Amnistia denuncia papel da Shell em crimes cometidos na Nigéria

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Amnistia Internacional instou ontem a Nigéria, o Reino Unido e a Holanda a investigarem o envolvimento da gigante petrolífera Shell em assassínios, violações e tortura cometidos pelo regime militar nigeriano na região de Ogoniland, na década de 1990. Num relatório ontem divulgado, intitulado “Uma Iniciativa Criminosa – O envolvimento da Shell na violação de direitos humanos na Nigéria dos anos 1990” e assente em documentos internos da empresa anglo-holandesa, a Amnistia Internacional (AI) sustenta que essas e outras provas apontam para “a cumplicidade da Shell numa vaga de crimes atrozes cometidos pelo Governo militar nigeriano nos anos 1990”.

O relatório da organização não-governamental de defesa dos direitos humanos inclui não só uma análise sem precedentes de milhares de páginas de documentos internos da companhia petrolífera e de depoimentos de testemunhas, como o próprio arquivo da AI correspondente a esse período.

Segundo a Amnistia, a campanha levada a cabo pelo regime militar da Nigéria para silenciar os protestos dos Ogonis contra a poluição causada pela Shell levou a “graves e generalizadas violações dos direitos humanos, constituindo muitas delas crimes”. “As provas que vimos mostram que a Shell repetidamente encorajou o exército nigeriano a arranjar uma solução para os protestos da comunidade, mesmo sabendo o horror a que isso conduziria – massacres ilegais, violações, tortura, o incêndio de aldeias”, declarou a diretora de Assuntos Globais da AI, Audrey Gaughran.

Segundo a responsável, “durante essa brutal ofensiva, a Shell até forneceu aos militares apoio material, incluindo transporte, e pelo menos num caso pagou a um comandante militar conhecido por violar os direitos humanos”. “Que a empresa nunca tenha respondido por isso é escandaloso, [porque] é inquestionável que a Shell desempenhou um papel fundamental nos devastadores acontecimentos ocorridos em Ogoniland nos anos 1990 – mas agora acreditamos que há matéria para uma investigação criminal”, defendeu. A Shell sempre negou qualquer envolvimento nas violações de direitos humanos, mas nunca houve uma investigação sobre essas acusações.

29 Nov 2017

Papa Francisco na Birmânia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] papa reuniu-se ontem com um grupo de 17 líderes, representantes das diferentes religiões presentes na Birmânia e instou-os a defender a sua identidade, a não terem medo da diferença e a “não se deixarem colonizar”. Num país onde 90% da população é budista, mas com 135 etnias reconhecidas e a presença de várias confissões, Francisco quis manter uma reunião com os seus representantes. O encontro com os líderes budistas, islâmicos, hindus, judeus, anglicanos e católicos birmaneses durou 40 minutos e usou da palavra o bispo John Hssane Hgyi, seguido dos diferentes representantes, informou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke. No seu discurso, Francisco falou em espanhol e recordou que “é bonito ver os irmãos reunidos”, mas, acrescentou, “unidos não quer dizer iguais, a unidade não é uniformidade”.

O sumo pontífice lamentou que se esteja a assistir a “uma tendência para a uniformidade”, que definiu como “uma colonização cultural”. “Cada um tem os seus valores, as suas riquezas, e também as suas deficiências. E cada confissão tem as suas tradições, as suas riquezas. E isto apenas pode acontecer se vivermos em paz”, disse. “A paz constrói-se no coro das diferenças. A unidade acontece sempre na diversidade”, segundo o texto do discurso, proporcionado pelo gabinete de imprensa do Vaticano. Jorge Bergoglio instou os líderes birmaneses a “entender a riqueza das diferenças étnicas, religiosas e populares” que representam. “Não tenhamos medo das diferenças (…) Construam a paz e não se deixam igualar pela colonização”, disse. Após a reunião, Francisco reuniu-se em privado com o líder budista, Sitagu Sayadaw, a quem disse que a única via para alcançar a paz é a convivência entre irmãos.

Respeito por todos

O papa Francisco considerou, ainda ontem, que o futuro da Birmânia passa pelo “respeito por todos os grupos étnicos”, após a dirigente Aung San Suu Kyi se ter comprometido a proteger os direitos e a promover a tolerância “para todos”. Num discurso diante das autoridades civis da Birmânia na capital administrativa, Naypyidaw, Francisco considerou que o futuro do país passa pela paz, fundada “no respeito por todos os grupos étnicos e pela sua identidade”, numa alusão à minoria muçulmana dos rohingya, que não nomeou.

Antes, a líder do governo birmanês e prémio Nobel da Paz tinha declarado que o objetivo do governo é “destacar e reforçar a beleza da diversidade” da Birmânia “protegendo os direitos, promovendo a tolerância e garantindo a segurança para todos”.

No seu segundo dia de visita à Birmânia, o papa evitou mais uma vez utilizar a palavra rohingya, como foi aconselhado, para evitar um eventual incidente diplomático e religioso. Francisco pediu “respeito pelo Estado de direito e por uma ordem democrática que permita a cada indivíduo e a cada grupo – sem excluir ninguém – dar a sua contribuição legítima para o bem comum”.

Falando igualmente diante do presidente birmanês, Htin Kyaw, com quem se encontrou em privado antes, juntamente com Aung San Suu Kyi, o papa defendeu que as comunidades religiosas do país “têm um papel privilegiado a desempenhar na grande tarefa de reconciliação e integração nacional”. “As diferenças religiosas não devem ser uma fonte de divisão e desconfiança, mas um impulso para a unidade, o perdão, a tolerância e uma sábia construção da nação”, adiantou. Francisco insistiu que as religiões “podem contribuir também para erradicar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, buscar a justiça e ser uma voz profética em favor daqueles que sofrem”.

29 Nov 2017

Food Tailor’s | Nutrição em cada prato

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rês sócios decidiram juntar-se para responder à crescente preocupação por comer melhor e de forma mais saudável. O projecto Food Tailor’s apresenta pratos equilibrados em termos de calorias e nutrientes, adaptados às necessidades de todas as pessoas, das mais sedentárias às mais atléticas.

Para comer bem não basta ingerir mais frutas e legumes e reduzir os hidratos de carbono. No reino das dietas cada caloria conta, mas o projecto Food Tailor’s quer ir além disso e introduzir uma forma de comer mais saudável e sem grandes restrições, onde tudo é contabilizado de forma equilibrada.

António Vale da Conceição juntou-se a António Barrias e a Amanda Ho para criar um novo negócio de comida saudável. Tudo começou nos ginásios de Crossfit, quando perceberam que, depois da prática desportiva, faltavam respostas a nível nutricional.

“Vimos que havia uma necessidade muito grande e uma preocupação geral acerca da saúde e do impacto que a vida do dia-a-dia tem na nossa saúde. Havia uma necessidade dos nossos membros de encontrarem alternativas saudáveis, não só na forma de cozinhar mas nas proporções [de comida]”, contou António Vale da Conceição ao HM.

O Food Tailor’s não é um restaurante e cabe a cada cliente encomendar os pratos através do website. O pagamento é feito em mãos no “laboratório”, ou seja, um espaço onde funciona a cozinha do Food Tailor’s e onde se entregam as encomendas todas as terças-feiras e sábados.

“Neste momento oferecemos uma variedade de pratos com duas doses, uma pequena e uma maior, com valores calóricos num quadro muito saudável e considerado necessário para o dia-a-dia.”

No caso do cliente ter alergia a algum alimento ou ter determinados gostos, pode informar os fundadores do Food Tailor’s que estes vão procurar alternativas, através da substituição deste ou daquele alimento, ou através de outras formas de cozinhar os alimentos.

A ideia partiu de António Barrias, que, além de ter trazido a prática do Crossfit para Macau, tem também formação em nutrição. “Temos uma fórmula avançada por ele. Este tipo de comida não é só para atletas, mas sim para todo o tipo de pessoas que querem mudar. É sempre difícil fazer dietas que não sejam chatas e esse foi um desafio a que viemos responder. Não é preciso deixar de comer ou comer sem graças.”

Avaliar nutrientes

Ao consultar o menu, cada pessoa poderá ver especificamente as calorias e os nutrientes daquilo que está a pedir. Essa é a grande diferença introduzida pelo Food Tailor’s, garante António Vale da Conceição.

“Trazemos uma fórmula inventada pelo António [Barrias] e trabalhada por ele ao longo destes anos, que obedece a uma lógica de nutrição olímpica. É baseado em princípios nutritivos que são aplicados a atletas, mas uma pessoa normal precisará também deles, mas em proporções diferentes.”

“O que nos diferencia muito é esta fórmula, a medida dos macros nutrientes e a contagem que cada um dos pratos contém. É super específico, não contamos apenas as calorias mas o seu género e a qualidade. Fazemos o cálculo destes alimentos antes e depois de cozinhados”, acrescentou António Vale da Conceição.

Sucesso no arranque

A crescer ainda em velocidade de “cruzeiro”, o Food Tailor’s está à espera de uma maior expansão no mercado e de facilitar o acesso dos clientes à comida que encomendam online.

“Em cerca de 25 dias de operação temos tido mais de 150 pedidos, o que tem sido bom. Temos também mantido uma base de clientes bastante leais que têm regressado.”

A criação de um sistema de entregas no escritório ou na casa de cada um está para breve, garantiu António Vale da Conceição.

“Queremos crescer como negócio e trazer a Macau um tipo de lógica de alimentação saudável e que isso possa criar uma maior exigência ao consumidor. No futuro próximo queremos fazer com que seja mais fácil aceder à nossa comida e ao nosso serviço e, portanto, teremos um serviço de entregas muito em breve.”

29 Nov 2017

Critérios de avaliação

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início deste mês os jornais falaram sobre a história de Julie Yu Hung-hsua, uma professora universitária reformada que, nos últimos três anos, tem tentado processar a Universidade de Hong Kong. Julie desencadeou este processo porque a Universidade atribuiu mestrados a quatro estudantes que ela tinha chumbado. O processo tem desgastado financeiramente a antiga professora.

Em 2014, Julie Yu chumbou quatro estudantes de mestrado, mas após recurso, um painel da Universidade reverteu a decisão da docente. Os alunos tinham obtido a classificação D+ no curso de marketing, uma avaliação feita a partir de trabalhos práticos e teóricos.

Na altura, em resposta às queixas dos estudantes, a professora fundamentou a sua decisão a partir de uma tabela que mostrava a assiduidade e participação nas aulas. Descontentes, os jovens recorreram ao conselho universitário.

Dois meses mais tarde, Yu foi informada que um painel constituído por três membros tinha subido as classificações de D+ para C. A professora afirma que o painel se recusou a justificar a decisão e que apenas comunicou com ela uma vez por mail. No email interrogavam-na sobre o seu sistema de classificação e sobre a clareza com que tinha passado a mensagem aos estudantes.

Depois de ter sido informada da subida das notas, Julie Yu apresentou uma reclamação por escrito à Universidade. Na resposta podia ler-se que a decisão estava tomada e que era irreversível.

Em Abril de 2015, crente no seu “inalienável direito a ser informada e ouvida”, a professora lançou um processo judicial contra a “ilógica, irracional, inconsistente e arbitrária” decisão do painel.

Em Julho de 2017, o Tribunal de Último Recurso recusou o apelo contra a rejeição do caso, tomada pelo Tribunal de Primeira Instância. A rejeição tinha por base a natureza académica do processo e a demora na sua instauração. O Tribunal tem um período de retroactividade de apenas três meses.

Do ponto de vista académico, podemos afirmar que o professor tem o direito inalienável de ser informado e ouvido sobre todas as matérias que dizem respeito ao exercício da sua função. Não existe nenhum motivo para que uma decisão deste foro seja alterada por outrem e, que para além disso, o professor não tenha sido informado das alterações e dos seus motivos. Se não existe um mecanismo legal que permita levar estes casos a Tribunal, porque é que não o criamos? Se deixarmos este tipo de coisas em segredo, não favorecemos a imagem das Universidades, nem das empresas privadas. São situações que afectam a Gestão de Pessoal, no que respeita ao cumprimento do dever dos funcionários, se tomarmos em conta os padrões que lhes são exigidos. Não se pode alterar esses padrões sem uma razão válida.

Mas voltemos a analisar as notícias sobre este caso. Pelo que foi dito, podemos verificar que a assiduidade e a participação contam para a avaliação. Numa cadeira obrigatória, como era o caso, a “Assiduidade” é um critério implícito. Não se pode atribuir notas a alunos que não comparecem às aulas. Mas, por vezes, este critério de classificação traz algumas dificuldades. Por exemplo, numa aula de três horas, se o aluno só estiver presente durante uma hora terá direito a um terço da pontuação?

E se o aluno estiver presente de corpo, mas ausente de espírito, digamos porque adormeceu ou está a sonhar acordado, como é que o professor o há-de classificar?

A “Participação” é outro critério de classificação. De uma forma geral, os professores preparam exercícios para as aulas, por exemplo, apresentações orais, discussões de tópicos específicos, etc. Imaginemos que quando estamos a falar de participação nos referimos a uma “apresentação oral”. Volta a apresentar-se-nos uma dificuldade. As notas serão atribuídas aos alunos porque eles fazem apresentações, ou porque fazem boas apresentações? Se o único critério for a “Apresentação” a nota ser-lhes-á atribuída quer o desempenho seja bom ou mau. Se o critério for o desempenho, as notas dependem da qualidade do trabalho. Como as notícias não foram específicas neste ponto, não podemos acrescentar mais nada à discussão.

Seja como for, estes quatro estudantes tiveram sorte porque depois do recurso viram as suas notas passar de D+ para C. A Universidade poderá ter tido as suas razões para subir as notas, mas nós nunca o saberemos. Mas, a bem das boas práticas universitárias, seria preferível tornar públicas essas razões.

Ensinar é uma arte e tudo depende da relação entre o professor e os alunos. Se os critérios de classificação forem suficientemente claros, e houver boa comunicação, a maior parte das dificuldades são superadas. Este tipo de informação deve ser feita por escrito e mais tarde lida em aula, para se ter a certeza de que todos os alunos a recebem. Também é aconselhável ir lembrando os alunos dos critérios de classificação. Evita que algum deles venha a dizer,

“Esqueci-me, desculpe.”

Recorrer aos Tribunais para resolver disputas académicas não é a melhor solução. Ficam todos a perder, a Universidade, o professor e os alunos. Se não houver harmonia, o professor não quer trabalhar na Universidade e o estudante não quer ter aulas com professor. Não é bom para ninguém.

29 Nov 2017

Fórmula E : Hong Kong acelera este fim-de-semana

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas semanas depois do 64º Grande Prémio de Macau, no próximo fim-de-semana será a vez dos nossos vizinhos de Hong Kong organizarem o seu evento de automobilismo: o “Hong Kong ePrix”. Com mão de um arquitecto português, que deu uns retoques no circuito de Central.

A quarta temporada do Campeonato do Mundo FIA de Fórmula E, para carros eléctricos, arranca novamente aqui ao lado, num duplo evento que se divide pelos dias 2 e 3 de Dezembro, a disputar na zona do porto, tendo como pano de fundo os arranha-céus que dominam aquela parte do território. Com uma extensão de 1,86 km, o percurso desenha-se ao longo da Lung Wo Road, Man Yiu Street e Yiu Sing Street, naquela que será a segunda edição da prova.

A novidade para este ano é que as duas corridas vão cobrir distâncias diferentes (43 e 45 voltas) de forma a incluir um novo elemento estratégico de corrida, apesar da paragem nas boxes obrigatória para troca de carro, visto que as baterias ainda não aguentam uma corrida inteira, continuar em vigor.

Ao contrário do Grande Prémio de Macau, que tem várias corridas e categorias divididas por quatro dias do evento, o “Hong Kong ePrix” tem apenas duas corridas, uma no sábado e outra no domingo.

Com um orçamento aproximado superior a 150 milhões de Hong Kong dólares, este evento que era um velho sonho da Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), já é uma bandeira do turismo do território vizinho.

Com a mobilidade eléctrica a ganhar preponderância na indústria automóvel, o interesse dos grandes automóveis pela Fórmula E tem crescido. Audi, Jaguar, Mahindra, Renault e o Grupo Peugeot-Citroen já estão representadas oficialmente na Fórmula E, enquanto que a BMW, Mercedes-Benz, Nissan (no lugar da Renault) e Porsche irão juntar-se à festa nas duas próximas temporadas.

A temporada 2017/2018 da Fórmula E, competição que só corre em traçados citadinos, vai também passar por grandes cidades mundiais, como Nova Iorque, Montreal, Roma, Berlim ou Paris, estreando-se no universo lusófono, em São Paulo, e em Zurique, naquela que será a primeira prova de automobilismo de circuito na Suíça depois de sessenta anos de proibição.

 

Mãozinha portuguesa

O circuito de Hong Kong foi gizado pelo arquitecto português Rodrigo Nunes e mantém-se praticamente inalterado em relação à temporada passada, excepto no desenho da chicane entre as Curvas 3 e 4, a zona mais rápida da pista onde os pilotos poderão alcançar velocidades até aos 200 km/h.

“Fizemos alterações no desenho e construção da chicane e da curva 1. Tudo o resto irá manter-se como na primeira edição”, explicou o arquitecto português ao HM. “A chicane do ano passado tinha uma abordagem mais rápida do que tentamos por norma fazer devido a condicionalismos do local e do projecto. Este ano vamos fazer um movimento mais acentuado, obrigando os pilotos a travar mais cedo e por conseguinte entrar mais devagar. A definição do apex também será construído com a utilização de correctores integrados em maciços de betão o que irá obrigar os pilotos a cumprir com os limites do traçado.”

Relativamente à curva 1, esta será também alvo de uma reformulação ao nível do seu desenho, “na medida em que o raio interior irá ser reduzido consideravelmente dando mais espaço para os carros e consequentemente dando mais opções para os pilotos abordarem a curva. A construção será com o mesmo sistema de correctores integrados.”

Apesar de se queixarem das ondulações do asfalto e da sujidade da pista, este é um dos traçados favoritos dos pilotos.

 

Félix da Costa confiante

O campeonato Fórmula E reúne um leque de pilotos de luxo, alguns deles ex-Fórmula 1 e outros caras bem conhecidas do Grande Prémio de Macau, como o campeão Lucas di Grassi, Felix Rosenqvist, Edoardo Mortara ou Maro Engel. Outras das cara conhecidas do campeonato é António Félix da Costa, o único piloto português que venceu o Grande Prémio de Macau por duas ocasiões. O piloto de Cascais quer iniciar a temporada com o pé direito e está satisfeito por regressar à ex-colónia britânica.

“A cidade de Hong Kong é espectacular, é um lugar muito porreiro para começar a época. É fantástico estar de volta. Eu tenho muito carinho pela área de Hong Kong porque Macau é tão próximo e traz-me muitas boas memórias”, afirma o piloto que a BMW Motorsport emprestará novamente esta época 2017/2018 à MS&AD Andretti.

Depois de uma temporada 2016/2017 bastante complicada, dada à falta de competitividade dos monolugares da equipa norte-americana e onde só pontuou na prova de abertura em Hong Kong, Félix da Costa acredita que esta época será melhor, até porque a BMW colocou uma série de engenheiros ao serviço da formação do clã Andretti.

“Foi uma boa pré-época com a equipa MS&AD Andretti, todos temos trabalhado bem em conjunto e acredito que temos um futuro brilhante à nossa frente. Precisamos de abordar a temporada quatro com a força máxima e temos que nos comportar como uma equipa a sério. Veremos o que conseguiremos”, diz o português.

Para ver as corridas da Fórmula E em Macau terá que sintonizar na FOX Sports que continua a deter os direitos de transmissão televisivas do campeonato.

29 Nov 2017

A informação vale dinheiro

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om tantos casos de abuso sexual infantil estampados nas primeiras páginas dos jornais da RPC, este título, tirado da frase que encabeça o cartaz do filme Os Anjos Vestem de Branco《嘉年华, parece-me um tanto ao quanto de mau gosto. O filme estreou a semana passada nas salas de cinema chinesas.

Os Anjos Vestem de Branco conta também a história de um caso de abuso sexual infantil. Não foi por coincidência que o filme estreou nesta altura, mas sim por sentido de oportunidade. Também não é um truque de marketing.

As protagonistas são duas raparigas. Wen, de 12 anos, é uma das vítimas. Mia, de 15, é apenas a testemunha ocular. Quando este crime aconteceu, Mia trabalhava ilegalmente na recepção de um motel. Durante a tarde, um homem de meia idade deu entrada no motel. Mais tarde ela viu o homem empurrar duas rapariguinhas para o quarto. Na manhã seguinte, as duas raparigas foram para a escola.

Contudo, dias mais tarde, Xinxin, uma das duas crianças, conta à mãe tudo o que se passou. As meninas, Wen e Xinxin, são submetidas a exames ginecológicos e de seguida a polícia local dá andamento ao processo. Mas como o suspeito se recusa a declarar-se culpado, a chave para resolver o crime é Mia, que poderá testemunhar que o viu entrar no quarto com as meninas.

No entanto, se Mia testemunhar vai chamar a atenção para o facto de estar a trabalhar ilegalmente, o que obviamente lhe irá trazer uma série de problemas. Mas ficar calada também não é opção. Ajudar os outros faz parte da natureza de Mia, mesmo quando isso a põe em risco.

Nesta altura Mia toma uma decisão. Vai ajudar as vítimas contando tudo o que sabe, mas também se vai ajudar a si própria, porque vai vender a informação. Mas agora surge um perigo ainda maior. E surge na forma de um carro que persegue Mia durante a noite, com os máximos ligados. Mia pode ter sido apanhada na teia do submundo que habita a cidade…

O filme não aborda a violência, nem o “estado de direito”, nem a justiça na RPC. A realizadora, Vivian Wu, está interessada em explorar o lado obscuro desta cidade do litoral virada para o turismo. O estilo documental que a realizadora adopta revela uma visão frontal e corajosa.

Boa parte do filme mostra-nos retratos de mulheres complexas, mas sobretudo não convencionais, que fazem escolhas imprevisíveis. A história também nos leva a certos locais do submundo desta cidade, onde a corrupção não conhece limites.

29 Nov 2017

À queima-roupa

Horta Seca, Lisboa, 16 Novembro

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram cinquenta e duas as vezes que me sentei a olhar para os dias como se merecessem a pena, as penas. Quando o Carlos [Morais José] me convidou, logo ali à mesa me arrependi. Acabava de aceitar mais um afazer, de hora marcada, outra linha que ameaçava morte, ainda que fosse a de cada dia, daquelas que nos desfazem em desculpas. Ando feito num oito, às voltas com o tempo, que nunca soube gerir, percebo melhor agora graças a este «diário». A preguiça já não se chega a mim, pelo menos sem culpa. Para quê complicar mais? Achei que o demovia com a ideia do diário de um editor – se nem o livro interessa, quanto mais quem o ergue? O Carlos revelou-se temerário ou perdulário, à irónica maneira de um editor. Ano volvido, a cadência da crónica não deixa de perturbar a agenda, a julgar pelos plins de e-mails por responder, das chamadas não atendidas, dos sms que piscam, além das interrupções em contínuo, das travagens bruscas, das multas por excesso, das brigas domésticas, dos prazos perdidos, das cobranças difíceis. Mas a paragem obrigatória acrescenta perna, ampara que nem bengala. Os cinquenta e dois espelhos (semanas ou anos?) raramente me devolveram imagem nítida, nem sei se esticaram a pele prometida na primeira vez. Aliás, a infância explica-nos que as primeiras jamais se repetem, serão sempre segundas e sucessivas, em escada que pode subir ou descer. Ainda assim, o exercício dá-me jeito, ajuda a adivinhar o passado. E a t(r)emer o futuro.

 

Casa da Imprensa, Lisboa, 20 Novembro

Indispensável na geometria social do livro, o cerimonial do lançamento esgota-se, demasiadas vezes, na inutilidade do cumprir calendário, entalado entre a soberana indiferença dos media e a distracção dos interessados. Quando acontece de facto, há uma fresca verdade na primeva e disseminadora leitura do apresentador, e outra mais pesada no porte do autor sofrendo efeitos das presenças e opiniões. Não desprezemos, contudo, a potência dos detalhes significativos. Nesta vez do António [Araújo], que crepusculou agitado, nervoso, saudando pelo nome e em alta voz cada um dos que iam chegando, deu-se em passagem mínima do brilhante texto do professor Jorge Calado, que espelha na perfeição a densidade do ensaio do António, até na emoção com que temperou a objectividade. «Consciência de SituaçãoUm Ensaio sobre The Falling Man é o abstract perfeito de um evento que VERDADEIRAMENTE mudou o mundo e a vida da humanidade. Porquê uma fotografia? Porquê esta fotografia? Nas palavras lapidares de António Araújo, o 9/11 ‘reinstaurou o primado da fotografia como elemento da memória visual’. Por várias razões, entre as quais o facto da fotografia – ao contrário das imagens em movimento do vídeo e do cinema – ser a arte contemplativa do silêncio. Nestas imagens não se ouvem as sirenes e apitos de carros de polícia, bombeiros e ambulâncias, muito menos o estrondo medonho do impacto dos ‘cadáveres iminentes’ (para usar a expressão terrível do autor) no Ground Zero.» Continuou invocando e multiplicando, na sagrada e inteligente maneira de ler como quem amanha terra, semeando e regando, até que solta: «Tal como o precioso ensaio de António Araújo que hoje aqui nos reúne, o museu e zonas adjacentes [do Ground Zero] ajudam a exorcizar as memórias da tragédia que abriu o primeiro século deste novo milénio que – tenho a certeza – ficará por concluir.» Quantos terão dado pela profecia apocalíptica? As razões, conseguidas depois, não têm a ver com Trump ou outros frutos da estupidez, mas com a inteligência artificial…

 

Necessidades, Lisboa, 21 Novembro

Apresentação, na Biblioteca da Rainha, recuperada com cuidado gosto, de outro volume da Colecção Fósforo, evocando em sequência outra revolução, a Russa de 1917, a partir do testemunho educado e aventuroso de Batalha Reis, representante diplomático na convulsão. Curiosa coincidência, esta, de que só me dou conta na mesa. Já não me escapou, na Introdução de Pedro Aires Oliveira, a este «Dos Romanov a Lenine – Relatórios de Jaime Batalha Reis Sobre a Sua Saída da Rússia em 1918», a referência a Corto Maltese, feito sinónimo de aventura riscada sobre mapas e História. Noto a manifesta satisfação da Margarida [Lages] com isso, a quem esta edição tudo deve. Mas esqueci-me de apontar o foco a Rafael Bordalo Pinheiro, que fez a banda desenhada portuguesa dar primeiros passos com famosa «reportagem» às Conferências do Casino, de que Batalha Reis foi instigador. Apesar de estudos recentes sobre alguns aspectos da sua acção, continua a faltar-nos biografia compreensiva de tão fascinante quanto literária figura. Por quê esta alergia nacional à biografia?

 

Bairro, Lisboa, 21 Novembro

Eis-me atirado, de copo na mão, ali para as Galegas das escadinhas a discutir, outro modo de subir ou descer. O «Relvas morreu» da mensagem soltou asneiras que ecoam, desde então, penteando os paralelepípedos da rua do Notícias, ou a do Lisboa, e a avenida do Se7e, sem esquecer a do Inimigo. Teve uma vida de papel, muito livre e frágil, mas capaz de cortar cerce. Lisboa-a-puta não se reconhecerá mais na noite de ganga com que a pintou, cenário maior de deambulações a pincel. O virtuoso-a-dias (vá Fernando, que o parêntesis está sempre a pedir um fim: 1954-2017) meteu-se todo na bd, apenas outra forma desenhada de dizer crónica, muito para além da fronteira dos géneros. Também deu um salto ao passado procurar anti-heróis, dos perdidos que definem contornos ou daqueles que sabem andar na linha do horizonte. Fez o que lhe apeteceu confundindo bonecos e vida, insuflando-a nas personagens, desenhando a sua a preto e branco, mesmo quando coloria. Viajou e ficou quieto. Morou em barco atracado, cultivou o mau feitio, inventou o verbo arriscar. Foi-lhe madrasta, a vida. Não merecia, ele que a tratou com o devido despeito. Até à vista, meu! (Desenho do próprio na página).

 

Centro Português de Surrealismo, Famalicão, 25 Novembro

Subi a Cesariny, aos Encontros XI, a pretexto de «Afinal o que importa não é a literatura», a hora inteira em que os No Precipício Era o Verbo interpretaram a grande altura os versos da ‘máquina de passar vidro colorido’. Ainda vibro com o diálogo de fragmentos de autoridade e liberdade entre os manos Zé [Anjos] e Carlos [Barretto]. Estou em crer que o próprio se espantaria.

Tanto espanto à mão de semear. A voz do João Peste cavalgando a energia do Ricardo Martins, no Cru da véspera; os versos «burgueses somos nós todos/ou ainda menos» atirados ao ar no cabeleireiro, no talho, no mercado, no carrossel pelo trio Isaque [Ferreira], João [Rios] e Rui [Spranger], mas sobretudo a montra realista da Confeitaria Moderna: em fundo de cortiça, um pássaro amarelo a conduzir uma carroça, macaco anão a subir carroça cheia de ovelhas gigantes, e, avulso, animais indistinguíveis a olho nu. Além dos burros, inúmeros e de tamanhos diversos.

29 Nov 2017

Vhils inaugura exposição em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto, que assina Vhils, inaugura na quinta-feira em Hong Kong “Remains”, uma exposição composta por trabalhos novos desenvolvidos e inspirados naquele território.

Em “Remains”, que estará patente na galeria Over the Influence, Vhils irá apresentar “um novo conjunto de trabalhos, desenvolvidos e inspirados em Hong Kong”, de acordo com o texto de apresentação da mostra. A galeria refere que o trabalho do artista português “está há muito ligado ao contexto urbano e reflete e espelha a experiência humana de habitar uma megalópolis contemporânea”. “Remains” é inaugurada na quinta-feira ao final do dia e estará patente entre sexta-feira e 05 de janeiro.

Em maio, Vhils inaugurou a sua primeira exposição individual em Macau, “Debris”, nas Oficinas Navais de Macau, que deveria ter ficado patente até 05 de novembro. No entanto, em agosto teve que ser cancelada devido a danos nas peças e no local, causados pelo tufão Hato. A par da exposição, realizou naquele território uma série de murais. Em Junho, estreou-se a solo em Pequim, no Cafa Art Museum, com a exposição “Imprint”, constituída inteiramente por trabalhos novos, cerca de 70 retratos esculpidos em baixo relevo, que espelham “a reflexão contínua do artista sobre a relação entre as cidades contemporâneas e os seus habitantes”.

A sua primeira exposição individual em Hong Kong, “Debris”, foi inaugurada em Março do ano passado. Uma mostra que reflecte a cidade e a identidade de quem nela habita para ver e, sobretudo, “sentir”.

29 Nov 2017

Revolução dos Lavabos : a vez do luxo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] governo da China inaugurou um lavabo público em Pequim com televisão, internet sem fios, caixas electrónicas e estações para carregar telemóveis e carros eléctricos. A casa-de-banho fica na estação da Praça Fuqian em Fangshan, um distrito no sudoeste de Pequim. Segundo a Xinhua, a construção é parte do programa “Revolução dos Lavabos “, cujo objectivo é melhorar os padrões sanitários da China para atrair mais turistas internacionais. A indústria do turismo da China já renovou 68 mil lavabos nos últimos três anos (cerca de 19% do objectivo final) transformando-os em locais “universalmente adequados”, afirma a agência do país. O plano é construir e actualizar outros 64 mil lavabos entre até 2020. Mas o projecto também tem sofrido críticas por parte dos moradores. Segundo reportagem do The New York Times, alguns reclamam que as construções são desperdício do dinheiro público: “É apenas uma casa-de-banho “, diz Lei Junying, 74, um agricultor aposentado que mora em Fangshan, em entrevista ao jornal americano. E acrescentou: “O governo pede às pessoas que paguem impostos. Por que não doam esse dinheiro para os bairros pobres?”

29 Nov 2017

Cartas inéditas entre Saramago e Jorge Amado publicadas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] troca de correspondência entre José Saramago e Jorge Amado, durante cinco anos, regista uma “bela amizade”, nascida na velhice, e testemunha desabafos políticos, crises de saúde e anseios literários, entre os quais o Nobel por que ambos suspiravam.

A publicação inédita da troca epistolar que os dois escritores de língua portuguesa mantiveram regularmente, entre 1992 e 1997, acaba de chegar às livrarias, numa edição ilustrada com ‘fac-símiles’ e fotos raras, pela Companhia das Letras, intitulada “Com o mar por meio”.

A amizade entre os dois teve início quando “já iam maduros nos anos e na carreira literária”, o primeiro com 80 anos, e o segundo com menos dez anos, segundo a editora. O vínculo tardio, porém, não impediu que os escritores criassem fortes laços de amizade e fraternidade, que se estenderam às suas companheiras de vida, Zélia Gattai e Pilar del Río.

Uma dessas cartas, entre muitas outras, dá nota dessa relação, quando José Saramago escreve a Jorge Amado, em 1993, por ocasião do seu aniversário: “Esta mensagem vai em letra gorda para que não se perca nos azares da transmissão nem um só sinal da nossa amizade, deste carinho tão bonito que veio enriquecer de um sentimento fraterno uma relação nascida tarde, mas que, em lealdade e generosidade, pede meças à melhor que por aí se encontre”.

Este livro nasce de uma coincidência ocorrida quando a filha de Jorge Amado, Paloma, juntamente com a Fundação Casa Jorge Amado, estava a trabalhar as cartas trocadas com José Saramago – no âmbito da organização do acervo do pai, iniciada em 2015 – e, em troca de mensagens com Pilar del Río, tomou conhecimento de que a Fundação José Saramago planeava também fazer um livro.

A organização e selecção de cartas, feita por Paloma Jorge Amado e Ricardo Viel, da Fundação José Saramago, só foi possível por Jorge Amado ter sido um “homem muito disciplinado e organizado, qualidades exacerbadas pelos anos de militância comunista”, que, com “o advento das copiadoras”, passou a reproduzir as cartas enviadas, conta a filha do brasileiro, na introdução do livro.

São cartas, bilhetes, cartões, faxes e mensagens várias, enviados ao longo dos anos, com troca de ideias sobre questões, tanto da vida íntima, como da conjuntura contemporânea, social e política, sobre a qual partilhavam a mesma visão comunista.

Várias mensagens são reveladoras do afecto entre os dois casais, uma das quais assinada por José e Pilar, na qual se referem ao “manjar supremo que é a amizade”. A saúde e a velhice também são amiúde referidas, e Jorge Amado escreve, em 1995, esperar que o trabalho ocupe os seus “dias de velhice – velhice não é coisa que preste”.

As cartas reflectem também o anseio que os dois escritores partilhavam por receber prémios literários e a alegria que cada um deles sentia de saber que o outro o recebera. Em Julho de 1993, José Saramago escreve ao seu amigo, a propósito da atribuição do Prémio Camões a Rachel Queiroz, que não discute os méritos da premiada, mas não entende “como e porquê o júri ignora ostensivamente (quase apeteceria dizer: provocadoramente) a obra de Jorge Amado”.

No ano seguinte, Jorge Amado receberia então o prémio, e José Saramago escreveria “finalmente o Camões para quem tão esplendidamente tem servido a língua dele!”, acrescentando: “Será preciso dizer que nesta casa se sentiu como coisa nossa esse prémio?”. Mas a vez de Saramago chegou em 1995 e, em resposta às felicitações enviadas por Jorge Amado, o autor português confessou: “Em nenhum momento da vida, desde que o prémio existe, me passara pela cabeça que um dia poderiam dar-mo. Aí está ele, para alegria minha e dos meus amigos, e raiva de uns quantos ‘colegas’ que não querem admitir que eu existo…”.

Também o Nobel era tema frequente e José Saramago chega a partilhar, numa missiva para Jorge Amado, em 1994, o desejo de que o prémio lhes fosse atribuído em conjunto, ideia que o escritor brasileiro recebeu com regozijo, considerando-a “magnífica”, mas temendo que “os suecos da Academia” dividissem “o milhão entre Lobo Antunes e João Cabral”.

No entanto, os anos passavam e o prémio não chegava para nenhum deles, levando José Saramago, em 1997, a escrever, em desabafo, a Jorge Amado, que os membros da Academia não gostam da língua portuguesa e que “não têm metro que chegue para medir a estatura de um escritor chamado Jorge Amado”.

Nesse mesmo ano, a correspondência entre os dois cessou devido ao agravamento da saúde do coração e dos olhos de Jorge Amado, que foi perdendo a visão mais rapidamente do que se esperava, acabando por mergulhar numa profunda depressão, que o deixava dias inteiros deitado num cadeirão na sala, com os olhos fechados.

A 8 de Outubro de 1998, Zélia sentou-se a seu lado e deu-lhe a notícia de que o “seu amigo José Saramago vinha de ganhar o Prémio Nobel”, conta a filha. “Como num passe de mágica, um milagre luso-sueco, Jorge pulou do cadeirão, chamou Paloma, pediu que se sentasse no computador, que ele iria ditar uma nota”.

Foi a última carta. Brindou com champanhe, fez a festa com a mulher e a filha e “foi dormir contente”. “No dia seguinte, não quis mais abrir os olhos”.

29 Nov 2017

Chineses esgotam presunto espanhol

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s elites chinesas estão a descobrir o presunto ibérico e, depois do recente levantamento de restrições à sua importação, a procura pelo produto gourmet aumentou de tal forma que há quem tema em Espanha não conseguir ter o presunto na mesa este Natal. O produto chegou ao Oriente com a crise. “A crise económica foi um incentivo para sairmos para o exterior e isso permitiu que muitos conhecessem o presunto e se apaixonassem por ele”, disse René Lemeé, director de Exportación de Cinco Jotas, a primeira empresa a negociara com a China, ao El País. Os chineses tomaram o gosto ao presunto e, desde 2014, a China tornou-se no maior mercado estrangeiro do produto. Mas a procura está a ser excessiva e os produtores espanhóis não estão a conseguir satisfazer a procura porque um bom presunto – de porco preto e alimentado a bolotas – demora anos a ser produzido. Só a cura pode levar entre 36 a 48 meses. Um presunto de 7,5 kg pode custar entre 150 a 600 euros e, este ano, o preço já aumentou 10 por cento. “A subida do preço é inevitável”, disse Roberto Batres, que exporta presunto, vinho e azeite para a China. “As empresas licenciadas para negociar com a China não têm presunto de bolota suficiente para satisfazer a procura chinesa.” A procura é tal que algumas empresas chinesas já começaram a importar pernas de porco preto congeladas e estão a tentar fazer a cura à moda espanhola. “São muito salgados”, garante Roberto Batres.

29 Nov 2017

Pearl Horizon | Processo decorre no Tribunal Judicial de Base

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá em curso um processo no Tribunal Judicial de Base referente ao processo que envolve os compradores de casa no empreendimento Pearl Horizon.

De acordo com o jornal Ou Mun, um dos compradores que acusa o Grupo Polytec afirmou que pretende reaver os dois milhões de patacas que deu pela casa para que possa adquirir outra propriedade. O Grupo Polytec rejeitou a hipótese de transação, justificando que a empresa quer continuar o projecto Pearl Horizon.

Em 2015, o Governo declarou a caducidade da concessão do terreno onde estava a ser construído o empreendimento em causa, sendo que a testemunha afirma que, na altura, quis ter acesso a datas de entrega das fracções. De acordo com esta testemunha, o Grupo Polytec respondeu às questões que na altura lhe foram colocadas por mensagem e telefone, referindo que seria necessário aguardar por julgamento. Desta forma, o lesado considera que a empresa não respondeu ao que lhe foi perguntado.

O advogado perguntou a dois dos compradores se tinham avaliado o risco da compra das fracções ainda em construção ao que estes responderam que a questão não se colocava visto terem confiança no Grupo Polytec por ser um dos grandes grupos no sector e já com construções feitas.

29 Nov 2017

Empresas chinesas ameaçam império americano de comércio online

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]acebook e Amazon perderam o estatuto de empresas com o maior valor de mercado. Adivinhe quem se senta agora na cabeceira da mesa.

Os grupos chineses Tencent e Alibaba já alcançaram o Facebook e a Amazon em termos de valor de mercado, um reflexo da emergência das gigantes tecnológicas na China, país onde smartphones e pagamentos electrónicos são omnipresentes.

A Tencent, campeã de jogos e operadora do popular aplicativo de mensagens WeChat  tornou-se, na semana passada, o primeiro grupo tecnológico chinês a valer mais de US$ 500 mil milhões, superando o Facebook. O líder chinês de comércio on-line Alibaba, cotado em Wall Street, está logo atrás, e aproxima-se da também norte-americana Amazon.

Trata-se de um verdadeiro desafio às maiores empresas de Silicon Valley, que até então estavam no selecto grupo dos cinco maiores valores de mercado do mundo. Apenas em 2017, as cotações das chinesas Tencent e da Alibaba duplicaram – bem como sua margem de lucro.

“O sucesso  explica-se, antes de mais, pela descolagem da internet móvel, estimulada pelos fabricantes chineses de smartphones baratos”, explica Shameen Prashantham, da Escola de Comércio CEIBS, baseada em Xangai. Cerca de 724 milhões de chineses conectam-se à rede pelo telemóvel, segundo o governo: isso aumenta significativamente as bases de utentes e o volume de dados colectados, pois “as leis sobre a privacidade são menos protectoras aqui que no Ocidente”, explica Prashantham.

Actualmente, a Tencent beneficia da adesão dos utentes ao jogo “Honor of Kings”, enquanto o seu aplicativo WeChat (troca de mensagens, rede social, comércio digital e jogos) tem mil milhões de utentes, apesar da rigorosa censura ao conteúdo. Já a empresa Alibaba controla metade do e-commerce chinês entre empresas e consumidores.

Ambas as plataformas beneficiam dos problemas dos concorrentes norte-americanos no mercado chinês: o Facebook está proibido na China; o e-Bay recusa entrar no mercado chinês e a Amazon tem dificuldade de descolar na nuvem chinesa. Contudo, “a Tencent não imitou as fórmulas ocidentais. A empresa forçou-se a inovar. Deve-se a ela o desenvolvimento do pagamento electrónico”, insiste Huang Hao, pesquisador na Academia Chinesa de Ciências Sociais.

A Tencent permitiu que utentes do WeChat trocassem cartões de presentes electrónicos, enquanto a Alibaba criou sua plataforma de pagamento on-line Alipay.  “Até meu avô de 88 anos se acostumou a comunicar e a pagar via WeChat”, afirma Zhao Chen, da empresa de investimentos tecnológicos Plug-and-Play.

 

29 Nov 2017

Comércio externo | Transacções sobem 5,4 por cento

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comércio externo de Macau subiu 5,4 por cento nos primeiros dez meses do ano, em termos anuais homólogos, atingindo 69,87 mil milhões de patacas, indicam dados oficiais divulgados ontem.

De acordo com a Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), entre Janeiro e Outubro, Macau exportou bens avaliados em 9,37 mil milhões de patacas – mais 10,3 por cento – e importou produtos avaliados em 60,50 mil milhões de patacas, ou seja, mais 4,7 por cento , em termos anuais homólogos.

Por conseguinte, o défice da balança comercial nos dez primeiros meses do ano atingiu 51,13 mil milhões de patacas.

Em termos de mercados, as exportações para a China totalizaram 1,78 mil milhões de patacas, reflectindo uma subida de 21,1 por cento relativamente a igual período do ano transacto.

As vendas para Hong Kong (5,46 mil milhões de patacas), para a União Europeia (160 milhões de patacas) e para os Estados Unidos (152 milhões de patacas) subiram 15,5 por cento , 7,8 por cento e 20,8 por cento , respectivamente, em termos anuais homólogos, segundo a DSEC.

As exportações para os países de língua portuguesa cifraram-se em 700 mil patacas, traduzindo um ‘tombo’ de 88,2 por cento face ao período homólogo de 2016.

Já do lado das importações, Macau comprou à China produtos no valor de 19,94 mil milhões de patacas nos primeiros dez meses do ano, ou seja, menos 5,7 por cento em termos anuais homólogos.

A mesma tendência foi verificada nas importações de mercadorias dos países de língua portuguesa (521 milhões de patacas) que diminuíram 3,9 por cento.

Em sentido inverso, as compras à UE (15,54 mil milhões de patacas) aumentaram 12,4 por cento.

29 Nov 2017

General investigado por corrupção suicida-se

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m alto cargo do exército chinês, o general Zhang Yang, membro da Comissão Militar Central (CMC), foi encontrado morto em casa no passado dia 23 de Novembro, após cometer suicídio, informa a agência oficial Xinhua. Segundo confirmaram fontes da investigação, o militar foi encontrado enforcado em casa.

Zhang, diretor do departamento de trabalho político e membro da Comissão Militar Central, tinha caído em desgraça dentro do Partido Comunista da China (PCC) e estava a ser investigado por possíveis crimes de corrupção.

Funcionários da CMC decidiram no final de Agosto manter “conversações” com Zhang devido à sua alegada implicação nos casos dos ex-generais Guo Boxiong e Xu Caihou, ambos ex-vice-presidentes da CMC, segundo informação oficial.

Os investigadores consideravam que Zhang tinha cometido graves violações legais e de disciplina, e suspeitavam que ocultava um grande volume de propriedades, fruto de subornos que alegadamente tinha recebido.

Guo Boxiong foi vice-presidente da Comissão Militar Central entre 2003 e 2013 e em 2016 foi condenado a prisão perpétua por aceitar subornos, em troca de promoções e deslocalizações.

Xu Caihou foi o oficial militar com o cargo mais elevado na história da República Popular da China a ser investigado por corrupção.

O caso começou em 2014 e Xu foi acusado de receber subornos em grande escala, em troca de facilitar promoções dentro do exército. No entanto, Xu morreu em 2015, vítima de um cancro, antes de ser julgado.

Um semanário chinês revelou em 2014 que Xu armazenava no sótão de sua casa o dinheiro, estátuas e pedras preciosas obtidas graças a estas manobras, e que foram necessários dez camiões para transportar os bens que tinha acumulado.

29 Nov 2017

Lei de Terras | Governo recupera terreno de forma definitiva

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] canal chinês da Rádio Macau noticiou ontem que a empresa Macau – Obra de Aterro, Lda perdeu o recurso apresentado junto do Tribunal de Última Instância (TUI) relativo à declaração de caducidade de um terreno em frente ao Centro Cultural de Macau.

O concessionário exigia também que fosse retirada a ordem de despejo de materiais e equipamentos do referido terreno, uma ordem que foi decretada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT).

Este foi um dos terrenos citados no relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) como tendo recebido uma concessão com um prazo de 25 anos. Contudo, nesse período de tempo, “a Administração Pública não lhes deu tratamento atempado”.

A concessão provisória do terreno expirou em Julho de 2015, sendo que a Macau – Obras de Aterro, Lda já tinha delegado à Companhia de Desenvolvimento Fomento Predial Sei Pou Limitada o direito de desenvolver aquele pedaço de terra. A finalidade do terreno destinava-se à construção de um edifício com 23 pisos para habitação, comércio, hotel e estacionamento.

O TUI considerou que a acção de despejo decretada pela DSSOPT foi fruto da declaração de caducidade de concessão, tendo sido apenas um acto de execução autorizado pelo Chefe do Executivo.

29 Nov 2017

Taiwan : Presidente de considera “inaceitável” condenação de activista

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal chinês condenou ontem o activista e professor taiwanês Lee Ming-che por “subversão do poder do Estado” através de opiniões e comentários expressados fora do território chinês. A sentença foi emitida pelo tribunal intermédio de Yueyang (província de Hunan). Lee, de 42 anos, disse que não vai recorrer da decisão, informaram os meios de comunicação de Taiwan.

Este é o primeiro caso de extraterritorialidade numa condenação a críticos da China, o primeiro cidadão não-chinês e membro de uma organização não-governamental processado no país e o primeiro taiwanês condenado por subversão contra o poder de Pequim.

O gabinete presidencial de Taiwan classificou como “inaceitável” e “lamentável” a condenação, ontem, do activista pró-democracia taiwanês Lee Ming-che a cinco anos de prisão por alegados crimes de “subversão contra o poder do Estado”.

“Difundir a democracia não é crime”, e é inaceitável que Lee seja condenado por partilhar as suas ideias sobre a democracia com amigos na China através da Internet, de modo a demonstrar o seu interesse pelo desenvolvimento da democracia e da sociedade civil na China, disse o porta-voz presidencial Alex Huang, em conferência de imprensa.

A presidência taiwanesa instou Pequim a “libertar Lee Ming-che o quanto antes” e afirmou que a sentença “prejudicou seriamente” os laços bilaterais e vai contra a convicção taiwanesa na “liberdade e democracia”.

O Conselho de Assuntos da China Continental, de Taiwan, acrescentou que as actividades de Lee “não representam qualquer perigo para a segurança e estabilidade” da China, e que “virar as costas aos valores universais de democracia e direitos humanos” vai “prejudicar a imagem internacional” da China.

Um tribunal da província chinesa de Hunan condenou a cinco anos de prisão o activista e professor taiwanês Lee Ming-che por “subversão do poder do Estado”, através de opiniões e comentários expressados nas redes sociais fora da China.

Um comunicado conjunto de várias organizações governamentais de Taiwan critica a condenação como “uma violação dos direitos humanos” e “do ordenamento jurídico chinês”. “Esta sentença é ridícula: não é apenas uma flagrante violação dos direitos humanos, mas mostra a debilidade de um regime que tem de recorrer a esta repressão para se manter no poder”, disse à agência Efe a secretária executiva da Associação Pró-Direitos Humanos de Taiwan, Eeling Chiu.

Chiu também instou a Presidente taiwanesa a emitir uma condenação contra a sentença e criticou o abuso de que representa condenar na China um taiwanês por acções registadas em Taiwan. “A China não tem jurisdição sobre actos registados em Taiwan e esta sentença é um abuso de extraterritorialidade”, disse.

29 Nov 2017

Habitação | Song Pek Kei quer alargar abono de residência

A deputada Song Pek Kei quer que o Governo prolongue o plano provisório de atribuição de abono de residência a famílias candidatas a uma casa social. A deputada considera também que o Executivo pode disponibilizar mais habitações sociais do que as quatro mil já anunciadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] acesso à habitação levou a deputada à Assembleia Legislativa (AL), Song Pek Kei, a apresentar uma interpelação ao Governo. Na missiva é pedido que o plano provisório de atribuição de abono de residência a agregados familiares que sejam candidatos a habitação social possa ser prolongado.

Tudo para que, antes dos candidatos terem acesso à sua fracção, estes possam continuar a ser beneficiados por este subsídio, para que possam reduzir as despesas necessárias no arrendamento de uma habitação no mercado privado.

Na interpelação escrita a deputada afirma ainda discordar dos números já apresentados pelo Executivo quanto à oferta de habitações sociais, ou seja, quatro mil fracções.

Song Pek Kei diz mesmo duvidar da garantia deixada pelo Governo em termos de oferta suficiente de casas públicas.

“A Administração tem justificado que há falta de terrenos em Macau para a construção de mais casas públicas. Mas apesar de haver poucos terrenos, será que o Governo não tem mesmo mais nenhum local para aproveitar?”, questionou.

Os terrenos vazios

Na óptica de Song Pek Kei, há terrenos disponíveis em locais como a avenida Venceslau de Morais (onde se situa a central eléctrica da CEM), na Doca de Lam Mau ou na zona oeste do Cotai, que podem ser utilizados para a construção de habitação pública.

Nesse sentido, Song Pek Kei quer saber o Executivo vai ou não construir habitação pública nesses locais, para que haja um maior acesso a casas sociais por parte dos residentes.

A deputada lamenta que o desenvolvimento da habitação pública em vários lotes de terrenos tenha sido deixado para trás com a justificação, da parte do Governo, de que era necessário avançar primeiro com os projectos de grande envergadura.

A abertura de um novo concurso de acesso à habitação social gerou dez mil boletins de candidatura só no primeiro dia, o que, para Song Pek Kei, reflecte que existe uma grande procura por fracções públicas por parte da população.

A deputada alerta que os cidadãos estão preocupados com a possibilidade da necessidade de casas públicas não ser satisfeita no futuro, apesar de algumas datas que o Executivo tem avançado nos últimos meses.

29 Nov 2017

Imobiliário | Compensações para compra de casa não vão aquecer mercado

A compensação financeira paga pelo Governo a proprietários de habitações renovadas não significa que vá haver um aquecimento do mercado imobiliário, apesar de haver mais procura. A opinião é do coordenador-adjunto do 1.º Grupo Especializado do Conselho para a Renovação Urbana, Paulo Tse

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] renovação dos prédios antigos e a atribuição de compensações financeiras aos moradores para que adquiram novas fracções no mercado privado não vão fazer com que os preços no mercado privado aumentem. A opinião foi partilhada, ontem, por Paulo Tse, coordenador-adjunto do 1.º Grupo Especializado do Conselho para a Renovação Urbana (CRU) e presidente da Associação de Construtores Civis e Empresas de Fomento Predial.

Segundo a ideia defendida pelo grupo de trabalho, os residentes que optem por ter os prédios onde vivem demolidos e reconstruídos, devem ter o direito a receber uma compensação financeira para comprarem uma nova habitação. Esta é uma opção para complementar o cenário proposto pelo Chefe do Executivo, que passa por realojar as pessoas em habitações temporárias, cedidas pelo Governo, enquanto aguardam o fim das obras.

“Não tenho a certeza que a demolição de edifícios faça com os preços no mercado do imobiliário vão subir. Vai criar mais procura, mas ao mesmo tempo o facto do Governo disponibilizar casas temporárias significa que nem toda a procura entrará no mercado”, disse Paulo Tse, após a última reunião deste ano do CRU.

“Ao fornecer subsídios financeiros, o que talvez vejamos acontecer é que algumas das pessoas, como casais mais velhos, fiquem durante algum tempo com os filhos e filhas. É por isso que queremos ter uma variedade de escolhas para os residentes”, complementou.

O grupo especializado em causa tem como coordenador o empresário ligado ao mercado imobiliário Chan Chak Mo. Paulo Tse é o número dois e actuou como porta-voz devido à ausência do deputado, que estava na Assembleia Legislativa.

Ainda de acordo com Paulo Tse, em 2018 o regime de benefícios ficais para os cidadãos que optem por comprar casas novas deve ser votado na Assembleia Legislativa. Por outro lado, o empresário espera que no próximo ano sejam conhecidos melhor os pormenores do mecanismos de compensação financeira, incluindo o montante do apoio, “quando houver um consenso entre o CRU, Governo e a comunidade”.

Utilização limitada de edifícios

Outro dos assuntos debatidos na reunião do CRU foi a questão da utilização dos edifícios industriais para outros fins, como espectáculos artísticos. A questão é antiga, mas voltou a ser colocada na semana passada, na Assembleia Legislativa, pela deputada Song Pek Kei.

A explicação foi prestada pelo coordenador do 2.º Grupo Especializado do CRU, Paulino Comandante: “segundo o Regulamento de Segurança Contra Incêndios, os prédios com fins industrias são classificados em diferentes classes de risco”, começou por explicar o também advogado.

“Tivemos o cuidado de confirmar junto das autoridades competentes, que estamos no mesmo prédio são incompatíveis actividades de risco médio e alto. Para que um prédio industrial possa ser utilizado para outras finalidade, todos os riscos terão de ser de baixo risco”, complementou.

29 Nov 2017

Cimeira da CEEC : China é “oportunidade” para o continente europeu

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro húngaro Viktor Urban não tem dúvidas: a Europa empobrecida precisa de novas fontes de investimento. Chinesas, é bom de ver.

A cimeira da CEEC – que reúne 16 países da Europa Central e do Leste – com a China decorreu esta segunda-feira em Budapeste. Esta foi a sexta cimeira anual do chamado “16+1”, integrada por China, Hungria, Albânia, Bulgária, Bósnia, República Checa, Croácia, Estónia, Letónia, Lituânia, Macedónia, Montenegro, Polónia, Roménia, Sérvia, Eslováquia e Eslovénia.

O objectivo é o desenvolvimento da cooperação aduaneira e turística com o Império do Meio. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, anfitrião da cimeira que contou com os chefes de Estado e de governo dos 17 países, referiu: “Precisamos de recursos externos, tanto técnicos como financeiros, para desenvolver esta região. Os recursos europeus não são suficientes, por isso damos as boas vindas à ideia de uma nova ordem económica, uma vez que a China quer envolver-se no processo de desenvolvimento da região”.

O primeiro-ministro chinês afirmou que nos próximos cinco anos a China tenciona importar cinco biliões de dólares de mercadorias e bens e fazer investimentos da ordem dos 700 mil milhões Acordos aduaneiros para aligeirar os procedimentos de mobilidade de pessoas e trânsito de mercadorias e o aumento do fluxo turístico de chineses para a o Leste e centro da Europa, estiveram na ordem do dia. Os países da CEEC têm planos criar um novo serviço aéreo com ligações entre regiões europeias e asiáticas.

Dinheiro e mais dinheiro

O Banco Chinês de Desenvolvimento garantirá US$ 2 mil milhões para um fundo de desenvolvimento dos países da região, antecipou o primeiro-ministro, que também prometeu US$ 1000 milhões numa segunda etapa do projecto para investimentos e projectos de cooperação.

Nos últimos anos, Pequim promoveu investimentos na região e criou esse formato diplomático para tentar exercer influência sobre a Europa Oriental, segundo alguns analistas. O projecto faz parte da estratégia chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. O objectivo é formar um novo corredor comercial através de maciços investimentos, estreitando relações entre Ásia e Europa.

Um exemplo dessa cooperação é uma nova ligação de comboio entre Hungria e Sérvia, construída com um empréstimo chinês que cobrirá 80% do custo total de 1,75 milhão de euros.

Depois de se reunir com os líderes da região, Li Keqiang afirmou que o encontro foi “bem-sucedido” e que vários acordos foram assinados. O presidente da Hungria, Viktor Orban, que tem uma relação tensa com a UE, destacou que a China não só representa uma possibilidade para a Hungria, mas para todo o continente. Além disso, defendeu que o grupo “16+1” também beneficia o bloco europeu.

“Para que a região possa se desenvolver, precisamos de fontes tecnológicas e financeiras externas, já que os fundos europeus em si não são suficientes. A época actual é marcada pelo auge da Ásia e da China”, disse Orban depois do encontro.

A China também ofereceu 5 mil bolsas de estudo para estudantes do centro e do leste da Europa no país, anunciou Li Keqiang.

Na reunião, os participantes decidiram que o próximo encontro do grupo “16+1” será realizado na Bulgária. O primeiro-ministro do país, Boiko Borisov, disse em Budapeste disse que os projectos da nova aliança e da UE não concorrem entre si, mas se complementam.

Depois da Hungria, o primeiro-ministro da China viaja hoje, quarta-feira, para Sochi, na Rússia, onde participará de uma reunião da Organização de Cooperação de Xangai (SCO).

 

29 Nov 2017

Associação Novo Macau reúne pessoas para apoiar deputado Sulu Sou

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação Novo Macau (ANM) organiza, no próximo domingo, uma concentração junto à Rotunda Carlos da Maia de apoio ao deputado Sulu Sou, que saberá na próxima semana se terá ou não o seu mandato suspenso. A concentração terá início a partir das 20h00.

Ao HM, Kam Sut Leng, presidente da ANM, explicou as razões para a organização desta iniciativa. “Como na próxima semana vai haver uma votação na Assembleia Legislativa (AL) para decidir a suspensão do mandato de Sulu Sou, queremos realizar esta actividade para unir os cidadãos para apoiar um deputado que foi eleito pelos residentes, e também para que não se perca o poder de fiscalizar o Governo, caso o seu mandato seja suspenso.”

Kam Sut Leng adiantou que mais de uma centena de pessoas mostraram interesse em participar num evento organizado via Facebook.

“Depois da divulgação da notícia muitos cidadãos perguntaram se vamos avançar com alguns movimentos como este e disseram-nos que nos apoiariam. Nas últimas duas semanas andamos nas ruas a falar sobre a questão dos órgãos municipais sem poder político e muitas pessoas mostraram-se preocupadas com o caso Sulu Sou.”

A presidente da ANM confessa que é difícil antever o resultado da votação realizada pelo hemiciclo na próxima semana.

“Com 17 votos a favor, Sulu Sou terá as suas funções suspensas. Por essa razão queremos utilizar as forças dos cidadãos para que estes apresentem opiniões que cheguem à AL. Se o número de participantes nesta acção for elevado, penso que vai criar pressão junto dos deputados”, rematou.

O deputado Sulu Sou e o activista Scott Chiang deveriam ter-se apresentado em tribunal na semana passada para responder pelo crime de desobediência qualificada, mas o Tribunal Judicial de Base decidiu reagendar a data para depois da votação do hemiciclo. O caso está relacionado com o protesto organizado pela ANM contra o dinheiro doado pela Fundação Macau à Universidade de Jinan.

29 Nov 2017

Sobrinho de Edmund Ho é candidato à Assembleia Popular Nacional

Kevin Ho quer contribuir para a integração do território na Grande Baía e para o bem-estar da população. Ao HM, negou que, caso se sente na Assembleia Popular Nacional, vá representar os interesses de “uma pessoa em particular”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma candidatura para representar a população de Macau e contribuir para o desenvolvimento da Grande Baía. Foi desta forma que Kevin Ho explicou, ao HM, a sua intenção de representar o território na Assembleia Popular Nacional. O acto eleitoral está agendado para 17 de Dezembro e as inscrições terminam a 6 do mesmo mês.

“Primeiro, o objectivo passa por aproximar mais Macau e o desenvolvimento do território do nosso país, especialmente com a iniciativa da Grande Baía. Também queremos defender a forma mais eficaz de nos integrarmos em toda a área e no crescimento desta zona”, afirmou Kevin Ho, cuja candidatura foi revelada pela Rádio Macau.

“Temos de fazer com que Macau contribua para a Grande Baía, não só de uma perspectiva empresarial e de desenvolvimento das empresas locais, mas também focando o bem-estar da população. Temos de fazer os nossos melhores esforços para sermos uma parte da Grande Baía e estarmos bem integrados”, frisou.
A candidatura de Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho, surge após ter sido anunciado que Lionel Leong, actual secretário para a Economia e Finanças, não se recandidataria ao lugar na APN. Leong é tido como uma pessoa muito próxima do anterior Chefe do Executivo.

Contudo, Kevin Ho recusa que a sua candidatura seja de uma fracção ou pessoa. O empresário diz que caso tenha a sorte de ser eleito, que vai estar a representar toda a população de Macau.

“Na Assembleia Popular Nacional vou representar Macau, não é uma pessoa em particular. Se tiver a sorte de ser eleito, vou representar todo o território”, sublinhou. “Se for eleito, vou pedir conselhos a pessoas de diferentes áreas. Claro que os conselhos de Edmund Ho vão ser muito importantes, mas vou pedir conselhos a toda a gente”, acrescentou.

Sobre o processo de candidatura, Kevin clarificou que ainda está a recolher as 10 cartas de nomeação exigidas, pelo que ainda não é um candidato formal. No entanto, mostrou-se confiante no cumprimento dos requisitos.

O candidato Dominic Sio

Outro dos nomes mencionados pela emissora foi o de Dominic Sio, empresário e ex-deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On. O HM contactou Dominic Sio, que se mostrou indisponível para prestar qualquer comentário, por estar ocupado. Porém, não negou a informação.

Na corrida a um lugar na APN estão ainda Ng Su Lai, da União Geral das Associações de Moradores de Macau, e Lai Sai Kei, director da Escola Keang Peng. Si Ka Lon, deputado na Assembleia Legislativa de Macau e Lao Ngai Leong, presidente da Federação Nacional de Chineses Ultramarinos Retornados são igualmente candidatos. Entre as listas com ligações à AL, estão ainda José Chui Sai Peng, primo do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, presidente da AL, e Kou Hoi In, deputado. Wong Ian Man, membro da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo também é candidato.

Quem também deve concorrer para mais um mandato na APN é a advogada Paula Ling e o director do jornal Ou Mun, Lok Po.

No sentido opostos, ou seja de saída a APN, estão Lei Pun Lam, bem como Io Hong Meng, da União Geral da Associação dos Moradores de Macau, e Leong Iok Wa, da Federação da Associação dos Operários de Macau.

No total estão disponíveis 12 lugares.

29 Nov 2017

Wong Sio Chak não afasta retorno da aposentação para forças de segurança

Mak Soi Kun e Pereira Coutinho pediram o regresso do regime de aposentação e sobrevivência para as forças de segurança de Macau. Wong Sio Chak adiantou que se a questão for reavaliada é algo a ponderar

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito se falou da moral das forças de segurança no segundo dia das Linhas de Acção Governativa (LAG) relativas à segurança. Pereira Coutinho entende que o aumento de pedidos de reformas antecipadas são uma das provas de que há um desalento entre os efectivos.

O secretário para a Segurança deu como exemplo da boa moral a forma afincada com que trabalharam na resposta à devastação provocada pelo tufão Hato. Naquele que foi o mais vivo pingue-pongue argumentativo do debate das LAG da segurança, Pereira Coutinho diz que o brio profissional demonstrado não invalida que os profissionais não se sintam valorizados.

Por trás estava a questão do regresso do regime de aposentação para os efectivos das forças de segurança, uma medida pedida por Mak Soi Kun e Pereira Coutinho, tendo o secretário para Segurança mostrado abertura para reavaliar a situação, sem dar qualquer calendarização para tal.

Mak Soi Kun referiu que esta medida seria uma forma de dar protecção aos familiares e que “as carreiras de segurança devem ser protegidas e alvo de um tratamento especial”.

No caso em que os agentes de segurança morrem ao serviço da RAEM, Wong Sio Chak mencionou que os seus familiares podem recorrer ao regime de aposentação.

Juízes e dormitório

A discussão com Pereira Coutinho foi a mais quente das cerca de dez horas de debate das LAG da segurança, em particular no capítulo da aposentação, um velho cavalo de batalha do deputado. O português chegou mesmo a referir que os juízes, carreira profissional do secretário Wong Sio Chak, beneficia deste regime. Aliás, o secretário da Segurança havia respondido a uma interpelação de Pereira Coutinho argumentando que a razão pela qual os juízes estavam abrangidos pelo regime de aposentação era por serem funcionários preciosos e escassos. Nesse aspectos, o deputado português não perdoou e perguntou ao membro do Governo se “o seu pessoal das forças, que está muito sobrecarregado, não é um recurso precioso”.

Pereira Coutinho acrescentou ainda que “não dá para só elogiar” e que “também é preciso fazer algo concreto nesta matéria”.

Wong Sio Chak respondeu dizendo que os magistrados só têm acesso a esse regime de pensão e aposentação, enquanto as forças de segurança têm mais escolha.

Uma das questões levantadas nos dois dias de debate prendeu-se com a construção de dormitórios para os profissionais das forças de segurança. Nesse aspecto, Wong Sio Chak explicou que “se houver condições financeiras avançamos com esse processo”.

No final do debate a animosidade entre Pereira Coutinho e Wong Sio Chak foi aliviada com uma discussão sobre quem convida quem para jantar.

29 Nov 2017

Imigração | Registo criminal para blue cards alargado a seis país do sudeste asiático

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] medida polémica da necessidade de cidadãos vietnamitas apresentarem registo criminal para se candidatarem a blue card foi alargado ao naturais do “Bangladesh, Sri Lanka, Vietname, num total conjunto de seis países”. Não foram referido as restantes nacionalidades abrangidos pela medida, que irá entrar em vigor em Fevereiro próximo, ou ficou perdido na tradução. O anúncio foi dado pelo secretário para a Segurança aquando da discussão das Linhas de Acção Governativa perante os deputados.

A questão foi levantada pelo deputado Lei Chan U, que questionou o membro do Governo se esta medida não seria discriminatória. Porém, Wong Sio Chak explicou que decisão do Executivo foi “tomada com base em dados de segurança recolhidos”. O secretário acrescentou ainda que para se entrar na Função Pública é necessário apresentar registo criminal e que a medida também se destina a proteger os empregadores.

Esta medida anunciada por Wong Sio Chak vem aumentar o âmbito geográfico da necessidade dos naturais do Vietname terem de apresentar registo criminal para poder permanecer no território de Macau. Desta forma, aumentam exigências para obtenção de blue card, com um requisito que era apenas pedido para candidatos a BIR.

29 Nov 2017