Isabel Castro VozesDo vazio [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara nos interessarmos pelas coisas temos de acreditar nelas. Há muito que a política de Macau me causa um profundo desinteresse, por descrédito absoluto. Não me refiro às políticas, que essas mexem no quotidiano de todos, mas sim à política, esse conceito que, por aqui, é quase um palavrão mas que, noutros pontos do planeta, tem o seu interesse, por motivos diversos que não faz sentido aqui especificar. Macau. A política de Macau. Uma lei eleitoral que quer acabar com a corrupção, os almoços e os jantares à borla que, sendo à borla, não são grátis. Uma lei eleitoral que se propõe tolher os movimentos das associações, das que não têm dinheiro para a oferta de massas instantâneas e das que servem barbatana de tubarão na sopa. Uma lei eleitoral que pensa na influência do sector do jogo na política, os junkets na política, os homens e mulheres dos casinos na Assembleia, os políticos mais votados, os que não temem restrições a nada nem vindas de onde quer que seja, os políticos mais bem-sucedidos do burgo. Os políticos mais admirados, a acreditarmos na pureza dos votos. Os votos imaculados que se quer ir buscar a um eleitorado com muitas manchas, sem ter culpa de as ter, ou não, com a culpa toda da ganância pequenina, a ganância da massa instantânea e da barbatana de tubarão no caldo. Nem que seja a cada quatro anos, para se ficar de palito na boca e barriga regalada por uma noite. A política de Macau. A política que, de tão fraca que é, nem sequer retórica apresenta. A política que se escuda no abrandamento económico para não ser política, não ser nada, não ser debate, e nem por aí vem o interesse. A política talvez como mero exercício legislativo. Um entediante exercício quando desacompanhado de ideias. A política daqui. Os políticos daqui. Uma Assembleia Legislativa pouco respeitada, um Governo em descrédito parcial desde o início, desde que assumiu funções. Um Governo que talvez, no plano das políticas, das coisas técnicas, possa contribuir para limar uma ou outra aresta das muitas que nos picam quando nos movimentamos na cidade. Mas a quem falta política. A política que tem que ver com a educação para a política, para a coisa pública, a educação para o outro. A educação. Ou é da paciência que, com o passar do tempo e com o aumento das exigências do meu quotidiano, começa a ficar mais pequena, ou então não é de mim, é mesmo da degradação de um certo modo de estar que não encontrei quando aqui cheguei e que me chateia cada vez mais. É nas pequenas coisas que a falta de educação se sente, se vê, está lá. No modo como os serviços são prestados, os simples serviços. Os taxistas que, naquele primeiro contacto com Macau quando aqui se chega de barco, não se mexem para abrir uma porta, para abrir a bagageira. Fazem-no de dentro do carro e não mexem um dedo, quanto mais uma mão, para ajudar a meter uma mala, um carrinho de bebé, o bafo à chegada que é sempre mais intenso do que o outro, aquele que vem depois, o bafo misturado com o duvidoso cigarro chinês que é fumado na interminável fila de malas que se arrastam pelo chão sujo. O fiscal que está ali não se percebe exactamente com que funções, se tem muitas malas espere aí mais um bocadinho, as crianças aguentam, deixem lá passar quem se despacha mais rápido. Tudo ao contrário, o suor quente e o suor frio a escorrer pelas costas, a educação que falta, a falta de educação. As políticas que, afinal, não funcionam, porque as boas intenções têm de ser acompanhadas de pessoas bem-intencionadas. E educadas. A irritação do quotidiano nos pequenos serviços prestados fora das horas acordadas, a irritação do quotidiano porque já passaram três autocarros vazios entre as oito e as oito e dez da manhã e vão os três para o mesmo sítio, têm os três o mesmo número, vão vazios e nem param por manifesta falta de interessados, e o autocarro que queremos que não chega. A falta de educação de quem quer entrar no autocarro mais cedo, mais depressa, apanhar o primeiro banco, o mais vazio, não interessa a canelada que se deu. A educação que falta e que, lá no fundo, se contenta com a massa instantânea e se delicia com a barbatana de tubarão mergulhada na água, porque isto está tudo ligado, as coisas estão sempre todas ligadas. A educação que faz com que só se saia à rua quando em causa está o dinheiro, mesmo que o dinheiro seja coisa que não falte, mas é o dinheiro que está em jogo, não é o ar puro que está em questão, nem o direito a condições laborais mais dignas, ou menos indecentes, é mesmo só o dinheiro. A educação do dinheiro, o dinheiro que não educa e que não compra o que não está à venda. O descrédito. Ou então o desencanto, primos próximos, demasiado unidos. Somos muitos mais do que éramos há dez anos mas não somos melhores, nós, os que andamos por aqui. Não é o descrédito total. Macau continua a interessar-me, ainda acredito nela, ainda acredito na cidade embora a veja pouco, de pouco acessível que se tornou. Uma cidade que se estica para cima e para os lados e que se enche de pessoas, mas que não pára para pensar no que andamos todos aqui a fazer. É a política, pá. A política que não há, mas que faz falta.
Hoje Macau DesportoPortugal nos quartos em futebol, Espanha, Kuwait e Cazaquistão recebem ouro A chuva dominou o dia 11 no “campo” olímpico levando a que algumas provas, remo e ténis, fossem adiadas. Espanha sentiu o gosto do ouro. O Japão reinou no judo e na ginástica e o atirador do Kuwait, país proibido de participar na competição olímpica, ganhou o ouro enquanto atleta independente. Alexis Santos e Nelson Oliveira foram os atletas lusos em evidência e o empate de Portugal a um golo, no torneio de futebol, permitiu a passagem aos quartos de final [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]spanha ganhou a primeira medalha de ouro nestes jogos e graças à nadadora Mireia Belmonte. A atleta venceu a final dos 200 metros mariposa com o tempo de 2.04,85 minutos. Belmonte impôs-se por três centésimos de segundos à australiana Madeline Groves, enquanto o bronze foi para a japonesa Natsumi Hoshi. De referir que a nadadora espanhola já tinha dado o bronze à Espanha no sábado, nos 400 metros estilos. Outra surpresa foi o nadador do Cazaquistão Dmitriy Balandin que venceu a final dos 200 metros bruços, conquistando a primeira medalha olímpica para o seu país na natação. O nadador cazaque superou o norte-americano Josh Prenot, medalha de prata, e o russo Anton Chupkov, medalha de bronze. Portugal forte A selecção de futebol conseguir atingir o objectivo de vencer o grupo D, ao conseguir o empate necessário, face à Argélia, a um golo. Neste agrupamento estão também as Honduras. A equipa das quinas disputa amanhã com a Alemanha em Brasília a passagem às meias finais. Nelson Oliveira foi o grande destaque da delegação lusa, ao ‘selar’ o terceiro diploma para Portugal nos Jogos Olímpicos, garantindo o sétimo lugar no contra-relógio. O atirador João Costa, também alimentou algumas esperanças, mas acabou por terminar em 11.º lugar a prova de pistola livre a 50 metros, falhando a final por dois pontos. Na piscina, Alexis Santos também fez história ao tornar-se o primeiro nadador a chegar a uma meia-final. Depois de conseguir o terceiro melhor resultado de sempre da natação portuguesa em Jogos Olímpicos e de ter sido o primeiro a apurar-se para uma meia-final em 28 anos. O nadador do Sporting lamentou a falta de apoios e espera que haja outra atitude no futuro. “Espero que agora haja uma mudança, mais apoio aos atletas, mais condições de treino, que isso é o que falta em Portugal, na minha opinião”, afirmou. O dia não correu bem para Célio Dias que ficou aquém das expectativas, sendo eliminado na primeira ronda, ao perder com Celtus Dossou Yovo, do Benim. Estreante em Jogos Olímpicos, o judoca que é 21.º do mundo, foi surpreendido pelo 220.º mundial, por ‘ippon’, em 1.48 minutos. Boas marés Boas notícias nas provas de vela. Gustavo Lima na categoria de Laser e Sara Carmo, Laser Radial, ambos a terem o melhor dia subindo ao 16.º posto e ao 26.º das respectivas classes. Sara Carmo não atingiu resultados tão bons, ficando com um 18.º posto na quinta regata e um 13.º na sexta, totalizando 108 pontos. Japão arrecada medalhas O japonês Kohei Uchimura conquistou ontem a medalha de ouro do concurso completo de ginástica artística, revalidando o título conquistado em Londres 2012.O atleta que na segunda-feira tinha ganho a primeira medalha de ouro por equipas, venceu num final emocionante o ucraniano Oleg Verniaiev, medalha de prata, enquanto o britânico Max Whitlock ficou com a de bronze. Também vindo do Japão o judoca Mashu Baker conquistou ontem a medalha de ouro na categoria -90 kg dos Jogos Olímpicos, oferecendo ao país nipónico o terceiro título na modalidade. Pode-se dizer que foi isso que aconteceu ao sonho chinês. A vontade de fazer um pleno de medalhas vencendo a prova de prancha a três metros de saltos para a água, não se concretizou. Quem arrebatou a medalha foram os britânicos Jack Laugher e Chris Mears que “bateram” os norte-americanos Sam Dorman e Mike Hixon, medalha de prata, e os chineses Cao Yuan e Qin Kai, que tiveram de se contentar com a de bronze. Portugueses em acção Os portugueses Filipe Lima e Ricardo Melo Gouveia, no golfe, e Telma Santos, no badminton, têm amanhã a sua estreia agendada. Já Jorge Fonseca, nos 100kg, é o último judoca a competir. Jorge Fonseca é o último representante português no judo, modalidade que deu, até ao momento, a única medalha a Portugal, conseguida pela atleta benfiquista, Telma Monteiro, que venceu o bronze nos -57kg. O judoca do Benfica é 29.º do mundo, e vai começar a competição frente ao afegão Mohammad Tawfig Bakhshi, 226.º que compete neste jogos a convite. De referir que é uma estreia para o atleta luso. A mais jovem atleta da comitiva portuguesa, a nadadora Tamila Holub, de 17 anos, também se estreia no Jogos deste ano, nas eliminatórias dos 800 metros livres. A primeira vez Fehaid al-Deehani, atleta do Kuwait, que compete no Rio de Janeiro como atleta independente, conquistou a medalha de ouro no duplo fosso olímpico. O atirador, de 49 anos, já tinha levado o bronze em Sydney 2000 e Londres 2012, dando então ao Kuwait as suas primeiras medalhas olímpicas. Este ano, o Comité Olímpico Internacional não permitiu a presença do Kuwait, por interferência do poder político no movimento desportivo. Al-Deehani recorreu e foi autorizado a competir, o que faz através do grupo dos atletas independentes (AOI). A medalha de Al-Deehani é a primeira alguma vez conquistada em Jogos Olímpicos por um atleta independente. Convidado a levar a bandeira da delegação independente, recusou-se e invocou o estatuto de militar para justificar que só poderia levar a bandeira do seu país. De referir que no segundo lugar do pódio ficou o italiano Marco Innocenti e no terceiro o britânico Steven Scott.
Joana Freitas Eventos MancheteCasas-Museu | Sábado de Jazz com Vincent Herring, Eric Alexander e prodígios asiáticos São nomes sonantes na cena musical e vão estar em Macau para um concerto com entrada livre. Vincent Herring, Eric Alexander, Yoichi Kobayashi, Yuichi Inoue e Peng Ji actuam este sábado, num concerto onde não vai faltar talento local [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]incent Herring e Eric Alexander vão tomar o espaço do anfiteatro das Casas-Museu da Taipa. As duas estrelas do Jazz sobem ao palco para mais uma edição do “Concerto ao Anoitecer” e onde partilham o final de tarde com Yoichi Kobayashi, Yuichi Inoue, Peng Ji e o saxofonista de Macau Chak Seng Lam. O espectáculo “O Poder do Saxofone” está marcado para este sábado, das 17h30 às 19h00. Organizado pelo Instituto Cultural e pelo Jazz Club de Macau, o concerto conta com os norte-americanos Eric Alexander e Vincent Herring: o primeiro é vencedor de um Grammy e um músico e educador reconhecido internacionalmente, sendo mesmo considerado um dos saxofonistas líderes da sua geração. “Eric Alexander é um saxofonista, produtor e compositor contemporâneo, cuja carreira inclui a gravação de inúmeros álbuns de cariz singular, perfazendo um total de quase 70 álbuns. Em 1991, participou no Concurso Internacional de Jazz Thelonious Monk, a mais famosa competição de saxofone jazz do mundo, competindo no mesmo palco com saxofonistas proeminentes como Joshua Redman e Chris Potter e vencendo o segundo lugar, assegurando assim o lançamento da sua carreira como músico jazz profissional”, pode ler-se no comunicado da organização. “Os seus vários álbuns têm recebido grande aclamação, sendo muito apreciados nos círculos do bebop tradicional, e as suas interpretações destacam-se pela sua criatividade e ritmo subversivo, levando o público numa viagem pelo mundo da música jazz tradicional e contemporânea.” Outros impactos Já Herring é tido como capaz de produzir uma sonoridade de grande impacto. No início da década de 80 iniciou uma colaboração com o saxofonista de jazz Nat Adderley, que se viria a prolongar ao longo de nove anos. Colaborou ainda durante três décadas “com inúmeros mestres do jazz”. Nas suas interpretações, Vincent Herring inspira-se em diferentes géneros musicais, tendo lançado 19 álbuns a solo e participado na gravação de mais de 240 álbuns. Mas os dois “mestres do Jazz” não estão sozinhos: o concerto contará ainda com a colaboração de “músicos de topo” do Japão, incluindo o pianista jazz Yuichi Inoue e o baterista vencedor de um disco de ouro Yoichi Kobayashi, bem como de Peng Ji, um baixista de Pequim cujo percurso musical se baseia em sons tanto orientais, como ocidentais. Foi convidado a actuar no concerto o jovem músico local Chak Seng Lam, “uma nova estrela da música jazz de Macau”, que estuda música desde a infância, tendo passado por escolas em Singapura e na Holanda. O concerto, que conta também com sessão de improviso, tem entrada livre, fazendo parte de uma longa lista de concertos que acontecem até Outubro, ao segundo sábado de cada mês.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasFim do Liampó português em Shuangyu [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Liampó, António de Faria, segundo Fernão Mendes Pinto, “Depois de ser desembarcado em terra, e lhe serem dados os parabéns da sua chegada, o vieram ali visitar todos os mais nobres e ricos, os quais por cortesia se prostravam por terra, em que houve alguma detença”. (…) “Daqui o levaram para a igreja por uma rua muito comprida fechada toda de pinheiros e louros, e toda juncada, e por cima toldada de muitas peças de cetins e damascos. E em muitas partes havia mesas em que estavam caçoulas (vasos de barro para cozinha, ou vaso de porcelana para queimar perfumes) de prata com muitos cheiros e perfumes, e antremeses de invenções, muito custosos. E já quase no cabo desta rua estava uma torre de madeira de pinho toda pintada a modo de pedraria, que no mais alto tinha três curucheos, e em cada uma grimpa dourada com uma bandeira de damasco branco, e as armas reais iluminadas nela com ouro. E numa janela da mesma torre estavam dois meninos e uma mulher já de dias chorando, e em baixo ao pé dela estava um homem feito em quartos, muito ao natural, que dez ou doze castelhanos estavam matando, todos armados, e com suas chuças (chuço é uma haste de pau com choupa de ferro, afiado na extremidade superior) e alabardas tintas em sangue, a qual coisa, pelo grande fausto e aparato com que estava feita, era muito para folgar de ver. E a razão disto dizem que foi porque dizem que desta maneira ganhara um Foão de quem os verdadeiros Farias descendem, as armas da sua nobreza nas guerras que antigamente houve entre Portugal e Castela. Neste tempo, um sino que estava no mais alto desta torre como de vigia deu três pancadas, ao qual sinal se quietou o tumulto da gente, que era muito grande. E ficando tudo calado, saiu de dentro um homem velho (idoso) vestido em uma opa de damasco roxo, acompanhado de quatro porteiros com maças prata. E fazendo um grande acatamento a António de Faria, lhe disse com palavras muito discretas quão obrigados todos lhe estavam pela grande liberalidade que usara com eles e pela grande mercê que lhes fizera em lhes restituir suas fazendas, pelo qual todos lhe ficavam dali por diante por súbditos e vassalos, com menagem dada de seus tributários em quanto vivessem. E que pusesse os olhos naquela figura que tinha junto de si, e nela, como em espelho claro, veria com quanta lealdade os seus antecessores de quem ele descendia ganharam o honroso nome da sua progénie (descendência, geração), como era notório a todos os povos de Espanha. Donde também veria quão próprio lhe era a ele o que tinha feito, assim no esforço que mostrara, como em tudo o mais que usara com eles. Pelo qual lhe pedia em nome de todos, que em começo do tributo a que por razão de vassalagem lhe estavam obrigados, aceitasse por então aquele pequeno serviço que lhe oferecia para murrões (morrão é um pedaço de corda enleada com que se põe fogo às peças) dos soldados, porque a mais dívida protestavam de lha satisfazerem a seu tempo. E com isto lhe apresentou cinco caixões de barras de prata em que vinham dez mil taéis. António de Faria lhe agradeceu com muitas palavras as honras que até então lhe tinham feitas e o presente que lhe ofereciam, porém por nenhum caso lho quis aceitar por muito que todos nisso insistiram”, Fernão Mendes Pinto na Peregrinação. Segunda-feira, 14 de Maio de 1542 zarpou de Liampó António de Faria. Expulsar os piratas Em Shuangyu, este porto de Liampó temporariamente nas mãos dos portugueses, pois feito sem permissão do governo chinês, terminou em 1548-49 quando foi destruído. Tal se deveu, segundo Fernão Mendes Pinto, a Lançarote Pereira que praticou as brutalidades que originaram a destruição da colónia portuguesa de Liampó. Já Gaspar da Cruz atribui aos “chineses que andavam entre os portugueses, e alguns portugueses com eles, vieram-se a desmandar, de maneira que começaram a fazer grandes furtos e roubos e a matar alguma gente”. Anota Rui Manuel Loureiro, “Os portugueses, de facto, deverão ter cometido algumas depredações no litoral de Liampó, em circunstâncias ainda mal esclarecidas, mas que parece terem estado ligadas a roubos cometidos por intermediários chineses”. E seguindo com Gaspar da Cruz, “Foram os males em tanto crescimento e o clamor dos agravados foi tão grande, que chegou não somente aos loutiás grandes da província mas também a el-rei. O qual mandou logo fazer uma armada muito grossa na província de Fuquiem, para que lançassem todos os ladrões da costa, principalmente os que andavam em Liampó, e todos os mercadores, assim portugueses como chineses, entravam na conta dos ladrões.” Segundo João de Deus Ramos, “Em 1547 Zhu Huan foi nomeado Vice-Rei das duas províncias de Fujian e Zhejiang, e deu mostras de ser forte ânimo no rigoroso cumprimento das proibições em vigor quanto ao comércio com os estrangeiros. Conseguiu assim criar as mais fortes inimizades em todos os sectores da população que beneficiava daquele comércio”. Já Rui Loureiro refere que “a corte imperial chinesa despachou para as províncias meridionais de Fukien e Chekiang, o vice-rei Chu Wan em 1548, com o encargo de debelar o surto de pirataria que afectava aquelas regiões”. “A 14 de Maio de 1548, Zhu Wan preparou o estratagema para atacar o Porto de Shuangyu (Liampó dos portugueses). Deu ordens ao Comandante Regional Lu Tang para com o Comandante Wei Yigong, ambos de Fujian, seguirem e aí esperar a melhor oportunidade de em conjunto começarem o combate. A vitória na batalha naval foi conseguida em Jiushan. A destruição de Liampó só aconteceu mais tarde”, segundo Deus Ramos. Já Victor F. S. Sit refere, “Em 1547, Zhu Wan, o chefe militar de Zhejiang, deu uma tremenda derrota aos navios portugueses em Shuangyu, mandou incendiar as mil casas que havia na ilha e todos os barcos utilizados no comércio ilegal e mandou encerrar o porto. Os portugueses tiveram que fugir para o Sul, acabando por chegar a Sanchoão (Shangchuan) e a Lampacau (Langbai), ilhas da província de Guangdong. A ilha de Sanchoão (Shangchuan) acabou por ser o último ponto de paragem dos portugueses antes de se estabelecerem em Macau”. Fim do estabelecimento provisório O segundo período de contactos na China, entre portugueses e chineses, acabou com a batalha de Zoumaxi (走马溪, Ribeira de Cavalos Galopantes) em 1549, período que podemos designar como “Entre Chincheo e Liampó”, segundo Revisitar os Primórdios de Macau. Gaspar da Cruz conta: “Fazendo-se prestes a armada, saiu-se ao longo da costa do mar. E porque os ventos lhe não serviam já para poder ir a Liampó, foram para a banda do Chincheo, onde achando navios de portugueses começaram a pelejar com eles, e de nenhuma qualidade deixavam de vir nenhuma fazenda aos portugueses”. Já Rui Loureiro refere: “Ao contrário do que afirma Fr. Gaspar, a armada chinesa, a instâncias de Chu Wan, atacou na realidade o entreposto de Liampó em 1548, interrompendo o intenso tráfico ilegal que os estrangeiros ali realizavam. Depois do assalto a Liampó, o comissário imperial Chu Wan desencadeou uma violenta campanha contra a navegação estrangeira na região de Chinchéu, onde os portugueses se tinham entretanto refugiado”. E seguindo com Gaspar da Cruz, “Estiveram assim muitos dias pelejando (os portugueses) às vezes para verem se podiam ter remédio para fazerem suas fazendas. Passados muitos dias e vendo que não tinham remédio, determinaram de se ir sem ela(s). O que sabendo os capitães d’armada, mandaram-lhe(s) de noite muito secretamente um recado, que se queriam que lhe(s) viesse fazenda, que lhe(s) mandassem alguma coisa. Folgando muito os portugueses com este recado, fizeram-lhe(s) um grosso e honrado presente e mandaram-lho de noite, por assim serem avisados. Dali por diante vieram-lhe(s) muitas fazendas, fazendo os loutiás que não atentavam nisso e dissimulando com os mercadores. E assim desta maneira se fizeram as fazendas aquele ano, que foi de 1548”. João de Deus Ramos, “No ano seguinte deu-se um acontecimento que ficaria conhecido pelo , bem demonstrativo de que a fase do conflito e do comércio ilícito entre portugueses e chineses estava a chegar ao seu termo. Já se viu como o Vice-Rei Zhu Huan ganhara a maior impopularidade ao querer impor com rigor as proibições do comércio com os estrangeiros. Em 1548 a frota de Diogo Pereira dirigiu-se à China. Determinou que as mercadorias que levava fossem transportadas em dois juncos chineses. Depois de alguns recontros violentos que determinaram a sua partida, deixou no entanto ficar os juncos, comandados por Fernão Borges e Lançarote Pereira, acompanhados de trinta portugueses e mais gente, na expectativa de ainda fazerem algum negócio. As forças navais chinesas não perderam tempo em apresá-los, matando alguns dos nossos e fazendo prisioneiros outros. Mas os tempos eram diferentes, e em vez de vir de Pequim a confirmação de sentenças, como acontecera trinta anos antes, foi despachado um Comissário Imperial para investigar o caso. Considerou que os portugueses não eram culpados dos crimes de que os acusavam, mas apenas pacíficos mercadores. Lê-se num documento da época: […], Carta de Afonso Ramires. O Vice-Rei Zhu Huan suicidou-se, e outros oficiais foram executados. Terminava o período do conflito e do comércio ilegal, estava criado o ambiente, e as condições de parte a parte, para o surgimento de Macau.” “Em 1549, foram expulsos das terras de Chincheo e, entre 1550-1553 fixaram-se sucessivamente em Sanchoão, Lampacau e depois Macau.” (Wu Zhiliang, História do Desenvolvimento Político de Macau, 1999). E terminamos no Cap LXII da Peregrinação, em que Fernão Mendes Pinto refere de um episódio de 1540/1, “E chegando à vista do junco, (António de Faria) mandou que a lorcha se passasse da outra banda, por que abalroassem ambos juntamente, e que ninguém disparasse nenhum tiro de fogo, por que não sentissem os juncos da armada que estavam dentro no rio o tom de artilharia, porque acudiriam a ver o que era. Tanto que as nossas embarcações chegaram ao lugar onde estava surto o junco, ele foi logo abalroado sem nenhuma detença, e saltando dentro vinte soldados se senhorearam dele sem contradição alguma…” Esta frase descontextualizada das circunstâncias e sem os antecedentes, remete no entanto os portugueses à actividade de pirataria, mas neste episódio aconteceu atacar um barco amigo. Segundo Bento de França nos “Subsídios para a História de Macau “nos finais de 1556 navegava por aquelas costas um terrível pirata, Chan-si-lau a quem os portugueses, para agradar ao mandarim local, deram caça e acabaram com o seu reinado”. Era já Macau local usado pelos portugueses para esperar os tecidos de seda vindos de Cantão.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasCurva perfeita [dropcap style=’circle’]À[/dropcap]s vezes, desenhar uma curva perfeita. Desenhá-la no desafio de o fazer à mão livre. Começar pelo gesto natural. Aquele gesto espontâneo, livre e delimitado à partida, nas possibilidades que lhe são inerentes. O gesto aprende-se com o tempo. Claro. E por tentativa e erro. O olhar poderoso, que aprende com as imperfeições do erro. Mas que precisa, mesmo assim, de truques. Pequenos truques honestos. Desenhar uma curva perfeita é um teste ao olhar. Não se faz com a mão senão no mínimo inultrapassável. Começar pelo natural. E depois inverter e olhar. E depois girar noventa graus. E depois cento e oitenta e de novo noventa. E emendar. Ir emendando a imperfeição do olhar unilateral. De cada olhar. E às vezes o olhar precisa de dias até encontrar os limites da perfeição. Aparente. Às vezes anos. Até se tornar visível aquele detalhe ínfimo do erro. Outra coisa é o corpo. A qualidade específica de uma linha, uma curva um volume particular. Que, dependendo do olhar e de critérios, pode ser simplesmente o lugar perfeito da imperfeição. E dizer o contrário também. O lugar físico e extremo oposto à idealização dos gregos antigos. Ou uma curva do caminho. A que aparece no momento certo do mapa. A curva perfeita. Um exercício de perfeccionismo em que se afasta sempre a perfeição, do frio rigor. O frio cortante de um inverno rigoroso. Traçado a régua e esquadro. Cortado à lâmina. Antes a perfeição dependente de um olhar. Apurada no olhar. Descoberta progressivamente na específica, irremediável imperfeição do que é para ser assim. Apaziguada no olhar. Para dentro dos espaços cristalinos da retina, por detrás dos arcos a proteger o baú-tórax, ou bem entranhado nesse cofre, craniano e inviolável. O olhar da vida à temperatura do corpo. Saio de casa e está um dia lindo. Quando é para sair de casa não basta nem sobra saber se está um dia lindo. É preciso sair para a vida. Como ela se apresente. E, outras vezes, está um dia lindo e nem assim saio de casa. E fico a regular as portadas em função da luz. Para que não queime as plantas. A regular a troca de aragens entre janelas opostas. A parar a meio do corredor, a sentir, a ver se refrescou um pouco. A lembrar o Alentejo e como também ali, nas tardes de canícula, e quanto mais forte a luz mais se baixavam as pálpebras, as persianas sobre o calor cortante e demolidor. Não há como o verão. Não há outra estação mais natural e próxima da essência do humano, da temperatura da pele. O anseio anual de uma liberdade que, se bem que condicional, é a carícia da pele e da alma que se quer atenta ao existir e não em fuga para a frente. Mas afinal saio e isso eram os dias antes. Hoje, uma espécie de cortina fina e amarelada, subtilmente a sujar o azul intenso do céu destes dias. A lembrar-me Marselha de há uns anos e também Atenas e as suas atmosferas de poluição a danificar a alma com uma qualidade doentia, incomportável aos pulmões em alguns dias. E aqui, não sei. Será dos fogos ou de uma outra conjuntura atmosférica que não adivinho. Ou de mim. Que afinal estava presa à casa nos dias lindos e deixei passar o azul do céu. E lembro-me de Atenas e sempre daquele amigo que conheci em viagem para lá, Angelous, curiosamente. De volta da recruta com o seu efebo clássico e mudo de timidez. Que nos levou a ambos para casa. E que como um anjo de facto, e surpreendido, e desencantado da sua cidade e do que nela se procurava de ideal, me guiou pelo pouco que naquela cidade feia ainda era bonito de ver. Uma cidade corroída pela poluição, enriquecida de história e destruída pela história havia muito. E faz sentido que este amarelado discreto do céu me lembre outros lugares porque hoje é o dia, sem o ser em absoluto, em que começo férias. Quase férias. Enfim, decidi. Lá mais para a tarde. E onde se ligam estas realidades ansiadas de partida, de memória, de liberdade. Essa liberdade que não se dá, não se confere mas simplesmente se deve reconhecer como direito intrínseco. Como o automatismo da respiração registado no cérebro para ir sendo. Ou das batidas cardíacas. E de tantas implicações e a ter que ser gerida por critérios. Éticos. Compromissos. E que parece ser estruturalmente parte e natureza dos seres em geral. Anseio. Expectativa. De perfeição e imperfeição. De ir e de não ir. E depois volto. Naquela assumida e imperfeita decisão de instituir esse fim de tarde como o início de férias. O calor no limite do suportável. A luz. Entro numa porta a dar para uma frescura discreta e ampla, o lugar envolto na obscuridade interior natural e noto de novo, com uma ténue impressão de frescura ainda dentro dos limites do quente. Mas suave. Eu não gosto de ter frio no verão. Ali, um calor suave sem agressão. A vida à temperatura do corpo. Talvez. Um espaço de muitas mesas e lugares de sentar como possibilidade, desde o canto mais remoto, à imediação da porta. E todas vazias. E com um pequeno cinzeiro branco convidativo. E o som bom. Sentei-me a ouvir, a ausência de pessoas e música variada. Às vezes aquelas palavras de cortar os pulsos mas a embalar os ombros em ritmo ‘disco’. E reggae e um jazz ou outro pelo meio, e à segunda imperial estava a sentir-me capaz de dançar sobre a mesa. Só por me sentir bem, e em troca, aquele barman discreto que inventou generosamente um lugar todo para fumadores e, parecia, só para mim naquele momento, ter um pequeno episódio surreal para contar aos netos. De resto, se tivesse seguido as pedras da calçada até casa seria muito parecido. A obscuridade a cortar o sol ainda excessivo de fora, a frescura no copo. A música. Só que seria outra música, outra cadeira e outra luz. E só por isso valeu a pena a estação de paragem. Essa pequena diferença entre aquela cadeira e a outra, aquela penumbra e a outra. É que ali fora, o sol ainda quente a escorrer nas paredes já em sombra, podia ser na medina, no souk. Ou o lugar perfeito da imperfeição. De não ser, podendo. E atrás do balcão, num recanto protegido com carinho, um aquário e duas pequenas tartarugas. Não sei se se pode dizer dos bichos – destes – terem uma forte impressão de infelicidade. De outros, sim. Mas só me lembrei de inúmeras outras iguais a esta a nadar na água fresca de um lago, de um jardim, de uma cidade. Tudo longe. E elas iguais. Mas pergunto se serão iguais na alegria com que esbracejam as pequenas patinhas nesta água delimitada por vidros nada amplos, expostas ao olhar ampliado como por uma lente. E não sei. E delas, se bem que de realidade tinham tanta como a medina, o sol e o deserto no fim da tarde, para além da porta, como de cerejas retiradas distraidamente de uma taça, vieram agarrados outros pensamentos. Como sempre gostei destes bichos e de um cágado enorme na sua lentidão e feiura quase ainda pré-histórica, no quintal de uma tia, com tanto chão para percorrer naquela sua mansidão quase intemporal e uma enorme hortência para fugir ao calor do Alentejo. Ou se esconder. E lendas. Mitos. A pensar no mito da tartaruga. Símbolo de lentidão mas também de silêncio. Várias versões como sempre nos mitos. Lenda de que caminhamos num mundo assente sobre a carapaça de uma tartaruga gigante e que é querida a muitas culturas. O mito da tartaruga, ou a condenação por castigo de uma lentidão que pode ser preguiça. A simbologia que a ela associa o silêncio. A ela e à casa carapaça sempre por perto. “Intrame maneo”. Permaneço dentro de mim mesma ou em silêncio o que é a mesma coisa. E que não há maneira de prolongar muito mais este momento e esta sensação. E que, como sempre de maneira imprevisível outra impressão vai voltar. E penso como consolidar este momento para além dele. E penso no paradoxo de Zenão, ilustrado pela corrida entre Aquiles e a tartaruga. E tento medir as possibilidades de eternizar este momento com base na possibilidade de o tempo ser constituído por um número infinito de partes. E de esta, de este momento, poder ser adiada para a metade da parte do próximo momento e depois para a metade da metade dele e abeirando-me sem sair do lugar desse abismo entre tempos, que é o avançar lento, cada vez mais lento e infinitesimal, encontrar aí a forma utópica de, no limite, permanecer nele. Indo, mas não saindo deste limiar. O limiar de outras sensações mais recorrentes. E, fico a pensar numa forma de explicar ou fundamentar esta nítida e reconhecida redundante sensação de bem-estar. De estar bem apesar de todas as questões de sempre e de nenhuma nova se imiscuir nesta família de preocupações que me obscurecem. Tantas vezes. E de, como tantas outras, haver um momento em que tudo existe e mesmo assim é possível estar bem. E penso que está na hora de pagar, sair para a rua e voltar a casa. Para dentro. E o peso da carapaça como o peso da vida, dos ossos. Ou não. Ela não sente geralmente o peso do que faz parte dela. Tenho tantas vezes a impressão de que chego muitas vezes tarde. À vida, talvez. Mas é maior o consolo de não ter alguns defeitos , que o desgosto de não ter algumas qualidades. E a pensar no paradoxo. E se se aplica. Se nele encontro a contradição desta conclusão demolidora. Porque onde Aquiles era o mais rápido, nunca alcançava no entanto o pequeno passo do animal, que na sua lentidão nunca estava no mesmo lugar próprio a ser alcançado. E a questão dos referenciais. E depois penso que é só um paradoxo com incoerências demonstradas em outros referenciais teóricos aos quais a consciência ontológica não alcança. A minha. E que, por outro ado, não havendo nunca no paradoxo o encontro, na fugacidade de um e outro, porque possuidores de referenciais diferentes, cada um à beira do seu abismo mental como mental é a figura do tempo, e pensando que eu sou a tartaruga e Aquiles a vida, sei que uma e a outra são reciprocamente o que num dado momento se afigurar como consciente. Que não há distância física entre as duas e sim e sempre no âmbito de coisa mental. E que não há corrida nem competição, nunca haverá uma meta para atingir ou uma corrida para ganhar porque o destino da vida é a anulação da própria vida em termos parciais, pontuais. Que é o que se é. Parte e ponto. De partida, com um avanço determinado em relação ao passado, ou de chegada a um ponto que é descontínuo no desconhecido. O momento de agora, à beira do qual todo o futuro se avizinha perto ou inatingível. Que importa? E que a única coisa que corre é um tempo, esse desmesurado desconhecido. Corre no caminho que é sempre escondido por uma curva. E tentar ver a curva perfeita.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemObras | Construções afectam negócios na Praia Grande e São Lourenço Restaurantes, cafés e pequenas lojas queixam-se da diminuição de clientes que as obras nas zonas da Praia Grande e São Lourenço têm vindo a causar. As ruas estão abertas e a circulação torna-se difícil para moradores, residentes e trabalhadores. Comerciantes pedem mudança no sistema [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]nde antes havia passeio há agora placas de madeira cheias de lama bem à porta dos estabelecimentos comerciais. A situação é comum na zona da Praia Grande, onde o rebuliço comercial e empresarial acontece todos os dias, e também na zona de São Lourenço, junto à sede do Governo. Quem ali passa diariamente depara-se com dificuldades de circulação de pessoas. As ruas ficaram ainda mais pequenas para os veículos e quem anda a pé tem de fazer manobras para não cair em buracos ou escorregar. Quem tem vindo a sofrer com esta situação são as pequenas lojas situadas na zona, que já se queixam de uma quebra de clientes. “Arrancaram com muitas construções nesta área. Claro que a nível de clientes afecta, noto muito menos pessoas aqui do que antes. Também não é nada conveniente para turistas e moradores que passam por aqui todos os dias, com a lama, a chuva e tudo isso”, disse ao HM Mathew, da loja Manna Cookery, que vende comida para fora. As construções que neste momento decorrem na Praia Grande e em São Lourenço são da responsabilidade da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) e da Companhia de Electricidade de Macau (CEM). Para Mathew, deveria haver uma melhor gestão dos projectos a realizar nos espaços públicos, para evitar incomodar quem cá mora e quem procura visitar as zonas tradicionais do centro de Macau. “Penso que deveriam programar melhor as construções e têm de fazer os trabalhos mais depressa, porque pelo que tenho notado demoram muito tempo. Pelo que vejo, num dia trabalham apenas uma ou duas horas.” Uns metros mais à frente, Ron, gerente do Café Terra, também se queixa das más consequências para o seu negócio. “O barulho incomoda e muitas vezes as viaturas até causam algumas situações perigosas, porque a rua está cortada mas têm de passar as pessoas e também os veículos. É uma situação que não traz bons resultados para quem faz negócio nesta zona, como é o nosso caso. Noto que temos menos clientes do que antes. Não há nada que possamos fazer em relação a estas obras, porque têm a ver com empresas e têm de as terminar no prazo previsto. Mas o facto de haver tantas construções ao mesmo tempo cria um mau ambiente para residentes e turistas”, disse Ron, defendendo que o sistema precisa de ser alterado. Ron considera que este é um problema do sistema, porque as instalações das electricidades e água “estão sempre a ser alvo de alteração”. O responsável do Terra diz que as ruas estão sempre a ser abertas e “parecem fazer uma obra de cada vez”. “Deveriam alterar o sistema porque não é bom, e depois demoram muito tempo. Mas não sei o que poderemos fazer para alterar este grande problema, que afecta não apenas os negócios, mas toda a gente.” Para Flora Che, dona da Cakepuccino, o maior inconveniente é ter de se deslocar no meio da confusão para ir buscar os produtos de pastelaria que vende na sua loja e que são entregues semanalmente. “Temos o problema com os fornecedores, que não conseguem parar mesmo em frente à nossa porta e temos de ir buscar os produtos de pastelaria mais longe e isso não é muito conveniente para nós. Pelo que vejo tratam-se de obras que não deveriam demorar tanto tempo, o Governo deveria explicar melhor a situação. Deve haver uma melhor gestão nestas obras”, disse a responsável pela Cakepuccino, que tem vindo a registar uma quebra de clientes para cerca de metade do habitual. “Todos estão afectados” Na Praia Grande, onde além de um supermercado, uma padaria e restaurantes existem escritórios de advogados, dezenas e dezenas de pessoas passam diariamente num pequeno corredor criado de improviso. Com as fortes chuvas os trabalhadores das obras vêem-se obrigados a esperar algum tempo até que as intervenções no solo possam continuar. Herculano Dillon, proprietário do restaurante de comida macaense Lagoa Azul, garante que a culpa da falta de clientes não é pela má qualidade de comida. Ali continua-se a fazer a boa alheira portuguesa e o Bafasá, entre outras iguarias. A verdade é que, desde que as obras na rua começaram, as mesas custam a encher-se de clientes à hora do almoço, quando antes era difícil encontrar uma mesa livre. “Sinto menos 50% de clientes no restaurante, mas isso não é por causa de não ter coisas bem feitas (aponta para o menu). Aqui há coisas bem feitas. Todos se sentem afectados por isto, mas é algo que tem de ser feito. São obras privadas, fizeram tudo de uma vez, espero que daqui a umas semanas tudo esteja concluído.” Contudo, Dillon, macaense, disse recordar-se de outros tempos em que o cenário das obras nas vias públicas de Macau era bem mais complicado. “Apesar de tudo, penso que a gestão das obras está a ser melhor feita do que antes, porque antigamente cada empresa abria a rua e na semana seguinte outra empresa voltava a abrir e actualmente o sistema melhorou. Apesar de estarmos a ser afectados, eles estão de parabéns”, defendeu. “Espero que o negócio volte ao normal, mas a questão é: quando é que estas obras acabam? Há sempre algumas condicionantes, como a chuva. São coisas que têm de ser bem planeadas, já foi pior, e penso que este Secretário é muito competente, apesar de todas as críticas. Ele não pode fazer tudo”, disse Herculano Dillon, referindo-se ao Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário. Chan Meng Kam questiona Governo Apesar do optimismo de Herculano Dillon, (ver texto,principal), o deputado Chan Meng Kam é uma das muitas vozes que não felicita os responsáveis pelas obras que actualmente ocorrem na zona da Praia Grande, São Lourenço e em toda a Macau. Numa interpelação oral apresentada na Assembleia Legislativa esta semana, o deputado chamou a atenção para aquilo que considera ser uma falta de coordenação entre os vários projectos. “São férias de Verão e estamos outra vez no auge anual do escavar das ruas”, começou por dizer o deputado no hemiciclo. “Na verdade, em Macau é tudo muito esquisito. Os esgotos de drenagem, os esgotos pluviais, as câmaras de pompa e as obras nas vias, entre outras empreitadas similares, são asseguradas pelas Obras Públicas e pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), e cada um faz as suas. No caso do Metro Ligeiro, intervém numa parte o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT), mas a totalidade é assegurada pelo GDI, mas ambos pertencem ao nosso mesmo pequeno Governo. Macau faz a diferença, por cá “não são grandes os templos, mas são muitos os monges” e “mais um incensório é mais um diabo”, portanto, se esta má prática se mantiver por muito mais tempo, situações caóticas semelhantes à do trânsito da Taipa só podem ser cada vez mais!”, apontou Chan Meng Kam. “Apesar de estarem psicologicamente preparados, os residentes ficaram surpreendidos com o número de obras públicas: 485 neste ano, 99 durante as férias de Verão, 35 na Taipa e destas, 8 são de grande dimensão”. Chan Meng Kam alertou ainda para o facto de na Taipa estarem “várias ruas vedadas”. “Há residentes que dizem: ‘Moro na Taipa há várias décadas. Mas, de repente, já não sei andar nem conduzir aqui, é impossível sair’. Há outros que suplicam ‘nossos queridos dirigentes, podem poupar-nos a isto?”, afirmou.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaGoverno | Aterros podem vir a pagar dívidas A possibilidade de utilizar terrenos dos novos aterros para pagar as dívidas de terra do Governo foi admitida ontem após a Reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras. Ho Ion Sang admite que Raimundo do Rosário considera que “em caso de necessidade pode recorrer-se aos novos aterros”, ao contrário do que tinha sido prometido anteriormente [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ovos aterros podem ser, em caso de necessidade, moeda de pagamento para as terras que o Governo deve. Se até agora os novos aterros não tinham este fim, com a abertura a novas soluções para as dívidas de terra por parte de Chui Sai On, Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, admitiu ontem que “em caso de necessidade estes terrenos (novos aterros) podem ser utilizados para pagar as terras em dívida”. A informação foi adiantada aos jornalistas por Ho Ion Sang, ontem, depois de uma reunião da Comissão de Acompanhamento dos Assuntos da Administração Pública, na AL. As informações não vão, no entanto, ao encontro do que o Secretário disse à saída aos jornalistas. “A dívida será paga através dos terrenos recuperados por via da caducidade”, afirmou. Raimundo do Rosário adiantou ainda que “já foram declaradas cerca de 40 situações de terrenos caducados que neste momento estão em processos judiciais” e “se e quando esses processos terminarem e se por ventura a decisão final for regressar à posse da região, nessa altura trata-se das dívidas”. Em análise, na reunião, estiveram ainda seis processos que no seu todo perfazem a dívida em terras contraída pelo Executivo sendo que “cada um deles poderá integrar mais do que um terreno”, esclarece Ho Ion Sang . Dos 88.806 m2 de terra em dívida mais de metade foi terra “retirada” aos seus concessionários iniciais para ser integrada na “cedência de terreno para a liberalização da indústria de jogo”. As operadoras que usufruem agora das terras são a Wynn, MGM e Galaxy. Às operadoras, o Governo cedeu cerca de 54 801 m2 que não eram seus para liberalizar o Jogo. Estes processos já têm compromisso de concessão para com os concessionários originais. Os terrenos a devolver serão “um ou mais situados na zona C e D de Nam Van” no que respeita ao processo do Wynn e MGM. Quanto ao compromisso com a cedência de terreno à Galaxy, o Governo avança que será entregue ao concessionário original um outro terreno também cuja área e dados de localização “serão definidos na altura” visto se for “numa zona boa a área será menor e se for numa zona má, será maior”. Os processos três e quatro, que também já possuem compromisso de concessão, são referentes aos projectos que vieram a concretizar a Habitação Pública no Bairro da Ilha Verde e de Seac Pai Van. O Executivo compromete-se a conceder ao concessionário inicial, ao primeiro, “um outro terreno quando reunir as devidas condições de concessão” e ao segundo “um terreno situado na ilha de Coloane junto à estada de Ka Hó”. Todos as cedências concessionárias são por arrendamento. Os dois últimos processos ainda não têm compromisso de concessão, mas são referentes às áreas da praça Flor de Lótus e a três lotes do Pac On que se destinaram a “uma parte da ampliação da Central de Incineração de Resíduos Sólidos da Taipa”.
Joana Freitas BrevesProfessor da UM distinguido na área da Criminologia O professor Liu Jianhong, do Departamento de Sociologia da Universidade de Macau (UM), foi distinguido com o troféu “Freda Adler Distinguishe Scholar Award” da American Society of Criminology (ASC). Esta distinção deve-se “ao seu inquestionável contributo no campo da criminologia”, como refere a UM em comunicado. A cerimónia de entrega vai realizar-se durante a conferência anual da ASC em Novembro. Este distinção é atribuída anualmente a alguém que, sendo fora do departamento da ASC, contribui de forma decisiva para a área da Criminologia. Nomes como os de David Farrington, da Universidade de Cambridge, e Hans Kerner, da Faculdade de Direito da Universidade de Tuebingen, também já foram agraciados com este troféu. Liu Jianhong é um nome sobejamente conhecido da criminologia internacional, tendo assumido por várias vezes a direcção de associações de criminologia internacionais. Com vários artigos e livros publicados sobre a matéria, é actualmente o presidente da Scientific Comission of the International Society for Criminology e da General Assembly of the Asian Criminological Society, entre outros cargos ocupados.
Hoje Macau China / ÁsiaChinesa indemnizada após 13 anos na prisão por confissão forçada [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma chinesa que esteve presa 13 anos, condenada por homicídio após ter confessado “sob coação”, vai ser compensada em mais de 258.300 dólares, informou ontem um tribunal do país, citado pela imprensa oficial. Qian Renfeng foi condenada por homicídio, após um bebé morrer e duas outras crianças serem hospitalizadas, em Fevereiro de 2002, devido a uma intoxicação alimentar na enfermaria onde trabalhava. A mulher, que nesse dia tinha preparado as refeições, foi “forçada a confessar que misturou veneno para rato na comida”, concluiu o Superior Tribunal Popular de Yunnan, província do sudoeste da China. Casos envolvendo erros da justiça são frequentes na China, onde as confissões forçadas continuam a ser prática comum, segundo organizações de defesa dos Direitos Humanos, e mais de 99% dos réus são considerados culpados. Em Maio, um tribunal da província de Hainan, no sul do país, foi condenado a pagar uma indemnização de 2,75 milhões de yuan a um homem que esteve preso mais de 20 anos, também acusado de homicídio. Chen Man, agora na casa dos 50 anos, foi condenado à pena de morte – posteriormente comutada em prisão perpétua – em Novembro de 1994, e finalmente absolvido e libertado este ano, devido à “falta de provas”. A China exonera ocasionalmente réus presos ou executados injustamente, depois de os verdadeiros autores dos crimes terem decidido confessar ou, em alguns casos, a vítima ser encontrada com vida. O caso mais mediático resultou na execução de um adolescente, que só 20 anos mais tarde foi dado como inocente. Huugjilt, que na altura tinha 18 anos, foi considerado culpado de violar e assassinar uma mulher numa casa de banho pública e condenado à pena capital. O verdadeiro culpado, Zhao Zhihong, confessou o crime anos mais tarde e foi executado no ano passado.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão admite instalar sistema antimísseis norte-americano [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Ministério de Defesa do Japão está a estudar adoptar o sistema antimísseis norte-americano THAAD, que Seul e Washington deverão instalar em 2017 em território sul-coreano, em resposta aos continuados testes de lançamento de mísseis do regime norte-coreano. O Japão está a avaliar a possibilidade de implantar o Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD, na sigla em inglês) como parte do seu plano para melhorar o sistema de interceptação de mísseis”, informou ontem a estação pública japonesa NHK. A Defesa tinha previsto pedir um reforço de verbas para esta operação no próximo ano, mas decidiu destinar parte do segundo orçamento suplementar do corrente ano fiscal para este fim, explicou a estação japonesa. O Ministério da Defesa decidiu adiantar o programa porque considera que a Coreia do Norte representa uma grave ameaça para a segurança nacional do Japão. Alta actividade Pyongyang realizou vários lançamentos de mísseis de longo, médio e curto alcance desde o início do ano. Após o quarto ensaio nuclear norte-coreano, a 6 de Janeiro, seguido, a 7 de Fevereiro, do lançamento de um ‘rocket’, considerado o ensaio disfarçado de um míssil de longo alcance, o Conselho de Segurança da ONU adoptou sanções mais pesadas a Pyongyang. Já na semana passada, a 5 de Agosto, a Coreia do Norte disparou dois mísseis de médio alcance, um dos quais caiu a 250 quilómetros da costa japonesa e em águas da zona económica especial (ZEE), o mar patrimonial do Japão. O primeiro impacto em 18 anos de um projéctil norte-coreano em águas da ZEE do Japão gerou fortes protestos de Tóquio, que considerou haver ameaça à segurança das suas actividades marítima e aeronáuticas. Alguns dos testes realizados por Pyongyang nos últimos meses foram levados a cabo a partir de plataformas de lançamento móvel (TEL) que, no caso de serem desenvolvidas com êxito, ampliariam as suas capacidades de ataque ao dificultar a detecção dos projécteis.
Hoje Macau China / ÁsiaChina suspende projecto nuclear após protestos [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]rotestos levaram o governo da cidade chinesa de Lianyungang a anunciar a suspensão do projecto nuclear de um consórcio que envolve uma empresa francesa, ligada a várias centrais na China, incluindo uma a menos de 70 quilómetros de Macau. Milhares de pessoas protestaram em Lianyungang, contra a construção de uma central nuclear na zona, alegando preocupações de saúde, levando o governo local a afirmar que vai “suspender temporariamente” a escolha de uma localização para a central de reprocessamento de combustível nuclear. A construção desta central foi acordada em 2012 entre o grupo francês Areva e a estatal chinesa China National Nuclear Corp (CNNC), sem que tivesse sido anunciada uma localização. No entanto, segundo a agência AFP, os residentes de Lianyungang consideram que a sua cidade é o candidato mais provável, já que está também a ser construída na zona, pela CNNC, uma grande central nuclear. A China tem sido palco de vários protestos contra projectos nucleares, incluindo na província de Guangdong, em Hong Kong e em Macau, devido à central de Taishan, que fica a menos de 70 quilómetros de Macau. Esta central foi também construída por um consórcio sino-francês, que integra a China Guangdong Nuclear Power (CGN) e a Électricité de France (EDF), da qual a Areva é subsidiária. Fonte da CGN confirmou à Lusa que a fornecedora de tecnologia nuclear Areva é parceira das estatais chinesas nos dois projectos. Em Abril, o portal FactWire noticiou que a Autoridade de Segurança Nuclear de França detectou excesso de carbono numa câmara de pressão de uma central francesa com reactores nucleares de terceira geração (EPR) – a mesma tecnologia da central de Taishan – indicando que estava demasiado frágil, o que pode causar uma potencial fuga radioactiva. Engenheiros franceses disseram ao FactWire que a unidade 1 da central foi submetida a um grande número de testes e que, na melhor das hipóteses, só poderia entrar em funcionamento em 2018. Alertaram ainda que as autoridades chinesas têm vindo a pressionar para acelerar a construção, de modo a cumprir-se o calendário inicial. Em Maio, Gao Ligang, CEO da CGN Power, negou as afirmações dos engenheiros em declarações ao jornal de Hong Kong South China Morning Post, afirmando que o recipiente de pressão dos reactores respeita todos os padrões de tecnologia e segurança e que o progresso da construção tem estado sob apertado escrutínio por parte da China. Desde então multiplicaram-se os protestos contra a central de Taishan em toda a região. Em Julho, o Governo de Macau anunciou a criação de um mecanismo de troca permanente de informação com a região vizinha de Guangdong para acompanhar o funcionamento da central nuclear de Taishan, que, tudo indica, começará a operar em 2017. Actualmente existem 34 reactores de energia nuclear a operar na China, 20 em construção, com novos trabalhos prestes a começar em mais um projecto, de acordo com a Associação Nuclear Mundial.
Hoje Macau BrevesID quer instalações desportivas nos novos aterros A falta de espaços e de instalações desportivas voltou ontem a ser ontem tema de discussão no programa Fórum Macau, da TDM. Foi um ouvinte do programa que levantou o problema, mas o assunto mereceu a concordância do subdirector-geral da Associação Geral de Wushu, Leong Chong Leng, e do treinador de Atletismo Au Chi Kun, que assistiram ao programa para abordar o desenvolvimento de desporto. O Fórum contou com a presença do Instituto do Desporto, Pun Weng Kun, que assegurou que o organismo já tinha contactado com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), pedindo que reservasse espaços suficientes para desportos nos novos aterros urbanos. Mais ainda, o responsável assegurou que a intenção é realizar eventos desportivos de grande dimensão, de forma a incentivar visitantes para participar e ver os jogos, algo que pode “ajudar a estimular a economia local”, incluindo a área da restauração e de hotelaria. Pun Weng Kun dá como exemplo a proporção no números de participantes locais e estrangeiros na Maratona Internacional de Macau, que saltou de 30% e 70% para 50%-50% no ano passado. O presidente frisou ainda que vai apresentar a Portugal um convite, quando tiver oportunidade, para que a selecção chinesa de futebol defronte a portuguesa, num jogo semelhante ao de 2002 e que “atraiu imensos espectadores”.
Hoje Macau BrevesConselho para Indústrias Culturais com novos membros O artista Fortes Pakeong Sequeira foi um dos nomeados para integrar o Conselho para as Indústrias Culturais. O despacho, publicado ontem em Boletim Oficial (BO), revela ainda as nomeações do empresário Stanley Au, de Ambrose So, director-executivo da Sociedade de Jogos de Macau, ou de Pansy Ho, presidente da MGM China. Hsu Hsiu Chu será vice-presidente do Conselho. Cada membro terá um mandato de dois anos.
Hoje Macau BrevesNovo Banco em Macau com perdas de meio milhão O Novo Banco Ásia com sede em Macau fechou o segundo trimestre do ano com prejuízos de 551 mil patacas, indicam dados publicados ontem em Boletim Oficial. Segundo o balancete, a 30 de Junho, o banco registou proveitos de 23,18 milhões de patacas e custos na ordem dos 23,73 milhões de patacas. Na semana passada, o Novo Banco anunciou a venda da unidade que tem em Macau ao grupo Well Link, de Hong Kong, sem adiantar o valor do negócio. A concretização da venda está agora dependente de autorizações do Banco de Portugal e da Autoridade Monetária de Macau. O Novo Banco Ásia fechou 2015 com lucros de 4,77 milhões de patacas.
Joana Freitas BrevesPeter Lam é vice-presidente do Conselho de Ciência Peter Lam passou a ser o vice-presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia. O anúncio foi ontem feito em Boletim Oficial, num despacho assinado por Chui Sai On, Chefe do Executivo. Lam já fazia parte do Conselho, mas agora passa a ocupar o cargo da presidência. Peter Lam é também membro do Conselho Executivo e da Fundação Macau. O mandato do novo cargo que ocupa tem a duração de dois anos.
Hoje Macau BrevesMais pessoas em Macau A população de Macau ultrapassou no final de Junho as 650 mil pessoas, segundo dados oficiais divulgados ontem. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicam que no final do primeiro semestre a população estava fixada em 652.500 pessoas, mais 9600 (ou 1,49%) do que em igual período do ano passado. Já em termos trimestrais, comparando com Março último, o aumento populacional foi de 3400 pessoas (0,52%). Macau tinha até ao final do primeiro semestre 182.459 trabalhadores não residentes, valor que corresponde a 27,9% do total da população. Comparando com o final de Junho de 2015, o número de trabalhadores não residentes cresceu 1,07%. No segundo trimestre deste ano, 339 pessoas obtiveram autorização de residência em Macau, o mesmo número dos que tinham sido autorizados entre Janeiro e Março. No primeiro semestre houve 3303 nascimentos (menos 71 ou 2,1% em termos anuais) e 1219 óbitos (mais 197 ou 19,27% em relação a igual período de 2015).
Hoje Macau Breves Pedido mais pessoal nos casinos para proibição do fumo A Associação de Empregados das Empresas de Jogo Macau entregou ontem uma petição ao Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo para pedir uma intensificação da aplicação da Lei do Controlo de Tabagismo. Choi Kam Fu, presidente da Associação, referiu que nas últimas três semanas a Associação recebeu queixas de 27 empregados do sector do Jogo, dizendo que houve pessoas que consumiram tabaco ilegalmente. Nesse sentido, a associação sugere que o gabinete acrescente mais pessoal nos casinos.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasO Simbolismo do Caos. Demanda ou Vazio? Pynchon, Thomas, V, Fragmentos, Lisboa, 1989 Descritores: Literatura Americana, Romance, 422 p.:23 cm, tradução de Rui Vanon Cota: C-10-7-45 Thomas Ruggles Pynchon, Jr. Nasceu em Long Island no dia 8 de Maio de 1937. Frequentou a Oyster Bay High School, de onde saiu em 1953. Estudou Engenharia em Cornell, prestigiada universidade da chamada Ivy-League, mas abandonou o curso no segundo ano para se alistar na marinha americana. Mais tarde, em 1957, voltará a Cornell para estudar inglês, tendo-se formado em 1959. Além de V, livro de estreia e logo premiado, eu destacaria o célebre Leilão do Lote 49 de 1966 e O Arco-Íris da Gravidade de 1973, considerado a sua obra prima. [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s etiquetas valem o que valem e por vezes não valem nada. Costuma considerar-se Thomas Pynchon como um dos maiores expoentes do pós-modernismo. A verdade é que desde que a designação foi cunhada por Jean-François Lyotard (sobretudo) mas também por Frederic Jameson e outros, começaram a aparecer atribuições de pós modernidade a muitas obras que não o eram antes. De algum modo tornou-se moda designar uma obra de pós-moderna. Porém, penso que no caso de Thomas Pynchon a atribuição é pertinente. Eu penso que é mais fácil identificar o pós-modernismo em outras artes ou em outras áreas do pensamento e da cultura do que na literatura seja ela ficção ou poesia, mas não será impossível. No caso de Pynchon, a fragmentação discursiva e narrativa, a miríade de personagens superficialmente tratadas, as múltiplas histórias e intrigas paralelas, o carácter caótico da narrativa, dispersivo e muitas vezes anacrónico onde sobressai uma valorização das relações light e soft e dos episódios puramente circunstanciais e evanescentes consubstancia de facto uma estética que decorre de uma teoria do conhecimento que evita as chamadas metanarrativas. Além disso a dispersão temática, enciclopédica mas superficial, por áreas como a física, matemática, química, filosofia, parapsicologia, ocultismo, banda desenhada, cinema, música pop, etc., com tratamento humorístico, pouco sério, senão mesmo provocatório e jocoso, assim como o relativismo axiológico que daí resulta, conduz a uma clara atitude de desvalorização de temas considerados nobres pela Modernidade. No entanto, em toda a obra de Thomas Pynchon, pressente-se através do Stream of consciousness que lhe é peculiar, sobretudo no ‘V’, a presença tutelar de uma grande figura da Modernidade, que é James Joyce e o seu Ulisses. Toda a obra de Pynchon pode ser assim considerada paradoxal no plano da sua construção estética, com um pé na Modernidade e ao mesmo tempo em ruptura, afinal como toda a chamada pós modernidade. É essencialmente por saturação referencial e pela valorização das estruturas micronarrativas que os seus romances se colocam no caminho performativo do pós-modernismo. Nada que se compare com William Gaddis ou Donald Barthelme onde a ruptura é sobretudo estilística e temática. Pessoalmente sou sensível, na obra de Pynchon, à sua dimensão paranóica, que resulta sobretudo da sobreacumulação informativa. Este excesso entrópico funciona, no entanto, às avessas, transformando a sua narrativa num imenso discurso sobre o vazio. O relativismo axiológico a que me referi perspectiva uma redução niilista integral, por decepção. A única escapatória para a decepção integral é o riso. Contudo, para mim, a própria obra de Pynchon resulta numa enorme decepção. Talvez que eu seja demasiado moderno. Admito. Thomas Pynchon é considerado, como disse, um dos principais expoentes do romance pós-moderno, ao lado de outros autores consagrados, como sejam William Gaddis, John Barth, Donald Barthelme, Don Delillo e Paul Auster. Mas se aceito a companhia de Gaddis, Barthelme ou Barth, tenho muita dificuldade em aceitar que Don DeLillo ou Paul Auster integrem este grupo. Em 1988, Thomas Pynchon foi premiado pela Fundação MacArthur. O crítico literário Harold Bloom nomeou mesmo Pynchon um dos quatro romancistas de língua inglesa “canonizáveis”, juntamente com Don DeLillo, Philip Roth e Cormac McCarthy. Enfim, opiniões. Discordo profundamente com a integração nesta lista de Cormac McCarthy mas sobretudo de Don DeLillo. E pergunto, e porque não incluir Raymond Carver, provavelmente o maior génio da prosa minimalista e o maior especialista americano em shorts stories without story, a par de Joyce Carol Oates. Mas menos discutíveis ainda são John Updike, no registo burlesco e John Barth que nascendo em 1930 abre esta geração nascida na década de 30 (… é por isso o fundador do pós-modernismo na ficção norte americana), da qual fazem parte os autores referidos e ainda Donald Barthelme, como já disse. Mas vamos ao texto. Tendo acabado de obter dispensa da Marinha, Benny Profane contenta-se com uma existência ociosa passada entre os amigos, onde a única ambição é a de ser perfeito na arte do engano, e onde a palavra «responsabilidade» é considerada obscena. Entre os seus amigos, chamados Whole Six Crew, está Slab, um artista que parece ser incapaz de pintar outra coisa que não seja queijo dinamarquês. Mas a vida de Profane muda dramaticamente quando ele se torna amigo de Stencil, um jovem ambicioso e activo com uma missão intrigante, a de descobrir a identidade de uma mulher chamada V, que conheceu o seu pai durante a guerra, mas que desapareceu repentina e misteriosamente. O livro é portanto centrado nesta demanda simbólica da misteriosa ‘V’ que jamais saberemos quem seja até percebermos que simplesmente não existe e talvez nunca tenha existido, tal como o ‘K’ de Dino Buzzati. E isso descobre-se cedo o que arrefece muito o interesse do romance, relativamente a um pequeno entusiasmo inicial, até porque o interesse literário é escasso; sobrevive no texto algum sentido de humor, mas se comparado com autores como Bruce Chatwin e mesmo Salinger, não passa de um bocejo. Entretanto pelos caminhos dessa procura insensata de Nova Iorque até Malta passando pelo Cairo e Alexandria, entre outros lugares, cruzamo-nos com espiões, filósofos, vagabundos, intriguistas, etc. Porém tudo acontece de modo muito anárquico e sem sentido e muitas vezes fastidioso. Pynchon foi, para mim uma grande decepção, como Don DeLillo ou Jonathan Franzen, porém por motivos claramente distintos. De DeLillo ressalvo, contudo, a primeira meia centena de páginas de Submundo. Nem todos os autores podem escrever livros com mais de quatrocentas páginas como Thomas Mann, Tolstoi, Stendhal ou Musil, entre outros, mas não muitos. A lista de livros gordos, pretensiosos, mas falhados, é enorme. Dentre os mais recentes tenho presente os calhamaços de Franzen, apesar das críticas favoráveis, o 2666 de Bolaño, apesar de tão incençado, mas para mim impropriamente, o Cosmopolis de DeLillo e outros onde os autores se ficaram pelas boas intenções. Mas para além dos autores já referidos que escreveram romances grandiosos em todos os sentidos e nem me lembrei, por exemplo, das Almas Mortas de Gogol, ou do Herzog de Saul Bellow é justo dizer que o formato não impede que se possa atingir o estatuto de obra prima …. Que não se pense que trago aqui uma opinião caprichosa na sua essência, pois acredito mesmo que os autores tanto quanto os livros possuem em si uma dimensão intrínseca, no caso dos romances, e um fôlego ou uma respiração própria, no caso dos autores. Alguns são sprinters e outros são corredores de fundo e meio fundo, digamos assim. Um editor russo disse-o por outras palavras a Nabokov. Vou citar este e não o editor que nunca o terá escrito: “Um editor disse-me uma vez que cada escritor traz gravado dentro de si um número determinado, isto é, um número exacto de páginas que nunca ultrapassará em nenhum livro. O meu número era, salvo erro, o 385. Tchekhov nunca poderia escrever um verdadeiro romance comprido” por exemplo, mas já Tolstoi, podia e devia, digo eu. Depois Nabokov continua assertivamente com acerto, como era seu timbre. No que disse sobressai a ideia de que o escritor “nunca ultrapassará” o seu número. Isso seria verdade se o escritor o soubesse e a verdade é que, para sua desgraça, deles, a maioria esmagadora dos escritores não faz ideia de qual seja, pelo que acontece que ora fiquem aquém desse número, ora o ultrapassem largamente. Quando ficam aquém, quase nunca é tão grave como quando o excedem largamente, excedendo assim a dimensão fixada pela providência. Eu lembro-me que ao ler Saramago dizia: — e na época ainda não tinha lido as magníficas Lectures on Russian Literature, publicadas pela Harvest Books de Nova Iorque em 1982 — se ele fosse controlado por editores à moda antiga, e bons, pois os houve, os seus romances teriam, na sua melhor fase, a fase do Memorial, do Cerco ou da Jangada, menos cinquenta páginas pelo menos e alguns teriam ficado verdadeiras obras primas, assim… ficaram apenas livros muito bons, mas ligeiramente desequilibrados. O caso mais gritante é a História do Cerco de Lisboa. Mais tarde finalmente o escritor encontrou o número de páginas certas e adequadas, mas salvo algumas excepções as ideias é que já não eram tão boas. Ora, regressando ao motivo deste meu excurso, o problema das obras de Thomas Pynchon é esse, não um número excessivo de notas como o arquiduque da Áustria terá, pleno de aristocrática idiotice, dito a propósito de uma partitura de Mozart, mas um número excessivo de páginas, esperando eu não estar a ser tão idiota quanto o outro. Nesta questão da dimensão da obra, que sinceramente sempre me preocupou, esqueci-me de referir Norman Mailer e John dos Passos, mas sobretudo de uma obra prima de um escritor, aliás escritora, o Midlemarch de George Eliot. Repare-se no élã do primeiro parágrafo de Middlemarch: “Miss Brooke had that kind of beauty which seems to be thrown into relief by poor dress. Her hand and wrist were so finely formed that she could wear sleeves not less bare of style than those in which the Blessed Virgin appeared to Italian painters; and her profile as well as her stature and bearing seemed to gain the more dignity from her plain garments, which by the side of provincial fashion gave her the impressiveness of a fine quotation from the Bible,— or from one of our elder poets,— in a paragraph of to-day’s newspaper. She was usually spoken of as being remarkably clever, but with the addition that her sister Celia had more common-sense. Nevertheless, Celia wore scarcely more trimmings; and it was only to close observers that her dress differed from her sister’s, and had a shade of coquetry in its arrangements; for Miss Brooke’s plain dressing was due to mixed conditions, in most of which her sister shared. The pride of being ladies had something to do with it: the Brooke connections, though not exactly aristocratic, were unquestionably ‘good”. Ora, isto não roça a perfeição ou mesmo o sublime. Isto é da ordem da perfeição e do sublime. Raras vezes em toda a minha vida me foi dado ler um arranque de romance tão perfeito e de resto a literatura inglesa possui muitos. Eu, que infelizmente não domino a língua inglesa como gostaria atrevi-me depois desta primeira página a ler directamente o Middlemarch na sua língua original, pois de facto sente-se que seria uma pena traduzir esta página e afinal tudo o resto. A leitura de Middlemarch curou-me momentaneamente da decepção que foi Thomas Pynchon. Depois deste cheirinho, não acham que terei razão. Provavelmente foi uma imprudência minha ter ido ler o Middlmarch a meio de leitura de romances como o V de Thomas Pynchon ou o 2666 de Bolaño. Agora acho que nunca irei chegar ao fim da leitura de ambos e que outros aparentados já não irão merecer sequer que os comece, a não ser que tenha de ser, por motivos profissionais. Vou finalmente regressar ao V, prometendo já que é para pôr fim a esta crónica. É verdade que Profane ao fazer ioiô ao longo da costa leste se vai cruzando com uma fauna humana por vezes interessante. É verdade que o narrador arranca pedaços de prosa com qualidade aqui e ali e cito salpicadamente: “Profane dobrou a esquina. Como sempre acontecia, East Main, caiu-lhe em cima sem aviso prévio”. Eu percebo o que o aviso, quer dizer, pois a mim já me aconteceu as ruas cairem-me em cima com aviso e sem aviso. Assim, quando fiz o Costa a Costa desde S. Francisco até Nova Iorque subindo e descendo para não evitar os desertos e os canyons, foi com aviso prévio que caí em cima e dentro da Bourbon Street em Nova Orléans, mas já foi sem aviso prévio que me caiu em cima a Beale Street em Memphis. Na altura lembro-me muito bem que o episódio da Beale Street me fez pensar na pequeníssima evocação do que é a vida, feita pela Marguerite Yourcenar num texto da colectânea, O Tempo Esse Grande Escultor, quando, explorando a ideia de transitoriedade, fugacidade e precariedade escreve pela boca de um ‘thane’, chefe de clã, poeta e visionário: “Creio que a vida dos homens na Terra, quando comparada aos vastos espaços de tempo de que nada sabemos, se assemelha ao voo de um pássaro que entrou pela janela de uma grande sala onde arde ao centro uma lareira (…), enquanto lá fora reina a invernia, com as suas chuvas e neves. O pássaro atravessa a sala num ápice e sai pelo lado oposto; vindo do Inverno, a ele regressa, perdendo-se aos teus olhos. Assim também a efémera vida dos homens de que não sabemos o que havia antes e o que vem depois”. Obviamente que, com as devidas distâncias, assim me senti momentaneamente engolido para dentro de um cone de luz e conforto, vindo da noite e à noite regressando. Foi um puro instantâneo que porém depois prolonguei, estacionando algures e regressando à Beale Street para comer qualquer coisa ouvindo a boa música do sul e ouvindo uns tipos absolutamente anacrónicos a falar de blues, Muddy Waters, BB King e Elvis Presley: Confesso que foi hilariante e inesquecível. Como a tripulação do contratorpedeiro USS Scaffold estava ausente, pois o navio tinha zarpado em direcção ao Mediterrâneo, andavam caras novas a servir nos bares da cidade “praticando os mais doces sorrisos de puta”, enquanto a essa hora o navio lançaria pelas chaminés negros flocos sobre os futuros ou já presentes cornudos. Por esse motivo teve Profane direito à sua Beatrice, mas a verdade é que os marinheiros chamavam Beatrice a todas as empregadas, tal como bebés indefesos, e todas as noites tinham direito a beber cerveja por torneiras de espuma de borracha em forma de seios, a que se chamava a grande mamada. Mas em menos de duas páginas entrou em cena a Pig que tinha uma Harley que nenhum polícia apanhava e uma Paola da qual saíam histórias, cada uma mais rocambolesca que a anterior, mas que Profane só acreditava pela metade porque, como ele dizia, “uma mulher é apenas metade de qualquer coisa que tem habitualmente dois lados”. Profane, ficou com ela apenas uma noite, o suficiente, no entanto, para lhe ensinar uma canção de um paraquedista francês, que era baixo e tinha a estrutura de Malta, isto é: “rocha e um coração imprescrutável”. Acreditem, isto é apenas o princípio. Há no texto muito mais pérolas como estas, mas, … quer dizer, o problema são as páginas, muitas, através das quais se multiplicam como moscas multidões de personagens masculinas e femininas além de ruas, bares, cidades, lugares, encontros e desencontros e acontecimentos de variadíssimo género, com outras narrativas dentro e essas também multiformes como a narrativa principal, numa proliferação neoplásica, e claro o que é demais cansa, até que desistimos. Eu desisti por volta da página 351 numa edição com mais de quinhentas. Por favor não me venham dizer que deveria ler o livro todo e sobretudo não o façam invocando questões de natureza ética, ou assim. Em jeito de compromisso direi que vale a pena ler uns capítulos desgarrados até por que se o leitor tiver lido as primeiras cem páginas por exemplo, depois já escusa de ler a eito. Vá lendo respigando aqui e ali porque irá sempre encontrando belos achados, provocatórios e inteligentes por vezes mesmo incandescentes. É o conjunto que desilude, como se não houvesse arquitectura prévia. É isso, ou eu sou talvez moderno de mais, para esta literatura, chamada pós-moderna. Que me perdoem.
Joana Freitas PolíticaIACM já estuda lei para regular veterinários [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) está já a estudar a elaboração de propostas de lei para regular as clínicas veterinárias, as lojas de animais de estimação e os locais de reprodução para estes animais. O anúncio foi ontem feito por uma responsável do Instituto. Há anos que se fala na falta de leis que regulem as clínicas veterinárias em Macau, território onde qualquer pessoa pode abrir uma clínica e exercer a profissão. Em 2014, o Governo assinou um acordo de cooperação com a China continental no âmbito da medicina veterinária, mas nada adiantou. Para Albano Martins, que já falou do caso diversas vezes, este vazio legal é particularmente problemático, principalmente numa altura em que a Lei de Protecção dos Animais vai entrar em vigor no próximo mês. O ano passado, o presidente da Sociedade Protectora dos Animais – ANIMA frisava que “antes da Lei de Protecção de Animais devia haver um regulamento ou uma lei que regulasse o exercício da actividade veterinária”. O acordo de cooperação com o Ministério da Agricultura da República Popular da China (RPC) tinha como objectivo “fomentar a articulação de legislação da actividade de medicina veterinária de Macau e dos trabalhos de prevenção e controlo das epidemias animais”, de acordo com um comunicado.
Sofia Margarida Mota EventosFRC | Exposição de banda desenhada local na próxima semana Uma mostra de banda desenhada e encontros com os criadores vão preencher o cardápio da exposição que inaugura no próximo dia 18, na Fundação Rui Cunha. A iniciativa pretende incentivar o gosto pelas aventuras lidas e desenhadas das tiras aos quadradinhos [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]istórias aos quadradinhos são coisas para todos. Da banda desenhada (BD) temática à infantil, à característica de determinada zona geográfica, passando pela mais séria e sofisticada, muitas são as pranchas que deleitam os mais diversos fãs. Macau não foge à regra e 18 de Agosto é a data agendada para a abertura de uma exposição de BD de Macau e Hong Kong. A iniciativa tem lugar na Fundação Rui Cunha (FRC) numa organização conjunta com a Associação de Banda Desenhada, Quadradinho e Brinquedos de Macau (MACT, na sigla inglesa). O objectivo é a promoção desta forma de arte junto da população juvenil e adulta, bem como o incentivo ao desenvolvimento criativo. Para o efeito, e paralelamente, o evento integra ainda um encontro com cartoonistas convidados. Edward Loi é o fundador da MACT e fala ao HM da origem da associação e dos seus fins. A ideia surgiu porque era “super fã de BD”. Com o gosto vieram os contactos e o responsável começou a conhecer artistas de Hong Kong criadores de pranchas. A curiosidade foi crescendo e Edward Loi, ao analisar o que se passava em Macau, verificou que não havia escassez de amantes da leitura em balões, mas reparou também que o alvo era essencialmente a BD japonesa e com poucas referências para o que se fazia por cá. Juntou-se a alguns amigos e começaram a “organizar actividades com ilustradores locais e de Hong Kong porque curiosamente”, como afirma Edward Loy, “a BD mais vendida em Macau era as revistas semanais da região vizinha que estavam em exibição entre as molas de todos os quiosques”. “À parte de compra de livros aos quadradinhos, não existiam actividades que envolvessem a criação e os que dela gostam”, afirma Loi. E foi isso que o fez por mãos à obra. “Achava que era uma pena não existirem encontros e outros actividades que impulsionassem e desenvolvessem a BD local.” Nasce a Associação e as actividades que promove, onde está incluída a mostra que terá lugar na FRC. Edward Loy convidou três escritores de HK e três locais. São todos profissionais na criação de BD, o que “é algo muito raro por aqui”. O evento resulta ainda da cooperação com uma revista de BD fundada em Macau, mas que encontra a sua publicação em Hong Kong. De entre os convidados está o artista que conta já com dez anos de carreira J-Head, (Cheung Dun Yoi) que, apesar das dificuldades, consegue ver os seus desenhos publicados. Mas a exposição conta ainda com as presenças de Tam Yok Meng, conhecido por UMAN, e Lei Ka Chun, de Macau. De Hong Kong estão as presenças e trabalhos de Sam Tse , Tung Tung e Lei Long Kwan. É no encontro com os artistas que a organização pretende “partilhar a imaginação e a experiência obtida durante a produção até o produto final das obras”. Bonecos em risco Para Edward Loi, a sobrevivência desta arte poderá “estar em risco, dadas as dificuldades dos artistas em se afirmarem no sector”. É com tristeza que afirma que a BD tem vindo a perder terreno na popularidade, salvaguardando que na região vizinha ainda existe um forte grupo de amantes desta arte. Os dinheiros que financiam a Associação, além das cotas dos membros que a integram, baseiam-se no apoio do Governo e fundações. Apesar da entidade pretender trazer artistas de outras zonas do globo “não consegue” porque os apoio que tem só financia o local, mesmo que “por vezes não seja da melhor qualidade”. Não é o caso dos convidados para este encontro, mas também esta mostra “poderia ser enriquecida com a vinda de gente de outras paragens e a troca de conhecimentos entre todos”. A Associação quer combater a tendência e tem na agenda a continuidade de trabalhos através da organização de “exposições, seminários e competições” de modo a receber mais “aceitação por parte da população”. Para isso anseia mais apoio, nomeadamente do Governo, para que esta arte não fique exposta nas criações mais “vulgares” afirma. Para o responsável, a preferência dos consumidores de BD da região é “definitivamente a BD japonesa”, sendo que “ultimamente se regista um crescendo de adeptos de tiras curtas publicadas online”. Para Edward Loi, a razão por detrás do sucesso da “fast BD” é o facto de poder ser facilmente divulgada nas redes sociais e ser leitura fácil e rápida. A mostra, que inaugura pelas 15h30, termina a 2 de Setembro e conta com entrada livre.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTerminal | Estrutura começa a funcionar em Maio. Orçamento definido O novo Terminal Marítimo da Taipa deverá começar a funcionar em Maio do próximo ano, estando prevista a demolição das estruturas provisórias. O orçamento fica fixado em 3,8 mil milhões de patacas, depois de inúmeras derrapagens [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]ong Kong, Visitantes, Sala de Embarque. Os nomes já se vêem fixados nas placas, as estruturas estão prontas, mas as enormes salas, com cheiro a novo e um ar moderno, permanecem vazias. É assim o novo Terminal Marítimo da Taipa, cujas instalações abrem portas em Maio de 2017, depois de inúmeros atrasos e 11 anos de construção. Numa visita organizada ontem para a comunicação social, ficou ainda a saber-se o orçamento final, sem mais aumentos: 3,8 mil milhões de patacas. Dez anos depois dos primeiros esboços de planeamento, o novo terminal marítimo vai ter capacidade para receber, por dia, 400 mil pessoas, tendo uma dimensão igual a 25 campos de futebol, muito mais do que o Aeroporto Internacional de Macau. No espaço novo em folha vão funcionar diariamente 13 serviços públicos, incluindo os Serviços de Saúde ou o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Finalizadas as fases 1 e 2 do projecto, o Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) vai agora avançar com a fase 3, conforme explicou aos jornalistas Tomás Hoi, coordenador substituto do organismo. “Depois da mudança do terminal provisório para o novo vamos começar as obras da fase 3, as quais incluem as instalações de apoio e de incêndio, mas isso não irá influenciar o funcionamento do novo terminal”, explicou. Steven Chau, sub-director dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que a fase 2 deverá estar pronta em meados de Abril, sendo que, para a gestão do novo terminal, será usado o actual modelo adoptado no Porto Exterior. Não há ainda um orçamento para a manutenção do novo terminal. Está prevista a demolição das actuais instalações do terminal provisório, por poder transformar-se numa estrutura que causa constrangimento aos cais marítimos já existentes na zona do Pac On. Projecto a 20 anos Com o projecto já na recta final, e depois de um relatório do Comissariado de Auditoria (CA) que arrasou o planeamento, Tomás Hoi procurou dar explicações para aquilo que correu mal. “O projecto mudou e o utilizador também apresentou alguns requisitos e também fizemos a revisão do projecto. Os dias de chuva também afectaram, por isso a conclusão do projecto teve de ser adiada.” Quanto às mudanças, também foram explicadas. Os lugares de acostagem para embarcações de 400 pessoas tiveram de passar dos iniciais oito para 16, foi construído um parque de estacionamento e mais três lugares de acostagem multifuncional para embarcações. “Tínhamos o concurso público iniciado, o plano de concepção e o financiamento para todas as fases e trabalhos iniciais. Tivemos alterações em todos os projectos, mas essas mudanças foram feitas muitas vezes a pedido do utilizador. Por exemplo, a empresa de helicópteros adoptou novos regulamentos, os quais tivemos de seguir, por isso tivemos de fazer alterações. Podemos dizer que os custos totais já estão fixados”, garantiu Tomás Hoi. Uma coisa é certa: “este não é um projecto pensado a curto prazo, [mas] a médio e longo prazo. A zona do Cotai e de Seac Pai Van estão em desenvolvimento e não podemos pensar apenas a curto prazo. Está pensado a 20 anos”, rematou o responsável do GDI. Questionado sobre as razões por detrás de inúmeros atrasos e derrapagens, Tomás Hoi tentou deixar uma justificação. “Temos de seguir as nossas regras em termos de contratos, concursos públicos e trabalhos adicionais. Fazemos tudo consoante as leis que temos em Macau. Temos, claro, problemas de recursos humanos e limitação de espaço, o que traz dificuldades aos construtores. Mas claro que temos sempre um objectivo, que é o de terminar os projectos a tempo”, concluiu.
Angela Ka SociedadeSeac Pai Van | Deputados querem mercado com gestão pública Wong Kit Cheng e Au Kam San querem a abertura de concurso público para a gestão do primeiro mercado de Seac Pai Van. A intenção é evitar o monopólio na gestão do espaço e dar aos residentes o direito de participar [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ong Kit Cheng e Au Kam San solicitaram ao Governo a realização de um concurso público para a gestão do primeiro mercado de Seac Pai Van. A medida pretende evitar monopólios e dar à população oportunidade de participar no mercado da sua zona. A comunidade de Seac Pai Van, desde a instalação dos residentes em 2013, tem dado a conhecer que sente a necessidade de um mercado, especialmente por causa das habitações públicas da zona. Em Junho, o Governo decidiu construir um centro comercial em vez de um mercado e a sua gestão será diferente da que acontece nos mercados tradicionais de Macau, que tem a sua administração pública. O novo mercado em Seac Pai Van será gerido por um único operador e essa concessão será feita através de concurso público. O deputado Au Kam San aponta que esta iniciativa está contra a vontade geral dos residentes e fala num inquérito feito pelas associações dos moradores da zona, onde se indica que mais de 60% dos moradores esperam um mercado tradicional. Au Kam San também considera que as oportunidades de emprego que um centro comercial privado conseguirá oferecer são muito menores do que as de um mercado tradicional de gestão pública. O deputado refere que nos mercados públicos de Macau, a operação de todas as fracções é atribuída através de concurso, sendo que normalmente cabe aos moradores a gestão das mesmas. Ng Kuok Cheong, colega de bancada de Au Kam San, considera que só com gestão pública é que é possível que caiba aos moradores a gestão das fracções, algo que pode, assim, trazer mais emprego. “Um centro comercial operado a nível privado irá optar pela contratação trabalhadores não-residentes à semelhança dos restantes do género”, frisa. Numa interpelação, além de pedir a instalação de um mercado tradicional de gestão pública em vez de um centro comercial privado, Au Kam San também sugere que o Governo acrescente critérios no concurso público, regulando uma proporção dos trabalhadores do centro comercial a ser preenchida pelos moradores de Seac Pai Van. A deputada Wong Kit Cheng considera que sendo dada a gestão do centro comercial a um privado, as rendas e os arrendatários serão também aspectos a ser decididos pela empresa que gerirá o espaço. Com isso, o Governo perderá o controlo nos preços a serem designados o que, como consequência, poderá trazer aumentos como o que aconteceu em Hong Kong. A estrutura habitacional de Seac Pai Van é de nível básico e os moradores esperam conseguir comprar “comida barata e fresca”, pelo que a deputada questiona o Governo como é que isso será possível com um provável monopólio de gestão privada do mercado.
José Drummond h | Artes, Letras e IdeiasQue estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? | 22 – Ele [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]remorso. A culpa. O arrependimento. Aquilo que deveria ter feito e não fiz. Aquilo que deveria ter dito e não disse. Aquilo que não deveria ter feito e fiz. Aquilo que não deveria ter dito e disse. O remorso. A culpa. O arrependimento. Afogados em álcool. Num outro bar. Porque já não pode ser o mesmo. Porque não posso encontrar o acidente da outra noite. Porque esse acidente me afunda mais neste estado sem paz. Neste bar que parece perdido no tempo. Num tempo qualquer que não o nosso. Neste bar que me recorda o bar onde senti que te tinha perdido. Que nos tínhamos perdido. E que apropriadas as palavras da música que se ouvia ao fundo. E que apropriada a voz em lamento. Um lamento lamechas. E embalava o silêncio de nós. Naquele momento no qual não tínhamos mais nada para dizer. “Where are those happy days, they seem so hard to find / I tried to reach for you, but you have closed your mind / Whatever happened to our love? / I wish I understood / It used to be so nice, it used to be so good / So when you near me, darling can’t you hear me? / S. O. S. / The love you gave me, nothing else can save me / S. O. S. / When you’re gone / How can I even try to go on? / When you’re gone / Though I try how can I carry on?…”1 Devia haver mais que uma palavra para o amor. O amor que mata. O amor que redime. O amor que acredita na culpa e o amor que salva a respiração. O que fazemos nós pelo amor? O que podemos fazer? Que extremos podemos chegar? Morrer por amor? Como Romeu e Julieta? E como Romeu ser enganado pelas circunstâncias e forçar a tragédia sobre nós? Aqui permanecerei eu. Aqui onde a minha carne não é mais que um capa desesperada. Aqui onde o céu desapareceu. Aqui onde o amor se perdeu. Aqui onde não devemos sentir o remorso. A culpa. O arrependimento. Aqui onde nem devemos sentir. Onde podemos atingir o insano. A demência. Porque não sentir é em si uma espécie de demência. Mas olham para nós como se fossemos nós os que não são sãos. E talvez seja isso mesmo afinal. Porque o amor pertence aos que não são puros. Aos não imaculados. E não ser puro é ser autêntico. E não ser puro é ser verdadeiro. Porque o amor pertence-nos a nós que temos dúvidas. Que matamos e morremos por amor. E a triste, triste face da minha juventude. Mas porque pareceu que era esta a única possibilidade? Porque me sentia sozinho? E se sinto solidão quando estou só quer isso dizer que sou à partida uma má companhia? E que a minha solidão te atingiu? Te consumiu. Chegou até ti como um vírus? E como sobreviver a isto? Erros antigos acabam por vezes por criar sombras enormes dentro de nós. E como viver com essas sombras? Através da mentira? E uma mentira puxa a outra. E nenhuma curiosidade acerca disso. E o que é a curiosidade sobre o outro realmente? Puxar aqui e ali pontas de segredos? Procurar os pontos fracos e fortes? As decepções? As ilusões? Ou o completo reverso? E quando a curiosidade atinge o seu fim o que resta? De novo a decepção? E não há maior decepção que a decepção do eu. Quando te disse que estava decepcionado deveria ter dito que estava decepcionado comigo. O que eu queria dizer era que estava triste. Deveria ter tido a coragem. E deixei o erro de julgamento cobrir tudo o resto. E tudo aquilo que nunca fui sensível. Que assumi como oferecido. Que não duvidei. Porque tu és a mais bonita mulher do mundo. E não importa se nunca notei quando punhas batom ou se te vestias de propósito para mim. O que importa é tudo aquilo que nós esperámos de nós. O que tu esperaste de mim. O que eu esperei de ti. O que eu nunca esperei de mim. Porque quando o amor encontra aqueles que não são puros. Os não perfeitos. Oferece-lhes uma via. Mas depois vem o medo. O medo é que nos mata. E a pessoa de quem temos mais medo é aquela a quem depositámos toda a nossa confiança. E temos medo de nós. Daquilo que somos ou não somos capazes de fazer. E o medo cresce até se tornar uma doença. A doença de ter medo de perder o outro e deixar de sermos nós. E desse modo acabar mesmo por perder o outro. O outro e nós. E não interessa o sexo. Sexo é apenas desejo. Uma comichão que precisa de ser coçada. Um arranhão que tem que ser dado. Uma dentada solta. Não interessa. Não resolve. Mas o amor. O amor é algo incompreensível. Que não se justifica. Que não se conhece. Que surpreende. É por isso que o medo é tão forte a combater o amor. Porque no fundo estamos todos quebrados por dentro. Com a alma em cacos. Que não conseguimos mais juntar. E é aí deixamos de ver o outro. Porque não nos conseguimos mais ver a nós próprios. E nesse momento não há ninguém que tenha a culpa. E não devemos forçar a culpa sobre nós próprios. O arrependimento. O remorso. “…You seem so far away though you are standing near / You made me feel alive, but something died I fear / I really tried to make it out / I wish I understood / What happened to our love, it used to be so good / So when you near me darling can’t you hear me? / S. O. S. / The love you gave me, nothing else can save me / S. O. S. / When you’re gone / How can I even try to go on? / When you’re gone / Though I try how can I carry on?” E as tuas palavras que me ecoam na cabeça. Acusações. Acusações que não eram acusações mas sim gritos desesperados de socorro. De compreensão. E as tuas palavras que me chegaram como setas. E eu surdo. E dizias que eu olhava para ti e assumia coisas que não eram verdade. Que toda a gente olha para ti da mesma forma. E que eu afinal também. Que tinhas vindo para esta terra tão cheia de esperança. Tão agradecida por deixar para trás um passado tão mau. E que eu, de toda a gente, devia conseguir ver o que as pessoas nesta terra não conseguem discernir. Que não percebem o modo como nos tratam. Mas eu deveria ser diferente. Que eu via a solidão. Via o isolamento. Via o modo como olham para nó. Eles olham para nós como se fossemos monstros. Porque eu, de toda a gente, deveria saber isso tão bem como tu. Porque, apesar de aceite numa qualquer comunidade de hipotéticos escolhidos, e independentemente de ser de cá, tenho um tom de pele diferente. Porque tenho raízes estrangeiras. E que eu deveria perceber o que é não ter terra. Não ter família. Ter sido abandonada ainda bebé. E o quanto custa tentar tanto fazer parte de alguma coisa aqui. Encontrar um espaço. O quanto custa e que custa tanto que por vezes se perde a respiração. O quão difícil é apenas ser. Apenas ser. Porque nem isso parece ser possível. As tuas palavras e o remorso. A culpa. O arrependimento. “When you’re gone / How can I even try to go on? / When you’re gone / Though I try how can I carry on?” 1. Abba – S.O.S. Nota: Por lapso não foi referido no episódio anterior (21) que a citação pertence a “Os Hinos à Noite” de Novalis. Pelo facto o autor pede as suas desculpas aos leitores.
Hoje Macau EventosExposição de arte contemporânea estreia hoje no MAM [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Museu de Arte de Macau (MAM) estreia hoje a mostra “Geometria do Universo: 3D e Trabalho de Multimédia por Akin Vong”. A exposição encaixa-se na “Macau Arts Window”, organizada desde 2012, que visa encorajar a criatividade e promover o desenvolvimento da arte contemporânea em Macau. Akin Vong nasceu em Macau. É ilustrador e, como tal, o seu trabalho desenvolve-se em várias áreas: média tradicional, imagens digitais e animação, design de iluminação e design para exposições temáticas. É também um dos vencedores do primeiro prémio nas categorias de Pintura e Escultura da Charriol Foundation Annual Art Competition e ganhou inúmeras bolsas, que lhe permitiram prosseguir os estudos em diversas partes da Europa e dos Estados Unidos. Em 2011 foi um dos vencedores do Hong Kong Ten Outstandig Designers Awards. Segundo o MAM, o artista combina vários elementos da geometria básica com o tempo, ritmo, padrões, tamanhos, criando um sem número de imagens nestes trabalhos. No mundo da geometria, Akin Vong vê um universo infinito, que evoluiu a partir de um ponto para uma linha, de um plano para um cubo. “Ele pensa que o universo é infinito. Numa simples gota de suor existem múltiplas criaturas microscópicas. Um homem tem a particularidade de poder ser muito grande ou muito pequeno, dependendo da perspectiva”, pode ler-se no comunicado. A inauguração da mostra, que apresenta os trabalhos, acontece pelas 18h30 , no terceiro andar do edifício do MAM e está patente até dia 25 de Setembro. O valor da entrada é de cinco patacas, mas aos domingos e feriados as visitas são gratuitas.