórias da Macau antiga. A avó, Maria Eusébio, era excelente cozinheira, passando-lhe o gosto pela gastronomia local.

A jovem Elisabela prepara, de momento, o seu doutoramento em comunicação intercultural na Universidade de Macau, cujo tema central recai sobre o teatro creoulo Macaense. Entretanto, do seu curriculum já constam dois importantes trabalhos:

Identidade Macaense na rede global: desempenho da identidade macaense na Internet. Documento de conferência apresentado no simpósio internacional sobre identidade nacional e futuras relações através do Estreito, em  Macau,R.A.E.M., China, de 2008, e

O Macaense na Rede Global: um estudo de desempenho da identidade cultural macaense pós-colonial, sua Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade de Macau, também de 2008.

Elisabela Larrea é discreta e conhecê-la é descobrir um tesouro de interesses que merece ser revelado.

Depois desta sua breve apresentação, como definiria ser Macaense?

Em minha modesta opinião, é identificarmo-nos orgulhosamente com a identidade Macaense, com a sua cultura e modo de vida. Há diferentes leituras do que é ser Macaense: através de ligações genealógicas, outras pelo uso da língua, porém, em última análise, o critério consistente destes argumentos é a ligação a Macau, isto é, a identificação de Macau como o lugar das suas raízes. Somos filhos da terra, pertencemos a este solo. Somos a mistura de diferentes culturas e origens, com uma  singular cultura crioula muito nossa.  A identidade Macaense é versátil, com mutações ao longo do tempo e envolvência social, contudo uma coisa permanece a mesma: Macau é a nossa casa.

 O que a fez escolher estudar chinês e inglês em alternativa ao português?

Essa foi uma decisão tomada pela minha mãe quando eu era pequena. Do seu ponto de vista, era que eu deveria aprender línguas que não podia aprender em casa. Ela fala português e cantonense, mas não sabe ler e escrever chinês. Assim, quis que eu aprendesse  chinês e inglês na escola, uma vez que eu poderia aprender português em casa. Fazia com que eu assistisse diariamente ao noticiário português e encorajou-me a terminar os meus dez níveis de estudo de língua portuguesa no IPOR. Acredito que é essencial para um macaense aprender português para compreender e conhecer melhor as nossas raízes culturais e história, embora a nossa prática seja a de uma cultura portuguesa oriental.

Fala do seu avô com especial afecto. De que forma a sua influência pesou nas suas?

O meu avô adorava livros. As imagens que tenho dele são principalmente dele a ler um livro ou o jornal na sala de jantar, ou segurando uma National Geographic no seu quarto. O avô gostava de guardar recortes de jornais e registar ocorrências aleatórias em vários cadernos. Aleatórias no sentido de que podem ser o registo do boletim meteorológico do dia, os benefícios de certas vitaminas ou citações de figuras políticas. Guardei apenas um ou dois desses cadernos, mas que me permitem ter um vislumbre do passado. Ele gostava de passear pelas ruas de Macau com sua pequena sacola, onde guardava os óculos, um lápis, um jornal e um papel em branco. O seu amor à sua terra natal e o seu gosto pelo conhecimento levaram-me a decidir dedicar-me à preservação e promoção da nossa cultura.

Com um background tão enraizado na cultura macaense, como é que a música Naam Yam entrou na sua vida?

Acredito que foi o destino que me levou ao Naam Yam. O meu primeiro encontro com a ópera chinesa deu-se quando ainda muito jovem. A minha avó levou-me a assistir a apresentações em Cheok Chai Yuen (Bairro da Horta da Mitra). Conheci há alguns anos Ho Chi Fong, um dedicado estudante do Professor de Naamyam, o Mestre Au Kuan Cheong.  Como local, não deveria perder qualquer oportunidade de saber mais sobre o nosso património intangível. As actuações e a personalidade do mestre Au Kuan Cheong fascinaram-me; a sua tranquilidade, humildade e carácter apaixonado serviram-me de modelo. Eu estava entusiasmada em poder aprender com ele. Outro motivo pessoal para ter querido aprender Naamyam foi a memória dos momentos passados com a minha avó e Macau antigo. É que durante as performances, sinto como que passo por uma porta do tempo e me conecto com o passado.

Falando da sua investigação sobre a cultura e identidade macaense, quer partilhar as conclusões do estudo acerca do desempenho da identidade cultural macaense no período pós-transição?

Não cheguei a conclusões, mas antes a uma constatação: a identidade macaense é versátil, depende do ambiente social e político envolvente. Somos filhos da terra, pertencentes a esta pequena terra, independentemente da soberania. No entanto, estamos sendo diluídos e engolidos culturalmente devido a factores como a globalização, emigração, mudanças demográficas, medidas administrativas, etc. A definição de Macaense no período de pré-transição não pode agora não ser aplicável. Por exemplo, os critérios convencionais que determinam a identidade macaense através do uso da língua portuguesa como língua matricial. Não há dúvida que os jovens macaenses têm um certo nível de proficiência em português, mas é esta a sua língua primeira? Outro exemplo será o critério de sangue. A segunda ou terceira geração podem não ter qualquer herança portuguesa, mas têm um sobrenome português, identificam-se como macaenses e seguem o modo de viver macaense, não serão eles também macaenses? Eu acredito que enquanto guardarmos a nossa identidade macaense, ninguém no-la pode tirar, a menos que optemos por a abandonar.

Enquadra-se  na definição que enunciou?

Acredito que não existe uma só definição para a identidade macaense. Tem havido muitas discussões entre a comunidade, eu só me vejo como uma simples macaense apaixonada por Macau.

Considera-se uma ponte entre comunidades?

Macau sempre foi um cadinho de culturas, juntando culturas diferentes e produzindo uma outra, singular. Acredito que cada um de nós pode ser uma ponte entre diferentes comunidades se escolhermos essa via, dedicando tempo e esforço para nos entendermos e nos respeitarmos mutuamente. Podemos atravessar os limites se estivermos dispostos a partilhar, ou seja, não apenas a ouvir e aprender, mas também a contar e a compartilhar. Se queremos que outras comunidades conheçam a cultura macaense, temos de falar sobre ela. Essa responsabilidade é nossa.

Acha que a população de Macau está a passar por uma crise de identidade? Se sim, porquê?

Eu diria que a crise de identidade está acontecendo em todas as comunidades, especialmente devido à forte influência da tecnologia e da globalização. A gastronomia  é um exemplo. A gastronomia permite transmitir práticas, valores e cultura tradicionais, o que tem uma influência significativa na construção da identidade. No entanto, a geração mais jovem de diferentes países opta pelo fast food global, reduzindo assim a oportunidade de construir a sua própria identidade cultural. Hoje, muitas pessoas optam por um modo de vida mais conveniente e fácil, e a cultura tradicional exige o contrário. Manter a cultura tradicional exige que dê do seu tempo, exige paciência, devoção e dedicação. O conforto e comodismo leva as pessoas a esquecerem a beleza do artesanato, o respeito pela cultura, valores e arte tradicionais. E essas “escolhas fáceis” levam gradualmente à crise da identidade, e temos que ter a iniciativa de lutar contra isso. Dá um grande consolo que muitos locais se esforcem por preservar a sabedoria de seus mais velhos, buscando manter a cultura tradicional dando assim continuidade à sua identidade cultural.

21 Jul 2017

Internet | China aumenta censura e quer impedir uso de VPN

As redes sociais desempenham hoje um papel fundamental na modernização e reforma na China. Mas o governo insiste em manter um controlo apertado da internet. Nos últimos meses a censura tem apertado, o que pode colocar em risco o próprio desenvolvimento do país. O próximo passo é proibir o VPN.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o longo deste ano, a censura da internet têm aumentado na China. Se, por um lado, o país assume que quer dar saltos gigantescos em termos de modernização digital; por outro, parece temer as consequências políticas da evolução tecnológica.

É sabido que muitos portais estrangeiros estão proibidos na China. Facebook, Youtube, Google, etc., ficam do outro lado da chamada “Great Firewall of China”. Por isso, muitos internautas chineses e estrangeiros residentes têm usado a chamada VPN (Virtual Proxy Network), um mecanismo que permite aceder à Internet através de um servidor localizado além-fronteiras. O VPN permite aceder a esses portais proibidos, o que se tem revelado muito útil, sobretudo para as empresas estrangeiras com filiais no País do Meio. O sistema cria ligações criptografadas entre computadores e pode ser usado para abrir portais bloqueados pela censura chinesa.

Mas agora a China quer impedir o uso de VPN. Numa carta enviada a clientes corporativos, citada pela agência Associated Press, o maior fornecedor de acesso à Internet do país diz que o uso de VPN será apenas permitido para ligar à sede da empresa no estrangeiro.

Medo atrás de medo

A carta enviada pela China Telecom Ltd. diz que os utilizadores de VPN vão ser impedidos de aceder a portais fora da China. Portais como o Facebook, Youtube e Google ou ferramentas como o Dropbox e o WeTransfer estão bloqueados na China. As versões electrónicas de órgãos de comunicação como o The New York Times ou o Economist também estão censurados.

A carta repete um anúncio feito em Janeiro de que apenas VPN autorizadas pelas autoridades chinesas serão permitidas. A mensagem suscitou receios de possível fuga de segredos comerciais ou informação, entre empresas que questionam a fiabilidade dos serviços encriptados chineses e a possibilidade de as autoridades acederem às suas mensagens. Os reguladores anunciaram em Janeiro uma campanha para erradicar o uso de VPN usadas para contornar a censura do regime.

A medida reflete a visão do Presidente chinês, Xi Jinping, de “soberania do espaço cibernético” ou o direito de Pequim em limitar a actividade dos seus cidadãos ‘online’. O controlo sobre a informação é especialmente sensível este ano, já que no outono vai decorrer o congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), o mais importante acontecimento da agenda política chinesa, que se realiza de cinco em cinco anos.

Esta semana, o regulador municipal de Pequim para a Internet anunciou que pediu aos operadores de portais, incluindo o Baidu e a Tencent, para que removem material que “distorça a história da China e do Partido” e “promovam valores anormais”.

Pequim tem repetidamente pressionado empresas estrangeiras para que disponibilizem tecnologia, conhecimento encriptado e outros segredos comerciais, em troca de acesso ao seu mercado. As empresas a operar na China apontam o controlo da Internet como um dos maiores obstáculos às suas operações no país.

Empreendedor sofre

Mas não são apenas os estrangeiros que sofrem com o recrudescimento da censura. Os próprios negócios dos cidadãos chineses estão a ser gravemente afectados, sobretudo os novos negócios, as startups, que dequem o presidente Xi tanto fala. A verdade é que este recente movimento do governo para suprimir conteúdos na internet tem preocupado uma diversa comunidade de cineastas, blogueiros, membros dos media e educadores, que temem que os seus portais possam ser fechados por causa do controlo mais rígido do governo.

Em Junho, os reguladores fecharam portais de celebridades, restringiram quais tipos de vídeos as pessoas podem publicar e suspenderam os serviços online de streaming -– tudo isso sob alegações de conteúdo impróprio.

Uma associação do sector fez circular uma nova regulamentação de efeito imediato determinando que pelo menos dois “auditores” terão que analisar todo conteúdo audiovisual publicado online para garantir que esses conteúdos sejam fiéis aos “principais valores socialistas”. Tópicos considerados inapropriados incluem vício em drogas e homossexualidade, disse a Associação de Serviços de Transmissão Online da China, afiliada ao governo e que representa mais de 600 membros.

“De acordo com estas regras de censura, nada vai passar, o que vai exaurir a criação audiovisual artística”, escreveu Li Yinhe, uma académica que estuda sexualidade na Academia Chinesa de Ciências Sociais, mantida pelo governo. Sob as novas regras do governo, obras como a ópera “Cármen”, de Georges Bizet, e “Otelo”, de Shakespeare, tecnicamente teriam que ser banidas por mostrarem prostituição e exibirem cenas explícitas de afecto, disse.

As regras, que afectam gigantes das redes sociais como Weibo, bem como pequenas plataformas que têm florescido no movimentado espaço criativo online da China, representam as mais recentes medidas para endurecer a fiscalização na internet, antes do Congresso do Partido Comunista no segundo semestre, quando o presidente Xi Jinping deve consolidar seu poder.

“Costumávamos descrever a constante regulação conta-gotas como a fervura de um sapo em água morna. Agora está a escaldar com água a ferver”, disse à Reuters Wang Xiaoxiao, um agente de talentos que representa diversos actores que conquistaram fama na internet.

A internet é o melhor instrumento de domínio inventado pelo Homem

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o contrário do que muitos ocidentais pensam, a internet na China não é, aparentemente, muito diferente de qualquer outro país. Vamos ali encontrar gente mal disposta, revoltada, crítica, pouco disposta a mostrar-se compassiva ou harmoniosa. Isto é o que revela um estudo, feito pela Universidade de Harvard, divulgado pelo jornal inglês The Guardian. A ideia de que a internet chinesa é constituída por um conjunto de gente tímida e sem face visível é, segundo o estudo, ridícula.

A investigação também revelou que a maior parte dos conteúdos censurados, além do habitual Falun Gong, pornografia e democracia, prendem-se com publicações que incitem ao activismo, mesmo que este seja a favor do governo. Gente na rua, manifestações, concentrações espontâneas, não. O governo não permite esse tipo de publicação, ainda que defenda os seus pontos de vista.

Por outro lado, a internet é extremamente útil ao Governo Central porque, por não possuir os feedbacks proporcionados por uma situação de liberdade democrática, é através da rede que vai tomando o pulso ao país, nomeadamente nas regiões mais longínquas. A internet tornou-se assim numa espécie de sistema de aviso prévio que permite ao governo agir antes que uma situação desagradável ocorra. Por exemplo, se surgem publicações sobre a corrupção num município, o governo central pode agir antes que o desagrado se torne demasiado público e provoque agitação social.

Além disso, fala-se do “exército de 50 cêntimos”, um grupo de dois milhões de pessoas, cuja ocupação é colocar publicações na internet, a 50 cêntimos cada uma. E, se no princípio estes actores da net respondiam ao críticos do governo, hoje mudaram de táctica: criam outros assuntos que desviam a atenção dos internautas para outras áreas. Isto para além de continuamente louvarem o Partido Comunista e o modo como conduz a China.

Economia digital cresce quase 20%

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] economia digital da China cresceu 18,9%, em 2016, para 22,6 biliões de yuans, ultrapassando o ritmo de crescimento do conjunto da economia, indica um estudo do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação chinês. A economia digital compôs 30,3% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, no ano passado, de acordo com o mesmo estudo, apontando que se for considerado o impacto indireto, o contributo ascende a 69,9%. Este sector inclui modelos de negócio como o comércio electrónico, computação em nuvem ou pagamentos via carteiras digitais, que têm na China uma difusão ímpar a nível mundial. O crescimento da economia digital, em 2016, supera o ritmo de crescimento da economia chinesa, de 6,9%. O estudo estima que o sector alcance os 32 biliões de yuans, em 2020, e que em 2030 componha metade do PIB do país.

21 Jul 2017

AL | Comissão para os Assuntos da Administração Pública fecha trabalhos

 

O grupo de deputados que tem estado a analisar as telecomunicações está satisfeito com o trabalho levado a cabo pela equipa de Raimundo do Rosário. Ainda assim, há espaço para melhorar. Na última reunião desta legislatura da comissão de acompanhamento liderada por Chan Meng Kam, ficou o desejo de um ambiente de concorrência mais justo

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stão no mesmo comprimento de onda. Governo e Assembleia Legislativa estão satisfeitos com os progressos registados no campo das telecomunicações – que é, como quem diz, com o trabalho da CTM –, mas ambos acham que existe ainda “um longo caminho a percorrer”, como reconhece o secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Ontem, a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública esteve reunida com representantes do Executivo para aquele que foi o último encontro deste grupo de deputados. No espaço de pouco mais de um ano, foi a sexta sessão para se debater as telecomunicações.

“Aquilo que dissemos à comissão que íamos fazer, fizemos”, comentou Raimundo do Rosário no final da reunião. Entre os aspectos mais importantes está a separação de contas. “Desde 1 de Janeiro que as contas estão separadas. Agora sabemos quais são as contas da concessionária e quais são as da CTM, empresa privada”, destacou.

“Agora também já temos a listagem clara e completa dos activos. O contrato de concessão prevê três tipos de activos. Hoje, os activos estão completamente listados, o que é da RAEM e o que não é”, apontou também o governante.

O secretário para os Transportes e Obras Públicas indicou ainda melhorias nas dimensões que afectam de forma mais directa os cidadãos: a qualidade e o preço dos serviços. Desde que o Governo conseguiu levar a CTM a baixar as tarifas praticadas, no final do ano passado, “em todos estes meses, as receitas da empresa foram reduzidas num valor superior a 10 milhões de patacas”. Raimundo do Rosário constata que “há efectivamente uma redução daquilo que os consumidores pagam, sejam particulares, sejam empresas”.

Quanto à qualidade, o secretário explica que foram registadas melhorias em vários indicadores estipulados pela Administração.

Não obstante, o governante não esconde que “há muita coisa a fazer e, nalguns serviços, há ainda espaço para reduzir o preço e melhorar a qualidade”. Terminada esta fase de discussão com a AL, fica a promessa: “É um trabalho contínuo e longo, acho que a comissão reconhece que há aqui um trabalho positivo que já foi feito, mas não estamos satisfeitos e vamos prosseguir esse caminho”.

Caderno de encargos

Chan Meng Kam, presidente da comissão, concorda que existe margem de manobra para melhorar. Mas reconhece que, tanto na fiscalização por parte do Governo, como nos serviços prestados pela CTM verificaram-se mudanças positivas.

O deputado deixou uma lista de tarefas para o futuro. “Depois da separação das contas, é necessária uma maior transparência”, disse. Para a comissão, é também necessário continuar a promover a redução das tarifas, criar um mecanismo que permita um ambiente de justa concorrência, e a revisão de diplomas e regulamentos ligados a esta matéria. Convém ainda que sejam feitas “uma utilização mais racional dos activos e uma revisão do mecanismo de fiscalização”.

“O Governo prometeu continuar a esforçar-se. Existe um monopólio nesta área e esperamos que o Executivo crie um ambiente de justa concorrência”, reforçou o presidente. “Parece que [a situação das telecomunicações] ainda está aquém das expectativas da sociedade. Creio que, na próxima legislatura, a comissão irá continuar a acompanhar estas questões”, rematou Chan Meng Kam.

21 Jul 2017

Fiscalização | Pereira Coutinho pede acompanhamento de obra na Taipa

Pereira Coutinho pede esclarecimentos a Raimundo do Rosário acerca do andamento das obras entre a Avenida Olímpica e a Rua Fernão Mendes Pinto. O deputado afirma ter recebido queixas de residentes da zona que protestam do ruído e da poluição

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre os dias 11 e 14 deste mês, as máquinas pararam na obra sita entre a Avenida Olímpica e a Rua Fernão Mendes Pinto. Esse é um dos argumentos de Pereira Coutinho que motivaram o pedido de explicações ao secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.

De acordo com a missiva, o deputado terá recebido queixas de cidadãos que mostraram desagrado face ao facto de a obra estar parada, tendo permanecido duas máquinas escavadoras em plena via pública. Pereira Coutinho refere que o único sinal de actividade foi um trabalhador que ficou de vigilância aos equipamentos.

“Na semana posterior passou-se a escavar do lado oposto da avenida, o que fez com que tivessem ficado obstruídas as duas vias públicas ao mesmo tempo”, revela o deputado, que se insurge contra a “total falta de coordenação” dos trabalhos.

A obra em questão, da responsabilidade do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, tem como objectivo o ordenamento viário e proceder à remodelação do sistema de esgotos da zona.

Outro dos pontos que preocupa o deputado prende-se com o facto de a obra ter sido iniciada em 2 de Junho sem haver data estabelecida para a conclusão. Além de recordar que estes trabalhos precisam de ser terminados o mais rapidamente possível para que a vida dos cidadãos seja afectada ao mínimo, Pereira Coutinho suspeita do desvio de trabalhadores para outra obra.

Sinalização pedida

O deputado pede a intervenção de Raimundo do Rosário para que seja feita uma fiscalização à obra no sentido de se estabelecer um prazo para a conclusão dos trabalhos. Pereira Coutinho espera que esta questão obtenha resposta positiva, até por uma questão de timing. “Estamos à porta das eleições e isto vai chamar a atenção dos outros candidatos que também devem falar sobre esta matéria”, comenta.

Coutinho acrescenta que recebeu queixas de cidadãos que gostariam de ser informados da razão pela qual, depois de terem sido escavadas valas, os trabalhos pararam. Nesse sentido, o deputado insiste que “deve haver uma placa com informações básica sobre a obra”. A quem pertence, qual a data do início e término, assim como os contactos da empresa, ou do serviço público competente, para onde os cidadãos possam ligar para pedir informações.

O deputado acrescenta ainda que este tipo de demora causa transtornos aos cidadãos e comerciantes da zona, ainda para mais tendo em conta o ruído e a poluição quando os trabalhos estão em curso.

Pereira Coutinho comenta que “estes episódios são comuns e muito repetitivos”. No entender do tribuno, o Governo deve ser implacável nestas matérias e aplicar multas pesadas aos donos das obras que procedam desta forma. Além disso, também as “entidades competentes têm de assumir as responsabilidades de falta de fiscalização”.

Instituto do Desporto | Presidente promete planear trabalho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto do Desporto (ID) garantiu ontem que vai planear os trabalhos dos dirigentes e chefes de departamento do organismo que lidera, de modo a evitar que os funcionários sejam sobrecarregados e obrigados a fazer horas extraordinárias. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Pun Weng Kun comentava assim um caso denunciado em Abril passado que envolve mais de três dezenas de funcionários do ID. Os queixosos alegaram trabalho em excesso durante três anos, sem terem sido devidamente compensados. Pung Weng Kun garantiu que já tratou do caso.

21 Jul 2017

ETAR | Obra vai ser acelerada para evitar mais descargas para o mar

É mau, mas não há outra hipótese. A partir de segunda-feira, as águas residuais da península vão ser despejadas para o mar sem serem sujeitas a tratamento. Raimundo do Rosário promete acelerar a obra

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram inicialmente anunciados como sendo trabalhos para durar três dias, com início marcado para segunda-feira. Ontem, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa, o secretário para os Transportes e Obras Públicas deu conta de novos planos: as obras começam no dia previsto, mas vão ser contínuas, para que estejam concluídas quanto antes.

Os trabalhos na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da península de Macau vão obrigar a despejar para o mar águas que não estão devidamente tratadas. “Há um colector que fica a jusante da estação que, depois das águas residuais tratadas, descarrega no mar. O que acontece é que a ETAR já tem muitos anos, esse colector está completamente danificado e tem de ser substituído”, explicou Raimundo do Rosário.

Trata-se, portanto, de uma inevitabilidade. “É uma obra que tem de ser feita. Não há nada que dure eternamente. Se este colector não fosse substituído hoje, seria no próximo ano. Não sei se seria possível empurrar para o próximo secretário.”

Esta intervenção na ETAR está a causar alguma apreensão na opinião pública, com algumas associações a manifestarem-se preocupadas com as consequências da suspensão dos trabalhos da infra-estrutura. “É indesejável, mas tem de ser. Se há um problema, temos de o resolver”, reforçou o secretário, prometendo que será feito o possível para que os trabalhos sejam bem feitos e no mais curto espaço de tempo.

Para evitar três dias consecutivos de descargas no mar de águas por tratar, o Chefe do Executivo vai autorizar que se realizem trabalhos contínuos. A lei do ruído obriga a que as excepções sejam validadas pelo líder do Governo e publicadas em Boletim Oficial.

“As pessoas que vivem nessa área, já sabem. Vamos fazer o possível para que os trabalhos mais ruidosos sejam feitos durante o dia, os menos ruidosos durante a noite”, promete Raimundo do Rosário. “Quem viver naquela zona terá de fazer um pequeno sacrifício porque o trabalho será contínuo.”

Águas limpas

Durante o período de execução de obra, explicou ainda o secretário, as águas residuais vão ser descarregadas em vários locais. “Em vez de concentrar tudo num ponto, descarregamos em vários sítios. Nesses pontos, vamos controlar a qualidade da água”, indicou. “Se virmos que ultrapassa determinados limites, procuraremos descarregar em mais sítios. No fundo, é dividir o mal por mais aldeias.”

Não havia outra forma de fazer este tipo de intervenção, porque o colector em causa fica a jusante. “Tenho de parar a estação para poder fazer esta obra.” Não há reservatórios que aguentem a quantidade de água que passa pela ETAR.

“Os trabalhos vão ser feitos tendo em conta as marés altas e as marés baixas, vamos tentar minimizar. Mas, por muito que se minimize, é mau”, não esconde Raimundo do Rosário.

Há já vários anos que a ETAR de Macau ultrapassou o limite da capacidade e existem queixas sobre águas que são despejadas sem o devido tratamento. O secretário para os Transportes e Obras Públicas só admite tal hipótese em situações de avaria.

“Temos de fazer um tratamento maior ou menor, porque hoje não é admissível que se descarreguem [águas por tratar]. Não afasto a possibilidade de pontualmente haver [descargas] causadas por uma avaria. Mas fazemos com que, em situação normal, isso não aconteça”, afiançou. “Podem ser escoadas com um tratamento mais ou menos adequado, mas directamente para o mar, não.”

21 Jul 2017

Mundial de Carros de Turismo regressa a Macau após impasse

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Campeonato do Mundo de Carros de Turismo (WTCC) regressa a Macau para a 64.ª edição do Grande Prémio, anunciou ontem o presidente do Instituto de Desporto de Macau. “Hoje anunciamos esta organização novamente com a Federação Internacional do Automóvel (FIA) em relação ao WTCC”, disse Pun Weng Kun, em conferência de imprensa.

Após dois anos de ausência do WTCC, nas edições de 2015 e 2016 do Grande Prémio de Macau, e de um impasse em que a comissão organizadora não dava a prova como certa, o responsável justificou a hesitação, manifestada em maio, por estarem a decorrer negociações com a FIA.

“O Grande Prémio de Macau é uma marca de reputação e várias corridas querem participar no evento. Como comissão organizadora, temos de ponderar quais são as corridas ou as provas que trazem mais vantagens para este evento”, disse.

“Mantivemos sempre contacto com a FIA em relação ao WTCC, alguns pontos ainda precisavam de mais negociações e é assim que hoje temos de volta a corrida em Macau”, afirmou.

Com o regresso da prova do WTCC, a 64.ª edição do Grande Prémio, que decorre entre 16 e 19 de novembro, vai contar com seis corridas: o Campeonato do Mundo de Carros de Turismo, a Taça do Mundo de Fórmula 3, a Taça do Mundo de GT, estas três da FIA, a que se juntam o Grande Prémio de Motos, a Taça de Carros de Turismo de Macau e a Taça da Corrida Chinesa.

21 Jul 2017

Auto-silos | Detectadas quase 40 gestões irregulares

Foram feitas de surpresa uma série de inspecções aos auto-silos locais. O objectivo foi assegurar que as condições contratuais estavam a ser cumpridas. Os Serviços para os Assuntos de Tráfego detectaram 38 casos de gestão irregular

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão 38 os casos de irregularidades no que respeita à gestão dos auto-silos de Macau. A informação foi dada ontem pelo responsável máximo da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, após uma reunião do Conselho Consultivo do Trânsito. “Verificámos irregularidades no que respeita aos contratos celebrados”, começou por dizer o responsável.

As infracções detectadas dizem essencialmente respeito ao incumprimento contratual relativo ao número de trabalhadores que têm de estar de serviço. “Por exemplo, exigimos um certo número de funcionários no próprio local, mas durante a nossa inspecção verificámos que os trabalhadores eram insuficientes”, apontou Lam Hin San. Outro dos aspectos em incumprimento diz respeito à manutenção dos próprios parques, nomeadamente no que toca à falta de limpeza.

Duas empresas já pagaram a multa a que foram sujeitas, quatro estão com ordem de pagamento, 11 casos têm processo aberto e há ainda 21 auto-silos em que as provas já estão recolhidas e que vão ser sujeitos a processo.

O castigo vai além da multa e as empresas infractoras poderão mesmo não poder participar nos próximos concursos públicos para gestão destes equipamentos. “Provavelmente não vamos convidar estas empresas a participar nos concursos”, sublinhou o director.

As multas podem ultrapassar as dez mil patacas diárias, sendo que, uma vez atingido o montante de 150 mil patacas, o contrato de concessão é anulado.

Alterações definitivas

Outro dos aspectos discutidos ontem na reunião do Conselho teve que ver com alterações de carácter permanente da circulação rodoviária na Taipa. A zona que rodeia o Parque Central da ilha vai deixar de ter dois sentidos e passar a ser de sentido único. Com a medida, a DSAT espera aumentar a segurança para as pessoas que andam naquela zona a pé. “O sentido único é mais seguro para os peões que não precisam de, no momento de atravessar a estrada, estare atentos aos dois sentidos”, disse o responsável.

Milhões de passageiros

Nos primeiros seis meses deste ano, a DSAT contabilizou um total de 103 milhões de passageiros que utilizaram os autocarros de Macau, sendo que o dia de maior congestionamento nos transportes públicos aconteceu a 29 de Maio, altura da comemoração do festival de barcos-dragão. Circularam no território, nesse dia, 662 mil passageiros. “É um novo recorde”, afirmou o director dos Assuntos de Tráfego.

Com o novo ano lectivo, os autocarros, garantiu o responsável, vão ser reforçados.

Cerca de 50 por cento dos passageiros dos transportes públicos usaram o terminal de autocarros das Portas do Cerco. De modo a facilitar a circulação naquela zona, a DSAT já procedeu ao aumento de autocarros no piso superior do terminal, o que “melhorou muito o serviço”, disse Lam Hin San.

O acesso aos táxis também vai ser melhorado naquele ponto da cidade. “Vamos fazer obras de melhoramento da tomada de táxis, de modo a que possam ser recolhidos passageiros para cinco táxis ao mesmo tempo. O mesmo vai acontecer na zona do Terminal Marítimo do Porto Exterior, em que as alterações vão permitir a tomada de três táxis em simultâneo”, explicou.

Ainda relativamente aos serviços de táxi, Lam Hin San afirmou que vão ser acrescentados veículos à frota de radiotáxis, sendo que, admite, não é uma tarefa fácil. Em causa está a desproporção na procura deste serviço: “Nas 24 horas diárias, em cerca de 11 são procurados 80 por cento dos táxis disponíveis, enquanto nas restantes 13 horas são procurados apenas 20 por cento”.

 

Poucas obras de grande escala

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e acordo com Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, em declarações dadas ontem após a reunião do Conselho Consultivo do Trânsito, as obras de grande escala a decorrer no território associadas aos serviços de tráfego, foram reduzidas de 99 no ano passado para cerca de dez neste ano. O objectivo, apontou, é “causar menos impacto ao público”. Um dos trabalhos a ser feito é a repavimentação da Rua do Campo, inicialmente prevista para ser efectuada durante as férias de Verão, mas agora adiada para o período do Natal. Em causa está o impacto destes trabalhos e “nessa altura Macau vai estar já com menos obras”, explicou. Para que as obras causem o menor dano possível à circulação naquela que é uma das vias com mais movimento do território, a mudança de datas também “permite aos passageiros planearem melhor as suas viagens”. Garante o director que os trabalhos serão efectuados em cinco dias e, durante o período nocturno, a circulação poderá ser aberta a veículos.

21 Jul 2017

Bandeira mal hasteada em Coloane não era fotomontagem

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Alfândega (SA) anunciaram ontem que abriram um processo disciplinar para “investigação profunda” do caso da bandeira nacional hasteada de forma errada na Ponte Cais de Coloane. Trata-se de um episódio que foi inicialmente catalogado como sendo o resultado de uma fotomontagem, que envolveu a Polícia Judiciária (PJ) e o autor de uma publicação numa rede social, e que agora conhece novos desenvolvimentos.

No passado dia 3, os SA aperceberam-se de que estava a circular uma fotografia numa rede social que mostrava a bandeira nacional hasteada ao contrário no Terminal Marítimo do Porto Exterior. No mesmo dia, a situação foi corrigida.

Acontece que, no dia seguinte, foi de novo detectada outra fotografia, também da bandeira nacional, “hasteada não apropriadamente”. Desta vez, a imagem era relativa à Ponte Cais de Coloane. Após o que dizem ter sido uma “investigação meticulosa”, os SA confirmaram que a bandeira içada na ponte cais, naquele dia, estava hasteada de forma apropriada, pelo que afirmaram que se tratou de uma fotomontagem.

“Os SA informaram de imediato a situação ao secretário para a Segurança e apresentaram também denúncia à PJ, solicitando a sua intervenção e investigação”, recordam os serviços em comunicado.

A investigação envolveu “diálogo” com a pessoa que publicou a fotografia. A PJ fez ainda análises, tendo ficado provado que a foto em questão não era, afinal, uma fotomontagem.

Depois de terem sido informados das conclusões da PJ, os Serviços de Alfândega abriram um processo disciplinar para averiguarem o que aconteceu. “Os SA pedem desculpa pelo mal-entendido provocado e pela informação erradamente fornecida aos superiores e à imprensa no dia 4 do corrente mês”, escrevem os serviços. “De facto, terá sido insuficiente a investigação inicialmente realizada para o correcto apuramento da situação da bandeira hasteada na Ponte Cais de Coloane.”

 Secretário atento

Apesar de os SA garantirem que “aprenderam a lição”, tendo reforçado “as instruções permanentes e medidas de supervisão, e intensificado a formação interna”, o secretário para a Segurança emitiu também um comunicado sobre o assunto em que se demonstra desagradado com este episódio protagonizado por serviços sob a sua alçada.

Wong Sio Chak afirma “prestar atenção aos consecutivos erros, além de achar inaceitável a confusão causada pela comunicação dos SA”. O secretário deu orientações aos serviços para procederem a uma investigação rigorosa aos casos e ao pessoal neles envolvido, devendo divulgar o mais rápido possível os resultados apurados.

O responsável pela pasta da Segurança acrescenta ter dado ordens aos organismos da sua tutela para cumprirem com rigor as leis e instruções sobre as regras de colocação e exibição das bandeiras nacional e regional. Exortou-os também “a melhorar os trabalhos de gestão diários, garantindo a legalidade, o rigor e o profissionalismo dos serviços públicos”.

Turismo | Hotéis com maior ocupação e quartos mais baratos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro semestre do ano foi de subida de taxas de ocupação do sector hoteleiro, que registou um crescimento de 6,3 por cento em relação aos seis primeiros meses de 2016. Por outro lado, os preços dos quartos ficaram mais baratos, verificando-se uma descida de 3,5 por cento. Durante o primeiro semestre de 2017, a taxa de ocupação dos hotéis de Macau situou-se nos 87,2 por cento, um registo que contrasta com os 80,9 por cento de ocupação no período homólogo do ano transacto. De acordo com os dados publicados pelos Serviços de Turismo, o preço médio de um quarto de hotel no primeiro semestre deste ano foi de 1249,6 patacas, um valor ligeiramente inferior ao verificado nos primeiros seis meses de 2016, quando o preço médio foi de 1295,5 patacas.

 

Robótica| Aluno da UM ganha medalha de bronze

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hio Wan Long, aluno da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Macau, ganhou a medalha de bronze na competição WorldSkills Hong Kong 2017 – Mobile Robotics. O evento faz parte de uma iniciativa global, a WorldSkills Abu Dhabi 2017, que acontece em Outubro. Esta feira de tecnologia atrai participantes oriundos da Rússia, Japão, França, Canadá, Malásia, Singapura, China, Macau e Taiwan. A competição começou em 1954 e destina-se a promover a troca de conhecimentos técnicos na área das novas tecnologias. O robot desenvolvido pelo estudante da UM foi construído sob a supervisão do professor Vong Chi Man.

 

21 Jul 2017

Entrevista | Duarte Drumond Braga, académico

 

Começou por se interessar pelas representações da Ásia na cultura e literatura portuguesa, mas passou para o lado do estudo das pessoas que escreveram em português em territórios asiáticos. Hoje em dia, Duarte Drumond Braga estuda um tesouro cultural de valor inestimável e totalmente desconhecido: o acervo literário indo-português e as relações entre Goa e Macau

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo começou a sua incursão pelas literaturas em português no Oriente?

Trabalhei um pouco a questão das representações da Ásia na cultura e na literatura portuguesa. Depois quis estudar o outro lado, as pessoas que estiveram na Ásia e escreveram em português. As literaturas em língua portuguesa na Ásia são traduções literárias muito pouco estudadas, desconhecidas, talvez a mais conhecida seja mesmo a de Macau. Há uma literatura em português em Timor, mas a menos conhecida dos três é a de Goa, algo misteriosa por ser uma literatura de consumo interno.

 

Encontra-se a estudar esse espólio literário indo-português. O que tem encontrado?

Estou a estudar a relação entre Goa e Macau na literatura portuguesa, ao abrigo de uma bolsa de pós-doutoramento da Universidade de São Paulo, o projecto “Pensando Goa (Fapesp)”, assim como o projecto do “Orientalismo Português”, da Faculdade de Letras. O projecto de São Paulo é megalómano, com mais de 40 investigadores portugueses, brasileiros, americanos, indianos, e propôs-se estudar esse acervo. Se temos, mais ou menos, a noção das literaturas africanas em língua portuguesa, quem são os seus autores, que livros escreveram, existem também listagens, dicionários e índices. Muito pouco disso existe na literatura indo-portuguesa. Ainda há um trabalho de reconhecimento do acervo que tem de ser feito e que tenho ajudado a fazer no âmbito desse grupo. O acervo é enorme, o que é surpreendente tendo em que conta que o português sempre foi altamente minoritário em Goa, talvez até mais do que em Macau. É uma produção que está ligada aos goeses católicos, que escreviam em português, e é um pouco uma literatura de consumo interno. Há muita coisa que não chegou a sair de lá. Apesar de ser de consumo interno, isso não quer dizer que seja uma literatura provinciana, é interna só no sentido em que há uma comunidade pequena que produz e lê essa literatura.

 

Em que estado de conservação se encontra o acervo?

Estamos a falar sobretudo de produção do século XIX e XX, porque tudo o que está para trás é meio incerto, pouco conhecido. Há autores goeses a escrever em português logo desde o século XVI, mas as coisas mais antigas estão em mau estado de conservação. As coisas mais modernas, séculos XIX e XX, estão em condições relativamente frágeis, mas aceitáveis. Há muitas coisas em bibliotecas em Pangim, sobretudo, outras estão em bibliotecas privadas dispersas por Goa. Uma parte importante deste projecto da Universidade de São Paulo é digitalizar o máximo de coisas possível, mesmo as coisas que estão em bom estado e que se vão deteriorando com o clima, a humidade, para ficarem preservadas. Também há a questão de, eventualmente, disponibilizar na Internet algumas das obras para que caíam em domínio público e serem conhecidas. O grande problema aqui é que estamos a falar de autores que ninguém leu, que não têm reedições modernas. Apesar de haver, e isto é impressionante, editoras a publicar actualmente em português em Goa. A editora do Frederick Noronha é um exemplo. Chama-se Goa 1556, a data da introdução da imprensa na Índia via Goa. Embora o público leitor seja reduzido, publica-se literatura, até ensaio, memórias em português. Isto apesar de o inglês ter ganhado protagonismo. As famílias que falavam o português mudaram para o inglês, o português é falado mais como uma língua doméstica.

 

Quem eram estes escritores?

Existe diáspora portuguesa em Goa, assim como em Macau, mas a questão é que o grosso desta literatura é produzida mesmo pelos goeses. Os portugueses quando conquistaram Goa forçaram camadas vastas da população hindu a converterem-se em massa. Esses conversos adoptaram nomes cristãos, portugueses, geralmente o nome do padre que foi o padrinho. Fizeram uma conversão cultural, abandonaram os moldes culturais do hinduísmo, adoptaram o catolicismo. São esses que no século XIX, e antes, produzem essa literatura. Mas há também os descendentes de portugueses nascidos na Índia, já não são diáspora, são segundas e terceiras gerações.

 

Que retrato da sociedade se pode tirar deste acervo?

É um meio bastante misterioso que ainda estamos a tentar compreender. Podíamos traçar alguns paralelos com a comunidade macaense na medida em que os goeses se assumiram como portugueses do Oriente. Mas, na verdade, têm uma entidade distinta dos portugueses e souberam marcá-la bem nos momentos chave. Tenho usado como chave para ler os goeses uma frase de um autor chamado João da Veiga Coutinho. Um nome portuguesíssimo. Ele publicou um livro chamado “Uma Espécie de Ausência”. Nesse livro ele diz “nós goeses éramos portugueses, mas não éramos os portugueses”, para mim está aí o segredo todo. Éramos portugueses, pertencíamos ao império, tínhamos cidadania portuguesa, mas não éramos “os portugueses”. Não éramos os portugueses no sentido em que éramos subalternizados pelos portugueses que estavam no topo da hierarquia colonial. Também nesta frase ele está a tentar demarcar-se, criar uma identidade distinta dos portugueses, reclamando para os goeses uma forma também de ser português. Porém, é preciso evitar cair no discurso perigoso de ver estes territórios como meras projecções de Portugal, são territórios complexos, multilinguísticos. A literatura em língua portuguesa nunca existiu sozinha, ela intrinca-se com o inglês, com o concani, portanto é preciso deixar claro que são territórios muito plurais, tal como Macau. De maneira alguma são projecções de Portugal no Oriente. Por outro lado, os goeses sempre que lhes conveio politicamente, simbolicamente, quiseram reclamar para si também uma pertença a essa identidade portuguesa.

 

Em que moldes se tem estabelecido a ligação Goa – Macau em termos literários?

É importante entender que Goa, Macau e Timor funcionam um pouco em rede, em sistema. São espaços insulares do Império na Ásia, dependem uns dos outros e quanto mais para trás mais eles estão ligados. Os governadores de Macau vinham de Goa, eram eleitos e vinham para cá porque Goa era bem mais importante do que Macau nos séculos XVI, XVII e ainda no XVIII. Essa situação só vai terminar, creio, que em 1844/45. Timor também, a certa altura, depende de Macau. Isto funciona em rede em termos administrativos e eclesiásticos. Creio que Timor pertenceu à diocese de Macau durante uma data de anos. Não há um contacto muito directo entre escritores de Goa e Macau. Ainda um pouco fora da literatura, há goeses que viveram em Macau e vice-versa. Um exemplo interessante é a Escola Médico-Cirúrgica de Goa, que a certa altura era a única unidade de ensino superior no Ultramar. Houve macaenses que foram estudar medicina para Goa, uma ligação um pouco inusitada.

 

Neste contexto de rede, quais as distinções entre a literatura de Goa e Macau?

É preciso ver que estamos a falar só da produção em língua portuguesa, que é um recorte sempre artificial. Estamos a falar só de secções. Parece-me que a grande diferença é que a literatura goesa em língua portuguesa está bastante ligada a esta comunidade católica, embora tenha havido também hindus que escreveram em português. Os críticos têm visto a literatura de Macau em português como algo de mais vasto, não seria apenas a literatura produzida pelos filhos da terra, pelo Henrique de Senna Fernandes, a Deolinda da Conceição, mas seria algo mais vasto. Como o acervo que descobrimos é tão vasto eu creio que, por agora, é melhor ter algum cuidado, conhecer primeiro o que é que os goeses, de facto, produziram, para depois aprenderemos como é que podemos colocar essa literatura. Acredito que seja possível no futuro falarmos em literaturas asiáticas em língua portuguesa, incluindo Timor, pensarmos como um sistema, uma rede, tenho defendido isso. Passarmos a ver que outro sentido ganha a literatura de Goa lida junto com a literatura de Macau, com a literatura de Timor, no fundo literaturas insulares longe da metrópole, de alguma forma isoladas. Por outro lado, é preciso ter em atenção a circulação dos portugueses que passam por estes territórios e vão escrevendo sobre eles, por exemplo, a Maria Ondina Braga que antes de vir para Macau sai de Goa. Há este caso dos intelectuais portugueses que tiveram esta mobilidade. Os textos que estes autores portugueses foram escrevendo também dão corpo às literaturas de cada um desses espaços.

 

Que peso tem este acervo indo-português?

Penso que as literaturas de língua portuguesa de Goa e Macau têm de entrar urgentemente no estudo das literaturas em língua portuguesa. A literatura portuguesa, brasileira e as africanas estão muito ligadas à ideia de “nação”. Macau e Goa são outras realidades. Temos de conhecer estas literaturas para podermos repensar “the larger picture” e redefinir o quadro do que são as literaturas em língua portuguesa, como aconteceram, quais os contactos que existiram entre elas. Sabemos que um dos primeiros jornais moçambicanos tinha goeses na sua fundação. Até no próprio famoso jornal publicado em Macau, Ta-Sii-Yang-Kuo, há um goês na sua fundação. Há relações que estão mal estudadas e que têm de ser conhecidas para sairmos um pouco daquela ideia de que a literatura está ligada à nação.

21 Jul 2017

EUA e China decidem cooperar para reduzir défice comercial

Cem dias. Foi o prazo estabelecido de criação de um plano económico para parcerias entre China e Estados Unidos quando os presidentes dos dois países, Xi Jinping e Donald Trump, se encontraram em Abril. Alguns acordos iniciais foram rascunhados, mas nada efectivo saiu do papel. O prazo de 100 dias acaba no domingo e representantes dos dois países encontraram-se esta semana para discutir uma efetiva ampliação nos negócios.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos e China acertaram nesta quarta-feira cooperar para a redução do défice comercial, na primeira ronda de negociações económicas bilaterais desde o início da presidência de Donald Trump, informou Washington no fim do encontro.

O secretário de Comércio, Wilbur Ross, e o seu colega do Tesouro, Steven Mnuchin, iniciaram as conversações entre as duas principais economias mundiais com exigências de uma relação mais “justa, equitativa e recíproca”. A parte americana exigiu mudanças depois de sublinhar que as exportações chinesas para os Estados Unidos cresceram mais de 200% nos últimos 15 anos e alimentam um défice comercial de 309 mil milhões de dólares em 2016.

Mas Ross e Mnuchin escolheram um tom mais moderado no fim das conversações com a delegação chinesa, liderada pelo vice-primeiro-ministro Wang Yang. “A China reconheceu o nosso objetivo compartilhado de reduzir o défice comercial, no qual os dois lados trabalharão cooperativamente”, declararam Ross e Mnuchin.

“Os princípios de equilíbrio, equidade e reciprocidade em matéria de comércio guiarão a posição americana para que possamos oferecer aos trabalhadores e aos empresários americanos a oportunidade de competir em igualdade de condições”.

Wang sugeriu aos Estados Unidos que não pressione excessivamente, sublinhando a importância do “diálogo” sobre a “confrontação”. “Não precisamos que um derrote o outro nas discussões sobre as nossas divergências. O confronto prejudicará os interesses de ambos”.

No seu discurso, Wang afirmou que “há um enorme mercado potencial na China para as exportações americanas de tecnologia avançada; equipamentos e peças, mas, lamentavelmente, as empresas americanas não pegam nessa parte do bolo devido a controlos obsoletos de exportações nos Estados Unidos”.

A legislação americana restringe a venda de alguns componentes de alta tecnologia quando existe a possibilidade de que sejam utilizados para fins militares.

Ao abrir as discussões, Ross declarou que o défice poderia ser entendido “se fosse apenas resultado natural das forças do livre-mercado, mas não é isso”. “Já está na hora de reequilibrar nossas relações de comércio e investimentos”.

Steven Mnuchin avaliou que é preciso “trabalhar juntos para maximizar os benefícios às duas partes (…) e isso apenas será possível com uma relação mais justa e equilibrada entre Estados Unidos e China”.

“Isso significa resolver os desequilíbrios provocados pela intervenção chinesa na economia”, disse, completando: “Uma relação mais equilibrada vai gerar prosperidade para os dois países e para o mundo”.

Promessas de Trump

O intuito de Donald Trump é conseguir diminuir o défice comercial americano com a China, que acredita ser nocivo para a economia dos Estados Unidos e para os produtos fabricados no seu país. As conversações, até agora, já promoveram, por exemplo, o regresso das vendas de carne para a China, paradas há 14 anos. A China também tem demonstrado interesse em adquirir produtos de gás natural liquefeito dos Estados Unidos.

A reunião de Washington, um encontro que acontece todos os anos entre oficiais dos dois países, mudou de nome para Diálogo Económico Compreensivo, e deve trazer mais novidades em torno das parcerias.

O secretário de comércio, Wilbur Ross, recebeu empresários americanos e chineses para discutir o comércio internacional entre os dois países. Mais de 20 líderes de negócios, como o presidente do Alibaba, Jack Ma, e o cofundador do grupo de investimento Blackstone, Stephen Schwarzman, participaram das conversações. Os participantes discutiram os problemas das barreiras comerciais e fizeram uma lista de sugestões aos oficiais do governo.

A questão é primordial num momento em que exportadores americanos, principalmente em indústrias como tecnologia da informação e robótica, estão preocupados com o expansionismo chinês — a China chama esse mercado de “indústria em estratégica emergência”. Enquanto Trump caça paliativos para agradar aos seus eleitores, os chineses continuam a investir para exportar tecnologia de ponta não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo.

Irão | China solicita cumprimento de acordo nuclear

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pediu confiança mútua e responsabilidade de todos os lados para salvaguardar e realizar o acordo nuclear do Irã de 2015, agora que os Estados Unidos colocaram novas sanções em 18 entidades e indivíduos ligados ao programa de mísseis balísticos do Irã e outras actividades não-nucleares na terça-feira.

“Todos os lados têm a responsabilidade de salvaguardar e realizar o acordo nuclear do Irão”, disse Lu Kang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

A China opõe-se resolutamente a qualquer tipo de actividade de proliferação nuclear e sempre se opôs à chamada “jurisdição de longo alcance” por qualquer país com base na sua legislação nacional, de acordo com Lu. “A cooperação internacional eficaz depende da necessária confiança mútua de todos os lados”, afirmou.

Referindo-se ao acordo nuclear como “um importante resultado multilateral” e “um paradigma” para a solução de questões internacionais através de meios políticos e diplomáticos, Lu disse que desde o lançamento do acordo dois anos atrás, o Irão implementou “sinceramente” medidas relevantes e fortaleceu o comércio económico e cooperação comercial com diferentes países, o que está de acordo com a vontade da comunidade internacional.

21 Jul 2017

Em nome do pai “à sombra das meninas em flor”

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á velho sentado numa cadeira à beira do jardim. Tenho os óculos postos mas os olhos fechados. E durmo. Durmo.

Estou sempre a dormir. Mas abri os olhos. Levanto-me.

No sonho de onde acordo era ainda jovem.

Havia biquinis a destapar raparigas que mergulhavam em conjunto na água do rio.

Ainda era garboso. Mesmo sem o ter sido, pensava que o havia sido.

Mas quando se olha para raparigas em grupo a mergulhar as águas do rio, não se pode pronunciar palavra alguma. Não se pode visar nenhuma em particular.

A acústica da palavra apaga o sortilégio idílico do que acontece: “raparigas em grupo”.

“Um grupo de raparigas” é uma existência metafísica e só existe para um sujeito transcendental. Um sujeito para quem nada mais existe a não ser raparigas no Verão de biquinis, em grupo, a comer gelados, a criar a existência do sol e do rio e do Atlântico.

Eu, velho, ando com passos curtos.

Quando me acenam, transformo o rosto como posso para fazer um sorriso que me deforma a cara toda já deformada.

Atrás das lentes estão ainda os olhos. Havia pouco tempo e estavam fechados.

Em todo aquele sofrimento, havia uma nuvem em redor daquele corpo estropiado pelo Alzheimer.

Do canto do olho caiam penduradas pelas pálpebras raparigas em grupo, destapadas por biquinis, para dentro do rio, transparente e quente à luz do sol.

Eu velho sento-me de novo na cadeirinha à espera de poder adormecer e peço a quem puder que não me acorde ou então que me deixe dormir o tempo suficiente para não ter medo de acordar.

As raparigas aos gritos correm para a beira mar e mergulham para aflorarem a superfície da água com os cabelos corridos a terminarem no rio.

Vejo o meu pai com morfina e tento adivinhar-lhe os sonhos.

“Lembro-me dos teus dedos a cheirar a tabaco. No teu colo ouvia Frank Sinatra. Um dia dei-te um tiro com uma pistola de brincar. Fizeste-te morto. E fiquei angustiado. Oxalá tivesses sobrevivido agora, como na altura. Perdias-te na cidade. Ia atrás de ti. E sempre soube que chegaras a casa quando eu te procurava. Decidimos que só sairias comigo. Assim foi. Falavas de como não vias e do dinheiro que precisavas e levantavas às centenas. Não tinhas medo e era eu quem tinha medo. Desculpa, pai. Tinha medo por mim. Não era por ti. Andy Williams estava sempre no teu tom e na tua atmosfera. Os livros que perdeste por os teres emprestado a amigos já mortos seriam para mim. Mas falavas-me deles como da tua irmã perdida para a morte.

Quando chegava da faculdade, estavas de roupão e agasalhado. E às vezes dizias que estavas farto, farto do corpo velho. Levava-te, então, ao rio e bebíamos uma cerveja. Olhavas ainda para as miúdas e sobretudo para as crianças. Desculpa-me: nunca fui corajoso como tu, não acredito como tu na pátria, na mãe, nos filhos e no teu querido Partido Comunista como dizias: “o meu querido Partido Comunista”, como se fosse a tua igreja, a tua religião. Tu que, quando a tua mãe morreu, apoiado na janela, gritaste à minha frente: “Deus é um cabrão”!

 

Nunca tive a tua coragem. Mas tu tiveste o meu amor. Quando o teu melhor amigo morreu, choraste. Disseste: “está acabado”. Pedi-te para sobreviveres. Querias falar comigo e falámos. Daquela senhora que te queria mas era velha demais. Pedi-te para não morreres. Disse-te que eu e o mano não éramos, juntos, metade do homem que eras. Disseste-me que éramos. E quando querias meter-nos medo dizias que o pai do Presidente Kennedy lhe dizia: “não há número dois”!”

 

Ainda vejo já velho o meu pai e o meu avô, como se fossem agora meus irmãos. Eu já da idade deles e eles da minha idade.

E os três olhamos para a sombra das jovens raparigas em flor. Ainda haverá nelas qualquer coisa que nos fará apaixonar, mas já são filhas e netas e é difícil perceber as mulheres futuras nelas.

É nelas que ressuscitamos.

Esqueci-me do ano e do dia. Vivo ainda com a mãe. Nunca saí de casa, como queria Píndaro.

Na Rua da Horta Seca passam raparigas. E fazem a sombra, o santo espírito.

Queria que soubesses que tenho os mesmos amigos que tu e que não acredito em Deus.

Mas acredito que vou ter contigo.

E voltaremos ao Tejo que tanto amavas.

21 Jul 2017

Primeiro olhar de Pessanha sobre Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o riquexó, puxado por um cule que agarrava os varais para levantar a cadeira pelo eixo das rodas, Camilo Pessanha prepara-se agora para partir da Rua do Visconde de Paço d’ Arcos, assim chamada desde 15 de Novembro de 1882, quando até então era designada apenas por Rua Marginal do Porto Interior. A vontade era de continuar para Sul, pois os aterros, desde as Portas do Cerco até ao Largo do Pagode da Barra, foram feitos entre 1867 e 1869, quando a uma parte dessa marginal rua foi dado o nome de Avenida António Sérgio.

Um dos lados da via tinha uma berma num dos ramos do Rio Oeste e na outra edifícios de dois andares, cujo rés-do-chão se encontrava recuado. Eram, normalmente lojas ou armazéns, quase todos relacionados com os negócios marítimos, ficando o andar superior destinado a residência. Em túnel, esse passeio permite aos transeuntes resguardarem-se da chuva e aos comerciantes exporem fora das lojas os produtos. Tal arquitectura, dos finais do século XIX, é conhecida por Kei Lau, sendo especial da área de Lingnan, que compreende as províncias de Fujian, Guangdong, Guangxi e Hainão, no Sudeste da China.

A Pessanha não faltaria a vontade de seguir pela tão apelativa estrada marginal, onde desembarcara vindo de Hong Kong, encontrando-se próximo o cais do barco de Cantão, seguido por um outro, onde se descarregavam as mercadorias provenientes da província de Guangdong. Terá imaginado essa idílica viagem, quando está ainda na Rua do Visconde de Paço d’ Arcos, que em 1882 tinha 26 prédios, começava na Rua do Guimarães e acabava na Rua do Miguel Ayres. Já o Cadastro de 1906 refere esta rua, conhecida em chinês por Pa-su-ta-ni-ku-kae, na freguesia de Santo António, com 34 prédios, a começar e acabar na Rua do Guimarães, onde ficavam os cais dos vapores Mao-cheong, do Ying-king, do Fat-on, do Ung-cheong, do Tai-on e do Hong-sam. Mental viagem a circundar pela marginal até à Praia Grande, só em 1910 poderá realizar.

Plano para mais tarde

O percurso que Pessanha estava prestes a começar a fazer, já a 1 de Novembro de 1890 estava descrito no jornal O Macaense:

“Quem desembarca do vapor de Hong Kong, no porto interior, e quer vir à Praia Grande, tem de atravessar um dédalo de ruas estreitas e imundas, orladas por casas de paredes escuras e tristes. Há principalmente uma travessa muito estreita, junto à Rua de Felicidade por onde têm de passar todos os que quiserem transitar em jenrickshas. É tão estreita que um homem de braços abertos não pode passar por ela. É ela a Travessa do Tintureiro (Tai Pang Hong), ou Travessa do Falcão, com menos de cem metros que, começando no Largo do Senado, termina na Rua dos Mercadores.

Houve em tempos um projecto bastante grande de fazer uma larga avenida, que partindo do Largo de Caldeira no porto interior, viesse acabar na Praia Grande, passando pela frente do edifício do Leal Senado. Para esse fim seria preciso expropriar um bom número de casas chinesas, e uma parte da casa que é actualmente o Hotel Hing-kee, e calculava-se que seriam necessários $30 000. Não pedimos agora tão grandiosa obra. Por enquanto talvez bastaria modificar a Rua de Felicidade, alterando-a gradualmente desde o seu começo na Rua Marginal (Rua do Visconde de Paço d’ Arcos), para torná-la transitável para jinrickshas, que agora não podem subir a ladeira que a vem ligar com a Rua dos Cules. Os prédios da Rua de Felicidade pertencem a uma sociedade de negociantes abastados, que são bastante condescendentes. Não será difícil persuadi-los a converter, as que hoje servem de lupanares, em lojas mais asseadas e com frontarias mais alegres, com o que eles virão finalmente a lucrar. Essa transformação não poderá deixar de ser lentamente feita, mas se o governo melhorar aquela rua de modo que a torne mais frequentada, os proprietários por seu próprio interesse irão transformando os prédios, enxotando dai os lupanares.”

O capitalista chinês Vong Loc formara uma Companhia, a 绍昌堂 (Shao Chang Tang), que adquiriu a Fábrica de Processamento de Chá Pereira, com a frente para a Rua da Alfândega e traseiras situadas junto à água, e comprou as antigas casas em redor do Beco de Matapau e por aterro, no início dos anos 60 do século XIX foi construída a Rua Nova da Felicidade Abundante, em chinês Fok Long San Kai.

Nessa nova zona do Porto Interior, que compreendia a Rua da Felicidade, Beco, Travessa e Pátio da Felicidade, Pátio do Aterro, Rua da Caldeira, Travesso do Bazar Novo, Rua do Bocage, Travessa das Virtudes, Travessa do Auto Novo, foram construídas mais ou menos 160 lojas. Em 1864, a Companhia desfez-se devido aos sócios estarem desanimados, pois as lojas continuavam vazias e Vong Loc comprou-as todas, mudando o nome à Companhia para 集成堂 (Ji Cheng Tang), tornando-se então o maior proprietário de Macau.

Trinta anos depois, à estreita Rua da Felicidade, de casas com portas de espaldar e tijolos cinzentos, virá Camilo Pessanha com ela iluminada pelos candeeiros vermelhos a indicar os coulaus (restaurantes) para apreciar a música das pei pa tchai, mulheres assim chamadas por tocarem pei pa (pipa), um instrumento musical de quatro cordas e cantarem pela noite dentro. Vestindo um qipao (túnica), eram preparadas para agradar aos comensais.

Segundo o que o Engenheiro Director das Obras Públicas Augusto Abreu Nunes descreve a 11 de Fevereiro de 1903:

“As ruas mais importantes que cortam o Bazar e estabelecem a ligação entre ele, a rua Marginal e o centro da cidade, na direcção Leste/Oeste são: a Rua da Felicidade e a Rua das Estalagens, duas ruas estreitas, tortuosas, tendo em alguns pontos a máxima largura de 6,5 metros! Estas ruas são ligadas transversalmente por outras, em piores condições ainda: a Rua dos Mercadores, a do Mastro, a do Aterro Novo, etc., chegando nestas travessas a haver largura de 3 metros e não sendo a maior nunca superior a 7 metros. Resulta deste estado do Bazar, uma aglomeração enorme de casas de negócio, e portanto de gente e carros pelas ruas, que se atropelam constantemente, dificultando o trânsito e o comércio. A estes inconvenientes acresce, como consequência, que as condições higiénicas daquele recanto são deploráveis, isto é: uma falta de ar e luz em todas as habitações, becos e ruas, e um fétido insuportável por toda a parte”.

Para chegar ao Largo do Senado

A Rua do Visconde Passos d’ Arcos tinha à sua frente a oblíqua Rua do Corte Real (Co-ti-li-ha-kai), que termina junto à Rua Nova do Comércio no cruzamento com a Rua do Guimarães. Fosse essa a opção, logo na Rua do Guimarães começa a Rua do Matapau, que permite atingir a Rua dos Mercadores e daí seguir depois pela Travessa dos Tintureiros até à Praça do Senado, cruzamento com a Rua da Cadeia. Se escolhesse prosseguir um pouco para Sul, pela Rua do Visconde Passos d’ Arcos, até onde acaba a Rua do Guimarães, poderia entrando pela Rua da Caldeira, pequeno porto (caldeira) aterrado em 1875, prosseguir pela Rua da Felicidade e cortando para a esquerda, a Rua do Aterro Novo, onde virando para a direita, encontra a Rua do Matapau (a dos marceneiros), para chegar à Rua dos Mercadores.

Fora de hipótese era escolher ir para Norte, pois o percurso era bem mais longo e ficava fora de mão. Mas se tal ocorresse, encontrava a Rua da Madeira, que depois de cruzar com a Rua do Guimarães e com a Rua Nova de El-Rei (actual 5 de Outubro), um pouco mais adiante apareceria as travessas da Cordoaria e do Pagode, seguindo até à Rua do Mastro. Também para aí chegar havia, antes do Largo de Matapau, a Rua do Pagode, que seguia paralela à Rua da Madeira. Já da Rua do Mastro para chegar à Rua dos Mercadores havia para quem circulava pela Rua do Pagode, desviando um pouco para a direita, a Travessa das Portas, sendo no entanto muito estreita e por isso, só a pé tinha passagem. Duas outras estreitíssimas travessas faziam a ligação da Rua do Mastro para a Rua dos Mercadores, a dos Becos e a Travessa dos Mercadores.

Outro percurso era continuar ainda mais para Norte pela Rua do Guimarães, seguir até ao Largo do Matapau (Largo do Pagode do Bazar onde se encontra o Templo de Hóng Kông e começa a Rua Nova de El-Rei, actual Cinco de Outubro) e daí, pela relativamente larga para a época Rua das Estalagens, seguir até à dos Mercadores. A ligar a Rua dos Mercadores com o Largo do Senado, existia a Rua da Palha, que dá ao Largo de S. Domingos, onde se situa o Quartel com o mesmo nome, instalado no antigo Convento. Contíguo a esse largo está o Largo do Senado.

De referir, como o Padre Manuel Teixeira nota, que o Bairro de S. Domingos iria em breve ser totalmente remodelado pelo Director das Obras Públicas eng. Abreu Nunes. Na altura, ainda se estava à espera do projecto para o Mercado de S. Domingos, devorado por um incêndio a 15 de Novembro de 1893 e para o qual só em 19 de Julho de 1904 foi aberto concurso para a obra de construção. A venda dos produtos era desde então feita na Travessa do Soriano, que estava transformada num lugar imundo, um depósito de detritos orgânicos, um verdadeiro foco de infecção.

Do Senado para a Praia Grande

A viagem, feita em corrida num passo miúdo e cadenciado, avança por entre outros carros, sendo usada a voz como buzina. Camilo Pessanha, ao cruzar pelo triangulado e aprazível Largo do Senado, já não verá o “grandioso, soberbo e extraordinário urinol dos cupidos, que com tanta arte e perfeição aí existira. Era uma obra pitoresca, admiravelmente arquitectada”, que daí tinha sido acabada de retirar, como refere um jornal de 31 de Março de 1894.

Já toda a zona ocupada pelos edifícios da Santa Casa da Misericórdia (Igreja Visitação de Nossa Senhora, Cartório e Casa dos Expostos, que em 1883 estavam em risco de ruína) no Largo do Senado, em 1888 tinha sido remodelada. Foram abertas ruas, construído um novo Cartório e renovadas as casas de habitação com rés-do-chão e primeiro andar aí existentes, onde em 1893 e durante cerca de um ano no n.º 14 do Largo do Senado teve Sun Yat-sen o seu consultório.

Do Largo do Senado havia duas vias para chegar ao Hotel Hing Kee, na Praia Grande. Entrepunha-se no caminho um pequeno outeiro a partir da Travessa dos Anjos e subindo passava pelo Largo da Sé até ao início da Rua Central, de onde mais íngreme nascia um cortinado de colinas trepando para Sul, atingindo o ponto mais alto na Colina da Penha. Pertencia essa cadeia montanhosa ao corpo do Dragão da cidade.

Para atingir o Largo da Sé, vindo da Rua de S. Domingos, as travessas do Bispo e de S. Domingos e desde o Largo do Senado, através da Rua do Roquete até à Rua da Sé. Do Largo da Sé onde o Paço Episcopal e a Catedral se encontram, descendo pela Calçada de S. João entra-se na Rua da Praia Grande, onde virando para a direita, um pouco adiante estava o hotel. A Calçada de S. João era usada para enviar o peixe aos vendedores que esperavam e ansiavam por um novo Mercado de S. Domingos. A meio da Calçada S. João, à direita de quem desce e na continuação da Rua Formosa, existe o Pátio das Flores, talvez então com ligação à Travessa Nova (situada na Rua da Sé), que servia as traseiras das casas da Praia Grande.

Mas mais rápido para chegar ao hotel era pela Rua do Gonçalo subindo o outeiro até ao começo da Rua Central e nesse cruzamento, onde também vinha acabar a Rua da Sé, descer pela Calçada do Governador para a Rua da Praia Grande.

A opção foi pela Rua do Gonçalo e o riquexó, puxado pelo cule descalço, trepou aquele lanço em declive até ao começo da Rua Central, junção com a Calçada do Governador. Nesse cruzamento, uma patrulha da polícia controla os cules que puxam os jinrickshas pois, não lhes sendo permitido conduzir esses carros com passageiros na subida e descida da Rua Central, os transgressores eram multados. Assim se evitavam os repetidos e contínuos desastres que até 1893 iam ocorrendo em calçadas mais ou menos íngremes. O jornal Echo Macaense, de 29 Agosto de 1893 escrevia:

“Como se sabe, a ordem, que insensatamente havia sido dada para se vedar o trânsito pela Rua Central a indivíduos que fossem de carro puxado por um só chinês, foi afinal, em consequência sem dúvida dos repetidos clamores da imprensa local, modificada no sentido de não se permitir que subam ou desçam aquela rua, senão aos carros que conduzam mais de um adulto, sendo tirado por um cule. Sem embargo, porém, dessa modificação, bastante razoável, continuam a fazer-se ouvir queixas contra a patrulha da Rua Central, sendo raras as reuniões onde se não comente este ou aquele incidente, ocorrido na mencionada rua”.

Na descida da Calçada do Governador, Pessanha encontra de frente o Fortim de D. Pedro. O riquexó, travado pelo cule ao chegar à Praia Grande, desvia para a esquerda e quando atinge o hotel já a luz do dia esmorece. Partira de Hong Kong no vapor Heungshan às duas da tarde e anoitecia quando desce do riquexó completamente extenuado. Tem, no entanto, antes de antes de avançar para a porta do hotel, a tentação de admirar a belíssima baía com a sua graciosa curva de 1300 metros de extensão. Espreitando, não se via passagem para lá do Baluarte do Bom Parto.

21 Jul 2017

E a natureza produz monstros

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo delírios líricos. Como poemas soturnos e assustadores. Emoções sem limite. Razão. Intenção. Só a inevitabilidade contida no seu natural ser assim. Grandiosa e terrível. Nem seria necessário que a natureza produzisse monstros. Na sua arrasadora e sublime potencialidade de beleza – de violência. Não seria necessário, mas é talvez de aí que surgem modelos que enformam outras dinâmicas para aquém da pura percepção. Por vezes penso que são os dados desta percepção, residente nos dados dos sentidos, que formam a base estrutural de todo o sentir em desabafos metafóricos, que se transmuta em realidade temida nas ígneas e intangíveis teias de realidade, em que movemos os nossos medos como peões num jogo de tabuleiro. E não o contrário. Da poética natureza, a uma realidade induzida. Mas não seria preciso a natureza produzir monstros de rugido e violência histriónica, que nos arrasam, com a facilidade com que um deus esmaga, com uma pontinha só de uma unha divina, a insignificância que somos. Que conseguimos ser. Numa contradição de escalas que por vezes subverte a natural expectativa, e devolve a possibilidade de domínio perverso, afinal – um botão certo no local certo e o dedo errado a premir –  de tudo o que transcende. Da implosão. Ao ponto de gerar entropia na ordem natural da natureza, suficiente e em excesso mesmo, para erradicar esta fantasia delirante que somos no reino natural. Fruto de um sonho mediúnico do cosmos na sua evolução e inércia em cadeias de reacções químicas, disparates da energia a brincar com átomos e etc.

A grandiosidade do delicioso, único e temível disparate cósmico, o enlevo emotivo que nos coloca face ao grandioso e sublime no que é o cenário natural, algum conhecimento científico, alguma propensão para a contemplação e para a intermitência entre o enorme em nós e o ínfimo que se insinua irremediavelmente. A grandeza em que nos afogamos e a ilusão de tudo abarcar em nós. Talvez tudo isto seja a base do romantismo histórico. Eterno reflexo expressivo da secreta dualidade que a psique nos permite e obriga a transportar. Mas não seria essencial esse confronto com a monstruosidade natural para que as próprias paredes da casa reproduzam autonomamente monstros hirsutos. E por um tris – não, não é por uma fracção de segundo no acaso e de raspão, e a inevitabilidade consistente que nos molda – estamos a falar do abismo. Assim. Por exemplo. A vocação abismal da noção de si, dos outros para fora e para dentro de nós, do amor. Por exemplo.

E a eterna pergunta da localização face ao ser desse abismo e dessa abismal existência em si. Exterior ou interior. É, qualquer abismo, exterior ou interior à ideia que dele fazemos. Debruçados na amurada que dá para um grand canyon da mente em que nadamos preguiçosa ou inadvertidamente. Ou talvez dizer, afinal, irremediavelmente. Perscrutamos a noite do universo estranho na sua complexidade. Com a mesma naturalidade com que escolhemos frutos no mercado, ou joias numa joalharia. Tudo imperscrutável na sua aparente naturalidade sem origem.

Que abismo, na topografia das grandes massas rochosas, é parte da ideia que dele fazemos, que abismo se forma do saber da grande erupção que nos antecedeu lá muito atrás quando esse gigante rochoso se levantou do fundo dos mares, que abismo se insinuava no desconhecimento de antigos, e que ameaça real a natureza nos grita ou segreda calmamente quando em repouso. E que parte é parte do temor que lhe temos como se sempre a queda fosse inevitável. A saber. Mais tarde, ou nunca. Não fosse alguma vocação vertiginosa que nos colhe de dentro.

Que metáfora mais monumental,  global e romântica nessa enorme potencia natural de universo a engolir as larvas, ínfimas formigas que somos, do que um glaciar monstruoso e atemporal, que tristemente rendido ás maquiavélicas, pontuais e repetidas investidas ínfimas, de seres ínfimos, em que cada um faz da sua pequenez força, e que, somados os dividendos de culpa, derrota a vontade natural de uma inércia com as regras próprias do universo, e se derrama como um caudal imenso e destrutivo de lágrimas, sem olhar a estragos em cadeia que seguirão pelos séculos dos séculos. Não digo amém. Até um desgosto de icebergue destrói em redor. Não somos um pouco assim?

E de seguida, já de seguida no tempo, continuamos a escrever enormes e irremediáveis páginas de memória. Inscritas na destruição subtil, imparável e sabe-se talvez, definitiva. E só apetece trancar a gaveta das coisas difíceis. Ilusão. Fantasia. O que não é perscrutável manusear no mundo real. Remetido para a eternidade leve e irresponsável do sonho. Mergulhar fundo debaixo das ondas fofas de um edredão de penas outras. Mas nada vale e de nada vale. Dentro um calor dos infernos, e fora, o frio glacial de uma realidade quase inacreditável de tão real. Inacreditável. Como só a realidade o é.

21 Jul 2017

Um dia destes

 

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]orque são pequeninos, podiam ser queridos. Mas não são. Para se ser querido, não basta uma fofa pequenez, que pode ser enganadora. Os pequeninos de nariz empinado e cara séria, mãozinha pensativa no queixo minúsculo e olhar vago a puxar pela intelectualidade que gostariam de ter, não são queridos. São apenas pequeninos.

Os pequeninos têm uma característica em que batem os grandes aos pontos. Porque são pequeninos, enfiam-se no meio das pernas dos outros e é assim que vão fazendo o caminho. Passam quase sempre por entre os pingos da chuva, por serem delgadinhos. Porque são maneirinhos, têm propriedades autocolantes que fazem com que lhes seja fácil alaparem-se a terceiros e a quartos. Porque são levezinhos, tão levezinhos, os terceiros e os quartos nem dão por eles. Até ao dia em que dão por eles.

Dada a pequenez, os pequeninos fazem tudo sem grande esforço. Não lhes custa mover o corpo, dobrar o braço, esticar a perna e passar rasteira. Tiram o pé com a mesma rapidez com que o colocaram em ramo verde. A pequenez traz agilidade, flexibilidade, uma celeridade que os corpos maiores não têm, porque transportam outros pesos e, por norma, curvam-se menos.

O mundo está cheio de pequeninos de todos os tamanhos. Escondem-se entre as pedras e aparecem à nossa frente, aos saltinhos, quando menos esperamos. O mundo está cheio de pequeninos de todas as cores, de todo os feitios e estilos. Uns usam óculos, outros não. Uns são falsamente simpáticos, outros são assumidamente arrogantes. Porque são de muitos estilos, a identificação torna-se complicada. Não há nada como observá-los para se perceber quem são. A mãozinha pensativa no queixo minúsculo não engana.

Na política abundam pequeninos de formatos diversos. Apesar de serem diminutos, conseguem enganar os mais distraídos com promessas de um mundo novo, como se existisse um mundo novo para prometer. Enganam os mais distraídos, mas também os mais pueris e, curiosamente, também aqueles que destilam diariamente igual dose de arrogância.

Os pequeninos andaram a tentar arrumar a casa. Esconderam as velharias na despensa, demasiado pequena para a tralha acumulada que teima em espreitar. Passaram uma demão pelas paredes, numa tentativa de disfarce da humidade, mas o cheiro continua impregnado, entre o bafio e naftalina. As escadas continuam sujas como sempre. Já não usam fato de treino de fim-de-semana com sapato de fato, trocaram as t-shirts por camisas de fraco corte, engravataram-se para parecerem sérios, profissionais da coisa. Mas não são profissionais da coisa.

Escrevem as promessas para parecerem organizados, mas sabe-se que é só para não se esquecerem delas. Não estão muito habituados a pensar, mas são bons na memorização que debitam em lenga-lenga longa-longa. Leram dois livros e as contracapas de outros tantos, um acervo cultural suficiente para que a mãozinha pensativa segure no queixo minúsculo, enquanto o olhar vago puxa pela intelectualidade.

Os pequeninos não gostam de ser questionados. Não gostam que se lhes perguntem coisas. Que se lhes peçam esclarecimentos. Estão habituados a terem duas dezenas de seguidores que se babam com as duas citações de famosos que conhecem. Os fãs suspiram ao suspiro, indignam-se perante a indignação, sorriem perante o sorriso e, sobretudo, choram sentidamente perante as lágrimas de crocodilo.

Os pequeninos sabem tudo. E um dia destes ainda mandam nos outros de todos os tamanhos. Um dia destes.

21 Jul 2017

Perfil | Sara Figueira, artista de maquilhagem e pintura corporal

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]as mãos de Sara Figueira saem verdadeiras obras de arte, mas aplicadas ao corpo humano. Com 30 anos de idade, Sara cresceu em Macau e desde cedo revelou uma paixão e uma apetência para a pintura facial e corporal, pensada para espectáculos e actividades com artistas de rua.

O trabalho que hoje desenvolve para diversas entidades ligadas ao mundo do entretenimento e do espectáculo começou quando era criança. “Em pequena observava a minha mãe, que sempre se maquilhou muitíssimo bem”, contou ao HM.

“Ela dava-me liberdade para experimentar algum batom, sombra ou rímel. A maquilhagem é um acto muito íntimo para a mulher, em que muitas vezes estás contigo própria e com a imagem reflectida no espelho. Uma mulher tem de dar atenção à sua imagem e à mensagem visual que quer transmitir”, apontou.

Quando era adolescente, os videoclips dos cantores pop que passavam na televisão passaram a ser não só uma fonte de inspiração como um fascínio.

“Por mera graça comecei a tentar reproduzir os vários estilos que via e a explorá-los. Porquê ficar só limitada ao batom e ao rímel? Porque não desenhar na cara e no corpo? A pele é o nosso maior órgão e é como se fosse uma tela, se quisermos podemos ser obras de arte.”

Das perguntas passou aos actos, e Sara Figueira decidiu fazer da maquilhagem a sua profissão. Foi esta área que estudou em Portugal, onde fez os estudos superiores.

“Aos 25 anos, devido a esta paixão pelo mundo da maquilhagem, decidi aprofundar os meus conhecimentos e tirei um curso de maquilhadora profissional na Make Up School em Portugal. Tive mestres excelentes que me ensinaram bastante e que me deram as ferramentas certas para progredir.”

Horas de pinturas

Sara Figueira pinta os rostos e os corpos de crianças e adultos, e os trabalhos que desenvolve têm diferentes graus de dificuldade. Ainda assim, todas mas maquilhagens “são estimulantes e puxam pela criatividade”.

“Cada pintura é um desafio. Normalmente, um trabalho de pintura corporal demora entre quatro a seis horas, por isso tenho de ser bastante persistente. Às vezes é preciso muita concentração, não só minha, mas também da pessoa que está a ser pintada, mas tenho sempre o foco de acabar tudo o mais rápido possível, para não atrasar a hora do início do espectáculo.”

Sara Figueira recorda os trabalhos que realizou para a ArtFusion Macau, apresentados no festival Fringe de 2015. “Foi um sucesso e foram trabalhos que foram muito bem fotografados, e ficam, por isso, eternizados.”

Macau, aquele oásis

Aos 16 anos, Sara Figueira fez as suas primeiras maquilhagens faciais para uma festa de aniversário. A viver em Macau na altura, tudo era diferente.

“Tenho recordações muito ternas e boas da minha juventude aqui”, recorda. “Vi Macau crescer desde 1995. Quando cheguei com a minha família fomos viver para a zona do NAPE, que era considerada uma zona fantasma.”

Lá, Sara Figueira podia dar-se ao luxo de andar de bicicleta por todo o lado, sem os constrangimentos do trânsito e das ruas cheias de pessoas que existem hoje.

“Da minha casa ao liceu eram cinco minutos. As rendas das casas, os transportes e a alimentação eram bem mais baratos”, recorda a artista, que assistiu a momentos icónicos do desenvolvimento do território, como a inauguração do Aeroporto Internacional de Macau e às cerimónias da transferência de soberania para a China.

A artista olha para o passado com algum saudosismo, mas admite que o presente era inevitável. “A cidade tinha necessariamente de evoluir. Foi perdendo coisas boas e más, mas também adquiriu coisas boas”, disse.

Sara Figueira pede que o território continue a apostar “o mais possível em iniciativas com artistas de rua, e trazê-los para os hotéis e escolas, para que possam criar novas identidades em Macau”. “O seu contributo artístico é importante para que mais turistas visitem a cidade”, rematou.

21 Jul 2017

Pyongyang diz que diálogo não vai funcionar

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]yongyang enviou ontem através do seu principal diário uma mensagem pouco favorável em relação à recente oferta de diálogo apresentada pela Coreia do Sul, argumentando de que nada serve enquanto Seul mantiver a sua política “hostil” e próxima dos EUA. “As autoridades sul-coreanas estão a mostrar uma atitude incongruente (ao proporem diálogo), enquanto continuam a dançar com os Estados Unidos e as hostes conservadoras”, indica um editorial do diário Rodong Sinmun. “Eliminar o confronto e a hostilidade é uma condição prévia para abrir a porta da reconciliação e unidade das duas Coreias”, acrescentou. “Não parece que seja uma resposta direta (à proposta de Seul), mas estamos a analisar as suas implicações”, disse por sua vez um porta-voz do Governo sul-coreano à agência Yonhap.

O Ministério de Unificação informou que o regime norte-coreano não respondeu às chamadas realizadas ontem na linha telefónica situada na fronteira.

Seul propôs esta semana que ambos os países mantenham a 21 de julho conversações militares – as primeiras em quase três anos – para aliviar a tensão e também um encontro das suas delegações da Cruz Vermelha a 1 de agosto para tentar retomar os encontros de famílias separadas pela Guerra da Coreia (1950-1953).

No entanto, Pyongyang manteve silêncio a respeito e assumiu que, a aceitar a proposta, a data para o diálogo militar (prevista para amanhã) deveria ser adiada face à falta de tempo para organizar uma agenda e designar os respectivos porta-vozes.

21 Jul 2017

Xi Jinping pede progresso militar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping pediu que as principais instituições de pesquisa e educação militar do país cultivem mais talentos para as forças armadas e que construam mais instituições de investigação e educação militar, de modo a atingir um nível internacional. Xi, também secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC) e presidente da Comissão Militar Central (CMC), fez o comentário na quarta-feira, num discurso dirigido aos chefes das forças armadas.

Após entregar as bandeiras aos chefes numa cerimónia para marcar a reestruturação das instituições, Xi classificou a reforma como uma decisão vital feita pelo comité central do PCC e pela CMC para “realizar o Sonho Chinês e construir um exército mais forte”.

“Para construir uma instituição de investigação militar de primeira classe com liderança global, a Academia de Ciência Militar do Exército de Libertação Popular (ELP), como a força de liderança na pesquisa científica militar, deve satisfazer a nova procura de pesquisas militares e combinar melhor as teorias e tecnologias militares”, continuou.

Xi enfatizou ainda que a Universidade de Defesa Nacional do ELP é uma base significativa para cultivar talentos e também oficiais, devendo impulsionar a inovação na educação, pesquisa e gestão para se tornar uma universidade abrangente superior sob comando unificado.

Quanto à Universidade Nacional de Tecnologia da Defesa, deve seguir as tendências mundiais de desenvolvimento da ciência militar e trabalhar mais para proporcionar avanços tecnológicos-chave, para criar uma instituição de nível internacional, explicou Xi.

“É necessário talento, teoria, ciência e tecnologia militar de primeira classe para tornar o ELP num exército líder mundial”, disse Xi. “A ciência e tecnologia são as capacidades essenciais da luta na guerra moderna”, notou.

Xi enfatizou ainda que as instituições militares têm que assumir a responsabilidade e os os comandantes devem obedecer a uma direção política correcta para salvaguardar a autoridade e a liderança centralizada e unificada do Comité Central do PCC, agir de acordo com o CCPCC e manter a liderança absoluta do PCC sobre o exército.

A China tem actualmente 43 instituições educacionais militares, incluindo duas – a Universidade de Defesa Nacional do ELP e a Universidade Nacional de Tecnologia da Defesa – diretamente subordinadas à CMC, 35 especializadas nos serviços armados específicos, e seis das forças policiais armadas.

Nova Zelândia | Assinado acordo de exportação de cebolas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China finalmente assinou um acordo de exportação de cebola com a Nova Zelândia depois de 10 anos de negociações, revelou nesta quarta-feira um comunicado oficial. Um acordo sanitário foi assinado no início deste ano, abrindo caminho para a exportação de cebola chinesa ao mercado da Nova Zelândia, segundo a Administração Geral da Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da China (AGSQIQ). O governo da Nova Zelândia tem um sistema de quarentena de plantas muito rigoroso para proteger seu próprio ecossistema, segundo o comunicado. A AGSQIQ ajudou os exportadores domésticos de cebola a melhorarem o nível de administração nos últimos anos. O AGSQIQ prometeu lançar medidas de quarentena rigorosas para garantir a qualidade das cebolas exportadas. A China é um dos principais produtores de cebola do mundo, com uma produção anual de cebola de 20 milhões de toneladas. As exportações respondem por meramente 3,5% de sua produção total.

 

1,2 milhão de toneladas de água dessalinizada por dia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] produção diária dos 131 projetos de dessalinização da água do mar da China atingiu mais de 1,18 milhão de toneladas até o final de 2016, informou um relatório oficial divulgado nesta quarta-feira. O relatório em relação à utilização da água do mar em 2016 emitido pela Administração Estatal dos Assuntos Marítimos indicou que o maior projeto de dessalinização da China poderia produzir 200 mil toneladas de água por dia. O custo da água do mar dessalinizada por tonelada varia de cinco a oito yuans (US$ 0,74 a 1,19), segundo o relatório. Das águas do mar dessalinizadas da China, 66,61% foram usadas por propósitos industriais e o restante para o uso residencial. A China vai acelerar a legislação sobre a utilização da água do mar, ampliará o seu uso e lidará com as preocupações públicas com a água do mar dessalinizada potável, disse Qu Tanzhou, chefe do departamento de ciência e tecnologia subordinado à administração.

Matou os pais e mais 17 pessoas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem foi julgado na quarta-feira por matar 19 pessoas incluindo seus pais. Segundo o tribunal, quando um pedido de dinheiro foi rejeitado por seu pai, Yang Qingpei regressou em 28 de setembro de 2016 à aldeia de Yema, na Província de Yunnan, e matou seus pais. Para encobrir o crime, Yang matou 17 vizinhos, incluindo três crianças. Depois fugiu para a capital da província, Kunming, e voltou ao trabalho, segundo um comunicado divulgado pelo departamento de segurança pública de Yunnan. Yang assumiu a autoria dos crimes, expressou remorso e pediu desculpa aos parentes das vítimas. Cerca de 200 pessoas estavam presentes no tribunal, incluindo parentes, legisladores, imprensa e membros do público. O tribunal adiou a condenação para outro dia.

Alibaba lança assistente de voz de baixo custo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]grupo chinês Alibaba lançou na quarta-feira um assistente de voz de preço reduzido, semelhante ao “Echo” da Amazon.com, na sua primeira incursão em dispositivos domésticos inteligentes. O “Tmall Genie”, mesmo nome da plataforma de comércio eletrônico Tmall da empresa, custa 499 yuans, preço muito mais baixo do que o de produtos similares da Amazon e do Google, que custam entre 120 e 180 dólares. Estes dispositivos são activados por comandos de voz para executar tarefas como verificar agenda, buscar previsão do tempo, mudar música ou controlar aparelhos domésticos inteligentes, usando conectividade de Internet e inteligência artificial. O Tmall Genie está atualmente programado para usar o mandarim como idioma e só estará disponível na China. O aparelho é activado quando um usuário reconhecido diz “Tmall Genie” em chinês.

Presença de Cristiano Ronaldo esgota clássico

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presença de Cristiano Ronaldo no jogo entre o Shanghai SIPG e Guangzhou Evergrande, no sábado, esgotou os bilhetes, o que ilustra a popularidade do internacional português na China, noticiou ontem a imprensa chinesa.

Segundo o acordo feito entre Ronaldo e a Superliga de futebol chinesa, o português vai surgir em campo 15 minutos antes do início da partida, em Xangai, para cumprimentar os jogadores de ambas as equipas.

O Guangzhou Evergrande é o actual primeiro classificado na prova máxima do campeonato de futebol chinês, enquanto o Shanghai SIPG, conjunto treinado pelo português André Villas-Boas, segue em segundo lugar, a um ponto de distância.

Mas é a presença de Cristiano Ronaldo que está a atrair os adeptos chineses da modalidade, sublinhou a imprensa local. “C Luo” [Cristiano Ronaldo, em chinês] é o português mais conhecido na China, onde o futebol tem tido renovado interesse, com as grandes empresas do país a investir na modalidade, animados pela ambição do Governo em colocar a seleção do país entre as melhores do mundo.

Em Dezembro passado, o empresário do avançado, o português Jorge Mendes, disse que Ronaldo rejeitou um salário anual de cem milhões de euros proposto por um clube chinês, que ofereceu ainda 300 milhões ao Real Madrid pelo passe do jogador. Nenhum conjunto chinês confirmou a proposta.

21 Jul 2017

Poluição | Estudo levanta dúvidas sobre qualidade do ar em escolas privadas

Um estudo feito por uma aluna de mestrado da Universidade de São José demonstra a relação entre a qualidade do ar exterior e o que se respira dentro de salas de aula de três escolas privadas. Algumas medições apresentaram valores de concentrações de micropartículas três vezes superiores às recomendações da Organização Mundial de Saúde

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante 15 dias Ida Leong, aluna de mestrado do Instituto de Estudos Ambientais da Universidade de São José, mediu a concentração de partículas em suspensão em 12 salas de aula e sete zonas exteriores de três escolas privadas de Macau. Sem referir quais os estabelecimentos em causa, a investigadora quis aferir da influência da qualidade do ar do exterior no ar respirado pelos alunos e docentes durante o período das aulas.

Os resultados do estudo são, no mínimo, alarmantes. Como é sabido, entre os meses de Outubro e Março a qualidade do ar de Macau degrada-se consideravelmente. Durante esse período, a concentração de partículas em suspensão (PM10 e PM2,5) dentro das salas de aula foi, em média, duas a três vezes superior aos valores máximos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estas condições verificaram-se “principalmente quando a humidade e a precipitação foram menores e quando se verificaram ventos dos quadrantes norte e oeste”, explica Ida Leong.

A investigadora da Universidade de São José concluiu que “a qualidade do ar nas escolas de Macau é fortemente afectada pela poluição atmosférica, mas que as escolas podem tomar medidas preventivas de forma a minimizar os riscos para as crianças”.

Este tema tem sido uma das preocupações centrais da UNICEF no âmbito da saúde ambiental. No final do ano passado a organização fez um estudo sobre o impacto da poluição atmosférica nas crianças com conclusões preocupantes. A exposição a ar de má qualidade durante a infância pode ter consequências crónicas, principalmente ao nível do desenvolvimento do sistema respiratório que pode ficar afectado para o resto da vida.

No relatório da UNICEF, “Clean the air for children”, são elencados estudos que mostram que crescer num ambiente poluído pode reduzir a capacidade pulmonar em 20 por cento. O equivalente aos efeitos de crescer numa casa em que o fumo em segunda mão é uma constante. A ciência também demonstra que os adultos que cresceram em ambientes de constante poluição atmosférica tendem a desenvolver problemas respiratórios ao longo da vida.

Jovens pulmões

O relatório da UNICEF destaca também a susceptibilidade maior das crianças que crescem em ambientes com poluição atmosférica em serem contagiadas por vírus, bactérias e infecções várias. Além disso, estar sujeito a estas condições aumenta os riscos de infecções respiratórias e reduz a capacidade das crianças para as combater, uma vez que os seus sistemas imunológicos, ainda em desenvolvimento, também sofrem com a poluição.

Outro facto alarmante prende-se com a respiração das crianças, duplamente mais rápida que a dos adultos, absorver mais ar por unidade corporal. Também as suas vias respiratórias são mais pequenas, levando a que infecções originem com maior frequência bloqueios.

A poluição dentro de portas é mais comum em zonas rurais e empobrecidas, conclui o relatório da UNICEF, desafiando a realidade do que se passa em Macau. Isso deve-se à maior frequência de uso de combustíveis de biomassa para cozinhar ou aquecimento, algo que é raro nas cidades.

A escola é um dos ambientes interiores mais importantes para a saúde das crianças, uma vez que é aí que passam grande parte do dia. A situação em Macau é particularmente “grave porque a maioria das escolas está localizada perto de ruas com intenso tráfego, colocando as crianças em idade escolar em perigo de exposição a elevados níveis de poluição atmosférica”, explica Ida Leong.

A académica teve em consideração vários factores na investigação que fez, além das medições nas escolas. Teve em conta factores como as potenciais fontes de micropartículas, as condições meteorológicas e as variações de concentração de micropartículas registadas ao longo do ano pela Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau (SMG).

Resposta institucional

Os resultados verificados por Ida Leong variam dependendo da localização das escolas e do tipo de ventilação usado nas salas de aula. “Concluímos que as crianças que estudam nas escolas que analisámos, e que não têm procedimentos para evitar a entrada do ar exterior nas salas de aula, estão em elevado risco potencial”, explica a investigadora. A perigosidade verifica-se principalmente entre Outubro e Março, ou seja, parte significativa do ano lectivo.

A resposta por parte da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) foca-se na implementação do Guia de Funcionamento das Escolas, onde se estabelece que “o planeamento da construção escolar deve, pelo menos, estar de acordo com os princípios de segurança, prática, protecção do ambiente, arborização, protecção contra a poluição e o ruído”.

Estas directrizes aplicam-se igualmente a estabelecimentos de ensino privado. Fonte dos Serviços de Educação confirmou ao HM que são realizadas inspecções para aferir que as indicações são seguidas pelas escolas. É de salientar que este guia de funcionamento é um corpo de regras dinâmico, que vai sendo alterado consoante surgem novos problemas que necessitem de resolução.

Outro dos argumentos da DSEJ não responde à questão da poluição dentro das salas de aula. São as recomendações para o ajuste de actividades ao ar livre/desportivas conforme a qualidade do ar. Nesse guia é sugerido que “as escolas devem acompanhar as previsões do índice de qualidade do ar emitidas pela SMG”.

Em resposta escrita enviada ao HM, a DSEJ afirma que “quando o índice de qualidade do ar atinge um nível muito insalubre, perigoso ou até muito perigoso, as escolas podem, de acordo com a situação real, reduzir ou cancelar adequadamente as actividades ao ar livre/desportivas”. Afirma ainda que nestas condições “o pessoal de promoção da saúde deve acompanhar, de perto, o estado de saúde dos docentes e dos alunos”.

O mesmo guia refere que a ventilação natural deve ser o meio prioritário para garantir as condições sanitárias e ajustar o ambiente interno, e que “quando a ventilação natural é insuficiente ou impossível, os equipamentos de ventilação artificial para renovação contínua de ar são necessários”.

Uma das soluções para prevenir a insalubridade do ar respirado pelos alunos durante as aulas é muito simples: fechar as janelas. Apesar de esta ser uma solução lógica, não é certo que seja tida em consideração. Quando questionado se estes guias eram de facto implementados na escolas de Macau, a DSEJ remeteu de novo para o guia. O mesmo documento que privilegia a abertura de janelas como forma natural de ventilação, em lado algum referindo que devem ser fechadas em dias de maior poluição.

Além, disso, outra das deficiências apontadas pelo estudo de Ida Leong é a susceptibilidade da qualidade do ar directamente ligada com os materiais de isolamento usados nas construções das escolas.

Construção e bom senso

No que diz respeito ao isolamento, o Guia de Funcionamento das Escolas estabelece que devem ser “instaladas barreiras, filtros, ou outras medidas eficazes para reduzir a poluição causada pela emissão dos gases dos automóveis”. Ainda assim, os resultados do estudo da investigadora registam elevadas concentrações de poluição atmosférica entre-portas.

O estudo realizou-se em duas escolas de Macau e numa situada na Taipa. Importa referir que a OMS tem como limites recomendados de concentração de partículas PM 2.5 25 microgramas por metro cúbico e para as partículas PM10 o valor fixa-se nas 50 microgramas. A primeira escola analisada está rodeada por duas ruas movimentadas, com três lados do edifício voltados para prédios altos. Dentro das salas de aula monitorizadas teve dez dias de concentração de partículas PM 2.5, as mais nocivas, acima dos limites recomendados, registando no pior dia, em média, 46.05 microgramas por metro cúbico. Quase o dobro do limite recomendado. No que toca às partículas PM10, os resultados foram piores, com apenas um dia de níveis abaixo do limite recomendado pela OMS. O pior dia registou, em média, 165,97 microgramas por metro cúbico, mais de três vezes acima do limite.

A escola analisada na Taipa situa-se numa área relativamente arejada, com uma parte do edifício voltada para prédios altos e outra parte virada para uma área arborizada. Ainda assim, os resultados foram muito semelhantes, com as concentrações de partículas consistentemente acima dos valores mínimos. No que toca à partículas PM10, registaram-se três dias com valores que triplicaram, em média, os limites estabelecidos pela OMS.

A escola número três foi a que registou piores resultados. O edifício em questão situa-se em Macau, junto a uma estrada com muito trânsito e com um arranha-céus do outro lado da rua. Os outros lados da escola estão voltados para umas obras e uma zona arborizada. Este estabelecimento escolar teve valores, em média, sempre superiores nos 15 dias de medição das partículas PM2.5, sendo que em dois dias foram registadas concentrações quatro vezes superiores aos limites. No que toca às PM10, os valores foram quase sempre acima do dobro do limite, sendo que em dois dias andou perto do quíntuplo dos limites recomendados.

É de salientar que estes limites recomendados pela OMS são normalmente ultrapassados em todo o mundo, como a própria investigadora que realizou o estudo admite.

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) tem um guia com instruções para a qualidade do ar no interior dos estabelecimentos públicos. O guia estabelece “a entrada de ar fresco para diluir o teor dos poluentes no ar do espaço interior”. Faz ainda a ressalva de que “este método requer que a qualidade do ar fresco do exterior seja melhor do que a do ar no espaço interior”.

Como solução derradeira, a DSPA recomenda a instalação de elementos de purificação do ar.

Apesar dos resultados serem alarmantes, tendo em conta os limites recomendados pela OMS, Ida Leong entende que a investigação que levou a cabo deixa uma mensagem e uma solução clara: “As escolas podem agir no sentido de melhorarem a qualidade do ar nas salas de aula usando bons materiais de isolamento e fechando as janelas quando a poluição for maior”.

20 Jul 2017

Novo Macau condena “falta de transparência” da Assembleia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação Novo Macau (ANM), que concorre este ano às eleições legislativas sem os pesos pesados do sufrágio de 2013, está contra a proibição de cartazes nas bancadas dos deputados, uma medida que se pretende implementar na próxima legislatura.

Ontem, os candidatos Sou Ka Hou e Paul Chan Wai Chi chamaram a comunicação social para mostrarem a sua oposição em relação à intenção da Comissão de Regimentos e Mandatos. Aproveitaram a ocasião para criticarem o que dizem ser a degradação da liberdade dentro da Assembleia Legislativa (AL) e deixaram uma lista de propostas de alteração às regras internas do hemiciclo.

Os actuais líderes do ANM reconheceram que só tiveram conhecimento de que a AL está a trabalhar em projectos de resolução de alteração ao Regimento na passada segunda-feira, apesar de os deputados terem sido consultados nesse sentido em Março passado. Este desconhecimento demonstra a relação que existe com Ng Kuok Cheong, deputado que mantém um vínculo com a Novo Macau, mas os responsáveis pelo movimento preferem fazer uma interpretação diferente do facto de não saberem que este processo estava a correr na AL.

“Não sabíamos se Ng Kuok Cheong tinha feito alguma sugestão e não sabíamos se outros deputados o tinham feito. Nem sequer sabíamos que estavam a consultar os membros da Assembleia acerca de alterações do Regimento”, vincou Wong Kin Leong, membro da ANM. “Observamos uma falta total de transparência em toda esta questão, exemplificativa do modo como a Assembleia funciona. Não sabíamos o que se estava a passar até segunda-feira e tudo isto foi muito rápido.”

A Novo Macau procura rebater o argumento da necessidade de solenidade dizendo que “os cartazes são uma prática comum nos parlamentos para expressar a opinião política” e “não afectam, de modo algum, os trabalhos do plenário”. “É difícil encontrar um país democrático que proíba a exibição deste tipo de objectos”, apontou Sou Ka Hou.

Os pró-democratas entendem que a AL está na batalha errada. “Para reforçar a autoridade da Assembleia Legislativa, o hemiciclo deveria mostrar à população as suas capacidades e vontade de monitorizar o Governo, em vez de limitar a expressão dos deputados.”

Projectos de lei sem limite

Sou Ka Hou e Paul Chan Wai Chi não encontram razões para louvar a AL da era RAEM, apesar de o mais velho dos dois ter sido deputado depois de 1999. “Após a transferência, a AL tem demonstrado uma regressão constante, desde limitar o poder de iniciativa legislativa dos deputados a dificultar os processos de debate”, lamentam. “É muito raro ver-se alguém que tente melhorar os procedimentos da Assembleia.”

Salientando que, recentemente, “o presidente da AL tentou evitar que Ng Kuok Cheong falasse de Liu Xiaobo”, a Novo Macau defende que as pessoas de Macau “têm de lutar para revitalizar a Assembleia”.

Uma vez que a Comissão de Regimento e Mandatos está a fazer alterações às regras internas do órgão legislativo, são deixadas várias propostas – que dificilmente serão acolhidas, atendendo a que os dois projectos de resolução já estão prontos para serem apreciados pelo presidente do hemiciclo.

Ainda assim, os candidatos às legislativas deixam claro que gostariam que fosse institucionalizada a presença regular do Chefe do Executivo em reuniões plenárias, algo que neste momento não existe.

Depois, querem acabar com todos os limites impostos à iniciativa legislativa dos deputados. Pela interpretação dos pró-democratas, a Lei Básica “não é explícita” em relação à reserva de iniciativa legislativa, pelo que não haverá qualquer restrição de natureza constitucional para a apresentação de projectos de lei.

Por fim, a Novo Macau propõe um mecanismo que permita aos cidadãos avançarem com petições que resultem em debates na AL, de modo a que tanto o hemiciclo, como o Governo assumam uma maior responsabilidade perante a população.

20 Jul 2017

AL | Comissão não recua e mantém intenção de proibição de cartazes

Vong Hin Fai reconhece que a proposta está a causar polémica, mas a maioria dos membros da comissão a que preside concorda com ela, e a maioria é que manda. O plenário agora que decida se quer o fim de cartazes nas bancadas dos deputados. As mensagens políticas na roupa não são proibidas

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão deverão ficar em tronco nu os deputados que decidam, imagine-se, estampar t-shirts com apelos ao sufrágio directo e universal e usá-las nos plenários. Se tiverem de mudar de roupa, será por decisão do presidente da Assembleia Legislativa (AL) e não ao abrigo do projecto de resolução que o hemiciclo deverá apreciar em breve.

A Comissão de Regimentos e Mandatos da AL assinou ontem os pedidos de admissão de dois projectos de resolução, que seguem agora para o presidente do hemiciclo, para decisão sobre a sua distribuição aos deputados e votação em plenário. Um destes projectos visa agilizar o processo de interpelação sobre a acção governativa; com o outro pretende-se fazer várias alterações ao Regimento.

Ontem, o presidente da Comissão de Regimento e Mandatos, Vong Hin Fai, pronunciou-se sobre “a questão que mais atenção tem suscitado” para reiterar que a interdição de cartazes com mensagens políticas nas sessões plenárias não visa restringir os direitos dos membros da AL.

Em sede de comissão, o assunto foi de novo abordado, tendo o grupo de deputados mantido a posição apresentada no início desta semana. “Optámos por manter esta redacção. Como se trata de uma alteração substancial e temos de respeitar o plenário, pretendemos ouvir a opinião dos deputados”, disse Vong Hin Fai. “A atitude da comissão é aberta às opiniões do plenário”, acrescentando que não afasta “a hipótese de serem propostas alterações por outros colegas” aquando da análise na generalidade do projecto de resolução.

Vincando que a Comissão de Regimento e Mandatos tem poder de iniciativa na proposta de alterações às regras internas da AL, Vong Hin Fai fez questão de esclarecer que “este trabalho não foi feito de um dia para o outro”. “Na segunda-feira passada, disse que em Março auscultámos todos os deputados”, recordou, para explicar em seguida que a polémica alteração não surgiu no seio da comissão que lidera.

“Houve colegas que fizeram esta proposta durante essa auscultação de opiniões. A comissão considerou esta sugestão. Não foi aceite por unanimidade, mas a maioria concordou”, afirmou o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo.

Copas fechadas

Aquando da reunião do início desta semana, Vong Hin Fai recusou-se a revelar quantos deputados da Comissão de Regimento e Mandatos é que se opõem a esta interdição. Limitou-se a dizer que “foi mais do que um”. Ontem, perante a insistência dos jornalistas, manteve a posição adoptada na segunda-feira. “Alguns deputados não concordaram com esta alteração. Esses colegas podem comunicar com os media, não me convém dizer os nomes”, declarou. “Mais de metade concordou. Menos de metade não concordou.”

Vong Hin Fai – que invoca a solenidade dos plenários para justificar a intenção da proibição de cartazes – recusou-se, de igual modo, a dar conta da argumentação de quem pensa de forma diferente dentro da comissão. “[Esses deputados] não concordaram com esta alteração. Não concordaram com o conteúdo desta norma. Quem não concordou, não concordou”, disse.

O presidente da comissão revelou, contudo, que no grupo de deputados houve quem tivesse mostrado preocupação em relação a materiais de suporte – que, pela lógica do actual projecto, estarão interditados. O que fazer se um deputado quiser ilustrar determinada situação com um mapa? “Na minha opinião, podem ser aceites elementos de suporte. Mas vamos deixar essa discussão para o plenário.”

Salientando várias vezes que “os deputados têm liberdade de expressão em relação à sua posição política” e que “a comissão respeita esse direito”, Vong Hin Fai insistiu na tecla da necessidade de manter a solenidade dos plenários. Inquirido sobre exemplos que tenham sido usados pelos proponentes da proibição como fundamentação para esta mudança, o presidente da comissão não respondeu.

Se a maioria dos deputados concordar com a proposta de interdição, cartazes, placas, faixas, letreiros e estandartes, com mensagens de natureza política ou qualquer outra, ficarão de fora da sala de reuniões plenárias, independentemente do seu conteúdo ser ou não simpático para com o Governo.

Quanto à possibilidade de essas mensagens serem estampadas na roupa, o projecto de resolução nada diz. “Se os colegas trouxerem uma t-shirt, vamos deixar o futuro presidente da AL actuar e decidir nos termos do Regimento. Não está abrangido o vestuário dos deputados”, garante Vong Hin Fai.

20 Jul 2017

Ella Lei defende alteração das permissões especiais de condução

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá preocupada com “os casos ligados ao uso abusivo de licença de condução especial” e as “situações frequentes em que os trabalhadores não residentes desempenham funções de motoristas” recorrendo a esta permissão, o que vai contra a lei. Por isso, Ella Lei escreveu ao Executivo a pedir uma mudança das regras em vigor.

A deputada ligada aos Operários, candidata às próximas legislativas, dá como exemplo o acidente recente que ocorreu na zona norte da cidade para fundamentar a urgência da revisão da legislação em causa. Um condutor de um camião atropelou um idoso, que morreu na sequência do embate. O motorista em causa é um trabalhador não residente.

Para Ella Lei, este acidente não pode ser visto como um caso isolado e relaciona o que aconteceu ao “uso abusivo” da licença de condução especial. A deputada recorda que o decreto-lei sobre a matéria está em vigor há mais de três décadas.

“O representante da Polícia de Segurança Pública admitiu que o decreto-lei foi implementado há mais de 30 anos e que existem aspectos para melhorar, mas a polícia continuar a adoptar este decreto-lei na sua execução”, aponta.

Ella Lei acrescenta que as associações ligadas aos motoristas têm pedido à Administração uma fiscalização mais apertada e o aumento das punições no combate ao trabalho ilegal ao volante. “Mas o Executivo não conseguiu controlar a situação”, lamenta.

A deputada recorda ainda que em 2012 foi avançada uma proposta acerca das licenças especiais, matéria a constar de um regulamento administrativo, mas o Governo adiou a sua aprovação alegando ser necessário rever a lei do trânsito rodoviário. Por considerar que esta alteração pode ser feita de forma isolada, sem necessidade de modificar a restante legislação, Ella Lei defende que se avance quanto antes para um novo regime para a gestão das licenças de condução especial.

Além disso, Ella Lei exige medidas do Governo para evitar que os trabalhadores não residentes desempenhem as funções de motorista, sugerindo também um aumento das sanções aplicadas aos empregadores que contratem condutores de forma ilegal.

20 Jul 2017

CAEAL | Jogo que simula eleições chega às mãos da PJ

 

Um jogo online que simula os votos nos candidatos às eleições deste ano levou a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa a pedir à Polícia Judiciária para investigar o assunto. Pode constituir uma ilegalidade, mas ainda não há certezas

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a funcionar online um jogo em que os seus participantes simulam o voto nos candidatos às eleições legislativas deste ano. Tal levou a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) a pedir à Polícia Judiciária (PJ) para investigar o funcionamento do website que, contudo, não inclui qualquer tipo de apostas.

Nas palavras de Tong Hio Fong, presidente da CAEAL, trata-se de uma “actividade onde as pessoas fazem votos sobre a aceitação dos candidatos”. “Foi por isso que encaminhamos o caso para a PJ, não sabemos ainda qual é o servidor e a sua origem”, explicou.

“Em termos da sua natureza, pode constituir uma irregularidade em relação à campanha eleitoral. Alertamos os cidadãos para evitarem participar nesse tipo de jogo porque, por um lado, pode envolver os seus dados pessoais e, por outro, há uma responsabilidade jurídica”, disse ainda Tong Hio Fong, sem ter referido em concreto quais os artigos da lei eleitoral que não estarão a ser cumpridos.

O presidente da CAEAL frisou ainda o facto de poder estar em causa uma violação da lei dos dados pessoais. “Temos que ver se [as informações do website] são públicas ou não, se recolhem opiniões sobre os candidatos ou se é uma conversa entre os vários participantes. [O website] fala sobre os candidatos de uma forma expressa, se um terá uma posição superior ao outro ou não. Isso poderá afectar os votos dos outros candidatos e os eleitores aquando da sua votação.”

Tong Hio Fong garantiu que os mandatários das listas e os candidatos serão contactados aquando da finalização da investigação por parte da PJ.

Listas mantêm-se

O responsável máximo da CAEAL explicou ainda os resultados quanto às irregularidades encontradas em quatro listas.

As listas Cor de Rosa Amar a População e a Linha da Frente dos Trabalhadores dos Casinos tinham membros que não eram sequer eleitores. Um deles foi substituído, enquanto outro, da lista ligada ao sector do jogo, acabou por desistir. Ainda assim, a lista liderada por Cloee Chao mantém-se candidata, uma vez que é necessário o mínimo de quatro membros para que uma lista seja reconhecida. “Depois do suprimento das irregularidades admitimos as duas listas”, explicou Tong Hio Fong.

Havia ainda duas listas que não tinham apresentado informações completas, sendo uma delas a Ajuda Mútua Grassroots, liderada por Wong Wai Man. Todas essas falhas foram também suprimidas. “De acordo com a lei eleitoral e as nossas exigências foram aceites”, acrescentou o presidente da CAEAL.

Na próxima segunda-feira, a CAEAL vai estar reunida com o Comissariado contra a Corrupção e os candidatos “para os relembrar quais são os assuntos a ter em conta depois da publicação da lista definitiva”. A publicação da lista definitiva das candidaturas acontece na terça-feira.

Até ao momento, o CCAC acumulou um total de 29 queixas sobre alegadas práticas de corrupção eleitoral.

 

20 Jul 2017

Pedidas explicações sobre Fundo para a Protecção Ambiental

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]han Meng Kam denunciou ontem situações que considera serem “irracionais” que estão a ser vividas por empresários que beneficiaram dos subsídios para a instalação de aparelhos para a protecção ambiental e conservação energética. De acordo com o deputado, há beneficiários que estão a ser notificados para devolverem os apoios que receberam por não terem cumprido regras que desconheciam à data da concessão dos subsídios.

O líder da comunidade de Fujian recorda que, em 2001, o Governo criou o Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética (FPACE), tendo sido lançado em Setembro do mesmo ano um programa para subsidiar as empresas locais e instituições sociais que pretendessem adquirir produtos e aparelhos amigos do ambiente. O plano resultou na adesão de quatro mil empresas e instituições, que receberam subsídios num valor total de cerca de 350 milhões de patacas.

No entanto, continua o deputado, o FPACE enviou recentemente emails a explicar aos beneficiários que os equipamentos comprados com os subsídios só podem ser instalados de acordo com as instruções definidas, e que não podem ser removidos num prazo de cinco anos. Chan Meng Kam garante que estas regras só foram divulgadas às empresas e instituições já depois de terem sido concedidos os apoios financeiros em questão.

As regras do FPACE determinam ainda que a mudança de localização dos equipamentos só pode ser feita depois de comunicada com uma antecedência de 210 dias. Quem não tiver seguido a norma vai ter de devolver o valor total do subsídio. Chan Meng Kam diz que as empresas e instituições “não acham razoáveis” estas medidas do Governo.

Na missiva enviada ao Executivo, o deputado recorda que existem aparelhos que nem sequer duram cinco anos, pelo que as exigências do FPACE não fazem sentido. O deputado detecta falhas no plano que gostaria de ver colmatadas.

Para Chan, o programa está a surtir o efeito contrário ao anunciado: em vez de ajudar as pequenas e médias empresas, “os beneficiários estão agora a sofrer de incómodos e pressão”. O tribuno acrescenta que as condições deveriam ter sido comunicadas quando os interessados se inscreveram para a obtenção dos subsídios.

A rematar, o deputado, que está de saída da Assembleia Legislativa, pede ao Governo que se pronuncie sobre a eficiência deste plano de apoio e divulgue detalhes sobre situações abusivas que se tenham registado. Chan Meng Kam diz também que há pedidos de subsídio à espera há mais de três anos, pelo que pretende saber das razões da demora na apreciação.

20 Jul 2017

AL | Coutinho questiona população sobre abertura das comissões

Pereira Coutinho lança um inquérito onde pergunta à população de Macau se concorda que os deputados trabalhem a tempo parcial e se os trabalhos da Assembleia devem ser todos abertos ao público. O candidato confessa sonhar com a transmissão televisiva das reuniões das comissões permanentes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s candidatos da Nova Esperança lançaram um inquérito à população de Macau onde interrogam os cidadãos se concordam com a abertura das comissões de trabalho da Assembleia Legislativa (AL) e se acham bem que os deputados trabalhem a tempo parcial. Os resultados do inquérito serão divulgados depois da sua conclusão, que está prevista para 30 de Agosto.

As alterações feitas na especialidade à proposta de lei de alteração do regime de prevenção e controlo do tabagismo foi um dos exemplos elencados por Pereira Coutinho para justificar a abertura das comissões permanentes da AL.

A proibição total do fumo foi votada em plenário por 26 deputados, quando a proposta baixou para a comissão para apreciação na especialidade sete dos nove deputados tinham votado a favor da proibição total. Todos mudaram de ideias. Pereira Coutinho interroga-se porquê. “Não sabemos a resposta, porque não temos acesso às reuniões da comissão”, explica, acrescentando ser “a favor da transparência e da responsabilização dos deputados nas declarações que proferem”.

Nesse sentido, o cabeça de lista da Nova Esperança entende que as reuniões das comissões permanentes deveriam ser abertas à comunicação social. No entanto, Pereira Coutinho tem uma solução ideal para tornar os trabalhos legislativos mais transparentes. “O meu sonho é ter transmissão directa na televisão de todas as reuniões das comissões permanentes da AL, como existe em Hong Kong, Taiwan e nos países europeus onde existem canais próprios da assembleia”. O deputado entende que esta realidade “dificilmente acontecerá em Macau num futuro próximo”.

Meio deputado

O candidato da Nova Esperança entende que a transmissão em directo dos plenários foi o resultado de três anos de luta parlamentar. “Se levantássemos esta questão agora garanto-lhes que não conseguiríamos”, explica. Pereira Coutinho considera que Macau vive tempos especiais. “Estão a fechar a nossa actuação como deputados, estão a construir muros para que seja cada vez mais difícil o exercício das nossas funções.”

O deputado vai mais longe e considera que “Macau é uma cidade aparentemente luminosa”, mas que vive “nas trevas em termos de falta de transparência governativa”.

Ainda no capítulo do aperto institucional aos deputados, Leong Veng Chai acha que, “muito provavelmente as declarações de voto também serão proibidas pelas alterações da Comissão de Regimento e Mandatos”. Uma decisão que coloca em causa os meios que os tribunos têm para defender e justificar as suas posições.

Outra das questões levantadas por Pereira Coutinho no inquérito que dirige à população é sobre se os deputados devem trabalhar a tempo inteiro.

20 Jul 2017