António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasFábula de um marciano em Macau 04/09/17 [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem chegasse de Marte, de talhe e olhos verdes, assim como eu, e passeasse distraído pelas ruas de Macau não deixaria de notar a verdadeira obsessão que os humanos têm pelos relógios. Há mais lojas de relógios do que Madrid tem toureiros. Será terra de filósofos, interrogar-se-ia o marciano da melena verde (como a minha). Em Portugal, rezam os canhenhos também era assim no século XVIII. Casa que não tivesse na sala cinco relógios de pêndulo e dois de cuco não valia um caracol. Disso soube o corsário francês Du Bocage, irmã de uma poetisa francesa que o Voltaire elogiara, e que se apoderou dum navio holandês que levava no porão seis toneladas de relógios e rumou imediatamente a Lisboa, no farejo de vender a mercadoria. Rapaz pragmático, enamorou-se de uma rapariga de Alfama, e depois de outra, e de outra, enquanto ia enchendo a cidade de tique-taques. Deste modo se amodorrou por Lisboa o antigo pirata francês e nela fez uma filha – a mãe do poeta Bocage. É inútil procurar rasto de Bocage por Macau, embora, após ter desertado da marinha, tivesse o “carão moreno” aqui desembarcado, antes de mão amiga o salvar de novas dissipações, “deportando-o” para Lisboa, para alegria dos salões que nesse tempo andavam à míngua de rimas. Mas coloco uma hipótese que me animará o resto da semana. Bocage chega a Bocage na penúria (como eu) mas com uma carga de que nunca se separava por afecto: o relógio que fora do seu avô e que a mãe, no leito de morte, lhe entregara à sua mão pequenina. Por duas vezes ainda dormiu na Gruta de Camões, embalado pelo mavioso tique-taque, enquanto reflectia, Que tipo de devaneio cabe aos relógios, ou, Onde se localizará o clitóris do tempo, etc.,etc. Mais nada lhe ocorreu, pois nada mais lhe sobrava e nessa altura não havia ainda os casinos para experimentar a sorte. Na manhã do terceiro dia, faminto e alquebrado, entrou numa venda na cidade e penhorou o relógio do avô, que tinha marchetado em marfim um camaleão cuja língua tocava o baixo ventre de uma Virgem com as faces encarniçadas… pelo assombro. Só me restam quatro dias para vasculhar, de coração contrito, rasto do relógio de Bocage. Baterei um a um todos os relojoeiros de Macau, mesmo sabendo que ruborizarei ao descrever a volúpia nos olhos da Virgem. Dado que em Macau é tudo perto, como no Alentejo, estafarei as solas e ficarei verde (como o marciano) a quem finalmente chegou “o cheiro da carne que nos embebeda”. 05/08/17 Gosto, quando aterro numa cidade e passado pouco tempo na minha cabeça fervilha a ervilha dos projectos. É o que me está a acontecer em Macau, onde se me deflagrou o desejo de escrever uma peça sobre as relações entre Pessanha e o seu arqui-inimigo Silva Mendes, um tradutor de Lao Tze que invejava o poeta. O modelo da peça será o conflito entre Mozart e Salieri. Já tenho o actor para o Salieri: o Manuel Mendes – como se diz em Moçambique, um xará do primeiro. Uma comédia que fale da difícil acomodação dos poetas na cidade e brinque com o manto de irreais com que os portugueses se entregaram em todas as colónias à devotada replicação das suas aldeias. Ainda não gizei o enredo, mas creio que o relógio de Bocage será um motivo de disputa, que a cabeleira verde (em jade) do marciano igualmente, e que haverá um travesti que se julga a Lady Macbeth. 06/08/17 Faz-se em Macau o que em Moçambique não se ousa. Manter viva a voz do poeta que sinalizou o acume simbólico da presença portuguesa. Aqui Pessanha revivifica, em Moçambique o ausente, a grande figura genial é ainda um filho bastardo do vento (que como se sabe é fêmea) e do esquecimento. E tem nome, ou antes tem vários: António Quadros, pintor/ João Pedro Grabato Dias, ou Mutimaté Barnabé João, o poeta guerrilheiro que ele inventou. E foi o bruto poeta, arquitecto, pintor, pedagogo, apicultor, autor de manuais sobre óptica – este único poeta que o Zeca Afonso musicou. Começou por ganhar um reputado prémio literário que nunca levantou, escreveu uma continuação paródica dos Lusíadas, em as Quibíricas, atribuídas a um frei Joannus Garabatus, suposto confessor do El-rei D. Sebastião (livro que mereceu um prefácio paródico de Jorge de Sena); fez reportagens poéticas sobre as incidências em Moçambique após a independência, ao jeito de uma que Lusa tivesse Ovidio e Virgílio como redactores; escreveu longas odes sobre temas existenciais e sobretudo A Arca (de Noé), uma suposta tradução do sânscrito ptolomaico com versão contida, na qual Grabato só larga o espaldar depois de trezentas estrofes regulares, de uma densidade conceptual que deixam o leitor exaurido. E alvitre-se já: A Arca é um dos esteios da poesia portuguesa do século XX, um dos raros poemas de fôlego portugueses onde a poesia se aproxima de uma gnose, de uma literatura concebida como anamnese. Aqui deixamos um excerto de um outro poema: «Meu Amor, como pensares-me morto e ser triste?/ Estive sempre em viagem. Só agora regresso. / Usa o teu sorriso. Tira o coração da arca / De entre os linhos, alfazemas, naftalinas /E usa-os no domingo de todos os dias do ano (…)/ Estou catando os cachorros, apanhando limões/ Abrindo a colmeia no fumo cheiroso da bosta seca./ Sorrio, pela primeira vez, sem comandar os lábios/ Com o esticar dos fios da complacência doméstica./ Destrinço o sexo na ninhada da velha coelha/ Virando de barriga para cima os veludos das crias./ Espero daninho o teu regresso, acocorado no verão/ E, porque cheguei ao verso, estou vivo» 06/08/17 Acordo e sento-me no útero da minha mulher. Serão já saudades de Macau?
Carlos Morais José A outra face VozesEleições 2017 | Daqui ninguém sai vivo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] campanha eleitoral já vai alta e sem grandes motivos de interesse. Afinal, a eleição de deputados directos pouco influencia a política real. Contudo, apesar de pouco estar em disputa, assistimos esta semana a canalhices políticas que não deixam de ser dignas de nota porque são ilustrativas do tipo de gente que se candidata à Assembleia Legislativa da RAEM. É o caso da deputada de Fujian Song Pek Kei. Senhora de discursos vazios ou interpelações fúteis na AL, durante o período em que já foi deputada, a senhora Song resolveu num debate com Pereira Coutinho invocar situações familiares menos agradáveis do deputado da Nova Esperança, inaugurando na política de Macau um capítulo ignóbil. E fê-lo com toda a clareza como se as palavras proferidas não fossem, para quem possui um mínimo de ética, lama que caiu em si própria. Julga a senhora Song que não tem telhados de vidro na sua casa e por isso atira verrinosas pedras a telhados alheios. Dela poder-se-ia dizer, por exemplo, que só existe porque serve o poderoso senhor Chan e porque o senhor Chan lhe deu a mão. Seria talvez injusto. Mas, pela sua actuação na AL, poder-se-ia, desta vez dizer-se com justiça e razão, que foi uma nulidade. Zero ideias originais, discursos vazios, interpelações frouxamente escritas, nenhum projecto de lei, atitude seguidista e em conformidade com os interesses instalados. Filha de emigrantes, se não emigrante ela mesma, não se coíbe nos ataques ao trabalhadores não residentes, os mesmos que fazem realmente funcionar esta cidade. Mas até aqui tudo bem. O disparate e mesmo a estupidez têm direito à expressão no segundo sistema. O pior é quando a senhora Song ultrapassa esses limites como fez esta semana, inaugurando um capítulo que, suponho, envergonhará a RAEM agora e no futuro. Trata-se de trazer a vida privada dos candidatos para a a discussão política. Será que a senhora Song quer que seja feita uma devassa à sua vida privada e, sobretudo, à dos seus companheiros de lista e de associação? Acharia bem que se referissem os parceiros de cada um, as suas tendências sexuais, ou mesmo o que membros da sua família andam a fazer? Será que a senhora Song tem a certeza de só ter na sua cozinha pratos completamente limpos? A verdade é que este tipo de comportamento é muito triste e anti-democrático. Joga com as emoções mais brutas dos cidadãos, apela à sua estupidez e intolerância. Se até aqui a política local tinha escapado a este tipo de ataques soezes, a partir de agora, graças à senhora Song, parece que vale tudo, incluindo usar a família, valor sagrado para a cultura chinesa. Mas o problema deste tipo de comportamento é que, na realidade, afasta as questões políticas de cima da mesa. Ao invocar o factor privado da vida de cada um, deixamos de dar relevância às acções concretas dos candidatos e às suas propostas, para cairmos no género de conversa que se tem no café ou no mercado. Baixa e incapaz de trazer algo de bom. A senhora Song devia pedir desculpa a Pereira Coutinho e ao eleitorado em geral por ter inaugurado a estratégia do golpe baixo na política da RAEM. E se não percebeu o que estava a fazer, a perigosidade deste caminho, então ainda é pior porque com isso demonstra que não tem inteligência ou bom senso para o lugar que pretende ocupar. Ao continuarmos por este caminho, que parece agora ser irresistível, em breve teremos devassas pessoais sobre todos os candidatos, incluindo os que pertencem ao grupo da senhora Song. E olhem, no limite, a continuarmos na senda inaugurada pela senhora Song, daqui ninguém sai vivo.
João Luz China / Ásia MancheteCoreia do Norte | Seis testes nuclear de Pyongyang geram terramoto geológico e diplomático Após o regime de Kim Jong-un ter realizado o sexto teste nuclear, o mais poderoso até à data, o mundo ocidental divide-se entre a ponderação diplomática e as respostas bombásticas de Donald Trump. Seul admite receber armamento nuclear norte-americano, enquanto Pequim continua a criticar a retórica de Washington [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sequência do sexto teste nuclear norte-coreano, o mundo diplomático desmultiplicou-se em reacções díspares. Por um lado, a Coreia do Sul e os Estados Unidos apresentam uma retórica bélica, enquanto a China e os países europeus apontam a diplomacia como a resposta primeira. O fim-de-semana passado na península coreana terminou com um terramoto de 6.3 na escala de Richter. Segundo os registos de várias agências sísmicas o abalo indicia a detonação de um engenho de elevada potência. O teste nuclear foi o mais potente até agora, constituindo uma clara violação às resoluções das Nações Unidas (ONU). De acordo com fontes oficiais japoneses e sul-coreanas, a detonação de domingo originou um abalo dez vezes maior que o sentido aquando do último teste nuclear realizado há um ano. Na sequência da condenação internacional, o regime de Pyongyang adiantou tratar-se de uma bomba de hidrogénio com capacidade para armar um míssil de longo alcance. De acordo com a televisão estatal, o teste ordenado por Kim Jong-un foi um “perfeito sucesso”. A resposta de Donald Trump não se fez esperar, no Twitter, claro. Em primeiro lugar, o Presidente norte-americano voltou a alertar para o perigo que a Coreia do Norte representa para o mundo, em seguida realçou o embaraço que o Estado mais isolado do mundo representa para a China. Nações preocupadas O teste nuclear de um engenho mais poderoso do que foi lançado sobre Hiroshima motivou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. A embaixatriz dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, comentou que o regime de Pyongyang está a “implorar por guerra”. A norte-americana entende que chegou a “altura de esgotar todos os meios diplomáticos antes que seja tarde demais”. A ex-Governadora da Carolina do Sul lembrou que “vinte e quatro anos de meias medidas e negociações falhadas são o suficiente”. A embaixatriz acrescentou que “os Estados Unidos vão passar a encarar todos os países que mantêm ligações comerciais com a Coreia do Norte como cúmplices” de Kim Jong-un. O representante chinês na ONU, Liu Jeiyi, adiantou que Pequim reconhece a deterioração constante na península coreana. Porém, o diplomata aconselhou uma resolução pacífica, acrescentando que “a China nunca vai permitir que o caos e a guerra tome conta da península”. O Kremlin junta-se a Pequim naquilo a que chamam de a “solução bipartida”, ou seja, que Pyongyang suspenda os testes nucleares enquanto os Estados Unidos e a Coreia do Sul interrompam os exercícios militares na região. Uma solução ainda sem um método prático à vista. O Presidente russo, Vladimir Putin, disse ontem que a aplicação de novas sanções contra Pyongyang será “inútil e ineficaz”, prevendo uma “histeria militar” em torno da Coreia do Norte, o que “pode levar a uma catástrofe planetária”. O líder russo prestou estas declarações após a condenação do novo teste nuclear à margem da uma cimeira dos BRICs. Durante a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo, Vassily Nebenzia, insistiu que “não há uma solução militar”, reconhecendo, ao mesmo tempo, que o regime de Pyongyang tratou “com desprezo” todas as imposições internacionais. O representante do Kremlin reforçou a “necessidade de preservar o sangue frio”, sendo necessário “dominar emoções e agir de forma calma e ponderada”. A contrastar com a reacção calma do embaixador russo na ONU, Putin alertou Kim Jong-un para ter em conta o que aconteceu ao ditador iraquiano Saddam Hussein, uma vez que poderá sofrer um destino similar se não se afastar do programa nuclear. “Saddam Hussein rejeitou a produção de armamento de destruição maciça, ainda assim a resposta destruiu o país, Hussein foi enforcado e a sua família foi morta”, disse Putin. Bomba mercantil Ainda a quente, como é seu apanágio, Donald Trump ameaçou cortar ligações comerciais com os países que façam comércio com o regime de Kim Jong-un. Desde a campanha eleitoral que o Presidente norte-americano ameaça uma guerra comercial com Pequim, o mais directo visado nas declarações de Trump, uma vez que mais de 90 por cento dos produtos importados por Pyongyang são oriundos da China. A reacção chinesa não se fez esperar, que classificou as reacções do Presidente norte-americano como injustas. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, acrescentou ainda “é inaceitável uma situação em que, por um lado, trabalhamos para resolver esta questão pacificamente, mas por outro lado, os nossos interesses são sujeitos a sanções e ameaças”. Os mercados financeiros asiáticos demonstraram ontem alguma instabilidade na reacção ao teste nuclear. Tóquio e Coreia do Sul registaram ontem quedas pelo segundo dia consecutivo. A bolsa japonesa desceu 0,6 pontos percentuais, enquanto Seul perdeu 0,3 por cento. Os mercados de valores de Hong Kong e Xangai subiram ligeiramente, acompanhando Singapura e Taiwan. Movimentos perigosos No meio da celeuma internacional, segundo uma fonte dos serviços secretos de Seul citada pelo Asia Business Daily, Kim Jong-un moveu armamento, nomeadamente misseis balísticos intercontinentais para a costa oeste do país. Importa salientar que é nesta área que se encontram as instalações de lançamento de projécteis de longo alcance. De acordo com o jornal sul-coreano, as movimentações foram feitas durante a noite, de forma a atrair menos atenções, um modus operandi típico do regime de Kim Jong-un. Ontem, a Marinha sul-coreana realizou cinco exercícios militares com disparos reais ao longo do Mar do Japão. Nos exercícios participaram a fragata Gangwon, com mais de 2500 toneladas, um navio de patrulha de mil toneladas e navios de guerra com capacidade para dispararem mísseis teleguiados. A demonstração de força teve como objectivo deter as intenções bélicas de Pyongyang. O capitão Choi Young-Chan, que comanda o 13º grupo de batalha marítima, referiu ao Asia Business Daily que “se o inimigo ameaçar fora, ou dentro de água, vamos contra-atacar de imediato e enterrá-los no mar”. As autoridades sul-coreanas discutiram também o envio de porta-aviões e bombardeiros norte-americanos para a península. Por outro lado, Seul anunciou que o seu exército e o dos Estados Unidos têm prevista a realização de exercícios anti-submarino no Mar do Japão amanhã e na sexta-feira. O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou ontem que admite autorizar, inclusive, o destacamento de armas nucleares norte-americanas no país, em resposta ao sexto teste nuclear realizado pelo regime de Kim Jong-un. As autoridades de Seul acrescentam ainda que estão a estudar “todas as opções militares” para travar a crescente ameaça bélica do país vizinho, disse hoje em conferência de imprensa o porta-voz do ministério, Moon Sang-gyun, quando questionado sobre o possível envio de armamento nuclear táctico do seu aliado. No entanto, Moon ressalvou que o Governo sul-coreano mantém o “princípio de desnuclearização” e que o seu objectivo a longo prazo é conseguir uma península coreana livre de armas nucleares, segundo declarações citadas pela agência Yonhap. À medida que as tensões vão aumentando na península coreana, o mundo inteiro fica em suspenso com a possibilidade de uma guerra sangrenta e de um conflito às portas da China.
Victor Ng PolíticaEleições 2017 | Cidadãos Unidos pedem eleições limpas e sufrágio universal É das poucas listas que trouxe o sufrágio universal para o programa político. A Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau apresentou ontem as suas ideias para as legislativas de 17 de Setembro e deixou um alerta para a corrupção eleitoral [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]em o número 19, num total de 24 listas, e chama-se Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau. É mais um grupo candidato às eleições legislativas deste ano e apresentou ontem o seu programa político. Hong Weng Kuan, número um da lista, referiu em conferência de imprensa que uma das prioridades da candidatura é a luta pela implementação do sufrágio universal para a eleição dos deputados à Assembleia Legislativa, bem como para a eleição do Chefe do Executivo. O também advogado referiu ainda que o essencial é garantir a realização de eleições limpas. Foto: Hoje Macau A habitação é outro dos assuntos prioritários da lista. Hong Weng Kuan defende que a lei de habitação económica deve ser alterada, lamentando que haja casas económicas que não estão a ser devidamente aproveitadas. Para isso, o cabeça de lista dos Cidadãos Unidos pensa que os candidatos devem devolver ao Instituto de Habitação as suas casas económicas assim que adquirirem capacidade financeira para comprar imóveis no sector privado. Sobre a continuidade do programa de comparticipação pecuniária, o candidato diz que esta é uma medida adequada, mas destaca que esta “não deve servir para calar os cidadãos” quando se verificam casos de mau funcionamento do Governo. Pelo contrário, os cheques devem ser distribuídos pelas pessoas necessitadas. Ainda o tufão O número um da Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau exige a revisão do estatuto dos militarizados, depois da passagem do tufão Hato ter evidenciado a falta de apoios. Hong Weng Kuan pede que sejam contados mais dois anos de antiguidade para aqueles que completam dez anos de serviço nas forças de segurança. Dessa forma, o pessoal militarizado pode obter mais subsídios, como forma de compensação. O programa político da Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau defende ainda a criação de uma lei sobre a responsabilização dos detentores de altos cargos no Governo, maior celeridade na renovação dos bairros antigos ou na conclusão do metro ligeiro. Pede-se ainda uma melhoria dos serviços de saúde e uma maior divulgação do ensino da língua portuguesa.
Hoje Macau PolíticaEleições 2017 | Poder dos Cidadãos quer mais justiça [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] candidato da lista 12, Poder dos Cidadãos, que assume a imagem do revolucionário Che Guevara, explicou ontem, em campanha eleitoral as razões da opção. De acordo com o jornal Ou Mun, Sze Lee Ah quer representar o líder de que Macau precisa. A ideia de imitar o Che é, para o número um da Poder dos Cidadãos, “uma forma de mostrar o símbolo de justiça através de um herói admirado pelos jovens e que representa a luta pela justiça social e pela felicidade dos seres humanos”, refere. Para Sze Lee Ah, este é um exemplo a ser retomado e que deve ser aprendido outra vez. No momento de campanha em que reuniu cerca de 600 apoiantes, Sze Lee Ah lamentou que a população do território, perante situações menos agradáveis tende a justificar-se com a frase “Macau é diferente”. A intenção do candidato é de acabar com esta “desculpa” e colocar as pessoas a dizer o contrário, que “Macau, jamais será diferente”. Em relação ao programa político, Sze Lee considera fundamental a garantia dos benefícios dos jovens. Sze Lee Ah pretende cancelar o registo de recenseamento, fazendo com que os residentes que completam 18 anos de idade sejam de imediato considerados eleitores. O objectivo apontou, é aumentar a participação política desde cedo. O candidato quer também que o ensino superior passe a ser gratuito e que seja criado um mecanismo que atraia os jovens de Macau que estão no exterior a regressar ao território. No que diz respeito à habitação, a lista quer mais apoio financeiro para quem compra casa pela primeira vez e sugere que a primeira prestação seja abolida, ou mesmo reduzida a metade do valor. O candidato também não está satisfeito da dependência do jogo por parte de grande parte dos residentes. “As pessoas desta geração dependem do jogo para sobreviver, será que querem que os vossos filhos e netos continuem assim?”, lê-se no artigo publicado no jornal Ou Mun. Para Sze Lee é essencial promover a variedade no que respeita a oportunidades e sectores de emprego. No panfleto promocional da lista Poder dos Cidadãos, podem ler-se várias sugestões com fins diversos, em que constam ideias para os jovens, para a habitação, trânsito e mesmo para o funcionamento do próprio Governo.
Hoje Macau SociedadeJulgamento | Irmãos Coutinho foram ontem a tribunal [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou ontem, no Tribunal Judicial de Base, o julgamento de Alexandre e Benjamin Pereira Coutinho. Os dois jovens, filhos de José Pereira Coutinho, são acusados de um crime de tráfico ilícito de estupefacientes. Contactado pelo HM, o candidato às eleições pela lista Nova Esperança, não quis fazer qualquer comentário. No passado dia 22 de Dezembro a Polícia Judiciária (PJ) anunciou ter detido “os líderes de um grupo criminoso de tráfico de droga local, que colaborava com um grupo criminoso de tráfico transfronteiriço”. As autoridades identificaram os suspeitos como sendo “dois irmãos de apelido Kou”, e explicaram que a detenção, que aconteceu a 21, surgiu na sequência de uma denúncia. À PJ chegou a indicação de que os dois irmãos iriam à zona norte para a obtenção de estupefacientes. Os suspeitos foram detidos no local e a Judiciária apreendeu quatro sacos de marijuana, com um peso total de um quilograma. A PJ acredita que a droga iria ser vendida em estabelecimentos de diversão nocturna. No mesmo dia, foi detido um terceiro suspeito perto de um casino no Cotai que também é arguido.
Victor Ng PolíticaEleições 2017 | Ella Lei destaca emprego para locais e habitação Ella Lei, líder da União para o Desenvolvimento, apresentou ontem o programa político com que se candidata às eleições legislativas. As prioridades são a habitação e as vagas nos sectores do jogo e dos transportes que, na sua visão, devem continuar a ser ocupadas por locais [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]abitação e vagas que já eram ocupadas por locais e que devem continuar a sê-lo. São estas as duas bandeiras da União para o Desenvolvimento, a lista número 16 com que Ella Lei se candidata às eleições pela via do sufrágio directo. Os dez membros da lista apresentaram ontem o seu programa político, sendo uma das prioridades a garantia dos direitos e interesses dos trabalhadores. Ella Lei e os seus parceiros na corrida eleitoral prometem lutar para que os trabalhadores não residentes (TNR) não ocupem vagas de trabalho como motoristas, croupiers ou chefes de salas de jogo. Tratam-se de trabalhos que, segundo a legislação em vigor, só podem ser ocupados por residentes. Ella Lei e a sua equipa prometem continuar a lutar por mais oportunidades de formação remunerada, para que os locais possam vir, gradualmente, a substituir os TNR, sem esquecer uma maior fiscalização da importação destes trabalhadores ao exterior. A habitação foi a segunda prioridade apontada pela candidata, que se estreou no hemiciclo em 2013. “A habitação deve servir para viver e não para ser uma forma de especulação”, apontou. É, por isso, pedido que o Governo conceda periodicamente casas públicas à população, sobretudo as 42 mil fracções de habitação pública que têm vindo a ser prometidas nos últimos anos e que continuam sem um calendário definido. Ainda na área da habitação, mas relacionada com a protecção ambiental, Ella Lei lembrou que vários espaços verdes foram escolhidos para a construção de prédios elevados, algo que, segundo a candidata, é um assunto a que a população dá atenção. Ella afirma que vai exigir às autoridades a realização de um bom planeamento urbanístico e a definição de regulamentos para esse fim. A União para o Desenvolvimento pretende lutar pela fiscalização dos trabalhos do Executivo, e dar especial atenção às respostas do Governo face às catástrofes naturais. Ella Lei defende que ainda há aspectos a aperfeiçoar, pelo que a lista exige que o Governo melhore as infra-estruturas. Obras de qualidade Leong Sun Iok, número dois na lista, adiantou que vai ser exigido ao Governo que melhore a gestão das obras viárias. Ao nível do trânsito, Leong Sun Iok espera que se dê prioridade à circulação pedonal e aos transportes públicos. A União para o Desenvolvimento pede, por isso, mais passagens para peões, o aumento da capacidade dos autocarros e uma maior celeridade em projectos como o metro ligeiro ou parques de estacionamento públicos. O programa político da lista número 16 dá também destaque aos direitos dos idosos e das crianças, bem como a uma melhoria do sistema de saúde. Pede-se ainda mais formação para talentos locais e uma maior celeridade no projecto “Obra de Céu Azul”, que visa retirar as escolas dos pódios dos edifícios residenciais. Preocupações com a Areia Preta Foi na Areia Preta que Ella Lei mostrou a sua preocupação pelo desprezo que, considera, tem sido dado àquela zona. Em plena campanha eleitoral, a número um da lista União para o Desenvolvimento, fez-se acompanhar por Leong Sun Iok, número dois, lamenta a falta de planeamento para aquela zona em que a densidade populacional é a mais alta do território. A União para o Desenvolvimento espera que o Governo resolva várias questões que afectam a Areia Preta, nomeadamente relativas ao trânsito e às deslocações. Por outro lado, os dois candidatos salientaram os problemas de poluição daquela área e pedem o melhoramento da estação de tratamento de águas residuais (ETAR). De acordo com a lista 16, os residentes pedem que o Governo implemente o plano da construção da nova ETAR na ilha artificial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e que as actuais instalações da zona norte sejam aproveitadas para fins sociais.
Hoje Macau SociedadeHato | Largo do Pagode do Bazar com maior subida de águas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] estação de monitorização do Largo do Pagode do Bazar registou a maior subida do nível da água, durante a passagem do tufão Hato. A altura chegou a 1,62m, às 12h05 do dia 23 de Agosto. A informação, dada pelo canal de rádio da TDM adianta ainda que a instalação acabou por avariar. Nesta zona, morreram, pelo menos, duas pessoas. As vítimas estavam na cave de uma mercearia, localizada na Rua de Cinco de Outubro. Macau tem 17 estações de monitorização de cheias. Seis – todas situadas no Porto Interior – registaram água acima de 1,5m. Oito deixaram de funcionar devido a danos provocados pelo Hato. As razões apontadas para as avarias, diz a mesma fonte, são “corte de energia ou outros motivos”, não especificados. Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) indicam que, por isso, “não foi possível recolher o valor máximo do nível da água”. A estação da Doca da Ilha Verde que monitoriza o nível da maré registou 5,04m, às 11h52. Na estação da Barra, a altura chegou a 4,51m, às 11h20. Ambas também deixaram de funcionar. De acordo com os dados divulgados, a rajada máxima atingiu cerca de 217,4 km/h, na Estação da Taipa Grande, às 11h06. Os SMG referem ainda que foi batido o recorde do tufão Ruby, de 5 de Setembro de 1964 em que a rajada mais forte foi de 211 km/h. O tufão Hato provocou dez mortos e mais de 200 feridos. Entre as vítimas mortais, quatro não conseguiram escapar a inundações em parques de estacionamento subterrâneos e três foram apanhadas em cheias, em estabelecimentos comerciais.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeJustiça | Português condenado por abuso sexual dos filhos João Martins foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a cinco anos e seis meses de prisão pela prática de dois crimes de abuso sexual dos dois filhos. O advogado de defesa, João Miguel Barros, afirma que o processo “está completamente cheio de falhas” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso remonta a Maio de 2016, mas só ontem se soube o veredicto final. Há muito que a detenção de um português suspeito de abuso sexual dos filhos menores era muito comentada na praça pública, e ontem o Tribunal Judicial de Base (TJB) decidiu condenar o homem a cinco anos e seis meses de prisão. O nome do arguido, João Martins, só ontem foi revelado. O TJB entendeu absolver o residente do crime de acto exibicionista de carácter sexual, noticiou a Rádio Macau. Não ficou provada a ocorrência de maus tratos nem a prática de relações sexuais com a filha. Segundo a Rádio Macau, a juíza considerou que os depoimentos dos dois filhos de João Martins em tribunal são “credíveis” e que “não há prova que foi a mãe que influenciou” as crianças. Em declarações ao HM, o advogado de defesa de João Martins, João Miguel Barros, disse que vai interpor recurso da decisão. “O processo está completamente cheio de falhas desde o primeiro momento e neste momento não quero fazer declarações sobre o processo”, referiu o causídico, que continua a defender a inocência do seu cliente. “Digo apenas que acreditamos na inocência do João Tiago, e se não fosse isso nunca teríamos aceite ter sido seus advogados. Por acreditarmos na sua inocência vamos defender a sua posição em recurso. Depois se verá quando acabar a fase de recurso e quando a sentença transitar em julgado”, acrescentou. Tudo negado As alegadas vítimas são uma menina de sete anos e um menino de nove. Tudo começou quando a mãe das crianças começou a estranhar o comportamento dos filhos quando estavam na presença do pai. O casal havia passado por um processo de divórcio e a mãe tinha conseguido a guarda das crianças. Segundo a TDM, terá sido numa consulta com um psicólogo que as crianças contaram que eram vítimas de abusos e que o português lhes terá tocado nos órgãos genitais, além de os intimidar com agressões físicas para que não contassem a ninguém esses episódios. João Martins vivia perto do Parque Central da Taipa e tinha à sua guarda os filhos desde 2011, ano em que começou a divorciar-se da mulher. Quando foi detido pela Polícia Judiciária, negou todas as acusações de que era alvo, mas o TJB entendeu ser culpado. O caso chegou a ser notícia nos media de língua chinesa. O diário Ou Mun, título com maior circulação no território, escreveu que os actos de que João Martins é agora acusado se prolongaram por vários anos. Também o jornal Va Kio escreveu que os filhos começaram a ter medo de estar com o pai.
Sofia Margarida Mota SociedadeIAS | Novo serviço para doentes mentais até ao final do ano [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá marcada para o final do ano a entrada em funcionamento dos serviços de alojamento permanente dos reabilitados de doenças mentais. A informação é deixada pelo Instituto de Acção Scoial que adianta que o equipamento, situado no Complexo Municipal de Serviços Comunitários de Seac Pai Van, vai ter serviços de longo e curto prazo, e mesmo urgente, para os residentes com problemas mentais crónicos e reabilitados acima dos 16 anos de idade. Tratam-se de pacientes “em estado estável mas sem capacidade para cuidar de si, nem conhecimentos de actividades inerentes à vida do dia a dia, e ainda sem apoio do sistema familiar ou comunitário”, lê-se na resposta do IAS a uma interpelação do deputado Zheng Anting que queria saber o que está a ser feito neste sector. O IAS acredita que este é um passo importante no âmbito da saúde mental e insere-se num esforço para aliviar a pressão exercida nos serviços comunitários. No mesmo documento, o Governo refere que no primeiro semestre deste ano, foram acompanhados um total de 164 casos pela equipa de prestação de serviços comunitários. Foram ainda realizadas 781 visitas domiciliárias e 1665 serviços de acompanhamento via telefónica. O IAS salienta ainda que “não houve nenhum caso de suicídio durante o processo de acompanhamento”.
Hoje Macau SociedadeHato | Três casinos de portas fechadas O Hato já se foi há duas semanas mas o seu impacto na principal indústria do território ainda se sente. Macau continua com áreas de jogo, em três casinos, encerradas e sem se saber ao certo quando será a abertura. Mais que os danos, os prejuízos são devidos à falta de actividade [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas semanas depois da passagem do tufão Hato por Macau, estão ainda três casinos de portas fechadas devidos aos estragos. São eles: O Ponte 16, o Legend Palace no Fisherman’s Wharf e o Brodway no Cotai. Para o Ponte 16, a reabertura ainda é incerta, sendo que, Hoffman Ma, director executivo do Success Universe Group, a operadora que detém parte do casino da Ponte 16 em conjunto com a Sociedade de Jogos de Macau, considera que possa acontecer “nas próximas duas semanas ou mais”, disse à TDM News. Hoffman Ma falou ainda dos estragos. “O piso térreo foi inundado e os equipamentos mais danificados são os cabos e as carpetes do piso térreo, pelo que serão feitas obras de renovação”, referiu o responsável. Os andares superiores de Ponte 16 permanecem abertos. Já o chefe das operações do casino da Macau Legend Development, Frederick Ip, disse à TDM News que a água invadiu o porão, chegando a 1,5 metros, e danificando equipamentos essenciais, como servidores de internet e aparelhos de ar condicionado. Embora Frederick Ip admita que levará meses para comprar e reinstalar todos os equipamentos, o responsável espera que o casino do Legend Palace reabra perto do dia 23 de Setembro. Paragem danosa Quanto a prejuízos, mais do que os estragos em si, que serão cobertos pelos seguros, a grande preocupação é o tempo em que vão estar sem funcionar e as perdas que daí advêm. De modo a minimizar este aspecto, o casino do Ponte 16 mudou parte das mesas para os andares superiores. De acordo com alguns analistas, o Hato reduziu o crescimento da receita de jogo em 6 por cento no mês passado. No entanto, as estimativas para o ano de 2017 são positivas e continuam a apontar para o aumento. O tufão Hato fica na história por ter afectado a principal indústria do território, com alguns casinos quase vazios ou fechados por cortes de electricidade ou inundações. No Porto Interior, uma das zonas mais afectadas por inundações na península de Macau, o Ponte 16 foi um dos casinos encerrados ao público. A entrada estava bloqueada com uma barreira do sistema de proteção de cheias, tendo um polícia no local confirmado à Lusa o encerramento do espaço. O apagão afectou também outros casinos fora da península, nomeadamente na ‘strip’ do COTAI, entre as ilhas da Taipa e Coloane.
Andreia Sofia Silva Eventos ManchetePaulo José Miranda, escritor e poeta: “Esta também é a terra dos portugueses” Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, Paulo José Miranda explora um dos muitos limites da natureza humana, ao mesmo tempo que reflecte sobre o terrorismo. Convidado da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 anos”, o escritor e poeta fala do novo livro, cuja personagem é o oposto do assassino profissional. O autor, que fala hoje no edifício do antigo tribunal, defende que a existência de duas culturas que se compreendem e que fazem de Macau um lugar singular no mundo, irrepetível Publicou “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, uma compilação dos textos que tem vindo a publicar no HM. Porquê a entrevista a um assassino? Tenho duas participações no HM. Uma é com os textos que compõem a secção “Máquina Lírica”, em que costumo escrever acerca de livros e maioritariamente poetas mais novos do que eu, que têm editado em Portugal. Participo também com a secção “Em Modo de Perguntar”, com pequenas entrevistas que tenho feito a várias pessoas, actores, poetas e escritores. De repente ocorreu-me a ideia de fazer um projecto, algo que já tinha escrito em 2004, a ver se funcionava. E eu próprio entro como entrevistador. Este livro faz parte de um projecto que já terminei, sobre obras do século XX, onde explorava diversas formas. A entrevista é uma forma utilizada no século XX, e em Portugal o gosto do público pela entrevista intensificou-se nos anos 90. Porquê? Talvez devido ao facto de termos vivido muitos anos no Estado Novo, a entrevista não era propriamente algo que agradasse ao regime. Então na década de 90 começou a acontecer uma coisa curiosa, em que as pessoas liam mais as entrevistas dos escritores do que os próprios livros. Isso mudou ou intensificou-se? Hoje em dia a situação é diferente porque a internet mudou muita coisa. Partindo dessa observação construí uma narrativa, uma ficção, em forma de entrevista. Já não era preciso estar a ler a entrevista do escritor. O Carlos [Morais José] gostou da ideia, teve alguma aceitação. Depois fez-me a proposta para editarmos o livro. Nunca pensei que o texto fosse editado tão cedo. Uma das razões para isso prende-se com o facto da entrevista ser um formato estranho para um livro, não seria a forma mais apetecível para os editores. Mas julgo que a maior dificuldade é que o texto não é muito longo. Se fosse um longo romance…que, aliás, pretendo fazer um dia. A partir deste livro? Não, só com esta forma, mas com outros personagens. Talvez aí seja mais fácil e apetecível para um editor. Quando me foi feita a proposta, aceitei de imediato. E porquê um assassino? O assassino opõe-se em determinados pontos de vista, que me parecem fundamentais, em relação às nossas próprias vidas e ao nosso tempo. Um deles é que ele faz uma vida inteira sem ser conhecido, porque ele era excelente no que fazia e ninguém sabia quem ele era. Isto é o oposto do que nós queremos nos nossos dias. Não só queremos ser reconhecidos pelo trabalho que fazemos como queremos ser reconhecidos só porque sim. Queremos ter os tais quinze minutos de fama. E que os quinze minutos se prolonguem. Houve uma grande explosão, que me parece que está a terminar, em que as pessoas iam para a televisão sem terem feito nada de extraordinário. Este personagem é então o oposto disso tudo. Ao mesmo tempo há um jogo de espelhos entre a actividade dessa pessoa e a do próprio escritor. Vai-se traçando, à medida que ele está a falar, toda uma preparação. Há ainda a relação com a morte. Para ele matar não é encarado como morte, é visto como um trabalho. Há um outro lado, que está muito presente no nosso tempo, que é o modo como o personagem se posiciona de forma antagónica com o terrorismo, o que nos causa algum choque. Imaginamos que um assassino profissional é um terrorista, e ele distancia-se disso. Editar este livro foi a maneira que encontrou de reflectir sobre essa questão, numa altura em que o terrorismo é tão falado e tão incompreendido? É uma das maneiras. Tenho um livro, passado em Hong Kong, que é “A Máquina do Mundo”, uma história de amor entre dois assassinos profissionais, que vão perdendo vidas como se fosse um jogo de computador. Aí reflicto mais sobre o assunto. Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, o que há é o mostrar como nos anos 50 e 60 quase tudo era de elites. Até matar e pagar para matar. Hoje, como diz Karadeniz, qualquer um encomenda uma morte por meia dúzia de tostões. O assassino profissional já se tornou democrático também. Foto: Sofia Margarida Mota Percebo que há aí um certo fio condutor em relação à morte. Esse tema, sobretudo a morte premeditada, fascina-o? Não. O que acho é que o assassino profissional interessa, porque todas as situações limites do ser humano nos fazem pensar. E ser um assassino profissional é uma situação limite. Isso são coisas que me fascinam porque reflicto sobre elas, sem dúvida nenhuma. Alguém que transforma uma pessoa numa coisa entra na esfera do horror. Algo desprovido de sentimento. É o horror, como o que aconteceu em Auschwitz. Estas são formas que me interessam para pensar e ao mesmo tempo expor o humano que habita em todos nós. Não vamos a esse extremo, mas há algo que se ilumina a partir dali, daquele limite. O meu próximo livro, um longo romance de mais de 600 páginas, é o oposto: é sobre alguém que viveu a vida de um ponto de vista absolutamente ético. O que também é uma posição radical, de limite. Passou a vida a ler e a estudar, tendo responsabilidade. São casos extraordinários para reflexão. Ao tentarmos descer ou subir até eles, acabamos por nos iluminar a todos nós, o humano, na sua normalidade. Falou-me do livro “A Máquina do Mundo”. Foi esse o livro que o fez regressar a Portugal depois de ter vivido vários anos no Brasil. Chegou a ser referido na imprensa como um “fantasma literário”, porque desapareceu do panorama literário português durante uns anos. O João Paulo Cotrim recebeu uma indicação do António Cabrita, que lhe tinha enviado “A Máquina do Mundo”. Ele gostou do texto e contactou-me a perguntar se já tinha editora. Eu vivia em Curitiba e ele foi a minha casa, e conversámos. Durante o ano de 2014 acabei por escrever um livro de poesia, então o João Paulo Cotrim acabou por editar três livros. Mas como foi regressar? Sentiu-se esse “fantasma literário”? Não pensei assim e continuei a escrever. No tempo em que não escrevi estava dedicado à música. Não publicava, mas não tentei publicar. Era uma situação difícil para publicar, porque estava muito afastado. Hoje em dia é muito difícil editar livros sem aparecer. Se não apareces para as entrevistas as pessoas deixam de existir, somos cada vez mais numa sociedade mediática. E o escritor tem de ser uma estrela. Não diria uma estrela. Comecei a publicar no final dos anos 90 e as coisas eram diferentes. Davam-se entrevistas, mas não se aparecia. Hoje isso é fundamental. Nunca senti a questão do “fantasma literário”. Continuei a publicar, mas de facto não aparecia. Foram livros que passaram, não estava lá. E do ponto de vista do jornalismo é interessante escrever sobre alguém que está exilado, desaparece e de repente edita três livros. Esta terça-feira falou sobre a experiência do que é ser português em Macau. Viveu essa experiência na pele durante três meses. Vivi um pouco, mas a minha experiência veio de uma grande intuição, e também pela experiência de ter vivido cinco anos em Istambul. Foi uma experiência mais radical do que estar em Macau, porque ninguém fala português. Haveria talvez uma pessoa que sabia quem tinha sido Fernando Pessoa. Em Macau, além de ter lido as cartas e imenso sobre Pessanha, fiquei com uma percepção. Há qualquer coisa que acontece com os portugueses de Macau que é uma espécie de amplificador de uma estrutura existencial. Essa estrutura é como aquele fenómeno que se passa na mecânica quântica, como se houvesse uma vida paralela. Durante um tempo poucas pessoas que vinham para aqui não sentiriam que a sua vida seria uma vida de empréstimo, e que mais cedo ou mais tarde iriam recuperá-la. Sente que somos uns privilegiados em Macau? Hoje em dia já não, mas na década de 90 sim, sem dúvida. As pessoas ganhavam uma fortuna a fazer o mesmo que fariam em Portugal. Falo do privilégio de ter acesso à cultura portuguesa e a pontos identitários nesse sentido. O que acho é que Macau é um lugar privilegiado e provavelmente único. É provavelmente o único lugar onde os portugueses estiveram que não foi conquistado, foi doado. Isso muda tudo. Em Moçambique há uma sensação de racismo, porque os moçambicanos foram colonizados. Aqui isso não existe. Mas há um distanciamento. Que advém da enorme diferença cultural e da língua. Há essa experiência que é o convívio de duas culturas muito distantes uma da outra, que não se fundem. Houve muito mais fusão cultural, e entre as pessoas, em Moçambique do que aqui. Os portugueses tiveram, apesar de tudo, uma diferença em relação aos outros países, apesar das atrocidades cometidas. O português misturava-se. Quando chegamos aqui os bárbaros éramos nós, há logo uma diferença, porque havia aqui uma cultura instalada. Sempre houve esse respeito. Em nenhuma parte do mundo acontece isto. No mundo em que nós vivemos, é exemplar. Quando viveu em Macau veio escrever sobre Camilo Pessanha. Estava inserido num projecto que era uma parceria entre a Fundação Oriente (FO) e a editora Cotovia, da qual fazia parte. A Cotovia enviava escritores para vários locais a Oriente e publicava os livros. A FO encarregava-se dos custos. Foi-me dado a escolher entre Pessanha e Venceslau de Moraes, e aí iria para o Japão. Eu não escolhi Macau, escolhi Pessanha. É um poeta pelo qual sentia um fascínio há muito tempo. Li muito sobre ele, andei nos lugares onde andou. Foi o Pessanha e a força da poesia dele que me trouxe, e interessei-me depois pela sua pessoa. É uma pessoa contraditória, cheia de mistérios à sua volta, alguém que é viciado em ópio e que tem uma profissão importante. Ao mesmo tempo tinha um desprezo pelos seus conterrâneos, e depois tinha uma sensibilidade enorme. Acho que Macau está melhor, porque já não há a sombra de muitos portugueses que sentiam isto como uma colónia. Alguns achavam que os chineses eram inferiores. Era uma sombra que pairava, mesmo que nem todos pensassem assim. Com a transferência de soberania essa sombra desaparece. Mas esta é também a terra dos portugueses, e isso é hoje mais claro.
João Luz EventosLiteratura | Amélia Vieira traz “Abril” à celebração dos 150 anos de Pessanha Chega a Macau para os eventos que marcam os 150 anos de Camilo Pessanha com mais de dez livros na bagagem. Traz ainda a sua mais recente publicação, “Abril”. Ao HM, Amélia Vieira fala do que a move enquanto poetisa e da rudeza da sociedade portuguesa [dropcap style≠’circle’]“N[/dropcap]o princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Assim arranca o Evangelho de João na visão bíblica da criação. Em conversa com Amélia Vieira, abordámos as características divinas do momento criativo literário. “Nós, que estamos muito agarrados a um plano da carne, das vísceras, da conceptualização do mundo pela posse, acabamos por ter uma relação de magia e hipnose com a palavra”, comenta a poetisa. Amélia Vieira começou o seu contacto com a literatura pela normal via da leitura e o do conhecimento. No plano da criação artística, a autora que conta com mais de uma dezena de livros na sua obra, teoriza sobre a característica sagrada da literatura. “A escrita é o sopro, o verbo é a mais inefável das experiências humanas, a parte mais etérea” A escritora fez-se ultrapassando o momento em que quis ler tudo, em que o verbo tomou uma dimensão virtuosa. “Vemos que essa fina película da palavra vai da magia para o sagrado, aí a palavra consagra-se”, refere. Amélia Vieira sempre sentiu uma forte tendência para a exacerbação de tudo o que era escrita e oralidade, já desde os tempos de liceu. Além disso, teve como companhia alguns dos grandes nomes da literatura portuguesa. “Tive ao meu redor poetas velhos, consagrados, convivi com eles ainda antes de saber que eram grande vultos literários e fui-me tornando um tecido poético, uma espécie de consubstancialização de toda a matéria que estava à minha volta e onde fui crescendo”. Entre os autores com que conviveu muito cedo contam-se Ernesto Melo e Castro, Casimiro de Brito, Teresa Horta, Natália Correia e David Mourão Ferreira. Mês de Abril Os ambientes literários davam conforto à jovem Amélia Vieira, que se sentia como “uma pessoa pequena que está rodeada por pessoas que a protegem”. De resto, a autora conta que sempre viveu num ambiente hostil, numa família e sociedade adversas. “A sociedade portuguesa era muito agreste. Aliás, Portugal é um país profundamente fascista nas suas intrínsecas noções, não é um país carinhoso, é um país com lacunas nas questões da afectividade e da boa educação”, interpreta. Amélia Vieira não encara com bons olhos o ambiente que se vive no país, que considera “um viveiro de gente que se pode tornar perigosa num curto espaço de tempo”. A escritora, que se sente movida por uma forte necessidade litúrgica, considera que a prática religiosa “tem uma relação com o fazer poético”, estudou ciência das religiões na Universidade de Toulouse e traduziu “As Centelhas da Torá”, uma obra que ainda não foi publicada. Já passou por fases criativas mais “estendidas, mais prosódicas”. A autora revela que actualmente tem “uma enorme tendência para o mínimo de tudo, o mínimo de palavras, objectos, dinheiro, de amor e ódio”. Quanto ao seu posicionamento no mundo literário, confessa que nem sabe muito bem o que as outras pessoas andam a fazer. Justifica este alheamento por já não pertencer ao mundo. “Pertenço a outro mundo. O que vejo, geralmente, não gosto, o que gosto vive comigo e não estou nada interessada naquilo a que a maior parte das pessoas anda interessada”, revela. Amélia Vieira traz na bagagem o seu mais recente livro “Abril”, que resultou de uma recolha de prosa poética e poemas que estavam por publicar. “É um livro de poesia com 88 poemas, o que equivale a dizer que é o livro exacto para o Oriente, que encaixa perfeitamente na numerologia”, explica Amélia Vieira. Além disso, o convite para a escrita do livro foi feita em Abril e a pasta onde guardou os documentos tinha esse nome. “Abril, é um mês que abre, que inaugura e eu acho que estou numa fase inaugural da minha vida, é também o mês do 25 de Abril, um mês que me é profundamente querido, Abril, Ápis, sou uma espécie de boi Ápis iniciando um novo ciclo”, teoriza a autora.
Hoje Macau China / ÁsiaONU | Pequim nega estar a debilitar sistema de direitos humanos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China negou ontem que esteja a debilitar o sistema de direitos humanos das Nações Unidas, como acusou a organização Human Rights Watch (HRW), e instou aquela organização não-governamental a libertar-se de preconceitos sobre o país. Um relatório difundido ontem pela HRW denuncia interferências da China nos mecanismos de direitos humanos da ONU, através da “perseguição” a activistas e funcionários das Nações Unidas. “A China atribui grande importância e está comprometida com a protecção e promoção dos direitos humanos e está a desempenhar um papel activo no trabalho das agências da ONU para os direitos humanos”, defendeu o ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang. Em conferência de imprensa, Geng considerou ontem que as acusações da HRW “não têm fundamento”. “Esperamos que a organização em questão se desprenda do seu olhar preconceituoso” e veja a contribuição da China “pela causa dos direitos humanos a nível internacional de forma objetiva”. A organização cita o caso de Cao Shunli, activista que foi detida em 2013, depois de participar em Genebra de sessões de formação em direitos humanos, e acabou por morrer na prisão, depois de lhe ter sido negada assistência médica. O seu caso “enviou uma mensagem para qualquer pessoa que queira seguir o seu exemplo e trabalhar com o sistema da ONU”, disse. O porta-voz chinês urgiu a HRW a deixar de fazer “acusações infundadas”.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Activista de Occupy recorre da pena de prisão [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dos antigos líderes estudantis do movimento Occupy em Hong Kong condenado a prisão por um protesto que levou à ocupação das ruas da antiga colónia britânica interpôs recurso da pena, noticiou a imprensa local. O Departamento de Justiça disse na segunda-feira ter sido notificado da intenção de Nathan Law de recorrer da sentença de oito meses de prisão por um protesto em 2014 na Praça Cívica, junto à sede do governo, de acordo com a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK). Nathan Law, do partido Demosisto, foi condenado e preso em Agosto, juntamente com outros dois líderes estudantis, Joshua Wong, também do Demosisto e rosto do movimento pró-democracia que ocupou as ruas da cidade durante quase três meses em 2014, e Alex Chow, antigo dirigente da federação de estudantes, depois de o governo ter sido bem-sucedido no recurso contra as sentenças inicialmente dadas ao trio. Joshua Wong (20 anos), Alex Chow (27 anos) e Nathan Law (24 anos) foram condenados, respectivamente, a seis, sete e oito meses de prisão, uma sentença agravada após recurso do Departamento de Justiça de Hong Kong da decisão judicial de há um ano. Wong e Chow foram previamente declarados culpados de assembleia ilegal e Law de incitar outros a uma reunião ilícita por invadirem uma área no exterior da sede do governo, conhecida como Praça Cívica, no âmbito de um protesto a 26 de setembro de 2014. Os dois primeiros tinham sido condenados a trabalho comunitário, que já cumpriram, enquanto Chow foi inicialmente condenado a três semanas de prisão, mas com pena suspensa. Nathan Law, que se tornou o mais jovem deputado eleito em Setembro de 2016, foi um dos seis deputados desqualificados nos últimos meses pela forma como prestaram juramento no Conselho Legislativo (parlamento) da cidade. Como a pena de prisão é superior a três meses, Law fica impedido de se candidatar ao Conselho Legislativo durante os próximos cinco anos. Nathan Law é o segundo dos três activistas a interpor recurso das penas de prisão a que foram condenados. Já na sexta-feira passada, o Departamento de Justiça disse ter sido notificado por Alex Chow da sua intenção de recorrer contra a sentença de sete meses de prisão. Paragem central Em 2014, Hong Kong parou com protestos para exigir que o sufrágio universal – esperado para a eleição deste ano – fosse genuíno, ou seja, não implicasse, como Pequim propunha, que os candidatos a chefe do Governo fossem seleccionados pelo colégio eleitoral de 1.200 membros, visto como próximo de Pequim. As imagens daquela que ficou conhecida como a ‘Revolução dos Guarda-Chuvas’ correram mundo, mas o movimento falhou. Os democratas não conseguiram que Pequim abdicasse da pré-selecção dos candidatos e rejeitaram a proposta de reforma política, mantendo o método de voto como estava. Desde então não foram poucos os tumultos a que a cidade assistiu, desde o desaparecimento de cinco livreiros que publicavam livros críticos do regime chinês, passando pela emergência de movimentos independentistas e pela interferência de Pequim para afastar do cargo dois deputados eleitos pela população.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasO realizador chinês mais corajoso de sempre – Parte III Três Irmãs, um documentário de Wang Bing [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]esta terceira parte vamos passar uma lista de filmes recentes de Wang Bing que vos recomendo. Crude foi realizado um ano depois de He Fengming, em 2008. O documentário, com duração de 840 minutos, é um épico ainda mais longo que West of the tracks e ainda mais incrível. Com um total de 14 horas condensadas em apenas 20 planos, a câmara lança um olhar de grande pureza e naturalidade sobre a realidade duríssima dos trabalhadores que extraem petróleo no deserto de Gobi. Dinheiro do Carvão estreou em 2009. O documentário acompanha o rasto do dinheiro gerado pelo negócio do carvão, manchado pelo sangue dos que trabalham nas minas. O realizador brinda-nos com a agudeza do seu sentido crítico: O coração dos homens é tão negro como o carvão. 2009 foi um ano muito produtivo para Wang Bing, para além de “Dinheiro do Carvão”, apresentou ainda mais dois documentários “hi pond” e “sem nome”. O homem sem nome (2010) acompanha a vida de um vagabundo anónimo que, no entanto, tem um lugar para viver. Não se lhe pode chamar “casa”, porque não passa de uma caverna sem electricidade, sem água e sem sanitários. Um anónimo “homem das cavernas”, sem qualquer relação com o resto da sociedade, vive lá dentro. O director de câmara seguiu-o durante um ano e registou todas as suas palavras. É provavelmente o melhor trabalho de Wang Bing. Em 2010, Wang realizou o primeiro filme de ficção, A Vala. Este filme é uma versão ficcional da história de He Fengming (Ver Parte II). A dureza da luta de classes e a fome tornaram a vida num purgatório. Depois de terminar A Vala, Wang foi visitar a mãe. No regresso, cruzou-se acidentalmente com três crianças, e este encontro marcou o início do documentário Três Irmãs, focado na pobreza das zonas rurais de Yunnan. Mas será que o realizador nos deixa vislumbrar uma luz ao fundo do túnel? Em Yunnan, Wang Bing filmou também Até que a Loucura nos Separe, um documentário de quatro horas sobre doentes psiquiátricos internados num hospital de reabilitação. Alguns são doentes mentais, mas outros são pessoas abandonadas, “doentes de solidão”. Nenhum deles consegue fugir ao estigma da loucura. Mas estes doentes não mostram medo nem quaisquer tabus quando enfrentam a câmara. É um filme deprimente, porque a objectiva revela um mundo implacavelmente “real”. Não se aproveita da miséria nem nunca cai no melodrama. É como uma escrita sem adornos, feita de frases cruas, onde cada palavra é fiel e, fielmente protege personagens despidas de qualquer encanto visual e que vivem existências sem nada para mostrar. Às vezes, possivelmente com mais frequência do que gostaríamos, a vida é mesmo só isso.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e Ideias«É o xuá das ondas a se repetir» Spotify, 28 Agosto [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]alto para «As Caravanas» com Chico a viajar pelos reflexos dos hojes. Melhor, vou para Chico, sítio que continua único. Não gasto mais do que umas linhas com a tolice das vigilâncias que vão grassando como ervas daninhas, censores de algibeira que não alcançam que o lugar da arte só pode a dimensão e a forma dos oceanos, respirando tempestades e calmarias com profundidades sem luz enquanto espelham o céu. Prefiro caminhar nas dificuldades da canção que dá título, por exemplo. Traz um Brasil que expulsa negros e pobres da praia, um Brasil de bossas velhas que embaçam olhos e razão. «Sol, a culpa deve ser do sol/ Que bate na moleira, o sol/ Que estoura as veias, o suor/ Que embaça os olhos e a razão/ E essa zoeira dentro da prisão/ Crioulos empilhados no porão/ De caravelas no alto mar». O Sol há-de ser culpado de tudo, até das trevas. Mas vislumbro momentos de sentar na infância, comoção em estado puro, que os dias estão para isso. Nesta, toca com o neto. «É o xuá/ Das ondas a se repetir/ Como é que eu vou saber dormir/ Longe do mar/ Ó mãe, pergunte ao pai/ Quando ele vai soltar a minha mão/ Onde é que o chão acaba/ E principia toda a arrebentação/ Devia o tempo de criança ir se/ Arrastando até escoar, pó a pó/ Num relógio de areia o areal de Massarandupió.» Onde acaba o nosso chão? Uma após outra, mais ou menos solares todas, estas canções são do espanto feroz. Santa Bárbara, 29 Agosto Devia. Os dias nascem logo forrados a deveres, e é a custo que procuro não ocupar as noites alinhando os por fazer que vão esticar ao impossível a pele das horas. Faço-me ortónimo e libertário, não saio de casa, que «grande é a poesia, a bondade e as danças…», mas leio um livro. Oliveira que podia bem ser, finco raízes e aprendo «práticas de viagem» sem sair do sítio. Vou para «Itália», na melhor das companhias, de braço dado com o António [Mega Ferreira] (ed. Sextante). Dispenso até a deslocação, pois os lugares são aqui reconstruídos da boa maneira, cruzando saber e sabor. São os sentidos, se neles incluirmos a inteligência, que se fazem cicerones no labirinto de torres e palácios, pinturas e escritores, Svevo e Joyce, as sublimes composições e os cafés de ficar horas, o Rosati de Pasolini, os azeites aromáticos e os vinagres balsâmicos, sabonetes e Paolo Conte, Carpaccio pintor e prato que o homenageia, a modesta planície de Morandi e os portos e os passos de Dante. No percurso, deparamos continuamente com primeiras vezes, na cultura ocidental e, portanto, em nós. Nem guia nem roteiro, antes Grand Tour a uma paixão, que é país, mas sobretudo berço de uma cultura que celebra a vida. Quem viaja ainda deste modo? Horta Seca, 30 Agosto Devia estar a caminho de Macau, na boa companhia de tantos abysmados que partem celebrar Pessanha. As circunstâncias conspiraram e travaram os ímpetos e as vontades. Fico-me, encostado a uma lápide, gatos por perto, horizonte de torres (como o poeta, na interpretação de Rui Rasquinho nesta página). A ler luzes em países perdidos, com a intacta intenção de no chão sumir-me, como fazem os vermes. Pessanha e Macau tornaram-se estranhos sinónimos. Releio «O Mal», do Paulo [José Miranda], para encontrar a tese de que ambos são sinal, húmido e desfocado, da errância em busca de uma identidade, em vida de empréstimo. De Portugal e do que dele encontramos em nós. Cidade e poeta são sinais e versos de um mau estar, de um Mal tornado ser. O desprezo pela vida, que ambos cultivam, encontro-o na bd melancólica de Fonseca & Morais, Caze – Um caso de ópio. Narrativa na velha tradição do policial negro, mergulha a aventura nas lendas chinesas que tudo sintetizam em pintura, que tanto pode vaticinar a morte do seu pintor como dar vida a uma águia. «Ela descia, vagarosa e sonolenta, senhora antiquíssima dos ventos e das elipses, até pousar nas copas mais altas dos jardins proibidos.» O traço solto, meio desajeitado, sublinha os passos ziguezagueantes de Caze, o detective que parte em demanda, por encomenda, de um antepassado português, portanto de uma identidade, afinal não mais que ladrão de arte e de passados. O testemunho chega-nos por escrito e na primeira pessoa. Será mesmo apenas um caso de ópio, ainda que este sirva para amaciar as arestas da vida? Não, nem mesmo do ódio, aquele que a personagem do Paulo persegue em ensaio para explicar Pessanha. Sendo nós, cada um de nós, pouco mais que sombra em trânsito, saber apagar-se releva da sabedoria. E apagar outros não custa assim tanto, pelo que a mandatária de Caze desaparece no fim, sem custo, em viagem ao fim do mundo. Macau ergueu-se ilha do fim do mundo, ainda que por ali nasçam princípios a cada esquina, também o tempo. Por que fez Orson Welles de Macau o cenário da peça magnificamente filmada, a sua primeira a cores, «The Immortal Story»? Pourquoi pas?, diz Jeanne Moreau, anunciando o lema da casa do pai, que se suicidou por ter experimentado a miséria às mãos do todo poderoso Orson Welles. Macau pouco mais acontece aqui do que evocação de um lugar que comunica com os infernos. Para mim, Macau está nas escadas que sobem e descem na semi-obscuridade. Não são as paisagens que contam, mas rostos, filmados como só Welles sabia, olhando de frente a câmara, pois ela é o destino. «As pessoas só recordam coisas que já aconteceram», diz o gigante solitário e moribundo que Welles incarna, afinal um encenador, demiurgo do mal. E se o dinheiro for capaz de produzir uma realidade que preencha o vazio de uma história de marinheiros? Isso mesmo se congemina, o velho relato de um marinheiro a quem o marido paga para engravidar a mulher vai acontecer. Acontece por ser Macau o farol do poder do jogo, claro, mas sobretudo do ouro, que «é sólido e à prova de dissolução», diz o mais dissoluto senhor do dinheiro nesta imortal história. Abunda o vermelho nas cores saturadas e fortes, translucidas apenas na cama, palco maior do acto entre Virginie e o virgem, marinheiro que não perdeu as graças da palavra. A madrugada faz tombar o pano da dor. Para o senhor da venalidade, os olhos fecharam-se-lhe de vez. Mas não haverá, apesar da dor, neste cruzamento de encontros novos princípios? Valha-nos Pessanha, chão onde sumir. «Na inundação da luz/ Banhando os céus a flux,/ No êxtase da luz,/ Vejo passar, desfila/ (Seus pobres corpos nus/ Que a distância reduz/ Amesquinha e reduz/ No fundo da pupila)// Na areia imensa e plana/ Ao longe a caravana/ Sem fim, a caravana/ Na linha do horizonte/ Da enorme dor humana,/ Da insigne dor humana…/ A inútil dor humana!/ Marcha, curvada a fronte.// Até o chão, curvados,/ Exaustos e curvados,/ Vão um a um, curvados,/Os seus magros perfis;/ Escravos condenados,/ No poente recortados,/ Em negro recortados,/ Magros, mesquinhos, vis.// (…) A dor, deserto imenso,/ Branco deserto imenso, /Resplandecente e imenso, /Foi um deslumbramento. /Todo o meu ser suspenso,/ Não sinto já, não penso, /Pairo na luz, suspenso /Num doce esvaimento.»
Hoje Macau DesportoTaça da Ásia | Macau perdeu 2-0 com a Índia Pedro André Santos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] selecção de futebol de Macau perdeu ontem com a congénere da Índia por 2-0, no Estádio da Taipa, numa partida que marcou a estreia no seleccionador Chan U Meng. Apesar do resultado, a formação do território deixou uma imagem claramente positiva O Estádio de Macau, na Taipa, foi ontem palco do terceiro jogo da fase de grupos da Taça da Ásia que colocou frente a frente Macau, último classificado, e a Índia, líder do grupo A. Dado o ranking das duas selecções, bem como dos resultados das outras duas partidas do grupo, esperava-se que a formação da RAEM jogasse à defesa, uma estratégia de resto assumida previamente pelo novo seleccionador Chan U Meng. De recordar também a ausência nos convocados de elementos mais influentes, nomeadamente Nicholas Torrão, Edgar Teixeira e Filipe Duarte, antevendo-se ainda maiores dificuldades para a selecção local. No entanto, e apesar da derrota por 2-0 frente a uma formação com andamento muito superior, os comandados de Chan U Meng mostraram-se bastante eficazes a defender, concedendo a posse de bola à selecção da Índia que, apesar de jogar praticamente no meio-campo adversário, poucas ocasiões claras de golo criou na primeira parte, para além de um remate fora da área que embateu com estrondo na trave. Macau perdeu a timidez a partir dos 20 minutos de jogo, procurando causar algum perigo na área adversária, embora sem grande sobressalto. O empate ao intervalo acabou por moralizar a formação da RAEM, acreditando que poderia levar um ponto deste difícil confronto. Carta mágica No entanto, a Índia acabou por lançar um “joker” ao intervalo, com a entrada de Balwant Singh, que acabou por fazer o primeiro golo da partida à passagem do minuto 56, com uma cabeçada sem hipóteses para o guarda-redes Ho Man Fai. A selecção local não baixou os braços e fez entrar o avançado Leong Ka Hang, que se juntou na frente a Leonel Fernandes. O jogou começou a ganhar outro ritmo, com as duas equipas a procurarem marcar, embora com a Índia a manter a mesma toada da primeira parte, pressionando a formação da RAEM que, em contra-ataque, tentava surpreender o adversário. Numa altura em que Índia procurava “matar” o jogo, Leong Ka Hang por pouco que não se isolava, valendo um corte “in extremis” do defesa indiano, estavam decorridos 76 minutos. O lance contagiou a bancada, que não se cansou de apoiar a formação do território, muito por culpa de um grupo de meia dúzia de estrangeiros que impunham bandeiras de Macau e da Irlanda do Norte, chegando mesmo a iniciar uma pequena “hola mexicana” que se “alastrou” na secção onde se encontravam os adeptos locais. Esperava-se que os minutos finais fossem de “tudo ou nada”, numa altura em que mais um avançado (Lucy Lei) se preparava para entrar, mas uma falha defensiva acabou por resultar no segundo golo da Índia, novamente por intermédio de Balwant Singh, deitando por terra as aspirações de um empate para a selecção local. Apesar de pouco ter mostrado a nível ofensivo, como de resto já se esperava, Macau deixou uma imagem bastante positiva no confronto com a Índia, que por certo esperaria ter muito mais facilidades antes desta partida. Uma derrota com sinais positivos para o novo seleccionador da RAEM, que não passou ao lado do público local, que muito aplaudiu a “sua” equipa no final do jogo.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesA marcha dos voluntários [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ecentemente, o jornal China’s People’s Daily publicou uma notícia sobre a nova lei que rege as transmissões do hino nacional chinês, em vigor desde dia 1 deste mês. O jornal avança que a lei pretende assegurar que o hino só se faça ouvir em situações adequadas. A lei proíbe que o hino seja tocado em eventos privados, como funerais, ou que sirva de música de fundo em espaços públicos. Proíbe ainda que o hino seja associado a qualquer tipo de publicidade. Sempre que o hino seja transmitido todos os presentes deverão permanecer de pé em atitude “solene”. A lei também contempla o ensino e a divulgação do cântico. Fica estipulado que deve integrar o programa escolar do ensino primário e secundário. As pessoas são incentivadas a cantá-lo nas ocasiões próprias para “expressar o seu patriotismo”. No continente, os prevaricadores podem ser detidos até 15 dias. A violação a este regulamento pode colocar o faltoso sob a alçada de outras leis. Wu Zeng, director do gabinete jurídico do Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo, declarou, “É uma regra básica que todos os cidadãos terão de respeitar e compreender. Todos têm de saber cantar o hino.” “A Marcha dos Voluntários” é o hino nacional da República Popular da China. O hino foi tocado em Hong Kong por ocasião da passagem de soberania da Grã-Bretanha para a China, em 1997 e, em Macau, quando Portugal devolveu a soberania do território em 1999. Em Hong Kong o hino foi adoptado ao abrigo do Anexo III da Lei Básica da cidade, com efeito a partir de 1 de Julho de 1997. Em Macau, também ao abrigo do Anexo III da Lei Básica local, com efeito a partir de 20 de Dezembro de 1999. Em termos da regulação do uso do hino, a lei de Macau é superior à de Hong Kong. A Lei nº 5 / 1999, que entrou em vigor a 1999-12-20, foca-se nesse aspecto. O Artigo 7 estipula que o hino deve sempre ser tocado de acordo com a pauta e, no Apêndice 4, proíbe-se qualquer alteração à letra. O Artigo 9 adianta que qualquer alteração intencional da letra ou da música representa uma violação à lei, e que o faltoso fica sujeito a uma pena de prisão até três anos ou a uma taxa diária ao longo de 360 dias. Embora na RAEM existam duas línguas oficiais, o chinês e o português, a letra do hino só está imprensa em chinês. Em Hong Kong não existe regulação sobre a transmissão do hino nacional. No entanto, durante certas cerimónias oficiais todas as escolas do governo são obrigadas a tocar e cantar o hino e a hastear a bandeira. É o caso do Dia Nacional da China (1 de Outubro) e do Dia Comemorativo do Estabelecimento da RAEHK (1 Julho). Nas Universidades, durante as cerimónias de graduação o hino é sempre ouvido. A implementação da Lei do Hino Nacional teve grande eco em Hong Kong. A este propósito pudemos ler no “South China Morning Post” no passado dia 30 de Agosto, “O noticiário de Pequim divulgava segunda-feira que o Comité Permanente do CNP vai propor em Outubro, durante a reunião bianual, que esta legislação seja inserida no Anexo III da Lei Básica.” De acordo com o princípio “um país, dois sistemas” a lei nacional chinesa só pode ser extensível à RAEHK se for inserida no Anexo III da Lei Básica de Hong Kong. Algumas leis chinesas foram inseridas no Anexo III, e entraram em vigor a 1 de Julho de 1997, data da transferência de soberania. Foi o caso da legislação referente à bandeira nacional, ao emblema nacional, ao exército chinês e às regulações dos privilégios consulares e imunidade. Se a “Lei do Hino Nacional” for incluída no Anexo III, Hong Kong passará a ter legislação nesta matéria. Funcionará exactamente como o “Regulamento de Hong Kong sobre a Bandeira e o Emblema Nacionais”. O propósito deste Regulamento é a aplicação em Hong Kong das Leis Chinesas referentes à Bandeira e ao Emblema Nacionais. “É obrigação e responsabilidade e do Governo da RAEHK a protecção da dignidade do hino nacional e, na verdade, de todos os cidadãos chineses,” declarou a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que não acredita que neste assunto haja qualquer margem para susceptilidades. Segundo alguns legisladores citados pelo South China Morning Post, a lei contém alguma linguagem pouco clara; por exemplo, o que é que constitui exactamente uma quebra de solenidade? A propósito o repórter, Wu Zeng colocou a seguinte questão, “É ilegal tocar a Marcha dos Voluntários no telemóvel?” A Chefe do Executivo respondeu que não sabia porque nunca tinha lidado com um caso semelhante. É necessário proteger a dignidade do hino nacional e, por isso, a Lei do Hino Nacional deve ser incluída no Anexo III das duas Leis Básicas. Mas, ao contrário de Macau, Hong Kong não tem legislação própria sobre a matéria. O Governo da RAEHK terá de lidar com as questões atrás mencionadas com clareza e com cautela. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Blog: https://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Sofia Margarida Mota Ócios & NegóciosZen by Maquette | Meggie Chiang, proprietária [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]briu há dois meses na Estrada de Lou Lim Yeok, na Taipa. É o Zen by Maquette, um espaço de calma que pretende ter sabores deliciosos e saudáveis. Maquette era o nome do restaurante que Maggie Chiang teve, durante quatro anos, no local onde é agora o Zen. Foi uma altura em que que se dedicou a servir refeições requintadas inspiradas na cozinha francesa e italiana. A ideia que era representada pelo nome Maquette, era a de uma metáfora ao que a proprietária tinha em mente acerca do que era conceber pratos. A Maquette mantém-se mas agora deu lugar ao Zen. O Zen by Maquette abriu há dois meses e simboliza algumas mudanças. “Senti que tinha chegado a uma nova etapa da minha vida e da minha carreira, e que era tempo de fazer um balanço”, conta Maggie Chiang ao HM. O Zen by Maquette foi o resultado e representa “a mudança de ambiente, das pessoas e da própria cultura que Macau vai sofrendo. O novo nome foi escolhido porque evoca o equilíbrio. Inspirado na cultura chinesa do Yin e Yang simboliza “o lugar de equilíbrio em que é possível encontrar paz”. “É também um tipo de filosofia que me faz muito sentido e que integro na vida e que coloco na própria comida”. Na prática, o conceito está em todo o lado do pequeno restaurante da Estrada Lou Lim Yeok. “Na comida tento sempre ter dois aspectos em mente. Por um lado quero que as pessoas sintam que estão a comer algo de delicioso, e por outro quero que esse produto tenha as nutrientes necessários”, começa por dizer a proprietária. Como exemplo, o Zen by Maquette usa o pão de pizza para fazer wraps, mas não é um pão qualquer. “Neste caso, somos nós que fazemos o pão com farinha de trigo integral. Não usamos bacon mas usamos carne e acrescentamos muitos vegetais”, diz. O objectivo é não fazer uma mudança muito radical nos hábitos da população, mas, aos poucos, ir alterando algumas tendências. O mesmo acontece com os doces. Os bolos são feitos numa padaria que pertence a Maggie Chiang e são, diz, saudáveis. Para que não haja enganos, a proprietária apresenta o bolo de chá verde que não tem que manteiga e é feito com claras de ovo. “É uma escolha muito dietética”, aponta. O objectivo, diz, “é fazer refeições que as pessoas possam comer todos os dias. É comida casual mas nutritiva e saudável” Zen em todo o lado O espaço é pequeno, mas iluminado e amplo. A razão é ter sido cuidadosamente pensado tendo em conta a conceito que lhe dá nome. “Quando pensei em Zen, o equilíbrio tinha também de ser sentido no próprio restaurante, além da comida”. Até porque “é também acerca da arte de viver, de se estar em paz”. Para o efeito foi contratado um designer de interiores que ajudasse Meggie Chiang a ter um lugar onde estivessem representados equitativamente os cinco elementos associados à filosofia chinesa. Para a proprietária, esta é a filosofia pela qual rege a vida e que pretende que seja “fonte de calma” para os clientes”. Hábitos mudados Para a Meggia Chiang as pessoas em Macau estão habituadas a comer muita comida de rua. A razão, aponta, é por ser um produto fácil. No entanto, “não é nutritiva, nem saudável”, refere. “Apesar de ainda haver muito a fazer no que respeita a equilíbrios, mesmo na comida, este é um começo”, e é por isso que, considera, os seus produtos são um meio termo, “não são vegan, para não ser radical, mas podem agradar a todos de forma muito saudável”. No Zen by Maquette, os clientes podem “disfrutar de bons produtos e sentirem-se satisfeitos, não só com o sabor mas também com o seu corpo por saberem que lhe fizeram bem”. “Espero que cada vez mais gente possa aproveitar este tipo de satisfação”, sublinha. Com dois meses de trabalho, o balanço é muito positivo. “A maioria dos clientes voltam e temos cada vez mais gente nova e mais famílias. O feedback que temos dos clientes antigos também é bom e até gostam mais desta forma casual de comer do que a mais requintada, do restaurante anterior”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteTimor-Leste | Português condenado fala de incongruências na sentença “Fomos todos enganados” Tiago e a esposa, Fong Fong Guerra, foram condenados a oito anos de prisão pelo tribunal de Timor-Leste pela co-autoria do crime de peculato. Em entrevista, Tiago Guerra diz que há incongruências na sentença e muitas dúvidas sobre o paradeiro do dinheiro que o tribunal afirma estar nas contas do casal. O português, que aguarda a decisão do recurso, fala de entraves na sua defesa [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]erdeu 14 quilos enquanto esteve preso preventivamente em Díli. Tanto ele como a esposa necessitam de ser operados e de tratamento médico que não conseguem ter em Timor-Leste. Do país não podem sai r por terem os passaportes confiscados e estarem sujeitos ao termo de identidade e residência. Os pedidos para que possam procurar ajuda médica no estrangeiro, foram entretanto recusados. Eles são o casal português Tiago e Fong Fong Guerra, que desde 2014 se vêem a braços com um caso na justiça timorense. No passado dia 24 de Agosto foram ambos condenados pelo tribunal a oito anos de prisão pelo crime de co-autoria num caso de peculato, tendo sido absolvidos dos crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos. O tribunal condenou-os ainda ao pagamento de 859 mil dólares. Foram acusados de “prejudicar as finanças e a economia do Estado” de Timor-Leste, por alegadamente se terem apropriado de fundos oriundos da indústria petrolífera, que pertencerão ao país. Tiago Guerra está na fase de recolha de mais provas para sustentar o seu caso. “Estes dias têm sido muito complicados. Somos condenados por um crime que não cometemos e estamos a ver as nossas vidas destruídas”, contou ao HM. Tiago Guerra não faz a mínima ideia de quando será proferida a última de todas as decisões. “Aqui em Díli o tribunal de recurso pode demorar um ano ou dois a apreciar um caso. Aqui há dias houve uma decisão que tinha sido interposta em 2014, ainda estava preso. Pode demorar muito tempo.” O português diz não aceitar a sentença e fala de entraves na apresentação de provas durante a preparação da sua defesa. “A questão mais importante aqui é o direito à defesa. Os juízes tinham dúvidas, e isso está escrito no acórdão, sobre o paradeiro dos fundos. Queríamos chamar as testemunhas que fizeram a transferência, mas foram todas negadas, os juízes indeferiram esses pedidos. Depois tentamos ainda trazer uma testemunha do banco que fez a transferência, mas o pedido também foi indeferido”, contou. O português adiantou que “sem direito à defesa, e sem cumprir os princípios básicos de justiça, tem sido muito complicado pensar em como podemos fazer isto”. “Estamos focados na apresentação do recurso e em garantir que está lá tudo”, acrescentou. Onde está o dinheiro? Em 2011, Tiago Guerra detinha a Olive Unipessoal, uma empresa sediada em Timor-Leste, a partir da qual efectuava negócios e recebia pagamentos por trabalhos de contabilidade, consultoria e auditoria. Desde 2010 que Fong Fong Guerra, a sua esposa, detinha em Macau uma outra empresa, a Olive Consultancy. Segundo Tiago Guerra, foi esta empresa que serviu como intermediária no pagamento de 860 mil dólares norte-americanos entre uma sociedade de advogados norueguesa, em representação de uma empresa, a uma outra empresa norte-americana. O pagamento, feito através de um contrato de agente depositário (contrato escrow), foi feito a convite de Bobby Boye, nigeriano com nacionalidade americana. Esse contrato valeu à Olive Consultancy o pagamento de dez mil dólares americanos, sendo que, a partir da transferência do dinheiro para os Estados Unidos, Tiago Guerra assume nunca mais ter tido contacto com Bobby Boye. Boye, que chegou a desempenhar funções como assessor do Estado timorense no sector do petróleo, cumpre hoje pena nos Estados Unidos pela prática de vários crimes financeiros. Tiago Guerra fala das diversas incongruências que encontrou na leitura da sentença que o condenou a si e à sua esposa, relativas ao paradeiro do dinheiro. “Os juízes dizem que o dinheiro (860 mil dólares) foi enviado e saiu da conta, como ficou provado graças aos peritos do Banco Central, mas depois dizem que está em parte incerta. Há uma terceira afirmação de que o dinheiro está nas nossas contas em Macau. Quando têm estas dúvidas, penso que o principio da defesa não está a ser respeitado.” Para descobrir o rasto do dinheiro, as autoridades timorenses enviaram cartas rogatórias, a pedir diligências e informações, às autoridades de Macau. “Pediram cartas com informações sobre nós, e foi enviado um resumo, assinado pela Polícia Judiciária e Interpol, de todas as contas bancárias em nosso nome. O saldo de todas essas contas dá pouco mais de seis mil dólares. Dizem que estão congelados 860 mil dólares? Nessa altura estava preso, não tive nada a ver com esse pedido. [As autoridades timorenses] ignoraram todas essas informações”, clarificou Tiago Guerra. O português, que foi condenado por alegadamente ter transferido dinheiro que pertence aos cofres públicos de Timor-Leste, afirma ainda que a sentença que ouviu não dá certezas sobre se os 860 mil dólares pertencem, de facto, ao país. “As autoridades dizem que o dinheiro que foi transferido para a nossa conta lhes pertencia, mas essa é outra questão. Isso não ficou provado em tribunal. A lei diz que os pagamentos de quaisquer receitas do petróleo devem ser feitos directamente ao fundo soberano, que pertence ao Estado timorense e cuja conta está na Reserva Federal em Nova Iorque. Estamos a falar de um banco dessa dimensão”, referiu. Tiago Guerra questiona: “a partir do momento em que o dinheiro não foi transferido para lá, alguém pensa que pertence ao Estado timorense?” O português assegura que, quando fez a transferência do montante, em 2011, jamais poderia imaginar que esse dinheiro pertencia a Timor-Leste. “Só em Dezembro de 2016, quando tivemos acesso aos autos, vimos que o dinheiro está em disputa entre a empresa norueguesa e o Estado timorense. Até então não tínhamos a mínima ideia de que o dinheiro poderia pertencer a Timor e muito menos que viesse dos impostos [da indústria petrolífera].” Alguma ingenuidade Tiago Guerra, licenciado em engenharia e com carreira feita na área das telecomunicações, chegou a Timor-Leste em 2010, depois de ter passado pelo Brasil e pela China. Trazia na bagagem uma proposta para abrir a Digicel, empresa irlandesa, em Timor-Leste, projecto que falhou. “A empresa contratou-me para começar uma empresa de operações de telecomunicações, e quando cheguei não havia uma licença nem a legislação que permitisse ter a licença. Não havia nada.” Na cabeça do casal Guerra começou a pensar-se a ida para Macau, e foi nessa altura que foi criada a Olive Consultancy. A ideia era colocarem os filhos na Escola Portuguesa de Macau, onde tinham uma reunião agendada que nunca chegou a acontecer, devido ao facto de terem sido detidos no aeroporto de Díli dois dias antes. A ligação do casal Guerra com Bobby Boye surgiu pelo facto de serem vizinhos. “Houve a necessidade de um agente depositário e na altura Boye era uma pessoa bem vista aqui. Sei que entretanto fomos todos enganados e ludibriados por ele. Na altura tinha uma óptima reputação aqui, eu diria que era o assessor mais visível em Timor-Leste. Era recebido por todos os ministros. Quando recebemos esta proposta decidimos avançar”, lembrou Tiago Guerra. Hoje o português não tem duvidas de que foi algo ingénuo na hora de aceitar este contrato. “Nunca pensei que alguém pudesse ser assim. Éramos vizinhos, quando cheguei a Díli a casa dele era mesmo ao lado da minha. Agora sabemos que é criminoso, está a cumprir a pena, e que já tinha estado antes na prisão. Mesmo assim conseguiu ser escolhido no processo de contratação de um assessor internacional.” Tiago Guerra frisa ainda não compreender como é que o tribunal timorense nunca notificou Bobby Boye como co-arguido no crime de peculato. “Não sei como é que estou a ser condenado de ser co-autor de um crime de peculato, quando o autor do crime nem sequer foi notificado pelas autoridades. Está a cumprir pena nos Estados Unidos e são conhecidas todas as informações sobre ele. Dizem que não o conseguem encontrar? Essa informação é difícil de aceitar”, remata.
João Luz PolíticaNova Esperança | Pereira Coutinho pede compensação pecuniária extra A Nova Esperança apresentou o seu programa político, reciclando algumas ideias já apresentadas no passado. Pereira Coutinho, o último candidato português com hipótese de ser eleito, sugere uma compensação extra de 9 mil patacas e o aumento para 12 mil do cheque anual no próximo ano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cabeça de lista da Nova Esperança é o último bastião da presença da língua portuguesa no hemiciclo. Na apresentação do seu programa eleitoral, José Pereira Coutinho sugeriu uma compensação pecuniária extra de 9 mil patacas ao cheque anual para suprir a devastação resultante da passagem do tufão Hato por Macau. Além disso, o português propõe o aumento do valor do dito cheque pecuniário para 12 mil patacas anuais. Pereira Coutinho começou por analisar os programas das outras listas, tendo salientado que muito do conteúdo programático dos concorrentes é de cariz executivo e que se “cingem à política de oposição”. “Não estamos a concorrer para governar, mas para ocupar um lugar de deputado da Assembleia Legislativa (AL), as pessoas não têm noção o que é ser deputado em Macau”, explica. O líder da lista da Nova Esperança entende que a falta de um órgão semelhante aos conselhos distritais que existem em Hong Kong leva a que os deputados tenham de lidar com muitos aspectos práticos que extravasam as suas incumbências atribuídas pela Lei Básica. “É importante que haja no futuro órgãos municipais eleitos pela via directa que resolvam os problemas dos cidadãos para que não caia tudo nos ombros dos deputados”, refere o candidato. Esta é a quarta vez que Pereira Coutinho concorre ao lugar de deputado da AL e admite que tem vindo a repetir os mesmos pontos do programa, aliás, assim como os seus adversários de campanha. “Voltamos a bater na mesma tecla: Habitação, saúde, transportes, qualidade educativa, é tudo muito repetitivo o que significa que a AL não dá conta do recado quanto à consolidação das políticas do Governo”. Último reduto Pereira Coutinho lamenta que é uma pena que o Executivo funcione numa base reactiva. “No ano passado tivemos um tufão, é repetitivo, mas é preciso uma calamidade que resulte em mortes para que o Governe ande”, comenta. O líder da Nova Esperança pode ser o último deputado português a ser eleito para a AL. Pereira Coutinho tem repetido várias vezes que a língua portuguesa é destratada pelo Governo de Macau. “Até hoje, o Governo não implementou o Artigo 42 da Lei Básica, nomeadamente para a protecção dos interesses e das maneiras de viver da comunidade portuguesa cá de Macau”, comenta. O candidato aponta a falta de regulamentação que dê força prática ao preceito da Lei Básica, num território onde quem tem de ir aos “serviços públicos não tem quase ninguém que conheça a língua portuguesa”. No mesmo capítulo, o candidato da Nova Esperança defende o ensino generalizado da língua de Camões nas escolhas públicas e privadas do ensino básico. Por outro lado, o português entende que os próprios funcionários públicos lusos devem ter cursos de mandarim e cantonês. O candidato acrescenta ainda que vai lutar pela construção de mais 80 mil casas de habitação pública e pelo aumento dos vales de saúde de 600 patacas para 1000 patacas. Outra das preocupações de Pereira Coutinho prende-se com a falta de Lei Sindical no ordenamento jurídico de Macau. O candidato lamenta que uma lei deste teor não passe e que seja apenas ele o proponente deste tipo de diploma. Aliás, o Pereira Coutinho questiona-se mesmo porque não são apresentados por outros deputados os projectos de lei que regulem a questão sindical. O líder da Nova Esperança entende que se deve eliminar o despedimento sem justa causa previsto na lei das relação de trabalho.
Victor Ng PolíticaEleições 2017 | Lista Poder de Sinergia quer melhor planeamento das zonas costeiras A lista do Poder da Sinergia dá no seu programa político atenção às questões do trânsito, habitação, transparência do Governo e diversidade económica. Porém, um dos principais cavalos de batalha da lista liderada por Lam U Tou é o acesso da população às zonas costeiras de Macau [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e acordo com o líder da lista da Poder da Sinergia, Lam U Tou, os cidadãos de Macau têm cada vez menor acesso às zonas costeiras, uma circunstância que tem piorado na última década, de acordo com o candidato. O cabeça da lista 15 refere no seu programa político que os residentes têm cada vez menos possibilidades de lazer nas zonas costeiras. Como tal, Lam U Tou sugere que se tome a zona sul da península de Macau como ponto de partida para se iniciar o planeamento da costa. Um local que, de acordo com o candidato, reúne as condições adequadas e que já tem estudos feitos. No que diz respeito ao trânsito, o programa político de Lam U Tou sugere que sejam dadas mais opções de deslocação aos cidadãos, acima de tudo na época alta do turismo, que permita a utilização de automóveis privados. Como tal, o candidato sugere que o Governo melhore as condições das zonas pedonais, assim como fomentar a disponibilização de autocarros que façam roteiros de “ponto a ponto”. Além disso, o candidato da lista do Poder da Sinergia sugere o ajustamento das taxas cobradas aos auto-silos públicos tendo por base a taxa de ocupação. Melhorar a qualidade No capítulo da habitação, Lam U Tou garante que pretende fomentar políticas de curto, médio e longo prazo, nomeadamente o combate à especulação imobiliária e o melhor aproveitamento dos terrenos recuperados. O programa do Poder da Sinergia destaca ainda a importância de renovação urbana dos bairros antigos. A lista encabeçada por Lam U Tou destaca o aumento da qualidade dos serviços públicos desde a transferência. Ainda assim, o programa político refere que o Executivo pode melhorar a funcionalidade da máquina pública com o aumento da responsabilização dos funcionários públicos e a transparência. O programa da lista do Poder da Sinergia tem ainda conteúdos referentes à protecção ambiental, educação, serviços de saúde, benefícios sociais, preservação do património cultural, desporto e fomento na democracia.
Hoje Macau PolíticaEleições 2017 | Aliança do Bom Lar apresentou programa político [dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]ong Kit Cheng, deputada estreante em 2013, é novamente candidata pela lista Aliança do Bom Lar. Segundo o jornal Ou Mun, o programa político dá especial destaque às políticas que são necessárias para as crianças, famílias, idosos e grupos sociais mais vulneráveis, sem esquecer os jovens. A Aliança do Bom Lar quer um aumento máximo de dez mil patacas para o subsídio de maternidade, para que as mulheres tenham menos pressões económicas na hora de engravidar. Este valor foi calculado com base na média salarial, actualmente situada nas 15 mil patacas. Wong Kit Cheng pede ainda o aumento dos dias de licença de maternidade, bem como a concessão de serviços gratuitos de diagnóstico para doentes com cancro da mama. A lista pede ainda que seja implementada uma licença de paternidade de cinco dias, sem esquecer a necessidade de regulamentar o sector das empregadas domésticas. Wong Kit Cheng pede ainda que seja garantido uma atribuição suficiente de casas públicas e mais políticas para quem deseja comprar a primeira habitação. Problemas que não acabam Na sessão de apresentação do programa político, Wong Kit Cheng referiu que, durante os quatro anos em que foi deputada na Assembleia Legislativa (AL), recebeu mais de quatro mil pedidos de apoio. A situação fê-la descobrir que existem muitos problemas na sociedade, tal como a necessidade de assegurar habitação pública para todos, saúde e emprego. Loi Yi Weng, número dois da lista, promete que, caso seja eleita, vai fomentar a melhoria da qualidade do ensino, promover o aumento dos espaços educativos e lutar pela celeridade do projecto “Obra de Céu Azul”, que visa tirar as escolas dos pódios dos edifícios residenciais.