LAG 2018 | Um muito elogiado Wong Sio Chak pediu legislação para vigilância através de mega-dados

O segundo dia de discussão das Linhas de Acção Governativa da Segurança foi marcado pela troca de elogios entre deputados e o secretário Wong Sio Chak e a aposta na investigação através de mega-dados. As excepções foram Sulu Sou, que questionou a aposta no policiamento tecnológico como um aperto à liberdade de expressão, e Pereira Coutinho. Mak Soi Kun falou como empreiteiro e anunciou que irá acelerar os trabalhos da nova prisão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] dia dois da Linha de Acção Governativa (LAG) dedicado à Segurança foi marcado pela troca de elogios entre os deputados e Wong Sio Chak e a sua equipa. Durante a sessão discutiu-se o uso de tecnologia para vigiar possíveis crimes, a implementação da vigilância e investigação através da vigilância das comunicações online através da recolha de mega-dados. Porém, a maioria dos deputados não viu grande problema em termos de intromissão na privacidade dos cidadãos.

Porém, cada vez que a maioria dos deputados se dirigiu ao secretário para a Segurança fê-lo tecendo rasgados elogios. Wong Sio Chak referiu que era perceptível que Song Pek Kei acompanhou as diferentes LAG da Segurança, enaltecendo a colaboração das forças policiais com a Associação dos Conterrâneos da Província de Fujian.

O secretário para a Segurança agradeceu ainda os elogios de Wu Chou Kit e reconheceu a “relação de afectividade” com o deputado por ser filho de um agente da Polícia Marítima. “Estou próximo do senhor deputado Wu Chou Kit, mas isso não quer dizer que não esteja próximo dos outros”, referiu o representante do Executivo acerca dos membros do órgão soberano que tem como função fiscalizar o Governo.

No final da sua intervenção, Mak Soi Kun arrancou algumas gargalhadas no plenário alternando o papel de deputado como o de empreiteiro ao afirmar que “vai tentar acelerar as obras” de construção da nova prisão. Importa dizer que a Sociedade de Engenharia Soi Kun tem um contrato para construção assinado com o Governo no valor superior a 1055 milhões de patacas.

Depois de enaltecer “o sucesso à vista de todos da liderança de Wong Sio Chak” à frente da segurança, o deputado Ma Chi Seng questionou o secretário acerca da implementação da vigilância por megadados e CCTV e das suas consequências para a privacidade dos cidadãos e era o erário público. Depoi da pequena ressalva, o deputado desejou que os sistemas sejam implementados o mais rapidamente possível.

À parte as manifestações de agradecimento, Wong Sio Chak pediu a produção urgente de legislação que enquadre a implementação da investigação através do uso de mega-dados para atacar a prática de crimes como consumo e tráfico de drogas, as pensões ilegais. Adiantou ainda que deseja que em 2018 sejam legislado o regime da emigração, a actualização do Estatuto dos Militarizados das Forças de Segurança, e a lei de combate aos crimes cibernéticos.

Big Brother

No capítulo da videovigilância, Chan Chak Mo lembrou que o secretário para a Segurança “ficou babado com o sistema videovigilância do Interior da China”, acrescentado que também ficou. O deputado eleito indirectamente revelou dar o seu total apoio à medida por entender que a disseminação das câmaras “contribui para a segurança dos cidadãos”.

Sulu Sou, que mais uma vez falou de pé, trouxe a suspensão da App Telegram em Macau, algo que adjectivou como “esquisito” e a justificação para a qual “muitos cidadãos usam VPN”, um mecanismo que camufla a posição geográfica do utilizador contornando o bloqueio local.

O jovem deputado chegou mesmo a citar George Orwell em inglês, “Big Brother is watching you”, acrescentando que a vigilância integral infringe os direitos e liberdades dos cidadãos.

Sulu Sou perguntou ao secretário da Segurança se a liberdade de comunicação em Macau se vai entrar em erosão gradual. O pró-democrata recordou que na China Continental não se pode aceder a meios de comunicação não certificados pelo Governo Central e que o Google, por exemplo, está bloqueado para os cidadãos chineses.

O deputado questionou ainda qual a opinião de Wong Sio Chak sobre a protecção do sigilo e se seria mesmo necessário “reforçar o controlo e a sociedade sacrificar a sua liberdade”.

Em termos de custos, Sulu Sou comparou os um por cento do PIB chinês investido em segurança, a comparar com os 2,73 por cento de Macau, dado que faz com que o jovem deputado considere que “não faltem recursos” no sector da segurança.

O secretário não entendeu “o que disse o deputado relativamente ao aperto às liberdades de expressão e comunicação”, acrescentando que todos têm direito a expressar-se desde que o faça dentro dos limites legais.

 

Au Kam San critica a proibição de entrada no território a académicos

O deputado pró-democrata trouxe para o debate das Linhas de Acção Governativa da Segurança os casos de proibição de entrada de professores, peritos, jornalistas e até uma criança de um ano. Au Kam San entende que esta não é uma forma de efectivar o projecto da internacionalização de Macau. No entender do deputado, estes são casos de abuso de poder, em que as autoridades seleccionam “personas non gratas”, extravasando os poderes conferidos pela lei. Wong Sio Chak respondeu que “cada região, ou país, tem o poder de salvaguardar a sua segurança”, dando como exemplos os Estados Unidos da América. O secretário para a Segurança acrescentou que as proibições de entrada se fazem de acordo com informações obtidas e que Macau “não barra pessoas de determinada nacionalidade, como os norte-americanos”. Quanto ao bebé proibido de entrar, Wong Sio Chak categorizou o caso como um “lapso que não se vai repetir”.

Agentes infiltrados em Macau não resultam devido a dimensão do território

Segundo a opinião de Wong Sio Chak, o uso de agentes infiltrados não funciona para detectar casos de jogo ilegal, uma vez que Macau é “um território onde tudo é transparente, logo, encobrir a identidade de um agente é muito difícil”. A dimensão da cidade foi a justificação dada pelo secretário para a Segurança para não se usar este tipo de investigação criminal, uma sugestão do deputado Davis Fong. O deputado nomeado sugeriu a medida para dar solução à criminalidade organizada que opera dentro dos casinos. Wong Sio Chak revelou que este método de investigação é mais apropriado para os crimes de tráfico e consumo de drogas, assim como para recolha de provas relativas às práticas criminais de seitas.

29 Nov 2017

Adopção | Os problemas de uma lei que não vai ser revista pelo Governo

Só num dos centros de acolhimento de crianças e jovens estão mais de 80. As famílias à espera de adopção são 70 e apenas uma criança está apta a entrar no processo. Os tribunais só as podem libertar para adopção depois do consentimento parental e a lei não vai ser revista

[dropcap style≠’circle’]V.[/dropcap] tinha cerca de 40 anos quando engravidou. Vivia precariamente e sofria de distúrbios mentais. Não conseguia tomar conta de um bebé, mas aconselhada a ficar com a criança, acabou por levar o filho para casa. Poucos dias depois, a criança foi entregue a um lar de acolhimento de menores para poder ser devidamente cuidada, visto a mãe não o conseguir fazer. Contudo, esta criança nunca foi admitida para adopção.

v. não queria abandonar o filho para ser criado por uma outra família e não podia ser a sua família. A lei de Macau relativa à adopção não permite que uma criança seja adoptada sem a autorização por parte dos pais biológicos nem contempla casos especiais, em que dada a incapacidade parental evidente, possa intervir para que o menor entre em processo de adopção. A criança é agora adolescente e está a terminar o ensino secundário. Nunca teve família e viveu sempre num lar.

H tinha 15 anos quando engravidou. Menor, não podia dar o filho para adopção. Em Macau, apenas as mães a partir de 18 anos podem declarar que querem entregar as crianças. O bebé ficou três anos à guarda dos avós, cresceu e transformou-se num fardo. Foi entregue a um lar. Foi resgatado pela mãe algum tempo mais tarde, mas as prioridades de uma jovem de 18 anos são outras. Voltou a ser entregue aos cuidados de uma instituição. Em Macau, uma mãe menor não tem poder para renunciar à parentalidade.

Jurisprudência, não lei

De acordo com directora do Centro do Bom Pastor, Juliana Devoy, não se trata, aqui, de um condicionamento legal. “A premissa saiu um dia da boca de um juiz que considerou a menor imatura para decidir se queria ficar com o filho e, a partir daí, é tido como um dado adquirido”, disse ao HM.

Independentemente das circunstâncias, são crianças que acabam por passar parte da vida a serem cuidadas por uma instituição e o Instituto de Acção Social (IAS) já reiterou ao HM: “A lei da adopção não vai ser revista”.

Para Juliana Devoy, a manutenção de um sistema, que não delimita tempos de espera para a libertação de crianças para adopção, mostra não se ter como valor o bem maior da criança. O mesmo se aplica à ausência de excepções quando é provada a falta de capacidade parental para cuidar dos filhos. “Quando uma mãe é visivelmente incapaz de cuidar da sua criança, o sistema deveria, desde logo, proteger o menor e encontrar mecanismos para acelerar a integração dessa criança numa nova família”, sublinha a responsável pelo Bom Pastor.

Juliana Devoy, que tem acompanhado mães que muitas vezes ainda não sabem se querem cuidar das crianças, não tem muitas dúvidas. “É urgente ter um regime jurídico capaz de encaminhar os bebés para adopção com a maior rapidez para que as crianças não passem o crescimento institucionalizadas”.

A razão, aponta, é o direito maior da criança a ter direito a uma família.

Além da lei

Mas as mudanças não podem ser apenas legislativas. As mentalidades, os serviços e mesmo os juízes têm de mudar a forma como pensam e actuam. “É preciso educar pais, funcionários e mesmo juízes. O IAS diz que não é do âmbito da sua acção e que a decisão é do juiz, mas isto pode ser mudado. Os juízes precisam de ser educados. Eles não sabem muito acerca de psicologia, mas quem saiba o mínimo, sabe que o período da primeira infância passado sem uma família ou de uma pessoa significativa, vai afectar todo o futuro das relações da criança”, explica Devoy.

A opinião é partilhada por Amélia António. Para a advogada, “o problema maior nem é a lei, são as pessoas e a sua sensibilidade”, algo que vai ter reflexos na forma como a lei é interpretada e praticada.

Tendo em conta o bem maior da criança e o direito a uma família, não há nada que impeça a confiança administrativa de um menor famílias candidatas a adopção enquanto os processos de espera por autorização parental decorrem.

“Uma criança candidata a adopção pode ser confiada com a ressalva de que aquela criança ainda não está com estatuto para poder avançar com o processo”, começa por dizer Amélia António. Mas, o que acontece, explica, é que a lei é interpretada de outra forma e as crianças só são libertadas para adopção depois de todo o processo concluído. Entretanto, vivem institucionalizadas.

“O processo administrativo e judicial pode estar a decorrer paralelamente. As pessoas têm é de estar devidamente esclarecidas. Conheço pessoas que adoptaram sem ter certeza se o processo iria funcionar e o que me diziam era que, enquanto a criança estivesse com elas, estaria a ser bem tratada e em ambiente familiar”, refere.

Para Amélia António, o maior problema tem mesmo que ver com a falta de esclarecimento das pessoas.

Desleixo nos serviços

O advogado Miguel de Senna Fernandes, especialista em Direito da Família, considera que a lei não é má. “As esperas não são uma questão de chatear as pessoas”, diz tendo em conta as 70 famílias que se encontram na lista de espera para adopção em Macau. Para o advogado, “o problema é a necessidade de existir uma actividade investigatória e todo um conjunto de procedimentos a ter em conta. Se aliarmos isto ao factor do desleixo, já é outra história e não é exclusivo no âmbito da adopção”.

No entanto, tratando-se de crianças que, de alguma forma, estão sob os cuidados do Governo, “há que ter todas as cautela, mesmo que este tipo de abordagem possa dar azo a muito papismo”.

Ainda assim, e mesmo em sintonia com a lei, Miguel de Senna Fernandes admite que os tempos indefinidos de espera em instituições “podem realmente não ir de encontro ao bem maior dos menores”.

Para o advogado, há que ter em conta os serviços e a sua pouca eficiência. “Não tem que ver com o regime mas com a forma como está a ser gerido e com a gestão dos serviços”, refere. Má pode ser a gestão dos recursos e o tempo de espera e as razões por esperas tão grandes sem ter que ver com  o próprio procedimento legal. É a este nível que tem de ser feita alguma alteração”, deixa com sugestão.

Discurso oficial

Em Macau há 70 famílias qualificadas para adoptar e à espera de acolher uma criança. Só num dos nove lares que recebem menores estão, neste momento, mais de 80 crianças. No território, apenas um menor está admitido para adopção “porque as autoridades judiciárias decretaram nesse sentido após os pais terem renunciado ao poder parental”, disse o IAS ao HM.

Quanto aos restantes utentes, por falta de renúncia de poder parental por parte dos pais biológicos, “não se encontram em situação susceptível de adopção”, reitera o IAS.

De acordo com o organismo, a colocação num lar de crianças e jovens tem como fim o “assegurar a sua permanência num ambiente seguro e o acesso aos cuidados adequados”, lê-se na resposta dada ao HM pelo organismo quando questionado acerca do assunto.

O IAS vai mais longe. “Em simultâneo, será também definido um projecto de vida em função das suas necessidades com o objectivo de reforçar a sua capacidade de se auto-cuidar ou desenvolver os seus interesses e talentos”, ainda que sem família.

E, nos casos em “que necessitam de ficar em lares durante um período de tempo mais prolongado e não possam regressar à família, o IAS apresenta periodicamente relatórios especiais ao Ministério Público para que as instituições judiciárias possam tomar as devidas providências”, refere o IAS.

 

Faltam leis para proteger os menores

As crianças que se encontram institucionalizadas, muitas vezes durante todo o seu desenvolvimento até atingirem a maioridade, são umas sobreviventes. A ideia foi deixada pelo psicólogo clínico Pedro Senna Fernandes ao HM.

Com experiência a trabalhar com crianças em idade escolar, Pedro Senna Fernandes considera que “Macau peca por não ter uma lei de protecção de crianças e de jovens em risco nem um regime relativo ao acolhimento institucional” o que faz com que “não se consiga apurar quem tem responsabilidades pelos menores que se encontram institucionalizados”, começa por dizer.

O resultado é o que se vê: “Crianças com um percurso saltitante entre aquilo que são os lares de acolhimento e orfanatos, e as próprias famílias”.

A situação tem consequências. Sem vínculos afectivos sólidos, têm elas próprias de arranjar forma de conseguir obter um reconhecimento emocional por parte das pessoas que estão nestes lares e que lidam com dezenas de outros menores, refere. “O que acontece em termos emocionais e comportamentais é que estas crianças começam a ter uma exposição às emoções básicas como a alegria tristeza e raiva, de uma forma muito dura o que faz com que desenvolvam competências emocionais de forma desajustada.”

Processos difíceis

Para Pedro Senna Fernandes a solução passaria além da criação dos regimes em falta, a constituição de equipas técnicas multidisciplinares que avaliassem cada situação em profundidade e apresentassem um relatório a um juiz que decidiria do seu encaminhamento para adopção ou não.

Em Macau o encaminhamento dado para adopção é “tremendamente dificultado”, considera, sendo que os casos que podem seguir para processo são ou de órfãos ou de crianças abandonadas, o que faz com que se mantenham, “num grande limbo, as crianças que continuam a estar nas instituições e a ir a casa, e que, muitas vezes permanecem em lares até aos 18 anos. Chegados à maioridade, saem dos lares e não há nenhum projecto capaz de os acompanhar”, remata.

29 Nov 2017

Malo Clinic demarca-se de fecho em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente da Malo Clinic, Paulo Maló, afirmou ontem que a ordem de encerramento do Hospital Taivex/Malo, em Macau, não abrange a sua empresa, que partilha o mesmo espaço. “O que se passou foi que as autoridades de Macau encerraram temporariamente o hospital Taivex/Malo e não a Malo Clinic em Macau”, disse o empresário à agência Lusa.

Em declarações por via telefónica, o empresário português esclarece que a Malo Clinic detém em Macau apenas a actividade ligada à medicina dentária e não à actividade relacionada com outras áreas médicas, que são responsabilidade de outras entidades. “A Taivex/Malo não é a Malo Clinic”, frisou Paulo Malo, notando que as duas entidades têm estruturas accionistas diferentes.

Na semana passada, os Serviços de Saúde de Macau informaram que “o Hospital Taivex/Malo está suspenso até 21 de maio de 2018 devido à prática de procriação medicamente assistida, tráfico e contrabando de medicamentos de oncologia, falta de condições de higiene e segurança para a prestação de cuidados de saúde”.

As instalações do hospital foram, entretanto, encerradas, o que na prática afecta o funcionamento da Malo Clinic, explica o empresário. “O que acontece é que como a Malo Clinic partilha o mesmo espaço e está sob a mesma licença, provavelmente não vamos conseguir ter acesso às nossas instalações”, explicou. “Mas estamos fechados não porque fizemos algo de errado, mas por que a Taivex/Malo fez algo contra a lei”, acrescentou.

A Malo Clinic prestava cuidados de medicina dentária em Macau no hospital de Dia Taivex/Malo e ao abrigo da licença atribuída àquela unidade hospitalar. Além do encerramento das instalações do Hospital Taivex/Malo, foram aplicadas duas multas: uma no valor de 103.000 patacas, a quatro médicos e um enfermeiro, e outra de 76.000 patacas, por técnicas ilegais de procriação medicamente assistida e prestação de serviços de oncologia, sem autorização dos Serviços de Saúde.

28 Nov 2017

No Divã com o Sexo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar da psicanálise ter sido o grande impulsionador da teorização do desenvolvimento sexual e da saúde mental, hoje em dia são raros os psicoterapeutas que usam uma perspectiva estritamente psicanalítica.

Hoje, cada vez mais, os psicoterapeutas tentam incorporar as várias perspectivas psicológicas de como lidar com o sofrimento humano e com o(s) processo(s) de procura de bem-estar – mas como é que se lida com o sexo? Surpreendentemente ou não, somos todos humanos e todos temos vieses que nos podem tornar mais ou menos tolerantes quando discutimos a sexualidade. Os psicoterapeutas podem ter mais ou menos capacidade de explorar, com o seu cliente, identidades e formas de sexualidade menos prototípicas. Surpresa: nem todos nós encaixamos nos paradigmas ocidentais, que se baseiam, fundamentalmente, numa perspectiva evolutiva, cisgénero, heterossexual e onde o sexo serve unicamente os fins de procriação. A dificuldade em falar do sexo de forma saudável, é transversal a todas as categorias profissionais que, à partida, achamos nós, deveriam ter valores mais progressivos, ou que fossem, pelo menos, a favor do bem-estar individual e colectivo. Assim acontece quando continuamente assistimos à representação do outro – o que não encaixa na expectativa heterossexual – como silenciado, hiperssexualizado ou assexualizado.

Na formação psicoterapêutica começam a existir conceitos que nos auxiliam a pensar estas questões do sexo e uma delas é a do sexo-positivo. Considerem um espectro em que num extremo está o sexo-negativo e no outro o sexo-positivo. De um lado temos as dificuldades associadas à culpa e à vergonha do sexo, e da outra temos consciencializada a necessidade de considerar o sexo como parte integrante do nosso desenvolvimento saudável, nas suas várias expressões livres e consensuais. Muito para além das identidades sexuais como as entendemos, o sexo-positivo engloba o bem-estar físico e as experiências e relações de prazer.

Um psicoterapeuta sexo-positivo sabe que é necessária uma sensibilidade particular para lidar com as tendenciais mensagens e valores sociais de erotofobia que muitas vezes são trazidas para o processo terapêutico. A erotofobia, conceito ao qual eu sou relativamente nova, reforça que o medo do erótico, ou, medo de aceitar o nosso erotismo, está associado a outras formas de comportamento nefastas para a saúde, bem como uma diminuição da auto-estima. Até há bem pouco tempo, no manual de diagnóstico à doença mental (DSM-IV), ainda se encontrava listado como patológico o sadismo e masoquismo sexual (vulgarmente denominado por BDSM). Não tem sido fácil desfazer a ideia de que não existe uma ‘normalidade’ categórica do sexo. Tanto que ainda existem um número de assumpções sexo-negativas que associam as práticas BDSM a ‘traumas não resolvidos’ ou de desajuste social e sexual, em que (supostamente) há uma forte dependência nas relações de poder que se acreditam ser ‘perpetuadas’ na vida real. Esta estigmatização (e má informação), que acontece entre terapeutas e profissionais, parte da contínua confusão entre BDSM consensual e não-consensual, este último bastante associado à literatura forense.

Poderia dar muitos mais exemplos, ocorre-me por exemplo, as constelações poliamorosas que muito provavelmente, em contexto terapêutico, serão analisadas à luz de relações monogâmicas – o que não servirá de grande ajuda, muito pelo contrário. E porque estas coisas têm vindo a acontecer, existem vários apelos pelo sexo-positivo no sentido de valorizar a expressão e desejo sexual consensual, que ultrapasse a nossa necessidade de considerar patologia aquilo que – bem trabalhado e bem aceite – nos traz a uma relação saudável connosco próprios e com os nossos desejos e prazeres.

28 Nov 2017

Futebol | Veteranos da Casa de Portugal participaram em torneio na Tailândia

Formação orientada por Pelé somou três derrotas, duas vitórias e um empate, ao longo do fim-de-semana de futebol de sete em Phuket. No último dia, a equipa da Casa de Portugal ficou a duas vitórias dos objectivos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Casa de Portugal participou no fim-de-semana, pela sexta vez, no Torneio Internacional de Futebol de Sete de Phuket e terminou a competição com três derrotas, duas vitórias e um empate. A equipa de veteranos, orientada por Pelé, ficou no terceiro lugar do grupo inicial e na fase seguinte – em que defrontou os terceiros classificados dos outros grupos – foi eliminada nas meias-finais.

Na primeira fase do torneio, a Casa de Portugal perdeu o encontro inaugural por 2-0, diante da formação Tiger United, de Hong Kong. Depois seguiu-se o empate com a formação Club X A, da Malásia, por 0-0 e nova derrota, desta vez por 2-1, diante do Aster FC, também da Malásia.

“No primeiro jogo perdemos por 2-0, mas tivemos três ocasiões de golo, que acabámos por não conseguir concretizar. No segundo jogo empatámos 0-0, mas foi um jogo que sentimos que poderíamos ganhar”, disse Pelé, treinador da equipa, ao HM.

“No terceiro jogo tivemos pela frente o Aster FC. É uma equipa que também veio de Malásia, mas que é constituída principalmente por jogadores indonésios e um brasileiro. Ainda estivemos a ganhar por 1-0, com um excelente golo do Ivo Benidio, de fora da área. Eles empataram quando nós marcámos um autogolo e, mesmo no fim, marcaram de livre directo o 2-1”, explicou.

O golo decisivo foi apontado por Nerivaldo da Silva, atleta brasileiro de 46 anos, que na época de 2000/2001 representou o Penafiel, que na altura militava na II Liga portuguesa.

Desilusão no último

No segundo dia de competição, a formação tinha como objectivo ganhar o torneio entre os terceiros classificados. No entanto, acabou por ser eliminada nas meias-finais por 1-0, diante de outra formação malaia, com o nome Suzy Wong. Antes, os comandados por Pelé tinham batido as equipas Taiwan Mongrels, por 2-1, e a formação local Macau Friends, por 3-0.

“No domingo jogámos contra a equipa Taiwan Mongrels e ganhámos por 2-1, com golos de Carlos Passarinho e Ivo Benidio. Depois tivemos um dérbi com outra equipa de Macau, a Macau Friends, em que fomos claramente superiores. Foi uma vitória clara por 3-0”, sublinhou o técnico da Casa de Portugal.

“O resultado das meias-finais acabou por ser injusto. Tivemos uma derrota por 1-0, mas merecíamos mais”, defendeu.

Pelé admitiu que o objectivo ficou por alcançar mas que a equipa vai ficar mais forte depois deste torneio. Por outro lado, realçou os esforços dos seus atletas e lamentou as ausências de Nuno Figueiredo, Sean Killer, Dedé, que ficaram de fora dos jogos devido a lesão.

O treinador elogiou ainda a formação, até pelos resultados alcançados na época passada: “Os veteranos fizeram a melhor temporada desde que estou à frente da equipa. Ficámos em quarto lugar, num total de 18 equipas, e fiquei muito satisfeito com o feito”, apontou.

28 Nov 2017

OI, de Luís Brito

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]i é o quarto livro de Luís Brito. Três deles de prosa e um de poesia, embora este de poesia esteja dentro de um dos livros de prosa, precisamente o livro que aqui nos traz. Todos os três de prosa são livros imersos na vivência da viagem. O humano abre-se à viagem quando se abre ao outro. Abraçar o outro é começar a viagem. O livro está dividido em vinte e seis partes: vinte e quatro arrepios (é assim que o autor divide os capítulos, por arrepios) e dois interlúdios, um em prosa – “O Ser Português” – e outro em poesia – Jejum (e que teve entretanto uma edição autónoma pelas edições Tea For One).

Mas antes de falarmos sobre o livro, é necessário uma breve nota acerca do título do mesmo. “Oi”, que aqui para nós é apenas o modo como os brasileiros cumprimentam os outros, no Brasil é uma interjeição que pede explicação. Porque no Brasil há “oi” com e sem ponto de interrogação. E o livro refere-se ao “oi” com interrogação. Oi? Quer dizer exactamente, “desculpe, não entendi”. E o não estou a entender, pode ter várias razões: ou porque você está a ser indelicado, “mas o que é isso?”; ou porque você não se fez ouvir claramente, “pode repetir, por favor”; ou porque simplesmente o que você diz parece não fazer sentido, de tão estranho que parece, “pode explicar, por favor?” Oi? Por conseguinte, o autor deixa claro que se trata de um livro imerso no Brasil, na sua cultura, na sua perplexidade.

O livro começa no aeroporto de Lisboa e no de Madrid, muito cedo, de madrugada, quando os voos são mais baratos. E o narrador vai iniciar uma viagem ao Brasil com a sua ex-namorada, a X, com quem tinha já planeado e comprado os bilhetes muito tempo antes do tempo se fazer sentir. Agora a viagem, que deveria ser uma celebração, é uma tortura, uma espécie de pena a pagar. O narrador viaja com X, mas logo à saída do aeroporto de São Paulo, separam-se no táxi, depois dele a deixar em casa de familiares, e de ela o aconselhar a ir alojar-se num hostel em Vila Madalena. Ele está apaixonado por ela. Ela não está apaixonada por ele. Separam-se no início do livro, e ele irá percorrer todas as páginas com ela na cabeça, com ela no coração, com ela na imaginação, que é o lugar aonde nunca se deve levar uma ex-mulher. Mas como se diz no Rio, “não tem tu, vai tu mesmo”. Ou na letra de uma canção When I need to replace her / I am a eraser / anything goês, repetida ao longo do livro, como um refrão do próprio livro. Começa aqui uma viagem das mais estranhas que, hoje em dia, um homem pode encetar: ir ao Brasil em busca, num corpo, de um sentido para além do corpo.

Provavelmente todos os livros, desde a Ilíada e a Odisseia, dividem-se entre livros de vingança e guerra, por um lado, e livros de viagem por outro; embora os livros de amor sejam também livros de guerra ou de vingança, e livros de viagem. E neste livro de Luís Brito, que é um livro de viagem, estabelece-se logo desde o início um paralelismo entre a viagem e a relação amorosa. Já não se trata apenas do paralelismo entre a viagem e a aceitação do outro, como em Alcatrão, que é um modo de nos entendermos a nós, aqui a viagem encontra um outro modo de nos fazer ver mais sobre nó mesmos: o nós no outro.

Assim, as relações fortuitas, casuais, as “one night stand” são o modo de se ser turista e as relações duradoiras o modo de se ser viajante. Escreve logo na segunda página (página oito do livro): “O problema não és tu – sou eu –, ou o problema não sou eu, o problema é o mundo. É ele que nos torna incapazes de amar, ou talvez seja a pequenez asquerosa do nosso país que nos põe tão tristes e mesquinhos. Separações e divórcios trocados por envolvimentos efémeros. Shots de prazer que em nada compactuam com aquilo que deve ser uma vida a dois – paciência, perseverança, diálogo e caminho na infelicidade.”

Já desde Alcatrão, o seu primeiro livro, Luís Brito traça uma ontologia do ser viajante em contraposição ao ser turista, mas aqui vai mais longe. Neste seu livro, a viagem é muito mais interior do que exterior, as paisagens traçadas são mais subjectivas do que objectivas, são mais acerca do humano que escreve do que dos humanos que são “escritos”. Não no sentido de um auto-centramento, mas antes no reconhecimento de que o outro descrito é uma extensão nossa, ainda que se faça da própria vida uma contínua viagem pelo mundo. Assim, quanto mais o mundo estica, mais o humano encolhe. Podíamos ler à página 169, de Alcatrão, o seguinte: “Saídos de casa começamos por prestar vassalagem à diversidade.

Admiramos os tons de pele e as culturas, vivendo a excitação do incógnito e os choques dos momentos sempre novos. Depois, com o tempo e a prática, ganhamos profundidade na observação e desvendamos comportamentos mais parecidos com aqueles a que chamamos nossos.” Nesse livro, entendíamos o exercício de  viajar como uma tentativa de se perder de si mesmo, isto é, como um dos caminho mais rápidos em direcção a nós mesmos. Mas aqui, em Oi?, a viagem é a viagem no outro. E também aqui, nesta terra que nos perdemos e nos encontramos. E viajar é parar. Viajar é ter atenção.

Provavelmente, tudo aquilo que o turista evita, pois – escreve Brito, ainda na mesma página da anterior – “Não há nada mais terrível do que uma evidência erguida à nossa frente.” E esta evidência a que o autor se refere é a nossa própria existência, que assume contornos de factualidade na confrontação com o outro diante de nós, do outro em quem atentamos, realmente. Pois há na existência um tremendo paradoxo: a procura de alguém e a impossibilidade de ficar. Luís Brito começa o capítulo “Segundo Arrepio” com as seguintes palavras: “Porque nos juntamos em rebanhos? De quem estamos à procura quando nos pomos no meio da multidão?” Este ímpeto não é o da viagem, mas o do turista. Ir é o verbo turístico por excelência, ficar é o verbo do viajante. Só fica quem viajou, pois quem nunca partiu não fica, está ali agarrado ao lugar como uma árvore agarrada à terra onde foi plantada. Mas quem viaja, mais cedo ou mais tarde irá ficar em outro lugar.

Desde o início, o narrador está perdido. Perdido de amores e perdido no mundo. E Luís Brito – penso que aqui podemos estabelecer esta intimidade entre narrador e autor – não se perde nele mesmo, porque não há um ele mesmo onde se perder. Ele perde-se no mundo a cada instante, neste caso na noite paulista, vertiginosa, como no exemplo radical de David, um sem-abrigo que tinha sido internado num manicómio pela sua tia, de modo a ficar-lhe com a herança, e que lá, no manicómio, foi violado por um enfermeiro e contraiu HIV. É o Brasil “hardore”, que o põe a duvidar, não apenas de si mesmo, mas da sua existência: “David, o homem que parecia um judeu fugido de um campo de concentração, foi-se embora e eu fiquei sozinho em São Paulo. Se é real nunca saberei. Se eu próprio sou real, também é uma questão sem resposta. Por isso aqui está o livro.” (p. 24)

[continua]

28 Nov 2017

A jovem criada – Dedicado a Ludwig von Ficker

1

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]miúde, junto ao poço, ao entardecer,

Vemo-la, enfeitiçada, de pé, a

Tirar água, ao entardecer.

Baldes a subir e a descer.

Nas faias, esvoaçam gralhas,

E ela parece-se com uma sombra.

Os seu cabelos amarelos esvoaçam

E no pátio chiam os ratos.

E fascinada pelo declínio,

Baixa as pálpebras inflamadas.

Erva seca em declínio

Cai a seus pés.

 

Die junge Magd

Ludwig von Ficker zugeeignet

1

Oft am Brunnen, wenn es dämmert,

Sieht man sie verzaubert stehen

Wasser schöpfen, wenn es dämmert.

Eimer auf und nieder gehen.

In den Buchen Dohlen flattern

Und sie gleichet einem Schatten.

Ihre gelben Haare flattern

Und im Hofe schrein die Ratten.

Und umschmeichelt von Verfalle

Senkt sie die entzundenen Lider.

Dürres Gras neigt im Verfalle

Sich zu ihren Füssen nieder.

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag.

2

Silenciosamente, trabalha no quarto

E o pátio há muito que está deserto.

No sabugueiro, à frente do quarto,

Um melro canta o seu lamento.

Prateada a sua imagem, no espelho, olha

estranhamente para ela, no lusco-fusco,

E a imagem entardece pálida no espelho,

E estremece perante a pureza da rapariga.

Como num sonho, canta um criado na escuridão,

E ela olha-o fixamente, abalada pela dor.

Uma vermelhidão goteja através da escuridão.

De repente, o vento sul sacode o portão.

 

Die junge Magd

2

Stille schafft sie in der Kammer

Und der Hof liegt längst verödet.

Im Hollunder vor der Kammer

Kläglich eine Amsel flötet.

Silbern schaut ihr Bild im Spiegel

Fremd sie an im Zwielichtscheine

Und verdämmert fahl im Spiegel

Und ihr graut vor seiner Reine.

Traumhaft singt ein Knecht im Dunkel

Und sie starrt von Schmerz geschüttelt.

Röte träufelt durch das Dunkel.

Jäh am Tor der Südwind rüttelt.

3

De noite, sobre o prado nu,

Ela agita-se em sonhos febris.

Amuado lamenta, no prado, o vento,

E a lua está à escuta nas árvores

Logo empalidecem as estrelas em redor

E, exaustas de queixumes,

As suas faces de cera empalidecem.

Uma podridão exala da terra.

Triste, sussurra o canavial na lagoa

E, encolhida sobre si, gela de frio.

Ao longe, canta um galo. Sobre a lagoa

Dura e cinzenta, estremece a manhã.

3.

Nächtens übern kahlen Anger

Gaukelt sie in Fieberträumen.

Mürrisch greint der Wind im Anger

Und der Mond lauscht aus den Bäumen.

Balde rings die Sterne bleichen

Und ermattet von Beschwerde

Wächsern ihre Wangen bleichen.

Fäulnis wittert aus der Erde.

Traurig rauscht das Rohr im Tümpel

Und sie friert in sich gekauert.

Fern ein Hahn kräht. Übern Tümpel

Hart und grau der Morgen schauert.

Na forja, retine o martelo,

E ela apressada pelo portão passa.

Incandescente o martelo o criado brande,

E ela olha para ele como se estivesse morta.

Como num sonho, ela é atingida pelo seu riso

E cambaleia em direcção da forja.

Agacha-se envergonhada com aquele riso,

Duro e grosseiro como o martelo

As centelhas espalham-se claras pelo espaço

E com gestos impotentes,

Ela procura agarrar as selvagens centelhas

E cai aturdida por terra.

 

Die Junge Magd

4

In der Schmiede dröhnt der Hammer

Und sie huscht am Tor vorüber.

Glührot schwingt der Knecht den Hammer

Und sie schaut wie tot hinüber.

Wie im Traum trifft sie ein Lachen;

Und sie taumelt in die Schmiede,

Scheu geduckt vor seinem Lachen,

Wie der Hammer hart und rüde.

Hell versprühn im Raum die Funken

Und mit hilfloser Geberde

Hascht sie nach den wilden Funken

Und sie stürzt betäubt zur Erde.

 

 

5

Muito magra, estendida na cama,

Acorda cheia de uma doce angústia

E vê a sua cama suja

Completamente coberta por uma luz dourada,

As resedas ali na janela

E a claridade azul do céu.

Às vezes, o vento traz até à janela

O hesitante tinir de um sino.

Sombras deslizam sobre a almofada.

Bate lentamente o meio dia

E ela respira pesadamente na almofada,

E a sua boca é como uma ferida.

 

Die Junge Magd[1]

5.

 

Schmächtig hingestreckt im Bette

Wacht sie auf voll süßem Bangen

Und sie sieht ihr schmutzig Bette

Ganz von goldnem Licht verhangen,

Die Reseden dort am Fenster

Und den bläulich hellen Himmel.

Manchmal trägt der Wind ans Fenster

Einer Glocke zag Gebimmel.

Schatten gleiten übers Kissen,

Langsam schlägt die Mittagsstunde

Und sie atmet schwer im Kissen

Und ihr Mund gleicht einer Wunde.

6

À noite, esvoaçam lençóis ensanguentados.

Esvoaçam nuvens sobre florestas mudas,

Estão envoltas em lençóis negros,

Pardais fazem alarido nos campos.

Ela está deitada completamente branca no escuro.

Debaixo do telhado, sopra um arrulho.

Como no bosque à volta de uma carcaça negra

Moscas redemoinham à volta da sua boca.

Como num sonho, ecoam na aldeia castanha

Sons de dança e violino.

O seu semblante paira sobre a aldeia

E o seu cabelo sopra em ramos desfolhados.

 

Die junge Magd

6

Abends schweben blutige Linnen,

Wolken über stummen Wäldern,

Die gehüllt in schwarze Linnen.

Spatzen lärmen auf den Feldern.

Und sie liegt ganz weiß im Dunkel.

Unterm Dach verhaucht ein Girren.

Wie ein Aas in Busch und Dunkel

Fliegen ihren Mund umschwirren.

Traumhaft klingt im braunen Weiler

Nach ein Klang von Tanz und Geigen,

Schwebt ihr Antlitz durch den Weiler,

Weht ihr Haar in kahlen Zweigen.

28 Nov 2017

Pequim : Petição contra expulsão de trabalhadores migrantes

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de cem intelectuais chineses assinaram uma petição a pedir ao governo do município de Pequim que pare de expulsar dezenas de milhares de trabalhadores migrantes, após um incêndio que causou 19 mortos. Depois de um dos mais graves incêndios, dos últimos anos, na capital chinesa, que terá começado nos sistemas de refrigeração na cave do edifício, as autoridades lançaram uma campanha de 40 dias para inspeccionar as construções da cidade.

Nos subúrbios da capital, muitas das construções que acolhem trabalhadores migrantes são ilegais, assim como os negócios que servem estas comunidades. Pequenas lojas e restaurantes nos subúrbios de Pequim estão a ser encerrados e os moradores expulsos, com apenas alguns dias, ou mesmo horas de aviso prévio, de acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

A petição, assinada por 112 académicos, advogados e artistas chineses, classificou a campanha de “cruel” e “grave violação dos Direitos Humanos”. “O desenvolvimento de Pequim é não só fruto do trabalho árduo dos seus cidadãos, mas também do sacrifício e contribuição de pessoas de outras partes do país”, lê-se no documento, difundido ‘online’. “Pequim deve agradecer aos cidadãos chineses, em vez de esquecer e retribuir às pessoas do país com arrogância, discriminação e humilhação, sobretudo ao grupo com rendimento mais baixo”, acrescentou.

Mais de 400 pessoas viviam no edifício que ardeu este mês. Entre os 19 mortos, oito eram menores de idade. O incêndio ocorreu também numa altura em que as autoridades têm lançado várias obras para embelezar a capital, que resultaram no encerramento de vários negócios.

Pequim é sede de um município com perto de 22 milhões de residentes, que são, na sua maioria, trabalhadores migrantes. Os altos preços do imobiliário e o restrito sistema de residência da capital, conhecido como “hukou”, mantêm muitos destes trabalhadores em bairros degradados na periferia.

28 Nov 2017

Hong Kong : Legco pede devolução de salários a deputados desqualificados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho Legislativo de Hong Kong está a pedir a quatro ex-deputados a devolução dos salários e apoios financeiros auferidos durante nove meses, desde a tomada de posse em Outubro até os seus juramentos serem declarados inválidos em Julho. Os ex-deputados Lau Siu-lai, Nathan Law, Leung Kwok-hung e Edward Yiu devem individualmente ao Conselho Legislativo (LegCo) da antiga colónia britânica entre 2,7 e 3,1 milhões de dólares de Hong Kong, informa a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

A decisão para tentar recuperar o dinheiro foi anunciada ontem pelo presidente do LegCo, Andrew Leung, após uma reunião especial da comissão do LegCo. “Temos de seguir a decisão do tribunal de primeira instância. E porque estão envolvidos fundos públicos, temos de agir com prudência nesta questão”, afirmou Andrew Leung.

O presidente do LegCo disse que a comissão vai enviar uma carta aos quatro deputados que perderam os respectivos assentos em Julho, os quais terão quatro semanas para responder. Leung admitiu que a tentativa de recuperar o dinheiro pode ser contestada em tribunal. O Tribunal Superior de Hong Kong indicou que a decisão para desqualificar os quatro ex-deputados pró-democracia tem efeitos retroactivos até Outubro, quando foram prestados os juramentos.

Entre os quatro desqualificados estão o radical Leung Kwok-hung, mais conhecido por “Long hair” (“cabelo comprido”) e a professora universitária Lau Siu-lai, que em Setembro recorreram da decisão do tribunal. Já os ex-deputados Nathan Law e Edward Yiu decidiram não apresentar recurso.

O LegCo está também a tentar recuperar 1,8 milhões de dólares de Hong Kong em salários e apoios financeiros de Sixtus Leung e Yau Wai-ching, os primeiros dois ex-deputados a serem desqualificados, em Novembro, pela forma como prestaram juramento. Estes dois jovens, que tinham sido eleitos pelo grupo localista ‘Youngspiration’, recusaram devolver o dinheiro e o LegCo avançou com uma acção na justiça.

O Conselho Legislativo de Hong Kong é composto por 70 deputados. Com a desqualificação de seis, todos eles do campo pró-democracia e anti-Governo, as forças pró-Pequim passaram a estar em maioria. Eleições intercalares vão ser realizadas em 11 de Março para preencher quatro dos seis lugares deixados vagos por desqualificação.

28 Nov 2017

China | Presidente quer casas-de-banho limpas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China deve continuar a melhorar as casas-de-banho do país como parte de sua “revolução das casas-de-banho”, voltada para o desenvolvimento do turismo nacional e melhorar a qualidade de vida das pessoas, disse o presidente Xi Jinping.

A construção de casas-de-banho limpas é uma importante parte para impulsionar a civilização urbana e rural e mais esforços devem ser feitos tanto nas cidades como nas áreas rurais para melhorar as casas-de-banho, disse Xi numa instrução recente sobre o avanço da revolução das casas-de-banho executada no sector turístico.

A par com a revolução das casas-de-banho, a China deve construir melhores instalações e serviços públicos para impulsionar a indústria turística, disse Xi.

Xi enfatizou há muito tempo a importância da revolução das casas-de-banho para promover a qualidade da indústria turística. Segundo o presidente, os funcionários públicos devem fazer esforços consistentes e tomar medidas para lidar com os assuntos existentes há muito tempo e corrigir os maus hábitos no turismo.

As autoridades locais estão actualmente mais cientes da importância das casas-de-banho, acreditando que melhores banheiros não só são benéficos para o turismo, mas também podem melhorar o ambiente de trabalho e vida da população, além de promover o nível geral da civilização da sociedade.

Ao visitar áreas rurais, Xi costumava perguntar aos moradores locais sobre as condições das casas-de-banho, e enfatizou muitas vezes que casa-de-banho limpas para os moradores rurais são importantes para a construção de uma “nova zona rural”.

A China lançou uma revolução das casas-de-banho em todo o país em 2015 com o objectivo de as tornar mais limpas e mais reguladas.

As casas-de-banho nas zonas rurais e nos destinos turísticos tinham uma má reputação. Nas áreas rurais, algumas eram nada mais do que abrigos temporários cercados por espigas de milho, e outras eram covas perto de chiqueiros. Nos destinos turísticos, os visitantes frequentemente sentiam falta de casa-de-banho, más condições higiénicas e falta de trabalhadores de saneamento.

Até o final de Outubro deste ano, a China construiu ou melhorou 68 mil casas-de-banho nos destinos turísticos, 19,3% mais que o objectivo.

A revolução das casas-de-banho tem sido expandida gradualmente dos destinos turísticos para cobrir o país inteiro, das cidades para as áreas rurais. O país planeia construir ou melhorar outros 64 mil casas-de-banho nos destinos turísticos de 2018 a 2020, segundo um plano de acção divulgado pela Administração Nacional de Turismo da China.

28 Nov 2017

BRICS discutem sistema alternativo para o comércio do ouro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s países do BRICS produzem e consomem volumes impressionantes de ouro e querem continuar a fazê-lo sem ser através dos centros europeus tradicionais. O Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul estão a dicutir a possibilidade de criar um sistema de compra e venda de ouro separado dos tradicionais centros de comércio, disse o vice-presidente do Banco Central da Rússia, Sergei Shvetsov.

“O sistema tradicional [de comércio de ouro], baseado em Londres e parcialmente em cidades suíças, é cada vez menos relevante à medida que estão a surgir novos centros de comércio, sobretudo na Índia, China e África do Sul”, disse no fim de semana durante uma conferência sobre o mercado de metais preciosos.

“Estamos a falar da possibilidade de estabelecer um único [sistema de] comércio de ouro tanto dentro do BRICS como a nível de contactos bilaterais”, informou Shvetsov, acrescentando que o sistema, levando em conta os impressionantes níveis actuais de consumo e produção do metal precioso nos países do bloco, levaria à criação de novos pontos de referência a nível internacional.

De acordo com o vice-presidente, o Banco Central russo já firmou um memorando com a China para desenvolver o comércio bilateral de ouro. O banco espera que em 2018 seja lançado o sistema de comércio bilateral com Pequim.

Segundo os dados do Conselho Mundial de Ouro, a Rússia é o maior comprador oficial de ouro e o terceiro maior produtor mundial. Desde o início das sanções, o Banco Central russo compra cerca de 100 toneladas de ouro por ano.

Por seu lado, durante os últimos meses, a China contribuiu mais que qualquer outro país para o crescimento da procura por barras de ouro.

28 Nov 2017

Li Keqiang visita Budapeste e participa no Fórum China-CEEC

O primeiro-ministro reforça os laços com a Europa de Leste. Uma viagem considerada “vital” no estabelecimento de estratégias para as relações com o Velho Continente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro Li Keqiang chegou no domingo à capital húngara, Budapeste, para participar na sexta Reunião de Chefes de Governo da China e países da Europa Central e Oriental (China-CEEC), bem como para a sua primeira visita à Hungria como primeiro-ministro. À chegada ao aeroporto de Budapeste, foi recebido pelo primeiro-ministro húngaro, Orban Viktor.

Li assistirá a uma mesa-redonda de líderes, participará no sétimo Fórum Económico e de Comércio China-CEEC, e vai testemunhar a assinatura de acordos de cooperação entre a China e os 16 países da Europa Central e Oriental.

Os líderes dos referidos países discutirão como promover a cooperação em áreas como conectividade, comércio e investimento, finanças, economia verde e inovação tecnológica, trocando também opiniões sobre questões globais de interesse comum.

Li também se reunirá com o presidente húngaro, Ader Janos, e o presidente da Assembleia Nacional, Kover Laszlo. A Hungria foi um dos primeiros países a estabelecer laços diplomáticos com a China em Outubro de 1949.

Querida Hungria

A Hungria foi também o primeiro país europeu a assinar um documento de cooperação com a China para se alinhar com a iniciativa Uma Faixa, uma Rota, lembrou Li, num artigo assinado no sábado no Hungarian Times. Os dois países obtiveram “sucessos notáveis em cooperação nas áreas como investimentos, finanças e agricultura”, acrescentou o primeiro-ministro chinês.

Li recebeu Orban durante as duas visitas oficiais deste último à China, em Fevereiro de 2014 e Maio deste ano. As relações bilaterais dos dois países foram actualizadas para uma parceria estratégica abrangente durante a visita de Maio, quando Orban assistiu ao Fórum Uma Faixa, uma Rota para Cooperação Internacional.

A viagem do primeiro-ministro, que acontece depois da conclusão do 19º Congresso Nacional do PCC e por ocasião do quinto aniversário da cooperação “16 + 1”, entre a China e os países da Europa Central e Oriental, é “vital para promover uma parceria estratégica abrangente entre a China e a Europa”, reiterou o vice-ministro das Relações Exteriores, Wang Chao na semana passada.

Após completar a viagem à Hungria, Li irá à Rússia para participar na 16ª Reunião do Conselho de Chefes de Governo da Organização de Cooperação de Shanghai, antes de regressar a Pequim no fim-de-semana.

28 Nov 2017

Filme português “Farpões Baldios” vence prémio no Japão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Farpões Baldios”, de Marta Mateus, que reflecte sobre ruralidade e trabalho, conquistou o Grande Prémio do Hiroshima International Film Festival, no Japão, anunciou ontem a Portugal Film – Agência Internacional de Cinema.

Primeira obra de Marta Mateus, o filme estreou-se na Quinzaine des Réalisateurs, no Festival de Cannes, em Maio deste ano, e venceu em Julho o Grande Prémio do Curtas Vila do Conde – International Film Festival.

De acordo com um comunicado da Portugal Film, o documentário foi distinguido no Japão por um júri composto pelos cineastas Rithy Pahn e Albert Serra, e por Kim Dong, presidente do Festival de Busan, na Coreia do Sul.

Realizada este ano, a obra tem também argumento e montagem de Marta Mateus, som de Olivier Blanc e Hugo Leitão, e é uma produção da C.R.I.M. Filmes – Joana Ferreira e Isabel Machado, em co-produção da OPTEC (Sociedade Óptica Técnica) – Abel Ribeiro Chaves, com distribuição da Portugal Film.

Na primeira pessoa

Os protagonistas do filme, resistentes de uma velha luta por melhores condições de trabalho, contam a sua história pessoal às gerações de hoje, nas suas próprias palavras.

Estreado em Portugal em Setembro, o filme “Farpões Baldios” também recebeu uma Menção Especial no Festival Cineuropa de Santiago de Compostela, em Espanha.

Até ao final do ano, será ainda exibido no Festival de Mar del Plata e no Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.

Em Julho, quando o filme venceu o Grande Prémio do 25.º Curtas Vila do Conde, no valor de 2.000 euros, o júri do festival sublinhou que o filme “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado”.

No filme participam Maria Clara Madeira, Gonçalo Prudêncio, Maria Catarina Sapata, José Codices, Francisco Barbeiro, Lúcia Canhoto, Mariana Nunes, Tatiana Prudêncio, João Neves, António Prudêncio, Rodrigo Rosas, Tobias Liliu, Joaquim Prudêncio, Augusto Frade, Paula Pelado, Maria Inácia Cunha e Tânia Ramos.

28 Nov 2017

This Is My City | Festival acontece em Shenzhen e Macau

Depois de dez anos, é tempo de alargar fronteiras. O This Is My City vai, este ano, ter lugar também em Shenzhen. A ideia é ter uma rede que se alargue ao Delta do Rio das Pérolas. O festival conta, como nas edições anteriores, com várias actividades e Paulo Furtado vem tocar ao vivo a banda sonora do filme que também estreia no território

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é só mais uma edição do This Is My City (TIMC), á a décima primeira e marca uma mudança de estratégia por parte da organização. “Dez anos significa que é uma altura de pensar o que fizemos nesta década e no que vamos fazer para a próxima” começou por explicar, ontem, Manuel Silva, um dos responsáveis pela iniciativa. O resultado é o alargamento do festival à região e este ano, o TIMC vai também ter lugar em Shenzhen, além de Macau.

O objectivo é fazer mais do que um festival. “O alargamento a Shenzhen é para provar que o festival quer ser mais do que isso e que se quer desenvolver enquanto rede, até porque os festivais morrem e as redes perduram”, explicou Manuel Silva.

O conceito também muda: não se tratando mais de uma só cidade, trata-se agora de “uma rede criativa intercidades, em que do local se passa ao regional.”

A ideia é partilhar culturas numa mesma região. A Shenzhen o TIMC vai levar a multiculturalidade do território e do outro lado vem a riqueza cultural associada ao Delta do Rio das Pérolas.

O TIMC nasceu em 2006 e “fechado o ciclo de dez anos de existência redesenha-se e dá agora os primeiros passos para integrar o Delta do Rio das pérolas numa rede criativa, promovendo a lusofonia na região”, lê-se na apresentação do evento.

Cinema imprevisto

Além da expansão geográfica o TIMC volta a trazer um conjunto de actividades distribuídas entre Macau e Shenzhen.

A presença de Paulo Furtado, mais conhecido por The Legendary Tiger Man, não é nova, mas vem agora ao território estrear o seu último trabalho cinematográfico “How to be nothing”. O filme não será uma mera projecção a ter lugar no próximo dia 16 de Dezembro, mas pretende ser uma mostra multifacetada. Paulo Furtado faz, ao vivo, a banda sonora e Pedro Maia, co- realizador da película, manipula as imagens enquanto são projectadas. A experiência promete, diz Manuel Silva, “ser única”. O evento tem lugar no espaço What´s Up na Calçada do Amparo.

O D2 Club também é palco do TIMC, nesta décima primeira edição com uma noite preenchida com os DJs campeões do mundo de scratch e turntablism, os portugueses Beatbombers. A dupla composta por Ride e Stereossauro, depois de tocar no Magma em Shenzhen, a 15 de Dezembro, vem ao território, para encerrar a festa no clube nocturno local.

Entretanto, e a representar o território, há concertos marcados da banda local Fase Lane e o saxofonista e clarinetista Paulo Pereira. Paulo Pereira vai ao What´s Up apresentar um projecto feito especialmente para o evento em que traz a união das tradições musicais ocidentais com a herança cultural oriental através do jazz.

Fronteiras no mapa

Mas o TIMC tem planos de aquecimento para o festival e para o efeito, já no próximo fim-de-semana, começa o projecto TIMC Pearl PAKmap. A ideia é “explorar abordagens interdisciplinares para mapear a percepção da paisagem e a relação entre as fronteiras do Rio Das Pérolas e a sua produção cultural”, diz a organização.

O projecto começa com a realização de dois workshops no Albergue SCM a 2 e 3 de Dezembro e conta com a colaboração de académicos internacionais. No primeiro dia, tem lugar a parte formativa que inclui sessões e discussões académicas e no segundo dia decorre a parte prática em que os participantes vão para o terreno e procuram mapear as fronteiras entre Macau e Zhuhai, a partir da Doca dos Pescadores. A 9 de Dezembro, e após o material recolhido, os participantes encontram-se na Universidade de São José para a fase de pós produção do material recolhido. O resultado: duas exposições, a 15 e 16 de Dezembro nas cidades que acolhem o TIMC. Depois, os trabalhos efectuados passam a integrar a plataforma pakmap.net que “funcionará como arquivo destas e de outras histórias ligadas às fronteiras do Delta do Rio das Pérolas”.

28 Nov 2017

UM | Saída de Wei Zhao alvo de investigação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) está a investigar o processo de rescisão do contrato com Wei Zhao, reitor da Universidade de Macau, a pedido do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Ontem, à margem da inauguração de uma creche, Alexis Tam garantiu que o GAES vai tentar perceber se houve algum incumprimento no processo da saída do reitor, que vai assumir o cargo de director da área de investigação da Universidade Americana de Sharjah.

De acordo com o secretário, a investigação vai resultar num relatório conjunto do Conselho da Universidade de Macau e do GAES, que vai ser publicado assim que estiver terminado.

A polémica surgiu na semana passada, depois do conselho da UM ter recebido uma queixa pelo facto de Wei Zhao não ir cumprir um período de nojo de seis meses entre a mudança de cargos. Posteriormente, em resposta à queixa, a UM explicou que Wei Zhao actuou dentro da legalidade, uma vez que os estatutos internos não impõem um período de nojo. Mesmo assim, o GAES vai analisar a situação.

Também ontem, Alexis Tam abordou o caso da grávida que se queixa de ter perdido a criança, após ter ido ao hospital público e ter sido enviada para casa, durante a passagem do tufão Hato, por Macau.

Sobre este assunto, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura frisou que o caso está a ser tratado com todos os cuidados e que os Serviços de Saúde vão elaborar um relatório detalhado. Alexis Tam disse ainda que a Comissão de Perícia do Erro Médico vai também fazer um relatório sobre o incidente.

28 Nov 2017

Metro ligeiro | Governo promete não desistir do segmento de Macau

Lei Chan Tong, coordenador do Gabinete de Infra-estruturas de Transportes, disse ontem no programa matinal do canal chinês da Rádio Macau que o Governo não vai desistir do segmento de Macau do metro ligeiro

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a Taipa começa a circular em 2019, em Macau não se sabe, mas vai circular. A certeza de que a península vai ter o sistema de transporte de metro ligeiro foi dada ontem no programa matinal do canal chinês da Rádio Macau, Ou Mun Tin Toi.

Lei Chan Tong garantiu que o Executivo não vai desistir de construir o segmento do metro ligeiro na península, apesar de ainda não ter sido avançado qualquer calendário. Além disso, o responsável do GIT acrescentou que o segmento da Taipa começa a ser sujeitos a testes de circulação já a partir de Janeiro.

A forma como o metro ligeiro vai circular na península tem sido alvo de um intenso debate. Num plenário da Assembleia Legislativa, os deputados Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong chegaram a defender que não vale a pena avançar com o metro em Macau: basta fazer a ligação entre a Taipa e a estação da Barra.

Os tribunos sustentaram a teoria com a morosidade e transtorno causados pela construção do projecto. “As obras do traçado do metro ligeiro da Taipa são lentas e a população tem de tolerar, mais três anos, um período negro de trânsito”, salientaram. “Se a mesma situação acontecer na península de Macau, é de crer que serão mais graves os congestionamentos de transeuntes e de carros.” Vai daí, os deputados afirmam que “não vale a pena a construção [do metro] na península de Macau e basta ligar o troço da Taipa à estação da Barra”, sendo que pedem ao Governo que “pondere com cautela” a sugestão deixada.

Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong deixam uma alternativa para a península, para que o trânsito possa ser “melhorado com urgência”: “Macau pode aproveitar as vantagens costeiras e tornar a Barra como centro, construindo à beira-mar na península uma ‘via circular exterior’”. Esta opção iria permitir, para os deputados, fazer a triagem de veículos para várias zonas, aliviando a pressão do trânsito no centro da cidade.

Depois, e seguindo a mesma lógica de aproveitamento da linha costeira, os três membros da AL – todos eles com ligações ao sector da construção – propõem que se faça um monocarril. Os deputados deixam uma noção do que poderia acontecer: “Os vagões podem percorrer, continuamente, a ferrovia em torno da cidade, permitindo aos cidadãos chegarem da circular exterior a várias zonas da península de Macau”.

Um monocarril

No mesmo debate, os três deputados chegaram a defender a construção de um monocarril, sempre tendo em vista o aproveitamento da zona costeira junto à Barra.

“Os vagões podem percorrer, continuamente, a ferrovia em torno da cidade, permitindo aos cidadãos chegarem da circular exterior a várias zonas da península de Macau”, apontaram os deputados no hemiciclo.

Além da contribuição para a resolução do problema do trânsito, Kou Hoi In, Cheang Chi Keong e Chui Sai Cheong encontraram nesta ideia mais uma atracção turística, pois poderia servir de “carril de excursão em torno da península”.

28 Nov 2017

Atestados | Centros de Saúde terão falsificado assinatura de jovens médicos

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos três dos jovens médicos acusados de falsificar atestados afirmam estar inocentes. A ideia foi deixada pelo deputado Chan Iek Lap ao jornal Ou Mun.

De acordo com Chan Iek Lap, houve centros de saúde que lhes pediram que solicitassem às autoridades 40 cadernos de formulários M7 (atestados médicos). Terá sido com estes formulários que foram passados atestados médicos falsos a várias pessoas, tendo sido falsificado o carimbo e a assinatura dos referidos médicos.

O caso foi descoberto através de queixas provenientes de operadoras de jogo que verificaram que alguns dos seus funcionários iam frequentemente ao mesmo centro de saúde de onde traziam os respectivos atestados médicos.

Depois da investigação levada a cabo pelos Serviços de Saúde (SS), em que os médicos acusados afirmaram não ter passado os atestados, foi ainda apurado que as assinaturas desses documentos eram falsas.

Para Chan Iek Lap trata-se de uma situação grave que vem chamar a atenção para falhas no sector da saúde. De acordo com o deputado, é necessário fazer cumprir a lei dentro dos centros de saúde e formar os jovens médicos para situações em que possam estar a ser enganados.

28 Nov 2017

Lusofonia | Primeira cimeira de Think-Tanks decorreu ontem em Macau

Está criado o Think-Tank responsável pela investigação e produção de estratégias que incrementem as relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. A primeira cimeira do organismo teve lugar ontem na RAEM

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem a primeira cimeira de Think-Tanks da China e dos países de língua portuguesa. O encontro de partilha de ideias e conhecimento estreou-se em Macau e pretende assegurar uma rede de conhecimento e investigação estratégica para o desenvolvimento das relações económicas entre o continente e os países lusófonos.

A ideia é juntar 18 Think-Thanks onde se incluem empresários e académicos da China Continental e dos países de língua portuguesa. O objectivo é “criar activamente propostas para aprofundar o entendimento mútuo entre os povos, aumentar a cooperação pragmática e promover as relações entre a China e os países lusófonos, além de oferecer a garantia para a ampliação dos intercâmbios, o reforço da construção institucional, o aumento do investimento de recursos e o aprofundamento dos estados”, lê-se no protocolo da cimeira de ontem.

A iniciativa é mais uma forma de concretização da RAEM enquanto plataforma e membro activo da política “Uma Faixa, Uma Rota”, avançou Frederico Ma, director da comissão de investigação estratégica da Associação Comercial.

A importância de Macau foi reiterada pelo vice-director da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Económica do Ministério do Comércio da China, Li Gang. “Acredito que esta cimeira vai, de certeza, fomentar a integração de Macau no desenvolvimento do país e vai impulsionar a implementação das novas medidas mencionadas pelo primeiro-ministro Li Keqiang na 5ª conferência ministerial do fórum para a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, começou por dizer, no encontro de ontem.

Li Gang recordou que desde a transferência de administração, o Governo Central presta especial atenção a Macau tendo em conta a “sua função de meio para desenvolver a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.”

Uma nova era para Macau

O mesmo responsável lembrou ainda que, em 2003, foi criada a plataforma no território, e considera que o seu funcionamento tem sido de sucesso. No entanto os tempos são outros e a cooperação de Macau está, agora , a entrar numa nova era de desenvolvimento, considerou.

Com esta nova tendência “é necessário reconhecer a situação de Macau, assim como as suas condições de desenvolvimento e a relação interactiva com o mundo e com o interior da China, a fim de utilizar as suas vantagens especiais para acompanhar o desenvolvimento do continente, fomentar a construção de “Um Centro, Uma Plataforma” e aumentar a capacidade de desenvolvimento sustentável de Macau.

Li Gang espera ainda que, com a cooperação contínua entre a Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Económica, que é um dos Think-Tanks de ponta da China, e a Associação Comercial de Macau, seja fomentado um desenvolvimento profundo da cooperação económica e comercial com os países lusófonos e seja impulsionada a criação da plataforma luso-chinesa em Macau, até porque “esta é a primeira vez que os vários Think Tanks se juntam para discutir o reforço da cooperação comercial e económica sob a nova tendência de globalização e do contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”.”

Já para Frederico Ma, a prioridade, neste momento é fortalecer a rede que está a ser criada, sendo que está agendado já o lançamento de um livro com os contributos desta primeira cimeira e a construção de uma plataforma online que reúna os dados comerciais dos países envolvidos. O obejctivo, disse ao HM, “é conseguir recolher mais ideias e promover a associação de mais grupos de pensamento”.

 

 

Miguel Frasquilho : Cimeira para “desbravar terrenos”

“Mais um passo para o relacionamento privilegiado entre a China e os países de língua portuguesa”. Foi assim que o presidente do conselho de administração da TAP e ex-presidente da AICEP, Miguel Frasquilho classificou a primeira cimeira de Think-Tanks da China e dos países lusófonos que decorreu ontem no território. Para o responsável, trata-se de uma iniciativa que “permite desbravar terrenos e apontar caminhos e ideias que de outra forma não poderiam acontecer”. O facto de Macau ter sido escolhido como o anfitrião da estreia do evento é relevante até porque o território tem integrado uma estratégia de plataforma entre as partes envolvidas, considerou. No entanto, a concretização do território como plataforma tem de ser construída com tempo. “Macau enquanto plataforma é uma estratégia ainda com poucos anos de vida, e tem vindo a ser cada vez mais operacionalizada com pequenos passos e com encontros com uma frequência cada vez maior”, referiu Miguel Frasquilho ao HM. “Temos aqui uma iniciativa que nunca tinha sido feita e é mais um passo que cimenta esta proximidade”, rematou.

28 Nov 2017

Cerca de 50 condutores manifestaram-se contra número dois de Mak Soi Kun

Zheng Anting afirmou que empresas locais não conseguiam contratar motoristas, apesar de oferecerem 40 mil patacas por mês, e um grupo de condutores apareceu-lhe no escritório a pedir emprego

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]erca de 50 condutores deslocaram-se, ontem, ao gabinete do deputado Zheng Anting, numa manifestação contra as declarações do membro da Assembleia Legislativa. Na semana passada, durante o debate das Linhas de Acção Governativa para a área da Economia e Finanças, o legislador ligado à Associação dos Conterrâneos de Jiangmen defendeu a abertura da profissão a trabalhadores não-residentes, argumentado que os locais não aceitavam empregos no sector, nem por 40 mil patacas por mês.

Ontem, entre os gritos dos manifestantes, Zheng Anting ouviu insultos e pedidos para que se dedicasse à agricultura, expressão idiomática cantonesa equivalente à reforma. A dimensão da manifestação levou mesmo a que o presidente da Associação Geral dos Empregados do Ramo de Transportes de Macau, Tong Chak Sam, fosse ao local para tentar serenar os ânimos.

“Os motoristas ouviram que o deputado ia estar hoje [ontem] no gabinete e foram procurar um emprego onde pudessem ganhar 40 mil patacas por mês. Foi essa a intenção do protesto”, disse Tong Chak Sam, ao HM.

“Não acreditamos que essas propostas de 40 mil patacas por mês sejam verdade, mas se forem, vou deixar a empresa onde trabalho por essa, que oferece as 40 mil patacas”, acrescentou o presidente da associação local.

Tong Chak Sam sublinhou ainda que as declarações de Zheng Anting foram prestadas com a intenção de fazer com que as empresas possam importar trabalhadores não-residentes, para desempenharem as tarefas de motoristas.

Dito por não dito

Durante o protesto, Zheng Anting abordou a situação perante os jornalistas, ao mesmo tempo que era apupado por alguns condutores. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o número dois de Mak Soi Kun aproveitou a ocasião para sublinhar que não pretendia que as empresas pudessem importar trabalhadores não-residentes. Contudo, na quinta-feira passada, na AL, essa tinha sido uma das hipóteses abordados pelo legislador ligado a Jiangmen.

Zheng Anting deixou também um ataque ao Governo, que acusou de não fazer o suficiente para que trabalhadores e empresas possam ver as suas pretensões satisfeitas.

Finalmente, o deputado prometeu ajudar os 34 motoristas que lhe pediram auxílio a encontrarem um emprego, junto da empresa que alegadamente não conseguiu contratar locais por 40 mil patacas.

Guerra de Associações?

Horas após a iniciativa do grupo de condutores, começou a circular a informação de que a manifestação teria tido o apoio da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Segundo as informações que circularam, os manifestantes teriam feito a concentração junto a um dos escritórios da FAOM, federação à qual a Associação Geral dos Empregados do Ramo de Transportes de Macau também pertence.

No entanto, a deputada ligada à FAOM, Ella Lei, negou esse cenário, frisando que a manifestação partiu dos demonstrantes: “Foi organizada pelos motoristas, de forma espontânea. Como não estive lá também não quero fazer grandes comentários sobre o assunto”, afirmou a deputado, em declarações ao HM.

“Também só tive conhecimentos do protesto através dos motoristas. Segundo percebi, eles é que se organizaram e sabem o que aconteceu”, acrescentou.

A versão da deputada foi apoiada por Tong Chak Sam, que negou ainda que a organização do evento tivesse partido da Associação Geral dos Empregados do Ramo de Transportes de Macau.

“Os motoristas é que se organizaram. A nossa associação teve conhecimento do protesto e decidiu deslocar-se ao local para apelar aos condutores que mantivesse a calma e não estivesse agitados”, afirmou Tong, ao HM.

Zheng Anting foi eleito como número dois da lista de Mak Soi Kun, o grande vencedores das eleições legislativas de Outubro.

28 Nov 2017

LAG 2018 | Segunda fase de construção da nova prisão só estará concluída em 2019

No final deste ano estava previsto a conclusão da quarta fase de construção do novo Estabelecimento Prisional de Macau. Wong Sio Chak revelou que a segunda fase não estará concluída antes de 2019. Além disso, o secretário para a Segurança adiantou que haverá reforço dos quadros de pessoal das forças de segurança

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] anúncio motivou gargalhadas nas bancadas da Assembleia Legislativa e entre alguns deputados: A segunda fase de construção do novo Estabelecimento Prisional de Macau tem conclusão prevista para 2019. É de salientar que a nova prisão estava prevista começar o seu funcionamento quando o Metro Ligeiro estivesse pronto.

Em resposta à questão de Wong Kit Cheng sobre a terceira fase, Wong Sio Chak não quis adiantar muito, apenas que não haverá concurso público por questões de segurança. O membro do Governo entende que a adjudicação directa é mais fiável no sentido de manter o sigilo acerca dos detalhes de segurança do novo estabelecimento.

Enquanto a lotação máxima do Estabelecimento Prisional de Coloane se aproxima do limite, actualmente albergando 1306 reclusos tendo capacidade para 1350, um novo equipamento é fundamental para a administração da justiça no território.

Wong Sio Chak voltou a culpar os vários tufões que assolaram a região e condições do solo para justificar os atrasos da obra.

A nova prisão começou a ser construída em 2011, sendo que a primeira fase foi concluída apenas no ano passado, com um custo de 150 milhões de patacas, uma fase que levantou polémica depois do subempreiteiro ter acusado o Governo de falta de pagamento. Quanto à segunda fase, teve início há mais de um ano e meio, com um orçamento a rondar as mil patacas e uma duração de quase três anos.

Os deputados Ella Lei, Leong Sun Iok e Angela Leong questionaram ainda o secretário acerca da possibilidade de construção de dormitórios para os agentes das forças de segurança. Angela Leong chegou mesmo a sugerir os novos aterros como possibilidade para a construção do equipamento, mas a questão que ficou sem resposta concreta.

Mais polícias

Face às questões de vários deputados sobre se os quadros das várias forças de segurança têm capacidade para responder aos novos desafios que Macau enfrentará, Wong Sio Chak apontou um reforço progressivo do pessoal, que deve chegar aos mil efectivos em 2019.

O secretário para a Segurança explicou que, paulatinamente, Macau tem acrescentado cerca de uma centena de efectivos às várias forças de segurança, “em especial nos quadros da Polícia de Segurança Pública”.

“Neste ano tivemos 598 efectivos novos e saíram dos quadros 254”, revelou o secretário. No próximo ano, o número de efectivos deverá ser de 649 agentes e mil em 2019, “para a manutenção da segurança e trabalho de fronteiras”.

Wong Sio Chak lembrou que actualmente está em curso o recrutamento de 302 efectivos, mas que este é um processo moroso que pode chegar até dois anos.

Quanto à progressão na carreira, Chen Iek Lap começou por criticar o estatuto das forças militarizadas, considerando-o “muito desactualizado e com capacidade para afectar a sociedade”. O deputado que depois de recolher opiniões de profissionais da área, que deveria ser criada a carreira de chefe superior, “uma medida que uma reacção forte do pessoal de alfândega”.

Nesse sentido, Wong Sio Chak explicou que será estabelecida intercomunicação entre diversas carreiras “para que os agentes com capacidades sejam promovidos, mas é impossível promover toda a gente, é algo que não cabe na cabeça de ninguém”.

28 Nov 2017

LAG 2018 | Nova direcção de protecção civil e tecnologia no debate da Segurança

O primeiro dia da discussão no hemiciclo da Linhas de Acção Governativa para a Segurança foi marcado pela falta de definição da nova Direcção de Protecção Civil e de Coordenação de Contingência. Wong Sio Chak admitiu também o investimento num armazém na China Interior para armazenar material da protecção civil. Paternalista, o secretário ousou criticar a postura de alguns cidadãos quando é içado o sinal 8

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de rasgados elogios de vários deputados à resposta das forças de segurança na resposta dada no socorro prestado às vítimas do tufão Hato, as questões focaram-se na nova Direcção de Protecção Civil e de Coordenação de Contingência (DPCCC). Além disso, o secretário para a Segurança reiterou uma ideia já expressa de alterar a lógica de policiamento na direcção da pro-actividade, da prevenção e da vigilância através de CCTV e mega-dados.

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, começou por dizer que além do Governo precisar se reajustar e aprender as lições da calamidade, também a população tem de rever a sua postura. “Quando é içado o sinal 8 de tufão as pessoas ficam contentes, porque não têm de ir trabalhar, podem ficar em casa, vão passear e jogar Mahjong”, comentou.

Lam Iok Fong começou por interrogar o representante do Governo como será estabelecido e instalado a nova direcção e quais as funções que terá no futuro. O deputado ainda perguntou ao secretário para a Segurança quais os equipamentos de resgate e salvamento que esta entidade terá a seu cargo. Como alguns parques de estacionamento ficaram alagados, Lam Iok Fong questionou se haveria falta de bombas de água para resolver estes casos.

No que toca a estas questões directas, Wong Sio Chak não revelou muito, mas admitiu que o Hato demonstrou as insuficiências de resposta por parte do Governo, uma posição relativamente consensual na Assembleia Legislativa (AL).

“Em termos de protecção civil, cada organismo está a tratar do seu quintal, sem grande coordenação”, explica do secretário para a Segurança. Wong Sio Chak revela que a DPCCC terá dois departamentos. Um destinado a ser o centro de decisão de acompanhamento da catástrofe e um outro departamento terá como competência a educação e sensibilização dos residentes para prevenir danos maiores. Wong Sio Chak diz que ainda não tem uma ideia da quantidade de pessoal que a criação do novo o DPCCC exigirá.

 

Armazém chinês

Depois de realçar a severidade do Hato, Wong Sio Chak vincou que o mecanismo de responsabilização para má gestão e incompetências nestes casos deixa a desejar. Além disso, a resposta também mereceu largas críticas de todos os quadrantes.

É aí que chega o DPCCC, organismo para o qual o secretário para a Segurança admitiu ter tido a colaboração de um grupo de peritos da China Continental.

As menções ao Interior da China não se ficaram por aqui, tendo sido equacionada a hipótese de localizar um armazém para a protecção civil em solo chinês continental. Wong Sio Chak considera uma boa ideia, apesar de ter revelado que o Corpo de Bombeiros de Macau já arranjou um sítio para apoio logístico nas Ilhas. “Há mercadorias e produtos que temos de armazenar tanto além fronteiras, como em Macau, tem de haver complementaridade entre as duas partes através de um mecanismo de troca de produtos”, explica Wong Sio Chak. A possibilidade deverá entrar no âmbito do projecto de construção da Grande Baía.

 

Sónia Chan já tem na gaveta lei dos crimes cibernéticos

O regime legal que irá reger a criminalidade cibernética já está na mesa da secretária para a Justiça, Sónia Chan. Quem o confirmou foi o Wong Sio Chak, que acrescentou que para “combater a criminalidade informática, para além do agravamento das penas, os crimes foram classificados como semi-públicos”. A distinção possibilita que as autoridades de investigação passem a poder iniciar um processo crime sem necessidade de apresentação de queixa por parte de um lesado.

Angela Leong interrogou ainda o secretário para a Segurança sobre a criação do centro de cibersegurança e quantas pessoas serão recrutadas para trabalhar nesse organismo. Uma pergunta que ficou sem resposta.

Foi ainda perguntado a Wong Sio Chak os contornos da criação da rede de vigilância CCTV, assim como a criação de uma base de dados para identificar criminosos. Neste aspecto, Macau irá passar para a terceira fase de instalação da CCTV, sem haver novidades quanto à velocidade de implementação do sistema.

No capítulo da vigilância através de filmagens, Lam Lon Wai destacou a previsível eficácia da rede, mas deixou um alerta para a possibilidade da instalação de câmaras violar a privacidade das pessoas. Além disso, o deputado é da opinião que o sistema CCTV é muito caro para os cofres públicos.

No que diz respeito à política quadro da “Cidade Segura”, inscrita nas LAG 2018, Wong Sio Chak adianta que ainda é cedo para especificar propostas nesta matéria. O secretário vincou que a sua aposta é “combater as organizações secretas e os crimes graves como homicídios e fogo posto”. Numa nota que motivou alguma perplexidade, Wong Sio Chak mencionou os avanços tecnológicos na área da inteligência artificial e como podem ser aproveitados para atendimento de chamadas telefónicas em casos de emergência.

 

Imigração | Deputados questionam secretário sobre inspecção a ilegais

Ella Lei começou por abordar o aumento do número de trabalhadores em situação de ilegalidade no território. Questão também abordada pela seu companheiro de bancada, Leong Sun Iok. Além disso, a deputada levantou a questão dos trabalhadores não residentes que compram uma quota de Bluecard para entrarem no território.

Foi sugerido, e admitido pelo secretário para a Segurança que podem ter havido fugas de informação antes de fiscalizações a locais de trabalho onde se suspeita que laborem trabalhadores em situação ilegal. Em particular, em estaleiros de obras de construção. Wong Sio Chak foi confrontado com a possibilidade dos números providenciados pelo Governo quanto à imigração ilegal não baterem com a realidade. Leong Sun Iok levantou a possibilidade de “as operações poderem ocorrer também durante as férias de alguns trabalhadores”.

O secretário para a Segurança explicou que com o crescimento económico a entrada no território tornou-se mais apetecível. Neste aspecto, os membros do Governo revelarem que entre Janeiro e Setembro deste ano foram feitas 3529 operações de fiscalização, tendo sido detidos 330 trabalhadores em situação ilegal e movidos processos contra 93 empregadores. Foi ainda revelado que os fiscais não podem levar telemóveis para as operações de fiscalização.

28 Nov 2017

Documento refere que Portugal queria transferir a soberania de Macau só em 2004

Documentos oficiais revelados ontem pelo portal Hong Kong Free Press revelam que Portugal pretendia transferir a soberania de Macau em 2004 e não em 1999. O historiador Jorge Morbey acredita que essa seria uma “vontade pessoal” de Mário Soares, tendo em conta o processo da Fundação Oriente. Carlos Gaspar, ex-assessor de Jorge Sampaio, garante que essas datas “são meras fantasias”. Camões Tam, académico, questionou as fontes de Donald Tsang e David Akers-Jones

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito antes de se assinar a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, em 1987, Portugal e a China fizeram uma ronda de negociações para decidir as questões relacionadas com Macau. O modo como esse processo decorreu levou o então vice-secretário do governo britânico, Donald Tsang, a discutir o assunto durante um almoço com Barbra Schrage, do consulado-geral dos Estados Unidos em Hong Kong.

Assinado pelo punho de Donald Tsang, ex-secretário das Finanças de Hong Kong, e datado de 1986, o documento que era confidencial fala deste episódio de uma alternativa à data da transferência da soberania de Macau.

“Durante um almoço com Barbra Schrage conversámos sobre Macau. Schrage disse-me que estava entusiasmada pela forma como os portugueses levavam a cabo as negociações com os chineses. Uma curta agenda – a Igreja Católica, o estatuto dos macaenses com passaporte português e a data de 2004 em vez de 1999”, pode ler-se num dos dois documentos ontem divulgados pelo portal de notícias Hong Kong Free Press.

Em Portugal cabem todos

Mas há mais. Segundo a missiva de Tsang, Portugal poderia ter aceite toda a população que Macau tivesse na altura, caso fosse pressionado para tal.

“Os chineses terão, aparentemente, reforçado a sua presença em Macau colocando novas caras na [empresa] Nam Kwong. Schrage também afirmou que os portugueses, caso sejam pressionados, estarão preparados para admitir a totalidade da população de Macau, incluindo os que não são cidadãos portugueses, em Portugal! Não perguntei a Schrage a origem da sua fonte, mas ela falou com convicção”, escreveu Tsang.

A data de 2004 surge num outro documento assinado por David Akers-Jones, governador de Hong Kong entre Dezembro de 1986 e Abril de 1987.

“Uma fonte disse-me que teve um jantar com o presidente Mário Soares e que Portugal mantinha-se firme na data de 2004, tendo frisado as diferenças entre Hong Kong e Macau, nomeadamente quanto à localização dos funcionários públicos”, pode ler-se.

Contudo, as autoridades chinesas mantinham-se firmes na convicção de receber Macau antes de 2000, pois era o ano em que o Grupo de Ligação Sino-Britânico deixaria de operar. “[A China] afirma que seria muito difícil explicar a data de 2004 aos britânicos quando eles foram tão insistentes face a 1997.”

Os documentos foram tornados públicos em Janeiro e Abril deste ano e estão disponíveis nos arquivos nacionais de Londres.

Vontade de Soares?

Contactado pelo HM, o historiador Jorge Morbey considera que a data de 2004 seria uma vontade do próprio presidente da República, Mário Soares. “Não tenho documentação, mas ouvi dizer que a data de 2004 se prende com a vontade pessoal de Mário Soares, [pois este] desejaria que todos os fundos destinados à Fundação Oriente (FO) saíssem de Macau e só depois é que deveria ser feita a transferência de soberania. Parece que houve uma intervenção pública de Mário Soares já depois de deixar a presidência, em que terá explicado isso, mas não assisti”, recordou.

Ainda assim, “o que vislumbro em termos de negociações entre as partes é que a data de 1999 foi marcada de forma consensual entre Portugal e a China”, apontou Jorge Morbey.

Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) e, à data, secretário adjunto da Administração, Educação e Juventude do Governo de Rocha Vieira, afirmou que não confirma nem desmente esta versão dos acontecimentos.

“Não confirmo, não sei, pode ter acontecido”, disse ao HM. “Tivemos 12 anos para fazer uma transição e, evidentemente, com mais tempo algumas das coisas que estavam a ser tratadas poderiam ter tido mais tempo para serem concluídas.”

“O que ficou acordado foi que tínhamos 12 anos e durante esse tempo a transição foi considerada concluída, tivemos de concluir as várias tarefas que tínhamos em curso, como a formação de quadros, os arquivos, a localização de leis”, lembrou.

Rangel acredita que “terão sido abordadas várias datas nas conversas”. “Depois de muitas reuniões decidiu-se que seria no dia 20 de Dezembro de 1999. Não era a questão de Portugal querer uma data e a China querer outra. Esta data resultou de um acordo que foi conseguido no decurso das negociações.”

Carlos Gaspar, assessor do ex-presidente da República Jorge Sampaio, em 1999, garantiu ao HM que as datas citadas nos documentos são “meras fantasias”.

“As indicações contidas nos documentos citados são meras fantasias. Desde o inicio das conversações bilaterais em 1986, Portugal indicou que não aceitava que a transferência de soberania em Macau coincidisse com a data prevista para o fim da administração britânica em Hong Kong. No mesmo sentido, a parte portuguesa conhecia perfeitamente a data do fim do século fixada nos documentos oficiais chineses e não tinha nenhuma ilusão sobre os limites da flexibilidade de Pequim nessa matéria.”

“Pecados originais”

Há muito que a questão dos fundos financeiros entre Macau e Portugal é discutida e foi, aliás, abordada recentemente na biografia de Jorge Sampaio, presidente da República portuguesa em 1999, em que este afirmou estar contra a criação da Fundação Jorge Álvares. Esta acabaria por ser constituída a dias da transição.

Jorge Morbey recorda que “em matéria de fundações, quer a FO, quer a Fundação Jorge Álvares têm pecados originais muito graves”. “Julgo que quando se mete na política interesses de grupos ou negócios as coisas não podem ficar certas. O aparecimento da FO foi algo que perturbou bastante as relações entre Portugal e a China. Na visita que Mário Soares fez à China, nos anos 90, a China não aceitava que o presidente da FO [Carlos Monjardino] fosse na comitiva.”

Contudo, Monjardino acabou por embarcar no avião. “Não sei que voltas houve na altura, tenho ideia que o embaixador de Portugal em Pequim se terá portado muito mal nos diálogos que teve com a parte chinesa.”

Para o historiador, a dar aulas na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, o processo de entrega de Macau à China “não é coisa de que Portugal se deva orgulhar muito”.

“Foi a sabedoria milenar da China que nos levou a portarmo-nos bem na questão da transferência de soberania de Macau, embora tenham sido criadas fundações de uma forma menos ortodoxa”, defendeu.

“Feitas as contas, e a esta distância, não valeu a pena esse grão de areia nas relações entre Portugal e a China, tendo em conta aquilo que a FO fez e faz por Macau. Também me parece que houve uma certa imprudência na criação da Fundação Jorge Álvares, a dias de Portugal transferir a soberania”, acrescentou o académico.

A visão de Camões Tam

Em declarações ao Hong Kong Free Press, o académico Camões Tam, que escreveu a sua tese de doutoramento sobre a transição de Macau, disse que Portugal apenas levantou a possibilidade da transferência se fazer em 2007, “uma vez que se celebravam o 450º aniversário da presença portuguesa”, lê-se na notícia.

“Desde [as negociações de 1986] até 1987, quando a Declaração Conjunta foi assinada, as informações relativas a Macau ficaram seladas…esta informação tornada pública pode não ser válida, uma vez que não é informação em primeira mão”, apontou.

Camões Tam lembrou que os funcionários do consulado-geral dos Estados Unidos em Hong Kong não dominavam o português nem o cantonês, o que os pode ter levado a erradas interpretações. “Donald Tsang pode ter citado fontes de forma incorrecta, e David Akers-Jones pode ter ouvido mal”, rematou.

As várias datas

Além de 2007, terão sido discutidas várias outras possibilidades. Camões Tam referiu ao Hong Kong Free Press que os chineses queriam que a transição de Macau se fizesse em 1997, tal como Hong Kong, mas os portugueses recusaram.

“Portugal disse que nunca invadiu a China, que pagaram uma renda anual e que tentaram devolver Macau duas vezes mas que nunca foi aceite. Eles teriam devolvido a soberania de Macau logo em 1985, quando as negociações começaram, mas isso assustou o lado dos chineses”, explicou Tam.

Morbey recorda que o presidente da República Ramalho Eanes, numa visita à China nesse ano, terá lançado os dados mais depressa do que os chineses esperavam. “A China contava que, no seu devido tempo, iriam colocar a questão de Macau na agenda para ser negociada.”

Camões Tam adiantou também que Portugal tentou devolver o território em 1975 e 1977, após a revolução do 25 de Abril, uma tese também defendida por Jorge Morbey. O que falhou? A existência de quezílias políticas.

“É preciso ter em conta de que o Partido Comunista Português (PCP) era de obediência soviética, e o comunismo chinês era alérgico ao comunismo soviético do tempo de Estaline. A última coisa que o Partido Comunista Chinês queria para Macau era negociar com o PCP. Isso complicava bastante o programa do doutor Cunhal”, concluiu Morbey.

Num país que, após o 25 de Abril, “parecia um manicómio sem psiquiatras”, as colónias portuguesas, como Cabo Verde, Angola ou Guiné-Bissau “foram sendo entregues aos partidos apoiados pela URSS”. Em Macau, assinou-se o Estatuto Orgânico, ainda o Conselho da Revolução governava em Portugal, e prolongou-se a transição. “Garcia Leandro fez o que pôde para equilibrar a situação em Macau. Esse estatuto foi o empenho de Garcia Leandro.”

Finalmente, a cerimónia de transferência de soberania de Macau realizou-se no dia do último solstício do milénio. Se é que isso quer dizer alguma coisa.

Notícia actualizada em relação à versão impressa: inserção do comentário de Carlos Gaspar, que respondeu ao HM depois do fecho da edição

28 Nov 2017

O resto não vale nada

[dropcap]S[/dropcap]ubitamente, um Verão pesado, do nosso descontentamento. Um Verão birrento, um Sol intensamente presente no momento que deveria ser de ausência. Falta de paciência.

Que Verão é este, que Sol nos descoroçoa? Porque ardemos neste umbral que vestimos de pessoa?

É um Verão teimoso, nu de nuvens, ungido de um insuportável azul. Num relance, quando do suor nocturno acordo, pergunto: onde é o Sul? E quero andar. Mas há neste clima algo seco, intratável, indizível, algo de trevas disfarçadas de luz, que não seduz.

Logo me fico. E certifico a imobilidade com duas ou três machadadas breves: numa vai o Sol, com as cortinas; noutra o dia, com as meninas; e ainda outra, arrepiada, assustada de não cortar nada.

Não sei se a culpa é do tempo. Que é estranho lá isso é! Como ler, nesta desamparada estrada, a das voltas e travoltas, a das voltas da manada? Não sei. Saberá o rei, esse vidente. A mim, dói-me um dente e assim humilíssimo me recolho.

Agora dói-me um olho. Irra! Que me há-de doer sempre qualquer coisa! Que seca esta vida de alforreca, esparramado na praia, esmagado pelo Sol. Clima inclemente… esquecia-me… dói-me um dente…

Quererá isso dizer que não posso mastigar? Que nem sombras posso ver? Não. Consigo correr, assim rente pela estrada e dar curvas e vociferar com o caminho. Olha p’rá qu’ele… coitadinho… ficou-se pelas covas neste Verão sem remissão.

Vai-te embora, vai-te embora, diziam em tom de nora as mulheres num alvoroço. Pobre moço que ao tremoço deve horas de oração. Nunca existiu perdão que não seja esquecimento, seja gato ou jumento, muralha ou paredão, nunca existiu perdão…

Estamos condenados ao Sol, à Lua, aos lamentos. Vêm do céu, caem como a chuva haverá de cair, torrencial, animal. E neles olímpicos nos banhamos. Não queremos amos, isso garanto. Preferimos o espanto de saber sem entender. Aliás, não quero saber nada.

Prefiro os burros e a sua perfeita andadura. E candidamente confesso: sim, quero o que morre, não o que dura; quero o que renasce a cada hausto, no desembaraço das metamorfoses; quero tudo outra vez mas desta vez sem vozes.

Aspiro ao silêncio, dizia ainda antes de ver. Eu sabia lá o que era isso. Mas não é fácil renegar. Aqui estou, aqui me tens. Não te voltes contra mim, minha mãe. Tudo menos isso. Basta de desdéns.

Chega de Sol, chega de sombras. Quero o cinzento, o seu lamento, a tristeza assoberbada. O resto não vale nada.

Pois. Passeio o esqueleto no trottoir. Solta-se uma gargalhada. O resto não vale nada.

27 Nov 2017

Ilustração | “Imaginary Beings” em exposição na Taipa Village Art Space

São seres imaginados, habitantes de uma Macau desconhecida e vão estar em exposição a partir do próximo dia 6 na galeria Taipa Village Art Space. A mostra é da artista portuguesa Ana Aragão que se estreia no território

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]ão “monstros imaginados” os que saem das ilustrações de Ana Aragão. Não são seres com origem num espaço vazio, a inspiração é Macau, uma terra desconhecida para a artista. O desafio para produzir uma exposição tendo como referência apenas imagens do território foi do curador João Ó, responsável pelas exposições da galeria do Taipa Village Art Space.

A ideia está inserida no próprio plano anual de exposições daquele espaço, em que a última mostra do ano é sempre dedicada a um artista internacional, que não conheça o território. A razão apontou o curador João Ó ao HM, é para “que exista uma interpretação de um artista de fora sobre Macau. Uma visão nova.”

A escolha de Ana Aragão começou pelo contacto com o seu trabalho na internet. João Ó ficou, desde logo, interessado na forma como as ilustrações de Ana Aragão saiam do papel. “Achei interessante o grafismo e o desenho muito minucioso das cidades imaginárias que ela fazia”, refere. Para o curador, trata-se de “um trabalho refrescante pelo detalhe que se verifica em cada desenho, pela forma como transforma edifícios em objectos sem ter de estar comprometida com a realidade”.

Para a exposição no Village Art Space, Macau, a artista teve como referência alguma imagens do território. Com elas trabalhou “Imaginary Beings”, os seres que pensa habitarem Macau.

O título é inspirado na obra “The book of imaginary beings” de Jorge Luís Borges. De acordo com o curador, a obra literária teve uma forte influência no percurso de Ana Aragão. “Foi um forte fundamento para a procura da artista dos seus próprios seres, expandindo o sempre incompleto trabalho do mestre visionário”, diz João Ó, na apresentação do evento.

Em “Imaginary Beings” vão estar expostas 50 peças produzidas com caneta de tinta preta e aguarela.

Confronto com o real

Outro aspecto de interesse, refere João Ó, é a possibilidade que estas exposições de final de temporada dão aos artistas de se confrontarem, depois do trabalho feito, com a Macau real. Ana Aragão vem ao território para a abertura da exposição e “este é o momento em que vai confrontar os seres que imaginou, através de imagens soltas, com a realidade”. Para João Ó, a viagem de Ana Aragão ao oriente vai marcar um momento em que a artista vai ser motivada a produzir mais.

A ideia de trazer ao território um artista de fora e que não conheça Macau mas que trabalhe sobre o território tem um duplo objectivo. “Por um lado trata-se da visão de alguém sobre Macau, que nunca conheceu antes, e por outro, é uma oportunidade de abrir a exposição destes artista a coleccionadores de arte que vão ter também uma visão diferente do território”, diz João Ó.

Mas mais importante, aponta, é a oportunidade que este tipo de trabalho representa também para os locais. “Nós que estamos cá também queremos ver esta frescura, esta reinterpretação aos olhos de quem nunca aqui esteve”.

Da arquitectura ao desenho

Ana Aragão, arquitecta licenciada com distinção pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto FAUP (2009), dedica-se actualmente ao cruzamento entre arte e arquitectura através do seu universo gráfico.

Após uma incursão no meio académico enquanto bolseira no Doutoramento em Coimbra decide interromper a investigação científica para se dedicar em exclusivo ao desenho artístico. É a partir do universo da arquitectura que nasce o seu fascínio pela representação de cidades, imaginárias ou não. Prossegue a sua reflexão acerca da cidade e seus imaginários urbanos através da exploração gráfica dos seus atlas mentais. Intrigada com os mapas emocionais que nascem da experiência quotidiana entre habitante e espaço, as suas “anagrafias” intrincadas são um pretexto para lançar um olhar crítico sobre o território, as formas de construir, e sobretudo, os modos de habitar. Todas as suas obras nascem da articulação entre mão e pensamento, não recorrendo a meios digitais.

A dedicação de Ana Aragão ao desenho e pintura tem sido reconhecida nacional e internacionalmente, salientando-se a sua participação na Bienal de Veneza 2014 e de 2016, o destaque como capa da publicação chinesa “Casa”, a selecção pela Luerzer’s Archive – “200 Best Illustrators Worldwilde”. Destacam-se também colaborações e parcerias com marcas de referência como a Porto Barros (100 anos Porto Barros, Coleção Cidades Portuguesas), as Tapeçarias Ferreira de Sá (Tapeçaria Eudóxia), a Jofebar (Projecto FUTURE FRAMES), a Schmidt Light Metal, a Essência do Vinho, a Vista Alegre, entre outras.

Foi também convidada a desenvolver projectos específicos sobre algumas cidades portuguesas, nomeadamente Lisboa (Meo Out Jazz), Espinho (Cartografia (des)encontrada), Braga (Noite Branca), Aveiro (Lugares Múltiplos) e Guimarães (Casa da Memória). O Porto, cidade onde vive e trabalha, tem lugar de destaque em toda sua obra.

27 Nov 2017