Cancro | Serviços de Saúde prometem relatório este ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) deverão publicar um relatório sobre o panorama do cancro no território no primeiro semestre deste ano, anúncio que foi feito ontem, no âmbito do Dia Mundial do Cancro.
Segundo o jornal Ou Mun, Chan Tan Mui, secretária da comissão de prevenção e controlo de doenças crónicas dos SS, confirmou a criação de um registo de doentes em 2003, sendo que o cancro do colo-rectal, do fígado e faringe são os tipos de cancro mais comuns em Macau. Em 2013, cerca de 713 pessoas morreram com esta doença.
“O cancro do colo-rectal tem sido o mais comum nos últimos anos em Macau, portanto o Governo já começou a criar um programa piloto, e o rastreio acabou em Janeiro. Os SS estão a estudar os dados e o relatório vai ser lançado no primeiro semestre deste ano, sendo que no quarto trimestre o Governo irá realizar o trabalho de rastreio para todos os residentes”, disse Chan Tan Mui ao Ou Mun.
A responsável garantiu que o cancro está ligado aos hábitos diários, para além de ser uma doença hereditária. “Os cidadãos devem alimentar-se correctamente no dia-a-dia e fazer desporto durante a semana”, rematou.

10 Fev 2016

Hotel Lisboa | Ministério Público exige mudanças na acusação

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a sessão de ontem do julgamento que coloca Alan Ho, antigo director do Hotel Lisboa, no banco dos réus, juntamente com mais quatro arguidos, o Ministério Público (MP) pediu aos juízes para alterarem a acusação de Alan Ho, Peter Lun, gerente do hotel, e Bruce Mak, chefe de segurança.
Segundo a Rádio Macau, o MP pretende que os arguidos passem a estar acusados pelo primeiro artigo do crime de exploração de prostituição, referente a pessoas que aliciem ou atraem outras para a prática de prostituição ou que explorem a prostituição de outrem, ainda que com consentimento. Já o segundo artigo, pelo qual os arguidos estavam acusados até então, faz referência a quem angaria clientes para prostitutas, com ou sem pagamento.
A mudança na acusação pode implicar uma pena de prisão entre um e três anos. Os advogados de defesa têm agora dez dias para responder ao MP. A Rádio Macau noticiou ainda que ontem foi o último dia em que as testemunhas foram ouvidas. Um vice-gerente de recepção do Hotel Lisboa confirmou outras informações já ditas em tribunal em relação ao departamento das “Young Single Ladies”, nome pelo qual eram conhecidas as prostitutas que frequentavam o 5º e 6º andar do Hotel Lisboa. Este funcionário confirmou novamente que Alan Ho, Kelly Wang e Peter Lun geriam este espaço.

10 Fev 2016

Fernando Gomes diz que aumentos já poderiam ter sido resolvidos

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ernando Gomes, médico do hospital público e presidente da Associação dos Médicos dos Serviços de Saúde (SS), disse à Rádio Macau que os aumentos de salários da classe poderiam ter ficado resolvidos há seis anos, já que em 2010 foi feita a última revisão das carreiras. Para Fernando Gomes, os médicos deveriam ter carreiras próprias na Função Pública, tal como acontece com os professores da Universidade de Macau ou os magistrados.
“Seria a melhor forma para contornar esta barreira limitativa que, no fundo, impede um ajustamento condigno, sério e visionário. Mas parece que não houve um entendimento ou uma percepção dessa questão. Alertámos que, nos próximos anos, iríamos ter sérios problemas”, disse Fernando Gomes.

Diferenças abissais

“Um consultor ou um chefe de serviço em Hong Kong ganha cerca de 2,5 vezes mais do que se ganha em Macau”, disse o responsável, que explicou que, segundo os actuais índices de carreira, um médico consultor no primeiro escalão, em regime de exclusividade, não ganha mais do que 95 mil patacas. Já um chefe de serviço ganha menos de 105 mil patacas. “Agora, estamos em ruptura iminente, não só em termos de pessoal – está a ser colmatado, muito bem – mas também em termos de espaço físico”, disse Fernando Gomes à Rádio Macau, referindo-se aos recursos humanos.
Em relação à futura Academia de Medicina, Fernando Gomes disse que questiona quem vai dar a formação aos alunos. “(A academia) tem de ter uma capacidade formativa e produtiva com qualidade”, acrescenta o responsável, que gostaria também de saber se os médicos dos Serviços de Saúde vão ser chamados a participar nas actividades do futuro projecto.

10 Fev 2016

Kuomintang analisa resultados eleitorais e diz que perdeu apoios

Depois da estrondosa derrota eleitoral, os herdeiros da Aliança Revolucionária, reuniram-se para perceber o que correu mal e chegaram à conclusão que perderam o apoio do público

O Kuomitang, um dos partidos mais antigos e ricos do mundo, publicou ontem um relatório sobre a pesada derrota nas eleições de 16 de Janeiro.
No relatório, apresentado na quarta-feira, à porta fechada, na reunião do seu Comité Permanente, foram identificadas como principais causas da derrota os erros na “adopção de políticas pelo governo”, muito impopulares, a “falta de comunicação eficaz” e discórdias internas.
O KMT, que controlou o Parlamento (Yuan) até este ano, mas não a presidência de 2000 a 2008, teve um claro apoio popular até 2012, data em que venceu as eleições presidenciais e legislativas, refere o relatório, citado pela agência Efe.
Segundo o documento, desde 2012, uma série de políticas, como os impostos sobre as receitas de capital, a subida dos preços do gás e da electricidade e a tentativa de forçar a aprovação legislativa de um acordo de serviços com a China beliscaram a popularidade do KMT.
A morte em 2013 de um soldado por castigos excessivos pouco antes do final do seu serviço militar, vários incidentes de segurança alimentar, os altos preços da habitação, o aumento do fosso entre ricos e pobres e a paralisação dos salários inflamaram a ira pública, de acordo com o relatório.
Não valorizar a influência dos meios de comunicação social e fóruns da Internet, é outro dos pecados elencados, o que fez com que perdesse a oportunidade de manifestar e clarificar a sua posição, criando uma brecha com a opinião pública.
A falta de consenso interno, a má distribuição dos benefícios da aproximação económica à China e o incidente da cantora taiwanesa Chou Tzu-yu, que sofreu pressões por parte da China depois de exibir uma bandeira nacional num programa de televisão da Coreia do Sul, em vésperas das eleições, também contribuíram para a derrota eleitoral, segundo o relatório.

Agora vai ser mais difícil

“O KMT depara-se agora com desafios mais difíceis do que quando perdeu, pela primeira vez, as eleições presidenciais em 2000, e temos de enfrentar o facto de que perdemos o apoio do público”, conclui o documento.
O KMT, fundado na China em 1911, foi o principal impulsionador da revolução chinesa do ano seguinte, a qual colocou um ponto final à dinastia imperial Qing e estabeleceu a República.
Depois de perder a guerra civil com os comunistas em 1949, o partido mudou-se para Taiwan, onde governou de forma autoritária até à década de 1980, avançando depois para a transição democrática. Desde as primeiras eleições legislativas democráticas (1992) e as primeiras presidenciais directas (1996) até 2000, o KMT controlou a presidência e o Parlamento da Ilha Formosa e só perdeu a maioria parlamentar no mês passado.

10 Fev 2016

Ex-editor do Diário do Povo arrasa censores

Uma das principais vozes do movimento de reforma da era de Deng Xiaoping e ex-editor delegado do Diário do Povo avisa que a supressão da diversidade de opiniões está a prejudicar a reforma

‘Estão a ir longe demais” disse Zhou Ruijin, também conhecido pelo pseudónimo Huang Fuping, acusando os chefes da propaganda chinesa de intervirem demasiado. Estas declarações surgiram no sitio Ifeng.com e foram retiradas de um conjunto de comentários do reformista publicados o mês passado no continente.
Zhou emergiu no princípio da década de 90 assinando crónicas em defesa da politica de reforma de Deng Xiaoping quando a China vivia um período de profundo conservadorismo político e tornou-se numa voz muito influente.
Esta critica à acção dos censores surge numa altura em que as autoridades chinesas têm vindo a apertar o cerco aos média e a intensificar a propaganda ideológica no continente. Zhou concorda com o Presidente Xi Jinping na necessidade de aumentar os esforços de propaganda mas acha que os responsáveis da censura estão a ir longe demais, dizendo que o que se vive agora é “uma discrepância da ideia de reforma”. E vai mais longe: “Para ser franco, alguns líderes da propaganda do partido gerem a imprensa como se fosse um horário de comboios, intervindo directamente na abordagem e nos procedimentos da produção de notícias. Alguns chefes da propaganda … até dão ordens como se fossem editores de jornais.”

Acção intensa

Pequim tem vindo a aumentar o controle sobre os média e a internet desenvolvendo em simultâneo uma agressiva campanha ideológica. As universidades Chinesas foram obrigadas a banir livros que promovessem os valores ocidentais e membros do partido punidos por “comentários impróprios às politicas do governo central”, lê-se no artigo do Ifeng.com. Uma grande quantidade de gente, onde se incluem celebridades e advogados dos direitos humanos, têm vindo a ser obrigados a desfilar nas televisões estatais para confessarem alegadas ofensas mesmo ainda antes de terem sido ouvidos em foros judiciais. Zhou opõe-se a esta abordagem administrativa “hiper-simplificada e mesmo crua” para lidar com os problemas, tais como as “vagas de campanhas, supressões estritas e humilhações públicas”.
Segundo o reformista, “intervir com um violento aparelho [de estado] à mínima provocação, pedir aos média públicos que sirvam de magistrados, deitarem websites abaixo, apagarem mensagem nas redes sociais e bloquearem contas vão contra a tendência corrente da campanha de um Estado de Direito”, acrescentando que “numa fase de transição social é normal que existam visões diferentes e discussões no campo ideológico e que o público emita as suas opiniões sobe o aprofundamento das reformas. Devem ser guiados e não reprimidos”, sentencia. Vai ainda mais longe dizendo que “a liberdade de expressão dos cidadãos, conforme garantida pela constituição, deve ser protegida” e que “o tempo da opinião pública uniforme é coisa do passado.”
Para além de Zhou, dois outros reformistas influentes – Shi Zhihong and Ling He – escrevem sob o pseudónimo Huang Fuping.

10 Fev 2016

Hélder Beja, sub-director do Rota das Letras: “Vamos ter Bocage neste festival”

Com mais autores de língua inglesa, a quinta edição do festival Rota das Letras mostra que a internacionalização é o caminho a seguir, bem como o reconhecimento aos clássicos autores chineses e portugueses. Hélder Beja garantiu que, a par de Camilo Pessanha, também Bocage será recordado

[dropcap]U[/drocpap]ma ideia pensada desde o inicio transforma-se cada vez mais em realidade. A quinta edição do festival literário Rota das Letras começa também a pensar nos autores ingleses vindos de vários lugares do mundo e com diversos tipos de escrita. Jane Camens, da Austrália, Bengt Ohlsson da Suécia e Jordi Punti de Espanha são alguns dos nomes que provam isso mesmo. Pelo meio, Macau vai receber dois poetas filipinos, Ângelo R. Lacuesta e Mookie Katigbak Lacuesta, por forma a responder a uma das maiores comunidades aqui residentes.

Ao HM, Hélder Beja, sub-director e programador do festival Rota das Letras, fala de um encontro que se irá pautar ainda mais pela diversidade de palavras e de ideias. “Ao fim de duas edições começámos a perceber que era o que fazia sentido, avançar para um modelo que fosse ao encontro dos autores de língua chinesa e portuguesa, mas que se estende a outras nacionalidades”, disse em entrevista.

“Queremos posicionar o festival como sendo verdadeiramente internacional, para conseguirmos estar a par de outros festivais e fazer parcerias. A ideia de responder a outras comunidades existe, mas não é a dominante. Queremos trazer autores de outras proveniências e tornar o festival cada vez mais rico”, apontou Hélder Beja.

Para fazer esta edição, a direcção do festival decidiu desafiar Rui Zink e Lolita Hu, autores convidados de anteriores edições, para serem “padrinhos” e escolherem alguns escritores. Foi Rui Zink, por exemplo, que propôs o nome de Bengt Ohlsson.

“Vamos abrir a discussão a outras nacionalidades e a outras literaturas, que também são bastante ricas. Na Europa do Norte são mais conhecidos pelos trillers, por exemplo, e isso pode ser um processo importante para Macau”, garantiu Hélder Beja.

Parcerias a caminho

Se no início caminhava sozinho para construir um evento que une várias culturas, hoje o Rota das Letras é cada vez mais contactado por outras entidades do meio literário para parcerias e participação de escritores. Foi o que aconteceu com Jordi Punti e Owen Martell, por exemplo. “É uma coisa que nos vem acontecendo cada vez mais, e são solicitações que não implicam investimento da parte do festival. Com diferentes nuances conseguimos encontrar uma forma inteligente de internacionalizar o festival, sem queimar muitos recursos”, explicou o sub-director do evento.
Do lado luso, o destaque vai para Matilde Campilho, a jovem autora que foi a que mais livros vendeu no Festival Literário do Paraty, no Brasil. Nascida em Lisboa, Matilde viveu no Rio de Janeiro e os seus poemas ousam misturar palavras em inglês com o português de Portugal e do Brasil.

“Antes de ela ter o brilharete em Paraty já tínhamos pensado nela. Quando as notícias do Paraty saíram, tomámos uma decisão. Há uma nova geração de poetas da qual ela é apenas uma das representantes, mas acho que faz sentido. Ela é a grande estreia da literatura dos últimos anos”, confessou Hélder Beja.

Apostar nos clássicos

A quinta edição do Rota das Letras vai recordar Camilo Pessanha, autor intimamente ligado a Macau, com a presença de Paulo Franchetti, Daniel Pires e Pedro Barreiros, académicos que estudaram os poemas de Pessanha. Mas a ideia é lembrar também o poeta português Bocage.

“Bocage esteve em Macau e estamos a preparar alguma coisa, que vamos avançar em breve. Vai haver Bocage neste festival”, garantiu Hélder Beja.

Lembrar os clássicos será uma nova aposta do Rota das Letras. “Não pensamos em fazê-lo todos os anos, mas quando houver um motivo muito óbvio iremos fazê-lo. O festival tem de ter esse papel, mas temos de trazer para o presente autores que estiveram em Macau ou que têm uma relação com Macau, e que estão um pouco caídos no esquecimento. Vamos fazer esse trabalho para o Pessanha e Bocage, por exemplo, mas também para outros autores de língua chinesa”, disse o sub-director.

Luís de Camões, autor também ligado a Macau, será também recordado com o espectáculo de António Fonseca, que fará um monólogo com os poemas de Os Lusíadas. “O festival volta às artes de palco, o ano passado não teve em português, este ano vai ter com um monólogo. É notável poder ver um homem que decorou os Lusíadas todo. Acho que vai ser um momento bonito deste festival”, considerou.

O regresso ao Fado

Depois dos concertos de Camané e Aldina Duarte, a direcção do Rota das Letras sentiu que tinha de regressar ao tradicional Fado, com a presença de Cristina Branco. “Tínhamos de voltar ao Fado, e em cinco edições vamos ter três com Fado. O maior desafio é inovar, mas também diversificar. Do lado chinês tivemos uma movida mais jovem o ano passado, mas para o ano podemos trazer de novo um rapper ou um cantor de intervenção, por exemplo”, referiu.

Prestes a estabelecer uma parceria com o Festival Literário Internacional de Hong Kong, o Rota das Letras cada vez mais atravessa fronteiras, mas ainda não atingiu a desejada maturidade. “Ainda há muito para fazer, acho que o festival caminha para a maturidade, mas ainda não chegou lá. O festival precisa de uma estrutura que acompanhe o festival ao longo do ano, ainda mais profissionalizada”, rematou Hélder Beja.

10 Fev 2016

Macaco subindo a montanha

Ontem, 4 de Fevereiro celebrou-se o Princípio da Primavera (Lichun) e pelo Calendário Chinês começou o ano de 4653, numa contagem do tempo cujo início é 2637 a.n.E., mas apenas criada em 2317 a.n.E., durante o reinado do Imperador Yao, quando o ano tinha 365,25 dias. Em 1100 a.n.E., mediante observações do Sol estabeleceu-se com exactidão a posição do Solstício de Inverno. Desta maneira, a invenção de um sistema de termos solares foi sendo elaborado através dos tempos, a partir de observações dos astrónomos. Os termos estão directamente ligados à eclíptica do Sol e são indicadores das estações do ano e entre estes 24 termos estão os dois solstícios, os primeiros a ser estabelecidos e depois, os dois equinócios. Estes termos solares foram gradualmente reconhecidos por volta do século III a.n.E., quando Lu Shi Chun Qiu os compilou. Mas foi no livro Huai Nan Zi, de 120 a.n.E., que todos os vinte e quatro termos ficaram mencionados e assim estabelecido o Calendário Solar do Agricultor. Nele as datas são fixas, sendo o início da Primavera a primeira grande festa que marca o ciclo de um novo ano agrícola e calha no dia 4 de Fevereiro, por vezes no dia 5, se houver ajustamentos no calendário.
A China oficialmente faz uso do calendário gregoriano desde 1911, apesar de ter o seu Calendário Solar Agrícola definido desde o século II. Mas é pela combinação do Calendário Solar com o Lunar que ao fim de 60 anos o ciclo se fecha. Segundo o que refere o Anuário da Administração de Macau do ano de 1927, no Calendário Lunar “o dia principia à meia-noite, a semana tem sete dias e os meses são de 29 ou 30 dias. Fazem os meses de 29 dias as luas pequenas e os de 30, as luas grandes. O ano consta ordinariamente de doze luas, seis pequenas e seis grandes, perfazendo todas 354 dias. A primeira Lua do ano é aquela durante a qual o Sol atinge o signo Pisces ou dos peixes; o Equinócio de Primavera cai durante a segunda Lua; o Solstício de Verão durante a quinta; o Equinócio de Outono durante a oitava e o Solstício de Inverno durante a undécima.”
É pela interacção entre os dois calendários, o lunar e o solar, que o calendário chinês foi criado e este move-se em ciclos, com duração de sessenta anos, tendo-se iniciado o actual ciclo em 1984 e finaliza em 2043. O nome do ano é proveniente da combinação dos dez Troncos Celestes (em mandarim Tian Gan, ou Tin Kon em cantonense) com os doze Ramos Terrestres (Di Zhi em mandarim, Tei Chi em cantonense). Assim a combinação entre os ciclos, um de dez anos (Tian Gan) e outro de doze anos (Di Zhi), leva sessenta anos para se completar, ao fim do qual se volta a repetir pela mesma ordem. Os dez Troncos Celestes (Cinco Elementos – Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água, duplicados) combinam-se com os doze Ramos Terrestres (tantos quantos os animais que responderam ao chamamento de Buda: Rato, Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco) e é assim que os anos luni-solares chineses se formam.
Cada um dos doze animais do zodíaco é regido por um dos cinco elementos e por uma qualidade, yin ou yang e é dessa combinação que se transforma num tipo especial de animal, havendo para cada um, cinco diferentes subtipos, conforme o elemento a que está associado.
Este ano tem o Tronco Celeste, Bing (Ping), Fogo, combinado com o Ramo Terrestre Shen, que representa Macaco subindo a Montanha. Logo é o ano do Macaco e do Elemento Fogo e no ciclo de 60 anos corresponde ao 33.º ano do 78.º ciclo chinês indicado pela expressão Bing Shen (丙申, em cantonense Ping Shan), que combinados criam Água Dourada.

As ondas do Macaco

A 8 de Fevereiro de 2016 realizam-se as Festividades ao Novo Ano (Chunjié em mandarim, Tchôn Tchit em cantonense), quando se dá as boas vindas ao Ano do Macaco.
Como o Princípio da Primavera (Lichun) aconteceu quatro dias antes do início do novo Ano Lunar e o ano do Macaco terminará a 27 de Janeiro de 2017, logo sem contar o dia 4 de Fevereiro, o dia do Princípio da Primavera, diz-se ser um ano cego. É bom para viver em conjunto, mas não para casar, já que para a maior parte das pessoas, não trará descendência. Por isso deixe essa acção para ser realizada em 2017, que terá dois Lichun e ainda mais um mês intercalar.
As características do Macaco, inteligente e astuto, regulam o ano. Compreender-se no Espaço que ocupa, lendo o que à sua volta se passa pelos pormenores e não pela forma geral que imediatamente alcança, leva essa perspicácia a avaliar o momento com grande agudeza. Assim está para este ano regulado o Céu pelo Todo, nós, que é o estar englobados e não ser individualmente globalizados.
O Tai Sui, (em cantonense Tai Soi, o Deus que superintende o ano, de um ciclo de sessenta anos) que rege este ano lunar de 2016 é o Capitão Guan Zhong, que traz muitas e grandes ondas e significa mudança.
Os signos dos quatro animais que este ano estão bafejados pela sorte, são Búfalo, Porco, Cabra e Coelho. Para as pessoas dos signos chineses do Macaco, Rato e Galo, o Tai Sui deste ano não as vai ajudar e por não terem a estrela da sorte a protegê-los, devem preparar-se para dificuldades, mas o ano não será muito mau. Para os nativos de Tigre, Cavalo e Cão é um ano de grandes mudanças e para os de Serpente e Dragão, não vai haver alterosas vagas, será um normal ano.
O ano é de Shen = Macaco e Hóu = Fogo e assim teremos um ano de Fogo amansado pela Água criada em Bing Shen.
Tendo passado os três anos de Fogo, este ano de 2016, com Bing Shen criando água, começam os dez dourados anos, início de uma nova Geração.
Água e Fogo são o necessário para a criação, sendo por isso um ano para iniciar algo para os próximos dez anos.
É necessário voltar a encontrar uma direcção e para isso, é importante mudar o sentido do coração. Já não será o desejo de dinheiro, pois os ricos irão perder a força para realizar mais e os pobres, que não o têm e não importa o quão trabalham nunca o terão. Sente-se agora o que é deveras importante, a necessidade de ter um espírito de solidariedade fora da visão materialista. Este é o problema para o qual todos os governantes dos países irão tentar encontrar a solução. Mas até hoje não apareceu ainda alguém que se apresentasse para liderar as energias do mundo nessa direcção e esse, é o verdadeiro desastre do mundo actual.

Ano de Mudança

O ano de 2016 é de mudança, por isso de viagens, mudar de emprego e de casa, ou talvez emigrar. Há dois temas importantes para ter em conta. Uma acção terrorista, que pode acontecer em qualquer lado e a segunda, tomar cuidado com os meios de transporte e os locais para onde viaja e perceber se são seguros, ou se é uma zona sensível.
Baseado no Livro Di Mu Jing, o que ocorrerá no ano Bing Shen:
– de certeza haverá problemas com a água, porque Bing e Shen criam água.
– A agricultura vai sofrer com desastres naturais, o que vai trazer problemas para a alimentação.
– Epidemias trarão a morte a humanos.
No entanto, baseando nos Caminhos para Oeste, teremos o Macaco a proteger o Mestre do Dharma e não esquecendo que este é o primeiro dos próximos dez anos dourados, não teremos que ficar preocupados.
A estrela Wu Huang (Cinco Amarelos), que traz obstáculos, problemas e conflitos, está este ano localizada na direcção Nordeste, o que poderá significar problemas na Coreia do Norte e EUA. Já os Er Hei (Dois Pretos) Bing Fu (que representa doença) encontra-se na direcção meio, estando por isso o perigo baseado no Médio Oriente.
Há probabilidade de alguns desastres aéreos. Três grupos em Fogo, Americanos, Japão e EI e as armas de fogo estarão na ordem do ano. Este e o próximo ano são de guerra.
Os aparelhos eléctricos aumentarão a intensidade do Fogo e desequilibrarão o fogo que envolve o mundo. Ano para se ter muito cuidado com os olhos, por isso, não passe muito tempo defronte das máquinas cuja luz atinja os seus olhos e vaguei-os com a Luz que deles irradiam pelo vivo da Natureza.
Em 2016, o feminino ganha grande poder e mais países passam a ser governados por mulheres. Na Europa, vai ser um ano de assaltos e violações e os anjos tornam-se demónios.
Quando ao entrar no ano do Macaco, significa que já passaram os três anos de forte Fogo e este ano de água, significa que as coisas irão melhorar, mas será necessário muito cuidado com as epidemias (doenças, vírus…), continuando os desastres naturais, mas sem a força do último ano. Prevê-se grandes cheias, em rios e oceanos.
Os anos de Macaco são de terríveis tremores de Terra, como os ocorridos em Gansu a 16 de Dezembro de 1920 com 208 mil mortos e em 26 de Dezembro de 2004, acompanhado por tsunami no Oceano Índico, com 200 mil mortos. Para este ano de 2016, Outubro é preocupante no campo dos atentados terroristas e em Dezembro, com algo parecido com o que ocorreu em 2004, talvez para pior no campo dos tremores de terra, que segundo Li Ju Ming (Lei Koi Man em cantonense), a quem nos socorremos para preparar estas previsões, se espera que não aconteça.

Para tomar resoluções

Pelo calendário solar, as pessoas que nasceram no período compreendido entre:
– 19 de Fevereiro e 4 de Maio, precisam do Elemento metal. Meio ano vai ser bom e o outro meio menos bom. A melhor direcção é Oeste. Na Primavera e Outono, precisam de ter cuidado com os pulmões e coração. Entre os períodos de 4 de Fevereiro a 4 de Abril e 6 de Junho até 6 de Agosto, metal está muito baixo, logo estas pessoas devem ter muito cuidado com os investimentos, finanças e importantes decisões. Por isso, não tome decisões e guarde-as para o período auspicioso entre 8 de Agosto a 8 de Setembro. Deve evite tomar decisões entre as onze horas e as três da tarde, sendo o melhor período das 15 às 19 horas. Para quem está carenciado do Elemento Metal, as melhores cores são o branco e o dourado, a pior é verde, por isso use roupas com essas cores. Quanto à comida, bife e galinha são os melhores pratos.
– 5 de Maio e 7 de Agosto, tem carência do Elemento Água, mas comparado com os dois últimos anos, este ano vai ser melhor. Na Primavera e Verão a água rareia e por isso, deve nesse período manter-se paciente quanto aos investimentos, finanças e importantes decisões, sendo para tal entre 8 de Novembro até 3 Fevereiro de 2017 o período mais auspicioso. Durante a manhã não é bom tomar decisões, sendo o melhor entre as 15 e 19 horas e depois da 21 horas, quando a cabeça está mais clara. Não se esqueça de beba muita água todos os dias e vá nadar. Se possível viaje para Oeste de barco, o que lhe poderá trazer uma grande ajuda. As melhores cores para usar são o azul, branco e preto, devendo evitar o vermelho. Todo o tipo de peixe é bom para a sua alimentação e evite grelhados e pimenta.
– 8 de Agosto e 7 de Novembro, precisam do Elemento Madeira. A Primavera será o melhor período, assim como entre 8 Novembro a 6 de Dezembro. Já entre 8 de Agosto a 6 de Novembro não arrisque a investir e cuidado com a saúde. A direcção auspiciosa é Leste e Sudeste, devendo evitar o Nordeste. As melhores horas são as da manhã até às três da tarde e daí até às 19 horas é um mau período para tomar decisões. O verde é a melhor cor. Deve comer porco e vegetais.
– 8 de Novembro e 18 de Fevereiro de 2017, precisam do Elemento Fogo. De 8 de Novembro até 3 de Fevereiro de 2017 é um período de grandes ondas e por isso deve ter cuidado com os investimentos, finanças, decisões importantes e viagens. O melhor momento para realizar tudo isso é entre 6 de Junho a 6 de Agosto e de 9 de Outubro a 6 de Novembro. As melhores horas são entre as 9 e as 15 da tarde. Cuidado com os olhos, coração, sangue entre 6 de Maio e 4 de Junho. A direcção auspiciosa é Sudoeste e Sudeste. Viajar de comboio é uma grande ajuda. A melhor cor para usar é o vermelho e evite o preto. Coma carneiro, café, chocolate e beba vinho tinto, mas evite bebidas e comidas frias.
Lembre-se que só deverá expressar cumprimentos de Bom Ano, quando já estiver no Ano do Macaco.

10 Fev 2016

Insignificante. Como uma bomba

António. Acorda, homem. Acordo. Mas nem sei se dormia de facto. Olho estremunhado e honestamente sem entender. Logo num primeiro plano, onde estou. Num segundo instante, quem é, e quem sou. E numa terceira tentativa de manter o pé, porque haveria de acordar. E para quê. O que há aqui, num primeiro instante, sem saber onde estou e que lugar da consciência do mundo seria este, por exemplo. Num segundo momento, para cumprir que excentricidade do universo e de pessoas que me acordam aos gritos – as pessoas aos gritos, e são muitas, perturbam-me sempre para além da perplexidade – a quem faço falta no estado lastimoso em que sou. Essa uma questão de sempre. Num terceiro degrau do acordar abrupto, mais abaixo, e como tal a tocar de perto uma aproximação de um eu em alvoroço, vindo de dentro de um sono profundo, àquilo que começo a sentir nos ossos, nas pálpebras e no estômago, que de súbito se revoltou, como que dos gritos selváticos, num ronco borbulhante, talvez de fome, afinal. E, de repente, estou completamente acordado. De pé, de um salto e reposto nesta normalidade de mundo, que é o meu café dos dias ímpares. Dos dias pares. E dos outros, porque a limpeza no lar de velhinhos falhou. Faz-me ainda impressão chamar “lar” a um sítio estranho, em que se vive com gente estranha. Penso no meu velhote e penso que não lhe vou fazer isso. Enquanto puder. E lá, não hão-de ser os desgraçados a fazê-la. Mas sem dinheiro, salta o António e fica a gestão da despensa, que apesar de tudo é a prioridade. E vão continuar a acumular-se esparsos cabelos brancos no chão. Mais um botão ou outro que ninguém iria coser. Mais um brinco partido de tão gasto. Mais um lencinho de pano muito enroladinho e assoado, atrás duma cadeira. Mais metade de uma bolacha surripiada ao lanche para as horas mortas. Um rebuçado peganhento do calor de vários verões, que alguém ofereceu como a um cavalinho…
Não fosse a exaustão já anterior e continuava a varrer-lhes os cabelos do chão e a apanhar-lhes os óculos remendados com fita-cola, que não funciona mas os faz continuar a ter a ilusão de que têm óculos. E a fingir que não vejo como escondem nos cantos das cadeiras desconfortáveis aqueles saquinhos de plástico já muito enrugados e baços, onde parece resumir-se o historial de uma vida, simbolicamente ajuntada em meia dúzia de objectos que às vezes não passam de um botão caído não sabem de onde, uma moeda de dois euros deixada pela filha, um pente sujo, um postal daquela excursão à Ericeira, muito comido nos cantos e que era para mandar a alguém, mas que sabendo ou não, depois se esqueceu, e três papéis irrelevantes, dobrados e rasgados nas dobras, que ainda sonham dizer respeito a uma vida, de cujas burocracias ainda depende uma falsa noção de domínio, de pertença e de continuidade. De existência. Segredos, que talvez já nem saibam como e quanto insignificantes e ilusórios são. Símbolos de segredos, que já não têm uma carteira ou uma bolsa decente em que se façam valer.
Mas por agora, não há mais limpezas no lar dos velhinhos. Azar. O meu também, porque era um reforço ao orçamento.
Aprumo as costas não vá o patrão avançar a mão no meu pescoço, num ímpeto que ele até pode fingir achar de paternalismo e com a ternura possível à sua alma rude e violenta, mas que me sabe mal. E sempre. Cai-me como sempre todo o resíduo recente da memória em cima, atulhando-me a consciência que volta, de um laivo amargo de desilusão porque aqueles imprecisos temores de que a verdade é só uma, aquela e insinuada desde a raiz da vigília, lá bem do fundo, de forma a, no primeiro momento de confusão de acordar, ainda poder parecer fantasia, mas logo cai tudo de chofre e é mesmo a verdade que ela se foi. Há muito. Depois lembro-me que há qualquer coisa. Outra coisa que custa a voltar dos fundos do ânimo. Sim. Ela. Mas outra que não a que foi. Esta, ainda não é. Só aquele sonho que nem o de ser de algum modo a realidade possível, mas tão só de o ser, e me acompanha. Mas não tão enraizado como a memória de ela. Da outra que se foi para melhor. Pensou ela. E eu também, na minha insignificância, que sempre vê o mundo maior do que ele é. E nele, todos os outros, mais do que eu sou. Mas que raio. Ainda não vai ser hoje que digo ao patrão com todas as letras porque é que não me pergunta o nome. O meu nome. Que raio. Que António é que nunca foi nem sei de onde veio esta ideia. Apre. E recaio de novo naquela calma apática, a poupar energias para o resto do dia, que parece sempre ser demasiado. E grande. Se ela aparecesse agora, mas não é a hora dela, não era a melhor altura. Nunca é. Fica sempre aquém do que espero quando estou longe de isso acontecer. Pequena, modesta, impenetrável. Como a quereria. Não fosse este vacilo que sempre me dita um alheamento, uma inexistência em que a adivinho ver-me. E assim não há olhar possível. Quem não existe não olha.
Agora vem a parte melhor, que isto do acordar tem camadas. Como um fogo que se me propaga à alma, se espalha no rosto que sinto corar, e no pescoço que transpira abundantemente, bovinamente, digo, não fosse eu uma fraca figura de um metro e cinquenta e dois, já a contar com os saltos dos sapatos do casamento, enfim, quê…três centímetros a retirar ao registo legal, e lembro-me que hoje trouxe a carta. Porque dizer-lhe – entendi há muito – nunca vou dizer. Nem olhar, sequer. Mas a carta queima-me o bolso das calças ao ponto de olhar para baixo a ver se se vê. Sei lá. O fumo. Ou um buraco fumegante a alastrar. E nem seria bom de imaginar, porque são as que trago a uso para poupar as cinzentas escuras que são para o que der e vier. Festas, funerais e o mais que acontece a um homem. Mais os segundos dos que as primeiras. Mas já nem estes, que começam a escassear. Estranho. A questão é esta. Desatei a transpirar de nervos só de me lembrar a carta corrosiva dentro do bolso. Essa é que é essa. Já em casa, para me resolver a trazê-la, quase se diria que estava a entrega-la. O coração num alvoroço de enjoo. Não sei que fazer de mim que sempre fui assim. Entregá-la vai ser uma coisa linda de se assistir. Que é como quem diz. Porque o que queria era meter-me num buraco do chão, com uma mãozinha de fora quando ela passasse o tapete carcomido da entrada e estender-lha sem mais. Depois, estou sempre despenteado quando ela vem e é sempre sem esperar. A roupa, também não ajuda. Mas o pior sou eu. Só de me lembrar do que vejo ao espelho todas as manhãs. Nada a fazer. Não é que ela seja nada de especial. Já a outra que se foi, não era. É que é amor. Antes também era. Eu sou assim. Mas ficou bem escrita. Saiu-me bem. Para falar não me desembaraço mas a sós com a esferográfica, a cabeça fica limpa por um instante. Só vale por isso. Sempre gostei de cartas de amor. Saem-me das entranhas e com o melhor que tenho e não tenho. E elas. Mas o amor é assim.
Levo de novo a mão ao bolso das calças e retiro-a bem dobrada em oito partes, para lha poder por na mão discretamente e como coisa sem importância. Que é. Reparo então que de tanto a tirar para lhe sentir a existência real, para me interrogar de novo se seria capaz de lha entregar como uma flor, sempre a coloco muito ao alcance da mão. Fico em pânico de imaginar deixá-la cair, perdê-la ali pelo chão. E empurro-a bem para o fundo do bolso, como quem aconchega um animal pequeno para não ter frio na noite longa do sono. Mas é nos cuidados que por vezes nos perdemos. Aguentei uma hora, bem medida no relógio, até consentir a mim próprio voltar a senti-la na mão. Vitorioso, exigi de mim mais uma hora, e depois, já como uma enorme sensação de alívio, dei ao meu ego a arrogância de a fazer esperar mais meia. E depois, bem, depois já não estava lá. Levando a mão bem até ao fundo do bolso, só um enorme rasgão no forro. Ou talvez afinal uma queimadura irremediável. Nem sei descrever o que senti. Primeiro, pensar – curioso, escrevi penar, primeiro – que se afinal ela viesse, mais uma vez eu teria que me corroer por dentro sem maneira de chegar até ali. Sem pretexto. Sem existência. Por quanto tempo mais, só ela poderia dizer. Em parte. Depois, como poderia recomeçar aquela carta que já não poderia repetir, e que sendo sempre já outra, me levaria a alma, o suor e o sangue de muitos dias até encontrar as palavras. Fugidias. Os ângulos particulares. A emoção. O sentimento o mesmo, mas dias diferentes. E depois o terror de que alguém a encontrasse antes de mim se a encontrasse. E a ela. Também. Dia após dia. Dizer-lhe as palavras que não digo.
O pior de tudo, no lar, era quando me pediam, com aqueles olhinhos, por vezes um pouco ramelosos, muitas vezes cronicamente lacrimejantes, imersos em cataratas, como uma fronteira da memória com o presente, para ler de novo aquela carta. Quase desfeita, mas para eles nunca o sentido. Suja, ilegível em alguns pontos. Saída daquele saquinho de plástico repetidamente arrumado nos seus parcos conteúdos. O pior ou o melhor. Talvez. Para eles. Em mim sobra a sensação de pânico, pela importância abismal que é a existência de cada palavra. Ou a não existência. E a estatística probabilidade de quase aleatoriamente ela ter ou não sido desenhada, por uma decisão impensada, ou demasiado remoída. E o peso que uma ou outra opção exerce no devir. O que fica. Para além de sempre.
Foi aí que encarei o patrão, entretanto recorrente na modorra do costume, a ver se…e encontrei-o desperto. A fitar-me de lado com um olhar escarninho. Um sorriso escarninho e pensamentos sem dúvidas igualmente escarninhos. Mau. Péssimo. O pior. Não queria acreditar. E dispus-me a morrer – afinal, de vez em quando tem que ser. E ele, na mão um papel dobrado, pequeno, insignificante. Como uma bomba.

10 Fev 2016

Gavetas e collants

Acabei de ler o artigo de opinião “Macaios, uni-vos! Um manifesto” de Fernando Eloy. (*) E achei-lhe uma certa piada.
Costuma-se dizer que “Quem classifica, classifica-se”. Precisamente por isso, raramente discuto assuntos em termos absolutos, com receio de ser mal interpretado, e também evito classificar ou dar nomes às coisas, sobretudo quando em causa estão assuntos sensíveis relacionados com a nossa identidade cultural.
Classificar é criar gavetas. Gavetas para meias, para cuecas, para calças, tentamos arrumar tudo na gaveta certa. Corre tudo bem quando de repente vem-nos parar às mãos um par de collants – e não sabemos em que gaveta colocar.
No contexto peculiar de Macau, o que não falta é collants.
Por essa razão fui sempre incapaz de dar nomes às gavetas – digo, aos diversos grupos de pessoas aqui de Macau – e muito menos àquela particular pessoa que sempre acreditei aqui existir e que tem para mim a fundamental característica que se reflecte nessa frase, tirada do mesmo artigo:
“Que me interessa a mim de onde vens ou para onde vais se aqui vives e aqui respiras, aqui te agasalhas e aqui procrias, se aqui comes e aqui amas, se aqui esmoreces e aqui rejuvenesces, se aqui estás, é tudo o que me interessa.”
No artigo essa pessoa é classificada como “Macaio”. Não que goste particularmente desse termo – aliás vários Macaenses com quem falei franziram as sobrancelhas pois essa expressão é, para muitos, depreciativa.
Esclareça-se todavia que essa pessoa não é necessariamente Macaense ou Macaio no “nosso” conceito – e não vou agora elaborar qual o “nosso” conceito dada a abundância de collants, mas é o que todos nós sabemos e aceitamos e que simultaneamente nos esquivamos de descrever por palavras para evitar limitar universos e deixar peças de roupa fora das gavetas.
Contudo, essa questão – a palavra Macaio – é para mim irrelevante pois ora interessa-me não tanto o nome que foi escolhido pelo autor do artigo para esse conceito, mas sim o conceito em si e a existência dessa tal pessoa em Macau com o perfil descrito.
Trata-se daquele que vive e que foi vivendo aqui em Macau ao longo dos anos e com quem partilhamos uma memória colectiva porque ainda se lembra do caminho das hortas para o Lok Iun, das noites no Mondial e no Moulin Rouge, da força destruidora do tufão Helen, do dia em que balas de Kalashnikovs varreram a entrada do hotel New Century, do chafariz do Largo do Leal Senado onde, à porta do restaurante Long Kei, o vendilhão dos bonecos de massa de arroz mantinha o seu pequeno negócio.
Essa pessoa encolheu os ombros e pouca importância deu às sábias palavras que lhe foram ditas por um veterano da terra: “Quem vem para Macau solteiro, casa-se. Quem vem para Macau casado, divorcia-se.”
Mas entretanto conheceu o(a) seu (sua) companheiro(a) de vida aqui em Macau. Foi aqui que amou, ou voltou a amar, e fez filhos. E diz a toda a gente, com orgulho, que os seus filhos aqui nasceram.
É fiel à sua Pátria – não interessa qual, mas é sempre distante. É um país espectacular, o seu. Mas quis o destino que aqui viesse parar porque veio ainda miúdo com os pais, ou porque tinha aqui um amigo, uma tia, um primo, um não-sei-quem que lhe arranjou um emprego.
Veio apenas para ver como eram aqui as coisas, talvez por dois meses, ou no máximo um ano – mas já aqui está há vinte ou trinta.
Nunca teve problemas em explorar as zonas antigas da cidade porque quando aqui chegou, ainda antes disto ser reinventado pela mais recente onda de investimentos estrangeiros, era esse o Macau que existia. Conhece bem, por isso, as Mariazinhas, a Rua da Palha, a zona dos Três Candeeiros e as ruelas todas com as lojecas onde se compra o tecido assim ou os botões assado. Tem também no seu passaporte o visto de entradas múltiplas para ir comprar os DVDs a Zhuhai.
Come com pauzinhos quando vai à tasca chinesa, pede lulas fritas com pimenta e piri-piri e mata a sede com uma Tsingtao, mas nunca em lata ou em garrafa individual: pede logo uma grande porque foi assim que aqui aprendeu a beber com os amigos.
Não se sente incomodado com o ar-condicionado exageradamente frio dos restaurantes – já se habituou a essa prática local e, afinal, sempre assim foi por cá, portanto também não vê nada de errado nisso. E se por acaso se sentir incomodado, também não tem problemas em pedir ao empregado para desligar o ar-condicionado porque o cliente pode e tem sempre razão.
Festeja o Ano Novo Chinês e já lhe sai da boca, com toda a naturalidade, o segundo “bom ano” do ano. No trabalho, em finais de Janeiro, diz repetidamente aos colegas: “vamos deixar isso pronto antes do ano novo”.
Finalmente, é também possível com essa pessoa desenvolver o seguinte diálogo:

A: Onde nasceste?
B: Moçambique.
A: És Moçambicano?
B: Fui ainda criança para Lisboa.
A: És Lisboeta?
B: Quer dizer, não sei… Vim para Macau adolescente.
A: Então sentes-te macaense?
B: Não sou Moçambicano, não sou Lisboeta… Sou português, é claro, mas já nem sei se era capaz de lá viver… Vivi mais anos da minha vida aqui em Macau do que noutro sítio. Portanto…
Pois que essa pessoa também não sabe ao certo o que é, mas tem noção da sua identidade nem que seja por negação – negação das outras suas possíveis identidades de origem.
Caríssimo leitor, se se sentiu identificado, não se preocupe pois talvez não se trate de coincidência – você é um par de collants.
E não pense que a descrição feita até aqui se encaixe unicamente aos collants de origem portuguesa. Porque, tal como diz o outro, a peça de roupa aqui em causa pode ser filipina, macaense, chinesa ou tailandesa. É isso que dá riqueza e colorido à textura social de Macau.
Não temos, por isso, de ser necessariamente unidos no sentido poético da coisa já que temos perfeita consciência e até assumimos que somos todos collants de cores e tamanhos diferentes.
De facto, até certo ponto, pouco ou nada interessa de onde somos ou viemos. Vivemos em Macau desde sabe-se lá quando e, sendo todos nós collants, quando estamos juntos acabamos por encontrar automaticamente a nossa química.
Foi sempre assim.

Sorrindo Sempre

Sobre essa coisa de não haver aulas por causa do frio, tal como dizia Diácono Remédios: “Não havia necessidade!”
Se está frio, então os meninos que se agasalhem melhor. Se ficarem doentes, então que fiquem – há medicamentos que curam gripes, certo?
Ou vão-me dizer que havia o risco de alguma criança morrer de frio na escola?
Atenção: também tenho filhos, preocupa-me e dói-me o coração quando ficam doentes.
Mas incomoda-me quando vejo pais que correm atrás dos miúdos nos parques com medo que caiam do escorrega ou que se magoem aqui ou ali. Esse nervosismo em excesso é muito típico de Macau e Hong Kong e aborrece-me porque impede que os meninos cresçam e se façam homens.
Estamos a criar flores de estufa.
Que depois, quando na idade certa têm de sair da estufa para prosseguir com os estudos, aiyaaaa, coitadinhos, não se adaptaram àquele país porque à noite há bêbados no autocarro e toxicodependentes no comboio, porque da faculdade até casa as ruas estão mal iluminadas, porque as salas de aula cheiram a mofo, ou porque… Faz muito frio.

Sorrindo sempre.

10 Fev 2016

A redondeza da bola

Dia 3 de Fevereiro foi noticiado que o colombiano Jackson Martinez foi transferido do Atlético de Madrid para o Guangzhou Evergrande, pela módica quantia de 42 milhões de Euros, batendo o recente recorde de 21 milhões de libras que o Jiangsu Juning pagou ao Chelsea pela transferência do brasileiro Ramires.
Se atentarmos que a Liga profissional chinesa, conhecida como Super Liga, foi fundada em 2004, produto da reformulação da Chinese Football Association Jia-A League, a notícia terá espantado o mundo ocidental pelo poderio financeiro revelado pelos clubes chineses, mas não a mim, se fizer uma viagem no tempo.
Nos inícios da década de 1970, a República Popular da China utilizou sabiamente a “diplomacia do ping pong”. Foi, assim, que em 1972 Richard Nixon se encontrou com Mao Zedong.
O recurso ao desporto foi, nesses anos de caminhada para a abertura, uma forma de afirmação. Após uma única participação nos Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952, a R.P.C. só voltou a competir em 1984, em Los Angeles. Recordo-me de na altura ter pensado que a China não iria aos Estados Unidos para passear. E, assim, o regresso saldou-se por 15 medalhas de ouro, 8 de prata e 9 de bronze, tendo ficado classificada em quarto lugar. Nessas olimpíadas emergiu Li Ning, o famoso ginasta chinês que destronou os japoneses e colheu três medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze.
A participação da R.P. da China nas competições desportivas mundiais e olímpicas foi ganhando cada vez maior projecção, sendo desde 1984 uma potência desportiva mundial em incontáveis modalidades, decorrente de um trabalho sério, planificado e estratégico.
A notícia que abre este escrito suscitou-me, de imediato, a vontade de reflectir sobre o modo como se operou a transformação em grande potência mundial do mais populoso país do mundo, e apetece utilizar a redondeza da bola para o fazer, à guisa de metáfora.
Toda a história da China está ligada à correcta utilização do poder, quer directamente do imperador quer, ainda, de estrategas como Sun Tzu e Zugue Liang, para apenas citar os mais famosos.
E sabendo-se que Xi Jing Ping gosta de futebol, constatar-se-á que, mais uma vez, e na senda da política de abertura de Deng Xiao Ping, a China recorre a jogadores e técnicos estrangeiros para desenvolver sectores do seu interesse, sem que isso afecte minimamente o prestígio dos clubes, antes lhes confere maior prestígio.
Foquemo-nos aqui perto, em Guangzhou, no Guangzhou Evergrande, só possível pela existência de uma economia socialista de mercado onde os bilionários são considerados heróis, por razões óbvias.
O Guangzhou Evergrande, agora Guanzhou Taobao Evergrande, é suportado por dois potentados. O Evergrande é um grupo imobiliário que opera em, pelo menos, cem cidades da China e possui 45.8 milhões de metros quadrados de terrenos, sendo presidente do grupo Xu Jiayin, o quinto homem mais rico da China, com uma fortuna avaliada em 7.2 mil milhões. Por seu lado, Jack Ma, dono do potentado Alibaba, vem conferir a esta parceria um poderio económico astronómico que fará empalidecer Abramovitch.
É assim que as coisas acontecem, à semelhança da grande dinastia Tang (618-904), quando não apenas convergiram para Ch’ang An mercadores árabes e judeus pela Rota da Seda, como também a sua grandeza e magnificência se exprimiu pela abertura a estudantes Confucionistas da Coreia e do Japão que vieram estudar e também exercer cargos no estrutura imperial.
Neste ressurgimento de poder económico e político que a China atravessa, pode-se constatar a grande visão não apenas dos seus dirigentes como, igualmente, dos investidores em todos os campos, nomeadamente o desportivo, chamando para junto de si jogadores e treinadores estrangeiros, assinando contratos com – por exemplo – o Real Madrid para a abertura de 75 campos de futebol para uma academia.
Todas as reconstruções devem fazer-se descomplexadamente, sem quaisquer laivos xenófobos, porquanto ir buscar o conhecimento onde ele está é um acto de sabedoria dado àqueles a quem a grandeza de espírito contemplou.
Em jeito de remate, veja-se quão empreendedoras e estratégicas são as empresas chinesas: a Ledman Optoelectronic Company, sediada em Shenzhen, sendo já patrocinadora da Super Liga e da Liga I Chinesa, assinou um acordo para patrocinar a II Liga Portuguesa, situação que gerou um mal-estar incompreensível quando em Portugal não se privilegia o jogador português.
Não sendo talhado para os negócios, não deixo de analisar com atenção os movimentos tipicamente chineses onde a subtileza ou o poderio se manifestam.
Estamos, claro, a falar de um país, segunda economia mundial, que atingiu a posição que ocupa em apenas 40 anos. O mundo pula e avança sempre que se vai buscar o conhecimento onde ele existe. Descomplexadamente.

10 Fev 2016

Sam Wong, dono de restaurante: “Macau era muito mais solidário”

Tem 59 anos, nasceu em Macau um ano depois da mãe chegar de Cantão e tem a terra profundamente embutida na sua mente: “Penso em Macau a todo o momento. É o meu país. Amo-o.”
Nunca teve sonhos por aí além, do género ‘que-fazer-quando-for grande’ bem, isto se deixarmos passar o gosto pela música, “era baterista aos 14 anos e participei em dois grupos. A primeira banda era de heavy metal”, que ainda hoje é o seu estilo preferido. Deep Purple a banda favorita, mas também os Dream Theatre ou os Styx, “sabe, sou da velha guarda”, explica. Mas como a música não dava dinheiro teve de seguir outro caminho e aos 19 anos acabou mesmo por descobrir o que viria a ser o seu sonho: trabalhar em restaurantes “porque posso falar com muita gente”.
Começou no restaurante do Hotel Sintra na posição mais básica do serviço, “apanhava copos e levantava pratos” mas conseguiu chegar a gerente, o que considera a sua melhor memória de Macau, “fiquei orgulhoso”, confessa, “comecei de baixo e depois acabei a mandar naquilo tudo”. Na altura, poucos mais hotéis de categoria existiam em Macau pelo que era uma posição de relevo. Até que um dia veio uma administração nova de Hong Kong e resolveu despedir toda a gente, “não fui só eu”, garante, “até o contabilista foi para rua. Queriam colocar o pessoal deles e mandaram-nos a todos embora”, explica.
Aí passou 20 anos. Estávamos nos meados dos anos 90 e foi para Sun Tak, quando ainda ficava a três horas de distância. Foi como consultor de um amigo que estava abrir um restaurante com sauna, karaoke e discoteca mas a coisa durou apenas dois meses, “não aguentava aquilo. As pessoas não tinham o mínimo de educação. Andavam à tareia todos os dias. Peguei no dinheiro e vim-me embora” foi o “Platão” por quatro anos e depois voltou ao continente onde teve um café em Zhongshan e, cinco anos depois, voltou decidido a reformar-se. “Não tinha muito dinheiro mas dava e estava farto de trabalhar”. Mas a reforma não era a vida boa que pensava e apenas durou nove meses: “Estava aborrecido de morte e resolvi procurar trabalho” o que encontrou no restaurante que agora dirige. Ao princípio, o dono ao ver o currículo achou-o demasiado qualificado, Mas Sam estava disposto a trabalhar, era perto de casa, bom horário e lá ficou como gerente. Durou um ano até o japonês resolver fechar o negócio. Não estava a dar. “Claro que não dava, o homem não percebia nada de restauração, não ouvia ninguém, nem o cozinheiro” explica.
Passado um tempo a irmã sugeriu-lhe pegar no restaurante, ele recuperou o cozinheiro, também japonês, ouvi-o, usou-lhe o nome para baptizar o restaurante e “agora está tudo bem. Mudámos o menu. Dei liberdade ao Tabuchi e temos muitos clientes.” Claro que o sucesso não passou despercebido ao antigo dono que ainda tentou reaver o restaurante mas não teve sorte, afinal de contas Sam estava realizar o seu sonho, “Sempre quis ter um restaurante, já tenho, por isso não tenho mais sonhos. O meu filho está a ir bem, está tudo bem. Não ganho muito dinheiro mas chega para ser feliz”, assegura.

Hong Kong? Não vou lá há 30 anos”

O Macau de antigamente “era uma maravilha”, recorda Sam Wong, “Muito melhor do que agora. Calmo, sossegado, relaxante… agora é uma loucura. Anda tudo cheio de pressa, só pensam em dinheiro… Macau era muito mais amigo, muito mais solidário. Agora é uma confusão de gente.”
O futuro, ou mudar algo em Macau nem o faz pensar, “Não faço a mínima ideia. A minha vida é casa, trabalho, casa. Vejo-os a discutir todos os dias no parlamento, cansa. A nova geração que se preocupe com isso.” Mas recorda com alguma saudade o Macau antigo e, claro está, restaurantes que não existem mais como o Wa Lok Iun e o Ma Ien Hong na zona da Almeida Ribeiro, ou os vendilhões de fitas que se espalhavam pelas ruas, “alguns tinha um ‘ngao lam min’ fabuloso”, recorda.
Em relação aos portugueses diz que são “OK. Tenho muitos amigos macaenses, quando nasci isto era português e todos nós nos habituámos e aceitámos os portugueses.” Hong Kong é que já um caso diferente, “não vou lá há uns 30 anos. Antes, quando precisávamos de alguma coisa mais sofisticada, tínhamos de ir mas desde há muito que não é preciso. Também não tenho nenhum amigo lá que vou lá fazer? Para a confusão? Não obrigado”, remata. Os casinos também não o fascinam de todo, “nunca lá meto o pé”, garante, “não gasto nem 10 patacas num sítio desses”. O dinheiro serve para outras coisas mais queridas “comida, música e álcool, é onde gasto o meu dinheiro” e ri-se a bom rir.
Antes de deixarmos a sua companhia quisemos saber se haverá algo que o faça ir a Hong Kong mas Sam Wong não conseguia lembrar-se de nada. ‘E um concerto de heavy metal?’, sugerimos, “hmmmm…. aí pensava duas vezes. Acho que sim, acho que isso me faria ir a Hong Kong. Se fossem os Deep Purple então… Mas o Phil Collins ou a Sade Adu também era possível que me convencessem.

10 Fev 2016

José Tavares, presidente do ID: “Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos”

O Instituto do Desporto está a entrar numa nova fase. Herdou actividades e estruturas do IACM e a organização do Grande Prémio de Macau e está decidido na aposta na alta competição. Uma conversa onde o presidente do organismo, José Tavares, pede mais iniciativa aos privados, chama os casinos à responsabilidade e sonha com o desfile olímpico

Como está o desporto de Macau?
Completamente diferente. Estamos na terceira fase de desenvolvimento.

Que fases são essas?
A primeira foi o longo percurso desde a fundação em 1987 para internacionalizar as associações locais. A segunda, os jogos e o investimento na formação de pessoal e construção de instalações. A terceira é esta: o pós-jogos, o legado. Com a nova rede de instalações pudemos dar acesso ao público pela primeira vez e não apenas a associações como antes.

Como se consubstancia esta terceira fase?
Elevar o Desporto Para Todos, completamente esquecido na fase jogos e trabalhar a sério o desporto de alta competição. No fundo, encetámos uma política de desenvolvimento desportivo e de sensibilização do público para a prática desportiva e o prazer de assistir a provas. Algo que falhou no período dos jogos. No futuro, se quisermos ter sucesso em organizações desportivas, temos de ter público.

O Instituto adquiriu recentemente novas competências. Que significado têm?
Representam uma oportunidade para reestruturar, para evoluir. Tínhamos três departamentos: financeiro, desenvolvimento desportivo e instalações, hoje temos cinco. Adicionámos o Centro de Formação para atletas e o Departamento de Grandes Eventos que engloba o Grande Prémio e os outros eventos que já organizamos. De resto, herdámos do IACM várias piscinas e quintais desportivos, o Fórum de Macau e o desporto de lazer.

O que significa esta reestruturação?
O desenvolvimento de atletas de elite e maior atenção ao Desporto Para Todos que são desenvolvidos em paralelo para alargarmos a base de recrutamento.

E qual é o papel do departamento de desenvolvimento desportivo?
Passa a dar mais importância ao dia a dia das associações, aos campeonatos locais e ao desenvolvimento do Desporto Para Todos.

E o de alta competição?
Passa pela formação de atletas, que já está em operação, e o centro de estágio que será fundamental neste enquadramento.

Para quando podemos esperar esse centro?
(sorri) Vão ter de perguntar às Obras Públicas. A obra pode demorar uns três anos mas o projecto já está para aprovação na DSSOPT há outros três. Aguardamos…

Onde é que vai ficar localizado e como vai ser?
O centro vai ficar perto do Dome e terá acomodação para 350 atletas. Vai ter dormitórios, quartos privados para treinadores, cantina e o centro de medicina desportiva passará também para lá.

Qual foi a base de estudo para a sua concepção?

Foi entre o ID e a Universidade de Pequim, que é um dos grandes centros de treinos na China. Mas também fomos a Singapura e a Hong Kong recolher informações. Depois ajustámos à nossa dimensão.

Qual o principal objectivo do Centro?
Um dos objectivos fundamentais é a formação específica para atletas de elite com condições para chegarem ao topo das competições internacionais.

E que modalidades serão privilegiadas?

Numa primeira fase wushu, karaté e taekwondo pelos bons resultados. Depois as outras modalidades e quem pretender um programa de treino intensivo, além do treino das selecções e a oportunidade de trazer atletas de nível internacional para estagiar e assim aumentar o nosso nível.

Qual a necessidade de prover alojamento para os atletas locais?
Há muitos vícios. Não levam a prática a sério, não levam a vida que um atleta deve levar e nós queremos adaptá-los a um ambiente de treino sistemático, com alimentação regrada e hábitos de treino.

O Grande Prémio de Macau está agora nas vossas mãos. Sentem-se preparados?
Temos uma “pool” de recursos humanos do mais especializado que há; os que vieram do antigo gabinete do Grande Prémio e os que já cá estão e que beneficiaram do tal processo de formação que levou aos jogos. Tenho a certeza que o 63º Grande Prémio vai ser um grande sucesso.

E a imprensa? Há várias queixas do tratamento no Grande Prémio…
Já tomei nota. Vocês vão ver as diferenças. Eu sei que as instalações são insuficientes mas o tratamento vai ser diferente. De facto, o assunto estava maltratado. Logo a começar pela alimentação. Quem ali trabalha o dia todo precisa de outro de tipo de apoio. De resto, estamos receptivos a sugestões.

A integração no Comité Olímpico Internacional é um assunto encerrado?
Não. Tem de ser trabalhado constantemente mas em “low profile”. O antigo presidente fechou-nos a porta mas esperamos que este tenha outra visão das coisas. Parece mais aberto do que o anterior pelo que não devemos perder a esperança. Em que termos, vamos estudar. Membros efectivos ou não, é pouco importante. O que queremos é participar nas provas. Ainda acredito no dia em que vamos ver os nossos atletas na marcha Olímpica.

E quanto à organização de grandes provas internacionais como os Jogos de 2005? Há planos nesse sentido?
Tudo é possível. Mas não há planos. Como sabem, há menos eventos desse género. Os Jogos da Ásia Oriental desapareceram e depois que sobra? Para os Jogos Asiáticos não temos estrutura, nem vamos ter. Para fazer o mesmo não vale a pena. Tem de ser algo com mais impacto. Estamos atentos a eventos que Macau nunca tenha organizado.

De que tipo?

Provas de modalidade única. Um campeonato de atletismo, provas em recinto coberto como voleibol, basquetebol… temos tantos pavilhões.

Há planos?

Não há planos. Da nossa parte, claro que não há planos. As associações têm de desenvolver os processos de candidatura, não nós. O ID apoia mas as associações têm de ter a iniciativa. As pessoas ainda estão no processo do ID ter de fazer tudo… mas hoje em dia não é assim. Nós não nos podemos substituir às associações.

Há falta de iniciativa das associações?
Numas sim, noutras não. Mas temos de ser claros: qual é a associação de Macau com capacidade para organizar um mundial? Nenhuma, ou muito poucas.

De Futsal?…
Pode ser, já organizámos o asiático mas depois a associação não pegou mais no assunto. Também lancei a proposta ao Venetian, a ideia de organizar um Troféu Mundial por convites…

E o que aconteceu?

Ninguém acreditou no projecto. Podia ser a nossa versão do Rugby 7. Um evento destes no Venetian? Durante três dias?… Ia ser uma festa.

Porque não se faz no Dome?
Pode ser mas alguém tem de ter a iniciativa, não nós. As pessoas têm de mudar a cassete. O Instituto tem mais que fazer. Primeiro devemos salvaguardar os interesses locais: promover o desporto para todos e a saúde pública que antes não fazíamos. Não podemos manter a mentalidade de há 20 anos. Os tempos mudaram, a política mudou. Podemos incentivar a associação e já o fizemos. Falámos varias vezes com vários responsáveis do Venetian e ninguém quis saber… Isto é um evento caro e não pode ser sempre o Estado a pagar tudo.

Mas os casinos dizem que já pagam os impostos…
Não é bem assim. Está no contrato. Para além dos 40% eles sabem que têm de promover a diversificação do entretenimento. E vai ser um assunto a ter em conta para a renovação dos contratos. Por isso, no caso do Venetian, eles não param de fazer eventos. Mas depois sai boxe… Eu até percebo… tem impacto em Las Vegas mas para nós pouco diz. Eles têm de fazer um “branding” para Macau. Têm um pavilhão de 15 mil lugares… maior do que o Dome.

Por falar em Dome, podemos chamá-lo de elefante branco?
Não. Está a ser usado. Há muitas modalidades a treinar lá.

Mas não é uma instalação cara demais para treinos?
Quando se construiu pensou-se na festa, não no futuro. Bem pensado e tinha características de multiusos mas não foi o caso. Tivemos de o adaptar para treinos, temos bancadas que só atrapalham… mas é muito importante para Macau como para acolher as celebrações da passagem de soberania a cada cinco anos.

Quanto custa manter o Dome por mês?
Cerca de um milhão.

Não é dinheiro a mais para festas e treinos?
A manutenção de instalações é sempre cara. No caso, a festa de cerimónia de passagem de soberania necessita de um mês de preparação. Quanto custaria alugar o Venetian durante esse período? Macau precisa de um lugar para estes eventos sem pedir favores a ninguém. Além disso, não são apenas treinos, também é utilizado pelo público.

E a pista de gelo?
Está arrumada. Não serve. Foi uma má ideia. A humidade gerada ia dando cabo da estrutura e tivemos de parar. Para além disso, imagine, cá fora estão 40 graus e a pista tem de estar a menos cinco. Só para baixar a temperatura do espaço era um consumo de energia absolutamente incomportável.

Como avalia o legado de Manuel Silvério?
Foi um dos pioneiros na criação do ID e liderou o desenvolvimento desportivo até chegar a presidente. Trouxe os jogos da Ásia Oriental e preparou-nos. Deu um grande contributo até aos jogos. Mas depois as coisas seguiram noutro sentido por causa do vazio que referi na área do Desporto Para Todos.

Com o Grande Prémio surgem também a os subsídios dos pilotos locais. Existem queixas sobre a ponderação de resultados, argumentando que valorizar o GP em 60% por contrabalanço com as provas internacionais é demais. Qual a sua posição?
Primeiro ponto: os pilotos têm de perceber que a prova mais importante tem de ser a de Macau. O subsídio vem de Macau. A carreira internacional é uma actividade profissional…

Mas o piloto pode ter azar…
É um subsídio. Tem normas. Foi discutido pelas partes envolvidas na decisão. Os pilotos têm de demonstrar que são bons nesta prova. Nós somos o único governo no mundo a apoiar pilotos. Até acho que estamos a dar demais. Um piloto leva um milhão, dois… e os outros? Há atletas que suam todos os dias e não levam tanto. O desporto automóvel é um luxo e eles têm de perceber que não são a prioridade. Podemos discutir os 60% e passar a 50 mas uma coisa é certa: o GP de Macau vai ter de continuar a contar mais do que as outras provas.

Há cada vez mais interessada na prática de Skate. Onde estão as rampas dos Asiáticos Indoor?
Não sei. Nalgum armazém, mas também não teríamos um espaço para as montar. De facto, há para aí uma dúzia de pessoas que estão interessadas e vieram falar connosco. Dissemos-lhes para montarem uma associação mas nunca mais apareceram, não querem assumir. Têm de ser os privados a regulamentar a actividade, não somos nós. Estamos dispostos a apoiar mas tem de haver iniciativa.

E quanto à ginástica. A China tem das melhores atletas do mundo. Também se diz termos equipamento arrumado algures.
Não é bem assim. Foi adquirido para a inauguração do fórum e foi sendo utilizado em diversas ocasiões, mas hoje está desactualizado.

Há planos para desenvolver a ginástica ?
Há cerca de três anos, o deputado Si Ka Lon, que está à frente da Associação de Ginástica, veio falar connosco pois queria dar um grande impulso à modalidade. Achámos muito bem – mas atenção porque quem dá a formação básica, à ginástica infantil, somos nós – e dissemos que poderíamos continuar a assegurar a base mas o resto teriam de ser eles. Concordou. Nessa altura ainda tínhamos a esperança de contarmos com pavilhão de Mong Há – não veio a acontecer por razões que são públicas – e propusemos-lhes que arranjassem um espaço. Disse-nos que ia tentar um num edifício industrial e nunca mais apareceu.

E o ID apoiava o aluguer do espaço?
Claro que sim. Comprometemo-nos a pagar o aluguer.

Para que vai servir o Fórum?
Este ano herdámo-lo com alugueres já marcados até Novembro. Depois vai servir para dar condições mais dignas às competições de andebol, voleibol e basquetebol que têm falta de espaços.

Os clubes de futebol queixam-se de falta de condições, do mau estado dos campos, sugerem a substituição dos relvados por sintéticos. Qual a vossa posição?
Estamos a propor à Universidade de Macau a criação de um novo relvado sintético e a negociar o relvado que eles já detêm mas, no caso deste, parece-me que só nos vão dar durante algumas horas porque também precisam dele.

E substituir os relvados por sintéticos?
Não. Como dirigente desportivo não posso defender isso. Temos de os preservar. Se quisermos ter aqui um jogo a sério com equipas internacionais temos de ter relvados. Criar novos relvados artificiais, isso sim, estamos a tentar.

Há clubes que entendem não se justificar tantas divisões no futebol. Faz sentido reduzir?
Um certo sentido. Já houve redução há uns 15 anos atrás. Mas se cortarmos a 3ª divisão estamos a marginalizar a maioria dos jogadores. Se calhar até são os que vão ver os jogos.

Porque é que as equipas de futebol de 11 têm de participar na bolinha para acederem ao futebol de 11?
Isso vai ter de perguntar à associação.

E fará sentido integrar campeonatos de Macau nos da China?
Seria um erro político. Os nossos campeonatos são reconhecidos pelas organizações internacionais, portanto não faz sentido deixarmos os nossos campeonatos para participarmos nos dos outros.

Que legado gostava de deixar no desporto de Macau?
Estruturas de apoio aos atletas. O primeiro programa que lancei foi o de apoio aos atletas de elite e de formação para os profissionais reformados para que eles possam dedicar-se ao desporto com um plano de retirada. Neste, inclui-se formação académica integral com pagamento de propinas (100 mil patacas) para além da manutenção do subsídio mais alto como atleta profissional enquanto durar o período de formação académica.

Qual o seu desejo para o desporto de Macau ?

Que os nossos atletas tenham as mesmas condições que os lá de fora. O plano de apoio para os prémios, por exemplo, mudou. Foi elevado para o dobro, mudámos o escalonamento e equipáramos os prémios entre paralímpicos e os outros. Outra novidade é que os atletas medalhados podem nomear não apenas o seu treinador, que já recebia, mas também os da formação que os ajudaram na sua evolução.

As pessoas de Macau gostam de desporto?
Gostam mas há falta de espírito de sacrifício. Eu vejo os atletas de Hong Kong com sucesso porque dão tudo, porque se sacrificam, mas os nossos, às vezes, desistem a meio. É o ambiente da terra, o facilitismo.

4 Fev 2016

Novo Macau salienta contribuição de Au Kam San para associação

O presidente da Associação Novo Macau (ANM), Scott Chiang, afirmou ontem que a saída do deputado Au Kam San teve a ver com uma mudança que ocorreu de forma natural, quando existem “pensamentos diferentes”. O actual presidente valorizou os trabalhos feitos por um dos fundadores da associação pró-democrata.
Conforme já foi noticiado, Au Kam San deixou a associação por não concordar com as mudanças que ocorreram e as novas estratégias. Scott Chiang garantiu que de nada vale avaliar quem tem a culpa, já que a situação não pode ser alterada. “Prefiro que esta fase passe e que possamos olhar para o futuro”, afirmou.
“Falei com o Au Kam San ao telefone, e disse que parecia uma situação injusta para mim, porque ele sai na altura em que sou presidente. Mas como sabemos a situação começou antes”, referiu Scott Chiang.
Confrontado com as acusações da existência de grupos, Scott Chiang não quis fazer grandes comentários, tendo apenas explicado que “tudo está a mudar”, frisando que a ANM vai pensar em como pode manter os valores originais da sua fundação em conjunto com as mudanças que venham a ocorrer.
“Vamos manter uma atitude modesta, trabalhamos juntos muitos anos e agradecemos a sua contribuição (de Au Kam San), que não pode ser rejeitada. Mas a associação promove a diversidade de pensamento e temos que ser críticos, é fácil acontecer situações em que cada um insiste nas suas ideias. Penso que isso só traz mais vantagens para a sociedade”, disse Scott Chiang.

Preparada para eleições

Questionado sobre se a saída de Au Kam San vai levar a uma perda de apoios da ANM, Scott Chiang defendeu que não trabalham para ganhar mais apoios, mas para proteger os interesses de Macau. “Vamos manter uma atitude positiva, ouvir as opiniões dos outros e esperar ganhar mais a sua confiança”, referiu.
Em relação às eleições legislativas de 2017, Scott Chiang defendeu que a ANM vai manter o seu caminho para a eleição de deputados para a Assembleia Legislativa (AL) e preparar-se bem para a corrida eleitoral. Mas o presidente não quis avançar os nomes que vão compor as listas candidatas.
A saída de Au Kam San não trará grandes problemas do foro financeiro, já que, segundo Scott Chiang, a ANM vive das contribuições dos membros e tem interessados em fazer doações. Ao sair da ANM, parte do salário que Au Kam San ganha como deputado vai deixar de ser injectada na associação.

4 Fev 2016

Novo Macau quer saber detalhes do “consenso” sobre acordos de extradição

A Associação Novo Macau (ANM) pretende que o Governo preste esclarecimentos do conteúdo dos acordos de extradição assinados com Hong Kong e China, no âmbito da “lei da assistência judiciária inter-regional em matéria penal”.
Em conferência de imprensa realizada ontem, Jason Chao, vice-presidente da ANM, referiu uma entrevista dada pelo Secretário para a Segurança ao canal ATV de Hong Kong, onde Wong Sio Chak garantiu que os governos já chegaram a um consenso sobre a questão dos infractores em fuga. Contudo, Jason Chao referiu que a sociedade ainda não conhece os detalhes deste “consenso.
O vice-presidente referiu que o Conselho Executivo publicou informações sobre a legislação em Dezembro do ano passado onde ficou garantido que vão ser seguidos os “critérios internacionais”, sendo que, nas cláusulas excepcionais, a parte referente à “dupla punibilidade” pode ter potenciais lacunas.
“Estas cláusulas dizem que caso os factos relacionados com os pedidos de assistência judiciária em matéria penal sejam constituídos no interior da China, ou em crimes de natureza militar que prejudiquem os interesses de defesa do país, o artigo da dupla punibilidade não será aplicado, ainda que nas duas regiões (Macau e Hong Kong) os actos não sejam considerados crimes”, defendeu Jason Chao.
O vice-presidente da ANM acha que os residentes de Macau poderão ser acusados de “crimes de natureza militar ou de prejudicar os interesses de defesa do país”, podendo os respectivos julgamentos ser transferidos para o continente.

Exemplos de fora

“Muitos advogados que defendem os direitos humanos no interior da China foram presos ultimamente, sendo que a maioria foi acusada do crime de incitamento à subversão do poder do país. Isso mostra que as autoridades chinesas estão a abusar desse crime para tentar regularizar a perseguição política”, apontou Jason Chao.
O Governo ainda não deu qualquer resposta ao pedido feito pela ANM em Setembro último quanto à divulgação do conteúdo dos acordos de extradição já discutidos. Jason Chao defende que o desaparecimento dos livreiros em Hong Kong pode levar a que os residentes dos dois territórios se preocupem com a questão de passagens transfronteiriças fora dos canais normais, frisando que os processos antes da aprovação da lei devem ser transparentes.
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo

4 Fev 2016

Ensino superior | GAES admite necessidade de mudanças na estrutura

O Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), admitiu, em resposta à interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, que são necessárias à sua estrutura organizacional e funcionamento. “Confrontado com uma nova carga, especialmente pesada, de novos trabalhos, há agora uma necessidade mais urgente do ajustamento da estrutura e das funções organizacionais do GAES”, lê-se na resposta.
“O Gabinete está a elaborar o plano do desenvolvimento a médio e longo prazo na área do ensino superior”, sendo que o GAES pretende fazer um “acompanhamento mais abrangente e eficaz na implementação e concretização das respectivas políticas”.
Quanto à criação de um regime de avaliação das universidades locais está a ser criado “com dinâmica”, “iniciando-se de modo ordenado os trabalhos preparatórios dos diversos aspectos desta matéria”. Em Dezembro o deputado questionou o Governo sobre a necessidade de alterar a estrutura de funcionamento do GAES, por forma a responder à nova Lei do Ensino Superior, actualmente em análise na especialidade na Assembleia Legislativa.

4 Fev 2016

Inquérito | Maioria das PME desconhece financiamento público

A União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong) realizou um inquérito sobre a situação de negócio das Pequenas e Médias Empresas (PME), que revela que cerca de 80% dos empresários entrevistados nunca se inscreveram para receber apoio do Governo, sendo que 50% afirmou desconhecer a existência de subsídios. Já 27% dos inquiridos disse que o processo de candidatura é complicado e que isso fez com que não tenham pedido apoio.
Das 611 empresas que responderam ao inquérito 131 receberam financiamento do Governo, que actualmente tem dois programas diferentes para apoiar as PME. As empresas que receberam dinheiro do Governo utilizaram os montantes para adquirir novas instalações ou garantir a liquidez, a fim de manter o negócio.
Lei Cheok Kuan, chefe da comissão para os assuntos de economia e comunidade dos Kaifong, disse ao Jornal do Cidadão que o Governo tem um grande espaço para melhorar ao nível dos procedimentos administrativos para este tipo de pedidos, exigindo uma simplificação.
“De acordo com os resultados, algumas empresas têm problemas ao nível dos recursos humanos. Como é difícil recrutar locais, então têm dificuldades em ver aprovado um pedido de importação de trabalhadores”, explicou Lei Cheok Kuan.
O inquérito mostra que 15% das empresas entrevistadas continuam os seus negócios na Ilha da Montanha, o que significa que a maioria continua a querer desenvolver-se no território. 28,5% dos entrevistas mostraram uma perspectiva negativa para a economia local.

4 Fev 2016

Internet | Coutinho pede responsabilidades ao Governo

Baixa velocidade ou custos demasiado elevados do serviço prestado, são algumas das questões levantadas pelo deputado que pede contas ao Governo sobre o estado da rede no território

O deputado José Pereira Coutinho quer saber se o Governo deve ou não assumir as “devidas responsabilidades” do serviço de pouca qualidade das telecomunicações. Numa interpelação escrita, o deputado apontou que “devido às exclusividades no mercado das telecomunicações, todos os cidadãos de Macau têm pago custos elevados ao longo destes anos sem, no entanto, terem usufruído de serviços de boa qualidade”.
A olhar para Macau, o deputado critica a velocidade baixa da rede da internet e os custos elevados dos serviços. “Macau passou por uma fase de exclusividade, concedida à CTM (Companhia de Telecomunicações de Macau) que então explorava em exclusivo todos os serviços, e chegou à fase de entrada de novos operadores no mercado, mas durante todo este processo, as pessoas mostraram-se sempre insatisfeitas com a qualidade dos serviços. Isto contraria, evidentemente, a tendência mundial e as políticas estatais”, apontou.
Assim, Pereira Coutinho defende que o Governo “deve intervir na comunicação entre a antiga e as novas companhias”, procedendo “à coordenação e ao ajustamento das obras de instalação de redes e de ligações, e instruir os serviços competentes para, na medida do possível, colaborarem e darem prioridade aos respectivos trabalhos”.
Devem ser ainda articuladas “políticas estatais”, para definir uma “calendarização razoável, na qual assuma que, decorridos alguns anos, a velocidade e as tarifas da internet” atinjam “níveis aceitáveis”.

4 Fev 2016

Zheng Anting apela a um planeamento educativo integrado

Zheng Anting, deputado, questionou ao Governo sobre a fórmula a utilizar no planeamento educativo completo para o território, pedindo que o mesmo apresente um objectivo integrado.
“Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, defendeu, em Dezembro de 2015, que o número de finalistas das escolas secundárias iria diminuir de 5323 alunos – no ano lectivo 2013/2014 – para 3500. Em Macau, 10 institutos de educação superior temem a possibilidade de não receber candidatos suficientes, especialmente nos cursos de Contabilidade, de Desenho e de Finanças. Alguns vogais do sector educativo apontam que, até 2021, o número de finalistas de escolas secundárias baixe a barreira dos três mil alunos. Tendo em conta o desenvolvimento das instalações haverá falta de alunos, sendo que o equilíbrio entre a procura e o fornecimento será quebrado”, argumentou o deputado numa interpelação escrita, frisando que este é um “assunto ao qual o Governo deve estar atento”.
Perante a situação, o Governo deve prestar esclarecimentos sobre qual o planeamento desenvolvido, até agora, para a educação não superior, neste caso do ensino secundário.
“Queria saber se o Governo vai ter como base o planeamento educativo integrado da interior da China, ou seja, o esboço de planeamento nacional para a reforma e desenvolvimento educativo em médio e longo prazo (2010-2020), para formular um plano completo para o sistema educativo no território, envolvendo o ensino infantil, o não superior, o profissional e o especial”, apela o deputado.

4 Fev 2016

Fronteira | Chan Meng Kam quer novo posto até 2019

O deputado Chan Meng Kam questionou o Governo numa interpelação escrita sobre a coordenação de todas as obras públicas, incluindo o novo posto transfronteiriço entre Guangdong e Macau, esperando que este possa ficar concluído daqui a três anos.
“Será que o Governo pode garantir a conclusão do projecto em 2019, será que a concepção do projecto está correcta ou não?”, questionou Chan Meng Kam, sugerindo que se clarifiquem responsabilidades para a fiscalização da qualidade das obras.
O deputado pretende ainda saber se existe a possibilidade de implementar o modelo de passagem na fronteira de 24 horas, tal como tinha sido referido no relatório das LAG. “Em que fase é que essa proposta está, e como se pode coordenar com o novo modelo de passagem?”, apontou.
Chan Meng Kam considera que este será um projecto muito importante para as relações transfronteiriças e para desenvolver a zona norte de Macau, questionando o calendário para a sua entrada em funcionamento.
Em relação ao novo mercado abastecedor, o deputado lembrou que o Executivo prometeu que o projecto ficaria concluído em finais deste ano, contudo, o mais recente relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) refere apenas que o projecto está na fase de escavação do terreno. “Será que o mercado vai ficar concluído a tempo? Como é que a Nam Yue, de Guangdong, é a única entidade que administra e fiscaliza o projecto do novo espaço entre as duas regiões?”, questionou Chan Meng Kam.

4 Fev 2016

Relatório | Liberdade económica continua a cair

Um relatório da Fundação Heritage dos Estados Unidos coloca Macau no 37º lugar dos índices mundiais de liberdade económica. Esta é a quinta queda consecutiva, que para Joey Lao, director da Associação de Economia de Macau, está relacionada com as políticas do Governo do território.
No relatório publicado na terça-feira passada, Macau atingiu os 70 pontos na avaliação geral, entre 178 entidades económicas de todo o mundo, caído para o 37ºlugar. No entanto, entre as 42 entidades económicas da zona Ásia-Pacífico, Macau ocupa o nono lugar, depois de Hong Kong e Sinpagura.
O relatório segue dez indicadores sobre a liberdade económica. Os indicadores em que Macau atingiu as melhores notas, mais de 90 pontos, incluem o nível de “gastos do Governo”, “liberdade de comércio”, “liberdade de investimentos”. Ainda assim, quanto ao nível de “contra a corrupção” e ao de “liberdade de força de trabalho”, Macau atingiu apenas 50 pontos.

Destino de eleição

O relatório dos Estados Unidos apontou ainda que o investimento de projectos e infra-estruturas de entretenimento e de resorts aumentou muito depois da abertura da indústria de Jogo. Em 2012, Macau tornou-se um dos destinos mais famosos do mundo, no entanto, foi influenciado pela politica de anti-corrupção e pela desaceleração económica da China continental, levando a uma queda nas receitas de Jogo em 40%. Isto, aponta o documento, traz dois problemas estruturais: a pouca atractividade de turistas não Jogo, e a do número de visitantes de alto consumo.
Para Joey Lao, director da Associação de Economia de Macau, o lugar da liberdade económica de Macau é relativamente boa, sendo que a queda da avaliação está relacionada com o ambiente económico e as políticas do território.
Os gastos do Governo de Macau ficam num nível alto. Joey Lao explicou que como as receitas financeiras diminuíram, os custos aumentaram, sendo este um princípio do estudo da economia ocidental. O director considera, ainda, que Macau pertence a uma economia de miniatura, e não deve “copiar” totalmente o modelo ocidental. É importante que assegure os custos públicos bem gastos.

4 Fev 2016

Fundação Macau | Ensino superior privado volta a ganhar mais

A Fundação Macau (FM) voltou a conceder elevados montantes a instituições de ensino superior privado no quarto trimestre do ano passado. Segundo os dados publicados ontem em Boletim Oficial (BO), foram concedidas mais de 769 milhões de patacas a associações, universidades, alunos e personalidades individuais. A Fundação da Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST) recebeu mais de 62 milhões de patacas para o plano anual 2015/2016 da universidade, incluindo o hospital universitário, a escola internacional de Macau e a faculdade de ciências da saúde. A FM concedeu mais 97 milhões de patacas para a construção do complexo pedagógico da MUST.
A Fundação Católica para o Ensino Superior, que gere a Universidade de São José (USJ), recebeu mais de 19 milhões para as actividades da universidade e 90 milhões de patacas para a construção do novo campus. Já a Fundação da Universidade Cidade de Macau recebeu cerca de 112 milhões de patacas para obras de renovação do novo campus e a aquisição de equipamentos pedagógicos. Foram ainda concedidos a esta entidade mais 45 milhões de patacas para a atribuição de subsídios, publicações e compra de equipamentos.
Como é habitual, a Associação de Beneficência do hospital Kiang Wu foi outra das entidades que mais dinheiro recebeu. A FM concedeu 95 milhões para a reconstrução do jardim de infância e escola primária da escola Keng Peng. A Fundação da Escola Portuguesa de Macau recebeu nove milhões de patacas, enquanto que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública recebeu pouco mais de um milhão para custear as suas actividades. A Santa Casa da Misericórdia recebeu 4,5 milhões para o plano de actividades do ano passado.

4 Fev 2016

Escola Portuguesa | Mudanças internas e externas para este ano

A Fundação Escola Portuguesa de Macau (EPM) irá ser alvo de alterações, conforme adiantou, à Rádio Macau, José Luís Sales Marques, membro do conselho de administração. “Neste momento, a fundação tem um presidente, que é Roberto Carneiro. É provável que, na sequência, destes novos estatutos venha a haver uma actualização da própria direcção da Fundação. Haverá uma nova direcção, não sei exactamente quando, mas é previsível que isso venha a acontecer, até resultante dessa nova composição”, afirmou o também economista.
Assim, existirá uma alteração na constituição dos instituidores da EPM. “Isto quer dizer que a fundação, que antes tinha três instituidores – Fundação Oriente, Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) e Ministério da Educação de Portugal –, passa a partir de agora ter dois, a APIM e o Ministério da Educação de Portugal. A Fundação Escola Portuguesa de Macau passa a ser uma parceria apenas entre duas entidades, uma de Portugal e uma de Macau”, acrescentou à rádio.
O número de membros, do conselho de administração, manter-se-á, mas o quinto elemento passará a escolhido por ambas as partes, ou seja, pela APIM e o Governo português. Os estatutos prevêem igualmente a criação de um conselho de curadores, que “vai reflectir os diversos interesses e sensibilidades da sociedade de Macau”, assim como “eventualmente alguma participação portuguesa”, o que “será muito importante para apontar os caminhos presentes e futuros da fundação”.

Mais espaço

Nas mesmas declarações, Sales Marques indicou ainda que há uma forte possibilidade de que as obras de ampliação e melhoramento do edifício da instituição de ensino possam arrancar este ano. “Espero bem que sim, que seja neste novo ano do Macaco (…). É um processo, não são apenas alguns melhoramentos ou alterações. Podem implicar, como está na cabeça de todos os que têm acompanhado esse processo, a demolição de uma parte das actuais instalações e a construção de um novo bloco. Não temos ainda um valor, não temos ainda sequer uma estimativa de quanto é que poderá custar, mas a Fundação e a própria escola trabalharão no sentido de que tudo o que for necessário introduzir seja feito da forma mais eficiente possível”, adiantou Sales Marques, em declarações à Rádio Macau.
O economista marcou ainda presença naquela que foi a primeira visita do subdirector do gabinete de ligação do Governo Central da República Popular da China na RAEM, Chen Si Xi, às instalações da EPM, a convite da APIM. HM/Rádio Macau

4 Fev 2016

IC | Ung Vai Meng assume pouco poder do organismo cultural

O presidente do Instituto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai Meng, negou que o instituto assuma um poder decisório no processo de classificação de bens imóveis de Macau. Em termos práticos, o presidente quis com isto dizer que apesar das várias sugestões da sociedade a última palavra será sempre do Governo.
As declarações aconteceram no programa Macau Talk, do canal chinês da TDM, ontem, onde o presidente aproveitou também para garantir que o organismo em causa tem capacidade para reparar o edifício nº1 da Rua da Barca. Guilherme Ung Vai Meng explicou ainda que a preservação do património é um trabalho da sociedade.
Até ao momento, apontou, foram realizadas 400 inspecções ao património, sendo que o trabalho de conservação, passando também pela sociedade, permite que a mesma se pronuncie sobre classificação do mesmo. Ainda assim, repara, mesmo com a chegada de sugestões durante o processo de classificação, a decorrer, não é o IC que tomará a decisão final.
“O importante é a participação dos residentes na classificação, só o público pode encontrar as conotações culturais dos edifícios históricos, como no caso do Hotel Estoril, o IC prefere a renovação do hotel para um complexo de jovens, por causa da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, o Governo tem de respeitar as suas sugestões deles, e os cidadãos podem participar no trabalho de classificação.” exemplificou.

Reparação na Barca

Relativamente ao edifício da Rua da Barca, parcialmente destruído, Guilherme Ung Vai Meng garantiu que o organismo tem competência para a reparação do mesmo, permitindo a sua reconstrução, mesmo sem o telhado. “Depois da recuperação predial o público conseguirá saber o valor deste edifício”, avançou.
O presidente explicou ainda que a classificação não é um acto de confiscar as propriedades privadas – tal como alguns proprietários acusaram o IC -, mas sim um acordo necessário ao desenvolvimento da sociedade. Ao mesmo tempo, acha que a destruição dos edifícios patrimoniais não é melhor opção, sendo que a revitalização dos mesmos – depois de reparados – é o melhor caminho, podendo ser aproveitados para desenvolver o turismo.
O IC tomou a decisão de não iniciar a classificação para os dois prédios que estão ao lado do Centro Hospitalar Conde de São Januário, depois de ouvir a opinião dos Serviços de Saúde, acrescentou.
Tomás Chio

4 Fev 2016

Ex-sócio de associação de médicos de língua portuguesa denuncia uso indevido de dinheiros públicos

José Gabriel Lima, médico e ex-sócio da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau, acusa a entidade de ter usado de forma indevida dinheiros públicos na realização de um congresso em 2011. Rui Furtado, ex-presidente, nega tudo

A única lista candidata à direcção da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPM), encabeçada por Jorge Sales Marques, vai hoje a votos, mas persistem problemas advindos da anteriores direcção. José Gabriel Lima, médico vogal do Conselho Fiscal da AMLPM, enviou uma carta ao HM onde acusa a anterior direcção, liderada por Rui Furtado, de usar de forma indevida dinheiros públicos.
“A existência da AMLP veio a conduzir a um clima de grande conflitualidade perante questões graves que foram fruto do modo como foram utilizados donativos ou subsídios de entidades públicas durante a I Conferência Internacional de Medicina de Macau-China e Países de Língua Portuguesa, que teve lugar em Novembro de 2011”, escreveu o médico na carta.
José Gabriel Lima fala de “actos” cometidos durante o congresso, tais como a “falta de critérios nos convites efectuados”. A carta fala da inclusão de “membros de família e amigos pessoais” de médicos, “a atribuição generosa de ‘pocket money’ muito acima do que é praticado em idênticas situações, a entrega de dinheiro em cash, o pagamento de passagens em classe executiva a pessoas que viajaram e o facto de terem sido desdobradas em viagens de classe económica para permitir ou facilitar a inclusão dos cônjuges no passeio turístico a Macau”. josé gabriel lima
José Gabriel Lima garante que depois destes actos as contas não foram aprovadas pelo Conselho Fiscal, tendo os valores sido chumbados em assembleia-geral de Junho de 2012. Para além disso, houve uma demissão dos órgãos sociais e marcação de novas eleições marcadas para daí a três meses.

Dinheiro devolvido

José Gabriel Lima acabaria por se afastar da AMLPM em Agosto de 2012 “com o propósito de demarcar-se do que se passava e para a salvaguarda do direito ao bom nome”, falando da “recusa ao diálogo por parte da direcção da associação, com impedimentos do legítimo acesso dos associados à acta da assembleia-geral”.
Segundo o médico, a associação teve de “passar a vergonha de ser intimida” a devolver centenas de milhares de patacas à Fundação Macau (FM) e Serviços de Saúde (SS)
A carta de José Gabriel Lima faz ainda referência à polémica das eleições ocorridas esse ano, em que Jorge Humberto foi candidato e se queixou da falta de acesso a uma lista actualizada de sócios para realizar a campanha. Recentemente o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a Jorge Humberto e anulou o recurso apresentado por Rui Furtado.
José Gabriel Lima considera que esse caso levou a uma “violação da cultura de honestidade que constitui as bases do exercício da profissão médica”. Sobre as eleições de hoje, o médico espera mudanças. “Desejo que quem venha a liderar os destinos da AMLPM lute pelo prestígio seriamente abalado da medicina de matriz portuguesa nestas paragens”, escreveu.
Ao HM, José Gabriel Lima garantiu que a divulgação desta carta no dia das eleições prende-se apenas com a denúncia de “coisas que não estavam bem”. “Foi toda uma sequência da minha renúncia e da eleição de Jorge Humberto, em que as coisas não foram muito transparentes. Achei que tinha de marcar uma posição”, explicou.

Rui Furtado nega tudo

Confrontado com a carta pelo HM, o presidente cessante da AMLPM, Rui Furtado, negou todas as acusações. “As contas foram aprovadas, não houve utilização indevida de dinheiros públicos, todos os actos do congresso foram decididos em reunião de direcção, e portanto não houve má gestão dos dinheiros. O que se passou é que houve uma queixa anónima para os SS e para a FM, sendo que pelos vistos neste momento já se conhece o autor da carta. Entregámos a gestão do congresso a uma empresa que nos disse que, como já tinham passado dois ou três meses, não tinha documentos. Então não conseguimos comprovar algumas das contas que iam ser apresentadas à FM, pelo que foi essa a razão por que tivemos que devolver o excesso do montante”, apontou Rui Furtado.
O médico aponta o dedo a José Gabriel Lima, a quem acusa de ser “talvez o principal responsável das dificuldades que a associação teve enquanto existiu e existe”. “Ninguém se apoderou de dinheiros públicos e as contas estão à vista de toda a gente. Limito-me a esperar e ver se tomaremos algumas medidas nos meios legítimos contra essa carta”, rematou o presidente cessante da AMLPM.

4 Fev 2016