Hoje Macau China / ÁsiaHK : Oito activistas libertados sob fiança [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]ito activistas de Hong Kong, detidos por terem invadido o complexo do Conselho Legislativo em 2014 num protesto contra um plano de desenvolvimento da cidade, foram libertados sob fiança, enquanto aguardam audiência de recurso. Entre os que foram temporariamente libertados pelo Tribunal de Última Instância da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) estão Raphael Wong, vice-presidente da Liga dos Sociais Democratas (LSD), um dos membros do partido Demosisto Ivan Lam e o activista Willis Ho. Os oito activistas integram um grupo de 13 pessoas que foram presas em agosto e inicialmente condenadas a serviço comunitário. O Governo recorreu da decisão e as sentenças foram transformadas em penas de prisão efectiva, de entre oito e 13 meses, por uma tentativa de entrada forçada no Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong. Os 13 activistas envolveram-se num protesto por causa de um controverso plano de desenvolvimento nos Novos Territórios em Hong Kong, numa altura em que o respectivo financiamento estava a ser discutido pelos deputados. Este incidente ocorreu em junho de 2014, meses antes das grandes manifestações pró-democracia, que a partir do final de Setembro e durante 79 dias paralisaram várias áreas de Hong Kong com reivindicações de sufrágio universal na eleição do líder da RAEHK. No tribunal foi dito que os 13 activistas estão a planear pedir autorização para recorrer das respectivas sentenças, mas até à data apenas oito pediram fiança, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. A caução foi estabelecida em 10.000 dólares de Hong Kong. Os activistas ficam obrigados a apresentar-se à polícia regularmente e impedidos de sair do território até à audiência sobre o pedido de recurso. Ao conceder a fiança, o juiz Robert Ribeiro observou que, se os réus ficassem presos até à audiência, acabariam por cumprir a maioria ou a totalidade dos termos de prisão. O juiz acrescentou que a audiência do caso vai ter lugar depois de um recurso semelhante em Janeiro, interposto pelos líderes estudantis Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow. Os três activistas também foram presos em agosto por um protesto que desencadeou o arranque do movimento Occupy, tendo sido libertados sob caução no início deste mês. Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow estavam entre um grupo de pessoas que se manifestou em frente ao tribunal em apoio dos activistas presos.
Hoje Macau China / ÁsiaBombardeiros chineses sobrevoam Mar do Sul da China [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ombardeiros H-6K da Força Aérea chinesa conduziram outro voo sobre o disputado Mar do Sul da China na passada quinta-feira de acordo com informações oficiais. Os voos são “rotina” e parte das “patrulhas aéreas de combate”, disse um porta-voz do Ministério da Defesa chinês à Xinhua. Os bombardeiros H-6K partiram de um porto no norte da China, observou o porta-voz Shen Jinke. O representante não divulgou quantas aeronaves estiveram envolvidas no exercício. Shen Jinke disse à China Central Television que a missão demonstrou que a Força Aérea tem a capacidade de violar a “Cadeia da Primeira Ilha”, uma linha que vai do Japão a Taiwan, que Pequim afirma ter sido usada para conter a China desde a Guerra Fria. A operação decorreu depois do presidente chinês, Xi Jinping, “ter ordenado que [o Exército chinês] estivesse pronto para o combate”, disse Shen, acrescentando: “A patrulha aérea também teve como objectivo mostrar que a Força Aérea está pronta para se juntar à Marinha no alto mar para todos os tipos de missões”. Durante o fim de semana, os bombardeiros H-6K foram acompanhados por aeronaves de inteligência electrónica Tu-154MD durante uma missão perto do Estreito de Miyako, fazendo com que o Japão enviasse aviões de combate. A missão marcou a primeira vez que os aviões da Força Aérea voaram próximo de Taiwan desde o final do 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China no final de Outubro. A força aérea chinesa planeia fazer “aviões circundar a ilha de Taiwan”, uma parte “de rotina” do regime de treino militar, de acordo com oficiais militares chineses. Desde que o Congresso Nacional chegou ao fim, a Força Aérea “aprimorou a sua capacidade de ganhar uma guerra potencial”, disse Shen.
Hoje Macau China / Ásia MancheteTiago e Fong Fong Guerra chegaram a Lisboa Os portugueses Tiago e Fong Fong Guerra, que fugiram para a Austrália depois de condenados por peculato em Timor-Leste, chegaram no passado sábado a Lisboa, onde foram recebidos por uma dúzia de familiares, mas escusaram-se a falar aos jornalistas. Afirmando não ter problemas em falar à comunicação social, Tiago Guerra disse que não o faria naquele momento no aeroporto. [dropcap style≠’circle’]À[/dropcap] chegada ao aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), este sábado de manhã, o casal foi recebido com emoção por alguns familiares, incluindo os dois filhos, que estão à guarda dos avôs paternos e que não abraçavam os pais há três anos. Tiago Guerra escusou-se a falar aos jornalistas, posição também pelo pai, Carlos Guerra, que, ainda assim, não escondeu a emoção do reencontro, vivido entre família e “dois ou três amigos chegados”. “Está tudo bem. (O Tiago) Chegou bem. Está felicíssimo. Isto é um Natal antecipado. É dia 25”, desabafou, aliviado. “Basta olhar para a cara dos filhos, dos meus netos”, continuou. O casal foi detido na semana passada, em Darwin (Austrália), onde entrou ilegalmente de barco, no início do mês, com passaportes portugueses. Os Guerra pediram a extradição para Portugal, tendo o requerimento, que visava o accionamento da convenção existente entre Portugal e Austrália, dado entrada na Procuradoria-Geral da República dia 17 de Novembro. Dois dias depois, os pais de Tiago, responsáveis pela petição que solicitava a extradição do casal e que foi entregue no Parlamento, foram recebidos pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de acordo com informação disponível no site da instituição. Tensão diplomática A fuga do casal casou tensão diplomática entre Portugal e Timor-Leste, com o assunto a suscitar críticas de dirigentes políticos e da sociedade civil, com artigos a exigir investigações à embaixada de Portugal em Díli. Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, garantiu que a embaixada em Díli respeitou a legislação portuguesa ao atribuir passaportes ao casal. Na sequência da fuga para a Austrália, Augusto Santos Silva ordenou a realização de um inquérito urgente à Inspecção Geral Diplomática e Consular, cuja conclusão foi entregue esta quinta-feira. O casal Guerra renovou os respectivos cartões de cidadão no início deste ano e, mais recentemente, foram emitidos passaportes portugueses, o que motivou críticas na imprensa timorense. “Os cidadãos portugueses têm direito a documentos de identificação como cidadãos portugueses, independentemente da sua situação jurídica, desde que não violem certas disposições legais. Neste caso, não houve essa violação, segundo o inquérito a que procedemos, a legislação portuguesa aplicável foi cumprida e, portanto, os passaportes foram atribuídos, no cumprimento da lei”, referiu então Santos Silva. Tiago e Fong Fong Guerra tinham sido condenados em Agosto por um colectivo de juízes do Tribunal Distrital de Díli a oito anos de prisão efectiva e a uma indemnização de 859 mil dólares por peculato (uso fraudulento de dinheiros públicos). Os portugueses recorreram da sentença, considerando que esta padecia “de nulidades insanáveis” mais comuns em “regimes não democráticos”, baseando-se em provas manipuladas e até proibidas. Um “pedido internacional de extradição para Portugal com detenção provisória” foi enviado à Procuradora-Geral da República portuguesa, Joana Marques Vidal, com conhecimento para a ministra da Justiça, Francisca Van-Dúnem, e para o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, segundo uma carta do advogado do casal à qual a Lusa teve acesso. Álvaro Rodrigues confiante O advogado do casal Guerra disse ao HM estar confiante num resultado favorável a Tiago e Fong Fong. “Estou confiante num bom resultado. Achei e continuo a achar que eles estão inocentes e aguardo uma decisão favorável da parte do tribunal de recurso de Timor.” Apesar do recurso à sentença que condenou o casal já ter sido entregue em Díli, Álvaro Rodrigues não sabe a data da próxima sessão de julgamento. “O recurso já deu entrada na Comarca de Díli, o Ministério Público timorense já respondeu ao recurso e penso até que já subiu para o tribunal de recurso”, acrescentou o advogado que afasta qualquer ilegalidade na concessão dos novos passaportes e cartões de cidadão a Tiago e Fong Fong Guerra, como tem sido afirmado pelas autoridades timorenses. “Qualquer cidadão português tem direito a ver renovado o seu passaporte e cartão de cidadão. Julgo eu que a embaixada de Portugal em Díli fez [o que estava correcto]”, apontou. O casal já está em Lisboa graças a um pedido de extradição apresentado por Portugal junto das autoridades australianas. O casal Guerra havia chegado a Darwin de forma ilegal, o que “motivou uma detenção por parte do Governo australiano”. “Em virtude dessa detenção que Portugal requereu a extradição e mais nada, e isso não tem nada a ver com o processo final”, rematou Álvaro Rodrigues. Ana Gomes está contra a extradição A eurodeputada Ana Gomes escreveu às autoridades australianas objectando à extradição para Timor do casal português que fugiu para a Austrália após condenação pela justiça timorense, por o crime que lhes é imputado não ter fundamento. “Tendo ontem [segunda-feira] sabido que eles estavam detidos na Austrália e que, possivelmente, iria haver – como se confirmou – um mandado de captura e eventualmente um pedido de extradição por parte de Timor, e tendo lido as leis australianas em matéria de extradição, vi que é possível serem levantadas objecções à extradição”, disse Ana Gomes à agência Lusa. “Portanto, escrevi às autoridades australianas – ao Procurador-Geral e ao ministro da Justiça – dizendo que tendo acompanhado o processo desde Maio de 2015 e sendo, de resto, uma velha amiga de Timor, estou disponível para ser ouvida e apresentar toda a informação que tenho sobre o caso, para o efeito de ser levantada uma objecção à extradição e para que eles possam ser repatriados para Portugal”, relatou Ana Gomes. Frisando que tomou esta iniciativa por estar “convencida da inocência deles e de que estão a ser vítimas de um erro de Justiça”, a antiga embaixadora de Portugal na Indonésia, uma observadora atenta da realidade de Timor-Leste, explicou que esse erro decorre das “dificuldades e incapacidades do próprio sistema timorense”, que é “um sistema judicial novo e pouco experiente”. “Como conheço peças do processo, sei que as acusações não são minimamente consistentes: peculato é um crime de que só podem ser acusados funcionários do Estado timorense, ora, não é o caso. Só esse simples facto é, do meu ponto de vista, demonstrativo de que as acusações não têm fundamento e de que a sentença não tem fundamento, e compreendendo eu as debilidades do sistema judicial timorense e estando absolutamente convencida da inocência deles, acho que é minha obrigação ajudar quem está a ser vítima de uma grande injustiça”. Ana Gomes vincou que, da mesma maneira em que o fez “em relação a muitos timorenses”, também o faz “em relação a estes dois nacionais portugueses, sem dúvida nenhuma”.
Hoje Macau China / ÁsiaPropriedade intelectual : Medidas duras para violações, cópias e falsificações [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eis mais duras e mais ágeis pretendem resgatar a reputação de um país conhecido pela contrafacção. A China imporá punições severas contra a violação dos direitos de propriedade intelectual (DPI) e casos de falsificação. “As penalidades para violações dos DPI aumentarão e o custo para proteger esses direitos cairá”, segundo uma nota divulgada após uma reunião executiva do Conselho de Estado na passada semana. “Devem-se expandir as maneiras rápidas e de baixo custo para a protecção dos DPI”, refere a nota. Ao mesmo tempo, o governo planeia estabelecer um sistema de multa punitiva para as violações ao direito patrimonial e intensificar a aplicação da lei e a protecção judicial. “Um mecanismo normalizado precisa ser criado para proteger os DPI de maneira abrangente e com base na lei”, disse Li Shuguang, professor da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito. Dados da Administração Nacional de Propriedade Intelectual (ANPI) mostraram que no primeiro semestre de 2017, havia 15.411 casos da aplicação da lei administrativa em relação a patentes no país, um aumento de 23,3% em relação ao mesmo período do ano passado. “Com o aprofundamento da reforma, a disparidade de custo entre a inovação e a protecção dos direitos foi fundamentalmente invertida”, disse Li. A protecção dos DPI será melhorada através do monitoramento em tempo real, acompanhamento de fontes na internet e identificação online de violações, segundo a nota. O foco será posto nas violações dos DPI nas compras online e comércio exterior, e para os bens falsos ou de baixa qualidade. Ao mesmo tempo, o governo indemnizará as companhias que sofrerem perdas devido à má fé do governo. Com uma proteção forte e efetiva de direitos patrimoniais, a China elevará a confiança dos participantes do mercado para investir e lançar negócios, disse a nota. “A protecção dos DPI deve ser profundamente arraigada nos corações das pessoas como regras de trânsito”, disse Li. Em 2016, os tribunais chineses solucionaram 152.072 casos de DPI, aumento de 16,8% em termos anuais. Mais de 3,7 mil pessoas foram presas e 7 mil processadas, segundo um livro branco sobre a protecção dos DPI. Em Setembro de 2017, o Plano de Acção para Proteger Direitos de Propriedade Intelectual das Empresas Estrangeiras foi publicado em conjunto por 12 departamentos do governo da China, incluindo o escritório do Grupo Dirigente Nacional de Luta Contra Violação de DPI e Falsificação, ANPI e o Ministério da Segurança Pública. A China tem um sistema de protecção de DPI executável, que é diferente do sistema dos Estados Unidos, mas certo e apropriado para a China, disse à Xinhua numa entrevista recente William Mansfield, diretor de IP para Indústrias ABRO. Em 2014, a China estabeleceu tribunais especiais de IP em Beijing, Shanghai e Guangzhou, e o seu sucesso incentivou o governo a criar mais quatro tribunais do tipo em Nanjing, Suzhou, Chengdu e Wuhan no início de 2017. O mais importante é que os funcionários públicos chineses valorizam fortemente o papel da lei em manter o bom funcionamento da sociedade, pois estão cientes da importância da legalidade e do valor do comércio, disse Mansfield.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente participará do diálogo global de partidos políticos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping participará de um diálogo entre o Partido Comunista da China (PCC) e outros partidos políticos do mundo, anunciou na sexta-feira o organizador do evento. Xi, também secretário-geral do Comité Central do PCC, pronunciará um discurso na cerimónia de abertura do diálogo, segundo Guo Yezhou, subchefe do Departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PCC. Líderes de mais de 200 partidos e organizações políticas de mais de 120 países registaram-se para a reunião, programada para durar de 30 de Novembro até 3 de Dezembro. Durante o período, o PCC também realizará discussões de rotina com partidos políticos de África, Ásia Central e Estados Unidos. Ningbo : Dois mortos e 30 feridos em explosão fabril [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos duas pessoas morreram e 30 ficaram feridas ontem na sequência de uma forte explosão ocorrida numa fábrica na zona industrial da cidade de Ningbo, na província de Zhejiang, no leste da China, informaram os ‘media’. Diversas equipas de resgate e inúmeras ambulâncias foram destacadas para o local do acidente para prestar assistência às vítimas, havendo entre os cerca de 30 feridos pelo menos dois em estado grave, informou a cadeia de televisão chinesa CGTN.Segundo a agência de notícias Xinhua, a explosão, que ocorreu pelas 09:00, provocou o colapso de edifícios adjacentes à fábrica. Vários trabalhadores de limpeza encontravam-se no interior da unidade, localizada numa zona industrial, aquando da explosão, de acordo com testemunhas. As autoridades estão a investigar as causas do acidente. Empresa japonesa desculpa-se por proibir entrada de chineses em loja [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fabricante de cosméticos japonês Pola desculpou-se por colocar um cartaz que proibia a entrada de cidadãos chineses num dos seus estabelecimentos no Japão, o que gerou fortes críticas nas redes sociais na China. A empresa publicou no seu portal um texto escrito em japonês e chinês no qual assegura que identificou essa loja e que retirou o cartaz com a mensagem a vermelho: “Não entrar gente da China”. “Pedimos desculpas sinceramente e rejeitamos o cartaz que ofendeu e incomodou muita gente”, diz o comunicado com data de 25 de Novembro. A companhia, que conta com 4.600 lojas no Japão, garantiu que considera a situação “muito grave”, punirá os responsáveis e suspenderá as operações desse estabelecimento, do qual não divulgou dados. Nos últimos anos aumentou no Japão o número de turistas chineses, que em 2016 chegou a quatro milhões, muitos dos quais viajam para o país vizinho para realizar compras de cosméticos e produtos tecnológicos. Agências multadas por vender viagens ao Vaticano [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas agências de turismo da China foram multadas por oferecerem passeios para o Vaticano, país com o qual os chineses romperam relações diplomáticas há mais de 60 anos. Por realizarem negócios com países que não estão na lista de destinos autorizados pelas autoridades chinesas, as empresas serão obrigadas a pagarem 300.000 iuanes. As sanções chamam a atenção pelo fato de a Itália, país cuja capital Roma divide limites territoriais com o Vaticano sem nenhuma imposição de controles fronteiriços, ser um destino autorizado por Pequim. Na prática, é virtualmente impossível controlar a entrada de turistas chineses hospedados em cidades italianas a atrações como a Praça e a Basílica de São Pedro, alguns dos principais marcos do país onde reside o Papa Francisco.
João Santos Filipe Manchete PolíticaGoverno reconhece ser incapaz de regular imobiliário Lionel Leong levou à Assembleia Legislativa o discurso da economia livre no mercado da habitação e da regulação dos preços, que no seu entender, tem de passar por um maior equilíbrio entre a procura e a oferta [dropcap style≠‘circle’]L[/dropcap]ionel Leong afirmou que há pouco que o Governo possa fazer para controlar as condições do mercado do imobiliário, perante a falta de oferta de novas habitações. A confissão foi feita no segundo dia das Linhas de Acção Governativa para a Economia e Finanças, na sexta-feira, após uma questão do deputado Ho Ion Sang. “Temos alguns meios administrativos para definir medidas relevantes para o mercado da habitação. Mas sabemos que Macau é um mercado livre e dependemos muito da oferta e da procura. Se não temos uma oferta suficiente é difícil implementar medidas de controlo dos preços, porque mais tarde ou mais cedo o preço vai adaptar-se e vai aumentar”, explicou o secretário. Antes de chegar a esta conclusão, Lionel Leong admitiu que houve uma visita por parte das autoridades locais às regiões vizinhas. Porém, o secretário não revelou as áreas visitadas nem se as deslocações incluíram Hong Kong. “Fomos às regiões vizinhas, e chegámos à conclusão que só com oferta suficiente é que vamos controlar os preços [do imobiliário]. Por outro lado, se tentarmos controlar os preços quando não há oferta suficiente, os preços vão acabar por se ajustar, sem haver controlo”, apontou. Candidato sem soluções O mesmo assunto foi abordada pelos deputados Sulu Sou e Agnes Lam. A legisladora questionou mesmo Lionel Leong sobre as razões que justificam o facto do Governo ser incapaz de fazer um estudo para saber quantas fracções estão desocupadas actualmente desocupadas. A resposta chegou por via do Director dos Serviços de Finanças, Stephen Iong Kong Leong, que argumentou com as dificuldades em contabilizar as fracções que não estão ocupadas. “A criação deste imposto para fracções não ocupadas pode fazer com que estas fracções entrem no mercado de arrendamento. Mas a questão reside em saber como uma fracção pode ser considerada devoluta. Será através do consumo de água e electricidade?”, disse o director. “Poderá haver o risco das pessoas utilizarem manobras fraudulentas para fugirem a esta situação”, apontou. Por sua vez, Sulu Sou questionou o secretário sobre quando vai ser apresentada uma solução para o problema da habitação em Macau. O pró-democrata aproveitou ainda para criticar o secretário para os Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário. “Espero sempre a apresentação de medidas eficazes para o controlo dos preços dos imobiliário. Se perguntarmos ao secretário [Raimundo] Rosário, ele também diz que não é possível melhorar a situação. Não sei se vai concorrer no futuro para o cargo de Chefe do Executivo, mas gostaria de saber qual é o seu plano para a resolução do problema”, apontou. “Mas se ainda está a estudar a questão, até quando é que vai continuar a precisar de estudar o problema da habitação? Precisamos de ter este problema resolvido”, acrescentou. O secretário deixou Sulu Sou sem resposta.
Hoje Macau China / ÁsiaDetida mulher suspeita de maus tratos em jardim-de-infância [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre marcas de agulhas nas crianças e suspeitas de abusos sexuais, uma das mais reputadas creches da China enfrenta uma resma de terríveis acusações desde que uma mulher suspeita de envolvimento no escândalo de maus tratos de crianças num jardim-de-infância em Pequim, gerido por uma empresa cotada na bolsa de Nova Iorque, foi detida no sábado, anunciaram as autoridades chinesas. A polícia do distrito de Chaoyang, na capital chinesa, informou que uma educadora, de 22 anos, foi detida pela suspeita de abuso de crianças na sequência da investigação realizada ao jardim-de-infância bilingue (chinês-inglês) administrado pela cadeia RYB Education, com sede em Pequim. A mulher surge apenas identificada pelo apelido, Liu, e não são facultadas mais informações sobre o caso no comunicado divulgado este sábado pela polícia distrital através da plataforma de mensagens Sina Weibo, equivalente chinês do Twitter. A agência de notícias oficial chinesa Xinhua também fala na suspeita de abusos sexuais, sem providenciar, contudo, mais detalhes. A RYB Education afirmou estar “extremamente chocada e angustiada com os crimes que a professora é suspeita de ter cometido. “Expressamos as nossas sinceras desculpas às crianças envolvidas neste caso, às suas famílias e à sociedade em geral”, diz um comunicado publicado no portal da empresa. “Trata-se de um grave incumprimento do dever no nosso trabalho de gestão, pelo que devemos assumir a responsabilidade e levar a cabo uma investigação, bem como fazer rectificações”, diz o mesmo comunicado, que não faculta detalhes sobre os alegados abusos de Liu, natural da província de Hebei. A RYB disse que despediu Liu, afastou o dirigente do jardim-de-infância Xintiandi e estar a cooperar com investigações adicionais, bem como que a empresa está a contratar médicos e psicólogos para ajudar a confortar as crianças que foram afectadas e a inspeccionar as suas outras filiais no país. O escândalo em Pequim estalou depois de a revista Caixin e outros ‘media’ chineses terem citado relatos de pais dando conta de que as suas crianças foram obrigadas a despirem-se como castigo e que foram encontradas marcas inexplicadas, aparentemente de agulhas, nos seus corpos. A RYB, cotada desde Setembro no Nasdaq, na Bolsa de Nova Iorque, gere directamente 80 jardins-de-infância na China, a somar a outros 175 operados sob ‘franchise’ para crianças de até seis anos, de acordo com dados constantes do seu ‘site’. Num comunicado separado, a polícia de Chaoyang revelou também que outra mulher, de Pequim, de 31 anos, foi detida dois dias antes após ter admitido ter alegadamente espalhado rumores sobre o envolvimento de militares em abusos sexuais de menores. Segundo a nota oficial, a mulher, também de apelido Liu, manifestou “profundo arrependimento” por ter acusado, através da rede Wechat, o pessoal de uma base militar vizinha da instituição de ter abusado de crianças. O marido da directora do jardim-de-infância era um responsável dessa base, indicou o seu comissário político na sexta-feira ao jornal oficial do exército PLA Daily, indicando não haver, de momento, “nenhuma prova” do envolvimento de pessoal militar no caso. A RYB tinha estado já envolvida num escândalo em Abril após a divulgação de imagens na Internet que mostravam uma educadora a pontapear uma criança noutra filial em Pequim, uma acção que viria a resultar na suspensão do director e dois professores.
João Santos Filipe PolíticaSong Pek Kei afirmou que o secretário nunca teve dificuldades na vida [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] deputada Song Pek Kei acusou Lionel Leong de desconhecer a verdadeira situação de muitos jovens do território, devido ao facto de ter tido sempre sucesso nos seus negócios. A legisladora apoiada por Chan Meng Kam criticou também o Governo por não criar um bom ambiente para o investimento. “O secretário sempre teve sucesso na sua vida. Não é como nós que precisamos de trabalhar e fazer as contas à vida. A situação é mais difícil para os mais jovens, como os meus amigos, que têm de ajudar os pais e fazer muito bem as contas”, disparou Song Pek Kei, na sexta-feira. A membro da AL disse, depois, que o Executivo tem duas caras, por um lado utiliza um discurso de apoio ao empreendedorismo e oferece apoios financeiros, por outro, não cria as condições e dificulta os processos com burocracias. “As políticas do Governo estão sempre a mudar, hoje dizem que sim, amanhã dizem que não. Como é que os jovens podem adaptar-se a este ambiente de negócios? Há sectores mais fáceis para se obter uma licença, mas há outros onde é muito complicado. A burocracia das autoridades ligadas ao Governo não cria as condições ideais para o investimento”, acrescentou. Na resposta, Lionel Leong disse que o Governo vai resolver a questão com soluções entre os diferentes departamentos: “A questão das licenças não é nova. Pretendemos resolver esta questão entre os diferentes departamentos, através de várias medidas. Pretendemos acompanhar de perto a situação. Os jovens devem obter as informações necessárias antes de montar um negócio”, considerou. Song Pek Kei criticou também o Governo por não permitir que sejam realizados espectáculos nos edifícios industriais de Macau, apesar de haver talento e vontade para tal.
Hoje Macau China / Ásia MancheteBudistas e taoístas repreendidos por práticas comerciais excessivas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s templos budistas e taoístas em toda a China receberam instruções governamentais para que não procurem obter lucros em nome da religião. A Administração Estatal de Assuntos Religiosos (AEAR), o Departamento de Comunicação do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), o Gabinete do Grupo Dirigente Central para Assuntos de Ciberespaço e o Ministério da Segurança Pública, e outros 9 departamentos emitiram conjuntamente uma directriz para regular as actividades comerciais nos templos budistas e taoístas. O documento recorda a estes centros a sua natureza de organizações não lucrativas e proíbe que organizações e indivíduos obtenham lucros pelas suas actividades religiosas. Embora se permite aos templos dedicar-se a actividades comerciais, como a publicação de livros ou a venda de objectos religiosos e produtos artísticos, este tipo de actividades devem ter como objectivo a manutenção e a operação dos templos ou programas de caridade, destaca um comunicado da AEAR. As actividades comerciais dos templos budistas estão destinadas à promoção do budismo da forma adequada e não a procurar lucros, assinalou o Mestre Xuecheng, presidente da Associação de Budismo da China. Li Guangfu, presidente da Associação do Taoísmo da China, esteve de acordo com este comentário e acrescentou que é importante que os templos delimitem claramente as práticas comerciais necessárias da busca de lucros. A AEAR decidiu fortalecer a supervisão sobre a administração financeira dos templos e pediu-lhes que adoptem os mesmos sistemas de finanças, impostos, administração de activos e contabilidade como as instituições não religiosas. Os templos devem registar-se nas autoridades tributárias e informar das suas receitas e gastos segundo a lei. Será introduzido um supervisor, que vigiará as operações financeiras e a doação de fundos dos templos, e será publicada a informação relevante. O governo também regulará a promoção online da religião. Organizações e indivíduos que queiram proporcionar serviços de informação religiosa online devem apresentar um pedido aos departamentos provinciais de assuntos religiosos, conforme ao documento. A directriz também pede às autoridades locais para refrear a procura de benefícios em nome da religião. Locais de turismo conhecidos pelo significado religioso são proibidos de cobrar taxas de entrada, e os governos locais são impedidos de estabelecer grandes ídolos religiosos não necessários e de construir templos em locais não religiosos para atrair turistas. O governo perseguirá organizações e indivíduos que empregam falsos monges budistas ou taoístas e realizam cultos ilegais para obter doações ou encorajar gasto irracional em cultos religiosos.
Miguel Martins PolíticaHomens e mar [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]mar é gostar de todas as maneiras, em qualquer situação. Como diz o ritual católico, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Amar é sermos nós, indissociáveis, é não sermos um sem o outro. É definirmo-nos por essa pertença. A uma pessoa ou a uma ideia, a um espaço ou a uma instituição. Que me perdoem os mais descrentes nas enormes virtudes do futebol mas não poderia aqui deixar de dizer isto: mais do que ser do Benfica, sou Benfica – não me consigo conceber sem isso, sem me saber parte não tanto dessa família mas, acima de tudo, dessa transcendência, em que oficiaram sacerdotes como Eusébio ou Vítor Baptista, Chalana ou Futre, Preud’homme ou Bento, João Pinto, Rui Costa ou Simão Sabrosa. Sê-lo é, muitas vez, transportarmos uma tristeza que não chega a beliscar a fé, mas, muitas mais, vivermos uma alegria e um agradecimento ao muito que se conjurou para que nunca sequer nos tivesse passado pela cabeça que pudéssemos ser outra coisa. Pertenço também, de um modo muito diferente, ao Mar, ainda que nunca tenha estado embarcado por mais de algumas horas. Mas, desde miúdo, sei que, se tivéssemos várias vidas, a do mar, apesar de todos os medos que desperta, seria uma das minhas escolhas. Bastaria que, nesse regresso, Deus me apetrechasse de uma dose de coragem bem superior à que agora tenho. Porque, não restem dúvidas, os homens do mar são, em maior ou menor medida, verdadeiros heróis. Assim, sem essa coragem, quase sempre inconsciente, que faz de alguns homens mais do que apenas homens, restou-me sempre navegar deitado numa cama ou num sofá, sentado a uma mesa ou num banco de jardim, navegar por entre letras impressas a negro sobre papel branco, que, passado pouco, têm o condão de se transformar em pequenos objectos flutuando sobre as vagas indomáveis de um qualquer oceano, navegar, enfim, as viagens dos outros. Tantos livros para a adolescência (não livros juvenis, tal como os livros para crianças não devem, eles mesmos, ser infantis…), avidamente lidos nessa idade, e a que regresso ciclicamente, numa tentativa desesperada de não romper os últimos fios que me ligam ao rapaz que então era, cheio de possibilidades e esperanças. Estando a falar do Mar, vem-me à ideia uma história que me foi contada por T., antigo comandante da marinha de guerra, hoje remetido à periglicofilia, isto é, ao coleccionismo de pacotes de açúcar. Certa vez, encontrando-se um navio por si comandado parado algures no oceano Atlântico, suponho que sobre a Fossa de Porto Rico, decidiu ele permitir à tripulação que se banhasse livremente naquelas águas, prazer de que também pretendia participar. Contudo, mal se entregara a tal deleite, regressou a bordo, atacado de pânico – ocorrera-lhe, subitamente, que entre ele e o fundo do mar estavam mais de 8000 metros de água, isso mesmo, oito quilómetros, a distância que, em Lisboa, vai do Rossio a Algés, em linha recta! Como o compreendo, eu que sou dado a vertigens e outras fobias, mas, no entanto, a verdade é que bastam menos de dois metros de água para uma pessoa de estatura média se afogar, o que, aliás, não é, de modo algum, inaudito. Um homem do mar que muito aprecio é – não podia deixar de ser – o Capitão Archibald Haddock, companheiro de Tintim, fumador de cachimbo, herdeiro inverosímil do Palácio de Moulinsart, grande bebedor, praguejador de bom coração e lágrima tão fácil quanto a ira. Com as suas forças e fraquezas, Haddock personifica, para mim, a bondade humana – what you see is what you get. Ora, nas guardas de alguns livros de Tintim, Hergé colocou – só os mais atentos terão reparado – um desenho do protagonista e do seu cão, Milú, vestidos de esquimós, situação que não integra nenhuma das estórias por ele publicadas. E tenho pena, porque acontece que os povos da América árctica, da Gronelândia às Ilhas Aleutas, genérica e abusivamente chamados Esquimós (pois alguns destes autodenominam-se iúpiques, inupiates, inuítes, unangans, etc), os seus artefactos (as roupas, o calçado, os óculos de neve, as armas de caça), os seus ritos e a sua música são outra das minhas paixões, embora esta ainda insuficientemente investigada. Um dia, assim a vida me conceda tempo e vagar, estudarei com mais afinco a vida destoutros homens do Mar. E é tão rica e longa a História dos que, por esse mundo fora, ao Mar se fizeram, buscando alimento, comerciando, guerreando, em lazer ou em busca de ciência! Os viquingues foram outro exemplo interessantíssimo de povo marinheiro. Em Roskilde, no sudeste da Dinamarca, tive oportunidade de visitar o magnífico Vikingeskibsmuseet (Museu dos Navios Víquingues), inaugurado no ano em que nasci, 1969, para albergar seis naves escavadas em Skuldelev, em estados de conservação muito interessantes. O museu promoveu, depois, a construção de réplicas de alguns dos navios que alberga, um dos quais, o Helge Ask, navegou já nas águas do Sena e do Tamisa, imagine-se para que espanto dos desprevenidos. Por entre outros aspectos mais sérios, encantam-me as indumentárias tradicionais dos homens do mar, tão variadas quanto os seus tempos, as suas geografias e funções. Gorros, galochas, grossas roupas de lã ajudam a compor retratos exteriores que o são também de modos de vida e das próprias almas. O mesmo se poderá dizer das variegadas formas das suas barbas. Quando era miúdo, aí com uns quinze ou dezasseis anos, correspondi-me com vários museus a que nunca tinha ido e a que, aliás, nunca fui. Entre eles, o Western Australian Maritime Museum, em Freemantle, perto de Perth, e o Scottish Fisheries Museum, em Anstruther, na região de Fife. Consulto agora dois folhetos que na altura me enviaram e recordo-me de que decidi guardar estes, e não muitos outros, precisamente, tão-só, porque neles figuram velhas fotografias a preto e branco, do fim do século XIX ou do início do século XX, e, bem assim, algumas pinturas em que aparecem vários homens municiados do tipo de barbas que prefiro e a que se chama, comummente, passa-piolho.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasOs Prémios [dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ivemos numa sociedade de premiados. Todos os dias os grupos fechados que fazem parte de coisas várias premeiam gentes. De tanto prémio já nem sabemos os que se auto-premeiam com a ilusão constante da rotatividade dos clubes e da imensa e inócua produtividade dada em corrupios de um inflamado génio que sempre falta. São quase organizações clandestinas estas que se estrangulam no delírio do prémio. Ora, os prémios, são de fato o que menos importa. Ninguém talha um caminho para erguer taças ao alto, nem a vida é essa insustentável leveza de vaidades ardilosas fechada nas benesses dos que trabalham para a mesma causa em suportes variados de sujeição. Os imensos esforços de camaradagem forçada que se denota nestes ambientes impulsiona o mais desprevenido a desejar sair dali e não querer sequer que saibam que está vivo. São de facto um atentado à inteligência e um festival de ousadas demonstrações de salubridade mental. É um espectáculo insano estes pequenos guetos assaltados por uma gente detentora de poderes para gerir, absolver, ignorar e inutilizar: em muitos instantes nem o pensamento sobre a função é claro, pois que não conseguem explicar de forma natural aquele amontoado de situações, entrando assim numa esfera comprimida onde a inventividade estanca, a mobilidade é morta, mas passeando-se mesmo assim pela orla das suas degeneradas funções. Há Ministérios para certas actividades que devem ter as verbas distribuídas para grupos das suas legiões, mas nada disto é um assunto abrangente e muitos vivem de nada fazerem para além de assinaturas a petições, acabando-se aqui a intervenção cívica e social . É grotesca a forma como se movem os seres que destroem não só o erário público bem como aquilo que poderia haver ainda de talentoso. Continua a ser tudo “sacristão maçónico” com o aguilhão da polícia secreta, estão habilitados a matar, a salvar, a expulsar… é, sim, é uma gente malsã! É um espectáculo desprezível desde os cumes até às bases. Para não falar na jactância emproada de alguns protagonistas. Claro! Há muita violência doméstica, as pessoas não são expansionistas para andarem na rua a gritar, fazem-no então entre quatro paredes onde não raro se matam todas umas às outras. E é neste estado que vivem os presidentes de certas associações que andam por aí. Gente que não tem um rasgo de cultura adquirida a que possamos chamar civilidade. Os nossos pares? – Devem estar a brincar! – Primeiro, há seres ímpares, depois os pares escolhem-se, e isto não deve tomar mais do que o tempo de uma análise da nossa reflexão. Geralmente quem teve a sorte de escolher o bom, olha para isto com ar incrédulo, mas há que não desmerecer a confiança que nos depositaram. Há coisas que trazemos como um distintivo, uma conquista, uma forma de merecimento, e outras que são tão circunstanciais, que não passam disso mesmo. Todos os dias nas sociedades dos prémios há gente a jogar para ser premiada gente que se esforça por ganhar o euro milhões, outros o pódio, e outros a atenção de aqueloutros- e mais outros- premiar este que já premiou aquele, e assim sucessivamente até ao dia de os tirar a todos de lá para fora porque afinal eram outros que tinham feito a Obra. Isto para não falar do excesso de zelo para com uma população cada vez mais afugentada do saber da linguagem e que a única razão de não passar definitivamente a dialecto é o de poder sustentar uns nativos longe da sua região de origem. O que estes Institutos e linguistas ganham para degenerar tudo por onde passam na sua insensibilidade verbal, dava para fazer ensinos de grande qualidade, mas, agora como sempre, há uma forma de vida artificial por onde passa um ardil de gentes sem mérito que na sua consciente falta dele se auto premeia a si mesma. Sabemos que de nós fica pouca coisa na duração do tempo, essa deve ser a visão clara, não nos é dado “sujar” o espaço de forma metódica e continuada pois que seria do grau da insuportabilidade, e que o barroco oco da nossa ganância pátria para com o maior , o mais importante, o mais este, o mais aquele, deu esta imensa decrepitude social onde agora se mergulha. Neste imenso opróbrio onde a liberdade foi sonegada em detrimento de vantagens tão substituíveis que nem notamos, nota-se o artefacto de uma moléstia tardia que vingou. Quando se contarem as peças desta manobra feita de angariadores e mercenários, talvez muitos fiquem esmagados de vergonha perante a robustez dos tenazes, e que a supremacia dos distribuidores de prémios se sinta cruelmente nua no meio de uma história que não querem contar e outro a recitará. E os euromilhões fiquem escancarados nas esquinas dos prédios e as notas em sacos dos carros de Estado, estampados nos semáforos. Não chamaria inaptidão ao legado frouxo que ninguém quer, chamar-lhe-ia um acto previsível. Quanto à astúcia e toda a estultícia, garbo, altaneiro estado, guardem tudo. Vão precisar de todos essas características quando mais nada restar de uma continuada e valente fraude.
Victor Ng Manchete PolíticaLionel Leong não se recandidata como delegado de Macau à APN As eleições para os delegados de Macau à Assembleia Popular Nacional acontecem no próximo dia 17 de Dezembro. Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, decidiu não se recandidatar, à semelhança de Leong Iok Wa, dos Operários, e Io Hong Meng, dos Kaifong [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s rostos que vão representar a RAEM na Assembleia Popular Nacional (APN), o mais importante órgão legislativo da China, serão escolhidos numa eleição a decorrer no próximo dia 17 de Dezembro. A data foi escolhida na última sexta-feira na primeira sessão plenária dos membros que elegem os representantes de Macau para a APN, e que decorreu na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental. Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, disse aos jornalistas que não volta a candidatar-se, esperando que exista um bom nível de representatividade do território na APN. O secretário acrescentou ainda que os novos delegados devem representar as vozes da população e concretizar bem os seus trabalhos no sentido de integração no desenvolvimento da China e no espírito do 19º congresso do Partido Comunista Chinês. Foto: GCS Segundo a TDM, a vice-presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Leong Iok Wa, e o supervisor geral dos Kaifong (União Geral das Associações dos Moradores de Macau), Io Hong Meng, também não serão candidatos. Si Ka Lon, deputado à Assembleia Legislativa (AL) e Wong Ian Man, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) da província de Guangdong em Macau, optaram por ser novamente candidatos, tal como José Chui Sai Peng, também deputado à AL. Também segundo a TDM, José Chui Sai Peng disse estar confiante na sua continuação como delegado à APN, esperando continuar a ter apoio graças ao seu trabalho como delegado nos últimos dez anos. Lao Ngai Leong também volta a candidatar-se. A data das eleições foi escolhida pelo presidium, composto por onze membros e presidido por Chui Sai On, Chefe do Executivo. Estes membros foram eleitos na primeira sessão plenária, numa eleição que contou com a participação de 430 membros e que teve 426 votos a favor e apenas quatro abstenções, sem votos contra. Este grupo será responsável pelas eleições de 17 de Dezembro e é composto por Ma Iao Lai, Lau Cheok Va (ex-presidente da AL), Lei Pui Lam, Yeung Tsun Man Eric, Edmund Ho (ex-Chefe do Executivo), Ho Iat Seng (actual presidente da AL), Vong Hin Fai (deputado à AL), Susana Chou (ex-presidente da AL), Fernando Chui Sai On (Chefe do Executivo e presidente do presidium), Leong Heng Teng (porta-voz do Conselho Executivo) e Liu Chak Wan (membro do Conselho Executivo). Wang Chen foi o vice-presidente da sessão plenária, sendo também secretário-geral do Comité Permanente da 12ª APN. Este referiu, no seu discurso, que é necessário manter a prosperidade de Hong Kong e Macau, sendo esta uma condição necessária para a concretização do grande renascimento do povo chinês. O vice-presidente apelou aos membros para que estes tenham uma visão ampla, para que se possa impulsionar o sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas”. Os dias da nomeação Após a divulgação dos onze membros eleitos que irão eleger os delegados de Macau à APN, Leong Heng Teng, porta-voz do presidium, deu uma conferência de imprensa onde explicou que a nomeação dos candidatos a delegados se faz até ao dia 6 de Dezembro. Leong Heng Teng elogiou o trabalho desenvolvido pelos actuais delegados, por terem dado o seu contributo no passado e por terem assumido as suas responsabilidades, ao participar de forma activa nas reuniões da APN. “Sei que alguns delegados, apesar de terem coisas importantes a fazer, deixaram-nas para trás e dedicaram-se aos trabalhos [da APN]”, disse, tendo lembrado que alguns problemas sentidos pela população local, como o abastecimento de água no período de salinidade da água potável, foram revelados à APN através dos delegados de Macau. Para esses problemas houve respostas satisfatórias, disse Leong Heng Teng. Até 6 de Dezembro os candidatos interessados devem apresentar o seu boletim de inscrição e dez cartas de nomeação recolhidas junto dos membros ao gabinete para os trabalhos eleitorais situado no Centro de Ciência de Macau. posteriormente o presidium vai realizar uma segunda sessão plenária com vista a compilar os dados e divulgar a lista de candidatos. Depois da eleição dos delegados, os resultados serão divulgados junto do comité permanente da APN para a apreciação das suas qualificações. Este órgão irá divulgar posteriormente a lista final de delegados.
Sérgio Fonseca DesportoÁvila sagra-se Vice-Campeão do CTCC [dropcap]R[/dropcap]odolfo Ávila sagrou-se ontem Vice-Campeão do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) de 2017, ao terminar na segunda posição na última corrida da temporada, tendo os seus resultados ao longo da época, e especialmente este fim-de-semana no Circuito Internacional de Xangai, sido preponderantes na conquista do título de Construtores por parte da SAIC Volkswagen. Na sua temporada de estreia no campeonato de automobilismo com maior expressão na República Popular da China, Ávila foi uma presença regular nos lugares pontuáveis, abdicando por vezes de arriscar resultados mais exuberantes em prol do resultado colectivo da equipa. “O objectivo primordial para esta temporada era ajudar a equipa a vencer o título de Construtores e esse foi cumprido”, explicou o piloto português de Macau da equipa SVW333 Racing. “Obviamente que estou igualmente muito satisfeito em ter ficado em segundo lugar no campeonato. Foi um início de temporada difícil, onde tivemos problemas de vária ordem, mas com o decorrer da temporada fomos melhorando. Foi pena o azar na segunda corrida em Wuhan, onde motor partiu quando eu seguia no terceiro lugar, mas isso também faz parte das corridas.” “Esta época foi uma experiência muito interessante para mim, enquanto piloto, pois descobri várias circuitos que desconhecia e tomei contacto com um campeonato extremamente competitivo, em que dentro da pista não há contemplações. Quero também agradecer à SVW333 Racing por me ter dado esta oportunidade e acreditado desde a primeira hora que eu poderia ser uma mais valia para a equipa”, acrescentou Ávila. O piloto da RAEM estava ciente que esta última prova do ano iria ser particularmente complicada, porque os VW Lamando GTS tinham um handicap de peso demasiado elevado, em relação à concorrência directa, devido aos bons resultados nas provas anteriores. Todavia, Ávila não baixou os braços e, depois de ter conquistado um quinto lugar na primeira corrida, hoje, na última e decisiva corrida do ano, terminou num espectacular segundo lugar. “Foi um fim-de-semana muito difícil em termos de performance porque os nossos carros estavam muito pesados. Fui o melhor da minha equipa na qualificação e apenas o décimo da geral. Na primeira corrida, porque era importante terminar e somar o maior número de pontos possíveis, optei por uma toada cautelosa, sem exageros, e consegui terminar no quinto lugar. Hoje, partindo do oitavo lugar, fiz outra corrida limpa e consegui subir posições de oitavo até ao segundo lugar. Dadas as circunstâncias foi a melhor forma de dar uma época dura como concluída”, explicou o piloto do VW Lamando GTS nº9. Rodolfo Ávila subiu ao pódio por três ocasiões esta temporada, terminando o campeonato com 124 pontos, apenas menos sete que o piloto campeão.
João Santos Filipe DesportoKa I e Benfica vão disputar final do Torneio de Futebol de Sete [dropcap style≠’circle’]Á[/dropcap]guias e Ka I, uma da destas equipa vai ser a vencedora do torneio da Associação de Futebol de Macau, após terem batido Kei Lun, por 4-1, e Cheng Fung, por 2-1, respectivamente. As equipas derrotas vão disputar no mesmo dia o terceiro lugar. Após ter sido realizado o sorteio para o Torneio de Futebol de Sete, houve a impressão que com Benfica, Ka I e Sporting no Grupo B da competição, que este era o grupo da morte. Essa ideia ficou provada na sexta-feira, quando Ka I e Benfica eliminaram, nas meias-finais, as equipas apuradas no Grupo A, Kei Lun e Cheng Fung. No primeiro encontro da noite no Canídromo, o público foi brindado com uma partida muito bem disputada e com um ritmo elevado, entre Ka I e Cheng Fung. Apesar de ter sido o Ka I a vencer por 2-1, foi o adversário que marcou primeiro. Aos seis minutos do encontro, Ronieli Nascimento aproveitou um passo longo do guarda-redes Juninho, e depois de uma excelente recepção fez a bola passar por cima do guardião Domingos Chan. Já os jogadores começavam a pensar no intervalo, quando aos 17 minutos William conseguiu igualar o encontro. Depois de uma excelente assistência de Sami, o brasileiro cabeceou, sem hipóteses para Juninho e fez o 1-1. No segundo tempo, o Ka I continuou a ser a melhor equipa, mas só conseguiu chegar à vitória de maneira dramática. No último minuto do encontro, Sami confirmou o estatuto de homem do jogo, e depois de ter feito uma assistência para golo, acabaria também por deixar o nome na lista de marcadores. Após uma excelente arrancada pelo corredor direito, Sami finalizou o trabalho individual com o 2-1, que eliminou o Cheng Fung. Domínio encarnado No outro encontro, as águias conseguiu vencer o Kei Lun por 4-1, numa partida em que estiveram quase sempre na liderança, e de forma confortável. O primeiro golo chegou na marcação de um livre directo. Após falta sobre jogador das águias, aos dois minutos, Edgar Teixeira foi chamado para a cobrança e a bola só parou dentro da baliza do adversário. As águias não tiraram o pé do acelerador, e seis minuto depois, Amâncio, internacional por Macau, fez o 2-0. Após uma jogada colectiva, houve um primeiro remato que o guarda-redes do Kei Lun conseguiu defender, mas a bola sobrou para o macaense, que encostou para o segundo tento da partida. Na segunda parte, o Benfica continuou a controlar os acontecimentos, e aos 33 minutos Edgar Teixeira bisou, ao apontar o 3-0 para as águias. Foi nessa altura que o Kei Lun conseguiu finalmente dar uma resposta e reduziu, por intermédio de Chan Kin Seng, para 3-1. Este foi o primeiro golo sofrido na competição pelas águias. Finalmente, o Benfica chegou ao 4-1, quando faltavam dois minutos para o fim, por intermédio de Vinícus. A final de quarta-feira está marcada para as 20h30, no Canídromo. Na fase de grupos, quando Ka I e Benfica se encontraram, as águias saíram vencedoras por 2-0. Carlos Leonel foi o autor dos dois tentos.
Hoje Macau SociedadeMaló suspensa por falta de higiene e prática de procriação médica assistida A clínica Maló em Macau foi encerrada por seis meses devido à prática ilegal de procriação médica assistida, tráfico e contrabando de medicamentos de oncologia e falta de condições de higiene e segurança. O HM falou com um antigo accionista que conta o risco que a marca correu ao vender a clínica [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]suspensão da licença aconteceu na sequência de “irregularidades graves”, segundo notícia veiculada pela emissora pública TDM, que informou também que a clínica comunicou através das redes sociais que estava fechada para efeitos de remodelação. O motivo para a acção dos Serviços de Saúde (SS) prende-se com a suspeita de que na clínica se fizessem procriação medicamente assistida, tráfico e contrabando de medicamento oncológicos, assim como falta de condições higiénicas e de segurança nas instalações. “Acho que os SS devem ter feito a investigação devida para emitir a suspensão”, comenta Jorge Valente, ex-accionista da sucursal de Macau. Numa nota enviada posteriormente aos jornalistas, os SS informaram que “o Hospital Taivex/Malo está suspenso até 21 de Maio de 2018 devido à prática de procriação medicamente assistida, tráfico e contrabando de medicamentos de oncologia, falta de condições de higiene e segurança para a prestação de cuidados de saúde”. As instalações foram encerradas na passada quinta-feira, tendo sido aplicadas duas multas. Uma no valor de 103.000 patacas a quatro médicos e um enfermeiro, e outra de 76.000 patacas. Marca marcada “A licença de um médico foi suspensa por um período de 90 dias. Não houve nenhuma vítima resultante desta situação, no entanto não está excluída a possibilidade de uma sanção penal já que o caso foi remetido ao Ministério Público para acompanhamento”, referiu o comunicado dos SS. A investigação à clínica fundada em Macau por Paulo Maló foi desencadeada após denúncias recebidas pelos SS em 2016 e já em Junho deste ano, sobre a “prática ilegal de serviços de oncologia, técnicas de procriação medicamente assistida, tráfico e contrabando de medicamentos destinados ao tratamento oncológico no interior da China, efetuadas, alegadamente, pelo Hospital de Dia “TaivexMalo”, acrescentou. Foi também detectada uma página de Internet que publicitava no interior da China “a prestação de serviços de procriação medicamente assistida no Hospital “TaivexMalo””. “Quando éramos administradores mantínhamos a qualidade e segurança exigidas. Não sei o que aconteceu, depois de termos saído, pelos vistos, alguma coisa mudou”, conta Jorge Valente. O ex-accionista da clínica acrescenta que “este caso tira credibilidade a uma empresa, ou marca” e que a empresa-mãe deve ter sido “apanhada de surpresa”. Porém, Jorge Valente considera que este “é um risco inerente quando se vende uma empresa e uma marca”. Os SS revelaram que “após a audiência dos médicos envolvidos, dos profissionais de saúde e do responsável deste hospital de dia, foram recolhidas provas suficientes de que a unidade realizou técnicas de procriação medicamente assistida e prestou serviços de oncologia, sem autorização dos Serviços de Saúde”. É de salientar que depois de efetuadas as melhorias exigidas, e de uma inspecção pelos Serviços de Saúde, a clínica pode requerer o termo da suspensão da licença.
Andreia Sofia Silva SociedadeAssociação de Estomatologia assina acordos com China e Portugal [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem o Congresso Internacional de Medicina Dentária, que reuniu entre 200 a 300 médicos dentistas. Ao HM, Carlos Augusto, presidente da Associação de Estomatologia de Macau e membro da comissão organizadora do congresso, adiantou que foram assinados protocolos com a Ordem dos Médicos Dentistas de Portugal e com a Associação de Estomatologia da China. “Os protocolos foram assinados no sentido de garantir um intercâmbio nos próximos três anos ao nível da medicina dentária e ao nível dos congressos e exposições”, explicou. “É importante estabelecer esta parceria porque estamos num território pequeno e é importante que haja mais intercâmbio com Portugal e a China para que haja mais benefícios para todos os médicos dentistas de Macau, para que possam participar em mais congressos, para que haja essa facilidade”, disse ainda Carlos Augusto. O médico dentista falou também do programa do congresso, que este ano abordou o panorama da profissão no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”. “O congresso aborda questões mais científicas ligadas à profissão, mas vamos falar também de “Uma Faixa, Uma Rota”, no que diz respeito ao futuro da medicina dentária [nos países e regiões ligados a esta política]”, adiantou. No caso de Macau a profissão não só atingiu um patamar mais profissional como existem mais dentistas a trabalhar no território. “Estamos num bom nível, a nível profissional tem crescido e o número de dentistas também. Nos últimos dez anos o panorama tem melhorado bastante”, concluiu Carlos Augusto.
João Luz PolíticaO saudosista [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ons velhos tempos que não retornam, quando éramos grandes, uma imensa vastidão de superioridade patriótica construída com a inferiorização dos outros. Violência e pilhagem como contexto da nobreza que, num amplexo, quis abarcar o mundo inteiro. Tudo desmoronou com a revolução dos encardidos, a mestiçagem que estendeu a mão para mais uma migalha e encontrou a libertação pela via de uma G3. Frúnculos humanos que teimaram escapar à honrosa morte por coisa nenhuma, quando as suas carnes deveriam ser calcadas na lama por lagartas de tanques. Cambada de inúteis que recusaram o privilégio de se tornarem heróicos fósseis da derradeira luta pela sobrevivência da grande fortaleza lusa. Personifico a nostalgia do tempo em que a mulher estava no seu lugar, transferida da propriedade do pai para o património do marido, tempos em que não existiam negros fora da servidão ou lésbicas e pederastas a conspurcar a harmonia cristã e familiar desta pia sociedade de assassinos. Que saudades dos idos tempos em que se prendiam vermelhos pelo crime lesa-pátria da leitura proibida, criminosos que ousavam pensar fora da norma. Eu sou o domínio, sou a polícia, o juiz, o cárcere, o padre e o presidente. Sou lenda dos meus antepassados, herdeiro legítimo do tesouro das Índias, a nostalgia de algo que nunca existiu. Do Império só resta a minha Carminho, dócil e pura como a virgem, o fidalgo amparo dos desejos e tesões que preenchem os requisitos do Art.º 5 do Código do Processo Carnal. Um esteio de castidade neste mundo de Jezebéis, esses cometas de incandescentes lantejoulas a brilhar ao sol vespertino, esses astros que marxisticamente brilham para todos nós. Sou a bolsante aristocracia que despeja bílis depois garfadas impostas de igualdade, pluralidade e diversidade empurradas goelas abaixo. Os dias de hoje são de opressão à minha classe, habituado a ser pilão e almofariz que faz farinha dos ossos dos pobres. Mãe, Maria, Eva, eu te suplico. Acolhe-me de volta ao teu ventre, extensão máxima da minha saudade, minha nação biológica, destino e origem de mim. Desde que me pariste que tens uma dívida eterna para comigo. Poluíste-me à nascença com um inimigo invisível com quem luto todos os dias, este sangue inquinado por séculos de ocupação norte-africana que faz ressoar dentro de mim o chamamento do minarete. O mundo rural transmite-me a nostalgia de uma época em que a vida era mais simples, quando todos sabiam o ser lugar. Adoro o campo, só tenho pena de estar cheio de camponeses, todos gregários e a conspirar cooperativas e esperanças associativas. Dói-me a barriga, preciso de mil blitzkriegs em sais de frutos para conseguir digerir esta pançada de colectivismo. Quero terraplanar Grândola, Baleizão, Barreiro e Marinha Grande e erigir a Nova Nova Lisboa, levar ao pelourinho as Catarinas, Maias, Delgados, Cunhais e todos os rubros encardidos. Admito que as minhas pernas tremem de excitação perante o leve aroma do poder absoluto exercido por homens fortes, viris, como Estaline, o grande exterminador de socialistas. Por vezes tenho acessos de fraqueza que nunca ouso confessar, impulsos comunitários que vão além da absolvição comprada por voluntariado, ou dos jantares do clube de golfe. Sonho com as gargalhadas desbragadas pela falta de chá, as paixões que movem mundos para além da união de patrimónios de facto. Fantasio com um prato de bifanas e uma imperial servida por um bruto. Desejo que a minha mãe me tivesse amado, abraçado, tratado como uma criança. Quero que uma lésbica negra sindicalista me rode um charro na Festa do Avante. Uma nova pele para mim, um espaço fora do Império de sombras em que o meu ego se abriga. Quero um T2 na Cova da Piedade e um passe intermodal Fertagus/Transtejo, quero comer caracóis numa esplanada da Costa da Caparica e chamar-me Cajó. Perdoa-me, Santo Salazar pelo amor à Nossa Senhora da Agonia, livrai-me destes devaneios paridos pelo grande satã esquerdista. Olho em meu redor e tudo é comunismo, por mais muros que caiam e bolchevismos que se dissolvam. Não interessa, a Goldman Sachs é uma extensão judia do politburo do Partido Comunista Chinês, que se lixe. Como o facho ardente do Império que alumiava a treva socialista se apagou, tudo o que resta são afiadas foices e omnipresentes martelos. Estou inoculado contra a história, desprezo a pobreza em todo esplendor da minha fé cristã e sou imune à ironia de viver numa região da República Popular da China enquanto sonho com um velho Estado Novo.
Hoje Macau SociedadeGeocapital não recebeu “prémios” da TAP, diz Lacerda Machado Diogo Lacerda Machado garante que a Geocapital Macau não ganhou quaisquer contrapartidas financeiras com a compra da VEM – Varig Engenharia e Manutenção por parte do Grupo TAP [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] administrador não-executivo da TAP, Diogo Lacerda Machado, comentou a situação da compra da brasileira VEM – Varig Engenharia e Manutenção, por parte da companhia aérea, tendo desvalorizado os prejuízos registados pelo grupo. “”Se a TAP não tem feito esse investimento absolutamente estratégico, decisivo para chegar onde chegou hoje no mercado brasileiro, o tempo seria muito pior”, afirmou. Segundo a agência Lusa, Diogo Lacerda Machado garantiu ainda que a Geocapital, empresa controlada por Stanley Ho em que é administrador, não recebeu qualquer “prémio” da TAP por aquele negócio. O ex-governante português do Executivo de António Costa falou num painel de conversa no âmbito do congresso da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e de Turismo (APAVT). Lacerda Machado foi questionado sobre o negócio da VEM por Pedro Costa Ferreira. Corria o ano de 2005 quando a Geocapital adquiriu 85 por cento da VEM, juntamente com a TAP que ficou com 15 por cento. Dois anos depois, a empresa de Macau alienou a sua participação na VEM à TAP com um prémio de 20 por cento, uma vez que a TAP pagou 25 milhões de dólares em vez dos 21 milhões inicialmente previstos. Diogo Lacerda Machado era administrador da Geocapital e, depois da compra da VEM à Varig, passou a ser administrador não executivo da TAP Manutenção e Engenharia Brasil, como passou a ser chamada a empresa. Segundo o jornal Público, Lacerda Machado salientou que “nós não damos conta da forma especial como a China nos olha devido a essa singularidade histórica que Macau significa”, defendeu. Citado pelo diário português, o gestor da Geocapital disse que a China recorre à “singularidade histórica de Macau” para dizer aos países de língua portuguesa que “não devem temer” uma aproximação, porque o país teve uma relação de “respeito mútuo” por um longo período de tempo. Lacerda Machado acrescentou ainda que os países lusófonos “não são estratégicos para a China, são vitais”. A ligação de Lacerda Machado a Macau começou em 1988, onde chegou na companhia de Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira. Estes são ministros do Executivo liderado por António Costa. “Um ano extraordinário” Diogo Lacerda Machado não só desvalorizou os prejuízos como afirmou, à margem do congresso, que se pode esperar “esperar um ano extraordinário, de desempenho económico-financeiro incomum” na TAP este ano. Confrontado com o facto de no primeiro semestre deste ano, o grupo TAP ter agravado os prejuízos, face ao período homólogo de 2016, Diogo Lacerda Machado explicou que existe uma circunstância que o justifica. “Aquele resultado do primeiro semestre tem um pagamento que foi o último esforço para equilibrar a exploração da VEM [antiga brasileira Varig Engenharia e Manutenção]” e se se “descontar esse [valor] não recorrente, as pessoas perceberão como o ano vai ser muito interessante”, disse Lacerda Machado. O prejuízo do grupo TAP agravou-se cerca de 3 por cento, para 52,075 milhões de euros, no primeiro semestre do ano, segundo um relatório divulgado pela Parpública, ‘holding’ através da qual o Estado detém 50% da empresa.
Hoje Macau China / ÁsiaBirmânia impõe restrições à imprensa durante visita do Papa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades da Birmânia impuseram restrições à imprensa internacional durante a visita de quatro dias que o papa Francisco inicia na segunda-feira ao país, indicaram hoje fontes próximas da organização da viagem. O sacerdote Mariano Naing, porta-voz da Igreja Católica local, afirmou, durante um encontro com jornalistas, que a imprensa internacional não terá acesso ao aeroporto de Rangum, a antiga capital da Birmânia, para efectuar a cobertura da chegada do pontífice ao país. Do mesmo modo, ser-lhe-á vedado acesso à cerimónia de boas-vindas oficial que a líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, vai oferecer na próxima terça-feira ao papa em Naypyidaw, a norte de Rangum e actual capital do país. As restrições também incluem o acesso à reunião que o papa Francisco irá manter, no mesmo dia, com líderes religiosos locais. Os ‘media’ oficiais birmaneses são os únicos que têm autorização para efectuar a cobertura jornalística desses actos. As autoridades birmanesas invocaram “razões de segurança” para justificar as restrições, indicou Mariano Naing, citado pela agência de notícias espanhola Efe. A visita do papa Francisco à Birmânia coincide com a crise humana desencadeada pela operação do exército birmanês contra a minoria muçulmana rohingya no estado de Rakhine, no oeste do país. O papa Francisco vai cumprir no Bangladesh a segunda e última etapa da sua viagem à Ásia que, de acordo com alguns observadores, tem como objectivo mediar uma crise motivada pelo que as Nações Unidas qualificaram como uma operação de “limpeza étnica”. Bali | Voos suspensos após erupção vulcânica [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vulcão Agung, na ilha turística de Bali, continuava a registar ontem fortes erupções, com uma coluna de cinzas a atingir até quatro quilómetros de altura, obrigando à proibição dos voos, informaram as autoridades indonésias. O vulcão entrou em erupção por três vezes na manhã de domingo, tendo a mais recente, ocorrida pelas 06:15 (22:15 em Lisboa), expelido a mais elevada coluna de cinzas, até quatro quilómetros de altura, informou Sutopo Purwo Nugroho, porta-voz da agência de gestão de desastres da Indonésia. As cinzas vulcânicas estavam a espalhar-se para leste e sudeste da cratera em direcção à vizinha Lombok, na ilha das Flores, especificou. Os voos sobre o território foram proibidos, dado que o Centro de Vulcanologia e Mitigação de Perigos Geológicos (CVMPG) elevou o alerta para a aviação para o mais alto nível. “O CVMPG elevou o nível de alerta de laranja para vermelho”, disse Sutopo Purwo Nugroho à agência de notícias chinesa Xinhua através de uma mensagem de texto. O mesmo responsável reiterou ainda a advertência para as pessoas que vivem na zona definida como interdita, ou seja, num raio de sete quilómetros e meio em torno da cratera, insistindo que têm de abandonar imediatamente as suas casas. As autoridades indonésias ordenaram também a distribuição imediata de máscaras, dado que as cinzas vulcânicas continuam a cair em inúmeras aldeias. Cabo Verde | Nova Lei Cambial para atrair investimento [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Cabo Verde anunciou a entrada em vigor, a partir de 2018, de uma nova Lei Cambial visando liberalizar todos os movimentos de capitais no arquipélago e apelou aos empresários portugueses para investirem no país. O anúncio foi feito na sexta-feira à noite pelo ministro das Finanças cabo-verdiano. “Temos uma paridade fixa com o euro. Fizemos aprovar, em sede do Conselho de Ministros, e vai agora para o Parlamento, uma nova Lei Cambial, que vai liberalizar todos os movimentos de capitais de Cabo Verde com o exterior. Uma vez aprovado, penso que no início do próximo ano, qualquer transacção de e para Cabo Verde vai ser livre, sem qualquer restrição burocrática”, disse Olavo Correia. “Qualquer cidadão ou empresa pode abrir contas em moeda nacional ou estrangeira, sem qualquer restrição, e qualquer transacção de Cabo Verde para fora, em qualquer moeda, será feita sem intervenção burocrática ou administrativa”, acrescentou o governante cabo-verdiano no encontro, que decorreu no Palácio da Bolsa. Ao explicar o apelo ao investimento, Olavo Correia, na presença de Jorge Carlos Fonseca, destacou que Cabo Verde “quer ser uma marca forte”, salientando tratar-se de um país “estável e previsível”, onde “vale a pena investir” e o investimento “tem retorno”. Cabo Verde é “o próximo destino turístico, de investimentos, de oportunidades nos mais diversos domínios: energias renováveis, transportes aéreos e marítimos, telecomunicações e tecnologias, economia do mar e sistema financeiro”, realçou. “Estamos bem localizados, temos uma população jovem qualificada e em processo de qualificação, temos um país previsível, estamos numa localização geoestratégica extraordinária e temos um historial de desenvolvimento que nos permite ter essa confiança”, insistiu Olavo Correia para justificar a nova Lei Cambial.
Andreia Sofia Silva SociedadeSJM e Stanley Au premiados nos Macau Business Awards A quinta edição dos Macau Business Awards decorreu na passada sexta-feira, tendo sido premiados 46 figuras ou entidades locais pela sua presença no território em várias áreas. Stanley Au, que chegou a ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo, e que é presidente do banco Delta Ásia, venceu na categoria empresário com a medalha de ouro. [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Sociedade de Jogos de Macau foi uma das empresas distinguidas na categoria liderança. O prémio foi recebido por Ambrose So, administrador da concessionária de jogo, e Arnaldo Ho, chefe de operações da empresa e filho de Angela Leong. Citado por um comunicado, Ambrose So disse considerar a iniciativa dos Macau Business Awards como sendo “extremamente importante no reconhecimento de organizações e individualidades que fazem um contributo extraordinário para a economia e sociedade de Macau”. O prémio da SJM foi concedido no âmbito da participação da empresa nos programas de educação patriótica em Jinggangshan, na China, desde 2014, sem esquecer a colaboração da concessionária na construção de escolas em Sichuan, após o terramoto de 2008. A quinta edição dos Macau Business Awards distinguiram ainda vários jovens empresários, tais como Harry Lai, CEO da Lai Si Construction Engineering, e o macaense Armando Amante, ex-candidato às eleições pela lista de Angela Leong e director-geral da Contribuild Group Holdings Limited. Organizado pela empresa De Ficção Multimédia Projects e pela Associação de Leitores da Macau Business, o evento contou este ano com “um maior número de candidatos internacionais”, tendo existido “uma grande variedade de diferentes sectores e indústrias de Macau representados”.
Hoje Macau EventosVitorino Nemésio | Obras completas publicadas em 2018 [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma edição das obras completas do escritor Vitorino Nemésio, em 16 volumes, vai ser lançada a partir de 2018, numa iniciativa da editora Companhia das Ilhas, em parceria com a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, foi ontem anunciado. “Nos Açores, nunca estiveram disponíveis as obras do Vitorino Nemésio. Existe uma edição da Imprensa Nacional, com alguns anos, e há muitos títulos esgotados. Justificava-se plenamente esta edição”, declarou à agência Lusa o responsável pela editora Companhia das Ilhas, Carlos Alberto Machado. O editor disse que as novas gerações de leitores desconhecem Nemésio, apesar de se “aludir muito ao seu nome” e de “qualquer açoriano saber que foi um escritor nascido na ilha Terceira”, mas “pouco mais”. Vitorino Nemésio, cuja obra literária compreende, entre outros, o título “Mau Tempo no Canal”, considerado pela crítica literária um dos maiores romances portugueses do século XX, nasceu em 19 de Dezembro de 1901, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, e morreu em Lisboa, em 20 de Novembro de 1978. Considerando que a falta de títulos no mercado desaconselha qualquer professor a incentivar os alunos a lerem o escritor, Carlos Alberto Machado considera que se está perante uma “grande falha”, que pode agora ser colmatada. Esta edição “ultrapassa largamente a importância local, sendo de âmbito nacional, com particular importância nos Açores”, afirma o editor. A publicação compreende mais de quarenta obras distribuídas por dezasseis volumes, a publicar até 2011, devendo cada um ter pelo menos mil exemplares de tiragem. Face à dimensão literária de Vitorino Nemésio, o editor defende que o Governo dos Açores, além dos apoios à edição, deveria promover a sua obra, de forma “profunda e alargada”, em todas as ilhas do arquipélago. A direcção científica da publicação é assegurada pelo professor universitário Luiz Fagundes Duarte, contendo cada volume, além dos textos do autor, uma breve introdução a cargo de especialistas na obra de Nemésio, a par de um texto de síntese da sua vida e obra, de acordo com a editora. “Vitorino Nemésio promoveu de várias maneiras os Açores. Não foi só um grande escritor. E, onde viveu (França, Brasil e continente), por largos períodos da sua vida, foi o maior promotor do arquipélago, da sua identidade específica e um grande defensor dos Açores como região autónoma, no sentido mais profundo do termo, que não apenas político”, disse o editor. Considerado um dos grandes escritores portugueses do século XX, Nemésio recebeu, em 1965, o Prémio Nacional de Literatura e, em 1974, o Prémio Montaigne. A sua obra compreende cerca de 40 títulos na área da fição, poesia, ensaio e crítica, a par da crónica, como “Festa Redonda” (1950), “Nem Toda a Noite a Vida” (1952), “O Pão e a Culpa” (1955), “O Verbo e a Morte” (1959), “O Cavalo Encantado” (1963), “Canto da Véspera” (1966) e “Sapateia Açoriana” (1976), além de “Mau Tempo no Canal” (1944). A Vitorino Nemésio é atribuída a criação do termo “açorianidade”, num artigo sobre a condição histórica, geográfica, social e humana do açoriano, publicado em 1932. Além do lançamento da obra do escritor de origem terceirense, a Companhia das Ilhas vai apresentar, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, a sua programação editorial para 2018 e 2019, que contempla escritores como Carlos Alberto Machado, Leonor Sampaio da Silva, Paula de Sousa Lima e Urbano Bettencourt.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasErôs, eróticus, erótismus [dropcap]U[/dropcap]ma das palavras antigas mais difíceis de traduzir para as línguas contemporâneas é erôs. A sua versão adjectiva substantivou-se. O erótico assumiu expressão, contudo, de um conjunto de fenómenos que vai desde a pornografia em versão suave até ao amor romântico. O substantivo é nome de acção, exprime uma acção. Sem se fazer a experiência desta acção, não se percebe de que se trata. Tal como a semântica de caminho implica o caminhante, de outro modo o caminho não sai do sítio em que se encontra, estático e morto para a possibilidade que oferece. O grande teórico de erôs é Platão. Tão grande que podemos ter dúvidas, não terá sido Platão a inventar o fenómeno e a inculca-lo na humanidade. Enfim, há algumas características que o distingue do “amor” latino, tal como da “cupido”, mas importa mergulhar no coração do fenómeno, pelo menos como ele é expresso por Platão, e tentar perceber até que ponto se trata de uma palavra para referir o “sentido”, a “orientação”, a “direcção” que a vida toma. Em função da presença de um sentido numa ou noutra direcção, com orientações ou sem orientações, compreendemos que faz sentido ou não faz sentido nenhuma a vida que levamos, a vida que temos, a vida. Um dos componentes não negociáveis de erôs é a epithymia. A palavra compõe-se de um prefixo “epi-” e da variação do substantivo “thumos, -ou”, palavra que em sentido estrito quer dizer “ira” mas em sentido lato quer dizer todo o acontecimento disposicional, vibrações, modulações, estados de alma disposições do espírito. O prefixo quer dizer que o fenómeno é activo e nós estamos-lhe expostos quando acontece. É invasivo, dominador, deixa-nos no estado que provoca, com a impressão que cria. Mas o que é estranho e aparentemente paradoxal é o conteúdo da epithumia, do desejo, da ânsia. O seu conteúdo está ausente. A ausência do conteúdo por que ansiamos vivamente ou que muito desejamos não é nada. Antes pelo contrário é uma presença. Esta prasentia in absentia tem toda a nossa atenção. Por outro lado, o momento triunfal, meramente hipotético, da sua posse é projectado para o futuro. Sente-se já um anseio no presente de um acontecimento que a dar-se, dar-se-á no futuro, promete enquanto houver esperança, mas faz-nos desesperar pelo alongamento até ao infinito da espera. Mata de tédio. A falta, a precisão, a necessidade, a carência descrevem esta forma particular de anseio do erôs. Não é como se tivéssemos tudo o que precisássemos à nossa disposição, com níveis satisfatórios de contentamento. Só nos faltaria aquilo que especificamente não temos mas de que sentimos precisão e de que temos necessidade. Não. Esta ânsia produz um objecto absoluto na hierarquia das coisas que queremos, no nosso projecto vital. Nada do resto “risca”, por assim dizer. Tudo o resto não tem importância. A falta (endeia) com que a ânsia (epithumia) faz sentir o que não se tem é absoluta. Só tenho falta do conteúdo específico de que tenho falta e não tenho necessidade de mais nada, a não ser daquilo que não tenho. Ora, há tantos desejos, ânsias, necessidades, precisões, carências, conforme a escassez específica que temos relativamente às mais diversas coisas. Há um elemento “erótico” na relação entre sede e o que a mata, entre a fome e o que a mata, entre todos os apetites, todos os nossos desejos e o que os mata ou sacia. O erôs descreve resta relação complexa que temos com inanidades, com ausências que, porém, canalizam as nossas vidas para as suas possibilidades de preenchimento. Mas erôs não se verifica obviamente apenas só na periferia concreta e indespidível do acontecimento humano. Refere até tudo aquilo que não sabemos que não temos. Há todo um conjunto de sentidos que não identificamos como sentidos que constituem a ausência por causa da qual as nossas vidas são por essa ausência e não por qualquer particular presença. E mais, o erôs perpassa todas as nossas vidas, desde antes de termos sido, durante o tempo em que existimos até ao derradeiro momento em que tivermos sido, mesmo que não vivido conscientemente, mesmo que antecipado apenas mas nunca verdadeiramente vivido, por já não fazermos parte deste mundo. Dizem que o melhor de tudo não é nem a saúde nem a riqueza, mas encontrar na vida o que se ama. E, depois, ser esse amor de vida.
Victor Ng SociedadeDSEJ | Governo vai rever legislação para ligar ensino profissional a superior Legislação revista para permitir a ligação do ensino técnico profissional ao ensino superior e para evitar chumbos até à quarta classe. A ideia foi deixada ontem pelo subdirector da DSEJ Lou Pak Sang [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Executivo planeia rever o decreto-lei destinado ao ensino técnico-profissional. O obejctivo, afirmou o subdirector da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Sang, é ligar os cursos profissionais ao sistema de ensino superior e, desta forma, incentivar mais alunos a ingressar na via técnico profissional contando com o apoio dos pais. A informação foi deixada ontem no programa Fórum Macau do canal chinês da Ou Mun Tin Toi em que se debatia a fraca adesão por parte dos jovens locais a esta modalidade de ensino. De acordo com Lou Pak Sang, o facto de apenas existirem 10 escolas tecno-profissionais no território não é impedimento até porque o número de alunos também não é significativo. A causa, apontou, tem que ver com a própria cultura em que os pais não consideram esta modalidade de ensino promissora. O Governo vai também criar um centro de ensino técnico-profissional em Seac Pai Van onde será estabelecida uma zona dedicada à arte culinária internacional. Para Lou Pak Sang, esta pode ser uma forma de integrar no ensino “elementos de criatividade e cultura” capazes de diversificar carreiras profissionais. Sempre a andar Já no início do próximo ano, a DSEJ espera ainda poder apresentar as novas regras para o sistema de avaliação de alunos de modo a que entre em vigor em 2020. Um dos objectivos, afirmou Lou Pak Sang, é acabar com as reprovações nos primeiros quatro anos do ensino primário. “A proposta é esta: do primeiro ao quarto ano do ensino primário não há retenção de ano. Do quinto ao sexto ano, a retenção pode ser de quatro por cento”, afirmou Lou Pak Sang, aos jornalistas. No mesmo programa, a subdirectora da DSEJ, Leong Vai Kei, falava de ensino integrado e deixou a informação de que no território existem 57 escolas que já aderem a este tipo de ensino e que envolvem um total de 1628 professores, sendo que 225 destes profissionais já completaram formação na área do ensino especial. No entanto, Leong Vai Kei admite que Macau ainda não tem escolas suficientes capazes de acolher estudantes com necessidades especiais.
João Luz Perfil PessoasNatasha Stankiewicz, bailarina e instrutora de aerial arts: “Coloane ajuda-me a respirar” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]atasha Stankiewicz está quase a completar uma década, um aniversário redondo, desde que saiu da Polónia para se fixar em Macau. Quando chegou era uma jovem de apenas com 21 anos e com uma cidade completamente nova à sua disposição, onde não era difícil encontrar diversão e espanto. “Havia sempre sítios para ir, coisas a acontecer e com Hong Kong muito próximo ia lá com frequência”, conta. Nos primeiros tempos, a bailarina confessa que as suas relações sociais se cingiam a estrangeiros, “não tinha grande conexão com os locais”. Algo que seria alterado através da arte a que se passou a dedicar e que partilhou com os locais. Enquanto bailarina, Natasha Stankiewicz participava em vários espectáculos onde tinha de dançar suspensa em fitas, uma modalidade coreografada que se chama aerial. As suas performances aguçaram a curiosidade do público de Macau e foi frequentemente abordada para dar formação. E assim nasceu a Aerial Arts Association Macau. Através da organização que fundou, Natasha Stankiewicz passou a integrar-se mais com os locais de origem chinesa. “Podemos ter uma língua diferente, mas ao trabalharmos juntos reparei que a cultura não é assim tão distinta, que no fundo somos todos iguais”, conta. Hoje em dia, através da associação, a bailarina e instrutora começou a envolver-se cada vez mais com as pessoas treinam na associação de forma a poder servi-las melhor. Através da prática do aerial, a polaca consegue motivar e ir de encontro às necessidades das pessoas. “O Governo diz que os trabalhos de gestão devem ir para os locais, mas eles nem sempre estão orientados para isso. Portanto, as nossas actividades agora destinam-se a fornecer qualidades de liderança, confiança, motivação e mostrar às pessoas que não é preciso ter medo de maiores responsabilidades.” Respirar fundo Os treinos de Natasha Stankiewicz resultam, com frequência, na participação dos formandos em espectáculos que acontecem em Macau. Para a instrutora, o aerial é também uma questão de superação, de ultrapassar medos e encontrar forças onde antes estavam fraquezas. “Ao princípio, os treinos eram orientados apenas para pessoas com formação em ballet, ou artes circenses, era muito intensas em termos físicos”, conta. Porém, com o aumento da popularidade do ioga, e do exercício físico entre a população, Natasha Stankiewicz conseguiu demonstrar que “o aerial é para toda a gente”. “O objectivo é chegar a um patamar mais elevado e as pessoas perceberem quais as suas limitações e a forma de as contornar”, explica a instrutora. A bailarina entende que através desta actividade os instruendos ganham capacidades que se podem traduzir em melhorias na forma como desempenham as suas profissões, mesmo em empregos sedentários de escritório. A ideia de superação está fundada no mantra “quem consegue fazer aerial consegue fazer tudo”. Outra das metas das aulas que Natasha Stankiewicz ministra é a busca do autoconhecimento. A própria bailarina, precisa de momentos de recolhimento, algo que, apesar de gostar do rebuliço da cidade, encontra apenas na tranquilidade de Coloane. “É um sítio onde se pode parar, que me ajuda a respirar e a sair da maluquice que é Macau”, conta. Estes momentos de recolhimento e introspecção são para a bailarina uma forma para se encontrar e reflectir sobre a sua vida. “No meio do barulho não há espaço para pensarmos em nós próprios, por isso, às vezes, preciso de silêncio”, reflecte a polaca. Com quase dez anos de Macau, Natasha Stankiewicz não só deslumbra no palco e no ar, como ensina os locais a ganharem asas e voar.